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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO PATOLOGIA ÍRIA MÁRCIA PEREIRA Análise anatomopatológica da cisticercose subcutânea experimental por Taenia crassiceps em camundongos das linhagens BALB/c e C57BL/6 Goiânia 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS … · O complexo teníase-cisticercose é uma zoonose conhecida desde a antiguidade. Os egípcios e gregos já a identificavam como

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO PATOLOGIA

ÍRIA MÁRCIA PEREIRA

Análise anatomopatológica da cisticercose subcutânea

experimental por Taenia crassiceps em camundongos das

linhagens BALB/c e C57BL/6

Goiânia

2015

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ÍRIA MÁRCIA PEREIRA

Análise anatomopatológica da cisticercose subcutânea experimental

por Taenia crassiceps em camundongos das linhagens BALB/c e

C57BL/6

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Medicina

Tropical e Saúde Pública da Universidade

Federal de Goiás para obtenção do Título

de Mestre em Medicina Tropical e Saúde

Pública. Área de concentração: Patologia. Orientador: Prof. Dr. Ruy de Souza Lino Junior

Goiânia

2015

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Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública da

Universidade Federal de Goiás

BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Aluno (a): Íria Márcia Pereira

Orientador (a): Prof. Dr. Ruy de Souza Lino Junior

Membros:

1. Prof. Drª Flávia Aparecida de Oliveira

2. Prof. Drª Adelair Helena dos Santos

3. Prof. Dr Ruy de Souza Lino Junior

Data: 06/02/2015

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AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, que sempre cuida de mim. Te amo, louvo e agradeço, meu Senhor e meu

Deus eu Te adoro!!!

À Nossa Senhora, minha mãe e intercessora que lá do céu, abre todas as portas para

mim!

À minha família querida, minhas irmãs Karina e Kasmer, minha mãe Neuza, ao Eber,

pelo apoio e incentivo. Ao meu pai, José Ubaldo Pereira, sei que mesmo lá do céu, ele

olha por mim aqui! Pai, meu amor e agradecimento eternos!

Aos meus filhos, Laís e Victor Hugo, é por vocês que eu respiro todos os dias! Vocês

me ensinaram a ser mãe, vocês me mostraram o que é o amor.

Ao meu orientador Prof. Dr. Ruy de Souza Lino Junior pela confiança. Por ter me

estendido a mão, em um momento tão crítico do mestrado e em me apoiar no momento

em que doença me abateu. Jamais, em toda minha existência, poderei agradecer o que

fez por mim!

À amiga Vânia Beatriz Lopes, minha “mentora”, pela amizade e companheirismo, pela

ajuda nos experimentos, pelo conhecimento dividido, pelas sugestões e correções na

realização deste trabalho.

À querida Aline, que dedicou seu precioso tempo na correção e sugestões para a

melhoria desse estudo, sem ela esse trabalho não seria possível... Minha amizade e

gratidão...

Aos estimados professores do IPTSP, pelas oportunidades de aprendizado, pela

contribuição científica e ensinamentos durante as aulas.

Aos colegas da Universidade Federal de Goiás, Alexandre, Amanda, Bruna, Bruno,

Diego, Gisella White, Hidelberto, Karla, Maísa, Marcelo, Monarko, Renato, Sarah

Buzaim, Sarah Rozette e Vera Lúcia pela amizade e convivência.

Aos membros da Banca da Defesa pela contribuição científica a esse trabalho.

Aos funcionários do Biotério pelo auxílio no cuidado com os animais e com o ambiente

de trabalho. Ao José Clementino de Oliveira Neto, Kariny Vieira Soares e aos demais

funcionários do IPTSP pelo auxílio, disposição e eficiência.

Ao Laboratório de Patologia Experimental por ceder os equipamentos e os reagentes

para que este trabalho fosse realizado.

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Ao Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da UFG, por proporcionar a

realização deste trabalho.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) e ao CNPq pelo apoio

à pesquisa.

A CAPES pela bolsa de estudos concedida.

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS, FIGURAS E ANEXOS ............................................. vii

LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS .............................. viii

RESUMO ........................................................................................................... x

ABSTRACT ....................................................................................................... xi

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1

1.1 Complexo teníase-cisticercose ................................................................. 1

1.2 Epidemiologia e manifestações clínicas................................................... 3

1.3 Taenia crassiceps: biologia e aplicabilidade experimental.................... 5

1.4 Visão geral da resposta inflamatória e na cisticercose experimental por

Taenia crassiceps......................................................................................... 8

1.5 Diferenças na resposta imune entre os camundongos das linhagens

BALB/c e C57BL/6 na infecção experimental por Taenia crassiceps......... 14

2 JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 15

3 OBJETIVOS .................................................................................................. 17

3.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 17

3.2 Objetivos Específicos ..................................................................................... 17

4 MÉTODOS ..................................................................................................... 18

4.1 Animais ........................................................................................................... 18

4.2 Manutenção do ciclo experimental da Taenia crassiceps inóculo e eutanásia

dos camundongos das linhagens BALB/c e C57BL/6.................................. 19

4.3 Análise anatomopatológica........................................................................... 19

4.4 Análise estatística........................................................................................... 20

5 RESULTADOS ............................................................................................... 21

5.1 Análise anatomopatológica............................................................................. 21

5.1.1 Macroscopia............................................................................................... 21

5.1.2 Microscopia................................................................................................ 22

5.1.3 Aspectos microscópicos dos processos patológicos gerais...................... 30

6 DISCUSSÃO ................................................................................................... 34

7 CONCLUSÃO ................................................................................................. 38

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REFERÊNCIAS..................................................................................................... 39

ANEXO - Parecer CEUA/UFG N.076/12 ............................................................ 49

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LISTA DE TABELAS, FIGURAS E ANEXOS

Figura 1 Ciclo Biológico da Taenia crassiceps....................................................06

Figura 2 Macroscopia do cisticerco de Taenia crassiceps....................................07

Figura 3 Resposta imune contra Taenia crassiceps..............................................12

Figura 4 Macroscopia do subcutâneo dos camundongos BALB/c e C57BL/6.....25

Figura 5 Fotomicrografia do tecido subcutâneo dos camundongos BALB/c e

C57BL/6 aos 07 DAI....... ......................................................................26

Figura 6 Fotomicrografia do tecido subcutâneo dos camundongos BALB/c e

C57BL/6 aos 30 DAI..............................................................................27

Figura 7 Fotomicrografia do tecido subcutâneo dos camundongos BALB/c e

C57BL/6 aos 60 DAI..............................................................................28

Figura 8 Fotomicrografia do tecido subcutâneo dos camundongos BALB/c e

C57BL/6 aos 90 DAI..............................................................................29

Tabela 1 Aspectos microscópicos dos processos patológicos gerais no subcutâneo

dos camundongos BALB/c e C57BL/6 aos 07 DAI...............................30

Tabela 2 Aspectos microscópicos dos processos patológicos gerais no subcutâneo

dos camundongos BALB/c e C57BL/6 aos 30 DAI...............................31

Tabela 3 Aspectos microscópicos dos processos patológicos gerais no subcutâneo

dos camundongos BALB/c e C57BL/6 aos 60 DAI...............................32

Tabela 4 Aspectos microscópicos dos processos patológicos gerais no subcutâneo

dos camundongos BALB/c e C57BL/6 aos 90 DAI...............................33

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LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

ºC graus Celsius

µL Microlitro

µm Micrômetro

CEUA Comissão de Ética do Uso de Animais

cm Centímetros

DAI Dias após o inóculo

DAMP Moléculas-padrão associadas a dano tecidual (do inglês, Damage

Associated Molecular Pattern Molecules)

DCs Células Dendríticas (do inglês, Dendritic cells)

DO Densidade Ótica

ELISA Ensaio Imunoenzimático (do inglês Enzyme-Linked

Immunosorbent Assay)

HE Hematoxilina e eosina

HIV/SIDA Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

IFNγ Interferon gama

Ig Imunoglobulina

IL Interleucina

IPTSP Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública

M Molar

M1 Macrófagos classicamente ativados

M2 Macrófagos alternativamente ativados

mg Miligrama

mL Mililitro

mM Micromolar

N Normal

NCC Neurocisticercose

nm Nanômetro

OMS Organização Mundial de Saúde

ORF Original de Raposas (do inglês, Original Fox)

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PAMP Moléculas-padrão associadas a patógenos (do inglês, Pathogens

Associated Molecular Pattern Molecules)

PBS Solução Salina Tamponada com Fosfatos (do inglês, Phosphate

Buffered Saline)

pH Potencial Hidrogeniônico

PMNs Polimorfonucleares, Neutrófilos

OS Picro-sírius

RPMI Meio de cultura desenvolvido por Roswell Park Memorial

Institute

S. mansoni Shistosoma mansoni

SBF Soro Bovino Fetal

SCC Cisticercose Subcutânea

SNC Sistema Nervoso Central

SP São Paulo

STAT Via de sinalização STAT (do inglês, Signal Transducers and

Activator of Transcription)

TA Temperatura Ambiente

T. asiática Taenia asiática

T. crassiceps Taenia crassiceps

T. saginata Taenia saginata

T. solium Taenia solium

T CD4+ Linfócitos T auxiliar com receptor CD4+

Th Linfócitos T auxiliar (do inglês, T helper; sinônimo de T CD4+)

Th1 Linfócitos T auxiliar do tipo 1 (do inglês, T helper 1)

Th2 Linfócitos T auxiliar do tipo 2 (do inglês, T helper 2)

TGFβ Fator de transformação do crescimento beta

TNFα Fator de necrose tumoral alfa

Tregs Células T reguladoras

UFG Universidade Federal de Goiás

WT Animais Convencionais (do inglês, Wild Type)

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RESUMO

A maioria das parasitoses são consideradas endêmicas em países em desenvolvimento,

sendo um importante problema para a saúde pública. Aproximadamente, 50 milhões de

indivíduos estão infectados pelo complexo teníase-cisticercose, no mundo todo. Dessa

forma, fatores biológicos envolvidos na suscetibilidade do hospedeiro frente às

parasitoses devem ser investigados, devido à importância dessas infecções para a saúde

pública, não só no Brasil, mas em todo o mundo. O objetivo deste estudo foi avaliar

macroscopicamente e microscopicamente a cisticercose subcutânea em camundongos

das linhagens BALB/c e C57BL/6, resultante da infecção por cisticercos da Taenia

crassiceps. Para isso, foi utilizado um modelo experimental de infecção no tecido

subcutâneo com cisticercos de Taenia crassiceps, com a finalidade de avaliação dos

parâmetros macroscópicos e microscópicos das lesões de ambas linhagens de

camundongos, além de comparar os parâmetros avaliados. No presente estudo, os

animais da linhagem BALB/c apresentaram presença maior de tecido de granulação,

fibrose e cisticercos em fase inicial e larval. Já os animais da linhagem C57BL/6,

tiveram maior presença de neutrófilos, fibrose e cisticercos em fase final. Esses dados,

quando comparados, confirmam a maior resistência dos animais da linhagem C57BL/6

à infecção por Taenia crassiceps.

