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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ANÁLISES CLÍNICAS E TOXICOLÓGICAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA Tayná Braga Leite de Melo ACIDENTES COM ESCORPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE: LEVANTAMENTO TÓXICO-EPIDEMIOLÓGICO NO PERÍODO DE 2010 A 2017. (Accidents with scorpions in Rio Grande do Norte: toxic-epidemiological survey from 2010 to 2017.) Natal RN 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE ANÁLISES CLÍNICAS E TOXICOLÓGICAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA

Tayná Braga Leite de Melo

ACIDENTES COM ESCORPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE: LEVANTAMENTO

TÓXICO-EPIDEMIOLÓGICO NO PERÍODO DE 2010 A 2017.

(Accidents with scorpions in Rio Grande do Norte: toxic-epidemiological survey from 2010 to

2017.)

Natal – RN

2021

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Tayná Braga Leite de Melo

ACIDENTES COM ESCORPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE: LEVANTAMENTO

TÓXICO-EPIDEMIOLÓGICO NO PERÍODO DE 2010 A 2017.

(Accidents with scorpions in Rio Grande do Norte: toxic-epidemiological survey from 2010 to

2017.)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Graduação em Farmácia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como requisito

parcial para obtenção do título de Bacharel em

Farmácia.

Orientador: Prof. Dr. Herbert Ary Arzabe Antezama

Costa Nobrega Sisenando.

Natal – RN

2021

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Tayná Braga Leite de Melo

ACIDENTES COM ESCORPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE: LEVANTAMENTO

TÓXICO-EPIDEMIOLÓGICO NO PERÍODO DE 2010 A 2017.

(Accidents with scorpions in Rio Grande do Norte: toxic-epidemiological survey from 2010 to

2017.)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Graduação em Farmácia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como requisito

parcial para obtenção do título de Bacharel em

Farmácia.

Orientador: Prof. Dr. Herbert Ary Arzabe Antezama

Costa Nobrega Sisenando.

Presidente: Prof. Herbert Ary Arzabe Antezama Costa Nobrega Sisenando, Dr. – Orientador,

UFRN

Membro: Profª. Aline Schwarz, Dra, UFRN

Membro: Prof. George Queiroz de Brito, Dr., UFRN

Page 4: Tayná Braga Leite de Melo - repositorio.ufrn.br

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS

Melo, Tayná Braga Leite de.

Acidentes com escorpião no Rio Grande do Norte: levantamento

tóxico-epidemiológico no período de 2010 a 2017 / Tayná Braga Leite de Melo. - 2021.

27f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Farmácia) -

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências

da Saúde, Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas. Na-tal, RN, 2021.

Orientador: Herbert Ary Arzabe Antezama Costa Nóbrega Sise-

nando.

1. Escorpião (Tityus serrulatus) - TCC. 2. Toxicologia - TCC.

3. Intoxicação - TCC. I. Sisenando, Herbert Ary Arzabe Antezama

Costa Nóbrega. II. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 596.46

Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263

Page 5: Tayná Braga Leite de Melo - repositorio.ufrn.br

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a DEUS por sempre está ao meu lado me dando forças,

ânimo, coragem, determinação, capacitação e a certeza de que eu podia conseguir. Sem Ele

não sou nada e não posso nada. Obrigado Pai, Filho e Espírito Santo por sempre está ao meu

lado!

Agradeço ao meu esposo, Bruno, por toda paciência, compreensão, ajuda e oração por

todos esses anos em que estive cursando minha faculdade.

Aos meus filhos, Emanuel e Daniel, por toda a compreensão nos momentos em que

ficava ausente devido a faculdade e não podia brincar com eles quando sempre me

chamavam.

À minha irmã, Janaína, por toda a ajuda que ela me dava, renunciando os seus

afazeres, ficando com meus filhos ainda bebês, nos momentos em que eu precisava ir para a

faculdade durante o dia.

Aos meus pais (Rosângela e Edilson), aos meus padrastos (Cármem e Nilton) e ao

meu irmãozinho David Neto, por todo apoio, palavras de incentivo e orações. Todos eles

moram longe, mas, sempre me apoiavam e oravam por mim.

Aos meus sogros, Laudicéa e Benedito, por todos os momentos que precisávamos

pegar marmita na casa deles quando não conseguia fazer almoço por falta de tempo, pelos

momentos que também ficavam com meus filhos e por toda oração.

A todos os meus amigos que também oravam por mim, me davam palavras de

incentivos e, muitas vezes, vinham para minha casa para descontrair e relaxar.

Ao meu querido orientador, Professor Dr. Herbert, por toda gentileza, paciência e

calma, por acreditar em mim para desenvolver esse tema.

A todos os professores que compartilharam seus grandes conhecimentos através dos

seus ensinamentos em cada aula. Sem vocês não existiriam os profissionais.

Meu eterno agradecimento a todos!

