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."9th UNiv,,,,id.d, ' Est.duAl dE Lo,dni" Rei tora Lyglil Lumina PU/'.llto VicevHeitor Eduar-do DI Maur'O eduel EdiTORA dA UNivERsidAdE ESlAduAI dE LONdRiNA .c;onselho Editorial Patn'cia de Castro Sarltos (Presidente) Ângela Pemra Teiuira VictórÚl Palma Carlas Roberto de Resende Miranda Ernesto Fernando Femryra Ramire:: Qilmar Arruda Man'Q Luiza Mari'l1ho Da magia à ciência Marta Dantas OddOll Yidctto Pedro Paulo da Silva Ayrosa Ro!!an.a Latt Rodrigues Diretora Patricia de Castro Santos tradução AURORA FORNONI BERNARDINI hliR ;;m i'i,riW UFPR .... __ Reitor CarlO! Augusto Moreira Júnior Vice-Rei tora Maria Tardsa Silva Rega EdiTORA dA UNiVERSidAdE FEdERAl do PARANÁ U'PR Conselho Editorial Elias Karam Jú"ior Eneida Kudr.pll José Antomo Gediel Josl Carlos Cifumtes LiliaM Marú LabrOlÚci Lu{s Lopes Diniz Filho Luiz Ernandes KOlÚCki Marcus Lerry Albino Bencostta Maria Benigna M. tk OliveIra Man'lenl Weinhardt Ricarda Mendes JÚlIjor WI'lson da Silva Spi'Josa Diretor Lu{! GonçaLes Bueno de Camargo LO ROSSI PA ---"** ..-- 9- $ - ...•• ',""7-•.. ... __..."""""",""--.-""",-... ............ -..--•• ...

ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

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Page 1: ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

9th UNividd ~I EstduAl dE Lodni

Rei tora Lyglil Lumina PUllto

VicevHeitor Eduar-do DI MaurO

eduel ~ EdiTORA dA UNivERsidAdE ESlAduAI dE LONdRiNA

conselho Editorial Patncia de Castro Sarltos (Presidente) Acircngela Pemra Teiuira VictoacuterUacutel Palma Carlas Roberto de Resende Miranda Ernesto Fernando Femryra Ramire Qilmar Arruda ManQ Luiza Maril1ho Da magia agrave ciecircncia Marta Dantas OddOll Yidctto Pedro Paulo da Silva Ayrosa Roana Latt Rodrigues

Diretora Patricia de Castro Santos

traduccedilatildeo AURORA FORNONI BERNARDINI

hliR m iiriW

~ UFPR

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Reitor CarlO Augusto Moreira Juacutenior

Vice-Rei tora Maria Tardsa Silva Rega

~ EdiTORA dA UNiVERSidAdE FEdERAl do PARANAacute UPR

Conselho Editorial Elias Karam Juacuteior Eneida Kudrpll

Joseacute Antomo Gediel Josl Carlos Cifumtes LiliaM Maruacute LabrOlUacuteci Lus Lopes Diniz Filho Luiz Ernandes KOlUacuteCki Marcus Lerry Albino Bencostta Maria Benigna M tk OliveIra Manlenl Weinhardt Ricarda Mendes JUacutelIjor

WIlson da Silva SpiJosa

Diretor Lu GonccedilaLes Bueno de Camargo LO ROSSIPA

--- -shy9- $ AIUiiJ~=--~-------

- bullbull 7-bull---------~- -~-~-__----~ ---bullbull~~

11 Cassandra Memnon Titono Necircmesis Dioniso as sereias o vaso de Pandora

motivos eacutetico-psicoloacutegicos 257

12 Meacutetis os Ciclopes o cortejado r de Juno Endimiatildeo Narciso Ateon Perseu

Aquelau Diomedes Tifagraveo O Estige o realismo poliacutetico 26S

15 A poesia paraboacutelica no De augmentis 270 14 Os mitos do De augmentis Pan Perseu Dioniso Scila Atlas Ission Esculaacutepio 274

15 O De pricipiis O mito de Cupido 276

16 Conclusotildees 284

IV LoacuteGICA RETOacuteRICA E MEacuteTODO 297

~ V LINGUAGEM E COMUNICACcedilAtildeO S27

1 [nvenccedilatildeo das artes e invenccedilatildeo dos argumen tos 328 2 A arte do juiacutezo e a confutaccedilatildeo dos idola 534 s Signos linguagem idoUacuteJfOri 348 4 O meacutetodo da comunicaccedilatildeo 357 5 A funccedilatildeo da retoacuterica 364

VI A TRADiccedilAtildeo RETOacuteRICA E O MtrODO DA CI~NCIA 377 I Partus temporis 377 2 Funccedilatildeo da loacutegica tradicional e caractensticas da loacutegica nova 381 3 Presenccedila de modelos retoacuteTicos na loacutegica do saber cientiacutefico 386

4 A interpretaia naturae no Valerius Terminus a aplicaccedilatildeo das regras ramistas 387 5 A doutrina das tabuUacuteJe o ordenamento dos fatos naturais 398

6 A mnemoteacutecnica e a ministratio ad rnemoriLJm lugares retoacutericos e lugares naturais 407 7 A toacutepica e as histoacuterias naturais 418 8 Conclusotildees 425

NOTAS DA TRADuccedilAO 411

iacuteNDICE DE NOMES 437

~ shyiec

1

Este livro com este mesmo tiacutetulo Francis Bacon Da magia agrave ciecircncia foi I eacutepublicado haacute quase meio seacuteculo pelos Editores Laterza como 5070 volume da

Biblioteca de Cultura Moderna Em 1968 foi traduzido e tornou a ser publicado

pela University of Chicago Press em co-ediccedilatildeo com a Routledge and Kega~ Paul de Londres Em 1970 saiu uma ediccedilatildeo japonesa junto agrave Simul Press de

Toacutekio Depois de ter-me sido comunicada pela Editora Laterza a intenccedilatildeo de se

desfazer dos exemplares ainda existentes no depoacutesito propus uma reimpressatildeo

agrave Editora Einaudi que publicou o livro em 1974 na coletacircnea da Piccola Biblioteca EinauH Conforme poderaacute ser lido no prefaacutecio agrave segunda ediccedilatildeo o livro tinha

sido submetido a algumas modificaccedilotildees radicais quase todas de caraacuteter estiliacutestico

E em 1990 saiu uma traduccedilatildeo espanhola em Madri pela Alianza Editorial Ao se esgotarem os exemplares da Einaudi dirigi-me agrave Editora Il Mulino agrave qual

me liga um haacutebito que vem do comeccedilo dos anos 1960 a lembranccedila de uma das

anuais Leituras do Mulino que me fora confiada em 1988 e o fato (para mim deveras natildeo pouco significativo) que esta editora publicou entre 1983 e 2000 seis livros

de minha autoria Aceitei ao mesmo tempo com muita e pouca vontade o pedido

que me foi feito o de escrever uma nova prefaccedilatildeo

Natildeo posso decerto relatar aqui o que se passou com os estudos sobre Francis

Bacon desde aqueles anos agora jaacute distantes Uma vez que o presente livro foi

utilizado de maneiras diferentes no decorrer da longa discussatildeo (ainda natildeo encerrada) referente agraves relaccedilotildees entre a tradiccedilatildeo maacutegico-herrneacutetica e a ciecircncia

moderna dedicarei algum espaccedilo a este tema Aquela discussatildeo tranccedilou-se com

a histoacuteria da fortuna de Francis Bacon no seacuteculo XX e tambeacutem no que me diz respeito com as histoacuterias de minha vida intelectual Constaratildeo destas paacuteginas

tambeacutem lembranccedilas de pessoas reconhecimentos de contribuiccedilotildees recebidas e distanciamentos Sabe-se hoje com certeza (mesmo que muitos faccedilam ouvidos moucos) que a memoacuteria eacute bastante criativa e sempre muito pouco -fiel Depois

que se superaram os quinze lustros cada concessatildeo agraves lembranccedilas e cada convite a recordar equivalem (conforme se costumava dizer) a um convite para um casamento ou (conforme se diz hoje) - a um ganho na loteria nacional Tentarei

~

(sem esforccedilo algum - estaratildeo pensando aqueles pouquiacutessimos leitores que tambeacutem satildeo meus cariacutessimos colegas -) ser o menos criativo possiacutevel

Nesses anos tive repetidas ocasiotildees de publicar contribuiccedilotildees referentes a

Francis Bacon Uma vez que muitos daqueles escritos satildeo verdadeiras integraccedilotildees ao cDnteuacutedo do presente volume indiquei-os na bibliografia que se encontra no fina deste prefaacutecio

11

No fim da deacutecada de 1950 natildeo era haacutebito conforme dizem ser hoje mandar traduzir seus livros para o idioma inglecircs valendo-se dos fundos para a pesquisa

cientiacutefica que o Ministeacuterio coloca agrave disposiccedilatildeo dos professores universitaacuterios

Com toda probabilidade este livro teria uma circulaccedilatildeo muito mais limitada se no Journalof lhe History of ItUacuteas de 1958 (pp 584-87) natildeo tivesse saiacutedo um artigo de George Boas Recent Books in the History of Philosophy que dedicava

a meu livro trecircs paacuteginas e meia Boas o aproximava de A Disputa do Novo Mundo de Antonello Gerbi e justamente usava a respeito de ambos o termo histoacuteria das ideacuteias Gerbi - escrevia - traccedilou o progresso de um argumento Rossi

coloca uma ideacuteia complexa contra o seu fundo cultural dando-Ihe com isso uma nova interpretaccedilatildeo

Eu comeccedilara minhas pesquisas sobre Bacon em Milatildeo no decorrer do ano acadecircmico de 1950-51 contando com o precioso trabalho de Alessandro Levi

(de 1925) e aleacutem deste de dois livros importantes o ensaio brilhante e provocador

bull~ J-

r e r

de Benjamin Far~ington traduzido por Einaudi em 1952 com o tiacutetulo de Francis Bacon Filoacutesqfo da Idade Industrial e o denso volume de Fulton Anderson The Philosophyof Francis Bacon publicado pela Chicago University Press em 1948

Formara-me em Florenccedila agrave escola de Eugenio Garin e passara em seguida a trabalhar em Milatildeo com Antonio Banfi ond~ foraacolhido com grande

generosidade inclusive por seus generosos e irrequietos alunos (quando cheguei em Milatildeo em 1948 eu tinha 28 anos Luciano Anceschi Enzo Paci e Giulio Preti 87 e Remo Cantoni e Dino Formaggio 84) Com aquelas experiecircncias e aquelas ambiecircncias atraacutes de mim o livro de Anderson na eacutepoca muito celebrado

no mundo anglo-saxatildeo pareceu-me um comentaacuterio diligente e inteligente de alguns importantes textos de Bacon Se o trabalho dos historiadores consistisse apenas em glosar e comentar textos entatildeo lacopo Zabarella deveria ser reunido

aos maiores - coisa que ningueacutem sonha em fazer Oprojeto de meu livro era muito diferente do das precedentes monografias e isso foi energicamente sublinhado por Boas como Anderson eu utilizava todos os textos e natildeo apenas

as habituais paacuteginas do Novum Organon sobre os idola e as tabulae mas diferentemente do de Anderson meu livro estava interessado em mostrar como

a fIlosofia de Bacon se desenvolveu a partir da tradiccedilatildeo cultural de sua eacutepoca ( )

Lendo o livro tem-se um quadro mais claro do que antes das correntes intelectuais da Renascenccedila natildeo apenas na Inglaterra mas tambeacutem no continente

Boas concedia bastante espaccedilo a um resumo dos argumentos e das teses

presentes no livro Focalizava em particular as diferenccedilas entre a imagem baconiana da magia como saber secreto e a imagem que Bacon havia construiacutedo

(e incansavelmente divulgado) de uma ciecircncia que fosse ao mesmo tempo conhecimento do mundo e intervenccedilatildeo sobre ele que nascesse da colaboraccedilatildeo e

fosse em princiacutepio acessiacutevel a todos Bacon tal como eacute apresentado neste livro - concluiacutea ele - natildeo

comparece nos manuais de histoacuteria da fIlosofia aos quais estamos acostumados e o livro deveria ser traduzido pois os moacutesofos americanos que lecircem o italiano satildeo demasiado poucos

Conforme disse no comeccedilo o convite foi aceito dez anos mais tarde Quando o livro tornou-se acessiacutevel natildeo faltaram nem resenhas nem juiacutezos favoraacuteveis em

bull ~

--- shy

inglecircs No Time Literary Supplementdo dia 10 de agosto de 1968 num artigo natildeo

assinado conforme se usava entatildeo felicitava-se a tradutora e elogiava-se o livro

por ter o grande meacuterito de aceitar a complexidade dos processos intelectuais o

autor natildeo se contenta com falsas simplificaccedilotildees e eacute capaz de ver desenvolvimentos

internos ao pensamento de Bacon que escaparam a criacuteticos menos cuidadosos

() Este livro melhor do que qualquer outro coloca no seu contexto aquela

enigmaacutetica personalidade Trata-se de um instrumento indispensaacutevel paraI I qualquer estudioso da histoacuteria intelectual daquele periacuteodo

Imiddot Foi poreacutem a longa resenha de Frances A Yates de 19 de fevereiro de

Hl68 na New York Review qf Books que exerceu uma influecircncia decisiva quanto I aos destinos da ediccedilatildeo inglesa de meu livro e de sua fortuna A Yates que jaacute

havia publicado seu ceacutelebre livro sobre Giordano Bruno e a tradiccedilatildeo hermeacutetica

ao lado de seu natildeo menos famoso estudo sobre A Arte CUacutel Memoacuteria deu agrave sua1 I primeira intervenccedilatildeo o tiacutetulo de Bacons magic O meu livro tinha omiddot meacuterito de

mostrar que os temas do domiacutenio sobre a natureza e do melhoramento da condiccedilatildeomiddot

humana atraveacutes do conhecimento temas esses tatildeo proacuteprios de Bacon estavam

presentes tambeacutem na imagem da magia que emerge da obra de Cornelio Agrippa

No livro que escrevi - continuava afirmando Yates - Bacon aparece como um

pensador que reage agrave tradiccedilatildeo maacutegica e que assim mesmo tem para com essa

tradiccedilatildeo uma profunda diacutevida Bacon eacute visto sobre o fundo das ftlosofias da

Renascenccedila que ele descarta por desaprovaacute-las ao mesmo tempo em que delas

emerge Yates sublinhava outras duas novidades que ela encontrara no livro o

esaccedilo consideraacutevel dedicado agrave anaacutelise do uso baconiano dos grandes mitos

claacutessicos e o realce dado agrave importacircncia da arte da memoacuteria (um trabalho

pioneiro) na construccedilatildeo da celebeacuterrima teoria do meacutetodo

Em seu estudo sobre Agrippa publicado pela Urbana Illinois em 1966 G

Nauert tinha lembrado o nome de E Garin e dedicado algumas paacuteginas agrave

comparaccedilatildeo entre Agrippa e Bacon Numa resenha publicada na New York Review qf Books em S de marccedilo do mesmo ano Frances Yates reparara que o autor

havia por completo desconsiderado a existecircncia de meu livro bastante conhecido

pelos estudiosos americanos publicado na Itaacutelia nove anos antes do dele Num

ensaio de 1967 The Hermetic Tradition in Renaissance Science publicado no

t-shypsect$5I 0amp w AW

volume organizado por Charles Singleton Art Science arid History in the Renaissance Yates utilizara as teses presentes em meu livro para defender a figura de Bacon

enquanto novo espeacutecime de rosacruz que abandona o segredo e coopera

abertamente com os outros conforme iraacute acontecer com a Royal Society Para

Yates Bacon surgia como uma daquelas personagens cujo lugar na histoacuteria natildeo

fora compreendido visto que os historiadores da ciecircncia e da ftlosofia o haviam

considerado tatildeo-somente como um precursor do futuro sem examinar suas raiacutezes

no passado O meu meacuterito era o de ter indagado no meio daquelas raiacutezes e de ter

mostrado q~e tanto a imagem baconiana do saber enquanto poder quanto a de

uma ciecircncia dominadora da natureza provinham ambas do ideal do mago da

Renascenccedila No centro de minha imagem de Bacon estavam igualmente

entretanto sua insistecircncia quanto agrave natureza cooperativa do empenho cientiacutefico

sua polecircmica contra qualquer forma de saber secreto e de iluminaccedilatildeo seus

apelos em prol de uma razatildeo humilde ou de qualquer maneira ciente de seus

limites insuperaacuteveis Na verdade o livro deslocara o centro da discussatildeo e induzira alguns

historiadores a falar de outros argumentos que natildeo os habituais ou - conforme

se diz - misturara as cartas do baralho Tive prova disso quando num ensaio de

1957 ao referir-se ao livro de Yates sobre Giordano Bruno e ao presente sobre

Bacon Thomas Kuhn escreveu que O reconhecimento de Francis Bacon corno

figura de transiccedilatildeo entre o ma~o Paracelso e o filoacutesofo experimental Robert

Boyle contribuiu mais do que qualquer outra coisa nos uacuteltimos anos para

modificar a inteligecircncia histoacuterica das modalidades com as quais nasceram as

novas ciecircncias experimentais (cf Th Kuhn A tensatildeo essencialmiddot mUCUacutelnccedilas e

continuidade na ciecircncia - trad it La tensuacuteme essenziale cambiamenti e continuitagrave

nella scienza Turim Einaudi 1895 p 62) Uma vez que tambeacutem no mundo das

ideacuteias e dos juiacutezos eacute completamente verdade que uma cereja puxa a outra natildeo

me surpreendi demasiado quando a American History of Science Society

declarou num documento elaborado por Charles Schmitt que meu trabalho

demonstrara que a assim chamada standard interpretatiacuteon de Bacon tatildeo

frequumlentemente invocada pouco se fundamentava em algo que viesse da pena de

Bacon (o texto ao qual se deve a motivaccedilatildeo para a atribuiccedilatildeo da Sarton Medal foi

bullbull

publicado em Isis emjunho de 1986) Da mesma forma natildeo me surpreendi quando

numa excelente monografia sobre Bacon publicada no fim da deacutecada de 1980

encontrei a seguinte frase O livro de Rossi eacute quiccedilaacute a obra sobre Bacon mais

importante desse seacuteculo por ter dado iniacutecio a uma nova fase dentro dos estudos

baconianos (Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Sciena Oxford Clarendon

Press 1988 p 50) Numa linguagem apta a lidar com a solene do Lorde Chanceler

havia-me confidenciado privadamente a mesma coisa sobre Graham Rees dedicando-me em marccedilo de 1984 um de seus ensaios sobre textos ainda ineacuteditos

de Francis Bacon For Paulo Rossi - instaurator magnis magni instauratoris shy

a small token of my profound esteem A elegacircncia desta dedicatoacuteria faz com

que a vinte anos de distacircncia eu natildeo responda a ele coisa que aliaacutes mereceria pela absolutamente gratuita insolecircncia que do alto de sua competecircncia de explorador dos ineacuteditos baconianos e dos baixios de seu irremediaacutevel diletantismo filosoacutefico ele me dirigiu alguns anos mais tarde

Todos temos o condatildeo de engolir baldadas de gratificaccedilotildees sem sentirmoshy

nos saciados Quanto a isso creio natildeo ser eu uma exceccedilatildeo Por minha sorte nunca

alimentei demasiadas ilusotildees e a matildee natureza concedeu-me uma discreta dose de SEnso do humorismo Sempre apreciei a citaccedilatildeo de Esopo que Francis Bacon gostava

de lembrar Quanta poeira levanto Dizia a mosca pousada no eixo da roda de uma carroccedila Aconteceu-me tambeacutem de estigmatizar os comportamentos de tipo

paranoacuteico de colegas filoacutesofos mais ilustres do que eu ou convencidos de secirc-Io os quais crecircem firmemente que a proacutepria atividade intelectual configura-se como decisiva ou epocal(l algo que tem a ver com verdades indiscutiacuteveis ou com

conquistas perenes Faltam-me por completo essas formas de entusiasmo e natildeo creio

absolutamente que outros tenham de considerar como verdades os beneacutevolos juiacutezos sobre meu livro de 1957 Creio todavia que a mim pessoalmente deva ser permitido esperar que possam conter alguns elementos de verdade

bull[fft~i~--middot -~===~bull~ c

~

UI~~ ~~ Este livro continha segundo eu achava entatildeo alguns toacutepicos ou partes ~S

deles que mereciam uma ampliaccedilatildeo e um aprofundamento Eu havia utilizado e ~J assinalado no sexto capiacutetulo alguns claacutessicos da ars 11U1IWrativaDessas leiturasI shy

~S e das paacuteginas dedicadas ao tema da ministratio ad 11U1IWriam na obra de Francis

~ Bacon nasceram as pesquisas que conduziram agrave publicaccedilatildeo em 1960 pela Editora I Ricciardi do volume Clavis Universalis Arti delta Memoria e Logica

) Combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis Universalis Artes da Memoacuteria e L6gica Combinatoacuteria de Llull a Leibnix)(bl Das leituras de Giorgio Agricola de Vannoccio ~ Biringuccio e de muitos outros mecacircnicos do Quinhentos(cl aleacutem das paacuteginas 1 do primeiro capiacutetulo dedicadas agrave disputa sobre as artes mecacircnicas nasceram as ~

-= pesquisas que redundaram na publicaccedilatildeo por Feltrinelli em 1962 do livro I)

Filosofi e le Macchine 1400-1700 (Os Filoacutesofos e as Maacutequinas j 400(1700) Como) apecircndice a esse livro coloquei trecircs breves ensaios Veritagrave e utilitagrave della scienza

~ in Francesco Bacone (Verdade e Utilidade da Ciecircncia em Francis Bacon) (jaacute

publicado na Rivista critica di storia dellafilosofta em 1957) que ressentia muito das minhas conversas de entatildeo com Giulio Preti e que conteacutem uma criacutetica das I~ bull

interpretaccedilotildees da Filosofia de Bacon enquanto forma de utilitarismo Conteacutem ~~ ~~

tambeacutem a demonstraccedilatildeo de que a traduccedilatildeo standard da expressatildeo contida em

Novum Organum I 124 ipsissimae res sunt veritas et utilitas como truth and )- ti utility are the very sa11U things estaacute total e irremediavelmente incorreta Na ~ Q matildeo de muitos filoacutesofos que ignoram qualquer liacutengua a natildeo ser o inglecircs e 0)

escrevem ensaios sobre Bacon sem sequer dar uma espiada aos originais~ ~ latinos de seus textos essa traduccedilatildeo incorreta deu lugar a natildeo poucos~~ t ~ equiacutevocos natildeo desprovidos de consequumlecircncias

Acredito ser verdadeiro (diferentemente do que muitos escreveram e do

que algueacutem continua escrevendo) que se perguntar se as verdades cientiacuteficas

dependem dos procedimentos utilizados para afirmaacute-las ou de sua fecundidade

praacutetica eacute para Bacon um dilema sem sentido uma verdade cientiacutefica eacute sempre fecunda e tal fecundidade depende justamente e exclusivamente do seu caraacuteteacuter

de verdade As duas intenccedilotildees humanas gecircmeas a ~ecircncia e o poder coincidem

IV Cv (lt5 t-ICcedil ccedil-o - JJ~J e([~4 -~if eacute Cr((middotI[JA ~) -~ shy

~ l eacute f I (~~J j)cf

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bullbull

numa uacutenica e a ignoracircncia das causas provoca a falecircncia das obras Aquilo que

teoricamente vale como causa operacionalmente vale como regra (quod in contemplatione instar causae est id in operatione instar regulae est) Aquilo que eacute mais uacutetil na praacutetica eacute aquilo que eacute mais verdadeiro na teoria (Ista autem duo pronuntiota activum et contemplativum res eadem $Uni et quod in operanckJ utilissimum id in sciendo verissimum Novum Organum [14)

middotltiacute~middot~ eacute~~Ji)1 vJ(middotl

IV C_~Jf)(-~--1 )ampf- r 5middot-t-o ~ J~I middott)-q~-D

Depois de ter entrado a fazer parte de um trio que compreendia Vittorio

Mathieu e Giorgio Radetti cheguei agrave Universidade de Cagliari em 1962 Entre os muitos professores alojados no Hotel Jolly encontrei Ernesto De Martino que contava entatildeo com 54 anos e lecionava na Faculdade de Magisteacuterio Tinha lido seus livros e discutido muitas vezes com ele Remo Cantoni e Enzo Paci e

tinha por ele uma grande admiraccedilatildeo acompanhada por aquele tranquumlilo sentido de gratidatildeo que se sente pelos autores dos livros que percebemos serem decisivos para a nossa vida intelectual Ouvi-lo dizer que havia inserido umas vinte paacuteginas

I de meu livro sobre Bacon em sua antologia Magia e Civilizaccedilatildeo (Garzanti - 1962)

foi para mim um grata surpresa Ficamos muito proacuteximos em Cagliari ele veio agrave minha casa em Milatildeo e eu fui agrave dele em Roma Quando me ocorre de repensar o lugar que ele ocupou em minha vida em nossa amizade na montanha de livros

de antropologia e de psiquiatria que eu li apoacutes tecirc-lo encontrado parece-me inacreditaacutevel tecirc-lo conhecido e frequumlentado por tatildeo pouco tempo uma vez que ele morreu em 1965

Depois da leitura dos livros de De Martino e de I Pnmitivi de Re~o Cantoni

(que me havia impelido a ler A Filosqfta elas Formas Simb6licasde Ernst Cassirer) depois dos periacuteodos passados no Wagraverburg Institute - onde havia encontrado e

frequumlentado Frances Yates Gertrud Bing Ernst Gombrich D P Walker - a magia da Renascenccedila que encontrara em Florenccedila graccedilas agrave escola de Gann tornara-se para mim uma realidade mais ampla Natildeo conseguiria nem que quisesse dar uma ordem cronoloacutegica agraves minhas leituras desordenadas mas aquilo

que considero vaacutelido ainda hoje em li MonckJ Maacutegico de De Martino penso ser

bull 1amp2 ~ amp sshyi I

aquilo que indicava o proacuteprio De Martino em 1958 ou seja a tese da crise da

presenccedila como risco de natildeo se estar no mundo e a descoberta de uma seacuterie de

teacutecnicas (das quais fazem parte tanto a magia quanto a religiatildeo) destinadas a

proteger a presenccedila do risco de ela perder as categorias com as quais se eleva sobre a cega vitalidade e sobre a ingens sylva da natureza e destinadas - outrossim - a reabrirmediatamente o mundo dos valores comprometido por dita crise (p 3 13)

Agravequele nuacutecleo vaacutelido De Martino iraacute continuar fiel mesmo depois de ter lido Hubert Mauss e Malinoacutevski Entretanto o que tornava e ainda torna atuais tantas paacuteginas dele eacute a vigorosa polecircmica contra o que ele apoacutes ter ilustrado

suas promessas denominava as ameaccedilas da etnologia

A utilizaccedilatildeo das categorias do existencialismo e da fenomenologia o interesse fortiacutessimo pela psicopatologia a incidecircncia dos textos de Heidegger e de Jaspers a leitura de Mircea Eliade e de Leacutevi-Strauss tudo isso jamais conseguiu demover De Martino de uma de suas teses baacutesicas Aquela segundo a qual a

experiecircncia da diversidade ou da comp~~ensatildeo (fosse ela a do primitivo ou do psicoacutetico) natildeo pode nunca coincidir em caso algum com uma renuacutencia masoquista Sem um empenho para compreender o sentido de nossa histoacuteria eacute

vatildeo tentar compreender o sentido da ~~oacute~ia~~~out~s nem Pffiis poderaacute acontecer de noacutes entendermos melhor quem somos colocando-nos como apaacutetridas diante de outras civilizaccedilotildees disponiacuteveis indefinidamente para qualquer paacutetria

que possa no~ seduzir A verdade eacute que o ocidente orientou suas escolhas segundo os poderes da conscientizaccedilatildeo da persuasatildeo do prestiacutegio moral da poesia da

ciecircncia da vida democraacutetica do simbolismo civil [] Com isso a magia tornou-se no interior da civilizaccedilatildeo ocidental cada vez mais impotecircncia estiacutemulo cifrado do inconsciente desejo inautecircntico suspeito e frustrante servidatildeo inaceitaacutevel

ditadura do oculto e do incontrolaacutevel ou entatildeo resquiacutecio folcloacuterico No que concerne agrave religiatildeo De Martino pensava que a afirmaccedilatildeo de uma origem natildeo

divina mas humana dos modelos de cultura a tese que a cultura tenha origem humana e destino humano natildeo eacute uma entre as tantas teses possiacuteveis sobre a cultura

e sobre as instituiccedilotildees Qualquer sistema de escolhas culturais que esteja agrave nossa frente - concluiacutea - cai integralmente no acircmbito dessa nossa escolha

bull bullbull

As que De Martino chamava as ameaccedilas da etnologia agigantaram-se suas estruturas e em sua essecircncia que ela jaacute gastou suas proacuteprias energias que assustadoramente nas deacutecadas sucessivas a seu desaparecimento As suas escolhas jaacute se reduziu a mera negatividade A libertaccedilatildeo do homem consistia portanto em agrave sua recusa do irracionalismo histoacuterico-religioso e do relativismo cultural sacudir de suas costas a civilizaccedilatildeo ocidental (p XLV) Que algueacutem pudesse estaacute correlacionada sua imagem de uma antropologia que estaacute sempre correndo sacudir de seus ombros a civilizaccedilatildeo na qual nasceu e cresceu eacute justamente o o risco de transformar-se em um friacutevolo deffile de modelos culturais impelidos contraacuterio exato da posiccedilatildeo que De Martino havia defendido e sustentado como na passarela da ciecircncia por um friacutegido apaacutetrida em funccedilatildeo de antropoacutelogo sempre se diz com unhas e dentes ao longo de seu percurso intelectual completamente disponiacutevel para qualquer possiacutevel gosto cultural (Furore siacutembolo Visto pelos olhos dos jdanovistas que pretendiam saber o que eacute certo e o valore Milatildeo 1962 pp 86-87) Natildeo eram estas as ideacuteias que tornaram popular que eacute errado e pretendiam orientar todo tipo de escolha cultural De Martino De Martino no decorrer das deacutecadas de 1960 e 1970 Os entusiasmos pelo maacutegico era um irracionalista ou como miacutenimo um estudioso que manejava com o maacuteximo

as tornavam pouco atuais e irrelevantes Quando em 1973 saiu uma nova ediccedilatildeo de desenvoltura textos e autores ambiacuteguos e perigosos que era melhor natildeo de lImando magico o editor sentiu a necessidade de confiar a Cesare Cases a publicar e certamente natildeo difundir Aos olhos daqueles que nas deacutecadas seguintes tarefa de escrever uma introduccedilatildeo Cases tinha dedicado uma porccedilatildeo de seu o aproximaram a Adorno e agrave Dialeacutetica do Iluminisme toda declaraccedilatildeo de fidelidade caacuteustico engenho agraveanaacutelise a partir das posiccedilotildees da esq uerda (mais do que esquerda aos valores da razatildeo eacute por parte de De Martino apenas uma tentativa mais ou natildeo daacute) de autores colocados numa direita tatildeo extremada (que mais do que assim menos acanhada de romper o isolamento recorrendo a serviccedilos que lhe permitem natildeo dava) uma outra natildeo irrelevante porccedilatildeo tinha ele dedicado no fmal da deacutecada usar instrumentos irracionalistas sem ser considerado um irracionalista (vejashyde 1950 a defender a pureza do marxismo enquanto concepccedilatildeo de mundo a se P e M Cherchi De Martino Naacutepoles Liguori 1987 p 227) Quem sem polemizar contra Giulio Preti contra o neo-empirismo e suas infIltraccedilotildees nas documentaccedilatildeo efetiva faz uso de categorias do tipo recorrer a serviccedilos serveshyfileiras da esquerda se de um instrumento tatildeo poderoso que passa a ser absolutamente esteacuteril e

Na introduccedilatildeo Cases estava preocupado principalmente em indicar os limites ineficaz Se De Martino repete muitas vezes com convicccedilatildeo e em eacutepocas e textos ou seja os defeitos da posiccedilatildeo de De Martiacuteno Lido com as lentes paleomarxistas diferentes sua fidelidade a valores de tipo Iluminista pode-se sempre dizer de Cases o livro tinha um defeito imperdoaacutevel natildeo era suficientemente antishy que o faz por razotildees poliacuteticas ou entatildeo que o faz inconscientemente ou sem ocidental Na introduccedilatildeo aparecem - concebidas como repreensotildees ou objeccedilotildees se dar conta Raciocinando assim tem-se sempre razatildeo Cortando rente criando a De Martino - as seguintes expressotildees a civilizaccedilatildeo ocidental natildeo eacute contestada alternativas riacutegidas usando meacutetodos inquisitoriais (do tipo diz uma coisa mas em suas estruturas mas na falta de consciecircncia de sua gecircnese (p XXVI) para o natildeo acredita nela de verdade) acaba-se destruindo justamente o espaccedilo que De autor as marcas da civilizaccedilatildeo ocidental permanecem oacutebvias e delas natildeo se Martino havia construiacutedo para si com tanta fadiga acaba-se processando-o pelo contesta a essecircncia mas tatildeo-somente a arrogacircncia (p XXVII) De Martino remete crime de uma pretensa incoerecircncia agraves potencialidades natildeo consumadas da energia plasmadora da civilizaccedilatildeo Para De Martino a ambiguumlidade natildeo estava em noacutes mas sim nas coisas O ocidental e nela tem demasiada confianccedila (pp XLI XLVI) considera mundo maacutegico estaacute atraacutes deIOacutes mas tambeacutem dentro de noacutes seinpre prOacuteimo a fmalmente a razatildeo ocidental como um dado (p XLVII) Antecipando as recusas noacutes como uma alternativa uma tentaccedilatildeo um caminho de fuga Em muitos setores globais de hoje de Asor Rosa suscitando o interesse dos sequazes de Evola os da cultura e da poliacutetica natildeo se sabe disso e natildeo se leva isso em consideraccedilatildeo quais vindos da extrema direita jaacute tinham negado haacute bastante tempo a essecircncia Movemo-nos entatildeo no interior de uma histoacuteria imaginaacuteria enrijecida no culto do ocidente Cases sustenta que a civilizaccedilatildeo ocidental deve ser contestada em de uma razatildeo que natildeo se questiona sobre seu passado Constroacutei-se inclusive

-------------~_ ~

bullbull

uma histoacuteria da ciecircncia imaginaacuteria em que Bacon se torna o filoacutesofo da idade industrial na qual tambeacutem Gilbert e Kepler e Newton se tornam cientistas

positivos O monoacutelogo colonialista e missionaacuterio da velha Europa - escreveu

De Martino - vai-se tornando dia apoacutes dia cada vez mais solitaacuterio e delirante A histoacuteria do conceito de magia no Ocidente serve para nos dar essa consciecircncia e

serve ao mesmo tempo como medida protetora contra aquele mal diferente

que eacute a infidelidade radical em relaccedilatildeo agravepolecircmica antimaacutegica de nossa civilizaccedilatildeo

com a conseguinte abdicaccedilatildeo diante dos prestiacutegios da magia (E De Martino Magia e civiltagrave Milatildeo Garzanti 1962 p 9) Talvez natildeo seja um caso o fato de

~ que do interesse de De Martino para com a histoacuteria das ideacuteias para com a

passagem da magia agrave ciecircncia entre Quinhentos e Seiscentos - que para ele natildeo

era um episoacutedio mas o episoacutedio decisivo da histoacuteria do ocidente (e indiretamente

da histoacuteria do mundo) - natildeo reste nenhum traccedilo nos muitos doutos e

informadiacutessimos ensaios e livros que foram publicados sobre ele No ano que seguiu agrave republicaccedilatildeo de Il mondo magico entre 20 e 23 de

abril de 1974 tiveram lugar em Capr~ organizadas por Maria Righini Bonelli e William Shea as Jornadas Internacionais de Histoacuteria da Ciecircncia As atas do congresso saiacuteram em 1975 nas Science History Publications de Nova York com

o tiacutetulo de Reason Experiment andMysticism in lhe Scientifiacutec Revolution Foi ali que eu li uma comunicaccedilatildeo entitulada Hermeticism Rationality and the Scientific

Revolution que foi comentada por A Rupert Hall O conteuacutedo da comunicaccedilatildeo

- bem distante da vaga do magismo indiscriminado da eacutepoca - eacute resumido no

paraacutegrafo 5 do Prefaacutecio agrave segunda ediccedilatildeo (escrito naquele mesmo ano) que

segue aqui Dez anos mais tarde Charles Schmitt depois de lembrar a insistecircncia

com que eu tratava os temas maacutegicos e mitoloacutegicos tatildeo distantes da imagem da

baconian science que circulava na deacutecada de 1950 resumia com clareza o que tinha acontecido Deve ser lembrado que o Bacon de Rossi surgiu em sua

primeira ediccedilatildeo antes da atual corrida para colocar magia e ocultismo no centro

do pensamento da Renascenccedila Na verdade aquele livro foi responsaacutevel e natildeo

pouco por aquela reavaliaccedilatildeo dos fatores maacutegicos e ocultos presentes na primeira

ciecircncia moderna na sua uacuteltima geraccedilatildeo O que eacute importante na abordagem de

Rossi eacute que ele nunca deixou as questotildees centrais afastarem-se do ponto focal

bull

Enquanto outros empurravam a nova interpretaccedilatildeo longe demais ele natildeo hesitou em traccedilar a linha que divide as hipoacuteteses cientiacuteficas das fantasias Apesar de o livro fazer parte da base a partir da qual se desenvolveu a ecircnfase hoje corrente sobre a assim chamada Tradiccedilatildeo Hermeacutetica quando as coisas comeccedilaram a sair do controle ele foi um dos primeiros a dissociar-se de algumas das direccedilotildees mais bizarras rumo agraves quais estavam se movendo os entusiastas (Isis junho

1986 e tambeacutem Anais do Instituto e Museu de Histoacuteria da Ciecircncia de Florenccedila X

1985 p 138)

v

Do clima anticientiacutefico de caraacuteter hermetizante ocultista e decididamente

filo-maacutegico que se difundiu na Itaacutelia (e natildeo apenas na Itaacutelia) desde o final da deacutecada de 1960 eu jaacute tinha me distanciado desde o iniacutecio A comeccedilar por um

artigo publicado em Rinascita em 24 de maio de 1968 no qual estaacute escrito Entrou

em crise a tese da superioridade dos modernos Natildeo apenas no sentido de uma

recusa do progresso como caminho linear e garantido mas no proacuteprio questionamento do conceito mesmo de civilizaccedilatildeo moderna O mundo da teacutecnica

da ciecircncia da induacutestria natildeo eacute analisado em suas componentes histoacutericas mas

concebido como pura e total negatividade A partir de entatildeo e nas deacutecadas que

seguiram foram tiradas todas as consequumlecircncias impliacutecitas nessa teoloacutegica

asserccedilatildeo Acompanhando e reforccedilando uma voga irrefreaacutevel de magismo

abriram caminho e se tornaram ideacuteias correntes fantasias sobre uma nova e

assombrosa ciecircncia proletaacuteria que teria em breve substituiacutedo a corrupta ciecircncia

burguesa e sobre um pensamento maacutegico que daria lugar a uma alternativa para

o ressecado racionalismo Intelectuais de esquerda apresentaram o pouso de homens na lua como sendo a mais perfeita especulaccedilatildeo que a sociedade capitalista

() conseguiu organizar em prejuiacutezo dos oprimidos e dos espoliados como uma

operaccedilatildeo de real conteuacutedo reacionaacuterio (M Cini Caiacutemos numa ratoeiraacute no jornal L Unitagrave 26 de julho de 1969) No comeccedilo daquele ano sustentava-se que

o uacutenico discurso correto era o de uma recusa da ciecircncia enquanto instrumento

de alienaccedilatildeo e opressatildeo do homem (F Piperno A greve dos ceacuterebros em

~ c

~

bullbull

L Espresso Colore 2 de fevereiro de 1969) A ciecircncia escrevia Umberto Curi

constituiu-se originariamente consolidou-se e desenvolveu-se ateacute hoje ( ) como forccedila produtiva do capital contra o trabalho (em AAvv Scienza epolere Milatildeo

Feltrinelli 1975 p 147) Para a superficialidade e a simploriedade natildeo haacute limites estabelecidos como na sociedade medieval quem decidia se uma teoria cientiacutefica

era verdadeira ou falsa era o papa - escrevia G Viale - na industrial quem decide a validade ou natildeo das teorias cientiacuteficas eacute o Pentaacutegono (Universidade a

hip6tese revolucionaacuteria Paacutedua 1968 p 118) O apocalipse associava-se como de haacutebito ao otimismo mais desenfreado e sem razatildeo

middot~ A partir do arrombamento das instituiccedilotildees - afirmavam Elisabetta Donini

e Tito Tonietti em Quaderni Piacentini (1977 63-64 p 132) - vai nascer uma nova revoluccedilatildeo copernicanam A ciecircncia nascida das cinzas da metafIsica de bull

lAristoacuteteles para levar a cabo e fazer funcionar o domiacutenio que a burguesia deteacutem ~

como classe soacute pode morrer com ela De sua morte natildeo surgiraacute uma nova

ciecircncia o novo saber seraacute tatildeo diferente do anterior que mereceraacute um novo

termo Teses desse gecircnero tornaram-se na Itaacutelia de entatildeo verdadeiros lugaresshy

comuns transformaram-se em ideologias atraindo um grande nuacutemero de jovens sindicalistas poliacuteticos funcionaacuterios donas~e-casa e principalmente professores

Estes termos tecircm eles todos uma caracteriacutestica comum eles substituem agrave anaacutelise a peremptoriedade dos juiacutezos e aos projetos a alusatildeo ao Radicalmente Novo

Como do Novo e do Outro natildeo se pode falar (tal como natildeo se pode falar do Deus ~ dos miacutesticos) procede-se necessariamente por alusotildees e negaccedilotildees De qualquer

maneira os projetos satildeo sempre algo de negativo com respeito aos processos em ato e aos movimentos Quando Giulio Maccacaro foi interrogado (em 1974)

quanto ao significado do projeto de uma ciecircncia nova ele respondeu com as seguintes palavras considero impossiacutevel a resposta e improacutepria a pergunta

Gostaria de explicar-me por meio de uma analogia o preso que nasceu enquanto

tal isto eacute o mais verdadeiro dos presos natildeo pode projetar a liberdade e realizar

a fuga E acrescentava temos de atuar para que seja possiacutevel o nascimento de uma ciecircncia nova a ciecircncia de um outro poder mas natildeo podemos predeterminaacuteshy

la sem impedi-la (em Scienza e Potere cito pp 54-55) Os projetos traem os processos as anaacutelises distorcem a vida a rebeliatildeo acaba por parecer mais

bullf~~~-~--F

importante do que o mundo ao qual ela poderia dar origem A revolta enquanto

tal tonia-se um fim a ser perseguido Isso jaacute tinha sido teorizado na Itaacutelia haacute

mais setenta anos por Giuliano o Sofista numa paacutegina ceacutelebre da revista

Leonardo cada programa cada projeto de itineraacuterio eacute uma limitaccedilatildeo Junto agrave assim chamada 1iteratura de contestaccedilatildeo a nova magia encontrou

grandiacutessima difusatildeo No livro The Making 0 Counter-Culture Rejlections on lhe Technocratic Society and Its routliful Opposition Theodor Roszak um dos mais

conhecidos expoentes da nova esquerda americana de entatildeo valeu-se do ensinamento de Thomas Kuhn para apresentar a consciecircncia objetiva como

uma mitologia Baseado nisso ele contrapocircs as extraordinaacuterias possibilidadeacutes de uma nova visatildeo maacutegica do mundo agrave racionalidade restrita da ciecircncia que embota nosso sentido do maravilhoso Acabou apresentando o xamanismo como

o modelo de uma cultura nova e mais livre O de Roszak natildeo foi certamente um caso isolado Tambeacutem na Itaacutelia as

posiccedilotildees que reduziam a ciecircncia agrave ideologia burguesa e pensavam que o saber cientiacutefico-racional era responsaacutevel pelo esvaziamento de sentido e pelo

desencantamento do mundo aliaram-se a posiccedilotildees regressivas e miacutesticoshyreacionaacuterias Um verdadeiro obscurantismo anticientiacutefico inspirado em Spengler

e em Heidegger vestiu os trajes do marxismo casando com a heranccedila de Nietzsche do vitalismo e do vanguardismo do comeccedilo do Novecentos

A descida para o plano arcaico da experiecircncia maacutegica a exaltaccedilatildeo do primitivismo e do imediatismo a nostalgia do passado como paraiacuteso de uma

humanidade natildeo reprimida a nostalgia pelo mundo camponecircs deixaram de ser considerados temas pertinentes exclusivamente ao pensamento reacionaacuterio shy

conforme havia sido durante longo tempo - mas vieram a ser propostos e sustentados tambeacutem no interior da esquerda como vaacutelidos instrumentos de libertaccedilatildeo dos pecados e das alienaccedilotildees presentes na sociedade moderna

I

VI

O motivo de eu natildeo concordar com as conclusotildees de F A Yates P M

Rattansi e de outros estudiosos natildeo dependia certamente do fato de que ambos sustentavam a necessidade para um historiador da ciecircncia moderna de ocuparshyse de magia e de hermetismo mas do fato de que eu via neles a tendecircncia para

sublinhar exclusivamente os elementos de continuidade entre a tradiccedilatildeo e a

imagem moderna de ciecircncia No centro da reflexatildeo de Yates estaya a pergunta por que justamente naquele momento Quais os motivos daquela emergecircncia -Yates havia apresentado o seu Giordano Bruno como sendo um estudo histoacuterico

dos motivos do nascimento da nova ciecircncia Nas raiacutezes daquela emergecircncia estava um novo tipo de interesse para com o mundo e as operaccedilotildees sobre a

natureza A magia renascimental cltnstitui justamente a realizaccedilatildeo de uma reorientaccedilatildeo psicoloacutegica da vontade rumo agrave accedilatildeo Atraveacutes daquela fundamental

mudanccedila psicoloacutegica aparece para a histoacuteria na Europa do Quinhentos a atribuiccedilatildeo de um valor agraves operaccedilotildees Tal atribuiccedilatildeo encontra-se na raiz da ciecircncia

moderna e constitui o seu porquecirc A visatildeo hermeacutetica de um universo regido pelas operaccedilotildees do mago eacute apresentada segundo esse ponto de vista na conclusatildeo

de seu trabalho como sendo a primeira fase da revoluccedilatildeo cientiacutefica que eacute caracterizada jaacute na segunda fase pela visatildeo de um universo mecanicista regido pelas leis da mecacircnica

A tese natildeo eacute completamente nova Spengler jaacute havia insistido em paacuteginas que seriam retomadas e discutidas por Max Scheler na importacircncia do faustismo

para o nascimento da ciecircncia A vontade teacutecnica do poder o saber-de-domiacutenio (Herrschaftwissen) haviam sido interpretados como um primum capaz de explicar

o emergir da ciecircncia no interior da histoacuteria do ocidente Numa perspectiva

diferente tambeacutem Jung e Eliade haviam chegado a respeito desse ponto - natildeo secundaacuterio - a conclusotildees parecidas mesmo se expressas numa linguagem muito

mais imaginativa A ideacuteia-guia do mundo moderno tinha parecido a Jung uma

versatildeo secular do sonho alquUacuteTIico a alquimia eacute o alvorecer da idade cientiacutefica quando o daimon do espiacuterito cientiacutefico obrigou as forccedilas da natureza a servir o

homem em medida antes desconhecida Para Mircea Eliade os alquimistas satildeo

I I J bull~

9

os antecipadores da essecircncia da ideologia que caracteriza o mundo moderno e que chegou agrave plena maturaccedilatildeo com o marxismo e o positivismo no decorrer do seacuteculo XIX a feacute na transmutaccedilatildeo da natureza e nas ilimitadas possibilidades do

homem Eacute dificil natildeo concordar com Frances Yates quando ela afirma que a histoacuteria

da emergecircncia da ciecircncia moderna resulta incompleta sem a histoacuteria daquilo de onde ela emerge e eacute certamente verdade que uma histoacuteria capaz de iluminar as

interaccedilotildees entre magia e ciecircncia eacute sem duacutevida mais frutuosa do que uma (que hoje ningueacutem escreve) que se contenta em celebrar os triunfos da ciecircncia do

seacuteculo XVIL Os trabalhos de Yates deram uma contribuiccedilatildeo decisiva ao aclaramento dessas interaccedilotildees Yates entretanto limita-se a sustentar essas teses

aceitaacuteveis a utilizar algumas observaccedilotildees feitas (entre outros) por Jung e Eliade

ou entatildeo ter-se-ia apropriado da tese deles da ciecircncia enquanto incapacidade de experimentar o sagrado Seria o caso de POcirc--Io em duacutevida quando se lecircem no

livro dela afirmaccedilotildees desse tipo Por acaso a ciecircncia natildeo eacute tudo somado nada

mais do que uma gnose uma visatildeo da natureza do Todo que procede atraveacutes de revelaccedilotildees sucessivas (F Yates Giordano Brurro e a tradiccedilatildeo hermeacutetica trad it

Bari Laterza 1969 pp 447-8 452)(d) Tambeacutem no livro de 1972 sobre o tipo de

pensamento dos RosacruzesYates afirmava que eu havia dado ecircnfase ao matiz de milenarismo constante na InstauratW magna scientiarum e tinha demonstrado

que Bacon sai justamente da tradiccedilatildeo hermeacutetica da magia e da Cabala da

Renascenccedila por ele alcanccediladas atraveacutes dos magos naturais (O Iluminismo dos Rosacruzes um Estilo de Pensamento na Europa do Seiscentos trad it L llluminismo dei Rosacroce urro stile dipensiero nellEuropa Del Seicento Turim Einaudi 1976

pp60 142-143)

Difiacutecil eacute subtrair-se agrave impressatildeo de que a tentativa de Yates era a de

reconduzir a segunda fase (mecanicista) da assim chamada revoluccedilatildeo cientiacutefica agrave primeira fase (maacutegico-hermeacutetica) e de que o estudo das interaccedilotildees entre essas

duas fases tivesse de servir para demonstrar que eacute inuacutetil procurar distinguir a ciecircncia da magia sendo que a primeira fase jamais teraacute fim As indagaccedilotildees sobre o hermetismo e sobre a magia satildeo importantes pois nos ajudam a compreender

melhor as origens da ciecircncia moderna (a qual no comeccedilo de seu longo percurso

bull I

i

deveu em parte sua vida tambeacutem a uma disreputable structure of ideas) ou

entatildeo o satildeo porque nos levam agrave conclusatildeo que a ciecircncia moderna nada mais eacute do

que a continuaccedilatildeo em formas novas de uma abordagem de tipo miacutestico da

natureza Satildeo indagaccedilotildees importantes porque nos mostram como tem sido dificil tortuoso e complicado o caminho da razatildeo cientiacutefica ou entatildeo porque contribuem

para mostrar as bases irracionais da construccedilatildeo da primeira ciecircncia moderna e

de qualquer outra forma de ciecircncia possiacutevel Com a revoluccedilatildeo cientiacutefica nasceu na histoacuteria um tipo de saber intersubjetivo e capaz de crescer um saber puacuteblico

que eacute alternativo ao saber secreto da magia e do ocultismo O que eacute contestado eacute o conhecimento insuficiente da gecircnese da ciecircncia moderna ou a proacutepria estrutura da ciecircncia moderna

Tenho a impressatildeo de que algo parecido com o que se passou com muitos leitores de Freud tenha ocorrido com muitos estudiosos da tradiccedilatildeo hermeacutetica apoacutes middotter ficado sabendo da existecircncia do inconsciente do condicionamento exercido pelas pulsotildees e pelos instintos sobre a vida da consciecircncia e da razatildeo

depois de ter reconhecido a existecircncia dos elementos de agressividade que atuam por traacutes da fachada respeitaacutevel da civilidade concluiacuteram - diferentemente do

que fazia Freud - que natildeo existem mais razatildeo nem ciecircncia nem civilidade mas haacute apenas instintos agressivos e desejos pulsionais

VII

Nos anos em que haviam praticamente desaparecido os modernos e nos departamentos de filosouumla soacute se encontravam poacutes-modernos rampantes

costumava-se defender duas teses de caraacuteter epocal A primeira tese de

- caraacuteter mais geral contrapunha moderno e poacutes-moderno O primeiro era ~

qualificado como a idade de uma razatildeo forte que constroacutei explicaccedilotildees totalizadoras

do mundo e que eacute dominada pela ideacuteia de um desenvolvimento histoacuterico do

pensamento como iluminaccedilatildeo incessante ou progressiva ou seja como a idade da ordem nomoloacutegica normativa da razatildeo e de uma sua estrutura monoliacutetica e

-~altlotildeiatildeAdespeito de Niccoloacute Machiavelli e de Giambattista Vico o moderno era definido como a idade do tempo linear caracterizada pela superaccedilatildeo ou

bull- -------~---

seja pela novidade que envelhece e eacute rapidamente substituiacuteda por uma novidade mais nova A segunda tese de caraacuteter mais limitado e especial afirmava que

siacutemiles analogias metaacuteforas semelhanccedilas que satildeo formas tiacutepicas ou

caracterizadoras da cultura da eacutepoca barroca satildeo energicamente recusadas pela nova ciecircncia da natureza

Para mostrar a inconsistecircncia dessa segunda tese em 1984 publiquei em Intersecccedilotildees um ensaio com o nome de Os siacutemiles as analogias as articulaccedilotildees da

natureza (Le similitudin~ le analogie le articolazioni della natura mais tarde incluiacutedo no volume [ ragni e k flnniche un ap0UacuteJgia della storia della scienza (As Aranhas e As Formigas uma ApoUacuteJgia da HisMna da Ciecircncia) Bolonha n Mulino

198~) no qu~l eu mostrava que parasustentar aq~ela tese Michel Foucault f haVia se apOIado numa passagem latma de FranCiS Bacon fazendo uso natildeo t do texto original mas de uma traduccedilatildeo dele feita no Oitocentos Acontecia

que termos - chave (ressemblancee similitude) sobre os quais se fundava todo o seu genial piroteacutecnico e desenvolto discurso compareciam de forma urn tanto misteriosa na traduccedilatildeo francesa mas natildeo existiam absolutamente no original latino

Uma das ideacuteias mais tolas professadas pelos poacutes-modernistas consistia em

apresentar a modernidade como uma eacutepoca de certezas como uma espeacutecie de idade da seguranccedila da qual haacute poucos anos apenas e por meacuterito de trecircs ou

quatro filoacutesofos parisienses alguns intelectuais extremamente aggiornatihaviam dolotilderosamenteern~rgido~Francis Bacon era freqUentemente citado como o tiacutepico

expoente ou campeatildeo do moderno pelos defensores da primeira das duas teses

que enunciei acima Polemizando com aquela imagem bastante cocircmoda escrevi

uma comunicaccedilatildeo para o encontro sobre Moderno e Poacutes-moderno organizado

em marccedilo de 1986 no Instituto Gramsci da Toscana Dei-lhe o tiacutetulo de [doia da Modernidade publicada mais tarde com outros ensaios em Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (CorifTonto dos Engenhos Modernos ePoacutes-modernos - Bolonha

n Mulino 1989) Esclarecendo que o nome idola era para Bacon sinocircnimo de

superstitions como tambeacutem de notionesfalsae ou volantes phantasiae inseri em meu escrito inclusive um elenco de algumas ideacuteias fUosoacuteficas de Bacon que me permito

reproduzir aqui

bull

f O universo natildeo eacute uma realidade ordenada e estruturada hierarquicamente e se rebelam e condicionam nosso intelecto Acabamos entatildeo por discutir natildeo -shy Natildeo existe nenhuma necessaacuteria correspondecircncia entre os elementos que o acerca das coisas mas acerca das palavras Tentamos entatildeo construir uma

l constituem nem entre microcosmo e macrocosmo Natildeo apenas o homem natildeo linguagem rigorosa feita de definiccedilotildees Acabamos por perceber que aquela

reflete em sua mente a estrutura do mundo como tambeacutem entre a ordem do linguagem fala apenas de palavra e que as coisas fugiram-nos irremediavelmente

cosmo e a da sociedade natildeo existe nenhuma correspondecircncia que possa ser das matildeos Por outro lado estamos condenados a fazer uso da linguagem e dela

encontrada As fontes do conhecimento satildeo vaacuterias a feacute a tradiccedilatildeo o sentido o natildeo podemos prescindir

i intelecto DifIcil eacute estabelecer uma hierarquia entre elas A feacute s6 vale para as Entretanto tambeacutem a necessidade de pontos de apoios confiaacuteveis e

indubitaacuteveis faz parte da natureza do homem Parece que os homens sentemI coisas que lhe pertencem O sentido nos engana muitas vezes e o intelecto muito I t mais vezes S6 temos certeza de uma coisa que natildeo podemos nos fiar na tradiccedilatildeo a necessidade de princiacutepios estaacuteveis procuram uma espeacutecie de eixo em

em geral e na filosofia em particular uma vez que nelas foram construiacutedos volta do qual fazer rotar a variedade dos argumentos e das meditaccedilotildees Se

inuacutemeros mundos de palco semelhantes aos teatros dos poetas onde as histoacuterias o intelecto sofre abalos e flutuaccedilotildees os homens tecircm a impressatildeo que o ceacuteu desaba

contadas tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada em cima deles e procuram logo um chatildeo soacutelido uma espeacutecie de Atlas dos

um Os enganos que se encontram em nossas fontes de conhecimento natildeo satildeo pensamentos semelhante ao que na lenda suportava o ceacuteu sobre seus ombros Na

como defeitos ou culpas aos quais se pode remediar Dependem do fato de que realidade os homens tecircm mais medo da duacutevida do que do erro e se iludem de

nossa mente mistura continuamente sua natureza com a natureza das coisas e poderem estabelecer alguns princiacutepios dos quais possa ser derivado todo o saber

do fato de que as imagens falsas e as falaacutecias fazem parte da estrutura da mente e em torno dos quais eles possam fazer rotar todas as suas disputas

satildeo inatas nela e estatildeo radicadas na natureza humana Os erros satildeo inseparaacuteveis Mas o problema maior eacute o da novidade e da dificuldade ou da incapacidade

de nossa natureza e condiccedilatildeo de vida Posso descrevecirc-Ios tentar exorcizaacute-los de pensar o novo Porque a mente humana estaacute mal organizada primeiro desconfia

tomando consciecircncia deles De muitos deles nunca poderei em caso algum ficar demasiado de si proacutepria e em seguida se despreza No comeccedilo parece

completamente livre inacreditaacutevel que algo possa ser descoberto Depois tatildeo logo esse algo eacute

A imagem de que eacute possiacutevel servir-se para pensar o universo eacute a do labirinto descqberto acha-se inacreditaacutevel que possa ter sido ignorado Haacute um duplo

ou caso se prefira a da selva Com efeito natildeo haacute estradas visiacuteveis mas somente preconceito que atua sempre ameaccedilando o novo a crenccedila cristalizada naquilo

caminhos ambiacuteguos Natildeo haacute siacutemiles seguros apenas semelhanccedilas enganadoras que jaacute se encontra estabelecido e a tendecircncia em inserir o novo (privando~ de

de signos e de coisas Natildeo haacute percursos em linha reta apenas espirais e noacutes seu caraacuteter de novidade) dentro de um esquema jaacute prefigurado Se antes da

torcidos e complicados O acaso os efeitos da credulidade as primeiras noccedilotildees introduccedilatildeo da seda tivesse sido imaginada a existecircncia de um fio diferente do

absorvidas na infacircncia constituem aquele patrimocircnio ao qual damos o nome de algodatildeo e da latilde e mais suave brilhante e resistente quem teria sido capaz de

razatildeo Sequer o que realmente nos diferencia dos animais nos ajuda muito Porque pensar numa taturana ou num verme

a linguagem natildeo eacute absolutamente conforme se acreditou durante muito tempo Estando assim as coisas natildeo tem sentido um quadro completo e

( uma entidade controlaacutevel As palavras a partir do momento em que satildeo usadas exaustivo do mundo Onde quer que ele seja construiacutedo esse quadro suscita um

retorcem sua forccedila contra o intelecto Parece-nos poder traccedilar mediante as consenso imediato uma vez que produz sentimentos de seguranccedila Poreacutem eacute

palavras linhas de demarcaccedilatildeo bem visiacuteveis entre as coisas Depois poreacutem toda melhor estimulara inteligecircncia do que usurpar a boa feacute Eacute melhor renunciar a

vez que tentamos deslocar aquelas linhas as palavras satildeo um obstaacuteculo para noacutes compor tratados e proceder ao contraacuterio por afirmaccedilotildees desligadas e provisoacuterias

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como eacute igualmente melhor assegurar menos e mostrar os vazios do saber e VIII solicitar a pesquisa Nenhuma filosofia universal e completa eacute proponiacutevel e as teses filosoacuteficas que foram expostas ateacute agora natildeo satildeo as expressotildees da verdade mas sim satildeo comparaacuteveis aos sons pouco agradaacuteveis emitidos pelos muacutesicos quando afinam seus instrumentos O concerto ainda estaacute para chegar e pode-se alimentar apenas a esperanccedila de que seja melhor do que os sons atuais Por isso natildeo haacute nenhum meacutetodo que seja universal e perfeito Por isso natildeo existe nenhuma

arte da descoberta uma vez que ela cresce com o proacuteprio crescimento das

-descobertas (Scrittifilosqfiaacute org Paolo Rossi Turim UTEU 1975 pp 561 573536-37560526608570263274427 593-94 423621 275-76346 637 A uacutenica referecircncia obtida de um escrito fora da ediccedilatildeo indicada encontrashyse em The Worlcs oJ Francis Bacon org R L Ellis 1 Spedding D D Heath Londres 1887-92 I pp 640-41)

Concluindo essas satildeo algumas das respostas dadas por Francis Bacon entre 1605 e 1620 agrave pergunta o que eacute o saber Se essas respostas forem de algum modo significativas parece-me dificil aplicar a elas os roacutetulos utilizados pelos filoacutesofos da poacutes-modernidade explicaccedilotildees totalizadoras do mundo ou entatildeo capacidade projetual de uma subjetividade que se desdobra rumo a um horizonte de fins dos quais pretende possuir a chave ou ainda extremada aspiraccedilatildeo a uma ordem absoluta e definitiva de seguranccedila Parece-me igualmente diflcil utilizar metaacuteforas como a seguinte o olho humano natildeo se abre sobre as trevas originaacuterias do mundo mas sobre a cena de um cosmo jaacute aclarado pela luz intelectual Essa metaacutefora exprimia para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica de 18 de julho de1985) a proacutepria essecircncia daquela imaginaacuteria modernidade em torno da qual se esgotavam os poacutes-modernistas Estes inclusive pareciam totalmente ignaros quanto agrave nobre sentenccedila de um autor que consideravam um de seus antepassados Nunca existiu eacutepoca alguma que natildeo tenha se achado moderna no sentido excecircntrico do termo e natildeo tenha acreditado que se encontrava imediatamente diante de um abismo A consciecircncia desesperada e luacutecida de encontrar-se no meio de uma crise decisiva eacute algo de crocircnico na humanidade (W Benjamin Paris CaPital do Seacuteculo XIX trad it Parigi capitauacute dei XIX secolo Einaud~ 1986 p 701)

bull

As paacuteginas dedicadas no final da deacutecada de 1950 a Cornelio Agrippa e a Francis Bacon agrave relaccedilatildeo entre magia e ciecircncia levaram-me muito longe dos programas e dos projetos iniciais conforme costuma acontecer

Trabalhei longamente nas deacutecadas que se seguiram com as artes da

memoacuteria com a assim chamada descoberta do tempo ocorrida entre o

Quinhentos e o Setecentos com a ftlosofia de Giambattista Vico mas o tema da

magia ou melhor o tema da relaccedilatildeo entre magia e modernidade que surgira em

minha vida desde a publicaccedilatildeo em 1955 do livro de E Garin Testi umanistici sullermetisnw natildeo mais me abandonou Agravequele tema satildeo dedicadas natildeo apenas

as paacuteginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola Francesco Patrizi

Giordano Bruno e sobre argumentos afins mas (aleacutem das aparecircncias) muitas paacuteginas que escrevi nas deacutecadas de 1970 e 1980 e que reuni no jaacute citado Paragone degli ingegni moderni e postmoderni O outro meu livro La saacuteenza e lofilosqfia dei moderni (A Ciecircncia e a Filosofia dos Modernos) publicado por Boringhieri em 1989

abria-se com a premissa intitulada O Processo a Galileu no seacuteculo XX escrita vinte anos antes e que jaacute estava presente numa primeira ediccedilatildeo publicada em

Naacutepoles por Morano em 1971 Daquele processo agrave ciecircncia das imputaccedilotildees que ele continha e mesmo das

defesas que devia comportar - salvo reduzidas mesmo que relevantes exceccedilotildees

- os filoacutesofos da ciecircncia se ocuparam pouco e assim continuam fazendo No que

me diz respeito uma vez que meu assunto de estudo eacute a histoacuteria das ideacuteias entre os seacuteculos XVI e XVIII disso ocupei-me ateacute em demasia Muitas vezes pergunteishy

me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que por sinal

deu-me algumas satisfaccedilotildees Das paacuteginas que escrevi sobre o tema a que me

referi tive poucas ao contraacuterio e algumas vezes verdadeiros insultos Um ceacutelebre filoacutesofo italiano comparou-me certa vez a um cachorrinho que mordia o salto

de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele natildeo apenas pensava na

distacircncia abismal homemanimal que nos separava mas tambeacutem que ele tinha

certeza de estar caminhando sozinho rumo agrave Verdade) Um outro muito menos famoso que o primeiro qualificou-me - publicamente e mais gentilmente mas

bull

sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

I

I bull l bulll

Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

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~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

faacutebulas antigas) Publicaccedilotildees da Rivista critica di storia dellafilosofia Roma-Milatildeo

Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

1957 pp 75-89

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1990

Sul carattere non utilitaristico delta filosofia di Francesco Bacone (Sobre o

caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

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em lfilosofi ele macchine 1400-1700 (Os filoacutesofos e as maacutequinas 1400-1700) Milatildeo Feltrinelli 1962 1971 1980 1984 2002 pp 148-75 Em trad espanhola Barcelona Editorial Labor 1966 americana Nova York Harper and Row 1970

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La memoria artificiale come sezione della logica Ramo Bacone Cartesio (A memoacuteria artificial como seccedilatildeo da loacutegica Ramus Bacon Descartes) em Rivista critica di storia della filosofia Xv 1960 pp 203-63 depois refundido em CTavis universalis arti delTa memoria e logica combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis

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bull-Satilde Latilde =tEcirc

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Francis Bacon em I protagonisti della storia universale Milatildeo CEI1968

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Bacon uma antologia de escritos) org Paolo Rossi Turim Loescher 1971

