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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ANALÍTICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA SELMA SOUZA ALVES SANTOS CARACTERIZAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE RESÍDUO SÓLIDO: LODO DE ETA, COMO MATÉRIA PRIMA PARA CONFECÇÃO DE ELEMENTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL. Orientadora: Prof a Dra. Vânia Palmeira Campos SALVADOR 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ANALÍTICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA

SELMA SOUZA ALVES SANTOS

CARACTERIZAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE RESÍDUO SÓLIDO: LODO DE

ETA, COMO MATÉRIA PRIMA PARA CONFECÇÃO DE ELEMENTOS

DA CONSTRUÇÃO CIVIL.

Orientadora: Profa Dra. Vânia Palmeira Campos

SALVADOR

2011

SELMA SOUZA ALVES SANTOS

CARACTERIZAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE RESÍDUO SÓLIDO: LODO DE

ETA, COMO MATÉRIA PRIMA PARA CONFECÇÃO DE ELEMENTOS

DA CONSTRUÇÃO CIVIL.

Dissertação apresentada ao Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Química Analítica da Universidade Federal da Bahia, como pré-requisito obrigatório obtenção do titulo de Mestre.

Orientadora: Profª Dra. Vânia Palmeira Campos

SALVADOR

2011

Dedico este trabalho, ao meu marido

Josemilson e filhos, Victor e Valber,

pessoas que tanto amo, por me

impulsionarem a buscar vida nova a

cada dia.

AGRADECIMENTO

À Deus, Senhor do Universo.

À minha família, meu marido e filhos, pessoas que tanto amo, pela compreensão,

paciência e cumplicidade, por terem de se privar da minha companhia pelos

estudos, concedendo-me a oportunidade de realizar-me ainda mais.

À professora Vânia Campos pela oportunidade, compreensão, confiança e

credibilidade dada a minha pessoa. Por ter mostrado o quanto é importante a

sinergia. Por ter acolhido meu projeto de pesquisa. Pela orientação e pelo apoio

técnico fundamental na realização deste trabalho.

A todos os professores pelos ensinamentos e auxílio na formação do conhecimento

que resultou em uma consciência critica e determinada com relação às diversas

áreas e faces que o curso de Química apresenta.

Ao laboratório CETA da UFBa, na pessoa do Sr. Emanuel Rodrigues do

Nascimento, pessoa que com atenção e presteza acolheu o projeto.

Ao colega Joelson Almeida, que com a paciência e disposição colaborou no projeto.

Ao gerente da OMPT- EMBASA Jorge Brito pelo apoio e por acreditar no projeto.

A EMBASA e todos responsáveis e trabalhadores técnicos e administrativos, em

especial Claudemiro Bispo, Robson Barros e Paulo Cesar pela gentileza e atuação

durante a realização dos trabalhos necessários a esta pesquisa.

A todos os meus amigos, em especial, Sandra Regina e Rita Pitangueira pelo apoio

e força nas horas difíceis. As pessoas certas nas horas mais incertas.

Finalmente a todos que, mesmo sem nomeá-los me transmitiram as contribuições e

o incentivo para êxito deste trabalho.

RESUMO

A estação de tratamento de água (ETA) Vieira de Mello (VM), uma das ETAs da EMBASA, situada em Salvador-Ba, com capacidade para tratar 2,5 m3 s-1 de água, entrou em operação em março de 1964 atendendo parte da demanda de água potável da cidade de Salvador. Para transformar a água bruta em água potável, a VM utiliza o processo convencional de tratamento, com adição de diversos componentes, formando resíduos a serem removidos nas etapas de decantação e filtração, principalmente nos decantadores, sendo estes resíduos chamados de lodo. A disposição final dos lodos gerados nas ETAs constitui atualmente um dos principais passivos ambientais do setor de saneamento. Há muito, o destino destes resíduos de ETA vinha sendo os cursos d’água próximos das estações, podendo causar efeitos, principalmente à fauna aquática e a saúde humana, pois o mesmo contém metais, tóxicos entre outros contaminantes. Esta prática tem sido questionada por órgãos ambientais. Atualmente, um dos grandes desafios é a busca de destinação final desses lodos, ambientalmente vantajosa e econômica e tecnicamente viável. Entre as possibilidades aponta-se incorporação do lodo em compostagem e seu uso na fabricação de tijolos. Neste estudo realizou-se a caracterização do resíduo gerado na ETA VM, após secagem em estufa sob controle de temperatura na faixa de 103-1050C. Foram encontradas concentrações de metais e semi metais nas faixas de: 6,00 - 9,57 mg L-1 Al; 2,14 – 2,89 mg L-1 As; 0,30 - 0,50 x10-3 mg L-1 Be; < 0,10 – 0,12 x10-3 mg L-1 Cd; 0,83 – 0,14 mg L-1 Cr; <2,0 – 0,11 mg L-1 Pb; 6,50 – 12,50 x 10-3 mg L-1 V. Resultados obtidos de testes de resistência de bloco (fbk =fbk,est= 7,8 Mpa) e de absorção de umidade ( ≤ 13%), além de testes de lixiviação: As < 0,035 mg L-1, Cd < 0,020 mg L-1 ,Pb < 0,20 mg L-1, Cr< 0,070 mg L-1, Al < 1,2 mg L-1, Be< 0,020 mg L-1, V<0,30 mg L-1, comprovam a adequação do lodo para uso na confecção de blocos na construção civil. Como o volume de água tratada em média é 178.710 m3 dia-1 na ETA VM, e a produção de resíduo no final do tratamento é de 42,20 g m-3 SST a produção de blocos por dia poderá ser de 15.814, considerando a composição do material nas seguintes proporções: 1,0: 3,7: 0,85: 0,28 correspondendo a cimento:areia:água:lodo. A tecnologia identificada neste trabalho para a destinação final do resíduo da ETA VM é econômica e ambientalmente adequada.

Palavras Chave : Resíduo de ETA, Estação de Tratamento, Lodo, Reuso.

ABSTRACT

The station of treatment of water (WTS) Vieira of Mello (VM), one of the Water Treatment Stations(WTS) of the EMBASA, located in Salvador-Ba,with capacity to treat 2,5 m3 s-1 of water, has entered in operation in March of 1964 assisting part of the demand of drinking water of the city of Salvador. To transform the rude water in drinking water, the station Vieira de Mello (VM) uses the conventional process of treatment, with the addition of several components, forming residues to be removed in the stages of decantation and filtration, mainly in the decanters, being these residues called of mud. To final disposition of the mud generated in the water treatment stations (WTS) constitutes nowadays one of the main environmental liabilities of the section of sanitation. For a long time, the destiny of these residues of the WTS (water treatment station) were being the courses of water close to the stations, where it can cause effects mainly to the aquatic fauna and the human health, because the same contains toxics metals, among others contaminating. This practice has been questioned by environmental organs. Nowadays, one of the greatest challenges is the search of final destination of these mud, environmentally advantageous and economic and technically viable. Among the possibilities is pointed the incorporation of the mud in composting, its use in the production of bricks. In this study accomplished the characterization of the residue generated in the water treatment Station (WTS) Vieira de Mello (VM) after drying in greenhouse under temperature control in the strip of 103-105°C.There were found concentrations of metals and semi - metals in the strips of: 6.00 – 9.57 mg L-1 Al; 2.14 – 2.89 mg L-1 As; 0.30 – 0.50 x10-3 mg L-1 Be; < 0.10 – 0.12 x10-3 mg L-1 Cd; 0.83 – 0.14 mg L-1 Cr; <2.0 – 0.11 mg L-1 Pb; 6.50 – 12.5 x 10-3 mg L-1 V. Results Obtained of tests of resistance of block (fbk =fbk,est= 7.8 Mpa) and of humidity absorption (≤ 13%), besides lixiviation tests: As < 0.035 mg L-1, Cd < 0.020 mg L-1 ,Pb < 0.20 mg L-1, Cr< 0.070 mg L-1, Al < 1.2 mg L-1, Be< 0.020 mg L-1, V<0.30 mg L-1, they prove the adaptation of the mud for use in the making of blocks in the building site. As the volume of treated water is on average of 178.710 m3 dia-1 in the water treatment station (WTS) Vieira de Mello(VM) and the production of solids, in the end of treatment is from 42.20 g m-3 SST the production of bricks by day could be about 15.814 considering the composition of the material in the following proportions: 1.0: 3.7: 0.85: 0.28 corresponding to the ciment,sand,water,mud.The technology identified in this work to the final destination of the residue of the water treatment station (WTS) Vieira de Mello (VM) is economical and environmentally appropriated.

Words Key: Residue of water treatment station (WTS). Station of Treatment water.

Mud. Reuse.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................... 13

2. ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA VIEIRA DE MELLO ........ 16

2.1. Aspecto físico da Estação de Tratamento Vieira de Mello .............. 21

2.2. Produtos químicos usados na Estação de Água Vieira de Mello .... 23

2.2.1 Sulfato férrico ................................................................................ 23

2.2.2. Cal hidratada ................................................................................ 24

2.2.3. Ácido fluossilicico ......................................................................... 24

2.2.4. Cloro Líquido usado na ETA VM .................................................. 25

2.3. Etapas de tratamento de água da estação Vieira de Mello ........ 26

2.3.1. Medida da vazão da água bruta ................................................... 26

2.3.2. Dosagem do coagulante ............................................................... 27

2.3.3. Coagulação .................................................................................. 28

2.3.4. Alcalinização ................................................................................ 29

2.3.5. Floculação .................................................................................... 31

2.3.6. Sedimentação ou decantação ...................................................... 32

2.3.7. Filtração ........................................................................................ 32

2.3.8. Desinfecção .................................................................................. 33

2.3.9. Fluoretação .................................................................................. 36

2.4 Parâmetros de qualidade da água controlados na ETA VM ...... 37

2.4.1 Parâmetros biológicos ................................................................... 37

2.4.2 Parâmetros Físicos ....................................................................... 37

2.4.3 Parâmetros Químicos .................................................................... 38

3. METODOLOGIA ................................................................................ 43

3.1 Metodologia Amostral ................................................................... 43

3.1.1 Coleta das Amostras dos Decantadores e Filtros ......................... 43

3.1.2 Coleta do Lodo da Zona Morta ...................................................... 46

3.2 Análise Biológica, Física e Química ............................................ 47

3.3 Análise do Lodo da Zona Morta ................................................... 51

3.4 Análise do Elemento Construtivo ................................................. 52

3.4.1 Procedimento de Moldagem do Bloco ........................................... 52

3.4.2 Teste de Absorção de Umidade e Resistência à Compressão ..... 56

3.4.2.1 Absorção de Umidade ................................................................ 56

3.4.2.2 Resistência à Compressão ......................................................... 57

4. RESULTADO E DISCUSSÃO ........................................................... 60

4.1 Estudo Estatístico .......................................................................... 65

4.1.1 Análise Multivariada dos Dados .................................................... 65

4.1.2 Teste Q .......................................................................................... 68

5. CONCLUSÃO .................................................................................... 81

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................. 83

7. ANEXOS ............................................................................................ 87

Tabela 1A ............................................................................................... 87

LISTA ABREVIATURAS

AAS - Atomic Absorption Spectrometric - Espectrometria de absorção atômica.

AWWA- American Water Works Association

CETA – Centro Tecnológico de Argamassa

CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Básico do Estado de São

Paulo.

CETIND – Centro de Tecnologia Industrial Pedro Ribeiro

CONAMA- Conselho Nacional do Meio Ambiente.

DBO- Demanda Bioquímica de Oxigênio.

DQO - Demanda Química de Oxigênio.

ECP- Estação de Condicionamento Prévio

EEAB- Estação elevatória de Água Bruta

EMBASA- Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A.

ETA- Estação de Tratamento de Água.

HCA- Análise por agrupamento Hierárquico

NBR- Norma Brasileira

OPTQ- Departamento de Apoio Técnico de Qualidade

PCA- Análise de Componente Principal

POP- Procedimento Operacional

PROSAB- Programa de Pesquisa em Saneamento Básico.

SABESP- Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo.

SGI - Sistema de Gestão Integrada

RPM- Rotação por minuto.

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

TS- Teodoro Sampaio

VM – Vieira de Mello

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Planta do Parque da Bolandeira- Boca do Rio, salvador-Ba.

FIGURA 2 – Foto do Reservatório R7- Cabula, Salvador-Ba.

FIGURA 3 – Foto do Reservatório R3- Caixa D’Água, Salvador-Ba.

FIGURA 4 – Foto da Barragem Joanes I - Lauro de Freitas, Bahia.

FIGURA 5 – Foto da Barragem Ipitanga I - Salvador-Ba.

FIGURA 6 – Fotos das Etapas do Tratamento de água na Estação VM. (A) Canal de

mistura rápida / coagulação; (B) Floculação; (C) Decantação; (D) Filtração.

FIGURA 7 – Foto da Zona morta da ETA Vieira de Mello (A) e lodo retirado (B)

FIGURA 8 – Modelo e dimensões da forma usada para preparo do bloco-teste.

FIGURA 9 – Detalhamento da fôrma usada para preparo do bloco-teste: (A) fôrma

desencaixada e (B) fôrma encaixada.

FIGURA 10 – Fotos dos passos do procedimento para confecção dos bloco-teste:

(A) mistura dos materiais constituintes dos blocos; (B) untação da fôrma com óleo;

(C) colocação da argamassa na forma; (D) argamassa compactada;(E) remoção do

material nivelado;(F) retirada do bloco da fôrma;(G) fôrma sem a primeira parte; (H)

bloco pronto para secar.

FIGUAR 11 – Fotos do equipamento usado para o teste de resistência à

compressão com os blocos confeccionados: (A) ajustamento das placas para

compressão; (B)- escala em Newton, tonelada ou Kgf.

FIGURA 12 – Metais no efluente (suspensão de lodo) dos Decantador da ETA VM.

FIGURA 13 – Metais no efluente (suspensão do lodo) da lavagem dos filtros da ETA

VM.

FIGURA 14 - Metais nas amostras do lodo seco da ETA VM.

FIGURA 15 – Gráfico de loadings(A) e gráfico de Scores (B) para o efluente da

lavagem dos filtros.

FIGURA 16 – Gráfico de loadings(A) e gráfico de Scores(B) para o efluente de

lavagem dos decantadores.

LISTA DE QUADRO

QUADRO 1 – Especificação química do sulfato férrico comercial usado na ETA VM.

QUADRO 2 - Especificação da cal hidratada usada na ETA VM.

QUADRO 3 – Especificação do ácido fluorsilícico usado na ETA VM.

QUADRO 4 – Especificação do cloro líquido usado na ETA VM.

QUADRO 5 – Componentes do filtro usado na ETA VM e respectivas definições.

QUADRO 6 – Resultado da titulação conforme ânion encontrado.

QUADRO 7 – Resumo do PCA para os filtros e decantadores.

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Composição do Material dos blocos- teste (Etapa 1).

TABELA 2 - Requisitos para a resistência características à compressão e absorção

de umidade.

TABELA 3 - Composição do Material dos blocos-teste (Etapa 2).

TABELA 4 – Dados dos parâmetros analisados no efluente dos dez filtros da ETA

VM. Ago – Nov/2010.

TABELA 5 – Dados dos parâmetros analisados no efluente dos quatros

decantadores da ETA VM. Ago – Nov/2010.

TABELA 6 - Dados condensados dos parâmetros no efluente dos quadros

decantadores da ETA VM.Ago-Nov/2010.

TABELA 7 – Dados condensados dos parâmetros analisados no efluente dos dez

filtros da ETA VM. Ago-Nov/2010.

TABELA 8 – Dados condensados dos parâmetros analisados no lodo seco.

TABELA 9 – Medidas e Características dos blocos confeccionados na 1ª etapa do

trabalho.

TABELA 10 – Características dos blocos confeccionados na 2ª etapa do trabalho

(maio/2011).

TABELA 11 – Teste de absorção de umidade: Blocos confeccionados a partir dos

materiais apresentados na tabela 2.

TABELA 12 – Resultados do ensaio de lixiviação do lodo seco da ETA VM.

13

. INTRODUÇÃO

O Tratamento da água bruta gera transformações químicas, físicas e biológicas na

água e os processos utilizados geram impactos ambientais. No Bairro da Boca do

Rio estão situadas duas Estações de Tratamento de Água: a estação Vieira de

Mello, com capacidade para tratar 2,5 m3 s-1 de água, entrou em operação em

março de 1964; e a estação Teodoro Sampaio, com igual capacidade, encontra-se

em operação desde início da década de 70. Atualmente, as duas estações

produzem cerca 3,8 m3 s-1 de água potável, atendendo parte da demanda de água

da cidade do Salvador. Os resíduos gerados na estação de tratamento de água

Vieira de Mello e Teodoro Sampaio constituem um sério problema, tanto do ponto

de vista qualitativo como quantitativo.

Para transformar a água bruta em água potável, estações de tratamento de água

(ETAs) utilizam processos convencionais, com adição de diversos componentes

formando resíduo conhecido por lodo. A ETA Vieira de Mello, foco deste estudo,

lança parte dos resíduos gerados no Rio das Pedras, em Salvador, que nasce da

confluência com o Rio Saboeiro, no Cabula (reserva 19º BC), atravessa a avenida

paralela e deságua na praia da Boca do Rio [1]. Este rio recebe esgoto da

comunidade circunvizinha e lodo das Estações de Tratamento de Água Vieira de

Mello e Teodoro Sampaio, provenientes das descargas dos decantadores e uma

parte da lavagem dos filtros. A outra parcela é recuperada, retornando ao processo.

A partir de 27 de maio de 2011, uma parte deste resíduo é encaminhada para a

estação elevatória, que capta o efluente para estação de condicionamento de

esgoto do Jaguaribe, recentemente construída na Avenida Orlando Gomes.

