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Rev. Inst. Adolfo Lúte 29/30: W5-139, 1'9'69)70. CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA TOXOPLASMOSE. LEVANTAMENTO SOROLÓGICO EM ÍNDIOS DO ALTO XINGU, BRASIL CENTRAL (1) CONTRIBUTION TO THE STUDY OF THE TOXOPLASMOSIS EPIDEMIOLOGY. SEROLOGIC SURVEY AMONG THE IN DIANS OF THE UPPER XINGU RIVER, CENTRAL BRAZIL ROBERTO G. BARUZZI (2) SUMMARY The survey of antibodies to Toxoplasma gondii in 254 indians of the Upper Xingu River, Central Brazil, by means of the indirect immunofluorescence revealed 51,6% of positive reactions of titres equal or superior to 1/16. The aboriginal population of the Upper Xingu River is estimated in 600indians, distributed into 9 tribes, living in a state of relative isolation maíntaíníng their primitive habits and customs. The results have been compared with those of 2 other surveys made in different geographical areas of Brazil (ín the Territory of Amapá and ín the city of São Paulo), where the authors have used a serologic technique superposable to the one used in our survey. The results of the Upper Xingu, ín its whole, do not significantly differ - as one might suppose, considering the life conditions of the indian - from those observed ín the Territory of Amapá and ín the city of São Paulo, í .e, ín populations of a more advanced degree of civilization. I - INTRODUÇÃO O Toxoplasma gondii é um parasita am- plamente difundido do ponto de vista geo- gráfico e biológico. Considerado como um protozoário, sua posição sistemática ainda se discute. Foi pela primeira vez observado por SPLENDOREó9, em julho de 1908, cau- sando uma infecção mortal em coelhos de seu laboratório. O exame microscópico das lesões evidenciadas no baço, fígado, gânglios linfáticos e intestino grosso, reve- lou a presença de corpúsculos parasitários, isolados ou agrupados, intra ou extra-celu- lares. Coube, entretanto, a NICOLLE & MANCEAUX47, em 1909, a denominação de Toxoplasma gondii, dada ao parasita, o qual tinha sido observado por êstes autores, em outubro de 1908, na Tunísia, no roedor africano gondi (Ctenodactylus gondii), usa- do como animal de laboratório. A partir das observações de SPLENDO- RE e NICOLLE & MANCEAUX, foi progressivamente crescendo o número de espécies animais encontradas, naturalmente infectadas pelo T. gondii. Mesmo em nos- sos dias, a relação dos animais infectados ainda não pode ser considerada como de- finitiva. Esta relação inclui animais do- mésticos, como o cão e o gato, grande número de roedores peridomiciliares e sel- vagens, como o coelho, lebre, esquilo, co- baia, camundongos e ratos. Macacos de várias espécies foram encontrados parasi- tados, Entre as aves, também, muitas são as espécies apontadas, como pombos, per- dizes, galinhas, patos, corvos e canários. O T. gondii tem sido identificado como o agente causador da morte de animais man- tidos em cativeiro nos Jardins Zoológicos (RATCLIFFE & WORTH53, 1951; MOL- (1) Tese de doutoramento apresentada à Escola Paulista de Medicina, São Paulo, Brasil, 1968. (2) Do Departamento de Modicma Preventiva da Escola Paulista de Medicina (Prof. Dr. Mag id Iunes) , São Paulo, BraSlI. 105

Toxoplasma gondii T. gondii. - Instituto Adolfo Lutz · O Toxoplasma gondii é um parasita am-plamente difundido do ponto de vista geo-gráficoebiológico. Consideradocomoum protozoário,

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Page 1: Toxoplasma gondii T. gondii. - Instituto Adolfo Lutz · O Toxoplasma gondii é um parasita am-plamente difundido do ponto de vista geo-gráficoebiológico. Consideradocomoum protozoário,

Rev. Inst. Adolfo Lúte29/30: W5-139, 1'9'69)70.

CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA TOXOPLASMOSE.LEVANTAMENTO SOROLÓGICO EM ÍNDIOS DO ALTO XINGU,

BRASIL CENTRAL (1)

CONTRIBUTION TO THE STUDY OF THE TOXOPLASMOSIS EPIDEMIOLOGY.SEROLOGIC SURVEY AMONG THE IN DIANS OF THE UPPER XINGU RIVER,

CENTRAL BRAZIL

ROBERTO G. BARUZZI (2)

SUMMARY

The survey of antibodies to Toxoplasma gondii in 254 indians of the UpperXingu River, Central Brazil, by means of the indirect immunofluorescence revealed51,6% of positive reactions of titres equal or superior to 1/16. The aboriginalpopulation of the Upper Xingu River is estimated in 600 indians, distributed into9 tribes, living in a state of relative isolation maíntaíníng their primitive habitsand customs. The results have been compared with those of 2 other surveysmade in different geographical areas of Brazil (ín the Territory of Amapá andín the city of São Paulo), where the authors have used a serologic techniquesuperposable to the one used in our survey. The results of the Upper Xingu,ín its whole, do not significantly differ - as one might suppose, considering thelife conditions of the indian - from those observed ín the Territory of Amapáand ín the city of São Paulo, í .e , ín populations of a more advanced degreeof civilization.

I - INTRODUÇÃO

O Toxoplasma gondii é um parasita am-plamente difundido do ponto de vista geo-gráfico e biológico. Considerado como umprotozoário, sua posição sistemática aindase discute.

Foi pela primeira vez observado porSPLENDOREó9, em julho de 1908, cau-sando uma infecção mortal em coelhos deseu laboratório. O exame microscópicodas lesões evidenciadas no baço, fígado,gânglios linfáticos e intestino grosso, reve-lou a presença de corpúsculos parasitários,isolados ou agrupados, intra ou extra-celu-lares. Coube, entretanto, a NICOLLE &MANCEAUX47, em 1909, a denominaçãode Toxoplasma gondii, dada ao parasita, oqual tinha sido observado por êstes autores,em outubro de 1908, na Tunísia, no roedorafricano gondi (Ctenodactylus gondii), usa-do como animal de laboratório.

A partir das observações de SPLENDO-RE e NICOLLE & MANCEAUX, foiprogressivamente crescendo o número deespécies animais encontradas, naturalmenteinfectadas pelo T. gondii. Mesmo em nos-sos dias, a relação dos animais infectadosainda não pode ser considerada como de-finitiva. Esta relação inclui animais do-mésticos, como o cão e o gato, grandenúmero de roedores peridomiciliares e sel-vagens, como o coelho, lebre, esquilo, co-baia, camundongos e ratos. Macacos devárias espécies foram encontrados parasi-tados, Entre as aves, também, muitas sãoas espécies apontadas, como pombos, per-dizes, galinhas, patos, corvos e canários.O T. gondii tem sido identificado como oagente causador da morte de animais man-tidos em cativeiro nos Jardins Zoológicos(RATCLIFFE & WORTH53, 1951; MOL-

(1) Tese de doutoramento apresentada à Escola Paulista de Medicina, São Paulo, Brasil, 1968.(2) Do Departamento de Modicma Preventiva da Escola Paulista de Medicina (Prof. Dr. Mag id

Iunes) , São Paulo, BraSlI.

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BARUZZI, R. G. - Contribuição para o estudo eprdemíológfco da toxoplasmose. Levantamento soro-lógico em indios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev. Inst. Adolfo Lutz 29/30: 105-139, lílB9/70.

LER44, 1962), e de animais de vida livre(CHRISTIANSEN & STIM9, 1951).

Embora, em sua grande maioria, o en-contro do T. gondii se tenha registrado emcasos isolados, têm sido descritas epizootiasentre carneiros, na Inglaterra, por BEVER-LEY & MACKA Y2, em 1962; em canis,nos E. U .A., por COLE et aliill!, em 1953;entre pombos e coelhos, no Congo, porWIKTOR67,em 1950; entre ratos silves-tres, na Escócia, por ELTON et alii19, em1935; e entre galinhas, na Noruega, porERICHSEN & HARBOE20, em 1953 eem São Paulo, por N6BREGA48, em 1955.

Os estudos sôbre a toxoplasmose, inicioalmente ligados às espécies animais, desper-taram grande interêsse com o aparecimentodos primeiros casos humanos.

O primeiro caso teria sido registradopor CASTELLANI6, em 1914, no Ceilão.Tratava-se de um jovem de 14 anos, fale-cido após um longo período de febre inter-mitente, tendo sido encontrado no baçomicrorganismos, morfolõgicamente idênti-cos ao toxoplasma. FEDOROVICH21, em1916, ao examinar o sangue de um menorde 10 anos, com febre e esplenomegalia,encontrou parasitas comparáveis aos descri-tos por CASTELLANI.

CHALMERS & KAMAR8, em 1920, noSudão, referem a morte de três soldados,acometidos de processo febril, com hepa-to-esplenomegalia. Realizada a necrópsiade um dêles, verificaram, em esfregaços dobaço, ao presença de microrganismos idên-ticos, ao T. gondii.

TORRES6\ em 1927, no exame de umrecém-nascido, falecido no 299' dia de vida,com um quadro de contratura musculargeneralizada e convulsões, refere o acha-do em cortes histológicos do cérebro, mio-cárdio, músculos esqueléticos e tecido ce-lular subcutâneo, de um parasita que iden-tificou como Toxoplasma ou Encephali-tozoon, lembrando a possibilidade de tra-tar-se de uma afecção congênita.

Nos E.UA., o primeiro caso humano foidescrito por WOLF & COWEN68, em 1937,em recém-nascido, morto com um quadrode meningo-encefalomielite. WOLF, CO·

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WEN & PAIGEo9, em 1939, apresentaramum novo caso, referente a uma criança fa-lecida no 31Ç! dia de vida, com dispnéiae cianose intensas. Registraram a pre-sença do parasita em lesões do sistemanervoso e conseguiram transmitir a doençaa animais de laboratório, que revelaramlesões e parasitas semelhantes aos verifica.dos, na espécie humana.

Estas primeiras ovservações, indicandoa possibilidade do T. gondii atingir o ho-mem, foram seguidas de numerosas comu-nicações que vieram confirmar a existênciada toxoplasmose como doença adquiridaou congênita.

Considerável progresso no estudo desteparasita foi possível com o aparecimentode técnicas laboratoriais, permitindo o diag-nóstico sorológico da toxoplasmose.

O teste de neutralização, de SABIN &OLITSKY55, em 1937, foi o primeiro uti-lizado. Consistia na injeção intradérmica,no dorso de coelho, de uma mistura dosôro em estudo com toxoplasmas vivos.A injeção de toxoplasmas produzia no localda inoculação uma zona eritemato.papulosaou pápulo-necrótica, atingindo seu máximono 79' ou 89 dia. A existência no sôroinjetado de anticorpos toxoplasmáticos neu-tralizantes impedia o aparecimento da lesãocutânea (teste positivo). Atualmente, nãoé mais usado, sendo substituído por outrostestes sorológicos, introduzidos no correrdos anos seguintes, conforme a relaçãoseguinte:

a) Teste de fixação do complemento,NICOLAU & RAVEL046' 1937,WARREN & SABIN66, 1942.

b) Teste do corante, SABIN & FELD.MAN56, 1948.

c) Teste de hemaglutinação, JACOBS& LUNDE35, 1957.

d) Teste de inibição de fluorescência,GOLDMAN33, 1957.

e) Teste de aglutinação direta, FUL·TON & TURK26, 1959, e FUL-TON25, 1965.

f) Teste de floculação, SIIM &LIND57, 1960.

g) Teste de imunofluorescência indire-ta, KELEN et alii39, 1962.

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BARUZZI, R. G. - Contr-ibuição para o estudo eprdemtotógíco da toxoplasmose. Levantamento soro-lógico em índios (10 Alto Xíng'u, Brasil Central. Rev. Inst. Adolfo Lutz 29/30: 105-139,1969/70.

Deve-se, ainda, lembrar a prova de sen-sibilidade cutânea com a toxoplasmina, ín-troduzida por FRENKEL24, em 1948.

A divulgação destas provas laboratoriaistrouxe considerável auxílio para o diagnós-tico clínico desta parasitose e permitiu arealização de inquéritos sorológicos, quevieram demonstrar a existência de grandenúmero de indivíduos portadores de anti-corpos toxoplasmáticos, sem qualquer sin-tomatologia.

Ficou assim constatada a grande disse-minação da "toxoplasmose-infecção" nohomem eem animais, sendo relativamenterara a ocorrência da "toxoplasmose-doen.ça".

Duas, comunicações recentes sôbre aocorrência de surtos epidêmicos em cole-tividades humanas, verificados em Bragança(MAGALDI et alii42, 1967) e em São Josédos Campos (MAGALDI et alii43 , 1967)no Estado de São Paulo, demonstraramoutro aspecto importantíssimo da toxoplas.mose.

