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SATISFAÇÃO DO PAC IENTE: Refinamento de instru mento de avaliação de serviços de saúde 1 PATIENT ATIFACTION, REFINING HEALTH ERICE EALUATION INITRUMENT. Angela Tamiko Sato Tahara 2 Rogéria Aparecida Pereira Valter de Lucena 3 Ana Paula Pessoa de Oliveira 4 Gmara Ribei Santos 5 RESUMO : Realizou-se uma revisão de literatura sobre Satisfação do Paciente em artigos publicados em periódicos internacionais e nacionais. Foram identificados os conceitos e as dimensões de satisfação, devido à importância da opinião do paciente e os p ontos polêmicos/dificuldades para realização da pesquisa de satisfação do paciente, os quais consideramos como pontos em destaque. Realizada análise de vários estudos neste contexto para servir de base para uma pesquisa futura no sentido de medir a satisfação do cliente, foi feito análise comparativa de assuntos correlatos, onde foram estu da dos vários Questionários de Avaliação dos Serviços, de Satisfação e Auto-Avaliação do Paciente , chegando ao consenso de que os mesmos poderão servir de subsídios n a orientação e desenvOlvimento de pesqu isa dessa natureza com adaptação e aperfeiçoamento dos mesmos. UNITERMOS: Satisfação do paciente - Avaliação da satisfação - Qualidade do questionário - Qualidade do serviço - Avaliação de serviços de saúde. ABSTRACT: This study reviewed the literat ure on Patient ' s Satisfaction in published articles in national and international bulletins. The concepts and dimensions of satisfaction have been identified since it is important to measure patient's opinions on satisfaction, which we consider prominent poi nts. Once we have accomplished the analysis of several studies in this context. to serve as a basis for future research geared at measuring patient's sati sfaction, comparative analysis of correlated subjects has been done, when severa I questionnaires on Services Evaluation and Patient's Self-Eva luation on Sat isfact ion were studied getting to a consensus that they could serve as subsidy for the orien tation and development in this kin d of research with little adaptation and improvement. . KEYWORDS: Patient satisfaction - Evaluation satisfaction - Quality of questionnaire - Quality of services - Evaluation of health services. 1 Trabalho apresentado no 9 ° SENP E - Vitória - Espírito Santo, julho de 1997. 2 Professsor Adjunto da EEUFBA; Doutoranda em Administração de Saúde Universidade de Tókyo - Japão; Coordenadora e Pesquisadora do GEPASE - Grupo de Estudo e Pesquisa em Administração dos Serviços de Enermagem - Bolsista do CNPq. 3 Enfermeira, Pesquisadora do GEPASE, Bolsista de Iniciação Científica (CNPq/PIBIC); 4 Graduanda de Enfermagem da EEUFBA, Bolsista de Iniciação Científica (CNPq/PIBIC); 5 Graduanda de Enfermagem da EEUFBA, Bolsista de Iniciação Cient ifica (CNPq/PIBIC). R. Bras. Enfe. Brasília, v. 50, n. 4, p. 497-506, out./dez ., 1 997 497

SATISFAÇÃO DO PACIENTE: Refinamento de instrumento de ... · ao consenso de que os mesmos poderão ... aperfeiçoamento e criou um sistema de 14 princípios de ... agradável para

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SATISFAÇÃO DO PAC IENTE: Refinamento de instrumento de aval iação de serviços de saúde 1

PATIENTS" S"ATIS"FACTION, REFINING HEALTH S"ER\JICES" E\JALUATION INITRUMENT.