Esta prática tem sido questionada por órgãos ambientais. Para que haja uma

alternativa final adequada para aquele resíduo, é necessário primeiramente fazer

um levantamento qualitativo do lodo gerado na ETA, uma vez que, hoje se

considera a água integrando as preocupações do desenvolvimento sustentável,

baseado nos princípios da função ecológica da propriedade, da prevenção, da

precaução, do poluidor – pagador, e considerando que a Constituição Federal e a

Lei n.º 6938, de 31 de agosto de 1981 [2], visam controlar o lançamento de

14

poluentes no meio ambiente, proibindo o lançamento em níveis nocivos ou

perigosos para os seres humanos e outras formas de vida.

Segundo Grandin, et al. (1993) [3], o lodo de ETAs é constituído de resíduos

sólidos orgânicos e inorgânicos provenientes da água bruta, tais como: algas,

bactérias, vírus, partículas orgânicas em suspensão, colóides, areia, argila, silte,

cálcio, magnésio, ferro, manganês, etc.

De acordo com a AWWA (1995) [4], o lodo de ETAs possui uma característica mais

similar aos solos do que se comparado com o lodo de esgoto, pois, em geral, o

nitrogênio e o carbono orgânico no lodo de ETAs são mais estáveis, menos reativos

e em concentrações mais baixas.

A utilização dos resíduos sólidos do saneamento básico como matéria-prima

alternativa representa uma solução ambiental e economicamente adequada para a

disposição final destes resíduos, contribuindo ainda para a sustentabilidade dos

sistemas de água e esgoto [5]. Diversos produtos podem ser gerados pela

utilização dos lodos de água e esgoto como matéria-prima, dentre eles adubos

orgânicos, substratos, tijolos cerâmicos, concretos, óleos, combustível, etc [6].

Muitas são as finalidades que são dadas a lodos gerados em ETAs: disposição em

aterro sanitário [7]; co-disposição com biossólido; disposição controlada em certos

tipos de solos [8]; lançamento em rede coletora de esgoto ou diretamente nas

estações de tratamento de esgotos; incineração de resíduos [6]; Tijolos fabricados

em laboratório, com argila adicionada de lodo [9]; Compostagem, que é um método

eficiente que usa o lodo em leiras, juntamente com restos vegetais, resíduos

sólidos domésticos e biossólidos, apresentando benefícios como ajuste de

umidade, fornecimento de minerais, ajuste de pH, etc. Em muitas ETAs, o lodo

desaguado tem sido disposto em aterros sanitários, juntamente com os resíduos

sólidos domésticos [10].

Outras aplicações para o lodo de ETAs, e sua disposição no solo promovendo

melhoria estrutural, ajuste do pH, aumento de minerais [11], aumento da

capacidade de retenção de água e recuperação de solos, em razão da presença de

15

nutrientes. Ele também é usado para o cultivo de gramas, podendo ser aplicado

tanto na fase liquida como na fase sólida ou ser aplicado na preparação do solo ou

fertirrigação, no crescimento da grama, o que é uma forma de provisão de ferro

para o solo [11]. Alem disso, usa-se na plantação de cítricos em cultivo com solos

com deficiência de ferro, onde o lodo funciona como uma provisão de ferro para o

solo mesmo. É necessário um monitoramento permanente para avaliar a

concentração de metais pesados no solo. O lodo de ETA também pode ser usado

no controle de H2S, gás gerado no sistema de esgoto, com odor ofensivo, para cujo

controle tem sido usado o cloreto férrico, que pode ser substituído por lodo de ETA,

que já contém o ferro, proveniente do uso do seu sal como coagulante no

tratamento de água [12].

O potencial tóxico do lodo de ETA depende principalmente do teor de metais

presentes, além das características físico-químicas e das condições em que estes

resíduos são dispostos [13]. Outros fatores que também influenciam a toxicidade

são as reações sofridas durante o processo, forma e tempo de retenção,

características do curso d’água, composição e impureza dos coagulantes e outros

produtos químicos utilizados no tratamento da água (Barroso e Cordeiro, 2001)

[14].

Empresas de saneamento, como por exemplo, a SABESP está desenvolvendo um

projeto para utilização do lodo incorporado ao material cerâmico, para uso na

construção civil [15].

A incorporação do lodo centrifugado da ETA Passaúna, localizada em Curitiba, que

usa sulfato de alumínio é interessante para produção de concreto, não interferindo

na sua qualidade [8]. Segundo Hoppen et al.(2003) [16], a mistura de 3% de lodo

no concreto pode ser utilizada em fabricação de artefatos, estruturas pré-moldadas

e construção de pavimentos em concreto. Ensaios de compressão foram efetuados

com sucesso por aqueles autores.

Estudos realizados na Região Metropolitana de Campinas numa proposta de

gestão de aproveitamento de resíduos de lodos de ETA, em co-disposição (mistura)

16

com outros compostos de reuso como o entulho, estão voltados para a fabricação

de componentes para a construção civil, tipo solo-cimento (tijolos e blocos para

vedação e lajotas para pátios) [6].

Esta dissertação teve como objetivo estudar a composição biológica, física e

química do lodo gerado na Estação de tratamento de água Vieira de Mello e a

viabilidade para a sua destinação, na confecção de blocos, a serem usados na

construção civil, reduzindo a contaminação e assoreamento do ecossistema do Rio

das Pedras, onde atualmente é dispensado.

A realização do estudo, além de contribuir qualitativa e quantitativamente para o

setor como subsídio para estabelecer um destino adequado para o resíduo gerado

na ETA Vieira de Mello, servirá como base de metodologia para ser usada por

outras ETAs.

2. A ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA VIEIRA DE MELLO

A EMBASA - Empresa Baiana de Águas e Saneamento, localizada em Salvador,

Bahia possui duas estações de Tratamento de água (ETA), no bairro da Boca do

Rio no Parque da Bolandeira (figura 1): a Estação Vieira de Mello (VM) com

capacidade para tratar 2,5 m3 s-1 de água, em operação desde março de 1964 e a

Estação Teodoro Sampaio (TS), com igual capacidade, em operação desde início

da década de 70. Atualmente, as duas estações produzem cerca 3,8 m3 s-1

atendendo parte da demanda de água da cidade de Salvador. A Estação Vieira de

Mello abastece os reservatórios de água tratada R3 e R7 e a Teodoro Sampaio

abastece além do reservatório R1, o R7 e R8.

17

A estação Vieira de Mello abastece os bairros de Salvador através dos

reservatórios de água tratada, R7 - Cabula (figura 2) e R3 - Caixa D’água.

O reservatório R7- Cabula (figura 2) - abastece uma parte do bairro de Mata

Escura, Sussuarana, Tancredo Neves, Cabula, Saboeiro (uma parte é abastecido

pela ETA Teodoro Sampaio), São Gonçalo, IAPI, Pero Vaz, Curuzú, uma parte da

Figura 1 - Planta do Parque da Bolandeira-Boca do Rio, Salvador, Bahia.

Figura 2 - Reservatório R7 – Cabula, Salvador, - Bahia.

18

Liberdade, Avenida San Martins, Alto do Pará, BR 324, Largo do Tanque, uma

parte da Avenida Barros Reis (outra parte abastecida pelo reservatório R3). Os

bairros de Mata Escura e Calçada são abastecidos em parte pelos reservatórios de

água tratada R3 e R7, respectivamente, a outra parte é referente à contribuição da

ETA Principal, uma outra estação de tratamento de água da EMBASA, localizada

na BR 324 Km 599, Passagem dos Teixeiras na cidade de Candeias, Bahia.

O Reservatório R3 - Caixa d’Água (figura 3) – abastece Sete Portas, Baixa de

Quintas, Bairros Reis (com outra parte abastecida pelo reservatório R7), Baixa dos

Sapateiros, Santo Agostinho, Comercio, uma parte da Calçada, uma parte da

Liberdade, Pau Miúdo e Caixa d’Água, sendo parte dos três últimos abastecida pelo

reservatório de água tratada R7, Lapinha, Barbalho, Santo Antônio e Nazaré com

uma parte abastecida pelo reservatório de água tratada R15, o qual recebe água do

reservatório R7.

As duas estações recebem água bruta de dois mananciais diferentes: Joanes,

através da barragem Joanes I e Ipitanga, através da barragem Ipitanga I. O

primeiro tem como, principais afluentes: córrego do Cantagalo, rio Muriqueira, rio

As duas estações recebem água bruta de dois mananciais diferentes: Joanes I

(figura 4), manancial rio Joanes; principais afluentes: córrego do Cantagalo, rio

Figura 3 - Reservatório R3- Caixa D’água; Salvador, Bahia.

19

Muriqueira, rio Pruam, córrego Jaíba, rio Bandeira e rio Itamboatã. Joanes I está

localizada em Lauro de Freitas, Areia Branca. Ano de Construção: 1955, Vazão

Média Captada: 3.300 L s-1. Tipo de Adução: Gravidade e recalque. Estação

Elevatória: 03 Conjuntos motor-bomba de 400 c.v.; Adutora I: Ø 1.500 mm,

concreto - 22,5 km (Gravidade); Adutora II: Ø 1.500 mm, aço - 22,5 km (Recalque);

O manancial Ipitanga tem como principal afluente o rio Caruripe. A barragem

Ipitanga I (figura 5) localizado em salvador-Ba, na Estrada Velha do Aeroporto; Ano

de Construção: 1935, Dimensões 190 x 15 m. Volume acumulável: 6.000.000 m³.

Vazão Média Captada: 800 L s-1. Tipo de Adução: Gravidade ou recalque. Estação

Elevatória: 03 Conjuntos motor-bomba de 400 cv. Adutora: Ø 900 (3,7 km) /750 mm

(8,6 km) em ferro fundido. Destino: ETAs Bolandeira.

Figura 4 - Foto da Barragem Joanes I - Lauro de Freitas, Bahia.

20

Em condições normais, a Estação Vieira de Mello recebe água bruta dos dois

mananciais, sendo a maior contribuição da barragem do Joanes (figura 4). O

Volume da água bruta que chega a estação é tratado sua qualidade é monitorada

através de análises realizada a cada duas horas.

A partir do reservatório de Alta Carga que recebe contribuição das duas estações

(ETA Vieira de Mello e Teodoro Sampaio) dá-se o bombeamento para o R7 e Duna

através de outra linha de adução.

As duas estações de tratamento de água, Vieira de Mello e Teodoro Sampaio,

estão relacionadas, no que diz respeito à medição da água bruta, ao processo, e a

distribuição da água tratada. Apesar de não estar incluída no objeto deste estudo,

algumas vezes a ETA Teodoro Sampaio será mencionada. Este trabalho foi

desenvolvido apenas na ETA Vieira de Mello.

Figura 5 - Foto da Barragem Ipitanga I- Salvador, Bahia.

21

2.1 - Aspectos físicos da Estação de Tratamento Vieira de Mello

A figura 6 apresenta fotos das diferentes etapas do tratamento de água na Estação

Vieira de Mello.

A estação de Tratamento é constituída por canal de coagulação (figura 6A), quatro

floculadores com agitação mecânica (figura 6B), quatro decantadores tipo colméia

(figura 6C), dez filtros rápidos com leito de areia de granulometria variada (figura

6D). Além destes, existe o decantador, o canal de descarga dos decantadores e

filtros, tanque de contato para armazenagem de água clarificada e tanque coletor

das descargas dos decantadores e da água de lavagem dos filtros, conhecido como

zona morta. O sistema de decantação é formado por quatro decantadores de alta

Figura 6 - Fotos das Etapas do Tratamento de água na Estação VM. (a) Canal de mistura rápida/coagulação; (b) Floculação; (c) Decantação; (d) Filtração.

A B

C D

22

taxa, constituindo de módulos tubulares tipo “colméia”, com dutos de secção

graduada de 0,05 m de lado, 0,693 m de comprimento e inclinação de 60º.

Na parte inferior dos módulos tubulares as células podem funcionar como

sedimentadores de fluxo vertical, a uma taxa teórica de 110 a 145 m3 m-2 dia,

correspondendo a uma área do decantador de 1960 m2.

A zona de lodo, fundo do decantador, é composta por dezoito troncos de pirâmides1

por célula de decantação, cujas paredes têm inclinação de 60º para permitir melhor

concentração de lodo. A sua drenagem se faz hidraulicamente através de dois

dutos de lodo situados no fundo de cada decantador, que recebe as contribuições

de cada tronco de pirâmide1, daí enviando-a para o sistema de drenagem geral da

Estação de Tratamento (ETA) Vieira de Mello através de suas tubulações de 500

m. Cada decantador é precedido por uma bacia de floculação, cada floculador é

constituído por seis tanques contendo agitadores que operam à velocidade

decrescente, contendo 06 câmaras de floculação em série (7 X 7m) e respectivos

agitadores tipo palheta. A profundidade média da 1ª a 4ª câmara é de 3,1 m e da 5ª

e 6ª câmara é de 3,9 m, o que dá um volume por bacia de 989,8 m3 e para quatro

bacias de 3959,2 m3. Cada Câmara possui um sistema de agitação com eixo

vertical e palheta permitindo um escalonamento de gradiente de 80 a 10 Seg-1.

Após a decantação vem a filtração.

Na estação Vieira de Mello, o sistema de filtração é formado por dez filtros rápidos,

de gravidade, com fundo falso em bloco cerâmico, o que está sendo substituindo

por leito filtrante, tipo tubo ramificado (espinha de peixe)2.

O Leito de areia tem granulometria de 0,8 a 1,1 mm, coeficiente de uniformidade

menor que 2,0 e sistema auxiliar de lavagem superficial por meio de tubulação fixa

e providas de orifício e situadas acima do topo do meio filtrante. A área filtrante total

é de 589,6 m2 o que permite uma taxa teórica de filtração média de 366 m3 m-2 dia-

1. Atualmente esta taxa é de 338 m3 m-2 dia-1.

Outras características físicas da Estação de tratamento Vieira de Mello se

2Meio poroso utilizado na filtração para separação de impurezas em suspensão na água. A granulometria do material é definida pelo tamanho efetivo, coeficiente de uniformidade e porosidade.

1É a porção limitada por uma base e por uma de suas seções planas, para sedimentar no sentido contrário ao fluxo de água causando agregação de flocos por contato entre eles, à medida que aumenta sua concentração no fundo.

23

encontram na tabela 1A, no anexo.

2.2. Produtos químicos usados na Estação de Tratamento de Água Vieira de Mello

A seguir são especificados e caracterizados os produtos químicos utilizados na

ETA VM, para obtenção de água potável.

2.2.1. Sulfato férrico

O Sulfato Férrico é usado como agente coagulante, recebido e dosado na forma de

Fe2 (SO4)3 a 42,4%. O Quadro 1 apresenta dados da especificação deste produto.

Quadro 1 - Especificação química do Sulfato Férrico comercial usado na ETA VM.

Formulação Fe2(SO4)3

Peso molecular 400

Teor mínimo Fe3+( em Fe2O3 ) ≥ 16,83 %

Fe2( SO4)3 42,4 ± 0,6%

Teor máximo insolúvel 0,10%

Teor de acidez livre (H2SO4) -3,0 a +2,0%

Cor Marrom escuro

Densidade aparente (25 ºC) 1,53 a 1,60 ton m-3

Forma Líquido

pH da solução < 2,0

Substância ativa ∼119 g Fe Kg-1 ≈ 2,2 mol Kg-1

Consumo médio período (ago– nov/2011) 360.972 Kg

Fonte: Brito e Santos, 2004 [17].

24

2.2.2 Cal hidratada

A Cal Hidratada (hidróxido de cálcio) é usada como agente alcalinizante, preparada

e dosada como suspensão de cal na central da ETA Vieira de Mello. Quadro 2

apresenta dados de Especificação deste produto.

Quadro 2 - Especificação da Cal hidratada usada na ETA VM

Formulação Ca( OH )2

Peso molecular 74

Teor de Ca (OH )2 ≥ 85%

Cor Branca

Forma Pó

Consumo médio período (ago–

nov/2011)

215.000 Kg

Fonte: Brito e Santos, 2004 [17].

2.2.3 Ácido fluorsilícico

O Ácido Fluorsilícico usado para fluoretação da água potável, para prevenção da

cárie dentária, é recebido e dosado na forma de solução. É um líquido com

coloração que varia de incolor a amarelo claro, fortemente ácido, de odor irritante,

corrosivo e que irrita a pele com o contato. É um ácido ligeiramente volátil e requer

cuidados para que seus vapores não sejam inalados.

O ácido Fluorsilícico empregado na Estação de Tratamento Vieira de Mello é

fornecido em solução de 20 a 30% a granel, em carretas tanques de volumes

25

variáveis de 12 a 30 m3 e sua área de estocagem fica localizada na própria ETA, é

composta de dois tanques de polipropileno de 25 m3. O quadro 3 apresenta dados

de especificação deste produto usado na ETA VM

Quadro 3- Especificação do ácido fluorsilícico usado na ETA VM

Formulação H2SiF6

Peso molecular 144,08

Teor mínimo F- 19,8 a 23,1%

Pureza comercial H2Si F6 25 a 30 %

Cor Incolor

Forma Líquido

Consumo médio período (ago– nov/2011) 19.035 Kg

Fonte: Brito e Santos, 2004 [17].

2.2.4 Cloro Líquido usado na ETA VM

O cloro líquido é fornecido em cilindros especiais de 900 Kg, sob pressão, com 99%

de pureza. O quadro 4 apresenta dados de especificação deste produto.

Quadro 4 - Especificação do Cloro líquido usado na ETA VM

Formulação Cl2

Peso molecular 71

Pureza 99,95 %

Umidade < 40 mg L-1

Cor / cheiro Amarelo esverdeado / cheiro acre

Forma Líquido

Consumo médio período (ago– nov/2011) 33.819 Kg

Fonte: Brito e Santos, 2004 [17].

