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063 062 | VOEAZUL.COM.BR VOEAZUL.COM.BR | DESTINOS JALAPãO (TO) No leste do Estado do Tocantins, a reserva do Jalapão se revela como destino intocado, com paisagens que misturam rios, cachoeiras, montanhas e dunas. Céu azul e sol escaldante também estão garantidos a partir de junho, quando começa a época da seca Texto Bruna Tiussu Fotografias Chema Llanos BELEZAS BRUTAS Na página anterior, em sentido horário, colar feito a partir de capim dourado; um mergulho no principal fervedouro local; e as águas límpidas da Cachoeira da Formiga. Nesta página, pôr do sol apreciado de cima das dunas do Jalapão; a simpatia de seu Lino, de 51 anos, dono do sítio dos Buritis, outro ponto para banho na reserva; e uma das plantas típicas da região, conhecida como chuveirinho e encontrada às margens dos rios Todas as cores do cerrado

Todas as cores do cerrado

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Touristic article about Japalão, in Tocantins, Brazil - published in Azul Magazine

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No leste do Estado do Tocantins, a reserva do Jalapão se revela como destino intocado, com paisagens que misturam rios, cachoeiras, montanhas e dunas. Céu azul e sol escaldante também estão garantidos a partir de junho, quando começa a época da seca

Texto  Bruna TiussuFotografias  Chema Llanos

BELEZAS BRUTASNa página anterior, em sentido horário, colar feito a partir de capim dourado; um mergulho no principal fervedouro local; e as águas límpidas da Cachoeira da Formiga. Nesta página, pôr do sol apreciado de cima das dunas do Jalapão; a simpatia de seu Lino, de 51 anos, dono do sítio dos Buritis, outro ponto para banho na reserva; e uma das plantas típicas da região, conhecida como chuveirinho e encontrada às margens dos rios

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25 mil quilômetros quadrados – área correspondente ao Estado de Sergipe –, abrigando uma coleção de paisagens de encher os olhos de qualquer ecoturista. Enumeram-se ali montanhas, cânions, dunas, areias branquinhas, rios e cachoeiras.

São belezas ainda brutas, em que a interferência do homem se

resume às estradinhas que levam de uma atração a outra. O caminho de terra aparece como única opção logo no começo da viagem: depois de Ponte Alta, portão de entrada do Jalapão, nenhum sinal de asfalto. A partir dali, contam-se nos dedos as placas. Por isso, o ideal é desbravar a área a bordo de um veículo 4x4 e na companhia de um guia local, que terá seu próprio mapa mental da reserva.

Enquanto grupos de jipeiros parecem ter encontrado o paraíso nos longos trajetos, ora de terra vermelha, ora de areia branca, os demais visitantes têm que ter fôlego para vencer as distâncias. A Cachoeira da Velha, primeira grande atração da reserva, por exemplo, fica a 100 quilômetros de Ponte Alta. Alimentada pelo Rio Novo, tem formato de ferradura e é composta de duas quedas de 15 metros de altura. Do mirante se consegue as fotos mais bonitas e quem estiver em boas mãos receberá do guia a indicação da trilha que leva até uma pequena ducha natural para um banho revigorante.

Além do visual, a transparência da água surpreende. Graças à ausência de cidades margeando a região, o Rio Novo é um dos mais limpos e potáveis do País. Junte-se a isso o fim da época das chuvas – que no Tocantins se estende de outubro a maio – e o turista estará diante de uma coloração cristalina. De quebra, a estação seca que se inicia agora garante o céu azul do cerrado e o sol escaldante como pano de fundo de todos os passeios.

Se a água não cai do céu, os rios são suficientemente abundantes para aplacar o calor desta época do ano, quando a temperatura média beira os 30 graus. A próxima parada, a prainha do Rio Novo, é o primeiro exemplo de refresco típico do lugar.

combinação de cores que o céu teima em estampar é intrigante.

Uma mistura de tons de azul, laranja e amarelo altera a paisagem e cria desenhos quase surrealistas à medida que o sol desponta atrás da avermelhada Serra do Espírito Santo, um paredão de 22 quilômetros de extensão que é o principal símbolo da região. O espetáculo exige algum esforço para ser contemplado: o relógio marca cinco e quinze da manhã quando surgem os primeiros raios luminosos, para deleite dos bravos aventureiros que encararam a trilha íngreme e agora se acomodam no topo da montanha de 600 metros de altura.

