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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E BIOLÓGICAS CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FLEXIBILIDADE ALIMENTAR E COMPORTAMENTAL DO BUGIO-RUIVO Alouatta guariba clamitans CABRERA, 1940 (PRIMATES, ATELIDAE) EM RELAÇÃO AO USO DE ESPÉCIES VEGETAIS ALÓCTONES EM CAXIAS DO SUL, RS. Juliana Nascimento Martins Caxias do Sul 2008

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL – UCS · disturbed fragment forest at Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Brazil. The fragment is a secondary formation in the atlantic rain forest,

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E BIOLÓGICAS

CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

FLEXIBILIDADE ALIMENTAR E COMPORTAMENTAL DO BUGIO-RUIVO Alouatta guariba clamitans CABRERA, 1940

(PRIMATES, ATELIDAE) EM RELAÇÃO AO USO DE ESPÉCIES VEGETAIS ALÓCTONES EM CAXIAS DO SUL, RS.

Juliana Nascimento Martins

Caxias do Sul

2008

 

Juliana Nascimento Martins

FLEXIBILIDADE ALIMENTAR E COMPORTAMENTAL DO BUGIO-RUIVO Alouatta guariba clamitans CABRERA, 1940 (PRIMATES, ATELIDAE) EM RELAÇÃO AO USO

DE ESPÉCIES VEGETAIS ALÓCTONES EM CAXIAS DO SUL, RS.

Monografia apresentada ao Curso de Ciências Biológicas da Universidade de Caxias do Sul, como requisito para a obtenção do grau de bacharel.

Orientador Dr. Alois Eduard Schäfer

Co-orientador Dr. Rodrigo Cambará Printes.

 

 

 

 

 

 

Caxias do Sul

2008

iii 

 

Dedico este trabalho aos meus pais, Ubirajara e

Mara, com os quais aprendi desde cedo a não

desistir dos meus sonhos e a empenhar todas as

minhas forças na realização dos meus objetivos.

iv 

 

Agradecimentos

Ao meu orientador Alois Shäfer, que apesar de atuar em outra linha de pesquisa,

ajudou no que estava ao seu alcance e acreditou na realização desse trabalho.

Ao meu co-orientador Rodrigo Cambará Printes, que foi meu guia nessa caminhada,

por toda paciência com meus trilhões de e-mails e pelo apoio.

Ao Valmor Barni, diretor da Fepagro Agroindústria, pela autorização e apoio para

desenvolver esta pesquisa na área, mas, também, pelo seu entusiasmo e carisma. Aos

funcionários da Fepagro Agroindústria, que de uma forma e outra me ajudaram em muitas

ocasiões.

Ao biólogo Dr. Marcos Fialho de Souza, pelas sugestões, críticas construtivas e

revisão do projeto. Ao biólogo Martin Grings e ao colega Eduardo Pasini pelo auxílio nas

identificações botânicas.

Aos meus queridos amigos, que estiveram comigo a campo, muito obrigada pela

ajuda, sugestões, discussões, incentivo e, acima de tudo, pela amizade e companheirismo:

Camila Trentin, Cassiano Marchett, Cleber Saraiva, Liziane Crippa, Maína Marchioro,

Márcio Bonesso, Otávio Ruivo, Shana Ferrarini. Aos meus outros amigos, não menos

especiais, que estiveram torcendo pelo sucesso deste trabalho: Alan Bolzan, Flaviane Magrini,

Márcia Toigo e Thais Michel.

Ao meu pai Ubirajara, que foi fundamental para este trabalho ocorrer, pois, além do

apoio e incentivo, estava sempre disposto a levar-me a campo e discutir sobre as minhas mais

recentes observações.

À minha mãe Mara, minha irmã Luciana e meu padrasto Marcelo, que sempre

apoiaram minhas decisões e vibraram comigo nas conquistas, mesmo que à distância.

Ao meu namorado, Leonardo Brito, pelo carinho e compreensão e por aceitar, mesmo

que enciumado, meu grande amor pelos bugios.

 

ANEXOS

Anexo 1: Fotos dos indivíduos de Alouatta guariba clamitans do grupo de estudo 100

Anexo 2. Fotos de algumas espécies alimentares (alóctones e autóctones)

consumidas 101

Anexo 3. Detalhes da área de estudo e acontecimentos 108

 

vi 

 

ÍNDICE

ANEXOS v

LISTA DE TABELAS vii

LISTA DE FIGURAS viii

LISTA DE FIGURAS viii

Resumo x

Astract xi

1. INTRODUÇÃO 12

2. REVISÃO DE LITERATURA 14

2.1. Gênero Alouatta Lacépède, 1799 (Primates, Atelidae) 14

2.2. O bugio-ruivo Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940 17

2.3. Dieta 19

2.4. Alouatta em ambientes fragmentados 20

3. MATERIAIS E MÉTODOS 24

3.1. Área de estudo 24

3.2. Coleta de dados 30

3.2.1. Definição do grupo focal 30

3.2.2. Análise comportamental 31

3.2.3. Análise da dieta 33

3.2.4. Determinação da área de vida e uso do espaço 34

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 36

4.1. Orçamento de atividades diárias 37

4.2. Dieta 48

4.2.4. Análise qualitativa 48

4.2.5. Análise quantitativa 55

4.3. Área de vida e uso do espaço 69

5. CONCLUSÕES 86

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 88

vii 

 

LISTA DE TABELAS

 

Tabela 1. Descrição dos comportamentos presentes no etograma. ....................................................... 33

Tabela 2. Porcentagem de tempo gasto nas atividades diárias. Média mensal e média total para os meses de estudo..................................................................................................................................... 39

Tabela 3. Lista de espécies vegetais e itens alimentares utilizados na alimentação de Alouatta guariba clamitans no período de janeiro a setembro de 2008, em um remanescente de Floresta Ombrófila Mista em Caxias do Sul, RS. Itens: f = folhas, fl = flores, fr = frutos, s = sementes. Metodologia: obs. direta = observação direta dos animais, fezes = análise fecal. .............................................................. 49

Tabela 4. Meses de consumo dos itens e espécies vegetais por A. g. clamitans, em um remanescente de Floresta Ombrófila Mista em Caxias do Sul, RS no ano de 2008. verde = folhas, vermelho = flores, amarelo = frutos, marrom = sementes. .................................................................................................. 53

Tabela 5. Freqüência de consumo de espécies vegetais por Alouatta guariba clamitans no período de fevereiro a setembro de 2008, em um remanescente de Floresta Ombrófila Mista em Caxias do Sul, RS. Em ordem decrescente de freqüência dos registros de alimentação. FA = freqüência absoluta, FR =freqüência relativa, N = Numero de meses de uso (máximo 8 meses). .............................................. 56

Tabela 6. Parâmetros ecológicos (diversidade, riqueza e equidade) das espécies alimentares, analisadas por estação do ano (verão, outono e inverno de 2008).......................................................................... 62

Tabela 7. Encontros intergrupais observados durante o período de estudo. ......................................... 75

Tabela 8. Área de vida e coeficiente de variação do uso da área durante as estações de verão, outono e inverno de 2008..................................................................................................................................... 80

Tabela 9. Estimativas de tamanho de área de vida e tamanho de grupo em diversos estudos realizados com a espécie Alouatta guariba, utilizando o método do esquadrinhamento (25 x 25m). ................... 83

viii 

 

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização da área de estudo no município de Caxias do Sul, no estado do Rio Grande do Sul e no Brasil. ...................................................................................................................................... 24

Figura 2. Média das temperaturas médias e da precipitação de Caxias do Sul dos últimos 10 anos. ... 25

Figura 3. Temperatura média máxima e mínima de Caxias do Sul de janeiro a setembro de 2008...... 25

Figura 4. Precipitação de Caxias no Sul de janeiro a setembro de 2008............................................... 25

Figura 5. Imagem da área de estudo...................................................................................................... 28

Figura 6. Vista geral da área de estudo, mostrando a mata secundária (mata 1) no centro da imagem e à direita a linha com espécies vegetais alóctones..................................................................................... 29

Figura 7. Vista geral da linha de espécies vegetais alóctones. .............................................................. 29

Figura 8. Interior da mata secundária (mata 1). .................................................................................... 29

Figura 9. Vista geral das espécies vegetais alóctones. .......................................................................... 30

Figura 10. Grupo de A. g. clamitans observado neste estudo................................................................ 31

Figura 11: Total de horas mensais de observação do grupo de estudo. ................................................ 36

Figura 12. Média das porcentagens de tempo em que o grupo de estudo alocou às diferentes atividades, durante as observações de fevereiro a setembro de 2008.................................................... 37

Figura 13. Proporção de tempo gasto nas diferentes categorias comportamentais durante as estações de verão, outono e inverno de 2008. .......................................................................................................... 40

Figura 14. Variação temporal média das principais atividades realizadas pelo grupo de bugios durante as estações de verão (4 dias), outono (7 dias) e inverno (7 dias) do ano de 2008................................. 42

Figura 15. Variação temporal da atividade descanso, durante as estações de verão (4 dias), outono (7 dias) e inverno (7 dias) do ano de 2008. ............................................................................................... 43

Figura 16. Variação temporal da atividade alimentação, durante as estações de verão, outono e inverno de 2008. ................................................................................................................................................. 45

Figura 17. Freqüência de consumo dos itens alimentares nas estações de verão, outono e inverno de 2008....................................................................................................................................................... 58

Figura 18. Número de espécies consumidas pelo grupo de A. g. clamitans em dias completos (mín. 8 horas), nos meses de estudo em 2008. .................................................................................................. 59

Figura 19. Porcentagem de consumo das diferentes espécies vegetais pelo grupo de estudo nas estações de verão (a), outono (b) e inverno (c) de 2008........................................................................ 61

Figura 20. Contribuição das espécies vegetais autóctones e alóctones na dieta do grupo de estudo, nas estações de verão, outono e inverno de 2008. ....................................................................................... 63

ix 

 

Figura 21. Contribuição das espécies vegetais alóctones na dieta do grupo de estudo, nas estações de verão (a), outono (b) e inverno (c) de 2008........................................................................................... 65

Figura 22. Uso cumulativo de quadrados pelo grupo de bugios, durante os dias amostrados por varredura instantânea, em Caxias do Sul, RS........................................................................................ 69

Figura 23. Imagem da área de estudo com a grade de quadrículas (25x25m). ..................................... 70

Figura 24. Uso do espaço pelo grupo de bugios antes do corte dos Pinus (a) e depois do corte (b), de janeiro a setembro de 2008.................................................................................................................... 71

Figura 25. Áreas nucleares de utilização (a) e sítios de pernoite (b) utilizados pelo grupo de bugios, de fevereiro a setembro de 2008. ............................................................................................................... 73

Figura 26. Uso de espécies vegetais autóctones e alóctones como sítio de pernoite pelo grupo focal nos meses de observação do ano de 2008.................................................................................................... 74

Figura 27. Uso do espaço no verão, outono e inverno de 2008............................................................. 78

 

RESUMO

A fragmentação dos hábitats e os efeitos de borda decorrentes, bem como a introdução de espécies alóctones alteram os ambientes florestais, exigindo da fauna adaptações e estratégias de sobrevivência. Desta forma, a flexibilidade alimentar e comportamental de um grupo de três bugios (Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940) em relação às espécies vegetais alóctones foi estudada em um fragmento de mata perturbada em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. O fragmento de estudo é uma mata secundária inserida no Bioma Floresta Ombrófila Mista, com alta regeneração de espécies alóctones. A matriz da paisagem é atividade agrícola. Este fragmento é conectado a uma linha de divisa de propriedades plantada com as espécies arbóreas alóctones Eucalyptus sp., Pinus spp., Hovenia dulcis, Quercus robur e Carya illinoensis. Aspectos do comportamento, dieta, área de vida e uso do espaço foram analisados durante oito meses, pelo método de varredura instantânea (quatro unidades amostrais/h) e esquadrinhamento com o auxílio de bússola e trena (25 x 25m). O grupo dedicou 73% do tempo ao descanso, 11% à locomoção, 12% à alimentação e 3% à atividades sociais. Os bugios consumiram 34 espécies vegetais, sendo nove alóctones. Três espécies foram identificadas exclusivamente pela análise de fezes. As folhas de lianas contribuíram com 24% da dieta, sendo 12,3% desta composta por folhas e frutos de H. dulcis, 8,6% por folhas e sementes de Araucaria angustifolia, 6,64% por flores de Pyrostegia venusta. Frutos e folhas de Eucalyptus sp. e Hovenia dulcis foram consumidos durante o período de observação, exceto em junho e janeiro, respectivamente. Outras espécies alóctones utilizadas foram: folhas de Pinus spp., frutos de Eryobotrya japonica, folhas e frutos de Q. robur, folhas e fruto de Ligustrum lucidum, frutos de Vitis americana e frutos de Diospyrus kaki. Dentre os itens alimentares consumidos, 64% foram folhas, 25% frutos, 8,7% flores e 1,7% sementes. Ao todo, 63% da dieta do grupo foi composta por espécies autóctones e 37% alóctones. A área de vida total do grupo foi 3,25 ha, sendo usados 0,73 ha no verão, 0,92 ha no outono e 1,04 ha no inverno. Quando uma parte da área de vida do grupo (a plantação de Pinus sp.) foi suprimida, os animais passaram a utilizar mais a área de mata, aumentando sua área de uso de 1,8 ha para 2,5 ha. O grupo de estudo demonstrou alta flexibilidade alimentar e comportamental através da incorporação de espécies alóctones à dieta, aumento o tempo dedicado ao descanso e ajuste da área de vida ao território do grupo vizinho. Além disso, o grupo focal foi capaz de se ajustar à perda de parte de sua área de vida, causada pelo ser humano.

Palavras-chave: Alouatta guariba clamitans; comportamento alimentar; flexibilidade; espécies alóctones; área de vida.

xi 

 

ABSTRACT

The habitat fragmentation and the decurrent edge effects in addition to exotic species introduction, modify the forest habitat demanding adaptations and strategies to wildlife survival. Thus, the alimentary and behavioral flexibility of a three howler monkey group (Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940) in relation to exotic tree species was studied in a disturbed fragment forest at Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Brazil. The fragment is a secondary formation in the atlantic rain forest, with a high level of exotic species occupation. The landscape matrix is agriculture. The fragment is connected to a narrow line of exotic tree Eucalyptus sp., Pinus spp., Hovenia dulcis, Quercus robur and Carya illinoensis that divides two properties. Aspects of behavior, diet, home range and space use were investigated during eight months, through method of “scan sampling” (four units sampling/hour) and grid cell method using a compass and a tape measure (25 x 25m). The group dedicated 73% of time to resting, 11% to moving, 12% to feeding and 3% in social activities. The howlers consumed 34 plant species, nine exotic species and three species exclusively registered in feces content analysis. The leaves of lianas were 24% of the howler’s diet, H. dulcis leaves and fruits were 12.3%; Araucaria angustifolia leaves and seed were 8.6% and Pyrostegia venusta flowers werw 6.64%. Fruits and leaves of Eucalyptus sp. and H. dulcis were consumed in all months, except in June and January. Others exotic species consumed were: Pinus spp (leaves)., Eryobotrya japonica (fruits), Q. robur (leaves and fruits), Ligustrum lucidum (leaves and fruits), Vitis americana (fruits) and Diospyrus kaki (fruits). In relation to the diet compounds, 64% was leaves, 25% fruits, 8.7% flowers and 1.7% seed. The native species were 63% of diet against 37% exotic. The home range was 3.25 ha, with 0.73 ha in the summer, 0.92 ha in the autumn and 1.04 ha in the winter. When a part o home range with Pinus spp. was cutted away the animals change its use patterns. The area was from 1.8 to 2.5 ha and the upgrade was due to native forest incorporated. The howler’s group presents a dietary and ethological flexibility, using alien species to feed, enlargement the resting time, fitting its home range to the other group and supporting the cut of its home range.

Key-words: Alouatta guariba clamitans; alimentary behaviour; flexibility; exotic species; home range.

12 

 

1. INTRODUÇÃO

A silvicultura com as espécies alóctones dos gêneros Pinus e Eucalyptus é uma

atividade econômica comum e crescente no estado do Rio Grande do Sul, e é muito

questionada quanto aos impactos que traz aos ecossistemas. Com a utilização das terras para

silvicultura e agricultura, as atividades humanas têm causado diversas mudanças na paisagem,

diminuindo a quantidade e qualidade de hábitats disponíveis para muitas espécies.

