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1 AGRICULTRA FAMILIAR AGROECOLÓGICA E SEGURANÇA ALIMENTAR NA REGIÃO SUDOESTE MATOGROSSENSE, BRASIL Maurício Ferreira Mendes Universidade do Estado do Mato Grosso - UNEMAT Campus Tangará da Serra. [email protected] Sandra Mara Alves da Silva Neves Universidade do Estado do Mato Grosso - UNEMAT [email protected] Rosilainy Surubi Fernandes Universidade do Estado do Mato Grosso - UNEMAT Campus Cáceres [email protected] Sophia Leitão Pastorello de Paiva Universidade do Estado do Mato Grosso – UNEMAT Campus Cáceres [email protected] Marcel do Nascimento Cuiabano Universidade do Estado do Mato Grosso – UNEMAT Campus Cáceres [email protected] Jesã Pereira Kreitlow Universidade do Estado do Mato Grosso – UNEMAT Campus Cáceres. jesapk1@ hotmail.com Resumo Este texto objetiva discorrer sobre a viabilidade da produção agroecológica como instrumento para o desenvolvimento socioeconômico dos agricultores familiares da Associação Regional de Produtores Agroecológicos-ARPA, região sudoeste matogrossense. O delineamento utilizado para a realização deste trabalho foi o estudo de caso conforme sugerido por Marconi e Lakatos. Os procedimentos metodológicos adotados para o desenvolvimento do estudo foram: pesquisa bibliográfica; pesquisa de dados secundários; trabalhos de campo, com realização de entrevista semi-estruturada. Foram comercializados em 2011 mais de 90.000 kg de alimentos agroecológicos que contribuem para a diversificação da alimentação escolar de 8.500 alunos das escolas da região através do PAA/CONAB. Conclui-se que a produção agroecológica tem sido essencial para os agricultores, gerando segurança alimentar e renda para o assentamento. Palavras-chave: Assentamentos Rurais. Produção Agroecológica. Agricultura Familiar. Segurança Alimentar. Mato Grosso.

Universidade do Estado do Mato Grosso - UNEMAT Campus ... · Rosilainy Surubi Fernandes Universidade do Estado do Mato Grosso - UNEMAT Campus Cáceres [email protected] ... Margarida

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AGRICULTRA FAMILIAR AGROECOLÓGICA E SEGURANÇA ALIMENTAR

NA REGIÃO SUDOESTE MATOGROSSENSE, BRASIL

Maurício Ferreira Mendes

Universidade do Estado do Mato Grosso - UNEMAT Campus Tangará da Serra. [email protected]

Sandra Mara Alves da Silva Neves

Universidade do Estado do Mato Grosso - UNEMAT [email protected]

Rosilainy Surubi Fernandes

Universidade do Estado do Mato Grosso - UNEMAT Campus Cáceres

[email protected]

Sophia Leitão Pastorello de Paiva

Universidade do Estado do Mato Grosso – UNEMAT Campus Cáceres

[email protected]

Marcel do Nascimento Cuiabano

Universidade do Estado do Mato Grosso – UNEMAT Campus Cáceres

[email protected]

Jesã Pereira Kreitlow

Universidade do Estado do Mato Grosso – UNEMAT Campus Cáceres.

jesapk1@ hotmail.com

Resumo Este texto objetiva discorrer sobre a viabilidade da produção agroecológica como instrumento para o desenvolvimento socioeconômico dos agricultores familiares da Associação Regional de Produtores Agroecológicos-ARPA, região sudoeste matogrossense. O delineamento utilizado para a realização deste trabalho foi o estudo de caso conforme sugerido por Marconi e Lakatos. Os procedimentos metodológicos adotados para o desenvolvimento do estudo foram: pesquisa bibliográfica; pesquisa de dados secundários; trabalhos de campo, com realização de entrevista semi-estruturada. Foram comercializados em 2011 mais de 90.000 kg de alimentos agroecológicos que contribuem para a diversificação da alimentação escolar de 8.500 alunos das escolas da região através do PAA/CONAB. Conclui-se que a produção agroecológica tem sido essencial para os agricultores, gerando segurança alimentar e renda para o assentamento. Palavras-chave: Assentamentos Rurais. Produção Agroecológica. Agricultura Familiar. Segurança Alimentar. Mato Grosso.