Page 6: Tayná Braga Leite de Melo - repositorio.ufrn.br

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ………………………………………………………………. 09

2. METODOLOGIA ……………………………………………………………. 13

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES ……………………………………………. 13

4. CONCLUSÃO ………………………………………………………………… 21

5. REFERÊNCIAS ………………………………………………………………. 22

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RESUMO

Introdução: Acidentes com animais peçonhentos estão em segundo lugar como causa de

intoxicação humana no país, perdendo apenas para medicamentos. No Brasil, acidentes com

escorpiões são a principal causa de envenenamento por animais peçonhentos. Sua importância

médico-sanitária não é apenas pela incidência de acidentes ocorridos, mas, também, devido à

ação do veneno (potencialidade e/ou letalidade). A atuação do veneno ocorre em sítios

específicos de canais de sódio, desencadeando despolarização das membranas das células

excitáveis e liberação de catecolaminas e acetilcolina que irão atuar no organismo. A

gravidade depende da quantidade de veneno injetada, toxicidade, tamanho e espécie, entre

outros. Objetivo: Investigar a tóxico-epidemiologia e o fluxo de informação de notificação de

acidentes por escorpião no Brasil e, mais detalhadamente, no Estado do Rio Grande do Norte.

Metodologia: Foi realizado um levantamento epidemiológico entre os anos de 2010 a 2017,

através dos dados das plataformas do Sistema de Informação de Agravos e Notificações

(SINAN) e Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), no que se

refere à zona geográfica, faixa etária, sexo e evolução dos casos, em níveis de Brasil,

Nordeste e Rio Grande do Norte. Resultados: No presente estudo, os casos notificados na

zona urbana são muito maiores do que os da zona rural, o que pode ser justificado pelo fato

dos escorpiões facilmente encontrar abrigo e alimento nas residências. A faixa etária de maior

risco foi entre 20 e 49 anos. O sexo feminino é o mais atingido, podendo ser explicado pela

maior presença das mulheres em trabalhos domésticos. A maioria dos casos tiveram evolução

para cura e pouquíssimos casos de óbito. Por se tratar de análise de banco de dados, este

estudo está sujeito a erros durante a entrada das informações e à subnotificação, por isso a

importância de alimentar corretamente as plataformas de dados. Conclusão: Esse

levantamento tóxico-epidemiológico serve de alerta tanto para a população quanto para o

serviço público de saúde no que se refere aos cuidados que se deve ter para evitar os acidentes

com escorpiões como também em relação à gravidade do envenenamento. Erradicar esses

animais não é a melhor solução, mas sim, fazer um controle da população dos escorpiões,

delimitando espaços na natureza, já que o animal é importante dentro do ciclo biológico.

Palavras-chave: Toxicologia. Intoxicação. Escorpião. Tityus serrulatus.

Page 8: Tayná Braga Leite de Melo - repositorio.ufrn.br

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ABSTRACT

Introduction: Accidents with poisonous animals rank second as the cause of human

intoxication in the country, second only to medicines. In Brazil, accidents with scorpions are

the main cause of poisoning by venomous animals. Its medical and health importance is not

only due to the incidence of accidents that have occurred, but also due to the action of the

poison (potentiality and/or lethality). The action of the venom occurs in specific sites of

sodium channels, triggering depolarization of excitable cell membranes and release of

catecholamines and acetylcholine that will act in the body. Gravity depends on the amount of

poison injected, toxicity, size and species, among others. Objective: To investigate the toxic

epidemiology and scorpion accident reporting information flow in Brazil and in more detail in

the state of Rio Grande do Norte. Methodology: An epidemiological survey was conducted

between 2010 and 2017, through annual reports from Diseases and Notifications Information

System (SINAN) and National Toxic-Pharmacological Information System (SINITOX),

regarding the geographic zone, age group, gender and evolution of cases, in levels of Brazil,

Northeast and Rio Grande do Norte. Results: In the present study, the cases reported in urban

areas are much larger than those in rural areas, which can be explained by the fact that

scorpions easily find shelter and food in homes. The age group at greatest risk was between

20 and 49 years. The female sex is the most affected, which can be explained by the greater

presence of women in housework. Most cases evolved to cure and very few cases of death. As

it is a database analysis, this study is subject to errors during the entry of information and

underreporting, hence the importance of correctly feeding the data platforms. Conclusion:

This toxic-epidemiological survey serves as a warning for both the population and the public

health service regarding the care that must be taken to avoid accidents with scorpions, as well

as the severity of the poisoning. Eradicating these animals is not the best solution, but

controlling the scorpion population, delimiting spaces in nature, since the animal is important

within the biological cycle.

Keywords: Intoxication. Toxinology. Scorpion. Tityus serrulatus.

Page 9: Tayná Braga Leite de Melo - repositorio.ufrn.br

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1. INTRODUÇÃO

São considerados animais peçonhentos aqueles que produzem ou modificam (através

de glândulas especializadas) uma substância tóxica (ou veneno) a qual é injetada através de

um aparelho externo, podendo ser dentes ocos, picadas, ferrões ou aguilhões, que são usados

para necessidades essenciais, como autodefesa ou captura de presas1-3. Todos os escorpiões

são considerados animais peçonhentos, mas, nem todos são considerados de importância

médica4.