Além disso, fragmentação de hábitat e o efeito de borda decorrente, a perda da

paisagem original e a introdução de espécies alóctones alteram os ambientes florestais,

exigindo da fauna adaptações e estratégias de sobrevivência. Tais alterações podem ter efeitos

sobre o padrão de movimento e comportamento dos animais dentro do seu ambiente natural,

efeitos estes ainda não bem compreendidos.

Várias espécies de primatas do gênero Alouatta (Primates, Atelidae) conhecidos como

bugio, guariba, barbado, macaco-uivador, têm sido amplamente estudadas no Brasil,

Argentina e América Central em seu hábitat natural. Entretanto, diante de tantas mudanças

nos ambientes destes primatas, se torna necessário conhecer as estratégias comportamentais e

alimentares que estes animais desenvolveram para persistir em ambientes alterados. Tais

estudos são importantes, frente à necessidade de conservação e manejo das populações,

principalmente fora de unidades de conservação.

Pesquisas vêm reportando que Alouatta é tolerante à fragmentação do hábitat e se sabe

que o bugio-ruivo Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940 pode viver em pequenos

fragmentos de mata e em locais com alta pressão antrópica, como ocorre com os bugios que

habitam a zona rural de Porto Alegre. Entretanto, ainda há poucos estudos destes animais nos

demais municípios do Estado e, principalmente, em áreas alteradas, nas quais foram

introduzidas espécies arbóreas alóctones ou exóticas.

13 

 

Dados sobre a influência que as espécies alóctones exercem sobre a dieta, os

orçamentos diários de atividades e área de vida destes animais são importantes para a

compreensão do quão tolerante estes primatas são às alterações do hábitat e podem ter

implicações diretas para o manejo da espécie.

Além da carência de estudos sobre as adaptações do A. g. clamitans às crescentes

alterações ambientais, o bugio-ruivo está citado na lista de espécies vulneráveis à extinção do

Estado do Rio Grande do Sul, havendo poucas pesquisas da espécie em Floresta Ombrófila

Mista.

Desta forma, o objetivo deste trabalho é avaliar a flexibilidade alimentar e

comportamental de um grupo de bugio-ruivo Alouatta guariba clamitans, em relação à

utilização de espécies vegetais alóctones para alimentação e descanso, num fragmento de

mata perturbada no município de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil.

14 

 

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Gênero Alouatta Lacépède, 1799 (Primates, Atelidae)

Entre as espécies de primatas ameaçadas de extinção, encontram-se os animais do

gênero Alouatta Lacépède, 1799, conhecidos vulgarmente como bugios, roncadores, guaribas

ou barbados. Pertencente à família Atelidae, o gênero atualmente é composto por nove

espécies, das quais seis ocorrem no Brasil (Rylands et al., 2000): A. seniculus (Linnaeus,

1766), A. belzebul (Linnaeus, 1766), A. guariba (Humboldt, 1812), A. caraya (Humboldt,

1812), Alouatta nigerrima Lonnberg, 1941; Alouatta sara Elliot, 1910.

A grande amplitude de distribuição geográfica do gênero, a maior dentre os primatas

neotropicais, desde o Estado de Vera Cruz no México até o Estado do Rio Grande do Sul no

Brasil, passando pela Província de Corrientes na Argentina é decorrente da ocupação de

hábitats de características tão distintas quanto florestas tropicais de terra firme, florestas

inundadas, florestas decíduas, florestas de galeria, cerrado, floresta com araucárias, florestas

de altitude, além de florestas secundárias, fragmentadas e alteradas (Neville et al., 1988;

Printes et al., 2001; Bicca-Marques, 2003).

O Alouatta guariba (Humboldt, 1812) é endêmico da Mata Atlântica e pode ser

encontrado em florestas costeiras do sudeste do Brasil, desde o Estado da Bahia até o Rio

Grande do Sul e em Missiones na Argentina. Esse território é subdividido pela ocupação de

duas subespécies: encontrando-se o A. guariba guariba (Humboldt, 1812) na Bahia até o

Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro, além de algumas áreas de Minas Gerais. A outra

subespécie, Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940, ocorre desde o Espírito Santo até a

bacia do rio Camaquã no Rio Grande do Sul e no nordeste da Argentina (Hirsch et al., 1991;

Rylands et al., 2000; Printes et al., 2001).

15 

 

No Estado do Rio Grande do Sul, ocorrem A. guariba clamitans (bugio-ruivo) e A.

caraya (bugio-preto), além de Cebus nigritus nigritus (Marques, 2003). A. caraya ocorre nos

enclaves florestais do bioma pampa, A. g. clamitans ocupa a floresta ombrófila densa, a

floresta ombrófila mista e a floresta estacional semi-decídua, enquanto Cebus nigritus tende a

acompanhar a distribuição geográfica da floresta ombrófila mista densa e as florestas do Alto

Uruguai.

Alouatta possui várias adaptações diferentes dos outros gêneros da família, como

corpo maciço com longa pelagem (7 cm) que se avoluma na mandíbula e lados da face,

formando grande barba. Sob a barba se oculta o osso hióide que se transformou em caixa de

ressonância para sua potente voz, sendo maior o osso nos machos, chegando a possuir um

volume interno de 50 cm2. Devido ao aparato hióidico, a vocalização é muito desenvolvida e

característica, sendo o “rugido” ouvido a quilômetros de distância e emitido em encontros

intergrupais (Carpenter, 1934; Chivers, 1969 apud Auricchio, 1995) e na manutenção do

espaçamento entre os grupos (Carpenter, 1934; Altmann, 1959).

As espécies do gênero Alouatta são de hábito diurno e geralmente vivem em grupos

coesos multi-machos e fêmeas, com 3 a 13 animais (Mendes, 1989, Marques, 2001), onde

normalmente contém de 1 a 4 machos adultos com uma proporção sexual de 1 macho: 2-4

fêmeas (Sussman, 2000). São animais arborícolas, preferindo os estratos médio e superior da

floresta, onde permanecem em repouso a maior parte do dia (Carpenter, 1934, Milton, 1980,

Mendes, 1985).

Alouatta consome uma alta proporção de folhas na dieta (Milton, 1980; Chapman,

1987; Neville et al., 1988; Bonvicino, 1989; Mendes, 1989; Chiarello, 1994; Bicca-Marques

& Calegaro-Marques, 1994; Valle et al., 2001; Fuentes et al., 2003; Aguiar et al., 2003;

Miranda & Passos, 2004) sendo este considerado o mais folívoro entre os primatas

16 

 

neotropicais (Carpenter, 1934; Eisenberg et al., 1972; Jolly, 1985 apud Jardim 2005; Queiroz,

1995).

No entanto, foi observado um consumo maior de frutos em períodos ou locais de

maior disponibilidade deste recurso (Altmann, 1959; Hladik & Hladik, 1969; Milton, 1980;

Bonvicino, 1989; Queiroz, 1995; Jardim, 1997; Estrada et al., 1999; Fialho, 2000), sendo

considerada uma espécie bastante oportunista (Chiarello, 1992), consumindo também flores,

pecíolos, brotos, sementes, caules e ramos. Em função disto, os bugios são melhor

caracterizados como folívoro-frugívoros (Crockett & Eisenberg, 1987 apud Jardim, 2005).

As folhas não constituem boas fontes energéticas (Milton, 1980), além de serem ricas

em compostos de difícil digestão, alcalóides, celulose, lignina, taninos, dentre outros (Garber,

1987). Insetos são eventualmente consumidos por Alouatta (Milton, 1980; Chitolina &

Sander, 1981; Mendes, 1989).

O gênero possui algumas adaptações morfológicas associadas à folivoria, como o

alargamento do ceco e cólon e fermentação pós-gástrica (Queiroz, 1995). Por estes animais

não apresentarem adaptações morfo-fisiológicas tão acentuadas quanto os colobíneos, são

mais apropriadamente denominados folívoros comportamentais (Milton, 1978), sendo a pouca

energia obtida pelo alimento compensada por estratégias comportamentais de conservação de

energia (Milton, 1979).

Algumas estratégias usadas são a alta seletividade na alimentação, preferência por

folhas novas, limitação no percurso diário (Milton, 1978) e grande proporção do tempo do dia

utilizado em descanso (mais de 50% durante o dia) (Glander, 1975; Smith, 1977; Milton,

1978; Nagy & Milton, 1979; Milton et al., 1980; Chiarello, 1994). Glander (1975) acredita

que o maior tempo dedicado ao descanso é necessário para a desintoxicação dos compostos

17 

 

secundários resultantes de uma dieta mais seletiva, capacitando-os a sobreviver com uma

dieta relativamente de baixa qualidade (Milton, 1978).

Os bugios respondem à dispersão espacial e temporal de fontes de alimentos

(principalmente frutos) através da movimentação de distâncias variadas, para encontrar o

indivíduo de uma espécie freqüentemente utilizada durante o ano (Estrada e Coates-Estrada,

1986; Limeira, 2000; Lunardelli, 2000). Entre as espécies de Alouatta, diferentes padrões são

observados em resposta a períodos de menor disponibilidade de recursos, desde reduções no

tamanho da área de uso e no comprimento dos deslocamentos para minimizar gastos

energéticos (Milton, 1980; Mendes, 1989; Queiroz, 1995; Marques, 1996) a expansões da

área e dos percursos em busca dos recursos alimentares importantes (Bonvicino, 1989;

Limeira, 1996).

O tamanho da área de vida de primatas é correlacionado positivamente com a massa

corporal, tamanho do grupo e tamanho do fragmento florestal e de forma negativa à proporção

de folhas na dieta e à densidade populacional (Milton & May, 1976; Clutton-Brock & Harvey,

1977; Crockett & Eisenberg, 1987; Steinmetz, 2001; Bicca-Marques, 2003).

É sugerido que em casos de alta densidade os grupos tenham duas opções: ou

restringem o tamanho da área de vida ou aumentam a taxa de sobreposição de área com

grupos adjacentes (Jardim, 2005). O tamanho das áreas de uso ocupadas pelos grupos é

bastante variável entre as espécies, desde 0,3 ha observado para A. caraya (Bicca-Marques,

1990) a 182 ha para A. seniculus (Palacios & Rodriguez, 2001).

2.2. O bugio-ruivo Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940

Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940, são primatas neotropicais endêmicos da

Floresta Atlântica lato sensu ocupando várias fisionomias florestais como a Floresta Atlântica

18 

 

sensu strictu, a Floresta com Araucária e a Floresta Estacional Semidecidual (Ihering, 1914;

Cabrera, 1957; Hirsch et al., 1991; Chiarello & Galetti, 1994; Auricchio, 1995).

A despeito de sua ampla distribuição geográfica a espécie é enquadrada na categoria

vulnerável nas listas oficiais de fauna ameaçada dos estados de Minas Gerais (Machado et al.,

1998), São Paulo (São Paulo, 1998), Paraná (Tossulino et al., 1995) e Rio Grande do Sul

(Marques, 2003). Em escala global aparece listada na categoria "quase ameaçada" (Near

threatened-NT) (IUCN, 2007). As principais ameaças são a acelerada destruição da Mata

Atlântica, a caça e o comércio ilegal.

Gregorin (2006) realizou uma revisão taxonômica para o gênero Alouatta, variação

geográfica e não-geográfica dos diferentes táxons de bugios que ocorrem no Brasil, propondo

a denominação Alouatta clamitans. Entretanto, no presente trabalho optou-se por se referir à

subspécie, visto que ainda há contradições por parte dos especialistas.

Em A. g. clamitans há um acentuado dicromatismo sexual na coloração da pelagem,

onde as fêmeas adultas e os indivíduos imaturos são geralmente castanhos escuros e os

machos adultos apresentam-se ruivos, vermelhos ou alaranjados em devido a liberação de um

pigmento por glândulas apócrinas (Ihering, 1914; Hirano et al., 2003). As fêmeas pesam cerca

de 4,1 a 5Kg e os machos em torno de 5,3 a 7,2Kg (Rowe, 1996).

São encontrados em florestas em regeneração e áreas próximas a centros urbanos,

sendo em alguns locais a única espécie de primata presente. Esta ampla variedade de hábitats

reflete a sua capacidade de adaptação a diferentes condições ecológicas. Esta flexibilização

comportamental é associada à base de alimentação folívora, item menos sazonal, à habilidade

de mudanças nas estratégias de forrageamento, ao uso diferencial da área de vida e à

capacidade de viver com grupos de tamanho reduzido (Schwarzkopf & Rylands, 1989; Gilbert

& Setz, 2001; Bicca-Marques, 2003).

19 

 

Estudos constataram que os bugios-ruivos são seletivos em sua dieta, apresentam

baixa freqüência de interações sociais e orçamentos temporais de atividades diárias que se

mantém relativamente estáveis independente das variações entre os hábitats (Chitolina &

Sander, 1981; Prates et al., 1990 a,b; Jardim, 1992; Cunha, 1994; Marques, 1996, 2001;

Fortes, 1999; Oliveira, 2000; Sammarco, 2000; Fialho, 2000; Buss, 2001; Jerusalinsky, 2001;

Silveira & Codennotti, 2001; Liesenfeld, 2003; Koch, 2004; Jardim, 2005). Os principais

ajustes se referem às adaptações ao clima, como posturas corporais e adequação dos horários

das atividades em relação ao fotoperíodo e temperaturas extremas (Jardim & Oliveira, 2000;

Marques, 2001) e às características do ambiente como abundância de recursos alimentares,

densidade populacional e tamanho do fragmento (Bicca-Marques & Calegaro-Marques,

1994).

As estratégias de forrageamento e a composição da dieta parecem ser flexibilizadas de

acordo com a disponibilidade e disposição espacial dos itens alimentares, variando o grau de

folivoria e a forma de utilização do espaço (Chiarello & Galetti, 1994; Juan et al., 2000;

Zunino et al., 2001; Bicca-Marques, 2003; Bravo & Sallenave, 2003). Os grupos possuem de

dois a 13 indivíduos, com áreas de uso que variam de 2,4 ha (Jardim, 2005) a 41 ha

(Steimmetz, 2000). Normalmente forrageiam e descansam juntos, mas ocasionalmente

formam subgrupos para estas atividades.

2.3. Dieta

A dieta dos bugios é baseada em itens fáceis de encontrar e consumir, porém dificeis

de ingerir (Chiarello, 1994). Geralmente poucas espécies vegetais constituem a base da dieta

dos bugios, enquanto que um grande número de espécies é consumido em proporções muito

reduzidas (Hladik & Hladik, 1969; Smith, 1977; Glander, 1978; Milton, 1980; Chapman,

1988), e esta diversidade está associada a uma forma de balanceamento para satisfazerem suas

necessidades metabólicas (Milton, 1979, Milton et al., 1981; Nagy & Milton, 1979).

20 

 

Pesquisas realizadas sobre o teor nutritivo e tóxico da dieta mostraram que folhas são

um ítem rico em proteína, principalmente as folhas jovens, e os frutos contêm alto teor de

energia prontamente assimilável (Smith, 1977; Milton, 1980 apud Martins, 1997). Desta

forma, a seletividade também ocorre em termos de itens. Há evidências claras de que os

bugios preferem os itens sazonais (folhas jovens, flores e frutos) aos perenes, como por

exemplo, as folhas maduras (Smith, 1977; Glander, 1978; Milton, 1980). Esta preferência se

justifica pelo melhor valor nutritivo dos itens sazonais (Milton, 1979; Glander, 1978).

Em estudos realizados em Mata de Araucária no Paraná e no Rio Grande do Sul, A. g.

clamitans utilizou cerca de 30 espécies para alimentação. As famílias mais consumidas foram:

Lauraceae, Flacourtiaceae, Myrtaceae, Sapindaceae e Compositae. As espécies que mostraram

maior importância na dieta do bugio-ruivo foram: Araucaria angustifolia, Gochnatia

polymorpha, Matayba elaeagnoides, Mimosa scabrella, Ocotea porosa, O. odorifera, O.

puberulla, O. pulchella e Zanthoxylum rhoifolium (Jardim & Oliveira, 2000; Miranda &

Passos, 2004).

