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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS DALINE FERNANDES DE SOUZA ARAÚJO AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTI-INFLAMATÓRIO DO SORO DE LEITE CAPRINO NA COLITE EXPERIMENTAL E NA RESPOSTA CELULAR JOÃO PESSOA-PB 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE ......Rolim, Juliana Kessia e Mayara, o grupo de experimental. Aos colegas do doutorado Estefânia (pela indicação à pesquisa), Fábio

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  • 18

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

    CENTRO DE TECNOLOGIA

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E

    TECNOLOGIA DE ALIMENTOS

    DALINE FERNANDES DE SOUZA ARAÚJO

    AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTI-INFLAMATÓRIO DO

    SORO DE LEITE CAPRINO NA COLITE EXPERIMENTAL E

    NA RESPOSTA CELULAR

    JOÃO PESSOA-PB

    2016

  • 19

    Daline Fernandes de Souza Araújo

    Avaliação do potencial anti-inflamatório do soro de leite caprino

    na colite experimental e na resposta celular

    João Pessoa-PB

    2016

  • 20

    Daline Fernandes de Souza Araújo

    Avaliação do potencial anti-inflamatório do soro de leite caprino

    na colite experimental e na resposta celular

    Tese apresentada ao Programa de

    Pós-graduação em Ciência e

    Tecnologia de Alimentos, Centro de

    Tecnologia, Universidade Federal da

    Paraíba, em cumprimento aos

    requisitos para obtenção do título de

    Doutora em Ciência e Tecnologia de

    Alimentos.

    Orientadora: Profa. Dra. Rita de Cássia Ramos do Egypto Queiroga

    Coorientadora: Profa. Dra. Gerlane Coelho Bernardo Guerra

    João Pessoa-PB

    2016

  • 21

  • 22

    Daline Fernandes de Souza Araújo

    Avaliação do potencial anti-inflamatório do soro de leite caprino na colite experimental

    e na resposta celular

    Tese aprovada em 12 de agosto de 2016

    Banca Examinadora

    _____________________________________________________________

    Profa. Dra. Rita de Cássia Ramos do Egypto Queiroga

    Universidade Federal da Paraíba

    Coordenador da Banca

    _____________________________________________________________

    Profa. Dra. Gerlane Coelho Bernardo Guerra

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    Coorientadora

    _____________________________________________________________

    Profa. Dra. Maria Manuela Estevez Pintado

    Universidade Católica do Porto, Portugal

    Examinador Externo

    _____________________________________________________________

    Profa. Dra. Silvana Maria Zucolotto Langassner

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    Examinador Externo

    __________________________________________________________

    Prof. Dr. Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    Examinador Externo

    _____________________________________________________________

    Profa.Dra. Prof. Dra. Juliana Késsia Barbosa Soares

    Universidade Federal de Campina Grande

    Examinador Interno

  • 23

    Aos meus avós maternos Giselda e Celsoϯ, e paternos

    Severinaϯ e José Pergentino

    ϯ,

    e aos bisavós maternos Luis Conzaga e Genésia

    ϯ (In memorian),

    Dedico

  • 24

    AGRADECIMENTOS

    Tudo posso naquele que me fortalece (Fil. 4:13). Essa passagem bíblica

    representa o meu agradecimento a Deus por me fortalecer nos momentos mais difíceis,

    que me fizeram muitas vezes duvidar da minha capacidade em realizar este trabalho de

    doutorado.

    Agradeço em especial as minhas orientadoras Profa. Rita de Cássia Ramos do

    Egypto Queiroga e Professora Gerlane Coelho Bernardo Guerra, que mesmo sem me

    conhecerem, acreditaram em meu potencial na investigação científica. Trabalhar com

    experimentação animal era algo novo para mim, muito embora tivesse interesse pela

    área.

    Aos meus pais (Clidenor e Conceição), irmã (Dennya) e cunhado (Max), família

    que sempre esteve presente nos momentos felizes e difíceis da minha vida. A

    concretização deste trabalho só foi possível com o apoio incondicional de vocês.

    Agradeço à professora Maria Manuela Estevez Pintado pelos ensinamentos e

    possibilidade de através de uma colaboração com a Universidade Católica Portuguesa

    realizar o doutorado sanduíche nesta instituição. Obrigada pela acolhida durante a

    estadia no Porto-PT.

    Aos colegas portugueses Nadia e Manu Amorim pela troca de conhecimentos e

    companheirismo na adaptação ao novo laboratório na cidade do Porto-Portugal. Às

    brasileiras colegas de laboratório e amigas que vou levar no meu coração Glenise,

    Adriana, Mariane e em especial Andréia Tremarin e Luciana Lima pelo

    companheirismo e serem confidentes principalemente nos momentos de saudosismo à

    família.

    Ao professor Júlio Gálvez da Universidade de Granada- Espanha a quem já

    admirava mesmo antes de conhecê-lo pelas suas produções científicas, e após, pelo

    grande profissional que és. Dedicado ao trabalho e preocupado com seus alunos e em

    especial aos estrangeiros, desde o período de acomodação até a despedida. Meu

    respeito e admiração. Não posso deixar de agradecer à Alba Rodrigues, Francesca

    Algieri, Teresa Vezza pelos grandes ensinamentos os quais vou levar para toda a vida,

    além de uma amizade verdadeira. Pepe, Maria Elena, Desi Camuesco (in memorian) e

    Pilar Utrilla que também foram fundamentais para meu aprendizado como profissional

  • 25

    e sempre aptos a ajudar nas dificuldades encontradas no laboratório ou algo

    relacionado a pesquisa. ¡Ya os echo de menos!

    Às amizades conquistadas durante o doutorado, em especial Yasmim Sousa, que

    partilhou muitos momentos para a realização deste trabalho, principalmente no

    período do doutorado sanduíche em Portugal e na Espanha. E também foi ombro

    amigo para os momentos felizes e difíceis quando estávamos fora do país, sem esquecer

    de algumas aventuras e muitas histórias para recordar!

    Agradeço de forma especial à amiga Paloma Oliveira. Deus nos abençoa com

    pessoas que podemos chamar de irmãos, mesmo sem ter sido gerado pelo mesmo pai ou

    mãe, e ter o mesmo sangue. Nos conhecemos e pudemos partilhar nossas experiências

    do laboratório, ajudando uma a outra diretamente em nossas pesquisas. Você foi um

    presente de Deus em minha vida, e uma amizade que desejo que frutifique ainda mais.

    Agradeço à sua família que prontamente me acolheu em vários momentos de minha

    vinda a João Pessoa.

    E outras amizades conquistadas, como a de Raphaela Rodrigues, Fernanda

    Rolim, Juliana Kessia e Mayara, o grupo de experimental. Aos colegas do doutorado

    Estefânia (pela indicação à pesquisa), Fábio e Valquiria, Amanda e José (colegas de

    doutorado sanduíche, os quais pude conhecer um pouco mais e admirá-los), e demais

    que pude conviver neste período, Karla, Eduardo, Tayanna, Íris, Isabele, Edilza, dentre

    outros colegas que pude partilhar um pouquinho de momentos vividos na UFPB, e à

    secretária do PPGCTA, Lindalva, sempre muito acessível a todos em ajudar no que

    estiver ao seu alcance

    Ao Departamento de Farmacologia e Biofísica da Universidade Federal do Rio

    Grande do Norte, pela possibilidade em realizar alguns dos experimentos da tese. Aos

    professores Aurigena Antunes, Raimundo Araújo pela colaboração na pesquisa e

    ensinamentos. Aos colegas Artur, Cássio e Valéria, alunos de iniciação científica da

    Graduação de Farmácia e Biomedicina, e hoje alguns como residentes, que além de

    terem me apoiado na pesquisa, contribuíram para meu aprendizado na prática sobre

    experimentação animal. E aos técnicos do laboratório de Farmacologia, Flávio, César

    e Karla, pela prontidão em auxiliar nos experimentos e partilhar de seus conhecimentos

    na prática laboratorial. Aos funcionários Ivonete e Raimundo, os quais também

    apoiaram para a realização deste trabalho. E especial à Dona Neida por participar

    ativamente na experimentação animal, pela agilidade e longa experiência com técnicas

    de manuseio e eutanásia de animais de laboratório.

  • 26

    À Univerdidade Federal de Sergipe, pela possibilidade do afastamento dentro e

    fora do país para as atividades do doutorado. Agradeço pela torcida e apoio dos

    amigos professores Adriana, Carolina, Heloisa, que viraram uma segunda família em

    Sergipe, partilhando os momentos felizes, agústias, e apoio nas decisões pessoais e

    profissionais e aos demais colegas de trabalho.

    Ao amigo e irmão de coração Fábio Resende (Professor da Faculdade de

    Ciências da Saúde do Trairi-UFRN), pela amizade, companheirismo, ensinamentos, a

    quem tenho muita admiração, pela história de vida e profissional que é. Obrigada por

    estar sempre por perto.

    As minhas amizades fora do ambiente acadêmico, Raiana, Rayanna e Iliana.

    Nós que estamos diariamente (fisicamente ou não) na torcida uma pela outra. Que

    possamos estar cada vez mais unidas mesmo que na distância. Agradeço pela amizade

    sincera construída nestes últimos anos.

    Agradeço a amizade de Anna Beatriz Luz, que em tão pouco tempo e ainda

    distantes pudemos partilhar momentos recentes e especiais de nossas vidas.

    E àqueles que não foram citados, mas que de alguma forma contribuiram para

    minha formação como pessoa e profissional que sou, o meu muito obrigada!

