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    2A IMIGRAO E AS RELAES TNICAS

    A questo da integrao e da assimilao dos imigrantes aosEstados Unidos, evidentemente, foi centra l em um pas consti tu doaos poucos sobre vrios sedimentos migratrios , part icularmenteimportantes ao longo do sculo XIX e nas duas primei ras dcadasdo sculo XX, durante as quais instaurou-se um intenso debatepol tico sobre a questo da americanizao dos imigrantes anti~os,por um lado, e sobre a oportunidade de se continuar autorizando.um fluxo migratrio importante, por outro lado. Segundo Stow.Persons,' os "pesquisadores de Chicago identificaram-se c o n - a 'alado '1~10vimento progressista' que acreditava na capacidade da; sociedade americana para assimilar suas minorias tnicas. Seustrabalhos representaram ao mesmo tempo o ponto culminante da~'

    1. S. Persons, Etbnic studies tn Chicago. 1900-45. Urbana, Unversiry of Illinois Press,1987, 160 pp.

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    r FI' , J ' g g - . . ' 1 ' , 2i tradio assimilacionista e as primeiras tentativas feitas pelos pes-quisadores de circunscrever os limites dessa tradio" (p. 78).

    sem dvida a este interesse da sociologia de Chicago pelaquesto da assimilao dos imigrantes que se deve a existncia devrios dos grandes conceitos da sociologia americana, entre osquais a desorganizao social, a ~f.inio da situao, a margina-lidade, a aculturao. Tais conceitos. Itesenvolvidos principalmentenos trabalhos de Thomas e Znaniecki, p6r um lado, e nos de Parke Burgesspelo outro, balizararn a teoria da assimilao, que foi_r~d' por um grande nmero de seus alunos. So essesconceitos, de grande fecundidade, que exporemos a seguir.

    Atitudes individuais e valores sociaisThornas introduziu o conceito de atitude j em 1907/ mas s

    o desenvolveu alguns anos depois, eni-;~:-;;tudo sobre o campo-ns polons.Segundo Thomas e Znaniecki, a anlise sociolgica develevar em conta ao mesmo tempo os valores sociais, que so "oselementos culturais objetivos da vida social", e as atitudes, que so"as caractersticas subjetivas dos indivduos do grupo social consi-derado" (p. 21). A atitude um conjunto de idias e emoes quese transforma em uma disposio permanente em um indivduo elhe permite agir de maneira estereotipada. Pode ser definida como

    o processo da conscincia ind ividual que determina a atividadereal ou potencial do indivduo no mundo social . A atitude acontrapartida do ind iv duo aos valores socia is , e toda ativ idadehumana estabelece um elo entre esses dois elementos. (p. 22)

    2. W. Thomas, Scx and society. Studies irt lhe social psycbology of sex, Chicago, Universityof Chicago Press, 1907,326 pp.

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    Ao contrrio de Durkheim, que considerava que s6 erapreciso explicar os fenmenos sociais pela influncia de outrosfenmenos sociais e no pela interveno do nvel individual,.Thomas e Znaniecki afirmavam que um fato social uma combi-! nao ntima dos valores colet ivos e das ati tudes ndvduais.' defato necessrio ser capaz de dar conta da natureza subjetiva dasinteraes sociais e os fenmenos sociais no podem ser conside-rados como se fossem fenmenos fsicos:

    o efeito de um fenmeno fsicodepende unicamente da naturezaobje tiva desse fenmeno e pode ser calculado com base em seucontedo emprico, ao passo que o efeito de um fenmeno socia ldepende do ponto de vista sub je tivo do indivduo ou do grupo es6 pode ser calcu lado se conhecermos no apenas o contedoobjet ivo de sua suposta causa, mas tambm o significado que tempara os seres conscientes considerados... Uma causa socia l complexa e deve incluir ao mesmo tempo elementos objet ivos esubjetivos, valores e ati tudes. 0918, p. 38)o fato de levar em conta, no processo causal ; o significadoda ao para os indivduos fundamental em Thomas, mas veio a_ser tambm uma caracter stica do conjunto da Escola de Chicago.Desse modo, a anlise do social torna-se holstica:Ao estudar a sociedade, partimos do contexto social global parachegar ao problema; ao estudar um problema, partimos deste para. irem direo ao seu contexto global. (p, 19)o elo entre OS dois elementos fundadores do fato social -

    valores e atitudes - ser estabelecido, por exemplo, pelos "quay~t 3. Sobre a histria da noo de atitude e de sua importncia na sociologia americana,pode-se consultar D. Fleming, "Atttude:The hstory of a concept", em P e r s pe c tt v es t namerican bistory, Cambrdge, Mass., Charles Warren Center for Studies in Amercan