Angela Tamiko Sato Tahara 2 Rogéria Aparecida Pereira Valter de Lucena 3 Ana Paula Pessoa de Oliveira 4 Gilmara Ribeiro Santos 5

RESUMO : Real izou-se uma revisão de l iteratura sobre Satisfação do Paciente em artigos publicados em periódicos internacionais e nacionais . Foram identificados os conceitos e as dimensões de satisfação, devido à importância da opin ião do paciente e os pontos polêmicos/dificuldades para realização da pesquisa de satisfação do paciente, os quais consideramos como pontos em destaque. Real izada anál ise de vários estudos neste contexto para servir de base para uma pesquisa futura no sentido de medir a satisfação do cl iente, foi feito análise comparativa de assuntos correlatos, onde foram estudados vários Questionários de Aval iação dos Serviços, de Satisfação e Auto-Aval iação do Paciente, chegando ao consenso de que os mesmos poderão servir de subsídios na orientação e desenvO lv imento de pesquisa dessa natureza com adaptação e aperfeiçoamento dos mesmos.

U N ITERMOS: Satisfação do paciente - Aval iação da satisfação - Qual idade do questionário - Qual idade do serviço - Aval iação de serviços de saúde.

ABSTRACT: This study reviewed the l i terature on Patient ' s Satisfaction in published articles in national and international bu l letins . The concepts and dimensions of satisfaction have been identified since i t is important to measure patient ' s opinions on satisfaction , which we consider prominent points. Once we have accomplished the ana lysis of several studies in this context. to serve as a basis for future research geared a t measuring patient ' s satisfaction , compara tive analysis of correlated subjects has been done, when severa I questionnaires on Services Evaluation and Patient ' s Self-Evaluation on Satisfaction were studied getting to a consensus that they could serve as subsidy for the orientation and development in th i s kind of research with l itt le adaptation and improvement. .

KEYWORDS: Patient satisfaction - Eva luation satisfaction - Quality of questionnaire -Quality of services - Evaluation of health services .

1 Trabalho apresentado no 9° SENPE - Vitória - Espírito Santo, ju lho de 1 997. 2 Professsor Adjunto da EEUFBA; Doutoranda em Administração de Saúde Universidade de

Tókyo - Japão; Coordenadora e Pesquisadora do GEPASE - Grupo de Estudo e Pesquisa em Administração dos Serviços de Enermagem - Bolsista do CNPq.

3 Enfermeira , Pesquisadora do GEPASE, Bolsista de I n iciação Científica (CNPq/PIBIC) ; 4 Graduanda de Enfermagem da EEUFBA, Bolsista de I n iciação Científica (CNPq/PIBIC) ; 5 Graduanda de Enfermagem da EEUFBA, Bolsista de I n iciação Cientifica (CNPq/PIBIC) .

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TAHARA, Angela Tamiko Sato et alii

INTRODUÇÃO

Nos ú lt imos anos pode-se observar uma m udança no comportamento dos usuários de serviços terceirizados onde o mesmo tende a participar e aval iar , mais efetivamente, na execução do programa de serviços , · juntamente com a qual idade do mesmo. Exp l ica-se então o fato do crescente número de pesqu isas com clientes para saber de sua satisfação na tentativa de melhoria da qual idade da assistência oferecida, n ível de retorno ao mesmo serviço, n ível de aceitação de orientação à saúde pela equ ipe m u ltiprofissional e outros . Portanto , o presente trabalho visa desenvolver uma anál ise de vários estudos real izados neste contexto para servir de base para uma pesqu isa futura no sentido de medír a Satisfação do Paciente com os segu intes objetivos:

Objetivo Geral:

.Buscar subsíd ios para a elaboração de instrumento de pesqu isa sobre Satisfação do Paciente através de pesqu isa bib l iográfica . .

Objetivo Específico:

• Identificar os conceitos da Satisfação do Paciente ;

• Destacar porque é importante med i r a Satisfação do Paciente ;

• Identificar a estrutura básica de u m instrumento de mensuração da Satisfação do Paciente.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

o grupo real izou o estudo sobre satisfação do paciente tentando compreender a estrutura do trabalho de pesqu isa desenvolvido por vários autores.