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bull67

F Bacone La Nuova Atlantide org Paolo Rossi Milano TEA 1991

Naufragi senza spettatore (Naufraacutegios sem espectador) em M Ciliberto e C

Vasoli (org) Filosota e cultura per Eugenio Garin Roma Editori Riuniti 1991 lI pp 397-415 Depois em forma menos reduzida no volume Natfragi senza

spettatore lidea di progresso (Naufraacutegios sem espectador a ideacuteia de progresso) Bolonha 11 Mulino 1995 pp 21-43 O livro saiu em polonecircs brasileiro e turco

Warszawa Polska Akademia Nauk - Instytut Filozofii i Socijologi~ 1998 Satildeo Paulo Editora UNESp 2000 Ankara Dost Kitabevi Yayinlan Kundakccedil 2002

Francis Bacon e leternitagrave deI mondo (Francis Bacon e a eternidade do mundo) in MT Marcialis (org) Studi in Tne1TUJria di Giovanni Solinas em Annali della

Facoltagrave di Lettere e Filosota dellUniversitagrave di Cagliari nuova serie IX (XLVI) 1998 (mas 1992) pp 91-100

Francis Bacon la N Uova Atlantide (Francis Bacon a Nova Atlacircntida) em LArco di Giano rivisla di MedicaI Humanities I 4 1994 pp 245-58

Dimenticare Bacone (Esquecer Bacon) em C Vinti (org) Alexandre Koyreacute lavventura intellettuale (Atti deI Quinto Seminario Internazionale di Studi

promosso dal laquoCentro Studi sul pensiero scientifico F Cesiraquo da Universitagrave di Perugia Acquasparta 80 set-8 out 1992) Naacutepoles Edizioni Scientifiche I taliane 1994 pp 25-88 depois republicado no volume Un altro presente saggi sulla storia dellafilosofia Bolonha Il Mulino 1999 pp 145-60

F Bacon Uomo e Natura scrittifilosofici (Homem e Natureza escritos filosoacuteficos) org E De Mas Introduccedilatildeo de Paolo Ross~ Roma-Bari Laterza 1994

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Dedalo e il labirinto (Deacutedalo e o labirinto) em Annuario Filosifzco 1998

Seconda navigazUacuteJne la tecnica la vila i dilemmi dellazione Milatildeo Mondadori 1998 pp 42-78

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2000 pp 174-77

Progresso unidea ambivalente Due interpretazioni di Daniele 12 4lt

(Progresso uma ideacuteia ambivalente Duas interpretaccedilotildees de Daniel 124) em A

Vieira Per ta storia deZ foturo a org D Bigalli posfaacutecio de Paolo Rossi Aosta LEubage 2002 pp 207-18

Francis Bacon em I grandi delta scienza n 30 dezembro 2002 Le Scienze

(Scientific American)

Hidden knowledge publicknowledge em Archives dhistoire des sciences

Genebra LV 2002 pp 167-82

Sulla scienza e gli strumenti cinque divagazioni baconiane (Sobre a ciecircncia e os instrumentos cinco divagaccedilotildees baconianas) em Musa Musaei studies on scientific

instruments and collections in Iwnour cf MaTa Miniati org Marco Beretta Paolo Galluzzi Carlo Triarico Biblioteca di Nuncius Florenccedila Leo Olschki 2008

pp141-54

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11 Cassandra Memnon Titono Necircmesis Dioniso as sereias o vaso de Pandora

motivos eacutetico-psicoloacutegicos 257

12 Meacutetis os Ciclopes o cortejado r de Juno Endimiatildeo Narciso Ateon Perseu

Aquelau Diomedes Tifagraveo O Estige o realismo poliacutetico 26S

15 A poesia paraboacutelica no De augmentis 270 14 Os mitos do De augmentis Pan Perseu Dioniso Scila Atlas Ission Esculaacutepio 274

15 O De pricipiis O mito de Cupido 276

16 Conclusotildees 284

IV LoacuteGICA RETOacuteRICA E MEacuteTODO 297

~ V LINGUAGEM E COMUNICACcedilAtildeO S27

1 [nvenccedilatildeo das artes e invenccedilatildeo dos argumen tos 328 2 A arte do juiacutezo e a confutaccedilatildeo dos idola 534 s Signos linguagem idoUacuteJfOri 348 4 O meacutetodo da comunicaccedilatildeo 357 5 A funccedilatildeo da retoacuterica 364

VI A TRADiccedilAtildeo RETOacuteRICA E O MtrODO DA CI~NCIA 377 I Partus temporis 377 2 Funccedilatildeo da loacutegica tradicional e caractensticas da loacutegica nova 381 3 Presenccedila de modelos retoacuteTicos na loacutegica do saber cientiacutefico 386

4 A interpretaia naturae no Valerius Terminus a aplicaccedilatildeo das regras ramistas 387 5 A doutrina das tabuUacuteJe o ordenamento dos fatos naturais 398

6 A mnemoteacutecnica e a ministratio ad rnemoriLJm lugares retoacutericos e lugares naturais 407 7 A toacutepica e as histoacuterias naturais 418 8 Conclusotildees 425

NOTAS DA TRADuccedilAO 411

iacuteNDICE DE NOMES 437

~ shyiec

1

Este livro com este mesmo tiacutetulo Francis Bacon Da magia agrave ciecircncia foi I eacutepublicado haacute quase meio seacuteculo pelos Editores Laterza como 5070 volume da

Biblioteca de Cultura Moderna Em 1968 foi traduzido e tornou a ser publicado

pela University of Chicago Press em co-ediccedilatildeo com a Routledge and Kega~ Paul de Londres Em 1970 saiu uma ediccedilatildeo japonesa junto agrave Simul Press de

Toacutekio Depois de ter-me sido comunicada pela Editora Laterza a intenccedilatildeo de se

desfazer dos exemplares ainda existentes no depoacutesito propus uma reimpressatildeo

agrave Editora Einaudi que publicou o livro em 1974 na coletacircnea da Piccola Biblioteca EinauH Conforme poderaacute ser lido no prefaacutecio agrave segunda ediccedilatildeo o livro tinha

sido submetido a algumas modificaccedilotildees radicais quase todas de caraacuteter estiliacutestico

E em 1990 saiu uma traduccedilatildeo espanhola em Madri pela Alianza Editorial Ao se esgotarem os exemplares da Einaudi dirigi-me agrave Editora Il Mulino agrave qual

me liga um haacutebito que vem do comeccedilo dos anos 1960 a lembranccedila de uma das

anuais Leituras do Mulino que me fora confiada em 1988 e o fato (para mim deveras natildeo pouco significativo) que esta editora publicou entre 1983 e 2000 seis livros

de minha autoria Aceitei ao mesmo tempo com muita e pouca vontade o pedido

que me foi feito o de escrever uma nova prefaccedilatildeo

Natildeo posso decerto relatar aqui o que se passou com os estudos sobre Francis

Bacon desde aqueles anos agora jaacute distantes Uma vez que o presente livro foi

utilizado de maneiras diferentes no decorrer da longa discussatildeo (ainda natildeo encerrada) referente agraves relaccedilotildees entre a tradiccedilatildeo maacutegico-herrneacutetica e a ciecircncia

moderna dedicarei algum espaccedilo a este tema Aquela discussatildeo tranccedilou-se com

a histoacuteria da fortuna de Francis Bacon no seacuteculo XX e tambeacutem no que me diz respeito com as histoacuterias de minha vida intelectual Constaratildeo destas paacuteginas

tambeacutem lembranccedilas de pessoas reconhecimentos de contribuiccedilotildees recebidas e distanciamentos Sabe-se hoje com certeza (mesmo que muitos faccedilam ouvidos moucos) que a memoacuteria eacute bastante criativa e sempre muito pouco -fiel Depois

que se superaram os quinze lustros cada concessatildeo agraves lembranccedilas e cada convite a recordar equivalem (conforme se costumava dizer) a um convite para um casamento ou (conforme se diz hoje) - a um ganho na loteria nacional Tentarei

~

(sem esforccedilo algum - estaratildeo pensando aqueles pouquiacutessimos leitores que tambeacutem satildeo meus cariacutessimos colegas -) ser o menos criativo possiacutevel

Nesses anos tive repetidas ocasiotildees de publicar contribuiccedilotildees referentes a

Francis Bacon Uma vez que muitos daqueles escritos satildeo verdadeiras integraccedilotildees ao cDnteuacutedo do presente volume indiquei-os na bibliografia que se encontra no fina deste prefaacutecio

11

No fim da deacutecada de 1950 natildeo era haacutebito conforme dizem ser hoje mandar traduzir seus livros para o idioma inglecircs valendo-se dos fundos para a pesquisa

cientiacutefica que o Ministeacuterio coloca agrave disposiccedilatildeo dos professores universitaacuterios

Com toda probabilidade este livro teria uma circulaccedilatildeo muito mais limitada se no Journalof lhe History of ItUacuteas de 1958 (pp 584-87) natildeo tivesse saiacutedo um artigo de George Boas Recent Books in the History of Philosophy que dedicava

a meu livro trecircs paacuteginas e meia Boas o aproximava de A Disputa do Novo Mundo de Antonello Gerbi e justamente usava a respeito de ambos o termo histoacuteria das ideacuteias Gerbi - escrevia - traccedilou o progresso de um argumento Rossi

coloca uma ideacuteia complexa contra o seu fundo cultural dando-Ihe com isso uma nova interpretaccedilatildeo

Eu comeccedilara minhas pesquisas sobre Bacon em Milatildeo no decorrer do ano acadecircmico de 1950-51 contando com o precioso trabalho de Alessandro Levi

(de 1925) e aleacutem deste de dois livros importantes o ensaio brilhante e provocador

bull~ J-

r e r

de Benjamin Far~ington traduzido por Einaudi em 1952 com o tiacutetulo de Francis Bacon Filoacutesqfo da Idade Industrial e o denso volume de Fulton Anderson The Philosophyof Francis Bacon publicado pela Chicago University Press em 1948

Formara-me em Florenccedila agrave escola de Eugenio Garin e passara em seguida a trabalhar em Milatildeo com Antonio Banfi ond~ foraacolhido com grande

generosidade inclusive por seus generosos e irrequietos alunos (quando cheguei em Milatildeo em 1948 eu tinha 28 anos Luciano Anceschi Enzo Paci e Giulio Preti 87 e Remo Cantoni e Dino Formaggio 84) Com aquelas experiecircncias e aquelas ambiecircncias atraacutes de mim o livro de Anderson na eacutepoca muito celebrado

no mundo anglo-saxatildeo pareceu-me um comentaacuterio diligente e inteligente de alguns importantes textos de Bacon Se o trabalho dos historiadores consistisse apenas em glosar e comentar textos entatildeo lacopo Zabarella deveria ser reunido

aos maiores - coisa que ningueacutem sonha em fazer Oprojeto de meu livro era muito diferente do das precedentes monografias e isso foi energicamente sublinhado por Boas como Anderson eu utilizava todos os textos e natildeo apenas

as habituais paacuteginas do Novum Organon sobre os idola e as tabulae mas diferentemente do de Anderson meu livro estava interessado em mostrar como

a fIlosofia de Bacon se desenvolveu a partir da tradiccedilatildeo cultural de sua eacutepoca ( )

Lendo o livro tem-se um quadro mais claro do que antes das correntes intelectuais da Renascenccedila natildeo apenas na Inglaterra mas tambeacutem no continente

Boas concedia bastante espaccedilo a um resumo dos argumentos e das teses

presentes no livro Focalizava em particular as diferenccedilas entre a imagem baconiana da magia como saber secreto e a imagem que Bacon havia construiacutedo

(e incansavelmente divulgado) de uma ciecircncia que fosse ao mesmo tempo conhecimento do mundo e intervenccedilatildeo sobre ele que nascesse da colaboraccedilatildeo e

fosse em princiacutepio acessiacutevel a todos Bacon tal como eacute apresentado neste livro - concluiacutea ele - natildeo

comparece nos manuais de histoacuteria da fIlosofia aos quais estamos acostumados e o livro deveria ser traduzido pois os moacutesofos americanos que lecircem o italiano satildeo demasiado poucos

Conforme disse no comeccedilo o convite foi aceito dez anos mais tarde Quando o livro tornou-se acessiacutevel natildeo faltaram nem resenhas nem juiacutezos favoraacuteveis em

bull ~

--- shy

inglecircs No Time Literary Supplementdo dia 10 de agosto de 1968 num artigo natildeo

assinado conforme se usava entatildeo felicitava-se a tradutora e elogiava-se o livro

por ter o grande meacuterito de aceitar a complexidade dos processos intelectuais o

autor natildeo se contenta com falsas simplificaccedilotildees e eacute capaz de ver desenvolvimentos

internos ao pensamento de Bacon que escaparam a criacuteticos menos cuidadosos

() Este livro melhor do que qualquer outro coloca no seu contexto aquela

enigmaacutetica personalidade Trata-se de um instrumento indispensaacutevel paraI I qualquer estudioso da histoacuteria intelectual daquele periacuteodo

Imiddot Foi poreacutem a longa resenha de Frances A Yates de 19 de fevereiro de

Hl68 na New York Review qf Books que exerceu uma influecircncia decisiva quanto I aos destinos da ediccedilatildeo inglesa de meu livro e de sua fortuna A Yates que jaacute

havia publicado seu ceacutelebre livro sobre Giordano Bruno e a tradiccedilatildeo hermeacutetica

ao lado de seu natildeo menos famoso estudo sobre A Arte CUacutel Memoacuteria deu agrave sua1 I primeira intervenccedilatildeo o tiacutetulo de Bacons magic O meu livro tinha omiddot meacuterito de

mostrar que os temas do domiacutenio sobre a natureza e do melhoramento da condiccedilatildeomiddot

humana atraveacutes do conhecimento temas esses tatildeo proacuteprios de Bacon estavam

presentes tambeacutem na imagem da magia que emerge da obra de Cornelio Agrippa

No livro que escrevi - continuava afirmando Yates - Bacon aparece como um

pensador que reage agrave tradiccedilatildeo maacutegica e que assim mesmo tem para com essa

tradiccedilatildeo uma profunda diacutevida Bacon eacute visto sobre o fundo das ftlosofias da

Renascenccedila que ele descarta por desaprovaacute-las ao mesmo tempo em que delas

emerge Yates sublinhava outras duas novidades que ela encontrara no livro o

esaccedilo consideraacutevel dedicado agrave anaacutelise do uso baconiano dos grandes mitos

claacutessicos e o realce dado agrave importacircncia da arte da memoacuteria (um trabalho

pioneiro) na construccedilatildeo da celebeacuterrima teoria do meacutetodo

Em seu estudo sobre Agrippa publicado pela Urbana Illinois em 1966 G

Nauert tinha lembrado o nome de E Garin e dedicado algumas paacuteginas agrave

comparaccedilatildeo entre Agrippa e Bacon Numa resenha publicada na New York Review qf Books em S de marccedilo do mesmo ano Frances Yates reparara que o autor

havia por completo desconsiderado a existecircncia de meu livro bastante conhecido

pelos estudiosos americanos publicado na Itaacutelia nove anos antes do dele Num

ensaio de 1967 The Hermetic Tradition in Renaissance Science publicado no

t-shypsect$5I 0amp w AW

volume organizado por Charles Singleton Art Science arid History in the Renaissance Yates utilizara as teses presentes em meu livro para defender a figura de Bacon

enquanto novo espeacutecime de rosacruz que abandona o segredo e coopera

abertamente com os outros conforme iraacute acontecer com a Royal Society Para

Yates Bacon surgia como uma daquelas personagens cujo lugar na histoacuteria natildeo

fora compreendido visto que os historiadores da ciecircncia e da ftlosofia o haviam

considerado tatildeo-somente como um precursor do futuro sem examinar suas raiacutezes

no passado O meu meacuterito era o de ter indagado no meio daquelas raiacutezes e de ter

mostrado q~e tanto a imagem baconiana do saber enquanto poder quanto a de

uma ciecircncia dominadora da natureza provinham ambas do ideal do mago da

Renascenccedila No centro de minha imagem de Bacon estavam igualmente

entretanto sua insistecircncia quanto agrave natureza cooperativa do empenho cientiacutefico

sua polecircmica contra qualquer forma de saber secreto e de iluminaccedilatildeo seus

apelos em prol de uma razatildeo humilde ou de qualquer maneira ciente de seus

limites insuperaacuteveis Na verdade o livro deslocara o centro da discussatildeo e induzira alguns

historiadores a falar de outros argumentos que natildeo os habituais ou - conforme

se diz - misturara as cartas do baralho Tive prova disso quando num ensaio de

1957 ao referir-se ao livro de Yates sobre Giordano Bruno e ao presente sobre

Bacon Thomas Kuhn escreveu que O reconhecimento de Francis Bacon corno

figura de transiccedilatildeo entre o ma~o Paracelso e o filoacutesofo experimental Robert

Boyle contribuiu mais do que qualquer outra coisa nos uacuteltimos anos para

modificar a inteligecircncia histoacuterica das modalidades com as quais nasceram as

novas ciecircncias experimentais (cf Th Kuhn A tensatildeo essencialmiddot mUCUacutelnccedilas e

continuidade na ciecircncia - trad it La tensuacuteme essenziale cambiamenti e continuitagrave

nella scienza Turim Einaudi 1895 p 62) Uma vez que tambeacutem no mundo das

ideacuteias e dos juiacutezos eacute completamente verdade que uma cereja puxa a outra natildeo

me surpreendi demasiado quando a American History of Science Society

declarou num documento elaborado por Charles Schmitt que meu trabalho

demonstrara que a assim chamada standard interpretatiacuteon de Bacon tatildeo

frequumlentemente invocada pouco se fundamentava em algo que viesse da pena de

Bacon (o texto ao qual se deve a motivaccedilatildeo para a atribuiccedilatildeo da Sarton Medal foi

bullbull

publicado em Isis emjunho de 1986) Da mesma forma natildeo me surpreendi quando

numa excelente monografia sobre Bacon publicada no fim da deacutecada de 1980

encontrei a seguinte frase O livro de Rossi eacute quiccedilaacute a obra sobre Bacon mais

importante desse seacuteculo por ter dado iniacutecio a uma nova fase dentro dos estudos

baconianos (Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Sciena Oxford Clarendon

Press 1988 p 50) Numa linguagem apta a lidar com a solene do Lorde Chanceler

havia-me confidenciado privadamente a mesma coisa sobre Graham Rees dedicando-me em marccedilo de 1984 um de seus ensaios sobre textos ainda ineacuteditos

de Francis Bacon For Paulo Rossi - instaurator magnis magni instauratoris shy

a small token of my profound esteem A elegacircncia desta dedicatoacuteria faz com

que a vinte anos de distacircncia eu natildeo responda a ele coisa que aliaacutes mereceria pela absolutamente gratuita insolecircncia que do alto de sua competecircncia de explorador dos ineacuteditos baconianos e dos baixios de seu irremediaacutevel diletantismo filosoacutefico ele me dirigiu alguns anos mais tarde

Todos temos o condatildeo de engolir baldadas de gratificaccedilotildees sem sentirmoshy

nos saciados Quanto a isso creio natildeo ser eu uma exceccedilatildeo Por minha sorte nunca

alimentei demasiadas ilusotildees e a matildee natureza concedeu-me uma discreta dose de SEnso do humorismo Sempre apreciei a citaccedilatildeo de Esopo que Francis Bacon gostava

de lembrar Quanta poeira levanto Dizia a mosca pousada no eixo da roda de uma carroccedila Aconteceu-me tambeacutem de estigmatizar os comportamentos de tipo

paranoacuteico de colegas filoacutesofos mais ilustres do que eu ou convencidos de secirc-Io os quais crecircem firmemente que a proacutepria atividade intelectual configura-se como decisiva ou epocal(l algo que tem a ver com verdades indiscutiacuteveis ou com

conquistas perenes Faltam-me por completo essas formas de entusiasmo e natildeo creio

absolutamente que outros tenham de considerar como verdades os beneacutevolos juiacutezos sobre meu livro de 1957 Creio todavia que a mim pessoalmente deva ser permitido esperar que possam conter alguns elementos de verdade

bull[fft~i~--middot -~===~bull~ c

~

UI~~ ~~ Este livro continha segundo eu achava entatildeo alguns toacutepicos ou partes ~S

deles que mereciam uma ampliaccedilatildeo e um aprofundamento Eu havia utilizado e ~J assinalado no sexto capiacutetulo alguns claacutessicos da ars 11U1IWrativaDessas leiturasI shy

~S e das paacuteginas dedicadas ao tema da ministratio ad 11U1IWriam na obra de Francis

~ Bacon nasceram as pesquisas que conduziram agrave publicaccedilatildeo em 1960 pela Editora I Ricciardi do volume Clavis Universalis Arti delta Memoria e Logica

) Combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis Universalis Artes da Memoacuteria e L6gica Combinatoacuteria de Llull a Leibnix)(bl Das leituras de Giorgio Agricola de Vannoccio ~ Biringuccio e de muitos outros mecacircnicos do Quinhentos(cl aleacutem das paacuteginas 1 do primeiro capiacutetulo dedicadas agrave disputa sobre as artes mecacircnicas nasceram as ~

-= pesquisas que redundaram na publicaccedilatildeo por Feltrinelli em 1962 do livro I)

Filosofi e le Macchine 1400-1700 (Os Filoacutesofos e as Maacutequinas j 400(1700) Como) apecircndice a esse livro coloquei trecircs breves ensaios Veritagrave e utilitagrave della scienza

~ in Francesco Bacone (Verdade e Utilidade da Ciecircncia em Francis Bacon) (jaacute

publicado na Rivista critica di storia dellafilosofta em 1957) que ressentia muito das minhas conversas de entatildeo com Giulio Preti e que conteacutem uma criacutetica das I~ bull

interpretaccedilotildees da Filosofia de Bacon enquanto forma de utilitarismo Conteacutem ~~ ~~

tambeacutem a demonstraccedilatildeo de que a traduccedilatildeo standard da expressatildeo contida em

Novum Organum I 124 ipsissimae res sunt veritas et utilitas como truth and )- ti utility are the very sa11U things estaacute total e irremediavelmente incorreta Na ~ Q matildeo de muitos filoacutesofos que ignoram qualquer liacutengua a natildeo ser o inglecircs e 0)

escrevem ensaios sobre Bacon sem sequer dar uma espiada aos originais~ ~ latinos de seus textos essa traduccedilatildeo incorreta deu lugar a natildeo poucos~~ t ~ equiacutevocos natildeo desprovidos de consequumlecircncias

Acredito ser verdadeiro (diferentemente do que muitos escreveram e do

que algueacutem continua escrevendo) que se perguntar se as verdades cientiacuteficas

dependem dos procedimentos utilizados para afirmaacute-las ou de sua fecundidade

praacutetica eacute para Bacon um dilema sem sentido uma verdade cientiacutefica eacute sempre fecunda e tal fecundidade depende justamente e exclusivamente do seu caraacuteteacuter

de verdade As duas intenccedilotildees humanas gecircmeas a ~ecircncia e o poder coincidem

IV Cv (lt5 t-ICcedil ccedil-o - JJ~J e([~4 -~if eacute Cr((middotI[JA ~) -~ shy

~ l eacute f I (~~J j)cf

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bullbull

numa uacutenica e a ignoracircncia das causas provoca a falecircncia das obras Aquilo que

teoricamente vale como causa operacionalmente vale como regra (quod in contemplatione instar causae est id in operatione instar regulae est) Aquilo que eacute mais uacutetil na praacutetica eacute aquilo que eacute mais verdadeiro na teoria (Ista autem duo pronuntiota activum et contemplativum res eadem $Uni et quod in operanckJ utilissimum id in sciendo verissimum Novum Organum [14)

middotltiacute~middot~ eacute~~Ji)1 vJ(middotl

IV C_~Jf)(-~--1 )ampf- r 5middot-t-o ~ J~I middott)-q~-D

Depois de ter entrado a fazer parte de um trio que compreendia Vittorio

Mathieu e Giorgio Radetti cheguei agrave Universidade de Cagliari em 1962 Entre os muitos professores alojados no Hotel Jolly encontrei Ernesto De Martino que contava entatildeo com 54 anos e lecionava na Faculdade de Magisteacuterio Tinha lido seus livros e discutido muitas vezes com ele Remo Cantoni e Enzo Paci e

tinha por ele uma grande admiraccedilatildeo acompanhada por aquele tranquumlilo sentido de gratidatildeo que se sente pelos autores dos livros que percebemos serem decisivos para a nossa vida intelectual Ouvi-lo dizer que havia inserido umas vinte paacuteginas

I de meu livro sobre Bacon em sua antologia Magia e Civilizaccedilatildeo (Garzanti - 1962)

foi para mim um grata surpresa Ficamos muito proacuteximos em Cagliari ele veio agrave minha casa em Milatildeo e eu fui agrave dele em Roma Quando me ocorre de repensar o lugar que ele ocupou em minha vida em nossa amizade na montanha de livros

de antropologia e de psiquiatria que eu li apoacutes tecirc-lo encontrado parece-me inacreditaacutevel tecirc-lo conhecido e frequumlentado por tatildeo pouco tempo uma vez que ele morreu em 1965

Depois da leitura dos livros de De Martino e de I Pnmitivi de Re~o Cantoni

(que me havia impelido a ler A Filosqfta elas Formas Simb6licasde Ernst Cassirer) depois dos periacuteodos passados no Wagraverburg Institute - onde havia encontrado e

frequumlentado Frances Yates Gertrud Bing Ernst Gombrich D P Walker - a magia da Renascenccedila que encontrara em Florenccedila graccedilas agrave escola de Gann tornara-se para mim uma realidade mais ampla Natildeo conseguiria nem que quisesse dar uma ordem cronoloacutegica agraves minhas leituras desordenadas mas aquilo

que considero vaacutelido ainda hoje em li MonckJ Maacutegico de De Martino penso ser

bull 1amp2 ~ amp sshyi I

aquilo que indicava o proacuteprio De Martino em 1958 ou seja a tese da crise da

presenccedila como risco de natildeo se estar no mundo e a descoberta de uma seacuterie de

teacutecnicas (das quais fazem parte tanto a magia quanto a religiatildeo) destinadas a

proteger a presenccedila do risco de ela perder as categorias com as quais se eleva sobre a cega vitalidade e sobre a ingens sylva da natureza e destinadas - outrossim - a reabrirmediatamente o mundo dos valores comprometido por dita crise (p 3 13)

Agravequele nuacutecleo vaacutelido De Martino iraacute continuar fiel mesmo depois de ter lido Hubert Mauss e Malinoacutevski Entretanto o que tornava e ainda torna atuais tantas paacuteginas dele eacute a vigorosa polecircmica contra o que ele apoacutes ter ilustrado

suas promessas denominava as ameaccedilas da etnologia

A utilizaccedilatildeo das categorias do existencialismo e da fenomenologia o interesse fortiacutessimo pela psicopatologia a incidecircncia dos textos de Heidegger e de Jaspers a leitura de Mircea Eliade e de Leacutevi-Strauss tudo isso jamais conseguiu demover De Martino de uma de suas teses baacutesicas Aquela segundo a qual a

experiecircncia da diversidade ou da comp~~ensatildeo (fosse ela a do primitivo ou do psicoacutetico) natildeo pode nunca coincidir em caso algum com uma renuacutencia masoquista Sem um empenho para compreender o sentido de nossa histoacuteria eacute

vatildeo tentar compreender o sentido da ~~oacute~ia~~~out~s nem Pffiis poderaacute acontecer de noacutes entendermos melhor quem somos colocando-nos como apaacutetridas diante de outras civilizaccedilotildees disponiacuteveis indefinidamente para qualquer paacutetria

que possa no~ seduzir A verdade eacute que o ocidente orientou suas escolhas segundo os poderes da conscientizaccedilatildeo da persuasatildeo do prestiacutegio moral da poesia da

ciecircncia da vida democraacutetica do simbolismo civil [] Com isso a magia tornou-se no interior da civilizaccedilatildeo ocidental cada vez mais impotecircncia estiacutemulo cifrado do inconsciente desejo inautecircntico suspeito e frustrante servidatildeo inaceitaacutevel

ditadura do oculto e do incontrolaacutevel ou entatildeo resquiacutecio folcloacuterico No que concerne agrave religiatildeo De Martino pensava que a afirmaccedilatildeo de uma origem natildeo

divina mas humana dos modelos de cultura a tese que a cultura tenha origem humana e destino humano natildeo eacute uma entre as tantas teses possiacuteveis sobre a cultura

e sobre as instituiccedilotildees Qualquer sistema de escolhas culturais que esteja agrave nossa frente - concluiacutea - cai integralmente no acircmbito dessa nossa escolha

bull bullbull

As que De Martino chamava as ameaccedilas da etnologia agigantaram-se suas estruturas e em sua essecircncia que ela jaacute gastou suas proacuteprias energias que assustadoramente nas deacutecadas sucessivas a seu desaparecimento As suas escolhas jaacute se reduziu a mera negatividade A libertaccedilatildeo do homem consistia portanto em agrave sua recusa do irracionalismo histoacuterico-religioso e do relativismo cultural sacudir de suas costas a civilizaccedilatildeo ocidental (p XLV) Que algueacutem pudesse estaacute correlacionada sua imagem de uma antropologia que estaacute sempre correndo sacudir de seus ombros a civilizaccedilatildeo na qual nasceu e cresceu eacute justamente o o risco de transformar-se em um friacutevolo deffile de modelos culturais impelidos contraacuterio exato da posiccedilatildeo que De Martino havia defendido e sustentado como na passarela da ciecircncia por um friacutegido apaacutetrida em funccedilatildeo de antropoacutelogo sempre se diz com unhas e dentes ao longo de seu percurso intelectual completamente disponiacutevel para qualquer possiacutevel gosto cultural (Furore siacutembolo Visto pelos olhos dos jdanovistas que pretendiam saber o que eacute certo e o valore Milatildeo 1962 pp 86-87) Natildeo eram estas as ideacuteias que tornaram popular que eacute errado e pretendiam orientar todo tipo de escolha cultural De Martino De Martino no decorrer das deacutecadas de 1960 e 1970 Os entusiasmos pelo maacutegico era um irracionalista ou como miacutenimo um estudioso que manejava com o maacuteximo

as tornavam pouco atuais e irrelevantes Quando em 1973 saiu uma nova ediccedilatildeo de desenvoltura textos e autores ambiacuteguos e perigosos que era melhor natildeo de lImando magico o editor sentiu a necessidade de confiar a Cesare Cases a publicar e certamente natildeo difundir Aos olhos daqueles que nas deacutecadas seguintes tarefa de escrever uma introduccedilatildeo Cases tinha dedicado uma porccedilatildeo de seu o aproximaram a Adorno e agrave Dialeacutetica do Iluminisme toda declaraccedilatildeo de fidelidade caacuteustico engenho agraveanaacutelise a partir das posiccedilotildees da esq uerda (mais do que esquerda aos valores da razatildeo eacute por parte de De Martino apenas uma tentativa mais ou natildeo daacute) de autores colocados numa direita tatildeo extremada (que mais do que assim menos acanhada de romper o isolamento recorrendo a serviccedilos que lhe permitem natildeo dava) uma outra natildeo irrelevante porccedilatildeo tinha ele dedicado no fmal da deacutecada usar instrumentos irracionalistas sem ser considerado um irracionalista (vejashyde 1950 a defender a pureza do marxismo enquanto concepccedilatildeo de mundo a se P e M Cherchi De Martino Naacutepoles Liguori 1987 p 227) Quem sem polemizar contra Giulio Preti contra o neo-empirismo e suas infIltraccedilotildees nas documentaccedilatildeo efetiva faz uso de categorias do tipo recorrer a serviccedilos serveshyfileiras da esquerda se de um instrumento tatildeo poderoso que passa a ser absolutamente esteacuteril e

Na introduccedilatildeo Cases estava preocupado principalmente em indicar os limites ineficaz Se De Martino repete muitas vezes com convicccedilatildeo e em eacutepocas e textos ou seja os defeitos da posiccedilatildeo de De Martiacuteno Lido com as lentes paleomarxistas diferentes sua fidelidade a valores de tipo Iluminista pode-se sempre dizer de Cases o livro tinha um defeito imperdoaacutevel natildeo era suficientemente antishy que o faz por razotildees poliacuteticas ou entatildeo que o faz inconscientemente ou sem ocidental Na introduccedilatildeo aparecem - concebidas como repreensotildees ou objeccedilotildees se dar conta Raciocinando assim tem-se sempre razatildeo Cortando rente criando a De Martino - as seguintes expressotildees a civilizaccedilatildeo ocidental natildeo eacute contestada alternativas riacutegidas usando meacutetodos inquisitoriais (do tipo diz uma coisa mas em suas estruturas mas na falta de consciecircncia de sua gecircnese (p XXVI) para o natildeo acredita nela de verdade) acaba-se destruindo justamente o espaccedilo que De autor as marcas da civilizaccedilatildeo ocidental permanecem oacutebvias e delas natildeo se Martino havia construiacutedo para si com tanta fadiga acaba-se processando-o pelo contesta a essecircncia mas tatildeo-somente a arrogacircncia (p XXVII) De Martino remete crime de uma pretensa incoerecircncia agraves potencialidades natildeo consumadas da energia plasmadora da civilizaccedilatildeo Para De Martino a ambiguumlidade natildeo estava em noacutes mas sim nas coisas O ocidental e nela tem demasiada confianccedila (pp XLI XLVI) considera mundo maacutegico estaacute atraacutes deIOacutes mas tambeacutem dentro de noacutes seinpre prOacuteimo a fmalmente a razatildeo ocidental como um dado (p XLVII) Antecipando as recusas noacutes como uma alternativa uma tentaccedilatildeo um caminho de fuga Em muitos setores globais de hoje de Asor Rosa suscitando o interesse dos sequazes de Evola os da cultura e da poliacutetica natildeo se sabe disso e natildeo se leva isso em consideraccedilatildeo quais vindos da extrema direita jaacute tinham negado haacute bastante tempo a essecircncia Movemo-nos entatildeo no interior de uma histoacuteria imaginaacuteria enrijecida no culto do ocidente Cases sustenta que a civilizaccedilatildeo ocidental deve ser contestada em de uma razatildeo que natildeo se questiona sobre seu passado Constroacutei-se inclusive

-------------~_ ~

bullbull

uma histoacuteria da ciecircncia imaginaacuteria em que Bacon se torna o filoacutesofo da idade industrial na qual tambeacutem Gilbert e Kepler e Newton se tornam cientistas

positivos O monoacutelogo colonialista e missionaacuterio da velha Europa - escreveu

De Martino - vai-se tornando dia apoacutes dia cada vez mais solitaacuterio e delirante A histoacuteria do conceito de magia no Ocidente serve para nos dar essa consciecircncia e

serve ao mesmo tempo como medida protetora contra aquele mal diferente

que eacute a infidelidade radical em relaccedilatildeo agravepolecircmica antimaacutegica de nossa civilizaccedilatildeo

com a conseguinte abdicaccedilatildeo diante dos prestiacutegios da magia (E De Martino Magia e civiltagrave Milatildeo Garzanti 1962 p 9) Talvez natildeo seja um caso o fato de

~ que do interesse de De Martino para com a histoacuteria das ideacuteias para com a

passagem da magia agrave ciecircncia entre Quinhentos e Seiscentos - que para ele natildeo

era um episoacutedio mas o episoacutedio decisivo da histoacuteria do ocidente (e indiretamente

da histoacuteria do mundo) - natildeo reste nenhum traccedilo nos muitos doutos e

informadiacutessimos ensaios e livros que foram publicados sobre ele No ano que seguiu agrave republicaccedilatildeo de Il mondo magico entre 20 e 23 de

abril de 1974 tiveram lugar em Capr~ organizadas por Maria Righini Bonelli e William Shea as Jornadas Internacionais de Histoacuteria da Ciecircncia As atas do congresso saiacuteram em 1975 nas Science History Publications de Nova York com

o tiacutetulo de Reason Experiment andMysticism in lhe Scientifiacutec Revolution Foi ali que eu li uma comunicaccedilatildeo entitulada Hermeticism Rationality and the Scientific

Revolution que foi comentada por A Rupert Hall O conteuacutedo da comunicaccedilatildeo

- bem distante da vaga do magismo indiscriminado da eacutepoca - eacute resumido no

paraacutegrafo 5 do Prefaacutecio agrave segunda ediccedilatildeo (escrito naquele mesmo ano) que

segue aqui Dez anos mais tarde Charles Schmitt depois de lembrar a insistecircncia

com que eu tratava os temas maacutegicos e mitoloacutegicos tatildeo distantes da imagem da

baconian science que circulava na deacutecada de 1950 resumia com clareza o que tinha acontecido Deve ser lembrado que o Bacon de Rossi surgiu em sua

primeira ediccedilatildeo antes da atual corrida para colocar magia e ocultismo no centro

do pensamento da Renascenccedila Na verdade aquele livro foi responsaacutevel e natildeo

pouco por aquela reavaliaccedilatildeo dos fatores maacutegicos e ocultos presentes na primeira

ciecircncia moderna na sua uacuteltima geraccedilatildeo O que eacute importante na abordagem de

Rossi eacute que ele nunca deixou as questotildees centrais afastarem-se do ponto focal

bull

Enquanto outros empurravam a nova interpretaccedilatildeo longe demais ele natildeo hesitou em traccedilar a linha que divide as hipoacuteteses cientiacuteficas das fantasias Apesar de o livro fazer parte da base a partir da qual se desenvolveu a ecircnfase hoje corrente sobre a assim chamada Tradiccedilatildeo Hermeacutetica quando as coisas comeccedilaram a sair do controle ele foi um dos primeiros a dissociar-se de algumas das direccedilotildees mais bizarras rumo agraves quais estavam se movendo os entusiastas (Isis junho

1986 e tambeacutem Anais do Instituto e Museu de Histoacuteria da Ciecircncia de Florenccedila X

1985 p 138)

v

Do clima anticientiacutefico de caraacuteter hermetizante ocultista e decididamente

filo-maacutegico que se difundiu na Itaacutelia (e natildeo apenas na Itaacutelia) desde o final da deacutecada de 1960 eu jaacute tinha me distanciado desde o iniacutecio A comeccedilar por um

artigo publicado em Rinascita em 24 de maio de 1968 no qual estaacute escrito Entrou

em crise a tese da superioridade dos modernos Natildeo apenas no sentido de uma

recusa do progresso como caminho linear e garantido mas no proacuteprio questionamento do conceito mesmo de civilizaccedilatildeo moderna O mundo da teacutecnica

da ciecircncia da induacutestria natildeo eacute analisado em suas componentes histoacutericas mas

concebido como pura e total negatividade A partir de entatildeo e nas deacutecadas que

seguiram foram tiradas todas as consequumlecircncias impliacutecitas nessa teoloacutegica

asserccedilatildeo Acompanhando e reforccedilando uma voga irrefreaacutevel de magismo

abriram caminho e se tornaram ideacuteias correntes fantasias sobre uma nova e

assombrosa ciecircncia proletaacuteria que teria em breve substituiacutedo a corrupta ciecircncia

burguesa e sobre um pensamento maacutegico que daria lugar a uma alternativa para

o ressecado racionalismo Intelectuais de esquerda apresentaram o pouso de homens na lua como sendo a mais perfeita especulaccedilatildeo que a sociedade capitalista

() conseguiu organizar em prejuiacutezo dos oprimidos e dos espoliados como uma

operaccedilatildeo de real conteuacutedo reacionaacuterio (M Cini Caiacutemos numa ratoeiraacute no jornal L Unitagrave 26 de julho de 1969) No comeccedilo daquele ano sustentava-se que

o uacutenico discurso correto era o de uma recusa da ciecircncia enquanto instrumento

de alienaccedilatildeo e opressatildeo do homem (F Piperno A greve dos ceacuterebros em

~ c

~

bullbull

L Espresso Colore 2 de fevereiro de 1969) A ciecircncia escrevia Umberto Curi

constituiu-se originariamente consolidou-se e desenvolveu-se ateacute hoje ( ) como forccedila produtiva do capital contra o trabalho (em AAvv Scienza epolere Milatildeo

Feltrinelli 1975 p 147) Para a superficialidade e a simploriedade natildeo haacute limites estabelecidos como na sociedade medieval quem decidia se uma teoria cientiacutefica

era verdadeira ou falsa era o papa - escrevia G Viale - na industrial quem decide a validade ou natildeo das teorias cientiacuteficas eacute o Pentaacutegono (Universidade a

hip6tese revolucionaacuteria Paacutedua 1968 p 118) O apocalipse associava-se como de haacutebito ao otimismo mais desenfreado e sem razatildeo

middot~ A partir do arrombamento das instituiccedilotildees - afirmavam Elisabetta Donini

e Tito Tonietti em Quaderni Piacentini (1977 63-64 p 132) - vai nascer uma nova revoluccedilatildeo copernicanam A ciecircncia nascida das cinzas da metafIsica de bull

lAristoacuteteles para levar a cabo e fazer funcionar o domiacutenio que a burguesia deteacutem ~

como classe soacute pode morrer com ela De sua morte natildeo surgiraacute uma nova

ciecircncia o novo saber seraacute tatildeo diferente do anterior que mereceraacute um novo

termo Teses desse gecircnero tornaram-se na Itaacutelia de entatildeo verdadeiros lugaresshy

comuns transformaram-se em ideologias atraindo um grande nuacutemero de jovens sindicalistas poliacuteticos funcionaacuterios donas~e-casa e principalmente professores

Estes termos tecircm eles todos uma caracteriacutestica comum eles substituem agrave anaacutelise a peremptoriedade dos juiacutezos e aos projetos a alusatildeo ao Radicalmente Novo

Como do Novo e do Outro natildeo se pode falar (tal como natildeo se pode falar do Deus ~ dos miacutesticos) procede-se necessariamente por alusotildees e negaccedilotildees De qualquer

maneira os projetos satildeo sempre algo de negativo com respeito aos processos em ato e aos movimentos Quando Giulio Maccacaro foi interrogado (em 1974)

quanto ao significado do projeto de uma ciecircncia nova ele respondeu com as seguintes palavras considero impossiacutevel a resposta e improacutepria a pergunta

Gostaria de explicar-me por meio de uma analogia o preso que nasceu enquanto

tal isto eacute o mais verdadeiro dos presos natildeo pode projetar a liberdade e realizar

a fuga E acrescentava temos de atuar para que seja possiacutevel o nascimento de uma ciecircncia nova a ciecircncia de um outro poder mas natildeo podemos predeterminaacuteshy

la sem impedi-la (em Scienza e Potere cito pp 54-55) Os projetos traem os processos as anaacutelises distorcem a vida a rebeliatildeo acaba por parecer mais

bullf~~~-~--F

importante do que o mundo ao qual ela poderia dar origem A revolta enquanto

tal tonia-se um fim a ser perseguido Isso jaacute tinha sido teorizado na Itaacutelia haacute

mais setenta anos por Giuliano o Sofista numa paacutegina ceacutelebre da revista

Leonardo cada programa cada projeto de itineraacuterio eacute uma limitaccedilatildeo Junto agrave assim chamada 1iteratura de contestaccedilatildeo a nova magia encontrou

grandiacutessima difusatildeo No livro The Making 0 Counter-Culture Rejlections on lhe Technocratic Society and Its routliful Opposition Theodor Roszak um dos mais

conhecidos expoentes da nova esquerda americana de entatildeo valeu-se do ensinamento de Thomas Kuhn para apresentar a consciecircncia objetiva como

uma mitologia Baseado nisso ele contrapocircs as extraordinaacuterias possibilidadeacutes de uma nova visatildeo maacutegica do mundo agrave racionalidade restrita da ciecircncia que embota nosso sentido do maravilhoso Acabou apresentando o xamanismo como

o modelo de uma cultura nova e mais livre O de Roszak natildeo foi certamente um caso isolado Tambeacutem na Itaacutelia as

posiccedilotildees que reduziam a ciecircncia agrave ideologia burguesa e pensavam que o saber cientiacutefico-racional era responsaacutevel pelo esvaziamento de sentido e pelo

desencantamento do mundo aliaram-se a posiccedilotildees regressivas e miacutesticoshyreacionaacuterias Um verdadeiro obscurantismo anticientiacutefico inspirado em Spengler

e em Heidegger vestiu os trajes do marxismo casando com a heranccedila de Nietzsche do vitalismo e do vanguardismo do comeccedilo do Novecentos

A descida para o plano arcaico da experiecircncia maacutegica a exaltaccedilatildeo do primitivismo e do imediatismo a nostalgia do passado como paraiacuteso de uma

humanidade natildeo reprimida a nostalgia pelo mundo camponecircs deixaram de ser considerados temas pertinentes exclusivamente ao pensamento reacionaacuterio shy

conforme havia sido durante longo tempo - mas vieram a ser propostos e sustentados tambeacutem no interior da esquerda como vaacutelidos instrumentos de libertaccedilatildeo dos pecados e das alienaccedilotildees presentes na sociedade moderna

I

VI

O motivo de eu natildeo concordar com as conclusotildees de F A Yates P M

Rattansi e de outros estudiosos natildeo dependia certamente do fato de que ambos sustentavam a necessidade para um historiador da ciecircncia moderna de ocuparshyse de magia e de hermetismo mas do fato de que eu via neles a tendecircncia para

sublinhar exclusivamente os elementos de continuidade entre a tradiccedilatildeo e a

imagem moderna de ciecircncia No centro da reflexatildeo de Yates estaya a pergunta por que justamente naquele momento Quais os motivos daquela emergecircncia -Yates havia apresentado o seu Giordano Bruno como sendo um estudo histoacuterico

dos motivos do nascimento da nova ciecircncia Nas raiacutezes daquela emergecircncia estava um novo tipo de interesse para com o mundo e as operaccedilotildees sobre a

natureza A magia renascimental cltnstitui justamente a realizaccedilatildeo de uma reorientaccedilatildeo psicoloacutegica da vontade rumo agrave accedilatildeo Atraveacutes daquela fundamental

mudanccedila psicoloacutegica aparece para a histoacuteria na Europa do Quinhentos a atribuiccedilatildeo de um valor agraves operaccedilotildees Tal atribuiccedilatildeo encontra-se na raiz da ciecircncia

moderna e constitui o seu porquecirc A visatildeo hermeacutetica de um universo regido pelas operaccedilotildees do mago eacute apresentada segundo esse ponto de vista na conclusatildeo

de seu trabalho como sendo a primeira fase da revoluccedilatildeo cientiacutefica que eacute caracterizada jaacute na segunda fase pela visatildeo de um universo mecanicista regido pelas leis da mecacircnica

A tese natildeo eacute completamente nova Spengler jaacute havia insistido em paacuteginas que seriam retomadas e discutidas por Max Scheler na importacircncia do faustismo

para o nascimento da ciecircncia A vontade teacutecnica do poder o saber-de-domiacutenio (Herrschaftwissen) haviam sido interpretados como um primum capaz de explicar

o emergir da ciecircncia no interior da histoacuteria do ocidente Numa perspectiva

diferente tambeacutem Jung e Eliade haviam chegado a respeito desse ponto - natildeo secundaacuterio - a conclusotildees parecidas mesmo se expressas numa linguagem muito

mais imaginativa A ideacuteia-guia do mundo moderno tinha parecido a Jung uma

versatildeo secular do sonho alquUacuteTIico a alquimia eacute o alvorecer da idade cientiacutefica quando o daimon do espiacuterito cientiacutefico obrigou as forccedilas da natureza a servir o

homem em medida antes desconhecida Para Mircea Eliade os alquimistas satildeo

I I J bull~

9

os antecipadores da essecircncia da ideologia que caracteriza o mundo moderno e que chegou agrave plena maturaccedilatildeo com o marxismo e o positivismo no decorrer do seacuteculo XIX a feacute na transmutaccedilatildeo da natureza e nas ilimitadas possibilidades do

homem Eacute dificil natildeo concordar com Frances Yates quando ela afirma que a histoacuteria

da emergecircncia da ciecircncia moderna resulta incompleta sem a histoacuteria daquilo de onde ela emerge e eacute certamente verdade que uma histoacuteria capaz de iluminar as

interaccedilotildees entre magia e ciecircncia eacute sem duacutevida mais frutuosa do que uma (que hoje ningueacutem escreve) que se contenta em celebrar os triunfos da ciecircncia do

seacuteculo XVIL Os trabalhos de Yates deram uma contribuiccedilatildeo decisiva ao aclaramento dessas interaccedilotildees Yates entretanto limita-se a sustentar essas teses

aceitaacuteveis a utilizar algumas observaccedilotildees feitas (entre outros) por Jung e Eliade

ou entatildeo ter-se-ia apropriado da tese deles da ciecircncia enquanto incapacidade de experimentar o sagrado Seria o caso de POcirc--Io em duacutevida quando se lecircem no

livro dela afirmaccedilotildees desse tipo Por acaso a ciecircncia natildeo eacute tudo somado nada

mais do que uma gnose uma visatildeo da natureza do Todo que procede atraveacutes de revelaccedilotildees sucessivas (F Yates Giordano Brurro e a tradiccedilatildeo hermeacutetica trad it

Bari Laterza 1969 pp 447-8 452)(d) Tambeacutem no livro de 1972 sobre o tipo de

pensamento dos RosacruzesYates afirmava que eu havia dado ecircnfase ao matiz de milenarismo constante na InstauratW magna scientiarum e tinha demonstrado

que Bacon sai justamente da tradiccedilatildeo hermeacutetica da magia e da Cabala da

Renascenccedila por ele alcanccediladas atraveacutes dos magos naturais (O Iluminismo dos Rosacruzes um Estilo de Pensamento na Europa do Seiscentos trad it L llluminismo dei Rosacroce urro stile dipensiero nellEuropa Del Seicento Turim Einaudi 1976

pp60 142-143)

Difiacutecil eacute subtrair-se agrave impressatildeo de que a tentativa de Yates era a de

reconduzir a segunda fase (mecanicista) da assim chamada revoluccedilatildeo cientiacutefica agrave primeira fase (maacutegico-hermeacutetica) e de que o estudo das interaccedilotildees entre essas

duas fases tivesse de servir para demonstrar que eacute inuacutetil procurar distinguir a ciecircncia da magia sendo que a primeira fase jamais teraacute fim As indagaccedilotildees sobre o hermetismo e sobre a magia satildeo importantes pois nos ajudam a compreender

melhor as origens da ciecircncia moderna (a qual no comeccedilo de seu longo percurso

bull I

i

deveu em parte sua vida tambeacutem a uma disreputable structure of ideas) ou

entatildeo o satildeo porque nos levam agrave conclusatildeo que a ciecircncia moderna nada mais eacute do

que a continuaccedilatildeo em formas novas de uma abordagem de tipo miacutestico da

natureza Satildeo indagaccedilotildees importantes porque nos mostram como tem sido dificil tortuoso e complicado o caminho da razatildeo cientiacutefica ou entatildeo porque contribuem

para mostrar as bases irracionais da construccedilatildeo da primeira ciecircncia moderna e

de qualquer outra forma de ciecircncia possiacutevel Com a revoluccedilatildeo cientiacutefica nasceu na histoacuteria um tipo de saber intersubjetivo e capaz de crescer um saber puacuteblico

que eacute alternativo ao saber secreto da magia e do ocultismo O que eacute contestado eacute o conhecimento insuficiente da gecircnese da ciecircncia moderna ou a proacutepria estrutura da ciecircncia moderna

Tenho a impressatildeo de que algo parecido com o que se passou com muitos leitores de Freud tenha ocorrido com muitos estudiosos da tradiccedilatildeo hermeacutetica apoacutes middotter ficado sabendo da existecircncia do inconsciente do condicionamento exercido pelas pulsotildees e pelos instintos sobre a vida da consciecircncia e da razatildeo

depois de ter reconhecido a existecircncia dos elementos de agressividade que atuam por traacutes da fachada respeitaacutevel da civilidade concluiacuteram - diferentemente do

que fazia Freud - que natildeo existem mais razatildeo nem ciecircncia nem civilidade mas haacute apenas instintos agressivos e desejos pulsionais

VII

Nos anos em que haviam praticamente desaparecido os modernos e nos departamentos de filosouumla soacute se encontravam poacutes-modernos rampantes

costumava-se defender duas teses de caraacuteter epocal A primeira tese de

- caraacuteter mais geral contrapunha moderno e poacutes-moderno O primeiro era ~

qualificado como a idade de uma razatildeo forte que constroacutei explicaccedilotildees totalizadoras

do mundo e que eacute dominada pela ideacuteia de um desenvolvimento histoacuterico do

pensamento como iluminaccedilatildeo incessante ou progressiva ou seja como a idade da ordem nomoloacutegica normativa da razatildeo e de uma sua estrutura monoliacutetica e

-~altlotildeiatildeAdespeito de Niccoloacute Machiavelli e de Giambattista Vico o moderno era definido como a idade do tempo linear caracterizada pela superaccedilatildeo ou

bull- -------~---

seja pela novidade que envelhece e eacute rapidamente substituiacuteda por uma novidade mais nova A segunda tese de caraacuteter mais limitado e especial afirmava que

siacutemiles analogias metaacuteforas semelhanccedilas que satildeo formas tiacutepicas ou

caracterizadoras da cultura da eacutepoca barroca satildeo energicamente recusadas pela nova ciecircncia da natureza

Para mostrar a inconsistecircncia dessa segunda tese em 1984 publiquei em Intersecccedilotildees um ensaio com o nome de Os siacutemiles as analogias as articulaccedilotildees da

natureza (Le similitudin~ le analogie le articolazioni della natura mais tarde incluiacutedo no volume [ ragni e k flnniche un ap0UacuteJgia della storia della scienza (As Aranhas e As Formigas uma ApoUacuteJgia da HisMna da Ciecircncia) Bolonha n Mulino

198~) no qu~l eu mostrava que parasustentar aq~ela tese Michel Foucault f haVia se apOIado numa passagem latma de FranCiS Bacon fazendo uso natildeo t do texto original mas de uma traduccedilatildeo dele feita no Oitocentos Acontecia

que termos - chave (ressemblancee similitude) sobre os quais se fundava todo o seu genial piroteacutecnico e desenvolto discurso compareciam de forma urn tanto misteriosa na traduccedilatildeo francesa mas natildeo existiam absolutamente no original latino

Uma das ideacuteias mais tolas professadas pelos poacutes-modernistas consistia em

apresentar a modernidade como uma eacutepoca de certezas como uma espeacutecie de idade da seguranccedila da qual haacute poucos anos apenas e por meacuterito de trecircs ou

quatro filoacutesofos parisienses alguns intelectuais extremamente aggiornatihaviam dolotilderosamenteern~rgido~Francis Bacon era freqUentemente citado como o tiacutepico

expoente ou campeatildeo do moderno pelos defensores da primeira das duas teses

que enunciei acima Polemizando com aquela imagem bastante cocircmoda escrevi

uma comunicaccedilatildeo para o encontro sobre Moderno e Poacutes-moderno organizado

em marccedilo de 1986 no Instituto Gramsci da Toscana Dei-lhe o tiacutetulo de [doia da Modernidade publicada mais tarde com outros ensaios em Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (CorifTonto dos Engenhos Modernos ePoacutes-modernos - Bolonha

n Mulino 1989) Esclarecendo que o nome idola era para Bacon sinocircnimo de

superstitions como tambeacutem de notionesfalsae ou volantes phantasiae inseri em meu escrito inclusive um elenco de algumas ideacuteias fUosoacuteficas de Bacon que me permito

reproduzir aqui

bull

f O universo natildeo eacute uma realidade ordenada e estruturada hierarquicamente e se rebelam e condicionam nosso intelecto Acabamos entatildeo por discutir natildeo -shy Natildeo existe nenhuma necessaacuteria correspondecircncia entre os elementos que o acerca das coisas mas acerca das palavras Tentamos entatildeo construir uma

l constituem nem entre microcosmo e macrocosmo Natildeo apenas o homem natildeo linguagem rigorosa feita de definiccedilotildees Acabamos por perceber que aquela

reflete em sua mente a estrutura do mundo como tambeacutem entre a ordem do linguagem fala apenas de palavra e que as coisas fugiram-nos irremediavelmente

cosmo e a da sociedade natildeo existe nenhuma correspondecircncia que possa ser das matildeos Por outro lado estamos condenados a fazer uso da linguagem e dela

encontrada As fontes do conhecimento satildeo vaacuterias a feacute a tradiccedilatildeo o sentido o natildeo podemos prescindir

i intelecto DifIcil eacute estabelecer uma hierarquia entre elas A feacute s6 vale para as Entretanto tambeacutem a necessidade de pontos de apoios confiaacuteveis e

indubitaacuteveis faz parte da natureza do homem Parece que os homens sentemI coisas que lhe pertencem O sentido nos engana muitas vezes e o intelecto muito I t mais vezes S6 temos certeza de uma coisa que natildeo podemos nos fiar na tradiccedilatildeo a necessidade de princiacutepios estaacuteveis procuram uma espeacutecie de eixo em

em geral e na filosofia em particular uma vez que nelas foram construiacutedos volta do qual fazer rotar a variedade dos argumentos e das meditaccedilotildees Se

inuacutemeros mundos de palco semelhantes aos teatros dos poetas onde as histoacuterias o intelecto sofre abalos e flutuaccedilotildees os homens tecircm a impressatildeo que o ceacuteu desaba

contadas tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada em cima deles e procuram logo um chatildeo soacutelido uma espeacutecie de Atlas dos

um Os enganos que se encontram em nossas fontes de conhecimento natildeo satildeo pensamentos semelhante ao que na lenda suportava o ceacuteu sobre seus ombros Na

como defeitos ou culpas aos quais se pode remediar Dependem do fato de que realidade os homens tecircm mais medo da duacutevida do que do erro e se iludem de

nossa mente mistura continuamente sua natureza com a natureza das coisas e poderem estabelecer alguns princiacutepios dos quais possa ser derivado todo o saber

do fato de que as imagens falsas e as falaacutecias fazem parte da estrutura da mente e em torno dos quais eles possam fazer rotar todas as suas disputas

satildeo inatas nela e estatildeo radicadas na natureza humana Os erros satildeo inseparaacuteveis Mas o problema maior eacute o da novidade e da dificuldade ou da incapacidade

de nossa natureza e condiccedilatildeo de vida Posso descrevecirc-Ios tentar exorcizaacute-los de pensar o novo Porque a mente humana estaacute mal organizada primeiro desconfia

tomando consciecircncia deles De muitos deles nunca poderei em caso algum ficar demasiado de si proacutepria e em seguida se despreza No comeccedilo parece

completamente livre inacreditaacutevel que algo possa ser descoberto Depois tatildeo logo esse algo eacute

A imagem de que eacute possiacutevel servir-se para pensar o universo eacute a do labirinto descqberto acha-se inacreditaacutevel que possa ter sido ignorado Haacute um duplo

ou caso se prefira a da selva Com efeito natildeo haacute estradas visiacuteveis mas somente preconceito que atua sempre ameaccedilando o novo a crenccedila cristalizada naquilo

caminhos ambiacuteguos Natildeo haacute siacutemiles seguros apenas semelhanccedilas enganadoras que jaacute se encontra estabelecido e a tendecircncia em inserir o novo (privando~ de

de signos e de coisas Natildeo haacute percursos em linha reta apenas espirais e noacutes seu caraacuteter de novidade) dentro de um esquema jaacute prefigurado Se antes da

torcidos e complicados O acaso os efeitos da credulidade as primeiras noccedilotildees introduccedilatildeo da seda tivesse sido imaginada a existecircncia de um fio diferente do

absorvidas na infacircncia constituem aquele patrimocircnio ao qual damos o nome de algodatildeo e da latilde e mais suave brilhante e resistente quem teria sido capaz de

razatildeo Sequer o que realmente nos diferencia dos animais nos ajuda muito Porque pensar numa taturana ou num verme

a linguagem natildeo eacute absolutamente conforme se acreditou durante muito tempo Estando assim as coisas natildeo tem sentido um quadro completo e

( uma entidade controlaacutevel As palavras a partir do momento em que satildeo usadas exaustivo do mundo Onde quer que ele seja construiacutedo esse quadro suscita um

retorcem sua forccedila contra o intelecto Parece-nos poder traccedilar mediante as consenso imediato uma vez que produz sentimentos de seguranccedila Poreacutem eacute

palavras linhas de demarcaccedilatildeo bem visiacuteveis entre as coisas Depois poreacutem toda melhor estimulara inteligecircncia do que usurpar a boa feacute Eacute melhor renunciar a

vez que tentamos deslocar aquelas linhas as palavras satildeo um obstaacuteculo para noacutes compor tratados e proceder ao contraacuterio por afirmaccedilotildees desligadas e provisoacuterias

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como eacute igualmente melhor assegurar menos e mostrar os vazios do saber e VIII solicitar a pesquisa Nenhuma filosofia universal e completa eacute proponiacutevel e as teses filosoacuteficas que foram expostas ateacute agora natildeo satildeo as expressotildees da verdade mas sim satildeo comparaacuteveis aos sons pouco agradaacuteveis emitidos pelos muacutesicos quando afinam seus instrumentos O concerto ainda estaacute para chegar e pode-se alimentar apenas a esperanccedila de que seja melhor do que os sons atuais Por isso natildeo haacute nenhum meacutetodo que seja universal e perfeito Por isso natildeo existe nenhuma

arte da descoberta uma vez que ela cresce com o proacuteprio crescimento das

-descobertas (Scrittifilosqfiaacute org Paolo Rossi Turim UTEU 1975 pp 561 573536-37560526608570263274427 593-94 423621 275-76346 637 A uacutenica referecircncia obtida de um escrito fora da ediccedilatildeo indicada encontrashyse em The Worlcs oJ Francis Bacon org R L Ellis 1 Spedding D D Heath Londres 1887-92 I pp 640-41)

Concluindo essas satildeo algumas das respostas dadas por Francis Bacon entre 1605 e 1620 agrave pergunta o que eacute o saber Se essas respostas forem de algum modo significativas parece-me dificil aplicar a elas os roacutetulos utilizados pelos filoacutesofos da poacutes-modernidade explicaccedilotildees totalizadoras do mundo ou entatildeo capacidade projetual de uma subjetividade que se desdobra rumo a um horizonte de fins dos quais pretende possuir a chave ou ainda extremada aspiraccedilatildeo a uma ordem absoluta e definitiva de seguranccedila Parece-me igualmente diflcil utilizar metaacuteforas como a seguinte o olho humano natildeo se abre sobre as trevas originaacuterias do mundo mas sobre a cena de um cosmo jaacute aclarado pela luz intelectual Essa metaacutefora exprimia para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica de 18 de julho de1985) a proacutepria essecircncia daquela imaginaacuteria modernidade em torno da qual se esgotavam os poacutes-modernistas Estes inclusive pareciam totalmente ignaros quanto agrave nobre sentenccedila de um autor que consideravam um de seus antepassados Nunca existiu eacutepoca alguma que natildeo tenha se achado moderna no sentido excecircntrico do termo e natildeo tenha acreditado que se encontrava imediatamente diante de um abismo A consciecircncia desesperada e luacutecida de encontrar-se no meio de uma crise decisiva eacute algo de crocircnico na humanidade (W Benjamin Paris CaPital do Seacuteculo XIX trad it Parigi capitauacute dei XIX secolo Einaud~ 1986 p 701)

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As paacuteginas dedicadas no final da deacutecada de 1950 a Cornelio Agrippa e a Francis Bacon agrave relaccedilatildeo entre magia e ciecircncia levaram-me muito longe dos programas e dos projetos iniciais conforme costuma acontecer

Trabalhei longamente nas deacutecadas que se seguiram com as artes da

memoacuteria com a assim chamada descoberta do tempo ocorrida entre o

Quinhentos e o Setecentos com a ftlosofia de Giambattista Vico mas o tema da

magia ou melhor o tema da relaccedilatildeo entre magia e modernidade que surgira em

minha vida desde a publicaccedilatildeo em 1955 do livro de E Garin Testi umanistici sullermetisnw natildeo mais me abandonou Agravequele tema satildeo dedicadas natildeo apenas

as paacuteginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola Francesco Patrizi

Giordano Bruno e sobre argumentos afins mas (aleacutem das aparecircncias) muitas paacuteginas que escrevi nas deacutecadas de 1970 e 1980 e que reuni no jaacute citado Paragone degli ingegni moderni e postmoderni O outro meu livro La saacuteenza e lofilosqfia dei moderni (A Ciecircncia e a Filosofia dos Modernos) publicado por Boringhieri em 1989

abria-se com a premissa intitulada O Processo a Galileu no seacuteculo XX escrita vinte anos antes e que jaacute estava presente numa primeira ediccedilatildeo publicada em

Naacutepoles por Morano em 1971 Daquele processo agrave ciecircncia das imputaccedilotildees que ele continha e mesmo das

defesas que devia comportar - salvo reduzidas mesmo que relevantes exceccedilotildees

- os filoacutesofos da ciecircncia se ocuparam pouco e assim continuam fazendo No que

me diz respeito uma vez que meu assunto de estudo eacute a histoacuteria das ideacuteias entre os seacuteculos XVI e XVIII disso ocupei-me ateacute em demasia Muitas vezes pergunteishy

me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que por sinal

deu-me algumas satisfaccedilotildees Das paacuteginas que escrevi sobre o tema a que me

referi tive poucas ao contraacuterio e algumas vezes verdadeiros insultos Um ceacutelebre filoacutesofo italiano comparou-me certa vez a um cachorrinho que mordia o salto

de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele natildeo apenas pensava na

distacircncia abismal homemanimal que nos separava mas tambeacutem que ele tinha

certeza de estar caminhando sozinho rumo agrave Verdade) Um outro muito menos famoso que o primeiro qualificou-me - publicamente e mais gentilmente mas

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sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

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I bull l bulll

Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

i bull

~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

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XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

faacutebulas antigas) Publicaccedilotildees da Rivista critica di storia dellafilosofia Roma-Milatildeo

Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

1957 pp 75-89

Francesco Bacone dalla magia alla scienxa (Francis Bacon da magia agrave ciecircncia)

Bari Laterza 1957 Turim Einaudi 1974 em ediccedilatildeo anglo-americana Londres

Routledge and Kegan Paul 1968 Chicago University of Chicago Press 1968

japonesa Tokyo The Simul Press 1970 espanhola Madri Alianza Editorial

1990

Sul carattere non utilitaristico delta filosofia di Francesco Bacone (Sobre o

caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

scienza in Francesco Bacone (Verdade e utilidade da ciecircncia em Francis Bacon

em lfilosofi ele macchine 1400-1700 (Os filoacutesofos e as maacutequinas 1400-1700) Milatildeo Feltrinelli 1962 1971 1980 1984 2002 pp 148-75 Em trad espanhola Barcelona Editorial Labor 1966 americana Nova York Harper and Row 1970

huacutengara Budapest Kossuth 1976 polonesa Warszawa Panstwowe Vydawnictwo

Naukowe 1978 brasileira Satildeo Paulo Editora Schwarcz 1989 japonesa Tokyo

GaktYutsu Shobo 1989 francesa Paris Presses Universitaires de France 1996)