Os bugios são conhecidos por apresentarem uma dieta altamente eclética e adaptável

às condiçoes ambientais (Bicca-Marques & Calegaro-Marques, 1994; Crockett, 1988 apud

Bicca-Marques et al., 2006), podendo incluir espécies exóticas na dieta (Bicca-Marques &

Calegaro-Marques, 1994; Miranda, 2004; Prates, 2007).

2.4. Alouatta em ambientes fragmentados

A fragmentação de hábitats é uma das maiores ameaças à diversidade biológica. Um

dos maiores desafios da biologia da conservação atualmente é o estudo detalhado da

fragmentação e dos efeitos da mesma sobre a biodiversidade (Soulé & Kohn, 1989 apud

Martins, 1997).

21 

 

Extensas áreas de florestas tropicais vêm sofrendo ações antrópicas em um acelerado

processo de destruição. Em muitos casos são formados fragmentos imersos em áreas agora

ocupadas por agricultura, pastagem ou outras atividades de cunho econômico (Chiarello,

2000; Seoane et al., 2000 apud Carvalho, 2007).

A principal causa do declínio das populações de bugios é a fragmentação de hábitats

(Mittermeier et al., 1982; Mittermeier et al., 1989 apud Miranda, 2004.) Por apresentar um

hábito arborícola, os bugios encontram uma certa dificuldade para atravessar, pelo solo,

médias e grandes distâncias que separam fragmentos florestais. Este fato pode desencadear

dois problemas principais para a conservação da espécie: impossibilidade de recolonizar

fragmentos e ausência de fluxo gênico entre populações (Chiarello & Galetti, 1994;

Steinmetz, 2001)

Desta forma, os primatas são espécies indicadoras importantes, devido a seus hábitat e

dieta especializados e, por isso, podem ser usados como ferramentas para análise da extensão

dos distúrbios ecológicos, principalmente da fragmentação ambiental (Strier, 2000).

Entretanto, na ausência de uma forte pressão de caça, as espécies de Alouatta podem existir

em fragmentos de mata, hábitats perturbados e próximos a populações humanas (Crockett,

1998).

Segundo Bicca-Marques (2003) a fragmentação resulta na diminuição da área de vida,

especialmente em pequenos fragmentos onde os animais são incapazes de aumentar sua área

de atividade devido aos limites da floresta. Spironello (2001) considera a área de vida um

fator determinante no efeito da fragmentação em primatas, que possibilita as análises de

requerimentos de áreas para futuras iniciativas de conservação em fragmentos florestais.

Bicca-Marques (op. cit.), a partir de uma revisão do gênero em ambientes

fragmentados, apresentou dados referentes à grande adaptabilidade destes animais em viver

22 

 

nesses ambientes, sendo estratégicos para sua adaptação a dieta eclética, que pode incluir

espécies exóticas, e a folivoria, as quais permitem que grupos sociais de bugios sobrevivam

em fragmentos com dimensões muito reduzidas.

Miranda & Passos (2004) observaram o consumo de frutas e plantas exóticas ao

ambiente de Floresta Ombrófila Mista por A. g. clamitans, tais como Eryobothria japonica

(Thunb.) Lindl. (ameixa-amarela) e Diospyrus kaki L.F. (caqui), mostrando uma boa

capacidade deste primata em se adaptar a ambientes moderadamente alterados.

Um grupo de bugios-preto (A. caraya) estudado em Alegrete, Rio Grande do Sul,

utilizou como fonte de alimento nove espécies vegetais nativas e cinco espécies exóticas,

sendo Citrus cinensis a principal fonte de frutos (25,6% da dieta) (Prates, 2007).

Algumas populações do gênero Cebus (macaco-prego) conseguem utilizar-se de fontes

alimentares provenientes do meio antrópico, tal como pomares e monoculturas, dentre estas:

milho, cana-de-açúcar, mandioca e Pinus (Galetti & Pedroni, 1994; Koehler & Firkowski,

1996; Rocha, 2000; Siemers, 2000; Defler, 2004; Rocha-Mendes et al., 2005; Ludwig et al.,

2005; Ludwig et al., 2006; Carvalho, 2007). Estudos com grupos de Callithrix penicillata no

Cerrado, também relatam a inclusão de frutos de espécies exóticas na dieta dos animais

(Miranda, 1997; Vilela & Faria, 2002).

Todavia, a despeito de sua capacidade de sobreviver em fragmentos bastante

reduzidos, os bugios são mais vulneráveis nestas áreas à caça, doenças, predação, escassez de

recursos alimentares e depressão por endocruzamento. Em hábitats fragmentados as

populações de A. pigra existem em densidades particularmente altas e o número de machos

adultos nos grupos é significativamente mais baixo que em populações em hábitat contínuo

(Van Belle & Estrada, 2005).

23 

 

A sobrevivência de primatas em florestas é determinada por variáveis complexas

como composição florística, níveis de conservação ou grau de perturbação, incluindo o

tamanho dos fragmentos, isolamento e tamanho das áreas de vida das espécies, entre outras.

Desta forma, informações precisas sobre a qualidade, composição florística e a estrutura

destas florestas são importantes para compreender a biologia dos primatas que ali vivem,

assim como subsidiar estratégias para a sua conservação, tais como programas de translocação

e reintrodução de espécies (Lemos de Sá & Strier, 1992). Recentemente, foram realizadas

translocações de A. caraya com sucesso no Brasil, devido ao melhor entendimento da biologia

da espécie (Printes & Malta, 2007; Perin, 2008).

Estudos realizados em paisagens heterogêneas contendo agroecossistemas arbóreos e

fragmentos de vegetação nativa no México, Guatemala e Costa Rica demonstraram que cinco

espécies de primatas podem residir temporária ou permanentemente em um conjunto de 15

agroecossistemas (Estrada, 2007). A presença e as atividades de alimentação dos primatas

podem beneficiar estes ambientes através da aceleração da produtividade primária, da

facilitação da regeneração natural de suas fontes e frutos e da adição de importantes

quantidades de nutrientes no solo pela dispersão de suas fezes (Estrada, op. cit.).

Na Costa Rica e Nicarágua, A. palliata tem sido encontrado em plantações de café

(McCann et al., 2003; Somarriba et al., 2004), e em Los Tuxtlas, México, A. palliata e Ateles

geoffroyi exploram plantações de cacau e café (Estrada & Coates-Estrada, 1996).

Desta forma, a realização de estudos em diferentes hábitats é a única forma de se

compreender e delimitar a amplitude da variabilidade adaptativa de uma espécie (Estrada,

1984). Apesar de A. g. clamitans ser relativamente bem estudado (Bicca-Marques, 2003),

dados sobre sua ecologia em ambiente de Floresta Ombrófila Mista (Miranda, 2004) e em

ambientes alterados ainda são escassos.

24 

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Área de estudo

O presente estudo foi desenvolvido na área da FEPAGRO AGROINDÚSTRIA -

Centro de Pesquisa em Agropecuária da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária, no

distrito de Fazenda Souza, à 25 km do centro de Caxias do Sul, localizada na Encosta

Superior do Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, nas coordenadas UTM SAD69 (22 J)

501100/ 6778400 (Figuras 1 e 2).

O clima da região, segundo a classificação de Köppen-Geiger, é do tipo "Cfb"

(mesotérmico sempre úmido com verões brandos) e apresenta inverno com geadas freqüentes.

A temperatura do mês mais quente inferior a 22°C e a do mês mais frio superior a 3°C.

Apresenta quatro estações bem definidas, com chuvas durante todos os meses do ano, tendo

uma precipitação anual média de 1.915mm. As precipitações são regularmente distribuídas

durante o ano. A altitude da área de estudo é de aproximadamente 760 m.

Brasil

RS

Caxias do Sul

FEPAGRO

Figura 1: Localização da área de estudo no município de Caxias do Sul, no estado do Rio

Grande do Sul e no Brasil.

 

25 

Caxias do Sul (RS)

-102030405060708090

100110120

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

T (°C)

020406080100120140160180200220240

P (mm)

Precipitação Temperatura média

Figura 2. Média das temperaturas médias e da precipitação de Caxias do Sul dos últimos 10 anos.

0

5

10

15

20

25

30

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set

Meses

Tem

pera

tura

(C)

temperatura média máxima temperatura média mínima

Figura 3. Temperatura média máxima e mínima de Caxias do Sul de janeiro a setembro de 2008.

020406080

100120140160180

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set

Meses

Prec

ipita

ção

(mm

)

Figura 4. Precipitação de Caxias no Sul de janeiro a setembro de 2008.

 

26 

 

A vegetação é Floresta Ombrófila Mista e o fragmento de estudo (mata 1) é uma mata

secundária em estágio avançado de regeneração, com 10,21 ha (Figuras 5 e 8), com

regeneração no sub-bosque e grande presença de lianas.

Algumas espécies florestais presentes na área são: Allophylus edulis, Allophilus

guaraniticus, Araucaria angustifolia, Casearia decandra, Cupania vernalis, Dasyphyllum

tomentosum, Ilex paraguaensis, Lithraea brasiliensis, Matayba elaeagnoides, Mimosa

scabrela, Myrciaria delicatula, Nectandra sp., Ocotea spp., Parapiptadenia rigida,

Piptocarpha angustifolia, Rapanea ferruginea, Roupala brasiliensis, Syagrus romanzoffiana,

Vitex megapotamica, Zanthoxylum rhoinfolium, além da presença de espécies alóctones como

Eriobotrya japonica, Ligustrum lucidum e Hovenia dulcis. A matriz da paisagem se

caracteriza pela presença de solo modificado pela atividade agrícola, com plantios de maçã,

pêra, ameixa, uva, caqui, kiwi, entre outros.

No interior da mata é freqüente o ruído originado pelos habitantes do entorno e de seus

animais domésticos, como cães e galinhas, bem como tratores e veículos que passam nas

estradas dentro e no entorno da propriedade.

O fragmento de mata é conectado à nordeste a um fragmento maior de 16,7 ha (mata

2). Conectado ao fragmento menor há uma linha de divisa de propriedades (Figuras 5 e 7) de

1,4 ha plantada com espécies alóctones, tais como Eucalyptus sp., Pinus taeda, Pinus elliottii,

Hovenia dulcis, Quercus robur e Carya illinoensis.

Na mata 1, é freqüente a observação de indivíduos de Dasyprocta azarae e de Sciurus

ingrami. Foram observados também no local Coendou prehensilis, Lepus europaeus, rastros

de Procyon cancrivorus e Cerdocyon thous. Na avifauna, destacam-se algumas espécies mais

comumente avistadas: Colaptes campestris, Cyanocorax caeruleus, Leptotila verreauxi,

27 

 

Penelope obscura, Piaya cayana, Picumnus spp., Ramphastos dicollorus, Rupornis

magnirostris, Theristicus caudatus, Trogon sp. e dendrocolaptídeos.

Foram avistados bugios em ambas as áreas de mata, possuindo três grupos na mata 1.

O grupo estudado neste trabalho foi observado utilizando a mata secundária (mata 1) e a área

plantada com as espécies vegetais alóctones, sendo mais comumente avistado no segundo

local (Figura 5), durante o início do estudo.

28 

Linha de espécies alóctones: 1,4 ha

Mata 1: 10,21ha Mata 2: 16,7 ha

Pomares

Sede da FEPAGRO

Figura 5. Imagem da área de estudo.

 

29 

Figura 6. Vista geral da área de estudo, mostrando a mata secundária (mata 1) no centro da

imagem e à direita a linha com espécies vegetais alóctones.  

 

Figura 7. Vista geral da linha de espécies vegetais alóctones.

Figura 8. Interior da mata secundária (mata 1).

 

30 

Figura 9. Vista geral das espécies vegetais alóctones.

3.2. Coleta de dados

3.2.1. Definição do grupo focal

O reconhecimento e a seleção do grupo (Figura 10) foram realizados no período de

janeiro a fevereiro de 2008, considerado como etapa piloto.

O grupo foi definido e identificado conforme a composição sexo-etária dos indivíduos

(Mendes, 1989) e sua localização, sendo este composto por três indivíduos: juvenil II macho

(indivíduo completamente independente e de tamanho maior que infantes e menor que fêmeas

adultas), fêmea adulta (coloração escura, variando de preto ao castanho avermelhado,

genitália descoberta de forma triangular ou levemente arredondada quando vista de um ângulo

ventro-posterior) e um macho adulto (nitidamente maior que fêmeas adultas, barba longa,

pelagem bem densa, cuja coloração que pode variar do vermelho acastanhado, passando pelo

ruivo até o alaranjado, e com o saco escrotal bem desenvolvido e à mostra).

 

31 

Figura 10. Grupo de A. g. clamitans observado neste estudo.

As saídas para coleta de dados foram realizadas mensalmente, exceto no mês de junho,

devido à chuva. O grupo foi acompanhado durante quatro dias na estação de verão (fevereiro

e março), sete dias no outono (abril, maio, junho) e sete dias no inverno (agosto e setembro),

durante o ano de 2008. As observações do grupo ocorreram desde o inicio da atividade dos

animais - em torno das 7:00 - até o anoitecer – após as 18:00 - somando em média 11h/dia.

3.2.2. Análise comportamental

A habituação do grupo foi realizada durante os meses de janeiro e fevereiro de 2008

(Williamson & Feistner, 2003), registrando-se os principais comportamentos através da

amostragem ad libitum.

O método de registro adotado para a análise comportamental foi o de varredura

instantânea (“scan sampling method”) (Altmann, 1959; Altmann, 1974; Setz & De Hoyos,

1985; Cullen Jr. & Valladares-Padua, 1997; Fortes & Bicca-Marques, 2005), com cinco

minutos de período amostral (PA) e dez minutos de período de intervalo (PI) (= quatro  

32 

 

unidades amostrais/hora). As observações foram realizadas com o auxílio de um binóculo

10x50mm. Em dias chuvosos não foram realizadas observações devido a dificuldade de

acompanhamento dos animais e visualização.

A forma de anotação dos registros foi pontual, com amostragem não instantânea (Setz,

1991), que consiste no registro da primeira atividade de cada individuo, com duração de pelo

menos 5 s. Em cada registro foi anotado o horário, atividade desempenhada pelos animais e a

espécie utilizada.

Os dados sobre comportamento foram utilizados para obtenção do orçamento de

atividades (Clutton-Brock, 1977). Os dados obtidos foram agrupados por quantidade de

indivíduos do grupo que estavam fazendo determinada atividade em determinado tempo.

A equação abaixo foi utilizada para o cálculo da porcentagem de determinada

atividade (Cullen Jr. & Valladares-Padua, 1997).

Proporção de tempo gasto da atividade Y

% Y = nº total de observações da atividade Y x 100

nº total de observações de todas as atividades

A seguir, os dados de comportamento foram separados por horas do dia, para

construção dos gráficos de orçamento diário.

Do etograma da espécie, já consagrado na literatura, foram escolhidos alguns

comportamentos para observação, de acordo com os objetivos do projeto (Damerose &

Hopkins, 2002; Albuquerque & Codenotti, 2006). Tais comportamentos são apresentados na

Tabela 1.

33 

 

Tabela 1. Descrição dos comportamentos presentes no etograma.

COMPORTAMENTO DESCRIÇÃO

Descanso Quando o animal está parado por mais de 5 segundos, em postura neutra,

dormindo ou não, mas sem estar envolvido em atividades sociais ou em

alimentação.

Locomoção Qualquer deslocamento do animal, na horizontal ou na vertical, por curtas ou

longas distâncias.

Social Envolve os comportamentos de catação, brincadeira, comportamentos

sexuais e vocalização.

Alimentação Quando o animal está selecionando, mastigando, segurando e/ou ingerindo

itens alimentares.

3.2.3. Análise da dieta

Para avaliação da freqüência com que diferentes alimentos são ingeridos (Struhsaker,

1975; Oates, 1977), durante a coleta de dados pelo método de varredura instantânea, nas

atividades referentes à alimentação, foi anotado o item alimentar (folha, fruto, flor, semente)

consumido pelo indivíduo e as espécies foram identificadas. Quando as espécies não foram

reconhecidas no campo, as árvores utilizadas foram marcadas com fichas plásticas para

posterior identificação da espécie, com o auxílio de floras, monografias, artigos, exsicatas do

herbário da Universidade de Caxias do Sul e especialistas. Outro procedimento para estudo

qualitativo da dieta foi a análise do conteúdo fecal, que consistiu na identificação de sementes

presentes nas fezes coletadas.