I n icialmente foram destacados os conceitos básicos de qual idade em serviços referendado pelos autores, levando em consideração q ue o desenvolvimento h istórico de qua l idade na atenção à saúde levou a uma situação paradoxal . Enquanto consumidores e prestadores de serviços concordam que qua l idade é um dos assuntos principais atualmente, o fato é qU,e a maioria não está m uito certa do que é "qual idade" . . .

Os conceitos d e qual idade que estão modificando a atenção à saúde se baseia nos trabalhos de Fiegenbaum, Crosby e Deming na década de 40 a 50. Fiegenbaum defin i u qua l idade como "capacidade de produzir um propósito i n icia l , com o mín imo possível de custo , relacionando o custo com a produção': . C rosby reconhece a importância da relação entre qual idade e custo, e ampl ia a defin ição ao inclu i r que "a qual idade não é s inônimo de luxo nem de boa vontade, mas sim a conformação ao requerimento de qualquer objeto". Deming defende uma estratégia que g i ra , principalmente, em torno do desenvolvimento

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d a qua l idade com a busca contínua por pesqu isa , treinamento e aperfeiçoamento e criou u m sistema de 1 4 princípios de qua l idade, enfatizando alcançar as expectativas tanto da institu ição quanto dos cl ientes como fonte pr imária de qual idade (Katz, 1 992).

Nessas mesmas décadas, quando os interesses da sociedade começaram a enfatizar as questões de qua l idade, Abdellah ( 1 957) i n iciou o seu estudo sobre o valor da percepção das necessidades e da satisfação dos pacientes , i ntens ificando o desenvolv imento e consol idando o s ign ificado e a importância da mesma na década de 80 , quando os consumidores começaram ter conotação como fontes ind ispensáveis de informações em j u lgar a qua l idade do tratamento recebido dos serviços de atenção à saúde, j untamente com os outros fatores como o aumento do consumo em g rande proporção de produtos internos e brutos , ao mesmo tempo q uando experimentou u m período de recesso. Estes fatos serviram de a lavanca na construção de u m mecanismo efetivo para assegurar a qua l idade da atenção ao paciente dentro do sistema de serviços de saúde em m u itos países. O que , positivamente, se deu foi um impulso para efetivação de m u itos projetos de melhoria da qual idade nesta área , através de programas e pesqu isas de opin ião dos cl ientes .

Segu ndo Tahara ( 1 994) , no s istema atua l de atenção à saúde os pacientes não querem mais ser tratados como meros objetos dependentes dos profissionais da área de saúde, mas exigem que sejam envolvidos nas tomadas de decisões relativas às suas doenças, principalmente, em se tratando de doenças crôn icas que a maioria já tem certos conhecimentos acerca dos problemas e outros procedimentos invasivos que requerem uma atenção específica , do querer ou não do próprio paciente .

Certamente a garantia da qua l idade envolve, log icamente, não apenas a perspectiva do desejo e satisfação, mas também a aval iação dos profissionais de atenção à saúde. Muitas vezes a d iferença de pontos de vista entre os pacientes e os médicos pode ser m u ito pequena, mas pode haver s ituações onde as d iferenças sejam maiores, especialmente q uando se trata do planejamento das questões de saúde; a atenção de saúde ótima para um ind ivíduo pode ser d iferente daquela que envolve o uso ótimo de tecnolog ia do ponto de vista da sociedade, necessitando portanto um estudo mais aprofundado ao se tratar desses . pontos de vista , levando em conta o efeito de estabelecimento de poder absoluto da parte dos profissionais nas tomadas de decisões em relação ao problema de saúde encontrado . I sto é , os profissionais devem saber med i r e controlar os efe itos len ientes das q uestões acima referidas.

Verificou-se ainda que as dimensões da satisfação dos pacientes variam de acordo com os pontos de vista dos autores. Dentre as teorias mais abrangentes encontradas foi a de Ware ( 1 975) que sugeriu o ito d imensões de como a satisfação deveria ser considerada : 1 ) a arte da atenção; 2) a qua l idade técn ica da atenção; 3) a acessib i l idade; 4) as finanças; 5) o ambiente físico; 6) a d ispon ib i l idade; 7) a continu idade e 8) a eficácia I resu ltado da atenção.