26

A depender da qualidade da água bruta, principalmente em termos de matéria

orgânica, organismos patogênicos, odor, etc., outros compostos podem ser usados

para auxiliar o tratamento de água, tais como:

• Coadjuvantes - Polímero catiônico, capaz de dar origem a partículas mais densas,

tornando os “FLOCOS” mais pesados, na etapa de floculação.

• Oxidantes - Oxidante mais comumente usado para remoção da cor da água é o

cloro. Ele atua como oxidante de matéria orgânica sem produzir cheiro e gosto.

No entanto, seu uso excessivo é desaconselhável, podendo formar

trihalometanos, compostos cancerígenos, acima de 100 µg L-1 na água a ser

distribuída à população. Para evitar este problema pode-se usar também outros

oxidantes como, permanganato de potássio ou peróxido de hidrogênio, para a

realização de pré-oxidação.

2.3 Etapas de tratamento de água na estação Vieira de Mello

2.3.1 Medida da vazão da água bruta

O processo de tratamento da água se inicia com a medida da quantidade de água

bruta que chega à ETA. Esta é usada para determinar a vazão dos produtos

químicos a serem aplicados e a produção de água tratada na unidade.

As medidas são realizadas a cada duas horas, através de leituras instantâneas e

totalizadas dos macros medidores.

Utilizando a equação 1, calcula-se a vazão de água bruta que abastece a ETA Vieira

de Mello (VM):

QVM = Qgravidade + ( QIpitanga Total - Q TS ) + ( QJoanes Booster - Q TS ) (equação1)

Onde:

27

QVM = Vazão total de água bruta da ETA Vieira de Mello

Qgravidade= Vazão de água bruta que chega por gravidade a ETA VM

QIpitanga Total = Vazão de água bruta do rio ipitanga que chega a ETA VM

Q TS= Vazão total de água bruta da ETA Teodoro Sampaio

QJoanes Booster= Vazão de água bruta do rio Joanes Booster3 que chega ETA VM

Como a captação de água bruta é dividida para as duas estações, utiliza-se os

medidores da Estação TS, para se saber por diferença a vazão de água bruta da

estação VM.

2.3.2 Dosagem do coagulante

Conhecendo-se a vazão de água bruta que chega à Estação de Tratamento Vieira

de Mello (ETA VM), é então realizado o ensaio de floculação usando-se teste de

jarro4, segundo o procedimento padrão SGI.008.032.OMP/TB [17] da ETA VM. Este

é o método empregado na ETA Vieira de Mello para dosar os produtos químicos

usados no tratamento da água, com o objetivo de se obter a eficiência desejada de

remoção das impurezas, de forma mais econômica.

Não há controle automático nas dosagens dos produtos químicos. A dosagem do

coagulante é corrigida a partir de testes de jarro realizados periodicamente e no caso

da alteração da qualidade da água. Análises, realizadas a cada duas horas corrigem

o pH de floculação, o cloro residual e o teor de flúor na água, além da cor e turbidez.

3 Elevação que impulsiona uma certa quantidade de água para chegar na ETA, aumentando a carga hidráulica.

4 Ensaio para a determinação da dosagem ótima do coagulante e determinação de parâmetros básicos na elaboração de projeto de uma estação de tratamento de água.

28

2.3.3 Coagulação

Ao chegar à ETA, a água bruta recebe a substância coagulante (sulfato férrico), para

anular/desestabilizar as cargas elétricas das impurezas, e alcalinizante (cal

hidratada), para modificar o pH da água bruta e favorecer as reações de coagulação.

Estes produtos, principalmente os coagulantes, são lançados em reservatório que

recebe a água bruta em turbulência para permitir uma mistura homogênea e rápida.

O sulfato férrico, coagulante cuja característica principal é o alto teor de Fe3+

(dissociação do sulfato férrico na água- reação 1) produz floculação e decantação

extremamente mais eficientes do que os coagulantes tradicionais (sulfato de

alumínio). Embora não seja do escopo desta dissertação o aprofundamento na

denominada química aquosa do sulfato de férrico, algumas informações se fazem

necessário. A cor das águas potabilizáveis deve-se, na maioria dos casos, à

existência de soluções coloidais, constituídas de grande variedade de extratos

vegetais. Entre os principais citam-se os taninos, ácido húmico e humatos,

originários da decomposição da lignina. O humato férrico, algumas vezes presente,

produz intensa coloração.

De forma abrangente a coagulação é a mudança físico-química de partículas

coloidais de uma água, caracterizada especialmente por cor e turbidez, produzindo

partículas que possam ser removidas em seguidas, por um processo físico de

separação. As condições de pH ácido, energia suficiente, tempo curto, cerca de

1minuto, constitui algumas das características da mistura rápida. Ocorrem dois

processos quase que instantaneamente, primeiro a desestabilização por adsorção e

neutralização, onde os colóides são desestabilizados através da adsorção, em sua

superfície, dos produtos do ferro, de carga oposta, ou seja, as partículas presentes

na água bruta adsorvem, em sua superfície formas dissociadas do sulfato férrico

capazes de neutralizá-las. Os cátions Fe3+ serão adsorvidos pelos colóides

presentes na água bruta. O sulfato férrico precisa ser lançado energicamente contra

as partículas, para que sejam capazes de atravessar as nuvens de cargas, também

29

positivas, que as cercam (dupla camada). Somente após atravessarem essas

nuvens é que os íons metálicos poderão ser adsorvidos pelas partículas. As cargas

negativas do colóide serão neutralizadas, então os colóides poderão aproximar-se

um do outro e flocular. Caso os colóides não sejam desestabilizados pelas formas

dissociadas do ferro, o hidróxido de ferro poderá desestabilizá-los, mas através de

outro mecanismo, baseado na saturação e arraste dos colóides (segundo processo).

Onde os colóides são desestabilizados através da saturação da água em tratamento

com o gel hidróxido de ferro (reação 2 e 3), e arraste dos colóides aprisionados

nesse gel, denomina-se desestabilização por varredura.

Na prática, os dois processos ocorrem combinados, é importante salientar, mais uma

vez, o curto período de existência das formas dissociadas do sulfato de ferro na

água. Decorrido esse tempo, grande parte do ferro passará a existir como hidróxido

de ferro, sólido e precipitável. Desse modo, tem-se:

Fe2(SO4)3 + 6 H2O 2 Fe

3+ + 6 OH- + 3 SO42- Dissociação do sulfato férrico na

água (1)

Fe2(SO4)3 + 3 Ca(HCO3)2 2Fe(OH)3 + 3CaSO4 + 6 CO2 (2) Alcalinidade

natural

Fe2(SO4)3 + 3 Ca (OH)2 2 Fe(OH)3 + 3 CaSO4 (3) Alcalinidade adicionada

2.3.4 Alcalinização

A cal hidratada é o alcalinizante utilizado no tratamento de água para consumo

humano, nas etapas de ajuste do pH de floculação e correção do pH da água

tratada.

A dosagem de alcalinizante na ETA Vieira de Mello é feita na forma de suspensão

de cal. O preparo da suspensão de cal é realizado em tanques de concreto coberto

sob agitação, de modo a evitar a sedimentação do produto e propagação na

atmosfera da poeira de cal, durante a dispersão do produto na água.

30

Cal hidratada é um material finamente dividido, resultante da hidratação da cal

virgem com água suficiente para estabelecer sua afinidade química. Consiste

essencialmente de hidróxido de cálcio ou de uma mistura de hidróxido de magnésio,

dependendo do tipo da cal virgem usada na extinção (reação 4) .

No processo, ocorre basicamente a seguinte reação química:

CaO + H2O → Ca ( OH )2 (4)

(Cal virgem)

A dosagem de cal para a correção final do pH e para promover a coagulação de

espécies químicas a serem separados da água, a exemplo de anions de ácidos

graxos, é feita em laboratório, através do ensaio de saturação de carbonato, o qual

também elimina CO2 da água.

Quando uma água corrosiva é admitida num encanamento, processa-se um ataque

ao material ferroso e sua agressividade depende principalmente de vários fatores,

como a relação entre o pH e alcalinidade e relação entre o gás carbônico livre e

alcalinidade. Quanto menor a alcalinidade, maior será o pH necessário, para

prevenir a corrosão.

A correção de pH realizada com álcalis neutraliza o gás carbônico e cria condição de

estabilidade para o carbonato de cálcio presente na água, favorecendo a sua

deposição nas paredes da tubulação, onde atua como camada protetora.

O CO2 na água tem características ácidas (reação 5) e sua presença em grandes

quantidades aumenta a corrosividade da água, o que favorece a dissolução da

camada protetora de CaCO3, desprotegendo, portanto, a tubulação. Para evitar que

isto aconteça é feita a correção do pH da água tratada, pela adição de hidróxido de

cálcio, que reage com a alcalinidade (expressa em Ca(HCO3)2, reação 7) e com o

dióxido de carbono naturalmente presente na água e o resultante do processo de

coagulação (reação 6).

H2O + CO2 H2CO3 (5)

31

2H2CO3 + Ca(OH)2 Ca(HCO3)2 + 2H2O (6)

Ca(HCO3)2 + Ca(OH)2 2 CaCO3 + 2H2O (7)

Através da constante de solubilidade (Ks) do CaCO3 formado na reação 7, pode ser

determinado o pH chamado de pH de saturação, isto é, o pH que a água apresenta

quando não possui condição de dissolver o CaCO3.

Quando uma água ataca o ferro dizemos que ocorre o fenômeno da corrosão, o que

determina a solubilização do metal, primeiramente na superfície e depois em

profundidade. A corrosão do ferro, a grosso modo, pode ser explicada da seguinte

forma: o metal, quando na natureza, geralmente é encontrado na forma de maior

número de oxidação e o homem através de tratamento químico promove a sua

redução (reação 8). Assim há uma tendência natural deste metal voltar à forma

original, (reação 9).

Fe 3+ Fe0 , na siderurgia (8)

Fe0 Fe 3+ , em processos de corrosão (9)

No caso específico de tratamento de água, deve-se evitar a corrosão nas tubulações

de ferro tanto pela vida útil das tubulações, quanto para evitar a passagem do metal

para a água a ser consumida pela população. Por isso toda a água de

abastecimento deve estar no pH de saturação, evitando-se assim problemas de

corrosão e suas conseqüências nas tubulações que conduzem a água para

população.

2.3.5 Floculação

É a união das partículas coaguladas e do material em suspensão na água formando

partículas maiores e mais densas denominadas “flocos”.

O tempo e intensidade de agitação na floculação podem ser determinados pelo teste

de jarro, em diferentes velocidades e tempo. Uma boa floculação é um grande

32

requisito para uma boa decantação, resultando na redução do trabalho dos filtros

pela diminuição do volume de flocos efluentes do decantador. A boa floculação é

efetivada a pH entre 7,5 e 8,5, estabelecido experimentalmente, na ETA VM.

2.3.6 Sedimentação ou decantação

É a etapa de separação dos sólidos ou partículas, já na forma de flocos, suspensos

na água. Isso acontece nos decantadores onde são separados os flocos mais

densos do que a água, por deposição para o fundo do decantador.

2.3.7.Filtração

A filtração da água consiste em fazê-la passar através de um material poroso capaz

de reter ou remover alguma de suas impurezas.

Nos filtros da Estação de Tratamento de água (ETA) Vieira de Mello são usados

areia e / ou antracito como materiais filtrantes. Com a passagem de água através de

um leito filtrante verifica-se: a) remoção de materiais em suspensão e substâncias

coloidais; b) alteração de características da água, principalmente, cor e turbidez; c)

redução de bactérias e algas presentes.

Durante a filtração ocorre a ação mecânica de coar, a sedimentação de partículas

sobre os grãos de areia e a floculação de partículas que estavam em formação pelo

contato entre elas. O quadro 5 apresenta os componentes do filtro usado na ETA

VM e suas respectivas definições.

33

Quadros 5 – Componentes do filtro usado na ETA VM e respectivas definições.

Componentes Definição

Areia e

Antracitro

Materiais formadores da camada filtrante, cuja granulometria é

especificada em função da vazão.

Cascalho

Camada de sustentação da areia, composta de cascalho

previamente selecionado de acordo com o diâmetro, de modo a

evitar a passagem do material filtrante para os bocais

distribuidores.

Fundo Falso

Laje onde são instalados os bocais (Difusores) uniformemente

distribuídos, atualmente fabricada na forma de blocos

perfurados de material plástico resistente, pré-moldados,

montados no fundo do filtro.

Difusores

Bocais distribuídos a intervalos iguais por toda a laje que

constitui o fundo falso, cuja função é recolher a água filtrada e

distribuir uniformemente a água de lavagem.

Canaletas

Calhas cuja função é distribuir a água que vem dos

decantadores para os filtros e recolher a água de lavagem dos

mesmos, encaminhando-a para a descarga (esgoto).

Fonte: (Brito e Santos, 2004 [17].

2.3.8. Desinfecção

A desinfecção constitui uma medida que deve ser tomada em todos os sistemas de

abastecimento, quer em caráter corretivo ou caráter preventivo, com objetivo de

eliminar microorganismos patogênicos, causadores de enfermidades infecciosas no

34

homem, tais como febre tifóide, desinteria amebiana, cólera, etc. Esta operação

pode ser efetuada mediante aplicação de cloro, ozônio, luz ultravioleta, etc. A

operação usada geralmente é a cloração, por aplicação de cloro.

Mecanismo de Cloração

A cloração consiste na adição de cloro na água com a finalidade de desinfetar as

águas, controlar odores e sabores e prevenir o crescimento de algas e

microorganismos.

A função mais importante da cloração é a desinfecção, pois na água se encontram

milhões de microorganismos responsáveis pela difusão de enfermidades originadas

pela água.

Dois fatores extremamente importantes afetam o êxito da cloração, pois a destruição

ou mortalidade de microorganismos está diretamente relacionada com os mesmos: o

tempo de contato do cloro com a água e a quantidade de cloro usado. Por exemplo,

para eliminar certo número de bactérias em 15 minutos é necessário mais cloro do

que no tempo de 30 mim. Em outras palavras, à medida que o tempo de contato

aumenta, necessita-se menos cloro para se lograr o mesmo efeito.

Outros fatores que também são importantes na cloração são: temperatura, pH e o

tipo de cloro usado.

A temperatura afeta a ação desinfetante do cloro. Geralmente, quanto mais alta a

temperatura, mais rápida é a desinfecção. O pH da água também afeta a ação

desinfetante do cloro. À medida que o pH aumenta a partir de 7,0 até um valor em

torno de 10,7 , se necessita tempos de contato maiores.

O cloro gasoso, dissolvido na água pura reage com ela formando ácido hipocloroso

e ácido clorídrico (reação 10). O primeiro, por sua vez dissocia em íon hipoclorito e

35

íon hidrogênio (reação 11), reação que depende do pH da água, pois quanto maior o

pH, maior é a formação de hipoclorito.

Cl2 + H2O HOCl + HCl (10)

HOCl OCl- + H+ (11)

O somatório da concentração de cloro molecular, ácido hipocloroso e íon hipoclorito

em solução recebem o nome de “cloro residual livre”.

A baixo valor de pH, o equilíbrio tende para o ácido hipocloroso (HOCl), sendo muito

baixa a concentração do íon hipoclorito (OCl-). Esta situação é mais favorável e

recomendada para formação do ácido hipocloroso, que possui um maior potencial

germicida. Ao se elevar o pH, o equilíbrio tende para a formação do íon hipoclorito

(OCl-) diminuindo então a concentração do ácido hipocloroso em solução.

Na prática, observa-se que a temperatura normalmente entre 20 e 30 ºC e pH da

água por exemplo em sete, a desinfecção é mais favorável, uma vez que 75% do

cloro é hidrolisado em ácido hipocloroso (HOCl). Em pH oito, na mesma situação, a

percentagem do ácido hipocloroso é somente 25%. Portanto, o pH da água a tratar

favorece a concentração do ácido hipocloroso em solução, favorecendo o objetivo

do processo: maximizar e manter a eficiência da desinfecção. A Portaria 518 do

Ministério da Saúde [18] recomenda que a cloração seja realizada em pH inferior a

8,0 e tempo de contato de 30 minutos.

O cloro é aplicado na ETA Vieira de Mello em teor 2,0 a 3,0 mg L-1 e após a

desinfecção deve permanecer um mínimo de cloro residual de 0,5 mg L-1, sendo

obrigatório a manutenção de, no mínimo 0,2 mg L-1 em qualquer ponto da rede de

distribuição.

36

2.3.9 Fluoretação

A aplicação do flúor nas águas de abastecimento para prevenir a cárie dentária, foi

iniciada em 1945, nos Estados Unidos da América do Norte. No Brasil o inicio deste

procedimento foi introduzido pela Lei Federal nº 6050 de 24 de maio de 1974 [19],

que dispõe sobre a fluoretação das águas em sistemas de abastecimento quando

existir estação de tratamento, regulamentada pelo decreto nº 76.872 /75 [20].

A idéia de adicionar à água potável substâncias que poderão estar presentes tanto

nela, quanto nos alimentos, com propósito de assegurar o adequado desempenho

fisiológico do corpo humano, constitui uma nova finalidade do tratamento de água.

Sabe-se que muitos elementos químicos contidas nos alimentos (os essenciais), são

necessários à saúde. São exemplos disso o iodo, ferro, entre outros. Depois de

exaustivas polêmicas, o flúor também foi acrescido a essa lista de elementos

essenciais, conforme lei a lei Federal n° 6050 [19].