Apesar de transcorridos 60 anos desdea descrição inicial de SPLENDORE e dasnumerosas investigações. científicas realiza-das, ainda se desconhece o mecanismo detransmissão do T. gondii, com exceção daforma congênita,

LEVI et alii'", 1968, obtiveram o isola-mento do parasita, a partir da saliva de9 entre 10 doentes, acometidos de toxo.plasmose, confirmando o achado de CA-THIE7, em 1954. Tais observacões re-vestem-se de grande interêsse, indicando,eventualmente, uma forma de transmissãointer-humana, a ser pesquisada.

Acidentes de laboratórios têm demonstra-do a possibilidade de o homem se infectar,quer por via oral, ao aspirar por êrro depipetagem material contaminado, quer porvia cutânea através da picada com agulhacontaminada (BEVERLEY & MACKAY3,1955), e mesmo pela mordedura de ani-mais inoculados com o parasita (UMDENS-TOCK et alii63, 1965).

O encontro de cistos de T. gondii emmúsculos esqueléticos do porco, vaca ecarneiro (JACOBS et alit", 1960) ou em

determinados órgãos, particularmente o cé-rebro, e ainda, sua presença no leite, po-deria sugerir uma forma de transmissãoatravés dêstes alimentos, quando ingeridoscrus ou mal cozidos (DESMONTS et alii18,1965). No entanto a constatação de igualprevalência de anticorpos ao toxoplasma,em vegetarianos, por RAWAL54, em 1959,e em indivíduos que ingerem unicamentecarne bem cozida e leite pasteurizado, in-dica a existência de outras formas de trans-missão do parasita. O toxoplasma foi tam-bém encontrado em ovos de galinha, porPANDE et alii52, 1961.

A capacidade do parasita, em sua formacística, de resistir à ação dos sucos diges-tivos JACOBS et alii36 (1960) permite suamanutenção na natureza, entre animais comhábitos de canibalismo e entre os carní-voros.

A grande freqüência da toxoplasmoseem cães e gatos, e a comprovação de quena fase aguda da infecção os parasitas po-dem ser eliminados pela saliva, urina efezes, indicaria um provável meio de trans-missão, considerando-se o íntimo contatodêstes animais com o homem.

A possibilidade da transmissão da toxo-plasmose por artrópodos tem sido investi-gada. Através da inoculação de material,obtido pela trituração de insetos infecta-dos, foi observada a transmissão do para-sita a animais de laboratório (GIROUDet aUi3!, 1952; NUSSENZWEIG & DEA-NE5!, 1958), sendo no entanto, em con-dições iexperimentais, excepcional a trans-missão pela picada de insetos infectados(M4 DEANE16, 1958).

A presença de toxoplasmas em ovos deToxocara cati, evidenciada por HUTCHI-SON34, em 1965, veio chamar a atençãosôbre a eventual importância dos nemato-dos na transmissão do parasita, abrindonovo campo de pesquisa.

Assim, constata-se que, apesar das váriasteorias aventadas, não se conseguiu até omomento determinar o ciclo de vida doT. gondii. A ampla distribuição do pa-rasita sugere um modo de transmissão sim-ples e altamente eficaz, ou mesmo a exis-tência de vários mecanismos de transmissão.

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BARUZZI, R. G. - ContribUlção para o estudo eptdemiológ'ico da toxoplasmose. Levantamento soro.lógico em indios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev. Inst, Adolfo Lutz 29/30: 1105-139,19'69/70,

Inquéritos baseados no levantamento daprevalência de anticorpos ao toxoplasmaem diferentes \grupos humanos, ao ladodo estudo dos hábitos e costumes dessaspopulações e dos fatôres ecológicos pre-sentes" 'representam um dos caminhos aserem percorridos no sentido de obtermosmaiores conhecimentos sôbre a cadeia detransmissão do parasita.

Dentro desta linha de investigação, re-solvemos estudar os índios do Alto Xingu,no Brasil Central. Trata-se de um grupohumano que, em virtude do isolamento emque se manteve até recentemente, no cen-tro de extensa região de cerrados e flo-restas virgens, preservou seus hábitos ecostumes primitivos. Da mesma forma afauna e a flora da região permanecem aoabrigo das modificações impostas pela pe-netração do homem civilizado. Conside-ramos digno de interêsse o confronto dosresultados observados neste grupo indígena,com os registrados em inquéritos, realiza-dos em populações com condições de vidamuito diversas.

II - MATERIAL

A área abrangida pelo inquérito fazparte do Parque Nacional do Xingu, umareserva indígena situada no norte do Esta-do de Mato Grosso.

o Parque Nacional do Xingu foi criadopelo govêrno federal em 1961, ocasião emque o interêsse despertado pelas terras doBrasil Central, para a exploração agro-pecuária, punha em risco a existência dastribos indígenas localizadas na região. OParque tem uma superfície de 22 .000 km",estendendo-se ao longo do rio Xingu, tendocomo limite norte uma linha que passapela cachoeira de von Martius, e sul, umalinha que passa pela junção dos rios Culuc,ne e Culisevu. Localizada na zona detransição do Brasil Central para a Ama-zônia, a área do Parque apresenta caracte-rísticas naturais, fauna e flora, destas duasgrandes regiões brasileiras. No sul, avis-tam-se ainda as últimas manchas do cer-rado do planalto central e o restante é matadensa, que por sua exuberância e coloraçãose enquadra no tipo amazônico.

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O Parque Nacional do Xingu pode serdividido do ponto de vista administrativoe em relação às características de vida dastribos indígenas, situadas em seu interior,em duas partes: uma norte, tendo comocentro o Pôsto de Diauarum, e outra sul,tendo como centro o Pôsto Leonardo Vil-Ias Boas.

No presente inquérito, estudamos a partesul do Parque, que representa cerca de 50%de sua área total e abriga uma populaçãoindígena mais homogênea em seus hábitose costumes. Esta região é conhecida comoALTO XINGU e assim será por nós refe-rida.

O Alto Xingu situa-se entre 12° e 13°de latitude sul e 50° e 54° de longitudeoeste de Greenwich. Sua altitude médiaé de 250 metros. Apresenta duas estaçõesno ano, o "inverno" ou estação das chuvas,de outubro a março; e "verão" ou estaçãoda sêca, de abril a setembro. A tempe-ratura máxima diária mantém-se elevadano decorrer do ano, oscilando entre 26°a 34°C. Durante a noite registra-se que-da acentuada da temperatura, mais mar-cante no período da sêca,

A região é cortada por muitos rios, des-tacando-se os rios Culuene, Ronuro e Ba-tovi, que, no lendário ponto, chamadopelos ndios de Morená, se unem paraformar o rio Xingu. Encontram-se aindavárias lagoas extensas e numerosos cursosde água de pequeno vulto. O rio Xingucruza o Parque do sul para o norte, indolançar-se no rio Amazonas após um per-curso de 1.200 km. As cachoeiras inter-mináveis do médio curso (180 km) sempreconstituíram um sério obstáculo aos via.jantes vindos do norte. Isto aliado à exis.tência de tribos indígenas arredias, locali,zadas acima das cachoeiras, tornaram aregião do Alto Xingu um refúgio seguropara alguns grupos indígenas.

Representa o avião o principal meio decomunicação com o Alto Xingu, sendo apenetração por terra difícil, de certa formaimpraticável. O núcleo civilizado mais pró.ximo, Xavantina, dista 300 km. Ocasio-nalmente, no período da cheia, cargas, vin-das de São Paulo por caminhão, podem

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BARUZZI, R. G. - Contributçãq para o estudo eptderníológíco da toxoplasmose. Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev. Inst. Adolfo Lutz 29/30: l1Oi5-139, 119'69/70.

ser transportadas por água, a partir deGarapu, às margens do rio Sete de Setem-bro, até o Parque, com o uso de batelõesou balsas, durando a viagem, cêrca de oitodias.

No Posto Leonardo Villas Boas perma-nece o Diretor do Parque Nacional doXingu, alguns auxiliares e, por vêzes, pes-quisadores. São os únicos indivíduos deraça branca encontrados na região.

Os índios do Alto Xingu não têm con-tato com outros grupos humanos situadosfora de sua área e raramente com os indí-genas que habitam a parte norte do Par-que. Podem ser considerados como umgrupo humano isolado, uma ilha popula-cional.

HABITANTES DA ÁREA PESQUISADA

A área pesquisada é habitada por novetribos indígenas que, segundo estimativasda Administração do Parque, em 1966,compreendiam 610 indivíduos.

Estas tribos vêm sendo estudadas. porequipes médicas ligadas ao Instituto deMedicina Preventiva da Escola Paulista deMedicina, com as seguintes. finalidades:

1 - Determinar as condições de saúdedo índio do Alto Xingu;

2 - Estudar suas condições biológicas;

3 - Estabelecer as medidas médico-profiláticas necessárias à sua preservação.

Como membro integrante destas equipesmédicas, realizamos o inquérito sorológi-co sôbre a ocorrência de anticorpos aoToxoplasma gondii entre os indivíduos exa-minadores, em julho e setembro de 1966.

a) Distribuição por tribos

As tribos indígenas do Brasil se dividemem quatro grandes grupos, conforme otronco lingüístico a que pertencem. NoAlto Xingu estão ausentes, apenas, repre-sentantes. do grupo Jê. Assim temos:

Tribo Grupo lingüística

Auetí (Aweti) TupiCamaiurá (Kamaiura) TupiIaualapiti (Iawalapiti) AruaqueMeinaco (Meinaku)Uaurá (Waurá)Calapalo (Kalapalo)Cuicuro (Kuikuro)Matipu (Matipuhy )Nafuquá (Nahuquá)

Segundo VILLAS BOAS64, em 1968,-"indícios de ocupação da área, com grandesáreas derrubadas a machado de pedra, ves-tígios de antigas. aldeias, cacos de cerâmi-cas etc., levam-nos a crer que a ocupaçãodo Alto Xingu remonta há séculos" .

AruaqueAruaqueCaribeCaribeCaribeCaribe

Narrativas de viajantes do século passadofazem menções aos índios do Alto Xingu.Descrição primorosa dos hábitos e costumesdestas tribos encontra-se no livro: "Entreos Aborígenes do Brasil Central", de Karlvon den STEINEN6ú, publicado em 1894.

b) Idade e sexo dos indivíduosexaminados

Em geral os índios compareciam ao localdo exame em grupos pertencentes a umamesma tribo. Apresentavam-se com a espô-sa e filhos, insistindo para que todos fôssemigualmente examinados. Salvo a natural re-sistência das crianças menores, não tivemosnenhuma recusa por parte dos demais.Alguns índios que, eventualmente, estavampescando ou trabalhando na lavoura, com-pareciam nos dias imediatos ou eram exa-minados por ocasião de nossas visitas àsaldeias. Foram examinados 254 indivíduos,sendo 130 do sexo masculino e 124 do sexofeminino.

A idade do índio foi calculada de formaaproximada. Baseamo-nos no aspecto físi-co, em alguns. informes fornecidos pelo pes-soal auxiliar do Parque e no relacionamentocom os demais familiares. Para as criançase jovens contávamos também com o auxí-lio da ficha odontológica. A representaçãopor grupos etários figura no quadro I:

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BARUZZI, R. G. - Oontribmção para o estudo eprdcmíológtco da toxoplasmose. Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev. Inst. Adolfo Lutz 29/30: 1105-139, Hl'69/70.

segundo o grupta etário e o sexo.

Q U A D R O I para O sexo masculino e 14 para o femi-tndios examinados no Alto Xingu, 19'66, distribuição nino.

Sexo TotalGrupo

etário

(anos) Mascu- Femi· N.O %lino nino

--- ---0[- 5 18 25 43 ]6,9

5 [- 10 21 17 38 14,9

10 [- 20 26 23 49 19,3

20 [- 30 27 22 49 19,3

30 r- 40 2'; 26 52 20,4

40 [- 50 8 7 15 6.9

50 [- 60 4 4 8 3,1

--- --

Total 130 1>24 2M 1<000

c) Distribuição por [amilias

Entre os índios do Alto Xingu, a poli-gamia é aceita, mas não é freqüente, e onúmero de espôsas não ultrapassa três. Ocasamento nasce em geral de acordos rea-lizados entre as famílias, evitando-se uniõesentre consanguíneos próximos.

O homem logo após a puberdade perma-nece preso no interior da taba por períodosde três a quatro meses, recebendo alimenta-ção abundante, destinada a favorecer seudesenvolvimento físico. Os que revelamfôrça e agilidade para as lutas corporaispermanecem reclusos por períodos maiores,como futuros lutadores da tribo.

A jovem, marcado o casamento, iniciaum período de reclusão no interior da oca,em média de dez meses, durante os quaispode ser vista unicamente pelos parentes.Casa-se ao deixar a reclusão.