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o objetivo desses estudos foi o de e lucidar a percepção da satisfação na atenção dada a um g rupo de pacientes atendidos nos ambu latórios, nas u n idades de i nternação de vários hospitais em várias especia l idades; satisfação em gera l , em relação às man ifestações cl ín icas e a severidade da incapacidade funcional ; o n ível de satisfação com a informação dada aos pacientes sobre as publ icações relacionadas a assuntos médicos e sociais ; a percepção dos pacientes das necessidade médicas em comparação com a real atenção dada e outros . Evidentemente , esclarecendo algumas situações de qual idade na ótica do usuário como: seg undo a percepção dos pacientes, a qual idade técn ica como um profundo conhecimento profissional sobre a doença , o tratamento e o cu idado.

Em termos de arte, a atenção foi ava l iada na forma de questionários apl icados pela equ ipe sobre a recepção e o g rupo de empatia expresso pelos vários membros da equ ipe. A d ispon ib i l idade foi anal isada de acordo com a faci l idade de controle pela equ ipe de saúde, com respeito tanto aos pacientes que estão em acompanhamento ambu latorial como aos demais. A acessib i l idade foi examinada de acordo com o n ível de satisfação referente à atenção dada ao paciente no contato i n icial com a equ ipe de saúde. A auto-eficácia foi estudada com referência ao próprio controle dos pacientes com o seu envolvimento no planejamento da atenção d ispensada . O resu ltado da atenção foi medido através da percepção dos pacientes sobre a necessidade de tratamento, comparada com a terapêutica realmente empregada .

No que tange aos valores desse t ipo de estudo, Mezomo ( 1 993) afi rma que " . . . a i nformação a respeito da satisfação do paciente é tão ind ispensável para a aval iação da qual idade como o desenho e a admin istração dos sistemas de cu idados de saúde" e " . . . as percepções dos pacientes são vita is para a aval iação da qual idade e é por isto que elas devem ser pesqu isadas com instrumentos adequados" . É tentador conclu i r que os pacientes que passam por determinados tratamentos persistam em manter atitudes consistentes através dos vários estados transitórios induzidos pelo tratamento . Tal conclusão seria agradável para aqueles que desejam assumir que os valores são constantes para que possam incorporá-los aos modelos anal íticos de decisão formal .

A verdade é que sabemos mu ito pouco sobre as percepções e valores antecipados das pessoas, e se a perspectiva real ou a antecipada é a melhor para nos gu iar nas decisões a serem tomadas. O resu ltado das pesqu isas estudadas situou alguns pontos necessários para compreensão deste contexto g lobal de ava l iação de qual idade da assistência através da satisfação do paciente .

O u n iverso do estudo também varia de autor para autor, não tendo uma dimensão que possa imped i r ou i nval idar o trabalho desde que sejam efetivadas as pesqu isas não tendenciosas e i nfluências pessoais .

A população varia de a lgumas dezenas a mi lhares de amostras e o n úmero de itens dos questionários também variam de 4 a mais de 600. Os dados são coletados através de carta resposta pelo correio, entrevista d i reta nas un idades

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de i nternamento , ambulatório , visita residencial o u entrevista real iza.da através de telefonemas, ou em forma de resposta de um questionário estruturado ou semi-estruturado, com questões abertas e fechadas. Há muitas pesqu isas que uti l izam o questionário com o método baseado na Escala de Likert com quatro a cinco opções de resposta (totalmente de acordo, em dúvida , em desacordo e bastante em desacordo I excelente , bom , regu lar , ru im , péssimo e outros) . Há também o método com uso de Escala de G uttman e outros. Existem ainda as pesqu isas em questionários com itens abertos que fazem análise da s ituação com uso de método de categorização K. J. (Kawakita, jiro) ( Tahara, 1 993).