O amanhecer é apenas mais um capricho da natureza, que não poupou generosidade por aquelas bandas do cerrado brasileiro. Espremida entre Bahia, Piauí e Maranhão, a região do Jalapão, no Tocantins, fica a 180 quilômetros da capital, Palmas, e se estende por cerca de

ACAPRICHOS DA NATUREZAAcima, o espetáculo do nascer do sol como prêmio aos aventureiros que encaram a trilha até o alto da Serra do Espírito Santo; abaixo, a montanha como pano de fundo da paisagem e a artesã produzindo uma peça de capim dourado

CENÁRIOS Com formato de ferradura e composta de duas quedas de 15 metros, a Cachoeira da Velha é uma das grandes atrações turísticas; abaixo, uma típica casa do vilarejo de Mumbuca, habitado por quase 100 famílias

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A composição de areia clarinha, mata verde ao redor e águas doces cristalinas se traduz em um irrecusável convite de descanso para o corpo e para a alma. O Cânion de Suçuapara é outro cenário majestoso. Na beira da estrada arenosa, um estreito caminho revela uma fenda de 60 metros de comprimento e 15 de altura, de onde a água brota do lençol freático e escorre rocha abaixo, acompanhando longos fios de cipós. É fácil achar um cantinho para se refrescar.

Mateiros e São Félix do Tocantins, separadas por 80 quilômetros, são outras cidades-referência dentro do Jalapão. Ambas contam com pousadas que se materializam como hotéis cinco estrelas para os aventureiros depois de um dia driblando os mosquitos. O descanso é garantido nos quartos confortáveis, com ar-condicionado, banho quente e conexão à internet – nem sempre há sinal de celular. O café da manhã é caprichado, com direito a clássicos locais, como o bolo de buriti e

pequenos buracos na areia. O primeiro contato com essas típicas formações locais é para se guardar na memória: é impossível afundar, por mais que se tente. Três deles merecem espaço no roteiro: Fervedouro (simples assim, pois é o principal), Fervedouro do Alecrim e o dos Buritis. Neste último, vá com tempo para tomar um café com seu Lino, dono da propriedade e de uma simpatia contagiante.

Outras figuras locais o visitante conhece em uma visita a Mumbuca, comunidade descendente de quilombolas habitada hoje por quase cem famílias. Foi ali que dona Miúda, morta em 2012, começou a desenvolver o artesanato com o capim dourado, hoje base de sustento do povoado. A

rara haste da pequena flor que só nasce na região tem um brilho incomparável com qualquer outra matéria-prima para bijuterias, vasos e enfeites.

De volta à estrada, já próximo de Mateiros, a Cachoeira da Formiga é endereço certo para combinar diversão e piquenique. Ela tem tamanho e vazão ideais para o turista nadar sem medo da correnteza. Peixes de várias espécies vivem nas águas que seguem o padrão local de transparência.

CLÁSSICOS DA CAPITALO espetáculo de cores no céu de Palmas durante o pôr do sol na Praia da Graciosa, uma das mais visitadas da cidade; ali, a sugestão é provar o tucunaré tocantinense, carro-chefe dos restaurantes à beira do rio

TIPOS LOCAISAcima, à beira da estrada, a oportunidade de provar a cachaça com jalapa, tubérculo que dá nome à região; no destaque, pedras colocadas entre rochas maiores como parte de uma simpatia; à direita, a fenda de 60 metros que compõe o Cânion de Suçuapara

PalmasPara visitar o Jalapão, o viajante

normalmente começa e termina a viagem em Palmas. Capital mais jovem do País, a cidade tem apenas 24 anos e é lar de 250 mil habitantes. Foi planejada nos moldes de Brasília, com ruas e avenidas largas e arborizadas cortando suas quadras. As praias de água doce são as principais opções de entretenimento para moradores e turistas. Delas, duas merecem destaque: a da Prata e a da Graciosa, ambas às margens do Lago de Palmas. A primeira fica na região sudoeste da cidade e é a mais recomendada para banho, com direito a barraquinhas de comida. Já a segunda está à direita do espelho d’água e conta com estrutura ampla: uma marina, de onde saem barcos de passeio, pista de cooper e dois restaurantes. Por ali, a especialidade gastronômica é o tucunaré tocantinense, que pode ser frito ou assado e chega à mesa inteiro, com arroz, farofa e vinagrete como acompanhamentos.