La memoria artificiale come sezione della logica Ramo Bacone Cartesio (A memoacuteria artificial como seccedilatildeo da loacutegica Ramus Bacon Descartes) em Rivista critica di storia della filosofia Xv 1960 pp 203-63 depois refundido em CTavis universalis arti delTa memoria e logica combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis

universalis artes da memoacuteria e loacutegica combinatoacuteria de Llull a Leibniz) MilatildeoshyNaacutepoles Ricciardi 1960 em nova ediccedilatildeo Bolonha n Muliacuteno 1985 1988 O liVrEgt apareceu depois em ediccedilatildeo japonesa Tokyo Kokusho Kankokai 1984

mexicana Mexico Fondo de cultura econoacutemica 1989 francesa Grenoble Jeacuterocircme Miacutelion 1995 atildenglo-americana Londres The Athion Press e Chicago The University of Chicago Press 2001

Bacone e la Bibbia (Bacon e a Biacuteblia) em Archiwum Historii Filozofii y Misly SpoleC1IeJ XII 1966 pp IOS-2S poi in Aspetti della rivoluzione scientifica (Aspectos da revoluccedilatildeo cientiacutefica) Naacutepoles Morano 1971 pp SI-82 e em La scienza e Ta filosofia dei moderni aspetti della rivoluzione scientiftca (A ciecircnCia e

a filosofia dos modernos aspectos da revoluccedilatildeo cientiacutefica) Turim Bollatiacute

Boringhier~ 1989 pp 47-66 este em ediccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Universidade Estadual Paulista 1992

Prefazwne a B Farrington Francesco Baconefilosq[o delletagrave industriale (Francis Bacon filoacutesofo da idade industrial) Turim Einaud~ 1967

Galilei e Bacone (Galileu e Bacon) em Saggi su Gauacuteleo Galilei org Comitato

Nazionale per le manifestazioni celebrative nel IV centenario della nascita

Florenccedila Barbera 1967 pp l-50 (do excerto) depois em Aspetti delTa rivoluzione scientifica Ntlpoles Morano 1971 pp 85-1S0 e Venti maree ipotesi

bull-Satilde Latilde =tEcirc

astronomiche in Bacon e Galilei (Ventos mareacutes hipoacuteteses astronocircmicas em Bacon e Galileu) em La sCUmza e lafilosofia dei rtwlUacuterni aspetti della rivoluzione

scientifica Turim Bollati Boringhieri 1989 pp 114-68

Francis Bacon em I protagonisti della storia universale Milatildeo CEI1968

Francesco Bacone em Grande Antologia Filosqfzca il pensiero rtwlUacuternO Milatildeo

Marzorati 1969 voi VI pp 219-37

II pensiero di Francis BacO1 una antologia di scritti (O pensamento de Francis

Bacon uma antologia de escritos) org Paolo Rossi Turim Loescher 1971

Note baconiane em Rivista critiaz di sforUacuteJ deTafilosqfio XXIX 1974 pp 31-60

R Bacon Scrittifilosqfzci (F Bacon Escritos fIlosoacutefIcos) org Paolo Rossi Turim

U tet 1976 Baconianismem Dictionary qf the History qf ldeas Nova York Scribner

1974 I pp 172-79

Francis Bacon em V Mathieu ( org) Questioni di storiografiafilosoftca dalle origini

allOttocento Brescia La Scuola 1974 pp 183-206

Francis Bacon in MDal Pra (org) Storia delTafilosojia Milatildeo Vallardi 1975shy

76 voI IV pp 553-71

FrancIacutes Bacon Richard Hooker e le 1eggi della natura (Francis Bacon Richard

Hooker e as 1eis da natureza) em Rivista critica di storia dellafilosofia XXXI

1977 pp 72-77

Formiche ragni epistemologi (Formigas aranhas epistemologistas) em La

storia della filosofia come sapere critico studi offtrti a Mario Dal Pra Milatildeo Franco Angei 1984 pp 628-40 (Depois em I ragni e le formiche un apologia

della storia della scienza Bolonha li Mulino 1986 pp 96-118) em trad inglesa

Ants spiders epistemologists em M Fattori (org) Francis Bacon Roma Edizioni dellAteneo 1985 pp 245-60 Em trad espanhola Barcelona Editorial

Criacutetica 1990

Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (Confronto dos engenhos

modernos e poacutes-modernos) Bolonha II Mulino 1989

bull67

F Bacone La Nuova Atlantide org Paolo Rossi Milano TEA 1991

Naufragi senza spettatore (Naufraacutegios sem espectador) em M Ciliberto e C

Vasoli (org) Filosota e cultura per Eugenio Garin Roma Editori Riuniti 1991 lI pp 397-415 Depois em forma menos reduzida no volume Natfragi senza

spettatore lidea di progresso (Naufraacutegios sem espectador a ideacuteia de progresso) Bolonha 11 Mulino 1995 pp 21-43 O livro saiu em polonecircs brasileiro e turco

Warszawa Polska Akademia Nauk - Instytut Filozofii i Socijologi~ 1998 Satildeo Paulo Editora UNESp 2000 Ankara Dost Kitabevi Yayinlan Kundakccedil 2002

Francis Bacon e leternitagrave deI mondo (Francis Bacon e a eternidade do mundo) in MT Marcialis (org) Studi in Tne1TUJria di Giovanni Solinas em Annali della

Facoltagrave di Lettere e Filosota dellUniversitagrave di Cagliari nuova serie IX (XLVI) 1998 (mas 1992) pp 91-100

Francis Bacon la N Uova Atlantide (Francis Bacon a Nova Atlacircntida) em LArco di Giano rivisla di MedicaI Humanities I 4 1994 pp 245-58

Dimenticare Bacone (Esquecer Bacon) em C Vinti (org) Alexandre Koyreacute lavventura intellettuale (Atti deI Quinto Seminario Internazionale di Studi

promosso dal laquoCentro Studi sul pensiero scientifico F Cesiraquo da Universitagrave di Perugia Acquasparta 80 set-8 out 1992) Naacutepoles Edizioni Scientifiche I taliane 1994 pp 25-88 depois republicado no volume Un altro presente saggi sulla storia dellafilosofia Bolonha Il Mulino 1999 pp 145-60

F Bacon Uomo e Natura scrittifilosofici (Homem e Natureza escritos filosoacuteficos) org E De Mas Introduccedilatildeo de Paolo Ross~ Roma-Bari Laterza 1994

Bacons idea of science in Markku Peltonen (org) The Cambridge Campanion to Bacon Cambridge Cambridge University Press 1996 pp 25-46

Dedalo e il labirinto (Deacutedalo e o labirinto) em Annuario Filosifzco 1998

Seconda navigazUacuteJne la tecnica la vila i dilemmi dellazione Milatildeo Mondadori 1998 pp 42-78

-w- bull 1

Craftsman-and-Scholar Thesis em W Applebaum (org) Encyclopedia cif the Scientific Revolutionfrom Copernicus to Newton Nova York e Londres Garland

2000 pp 174-77

Progresso unidea ambivalente Due interpretazioni di Daniele 12 4lt

(Progresso uma ideacuteia ambivalente Duas interpretaccedilotildees de Daniel 124) em A

Vieira Per ta storia deZ foturo a org D Bigalli posfaacutecio de Paolo Rossi Aosta LEubage 2002 pp 207-18

Francis Bacon em I grandi delta scienza n 30 dezembro 2002 Le Scienze

(Scientific American)

Hidden knowledge publicknowledge em Archives dhistoire des sciences

Genebra LV 2002 pp 167-82

Sulla scienza e gli strumenti cinque divagazioni baconiane (Sobre a ciecircncia e os instrumentos cinco divagaccedilotildees baconianas) em Musa Musaei studies on scientific

instruments and collections in Iwnour cf MaTa Miniati org Marco Beretta Paolo Galluzzi Carlo Triarico Biblioteca di Nuncius Florenccedila Leo Olschki 2008

pp141-54

Magic science and the equality of human wits em Bill Fulford Katherine Morris John Sadler e Giovanni Stanghellini (org) Nature and narrative An introduction to the new Philosophy cf psychiatry Oxford Oxford University Press 2003 pp 268-74

Page 3: ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

moderna dedicarei algum espaccedilo a este tema Aquela discussatildeo tranccedilou-se com

a histoacuteria da fortuna de Francis Bacon no seacuteculo XX e tambeacutem no que me diz respeito com as histoacuterias de minha vida intelectual Constaratildeo destas paacuteginas

tambeacutem lembranccedilas de pessoas reconhecimentos de contribuiccedilotildees recebidas e distanciamentos Sabe-se hoje com certeza (mesmo que muitos faccedilam ouvidos moucos) que a memoacuteria eacute bastante criativa e sempre muito pouco -fiel Depois

que se superaram os quinze lustros cada concessatildeo agraves lembranccedilas e cada convite a recordar equivalem (conforme se costumava dizer) a um convite para um casamento ou (conforme se diz hoje) - a um ganho na loteria nacional Tentarei

~

(sem esforccedilo algum - estaratildeo pensando aqueles pouquiacutessimos leitores que tambeacutem satildeo meus cariacutessimos colegas -) ser o menos criativo possiacutevel

Nesses anos tive repetidas ocasiotildees de publicar contribuiccedilotildees referentes a

Francis Bacon Uma vez que muitos daqueles escritos satildeo verdadeiras integraccedilotildees ao cDnteuacutedo do presente volume indiquei-os na bibliografia que se encontra no fina deste prefaacutecio

11

No fim da deacutecada de 1950 natildeo era haacutebito conforme dizem ser hoje mandar traduzir seus livros para o idioma inglecircs valendo-se dos fundos para a pesquisa

cientiacutefica que o Ministeacuterio coloca agrave disposiccedilatildeo dos professores universitaacuterios

Com toda probabilidade este livro teria uma circulaccedilatildeo muito mais limitada se no Journalof lhe History of ItUacuteas de 1958 (pp 584-87) natildeo tivesse saiacutedo um artigo de George Boas Recent Books in the History of Philosophy que dedicava

a meu livro trecircs paacuteginas e meia Boas o aproximava de A Disputa do Novo Mundo de Antonello Gerbi e justamente usava a respeito de ambos o termo histoacuteria das ideacuteias Gerbi - escrevia - traccedilou o progresso de um argumento Rossi

coloca uma ideacuteia complexa contra o seu fundo cultural dando-Ihe com isso uma nova interpretaccedilatildeo

Eu comeccedilara minhas pesquisas sobre Bacon em Milatildeo no decorrer do ano acadecircmico de 1950-51 contando com o precioso trabalho de Alessandro Levi

(de 1925) e aleacutem deste de dois livros importantes o ensaio brilhante e provocador

bull~ J-

r e r

de Benjamin Far~ington traduzido por Einaudi em 1952 com o tiacutetulo de Francis Bacon Filoacutesqfo da Idade Industrial e o denso volume de Fulton Anderson The Philosophyof Francis Bacon publicado pela Chicago University Press em 1948

Formara-me em Florenccedila agrave escola de Eugenio Garin e passara em seguida a trabalhar em Milatildeo com Antonio Banfi ond~ foraacolhido com grande

generosidade inclusive por seus generosos e irrequietos alunos (quando cheguei em Milatildeo em 1948 eu tinha 28 anos Luciano Anceschi Enzo Paci e Giulio Preti 87 e Remo Cantoni e Dino Formaggio 84) Com aquelas experiecircncias e aquelas ambiecircncias atraacutes de mim o livro de Anderson na eacutepoca muito celebrado

no mundo anglo-saxatildeo pareceu-me um comentaacuterio diligente e inteligente de alguns importantes textos de Bacon Se o trabalho dos historiadores consistisse apenas em glosar e comentar textos entatildeo lacopo Zabarella deveria ser reunido

aos maiores - coisa que ningueacutem sonha em fazer Oprojeto de meu livro era muito diferente do das precedentes monografias e isso foi energicamente sublinhado por Boas como Anderson eu utilizava todos os textos e natildeo apenas

as habituais paacuteginas do Novum Organon sobre os idola e as tabulae mas diferentemente do de Anderson meu livro estava interessado em mostrar como

a fIlosofia de Bacon se desenvolveu a partir da tradiccedilatildeo cultural de sua eacutepoca ( )

Lendo o livro tem-se um quadro mais claro do que antes das correntes intelectuais da Renascenccedila natildeo apenas na Inglaterra mas tambeacutem no continente

Boas concedia bastante espaccedilo a um resumo dos argumentos e das teses

presentes no livro Focalizava em particular as diferenccedilas entre a imagem baconiana da magia como saber secreto e a imagem que Bacon havia construiacutedo

(e incansavelmente divulgado) de uma ciecircncia que fosse ao mesmo tempo conhecimento do mundo e intervenccedilatildeo sobre ele que nascesse da colaboraccedilatildeo e

fosse em princiacutepio acessiacutevel a todos Bacon tal como eacute apresentado neste livro - concluiacutea ele - natildeo

comparece nos manuais de histoacuteria da fIlosofia aos quais estamos acostumados e o livro deveria ser traduzido pois os moacutesofos americanos que lecircem o italiano satildeo demasiado poucos

Conforme disse no comeccedilo o convite foi aceito dez anos mais tarde Quando o livro tornou-se acessiacutevel natildeo faltaram nem resenhas nem juiacutezos favoraacuteveis em

bull ~

--- shy

inglecircs No Time Literary Supplementdo dia 10 de agosto de 1968 num artigo natildeo

assinado conforme se usava entatildeo felicitava-se a tradutora e elogiava-se o livro

por ter o grande meacuterito de aceitar a complexidade dos processos intelectuais o

autor natildeo se contenta com falsas simplificaccedilotildees e eacute capaz de ver desenvolvimentos

internos ao pensamento de Bacon que escaparam a criacuteticos menos cuidadosos

() Este livro melhor do que qualquer outro coloca no seu contexto aquela

enigmaacutetica personalidade Trata-se de um instrumento indispensaacutevel paraI I qualquer estudioso da histoacuteria intelectual daquele periacuteodo

Imiddot Foi poreacutem a longa resenha de Frances A Yates de 19 de fevereiro de

Hl68 na New York Review qf Books que exerceu uma influecircncia decisiva quanto I aos destinos da ediccedilatildeo inglesa de meu livro e de sua fortuna A Yates que jaacute

havia publicado seu ceacutelebre livro sobre Giordano Bruno e a tradiccedilatildeo hermeacutetica

ao lado de seu natildeo menos famoso estudo sobre A Arte CUacutel Memoacuteria deu agrave sua1 I primeira intervenccedilatildeo o tiacutetulo de Bacons magic O meu livro tinha omiddot meacuterito de

mostrar que os temas do domiacutenio sobre a natureza e do melhoramento da condiccedilatildeomiddot

humana atraveacutes do conhecimento temas esses tatildeo proacuteprios de Bacon estavam

presentes tambeacutem na imagem da magia que emerge da obra de Cornelio Agrippa

No livro que escrevi - continuava afirmando Yates - Bacon aparece como um

pensador que reage agrave tradiccedilatildeo maacutegica e que assim mesmo tem para com essa

tradiccedilatildeo uma profunda diacutevida Bacon eacute visto sobre o fundo das ftlosofias da

Renascenccedila que ele descarta por desaprovaacute-las ao mesmo tempo em que delas

emerge Yates sublinhava outras duas novidades que ela encontrara no livro o

esaccedilo consideraacutevel dedicado agrave anaacutelise do uso baconiano dos grandes mitos

claacutessicos e o realce dado agrave importacircncia da arte da memoacuteria (um trabalho

pioneiro) na construccedilatildeo da celebeacuterrima teoria do meacutetodo

Em seu estudo sobre Agrippa publicado pela Urbana Illinois em 1966 G

Nauert tinha lembrado o nome de E Garin e dedicado algumas paacuteginas agrave

comparaccedilatildeo entre Agrippa e Bacon Numa resenha publicada na New York Review qf Books em S de marccedilo do mesmo ano Frances Yates reparara que o autor

havia por completo desconsiderado a existecircncia de meu livro bastante conhecido

pelos estudiosos americanos publicado na Itaacutelia nove anos antes do dele Num

ensaio de 1967 The Hermetic Tradition in Renaissance Science publicado no

t-shypsect$5I 0amp w AW

volume organizado por Charles Singleton Art Science arid History in the Renaissance Yates utilizara as teses presentes em meu livro para defender a figura de Bacon

enquanto novo espeacutecime de rosacruz que abandona o segredo e coopera

abertamente com os outros conforme iraacute acontecer com a Royal Society Para

Yates Bacon surgia como uma daquelas personagens cujo lugar na histoacuteria natildeo

fora compreendido visto que os historiadores da ciecircncia e da ftlosofia o haviam

considerado tatildeo-somente como um precursor do futuro sem examinar suas raiacutezes

no passado O meu meacuterito era o de ter indagado no meio daquelas raiacutezes e de ter

mostrado q~e tanto a imagem baconiana do saber enquanto poder quanto a de

uma ciecircncia dominadora da natureza provinham ambas do ideal do mago da

Renascenccedila No centro de minha imagem de Bacon estavam igualmente

entretanto sua insistecircncia quanto agrave natureza cooperativa do empenho cientiacutefico

sua polecircmica contra qualquer forma de saber secreto e de iluminaccedilatildeo seus

apelos em prol de uma razatildeo humilde ou de qualquer maneira ciente de seus

limites insuperaacuteveis Na verdade o livro deslocara o centro da discussatildeo e induzira alguns

historiadores a falar de outros argumentos que natildeo os habituais ou - conforme

se diz - misturara as cartas do baralho Tive prova disso quando num ensaio de

1957 ao referir-se ao livro de Yates sobre Giordano Bruno e ao presente sobre

Bacon Thomas Kuhn escreveu que O reconhecimento de Francis Bacon corno

figura de transiccedilatildeo entre o ma~o Paracelso e o filoacutesofo experimental Robert

Boyle contribuiu mais do que qualquer outra coisa nos uacuteltimos anos para

modificar a inteligecircncia histoacuterica das modalidades com as quais nasceram as

novas ciecircncias experimentais (cf Th Kuhn A tensatildeo essencialmiddot mUCUacutelnccedilas e

continuidade na ciecircncia - trad it La tensuacuteme essenziale cambiamenti e continuitagrave

nella scienza Turim Einaudi 1895 p 62) Uma vez que tambeacutem no mundo das

ideacuteias e dos juiacutezos eacute completamente verdade que uma cereja puxa a outra natildeo

me surpreendi demasiado quando a American History of Science Society

declarou num documento elaborado por Charles Schmitt que meu trabalho

demonstrara que a assim chamada standard interpretatiacuteon de Bacon tatildeo

frequumlentemente invocada pouco se fundamentava em algo que viesse da pena de

Bacon (o texto ao qual se deve a motivaccedilatildeo para a atribuiccedilatildeo da Sarton Medal foi

bullbull

publicado em Isis emjunho de 1986) Da mesma forma natildeo me surpreendi quando

numa excelente monografia sobre Bacon publicada no fim da deacutecada de 1980

encontrei a seguinte frase O livro de Rossi eacute quiccedilaacute a obra sobre Bacon mais

importante desse seacuteculo por ter dado iniacutecio a uma nova fase dentro dos estudos

baconianos (Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Sciena Oxford Clarendon

Press 1988 p 50) Numa linguagem apta a lidar com a solene do Lorde Chanceler

havia-me confidenciado privadamente a mesma coisa sobre Graham Rees dedicando-me em marccedilo de 1984 um de seus ensaios sobre textos ainda ineacuteditos

de Francis Bacon For Paulo Rossi - instaurator magnis magni instauratoris shy

a small token of my profound esteem A elegacircncia desta dedicatoacuteria faz com

que a vinte anos de distacircncia eu natildeo responda a ele coisa que aliaacutes mereceria pela absolutamente gratuita insolecircncia que do alto de sua competecircncia de explorador dos ineacuteditos baconianos e dos baixios de seu irremediaacutevel diletantismo filosoacutefico ele me dirigiu alguns anos mais tarde

Todos temos o condatildeo de engolir baldadas de gratificaccedilotildees sem sentirmoshy

nos saciados Quanto a isso creio natildeo ser eu uma exceccedilatildeo Por minha sorte nunca

alimentei demasiadas ilusotildees e a matildee natureza concedeu-me uma discreta dose de SEnso do humorismo Sempre apreciei a citaccedilatildeo de Esopo que Francis Bacon gostava

de lembrar Quanta poeira levanto Dizia a mosca pousada no eixo da roda de uma carroccedila Aconteceu-me tambeacutem de estigmatizar os comportamentos de tipo

paranoacuteico de colegas filoacutesofos mais ilustres do que eu ou convencidos de secirc-Io os quais crecircem firmemente que a proacutepria atividade intelectual configura-se como decisiva ou epocal(l algo que tem a ver com verdades indiscutiacuteveis ou com

conquistas perenes Faltam-me por completo essas formas de entusiasmo e natildeo creio

absolutamente que outros tenham de considerar como verdades os beneacutevolos juiacutezos sobre meu livro de 1957 Creio todavia que a mim pessoalmente deva ser permitido esperar que possam conter alguns elementos de verdade

bull[fft~i~--middot -~===~bull~ c

~

UI~~ ~~ Este livro continha segundo eu achava entatildeo alguns toacutepicos ou partes ~S

deles que mereciam uma ampliaccedilatildeo e um aprofundamento Eu havia utilizado e ~J assinalado no sexto capiacutetulo alguns claacutessicos da ars 11U1IWrativaDessas leiturasI shy

~S e das paacuteginas dedicadas ao tema da ministratio ad 11U1IWriam na obra de Francis

~ Bacon nasceram as pesquisas que conduziram agrave publicaccedilatildeo em 1960 pela Editora I Ricciardi do volume Clavis Universalis Arti delta Memoria e Logica

) Combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis Universalis Artes da Memoacuteria e L6gica Combinatoacuteria de Llull a Leibnix)(bl Das leituras de Giorgio Agricola de Vannoccio ~ Biringuccio e de muitos outros mecacircnicos do Quinhentos(cl aleacutem das paacuteginas 1 do primeiro capiacutetulo dedicadas agrave disputa sobre as artes mecacircnicas nasceram as ~

-= pesquisas que redundaram na publicaccedilatildeo por Feltrinelli em 1962 do livro I)

Filosofi e le Macchine 1400-1700 (Os Filoacutesofos e as Maacutequinas j 400(1700) Como) apecircndice a esse livro coloquei trecircs breves ensaios Veritagrave e utilitagrave della scienza

~ in Francesco Bacone (Verdade e Utilidade da Ciecircncia em Francis Bacon) (jaacute

publicado na Rivista critica di storia dellafilosofta em 1957) que ressentia muito das minhas conversas de entatildeo com Giulio Preti e que conteacutem uma criacutetica das I~ bull

interpretaccedilotildees da Filosofia de Bacon enquanto forma de utilitarismo Conteacutem ~~ ~~

tambeacutem a demonstraccedilatildeo de que a traduccedilatildeo standard da expressatildeo contida em

Novum Organum I 124 ipsissimae res sunt veritas et utilitas como truth and )- ti utility are the very sa11U things estaacute total e irremediavelmente incorreta Na ~ Q matildeo de muitos filoacutesofos que ignoram qualquer liacutengua a natildeo ser o inglecircs e 0)

escrevem ensaios sobre Bacon sem sequer dar uma espiada aos originais~ ~ latinos de seus textos essa traduccedilatildeo incorreta deu lugar a natildeo poucos~~ t ~ equiacutevocos natildeo desprovidos de consequumlecircncias

Acredito ser verdadeiro (diferentemente do que muitos escreveram e do

que algueacutem continua escrevendo) que se perguntar se as verdades cientiacuteficas

dependem dos procedimentos utilizados para afirmaacute-las ou de sua fecundidade

praacutetica eacute para Bacon um dilema sem sentido uma verdade cientiacutefica eacute sempre fecunda e tal fecundidade depende justamente e exclusivamente do seu caraacuteteacuter

de verdade As duas intenccedilotildees humanas gecircmeas a ~ecircncia e o poder coincidem

IV Cv (lt5 t-ICcedil ccedil-o - JJ~J e([~4 -~if eacute Cr((middotI[JA ~) -~ shy

~ l eacute f I (~~J j)cf

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bullbull

numa uacutenica e a ignoracircncia das causas provoca a falecircncia das obras Aquilo que

teoricamente vale como causa operacionalmente vale como regra (quod in contemplatione instar causae est id in operatione instar regulae est) Aquilo que eacute mais uacutetil na praacutetica eacute aquilo que eacute mais verdadeiro na teoria (Ista autem duo pronuntiota activum et contemplativum res eadem $Uni et quod in operanckJ utilissimum id in sciendo verissimum Novum Organum [14)

middotltiacute~middot~ eacute~~Ji)1 vJ(middotl

IV C_~Jf)(-~--1 )ampf- r 5middot-t-o ~ J~I middott)-q~-D

Depois de ter entrado a fazer parte de um trio que compreendia Vittorio

Mathieu e Giorgio Radetti cheguei agrave Universidade de Cagliari em 1962 Entre os muitos professores alojados no Hotel Jolly encontrei Ernesto De Martino que contava entatildeo com 54 anos e lecionava na Faculdade de Magisteacuterio Tinha lido seus livros e discutido muitas vezes com ele Remo Cantoni e Enzo Paci e

tinha por ele uma grande admiraccedilatildeo acompanhada por aquele tranquumlilo sentido de gratidatildeo que se sente pelos autores dos livros que percebemos serem decisivos para a nossa vida intelectual Ouvi-lo dizer que havia inserido umas vinte paacuteginas

I de meu livro sobre Bacon em sua antologia Magia e Civilizaccedilatildeo (Garzanti - 1962)

foi para mim um grata surpresa Ficamos muito proacuteximos em Cagliari ele veio agrave minha casa em Milatildeo e eu fui agrave dele em Roma Quando me ocorre de repensar o lugar que ele ocupou em minha vida em nossa amizade na montanha de livros

de antropologia e de psiquiatria que eu li apoacutes tecirc-lo encontrado parece-me inacreditaacutevel tecirc-lo conhecido e frequumlentado por tatildeo pouco tempo uma vez que ele morreu em 1965

Depois da leitura dos livros de De Martino e de I Pnmitivi de Re~o Cantoni

(que me havia impelido a ler A Filosqfta elas Formas Simb6licasde Ernst Cassirer) depois dos periacuteodos passados no Wagraverburg Institute - onde havia encontrado e

frequumlentado Frances Yates Gertrud Bing Ernst Gombrich D P Walker - a magia da Renascenccedila que encontrara em Florenccedila graccedilas agrave escola de Gann tornara-se para mim uma realidade mais ampla Natildeo conseguiria nem que quisesse dar uma ordem cronoloacutegica agraves minhas leituras desordenadas mas aquilo

que considero vaacutelido ainda hoje em li MonckJ Maacutegico de De Martino penso ser

bull 1amp2 ~ amp sshyi I

aquilo que indicava o proacuteprio De Martino em 1958 ou seja a tese da crise da

presenccedila como risco de natildeo se estar no mundo e a descoberta de uma seacuterie de

teacutecnicas (das quais fazem parte tanto a magia quanto a religiatildeo) destinadas a

proteger a presenccedila do risco de ela perder as categorias com as quais se eleva sobre a cega vitalidade e sobre a ingens sylva da natureza e destinadas - outrossim - a reabrirmediatamente o mundo dos valores comprometido por dita crise (p 3 13)

Agravequele nuacutecleo vaacutelido De Martino iraacute continuar fiel mesmo depois de ter lido Hubert Mauss e Malinoacutevski Entretanto o que tornava e ainda torna atuais tantas paacuteginas dele eacute a vigorosa polecircmica contra o que ele apoacutes ter ilustrado

suas promessas denominava as ameaccedilas da etnologia

A utilizaccedilatildeo das categorias do existencialismo e da fenomenologia o interesse fortiacutessimo pela psicopatologia a incidecircncia dos textos de Heidegger e de Jaspers a leitura de Mircea Eliade e de Leacutevi-Strauss tudo isso jamais conseguiu demover De Martino de uma de suas teses baacutesicas Aquela segundo a qual a

experiecircncia da diversidade ou da comp~~ensatildeo (fosse ela a do primitivo ou do psicoacutetico) natildeo pode nunca coincidir em caso algum com uma renuacutencia masoquista Sem um empenho para compreender o sentido de nossa histoacuteria eacute

vatildeo tentar compreender o sentido da ~~oacute~ia~~~out~s nem Pffiis poderaacute acontecer de noacutes entendermos melhor quem somos colocando-nos como apaacutetridas diante de outras civilizaccedilotildees disponiacuteveis indefinidamente para qualquer paacutetria

que possa no~ seduzir A verdade eacute que o ocidente orientou suas escolhas segundo os poderes da conscientizaccedilatildeo da persuasatildeo do prestiacutegio moral da poesia da

ciecircncia da vida democraacutetica do simbolismo civil [] Com isso a magia tornou-se no interior da civilizaccedilatildeo ocidental cada vez mais impotecircncia estiacutemulo cifrado do inconsciente desejo inautecircntico suspeito e frustrante servidatildeo inaceitaacutevel

ditadura do oculto e do incontrolaacutevel ou entatildeo resquiacutecio folcloacuterico No que concerne agrave religiatildeo De Martino pensava que a afirmaccedilatildeo de uma origem natildeo

divina mas humana dos modelos de cultura a tese que a cultura tenha origem humana e destino humano natildeo eacute uma entre as tantas teses possiacuteveis sobre a cultura

e sobre as instituiccedilotildees Qualquer sistema de escolhas culturais que esteja agrave nossa frente - concluiacutea - cai integralmente no acircmbito dessa nossa escolha

bull bullbull

As que De Martino chamava as ameaccedilas da etnologia agigantaram-se suas estruturas e em sua essecircncia que ela jaacute gastou suas proacuteprias energias que assustadoramente nas deacutecadas sucessivas a seu desaparecimento As suas escolhas jaacute se reduziu a mera negatividade A libertaccedilatildeo do homem consistia portanto em agrave sua recusa do irracionalismo histoacuterico-religioso e do relativismo cultural sacudir de suas costas a civilizaccedilatildeo ocidental (p XLV) Que algueacutem pudesse estaacute correlacionada sua imagem de uma antropologia que estaacute sempre correndo sacudir de seus ombros a civilizaccedilatildeo na qual nasceu e cresceu eacute justamente o o risco de transformar-se em um friacutevolo deffile de modelos culturais impelidos contraacuterio exato da posiccedilatildeo que De Martino havia defendido e sustentado como na passarela da ciecircncia por um friacutegido apaacutetrida em funccedilatildeo de antropoacutelogo sempre se diz com unhas e dentes ao longo de seu percurso intelectual completamente disponiacutevel para qualquer possiacutevel gosto cultural (Furore siacutembolo Visto pelos olhos dos jdanovistas que pretendiam saber o que eacute certo e o valore Milatildeo 1962 pp 86-87) Natildeo eram estas as ideacuteias que tornaram popular que eacute errado e pretendiam orientar todo tipo de escolha cultural De Martino De Martino no decorrer das deacutecadas de 1960 e 1970 Os entusiasmos pelo maacutegico era um irracionalista ou como miacutenimo um estudioso que manejava com o maacuteximo

as tornavam pouco atuais e irrelevantes Quando em 1973 saiu uma nova ediccedilatildeo de desenvoltura textos e autores ambiacuteguos e perigosos que era melhor natildeo de lImando magico o editor sentiu a necessidade de confiar a Cesare Cases a publicar e certamente natildeo difundir Aos olhos daqueles que nas deacutecadas seguintes tarefa de escrever uma introduccedilatildeo Cases tinha dedicado uma porccedilatildeo de seu o aproximaram a Adorno e agrave Dialeacutetica do Iluminisme toda declaraccedilatildeo de fidelidade caacuteustico engenho agraveanaacutelise a partir das posiccedilotildees da esq uerda (mais do que esquerda aos valores da razatildeo eacute por parte de De Martino apenas uma tentativa mais ou natildeo daacute) de autores colocados numa direita tatildeo extremada (que mais do que assim menos acanhada de romper o isolamento recorrendo a serviccedilos que lhe permitem natildeo dava) uma outra natildeo irrelevante porccedilatildeo tinha ele dedicado no fmal da deacutecada usar instrumentos irracionalistas sem ser considerado um irracionalista (vejashyde 1950 a defender a pureza do marxismo enquanto concepccedilatildeo de mundo a se P e M Cherchi De Martino Naacutepoles Liguori 1987 p 227) Quem sem polemizar contra Giulio Preti contra o neo-empirismo e suas infIltraccedilotildees nas documentaccedilatildeo efetiva faz uso de categorias do tipo recorrer a serviccedilos serveshyfileiras da esquerda se de um instrumento tatildeo poderoso que passa a ser absolutamente esteacuteril e

Na introduccedilatildeo Cases estava preocupado principalmente em indicar os limites ineficaz Se De Martino repete muitas vezes com convicccedilatildeo e em eacutepocas e textos ou seja os defeitos da posiccedilatildeo de De Martiacuteno Lido com as lentes paleomarxistas diferentes sua fidelidade a valores de tipo Iluminista pode-se sempre dizer de Cases o livro tinha um defeito imperdoaacutevel natildeo era suficientemente antishy que o faz por razotildees poliacuteticas ou entatildeo que o faz inconscientemente ou sem ocidental Na introduccedilatildeo aparecem - concebidas como repreensotildees ou objeccedilotildees se dar conta Raciocinando assim tem-se sempre razatildeo Cortando rente criando a De Martino - as seguintes expressotildees a civilizaccedilatildeo ocidental natildeo eacute contestada alternativas riacutegidas usando meacutetodos inquisitoriais (do tipo diz uma coisa mas em suas estruturas mas na falta de consciecircncia de sua gecircnese (p XXVI) para o natildeo acredita nela de verdade) acaba-se destruindo justamente o espaccedilo que De autor as marcas da civilizaccedilatildeo ocidental permanecem oacutebvias e delas natildeo se Martino havia construiacutedo para si com tanta fadiga acaba-se processando-o pelo contesta a essecircncia mas tatildeo-somente a arrogacircncia (p XXVII) De Martino remete crime de uma pretensa incoerecircncia agraves potencialidades natildeo consumadas da energia plasmadora da civilizaccedilatildeo Para De Martino a ambiguumlidade natildeo estava em noacutes mas sim nas coisas O ocidental e nela tem demasiada confianccedila (pp XLI XLVI) considera mundo maacutegico estaacute atraacutes deIOacutes mas tambeacutem dentro de noacutes seinpre prOacuteimo a fmalmente a razatildeo ocidental como um dado (p XLVII) Antecipando as recusas noacutes como uma alternativa uma tentaccedilatildeo um caminho de fuga Em muitos setores globais de hoje de Asor Rosa suscitando o interesse dos sequazes de Evola os da cultura e da poliacutetica natildeo se sabe disso e natildeo se leva isso em consideraccedilatildeo quais vindos da extrema direita jaacute tinham negado haacute bastante tempo a essecircncia Movemo-nos entatildeo no interior de uma histoacuteria imaginaacuteria enrijecida no culto do ocidente Cases sustenta que a civilizaccedilatildeo ocidental deve ser contestada em de uma razatildeo que natildeo se questiona sobre seu passado Constroacutei-se inclusive

-------------~_ ~

bullbull

uma histoacuteria da ciecircncia imaginaacuteria em que Bacon se torna o filoacutesofo da idade industrial na qual tambeacutem Gilbert e Kepler e Newton se tornam cientistas

positivos O monoacutelogo colonialista e missionaacuterio da velha Europa - escreveu

De Martino - vai-se tornando dia apoacutes dia cada vez mais solitaacuterio e delirante A histoacuteria do conceito de magia no Ocidente serve para nos dar essa consciecircncia e

serve ao mesmo tempo como medida protetora contra aquele mal diferente

que eacute a infidelidade radical em relaccedilatildeo agravepolecircmica antimaacutegica de nossa civilizaccedilatildeo

com a conseguinte abdicaccedilatildeo diante dos prestiacutegios da magia (E De Martino Magia e civiltagrave Milatildeo Garzanti 1962 p 9) Talvez natildeo seja um caso o fato de

~ que do interesse de De Martino para com a histoacuteria das ideacuteias para com a

passagem da magia agrave ciecircncia entre Quinhentos e Seiscentos - que para ele natildeo

era um episoacutedio mas o episoacutedio decisivo da histoacuteria do ocidente (e indiretamente

da histoacuteria do mundo) - natildeo reste nenhum traccedilo nos muitos doutos e

informadiacutessimos ensaios e livros que foram publicados sobre ele No ano que seguiu agrave republicaccedilatildeo de Il mondo magico entre 20 e 23 de

abril de 1974 tiveram lugar em Capr~ organizadas por Maria Righini Bonelli e William Shea as Jornadas Internacionais de Histoacuteria da Ciecircncia As atas do congresso saiacuteram em 1975 nas Science History Publications de Nova York com

o tiacutetulo de Reason Experiment andMysticism in lhe Scientifiacutec Revolution Foi ali que eu li uma comunicaccedilatildeo entitulada Hermeticism Rationality and the Scientific

Revolution que foi comentada por A Rupert Hall O conteuacutedo da comunicaccedilatildeo

- bem distante da vaga do magismo indiscriminado da eacutepoca - eacute resumido no

paraacutegrafo 5 do Prefaacutecio agrave segunda ediccedilatildeo (escrito naquele mesmo ano) que

segue aqui Dez anos mais tarde Charles Schmitt depois de lembrar a insistecircncia

com que eu tratava os temas maacutegicos e mitoloacutegicos tatildeo distantes da imagem da

baconian science que circulava na deacutecada de 1950 resumia com clareza o que tinha acontecido Deve ser lembrado que o Bacon de Rossi surgiu em sua

primeira ediccedilatildeo antes da atual corrida para colocar magia e ocultismo no centro

do pensamento da Renascenccedila Na verdade aquele livro foi responsaacutevel e natildeo

pouco por aquela reavaliaccedilatildeo dos fatores maacutegicos e ocultos presentes na primeira

ciecircncia moderna na sua uacuteltima geraccedilatildeo O que eacute importante na abordagem de

Rossi eacute que ele nunca deixou as questotildees centrais afastarem-se do ponto focal

bull

Enquanto outros empurravam a nova interpretaccedilatildeo longe demais ele natildeo hesitou em traccedilar a linha que divide as hipoacuteteses cientiacuteficas das fantasias Apesar de o livro fazer parte da base a partir da qual se desenvolveu a ecircnfase hoje corrente sobre a assim chamada Tradiccedilatildeo Hermeacutetica quando as coisas comeccedilaram a sair do controle ele foi um dos primeiros a dissociar-se de algumas das direccedilotildees mais bizarras rumo agraves quais estavam se movendo os entusiastas (Isis junho

1986 e tambeacutem Anais do Instituto e Museu de Histoacuteria da Ciecircncia de Florenccedila X

1985 p 138)

v

Do clima anticientiacutefico de caraacuteter hermetizante ocultista e decididamente

filo-maacutegico que se difundiu na Itaacutelia (e natildeo apenas na Itaacutelia) desde o final da deacutecada de 1960 eu jaacute tinha me distanciado desde o iniacutecio A comeccedilar por um

artigo publicado em Rinascita em 24 de maio de 1968 no qual estaacute escrito Entrou

em crise a tese da superioridade dos modernos Natildeo apenas no sentido de uma

recusa do progresso como caminho linear e garantido mas no proacuteprio questionamento do conceito mesmo de civilizaccedilatildeo moderna O mundo da teacutecnica

da ciecircncia da induacutestria natildeo eacute analisado em suas componentes histoacutericas mas

concebido como pura e total negatividade A partir de entatildeo e nas deacutecadas que

seguiram foram tiradas todas as consequumlecircncias impliacutecitas nessa teoloacutegica

asserccedilatildeo Acompanhando e reforccedilando uma voga irrefreaacutevel de magismo

abriram caminho e se tornaram ideacuteias correntes fantasias sobre uma nova e

assombrosa ciecircncia proletaacuteria que teria em breve substituiacutedo a corrupta ciecircncia

burguesa e sobre um pensamento maacutegico que daria lugar a uma alternativa para

o ressecado racionalismo Intelectuais de esquerda apresentaram o pouso de homens na lua como sendo a mais perfeita especulaccedilatildeo que a sociedade capitalista

() conseguiu organizar em prejuiacutezo dos oprimidos e dos espoliados como uma

operaccedilatildeo de real conteuacutedo reacionaacuterio (M Cini Caiacutemos numa ratoeiraacute no jornal L Unitagrave 26 de julho de 1969) No comeccedilo daquele ano sustentava-se que

o uacutenico discurso correto era o de uma recusa da ciecircncia enquanto instrumento

de alienaccedilatildeo e opressatildeo do homem (F Piperno A greve dos ceacuterebros em

~ c

~

bullbull

L Espresso Colore 2 de fevereiro de 1969) A ciecircncia escrevia Umberto Curi

constituiu-se originariamente consolidou-se e desenvolveu-se ateacute hoje ( ) como forccedila produtiva do capital contra o trabalho (em AAvv Scienza epolere Milatildeo

Feltrinelli 1975 p 147) Para a superficialidade e a simploriedade natildeo haacute limites estabelecidos como na sociedade medieval quem decidia se uma teoria cientiacutefica

era verdadeira ou falsa era o papa - escrevia G Viale - na industrial quem decide a validade ou natildeo das teorias cientiacuteficas eacute o Pentaacutegono (Universidade a

hip6tese revolucionaacuteria Paacutedua 1968 p 118) O apocalipse associava-se como de haacutebito ao otimismo mais desenfreado e sem razatildeo

middot~ A partir do arrombamento das instituiccedilotildees - afirmavam Elisabetta Donini

e Tito Tonietti em Quaderni Piacentini (1977 63-64 p 132) - vai nascer uma nova revoluccedilatildeo copernicanam A ciecircncia nascida das cinzas da metafIsica de bull

lAristoacuteteles para levar a cabo e fazer funcionar o domiacutenio que a burguesia deteacutem ~

como classe soacute pode morrer com ela De sua morte natildeo surgiraacute uma nova

ciecircncia o novo saber seraacute tatildeo diferente do anterior que mereceraacute um novo

termo Teses desse gecircnero tornaram-se na Itaacutelia de entatildeo verdadeiros lugaresshy

comuns transformaram-se em ideologias atraindo um grande nuacutemero de jovens sindicalistas poliacuteticos funcionaacuterios donas~e-casa e principalmente professores

Estes termos tecircm eles todos uma caracteriacutestica comum eles substituem agrave anaacutelise a peremptoriedade dos juiacutezos e aos projetos a alusatildeo ao Radicalmente Novo

Como do Novo e do Outro natildeo se pode falar (tal como natildeo se pode falar do Deus ~ dos miacutesticos) procede-se necessariamente por alusotildees e negaccedilotildees De qualquer

maneira os projetos satildeo sempre algo de negativo com respeito aos processos em ato e aos movimentos Quando Giulio Maccacaro foi interrogado (em 1974)

quanto ao significado do projeto de uma ciecircncia nova ele respondeu com as seguintes palavras considero impossiacutevel a resposta e improacutepria a pergunta

Gostaria de explicar-me por meio de uma analogia o preso que nasceu enquanto

tal isto eacute o mais verdadeiro dos presos natildeo pode projetar a liberdade e realizar

a fuga E acrescentava temos de atuar para que seja possiacutevel o nascimento de uma ciecircncia nova a ciecircncia de um outro poder mas natildeo podemos predeterminaacuteshy

la sem impedi-la (em Scienza e Potere cito pp 54-55) Os projetos traem os processos as anaacutelises distorcem a vida a rebeliatildeo acaba por parecer mais

bullf~~~-~--F

importante do que o mundo ao qual ela poderia dar origem A revolta enquanto

tal tonia-se um fim a ser perseguido Isso jaacute tinha sido teorizado na Itaacutelia haacute

mais setenta anos por Giuliano o Sofista numa paacutegina ceacutelebre da revista

Leonardo cada programa cada projeto de itineraacuterio eacute uma limitaccedilatildeo Junto agrave assim chamada 1iteratura de contestaccedilatildeo a nova magia encontrou

grandiacutessima difusatildeo No livro The Making 0 Counter-Culture Rejlections on lhe Technocratic Society and Its routliful Opposition Theodor Roszak um dos mais

conhecidos expoentes da nova esquerda americana de entatildeo valeu-se do ensinamento de Thomas Kuhn para apresentar a consciecircncia objetiva como

uma mitologia Baseado nisso ele contrapocircs as extraordinaacuterias possibilidadeacutes de uma nova visatildeo maacutegica do mundo agrave racionalidade restrita da ciecircncia que embota nosso sentido do maravilhoso Acabou apresentando o xamanismo como

o modelo de uma cultura nova e mais livre O de Roszak natildeo foi certamente um caso isolado Tambeacutem na Itaacutelia as

posiccedilotildees que reduziam a ciecircncia agrave ideologia burguesa e pensavam que o saber cientiacutefico-racional era responsaacutevel pelo esvaziamento de sentido e pelo

desencantamento do mundo aliaram-se a posiccedilotildees regressivas e miacutesticoshyreacionaacuterias Um verdadeiro obscurantismo anticientiacutefico inspirado em Spengler

e em Heidegger vestiu os trajes do marxismo casando com a heranccedila de Nietzsche do vitalismo e do vanguardismo do comeccedilo do Novecentos

A descida para o plano arcaico da experiecircncia maacutegica a exaltaccedilatildeo do primitivismo e do imediatismo a nostalgia do passado como paraiacuteso de uma

humanidade natildeo reprimida a nostalgia pelo mundo camponecircs deixaram de ser considerados temas pertinentes exclusivamente ao pensamento reacionaacuterio shy

conforme havia sido durante longo tempo - mas vieram a ser propostos e sustentados tambeacutem no interior da esquerda como vaacutelidos instrumentos de libertaccedilatildeo dos pecados e das alienaccedilotildees presentes na sociedade moderna

I

VI

O motivo de eu natildeo concordar com as conclusotildees de F A Yates P M

Rattansi e de outros estudiosos natildeo dependia certamente do fato de que ambos sustentavam a necessidade para um historiador da ciecircncia moderna de ocuparshyse de magia e de hermetismo mas do fato de que eu via neles a tendecircncia para

sublinhar exclusivamente os elementos de continuidade entre a tradiccedilatildeo e a

imagem moderna de ciecircncia No centro da reflexatildeo de Yates estaya a pergunta por que justamente naquele momento Quais os motivos daquela emergecircncia -Yates havia apresentado o seu Giordano Bruno como sendo um estudo histoacuterico

dos motivos do nascimento da nova ciecircncia Nas raiacutezes daquela emergecircncia estava um novo tipo de interesse para com o mundo e as operaccedilotildees sobre a

natureza A magia renascimental cltnstitui justamente a realizaccedilatildeo de uma reorientaccedilatildeo psicoloacutegica da vontade rumo agrave accedilatildeo Atraveacutes daquela fundamental

mudanccedila psicoloacutegica aparece para a histoacuteria na Europa do Quinhentos a atribuiccedilatildeo de um valor agraves operaccedilotildees Tal atribuiccedilatildeo encontra-se na raiz da ciecircncia

moderna e constitui o seu porquecirc A visatildeo hermeacutetica de um universo regido pelas operaccedilotildees do mago eacute apresentada segundo esse ponto de vista na conclusatildeo

de seu trabalho como sendo a primeira fase da revoluccedilatildeo cientiacutefica que eacute caracterizada jaacute na segunda fase pela visatildeo de um universo mecanicista regido pelas leis da mecacircnica

A tese natildeo eacute completamente nova Spengler jaacute havia insistido em paacuteginas que seriam retomadas e discutidas por Max Scheler na importacircncia do faustismo

para o nascimento da ciecircncia A vontade teacutecnica do poder o saber-de-domiacutenio (Herrschaftwissen) haviam sido interpretados como um primum capaz de explicar

o emergir da ciecircncia no interior da histoacuteria do ocidente Numa perspectiva

diferente tambeacutem Jung e Eliade haviam chegado a respeito desse ponto - natildeo secundaacuterio - a conclusotildees parecidas mesmo se expressas numa linguagem muito

mais imaginativa A ideacuteia-guia do mundo moderno tinha parecido a Jung uma

versatildeo secular do sonho alquUacuteTIico a alquimia eacute o alvorecer da idade cientiacutefica quando o daimon do espiacuterito cientiacutefico obrigou as forccedilas da natureza a servir o

homem em medida antes desconhecida Para Mircea Eliade os alquimistas satildeo

I I J bull~

9

os antecipadores da essecircncia da ideologia que caracteriza o mundo moderno e que chegou agrave plena maturaccedilatildeo com o marxismo e o positivismo no decorrer do seacuteculo XIX a feacute na transmutaccedilatildeo da natureza e nas ilimitadas possibilidades do

homem Eacute dificil natildeo concordar com Frances Yates quando ela afirma que a histoacuteria

da emergecircncia da ciecircncia moderna resulta incompleta sem a histoacuteria daquilo de onde ela emerge e eacute certamente verdade que uma histoacuteria capaz de iluminar as

interaccedilotildees entre magia e ciecircncia eacute sem duacutevida mais frutuosa do que uma (que hoje ningueacutem escreve) que se contenta em celebrar os triunfos da ciecircncia do

seacuteculo XVIL Os trabalhos de Yates deram uma contribuiccedilatildeo decisiva ao aclaramento dessas interaccedilotildees Yates entretanto limita-se a sustentar essas teses

aceitaacuteveis a utilizar algumas observaccedilotildees feitas (entre outros) por Jung e Eliade

ou entatildeo ter-se-ia apropriado da tese deles da ciecircncia enquanto incapacidade de experimentar o sagrado Seria o caso de POcirc--Io em duacutevida quando se lecircem no

livro dela afirmaccedilotildees desse tipo Por acaso a ciecircncia natildeo eacute tudo somado nada

mais do que uma gnose uma visatildeo da natureza do Todo que procede atraveacutes de revelaccedilotildees sucessivas (F Yates Giordano Brurro e a tradiccedilatildeo hermeacutetica trad it

Bari Laterza 1969 pp 447-8 452)(d) Tambeacutem no livro de 1972 sobre o tipo de

pensamento dos RosacruzesYates afirmava que eu havia dado ecircnfase ao matiz de milenarismo constante na InstauratW magna scientiarum e tinha demonstrado

que Bacon sai justamente da tradiccedilatildeo hermeacutetica da magia e da Cabala da

Renascenccedila por ele alcanccediladas atraveacutes dos magos naturais (O Iluminismo dos Rosacruzes um Estilo de Pensamento na Europa do Seiscentos trad it L llluminismo dei Rosacroce urro stile dipensiero nellEuropa Del Seicento Turim Einaudi 1976

pp60 142-143)

Difiacutecil eacute subtrair-se agrave impressatildeo de que a tentativa de Yates era a de

reconduzir a segunda fase (mecanicista) da assim chamada revoluccedilatildeo cientiacutefica agrave primeira fase (maacutegico-hermeacutetica) e de que o estudo das interaccedilotildees entre essas

duas fases tivesse de servir para demonstrar que eacute inuacutetil procurar distinguir a ciecircncia da magia sendo que a primeira fase jamais teraacute fim As indagaccedilotildees sobre o hermetismo e sobre a magia satildeo importantes pois nos ajudam a compreender

melhor as origens da ciecircncia moderna (a qual no comeccedilo de seu longo percurso

bull I

i

deveu em parte sua vida tambeacutem a uma disreputable structure of ideas) ou

entatildeo o satildeo porque nos levam agrave conclusatildeo que a ciecircncia moderna nada mais eacute do

que a continuaccedilatildeo em formas novas de uma abordagem de tipo miacutestico da

natureza Satildeo indagaccedilotildees importantes porque nos mostram como tem sido dificil tortuoso e complicado o caminho da razatildeo cientiacutefica ou entatildeo porque contribuem

para mostrar as bases irracionais da construccedilatildeo da primeira ciecircncia moderna e

de qualquer outra forma de ciecircncia possiacutevel Com a revoluccedilatildeo cientiacutefica nasceu na histoacuteria um tipo de saber intersubjetivo e capaz de crescer um saber puacuteblico

que eacute alternativo ao saber secreto da magia e do ocultismo O que eacute contestado eacute o conhecimento insuficiente da gecircnese da ciecircncia moderna ou a proacutepria estrutura da ciecircncia moderna

Tenho a impressatildeo de que algo parecido com o que se passou com muitos leitores de Freud tenha ocorrido com muitos estudiosos da tradiccedilatildeo hermeacutetica apoacutes middotter ficado sabendo da existecircncia do inconsciente do condicionamento exercido pelas pulsotildees e pelos instintos sobre a vida da consciecircncia e da razatildeo

depois de ter reconhecido a existecircncia dos elementos de agressividade que atuam por traacutes da fachada respeitaacutevel da civilidade concluiacuteram - diferentemente do

que fazia Freud - que natildeo existem mais razatildeo nem ciecircncia nem civilidade mas haacute apenas instintos agressivos e desejos pulsionais

VII

Nos anos em que haviam praticamente desaparecido os modernos e nos departamentos de filosouumla soacute se encontravam poacutes-modernos rampantes

costumava-se defender duas teses de caraacuteter epocal A primeira tese de

- caraacuteter mais geral contrapunha moderno e poacutes-moderno O primeiro era ~

qualificado como a idade de uma razatildeo forte que constroacutei explicaccedilotildees totalizadoras

do mundo e que eacute dominada pela ideacuteia de um desenvolvimento histoacuterico do

pensamento como iluminaccedilatildeo incessante ou progressiva ou seja como a idade da ordem nomoloacutegica normativa da razatildeo e de uma sua estrutura monoliacutetica e

-~altlotildeiatildeAdespeito de Niccoloacute Machiavelli e de Giambattista Vico o moderno era definido como a idade do tempo linear caracterizada pela superaccedilatildeo ou

bull- -------~---

seja pela novidade que envelhece e eacute rapidamente substituiacuteda por uma novidade mais nova A segunda tese de caraacuteter mais limitado e especial afirmava que

siacutemiles analogias metaacuteforas semelhanccedilas que satildeo formas tiacutepicas ou

caracterizadoras da cultura da eacutepoca barroca satildeo energicamente recusadas pela nova ciecircncia da natureza

Para mostrar a inconsistecircncia dessa segunda tese em 1984 publiquei em Intersecccedilotildees um ensaio com o nome de Os siacutemiles as analogias as articulaccedilotildees da

natureza (Le similitudin~ le analogie le articolazioni della natura mais tarde incluiacutedo no volume [ ragni e k flnniche un ap0UacuteJgia della storia della scienza (As Aranhas e As Formigas uma ApoUacuteJgia da HisMna da Ciecircncia) Bolonha n Mulino

198~) no qu~l eu mostrava que parasustentar aq~ela tese Michel Foucault f haVia se apOIado numa passagem latma de FranCiS Bacon fazendo uso natildeo t do texto original mas de uma traduccedilatildeo dele feita no Oitocentos Acontecia

que termos - chave (ressemblancee similitude) sobre os quais se fundava todo o seu genial piroteacutecnico e desenvolto discurso compareciam de forma urn tanto misteriosa na traduccedilatildeo francesa mas natildeo existiam absolutamente no original latino

Uma das ideacuteias mais tolas professadas pelos poacutes-modernistas consistia em

apresentar a modernidade como uma eacutepoca de certezas como uma espeacutecie de idade da seguranccedila da qual haacute poucos anos apenas e por meacuterito de trecircs ou

quatro filoacutesofos parisienses alguns intelectuais extremamente aggiornatihaviam dolotilderosamenteern~rgido~Francis Bacon era freqUentemente citado como o tiacutepico

expoente ou campeatildeo do moderno pelos defensores da primeira das duas teses

que enunciei acima Polemizando com aquela imagem bastante cocircmoda escrevi

uma comunicaccedilatildeo para o encontro sobre Moderno e Poacutes-moderno organizado

em marccedilo de 1986 no Instituto Gramsci da Toscana Dei-lhe o tiacutetulo de [doia da Modernidade publicada mais tarde com outros ensaios em Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (CorifTonto dos Engenhos Modernos ePoacutes-modernos - Bolonha

n Mulino 1989) Esclarecendo que o nome idola era para Bacon sinocircnimo de

superstitions como tambeacutem de notionesfalsae ou volantes phantasiae inseri em meu escrito inclusive um elenco de algumas ideacuteias fUosoacuteficas de Bacon que me permito

reproduzir aqui

bull

f O universo natildeo eacute uma realidade ordenada e estruturada hierarquicamente e se rebelam e condicionam nosso intelecto Acabamos entatildeo por discutir natildeo -shy Natildeo existe nenhuma necessaacuteria correspondecircncia entre os elementos que o acerca das coisas mas acerca das palavras Tentamos entatildeo construir uma

l constituem nem entre microcosmo e macrocosmo Natildeo apenas o homem natildeo linguagem rigorosa feita de definiccedilotildees Acabamos por perceber que aquela

reflete em sua mente a estrutura do mundo como tambeacutem entre a ordem do linguagem fala apenas de palavra e que as coisas fugiram-nos irremediavelmente

cosmo e a da sociedade natildeo existe nenhuma correspondecircncia que possa ser das matildeos Por outro lado estamos condenados a fazer uso da linguagem e dela

encontrada As fontes do conhecimento satildeo vaacuterias a feacute a tradiccedilatildeo o sentido o natildeo podemos prescindir

i intelecto DifIcil eacute estabelecer uma hierarquia entre elas A feacute s6 vale para as Entretanto tambeacutem a necessidade de pontos de apoios confiaacuteveis e

indubitaacuteveis faz parte da natureza do homem Parece que os homens sentemI coisas que lhe pertencem O sentido nos engana muitas vezes e o intelecto muito I t mais vezes S6 temos certeza de uma coisa que natildeo podemos nos fiar na tradiccedilatildeo a necessidade de princiacutepios estaacuteveis procuram uma espeacutecie de eixo em

em geral e na filosofia em particular uma vez que nelas foram construiacutedos volta do qual fazer rotar a variedade dos argumentos e das meditaccedilotildees Se

inuacutemeros mundos de palco semelhantes aos teatros dos poetas onde as histoacuterias o intelecto sofre abalos e flutuaccedilotildees os homens tecircm a impressatildeo que o ceacuteu desaba

contadas tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada em cima deles e procuram logo um chatildeo soacutelido uma espeacutecie de Atlas dos

um Os enganos que se encontram em nossas fontes de conhecimento natildeo satildeo pensamentos semelhante ao que na lenda suportava o ceacuteu sobre seus ombros Na

como defeitos ou culpas aos quais se pode remediar Dependem do fato de que realidade os homens tecircm mais medo da duacutevida do que do erro e se iludem de

nossa mente mistura continuamente sua natureza com a natureza das coisas e poderem estabelecer alguns princiacutepios dos quais possa ser derivado todo o saber

do fato de que as imagens falsas e as falaacutecias fazem parte da estrutura da mente e em torno dos quais eles possam fazer rotar todas as suas disputas

satildeo inatas nela e estatildeo radicadas na natureza humana Os erros satildeo inseparaacuteveis Mas o problema maior eacute o da novidade e da dificuldade ou da incapacidade

de nossa natureza e condiccedilatildeo de vida Posso descrevecirc-Ios tentar exorcizaacute-los de pensar o novo Porque a mente humana estaacute mal organizada primeiro desconfia

tomando consciecircncia deles De muitos deles nunca poderei em caso algum ficar demasiado de si proacutepria e em seguida se despreza No comeccedilo parece

completamente livre inacreditaacutevel que algo possa ser descoberto Depois tatildeo logo esse algo eacute

A imagem de que eacute possiacutevel servir-se para pensar o universo eacute a do labirinto descqberto acha-se inacreditaacutevel que possa ter sido ignorado Haacute um duplo

ou caso se prefira a da selva Com efeito natildeo haacute estradas visiacuteveis mas somente preconceito que atua sempre ameaccedilando o novo a crenccedila cristalizada naquilo

caminhos ambiacuteguos Natildeo haacute siacutemiles seguros apenas semelhanccedilas enganadoras que jaacute se encontra estabelecido e a tendecircncia em inserir o novo (privando~ de

de signos e de coisas Natildeo haacute percursos em linha reta apenas espirais e noacutes seu caraacuteter de novidade) dentro de um esquema jaacute prefigurado Se antes da

torcidos e complicados O acaso os efeitos da credulidade as primeiras noccedilotildees introduccedilatildeo da seda tivesse sido imaginada a existecircncia de um fio diferente do

absorvidas na infacircncia constituem aquele patrimocircnio ao qual damos o nome de algodatildeo e da latilde e mais suave brilhante e resistente quem teria sido capaz de

razatildeo Sequer o que realmente nos diferencia dos animais nos ajuda muito Porque pensar numa taturana ou num verme

a linguagem natildeo eacute absolutamente conforme se acreditou durante muito tempo Estando assim as coisas natildeo tem sentido um quadro completo e

( uma entidade controlaacutevel As palavras a partir do momento em que satildeo usadas exaustivo do mundo Onde quer que ele seja construiacutedo esse quadro suscita um

retorcem sua forccedila contra o intelecto Parece-nos poder traccedilar mediante as consenso imediato uma vez que produz sentimentos de seguranccedila Poreacutem eacute

palavras linhas de demarcaccedilatildeo bem visiacuteveis entre as coisas Depois poreacutem toda melhor estimulara inteligecircncia do que usurpar a boa feacute Eacute melhor renunciar a

vez que tentamos deslocar aquelas linhas as palavras satildeo um obstaacuteculo para noacutes compor tratados e proceder ao contraacuterio por afirmaccedilotildees desligadas e provisoacuterias

bullI L

i

L

como eacute igualmente melhor assegurar menos e mostrar os vazios do saber e VIII solicitar a pesquisa Nenhuma filosofia universal e completa eacute proponiacutevel e as teses filosoacuteficas que foram expostas ateacute agora natildeo satildeo as expressotildees da verdade mas sim satildeo comparaacuteveis aos sons pouco agradaacuteveis emitidos pelos muacutesicos quando afinam seus instrumentos O concerto ainda estaacute para chegar e pode-se alimentar apenas a esperanccedila de que seja melhor do que os sons atuais Por isso natildeo haacute nenhum meacutetodo que seja universal e perfeito Por isso natildeo existe nenhuma

arte da descoberta uma vez que ela cresce com o proacuteprio crescimento das

-descobertas (Scrittifilosqfiaacute org Paolo Rossi Turim UTEU 1975 pp 561 573536-37560526608570263274427 593-94 423621 275-76346 637 A uacutenica referecircncia obtida de um escrito fora da ediccedilatildeo indicada encontrashyse em The Worlcs oJ Francis Bacon org R L Ellis 1 Spedding D D Heath Londres 1887-92 I pp 640-41)

Concluindo essas satildeo algumas das respostas dadas por Francis Bacon entre 1605 e 1620 agrave pergunta o que eacute o saber Se essas respostas forem de algum modo significativas parece-me dificil aplicar a elas os roacutetulos utilizados pelos filoacutesofos da poacutes-modernidade explicaccedilotildees totalizadoras do mundo ou entatildeo capacidade projetual de uma subjetividade que se desdobra rumo a um horizonte de fins dos quais pretende possuir a chave ou ainda extremada aspiraccedilatildeo a uma ordem absoluta e definitiva de seguranccedila Parece-me igualmente diflcil utilizar metaacuteforas como a seguinte o olho humano natildeo se abre sobre as trevas originaacuterias do mundo mas sobre a cena de um cosmo jaacute aclarado pela luz intelectual Essa metaacutefora exprimia para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica de 18 de julho de1985) a proacutepria essecircncia daquela imaginaacuteria modernidade em torno da qual se esgotavam os poacutes-modernistas Estes inclusive pareciam totalmente ignaros quanto agrave nobre sentenccedila de um autor que consideravam um de seus antepassados Nunca existiu eacutepoca alguma que natildeo tenha se achado moderna no sentido excecircntrico do termo e natildeo tenha acreditado que se encontrava imediatamente diante de um abismo A consciecircncia desesperada e luacutecida de encontrar-se no meio de uma crise decisiva eacute algo de crocircnico na humanidade (W Benjamin Paris CaPital do Seacuteculo XIX trad it Parigi capitauacute dei XIX secolo Einaud~ 1986 p 701)

bull

As paacuteginas dedicadas no final da deacutecada de 1950 a Cornelio Agrippa e a Francis Bacon agrave relaccedilatildeo entre magia e ciecircncia levaram-me muito longe dos programas e dos projetos iniciais conforme costuma acontecer

Trabalhei longamente nas deacutecadas que se seguiram com as artes da

memoacuteria com a assim chamada descoberta do tempo ocorrida entre o

Quinhentos e o Setecentos com a ftlosofia de Giambattista Vico mas o tema da

magia ou melhor o tema da relaccedilatildeo entre magia e modernidade que surgira em

minha vida desde a publicaccedilatildeo em 1955 do livro de E Garin Testi umanistici sullermetisnw natildeo mais me abandonou Agravequele tema satildeo dedicadas natildeo apenas

as paacuteginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola Francesco Patrizi

Giordano Bruno e sobre argumentos afins mas (aleacutem das aparecircncias) muitas paacuteginas que escrevi nas deacutecadas de 1970 e 1980 e que reuni no jaacute citado Paragone degli ingegni moderni e postmoderni O outro meu livro La saacuteenza e lofilosqfia dei moderni (A Ciecircncia e a Filosofia dos Modernos) publicado por Boringhieri em 1989

abria-se com a premissa intitulada O Processo a Galileu no seacuteculo XX escrita vinte anos antes e que jaacute estava presente numa primeira ediccedilatildeo publicada em

Naacutepoles por Morano em 1971 Daquele processo agrave ciecircncia das imputaccedilotildees que ele continha e mesmo das

defesas que devia comportar - salvo reduzidas mesmo que relevantes exceccedilotildees

- os filoacutesofos da ciecircncia se ocuparam pouco e assim continuam fazendo No que

me diz respeito uma vez que meu assunto de estudo eacute a histoacuteria das ideacuteias entre os seacuteculos XVI e XVIII disso ocupei-me ateacute em demasia Muitas vezes pergunteishy

me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que por sinal

deu-me algumas satisfaccedilotildees Das paacuteginas que escrevi sobre o tema a que me

referi tive poucas ao contraacuterio e algumas vezes verdadeiros insultos Um ceacutelebre filoacutesofo italiano comparou-me certa vez a um cachorrinho que mordia o salto

de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele natildeo apenas pensava na

distacircncia abismal homemanimal que nos separava mas tambeacutem que ele tinha

certeza de estar caminhando sozinho rumo agrave Verdade) Um outro muito menos famoso que o primeiro qualificou-me - publicamente e mais gentilmente mas

bull

sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

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I bull l bulll

Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

i bull

~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

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F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

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Criacutetica 1990

Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (Confronto dos engenhos

modernos e poacutes-modernos) Bolonha II Mulino 1989

bull67

F Bacone La Nuova Atlantide org Paolo Rossi Milano TEA 1991

Naufragi senza spettatore (Naufraacutegios sem espectador) em M Ciliberto e C

Vasoli (org) Filosota e cultura per Eugenio Garin Roma Editori Riuniti 1991 lI pp 397-415 Depois em forma menos reduzida no volume Natfragi senza

spettatore lidea di progresso (Naufraacutegios sem espectador a ideacuteia de progresso) Bolonha 11 Mulino 1995 pp 21-43 O livro saiu em polonecircs brasileiro e turco

