82
SANAN RAI PATRIMÓNIU NE’EBÉ BESIK LAKON IHA TIMOR-LESTE UM PATRIMÓNIO EM EXTINÇÃO EM TIMOR-LESTE A VANISHING HERITAGE IN TIMOR-LESTE

Sanan Rai

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Pottery book commissioned by the Secretary State for Arts & Culture in Timor-Leste

Citation preview

Page 1: Sanan Rai

1

SANAN RAIPATRIMÓNIU NE’EBÉ BESIK LAKON IHA TIMOR-LESTE

UM PATRIMÓNIO EM EXTINÇÃO EM TIMOR-LESTEA VANISHING HERITAGE IN TIMOR-LESTE

Page 2: Sanan Rai

2

Page 3: Sanan Rai
Page 4: Sanan Rai

KRÉDITU SIRA CRÉDITOS CREDITS

Testu Texto Text Jean-Chr istophe Ga l ipaud no Cec i l ia Assis .

Servisu iha kampu no dokumentasaun Trabalho de campo e documentação Fieldwork & documentationJean-Chr istophe Ga l ipaud, Rosar io Cabeças no Leo Vig i ldo Smith .

Fotografia Fotografia PhotographyJoanna Barrkman, Tania Bettencourt , Br ig itte C lamagirand, João Ferro, Jean-Chr istophe Ga l ipaud, A lmeida Ganefabra , C la i re Hel lo, Nuno Vasco Ol ive i ra , Dav id Pa lazón, Anne-Mar ie and Phi l l ipe Petrequin , Victor de Sousa no Megumi Yamada.

Tradusaun Tradução TranslationNuno Vasco Ol ive i ra no Mar ia Amado.

Deseñu Desenho DesignDavid Pa lazón (www.davidpalazon.com)

Impresaun Impressâo PrintingPeso Unipessoal Lda. (Artes Graf ica) D i l i .

ISBN: 978-989-753-319-8

© Copyright SEAC (Secretaria de Estado da Arte e Cultura), Timor-Leste, Novembro 2014. (www.cultura.gov.tl)

Page 5: Sanan Rai

SANAN RAIPATRIMÓNIU NE’EBÉ BESIK LAKON IHA TIMOR-LESTE

UM PATRIMÓNIO EM EXTINÇÃO EM TIMOR-LESTEA VANISHING HERITAGE IN TIMOR-LESTE

Hamutuk ho Em colaboração com In collaboration with

Page 6: Sanan Rai

6

Page 7: Sanan Rai

7

ÍNDISE ÍNDICE INDEX07 Lia Maklokek Prefácio Foreword

08 Sanan Rai iha Timor-Leste: orijen no téknika sira Olaria em Timor-Leste: origens e técnicas Pottery in Timor-Leste: origin and techniques

14 Lista husi sentru produsaun ba sana rai iha Timor-Leste Lista de centros de produção cerâmica em Timor-Leste List of pottery-making centres in Timor-Leste

17 Patrimóniu ne’ebé besik atu lakon Um património em acelerada extinção A rapidly vanishing heritage

19 Produsaun tradisionál ba sanan rai iha Timor-Leste Produção tradicional de cerâmica em Timor-Leste Traditional pottery-making in Timor-Leste20 Arlo, Ataúro25 Boro, Balibó30 Baucau36 Kamenasa, Covalima46 Beobe, Viqueque49 Asalinu, Lospalos

53 Futuru husi produsaun ba sanan rai iha Timor-Leste – ezemplu balu O futuro da produção cerâmica em Timor-Leste – alguns exemplos The future of pottery-making in Timor-Leste – some examples54 Manatuto57 Projetu husi filtru bee husi Manatuto O projeto dos filtros de água de Manatuto The Manatuto water filters project60 Dair, Liquiçá62 Arlo, Ataúro

64 Tipu Sanan Rai Tipologias de Cerâmica Pottery Typologies

72 Kolesaun Nacional Sanan Rai Coleção Nacional de Cerâmica Pottery National Collection

75 Konklusaun Conclusões Conclusions

77 Bibliografia Bibliografia Bibliography

Page 8: Sanan Rai

8

Lafa

ek r

ai m

ean.

Cro

codi

lo d

e ar

gila.

Clay

cro

codi

le. (

©Dav

id P

alazó

n)

Page 9: Sanan Rai

9

A Secretaria de Estado da Arte e Cultura, através das Direcções competentes e com o apoio da UNESCO, tem vindo a desenvolver um importante trabalho de recolha, estudo, apoio e promoção das artes, ofícios e actividades tradicionais que compõem o mosaico cultural de Timor-Leste.

Reconhecendo a importância deste património cultural para o desenvolvimento do nosso país, o Governo tem trabalhado no processo de ratificação da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, de 2003, e da Convenção sobre a Protecção e a Promoção da Diversidade das Expressões Cultuarais, de 2005. Estas Convenções da UNESCO são importantes mecanismos de assistência e cooperação internacionais que visam reforçar o papel do Estado no processo de inventariação, protecção e valorização do património cultural imaterial e de promoção e apoio aos artistas e às indústrias criativas culturais.

A publicação Sanan Rai: um Património Extinção em Timor-Leste, uma iniciativa conjunta com o IRD – Paloc (Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento), dá continuidade à política cultural do Governo e reflecte o reconhecimento da importância de proteger uma das expressões culturais mais antigas no nosso país. Possa a mesma dignificar as mulheres e os homens que ainda hoje produzem cerâmica (sanan rai), contribuindo para a valorização deste ofício milenar e criando oportunidades para a sua sustentabilidade económica.

Cecília AssisDirectora-Geral da Arte e Cultura

PREFÁCIO

Sekretaria Estadu Arte no Kultura, liu husi Diresaun sira ne’ebé relevante ho apoiu husi UNESCO hala’o hela servisu ne’ebé importante kona-ba rekolla, estudu, apoiu no promosaun ba arte, ofisiu no atividade tradisionál sira ne’ebé parte husi kompozisaun kulturál Timor-Leste nian.

Tamba ami rekoñese ba importánsia husi patrimóniu kulturál ne’e ba dezenvolvimentu husi ita nia país, Governu hala’o servisu kona ba prosesu ratifikasaun ba Konvensaun ba Salvaguarda husi Patrimóniu Kulturál Imateriál, husi 2003, no Konvensaun kona ba Protesaun no Promosaun no Promosaun ba Diversidade husi Espresaun Kulturál sira husi 2005. Konvensaun sira ne’e husi UNESCO, hanesan mekanizmu asisténsia no kooperasaun internasionál ne’ebé hametin Estadu nia papél iha prosesu inventáriu, protesaun no valorizasaun husi patrimóniu kulturál imateriál no promosaun no apoiu ba artista sira no ba indústria kriativa kulturál sira.

Publikasaun ba Sanan Rai: Patrimóniu ne’ebé besik lakon iha Timor-Leste, inisiativa hamutuk ho IRD – Paloc (Institutu Peskiza ba Dezenvolvimentu), fó kontinuidade ba politika kulturál Governu nia no hatudu rekoñesimentu ba importánsia husi protesaun ba espresaun kulturál ne’ebé tuan liu iha ita nia país. Nia objetivu atu fó dignidade ba feto no mane sira ne’ebé halo sanan rai iha ita nia país, no kontribui atu fó valór ba ofisiu ida ne’e no harii oportunidade ba nia sustentabilidade ekonómika.

Cecília Assis Directora-Geral da Arte e Cultura

LIA MAKLOKEK

The State Secretariat of Arts and Culture, throughits Directorates and with the support of UNESCO, has been developing an important work, study, support and promotion of the traditional arts, crafts and activities that make up the cultural mosaic of Timor-Leste.

Recognising the importance of such cultural heritage for the development of our country, the Government has been working in the ratification process of the Convention for the Safeguarding of the Intangible Cultural Heritage, from 2003, and the Convention on the Protection and Promotion of the Diversity of Cultural Expressions, from 2005. These UNESCO Conventions are important mechanisms for international assistance and cooperation to strengthen the State’s role in the inventory, protection and enhancement of intangible cultural heritage and to promote and support the artists and the cultural creative industries. The publication Sanan Rai: a Vanishing Heritage in Timor-Leste, a joint initiative with IRD – Paloc (Institute of Research for Development), continues the cultural policy of Government and reflects the recognition of the importance in protecting one of the most ancient cultural expressions in our country. May it dignify the women and the men who still produce pottery (sanan rai) today, contributing to the appreciation of this ancient craft and creating opportunities for economic sustainability.

Cecília AssisDirector-general of Arts and Culture

FOREWORD

Page 10: Sanan Rai

10

A prática de produção de cerâmica foi introduzida nas ilhas do Sudeste Asiático mais ou menos entre há 4000 e 3000 anos atrás, por pessoas que viajavam de barco e comercializavam entre essas ilhas. Essas pessoas são habitualmente conhecidas pelo nome das línguas que falavam: Austronésios. Levaram para muitas das ilhas plantas, animais e técnicas que ainda estão em uso e fazem hoje parte do património cultural timorense. Entre essas técnicas encontram-se a produção de cerâmica e, provavelmente, a tecelagem.

A produção de cerâmica é um património partilhado entre muitas ilhas localizadas perto de Timor e, embora os estilos existentes atualmente sejam muito diversificados, são ainda utilizadas técnicas de produção semelhantes. Isto sugere uma origem comum para este ofício, possivelmente algures no continente asiático e muito provavelmente na China, onde a ocorrência mais antiga de cerâmica foi recentemente datada de há 20 mil anos atrás.

É produzida cerâmica em Timor-Leste e em Timor Ocidental, bem como em todo o Sudeste Asiático Insular, incluindo nas ilhas vizinhas de Alor e Flores. A cerâmica de Alor é amplamente comercializada na maior parte das ilhas próximas da Indonésia, sendo inclusive vendida no mercado de Larantuka, nas Flores. É também largamente produzida e comercializada cerâmica mais a leste, nas Ilhas Molucas e em Irian Jaya (Papua Ocidental).

Todas as comunidades de oleiros em Timor-Leste utilizam técnicas de produção cerâmica semelhantes envolvendo um batente e um contra-batente, com algumas diferenças no processo sugerindo diferentes influências ao longo do tempo.

OLARIA EM TIMOR-LESTE: ORIGENS E TÉCNICAS

Produsaun Sanan rai tama iha illa sira husi Sudoeste Aziátiku maizumenus tinan 4000 no 3000 kotuk ba, husi ema ne’ebé sai ró no fa’an sasán iha illa sira ne’e. Ema sira ne’e hanaran baibain ho naran husi lian sira ne’ebé sira ko’alia: Austronéziu sira. Sira loron ba illa oin oin planta sira, animál sira no téknika sira ne’ebé sira sei uza daudaun no parte husi patrimóniu kulturál Timor-Leste nia. Téknika sira ne’e inklui produsaun sana rai no karik tais.

Produsaun ba Sanan Rai hanesan patrimóniu ne’ebé hanesan husi illa oin oin ne’ebé iha besik Timor no, maski estilu sira ne’ebé iha daudaun ladún hanesan, sei uza hela nafatin téknika produsaun ne’ebé hanesan. ida ne’e hatudu katak iha orijen ne’ebé komún ba ofisiu ida ne’e husi fatin ruma iha kontinente aziátiku, karik iha Xina, iha ne’ebé ita hetan sanan rai sira ne’ebé tuan liu, husi tinan rihun 20 ba kotuk.

Ema halo sana rai iha Timor-Leste no iha Timor Osidentál, no mós iha Sudoeste Aziátiku Insulár tomak, inklui Alor no Flores. Sanan rai husi Alor fa’an iha illa sira husi Indonézia no mós iha merkadu iha Larantuka, iha Flores. Iha Molucas no iha Iria Jaya (Papua Osidentál) sira prodús mós no fa’an Sanan rai. Komunidade hotu husi oleiru (ema sira ne’ebé halo sanan rai) sira iha Timor-Leste uza téknika produsaun sanan rai ne’ebé hanesan inklui batente no kontra-batente, ho diferensa balu iha prosesu ne’ebé hatudu influénsia oin oin iha tempu.

SANAN RAI IHA TIMOR-LESTE: ORIJEN NO TÉKNIKA SIRA

People traveling by boat between islands and trading sometime between 4000 and 3000 years ago introduced pottery-making practices in the Southeast Asian islands. These people are generally known by the name of the languages they spoke, Austronesian. They brought into many of these islands the plants, animals and techniques that are still in use today and are now part of the cultural Timorese heritage. Among these techniques are pottery-making and probably weaving.

Pottery-making is a shared heritage among many islands around Timor and although the styles are today very diverse, similar production techniques are still being used. This is an indication of a common origin for this craft, possibly somewhere on the Asian mainland and most probably in China, where the oldest occurrence of pottery has recently been dated to 20000 years ago.

Pottery is made in East and West Timor as well as across the whole of Island Southeast Asia, including the nearby islands of Alor and Flores. The pottery of Alor is widely traded in most of the nearby Indonesian islands and sold as far as the Larantuka market, in Flores. Pottery is also largely produced and traded further east in the Moluccas and Irian Jaya.

All potters’ communities in Timor-Leste use similar pottery-making techniques involving a paddle and an anvil, but some differences in the process hint at the different influences over time.

POTTERY IN TIMOR-LESTE: ORIGIN AND TECHNIQUES

Page 11: Sanan Rai

11

Sana

n ra

i hus

i Alo

r ih

a ald

eia id

a hu

si F

lore

s. C

erâm

ica d

e Al

or n

uma

aldeia

da

Ilha

das

Flore

s . A

lor

potte

ry in

a F

lore

s Isl

and

villag

e. (

©JC

Galip

aud/

IRD)

Page 12: Sanan Rai

12

Ao estudar os oleiros das Molucas e de Irian Jaya, os arqueólogos franceses Anne-Marie e Pierre Petrequin demonstraram que o processo de dar forma ao pote com um batente (em madeira ou osso de búfalo) e um contra-batente (geralmente um seixo do rio) é uma técnica complexa e que exige vários anos de aprendizagem para ser totalmente dominada. Segundo estes autores, a técnica teve origem nas ilhas de Nusantara (o arquipélago da Indonésia) tendo sido difundida para Oriente, até à costa sul da Nova Guiné. Utilizando o batente e o contra-batente, podem ser distinguidos dois processos distintos, dependendo se o bordo do recipiente é moldado primeiro ou no fim. Quando o bordo é moldado no final do processo de produção, o recipiente é normalmente formado usando conjuntos de argolas de madeira que determinam a dimensão final da peça.

A maioria dos oleiros em Timor começa a moldar os potes pelo bordo. Apenas dois centros de produção de cerâmica utilizam, tanto quanto sabemos, argolas de madeira: Suai e Manatuto.

Bainhira hala’o estudu ba ema ne’ebé halo sanan rai husi Molukas no Irian Jaya, arkeólogu sira husi rai Fransa, Anne-Marie no Pierre Petrequin hatudu katak prosesu ne’ebé uza hodi fó forma ba sanan ho batente ida (ne’ebé halo ho ai ka ho karau ruin) no ho kontra-batente ida (baibain fatuk husi mota), ne’e téknika ne’ebé kompleksu ne’ebé presiza tinan barak hodi bele halo ida ne’e ho di’ak. Tuir autór sira ne’e, téknika ida ne’e hahú iha illa sira husi Nusantara (arkipélagu husi Indonézia) no fahe ba Oriente to’o kosta sul husi Guiné Foun. Liu husi utilizasaun ba batente no kontra-batente, bele hetan prosesu ketak rua, depende ba halo sanan nia ibun uluk ka ikus. Bainhira ibun halo bainhira prosesu hotu, sanan halo liu husi utilizasaun ba argola husi ai ne’ebé define dimensaun finál husi sanan.

Iha Timor oleiru barak sira mak hahú halo sanan husi borda. Sentru produsaun sanan rai rua de’it mak uza argola ai: Suai no Manatuto.

Studying the potters in the Mollucas and Irian Jaya, two French archaeologists, Anne-Marie and Pierre Petrequin have shown that the forming of the pot with a paddle (wood or buffalo rib) and an anvil (usually a river pebble) is a complex technique that requires several years of apprenticeship to be fully mastered. According to these authors, the technique originated in the Nusantara islands and was widespread to the East, as far as the south coast of New Guinea. Using the paddle and anvil, two different processes can be distinguished depending on whether the rim of the pot is shaped first or last. When the rim is shaped at the end of the production process, the pot is usually formed using wooden rings, which determine the final dimension of the piece.

Most potters in Timor start shaping pots by the rim. Only two pottery production centres use, as far as our knowledge goes, wooden rings: Suai and Manatuto.

Ema fa’an sana rai husi Alor iha merkadu Larantuka, Flores. Venda de cerâmica de Alor no mercado de Larantuka, Ilhas das Flores. Selling Alor pottery in Larantuka market, Flores Island. (©JC Galipaud/IRD)—

Oleir

u si

ra (e

ma

ne’eb

é ha

lo s

ana

rai)

husi

Lew

oler

e se

rvis

u ih

a La

rant

uka,

Flo

res.