Foi utilizada a equação abaixo, para cálculo da porcentagem de utilização de uma

espécie ou item alimentar na dieta (Cullen Jr. & Valladares-Padua, 1997).

34 

 

Composição alimentar

% espécie ou item A = nº total da espécie ou item A x 100

nº total de todas as espécies

utilizadas ou dos itens consumidos

No mês de janeiro foram coletados dados através da análise fecal e por observações ad

libitum (Altmann, 1974). Uma lista com as espécies vegetais consumidas pelo grupo foi

elaborada a partir dos dados coletados (análise qualitativa). Dados obtidos dentro da

metodologia de varredura fizeram parte das análises de freqüência de consumo de cada

espécie. Para cálculo do índice de diversidade da dieta foi usado o índice de Shannon-Wiener

(Shannon, 1948), introduzido na ecologia por Pielou (1975).

Para cada estação foram analisados as porcentagens e os índices de diversidade da

dieta para os itens consumidos e para as espécies utilizadas, bem como da contribuição das

espécies vegetais autóctones e alóctones na dieta (análises quantitativas).

3.2.4. Determinação da área de vida e uso do espaço

A área de vida (“home range”) do grupo de estudo foi determinada pelo método de

esquadrinhamento da área. Este método foi escolhido devido a melhor acurácia nos resultados

(Jardim, 2005; Ludwig, 2006). Para isso, a área foi percorrida com bússola e trena, em

transecções de sul a norte, marcando-se pontos a intervalos de 25 m com estacas de madeira.

Esses pontos marcados foram unidos por transecções de leste a oeste, formando uma retícula

de quadrantes de 25 m de lado.

Um mapa da área de estudo foi confeccionado a partir das imagens obtidas pelo

Google Earth, utilizando os softwares ArcView 3.2 e ENVI® 4.5. As imagens foram geo-

referenciadas e foi plotada sobre elas uma grade de quadrados de 25 x 25m. Os fragmentos

foram vetorizados em Arc View para obtenção das áreas de mata.

35 

Todos os quadrados onde passou pelo menos uma rota foram considerados parte da

área de vida dos bugios. Para as análises de área de vida por estação do ano foram

considerados somente os registros obtidos pelo método de varredura instantânea.

O uso do espaço é a forma pelo qual os animais se utilizam do ambiente, tanto em

termos horizontais quanto verticais em sua área de vida (Miranda, 2004). Para análise do uso

do espaço horizontal, durante a varredura instantânea foi anotada a quadrícula em que o grupo

se encontrava, e, então, calculada a frequência de uso das quadrículas em cada estação.

A área nuclear é definida como uma área muito mais utilizada dentro da área de vida ,

seja porque reúnem árvores de alimentação, abrigo ou outros recursos importantes (Samuel et

al., 1985 apud Miranda 1997), sendo neste estudo definida como a área que o grupo usou

acima de 3% do tempo do periodo de estudo.

O uso diferencial dos quadrados foi quantificado através do Coeficiente de Variação

(C.V.) (Rasmussen, 1980), expresso pela equação:

____________ C.V.= √ ∑ ( ti – t )2 / N , sendo ¯   t ¯  

t i = quantidade de dias que o grupo usou o quadrado “i”

t = quantidade média de dias em que cada quadrado foi usado

N = número de quadrados usados. ¯

Este índice é igual a zero se todos os quadrados tiverem a mesma densidade

ocupacional, ou seja, se todos foram usados por um número igual de dias. Os valores se

tornam maiores do que zero à medida que aumenta a variabilidade no uso dos quadrados

(Rasmussen, 1980). Os coeficientes de variação foram analisados pelo teste de Mann-

Whitney-U.

 

36 

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A etapa piloto, realizada entre janeiro e fevereiro de 2008, totalizou 99 horas de

esforço de campo, distribuídos em 13 dias, com 46 horas de observação direta do grupo de

estudo.

As observações sistemáticas foram realizadas no período de final de fevereiro a

setembro de 2008, totalizando 34 dias de campo, sendo 18 dias inteiros, assim distribuídos:

um dia em fevereiro e abril, três dias em março, maio e junho, quatro dias em agosto e três

dias em setembro (Figura 11). Através da metodologia de varredura instantânea foram

amostradas 2408 sessões de 10 minutos de intervalo, para os três indivíduos analisados,

dentro de 207 horas de observação do grupo de estudo.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Ago Set

Meses

Hor

as d

e ob

serv

ação

Figura 11: Total de horas mensais de observação do grupo de estudo.

 

37 

4.1. Orçamento de atividades diárias

O modo pelo qual um organismo distribui seu tempo entre as diferentes atividades tem

conseqüências importantes da sua sobrevivência e reprodução (Watts, 1988 apud Martins,

1997), e indica a forma pela qual ele utiliza o ambiente e se amolda a mudanças (Ricklefs,

1990 apud Martins, 1997).

A Figura 12 mostra as porcentagens médias anuais do tempo diário, que o grupo focal

alocou para as diferentes atividades. O comportamento predominante foi o descanso,

ocupando 72,2% do dia. A alimentação e a locomoção foram a segunda (12,3%) e terceira

(11,4%) atividades mais observadas, respectivamente. As interações sociais (3,5%) e a

excreção (0,6%) foram reduzidas, visto que ocorrem em curtos períodos de tempo.

Alimentação12,3%

Locomoção11,4%

Social3,5%

Excreção0,6%

Descanso72,2%

 

Figura 12. Média das porcentagens de tempo em que o grupo de estudo alocou às diferentes

atividades, durante as observações de fevereiro a setembro de 2008.

Em comparação aos dados apresentados na literatura em Floresta Ombrófila Mista, o

grupo focal teve a maior parte do tempo gasto em descanso e o menor tempo dedicado à

alimentação. Os presentes dados ficam mais próximos dos valores registrados por Martins

(1997) com A. g. clamitans (em São Paulo) com 77% do tempo dedicado ao descanso, 10%

em alimentação e 12% em locomoção. Em comparação aos demais trabalhos, a freqüência de  

38 

 

descanso fica próxima ao encontrado em Caratinga (72%) e superior aos dados registrados em

Alegrete (68,5%), Santa Genebra (64%), Cantareira (59,5%), Aracuri (20,22%; 59,3%) e

Ribeirão Cachoeira (60%) (Calegaro-Marques,1992; Mendes, 1989; Chirello, 1993; Oliveira,

1993; Marques, 1996; Jardim & Oliveira, 2000; Gaspar, 1997).

Em contrapartida, a atividade social foi superior ao registrado na literatura, sendo

normalmente relacionada à catação entre mãe-filhote e/ou fêmea-macho, bem como algumas

atividades de vocalização para reunião do grupo ou em encontros intergrupais. Jardim &

Oliveira (2000), em Floresta Ombrófila Mista, registraram 0,9% do tempo em

comportamentos sociais. Os autores relatam ainda um gasto de 23,3% do tempo em

alimentação e 15,9% em locomoção, durante os seis meses de estudo em Esmeralda, Rio

Grande do Sul.

O alto tempo dedicado ao descanso pela espécie é decorrente do hábito folívoro. A

digestão de folhas é um processo demorado, que envolve fermentação bacteriana na quebra da

celulose, e as folhas não provém energia rapidamente (MacNab, 1978 apud Martins, 1997). O

alto tempo de descanso também é necessário para a desintoxicação do organismo devido ao

consumo de folhas com muitos compostos secundários (Glander, 1975) ou é devido à

escassez de recursos alimentares de alto valor energético.

A Tabela 2 mostra as porcentagens médias do tempo diário, que o grupo alocou para

as diferentes atividades durante os meses de estudo. Os dados estão apresentados por tipo de

atividade, não estando estas associadas em classes como nas demais análises. O mês de

fevereiro obteve a menor proporção de tempo utilizada para o descanso (51%) e um maior

tempo gasto em deslocamento (22,1%), em comparação aos outros meses de estudo. Isto pode

ser decorrente de os animais estarem recém habituados à presença dos observadores. As

atividades de alimentação foram maiores nos meses de fevereiro (15,5%) e setembro (17,1%)

39 

 

e em menor proporção no mês de abril (6,7%). Deve-se levar em consideração que no mês de

fevereiro e abril só foi possível observar os animais durante um dia completo.

Brincadeiras foram mais observadas no início do estudo (fevereiro-abril), época em

que os animais freqüentavam diariamente a área com Eucalyptus, e ao fim do dia, entre os

períodos de alimentação, havia bastante interação entre os membros do grupo. O

comportamento catação foi mais registrado até o mês de junho. As vocalizações foram mais

freqüentes após o mês de maio, e ocorriam, normalmente, para reunião do grupo, visto que em

algumas ocasiões o macho se dispersou do grupo durante períodos de alimentação.

Comportamentos sexuais não constam na tabela, pois só foi verificada uma cópula

(fevereiro), com duração de cerca de 40 segundos, em um Pinus. Entretanto, durante o tempo

da pesquisa, não foi observado o nascimento de filhotes.

Tabela 2. Porcentagem de tempo gasto nas atividades diárias. Média mensal e média

total para os meses de estudo.

Atividade Fevereiro Março Abril Maio Junho Agosto Setembro Média

Descanso 51,0 72,1 64,2 70,9 73,1 75,0 72,6 68,4

Parado 7,4 5,7 4,2 5,9 0,3 1,7 1,4 3,8

Locomoção 22,1 6,6 16,7 11,9 7,3 8,9 6,4 11,4

Brincadeira 1,3 0,5 5,0 - 0,5 - 0,5 1,1

Catação 2,7 2,8 3,3 0,6 2,1 1,0 1,0 1,9

Vocalização - 0,5 - 1,2 0,8 0,5 - 0,4

Excreção - 1,9 - 0,6 0,5 0,5 1,0 0,6

Alimentação 15,4 9,9 6,7 8,9 15,5 12,2 17,1 12,3

Jardim & Oliveira (2000) não verificaram diferenças significativas das proporções de

tempo gasto nas três principais atividades (descanso, locomoção e alimentação) entre os

meses estudados.

40 

A Figura 13 apresenta as variações no padrão de atividades entre as estações

analizadas. O tempo utilizado para o descanso, durante as estações de verão, outono e

inverno, foram de 72,7%, 74% e 75,8%, respectivamente. O tempo alocado em atividade de

alimentação foi 11,4% no verão, 11,6% no outono e 14,3% no inverno. A categoria

locomoção, que inclui os deslocamentos horizontais e movimentações verticais no estrato

arbóreo, ocupou 10,7%, 10,4% e 7,9% do tempo, nas estações de verão, outono e inverno,

respectivamente. Os comportamentos sociais, que incluem catação, brincadeiras e

vocalizações compreenderam 3,8% dos registros no verão, 3,4% no outono e 1,5% no

inverno. Estes dados mostram que não há grandes diferenças sazonais no comportamento do

grupo focal.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Verão Outono Inverno

Categorias comportamentais

% d

o te

mpo

gas

to

DESCANSO

LOCOMOÇÃO

SOCIAL

ALIMENTAÇÃO

Figura 13. Proporção de tempo gasto nas diferentes categorias comportamentais durante as

estações de verão, outono e inverno de 2008.

Chiarello (1992) afirma que é razoável supor que as necessidades de energia para

manutenção da temperatura corporal sejam maiores nos dias frios. Entretanto, o maior período

de alimentação no inverno, no presente estudo, deve ter mais relação com a mudança de área

de vida do grupo a partir do mês de maio, do que com a temperatura, visto que a temperatura

média de outono foi inferior ao inverno.

 

41 

 

O grupo focal utilizou a estratégia de aumento no período de alimentação e diminuição

de deslocamentos para minimizar gastos energéticos, durante os meses mais frios. Além

disso, nos dias mais frios, permanecerem agrupados durante o descanso e procuraram galhos

que estivessem expostos ao sol, corroborando observações de outros autores (Prates at al.,

1990b; Cunha, 1994).

A Figura 14 apresenta a variação temporal dos comportamentos descanso, locomoção

e alimentação do grupo de estudo, durante as diferentes estações do ano. Pode-se observar que

no verão os animais iniciaram suas atividades antes das 7 horas da manhã, possuindo um pico

de atividade após as 9 horas e voltando a descansar após as 11 horas, período em que a

temperatura do dia está mais elevada. Após as 14 horas, reiniciaram suas atividades,

encerrando-as após as 19 horas. Cunha (1994) obteve resultados diferentes, estudando os

bugios em um remanescente de vegetação primária no Parque Estadual de Itapuã

(Viamão/RS), onde observou picos de atividade no verão entre 11 e 12 horas.

No outono, os animais iniciaram suas atividades após as nove horas da manhã,

normalmente após a incidência do sol na mata, onde eles abrigavam-se para manter os corpos

aquecidos. Uma maior atividade ocorreu no período compreendido entre 11hs30min às

12hs30min, devido ao aumento da temperatura ambiente, bem como após as 16 horas,

variando conforme a temperatura do dia, considerando que em alguns dias que os animais

foram observados estava muito frio e, em outros, a temperatura estava mais amena.

No inverno os animais tiveram uma baixa atividade durante o dia, intensificando-a a

partir das 16 horas e 18 horas. As atividades de alimentação ficaram mais restritas ao fim da

tarde (16 horas), bem como a locomoção.

42 

Verão

0

20

40

60

80

100

07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00

Horas do dia

% d

as a

tivid

ades

Outono

0

20

40

60

80

100

07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00

Horas do dia

% d

as a

tivid

ades

Inverno

0

20

40

60

80

100

07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00

Horas do dia

% d

as a

tivid

ades

Descanso Locomoção Alimentação

Figura 14. Variação temporal média das principais atividades realizadas pelo grupo de bugios

durante as estações de verão (4 dias), outono (7 dias) e inverno (7 dias) do ano de 2008.

 

43 

Jardim & Oliveira (2000), estudando os bugios em Floresta Ombrófila Mista (RS),

observaram uma correlação positiva entre o número de horas possíveis de brilho de sol e o

tempo médio de duração das atividades em cada mês. Assim, durante o período de inverno as

atividades estiveram restritas a um número menor de horas. Os dados aqui apresentados

corroboram Cunha (1994), que percebeu a relação entre a diminuição do nível de atividades

dos animais com horários de temperatura extrema, tanto alta como baixa.

A Figura 15 apresenta a variação temporal do comportamento descanso, durante as

diferentes estações. Pode-se observar que conforme há uma diminuição da temperatura em

cada estação, há um aumento no descanso pela parte da manhã, acarretando um atraso no

início das atividades. Tanto no verão quanto no inverno houve um incremento de atividades às

9 horas da manhã. A partir das 11 horas da manhã há uma diminuição de descanso no outono

e um aumento no verão, fato este que deve estar novamente relacionado com o aumento de

temperatura, corroborando os dados da literatura (Chitolina & Sander, 1981; Mendes, 1989;

Chiarello, 1993; Oliveira, 1993). No inverno os animais se recolheram para o descanso

noturno mais cedo, em comparação às demais estações, corroborando Miranda (1997).

0

20

40

60

80

100

07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00

Horas do dia

% d

esca

nso

Verão Outono Inverno

Figura 15. Variação temporal da atividade descanso, durante as estações de verão (4 dias),

outono (7 dias) e inverno (7 dias) do ano de 2008.

 

44 

 

Seria esperado que em uma situação em que a busca de alimento se mostrasse pouco

lucrativa do ponto de vista energético, houvesse uma diminuição de atividade (Cunha, 1994),

podendo ser esse o motivo pelo qual o animais do grupo focal apresentaram baixa atividade

em todos meses de estudo.

A Figura 16 apresenta a variação temporal do comportamento alimentação, durante

as diferentes estações. No verão, os animais começaram a alimentar-se a partir das 7h30min,

após acordarem e realizarem a atividade de excreção em grupo, seguido de deslocamento até

árvores próximas ao local dormitório. Um pico de atividade ocorreu às nove horas da manhã e

finalizou-se após as 10h30min. O segundo período de alimentação ocorre a partir das

13h30min, com um aumento as 14h30min e aumentando novamente até atingir um pico de

atividade após as 18 horas até os animais se recolherem para o descanso noturno. Cunha

(1994) observou no verão um pico de atividade de alimentação às 16 horas.