Palavras chaves: teníase-cisticercose, cisticercose subcutânea, granuloma,

anatomopatologia, Taenia crassiceps.

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ABSTRACT

Most parasites are endemic in developing countries, with a major problem for public

health. Approximately 50 million people are infected with taeniasis-cysticercosis complex

in the world. Thus, biological factors involved in the susceptibility of the host to front

parasites should be investigated because of the importance of these infections to public

health, not only in Brazil but worldwide. The objective of this study was to evaluate

macroscopically and microscopically subcutaneous cysticercosis in mice of BALB/c and

C57BL/6, resulting from infection with cysticerci of Taenia crassiceps. For this, we used

an experimental model of infection in the subcutaneous tissue with Taenia crassiceps, for

the purpose of evaluation of the microscopic and macroscopic parameters of the lesions of

both strains of mice, and compare the measured parameters. In this study, the animals of

the BALB/c showed higher presence of granulation tissue, fibrosis and cysticercosis in

initial and larval stage. The animals of the C57BL/6 had a greater presence of neutrophils,

fibrosis and cysticercosis in the finals. These data, when compared confirm the increased

strength of the animals of the C57BL / 6 to infection with Taenia crassiceps.

Key words: teniasis-cysticercosis, subcutaneous cysticercosis, granuloma,

anatomopathological, Taenia crassiceps.

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1 INTRODUÇÃO / REVISÃO DA LITERATURA

1.1. Complexo teníase-cisticercose

As parasitoses intestinais são consideradas infecções comuns em todo mundo,

sendo mais prevalentes nos países em desenvolvimento; estando a sua gravidade

relacionada a um aumento da resistência dos agentes etiológicos aos antiparasitários e a

progressão de hospedeiros suscetíveis (FERRARI et al. 2004; ANDRADE et al. 2010).

O complexo teníase-cisticercose é uma zoonose conhecida desde a antiguidade. Os

egípcios e gregos já a identificavam como vermes intestinais e a tratavam com sementes

de abóboras. Rumler, em 1558, comunicou um caso de cisticercose humana

descrevendo-a como um “tumor” da dura-máter de um indivíduo com epilepsia.

Malpighi, em 1698, descreveu a natureza dos cistos e o escólex. Em 1789, Goeze

estudou os cisticercos de um suíno e identificou sua natureza helmíntica. Após essas

descobertas, muitos avanços foram feitos com o estudo em conjunto entre a

parasitologia e a medicina veterinária (FLISSER; MADRAZO; DELGADO, 1997).

Dentre os parasitos intestinais mais conhecidos, os cestódeos estão envolvidos

em doenças negligenciadas que podem ser de difícil tratamento, podendo até causar a

morte (TSAI et al. 2013). As espécies mais comuns desses cestódeos são: Taenia solium

(T. solium), Taenia saginata (T. saginata), Taenia asiática (T. asiática) e Taenia

crassiceps (T. crassiceps). Entre os principais representantes desses parasitos, podemos

destacar duas espécies que parasitam o homem, que são a T. solium e a T. saginata,

responsáveis pela teníase humana, do gênero Taenia, família Taenidae, classe Cestoidea

e ordem Cyclophyllidea. Suas respectivas formas larvais (Cysticercus cellulosae e

Cysticercus bovis) desenvolvem a cisticercose, que ocorre no suíno e no bovino,

respectivamente, fase necessária para a continuidade do ciclo de vida do parasito (REY,

2002).

O homem pode abrigar a fase adulta e larval do parasito, esta última conhecida

como cisticercose humana, ocasionada pelo cisticerco (ACHA & SZIFRES, 1986; REY,

2002). Estima-se que cerca de 50 milhões de indivíduos estejam infectados pelo

complexo teníase-cisticercose no mundo (TAKAYANAGUI et al. 2001). As formas

larvais causam a cisticercose em suínos, bovinos e roedores. De forma acidental, o

homem pode se infectar com ovos viáveis de Taenia e desenvolver a cisticercose assim

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como o hospedeiro intermediário (FLISSER, 1991; CAMPBELL et al. 2006; JEON,

EOM, 2006; ALE et al. 2014).

A T. solium, espécie mais frequentemente diagnosticada em humanos, que causa

duas doenças distintas as quais apresentam formas diferentes de infecção: a teníase, que

é resultante da presença do parasito no intestino delgado, e a cisticercose, marcada pela

presença do estágio larval (cisticerco) nos tecidos do indivíduo. Na teníase o homem é o

hospedeiro definitivo, infectando-se a partir da ingestão de carne mal cozida que

contenha larvas viáveis de T. solium. Desenvolvendo o parasito no intestino delgado, o

indivíduo pode apresentar dores abdominais, perda de peso, náuseas, debilidade,

constipação, diarreia e flatulência (FLISSER, 1991; GARCÍA et al. 2003).

A cisticercose humana por T. solium ocorre de forma acidental por via fecal-

oral, pela ingestão de água e/ou alimentos contaminados com ovos viáveis de T. solium

eliminados nas fezes de portadores de teníase e disseminados no ambiente, por exemplo

em água para irrigação contaminada com água de esgoto, na utilização de fezes

contaminadas como adubo, entre outros. Outras fontes de infecção relacionadas a maus

hábitos higiênicos são os manipuladores de alimento, e o próprio portador de teníase

que também pode se auto infectar (ACHA & SZIFRES, 1986; FLISSER, 1991;

PITELLA, 1997).

O parasito se desenvolve no intestino e libera proglótides repletas de ovos nas

fezes, que contaminam água e/ou alimentos e podem atingir o hospedeiro intermediário

suíno, dando continuidade ao ciclo pela forma larval, e contaminando outros indivíduos

de forma esporádica (FLISSER, 1991; PITELLA, 1997; TAKAYANAGUI & LEITE,

2001; GARCÍA et al. 2003).

A forma larval dos parasitos pode persistir de forma assintomática em um

hospedeiro humano por décadas; e quando é diagnosticada, a doença muitas vezes está

em um estágio avançado em que a cirurgia não é mais uma opção (FLISSER, 1991;

TSAI et al. 2013).

O complexo teníase-cisticercose é de grande importância para a saúde humana e

também animal. A neurocisticercose (NCC) é uma das formas mais graves no homem,

caracterizando-se por uma doença debilitante e crônica; já em animais de produção, a

carne imprópria para o consumo torna a doença um prejuízo à economia que sobrevive

da sua comercialização (WHO, 2011).

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1.2 Epidemiologia e manifestações clínicas

As doenças causadas por helmintos estão entre as parasitoses que mais afetam as

pessoas em várias localidades do mundo, mas principalmente as populações

desprovidas de saneamento básico, saúde e recursos financeiros. Dados da Organização

Mundial de Saúde (OMS) indicam que mais de um bilhão de pessoas nos países em

desenvolvimento nas regiões da África Subsaariana, Ásia e América Latina, estão

infectadas com pelo menos uma espécie de helminto. Fatores como as condições de

saneamento básico, grau de escolaridade, hábitos de higiene, idade, nível

socioeconômico e a região onde essas populações residem influenciam profundamente

na frequência das parasitoses intestinais (MACHADO et al. 1999; ANDRADE et al.

2010; LUSTIGMAN et al. 2012; WHO, 2013).

A cisticercose é considerada um problema de saúde pública e serve como um

indicador socioeconômico associado a outras doenças parasitárias, aliado às condições

sanitárias e econômicas. O complexo teníase-cisticercose, segundo a Organização

Mundial de Saúde (OMS), está entre as 17 doenças tropicais consideradas

negligenciadas, e a cisticercose por T. solium pertence ao subgrupo das 8 zoonoses

endêmicas negligenciadas; estima-se que cerca de 50 milhões de pessoas estão

infectadas pelo complexo teníase-cisticercose no mundo todo, e destas, cerca de 80%

vivem em países em desenvolvimento. Em muitas regiões do mundo, a cisticercose é

uma doença erradicada, no entanto ainda é muito frequente em regiões como América

Central, América do Sul, China e Índia. A explicação que mais se enquadra à realidade

dessas populações é a falta de sistematização de investimentos de atenção básica para

pessoas que vivem nessas áreas (AGRAWAL, 2012; TSAI et al. 2013; WHO, 2013;

MABLESON et al. 2014).

O desenvolvimento socioeconômico deficiente, a falta de investimentos em

saneamento básico e hábitos de higiene, associada à morbidade dessas doenças, ajudam

a manter o ciclo dessas parasitoses. Essas infecções comprometem ainda mais a saúde

da população, quando associadas a outras doenças, como Malária e Síndrome da

Imunodeficiência Adquirida (HIV/SIDA), tão comum nesses países (WHO, 2013).

No Brasil, a NCC, tem uma alta frequência nos Estados de Goiás, Minas Gerais,

Paraná e São Paulo. A prevalência, no entanto, não é conhecida, pois, não há notificação

compulsória da doença. O Ministério da Saúde, em sua portaria 1100 de 24 de maio de

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1996, estabelece a implementação da notificação compulsória do complexo

teníase/cisticercose, no entanto apenas os Estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,

Paraná e Santa Catarina, além do Município de Ribeirão Preto (São Paulo) implantaram

programas de combate e controle da doença (TAKAYANAGUI et al. 1996;

PFUETZENREITER & ÁVILA-PIRES, 2000; AGAPEJEV, 2003; IASBIK et al. 2010).

Os cisticercos da T. solium possuem tropismo pelo Sistema Nervoso Central

(SNC), olhos, sistema músculo-esquelético e pelo tecido subcutâneo. O local de pior

prognóstico e evolução da doença, é o SNC. A infecção subcutânea, geralmente é

negligenciada por não causar sinais e sintomas tão graves (CAIXETA, L.; CAIXETA,

M.; ALMEIDA-NETO, 2004; UTHIDA-TANAKA et al. 2004; KRAFT, 2007;

AGRAWAL, 2012).

As manifestações clínicas da cisticercose dependem de muitos fatores, tais como

a localização do cisticerco, o tipo morfológico, do número de larvas que conseguem se

desenvolver no doente, o estágio de desenvolvimento dos cisticercos, e também a

resposta imunológica do indivíduo (PITELLA, 1997; CHIMELLI, LOVALHO,

TAKAYANAGUI, 1998; AGRAWAL, 2012). Os cisticercos que estão viáveis causam

pouca ou nenhuma inflamação, o que é diferente nos cisticercos em fase de

degeneração, que provocam no hospedeiro uma resposta inflamatória intensa,

resultando na formação do granuloma, frequentemente com calcificação. Humanos e

suínos podem apresentar alterações histopatológicas semelhantes na infecção por T.

solium (MARZAL et al. 2014).