Os resu ltados são anal isados, estatisticamente, ut i l izando-se vários t ipos de software com programas como Sistema Halbau , Sat, Spssx e outros, a f im de apl icar vários testes na obtenção de resu ltados confiáveis e vál idos .

Prossegu indo o estudo, identificamos alguns aspectos sobre o que vem a ser Satisfação do C l iente , os q uais consideramos mais importantes na esfera do conhecimento que tem proximidade com a nossa real idade.

Pascoe ( 1 983) conceitua que "Uma satisfação do serviço recebido é uma comparação de características sal ientes da experiência ind ividual com bases subjetivas" , onde o mesmo enfatiza a importância da vivência individual na anál ise dos resu ltados obtidos . Strasser ( 1 992) e outros autores complementam a sua idéia conceituando a satisfação do paciente como um "Modelo de aval iação subjetiva dos pacientes baseada em expl icações sociais e psicológi­cas , onde cogn itivamente as opin iões são formu ladas" ; Linder Pe/tz ( 1 982) "propõe um modelo de expectativa e valor que enfoca em determinantes sócio­psicológ icos da satisfação do cl iente" ; para Imanaka ( 1 992) , "é um modelo que l iga percepção da qual idade com a vontade de retornar ao serviço" ; para Tahara, Imanaka ( 1 994) , "é um modelo que relaciona a qual idade do serviço com a fama do serviço" ; Brown e Swartz ( 1 989) d izem que é uma "Observação de d iscrepância entre expectativa e experiência dos pacientes , considerado como uma anál ise de GAP" ; e para Owada ( 1 995) é uma "anál ise da l iteratura como um modelo ind i reto de desenvolver uma defin ição para uma satisfação dos pacientes" . Assim , existem séries de tentativas de estudos na consol idação da teoria de satisfação do paciente, envolvendo os fatores psico-sócio-cu lturais. Situando-se desse modo, a satisfação do cl iente é uma real idade inerente a qualquer ind ivíduo que busca um mín imo de d ign idade, respeito e qual idade de vida .

Compreendendo melhor o que seja a satisfação do cl iente , foi mu ito mais fáci l entender porque é importante mensurar a Satisfação do Paciente . " . Bar/ett, Crayson e Barker ( 1 984) relatam que os " Pacientes satisfeitos participam mais no tratamento e cooperam mais nos serviços, segu indo as orientações de tratamento" e Imanaka ( 1 993) diz que "os pacientes satisfeitos são mais fiéis ao tratamento e os n íveis de cumprimento afetam outros fatores como: a própria saúde, a continu idade do tratamento , freqüência e tempo de hospital ização" , situando o fator satisfação como ind icador de situação estratég ica pol ítico-socio­econômica de uma comunidade. Bar/ett, Crayson, Barker ( 1 984) e (Marquis,

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( 1 983) complementam estas idéias buscando posslvels causas que estão estreitamente l igadas a esse problema q ue são "Fatores não-médicos como a atitude, comportamentos, atitudes interpessoais e comun icação de profissionais podem d iminu i r o uso de medicamentos e de segu i r ' as ordens médicas" , "Mantém relação com serviços específicos" , Outro ângu lo importante em relação à satisfação do paciente foi a afirmação de Tahara e Gunji ( 1 993) , que deteve sobre o que os pacientes podem contribu ir em termos de melhoria da qual idade dos serviços d izendo que os pacientes "Podem alertar os serviços sobre os problemas e as necessidades existentes no próprio tratamento e/ou da · assistência prestada" .