Oleir

os d

e Le

woler

e a

trab

alhar

em

Lar

antu

ka, I

lha

das

Flore

s. L

ewol

ere

potte

rs a

t wo

rk in

Lar

antu

ka, F

lore

s Isl

and.

(©J

C Ga

lipau

d/IRD

)

Page 13: Sanan Rai

13

De acordo com o registo arqueológico conhecido, a produção e utilização de cerâmica em Timor-Leste data pelo menos de há 3500 anos atrás nas áreas de Baucau e Lospalos, e de há 3200 em Ataúro. Os únicos potes antigos completos conhecidos até hoje são provenientes da aldeia de Dair, na costa noroeste. Estes foram encontrados por moradores há quase 20 anos atrás, durante escavações para a construção de fossas sépticas. A sua antiguidade é ainda desconhecida.

Tuir rejistu arkeolójiku ne’ebé ita hatene, produsaun no utilizasaun ba sanan rai iha Timor-Leste iha pelumenus tinan 3500 anos iha área Baucau no Lospalos, no tinan 3200 iha Ataúro. Sanan rai tuan tomak ne’ebé ita hatene iha to’o agora mai husi aldeia Dair iha parte tasi ibun iha noroeste. Sanan rai sira ne’e, hetan husi ema ne’ebé hela iha aldeia, iha tinan 20 kotuk ba, bainhira sira halo eskavasaun hodi halo fosa sétika. Maski nune’e ita seidauk hatene ida ne’e husi tinan saida.

Archaeological evidence of pottery-making and pottery use in Timor-Leste is at least 3500 years old in in the Baucau and Lospalos areas and 3200 in Ataúro. The only complete ancient pots known so far come from the village of Dair, on the northwest coast. Villagers found these nearly 20 years ago, when digging to build septic tanks. Their antiquity is yet unknown.

Ema halo sanan rai iha Kambagora, Papua Nova Guiné, 2002. Produzindo cerâmica em Kambagora, Papua Nova Guiné, 2002. Making pottery in Kambagora, Papua New Guinea, 2002. (©Anne-Marie and Pierre Petrequin)—

Ema halo sanan rai iha Elat, Molucas, 1999. Produzindo cerâmica em Elat, nas Molucas,1999. Making pottery in Elat, in the Moluccas, 1999. (©Anne-Marie and Pierre Petrequin)—

Page 14: Sanan Rai

14

Sana

n ra

i tua

n hu

si D

air

. Cer

âmica

ant

iga

de D

air.

Ancie

nt D

air

pott

ery.

(©JC

Gal

ipau

d/IR

D)

Page 15: Sanan Rai

15

Sanan rai tuan husi Dair. Cerâmica antiga de Dair. Ancient Dair pottery. (©Nuno Vasco Oliveira)—

Pedasu husi sanan rai sira ne’ebé rai hela iha aldeia Arlo, iha Ataúro, hatudu katak ema sira ne’ebé halo sanan rai iha ne’eba halo hela ka hola tijela, bikan no sanan husi estilu no boot oin oin. Dekorasaun tuan inklui pintura mean no relevu ki’ik. Iha sira ne’ebé resente liu ita hetan dezeñu relevu paralelu iha sanan ne’ebé nia boot médiu.

Iha tempu istória, ema halo sanan rai iha área oin oin husi Timor-Leste, husi Suai to’o Lospalos. Bazeia ba rejistu husi dékada 1960 no 1970 no investigasaun sira ne’ebé halo daudaun, iha pelumenus aldeia 30 ne’ebé halo produsaun ba sanan rai. Aldeia sira ne’e iha rejiaun prinsipál tolu: Bobonaro/Suai, Manatuto/Baucau no Lospalos. Liu husi relatu husi investigadór sira hanesan José Duarte Correia Arez ka Ian Glover, ita bele hetan katak sentru produsaun sira ne’e menus liu iha tinan foin daudaun.

Fragmentos de potes antigos preservados na aldeia de Arlo, em Ataúro, demonstram que os oleiros locais foram produzindo ou importando tigelas, pratos e panelas de estilos e dimensões diferentes longo do tempo. As decorações antigas incluíam pintura vermelha e incisões finas. Mais recentemente, domina a incisão de desenhos paralelos sobre potes de tamanho médio.

Em épocas históricas, foi produzida cerâmica em muitas áreas de Timor-Leste, do Suai a Lospalos. Com base em registos das décadas de 1960 e 1970 e investigações realizadas mais recentemente, o número de aldeias onde era produzida cerâmica ascendia a pelo menos 30. Estas aldeias de produção cerâmica estão localizadas em três regiões principais: Bobonaro/Suai, Manatuto/Baucau e Lospalos. A partir de relatos históricos de investigadores como José Duarte Correia Arez ou Ian Glover, torna-se porém evidente que esses centros de produção têm vindo a diminuir nas últimas décadas.

In the village of Arlo, on Ataúro Island, preserved old pottery fragments show that over time potters produced or imported bowls, plates and pots of different styles and dimensions. Early decorations included painting in red colour and fine incisions. In more recent time, incised parallel designs on medium-size pots dominate.

In historical times, pottery was produced in many areas of Timor-Leste, from Suai to Lospalos. From accounts from the 1960 and 1970’ and surveys conducted more recently, the number of villages where pottery was produced amounted to at least 30. These pottery-making villages are located in three main regions: Bobonaro/Suai, Manatuto/Baucau and Lospalos. However, from historical accounts of researchers such as José Duarte Correia Arez or Ian Glover, it is clear that such production centres have been steadily declining in the last decades.

Pedasu husi sanan rai ne’ebé pinta husi tinan 2500 ba kotuk, ne’ebé mai husi fatin arkeolojia husi Lepu Kina, Arlo, Ataúro. Fragmentos de cerâmica pintada com 2500 anos, oriundos do sítio arqueológico de Lepu Kina, Arlo, Ataúro. 2500 years old painted pottery fragments from the Lepu Kina archaeological site, Arlo, Ataúro. (©JC Galipaud/IRD)—

Page 16: Sanan Rai

16

LISTA HUSI SENTRU PRODUSAUN BA SANA RAI IHA TIMOR-LESTELISTA DE CENTROS DE PRODUÇÃO CERÂMICA EM TIMOR-LESTELIST OF POTTERY-MAKING CENTRES IN TIMOR-LESTE

SD = Sub Distritu. Sub Distrito. Sub District* Produsaun resente husi tella. Produção recente de telha. Recent production of tiles

OECUSS E

26

9

10

1112

BOBONARO

L I QU I ÇÁ18

13COVAL IMA

15

1617

ERMERA

D I L I

1

2

A I L EU

3

A INARO MANUFAH I25

14

Page 17: Sanan Rai

17

AILEUSD Aileu, suco Fatubosa, aldeia ErhitoSD Remexio, suco Liurai

AINARO SD Maubisse

BAUCAUSD Baguia SD Venilale*SD Laga, Tekinomata, WaiakaVemasseSeisal

BOBONAROSD Balibó, Boro, aldeia BelolaSD Bobonaro, suco LolotoiSD Maliana, suco HolsaSD Maliana, suco Holsa Tas

COVALIMASuco Kamenasa

DILISD Ataúro, suco Beloi, aldeia Arlo

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

23

24

25

26

27

MANATUTOSuco Sau, AililiSD Laclubar, suco sanan na’in

MANUFAHISD Sarne, suco Rotuto

OECUSSESD Bobokasi, aldeia Vihala

VIQUEQUESuco Ossu

ERMERASD Atsabe, suco Parami SD Letefoho, suco Dukurai, aldeia ErtuiSD Letefoho, Katrailete/Katraikraik

LIQUIÇÁSD Liquiçá, suco Loidaha

LAUTÉMSD Lautem, Laivai II, SamalariMaina, aldeia Punu-TamaruAsalainu, TrisulaRassa

15

16

17

19

20

18

21

22

MANATUTO

23

24

BAUCAU

45

6

7

8

LAUTÉM

1920

2221

VIQUEQUEV IQUEQUE27

Mapa

. Map

a. M

ap. (

©Dav

id P

alazó

n)

Page 18: Sanan Rai

18

Sana

n ra

i hus

i Bag

uia.

Cer

âmica

de

Bagu

ia. P

otte

ry fr

om B

agui

a (1

935)

. (©

Joan

na B

arrk

man

/ Co

urte

sy o

f Mus

eum

der

Kul

ture

n Ba

sel /

acc

. no.

llc 6

115)

Page 19: Sanan Rai

19

A situação em 2014 é alarmante: para além das duas principais áreas de produção de Manatuto e Lospalos e, em menor escala, no Suai, a cerâmica em Timor-Leste é apenas produzida por oleiros mais velhos, que têm dificuldade em motivar a geração mais jovem. Atualmente, das cerca de 30 aldeias de produção cerâmica conhecidas na década de 1970, apenas algumas ainda produzem, não estando as técnicas tradicionais a ser transmitidas. Um bom exemplo desta preocupante situação é a aldeia de Arlo, na ilha de Ataúro, onde duas oleiras – com idades de 97 e 93 anos, respectivamente – são as únicas continuadoras dessa herança.

A menos que algum esforço seja colocado na preservação do conhecimento e na promoção desta indústria, este ofício, que representa um importante e antigo património do país, irá provavelmente desaparecer num futuro próximo. É urgente proceder a uma avaliação concreta da situação, fazendo-se um levantamento detalhado das comunidades que ativamente produzem cerâmica ou onde a produção de cerâmica foi recentemente abandonada, e documentando-se as técnicas e os processos de produção.

Esta publicação da Secretaria de Estado da Arte e Cultura, que resulta estreita colaboração com o Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD, UMR Paloc), tem como objectivo a sensibilização para esta alarmante situação e a promoção de soluções para salvaguardar este antigo património de Timor-Leste. Mais do que de compilar um inventário exaustivo e definitivo de técnicas e produções, esta obra visa servir como ponto de partida para futuros projetos, constituindo-se a longo prazo como fonte de orgulho para as comunidades e como testemunho de uma antiga tradição viva.

UM PATRIMÓNIO EM ACELERADA EXTINÇÃO

Situasaun iha 2014 hamosu preokupasaun boot: liu área produsaun prinsipál rua Manatuto no Lospalos no uitoan iha Suai, sanan rai iha Timor-Leste, ema ferik no katuas de’it mak halo, no sira hetan susar hodi fó motivasaun ba sira ne’ebé sei joven. Daudaun, husi aldeia 30 ne’ebé iha 1970 halo produsaun ba sanan rai, balu de’it mak sei halo, no sira la fahe téknika tradisionál sira. Ezemplu ida mak situasaun husi Arlo iha Ataúro, ne’ebé oleira rua - ho tinan 97 no 93 - mak bele kontinua eransa ida ne’e.

Anaunserke ita halo esforsu hodi halo prezervasaun ba koñesimentu no promosaun husi indústria ida ne’e, ofisiu ne’e, ne’ebé hanesan patrimóniu importante no tuan husi país, bele lakon. Urjente katak ita halo avaliasaun husi situasaun no levantamentu ho detalle husi komunidade sira ne’ebé halo hela sanan rai ka halo sanan rai to’o tempu daudaun, no prepara dokumentasaun ba téknika no ba prosesu produsaun.

Publikasaun ida ne’e husi Sekretaria Estadu Arte no Kultura, mai husi servisu hamutuk ho Institutu Fransés husi Peskiza ba Dezenvolvimentu (IRD, UMR Paloc), no iha objetivu hodi fó sensibilizasaun ba situasaun ida ne’e no promosaun ba solusaun hodi fo protesaun ba patrimóniu tuan husi Timor-Leste. Liu tau hamutuk inventáriu husi téknika no produsaun sira, livru ida ne’e atu sai hanesan pontu partida ba projetu oin mai, no sai hanesan fonte orgullu ba komunidade sira no testemuña ba tradisaun ne’ebé moris.

PATRIMÓNIU NE’EBÉBESIK ATU LAKON

The situation in 2014 is alarming: apart from the two main production areas of Manatuto and Lospalos and, to a lesser extent, in Suai, pottery in Timor-Leste is only produced by older potters who have difficulty motivating the younger generation. Today, out of the ca. 30 pottery production villages known in the 1970’, only a few are still producing and the techniques are not being transmitted anymore. A good example of this alarming situation is in the village of Arlo, in the island of Ataúro, where two potters - respectively 97 and 93 years old - are the sole bearers of this heritage.

This craft, which is an important and ancient heritage in the country, will probably vanish in the near future, unless some effort is put into preserving the knowledge and promoting this industry. There is an urgent need to conduct a precise assessment of the situation with a detailed survey of active pottery-making communities or where pottery production was recently abandoned, and to document the techniques and the production processes.

This publication by the State Secretariat of Arts and Culture, in close collaboration with the French Research Institute for Development (IRD, UMR Paloc), aims at raising awareness to this alarming situation and at promoting solutions to safeguard this ancient heritage in Timor-Leste. Rather than compiling an exhaustive and definitive inventory of techniques and productions, it has the purpose of serving as a useful starter for future projects and becoming a long-term source of pride for communities and a testimony of an ancient living tradition.

A RAPIDLYVANISHING HERITAGE

Page 20: Sanan Rai

20

Page 21: Sanan Rai

21

As descrições aqui apresentadas surgem no seguimento de um levantamento dos centros de produção cerâmica conhecidos e que ainda estão ativos, realizado pelo autor e pela equipa da Secretaria de Estado da Arte e Cultura, entre 2012 e 2014. Estes centros de produção constituem-se como os mais conhecidos atualmente em Timor-Leste. Esperamos que esta tentativa de avaliação da rica diversidade deste ofício no país venha a desencadear algum interesse e dar a conhecer outras aldeias onde a produção de cerâmica é menos conhecida ou foi recentemente abandonada.

PRODUÇÃO TRADICIONAL DE CERÂMICA EM TIMOR-LESTE

Deskrisaun sira ne’ebé hatudu iha ne’e mosu tuir levantamentu husi sentru produsaun ba sanan rai ne’ebé hatene iha no sei ativu nafatin, ne’ebé hala’o husi autór hamutuk ho ekipa husi Sekretaria Estadu Arte no Kultura, entre tinan 2012 no 2014. Sentru produsaun sira ne’e mak sira ne’ebé koñesidu liu daudaun iha Timor -Leste. Ami hein katak tentativa ida ne’e kona ba avaliasaun ba diversidade husi ofisiu ne’e iha rai laran sei lori interese no sei hatudu aldeia tan iha ne’ebé produsaun ba sana rai la hatene ka la halo ona.

PRODUSAUN TRADISIONÁL BA SANAN RAI IHA TIMOR-LESTE

The descriptions presented here follow a survey of known pottery production-centres that are still active, undertaken by the author and staff of the State Secretariat of Arts and Culture between 2012 and 2014. These production centres represent those that are better known to date in Timor-Leste. This attempt at an evaluation of the rich diversity of this craft in Timor-Leste will hopefully trigger some interest and bring to light other villages where the production of pottery is less known or has recently been abandoned.

TRADITIONAL POTTERY-MAKING IN TIMOR-LESTE

Oleira halo sanan rai, Venilale. Oleira a trabalhar, Venilale. Potter at work, Venilale. (© Victor de Sousa)

Page 22: Sanan Rai

22

Arlo é uma pequena aldeia no centro da ilha de Ataúro. Remota e escondida num vale fértil, com casas espalhadas pelos campos, a vila manteve uma atmosfera tranquila e tradicional. De acordo com o que registamos, é a única aldeia em Ataúro onde já foi produzida cerâmica. Atualmente, apenas duas senhoras muito idosas têm possuem ainda o conhecimento deste ofício: a “Avó” Joana Ximenes e a “Avó” Catarina Martins, com 96 e 93 anos de idade, respectivamente.

Arlo hanesan aldeia ki’ik iha parte sentrál husi Ataúro. Aldeia ne’e dook no subar iha vale ne’ebé riku, ho uma sira iha kampu laran, ne’ebé mantein nafatin atmosfera ne’ebé kalmu no tradisionál. Tuir buat ne’ebé ami halo rejistu ba, ida ne’e mak aldeia úniku iha Ataúro ne’ebé uluk halo Sanan rai. Daudaun ferik rua de’it mak sei hatene kona ba ofisiu ne’e: “Avó” Joana Ximenes no “Avó” Catarina Martins, ho tinan 96 no 93.

ARLO, ATAÚROArlo is a small village in the centre of the island of Ataúro. Remote and hidden in a fertile valley, with houses scattered among the fields, the village has kept a tranquil and traditional atmosphere. According to what we recorded, it is the only village in Ataúro where pottery has ever been produced. Today, only two very old ladies still have the knowledge of this craft: “Avó” Joana Ximenes and “Avó” Catarina Martins, respectively 96 and 93 years old.