Por outro lado, os casos de cisticercose subcutânea apresentam geralmente um

inchaço nodular superficial. Após avaliação clínica, é feita a triagem por exames de

imagem e rastreamento familiar, incluindo-se exames parasitológicos, citológicos e/ou

sorológicos, e confirmação por biópsia, já que a remoção cirúrgica, apesar de

controversa, tem sido o tratamento protocolar nesses casos, acompanhada do uso de

anti-helmínticos (FLISSER, PÉREZ-MONTFORT, LARRALDE, 1979; UTHIDA-

TANAKA et al. 2004; AGRAWAL, 2012; NIGAM & SHARMA, 2013; VIDAL, 2013;

GUPTA, PANCHONIA, JAIN, 2014).

No ano de 2013, Vidal e colaboradores relataram um caso de cisticercose

subcutânea por T. solium na região da face (nariz e adjacências) em uma jovem de 19

anos. Além disso, em 2014, Gupta, Panchonia e Jain descreveram um caso de

cisticercose na região da mama de uma mulher de 38 anos. Agrawal, em 2012,

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descreveu 21 casos confirmados de cisticercose em tecidos moles, distribuídos em

músculos estriados em 11 casos, seguido de olho em 6 casos, tecidos subcutâneos em 2

casos, língua e mama com 1 caso cada. As calcificações dos cisticercos em ovários e na

pleura visceral também foram descritas (VIANNA; MACEDO; COSTA, 1991).

Observou-se ainda, casos mais raros de cisticercose disseminada como foi

descrito no ano de 2011, por Verma e colaboradores, de um indivíduo de 30 anos de

idade com lesões no cérebro, músculo-esquelético e língua. Em 2013, Vaidya e

colaboradores descreveram também o caso de um homem de 27 anos envolvendo

cérebro, pulmões, coração, órbita ocular, rosto, pâncreas, rim e baço.

Como se sabe, a T. solium é a principal espécie que acomete os humanos, mas o

uso do antígeno de cisticerco de T. solium para a pesquisa e estudo da cisticercose é

difícil, principalmente pela dificuldade para extrair esses cisticercos. Assim, a procura

por outras fontes de pesquisa foi estimulada, chegando ao cisticerco da T. crassiceps.

Pesquisas demonstraram que os parasitos deste gênero possuem epítopos importantes,

que apresentam semelhança antigênica com as espécies citadas auxiliando seu uso em

pesquisas (TOGORO, SOUZA, SATO, 2012).

1.3 Taenia crassiceps: biologia e aplicabilidade experimental

A T. crassiceps é um helminto da família Taenidae, da ordem Cyclophyllidea e

da classe Cestoda. Sua forma larval ou cisticerco, Cysticercus longicollis, possui

diâmetro variando entre 4-5 mm, e é capaz de produzir inúmeros brotamentos na

superfície de sua membrana (MAILLARD et al. 1998).

As formas adultas de T. crassiceps parasitam o intestino delgado de canídeos,

principalmente as raposas (MAILLARD et al. 1998; WILLMS & ZURABIAN, 2010;

FRANSSEN et al. 2014). Em hospedeiros intermediários e acidentais (paratênicos), não

foi relatada a cura espontânea. Na figura 1 observa-se o ciclo biológico desta espécie, e

seus respectivos hospedeiros.

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Figura 1 Ciclo Biológico da Taenia crassiceps - com hospedeiros definitivos (canídeos), hospedeiros

intermediários (roedores) e acidentais (cães, gatos e humanos). Adaptado de FREEMAN et al. 1962.

Além de animais selvagens, estudos demonstram que humanos também podem

ser hospedeiros deste parasito, de forma acidental. A cisticercose humana por T.

crassiceps ocorre pela ingestão de ovos deste cestóide presente em água ou alimentos

contaminados (DYER & GREEVE, 1998; MAILLARD et al. 1998; WUNSCHMANN

et al. 2003).

A cisticercose humana por T. crassiceps ocorre principalmente em indivíduos

imunodeprimidos como os portadores de HIV (MAILLARD et al. 1998), ou acometidos

por neoplasias como o linfoma (HELDWEIN et al. 2006).

No tecido subcutâneo tendem a formar agregados celulares concêntricos ao

redor do cisticerco (granuloma), num processo patológico semelhante ao da cisticercose

humana. Casos descritos de cisticercose no SNC e no subcutâneo de animais domésticos

como cães e gatos ressaltam a importância destes na transmissão e incidência da

cisticercose humana por T. crassiceps (ROBINSON et al. 1997; WUNSCHMANN et al.

2003). Cisticercos de T. crassiceps apresentam grande similaridade antigênica com

cisticercos de T. solium, principal espécie que acomete humanos, isso facilita o estudo e

a compreensão da imunopatologia da infecção, uma vez que modelos experimentais são

viabilizados, a fim de se avaliar a resposta inflamatória local e sistêmica do hospedeiro

frente a este patógeno (VAZ et al. 1997).

Canídeos

Verme adulto Ovos

Cisticerc os

Cães

Felinos

Homem

Roedores

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Alguns estudos relataram a ocorrência de cisticercose humana por T. crassiceps,

o que ressalta a importância do seu uso em modelos experimentais; como o estudo de

Freeman e colaboradores (1973) que relataram um caso de uma mulher que ingeriu ovos

de T. crassiceps proveniente das fezes de seu cão doméstico, e desenvolveu cisticercose

intraocular. Duong e colaboradores (2006) relataram um caso de cisticercose na parede

abdominal, sugestivos de T. crassiceps, em paciente imunocompetente.

Uma característica particular da T. crassiceps é a sua capacidade de se

reproduzir assexuadamente por meio de brotamentos na fase larval. Essa característica

permite que a fase larval se mantenha e colonize seus hospedeiros por longos períodos

de tempo (LINO-JÚNIOR et al. 2002; WILLMS & ZURABIAN, 2010; PÉON;

ESPINOZA-JIMÉNEZ; TERRAZAS, 2013). A figura 2 mostra em detalhe os diferentes

estágios do cisticerco de T. crassiceps.

Figura 2 Macroscopia do cisticerco de T. crassiceps. A. Cisticerco em estágio inicial; B. Cisticerco em

estágio larval. C. Cisticerco em estágio final. Adaptado de VINAUD, LINO, BEZERRA, 2007.

A semelhança antigênica entre a T. solium e a T. crassiceps foi demonstrada em

vários trabalhos. Dentre estes, destaca-se o trabalho que descreve a purificação do

antígeno alternativo para T. solium a partir de T. crassiceps na Alemanha, publicado em

1989. Os autores purificaram o fluido vesicular da T. crassiceps por cromatografia de

afinidade, utilizando soro de coelho imunizado com T. solium. A fração que foi

purificada apresentou nove antígenos de reatividade cruzada com a T. solium. Nas

técnicas, como ensaio imunoenzimático (ELISA), para detecção de anticorpos em

amostras no soro de pacientes diagnosticados com NCC, a sensibilidade foi comparável

com o antígeno homólogo (fluido vesicular da T. solium), indicando grande potencial de

aplicabilidade do antígeno heterólogo purificado para fins diagnósticos (KUNZ et al.

1989).

A B C

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São muitas as vantagens, além da semelhança antigênica, para a utilização da T.

crassiceps em estudos. O custo de produção é baixo, tem boa reprodutibilidade e o

espaço ocupado nos laboratórios é pequeno, quando comparado ao estudo experimental

utizando os cisticercos de T. solium, pois infecções experimentais em suínos com ovos

de T. solium poderiam ter consequências ambientais caso haja a disseminação de ovos

com alto potencial infectante. Dessa forma, a multiplicação feita em laboratório em

condições padronizadas dos cisticercos de T. crassiceps em camundongos possuem boas

perspectivas para a produção do antígeno heterólogo em grande escala. Além disso,

modelos experimentais são viabilizados, facilitando o estudo e a melhor compreensão da

imunopatologia da infecção, para avaliação da resposta inflamatória local e sistêmica do

hospedeiro frente ao parasito (VAZ et al. 1997; GUSSO, 2000).

Como modelo experimental para o estudo da cisticercose humana, cisticercos de

T. crassiceps são utilizados. Neste estudo utiliza-se a cepa ORF (Original Fox), cujos

cisticercos não possuem escólex, portanto, não possuem capacidade de desenvolver o

verme adulto. Por meio da inoculação de cisticercos viáveis na cavidade peritoneal de

camundongos BALB/c isogênicos, a cepa é mantida indefinidamente por inoculações

subsequentes a cada 90 dias de infecção (VAZ et al. 1997; WILLMS & ZURABIAN,

2010; FREITAS et al. 2012; MATOS-SILVA et al. 2012; MOURA et al. 2013).

1.4 Visão geral da resposta inflamatória e na cisticercose experimental por Taenia

crassiceps

Sabe-se que o processo inflamatório é formado por uma série de eventos que

ocorrem sequencialmente ou simultaneamente no organismo. É uma reação dos tecidos

frente a um agressor. Um agente inflamatório, através de moléculas sinalizadoras de

agressão do tipo moléculas-padrão associadas a patógenos (PAMP) ou de moléculas-

padrão associadas ao dano tecidual (DAMP) que induzem a liberação de mediadores

inflamatórios, alterando a microcirculação, e facilitando assim, a saída de líquidos e

células do sangue para o interstício. A esse processo denominamos inflamação (KONO

& ROCK, 2008).

Inicialmente, ocorrem os fenômenos irritativos e as modificações vasculares

locais, seguidas de exsudação plasmática e celular, que geram as alterações teciduais,

lesões degenerativas e lesões de necrose. Os mecanismos anti-inflamatórios naturais,

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atuam desde a fase inicial do processo inflamatório e são essenciais na progressão, seja

para a cronificação, ou para a cura (MCSORLEY, HEWITSON, MAIZELS, 2013).

A inflamação ocorre juntamente com a resposta imune contra o patógeno. Dois

componentes do sistema imune atuam para gerar a resposta necessária para destruir o

agressor: a imunidade inata ou natural, e a adaptativa ou adquirida. Na primeira linha de

defesa, está a imunidade inata, que após pouco tempo de exposição ao patógeno,

começa a gerar uma resposta protetora. Ela desempenha também um papel central na

ativação da resposta adaptativa (TURVEY et al. 2010). Além da barreira física, o

estrato córneo, camada mais externa da epiderme, que protege contra agentes externos

como alérgenos, radiação solar e ionizante e toxinas, a imunidade inata também

apresenta mediadores químicos e componentes celulares que promovem a resistência

intrínseca às infecções (BANGERT, BRUNNER, STINGL, 2011; AFSHAR &

GALLO, 2013).

Logo após a barreira da pele, a exsudação plasmática permite a saída de várias

moléculas como peptídeos antimicrobianos, e outras substâncias que atuam na morte

dos agentes agressores. Além disso, o sistema complemento participa, respondendo pela

via clássica, alternativa ou das lectinas, de forma imediata contra partículas

microbianas, com efeitos de opsonização e quimiotaxia, entre outros (BANGERT,

BRUNNER, STINGL, 2011).