Durante o outono, a atividade de alimentação durante as primeiras horas do dia teve

baixa freqüência, apresentando um aumento após as 10 horas, com pico às 12h30min e

decréscimo após as 14 horas. Outro período de alimentação ocorre após as 15 horas, com um

pico às 16 horas e decréscimo após as 17 horas, com posterior aumento, terminando somente

nas ultimas horas do dia.

No inverno, os animais se alimentaram em diferentes momentos da manhã, com um

aumento considerável a partir das 14 horas, com pico às 16 horas e decréscimo da atividade

até as 18 horas, quando os animais se recolhiam para o descanso noturno, sendo este mais

cedo nesta estação, quando comparada às demais. No trabalho de Cunha (1994), o pico de

atividade de alimentação no inverno ocorre às 12 horas.

45 

0

10

20

30

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70

07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00

Horas do dia

% a

limen

taçã

o

Verão Outono Inverno

Figura 16. Variação temporal da atividade alimentação, durante as estações de verão, outono e

inverno de 2008.

Chitolina & Sander (1981) e Oliveira (1993) relatam dois picos de alimentação,

ocorrendo um pela manhã e um ao final da tarde. Isso também foi evidenciado a campo,

porém em alguns dias os animais tiveram um período de alimentação a mais entre esses dois

picos.

Em duas ocasiões foram observados animais descendo ao solo para beber água em um

córrego na entrada da mata. Na primeira ocasião, em junho, às 13 horas, a fêmea desceu de

um Ligustrum lucidum, ficando agarrada neste pela cauda, por cerca de um minuto, observada

pelo seu filhote que vocalizava, vigilante. Na segunda ocasião, no mês de agosto, perto das 16

horas, observou-se o juvenil descendo para beber água no mesmo local que sua mãe havia

descido em junho, durando o comportamento cerca de meio minuto.

Em outros estudos também foi observado bugios descerem ao solo para beber água

acumulada da chuva ou de arroios, água acumuladas em ocos dos troncos, em bromélias e em

briófitas (Jardim & Oliveira, 2000; Fialho, 2000; Moro-Rios et al., 2008). Miranda et al.

(2005) também registraram a descida de uma fêmea com um infante ao solo para consumo de

 

46 

 

água, nas estações de outono e inverno. Fialho (2000) observou um maior consumo de água

durante a estação de inverno.

Conforme estudo de Almeida-Silva et al. (2005), as observações de consumo de água

em um pequeno córrego por A. g. clamitans foram aos meses de julho (N=4), agosto (N=4) e

início de setembro (N=2), que coincidem com os períodos secos na região de Caratinga, MG.

Os registros dos animais bebendo água são mais comuns em períodos nos qual a

proporção de folhas na dieta é maior, pois esse item proporciona a obtenção de pequenas

quantidades de água e contém compostos secundários que necessitam de água para serem

eliminados (Bonvicino, 1989; Serio-Silva & Ricco-Gray, 2000; Miranda et al., 2005 apud

Moro-Rios et al., 2008). No presente estudo, o consumo de folhas em junho foi de 83%,

porém em agosto a ingestão foi de 32%, o que não explicaria o comportamento de descida ao

solo para beber água neste mês.

Moro-Rios et al. (2008) observaram um maior consumo de água em Floresta

Ombrófila Mista nos meses de julho (32% dos registros), maio (27%) e junho (19%). Nos

meses nos quais houve o maior consumo de água, foi detectado grande consumo de folhas e

de sementes de Araucaria angustifolia (21% em maio, 53% em junho e 10% em julho), sendo

confirmada uma correlação positiva entre o consumo das sementes e a ingestão de água.

Existe a possibilidade que os bugios aumentem a taxa de consumo de água de forma a

otimizar a digestão e excreção dos compostos secundários presentes nas sementes de A.

angustifolia. Moro-Rios et al. (op.cit.) não registraram uma correlação com o baixo consumo

de frutos e a necessidade de consumo de água.

No presente estudo, no mês de junho o consumo de pinhões fez parte de 8,2% da dieta.

Já em agosto, não foi registrado consumo da semente. O consumo de frutos nos meses de

47 

 

junho e agosto foi 8,2% e 17,2%, respectivamente, oriundos de Hovenia dulcis, Eucalyptus

sp. e Eryobotrya japonica.

Durante a pesquisa, no mês de maio, iniciaram o corte dos Pinus presente na linha de

árvores que divide uma propriedade privada da FEGAPRO. Nesta época, os animais estavam

usando continuadamente esta área para pernoitar e, muitas vezes, passavam o dia nela. Nos

períodos de alimentação, quando não se deslocavam para o mato, faziam um alto consumo de

folhas de lianas que se desenvolveram sobre os Pinus, como também de acículas de Pinus,

folhas e frutos de Eucalyptus, folhas de Zanthoxylum rhoinfolium, folhas de Dasyphyllum

tomentosum, folhas e frutos de Quercus robur e frutos e folhas de Hovenia dulcis.

Dois dias antes de iniciarem o corte Pinus, o macho alfa sumiu durante o meio da

tarde, provavelmente tendo se deslocado pelo chão. A fêmea e o juvenil passaram o resto do

dia e o dia seguinte sem comer, vocalizando do tipo “choro”. No dia anterior ao corte,

perderam-se os dois animais de vista. No dia do corte das árvores, avistou-se um macho

solitário no inicio da tarde na entrada na mata e, no fim da tarde do mesmo dia, este animal

estava nos Pinus, sozinho.

Três dias após o inicio do corte das árvores avistou-se o grupo completo na entrada

da mata. Somente após um mês e meio observaram-se novamente os animais usando a linha

de árvores, inicialmente indo até a quadrícula B7 e, após, ficando restritos até a quadrícula

B9.

48 

 

4.2. Dieta

4.2.4. Análise qualitativa

Os bugios utilizaram como fonte de recursos alimentares 34 espécies, distribuídas em

21 famílias botânicas, utilizando 42 itens alimentares diferentes. As espécies e os itens

alimentares utilizados pelo grupo de estudo estão listados na Tabela 3. As famílias mais

consumidas pelos bugios foram: Myrtaceae, Fabacea, Rosaceae e Sapindaceae.

As análises de fezes revelaram nove espécies consumidas, sendo três espécies

exclusivamente amostradas por este método. Foram identificadas sementes das espécies

autóctones Rapanea ferruginea, Casearia decandra, Nectandra megapotamica,

Campomanesia xanthocarpa, Lithraea molleoides, Vitex megapotamica e vestígios de flores

de Pyrostegia venusta. As espécies alóctones presentes na dieta foram Hovenia dulcis, Vitis

americana, Eucalyptus sp.

49 

 

Tabela 3. Lista de espécies vegetais e itens alimentares utilizados na alimentação de

Alouatta guariba clamitans no período de janeiro a setembro de 2008, em um remanescente de

Floresta Ombrófila Mista em Caxias do Sul, RS. Itens: f = folhas, fl = flores, fr = frutos, s =

sementes. Metodologia: obs. direta = observação direta dos animais, fezes = análise fecal.

Família/ Espécie Nome popular Item Mês de registro Método

Araucariaceae

Araucaria angustifolia (Bertol.) O. Kuntze

pinheiro-brasileiro f, s mai, jun, ago, set obs. direta

Sapindaceae

Allophylus edulis (A. St.-Hil) Radlk. chal-chal f fev, ago obs. direta

Matayba elaeagnoides Radlk. camboatá-branco f mai, jun, ago, set obs. direta

Cupania vernalis Cambess. camboatá-vermelho

f jun obs. direta

Myrsinaceae

Myrsine ferruginea Spreng. capororoca f, fr jan, jun, set obs. direta + fezes

Flacourtiaceae

Casearia decandra Jacq. guassatonga fr jan, fev obs. direta + fezes

Fagaceae

Quercus robur L. * carvalho f, fr fev, mar, set obs. direta

Rhamnaceae

Hovenia dulcis Thunb. * uva-do-japão f, fr fev, mar, abr, mai, jun, ago, set

obs. direta + fezes

Lauraceae

Ocotea puberulla (Rich.) Ness canela-sebo f ago,set obs. direta

Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez.

canela-preta fr jan, fev fezes

Vitaceae

Vitis americana Bartram* uva fr jan, fev obs.direta + fezes

50 

 

Família/ Espécie Nome popular Item Mês de registro Método

Rutaceae

Zanthoxylum rhoinfolium Lam. mamica-de-cadela f fev, jun, ago, set obs. direta

Ebenaceae

Diospyrus kaki Linnaeus F. * caqui fr mai obs. direta

Myrtaceae

Blepharocalix salicifolius (Kunth) O.Berg

murta f mai, ago obs. direta

Campomanesia xanthocarpa O. Berg. guabiroba fr jan fezes

Eugenia involucrata DC. cerejeira f set obs. direta

Eucalyptus sp. L'Hér * eucalipto f, fr jan, fev, mar, abr, mai, ago, set

obs. direta + fezes

Pinaceae

Pinus taeda L.* pinus f fev, mar, abr, mai, jun

obs. direta

Pinus elliottii Engelm. * pinus f fev, mar, abr, mai, jun

obs. direta

Fabaceae

Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan angico f jun obs. direta

Inga virescens Benth. ingá f set obs. direta

Mimosa scabrella Benth. bracatinga f, fl ago, set obs. direta

Verbenaceae

Vitex megapotamica (Spreng.) Moldenke tarumã f, fr jan, fev, mar, mai obs. direta + fezes

Anacardiaceae

Lithraea molleoides (Vell.) Engl. aroeira-branca fr jan fezes

Lithraea brasiliensis March. bugreiro f jun, ago, set obs. direta

Bignoniaceae

Pyrostegia venusta (Ker-Gawler) Miers. cipó-de-são-joão fl ago, set obs. direta + fezes

51 

 

Família/ Espécie Nome popular Item Mês de registro Metodologia

Asteraceae

Piptocarpha angustifolia Dusen vassourão-branco f set obs. direta

Dasyphyllum tomentosum (Spreng.) Cabrera

sucará f mar, jun, ago,set obs. direta

Oleaceae

Ligustrum lucidum W.T. Aiton * ligustro f, fr mai, jun obs. direta

Meliaceae

Cedrela fissilis Vell. cedro f set obs. direta

Rosaceea

Eryobotrya japonica (Thumb.) Lindl. * ameixa-amarela fr ago, set obs. direta

Quillaja brasiliensis (A.St.-Hil. & Tul.) Mart.

sabão-de-soldado f jun obs. direta

Prunus myrtifolia (L.) Urb. pessegueiro-bravo f set obs. direta

Euphorbiaceae

Sebastiania commersoniana (Baill.) L.B. Sm. & Downs.

branquilho f mar, jun obs. direta

* espécies vegetais alóctones

Em estudos realizados em Mata de Araucária no PR e RS, A. g. clamitans, as famílias

mais consumidas foram: Lauraceae, Flacourtiaceae, Myrtaceae, Sapindaceae e Compositae

(Jardim & Oliveira, 2000; Miranda & Passos, 2004).

Miranda & Passos (2004) reportam o consumo de 43 itens diferentes dentre as 34

espécies consumidas, em Floresta Ombrófila Mista, no Paraná. A partir de análises de fezes,

os autores relatam o consumo de 13 espécies, com sete espécies exclusivamente amostradas

dessa forma, sendo superior aos dados encontrados neste trabalho. Jardim & Oliveira (2000)

observaram o consumo 32 espécies vegetais em Floresta Ombrófila Mista, RS, estando mais

próximo dos valores encontrados neste trabalho.

52 

 

O número de espécies consumidas pelos bugios está intimamente relacionado com a

disponibilidade de alimentos que cada ambiente oferece. Chiarello (1994) relata o consumo de

68 espécies, em Floresta Estacional Semidecidual, em São Paulo. Aguiar et al. (2003)

registraram 49 espécies em Floresta Estacional Semidecidual, no norte do Paraná. Bicca-

Marques & Calegaro-Marques (1994) observaram o consumo de 27 espécies como fonte de

alimento para A. caraya em uma mata seminatural, em Alegrete, RS.

Na Tabela 4 podem-se visualizar os meses de consumo das espécies alóctones e

autóctones pelo grupo focal. As lianas foram consumidas em todas as estações do ano

analisadas. Frutos e folhas de Eucalyptus sp. foram consumidos em todos os meses

analisados, exceto em junho. Frutos e folhas de Hovenia dulcis foram utilizadas na

alimentação do grupo durante todo estudo, não sendo observado o consumo somente em

janeiro nas observações ad libitum.

Outras espécies alóctones consumidas, além das já citadas acima, foram: frutos de

Eryobotrya japonica, folhas de Pinus, folhas e fruto de Ligustrum lucidum, frutos de Vitis

americana obtidos de uma parreira abandonada na entrada da mata, fruto de Diospyrus kaki

oriundos do pomar próximo aos Pinus e frutos e folhas de Quercus robur (Tabela 4).

53 

 

Tabela 4. Meses de consumo dos itens e espécies vegetais por A. g. clamitans, em um

remanescente de Floresta Ombrófila Mista em Caxias do Sul, RS no ano de 2008. verde = folhas,

vermelho = flores, amarelo = frutos, marrom = sementes.

Espécies consumidas Meses

Espécies alóctones Jan Fev Mar Abr Mai Jun Ago Set

Quercus robur Hovenia dulcis Vitis americana Diospyrus kaki Eucalyptus spp. Pinus spp. Eryobotrya japonica Ligustrum lucidum   Espécies autóctones Jan Fev Mar Abr Mai Jun Ago Set

Lianas (spp. não identificadas) Araucaria angustifolia Allophylus edulis Matayba elaeagnoides Cupania vernalis Myrsine ferruginea Casearia decandra Ocotea puberulla Nectandra megapotamica Campomanesia xanthocarpa Zanthoxylum rhoinfolium Parapiptadenia rigida Inga virescens Mimosa scabrella Vitex megapotamica Lithraea molleoides Lithraea brasiliensis Pyrostegia venusta Piptocarpha angustifolia Dasyphyllum tomentosum Cedrela fissilis Quillaja brasiliensis Prunus sellowii Eugenia involucrata Sebastiana commersoniana Blepharocalix salicifolius

54 

 

Alves & Zaú (2005) observaram um alto consumo de folhas de lianas na maioria dos

meses de estudo, não sendo consumida somente no mês de junho. Freitas et al. (2008) relatam

o consumo de Eucalyptus sp. por Cebus libidinosus nos meses de maio, novembro e

dezembro.

Jardim & Oliveira (2000) relatam um alto consumo de sementes de A. angustifolia nos

meses de maio e junho. Vários autores sugerem que a A. angustifolia seja o recurso-chave

para o bugio (Crespo, 1954; Silva, 1981; Jardim, 1992). Jardim & Oliveira (2000) consideram

que a espécie realmente tenha estreita relação com o bugio-ruivo, tanto do ponto de vista do

aporte nutricional do pinhão, como pelo aspecto estrutural das árvores que favorecem o

descanso.

Entretanto, não foi observado um grande consumo de pinhões pelo grupo de estudo.

Era esperado inclusive que, durante o mês de maio, os animais abandonassem a área de

espécies alóctones e se direcionassem para as regiões da mata com a presença da araucária.

No entanto, o que se pode observar foi a utilização mais intensa da área de mato somente após

o corte dos Pinus. Além disso, os animais consumiram mais a folha da araucária do que a

semente.

55 

 

4.2.5. Análise quantitativa

Um total de 305 varreduras instantâneas de comportamento alimentar foram analisadas

e 33 espécies vegetais consumidas. Dentre as espécies consumidas (Tabela 5), as folhas de

lianas (espécies não identificadas) contribuíram com 24% da dieta do grupo. A espécie

alóctone Hovenia dulcis foi consumida em 12,3% das observações realizadas, contribuindo

com folhas e frutos na alimentação dos animais.

Araucaria angustifolia também teve um papel importante na alimentação do grupo,

fazendo parte de 8,6% dos registros de alimentação, porém o consumo de folhas desta espécie

foi maior do que o de sementes, sendo este poucas vezes observado. Em observações ad

libitum, foi possível obter mais registros de outros grupos de bugios consumindo pinhões, do

que do grupo em estudo. As flores da liana Pyrostegia venusta contribuíram com 6,64% da

dieta do grupo. As acículas de Pinus spp. fizeram parte de 5,32% da alimentação do grupo.