Identificamos também os pontos polêmicos que devem ser levados em consideração quando da apl icação do q uestionário da Satisfação do Paciente: os pacientes podem não ter condições de ava l iar a com petência técnica do pessoal médico e seu estado emocional as impede de julgar objetivamente; os pacientes podem ser influenciados por fatores "não-médicos" como as habi l idades interpessoais do provedor . Uma atenção simpática pode mascarar uma qual idade técn ica duvidosa; os pacientes podem não se expor, afi rmando o que realmente pensam, por causa de sua s ituação de dependência ou por falhas ou frustrações anteriores na comun icação "paciente-médico" ; os pacientes podem não ava l iar com segurança os aspectos do fracasso de atenção. Seu ju lgamento não é perfeito e a pesqu isa é um meio adequado para medi r fenômenos altamente objetivos ; apesar d isto a pesqu isa de Satisfação do Paciente é vál ida e deve ser de qual idade, e se a admin istração souber uti l izar e anal isar, seu uso é vital para a qua l idade do serviço (Mezono, ' 1 993) .

Precisa-se de um ind icador de qual idade para mensuração de Satisfação de Pacientes . Para obter isto , deve-se ter os conhecimentos de quais são os pontos que devem ser estudados e analisados sobre a pesqu isa de Satisfação do Paciente. O aumento do interesse para medida de aval iação e o aumento da q uantidade de pesqu isas contribu iu para uma l iteratura GRANDE, D I FUSA, NÃO FOCALIZADA, causando problemas como: d i lemas metodológicos e faltas de enfoque básico para pesqu isa; falta de claridade e consistência para atender as determinantes da satisfação; falta de estudos comparativos em pacientes internados, domicil iares ou ambu latoria is ; falta de um modelo conceitua l ; falta de consenso dos profissionais dos serviços de saúde sobre o papel da Satisfação dos Pacientes e outros e principalmente no que se refere ao gerenciamento de normas e rotinas de dada especia l idade profissioRal que não estão muito bem expl ícitas. Mu itos estud iosos nem se quer têm as bases para o uso de taxonomia de averiguação de ítens para questionamento tornando, mu itas vezes, os questionários de satisfação do cl iente mais empíricos do que o atua l sem fundamentação científica .

Observa-se, como conseqüência da falta de observância e princípios básicos referente a estruturação básica de estudo, inúmeros problemas sobre os ins­trumentos de Aval iação da Satisfação do Paciente onde estão sendo discuti-

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dos as questões de: a ltas taxas de "satisfação" relatadas; falta de base s ign ifica­tivas de comparação; falta de escala padronizada ; d ificu ldade em obter amostra não tendenciosa , pois , ao planejar pesqu isa desta natureza, deve-se a levar em consideração, inclusão de aspectos importantes dos cu idados e dos serviços hospitalares para poder informar à admin istração, aos chefes de departamento e aos profissionais de saúde como estão agindo, em que área pode ser melho­rado; levar em conta que o questionário precisa ser de fáci l compreensão para qualquer n ível de pacientes e que forneça informações úteis para aval iação; ter u m n úmero de respostas que permita t ira r conclusões adequadas; assegurar garantia de qual idade construtiva ; assegu rar p ropriedades psicométricas; asse­g u rar a confiabi l idade da escala ; examinar os efe itos da forma de apl icação do questionário ; relacionar a satisfação com o resu ltado psicoterápico; constru i r e aval iar um questionário de aval iação dos serviços; del imitar a estrutura básica do instrumento de pesqu isa quanto a : instalações físicas, equ ipe de suporte , t ipo de serviço , equ ipe de tratamento, qual idade/quantidade do serviço , resu ltadó do serviço, procedimentos, satisfação do paciente e outros. Estes são considerados apenas prel iminares para o in ício de uma pesqu isa para desvendar a com plexi­dade do sign ificado verdadeiro de satisfação do paciente .