    History, 1, 1967,pp. 287-365.i 31

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    desejos" que, segundo Thomas, existem em todos os indivduos: aexperincia nova, a segurana, a resposta e o reconhecimento.A colocao em evidncia da existncia de atitudes indivi-duais e valores sociais permi tiu, alm do mais, pensar a fundao

    de ~uas~ipl inas diferentes: a psicologia social seria a cincia das"atitud~s", a passo que a sociologia seria a dos "valores sociais",em especial os que se manifestam nas regras de comportamentodos indivduos, que, tomados em conjunto, constituem a "organi-zao social" de todo grupo social (pp. 32-33).o conceito de "ati tude" desenvolvido em 77.Jepolish peasantteve um papel parti cularmente importante no estudo dos fenme-nos ligados imigrao, na compreenso e na explicao dosproblemas dos imigrantes , essencialmente ligados, tal C0n10 se diriahoje, a um brutal transplante cultural e descoberta de novasregras econmicas de vida, individual ou coletiva. Esse conceitopermitiu que se opusesse uma teoria sociolgica sria s idiasento correntes, segundo as quais as diferenas raciais ou tnicastinham seu fundamento em di ferenas biolgicas. Thomas e Zna-niecki contriburam grandemente para rejei tar esse reducionismobiolgico, mostrando que o estado mental dos imigrantes noestava ligado a um problema fisiolgico e sim, diretamente, s

    transformaes sociais ocorridas em sua vida cotidiana. Na obraque publicara em 1909,\ Thomas j insistia na necessidade deproceder a investigaes concretas, objetivas, sobre a realidade,social, sobre o comportamento e sobre as atitudes dos indivduos..Seu objetivo era entender o comportamento humano, e no mudara sociedade ou pregar sent imentos morais. ' ;Thomas esteve ent re4. \V Thomas (org.), Sourccboolefor social origins: Etbnologtcal materials, psycbological

    standpoint, classified and annotated bibliograpbies for lhe interpretation of savagesociety, Chicago, University of Chicago Press, 1909,932 pp.5. Thomas, alm disso, seria vtimado puritanismo protestante que ento reinava na "boasociedade" de Chicago, inclusive entre alguns de seus colegas universitrios. Emabrilje 1918- quando t inha 55 anos - foi p reso em companhia ga lante em um quartode hotel e imediatamente demitido de suas funes pelo presidente da universidade.

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    os primei r ssimos intelectuais americanos, junto com Fra~ Boas,a criticar as teorias que explicavam as diferenas intelectuais ementais pela pertena a uma raa: "A varivel real", dizia ele, " oindivduo' , no a raa."o que Thomas e Znaniecki traaram, portanto, foi um

    verdadeiro programa terico e metodolgico, seguido pela maiorparte dos socilogos de Chicago nos 15 anos que se segui ram. Comefei to, a obra apresenta diversas contribuies importantes sobreos problemas da assimilao intercultural, sobre as relaes fami-liares, as classes sociai s, a vida econmica e religiosa assim comosobre as condutas mgicas. No entanto, a principal contribuio foisem dvida o estudo dos processos sociais que Thomas chamou. :de desorganizao e reorganizao. A exemplo, destavezdoqueOurkheim j havia estabelecido na sociologia francesa, Thomas e'0 Znaniecki consideraram os problemas sociais como fenmenos.sociolgicos que influenciam o comportamento dos indivduos e',.no como resultado coletivo de condutas individuais. este -conceito de desorganizao, cujo sentido no se modificou profun-damente desde que Thomas o desenvolveu, que passaremos aexaminar.

    A desorganizao socialAntes de mais nada, importa indicar aqui a estrutura da obrade Thomas e Znaniecki, divididas em quatro partes intituladas,respectivamente:

    Nunca mais r ecuperou seu cargo de pro fessor , apesa r do r pido abandono dasacusaes feitas contra ele e dos esforos de alguns de seus colegas, mais de dez anosdepois, para que ele fosse reintegrado universidade. Interessante observar que estecaso, tratado como uma notcia escandalosa pouco importante pela Imprensa local (er.o Chicago Tribune de 12 a 22 de abr il de 1918), s foicomentado publicamente quase50anos depois, quando MorrlsJanowltz lhe fezuma referncia explcta na Introduodo livro que editou sobre Thornas: W.I. 71:I0mas, On social organtzatton and socialp er s on a li ty : S e le ct ed p a pe rs , Chicago, Universlty of Chicago Press, 1966, 312 pp.6. W.Thornas, o p . c t t. , 1907, pp. 285-290.

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    individuais, A desorganizao existe quando ati tudes individuaisno encontram satisfao nas inst ituies, vistas como ultrapassa-das, do grupo primrio. Este , evidentemente, um fenmeno e umprocesso que se encontra em todas as sociedades, mas que seamplifica quando uma sociedade sofre mudanas rpidas, sobretu-do econmicas e industriai s. Na sociedade polonesa, a desorgani -zao comea quando os indivduos "definem sua situao" emterrnos econmicos, religiosos e intelectuais, em vez de sociais: odesejo de sucesso substitui o de reconhecimento social .' A desor-ganizao no provm "de um paraso social perdido" - t'ese quese pode encontrar na sociologia alem em Ferdinand Toennies -que corresponderia sociedade rural pr-industrial. antes aconseqncia de uma mudana extremamente rpida, de umadensamento da populao urbana ou, contrrio, C1euma sbita''" ' desertificao. Mudanas tecnolgicas importantes poclenl' igual-

    -r - mente provocar uma tal desorganizao, assim como catstrofes>' :naturais, crises econmicas, polticas ou pessoais.:,....,_ Thomas e Znaniecki j haviam observado essa desorganiza-

    ,I ' \ f : O ; , o da vida camponesa polonesa na prpria Polnia, antes que'.( . " .lc r.~ ; ' . ; . \ . I comeasse o fluxo m ig ra t ri o . . A.~eSOrganiZ~~~~".l?o.r.t ..a,.nt~.,.,11~~' / . r : > } l ' provm da imigrao, mas a imigrao que um indcio ,do

    r t, ' . c f , estado de desorganizao da sociedade polonesa. Emseguda.io, ', ' i iI fato de emigrar para a Amrica provoca-uma reorganizao, J '~~ , \O conceito de desorganizao social permite entender deque modo, em certas circunstncias, as regras sociais parecemperder a eficcia. Assim como a noo de anomia em Durkheim,

    o estado de desorganizao social provisrio, precede um pero-do de reorganizao. De fato, existe em Thomas e Znaniecki a idiade uma continuidade que vai da organizao social desorganiza-o e em seguida reorganizao.