As demais espécies que contribuíram com cerca de 5 % da dieta foram: frutos de

Eryobotrya japonica, flores e folhas de Mimosa scabrella. Outra espécie alóctone utilizada

pelo grupo foi Quercus robur (4,65%), sendo utilizada as folhas e frutos desta árvore.

56 

 

Tabela 5. Freqüência de consumo de espécies vegetais por Alouatta guariba clamitans no

período de fevereiro a setembro de 2008, em um remanescente de Floresta Ombrófila Mista em

Caxias do Sul, RS. Em ordem decrescente de freqüência dos registros de alimentação. FA =

freqüência absoluta, FR =freqüência relativa, N = Numero de meses de uso (máximo 8 meses).

Espécie Família FA FR% N

Lianas (spp. não identificadas) - 73 24,25 8

Hovenia dulcis Rhamnaceae 37 12,29 7

Araucaria angustifolia Araucariaceae 26 8,64 4

Pyrostegia venusta Bignoniaceae 20 6,64 2

Pinus spp. Pinaceae 16 5,32 5

Eryobotrya japonica Rosaceae 15 4,98 2

Mimosa scabrella Fabaceae 15 4,98 2

Quercus robur Fagaceae 14 4,65 3

Zanthoxylum rhoifolium Rutaceae 12 3,99 4

Dasyphyllum tomentosum Asteraceae 12 3,99 4

Ligustrum lucidum Oleaceae 12 3,99 2

Matayba elaeagnoides Sapindaceae 12 3,88 4

Eucalyptus sp. Myrtaceae 10 3,32 7

Lithraea brasiliensis Anacardiaceae 8 2,91 3

Vitis americana Vitaceae 5 1,66 2

Parapiptadenia rigida Leguminosae 4 1,33 2

Vitex megapotamica Verbenaceae 3 0,97 4

Casearia decandra Flacourtiaceae 2 0,66 3

Diospyrus kaki Ebenaceae 2 0,66 1

Piptocarpha angustifolia Asteraceae 2 0,66 1

Cedrela fissilis Meliaceae 2 0,66 1

Allophylus edulis Sapindaceae 1 0,33 2

Quillaja brasiliensis Rosaceae 1 0,33 1

Myrsine ferruginea Myrsinaceae 1 0,33 3

Ocotea puberula Lauraceae 1 0,33 2

Inga virescens Fabaceae 1 0,33 1

Blepharocalix salicifolius Myrtaceae 1 0,33 2

57 

 

Em estudos realizados em Mata de Araucária no PR e RS, as espécies que mostraram

maior importância na dieta do bugio-ruivo foram: Araucaria angustifolia, Gochnatia

polymorpha, Matayba elaeagnoides, Mimosa scabrella, Ocotea porosa, O. odorifera, O.

puberulla, O. pulchella e Zanthoxylum rhoifolium (Jardim & Oliveira, 2000; Miranda &

Passos, 2004). Apesar das diferenças encontradas na proporção de consumo destas espécies

entre o presente trabalho e os trabalhos citados, a maioria delas foi utilizada na alimentação

do grupo focal.

Freitas et al. (2008) registrou o consumo de espécies alóctones por Cebus libidinosus

em SP. 22% da dieta foi composta por Zea mays, 9,4% por Saccharum officinarum, 0,3% por

frutos, sementes e néctar de Eucalyptus sp., 0,1% por polpa de Citrus sp. e frutos de Melia

azedarach.

No presente trabalho, os itens alimentares foram divididos em categorias: folha, fruto,

flor e semente (Figura 17). Em todas as estações, o consumo de folhas (64%) foi superior ao

consumo dos outros itens alimentares, sendo esta diferença mais evidenciada no outono. Os

frutos foram consumidos em 25% do tempo, as flores em 8,7% e sementes 1,7%.

Durante o verão, a dieta dos bugios foi composta basicamente por folhas e frutos. No

outono a ingestão de folhas atingiu 80% e, além do consumo de frutos, os animais ingeriram

também sementes de Araucaria angustifolia. No inverno, além das folhas e frutos, houve um

consumo de flores das espécies Pyrostegia venusta e Mimosa scabrella. O consumo de folhas foi

maior no outono do que nos demais meses e frutos foram mais consumidos no verão.

58 

0

1020

3040

5060

7080

90

folhas frutos sementes flores

Itens alimentares

Freq

üênc

ia (%

)

verão

outono

inverno

Figura 17. Freqüência de consumo dos itens alimentares nas estações de verão, outono e inverno

de 2008.

Dentre os primatas neotropicais, os primatas do gênero Alouatta são os mais dependes

de folhas (Franceschinelli et al., 2005). Em Floresta Ombrófila Mista, Miranda & Passos

(2004) observaram uma maior freqüência do período de alimentação relacionada às folhas

(57,3%), seguidos de frutos (41%) e flores (1,7%). Jardim & Oliveira (2000) estudando

bugios em ambiente florestal semelhante registraram um consumo de folhas superior, sendo

82% do tempo de alimentação dedicado a esse item, seguido de sementes (11,1%) e flores

(6,9%). Alves & Zaú (2007) obtiveram dados semelhantes no que se refere ao consumo de

folhas (81% da dieta). Brotos fizeram parte de 10% da alimentação dos bugios, seguidos de

7% de frutos e 2% de flores, em Floresta Estacional Semidecidual Submontana, no RJ.

Conforme trabalho de Mendes (1989), na Estação Biológica de Caratinga (MG),

houve um consumo de 77% de folhas, 14% frutos e 9% flores. Lunardelli (2000) reporta o

consumo de 55% do tempo em folhas, 15% frutas e 29% flores. Aguiar et al. (2003)

registraram o consumo de 50,3% folhas, 47,9% frutos, 1,4% flores e 0,3% caules, em Floresta

Estacional Semidecidual, no PR.

 

59 

Em estudo com A. caraya, 60,9% dos registros de alimentação estavam relacionados

ao consumo de folhas, 28,9% de frutos e sementes, 6,4% de caules, 2,7% de flores, 1,0% de

cascas e 0,1% de liquens (Bicca-Marques & Calegaro-Marques, 1994).

No presente estudo, observou-se a alta preferência dos bugios pelos itens sazonais,

principalmente frutos e flores. Este comportamento alimentar também foi observado por

outros autores (Miranda & Passos, 2004; Milton, 1980; Mendes, 1989; Bicca-Marques &

Calegaro-Marques, 1995). O consumo de flores somente foi observado no inverno,

corroborando os dados de Fialho (2000), estudando bugios em mata de encosta (Porto Alegre,

RS). Em contrapartida, Aguiar et al. (2003) observou um maior consumo deste item no

outono (Floresta Estacional Semidecidual, PR).

Com o passar dos meses, os bugios aumentaram o número de espécies consumidas por

dia de observação (Figura 18). No mês de fevereiro consumiram cinco espécies, em março a

média foi quatro, em abril quatro, em maio 5,5, em junho e agosto seis e em setembro a média

foi de 13 espécies. É possível visualizar que o número de espécies aumentou após o mês de

maio, devido a mudança da área de vida e incremento na alimentação do grupo.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Fev Mar Abr Mai Jun Ago Set

Meses

Nº d

e es

péci

es

 

Figura 18. Número de espécies consumidas pelo grupo de A. g. clamitans em dias completos

(mín. 8 horas), nos meses de estudo em 2008.

 

60 

 

A Figura 19 mostra a porcentagem do consumo das espécies vegetais em cada estação

do ano. No verão (N=11), houve um alto consumo de folhas de lianas (43%), seguido de

frutos de uva-do-japão (H. dulcis), perfazendo 20% da dieta. No outono (N=14) o consumo de

lianas também foi maior que das demais espécies (27%). A espécie A. angustifolia foi

bastante representativa durante esta estação (15%), devido ao consumo de suas folhas e

sementes. Pinus spp. contribuiu com 14% da dieta do grupo de bugios durante o outono.

Na estação do inverno houve o consumo de um maior número de espécies (N=18),

com um alto consumo de flores de P. venusta (17%), seguidos de flores de M. scabrella e

frutos de E. japonica (12%).

61 

Verão

Lianas

Hovenia dulcis

Quercus robur

Vitis americana

Eucalyptus sp.

Dasyphyllum tomentosum

Casearia decandra

Pinus spp.

Allophylus edulis

Vitex megapotamica

Zanthoxylum rhoifolium

(a)

Outono

LianasAraucaria angustifoliaPinus spp.Ligustrum sp.Matayba elaeagnoidesHovenia dulcisParapiptadenia rigidaVitex megapotamicaDiospyrus kaki Lithraea brasiliensisBlepharocalix salicifoliusZanthoxylum rhoifoliumEucalyptus sp.Quillaja brasiliensis

(b)

Inverno Pyrostegia venustaMimosa scabrellaEriobotrya japonicaHovenia dulcisAraucaria angustifoliaZanthoxylum rhoifoliumLianasDasyphyllum tomentosumLithraea brasiliensisEucalyptus sp.Matayba elaeagnoidesPiptocarpha augustifoliaCedrela fissilis Rapanea ferrugineaQuercus roburInga virescens Ocotea puberula (c)

Figura 19. Porcentagem de consumo das diferentes espécies vegetais pelo grupo de estudo nas

estações de verão (a), outono (b) e inverno (c) de 2008.  

62 

 

A espécie Pyrostegia venusta, amplamente utilizada pelo grupo focal na alimentação

durante a estação de inverno, também foi um recurso muito utilizado no trabalho de Martins

(1997). Segundo o autor, Pyrostegia venusta (cipó-de-são-joão) é uma espécie de cipó que

ocorre em áreas perturbadas, geralmente em bordas e após a ação do fogo.

A diversidade das espécies utilizadas na alimentação do bugio-ruivo durante as

estações de verão, outono e inverno calculada através do índice de Shannon (1948) pode ser

verificada na Tabela 6. A estação de verão teve o menor índice de diversidade e equidade,

devido ao alto consumo de lianas durante este período. Já o inverno, apresentou o maior

índice de diversidade e equidade, visto que a alimentação do grupo foi composta por um

grande número de espécies que contribuíram de forma mais homogênea na dieta dos animais.

Tabela 6. Parâmetros ecológicos (diversidade, riqueza e equidade) das espécies

alimentares, analisadas por estação do ano (verão, outono e inverno de 2008).

Estação Hs S Hmax Equidade

Verão 1,72 11 2,40 0,71

Outono 2,16 14 2,64 0,82

Inverno 2,62 18 2,89 0,91

Hs = índice de diversidade

S = número de espécies

Hmax = índice do Shannon-Wiener maximizado

Equidade = igual a 1 é homogênea.

O grupo focal utilizou menos espécies no verão, possivelmente por que na área que

eles estavam utilizando durante este período há menor disponibilidade de alimento. Martins

(1997) também obteve uma diversidade de espécies menor no verão, devido a uma maior

seletividade dos animais e por escolherem itens e espécies mais nutritivos.

63 

Vários trabalhos relatam um alto consumo de lianas (trepadeiras, cipós) por Alouatta

(Chiarello, 1992; Martins, 1997; Fialho, 2000; Alves e Zaú, 2007). Fialho (2000) observou

um alto consumo de lianas no inverno, sendo uma possível “reserva energética” nesta estação,

já que as mesmas fornecem folhas e talos novos durante todo o ano. Segundo trabalho de

Alves e Zaú (2007), as folhas de lianas contribuíram com 26% dos registros de consumo.

O consumo de espécies vegetais autóctones (nativas) e alóctones (exóticas) pode ser

observado na Figura 20. Durante o período de estudo, o consumo de espécies autóctones foi

de 63% e de espécies alóctones 37%. Em todas as estações, o grupo de estudo utilizou

preferencialmente as espécies autóctones na alimentação. Entretanto, no verão, a diferença foi

pouco significativa, sendo esta maior no inverno. Isto se deve, provavelmente, ao fato de que

no verão os animais estavam utilizando pouco a área de mato, permanecendo vários dias na

área com espécies alóctones. Já no inverno, a área de vida do grupo ficou mais restrita ao

mato, devido ao corte do Pinus.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

verão outono inverno

Estações

Freq

üênc

ia (%

)

autóctones

alóctones

 Figura 20. Contribuição das espécies vegetais autóctones e alóctones na dieta do grupo de

estudo, nas estações de verão, outono e inverno de 2008.

 

64 

 

A contribuição das espécies vegetais alóctones e seus itens alimentares na dieta do

grupo, para cada estação do ano, pode-se ser visualizada na Figura 21. No verão, os frutos de

Hovenia dulcis foram o item mais consumido pelos bugios, em relação aos demais itens

derivados de espécies alóctones. Houve um grande consumo de frutos de Quercus robur,

seguidos de frutos de Vitis americana. As folhas das espécies alóctones foram pouco

consumidas.

No outono, houve um alto consumo de folhas de Pinus spp. e Ligustrum lucidum.

Frutos de Hovenia dulcis foram novamente um importante recurso alimentar dos bugios nesta

estação, sendo a dieta complementada com frutos de Diospyrus kaki e Ligustrum lucidum. No

inverno, os bugios utilizaram como parte da dieta frutos de Eriobotrya japonica, folhas de

Hovenia dulcis e frutos de Eucalyptus sp. Os animais ingeriram também, em baixa

porcentagem, folhas de Quercus robur e frutos de Hovenia dulcis.

65 

05

101520253035404550

FOLHA FRUTO

Itens alimentares

Freq

üênc

ia (%

)

Quercus robur

Vitis americana

Hovenia dulcis

Pinus spp.

Eucalyptus sp.

(a)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

FOLHA FRUTO

Itens alimentares

Freq

üênc

ia (%

)

Diospyrus kaki

Ligustrum sp.

Hovenia dulcis

Pinus spp.

Eucalyptus sp.

(b)

05

101520253035404550

FOLHA FRUTO

Itens alimentares

Freq

üênc

ia (%

)

Quercus robur

Eriobotrya japonica

Hovenia dulcis

Eucalyptus sp.

(c)

Figura 21. Contribuição das espécies vegetais alóctones na dieta do grupo de estudo, nas estações

de verão (a), outono (b) e inverno (c) de 2008.

 

66 

 

Bicca-Marques & Calegaro-Marques (1994) relatam o consumo de espécies

autóctones durante 62,4% dos registros e alóctones em 37,7% dos mesmos, estudando A.

caraya em Alegrete, RS. Dentre as espécies alóctones consumidas, incluem-se sementes e

cascas de Eucalyptus sp. Estes valores ficam muito próximo aos observados no presente

estudo (63% e 37%).

Miranda & Passos (2004) observaram um grande consumo de alimentos alóctones ao

ambiente de Floresta Ombrófila Mista, no período entre maio e agosto, tais como Eryobotrya

japonica (Thunb.) Lindl. e Diospyrus kaki L.F. Silveira & Codenotti (2001) também reportam

o consumo de Diospyrus kaki para A. g. clamitans no Rio Grande do Sul. Aguiar et al. (2003)

observou o consumo de Hovenia dulcis, no PR.

Existem trabalhos que relatam a utilização de Pinus spp. na dieta de algumas espécies

animais, como roedores e os macacos dos gêneros Cebus e Cercopithecus (Bussche & Zee,

1985; Koehler & Firkowski, 1996; Rocha, 2000; Miranda, 2005; Andreiv & Firkowski, 2006;

Gonçalves et al., 2007; Carvalho, 2007). O consumo desta espécie ainda não havia sido

documentada para A. g. clamitans.

De um total de 73 espécies consumidas por Cebus nigritus, no PR, seis eram exóticas

(Zea mays, duas espécies de Citrus spp., Hovenia dulcis, Caryota urens e Musa paradisiaca)

(Ludwig et al., 2005). Freitas et al. (2008) observou um alto consumo de cultivares por Cebus

libidinosus em épocas que a produção de frutos zoocóricos foi baixa nos fragmentos de

estudo.