  • 27

    RESUMO

    A Doença Inflamatória Intestinal (DII), caracterizada por apresentar uma inflamação

    crônica não controlada na mucosa intestinal, engloba, principalmente, duas patologias: a

    Colite Ulcerativa e a Doença de Crohn. Nestas, o sistema imunológico local permanece

    cronicamente ativado e o intestino intensamente inflamado, devido a uma incapacidade

    do organismo para a diminuição das respostas inflamatórias. Terapias alternativas e

    complementares tem sido de grande interesse para o tratamento das DII, com o objetivo

    de melhorar os efeitos secundários dos fármacos comumente utilizados. O soro de leite

    caprino apresenta na sua composição oligossacarídeos e ácido linoleico conjugado com

    propriedades funcionais, mas ainda insipiente como efeito na modulação intestinal. A

    presente tese foi dividida em dois estudos: no primeiro, foi avaliada a capacidade do

    soro de leite de cabra em prevenir a inflamação intestinal no modelo de inflamação

    induzida por ácido acético em ratos, comparando com um fármaco padrão, a

    sulfassalazina utilizada no tratamento da DII; no segundo, foi estudado o efeito anti-

    inflamatório do soro de leite no modelo de colite induzido por ácido 2,4-dinitrobenzeno

    sulfônico em camundongos. O pré-tratamento com soro de leite caprino (1, 2 e 4 g. Kg-

    1) e sulfassalazina (250 mg. Kg

    -1) melhorou os marcadores inflamatórios

    (mieloperoxidase, leucotrieno B4 e citocinas pró-inflamatórias) e de estresse oxidativo

    (conteúdo total de glutationa e malondialdeido) no tecido colônico dos animais. A

    avaliação histológica e imunohistoquímica do tecido colônico revelaram,

    respectivamente, uma preservação da citoarquitetura e redução na expressão de COX-2,

    iNOS e MMP-9, em conjunto com um aumento da expressão de SOCs-1. Os resultados

    sugerem que o soro caprino exerceu um efeito preventivo contra o dano intestinal

    induzida por ácido acético, mostrando uma eficácia semelhante à mostrada por

    sulfassalazina, sendo, portanto, um potencial tratamento para a doença inflamatória

    intestinal humana. No segundo modelo, com diferente agente indutor da DII, utilizou-se

    a dose de soro de leite caprino que mostrou melhor resultado na melhora da inflamação

    do estudo anterior. Neste estudo, também houve uma melhora do dano intestinal no

    grupo dos animais, confirmado pela avaliação do processo inflamatório colônico, e

    expressão gênica do cólon dos marcadores pró-inflamatórios IL-6, IL-1β, IL-17, TNF-α,

    iNOS, ICAM- 1, MMP-9, reguladores da integridade intestinal epitelial (MUC-2 e

    MUC-3, ocludina e ZO-1) e supressor de sinalização de citocinas (SOCS-1). As

    propriedades anti-inflamatórias do soro foram evidenciadas no estudo in vitro em

    células Raw 264 de macrófagos de murinos e CMT-93 derivada de células de carcinoma

    retal de murinos, em que promoveu uma redução significativa da produção de óxido

    nítrico e IL-6. Dessa forma, o soro de leite caprino, mostra-se como um produto

    inovador na prevenção e controle inflamação intestinal em modelos murinos.

    Palavras-chave: inflamação intestinal; soro de leite caprino; marcadores inflamatórios;

    estresse oxidativo, resposta celular.

  • 28

    ABSTRACT

    Inflammatory Bowel Disease (IBD) is characterized as an uncontrolled chronic

    inflammation of the intestinal mucosa and mainly includes two pathologies: Crohn's

    disease and ulcerative colitis. Accordingly, the local immune system remains

    compromised and the intestine intensely inflamed, due to an inability of decreasing

    inflammatory responses. Complementary and alternative medicines have been of great

    interest for the treatment of IBD, with the aim to improve the side effects of commonly

    used drugs. Goat whey present oligosaccharides and conjugated linoleic acid with

    different functional properties, but also an effect on intestinal incipient modulation. This

    thesis was divided into two studies: the first being goat whey ability in preventing

    intestinal inflammation in an inflammation model induced by acetic acid in rats,

    evaluated by comparing it with a standard sulfasalazine medicine used in the treatment

    of DII; in the second study, the anti-inflammatory effect of the whey colitis model

    induced by 2,4-dinitrobenzenesulfonic acid in mice. In the first, the pre-treatment with

    goat whey (1, 2 and 4 g. Kg-1

    ) and sulfasalazine (250 mg. Kg-1

    ) improved the

    inflammatory markers (myeloperoxidase, leukotriene B4 and pro-inflammatory

    cytokines) and oxidative stress (total content of glutathione and malondialdehyde) in

    colonic tissue of rats. Histological and immunohistochemical evaluation of colonic

    tissue showed cytoarchitecture preservation and reduction in COX-2 expression,

    respectively, as well as iNOS and MMP-9 in conjunction with an increase in SOCs-1

    expression. The results suggest that goat whey exerted a preventive effect against

    intestinal damage induced by acetic acid, showing similar efficacy to sulfasalazine, and

    thus is a potential treatment for human inflammatory bowel disease. In the second

    model, we used the best dose of the first to conduct different analyses. In the second

    model with a different inducing agent of IBD was used to dose goat whey that Showed

    better results in improving of intestinal inflammation the previous study. This study,

    there was also an improvement of intestinal damage in the group of animals, confirmed

    by evaluating colonic inflammation and colonic gene expression of pro-inflammatory

    markers IL-6, IL-1β, IL-17,TNF-α, iNOS, ICAM- 1, MMP-9, regulators of intestinal

    epithelial integrity (MUC-2, MUC-3, occludin and ZO-1) and supressor of cytokine

    signaling (SOCS-1). The anti-inflammatory properties of the goat whey were

    demonstrated by an in vitro study on murine macrofhages line Raw 264 and CMT-93

    cells derived from murine rectum carcinoma which promoted a significant reduction in

    nitric oxide production and IL-6. Thus, goat whey shown as an innovative product in

    the prevention and control of intestinal inflammation in murine models.

    Keywords: intestinal inflammation; goat whey; inflammatory markers; oxidative stress,

    cellular response.

  • 29

    LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    Figura 1 - Vias de interação entre microbiota e células do sistema imune nas

    DII 24

    Figura 2 - Representação esquemática das ações do óxido nítrico (NO)

    indicando os efeitos fisiológicos e patológicos das isoformas de

    óxido nítrico sintase constitutiva (c) e induzida (i) 27

    Figura 3 - Componentes bioativos do leite de cabra e ação na Doença

    Inflamatória Intestinal 41

    Figura 4 - Funcionalidade fisiológica de alimentos – peptídeos bioativos 43

    Figura 5 - Fluxograma do desenho experimental referente a obtenção e

    utilização do soro de leite caprino 48

    Figura 6 - Desenho experimental: colite induzida por ácido acético 10% 50

    Figura 7 - Esquema da determinação do conteúdo de glutationa total 53

    Figura 8 - Desenho experimental: colite induzida por 2,4-dinitrobenzenos

    sulfônico (DNBS) 58

    Figura 9 - Equipamento utilizado da Reação de Cadeia Polimerase 60

    ARTIGO 1

    Figure 1 - Effect of treatments of goat whey (GW) and sulfasalazine (SAZ)

    on evolution of weight (A), disease activity index (DAI; B),

    macroscopic damage score (C), and weight/ length ratio (D) in the

    intestinal inflammation of acetic acid induced in rats. Data (n =

    10) are presented as means ± SEM. Groups with different letters

    (a–d) statistically differ (P < 0.05). 116

    Figure 2 - Histopathologic features of representative colonic tissue of rats,

    showing the colon fragment cut in the longitudinal direction.

    Normal intestinal layers (A). Intense (B) or moderate (D)

    inflammation in the (a) mucosa and (b) submucosa with infiltrate

    of neutrophils; (c) reduced inflammatory infiltrate, or integrated

    epithelial cells with slight goblet cell loss, fewer cells infiltrate

    and fibrous connective tissue hyperplasia in colonic mucous

    membrane were usually found (C, E, and F; ×100). SAZ =

    sulfasalazine; GW = goat whey; A = noncolitic (1–1); B = acid

    acetic control (6–7); C = sulfasalazine (2–2); D = 1 g/kg of GW

    (4–5); E = 2 g/kg of GW (3–4); F = 4 g/kg of GW (2–3). Data (n

  • 30

    = 10) are expressed as means ± SEM. Groups with different

    letters (a–e) statistically differ (P < 0.05). 117

    Figure 3 - Effect of the goat whey (GW) and sulfasalazine (SAZ) in the

    myeloperoxidase (MPO) activity (A), leukotriene B4 (LTB4; B),

    glutathione content (C), and malonaldehyde (MDA; D) levels in

    the intestinal inflammation of the experimental model of colitis in

    acid-induced rats. Data (n = 10) are expressed as means ± SEM.

    Groups with different letters (a,b) differ statistically. 118

    Figure 4 - Effect of different doses of goat whey (GW) and sulfasalazine

    (SAZ) in IL-1β and tumor necrosis factor (TNF)-α levels in the

    intestinal inflammation of the experimental model of colitis in

    acid-induced rats. Data (n = 10) are expressed as means ± SEM;

    groups with different letters (a,b) differ statistically (P < 0.05). 119

    Figure 5 - Immunohistochemical analysis of the colonic tissue in the acetic

    acid-induced colitis rats. Immunoexpression for cyclooxygenase

    (COX)-2 (A), inducible nitric oxide synthase (iNOS; B), cytokine

    signaling-1 suppressor (SOCS-1; C), and matrix

    metalloproteinase (MMP)-9 (D). For each antigen, 3

    immunostained sections were examined per animal (n = 5). 40×

    magnification, scale bar = 100 μm; 1: noncolitic; 2: acetic acid

    control; 3: sulfasalazine (SAZ); 4: goat whey (GW). 120

    ARTIGO 2

    Figure 1 - Effect of goat whey on the experimental model of colitis induced

    by 2,4-dinitrobenzene sulfonic acid (DNBS). (A) Monitoring of

    body weight; (B) Disease Activity Index (DAI); (C) Food

    Consumption; (D) Weight / Length ratio of the colon; and (E)

    colonic segment of the experimental groups. Data are expressed

    as mean ± SEM. Groups with different letters differ significantly

    (p

  • 31

    colitis in mice, measured by RT-PCR. Data are expressed as mean

    ± SEM (n = 12). Groups with different letters are statistically

    different (P < 0.05). 154

    Figure 4 - Effects of goat whey in the 2,4 – dinitrobenzenesulfonic acid

    (DNBS) mouse colitis. Histological sections of colonic mucosa

    stained with hematoxylin and eosin (x100): (A) Healthy, (B)

    DNBS control, (C) Goat Whey. (D) Microscopic score assigned

    to the different groups according to the criteria described by Zea-

    Iriarte et al. (1996); data are expressed as means ± SEM (n=12);

    groups with different letter statistically differ (P

  • 32

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Composição química de leite/soro de diferentes animais 45

    Tabela 2 - Índice de Atividade da Doença (IAD) 52

    Tabela 3 - Critério para avaliação do dano macroscópico 52

    Tabela 4 - Critérios para avaliação do dano microscópico do tecido colônico

    e grau de infiltração leucocitária 56

    Tabela 5 - Avaliação dos marcadores por imunocoloração 57

    Tabela 6 - Sequência de primers usados nas análises de PCR em tempo real

    do tecido colônico, modelo de colite experimental induzida por

    DNBS 61

    ARTIGO 2

    Table 1 - Primer sequences used in real-time qPCR assays, in the model of

    experimental colitis induced by DNBS. 150

    Table 2 - Composition of Goat Whey (GW). 151

  • 33

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AA

    AINE

    Ácido acético

    Anti-inflamatório não esteroidal

    Anti-TNF-α Anticorpo monoclonal para a citocina TNF-α

    CD

    CEUA

    Doença de Crohn

    Comitê de Ética no Uso Animal

    CLA

    CMT

    COX

    Ácido Linoleico Conjugado

    Células de Carcinoma Retal de Murinos

    Ciclooxigenase

    DII Doença inflamatória intestinal

    DNA Ácido Desoxirribonucleico

    DNBS Ácido 2,4- dinitrobenzeno sulfônico

    DSS Sulfato de Sódio Dextrana

    DTNB

    ELISA

    Ácido Ditiobisnitrobenzóico

    Enzyme-Linked Immunosorbent Assay

    ERN Espécies reativas de nitrogênio

    ERO Espécies reativas de oxigénio

    GAPDH

    GMP

    Glideraldeido 3-fosfato Desidrogenase

    Guanosina Monofosfato Cíclica

    GSH Glutationa Reduzida

    HCl

    HLA

    HTAB

    Ácido Clorídrico

    Histocompatibilidade

    Brometo de Hexadeciltrimetilamônio

    IAD

    ICAM-1

    Índice de Atividade da Doença

    Molécula de Adesão Intercelular-1

    IL Interleucina

    iNOS Sintase do óxido nítrico induzida

    LPS Lipopolissacarídeo

    LTB4 Leucotrieno B4

    MDA Malondialdeído

    MIP-2 Proteína Inflamatória de Macrófago-2

  • 34

    MMP Metaloproteinases de matriz

    MPO Mieloperoxidase

    MUC Mucina

    NADPH Nicotinamida Adenina Dinucleótido Fosfato

    NF-kB

    NO

    Factor Nuclear kappa B

    Óxido Nítrico

    NOD Nucleotide-binding-oligomerisation-domains

    PAMP Padrão molecular fitogeneticamente conservado asssociadoao patógeno

    (pathogen-associated molecular patterns)