“Avó”

“Avó

zinha

” “Gr

anny

” Cat

arin

a Ma

rtin

s (©

JC

Galip

aud/

IRD)

“Avó” “Avózinha” “Granny” Joana Ximenes (©Tania Bettencourt)

Page 23: Sanan Rai

23

A tradição de produção de cerâmica é provavelmente muito antiga em Arlo. A argila (Rare mera / Rare puti, em língua Rasua) existe disponível em grandes quantidades no vale e recentes escavações arqueológicas em Arlo sugerem que a cerâmica é aqui utilizada desde há 3200 anos. Esta tradição antiga quase se perdeu recentemente, uma vez que a cerâmica era produzida mas não comercializada. Um projeto elaborado pela ONG Empreza Di’ak está atualmente a ajudar a reavivar este ofício, apoiando a formação de uma nova geração de oleiros.

Tradisaun husi produsaun ba sanan rai hanesan tradisaun tuan liu iha Arlo. Rai mean (Rare mera / Rare puti, iha lian Rasua) iha barak iha vale no eskavasaun arkeolójika daudaun hatudu katak sira uza sana rai iha ne’e desde tinan 3200 ba kotuk. Tradisaun tuan ne’e besik lakon tanba sanan rai ne’ebé halo ema la fa’an. Daudaun iha projetu ida husi ONG Empreza Di’ak ne’ebé ajuda hodi hamoris fali ofisiu ida ne’e no apoia formasaun ba jerasaun foun hodi aprende halo sanan rai.

The tradition of pottery-making is probably very ancient in Arlo. Clay (Rare mera / Rare puti, in Rasua language) is readily available in the valley in large quantities and recent archaeological excavations in Arlo suggest that pottery was in use here 3200 years ago. This old tradition nearly went lost recently, as pottery was produced but not traded anymore. A project put together by NGO Empreza Di’ak is today helping to revive this craft by supporting the training of a younger generation of potters.

Ke’e rai hodi hetan rai mean iha Arlo. tenke ke’e barak hodi hetan rai mean ne’ebé ho kualidade di’ak. A escavar para encontrar argila em Arlo. É necessário escavar profundamente, de modo a obter barro de qualidade adequada. Digging for clay in Arlo. It is necessary to dig deep in order to obtain the right quality of clay (© JC Galipaud/IRD)

Abrigu husi Lepukina, iha Arlo, uza desde tinan 3000 ba kotuk. O abrigo de Lepukina, em Arlo, é utilizado desde há 3000 anos. The Lepukina rockshelter in Arlo has been used since 3000 years (©Tania Bettencourt)

Page 24: Sanan Rai

24

Os oleiros aqui usam as mesmas ferramentas simples que podemos observar na maior parte das aldeias que atualmente produzem cerâmica: o batente em madeira feito da madeira Ai Nara, uma pedra de basalto arredondada recolhida na praia utilizada como contra-batente (Watu tahi), e uma pequena placa de madeira (Pina pero) para segurar o recipiente durante o processo de moldagem.

A argila seca é batida com um seixo numa grande concha e separada, para remover todas as pedras e grandes impurezas. Logo que a argila fique tão fina como farinha, adiciona-se alguma areia muito fina e mistura-se bem, adicionando-se água lentamente para obter a plasticidade certa. A areia é especial, recolhida numa gruta perto da aldeia de Adara, na costa oeste. A preparação do barro e a mistura deste com areia (desengordurante) é apenas conhecida pelos oleiros mais antigos, que foram ensinados pelos seus avós. Esta é uma parte importante do processo da produção de cerâmica, uma vez que apenas a argila bem escolhida irá resistir ao calor quando a cerâmica é cozida.

Os oleiros de Arlo possuem uma técnica diferente de produzir cerâmica. O pedaço preparado de argila é moldado em forma de cilindro e, em seguida, achatado de um lado e suavizado para criar o bordo. É depois virado e tornado oco com os dedos, para criar a forma de um pote. Nesta fase, a forma é deixada ao sol para secar um pouco. O pote é então finalizado com o batente em madeira e o contra-batente em pedra, como noutras aldeias produtoras de cerâmica. O pote, seguro nas pernas, vai sendo virado e batido suavemente nas paredes, para que estas fiquem mais finas e sejam moldadas. São necessárias várias sessões de trabalho para finalizar um pote, com alguns episódios de secagem ao sol pelo meio.

Os potes são por vezes decorados com incisões na parte superior do bojo e deixados em seguida a secar durante vários dias, antes de serem cozidos numa lareira feita com madeira de palmeira. O processo de cozedura é rápido, apenas 10 a 15 minutos.

Iha ne’e oleiru sira uza feramenta sira ne’ebé hanesan iha aldeia sira seluk ne’ebé halo sanan rai: batente ne’ebé halo ho ai husi Ai Nara, kontra-batente ne’ebé fatuk kabuar ne’ebé foti iha tasi ibun (Watu tahi), no pedasu ai ki’ikoan (Pina pero) hodi ka’er sanan iha prosesu molde nia laran.

Rai mean maran baku ho fatuk iha sipu boot no tau ketak hodi hasai fatuk no foer. Bainhira rai mean miis hanesan trigu, tau hamutuk rai-henek miis no kahur hotu no aumenta bee hodi hetan konsisténsia di’ak. Rai-henek ne’ebé uza mai husi gruta ida besik Adara iha kosta Oeste. Preparasaun ba rai mean, no kahur ho rai-henek, oleiru tuan de’it mak hatene halo, no sira aprende husi sira nia avó sira. Ida ne’e parte importante husi prosesu produsaun ba sanan rai tanba rai mean ne’ebé hili ho di’ak sei iha rezisténsia ba manas bainhira tunu.

Oleiru sira husi Arlo iha téknika oin seluk kona ba produsaun ba sanan rai. Primeiru sira halo molde ba rai mean hanesan silindru ida, no tuir mai halo tetak iha sori hodi halo borda. Tuir mai fila no uza liman hodi halo nia laran mamuk no halo sanan. Bainhira ho forma ida ne’e, habai iha loron hodi maran uitoan. Tuir mai hahotu ho batente ai no kontra-batente fatuk, hanesan aldeia seluk ne’ebé halo sanan rai. Sira tau sanan iha sira nia ain no fila neineik no baku sorin hodi sai miis no tuir modelu. Tenke halo sesaun ne’e dala barak hodi hahotu sanan ida, no habai loron dalan balu.

Sana sira ne’e dalan balu hetan dekorasaun hanesan relevu iha sorin no habai iha loron hira nia laran hodi maran molok tunu iha ahi. Prosesu tunu ne’e la kleur no uza de’it minutu 10 ka 15.

Potters here use the same very simple tools that we can observe in most pottery villages today: a wooden paddle made with the wood Ai Nara, a round basalt stone collected on the beach used as an anvil (Watu tahi), and a small wooden plate (Pina pero) to hold the pot during the forming process.

The dry clay is pounded in a large clamshell with a river pebble and sorted, to remove all the stones and large impurities. Once the clay is as fine as flour, some very fine sand is added to it and thoroughly mixed, adding slowly water to get the right plasticity. The sand is special, collected in a cave near the village of Adara, on the west coast. The preparation of the clay and the mixing of it with sand (temper) is only known by older potters, who were taught by their grandmothers. This is an important part of the pottery-making process, as only well-sorted clay will resist the heat when firing the pottery.

Arlo potters have a distinct technique of making pottery. The prepared lump of clay is shaped into a cylinder and then flattened on one side and smoothed to create the rim. It is then turned over and hollowed with the fingers to create the pot shape. At this stage, the form is left in the sun to dry a little. The pot is then completed using the wooden paddle and the stone anvil as in other pottery villages. The pot is held on the legs and turned while beating the walls softly to thin and shape them. Several working sessions are necessary to complete a pot, with some episode of sun drying in between.

The pots are sometimes decorated with incisions on the upper part of the body and then left to dry for several days before being fired in an open fire, made of palm wood. The firing process is quick, only 10 to 15 minutes.

Page 25: Sanan Rai

25

Em Arlo, é apenas conhecida uma forma cerâmica, um pequeno pote de tamanho médio com o bordo revirado, chamado Ranga ngipu. Este potes eram tradicionalmente utilizados para cozinhar arroz e milho. Antigamente, eram igualmente produzidos potes de maiores dimensões, havendo ainda alguns que são mantidos em lugares tradicionais da falésia de coral calcário que existe nas proximidades.

Iha Arlo, sira hatene de’it forma ida, sanan ki’ikoan ho ibun fila, ne’ebé hanaran Ranga ngipu. Sanan sira ne’e uluk uza hodi te’in etu no batar. Uluk nanai halo mós sanan boot no balu sei iha fatin lulik iha kosta besik.

Only one form of pottery is known in Arlo, a small to medium-sized pot with an everted rim called Ranga ngipu. Traditionally, these pots were used to cook rice and corn. In the past, larger sized pots were also made and some are still kept in traditional places of the nearby coral limestone cliff.

Saida ne’ebé halo hodi halo sanan ida: halo silindru no halo ibun. Primeiros passos para dar forma a um novo pote: criando um cilindro e fazendo o bordo. The first steps in shaping a new pot: forming a cylinder and making the rim. (© JC Galipaud/IRD)—

Servisu ho batente ai. A trabalhar com o batente de madeira. Working with the wooden paddle (© JC Galipaud/IRD)

Sanan rai ne’ebé subar iha kuak iha fatuk lolon. Cerâmica antiga escondida num buraco da falésia. Ancient pottery hidden in a hole of the nearby cliff (©Tania Bettencourt)—

Page 26: Sanan Rai

26

Ferik

hob

an k

abas

iha

Atu

Aben

. Mul

her

a tin

gir

algod

ão e

m A

tu A

ben.

Wom

an d

yein

g co

tton

in A

tu A

ben,

196

6-70

. (©B

rigitt

e Cla

mag

irand

)

Page 27: Sanan Rai

27

No passado, a região de Bobonaro foi um importante centro de produção cerâmica. Atualmente, é ainda utilizada cerâmica nesta região para o tingimento de algodão que depois é tecido.

A aldeia de Boro, localizada numa cumeada a norte de Balibó, é acessível apenas caminhando através de um grande vale. Durante muitos anos, os oleiros de Boro transportavam a sua produção para o mercado de Balibó, tendo deixado de o fazer há cerca de dez anos atrás, quando os compradores deixaram de estar interessados nos seus produtos.

Joana Fátima, Santina Teu Pereira, Florença Soares, Ermelinda Gama, Bendita Verdial e Carminda Aberkas são as únicas oleiras ainda ativas nos dias de hoje. No entanto, mulheres e homens mais jovens estavam a tentar fazer chávenas e outras formas de cerâmica modernas, enquanto observávamos as oleiras a trabalhar.

Iha tempu uluk, rejiaun Bobonaro hanesan sentru importante kona ba produsaun ba sanan rai. Daudaun sei uza hela sanan rai iha rejiaun ne’e hodi tau kór ba kabaas hodi tais tuir.

Aldeia Boro, iha foho iha norte husi Balibó, bele hetan la’o tuir vale boot ida. Iha tinan uluk, oleiru sira husi Boro lori sira nia produsaun ba merkadu Balibó maibé pára halo nune’e tinan sanulu kotuk, bainhira ema la hola ona sira nia produtu.

Joana Fátima, Santina Teu Pereira, Florença Soares, Ermelinda Gama, Bendita Verdial no Carminda Aberkas mak sei ativu halo sanan rai daudaun. Maski nune’e, feto no mane sira ne’ebé sei joven koko halo xávena no buat modernu oin oin, tuir ami haree bainhira ami halo observasaun ba oleira sira nia servisu.

BORO, BALIBÓ In the past, the Bobonaro area was an important pottery production centre and pottery is still used in this region for the dyeing of cotton for weaving.

The village of Boro, on a ridge north of Balibó, is only accessible on foot across a large valley. Boro potters have for many years transported their production to the Balibó market but stopped about ten years ago as less and less buyers were interested in their product.

Joana Fátima, Santina Teu Pereira, Florença Soares, Ermelinda Gama, Bendita Verdial and Carminda Aberkas are the only potters still practicing today. However, younger women and men were trying to make cups and other modern pottery forms while we were observing the potters at work.

Oleir

a si

ra h

usi B

oro.

As o

leira

s de

Bor

o. Th

e Bo

ro p

otte

rs.

(©An

ne C

asile

/IRD)

Ferik

hob

an k

abas

iha

Atu

Aben

. Mul

her

a tin

gir

algod

ão e

m A

tu A

ben.

Wom

an d

yein

g co

tton

in A

tu A

ben,

196

6-70

. (©B

rigitt

e Cla

mag

irand

)

Page 28: Sanan Rai

28

A argila utilizada em Boro vem de um local chamado Sanirin, localizado a cerca de 3 quilómetros de distância. A obtenção de argila envolve escavar buracos profundos de dois metros, a fim de chegar aos sedimentos vermelhos apropriados (Rai meak, em língua kemak). A argila é preparada como noutros locais e misturada com areia fina do rio, localizado nas proximidades. Quando pronta, são formadas tigelas com a argila, as quais são achatadas sobre uma esteira antiga antes de serem dobradas com ambas as mãos, na forma aproximada de um pote. Em seguida, estes são deixados a secar ao sol algum tempo, de cabeça para baixo, em cima do bordo de um pote partido mais antigo.

Uma vez suficientemente seco, cada pote em bruto é retrabalhado. A oleira, usando o polegar, o indicador e um pedaço de tecido molhado, molda o bordo, rodando o pote sobre uma pedra lisa. Logo que o bordo esteja terminado, o pote é colocado novamente a secar. A última etapa do processo consiste em dar forma ao recipiente, desbastando o bojo com uma espátula de madeira e um contra-batente em pedra. A espátula é feita da madeira Abeliti. É gravada com listras em cruz, criando formas quadradas em relevo no pote acabado.

Rai mean ne’ebé sira uza iha Bora mai husi fatin ida naran Sanirin, dook 3 km husi Boro. Hodi hetan rai mean sira tenke ke’e to’o metru rua, hodi hetan rai mean ne’ebé di’ak (Rai meak, iha lian kemak). Rai mean nia preparasaun hanesan ho fatin seluk no kahur ho rai-henek husi mota ne’ebé besik. Bainhira pronto halo tijela ho rai mean, no tetuk iha biti nia leten no dobra ho liman rua hodi sai sanan ida. Tuir habai iha loron, ulun ba ain, iha sanan rai tuan nia ibun nia leten.

Bainhira mara, sei hadi’a fali sanan ida idak. Oleira uza liman fuan polegar no indikadór no hena bokon hodi halo ibun no halo sanan roda iha fatuk leten. Bainhira ibun prontu ona, sanan habai fali hodi maran. Etapa ikus husi prosesu mak halo forma husi sana no hamenus bokur ho espátula ai no kontra-batente fatuk. Espátula ne’e halo ho ai Abeliti. Halo mós gravasaun ho liña ho krus no halo kuadradu ho relevu iha sanan.

The clay used in Boro comes from a place called Sanirin, some three kilometres away. Digging for clay involves digging up two-metre deep holes, in order to get to the right red sediments (Rai meak, in Kemak language). The clay is prepared as in other places and mixed with fine sand from the nearby river. When ready, the clay is formed into bowls, which are flattened on an old mat before being folded with both hands in the shape of a rough pot. It is then left to dry upside down in the sun for a while, on top of the rim of an older broken pot.

Once sufficiently dried, each rough pot is reworked. The potter, using her thumb and forefinger and a wet piece of cloth, shapes the rim by turning the pot on a flat stone. Once the rim is finished, she lets again the pot to dry. The last step of the process consists of forming the vessel and thinning its body with a wooden paddle and a stone anvil. The paddle is made of wood Abeliti. It is engraved with cross-striped, which creates square relief shapes on the finished pot.

Page 29: Sanan Rai

29

Husi

rai

mea

n ba

san

a ra

i: pa

su o

in o

in h

usi p

rodu

saun

san

an r

ai. D

a ar

gila

ao p

ote:

os

dife

rent

es p

asso

s da

pr

oduç

ão d

e ce

râm

ica. F

rom

clay

to

pot:

the

diffe

rent

ste

ps o

f pot

tery

pro

duct

ion.

(©J

C Ga

lipau

d/IRD

)

Batente ai no kontra-batente fatuk. Batente em madeira e contra-batente em pedra. Wooden paddle and stone anvil. (©JC Galipaud/IRD)

Page 30: Sanan Rai

30

A cozedura ocorre cerca de cinco dias após a secagem e é feita numa área aberta da aldeia. O combustível é composto principalmente por madeira seca de palmeira. Os potes são dispostos numa cama de folhas de palmeira e cobertos com combustível leve. O fogo é rápido e intenso e após cerca de dez 10 minutos, os potes são removidos com um pedaço de pau e deixados a arrefecer num local próximo.

Bainhira liu loron lima husi maran entaun mak tunu iha fatin iha aldeia klaran. Hodi tunu sira uza ai maran husi palmeira. Sanan sira tau iha palmeira nia tahan leten. Ahi ne’e lalais no maka’as no bainhira liu minutu 10 sira hasai sanan ho ai ida no husik malirin iha fatin besik.