Acidentes com animais peçonhentos estão em segundo lugar como causa de

intoxicação humana no país, perdendo apenas para medicamentos, que se encontra em

primeiro lugar5,6. No Brasil, acidentes com escorpiões são a principal causa de

envenenamento por animais peçonhentos7.

Os escorpiões, conhecidos como lacrau em algumas regiões do Brasil, são artrópodes

terrestres quelicerados da classe Arachnida. Antigamente, eram considerados insetos do

gênero Scorpiones. A partir do século XIX, até os dias atuais, foram considerados dessa

Classe8. Estão entre os artrópodes mais antigos e entre aracnídeos mais primitivos. Com

exceção da Antártida, possuem distribuição geográfica bastante ampla9,10. São estruturados da

seguinte forma: cefalotórax, tronco e cauda, respiração aérea, pulmões foliáceos, quatro pares

de pernas locomotoras, apêndice ventral (pente), glândula de veneno e aguilhão inoculador. O

comprimento varia entre 0,9 cm até 21cm, dependendo da espécie. São cobertos por pêlos

(cerdas) cuticulares quimiorreceptores e mecanorreceptores, principalmente nas pernas, que

são suas principais estruturas sensoriais8,11.

Dependendo da espécie, a gestação dura 2 meses ou 22 meses. A ninhada varia de 1 a

105 filhotes. Num período de 5 a 30 dias, os filhotes ficam no dorso da mãe até a primeira ou

segunda muda. Algumas espécies vivem entre 2 a 10 anos, mas, outras chegam até 25 anos.

Os escorpiões são vivíparos, pois depositam larvas e não ovos8,12.

Possuem hábitos noturnos, se alimentam de baratas, insetos e aranhas. Gostam de

ambientes úmidos e climas quentes. Apresentam ampla distribuição geográfica e estão em

quase todos os ecossistemas terrestres, com exceção da Antártida. No ambiente urbano,

apresenta uma boa capacidade de adaptação por encontrar abrigo e alimentação dentro e/ou

próximo das residências, o que aumenta o risco de acidentes. Devido à alta capacidade de

adaptação, os escorpiões podem ficar meses sem alimento e água, o que aumenta a sua

resistência no ambiente13,14.

Page 10: Tayná Braga Leite de Melo - repositorio.ufrn.br

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Nas regiões urbanas, se abrigam em acúmulo de lixo doméstico, tijolos, telhas,

entulhos, galerias de esgotos, rodapés e assoalhos quebrados e, geralmente, saem por meio

dos ralos e caixas de gorduras. Já na natureza, são encontrados em frestas de rochas, debaixo

de cascas de árvores e madeiras em decomposição, sob pedras, no interior de tocas, sob

folhas, em cavernas e até mesmo sob a neve5,15.

No Brasil, os principais escorpiões de importância médica são da família Buthidae -

Tityus serrulatus (responsável por acidentes de maior gravidade e óbito, principalmente, em

crianças), Tityus bahiensis e Tityus stigmurus. Os membros superiores (principalmente mão,

antebraço, pés e dedos) são os locais mais atingidos pelas picadas5,16,17.

O escorpionismo é definido como o quadro de envenenamento em humanos causado

pelo veneno do escorpião através da sua picada18,19. As regiões Norte e Nordeste concentram

a maior variedade de espécies no Brasil, onde apenas o Nordeste apresenta 34 dessas,

representando 26% do total brasileiro. O Tityus serrulatus e o Tityus stigmurus são os

principais responsáveis por acidentes fatais. A Bahia se destaca por apresentar 27 espécies8.

O Tityus serrulatus (escorpião amarelo) possui o tronco marrom escuro, pedipalpos,

patas e cauda amarelados e uma serrilha dorsal (o que caracteriza essa espécie) nos dois

últimos segmentos da causa. Pode medir até 7cm de comprimento. Se reproduz sem o macho

(partenogênese)4,20.

O Tityus stigmurus (escorpião amarelo do Nordeste), muito semelhante ao Tityus

serrulatus em sua morfologia, possui o tronco amarelo escuro, triângulo negro no cefalotórax,

faixa escura longitudinal mediana e manchas laterais escuras. Pode medir até 7cm de

comprimento4.

O veneno é uma mistura complexa de proteínas, aminoácidos e sais, sendo sintetizado

nas glândulas do télson. Sua atuação é no sistema nervoso, em sítios específicos de canais de

sódio, desencadeando despolarização das membranas das células excitáveis e liberação de

catecolaminas e acetilcolina que irão atuar em diversos sítios do organismo, sendo

responsáveis pela maior parte dos sinais e sintomas associados ao quadro toxicológico8,21-23.

Durante a ferroada, os escorpiões podem injetar entre 0,1 e 0,9 mL de peçonha nas vítimas24.