Prates (2007) estudou um grupo de bugios-pretos (A. caraya) em Alegrete, RS, com

12 a 14 indivíduos vivendo em um pequeno pomar de 0,7 ha, com dossel descontínuo e aberto

e com baixa riqueza de espécies vegetais, confirmando a adaptabilidade da espécie em

sobreviver em condições ambientais extremas. A autora também observou que não houve

67 

 

alterações significativas nos padrões comportamentais destes animais, reforçando a hipótese

de que Alouatta spp. são adaptados para sobreviver em ambientes com diferentes graus de

alteração.

O conhecimento de quais espécies são importantes para a manutenção de Alouatta se

faz importante para projetos de desenvolvimento de corredores ecológicos e recomposição de

áreas que possam, de alguma maneira, aumentar a probabilidade de sobrevivência da

população em questão. A compreensão dos limites de elasticidade alimentar e das bases que

os explicam permite estimar o quanto uma mata é potencialmente adequada ao

estabelecimento de uma população (Lindeberg & Santini, 1984 apud Fialho, 2000).

Os macacos defecam as sementes dos frutos ingeridos em grupos ao se deslocarem

pela floresta ou sob seus dormitórios (Julliot, 1997; Izar, 1999). Os bugios são

reconhecidamente importantes dispersores de sementes, colaborando para a manutenção e

sustentabilidade em longo prazo do ecossistema florestal (Chapman, 1989; Figueiredo, 1993;

Julliot, 1996; Chapman & Onderdonk, 1998; Liesenfeld, 1999; Liesenfeld, 2003; Andresen,

2006). Algumas espécies, inclusive, aumentam sua taxa de germinação após a passagem no

trato digestivo destes animais (Figueiredo, 1993; Bravo et al., 1995).

Em análises de germinação de sementes, em 95% das espécies encontradas nas fezes

dos bugios, a taxa de sementes intactas foi maior que as predadas, resultado este que parece

atribuir os bugios a um status de bons dispersores (Ribeiro et al., 2007).

Em restauração de ambientes degradados, há tentativas de gerar uma restauração

induzida, utilizando os vertebrados frugívoros como importantes agentes no fluxo de

sementes (Jordano et al., 2006). Agindo como dispersores de sementes, os bugios poderiam

favorecer a recuperação de áreas degradadas e alteradas.

68 

 

Entretanto, pelo que foi observado neste estudo é provável que os bugios estejam

agindo como dispersores de Hovenia dulcis (espécie alóctone), devido ao grande número de

sementes intactas encontradas nas fezes dos animais. Este fato é preocupante, visto que pode

desencadear uma “contaminação ambiental” pela dispersão de espécies alócontes ao invés de

uma restauração do hábitat.

Alguns trabalhos têm demonstrado que reflorestamentos com eucalipto, que

apresentem sub-bosque, constituem um habitat freqüentado por diversas espécies de aves e

mamíferos potencialmente dispersores de sementes (Motta Jr., 1990; Stallings, 1990;

Machado & Lamas, 1996; Willis, 2002 apud Jordano et al., 2006). Neste estudo, foi

observado o uso da área com Eucalyptus pelos mamíferos: A.g.clamitans, Lepus europaeus

(lebre), Dasyprocta azarae (cutia), Coendou prehensilis (ouriço). Na área com Pinus

observaram-se A.g.clamitans e D. azarae e as aves Penelope obscura (jacu), Cyanocorax

caeruleus (gralha-azul), Rupornis magnirostris (gavião carijó). Foi registrado um bando de

Pyrrhura frontalis (tiriba-da-testa-vermelha) ingerindo sementes de Pinus. Estas aves

ingeriram também sementes de Carya illionensis e C. prehensilis consumiu folhas de Quercus

robur.

Outro fato interessante é que apesar da área de mata possuir exemplares de Syagrus

romanzoffiana, relatado na literatura como fonte de frutos para os bugios (Prates et al., 1990;

Cunha, 1994; Fialho, 2000; Miranda & Passos, 2004), não foi observado o consumo desta

espécie no presente trabalho.

69 

4.3. Área de vida e uso do espaço

Quando indivíduos, casais ou grupos familiares de vertebrados restringem suas

atividades a uma área definida, esta é chamada de área de utilização, área de vida ou “home

range” (Odum, 1983).

Em 21 dias amostrados a campo, os bugios utilizaram 49 quadrados (25 x 25m)

durante os registros de varreduras instantâneas (Figura 22). A área de vida dos bugios

aumentou a partir do 9º dia de campo, visto que houve o corte dos Pinus e, conseqüentemente,

os animais começaram a utilizar de forma diferenciada o espaço, dando preferência à mata do

que às árvores alóctones.

0

10

20

30

40

50

60

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21

Dias amostrados

Núm

ero

de q

uadr

ados

Figura 22. Uso cumulativo de quadrados pelo grupo de bugios, durante os dias amostrados por

varredura instantânea, em Caxias do Sul, RS.

A imagem da área de estudo com a grade de quadrículas de 25 x 25 metros pode ser

observada da Figura 23. As quadrículas B5, B9, B10 e C4, C5 se referem às áreas plantadas

com Eucalyptus sp. As quadrículas B3, B4, B6, B7, B8 e A4, A6, A7, A8, são plantadas com

Pinus spp. e algumas árvores de Carya illinoensis.

 

70 

Figura 23. Imagem da área de estudo com a grade de quadrículas (25x25m).

Em decorrência da mudança na paisagem após a supressão do Pinus, houve uma

mudança na área de vida e uso do espaço pelo grupo focal e, também, da sua dieta,

evidenciando a flexibilidade da espécie.

A área de uso é geralmente definida como a área usada para alimentação e descanso

(Jolly, 1972). Diferenças no tamanho da área de vida e no padrão de uso do espaço em

primatas são decorrentes das variáveis ambientais e sociais tais como distribuição e

abundância das fontes de alimento, disponibilidade de água, disposição espacial de áreas de

dormida, disponibilidade de parceiros sexuais, presença ou ausência de competidores e/ou  

71 

predadores, manutenção do território, tamanho do corpo e necessidades metabólicas (Macnab,

1963; Struhsaker, 1974; Gautier-Hion et al., 1981; Terborgh, 1983).

O uso do espaço do grupo antes da supressão dos Pinus e depois desta pode ser

observada na Figura 24. As áreas com coloração mais escura se referem a maior porcentagem

de uso e com cores mais claras, uma menor porcentagem de utilização. Fica evidente a busca

de uma nova área de vida pelo grupo, após o corte das árvores, aumentando a área de uso do

grupo de 1,8 para 2,5 ha. Entretanto, não houve diferenças significativas segundo o Teste de

Mann Whitney-U quanto ao coeficente de variação do uso do espaço entre as duas situações

(C.V.: 0,82 antes do corte; C.V.: 1,18 após o corte).

Figura 24. Uso do espaço pelo grupo de bugios antes do corte dos Pinus (a) e depois do corte (b),

de janeiro a setembro de 2008. Freqüência de uso analisada a partir de fevereiro. Linhas mais

espessas se referem ao uso das quadrículas fora dos períodos de varredura instantânea.

 

72 

 

Partes da área de uso utilizadas mais intensamente são geralmente denominadas áreas

nucleares (Jolly, 1985). A Figura 25 apresenta as áreas nucleares de utilização pelo grupo e os

sítios de pernoite. As áreas que tiveram uma maior percentagem de uso, em sua maioria, se

referem às áreas que foram utilizadas como dormitório, visto que estas eram utilizadas por

boa parte da manhã e nas ultimas horas do dia. Nas quadrículas F18 e F19 há alguns

exemplares de araucária e na quadrícula C15 há ligustros e grande presença de lianas.

As árvores utilizadas como sítio de pernoite foram repetidas ao longo das observações,

às vezes, em dias consecutivos. Exemplares de Pinus e Eucalyptus foram utilizados como

sítios de pernoite na maioria dos registros (Figura 25). Este fato deve-se possivelmente à

maior proteção que estas árvores oferecem contra predadores devido ao seu grande porte e

também pela espessura e disposição dos galhos, considerando que a mata da área de estudo é

uma mata secundária, apresentando poucas árvores emergentes além da Araucaria

angustifolia. Piptocarpha angustifolia e Parapiptadenia rigida são árvores de grande porte

que poderiam servir como árvore dormitório, todavia estas árvores estão concentradas na

região oeste da mata, onde os animais foram observados somente durante os períodos de

alimentação.

73 

alóctones 

autóctones 

Figura 25. Áreas nucleares de utilização (a) e sítios de pernoite (b) utilizados pelo grupo de

bugios, de fevereiro a setembro de 2008. As quadrículas com coloração mais escura tiveram

maior freqüência de uso. Indicação das áreas onde são compostas, predominantemente, por

espécies autóctones e alóctones.

Diversos autores relatam que os bugios utilizam árvores de médio a grande porte para

passar a noite (Miranda, 2004; Ludwig, 2006; Ingberman, 2007). Ludwig (2006) observou

que os bugios utilizavam como sítio de pernoite preferencialmente árvores com altura

superior a 15 m, com porte mais frondoso ou que apresentassem bastante lianas formando

“moitas”no dossel. As árvores de dormida se encontraram espalhadas em toda a área de vida

dos animais, mas concentradas principalmente nas áreas de uso mais intenso. Ingberman

(2007) registrou o uso exclusivo de estratos de 15 a 25 metros pelos bugios, sendo 55% das

 

74 

observações a 15 metros, 36% a 20m e somente 9% nas árvores emergentes de altura de 25

metros.

Entretanto, segundo Jardim & Oliveira (2000) existe a necessidade dos animais

descerem a níveis mais baixos de altura para uma maior exploração de recursos alimentares e

retornarem ao estrato superior para realizar as outras atividades com maior segurança. No

presente estudo verificou-se a utilização de árvores de baixo e médio porte durante os

períodos de alimentação.

Em 59% dos registros de árvores dormitório do grupo de estudo foram em espécies

alóctones (Pinus e Eucalyptus) e 41% de espécies autóctones (Araucaria angustifolia e, em

uma ocasião, outra espécie nativa) (Figura 26). Até a supressão dos Pinus, estes eram

utilizados como sítio de pernoite pelo grupo.

0

1

2

3

4

5

Fevereiro Março Abril Maio Junho Agosto Setembro

Meses

Reg

istr

os

Espécies autóctones Espécies alóctones

Figura 26. Uso de espécies vegetais autóctones e alóctones como sítio de pernoite pelo grupo focal

nos meses de observação do ano de 2008.

Jardim & Oliveira (2000) relatam uma forte preferência no uso de Araucaria

angustifolia para o descanso noturno, onde 74% dos registros foram nesta espécie. Durante o

período de disponibilidade de pinhão, os bugios utilizaram as araucárias em 100% dos

registros.

 

75 

 

Em seis ocasiões durante os meses de junho, agosto e setembro observaram-se a

aproximação de um grupo de três indivíduos, de forma agonística e agressiva, sendo o macho

alfa maior que o macho do grupo focal. Estes encontros (Tabela 7), ocorridos nas quadrículas

G18, G19 e E17 causaram o deslocamento do grupo focal para as quadrículas B15 e C15, e,

posteriormente, para a área com Eucalyptus.

Nos encontros observados, o macho do grupo vizinho vocalizou para o outro grupo e,

em duas ocasiões, foi até a quadricula D17, que é a ultima quadricula ao sul da mata,

vocalizou e defecou, possivelmente numa atitude de defesa de território. Em contrapartida, o

grupo focal demonstrou submissão, retirando-se da área sem enfrentar e/ou vocalizar para o

outro grupo. Em um dos encontros o macho do grupo vizinho tentou atacar a fêmea e o

juvenil do grupo focal, podendo-se ouvir “gritos” dos mesmos. Chiarello (1995) registrou 15

agressões físicas em encontros intergrupais (35% dos casos), estudando A. g. clamitans na

Reserva Santa Genebra.

Tabela 7. Encontros intergrupais observados durante o período de estudo.

Data Local do encontro (quadrícula)

23/06/08 E17

30/06/08 G18 até D17

30/06/08 G19 até D16

23/08/08 G18 até D16

14/09/08 G18

15/09/08 G19 até E17

Os encontros intergrupais podem ser o motivo pelo qual o grupo usa a área com

espécies alóctones, visto que após todas ocorrências os animais abandonaram a área de mato,

retornando após algumas horas ou somente no dia posterior. Chiarello (1995) afirma que os

bugios são animais territoriais, que defendem ativamente sua área de uso através de

76 

 

vocalizações, principalmente pelos machos adultos. Ludwig (2006), estudando A. caraya

observou 13 encontros intergrupais durante 12 meses de monitoramento.

Neville et al. (1988) citaram que os primatas do gênero Alouatta possuem grupos

que defendem com rigor suas áreas, principalmente através de vocalizações. Acredita-se

também que a ocorrência de coro matinal sirva para manter a distância entre os grupos,

evitando confrontos (Cunha, 1994). Este comportamento não foi observado pelo grupo focal

e, raramente, pelos grupos que habitam a mata de estudo. O macho alfa do grupo de estudo

vocalizou predominantemente em situações que necessitassem reunir o grupo ou inicialmente,

na presença dos observadores, sendo nos encontros intergrupais a vocalização quase

imperceptível.

Segundo Jardim (2005), um aspecto relevante que deve influenciar os tamanhos de

área de vida são as relações de dominância/subordinação entre grupos adjacentes. É razoável

supor que grupos dominantes de primatas ocupem as melhores porções da floresta,

restringindo grupos subordinados a áreas menos favoráveis. Entretanto, a pressão exercida

pelos grupos dominantes não significa que estes vão ocupar áreas maiores, pois a distribuição

dos recursos importantes é variável e grupos em áreas com menor disponibilidade de recursos

podem ser obrigados a percorrer áreas maiores para encontrar alimentos, aumentando

sobreposição de área com outros grupos ou expandindo para áreas onde não tenham grupos de

bugios estabelecidos. De forma semelhante a história de vida dos grupos deve influenciar,

pois grupos com formação mais recente devem ocupar áreas marginais e possivelmente

menos favoráveis.

Isso vem ao encontro das observações realizadas no presente estudo, que sugerem que

o grupo focal seja um grupo novo, pressionados pelo grupo dominante a utilizar uma área de

baixa qualidade, necessitando, inclusive, adaptar sua dieta ao espaço que lhe é disponível. Os

animais utilizaram diariamente, durante seu deslocamento entre a área com espécies alóctone

77 

 

a mata, árvores de baixo porte e marginais, expondo os animais à proximidade com os cães da

propriedade e a presença humana.

Na Figura 27 pode-se visualizar o uso do espaço nas diferentes estações do ano.

Durante o verão os animais passaram boa parte do tempo na linha de espécies alóctones,

utilizando uma parte da área de mata durante os períodos de alimentação, quando se

deslocavam até a quadrícula D18 para consumir frutos de Casearia decandra e frutos de Vitis

americana na quadrícula D16.

Deve-se levar em consideração que o uso da mata foi maior do que o apresentado

neste trabalho, já que houve menos tempo de observações no período do início do verão. A

quadrícula B5 foi muito utilizada como sítio de pernoite. A quadrícula B11 foi muito utilizada

nos períodos de alimentação, visto que nela há uma grande árvore de Hovenia dulcis.

No outono, a área de vida foi ampliada após o corte dos Pinus, passando a utilizar com

mais freqüência a área de mato, inclusive como sítio de pernoite. Nesta época as árvores

utilizadas como dormitório eram as araucárias, as quais estavam na época de maturação das

pinhas, utilizadas para alimentação. Tanto, no outono quanto no verão, os animais iam para a

mata em busca de árvores de Hovenia dulcis, nas quais consumiam grande quantidade de

frutos. Segundo Chapman (1988), uma única árvore em frutificação pode fortemente

influenciar o modo de uso do espaço por primatas.

No inverno, a área foi novamente incrementada, devido a mudanças na dieta. Algumas

quadrículas passaram a ser utilizadas devido ao consumo de frutos de Eryobotrya japonica

(ex. quadricula B17). É importante ressaltar que nesta estação houve a maior diversidade de

consumo de espécies, estando esta interligada a um uso diferenciado da mata, propiciando

uma melhor diversidade na oferta de alimentos. Nesta estação os animais utilizaram a área

com Eucalyptus, inclusive como dormitório, mas não puderam mais utilizar a área com Pinus,

devido à dificuldade de locomoção entre as poucas árvores que restaram após o corte.