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Introdução

Atualmente, a discussão sobre a agricultura familiar vem ganhando legitimidade social,

política e acadêmica no Brasil, passando a ser utilizada com mais frequência nos

discursos dos movimentos sociais rurais, pelos órgãos governamentais e por segmentos

acadêmicos, especialmente pelos estudiosos das Ciências Sociais que se ocupam da

agricultura e do mundo rural. Embora tardiamente, se comparada à tradição dos estudos

sobre esse tema nos países desenvolvidos, a emergência da expressão “agricultura

familiar” emergiu no contexto brasileiro a partir de meados da década de 1990

(SCHNEIDER, 2003).

A agricultura familiar tem bastante importância na absorção de empregos e na produção

de alimentos, ou seja, focaliza-se mais as funções de caráter social do que as

econômicas, tendo em vista sua menor produtividade e incorporação tecnológica.

Entretanto, é necessário destacar que a produção familiar, além de fator redutor do

êxodo rural e fonte de recursos para as famílias com menor renda, também contribui

expressivamente para a geração de riqueza, considerando a economia não só do setor

agropecuário, mas do próprio país (GUILHOTO et al., 2011).

A agroecologia incorpora aspectos ambientais e sociais acerca da agricultura, focando

não somente a produção, mas também a sustentabilidade ecológica dos sistemas de

produção (ALTIERI, 1989). Após cinco séculos de dominação social, econômica e

ideológica das elites agrárias, assiste-se hoje no mundo rural brasileiro à emergência de

um amplo processo social voltado para a construção de alternativas aos padrões

ambientalmente predatórios e socialmente excludentes de ocupação e uso do território

(PETERSEN, 2005).

O conceito de segurança alimentar, proposto pela Organização das Nações Unidas para

Agricultura e Alimentação (FAO/ONU), propõe assegurar o acesso aos alimentos para

todos, em quantidade e qualidade suficiente para garantir uma vida saudável

(CAPORAL e COSTABEBER, 2005). Porém, o estado do Mato Grosso é emblemático

quando se trata da agricultura brasileira. Exerce peso significativo na produção e

exportação de grãos e na balança comercial, por outro lado, sua agricultura causa

imensos efeitos negativos, pelos altos índices de utilização de insumos poluidores, pela

destruição da biodiversidade e pela situação dos conflitos agrários (CABRAL, 2007).

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Subsidiados no exposto pretende-se verificar a viabilidade da produção agroecológica

como instrumento para o desenvolvimento socioeconômico dos agricultores familiares,

bem como avaliar a importância das políticas públicas nesse processo. Para isso, tornou

como base o trabalho dos agricultores familiares associados à Associação Regional de

Produtores Agroecológicos (ARPA), região sudoeste de Mato Grosso.

Material e métodos

Área de estudo A Associação Regional dos Produtores Agroecológicos (ARPA) tem sua sede situada no

assentamento Roseli Nunes, localizado nos municípios de Mirassol D’Oeste, São José

dos Quatro Marcos e Curvelândia (Figura 1), na região sudoeste matogrossense.

Figura 01. Localização do assentamento Roseli Nunes, região sudoeste

matogrossense.

Fonte: Labgeo Unemat, 2012.

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O assentamento teve seu processo de formação iniciado na década de 90 com lutas

desenvolvidas pelo Movimento dos Sem Terra (MST), e no ano de 2002 os agricultores

começaram a ser assentados. É um assentamento muito bem organizado politica-

economicamente, bem estruturado e dividido em 331 lotes num total de 15.000 hectares.

A vegetação predominante no assentamento é de Cerrado (Savana), o clima regional é o

Tropical quente, caracterizado por estação chuvosa no verão e seca no inverno (NIMER,

1989). A exploração agrícola no assentamento é caracterizada por cultivos de milho,

feijão, arroz, mandioca, banana, abóbora, tendo como carro chefe da produção as

hortaliças. A pecuária é dedicada à criação de bovinos, além da criação de pequenos

animais como porcos e galinhas.

Procedimentos metodológicos

O delineamento utilizado para a realização deste trabalho foi o estudo de caso conforme

sugerido por Marconi e Lakatos (2007). Os procedimentos metodológicos adotados para

o desenvolvimento do estudo foram: pesquisa bibliográfica sobre o objeto de estudo,

visando subsidiar teoricamente as análises efetuadas; coleta de dados e informações nos

órgãos públicos; trabalhos de campo, com realização de entrevistas semi-estruturadas,

que buscaram resgatar informações do processo de organização dos assentados da

ARPA.

O surgimento da ARPA

A associação Regional dos Produtores Agroecológicos (ARPA) foi fundada em 06 de

setembro de 1997 com o nome Associação dos Produtores Organizados da Agropecuária

de Cáceres (ASPROAC), com sua sede em Cáceres e de atuação local. A associação

mantinha uma feira livre nas dependências do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Cáceres (STR) como forma de incentivar a comercialização dos produtos oriundos da

agricultura familiar (FERREIRA, 2011).