Estudos realizados com componentes da peçonha do escorpião buscavam encontrar

antídotos para casos de picadas, já outros, novas utilidades para essas substâncias,

principalmente, em relação à interação da bioquímica estrutural com as ferramentas da

biologia molecular8.

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LUCENA, em sua publicação “Conhecendo os Escorpiões: um guia para entender

como prevenir os acidentes com escorpiões”, realizada em Campo Grande (MS) em 2021,

relata que muitos estudos têm demonstrado o potencial de componentes encontrados nas

peçonhas de escorpiões para a produção de medicamentos. Exemplo disto são atividade

antiviral do peptídeo (Smp76) isolado do Scorpio maurus palmatus (escorpião africano), a

atividade antimicrobiana de um componente (estigmurina) isolada da peçonha do Tityus

stigmurus (escorpião amarelo do Nordeste), a atividade antifúngica de componentes (ToAP2 e

Ts1) isolados do Tityus obscurus (escorpião preto) e Tityus serrulatus (escorpião amarelo), e

de componentes de baixo peso molecular isolados da peçonha de Heterometrus laoticus

(escorpião preto do Vietnã), que evitam a formação de coágulos.

A gravidade depende da quantidade de veneno injetada, toxicidade, tamanho e espécie

do escorpião, local da picada, idade, massa corporal, sensibilidade da pessoa ao veneno e

tempo de atendimento. Fatores relacionados ao tratamento também podem influenciar na

gravidade do acidente, já que o diagnóstico precoce e o tratamento com soroterapia são

ferramentas capazes de diminuir a gravidade8,25.

O objetivo do tratamento é neutralizar, o mais rápido possível, a toxina circulante

(ainda na circulação sanguínea), combater os sintomas (alguns melhoram imediatamente após

o uso do soro) do envenenamento, melhorando as condições vitais do paciente. Independente

do quadro, o paciente deve ficar em observação hospitalar nas primeiras horas (4 a 6h) após o

acidente, principalmente crianças. Nos casos moderados, pelo menos 24 a 48h. Já nos casos

graves, o ideal é internação hospitalar com monitoramento constante dos sinais vitais21.

A identificação ou suspeita de intoxicação causada pela picada de um escorpião e a

identificação do gênero do mesmo é de suma importância para um tratamento correto

(indicação mais precisa do antiveneno a ser administrado), tendo por objetivo a conduta

terapêutica acerca desse tipo de acidente toxicológico5,26.

Os casos de escorpiões podem ser considerados leves, moderados ou graves. As causas

mais frequentes de óbitos são quando os casos evoluem para choque cardiocirculatório e

edema agudo do pulmão (devido à insuficiência cardíaca ou a liberação de substâncias

vasoativas por meio de reações inflamatórias e alérgicas responsáveis pelo aumento da

permeabilidade do endotélio vascular26,27), que já aparecem nas 24h primeiras horas21. Os

sinais e sintomas se apresentam de maneira igual, independentemente da etnia21.

Alguns autores relaram que é mais comum apresentar vômitos, distúrbios

neurológicos, cardiovasculares, respiratórios e até mesmo a morte em crianças. O risco de

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12

óbito predomina na faixa etária de 5 a 14 anos e em idosos. Nesses casos, as primeiras 24h

são consideradas críticas, pois podem surgir as complicações cardiocirculatórias e

pulmonares, levando os pacientes ao óbito19,28-30.

Os acidentes com animais peçonhentos vêm aumentando significativamente, nos

últimos anos, no mundo todo e, com isso, esses acidentes são considerados como um grande

problema de saúde pública negligenciado31, principalmente em regiões tropicais e subtropicais

do planeta, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a incorporá-los na lista de

Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN) em 200920,32-34.

Sua importância médico-sanitária não é apenas pela incidência de acidentes ocorridos,

mas, também, devido à ação do veneno (potencialidade e/ou letalidade). Todos são

venenosos, mas, apenas 2% de todas as espécies no Brasil causam acidentes grave. Dos casos

registrados de óbitos causados por animais peçonhentos no Brasil, cerca de 30% são por

escorpiões8,13.

Os acidentes com escorpiões estão associados com a desorganização urbana

(crescimento desordenado dos centros urbanos), precárias condições socioeconômicas

(inadequação de infraestrutura), desequilíbrio ecológico/ambiental e atividades humanas

ligadas à natureza (destruindo os habitats naturais desses animais), permitindo com que esses

animais venham para áreas urbanas (residências, construções, terrenos baldios, etc.),

tornando-os animais sinantrópicos19,35-38.

De acordo com o SINAN, em agosto de 2010, houve uma modificação onde o agravo

por esse tipo de acidente passou a fazer parte da Lista de Notificação Compulsória (LNC) do

Brasil, publicada na Portaria N° 2.472 de 31 de agosto de 2010 (ratificada na Portaria N° 104,

de 25 de janeiro de 2011).