Graças à ausência de cidades na região, o Rio Novo é um dos mais limpos do País. Junte-se a isso o fim das chuvas e o turista estará diante de uma coloração cristalina

o mangolão, um primo do pão de queijo que chega à mesa em versão família.

Nos arredores de São Félix fica a Serra da Catedral, outra elevação solitária no meio da planície que parece ter sido cortada com uma lâmina. Por ali também estão os disputados fervedouros, espécie de piscinas naturais formadas em cima de uma nascente de onde brota água de

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PONTE ALTA

SÃO FÉLIX DO TOCANTINS

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LocalConfira duas opções de produtos feitos a partir de matérias-primas exclusivas do Jalapão

JALAPINHAÉ a cachaça com jalapa, tubérculo que batiza o destino, também chamado de batata de purga. A dose custa R$5

CAPIM DOURADOHá mandalas, bijuterias e potes diversos, todos com selo de qualidade do Tocantins. Este vaso sai por R$80

onde comer

Quem leva

Voos Azul

Rancho 21É da cozinha da Val que saem os mais saborosos pratos de Mateiros – destaque para o escondidinho de carne ou frango e arroz de cuxá. T 63 9968 5333

Restaurante JalapãoMais conhecido como restaurante da Irá, é dos mais procurados em São Félix do Tocantins. O almoço sai por R$20.T 63 3576 1035

Pisa TrekkingHá 25 anos trabalhando com viagens de aventura, a agência oferece diferentes roteiros para curtir o Jalapão, com as principais atrações do destino.T 11 5052 4085 / pisa.tur.br

A AZUL AUMENTOU A FREQUÊNCIA DE VOOS PARA PALMAS. AGORA SÃO TRÊS OPÇÕES DE HORÁRIOS DIÁRIOS ENTRE GOIÂNIA E A CAPITAL DO TOCANTINS E OUTRA PARA BRASÍLIA.

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onde ficarPousada dos GirassóisÉ boa opção para quem tem que passar uma noite na capital antes de seguir para o Jalapão. R. 103 Sul, Conjunto 3, Lote 39-B, Centro. T 63 3219 4500 / pousadadosgirassois.com.br

Pousada Panela de FerroSituada em Mateiros, em pleno Jalapão, a casa tem quartos confortáveis, com ar-condicionado, frigobar e wi-fi. T 63 3534 1038 / paneladeferro.tur.br

Pousada Vereda das ÁguasOs visitantes ficam em chalés com boa infraestrutura e direito a café da manhã. É opção de hospedagem em Ponte Alta.T 63 3378 1581 / veredadasaguas.com.br

Não longe dali ficam as dunas do Jalapão, a paisagem mais clicada depois da Serra do Espírito Santo. Até chegar lá, vê-se extensões de capim rasteiro e árvores baixas, com cascas grossas e galhos retorcidos, enquanto raposinhas do mato e seriemas cortam a estrada. Quando menos se espera, surge um combinado de areias douradas que reluzem como ouro. Aos seus pés passa um inesperado rio cujas margens abrigam espécies de plantas únicas, só vistas naquela parte do Tocantins. A pedida ali é aguardar o fim de tarde. De cima das dunas vê-se mais um espetáculo natural, o pôr do sol que compõe com maestria aquela panorâmica que só reforça o codinome do Jalapão: o deserto das águas do Brasil.

BUCóLICOSeu Lino com um peixe capturado nas águas de seu sítio; nos detalhes, o sorvete de buriti, fruto tradicional do cerrado, a farofa de carne seca, outra especialidade das mesas locais, e a fachada do Restaurante Jalapão, uma das opções em São Félix do Tocantins

DE ENCHER OS OLHOSAcima, o colorido contraste típico do Jalapão, aqui em evidência com as dunas alaranjadas e o céu azul; abaixo, a lojinha das artesãs de Mumbuca, com produtos feitos exclusivamente com o capim dourado; e, à direita, o rastro de uma das trilhas turísticas

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