Dependendo do tipo do patógeno, o sistema imune produz uma série de citocinas

pró e anti-inflamatórias, além de quimiocinas que atraem as células imunes da

circulação para o local da invasão do agente agressor dando continuidade à resposta

imune, que posteriormente pode progredir para a cronificação ou para a cura (TAY et

al. 2014).

Várias células inflamatórias são atraídas para o local da inflamação; entre elas,

estão os fagócitos mononucleares. Dupasquier e colaboradores (2004), demonstram que

em tecidos que tem contato com o meio externo, como a derme, os fagócitos constituem

mais de 60% da população de células residentes. Os macrófagos produzem grandes

quantidades de citocinas em resposta a microrganismos, incluindo Interleucina-1 (IL-1),

IL-6, Fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), IL-8, IL-10, IL-12 e Fator de

transformação do crescimento beta (TGFβ) (BANGERT, BRUNNER, STINGL, 2011).

Por ação direta ou indireta do agente inflamatório, ocorrem alterações no local

inflamado, como degeneração e necrose. Populações de PMNs e macrófagos são

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recrutados através de mediadores liberados durante a resposta inflamatória, como

quimiocinas, e atuam no reparo tecidual (TAYLOR, WERF, MAIZELS, 2012).

Por apresentarem receptores quimiotáticos, os polimorfonucleares neutrófilos

(PMNs) são atraídos por citocinas de macrófagos e células dendríticas (DCs) residentes,

e após ativação passam a produzir quimiocinas que atraem outras células para o local da

inflamação. Além disso, os PMNs possuem atividade microbicida (SERHAN et al.

2007; BANGERT, BRUNNER, STINGL, 2011).

Entre os fatores que interferem na instalação e progressão da resposta

inflamatória estão o tipo e a quantidade do agente inflamatório, o estado do sistema

imune e o estado funcional do organismo agredido. O processo inflamatório progride

para a cronificação quando os eventos resolutivos não são eficientes, ocorrendo assim,

um desequilíbrio entre mecanismos pró e anti-inflamatórios, falha na eliminação do

parasito ou ainda a persistência do fator causal. Pode ainda ocorrer o surgimento de

fenômenos de autoagressão imune (Brasileiro Filho, 2011).

A inflamação crônica é caracterizada por região de intensa atividade

inflamatória, presença de exsudato celular mononuclear e fenômenos alterativos com

áreas de resolução e reparação tecidual, como angiogênese e fibrose. Em alguns casos,

nas inflamações, o exsudato celular se organiza em forma circunscrita, e é denominado

granuloma (KUMAR, ABBAS, FAUSTO, 2005).

Sabe-se que os granulomas provocados por agentes inflamatórios imunogênicos,

como ovo de Schistosoma mansoni (S. mansoni) por exemplo, caracterizam-se por

camadas concêntricas de células inflamatórias, principalmente macrófagos, formando

coroas periféricas em torno do agente inflamatório. Com o decorrer do tempo, os

granulomas podem apresentar fibroblastos e uma cápsula de tecido conjuntivo

(KUMAR, ABBAS, FAUSTO, 2005).

O modelo experimental utilizando cisticercos de T. crassiceps, em infecção

intraperitoneal em camundongos das linhagens BALB/c e C57BL/6 é considerado o

mais representativo de todos os modelos de cisticercose experimental. Estudos

relataram que modelos com animais sacrificados em 07 e 30 dias de infecção e

subsequente retirada da vesícula contendo cisticercos para determinação da

concentração de citocinas como IFNγ, IL-2, IL-4 IL-6 e IL-10, foi extremamente

representativo do comportamento da resposta inflamatória no hospedeiro, além disso,

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esse modelo de estudo experimental é semelhante ao que ocorre na infecção por

cisticercos de T. solium pela semelhança antigênica entre as duas espécies (GASPAR et

al. 2013)

Robinson e colaboradores, em 1997 observaram que a resposta inflamatória Th1

era predominante no início dos granulomas causados pela T. crassiceps. A resposta

mista Th1/Th2 foi identificada nos granulomas tardios após a destruição do parasito,

evidenciando um perfil misto de citocinas em ambas as respostas. Dessa forma, pode-se

sugerir que a resposta imune inicial é do tipo Th1, ocasionando a morte do parasito,

sendo importante na resistência da infecção. Após a morte do parasito, a citocina IL-4 é

secretada, sugerindo então uma modulação da resposta inflamatória por esta citocina.

Posteriormente estudos de Toenjes e colaboradores (1999 e 2003), utilizando o modelo

de infecção intraperitoneal de camundongos BALB/c comprovaram a hipótese de que a

resposta imune local (células do exsudato peritoneal) inicial é mista (Th1/Th2) e

posteriormente é polarizada para Th2. Em contrapartida, a resposta imune no soro de

camundongos BALB/c cursa com a produção de citocinas do perfil Th1 nas fases

iniciais da infecção intraperitoneal e posteriormente, na fase tardia, os níveis de IL-4 e

IFNγ aumentam significativamente no soro, havendo portanto o estabelecimento de

uma resposta imune mista (Th1/Th2).

A progressão da infecção intraperitoneal por cisticercos de T. crassiceps

demonstra que a reposta imune é polarizada para Th2, refletindo a habilidade deste

parasito e de seus antígenos de induzir este tipo de resposta. Esses parasitos são capazes

de se evadir e modular a resposta imune do hospedeiro, onde para sua sobrevivência,

empregam estratégias como produtos excretados e secretados, que induzem a resposta

imune antiparasitária, bem como modificam a função das células imunes (SPOLSKI et

al. 2000; TERRAZAS et al. 2008).

Terrazas e colaboradores (1998) também relataram que nas fases iniciais da

cisticercose experimental intraperitoneal por T. crassiceps ocorre uma resposta imune

do tipo Th1 transitória, com altos níveis de IL-2 e IFNγ, que está associada a um baixo

índice de reprodução do parasito. Quando a infecção evolui, a resposta Th2 torna-se

mais permanente, níveis elevados das citocinas IL-4 e IL-6, associadas a um aumento

da taxa de reprodução do parasito. A ativação de respostas do tipo Th1 e do tipo Th2 na

cisticercose intraperitoneal murina, indicam o favorecimento da reprodução do parasito

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progressivamente, explicando a residência de longa data e a elevada carga parasitária

nas infecções crônicas.

Foi demonstrado in vivo que a resposta imune contra T. crassiceps mais tardia é

mista, ou seja, do tipo Th1 e Th2, e com altas concentrações tanto de IFNγ quanto de

IL-4. Dessa forma, acredita-se que os parasitos empregam várias estratégias, no intuito

de evitar ou mesmo modificar a resposta imune do hospedeiro (SPOLSKI et al. 2002).

Ainda o ano 2000, Mooney e colaboradores relataram a destruição imune de

larvas de T. crassiceps da cavidade abdominal de animais previamente infectados por

via subcutânea. As larvas que foram injetadas via intraperitoneal foram destruídas pelas

células hospedeiras, havendo uma diminuição na concentração de citocinas que foram

quantificadas a partir do lavado peritoneal, incluindo IFNγ, IL-4 e IL-10, nos

camundongos que destruíram as larvas durante a infecção secundária, quando

comparados com os camundongos do grupo controle que haviam sido apenas inoculados

com solução salina.

A Figura 3 demonstra a resposta do tipo Th1 inicial nas infecções por T.

crassiceps, sendo rapidamente substituída pela resposta do tipo Th2 a partir da terceira e

quarta semanas de infecção, que é acompanhada pela mudança no fenótipo de

macrófagos classicamente ativados caracterizados por produzirem citocinas pró-

inflamatórias e mediadores tóxicos como as espécies reativas do oxigênio e do

nitrogênio (ROS) aptos a eliminar bactérias e principalmente patógenos intracelulares

para um perfil de macrófagos anti-inflamatório associados com reparo tecidual e

fibrose, os quais são denominados macrófagos alternativamente ativados. Paralelamente

a polarização da resposta imune para um perfil Th2 e diferenciação de macrófagos

alternativamente ativados (AAMs) observa-se o aumento na carga parasitária (PÉON,

ESPINOZA-JIMENES, TERRAZAS, 2013).

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Figura 3 Resposta imune contra T. crassiceps. Legenda: CAMs: macrófagos classicamente ativados;

AAMs: macrófagos alternativamente ativados. Adaptado de PÉON, ESPINOZA-JIMENES,

TERRAZAS, 2013.

Em 2012, Freitas e colaboradores observaram a formação de granuloma

composto por macrófagos e neutrófilos envolvendo os cisticercos, em estudo feito com

camundongos da linhagem C57BL/6. Estes camundongos apresentaram um aumento da

concentração de IFNγ durante a fase inicial da infecção experimental subcutânea com

cisticercos de T. crassiceps, e um aumento de IL-4 durante o período de transição entre

as fases inicial e tardia da infecção. A resposta imune Th1, e consequente produção de

IFNγ, parece contribuir para a destruição do parasito e controle da infecção.

As pesquisas têm indicado que as respostas do tipo Th2 e de células T

reguladoras (T reg), como sendo a resposta característica contra esses parasitos

(MAIZELS et al. 2009). As infecções helmínticas podem inibir os efeitos das reações

inflamatórias excessivas em populações expostas a alguns agentes infecciosos, como

por exemplo, a malária e influenza e aumentar a suscetibilidade aos patógenos

intracelulares, interferindo na ruptura e no controle imune, gerando alergias e problemas

relacionados à autoimunidade (JACKSON 2008; LOUKAS & PROCIV 2001).

Aparentemente, uma resposta imune do tipo Th1 é mais eficiente do que a

resposta do tipo Th2 para controlar a infecção por T. crassiceps, que de acordo com a

literatura, relata que camundongos deficientes para STAT6 (fator de transcrição

relacionado com a produção de IL-4), com cisticercose experimental intraperitoneal

desenvolveram uma intensa resposta do tipo Th1, controlando a infecção

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(RODRIGUEZ-SOSA et al, 2002). Por outro lado, camundongos deficientes para o

gene STAT4 (fator de transcrição relacionado com a diferenciação do perfil Th1),

demonstraram uma maior suscetibilidade a esta infecção (RODRIGUEZ-SOSA et al,

2004). Estudos demostraram também que tanto IFNγ quanto IL-4 podem atuar no local

da inflamação aumentando a capacidade fagocítica dos macrófagos (RAVEH et al,

1998).

Com o objetivo de comparar o perfil macroscópico e microscópico na

cisticercose subcutânea, semelhante ao que já foi descrito em outras infecções, o

presente estudo utilizou duas linhagens de camundongos, conhecidos como BALB/c e

C57BL/6.