De maneira geral, o homem casa-se emidade superior à da mulher. Dos 14 aos18 anos (14 [- 18), registramos a presen-ça de 7 homens, nenhum casado, e 12 mu-lheres, das quais 1o eram casadas. Dos 18aos 22 anos (18 1- 22) tivemos 15 ho-mens, dos quais 7 casados, e 10 mulheres,todas casadas. A idade mínima observada,entre os indivíduos casados, foi de 18 anos

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No Alto Xingu são freqüentes os casa-mentos inter-tribais, fato já registrado porSTElNENôo, em 1887. Tal prática talvezse tenha acentuado nos últimos anos, emvirtude do reduzido número de membrosde cada tribo e da proibição dos casamen-tos consagüíneos.

Encontramos certa dificuldade para esta-belecer os. grupos familiares entre os indiví-duos examinados, pois, além dos pais,irmãos e filhos, não se conseguiu determi-nar com exatidão outros graus de paren-tesco e existe a recusa dos índios de pro-nunciarem o nome dos parentes por partedo cônjuge, ou seja, sogros e cunhados, poracreditarem que trariam malefícios à pessoacitada. Segundo o levantamento realizado,os 254 indígenas incluídos no inquérito es-tariam distribuídos por 83 famílias:

QUADRO II

Número de famílias do Alto Xingu, segundo onúmero de seus membros' inoluídos no inquérito

sorológioo para toxoplasmoee, 1966.

2

3

83

Número de pessoasexaminadas por

família

Númerode

famílias

21

16

16

4 14

5

6

8

10

2

2

9

10

Total

A existência de 21 eventuais famílias re-presentadas por um único membro decorreu,principalmente, da presença de indivíduossolteiros, para os quais não se conseguiuestabelecer o relacionamento familiar.

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BARUZZI, R. G. - Contr-ibuição para o estudo cpidemiológtco da toxoplasmose. Levantamento soro-lógico em índíos do Alto Xingu, Brasil Central. Rev. Inst. Adolfo Lutz 29/30: 105-139. 1!l'69/70_

CARACTERíSTICAS DA VIDA INDíGENA

Cada tribo do Alto Xingu tem sua pró-pria aldeia, com exceção dos Nafuquá eMatipu que, pelo pequeno número de mem-bros de ambas, constituíram aldeia em co-mum.

As aldeias do Alto Xingu obedecem aum mesmo tipo geral, são formadas porvárias casas ou ocas, dispostas em círculoem tôrno de um pátio extenso, no qual sãorealizadas as festas e cerimônias e sepulta-dos os mortos importantes da tribo _ Asaldeias distam entre si, por vêzes, dezenasde quilômetros e se situam próximas derio ou lago, onde os indígenas se abastecemde água.

As ocas são, as vêzes, bastante espaço-sas, chegando a medir 24 m de comprimen-to, 12 m de largura e 8 m de altura. Sãocobertas com fôlhas de sapé ou buriti, sôobre uma estrutura formada por varas amar-radas . O interior da oca mantém-se nodecorrer do dia na penumbra e sua tempe-ratura é amena em relação ao exterior. Oshabitantes de uma mesma oca estão ligadosentre si por laços de parentesco. Na aldeiaCamaiurá encontram-se 7 ocas, habitadaspor 110 índios; na aldeia Iaualapiti são 4ocas para 39 habitantes.

Os índios utilizam rêdes para dormir, asquaissão dispostas em grupos no interiorda oca, de forma a deixarem a parte centrallivre para a circulação. As rêdes são teci-das pelas mulheres a partir do algodão na-tivo e da fibra da palmeira buriti. Durantea noite, junto a cada grupo de rêdes émantida uma pequena fogueira para forne-cer o aquecimento necessário.

Cada aldeia tem seu chefe, o qual pos-sui autoridade apenas relativa sôbre os de-mais, sendo o responsável pelas festas ecerimônias, bem como pela observância dastradições da tribo. O pajé é o chefe espiri-tual e os índios lhe atribuem o dom de curaras doenças, provocadas pela influência dosespíritos.

Na vida familiar, homens e mulherestêm obrigações definidas. Os trabalhos dalavoura, caça e pesca são atribuições mas-

culinas. Na pesca utilizam habitualmente oarco e a flecha, mas na ocasião da vazantehá pescarias coletivas, nas quais empregamo timbó, um cipó que macerado e agitadona água desprende uma substânica tóxicapara os peixes. São funções da mulher: opreparo dos alimentos, a fabricação de pa-nelas de barro, a confecção de rêdes e a re-tirada de água do rio ou lago próximopara uso doméstico.

Os índios têm agricultura extensiva eitinerante, cujo principal produto é a man-dioca (Manhiot suculenta), seguida do mi-lho (Zea mays] e da batata-doce (Ipomoeabatatas).

A alimentação do índio do Alto Xingu,baseia-se fundamentalmente na mandioca eno peixe. :Ê:ste,assado sôbre um braseiro oucozido em água, constitui a principal fonteproteica. Quando desejam conservar ospeixes por vários dias, os mesmos são mo-queados sôbre a fogueira. Apreciam uni-camente os peixes de escamas, entre osquais destacam-se os seguintes: tucumaré(Cichla multifasciata), matrinchã (Bryconhilari), curimatá (Prochilodus hartiii e píau(Astyanax sp).Na alimentação habitual não figura ani-

mal de pêlo ou de pena. Em raras ocasiõescomem macacos (Allonata caraya ou Cebussp ), reservados para determinados doentes..Entre as aves apreciam o mutum (Crax sp)e o jacú (Penelope pileata), também rara-mente consumidos.

A mandioca está sempre presente na ali-mentação, sob a forma de mingau ou debiju, massa assada sôbre o fogo. SegundoSILVA58,1966, pode-se calcular por adultoo consumo de 1 a 1,5 litro de mingau e400 gramas de peixe ao dia, pêso do peixeinteiro, cru.Além do peixe e da mandioca, figuram

na alimentação, mas de forma menos fre-qüente, milho, batata-doce e uma grandevariedade de frutos selvagens. Durante omês de agôsto, quando o tracajá (Podoc-memis cayennensis) deposita seus ovos naspraias, êstes são recolhidos pelos indígenas,sendo as gemas ingeridas cruas ou cozidas.Novembro é o mês do piqui (Caryocar sp),um fruto de polpa gordurosa, muito aprecia-do pelos índios.

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Os habitantes do Alto Xingu desconhe-cem o uso do nosso sal de cozinha, masutilizam em algumas ocasiões um "sal"obtido das fôlhas do aguapé, uma plantaaquática. As fôlhas são sêcas ao sol e aseguir incineradas. Das cinzas é extraído o"sal", que apresenta côr esbranquiçada etem em sua composição 74g% de cloretode potássio e 0,194 g% de cloreto de sódio.

Os índios não possuem horários deter-minados para as refeições, comem de for-ma moderada várias vêzes ao dia. As crian-ças são alimentadas no seio materno atémais ou menos três' anos de idade, com umsuplemento alimentar fornecido pelo min-gau de mandioca ou pelo caldo de peixecozido.

ANIMAIS DOMICILIARES E PERI-DOMICILIARES

Presença de Vetores

O índio do Alto Xingu não possui ani-mais de criação ou carga. Nas aldeias nãoexistem cavalos, burros, bois, porcos, ca-bras, coelhos e gatos, animais comuns nospovoados brasileiros.

O cão é o animal mais encontrado nasaldeias, sendo sua introdução na área rela-tivamente recente. STEINEN60, em 1887,assinala a ausência do cão doméstico noAlto Xingu, admitindo-se que foi introdu-zido por ocasião da Expedição Roncador--Xingu, em 1946. São vistos com freqüenciano interior da habitação em contato cons-tante com seus moradores, principalmentecrianças e muitas vêzes comem em recipien-tes usados igualmente pelo homem.

No interior da oca encontra-se com fre-qüência o macaco, sendo os mais comuns omacaco-prego (Cebus libidinosus) e o ma-caco de cheiro (Saimiri sciurus).

Algumas aves são mantidas presas nointerior da habitação, como papagaios (vá.rias espécies do gênero Amazona) periqui-tos (Brotogeris tiricay, araras (Ara macaoe Ara araruana) e tucanos (Rhamphastostoco e Rhamphastos m. monilisv . Destasaves os índios retiram penas para a confec-ção de cocares, brincos, colares, etc. Porvêzes em tôrno da habitação encontra-se o

112

mutum (Crax sp), ave selvagem, aprisiona-da e domesticada. Ausência de galinhas epatos. No centro das aldeias pode-se verum cone formado por troncos e galhos,dentro do qual os índios aprisionam um ga-vião real (Harpia harpya), muito apreciadopor sua penas.

Existem várias espécies de ratos silvestresque a noite invadem a oca, à cata de restosalimentares. Em. relação aos artrópodos,registra-se a presença, em grande quantida-de, de baratas (Periplaneta americana eBlatella germânica). Até o momento nãoforam observados triatomídeos domésticos.Raros muscidios silvestres e presença empequeno número da mosca doméstica(Musca domestica). Quanto aos insetoshematófagos, destacam-se pela presença re-lativamente abundante em suas épocas demaior densidade: mutucas (tabanídeos),pium (simulídeos) e maruim (culicóides).Entre os anofelinos predomina no interiordas habitações o Anopheles (Nyssorhyn-chus) darlingi, e em capturas efetuadas noexterior encontram-se o Anopheles (Nyssor-hynchus) darlingi, Anopheles (Nyssorhyn-chus) albitarsis e Anopheles (Arribalzagz"a)minor ,

Deve-se, destacar, ainda, a presença depulgas (Ctenocephalides felis) que, princi-palmente na época da sêca, podem ser en-contradasem grande número. Os indíge-nas do Alto Xingu são portadores freqüen-tes de piolhos da cabeça, cuja identificaçãoestá sendo realizada por CONTINHO &d'ANDRETTA12, 1968, tendo sido adian-tado que se trata de espécie do grupo para-sita de antropóides.

o HOMEM DO ALTO XINGU, SUASCARACTER1STICAS F1SICAS

Os índios, do Alto Xingu vivem habitual-mente nus, usando apenas alguns ornamen-tos como brincos e colares. Os pêlos docorpo são retirados por arrancamento.

Os homens passam sôbre o corpo umatinta vermelha, obtida do maceramento desementes do urucum com óleo de palmeira,que persiste por vários dias e é periodica-mente renovada. Nos dias de festa exe-cutam desenhos caprichosos, utilizandotambém uma tinta preta, retirada do ge-nipapo.

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As mulheres têm cabelos longos, soltossôbre os ombros e enfeitam-se com colaresde contas e penas, Usam sôbre o púbisuma pequena membrana, o "uluri" feitacom casca de uma árvore e prêso por um

fino cordão, Seu uso constitui uma carac-terística marcante das tribos do Alto Xingu.

A determinação da estatura e do pêsocorporal de 118 índios examinados, adultos,dos quais 64 eram do sexo masculino e 54do sexo feminino, acusou:

QU ADRO !II

Lnâio« do Alto X~ngu tuiultos, seçumâo a estaiura e P~80, 1;966.

I Estatura (m) Pêso corporal (kg)

Sexo Média Desvio-padrão Média Desvio-padrão

Masculino 1.620 0,051 63,07 7.11

Feminino 1.500 0,047 49,39 5,58

QUADRO IV

Iruiios do Alto Xingu, tuiuitos seçwnâo a estatura e o sexo, 19'66·.

Masculino Feminino Total

142 1- 146 - 12 12

146 l- ISO 1 20 21

150 1- 154 4 12 16

154 1- 158 9 8 17

158 1- 162 13 1 14

162 1- 166 25 - 25

166 1- 170 9 1 10

170 1- 174 1 - 1

174 1- 178 2 - 2

Total 64 54 118

QUADRO V

Imdios do Alto Xingu, aâuuos, segundo o p~80 e o sexo, 1966.

Masculino Feminino Total

38 1- 42 - I 4 4

42 1- 46 - 15 1546 I- SO 3 16 1950 1- 54 4 6 1054 1- 58 9 10 I 19

58 1- 62 15 2 1762 1- 66 15 1 1666 1- 70 8 - 870 1- 74 5 - 574 1- 78 4 - 4

78 1- 82 1 - 1

Total 64 I 54 118

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ESTADO DE SAúDE DA POPULAÇÃO EXAMINADA

a) Exame clínico

Todos os indivíduos incluídos no presen-te inquérito foram submetidos a exame clí-nico. O interrogatório referente aos ante-cedentes pessoais e sintomatologia atual,pouca ou nenhuma informação pôde fome-cer, em virtude das dificuldades linguísticasexistentes.

Nos hábitos pessoais menciona-se o ba-nho nos rios ou lagos várias vêzes ao dia.A água para beber e para o preparo dosalimentos é recolhida pelas mulheres, emgrandes panelas de barro, em rio ou lagopróximo da aldeia. As dejeções humanassão feitas dentro da mata, não sendo, emgeral, encontradas fezes humanas ao redorda habitação,

O índio do Alto Xingu tem compleiçãoatlética, musculatura forte, cintura escapularbem desenvolvida e cintura pélvica pequena.Ausência de obesidade.