Warszawa Polska Akademia Nauk - Instytut Filozofii i Socijologi~ 1998 Satildeo Paulo Editora UNESp 2000 Ankara Dost Kitabevi Yayinlan Kundakccedil 2002

Francis Bacon e leternitagrave deI mondo (Francis Bacon e a eternidade do mundo) in MT Marcialis (org) Studi in Tne1TUJria di Giovanni Solinas em Annali della

Facoltagrave di Lettere e Filosota dellUniversitagrave di Cagliari nuova serie IX (XLVI) 1998 (mas 1992) pp 91-100

Francis Bacon la N Uova Atlantide (Francis Bacon a Nova Atlacircntida) em LArco di Giano rivisla di MedicaI Humanities I 4 1994 pp 245-58

Dimenticare Bacone (Esquecer Bacon) em C Vinti (org) Alexandre Koyreacute lavventura intellettuale (Atti deI Quinto Seminario Internazionale di Studi

promosso dal laquoCentro Studi sul pensiero scientifico F Cesiraquo da Universitagrave di Perugia Acquasparta 80 set-8 out 1992) Naacutepoles Edizioni Scientifiche I taliane 1994 pp 25-88 depois republicado no volume Un altro presente saggi sulla storia dellafilosofia Bolonha Il Mulino 1999 pp 145-60

F Bacon Uomo e Natura scrittifilosofici (Homem e Natureza escritos filosoacuteficos) org E De Mas Introduccedilatildeo de Paolo Ross~ Roma-Bari Laterza 1994

Bacons idea of science in Markku Peltonen (org) The Cambridge Campanion to Bacon Cambridge Cambridge University Press 1996 pp 25-46

Dedalo e il labirinto (Deacutedalo e o labirinto) em Annuario Filosifzco 1998

Seconda navigazUacuteJne la tecnica la vila i dilemmi dellazione Milatildeo Mondadori 1998 pp 42-78

-w- bull 1

Craftsman-and-Scholar Thesis em W Applebaum (org) Encyclopedia cif the Scientific Revolutionfrom Copernicus to Newton Nova York e Londres Garland

2000 pp 174-77

Progresso unidea ambivalente Due interpretazioni di Daniele 12 4lt

(Progresso uma ideacuteia ambivalente Duas interpretaccedilotildees de Daniel 124) em A

Vieira Per ta storia deZ foturo a org D Bigalli posfaacutecio de Paolo Rossi Aosta LEubage 2002 pp 207-18

Francis Bacon em I grandi delta scienza n 30 dezembro 2002 Le Scienze

(Scientific American)

Hidden knowledge publicknowledge em Archives dhistoire des sciences

Genebra LV 2002 pp 167-82

Sulla scienza e gli strumenti cinque divagazioni baconiane (Sobre a ciecircncia e os instrumentos cinco divagaccedilotildees baconianas) em Musa Musaei studies on scientific

instruments and collections in Iwnour cf MaTa Miniati org Marco Beretta Paolo Galluzzi Carlo Triarico Biblioteca di Nuncius Florenccedila Leo Olschki 2008

pp141-54

Magic science and the equality of human wits em Bill Fulford Katherine Morris John Sadler e Giovanni Stanghellini (org) Nature and narrative An introduction to the new Philosophy cf psychiatry Oxford Oxford University Press 2003 pp 268-74

Page 4: ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

inglecircs No Time Literary Supplementdo dia 10 de agosto de 1968 num artigo natildeo

assinado conforme se usava entatildeo felicitava-se a tradutora e elogiava-se o livro

por ter o grande meacuterito de aceitar a complexidade dos processos intelectuais o

autor natildeo se contenta com falsas simplificaccedilotildees e eacute capaz de ver desenvolvimentos

internos ao pensamento de Bacon que escaparam a criacuteticos menos cuidadosos

() Este livro melhor do que qualquer outro coloca no seu contexto aquela

enigmaacutetica personalidade Trata-se de um instrumento indispensaacutevel paraI I qualquer estudioso da histoacuteria intelectual daquele periacuteodo

Imiddot Foi poreacutem a longa resenha de Frances A Yates de 19 de fevereiro de

Hl68 na New York Review qf Books que exerceu uma influecircncia decisiva quanto I aos destinos da ediccedilatildeo inglesa de meu livro e de sua fortuna A Yates que jaacute

havia publicado seu ceacutelebre livro sobre Giordano Bruno e a tradiccedilatildeo hermeacutetica

ao lado de seu natildeo menos famoso estudo sobre A Arte CUacutel Memoacuteria deu agrave sua1 I primeira intervenccedilatildeo o tiacutetulo de Bacons magic O meu livro tinha omiddot meacuterito de

mostrar que os temas do domiacutenio sobre a natureza e do melhoramento da condiccedilatildeomiddot

humana atraveacutes do conhecimento temas esses tatildeo proacuteprios de Bacon estavam

presentes tambeacutem na imagem da magia que emerge da obra de Cornelio Agrippa

No livro que escrevi - continuava afirmando Yates - Bacon aparece como um

pensador que reage agrave tradiccedilatildeo maacutegica e que assim mesmo tem para com essa

tradiccedilatildeo uma profunda diacutevida Bacon eacute visto sobre o fundo das ftlosofias da

Renascenccedila que ele descarta por desaprovaacute-las ao mesmo tempo em que delas

emerge Yates sublinhava outras duas novidades que ela encontrara no livro o

esaccedilo consideraacutevel dedicado agrave anaacutelise do uso baconiano dos grandes mitos

claacutessicos e o realce dado agrave importacircncia da arte da memoacuteria (um trabalho

pioneiro) na construccedilatildeo da celebeacuterrima teoria do meacutetodo

Em seu estudo sobre Agrippa publicado pela Urbana Illinois em 1966 G

Nauert tinha lembrado o nome de E Garin e dedicado algumas paacuteginas agrave

comparaccedilatildeo entre Agrippa e Bacon Numa resenha publicada na New York Review qf Books em S de marccedilo do mesmo ano Frances Yates reparara que o autor

havia por completo desconsiderado a existecircncia de meu livro bastante conhecido

pelos estudiosos americanos publicado na Itaacutelia nove anos antes do dele Num

ensaio de 1967 The Hermetic Tradition in Renaissance Science publicado no

t-shypsect$5I 0amp w AW

volume organizado por Charles Singleton Art Science arid History in the Renaissance Yates utilizara as teses presentes em meu livro para defender a figura de Bacon

enquanto novo espeacutecime de rosacruz que abandona o segredo e coopera

abertamente com os outros conforme iraacute acontecer com a Royal Society Para

Yates Bacon surgia como uma daquelas personagens cujo lugar na histoacuteria natildeo

fora compreendido visto que os historiadores da ciecircncia e da ftlosofia o haviam

considerado tatildeo-somente como um precursor do futuro sem examinar suas raiacutezes

no passado O meu meacuterito era o de ter indagado no meio daquelas raiacutezes e de ter

mostrado q~e tanto a imagem baconiana do saber enquanto poder quanto a de

uma ciecircncia dominadora da natureza provinham ambas do ideal do mago da

Renascenccedila No centro de minha imagem de Bacon estavam igualmente

entretanto sua insistecircncia quanto agrave natureza cooperativa do empenho cientiacutefico

sua polecircmica contra qualquer forma de saber secreto e de iluminaccedilatildeo seus

apelos em prol de uma razatildeo humilde ou de qualquer maneira ciente de seus

limites insuperaacuteveis Na verdade o livro deslocara o centro da discussatildeo e induzira alguns

historiadores a falar de outros argumentos que natildeo os habituais ou - conforme

se diz - misturara as cartas do baralho Tive prova disso quando num ensaio de

1957 ao referir-se ao livro de Yates sobre Giordano Bruno e ao presente sobre

Bacon Thomas Kuhn escreveu que O reconhecimento de Francis Bacon corno

figura de transiccedilatildeo entre o ma~o Paracelso e o filoacutesofo experimental Robert

Boyle contribuiu mais do que qualquer outra coisa nos uacuteltimos anos para

modificar a inteligecircncia histoacuterica das modalidades com as quais nasceram as

novas ciecircncias experimentais (cf Th Kuhn A tensatildeo essencialmiddot mUCUacutelnccedilas e

continuidade na ciecircncia - trad it La tensuacuteme essenziale cambiamenti e continuitagrave

nella scienza Turim Einaudi 1895 p 62) Uma vez que tambeacutem no mundo das

ideacuteias e dos juiacutezos eacute completamente verdade que uma cereja puxa a outra natildeo

me surpreendi demasiado quando a American History of Science Society

declarou num documento elaborado por Charles Schmitt que meu trabalho

demonstrara que a assim chamada standard interpretatiacuteon de Bacon tatildeo

frequumlentemente invocada pouco se fundamentava em algo que viesse da pena de

Bacon (o texto ao qual se deve a motivaccedilatildeo para a atribuiccedilatildeo da Sarton Medal foi

bullbull

publicado em Isis emjunho de 1986) Da mesma forma natildeo me surpreendi quando

numa excelente monografia sobre Bacon publicada no fim da deacutecada de 1980

encontrei a seguinte frase O livro de Rossi eacute quiccedilaacute a obra sobre Bacon mais

importante desse seacuteculo por ter dado iniacutecio a uma nova fase dentro dos estudos

baconianos (Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Sciena Oxford Clarendon

Press 1988 p 50) Numa linguagem apta a lidar com a solene do Lorde Chanceler

havia-me confidenciado privadamente a mesma coisa sobre Graham Rees dedicando-me em marccedilo de 1984 um de seus ensaios sobre textos ainda ineacuteditos

de Francis Bacon For Paulo Rossi - instaurator magnis magni instauratoris shy

a small token of my profound esteem A elegacircncia desta dedicatoacuteria faz com

que a vinte anos de distacircncia eu natildeo responda a ele coisa que aliaacutes mereceria pela absolutamente gratuita insolecircncia que do alto de sua competecircncia de explorador dos ineacuteditos baconianos e dos baixios de seu irremediaacutevel diletantismo filosoacutefico ele me dirigiu alguns anos mais tarde

Todos temos o condatildeo de engolir baldadas de gratificaccedilotildees sem sentirmoshy

nos saciados Quanto a isso creio natildeo ser eu uma exceccedilatildeo Por minha sorte nunca

alimentei demasiadas ilusotildees e a matildee natureza concedeu-me uma discreta dose de SEnso do humorismo Sempre apreciei a citaccedilatildeo de Esopo que Francis Bacon gostava

de lembrar Quanta poeira levanto Dizia a mosca pousada no eixo da roda de uma carroccedila Aconteceu-me tambeacutem de estigmatizar os comportamentos de tipo

paranoacuteico de colegas filoacutesofos mais ilustres do que eu ou convencidos de secirc-Io os quais crecircem firmemente que a proacutepria atividade intelectual configura-se como decisiva ou epocal(l algo que tem a ver com verdades indiscutiacuteveis ou com

conquistas perenes Faltam-me por completo essas formas de entusiasmo e natildeo creio

absolutamente que outros tenham de considerar como verdades os beneacutevolos juiacutezos sobre meu livro de 1957 Creio todavia que a mim pessoalmente deva ser permitido esperar que possam conter alguns elementos de verdade

bull[fft~i~--middot -~===~bull~ c

~

UI~~ ~~ Este livro continha segundo eu achava entatildeo alguns toacutepicos ou partes ~S

deles que mereciam uma ampliaccedilatildeo e um aprofundamento Eu havia utilizado e ~J assinalado no sexto capiacutetulo alguns claacutessicos da ars 11U1IWrativaDessas leiturasI shy

~S e das paacuteginas dedicadas ao tema da ministratio ad 11U1IWriam na obra de Francis

~ Bacon nasceram as pesquisas que conduziram agrave publicaccedilatildeo em 1960 pela Editora I Ricciardi do volume Clavis Universalis Arti delta Memoria e Logica

) Combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis Universalis Artes da Memoacuteria e L6gica Combinatoacuteria de Llull a Leibnix)(bl Das leituras de Giorgio Agricola de Vannoccio ~ Biringuccio e de muitos outros mecacircnicos do Quinhentos(cl aleacutem das paacuteginas 1 do primeiro capiacutetulo dedicadas agrave disputa sobre as artes mecacircnicas nasceram as ~

-= pesquisas que redundaram na publicaccedilatildeo por Feltrinelli em 1962 do livro I)

Filosofi e le Macchine 1400-1700 (Os Filoacutesofos e as Maacutequinas j 400(1700) Como) apecircndice a esse livro coloquei trecircs breves ensaios Veritagrave e utilitagrave della scienza

~ in Francesco Bacone (Verdade e Utilidade da Ciecircncia em Francis Bacon) (jaacute

publicado na Rivista critica di storia dellafilosofta em 1957) que ressentia muito das minhas conversas de entatildeo com Giulio Preti e que conteacutem uma criacutetica das I~ bull

interpretaccedilotildees da Filosofia de Bacon enquanto forma de utilitarismo Conteacutem ~~ ~~

tambeacutem a demonstraccedilatildeo de que a traduccedilatildeo standard da expressatildeo contida em

Novum Organum I 124 ipsissimae res sunt veritas et utilitas como truth and )- ti utility are the very sa11U things estaacute total e irremediavelmente incorreta Na ~ Q matildeo de muitos filoacutesofos que ignoram qualquer liacutengua a natildeo ser o inglecircs e 0)

escrevem ensaios sobre Bacon sem sequer dar uma espiada aos originais~ ~ latinos de seus textos essa traduccedilatildeo incorreta deu lugar a natildeo poucos~~ t ~ equiacutevocos natildeo desprovidos de consequumlecircncias

Acredito ser verdadeiro (diferentemente do que muitos escreveram e do

que algueacutem continua escrevendo) que se perguntar se as verdades cientiacuteficas

dependem dos procedimentos utilizados para afirmaacute-las ou de sua fecundidade

praacutetica eacute para Bacon um dilema sem sentido uma verdade cientiacutefica eacute sempre fecunda e tal fecundidade depende justamente e exclusivamente do seu caraacuteteacuter

de verdade As duas intenccedilotildees humanas gecircmeas a ~ecircncia e o poder coincidem

IV Cv (lt5 t-ICcedil ccedil-o - JJ~J e([~4 -~if eacute Cr((middotI[JA ~) -~ shy

~ l eacute f I (~~J j)cf

_ E

bullbull

numa uacutenica e a ignoracircncia das causas provoca a falecircncia das obras Aquilo que

teoricamente vale como causa operacionalmente vale como regra (quod in contemplatione instar causae est id in operatione instar regulae est) Aquilo que eacute mais uacutetil na praacutetica eacute aquilo que eacute mais verdadeiro na teoria (Ista autem duo pronuntiota activum et contemplativum res eadem $Uni et quod in operanckJ utilissimum id in sciendo verissimum Novum Organum [14)

middotltiacute~middot~ eacute~~Ji)1 vJ(middotl

IV C_~Jf)(-~--1 )ampf- r 5middot-t-o ~ J~I middott)-q~-D

Depois de ter entrado a fazer parte de um trio que compreendia Vittorio

Mathieu e Giorgio Radetti cheguei agrave Universidade de Cagliari em 1962 Entre os muitos professores alojados no Hotel Jolly encontrei Ernesto De Martino que contava entatildeo com 54 anos e lecionava na Faculdade de Magisteacuterio Tinha lido seus livros e discutido muitas vezes com ele Remo Cantoni e Enzo Paci e

tinha por ele uma grande admiraccedilatildeo acompanhada por aquele tranquumlilo sentido de gratidatildeo que se sente pelos autores dos livros que percebemos serem decisivos para a nossa vida intelectual Ouvi-lo dizer que havia inserido umas vinte paacuteginas

I de meu livro sobre Bacon em sua antologia Magia e Civilizaccedilatildeo (Garzanti - 1962)

foi para mim um grata surpresa Ficamos muito proacuteximos em Cagliari ele veio agrave minha casa em Milatildeo e eu fui agrave dele em Roma Quando me ocorre de repensar o lugar que ele ocupou em minha vida em nossa amizade na montanha de livros

de antropologia e de psiquiatria que eu li apoacutes tecirc-lo encontrado parece-me inacreditaacutevel tecirc-lo conhecido e frequumlentado por tatildeo pouco tempo uma vez que ele morreu em 1965

Depois da leitura dos livros de De Martino e de I Pnmitivi de Re~o Cantoni

(que me havia impelido a ler A Filosqfta elas Formas Simb6licasde Ernst Cassirer) depois dos periacuteodos passados no Wagraverburg Institute - onde havia encontrado e

frequumlentado Frances Yates Gertrud Bing Ernst Gombrich D P Walker - a magia da Renascenccedila que encontrara em Florenccedila graccedilas agrave escola de Gann tornara-se para mim uma realidade mais ampla Natildeo conseguiria nem que quisesse dar uma ordem cronoloacutegica agraves minhas leituras desordenadas mas aquilo

que considero vaacutelido ainda hoje em li MonckJ Maacutegico de De Martino penso ser

bull 1amp2 ~ amp sshyi I

aquilo que indicava o proacuteprio De Martino em 1958 ou seja a tese da crise da

presenccedila como risco de natildeo se estar no mundo e a descoberta de uma seacuterie de

teacutecnicas (das quais fazem parte tanto a magia quanto a religiatildeo) destinadas a

proteger a presenccedila do risco de ela perder as categorias com as quais se eleva sobre a cega vitalidade e sobre a ingens sylva da natureza e destinadas - outrossim - a reabrirmediatamente o mundo dos valores comprometido por dita crise (p 3 13)

Agravequele nuacutecleo vaacutelido De Martino iraacute continuar fiel mesmo depois de ter lido Hubert Mauss e Malinoacutevski Entretanto o que tornava e ainda torna atuais tantas paacuteginas dele eacute a vigorosa polecircmica contra o que ele apoacutes ter ilustrado

suas promessas denominava as ameaccedilas da etnologia

A utilizaccedilatildeo das categorias do existencialismo e da fenomenologia o interesse fortiacutessimo pela psicopatologia a incidecircncia dos textos de Heidegger e de Jaspers a leitura de Mircea Eliade e de Leacutevi-Strauss tudo isso jamais conseguiu demover De Martino de uma de suas teses baacutesicas Aquela segundo a qual a

experiecircncia da diversidade ou da comp~~ensatildeo (fosse ela a do primitivo ou do psicoacutetico) natildeo pode nunca coincidir em caso algum com uma renuacutencia masoquista Sem um empenho para compreender o sentido de nossa histoacuteria eacute

vatildeo tentar compreender o sentido da ~~oacute~ia~~~out~s nem Pffiis poderaacute acontecer de noacutes entendermos melhor quem somos colocando-nos como apaacutetridas diante de outras civilizaccedilotildees disponiacuteveis indefinidamente para qualquer paacutetria

que possa no~ seduzir A verdade eacute que o ocidente orientou suas escolhas segundo os poderes da conscientizaccedilatildeo da persuasatildeo do prestiacutegio moral da poesia da

ciecircncia da vida democraacutetica do simbolismo civil [] Com isso a magia tornou-se no interior da civilizaccedilatildeo ocidental cada vez mais impotecircncia estiacutemulo cifrado do inconsciente desejo inautecircntico suspeito e frustrante servidatildeo inaceitaacutevel

ditadura do oculto e do incontrolaacutevel ou entatildeo resquiacutecio folcloacuterico No que concerne agrave religiatildeo De Martino pensava que a afirmaccedilatildeo de uma origem natildeo

divina mas humana dos modelos de cultura a tese que a cultura tenha origem humana e destino humano natildeo eacute uma entre as tantas teses possiacuteveis sobre a cultura

e sobre as instituiccedilotildees Qualquer sistema de escolhas culturais que esteja agrave nossa frente - concluiacutea - cai integralmente no acircmbito dessa nossa escolha

bull bullbull

As que De Martino chamava as ameaccedilas da etnologia agigantaram-se suas estruturas e em sua essecircncia que ela jaacute gastou suas proacuteprias energias que assustadoramente nas deacutecadas sucessivas a seu desaparecimento As suas escolhas jaacute se reduziu a mera negatividade A libertaccedilatildeo do homem consistia portanto em agrave sua recusa do irracionalismo histoacuterico-religioso e do relativismo cultural sacudir de suas costas a civilizaccedilatildeo ocidental (p XLV) Que algueacutem pudesse estaacute correlacionada sua imagem de uma antropologia que estaacute sempre correndo sacudir de seus ombros a civilizaccedilatildeo na qual nasceu e cresceu eacute justamente o o risco de transformar-se em um friacutevolo deffile de modelos culturais impelidos contraacuterio exato da posiccedilatildeo que De Martino havia defendido e sustentado como na passarela da ciecircncia por um friacutegido apaacutetrida em funccedilatildeo de antropoacutelogo sempre se diz com unhas e dentes ao longo de seu percurso intelectual completamente disponiacutevel para qualquer possiacutevel gosto cultural (Furore siacutembolo Visto pelos olhos dos jdanovistas que pretendiam saber o que eacute certo e o valore Milatildeo 1962 pp 86-87) Natildeo eram estas as ideacuteias que tornaram popular que eacute errado e pretendiam orientar todo tipo de escolha cultural De Martino De Martino no decorrer das deacutecadas de 1960 e 1970 Os entusiasmos pelo maacutegico era um irracionalista ou como miacutenimo um estudioso que manejava com o maacuteximo

as tornavam pouco atuais e irrelevantes Quando em 1973 saiu uma nova ediccedilatildeo de desenvoltura textos e autores ambiacuteguos e perigosos que era melhor natildeo de lImando magico o editor sentiu a necessidade de confiar a Cesare Cases a publicar e certamente natildeo difundir Aos olhos daqueles que nas deacutecadas seguintes tarefa de escrever uma introduccedilatildeo Cases tinha dedicado uma porccedilatildeo de seu o aproximaram a Adorno e agrave Dialeacutetica do Iluminisme toda declaraccedilatildeo de fidelidade caacuteustico engenho agraveanaacutelise a partir das posiccedilotildees da esq uerda (mais do que esquerda aos valores da razatildeo eacute por parte de De Martino apenas uma tentativa mais ou natildeo daacute) de autores colocados numa direita tatildeo extremada (que mais do que assim menos acanhada de romper o isolamento recorrendo a serviccedilos que lhe permitem natildeo dava) uma outra natildeo irrelevante porccedilatildeo tinha ele dedicado no fmal da deacutecada usar instrumentos irracionalistas sem ser considerado um irracionalista (vejashyde 1950 a defender a pureza do marxismo enquanto concepccedilatildeo de mundo a se P e M Cherchi De Martino Naacutepoles Liguori 1987 p 227) Quem sem polemizar contra Giulio Preti contra o neo-empirismo e suas infIltraccedilotildees nas documentaccedilatildeo efetiva faz uso de categorias do tipo recorrer a serviccedilos serveshyfileiras da esquerda se de um instrumento tatildeo poderoso que passa a ser absolutamente esteacuteril e

Na introduccedilatildeo Cases estava preocupado principalmente em indicar os limites ineficaz Se De Martino repete muitas vezes com convicccedilatildeo e em eacutepocas e textos ou seja os defeitos da posiccedilatildeo de De Martiacuteno Lido com as lentes paleomarxistas diferentes sua fidelidade a valores de tipo Iluminista pode-se sempre dizer de Cases o livro tinha um defeito imperdoaacutevel natildeo era suficientemente antishy que o faz por razotildees poliacuteticas ou entatildeo que o faz inconscientemente ou sem ocidental Na introduccedilatildeo aparecem - concebidas como repreensotildees ou objeccedilotildees se dar conta Raciocinando assim tem-se sempre razatildeo Cortando rente criando a De Martino - as seguintes expressotildees a civilizaccedilatildeo ocidental natildeo eacute contestada alternativas riacutegidas usando meacutetodos inquisitoriais (do tipo diz uma coisa mas em suas estruturas mas na falta de consciecircncia de sua gecircnese (p XXVI) para o natildeo acredita nela de verdade) acaba-se destruindo justamente o espaccedilo que De autor as marcas da civilizaccedilatildeo ocidental permanecem oacutebvias e delas natildeo se Martino havia construiacutedo para si com tanta fadiga acaba-se processando-o pelo contesta a essecircncia mas tatildeo-somente a arrogacircncia (p XXVII) De Martino remete crime de uma pretensa incoerecircncia agraves potencialidades natildeo consumadas da energia plasmadora da civilizaccedilatildeo Para De Martino a ambiguumlidade natildeo estava em noacutes mas sim nas coisas O ocidental e nela tem demasiada confianccedila (pp XLI XLVI) considera mundo maacutegico estaacute atraacutes deIOacutes mas tambeacutem dentro de noacutes seinpre prOacuteimo a fmalmente a razatildeo ocidental como um dado (p XLVII) Antecipando as recusas noacutes como uma alternativa uma tentaccedilatildeo um caminho de fuga Em muitos setores globais de hoje de Asor Rosa suscitando o interesse dos sequazes de Evola os da cultura e da poliacutetica natildeo se sabe disso e natildeo se leva isso em consideraccedilatildeo quais vindos da extrema direita jaacute tinham negado haacute bastante tempo a essecircncia Movemo-nos entatildeo no interior de uma histoacuteria imaginaacuteria enrijecida no culto do ocidente Cases sustenta que a civilizaccedilatildeo ocidental deve ser contestada em de uma razatildeo que natildeo se questiona sobre seu passado Constroacutei-se inclusive

-------------~_ ~

bullbull

uma histoacuteria da ciecircncia imaginaacuteria em que Bacon se torna o filoacutesofo da idade industrial na qual tambeacutem Gilbert e Kepler e Newton se tornam cientistas

positivos O monoacutelogo colonialista e missionaacuterio da velha Europa - escreveu

De Martino - vai-se tornando dia apoacutes dia cada vez mais solitaacuterio e delirante A histoacuteria do conceito de magia no Ocidente serve para nos dar essa consciecircncia e

serve ao mesmo tempo como medida protetora contra aquele mal diferente

que eacute a infidelidade radical em relaccedilatildeo agravepolecircmica antimaacutegica de nossa civilizaccedilatildeo

com a conseguinte abdicaccedilatildeo diante dos prestiacutegios da magia (E De Martino Magia e civiltagrave Milatildeo Garzanti 1962 p 9) Talvez natildeo seja um caso o fato de

~ que do interesse de De Martino para com a histoacuteria das ideacuteias para com a

passagem da magia agrave ciecircncia entre Quinhentos e Seiscentos - que para ele natildeo

era um episoacutedio mas o episoacutedio decisivo da histoacuteria do ocidente (e indiretamente

da histoacuteria do mundo) - natildeo reste nenhum traccedilo nos muitos doutos e

informadiacutessimos ensaios e livros que foram publicados sobre ele No ano que seguiu agrave republicaccedilatildeo de Il mondo magico entre 20 e 23 de

abril de 1974 tiveram lugar em Capr~ organizadas por Maria Righini Bonelli e William Shea as Jornadas Internacionais de Histoacuteria da Ciecircncia As atas do congresso saiacuteram em 1975 nas Science History Publications de Nova York com

o tiacutetulo de Reason Experiment andMysticism in lhe Scientifiacutec Revolution Foi ali que eu li uma comunicaccedilatildeo entitulada Hermeticism Rationality and the Scientific

Revolution que foi comentada por A Rupert Hall O conteuacutedo da comunicaccedilatildeo

- bem distante da vaga do magismo indiscriminado da eacutepoca - eacute resumido no

paraacutegrafo 5 do Prefaacutecio agrave segunda ediccedilatildeo (escrito naquele mesmo ano) que

segue aqui Dez anos mais tarde Charles Schmitt depois de lembrar a insistecircncia

com que eu tratava os temas maacutegicos e mitoloacutegicos tatildeo distantes da imagem da

baconian science que circulava na deacutecada de 1950 resumia com clareza o que tinha acontecido Deve ser lembrado que o Bacon de Rossi surgiu em sua

primeira ediccedilatildeo antes da atual corrida para colocar magia e ocultismo no centro

do pensamento da Renascenccedila Na verdade aquele livro foi responsaacutevel e natildeo

pouco por aquela reavaliaccedilatildeo dos fatores maacutegicos e ocultos presentes na primeira

ciecircncia moderna na sua uacuteltima geraccedilatildeo O que eacute importante na abordagem de

Rossi eacute que ele nunca deixou as questotildees centrais afastarem-se do ponto focal

bull

Enquanto outros empurravam a nova interpretaccedilatildeo longe demais ele natildeo hesitou em traccedilar a linha que divide as hipoacuteteses cientiacuteficas das fantasias Apesar de o livro fazer parte da base a partir da qual se desenvolveu a ecircnfase hoje corrente sobre a assim chamada Tradiccedilatildeo Hermeacutetica quando as coisas comeccedilaram a sair do controle ele foi um dos primeiros a dissociar-se de algumas das direccedilotildees mais bizarras rumo agraves quais estavam se movendo os entusiastas (Isis junho

1986 e tambeacutem Anais do Instituto e Museu de Histoacuteria da Ciecircncia de Florenccedila X

1985 p 138)

v

Do clima anticientiacutefico de caraacuteter hermetizante ocultista e decididamente

filo-maacutegico que se difundiu na Itaacutelia (e natildeo apenas na Itaacutelia) desde o final da deacutecada de 1960 eu jaacute tinha me distanciado desde o iniacutecio A comeccedilar por um

artigo publicado em Rinascita em 24 de maio de 1968 no qual estaacute escrito Entrou

em crise a tese da superioridade dos modernos Natildeo apenas no sentido de uma

recusa do progresso como caminho linear e garantido mas no proacuteprio questionamento do conceito mesmo de civilizaccedilatildeo moderna O mundo da teacutecnica

da ciecircncia da induacutestria natildeo eacute analisado em suas componentes histoacutericas mas

concebido como pura e total negatividade A partir de entatildeo e nas deacutecadas que

seguiram foram tiradas todas as consequumlecircncias impliacutecitas nessa teoloacutegica

asserccedilatildeo Acompanhando e reforccedilando uma voga irrefreaacutevel de magismo

abriram caminho e se tornaram ideacuteias correntes fantasias sobre uma nova e

assombrosa ciecircncia proletaacuteria que teria em breve substituiacutedo a corrupta ciecircncia

burguesa e sobre um pensamento maacutegico que daria lugar a uma alternativa para

o ressecado racionalismo Intelectuais de esquerda apresentaram o pouso de homens na lua como sendo a mais perfeita especulaccedilatildeo que a sociedade capitalista

() conseguiu organizar em prejuiacutezo dos oprimidos e dos espoliados como uma

operaccedilatildeo de real conteuacutedo reacionaacuterio (M Cini Caiacutemos numa ratoeiraacute no jornal L Unitagrave 26 de julho de 1969) No comeccedilo daquele ano sustentava-se que

o uacutenico discurso correto era o de uma recusa da ciecircncia enquanto instrumento

de alienaccedilatildeo e opressatildeo do homem (F Piperno A greve dos ceacuterebros em

~ c

~

bullbull

L Espresso Colore 2 de fevereiro de 1969) A ciecircncia escrevia Umberto Curi

constituiu-se originariamente consolidou-se e desenvolveu-se ateacute hoje ( ) como forccedila produtiva do capital contra o trabalho (em AAvv Scienza epolere Milatildeo

Feltrinelli 1975 p 147) Para a superficialidade e a simploriedade natildeo haacute limites estabelecidos como na sociedade medieval quem decidia se uma teoria cientiacutefica

era verdadeira ou falsa era o papa - escrevia G Viale - na industrial quem decide a validade ou natildeo das teorias cientiacuteficas eacute o Pentaacutegono (Universidade a

hip6tese revolucionaacuteria Paacutedua 1968 p 118) O apocalipse associava-se como de haacutebito ao otimismo mais desenfreado e sem razatildeo

middot~ A partir do arrombamento das instituiccedilotildees - afirmavam Elisabetta Donini

e Tito Tonietti em Quaderni Piacentini (1977 63-64 p 132) - vai nascer uma nova revoluccedilatildeo copernicanam A ciecircncia nascida das cinzas da metafIsica de bull

lAristoacuteteles para levar a cabo e fazer funcionar o domiacutenio que a burguesia deteacutem ~

como classe soacute pode morrer com ela De sua morte natildeo surgiraacute uma nova

ciecircncia o novo saber seraacute tatildeo diferente do anterior que mereceraacute um novo

termo Teses desse gecircnero tornaram-se na Itaacutelia de entatildeo verdadeiros lugaresshy

comuns transformaram-se em ideologias atraindo um grande nuacutemero de jovens sindicalistas poliacuteticos funcionaacuterios donas~e-casa e principalmente professores

Estes termos tecircm eles todos uma caracteriacutestica comum eles substituem agrave anaacutelise a peremptoriedade dos juiacutezos e aos projetos a alusatildeo ao Radicalmente Novo

Como do Novo e do Outro natildeo se pode falar (tal como natildeo se pode falar do Deus ~ dos miacutesticos) procede-se necessariamente por alusotildees e negaccedilotildees De qualquer

maneira os projetos satildeo sempre algo de negativo com respeito aos processos em ato e aos movimentos Quando Giulio Maccacaro foi interrogado (em 1974)

quanto ao significado do projeto de uma ciecircncia nova ele respondeu com as seguintes palavras considero impossiacutevel a resposta e improacutepria a pergunta

Gostaria de explicar-me por meio de uma analogia o preso que nasceu enquanto

tal isto eacute o mais verdadeiro dos presos natildeo pode projetar a liberdade e realizar

a fuga E acrescentava temos de atuar para que seja possiacutevel o nascimento de uma ciecircncia nova a ciecircncia de um outro poder mas natildeo podemos predeterminaacuteshy

la sem impedi-la (em Scienza e Potere cito pp 54-55) Os projetos traem os processos as anaacutelises distorcem a vida a rebeliatildeo acaba por parecer mais

bullf~~~-~--F

importante do que o mundo ao qual ela poderia dar origem A revolta enquanto

tal tonia-se um fim a ser perseguido Isso jaacute tinha sido teorizado na Itaacutelia haacute

mais setenta anos por Giuliano o Sofista numa paacutegina ceacutelebre da revista

Leonardo cada programa cada projeto de itineraacuterio eacute uma limitaccedilatildeo Junto agrave assim chamada 1iteratura de contestaccedilatildeo a nova magia encontrou

grandiacutessima difusatildeo No livro The Making 0 Counter-Culture Rejlections on lhe Technocratic Society and Its routliful Opposition Theodor Roszak um dos mais

conhecidos expoentes da nova esquerda americana de entatildeo valeu-se do ensinamento de Thomas Kuhn para apresentar a consciecircncia objetiva como

uma mitologia Baseado nisso ele contrapocircs as extraordinaacuterias possibilidadeacutes de uma nova visatildeo maacutegica do mundo agrave racionalidade restrita da ciecircncia que embota nosso sentido do maravilhoso Acabou apresentando o xamanismo como

o modelo de uma cultura nova e mais livre O de Roszak natildeo foi certamente um caso isolado Tambeacutem na Itaacutelia as

posiccedilotildees que reduziam a ciecircncia agrave ideologia burguesa e pensavam que o saber cientiacutefico-racional era responsaacutevel pelo esvaziamento de sentido e pelo

desencantamento do mundo aliaram-se a posiccedilotildees regressivas e miacutesticoshyreacionaacuterias Um verdadeiro obscurantismo anticientiacutefico inspirado em Spengler

e em Heidegger vestiu os trajes do marxismo casando com a heranccedila de Nietzsche do vitalismo e do vanguardismo do comeccedilo do Novecentos

A descida para o plano arcaico da experiecircncia maacutegica a exaltaccedilatildeo do primitivismo e do imediatismo a nostalgia do passado como paraiacuteso de uma

humanidade natildeo reprimida a nostalgia pelo mundo camponecircs deixaram de ser considerados temas pertinentes exclusivamente ao pensamento reacionaacuterio shy

conforme havia sido durante longo tempo - mas vieram a ser propostos e sustentados tambeacutem no interior da esquerda como vaacutelidos instrumentos de libertaccedilatildeo dos pecados e das alienaccedilotildees presentes na sociedade moderna

I

VI

O motivo de eu natildeo concordar com as conclusotildees de F A Yates P M

Rattansi e de outros estudiosos natildeo dependia certamente do fato de que ambos sustentavam a necessidade para um historiador da ciecircncia moderna de ocuparshyse de magia e de hermetismo mas do fato de que eu via neles a tendecircncia para

sublinhar exclusivamente os elementos de continuidade entre a tradiccedilatildeo e a

imagem moderna de ciecircncia No centro da reflexatildeo de Yates estaya a pergunta por que justamente naquele momento Quais os motivos daquela emergecircncia -Yates havia apresentado o seu Giordano Bruno como sendo um estudo histoacuterico

dos motivos do nascimento da nova ciecircncia Nas raiacutezes daquela emergecircncia estava um novo tipo de interesse para com o mundo e as operaccedilotildees sobre a

natureza A magia renascimental cltnstitui justamente a realizaccedilatildeo de uma reorientaccedilatildeo psicoloacutegica da vontade rumo agrave accedilatildeo Atraveacutes daquela fundamental

mudanccedila psicoloacutegica aparece para a histoacuteria na Europa do Quinhentos a atribuiccedilatildeo de um valor agraves operaccedilotildees Tal atribuiccedilatildeo encontra-se na raiz da ciecircncia

moderna e constitui o seu porquecirc A visatildeo hermeacutetica de um universo regido pelas operaccedilotildees do mago eacute apresentada segundo esse ponto de vista na conclusatildeo

de seu trabalho como sendo a primeira fase da revoluccedilatildeo cientiacutefica que eacute caracterizada jaacute na segunda fase pela visatildeo de um universo mecanicista regido pelas leis da mecacircnica

A tese natildeo eacute completamente nova Spengler jaacute havia insistido em paacuteginas que seriam retomadas e discutidas por Max Scheler na importacircncia do faustismo

para o nascimento da ciecircncia A vontade teacutecnica do poder o saber-de-domiacutenio (Herrschaftwissen) haviam sido interpretados como um primum capaz de explicar

o emergir da ciecircncia no interior da histoacuteria do ocidente Numa perspectiva

diferente tambeacutem Jung e Eliade haviam chegado a respeito desse ponto - natildeo secundaacuterio - a conclusotildees parecidas mesmo se expressas numa linguagem muito

mais imaginativa A ideacuteia-guia do mundo moderno tinha parecido a Jung uma

versatildeo secular do sonho alquUacuteTIico a alquimia eacute o alvorecer da idade cientiacutefica quando o daimon do espiacuterito cientiacutefico obrigou as forccedilas da natureza a servir o

homem em medida antes desconhecida Para Mircea Eliade os alquimistas satildeo

I I J bull~

9

os antecipadores da essecircncia da ideologia que caracteriza o mundo moderno e que chegou agrave plena maturaccedilatildeo com o marxismo e o positivismo no decorrer do seacuteculo XIX a feacute na transmutaccedilatildeo da natureza e nas ilimitadas possibilidades do

homem Eacute dificil natildeo concordar com Frances Yates quando ela afirma que a histoacuteria

da emergecircncia da ciecircncia moderna resulta incompleta sem a histoacuteria daquilo de onde ela emerge e eacute certamente verdade que uma histoacuteria capaz de iluminar as

interaccedilotildees entre magia e ciecircncia eacute sem duacutevida mais frutuosa do que uma (que hoje ningueacutem escreve) que se contenta em celebrar os triunfos da ciecircncia do

seacuteculo XVIL Os trabalhos de Yates deram uma contribuiccedilatildeo decisiva ao aclaramento dessas interaccedilotildees Yates entretanto limita-se a sustentar essas teses

aceitaacuteveis a utilizar algumas observaccedilotildees feitas (entre outros) por Jung e Eliade

ou entatildeo ter-se-ia apropriado da tese deles da ciecircncia enquanto incapacidade de experimentar o sagrado Seria o caso de POcirc--Io em duacutevida quando se lecircem no

livro dela afirmaccedilotildees desse tipo Por acaso a ciecircncia natildeo eacute tudo somado nada

mais do que uma gnose uma visatildeo da natureza do Todo que procede atraveacutes de revelaccedilotildees sucessivas (F Yates Giordano Brurro e a tradiccedilatildeo hermeacutetica trad it

Bari Laterza 1969 pp 447-8 452)(d) Tambeacutem no livro de 1972 sobre o tipo de

pensamento dos RosacruzesYates afirmava que eu havia dado ecircnfase ao matiz de milenarismo constante na InstauratW magna scientiarum e tinha demonstrado

que Bacon sai justamente da tradiccedilatildeo hermeacutetica da magia e da Cabala da

Renascenccedila por ele alcanccediladas atraveacutes dos magos naturais (O Iluminismo dos Rosacruzes um Estilo de Pensamento na Europa do Seiscentos trad it L llluminismo dei Rosacroce urro stile dipensiero nellEuropa Del Seicento Turim Einaudi 1976

pp60 142-143)

Difiacutecil eacute subtrair-se agrave impressatildeo de que a tentativa de Yates era a de

reconduzir a segunda fase (mecanicista) da assim chamada revoluccedilatildeo cientiacutefica agrave primeira fase (maacutegico-hermeacutetica) e de que o estudo das interaccedilotildees entre essas

duas fases tivesse de servir para demonstrar que eacute inuacutetil procurar distinguir a ciecircncia da magia sendo que a primeira fase jamais teraacute fim As indagaccedilotildees sobre o hermetismo e sobre a magia satildeo importantes pois nos ajudam a compreender

melhor as origens da ciecircncia moderna (a qual no comeccedilo de seu longo percurso

bull I

i

deveu em parte sua vida tambeacutem a uma disreputable structure of ideas) ou

entatildeo o satildeo porque nos levam agrave conclusatildeo que a ciecircncia moderna nada mais eacute do

que a continuaccedilatildeo em formas novas de uma abordagem de tipo miacutestico da

natureza Satildeo indagaccedilotildees importantes porque nos mostram como tem sido dificil tortuoso e complicado o caminho da razatildeo cientiacutefica ou entatildeo porque contribuem

para mostrar as bases irracionais da construccedilatildeo da primeira ciecircncia moderna e

de qualquer outra forma de ciecircncia possiacutevel Com a revoluccedilatildeo cientiacutefica nasceu na histoacuteria um tipo de saber intersubjetivo e capaz de crescer um saber puacuteblico

que eacute alternativo ao saber secreto da magia e do ocultismo O que eacute contestado eacute o conhecimento insuficiente da gecircnese da ciecircncia moderna ou a proacutepria estrutura da ciecircncia moderna

Tenho a impressatildeo de que algo parecido com o que se passou com muitos leitores de Freud tenha ocorrido com muitos estudiosos da tradiccedilatildeo hermeacutetica apoacutes middotter ficado sabendo da existecircncia do inconsciente do condicionamento exercido pelas pulsotildees e pelos instintos sobre a vida da consciecircncia e da razatildeo

depois de ter reconhecido a existecircncia dos elementos de agressividade que atuam por traacutes da fachada respeitaacutevel da civilidade concluiacuteram - diferentemente do

que fazia Freud - que natildeo existem mais razatildeo nem ciecircncia nem civilidade mas haacute apenas instintos agressivos e desejos pulsionais

VII

Nos anos em que haviam praticamente desaparecido os modernos e nos departamentos de filosouumla soacute se encontravam poacutes-modernos rampantes

costumava-se defender duas teses de caraacuteter epocal A primeira tese de

- caraacuteter mais geral contrapunha moderno e poacutes-moderno O primeiro era ~

qualificado como a idade de uma razatildeo forte que constroacutei explicaccedilotildees totalizadoras

do mundo e que eacute dominada pela ideacuteia de um desenvolvimento histoacuterico do

pensamento como iluminaccedilatildeo incessante ou progressiva ou seja como a idade da ordem nomoloacutegica normativa da razatildeo e de uma sua estrutura monoliacutetica e

-~altlotildeiatildeAdespeito de Niccoloacute Machiavelli e de Giambattista Vico o moderno era definido como a idade do tempo linear caracterizada pela superaccedilatildeo ou

bull- -------~---

seja pela novidade que envelhece e eacute rapidamente substituiacuteda por uma novidade mais nova A segunda tese de caraacuteter mais limitado e especial afirmava que

siacutemiles analogias metaacuteforas semelhanccedilas que satildeo formas tiacutepicas ou

caracterizadoras da cultura da eacutepoca barroca satildeo energicamente recusadas pela nova ciecircncia da natureza

Para mostrar a inconsistecircncia dessa segunda tese em 1984 publiquei em Intersecccedilotildees um ensaio com o nome de Os siacutemiles as analogias as articulaccedilotildees da

natureza (Le similitudin~ le analogie le articolazioni della natura mais tarde incluiacutedo no volume [ ragni e k flnniche un ap0UacuteJgia della storia della scienza (As Aranhas e As Formigas uma ApoUacuteJgia da HisMna da Ciecircncia) Bolonha n Mulino

198~) no qu~l eu mostrava que parasustentar aq~ela tese Michel Foucault f haVia se apOIado numa passagem latma de FranCiS Bacon fazendo uso natildeo t do texto original mas de uma traduccedilatildeo dele feita no Oitocentos Acontecia

que termos - chave (ressemblancee similitude) sobre os quais se fundava todo o seu genial piroteacutecnico e desenvolto discurso compareciam de forma urn tanto misteriosa na traduccedilatildeo francesa mas natildeo existiam absolutamente no original latino

Uma das ideacuteias mais tolas professadas pelos poacutes-modernistas consistia em

apresentar a modernidade como uma eacutepoca de certezas como uma espeacutecie de idade da seguranccedila da qual haacute poucos anos apenas e por meacuterito de trecircs ou

quatro filoacutesofos parisienses alguns intelectuais extremamente aggiornatihaviam dolotilderosamenteern~rgido~Francis Bacon era freqUentemente citado como o tiacutepico

expoente ou campeatildeo do moderno pelos defensores da primeira das duas teses

que enunciei acima Polemizando com aquela imagem bastante cocircmoda escrevi

uma comunicaccedilatildeo para o encontro sobre Moderno e Poacutes-moderno organizado

em marccedilo de 1986 no Instituto Gramsci da Toscana Dei-lhe o tiacutetulo de [doia da Modernidade publicada mais tarde com outros ensaios em Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (CorifTonto dos Engenhos Modernos ePoacutes-modernos - Bolonha

n Mulino 1989) Esclarecendo que o nome idola era para Bacon sinocircnimo de

superstitions como tambeacutem de notionesfalsae ou volantes phantasiae inseri em meu escrito inclusive um elenco de algumas ideacuteias fUosoacuteficas de Bacon que me permito

reproduzir aqui

bull

f O universo natildeo eacute uma realidade ordenada e estruturada hierarquicamente e se rebelam e condicionam nosso intelecto Acabamos entatildeo por discutir natildeo -shy Natildeo existe nenhuma necessaacuteria correspondecircncia entre os elementos que o acerca das coisas mas acerca das palavras Tentamos entatildeo construir uma

l constituem nem entre microcosmo e macrocosmo Natildeo apenas o homem natildeo linguagem rigorosa feita de definiccedilotildees Acabamos por perceber que aquela

reflete em sua mente a estrutura do mundo como tambeacutem entre a ordem do linguagem fala apenas de palavra e que as coisas fugiram-nos irremediavelmente

cosmo e a da sociedade natildeo existe nenhuma correspondecircncia que possa ser das matildeos Por outro lado estamos condenados a fazer uso da linguagem e dela

encontrada As fontes do conhecimento satildeo vaacuterias a feacute a tradiccedilatildeo o sentido o natildeo podemos prescindir

i intelecto DifIcil eacute estabelecer uma hierarquia entre elas A feacute s6 vale para as Entretanto tambeacutem a necessidade de pontos de apoios confiaacuteveis e

indubitaacuteveis faz parte da natureza do homem Parece que os homens sentemI coisas que lhe pertencem O sentido nos engana muitas vezes e o intelecto muito I t mais vezes S6 temos certeza de uma coisa que natildeo podemos nos fiar na tradiccedilatildeo a necessidade de princiacutepios estaacuteveis procuram uma espeacutecie de eixo em

em geral e na filosofia em particular uma vez que nelas foram construiacutedos volta do qual fazer rotar a variedade dos argumentos e das meditaccedilotildees Se

inuacutemeros mundos de palco semelhantes aos teatros dos poetas onde as histoacuterias o intelecto sofre abalos e flutuaccedilotildees os homens tecircm a impressatildeo que o ceacuteu desaba

contadas tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada em cima deles e procuram logo um chatildeo soacutelido uma espeacutecie de Atlas dos

um Os enganos que se encontram em nossas fontes de conhecimento natildeo satildeo pensamentos semelhante ao que na lenda suportava o ceacuteu sobre seus ombros Na

como defeitos ou culpas aos quais se pode remediar Dependem do fato de que realidade os homens tecircm mais medo da duacutevida do que do erro e se iludem de

nossa mente mistura continuamente sua natureza com a natureza das coisas e poderem estabelecer alguns princiacutepios dos quais possa ser derivado todo o saber

do fato de que as imagens falsas e as falaacutecias fazem parte da estrutura da mente e em torno dos quais eles possam fazer rotar todas as suas disputas

satildeo inatas nela e estatildeo radicadas na natureza humana Os erros satildeo inseparaacuteveis Mas o problema maior eacute o da novidade e da dificuldade ou da incapacidade

de nossa natureza e condiccedilatildeo de vida Posso descrevecirc-Ios tentar exorcizaacute-los de pensar o novo Porque a mente humana estaacute mal organizada primeiro desconfia

tomando consciecircncia deles De muitos deles nunca poderei em caso algum ficar demasiado de si proacutepria e em seguida se despreza No comeccedilo parece

completamente livre inacreditaacutevel que algo possa ser descoberto Depois tatildeo logo esse algo eacute

A imagem de que eacute possiacutevel servir-se para pensar o universo eacute a do labirinto descqberto acha-se inacreditaacutevel que possa ter sido ignorado Haacute um duplo

ou caso se prefira a da selva Com efeito natildeo haacute estradas visiacuteveis mas somente preconceito que atua sempre ameaccedilando o novo a crenccedila cristalizada naquilo

caminhos ambiacuteguos Natildeo haacute siacutemiles seguros apenas semelhanccedilas enganadoras que jaacute se encontra estabelecido e a tendecircncia em inserir o novo (privando~ de

de signos e de coisas Natildeo haacute percursos em linha reta apenas espirais e noacutes seu caraacuteter de novidade) dentro de um esquema jaacute prefigurado Se antes da

torcidos e complicados O acaso os efeitos da credulidade as primeiras noccedilotildees introduccedilatildeo da seda tivesse sido imaginada a existecircncia de um fio diferente do

absorvidas na infacircncia constituem aquele patrimocircnio ao qual damos o nome de algodatildeo e da latilde e mais suave brilhante e resistente quem teria sido capaz de

razatildeo Sequer o que realmente nos diferencia dos animais nos ajuda muito Porque pensar numa taturana ou num verme

a linguagem natildeo eacute absolutamente conforme se acreditou durante muito tempo Estando assim as coisas natildeo tem sentido um quadro completo e

( uma entidade controlaacutevel As palavras a partir do momento em que satildeo usadas exaustivo do mundo Onde quer que ele seja construiacutedo esse quadro suscita um

retorcem sua forccedila contra o intelecto Parece-nos poder traccedilar mediante as consenso imediato uma vez que produz sentimentos de seguranccedila Poreacutem eacute

palavras linhas de demarcaccedilatildeo bem visiacuteveis entre as coisas Depois poreacutem toda melhor estimulara inteligecircncia do que usurpar a boa feacute Eacute melhor renunciar a

vez que tentamos deslocar aquelas linhas as palavras satildeo um obstaacuteculo para noacutes compor tratados e proceder ao contraacuterio por afirmaccedilotildees desligadas e provisoacuterias

bullI L

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como eacute igualmente melhor assegurar menos e mostrar os vazios do saber e VIII solicitar a pesquisa Nenhuma filosofia universal e completa eacute proponiacutevel e as teses filosoacuteficas que foram expostas ateacute agora natildeo satildeo as expressotildees da verdade mas sim satildeo comparaacuteveis aos sons pouco agradaacuteveis emitidos pelos muacutesicos quando afinam seus instrumentos O concerto ainda estaacute para chegar e pode-se alimentar apenas a esperanccedila de que seja melhor do que os sons atuais Por isso natildeo haacute nenhum meacutetodo que seja universal e perfeito Por isso natildeo existe nenhuma

arte da descoberta uma vez que ela cresce com o proacuteprio crescimento das

-descobertas (Scrittifilosqfiaacute org Paolo Rossi Turim UTEU 1975 pp 561 573536-37560526608570263274427 593-94 423621 275-76346 637 A uacutenica referecircncia obtida de um escrito fora da ediccedilatildeo indicada encontrashyse em The Worlcs oJ Francis Bacon org R L Ellis 1 Spedding D D Heath Londres 1887-92 I pp 640-41)

Concluindo essas satildeo algumas das respostas dadas por Francis Bacon entre 1605 e 1620 agrave pergunta o que eacute o saber Se essas respostas forem de algum modo significativas parece-me dificil aplicar a elas os roacutetulos utilizados pelos filoacutesofos da poacutes-modernidade explicaccedilotildees totalizadoras do mundo ou entatildeo capacidade projetual de uma subjetividade que se desdobra rumo a um horizonte de fins dos quais pretende possuir a chave ou ainda extremada aspiraccedilatildeo a uma ordem absoluta e definitiva de seguranccedila Parece-me igualmente diflcil utilizar metaacuteforas como a seguinte o olho humano natildeo se abre sobre as trevas originaacuterias do mundo mas sobre a cena de um cosmo jaacute aclarado pela luz intelectual Essa metaacutefora exprimia para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica de 18 de julho de1985) a proacutepria essecircncia daquela imaginaacuteria modernidade em torno da qual se esgotavam os poacutes-modernistas Estes inclusive pareciam totalmente ignaros quanto agrave nobre sentenccedila de um autor que consideravam um de seus antepassados Nunca existiu eacutepoca alguma que natildeo tenha se achado moderna no sentido excecircntrico do termo e natildeo tenha acreditado que se encontrava imediatamente diante de um abismo A consciecircncia desesperada e luacutecida de encontrar-se no meio de uma crise decisiva eacute algo de crocircnico na humanidade (W Benjamin Paris CaPital do Seacuteculo XIX trad it Parigi capitauacute dei XIX secolo Einaud~ 1986 p 701)

bull

As paacuteginas dedicadas no final da deacutecada de 1950 a Cornelio Agrippa e a Francis Bacon agrave relaccedilatildeo entre magia e ciecircncia levaram-me muito longe dos programas e dos projetos iniciais conforme costuma acontecer

Trabalhei longamente nas deacutecadas que se seguiram com as artes da

memoacuteria com a assim chamada descoberta do tempo ocorrida entre o

Quinhentos e o Setecentos com a ftlosofia de Giambattista Vico mas o tema da

magia ou melhor o tema da relaccedilatildeo entre magia e modernidade que surgira em

minha vida desde a publicaccedilatildeo em 1955 do livro de E Garin Testi umanistici sullermetisnw natildeo mais me abandonou Agravequele tema satildeo dedicadas natildeo apenas

as paacuteginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola Francesco Patrizi

Giordano Bruno e sobre argumentos afins mas (aleacutem das aparecircncias) muitas paacuteginas que escrevi nas deacutecadas de 1970 e 1980 e que reuni no jaacute citado Paragone degli ingegni moderni e postmoderni O outro meu livro La saacuteenza e lofilosqfia dei moderni (A Ciecircncia e a Filosofia dos Modernos) publicado por Boringhieri em 1989

abria-se com a premissa intitulada O Processo a Galileu no seacuteculo XX escrita vinte anos antes e que jaacute estava presente numa primeira ediccedilatildeo publicada em

Naacutepoles por Morano em 1971 Daquele processo agrave ciecircncia das imputaccedilotildees que ele continha e mesmo das

defesas que devia comportar - salvo reduzidas mesmo que relevantes exceccedilotildees

- os filoacutesofos da ciecircncia se ocuparam pouco e assim continuam fazendo No que

me diz respeito uma vez que meu assunto de estudo eacute a histoacuteria das ideacuteias entre os seacuteculos XVI e XVIII disso ocupei-me ateacute em demasia Muitas vezes pergunteishy

me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que por sinal

deu-me algumas satisfaccedilotildees Das paacuteginas que escrevi sobre o tema a que me

referi tive poucas ao contraacuterio e algumas vezes verdadeiros insultos Um ceacutelebre filoacutesofo italiano comparou-me certa vez a um cachorrinho que mordia o salto

de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele natildeo apenas pensava na

distacircncia abismal homemanimal que nos separava mas tambeacutem que ele tinha

certeza de estar caminhando sozinho rumo agrave Verdade) Um outro muito menos famoso que o primeiro qualificou-me - publicamente e mais gentilmente mas

bull

sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

I

I bull l bulll

Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

i bull

~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

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XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

faacutebulas antigas) Publicaccedilotildees da Rivista critica di storia dellafilosofia Roma-Milatildeo

Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

1957 pp 75-89

Francesco Bacone dalla magia alla scienxa (Francis Bacon da magia agrave ciecircncia)

Bari Laterza 1957 Turim Einaudi 1974 em ediccedilatildeo anglo-americana Londres

Routledge and Kegan Paul 1968 Chicago University of Chicago Press 1968

japonesa Tokyo The Simul Press 1970 espanhola Madri Alianza Editorial

1990

Sul carattere non utilitaristico delta filosofia di Francesco Bacone (Sobre o

caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

scienza in Francesco Bacone (Verdade e utilidade da ciecircncia em Francis Bacon

em lfilosofi ele macchine 1400-1700 (Os filoacutesofos e as maacutequinas 1400-1700) Milatildeo Feltrinelli 1962 1971 1980 1984 2002 pp 148-75 Em trad espanhola Barcelona Editorial Labor 1966 americana Nova York Harper and Row 1970

huacutengara Budapest Kossuth 1976 polonesa Warszawa Panstwowe Vydawnictwo

Naukowe 1978 brasileira Satildeo Paulo Editora Schwarcz 1989 japonesa Tokyo

GaktYutsu Shobo 1989 francesa Paris Presses Universitaires de France 1996)

La memoria artificiale come sezione della logica Ramo Bacone Cartesio (A memoacuteria artificial como seccedilatildeo da loacutegica Ramus Bacon Descartes) em Rivista critica di storia della filosofia Xv 1960 pp 203-63 depois refundido em CTavis universalis arti delTa memoria e logica combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis

universalis artes da memoacuteria e loacutegica combinatoacuteria de Llull a Leibniz) MilatildeoshyNaacutepoles Ricciardi 1960 em nova ediccedilatildeo Bolonha n Muliacuteno 1985 1988 O liVrEgt apareceu depois em ediccedilatildeo japonesa Tokyo Kokusho Kankokai 1984

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a filosofia dos modernos aspectos da revoluccedilatildeo cientiacutefica) Turim Bollatiacute

Boringhier~ 1989 pp 47-66 este em ediccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Universidade Estadual Paulista 1992

Prefazwne a B Farrington Francesco Baconefilosq[o delletagrave industriale (Francis Bacon filoacutesofo da idade industrial) Turim Einaud~ 1967

Galilei e Bacone (Galileu e Bacon) em Saggi su Gauacuteleo Galilei org Comitato

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Florenccedila Barbera 1967 pp l-50 (do excerto) depois em Aspetti delTa rivoluzione scientifica Ntlpoles Morano 1971 pp 85-1S0 e Venti maree ipotesi

bull-Satilde Latilde =tEcirc

astronomiche in Bacon e Galilei (Ventos mareacutes hipoacuteteses astronocircmicas em Bacon e Galileu) em La sCUmza e lafilosofia dei rtwlUacuterni aspetti della rivoluzione

scientifica Turim Bollati Boringhieri 1989 pp 114-68

Francis Bacon em I protagonisti della storia universale Milatildeo CEI1968

Francesco Bacone em Grande Antologia Filosqfzca il pensiero rtwlUacuternO Milatildeo

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II pensiero di Francis BacO1 una antologia di scritti (O pensamento de Francis

Bacon uma antologia de escritos) org Paolo Rossi Turim Loescher 1971

Note baconiane em Rivista critiaz di sforUacuteJ deTafilosqfio XXIX 1974 pp 31-60

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Criacutetica 1990

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bull67

F Bacone La Nuova Atlantide org Paolo Rossi Milano TEA 1991

Naufragi senza spettatore (Naufraacutegios sem espectador) em M Ciliberto e C

Vasoli (org) Filosota e cultura per Eugenio Garin Roma Editori Riuniti 1991 lI pp 397-415 Depois em forma menos reduzida no volume Natfragi senza

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Warszawa Polska Akademia Nauk - Instytut Filozofii i Socijologi~ 1998 Satildeo Paulo Editora UNESp 2000 Ankara Dost Kitabevi Yayinlan Kundakccedil 2002

Francis Bacon e leternitagrave deI mondo (Francis Bacon e a eternidade do mundo) in MT Marcialis (org) Studi in Tne1TUJria di Giovanni Solinas em Annali della

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Francis Bacon la N Uova Atlantide (Francis Bacon a Nova Atlacircntida) em LArco di Giano rivisla di MedicaI Humanities I 4 1994 pp 245-58

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promosso dal laquoCentro Studi sul pensiero scientifico F Cesiraquo da Universitagrave di Perugia Acquasparta 80 set-8 out 1992) Naacutepoles Edizioni Scientifiche I taliane 1994 pp 25-88 depois republicado no volume Un altro presente saggi sulla storia dellafilosofia Bolonha Il Mulino 1999 pp 145-60

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-w- bull 1

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Progresso unidea ambivalente Due interpretazioni di Daniele 12 4lt

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Vieira Per ta storia deZ foturo a org D Bigalli posfaacutecio de Paolo Rossi Aosta LEubage 2002 pp 207-18

Francis Bacon em I grandi delta scienza n 30 dezembro 2002 Le Scienze

(Scientific American)

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instruments and collections in Iwnour cf MaTa Miniati org Marco Beretta Paolo Galluzzi Carlo Triarico Biblioteca di Nuncius Florenccedila Leo Olschki 2008

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Page 5: ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

bullbull

publicado em Isis emjunho de 1986) Da mesma forma natildeo me surpreendi quando

numa excelente monografia sobre Bacon publicada no fim da deacutecada de 1980

encontrei a seguinte frase O livro de Rossi eacute quiccedilaacute a obra sobre Bacon mais

importante desse seacuteculo por ter dado iniacutecio a uma nova fase dentro dos estudos

baconianos (Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Sciena Oxford Clarendon

Press 1988 p 50) Numa linguagem apta a lidar com a solene do Lorde Chanceler

havia-me confidenciado privadamente a mesma coisa sobre Graham Rees dedicando-me em marccedilo de 1984 um de seus ensaios sobre textos ainda ineacuteditos

de Francis Bacon For Paulo Rossi - instaurator magnis magni instauratoris shy

a small token of my profound esteem A elegacircncia desta dedicatoacuteria faz com

que a vinte anos de distacircncia eu natildeo responda a ele coisa que aliaacutes mereceria pela absolutamente gratuita insolecircncia que do alto de sua competecircncia de explorador dos ineacuteditos baconianos e dos baixios de seu irremediaacutevel diletantismo filosoacutefico ele me dirigiu alguns anos mais tarde

Todos temos o condatildeo de engolir baldadas de gratificaccedilotildees sem sentirmoshy

nos saciados Quanto a isso creio natildeo ser eu uma exceccedilatildeo Por minha sorte nunca

alimentei demasiadas ilusotildees e a matildee natureza concedeu-me uma discreta dose de SEnso do humorismo Sempre apreciei a citaccedilatildeo de Esopo que Francis Bacon gostava

de lembrar Quanta poeira levanto Dizia a mosca pousada no eixo da roda de uma carroccedila Aconteceu-me tambeacutem de estigmatizar os comportamentos de tipo

paranoacuteico de colegas filoacutesofos mais ilustres do que eu ou convencidos de secirc-Io os quais crecircem firmemente que a proacutepria atividade intelectual configura-se como decisiva ou epocal(l algo que tem a ver com verdades indiscutiacuteveis ou com

conquistas perenes Faltam-me por completo essas formas de entusiasmo e natildeo creio

absolutamente que outros tenham de considerar como verdades os beneacutevolos juiacutezos sobre meu livro de 1957 Creio todavia que a mim pessoalmente deva ser permitido esperar que possam conter alguns elementos de verdade

bull[fft~i~--middot -~===~bull~ c

~

UI~~ ~~ Este livro continha segundo eu achava entatildeo alguns toacutepicos ou partes ~S

deles que mereciam uma ampliaccedilatildeo e um aprofundamento Eu havia utilizado e ~J assinalado no sexto capiacutetulo alguns claacutessicos da ars 11U1IWrativaDessas leiturasI shy

~S e das paacuteginas dedicadas ao tema da ministratio ad 11U1IWriam na obra de Francis

~ Bacon nasceram as pesquisas que conduziram agrave publicaccedilatildeo em 1960 pela Editora I Ricciardi do volume Clavis Universalis Arti delta Memoria e Logica

) Combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis Universalis Artes da Memoacuteria e L6gica Combinatoacuteria de Llull a Leibnix)(bl Das leituras de Giorgio Agricola de Vannoccio ~ Biringuccio e de muitos outros mecacircnicos do Quinhentos(cl aleacutem das paacuteginas 1 do primeiro capiacutetulo dedicadas agrave disputa sobre as artes mecacircnicas nasceram as ~

-= pesquisas que redundaram na publicaccedilatildeo por Feltrinelli em 1962 do livro I)

Filosofi e le Macchine 1400-1700 (Os Filoacutesofos e as Maacutequinas j 400(1700) Como) apecircndice a esse livro coloquei trecircs breves ensaios Veritagrave e utilitagrave della scienza

~ in Francesco Bacone (Verdade e Utilidade da Ciecircncia em Francis Bacon) (jaacute

publicado na Rivista critica di storia dellafilosofta em 1957) que ressentia muito das minhas conversas de entatildeo com Giulio Preti e que conteacutem uma criacutetica das I~ bull

interpretaccedilotildees da Filosofia de Bacon enquanto forma de utilitarismo Conteacutem ~~ ~~

tambeacutem a demonstraccedilatildeo de que a traduccedilatildeo standard da expressatildeo contida em

Novum Organum I 124 ipsissimae res sunt veritas et utilitas como truth and )- ti utility are the very sa11U things estaacute total e irremediavelmente incorreta Na ~ Q matildeo de muitos filoacutesofos que ignoram qualquer liacutengua a natildeo ser o inglecircs e 0)

escrevem ensaios sobre Bacon sem sequer dar uma espiada aos originais~ ~ latinos de seus textos essa traduccedilatildeo incorreta deu lugar a natildeo poucos~~ t ~ equiacutevocos natildeo desprovidos de consequumlecircncias