The firing occurs some five days after drying and it is done in a clear area of the village. The fuel consists mostly of dried palm wood. The pots are arranged on a bed of palm leaves and covered with light fuel. The fire is intense and rapid and after about ten minutes, the pots are removed with a stick and let to cool down nearby.

Tunu sanan hanesan pasu importante ne’ebé tenke iha abilidade no atensaun atu halo tuir. A cozedura dos potes é um passo essencial que requere habilidade e atenção. Firing the pots is an essential step which requires skills and attention. (©JC Galipaud/IRD)

Page 31: Sanan Rai
Page 32: Sanan Rai

32

A região de Baucau/Venilale costumava ser o segundo centro de produção de cerâmica mais importante de Timor-Leste. Atualmente, existem ainda oleiros ativos em várias aldeias em redor de Baucau, como em Waiaka, aldeia Gugulae e suku Waitame, e nas imediações de Venilale, em lugares como Watuhako, na aldeia de Watuassa, e Kaikoli, na aldeia de Waelaha. No passado, a produção de cerâmica era mais amplamente praticada em lugares como Oralan, em Vemasse, em Baguia ou em Seisal. No entanto, o número de oleiros está em constante declínio, uma vez que as gerações mais novas não estão dispostas a envolver-se numa produção artesanal que é considerada antiquada.

A produção nesta região é tradicional, com potes de pequeno ou médio porte, arredondados e com bordos exvertidos, representando a principal forma cerâmica.

Rejiaun Baucau/Venilale uluk hanesan sentru produsaun sanan rai ne’ebé daruak iha Timor-Leste. Daudaun iha nafatin oleiru ne’ebé ativu iha aldeia oin oin besik Baucau, hanesan Waiaka, aldeia Gugulae no suku Waitame, no besik Venilale, iha fatin hanesan Watuhako, iha aldeia Watuassa, no Kaikoli, iha aldeia Waelaha. Iha tempu uluk, produsaun ba sana rai hala’o mos iha Oralan, iha Vemasse, iha Baguia ka iha Seisal. Maski nune’e oleiru sira nia númeru tun beibeik tanba jerasaun joven sira la iha vontade hodi halo produsaun artezanál ne’ebé sira haree nudar tuan.

Produsaun iha rejiaun ne’e hanesan tradisionál ho sanan ki’ik, kabuar, ho ibun fila.

BAUCAUThe Baucau / Venilale area used to be the second most important pottery production centre of Timor-Leste. Today, Baucau and Venilale potters are still active in several villages around Baucau, such as Waiaka, Gugulae village and suku Waitame, and around Venilale in places like Watuhako, in the village of Watuassa and Kaikoli in the village of Waelaha. In the past, pottery-making was more widely practiced in places such as Oralan, in Vemasse, Baguia or Seisal. However, the number of potters is steadily declining, as younger generations are not willing to get involved in a craft production that is considered old-fashioned.

The production in this region is traditional, with a small or medium-sized round pottery with an out-curved rim representing the main pottery shape.

Ange

lina

dos

Reis

, Ben

dita

Fre

itas

Pere

ira n

o Ma

ria To

reira

, iha

Waia

ka. A

ngeli

na d

os

Reis

, Ben

dita

Fre

itas

Pere

ira e

Mar

ia To

reira

, em

Waia

ka. A

ngeli

na D

os R

eis, B

endi

ta

Freit

as P

ereir

a an

d Ma

ria To

reira

, in

Waia

ka (

©Meg

umi Y

amad

a/SE

AC)

Page 33: Sanan Rai

33

Angelina dos Reis, Bendita Freitas Pereira e Maria Toreira, as únicas oleiras ativas em Waiaka, vão buscar argila a um local próximo chamado Seisal, perto do rio. A areia fina que é misturada com a argila vem do leito do rio. O barro húmido, armazenado num grande pote antigo, é misturado com areia numa esteira utilizando as duas mãos, de forma a obter a mistura adequada e remover as impurezas maiores (pedras grandes ou pedaços de madeira, que são removidos com os dedos). A argila é então moldada na forma de uma tigela, com um pequeno pote pressionando contra a parte superior para fazer um buraco, utilizando-se um polegar molhado e os dedos para transformar a extremidade num grosso bordo exvertido. Quando o bordo está bem arredondado, é utilizada uma folha molhada para suaviza-lo.

Angelina dos Reis, Bendita Freitas Pereira no Maria Toreira, hanesan oleira ativa úniku iha Waiaka, no sira foti rai mean iha fatin besik naran Seisal, besik mota. Rai-henek ne’ebé uza hodi kahur ho rai mean mai husi mota. Rai mean bokon rai iha sanan tuan no kahur ho rai-henek iha biti ho liman rua hodi hetan konsisténsia ne’ebé di’ak no hodi hasai foer (fatuk no ai ne’ebé hasai ho liman). Rai mean halo hanesan tijela ida, no uza sanan ki’ikoan hodi buti leten hodi halo nia kabuar, no uza liman fuan polegár bokon no liman fuan seluk hodi halo nia ibun fila. Bainhira ibun kabuar ona entaun uza tahan ida hodi hali’is.

Angelina Dos Reis, Bendita Freitas Pereira and Maria Toreira, the only active potters in Waiaka, fetch the clay in a close-by location named Seisal, near the river. The fine sand that is mixed with the clay comes from the riverbed.The wet clay, stored in a large old pot, is mixed with sand on a mat with both hands to obtain an adequate mix and remove major impurities (larger stone or pieces of wood are removed with the fingers). The clay is then shaped into a bowl, with a small pot being pressed against the top to make a hollow and the edge so created shaped into an everted thick rim, with a wet thumb and fingers. Once the rim is nicely rounded, a wet leaf is used to smooth it up.

Oleir

a si

ra h

alo s

ervis

u, W

aiaka

. Olei

ras

a tr

abalh

ar, W

aiaka

. Pot

ters

at

work

, Waia

ka. (

©Meg

umi Y

amad

a/SE

AC)

Page 34: Sanan Rai

34

Nesta fase, o bocado de argila é deixado a secar ao sol durante algum tempo. Quando estiver duro o suficiente a oleira, colocando uma mão por fora e vários dedos da outra mão por dentro, faz um buraco no pote e começa a dar-lhe uma forma final arredondada. Esta fase é interrompida várias vezes para permitir que a argila continue a secar ao sol. Quando a argila está suficientemente dura, a oleira bate continuamente nas paredes inacabadas do pote com uma espátula de madeira e um seixo de pedra, para a tornar mais fina e suave, dando a forma final ao pote. A espátula esculpida é então utilizada para decorar o exterior do pote com impressões finas. Depois de alguns dias, os potes são levados para uma área aberta atrás das casas, onde o combustível é abundante, e estes são cozidos.

Iha faze ne’e sira habai ida ne’e iha loron. Bainhira to’os natoon ona, oleira tau liman ida iha liur no uza liman fuan husi liman seluk hodi halo kuak no halo kabuar. Nia para ida ne’e beibeik hodi habai fali iha loron. Bainhira to’os oleira baku ho ai no fatuk iha sanan nia sorin hodi halo miis no hali’is sanan. Espátula ai uza mos hodi halo dekorasaun iha sanan nia liur ho relevu miis. Liu loron bala mak tau sanan iha fatin ida iha uma nia kotuk hodi tunu sanan.

At this stage, the lump of clay is left to dry in the sun for a while. When it is hard enough, the potter, using one hand on the outside and several fingers of the other hand on the inside, hollows the pot and starts giving it its final round shape. This stage is interrupted several times to let the clay dry in the sun. When the clay is sufficiently hard, the potter steadily beats the unfinished pot walls with a wooden paddle and a stone pebble to thin and smooth them, giving a final shape to the pot. The carved paddle is then used to decorate the exterior of the pot with fine impressions. After a few days, the pots are taken into an open area behind the houses where fuel is abundant and fired.

Prosesu produsaun ba sanan rai iha Waiaka. Processo de produção de cerâmica em Waiaka. Pottery-making process in Waiaka (©Megumi Yamada/SEAC)

Page 35: Sanan Rai

35

Sana

n ta

u ha

mut

uk h

odi l

ori b

a m

erka

du. O

s po

tes

com

plet

os s

ão e

mpi

lhad

os n

uma

rede

e le

vado

s pa

ra o

mer

cado

. The

com

plet

ed p

ots

are

piled

in a

net

and

car

ried

to th

e m

arke

t (©M

egum

i Yam

ada/

SEAC

)

Page 36: Sanan Rai

36

Em Venilale – e antigamente em Vemasse – é utilizada a mesma técnica de produção de cerâmica, mas o produto final não é exatamente igual. De acordo com Ian Glover, que registou a técnica na década de 1960, em Vemasse eram produzidos quatro tipos diferentes de potes: um pequeno pote para armazenar água chamado Lum (em língua Galoli); um vaso maior, redondo, para cozinhar chamado Uram; um pote com tampa e alças chamado Emboca; e um prato plano, Bican rai. Apenas os potes Lum eram decorados com impressões sobre o bordo e polidos com as sementes das árvores Kaleki e Nitas.

Em Venilale, a produção de cerâmica é bastante semelhante com um grande pote redondo para cozinhar chamado Kuro (em língua Kairui) e pratos planos Ha’i matan ou Ha’i rea, dependendo do tamanho. A produção aqui tem muita qualidade e a forma perfeitamente redonda dos potes, bem como os acabamentos suaves, são uma indicação da grande habilidade das oleiras, a Sra. Rosália Domingues e a Sra. Emília Guterres.

Iha Venilale – no uluk iha Vemasse – sei uza téknika hanesan ba produsaun sanan rai maibé produtu finál ladún hanesan. Tuir Ian Glover, ne’ebé halo rejistu kona ba téknika ne’e iha dékada 1960, iha Vemasse ema halo sanan tipu haat: ida ki’ikoan hodi rai bee hanaran Lum (iha lian Galoli); ida boot uitoan, kabuar ne’ebé uza hodi te’in no hanaran Uram; ida ho matan no kaer fatin ne’ebé hanaran Emboca; no bikan ida ne’ebé hanaran Bican rai. Sanan Lum de’it mak iha dekorasaun ho relevu iha ibun no hetan polimentu ho fini husi ai Kaleki no Nitas. Iha Venilale, produsaun ba serámika atu hanesan sanan boot kabuar ne’ebé uza hodi te’in hanaran Kuro (iha lian Kairui) no bikan Ha’i matan no Ha’i rea, depende ba nia boot. Produsaun iha ne’e iha kualidade ne’ebé di’ak no nia kabuar kapa ‘ás, no mos nia detalle, no ida ne’e hatudu kapasidade di’ak husi Sra. Rosália Domingues no Sra. Emília Guterres.

In Venilale - and formerly in Vemasse - the same pottery-making technique is used but the finished product is not exactly similar. In Vemasse, according to Ian Glover who recorded the technique in the 1960’s, four different types of pots were manufactured: a small pot for storing water called Lum (Galoli language), a larger round cooking pot called Uram, a cooking pot with cover and handles called Emboca and a flat plate, Bicam rai. Only the Lum pots were decorated with impressions on the rim and burnished with the seeds of Kaleki and Nitas trees.

In Venilale, the pottery production is quite similar with one large round cooking pot called Kuro (Kairui language) and flat plates Ha’i matan or Ha’i rea, depending on the size. The production here is very fine and the perfectly round form of the pots as well as the smooth finishes are an indication of the high skills of the potters, Ms Rosália Domingues and Ms Emília Guterres.

Rosá

lia D

omin

gues

iha

Wat

uass

a ho

san

an K

uro.

Rosá

lia D

omin

gues

em

Wat

uass

a co

m u

m p

ote

Kuro

. Ros

ália

Dom

ingu

es in

Wat

uasa

with

a K

uro

pot.

(©Me

gum

i Yam

ada/

SEAC

)

Emília

Gut

eres

, iha

Wae

laha.

Em

ília G

uter

es, e

m W

aelah

a. E

mília

Gut

eres

in W

aelah

a (©

Magu

mi/S

EAC)

Page 37: Sanan Rai

37

Husi molde to’o tunu. Da modelagem ao processo de cozedura. From forming to firing (©Victor da Sousa)

Page 38: Sanan Rai

38

A aldeia de Kamenasa, no Suai, é uma comunidade de oleiras e tecelãs ativas, onde muitas das oleiras são também tecelãs. Nesta aldeia, as técnicas de produção de cerâmica sobreviveram bem e muitas mulheres sabem ainda como produzi-la. No entanto, menos de 20 produzem regularmente e as mulheres mais jovens não estão interessadas em aprender.

Lusina Ricanara, Paula Abu, Carminda Amarae e Sentina Datu aceitaram fazer cerâmica para nós. Na mesma aldeia, Amélia Madeira produz grandes e belas jarras para armazenar água. Existe outra aldeia onde se produz cerâmica nas imediações: Fatu Kwan, onde é utilizada argila vermelha.

Aldeia Kamenasa, iha Suai, hanesan komunidade ida husi ema ne’ebé halo sanan rai no tais no se mak halo sanan rai halo mos tais. Iha aldeia ne’e téknika produsaun ba sanan rai kontinua nafatin no feto sira barak mak sei hatene halo. Maski nune’e na’in 20 de’it mak sei halo baibain no joven sira la koi aprende.

Lusina Ricanara, Paula Abu, Carminda Amarae no Sentina Datu simu atu halo sanan rai ba ami. Iha aldeia hanesan Amélia Madeira halo jara boot no kapa ‘ás hodi rai bee. Iha aldeia seluk ne’ebé besik iha ne’ebé halo sanan rai: Fatu Kwan, iha ne’ebé sira uza rai mean.

KAMENASA, SUAIThe village of Kamenasa, in Suai, is a community of active potters and weavers, where many of the potters are also weavers. In this village, the techniques of pottery-making survived well and many women know how to make pottery. Less than 20, however, produce regularly and the younger women are not interested in learning. Lusina Ricanara, Paula Abu, Carminda Amarae and Sentina Datu accepted to make pottery for us. Amelia Madera, in the same village, makes beautiful and big jars for storing water. There is another potters’ village nearby: Fatu Kwan, where they use red clay.

Oleir

a si

ra h

usi K

amen

asa.

Olei

ras

de K

amen

asa.

Pot

ters

from

Kam

enas

a.(©

Claire

Hell

o)

Page 39: Sanan Rai

39

A produção tem lugar de acordo com os pedidos, o que determina igualmente o tamanho do pote acabado. Existem quatro formas tradicionais e várias formas modernas. Estas últimas correspondem aos pedidos feitos pelos indonésios durante a ocupação. As formas tradicionais incluem um recipiente de água, Lolo (em tétum Terik); uma taça aberta, Haner; um pote para cozinhar, Sanan; e um prato para cozinhar, Akar Kadaka. A jarra de água e o pote para cozinhar podem ter uma tampa, Sanan matan. As formas modernas incluem copos ou taças para flores e café.

Toda a região é composta de sedimentos argilosos e o barro utilizado para fazer cerâmica provém de uma fonte próxima da aldeia, perto do rio. A oleira escolhe um terreno argiloso adequado, observando os lugares onde a água está estagnada. A argila é trazida para a superfície em forma semi-líquida. Desta forma, há a vantagem óbvia de separar a argila com muito poucas impurezas. É utilizada uma areia muito fina como desengordurante, bem selecionada a partir do leito seco do rio.

Produsaun hala’o tuir pedidu no ida ne’e iha impaktu ba sanan nia boot. Iha forma tradisionál haat no forma modernu oin oin. Sira ne’e mai husi pedidu sira ne’ebé sira simu husi ema indonézia durante períodu okupasaun. Forma tradisionál sira inklui jara ba bee, Lolo (iha tétum Terik); tasa nakloke, Haner; sanan hodi te’in, Sanan; no bikan hodi te’in, Akar Kadaka. Jara ba bee no sanan hodi te’in dala balu iha matan, Sanan matan. Forma modernu sira inklui kopu no tasa ba ai-funan sira no kafé.

Rejiaun hotu iha sedimentu husi rai mean no rai mean ne’ebé uza hodi halo sanan rai mai husi besik aldeia, besik mota. Oleira iha fatin rai mean ne’ebé di’ak bazeia ba fatin ne’ebé iha bee. Rai mean foti bainhira sei bokon no ida ne’e halo fasil liu hodi hili foer. Tuir uza rai-henek miis hodi kahur hamutuk ne’ebé foti husi mota.

The manufacturing takes place according to request, which also determines the size of the finished pot. There are four traditional forms and several modern forms. The latter correspond to requests made by the Indonesians during the occupation. The traditional forms are a water container, Lolo (in Tetun Terik); an open bowl, Haner; a pot to cook Sanan and a plate to cook Akar kadaka. The water jar and the pot to cook may have a lid, Sanan matan. The modern forms are flower and coffee pots with cups or goblets.