1.5 Diferenças na resposta imune entre os camundongos das linhagens BALB/c e

C57BL/6 na cisticercose experimental por Taenia crassiceps

Terrazas e colaboradores (2008) relataram que os camundongos da linhagem

BALB/c são particularmente suscetíveis à infecção com T. crassiceps, com uma

predominância da resposta imune Th2. Por outro lado, os camundongos da linhagem

C57BL/6 são conhecidos por terem uma resistência genética à infecção por T.

crassiceps com predomínio de uma resposta mista Th1/Th2. Ainda em 2008, Fragoso e

colaboradores observaram que camundongos BALB/c permitem o crescimento

parasitário, enquanto que camundongos C57BL/6 conseguem conter a proliferação do

parasito.

Estudos relacionados com a infecção intraperitoneal com cisticercos de T.

crassiceps em camundongos suscetíveis (BALB/c), que desenvolveram o perfil de

resposta Th2, produziram mais IL-4, IL-5 e IL-13, enquanto camundongos naturalmente

resistentes (C57BL/6), que tiveram um perfil de resposta mista Th1/Th2, produziram

mais IL-12, IL-17 e IFNγ (RODRIGUEZ-SOSA et al. 2002).

Em camundongos C57BL/6 com cisticercose subcutânea por T. crassiceps,

Freitas e colaboradores (2012) observaram a formação de granuloma composto por

macrófagos e neutrófilos envolvendo os cisticercos; estes animais tiveram aumento na

concentração sérica de IFNγ durante a infecção e aumento de IL-4 durante o período de

transição entre as fases inicial e tardia da infecção. O aumento da resposta Th1, pela

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produção de IFNγ, parece ter contribuído para a destruição do parasito e controle da

infecção.

Dessa forma, observa-se nos animais da linhagem BALB/c, um perfil de

resposta anti-inflamatória e, em camundongos C57BL/6, o perfil de resposta observado

é mais pró-inflamatório (TOENJES et al. 2003).

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2 JUSTIFICATIVA

Apesar de não existirem relatos de infecção natural por T. crassiceps em

humanos no Brasil, o homem é considerado um hospedeiro paratênico suscetível,

podendo desenvolver quadros graves e de difícil diagnóstico, como observados em

estudos descritos pelo mundo, especialmente envolvendo indivíduos

imunocomprometidos com neoplasias ou ainda por doenças como AIDS.

Fatores biológicos envolvidos na suscetibilidade do hospedeiro frente às

parasitoses devem ser cuidadosamente investigados. Dessa forma, faz-se necessário

identificar o perfil anatomopatológico que limita o desenvolvimento do parasito, na

tentativa de diminuir o dano tecidual e orgânico ao hospedeiro.

Esse estudo propõe um modelo experimental da cisticercose no tecido

subcutâneo, semelhante ao que ocorre em animais e seres humanos, tornando possível o

acompanhamento clínico da lesão ao longo do tempo, possibilitando também, uma

comparação com a cisticercose humana causada pela T. solium, devido à grande

semelhança antigênica entre as duas espécies.

Além disso, estudos demonstraram que os camundongos da linhagem BALB/c

são particularmente suscetíveis à infecção com T. crassiceps. Enquanto que, os

camundongos da linhagem C57BL/6, são conhecidos por terem uma resistência

genética à infecção por T. crassiceps. Sabe-se ainda, que os camundongos BALB/c

permitem o crescimento parasitário, enquanto os camundongos C57BL/6 conseguem

conter a proliferação do mesmo.

Sabendo-se que nas respostas do tipo Th1, Th2 e Treg, temos algumas citocinas

que caracterizam estes perfis, e a partir destes perfis de resposta observa-se a presença

de algumas células que estão predominantemente associadas a estes perfis e que mais

participam do processo inflamatório, foi realizado o estudo anatomopatológico do local

da lesão de camundongos BALB/c e C57BL/6, afim de comparar a resposta

inflamatória local nesses animais, frente ao parasito no decorrer do tempo. Este estudo

está incluído na linha de pesquisa em Cisticercose Experimental, desenvolvida no

Laboratório de Patologia Experimental do Instituto de Patologia Tropical e Saúde

Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG).

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O modelo experimental murino é uma alternativa pertinente para o estudo da

cisticercose, pois o estudo em humanos é inviável, já que devido a questões éticas não é

permitido provocar a infecção experimental, com subsequente retirada de fragmentos do

tecido subcutâneo em indivíduos para realização da análise anatomopatológica. Dessa

forma, os testes com animais de laboratório, quando realizados nas mais criteriosas

formas, são bem aceitos em pesquisa acadêmica.

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Comparar os processos patológicos gerais no tecido subcutâneo dos

camundongos das linhagens BALB/c e C57BL/6, decorrente da infecção experimental

por cisticercos de Taenia crassiceps.

3.2 Objetivos Específicos

Descrever macroscopicamente os processos patológicos gerais presentes no

tecido subcutâneo infectado nos camundongos das linhagens BALB/c e

C57BL/6.

Descrever microscopicamente os processos patológicos gerais presentes no

tecido subcutâneo infectado nos camundongos das linhagens BALB/c e

C57BL/6.

Comparar os processos patológicos gerais presentes no tecido subcutâneo

infectado nos camundongos das linhagens BALB/c e C57BL/6.

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4 MÉTODOS

4.1 Animais

Esse projeto foi realizado obedecendo às normas estabelecidas pela Sociedade

Brasileira de Ciências em Animais de Laboratório. Dessa forma, o projeto foi submetido

à Comissão de Ética do Uso de Animais (CEUA/UFG), aprovado e protocolado pelo

nº076/12.

Foram utilizados camundongos machos das linhagens BALB/c e C57BL/6,

ambos com idade entre 8 e 12 semanas, pesando entre 20 e 30 gramas, que foram

fornecidos e mantidos em gaiolas com medidas de 20 cm x 30 cm, no Biotério do

IPTSP-UFG. Esses animais foram alimentados com ração para camundongos

autoclavada e água acidificada e autoclavada ad libitum. A luminosidade foi controlada

por foto período de 12 horas. A temperatura, intensidade de ruído e a umidade relativa

do ar eram as do ambiente geral. Foram utilizados quatro grupos de camundongos,

distribuídos aleatoriamente, um grupo contendo 5 camundongos BALB/c para cada dia

experimental, um grupo contendo 5 camundongos BALB/c controle para cada dia

experimental, um outro grupo contendo 3 camundongos C57BL/6 para cada dia

experimental e um grupo contendo 3 camundongos C57BL/6 controle para cada dia

experimental, totalizando 64 camundongos, divididos da seguinte forma: Grupo 1 –

cinco camundongos BALB/c infectados com cisticercos de T. crassiceps; Grupo 2 –

cinco camundongos BALB/c inoculados com solução salina; Grupo 3 – três

camundongos C57BL/6 infectados com cisticercos de T. crassiceps; e Grupo 4 – três

camundongos C57BL/6 inoculados com solução salina.

Priorizando o bem estar dos animais, as gaiolas ficaram próximas, uma de frente

para a outra.

Após serem submetidos ao inóculo, os camundongos de ambas linhagens foram

avaliados por um Médico Veterinário, que acompanhava se os animais estavam

sentindo dor ou sofrimento e, caso algum deles apresentasse sintomas relacionados a

esses parâmetros, seriam eutanasiados. Para a avaliação da dor, foi observado o

comportamento desses animais dentro da gaiola e no momento da manipulação, tendo

como parâmetros a higiene pessoal, agressividade, postura e respostas ao manejo.

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4.2 Manutenção do ciclo experimental da Taenia crassiceps, inóculo e eutanásia dos

camundongos BALB/c e C57BL/6

A cepa ORF de T. crassiceps é mantida no Biotério do IPTSP-UFG, onde são

realizadas passagens intraperitoneais sucessivas, a cada 90 dias, em camundongos

fêmeas da linhagem BALB/c, com idade entre 8 e 12 semanas. Essa manutenção é

realizada desde o ano de 2002, de acordo com Vaz e colaboradores (1997).

Os camundongos das linhagens BALB/c e C57BL/6, foram inoculados com 10

cisticercos em fase inicial no subcutâneo da região dorsal. Esses cisticercos foram

inoculados juntamente com uma suspensão de salina estéril, com volume mínimo de

0,2mL. Os camundongos das linhagens BALB/c e C57BL/6, pertencentes aos grupos

controles, foram inoculados com 0,2mL de solução salina estéril (FREITAS et al. 2012).

Nos dias experimentais 07, 30, 60 e 90, os animais foram anestesiados

intraperitonealmente com 0,5g/mL da solução de Xilazina a 2% e Cetamina a 10%.

Após a anestesia, os camundongos de ambas linhagens foram eutanasiados por

deslocamento cervical para a coleta do subcutâneo e subsequente análise

anatomopatológica.

4.3 Análise anatomopatológica

A análise anatomopatológica foi realizada através do estudo macroscópico e

microscópico dos processos patológicos presentes no subcutâneo decorrentes da

infecção pelo cisticerco de T. crassiceps, tanto nos camundongos da linhagem BALB/c

quanto nos camundongos da linhagem C57BL/6 aos 07, 30, 60 e 90 dias após inóculo

(DAI). Para tais análises, foi coletada a região do subcutâneo adjacente ao local onde

foram inoculados os cisticercos. Após essa fase, foi feita a documentação fotográfica

desse material por uma máquina fotográfica digital acoplada a uma lupa. Depois de

coletado, o subcutâneo foi fixado em formalina tamponada a 10% e processado para

inclusão em parafina. As lâminas foram coradas pela técnica hematoxilina e eosina

(HE).

Na análise patológica foi observada a presença ou ausência do parasito, suas

fases de desenvolvimento, presença ou ausência e preservação de suas membranas,

além do infiltrado inflamatório. Na interface parasito-hospedeiro, os processos

patológicos analisados incluem as alterações da célula, alterações do interstício,

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alterações locais da circulação sanguínea, calcificações patológicas, edema, linfócitos,

plasmócitos, macrófagos, neutrófilos, eosinófilos, necrose caseosa, hiperemia, tecido de

granulação, fibrose e pigmentações patológicas.

Para a caracterização dos granulomas foi considerada a presença ou ausência de

leucócitos exsudados, em especial, os macrófagos, formando agregados celulares ao

redor do parasito. Os granulomas foram classificados em primário, secundário ou

terciário. O granuloma primário foi caracterizado por aglomerado de macrófagos ao

redor do parasito, o granuloma secundário foi caracterizado por uma zona de necrose

de extensão variável, zona de exsudação celular, presença de células epitelióides e o

granuloma terciário foi caracterizado por apresentar uma menor área de necrose e

exsudação celular diminuída com proliferação conjuntiva predominante (Brasileiro

Filho, 2011).

Com relação as alterações patológicas, utilizou-se uma classificação semi-

quantitativa, de acordo com os seguintes critérios: ausente, discreta – com

comprometimento de até 25% da área, moderada – com comprometimento de 26 a

50% e acentuada – com comprometimento maior que 50% da área.