Acredito ser verdadeiro (diferentemente do que muitos escreveram e do

que algueacutem continua escrevendo) que se perguntar se as verdades cientiacuteficas

dependem dos procedimentos utilizados para afirmaacute-las ou de sua fecundidade

praacutetica eacute para Bacon um dilema sem sentido uma verdade cientiacutefica eacute sempre fecunda e tal fecundidade depende justamente e exclusivamente do seu caraacuteteacuter

de verdade As duas intenccedilotildees humanas gecircmeas a ~ecircncia e o poder coincidem

IV Cv (lt5 t-ICcedil ccedil-o - JJ~J e([~4 -~if eacute Cr((middotI[JA ~) -~ shy

~ l eacute f I (~~J j)cf

_ E

bullbull

numa uacutenica e a ignoracircncia das causas provoca a falecircncia das obras Aquilo que

teoricamente vale como causa operacionalmente vale como regra (quod in contemplatione instar causae est id in operatione instar regulae est) Aquilo que eacute mais uacutetil na praacutetica eacute aquilo que eacute mais verdadeiro na teoria (Ista autem duo pronuntiota activum et contemplativum res eadem $Uni et quod in operanckJ utilissimum id in sciendo verissimum Novum Organum [14)

middotltiacute~middot~ eacute~~Ji)1 vJ(middotl

IV C_~Jf)(-~--1 )ampf- r 5middot-t-o ~ J~I middott)-q~-D

Depois de ter entrado a fazer parte de um trio que compreendia Vittorio

Mathieu e Giorgio Radetti cheguei agrave Universidade de Cagliari em 1962 Entre os muitos professores alojados no Hotel Jolly encontrei Ernesto De Martino que contava entatildeo com 54 anos e lecionava na Faculdade de Magisteacuterio Tinha lido seus livros e discutido muitas vezes com ele Remo Cantoni e Enzo Paci e

tinha por ele uma grande admiraccedilatildeo acompanhada por aquele tranquumlilo sentido de gratidatildeo que se sente pelos autores dos livros que percebemos serem decisivos para a nossa vida intelectual Ouvi-lo dizer que havia inserido umas vinte paacuteginas

I de meu livro sobre Bacon em sua antologia Magia e Civilizaccedilatildeo (Garzanti - 1962)

foi para mim um grata surpresa Ficamos muito proacuteximos em Cagliari ele veio agrave minha casa em Milatildeo e eu fui agrave dele em Roma Quando me ocorre de repensar o lugar que ele ocupou em minha vida em nossa amizade na montanha de livros

de antropologia e de psiquiatria que eu li apoacutes tecirc-lo encontrado parece-me inacreditaacutevel tecirc-lo conhecido e frequumlentado por tatildeo pouco tempo uma vez que ele morreu em 1965

Depois da leitura dos livros de De Martino e de I Pnmitivi de Re~o Cantoni

(que me havia impelido a ler A Filosqfta elas Formas Simb6licasde Ernst Cassirer) depois dos periacuteodos passados no Wagraverburg Institute - onde havia encontrado e

frequumlentado Frances Yates Gertrud Bing Ernst Gombrich D P Walker - a magia da Renascenccedila que encontrara em Florenccedila graccedilas agrave escola de Gann tornara-se para mim uma realidade mais ampla Natildeo conseguiria nem que quisesse dar uma ordem cronoloacutegica agraves minhas leituras desordenadas mas aquilo

que considero vaacutelido ainda hoje em li MonckJ Maacutegico de De Martino penso ser

bull 1amp2 ~ amp sshyi I

aquilo que indicava o proacuteprio De Martino em 1958 ou seja a tese da crise da

presenccedila como risco de natildeo se estar no mundo e a descoberta de uma seacuterie de

teacutecnicas (das quais fazem parte tanto a magia quanto a religiatildeo) destinadas a

proteger a presenccedila do risco de ela perder as categorias com as quais se eleva sobre a cega vitalidade e sobre a ingens sylva da natureza e destinadas - outrossim - a reabrirmediatamente o mundo dos valores comprometido por dita crise (p 3 13)

Agravequele nuacutecleo vaacutelido De Martino iraacute continuar fiel mesmo depois de ter lido Hubert Mauss e Malinoacutevski Entretanto o que tornava e ainda torna atuais tantas paacuteginas dele eacute a vigorosa polecircmica contra o que ele apoacutes ter ilustrado

suas promessas denominava as ameaccedilas da etnologia

A utilizaccedilatildeo das categorias do existencialismo e da fenomenologia o interesse fortiacutessimo pela psicopatologia a incidecircncia dos textos de Heidegger e de Jaspers a leitura de Mircea Eliade e de Leacutevi-Strauss tudo isso jamais conseguiu demover De Martino de uma de suas teses baacutesicas Aquela segundo a qual a

experiecircncia da diversidade ou da comp~~ensatildeo (fosse ela a do primitivo ou do psicoacutetico) natildeo pode nunca coincidir em caso algum com uma renuacutencia masoquista Sem um empenho para compreender o sentido de nossa histoacuteria eacute

vatildeo tentar compreender o sentido da ~~oacute~ia~~~out~s nem Pffiis poderaacute acontecer de noacutes entendermos melhor quem somos colocando-nos como apaacutetridas diante de outras civilizaccedilotildees disponiacuteveis indefinidamente para qualquer paacutetria

que possa no~ seduzir A verdade eacute que o ocidente orientou suas escolhas segundo os poderes da conscientizaccedilatildeo da persuasatildeo do prestiacutegio moral da poesia da

ciecircncia da vida democraacutetica do simbolismo civil [] Com isso a magia tornou-se no interior da civilizaccedilatildeo ocidental cada vez mais impotecircncia estiacutemulo cifrado do inconsciente desejo inautecircntico suspeito e frustrante servidatildeo inaceitaacutevel

ditadura do oculto e do incontrolaacutevel ou entatildeo resquiacutecio folcloacuterico No que concerne agrave religiatildeo De Martino pensava que a afirmaccedilatildeo de uma origem natildeo

divina mas humana dos modelos de cultura a tese que a cultura tenha origem humana e destino humano natildeo eacute uma entre as tantas teses possiacuteveis sobre a cultura

e sobre as instituiccedilotildees Qualquer sistema de escolhas culturais que esteja agrave nossa frente - concluiacutea - cai integralmente no acircmbito dessa nossa escolha

bull bullbull

As que De Martino chamava as ameaccedilas da etnologia agigantaram-se suas estruturas e em sua essecircncia que ela jaacute gastou suas proacuteprias energias que assustadoramente nas deacutecadas sucessivas a seu desaparecimento As suas escolhas jaacute se reduziu a mera negatividade A libertaccedilatildeo do homem consistia portanto em agrave sua recusa do irracionalismo histoacuterico-religioso e do relativismo cultural sacudir de suas costas a civilizaccedilatildeo ocidental (p XLV) Que algueacutem pudesse estaacute correlacionada sua imagem de uma antropologia que estaacute sempre correndo sacudir de seus ombros a civilizaccedilatildeo na qual nasceu e cresceu eacute justamente o o risco de transformar-se em um friacutevolo deffile de modelos culturais impelidos contraacuterio exato da posiccedilatildeo que De Martino havia defendido e sustentado como na passarela da ciecircncia por um friacutegido apaacutetrida em funccedilatildeo de antropoacutelogo sempre se diz com unhas e dentes ao longo de seu percurso intelectual completamente disponiacutevel para qualquer possiacutevel gosto cultural (Furore siacutembolo Visto pelos olhos dos jdanovistas que pretendiam saber o que eacute certo e o valore Milatildeo 1962 pp 86-87) Natildeo eram estas as ideacuteias que tornaram popular que eacute errado e pretendiam orientar todo tipo de escolha cultural De Martino De Martino no decorrer das deacutecadas de 1960 e 1970 Os entusiasmos pelo maacutegico era um irracionalista ou como miacutenimo um estudioso que manejava com o maacuteximo

as tornavam pouco atuais e irrelevantes Quando em 1973 saiu uma nova ediccedilatildeo de desenvoltura textos e autores ambiacuteguos e perigosos que era melhor natildeo de lImando magico o editor sentiu a necessidade de confiar a Cesare Cases a publicar e certamente natildeo difundir Aos olhos daqueles que nas deacutecadas seguintes tarefa de escrever uma introduccedilatildeo Cases tinha dedicado uma porccedilatildeo de seu o aproximaram a Adorno e agrave Dialeacutetica do Iluminisme toda declaraccedilatildeo de fidelidade caacuteustico engenho agraveanaacutelise a partir das posiccedilotildees da esq uerda (mais do que esquerda aos valores da razatildeo eacute por parte de De Martino apenas uma tentativa mais ou natildeo daacute) de autores colocados numa direita tatildeo extremada (que mais do que assim menos acanhada de romper o isolamento recorrendo a serviccedilos que lhe permitem natildeo dava) uma outra natildeo irrelevante porccedilatildeo tinha ele dedicado no fmal da deacutecada usar instrumentos irracionalistas sem ser considerado um irracionalista (vejashyde 1950 a defender a pureza do marxismo enquanto concepccedilatildeo de mundo a se P e M Cherchi De Martino Naacutepoles Liguori 1987 p 227) Quem sem polemizar contra Giulio Preti contra o neo-empirismo e suas infIltraccedilotildees nas documentaccedilatildeo efetiva faz uso de categorias do tipo recorrer a serviccedilos serveshyfileiras da esquerda se de um instrumento tatildeo poderoso que passa a ser absolutamente esteacuteril e

Na introduccedilatildeo Cases estava preocupado principalmente em indicar os limites ineficaz Se De Martino repete muitas vezes com convicccedilatildeo e em eacutepocas e textos ou seja os defeitos da posiccedilatildeo de De Martiacuteno Lido com as lentes paleomarxistas diferentes sua fidelidade a valores de tipo Iluminista pode-se sempre dizer de Cases o livro tinha um defeito imperdoaacutevel natildeo era suficientemente antishy que o faz por razotildees poliacuteticas ou entatildeo que o faz inconscientemente ou sem ocidental Na introduccedilatildeo aparecem - concebidas como repreensotildees ou objeccedilotildees se dar conta Raciocinando assim tem-se sempre razatildeo Cortando rente criando a De Martino - as seguintes expressotildees a civilizaccedilatildeo ocidental natildeo eacute contestada alternativas riacutegidas usando meacutetodos inquisitoriais (do tipo diz uma coisa mas em suas estruturas mas na falta de consciecircncia de sua gecircnese (p XXVI) para o natildeo acredita nela de verdade) acaba-se destruindo justamente o espaccedilo que De autor as marcas da civilizaccedilatildeo ocidental permanecem oacutebvias e delas natildeo se Martino havia construiacutedo para si com tanta fadiga acaba-se processando-o pelo contesta a essecircncia mas tatildeo-somente a arrogacircncia (p XXVII) De Martino remete crime de uma pretensa incoerecircncia agraves potencialidades natildeo consumadas da energia plasmadora da civilizaccedilatildeo Para De Martino a ambiguumlidade natildeo estava em noacutes mas sim nas coisas O ocidental e nela tem demasiada confianccedila (pp XLI XLVI) considera mundo maacutegico estaacute atraacutes deIOacutes mas tambeacutem dentro de noacutes seinpre prOacuteimo a fmalmente a razatildeo ocidental como um dado (p XLVII) Antecipando as recusas noacutes como uma alternativa uma tentaccedilatildeo um caminho de fuga Em muitos setores globais de hoje de Asor Rosa suscitando o interesse dos sequazes de Evola os da cultura e da poliacutetica natildeo se sabe disso e natildeo se leva isso em consideraccedilatildeo quais vindos da extrema direita jaacute tinham negado haacute bastante tempo a essecircncia Movemo-nos entatildeo no interior de uma histoacuteria imaginaacuteria enrijecida no culto do ocidente Cases sustenta que a civilizaccedilatildeo ocidental deve ser contestada em de uma razatildeo que natildeo se questiona sobre seu passado Constroacutei-se inclusive

-------------~_ ~

bullbull

uma histoacuteria da ciecircncia imaginaacuteria em que Bacon se torna o filoacutesofo da idade industrial na qual tambeacutem Gilbert e Kepler e Newton se tornam cientistas

positivos O monoacutelogo colonialista e missionaacuterio da velha Europa - escreveu

De Martino - vai-se tornando dia apoacutes dia cada vez mais solitaacuterio e delirante A histoacuteria do conceito de magia no Ocidente serve para nos dar essa consciecircncia e

serve ao mesmo tempo como medida protetora contra aquele mal diferente

que eacute a infidelidade radical em relaccedilatildeo agravepolecircmica antimaacutegica de nossa civilizaccedilatildeo

com a conseguinte abdicaccedilatildeo diante dos prestiacutegios da magia (E De Martino Magia e civiltagrave Milatildeo Garzanti 1962 p 9) Talvez natildeo seja um caso o fato de

~ que do interesse de De Martino para com a histoacuteria das ideacuteias para com a

passagem da magia agrave ciecircncia entre Quinhentos e Seiscentos - que para ele natildeo

era um episoacutedio mas o episoacutedio decisivo da histoacuteria do ocidente (e indiretamente

da histoacuteria do mundo) - natildeo reste nenhum traccedilo nos muitos doutos e

informadiacutessimos ensaios e livros que foram publicados sobre ele No ano que seguiu agrave republicaccedilatildeo de Il mondo magico entre 20 e 23 de

abril de 1974 tiveram lugar em Capr~ organizadas por Maria Righini Bonelli e William Shea as Jornadas Internacionais de Histoacuteria da Ciecircncia As atas do congresso saiacuteram em 1975 nas Science History Publications de Nova York com

o tiacutetulo de Reason Experiment andMysticism in lhe Scientifiacutec Revolution Foi ali que eu li uma comunicaccedilatildeo entitulada Hermeticism Rationality and the Scientific

Revolution que foi comentada por A Rupert Hall O conteuacutedo da comunicaccedilatildeo

- bem distante da vaga do magismo indiscriminado da eacutepoca - eacute resumido no

paraacutegrafo 5 do Prefaacutecio agrave segunda ediccedilatildeo (escrito naquele mesmo ano) que

segue aqui Dez anos mais tarde Charles Schmitt depois de lembrar a insistecircncia

com que eu tratava os temas maacutegicos e mitoloacutegicos tatildeo distantes da imagem da

baconian science que circulava na deacutecada de 1950 resumia com clareza o que tinha acontecido Deve ser lembrado que o Bacon de Rossi surgiu em sua

primeira ediccedilatildeo antes da atual corrida para colocar magia e ocultismo no centro

do pensamento da Renascenccedila Na verdade aquele livro foi responsaacutevel e natildeo

pouco por aquela reavaliaccedilatildeo dos fatores maacutegicos e ocultos presentes na primeira

ciecircncia moderna na sua uacuteltima geraccedilatildeo O que eacute importante na abordagem de

Rossi eacute que ele nunca deixou as questotildees centrais afastarem-se do ponto focal

bull

Enquanto outros empurravam a nova interpretaccedilatildeo longe demais ele natildeo hesitou em traccedilar a linha que divide as hipoacuteteses cientiacuteficas das fantasias Apesar de o livro fazer parte da base a partir da qual se desenvolveu a ecircnfase hoje corrente sobre a assim chamada Tradiccedilatildeo Hermeacutetica quando as coisas comeccedilaram a sair do controle ele foi um dos primeiros a dissociar-se de algumas das direccedilotildees mais bizarras rumo agraves quais estavam se movendo os entusiastas (Isis junho

1986 e tambeacutem Anais do Instituto e Museu de Histoacuteria da Ciecircncia de Florenccedila X

1985 p 138)

v

Do clima anticientiacutefico de caraacuteter hermetizante ocultista e decididamente

filo-maacutegico que se difundiu na Itaacutelia (e natildeo apenas na Itaacutelia) desde o final da deacutecada de 1960 eu jaacute tinha me distanciado desde o iniacutecio A comeccedilar por um

artigo publicado em Rinascita em 24 de maio de 1968 no qual estaacute escrito Entrou

em crise a tese da superioridade dos modernos Natildeo apenas no sentido de uma

recusa do progresso como caminho linear e garantido mas no proacuteprio questionamento do conceito mesmo de civilizaccedilatildeo moderna O mundo da teacutecnica

da ciecircncia da induacutestria natildeo eacute analisado em suas componentes histoacutericas mas

concebido como pura e total negatividade A partir de entatildeo e nas deacutecadas que

seguiram foram tiradas todas as consequumlecircncias impliacutecitas nessa teoloacutegica

asserccedilatildeo Acompanhando e reforccedilando uma voga irrefreaacutevel de magismo

abriram caminho e se tornaram ideacuteias correntes fantasias sobre uma nova e

assombrosa ciecircncia proletaacuteria que teria em breve substituiacutedo a corrupta ciecircncia

burguesa e sobre um pensamento maacutegico que daria lugar a uma alternativa para

o ressecado racionalismo Intelectuais de esquerda apresentaram o pouso de homens na lua como sendo a mais perfeita especulaccedilatildeo que a sociedade capitalista

() conseguiu organizar em prejuiacutezo dos oprimidos e dos espoliados como uma

operaccedilatildeo de real conteuacutedo reacionaacuterio (M Cini Caiacutemos numa ratoeiraacute no jornal L Unitagrave 26 de julho de 1969) No comeccedilo daquele ano sustentava-se que

o uacutenico discurso correto era o de uma recusa da ciecircncia enquanto instrumento

de alienaccedilatildeo e opressatildeo do homem (F Piperno A greve dos ceacuterebros em

~ c

~

bullbull

L Espresso Colore 2 de fevereiro de 1969) A ciecircncia escrevia Umberto Curi

constituiu-se originariamente consolidou-se e desenvolveu-se ateacute hoje ( ) como forccedila produtiva do capital contra o trabalho (em AAvv Scienza epolere Milatildeo

Feltrinelli 1975 p 147) Para a superficialidade e a simploriedade natildeo haacute limites estabelecidos como na sociedade medieval quem decidia se uma teoria cientiacutefica

era verdadeira ou falsa era o papa - escrevia G Viale - na industrial quem decide a validade ou natildeo das teorias cientiacuteficas eacute o Pentaacutegono (Universidade a

hip6tese revolucionaacuteria Paacutedua 1968 p 118) O apocalipse associava-se como de haacutebito ao otimismo mais desenfreado e sem razatildeo

middot~ A partir do arrombamento das instituiccedilotildees - afirmavam Elisabetta Donini

e Tito Tonietti em Quaderni Piacentini (1977 63-64 p 132) - vai nascer uma nova revoluccedilatildeo copernicanam A ciecircncia nascida das cinzas da metafIsica de bull

lAristoacuteteles para levar a cabo e fazer funcionar o domiacutenio que a burguesia deteacutem ~

como classe soacute pode morrer com ela De sua morte natildeo surgiraacute uma nova

ciecircncia o novo saber seraacute tatildeo diferente do anterior que mereceraacute um novo

termo Teses desse gecircnero tornaram-se na Itaacutelia de entatildeo verdadeiros lugaresshy

comuns transformaram-se em ideologias atraindo um grande nuacutemero de jovens sindicalistas poliacuteticos funcionaacuterios donas~e-casa e principalmente professores

Estes termos tecircm eles todos uma caracteriacutestica comum eles substituem agrave anaacutelise a peremptoriedade dos juiacutezos e aos projetos a alusatildeo ao Radicalmente Novo

Como do Novo e do Outro natildeo se pode falar (tal como natildeo se pode falar do Deus ~ dos miacutesticos) procede-se necessariamente por alusotildees e negaccedilotildees De qualquer

maneira os projetos satildeo sempre algo de negativo com respeito aos processos em ato e aos movimentos Quando Giulio Maccacaro foi interrogado (em 1974)

quanto ao significado do projeto de uma ciecircncia nova ele respondeu com as seguintes palavras considero impossiacutevel a resposta e improacutepria a pergunta

Gostaria de explicar-me por meio de uma analogia o preso que nasceu enquanto

tal isto eacute o mais verdadeiro dos presos natildeo pode projetar a liberdade e realizar

a fuga E acrescentava temos de atuar para que seja possiacutevel o nascimento de uma ciecircncia nova a ciecircncia de um outro poder mas natildeo podemos predeterminaacuteshy

la sem impedi-la (em Scienza e Potere cito pp 54-55) Os projetos traem os processos as anaacutelises distorcem a vida a rebeliatildeo acaba por parecer mais

bullf~~~-~--F

importante do que o mundo ao qual ela poderia dar origem A revolta enquanto

tal tonia-se um fim a ser perseguido Isso jaacute tinha sido teorizado na Itaacutelia haacute

mais setenta anos por Giuliano o Sofista numa paacutegina ceacutelebre da revista

Leonardo cada programa cada projeto de itineraacuterio eacute uma limitaccedilatildeo Junto agrave assim chamada 1iteratura de contestaccedilatildeo a nova magia encontrou

grandiacutessima difusatildeo No livro The Making 0 Counter-Culture Rejlections on lhe Technocratic Society and Its routliful Opposition Theodor Roszak um dos mais

conhecidos expoentes da nova esquerda americana de entatildeo valeu-se do ensinamento de Thomas Kuhn para apresentar a consciecircncia objetiva como

uma mitologia Baseado nisso ele contrapocircs as extraordinaacuterias possibilidadeacutes de uma nova visatildeo maacutegica do mundo agrave racionalidade restrita da ciecircncia que embota nosso sentido do maravilhoso Acabou apresentando o xamanismo como

o modelo de uma cultura nova e mais livre O de Roszak natildeo foi certamente um caso isolado Tambeacutem na Itaacutelia as

posiccedilotildees que reduziam a ciecircncia agrave ideologia burguesa e pensavam que o saber cientiacutefico-racional era responsaacutevel pelo esvaziamento de sentido e pelo

desencantamento do mundo aliaram-se a posiccedilotildees regressivas e miacutesticoshyreacionaacuterias Um verdadeiro obscurantismo anticientiacutefico inspirado em Spengler

e em Heidegger vestiu os trajes do marxismo casando com a heranccedila de Nietzsche do vitalismo e do vanguardismo do comeccedilo do Novecentos

A descida para o plano arcaico da experiecircncia maacutegica a exaltaccedilatildeo do primitivismo e do imediatismo a nostalgia do passado como paraiacuteso de uma

humanidade natildeo reprimida a nostalgia pelo mundo camponecircs deixaram de ser considerados temas pertinentes exclusivamente ao pensamento reacionaacuterio shy

conforme havia sido durante longo tempo - mas vieram a ser propostos e sustentados tambeacutem no interior da esquerda como vaacutelidos instrumentos de libertaccedilatildeo dos pecados e das alienaccedilotildees presentes na sociedade moderna

I

VI

O motivo de eu natildeo concordar com as conclusotildees de F A Yates P M

Rattansi e de outros estudiosos natildeo dependia certamente do fato de que ambos sustentavam a necessidade para um historiador da ciecircncia moderna de ocuparshyse de magia e de hermetismo mas do fato de que eu via neles a tendecircncia para

sublinhar exclusivamente os elementos de continuidade entre a tradiccedilatildeo e a

imagem moderna de ciecircncia No centro da reflexatildeo de Yates estaya a pergunta por que justamente naquele momento Quais os motivos daquela emergecircncia -Yates havia apresentado o seu Giordano Bruno como sendo um estudo histoacuterico

dos motivos do nascimento da nova ciecircncia Nas raiacutezes daquela emergecircncia estava um novo tipo de interesse para com o mundo e as operaccedilotildees sobre a

natureza A magia renascimental cltnstitui justamente a realizaccedilatildeo de uma reorientaccedilatildeo psicoloacutegica da vontade rumo agrave accedilatildeo Atraveacutes daquela fundamental

mudanccedila psicoloacutegica aparece para a histoacuteria na Europa do Quinhentos a atribuiccedilatildeo de um valor agraves operaccedilotildees Tal atribuiccedilatildeo encontra-se na raiz da ciecircncia

moderna e constitui o seu porquecirc A visatildeo hermeacutetica de um universo regido pelas operaccedilotildees do mago eacute apresentada segundo esse ponto de vista na conclusatildeo

de seu trabalho como sendo a primeira fase da revoluccedilatildeo cientiacutefica que eacute caracterizada jaacute na segunda fase pela visatildeo de um universo mecanicista regido pelas leis da mecacircnica

A tese natildeo eacute completamente nova Spengler jaacute havia insistido em paacuteginas que seriam retomadas e discutidas por Max Scheler na importacircncia do faustismo

para o nascimento da ciecircncia A vontade teacutecnica do poder o saber-de-domiacutenio (Herrschaftwissen) haviam sido interpretados como um primum capaz de explicar

o emergir da ciecircncia no interior da histoacuteria do ocidente Numa perspectiva

diferente tambeacutem Jung e Eliade haviam chegado a respeito desse ponto - natildeo secundaacuterio - a conclusotildees parecidas mesmo se expressas numa linguagem muito

mais imaginativa A ideacuteia-guia do mundo moderno tinha parecido a Jung uma

versatildeo secular do sonho alquUacuteTIico a alquimia eacute o alvorecer da idade cientiacutefica quando o daimon do espiacuterito cientiacutefico obrigou as forccedilas da natureza a servir o

homem em medida antes desconhecida Para Mircea Eliade os alquimistas satildeo

I I J bull~

9

os antecipadores da essecircncia da ideologia que caracteriza o mundo moderno e que chegou agrave plena maturaccedilatildeo com o marxismo e o positivismo no decorrer do seacuteculo XIX a feacute na transmutaccedilatildeo da natureza e nas ilimitadas possibilidades do

homem Eacute dificil natildeo concordar com Frances Yates quando ela afirma que a histoacuteria

da emergecircncia da ciecircncia moderna resulta incompleta sem a histoacuteria daquilo de onde ela emerge e eacute certamente verdade que uma histoacuteria capaz de iluminar as

interaccedilotildees entre magia e ciecircncia eacute sem duacutevida mais frutuosa do que uma (que hoje ningueacutem escreve) que se contenta em celebrar os triunfos da ciecircncia do

seacuteculo XVIL Os trabalhos de Yates deram uma contribuiccedilatildeo decisiva ao aclaramento dessas interaccedilotildees Yates entretanto limita-se a sustentar essas teses

aceitaacuteveis a utilizar algumas observaccedilotildees feitas (entre outros) por Jung e Eliade

ou entatildeo ter-se-ia apropriado da tese deles da ciecircncia enquanto incapacidade de experimentar o sagrado Seria o caso de POcirc--Io em duacutevida quando se lecircem no

livro dela afirmaccedilotildees desse tipo Por acaso a ciecircncia natildeo eacute tudo somado nada

mais do que uma gnose uma visatildeo da natureza do Todo que procede atraveacutes de revelaccedilotildees sucessivas (F Yates Giordano Brurro e a tradiccedilatildeo hermeacutetica trad it

Bari Laterza 1969 pp 447-8 452)(d) Tambeacutem no livro de 1972 sobre o tipo de

pensamento dos RosacruzesYates afirmava que eu havia dado ecircnfase ao matiz de milenarismo constante na InstauratW magna scientiarum e tinha demonstrado

que Bacon sai justamente da tradiccedilatildeo hermeacutetica da magia e da Cabala da

Renascenccedila por ele alcanccediladas atraveacutes dos magos naturais (O Iluminismo dos Rosacruzes um Estilo de Pensamento na Europa do Seiscentos trad it L llluminismo dei Rosacroce urro stile dipensiero nellEuropa Del Seicento Turim Einaudi 1976

pp60 142-143)

Difiacutecil eacute subtrair-se agrave impressatildeo de que a tentativa de Yates era a de

reconduzir a segunda fase (mecanicista) da assim chamada revoluccedilatildeo cientiacutefica agrave primeira fase (maacutegico-hermeacutetica) e de que o estudo das interaccedilotildees entre essas

duas fases tivesse de servir para demonstrar que eacute inuacutetil procurar distinguir a ciecircncia da magia sendo que a primeira fase jamais teraacute fim As indagaccedilotildees sobre o hermetismo e sobre a magia satildeo importantes pois nos ajudam a compreender

melhor as origens da ciecircncia moderna (a qual no comeccedilo de seu longo percurso

bull I

i

deveu em parte sua vida tambeacutem a uma disreputable structure of ideas) ou

entatildeo o satildeo porque nos levam agrave conclusatildeo que a ciecircncia moderna nada mais eacute do

que a continuaccedilatildeo em formas novas de uma abordagem de tipo miacutestico da

natureza Satildeo indagaccedilotildees importantes porque nos mostram como tem sido dificil tortuoso e complicado o caminho da razatildeo cientiacutefica ou entatildeo porque contribuem

para mostrar as bases irracionais da construccedilatildeo da primeira ciecircncia moderna e

de qualquer outra forma de ciecircncia possiacutevel Com a revoluccedilatildeo cientiacutefica nasceu na histoacuteria um tipo de saber intersubjetivo e capaz de crescer um saber puacuteblico

que eacute alternativo ao saber secreto da magia e do ocultismo O que eacute contestado eacute o conhecimento insuficiente da gecircnese da ciecircncia moderna ou a proacutepria estrutura da ciecircncia moderna

Tenho a impressatildeo de que algo parecido com o que se passou com muitos leitores de Freud tenha ocorrido com muitos estudiosos da tradiccedilatildeo hermeacutetica apoacutes middotter ficado sabendo da existecircncia do inconsciente do condicionamento exercido pelas pulsotildees e pelos instintos sobre a vida da consciecircncia e da razatildeo

depois de ter reconhecido a existecircncia dos elementos de agressividade que atuam por traacutes da fachada respeitaacutevel da civilidade concluiacuteram - diferentemente do

que fazia Freud - que natildeo existem mais razatildeo nem ciecircncia nem civilidade mas haacute apenas instintos agressivos e desejos pulsionais

VII

Nos anos em que haviam praticamente desaparecido os modernos e nos departamentos de filosouumla soacute se encontravam poacutes-modernos rampantes

costumava-se defender duas teses de caraacuteter epocal A primeira tese de

- caraacuteter mais geral contrapunha moderno e poacutes-moderno O primeiro era ~

qualificado como a idade de uma razatildeo forte que constroacutei explicaccedilotildees totalizadoras

do mundo e que eacute dominada pela ideacuteia de um desenvolvimento histoacuterico do

pensamento como iluminaccedilatildeo incessante ou progressiva ou seja como a idade da ordem nomoloacutegica normativa da razatildeo e de uma sua estrutura monoliacutetica e

-~altlotildeiatildeAdespeito de Niccoloacute Machiavelli e de Giambattista Vico o moderno era definido como a idade do tempo linear caracterizada pela superaccedilatildeo ou

bull- -------~---

seja pela novidade que envelhece e eacute rapidamente substituiacuteda por uma novidade mais nova A segunda tese de caraacuteter mais limitado e especial afirmava que

siacutemiles analogias metaacuteforas semelhanccedilas que satildeo formas tiacutepicas ou

caracterizadoras da cultura da eacutepoca barroca satildeo energicamente recusadas pela nova ciecircncia da natureza

Para mostrar a inconsistecircncia dessa segunda tese em 1984 publiquei em Intersecccedilotildees um ensaio com o nome de Os siacutemiles as analogias as articulaccedilotildees da

natureza (Le similitudin~ le analogie le articolazioni della natura mais tarde incluiacutedo no volume [ ragni e k flnniche un ap0UacuteJgia della storia della scienza (As Aranhas e As Formigas uma ApoUacuteJgia da HisMna da Ciecircncia) Bolonha n Mulino

198~) no qu~l eu mostrava que parasustentar aq~ela tese Michel Foucault f haVia se apOIado numa passagem latma de FranCiS Bacon fazendo uso natildeo t do texto original mas de uma traduccedilatildeo dele feita no Oitocentos Acontecia

que termos - chave (ressemblancee similitude) sobre os quais se fundava todo o seu genial piroteacutecnico e desenvolto discurso compareciam de forma urn tanto misteriosa na traduccedilatildeo francesa mas natildeo existiam absolutamente no original latino

Uma das ideacuteias mais tolas professadas pelos poacutes-modernistas consistia em

apresentar a modernidade como uma eacutepoca de certezas como uma espeacutecie de idade da seguranccedila da qual haacute poucos anos apenas e por meacuterito de trecircs ou

quatro filoacutesofos parisienses alguns intelectuais extremamente aggiornatihaviam dolotilderosamenteern~rgido~Francis Bacon era freqUentemente citado como o tiacutepico

expoente ou campeatildeo do moderno pelos defensores da primeira das duas teses

que enunciei acima Polemizando com aquela imagem bastante cocircmoda escrevi

uma comunicaccedilatildeo para o encontro sobre Moderno e Poacutes-moderno organizado

em marccedilo de 1986 no Instituto Gramsci da Toscana Dei-lhe o tiacutetulo de [doia da Modernidade publicada mais tarde com outros ensaios em Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (CorifTonto dos Engenhos Modernos ePoacutes-modernos - Bolonha

n Mulino 1989) Esclarecendo que o nome idola era para Bacon sinocircnimo de

superstitions como tambeacutem de notionesfalsae ou volantes phantasiae inseri em meu escrito inclusive um elenco de algumas ideacuteias fUosoacuteficas de Bacon que me permito

reproduzir aqui

bull

f O universo natildeo eacute uma realidade ordenada e estruturada hierarquicamente e se rebelam e condicionam nosso intelecto Acabamos entatildeo por discutir natildeo -shy Natildeo existe nenhuma necessaacuteria correspondecircncia entre os elementos que o acerca das coisas mas acerca das palavras Tentamos entatildeo construir uma

l constituem nem entre microcosmo e macrocosmo Natildeo apenas o homem natildeo linguagem rigorosa feita de definiccedilotildees Acabamos por perceber que aquela

reflete em sua mente a estrutura do mundo como tambeacutem entre a ordem do linguagem fala apenas de palavra e que as coisas fugiram-nos irremediavelmente

cosmo e a da sociedade natildeo existe nenhuma correspondecircncia que possa ser das matildeos Por outro lado estamos condenados a fazer uso da linguagem e dela

encontrada As fontes do conhecimento satildeo vaacuterias a feacute a tradiccedilatildeo o sentido o natildeo podemos prescindir

i intelecto DifIcil eacute estabelecer uma hierarquia entre elas A feacute s6 vale para as Entretanto tambeacutem a necessidade de pontos de apoios confiaacuteveis e

indubitaacuteveis faz parte da natureza do homem Parece que os homens sentemI coisas que lhe pertencem O sentido nos engana muitas vezes e o intelecto muito I t mais vezes S6 temos certeza de uma coisa que natildeo podemos nos fiar na tradiccedilatildeo a necessidade de princiacutepios estaacuteveis procuram uma espeacutecie de eixo em

em geral e na filosofia em particular uma vez que nelas foram construiacutedos volta do qual fazer rotar a variedade dos argumentos e das meditaccedilotildees Se

inuacutemeros mundos de palco semelhantes aos teatros dos poetas onde as histoacuterias o intelecto sofre abalos e flutuaccedilotildees os homens tecircm a impressatildeo que o ceacuteu desaba

contadas tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada em cima deles e procuram logo um chatildeo soacutelido uma espeacutecie de Atlas dos

um Os enganos que se encontram em nossas fontes de conhecimento natildeo satildeo pensamentos semelhante ao que na lenda suportava o ceacuteu sobre seus ombros Na

como defeitos ou culpas aos quais se pode remediar Dependem do fato de que realidade os homens tecircm mais medo da duacutevida do que do erro e se iludem de

nossa mente mistura continuamente sua natureza com a natureza das coisas e poderem estabelecer alguns princiacutepios dos quais possa ser derivado todo o saber

do fato de que as imagens falsas e as falaacutecias fazem parte da estrutura da mente e em torno dos quais eles possam fazer rotar todas as suas disputas

satildeo inatas nela e estatildeo radicadas na natureza humana Os erros satildeo inseparaacuteveis Mas o problema maior eacute o da novidade e da dificuldade ou da incapacidade

de nossa natureza e condiccedilatildeo de vida Posso descrevecirc-Ios tentar exorcizaacute-los de pensar o novo Porque a mente humana estaacute mal organizada primeiro desconfia

tomando consciecircncia deles De muitos deles nunca poderei em caso algum ficar demasiado de si proacutepria e em seguida se despreza No comeccedilo parece

completamente livre inacreditaacutevel que algo possa ser descoberto Depois tatildeo logo esse algo eacute

A imagem de que eacute possiacutevel servir-se para pensar o universo eacute a do labirinto descqberto acha-se inacreditaacutevel que possa ter sido ignorado Haacute um duplo

ou caso se prefira a da selva Com efeito natildeo haacute estradas visiacuteveis mas somente preconceito que atua sempre ameaccedilando o novo a crenccedila cristalizada naquilo

caminhos ambiacuteguos Natildeo haacute siacutemiles seguros apenas semelhanccedilas enganadoras que jaacute se encontra estabelecido e a tendecircncia em inserir o novo (privando~ de

de signos e de coisas Natildeo haacute percursos em linha reta apenas espirais e noacutes seu caraacuteter de novidade) dentro de um esquema jaacute prefigurado Se antes da

torcidos e complicados O acaso os efeitos da credulidade as primeiras noccedilotildees introduccedilatildeo da seda tivesse sido imaginada a existecircncia de um fio diferente do

absorvidas na infacircncia constituem aquele patrimocircnio ao qual damos o nome de algodatildeo e da latilde e mais suave brilhante e resistente quem teria sido capaz de

razatildeo Sequer o que realmente nos diferencia dos animais nos ajuda muito Porque pensar numa taturana ou num verme

a linguagem natildeo eacute absolutamente conforme se acreditou durante muito tempo Estando assim as coisas natildeo tem sentido um quadro completo e

( uma entidade controlaacutevel As palavras a partir do momento em que satildeo usadas exaustivo do mundo Onde quer que ele seja construiacutedo esse quadro suscita um

retorcem sua forccedila contra o intelecto Parece-nos poder traccedilar mediante as consenso imediato uma vez que produz sentimentos de seguranccedila Poreacutem eacute

palavras linhas de demarcaccedilatildeo bem visiacuteveis entre as coisas Depois poreacutem toda melhor estimulara inteligecircncia do que usurpar a boa feacute Eacute melhor renunciar a

vez que tentamos deslocar aquelas linhas as palavras satildeo um obstaacuteculo para noacutes compor tratados e proceder ao contraacuterio por afirmaccedilotildees desligadas e provisoacuterias

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como eacute igualmente melhor assegurar menos e mostrar os vazios do saber e VIII solicitar a pesquisa Nenhuma filosofia universal e completa eacute proponiacutevel e as teses filosoacuteficas que foram expostas ateacute agora natildeo satildeo as expressotildees da verdade mas sim satildeo comparaacuteveis aos sons pouco agradaacuteveis emitidos pelos muacutesicos quando afinam seus instrumentos O concerto ainda estaacute para chegar e pode-se alimentar apenas a esperanccedila de que seja melhor do que os sons atuais Por isso natildeo haacute nenhum meacutetodo que seja universal e perfeito Por isso natildeo existe nenhuma

arte da descoberta uma vez que ela cresce com o proacuteprio crescimento das

-descobertas (Scrittifilosqfiaacute org Paolo Rossi Turim UTEU 1975 pp 561 573536-37560526608570263274427 593-94 423621 275-76346 637 A uacutenica referecircncia obtida de um escrito fora da ediccedilatildeo indicada encontrashyse em The Worlcs oJ Francis Bacon org R L Ellis 1 Spedding D D Heath Londres 1887-92 I pp 640-41)

Concluindo essas satildeo algumas das respostas dadas por Francis Bacon entre 1605 e 1620 agrave pergunta o que eacute o saber Se essas respostas forem de algum modo significativas parece-me dificil aplicar a elas os roacutetulos utilizados pelos filoacutesofos da poacutes-modernidade explicaccedilotildees totalizadoras do mundo ou entatildeo capacidade projetual de uma subjetividade que se desdobra rumo a um horizonte de fins dos quais pretende possuir a chave ou ainda extremada aspiraccedilatildeo a uma ordem absoluta e definitiva de seguranccedila Parece-me igualmente diflcil utilizar metaacuteforas como a seguinte o olho humano natildeo se abre sobre as trevas originaacuterias do mundo mas sobre a cena de um cosmo jaacute aclarado pela luz intelectual Essa metaacutefora exprimia para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica de 18 de julho de1985) a proacutepria essecircncia daquela imaginaacuteria modernidade em torno da qual se esgotavam os poacutes-modernistas Estes inclusive pareciam totalmente ignaros quanto agrave nobre sentenccedila de um autor que consideravam um de seus antepassados Nunca existiu eacutepoca alguma que natildeo tenha se achado moderna no sentido excecircntrico do termo e natildeo tenha acreditado que se encontrava imediatamente diante de um abismo A consciecircncia desesperada e luacutecida de encontrar-se no meio de uma crise decisiva eacute algo de crocircnico na humanidade (W Benjamin Paris CaPital do Seacuteculo XIX trad it Parigi capitauacute dei XIX secolo Einaud~ 1986 p 701)

bull

As paacuteginas dedicadas no final da deacutecada de 1950 a Cornelio Agrippa e a Francis Bacon agrave relaccedilatildeo entre magia e ciecircncia levaram-me muito longe dos programas e dos projetos iniciais conforme costuma acontecer

Trabalhei longamente nas deacutecadas que se seguiram com as artes da

memoacuteria com a assim chamada descoberta do tempo ocorrida entre o

Quinhentos e o Setecentos com a ftlosofia de Giambattista Vico mas o tema da

magia ou melhor o tema da relaccedilatildeo entre magia e modernidade que surgira em

minha vida desde a publicaccedilatildeo em 1955 do livro de E Garin Testi umanistici sullermetisnw natildeo mais me abandonou Agravequele tema satildeo dedicadas natildeo apenas

as paacuteginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola Francesco Patrizi

Giordano Bruno e sobre argumentos afins mas (aleacutem das aparecircncias) muitas paacuteginas que escrevi nas deacutecadas de 1970 e 1980 e que reuni no jaacute citado Paragone degli ingegni moderni e postmoderni O outro meu livro La saacuteenza e lofilosqfia dei moderni (A Ciecircncia e a Filosofia dos Modernos) publicado por Boringhieri em 1989

abria-se com a premissa intitulada O Processo a Galileu no seacuteculo XX escrita vinte anos antes e que jaacute estava presente numa primeira ediccedilatildeo publicada em

Naacutepoles por Morano em 1971 Daquele processo agrave ciecircncia das imputaccedilotildees que ele continha e mesmo das

defesas que devia comportar - salvo reduzidas mesmo que relevantes exceccedilotildees

- os filoacutesofos da ciecircncia se ocuparam pouco e assim continuam fazendo No que

me diz respeito uma vez que meu assunto de estudo eacute a histoacuteria das ideacuteias entre os seacuteculos XVI e XVIII disso ocupei-me ateacute em demasia Muitas vezes pergunteishy

me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que por sinal

deu-me algumas satisfaccedilotildees Das paacuteginas que escrevi sobre o tema a que me

referi tive poucas ao contraacuterio e algumas vezes verdadeiros insultos Um ceacutelebre filoacutesofo italiano comparou-me certa vez a um cachorrinho que mordia o salto

de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele natildeo apenas pensava na

distacircncia abismal homemanimal que nos separava mas tambeacutem que ele tinha

certeza de estar caminhando sozinho rumo agrave Verdade) Um outro muito menos famoso que o primeiro qualificou-me - publicamente e mais gentilmente mas

bull

sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

I

I bull l bulll

Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

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~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

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Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

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caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

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Page 6: ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

bullbull

numa uacutenica e a ignoracircncia das causas provoca a falecircncia das obras Aquilo que

teoricamente vale como causa operacionalmente vale como regra (quod in contemplatione instar causae est id in operatione instar regulae est) Aquilo que eacute mais uacutetil na praacutetica eacute aquilo que eacute mais verdadeiro na teoria (Ista autem duo pronuntiota activum et contemplativum res eadem $Uni et quod in operanckJ utilissimum id in sciendo verissimum Novum Organum [14)

middotltiacute~middot~ eacute~~Ji)1 vJ(middotl

IV C_~Jf)(-~--1 )ampf- r 5middot-t-o ~ J~I middott)-q~-D

Depois de ter entrado a fazer parte de um trio que compreendia Vittorio

Mathieu e Giorgio Radetti cheguei agrave Universidade de Cagliari em 1962 Entre os muitos professores alojados no Hotel Jolly encontrei Ernesto De Martino que contava entatildeo com 54 anos e lecionava na Faculdade de Magisteacuterio Tinha lido seus livros e discutido muitas vezes com ele Remo Cantoni e Enzo Paci e

tinha por ele uma grande admiraccedilatildeo acompanhada por aquele tranquumlilo sentido de gratidatildeo que se sente pelos autores dos livros que percebemos serem decisivos para a nossa vida intelectual Ouvi-lo dizer que havia inserido umas vinte paacuteginas

I de meu livro sobre Bacon em sua antologia Magia e Civilizaccedilatildeo (Garzanti - 1962)

foi para mim um grata surpresa Ficamos muito proacuteximos em Cagliari ele veio agrave minha casa em Milatildeo e eu fui agrave dele em Roma Quando me ocorre de repensar o lugar que ele ocupou em minha vida em nossa amizade na montanha de livros

de antropologia e de psiquiatria que eu li apoacutes tecirc-lo encontrado parece-me inacreditaacutevel tecirc-lo conhecido e frequumlentado por tatildeo pouco tempo uma vez que ele morreu em 1965

Depois da leitura dos livros de De Martino e de I Pnmitivi de Re~o Cantoni

(que me havia impelido a ler A Filosqfta elas Formas Simb6licasde Ernst Cassirer) depois dos periacuteodos passados no Wagraverburg Institute - onde havia encontrado e

frequumlentado Frances Yates Gertrud Bing Ernst Gombrich D P Walker - a magia da Renascenccedila que encontrara em Florenccedila graccedilas agrave escola de Gann tornara-se para mim uma realidade mais ampla Natildeo conseguiria nem que quisesse dar uma ordem cronoloacutegica agraves minhas leituras desordenadas mas aquilo

que considero vaacutelido ainda hoje em li MonckJ Maacutegico de De Martino penso ser

bull 1amp2 ~ amp sshyi I

aquilo que indicava o proacuteprio De Martino em 1958 ou seja a tese da crise da

presenccedila como risco de natildeo se estar no mundo e a descoberta de uma seacuterie de

teacutecnicas (das quais fazem parte tanto a magia quanto a religiatildeo) destinadas a

proteger a presenccedila do risco de ela perder as categorias com as quais se eleva sobre a cega vitalidade e sobre a ingens sylva da natureza e destinadas - outrossim - a reabrirmediatamente o mundo dos valores comprometido por dita crise (p 3 13)

Agravequele nuacutecleo vaacutelido De Martino iraacute continuar fiel mesmo depois de ter lido Hubert Mauss e Malinoacutevski Entretanto o que tornava e ainda torna atuais tantas paacuteginas dele eacute a vigorosa polecircmica contra o que ele apoacutes ter ilustrado

suas promessas denominava as ameaccedilas da etnologia

A utilizaccedilatildeo das categorias do existencialismo e da fenomenologia o interesse fortiacutessimo pela psicopatologia a incidecircncia dos textos de Heidegger e de Jaspers a leitura de Mircea Eliade e de Leacutevi-Strauss tudo isso jamais conseguiu demover De Martino de uma de suas teses baacutesicas Aquela segundo a qual a

experiecircncia da diversidade ou da comp~~ensatildeo (fosse ela a do primitivo ou do psicoacutetico) natildeo pode nunca coincidir em caso algum com uma renuacutencia masoquista Sem um empenho para compreender o sentido de nossa histoacuteria eacute

vatildeo tentar compreender o sentido da ~~oacute~ia~~~out~s nem Pffiis poderaacute acontecer de noacutes entendermos melhor quem somos colocando-nos como apaacutetridas diante de outras civilizaccedilotildees disponiacuteveis indefinidamente para qualquer paacutetria

que possa no~ seduzir A verdade eacute que o ocidente orientou suas escolhas segundo os poderes da conscientizaccedilatildeo da persuasatildeo do prestiacutegio moral da poesia da

ciecircncia da vida democraacutetica do simbolismo civil [] Com isso a magia tornou-se no interior da civilizaccedilatildeo ocidental cada vez mais impotecircncia estiacutemulo cifrado do inconsciente desejo inautecircntico suspeito e frustrante servidatildeo inaceitaacutevel

ditadura do oculto e do incontrolaacutevel ou entatildeo resquiacutecio folcloacuterico No que concerne agrave religiatildeo De Martino pensava que a afirmaccedilatildeo de uma origem natildeo

divina mas humana dos modelos de cultura a tese que a cultura tenha origem humana e destino humano natildeo eacute uma entre as tantas teses possiacuteveis sobre a cultura

e sobre as instituiccedilotildees Qualquer sistema de escolhas culturais que esteja agrave nossa frente - concluiacutea - cai integralmente no acircmbito dessa nossa escolha

bull bullbull

As que De Martino chamava as ameaccedilas da etnologia agigantaram-se suas estruturas e em sua essecircncia que ela jaacute gastou suas proacuteprias energias que assustadoramente nas deacutecadas sucessivas a seu desaparecimento As suas escolhas jaacute se reduziu a mera negatividade A libertaccedilatildeo do homem consistia portanto em agrave sua recusa do irracionalismo histoacuterico-religioso e do relativismo cultural sacudir de suas costas a civilizaccedilatildeo ocidental (p XLV) Que algueacutem pudesse estaacute correlacionada sua imagem de uma antropologia que estaacute sempre correndo sacudir de seus ombros a civilizaccedilatildeo na qual nasceu e cresceu eacute justamente o o risco de transformar-se em um friacutevolo deffile de modelos culturais impelidos contraacuterio exato da posiccedilatildeo que De Martino havia defendido e sustentado como na passarela da ciecircncia por um friacutegido apaacutetrida em funccedilatildeo de antropoacutelogo sempre se diz com unhas e dentes ao longo de seu percurso intelectual completamente disponiacutevel para qualquer possiacutevel gosto cultural (Furore siacutembolo Visto pelos olhos dos jdanovistas que pretendiam saber o que eacute certo e o valore Milatildeo 1962 pp 86-87) Natildeo eram estas as ideacuteias que tornaram popular que eacute errado e pretendiam orientar todo tipo de escolha cultural De Martino De Martino no decorrer das deacutecadas de 1960 e 1970 Os entusiasmos pelo maacutegico era um irracionalista ou como miacutenimo um estudioso que manejava com o maacuteximo

as tornavam pouco atuais e irrelevantes Quando em 1973 saiu uma nova ediccedilatildeo de desenvoltura textos e autores ambiacuteguos e perigosos que era melhor natildeo de lImando magico o editor sentiu a necessidade de confiar a Cesare Cases a publicar e certamente natildeo difundir Aos olhos daqueles que nas deacutecadas seguintes tarefa de escrever uma introduccedilatildeo Cases tinha dedicado uma porccedilatildeo de seu o aproximaram a Adorno e agrave Dialeacutetica do Iluminisme toda declaraccedilatildeo de fidelidade caacuteustico engenho agraveanaacutelise a partir das posiccedilotildees da esq uerda (mais do que esquerda aos valores da razatildeo eacute por parte de De Martino apenas uma tentativa mais ou natildeo daacute) de autores colocados numa direita tatildeo extremada (que mais do que assim menos acanhada de romper o isolamento recorrendo a serviccedilos que lhe permitem natildeo dava) uma outra natildeo irrelevante porccedilatildeo tinha ele dedicado no fmal da deacutecada usar instrumentos irracionalistas sem ser considerado um irracionalista (vejashyde 1950 a defender a pureza do marxismo enquanto concepccedilatildeo de mundo a se P e M Cherchi De Martino Naacutepoles Liguori 1987 p 227) Quem sem polemizar contra Giulio Preti contra o neo-empirismo e suas infIltraccedilotildees nas documentaccedilatildeo efetiva faz uso de categorias do tipo recorrer a serviccedilos serveshyfileiras da esquerda se de um instrumento tatildeo poderoso que passa a ser absolutamente esteacuteril e

Na introduccedilatildeo Cases estava preocupado principalmente em indicar os limites ineficaz Se De Martino repete muitas vezes com convicccedilatildeo e em eacutepocas e textos ou seja os defeitos da posiccedilatildeo de De Martiacuteno Lido com as lentes paleomarxistas diferentes sua fidelidade a valores de tipo Iluminista pode-se sempre dizer de Cases o livro tinha um defeito imperdoaacutevel natildeo era suficientemente antishy que o faz por razotildees poliacuteticas ou entatildeo que o faz inconscientemente ou sem ocidental Na introduccedilatildeo aparecem - concebidas como repreensotildees ou objeccedilotildees se dar conta Raciocinando assim tem-se sempre razatildeo Cortando rente criando a De Martino - as seguintes expressotildees a civilizaccedilatildeo ocidental natildeo eacute contestada alternativas riacutegidas usando meacutetodos inquisitoriais (do tipo diz uma coisa mas em suas estruturas mas na falta de consciecircncia de sua gecircnese (p XXVI) para o natildeo acredita nela de verdade) acaba-se destruindo justamente o espaccedilo que De autor as marcas da civilizaccedilatildeo ocidental permanecem oacutebvias e delas natildeo se Martino havia construiacutedo para si com tanta fadiga acaba-se processando-o pelo contesta a essecircncia mas tatildeo-somente a arrogacircncia (p XXVII) De Martino remete crime de uma pretensa incoerecircncia agraves potencialidades natildeo consumadas da energia plasmadora da civilizaccedilatildeo Para De Martino a ambiguumlidade natildeo estava em noacutes mas sim nas coisas O ocidental e nela tem demasiada confianccedila (pp XLI XLVI) considera mundo maacutegico estaacute atraacutes deIOacutes mas tambeacutem dentro de noacutes seinpre prOacuteimo a fmalmente a razatildeo ocidental como um dado (p XLVII) Antecipando as recusas noacutes como uma alternativa uma tentaccedilatildeo um caminho de fuga Em muitos setores globais de hoje de Asor Rosa suscitando o interesse dos sequazes de Evola os da cultura e da poliacutetica natildeo se sabe disso e natildeo se leva isso em consideraccedilatildeo quais vindos da extrema direita jaacute tinham negado haacute bastante tempo a essecircncia Movemo-nos entatildeo no interior de uma histoacuteria imaginaacuteria enrijecida no culto do ocidente Cases sustenta que a civilizaccedilatildeo ocidental deve ser contestada em de uma razatildeo que natildeo se questiona sobre seu passado Constroacutei-se inclusive

-------------~_ ~

bullbull

uma histoacuteria da ciecircncia imaginaacuteria em que Bacon se torna o filoacutesofo da idade industrial na qual tambeacutem Gilbert e Kepler e Newton se tornam cientistas

positivos O monoacutelogo colonialista e missionaacuterio da velha Europa - escreveu

De Martino - vai-se tornando dia apoacutes dia cada vez mais solitaacuterio e delirante A histoacuteria do conceito de magia no Ocidente serve para nos dar essa consciecircncia e

serve ao mesmo tempo como medida protetora contra aquele mal diferente

que eacute a infidelidade radical em relaccedilatildeo agravepolecircmica antimaacutegica de nossa civilizaccedilatildeo

com a conseguinte abdicaccedilatildeo diante dos prestiacutegios da magia (E De Martino Magia e civiltagrave Milatildeo Garzanti 1962 p 9) Talvez natildeo seja um caso o fato de

~ que do interesse de De Martino para com a histoacuteria das ideacuteias para com a

passagem da magia agrave ciecircncia entre Quinhentos e Seiscentos - que para ele natildeo

era um episoacutedio mas o episoacutedio decisivo da histoacuteria do ocidente (e indiretamente

da histoacuteria do mundo) - natildeo reste nenhum traccedilo nos muitos doutos e

informadiacutessimos ensaios e livros que foram publicados sobre ele No ano que seguiu agrave republicaccedilatildeo de Il mondo magico entre 20 e 23 de

abril de 1974 tiveram lugar em Capr~ organizadas por Maria Righini Bonelli e William Shea as Jornadas Internacionais de Histoacuteria da Ciecircncia As atas do congresso saiacuteram em 1975 nas Science History Publications de Nova York com

o tiacutetulo de Reason Experiment andMysticism in lhe Scientifiacutec Revolution Foi ali que eu li uma comunicaccedilatildeo entitulada Hermeticism Rationality and the Scientific

Revolution que foi comentada por A Rupert Hall O conteuacutedo da comunicaccedilatildeo

- bem distante da vaga do magismo indiscriminado da eacutepoca - eacute resumido no

paraacutegrafo 5 do Prefaacutecio agrave segunda ediccedilatildeo (escrito naquele mesmo ano) que

segue aqui Dez anos mais tarde Charles Schmitt depois de lembrar a insistecircncia

com que eu tratava os temas maacutegicos e mitoloacutegicos tatildeo distantes da imagem da

baconian science que circulava na deacutecada de 1950 resumia com clareza o que tinha acontecido Deve ser lembrado que o Bacon de Rossi surgiu em sua

primeira ediccedilatildeo antes da atual corrida para colocar magia e ocultismo no centro

do pensamento da Renascenccedila Na verdade aquele livro foi responsaacutevel e natildeo

pouco por aquela reavaliaccedilatildeo dos fatores maacutegicos e ocultos presentes na primeira

ciecircncia moderna na sua uacuteltima geraccedilatildeo O que eacute importante na abordagem de

Rossi eacute que ele nunca deixou as questotildees centrais afastarem-se do ponto focal

bull

Enquanto outros empurravam a nova interpretaccedilatildeo longe demais ele natildeo hesitou em traccedilar a linha que divide as hipoacuteteses cientiacuteficas das fantasias Apesar de o livro fazer parte da base a partir da qual se desenvolveu a ecircnfase hoje corrente sobre a assim chamada Tradiccedilatildeo Hermeacutetica quando as coisas comeccedilaram a sair do controle ele foi um dos primeiros a dissociar-se de algumas das direccedilotildees mais bizarras rumo agraves quais estavam se movendo os entusiastas (Isis junho

1986 e tambeacutem Anais do Instituto e Museu de Histoacuteria da Ciecircncia de Florenccedila X

1985 p 138)

v

Do clima anticientiacutefico de caraacuteter hermetizante ocultista e decididamente

filo-maacutegico que se difundiu na Itaacutelia (e natildeo apenas na Itaacutelia) desde o final da deacutecada de 1960 eu jaacute tinha me distanciado desde o iniacutecio A comeccedilar por um

artigo publicado em Rinascita em 24 de maio de 1968 no qual estaacute escrito Entrou

em crise a tese da superioridade dos modernos Natildeo apenas no sentido de uma

recusa do progresso como caminho linear e garantido mas no proacuteprio questionamento do conceito mesmo de civilizaccedilatildeo moderna O mundo da teacutecnica

da ciecircncia da induacutestria natildeo eacute analisado em suas componentes histoacutericas mas

concebido como pura e total negatividade A partir de entatildeo e nas deacutecadas que

seguiram foram tiradas todas as consequumlecircncias impliacutecitas nessa teoloacutegica

asserccedilatildeo Acompanhando e reforccedilando uma voga irrefreaacutevel de magismo

abriram caminho e se tornaram ideacuteias correntes fantasias sobre uma nova e

assombrosa ciecircncia proletaacuteria que teria em breve substituiacutedo a corrupta ciecircncia

burguesa e sobre um pensamento maacutegico que daria lugar a uma alternativa para

o ressecado racionalismo Intelectuais de esquerda apresentaram o pouso de homens na lua como sendo a mais perfeita especulaccedilatildeo que a sociedade capitalista

() conseguiu organizar em prejuiacutezo dos oprimidos e dos espoliados como uma

operaccedilatildeo de real conteuacutedo reacionaacuterio (M Cini Caiacutemos numa ratoeiraacute no jornal L Unitagrave 26 de julho de 1969) No comeccedilo daquele ano sustentava-se que

o uacutenico discurso correto era o de uma recusa da ciecircncia enquanto instrumento

de alienaccedilatildeo e opressatildeo do homem (F Piperno A greve dos ceacuterebros em

~ c

~

bullbull

L Espresso Colore 2 de fevereiro de 1969) A ciecircncia escrevia Umberto Curi

constituiu-se originariamente consolidou-se e desenvolveu-se ateacute hoje ( ) como forccedila produtiva do capital contra o trabalho (em AAvv Scienza epolere Milatildeo

Feltrinelli 1975 p 147) Para a superficialidade e a simploriedade natildeo haacute limites estabelecidos como na sociedade medieval quem decidia se uma teoria cientiacutefica

era verdadeira ou falsa era o papa - escrevia G Viale - na industrial quem decide a validade ou natildeo das teorias cientiacuteficas eacute o Pentaacutegono (Universidade a

hip6tese revolucionaacuteria Paacutedua 1968 p 118) O apocalipse associava-se como de haacutebito ao otimismo mais desenfreado e sem razatildeo

middot~ A partir do arrombamento das instituiccedilotildees - afirmavam Elisabetta Donini

e Tito Tonietti em Quaderni Piacentini (1977 63-64 p 132) - vai nascer uma nova revoluccedilatildeo copernicanam A ciecircncia nascida das cinzas da metafIsica de bull

lAristoacuteteles para levar a cabo e fazer funcionar o domiacutenio que a burguesia deteacutem ~

como classe soacute pode morrer com ela De sua morte natildeo surgiraacute uma nova

ciecircncia o novo saber seraacute tatildeo diferente do anterior que mereceraacute um novo

termo Teses desse gecircnero tornaram-se na Itaacutelia de entatildeo verdadeiros lugaresshy

comuns transformaram-se em ideologias atraindo um grande nuacutemero de jovens sindicalistas poliacuteticos funcionaacuterios donas~e-casa e principalmente professores

Estes termos tecircm eles todos uma caracteriacutestica comum eles substituem agrave anaacutelise a peremptoriedade dos juiacutezos e aos projetos a alusatildeo ao Radicalmente Novo

Como do Novo e do Outro natildeo se pode falar (tal como natildeo se pode falar do Deus ~ dos miacutesticos) procede-se necessariamente por alusotildees e negaccedilotildees De qualquer

maneira os projetos satildeo sempre algo de negativo com respeito aos processos em ato e aos movimentos Quando Giulio Maccacaro foi interrogado (em 1974)

quanto ao significado do projeto de uma ciecircncia nova ele respondeu com as seguintes palavras considero impossiacutevel a resposta e improacutepria a pergunta

Gostaria de explicar-me por meio de uma analogia o preso que nasceu enquanto

tal isto eacute o mais verdadeiro dos presos natildeo pode projetar a liberdade e realizar

a fuga E acrescentava temos de atuar para que seja possiacutevel o nascimento de uma ciecircncia nova a ciecircncia de um outro poder mas natildeo podemos predeterminaacuteshy

la sem impedi-la (em Scienza e Potere cito pp 54-55) Os projetos traem os processos as anaacutelises distorcem a vida a rebeliatildeo acaba por parecer mais

bullf~~~-~--F

importante do que o mundo ao qual ela poderia dar origem A revolta enquanto

tal tonia-se um fim a ser perseguido Isso jaacute tinha sido teorizado na Itaacutelia haacute

mais setenta anos por Giuliano o Sofista numa paacutegina ceacutelebre da revista

Leonardo cada programa cada projeto de itineraacuterio eacute uma limitaccedilatildeo Junto agrave assim chamada 1iteratura de contestaccedilatildeo a nova magia encontrou

grandiacutessima difusatildeo No livro The Making 0 Counter-Culture Rejlections on lhe Technocratic Society and Its routliful Opposition Theodor Roszak um dos mais

conhecidos expoentes da nova esquerda americana de entatildeo valeu-se do ensinamento de Thomas Kuhn para apresentar a consciecircncia objetiva como

uma mitologia Baseado nisso ele contrapocircs as extraordinaacuterias possibilidadeacutes de uma nova visatildeo maacutegica do mundo agrave racionalidade restrita da ciecircncia que embota nosso sentido do maravilhoso Acabou apresentando o xamanismo como

o modelo de uma cultura nova e mais livre O de Roszak natildeo foi certamente um caso isolado Tambeacutem na Itaacutelia as

posiccedilotildees que reduziam a ciecircncia agrave ideologia burguesa e pensavam que o saber cientiacutefico-racional era responsaacutevel pelo esvaziamento de sentido e pelo

desencantamento do mundo aliaram-se a posiccedilotildees regressivas e miacutesticoshyreacionaacuterias Um verdadeiro obscurantismo anticientiacutefico inspirado em Spengler

e em Heidegger vestiu os trajes do marxismo casando com a heranccedila de Nietzsche do vitalismo e do vanguardismo do comeccedilo do Novecentos

A descida para o plano arcaico da experiecircncia maacutegica a exaltaccedilatildeo do primitivismo e do imediatismo a nostalgia do passado como paraiacuteso de uma

humanidade natildeo reprimida a nostalgia pelo mundo camponecircs deixaram de ser considerados temas pertinentes exclusivamente ao pensamento reacionaacuterio shy

conforme havia sido durante longo tempo - mas vieram a ser propostos e sustentados tambeacutem no interior da esquerda como vaacutelidos instrumentos de libertaccedilatildeo dos pecados e das alienaccedilotildees presentes na sociedade moderna

I

VI

O motivo de eu natildeo concordar com as conclusotildees de F A Yates P M

Rattansi e de outros estudiosos natildeo dependia certamente do fato de que ambos sustentavam a necessidade para um historiador da ciecircncia moderna de ocuparshyse de magia e de hermetismo mas do fato de que eu via neles a tendecircncia para

sublinhar exclusivamente os elementos de continuidade entre a tradiccedilatildeo e a

imagem moderna de ciecircncia No centro da reflexatildeo de Yates estaya a pergunta por que justamente naquele momento Quais os motivos daquela emergecircncia -Yates havia apresentado o seu Giordano Bruno como sendo um estudo histoacuterico

dos motivos do nascimento da nova ciecircncia Nas raiacutezes daquela emergecircncia estava um novo tipo de interesse para com o mundo e as operaccedilotildees sobre a

natureza A magia renascimental cltnstitui justamente a realizaccedilatildeo de uma reorientaccedilatildeo psicoloacutegica da vontade rumo agrave accedilatildeo Atraveacutes daquela fundamental

mudanccedila psicoloacutegica aparece para a histoacuteria na Europa do Quinhentos a atribuiccedilatildeo de um valor agraves operaccedilotildees Tal atribuiccedilatildeo encontra-se na raiz da ciecircncia

moderna e constitui o seu porquecirc A visatildeo hermeacutetica de um universo regido pelas operaccedilotildees do mago eacute apresentada segundo esse ponto de vista na conclusatildeo

de seu trabalho como sendo a primeira fase da revoluccedilatildeo cientiacutefica que eacute caracterizada jaacute na segunda fase pela visatildeo de um universo mecanicista regido pelas leis da mecacircnica