É evidente que toda e qualquer ingestão de substâncias, tanto na alimentação diária

como na cura de algumas deficiências orgânicas, se dá sob um controle da

quantidade pré-estabelecida. Sendo assim sabemos que a aplicação do flúor na

água deve ser feita de tal forma que a mesma venha conter entre 0,6 a 0,8 mg L-1

,conforme a portaria n° 635/BSB [21] e as normas climatológica [22], que determina

a média da temperatura da cidade de Salvador, onde conforme a temperatura se

estabelece a concentração de flúor na água, pois quanto mais quente a temperatura,

maior ingestão de água, maior concentração de flúor ingerida, o que pode provocar

a fluorose dentária (excesso de flúor). O máximo de flúor na água é de 1,5 mg L-1,

segundo a portaria 518/04 do Ministério da Saúde [18].

Provavelmente a ação do flúor sobre os dentes acontece pela redução da

solubilidade da parte mineralizada do dente, tornando-se mais resistente às

bactérias; a ação do fluoreto na cavidade oral, favorece a inibição de processo

enzimático, que dissolve as substâncias orgânicas, proteínas e o material

37

calcificante do dente inibindo o desenvolvimento de lactobacilos ácidophillue, e

tornando o meio impróprio.

2.4 Parâmetros de qualidade da água controlados na ETA VM

2.4.1 Parâmetros biológicos

Na análise de Coliformes são consideradas as bactérias do grupo coliformes que

são os principais indicadores de contaminação fecal. O grupo Coliforme é formado

por um número de bactérias que inclui os gêneros Klebsiella, Escherichia, Serratia,

Erwenia e Enterobactéria. Todas as bactérias Coliformes são gran-negativas

manchadas, de hastes não esporuladas que estão associadas com as fezes de

animais de sangue quente e com o solo.

A determinação da concentração dos Coliformes assume importância como

parâmetro indicador da possibilidade da existência de microorganismos

patogênicos, responsáveis pela transmissão de doenças de veiculação hídrica, tais

como febre tifóide, febre paratifóide, desinteria bacilar e cólera.

Ecoli, segundo a portaria 518/2004 MS [18] são bactérias que resistem à

temperatura de 44,5 ± 0,2°C em 24 horas, onde o principal membro é o Ecoli

(Escherichia coli) existente no intestino humano como simples simbiontes, e que,

sendo identificadas, configura contaminação recente.

2.4.2 Parâmetros Físicos

Os Sólidos sedimentáveis representam a matéria em suspensão que sedimenta

num período de uma hora. Esta análise indica a quantidade de lodo que poderá ser

removido por sedimentação nos decantadores.

38

A turbidez de uma amostra é o grau de atenuação de intensidade que um feixe de

luz sofre ao atravessá-la devido à presença de sólidos em suspensão, tais como

partículas inorgânicas (areia, silte, argila) e de detritos orgânicos, algas e bactérias,

plâncton em geral, etc. Esta redução se dá por absorção e espalhamento, uma vez

que as partículas que provocam turbidez nas águas são maiores que o

comprimento de onda da luz branca, que corresponde a uma estreita faixa do

espectro de radiação cujo o comprimento de onda se situa a 400-700 nm [23].

A importância da análise de cor é decorrente da presença de matéria orgânica,

combinação de carbono, hidrogênio e oxigênio, algumas vêzes com o nitrogênio,

originada da decomposição de plantas e animais, constituindo as chamadas

substâncias húmicas.

Condutividade é uma das propriedades da água que expressa a capacidade que a

água possui de conduzir corrente elétrica devido aos minerais nela presente. Sua

determinação permite estimar, a quantidade de sólidos dissolvidos totais presentes

na água [6].

2.4.3 Parâmetros Químicos

O pH (Potencial Hidrogeniônico) é importante por influir em diversos equilíbrios

químicos que ocorrem naturalmente ou em processos unitários de tratamento de

águas. O pH é um parâmetro importante em muitos estudos no campo do

saneamento ambiental. A influência do pH sobre os ecossistemas aquáticos

naturais dá-se diretamente devido a seus efeitos sobre a fisiologia das diversas

espécies. Também o efeito indireto é muito importante, podendo, determinadas

condições de pH contribuírem para a precipitação de elementos químicos tóxicos

como metais pesados; outras condições podem exercer efeitos sobre a solubilidade

de compostos e nutrientes. Como já foi visto, a desinfecção pelo cloro é outro

processo dependente do pH. Em meio ácido, a dissociação do ácido hipocloroso

39

formando hipoclorito é menor, sendo este o processo mais eficiente. A própria

distribuição da água final é afetada pelo pH. Sabe-se que as águas ácidas são

corrosivas, enquanto que as alcalinas são incrustantes.

Alcalinidade é a capacidade que a água tem de neutralizar ácido forte, ou melhor,

resistência que a água oferece à mudança de pH.

A análise de DQO (Demanda Química de oxigênio), que é a quantidade de oxigênio

necessária para oxidação da matéria orgânica através de um agente químico,

apresenta valores normalmente mais altos que os da DBO5,20 (Demanda Bioquímica

de oxigênio), sendo o teste , para a primeira, realizado num prazo menor. O

aumento da concentração de DQO num corpo d'água se deve principalmente a

despejos de origem industrial. Sabe-se que o poder de oxidação do dicromato de

potássio é maior do que o que resulta pela a ação de microrganismos, exceto

raríssimos casos como hidrocarbonetos aromáticos e piridina. Observa-se que este

parâmetro é importante no controle da eficiência do tratamento de águas residuais

e na avaliação da qualidade das fontes de abastecimento.

A Dureza da água resulta da presença, principalmente, de sais alcalino terrosos

(cálcio e magnésio) ou de outros metais, em menor intensidade. Estes sais em

ordem decrescente de abundancia na água, são bicarbonatos, sulfatos, cloretos e

nitratos. Causam sabor desagradável e efeitos laxativos. Reduzem a formação da

espuma do sabão, aumentando o seu consumo. A dureza provoca incrustações nas

tubulações e caldeiras [6].

O cálcio é encontrado em abundância na natureza, como CaCO3 e pode ser gerado

pela eletrólise de haletos fundidos. O processo mais conveninente para se produzir

pequenas quantidades deste metal é a redução de seus óxidos por metais redutores

disponiveis. Aparece na água devido ao seu contato com rochas que contem esse

elemento e ao escoamento superficial em áreas agrícolas e à descarga de águas

residuais [24].

40

O magnésio nunca é encontrado na natureza sob forma metálica, por ser redutor

ativo e reagir prontamente com diversos não metais. É muito abundante na natureza

na forma de minerais rochosos como dolomita. Juntamente com o cálcio, na forma

de sais, proporciona dureza a água [24].

O alumínio pode estar presente nos corpos de água como conseqüência da

lixiviação de rochas ou como resultado de atividades industriais. As concentrações

desse metal normalmente são baixas; porém valores superiores a 0,2 mg L-1 podem

gerar gosto desagradável à água. Quando o residual de alumínio é alto e encontra-

se dissolvido, pode haver formação de precipitado (se houver correção final de pH

antes da reservação), causando a formação de incrustações nas paredes internas

das tubulações da rede de distribuição [6].

O ferro solúvel está associado a bicarbonatos e cloretos; a presença de ferro não

costuma causar problemas ao ser humano, porém, quando oxidado, traz sérios

inconvenientes, com formação de precipitado [6]. O ferro, apesar de não se

constituir em uma espécie tóxica, traz diversos problemas para o abastecimento

público de água. Confere cor e sabor à água, provocando manchas em roupas e

utensílios sanitários com formação de precipitado e favorecendo o crescimento da

bactéria chrenotrix .Também traz o problema do desenvolvimento de depósitos em

canalizações e de ferro-bactérias, provocando a contaminação biológica da água na

própria rede de distribuição. Por estes motivos, o ferro constitui-se em padrão de

potabilidade, tendo sido estabelecida a concentração limite de 0,3 mg L-1 pela

Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde [18]. É também padrão de emissão de

esgotos e de classificação das águas naturais. No tratamento de águas para

abastecimento, deve-se destacar a influência da presença de ferro na etapa de

coagulação e floculação. As águas que contêm ferro caracterizam-se por

apresentar cor elevada e turbidez baixa. Os flocos formados geralmente são

pequenos, ditos "pontuais", com velocidades de sedimentação muito baixa.

O teor de manganês acarreta problemas semelhantes aos do ferro, porem é mais

difícil de ser removido, pois a formação de precipitado (MnO2) ocorre em valores de

41

pH relativamente altos (superiores a 8). O manganês desenvolve coloração negra

na água, podendo-se se apresentar nos estados de oxidação Mn2+ (forma mais

solúvel) e Mn4+ (forma menos solúvel). A concentração de manganês mais baixa

que 0,05 mg L-1 geralmente é aceitável em mananciais, devido ao fato de não

ocorrerem, nesta faixa de concentração, manifestações de manchas negras ou

depósitos de seu óxido nos sistemas de abastecimento de água. Raramente atinge

concentrações de 1,0 mg L-1 em águas superficiais naturais e, normalmente, está

presente em quantidades de 0,2 mg L-1 ou menos [25].

A ocorrência de cloretos pode ser natural (conforme a geologia ou de forma

antrópica), pelo escoamento superficial de áreas cultivadas ou lançamentos de

águas residuais domésticos e indústrias. O cloreto aumenta a condutividade elétrica

da água e a capacidade de corrosão dos metais nas tubulações do sistema de

distribuição. Tem-se observado, em casos especiais, em humanos a dificuldade de

metabolizar o cloreto de sódio no organismo e de risco de hipertensão [6].

Cobre nas águas naturais não supera 20 µg L-1, porem, seu valor na água de

consumo pode variar de 0,005 mg L-1 a 30 mg L-1 devido a corrosão no interior das

tubulações. Efeitos organolépticos ocorrem quando o cobre dissolvido esta

presente na água com concentração superior a 1,0 mg L-1 [6].

O níquel apresenta reatividade elevada, é um redutor um pouco mais fraco que o

cobalto, resiste apreciavelmente à corrosão, pois recobre-se de uma fina camada

protetora de óxido e reage somente com muita lentidão com agentes oxidantes [24].

Zinco é encontrado na água em forma de sais ou complexos orgânicos, sua

concentração é mais alta em fontes de águas subterrâneas. Em função do pH do

meio, concentração de dióxido de carbono e de alguns sais, seu valor pode atingir

24 mg L-1. Como é bastante utilizado em galvanoplastias na forma metálica e de

sais tais como cloreto, sulfato, cianeto, etc. ocorrem envenenamentos massivos

pela água de consumo humano. Confere sabor a água e certa opalescência á

águas alcalinas [6].

42

Arsênio é encontrado como traços, em águas naturais principalmente através da

dissolução de minerais, atividades relacionadas com a mineração e em descargas

de águas industriais. Apresenta-se em forma oxidada e reduzida, dependendo do

pH. Em concentrações em torno de 1,2 mg L-1 e acima, os indivíduos apresentam

sintomas como dor abdominal e muscular, vômito, diarreia, fraqueza, entre outros

sintomas [6].

Berílio, não é encontrado na natureza sob a forma metálica, por ser redutor ativo e

reagir prontamente com diversos não metais. A fonte mais comum do berílio é o

mineral de mesmo nome, Be2Al2(SiO3)6. É encontrado também em cerca de 30

minerais. Fumos ou vapores de berílio podem ser prejudiciais à saúde, causando

doença respiratória aguda ou crônica. Sais solúveis de berílio podem produzir uma

dermatite quando em contato com a pele [24].

Cádmio surge nos corpos de água pelo lançamento de águas residuais industriais

e pelo escoamento de áreas cultivadas. Estudos com animais de laboratório

indicaram a ocorrência de osteoporose pela ingestão de 10 mg L -1 Cd na água de

consumo, além de efeitos danosos ao fígado, rim e sistema imunológico. Em

humanos, a dosagem letal varia de 350 a 3500 mg, sendo o rim o órgão mais

danificado [6].

Cromo é largamente empregado nas industriais, especialmente em galvanoplastia,

onde a cromação é um dos revestimentos de peças mais comuns. Pode ocorrer

como contaminante de águas sujeitas a lançamentos de efluentes de curtumes e de

circulação de águas de refrigeração utilizadas em controle de corrosão. A forma

hexavalente é mais tóxica do que a trivalente [25].

Chumbo aparece nas águas pela contaminação por descargas industriais ou

contribuição atmosférica. Metal tóxico, bioacumulativo, provoca danos à saúde, tais

como distúrbios mentais, tremor muscular, dor abdominal e danos aos rins até uma

contaminação crônica conhecida como Saturnismo, que apresenta vários sintomas,

alguns como, hipertensão, disfunção visual, retardo no crescimento de crianças e

encefalopatia [6].

43

O vanádio está presente em cerca de 65 minerais diferentes, reage prontamente

com oxigênio, carbono e nitrogênio a temperaturas elevadas, sendo de dificil

preparação por meio de processos convencionais de redução. A contaminação por

vanádio por humanos está quase sempre associada a processos industriais [24].

3. METODOLOGIA

Analisando os aspectos físicos, produtos químicos e etapas do tratamento da água,

aplicou-se uma metodologia, para se obter dados qualitativos para posterior

confecção dos blocos do resíduo (lodo) gerado na Estação de Tratamento de água

Vieira de Mello, apresentada no fluxograma 1, o qual apresenta a metodologia geral

utilizada desde a amostragem dos efluentes até os teste dos blocos.

3.1 Metodologia Amostral

3.1.1 Coleta das Amostras dos Decantadores e Filtros

Para o estudo qualitativo, foram realizadas, na própria ETA VM, coletas de amostras,

conforme a ocorrência da descarga dos decantadores e da lavagem dos filtros no

período de 12/08/2010 a 17/11/2010.

Os decantadores são descarregados com frequência bastante variável na ETA. A

necessidade de descarga é definida pelo supervisor e/ou operador em função do

escape de flocos. Diariamente, pelo menos quatro decantadores são descarregados

para lavagem ou jateamento.

Os filtros são lavados a cada 12 horas, conforme roteiro pré-determinado. Em média,

são lavados cerca de 10 filtros a cada 24 horas.

44

Fluxograma 1, para a obtenção das informações qualitativas e quantitativas do

resíduo estudado e do produto final proposto.

Efluente da lavagem do decantador

Efluente da lavagem do filtro

Homogeneização

Zona morta

Retirada do lodo úmido

Secagem em estufa

103-105 0C, por 3 dias

Preparação de solução 8 g L-1 do lodo

Pesagem de 450 g do lodo

Composição da argamassa

Lodo Seco

Coleta do efluente no inicio, meio e fim de cada lavagem

Análises: física, química e biológica

Coleta do efluente no inicio, meio e fim de cada lavagem

Homogeneização

Análises: física, química e biológica

Retirada de amostra

Retirada de amostra

Determinação de Metais e semi-metal

Ensaio de lixiviação

Confecção dos Blocos

Homogeneização

Teste de Resistência compressão

Teste de Absorção de umidade

45

As descargas dos decantadores e parcela da água de lavagem dos filtros não

recuperada, mais o resíduo da solução de cal, são lançados na zona morta

(reservatório onde se concentra o resíduo sólido, o lodo gerado da água de

jateamento e/ou descarga dos decantadores e lavagem dos filtros). A referida

parcela da água de lavagem dos filtros existe na estação de tratamento de água

Vieira de Mello, pelo fato da água de lavagem dos filtros proporcionar uma formação

de flocos maiores e mais densos, com consequente redução de coagulante e

alcalinizante. Essa água retorna para a etapa de coagulação e segue todas as

etapas do tratamento convencional, bem como uma pré-desinfecção, por causa dos

microorganismos patogênicos presentes na água de recirculação.

Parte do lodo produzido na ETA VM, o resíduo sólido, classificado assim pela ABNT

NBR 10004/2004 [26], fica concentrado na zona morta, e outra parte segue para a

Estação Elevatória do Saboeiro, no Parque da Bolandeira, Boca do Rio. Esta é

responsável por enviar todos os esgotos coletados nas bacias de esgotamento

atendidas pelo sistema ECP (Estação de Condicionamento Prévio), situada na colina

da comunidade do Bate Facho, na Avenida Jorge amado, para o sistema de

Disposição Oceânica Jaguaribe, na Boca do Rio.

Foram realizadas coletas na ETA VM em três momentos: no início, meio e fim de

cada lavagem do decantador e do filtro, separadamente. As amostras compostas

foram homogeneizadas em balde de 100 L e daí retirada uma sub-amostra que era

encaminhada para o laboratório Central da EMBASA-OPTQ, para determinação de

pH, condutividade, turbidez, cor, DQO, alcalinidade, dureza, sólidos sedimentáveis,

ecoli, coliformes totais, e análise de metais, como manganês, magnésio, níquel,

zinco, cálcio, cloreto, cobalto, cobre, cromo, ferro, conforme mostram as tabelas 4 e

5, no anexo, com os resultados obtidos. Estes parâmetros foram escolhidos de modo

a obter informações que possibilitem um direcionamento na sua aplicabilidade de

modo a preservar o meio ambiente, conhecer a matriz de estudo destes dois

processo (decantação e filtração) bem como investigar o grau de discordâncias com

o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, Resolução n.º 357/05 [27].

46

O período de realização das coletas abrangeu as seguintes estações do ano:

inverno, iniciando em agosto, primavera e verão, ou seja, período de chuva e

estiagem que interferem na qualidade da água bruta e, portanto na do resíduo sólido

gerado (lodo).

3.1.2 Coleta do Lodo da Zona Morta

Após a realização do ensaio qualitativo do resíduo da lavagem do decantador e do

filtro, foram realizadas as determinações dos metais Al, Be, Cd, Cr, Pb, V e semi-

metal As, no lodo seco e confecção dos blocos. O lodo que fica retido na zona morta

(figura 7A) proveniente da lavagem dos filtros e decantadores é o resíduo que no

processo de recirculação da água não retorna para o processo, sedimentando neste

local, como mostra a figura 7. Foram retiradas quantidades deste lodo (figura 7B),

levadas para secar em estufa na temperatura de 103ºC a 105ºC, por

aproximadamente 3 (três) dias, para a retirada de toda a parte líquida e garantia da

secagem, pois desta maneira pode-se quantificar e qualificá-lo na sua forma

aplicativa, ou seja de uso. Deste lodo seco, foi retirado uma amostra representativa

que mantivesse características semelhantes à massa total do resíduo sólido.