4.4 Análise estatística

A análise estatística dos resultados foi feita utilizando o programa Sigma Stat.

Todas as variáveis foram testadas quanto à distribuição normal e variância homogênea.

Para os valores de intensidade das alterações macro e microscópicas serão estabelecidos

os seguintes escores: ausente - escore 0; discreto - escore 1; moderado - escore 2;

acentuado - escore 3; e submetidas ao teste não paramétrico de Mann–Whitney. Para

todos os testes realizados, foram consideradas diferenças estatisticamente significativas

quando p<0,05.

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22

5 RESULTADOS

5.1 Análise anatomopatológica

Para avaliar os processos patológicos gerais desenvolvidos na interface parasito-

hospedeiro nas duas linhagens de camundongos infectados com T. crassiceps, foram

realizadas coletas da região subcutânea adjacente à infecção, aos 07, 30, 60 e 90 DAI.

As análises morfológicas das lesões estão registradas tanto por macroscopia - Figura 4 -

quanto por microscopia – Figuras 5, 6, 7 e 8 e Tabelas 1, 2, 3 e 4.

5.1.1. Macroscopia

Nos animais da linhagem BALB/c, macroscopicamente observou-se a formação

de uma vesícula circunscrita aos cisticercos, de tamanho correspondente à multiplicação

e desenvolvimento dos parasitos em seu interior. A presença dos cisticercos induziu no

local infectado, a instalação de um processo inflamatório inicialmente com sinais de

hiperemia, exsudação plasmática, que evoluiu para a cronicidade, sem cura observada

ao longo dos dias experimentais, com persistência da infecção e fenômenos reparativos

como fibrose, caracterizada pela opacidade da membrana.

Com relação aos camundongos da linhagem C57BL/6, macroscopicamente

observou-se a formação de uma vesícula circunscrita aos cisticercos, com tamanho

correspondente à multiplicação e desenvolvimento dos parasitos em seu interior, que

aumentou ao longo dos dias experimentais, mas que no DAI 90 diminuiu de tamanho

devido à morte dos parasitos em seu interior. A presença dos cisticercos, assim como

nos animais BALB/c, induziu no local infectado, a instalação de um processo

inflamatório com sinais de exsudação plasmática. Observou-se ainda que, nos animais

C57BL/6, houve uma evolução para a cura ao longo dos dias experimentais, com a

presença de fibrose e de cisticercos em fase final.

Aos 07 DAI, nos animais da linhagem BALB/c, observou-se uma pequena

vesícula contendo um número reduzido de cisticercos em seu interior (Figura 4 A); a

membrana da vesícula em 80% dos animais estava translúcida. Além disso, os animais

não apresentaram os demais processos patológicos avaliados (hemorragia, fibrose e

inflamação aguda exsudativa) neste dia experimental. Com relação aos animais da

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linhagem C57BL/6, observou-se cisticercos no subcutâneo, em diferentes fases de

desenvolvimento (inicial, larval e final), porém, havia predomínio da fase inicial.

Observou-se ainda uma vesícula pequena contendo alguns cisticercos aderidos no

subcutâneo. As membranas desses cisticercos estavam preservadas nos parasitos na fase

inicial, mas destruídas nas fases larval e final (Figura 4 B).

Aos 30 DAI, os animais da linhagem BALB/c, tinham a vesícula aumentada

com relação ao dia experimental anterior (Figura 4 C), contendo uma maior quantidade

de cisticercos. A hemorragia foi de ausente a moderada. A inflamação aguda exsudativa

e purulenta estava presente 40% dos animais. A membrana da vesícula encontrava-se

opaca na maioria dos animais. Nos camundongos da linhagem C57BL/6 visualizou-se

cisticercos em fase inicial, larval e final, com predomínio de cisticercos em fase inicial e

larval. Esses cisticercos estavam no interior da vesícula, que apresentava-se um pouco

maior que a vesícula do dia experimental anterior, devido ao maior número de

cisticercos que a mesma continha (Figura 4 D).

Aos 60 DAI, constatou-se que a hiperemia foi semelhante em relação aos dias

experimentais anteriores. 60% dos animais da linhagem BALB/c, apresentaram

hemorragia em intensidade discreta. E 40% dos camundongos apresentavam fibrose em

quantidade moderada. Foi observada também a presença de inflamação aguda

exsudativa e purulenta, variando de discreta a acentuada em 80% dos animais. A

membrana apresentava-se opaca durante esta fase (Figura 4 E). Nos camundongos da

linhagem C57BL/6, observou-se cisticercos em fase inicial, larval e final no interior da

vesícula que ocupava quase todo o dorso do animal, com grande quantidade de parasitos

em seu interior (Figura 4 F).

Aos 90 DAI, nos animais da linhagem BALB/c, a hiperemia manteve-se discreta

e a hemorragia discreta a moderada. Observou-se fibrose e inflamação aguda exsudativa

e purulenta. Nesta fase, a membrana encontrava-se opaca em 60% dos animais (Figura

4 G). Nos animais da linhagem C57BL/6, encontrou-se cisticercos em todas as fases de

desenvolvimento, com predomínio de cisticercos larvais e finais, porém, a vesícula que

albergava os parasitos diminuiu de tamanho e possuía um aspecto opaco e fibrótico

(Figura 4 H).

5.1.2. Microscopia

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Observou-se nos animais da linhagem BALB/c, aos 07 DAI de infecção, a

presença de processos patológicos gerais na interface hospedeiro-parasito do tipo

infiltrado inflamatório constituído predominantemente por neutrófilos (Figura 5A e B,

Tabela 1). Houve discreta presença de macrófagos. Enquanto que os linfócitos e

plasmócitos estavam ausentes em 100%. Os eosinófilos apresentaram-se em intensidade

discreta. Nesta fase não foi observada necrose caseosa. Edema e a hiperemia foram

moderados. Já a fibrina e tecido de granulação foram observados em quantidades

discretas. O granuloma observado, foi predominantemente de fase primária. Nos

animais da linhagem C57BL/6, encontrou-se linfócitos e eosinófilos, os plasmócitos

foram ausentes. Também não foi observada calcificação nem tecido de granulação. A

fibrose foi ausente em 100% dos animais. Observou-se granuloma primário em 33% dos

animais e secundário em 67%. Os cisticercos observados estavam nas fases inicial e

larval. No parasito, observou-se infiltrado inflamatório de macrófagos e neutrófilos.

Neste dia experimental, não houve a formação de granuloma (Figura 5C e D, Tabela 1).

Aos 30 DAI, nos camundongos da linhagem BALB/c, observou-se a presença

acentuada de macrófagos e discreta de linfócitos (Figura 6A e B, Tabela 2). Os

neutrófilos permaneceram aumentados e os eosinófilos estavam discretos. Houve

presença de necrose caseosa moderada e edema discreto. O tecido de granulação se

apresentava moderado nesses animais. Os granulomas foram classificados, em sua

maioria, em terciários. Na linhagem C57BL/6, os linfócitos e plasmócitos foram

ausentes. Macrófagos e neutrófilos em quantidade moderada. Em 100% dos animais

observou-se eosinófilos em quantidade discreta. A pigmentação foi ausente.

Calcificação foi de ausente à discreta, bem como edema. A necrose caseosa observada

foi moderada. Hiperemia e tecido de granulação não foram observados nesse dia

experimental. Já a fibrose foi ausente em 34% dos animais e discreta a moderada nos

66% restante. O granuloma foi classificado em secundário, e os cisticercos observados

estavam, em 100% dos casos, em fase inicial (Figura 6C e D, Tabela 2).

Aos 60 DAI, nos animais da linhagem BALB/c, encontrou-se macrófagos em

quantidade acentuada (Figura 1A e B, Tabela 3). Os eosinófilos foram encontrados em

intensidade discreta. Calcificação e pigmentação não foram encontradas. A hiperemia

foi de moderada a acentuada. Observou-se presença de plasmócitos em intensidade

discreta. Os granulomas foram classificados como terciários. Na linhagem C57BL/6, foi

observada a presença de linfócitos, plasmócitos em quantidade discreta. Os macrófagos

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observados eram em quantidade acentuada em 100% dos animais, assim como os

neutrófilos. Eosinófilos foram observados em quantidade discreta a moderada.

Calcificação, pigmentação e necrose caseosa foram ausentes, assim como hiperemia e

tecido de granulação. Fibrose foi discreta em 67% dos casos. O granuloma observado

foi classificado em terciário, e os cisticercos estavam em fase inicial e larval (Figura 7C

e D, Tabela 3).

Aos 90 DAI, observou-se nos animais BALB/c, intensidade discreta de

linfócitos e acentuada de macrófagos (Figura 8A e B, Tabela 4). 80% dos animais

apresentavam plasmócitos em intensidade discreta. Os neutrófilos variaram de discreto a

moderado. Os eosinófilos estavam presentes em intensidade discreta em 80% dos

camundongos. Calcificação e pigmentação foram encontradas em pequenas quantidades.

Observou-se hiperemia e tecido de granulação em quantidade moderada a acentuada. O

granuloma foi classificado como terciário em 100% dos animais. Nos animais da

linhagem C57BL/6, observou-se linfócitos e plasmócitos em quantidade discreta. Os

macrófagos apresentavam-se em quantidade moderada, assim como os neutrófilos.

Eosinófilos foram ausentes em 67% dos casos. Além disso, calcificação, necrose

caseosa, edema, hiperemia e tecido de granulação também foram ausentes. Pigmentação

foi discreta em 33% dos casos. Fibrose foi moderada em 67% dos casos. O granuloma

foi classificado em terciário e os cisticercos encontrados estavam principalmente em

fase final (Figura 8C e D, Tabela 4).

Não foram encontrados processos patológicos gerais nos animais controles de

ambas as linhagens.

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Figura 4: Macroscopia do tecido subcutâneo de camundongo BALB/c (linha 1) e C57BL/6 (linha 2), após infecção com cisticercos de T.

crassiceps ao longo dos dias experimentais. Aos 07 DAI. A. BALB/c. B. C57BL/6. Aos 30 DAI. C. BALB/c. D. C57BL/6. Aos 60 DAI. E.

BALB/c. F. C57BL/6. Aos 90 DAI. G. BALB/c. H. C57BL/6.

B D F H

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Figura 5: Fotomicrografia do tecido subcutâneo de camundongo das linhagens BALB/c e

C57BL/6 aos 07 DAI. Em A: Camundongo BALB/c, com presença de infiltrado inflamatório

moderado e difuso em todas as camadas de pele e próximo ao cisticerco em estágio inicial

(seta) (HE, escala = 200μm). B: Detalhe da figura A, em camundongo BALB/c, na interface

parasito-hospedeiro, com infiltrado inflamatório próximo ao tegumento do parasito (HE,

escala = 20μm). Em C: Camundongo C57BL/6, com presença de infiltrado inflamatório ao

redor do parasito e cisticercos em diferentes fases de desenvolvimento (seta) (HE, escala =

100μm). D: Camundongo C57BL/6, com presença de necrose e infiltrado inflamatório na

interface parasito-hospedeiro (HE, escala = 20μm).