A tese natildeo eacute completamente nova Spengler jaacute havia insistido em paacuteginas que seriam retomadas e discutidas por Max Scheler na importacircncia do faustismo

para o nascimento da ciecircncia A vontade teacutecnica do poder o saber-de-domiacutenio (Herrschaftwissen) haviam sido interpretados como um primum capaz de explicar

o emergir da ciecircncia no interior da histoacuteria do ocidente Numa perspectiva

diferente tambeacutem Jung e Eliade haviam chegado a respeito desse ponto - natildeo secundaacuterio - a conclusotildees parecidas mesmo se expressas numa linguagem muito

mais imaginativa A ideacuteia-guia do mundo moderno tinha parecido a Jung uma

versatildeo secular do sonho alquUacuteTIico a alquimia eacute o alvorecer da idade cientiacutefica quando o daimon do espiacuterito cientiacutefico obrigou as forccedilas da natureza a servir o

homem em medida antes desconhecida Para Mircea Eliade os alquimistas satildeo

I I J bull~

9

os antecipadores da essecircncia da ideologia que caracteriza o mundo moderno e que chegou agrave plena maturaccedilatildeo com o marxismo e o positivismo no decorrer do seacuteculo XIX a feacute na transmutaccedilatildeo da natureza e nas ilimitadas possibilidades do

homem Eacute dificil natildeo concordar com Frances Yates quando ela afirma que a histoacuteria

da emergecircncia da ciecircncia moderna resulta incompleta sem a histoacuteria daquilo de onde ela emerge e eacute certamente verdade que uma histoacuteria capaz de iluminar as

interaccedilotildees entre magia e ciecircncia eacute sem duacutevida mais frutuosa do que uma (que hoje ningueacutem escreve) que se contenta em celebrar os triunfos da ciecircncia do

seacuteculo XVIL Os trabalhos de Yates deram uma contribuiccedilatildeo decisiva ao aclaramento dessas interaccedilotildees Yates entretanto limita-se a sustentar essas teses

aceitaacuteveis a utilizar algumas observaccedilotildees feitas (entre outros) por Jung e Eliade

ou entatildeo ter-se-ia apropriado da tese deles da ciecircncia enquanto incapacidade de experimentar o sagrado Seria o caso de POcirc--Io em duacutevida quando se lecircem no

livro dela afirmaccedilotildees desse tipo Por acaso a ciecircncia natildeo eacute tudo somado nada

mais do que uma gnose uma visatildeo da natureza do Todo que procede atraveacutes de revelaccedilotildees sucessivas (F Yates Giordano Brurro e a tradiccedilatildeo hermeacutetica trad it

Bari Laterza 1969 pp 447-8 452)(d) Tambeacutem no livro de 1972 sobre o tipo de

pensamento dos RosacruzesYates afirmava que eu havia dado ecircnfase ao matiz de milenarismo constante na InstauratW magna scientiarum e tinha demonstrado

que Bacon sai justamente da tradiccedilatildeo hermeacutetica da magia e da Cabala da

Renascenccedila por ele alcanccediladas atraveacutes dos magos naturais (O Iluminismo dos Rosacruzes um Estilo de Pensamento na Europa do Seiscentos trad it L llluminismo dei Rosacroce urro stile dipensiero nellEuropa Del Seicento Turim Einaudi 1976

pp60 142-143)

Difiacutecil eacute subtrair-se agrave impressatildeo de que a tentativa de Yates era a de

reconduzir a segunda fase (mecanicista) da assim chamada revoluccedilatildeo cientiacutefica agrave primeira fase (maacutegico-hermeacutetica) e de que o estudo das interaccedilotildees entre essas

duas fases tivesse de servir para demonstrar que eacute inuacutetil procurar distinguir a ciecircncia da magia sendo que a primeira fase jamais teraacute fim As indagaccedilotildees sobre o hermetismo e sobre a magia satildeo importantes pois nos ajudam a compreender

melhor as origens da ciecircncia moderna (a qual no comeccedilo de seu longo percurso

bull I

i

deveu em parte sua vida tambeacutem a uma disreputable structure of ideas) ou

entatildeo o satildeo porque nos levam agrave conclusatildeo que a ciecircncia moderna nada mais eacute do

que a continuaccedilatildeo em formas novas de uma abordagem de tipo miacutestico da

natureza Satildeo indagaccedilotildees importantes porque nos mostram como tem sido dificil tortuoso e complicado o caminho da razatildeo cientiacutefica ou entatildeo porque contribuem

para mostrar as bases irracionais da construccedilatildeo da primeira ciecircncia moderna e

de qualquer outra forma de ciecircncia possiacutevel Com a revoluccedilatildeo cientiacutefica nasceu na histoacuteria um tipo de saber intersubjetivo e capaz de crescer um saber puacuteblico

que eacute alternativo ao saber secreto da magia e do ocultismo O que eacute contestado eacute o conhecimento insuficiente da gecircnese da ciecircncia moderna ou a proacutepria estrutura da ciecircncia moderna

Tenho a impressatildeo de que algo parecido com o que se passou com muitos leitores de Freud tenha ocorrido com muitos estudiosos da tradiccedilatildeo hermeacutetica apoacutes middotter ficado sabendo da existecircncia do inconsciente do condicionamento exercido pelas pulsotildees e pelos instintos sobre a vida da consciecircncia e da razatildeo

depois de ter reconhecido a existecircncia dos elementos de agressividade que atuam por traacutes da fachada respeitaacutevel da civilidade concluiacuteram - diferentemente do

que fazia Freud - que natildeo existem mais razatildeo nem ciecircncia nem civilidade mas haacute apenas instintos agressivos e desejos pulsionais

VII

Nos anos em que haviam praticamente desaparecido os modernos e nos departamentos de filosouumla soacute se encontravam poacutes-modernos rampantes

costumava-se defender duas teses de caraacuteter epocal A primeira tese de

- caraacuteter mais geral contrapunha moderno e poacutes-moderno O primeiro era ~

qualificado como a idade de uma razatildeo forte que constroacutei explicaccedilotildees totalizadoras

do mundo e que eacute dominada pela ideacuteia de um desenvolvimento histoacuterico do

pensamento como iluminaccedilatildeo incessante ou progressiva ou seja como a idade da ordem nomoloacutegica normativa da razatildeo e de uma sua estrutura monoliacutetica e

-~altlotildeiatildeAdespeito de Niccoloacute Machiavelli e de Giambattista Vico o moderno era definido como a idade do tempo linear caracterizada pela superaccedilatildeo ou

bull- -------~---

seja pela novidade que envelhece e eacute rapidamente substituiacuteda por uma novidade mais nova A segunda tese de caraacuteter mais limitado e especial afirmava que

siacutemiles analogias metaacuteforas semelhanccedilas que satildeo formas tiacutepicas ou

caracterizadoras da cultura da eacutepoca barroca satildeo energicamente recusadas pela nova ciecircncia da natureza

Para mostrar a inconsistecircncia dessa segunda tese em 1984 publiquei em Intersecccedilotildees um ensaio com o nome de Os siacutemiles as analogias as articulaccedilotildees da

natureza (Le similitudin~ le analogie le articolazioni della natura mais tarde incluiacutedo no volume [ ragni e k flnniche un ap0UacuteJgia della storia della scienza (As Aranhas e As Formigas uma ApoUacuteJgia da HisMna da Ciecircncia) Bolonha n Mulino

198~) no qu~l eu mostrava que parasustentar aq~ela tese Michel Foucault f haVia se apOIado numa passagem latma de FranCiS Bacon fazendo uso natildeo t do texto original mas de uma traduccedilatildeo dele feita no Oitocentos Acontecia

que termos - chave (ressemblancee similitude) sobre os quais se fundava todo o seu genial piroteacutecnico e desenvolto discurso compareciam de forma urn tanto misteriosa na traduccedilatildeo francesa mas natildeo existiam absolutamente no original latino

Uma das ideacuteias mais tolas professadas pelos poacutes-modernistas consistia em

apresentar a modernidade como uma eacutepoca de certezas como uma espeacutecie de idade da seguranccedila da qual haacute poucos anos apenas e por meacuterito de trecircs ou

quatro filoacutesofos parisienses alguns intelectuais extremamente aggiornatihaviam dolotilderosamenteern~rgido~Francis Bacon era freqUentemente citado como o tiacutepico

expoente ou campeatildeo do moderno pelos defensores da primeira das duas teses

que enunciei acima Polemizando com aquela imagem bastante cocircmoda escrevi

uma comunicaccedilatildeo para o encontro sobre Moderno e Poacutes-moderno organizado

em marccedilo de 1986 no Instituto Gramsci da Toscana Dei-lhe o tiacutetulo de [doia da Modernidade publicada mais tarde com outros ensaios em Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (CorifTonto dos Engenhos Modernos ePoacutes-modernos - Bolonha

n Mulino 1989) Esclarecendo que o nome idola era para Bacon sinocircnimo de

superstitions como tambeacutem de notionesfalsae ou volantes phantasiae inseri em meu escrito inclusive um elenco de algumas ideacuteias fUosoacuteficas de Bacon que me permito

reproduzir aqui

bull

f O universo natildeo eacute uma realidade ordenada e estruturada hierarquicamente e se rebelam e condicionam nosso intelecto Acabamos entatildeo por discutir natildeo -shy Natildeo existe nenhuma necessaacuteria correspondecircncia entre os elementos que o acerca das coisas mas acerca das palavras Tentamos entatildeo construir uma

l constituem nem entre microcosmo e macrocosmo Natildeo apenas o homem natildeo linguagem rigorosa feita de definiccedilotildees Acabamos por perceber que aquela

reflete em sua mente a estrutura do mundo como tambeacutem entre a ordem do linguagem fala apenas de palavra e que as coisas fugiram-nos irremediavelmente

cosmo e a da sociedade natildeo existe nenhuma correspondecircncia que possa ser das matildeos Por outro lado estamos condenados a fazer uso da linguagem e dela

encontrada As fontes do conhecimento satildeo vaacuterias a feacute a tradiccedilatildeo o sentido o natildeo podemos prescindir

i intelecto DifIcil eacute estabelecer uma hierarquia entre elas A feacute s6 vale para as Entretanto tambeacutem a necessidade de pontos de apoios confiaacuteveis e

indubitaacuteveis faz parte da natureza do homem Parece que os homens sentemI coisas que lhe pertencem O sentido nos engana muitas vezes e o intelecto muito I t mais vezes S6 temos certeza de uma coisa que natildeo podemos nos fiar na tradiccedilatildeo a necessidade de princiacutepios estaacuteveis procuram uma espeacutecie de eixo em

em geral e na filosofia em particular uma vez que nelas foram construiacutedos volta do qual fazer rotar a variedade dos argumentos e das meditaccedilotildees Se

inuacutemeros mundos de palco semelhantes aos teatros dos poetas onde as histoacuterias o intelecto sofre abalos e flutuaccedilotildees os homens tecircm a impressatildeo que o ceacuteu desaba

contadas tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada em cima deles e procuram logo um chatildeo soacutelido uma espeacutecie de Atlas dos

um Os enganos que se encontram em nossas fontes de conhecimento natildeo satildeo pensamentos semelhante ao que na lenda suportava o ceacuteu sobre seus ombros Na

como defeitos ou culpas aos quais se pode remediar Dependem do fato de que realidade os homens tecircm mais medo da duacutevida do que do erro e se iludem de

nossa mente mistura continuamente sua natureza com a natureza das coisas e poderem estabelecer alguns princiacutepios dos quais possa ser derivado todo o saber

do fato de que as imagens falsas e as falaacutecias fazem parte da estrutura da mente e em torno dos quais eles possam fazer rotar todas as suas disputas

satildeo inatas nela e estatildeo radicadas na natureza humana Os erros satildeo inseparaacuteveis Mas o problema maior eacute o da novidade e da dificuldade ou da incapacidade

de nossa natureza e condiccedilatildeo de vida Posso descrevecirc-Ios tentar exorcizaacute-los de pensar o novo Porque a mente humana estaacute mal organizada primeiro desconfia

tomando consciecircncia deles De muitos deles nunca poderei em caso algum ficar demasiado de si proacutepria e em seguida se despreza No comeccedilo parece

completamente livre inacreditaacutevel que algo possa ser descoberto Depois tatildeo logo esse algo eacute

A imagem de que eacute possiacutevel servir-se para pensar o universo eacute a do labirinto descqberto acha-se inacreditaacutevel que possa ter sido ignorado Haacute um duplo

ou caso se prefira a da selva Com efeito natildeo haacute estradas visiacuteveis mas somente preconceito que atua sempre ameaccedilando o novo a crenccedila cristalizada naquilo

caminhos ambiacuteguos Natildeo haacute siacutemiles seguros apenas semelhanccedilas enganadoras que jaacute se encontra estabelecido e a tendecircncia em inserir o novo (privando~ de

de signos e de coisas Natildeo haacute percursos em linha reta apenas espirais e noacutes seu caraacuteter de novidade) dentro de um esquema jaacute prefigurado Se antes da

torcidos e complicados O acaso os efeitos da credulidade as primeiras noccedilotildees introduccedilatildeo da seda tivesse sido imaginada a existecircncia de um fio diferente do

absorvidas na infacircncia constituem aquele patrimocircnio ao qual damos o nome de algodatildeo e da latilde e mais suave brilhante e resistente quem teria sido capaz de

razatildeo Sequer o que realmente nos diferencia dos animais nos ajuda muito Porque pensar numa taturana ou num verme

a linguagem natildeo eacute absolutamente conforme se acreditou durante muito tempo Estando assim as coisas natildeo tem sentido um quadro completo e

( uma entidade controlaacutevel As palavras a partir do momento em que satildeo usadas exaustivo do mundo Onde quer que ele seja construiacutedo esse quadro suscita um

retorcem sua forccedila contra o intelecto Parece-nos poder traccedilar mediante as consenso imediato uma vez que produz sentimentos de seguranccedila Poreacutem eacute

palavras linhas de demarcaccedilatildeo bem visiacuteveis entre as coisas Depois poreacutem toda melhor estimulara inteligecircncia do que usurpar a boa feacute Eacute melhor renunciar a

vez que tentamos deslocar aquelas linhas as palavras satildeo um obstaacuteculo para noacutes compor tratados e proceder ao contraacuterio por afirmaccedilotildees desligadas e provisoacuterias

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como eacute igualmente melhor assegurar menos e mostrar os vazios do saber e VIII solicitar a pesquisa Nenhuma filosofia universal e completa eacute proponiacutevel e as teses filosoacuteficas que foram expostas ateacute agora natildeo satildeo as expressotildees da verdade mas sim satildeo comparaacuteveis aos sons pouco agradaacuteveis emitidos pelos muacutesicos quando afinam seus instrumentos O concerto ainda estaacute para chegar e pode-se alimentar apenas a esperanccedila de que seja melhor do que os sons atuais Por isso natildeo haacute nenhum meacutetodo que seja universal e perfeito Por isso natildeo existe nenhuma

arte da descoberta uma vez que ela cresce com o proacuteprio crescimento das

-descobertas (Scrittifilosqfiaacute org Paolo Rossi Turim UTEU 1975 pp 561 573536-37560526608570263274427 593-94 423621 275-76346 637 A uacutenica referecircncia obtida de um escrito fora da ediccedilatildeo indicada encontrashyse em The Worlcs oJ Francis Bacon org R L Ellis 1 Spedding D D Heath Londres 1887-92 I pp 640-41)

Concluindo essas satildeo algumas das respostas dadas por Francis Bacon entre 1605 e 1620 agrave pergunta o que eacute o saber Se essas respostas forem de algum modo significativas parece-me dificil aplicar a elas os roacutetulos utilizados pelos filoacutesofos da poacutes-modernidade explicaccedilotildees totalizadoras do mundo ou entatildeo capacidade projetual de uma subjetividade que se desdobra rumo a um horizonte de fins dos quais pretende possuir a chave ou ainda extremada aspiraccedilatildeo a uma ordem absoluta e definitiva de seguranccedila Parece-me igualmente diflcil utilizar metaacuteforas como a seguinte o olho humano natildeo se abre sobre as trevas originaacuterias do mundo mas sobre a cena de um cosmo jaacute aclarado pela luz intelectual Essa metaacutefora exprimia para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica de 18 de julho de1985) a proacutepria essecircncia daquela imaginaacuteria modernidade em torno da qual se esgotavam os poacutes-modernistas Estes inclusive pareciam totalmente ignaros quanto agrave nobre sentenccedila de um autor que consideravam um de seus antepassados Nunca existiu eacutepoca alguma que natildeo tenha se achado moderna no sentido excecircntrico do termo e natildeo tenha acreditado que se encontrava imediatamente diante de um abismo A consciecircncia desesperada e luacutecida de encontrar-se no meio de uma crise decisiva eacute algo de crocircnico na humanidade (W Benjamin Paris CaPital do Seacuteculo XIX trad it Parigi capitauacute dei XIX secolo Einaud~ 1986 p 701)

bull

As paacuteginas dedicadas no final da deacutecada de 1950 a Cornelio Agrippa e a Francis Bacon agrave relaccedilatildeo entre magia e ciecircncia levaram-me muito longe dos programas e dos projetos iniciais conforme costuma acontecer

Trabalhei longamente nas deacutecadas que se seguiram com as artes da

memoacuteria com a assim chamada descoberta do tempo ocorrida entre o

Quinhentos e o Setecentos com a ftlosofia de Giambattista Vico mas o tema da

magia ou melhor o tema da relaccedilatildeo entre magia e modernidade que surgira em

minha vida desde a publicaccedilatildeo em 1955 do livro de E Garin Testi umanistici sullermetisnw natildeo mais me abandonou Agravequele tema satildeo dedicadas natildeo apenas

as paacuteginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola Francesco Patrizi

Giordano Bruno e sobre argumentos afins mas (aleacutem das aparecircncias) muitas paacuteginas que escrevi nas deacutecadas de 1970 e 1980 e que reuni no jaacute citado Paragone degli ingegni moderni e postmoderni O outro meu livro La saacuteenza e lofilosqfia dei moderni (A Ciecircncia e a Filosofia dos Modernos) publicado por Boringhieri em 1989

abria-se com a premissa intitulada O Processo a Galileu no seacuteculo XX escrita vinte anos antes e que jaacute estava presente numa primeira ediccedilatildeo publicada em

Naacutepoles por Morano em 1971 Daquele processo agrave ciecircncia das imputaccedilotildees que ele continha e mesmo das

defesas que devia comportar - salvo reduzidas mesmo que relevantes exceccedilotildees

- os filoacutesofos da ciecircncia se ocuparam pouco e assim continuam fazendo No que

me diz respeito uma vez que meu assunto de estudo eacute a histoacuteria das ideacuteias entre os seacuteculos XVI e XVIII disso ocupei-me ateacute em demasia Muitas vezes pergunteishy

me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que por sinal

deu-me algumas satisfaccedilotildees Das paacuteginas que escrevi sobre o tema a que me

referi tive poucas ao contraacuterio e algumas vezes verdadeiros insultos Um ceacutelebre filoacutesofo italiano comparou-me certa vez a um cachorrinho que mordia o salto

de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele natildeo apenas pensava na

distacircncia abismal homemanimal que nos separava mas tambeacutem que ele tinha

certeza de estar caminhando sozinho rumo agrave Verdade) Um outro muito menos famoso que o primeiro qualificou-me - publicamente e mais gentilmente mas

bull

sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

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Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

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~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

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fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

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e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

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fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

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Page 7: ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

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As que De Martino chamava as ameaccedilas da etnologia agigantaram-se suas estruturas e em sua essecircncia que ela jaacute gastou suas proacuteprias energias que assustadoramente nas deacutecadas sucessivas a seu desaparecimento As suas escolhas jaacute se reduziu a mera negatividade A libertaccedilatildeo do homem consistia portanto em agrave sua recusa do irracionalismo histoacuterico-religioso e do relativismo cultural sacudir de suas costas a civilizaccedilatildeo ocidental (p XLV) Que algueacutem pudesse estaacute correlacionada sua imagem de uma antropologia que estaacute sempre correndo sacudir de seus ombros a civilizaccedilatildeo na qual nasceu e cresceu eacute justamente o o risco de transformar-se em um friacutevolo deffile de modelos culturais impelidos contraacuterio exato da posiccedilatildeo que De Martino havia defendido e sustentado como na passarela da ciecircncia por um friacutegido apaacutetrida em funccedilatildeo de antropoacutelogo sempre se diz com unhas e dentes ao longo de seu percurso intelectual completamente disponiacutevel para qualquer possiacutevel gosto cultural (Furore siacutembolo Visto pelos olhos dos jdanovistas que pretendiam saber o que eacute certo e o valore Milatildeo 1962 pp 86-87) Natildeo eram estas as ideacuteias que tornaram popular que eacute errado e pretendiam orientar todo tipo de escolha cultural De Martino De Martino no decorrer das deacutecadas de 1960 e 1970 Os entusiasmos pelo maacutegico era um irracionalista ou como miacutenimo um estudioso que manejava com o maacuteximo

as tornavam pouco atuais e irrelevantes Quando em 1973 saiu uma nova ediccedilatildeo de desenvoltura textos e autores ambiacuteguos e perigosos que era melhor natildeo de lImando magico o editor sentiu a necessidade de confiar a Cesare Cases a publicar e certamente natildeo difundir Aos olhos daqueles que nas deacutecadas seguintes tarefa de escrever uma introduccedilatildeo Cases tinha dedicado uma porccedilatildeo de seu o aproximaram a Adorno e agrave Dialeacutetica do Iluminisme toda declaraccedilatildeo de fidelidade caacuteustico engenho agraveanaacutelise a partir das posiccedilotildees da esq uerda (mais do que esquerda aos valores da razatildeo eacute por parte de De Martino apenas uma tentativa mais ou natildeo daacute) de autores colocados numa direita tatildeo extremada (que mais do que assim menos acanhada de romper o isolamento recorrendo a serviccedilos que lhe permitem natildeo dava) uma outra natildeo irrelevante porccedilatildeo tinha ele dedicado no fmal da deacutecada usar instrumentos irracionalistas sem ser considerado um irracionalista (vejashyde 1950 a defender a pureza do marxismo enquanto concepccedilatildeo de mundo a se P e M Cherchi De Martino Naacutepoles Liguori 1987 p 227) Quem sem polemizar contra Giulio Preti contra o neo-empirismo e suas infIltraccedilotildees nas documentaccedilatildeo efetiva faz uso de categorias do tipo recorrer a serviccedilos serveshyfileiras da esquerda se de um instrumento tatildeo poderoso que passa a ser absolutamente esteacuteril e

Na introduccedilatildeo Cases estava preocupado principalmente em indicar os limites ineficaz Se De Martino repete muitas vezes com convicccedilatildeo e em eacutepocas e textos ou seja os defeitos da posiccedilatildeo de De Martiacuteno Lido com as lentes paleomarxistas diferentes sua fidelidade a valores de tipo Iluminista pode-se sempre dizer de Cases o livro tinha um defeito imperdoaacutevel natildeo era suficientemente antishy que o faz por razotildees poliacuteticas ou entatildeo que o faz inconscientemente ou sem ocidental Na introduccedilatildeo aparecem - concebidas como repreensotildees ou objeccedilotildees se dar conta Raciocinando assim tem-se sempre razatildeo Cortando rente criando a De Martino - as seguintes expressotildees a civilizaccedilatildeo ocidental natildeo eacute contestada alternativas riacutegidas usando meacutetodos inquisitoriais (do tipo diz uma coisa mas em suas estruturas mas na falta de consciecircncia de sua gecircnese (p XXVI) para o natildeo acredita nela de verdade) acaba-se destruindo justamente o espaccedilo que De autor as marcas da civilizaccedilatildeo ocidental permanecem oacutebvias e delas natildeo se Martino havia construiacutedo para si com tanta fadiga acaba-se processando-o pelo contesta a essecircncia mas tatildeo-somente a arrogacircncia (p XXVII) De Martino remete crime de uma pretensa incoerecircncia agraves potencialidades natildeo consumadas da energia plasmadora da civilizaccedilatildeo Para De Martino a ambiguumlidade natildeo estava em noacutes mas sim nas coisas O ocidental e nela tem demasiada confianccedila (pp XLI XLVI) considera mundo maacutegico estaacute atraacutes deIOacutes mas tambeacutem dentro de noacutes seinpre prOacuteimo a fmalmente a razatildeo ocidental como um dado (p XLVII) Antecipando as recusas noacutes como uma alternativa uma tentaccedilatildeo um caminho de fuga Em muitos setores globais de hoje de Asor Rosa suscitando o interesse dos sequazes de Evola os da cultura e da poliacutetica natildeo se sabe disso e natildeo se leva isso em consideraccedilatildeo quais vindos da extrema direita jaacute tinham negado haacute bastante tempo a essecircncia Movemo-nos entatildeo no interior de uma histoacuteria imaginaacuteria enrijecida no culto do ocidente Cases sustenta que a civilizaccedilatildeo ocidental deve ser contestada em de uma razatildeo que natildeo se questiona sobre seu passado Constroacutei-se inclusive

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uma histoacuteria da ciecircncia imaginaacuteria em que Bacon se torna o filoacutesofo da idade industrial na qual tambeacutem Gilbert e Kepler e Newton se tornam cientistas

positivos O monoacutelogo colonialista e missionaacuterio da velha Europa - escreveu

De Martino - vai-se tornando dia apoacutes dia cada vez mais solitaacuterio e delirante A histoacuteria do conceito de magia no Ocidente serve para nos dar essa consciecircncia e

serve ao mesmo tempo como medida protetora contra aquele mal diferente

que eacute a infidelidade radical em relaccedilatildeo agravepolecircmica antimaacutegica de nossa civilizaccedilatildeo

com a conseguinte abdicaccedilatildeo diante dos prestiacutegios da magia (E De Martino Magia e civiltagrave Milatildeo Garzanti 1962 p 9) Talvez natildeo seja um caso o fato de

~ que do interesse de De Martino para com a histoacuteria das ideacuteias para com a

passagem da magia agrave ciecircncia entre Quinhentos e Seiscentos - que para ele natildeo

era um episoacutedio mas o episoacutedio decisivo da histoacuteria do ocidente (e indiretamente

da histoacuteria do mundo) - natildeo reste nenhum traccedilo nos muitos doutos e

informadiacutessimos ensaios e livros que foram publicados sobre ele No ano que seguiu agrave republicaccedilatildeo de Il mondo magico entre 20 e 23 de

abril de 1974 tiveram lugar em Capr~ organizadas por Maria Righini Bonelli e William Shea as Jornadas Internacionais de Histoacuteria da Ciecircncia As atas do congresso saiacuteram em 1975 nas Science History Publications de Nova York com

o tiacutetulo de Reason Experiment andMysticism in lhe Scientifiacutec Revolution Foi ali que eu li uma comunicaccedilatildeo entitulada Hermeticism Rationality and the Scientific

Revolution que foi comentada por A Rupert Hall O conteuacutedo da comunicaccedilatildeo

- bem distante da vaga do magismo indiscriminado da eacutepoca - eacute resumido no

paraacutegrafo 5 do Prefaacutecio agrave segunda ediccedilatildeo (escrito naquele mesmo ano) que

segue aqui Dez anos mais tarde Charles Schmitt depois de lembrar a insistecircncia

com que eu tratava os temas maacutegicos e mitoloacutegicos tatildeo distantes da imagem da

baconian science que circulava na deacutecada de 1950 resumia com clareza o que tinha acontecido Deve ser lembrado que o Bacon de Rossi surgiu em sua

primeira ediccedilatildeo antes da atual corrida para colocar magia e ocultismo no centro

do pensamento da Renascenccedila Na verdade aquele livro foi responsaacutevel e natildeo

pouco por aquela reavaliaccedilatildeo dos fatores maacutegicos e ocultos presentes na primeira

ciecircncia moderna na sua uacuteltima geraccedilatildeo O que eacute importante na abordagem de

Rossi eacute que ele nunca deixou as questotildees centrais afastarem-se do ponto focal

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Enquanto outros empurravam a nova interpretaccedilatildeo longe demais ele natildeo hesitou em traccedilar a linha que divide as hipoacuteteses cientiacuteficas das fantasias Apesar de o livro fazer parte da base a partir da qual se desenvolveu a ecircnfase hoje corrente sobre a assim chamada Tradiccedilatildeo Hermeacutetica quando as coisas comeccedilaram a sair do controle ele foi um dos primeiros a dissociar-se de algumas das direccedilotildees mais bizarras rumo agraves quais estavam se movendo os entusiastas (Isis junho

1986 e tambeacutem Anais do Instituto e Museu de Histoacuteria da Ciecircncia de Florenccedila X

1985 p 138)

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Do clima anticientiacutefico de caraacuteter hermetizante ocultista e decididamente

filo-maacutegico que se difundiu na Itaacutelia (e natildeo apenas na Itaacutelia) desde o final da deacutecada de 1960 eu jaacute tinha me distanciado desde o iniacutecio A comeccedilar por um

artigo publicado em Rinascita em 24 de maio de 1968 no qual estaacute escrito Entrou

em crise a tese da superioridade dos modernos Natildeo apenas no sentido de uma

recusa do progresso como caminho linear e garantido mas no proacuteprio questionamento do conceito mesmo de civilizaccedilatildeo moderna O mundo da teacutecnica

da ciecircncia da induacutestria natildeo eacute analisado em suas componentes histoacutericas mas

concebido como pura e total negatividade A partir de entatildeo e nas deacutecadas que

seguiram foram tiradas todas as consequumlecircncias impliacutecitas nessa teoloacutegica

asserccedilatildeo Acompanhando e reforccedilando uma voga irrefreaacutevel de magismo

abriram caminho e se tornaram ideacuteias correntes fantasias sobre uma nova e

assombrosa ciecircncia proletaacuteria que teria em breve substituiacutedo a corrupta ciecircncia

burguesa e sobre um pensamento maacutegico que daria lugar a uma alternativa para

o ressecado racionalismo Intelectuais de esquerda apresentaram o pouso de homens na lua como sendo a mais perfeita especulaccedilatildeo que a sociedade capitalista

() conseguiu organizar em prejuiacutezo dos oprimidos e dos espoliados como uma

operaccedilatildeo de real conteuacutedo reacionaacuterio (M Cini Caiacutemos numa ratoeiraacute no jornal L Unitagrave 26 de julho de 1969) No comeccedilo daquele ano sustentava-se que

o uacutenico discurso correto era o de uma recusa da ciecircncia enquanto instrumento

de alienaccedilatildeo e opressatildeo do homem (F Piperno A greve dos ceacuterebros em

~ c

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L Espresso Colore 2 de fevereiro de 1969) A ciecircncia escrevia Umberto Curi

constituiu-se originariamente consolidou-se e desenvolveu-se ateacute hoje ( ) como forccedila produtiva do capital contra o trabalho (em AAvv Scienza epolere Milatildeo

Feltrinelli 1975 p 147) Para a superficialidade e a simploriedade natildeo haacute limites estabelecidos como na sociedade medieval quem decidia se uma teoria cientiacutefica

era verdadeira ou falsa era o papa - escrevia G Viale - na industrial quem decide a validade ou natildeo das teorias cientiacuteficas eacute o Pentaacutegono (Universidade a

hip6tese revolucionaacuteria Paacutedua 1968 p 118) O apocalipse associava-se como de haacutebito ao otimismo mais desenfreado e sem razatildeo

middot~ A partir do arrombamento das instituiccedilotildees - afirmavam Elisabetta Donini

e Tito Tonietti em Quaderni Piacentini (1977 63-64 p 132) - vai nascer uma nova revoluccedilatildeo copernicanam A ciecircncia nascida das cinzas da metafIsica de bull

lAristoacuteteles para levar a cabo e fazer funcionar o domiacutenio que a burguesia deteacutem ~

como classe soacute pode morrer com ela De sua morte natildeo surgiraacute uma nova

ciecircncia o novo saber seraacute tatildeo diferente do anterior que mereceraacute um novo

termo Teses desse gecircnero tornaram-se na Itaacutelia de entatildeo verdadeiros lugaresshy

comuns transformaram-se em ideologias atraindo um grande nuacutemero de jovens sindicalistas poliacuteticos funcionaacuterios donas~e-casa e principalmente professores

Estes termos tecircm eles todos uma caracteriacutestica comum eles substituem agrave anaacutelise a peremptoriedade dos juiacutezos e aos projetos a alusatildeo ao Radicalmente Novo

Como do Novo e do Outro natildeo se pode falar (tal como natildeo se pode falar do Deus ~ dos miacutesticos) procede-se necessariamente por alusotildees e negaccedilotildees De qualquer

maneira os projetos satildeo sempre algo de negativo com respeito aos processos em ato e aos movimentos Quando Giulio Maccacaro foi interrogado (em 1974)

quanto ao significado do projeto de uma ciecircncia nova ele respondeu com as seguintes palavras considero impossiacutevel a resposta e improacutepria a pergunta

Gostaria de explicar-me por meio de uma analogia o preso que nasceu enquanto

tal isto eacute o mais verdadeiro dos presos natildeo pode projetar a liberdade e realizar

a fuga E acrescentava temos de atuar para que seja possiacutevel o nascimento de uma ciecircncia nova a ciecircncia de um outro poder mas natildeo podemos predeterminaacuteshy

la sem impedi-la (em Scienza e Potere cito pp 54-55) Os projetos traem os processos as anaacutelises distorcem a vida a rebeliatildeo acaba por parecer mais

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importante do que o mundo ao qual ela poderia dar origem A revolta enquanto

tal tonia-se um fim a ser perseguido Isso jaacute tinha sido teorizado na Itaacutelia haacute

mais setenta anos por Giuliano o Sofista numa paacutegina ceacutelebre da revista

Leonardo cada programa cada projeto de itineraacuterio eacute uma limitaccedilatildeo Junto agrave assim chamada 1iteratura de contestaccedilatildeo a nova magia encontrou

grandiacutessima difusatildeo No livro The Making 0 Counter-Culture Rejlections on lhe Technocratic Society and Its routliful Opposition Theodor Roszak um dos mais

conhecidos expoentes da nova esquerda americana de entatildeo valeu-se do ensinamento de Thomas Kuhn para apresentar a consciecircncia objetiva como

uma mitologia Baseado nisso ele contrapocircs as extraordinaacuterias possibilidadeacutes de uma nova visatildeo maacutegica do mundo agrave racionalidade restrita da ciecircncia que embota nosso sentido do maravilhoso Acabou apresentando o xamanismo como

o modelo de uma cultura nova e mais livre O de Roszak natildeo foi certamente um caso isolado Tambeacutem na Itaacutelia as

posiccedilotildees que reduziam a ciecircncia agrave ideologia burguesa e pensavam que o saber cientiacutefico-racional era responsaacutevel pelo esvaziamento de sentido e pelo

desencantamento do mundo aliaram-se a posiccedilotildees regressivas e miacutesticoshyreacionaacuterias Um verdadeiro obscurantismo anticientiacutefico inspirado em Spengler

e em Heidegger vestiu os trajes do marxismo casando com a heranccedila de Nietzsche do vitalismo e do vanguardismo do comeccedilo do Novecentos

A descida para o plano arcaico da experiecircncia maacutegica a exaltaccedilatildeo do primitivismo e do imediatismo a nostalgia do passado como paraiacuteso de uma

humanidade natildeo reprimida a nostalgia pelo mundo camponecircs deixaram de ser considerados temas pertinentes exclusivamente ao pensamento reacionaacuterio shy

conforme havia sido durante longo tempo - mas vieram a ser propostos e sustentados tambeacutem no interior da esquerda como vaacutelidos instrumentos de libertaccedilatildeo dos pecados e das alienaccedilotildees presentes na sociedade moderna

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VI

O motivo de eu natildeo concordar com as conclusotildees de F A Yates P M

Rattansi e de outros estudiosos natildeo dependia certamente do fato de que ambos sustentavam a necessidade para um historiador da ciecircncia moderna de ocuparshyse de magia e de hermetismo mas do fato de que eu via neles a tendecircncia para

sublinhar exclusivamente os elementos de continuidade entre a tradiccedilatildeo e a

imagem moderna de ciecircncia No centro da reflexatildeo de Yates estaya a pergunta por que justamente naquele momento Quais os motivos daquela emergecircncia -Yates havia apresentado o seu Giordano Bruno como sendo um estudo histoacuterico

dos motivos do nascimento da nova ciecircncia Nas raiacutezes daquela emergecircncia estava um novo tipo de interesse para com o mundo e as operaccedilotildees sobre a

natureza A magia renascimental cltnstitui justamente a realizaccedilatildeo de uma reorientaccedilatildeo psicoloacutegica da vontade rumo agrave accedilatildeo Atraveacutes daquela fundamental

mudanccedila psicoloacutegica aparece para a histoacuteria na Europa do Quinhentos a atribuiccedilatildeo de um valor agraves operaccedilotildees Tal atribuiccedilatildeo encontra-se na raiz da ciecircncia

moderna e constitui o seu porquecirc A visatildeo hermeacutetica de um universo regido pelas operaccedilotildees do mago eacute apresentada segundo esse ponto de vista na conclusatildeo

de seu trabalho como sendo a primeira fase da revoluccedilatildeo cientiacutefica que eacute caracterizada jaacute na segunda fase pela visatildeo de um universo mecanicista regido pelas leis da mecacircnica

A tese natildeo eacute completamente nova Spengler jaacute havia insistido em paacuteginas que seriam retomadas e discutidas por Max Scheler na importacircncia do faustismo

para o nascimento da ciecircncia A vontade teacutecnica do poder o saber-de-domiacutenio (Herrschaftwissen) haviam sido interpretados como um primum capaz de explicar

o emergir da ciecircncia no interior da histoacuteria do ocidente Numa perspectiva

diferente tambeacutem Jung e Eliade haviam chegado a respeito desse ponto - natildeo secundaacuterio - a conclusotildees parecidas mesmo se expressas numa linguagem muito

mais imaginativa A ideacuteia-guia do mundo moderno tinha parecido a Jung uma

versatildeo secular do sonho alquUacuteTIico a alquimia eacute o alvorecer da idade cientiacutefica quando o daimon do espiacuterito cientiacutefico obrigou as forccedilas da natureza a servir o

homem em medida antes desconhecida Para Mircea Eliade os alquimistas satildeo

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os antecipadores da essecircncia da ideologia que caracteriza o mundo moderno e que chegou agrave plena maturaccedilatildeo com o marxismo e o positivismo no decorrer do seacuteculo XIX a feacute na transmutaccedilatildeo da natureza e nas ilimitadas possibilidades do

homem Eacute dificil natildeo concordar com Frances Yates quando ela afirma que a histoacuteria

da emergecircncia da ciecircncia moderna resulta incompleta sem a histoacuteria daquilo de onde ela emerge e eacute certamente verdade que uma histoacuteria capaz de iluminar as

interaccedilotildees entre magia e ciecircncia eacute sem duacutevida mais frutuosa do que uma (que hoje ningueacutem escreve) que se contenta em celebrar os triunfos da ciecircncia do

seacuteculo XVIL Os trabalhos de Yates deram uma contribuiccedilatildeo decisiva ao aclaramento dessas interaccedilotildees Yates entretanto limita-se a sustentar essas teses

aceitaacuteveis a utilizar algumas observaccedilotildees feitas (entre outros) por Jung e Eliade

ou entatildeo ter-se-ia apropriado da tese deles da ciecircncia enquanto incapacidade de experimentar o sagrado Seria o caso de POcirc--Io em duacutevida quando se lecircem no

livro dela afirmaccedilotildees desse tipo Por acaso a ciecircncia natildeo eacute tudo somado nada

mais do que uma gnose uma visatildeo da natureza do Todo que procede atraveacutes de revelaccedilotildees sucessivas (F Yates Giordano Brurro e a tradiccedilatildeo hermeacutetica trad it

Bari Laterza 1969 pp 447-8 452)(d) Tambeacutem no livro de 1972 sobre o tipo de

pensamento dos RosacruzesYates afirmava que eu havia dado ecircnfase ao matiz de milenarismo constante na InstauratW magna scientiarum e tinha demonstrado

que Bacon sai justamente da tradiccedilatildeo hermeacutetica da magia e da Cabala da

Renascenccedila por ele alcanccediladas atraveacutes dos magos naturais (O Iluminismo dos Rosacruzes um Estilo de Pensamento na Europa do Seiscentos trad it L llluminismo dei Rosacroce urro stile dipensiero nellEuropa Del Seicento Turim Einaudi 1976

pp60 142-143)

Difiacutecil eacute subtrair-se agrave impressatildeo de que a tentativa de Yates era a de

reconduzir a segunda fase (mecanicista) da assim chamada revoluccedilatildeo cientiacutefica agrave primeira fase (maacutegico-hermeacutetica) e de que o estudo das interaccedilotildees entre essas

duas fases tivesse de servir para demonstrar que eacute inuacutetil procurar distinguir a ciecircncia da magia sendo que a primeira fase jamais teraacute fim As indagaccedilotildees sobre o hermetismo e sobre a magia satildeo importantes pois nos ajudam a compreender

melhor as origens da ciecircncia moderna (a qual no comeccedilo de seu longo percurso

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deveu em parte sua vida tambeacutem a uma disreputable structure of ideas) ou

entatildeo o satildeo porque nos levam agrave conclusatildeo que a ciecircncia moderna nada mais eacute do

que a continuaccedilatildeo em formas novas de uma abordagem de tipo miacutestico da

natureza Satildeo indagaccedilotildees importantes porque nos mostram como tem sido dificil tortuoso e complicado o caminho da razatildeo cientiacutefica ou entatildeo porque contribuem

para mostrar as bases irracionais da construccedilatildeo da primeira ciecircncia moderna e

de qualquer outra forma de ciecircncia possiacutevel Com a revoluccedilatildeo cientiacutefica nasceu na histoacuteria um tipo de saber intersubjetivo e capaz de crescer um saber puacuteblico

que eacute alternativo ao saber secreto da magia e do ocultismo O que eacute contestado eacute o conhecimento insuficiente da gecircnese da ciecircncia moderna ou a proacutepria estrutura da ciecircncia moderna

Tenho a impressatildeo de que algo parecido com o que se passou com muitos leitores de Freud tenha ocorrido com muitos estudiosos da tradiccedilatildeo hermeacutetica apoacutes middotter ficado sabendo da existecircncia do inconsciente do condicionamento exercido pelas pulsotildees e pelos instintos sobre a vida da consciecircncia e da razatildeo

depois de ter reconhecido a existecircncia dos elementos de agressividade que atuam por traacutes da fachada respeitaacutevel da civilidade concluiacuteram - diferentemente do

que fazia Freud - que natildeo existem mais razatildeo nem ciecircncia nem civilidade mas haacute apenas instintos agressivos e desejos pulsionais

VII

Nos anos em que haviam praticamente desaparecido os modernos e nos departamentos de filosouumla soacute se encontravam poacutes-modernos rampantes

costumava-se defender duas teses de caraacuteter epocal A primeira tese de

- caraacuteter mais geral contrapunha moderno e poacutes-moderno O primeiro era ~

qualificado como a idade de uma razatildeo forte que constroacutei explicaccedilotildees totalizadoras

do mundo e que eacute dominada pela ideacuteia de um desenvolvimento histoacuterico do

pensamento como iluminaccedilatildeo incessante ou progressiva ou seja como a idade da ordem nomoloacutegica normativa da razatildeo e de uma sua estrutura monoliacutetica e

-~altlotildeiatildeAdespeito de Niccoloacute Machiavelli e de Giambattista Vico o moderno era definido como a idade do tempo linear caracterizada pela superaccedilatildeo ou

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seja pela novidade que envelhece e eacute rapidamente substituiacuteda por uma novidade mais nova A segunda tese de caraacuteter mais limitado e especial afirmava que

siacutemiles analogias metaacuteforas semelhanccedilas que satildeo formas tiacutepicas ou

caracterizadoras da cultura da eacutepoca barroca satildeo energicamente recusadas pela nova ciecircncia da natureza

Para mostrar a inconsistecircncia dessa segunda tese em 1984 publiquei em Intersecccedilotildees um ensaio com o nome de Os siacutemiles as analogias as articulaccedilotildees da

natureza (Le similitudin~ le analogie le articolazioni della natura mais tarde incluiacutedo no volume [ ragni e k flnniche un ap0UacuteJgia della storia della scienza (As Aranhas e As Formigas uma ApoUacuteJgia da HisMna da Ciecircncia) Bolonha n Mulino

198~) no qu~l eu mostrava que parasustentar aq~ela tese Michel Foucault f haVia se apOIado numa passagem latma de FranCiS Bacon fazendo uso natildeo t do texto original mas de uma traduccedilatildeo dele feita no Oitocentos Acontecia

que termos - chave (ressemblancee similitude) sobre os quais se fundava todo o seu genial piroteacutecnico e desenvolto discurso compareciam de forma urn tanto misteriosa na traduccedilatildeo francesa mas natildeo existiam absolutamente no original latino

Uma das ideacuteias mais tolas professadas pelos poacutes-modernistas consistia em

apresentar a modernidade como uma eacutepoca de certezas como uma espeacutecie de idade da seguranccedila da qual haacute poucos anos apenas e por meacuterito de trecircs ou

quatro filoacutesofos parisienses alguns intelectuais extremamente aggiornatihaviam dolotilderosamenteern~rgido~Francis Bacon era freqUentemente citado como o tiacutepico

expoente ou campeatildeo do moderno pelos defensores da primeira das duas teses

que enunciei acima Polemizando com aquela imagem bastante cocircmoda escrevi

uma comunicaccedilatildeo para o encontro sobre Moderno e Poacutes-moderno organizado

em marccedilo de 1986 no Instituto Gramsci da Toscana Dei-lhe o tiacutetulo de [doia da Modernidade publicada mais tarde com outros ensaios em Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (CorifTonto dos Engenhos Modernos ePoacutes-modernos - Bolonha

n Mulino 1989) Esclarecendo que o nome idola era para Bacon sinocircnimo de

superstitions como tambeacutem de notionesfalsae ou volantes phantasiae inseri em meu escrito inclusive um elenco de algumas ideacuteias fUosoacuteficas de Bacon que me permito

reproduzir aqui

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f O universo natildeo eacute uma realidade ordenada e estruturada hierarquicamente e se rebelam e condicionam nosso intelecto Acabamos entatildeo por discutir natildeo -shy Natildeo existe nenhuma necessaacuteria correspondecircncia entre os elementos que o acerca das coisas mas acerca das palavras Tentamos entatildeo construir uma

l constituem nem entre microcosmo e macrocosmo Natildeo apenas o homem natildeo linguagem rigorosa feita de definiccedilotildees Acabamos por perceber que aquela

reflete em sua mente a estrutura do mundo como tambeacutem entre a ordem do linguagem fala apenas de palavra e que as coisas fugiram-nos irremediavelmente

cosmo e a da sociedade natildeo existe nenhuma correspondecircncia que possa ser das matildeos Por outro lado estamos condenados a fazer uso da linguagem e dela

encontrada As fontes do conhecimento satildeo vaacuterias a feacute a tradiccedilatildeo o sentido o natildeo podemos prescindir

i intelecto DifIcil eacute estabelecer uma hierarquia entre elas A feacute s6 vale para as Entretanto tambeacutem a necessidade de pontos de apoios confiaacuteveis e

indubitaacuteveis faz parte da natureza do homem Parece que os homens sentemI coisas que lhe pertencem O sentido nos engana muitas vezes e o intelecto muito I t mais vezes S6 temos certeza de uma coisa que natildeo podemos nos fiar na tradiccedilatildeo a necessidade de princiacutepios estaacuteveis procuram uma espeacutecie de eixo em

em geral e na filosofia em particular uma vez que nelas foram construiacutedos volta do qual fazer rotar a variedade dos argumentos e das meditaccedilotildees Se

inuacutemeros mundos de palco semelhantes aos teatros dos poetas onde as histoacuterias o intelecto sofre abalos e flutuaccedilotildees os homens tecircm a impressatildeo que o ceacuteu desaba

contadas tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada em cima deles e procuram logo um chatildeo soacutelido uma espeacutecie de Atlas dos

um Os enganos que se encontram em nossas fontes de conhecimento natildeo satildeo pensamentos semelhante ao que na lenda suportava o ceacuteu sobre seus ombros Na

como defeitos ou culpas aos quais se pode remediar Dependem do fato de que realidade os homens tecircm mais medo da duacutevida do que do erro e se iludem de

nossa mente mistura continuamente sua natureza com a natureza das coisas e poderem estabelecer alguns princiacutepios dos quais possa ser derivado todo o saber

do fato de que as imagens falsas e as falaacutecias fazem parte da estrutura da mente e em torno dos quais eles possam fazer rotar todas as suas disputas

satildeo inatas nela e estatildeo radicadas na natureza humana Os erros satildeo inseparaacuteveis Mas o problema maior eacute o da novidade e da dificuldade ou da incapacidade

de nossa natureza e condiccedilatildeo de vida Posso descrevecirc-Ios tentar exorcizaacute-los de pensar o novo Porque a mente humana estaacute mal organizada primeiro desconfia

tomando consciecircncia deles De muitos deles nunca poderei em caso algum ficar demasiado de si proacutepria e em seguida se despreza No comeccedilo parece

completamente livre inacreditaacutevel que algo possa ser descoberto Depois tatildeo logo esse algo eacute

A imagem de que eacute possiacutevel servir-se para pensar o universo eacute a do labirinto descqberto acha-se inacreditaacutevel que possa ter sido ignorado Haacute um duplo

ou caso se prefira a da selva Com efeito natildeo haacute estradas visiacuteveis mas somente preconceito que atua sempre ameaccedilando o novo a crenccedila cristalizada naquilo

caminhos ambiacuteguos Natildeo haacute siacutemiles seguros apenas semelhanccedilas enganadoras que jaacute se encontra estabelecido e a tendecircncia em inserir o novo (privando~ de

de signos e de coisas Natildeo haacute percursos em linha reta apenas espirais e noacutes seu caraacuteter de novidade) dentro de um esquema jaacute prefigurado Se antes da

torcidos e complicados O acaso os efeitos da credulidade as primeiras noccedilotildees introduccedilatildeo da seda tivesse sido imaginada a existecircncia de um fio diferente do

absorvidas na infacircncia constituem aquele patrimocircnio ao qual damos o nome de algodatildeo e da latilde e mais suave brilhante e resistente quem teria sido capaz de

razatildeo Sequer o que realmente nos diferencia dos animais nos ajuda muito Porque pensar numa taturana ou num verme

a linguagem natildeo eacute absolutamente conforme se acreditou durante muito tempo Estando assim as coisas natildeo tem sentido um quadro completo e

( uma entidade controlaacutevel As palavras a partir do momento em que satildeo usadas exaustivo do mundo Onde quer que ele seja construiacutedo esse quadro suscita um

retorcem sua forccedila contra o intelecto Parece-nos poder traccedilar mediante as consenso imediato uma vez que produz sentimentos de seguranccedila Poreacutem eacute

palavras linhas de demarcaccedilatildeo bem visiacuteveis entre as coisas Depois poreacutem toda melhor estimulara inteligecircncia do que usurpar a boa feacute Eacute melhor renunciar a

vez que tentamos deslocar aquelas linhas as palavras satildeo um obstaacuteculo para noacutes compor tratados e proceder ao contraacuterio por afirmaccedilotildees desligadas e provisoacuterias

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como eacute igualmente melhor assegurar menos e mostrar os vazios do saber e VIII solicitar a pesquisa Nenhuma filosofia universal e completa eacute proponiacutevel e as teses filosoacuteficas que foram expostas ateacute agora natildeo satildeo as expressotildees da verdade mas sim satildeo comparaacuteveis aos sons pouco agradaacuteveis emitidos pelos muacutesicos quando afinam seus instrumentos O concerto ainda estaacute para chegar e pode-se alimentar apenas a esperanccedila de que seja melhor do que os sons atuais Por isso natildeo haacute nenhum meacutetodo que seja universal e perfeito Por isso natildeo existe nenhuma

arte da descoberta uma vez que ela cresce com o proacuteprio crescimento das

-descobertas (Scrittifilosqfiaacute org Paolo Rossi Turim UTEU 1975 pp 561 573536-37560526608570263274427 593-94 423621 275-76346 637 A uacutenica referecircncia obtida de um escrito fora da ediccedilatildeo indicada encontrashyse em The Worlcs oJ Francis Bacon org R L Ellis 1 Spedding D D Heath Londres 1887-92 I pp 640-41)

Concluindo essas satildeo algumas das respostas dadas por Francis Bacon entre 1605 e 1620 agrave pergunta o que eacute o saber Se essas respostas forem de algum modo significativas parece-me dificil aplicar a elas os roacutetulos utilizados pelos filoacutesofos da poacutes-modernidade explicaccedilotildees totalizadoras do mundo ou entatildeo capacidade projetual de uma subjetividade que se desdobra rumo a um horizonte de fins dos quais pretende possuir a chave ou ainda extremada aspiraccedilatildeo a uma ordem absoluta e definitiva de seguranccedila Parece-me igualmente diflcil utilizar metaacuteforas como a seguinte o olho humano natildeo se abre sobre as trevas originaacuterias do mundo mas sobre a cena de um cosmo jaacute aclarado pela luz intelectual Essa metaacutefora exprimia para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica de 18 de julho de1985) a proacutepria essecircncia daquela imaginaacuteria modernidade em torno da qual se esgotavam os poacutes-modernistas Estes inclusive pareciam totalmente ignaros quanto agrave nobre sentenccedila de um autor que consideravam um de seus antepassados Nunca existiu eacutepoca alguma que natildeo tenha se achado moderna no sentido excecircntrico do termo e natildeo tenha acreditado que se encontrava imediatamente diante de um abismo A consciecircncia desesperada e luacutecida de encontrar-se no meio de uma crise decisiva eacute algo de crocircnico na humanidade (W Benjamin Paris CaPital do Seacuteculo XIX trad it Parigi capitauacute dei XIX secolo Einaud~ 1986 p 701)

bull

As paacuteginas dedicadas no final da deacutecada de 1950 a Cornelio Agrippa e a Francis Bacon agrave relaccedilatildeo entre magia e ciecircncia levaram-me muito longe dos programas e dos projetos iniciais conforme costuma acontecer

Trabalhei longamente nas deacutecadas que se seguiram com as artes da

memoacuteria com a assim chamada descoberta do tempo ocorrida entre o

Quinhentos e o Setecentos com a ftlosofia de Giambattista Vico mas o tema da

magia ou melhor o tema da relaccedilatildeo entre magia e modernidade que surgira em

minha vida desde a publicaccedilatildeo em 1955 do livro de E Garin Testi umanistici sullermetisnw natildeo mais me abandonou Agravequele tema satildeo dedicadas natildeo apenas

as paacuteginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola Francesco Patrizi

Giordano Bruno e sobre argumentos afins mas (aleacutem das aparecircncias) muitas paacuteginas que escrevi nas deacutecadas de 1970 e 1980 e que reuni no jaacute citado Paragone degli ingegni moderni e postmoderni O outro meu livro La saacuteenza e lofilosqfia dei moderni (A Ciecircncia e a Filosofia dos Modernos) publicado por Boringhieri em 1989

abria-se com a premissa intitulada O Processo a Galileu no seacuteculo XX escrita vinte anos antes e que jaacute estava presente numa primeira ediccedilatildeo publicada em

Naacutepoles por Morano em 1971 Daquele processo agrave ciecircncia das imputaccedilotildees que ele continha e mesmo das

defesas que devia comportar - salvo reduzidas mesmo que relevantes exceccedilotildees

- os filoacutesofos da ciecircncia se ocuparam pouco e assim continuam fazendo No que

me diz respeito uma vez que meu assunto de estudo eacute a histoacuteria das ideacuteias entre os seacuteculos XVI e XVIII disso ocupei-me ateacute em demasia Muitas vezes pergunteishy

me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que por sinal

deu-me algumas satisfaccedilotildees Das paacuteginas que escrevi sobre o tema a que me

referi tive poucas ao contraacuterio e algumas vezes verdadeiros insultos Um ceacutelebre filoacutesofo italiano comparou-me certa vez a um cachorrinho que mordia o salto

de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele natildeo apenas pensava na

distacircncia abismal homemanimal que nos separava mas tambeacutem que ele tinha

certeza de estar caminhando sozinho rumo agrave Verdade) Um outro muito menos famoso que o primeiro qualificou-me - publicamente e mais gentilmente mas

bull

sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

I

I bull l bulll

Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

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~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

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Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

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pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

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Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

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bull

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bullbull

uma histoacuteria da ciecircncia imaginaacuteria em que Bacon se torna o filoacutesofo da idade industrial na qual tambeacutem Gilbert e Kepler e Newton se tornam cientistas

positivos O monoacutelogo colonialista e missionaacuterio da velha Europa - escreveu

De Martino - vai-se tornando dia apoacutes dia cada vez mais solitaacuterio e delirante A histoacuteria do conceito de magia no Ocidente serve para nos dar essa consciecircncia e

serve ao mesmo tempo como medida protetora contra aquele mal diferente

que eacute a infidelidade radical em relaccedilatildeo agravepolecircmica antimaacutegica de nossa civilizaccedilatildeo

com a conseguinte abdicaccedilatildeo diante dos prestiacutegios da magia (E De Martino Magia e civiltagrave Milatildeo Garzanti 1962 p 9) Talvez natildeo seja um caso o fato de

~ que do interesse de De Martino para com a histoacuteria das ideacuteias para com a

passagem da magia agrave ciecircncia entre Quinhentos e Seiscentos - que para ele natildeo

era um episoacutedio mas o episoacutedio decisivo da histoacuteria do ocidente (e indiretamente

da histoacuteria do mundo) - natildeo reste nenhum traccedilo nos muitos doutos e

informadiacutessimos ensaios e livros que foram publicados sobre ele No ano que seguiu agrave republicaccedilatildeo de Il mondo magico entre 20 e 23 de

abril de 1974 tiveram lugar em Capr~ organizadas por Maria Righini Bonelli e William Shea as Jornadas Internacionais de Histoacuteria da Ciecircncia As atas do congresso saiacuteram em 1975 nas Science History Publications de Nova York com

o tiacutetulo de Reason Experiment andMysticism in lhe Scientifiacutec Revolution Foi ali que eu li uma comunicaccedilatildeo entitulada Hermeticism Rationality and the Scientific

Revolution que foi comentada por A Rupert Hall O conteuacutedo da comunicaccedilatildeo

- bem distante da vaga do magismo indiscriminado da eacutepoca - eacute resumido no

paraacutegrafo 5 do Prefaacutecio agrave segunda ediccedilatildeo (escrito naquele mesmo ano) que

segue aqui Dez anos mais tarde Charles Schmitt depois de lembrar a insistecircncia

com que eu tratava os temas maacutegicos e mitoloacutegicos tatildeo distantes da imagem da

baconian science que circulava na deacutecada de 1950 resumia com clareza o que tinha acontecido Deve ser lembrado que o Bacon de Rossi surgiu em sua

primeira ediccedilatildeo antes da atual corrida para colocar magia e ocultismo no centro

do pensamento da Renascenccedila Na verdade aquele livro foi responsaacutevel e natildeo

pouco por aquela reavaliaccedilatildeo dos fatores maacutegicos e ocultos presentes na primeira

ciecircncia moderna na sua uacuteltima geraccedilatildeo O que eacute importante na abordagem de

Rossi eacute que ele nunca deixou as questotildees centrais afastarem-se do ponto focal

bull

Enquanto outros empurravam a nova interpretaccedilatildeo longe demais ele natildeo hesitou em traccedilar a linha que divide as hipoacuteteses cientiacuteficas das fantasias Apesar de o livro fazer parte da base a partir da qual se desenvolveu a ecircnfase hoje corrente sobre a assim chamada Tradiccedilatildeo Hermeacutetica quando as coisas comeccedilaram a sair do controle ele foi um dos primeiros a dissociar-se de algumas das direccedilotildees mais bizarras rumo agraves quais estavam se movendo os entusiastas (Isis junho

1986 e tambeacutem Anais do Instituto e Museu de Histoacuteria da Ciecircncia de Florenccedila X

1985 p 138)

v

Do clima anticientiacutefico de caraacuteter hermetizante ocultista e decididamente

filo-maacutegico que se difundiu na Itaacutelia (e natildeo apenas na Itaacutelia) desde o final da deacutecada de 1960 eu jaacute tinha me distanciado desde o iniacutecio A comeccedilar por um

artigo publicado em Rinascita em 24 de maio de 1968 no qual estaacute escrito Entrou

em crise a tese da superioridade dos modernos Natildeo apenas no sentido de uma

recusa do progresso como caminho linear e garantido mas no proacuteprio questionamento do conceito mesmo de civilizaccedilatildeo moderna O mundo da teacutecnica

da ciecircncia da induacutestria natildeo eacute analisado em suas componentes histoacutericas mas

concebido como pura e total negatividade A partir de entatildeo e nas deacutecadas que

seguiram foram tiradas todas as consequumlecircncias impliacutecitas nessa teoloacutegica

asserccedilatildeo Acompanhando e reforccedilando uma voga irrefreaacutevel de magismo

abriram caminho e se tornaram ideacuteias correntes fantasias sobre uma nova e

assombrosa ciecircncia proletaacuteria que teria em breve substituiacutedo a corrupta ciecircncia

burguesa e sobre um pensamento maacutegico que daria lugar a uma alternativa para

o ressecado racionalismo Intelectuais de esquerda apresentaram o pouso de homens na lua como sendo a mais perfeita especulaccedilatildeo que a sociedade capitalista

() conseguiu organizar em prejuiacutezo dos oprimidos e dos espoliados como uma

operaccedilatildeo de real conteuacutedo reacionaacuterio (M Cini Caiacutemos numa ratoeiraacute no jornal L Unitagrave 26 de julho de 1969) No comeccedilo daquele ano sustentava-se que

o uacutenico discurso correto era o de uma recusa da ciecircncia enquanto instrumento

de alienaccedilatildeo e opressatildeo do homem (F Piperno A greve dos ceacuterebros em

~ c

~

bullbull

L Espresso Colore 2 de fevereiro de 1969) A ciecircncia escrevia Umberto Curi

constituiu-se originariamente consolidou-se e desenvolveu-se ateacute hoje ( ) como forccedila produtiva do capital contra o trabalho (em AAvv Scienza epolere Milatildeo

Feltrinelli 1975 p 147) Para a superficialidade e a simploriedade natildeo haacute limites estabelecidos como na sociedade medieval quem decidia se uma teoria cientiacutefica

era verdadeira ou falsa era o papa - escrevia G Viale - na industrial quem decide a validade ou natildeo das teorias cientiacuteficas eacute o Pentaacutegono (Universidade a

hip6tese revolucionaacuteria Paacutedua 1968 p 118) O apocalipse associava-se como de haacutebito ao otimismo mais desenfreado e sem razatildeo

middot~ A partir do arrombamento das instituiccedilotildees - afirmavam Elisabetta Donini

e Tito Tonietti em Quaderni Piacentini (1977 63-64 p 132) - vai nascer uma nova revoluccedilatildeo copernicanam A ciecircncia nascida das cinzas da metafIsica de bull

lAristoacuteteles para levar a cabo e fazer funcionar o domiacutenio que a burguesia deteacutem ~

como classe soacute pode morrer com ela De sua morte natildeo surgiraacute uma nova

ciecircncia o novo saber seraacute tatildeo diferente do anterior que mereceraacute um novo

termo Teses desse gecircnero tornaram-se na Itaacutelia de entatildeo verdadeiros lugaresshy

comuns transformaram-se em ideologias atraindo um grande nuacutemero de jovens sindicalistas poliacuteticos funcionaacuterios donas~e-casa e principalmente professores

Estes termos tecircm eles todos uma caracteriacutestica comum eles substituem agrave anaacutelise a peremptoriedade dos juiacutezos e aos projetos a alusatildeo ao Radicalmente Novo

Como do Novo e do Outro natildeo se pode falar (tal como natildeo se pode falar do Deus ~ dos miacutesticos) procede-se necessariamente por alusotildees e negaccedilotildees De qualquer

maneira os projetos satildeo sempre algo de negativo com respeito aos processos em ato e aos movimentos Quando Giulio Maccacaro foi interrogado (em 1974)

quanto ao significado do projeto de uma ciecircncia nova ele respondeu com as seguintes palavras considero impossiacutevel a resposta e improacutepria a pergunta

Gostaria de explicar-me por meio de uma analogia o preso que nasceu enquanto

tal isto eacute o mais verdadeiro dos presos natildeo pode projetar a liberdade e realizar

a fuga E acrescentava temos de atuar para que seja possiacutevel o nascimento de uma ciecircncia nova a ciecircncia de um outro poder mas natildeo podemos predeterminaacuteshy

la sem impedi-la (em Scienza e Potere cito pp 54-55) Os projetos traem os processos as anaacutelises distorcem a vida a rebeliatildeo acaba por parecer mais

bullf~~~-~--F

importante do que o mundo ao qual ela poderia dar origem A revolta enquanto

tal tonia-se um fim a ser perseguido Isso jaacute tinha sido teorizado na Itaacutelia haacute

mais setenta anos por Giuliano o Sofista numa paacutegina ceacutelebre da revista

Leonardo cada programa cada projeto de itineraacuterio eacute uma limitaccedilatildeo Junto agrave assim chamada 1iteratura de contestaccedilatildeo a nova magia encontrou

grandiacutessima difusatildeo No livro The Making 0 Counter-Culture Rejlections on lhe Technocratic Society and Its routliful Opposition Theodor Roszak um dos mais

conhecidos expoentes da nova esquerda americana de entatildeo valeu-se do ensinamento de Thomas Kuhn para apresentar a consciecircncia objetiva como

uma mitologia Baseado nisso ele contrapocircs as extraordinaacuterias possibilidadeacutes de uma nova visatildeo maacutegica do mundo agrave racionalidade restrita da ciecircncia que embota nosso sentido do maravilhoso Acabou apresentando o xamanismo como

o modelo de uma cultura nova e mais livre O de Roszak natildeo foi certamente um caso isolado Tambeacutem na Itaacutelia as

posiccedilotildees que reduziam a ciecircncia agrave ideologia burguesa e pensavam que o saber cientiacutefico-racional era responsaacutevel pelo esvaziamento de sentido e pelo

desencantamento do mundo aliaram-se a posiccedilotildees regressivas e miacutesticoshyreacionaacuterias Um verdadeiro obscurantismo anticientiacutefico inspirado em Spengler

e em Heidegger vestiu os trajes do marxismo casando com a heranccedila de Nietzsche do vitalismo e do vanguardismo do comeccedilo do Novecentos

A descida para o plano arcaico da experiecircncia maacutegica a exaltaccedilatildeo do primitivismo e do imediatismo a nostalgia do passado como paraiacuteso de uma

humanidade natildeo reprimida a nostalgia pelo mundo camponecircs deixaram de ser considerados temas pertinentes exclusivamente ao pensamento reacionaacuterio shy

conforme havia sido durante longo tempo - mas vieram a ser propostos e sustentados tambeacutem no interior da esquerda como vaacutelidos instrumentos de libertaccedilatildeo dos pecados e das alienaccedilotildees presentes na sociedade moderna