O Estado do Rio Grande do Norte estar localizado na Região Nordeste do Brasil, com

latitude 5°47’42”S e longitude 35°12’32”, área de 52.796,79 Km², representando 3,42% da

Região Nordeste e 0,62% de todo o território brasileiro, possui 167 municípios e com uma

população estimada em 3.168.027 habitantes em 201039. Segundo a EMPARN (2014), o

Estado possui 3 tipos climáticos diferentes (tropical úmido, tropical semiúmido e semiárido

quente), com temperatura média variando entre 26ºC e 30°C e período chuvoso nos meses de

abril a junho (outono) com pluviosidade anual abaixo dos 600mm/ano.

Devido à escassez de estudos sobre o tema, as subnotificações ou falta de informações

importantes ao preencher as fichas de acidentados, abrangência dos escorpiões no Brasil,

importante capacidade adaptativa e alta letalidade, o presente estudo teve como objetivo

Page 13: Tayná Braga Leite de Melo - repositorio.ufrn.br

13

investigar a tóxico-epidemiologia e o fluxo de notificação desses acidentes no Brasil e, mais

detalhadamente, no Estado do Rio Grande do Norte.

2. METODOLOGIA

Realizou-se um levantamento bibliográfico por meio de uma revisão na literatura,

como também, um levantamento epidemiológico, entre os anos de 2010 a 2017, por meio da

análise dos relatórios anuais do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas

(SINITOX) e Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN), disponíveis ao livre

acesso por meio da internet. Esses dados foram analisados no que se refere ao local do

acidente (rural e urbana), faixa etária do paciente (< 1 até 80+ anos), sexo (feminino e

masculino) e evolução do acidente (cura e óbito), comparando em nível de Brasil, Nordeste e

Rio Grande do Norte.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Segundo o Ministério da Saúde (MS), no Brasil, foram registrados, em 2018, 141,4

mil acidentes/ano. Os dados são preliminares e estão sujeitos a mudanças5. A incidência de

casos na Região Nordeste é a mais alta se comparada com as demais regiões, apresentando

94/100.000 habitantes10,34,43.

Durante o levantamento bibliográfico, pôde-se perceber o baixo índice de registros

para a população indígena. OLIVEIRA (em sua publicação “Epidemiologia dos acidentes

escorpiônicos ocorridos na Paraíba – Nordeste do Brasil”, 2012) e MENDES e seus

colaboradores (na publicação “O desafio da atenção primária na saúde indígena no Brasil”,

2018) relatam que pode estar associado aos desafios enfrentados na busca pela atenção

primária à saúde indígena, bastante negligenciado no país, onde as características desses

acidentes não são bastante esclarecidas nessa população, porém, é um grupo que não pode ser

negligenciado e também merece total atenção.

Acidentes com gestantes no segundo trimestre de gravidez é considerado de risco

devido às ações do veneno circulante, podendo prejudicar o bebê e, consequentemente, óbito

materno e fetal4.

A Tabela 1 mostra as notificações e comparações em relação à zona. Em nível de

Brasil, no período de 2010 a 2012, foi observado um aumento de 53,55% nos casos

notificados na zona rural. Já no período de 2013 a 2016, teve uma redução considerável de

89,86% nos casos notificados frente ao número de 2012. Essa redução pode ser justificada

Page 14: Tayná Braga Leite de Melo - repositorio.ufrn.br

14

devido ao grande aumento de subnotificações nesse período devido à falta de alimentação de

dados na plataforma do SINITOX. Na zona urbana houve uma redução de 26,53% no período

total.

Em nível de Nordeste, segundo o levantamento, ainda na Tabela 1, percebe-se

claramente que a zona urbana possui muito mais casos do que na zona rural, apenas com

pequenas diferenças ao longo dos anos estudos. Dos 100% dos casos notificados no Brasil,

em média, 56,26% dos casos ocorreram na região Nordeste, o que pode ser justificado por ser

uma região que apresenta condições climáticas (temperatura e umidade) e sociais (pobreza)

que potencializam o contato do homem com o animal, como relatado por DE ANDRADE

FILHO & CAMPOLINA no trabalho “Toxicologia na prática clínica”, publicado em 2013.

O Rio Grande do Norte concentra 2,76% dos casos notificados no Brasil. Dentre os

casos notificados verifica-se que segue o padrão de predominância em zona urbana, porém, a

principal observação a se fazer é que no RN existe uma grande subnotificação de casos em

ambas as zonas, devido à falta de alimentação da plataforma do SINITOX, que teve uma série

de 3 anos consecutivos (2011 a 2013) sem nenhum registro.

É notável, na Tabela 1, que os casos notificados na zona urbana são muito maiores do

que os da zona rural, o que pode ser justificado pelo fato dos escorpiões facilmente encontrar

abrigo e alimento nas residências e, também, pela rápida proliferação do escorpião13.

Tabela 1: Notificações de acidentes por escorpiões nas zonas rural e urbana em

nível de Brasil, Nordeste e Rio Grande do Norte.