    - Aorganizao do grupo primrio- Desorganizao e reorganizao na Polnia- Organizao e reorganizao na Amrica- Histria da vida de um imigrante--o, - = - - - - -

    --",,'

    A primeira parte estuda a famlia tradicional polonesa arn-" ) pliada, seus hbitos matrimoniais e, de maneira mais geral, seushbitos sociai s. Passa-se depois ao exame dos fatores, culturais,econmicos e pol ticos, que contriburam para o esfacelamento da;, famlia tradicional camponesa e para a emigrao em massa, em.J ' ,primeiro lugar para a Alemanha e para o resto da Europa e depoispara a Amrica. Ao longo desse processo de imigrao, o indivduodeixa de estar integrado no seio da famlia ampliada, ganha' \ importncia por S.i.mesmo e a famlia retrai-se, tenden.do a aproxi-0 1 mar-se da concepo de famlia moderna contempornea. Um dossin tomas dessa evoluo encontra-se na nova relao do indivduocom o matrimnio. Enquanto na sociedade camponesa tradicional

    polonesa a norma do casamento no o amor e sim o "respeito",-a nova famlia polonesa na Amrica est baseada no amor. Essamudana de comportamento cultural a marca, segundo Thomase Znaniecki (pp, 98-108, 706-711), de uma forma superior deindividualizao que prefigura a capacidade de assimilao doindivduo sociedade americana." --'---~

    O tema central da obra o da desorganizao) com seuscorolr ios de organizao e reorganizao, a inda que.stes concei-tos sejam considerados por Thomas e Znaniecki como tipos ideaisque no existem na realidade.~Uma! organizao socia~ um conjunto de convenes,

    ,at itudes e valores que se impem $sobre os interesses individuaisde um grupo social. Ao contrrio, a desorganizao social, quecorresponde a um declnio da influncia dos grupos sociais sobreos indivduos, manifesta-se por um enfraquecimento dos valorescoletivos e por um crescimento e uma valorizao das prticas34

    7. W.Thoma s e F, Znaniecki, o p . c i t. , 1927, pp. 11961204.

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    Thomas e Znaniecki distinguem dois tipos de desorganiza-o em Tbe polish peasant. a desorganizao familiar e a dacomunidade, A famlia rural desorganliaa--pela. -rui5-de-novas prticas de consumo, de novos valores que modificam oscomportamentos econmicos, ao passo que o indcio da desorga-nizao da comunidade a ausncia de opinio pblica, queconduz a um declnio da solidariedade comunitria.

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    Essa desorganizao reforada pela imigrao. NaAmrica,assume um aspecto espetacular e at, s vezes, dramtico .. ~desorganizao familiar.acarreta.a pauperizao e a delinqnciajuvenil . Segundo Thomas e Znaniecki, porm, para fazer frente aessa desorganizao, o grupo social reorganiza suas atitudes. Osvalores religiosos principalmente, por serem menos permeveis mudana, regem o restabelecimento de regras e prticas tradicio-nais. Para os imigrantes, porm, no se trata de uma volta para trs,mas de uma conduta que lhes permite adaptar-se ao seu novouniverso. Nesse processo, a educao, a organizao do babitat pornacionalidades e a ajuda mtua entre os imigrados, mas tambm a

    r imprensa local em lngua nacional, tm um papel decisivo."Logo, segundo Thomas, existe um ciclo de transformaes:sob a influncia da evoluo tcnica e econmica, e ainda mais sobos efeitos da imigrao, um grupo social antes organizado comeaa desorganizar-se para em seguida reorganizar-se, sem por issoassimilar-se totalmente ao grupo que o acolhe, na medida em quepodem sobreviver paralelamente formas culturais atenuadas dogrupo original, cujos valores, no entanto, so menos restritivos.Encontraremos essa noo de desorganizao na maior partedas investigaes que formam o patrimnio da Escola de Chicago.De fato, ela foi util izada para estudar as transformaos sociaisocasionadas-p~lo rpido crescimento das cidades americanas.

    8. Segundo Park, no incio dos anos 1910 havia em Chicago 19 jornais dirios, dos quaissete publicados em lngua estrangeira: "The City" (p. 27), em Tbe City, Chicago,Unversity of Chicago Press, [19151, Midway Reprnts 1984, 240 pp.

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    9.

    10.11.12.

    13.

    14.15.

    \16.17.18.