Figura 7 – Foto da Zona morta da ETA Vieira de Mello (a) e lodo retirado (b)

A B

47

3.2 Análises biológicas, físicas e químicas

As amostras da água de lavagem do filtro e de lavagem do decantador foram

analisadas no laboratório Central da EMBASA OPTQ, o qual é certificado pela

Norma ISO 9001/2008, segundo os Procedimentos Operacionais Padrões (POP),

baseados no Standard Methods [28], para os seguintes parâmetros:

Coliformes Totais (POP.BA.001): Esta análise inclui procedimentos de diluição ou

divisão de amostras, filtração, incubação, entre outros, e foi realizada através da

técnica de membrana filtrante, utilizando placas de petri, com o meio de cultura

específico para cada amostra, observando-se a formação de colônias típicas

(vermelhas com brilho verde metálico) e/ou colônias atípicas (vermelhas escuras ou

colônias nucleadas sem brilho).

Ecoli (POP.BA.012): Nesta análise utilizou-se uma composição combinada do

substrato cromogênico e fluorogênico que possibilita a determinação de coliformes

totais e Escherichia coli. Através do teste do substrato enzimático é detectada a

presença ou ausência dos referidos grupos de bactérias. Esta enzima hidrolisa o

substrato e produz uma modificação da cor, que indica um teste positivo, para

coliformes totais e quando em câmara isolada na presença de UV 366 nm, se

apresentar fluorescência, indica teste positivo para Escherichia coli, sendo feita a

quantificação do número mais provável de Escherichia coli pelo teste de cartela,

Quanti Tray 3.

Al (POP.AA.001), As (POP.AA.001), Be (POP.AA.001), Cd (POP.AA.001), Cr

(POP.AA.001), Pb (POP.AA.001) e V (POP.AA.001): Este procedimento descreve

todas as tarefas necessárias para execução das análises dos metais e semi-metais,

utilizando a técnica de espectrometria de absorção atômica com forno de grafite e

detecção óptica no espectrofotômetro de absorção atômica (VARIAN, modelo spectr

48

AA 220) . As amostras foram agrupadas em lotes contendo no máximo 49 amostras,

incluindo padrão de checagem, matriz fortificada, e iniciando-se então a seleção no

programa no SpectrAA. Foi realizada a programação dos testes do controle de

qualidade, referentes ao check padrão, branco, matriz fortificada, curva de calibração

e duplicatas e as operações preliminares à análise e outras verificações do

espectrômetro que se fazem necessárias, para em seguida realizar as

determinações dos elementos presentes. Limites de detecção encontrados foram:

Al= 10 µg L-1, As= 0,50 µg L-1, Be= 0,20 µg L-1, Cd= 0,10 µg L-1, Cr= 0,080 µg L-1 ,

Pb= 2,0 µg L-1, V= 1,0 µg L-1.

Cor real (PTR.FA.037) : Foi utilizado um espectrofotômetro HACH, DR 2000, no

comprimento de onda de 455 nm para a realização das análises e para a garantia da

qualidade dos resultados foram preparados padrões de verificação da curva e matriz

fortificada. Limite de detecção encontrado: 1,0 mg Pt L-1.

DQO (PTR.FA.043): As amostras foram analisadas, em replicatas, no aparelho

espectrofotômetro, DR 2800 da HACH, em comprimento de onda de 600 nm,

adicionadas em tubos para digestão já contendo as soluções de digestão (1000 mg

O2 L-1) e solução ácida. Os tubos foram levados ao bloco digestor, aguardando-se

até temperatura de 150 ± 2 ºC e processando-se a digestão durante 120 minutos.

Após esse tempo, espera-se que os tubos atinjam a temperatura ambiente para a

realização da leitura da concentração em mg L-1 . Limite de detecção encontrado:

5,0 mg O2 L-1.

Mn (POP.AA.005), Ca (POP.AA.005), Fe (PTR.AA.005), Co (POP.AA.005), Cu

(POP.AA.005), dureza (POP.AA.005), Mg (POP.AA.005), Ni (POP.AA.005), Zn

(POP.AA.005): Este procedimento descreve todas as tarefas necessárias para

execução e controle das análises dos metais, utilizando a técnica de espectrometria

de absorção atômica por chama e detecção óptica, usando equipamento marca

VARIAN, modelo spectr AA 220 Z. As amostras foram agrupadas em lotes, incluindo

49

padrão de checagem, matriz fortificada, brancos e duplicatas. No compartimento do

queimador do espectrômetro, instala-se o queimador adequado com o tipo de chama

a ser utilizada: N2O/Acetileno/Ar. No compartimento das lâmpadas, coloca-se as

lâmpadas dos elementos que se deseja analisar e inicia-se o programa do SpectrAA.

É realizado o programa dos testes do controle de qualidade, referentes ao padrão de

checagem, branco, matriz fortificada e duplicatas e verificação do espectrômetro

com relação ao ajuste da posição do queimador, ajuste da taxa de sucção, entre

outros, para então realizar as análises. Limites de Detecção: Mn = 4 µg L-1, Ca 0,05

mg L-1, Fe = 10 µg L-1 , Co=0,01 mg L-1 , Cu =0,02 mg L-1, Dureza 0,05 mg CaCO3

L-1, Mg = 0,10 mg L-1, Ni=0,02 mg L-1 e Zn = 3,0 µg L-1 .

Sólidos Sedimentáveis (PTR.FA.016): Utilizou-se o cone de IMHOFF, e realizou-se

a leitura em mL L- 1 após uma hora da adição da amostra no cone. Limite de

detecção 0,1 mL L-1.

Turbidez (PTR.FA.021): Utilizou-se turbidímetro HACH, 2100 N para a

determinação, onde é realizada a checagem diária com padrões. As leituras são

feitas em unidades de turbidez. Limite de detecção 0,01 NTU.

pH (PTR.FA.038): As medidas foram realizadas com pHmetro, marca Policontrol,

modelo pH-250, verificando-se diariamente a calibração com tampões pH 4,0 e 7,0 e

o sloper adequado para a execução da medida.

Alcalinidade( PTR.FA.012): A medida é baseada no princípio de que os íons

hidroxila presentes em uma amostra, como resultado de dissociação ou hidrólise de

solutos, reagem com a solução padrão ácida adicionada (ácido sulfúrico 0,02 N), o

que é detectado utilizando-se como indicador a fenolftaleína e indicador misto que

tem a capacidade de mudar de coloração em função do pH do meio. Os resultados

obtidos a partir da fenolftaleína e determinação da alcalinidade total oferecem um

meio para a classificação estequiométrica dos três principais formas de alcalinidade

50

presentes nas amostras [28]. Assim, calcula-se as alcalinidades segundo as

fórmulas e quadro 6 a seguir, sendo P a alcalinidade a Fenolftaleína e T a

alcalinidade Total:

P = VP x f x 10 T= VT x f x 10

Quadro 6 – Resultado da titulação conforme ânion encontrado

Resultado da

Titulação

Hidróxido

OH-

Carbonato

CO32-

Bicarbonato

HCO3-

P = 0 0 0 T

P < ½ 0 2P T - 2 P

P > ½ T 2 P- T 2 ( T - P ) 0

P = ½ T 0 2P 0

P=T T 0 0

Fonte: Standard Methods (28)

De acordo com este esquema:

Alcalinidade referente à Carbonato está presente quando a alcalinidade a

fenolftaleína é ≠ zero, e < alcalinidade total.

Alcalinidade referente à Hidróxido está presente se a alcalinidade a fenolftaleína é >

½ da alcalinidade total.

Alcalinidade referente à Bicarbonato está presente se alcalinidade a fenolftaleína é <

½ a metade da alcalinidade total.

Cloreto(PTR.FA.009): Com limite de detecção 0,1 mg Cl- L- , a análise foi realizada

por cromatografia iônica, marca METHRON, modelo IC 760 compacto, utilizando

curva de calibração com padrões na faixa de 10 a 150 mg L-1 e supressão com ácido

sulfúrico e detecção por condutividade.

51

Condutividade (PTR.FA.039): Utilizou-se o condutivímetro ORION 150. Como

garantia da qualidade, acrescentou-se entre cada grupo de 10 amostras, uma

amostra em replicata e determinou-se a condutividade das amostras, cujo método

possui limite de detecção 0,1µmho cm-1.

3.3 Análise do lodo da Zona Morta

Para as análises do lodo da zona morta foi retirada uma amostra representativa que

mantivesse características semelhantes à massa total do resíduo. Esta amostra foi

encaminhada para secagem em estufa na temperatura de 103 ºC a 105 ºC e

realizada uma amostragem segundo a NBR 10007/2004 [29]. Em seguida foram

preparadas quatro soluções com concentração de aproximadamente 8 g L-1,

seguindo orientações sugeridas por Leite (2003) [30], levando em consideração o

menor limite de detecção do método 0,08 µg L-1, que no caso foi da determinação de

cromo. Estas determinações dos parâmetros de qualidade do efluente no filtro e

decantador foram realizadas no Espectrômetro de absorção Atômica marca VARIAN

modelo spectrAA 220 e/ou spectrAA 220Z. Deste modo tomou-se como base o

cromo que possui o menor limite de detecção do método para calcular a quantidade

de lodo para ser usado na análise. Outro fato que justifica o preparo das soluções na

concentração 8 g L-1, foi o de trabalhar com uma concentração baixa, que não

necessitasse de sucessivas diluições, mas que possibilitasse ultrapassar os limites

de detecções dos analitos no Espectrômetro de absorção Atômica usado. O critério

de escolha dos elementos determinados (Al, As, Be, Cd. Cr, Pb e V), está associado

a qualidade da água bruta, aos produtos químicos utilizados na ETA, à toxicologia

que poderia impactar no meio ambiente e à viabilidade técnica do laboratório.

52

3.4 Análise do Elemento Construtivo

3.4.1Procedimento de Moldagem do Bloco

Com base na NBR 6136/2006 [31] foram confeccionadas duas fôrmas para os

blocos, constituídas de aço carbono, conforme as dimensões apresentada na figura

8.

A figura 9A, mostra as partes que compõem a forma. A primeira parte apresenta

duas colunas que darão ao bloco o formato vazado, e a segunda parte é a

sustentação para a formação das paredes da fôrma. A figura 9B, mostra a fôrma

montada.

A B

390 mm

140 mm

190 mm

Figura 8 – Modelo e dimensões da forma usada para preparo do

Figura 9 – Detalhamento da fôrma usada para preparo do bloco-teste: (A) fôrma desencaixada e (B) fôrma encaixada.

1ª parte 2ª parte

53

Realizou-se um teste-ensaio, no dia 30/01/2011, para verificar a melhor proporção

dos componentes do bloco: cimento, cal, areia, água e lodo, tomando como base a

NBR7215/1996 [32]. Os primeiros blocos de ensaio, para um pré-teste, foram

confeccionados empiricamente no traço, segundo uma composição aproximada de

cimento: cal: areia: água: lodo, de 1,0: 0,90: 0,57: 0,34: 0.24 como bloco 1 e de 1,0:

0,68: 0,68: 0,80: 1,08 como bloco 2. A variação na composição foi para identificar se

o aumento da quantidade de lodo interferia positivamente ou negativamente na

resistência do bloco. O cimento utilizado durante os teste é tipo CP2-Z32RS, saco de

50 Kg. A Tabela 1 apresenta as quantidades utilizadas dos diferentes materiais que

compõem os dois tipos de bloco-teste.

Tabela 1: Composição do material dos blocos-teste (Etapa 1)

MATERIAL BLOCO 1 BLOCO 2

QUANTIDADE (Kg) QUANTIDADE (Kg)

CIMENTO 5,1 2,5

CAL 4,6 1,7

AREIA 2,9 1,7

ÁGUA 1,8 2,0

LODO SECO 1,2 2,7

O Procedimento para a preparação dos blocos foi realizado da seguinte maneira:

1. A cal5 foi peneirada para retirar pedras e outros pedregulhos.

2. Os materiais foram adicionados nas quantidades acima especificadas (tabela 1).

3. O material foi homogeneizado, utilizando uma pá (figura 10 A), formando a mistura

chamada de argamassa.

5A cal hidratada utilizada no tratamento de água, gera cerca de 10% de material insolúvel por mês. Este material insolúvel foi utilizado no teste.

54

4. Foi passado óleo (de máquina ou queimado) na forma, verificando se a mesma

estava bem “untada”, para facilitar a retirada do bloco (figura 10 B).

5. A argamassa foi colocada na fôrma, com a primeira parte já encaixada na

segunda (figura 10 C), em local nivelado para que pudesse ser compactada.

6. O material na forma foi compactado, com batidas no chão, aplicando cerca de 5

golpes uniformes, até não mais se observar desníveis entre a argamassa e a altura

da fôrma.

7. O material que ultrapassava a borda superior da fôrma foi removido com uma pá,

nivelando depois por cima com uma régua de madeira (tábua).

8. A fôrma contendo a argamassa compactada foi invertida, no local que ficaria para

Secar (figura 10 F).

9. A primeira parte da fôrma foi retirada verticalmente, e com cuidado para não haver

fissuras ou quebra das extremidades (figura 10 G).

10. A segunda parte da fôrma (figura 10 H) foi retirada e deixada secar por dois dias

ao ar livre.

11. Com jatos de água os blocos eram molhados, 3 vezes, em dias alternados por

cerca de 07 dias consecutivos.

12. Os blocos eram deixados a secar por cerca de 1 mês ao ar livre.

A figura 10 mostra em fotos a sequência dos passos do procedimento para

confecção dos blocos-testes.

55

3.4.2 Teste de Absorção de Umidade e Resistência à Compressão

Após 30 dias da confecção dos blocos,, foram realizados no Laboratório do Centro

G H

E F

A B

C D

Figura 10 - Fotos dos passos do procedimento para confecção dos bloco-teste: (A) mistura dos materiais constituintes dos blocos; (B) untação da fôrma com óleo; (C) colocação da argamassa na forma; (D) argamassa compactada;(E) remoção do material nivelado;(F) retirada do bloco da fôrma;(G) fôrma sem a primeira parte; (H) bloco pronto para secar

56

3.4.2 Teste de Absorção de Umidade e Resistência á Compressão

Tecnológico da Argamassa- CETA do Departamento de Ciências e Tecnologia dos

Materiais, da Escola Politécnica da UFBA, testes de resistência à compressão para

os dois blocos e a determinação da absorção de água, feita apenas para o bloco 1,

por ser uma analise preliminar. Para estes testes foram seguidas as normas NBR

6136/2006 [31] e NBR12118/2006 [33] juntamente com MB 3459/1991 [34],

respectivamente.

3.4.2.1 Absorção de Umidade

Este ensaio é realizado com o objetivo de verificar o percentual de absorção de água

no bloco, expresso em porcentagem calculado pela formula abaixo.

a= X 100, onde:

a= absorção de umidade em %.

m1= massa do corpo de prova seco em estufa em g.

m2= massa do corpo de prova saturado em g.

Os requisitos solicitados na NBR 6136/2006, referente à absorção de água se

encontram na tabela 2.

m2 – m1

m1

57

3.4.2.2 Resistência à compressão

Este ensaio é realizado com o objetivo de verificar a capacidade de carga que os

blocos confeccionados suportam quando submetidos a uma força perpendicular a

sua face. Calculado segundo formula abaixo.

fbk,est= 2 - fbn

Onde:

fbk,est = resistência característica estimada da amostra expressa em MPa

fb(1), fb(2),..., fbn = valores de resistência à compressão individuais dos corpos-de-

prova da amostra, ordenados crescentemente, isto é fb(1) é o menor valor obtido e fbn

é o maior.

n = é igual à quantidade de blocos da amostra

i = n/2, se n for par;

i = (n -1) /2, se n for ímpar

Os requisitos solicitados na NBR 6136/2006, referente à resistência característica a

compressão se encontram na tabela 2.

fb1+ fb2 +...+ fbn-1

i - 1

58

Tabela 2 - Requisitos para a resistência características à compressão e absorção de

umidade.

Classe

Resistência

Característica

ƒbk , MPa

Absorção média em %

Agregado normal Agregado leve

A ≥ 6,0

≤ 10,0%

≤ 13,0%

(média)

≤ 16,0%

(individual)

B ≥ 4,0

C ≥ 3,0

D ≥ 2,0

Fonte: NBR 6136/2006

O teste de absorção de água se mostrou próximo do percentual de agregado leve

individual, 16,8% ( ≤16,0%) para o blocos 2 na etapa 1, mas, a determinação de

resistência à compressão não atingiu a faixa determinada pela NBR 6236, obtendo

valores de 1,4 e 0,8 MPa, para os blocos 1 e 2 respectivamente. Desta maneira foi

realizada outra composição para a formação de outros blocos que se enquadrasse

na NBR 6136/2006 [31].

Em 11/05/2011 foi então realizada a segunda etapa para a fabricação dos blocos

utilizando o lodo a partir dos dados da tabela 3. A figura 11 apresenta partes do

equipamento, prensa hidráulica, usado para os referidos testes.

59

Tabela 3: Composição do material dos blocos-teste (etapa 2).

MATERIAL QUANTIDADE (Kg)

Cimento 21,8

Areia 81,0

Água 18,5

Lodo 6,20

Total 127,5

Com a composição mostrada na tabela 3 foram fabricados 13 blocos. Evoluiu-se

para esta composição após os resultados do primeiro bloco teste, pela experiência e

textura obtida para a argamassa, bem como a massa de lodo usada na preparação

de um bloco e seus respectivos resultados no teste de resistência a compressão e

absorção de umidade, visando a obtenção de um bloco mais resistente.