RURAL URBANO IGNORADO TOTAL %

2010

BR 1843 9934 200 11977 100

NE 109 6624 11 6744 56,31

RN 12 1919 0 1931 16,12

2011

BR 2694 8249 599 11542 100

NE 194 5216 5 5415 46,92

RN 0 0 0 0 0

2012

BR 2830 9488 311 12629 100

NE 305 5530 3 5838 46,23

RN 0 0 0 0 0

2013 BR 1201 6075 1672 8948 100

Page 15: Tayná Braga Leite de Melo - repositorio.ufrn.br

15

NE 178 4210 16 4404 49,2

RN 0 0 0 0 0

2014

BR 835 8728 218 9781 100

NE 159 6438 21 6618 67,7

RN 3 29 4 36 0,37

2015

BR 430 7243 2862 10535 100

NE 174 6091 68 6333 60,11

RN 6 41 2 49 0,47

2016

BR 287 7327 2869 10483 100

NE 219 6749 96 7064 67,39

RN 2 48 6 56 0,53

2017

BR 3922 7299 458 11679 100

NE 105 5094 29 5228 44,76

RN 7 20 2 29 0,25

%: percentual em relação ao Brasil. Ignorado: casos que não foram

notificados. Fonte: SINITOX. Atualizado em 06/10/2020.

A tabela 2 mostra as notificações e comparações em relação à faixa etária. Observa-se,

em níveis de Brasil, Nordeste e Rio Grande do Norte, que as faixas mais atingidas estão entre

os 20 - 49 anos de idade, concordando com RIBEIRO & JORGE no trabalho “Aspectos

clínicos e epidemiológicos do envenenamento por escorpiões em São Paulo e municípios

próximos”, em 2001, o qual este grupo se encontra em plena atividade, portanto mais exposto.

Entre 20 e 29 anos supera o índice de maior notificação de casos, onde houve discordância do

levantamento de dados de BARBOSA (2015), que relatou maior número de casos entre 15 e

24 anos. Foi possível observar que não houve uma boa notificação no Estado do Rio Grande

do Norte onde, entre 2011 a 2013, não houve nenhuma notificação.

Tabela 2: Notificações de acidentes por escorpiões na faixa etária entre <1 e 80+ anos em

nível de Brasil, Nordeste e Rio Grande do Norte. BR: Brasil. NE: Nordeste. RN: Rio

Grande do Norte.

Page 16: Tayná Braga Leite de Melo - repositorio.ufrn.br

16

Fonte: SINITOX. Atualizado em 06/10/2020.

A Tabela 3 mostra as notificações, durante o período estudado, usando como

parâmetro o gênero informado no preenchimento da ficha de notificação de casos. É notado

que o sexo feminino é o mais atingido, o que é confirmado por BARBOSA (2015). Essa

situação pode ser explicada pela maior presença das mulheres em trabalhos domésticos.

A notificação dos casos ignorados, entre alguns anos, pode estar relacionada com a

ausência ou subnotificação dos acidentes como também a negligência sobre o tema em

questão. Daí a importância de um preenchimento correto das fichas de notificação e ações

educativas, sobre os acidentes, para a população e, em relação aos profissionais de saúde,

receberem capacitação adequada para alimentar os sistemas de notificações, no caso, o

SINAN e, consequentemente, o SINITOX.

< 1 01 a 04 05 a 09 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 e + IGN TOTAL %

BR 34 792 826 874 925 2275 1962 1685 1233 741 414 164 52 11977 100

NE 15 515 475 498 522 1222 1002 931 692 480 267 109 16 6744 56,3

RN 4 79 80 89 165 386 316 323 225 160 61 38 5 1931 16,1

BR 40 667 715 824 834 2326 1924 1591 1171 771 393 159 127 11542 100

NE 19 375 389 415 388 1075 808 734 532 362 217 92 9 5415 46,9

RN 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

BR 67 738 887 894 912 2353 2051 1798 1433 857 443 143 53 12629 100

NE 41 382 461 417 405 1111 851 800 644 407 215 88 16 5838 46,2

RN 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

BR 83 628 702 662 672 1480 1406 1260 951 615 361 101 27 8948 100

NE 39 373 408 336 297 709 650 604 454 283 188 58 5 4404 49,2

RN 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

BR 57 712 704 692 747 1717 1468 1326 1120 660 395 151 32 9781 100

NE 35 426 454 464 513 1178 968 898 792 465 289 113 23 6618 67,7

RN 0 7 6 2 3 2 3 5 5 1 1 0 1 36 0,37

BR 72 662 696 671 797 1759 1558 1488 1303 862 433 196 38 10535 100

NE 26 448 459 431 467 1060 902 824 750 544 278 124 20 6333 60,1

RN 2 7 3 4 0 10 8 3 3 4 2 0 3 49 0,47

BR 62 672 695 728 708 1628 1557 1448 1353 897 464 178 93 10483 100

NE 34 475 483 513 482 1127 1043 945 884 594 333 131 20 7064 67,4

RN 1 2 1 4 2 14 9 9 8 4 1 1 0 56 0,53

BR 58 473 591 613 857 1948 1843 1899 1641 1049 500 181 26 11679 100

NE 6 243 285 281 396 930 824 801 702 444 216 98 2 5228 44,8

RN 1 4 2 3 0 5 7 3 2 1 1 0 0 29 0,25

2016

2017

2010

2011

2012

2013

2014

2015

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17

Tabela 3: Notificações de acidentes por escorpiões nos sexos masculino e feminino em

nível de Brasil, Nordeste e Rio Grande do Norte.