Ao exame físico não foram observadosindivíduos ictéricos. Ausência de lesõescutâneas sugestivas de leishmaniose. Umamulher, com cêrca de 36 anos, apresentavalesão na face, na região geniana esquerda,por possível carcinoma baso.celular, Nãofoi observada a ocorrência de bócio.

Em 35 índios registrou-se elevação datemperatura axilar: entre 37°C e 37,5°C,em 30 examinados, e entre 37,6°C e 38°Cnos 5 restantes. A ocorrência de febre,em 11 desses indivíduos, foi atribuida a pro-cesso gripal, em virtude das manifestaçõescatarrais das vias aéreas superiores, pre·sentes. Sinais de amigdalite crônica foramvistos em 20 pessoas, sem elevação da tem-peratura axilar.

Os exames odontológicos de 123 índios,incluídos na população estudada, foram rea-lizados por TUMANG & PIEDADE62, em1966 e comparados com exames feitos entrehabitantes de Piracicaba, Estado de SãoPaulo. A prevalência de cáries foi maiselevada no grupo civilizado, com exceçãoda dentição mista, na qual houve predomi-

114

nância de cáries nos índios. A prevalênciade doenças periodontais foi maior no grupoindígena.

Lesões oculares foram evidenciadas, emuma mulher de 45 anos, com catarata bila-teral,e em um homem de 52 anos, comlesões granulomatosas no globo ocular es-querdo e secreção purulenta. Este índio,foi o único a presentar comprometimentoacentuado do estado geral, caquexia.

Ao exame dos gânglios linfáticos não foiobservada a presença de comprometimentoganglionar generalizado em nenhum dos in-divíduos examinados. Aumento de gan-glios linfáticos regionais foi registrado em15 índios e ocorreu com mais freqüêncianas cadeias ganglionares submaxilares e in-guinais. Os gânglios, aumentados à palpa-ção, não apresentavam sinais de fistuliza-ção e não ultrapassavam 2 x 1 em,

Na propedêutica pulmonar evidenciou-sea presença de roncos e estertores sub-cre-pitantes de grossas bolhas, em 6 índios.Não foram encontrados sinais propedêuticossugestivos de asma brônquica.

No sistema cárdio-vascular não se regis-trou a ocorrência de insuficiência cardíaca.Ausência de arritmia cardíaca. Presençaem alguns indivíduos de sôpro sistólico,pouco intenso, audível no mesocárdio ouno fóco mitral, sem outros achados na pro.pedêutica cardíaca. As cifras de pressãoarterial variavam de 90 a 120 mm Hg paraa máxima, de 60 a 80 para a mínima.

Ao exame doabdomen constatou-se gra.videz em três índias, em tôrno do 49' e 59mês. Quatro crianças menores de 3 anos,apresentavam hérnia umbelical.

o fígado foi palpável na maioria dos in-divíduos examinados. Se considerarmosêste órgão, para efeitos práticos, aumenta-do de volume quando palpável a mais de4 em (dois dedos) da reborda costal direi-ta, na direção da linha hemi-clavicular di-reita, pode-se admitir a presença de hepa-tomegalia em 66 índios. A hepatomegaliafoi acompanhada, nos 66 casos, de aumen-to de volume dó baço.

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A esplenomegalia foi O achado mais íre-qüente do exame físico. Para a sua avalia.ção recorremos ao índice esplênico de Boyd,que adota 4 tipos, desde baço O, quando oórgão não é palpável, até baço 4, estenden-do-se além da cicatriz um bilical. Entre

êstes dois extremos temos o baço 1, palpá-vel na reborda costal, o baço 2 até a meta-de da linha costo-umbilical e o 3 entre esta

linha e a cicatriz umbilical. Os resultadossão vistos no quadro VI.

QUADRO VI

Indios do Alto Xingu, 19,66. segundo o índice espltnico e a idade

Endrce esplênico

Idade 2 3 Total(anos) O 1 4

----

O 1- 2 4 -- 6 1 - 112 1- 10 16 15 30 6 1 6810 1- 20 5 11 16 9 2 4320 1- 30 5 2 15 12 14 4830 1- 60 9 8 20 19 14 70

--~--

Total 39 36 87 47I

31 240

Um rapaz, de 18 anos, apresentava umquadro neurológico de polineurite. Os ín-dios atribuiam seu estado físico à ação deuma erva, administrada aos jovens do sexomasculino para estimular o desenvolvimen-to físico.

As crianças examinadas mostraram bomestado nutritivo. Não se observou caso dedistrofia.

b) Provas de laboratório

Para melhor avaliação das condições desaúde do indígena, são apresentados os re-sultados do estudo hematológico realizadopor SILVA58, 1966, e do inquérito sôbrea ocorrência de êntero-parasitas, efetuadopor d'ANDRETTA13, 1968.

Foram os seguintes os resultados do exa-me hematológico de 69 índios do AltoXingu:

Exame hematológico

1. Série Vermelhan:" gl/mlacima de 4 500 000de 4 000 000 a 4 500 000inferior a 4 000 000

lndios34304

Hemoglobina

Valores em g%Superiores a 12entre 10 e 12inferiores a 10

lndios45222

Dosagem de ferro sérico

Considerando-se o valor normal deferro sérico, situado entre 60 e150 ug%, foram encontrados apenas4 índios com valores abaixo do nor-mal (1 mulher e 3 crianças)

2. Série brancan:" gl/ml

acima de 9 000de 5 000 a 9 000inferior a 5 000

lndios

11535

Quando à forma leucocitária, os acha-dos mais freqüentes foram: neutropenia em52% dos casos estudados, eosinofilia em88% e linfocitose em 46%.

O inquérito sôbre êntero-parasitas intes-tinais incluiu 139 índios do Alto Xingu.As amostras de fezes foram mantidas no

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MIF, meio conservador, até o momento deserem examinadas. O exame proto-parasi-tológico obedeceu à seguinte seqüência:

a) centrifugação, exame do sedimento

b) Willis, a partir do sedimento

c) Sedimentação (método de Hoffmannet alii), de 24 horas.

Na pesquisa de helmintos, 116 amostrasforam positivas. A ancilostomíase estevepresente em 81% dos indivíduos examina-dos; Ascaris lumbricoides em 18%; Ente-robius vermicularis em 13% ; Strongyloi-des stercoralis em 11%. Não foram obser-vados ovos de Trichuris trichiura. O nú-mero de exames negativos para helmintosfoi de 23, ou seja, 17% do total de amos-tras examinadas.

Dos indivíduos com ancilostomíase, 101apresentaram menos de 2 600 ovos porgrama de fezes, sendo considerados comoportadores de infecção leve, 12 ultrapassa-ram tal limite.

Quanto aos protozoários, a Entamoebacoli esteve presente em 87% dos exames;o complexo "histolytica", em 61%; a Ioda-moeba butschlii, em 39%; a Endolimax na-na, em 38%; a Giardia lamblia, em 28%;o Chilomastix mesnilii, em 17% ; o Balanti-dium coli, presente apenas em um exame.Dos 139 indivíduos examinados, 20 ou seja14% apresentaram exame de fezes negati-vos para protozoários.

c) Comentários sõbre os achados clínicose laboratoriais

A esplenomegalia, presente em grande nú-mero dos indivíduos examinados, merecealguns comentários. O inquérito sôbre aocorrência de parasitas intestinais não acu-sou a presença de ovos de Schistosoma man-soni em nenhuma das amostras de fezes.

Durante a permanência das equipes mé-dicas no Alto Xingu, foram atendidos váriosindígenas, principalmente crianças, com sur-tos febris, provocados pela malária. Paradeterminar a prevalência da malária na re-gião, d'ANDRETTA et alii1.4vêm realizandoinquérito parasitário através de gotas es-pêssase esfregaços de sangue de seus habi-

116

tantes. Resultados parciais referentes a127 índios, mostraram 70 casos positivos,ou seja 55 %, dos quais 3 apresentaramparasitismo concomitante pelo P. vivax eP, [alciparum, Nos demais (67) a distri-buição percentual foi a seguinte:

Positivos para

Plasmodium vivaxPlasmodium [alciparumPlasmodium malariae

%

47,735,816,4

Para uma apreciação superficial, foi feitainvestigação sorológica através da pesquisade anticorpos ao plasmódio, pela técnicada imunofluorescência indireta, em 23 sorosde crianças menores de 10 anos, escolhidosao acaso entre as amostras utilizadas no in-quérito de toxoplasmose. As reações fo-ram efetuadas pelo Dr. J. Meuwissen, noDepartamento de Higiêne da UniversidadeCatólica de Nijmegen, Holanda, sendo em-pregado como antígeno o Plasmodium iielâi.

Conforme se verifica pelo Quadro VIIhouve apenas uma reação negativa conside-rando-se 1:20 como a diluição inicial. Ossoros pertencentes a três crianças, com 45dias, 60 dias e 12 meses de idade, apresen-taram, respectivamente, títulos de 1: 160,1: 80 e 1 :40, demonstrando, pela presençade anticorpos ao plasmódio, que a maláriana região incide precocemente. Das 23crianças examinadas, 17 apresentavam es-plenomegalia ao exame físico.

QUADRO VII

Ocorrência de anticorpos eérioos ao plasmôdico,em 23 crianças do Alto Xingu, 1966, pela técnica

da imwnofiuorescéncia indireta

Título do sôroFreqüência1 :

< 20

20 2

40 5

80 5

160 b

320 3

640

Total 23

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As considerações anteriores permitem le-vantar a hipótese de que a esplenomegalia,presente em grande parte da populaçãoexaminada, decorre de surtos repetidos demalária.

111 MÉTODOS

As atividades da equipe médica eramcentralizadas no Pôsto Leonardo VillasBoas, onde se podiam contar com algumasinstalações, tais como farmácia, ambulató-rio médico e um pequeno laboratório, quedispunha de centrifugador, microscópio, ge-ladeira e estufa. Os indígenas para maiorfacilidade do trabalho, eram instados a com-precerem ao Pôsto, sendo posteriormentevisitadas algumas aldeias para exame dosindivíduos que, por razões várias, não ti-vessem atendido à solicitação dos respon-sáveis pelo Parque.

Estabeleceu-se uma rotina de trabalho,pela qual o índio era inicialmente identifi-cado, com o registro do nome, tribo e aldeiaem que morava. Seguia-se o registro dosexo, idade aparente, estado civil, númerode filhos e sexo, nome dos pais e tribosa que pertenciam. A identificação pessoalera complementada com uma foto 3 x 4 eme com a impressão digital do polegar direito.Procedia-se, então, ao exame físico geral eexame odontológico, e retirava-se por pun-ção venosa, 5 a 10 ml de sangue.

O sangue obtido era colocado em tubossecos, ocorrendo a retração do coagulo àtemperatura ambiente. Os soros eram se-parados por centrifugação, em seguida as-pirados e injetados em frascos estéreis.Estes, colocados em geladeira, à tempera-tura de 4°C, após um período não superiora oito dias, foram transportados por aviãono interior de recipientes de isopor, con-tendo blocos de gêlo, diretamente à SãoPaulo, onde foram conservados à tempera-tura de -20°C.

TÉCNICA

1. Reação de imunoiluorescência indireta

Para a pesquisa de anticorpos sericoscontra o Toxoplasma gondii, na populaçãoestudada, usamos a reação de imunofluo-rescêncía indireta, conforme técnica preco-

nizada por CAMARG04 (1964). As rea-ções foram por nós realizadas, no segundosemestre de 1966, no "Instituto de Medici-na Tropical de São Paulo", após um períodode treinamento destinado a nos familiarizar-mos com seus detalhes técnicos.

A reação usada consiste genericamenteem colocar-se o sôro a ser examinado, emvárias diluições, sôbre toxoplasmas fixadosem lâminas de microscopia. Em seguidaas lâminas são lavadas e sôbre elas deposi-ta-se o sôro antiglobulina humana, marca-do pela substância fluorescênte. Após umanova lavagem para a retirada da antiglobu-lina humana marcada, não fixada imuno.Iõgicamente, as lâminas, são montadas eexaminadas ao microscópio de fluorescên.cia.

a) Antígeno

Como antígeno para a reação de imune-fluorescência indireta, foram usados toxo-plasmas da cepa M, isolada pela Dra. Ma-ria P. Deane e que vem sendo utilizada hávários anos no Departamento de Parasito-logia da Faculdade de Medicina de SãoPaulo e no "Instituto de Medicina Tropicalde São Paulo" .