The entire region is composed of silt loam and the clay used to make pottery comes from a source close to the village, near the river. The potter chooses a proper clay ground by observing the places where the water is stagnant. The clay is brought to the surface in semi-liquid form. This way, there is the obvious benefit of sorting the clay with very few impurities. The temper is a very fine sand well sorted from the dry riverbed.

Ezemplu rua husi produsaun sanan rai tradisionál no moderna husi Kamenasa: bee fatin no ai-funan fatin. Dois exemplos de produção cerâmica tradicional e moderna de Kamenasa: jarros de água e potes de flores. Two examples of Kamenasa traditional and modern pottery production: water jars and flower pots (©Claire Hello)—

Page 40: Sanan Rai

40

Buka

rai

mea

n. À

pro

cura

de

argi

la. L

ooki

ng fo

r cla

y (©

JC G

alipa

ud/IR

D)

Page 41: Sanan Rai

41

A argila e o desengordurante são trazidos para dentro da casa e armazenados em grandes potes. No dia marcado para a produção, as matérias-primas e as ferramentas são preparadas num lugar aberto ao ar livre, no chão coberto com um saco de arroz (antigamente era utilizado uma esteira tradicional). Várias porções de areia fina são pulverizadas à mão sobre a lona. A oleira retira a argila do pote grande e mistura-a, pressionando o barro entre os dedos e retirando as impurezas. Adiciona então mais areia ou água, até que a argila atinja a plasticidade certa.

Algumas das ferramentas simples que são necessárias para produzir os potes, incluem:

• Uma argola feita com um cipó que se parece com a verga chamada Ailaleu. O seu tamanho determina a dimensão do vaso acabado.

• Um bastão de madeira de Aitui, com forma rectangular e um cabo plano ou levemente arredondado na continuidade do bastão. O bastão tem um lado liso e um lado com listras, sendo ambos utilizados. O bastão, feito pela oleira ou pelo seu marido, é chamado Aidaderen. • Um seixo liso do rio chamado Fatuk Dererai, utilizado como contra-batente.

• Uma faca de madeira com uma lâmina e um cabo plano (Tudik). Antigamente, era utilizada a nervura de uma palmeira (Kesak).

• Uma base anelar feita com a folha da palmeira Lontar (Borassus sp.), chamada Laleu. É utilizada para segurar o pote durante o processo de produção e também para armazená-lo quando não está em uso.

Ema lori rai mean no rai-henek mai uma no rai iha sanan boot. Iha loron ne’ebé define atu halo produsaun sira tau hotu hamutuk ho feramenta sira iha liur, iha rai, iha karón foos nia leten (uluk sira uza biti). Sira kari rai-henek ho liman iha karón leten. oleira foti rai mean husi sanan no kahur ho liman hodi hasai buat foer. Tuir nia kahur tan rai-henek ka bee tuir presiza hodi hetan konsisténsia ne’ebé hakarak.

Feramenta simples sira ne’ebé sira uza hodi halo sanan rai inklui:

• Argola ne’ebé halo ho tali hanesan ratan ne’ebé hanaran Ailaleu. Ninia boot mak define sanan nia boot.

• Ai pedasu ne’ebé halo ho ai husi Aitui, ne’ebé hanesan ratangulãr no ho kabu kabuar ka loos. Ai ne’e iha sorin ne’ebé moos no sorin ne’ebé riskadu no uza sorin rua. Ai ida ne’e, ne’ebé oleira ka nia la’en halo, hanaran Aidaderen.

• Fatuk husi mota ne’ebé hanaran Fatuk Dererai, ne’ebé uza hanesan kontra-batente.

• Tudik ai ho lamina kona kabu (Tudik). Uluk sira uza parte ida husi palmeira (Kesak).

• Baze ne’ebé halo ho palmeira Lontar (Borassus sp.) nia tahan ne’ebé hanaran Laleu. Ida ne’e uza hodi ka’er sanan iha prosesu produsaun nia laran no hodi rai sanan bainhira la uza.

The clay and temper are brought into the house and stored in large pots. The day scheduled for the manufacture, the raw materials and tools are prepared in an open place outside, on the ground covered with a rice bag (formerly, atop a traditional mat). Several portions of fine sand are sprayed by hand on the canvas. The potter takes the clay from the large pot and mixes it, pressing the soil between the fingers and removing the impurities. She then adds more sand or water until the clay has the right plasticity.

A few simple tools are needed to make the pots:

• A hoop made with a liana that looks like the rattan called Ailaleu. Its size determines the dimension of the finished pot.

• A wooden bat of Aitui, shaped in a rectangular form and with a flat or slightly rounded handle in the continuity of the bat. The bat has a flat side and a streaked side, which are both used. The bat, made by the potter or her husband, is called Aidaderen.

• A flat river pebble serving as anvil named Fatuk Dererai.

• A wooden knife with a blade and a flat handle (Tudik). Formerly, the nervure of a palm (Kesak) was used.

• An annular base made with the leaf of theLontar palm tree (Borassus sp.) called Laleu.It is used to hold the pot during the manufacturingprocess and also to store it when not in use.

Page 42: Sanan Rai

42

Fera

men

ta b

a pr

odus

aun:

Arg

ola

Ailal

eu; B

aze

anela

r La

leu; E

spát

ula

no k

ontr

a-ba

tent

e ne

’ebé

halo

ho;

Esp

átul

a ai,

Aid

ader

en. A

s fe

rram

enta

s de

pr

oduç

ão: A

rgol

a Ai

laleu

; Bas

e an

elar

Laleu

; Esp

átul

a e

cont

ra-b

aten

te e

m m

adeir

a; E

spát

ula

em m

adeir

a, A

idad

eren

. The

man

ufac

turin

g to

ols:

Rin

g Ai

laleu

(©D

avid

Pala

zón)

; Rin

g ba

se L

aleu

(©Da

vid P

alazó

n); P

addl

e an

d st

one

anvil

(©J

C Ga

lipau

d/IRD

); W

oode

n pa

ddle,

Aid

ader

en (

©Dav

id P

alazó

n)

A base do pote é feita por modelagem manual, colocando-se uma bolacha de argila, plana suficientemente grossa, no interior de um anel de madeira flexível, Ailaleu. Em seguida, a oleira alisa a argila à mão, pressionando-a enquanto roda o anel, para obter uma forma côncava regular.

Baze husi sanan halo ho liman no tau rai mean pedasu kabuar iha anel husi ai nia laran, Ailaleu. Tuir, oleira halo kabeer ho liman no buti iha klaran bainhira halo anel duir. Kuak ne’e halo kabeer hodi halo kuak.

The base of the pot is obtained by hand-modelling a flat wafer of thick enough clay around a ring of flexible wood Ailaleu. The potter then smooths the clay by hand and pushes the clay while turning the ring, to obtain a regular concave shape.

Page 43: Sanan Rai

43

A forma côncava é refinada usando o lado liso de uma espátula de madeira, regularmente humedecida (Aidaderen), e o contra-batente em pedra húmido, que é seguro por dentro. Nesta fase, a argila, que é muito macia e flexível, é facilmente deformada. Logo que a forma esteja suficientemente refinada, esta é colocada ao sol para secar e fortalecer.

O processo de produção é realizado em duas fases distintas, a primeira envolvendo refinar e moldar o modelo em bruto para se obter um meio-pote com uma forma adequada, e a segunda adicionar rolos de argila em anéis sucessivos, para formar a parte superior do recipiente.

O primeiro passo consiste numa sucessão de fases de modelagem usando o batente em madeira no seu lado dentado e, em seguida, um período de secagem parcial para obter a forma final da parte inferior do vaso. A próxima etapa de produção é realizada após a remoção do anel de madeira – a metade do pote completa tem até agora estado segura pelo anel de sustentação, Laleu. Assim que que a forma tenha atingido uma espessura consistente, a oleira adiciona rolos de argila para formar a parte superior do recipiente. Dependendo do tipo desejado de pote, adicionará um ou vários destes rolos feitos à mão.

A última parte do processo é o bordo. A argila é levemente queimada com a mão enquanto se vai virando o pote e, em seguida, vai-se moldando o bordo. A parte superior do bordo é depois cortada com a faca (Tudik) ou com uma nervura de palmeira (Tisak) enquanto se gira o pote, a fim de se obter uma forma regular e plana. O bordo é finalmente formado e alisado com os dedos húmidos e com um pano molhado, sendo comprimido entre dois dedos para se obter um lábio arredondado perfeito.

Kuak ne’e halo kabeer ho parte moos husi espátula ai ne’ebé bokon uitoan (Aidaderen), no kontra-batente iha fatuk ne’ebé bokon mos, kaer iha laran. Iha faze ne’e rai mean bele book fasil no bele muda nia forma. Bainhira nia forma loos ona entaun habai iha loron hodi sai toos.

Prosesu produsaun hala’o iha faze ketak rua, primeira inklui hadi’a no halo molde ba modelu hodi hetan sanan sorin ne’ebé di’ak uitoan no faze rua ne’ebé inklui aumenta rai mean uitoan uitoan hodi halo sanan nia leten.

Pasu primeiru mak faze tuir tuir malu kona ba halo modelu husi batente ai iha nia sorin ho riska no tuir mai períodu habai halo maran uitoan hodi hetan parte final husi sanan nia kidun. Etapa tuir mai mak bainhira hasai anel ai ne’ebé kaer parte husi sanan ne’ebé halo ona, Laleu. bainhira forma iha espesura di’ak ona oleira hatama rai mean duir hodi halo sanan nia leten. Tuir sanan ne’ebé hakarak halo bele aumenta duir rai mean ida ka liu.

Parte ikus husi prosesu mak borda. Rai mean halo kabeer ho liman no dulas nafatin sanan no tuir halo borda. ibun nia leten tesi ho tudik (Tudik) ka ho palmeira nia tisak (Tisak) bainhira dulas sanan hodi hetan hanesan. Tuir halo ibun no halo kabeer ho liman no hena bokon no kaer iha liman fuan nia laran hudi halo kapa ‘ás.

The concave shape is refined using the smooth side of a regularly moistened wooden paddle, Aidaderen, and the wet stone anvil, which is held inside. At this stage, the very soft and flexible clay is easily deformed and as soon as the form is sufficiently refined, it is put in the sun to dry and strengthen.

The forming process is done in two separate stages, the first involving refining and shaping the rough model to obtain a nicely shaped half-pot, and the second requiring additions of coils of clay in successive rings to shape the upper part of the pot.

The first step consists in a succession of forming stages using the wooden paddle on its serrated side and then a period of partial drying, to obtain the final form of the lower part of the pot. The next stage of manufacture is done after the removal of the ring of wood - the complete half pottery has so far been held by the annular support, Laleu. Once the form has reached a consistent thickness, the potter adds clay coils to shape the upper part of the pot. Depending on the desired type of pot, she will add one or several of these coils formed roughly between her hands to the pot.

The last part of the process is the rim. The clay is slightly flared by hand while turning the pot, and then the rim is roughly shaped. Then, the upper part of the rim is cut with the knife Tudik or with a rib of Tisak palm while turning the pot around, in order to obtain a regular and flat shape. The rim is finally shaped and smoothed with wet fingers and with a wet cloth as well as pinched between two fingers, to obtain a perfect rounded lip.

Page 44: Sanan Rai

44

O pote é deixado um pouco à sombra e depois é eventualmente decorado. Depois disso, é armazenado durante pelo menos três dias em casa e um dia mais ao sol. No final deste último dia, os potes são cozidos. Não há nenhum tratamento especial da superfície do pote e as estrias da espátula são deixadas à vista.

A única decoração utilizada em Kamenasa é feita com pequenos rolos de barro que são apertados e aplicados. O rolo é aplicado sobre o corpo do pote e pressionado de cada lado com o dedo polegar. É então alisado com um dedo molhado e finalmente com um pano húmido. A oleira termina com a incisão de entalhes no rolo, aplicados com o polegar, fazendo o mesmo sobre o bordo do pote decorado. O padrão é composto por formas em V alternadas e é conhecido por Tahu Ku’u Ibun.

Sanan habai iha mahon no tuir halo dekorasaun karik. Tuir mai rai pelumenus loron tolu iha uma no loron ida iha loron. Bainhira ida ne’e hotu mak tunu sanan. La iha tratamentu espesiál ba sanan no riska husi espátula husik nafatin.

Dekorasaun ne’ebé halo iha Kamenasa halo ho duir rai mean ne’ebé tau hamutuk no tau ba sanan. Duir tau iha sanan no buti husi sorin rua ho liman fuan polegár. Tuir halo kabeer ho liman fuan bokon no hena bokon. Tuir hotu ho relevu iha duir no iha sanan nia borda. Padraun ne’e hanesan V troka malu ne’ebé hanaran Tahu Ku’u Ibun.

The pot is left a while in the shade and then eventually is decorated. After that, it is stored for at least three days in the house and a further day in the sun. At the end of this last day, the pots are fired. There is no special treatment of the pot surface and the striations from the paddle are left visible.

The only decoration used in Kamenasa is made of small applied and pinched clay coils. The coil is applied on the pot body and pressed in on each side with the thumb. It is then smoothed with a wet finger, and finally with a damp cloth. The potter ends by incising notches on the applied coil with her thumb. She does the same on the rim of the decorated pot. The pattern is composed of alternated V shapes and is called Tahu Ku’u Ibun.

Halo

san

an. D

ando

form

a ao

pot

e. S

hapi

ng t

he p

ot.

(©Cla

ire H

ello)

Mark

a hu

si e

spát

ula

iha

sana

n ne

’ebé

pron

tu o

na. M

arca

s de

esp

átul

a nu

m

pote

ter

min

ado.

Padd

le m

arks

on

a fin

ishe

d po

t. (©

David

Pala

zon)

Page 45: Sanan Rai

45

Tau

duir

rai m

ean

iha

sana

n: Ta

hu k

u’u ib

un. A

plica

ndo

pequ

enos

rolo

s de

cer

âmica

no

pote

: Tah

u ku

’u ib

un. A

pplyi

ng s

mall

clay

coi

ls on

the

pot

: Tah

u ku

’u ib

un. (

©Clai

re H

ello)

Page 46: Sanan Rai

46

A última fase do processo é a cozedura. Tem lugar à noite, longe da aldeia, num lugar onde o combustível seja abundante e, especialmente, onde as crianças não vão. Em Kamenasa, são utilizadas palmeiras secas e, em geral, qualquer combustível leve para não danificar os potes. Cozem-se até cerca de vinte potes de cada vez, a média de produção diária de duas oleiras. O processo de cozedura na fogueira é rápido, no máximo dura entre 30 minutos e uma hora. Para a maior parte das oleiras, a melhor cerâmica é a branca (na verdade, cinza), porque é cozida longe do fogo direto e é considerada de melhor qualidade. Os potes vermelhos são considerados como tendo menor qualidade.

Faze ikus husi prosesu mak tunu. Ida ne’e halo iha kalan iha fatin dook husi aldeia, iha fatin ne’ebé iha ai sunu barak no labarik sira la ba to’o iha ne’eba. Iha Kamenasa, sira uza palmeira sira ne’ebé maran no ai sunu ne’ebé la todan hodi la estraga sanan. Sira tunu sanan 20 dala ida, ne’ebé média produsaun husi oleira rua iha loron ida. Prosesu tunu ne’e lalais no nia durasaun entre minutu 30 no oras ida. Ba oleira barak sanan ne’ebé di’ak liu mak mutin tanba te’in dook husi ahi no konsidera nudar di’ak liu. Sanan rai ne’ebé mean sira konsidera katak kualidade la hanesan.

The last phase of the process is the firing. It takes place in the evening, away from the village in a place where the fuel is abundant and especially where the children do not come. In Kamenasa, they use the dried palms and in a general any light fuel to avoid damaging the pots. They fire up to about twenty pots at one time, the average daily production of two potters. The bonfire process is fast, between 30 minutes and an hour at the most. For most potters, the best colour is white (in fact, grey) because it is fired away from direct fire and is considered of better quality. The red pots are regarded as of less good quality.

Estil

u hu

si s

anan

rai

husi

Kam

enas

a. E

stilo

s ce

râm

icos

de K

amen

asa.

The

Kam

enas

a po

ttery

sty

les. (

©JC

Galip

aud/

IRD)

Page 47: Sanan Rai

47

Page 48: Sanan Rai

48

Beobe é hoje a única área na região de Viqueque onde é produzida cerâmica. A Avó Bendita é a oleira mais antiga da aldeia de Uma Kik. Nesta aldeias, muitas pessoas sabem ainda como produzir cerâmica. Noutra aldeia, Uma ua’in Kraik, há também algumas oleiras, mas de acordo com as informações recolhidas, já não se produz cerâmica.

A argila para produzir cerâmica é recolhida num local chamado Fatu Karao, localizado a cerca de uma hora de distância da aldeia. Existe barro perto do rio mas de acordo com a Avó Bendita, a qualidade não é suficientemente boa. Importante ao escolher o barro é a cor vermelha e, como diz a Avó Bendita, “deve ser gordo como um porco”. A areia que é misturada com a argila é uma areia muito fina, oriunda do rio que existe nas proximidades.