A partir do total da massa preparada foram usados 9,49 Kg para o fabrico de um

bloco, contendo 0,477 Kg de lodo por bloco. Nesta composição não foi adicionado a

cal (hidróxido de cálcio) utilizada no primeiro teste, que é um dos produtos químicos

utilizados no tratamento de água e que gera um resíduo, após o preparo da sua

solução, cerca de 10 % de material insolúvel. A supressão da cal desta vez deve-se

B A

Figura 11 - Fotos do equipamento usado para o teste de resistência à compressão com os blocos confeccionados: (A) ajustamento das placas para compressão; (B)- escala em Newton, tonelada ou Kgf.

60

ao fato do teste de resistência não ter sido satisfatório na etapa 1. Assim, no atual

ensaio desenvolveu-se blocos sem este componente.

O teste de absorção de umidade e compressão foi realizado após 28 dias da

fabricação dos blocos. Não foi necessário o capeamento (uso de molde para nivelar

as áreas que ficam em contato com a placa da compressão, para se obter

distribuição uniforme da carga) para nivelar as superfícies ou mesmo as arestas,

obtendo-se uniformidade de carga no teste de compressão.

Após os testes de resistência à compressão e absorção de umidade, foi realizada no

laboratório do SENAI/CETIND, o ensaio de lixiviação do lodo seco, com o objetivo de

determinar a capacidade de transferência de substâncias presentes no resíduo

sólido, por meio de dissolução no meio extrator, conforme método determinado na

NBR 10005/2004 [36] e análises como determina seus procedimentos: pH (EN029

QGI (SMEWW 4500HTB) [28]; teor de sólido seco (EM 068 QGI /NBR 10005) [35];

volume (EN 068 QGI / NBR 10005) [18], As (EN 002 ESP (SMEWW 3114 B/C – As

mod.), Cd (EN 120 ESP / ASTM D 3557-02A), Pb (EN 119 ESP / ASTM D 3559 08

mod.), Cr (EN 106 ESP / ASTM D 1687 -02), Al (EN 108 ESP / ASTM D 857-07

Mod.), Be (EN 122 ESP), V (EN 116 ESP / SMEWW 3500-VA). Este ensaio visa

determinar a capacidade de transferência de substâncias orgânicas e inorgânicas

presentes no resíduo sólido, por meio de dissolução no meio extrator. Para este

ensaio, foi necessário uma massa de 450 g do lodo seco, sendo coletada a amostra

úmida na zona morta da ETA e levada para secagem em estufa 103-1050C, por 3

dias, homogeneizada e encaminhada para o ensaio de lixiviação.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A dosagem dos produtos usados na ETA VM para o tratamento da água, na época

da coleta fornece resultados na faixa de 60 a 80 mg L-1 de sulfato férrico; 0,98 a 1,39

mg L-1 para ácido fluorsilicico; 2,2 a 2,7 mg L-1 para cloro (pré-cloração); 4,5 a 6,6

61

mg L-1 para o Cloro (pós-cloração) e 35 mg L-1 para Ca (OH)2 (cal hidratada). A

vazão de água bruta foi cerca de 2,0 m3 s-1. As dosagens, vazões, enfim a rotina na

Estação de Tratamento Vieira de Mello (ETA VM) não foram alteradas para que não

tornasse os dados tendenciosos.

A água bruta que chegava a ETA VM se encontrava dentro dos padrões para alguns

parâmetros de qualidade [27]. Por exemplo, médias no período do desenvolvimento

deste trabalho, para turbidez, DBO e cor, mostraram valores de 10,45 NTU; 3,61 mg

L-1 e 18,31 mg Pt L-1 respectivamente. No entanto, a qualidade da água bruta, está

piorando cada vez mais e exigindo uma maior quantidade de produtos químicos

aplicados ao tratamento. Como conseqüência, vem ocorrendo um significativo

aumento nos rejeitos ou lodo, provenientes da estação de tratamento de água Vieira

de Mello, proveniente principalmente dos decantadores. As tabelas 2A e 3A,

mostram resultados de análises do efluente dos decantadores e filtros,

respectivamente, ou seja, da suspensão do lodo ali produzido.

Pela NBR 10.004/2004 [26] o lodo de ETA é classificado como “resíduo sólido”,

devendo portanto, ser tratado e disposto conforme exigência dos órgãos

reguladores. Há muito, o destino destes resíduos de ETA vinha sendo os cursos

d’água próximos das estações de tratamento. Esta prática tem sido questionada por

órgãos ambientais. Para que haja uma alternativa final adequada, é necessário

primeiramente fazer um levantamento da quantidade do lodo gerado e conhecer as

características deste lodo de ETA, visando um destino final de acordo com suas

características.

A quantidade total de sólidos gerados em uma ETA pode ser estimada por meio de

equações empíricas que consideram alguns parâmetros de qualidade da água bruta

e dosagem de produtos químicos, embora seja desejável a realização de estudos de

tratabilidade (decantação e de filtração) dependendo da tecnologia de tratamento

com amostras de águas coletadas em diferentes épocas do ano e medindo os

volumes de lodo gerado e a quantidade de sólidos sedimentáveis.

62

A quantidade de lodo gerado na Estação de Tratamento de Água VM, foi calculada

em trabalho de conclusão de curso de pós-graduação [36] ,tendo sido aplicado

método empírico, que adota o mesmo raciocínio do processo utilizado, por Di

Bernado (2005) [11] utilizando dados de análises do lodo do decantador e dos filtros.

Obteve-se uma média de 7.518,44 Kg d-1 de sólidos suspensos totais, quando o

volume de água tratada gerado era em média 178.162,14 m3 dia-1 ,resultando na

produção de sólidos por volume de água tratada de aproximadamente 42,20 g SST

m-3.

Pelo próprio processo de tratamento de água, a quantidade de lodo gerado nos

decantadores é maior que a dos filtros, pois a sedimentação é um fenômeno físico

na qual em decorrência da ação da gravidade as partículas suspensas apresentam

movimento descendente em meio liquido de menor massa especifica e propicia a

clarificação do líquido, ou seja, a separação das fases líquida e sólida, o que se

constitui na primeira etapa para a remoção dos sólidos suspensos. Observa-se que

em relação aos filtros, os parâmetros analisados na água dos decantadores,

possuem concentração mais alta, como comprovam os dados da tabela 6 e 7, em

seguida, e as correspondentes médias e desvio padrão de 4 repetições analíticas.

Esses dados mostram que nos decantadores e em menor proporção nos filtros, o

teor de cobalto, apresenta a menor concentração quando comparado com os demais

parâmetros analisados, seguido pelo cobre e níquel em todos os decantadores.

As maiores variações nos parâmetros analisados se observa em coliformes totais,

ferro, seguido pelo manganês, o que nos permite avaliar que estes parâmetros estão

espalhados por dispersões muitos distinta, ou seja, existe uma variabilidade que é

justificada pela qualidade da água. No caso especial do ferro justifica-se essa

dispersão pela variação na dosagem do coagulante, sulfato férrico, usado.

Pelos resultados obtidos através das análises realizadas no lodo gerado na ETA VM

em três momentos (início, meio e fim) de cada lavagem dos decantadores e filtros,

mostrados integralmente, nas tabelas 6 e 7, em seguida, executada a média e

desvio de 4 determinações referentes a cada decantador e filtro.

63

DATA

ALCAL.

(mg/L)

Ca

(mg/L)

Cl-

(mg/L) Co (mg/L) Cu (mg/L)

COND

(umho/cm

)

COR real

(mgPt/ L)

DQO

(mg/L)

DUREZA

(mg/L) Fe (mg/L)

Mg

(mg/L) Mn (mg/L) Ni (mg/L) pH

S. SEDIMET

(mg/L)

TURB

(NTU)

Zn

(mg/L)

C T NMP/

100mL

ECOLI

NMP/

100mL

22/9/2010 1/1 29,9 32,9 32,3 0,048 0,126 394 2 11,9 98 27,10 3,83 1,33 0,044 7,31 23 66 0,0513 4.106 <0,1

28/9/2010 2/1 29,1 22,9 29 0,019 0,072 224 3 16,5 68,5 38,10 2,76 1,05 <0,02 7,21 10 45 0,0317 3.241 2.576

5/10/2010 3/1 31 24,5 28,8 0,035 0,08 484 2 <5 72,8 22,10 2,8 0,94 <0,02 7,34 7 17 0,0192 <1,0 <1,0

8/10/2010 4/1 33,9 24 39,6 0,044 0,182 239 2 14,1 71,6 72,10 2,84 1,92 <0,02 7,13 20 55 0,0333 387 <1

23/9/2010 1/2 29,7 26,5 29,8 0,044 0,048 438 7 7,6 81,3 18,20 3,64 0,61 0,031 7,35 12 27 0,00709 15.530 <1,0

18/10/2010 2/2 31,2 23,8 42 0,02 0,063 237 16 <5 70,9 26,70 2,77 1,31 0,022 7,49 11 41 0,0313 1,30E+03 579

16/11/2010 3/2 29,7 22,6 46,6 0,031 0,047 244 3 28 70,5 27,60 3,4 1,31 0,028 7,32 8 27 0,0244 8,6 <1

17/11/2010 4/2 26,5 20,8 45,4 0,027 0,042 238 4 19 66,1 21,80 3,43 1,31 0,029 7,12 4 28 0,0204 1 <1

19/10/2010 1/3 35,6 30,8 41,6 0,033 0,185 425 2 85 89 78,10 2,9 4,38 0,042 8,19 40 1,60E+02 0,0701 50 <1

25/10/2010 2/3 35,1 26,9 36 0,028 0,135 233 4 56 79 49,90 2,84 2,10 0,037 8,96 17 59 0,061 2,25E+04 <1

10/11/2010 3/3 33,2 23,8 48,3 <0,01 0,1 240 3 21 72,9 42,60 3,24 2,32 <0,02 7,02 13 53 0,0746 48 <1

4/11/2010 4/3 34,2 24,7 44,5 0,022 0,115 235 5 17 74,6 46,70 3,15 1,49 0,021 7,42 12 45 0,0283 2 <1

12/8/2010 1/4 35,4 31,1 29,3 0,013 0,199 244 3 13,9 89,8 10,40 2,95 1,81 0,027 8,61 21 54 0,0268 262 0,09

29/9/2010 2/4 35,4 31,1 29,3 0,029 0,172 244 3 13,9 89,8 39,20 2,95 2,53 0,024 8,61 21 59 0,0597 92.080 <1,0

27/10/2010 3/4 37,9 39,3 39 0,024 0,222 235 6 90 113 12,70 3,62 2,82 0,043 8,51 16 1,20E+02 0,041 143 <1

4/11/2010 4/4 28,8 24,6 44,7 0,016 0,196 228 2 17 75,5 60,60 3,4 1,97 0,038 5,25 18 54 0,0268 262 <1

4/10/2010 1/5 31,5 25,4 28 0,024 0,072 235 3 6,1 74,6 32,10 2,73 1,10 <0,02 8,22 8,5 20 0,0563 10 <1,0

19/10/2010 2/5 37,1 27,6 41 0,022 0,101 446 2 59 80,9 43,00 2,93 2,27 0,03 8,39 22 68 0,0583 1,30E+05 <1

26/10/2010 3/5 35,1 27,5 42,4 0,027 0,086 411 9 26 80,8 36,00 2,95 1,71 0,033 8,07 12 51 0,043 328 <1

4/11/2010 4/5 37,5 28,1 42,9 0,017 0,091 243 4 64 83,5 10,70 3,21 1,23 0,02 8,42 11 36 0,0247 252 <1

21/9/2010 1/6 35,6 35,2 31,2 0,05 0,095 91,2 2 84 104 33,40 3,98 1,25 0,039 8,66 15 61 0,0275 1.733 467

4/10/2010 2/6 32,4 29,1 28,7 0,033 0,154 235 4 6,7 84 63,60 2,75 1,47 <0,02 8,66 17 41 0,0303 79.150 6.167

25/10/2010 3/6 37,6 27,4 37,2 0,02 0,046 240 8 35 80,2 16,00 2,85 0,58 <0,02 9,1 5 31 0,0234 2,42E+04 <1

9/11/2010 4/6 37,1 27 49,9 <0,01 0,053 264 7 23 81,6 23,20 3,41 0,77 <0,02 7,49 8 37 0,0174 179 <1

21/9/2010 1/7 34,3 34,8 31,7 0,053 0,171 265 5 54 103 70,00 3,86 2,10 0,046 8,49 38 74 0,0584 2.420 640

8/10/2010 2/7 38,8 30,7 28,4 0,042 0,179 256 2 11 89,1 71,50 2,99 1,30 <0,02 8,49 26 53 0,0338 10 <1

9/11/2010 3/7 36,6 27,7 50,3 <0,01 0,1 262 2 37 83,4 42,00 3,41 1,68 <0,02 7,16 17 54 0,0194 1 <1

12/11/2010 4/7 34,4 25,5 34,6 0,028 0,071 248 6 30 79,1 14,20 3,72 1,49 0,026 7,13 10 41 0,0279 52 <1

28/9/2010 1/8 34,2 25,9 29,3 0,013 0,044 236 5 5,9 76 86,60 2,76 0,54 <0,02 7,81 4,5 27 0,0204 28.510 613

18/10/2010 2/8 33,7 25,2 35,5 0,018 0,085 240 63 8 75,4 29,10 3 1,10 <0,02 7,81 10 47 0,0373 727 <1

10/11/2010 3/8 37,6 27,4 48,6 <0,01 0,084 249 7 14 82,6 35,00 3,44 1,56 <0,02 4,56 13 51 0,0303 5,48E+03 <1

4/11/2010 4/8 37,6 26,9 46,2 0,012 0,065 247 8 <5 80,5 58,70 3,2 0,86 <0,02 7,85 6 21 0,0278 3,65E+04 172

5/10/2010 1/9 38,3 29,5 29,4 0,034 0,077 386 3 <5 85,2 23,20 2,8 0,70 <0,02 8,53 7,5 23 0,015 2.359 <1

8/10/2010 2/9 34,4 33,6 28,6 0,044 0,222 282 5 70 98,2 86,90 3,44 1,59 0,02 7,68 13 63 0,0462 63 <1

13/10/2010 3/9 31,7 25,4 39,1 0,016 0,08 234 1 <5 75,3 14,20 2,85 0,89 0,035 7,61 14 30 0,0308 148 <1

8/11/2010 4/9 38,1 28,8 46,6 <0,01 0,114 249 11 39 86,8 46,30 3,6 1,44 <0,02 8,17 18 61 0,0195 2,14E+03 <1

27/9/2010 1/10 41,6 27,5 30,1 0,024 0,083 249 5 27,6 80,2 18,20 2,79 1,14 <0,02 7,99 20 90 0,0255 8664 <1,0

9/11/2010 2/10 34,6 25,1 4,74 <0,01 0,05 259 3 27 76,9 28,30 3,42 0,84 <0,02 7,36 13 30 0,0101 6,87E+04 4,11E+04

16/11/2010 3/10 38,5 30,9 47,4 0,034 0,102 262 6 40 91,9 49,60 3,58 1,73 0,029 7,69 16 68 0,0312 5,2 <1

4/11/2010 4/10 38,1 30 48,5 <0,01 0,095 258 1 9 89 36,50 3,39 1,13 <0,02 8,02 15 40 0,0356 1,55E+05 116

amostr

a / filtro

Tabela 4 - Dados dos parâmetros analisados no efluente dos dez filtros da ETA VM. Ago-Nov/2010.

64

DATA

ALCAL.

(mg/L)

Ca

(mg/L)

Cl-

(mg/L)

Co

(mg/L)

Cu

(mg/L)

COND

(umho/cm)

COR real

(mgPt/ L)

DQO

(mg/L)

DUREZA

(mg/L) Fe (mg/L) Mg (mg/L) Mn (mg/L) Ni (mg/L) pH

S. SEDIMET

(mg/L)

TURB

(NTU)

Zn

(mg/L)

C T NMP/

100mL

ECOLI

NMP/

100mL

4/10/2010 1/1 40,3 58,7 29,1 0,131 0,844 271 9 562 168 804 5,1 4,53 0,107 7,37 4,00E+02 6,10E+02 0,0738 1.011.200 960.600

13/10/2010 2/1 36,4 44,5 41,2 0,082 0,644 252 5 350 126 248 3,58 7,35 0,092 7,26 3,30E+02 4,90E+02 0,0626 6910 <1

26/10/2010 3/1 38,1 45,2 42,1 0,065 0,346 271 5 235 131 350 4,35 4,72 0,075 7,6 2,00E+02 4,80E+02 0,0434 4,61E+04 41

10/11/2010 4/1 48,8 83,6 55,8 0,104 0,876 307 8 705 233 884 5,91 8,46 0,155 7,22 3,50E+02 1,40E+03 0,0963 1,41E+05 <1

22/9/2010 1/2 29,2 207 34,7 0,102 0,66 389 10 201 575 419 14,3 3,81 0,211 8,89 2,60E+02 9,40E+02 0,12 307.600 <1

29/9/2010 2/2 44,6 144 31,1 0,097 0,723 256 13 397 402 534 10 11,3 0,188 8,73 2,80E+02 5,40E+02 0,124 3.873.000 808

18/10/2010 3/2 385 447 48,4 0,254 1,745 294 19 895 1,21E+03 972 23,5 35,1 0,629 8,76 8,30E+02 1,80E+03 0,225 2,42E+07 1,99E+04

27/10/2010 4/2 86,8 216 41,8 0,132 1,052 272 17 604 607 422 16,6 19,1 0,253 8,47 3,70E+02 7,3 0,115 6,91E+03 10

23/9/2010 1/3 26,6 55,8 29,5 0,05 0,074 278 15 17,5 160 41 4,97 0,723 0,039 9,22 25 92 0,0103 172.000 <1

5/10/2010 2/3 40,3 200 30,9 0,134 0,808 492 9 277 549 555 11,7 10,1 0,209 9,06 4,00E+02 6,00E+02 0,12 5.122.000 31

17/11/2010 3/3 575 535 58,8 0,227 1,811 355 5,00E+02 1,41E+03 1,46E+03 763 30,3 16,7 0,493 8,53 8,00E+02 5,00E+02 0,173 9,50E+05 242

19/11/2010 4/3 41,6 14,9 49,5 0,098 0,623 280 1,00E+02 400 74,3 313 9,03 13,8 0,188 8,26 7,50E+02 9,50E+02 0,0604 2,91E+03 <1

27/9/2010 1/4 348 218 39,7 0,143 1,028 302 70 755 607 1010 15,2 14,5 0,255 8,73 8,00E+01 1,90E+03 0,186 24.196.000 <1

8/10/2010 2/4 2,08E+03 744 39,3 0,438 4,048 363 21 92 1,99E+03 2950 31,5 62,9 0,858 8,83 8,00E+02 >4000 0,333 1.179.000 30

19/10/2010 3/4 49,3 185 42,8 0,096 0,611 380 15 383 525 225 15,3 8,23 0,202 9,14 4,00E+02 1,40E+03 0,0914 6,13E+05 <1

17/12/2010 4/4 537 180 64,1 0,141 1,048 459 30 1,08E+03 485 1000 8,43 24 0,224 7,92 2,40E+02 2,00E+03 0,133 2,05E+04 63

Amostra /

decant.