METODOLOGIA

Foi real izada pesqu isa b ib l iográfica comparativa de assuntos correlatos onde foram estudados vários Questionários de Aval iação dos Serviços, de Satisfação e Auto-Aval iação do cliente. Foram observados os questionários com mu lti-ítens para a medida de satisfação que pode ser faci lmente relacionado com o n ível de queixas de s intomas, características demográficas, tipos e quantidade de uti l ização dos serviços e outros e foram anal isados os n íveis de confiabi l idade, val idade e consistência dos trabalhos estudados. Após este estudo verificou-se que uma boa pesqu isa deve ser interativa . As pergu ntas devem ser formu ladas conforme as necessidades dos pacientes e profissionais e os questionários devem ser testados e reformu lados, retestados, sofrendo etapas preparativas cu idadosas.

Atualmente , a pesqu isa de Satisfação de Pacientes encontra-se em fase de desenvolvimento in icial de estudo. Após vários estudos, poderá ser considerada como uma Pesquisa de Segunda Geração onde será possível obter mais informações aprofundadas sobre a Satisfação de Pacientes ; também podem ser apresentadas Variáveis Dependentes e Independentes mais acuradas e sofisticadas, conseguindo, deste modo, especificar e melhorar os antecedentes da satisfação e as variáveis relacionadas com os resu ltados c l ín icos , as atitudes dos profissionais e a atitude subseqüente de formação da opin ião sobre a satisfação .

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RESULTADOS

Após a anál ise das referências bib l iográficas ut i l izadas neste trabalho , verifi­cou-se que o processo de implementação de aval iação do serviço de saúde rea­l izado pelo paciente é fundamental para obtenção do real resu ltado da assistên­cia à saúde que é oferecida . É também para ter acesso às opin iões e sugestões que nos auxi l iem na mensuração do n ível de satisfação, desde que sejam ga­rantidas a val idade e a confiabi l idade das informações obtidas , devendo preca­ver-se na uti l ização de métodos de aval iação "não tendenciosa" , os "questioná­rios com as respostas induzidas" , uti l ização de um "sistema de controles não confiáveis" , pr incipalmente no que se refere à apl icação sistemática do processo de cuidar do paciente e controle destes.

Foi observado neste trabalho que há g rande necessidade de implementar a pesqu isa qual itativa que leve em consideração os aspectos fenomenológ icos e comentários qual itativos que poderão ser mais representativos através das expe­riências dos pacientes .

Foi visto também que os dados q ual itativos podem esclarecer melhor os pes­qu isadores sobre a profundidade afetiva das experiências dos pacientes em re­lação às assistenciais e às próprias necessidades , o que, sem dúvida , ampl iará a nossa visão de ser profissional humano em área de saúde.

CONCLUSÃO

De um modo gera l , as pesqu isas deixam mu itas lacunas referente aos pro­blemas relacionados com o fato dos pacientes encontrarem d ificu ldades para expressar sua insatisfação formalmente frente aos cu idados s ign ificativos, po­dendo este aspecto ser cu idadosamente levado em consideração para futuras apl icações desse tipo de estudo. Ass im, pouco consegu imos aproximar na evo­lução do uso sistemático das informações que passaram de s imples relações públ icas para um instrumento de mensuração da qua l idade. O ind icador de ava­l iação número um que, há mu ito tempo, havia sido visto apenas como um mal necessário , como uma sombra que agrega as pessoas do sol e da chuva , no entanto , o reconhecimento do valor desta sombra precisa ter uma h istória secu­lar de estudos . Estamos começando a escutar a importância da fala dos pacien­tes e com isso as empresas podem reconhecer o porquê do desenvolvimento de um trabalho e buscarem a melhoria contínua da qual idade , e l im inando o dese­qu i l íbrio através de dados objetivos na consecução de compromisso com a qua­l idade total , se assim desejar. Onde tornar-se-á necessário ouvir os pacientes, acreditar que eles têm algo importante a d izer e orientar seus fUllcionários , tra­tando-os como pacientes/cl ientes i nternos e/ou externos. Com isso , o problema chave em pesqu isas futuras, será o aperfeiçoamento da capacidade de detectar a insatisfação dos consumidores.

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