    PBS

    PCR-RT

    Tampão fosfato-salino

    Reação de Cadeia Polimerase em Tempo Real

    RAW

    RNA

    RPMI

    Células de Macrófagos de Murinos

    Ácido Ribonucléico

    Roswell Park Memorial Institute Medium

    SAZ Sulfassalazina

    Ta Temperatura de Anelamento

    TCA Ácido Tricloroacético

    Th Célula T helper

    TLR Receptores do tipo toll-like

    TNBS 2,4,6- trinitrobenzeno sulfônico

    TNF Fator de Necrose Tumoral

    Tr Células T reguladoras

    UC Colite ulcerativa

    ZO-1 Zona de oclusão-1

  • 35

    SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO 18

    2 REVISÃO DA LITERATURA 20

    2.1 DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL 20

    2.1.1 Etiopatogênese

    2.1.1.1 Resposta Imune

    2.1.1.1.1 Resposta Imune alterada

    2.1.1.2 Estresse Oxidativo

    2.1.1.3 Fatores Ambientais

    2.1.1.4 Fatores Genéticos

    2.1.2 Estratégias terapêuticas

    2.1.2.1 Aminossalicilatos

    2.1.2.2 Corticosteroides

    2.1.2.3 Imunossupressores

    2.1.2.4 Agentes biológicos

    2.1.2.5 Tratamento complementar: evidências científicas

    2.2 MODELOS EXPERIMENTAIS DE COLITE

    2.2.1 Modelo de indução por Ácido Acético

    2.2.2 Modelo de indução por DNBS e TNBS

    2.2.3 Modelo de indução por DSS

    2.3 LEITE E SORO CAPRINOS: ALIMENTOS COM POTENCIALIDADE

    FUNCIONAL

    2.3.1 Peptideos Bioativos

    2.3.2 Ácido Linoleico Conjugado - CLA

    2.3.3 Oligossacarídeos

    3 MATERIAIS E MÉTODOS

    3.1 OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO SORO DE LEITE CAPRINO

    3.2 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA INTESTINAL DO

    SORO DE LEITE CAPRINO

    3.2.1 Experimento in vivo 1: colite induzida por ácido acético

    3.2.1.1 Avaliação do processo inflamatório intestinal

    3.2.1.1.1 Indução da colite por ácido acético

    21

    21

    22

    27

    28

    30

    31

    32

    32

    33

    33

    34

    35

    37

    37

    38

    40

    42

    43

    45

    48

    49

    50

    50

    51

    51

  • 36

    3.2.1.1.2 Índice de Atividade da Doença

    3.2.1.1.3 Avaliação do dano macroscópico intestinal

    3.2.1.1.4 Conteúdo Total de Glutationa

    3.2.1.1.5 Determinação de Malondialdeído

    3.2.1.1.6 Determinação da atividade da enzima mieloperoxidase

    3.2.1.1.7 Análise de citocinas e leucotrieno B4

    3.2.1.1.8 Análise Histopatológica

    3.2.1.1.9 Avaliação Imunohistoquímica: marcadores COX-2, iNOS, MMP-9 e

    SOCS-1

    3.2.2 Experimento 2: colite induzida pelo ácido 2,4 dinitrobenzeno sulfônico

    (DNBS)

    3.2.2.1 Avaliação do processo inflamatório intestinal

    3.2.2.1.1 Indução da colite por DNBS

    3.2.2.1.2 Indice de Atividade da Doença e Relação Peso/ Longitude

    3.2.2.1.3 Explantes intestinais

    3.2.2.1.4 Avaliação Histopatológica e Imunohistoquímica

    3.2.2.1.5 Análise de expressão gênica

    3.2.3 Experimento in vitro: resposta celular

    3.2.3.1 Dosagem de Nitrito

    3.2.3.2 Determinação de IL-6

    3.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA

    REFERÊNCIAS

    4 RESULTADOS

    4.1 ARTIGO 1

    4.2 ARTIGO 2

    5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    ANEXO A – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA NO USO ANIMAL

    ANEXO B – CARTA DE ACEITE DA REVISTA JOURNAL OF DAIRY

    SCIENCE

    ANEXO C – CARTA DE SUBMISSÃO A REVISTA JOURNAL OF

    FUNCTIONAL FOODS

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  • 18

    1 INTRODUÇÃO

    A Doença Inflamatória Intestinal (DII) é uma condição inflamatória crônica que

    acomete o trato digestório, caracterizada por períodos de exacerbações e remissões dos

    sinais e sintomas, compreendendo principalmente a Doença de Crohn e a Colite

    ulcerativa. A inflamação intestinal descontrolada pode levar a uma má qualidade de

    vida e requer intervenções médicas e/ ou cirúrgicas.

    Embora a etiologia ainda não esteja bem definida, a DII envolve um conjunto de

    fatores ambientais, genéticos e imunológicos. A alta ingestão de fibra alimentar,

    incluindo frutas e legumes, apresenta ação protetora contra as DII, por outro lado a

    ingestão de alimentos ricos em ácidos graxos saturados tornam o organismo mais

    suscetível à doença (KRISHNAN; KORZENIK, 2002; FROLKIS et al., 2013). Além de

    uma dieta inadequada, fumo, microrganismos patogênicos, uso de anti-inflamatórios

    não esteroidais dentre outros podem levar a perturbações da microbiota intestinal,

    apresentando papel importante na patogênese da DII.

    O processo inflamatório intestinal é inicialmente desencadeado pelo aumento da

    permeabilidade da barreira epitelial para os antígenos luminais, conduzindo a uma

    ativação inadequada do sistema imunitário da mucosa (DEDON; TANNENBAUM,

    2004; HYUN; MAYER, 2006). Isso resulta em um aumento na ativação e influxo de

    neutrófilos e macrófagos, com produção de vários mediadores pró-inflamatórios, como

    espécies reativas de oxigênio (ERO) e nitrogênio (ERN), eicosanóides, citocinas,

    quimiocinas (STROBER; FUSS, 2011; SHIN et al., 2015, SINGH et al., 2016) e

    expressão de importantes moduladores da resposta inflamatória como a ciclooxigenase

    2 (COX-2) e óxido nítrico sintase induzida (iNOS) (ARDIZZONE; PORRO, 2005;

    SAKTHIVEL; GURUVAYOORAPPAN; 2013).

    Embora o cuidado clínico tenha melhorado com inovações farmacológicas, tais

    como aminossalicilatos, glicocorticóides, imunomoduladores e agentes biológicos

    amplamente utilizados para tratar as DII, ainda há controvérsias sobre a manutenção da

    remissão da doença e efeitos colaterais desses fármacos. A intervenção farmacológica

    revela uma redução da zona inflamada, bem como dos marcadores de inflamação,

    diminuindo os níveis de citocinas em pacientes com doença ativa e em estudos com

    animais (STROBER; FUSS, 2011; SAKTHIVEL; GURUVAYOORAPPAN, 2013). Há

    no entanto, a busca por outros medicamentos, bem como compostos alimentícios que

  • 19

    apresentem propriedades funcionais que possam reduzir a inflamação, contribuindo para

    a melhoria do quadro do paciente portador colite.

    Tem sido discutido o potencial de nutracêuticos, alimentos funcionais e

    suplementos alimentares na minimização de problemas com a saúde, em especial

    aqueles relacionados a alterações no trato gastrintestinal. A curcumina, ácidos graxos

    ômega 3, glutamina, probióticos e outros nutracêuticos mostram-se promissores como

    coadjuvantes ao tratamento das DII (O’SULLIVAN; NORD, 2002; GÁLVEZ;

    COMALADA; XAUS, 2010; ANDERSEN et al., 2012). Além disso, alguns compostos

    bioativos como peptídeos, ácido graxo linoleico e oligossacarídeos na matriz láctea

    bovina e caprina tem sido de interesse pela comunidade científica (AHMED et al.,

    2015; MARTINEZ-FÉREZ et al., 2006; THUM et al., 2015).

    Com relação ao leite caprino, poucos estudos verificaram o efeito benéfico de

    seus componentes bioativos na atividade anti-inflamatória intestinal, como mostrados

    por Lara-Villoslada et al. (2006) e Daddaoua et al. (2006) e mais recentemente do nosso

    grupo de estudo (ASSIS et al., 2016), no entanto, ainda não foi investigada a atividade

    do soro de leite caprino ou de suas frações isoladas nas DII. O soro do leite caprino

    constituiu um importante derivado lácteo, muitas vezes desprezado ou subutilizado, no

    entanto, esta matriz alimentar vem ganhando espaço no mercado, justificando-se a

    necessidade de investigações e aprofundamento sobre suas propriedades funcionais.

    Dessa forma, o presente trabalho avaliou o potencial efeito anti-inflamatório do

    soro de leite caprino na colite experimental e na resposta celular. Neste sentido, os

    experimentos consistiram em verificar o efeito do soro de leite caprino no processo

    inflamatório intestinal por meio da avaliação do dano macroscópico intestinal,

    marcadores bioquímicos de inflamação (mieloperoxidase, citocinas e leucotrieno B4);

    avaliar o efeito do soro nas alterações na citoarquitetura do cólon por meio de análises

    histopatológicas; analisar o estresse oxidativo do tecido colônico por meio do conteúdo

    total de glutationa e malondialdeido; e além disso, esclarecer mecanismos relacionados

    à atividade anti-inflamatória do soro utilizando células Raw 264 e CMT-93.

  • 20

    2 REVISÃO DA LITERATURA

    2.1 DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL (DII)

    A DII é complexa, sendo representada principalmente pela Doença de Crohn

    (Crohn Disease, CD) e retocolite ulcerativa inespecífica ou apenas colite ulcerativa

    (Ulcerative colitis, UC). Inclui, inflamações não infecciosas do intestino, necessitando

    ainda de investigações pelos gastroenterologistas e imunologistas (STROBER; FUSS;

    MANNON, 2007; PODOLSKY, 2002).