    Chegou mesmo a ser o conceito principal, a partir do qual todauma gerao de pesquisadores trabalhou na cidade. Foi o caso, porexemplo, de Nels Anderson," que o utilizou para estudar ostrabalhadores sazonais; de Frederic Thrasher'" em seu estudo dasgangues, de Harvey Zorbaugh," que analisou um bairro violentode Chicago; de Paul G. Cressey," que adotou o conceito paraestudar as relaes sociais nos dancings pblicos. Outras pesquisas.fizeram da noo de desorganizao social criada por Thomas umconceito importante: Ruth Cavan" sobre o suicdio, Ernest Mow-r 14 obre a desorganizao da famlia, LouisWirth15 sobre-ogueto, rnest Hiller16 sobre a anlise do comportamento dosindiv os por ocasio de uma greve, Walter Reckless" sobre acriminalidade em Chicago.Contudo, William Foote Whyte18 mostrou que a comunidadeitaliana por ele estudada em um subrbio de Boston (Cornerville)era com certeza desorganizada se fosse analisada com relao sinstituies da sociedade em geral e com os critrios da sociedadeamericana "normal", mas que se tratava tambm de uma sociedade

    N. Anderson, Tbe Hobo: Tbe sociology of tbe bomeless man, Chicago, University ofChicago Press, 1923, 302 pp. A publicao desta obra abriu a coleo de publicaessociolgicas da Universidade de Chicago.F.M. Thrasher, Tbe Gang. A study of 1313 gangs in Chicago, Chicago, Universlty ofChicago Press, (1927). 2" edio abrev iada , 1963, 388 pp.H. Zorbaugh, Tbegold coast and tbe slum. A socilogical study of Cbicago's near nortbside, Chicago, University of Chicago Press, 1929, 288 pp.P.G. Cressey, Tbe taxi dance ball. A sociological study in commerctatized recreationand c ity l i/ e, Chicago, University of Chicago Press [19321, primeira rempressoGreenwood, 1968, 300 pp.R.Cavan Shonle, Suicide, Chicago, University of Chicago Press, 1928,360 pp. Este livro a publ icao de sua tese: Su ic id e. A study o f persona l dlso rganza ton , PhD,Universidade de Chicago, 1926.E.R. Mowrer, Pamily disorganization. AIl tntroductton to a sociological analysis,Chicago, University of Chicago Press, 1927, 318 pp.L. Wirth, Tbe Gbetto, Chicago, University of Chicago Press, 1928. Trad, francoP.-J.Rotjman, Salnt-Martnd'Hres, Presses Unlversltares de Grenoble, 1980, 310 pp.E.T.HilIer, TbeStrike:A study in collectioeaction, Chicago, Universltyof Chicago Press,1928, 304 pp .W.C.Reckless, Vicein Cbicago, Chicago, Unlversityof Chicago Press, [19331, 2&edio,Montc1air,NJ, Patterson Srnlth, 1969, 314 pp.W.F. Whyte, Street comer soctety. Tbe social structure of an italian slum, Chicago,University of Chicago Press, [19431, 2" edio, 1955, 366 pp.

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    Y: r ., .

    organizada, "que possui sua prpria organizao, complexa, estru-turada, com relaes pessoais hierarquizadas, fundadas em umsistema de obrigaes recprocas" (p. 272} Tratava-se, portanto, deuma organizao social diferente, e no de uma falta de organizao.-- - . _ -- . _ _ _ ..Desmoralizao e assimilao

    , ,! :

    !'Jemtodas as manifestaes de desvio so sempre um sinal dedesorganizao social: possvel tambm que se trate de um desvioindividual, Thomas e Znaniecki, com efeito, faziam uma distinoeptre a "desorganizao" individual, que chamavam de "desmoraliza-o", e a desorganizao social, Segundo eles, a patologia individual',Vi no um indcio da desorganizao social,e no se deve estabelecerum elo direto entre os dois problemas. Constatamos contudo que,apesar do processo posi tivo de reorganizao social observado, oindivduo continua inadaptado, como que afastado desse fenmenosocial coletivo. Isso vale sobretudo para os indivduos da segunda

    gerao, que pagam o tributo mais pesado a essa reviravolta, entre-gando-se delinqncia, ao alcoolismo, v~m ou adiversas formas de crime. Arrisquemos aqui u~ hipte~e='~~esseRrocesso de reorganizao dificilmente seguido pelo indivduo, issoocorre porque ele exige que este se desfaa dos vnculos antigos parafazer outros novos, na!!1ed~~m que a adaptao no nunca um: sirnples mimetismo, mas antes~~ mestiagern ativa, que exige a1 construo de uma nova identidadel" ,

    I ' A reorganizao assume uma forma mista e passa pela\, constituio de uma sociedade polonesa-americana, pu seja, que j'.",o completamente polonesa, nem ainda mtelran1ente americana,','masconstitui uma promessa de assimilao das geraes futuras. . ,..\

    l"

    19. Pode-se considerar que as pesquisa de Thomas e Znanecki, bem como a metodologiaque empregaram, so particularmente pertinentes para estudar, na Frana contempo-rn ea (1991), os fenmenos complexos ligados ao que fo i chamado de "segundagerao", De modo geral, a maior ia do s estudos da Escola de Chicago sobre a etna esobre os problemas dos imigrantes nos subrbios deveriam ser retomados por todosaqueles que se ocupam hoj e desse problema social, que pode muito bem tomar-seimportante ao longo da presente dcada.