Os parasitas são obtidos por lavagemcom solução salina (NaCl a 0,85%) dacavidade peritoneal de camundongos, ino-culados por via peritoneal 48 horas antes"Ao líquido de lavagem adiciona-se igual vo-lume de solução salina, contendo formalinaa 2% . Coloca-se a mistura por 30 a 60minutos a 37° e centrífuga-se em seguidapor 10 minutos a 2.000 r.p.m. O sedi-mento é ressuspenso em volume adequadode solução salina, em concentração suficien-te para fornecer cêrca de 10 parasitas porcampo microscópico (aum. 400 x). Go-tas de suspensão de parasitas são imediata-mente distribuídas em pequenas áreas deli-mitadas sôbre lâminas e fixadas por simplesdissecação em estufa a 37°C.

b) Características dos conjugadosantiglobullnicos

Estes conjugados foram preparados a par-tir de soros imunes de coelhos, inoculadoscom solução de globulinas humanas obtidaspor precipitação de soros com sulfato deamônio em meia saturação. As globulinas

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dos soros imunes foram marcadas por iso-tiocianato de fluoresceína (de The SylvanaCompany) .

Para a reação utilizaram-se diluições doconjugado capazes de reatividade máximana ausência de colorações inespecíficas(diluição de 1/ 100 e 1/200, em geral).

c) Desenvolvimento da reaçãoAs lâminas eram retiradas do congelador

alguns minutos antes de serem usadas epostas a secar à temperatura ambiente, sobum ventilador. Cada pequeno quadradocircunscrito na lâmina recebia 0,01 ml dadiluição do sôro a ser examinado. Assimcada grupo de cinco pequenos quadradosdestinava-se a um sôro, em cinco diluiçõescrescentes, ou seja 1/16, 1/64, 1/256,1/1024 e 1/4096. Os soros positivos até1/4096 eram submetidos a nova diluição apartir de 1/4000, na razão 2. Em se-guida as lâminas eram colocadas a 37°Cdurante uma hora, para desenvolver-se areação. Impedia-se o ressecamento, co-brindo-se as lâminas com uma placa dePetri, revestida com papel de filtro umede-cido. Após o intervalo de tempo mencio-nado, as lâminas eram mergulhadas durante15 minutos em solução salina tamponada,a qual era renovada cada 5 minutos. Aslâminas eram submetidas a uma secagemsumária com papel de filtro. Depositava--se em cada pequena superfície da reação0,01 ml de uma solução contendo o conju-gado, solução salina e Azul de Evans a0,001 g%. As lâminas eram novamentepostas a 37°C durante uma hora, em atmos-fera úmida. Repetia-se a lavagem e a se-cagem da lâmina, na forma já descrita. Aseguir, cobria-se a área dos pequenos qua-drados com uma gôta de glicerina tampona-da e com uma lamínula. Evitava-se o des-lizamento da lamínula, ao exame microscó-pico, prendendo-a com esmalte de unha emseus cantos.

As lâminas prontas para a leitura podiamser conservadas no congelador para exameposterior. Procedíamos à leitura de ime-diato, utilizando um microscópio Zeiss, bi--ocular, com objetiva de imersão 40, pro-vido de diafragma, de oculares 10 ou 12,5x,campo escuro, com condensador cardióide.A luz era fornecida por uma lâmpada

118

MBO-200, filtro excitador BG 12 de 3 mme filtro barreira n9l 50 (Zeiss).

Em cada série de reações empregávamosum sôro positivo de título conhecido e umnegativo, nas várias diluições, como teste-munhos ,

As reações positivas apresentavam fluo-rescência dos toxoplasmas, mais evidentena periferia do parasita, onde formavam umlimite brilhante, uniforme, cuja intensidadediminuia com o aumento progressivo dasdiluições dos soros. O título do sôro eradado pela maior diluição, capaz de determi-nar algum grau de fluorescência nos toxo.plasmas. Nas reações negativas, os para-sitas apresentavam uma coloração averme-lhada, tênue, dada pelo Azul de Evans, ou,por vêzes, discreta fluorescência localizadaem uma das extremidades.

2. Técnica de van NUNEN & van derVEEN

Realizada a reação de imunofluorescên-cia descrita, os soros permaneceram guar-dados a - 20°C. Cêrca de um ano apósescolhemos 30 amostras dêsses soros, paraserem novamente examinados pela imune-fluorescência indireta, agora com o empre-go da técnica apresentada por van NUNEN& van der VEEN49,em 1965.

As reações foram feitas no Departamen-to de Higiêne da Universidade Católica deNijmegen, Holanda, sendo utilizados comoantígenos cortes de cérebro de camundon-gos contendo toxoplasmas da cepa Deelen.Os camundongos eram inoculados com oparasita intracerebralmente, três dias apósos cérebros eram removidos e congeladosràpidamente a - 190°C com nitrogênio Ií-quido e conservados a seguir a - 20°C, du-rante uma semana, no máximo. Cada cé-rebro cortado por criostato fornecia de 400a 500 cortes de 5!J.' O corte de cérebroera colocado em lâmina e sôbre sua superofície adicionava-se o sôro a examinar, emdiluições crescentes. Após um período deincubação para permitir a reação antígeno--anticorpo, a lâmina era lavada e recebiao conjugado contendo anticorpos antiglobu-lina humana e a substância fluorescente.

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BARUZZI, R, G, - Contribmção para o estudo eprdemiológico da toxoplasmose, Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev, Irist , Adolfo Lutz 29/30: 1105·13:9, 1~J;E>9/70.

o conjugado era fornecido por Roboz Sur-gical Instruments Co. (EUA). A leituraera feita em microscópio fluorescente Zeiss.

Os toxoplasmas localizavam-se principal.mente nas meninges e tecidos adjacentes,Quando no sôro examinado estavam presen-tes anticorpos toxoplasmáticos, observava-se

fluorescência dos parasitas. O título do sôoroera dado pela maior diluição capaz deevidenciar fluorescência nos toxoplasmas.

O quadro VIII mostra os resultados refe-rentes aos 30 soros examinados, em SãoPaulo e em Nijmegen (Holanda), pelas duastécnicas descritas,

QUADRO VIII

Resultados comparativos de 30 SO'l"OS de índios do Alto Xingu, B'I"asil Central,examinadosl[Jara a 'determinação de anticorpos ao T. gondii, pela técnica da

imunofluoresci3ncia indireta, em São Paulo, Brasil (19B6) e em Nijmegen,Holanda (10'67),

Título das reações (1':)

~Negativo 64 256 1024 > 4.000 Total-

.. Negativo 7 - 78 - - -eo 64 - 4 - - 4cc -'o'"" 256 - 1 - 2 3" -..co 1024 - 1 2 4 - 7cs-eo 40000 - - 2 3 1 6]E:: > 8000 - - - 2 1 3-

Total 7 6 4 11 2 30

MÉTODO ESTATISTICO

Em virtude da natureza dos nossos dados,preferimos empregar testes não paramétri-COSo Utilizamos a decomposição do X2 nosmoldes preconizados por COCHRANlO(1954), e o teste do X2 em quadros de2 x 2 (associação), usando, quando neces-sário, o método exato de Fisher, tendo emvista as restrições impostas por Cochran.

IV - RESULTADOS

Nas 254 amostras de soros dos índios doAlto Xingu, submetidas à reação de imuno.fluorescência indireta para toxoplasmose, re-gistramos 131 soros positivos, ou seja,51,6%, cujos títulos foram iguais ou supe-riores a l :16.

a) Resultados, segundo o sexo e o grupoetârio

N a população examinada, para um totalde 130 homens, tivemos 61 reações positi-vas" ou seja, 46,9% e para um total de 124mulheres, tivemos 70 reações positivas, ouseja 56,5%.

O Quadro IX e o gráfico 1, mostram adistribuição das reações positivas nos doissexos, dentro dos grupos etários adorados(O 1- 5, 5 1- 10, 10 1-20,20 1- 30,3°1- 40,40 1- 50 e 5°1- 60 anos), atri-buindo-se a cada classe um símbolo para fa-cilitar o trabalho posterior. As proporçõesforam expressas com 6 casas decimais tendoem vista o método analítico a ser usado.

119

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.....•No QU ADRO IX

Proporção de reações sorológicas positivas, pela técnica da imunofluorescência indireta, segundo o sexo e os gruposetârios, em índios do Alto Xingu, Brasil Central, 1966.

Grupo M a s c u I i n o F e m i n i n o

etário(anos) Positivo Negativo Total Proporção(+) Sfmb'oloPositivo Negativo Total Proporção<+ ) SImbol0

(p) (1')O I- 5 5 13 18 0,277777 TI 9 16 25 0,360000 T25 1-10 8 13 21 0,380952 T3 7 10 17 0,411764 T4

10 1-20 15 11 26 0,576923 T5 14 9 23 0,608695 T620 1-30 13 14 27 0,481481 T7 12 10 22 0,545454 Ta30 1-40 12 14 26 0,461538 T9 20 6 26 0,769230 TIO40 1-50 6 2 8 0,750000 TIl 4 :5 7 0,571428 T1250 1-60 2 2 4 0,500000 Tl~ 4 O 4 1,000000 T14

Total 61 69 130 0,469230 70 54 124 0.564516

X2_ 22,7'6Z19'3 "

X213GL-O,05 = 22,36

~-~o' q'a. t<l" t<lo .H

<1>5 lUS'Çlfr..o:1~~- ~s-qxgS· ;;~ !'lI? o

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BARUZZI, R. G. - Contribmção para o estudo optdcmiológico da toxoplasmose, Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev. Inst. Adolfo Lutz Z9/30: lJCJ5-:LS9, 19'69/70.

Reaçõespositivas

100

masc.----- fem.( ) nQ reações

positivas

75

"6ô

IIIII

50

(20)

25

o 5b30 4010idade (anos)

Gráfico 1 - Distribuição perce?)tual das reações soro lógicas positivas para toeoplaemose, se-

gundo o sexo e os grupos etário8, entre índios do Alto Xingu. Brasil centrat, 1966.

121

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•.....•NN

QUADRO XDecomposição de XZ para as reações sorol6gicas positivas, segundo os sexos e os

grupos etários em índios do Alto Xingu, Brasil Central, 19660

c O m p ê n e n t e 8 G.L. X~ X~c

(TI+T2+T3+T4)x(T5+T6+T7+T8+Tg+TIO+TII+TI2+TI3+TI4) 1 11,845342 ***

(T1+T3) x (T2+T4) 1 0,183643 0,199550TI x T3 1 0,413097 0,464274-T2 x T4 ..! 0,108571 0,114982

(T1+T2 + T3+T4) 3 0,705311 0,766409

(T5+T7+T9+Tll+TI3) x (T6+T8+TIO+T12+TI4) 1 2,966582 3,061965(T5+T7+Tg) x (T11+TI3) 1 1,072391 1,074573

(T5 + T7)x Tg 1 0,311204 0,310946T5 x T7 1 0,483159 0,484231

TU x T13 1 0,667352 0,750024(T6+TS+T10)x (TI2+T14) 1 0,240375 0,266976

(T6+Ts) x TIO 1 2,418399 2,647624T6 x T8 1 0,IS0082 O,1S4365T12 x TI4 1 1,S72001 2,357161

-(T5+T6+T7+TS+Tg+TI0+Tll+T12+T13+TI4) 9 10,211545 10,539S72

T o t a 1 13/

22,762198 •

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BARUZZI, R. G. - Contribuíção para, o estudo eprdcmíológtco da toxoplasmose, Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev, Inst. Adolfo Lutz 29/30: 105-139, 1J969/70.

Para estudarmos o comportamento dasreações positivas em relação ao sexo e aosgrupos etários, adotamos a decomposiçãoaditiva do X2, nos moldes preconizados porCOCHRANlo (1954). Nossa hipótese denulidade é de que as proporções de reaçõespositivas, nos dois sexos e nos diversos gru-pos etários, são iguais. A hipótese alter-nativa estabelecida é a de que tais propor-ções são diferentes; não dispomos de razõesteóricas para atribuir previamente um deter-minado sentido a essa diferença. Adota-mos 0,05 como nível de rejeição da hipótesede nulidade, assinalando-se com um asteris-co (*) os valores de X2 que ultrapassam onível crítico correspondente ao número degraus de liberdade para cada caso.

Com o valor encontrado para X2, a hipó-tese de nulidade para a igualdade de propor-ções de reações positivasem todas as clas-ses, não pode ser aceita. Passamos, então,à decomposição do valor do X2, segundoCochran. A inspeção dos valores de Pleva-nos à formação de dois grupos, o pri-meiro com indivíduos do sexo masculino efeminino pertencentes aos grupos etários deO 1-5 e 5 1- 10 anos, e o segundo com osindivíduos de 10 1- 60 anos. Os valoresobtidos, por esta decomposição do X2encontram-se no quadro X, onde tambémfiguram os valores do X2, não aditivos, obti-

cdos adotando-se como valor esperado nãoa proporção no total geral de casos, masa referente ao total dos casos nas classesconfrontadas. Verificamos, então, que osdois grupos que foram formados diferemsignificativamente.