    Uma alta prevalência da DII tem sido constatada nas populações da América do

    Norte e Europa, com incidência mais acentuada na segunda metade do século XX,

    devido ao maior desenvolvimento industrial e urbanização constante. Além disso, as

    populações anteriormente consideradas de "baixo risco" (como no Japão e Índia) estão

    vivenciando um aumento na incidência (ANANTHAKRISHNAN, 2015). No Brasil, a

    escassez de estudos e divulgação em meios científicos sobre as DII contribui para o

    atraso no diagnóstico e aumento da morbidade (OLIVEIRA; EMERICK; SOARES,

    2010).

    As DII são caracterizadas por inflamação intestinal crônica e recidivante, com

    produção anormal de citocinas, aumento da expressão de moléculas de adesão e

    infiltrado celular, levando a um dano da mucosa e apoptose celular (MANDALARI et

    al., 2011). É crucial a determinação do grau de severidade ou atividade da ambas as

    doenças, uma vez que a gravidade, duração e a localização da doença são importantes

    na resposta ao tratamento (CARUSO, 2014).

    DII é uma doença inflamatória crônica recidivante, caracterizada por aumento da

    permeabilidade epitelial, edema, e infiltração de leucócitos do cólon. E embora grandes

    avanços tenham sido conquistados no tratamento desta doença nas últimas décadas,

    ainda não existe uma terapia definitiva, necessitando de mais esclarecimentos sobre os

    mecanismos envolvidos na sua patogênese (SANDS, 2000; ANANTHAKRISHNAN,

    2015).

    A CD é uma doença inflamatória transmural, ou seja, que pode acometer todas

    as camadas teciduais intestinais, afetando qualquer parte do trato gastrintestinal, desde a

    boca até o reto, no entanto, a localização mais frequente é na região ileocecal. A

    inflamação e ulceração é descontínua, sendo comum o espessamento da parede do

    intestino, muitas vezes com granulomas (GÁLVEZ, COMALADA, XAUS, 2010).

  • 21

    Os pacientes com CD relatam sintomas gastrointestinais de dor abdominal,

    diarreia e sangramento retal, bem como sintomas sistêmicos de perda de peso, febre e

    fadiga. Além disso, podem desenvolver estenoses com obstrução intestinal e conexões

    inflamatórias entre os segmentos do intestino ou entre o intestino e a pele e outros

    órgãos (FUSS et al., 2004).

    A UC é uma doença inflamatória não transmural que afeta o reto e se estende ao

    cólon (proximal) com uma inflamação contínua da mucosa comprometendo parte do

    intestino grosso (GRAMLICH; PETRAS, 2007). A sintomatologia da UC geralmente

    inclui diarreia sanguinolenta, dor abdominal e eliminação de pus e/ou muco durante as

    evacuações (WEYLANDT et al., 2007). Essa enfermidade pode ser classificada quanto

    ao padrão de distribuição (proctite, pancolite extensa e colite distal), atividade

    (remissão, leve, moderada e grave) e curso (assintomático após surto inicial, aumento da

    intensidade com o tempo, sintomas crônicos contínuos ou reincidivantes) da doença

    (MEIER; STURM, 2011).

    2.1.1 Etiopatogênese

    Embora a patogênese ainda não esteja totalmente esclaredia, há um consenso, de

    que as DII são o resultado de alguns componentes básicos que apresentam grande

    interação: fatores ambientais, variações genéticas no hospedeiro, fatores luminais

    (relacionados a microbiota intestinal, seus antígenos e produtos metabólicos e os

    antígenos alimentares), relacionados à barreira intestinal (incluindo os aspectos

    referentes à imunidade inata e à permeabilidade intestinal), e à imunorregulação

    (incluindo a imunidade adaptativa) (CARUSO, 2014; GALVEZ; COMALADA;

    XAUS, 2010; MOLODECKY; KAPLAN, 2010; SANG et al, 2014;

    ANANTHAKRISHNAN, 2015).

    Os estudos em modelos murinos das duas formas de DII sugerem que são

    causadas por uma desregulação da resposta imune da mucosa por antígenos na

    microbiota (STROBER; FUSS; BLUMBERG, 2002).

    2.1.1.1 Resposta Imune

    O trato gastrintestinal humano é um sistema complexo e eficiente que tem papel

    importante na digestão e absorção dos nutrientes e proteção do corpo contra a invasão

    http://www.nature.com/nrgastro/journal/v12/n4/fig_tab/nrgastro.2015.34_F1.html#auth-1

  • 22

    bacteriana (ECKBURG et al., 2005). A homeostase intestinal envolve uma ação

    coordenada entre células epiteliais e células da resposta imune inata e adaptativa.

    Contudo, a patogênese da DII considera que existe uma interação disfuncional entre a

    microbiota intestinal com a ativação do sistema imunológico da mucosa (STROBER;

    FUSS; MANNON, 2007).

    A imunidade inata apresenta como principal característica a capacidade de

    distinguir um microrganismo do outro, sendo responsável pela proteção inicial contra as

    infecções. O sistema imune inato possui estratégias para o reconhecimento de

    microrganismos, uma das quais é o reconhecimento do padrão molecular

    fitogeneticamente conservado, associado ao patógeno (pathogen-associated molecular

    patterns – PAMP). O reconhecimento deste por meio da ativação de receptores do tipo

    toll-like (TLR) acarreta a secreção de citocinas e o consequente início da resposta inata,

    com recrutamento e ativação de neutrófilos e macrófagos, cujo fato é essencial para a

    morte do patógeno (ROGERO; FOCK; BORELLI, 2013; PEARL et al., 2013).

    Quando essa resposta inflamatória for insuficiente, não eliminando esses

    produtos microbianos a imunidade adquirida será estimulada. A resposta imune

    adaptativa é iniciada quando os antígenos são apresentados a célula CD4+, quando

    ativadas podem ser diferenciadas em células T helper (Th), Th1 e Th2 (PALLONE;

    MONTELEONE, 2001).

    2.1.1.1.1 Resposta Imune alterada

    Uma alteração existente na microbiota intestinal, quer no tipo ou número dos

    organismos que compreendem a população, ou forma em que os mesmos confrontam o

    sistema imune da mucosa, que resulta em uma perda de tolerância, uma vez que a

    microbiota é capaz de induzir uma resposta do sistema imune normal a antígenos

    microbianos em excesso (STROBER; FUSS; MANNON, 2007). De forma similar, uma

    inflamação na barreira epitelial intestinal aumenta sua permeabilidade, levando também

    à ativação inapropriada do sistema imune da mucosa em pacientes com DII (HYUN;

    MAYER, 2006; LARA-VILLOSLADA et al., 2006).

    Vários componentes do sistema imune da mucosa têm sido implicados na

    patogênese da DII incluindo células epiteliais intestinais, macrófagos, monócitos,

    células dendríticas e células natural killers (NK) (sistema imune inato), células T e B

  • 23

    (sistema imune adaptativo), bem como mediadores de inflamação (citocinas e

    quimiocinas) (ROGERO; FOCK; BORELLI, 2013).

    Na DII, os antígenos luminais ganham acesso ao tecido da mucosa subjacente

    através de uma barreira permeável ou mesmo por uma susceptibilidade da mucosa.

    Células da resposta imune inata e adaptativa expressam um perfil diferente e número de

    receptores de reconhecimento de padrões moleculares. Ocorre um aumento da resposta

    mediada por células T, sendo que as células ativas Th1, Th2 e Th17 predominam sobre

    as células T reguladoras (Th3, Tr). Na CD, as células T imatura (Th0) diferenciam

    preferencialmente em células Th1, que leva a uma produção aumentada de INF-γ e IL-

    12, e na UC, estas células se diferenciam em Th2, produzindo IL-4, IL-5 e IL-13 e IL-

    17 em maiores quantidades (STROBER; FUSS; MANNON, 2007; BAUMGART;

    CARDING, 2007; FUSS et al, 2004), Figura 1.

    Novos componentes e características do sistema imunológico celular foram

    descobertos nas últimas décadas que revolucionaram a compreensão dos mecanismos

    subjacentes ao desenvolvimento de DII, é o caso das células Th17. A Th17 produz IL-

    17 e IL-23, potentes indutoras de inflamação que estimulam infiltração celular e a

    produção de citocinas pró-inflamatórias (BAUMGART; CARDING, 2007; GÁLVEZ,

    2014).

    O desenvolvimento e a cronicidade das lesões, tanto na CD como na UC, podem

    ser explicados pela cascata inflamatória, responsável pelo aumento das citocinas pró-

    inflamatórias que está associada com o início e a progressão da doença (MÛZES et al.,

    2012). O desequilíbrio entre as citocinas pró-inflamatórias e anti-inflamatórias que

    ocorre na DII impede a resolução da inflamação e leva a perpetuação da doença

    (NEURATH, 2014).

    O papel das citocinas no sistema imunitário, no interior da mucosa do cólon, tem

    sido extensivamente avaliado em estudos clínicos e experimentais, sendo estas

    sintetizadas e segregadas por células de defesa que podem prolongar ou atenuar o

    processo inflamatório. As DII são condições crônicas caracterizadas por super-

    regulação de citocinas pró-inflamatórias e resposta imune descontrolada

    (BERTEVELLO et al., 2005; SARTOR, 2006), e estão relacionadas a complicações

    como estenose intestinal, sangramento retal, abcesso e formação de fístula, e o

    desenvolvimento de colite associada neoplasias.

  • 24

    Figura 1 - Vias de interação entre microbiota e células do sistema imune nas DII

    Fonte: Michielan & D’Incà (2015); Ordás et al. (2012), adaptada pelo autor.

    Na DII, a inflamação do epitélio aumenta a permeabilidade da barreira intestinal,

    que conduz à ativação do sistema imune da mucosa indevidamente, caracterizada

    principalmente por exacerbações agudas associadas a um aumento do influxo de

    neutrófilos e ao recrutamento de mediadores inflamatórios, incluindo metabolitos de

    nitrogênio, ERO, como superóxido, radical hidroxila, peróxido de hidrogênio e ácido

    hipocloroso, além de proteases, eicosanóides, citocinas e quimiocinas pró-inflamatórias

    (DEDON; TANNENBAUM, 2004; HYUN; MAYER, 2006; STROBER; FUSS, 2011;

    BAUMGART; CARDING, 2007).

    O infiltrado de neutrófilos na lâmina própria leva a um aumento da enzima

    mieloperoxidase que é considerada um importante marcador bioquímico na inflamação

    tecidual (FAURSCHOU; BORREGAARD, 2003). O papel patogênico desse infiltrado

    pode contribuir para danos nos tecidos através da liberação de mediadores

    inflamatórios, incluindo ERO e proteases, bem como citocinas pró-inflamatórias

    (ARDIZZONE; PORRO, 2002).