C D

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Figura 6: Fotomicrografia do tecido subcutâneo de camundongo das linhagens BALB/c e

C57BL/6 aos 30 DAI. Em A: Camundongos BALB/c, com presença de infiltrado

inflamatório acentuado próximo aos cisticercos em estágio larval (seta) (HE, escala =

200μm). B: Detalhe da figura A, em camundongo BALB/c, com infiltrado inflamatório

acentuado (HE, escala = 20μm). C: Camundongo C57BL/6, com presença de infiltrado

inflamatório acentuado na interface parasito-hospedeiro e cisticercos na fase inicial (seta)

(HE, escala = 200μm). D: Camundongos C57BL/6, com presença de necrose caseosa (N) e

infiltrado inflamatório na interface parasito-hospedeiro (HE, escala = 20μm).

N

C D

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Figura 7: Fotomicrografia do tecido subcutâneo de camundongo das linhagens BALB/c e

C57BL/6 aos 60 DAI. Em A: Camundongos BALB/c, com cisticercos em fase larval com

região de necrose caseosa (seta) (HE, escala = 200μm). B: Detalhe da figura A, em

camundongos BALB/c, apresentando cristais de colesterol (setas) e macrófagos espumosos

(pontas de setas) (HE, escala = 20μm). C: Camundongos C57BL/6, com cisticercos em fase

inicial (seta) e infiltrado inflamatório acentuado ao redor do parasito (HE, escala = 200μm).

D: Camundongos C57BL/6, com pigmentos de hemossiderina na interface parasito-

hospedeiro (HE, escala = 20μm).

C D

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Figura 8: Fotomicrografia do tecido subcutâneo de camundongo das linhagens BALB/c e

C57BL/6 aos 90 DAI. Em A: Camundongos BALB/c, com presença de infiltrado

inflamatório em todas as camadas de pele (HE, escala = 200μm). B: Detalhe da figura A, em

camundongos BALB/c, apresentando a região de necrose caseosa com calcificação (seta), e

macrófagos com hemossiderina (pontas de seta) (HE, escala = 20μm). C: Camundongos

C57BL/6, com presença de cisticercos em todas as fases de desenvolvimento (setas) e

infiltrado inflamatório moderado ao redor do parasito (HE, escala = 200μm). D:

Camundongos C57BL/6, com infiltrado inflamatório constituído de mononucleares,

juntamente com colágeno na interface parasito-hospedeiro (HE, escala = 20μm).

C D

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5.1.3 Aspectos microscópicos dos processos patológicos gerais

Tabela 1: Aspectos microscópicos dos processos patológicos gerais no subcutâneo das linhagens BALB/c e C57BL/6 aos 7 dias de infecção com cisticercos de Taenia crassiceps

Alterações microscópicas

BALB/c (n=5) C57BL/6 (n=3)

% (n) % (n)

Ausente Discreto Moderado Acentuado Ausente Discreto Moderado Acentuado

Linfócitos 100 (5) - - - 100 (3) - - -

Plasmócitos 100 (5) - - - 67 (2) - 33 (1) -

Macrófagos - 80 (4) 20 (1) - - 67 (2) 33 (1) -

Neutrófilos - - 100 (5) - - - 33 (1) 67 (2)

Eosinófilos - 100 (5) - - 67 (2) 33 (1) - -

Calcificação 100 (5) - - - 100 (3) - - -

Pigmentação 100 (5) - - - 67 (2) - 33 (1) -

Necrose caseosa 80 (4) 20 (1) - - 67(2) - - 33 (1)

Edema - 20 (1) 80 (4) - 34 (1) - 33 (1) 33 (1)

Hiperemia - 40 (2) 60 (3) - - 67 (2) - 33 (1)

Tecido de granulação - 100 (5)** - - 100 (3)** - - -

Fibrose - 40 (2)** 60 (3)** - 100 (3)** - - -

Granuloma (classificação) Primário Secundário Terciário Primário Secundário Terciário

100 (5) - - 33 (1) 67 (2) -

Cisticerco (fase) Inicial Larval Final Inicial Larval Final

60 (3)* 40 (1)* - 67 (2)* 33 (1)* -

Para análise estatística, as alterações foram consideradas por escores, sendo: Ausente - 0; Discreto - 1; Moderado - 2 e acentuado - 3.

*As variáveis não somam 100% pois o mesmo animal apresentou cisticercos em várias fases de desenvolvimento. **Resultado estatisticamente significante (p<0,05)

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Tabela 2: Aspectos microscópicos dos processos patológicos gerais no subcutâneo das linhagens BALB/c e C57BL/6 aos 30 dias de infecção com cisticercos de Taenia crassiceps

Alterações microscópicas

BALB/c (n=5) C57BL/6 (n=3)

% (n) % (n)

Ausente Discreto Moderado Acentuado Ausente Discreto Moderado Acentuado

Linfócitos - 100 (5)** - - 100 (3)** - - -

Plasmócitos 100 (5) - - - 67 (2) 33 (1) - -

Macrófagos - 20 (1) 20 (1) 60 (3) - - 67 (2) 33 (1)

Neutrófilos - 60 (3) 20 (1) 20 (1) - - 67 (2) 33 (1)

Eosinófilos - 80 (4) 20 (1) - - 100 (3) - -

Calcificação 80 (4) 20 (1) - - 67 (2) 33 (1) - -

Pigmentação 100 (5) - - - 100 (3) - - -

Necrose caseosa - 20 (1) 60 (3) 20 (1) 33 (1) - 67 (2) -

Edema - 100 (5) - - 67 (2) 33 (1) - -

Hiperemia - 40 (2) 40 (2) 20 (1) 67 (2) 33 (1) - -

Tecido de granulação - 20 (1)** 60 (3)** 20 (1)** 100 (3)** - - -

Fibrose -

100 (5) - 34 (1) 33 (1) 33 (1) -

Granuloma (classificação) Primário Secundário Terciário Primário Secundário Terciário

- 40 (2) 60 (3) - 67 (2) 33 (1)

Cisticerco (fase) Inicial Larval Final Inicial Larval Final

20 ((1)*)** 100 ((5)*)** - 100 ((3)*)** - -

Para análise estatística, as alterações foram consideradas por escores, sendo: Ausente - 0; Discreto - 1; Moderado - 2 e acentuado - 3.

*As variáveis não somam 100% pois o mesmo animal apresentou cisticercos em várias fases de desenvolvimento. **Resultado estatisticamente significante (p<0,05)

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Tabela 3: Aspectos microscópicos dos processos patológicos gerais no subcutâneo das linhagens BALB/c e C57BL/6 aos 60 dias de infecção com cisticercos de Taenia crassiceps

Alterações microscópicas

BALB/c (n=5) C57BL/6 (n=3)

% (n) % (n)

Ausente Discreto Moderado Acentuado Ausente Discreto Moderado Acentuado

Linfócitos 40 (2) 60 (3) - - - 100 (3) - -

Plasmócitos - 100 (5) - - 33 (1) 67 (2) - -

Macrófagos - - - 100 (5) - - - 100 (3)

Neutrófilos - - 100 (5)** - - - - 100 (3)**

Eosinófilos - 100 (5) - - 33 (1) 33 (1) 34 (1) -

Calcificação 80 (4) 20 (1) - - 100 (3) - - -

Pigmentação 100 (5) - - - 100 (3) - - -

Necrose caseosa - 20 (1)** 60 (3)** 20 (1)** 100 (3)** - - -

Edema - 80 (4)** 20 (1)**

100 (3)** - - -

Hiperemia - 20 (1)** 40 (2)** 40 (2)** 67 (2)** 33 (1)** - -

Tecido de granulação - 20 (1)** 20 (1)** 60 (3)** 100 (3)** - - -

Fibrose 100 (5)** - - - - 67 (2)** 33 (1)** -

Granuloma (classificação) Primário Secundário Terciário Primário Secundário Terciário

- - 100 (5) - - 100 (3)

Cisticerco (fase) Inicial Larval Final Inicial Larval Final

20 (1)* 100 (5)* 20 (5)* 67 (2) 33 (1) -

Para análise estatística, as alterações foram consideradas por escores, sendo: Ausente - 0; Discreto - 1; Moderado - 2 e acentuado - 3.

*As variáveis não somam 100% pois o mesmo animal apresentou cisticercos em várias fases de desenvolvimento. **Resultado estatisticamente significante (p<0,05)

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Tabela 4: Aspectos microscópicos dos processos patológicos gerais no subcutâneo das linhagens BALB/c e C57BL/6 aos 90 dias de infecção com cisticercos de Taenia crassiceps

Alterações microscópicas

BALB/c (n=5) C57BL/6 (n=3)

% (n) % (n)

Ausente Discreto Moderado Acentuado Ausente Discreto Moderado Acentuado

Linfócitos - 100 (5) - - 33 (1) 67 (2) - -

Plasmócitos 20 (1) 80 (4) - - 33 (1) 67 (2) - -

Macrófagos - - 40 (2) 60 (3) 33 (1) - 67 (2) -

Neutrófilos - 40 (2) 40 (2) 20 (1) 33 (1) - 67 (2) -

Eosinófilos - 80 (4) 20 (1) - 67 (2) 33 (1) - -

Calcificação 60 (3) 20 (1) - 20 (1) 100 (3) - - -

Pigmentação 60 (3) 40 (2) - - 67 (2) 33 (1) - -

Necrose caseosa 20 (1) - 60 (3) 20 (1) 100 (3) - - -

Edema 100 (5) - - - 100 (3) - - -

Hiperemia - - 60 (3)** 40 (2)** 100 (3)** - - -

Tecido de granulação - - 80 (4)** 20 (1)** 100 (3)** - - -

Fibrose 100 (5)** - - - - 33 (1)** 67 (2)** -

Granuloma (classificação) Primário Secundário Terciário Primário Secundário Terciário

- - 100 (5) - 33 (1) 67 (2)

Cisticerco (fase) Inicial Larval Final Inicial Larval Final

- 100 (5)* 40 (2)* 33 (1)* - 67 (2)*

Para análise estatística, as alterações foram consideradas por escores, sendo: Ausente - 0; Discreto - 1; Moderado - 2 e acentuado - 3.

*As variáveis não somam 100% pois o mesmo animal apresentou cisticercos em várias fases de desenvolvimento. **Resultado estatisticamente significante (p<0,05)

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35

6 DISCUSSÃO

O presente trabalho comparou os processos patológicos locais envolvidos na

resposta inflamatória em ambas linhagens de camundongos que foram infectados na

região dorsal por cisticercos de T. crassiceps.