2 2(X = 3,84, X 11,845342)IGL-0,05 calculado

OU seja, o grupoetário de O 1- 10 anosdifere significativamente do grupo de 1- 60anos.

Os demais resultados que figuram noquadro X permitem verificar que, no gru-po O 1- 10 anos a hipótese de nulidadenão pode ser rejeitada, quer para a dife-rença entre os sexos, quer para as dife-renças entre idades, em cada sexo. Damesma forma do grupo de 10 1- 60 anos,essa hipótese não pode ser rejeitada paraa diferença entre os sexos e para as dife-renças entre idades, em cada sexo.

b) Resultados, segundo o titulo dos reações

Passamos, em seguida, à análise dos re-sultados do Alto Xingu, segundo o títulodas reações sorológicas. O quadro XI e ográfico 2 mostram a distribuição dos 254soros examinados, segundo o titulo das rea-ções, considerando-se como positivos ossoros que apresentaram titulo igualou su-perior a L:16, e como negativos os demais.No total de soros examinados, temos 131positivos e 123 negativos.

QUADRO XI

Reações soro lógicas para toxoplasmose, pelatécnica da imumotluoresoénota indireta, setncnâoo título das reações, entre índios do Alto Xingu,

Brasil Central, 19,6'6.

Títulos da reação Soros examinados

(1 :)N,o %

< 16 123 484

16 25 9,8

64 23 9.1

256 39 15.4

1024 29 11,4

4,()()0 9 3,5

8,000 4 1.6

18,000 1 0,4

32,000 1 0,4

Total 254 100,0

c) Resultados, segundo o grupo etário eo título das reações

No quadro XII são apresentados os re-sultados observados no Alto Xingu, segun-do o grupo etário e o título das reações.Foram reunidos, face aos resultados ante-riormente obtidos, os dados referentes aosdois sexos, em cada grupo etário.

123

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BARUZZI, R. G. - Contríburção para o estudo eptdemiológico da toxoplasmose. Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev. Inst. Adolfo Lutz 29/30: W5-~39. 1!f69/70.

Número de

reações

80

."

ro--."

"

.--,-- -

nr-1

120

100

60

40

20

o<16 16 64 256 1024 4000 8000 16000 32000

Título das reações (1:)

Gráfico 2 - Reações sorolôçicas para toccoplasmose, pela técnica da imumoftuoreecência indireta,segundo o título das reações, entre índios do Alto Xingu, Brasil Central, 1966.

124

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QU ADRO XII

Reações sorol6gicas positivas para toxoptaemose, pela técnica da imun'ofluoresoê'noia indiretl1\, segundo os grupos etários e os títulos

das reações, entre os índ;,os do Alto Xingn, Brasil Central, 1966-~~~

T! tu I o das reações (1:) Reações positivasGrupo etário Soros

(anos) examinados

\

16 64 256 1024 4000 8000 16000 320,00 N,:o %----

O 1- 5 43 2 5 3 1 1 1 - 1 14 32.6

5 1- 10 38 5 2 2 3 2 - 1 - 15 39,5

10 1- 20 49 8 6 6 5 2 2 - - 29 39,5

----

20 [- 30 49 7 2 9 7 - - - - 25 51.0

30 1- 40 52 2 4 13 9 3 1 - - 32 61,5

40 1- 50 15 - 3 3 4 - - - - io 66,7

50 [- 60 8 1 1 3 - 1 - - - 6 75.0

Total 254 25 23 39 29 9 4 1 1 131 51,6

1 -

I-"IVU1

~_::oo' qUj. Ng~'"S ?J[Qõ' .Ul I""o O>0- ::;,....<+o ~.~gEf .6"~ 1\>.

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Como fato digno de interêsse, observa-mos que, nos indivíduos dos grupos etáriosmais idosos, há uma maior proporção dasreações de títulos 1:256 e 1:024, do quenos mais jovens. A partir desta observa-ção, propomos-nos analisar se as reaçõesde títulos baixos (1: 16 e 1:64), de títulosmédios (1: 256 e 1: 1024) e de títulos altos(1 :4 000 em diante) estão presentes, nas

mesmas proporções, na população deO 1- 20 anos e de 20 1- 60 anos, ou sehá uma diferença significante, do ponto devista estatístico, nessa distribuição,

o quadro XIII e os gráficos 3a e 3bmostram a distrivução das reações positi-vas, segundo os títulos das mesmas, nas

QUADRO XIII

Proporção de reações sorolõçícas positivas, pela técnica da imunofluorescrncia indireta., seaum-do os títulos de reações e grupos etários, em índios do Alto Xingu, Bi1"asil Central, 1966

Título Indivíduos examinados

das P (O 1- 2{)

Símbolo O 1- 20 20 1- 60 Totalreações

T1 16 15 10 25 0,600000

T2 64 13 10 23 0,565217

T3 256 11 28 39 0,282051

T4 1024 9 20 29 0,310344

T5z, 4000 10 5 15 0,666666

Total 58 73 131 0.442748

X2 = lS,094712* X2 = 9,494GL-0,05

duas populações consideradas. Na análiseestatística dos dados dêsse quadro, usamosigualmente a decomposição do X2 segundoCOCHRANlo. Em função dos valores deP, reunimos os títulos das reações em doisgrupos, o primeiro compreendendo os títu-los 1:256 e 1: 1024 e o segundo, os demaistítulos. A decomposição do X2 é apresen-tada no quadro XIV.

126

A análise estatística mostra diferençasignificante entre os dois grupos formados

(X2 = 3,84, X2 = 12,660273).IGL-O,05 calculadoHá assim, maior proporção de reações

de títulos médios ou seja 1:256 e 1: 1024,nos indivíduos de 20 1- 60 anos, e portan-to maior proporção de reações de títulosbaixos (1: 16 e 1: 164) e de títulos altos( 1:4000 em diante) nos indivíduos deO 1- 20 anos.

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BARUZZI, R. G. - Corrtr'Ibutção para o estudo eprdemíológico da toxoplasmose. Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev. Inst. Adolfo Lutz 29(30: 1105-139,W69/70.

Grático 3a

Número de

reações positivas

30o 1- 20 anos

20

10.---- e _

e __---e•

o~------~------~------~------~------~16 64 256 1024 ~ 4000Título das reações (1:)

Grático 3b

30

20 1- 60 anos

20-.

10 .----e

.,o l~ 64 256 1024 ; 4000'

Títulos das reações (1:)

Gráficos 3a e 3b - Reações soro lógicas para toixoplasmose, segundo o título dasreações, nos grupos etários de i() 1-130 anos (gráfico Sa) e de 20 1- Glt anos

(gráfico 3.b), entre índios do Alto Xingu, Brasil Oentral, 1966.

127

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BARUZZI, R G, - Contr-ibuição para o estudo epldemiológico da toxoplasmose. Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev. Inst. Adolfo Lutz 29/30: 1J05-139, 1969/70.

QUADRO XIV

Deoomposição de X2 para as reações soroloç icas positivas, segundo os títulos das reaçoes egrupos etários, em índios do Alto Xingu. Brasil Central, 1966.

Componentes Graus de X2 X2

liberdade c

(~3+T4)x(Tl+T2+T5) 1 12,660273*** 0,064143

T3 x T4 1 0,053975 0,064143(T3 + T4) 1 0,053975 0,064143

(T1+T2) x T5 1 0,321706 0,331607TI x T2 1 0,058758 0,059644

(TI + T2 + T5) 2. 0,380464 0,392174

T o tal 4: 13.094712 ••••

v - COMENTÁRIOS

o estudo da prevalência da infecção peloT. gondii no homem e nos animais, baseia--se fundamentalmente na pesquisa dos an-ticorpos séricos. No entanto, apesar daexistência de diversas técnicas laboratoriaispara a identificação de anticorpos ao toxo-plasma, não contamos ainda com uma rea-ção ideal, perfeitamente padronizada, defácil execução, acessível a grande númerode laboratórios em todo o mundo.

No presente inquérito utilizamos a reaçãode imunofluorescência indireta, introduzidarecentemente, (KELEN et aliê», 1962), queapresenta algumas vantagens em relação àstécnicas anteriores.

As primeiras observações sôbre o emprê-go das técnicas de imunofluorescência natoxoplasmose, foram feitas por GOLD-MAN32 (1957). A partir de um sôropositivo à reação de Sabin-Feldman, detítulo 1: 4000, marcado pelo isocianato defluoresceína, pôs em evidência a presençade toxoplasmas por fluorescência, quandoobservados à luz violeta, em esfregaçosobtidos do exudato peritoneal de camun-dongos previamente infectados por via pe-ritoneal. Demonstrou, ainda, a possibili-dade de ser bloqueada a reação, por expo-

128

sição previa do antígeno a um sôro nãomarcado, contendo anticorpos toxoplasmá-ticos. A seguir GOLDMAN33, (1957),aplicou esta técnica de inibição da fluores-cência à pesquisa de anticorpos séricos, tra-tando os esfregaços contendo toxoplasmaspelos soros suspeitos e pelas globulinas es-pecíficas marcadas. A presença de: anti-corpos ao parasita, nos soros examinados,era evidenciada pela inibição total ou par-cial da fluorescência dos toxoplasmas.

KELEN et aZü39, em 1962, empregarama técnica da imunofluorescência indiretapara a pesquisa de anticorpos ao T. gondii.Examinaram 617 soros humanos pelas rea-ções de imunofluorescência indireta, Sabin-Feldman, fixação do complemento e hema-glutinação. Enquanto 30,8 % dos sorosforam positivos ao teste de Sabim-Feldman,nas demais reações os resultados foramnitidamente inferiores: 5% para a imonu-fluorescência indireta, 2,9% para a fixaçãodo complemento e 3,9% para a hemaglu-tinação. A principal discordância entreas reações de imunofluorescência indiretae de Sabin-Feldman registrou-se nos soroscom títulos de 1 :64 ou inferior.

GARIN & AMBROISE-THOMAS28, em1963, examinaram 189 soros pela imuno-fluorescência indireta e pela reação de lise,

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BARUZZI, R, G. - Contribuição para o estudo eprdemíológtco da toxoplasmose. Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev, Inst. Adolfo Lutz 29/30: 105-139,1!1'69j70.

esta última uma modificação do teste deSabin.Feldman. Os soros foram testadosnas seguintes diluições: 1: 10, 1: 100 ouI: 200 e I: 1000. Registraram boa corre-lação entre os resultados, sendo que pelaimunofluorescência alguns soros. mostraramtítulos mais elevados, correspondentes a umadiluição.

CAMARG05, em 1964, trabalhando com1000 soros humanos, comparou os resul-tados. obtidos através das reações de imu-nofluorescência indireta e Sabin-Feldman,considerando-os positivos a partir da dilui-ção 1: 16. Obteve 225 soros negativos e768 positivos em ambas as reações. Sõ-mente 7 soros foram negativos no teste deSabin.Feldman e positivos na imunofluores-cência, (título 1 : 16) . Considerando osresultados quantitativamente, houve concor-dância dos títulos ou variação de uma di-luição em 97,7 % dos soros positivos e di-ferença de duas diluições nos 2,3 % res-tantes.

FULTON & VOLLER27, em 1964, exa-minaram 20 soros pelas reações de imune-flnorescência indireta, Sabin-Feldman, aglu-tinação direta e fixação do complemento.Obtiveram bôa correlação entre os resul-tados destas diferentes reações, menos evi-dente oom a fixação do complemento.

Van NUNEN & van der VEEN49, em1965, preconizaram na imunofluorescênciaindireta, o emprêgo de cortes congeladosde cérebros de camundongos, previamenteinoculados com suspensão de T. gondii in-tracerebralmente. No exame de 341 soroshumanos observaram que os resultados dareação de imunofluorescência indireta con-cordavam com os da reação de Sabin-Feld-man ou os títulos eram ligeiramente infe-riores. Em coelhos iníectados experimen-talmente com toxoplasmas, encontraramconcordância no tempo de aparecimentodos anticorpos séricos e na elevação dotítulo, em ambas as reações.

WALTON et alii65, em 1966, examina.ram 1000 soros recebidos, do Panamá eBolívia, pelas reações de imunofluorescên,cia indireta e Sabin.Feldman, a partir dadiluição 1: 8 e na razão 2, com os seguintesresultados:

negativos nas duas reações 500

positivos nas duas reações 475

positivos na IFI e negativos ao SF 25

negativos na IFI e positivos ao SF O

Dos 475 soros positivos" 331 apresenta-ram em ambas as reações o mesmo títuloou diferença de duas diluições, e 17 sorosapresentaram diferenças superiores a duasdiluições.