  • 25

    As primeiras citocinas liberadas na resposta inflamatória pelo macrófagos

    ativados incluem a IL-1β, IL-6 e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), que ativam

    fatores pró-inflamatórios de transcrição para produzir outras citocinas, e exercem um

    papel fundamental na patogênese nos pacientes com DII e colite experimental (Strober

    & Fuss, 2011).

    A IL-1β é uma citocina pró-inflamatória que desempenha um papel central nas

    respostas inflamatórias do intestino, provocando um aumento na permeabilidade

    epitelial intestinal (AL-SADI; MA, 2007; AL-SADI et al., 2013). Existe um

    desequilíbrio de IL-1β e o seu antagonista que ocorre naturalmente no tecido intestinal

    de doentes com CD, sugerindo a falta de capacidade intrínseca para neutralizar o efeito

    da citocina (O’NEILL; DINARELLO, 2000).

    A IL-6 é melhor caracterizada como uma das citocinas pró-tumorogênicas e

    juntamente como outros membros da sua família afetam a proliferação, sobrevivência,

    diferenciação, migração celular etc. É ativada pela via de sinalização Janus

    Kinase/Transdutores de Sinal e Ativadores de Transcrição 3 (JAK/STAT-3), sinais

    importantes para o desenvolvimento de colite murina (TANIGUCHI; KARIN, 2014).

    Uma inibição da IL-6 em pacientes com DII, não só pode reduzir a inflamação

    intestinal, mas também o risco de desenvolvimento de câncer colorretal (WALDNER;

    NEURATH, 2014). Alguns autores relatam que a carcinogênese pode estar relacionada

    com a cronicidade da inflamação e um dano causado pela ativação prolongada das vias

    de sinalização responsáveis pela renovação celular continuada. A severidade, o tempo e

    a extensão das DII está relacionada ao maior risco para o surgimento de uma neoplasia

    (MCDONALD et al., 2006; JESS et al., 2006).

    Uma outra citocina é a IL-7, que está envolvida no desenvolvimento de

    condições inflamatórias crônicas, incluindo a DII e doenças auto-imunes quando

    produzida em excesso. Por outro lado, em baixas concentrações, a IL-17 desempenha

    um papel chave na defesa do hospedeiro extracelular de bactérias e fungos contra

    infecções (BERINGER; NOACK; MIOSSEC, 2016).

    Na DII, o TNF-α induz hipervascularização e angiogênese, induz a produção de

    outras citocinas pró-inflamatórias por macrófagos e células T, provoca alterações na

    barreira intestinal e promove a morte celular de células epiteliais intestinais e células de

    Paneth. O TNF-α também promove a destruição do tecido, aumentando a produção de

    metaloproteinases de matriz (MMPs) pelos miofibroblastos e conduz a ativação do

    factor nuclear-kB (NF-kB) (NEURATH, 2014). Este último é importante na regulação

  • 26

    da transcrição de outros mediadores pró-inflamatórios, e induz a expressão de diversos

    genes envolvidos nos processos anti-apoptóticas e pro-metastáticos (SALAS et al, 2002,

    NAUGLER; KARIN, 2008, AGARWAL et al, 2004).

    Além da expressão de proteínas inflamatórias, ocorre um aumento da produção

    das enzimas COX-2, lipoxigenase (LOX), iNOS (SAKTHIVEL;

    GURUVAYOORAPPAN, 2013; JOBIN, 2008; ARDIZZONE; PORRO, 2005). A

    COX-2 e a LOX participam do metabolismo do ácido araquidônico, gerando produtos

    como prostaglandinas e tromboxanos, e leucotrienos, respectivamente. Estes

    eicosanóides são importantes produtos de ativação de neutrófilos e macrófagos, com a

    capacidade de recrutar e ativar uma gama de células efetoras (CROOKS; STOCKLEY,

    1998; WHITTLE et al., 2008) com destaque para o leucotrieno B4 (LTB4), um potente

    quimiotático que tem sido descrito como um mediador patogênico na inflamação

    intestinal (GÁLVEZ et al., 2001).

    A expressão da COX e iNOS são reguladas por NF-kappaB (NF-kB) e contra-

    reguladas pelo supressor de NF-kB que pode atenuar a colite experimental em

    camundongos (NEURATH et al., 1996). A enzima COX-2 apresenta baixa expressão

    no epitélio intestinal normal, sendo induzida nas células apicais do epitélio inflamado

    do íleo terminal e cólon, apresentando-se aumentada na DII, tanto na forma aguda

    quanto na crônica (JIANG, 2006). A Figura 2, mostra que o NO é produzido a partir da

    ação do óxido nítrico sintase (NOS) na presença do substrato L-arginina, e que a NOS

    pode estar disponível nas isoformas constitutiva e induzida (MARLETTA, 1994).

    A NOS constitutiva (cNOS) é regulada pela ação do cálcio e de ligação da

    calmodulina e está presente no sistema nervoso como a NOS neuronal (nNOS) ou no

    endotélio vascular como a óxido nítrico sintase endotelial (eNOS). A cNOS produz

    baixos níveis de NO, que ativa a guanilato ciclase solúvel e os resultados da produção

    do segundo mensageiro Guanosina Monofosfato Cíclica (GMP) em locais em todo o

    corpo, incluindo o trato da mucosa gastrointestinal (CROSS; WILSON, 2003; WILSON

    et al., 1996). Por outro lado, a iNOS é induzida pelas citocinas TNF-α, IL-1, IFN-γ, e

    por lipopolissacarídeo bacteriano (LPS) em uma variedade de tipos de células. Na DII, a

    iNOS é expressa em células epiteliais e nos macrófagos teciduais da mucosa inflamada

    (DIJKSTRA et al., 2002).

    A síntese de grandes quantidades de NO por iNOS foi demonstrada na

    patogênese da colite, onde a sua expressão é aumentada nas áreas de inflamação e está

    associada a parâmetros inflamatórios histológicos tais como ulcerações e depleção de

  • 27

    células caliciformes que constituem um componente importante do epitélio intestinal,

    uma vez que são responsáveis pela produção de peptídeos cruciais para a defesa e

    reparo do epitélio da mucosa intestinal (MASHIMO et al., 1996; KIMURA et al.,

    1997). O NO é potencialmente tóxico, em grandes quantidades, estando presente,

    particularmente, em situações de estresse oxidativo, na geração de intermediários do

    oxigênio e na deficiência do sistema antioxidante; e pode apresentar ação potente sobre

    a adesão de leucócitos e quimiotaxia (DUSSE; VIEIRA; CARVALHO, 2003).

    Figura 2 - Representação esquemática das ações do óxido nítrico (NO) indicando os

    efeitos fisiológicos e patológicos das isoformas de óxido nítrico sintase constitutiva (c)

    e induzida (i)

    Fonte: Cross e Wilson (2003).

    2.1.1.2 Estresse Oxidativo

    O estresse oxidativo é definido como um desequilíbrio entre o excesso de

    produção de radicais livres e o sistema de defesa antioxidante. Destacam-se ERO, como

    o peróxido de hidrogênio, ânions superóxido e radicais hidroxilo e ERN, como

    peroxinitrito e NO, além de outras substâncias potencialmente tóxicas. O excesso de

    ERO e ERN pode ser verificado como um processo de intermediação de doenças como

    inflamação, isquemia, trauma, doenças degenerativas e morte celular por ruptura da

    membrana (lipoperoxidação) e inativação enzimática (KOURY; DONANGELO, 2003).

    A produção de radicais livres ocorre como um processo contínuo e fisológico

    nas funções biológicas do organismo. Em quantidades adequadas possibilita a geração

    de energia, ativação de genes e na participação de mecanismos de defesa durante o

    Pequenos níveis

    de cNOS

    (fisiológico)

    Guanilato

    ciclase

    solúvel

    Guanosina

    monofosfato

    cíclica

    Altos níveis de

    iNOS

    (tóxico)

    Respiração mitocontrial

    Outra enzima FeS

    Apoptose

    Dano ao DNA

  • 28

    processo de infecção. Contudo, em quantidades elevadas pode levar a um dano

    oxidativo (BARBOSA et al., 2010).

    Na patogênese da DII, o estresse oxidativo também desempenha um papel

    importante, podendo influenciar na inflamação intestinal através de mecanismos que

    resultam na produção de citocinas pró-inflamatórias, ativação de macrófagos, alteração

    da permeabilidade e da microbiota intestinal (BONAZ; BERNSTEIN, 2013; BAILEY

    et al., 2011).

    Os radicais livres são responsáveis pela peroxidação de lipídeos que é um

    processo de reação em cadeia, iniciado geralmente por um radical hidroxila, o qual tem

    a capacidade de retirar um átomo de hidrogênio da molécula de lipídeo. Este ataque

    ocasiona a fragmentação de lipídeos poli-insaturados e gera produtos secundários, como

    o malondialdeido (MDA), que reage com proteínas e fosfolipídeos, inclusive com o

    Ácido Desoxirribonucleico (DNA), causando lise e morte celular (BARREIROS;

    DAVID, 2006).

    O excesso de radicais livres no organismo é combatido por sistemas de defesa

    antioxidantes endógenos, com a participação das enzimas superóxido dismutase,

    glutationa peroxidase e a catalase, capazes de neutralizar o estresse oxidativo na mucosa

    intestinal e como papel importante no reparo do DNA (MANDALARI et al., 2011;

    ROESSNER et al., 2008).

    A enzima superóxido dismutase catalisa a dismutação do ânion radical

    superóxido a peróxido de hidrogênio e oxigênio; a catalase atua na decomposição de

    peróxido de hidrogênio, oxigênio e água; e a glutationa peroxidase, que atua sobre

    peróxidos em geral, com utilização de glutationa como co-fator (VASCONCELOS et

    al., 2007). Outros antioxidantes podem ser provenientes da dieta como o α-tocoferol, β-

    caroteno, ácido ascórbico, e compostos fenólicos, em especial flavonoides

    (HALLIWELL et al., 1995).

    2.1.1.3 Fatores Ambientais

    Os fatores ambientais são componentes essenciais na patogênese da DII e

    principal responsável pela sua incidência crescente em todo o mundo. Evidências

    epidemiológicas, clínicas e experimentais apoiam uma associação entre as DII e um

    grande número de fatores ambientais aparentemente não relacionados, que incluem

    tabagismo, dieta, medicamentos, situação geográfica e social, estresse, agentes

  • 29

    microbianos, permeabilidade intestinal e apendicectomia (DANESE; SANS; FIOCCHI,

    2004; HO; BOYAPATI; SATSANG, 2015).