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    , .(j) l(l \ " ! '

    por isso que preciso favorecer o advento de tais formas sociais.mistas e provisrias, estimulando sobretudo o desenvolvimento deinstituies mltiplas que estabelecem um vnculo de continuidadecom o passado, com a cultura que o imigrante est abandonando:.assocaes diversas, festas, escolarizao bilnge etc.Em uma obra que no pde assinar em vir tude do "escnda-lo" que provocara em Chicago trs anos antes, mas cujos principaiselementos parecem ter sido fornecidos por ele e da qual ele pareceter escrito a maior parte, Thomas desenvolve a questo da assirni-

    lao e faz recomendaes aos poderes pblicos no sentido de quefavoream esse fenmeno.2 oSegundo Thomas, a assimilao ao mesmo tempo desejvele inevitvel. Exige a construo de uma memria comum ao nativoe ao imigrante. Os indivduos devem poder emancipar-se dasuniformidades culturais do grupo tnico a que pertence. Os imi-

    /'grantes, portanto, devem no s aprender a lngua do pas que osacolhe, mas tambm as grandes linhas de sua histria, de seusideais e seus valores." Esse aprendizado se dar, evide.I1.~~I!}~~!

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    r ? ? 7 , ~ ? 2 p q " T 2 2 2 ? ? a r 1 2A assimilao, que antes de mais nada um processopsicolgico, segundo Thomas (que porm negligenciou, parece-nos, o aspecto poltico da questo, bem como o das condies devida econmica do imigrante), ser completa quando o imigrantetiver o mesmo interesse pelos mesmos objetos que o americano de

    origem; dito de outro modo, na linguagem da etnometodologia,quando ele se tornar membro, ou seja, quando possuir o domnioda linguagem natural do grupo. Thomas insistia tambm em queos imigrantes pudessem continuar falando e lendo em sua lnguanativa, para favorecer a transio para a assimilao.o contrr io da assimilao a desmoralizao do indivduo,que, segundo observa Thomas, ocorre a cada vez que a sociedadeindustrial invade o mundo campons, mas que assume proporesinquietantes na comunidade de imigrantes na Amrica . Paradoxal-mente, a delinqncia, s intoma evidente da desmoralizao de queThomas falava, tanto mais disseminada quanto mais forte a

    presso da sociedade americana para uma assimilao completa dosimigrantes, que, para ser realizada mais rapidamente, pode levar adoo de medidas com vistas a enfraquecer as indispensveisinsti tuies comunitrias dos imigrantes, cuja funo manter umacontinuidade coerente na vida dos indivduos. Essa presso produzento o contrrio do fenmeno esperado. e surgem formas mais oumenos violentas de delinqncia, porque no se pode separar, semconseqncias , o indivduo de seu grupo cultural e social de origem.A americanizao em massa passa, ao contrrio, pela pertena aorganizaes tnicas , que se modif icam progressivamente e contri-buem com eficcia para a adaptao (pp. 290-293).A definio da situao

    Em 1923,22 Thomas desenvolveu outra noo, que j util izarasem muito destaque em Tbe polish peasant, e que viria a ser,22. w. Thomas, Tbe unadjusted girl: With cases and standpoiru for bebaoior analysis ,

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    juntamente com a de desorganizao social, uma das ~"noes da sociologia americana por vrias dcadas: a de~9_'da situaoD indivduo age em funo do ambiente que percebe,da-situao a que deve fazer frente. Pode definir cada situao desua vida social por intermdio de suas atitudes anteriores, que olinformam sobre esse ambiente e lhe permitem nterpret-lo. A(definio da situao, portanto, depende ao mesmo tempo daordem social tal como se apresenta ao indivduo e da histriapessoal deste. Sempre h um confli to entre a defin io espontneade uma situao por um indivduo e as definies sociais que suasociedade lhe oferece. Ao insistir na necessidade de os pesquisa-dores coletarem, dos agentes sociais, relatos de primeira mo,autobiografias, cartas etc., Thomas desejava que desse modo elespudessem ter acesso maneira como os indivduos "definiam suasituao".

    o ciclo das relaes tnicasPraticamente todas as obras mais rnarcantes da Escola deChicago so consagradas questo da imigrao e da ntegrao

    d . . ' d d . 2~ B 24 bos imigrantes socie a e americana." urgess resume em aspreocupaes de seus colegas:Boston, Lttle, Brown &Co., 1923, 262 pp. Um extrato deste livro, nttulado "DfinirIa stuation", foi traduzido para o francs (pp. 79-82) em Y. Grafmeyer e L joseph,L'colede Chicago. Naissance de i'ccotogie urbaine, Paris, Aubier, 1990, 378pp.23. Entre 1914e 1933, 42teses ou trabalhos foram escritos por estudantes de Chicagosobre as relaes tnicas, culturais e raciais, inaugurando assim um dos temas maisimportantes da sociologia americana. Park teve um papel preponderante em despertaro interesse por essa questo. Deve-se observar que, antes de vir para a Universidadede Chicago em 1914, por um lado ele havia sido um mil itant e da causa negra,levantando-se contra a explorao de que os negros eram objeto na frica, (especial-mente no Congo) e, por out ro lado, a partir de 1905, consel heiro de BookerWashington, uma das grandes f iguras militan tes da causa negra. Foi, alis, nessascircunstncias que ele conheceu Thomas em 1912, durante um colquio sobre aquesto negra, e que este ltimo o levou para Chicago.24. E,W. Burgess e J. Bogue, Contributions to urban sociology, Chicago, University ofChicago Press, 1964,674pp.