No ano de 2003 a associação foi reestruturada e passou a ter um caráter regional,

passando a ser denominada de ARPA, estimulando seus associados a desenvolver

produção diversificada de alimentos para o autoconsumo e para a comercialização dos

excedentes em feiras livres dos municípios da região e em forma de cestas de alimentos

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para consumidores cadastrados. Essa estratégia visava estabelecer um contraponto ao

modelo de produção agropecuária da agricultura familiar da região, centrada quase que

exclusivamente na produção leiteira, deixando as famílias agricultoras à mercê de

ínfimos preços pagos pelos laticínios da região (FREITAS, 2006).

A ARPA estimula os seus associados ainda a adotarem princípios agroecológicos, a

partir de cursos de formação e agroecologia. Possui também em seus quadros

agricultores técnicos que contribuem para o planejamento da produção.

Atualmente a ARPA possui 104 famílias associadas distribuídas em 04 assentamentos da

região, quais sejam: Roseli Nunes, Margarida Alves, Florestam Fernandez e Che

Guevara, abrangendo quatro municípios da região sudoeste matogrossense: Mirassol

D'Oeste, Curvelândia, Araputanga e São José dos IV Marcos.

A transição da produção familiar convencional para a agroecológica

A transição da produção familiar convencional para a de base agroecológica não é uma

tarefa simples e rápida, a transição envolve diversas dimensões relativas ao

funcionamento do agroecossistema como um todo (MOREIRA e STAMATO, 2005).

Após a reestruturação da ARPA em 2003, os agricultores começaram a investir na

produção agroecológica, para tanto começaram a adotar princípios agroecológicos, que

contou com assessoria técnica da Federação de Órgãos para Assistência Social e

Educacional/Regional Mato Grosso - FASE/MT e com apoio do Movimento dos Sem

Terra - MST, através da implementação de projetos demonstrativos em agroecologia.

Os projetos demonstrativos são definidos na educação popular como processos

educativos de acompanhamento a comunidades rurais ou grupos de agricultores que

requerem visitas sistemáticas para estabelecer metas comuns e consensuais. Nos

projetos demonstrativos a ideia central está na mudança gradual das formas de usos dos

recursos naturais, que se apresentam com degradantes ao meio ambiente em muitos

casos, para formas de uso mais sustentáveis (PHUL, 2006).

A adoção de princípios agroecológicos pelos associados da ARPA é pioneira na região

sudoeste matogrossense. Teve início a partir da participação das famílias em um curso

de formação agroecológica “Pé no chão” (Figura 02), que disseminou junto aos

assentados os dez princípios agroecológicos propostos pela ARPA: 1. Recuperar o

manejo do solo de forma ecológica; 2. Eliminar o uso dos venenos aos poucos,

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substituindo por caldas e biofertilizantes e práticas de controle biológico; 3.

Diversificação da produção para garantia da segurança alimentar na família; 4. Resgatar

e valorizar as sementes tradicionais; 5. Garantir a disponibilidade de água em

quantidade para a produção e família; 6. Conservar as matas, pois as árvores são

fundamentais para o equilíbrio ecológico e controle das pragas; 7. Participar de espaços

de aprendizagem coletiva sobre produção de base agroecológica e espaços de

aprendizagens (fóruns, encontros e seminários); 8. Mobilizar e estimular o vizinho e

todo o assentamento a adotar a agroecologia como modo de produção; 9. Reconhecer e

valorizar o trabalho da mulher agricultora e da juventude rural. 10. Construir de forma

associada à própria infraestrutura de produção, transporte, agroindustrialização e

gerenciamento, garantindo a independência e a justa divisão dos benefícios (MOREIRA

e STAMATO, 2005).

Figura 02. Oficina de caldas e biofertilizantes durante etapa do curso de Agroecologia Pé no Chão, no assentamento Roseli Nunes, região sudoeste matogrossense.

Foto: do autor, 2009.

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O objetivo geral do processo de formação proposto é promover uma reflexão junto aos

agricultores sobre o modelo de agricultura que eles desenvolvem e sensibilizá-los para a

agroecologia, a partir da aplicação prática de conceitos e técnicas voltadas para o

manejo integrado de agroecossistemas, através dos princípios agroecológicos.