Tabela 5 - Dados dos parâmetros analisados no efluente dos quatro decantadores da ETA VM. Ago-Nov/2010.

65

4.1 Estudo Estatístico

O volume de dados gerados foi de 304 para os decantadores e 760 para os filtros,

portanto através da análise multivariada estudou-se a possibilidade de realizar a

média dos dados para os 4 decantadores e 10 filtros em cada parâmetro, reduzindo

assim os dados e facilitando conclusões dos resultados.

4.1.1 Análise multivariada dos dados:

O método de análise por componentes principais (PCA) proporciona um estudo

multivariado dos dados experimentais obtidos, conforme tabela 4 e 5, facilitando a

visualização da correlação entre amostras e variáveis. Com o objetivo de verificar a

utilização da média dos dados dos 10 filtros e dos 4 decantadores para cada

parâmetro, foi aplicada a PCA onde o pré-processamento usado foi o auto-

escalamento. Neste pré-processamento centram-se os dados na média e divide-se

cada um pelo desvio-padrão, de forma que todas as variáveis (alcalinidade, Ca, Cl-,

Co, Cu, Condutividade, Cor, DQO, Dureza, Fe, Mg, Mn, Ni, pH, SS, turbidez, Zn,

Coliformes totais (CT) e Ecoli passam a ter a mesma importância, ou seja, o mesmo

peso. Após o pré-processamento, o programa computacional MATLAB 6.1 (version

6.1.0.450, release 2.1,18/05/2001) calcula os escores e os loadings dos dados

obtidos das análises do efluente das lavagens dos decantadores e filtros, cuja

representação gráfica das componentes principais permite a caracterização dos

parâmetros estudados e presentes nas diferentes amostras coletadas nos filtros e

decantadores estudadas. Os gráficos dos dois primeiros eixos (PCs) que estão

associados a cada parâmetro são mostrados nas Figuras 15 e 16. A PCA para o

filtro mostrou que a primeira componente principal (PC1) explica 33,52% da

variância total dos dados, sendo que a segunda e a terceira componentes principais

explicam 11,01% e 9,62%, respectivamente. A primeira componente principal está

relacionada aos parâmetros Cor e Ecoli, enquanto a segunda componente principal

66

está relacionada à alcalinidade, pH e Ecoli . Pelos gráficos de scores e loadings

(figura15a e 15b) observa-se a separação dos filtros 2, 8 e 10 com os maiores

valores de scores na primeira componente principal. A segunda componente

principal separa o filtro 10, enquanto que os filtros 3 e 4 apresentam valores mais

negativos nas PC1 e PC2. Isto se deve aos parâmetros de turbidez (PC1), Cl- e Mn

(PC2). As amostras que se encontram no círculo mostra uma certa semelhança com

relação aos parâmetros analisados tanto nos filtros como nos decantadores.

Para os decantadores a PCA mostrou que a primeira componente principal (PC1)

explica 56,25% da variância total dos dados, sendo que a Segunda e a terceira

componentes principais explicam, 13,25% e 10,48%, respectivamente. A primeira

componente principal está relacionada aos parâmetros Ni, Co, Cu, Zn e Mn,

enquanto a segunda componente principal se refere a DQO, Cor e Cl-. Pelos gráficos

scores e loadings (figura 16A e 16B) observa-se a separação dos decantadores 2, 3

e 4 com os maiores valores de scores para PC1 enquanto a segunda componente

principal separa decantador 2, 3 (maiores scores) e 4 (menor scores) nos

parâmetros alcalinidade, turbidez e Fe. Como se observa, não é possível utilizar a

média dos dados dos 10 filtros e dos 4 decantadores para cada parâmetro

analisados, devido a grande variabilidade dos mesmos, portanto será realizado a

média por decantador e filtro para cada parâmetro. Essa análise multivariada

poderia sugeriu uma otimização das etapas de filtração e decantação do tratamento

da água bruta na ETA VM com relação, por exemplo, à homogeneização dos leitos

filtrantes e uniformidade dos módulos dos decantadores.

O quadro 7, mostra de forma resumida a análise multivariada dos dados dos filtros e

decantadores.

67

Figura 15- Gráfico de Loadings(A) e Scores (B) para o efluente da lavagem dos filtros.

Figura 16: Gráfico de Loadings(A) e Scores(B) para efluente da lavagem dos decantadores.

B

A

Fil 4

A

B

68

Quadro 7- Resumo do PCA para os filtros e decantadores.

Loadings/ Scores

PC1

PC2

PC3

%

Filtro

33,52%

Decantador

56,25%

Filtro

11,01%

Decantador

13,25%

Filtro

9,62%

Decantador

10,48%

Parâmetro

/ Processo

Positivo Cor, ecoli /

2,8,10

Ni,Co,Cu,Zn,Mn

/ 2,3,4

Alc,pH,

Ecoli /

10

DQO,Cor,Cl- /

2,3

Co /

1,2

CT,Ecoli / 2

Negativo T / 3,4 - Cl-,Mn /

3,4

Alc.,T,Fe / 4 Alc. /

5,10

Cor / 3

Como não foi possível a média dos 4 decantadores e 10 filtros para cada parâmetro

realizou-se a media para cada decantador e filtro os dados foram condensados nas

tabelas 6 e 7 abaixo, observa-se que ocorre não conformidade com a Resolução

CONAMA 357/05 [27], referente a padrões de lançamento de efluentes para os

parâmetros: Cu, Fe, Mn e Sólidos Sedimentáveis e conformidade para os

parâmetros pH, Ni e Zn. A diferença entre os teores do lodo do filtro em relação ao

decantador é significativa, como pode-se observar nos resultados de DQO. Para

este parâmetro, entre outros, a referida legislação não especifica limites.

4.1.2 Teste Q

Este teste, também chamado teste de DIXON, verifica os valores extremos e

compara com valores tabelados a 5% e 1% de significância, através da formula

abaixo.

69

Q =

Onde:

Z(H)- maior valor para os dados após colocação em ordem crescente

Z(H-1) – valor sequencialmente menor que Z(H).

Z(1)- primeiro valor da ordem crescente dos dados.

Como se observa na tabela 4, alguns resultados das 4 repetições realizadas,

especificamente para alguns parâmetros, como por exemplo condutividade, DQO,

dureza, pH, Sólidos sedimentáveis, turbidez, coliformes totais e Ecoli, se

encontravam alto ou baixo, quando comparados com os outros dados do mesmo

parâmetro, para o mesmo filtro,portanto realizou-se o teste Q com o objetivo de

minimizar estes desvio de resultado. A mesma análise foi realizada para os

decantadores, conforme tabela 5, sendo que os dados onde ocorreram modificações

foram para os parâmetros de alcalinidade, cálcio, dureza, ferro, turbidez, coliformes

totais e Ecoli. Esses resultados são mostrados nas tabelas 6 e 7.

Z(H) – Z(H-1)

Z(H) – Z(1)

70

Tabela 6 - Dados condensados dos parâmetros analisados no efluente dos quatro decantadores da ETA VM. Ago-Nov/2010.

Parâmetros Unidade PADRÃO CONAMA

357/05

Lodo de Decantadores

1 2 3 4

pH - 5-9 7,36±0,17 8,71±0,18 8,77±0,45 8,66±0,52

SS mL L-1 1 320,00±85,24 435,00±267,64 493,75±359,61 380,00±308,98

DQO mg L-1 - 463,00±210,65 524,25±296,93 526,13±610,44 577,50±431,10

Manganês mg L-1 0,1 6,26±1,95 17,33±13,39 10,33±6,95 27,41±24,53

Ferro total mg L-1 0,3 571,5±319.08 586,75±262,35 417,95±311,50 539±62,2

Magnésio mg L-1 - 4,74±1,00 16,10±5,64 14,00±11,21 17,61±9,80

Cobre mg L-1 0,02 0,68±0.24 1,04±0,50 0,83±0,73 1,68±1,59

Cond µmho cm-1 - 275,25±22,98 302,75±59,57 351,25±100,44 376,00±64,68

Turbidez mg L-1 - 526,67±72,34 821,82±755,79 535,50±353,04 1825,00±287,23

Cálcio mg L-1 - 58,00±18,27 253,50±132,92 201,42±236,13 194,30±20,65

Cloreto mg L-1 - 42,05±10,92 39,00±7,68 42,18±14,35 46,48±11,85

Cor (real) Mg Pt L-1 - 6,75±2,06 14,75±4,03 156,00±233,07 34,00±24,78

Níquel total mg L-1 2 0,11±0,03 0,32±0,21 0,23±0,19 0,38±0,32

Cobalto mg L-1 - 0,09±0,03 0,15±0,07 0,13±0,07 0,20±0,16

Zinco total mg L-1 5 0,07±0,02 0,15±0,05 0,09±0,07 0,19±0,11

Alcalinidade mg L-1 - 40,90±5,50 53,53±29,82 36,17±8,31 320,58±201,61

Dureza mg L-1 - 164,50±49,36 698,50±352,69 560,83±634,04 539,00±62,19

CT NMP - 6,47E04±6,89E04 1,39E06±2,15E06 1,56E06±2,41E06 6,04E05±5,79E05

EColi NMP - <1,0 5,25±6,71 <1,0 <1,0

71

Tabela 7 - Dados condensados dos parâmetros analisados no efluente dos dez filtros da ETA VM após teste Q . Ago-Nov/2010.

Parâmetro Unid Padrão

CONAMA

Lodo Filtros

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

pH - 5-9 7,25±0,10 7,32±0,15 7,9±0,86 8,58±0,06 8,28±0,16 8,42±0,83 7,59±0,78 6,74±1,88 8,00±0,43 7,77±0,31

SS mL L-1 1 15,00±7,70 8,75±3,59 20,5±13,2 19,00±2,45 13,38±5,94 11,25±5,68 22,75±12,09 8,38±3,86 13,13±4,33 16,00±2,94

DQO mg L-1 - 14,17±2,30 18,20±10,2 44,75±32,1 14,93±1,79 38,78±27,55 37,18±33,30 33,00±17,80 7,60±4,83 54,5±21,92 25,90±12,76

Manganês mg L-1 0,1 1,31±0,44 1,31±0,0 2,57±1,26 2,28±0,47 1,58±0,53 1,02±0,41 1,64±0,34 1,01±0,43 1,15±0,43 1,21±0,37

Ferro total mg L-1 0,3 39,85±22,51 23,58±4,40 54,33±16,13 30,70±23,8 30,45±13,92 34,05±20,95 49,43±27,12 52,35±26,17 42,65±32,45 33,15±13,28

Magnésio mg L-1 - 3,06±0,52 3,31±0,38 3,03±0,19 3,23±0,34 2,96±0,20 3,25±0,57 3,50±0,39 3,10±0,29 3,17±0,41 3,30±0,35

Cobre mg L-1 0,02 0,12±0,05 0,05±0,01 0,13±0,04 0,20±0,02 0,09±0,01 0,09±0,05 0,13±0,05 0,07±0,02 0,12±0,07 0,08±0,02

Cond µmho cm-1 - 335,25±125,46 240±3.79 239,67±3,78 237,75±7,76 333,75±110,39 246,33±15,50 257,75±7,50 243±6,05 287,75±68,5 257±5,59

Turbidez mg L-1 - 45,75±21,00 27,33±0,58 52,33±7,02 55,67±2,89 43,75±20,53 42,5±13,00 55,5±13,67 36,5±14,73 44,25±20,71 57,00±27,25

Cálcio mg L-1 - 26,08±4,60 23,43±2,39 26,55±3,12 31,53±6,02 27,15±1,20 29,68±3,79 29,68±4,03 26,35±0,99 29,33±3,37 28,38±2,61

Cloreto mg L-1 - 32,43±5,05 40,95±7,68 42,6±5,19 35,58±7,61 38,58±7,10 36,75±9,46 36,25±9,70 39,90±9,08 35,93±8,57 32,69±20,45

Cor (real) mgPt L- - 2,25±0,50 7,5±5,92 3,50±1,29 3,50±1,73 4,50±3,11 5,25±2,75 3,75±2,06 6,77±1,53 5,00±4,32 3,75±2,22

Níquel total mg L-1 2 <0,02 0,027±0,00 0,027±0,01 0,033±0,01 0,023±0,01 <0,02 0,023±0,02 <0,02 0,019±0,01 <0,02

Cobalto mg L-1 - 0,04±0,01 0,03±0,01 0,02±0,01 0,02±0,01 0,02±0,00 0,03±0,02 0,03±0,02 0,01±0,00 0,03±0,01 0,02±0,01

Zinco total mg L-1 5 0,03±0,01 0,02±0,01 0,06±0,02 0,04±0,02 0,05±0,02 0,02±0,01 0,03±0,02 0,03±0,01 0,03±0,01 0,03±0,01

Alcalinidade mg L-1 - 30,98±2,10 29,28±1,98 34,53±1,06 34,38±3,90 35,30±2,74 35,68±2,34 36,03±2,13 35,78±2,12 35,63±3,1 38,2±2,86

Dureza mg L-1 - 77,73±13,6 72,20±6,44 78,88±7,22 92,03±15,52 79,95±3,78 81,93±1,92 88,65±10,41 78,63±3,49 86,38±9,3 84,50±7,10

CT NMP - 2.578±1.946 437±748 33.3±27,2 222±69 290±54 26315,5±3,7E4 21±27 17804±1,74E4 1177,5±1,2E3 5,81E4±7,15E4

Ecoli NMP - <1,0 <1,0 <1,0 <1,0 <1,0 <1,0 <1,0 <1,0 <1,0 <1,0

72

A tabela 8 apresenta os resultados das análises do lodo, seco, em estufa (103 –

105ºc). Foram investigadas 04 soluções contendo aproximadamente 8 g L-1 de lodo,

através de análises, cujos resultados são apresentados nessa tabela, e comparados

com os padrões estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/05 [27] para

lançamento de efluentes. Observa-se, como já mencionado anteriormente, que a

legislação não apresenta valores para alguns parâmetros, e quanto aos demais os

valores se encontram abaixo do tabelado.

Tabela 8 -Dados condensados dos parâmetros determinados no lodo seco

Parâmetro Unid CONAMA

357/05

Lodo seco

Amostra1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4

Berílio mg L-1 - 3x10-4± 1x10-4 3x10-4± 1x10-4 5x10-4 ± 1 x10-4 3x10-4± 1x10-4

Alumínio mg L-1 - 6,64±1,69 6,00±1,69 9,57±1,69 6,08±1,7

Arsênio mg L-1 0.5 2,89x10-3± 3x10-4 2x10-3 ± 3x10-4 2x 10-3± 3x10-4 2x10-3± 3x10-4

Cádmio mg L-1 0.2 <0,100 0,116 <0,100 <0,100

Chumbo mg L-1 0.5 2x10-3± 4x10-3 9x10-3±4x10-3 1x10-2±4x10-3 4x10-3±4x10-3

Cromo mg L-1 0.5 0,08±0,03 0,08±0,03 0,14±0,03 0,09±0,03

Vanádio mg L-1 - 6x10-3±2x10-3 8 x10-3±2x10-3 1x10-2±2x10-3 9x10-3±2x10-3

A seguir são apresentadas as figuras 12, 13 e 14 representando os resultados

obtidos com as análises realizadas, para a média das análise de metais e semi-

metais para cada decantador (figura 12), média das análises de metais para cada

filtro (figura 13) e lodo seco (figura 14) .

Pela figura observa-se que o teor de cálcio e ferro nos filtros e decantadores é mais

alto quando comparado com os demais, o que é justificado pelo fato de parte do

resíduo de cal (hidróxido de cálcio) ser lançado na zona morta, reservatório onde se

concentra o resíduo sólido, o lodo gerado da água de jateamento e/ou descarga dos

decantadores e lavagem dos filtros. E no caso do ferro devido ao coagulante ser

sulfato férrico.

73

Fil-01

Fil-02

Fil-03

Fil-04

Fil-05

Fil-06

Fil-07

Fil-08

Fil-09

Fil-10

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Fe Ca

Mg Mn Co Cu Ni

Zn METAIS

MÉDIA DAS CONCENTRAÇÕES DE METAIS PARA CADA FILTRO

mg

L-1

Figura 13 – Metais no efluente (suspensão do lodo) da lavagem dos filtros da ETA VM

Figura 12 – Metais no efluente (suspensão de lodo) dos Decantadores da ETA VM.