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    A descoberta de que os grupos tnicos eram um gigantescomecanismo sociolgico de defesa que facil itava a sobrevivncia ea adaptao dos imigran tes - comunidades s quais a segundagerao queria escapar - foi um importante resultado da pesquisasociolgica entre 1920 e 1930. Como se tratava de um problemapolt ico candente e como havia uma grande diversidade nascomunidades coloridas de imigrantes, os socilogos ficaram fasci-nados com a pesquisa etnolgica urbana. Quase nenhum de seustrabalhos foi uma simples descrio, na tradio da antropologiada poca. Ao contrrio, eram analticos e pretendiam mostrar ostraos de comportamento e os processos de adaptao e detransformao prprios dos imigrantes em seu novo ambienteeconmico. C..) A hostilidade e as tenses ent re as di ferentescomunidades tnicas eram consideradas como fenmenos objet i-vos, que se tratava de explicar e no de estimular tomando partidopor l ima Ollpor outra. (p, 325)Esta questo sociolgica est ainda hoje na ordem do dia.

    Basta constatar os problemas raciais e os ocasionais tumultos que,aps a luta dos negros por seus direitos civis nos anos 60, sacodemainda regularmente algumas grandes cidades dos Estados Unidos.Os socilogos de Chicago, portanto, deram mostras de um faropoltico incontestvel ao consagrar a quase totalidade de suaspesquisas aos mltiplos problemas de insero colocados pelaimigrao em massa, quer se tratasse de imigrantes europeus -camponeses poloneses ou comunidades irlandesas, alems, russasOll italianas -, quer fossem negros do sul, verdadeiros imigrantesinternos, estabelecendo-se nas grandes metrpoles com vistas aencontrar um emprego.

    O ciclo das relaes tnicas em ParkPark (921),25 ao descrever o processo de desorganizao-reorganizao que bal izava as interaes entre os grupos sociais

    25. R. Park e E. Burgess, Iruroduction to tbe science of sociology, Chicago, Unive rs it y o fChicago Press, (1921], 3' ed i o , 1 969, 1.040 pp., c ap s. V III a Xl, pp. 506-784.

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    autctones e imigrantes, distinguiu quatro etapas, cada uma delasrepresentando um progresso em relao precedente: a rivalidade,o confli to, a adaptao e a assimilao. rivalidade "a interao sem o contato.' social" (p. 507). Caracter iza-se pela ausncia de contato social entre/ os';;divduos, fator que favorece o surgimento do conflito, da, adaptao e da assimilao, e tapas que, ao contrrio da rivalidade,esto l igadas ao controle social. Durante esta primeira etapa, queacarreta uma nova diviso do trabalho, as relaes sociais soreduzidas a uma coexistncia baseada nas relaes econmicas,decisivas na transformao social: "A rival idade o processo queorganiza a sociedade. Ela determina a repartio geogrfica dasociedade e a distribuio do trabalho. A diviso do trabalho, assimcomo a vasta interdependncia econmica entre indivduos egrupos de indivduos, to caractersticas da vida moderna, soprodutos da rivalidade. Por outro lado, a ordem moral e poltica,que se impe a esta organizao cq~npetitiva, produto doconfli to, da adaptao e da assi~(p. 508)." " > ,2) A segunda etapa o conflito, qtJe inevitvel quandopopulaes diferentes so postas em presena. O conflito manifes-ta uma tomada de conscincia, pelos indivduos, da rivalidade aque esto submetidos. Enquanto a rivalidade inconsciente eimpessoal, o conflito, ao contrrio, sempre consciente e envolveprofundamente o indivduo. um processo que sempre acompa-nha a instalao dos indivduos em seu novo ambiente: "De ummodo geral, pode-se dizer que a rivalidade determina a posio deum indivduo na comunidade; o conflito atribui-lhe um lugar nasociedade" (p. 574). Trata-se de uma etapa decisiva, na medida emque cria uma solidariedade no seio da minoria, que entra assim naordem do poltico.

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    3) "A adaptao pode ser considerada, tal como a conver-so religiosa, como uma espcie de mutao" (p, 510). Elarepresenta o esforo que os indivduos e grupos devem fazer paraajustar-se s situaes sociais criadas pela rivalidade e peloconflito. Desse modo, as gangues da fase precedente tornam-seclubes na da adaptao Cp. 722). A adaptao um fenmenosocial relativo cultura em geral, aos hbitos sociais e tcnicaveiculados por um grupo. Durante esta fase, h uma coexistnciaentre grupos que continuam rivais em potencial, mas que aceitamsuas diferenas. As relaes sociais so organizadas com o fim dereduzir os conflitos, controlar a rivalidade e manter a segurana

    r das pessoas.4) A ltima etapa, que segundo Park uma seqncia

    "natural" da adaptao, a assimilao, durante a qual as dife-renas entre os grupos so diludas, e seus respectivos valoresmisturados. Os contatos multiplicam-se e tornam-se mais ntimos,a personalidade do indivduo transforma-se: "H interpenetraoe fuso, ao longo das quais os indivduos adquirem a memria,os sentimentos e as atitudes do outro e, ao compartilhar suaexperincia e sua histria, integram-se em uma vida culturalcomum" (p. 735). A assimilao um fenmeno de grupo, noqual as organizaes de defesa da cultura dos imigrantes porexemplo, ou os jornais de linga estrangeira tm um papeldeterminante. Portanto, preciso estimular o desenvolvimentodestes em vez de combat-los."