I

VI

O motivo de eu natildeo concordar com as conclusotildees de F A Yates P M

Rattansi e de outros estudiosos natildeo dependia certamente do fato de que ambos sustentavam a necessidade para um historiador da ciecircncia moderna de ocuparshyse de magia e de hermetismo mas do fato de que eu via neles a tendecircncia para

sublinhar exclusivamente os elementos de continuidade entre a tradiccedilatildeo e a

imagem moderna de ciecircncia No centro da reflexatildeo de Yates estaya a pergunta por que justamente naquele momento Quais os motivos daquela emergecircncia -Yates havia apresentado o seu Giordano Bruno como sendo um estudo histoacuterico

dos motivos do nascimento da nova ciecircncia Nas raiacutezes daquela emergecircncia estava um novo tipo de interesse para com o mundo e as operaccedilotildees sobre a

natureza A magia renascimental cltnstitui justamente a realizaccedilatildeo de uma reorientaccedilatildeo psicoloacutegica da vontade rumo agrave accedilatildeo Atraveacutes daquela fundamental

mudanccedila psicoloacutegica aparece para a histoacuteria na Europa do Quinhentos a atribuiccedilatildeo de um valor agraves operaccedilotildees Tal atribuiccedilatildeo encontra-se na raiz da ciecircncia

moderna e constitui o seu porquecirc A visatildeo hermeacutetica de um universo regido pelas operaccedilotildees do mago eacute apresentada segundo esse ponto de vista na conclusatildeo

de seu trabalho como sendo a primeira fase da revoluccedilatildeo cientiacutefica que eacute caracterizada jaacute na segunda fase pela visatildeo de um universo mecanicista regido pelas leis da mecacircnica

A tese natildeo eacute completamente nova Spengler jaacute havia insistido em paacuteginas que seriam retomadas e discutidas por Max Scheler na importacircncia do faustismo

para o nascimento da ciecircncia A vontade teacutecnica do poder o saber-de-domiacutenio (Herrschaftwissen) haviam sido interpretados como um primum capaz de explicar

o emergir da ciecircncia no interior da histoacuteria do ocidente Numa perspectiva

diferente tambeacutem Jung e Eliade haviam chegado a respeito desse ponto - natildeo secundaacuterio - a conclusotildees parecidas mesmo se expressas numa linguagem muito

mais imaginativa A ideacuteia-guia do mundo moderno tinha parecido a Jung uma

versatildeo secular do sonho alquUacuteTIico a alquimia eacute o alvorecer da idade cientiacutefica quando o daimon do espiacuterito cientiacutefico obrigou as forccedilas da natureza a servir o

homem em medida antes desconhecida Para Mircea Eliade os alquimistas satildeo

I I J bull~

9

os antecipadores da essecircncia da ideologia que caracteriza o mundo moderno e que chegou agrave plena maturaccedilatildeo com o marxismo e o positivismo no decorrer do seacuteculo XIX a feacute na transmutaccedilatildeo da natureza e nas ilimitadas possibilidades do

homem Eacute dificil natildeo concordar com Frances Yates quando ela afirma que a histoacuteria

da emergecircncia da ciecircncia moderna resulta incompleta sem a histoacuteria daquilo de onde ela emerge e eacute certamente verdade que uma histoacuteria capaz de iluminar as

interaccedilotildees entre magia e ciecircncia eacute sem duacutevida mais frutuosa do que uma (que hoje ningueacutem escreve) que se contenta em celebrar os triunfos da ciecircncia do

seacuteculo XVIL Os trabalhos de Yates deram uma contribuiccedilatildeo decisiva ao aclaramento dessas interaccedilotildees Yates entretanto limita-se a sustentar essas teses

aceitaacuteveis a utilizar algumas observaccedilotildees feitas (entre outros) por Jung e Eliade

ou entatildeo ter-se-ia apropriado da tese deles da ciecircncia enquanto incapacidade de experimentar o sagrado Seria o caso de POcirc--Io em duacutevida quando se lecircem no

livro dela afirmaccedilotildees desse tipo Por acaso a ciecircncia natildeo eacute tudo somado nada

mais do que uma gnose uma visatildeo da natureza do Todo que procede atraveacutes de revelaccedilotildees sucessivas (F Yates Giordano Brurro e a tradiccedilatildeo hermeacutetica trad it

Bari Laterza 1969 pp 447-8 452)(d) Tambeacutem no livro de 1972 sobre o tipo de

pensamento dos RosacruzesYates afirmava que eu havia dado ecircnfase ao matiz de milenarismo constante na InstauratW magna scientiarum e tinha demonstrado

que Bacon sai justamente da tradiccedilatildeo hermeacutetica da magia e da Cabala da

Renascenccedila por ele alcanccediladas atraveacutes dos magos naturais (O Iluminismo dos Rosacruzes um Estilo de Pensamento na Europa do Seiscentos trad it L llluminismo dei Rosacroce urro stile dipensiero nellEuropa Del Seicento Turim Einaudi 1976

pp60 142-143)

Difiacutecil eacute subtrair-se agrave impressatildeo de que a tentativa de Yates era a de

reconduzir a segunda fase (mecanicista) da assim chamada revoluccedilatildeo cientiacutefica agrave primeira fase (maacutegico-hermeacutetica) e de que o estudo das interaccedilotildees entre essas

duas fases tivesse de servir para demonstrar que eacute inuacutetil procurar distinguir a ciecircncia da magia sendo que a primeira fase jamais teraacute fim As indagaccedilotildees sobre o hermetismo e sobre a magia satildeo importantes pois nos ajudam a compreender

melhor as origens da ciecircncia moderna (a qual no comeccedilo de seu longo percurso

bull I

i

deveu em parte sua vida tambeacutem a uma disreputable structure of ideas) ou

entatildeo o satildeo porque nos levam agrave conclusatildeo que a ciecircncia moderna nada mais eacute do

que a continuaccedilatildeo em formas novas de uma abordagem de tipo miacutestico da

natureza Satildeo indagaccedilotildees importantes porque nos mostram como tem sido dificil tortuoso e complicado o caminho da razatildeo cientiacutefica ou entatildeo porque contribuem

para mostrar as bases irracionais da construccedilatildeo da primeira ciecircncia moderna e

de qualquer outra forma de ciecircncia possiacutevel Com a revoluccedilatildeo cientiacutefica nasceu na histoacuteria um tipo de saber intersubjetivo e capaz de crescer um saber puacuteblico

que eacute alternativo ao saber secreto da magia e do ocultismo O que eacute contestado eacute o conhecimento insuficiente da gecircnese da ciecircncia moderna ou a proacutepria estrutura da ciecircncia moderna

Tenho a impressatildeo de que algo parecido com o que se passou com muitos leitores de Freud tenha ocorrido com muitos estudiosos da tradiccedilatildeo hermeacutetica apoacutes middotter ficado sabendo da existecircncia do inconsciente do condicionamento exercido pelas pulsotildees e pelos instintos sobre a vida da consciecircncia e da razatildeo

depois de ter reconhecido a existecircncia dos elementos de agressividade que atuam por traacutes da fachada respeitaacutevel da civilidade concluiacuteram - diferentemente do

que fazia Freud - que natildeo existem mais razatildeo nem ciecircncia nem civilidade mas haacute apenas instintos agressivos e desejos pulsionais

VII

Nos anos em que haviam praticamente desaparecido os modernos e nos departamentos de filosouumla soacute se encontravam poacutes-modernos rampantes

costumava-se defender duas teses de caraacuteter epocal A primeira tese de

- caraacuteter mais geral contrapunha moderno e poacutes-moderno O primeiro era ~

qualificado como a idade de uma razatildeo forte que constroacutei explicaccedilotildees totalizadoras

do mundo e que eacute dominada pela ideacuteia de um desenvolvimento histoacuterico do

pensamento como iluminaccedilatildeo incessante ou progressiva ou seja como a idade da ordem nomoloacutegica normativa da razatildeo e de uma sua estrutura monoliacutetica e

-~altlotildeiatildeAdespeito de Niccoloacute Machiavelli e de Giambattista Vico o moderno era definido como a idade do tempo linear caracterizada pela superaccedilatildeo ou

bull- -------~---

seja pela novidade que envelhece e eacute rapidamente substituiacuteda por uma novidade mais nova A segunda tese de caraacuteter mais limitado e especial afirmava que

siacutemiles analogias metaacuteforas semelhanccedilas que satildeo formas tiacutepicas ou

caracterizadoras da cultura da eacutepoca barroca satildeo energicamente recusadas pela nova ciecircncia da natureza

Para mostrar a inconsistecircncia dessa segunda tese em 1984 publiquei em Intersecccedilotildees um ensaio com o nome de Os siacutemiles as analogias as articulaccedilotildees da

natureza (Le similitudin~ le analogie le articolazioni della natura mais tarde incluiacutedo no volume [ ragni e k flnniche un ap0UacuteJgia della storia della scienza (As Aranhas e As Formigas uma ApoUacuteJgia da HisMna da Ciecircncia) Bolonha n Mulino

198~) no qu~l eu mostrava que parasustentar aq~ela tese Michel Foucault f haVia se apOIado numa passagem latma de FranCiS Bacon fazendo uso natildeo t do texto original mas de uma traduccedilatildeo dele feita no Oitocentos Acontecia

que termos - chave (ressemblancee similitude) sobre os quais se fundava todo o seu genial piroteacutecnico e desenvolto discurso compareciam de forma urn tanto misteriosa na traduccedilatildeo francesa mas natildeo existiam absolutamente no original latino

Uma das ideacuteias mais tolas professadas pelos poacutes-modernistas consistia em

apresentar a modernidade como uma eacutepoca de certezas como uma espeacutecie de idade da seguranccedila da qual haacute poucos anos apenas e por meacuterito de trecircs ou

quatro filoacutesofos parisienses alguns intelectuais extremamente aggiornatihaviam dolotilderosamenteern~rgido~Francis Bacon era freqUentemente citado como o tiacutepico

expoente ou campeatildeo do moderno pelos defensores da primeira das duas teses

que enunciei acima Polemizando com aquela imagem bastante cocircmoda escrevi

uma comunicaccedilatildeo para o encontro sobre Moderno e Poacutes-moderno organizado

em marccedilo de 1986 no Instituto Gramsci da Toscana Dei-lhe o tiacutetulo de [doia da Modernidade publicada mais tarde com outros ensaios em Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (CorifTonto dos Engenhos Modernos ePoacutes-modernos - Bolonha

n Mulino 1989) Esclarecendo que o nome idola era para Bacon sinocircnimo de

superstitions como tambeacutem de notionesfalsae ou volantes phantasiae inseri em meu escrito inclusive um elenco de algumas ideacuteias fUosoacuteficas de Bacon que me permito

reproduzir aqui

bull

f O universo natildeo eacute uma realidade ordenada e estruturada hierarquicamente e se rebelam e condicionam nosso intelecto Acabamos entatildeo por discutir natildeo -shy Natildeo existe nenhuma necessaacuteria correspondecircncia entre os elementos que o acerca das coisas mas acerca das palavras Tentamos entatildeo construir uma

l constituem nem entre microcosmo e macrocosmo Natildeo apenas o homem natildeo linguagem rigorosa feita de definiccedilotildees Acabamos por perceber que aquela

reflete em sua mente a estrutura do mundo como tambeacutem entre a ordem do linguagem fala apenas de palavra e que as coisas fugiram-nos irremediavelmente

cosmo e a da sociedade natildeo existe nenhuma correspondecircncia que possa ser das matildeos Por outro lado estamos condenados a fazer uso da linguagem e dela

encontrada As fontes do conhecimento satildeo vaacuterias a feacute a tradiccedilatildeo o sentido o natildeo podemos prescindir

i intelecto DifIcil eacute estabelecer uma hierarquia entre elas A feacute s6 vale para as Entretanto tambeacutem a necessidade de pontos de apoios confiaacuteveis e

indubitaacuteveis faz parte da natureza do homem Parece que os homens sentemI coisas que lhe pertencem O sentido nos engana muitas vezes e o intelecto muito I t mais vezes S6 temos certeza de uma coisa que natildeo podemos nos fiar na tradiccedilatildeo a necessidade de princiacutepios estaacuteveis procuram uma espeacutecie de eixo em

em geral e na filosofia em particular uma vez que nelas foram construiacutedos volta do qual fazer rotar a variedade dos argumentos e das meditaccedilotildees Se

inuacutemeros mundos de palco semelhantes aos teatros dos poetas onde as histoacuterias o intelecto sofre abalos e flutuaccedilotildees os homens tecircm a impressatildeo que o ceacuteu desaba

contadas tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada em cima deles e procuram logo um chatildeo soacutelido uma espeacutecie de Atlas dos

um Os enganos que se encontram em nossas fontes de conhecimento natildeo satildeo pensamentos semelhante ao que na lenda suportava o ceacuteu sobre seus ombros Na

como defeitos ou culpas aos quais se pode remediar Dependem do fato de que realidade os homens tecircm mais medo da duacutevida do que do erro e se iludem de

nossa mente mistura continuamente sua natureza com a natureza das coisas e poderem estabelecer alguns princiacutepios dos quais possa ser derivado todo o saber

do fato de que as imagens falsas e as falaacutecias fazem parte da estrutura da mente e em torno dos quais eles possam fazer rotar todas as suas disputas

satildeo inatas nela e estatildeo radicadas na natureza humana Os erros satildeo inseparaacuteveis Mas o problema maior eacute o da novidade e da dificuldade ou da incapacidade

de nossa natureza e condiccedilatildeo de vida Posso descrevecirc-Ios tentar exorcizaacute-los de pensar o novo Porque a mente humana estaacute mal organizada primeiro desconfia

tomando consciecircncia deles De muitos deles nunca poderei em caso algum ficar demasiado de si proacutepria e em seguida se despreza No comeccedilo parece

completamente livre inacreditaacutevel que algo possa ser descoberto Depois tatildeo logo esse algo eacute

A imagem de que eacute possiacutevel servir-se para pensar o universo eacute a do labirinto descqberto acha-se inacreditaacutevel que possa ter sido ignorado Haacute um duplo

ou caso se prefira a da selva Com efeito natildeo haacute estradas visiacuteveis mas somente preconceito que atua sempre ameaccedilando o novo a crenccedila cristalizada naquilo

caminhos ambiacuteguos Natildeo haacute siacutemiles seguros apenas semelhanccedilas enganadoras que jaacute se encontra estabelecido e a tendecircncia em inserir o novo (privando~ de

de signos e de coisas Natildeo haacute percursos em linha reta apenas espirais e noacutes seu caraacuteter de novidade) dentro de um esquema jaacute prefigurado Se antes da

torcidos e complicados O acaso os efeitos da credulidade as primeiras noccedilotildees introduccedilatildeo da seda tivesse sido imaginada a existecircncia de um fio diferente do

absorvidas na infacircncia constituem aquele patrimocircnio ao qual damos o nome de algodatildeo e da latilde e mais suave brilhante e resistente quem teria sido capaz de

razatildeo Sequer o que realmente nos diferencia dos animais nos ajuda muito Porque pensar numa taturana ou num verme

a linguagem natildeo eacute absolutamente conforme se acreditou durante muito tempo Estando assim as coisas natildeo tem sentido um quadro completo e

( uma entidade controlaacutevel As palavras a partir do momento em que satildeo usadas exaustivo do mundo Onde quer que ele seja construiacutedo esse quadro suscita um

retorcem sua forccedila contra o intelecto Parece-nos poder traccedilar mediante as consenso imediato uma vez que produz sentimentos de seguranccedila Poreacutem eacute

palavras linhas de demarcaccedilatildeo bem visiacuteveis entre as coisas Depois poreacutem toda melhor estimulara inteligecircncia do que usurpar a boa feacute Eacute melhor renunciar a

vez que tentamos deslocar aquelas linhas as palavras satildeo um obstaacuteculo para noacutes compor tratados e proceder ao contraacuterio por afirmaccedilotildees desligadas e provisoacuterias

bullI L

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como eacute igualmente melhor assegurar menos e mostrar os vazios do saber e VIII solicitar a pesquisa Nenhuma filosofia universal e completa eacute proponiacutevel e as teses filosoacuteficas que foram expostas ateacute agora natildeo satildeo as expressotildees da verdade mas sim satildeo comparaacuteveis aos sons pouco agradaacuteveis emitidos pelos muacutesicos quando afinam seus instrumentos O concerto ainda estaacute para chegar e pode-se alimentar apenas a esperanccedila de que seja melhor do que os sons atuais Por isso natildeo haacute nenhum meacutetodo que seja universal e perfeito Por isso natildeo existe nenhuma

arte da descoberta uma vez que ela cresce com o proacuteprio crescimento das

-descobertas (Scrittifilosqfiaacute org Paolo Rossi Turim UTEU 1975 pp 561 573536-37560526608570263274427 593-94 423621 275-76346 637 A uacutenica referecircncia obtida de um escrito fora da ediccedilatildeo indicada encontrashyse em The Worlcs oJ Francis Bacon org R L Ellis 1 Spedding D D Heath Londres 1887-92 I pp 640-41)

Concluindo essas satildeo algumas das respostas dadas por Francis Bacon entre 1605 e 1620 agrave pergunta o que eacute o saber Se essas respostas forem de algum modo significativas parece-me dificil aplicar a elas os roacutetulos utilizados pelos filoacutesofos da poacutes-modernidade explicaccedilotildees totalizadoras do mundo ou entatildeo capacidade projetual de uma subjetividade que se desdobra rumo a um horizonte de fins dos quais pretende possuir a chave ou ainda extremada aspiraccedilatildeo a uma ordem absoluta e definitiva de seguranccedila Parece-me igualmente diflcil utilizar metaacuteforas como a seguinte o olho humano natildeo se abre sobre as trevas originaacuterias do mundo mas sobre a cena de um cosmo jaacute aclarado pela luz intelectual Essa metaacutefora exprimia para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica de 18 de julho de1985) a proacutepria essecircncia daquela imaginaacuteria modernidade em torno da qual se esgotavam os poacutes-modernistas Estes inclusive pareciam totalmente ignaros quanto agrave nobre sentenccedila de um autor que consideravam um de seus antepassados Nunca existiu eacutepoca alguma que natildeo tenha se achado moderna no sentido excecircntrico do termo e natildeo tenha acreditado que se encontrava imediatamente diante de um abismo A consciecircncia desesperada e luacutecida de encontrar-se no meio de uma crise decisiva eacute algo de crocircnico na humanidade (W Benjamin Paris CaPital do Seacuteculo XIX trad it Parigi capitauacute dei XIX secolo Einaud~ 1986 p 701)

bull

As paacuteginas dedicadas no final da deacutecada de 1950 a Cornelio Agrippa e a Francis Bacon agrave relaccedilatildeo entre magia e ciecircncia levaram-me muito longe dos programas e dos projetos iniciais conforme costuma acontecer

Trabalhei longamente nas deacutecadas que se seguiram com as artes da

memoacuteria com a assim chamada descoberta do tempo ocorrida entre o

Quinhentos e o Setecentos com a ftlosofia de Giambattista Vico mas o tema da

magia ou melhor o tema da relaccedilatildeo entre magia e modernidade que surgira em

minha vida desde a publicaccedilatildeo em 1955 do livro de E Garin Testi umanistici sullermetisnw natildeo mais me abandonou Agravequele tema satildeo dedicadas natildeo apenas

as paacuteginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola Francesco Patrizi

Giordano Bruno e sobre argumentos afins mas (aleacutem das aparecircncias) muitas paacuteginas que escrevi nas deacutecadas de 1970 e 1980 e que reuni no jaacute citado Paragone degli ingegni moderni e postmoderni O outro meu livro La saacuteenza e lofilosqfia dei moderni (A Ciecircncia e a Filosofia dos Modernos) publicado por Boringhieri em 1989

abria-se com a premissa intitulada O Processo a Galileu no seacuteculo XX escrita vinte anos antes e que jaacute estava presente numa primeira ediccedilatildeo publicada em

Naacutepoles por Morano em 1971 Daquele processo agrave ciecircncia das imputaccedilotildees que ele continha e mesmo das

defesas que devia comportar - salvo reduzidas mesmo que relevantes exceccedilotildees

- os filoacutesofos da ciecircncia se ocuparam pouco e assim continuam fazendo No que

me diz respeito uma vez que meu assunto de estudo eacute a histoacuteria das ideacuteias entre os seacuteculos XVI e XVIII disso ocupei-me ateacute em demasia Muitas vezes pergunteishy

me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que por sinal

deu-me algumas satisfaccedilotildees Das paacuteginas que escrevi sobre o tema a que me

referi tive poucas ao contraacuterio e algumas vezes verdadeiros insultos Um ceacutelebre filoacutesofo italiano comparou-me certa vez a um cachorrinho que mordia o salto

de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele natildeo apenas pensava na

distacircncia abismal homemanimal que nos separava mas tambeacutem que ele tinha

certeza de estar caminhando sozinho rumo agrave Verdade) Um outro muito menos famoso que o primeiro qualificou-me - publicamente e mais gentilmente mas

bull

sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

I

I bull l bulll

Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

i bull

~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

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Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

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pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

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Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

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bull

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bullbull

L Espresso Colore 2 de fevereiro de 1969) A ciecircncia escrevia Umberto Curi

constituiu-se originariamente consolidou-se e desenvolveu-se ateacute hoje ( ) como forccedila produtiva do capital contra o trabalho (em AAvv Scienza epolere Milatildeo

Feltrinelli 1975 p 147) Para a superficialidade e a simploriedade natildeo haacute limites estabelecidos como na sociedade medieval quem decidia se uma teoria cientiacutefica

era verdadeira ou falsa era o papa - escrevia G Viale - na industrial quem decide a validade ou natildeo das teorias cientiacuteficas eacute o Pentaacutegono (Universidade a

hip6tese revolucionaacuteria Paacutedua 1968 p 118) O apocalipse associava-se como de haacutebito ao otimismo mais desenfreado e sem razatildeo

middot~ A partir do arrombamento das instituiccedilotildees - afirmavam Elisabetta Donini

e Tito Tonietti em Quaderni Piacentini (1977 63-64 p 132) - vai nascer uma nova revoluccedilatildeo copernicanam A ciecircncia nascida das cinzas da metafIsica de bull

lAristoacuteteles para levar a cabo e fazer funcionar o domiacutenio que a burguesia deteacutem ~

como classe soacute pode morrer com ela De sua morte natildeo surgiraacute uma nova

ciecircncia o novo saber seraacute tatildeo diferente do anterior que mereceraacute um novo

termo Teses desse gecircnero tornaram-se na Itaacutelia de entatildeo verdadeiros lugaresshy

comuns transformaram-se em ideologias atraindo um grande nuacutemero de jovens sindicalistas poliacuteticos funcionaacuterios donas~e-casa e principalmente professores

Estes termos tecircm eles todos uma caracteriacutestica comum eles substituem agrave anaacutelise a peremptoriedade dos juiacutezos e aos projetos a alusatildeo ao Radicalmente Novo

Como do Novo e do Outro natildeo se pode falar (tal como natildeo se pode falar do Deus ~ dos miacutesticos) procede-se necessariamente por alusotildees e negaccedilotildees De qualquer

maneira os projetos satildeo sempre algo de negativo com respeito aos processos em ato e aos movimentos Quando Giulio Maccacaro foi interrogado (em 1974)

quanto ao significado do projeto de uma ciecircncia nova ele respondeu com as seguintes palavras considero impossiacutevel a resposta e improacutepria a pergunta

Gostaria de explicar-me por meio de uma analogia o preso que nasceu enquanto

tal isto eacute o mais verdadeiro dos presos natildeo pode projetar a liberdade e realizar

a fuga E acrescentava temos de atuar para que seja possiacutevel o nascimento de uma ciecircncia nova a ciecircncia de um outro poder mas natildeo podemos predeterminaacuteshy

la sem impedi-la (em Scienza e Potere cito pp 54-55) Os projetos traem os processos as anaacutelises distorcem a vida a rebeliatildeo acaba por parecer mais

bullf~~~-~--F

importante do que o mundo ao qual ela poderia dar origem A revolta enquanto

tal tonia-se um fim a ser perseguido Isso jaacute tinha sido teorizado na Itaacutelia haacute

mais setenta anos por Giuliano o Sofista numa paacutegina ceacutelebre da revista

Leonardo cada programa cada projeto de itineraacuterio eacute uma limitaccedilatildeo Junto agrave assim chamada 1iteratura de contestaccedilatildeo a nova magia encontrou

grandiacutessima difusatildeo No livro The Making 0 Counter-Culture Rejlections on lhe Technocratic Society and Its routliful Opposition Theodor Roszak um dos mais

conhecidos expoentes da nova esquerda americana de entatildeo valeu-se do ensinamento de Thomas Kuhn para apresentar a consciecircncia objetiva como

uma mitologia Baseado nisso ele contrapocircs as extraordinaacuterias possibilidadeacutes de uma nova visatildeo maacutegica do mundo agrave racionalidade restrita da ciecircncia que embota nosso sentido do maravilhoso Acabou apresentando o xamanismo como

o modelo de uma cultura nova e mais livre O de Roszak natildeo foi certamente um caso isolado Tambeacutem na Itaacutelia as

posiccedilotildees que reduziam a ciecircncia agrave ideologia burguesa e pensavam que o saber cientiacutefico-racional era responsaacutevel pelo esvaziamento de sentido e pelo

desencantamento do mundo aliaram-se a posiccedilotildees regressivas e miacutesticoshyreacionaacuterias Um verdadeiro obscurantismo anticientiacutefico inspirado em Spengler

e em Heidegger vestiu os trajes do marxismo casando com a heranccedila de Nietzsche do vitalismo e do vanguardismo do comeccedilo do Novecentos

A descida para o plano arcaico da experiecircncia maacutegica a exaltaccedilatildeo do primitivismo e do imediatismo a nostalgia do passado como paraiacuteso de uma

humanidade natildeo reprimida a nostalgia pelo mundo camponecircs deixaram de ser considerados temas pertinentes exclusivamente ao pensamento reacionaacuterio shy

conforme havia sido durante longo tempo - mas vieram a ser propostos e sustentados tambeacutem no interior da esquerda como vaacutelidos instrumentos de libertaccedilatildeo dos pecados e das alienaccedilotildees presentes na sociedade moderna

I

VI

O motivo de eu natildeo concordar com as conclusotildees de F A Yates P M

Rattansi e de outros estudiosos natildeo dependia certamente do fato de que ambos sustentavam a necessidade para um historiador da ciecircncia moderna de ocuparshyse de magia e de hermetismo mas do fato de que eu via neles a tendecircncia para

sublinhar exclusivamente os elementos de continuidade entre a tradiccedilatildeo e a

imagem moderna de ciecircncia No centro da reflexatildeo de Yates estaya a pergunta por que justamente naquele momento Quais os motivos daquela emergecircncia -Yates havia apresentado o seu Giordano Bruno como sendo um estudo histoacuterico

dos motivos do nascimento da nova ciecircncia Nas raiacutezes daquela emergecircncia estava um novo tipo de interesse para com o mundo e as operaccedilotildees sobre a

natureza A magia renascimental cltnstitui justamente a realizaccedilatildeo de uma reorientaccedilatildeo psicoloacutegica da vontade rumo agrave accedilatildeo Atraveacutes daquela fundamental

mudanccedila psicoloacutegica aparece para a histoacuteria na Europa do Quinhentos a atribuiccedilatildeo de um valor agraves operaccedilotildees Tal atribuiccedilatildeo encontra-se na raiz da ciecircncia

moderna e constitui o seu porquecirc A visatildeo hermeacutetica de um universo regido pelas operaccedilotildees do mago eacute apresentada segundo esse ponto de vista na conclusatildeo

de seu trabalho como sendo a primeira fase da revoluccedilatildeo cientiacutefica que eacute caracterizada jaacute na segunda fase pela visatildeo de um universo mecanicista regido pelas leis da mecacircnica

A tese natildeo eacute completamente nova Spengler jaacute havia insistido em paacuteginas que seriam retomadas e discutidas por Max Scheler na importacircncia do faustismo

para o nascimento da ciecircncia A vontade teacutecnica do poder o saber-de-domiacutenio (Herrschaftwissen) haviam sido interpretados como um primum capaz de explicar

o emergir da ciecircncia no interior da histoacuteria do ocidente Numa perspectiva

diferente tambeacutem Jung e Eliade haviam chegado a respeito desse ponto - natildeo secundaacuterio - a conclusotildees parecidas mesmo se expressas numa linguagem muito

mais imaginativa A ideacuteia-guia do mundo moderno tinha parecido a Jung uma

versatildeo secular do sonho alquUacuteTIico a alquimia eacute o alvorecer da idade cientiacutefica quando o daimon do espiacuterito cientiacutefico obrigou as forccedilas da natureza a servir o

homem em medida antes desconhecida Para Mircea Eliade os alquimistas satildeo

I I J bull~

9

os antecipadores da essecircncia da ideologia que caracteriza o mundo moderno e que chegou agrave plena maturaccedilatildeo com o marxismo e o positivismo no decorrer do seacuteculo XIX a feacute na transmutaccedilatildeo da natureza e nas ilimitadas possibilidades do

homem Eacute dificil natildeo concordar com Frances Yates quando ela afirma que a histoacuteria

da emergecircncia da ciecircncia moderna resulta incompleta sem a histoacuteria daquilo de onde ela emerge e eacute certamente verdade que uma histoacuteria capaz de iluminar as

interaccedilotildees entre magia e ciecircncia eacute sem duacutevida mais frutuosa do que uma (que hoje ningueacutem escreve) que se contenta em celebrar os triunfos da ciecircncia do

seacuteculo XVIL Os trabalhos de Yates deram uma contribuiccedilatildeo decisiva ao aclaramento dessas interaccedilotildees Yates entretanto limita-se a sustentar essas teses

aceitaacuteveis a utilizar algumas observaccedilotildees feitas (entre outros) por Jung e Eliade

ou entatildeo ter-se-ia apropriado da tese deles da ciecircncia enquanto incapacidade de experimentar o sagrado Seria o caso de POcirc--Io em duacutevida quando se lecircem no

livro dela afirmaccedilotildees desse tipo Por acaso a ciecircncia natildeo eacute tudo somado nada

mais do que uma gnose uma visatildeo da natureza do Todo que procede atraveacutes de revelaccedilotildees sucessivas (F Yates Giordano Brurro e a tradiccedilatildeo hermeacutetica trad it

Bari Laterza 1969 pp 447-8 452)(d) Tambeacutem no livro de 1972 sobre o tipo de

pensamento dos RosacruzesYates afirmava que eu havia dado ecircnfase ao matiz de milenarismo constante na InstauratW magna scientiarum e tinha demonstrado

que Bacon sai justamente da tradiccedilatildeo hermeacutetica da magia e da Cabala da

Renascenccedila por ele alcanccediladas atraveacutes dos magos naturais (O Iluminismo dos Rosacruzes um Estilo de Pensamento na Europa do Seiscentos trad it L llluminismo dei Rosacroce urro stile dipensiero nellEuropa Del Seicento Turim Einaudi 1976

pp60 142-143)

Difiacutecil eacute subtrair-se agrave impressatildeo de que a tentativa de Yates era a de

reconduzir a segunda fase (mecanicista) da assim chamada revoluccedilatildeo cientiacutefica agrave primeira fase (maacutegico-hermeacutetica) e de que o estudo das interaccedilotildees entre essas

duas fases tivesse de servir para demonstrar que eacute inuacutetil procurar distinguir a ciecircncia da magia sendo que a primeira fase jamais teraacute fim As indagaccedilotildees sobre o hermetismo e sobre a magia satildeo importantes pois nos ajudam a compreender

melhor as origens da ciecircncia moderna (a qual no comeccedilo de seu longo percurso

bull I

i

deveu em parte sua vida tambeacutem a uma disreputable structure of ideas) ou

entatildeo o satildeo porque nos levam agrave conclusatildeo que a ciecircncia moderna nada mais eacute do

que a continuaccedilatildeo em formas novas de uma abordagem de tipo miacutestico da

natureza Satildeo indagaccedilotildees importantes porque nos mostram como tem sido dificil tortuoso e complicado o caminho da razatildeo cientiacutefica ou entatildeo porque contribuem

para mostrar as bases irracionais da construccedilatildeo da primeira ciecircncia moderna e

de qualquer outra forma de ciecircncia possiacutevel Com a revoluccedilatildeo cientiacutefica nasceu na histoacuteria um tipo de saber intersubjetivo e capaz de crescer um saber puacuteblico

que eacute alternativo ao saber secreto da magia e do ocultismo O que eacute contestado eacute o conhecimento insuficiente da gecircnese da ciecircncia moderna ou a proacutepria estrutura da ciecircncia moderna

Tenho a impressatildeo de que algo parecido com o que se passou com muitos leitores de Freud tenha ocorrido com muitos estudiosos da tradiccedilatildeo hermeacutetica apoacutes middotter ficado sabendo da existecircncia do inconsciente do condicionamento exercido pelas pulsotildees e pelos instintos sobre a vida da consciecircncia e da razatildeo

depois de ter reconhecido a existecircncia dos elementos de agressividade que atuam por traacutes da fachada respeitaacutevel da civilidade concluiacuteram - diferentemente do

que fazia Freud - que natildeo existem mais razatildeo nem ciecircncia nem civilidade mas haacute apenas instintos agressivos e desejos pulsionais

VII

Nos anos em que haviam praticamente desaparecido os modernos e nos departamentos de filosouumla soacute se encontravam poacutes-modernos rampantes

costumava-se defender duas teses de caraacuteter epocal A primeira tese de

- caraacuteter mais geral contrapunha moderno e poacutes-moderno O primeiro era ~

qualificado como a idade de uma razatildeo forte que constroacutei explicaccedilotildees totalizadoras

do mundo e que eacute dominada pela ideacuteia de um desenvolvimento histoacuterico do

pensamento como iluminaccedilatildeo incessante ou progressiva ou seja como a idade da ordem nomoloacutegica normativa da razatildeo e de uma sua estrutura monoliacutetica e

-~altlotildeiatildeAdespeito de Niccoloacute Machiavelli e de Giambattista Vico o moderno era definido como a idade do tempo linear caracterizada pela superaccedilatildeo ou

bull- -------~---

seja pela novidade que envelhece e eacute rapidamente substituiacuteda por uma novidade mais nova A segunda tese de caraacuteter mais limitado e especial afirmava que

siacutemiles analogias metaacuteforas semelhanccedilas que satildeo formas tiacutepicas ou

caracterizadoras da cultura da eacutepoca barroca satildeo energicamente recusadas pela nova ciecircncia da natureza

Para mostrar a inconsistecircncia dessa segunda tese em 1984 publiquei em Intersecccedilotildees um ensaio com o nome de Os siacutemiles as analogias as articulaccedilotildees da

natureza (Le similitudin~ le analogie le articolazioni della natura mais tarde incluiacutedo no volume [ ragni e k flnniche un ap0UacuteJgia della storia della scienza (As Aranhas e As Formigas uma ApoUacuteJgia da HisMna da Ciecircncia) Bolonha n Mulino

198~) no qu~l eu mostrava que parasustentar aq~ela tese Michel Foucault f haVia se apOIado numa passagem latma de FranCiS Bacon fazendo uso natildeo t do texto original mas de uma traduccedilatildeo dele feita no Oitocentos Acontecia

que termos - chave (ressemblancee similitude) sobre os quais se fundava todo o seu genial piroteacutecnico e desenvolto discurso compareciam de forma urn tanto misteriosa na traduccedilatildeo francesa mas natildeo existiam absolutamente no original latino

Uma das ideacuteias mais tolas professadas pelos poacutes-modernistas consistia em

apresentar a modernidade como uma eacutepoca de certezas como uma espeacutecie de idade da seguranccedila da qual haacute poucos anos apenas e por meacuterito de trecircs ou

quatro filoacutesofos parisienses alguns intelectuais extremamente aggiornatihaviam dolotilderosamenteern~rgido~Francis Bacon era freqUentemente citado como o tiacutepico

expoente ou campeatildeo do moderno pelos defensores da primeira das duas teses

que enunciei acima Polemizando com aquela imagem bastante cocircmoda escrevi

uma comunicaccedilatildeo para o encontro sobre Moderno e Poacutes-moderno organizado

em marccedilo de 1986 no Instituto Gramsci da Toscana Dei-lhe o tiacutetulo de [doia da Modernidade publicada mais tarde com outros ensaios em Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (CorifTonto dos Engenhos Modernos ePoacutes-modernos - Bolonha

n Mulino 1989) Esclarecendo que o nome idola era para Bacon sinocircnimo de

superstitions como tambeacutem de notionesfalsae ou volantes phantasiae inseri em meu escrito inclusive um elenco de algumas ideacuteias fUosoacuteficas de Bacon que me permito

reproduzir aqui

bull

f O universo natildeo eacute uma realidade ordenada e estruturada hierarquicamente e se rebelam e condicionam nosso intelecto Acabamos entatildeo por discutir natildeo -shy Natildeo existe nenhuma necessaacuteria correspondecircncia entre os elementos que o acerca das coisas mas acerca das palavras Tentamos entatildeo construir uma

l constituem nem entre microcosmo e macrocosmo Natildeo apenas o homem natildeo linguagem rigorosa feita de definiccedilotildees Acabamos por perceber que aquela

reflete em sua mente a estrutura do mundo como tambeacutem entre a ordem do linguagem fala apenas de palavra e que as coisas fugiram-nos irremediavelmente

cosmo e a da sociedade natildeo existe nenhuma correspondecircncia que possa ser das matildeos Por outro lado estamos condenados a fazer uso da linguagem e dela

encontrada As fontes do conhecimento satildeo vaacuterias a feacute a tradiccedilatildeo o sentido o natildeo podemos prescindir

i intelecto DifIcil eacute estabelecer uma hierarquia entre elas A feacute s6 vale para as Entretanto tambeacutem a necessidade de pontos de apoios confiaacuteveis e

indubitaacuteveis faz parte da natureza do homem Parece que os homens sentemI coisas que lhe pertencem O sentido nos engana muitas vezes e o intelecto muito I t mais vezes S6 temos certeza de uma coisa que natildeo podemos nos fiar na tradiccedilatildeo a necessidade de princiacutepios estaacuteveis procuram uma espeacutecie de eixo em

em geral e na filosofia em particular uma vez que nelas foram construiacutedos volta do qual fazer rotar a variedade dos argumentos e das meditaccedilotildees Se

inuacutemeros mundos de palco semelhantes aos teatros dos poetas onde as histoacuterias o intelecto sofre abalos e flutuaccedilotildees os homens tecircm a impressatildeo que o ceacuteu desaba

contadas tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada em cima deles e procuram logo um chatildeo soacutelido uma espeacutecie de Atlas dos

um Os enganos que se encontram em nossas fontes de conhecimento natildeo satildeo pensamentos semelhante ao que na lenda suportava o ceacuteu sobre seus ombros Na

como defeitos ou culpas aos quais se pode remediar Dependem do fato de que realidade os homens tecircm mais medo da duacutevida do que do erro e se iludem de

nossa mente mistura continuamente sua natureza com a natureza das coisas e poderem estabelecer alguns princiacutepios dos quais possa ser derivado todo o saber

do fato de que as imagens falsas e as falaacutecias fazem parte da estrutura da mente e em torno dos quais eles possam fazer rotar todas as suas disputas

satildeo inatas nela e estatildeo radicadas na natureza humana Os erros satildeo inseparaacuteveis Mas o problema maior eacute o da novidade e da dificuldade ou da incapacidade

de nossa natureza e condiccedilatildeo de vida Posso descrevecirc-Ios tentar exorcizaacute-los de pensar o novo Porque a mente humana estaacute mal organizada primeiro desconfia

tomando consciecircncia deles De muitos deles nunca poderei em caso algum ficar demasiado de si proacutepria e em seguida se despreza No comeccedilo parece

completamente livre inacreditaacutevel que algo possa ser descoberto Depois tatildeo logo esse algo eacute

A imagem de que eacute possiacutevel servir-se para pensar o universo eacute a do labirinto descqberto acha-se inacreditaacutevel que possa ter sido ignorado Haacute um duplo

ou caso se prefira a da selva Com efeito natildeo haacute estradas visiacuteveis mas somente preconceito que atua sempre ameaccedilando o novo a crenccedila cristalizada naquilo

caminhos ambiacuteguos Natildeo haacute siacutemiles seguros apenas semelhanccedilas enganadoras que jaacute se encontra estabelecido e a tendecircncia em inserir o novo (privando~ de

de signos e de coisas Natildeo haacute percursos em linha reta apenas espirais e noacutes seu caraacuteter de novidade) dentro de um esquema jaacute prefigurado Se antes da

torcidos e complicados O acaso os efeitos da credulidade as primeiras noccedilotildees introduccedilatildeo da seda tivesse sido imaginada a existecircncia de um fio diferente do

absorvidas na infacircncia constituem aquele patrimocircnio ao qual damos o nome de algodatildeo e da latilde e mais suave brilhante e resistente quem teria sido capaz de

razatildeo Sequer o que realmente nos diferencia dos animais nos ajuda muito Porque pensar numa taturana ou num verme

a linguagem natildeo eacute absolutamente conforme se acreditou durante muito tempo Estando assim as coisas natildeo tem sentido um quadro completo e

( uma entidade controlaacutevel As palavras a partir do momento em que satildeo usadas exaustivo do mundo Onde quer que ele seja construiacutedo esse quadro suscita um

retorcem sua forccedila contra o intelecto Parece-nos poder traccedilar mediante as consenso imediato uma vez que produz sentimentos de seguranccedila Poreacutem eacute

palavras linhas de demarcaccedilatildeo bem visiacuteveis entre as coisas Depois poreacutem toda melhor estimulara inteligecircncia do que usurpar a boa feacute Eacute melhor renunciar a

vez que tentamos deslocar aquelas linhas as palavras satildeo um obstaacuteculo para noacutes compor tratados e proceder ao contraacuterio por afirmaccedilotildees desligadas e provisoacuterias

bullI L

i

L

como eacute igualmente melhor assegurar menos e mostrar os vazios do saber e VIII solicitar a pesquisa Nenhuma filosofia universal e completa eacute proponiacutevel e as teses filosoacuteficas que foram expostas ateacute agora natildeo satildeo as expressotildees da verdade mas sim satildeo comparaacuteveis aos sons pouco agradaacuteveis emitidos pelos muacutesicos quando afinam seus instrumentos O concerto ainda estaacute para chegar e pode-se alimentar apenas a esperanccedila de que seja melhor do que os sons atuais Por isso natildeo haacute nenhum meacutetodo que seja universal e perfeito Por isso natildeo existe nenhuma

arte da descoberta uma vez que ela cresce com o proacuteprio crescimento das

-descobertas (Scrittifilosqfiaacute org Paolo Rossi Turim UTEU 1975 pp 561 573536-37560526608570263274427 593-94 423621 275-76346 637 A uacutenica referecircncia obtida de um escrito fora da ediccedilatildeo indicada encontrashyse em The Worlcs oJ Francis Bacon org R L Ellis 1 Spedding D D Heath Londres 1887-92 I pp 640-41)

Concluindo essas satildeo algumas das respostas dadas por Francis Bacon entre 1605 e 1620 agrave pergunta o que eacute o saber Se essas respostas forem de algum modo significativas parece-me dificil aplicar a elas os roacutetulos utilizados pelos filoacutesofos da poacutes-modernidade explicaccedilotildees totalizadoras do mundo ou entatildeo capacidade projetual de uma subjetividade que se desdobra rumo a um horizonte de fins dos quais pretende possuir a chave ou ainda extremada aspiraccedilatildeo a uma ordem absoluta e definitiva de seguranccedila Parece-me igualmente diflcil utilizar metaacuteforas como a seguinte o olho humano natildeo se abre sobre as trevas originaacuterias do mundo mas sobre a cena de um cosmo jaacute aclarado pela luz intelectual Essa metaacutefora exprimia para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica de 18 de julho de1985) a proacutepria essecircncia daquela imaginaacuteria modernidade em torno da qual se esgotavam os poacutes-modernistas Estes inclusive pareciam totalmente ignaros quanto agrave nobre sentenccedila de um autor que consideravam um de seus antepassados Nunca existiu eacutepoca alguma que natildeo tenha se achado moderna no sentido excecircntrico do termo e natildeo tenha acreditado que se encontrava imediatamente diante de um abismo A consciecircncia desesperada e luacutecida de encontrar-se no meio de uma crise decisiva eacute algo de crocircnico na humanidade (W Benjamin Paris CaPital do Seacuteculo XIX trad it Parigi capitauacute dei XIX secolo Einaud~ 1986 p 701)

bull

As paacuteginas dedicadas no final da deacutecada de 1950 a Cornelio Agrippa e a Francis Bacon agrave relaccedilatildeo entre magia e ciecircncia levaram-me muito longe dos programas e dos projetos iniciais conforme costuma acontecer

Trabalhei longamente nas deacutecadas que se seguiram com as artes da

memoacuteria com a assim chamada descoberta do tempo ocorrida entre o

Quinhentos e o Setecentos com a ftlosofia de Giambattista Vico mas o tema da

magia ou melhor o tema da relaccedilatildeo entre magia e modernidade que surgira em

minha vida desde a publicaccedilatildeo em 1955 do livro de E Garin Testi umanistici sullermetisnw natildeo mais me abandonou Agravequele tema satildeo dedicadas natildeo apenas

as paacuteginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola Francesco Patrizi

Giordano Bruno e sobre argumentos afins mas (aleacutem das aparecircncias) muitas paacuteginas que escrevi nas deacutecadas de 1970 e 1980 e que reuni no jaacute citado Paragone degli ingegni moderni e postmoderni O outro meu livro La saacuteenza e lofilosqfia dei moderni (A Ciecircncia e a Filosofia dos Modernos) publicado por Boringhieri em 1989

abria-se com a premissa intitulada O Processo a Galileu no seacuteculo XX escrita vinte anos antes e que jaacute estava presente numa primeira ediccedilatildeo publicada em

Naacutepoles por Morano em 1971 Daquele processo agrave ciecircncia das imputaccedilotildees que ele continha e mesmo das

defesas que devia comportar - salvo reduzidas mesmo que relevantes exceccedilotildees

- os filoacutesofos da ciecircncia se ocuparam pouco e assim continuam fazendo No que

me diz respeito uma vez que meu assunto de estudo eacute a histoacuteria das ideacuteias entre os seacuteculos XVI e XVIII disso ocupei-me ateacute em demasia Muitas vezes pergunteishy

me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que por sinal

deu-me algumas satisfaccedilotildees Das paacuteginas que escrevi sobre o tema a que me

referi tive poucas ao contraacuterio e algumas vezes verdadeiros insultos Um ceacutelebre filoacutesofo italiano comparou-me certa vez a um cachorrinho que mordia o salto

de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele natildeo apenas pensava na

distacircncia abismal homemanimal que nos separava mas tambeacutem que ele tinha

certeza de estar caminhando sozinho rumo agrave Verdade) Um outro muito menos famoso que o primeiro qualificou-me - publicamente e mais gentilmente mas

bull

sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

I

I bull l bulll

Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

i bull

~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

faacutebulas antigas) Publicaccedilotildees da Rivista critica di storia dellafilosofia Roma-Milatildeo

Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

1957 pp 75-89

Francesco Bacone dalla magia alla scienxa (Francis Bacon da magia agrave ciecircncia)

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caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

scienza in Francesco Bacone (Verdade e utilidade da ciecircncia em Francis Bacon

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instruments and collections in Iwnour cf MaTa Miniati org Marco Beretta Paolo Galluzzi Carlo Triarico Biblioteca di Nuncius Florenccedila Leo Olschki 2008

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VI

O motivo de eu natildeo concordar com as conclusotildees de F A Yates P M

Rattansi e de outros estudiosos natildeo dependia certamente do fato de que ambos sustentavam a necessidade para um historiador da ciecircncia moderna de ocuparshyse de magia e de hermetismo mas do fato de que eu via neles a tendecircncia para

sublinhar exclusivamente os elementos de continuidade entre a tradiccedilatildeo e a

imagem moderna de ciecircncia No centro da reflexatildeo de Yates estaya a pergunta por que justamente naquele momento Quais os motivos daquela emergecircncia -Yates havia apresentado o seu Giordano Bruno como sendo um estudo histoacuterico

dos motivos do nascimento da nova ciecircncia Nas raiacutezes daquela emergecircncia estava um novo tipo de interesse para com o mundo e as operaccedilotildees sobre a

natureza A magia renascimental cltnstitui justamente a realizaccedilatildeo de uma reorientaccedilatildeo psicoloacutegica da vontade rumo agrave accedilatildeo Atraveacutes daquela fundamental

mudanccedila psicoloacutegica aparece para a histoacuteria na Europa do Quinhentos a atribuiccedilatildeo de um valor agraves operaccedilotildees Tal atribuiccedilatildeo encontra-se na raiz da ciecircncia

moderna e constitui o seu porquecirc A visatildeo hermeacutetica de um universo regido pelas operaccedilotildees do mago eacute apresentada segundo esse ponto de vista na conclusatildeo

de seu trabalho como sendo a primeira fase da revoluccedilatildeo cientiacutefica que eacute caracterizada jaacute na segunda fase pela visatildeo de um universo mecanicista regido pelas leis da mecacircnica

A tese natildeo eacute completamente nova Spengler jaacute havia insistido em paacuteginas que seriam retomadas e discutidas por Max Scheler na importacircncia do faustismo

para o nascimento da ciecircncia A vontade teacutecnica do poder o saber-de-domiacutenio (Herrschaftwissen) haviam sido interpretados como um primum capaz de explicar

o emergir da ciecircncia no interior da histoacuteria do ocidente Numa perspectiva

diferente tambeacutem Jung e Eliade haviam chegado a respeito desse ponto - natildeo secundaacuterio - a conclusotildees parecidas mesmo se expressas numa linguagem muito

mais imaginativa A ideacuteia-guia do mundo moderno tinha parecido a Jung uma

versatildeo secular do sonho alquUacuteTIico a alquimia eacute o alvorecer da idade cientiacutefica quando o daimon do espiacuterito cientiacutefico obrigou as forccedilas da natureza a servir o

homem em medida antes desconhecida Para Mircea Eliade os alquimistas satildeo

I I J bull~

9

os antecipadores da essecircncia da ideologia que caracteriza o mundo moderno e que chegou agrave plena maturaccedilatildeo com o marxismo e o positivismo no decorrer do seacuteculo XIX a feacute na transmutaccedilatildeo da natureza e nas ilimitadas possibilidades do

homem Eacute dificil natildeo concordar com Frances Yates quando ela afirma que a histoacuteria

da emergecircncia da ciecircncia moderna resulta incompleta sem a histoacuteria daquilo de onde ela emerge e eacute certamente verdade que uma histoacuteria capaz de iluminar as

interaccedilotildees entre magia e ciecircncia eacute sem duacutevida mais frutuosa do que uma (que hoje ningueacutem escreve) que se contenta em celebrar os triunfos da ciecircncia do

seacuteculo XVIL Os trabalhos de Yates deram uma contribuiccedilatildeo decisiva ao aclaramento dessas interaccedilotildees Yates entretanto limita-se a sustentar essas teses

aceitaacuteveis a utilizar algumas observaccedilotildees feitas (entre outros) por Jung e Eliade

ou entatildeo ter-se-ia apropriado da tese deles da ciecircncia enquanto incapacidade de experimentar o sagrado Seria o caso de POcirc--Io em duacutevida quando se lecircem no

livro dela afirmaccedilotildees desse tipo Por acaso a ciecircncia natildeo eacute tudo somado nada

mais do que uma gnose uma visatildeo da natureza do Todo que procede atraveacutes de revelaccedilotildees sucessivas (F Yates Giordano Brurro e a tradiccedilatildeo hermeacutetica trad it

Bari Laterza 1969 pp 447-8 452)(d) Tambeacutem no livro de 1972 sobre o tipo de

pensamento dos RosacruzesYates afirmava que eu havia dado ecircnfase ao matiz de milenarismo constante na InstauratW magna scientiarum e tinha demonstrado

que Bacon sai justamente da tradiccedilatildeo hermeacutetica da magia e da Cabala da

Renascenccedila por ele alcanccediladas atraveacutes dos magos naturais (O Iluminismo dos Rosacruzes um Estilo de Pensamento na Europa do Seiscentos trad it L llluminismo dei Rosacroce urro stile dipensiero nellEuropa Del Seicento Turim Einaudi 1976

pp60 142-143)

Difiacutecil eacute subtrair-se agrave impressatildeo de que a tentativa de Yates era a de

reconduzir a segunda fase (mecanicista) da assim chamada revoluccedilatildeo cientiacutefica agrave primeira fase (maacutegico-hermeacutetica) e de que o estudo das interaccedilotildees entre essas

duas fases tivesse de servir para demonstrar que eacute inuacutetil procurar distinguir a ciecircncia da magia sendo que a primeira fase jamais teraacute fim As indagaccedilotildees sobre o hermetismo e sobre a magia satildeo importantes pois nos ajudam a compreender

melhor as origens da ciecircncia moderna (a qual no comeccedilo de seu longo percurso

bull I

i

deveu em parte sua vida tambeacutem a uma disreputable structure of ideas) ou

entatildeo o satildeo porque nos levam agrave conclusatildeo que a ciecircncia moderna nada mais eacute do

que a continuaccedilatildeo em formas novas de uma abordagem de tipo miacutestico da

natureza Satildeo indagaccedilotildees importantes porque nos mostram como tem sido dificil tortuoso e complicado o caminho da razatildeo cientiacutefica ou entatildeo porque contribuem

para mostrar as bases irracionais da construccedilatildeo da primeira ciecircncia moderna e

de qualquer outra forma de ciecircncia possiacutevel Com a revoluccedilatildeo cientiacutefica nasceu na histoacuteria um tipo de saber intersubjetivo e capaz de crescer um saber puacuteblico

que eacute alternativo ao saber secreto da magia e do ocultismo O que eacute contestado eacute o conhecimento insuficiente da gecircnese da ciecircncia moderna ou a proacutepria estrutura da ciecircncia moderna

Tenho a impressatildeo de que algo parecido com o que se passou com muitos leitores de Freud tenha ocorrido com muitos estudiosos da tradiccedilatildeo hermeacutetica apoacutes middotter ficado sabendo da existecircncia do inconsciente do condicionamento exercido pelas pulsotildees e pelos instintos sobre a vida da consciecircncia e da razatildeo

depois de ter reconhecido a existecircncia dos elementos de agressividade que atuam por traacutes da fachada respeitaacutevel da civilidade concluiacuteram - diferentemente do

que fazia Freud - que natildeo existem mais razatildeo nem ciecircncia nem civilidade mas haacute apenas instintos agressivos e desejos pulsionais

VII

Nos anos em que haviam praticamente desaparecido os modernos e nos departamentos de filosouumla soacute se encontravam poacutes-modernos rampantes

costumava-se defender duas teses de caraacuteter epocal A primeira tese de

- caraacuteter mais geral contrapunha moderno e poacutes-moderno O primeiro era ~

qualificado como a idade de uma razatildeo forte que constroacutei explicaccedilotildees totalizadoras

do mundo e que eacute dominada pela ideacuteia de um desenvolvimento histoacuterico do

pensamento como iluminaccedilatildeo incessante ou progressiva ou seja como a idade da ordem nomoloacutegica normativa da razatildeo e de uma sua estrutura monoliacutetica e

-~altlotildeiatildeAdespeito de Niccoloacute Machiavelli e de Giambattista Vico o moderno era definido como a idade do tempo linear caracterizada pela superaccedilatildeo ou

bull- -------~---

seja pela novidade que envelhece e eacute rapidamente substituiacuteda por uma novidade mais nova A segunda tese de caraacuteter mais limitado e especial afirmava que

siacutemiles analogias metaacuteforas semelhanccedilas que satildeo formas tiacutepicas ou

caracterizadoras da cultura da eacutepoca barroca satildeo energicamente recusadas pela nova ciecircncia da natureza

Para mostrar a inconsistecircncia dessa segunda tese em 1984 publiquei em Intersecccedilotildees um ensaio com o nome de Os siacutemiles as analogias as articulaccedilotildees da

natureza (Le similitudin~ le analogie le articolazioni della natura mais tarde incluiacutedo no volume [ ragni e k flnniche un ap0UacuteJgia della storia della scienza (As Aranhas e As Formigas uma ApoUacuteJgia da HisMna da Ciecircncia) Bolonha n Mulino

198~) no qu~l eu mostrava que parasustentar aq~ela tese Michel Foucault f haVia se apOIado numa passagem latma de FranCiS Bacon fazendo uso natildeo t do texto original mas de uma traduccedilatildeo dele feita no Oitocentos Acontecia

que termos - chave (ressemblancee similitude) sobre os quais se fundava todo o seu genial piroteacutecnico e desenvolto discurso compareciam de forma urn tanto misteriosa na traduccedilatildeo francesa mas natildeo existiam absolutamente no original latino

Uma das ideacuteias mais tolas professadas pelos poacutes-modernistas consistia em

apresentar a modernidade como uma eacutepoca de certezas como uma espeacutecie de idade da seguranccedila da qual haacute poucos anos apenas e por meacuterito de trecircs ou

quatro filoacutesofos parisienses alguns intelectuais extremamente aggiornatihaviam dolotilderosamenteern~rgido~Francis Bacon era freqUentemente citado como o tiacutepico

expoente ou campeatildeo do moderno pelos defensores da primeira das duas teses

que enunciei acima Polemizando com aquela imagem bastante cocircmoda escrevi

uma comunicaccedilatildeo para o encontro sobre Moderno e Poacutes-moderno organizado

em marccedilo de 1986 no Instituto Gramsci da Toscana Dei-lhe o tiacutetulo de [doia da Modernidade publicada mais tarde com outros ensaios em Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (CorifTonto dos Engenhos Modernos ePoacutes-modernos - Bolonha

n Mulino 1989) Esclarecendo que o nome idola era para Bacon sinocircnimo de

superstitions como tambeacutem de notionesfalsae ou volantes phantasiae inseri em meu escrito inclusive um elenco de algumas ideacuteias fUosoacuteficas de Bacon que me permito

reproduzir aqui

bull

f O universo natildeo eacute uma realidade ordenada e estruturada hierarquicamente e se rebelam e condicionam nosso intelecto Acabamos entatildeo por discutir natildeo -shy Natildeo existe nenhuma necessaacuteria correspondecircncia entre os elementos que o acerca das coisas mas acerca das palavras Tentamos entatildeo construir uma

l constituem nem entre microcosmo e macrocosmo Natildeo apenas o homem natildeo linguagem rigorosa feita de definiccedilotildees Acabamos por perceber que aquela

reflete em sua mente a estrutura do mundo como tambeacutem entre a ordem do linguagem fala apenas de palavra e que as coisas fugiram-nos irremediavelmente

cosmo e a da sociedade natildeo existe nenhuma correspondecircncia que possa ser das matildeos Por outro lado estamos condenados a fazer uso da linguagem e dela

encontrada As fontes do conhecimento satildeo vaacuterias a feacute a tradiccedilatildeo o sentido o natildeo podemos prescindir

i intelecto DifIcil eacute estabelecer uma hierarquia entre elas A feacute s6 vale para as Entretanto tambeacutem a necessidade de pontos de apoios confiaacuteveis e

indubitaacuteveis faz parte da natureza do homem Parece que os homens sentemI coisas que lhe pertencem O sentido nos engana muitas vezes e o intelecto muito I t mais vezes S6 temos certeza de uma coisa que natildeo podemos nos fiar na tradiccedilatildeo a necessidade de princiacutepios estaacuteveis procuram uma espeacutecie de eixo em

em geral e na filosofia em particular uma vez que nelas foram construiacutedos volta do qual fazer rotar a variedade dos argumentos e das meditaccedilotildees Se

inuacutemeros mundos de palco semelhantes aos teatros dos poetas onde as histoacuterias o intelecto sofre abalos e flutuaccedilotildees os homens tecircm a impressatildeo que o ceacuteu desaba

contadas tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada em cima deles e procuram logo um chatildeo soacutelido uma espeacutecie de Atlas dos

um Os enganos que se encontram em nossas fontes de conhecimento natildeo satildeo pensamentos semelhante ao que na lenda suportava o ceacuteu sobre seus ombros Na

como defeitos ou culpas aos quais se pode remediar Dependem do fato de que realidade os homens tecircm mais medo da duacutevida do que do erro e se iludem de

nossa mente mistura continuamente sua natureza com a natureza das coisas e poderem estabelecer alguns princiacutepios dos quais possa ser derivado todo o saber

do fato de que as imagens falsas e as falaacutecias fazem parte da estrutura da mente e em torno dos quais eles possam fazer rotar todas as suas disputas

satildeo inatas nela e estatildeo radicadas na natureza humana Os erros satildeo inseparaacuteveis Mas o problema maior eacute o da novidade e da dificuldade ou da incapacidade

de nossa natureza e condiccedilatildeo de vida Posso descrevecirc-Ios tentar exorcizaacute-los de pensar o novo Porque a mente humana estaacute mal organizada primeiro desconfia

tomando consciecircncia deles De muitos deles nunca poderei em caso algum ficar demasiado de si proacutepria e em seguida se despreza No comeccedilo parece

completamente livre inacreditaacutevel que algo possa ser descoberto Depois tatildeo logo esse algo eacute

A imagem de que eacute possiacutevel servir-se para pensar o universo eacute a do labirinto descqberto acha-se inacreditaacutevel que possa ter sido ignorado Haacute um duplo

ou caso se prefira a da selva Com efeito natildeo haacute estradas visiacuteveis mas somente preconceito que atua sempre ameaccedilando o novo a crenccedila cristalizada naquilo

caminhos ambiacuteguos Natildeo haacute siacutemiles seguros apenas semelhanccedilas enganadoras que jaacute se encontra estabelecido e a tendecircncia em inserir o novo (privando~ de

de signos e de coisas Natildeo haacute percursos em linha reta apenas espirais e noacutes seu caraacuteter de novidade) dentro de um esquema jaacute prefigurado Se antes da

torcidos e complicados O acaso os efeitos da credulidade as primeiras noccedilotildees introduccedilatildeo da seda tivesse sido imaginada a existecircncia de um fio diferente do

absorvidas na infacircncia constituem aquele patrimocircnio ao qual damos o nome de algodatildeo e da latilde e mais suave brilhante e resistente quem teria sido capaz de

razatildeo Sequer o que realmente nos diferencia dos animais nos ajuda muito Porque pensar numa taturana ou num verme

a linguagem natildeo eacute absolutamente conforme se acreditou durante muito tempo Estando assim as coisas natildeo tem sentido um quadro completo e

( uma entidade controlaacutevel As palavras a partir do momento em que satildeo usadas exaustivo do mundo Onde quer que ele seja construiacutedo esse quadro suscita um

retorcem sua forccedila contra o intelecto Parece-nos poder traccedilar mediante as consenso imediato uma vez que produz sentimentos de seguranccedila Poreacutem eacute

palavras linhas de demarcaccedilatildeo bem visiacuteveis entre as coisas Depois poreacutem toda melhor estimulara inteligecircncia do que usurpar a boa feacute Eacute melhor renunciar a

vez que tentamos deslocar aquelas linhas as palavras satildeo um obstaacuteculo para noacutes compor tratados e proceder ao contraacuterio por afirmaccedilotildees desligadas e provisoacuterias

bullI L

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L

como eacute igualmente melhor assegurar menos e mostrar os vazios do saber e VIII solicitar a pesquisa Nenhuma filosofia universal e completa eacute proponiacutevel e as teses filosoacuteficas que foram expostas ateacute agora natildeo satildeo as expressotildees da verdade mas sim satildeo comparaacuteveis aos sons pouco agradaacuteveis emitidos pelos muacutesicos quando afinam seus instrumentos O concerto ainda estaacute para chegar e pode-se alimentar apenas a esperanccedila de que seja melhor do que os sons atuais Por isso natildeo haacute nenhum meacutetodo que seja universal e perfeito Por isso natildeo existe nenhuma

arte da descoberta uma vez que ela cresce com o proacuteprio crescimento das

-descobertas (Scrittifilosqfiaacute org Paolo Rossi Turim UTEU 1975 pp 561 573536-37560526608570263274427 593-94 423621 275-76346 637 A uacutenica referecircncia obtida de um escrito fora da ediccedilatildeo indicada encontrashyse em The Worlcs oJ Francis Bacon org R L Ellis 1 Spedding D D Heath Londres 1887-92 I pp 640-41)

Concluindo essas satildeo algumas das respostas dadas por Francis Bacon entre 1605 e 1620 agrave pergunta o que eacute o saber Se essas respostas forem de algum modo significativas parece-me dificil aplicar a elas os roacutetulos utilizados pelos filoacutesofos da poacutes-modernidade explicaccedilotildees totalizadoras do mundo ou entatildeo capacidade projetual de uma subjetividade que se desdobra rumo a um horizonte de fins dos quais pretende possuir a chave ou ainda extremada aspiraccedilatildeo a uma ordem absoluta e definitiva de seguranccedila Parece-me igualmente diflcil utilizar metaacuteforas como a seguinte o olho humano natildeo se abre sobre as trevas originaacuterias do mundo mas sobre a cena de um cosmo jaacute aclarado pela luz intelectual Essa metaacutefora exprimia para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica de 18 de julho de1985) a proacutepria essecircncia daquela imaginaacuteria modernidade em torno da qual se esgotavam os poacutes-modernistas Estes inclusive pareciam totalmente ignaros quanto agrave nobre sentenccedila de um autor que consideravam um de seus antepassados Nunca existiu eacutepoca alguma que natildeo tenha se achado moderna no sentido excecircntrico do termo e natildeo tenha acreditado que se encontrava imediatamente diante de um abismo A consciecircncia desesperada e luacutecida de encontrar-se no meio de uma crise decisiva eacute algo de crocircnico na humanidade (W Benjamin Paris CaPital do Seacuteculo XIX trad it Parigi capitauacute dei XIX secolo Einaud~ 1986 p 701)

bull

As paacuteginas dedicadas no final da deacutecada de 1950 a Cornelio Agrippa e a Francis Bacon agrave relaccedilatildeo entre magia e ciecircncia levaram-me muito longe dos programas e dos projetos iniciais conforme costuma acontecer

Trabalhei longamente nas deacutecadas que se seguiram com as artes da

memoacuteria com a assim chamada descoberta do tempo ocorrida entre o

Quinhentos e o Setecentos com a ftlosofia de Giambattista Vico mas o tema da

magia ou melhor o tema da relaccedilatildeo entre magia e modernidade que surgira em

minha vida desde a publicaccedilatildeo em 1955 do livro de E Garin Testi umanistici sullermetisnw natildeo mais me abandonou Agravequele tema satildeo dedicadas natildeo apenas

as paacuteginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola Francesco Patrizi

Giordano Bruno e sobre argumentos afins mas (aleacutem das aparecircncias) muitas paacuteginas que escrevi nas deacutecadas de 1970 e 1980 e que reuni no jaacute citado Paragone degli ingegni moderni e postmoderni O outro meu livro La saacuteenza e lofilosqfia dei moderni (A Ciecircncia e a Filosofia dos Modernos) publicado por Boringhieri em 1989

abria-se com a premissa intitulada O Processo a Galileu no seacuteculo XX escrita vinte anos antes e que jaacute estava presente numa primeira ediccedilatildeo publicada em

Naacutepoles por Morano em 1971 Daquele processo agrave ciecircncia das imputaccedilotildees que ele continha e mesmo das

defesas que devia comportar - salvo reduzidas mesmo que relevantes exceccedilotildees