    A relação entre o tabagismo e DII é um pouco intrigante. Estudos mostram que o

    hábito de fumar é um fator de risco para o desenvolvimento de CD, ou complicações na

    doença (formação de fístulas e estenoses). Os efeitos do tabagismo resultam na soma

    dos efeitos contraditórios de várias substâncias, incluindo nicotina e monóxido de

    carbono, além de serem modulados por: gênero, antecedentes genéticos, localização da

    doença e atividade, dose e concentração de nicotina do cigarro (COSNES, 2004). O

    aumento da concentração de monóxido de carbono pode amplificar o comprometimento

    da capacidade de vasodilatação nos microvasos cronicamente inflamados, resultando em

    isquemia e perpetuando em ulceração e fibrose (PULLAN, et al., 1994; HATOUM et

    al., 2003).

    Por outro lado, o tabagismo pode exercer um efeito protetor no aparecimento da

    UC (CALABRESE et al., 2012). Esse efeito tem relação com os níveis de citocinas pró-

    inflamatórias IL-1β, IL-8 e TNF-α no cólon, sendo significativamente menores em

    fumantes, do que não-fumantes com colite (ALDHOUS et al., 2008; BAUMGART;

    CARDING, 2007). Isso foi demostrado em estudos in vivo em modelos de colite

    ulcerativa que revelaram que a nicotina tem um efeito inibitório sobre Th-2, mas não

    exerce efeito inibitório em células Th-1 (COSNES, 2004).

    Outro fator ambiental relacionado a patogênese da DII é a dieta que tem sido

    amplamente estudada. Mas os resultados devem ser interpretados com cautela, pois os

    pacientes podem mudar sua dieta antes do diagnóstico, para reduzir os sintomas da

    doença. Estudos demonstraram que uma alta ingestão de fibra alimentar, incluindo

    frutas e legumes, protege contra DII. O mecanismo pelo qual as frutas e legumes pode

    conferir proteção está relacionado com a sua capacidade de modificar enzimas

    envolvidas na remoção de ERO (AMRE et al., 2007).

    Por outro lado, o consumo de carne vermelha e processada, álcool e baixo teor

    de fibra dietética estão associados com um aumento da probabilidade de recidivas

    (FROLKIS et al., 2013; SPOOREN et al., 2013; HO; BOYAPATI; SATSANG, 2015).

    Isso se deve ao fato das gorduras saturadas desempenharem um papel na resposta

    inflamatória através da modulação dos TLR em macrófagos (LEE et al., 2004). O

    elevado consumo de ácidos graxos poli-insaturados ômega-6 e um baixo consumo de

    ômega-3 (ou uma elevada relação n-6: n-3) tem sido associado com um aumento do

    risco tanto da colite ulcerativa como da doença de Crohn (COSTEA et al., 2014).

    http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1568997204000400http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1568997204000400http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1568997204000400

  • 30

    Estudos tem mostrado a relação epidemiológica de causa-efeito entre o uso de

    anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e DII. Santos et al., (2006) mostraram que

    além de efeitos adversos no trato gastrintestinal superior, o uso contínuo de AINEs

    pode provocar lesões no intestino delgado e cólon. Em modelos animais de colite

    espontânea usando camundongos deficiente de IL-10, a administração de AINEs não

    seletivos demostrou uma rápida e severa inflamação colônica associada ao bloqueio da

    proteção de protaglandinas E2 e alteração imune da mucosa (BERG et al., 2002).

    2.1.1.4 Fatores Genéticos

    Em 2001, foi descoberto o primeiro gene de susceptibilidade para a CD, o

    domínio de oligomerização de ligação de nucleotídeos (NOD2), localizado no

    cromossomo 16q12 (OGURA et al., 2001; HUGOT et al., 2001). Atualmente mais de

    160 locus genéticos foram associados com a susceptibilidade da DII (JOSTINS et al.,

    2012).

    Em estudos genéticos de coorte em pacientes com CD, foram identificadas

    mutações no gene de Domínio do Recrutamento e Ativação de Caspase (CARD15), que

    codifica NOD2, sendo responsável por 10-15% da prevalência da doença (SARTOR,

    2006; MOLODECKY; KAPLAN, 2010). Um modelo murino de mutação do gene

    CARD15 mostrou perda de sua função e produção excessiva de citocinas pró-

    inflamatórias em resposta a sinalização mediada pelo TLR em macrófagos deficientes

    de CARD15 (STROBER et al., 2006).

    Embora os camundongos deficientes em NOD2 sejam mais susceptíveis à

    infecção por agentes patégenos bacterianos específicos, ainda não se sabe até que ponto

    a deficiência de NOD2 pode alterar a resposta imune do hospedeiro para destruir

    bactérias comensais (DESHMUKH et al., 2009).

    Outros genes também são conhecidos que estão envolvidos na regulação da

    imunidade inata (genes de Histocompatibilidade - HLA, genes NOD, genes de

    interleucina), gene associado à produção alterada de adipocinas (ATG16L1), aqueles

    envolvidos nas funções epiteliais (genes de mucina), dentre outros (OGURA et al.,

    2001).

    O receptor de IL-23 (IL23R) também desempenha um papel importante na

    resposta aos agentes patógenos e mutações de IL23R associado com o aumento do risco

    de DII. Os níveis elevados de IL-23 foram encontrados na barreira da mucosa epitelial

  • 31

    de portadores dessa doença, indicando ainda o papel da IL-23 na resposta inflamatória

    crônica a bactérias luminais (RIOL-BLANCO et al., 2010).

    Mais de 50% dos locus genéticos de susceptibilidade da DII também estão

    associados a outras doenças auto-imunes e inflamatórias. Estes genes sobrepostos

    podem ter efeitos contrastantes em diferentes doenças (KHOR; GARDET; XAVIER,

    2011). A exemplo das variantes genéticas MST1, IL2, CARD9 e REL que são

    compartilhados entre UC e a colangite esclerosante primária, uma inflamação das vias

    biliares; e o NOD2, C13orf31 e LRRK2, compartilhado com o Mycobacterium leprae e

    a CD (ZHANG et al., 2009; JANSE et al., 2111).

    Os sintomas articulares constituem a manifestação extra-intestinal mais comum

    em pacientes com UC e DC. Polimorfismos do gene CARD15 já foram associados a um

    risco maior de se desenvolver DC e são considerados preditores tanto de doença

    inflamatória intestinal crônica em pacientes com espondiloartrites quanto de sacroiliíte

    em acometidos por DC (LANNA et al., 2006).

    2.1.2 Estratégias terapêuticas

    Os principais objetivos para o tratamento da DII são promover a remissão dos

    sintomas da fase aguda, manter a remissão por controle da inflamação crônica, para

    impedir a reativação do processo inflamatório intestinal, diminuir as complicações

    associadas ao tratamento e à doença, e melhorar a qualidade de vida dos pacientes

    (CHINYU; GARY, 2004).

    A regulação da alteração da resposta imune é essencial para a melhora dos

    pacientes com DII, sendo atualmente o principal objetivo da terapia farmacológica, que

    inclui aminosalicilatos, corticoides, imunomoduladores, anticorpos monoclonais para a

    citocina TNF-α (anti-TNF-α) utilizados para reduzir os sintomas da doença e manter sua

    remissão (BERNSTEIN, 2015; KOZUCH; HANAUER, 2008; NG; KAMM, 2009).

    Essas terapêuticas são relacionadas pelas diretrizes de prática clínica para o tratamento

    médico de não hospitalizada UC, chamado de The Toronto Consensus (BERNSTEIN,

    2015).

  • 32

    2.1.2.1 Aminossalicilatos

    Os aminossalicilatos medicamentos que contêm na sua molécula de ácido 5-

    aminossalicílico (5-ASA ou mesalazina), que contém propriedades terapêuticas. Seu

    mecanismo de ação não é plenamente estabelecido, embora seja conhecido por estar

    envolvido na inibição da síntese de produtos do ácido araquidônico, inibição da

    quimiotaxia sobre os macrófagos intestinais e recrutamento leucócitos (ACOSTA,

    2016). Além de reduzirem a secreção de anticorpos pelas células mononucleares,

    diminuírem a secreção de citocinas pró-inflamatórias, e inibirem o fator NF-κB ou

    devido a uma ação antioxidante (WHITTLE; VARGA, 2010).

    Meta-análises têm mostrado a eficácia da administração de 5-aminossalicilato

    via retal como terapia de indução em pacientes com ligeira a moderada proctite ulcerosa

    ativa ou da colite instalada mais ao lado esquerdo do cólon (BRESSLER et al., 2015).

    A maioria dos efeitos adversos do fármaco tem sido relacionada a intolerância

    gástrico, alergias de pele, anemia hemolítica, hepatite, pancreatite e oligospermia,

    embora tenha sido demonstrado que tratamento com sulfassalazina é eficaz em induzir a

    remissão de surtos de UC leve a moderada (ACOSTA, 2016).

    2.1.2.2 Corticosteroides

    Os corticoides são a segunda opção após falha dos aminossalicilatos, mas estes

    também estão associados com uma incidência relativamente alta de efeitos adversos

    (GISBERT et al., 2002; GONZALEZ-LAMA et al., 2012).

    Os corticosteróides "clássicos" ou "convencional" (prednisona, prednisolona,

    metilprednisolona) que foram e continuam sendo usados no tratamento de escolha para

    surtos graves, apresentam limitações importantes como o desenvolvimento da doença

    metabólica dos ossos e das complicações infecciosas, devendo usar uma dose mais

    eficaz por um menor tempo possível, e associar uma suplementação com o cálcio e

    vitamina D durante o tratamento (ACOSTA, 2016).

    Com base na experiência clínica e várias definições utilizadas em ensaios

    clínicos de UC, o termo "resistência a corticosteróide" é definido como a falta de uma

    resposta sintomática mesmo após um ciclo de prednisona oral de 40 a 60 mg/ dia (ou

    equivalente) por pelo menos 14 dias. Por outro lado, o termo "Dependência de

    corticosteróides" foi definida como a incapacidade de retirar (dentro de 3 meses do

  • 33

    início) a corticoterapia oral sem recorrência dos sintomas (TURNER et al., 2007;

    BRESSLER et al., 2015).

    2.1.2.3 Imunossupressores

    Os medicamentos imunossupressores são utilizados no tratamento das DII, por

    serem eficazes em induzir a remissão da doença, contudo sem benefícios para mantê-la,

    e portanto, não devem ser mantidos por um longo prazo (CARBONNEL et al., 2016).

    A ciclosporina, um fármaco de resgate para doentes refratários a esteroides e

    com colite severa (HANAUER, 2008). Já foi demonstrada ser benéfica em crises

    graves, apesar de efeitos colaterais, incluindo hipertensão, nefrotoxicidade e

    desequilíbrio eletrolítico estarem frequentemente associados ao seu uso (MOCCIARO

    et al., 2012).

    2.1.2.4 Agentes biológicos

    Técnicas de investigação estão em avanço constante, conduzindo

    progressivamente a uma maior compreensão dos principais processos fisiopatológicos

    subjacentes a estas doenças, permitindo por sua vez o desenvolvimento de terapias

    novas e poderosas (STROBER; FUSS; MANNON, 2007).