    26. Lendo o que Park e Thomas e, depois deles, um grande nmero de socilogos deChicago escreveram nos anos 1920, no h como no fazer uma aproximao comcer ta s not c ia s a la rmantes que surgem regularmente na Frana con tempornea (1991),tais como a proibo, por uma prefeitura comunista do norte do pas, de aumentaruma me squi ta , a d es pei to d a l ib er da de d e c ul to i ns cr it a na Cons tit ui o f ra nc esa , p orum lado, e, pelo outro, do sinal evidente - mas que ao mesmo tempo pode paracerp ar ad ox al - d e nt egr a o so ci eda de f ra nc es a qu e pode r epr es en ta r a i nst al a o deum local de cul to d iferen te em ter ri t rio f rancs .

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    A cada uma dessas quatro etapas, que so processos sociais,corresponde esquernaticamente uma ordem social particular naestrutura social, tal como escreve Park (p. 510):

    Processo social Ordem socialRivalidade Equilbrio econmicoConflito Ordem polticaAdaptao Organizao socialAssimilao Personalidade e herana cultural

    A noo de assimilao em Park

    "I ;ID914, r?k''pvblicou seu primeiro artigo sobre o proble-

    ma da, assimilao." .ho qual rejeita a hiptese, de aceitaocomum, segundo a qual a unidade nacional exige uma hornoge-neidade tnica. Ao contrrio, define a assimilao como um pro-cesso durante o qual grupos de indivduos participam ativamente

    , do funcionamento da sociedade sem perder suas particularidades.Se, na sociedade industrial, as diferenas raciais fundamentais soacentuadas, comO considera Park, principalmente pela educao epela diviso do trabalho, em compensao a assimilao dosdiferentes grupos tnicos, ou seja, culturais, realizada pelaadoo de uma lngua nica, de tradies e de tcnicas comumente'.compartilhadas.

    27. R .Park, "Racial a ss imilat ion insecondary groups with par ti cu la r reference to the negro",American fournal of Sociology, 19, maro de 1914, pp. 606-623; reproduzido em R.Park, Raceand eu/fure, Glencoe , I ll ., F ree Press , 1950, pp. 204-220 .

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    ~~rigem dos preconceitos raciais reside, segundo Park, nasdesigualdades econmicas. A obrigao, por parte dos imigrantes ,d~ -aceitar salr ios baixos granjeia-Ihes a hosti lidade da populaolocal, que pensa sofrer o desemprego em virtude dessa concorrn-cia "desleal". Park, aps t.~!3Qli~ado o sistema de escravido e oda: castas, considera-que ?~'p!~~~~o~ raciais s~o 1~1aisconse- __qncia de um conflito de interessesqti!KIe uma ignorancia ou del:11a-incoiiipreenso-suscetvel de ser corrigida pela educao: aesavdaantes demais nada uma brutal explorao econmicaela pessoa humana.

    Todavia, a educao tem um papel importante na formaodo imigrante em sua nova cidadania. A escola permitir que eleapreenda as formas da vicia americana, inculcando-lhe a lngua, acultura, a ideologia democrtica e sobretudo a histria dos EstadosUnidos, mediante a qual ele entende que, como imigrante, temefetivamente um futuro no pas.Foi o que constatou Pauline Young" em seu estudo etnol-gico de uma comunidade de emigrantes russos estabelecidos naCalifrnia desde 1905. Os molokans so camponeses que formamuma seita religiosa crist e que fugiram da Rssia em virtude dasperseguies de que eram objeto por parte dos ortodoxos russose do czar. P. Young, que fala russo, pesquisou na regio de LosAngeles durante cinco anos e recolheu, junto aos prprios molo-kans, centenas de relatos sobre suas tradies, sua doutr ina , suasexperincias pessoais na Rssia e na Amrica. Vinte e cinco anosaps se terem instalado na Califrnia, P.Young julga poder dist in-guir trs tipos de molokan:1) Os velhos, nascidos na Rssia, que falam russo e conser-vam seus sentimentos religiosos;

    28. P. Young, Tbep i lgrims o f tussian-toum, Nova York, Russell &Russell,I1932J, 2" edio,1%7 (com uma int roduo de R. Park), 296 pp.

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    2) os molokans cuja vida reflete uma mistura de russo eamericano, mas que mantm ainda algumas tradies;3) finalmente, aqueles que nasceram nos Estados Unidos, es6 conhecem a Rssia de ouvir falar. Para eles, as tradiestornaram-se uma lenda. Sua atitude para com a seita modificou-se ,

    e pode-se consider-los como "culturalmente hbridos" (p. 10) .Pauline Young mostra assim que o sagrado se institucionalizae torna-se profano medida que a vida comunitria se desintegrae comea o processo de assimilao cultural.