A especialidade da reação de imunofluo-rescência indireta na pesquisa de anticorposséricos ao T. gondii foi posta em evidênciapor FULTON & VOLLER27, em 1964 eFLETCHER23, em 1965. Determinarama especificidade da reação através de testesde absorção e da verificação da ausênciade reações cruzadas com soros de doentesacometidos de malária, tripanosomíase afri-cana, filariose, leishmaniose visceral e cutâ-nêa, leptospirose, salmonelose e sífilis, alémde um indivíduo infectado com Sarcocsstis.

Em conclusão, pode-se afirmar que aimunofluorescência indireta na toxoplas-mose constitui uma reação específica e sen-sível, cujos resultados, graças ao aperfeiçoa-mento de sua técnica, são comparáveis aosobtidos pela reação de Sabin-Feldman.Esta constatação merece destaque, pois areação de Sabin-Feldman permanece comoa reação padrão para a avaliação dos novostestes sorológicos, propostos para o estudoda toxoplasmose,

A imunofluorescência indireta apresenta,em relação ao teste de Sabin-Feldman, al-gumas vantagens:

1 - reduz em muito o manuseio comtoxoplasmas vivos;

2 - dispensa a presença do fator aces-sório, enoontrado no sangue fresco de de-terminados indivíduos e sempre difícil deser obtido e conservado;

3 - permite maior rapidez na leiturada reação;

4 - trata-se de uma reação de fácilpadronização, sendo que a distribuição doantígeno e do conjugado pode ser feita apartir de um laboratório central para cen-

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tros menores. Destacando êste fato, FLET.CRER, afirma: "In this way uniform re-suIts of great value in epidemiological workcould be obtained by peripherallaboratoriesscattered over a very wide area".

Consideramos justificada não só a ado-ção do teste de imunofluorescência indireta,no presente inquérito, assim como o con-fronto dos seus resultados com aquêlesobtidos por vários autores, utilizando areação de Sabin-Feldman.

Com o intuito de verificarmos o compor-tamento dos soros por nós examinados etestarmos a técnica laboratorial utilizada,30 amostras de soros que figuram no pre-sente inquérito foram reexaminados cêrcade um ano após, em Nijmegen, Holanda,graças à gentileza da Dra. van Nunen. Foiempregada a reação de imunofluorescênciaindireta, tendo como antígeno toxoplasmasda cepa Deelen, presentes em cortes decérebro de camundongos, segundo técnicadescrita anteriormente.

Conforme se comprova pelo quadro VIII,houve concordância no total de reaçõespositivas (23) e negativas (7). Dos sorospositivos, 18 apresentaram o mesmo títuloou variação de uma diluição, na razão 4,e os soros restantes em número de 5, apre-sentaram diferença de duas diluições. Den-tro das diferenças assinaladas, as reaçõesrealizadas em Nijmegen tiveram em geraltítulo menor.

A concordância observada pode-se con-siderar satisfatória, em relação aos dadosda literatura (CAMARGO'5, 1964; van NU-NEN49, 1965), tendo-se em conta as dife-renças de técnicas, entre as duas reações,o emprêgo de toxoplasmas de outra cepa,o uso de conjugados de procedência diver-sa e o intervalo de tempo transcorrido.

Nosso empenho em estudar alguns as-pectos epidemiológicos da toxoplasmose noParque Nacional do Xingu, data de 1965,quando tivemos o primeiro contato comseus habitantes. Naquela oportunidadeparticipamos de um inquérito sorológicosumário (BARUZZI & AMATOl, 1965),pela reação de Sabin-Feldman, em 92 índios(38,04% de positivos).

130

Aquêle trabalho inicial e o melhor conhe-cimento das tribos indígenas da região,levaram-nos à realização de um estudo maisamplo, através do presente inquérito. Emseu planejamento procuramos escolher umaamostra representativa da população doAlto Xingu, no entanto, encontramos algu-mas dificuldades. Não conseguimos obternenhum dado informativo sôbre a sua dis-tribuição por grupo familiar, sexo e idade,e, nossas possibilidades de comunicação comos habitantes da região eram limitados pelodesconhecimento das linguas indígenas. Asinformações fornecidas pelos índios, quefalavam nosso idioma, eram em geral muitoprecárias, mesmo em resposta a indagaçõessimples, como o número de moradores deuma oca ou a constituição de uma família.

Resolvemos, então, realizar o inquéritosôbre toxoplasmose paralelamente ao levan-tamento da população indígena executadopelas equipes, do Instituto de MedicinaPreventiva da Escola Paulista de Medicinasob nossa orientação, em julho e setembrode 1966.Os indígenas ao comparecerem ao local

de trabalho da equipe médico-odontológica,eram identificados, submetidos a exame fí.sico e exame odontológico, e retirava-seuma amostra de sangue venoso para inves-tigações sorológicas. O comparecimentofazia-se por grupos familiares, o que vinhafacilitar nossa tentativa em determinar oslaços de parentesco entre os indivíduos exa-minados,e a seguir a estrutura tribal. Emvisitas realizadas às aldeias procurava-secompletar o levantamento dos faltosos, den-tro dos, grupos familiares correspondentes.Os índios doentes que vinham solicitar as-sistência médica, eram atendidos por ummembro da equipe, encarregado do atendi-mento clínico e somente eram incluídos norecenseamento geral da população, por oca-sião do exame dos seus grupos familiares.

Consideramos justificado o critério pornós adotado, que permitiu a inclusão noinquérito sorológico sôbre a ocorrência deanticorpos ao T. gondii, de 254 índios, querepresentavam cêrca de 2/5 da populaçãodo Alto Xingu.

Pode-se considerar satisfatória, a distri-buição por sexo e grupo etário da popu-lação incluída no presente inquérito. O

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BARUZZI, R. G. - ContribuIção para o estudo eprdemtológico da toxoplasmose, Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev. Inst. Adolfo Lutz 29/30: 105-'139, 1;961) /70.

número de indivíduos dos dois sexos é apro-ximadamente o mesmo (130 homens e 124mulheres), como seria de &e esperar, naausência de um fator mórbido conhecido,que atuasse preferentemente sôbre um dossexos.

No levantamento de um grupo humanoprimitivo é prevista uma certa margem deêrro, entre a idade avaliada e a idade real.Procuramos não ultrapassar essa margemde êrro, recorrendo ao auxílio da fichaodontológica e adotando, a partir dos 10anos, a divisão dos indivíduos examinadospor grupos etários maiores.

Em nosso trabalho observamos, uma re-dução acentuada no número de indivíduosexaminados, com idade superior a 40 anos.Assim, para um total de 254 índios, tive-mos apenas 23 no grupo de 40 1- 60 anose nenhum no grupo etário que viria a se-guir. Este fato foi confirmado nas visitasfeitas às aldeias e também durante o pre-enchimento da ficha utilizada no levanta-mento da população. A maioria dos in-divíduos, de 25 a 35 anos de idade, quandointerrogados informavam que um dos pro-genitores ou ambos já haviam falecido.

Não temos elementos suficientes paraexplicar a pirâmide de idade dos índiosdo Alto Xingu. Desconhecemos quais s10as causas de morte mais frequentes nestapopulação. Esperamos que, com o progre-dir dos trabalhos que vêm sendo realizadospela Escola Paulista de Medicina, encon-trem-se respostas exatas a estas indagações,

o inquérito sorológico sôbre a toxoplas-mose, por nós efetuado, revelou 51,6%de reações positivas, em 254 índios exa-minados, a partir do título 1: 16. Parauma avaliação dêste resultado, apresenta-remos alguns inquéritos realizados porvários autores, em diferentes populaçõesamericanas.

FELDMAN & MILLER, em 1956, estu-daram 10 grupos humanos através da rea-ção de Sabin-Feldman, a partir da dilui-ção 1: 16. Incluiram indivíduos, dos doissexos de diferentes idades, em aparente bomestado de saúde.

Sor0S examinad@8

População

64

NúmeroPercentagemde positivos

%

Esquimó 21 o4índios Navajos 236

Islandia

121 68

108 11

Portland, EUA 293 17

St. Louis, EUA 184 26

New Orleans, EUA 270 31

Pittsburgh, EUA 144 35

36Haiti 104

266Honduras

Tahiti

GIBSON et alii 29, em 1956, entre 987indivíduos da raça negra, habitantes da zonarural, em Tennessee, E. U .A. , encontraram21,8 % de positivos, pela reação de Sabin-Feldman, a partir de 1: 16.

GIBSON & COLEMAN30, em 1958,examinaram 100 soros provenientes daGuatemala, pertencentes a indivíduos dedescendência maia, maiores de 16 anos deidade, que habitavam uma propriedade agrí-cola próxima da costa do Pacífico. En-contraram 94% das reações positivas. EmCosta Rica, no exame de 156 indivíduosmaiores de 20 anos, observaram 88,5 % dereações positivas. Em ambos os inquéritosusaram a reação de Sabin-Feldman, a par-tir do título 1:4.

LUNDE & JACOBS4\ em 1958, em Tri-nidad, através das reações de Sabin- Feld-man e de hemaglutinação, tiveram 54,4%de positivos" a partir da diluição 1: 16, em121 indivíduos examinados.

MORALES et alii46,em 1961, na ilhade Pascoa, situada a 4. 800km da costachilena e habitada por 1. 180 pessoas, exa-minaram os soros de 63 indivíduos, cujasidades variavam de 11 a 75 anos. Regis-traram 92% de reações positivas a partirde 1: 16. Os resultados foram confirmadospela reação de hemaglutinação.

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DELASCI01J, em 1956, na cidade deSão Paulo, observou entre gestantes nor-mais, 42% de reações positivas pela reaçãode Sabin-Feldman, com títulos de 1:4 a1:256.

NUSSENZWEIG50, em 1957, tambémna cidade de São Paulo, registrou 71,2 %de reações positivas, entre 334 doadoresde sangue. Empregou a reação de Sabin--Feldman, a partir da diluição 1: 16.

DEANE et alii'", em 1963, no Territó-rio do Amapá, tiveram 68,1 % de reaçõespositivas em 334 indivíduos maiores de 10anos, utilizando a reação de Sabin-Feldmancom o título inicial 1: 16.

JAMRA38, em 1964, realizou um inqué-rito entre 300 habitantes da uma área pre-viamente delimitada, nos subdistritos doJardim América e Vila Madalena, na cidadede São Paulo. A reação de Sabin-Feldman,mostrou 67% de positivos, a partir do tí-tulo 1: 16.

Os trabalhos apresentados, mostram queentre as populações estudadas, há umaampla variação na percentagem de indiví-duos com reações positivas. Assim, entreos esquimós, índios Navajos (Arizona,E .U .A. ) e habitantes de Tenesee(E .U .A . ), foram registrados, respectiva-mente, 0%,4% e 21,8% de positivos, con-tra 88,5% em Costa Rica, 92% na ilhade Páscoa e 94% na Guatemala.

As diferenças são indubitàvelmente gran-des, mesmo se considerarmos que algunsdos inquéritos citados incluem grupos etá-rios diferentes e que as pirâmides de idadedos indivíduos: examinados não são iguais.

Procuramos confrontar os nossos resulta-dos, com aquêles obtidos em dois outrosinquéritos realizados no Brasil. O primei-ro efetuado por DEANE et alii" (1963),no extremo norte do país, no Território doAmapá, em uma população aparentementeradicada na região desde o nascimento, vi-vendo em pequenos núcleos populacionais,e o segundo, realizado por JAMRA38(1964 . ), entre habitantes de uma área re-sidencial da cidade de São Paulo. Nostrês levantamentos sorológicos citados, fo-ram usados, como antígenos, toxoplasmas

132

da cepaM e as reações foram considera-das como positivas a partir do título 1: 16.

No Alto Xingu, ao estudarmos a distri-buição das reações positivas nos dois sexos,registramos 46,9% de reações positivas en-tre os homens e 65,5% de reações positi-vas entre as mulheres. A análise estatísti-ca utilizada não mostrou diferença signiíi-cante na proporção de reações positivasentre os sexos, nos diferentes grupos etários.

DEANE et alii15, (1963), no Amapá,examinando 118 homens e 236 mulheres,encontraram, respectivamente, 71,2 % e66,5 % de reações positivas.

JAMRA3S (1964), em 300 habitantesde São Paulo (119 homens e 181 mulhe-res), registrou 63% de reações positivasno sexo masculino e 69,6% no sexo femi-nino. A análise estatística utilizada, no re-ferido trabalho, não mostrou diferença signi-nificante entre os dois sexos, na proporçãode reações positivas nos diferentes gruposetários.

Por êstes resultados, pode-se presumirque não há predominância de reações soro-lógicas positivas para toxoplasmose em ne-nhum dos sexos e que as diferenças, even-tualmente registradas traduzem variaçõesocasionais. Esta impressão é reforçada pe-lo trabalho de FELDMAN & MILLER22(1956), que no exame de 1.191 indivíduos(548 homens e 643 mulheres), pertencentesa seis grupos populacionais diferentes, en-contraram 36% de reações positivas nosexo masculino e 36% no sexo feminino.No entanto, no exame isolado de cada umadessas populações, observaram ligeira pre-dominância das reações positivas, ora en-tre os homens, ora entre as mulheres.