    Um grande avanço na terapia das DII foi a introdução do tratamento com

    anticorpos monoclonais de TNF-α (anti-TNF) como o infliximabe, o adalimumabe e o

    certolizumabe. A terapia com esses agentes biológicos é usada em casos

    moderados/severos que não apresentam resposta aos tratamentos anteriores

    (ARDIZZONE; PORRO, 2005; NGO et al., 2010; TARGAN, 2006). Contudo não

    mostraram eficácia em todos os pacientes, sendo sua utilização limitada por baixas taxas

    de remissão ao longo prazo e por um risco de infecções graves, incluindo infecções

    oportunistas (NYBOE et al., 2015).

    Além disso, os bloqueadores de citocinas (por exemplo, tocilizumabe e

    ustekinumabe, que tem como alvo a interleucina IL-6 e a subunidade p40 da IL-12 e IL-

    23, respectivamente); e os inibidores de JAK e de sinalização STAT (por exemplo, o

    inibidor de sinalização JAK3 e JAK1, tofacitinibe, que bloqueia a sinalização de IL-2,

    IL-4, IL-7, IL-9, IL-15 e IL-21) apresentaram resultados promissores em ensaios

    clínicos (NEURATH, 2014).

  • 34

    No entanto, apesar destes fármacos demonstrarem eficácia clínica, existe uma

    proporção importante de efeitos secundários que podem limitar a sua utilização a longo

    prazo (SIEGEL, 2011), como o aumento do risco de infecção, as reações do lupus e a

    formação de anticorpos antinucleares (WALSH; MABEE; TRIVEDI, 2011).

    Neste contexto, novas terapias para a DII que combinam eficácia e segurança

    são necessárias. Entre estas, as intervenções dietéticas com nutracêuticos e/ ou

    alimentos funcionais parecem representar uma alternativa segura para modular a

    resposta imune alterada da mucosa que ocorre na inflamação intestinal, sendo

    conseguida principalmente através do seu impacto sobre a microbiota intestinal, como

    foi relatado por prebióticos (ROBERFROID et al., 2010).

    2.1.2.5 Tratamento complementar: evidências científicas

    Condições patológicas crônicas, como inflamações intestinais e câncer

    geralmente exigem tratamentos longos ou estão associados com períodos alternados de

    remissão e recidiva. Atualmente, tem sido apresentada a associação das terapias

    tradicionais com probióticos, melhorando significativamente o quadro clínico da colite

    ulcerativa em humanos (HEGAZY; EL-BEDEWY, 2010; LEBLANC; LEBLANC,

    2016) e em ensaios animais (FITZPATRICK et al., 2008; HERIAS et al., 2005;

    PHILIPPE et al., 2011). O consumo de probióticos no leite e leite fermentado forneceu

    proteção contra a perda de peso e inflamação intestinal em um modelo murino de colite

    induzido por DSS como relatado por Lee et al. (2015).

    O uso de probióticos contra a DII é baseado em evidências convincentes

    implicando as bactérias intestinais na patogênese destas doenças. Os probióticos são

    "organismos vivos" que, quando ingerido em determinadas quantidades, têm um efeito

    benéfico, pois estimulam a síntese e secreção de fatores de proteção, como as mucinas

    (componentes do muco luminal), defensinas, Imunoglobulina A, proteínas do choque

    térmico, dentre outras, e ainda induzem a manutenção da barreira epitelial por

    influenciar o aumento das junções oclusivas (O'FLAHERTY et al., 2010; THOMAS;

    VERSALOVIC, 2010; YAN; POLK, 2010). Os probióticos também tem função

    imunoestimulante através da produção de citocinas anti-inflamatórias, aumentando a

    função de barreia intestinal pela secreção de antioxidantes e compostos

    anticancerígenos, e suprimindo a inflamação (CHONG, 2014; SIVAN et al., 2015).

  • 35

    Entre as investigações sobre o efeito anti-inflamatório de plantas, a curcumina

    (Curcuma longa, o componente ativo do açafrão) levou a remissão da doença em seres

    humanos, sendo a terapêutica mais promissora até agora (BALIGA et al., 2014). Além

    disso, apresenta ações farmacológicas, incluindo efeitos anti-inflamatórios,

    antioxidante, antitumoral, e como alternativa no tratamento das DII, podendo ser

    utilizada como uma terapia adjunta para indivíduos que procuram uma combinação à

    medicina convencional (JURENKA, 2009; TAYLOR, LEONARD, 2011). Em estudos

    animais com colite, a curcumina regulou negativamente a expressão de genes

    inflamatórios (JIANG, 2006).

    Dados recentes sugerem que a vitamina D ou seu receptor pode ter um papel

    na patogênese e no curso da DII. Em ratos, a deficiência de 1,25-di-hidroxi vitamina D3

    (1,25 (OH) 2D3) está associada com um risco aumentado de desenvolvimento de colite.

    Sua administração melhorou a inflamação e suprimiu a expressão de genes pró-

    inflamatórios, incluindo TNF-α (FROICU; CANTONA, 2007; FROICU; ZHU;

    CANTONA, 2006).

    Além disso, glutamina (VICARIO et al., 2007), histidina (ANDOU et al., 2009),

    taurina (ZHAO et al., 2007), e curcumina (UNG et al., 2009) foram relatados ter efeitos

    anti-inflamatórios em modelos experimentais de DII. Esses resultados mostram que

    dietética podem ser uma alternativaa de melhorar a inflamação intestinal.

    2.2 MODELOS EXPERIMENTAIS DE COLITE

    Com intuito de compreender os mecanismos envolvidos na patogênese das DII,

    vários modelos animais foram desenvolvidos nas últimas décadas, como o de indução

    química por 2,4-dinitrobezeno sulfônico (DNBS), 2,4,6-trinitrobenzeno sulfônico

    (TNBS), ácido acético, oxazolona, sulfato de sódio dextrana (DSS), etc. Embora esses

    modelos não representem na totalidade a complexidade da doença que acomete o

    homem, são importantes para análise de muitos aspectos importantes das DII que são

    difíceis de serem estudados em humanos.

    Embora os fatores etiológicos envolvidos na perpetuação da DII permanecem

    incertos, o desenvolvimento de vários modelos de indução da colite em animais fornece

    novas estratégias para desvendar o aparecimento e a progressão da DII (RANDHAWA

    et al., 2014).

  • 36

    Os modelos animais são considerados ferramentas valiosas e indispensáveis que

    fornecem uma grande variedade de opções para investigar o envolvimento de vários

    fatores na patogênese da doença, contribuindo para avaliar diferentes opções

    terapêuticas e selecionar os tratamentos mais eficientess e seguros (PERSE; CERAR,

    2012). No entanto, é importante considerar que não existe um modelo animal ideal que

    reproduza completamente a DII humana, uma vez que não se pode mostrar em modelos

    experimentais a etiologia completa dessa doença (GÁLVEZ; COMALADA; XAUS,

    2010; DOTHEL et al., 2013).

    Existem duas categorias principais de indução da colite, uma delas induzida por

    agentes químicos, mais comumente utilizados, e que reproduzem vários aspectos

    imunológicos e histopatológicos das DII em humanos, e existem também modelos

    animais em que as DII desenvolvem-se espontaneamente. Nestes modelos, as mutações

    genéticas relacionadas aos componentes do sistema imune causam processos

    inflamatórios intestinais de diversos tipos e, nestes casos, a sintomatologia inflamatória

    geralmente se intensifica progressivamente (GÁLVEZ, COMALADA, XAUS, 2010).

    A deleção de genes responsáveis pela transcrição de algumas citocinas também

    pode favorecer o desenvolvimento de colite espontânea em animais. Dentre estes

    modelos se destacam os que utilizam camundongos knockout (modificados

    geneticamente) para as citocinas IL-10 e IL-2. Neste caso, os animais desenvolvem

    colite espontânea, devido à desregulação da interação entre as células do sistema imune

    e a microbiota entérica (BERG et al., 2002; BOONE et al., 2002). As mutações

    genéticas relacionadas aos componentes do sistema imune causam processos

    inflamatórios intestinais de diversos tipos e, nestes casos, a sintomatologia inflamatória

    geralmente se intensifica progressivamente até a morte do animal (WIRTZ et al., 2007).

    O aparecimento da inflamação intestinal nos modelos de indução por agentes

    químicos, são considerados rápidos, o que torna sua utilização relativamente simples

    (WIRTZ et al., 2007). A indução é realizada através da inserção de um cateter no colón

    do animal (camundongos, ratos ou coelhos) para instilação de um determinado agente

    químico. É o caso do ácido acético, do DNBS, do TNBS e da oxazolona. Outro agente

    químico que pode induzir inflamação intestinal é o DSS, que é administrado por via

    oral, diluído na água. Esses modelos podem imitar as características morfológicas,

    histopatológicos e sintomáticas da DII humana (RANDHAWA et al., 2014). Tanto o

    modelos de indução por DSS, como por TNBS estão bem estabelecidos em modelos

    animais de inflamação da mucosa, sendo utilizados há mais de 2 décadas em estudos

  • 37

    pré-clínicos e de patogênese da DII (NEURATH; FUSS; STROBER, 2000; WIRTZ;

    NEURATH, 2007).

    2.2.1 Modelo de indução por Ácido Acético

    Em 1978, MacPherson e Pfeiffer propuseram um modelo experimental de

    indução pelo ácido acético a 10% via retal. Embora seja um modelo antigo, ainda hoje é

    bastante estudado, principalmente na pesquisa de fármacos eficazes contra as DII (NOA

    et al, 2000; GUERRA et al., 2015).

    O ácido acético é usado exclusivamente para modelo agudo de colite e a sua

    administração intracolônica provoca um processo inflamatório similar à UC, com

    alterações endoscópicas e histopatológicas de fácil reprodutibilidade, no qual os

    mediadores inflamatórios como ERO, aminas vasoativas e eicosanoides desempenham

    um papel importante (CARTY et al., 2000).

    A administração por via intracolônica de ácido acético em murinos provoca

    lesões epiteliais do cólon com necrose e inflamação associada a infiltração de

    neutrófilos e macrófagos no tecido colônico. A resposta inflamatória resultante desse

    processo é devido à produção de ERO e ao produto de influxo do conteúdo luminal para

    a lâmina própria, decorrente da destruição das células epiteliais (MILLAR et al., 1996).

    Neste modelo de indução, Guerra et al (2015) verificaram um aumento da

    lipoperoxidação e diminuição do conteúdo de glutationa total no homogeinado de

    intestino grosso distal dos ratos quando comparados ao grupo controle negativo.

    A perda da barreira que se situa entre as células imunológicas e o lúmen do

    intestino provoca a injúria do tecido e, consequentemente, a ativação de uma cascata

    inflamatória. Sendo assim, a utilização deste modelo animal também contribui para uma

    melhor compreensão da colite humana com respeito às alterações imunológicas, já que,

    além de reproduzir as lesões macroscópicas na mucosa colônica, também se mostra

    satisfatório no padrão de citocinas expressas após a indução com o ácido acético

    (BERTEVELLO et al., 2005).