    As tenses raciais nos Estados UnidosVrios socilogos negros formaram-se em Chicago e realiza-ram investigaes sobre as interaes tnicas e as tenses raciais.Este foi, por exemplo, o caso de Charles johnson" e os de Franklin

    Frazier." Ber~illiam Brown"_/~

    Em julho-agosto de 1919)violentos tumultos irromperam.,emChicago durante uma sernaria. 'Deles resultaram 38 mortos (dosquais 23 negros) e vrias centenas de feridos. Foram os primeirosproblemas raciais srios ocorridos em Chicago, e foi decidido queuma comisso mista, composta por negros e brancos, seria encar-regada de estudar as causas dos tumultos e fazer recomendaes."A direo das pesquisas foi confiada a um negro, Charles johnson,29. C.S. ]ohnson, Tbe negro in Chicago: A study of race relations and a race riot in 1919,Chicago , Unive rs ity of Chicago Press , 1922, 6 72 pp.30. E.F. Frazer, Tbe negro family in Chicago, Chicago , Unive rs ity of Chicago Press, 1932,294 pp.31. B.W. Doyle, Tbe etiquette of race relations in lhe Soutb. A s tudy ill social control,Chicago , Unversry of Chicago Press, 1937, 250 pp.32. W.O. Brown, "Race Prejudce: A Soc o logca l S tudy", Ph.D., Universidade de Chicago,1930, 470 pp.33. Mead e P ar k, r esp ec ti vament e p res id ent es d o Ctty Club e da Chicago Urban League,h av iam p re vi st o e ss es d ist r bi os r ac iai s d es de o p ri ncpio do ano, e em vo haviamte nt ado a le rt ar a s a ut or id ad es d a c id ad e c ont ra p oss v ei s i nc iden te s s r io s.

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    diplomado em sociologia e ex-aluno de Park e Burgess. A influn-cia destes ltimos ficou particularmente visvel nos mtodos depesquisa utilizados: observaes de campo, entrevistas de negros

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    A imigrao japonesa e as sete etapas de Bogardus da Califrnia do Sul. Tomando emprestado de Park o ciclo deassimilao dos imigrantes, ele precisou e definiu sete etapascronolgicas pelas quais, segundo ele, deviam passar as relaesentre a comunidade de imigrantes e aquela que os acolhe: a primeira etapa, durante a qual os imigrantes recm-che-gados so observados, caracter izado por uma curiosi-dade neutra: ".,-- ... durante a segunda etapa o imigrante, que precisa vendersua fora de trabalho, torna-se interessante porque podeser contratado a ba~x~"preo;

    Ao prprio Park foi sol icitado, em 1923 , que assumisse adireo de uma pesquisa sobre as tenses raciais entre a populao~americana e as comunidades asiticas, em especial a japonesa, nacosta oeste dos Estados Unidos, Os' japoneses, 'queixavam-se, j.naquela poca os americanos, trabalham constantemente, durantetodo o dia e todos os dias e ~~nca-ti'rnl'ff1as: trnand'assimdesigual toda concorrncia econmica. A'niCsoluo, segundoa opinio pblica, seria exclu-Ios dos Estados UndO 's, ' FoiIsso,'alis, que o Congresso ai11ric-;~~-fezparcialmente em maio de1924 , ao proibir toda nova imigrao japonesa para os EstadosUnidos, quando a investigao de Park e seus associados estavapela metade, Esse japanese Exclusion Act teve, natural, conse-qncias importantes-s(;hre a pesquisa, que logo teve de serinterrompida por falta de meios financeiros para prosseguir: oprojeto de diagnstico de uma sociedade enferma de seu racismotransformou-se desde esse momento, segundo um dos pesquisa-dores, em uma autpsia, sem esperanas de cura ou de melhora,

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    a aceitao desses baixos salrios por parte dos imigrantesgrangeia-lhes em seguida a hostilidade dos trabalhadores~~ais, ameaados em seu \;~j-de vida e at em seusempregos, Alm disso, outros imigrantes continuam che-gando e, a longo prazo, suas elevadssimas taxas de nata-lidade ameaam a comunidade local com uma "invaso". o nascimento do. n!!~_-_"p~ri.8~.~m

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    a obra de Romanzo Adams, 36 fez uma modificao em sua teoriado ciclo. Este deixa de encerrar-se sistematicamente com a otimistaassimilao dos imigrantes, mas pode assumir trs formas: umaassimilao completa, a elaborao de um sistema de castassemelhante ao da ndia ou, ao contrrio, a persistncia de umaminoria racial, como o caso dos judeus na Europa.

    Aculturao e assimilaoEm sua tese sobre os preconceitos raC1aIS(1930), William

    Brown desenvolve uma viso das relaes tnicas oposta dePark. Segundo ele, o conflito no constitui apenas uma etapa aolongo da histria das duas comunidades, a branca e a negra. Aocontrrio, ele endmico, e de fato marca cada uma das fases dociclo de relaes tnicas entre as duas comunidades. O conflitoculmina na fase de adaptao, em que as relaes entre superiorese subordinados so constantemente conflitantes. A cultura negra considerada inferior, os negros so marginalizados e ideologiasantagnicas estabelecem-se em cada uma das comunidades. porisso que, segundo Brown, nunca poderia haver uma assimilaocompleta da comunidade negra, sempre inferiorizada pela culturae a ordem social brancas.

    Esta foi tambm a posio desenvolvida por Franklin Frazier(1932): o ciclo no se encerra com a assimilao, e sim com aexistncia de dois sistemas raciais distintos. Durante a ltima etapado ciclo, cada uma das duas raas desenvolve suas prpriasinstituies sociais e ocupa zonas urbanas diferentes. Seos EstadosUnidos foram capazes de absorver as diferentes culturas e etniaseuropias, o mesmo no se deu a cada vez que teve de lidar comraas diferentes, como os asiticos e os negros. Segundo Frazier,36. R .Adams, Interracial marriage irt Hauiaii. Nova York, Macmi ll an , 1937, com pre fciod e R. P ar k. (pp, VII-XIV), 345 pp.

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