FEMININO MASCULINO IGNORADO TOTAL %

2010

BR 25.952 25.511 6 51.569 100

NE 14.058 10.852 1 24.911 48,31

RN 1.455 865 - 2.320 4,5

2011

BR 29.769 29.260 7 59.036 100

NE 17.015 13.083 5 30.103 51

RN 1.765 1.055 - 2.820 4,78

2012

BR 32.218 31.507 7 63.732 100

NE 17.102 12.719 4 29.825 46,8

RN 1.820 1.183 - 3.003 4,71

2013

BR 39.365 38.536 19 77.920 100

NE 21.972 16.386 13 38.371 49,24

RN 2.008 1.275 - 3.283 4,21

2014

BR 44.430 42.135 19 86.584 100

NE 24.431 18.814 9 43.254 49,95

RN 2.287 1.413 1 3.701 4,27

2015

BR 43.776 42.117 15 85.908 100

NE 22.096 16.002 6 38.104 44,35

RN 2.372 1.476 - 3.848 4,48

2016

BR 46.709 44.276 24 91.009 100

NE 22.982 16.279 6 39.267 43,14

RN 2.292 1.429 - 3.721 4,1

2017

BR 62.775 61.340 27 124.142 100

NE 31.845 24.241 7 56.093 45,18

RN 2.659 1.641 - 4.300 3,46

%: percentual em relação ao Brasil. Ignorado: casos que não foram notificados. Fonte: SINAN.

Atualizado em 18/08/2021.

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18

A Tabela 4 nos mostra a evolução dos casos que, na maioria deles (os que foram

notificados), tiveram boa resposta para cura. Pouquíssimos foram os casos de óbito. Boa parte

dos casos de óbitos são em crianças e idosos, devido a quantidade de veneno circulante no

corpo da pessoa48. Esses acidentes são predominantemente classificados como leves e

progridem para cura. Os casos ignorados são aqueles que não foram notificados quanto a

evolução e, como foi falado anteriormente, daí vem a importância do preenchimento correto

das fichas de notificações.

Tabela 4: Notificações de acidentes por escorpiões em relação a evolução dos casos em

nível de Brasil, Nordeste e Rio Grande do Norte.

CASOS CURA ÓBITO IGNORADO

2010

BR 51.569 48.130 63 3.272

NE 24.911 23.332 30 1.548

RN 2.320 2.250 1 73

2011

BR 59.036 54.670 76 4.283

NE 30.103 27.340 32 2.728

RN 2.820 2.560 - 265

2012

BR 63.732 58.936 87 4.701

NE 29.825 27.074 45 2.700

RN 3.003 2.487 4 516

2013

BR 77.920 72.613 68 5.235

NE 38.371 35.047 40 3.282

RN 3.283 3.167 - 130

2014

BR 86.584 81.359 69 5.140

NE 43.254 39.432 39 3.144

RN 3.701 3.620 1 87

2015

BR 85.908 80.838 93 4.970

NE 38.104 35.328 39 2.735

RN 3.848 3.723 2 133

2016

BR 91.009 84.097 115 6.790

NE 39.267 34.903 57 4.305

RN 3.721 3.403 2 327

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2017

BR 124.142 115.339 81 8.712

NE 56.093 51.272 28 4.790

RN 4.300 3.708 5 604

Ignorado: casos que não foram notificados. Fonte: SINAN. Atualizado em

19/08/2021.

Num segundo momento, foram realizadas pesquisas no site do SINAN (Sistema de

Informação de Agravos de Notificação), pesquisa essa direcionada às notificações de casos

apenas no Estado do Rio Grande do Norte (RN), no período de 2010 a 2017, de janeiro a

dezembro. Ver Tabela 5. Segundo o levantamento, percebe-se uma oscilação nos casos

notificados em cada mês, mostrando os meses em que mais ocorreram os acidentes com

escorpiões.

Tabela 5: Notificações mensais de acidentes por escorpiões no Estado do Rio Grande do

Norte.