    2.2.2 Modelo de indução por DNBS e TNBS

    Alguns modelos animais de DII mostram similaridade com CD humana, entre

    esses, o modelos de inflamação colônica induzida por DNBS e TNBS em camudongos,

  • 38

    notavelmente pela predominância do NF-kB dependente da ativação de células Th1

    (CANNARILE et al., 2009; NEURATH et al., 2002; STROBER; FUSS; BLUMBERG,

    2002). Essas substâncias quando administradas por via retal promovem uma inflamação

    crônica mediada por células Th1, simulando uma CD com um aumento da produção de

    IL-12 por macrófagos que compõem a mucosa intestinal (TE VELDE; VERSTEGE;

    HOMMES, 2006; BOUMA; STROBER, 2003; RANDHAWA et al., 2014).

    Além disso, a colite induzida por DNBS e TNBS permite estudar a patogênese

    da DII associada a fatores ambientais, tais como estresse e dieta, os efeitos de potenciais

    terapias, e os mecanismos da inflamação intestinal subjacente e lesão da mucosa

    (MORAMPUDI et al., 2014).

    O DNBS, assim como o TNBS são haptenos administrados em combinação com

    etanol (40-50%), para romper a barreira da mucosa intestinal e permitir a penetração do

    ácido para o interior da parede do intestino. A resposta imune induzida por hapteno

    provoca graves ulcerações da mucosa e da barreira epitelial caracterizada pela

    infiltração de células mononucleares transmural (MORRIS et al., 1989).

    No modelo de TNBS e DNBS, o tipo de resposta imunitária induzida por

    hipersensibilidade retardada é uma reminiscência da célula mediada por resposta

    inflamatória humana que ocorre na CD. No entanto, apenas uma dose única de TNBS

    ou DNBS é utilizada na maioria dos estudos pré-clínicos (TE VELDE; VERSTEGE;

    HOMMES, 2006).

    O TNBS é metabolizado pelas enzimas do cólon produzindo uma reação

    imunomediada por citocinas pró-inflamatórias e substâncias citotóxicas. Nesse modelo

    a lesão pode ser aguda ou crônica dependendo da dose administrada (YAMADA et al.,

    1993).

    2.2.3 Modelo de indução por DSS

    O processo inflamatório intestinal induzido por DSS tem sido amplamente

    utilizado como modelo experimental de DII, devido a sua simplicidade de

    administração, porém apresenta custo elevado. Polímeros dessa substância são

    dissolvidos na água dos animais e dependendo da concentração, a duração e frequência

    de administração DSS, os animais podem desenvolver colite aguda ou crônica ou

    mesmo lesões displásicas (MARGOLIS; GERSHON, 2009).

  • 39

    O DSS provoca uma lesão mais semelhante a colite ulcerativa que é

    morfologicamente e macroscopicamente caracterizada por hiperemia, ulceraçõoes,

    moderado a severo edema na submucosa, acompanhada de lesão por mudanças

    histopatológica com infiltrações de granulócitos (DHARMANI; LEUNG; CHADEE,

    2011).

    A colite aguda geralmente é induzida pela administração contínua de 2-5% DSS

    por curto período (4-9 dias). Enquanto que a colite crônica pode ser induzida por um

    tratamento contínuo de baixas concentrações de DSS ou administração cíclica do

    mesmo, como por exemplo, 2 ciclos de tratamento DSS por 7 dias intercalados de 10

    dias de água. As manifestações clínicas na fase crônica da colite geralmente não

    refletem a gravidade da inflamação ou características histológicas encontradas no

    intestino grosso (PERSE; CERAR, 2012).

    As diferentes respostas parecem ser dependentes não só da concentração, peso

    molecular, a duração da exposição, fabricante e lote do DSS, mas também dos fatores

    genéticos (tensão e subestirpe, gênero) e microbiológicos (estado microbiológico e flora

    intestinal). Além disso, o aparecimento e gravidade da colite podem variar com com o

    estresse do animal (MELGAR et al., 2008).

    O DSS é tóxico para as células epiteliais do cólon e provoca defeitos na

    integridade da barreira epitelial. O mecanismo de como DSS passa através das células

    epiteliais da mucosa permanece incerto. As primeiras mudanças relacionadas ao DSS

    foram observados após um dia de tratamento com DSS, sendo a perda de um da zona de

    oclusão-1 (ZO-1) e o aumento da expressão de citocinas pró-inflamatórias (TNF-α, IL-

    1, IFN-y, IL-10 e IL-12) no cólon (ICHIKAWA-TOMIKAWA et al., 2011; LAPRISE,

    2011; PORITZ et al., 2007).

    Outro modelo disponível, que provou ser particularmente útil na colite é a

    indução por oxazolona, por administração intra-retal deste agente hapteno. Quando

    administrados intra-retalmente oxazolona sem sensibilização prévia, vê-se um

    desenvolvimento rápido da inflamação histologicamente, em que ele é marcado por uma

    lesão superficial edematosa, que afeta a porção distal do cólon (BOIRIVANT et al.,

    1998).

    Embora nenhum modelo animal apresente todas as características patogênicas e

    clínicas da DII humana, cada modelo animal contribui para compreender melhor os

    mecanismos subjacentes de iniciação e perpetuação da inflamação intestinal (WIRTZ;

    NEURATH, 2007).

  • 40

    2.3 LEITE E SORO CAPRINOS: ALIMENTOS COM POTENCIALIDADE

    FUNCIONAL

    Os alimentos funcionais são aqueles alimentos que se destinam a ser consumidos

    como parte da dieta normal e que contêm componentes biologicamente ativos como

    potencial na melhora da saúde ou redução do risco de doença. Exemplos de alimentos

    funcionais incluem alimentos que contêm minerais específicos, vitaminas, ácidos graxos

    ou fibra dietética, alimentos com adição de substâncias biologicamente ativas, tais como

    fitoquímicos ou outros antioxidantes e probióticos que contêm culturas vivas.

    O leite é um produto que possui naturalmente em sua composição proteínas de

    alto valor biológico, lipídeos, lactose, hormônios, fatores de crescimento, nucleotídeos,

    enzimas, oligossacarídeos e peptídeos bioativos que apresentam efeitos benéficos à

    saúde (PEREIRA, 2014).

    Estudos populacionais têm demonstrado que o consumo de leite e derivados

    estão associados a um menor risco de desenvolvimento de síndrome metabólica,

    hipertensão, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer, como o de cólon

    (GOLDBOHM et al., 2011) e também à melhora da densidade óssea (FAO, 2013). O

    leite de vaca apresenta destaque com produção mundial de 83%, e também com maior

    consumo mundial 50 Kg/ per capta/ ano (FAOSTAT, 2012). No entanto, esta matriz

    láctea não é indicada para infantes, uma vez que apresentam uma alta densidade

    energética, proteínas alergênicas, e menor conteúdo de imunoglobulinas e lactoferritina

    ideais para esta fase. O leite materno é o produto mais indicado, sendo indicado o

    aleitamento exclusivo até os 6 meses de vida, sendo complementar até 1-2 anos

    (BALLARD; MORROW, 2013).

    Leites de outros ruminantes como o leite caprino apresenta propriedades já

    conhecidas em relação ao leite de vaca, como melhor digestibilidade devido a seus

    globulos de gordura menores, menor alergenicidade, além de altos teores de

    micronutrientes (cálcio, fósforo, potássio, magnésio, dentre outros), e destaque para

    seus constituintes bioativos como os peptídeos, ácido linoleico conjugado (CLA) e

    oligossacarídeos (HERNÁNDEZ-LEDESMA; RAMOS; GÓMEZ-RUIZ, 2011;

    ALBENZIO et al., 2012; GARCÍA et al., 2014), Figura 3.

  • 41

    Figura 3 - Componentes bioativos do leite de cabra e ação na Doença Inflamatória

    Intestinal

    Fonte: Elaborado pelo autor (2016).

    A cabra é um animal que se adapta muito bem a condições ambientais extremas

    com escassez de forragem e água, dessa maneira por muitas décadas associou-se o uso

    do leite de cabra com pobreza e ao subdesenvolvimento. No Nordeste Brasileiro, por

    muito tempo a produção e consumo do leite caprino eram comuns. Em contrapartida,

    em países do mediterrâneo a criação de cabras leiteiras já representavam mercado

    econômico importante (BOYAZOGLU; HATZIMINAOGLOU; MORAND-FEHR,

    2005), devido ao interesse principalmente de produtos como queijos e iogurte

    (HAENLEIN, 2004). A produção leiteira mundial de cabras em 2010 foi de 2,4%,

    mundialmente, contudo em regiões como a África Subsaariana a produção média é

    12,6%, enquanto que o Brasil detém uma produção de 0,5%, muito inferior a seu

    potencial (FAOSTAT, 2012).

    Atualmente, não só o leite, mas os derivados caprinos (queijos, iogurtes e

    bebidas lácteas) tem ganhado cada vez mais destaque também nos países em

    desenvolvimento, no mercado produtor e consumidor, por serem promissores alimentos

    funcionais na promoção da saúde e prevenção de doenças.

    A fabricação de queijos é uma das mais importantes, pelo crescente mercado

    econômico dessa matriz láctea. No entanto, apresentam alguns problemas, a exemplo da

    da produção do soro de queijo, a qual para produzir 1 Kg de quejo, são necessários 10

    Kg de leite, resultando em 9 Kg de soro, e cerca de 50% desse soro não é aproveitado,

    Compostos Bioativos

    do Leite Caprino

    Imunoglobulinas

    Fator de

    Crescimento

    Proteínas e

    Peptídeos Bioativos

    Oligossacarídeos

    Lipídios Bioativos

    CLA

    Minerais e

    Vitaminas

    Adesão leucocitária

    Imunomodulador Linfócitos

    Anti-inflamatório IL-6; IL-1β; IL-17, TNF-α

    IL-10; IL-2, Mucinas

    Antioxidante

    Síntese de citocinas

  • 42

    gerando desperdício, perda financeira e um grande volume de efluentes problemas

    ambientais relevantes (MAGALHÃES et al., 2011; TEJAYADI; CHERYAN, 1995).

    No passado, a grande maioria das fábricas de queijo descartavam seus efluentes

    diretamente em rios, lagos e oceanos, sem qualquer pré-tratamento. Alguns fabricantes

    construiram tanques de armazenamento, mas descarregam no sistema de esgoto

    municipal, outros destinam o soro produzido para a alimentação dos animais.

    Mais recentemente, o soro de leite passou a ser melhor aproveitado, não apenas

    pela preocupação ambiental, mas pela descoberta de seus constituintes nutricionais, a

    exemplo do isolamento de proteínas do soro utilizadas como suplementos alimentares;

    como ingrediente para a produção de bebidas lácteas, e o interesse científico em estudas

    seus componentes isolados.

    2.3.1 Peptídeos Bioativos

    As proteínas do soro são transformadas em peptídeos bioativos, por meio de

    processos enzimáticos ou fermentação (YADAV et al., 2015) e dessa forma evidenciam

    os efeitos