No modelo de infecção mais descrito na literatura, utiliza-se o inóculo com 10

cisticercos de T. crassiceps em fase inicial, na cavidade peritoneal, onde os parasitos

normalmente se desenvolvem em camundongos BALB/c, mas são controlados com

aproximadamente 30 dias em C57BL/6 (FRAGOSO et al. 2008). No modelo proposto

no presente estudo, utilizou-se camundongos da linhagem BALB/c que são

geneticamente suscetíveis à infecção por T. crassiceps e camundongos da linhagem

C57BL/6 geneticamente resistentes à mesma infecção (TERRAZAS et al. 2008;

FRAGOSO et al. 2008). Isso se justifica, pelo fato do modelo experimental de infecção

no subcutâneo por T. crassiceps, em camundongos das linhagens BALB/c e C57BL/6

serem o modelo que mais se aproxima do que ocorre na cisticercose humana e também

por não ter sido relatado na literatura casos de cisticercose intraperitoneal por T. solium

em seres humanos.

Sabe-se que as citocinas envolvidas no surgimento da resposta inflamatória, são

do tipo Th1 e Treg simultaneamente, indicando que esta resposta está diretamente

ligada ao estado imune do hospedeiro, o que já foi descrito por vários estudos

experimentais intraperitoneais utilizando cisticercos de T. crassiceps (RODRIGUEZ-

SOSA et al. 2002).

Gaspar e colaboradores (2013) descreveram, que a resistência e a suscetibilidade

às infecções parasitárias estão associadas com a predominância entre a resposta imune

do tipo Th1 ou Th2. A reposta do tipo Th1 produz citocinas como IL-2, IFNγ e TNFβ, e

envolvem células mediadoras das reações imunológicas. Por outro lado, a resposta

imune do tipo Th2 secreta principalmente IL-4, IL-5, IL-6 e IL-13, em adição à

mediação da ativação de linfócitos B, produção de anticorpos (Ac) e regulação da

resposta imune do tipo Th1.

Os camundongos BALB/c infectados por T. crassiceps desenvolvem uma

resposta imune do tipo Th1 e Th2, conhecida por resposta imune mista. Quando a

infecção passa da fase aguda para a crônica, a concentração de citocinas Th2 induz o

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recrutamento de macrófagos alternativamente ativados (AAMs), que controlam uma

exacerbação da resposta inflamatória (MARTINEZ, HELMING, GORDON, 2009).

Esses AAMs podem neutralizar as citocinas pró-inflamatórias e os mecanismos imunes

efetores, que modulam essa resposta. Os AAMs produzem componentes da matriz

extracelular, além de estarem relacionados à fibrose e a reparação tecidual. Podendo,

dessa forma, contribuir para a diminuição da resposta inflamatória exacerbada nos

camundongos da linhagem BALB/c do presente estudo (KREIDER et al. 2007;

MOSSER & EDWARDS, 2008; GORDON & MARTINEZ, 2010).

O perfil de resposta imune Th2, é caracterizado pela ativação e expansão de

plasmócitos, secreção de IgE, eosinófilos, mastócitos e basófilos (ANTHONY et al.

2007). Aos 07 DAI no presente estudo, observou-se, nos animais da linhagem BALB/c,

um aumento significativo na quantidade de tecido de granulação e de fibrose quando

comparados aos animais da linhagem C57BL/6. Este resultado demonstra que já no

início da infecção os animais da linhagem BALB/c apresentam componentes da

resposta inflamatória relacionados com a cronificação do processo infeccioso e não

com a eliminação do parasito. Na presença do antígeno de T. crassiceps, em infecções

intraperitoneais em camundongos BALB/c, os níveis de IFNγ diminuem, devido a

produção de citocinas do tipo Th2 (MOURA et al. 2013).

Aos 30 DAI, observou-se um aumento significativo na quantidade de linfócitos

nos animais da linhagem BALB/c, quando comparados aos animais C57BL/6. Além

disso, houve também um aumento significativo na quantidade de tecido de granulação

dos animais BALB/c, com relação aos animais C57BL/6. Por fim, a quantidade de

cisticercos encontrada nos animais BALB/c, foi estatisticamente maior se comparada à

quantidade de cisticercos encontrada nos animais da linhagem C57BL/6. Esses dados

corroboram com o estudo de Péon e colaboradores (2013), que relataram que na fase

aguda da infecção intraperitoneal em murinos, por T. crassiceps, pode haver uma

indução da resposta imune do tipo Th1 nas primeiras semanas, substituída pela resposta

do tipo Th2, caracterizada pelo aumento da fibrose.

Aos 60 DAI, observou-se um aumento no número de neutrófilos e um aumento

na fibrose nos animais da linhagem C57BL/6, ao contrário do que havia acontecido nos

dias experimentais anteriores, onde podia se observar que a resposta inflamatória local

nos animais da linhagem BALB/c era maior do que a que acontecia nos camundongos

da C57BL/6. Por outro lado, com relação à necrose caseosa, edema, hiperemia e tecido

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de granulação, observou-se que estavam em maiores quantidades nos animais da

linhagem BALB/c do que nos C57BL/6, com diferença estatisticamente significante em

todos os itens observados. Tais dados sugerem, que a presença do parasito no

subcutâneo de camundongos C57BL/6 pode induzir a uma resposta mista Th1/Th2,

desta forma, a morte do parasito poderia estar ocorrendo por aumento da atividade

microbicida de macrófagos, via eixo Th1 ou pelos mecanismos Th2 clássicos

(TOENJES et al. 2003).

Aos 90 DAI, observou-se um aumento significativo na fibrose nos animais da

linhagem C57BL/6, quando comparados aos animais da linhagem BALB/c. Esse dado

indica que a infecção nos camundongos C57BL/6, pode estar seguindo para a fase

resolutiva da infecção. Corroborando com esses dados, os cisticercos encontrados estão,

em sua maioria, em fase final, sugerindo que o animal tem maior capacidade de

controlar a doença e eliminar o parasito. Por outro lado, houve aumento significativo na

hiperemia e no tecido de granulação nos animais da linhagem BALB/c, com relação aos

animais da linhagem C57BL/6, confirmando o fato de que os animais BALB/c, são

geneticamente mais suscetíveis à infecção por T. crassiceps. Sabe-se que o perfil de

resposta imune predominante nos animais da linhagem BALB/c é Th2, que possui um

perfil mais anti-inflamatório, sendo uma resposta mais permissiva em locais diferentes

do intestino (ALONSO-TRUJILLO et al. 2007; RODRIGUEZ-SOSA et al. 2002).

Na neurocisticercose, a inflamação granulomatosa formada em torno do

cisticerco caracteriza-se pela presença de linfócitos, plasmócitos, eosinófilos,

macrófagos e demais células inflamatórias, que destroem o parasito, e o nódulo

possivelmente é calcificado (DEL BRUTTO & SOTELO, 1988). Em amostras de

biópsias de neurocisticercose por T. solium em seres humanos, Restrepo e

colaboradores (2001) descreveram a formação de um granuloma maduro em torno do

parasito, semelhante ao descrito para o subcutâneo, com presença de angiogênese,

fibrose e infiltrado inflamatório, composto principalmente por linfócitos B e T,

macrófagos, mastócitos e plasmócitos. Enquanto que, na cisticercose subcutânea, a

inflamaçãoo granulomatosa encontrada em torno do cisticerco apresenta fibrose,

linfócitos, necrose, edema, hiperemia e neutrófilos tanto nos camundongos da linhagem

BALB/c quanto nos da linhagem C57BL/6 (FREITAS et al. 2012).

A presença dos cisticercos no subcutâneo de camundongos BALB/c e C57BL/6

induziu, no local infectado, a instalação de um processo inflamatório do tipo

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granulomatoso ao longo dos dias experimentais, confirmando o que foi descrito para a

linhagem C57BL/6 (FREITAS et al. 2012). Os camundongos BALB/c são considerados

geneticamente suscetíveis à infecção, motivo pelo qual, são utilizados para manutenção

da cepa in vivo em laboratórios de pesquisa. Acredita-se que essa suscetibilidade

justifique a ausência de cura nos animais infectados do presente estudo (SCIUTTO et al.

1995; WILLMS & ZURABIAN, 2010; FRAGOSO et al. 2008; TERRAZAS 2008;

FREITAS et al. 2012; PÉON, ESPINOZA-JIMENES, TERRAZAS, 2013).

Dessa forma, sabe-se que camundongos BALB/c infectados por T. crassiceps

apresentam uma tendência de polarização para o perfil imune Th2 nas fases iniciais da

infecção e posteriormente ocorre a polarização para um perfil misto de resposta imune

(Th1/Th2), sugerindo que o mesmo perfil de resposta imune tenha ocorrido no presente

estudo. Quando a infecção progride para a fase crônica, a presença de citocinas Th2

resulta no recrutamento de macrófagos alternativamente ativados, que controlam a

resposta inflamatória exacerbada (MARTINEZ, HELMING, GORDON, 2009).

Macrófagos alternativamente ativados neutralizam citocinas pró-inflamatórias e

mecanismos imunes efetores, funcionando como reguladores inibitórios, modulando a

resposta. Esses macrófagos secretam componentes da matriz extracelular e estão

relacionados à fibrose e reparação tecidual, e podem ter contribuído para diminuir a

resposta inflamatória exacerbada nos animais de nosso estudo (KREIDER et al. 2007;

MOSSER & EDWARDS, 2008; GORDON & MARTINEZ, 2010).

O granuloma observado neste trabalho pode ser comparado ao granuloma

encontrado na cisticercose por T. solium em humanos, segundo Nigam & Sharma, que

em 2013 descreveram que o nódulo de cisticercose subcutânea era composto por um

infiltrado de células inflamatórias incluindo neutrófilos, eosinófilos, linfócitos e

histiócitos, envolvidos em material fibrilar. De forma semelhante, Gupta e

colaboradores (2014) relataram lesão cística em mama causada por cisticerco de T.

solium. Dados esses, que reforçam a aplicabilidade do modelo de estudo experimental

no subcutâneo para o estudo da cisticercose.

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7 CONCLUSÕES

Nos camundongos da linhagem BALB/c com infecção por cisticercos de T.

crassiceps, houve um aumento no tamanho da vesícula ao longo dos dias experimentais

e opacidade da membrana, além disso, esses animais evoluíram para cronicidade mais

rapidamente que os camundongos da linhagem C57BL/6, com fibrose e tecido de

granulação, entretanto os animais da linhagem BALB/c mantêm esses fenômenos

crônicos acentuados mais tardiamente.

Por outro lado, nos animais da linhagem C57BL/6 com infecção por cisticercos

de T. crassiceps, houve um aumento no tamanho da vesícula no início da infecção, mas

que diminuiu no último dia experimental, com presença de cisticercos em fase final e

maior opacidade da membrana, além disso, esses animais progrediram para cronicidade

mais tardiamente que os camundongos da linhagem BALB/c, evoluindo para o

remodelamento do tecido de forma mais persistente, confirmando assim, sua maior

resistência à infecção por T. crassiceps.

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ANEXOS

Anexo – Parecer CEUA/UFG N.076/12

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