Mês|Ano 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

JANEIRO 183 210 229 324 311 274 327 328

FEVEREIRO 161 201 225 269 302 247 278 309

MARÇO 235 221 277 262 362 325 310 377

ABRIL 198 186 243 291 318 357 287 340

MAIO 188 258 301 272 344 341 328 328

JUNHO 162 247 263 228 295 324 271 289

JULHO 190 254 224 249 283 293 242 361

AGOSTO 206 274 247 262 334 350 306 439

SETEMBRO 196 263 227 281 347 329 345 427

OUTUBRO 256 245 219 284 288 351 359 395

NOVEMBRO 148 240 263 266 270 334 308 372

DEZEMBRO 197 223 287 296 250 325 262 338

Fonte: SINAN/MINISTÉRIO DA SAÚDE

DINIZ e PEREIRA (2015) relatam, no trabalho “Climatologia do Estado do Rio

Grande do Norte, Brasil: sistemas atmosféricos atuantes e mapeamento de tipos de clima”,

dois fenômenos que ocorrem entre os meses de fevereiro e agosto, no Estado do Rio Grande

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do Norte, que são a ZCIT (Zona de Convergência Intertropical) e as POA (Perturbações

Ondulatórias no Campo dos Alísios), onde há picos de chuvas entre esses meses. A região

leste do RN, a intensidade das chuvas ocorre entre os meses de abril e julho. Já entre a costa e

o interior do território potiguar, abrangendo áreas serranas e partes do litoral leste, apresentam

chuvas entre os meses de março e junho50.

Baseado nessas informações pôde-se concluir que o aumento de casos notificados

observado na Tabela 5, entre os meses de março a agosto, está relacionado com a alta

umidade e período chuvoso entre esses meses, pois, os escorpiões são atraídos, também, por

locais úmidos.

Segundo BARBOSA (2015), as maiores incidências de casos ocorrem entre os meses

de abril a outubro, pois, nesse meio termo encontra-se a estação chuvosa de Região Nordeste.

LEMOS e cols. (2009) e LIRA-DA-SILVA e cols. (2009) também relataram em seus estudos

que as maiores incidências de casos foram correspondentes aos meses de abril a julho, que é a

estação chuvosa na Região Nordeste do Brasil.

Um elevado aumento de casos também pode estar associado ao crescimento

desordenado nas áreas urbanas, a elevada presença de famílias de baixa renda, como também

a precariedade de moradias e saneamento básicos, já que essas duas últimas situações são

relevantes para aparecimento de escorpiões. Ligados a esses fatores estão a inadequação dos

serviços de esgotamento sanitário e a coleta de resíduos sólidos. Quanto mais vulnerável o

setor, maior é o risco de acidentes para a população residente48,53.

Já que estudos sobre o tema é bastante escasso (não só no Estado do Rio Grande do

Norte, mas, em outros estados também), corroborando com alguns autores13,47,53,54, faz-se

necessário um incentivo para pesquisas sobre esse tema, orientando a população e os próprios

profissionais de saúde sobre os acidentes escorpiônicos, fazendo campanhas de

conscientização sobre o risco e a gravidade desses acidentes, contribuindo com a diminuição

da morbidade e mortalidade, pois, as características desses acidentes ainda são pouco

esclarecidas para a população.

Por se tratar de análise de banco de dados, este estudo está sujeito a erros durante a

entrada das informações e à subnotificação, principalmente, devido à falta de sintonia

(encontrando dados que não foram divergentes) entre as plataformas de dados aqui utilizadas

e, com isso, há falhas na resolução desse problema público de saúde, corroborando com RITA

e cols. em seu trabalho “Análise epidemiológica dos acidentes ofídicos no município de

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Teresópolis – RJ no período de 2007 a 2010”, no ano de 2016. Porém, devido a elevadas

incidências de acidentes por escorpiões, se faz necessário e importante esse tipo de pesquisa.

4. CONCLUSÃO

Conclui-se que os casos notificados na zona urbana são muito maiores do que os da

zona rural, o que pode ser justificado pelo fato dos escorpiões facilmente encontrar abrigo e

alimento nas residências e sua fácil proliferação. A faixa etária de maior risco foi entre 20 e

49 anos por estarem em plena atividade. O sexo feminino é o mais atingido, podendo ser

explicado pela maior presença das mulheres em trabalhos domésticos. A maioria dos casos

tiveram evolução para cura e pouquíssimos casos de óbito. Os casos de óbitos ocorrem mais

em crianças e idosos devido a quantidade de veneno injetado. O aumento de casos ocorre

mais entre março e agosto por estar relacionado a alta umidade e período chuvoso entre esses

meses, já que os escorpiões também são atraídos por locais úmidos.

Esse levantamento tóxico-epidemiológico serve de alerta tanto para a população

quanto para o serviço público de saúde. A atenção do serviço público em relação às

notificações dos casos ocorridos também é de grande valia, pois, pode-se perceber a falta de

notificações desses acidentes, principalmente, no Estado do Rio Grande do Norte, em alguns

anos do levantamento do presente estudo.

O fato de simplesmente erradicar esses animais não é interessante, mas sim, fazer um

controle da população dos escorpiões, delimitando espaços na natureza, já que o animal é

importante dentro do ciclo biológico, sendo predadores de outros seres. A erradicação não é

possível (devido sua importância ecológica, sendo como presa ou predador), mas, o controle

pode diminuir o número desses acidentes.

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