78 

 

Figura 27. Uso do espaço no verão, outono e inverno de 2008. As linhas mais espessas se referem

às áreas utilizadas pelos animais fora dos períodos da varredura instantânea.

79 

 

Segundo Spironello (2001) o tamanho da área de vida e modo de uso do espaço entre

os primatas pode depender de aspectos sociais e de estratégias alimentares comportamentais.

Estas podem mudar de acordo com a disponibilidade de recursos alimentares em diferentes

áreas de floresta ao longo do tempo (Cullen Jr. & Valladares-Padua, 1997; Jardim, 2005;

Ludwig, 2006), de lugares adequados para o descanso e, ainda, de fontes de água (Altmann,

1974).

A área de vida também é relacionada com o tamanho do grupo e inversamente à

porcentagem de folhas na dieta dos primatas, ou seja, animais frugívoros possuem maiores

áreas de vida do que os que dependem de folhas, recurso este, geralmente mais abundante e

de distribuição mais homogênea (Milton & May, 1976; Chiarello, 1992, 1993).

O Coeficiente de Variação (C.V.) da área de vida pode ser visualizado na Tabela 8.

Apesar do C.V. no inverno ser maior que os das demais estações, não houve diferenças

significativas pelo teste de Mann-Whitney-U. Entretanto, verificando os mapas com as

distribuições das observações dos bugios, podemos perceber um padrão diferenciado de uso

entre as estações.

Durante o período de estudo observou-se que o grupo utilizou 52 quadrados, o que

corresponde a 3,25 ha (área de vida total). A área de vida média foi de 0,9 ha, equivalendo a

0,3 ind/ha. A área de vida média do grupo foi de 0,73 ha no verão, 0,92 ha no outono e 1,04

ha no inverno (Tabela 8). Estes dados discordam do trabalho de Chiarello (1992), que obteve

uma maior área de vida no verão e a menor área no inverno. Ludwig (2006) também observou

uma área de vida maior nas estações de primavera e verão, do que outono e inverno.

Entretanto, em Floresta Ombrófila Mista, Miranda (2004) registrou um aumento nas

áreas de vida no outono e depois no inverno, em relação ao verão. O autor acredita que este

80 

 

aumento na área esteja relacionado à escassez e agrupamento dos itens sazonais durante estas

estações. O aumento na área não acarretou o aumento nos percursos diários.

Estas diferenças na área de vida do grupo em estudo em relação a outros grupos

estudados possivelmente estão relacionadas a uma adaptação do grupo a uma nova área de

vida, após o corte dos Pinus. A intervenção de manejo florestal pode ter causado o incremento

do tamanho da área de uso no inverno em relação ao verão.

Tabela 8. Área de vida e coeficiente de variação do uso da área durante as estações de

verão, outono e inverno de 2008.

Estações Área de vida (ha) C. V. da área de vida

Verão 0,73 0,76

Outono 0,92 1,07

Inverno 1,04 1,22

Média anual 0,9 1,02

Total anual 3,25

Em comparação aos dados de área de vida de outras pesquisas já realizadas com

Alouatta guariba, o presente trabalho obteve o segundo menor valor de área de vida já

registrado (Tabela 9), sendo o menor valor de área de vida (2,4 ha) documentado por Jardim

(2005). Entretanto, deve-se levar em consideração que o tamanho do grupo é um fator

determinante no tamanho de área de vida (Milton & May, 1976), tendo o grupo focal o menor

tamanho em relação às demais pesquisas, além do fragmento ser o menor entre os demais.

Pequenas áreas de vida aumentam as chances das espécies sobreviverem em florestas

fragmentadas (Crockett, 1998). Segundo Bravo & Sallenave (2003), pequenas áreas de vida

podem estar relacionadas com uma dieta composta por recursos distribuídos de forma

abundante e uniforme no tempo e no espaço, com alto retorno energético. Como no presente

81 

 

estudo os animais utilizaram como fonte alimentar plantas alóctones que disponibilizaram

frutos durante boa parte do ano (Vitis americana, Quercus robur, Hovenia dulcis, Diospyrus

kaki, Eryobotrya japonica, Eucalyptus sp.) é possível que haja uma relação entre a pequena

área de uso e o aporte energético fornecido por estas plantas, próximas aos locais de dormida.

É sugerido que os bugios precisem de áreas maiores em ambientes com uma menor

riqueza de espécies. Na Floresta Ombrófila Mista, um ambiente com menor riqueza quando

comparado a outros biomas ocupados pelos A.g.clamitans, os bugios apresentem áreas de vida

maiores que em ambientes fragmentados de tamanho aproximado (Perez, 1997; Miranda,

2004). Trabalhos realizados em Mata de Araucária documentam valores superiores de área de

vida do que encontrado nesse trabalho, com valores entre 9,2 ha a 16,75 ha (Marques, 1996;

Perez, 1997; Miranda, 2004).

Outro fator determinante para área de vida é a qualidade do ambiente. Em teoria, a

floresta primária alterada seria melhor para os bugios que a floresta secundária, sendo que os

grupos viventes na segunda deveriam ter áreas de vida maiores para compensar uma menor

qualidade ambiental (Dunbar, 1988 apud Miranda, 2004). Na prática, não foi corroborada essa

hipótese, haja visto que os animais não apresentaram uma área de vida maior mesmo em

ambiente de baixa qualidade.

Menores áreas de vida estariam relacionadas com um maior consumo de folhas.

Apesar da área de vida reduzida no presente estudo (3,25 ha), o consumo de folhas (64%)

esteve próximo aos valores encontrados para a espécie (entre 50% a 80%) (Mendes, 1989;

Lunardelli, 2000, Jardim & Oliveira, 2000; Aguiar et al., 2003; Miranda & Passos, 2004;

Alves & Zaú, 2007).

82 

 

Em contrapartida, a pequena área de uso poderia estar relacionada a uma minimização

de gastos energéticos, com a diminuição das distâncias percorridas nos deslocamentos. Milton

(1980) classifica os bugios como “minimizadores de viagem”. Miranda (2004) propõe que

numa floresta em regeneração os bugios não tenham necessidade de se deslocar mais para

obtenção de recursos. No que se refere ao percurso diário, existiria uma equivalência em

qualidade de habitat para a espécie. Bicca-Marques (2003) mostra que os percursos diários

não se alteram entre diferentes tamanhos de fragmento.

O tamanho da área de vida possui correlação negativa com a densidade populacional.

Desta forma, análises de densidade seriam importantes para um melhor entendimento da

situação. Porém, durante o estudo foi observado em varias ocasiões dois grupos além do

grupo focal, um com três indivíduos e outro com quatro. Estes grupos habitam a área com

araucárias, um na região norte da mata e outro à noroeste. Em duas ocasiões foram avistados

dois outros grupos, com um maior numero de indivíduos, mas é possível que estes animais

estivessem somente se deslocando pela área já que não foram mais avistados.

Supondo que a área abrigue os três grupos mais avistados, resultaria em uma

densidade de 0,83 ind/ha. Este valor está dentro da variação registrada para o gênero e para a

espécie (Cunha, 1994), mas superior ao encontrado em Floresta Ombrófila Mista (0,38 ind/ha)

por Miranda (2004). Entretanto, a densidade normalmente é maior em fragmentos florestais

menores (Steinmetz, 2001).

No presente estudo é mais provável que a pequena área de vida seja decorrente do

forte territorialismo do grupo vizinho, que força o grupo focal a utilizar uma área menor para

evitar confrontos e pelo pequeno tamanho do fragmento. Caso a linha de árvores alóctones

fosse conectada a uma outra área de mato, é plausível supor que os animais utilizariam os

Pinus e Eucalyptus como uma espécie de corredor ecológico e ampliariam a sua área de vida.

83 

 

Tabela 9. Estimativas de tamanho de área de vida e tamanho de grupo em diversos

estudos realizados com a espécie Alouatta guariba, utilizando o método do esquadrinhamento (25

x 25m).

Área de

vida (ha)

Tamanho do

grupo

Tamanho do

fragmento (ha)

Local Fonte

3,25 3 12 FEPAGRO, Caxias do Sul, RS. este trabalho

2,4 9,4 (7-13) 14 Mata de Restinga, Lami, POA. Jardim, 2005.

4,1 7 35 Parque de Itapuã, RS, Morro do Araçá. Cunha, 1994.

4,1 6 234 Reserva Santa Genebra, SP. Chiarello, 1993.

4,4 8 (4-12) 86 Mata da Encosta, Extrema, POA. Jardim, 2005.

5,3 7,4 (5-11) 171 Parque de Itapuã, Morro da Fortaleza, RS. Jardim, 2005.

7,1 8 171 Parque de Itapuã, Morro da Fortaleza, RS. Marques, 2001.

7,9 7 570 Estação Ecológica de Caratinga, MG. Mendes, 1989.

8,5 8 234 Ribeirão da Cachoeira, SP. Gaspar, 1996.

9,3 7 60 Três Barras, PR. Perez, 1997

11,3 11 68 E.E. de Aracuri, RS. Marques, 2001.

11,6 4 80 Mata Boa Vista, RJ. Limeira, 1996

19,5 8 700 Balsa Nova, PR. Miranda, 2004.

Apud Jardim(2005)

A fragmentação de hábitats produz efeitos sobre as espécies não diretamente

relacionados apenas ao tamanho da área. Um dos aspectos que tem levantado discussão é

sobre a qualidade ambiental do fragmento (Rolstad, 1991; Forman & Moore, 1992; Murcia,

1995 apud Paglia et al., 2006). Em um processo de fragmentação, a perda de hábitats e o

isolamento são seguidos de uma perturbação interna do fragmento, alterando a fisionomia da

mata.

84 

 

Segundo Limeira (1996), a fragmentação de habitat cauda perda de espécies preferidas

por A. g. clamitans, além de poder tornar a dieta mais fibras e/ou tóxica, com altas

concentrações de compostos secundários.

Outro efeito da fragmentação é o chamado efeito de borda, que pode resultar em um

aumento do fluxo de energia e a entrada de componentes químicos pela borda, afetando a

composição e a distribuição das espécies. O aumento no fluxo de radiação na borda implica

rápido crescimento de lianas, trepadeiras e outras espécies ao redor da borda da floresta

remanescente (Paglia et al., 2006).

Na área de estudo observa-se o efeito de borda agindo favorável à expansão das

espécies alóctones na orla do fragmento, principalmente o Ligustrum lucidum. As lianas

também estão bastante presentes no fragmento e compõem diariamente a dieta dos bugios.

Segundo Bicca-Marques (2003), a fragmentação de habitat resulta num decréscimo da

área de vida, especialmente em pequenos fragmentos. O tamanho do fragmento prediz a área

de vida, o numero de plantas usadas como recurso alimentar e a diversidade de folhas e frutas

na dieta. Em contrapartida, não pode predizer a área de vida diária, a contribuição de

diferentes itens alimentares da dieta, e o orçamento de atividades. Além disso, o tamanho do

grupo não pode predizer o tamanho da área de vida, exceto para A. palliata.

Bravo & Sallenave (2003) demonstram em seus estudos que áreas de vida muito

pequenas somente são possíveis em locais onde haja a disponibilidade de recursos de alto

valor energético. No presente estudo, o consumo de frutos de Hovenia dulcis e Eryobotrya

japonica devem fornecer um alto aporte energético para os animais.

Juan et al. (2000), estudando grupos de A. palliata vivendo em fragmentos de 3, 35 e

250 ha em Los Tuxtlas, México, observaram que em fragmentos maiores os animais

85 

 

utilizaram um maior numero de espécies como fonte de alimento, consumiram mais frutas do

que folhas e tiveram um tempo maior dedicado ao deslocamento do que nos fragmentos

menores.

Este trabalho vai ao encontro com Bicca-Marques (2003), que conclui que os primatas

do gênero Alouatta lidam com a fragmentação sem mostrar mudanças direcionais na maioria

dos aspectos da sua ecologia alimentar e comportamental. Sua habilidade para conviver com

uma variável composição florística se deve a uma dieta flexível, composta por uma ampla

variedade de plantas, incluindo espécies exóticas, sendo isto especialmente relevante para o

seu sucesso em florestas fragmentadas.

86 

 

5. CONCLUSÕES

A partir das observações realizadas neste trabalho foi possível verificar que o grupo de

bugio-ruivo A. g. clamitans estudado demonstrou alta flexibilidade alimentar e

comportamental em um ambiente fragmentado e alterado ao longo dos anos, com a introdução

e dispersão de espécies alóctones.

O grupo utilizou como alimento muitas destas espécies, tais como Pinus spp.

Eucalyptus spp., Hovenia dulcis, Eryobotria japonica, Quercus robur, Diospyrus kaki,

Ligustrum lucidum e Vitis americana. A inclusão de frutos de espécies alóctones à dieta

sugere que o gênero Alouatta seja tão frugívoro quanto possível em termos de ambiente.

Além disso, aumentou o tempo de descanso, possivelmente para metabolização de

compostos secundários, minimização de gastos energéticos ou para evitar confrontos com os

grupos vizinhos e diminuiu a área de vida, em comparação aos demais trabalhos realizados

com a espécie.

O grupo focal foi capaz de ajustar a área de vida passando a utilizar a área com

espécies alóctones, possivelmente devido ao territorialismo do grupo que habita a mata

secundária, e que pressiona o grupo focal a sair dessa área.

A flexibilidade do grupo foi fortemente demonstrada após a supressão de parte da sua

área de uso (área plantada com Pinus spp.), já que o grupo passou a utilizar uma nova área

dentro da mata secundária, retornado a área que restou após o corte das árvores (área com

Eucalyptus sp.), quando havia confrontos com o grupo vizinho.

Entretanto, apesar do bugio-ruivo poder incluir espécies alóctones à sua dieta, é

importante que se protejam as matas nativas e, que, se possível, haja um enriquecimento

destas matas com espécies autóctones, importantes para o bugio-ruivo. Possivelmente os

87 

 

animais do grupo de estudo estejam utilizando novas fontes de alimentos por haver um déficit

de itens alimentares com alto valor energético no interior da mata.

Ainda, mesmo não havendo pressão de caça na localidade e os animais estarem

habituados à presença humana, isso não garante a conservação da população local à longo

prazo, já que área é fragmentada e a proximidade com animais domésticos (cães e galinhas)

geram riscos à saúde e a integridade dos animais.

88 

 

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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100 

Anexo 1: Fotos dos indivíduos de Alouatta guariba clamitans do grupo de estudo

`

Fêmea adulta. Juvenil II macho em um Eucalyptus sp.

Macho alfa.

 

101 

Anexo 2. Fotos de algumas espécies alimentares (alóctones e autóctones) consumidas.

Consumo do fruto de Quercus robur (carvalho-europeu).

Consumo de frutos de Diospyrus kaki (caqui).

 

102 

Consumo de frutos de Hovenia dulcis (uva-do-japão).

Consumo de frutos de Eryobotrya japonica (ameixa-amarela)  

103 

Consumo de acículas de Pinus spp. (pinus)

Consumo de folhas de Araucaria angustifolia (pinheiro-brasileiro)

 

104 

Consumo de folhas de Zanthoxylum rhoifolium (mamica-de-cadela).

Consumo de flores de Pyrostegia venusta (cipó-de-são-joão)

 

105 

Consumo de folhas e flores de Mimosa scabrella (bracatinga)

Fezes com sementes de Casearia decandra e sementes e casca do fruto de Vitis americana (jan/2008).

 

106 

1 cm 

Fezes com sementes de C. decandra, N. megapotamica e frutos de Eucalyptus sp. (fev/2008).

1 cm 

Detalhe das fezes com sementes de C. decandra e frutos de Eucalyptus sp. (fev/2008).

 

107 

Anexo 3. Detalhes da área de estudo e acontecimentos.

Vitis americana (uva) inserida da mata de estudo (quadrícula D16).

Detalhes da Vitis americana inserida da mata de estudo (quadrícula D16).

 

108 

Fêmea do grupo focal aguardando o retorno no macho alfa, sumido no dia anterior, um dia antes do corte dos Pinus (maio).

Área com Pinus spp., no dia que iniciaram os cortes.  

109 

Área de espécies alóctones após a supressão dos Pinus spp.

Descida da fêmea ao solo para beber água em um córrego na entrada da mata.