Ohin loron Beobe mak área ne’ebé úniku iha rejiaun Viqueque ne’ebé sei halo sanan rai. Avó Bendita mak oleira ne’ebé tuan liu husi aldeia Uma Kik. Iha aldeia sira ne’e, ema barak sei hatene oinsá halo sanan rai. Iha aldeia seluk, Uma ua’in Kraik, iha mos oleira balu maibé tuir informasaun ne’ebé ami hetan sira la halo sanan rai ona.

Rai mean hodi halo sanan rai mai husi fatin ida hanaran Fatu Karao, ne’ebé dook oras ida husi aldeia. Tuir Avó Bendita iha rai mean besik mota maibé kualidade ladún di’ak. Bainhira hili rai mean importante mak atu haree ba nia mean no tuir Avó Bendita tenke ‘’bokur hanesan fahi’’. Rai-henek ne’ebé kahur ho rai mean tenke miis liu no mai husi mota ne’ebé besik.

BEOBE, VIQUEQUEBeobe is today the only area in the Viqueque region where pottery is made. Avó Bendita is the oldest potter in the village of Uma Kik. Many people still know how to make pottery here. In another village, Uma ua’in kraik, there are also some potters but according to the information collected, the production has ceased.

The clay to produce the pottery is collected from a place named Fatu Karao, about an hour away from the village. There is clay near the river but according to Avó Bendita, the quality is not good enough. Of importance when choosing the clay is the red colour and as Avó Bendita says, “it must be fat like a pig”. The sand that is mixed with the clay is a very fine sand from the nearby river.

Halo

san

an. M

odela

ndo

o po

te. S

hapi

ng t

he p

ot. (

©JC

Galip

aud/

IRD)

Fatuk husi mota no karau nia ruin mak feramenta ne’ebé sira uza. Um seixo rolado do rio e uma costela de búfalo são as únicas ferramentas. A round river pebble and a buffalo rib are the only tools. (©JC Galipaud/IRD)—

Avó Bendita, oleira husi Uma Ki’ik, iha Beobe, Viqueque. Avó Bendita, oleira de Uma Ki’ik, em Beobe, Viqueque. Avó Bendita, potter from Uma Ki’ik, in Beobe, Viqueque. (©JC Galipaud/IRD)

Page 49: Sanan Rai

49

Antes de se adicionar água, a argila é seca, separada e misturada com areia. A modelagem do pote segue o mesmo processo que na maioria das comunidades onde se produz cerâmica, mais a leste: primeiro faz-se o bordo e em seguida é feita uma cavidade no pote, antes de ser desbastado usando uma espátula de madeira (Aita ta’ek) ou uma costela de búfalo, e uma pedra, Fatu.

O pote quase acabado é então alisado com um pau de bambu e, se estiver a chover, é deixado a secar cerca de 5 ou 6 dias. Podem ser cozidos cerca de dez potes juntos, num fogo brando feito com troncos de palmeiras. São tradicionalmente produzidos vários potes, todos eles chamados Sananrai. Os de tamanho maior são usados para armazenar água e para cozinhar, assim como em cerimónias na casa sagrada (Uma Lulik, em tétum). Em tempos antigos, eram utilizados jarros cheios de água a acompanhar a vida de cada indivíduo. Para além de potes, a produção em Viqueque inclui também pratos rasos para cozinhar Akar, chamados Kadaka fating.

Molok aumenta bee, rai mean halo maran no kahur ho rai-henek. Atu halo molde ba sanan tuir prosesu hanesan komunidade seluk ne’ebé halo sanan rai iha leste: primeiru halo ibun no tuir mai halo kuak iha sanan rai molok halo kabeer ho espátula ai (Aita ta’ek) ka karau nia ruin, no fatuk ida, Fatu.

Bainhira sanan atu prontu entaun halo kabeer ho au no karik udan husik hodi maran iha loron 5 ka 6 nia laran. Bele tunu sanan hamutuk 10 iha ahi ne’ebé halo ho ai palmeira nian. Tuir tradisaun sira halo sanan oin oin, hotu ho naran Sananrai. Sira ne’ebé boot liu uza hodi rai bee no hodi te’in no mos ba serimónia sira iha uma lulik. iha tempu uluk sira uza sanan ho bee hodi tuir ema ida idak nia moris. Produsaun iha Viqueque inklui sanan no mos bikan hodi te’in Akar, ne’ebé hanaran Kadaka fating.

Before adding water, the clay is dried, sorted and mixed with sand. Shaping the pot follows the same process as in most pottery communities further east: the rim is made first and then the pot is hollowed before being thinned and shaped using a wooden paddle, Aita ta’ek, or a buffalo rib and a stone, Fatu.

The nearly finished pot is then smoothed with a bamboo stick and, if it is raininy, let to dry up to five or six days. Around ten pots can be fired together on a light fire made of palm trunks.Several pots are traditionally produced and they are all called Sananrai. The bigger sized ones are used to store water and to cook, as well as to be used in ceremonies in the sacred house (Uma Lulik, in Tetun). In earlier times, jars filled with water used to accompany the life of each individual. Apart from pots, the production in Viqueque also includes flat dishes for cooking Akar, named Kadaka fating.

Ezemplu balu husi produsaun ba sanan rai iha Viqueque. Alguns exemplos da produção cerâmica em Viqueque. Some examples of the pottery production in Viqueque.(©JC Galipaud/IRD)—

Page 50: Sanan Rai

50

Cris

tina

Mota

ser

visu

ba s

anan

boo

t. Cr

istin

a Mo

ta a

tra

balh

ar n

um g

rand

e po

te. C

ristin

a Mo

ta w

orki

ng o

n a

big

pot.

(©JC

Gali

paud

/IRD)

Page 51: Sanan Rai

51

ASALAINU, LOSPALOSLospalos é, juntamente com Manatuto, o local de uma importante produção de cerâmica contemporânea. As oleiras são especialmente ativas em Asalainu. Outros centros de produção de cerâmica conhecidos incluem Rassa e Maina, em Lautém. No entanto, estas duas aldeias não foram visitadas durante o presente trabalho e desconhecemos se a produção nesses locais continua.

Em Asalainu, as oleiras produzem grandes e pequenos potes para o mercado local. A técnica aqui utilizada é a mesma usada em Baucau, Venilale e Viqueque. A oleira começa por moldar cuidadosamente o bordo do futuro pote e, em seguida, torna o interior oco com as suas mãos e os dedos. A modelagem principal é levada a cabo com uma espátula de madeira esculpida (Puhu Matari, em língua Fataluko) e um contra-batente em argila especialmente criado para o efeito (Puhu Matari). Durante o processo, que leva vários dias para os potes maiores, a forma inacabada é assente no bordo invertido de um grande pote partido. As oleiras de Lospalos são, provavelmente, as mais habilidosas de Timor-Leste e o tamanho dos potes que hoje produzem é uma boa indicação da qualidade da sua técnica.

Lospalos hamutuk ho Manatuto hanesan fatin ne’ebé importante kona ba produsaun seramika daudaun. Oleira sira ativu liu iha Asalainu. Sentru produsaun serámika ne’ebé koñesidu liu inklui Rassa no Maina, iha Lautém. Maski nune’e aldeia rua sira ne’e ami la vizita durante ami halo servisu ba livru ida ne’e no ami la hatene karik sira kontinua halo produsaun ba sanan rai ka lae.

Iha Asalainu, oleira sira halo sanan ki’ik no boot ba merkadu lokál. Téknika ne’ebé uza iha ne’e hanesan mos téknika ne’ebé uza iha Baucau, Venilale no Viqueque. Oleira hahú halo ibun husi sanan no halo kuak iha klaran ho nia liman fuan. Molde primeiru hala’o ho espátula ai (Puhu Matari, iha lian Fataluko) no kontra-batente husi rai mean ne’ebé halo hodi uza nune’e (Puhu Matari). Iha prosesu nia laran, ne’ebé loron hirak ba sanan ne’ebé boot, molde ne’e tau iha ibun fila husi sanan ne’ebé rahun. Oleira sira husi Lospalos mak sira ne’ebé kapa ‘ás liu iha Timor-Leste no sanan nia boot ne’ebé halo oin hatudu katak sira nia téknika kapa ‘ás duni.

Lospalos is, together with Manatuto, the place of an important contemporary pottery production. Potters are especially active in Asalainu. Other known pottery production centres include Rassa and Maina, in Lautém. However, these later villages have not been visited for this work and we do not know if production still continues there.

In Asalainu, the potters produce large and small pots for the local market. The technique used here is the same used in Baucau, Venilale and Viqueque. The potter starts by carefully shaping the rim of the future pot and then hollowing the interior with her hands and finger. The main shaping is done with a carved wooden paddle (Puhu matari, in Fataluku language) and a specially crafted clay anvil (Puhu matari). During the process, which takes several days for the larger pots, the unfinished form is kept on the upturned rim of a broken large pot. The Lospalos potters are probably the most skilled potters of Timor-Leste and the size of the pots they shape today is a good indication of the quality of their techniques.

Halo modelu ba sanan. Modelando o bordo do futuro pote. Shaping the rim of the future pot. (©JC Galipaud/IRD)

Eugénia Soares hatudu nia produsaun. Eugénia Soares mostrando a sua produção. Eugénia Soares showing her production. (©JC Galipaud/IRD)

Page 52: Sanan Rai

52

São utilizadas formas tradicionais de cerâmica para armazenar água e para cozinhar. Os grandes vasos globulares com um espesso bordo exvertido (0,4 a 0,7 metros de diâmetro) são chamados Puhu i lafahi. Uma versão menor do mesmo vaso é chamada Puhu sokina. Ambos são decorados na parte superior do bojo com impressões verticais e paralelas, produzidas por uma espátula em osso. Puhu o’olepek é um recipiente carenado de tamanho médio, com um bordo plano.

Para além desses recipientes, as oleiras de Lospalos produzem fogões de diferentes formas chamados Puhu lilivana e algumas peças modernas como cafeteiras (Mu’a poli) e copos, bem como pratos, tigelas (Mu’a rao) e mealheiros. As produções modernas são muitas vezes decoradas com desenhos florais pintados de cor vermelha. A cor é obtida por fricção de uma pedra específica, rica em ferro, numa pedra lisa com água.

Sira uza forma tradisionál husi sanan rai hodi rai bee no te’in. Sanan kabuar boot ho nia ibun fila (ho nia boot diametru metru 0,4 to’o 0,7 ) hanaran Puhu i lafahi. Ida seluk ne’ebé atu hanesan maibé ki’ik uitoan hanaran Puhu sokina. Rua hetan dekorasaun iha kabuar nia leten ho forma vertikál no paralelu, ne’ebé halo ho espátula ida husi ruin. Puhu o’olepek mak sanan iha ne’ebé ladún boot liu ho nia ibun loos.

Liu sanan sira ne’e, oleira sira husi Lospalos halo mos fogaun oin oin ne’ebé Puhu lilivana no sasán modernu balu hanesan kafeteira (Mu’a poli) no kopu, bikan, tijela (Mu’a rao) no fatin rai osan (mealleiru). Produsaun moderna sira hetan dekorasaun ho ai-funan no pinta kór mean. Sira hetan kór ne’e husi fatuk espesífiku ida ne’ebé sira kose ho fatuk seluk no kahur ho bee.

Traditional pottery forms are used to store water and to cook. The large globular jars with a thick everted rim (0,4 to 0,7 metres in diameter) are called Puhu i lafahi. A smaller version of the same jar is called Puhu sokina. Both are decorated in the upper part of the body with vertical and parallel rib-paddle impressions. Puhu o’olepek is a medium sized carinated vessel with a flat rim.

In addition to these pots, the Lospalo potters make stoves of different shapes called Puhu lilivana and a few modern additions such as coffee pots (Mu’a poli) and cups, as well as plates, bowls (Mu’a rao) and moneyboxes. The modern productions are often decorated with floral painted designs in red colour. The colour is obtained by rubbing an iron rich specific stone with water on a flat stone.

Foga

un. F

ogão

. Sto

ve. (

©Dav

id P

alazó

n)

Batente ai no kontra-batente rai mean. Oleira sira iha Lospalos de’it mak halo sira nia kontra batente ho rai mean iha Timor-Leste tomak. Cristina Mota a trabalhar num grande pote. Wooden paddle and clay anvil. The Lospalos potters are the only potters in Timor-Leste who make their own clay anvil. (©David Palazón)—

Page 53: Sanan Rai

53

Oleira sira husi Lospalos iha Sanan Rai oin oin ho nia dekorasaun kapa ‘ás. As oleiras de Lospalos possuem produções cerâmicas diversas e ricamente decoradas. Lospalos potters have a richly decorated and diverse pottery production. (©JC Galipaud/IRD)

Page 54: Sanan Rai

54

Prod

usau

n ba

blo

ku t

ijolu

iha

Malia

na. P

rodu

ção

de t

ijolo

s em

Mali

ana.

Bric

k-m

akin

g in

Mali

ana.

(©D

avid

Pala

zón)

Page 55: Sanan Rai

55

Conhecer os recursos da argila e dominar o seu uso permite produzir muito mais do que vasos de cerâmica. Com o tempo, os oleiros de alguns locais passaram a dedicar-se à produção de tijolos, telhas ou fogões, e mais recentemente, filtros de água ou contas de colar. Em resposta a uma procura local, alguns desenvolveram igualmente novos estilos e formas cerâmicas. Atualmente, na maior parte das aldeias, copos, cafeteiras de café ou vasos de flores são parte da produção diária. É também utilizada cerâmica em alambiques para a destilação do Tua, o vinho de palmeira destilado.

A fim de garantir o futuro desta indústria e, ao mesmo tempo, preservar o seu forte valor cultural, há certamente muito mais que pode ser alcançado com a argila,. Os exemplos abaixo dão destaque a algumas experiências presentes e passadas, esperando-se que possam funcionar como modelos úteis para novos desenvolvimentos inovadores.

O FUTURO DA PRODUÇÃO CERÂMICA EM TIMOR-LESTE – ALGUNS EXEMPLOS

Koñesimentu ba rekursu rai mean no hatene uza loke dalan hodi halo produsaun ba sasán barak liu. Bainhira tempu liu oleiru sira husi fatin balu hahú halo produsaun ba tijolu, tella ka fogaun no foin daudaun ba filtru bee ka bola hodi tau ba fiu. Tuir prokura balu hala’o dezenvolvimentu ba estilu no forma foun. Daudaun, iha fatin barak, sira hahú prodús ona kopu, kafeteira ba kafé ka jara atu tau ai-funan. Sira uza mós sana rai atu halo sanan atu halo Tua.

Hodi garante futuru ba indústria ne’e no halo prezervasaun ba nia valór kulturál iha buat barak liu ne’ebé bele halo ho rai mean. Ezemplu sira ne’ebé hatudu iha kraik refere esperiénsia daudaun no iha pasadu no espera katak ida ne’e bele sai modelu ne’ebé di’ak ba dezenvolvimentu inovadór.

FUTURU HUSI PRODUSAUN BA SANAN RAI IHA TIMOR-LESTE – EZEMPLU BALU

Knowing clay resources and mastering their use allows producing much more than pottery. Over time, potters have in some places engaged in the production of bricks, roof tiles or stoves, and more recently water filters or beads. They have also developed new pottery styles and shapes in response to a local demand. In most villages today, cups and coffee pots or flowerpots are part of the daily production. Pottery is also used as an alembic for the distillation of tua (distilled palm wine).

There is certainly more than can be achieved with clay, in order to guarantee the future of this industry and at the same time preserve its strong cultural value. The few examples below highlight some present and past experiences and will hopefully serve as useful examples for further innovative developments.

THE FUTURE OF POTTERY-MAKING IN TIMOR-LESTE – SOME EXAMPLES

Ema

fáan

mea

lleiru

sira

iha

mer

kadu

Bau

cau.

Ven

da d

e m

ealh

eiros

no

mer

cado

de

Bauc

au. S

ellin

g m

oney

box

es in

th

e Ba

ucau

mar

ket.

(©Da

vid P

alazó

n)

Merkadu Manatuto. Mercado de Manatuto. Manatuto market (©Almeida Ganefabra/SEAC)

Page 56: Sanan Rai

56

MANATUTO

O fogão e filtros de água de ManatutoManatuto é uma aldeia onde os oleiros têm estado ativos ao longo tempo. Desde há décadas, estas comunidades têm-se envolvido em diversos projetos e atualmente, são ainda feitas e vendidas produções cerâmicas tradicionais e modernas no mercado local e em Dili. As técnicas tradicionais de Manatuto diferem das do centro de produção de Baucau. Como no Suai, o recipiente aqui é formado numa argola de madeira e a forma final é conseguida com uma espátula de madeira ou de osso e um contra-batente de pedra. O bordo é produzido no fim do processo, geralmente não envolvendo a adição de mais de argila, o que diferencia a técnica da do Suai.