74

Foram realizadas determinações de Al, As, Be, Cd, Cr, Pb e V, para o lodo seco,

levando em consideração o potencial tóxico maior e também para uma análise

comparativa após a lixiviação. Foram observadas concentrações de alumínio em

maior concentração quando comparado com os demais metais.

Figura 14 – Metais e semi-metais no lodo seco da ETA VM.

Pelos resultados, obtidos, observa-se que existe, como já mencionado, um aumento

na concentração das espécies analisadas no efluente (lodo) do decantador, em

relação ao lodo gerado nos filtros, a exemplo, do ferro. Pela prática aplicada na ETA

VM, os resíduos gerados nos decantadores podem ficar retidos durante vários dias

ou algumas horas. Existe uma programação onde mensalmente é feita uma limpeza

na zona morta por jateamento. Após a limpeza, parte da água do jateamento,

também é lançada em curso d’água próximo a ETA, pois a outra parte é enviada a

Estação de condicionamento de esgoto do Jaguaribe, recentemente construída na

avenida Orlando Gomes.

METAIS

LODO SECO

75

Medidas e características dos blocos confeccionados usando o lodo da ETA

VM

1ª etapa do trabalho

A tabela 9 mostra medidas e características dos primeiros blocos, cujos ensaios

foram realizados em jan/2011.

Tabela 9 - Medidas e Características dos blocos confeccionados na 1ª etapa do

trabalho.

Componentes Bloco 1 Bloco 2

Largura (L), mm 390

Altura (H), mm 190

Comprimento (C), mm 140

Área (A), mm2 390 x 190= 54600

Resistência à compressão

(R),MPa

1,4 0,8

Absorção de umidade (a), % - 16,8

Componente Traço para o bloco 1.

Para conhecer o componente traço do bloco, ou seja, a proporção de cada

componente no material do bloco em relação ao principal, divide-se a quantidade de

cada componente pela quantidade de cimento.

C(cimento) = Cimento/ cimento = 5,0726 Kg / 5,0726 Kg=1,0

Cal = cal /cimento = 4,5732 Kg / 5,0726 Kg = 0,90

A(areia) = areia/cimento = 2,8741Kg / 5,0726 Kg = 0,57

76

W(água) = água/cimento = 1,750 Kg / 5,0726 Kg = 0,34

Lodo(L) = lodo/cimento = 1,2160 Kg / 5,0726 Kg = 0,24.

Assim, tem-se aproximadamente: 1,0:0,90:0,57:0,34:0,24 em função do cimento.

Componente Traço para o bloco 2

C(cimento)= Cimento / cimento = 2,5 Kg / 2,5Kg=1,0

Cal = cal /cimento = 1,706 Kg / 2,5 Kg = 0,68

A(areia) = areia / cimento= 1,700Kg / 2,5 Kg = 0,68

W(água) = água / cimento= 2,000 Kg / 2,5 Kg = 0,80

Lodo(L) = lodo / cimento = 2,700 Kg / 2,5 Kg = 1,08.

Assim tem-se aproximadamente: 1,0:0,68:0,68:0,80:1,08 em função do cimento.

Estes primeiros blocos, como já mencionado, representaram o ensaio para um pré-

teste. A variação na composição foi para identificar se o aumento da quantidade de

lodo interferia positiva ou negativamente na resistência do bloco, o que foi

observado na determinação da resistência à compressão como mostra a tabela 9 em

comparação com a tabela 2, requisitos para a resistência característica à

compressão e absorção de umidade, sendo o resultado não satisfatório para os dois

blocos. Isso foi atribuído à quantidade de lodo em relação ao cimento e em menor

proporção à areia, o que pode justificar também o teste de absorção de água. Deste

modo na terceira composição realizada para a formação de outros blocos, adicionou-

se uma quantidade menor de lodo em relação ao cimento e areia, pois o traço do

lodo em função do cimento, no bloco 1 foi de 0,24 e na terceira composição onde

compreende 13 blocos, foi de 0,28, obtendo-se assim a conformidade com a NBR

6136/2006 [31]. As medidas e características destes blocos são mostrados na tabela

10.

77

2ª etapa do trabalho

A tabela 10 mostra medidas e características dos blocos cujos ensaios foram

realizados em 11/05/2011.

Tabela 10- Características dos blocos confeccionados na 2ª etapa do trabalho (maio/

2011).

Componentes BL1 BL2 BL3 BL4 BL5 BL6 BL7 BL8 BL9

Largura (L), mm 390

Altura (H), mm 190

Comprimento(C), mm 140

Área (A), mm2 54600

Resistência à

compressão (R),MPa

2,8 1,9 2,4 2,1 1,6 2,2 1,8 2,0 1,9

Componente Traço para os 9 blocos da 2ª etapa :

C(cimento)= Cimento/ cimento = 21,8 Kg / 21,8 Kg=1,0

A(areia)= areia/cimento= 81Kg / 21,8 Kg = 3,7

W(água)= água/cimento= 18,5 Kg / 21,8 Kg = 0,85

Lodo(L)= lodo/cimento = 6,2 Kg / 21,8Kg = 0,28,

Assim tem-se aproximadamente: 1,0: 3,7: 0,85: 0,28 em função do cimento.

Para cálculo da resistência característica é necessário utilizar no mínimo 6 blocos.

No caso deste estudo, foram utilizados 9 blocos, seguindo a NBR 6136/2006 [31]

para a determinação de fbk (resistência característica estimada da amostra) para

78

blocos, utilizando a fórmula abaixo e com os dados de resistência apresentados nas

tabelas 10 foram gerados com base na mesma:

fbk,est= 2 - fbn

onde:

fbk,est = resistência característica estimada da amostra expressa em MPa

fb(1), fb(2),..., fbn = valores de resistência à compressão individuais dos corpos-de-

prova da amostra, ordenados crescentemente, isto é fb(1) é o menor valor obtido (1,6

MPa), e fbn é o maior (2,8 MPa).

n = é igual à quantidade de blocos da amostra

i = (n -1) /2, se n for ímpar; Para este trabalho, n= 9 i= (9-1) / 2 = 4

Assim o valor de fbk,est foi estimado em 7,8 MPa, ou seja, segundo os requisitos

físico-mecânicos, quanto à resistência característica, o bloco é classificado como

classe A (fbk ≥ 6,0 MPa), que tem a função estrutural, para uso em elementos de

alvenaria acima ou abaixo do nível do solo.

O teste de absorção de água foi, realizado, com três blocos, como determinam as

normas NBR 12118:2010 [33] e NBR 6136:2006 [31]. Os resultados estão

apresentados na tabela 11,quando comparado com a tabela 2, requisitos para

resistência característica à compressão e absorção de umidade, que o classificam

como agregado (material granular, sem forma e volume definidos, geralmente inerte,

dimensões e propriedades adequadas para usos em obras de engenharia) leve, com

absorção média 10,8%, portanto ≤13,0%, e dentro das classes aceitáveis.

fb1+ fb2 +...+ fbn-1

i - 1

79

Tabela 11 - Teste de absorção de umidade: Blocos confeccionados a partir dos

materiais apresentados na tabela 3.

Componente BL10 BL11 BL12

Largura (L), mm 390

Altura (H), mm 190

Comprimento (C), mm 140

Área (A),mm2 54600

Massa do corpo- de –prova

seco em estufa( m1), g

10357,3 9798,4 9874,9

massa do corpo- de – prova

saturado (m2), g

11242,2 10963,7 11044,7

Absorção de umidade (a), % 8,5 11,9 11,9

Como estes blocos foram confeccionados a partir da mesma composição da tabela

2, o componente traço também é o mesmo 1: 4: 0,9: 0,3.

Os resultados dos ensaios de lixiviação mostrados na tabela 11 foram comparados

aos requisitos exigidos para obtenção do extrato lixiviado de resíduo sólidos, o que

permitiu identificar concentrações muito baixa de metais (< LD do método é muito

mais baixo do que os níveis limitados pela ABNT NBR 10004 [26]) como classe II-

não perigoso, como mostra a tabela 12.

80

Tabela 12 - Resultados do ensaio de lixiviação do lodo seco, da ETA VM.

ENSAIO

(Lixiviação)

UNIDADE RESULTADO NBR 10004/2004

Tempo h 19 -

pH - 7,10 -

Teor de sólido seco % 92,5 -

Volume mL 800 -

Metais lixiviados

Arsênio

mg L-1

<0,035 1,0

Cádmio <0,02 0,5

Chumbo <0,2 1,0

Cromo <0,07 5,0

Alumínio <1,2 -

Berílio <0,02 -

Vanádio <0,3 -

81

5. CONCLUSÕES

Testes iniciais para o estudo da viabilidade da utilização do lodo da ETA VM para

uso na confecção de blocos na construção civil, sugeriram a composição do material

na proporção 1,0: 3,7 : 0,85: 0,28 em cimento: areia: água: lodo, respectivamente.

A partir do levantamento qualitativo e estudo da viabilidade da utilização do resíduo

sólido como matéria prima para confecção de elementos da construção civil,

especificamente, bloco, podemos concluir que esta destinação é potencialmente

aplicável para o referido resíduo, visto que:

• Como o volume de água tratada é de aproximadamente 178.162,14 m3 dia-1, são

gerados 42,20 g SST m-3, o que viabiliza a obtenção de cerca de 7.518,44 Kg de

lodo, podendo permitir a confecção de aproximadamente 15.764 blocos por dia.

• As análises no material do lodo seco revelaram concentrações dos metais e semi-

metais nas faixas de: 6,00 - 9,57 mg L-1 Al; 2,14 – 2,89 mg L-1 As; 0,30 - 0,50 x10-3 mg

L-1 Be; < 0,1 – 0,12 x10-3 mg L-1 Cd; 0,83 – 0,14 mg L-1 Cr; <2 – 0,11 mg L-1 Pb; 6,50 –

12,5 x 10-3 mg L-1 V, abaixo portanto, dos padrões legislados pelo CONAMA 357/05

referente a lançamento de efluentes .

• Os resultados obtidos para o teste de resistência fbk =fbk,est= 7,8 MPa, ou seja ≥

6,0 MPa, classifica-o com potencial para função estrutural, para uso em

elementos de alvenaria acima ou abaixo do nível do solo.

• Os resultados obtidos para o teste de absorção de umidade (10,8%, ou seja, ≤

13,0%), classificam o bloco sugerido neste estudo como de absorção de

agregado leve, mas dentro das classes estabelecidas no requisitos da NBR

6136/2006, viáveis para a utilização do material em construção.

• Os testes de lixiviação visando a determinação da capacidade de transferência de

espécies químicas do material para outro meio, mostraram concentrações muito

mais baixas do que os níveis limitados pela ABNT 10004 e permitiram classificar o

resíduo como classe II (não perigoso).

82

Este trabalho identificou uma tecnologia econômica e ambientalmente adequada de

destinação final para o resíduo da ETA VM, o qual poderá ser estendido para

outras ETAs.

83

6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. FONSECA, Adilson; MARTINS, Eduardo.Jornal Atarde,Salvador,5 mar. 2006.

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Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e

dá outras providências. Legislação Federal, Brasília,DF,31 de agosto de 1981.

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Produzidos em estações de Tratamento de Água. CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO

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Tratamento de Água. Ed. LDiBe Ltda., São Carlos, SP, vol 1. 878p. 2008.

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de Tratamento e Disposição Final de Lodos de Estações Tratamento de Água.

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8. RICHTER, Carlos A. Água Métodos e Tecnologia de Tratamento. editora

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Tratamento de Água. Cap. 01. PROSAB. 1999. Disponível

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Disponível em:<www.bvsde.paho.org/bvsAIDIS/PuertoRico29/glaucio.pdf>. Acesso:

11 ago. 2010.

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Água. 2ª edição. Vol. 2. 2005.

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Departamento de Engenharia Civil. PROSAB. Disponível em:

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ENGENHARIA SANITARIA E AMBIENTAL, 21. João Pessoa. Brasil,2001.

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16. HOPPEN, C., et al. Estudos da Incorporação do lodo centrifugado da Estação de

Tratamento de Água Passaúna em matriz de concreto com dosagem de 3%.In:

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18. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 518: Estabelece os procedimentos e

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19. BRASIL. Lei federal 6050, de 24 de maio de 1974. Dispõe sobre a fluoretação

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Legislação federal, Brasília, DF, 24 maio 1974.

85

20. BRASIL. Decreto n° 76.872, de 22 de dezembro de 1975. Regulamenta a lei

n°6.050, de 24 de maio de 1974, que dispõe sobre a fluoretação da água em

sistemas públicos e abastecimento. Brasília, DF, dez. 1975.

21. BRASIL. Portaria n° 635/BSB. Fluoretação: Normas e Padrões, a seguir, sobre

a fluoretação da Água dos sistemas Público de Abastecimento. 26 dez 1975.

22. INMET. Normas climatológicas das temperaturas máxima, média e mínimas

mensais e anuais. Salvador, Ba. 1961-1990.

23. PIVELI, RoquePassos; KATO,MarioTakayuki. Qualidade das Águas e

Poluição: Aspectos Físico-Químicos. 2006.ABES, Associação Brasileira de

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24.Mahan, Bruce H. Um Curso universitário. editora Edgard Blücher Ltda, 2aed.,

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25. LIBÂNIO, Marcelo. Fundamento de Qualidade e Tratamento de Água. editora

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27. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente-

CONAMA resolução 357: Dispõe sobre a Classificação dos corpos de água e

diretrizes ambientais para seu enquadramento bem como estabelece as condições e

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28. APHA, AWWA, WEF. Standard Methods for the examination of Water &

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29. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NORMA. NBR10007:

Amostragem de Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro,2004.

30. Leite, Flávio; artigo: Amostragem Analítica em Laboratório, revista Analytica,

agosto/setembro, 2003,nº06.

31. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6136: Blocos

Vazados de Concreto Simples para Alvenaria - Requisitos. Rio de Janeiro, 2006.

86

32. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR7215:

Determinação da resistência a compressão. Rio de Janeiro, 1996.

33. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12118: Blocos

Vazados de Concreto Simples para Alvenaria- Métodos de Ensaio. Rio de Janeiro,

2007.

34. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. MB3459: Blocos

Vazados de Concreto Simples para Alvenaria-Determinação da Absorção, do teor de

umidade e da área líquida.Rio de Janeiro,1991.

35. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10005:

Procedimento para Obtenção de Extrato Lixiviado de Resíduo Sólidos. Rio de

Janeiro, 2004.

36. SANTOS, Selma Souza Alves. Lodo gerado na Estação de Tratamento de

Água Vieira de Mello-Empresa Baiana de Águas e Saneamento: Levantamento

Quantitativo e Qualitativo e sugestões de disposição. 2006. Monografia (Pós-

graduação em Gestão ambiental)- EMBA-Escola de Engenharia Eletromecânica da

Bahia. out. 2006.

37. RICHTER, Carlos A. Tratamento de Lodos de Estações de Tratamento de

Água. Ed. Edgard Blucher Ltda. São Paulo. 102p.2001.

87

7. ANEXO

Tabela 1A: Características Físicas da Estação de tratamento Vieira de Mello

ESTRUTURA FÍSICA CARACTERÍSTICA

Capacidade de tratamento 2000 L s-1

Tipo de tratamento Convencional

Unidades da Estação de tratamento Vieira de Mello Calha Parshall, canal de coagulação, floculadores, decantadores, reservatórios da zona morta, filtros, tanque de contato, casa de bombas, reservatório de lavagem dos filtros.

Floculadores mecanizados 04

Nº de agitadores por floculadores 06

Potência dos agitadores do floculador 4 CV (01 unid.), 3 CV (03 Unid.),1,5 CV(20 unid.)

Dimensões de cada unidade do floculador 14,00 m largura e 22,0 m de comprimento

Decantadores 04

Tipo de decantadores Módulo tubulares (colmeias em PVC rígido )

Dimensões dos decantadores 35 m X 14,0 m, H = 4,3 m

Volume do decantador 4.320 m3

Finalidade do Reservatório da zona morta Coletar água da descarga dos decantadores, de lavagem dos filtros e vazamentos

Número dos reservatórios de zona morta 04 unidades interligadas

Dimensões de cada reservatório 14,0 m X 4,5 m h= 4,3 m

Capacidade de armazenamento no reservatório 1048 m3

Bombas de recirculação 02

Potência de cada conjunto 10 CV

Vazão nominal 30 L s-1

Filtros 10

Tipo de filtros Filtros rápidos de fluxo ascendente, com leito areia

Capacidade do Tanque de contato/ reservatório 3000 m3

Casa de bombas/bombeamento para R1A6 01(01 reserva)

Bombeamento para o R37 01(01 reserva)

Potência por bomba 1250 CV

Período de funcionamento 24 horas

Capacidade do Reservatório de lavagem dos filtros 280 m3

Dimensões do Reservatório de lavagem dos filtros 18,0m X 15,15 m h=1,28 m

Nº Bombas recalque 2 (01 reserva)

Potência de cada bomba 125 CV

Vazão nominal 370 L s-1

Capacidade da Central de cal 150 ton mês-1

Nº de tanques de preparo de solução de cal 02

Capacidade de cada tanque de preparo 17000 L

Nº Tanques de armazenamento de ácido fluossilicico 04

Capacidade do tanques de ácido fluossilicico 59000 L tanque-1

6R1A- Reservatório de água distribuída (Duna), localizado na Boca do Rio , salvador-Ba. 7R3- Reservatório de água distribuída , localizado na Caixa D’água, salvador-Ba.

Fonte: (Brito e Santos, 2004) [17].