Os levantamentos sorológicos efetuados,por nós, no Alto Xingu, por DEANE etalii 15 (1963), no Amapá e por JAMRA38(1964 ), em São Paulo, permitem estabe-Iecer uma comparação entre os resultadosobservados, dentro de cada grupo etário,nas três populações estudadas. Isto é, en-tre crianças, jovens e adultos, incluidos nosinquéritos citados. Os dados; respectivossão apresentados nos quadros XV, XVIe XVII e no gráfico 4.

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BARUZZI, R. G. - Contribuição para o estudo eprdemiológtco da toxoplasmose, Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev. Inst. Adolfo Lutz 29/30: 1105-13'9,1<9&9/70.

QUADRO XV

Reações sorol6gioas positivas para totcoplaemose, em índios do Alto Xingu, 1966.

Grupos Indivíduos R e a ç õ e s p o s i t i v a s

etaários examinados N.o %

O 1- 5 43 14 32,6

5 1- 10 38 15 39,5

10 1- 20 49 29 59,5

20 1- 30 49 25 51,0

I30 1- 40

I52 32 61,5

40 I- SO 15 10 66,7

50 1- 60 8 6 75,0

Total 254 131 51.6

QUADRO XVI

Reações sorol6gioas positivas :para toxoplasmose, em habitantes do Amapá

DEANE et alit 15 , 1963

Grupos Indivíduos Re a ç õ e s p o s i t i v as

etaários examinados N.o %

10 1- 20 112 61 54,5

20 1- 30 117 81 69,2

30 1- 40 64 53 82,8

40 I- SO 22 15

I68,2

50 1- 60 24 17 70,8

60 1- ou mais 15 14 93,3

Total 354 241 68,1

133

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BARUZZI, R. G. - Contrfburção para o estudo epldemiológico da toxoplasmose. Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Central. Rev. Inst. Adolfo Lutz 29/30: 1105-139, 1,969/70.

QU ADR O XVII

Reações sorolôotoas positivas para toeonlasmoee; em habitantes de São Paulo

(JAMRA38, 1964).

Grupos Indivíduos R eações p o s i t i v a s

etaários examinados N.o %

O [- 5 18 2 11,1

5 [- !O 20 5 25,0

10 [- 20 53 21 39,6

20 [- 30 56 43 76,7

30 [- 40 67 53 79.1

40 [- 50 41 34 82,9

50 [- 60 13 12 92,3

60 [- ou mais 32 31 96,6

Total 300 201 67,0

100

75

50

25

Reaçõespositivas

%

/-.~~ -----.----""-.....•_~

• / '. ,0..•. " ........~..,.~.-'.---..o-

0---0 Xingu

• -- são Paulo•a_o _& Amapa

10 20 30 50Idade (anos)

40 60

Gráfico 4 Distribuição percenbuat das reações sorol6gicas positivas paratotcoplasmose, segundo os gn.pos etári08, registradas no Alto Xingu (11)66), Amapá

(DEANE et aIii 15 , 1963) e em São Paulo (JAMRA38, 1964)

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BARUZZI, R. G. - Contr-ibuição para o estudo epldemiológico da toxoplasmose. Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Cent.ral, Rev. Inst. Adolfo Lutz 29/30: W5-139, W69j70.

Inicialmente comparamos nossos resulta-tados com os registrados no Amapá (DEA-NE et alii'! 1963), em cada um dos gruposetários seguintes: 10 1- 20, 20 1- 30,30 1-30, 40 1- 50 e 50 1- 60 anos.Para a análise estatística usamos o testedo X2 em quadros de 2x2 (associação),empregando quando necessário o métodoexato de Fisher, tendo em vista as restri-ções impostas por COCHRANIO.

A análise estatística permite-nos re-jeitar a hipótese de i g u a I d a de,na proporção de r e a ç õ e s positivasnos grupos etários de 20 1- 30 anos

2 2(X =:: 3,83, X 4,2045)IGL-O,OS calculado

e nos grupos etários de 30 1- 40 anos2

(X =:: 3,84, X 5,588).IGL-O.OS calculado

Nos demais grupos etários não há signífi.cância para o valor X2 calculado. Assim, amenor proporção de reações positivas obser-vadas no Alto Xingu em relação ao Amapá,é significante tanto para o grupo de 20 1-30 anos, como para o de 30 1- 40 anos.

o mesmo estudo comparativo foi feitoentre o Alto Xingu e São Paulo CJAM-RA38, 1964), nos grupos etários com-preendidos entre O 1- 60 anos. En-contramos diferença significante, apenas,no grupo etário de 20 1- 30 anos

2(X =:: 3,84, X 6,5150),IGL-ú OS calculado

com uma menor proporção de reações posi-tivas entre os índios. Nos demais gruposetários as diferenças não são significantes.

Interessa-nos, também, verificar qual ocomportamento das reações positivas, segun-do o título das reações. Constata-se, que1:256 foi o título mais freqüente no inqué-rito do Alto Xingu, o mesmo ocorrendo noAmapá (DEANE15, 1963) e em São PauloCJAMRA38, 1964), representando, respec-tivamente, 29,8%, 34,4% e 34,8% do to-tal de reações positivas, As quatro primei.ras diluições Ctítulos de 1:16 a L: 1024), en-globam 88,5 % das reações positivas do AI.to Xingu, 83,4% do Amapáe 92% de SãoPaulo. O título mais alto, verificado no AI.to Xingu e em São Paulo foi 1: 32: 000 e noAmapá 1: 64.000.

No Alto Xingu estudamos a proporção dereações sorológicas, segundo o título das rea-ções, na população de O 1- 20 e 20 1- 60anos. Verificamos que as reações de inten-sidade média Ctítulos 1:256 e 1: 1024), es-tão presentes numa proporção significativa-mente maior no grupo de 20 1- 60 anos,e que tanto as reações de títulos baixo C1:16e 1: 64 ), como as de títulos altos (1: 4 000em diante), são mais freqüentes no grupode O 1- 20 anos.

Consideramos, que o comportamento di.verso das reações sorológicas, com relaçãoao título, em jovens e adultos, observado noAlto Xingu, deverá ser investigado em ou-tras populações, pois" talvez possa sugerirhipóteses para explicar certas pecularidadesda epidemiologia da toxoplasmose, e mesmode sua patologia.

O presente trabalho, nos permite concluirque, a prevalência de anticorpos ao toxo-plasma numa população isolada, homogêneado ponto de vista étnico e de hábitos e cos-tumes identificáveis àqueles dos homensprimitivos, não difere substancialmente,quer daquela observada em uma populaçãode um grande centro civilizado, quer da-quela verificada em pequenos núcleos po-pulacionais da região amazônica. ~steachado nos induz a inferir que a dissemi-nação da toxoplasmose não é influenciadapor hábitos civilizados.

VI-CONCLUSÕES

1 . A validade dos nossos, resultados,pela técnica da imunofluorescência indireta,foi confirmada em um lote de 30 soros,reexaminados cerca de um ano após, noDepartamento de Higiêne da UniversidadeCatólica de Nijmegen, Holanda.

2. Em 254 índios do Alto Xingu, Bra-sil Central, registramos 131 reações, posi-tivas, ou seja, 51,6% a partir do título1: 16.

3 . Não observamos diferença signifi-cante, do ponto de vista estatístico, na pro-porção em cada grupo etário, de reaçõespositivas nos dois sexos.

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BARUZZI, R. G. - ContribuIção para o estudo epldemiológico da toxoplasmose. Levantamento soro-lógico em índios do Alto Xingu, Brasil Centml. Rev. Inst. Adolfo Lutz 29/30: l!O5-139, 1969}70.

4. Observamos uma proporção signi-cante menor de reações positivas no grupoO 1- 10 anos, em relação ao grupo de 101- 60 anos.

5 . Comparamos a proporção de rea-ções positivas no Alto Xingu, com as re-gistradas no Amapá (DEANE et alii",1963) e em São Paulo (JAMRA38, 1964),entre indivíduos dos mesmos grupos etá-rios. Observamos no Alto Xingu, em re-lação ao Amapá, uma proporção signifiti-vamente menor de reações positivas no gru-po de 20 1- 30 e 30 1-40 anos. No con-fronto com São Paulo a população do AltoXingu mostrou proporção significantementemenor no grupo de 20 1- 30 anos.

6 . Os resultados do Alto Xingu, noseu conjunto, não diferem de forma acen-tuada, como se poderia supor pelas condi-ções de vida do índio, daquêles observadosem duas populações brasileiras (Amapá eSão Paulo), com graus de civilização maisavançados. As diferenças observadas nãosão de magnitude suficiente para fazer ad-mitir a existência de estrutura epidemioló-gica distinta para a toxoplasmose no AltoXingu, em relação ao Amapá e São Paulo.

7. Nossos resultados permitem afirmarque os hábitos civilizados não exercem in-fluência sôbre a prevalência de anticorposao toxoplasma,

RESUMO

A pesquisa de anticorpos ao Toxoplas-ma gondii em 254 índios do Alto Xingu,Brasil Central, pela técnica da irnunofluo-rescência indireta revelou 51,6% de rea-ções positivas de título igualou superior a1/16. A população indigena do AltoXingu é avaliada em 600 índios, distribui-dos por nove tribos, que vivem em relativoestado de isolamento mantendo muito deseus hábitos e costumes primitivos. Os re-sultadosforam comparados: com os deoutros dois inquéritos realizados em áreasgeográficas diferentes do Brasil (no Terri-tório do Amapá e na cidade de São Paulo),nos quais os autores utilizaram técnica so-rológica superponível àquela empregadapor nós. Os resultados do Alto Xingu, noseu conjunto, não diferem de forma acen-

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tuada, como se poderia supor pelas condi-ções de vida do índio, daqueles observadosno Amapá e São Paulo, e mpopulações comgraus de civilização mais avançados.

* * *AGRADECIMENTOS - A todos que,

participando das atividades que a EscolaPaulista de Medicina desenvolve no ParqueNacional do Xingu, contribuiram para arealização do presente trabalho.

Aos Professores Drs. Jairo Ramos e Wal-ter Leser, a quem dedicamos êste trabalho.

Ao Prof. Dr. Magíd Iunes, pelo estímuloe apóio que nos proporcionou, no Depar-tamento de Medicina Preventiva da EscolaPaulista de Medicina.

Ao Prof. Dr. Oswaldo Luiz Ramos pelaorientação na elaboração e redação do pre-sente trabalho.Aos irmãos Orlando e Claudio VilIas

Boas, a cujo discernimento deve-se o inter-câmbio científico estabelecido entre o Par-que Nacional do Xingu e a Escola Paulistade Medicina, e que nos deram constanteapóio na execução dêste trabalho.

Ao Prof. Dr. Carlos da Silva Lacaz, pelascondições de trabalho que nos proporcio-nou no Instituto de Medicina Tropical deSão Paulo, e ao Dr. Mario E. Camargo, pelaorientação prestada na execução das rea-ções sorológicas.Ao Prof. Dr. R. Vanbreuseghen, do Ins-

tituto de Medicina Tropical de Antuerpiae da Universidade Livre de Bruxelas, pelassugestões apresentadas na fase inicial dêstetrabalho. Ao Dr. De Meuter, Chefe doLaboratório de Toxoplasmose, do InstitutoPausteur de Bruxelas, pela atenção que nosdispensou durante nosso estágio em seuserviço.

Ao Prof. Dr. Carlos d'Andretta Jr. pelainestimável cooperação e pelas informaçõesparasitológicas fornecidas, sôbre o AltoXingu.

Ao Dr. Luiz Candido de Souza Dias,cuja colaboração se fez presente nas dife-rentes etapas dêste trabalho.

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BARUZZI, R. G. .- OontribUlção para o estudo epldemiológico da toxoplasmose, Levantamento soro-lógico em Indíos do Alto Xingu, Brasil Central. Rev. Inst. Adolfo Lutz 29/30: lü5-139, 1J9'69j70.

Aos Drs. José Marlet, Neil Ferreira No-vo e Elias Rodrigues de Paiva, pela análiseestatística. Ao acadêmico Aparecido Ber-nardo Pereira pela confecção dos gráficos.

Ao Prof. Dino Preti, pela revisão orto-gráfica.

Ao Dr. Olmar Salles de Lima pelas su-gestões apresentadas na revisão do texto.

A Srta. Maria Berta Fischer pela dedi-cação na parte datilográfica, e ao técnicoGuilhermo Fuentes pelo cuidadoso traba.lho de impressão.

Nossos agradecimentos à Fôrça AéreaBrasileira, em especial à 4.a Zona Aérea,que possibilitou o transporte das equipesmédicas de São Paulo ao Xingu.

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Recebido para publicação em 8 de setembro de 1969.

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COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO

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