A cerâmica moderna de Manatuto tem sido descrita com regularidade e várias exposições e livros em Portugal e na Austrália têm dado destaque a este ofício. Essa visibilidade tem incentivado as agências de apoio internacionais a promover o desenvolvimento de uma indústria de cerâmica moderna em Manatuto, com novos projetos e produções específicas tais como fogões ou filtros de água e a introdução de técnicas modernas de cerâmica com cozedura em forno. Estas iniciativas produziram efeitos secundários, impulsionando a criatividade local e as capacidades artísticas tanto de oleiros tradicionais como de não-oleiros. O grupo Sangar Matan, em Manatuto, reproduz belas pinturas da vida tradicional em potes. Mesmo que os projetos patrocinados possam não ter sido um sucesso, a vila de Manatuto possui hoje uma gama impressionante de boa cerâmica de qualidade e objetos em barro.

MANATUTO

Manatuto hanesan aldeia ida iha ne’ebé oleiru sira halo ninia atividade kleur. Kleur ona komunidade sira hola parte iha projetu oin oin no daudaun sira halo no fa’an produsaun tradisionál no modernu iha merkadu lokál no iha Dili. Téknika tradisionál sira husi Manatuto la hanesan sira husi sentru produsaun Baucau. Hanesan iha Suai, sira halo iha argola ai no ninia forma sira hetan liu husi espátula ai ka ruin no kontra-batente fatuk. Nia ibun halo de’it bainhira prosesu hotu no sira la aumenta rai mean tan, no ida ne’e mak la hanesan Suai.

Sanan rai modernu husi Manatuto hetan deskrisaun baibain no espozisaun no livru iha Portugal no Austrália. Ida ne’e fó insentivu ba ajénsia internasionál sira hodi promove no halo dezenvolvimentu ba indústria sanan rai iha Manatuto, ho projetu foun no produsaun espesífiku hanesan fogaun, filtru bee no introdusaun ba téknika modernu ne’ebé tunu iha fornu. Inisiativa sira ne’e hetan impaktu no fo impulsu ba kriatividade lokál no kapasidade artístika husi oleiru sira no ema seluk. Grupu Sangar Matan, iha Manatuto, halo reprodusaun husi pintura husi moris loron loron iha sanan sira. Maski projetu sira ne’e karik ladún susesu, Manatuto ohin loron iha sanan ho objetu sira seluk halo ho rai mean ne’ebé ho kualidade boot.

MANATUTO

Manatuto is a village where potters have been active for a long time. Since decades, the community here has been involved in several projects and today, traditional and modern pottery productions are still made and sold at the local market and as far as Dili. The traditional techniques in Manatuto differ from the nearby production centre of Baucau. As in Suai, the pot here is, formed on a ring of wood and the final shape is achieved with a wooden or bone paddle and a stone anvil. The rim is made at the end of the process, usually without adding more clay, which is different from the Suai technique.

The modern Manatuto pottery has often been described and several exhibitions and books in Portugal and Australia have highlighted this craft. This visibility has encouraged international aid agencies to promote the development of a modern pottery industry in the village, with new designs or specific productions such as stoves or water filters and the introduction of modern pottery techniques with kiln firing. As a side effect, this has boosted the local creativity and artistic skills of traditional potters and non-potters alike. The Sangar Matan group in Manatuto, produced bautifull paintings of traditional life on pots. Even if the sponsored projects have not been completely successful, the village has today an impressive range of good quality pottery and clay objects.

Fogaun sira husi Olaria Bili Bala. Os fogões da Olaria Bili Bala. The Bili Bala Olaria stoves. (©Tania Bettencourt)

Page 57: Sanan Rai

57

Sanan rai ho dekorasaun halo husi artista sira husi Sanggar Matan, iha Manatuto. Potes pintados pelos artistas do grupo Sanggar Matan, de Manatuto. Painted pots by the Sanggar Matan artists in Manatuto. (©Unknown)

Page 58: Sanan Rai

58

Com base nestas experiências, Manatuto é hoje o centro oleiro mais conhecido e, provavelmente, o melhor exemplo de transição de uma produção tradicional para uma produção moderna bemsucedida. Os oleiros Manatuto estão a produziruma grande variedade de recipientes tradicionaise modernos, por vezes decorados com motivos florais em preto, bem como uma gama de figuras de barro.

Bazeia ba esperiénsia sira ne’e Manatuto hanesan sentru olaria koñesidu liu no karik ezemplu ida ne’ebé di’ak liu kona ba mudansa husi produsaun tradisionál ba produsaun modernu. Oleiru sira husi Manatuto halo produsaun ba resipiente oin oin, tradisionál no modernu, ho dezeñu ai-funan ho kór metan, no figura sira halo ho rai mean.

With these many experiences, Manatuto is today the best-known pottery centre and probably the best example of a successful transition from a traditional to a modern production. The Manatuto potters are producing a large range of traditional and modern pots, sometimes decorated with black floral motifs, as well as a range of clay figurines.

Karau rai mean iha. Búfalo de argila. Clay buffalo. (©David Palazón) Brin

kus

halo

ho

rai m

ean.

Brin

cos

de a

rgila

. Clay

ear

rings

. (D

esig

n: ©

Rui C

arva

lho

/ pho

to: J

oão

Ferro

/Lim

an T

L)

Page 59: Sanan Rai

59

O projeto dos filtros de água de ManatutoEm 2002-2003 a World Vision, em colaboração com a OMT (Organização das Mulheres de Timor), desenvolveu um projeto para ajudar as mulheres de Manatuto a produzir filtros de água em cerâmica a partir da argila local. A ideia por detrás do projeto era incentivar as pessoas a usar água filtrada em vez de gastar muito tempo e combustível para a ferver, proporcionando um novo mercado para os oleiros de Manatuto. A filtragem da água foi conseguida fazendo passa-la de um recipiente superior para uma cápsula de cerâmica e carvão enriquecido, e desta para dentro de um vaso inferior, em que a água potável era mantida. Sandy Lockwood, uma oleira australiana, passou quatro semanas em Manatuto a trabalhar com oleiros da comunidade para desenvolver os recipientes de filtro de água. Ao mesmo tempo, Simon Levin, um oleiro americano, construiu um forno a lenha com homens da aldeia para garantir uma melhor qualidade e homogeneidade na cozedura dos recipientes de filtragem.

Um dos principais desafios do projeto consistia em que o verdadeiro filtro tinha de ser importado do Brasil a um preço de vários dólares, um custo muito alto para o mercado local timorense. Para ultrapassar este problema, o oleiro Tony Flynn, da Universidade Nacional da Austrália, em Camberra, tentou desenvolver um método para produzir um bom filtro localmente, utilizando técnicas tradicionais. O projeto tinha um potencial interessante mas não levou ao resultado industrial previsto, parecendo hoje em dia abandonado. A dificuldade em que os oleiros tradicionais de Manatuto mudassem as suas técnicas de trabalho ou utilizassem equipamento diferente (o forno a lenha), bem como a inadequação deste último equipamento, são experiências úteis para futuros projetos.

Projetu husi filtru bee husi ManatutoIha 2002-2003 World Vision, hamutuk ho OMT (Organizasaun husi Feto Timor-Leste), hala’o projetu ida hodi ajuda feto sira iha Manatuto atu halo filtru bee uza rai mean. Ideia husi projetu ne’e mak fo insentivu ba ema hodi filtra bee no sira lalika uza ona tempu no ai ka mina barak hodi nono bee, no loke merkadu foun ba oleiru sira husi Manatuto. Filtru bee halo liu husi halo bee liu kápsula ida husi rai mean no anar no husi ne’e ba sanan iha okos ne’ebé uza hodi rai bee moos. Sandy Lockwood, oleira ida husi Austrália hela semana haat iha Manatuto servisu hamutuk ho oleiru sira husi komunidade hodi halo dezenvolvimentu ba resipiente ba filtru bee. Iha tempu hanesan Simon Levin, oleiro ida husi amérika, halo fornu ida uza ai ho mane sira husi aldeia hodi aumenta no hadi’a kualidade husi tunu ba resipiente sira husi filtru.

Dezafiu boot liu husi projetu mak filtru orijinál tenke mai husi Brazil no nia folin boot liu ba merkadu lokál Timor nian. Nune’e Tony Flynn, oleiru ida husi Universidade Nasionál Austrália nia, iha Camberra, koko halo dezenvolvimentu ba métodu ida hodi halo produsaun ba filtru ne’ebé kualidade di’ak, liu husi téknika tradisionál sira. Projetu nia potensiál di’ak tebes maibé la hetan rezultadu ne’ebé hanoin atu hetan no daudaun projetu ne’e paradu hela. Esperiénsia husi projetu ne’e kona ba susar ba oleiru sira hodi muda téknika ka uza ekipamentu oin seluk (hanesan forno) bele sai ezemplu di’ak hodi hatene iha projetu oin mai.

The Manatuto water filters projectIn 2002-2003, World Vision, in collaboration with OMT (the Timor Women Organisation), developed a project to assist the women of Manatuto producing ceramic water filters from the local Manatuto clay. The idea behind the project was to encourage people to use filtered water instead of spending much time and fuel to boil it, providing a new market for the Manatuto potters. Filtering the water was achieved by passing the water from an upper vessel through a ceramic charcoal enriched capsule and into a lower vessel, where clean water was kept. Sandy Lockwood, an Australian potter, spent four weeks in Manatuto working with potters in the community to develop the water filter containers. At the same time Simon Levin, an American potter, built a wood-fire kiln with men in the village to ensure better quality and homogeneity in the firing of the filter containers.

One of the main challenges of the project was that the actual filter had to be imported from Brazil for a price of several dollars, a cost too high for the local Timorese market. To overcome this problem, ceramist Tony Flynn from the Australian National University, in Canberra, tried to develop a method for producing an adequate filter locally, using traditional techniques. The project had an interesting potential but it did not lead to the anticipated industrial outcome, and seems today abandoned. The difficulty in getting the traditional Manatuto potters to change their working techniques or to use different equipment (the wood-fire kiln) as well as the inadequacy of this later equipment, are all useful experiences for future projects.

Filtr

u be

e. F

iltro

s de

ªágu

a. W

ater

filte

rs. (

©Nun

o Va

sco

Olive

ria)

Page 60: Sanan Rai

60

As muitas experiências e desenvolvimentos assentes em técnicas tradicionais de produção de cerâmica em Manatuto sugerem que existe um potencial para a indústria moderna assente no conhecimento tradicional. O valor de mercado das novas produções é um sério incentivo para as mulheres mais jovens na comunidade aprenderem e transmitirem este património antigo e, em termos gerais, funciona como exemplo positivo para uma transição bem sucedida de capacidades tradicionais. Os Oleiros de Manatuto foram recentemente envolvido na formação de uma comunidade não-produtora de cerâmica na aldeia de Dair, em Liquiçá.

Esperiénsia barak no dezenvolvimentu sira ne’ebé bazeia ba téknika tradisionál produsaun ba sanan rai iha Manatuto hatudu katak iha potensiál ba indústria modernu ne’ebé bazeia ba matenek tradisionál. Valór iha merkadu husi produsaun foun hatudu no fo insentivu ba joven sira iha komunidade hodi aprende no fahe patrimóniu antigu ida ne’e no sai ezemplu di’ak ba mudansa ho susesu husi kapasidade tradisionál. Oleiru sira husi Manatuto foin daudaun halo formasaun ba komunidade ida ne’ebé la halo sanan rai iha Dair, iha Liquiçá.

The many experiences and developments based on traditional pottery-making skills in Manatuto suggest that there is a potential for a modern industry based on traditional knowledge. The market value of new productions is a serious incentive for younger women in the community to learn and transmit this ancient heritage and, in general, it acts as a positive example for a successful transition of traditional skills. Manatuto potters have recently been involved in the training of a non-potter community in the village of Dair, in Liquiçá.

Hano

rin ih

a Da

ir. E

nsin

ando

em

Dair

Dair

. Tea

chin

g in

Dair

. (©N

uno

Vasc

o Ol

iveira

)

Page 61: Sanan Rai

61

DAIR, LIQUIÇÁ

A aldeia de pescadores de Dair, na costa noroeste de Timor-Leste, carece de muitos recursos mas possui um rico património cultural associado ao mar. Está localizada a menos de 10 quilómetros a oeste da vila de Maubara, onde importantes incentivos ao desenvolvimento turístico estão a atrair cada vez mais visitantes a partir de Dili.

A Secretaria de Estado da Arte e Cultura, através das suas Direções Nacionais do Património Cultural e dos Museus, tem vindo a realizar escavações arqueológicas em Dair desde 2009. Para além de servir como um local para a formação em técnicas arqueológicas de campo para funcionários do Governo e membros da comunidade local, este sítio arqueológico está também a ser utilizado para sensibilizar sobre a necessidade de proteger e preservar o património cultural comunitário.

Os trabalhos arqueológicos realizados em Dair ao longo dos últimos quatro anos revelaram a existência de uma antiga vila pré-histórica, com grandes quantidades de cerâmica local e outros materiais arqueológicos de períodos anteriores e posteriores à chegada dos primeiros europeus. Apesar da quantidade de cerâmica tradicional encontrada durante os trabalhos arqueológicos, uma investigação junto dos moradores locais confirmou que o conhecimento para produzir cerâmica – ou a memória de tal conhecimento – desapareceu por inteiro num passado recente.

Com base nesses resultados preliminares e tendo em vista melhorar o rendimento das famílias e membros da comunidade em Dair, o Governo de Timor-Leste e a UNESCO Jakarta montaram um programa de colaboração com o objetivo de reintroduzir a produção de cerâmica tradicional na aldeia.

DAIR, LIQUIÇÁ

The fishermen village of Dair, on the northwest coast of Timor-Leste, lacks many resources but has a rich cultural heritage associated to the sea. It is located less than 10 kilometres west of the town of Maubara, where important incentives for touristic development are attracting more and more visitors from Dili.

Sekretaria Estadu Arte no Kultura, liu husi Diresaun Nasionál husi Patrimóniu Kulturál no Diresaun Nasionál husi Muzeu sira, halo hela eskavasaun arkeolojia iha Dair hahú iha 2009. Liu hodi sai fatin formasaun arkeolojia ba funsionáriu sira husi Governu no membru sira husi komunidade lokál, fatin arkeolojia ne’e uza mós hodi fó sensibilizasaun kona ba nesesidade atu fó protesaun no prezervasaun ba patrimóniu kulturál komunitáriu.

Traballu arkeolojia ne’ebé hala’o iha Dair iha tinan haat ba kotuk to’o agora hatudu katak iha ne’eba uluk vila iha pré-istória, ho sanan rai lokál barak no mós materiál arkeolójiku seluk husi períodu sira molok no liu europeu sira tama iha ne’e. Maski iha sanan rai tradisionál barak ne’ebé hetan durante traballu arkeolojia, investigasaun husi ema ne’ebé hela iha ne’eba hatudu katak matenek kona ba sanan rai lakon maibé ladún kleur.

Bazeia ba rezultadu ida ne’e no hodi hadi’a família no membru sira husi komunidade sira iha Dair nia rendimentu Governu Timor-Leste no UNESCO Jakarta prepara programa ida hamutuk hodi hatama fila fali produsaun ba sanan rai tradisionál iha aldeia.

DAIR, LIQUIÇÁ

The fishermen village of Dair, on the northwest coast of Timor-Leste, lacks many resources but has a rich cultural heritage associated to the sea. It is located less than 10 kilometres west of the town of Maubara, where important incentives for touristic development are attracting more and more visitors from Dili.

The Secretariat of State for Arts and Culture, through its National Directorates of Cultural Heritage and Museums, has been undertaking archaeological excavations in Dair since 2009. In addition to serving as a place for training in archaeological field techniques for Government staff and the local community, this archaeological site is also being used to raise awareness on the need to protect and preserve the community’s cultural heritage.

The archaeological work carried out in Dair over the last four years revealed the existence of an ancient prehistoric village, with large quantities of local pottery and other archaeological materials from periods before and after the arrival of the first Europeans. Despite the amount of traditional pottery found during archaeological research, a local inquiry to some villagers confirmed that the knowledge to make pots – or the memory of such knowledge – completely disappeared in the recent past.

Based on these preliminary results and aiming at improving the income of families and members of communities in Dair, the Government of Timor-Leste and UNESCO Jakarta put together a collaborative program aiming at reintroducing traditional pottery-making in the village.

Page 62: Sanan Rai

62

Fatin fa’an husi projetu sanan rai. Posto de venda do projeto de cerâmica. Pottery project marketing stall. (©David Palazón)

Page 63: Sanan Rai

63

A primeira fase do projeto, implementado em 2013, envolveu a formação de cerca de 20 membros da comunidade de Dair em técnicas de cerâmica tradicional (levada a cabo por cinco experientes oleiros de Manatuto), o desenvolvimento de materiais de marca como um logótipo, duas exposições, uma pequeno brochura e uma ação de formação de um dia sobre abordagens de marketing, organizada pela Maubara Mós Bele, uma associação local.