No ano de 2010 a ARPA investiu em transporte, adquirindo um caminhão próprio para

entrega dos produtos para as cidades vizinhas, melhorando assim a renda dos

agricultores. No ano de 2011 a ARPA recebeu do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA) certificado de produção orgânica, com este certificado a

associação espera obter maiores lucros, além de valorizar a produção local, oferecendo

produtos livre de agrotóxicos, oportunizando segurança alimentar ao consumidor final.

E em 2012 a ARPA está construindo seu escritório e concluindo a área social que possui

cozinha, equipamentos, salão de festa, campo de futebol e vôlei como forma de lazer

para o assentamento e comemorar as conquistas da Associação. Portanto, são 13 anos

que a ARPA vem investindo na produção agroecológica e segurança alimentar na região

sudoeste matogrossense, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das famílias

do assentamento, numa primeira instância, e na sequência de toda a sociedade regional.

A ARPA possui entre seus associados um quadro de agricultores técnicos que

contribuem para o planejamento e execução das atividades produtivas coletivas ou

individuais e elaboração de projetos, como o Programa de Aquisição de Alimentos

(PAA/CONAB) e Política Nacional de Alimentação Nacional (PNAE).

A associação realiza reuniões bimensais com seus associados para o planejamento de

suas atividades, capacitações e monitoramento dos planos produtivos das famílias, além

de uma assembléia anual (FREITAS, 2006).

Os agricultores técnicos foram formados pela própria prática no dia a dia, no curso de

agroecologia “Pé no chão” e no Curso de Agronomia para os Movimentos Sociais e do

Campo (CAMOSC) oferecido em 2008 pela Universidade do Estado de Mato Grosso

(UNEMAT).

As tarefas dos agricultores técnicos são as seguintes: 1. Visitar as famílias que estão

começando a adotar os princípios agroecológicos; 2. Orientar qual calda ou

biofertilizante utilizar para cada praga; 3. Contribuir no planejamento da produção. Os

agricultores técnicos são semelhantes aos agentes de saúde que visitam as residências

para fazer prevenção e orientar as famílias.

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A segurança alimentar

A definição de segurança alimentar estabelece que todas as pessoas devem ter aceso a

alimentos em quantidades suficientes e de boa qualidade todos os dias, fomenta a

autonomia da comunidade ao permitir que homens e mulheres decidam quais sementes

plantar, que tipo de agricultura praticar, leva em consideração as consequências locais

dos processos políticos e econômicos em nível macro (PIMBERT, 2009).

Para assegurar a segurança alimentar é elementar investir no fortalecimento da

agricultura camponesa, familiar, tradicional e indígena como estratégia de

descentralização do poder econômico, político e de garantia da segurança alimentar da

humanidade (PUHL, 2008).

Os agricultores da ARPA procuram diversificar sua produção para garantir a segurança

alimentar, produzindo hortaliças (Figura 03), cereais, frutas, farinhas e outros, para o

consumo próprio e para venda para o Governo Federal. Segundo Almeida e Schmitt

(2009), a diversificação da produção é um elemento fundamental do ponto de vista da

sustentabilidade dos ecossistemas. A interação funcional entre policultivos e criações,

em diversificadas combinações inter e intra-espécies, pode proporcionar a maior

otimização e resiliência dos agroecossistemas, propiciando assim, uma maior segurança

alimentar da própria família e potencializando sua capacidade de fornecer alimentos

para o mercado em diferentes épocas do ano.

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Figura 03. Produção de hortaliças no assentamento Roseli Nunes, região sudoeste mato-grossense.

Foto: do autor, 2008. Outra estratégia na busca de promover a segurança alimentar no assentamento é a rede

de troca de sementes tradicionais, uma vez que os agricultores perceberam a

necessidade de se levantar as principais espécies e variedades de plantas tradicionais

existentes, mais comuns no assentamento. Além do que nos cursos de formação e nos

encontros, uma grande quantidade de sementes era trocada, sem que houvesse registro

das suas principais características, ou qualquer tipo de informação sobre estas sementes

(CABRAL, 2007).

Assim alguns agricultores começaram a guardar as sementes e resgatar outras

variedades que tinham perdido, esses agricultores ficaram conhecidos como

animadores. As sementes mais encontradas no Roseli Nunes são de feijão, milho

(Figura 04), arroz e abóbora, com inúmeras variedades cada uma delas. Os animadores

conservam as sementes nos seus próprios lotes, nas roças, quintais e demais sistemas de

produção servindo como armazéns da agrobiodiversidade.

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Figura 04. Variedades de sementes de milho encontradas no assentamento Roseli Nunes, região sudoeste matogrossense.