Incluído neste programa estava também o desenho e projeto de arquitetura do futuro Museu Local de Dair, que se espera um dia venha a servir como centro cultural, apoiando a proteção das expressões artísticas tradicionais e o desenvolvimento de indústrias criativas locais e do sector do turismo cultural.

Faze da-uluk husi projetu ne’ebé implementa iha 2013, inklui formasaun ba ema na’in 20 husi komunidade Dair kona ba téknika tradisionál halo sanan rai (ne’ebé oleiru na’in lima husi Manatuto ne’ebé iha esperiénsia maka’as mak fó formasaun ne’e), dezenvolvimentu ba materiál marka hanesan logotipu, espozisaun rua, folletu ida no asaun formasaun loron ida kona ba marketing, ne’ebé organizasaun husi Maubara Mós Bele, asosiasaun lokál ida.

Iha programa ne’e inklui mós dezeñu no projetu arkitetura husi Muzeu Lokál Dair nia, ne’ebé espera katak atu harii hodi sai sentru kulturál no fó apoiu ba protesaun husi espresaun artístika tradisionál no dezenvolvimentu husi industria kriativa lokál no setór turizmu kulturál.

The first phase of the project, implemented in 2013, involved the training of some 20-community members in Dair on traditional pottery-making techniques conducted by five experienced Manatuto potters, the development of branding materials such as a logo, two exhibitions and one small brochure, and a one-day workshop on marketing approaches provided a by a local association, Maubara Mós Bele.

Included in this program was also the design and architectural project of the future Dair Local Museum, which hopefully one day will serve as cultural centre, supporting the protection of traditional artistic expressions and the development of local creative industries and the cultural tourism sector.

Logo

tipu

husi

pro

jetu

“San

an R

ai Da

ir”. L

ogót

ipo

do p

roje

to “S

anan

Rai

Dair”

. “Sa

nan

Rai D

air” P

roje

ct

logo

. (©D

avid

Pala

zón)

Page 64: Sanan Rai

64

ARLO, ATAÚRO

A comunidade oleira de Arlo é uma das muitas comunidades onde a idade das oleiras e a falta de interesse das gerações mais jovens levaram ao quase desaparecimento de um importante património cultural. Em Arlo, apenas duas oleiras, respectivamente com idades de 96 e 93 anos, ainda dominam a técnica.

A ONG Empreza Di’ak envolveu-se recentemente com a comunidade local a fim de desenvolver um projeto com o objectivo de motivar novas gerações, ajudando com formação e criando novos mercados para a cerâmica produzida tradicionalmente. Até agora, esta iniciativa tem sido bem sucedida permitindo que cerca de 25 mulheres da comunidade aprendesse, treinasse e continuasse com a tradição da produção de cerâmica.

ARLO, ATAÚRO

Komunidade oleira husi Arlo hanesan komunidade ida ne’ebé ita haree katak oleira sira nia tinan no joven sira ne’ebé ladún iha interese halo katak patrimóniu kulturál ne’e besik atu lakon. Iha Arlo, oleira rua de’it, ho tinan 96 no 93, mak sei hatene halo sanan rai.

ONG Empreza Di’ak halo daudaun projetu ho komunidade hodi fó motivasaun ba jerasaun fó, no ajuda ho formasaun no loke merkadu foun ba sanan rai tradisionál ne’ebé sira halo. To’o agora inisiativa ida ne’e hetan susesu duni no fó dalan ba feto na’in 25 atu aprende, halo prátika no kontinua fali tradisaun husi produsaun sanan rai.

ARLO, ATAÚRO

The pottery community of Arlo is one of many communities where the age of the potters and the lack of interest from younger generations have led to the near disappearance of a culturally important heritage. In Arlo, only two potters, aged 96 and 93 respectively, still master the technique.

The NGO Empreza Dia’k has recently engaged with the local community in order to develop a project aiming at motivating younger generation, helping with training and providing new markets for the traditionally crafted pots. So far, this initiative has been successful and allowed for some 25 women in the community to learn, train and carry on the tradition of pottery-making.

Fahe

mat

enek

. Par

tilha

ndo

o co

nhec

imen

to. S

harin

g kn

owled

ge (

©JC

Galip

aud)

Page 65: Sanan Rai

65

Hanorin no prátika hodi mantein tradisaun ida ne’ebé tuan . Ensinando e praticando para manter viva uma tradição antiga. Training and practicing to keep an ancient tradition alive. (©JC Galipaud)

Page 66: Sanan Rai

RANGA NGIPU (ARLO, ATAÚRO)

URAM (MANATUTO)

(DAIR, LIQUIÇÁ)

TIPU SANAN RAI T IPOLOGIAS DE CERÂMICA POTTERY TYPOLOGIES

66

Page 67: Sanan Rai

KURO (VENILALE)

(BORO, BALIBÓ)

(LAGA)

(BERTENI, SAME)

67

Page 68: Sanan Rai

68

HANER (KAMENASA, COVALIMA) (KAMENASA, COVALIMA)

LOLO (KAMENASA, COVALIMA)

6868

Page 69: Sanan Rai

69

RINU MOKO (ASALAINU, LOSPALOS)

PUHU O’O LEPEK (ASALAINU, LOSPALOS)PUHU I LAFAHI (ASALAINU, LOSPALOS)

69

Page 70: Sanan Rai

70

(OECUSSE)

7070

Page 71: Sanan Rai

71

PUMU LILIVANA (LOSPALOS)

71

Page 72: Sanan Rai

72

(MANATUTO) (OECUSEE) MU’A POLI (OECUSEE) (KAMENASA, COVALIMA)

(BERTENI, SAME) ESTILU MANATUTO (DAIR, LIQUIÇÁ)(BERTENI, SAME)

AKAR KADAKA (KAMENASA, COVALIMA)

KANEKA (VENILALE)HAKU (VENILALE) (OECUSSE) (BERTENI, SAME) (BORO< BALIBÓ)(KAMENASA, COVALIMA)

7272

Page 73: Sanan Rai

73

MANU (DAIR, LIQUIÇÁ)

FIGURA RAI MEAN (MANATUTO)

LAFAEK (MANATUTO)

LAMPU (MANATUTO) MEALLEIRU (BAUCAU)BERTENI (SAME)

73

Page 74: Sanan Rai

74

KOLESAUN NACIONAL SANAN RAI COLEÇÃO NACIONAL DE CERÂMICA POTTERY NATIONAL COLLECT ION

No. 00050 (22 x 22 x 73,5)No. 00093 (5,5 x 13,5 x 43,5 cm) No. 00058 (25,9 x 22 x 70 cm)

No. 00043 (22 x 28 x 103 cm)No. 00072 (24 x 39 x 125 cm)

7474

Page 75: Sanan Rai

75

No. 00047 (30 x 40 x 113) No. 00051 (26,5 x 40 x 137,5)

No. 00062 (22 x 34 x 107 cm)No. 00087 (30,5 x 31 x 101 cm)

75

Page 76: Sanan Rai

76

“Avó”

“Avó

zinha

” “Gr

anny

” Joa

nna

Fatim

a. (

©JC

Galip

aud)

Page 77: Sanan Rai

77

O futuro da produção de cerâmica em Timor-Leste está tão dependente da transmissão bem sucedida de técnicas tradicionais como da busca de soluções inovadoras tais como as acima enunciadas, a fim de adaptar esse património a um mundo em rápida transformação. Estes poucos exemplos destacam algumas dos potenciais caminhos para a sobrevivência e inovação. Há certamente muitos mais e o futuro da produção de cerâmica em Timor-Leste está hoje nas mãos dos poucos portadores deste antigo património e, especialmente, das gerações mais novas.

Com este livro e a exposição que o acompanha, a Secretaria de Estado da Arte e Cultura tem como objetivo prestar a devida homenagem aos oleiros de todo o país, herdeiros de uma tradição antiga que faz parte da identidade cultural de Timor-Leste. Esperamos também que a sua criatividade e resiliência possam ajudar a inspirar novos oleiros e artistas, que têm agora a responsabilidade de continuar a desenvolver este único e importante património.

CONCLUSÕES

Futuru husi produsaun sanan rai iha Timor-Leste depende husi fahe matenek kona ba téknika tradisionál no buka solusaun alternativu hanesan refere iha leten hodi halo adaptasaun husi patrimóniu ida ne’e iha mundu ne’ebé hetan transformasaun beibeik. Ezemplu uitoan ne’ebé ami refere hatudu dalan posível hodi mantein no halo inovasaun. Iha ezemplu tan no futuru husi produsaun sanan rai iha Timor-Leste depende ba se mak kaer matenek ida ne’e kona ba patrimóniu tuan ne’e no mos depende ba jerasaun joven sira.

Ho livru ida ne’e no ho espozisaun ne’ebé hala’o, Sekretaria Estadu Arte no Kultura iha objetivu hodi fó omenajen ba oleiru sira husi país tomak, ne’ebé hanesan erdeiru husi tradisaun tuan ne’ebé parte husi identidade kulturál Timor-Leste nian. Ami espera mós katak sira nia kriatividade no reziliénsia bele ajuda sai inspirasaun ba oleiru no artista foun, ne’ebé agora daudaun iha responsabilidade hodi kontinua hala’o dezenvolvimentu ba patrimóniu ne’e ne’ebé úniku no importante.

KONKLUZAUN

The future of pottery-making in Timor-Leste is as much dependent on the successful transmission of traditional techniques as in the search for innovative solutions such as the ones described above, in order to adapt this heritage to a rapidly changing world. These few examples highlight some of the potential directions for survival and innovation. There are certainly many more and the future of pottery-making in Timor-Leste is today in the hands of the few bearers of this very ancient heritage and especially the younger generations.

With this book and the exhibition that it accompanies, the State Secretariat of Arts and Culture aims at paying due tribute to potters across the country, who have been the heirs of an ancient tradition that is part of Timor-Leste’s cultural identity. We also hope that their creativity and resilience may help inspire new potters and artists, who have the responsibility of continuing developing this unique and important heritage.

CONCLUSIONS

Page 78: Sanan Rai

78

Oleir

a ih

a Be

rten

i, Sa

me.

Olei

ra e

m B

erte

ni, S

ame.

Pot

ter

in B

erte

ni, S

ame.

(©D

avid

Pala

zón)

Page 79: Sanan Rai

79

AAVV 2000. Cerâmicas de Timor Loro Sa’e, Lisboa Novembro 2000-Junho 2001 (ed. Maria Alexandra da Costa). Museu Centro Científico e Cultural de Macau, Lisboa.

Calthorpe, Jane 2004. Tradition and innovation in East Timor ceramics. Ceramics Technical, No. 18, 2004: 49-53.

Castro Seixas, Paulo 2008. Uma Timor, Uma Malai Tradução de Tradições: Olaria e Figurado em Timor-Leste. Edições Universidade Fernando Pessoa.

Cinatti R. 1987. Motivos Artísticos Timorenses e a sua Integração. Lisboa: Instituto de Investigação Científica e Tropical - Museu de Etnologia.

Crus, Mario Lopes da 1991 “Fengrajin Tradisional Gerabah di Desa Ailili Kecamatan Manatuto, Kabupaten Manatuto” ln Fengrajin Tradisional Daerah Timor Timur Departemen Pendidikan dan Kebudayaan, Direktorat JenderalKebudayaan Sejarah dan Nilai Tradisional: Proyek Inventarisasi dan Dokumentasi Kebudayaan Daerah 1988/89. Dili, Timor Timur.

Duarte Correia Arez, José 1996. Tipologia da cerâmica moderna de Timor Oriental: fabrico e formas. In Colóquio historia da cerâmica portuguesa moderna. Caldas da Rainha, 23-25 de Fevereiro.

Glover, Ian 1968. Pottery Making in Oralan Village, Portuguese Timor. Australian Natural History, The Australian Museum, Sydney: Vol. 16(3):77-82.

BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAPHY

Glover, I.C. and Ellen, R.F 1984. Pottery manufacture and trade in the Central Moluccas: the modern situation and the historical implications. Man 9: 353-79.

O’Connor, S., P. Veth 2005. Early Holocene shell

fish hooks from Lene Hara Cave, East Timor establish complex fishing technology was in use in Island South East Asia five thousand years before Austronesian settlement. Antiquity, Jun 2005; 79, 304: pp 249-256.

Pétrequin, A.-M. & P. Pétrequin 1999. La poterie en Nouvelle-Guinée : savoir-faire et transmission des techniques. Journal de la Société des Océanistes, 108: 71–101.

Roque, A.C. e L. Ferrão 2001. Notas para um inventário do patrimonio histórico-cultural de Timor Lorosa’e. Anais de História de Além-Mar, vol. II, CHAM, Lisboa, pp. 423-448.

SEAC 2013. The Enhancement of Local Community Livelihood and Income Generation through Cultural Industry in Timor-Leste (unpublished). Final Implementation Report of a project developed with and supported by UNESCO.

Page 80: Sanan Rai

80

Page 81: Sanan Rai

81

Page 82: Sanan Rai

82

Sanan Rai hanesan elementu kulturál importante husi sosiedade antiga sira iha mundu tomak. Iha

Sudeste Aziático Insular no iha Oseánia, téknika sira kona ba produsaun ba sanan rai fahe iha tinan 4000-3000 ba kotuk, bainhira komunidade husi lian austronézia

sira hahú la’o iha rejiaun. Iha Timor-Leste, sanan rai tama pelumenus iha tinan 3.500 ba kotuk no sanan rai sei halo nafatin iha aldeia balu iha país, no ida ne’e hatudu katak tradisaun ida ne’e tuan duni.

Hahú iha dékada 1970, investigadór sira halo rejistu ba téknika produsaun sanan rai iha Timor-Leste no hatudu nesesidade urjente hodi rejistu tradisaun ne’ebé besik atu lakon. Iha 2014, situasaun ne’e preokupa duni: husi aldeia 30

ne’ebé halo sanan rai iha 1970, balu de’it mak sei halo no fahe matenek ho jerasaun joven. Livru ne’e hatudu ezemplu balu husi komunidade sira iha Timor-Leste iha ne’ebé sei halo sanan rai tradisionál. Livru ne’e hanesan parte husi projetu globál ne’ebé

implementa husi Sekretaria Estadu Arte no Kultura ho apoiu husi Institutu Fransés husi Investigasaun no Dezenvolvimentu (IRD), ne’ebé halo ho objetivu hodi halo sensibilizasaun ba prátika produsaun sanan rai iha Timor-Leste no promosaun ba komunidade sira husi oleiru sira

hodi garante mudansa husi patrimóniu kulturál ne’e ba ekonomia moderna ne’ebé sustentável liu.

A cerâmica é um importante elemento cultural das sociedades antigas em todo o mundo. No Sudeste Asiático Insular e na Oceânia, as técnicas de produção de cerâmica foram difundidas há cerca de 4000-

3000 anos atrás, quando comunidades de línguas austronésias se espalharam pela região. Em Timor-Leste, foi introduzida cerâmica há pelo menos 3.500 anos atrás e a cerâmica tradicional ainda hoje produzida em algumas aldeias do país, reflete a grande antiguidade dessa tradição. Desde a década de 1970, investigadores que têm registado as técnicas de produção de cerâmica em Timor-Leste apontam para a necessidade urgente de documentar uma tradição que está a desaparecer rapidamente. Em 2014, a situação é alarmante: das mais de 30 aldeias onde se sabia ser produzida cerâmica na década de 1970, apenas algumas estão ainda hoje a produzir e as técnicas não estão a ser transmitidas às gerações mais novas. Este livro apresenta exemplos de comunidades em Timor-Leste onde a produção de cerâmica tradicional ainda tem lugar. O livro é parte de um projeto global implementado pela Secretaria de Estado da Arte e Cultura, com o apoio do Instituto Francês de Investigação e Desenvolvimento (IRD), feito com o objectivo de sensibilizar para as práticas de produção de cerâmica em Timor-Leste e de promover as comunidades de oleiros, a fim de assegurar uma transição bem sucedida desse importante património cultural para uma economia moderna e mais sustentável.

Pottery is an important cultural marker of ancient societies all around the world. In Island South-East Asia and Oceania, pottery-making techniques diffused ca. 4000 to 3000 years ago when Austronesian-speaking communities spread through the region. In Timor-Leste, pottery was

introduced at least 3500 years ago and the traditional pottery still produced in some villages across the country reflect this very ancient tradition. Since the 1970’, researchers who recorded pottery techniques and productions in Timor-Leste pointed to the urgent need

of documenting a rapidly vanishing tradition. In 2014, the situation is alarming: out of more than 30 villages where pottery was known to be produced in the 1970’, only a few are still producing today and the techniques are not being transmitted

to the younger generation anymore. This book presents examples of communities in Timor-Leste where traditional pottery-making still occurs. The book is part of a global project implemented by the State Secretariat of

Arts and Culture with support from the French Institute for Research and Development (IRD), to raise awareness on pottery-making practices in Timor-Leste and to promote potters’

communities, in order to ensure a successful transition of this important heritage into a modern and more sustainable economy.