Foto: do autor, 2008.

Produção agroecológica e políticas públicas

A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), em meados de 2004, iniciou no

estado de Mato Grosso o desenvolvimento de atividades de sensibilização e

envolvimento de organizações relacionadas à agricultura familiar num esforço de

diagnosticar as experiências de produção e comercialização mantidas por tais

organizações neste Estado, com vistas a subsidiar um plano de ação que contemplasse

possibilidades de acesso de alimentos produzidos pela agricultura familiar aos mercados

institucionais. A ARPA participou deste diagnóstico, fornecendo informações sobre

volume de produção, grau de beneficiamento, infraestrutura existente e principais

mercados aos quais eram destinados os produtos (FREITAS, 2006).

Essa parceria da ARPA com o poder público começou a dar resultado no ano de 2005

quando iniciou a entrega de produtos agroecológicos (hortaliças, cereais, frutas,

farinhas) através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA/CONAB) para escolas

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de Mirassol D’Oeste e São José dos IV Marcos, com 10 famílias, e gerando uma renda

de aproximadamente R$ 20.000,00. Desde então a ARPA comercializa seus produtos

para o governo, mas também busca outros canais de comercialização. Em 2011 o

projeto contou com 104 famílias produzindo mais de 90.000 kg de produtos e gerando

uma renda aproximadamente de R$ 468.000,00 nos quatro assentamentos de atuação da

ARPA.

Vale ressaltar que até hoje no Brasil não houve uma política de comercialização para a

agricultura familiar, por isso os movimentos sociais lutam para consolidar o programa

PAA como uma política pública, capaz de contribuir para a melhoria de vida dos

agricultores familiares.

Conclusões

Constatou-se que a produção agroecológica tem sido essencial para os agricultores da

Associação Regional dos Produtores Agroecológicos (ARPA), gerando segurança

alimentar e renda para os assentamentos;

O acesso a políticas públicas é de fundamental importância para a comercialização dos

produtos, uma vez que no Brasil ainda não foi efetivada uma política de

comercialização para a agricultura familiar;

A pesquisa desenvolvida sobre a produção agroecológica na região sudoeste

matogrossense, evidencia que, apesar da falta de infra-estrutura e de investimentos que

fortaleçam a agricultura familiar no Estado, as famílias assentadas tem conseguido

permanecer e sobreviver na terra conquistada. Isso acontece devido às estratégias de

sobrevivência criadas pelas famílias no processo de consolidação dos assentamentos;

A experiência dos agricultores agroecológicos organizados da ARPA vêm se

consolidando como um modelo sustentável para geração de renda, conservação dos

recursos naturais, diversificação da alimentação e alternativa econômica para as

comunidades e assentamentos rurais da região sudoeste de Mato Grosso;

Por fim, ressalta-se a importância da presente pesquisa enquanto subsídio para a

implantação de políticas públicas e investimentos voltados para o campo que

possibilitem o desenvolvimento das famílias nas áreas de reforma agrária.

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Notas Os resultados apresentados foram gerados no âmbito dos projetos de pesquisa financiados pelo CNPq, CAPES e FAPEMAT (Edital 031/2010 – Rede Centro-Oeste) denominados: Questão agrária e transformações socioterritoriais nas micrroregiões do Alto Pantanal e Tangará da Serra/MT na última década censitária e Sistemas agroecológicos na fronteira Brasil-Bolívia: estudo comparativo das alternativas induzidas no assentamento 72, em Ladário-MS, com as práticas do assentamento Roseli Nunes, em Mirassol D Oeste – MT. Este estudo foi contemplado com apoio financeiro do Programa Universidades e Comunidades no Cerrado – UNICOM, através do Projeto “FLORELOS: Elos Ecossociais entre as Florestas Brasileiras: Modos de vida sustentáveis em paisagens produtivas”, desenvolvido pelo Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN e possui o apoio financeiro da União Européia. Este documento é de responsabilidade dos autores não podendo, em caso algum, considerar-se que reflete a posição de seus doadores.

Referências

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Educação e sócio-economia solidária. Integração Universidade – Movimentos Sociais. Cáceres, UNEMAT, 274p. 2006. PUHL, V. J. De uma agricultura sustentada à sustentável. Caderno Mato Grosso Sustentável e Democrático. Cuiabá-MT: Formad, p. 71-83, 2008. SCHNEIDER, S. Teoria social, agricultura Familiar e pluriatividade. Revista Brasileira de Ciências Sociais.v. 18, nº. 51, fev./2003.