- os filoacutesofos da ciecircncia se ocuparam pouco e assim continuam fazendo No que

me diz respeito uma vez que meu assunto de estudo eacute a histoacuteria das ideacuteias entre os seacuteculos XVI e XVIII disso ocupei-me ateacute em demasia Muitas vezes pergunteishy

me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que por sinal

deu-me algumas satisfaccedilotildees Das paacuteginas que escrevi sobre o tema a que me

referi tive poucas ao contraacuterio e algumas vezes verdadeiros insultos Um ceacutelebre filoacutesofo italiano comparou-me certa vez a um cachorrinho que mordia o salto

de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele natildeo apenas pensava na

distacircncia abismal homemanimal que nos separava mas tambeacutem que ele tinha

certeza de estar caminhando sozinho rumo agrave Verdade) Um outro muito menos famoso que o primeiro qualificou-me - publicamente e mais gentilmente mas

bull

sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

I

I bull l bulll

Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

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~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

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XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

faacutebulas antigas) Publicaccedilotildees da Rivista critica di storia dellafilosofia Roma-Milatildeo

Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

1957 pp 75-89

Francesco Bacone dalla magia alla scienxa (Francis Bacon da magia agrave ciecircncia)

Bari Laterza 1957 Turim Einaudi 1974 em ediccedilatildeo anglo-americana Londres

Routledge and Kegan Paul 1968 Chicago University of Chicago Press 1968

japonesa Tokyo The Simul Press 1970 espanhola Madri Alianza Editorial

1990

Sul carattere non utilitaristico delta filosofia di Francesco Bacone (Sobre o

caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

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em lfilosofi ele macchine 1400-1700 (Os filoacutesofos e as maacutequinas 1400-1700) Milatildeo Feltrinelli 1962 1971 1980 1984 2002 pp 148-75 Em trad espanhola Barcelona Editorial Labor 1966 americana Nova York Harper and Row 1970

huacutengara Budapest Kossuth 1976 polonesa Warszawa Panstwowe Vydawnictwo

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GaktYutsu Shobo 1989 francesa Paris Presses Universitaires de France 1996)

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universalis artes da memoacuteria e loacutegica combinatoacuteria de Llull a Leibniz) MilatildeoshyNaacutepoles Ricciardi 1960 em nova ediccedilatildeo Bolonha n Muliacuteno 1985 1988 O liVrEgt apareceu depois em ediccedilatildeo japonesa Tokyo Kokusho Kankokai 1984

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bull-Satilde Latilde =tEcirc

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Francesco Bacone em Grande Antologia Filosqfzca il pensiero rtwlUacuternO Milatildeo

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Page 11: ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

i

deveu em parte sua vida tambeacutem a uma disreputable structure of ideas) ou

entatildeo o satildeo porque nos levam agrave conclusatildeo que a ciecircncia moderna nada mais eacute do

que a continuaccedilatildeo em formas novas de uma abordagem de tipo miacutestico da

natureza Satildeo indagaccedilotildees importantes porque nos mostram como tem sido dificil tortuoso e complicado o caminho da razatildeo cientiacutefica ou entatildeo porque contribuem

para mostrar as bases irracionais da construccedilatildeo da primeira ciecircncia moderna e

de qualquer outra forma de ciecircncia possiacutevel Com a revoluccedilatildeo cientiacutefica nasceu na histoacuteria um tipo de saber intersubjetivo e capaz de crescer um saber puacuteblico

que eacute alternativo ao saber secreto da magia e do ocultismo O que eacute contestado eacute o conhecimento insuficiente da gecircnese da ciecircncia moderna ou a proacutepria estrutura da ciecircncia moderna

Tenho a impressatildeo de que algo parecido com o que se passou com muitos leitores de Freud tenha ocorrido com muitos estudiosos da tradiccedilatildeo hermeacutetica apoacutes middotter ficado sabendo da existecircncia do inconsciente do condicionamento exercido pelas pulsotildees e pelos instintos sobre a vida da consciecircncia e da razatildeo

depois de ter reconhecido a existecircncia dos elementos de agressividade que atuam por traacutes da fachada respeitaacutevel da civilidade concluiacuteram - diferentemente do

que fazia Freud - que natildeo existem mais razatildeo nem ciecircncia nem civilidade mas haacute apenas instintos agressivos e desejos pulsionais

VII

Nos anos em que haviam praticamente desaparecido os modernos e nos departamentos de filosouumla soacute se encontravam poacutes-modernos rampantes

costumava-se defender duas teses de caraacuteter epocal A primeira tese de

- caraacuteter mais geral contrapunha moderno e poacutes-moderno O primeiro era ~

qualificado como a idade de uma razatildeo forte que constroacutei explicaccedilotildees totalizadoras

do mundo e que eacute dominada pela ideacuteia de um desenvolvimento histoacuterico do

pensamento como iluminaccedilatildeo incessante ou progressiva ou seja como a idade da ordem nomoloacutegica normativa da razatildeo e de uma sua estrutura monoliacutetica e

-~altlotildeiatildeAdespeito de Niccoloacute Machiavelli e de Giambattista Vico o moderno era definido como a idade do tempo linear caracterizada pela superaccedilatildeo ou

bull- -------~---

seja pela novidade que envelhece e eacute rapidamente substituiacuteda por uma novidade mais nova A segunda tese de caraacuteter mais limitado e especial afirmava que

siacutemiles analogias metaacuteforas semelhanccedilas que satildeo formas tiacutepicas ou

caracterizadoras da cultura da eacutepoca barroca satildeo energicamente recusadas pela nova ciecircncia da natureza

Para mostrar a inconsistecircncia dessa segunda tese em 1984 publiquei em Intersecccedilotildees um ensaio com o nome de Os siacutemiles as analogias as articulaccedilotildees da

natureza (Le similitudin~ le analogie le articolazioni della natura mais tarde incluiacutedo no volume [ ragni e k flnniche un ap0UacuteJgia della storia della scienza (As Aranhas e As Formigas uma ApoUacuteJgia da HisMna da Ciecircncia) Bolonha n Mulino

198~) no qu~l eu mostrava que parasustentar aq~ela tese Michel Foucault f haVia se apOIado numa passagem latma de FranCiS Bacon fazendo uso natildeo t do texto original mas de uma traduccedilatildeo dele feita no Oitocentos Acontecia

que termos - chave (ressemblancee similitude) sobre os quais se fundava todo o seu genial piroteacutecnico e desenvolto discurso compareciam de forma urn tanto misteriosa na traduccedilatildeo francesa mas natildeo existiam absolutamente no original latino

Uma das ideacuteias mais tolas professadas pelos poacutes-modernistas consistia em

apresentar a modernidade como uma eacutepoca de certezas como uma espeacutecie de idade da seguranccedila da qual haacute poucos anos apenas e por meacuterito de trecircs ou

quatro filoacutesofos parisienses alguns intelectuais extremamente aggiornatihaviam dolotilderosamenteern~rgido~Francis Bacon era freqUentemente citado como o tiacutepico

expoente ou campeatildeo do moderno pelos defensores da primeira das duas teses

que enunciei acima Polemizando com aquela imagem bastante cocircmoda escrevi

uma comunicaccedilatildeo para o encontro sobre Moderno e Poacutes-moderno organizado

em marccedilo de 1986 no Instituto Gramsci da Toscana Dei-lhe o tiacutetulo de [doia da Modernidade publicada mais tarde com outros ensaios em Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (CorifTonto dos Engenhos Modernos ePoacutes-modernos - Bolonha

n Mulino 1989) Esclarecendo que o nome idola era para Bacon sinocircnimo de

superstitions como tambeacutem de notionesfalsae ou volantes phantasiae inseri em meu escrito inclusive um elenco de algumas ideacuteias fUosoacuteficas de Bacon que me permito

reproduzir aqui

bull

f O universo natildeo eacute uma realidade ordenada e estruturada hierarquicamente e se rebelam e condicionam nosso intelecto Acabamos entatildeo por discutir natildeo -shy Natildeo existe nenhuma necessaacuteria correspondecircncia entre os elementos que o acerca das coisas mas acerca das palavras Tentamos entatildeo construir uma

l constituem nem entre microcosmo e macrocosmo Natildeo apenas o homem natildeo linguagem rigorosa feita de definiccedilotildees Acabamos por perceber que aquela

reflete em sua mente a estrutura do mundo como tambeacutem entre a ordem do linguagem fala apenas de palavra e que as coisas fugiram-nos irremediavelmente

cosmo e a da sociedade natildeo existe nenhuma correspondecircncia que possa ser das matildeos Por outro lado estamos condenados a fazer uso da linguagem e dela

encontrada As fontes do conhecimento satildeo vaacuterias a feacute a tradiccedilatildeo o sentido o natildeo podemos prescindir

i intelecto DifIcil eacute estabelecer uma hierarquia entre elas A feacute s6 vale para as Entretanto tambeacutem a necessidade de pontos de apoios confiaacuteveis e

indubitaacuteveis faz parte da natureza do homem Parece que os homens sentemI coisas que lhe pertencem O sentido nos engana muitas vezes e o intelecto muito I t mais vezes S6 temos certeza de uma coisa que natildeo podemos nos fiar na tradiccedilatildeo a necessidade de princiacutepios estaacuteveis procuram uma espeacutecie de eixo em

em geral e na filosofia em particular uma vez que nelas foram construiacutedos volta do qual fazer rotar a variedade dos argumentos e das meditaccedilotildees Se

inuacutemeros mundos de palco semelhantes aos teatros dos poetas onde as histoacuterias o intelecto sofre abalos e flutuaccedilotildees os homens tecircm a impressatildeo que o ceacuteu desaba

contadas tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada em cima deles e procuram logo um chatildeo soacutelido uma espeacutecie de Atlas dos

um Os enganos que se encontram em nossas fontes de conhecimento natildeo satildeo pensamentos semelhante ao que na lenda suportava o ceacuteu sobre seus ombros Na

como defeitos ou culpas aos quais se pode remediar Dependem do fato de que realidade os homens tecircm mais medo da duacutevida do que do erro e se iludem de

nossa mente mistura continuamente sua natureza com a natureza das coisas e poderem estabelecer alguns princiacutepios dos quais possa ser derivado todo o saber

do fato de que as imagens falsas e as falaacutecias fazem parte da estrutura da mente e em torno dos quais eles possam fazer rotar todas as suas disputas

satildeo inatas nela e estatildeo radicadas na natureza humana Os erros satildeo inseparaacuteveis Mas o problema maior eacute o da novidade e da dificuldade ou da incapacidade

de nossa natureza e condiccedilatildeo de vida Posso descrevecirc-Ios tentar exorcizaacute-los de pensar o novo Porque a mente humana estaacute mal organizada primeiro desconfia

tomando consciecircncia deles De muitos deles nunca poderei em caso algum ficar demasiado de si proacutepria e em seguida se despreza No comeccedilo parece

completamente livre inacreditaacutevel que algo possa ser descoberto Depois tatildeo logo esse algo eacute

A imagem de que eacute possiacutevel servir-se para pensar o universo eacute a do labirinto descqberto acha-se inacreditaacutevel que possa ter sido ignorado Haacute um duplo

ou caso se prefira a da selva Com efeito natildeo haacute estradas visiacuteveis mas somente preconceito que atua sempre ameaccedilando o novo a crenccedila cristalizada naquilo

caminhos ambiacuteguos Natildeo haacute siacutemiles seguros apenas semelhanccedilas enganadoras que jaacute se encontra estabelecido e a tendecircncia em inserir o novo (privando~ de

de signos e de coisas Natildeo haacute percursos em linha reta apenas espirais e noacutes seu caraacuteter de novidade) dentro de um esquema jaacute prefigurado Se antes da

torcidos e complicados O acaso os efeitos da credulidade as primeiras noccedilotildees introduccedilatildeo da seda tivesse sido imaginada a existecircncia de um fio diferente do

absorvidas na infacircncia constituem aquele patrimocircnio ao qual damos o nome de algodatildeo e da latilde e mais suave brilhante e resistente quem teria sido capaz de

razatildeo Sequer o que realmente nos diferencia dos animais nos ajuda muito Porque pensar numa taturana ou num verme

a linguagem natildeo eacute absolutamente conforme se acreditou durante muito tempo Estando assim as coisas natildeo tem sentido um quadro completo e

( uma entidade controlaacutevel As palavras a partir do momento em que satildeo usadas exaustivo do mundo Onde quer que ele seja construiacutedo esse quadro suscita um

retorcem sua forccedila contra o intelecto Parece-nos poder traccedilar mediante as consenso imediato uma vez que produz sentimentos de seguranccedila Poreacutem eacute

palavras linhas de demarcaccedilatildeo bem visiacuteveis entre as coisas Depois poreacutem toda melhor estimulara inteligecircncia do que usurpar a boa feacute Eacute melhor renunciar a

vez que tentamos deslocar aquelas linhas as palavras satildeo um obstaacuteculo para noacutes compor tratados e proceder ao contraacuterio por afirmaccedilotildees desligadas e provisoacuterias

bullI L

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como eacute igualmente melhor assegurar menos e mostrar os vazios do saber e VIII solicitar a pesquisa Nenhuma filosofia universal e completa eacute proponiacutevel e as teses filosoacuteficas que foram expostas ateacute agora natildeo satildeo as expressotildees da verdade mas sim satildeo comparaacuteveis aos sons pouco agradaacuteveis emitidos pelos muacutesicos quando afinam seus instrumentos O concerto ainda estaacute para chegar e pode-se alimentar apenas a esperanccedila de que seja melhor do que os sons atuais Por isso natildeo haacute nenhum meacutetodo que seja universal e perfeito Por isso natildeo existe nenhuma

arte da descoberta uma vez que ela cresce com o proacuteprio crescimento das

-descobertas (Scrittifilosqfiaacute org Paolo Rossi Turim UTEU 1975 pp 561 573536-37560526608570263274427 593-94 423621 275-76346 637 A uacutenica referecircncia obtida de um escrito fora da ediccedilatildeo indicada encontrashyse em The Worlcs oJ Francis Bacon org R L Ellis 1 Spedding D D Heath Londres 1887-92 I pp 640-41)

Concluindo essas satildeo algumas das respostas dadas por Francis Bacon entre 1605 e 1620 agrave pergunta o que eacute o saber Se essas respostas forem de algum modo significativas parece-me dificil aplicar a elas os roacutetulos utilizados pelos filoacutesofos da poacutes-modernidade explicaccedilotildees totalizadoras do mundo ou entatildeo capacidade projetual de uma subjetividade que se desdobra rumo a um horizonte de fins dos quais pretende possuir a chave ou ainda extremada aspiraccedilatildeo a uma ordem absoluta e definitiva de seguranccedila Parece-me igualmente diflcil utilizar metaacuteforas como a seguinte o olho humano natildeo se abre sobre as trevas originaacuterias do mundo mas sobre a cena de um cosmo jaacute aclarado pela luz intelectual Essa metaacutefora exprimia para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica de 18 de julho de1985) a proacutepria essecircncia daquela imaginaacuteria modernidade em torno da qual se esgotavam os poacutes-modernistas Estes inclusive pareciam totalmente ignaros quanto agrave nobre sentenccedila de um autor que consideravam um de seus antepassados Nunca existiu eacutepoca alguma que natildeo tenha se achado moderna no sentido excecircntrico do termo e natildeo tenha acreditado que se encontrava imediatamente diante de um abismo A consciecircncia desesperada e luacutecida de encontrar-se no meio de uma crise decisiva eacute algo de crocircnico na humanidade (W Benjamin Paris CaPital do Seacuteculo XIX trad it Parigi capitauacute dei XIX secolo Einaud~ 1986 p 701)

bull

As paacuteginas dedicadas no final da deacutecada de 1950 a Cornelio Agrippa e a Francis Bacon agrave relaccedilatildeo entre magia e ciecircncia levaram-me muito longe dos programas e dos projetos iniciais conforme costuma acontecer

Trabalhei longamente nas deacutecadas que se seguiram com as artes da

memoacuteria com a assim chamada descoberta do tempo ocorrida entre o

Quinhentos e o Setecentos com a ftlosofia de Giambattista Vico mas o tema da

magia ou melhor o tema da relaccedilatildeo entre magia e modernidade que surgira em

minha vida desde a publicaccedilatildeo em 1955 do livro de E Garin Testi umanistici sullermetisnw natildeo mais me abandonou Agravequele tema satildeo dedicadas natildeo apenas

as paacuteginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola Francesco Patrizi

Giordano Bruno e sobre argumentos afins mas (aleacutem das aparecircncias) muitas paacuteginas que escrevi nas deacutecadas de 1970 e 1980 e que reuni no jaacute citado Paragone degli ingegni moderni e postmoderni O outro meu livro La saacuteenza e lofilosqfia dei moderni (A Ciecircncia e a Filosofia dos Modernos) publicado por Boringhieri em 1989

abria-se com a premissa intitulada O Processo a Galileu no seacuteculo XX escrita vinte anos antes e que jaacute estava presente numa primeira ediccedilatildeo publicada em

Naacutepoles por Morano em 1971 Daquele processo agrave ciecircncia das imputaccedilotildees que ele continha e mesmo das

defesas que devia comportar - salvo reduzidas mesmo que relevantes exceccedilotildees

- os filoacutesofos da ciecircncia se ocuparam pouco e assim continuam fazendo No que

me diz respeito uma vez que meu assunto de estudo eacute a histoacuteria das ideacuteias entre os seacuteculos XVI e XVIII disso ocupei-me ateacute em demasia Muitas vezes pergunteishy

me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que por sinal

deu-me algumas satisfaccedilotildees Das paacuteginas que escrevi sobre o tema a que me

referi tive poucas ao contraacuterio e algumas vezes verdadeiros insultos Um ceacutelebre filoacutesofo italiano comparou-me certa vez a um cachorrinho que mordia o salto

de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele natildeo apenas pensava na

distacircncia abismal homemanimal que nos separava mas tambeacutem que ele tinha

certeza de estar caminhando sozinho rumo agrave Verdade) Um outro muito menos famoso que o primeiro qualificou-me - publicamente e mais gentilmente mas

bull

sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

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I bull l bulll

Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

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~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

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bull

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f O universo natildeo eacute uma realidade ordenada e estruturada hierarquicamente e se rebelam e condicionam nosso intelecto Acabamos entatildeo por discutir natildeo -shy Natildeo existe nenhuma necessaacuteria correspondecircncia entre os elementos que o acerca das coisas mas acerca das palavras Tentamos entatildeo construir uma

l constituem nem entre microcosmo e macrocosmo Natildeo apenas o homem natildeo linguagem rigorosa feita de definiccedilotildees Acabamos por perceber que aquela

reflete em sua mente a estrutura do mundo como tambeacutem entre a ordem do linguagem fala apenas de palavra e que as coisas fugiram-nos irremediavelmente

cosmo e a da sociedade natildeo existe nenhuma correspondecircncia que possa ser das matildeos Por outro lado estamos condenados a fazer uso da linguagem e dela

encontrada As fontes do conhecimento satildeo vaacuterias a feacute a tradiccedilatildeo o sentido o natildeo podemos prescindir

i intelecto DifIcil eacute estabelecer uma hierarquia entre elas A feacute s6 vale para as Entretanto tambeacutem a necessidade de pontos de apoios confiaacuteveis e

indubitaacuteveis faz parte da natureza do homem Parece que os homens sentemI coisas que lhe pertencem O sentido nos engana muitas vezes e o intelecto muito I t mais vezes S6 temos certeza de uma coisa que natildeo podemos nos fiar na tradiccedilatildeo a necessidade de princiacutepios estaacuteveis procuram uma espeacutecie de eixo em

em geral e na filosofia em particular uma vez que nelas foram construiacutedos volta do qual fazer rotar a variedade dos argumentos e das meditaccedilotildees Se

inuacutemeros mundos de palco semelhantes aos teatros dos poetas onde as histoacuterias o intelecto sofre abalos e flutuaccedilotildees os homens tecircm a impressatildeo que o ceacuteu desaba

contadas tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada em cima deles e procuram logo um chatildeo soacutelido uma espeacutecie de Atlas dos

um Os enganos que se encontram em nossas fontes de conhecimento natildeo satildeo pensamentos semelhante ao que na lenda suportava o ceacuteu sobre seus ombros Na

como defeitos ou culpas aos quais se pode remediar Dependem do fato de que realidade os homens tecircm mais medo da duacutevida do que do erro e se iludem de

nossa mente mistura continuamente sua natureza com a natureza das coisas e poderem estabelecer alguns princiacutepios dos quais possa ser derivado todo o saber

do fato de que as imagens falsas e as falaacutecias fazem parte da estrutura da mente e em torno dos quais eles possam fazer rotar todas as suas disputas

satildeo inatas nela e estatildeo radicadas na natureza humana Os erros satildeo inseparaacuteveis Mas o problema maior eacute o da novidade e da dificuldade ou da incapacidade

de nossa natureza e condiccedilatildeo de vida Posso descrevecirc-Ios tentar exorcizaacute-los de pensar o novo Porque a mente humana estaacute mal organizada primeiro desconfia

tomando consciecircncia deles De muitos deles nunca poderei em caso algum ficar demasiado de si proacutepria e em seguida se despreza No comeccedilo parece

completamente livre inacreditaacutevel que algo possa ser descoberto Depois tatildeo logo esse algo eacute

A imagem de que eacute possiacutevel servir-se para pensar o universo eacute a do labirinto descqberto acha-se inacreditaacutevel que possa ter sido ignorado Haacute um duplo

ou caso se prefira a da selva Com efeito natildeo haacute estradas visiacuteveis mas somente preconceito que atua sempre ameaccedilando o novo a crenccedila cristalizada naquilo

caminhos ambiacuteguos Natildeo haacute siacutemiles seguros apenas semelhanccedilas enganadoras que jaacute se encontra estabelecido e a tendecircncia em inserir o novo (privando~ de

de signos e de coisas Natildeo haacute percursos em linha reta apenas espirais e noacutes seu caraacuteter de novidade) dentro de um esquema jaacute prefigurado Se antes da

torcidos e complicados O acaso os efeitos da credulidade as primeiras noccedilotildees introduccedilatildeo da seda tivesse sido imaginada a existecircncia de um fio diferente do

absorvidas na infacircncia constituem aquele patrimocircnio ao qual damos o nome de algodatildeo e da latilde e mais suave brilhante e resistente quem teria sido capaz de

razatildeo Sequer o que realmente nos diferencia dos animais nos ajuda muito Porque pensar numa taturana ou num verme

a linguagem natildeo eacute absolutamente conforme se acreditou durante muito tempo Estando assim as coisas natildeo tem sentido um quadro completo e

( uma entidade controlaacutevel As palavras a partir do momento em que satildeo usadas exaustivo do mundo Onde quer que ele seja construiacutedo esse quadro suscita um

retorcem sua forccedila contra o intelecto Parece-nos poder traccedilar mediante as consenso imediato uma vez que produz sentimentos de seguranccedila Poreacutem eacute

palavras linhas de demarcaccedilatildeo bem visiacuteveis entre as coisas Depois poreacutem toda melhor estimulara inteligecircncia do que usurpar a boa feacute Eacute melhor renunciar a

vez que tentamos deslocar aquelas linhas as palavras satildeo um obstaacuteculo para noacutes compor tratados e proceder ao contraacuterio por afirmaccedilotildees desligadas e provisoacuterias

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como eacute igualmente melhor assegurar menos e mostrar os vazios do saber e VIII solicitar a pesquisa Nenhuma filosofia universal e completa eacute proponiacutevel e as teses filosoacuteficas que foram expostas ateacute agora natildeo satildeo as expressotildees da verdade mas sim satildeo comparaacuteveis aos sons pouco agradaacuteveis emitidos pelos muacutesicos quando afinam seus instrumentos O concerto ainda estaacute para chegar e pode-se alimentar apenas a esperanccedila de que seja melhor do que os sons atuais Por isso natildeo haacute nenhum meacutetodo que seja universal e perfeito Por isso natildeo existe nenhuma

arte da descoberta uma vez que ela cresce com o proacuteprio crescimento das

-descobertas (Scrittifilosqfiaacute org Paolo Rossi Turim UTEU 1975 pp 561 573536-37560526608570263274427 593-94 423621 275-76346 637 A uacutenica referecircncia obtida de um escrito fora da ediccedilatildeo indicada encontrashyse em The Worlcs oJ Francis Bacon org R L Ellis 1 Spedding D D Heath Londres 1887-92 I pp 640-41)

Concluindo essas satildeo algumas das respostas dadas por Francis Bacon entre 1605 e 1620 agrave pergunta o que eacute o saber Se essas respostas forem de algum modo significativas parece-me dificil aplicar a elas os roacutetulos utilizados pelos filoacutesofos da poacutes-modernidade explicaccedilotildees totalizadoras do mundo ou entatildeo capacidade projetual de uma subjetividade que se desdobra rumo a um horizonte de fins dos quais pretende possuir a chave ou ainda extremada aspiraccedilatildeo a uma ordem absoluta e definitiva de seguranccedila Parece-me igualmente diflcil utilizar metaacuteforas como a seguinte o olho humano natildeo se abre sobre as trevas originaacuterias do mundo mas sobre a cena de um cosmo jaacute aclarado pela luz intelectual Essa metaacutefora exprimia para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica de 18 de julho de1985) a proacutepria essecircncia daquela imaginaacuteria modernidade em torno da qual se esgotavam os poacutes-modernistas Estes inclusive pareciam totalmente ignaros quanto agrave nobre sentenccedila de um autor que consideravam um de seus antepassados Nunca existiu eacutepoca alguma que natildeo tenha se achado moderna no sentido excecircntrico do termo e natildeo tenha acreditado que se encontrava imediatamente diante de um abismo A consciecircncia desesperada e luacutecida de encontrar-se no meio de uma crise decisiva eacute algo de crocircnico na humanidade (W Benjamin Paris CaPital do Seacuteculo XIX trad it Parigi capitauacute dei XIX secolo Einaud~ 1986 p 701)

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As paacuteginas dedicadas no final da deacutecada de 1950 a Cornelio Agrippa e a Francis Bacon agrave relaccedilatildeo entre magia e ciecircncia levaram-me muito longe dos programas e dos projetos iniciais conforme costuma acontecer

Trabalhei longamente nas deacutecadas que se seguiram com as artes da

memoacuteria com a assim chamada descoberta do tempo ocorrida entre o

Quinhentos e o Setecentos com a ftlosofia de Giambattista Vico mas o tema da

magia ou melhor o tema da relaccedilatildeo entre magia e modernidade que surgira em

minha vida desde a publicaccedilatildeo em 1955 do livro de E Garin Testi umanistici sullermetisnw natildeo mais me abandonou Agravequele tema satildeo dedicadas natildeo apenas

as paacuteginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola Francesco Patrizi

Giordano Bruno e sobre argumentos afins mas (aleacutem das aparecircncias) muitas paacuteginas que escrevi nas deacutecadas de 1970 e 1980 e que reuni no jaacute citado Paragone degli ingegni moderni e postmoderni O outro meu livro La saacuteenza e lofilosqfia dei moderni (A Ciecircncia e a Filosofia dos Modernos) publicado por Boringhieri em 1989

abria-se com a premissa intitulada O Processo a Galileu no seacuteculo XX escrita vinte anos antes e que jaacute estava presente numa primeira ediccedilatildeo publicada em

Naacutepoles por Morano em 1971 Daquele processo agrave ciecircncia das imputaccedilotildees que ele continha e mesmo das

defesas que devia comportar - salvo reduzidas mesmo que relevantes exceccedilotildees

- os filoacutesofos da ciecircncia se ocuparam pouco e assim continuam fazendo No que

me diz respeito uma vez que meu assunto de estudo eacute a histoacuteria das ideacuteias entre os seacuteculos XVI e XVIII disso ocupei-me ateacute em demasia Muitas vezes pergunteishy

me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que por sinal

deu-me algumas satisfaccedilotildees Das paacuteginas que escrevi sobre o tema a que me

referi tive poucas ao contraacuterio e algumas vezes verdadeiros insultos Um ceacutelebre filoacutesofo italiano comparou-me certa vez a um cachorrinho que mordia o salto

de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele natildeo apenas pensava na

distacircncia abismal homemanimal que nos separava mas tambeacutem que ele tinha

certeza de estar caminhando sozinho rumo agrave Verdade) Um outro muito menos famoso que o primeiro qualificou-me - publicamente e mais gentilmente mas

bull

sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

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Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

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~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

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fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

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e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

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fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

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Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

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bull

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L

como eacute igualmente melhor assegurar menos e mostrar os vazios do saber e VIII solicitar a pesquisa Nenhuma filosofia universal e completa eacute proponiacutevel e as teses filosoacuteficas que foram expostas ateacute agora natildeo satildeo as expressotildees da verdade mas sim satildeo comparaacuteveis aos sons pouco agradaacuteveis emitidos pelos muacutesicos quando afinam seus instrumentos O concerto ainda estaacute para chegar e pode-se alimentar apenas a esperanccedila de que seja melhor do que os sons atuais Por isso natildeo haacute nenhum meacutetodo que seja universal e perfeito Por isso natildeo existe nenhuma

arte da descoberta uma vez que ela cresce com o proacuteprio crescimento das

-descobertas (Scrittifilosqfiaacute org Paolo Rossi Turim UTEU 1975 pp 561 573536-37560526608570263274427 593-94 423621 275-76346 637 A uacutenica referecircncia obtida de um escrito fora da ediccedilatildeo indicada encontrashyse em The Worlcs oJ Francis Bacon org R L Ellis 1 Spedding D D Heath Londres 1887-92 I pp 640-41)

Concluindo essas satildeo algumas das respostas dadas por Francis Bacon entre 1605 e 1620 agrave pergunta o que eacute o saber Se essas respostas forem de algum modo significativas parece-me dificil aplicar a elas os roacutetulos utilizados pelos filoacutesofos da poacutes-modernidade explicaccedilotildees totalizadoras do mundo ou entatildeo capacidade projetual de uma subjetividade que se desdobra rumo a um horizonte de fins dos quais pretende possuir a chave ou ainda extremada aspiraccedilatildeo a uma ordem absoluta e definitiva de seguranccedila Parece-me igualmente diflcil utilizar metaacuteforas como a seguinte o olho humano natildeo se abre sobre as trevas originaacuterias do mundo mas sobre a cena de um cosmo jaacute aclarado pela luz intelectual Essa metaacutefora exprimia para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica de 18 de julho de1985) a proacutepria essecircncia daquela imaginaacuteria modernidade em torno da qual se esgotavam os poacutes-modernistas Estes inclusive pareciam totalmente ignaros quanto agrave nobre sentenccedila de um autor que consideravam um de seus antepassados Nunca existiu eacutepoca alguma que natildeo tenha se achado moderna no sentido excecircntrico do termo e natildeo tenha acreditado que se encontrava imediatamente diante de um abismo A consciecircncia desesperada e luacutecida de encontrar-se no meio de uma crise decisiva eacute algo de crocircnico na humanidade (W Benjamin Paris CaPital do Seacuteculo XIX trad it Parigi capitauacute dei XIX secolo Einaud~ 1986 p 701)

bull

As paacuteginas dedicadas no final da deacutecada de 1950 a Cornelio Agrippa e a Francis Bacon agrave relaccedilatildeo entre magia e ciecircncia levaram-me muito longe dos programas e dos projetos iniciais conforme costuma acontecer

Trabalhei longamente nas deacutecadas que se seguiram com as artes da

memoacuteria com a assim chamada descoberta do tempo ocorrida entre o

Quinhentos e o Setecentos com a ftlosofia de Giambattista Vico mas o tema da

magia ou melhor o tema da relaccedilatildeo entre magia e modernidade que surgira em

minha vida desde a publicaccedilatildeo em 1955 do livro de E Garin Testi umanistici sullermetisnw natildeo mais me abandonou Agravequele tema satildeo dedicadas natildeo apenas

as paacuteginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola Francesco Patrizi

Giordano Bruno e sobre argumentos afins mas (aleacutem das aparecircncias) muitas paacuteginas que escrevi nas deacutecadas de 1970 e 1980 e que reuni no jaacute citado Paragone degli ingegni moderni e postmoderni O outro meu livro La saacuteenza e lofilosqfia dei moderni (A Ciecircncia e a Filosofia dos Modernos) publicado por Boringhieri em 1989

abria-se com a premissa intitulada O Processo a Galileu no seacuteculo XX escrita vinte anos antes e que jaacute estava presente numa primeira ediccedilatildeo publicada em

Naacutepoles por Morano em 1971 Daquele processo agrave ciecircncia das imputaccedilotildees que ele continha e mesmo das

defesas que devia comportar - salvo reduzidas mesmo que relevantes exceccedilotildees

- os filoacutesofos da ciecircncia se ocuparam pouco e assim continuam fazendo No que

me diz respeito uma vez que meu assunto de estudo eacute a histoacuteria das ideacuteias entre os seacuteculos XVI e XVIII disso ocupei-me ateacute em demasia Muitas vezes pergunteishy

me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que por sinal

deu-me algumas satisfaccedilotildees Das paacuteginas que escrevi sobre o tema a que me

referi tive poucas ao contraacuterio e algumas vezes verdadeiros insultos Um ceacutelebre filoacutesofo italiano comparou-me certa vez a um cachorrinho que mordia o salto

de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele natildeo apenas pensava na

distacircncia abismal homemanimal que nos separava mas tambeacutem que ele tinha

certeza de estar caminhando sozinho rumo agrave Verdade) Um outro muito menos famoso que o primeiro qualificou-me - publicamente e mais gentilmente mas

bull

sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

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I bull l bulll

Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

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~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

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Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

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bull

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sem saber que estaria com isso me agradando - como irremediavelmentefora da modernidade mas como o supremo legislador da moderna repuacuteblica da alualUuacuteuie Um outro ainda muito aflito com a suspeita de ser menos ceacutelebre ateacute ciecircncia Na Philosophy of inductive sciences (1847) William Whewell mesmo do que o menos ceacutelebre teve a oportunidade (privada) de qualificar nada comparava-o a Heacutercules que destroacutei os monstros da supersticcedilatildeo a Soacutelon que menos que de indecente meu Paragone degli ingegni estabelece as bases de uma constituiccedilatildeo vaacutelida para qualquer eacutepoca (W

Mesmo um esboccedilo de resposta agravequele por quecirc exigiria um longo discurso Whewell Selected Writings on lhe History qf Science ed Yehuda Elkana

que inclusive eu natildeo conseguiria alinhavar de maneira aceitaacutevel Mas quem Chicago-Londres The University of Chicago Press 1948 p 219) A retoacuterica

sabe eu possa substituir aquela resposta pela referecircncia a dois textos O primeiro dos adversaacuterios natildeo teve menor forccedila do que a dos admiradores incondicionais

(de 1956) eacute de Ernesto De Martino o segundo (de 1976) eacute de Jean Ameacutery Jaacute haacute Poucos anos antes Joseph de Maistre o feroz criacutetico da revoluccedilatildeo francesa

tempo uma turva inveja do nada uma sinistra tentaccedilatildeo tipo crepuacutesculo dos tinha escrito Desprovido em relaccedilatildeo a qualquer assunto de princiacutepios estaacuteveis espiacuterito puramente negativo oscilando entre a antiga crenccedila e a deuses propaga-se no mundo moderno como uma forccedila que natildeo encontra nova reforma entre a autoridade e a rebeliatildeo entre Platatildeo e Epicuro Bacon modelos adequados de resoluccedilatildeo cultural e que natildeo se ordena num leito de defluxo acaba por natildeo saber nem mesmo o que sabe A impressatildeo geral que me ficou e de contenccedilatildeo socialmente aceitaacutevel e moralmente conciliaacutevel com a consciecircncia apoacutes ter pesado tudo eacute que natildeo podendo confiar nele por nada desprezo-ltgt tanto dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar histoacuteria por aquilo que afirma quanto por aquilo que nega (1 de Maistre Examen de lado ocidente (Furare simbolo valore cit p 169) Jamais teria imaginado quando Philosophie de Baco7 tome n Bruxelas 1836-1838 pp 92-93)em 1966 saiu publicada a primeira ediccedilatildeo de meu livro e meus adversaacuterios eram

Ciecircncia da natureza moral poliacutetica economia - em tudo aquele espiacutetito tatildeo-somente aqueles que satildeo meus adversaacuterios naturais os nazistas velhos e luminoso e profundo parece ter sido competente E natildeo se sabe se admirar maisnovos os irracionalistas e os fascistas a escoacuteria reacionaacuteria que em 1939 levou o as riquezas que proacutediga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade

mundo agrave morte Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturais aos com que deles fala com essas palavras Jean d Alembert referira-se a Bacon no

jovens e agraves jovens de esquerda eacute um fato que ultrapassa a jaacute demasiado gasta discurso preliminar agravegrande enciclopeacutedia do Iluminismo (1 dAlembert Discours

dialeacutetica Eacute uma daquelas peacutessimas farsas da histoacuteria universal que nos levam Preacuteliminaire de lEncyclopeacutedie Paris 175 1 )

a duvidar e em uacuteltima anaacutelise a desesperar do sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escolhido como mote da segunda ediccedilatildeo da Critica CUacutel

histoacutericos (Intellettuale ad Auschwitx Turim Bollati Boringhieri 1987 p 20) Razatildeo Puro (1787) o de Francis Bacon criticar Bacon por natildeo ter sido Galileu ou Newton foi um dos passatempos favoritos do seacuteculo dezenove (M Hesse

IX Francis Bacons Philosophy of Science in B Vickers (org) Essential Articles for the

Studyof F Baco7 Londres Sidgwick and Jakson 1972 p 31) nas Liccedilotildees de Histoacuteria Todo o discurso dos paraacutegrafos precedentes adquiriria quem sabe um da FilosCfia de Hegel haviam sido formulados juiacutezos que vieram a ter um peso

sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo Bacon eacute o precursor e o representante daquilo que na Inglaterra se histoacuteria da fortuna de um autor Aquela histoacuteria que eacute sempre tambeacutem a histoacuteria costuma chamar filosofia e por meio da qual os Ingleses ainda natildeo conseguiram da des-fortuna do azar pode ser escrita em relaccedilatildeo a todo grande filoacutesofo No se erguer Com efeito eles parecem constituir na Europa um povo destinado a caso de Francis Bacon poreacutem exaltaccedilotildees e rebaixamentos sucederam-se com viver imerso na mateacuteria a ter por objeto a realidade e natildeo a razatildeo como no uma intensidade de todo particular Na segunda metade do seacuteculo XIX Bacon Estado dos artesatildeosmiddot e dos lojistas (G G Hegel Liccedilotildees de Histoacuteria CUacutelfilosCfia era apresentado natildeo apenas como um dos grandes pais fundadores da trad it Firenze La Nuova Itaacutelia 1934 m 2 pp 17-18)

I

I bull l bulll

Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

i bull

~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

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Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

1957 pp 75-89

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japonesa Tokyo The Simul Press 1970 espanhola Madri Alianza Editorial

1990

Sul carattere non utilitaristico delta filosofia di Francesco Bacone (Sobre o

caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

scienza in Francesco Bacone (Verdade e utilidade da ciecircncia em Francis Bacon

em lfilosofi ele macchine 1400-1700 (Os filoacutesofos e as maacutequinas 1400-1700) Milatildeo Feltrinelli 1962 1971 1980 1984 2002 pp 148-75 Em trad espanhola Barcelona Editorial Labor 1966 americana Nova York Harper and Row 1970

huacutengara Budapest Kossuth 1976 polonesa Warszawa Panstwowe Vydawnictwo

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GaktYutsu Shobo 1989 francesa Paris Presses Universitaires de France 1996)

La memoria artificiale come sezione della logica Ramo Bacone Cartesio (A memoacuteria artificial como seccedilatildeo da loacutegica Ramus Bacon Descartes) em Rivista critica di storia della filosofia Xv 1960 pp 203-63 depois refundido em CTavis universalis arti delTa memoria e logica combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis

universalis artes da memoacuteria e loacutegica combinatoacuteria de Llull a Leibniz) MilatildeoshyNaacutepoles Ricciardi 1960 em nova ediccedilatildeo Bolonha n Muliacuteno 1985 1988 O liVrEgt apareceu depois em ediccedilatildeo japonesa Tokyo Kokusho Kankokai 1984

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Em 1863 saiu publicado F Bacon von Verulam und die Methode der No decorrer das deacutecadas de 1950 e 1960 registrou-se em volta da figura Naturforschungde Justus von Liebig Negado r do movimento da Terra ignaro de Francis Bacon uma curiosa convergecircncia de avaliaccedilotildees negativas Para alguns das descobertas astronocircmicas de seu tempo Bacon eacute todo exterioridade eacute filoacutesofos de liacutengua inglesa que seguiam a linha de Karl Popper Sacon tornou-se incapaz de humildade leva adiante contra a Escolaacutestica (jaacute destruiacuteda por o siacutembolo daquilo que a ciecircncia nunca foi e nunca teraacute de ser uma forma de Leonardo na Itaacutelia e por Paracelso na Alemanha) uma batalha contra os conhecimento que deriva apenas de observaccedilotildees um processo de acumulaccedilatildeo de moinhos de vento Seu processo de pensamento e sua induccedilatildeo satildeo falsos e dados natildeo selecionados uma tentativa ilusoacuteria de liberar a mente de qualquer natildeo aplicaacuteveis agrave ciecircncia da natureza Nas paacuteginas de Liebig notava-se que a tese preacute-estabelecida Sobre Bacon e o seu meacutetodo Karl Popper havia enunciado

I reaccedilatildeo contra a exaltaccedilatildeo iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressatildeo duas teses de acordo com a primeira existe (e eacute filosoficamente relevante) umI Entretanto muitos dos juiacutezos apressados e superficiais de Liebig tornaramshyI problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos A 1 se lugares comuns da historiografia dos manuais segunda tese diz respeito ao fato de que Sacon teria elaborado uma saiacuteda errada

Natildeo se trata apenas de oposiccedilotildees oitocentescas Durante o Novecentos o para esse problema real ele pensa que a mente possa vir a ser 1ivrada e identifica estilo torna-se menos enfaacutetico sem se atenuarem poreacutem nem a aspereza dos i para esse fun a observaccedilatildeo dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento juiacutezos nem o tom polecircmico nem a forccedila das contraposiccedilotildees Na Itaacutelia ftoacutesofos Aquele livramento coincide entretanto com um esvaziamento da mente que na profundamente compenetrados de sua grande austera missatildeo chegam quando terminologia de Popper passa a ser com isso identificada com um recipiente e natildeo se trata de Bacon a perder o sentido da medida Dois exemplos seratildeo suficientes

com umforol Quando a mente for livrada dos idola ela tornar-se-aacute uma mente Sabe-se que Vico considerou Sacon (junto com Platatildeo Taacutecito e Grozio) um de

~ vazia ou uma tabula abrasa O de Bacon eacute um projeto ao mesmo tempo errado eseus quatro autores e que vaacuterias vezes expressou sua admiraccedilatildeo pelo Grande

irrealizaacutevel (K Popper Cdrljeturas e Conjuuacutelccedilotildees e o conhecimento objetivo trad it Chanceler de quem recomendou para leitura o De augmentis scientiarum um

Congetture ecorifutazion~ Bolonha 11 Mulino 1985 e La amoscenza oggettiva Romalivro que ele considerava semper inspiciendum et sub oculis habendum (G

Armando 1975)Vico De mente her6ica em Opere org F Nicolini Milatildeo-Naacutepoles Ricciard~ 1953

Este natildeo passa de um Bacon literalmente inventado pois existe um ceacutelebre p 924) Podia o juiacutezo de Vico ser aceito pelos idealistas italianos do comeccedilo de aforisma (o nuacutemero 95 do Novum Organum) que por incriacutevel que pareccedila

Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do idealismo e do permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos Nele (e em outros textos historicismo e que tendiam repetindo juiacutezos hegelianos a negar agraves correntes que expressam as mesmas teses tambeacutem) Bacon assume decididamente uma empiristas a qualificaccedilatildeo e a dignidade de serem ftlosofias Giovanni Gentile posiccedilatildeo justamente contra aqueles que se limitam a recolher os fatos sem seremdeclarou com todas as letras que o empirista Bacon natildeo podia ter um significado guiados por alguma teoria Bacon estaacute longe de dividir os homens nas duaspara Vico Benedetto Croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que falava categorias a dos open minded e a dos superstitious inventadas pela mente feacutertil de Vico fora meio imaginado por ele Fausto Nicolini falou em esboccedilos muito ~Popper e de seus disciacutepulos O que Bacon faz eacute dividi-los em duas classes a dos __~superficiais de muito pouca importacircncia e chegou a roccedilar o ridiacuteculo quando -g

afirmou que as teses baconianas de Vico haviam sido escritas quase en badinant _~mp~ ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelham agraves I E

como quem natildeo daacute muito peso agravequilo que diz (G Gentile Studi Vtchian~ Florenccedila formigas e a dos Racionais ou elaboradores de teorias retiradas apenas do interior J -g Jj

Sansoni 1927 p 41 B Croce Lafilosqfia de G B Vico Bar~ Laterza 1911 p S5 da proacutepria ment~q~~-~semelham agraves aranhas A atividade verdadeira (opifiacutectum) -sectF Nicolin~ Saggi vichian~ Naacutepoles Giannini 1955 p 29 G B Vico Autobiografia da fllosofia natildeo repousa apenas nas forccedilas da mente nemconsiste em obter material ~

org F Nicolini Milatildeo Bompiani 1947 pp 222225) da histoacuteria natural e dos experimentos para conservaacute-lo na memoacuteria intacto do d

i Ibull iiilIItliiii~1jfulclt l bulle IIi Ih _

( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

i bull

~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

faacutebulas antigas) Publicaccedilotildees da Rivista critica di storia dellafilosofia Roma-Milatildeo

Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

1957 pp 75-89

Francesco Bacone dalla magia alla scienxa (Francis Bacon da magia agrave ciecircncia)

Bari Laterza 1957 Turim Einaudi 1974 em ediccedilatildeo anglo-americana Londres

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Sul carattere non utilitaristico delta filosofia di Francesco Bacone (Sobre o

caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

scienza in Francesco Bacone (Verdade e utilidade da ciecircncia em Francis Bacon

em lfilosofi ele macchine 1400-1700 (Os filoacutesofos e as maacutequinas 1400-1700) Milatildeo Feltrinelli 1962 1971 1980 1984 2002 pp 148-75 Em trad espanhola Barcelona Editorial Labor 1966 americana Nova York Harper and Row 1970

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( jeito que o encontra Como as abelhas a verdadeira ftlosofia segue o caminho do meio retira seu material das flores dos campos e dos jardins mas o transforma e o digere com o intelecto

i Com o tipo de impiedade proacuteprio dos ftloacutesofos especulativos Popper e seus 1 disciacutepulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma

entidade que designava apenas e exclusivamente a ideacuteia gerada por suas mentes feacuterteis (sempre prescindindo dos textos) Para os seguidores da escola de

Frankfurt Bacon era precisamente o oposto o suacutenbolo daquilo que a ciecircnciafoi

ateacute agora e continua seruk mas natildeo teraacute TIUlis de ser Um conhecimento que coincide - com o domiacutenio sem limites de uma natureza desencantada um saber que eacute

poder e que natildeo conhece freios nem na subjugaccedilatildeo das criaturas nem na docilidade para com os senhores do mundo No livro Dialektik tUacuter A7ifkarung

de 1947 que teraacute tardia mas larga difusatildeo na deacutecada de 1960 Horkheimer e Adorno vecircem em Bacon o tiacutepico animus da ciecircncia moderna No rastro das paacuteginas escritas por Heidegger em Hol~wege a ciecircncia moderna aparece como natildeo

podendo ser distinguida da teacutecnica e Bacon torna-se o suacutenbolo desta nefasta

identificaccedilatildeo O entusiasmo cientiacutefico e tecnoloacutegico do Lorde Chanceler estaria nas raiacutezes da transformaccedilatildeo da cultura em mercadoria transformaccedilatildeo essa que leva por sua vez agrave sociedade industrial moderna interpretada pela escola de

Frankfurt como o reino da alienaccedilatildeo do conformismo da estandardizaccedilatildeo (M

Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica do Iluminismo (trad it Dialettica

I de1l7lluminismo Turim Einaudi 1966 pp 12 15 50 54 56)

A um fIloacutesofo que tinha escrito o gosto e o prazer do conhecimento superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza e

tambeacutem as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade

do que pelos beneficios que elas oferecem para a vida (Escritos Fiwsoacuteficos cito p 65 I) Horkheimer e Adorno atribuiacuteam os seguintes pensamentos A infecunda

felicidade do conhecimento eacute lasciva tanto para Bacon como para Lutero Natildeo eacute aquela satisfaccedilatildeo que os homens chamam verdade que importa mas sim a operation

o procedimento eficaz (M Horkheimer e T Adorno Dialeacutetica cit pp 1515)

Conforme repetia frequumlentemente Jacques Roger nos casos dos livros ideoloacutegicos escritos de modo brilhante eacute completamente inuacutetil elencar fatos com

i bull

~~=- -~~ ~ l - middotmiddotm _ r S$bC

a finalidade de falsificar teorias As paacuteginas dos adeptos da escola de Frankfurt tiveram influecircncia determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon

sobre as relaccedilotildees magia-ciecircncia sobre a imagem da ciecircncia A bibliografia eacute vastiacutessima vou limitar-me por razotildees de espaccedilo a um uacutenico livro O livro de Carolyn Merchant The Death of Nature Women Ecology and the Scientific

Revolution publicado em 1980 ocupa um lugar de relevo naliteratura do feminismo Diante da morte de algueacutem eacute sempre oportuno se perguntar se a

morte foi natural ou provocada por outrem A autora nesse ponto natildeo alimenta

duacutevidas A natureza foi morta e seus assassinos satildeo a ciecircncia de Galileu e Newton ladeada ou completada pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber

como domiacutenio sobre a natureza e pelo determinismo cartesiano que concebia a

natureza como uma maacutequina O mundo que perdemos era orgacircnico A maioria dos histoacutericos consideraram a revoluccedilatildeo cientiacutefica dos seacuteculos XVI e XVII como um periacuteodo de iluminaccedilatildeo intelectual Uma vez constatado o esgotamento dos recursos por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem

ser reavivados pressupostos holiacutesticos sobre a natureza Foi se abrindo caminho a uma convicccedilatildeo ecoloacutegica que consiste em afirmar que cada coisa estaacute ligada

a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos tecircm uma importacircncia prioritaacuteria todas as partes dependem uma da outra e influem reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo Esta convicccedilatildeo ecoloacutegica natildeo estaacute por acaso proacutexima da visatildeo maacutegica do mundo Agraves teses que

se encontram em Marsilio Ficino Giordano Bruno e Tommaso Campanella de

um todo vivente Considerando a natureza como uma realidade inanimada o

mecanicismo por acaso natildeo confere uma sutil legitimaccedilatildeo agrave espoliaccedilatildeo e agrave

manipulaccedilatildeo da natureza e de seus recursos Juntando uma nova filosofia fundada

na magia natural as novas tecnologias a ideacuteia emergente do progresso e uma

concepccedilatildeo patriarcal da famiacutelia e do Estado Francis Bacon transformou as tendecircncias jaacute existentes na proacutepria sociedade em um programa total que

propugnava o controle sobre a natureza para o beneficio do homem Bacon foi

admirado e elogiado mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das mulheres emerge uma imagem menos favoraacutevel a seu programa que beneficiava

o empreendedor burguecircs masculino Bacon trata a natureza como se fosse uma

bull

bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

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Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

1957 pp 75-89

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Routledge and Kegan Paul 1968 Chicago University of Chicago Press 1968

japonesa Tokyo The Simul Press 1970 espanhola Madri Alianza Editorial

1990

Sul carattere non utilitaristico delta filosofia di Francesco Bacone (Sobre o

caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

scienza in Francesco Bacone (Verdade e utilidade da ciecircncia em Francis Bacon

em lfilosofi ele macchine 1400-1700 (Os filoacutesofos e as maacutequinas 1400-1700) Milatildeo Feltrinelli 1962 1971 1980 1984 2002 pp 148-75 Em trad espanhola Barcelona Editorial Labor 1966 americana Nova York Harper and Row 1970

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GaktYutsu Shobo 1989 francesa Paris Presses Universitaires de France 1996)

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universalis artes da memoacuteria e loacutegica combinatoacuteria de Llull a Leibniz) MilatildeoshyNaacutepoles Ricciardi 1960 em nova ediccedilatildeo Bolonha n Muliacuteno 1985 1988 O liVrEgt apareceu depois em ediccedilatildeo japonesa Tokyo Kokusho Kankokai 1984

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bull-Satilde Latilde =tEcirc

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bull bull

fecircmea que deve ser torturada e isso traz de volta irresistivelmente agrave lembranccedila (paifaitement neacuteguacutegeable) o platonismo e o matematismo a tese de que a ciecircncia

as perguntas que se faziam nos processos agraves bruxas e aos instrumentos mecacircnicos seja apenas theonmiddota tornam Koyreacute corno que cego diante da tradiccedilatildeo baconiana

usados para torturaacute-las (C Merchant Morte da Natureza Mulheres ErokJgia e que insistiu desde as origens nos aspectos praacuteticos operativos experimentais

Revolccedilatildeo Cientifica [ trad it Morte della natura Donne ecologia e rivoluzione do empreendimento cientiacutefico Natildeo se trata entretanto das relaccedilotildees entre a teoria

scientlfzca] Milatildeo Garzanti 1988 pp 37 145148-9217221) e as operaccedilotildees Isso porque conforme sublinhou Thomas Kuhn a Revoluccedilatildeo

Para alguns filoacutesofos do seacuteculo XX que defendem ou exaltam o saber Cientiacutefica foi resultado de urna profunda renovaccedilatildeo das ciecircncias claacutessicas

cientiacutefico Bacon nada tem a que ver com a ciecircncia Para outros filoacutesofos que (matemaacutetica geometria astronomia dinacircmica) e ao mesmo tempo do

acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espeacutecie de processo em contemporacircneo surgimento de novas ciecircncias

Bacon se manifesta a essecircncia do saber cientiacutefico Natildeo concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu

nada as duas seitas filosoacuteficas acabam se encontrando entretanto num ponto fundamental astronomia oacuteptica geomeacutetrica e estaacutetica (incluindo aqui a

a recusa por razotildees opostas da filosofia de Bacon Para os disciacutepulos demiddot Popper hidrostaacutetica) satildeo as uacutenicas partes das ciecircncias fisicas que se tornarampara os seguidores freqUentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de durante a antiguidade objeto de uma tradiccedilatildeo de pesquisa caracterizadaHorkheimer Adorno e Marcuse Bacon tornou-se uma espeacutecie de cabeccedila-deshypor terminologias e teacutecnicas inacessiacuteveis ao leigo O calor e a eletricidadeturco contra a qual se exercem criacuteticas ao mesmo tempo superficiail e destrutivas permanecem apenas classes interessantes de fenocircmenos argumento deUma vez que quase todas se baseavam em lugares comuns e suscitavam consenso debates e especulaccedilotildees filosoacuteficas A astronomia aparece firmemente ligadaagravenatildeo enquanto fundadas nos textos mas sim na adesatildeo agraves grandes tendecircncias da matemaacutetica e agrave geometria a oacuteptica e a estaacutetica retiram da geometria o vocabulaacuterio ideologia contemporacircnea aquelas criacuteticas deixaram completamente indiferentes teacutecnico e compartilham seu caraacuteter dedutivo O desenvolvimento destas ciecircncias os historiadores por saberem quanto eacute vatildeo chamar a atenccedilatildeo para o rigor histoacuterico

diante dos discursos ideoloacutegico-polfticos conforme foi frisado por muitos apesar de sua natureza empiacuterica natildeo exigiu

nem observaccedilotildees refinadas nem experimentos em sentido moderno os dados que

seu desenvolvimento requeria eram de uma espeacutecie que a observaccedilatildeo cotidiana agravesx vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer Sombras espelhos

alavancas movimentos celestes forneciam base empiacuterica suficiente para o Francis Bacon corno pai fundador da ciecircncia moderna eacute sem duacutevida um desenvolvimento de teorias ateacute mesmo poderosas Este grupo de ciecircncias claacutessicas

mito historiograacutefico construiacutedo entre o fim do seacuteculo XVIII e a metade do seacuteculo continua a constituir desde a Renascenccedila ateacute hoje um grupo estritamente conexo XIX Urna coisa poreacutem eacute afirmar essa verdade oacutebvia outra eacute declarar corno foi Galileu Kepler Descartes Newton e muitos outros passam com grande facilidade o caso de Alexandre Koyreacute que Bacon filoacutesofo creacutedulo e completamente da matemaacutetica agrave oacuteptica agrave harmonia agrave astronomia agrave estaacutetica ao estudo do movimento acriacutetico nada entendeu da ciecircncia por ser supersticioso e ligado agrave doutrina (Th Kuhn A Tensatildeo Essencial Mudanccedilas e Continuidades da Ciecircncia (trad it La das simpatias agrave magia agrave alquimia e proacuteximo por seu modo de pensar a um tensionemiddotesst1liale cambiamenti e ccntinuitaacute nela scienza) Turim Einaudi 1985 primitivo (sic) ou a um pensador da Renascenccedila (A Koyreacute Eacutetudes dhisoire pp 37-54 e em particular pp 42-46)fUacute la penseacutee cientifique Paris Presses Universitaires de France 1966 p 89) O baconismo - esta eacute a conclusatildeo de Kuhn - natildeo contribuiu para o

Na revoluccedilatildeo cientiacutefica assim corno ela foi concebida por Koyreacute e por muitos desenvolvimento das ciecircncias claacutessicas mas deu origem a um grande nuacutemero de historiadores da ciecircncia o papel de Bacon foi entatildeo completamente irrelevante

outros setores cientiacuteficos que tinham raiacutezes muitas vezes em misteres anteriores

Fi I h

e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

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pp 156-95

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Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

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bull

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e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaccedilatildeo das artes mecacircnicas e de seu lugar na cultura O magnetismo (cujas origens provecircm de experiecircncias com a buacutessola da navegaccedilatildeo) e a eletricidade satildeo exemplos tiacutepicos dessas novas ciecircncias baconianas Somente se conforme faz Koyreacute e como fazia Ludovico Geymonat e

muitos outros se considerar a histoacuteria da ciecircncia como processo unitaacuterio apenas

quando se considera completamente secundaacuterio o surgimento de novas ciecircncias pode se considerar o baconismo como uma espeacutecie de grande fraude inexplicaacutevel

(op cit pp 51-53) na qual acreditaram inteiras geraccedilotildees de cientistas europeus A emergecircncia de novos setores ou campos de pesquisa natildeo estaacute de fato ligada agrave

presumida novidade do chamado agrave experiecircncia ou ao laquomeacutetodo teorizado no segundo livro do Novum Organum - conforme se achava na eacutepoca positivista _ mas ao contato que se estabeleceu entre os doutos que se ocupavam de quiacutemica eletricidade magnetismo e as teacutecnicas os oficios os instrumentos Precisamente neste terreno nascia uma diferente noccedilatildeo de experimento e da funccedilatildeo que aos experimentos deve ser atribuiacuteda

Quando se consideram os experimentos da ciecircncia claacutessica e da medieval eacute sempre dificil decidir quando se trata de experimentos reais ou laquomentais Alguns servem para demonstrar com outros meios uma conclusatildeo jaacute conhecida outros (como os de Ptolomeu sobre a refraccedilatildeo da luz retomados por Descartes e Newton) servem para fornecer respostas concretas aos problemas colocados pela teoria (op cit pp 48-49) Os experimentos de Bacon e dos baconianos tecircm caracteristicas

diferentes Quando Gilbert Hooke e Boyle realizavam experimentos eles raramente pretendiam demonstrar aquilo que jaacute era conhecido ou determinar

um detalhe necessaacuterio para a ampliaccedilatildeo da teoria existente Desejavam antes ver como a natureza teria se comportado em condiccedilotildees ainda natildeo observadas condiccedilotildees que muitas vezes nem haviam existido anteriormente os experimentos devem torcer o rabo ao leatildeo forccedilar a natureza mostrando-a em condiccedilotildees que

jamais teriam sido conseguidas sem a intervenccedilatildeo do homem Aquele que colocava giatildeosum peixe um gato e vaacuterias substacircncias quiacutemicas no vaacutecuo artificial de uma bomba de ar mostra justamente esse aspecto da nova tradiccedilatildeo (experimental) (op cit pp 50-51)

Para histoacuterias como essas e por todos os inuacutemeros problemas delas derivados natildeo haacute lugar na historiografia de Koyreacute de Geymonat e de muitos

bull I L

fIloacutesofos e historiadores da ciecircncia A insistecircncia sobre a praacutetica e sobre os

experimentos mecacircnicos pareceu a muitos - quem sabe pelo fato de ainda serem

atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecacircnicos - apenas como

um deploraacutevel desvio do reto caminho da ciecircncia Os erros dos quais falava e a

aos quais queria se prestasse atenccedilatildeo estavam todos presentes no interior do

reto caminho da ciecircncia entendida como teoria amparada por um matematismo agrave Platatildeo

Thomas Kuhn escreveu que a aplicaccedilatildeo da imagem que Koyreacute tem da ciecircncia

agrave inteira histoacuteria da ciecircncia do Seicentos (e aiacute estariam incluiacutedas as ciecircncias baconianas) produziria resultados desastrosos Trata-se de umjuiacutezo severo que

me parece entretanto deva ser inteiramente compartilhado Eacute perfeitamente

verdade aquilo que Kuhn acrescenta ao seu juiacutezo o Galileu de quem fala Koyreacute eacute

como se nunca tivesse construiacutedo a luneta desenhado um pecircndulo com escape

pesado o ar inventado o termobaroscoacutepio eacute como se nunca tivesse sido um dos

fundadores da Accademia dei Lincei (Th Kuhn Alexandre Koyreacute and the History

of Science On an Intellectual Revolution em Encounter Jan 1970 p 69)

Igualmente severo e igualmente para ser compartilhado eacute a este respeito em particular o juiacutezo de A Rupert Hall Se a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute a Ciecircncia

Matemaacutetica de Galileu e Descartes e nada mais do que isso entatildeo eacute verdade natildeo

haver lugar nela para Francis Bacon (A R Hall Alexandre Koyreacute and the Scientific Revolution em Proceedings of International Conference Alexandre

Koyreacute em HisUacuteJry and Technology rv 1987 pp 486-87) Na visatildeo estranha e distorcida que Koyreacute teve da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica natildeo haacute lugar algum para

Boyle para a Royal Society para o enorme crescimento do conhecimento factual

e contingente da natureza que entatildeo ocorreu em inuacutemeros setores do

conhecimento (op cito p 492) Hall capta com finura urna atitude que foi o tScaracteriacutestica da fIlosofia que estaacute na raiz da atividade historiograacutefica de Koyreacute i

a verdadeira histoacuteria eacute sempre histoacuteria da theoria a verdadeira histoacuteria da ciecircncia ~ eacute a da flsica e da cosmologia e passa exclusivamente ao longo da linha Galileushy ecirc

otilde Descartes-Einstein S6 haacute urna histoacuteria deveras apaixonante O resto pertence

middot8ao mundo menos nobre - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos

cirriacutepodes dos quais se ocupava Charles Darwin (op cit pp 492-93) d

bull ~

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

faacutebulas antigas) Publicaccedilotildees da Rivista critica di storia dellafilosofia Roma-Milatildeo

Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

1957 pp 75-89

Francesco Bacone dalla magia alla scienxa (Francis Bacon da magia agrave ciecircncia)

Bari Laterza 1957 Turim Einaudi 1974 em ediccedilatildeo anglo-americana Londres

Routledge and Kegan Paul 1968 Chicago University of Chicago Press 1968

japonesa Tokyo The Simul Press 1970 espanhola Madri Alianza Editorial

1990

Sul carattere non utilitaristico delta filosofia di Francesco Bacone (Sobre o

caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

scienza in Francesco Bacone (Verdade e utilidade da ciecircncia em Francis Bacon

em lfilosofi ele macchine 1400-1700 (Os filoacutesofos e as maacutequinas 1400-1700) Milatildeo Feltrinelli 1962 1971 1980 1984 2002 pp 148-75 Em trad espanhola Barcelona Editorial Labor 1966 americana Nova York Harper and Row 1970

huacutengara Budapest Kossuth 1976 polonesa Warszawa Panstwowe Vydawnictwo

Naukowe 1978 brasileira Satildeo Paulo Editora Schwarcz 1989 japonesa Tokyo

GaktYutsu Shobo 1989 francesa Paris Presses Universitaires de France 1996)

La memoria artificiale come sezione della logica Ramo Bacone Cartesio (A memoacuteria artificial como seccedilatildeo da loacutegica Ramus Bacon Descartes) em Rivista critica di storia della filosofia Xv 1960 pp 203-63 depois refundido em CTavis universalis arti delTa memoria e logica combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis

universalis artes da memoacuteria e loacutegica combinatoacuteria de Llull a Leibniz) MilatildeoshyNaacutepoles Ricciardi 1960 em nova ediccedilatildeo Bolonha n Muliacuteno 1985 1988 O liVrEgt apareceu depois em ediccedilatildeo japonesa Tokyo Kokusho Kankokai 1984

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a filosofia dos modernos aspectos da revoluccedilatildeo cientiacutefica) Turim Bollatiacute

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Florenccedila Barbera 1967 pp l-50 (do excerto) depois em Aspetti delTa rivoluzione scientifica Ntlpoles Morano 1971 pp 85-1S0 e Venti maree ipotesi

bull-Satilde Latilde =tEcirc

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Francis Bacon em I protagonisti della storia universale Milatildeo CEI1968

Francesco Bacone em Grande Antologia Filosqfzca il pensiero rtwlUacuternO Milatildeo

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bull67

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Facoltagrave di Lettere e Filosota dellUniversitagrave di Cagliari nuova serie IX (XLVI) 1998 (mas 1992) pp 91-100

Francis Bacon la N Uova Atlantide (Francis Bacon a Nova Atlacircntida) em LArco di Giano rivisla di MedicaI Humanities I 4 1994 pp 245-58

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-w- bull 1

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(Progresso uma ideacuteia ambivalente Duas interpretaccedilotildees de Daniel 124) em A

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Francis Bacon em I grandi delta scienza n 30 dezembro 2002 Le Scienze

(Scientific American)

Hidden knowledge publicknowledge em Archives dhistoire des sciences

Genebra LV 2002 pp 167-82

Sulla scienza e gli strumenti cinque divagazioni baconiane (Sobre a ciecircncia e os instrumentos cinco divagaccedilotildees baconianas) em Musa Musaei studies on scientific

instruments and collections in Iwnour cf MaTa Miniati org Marco Beretta Paolo Galluzzi Carlo Triarico Biblioteca di Nuncius Florenccedila Leo Olschki 2008

pp141-54

Magic science and the equality of human wits em Bill Fulford Katherine Morris John Sadler e Giovanni Stanghellini (org) Nature and narrative An introduction to the new Philosophy cf psychiatry Oxford Oxford University Press 2003 pp 268-74

Page 19: ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

Entre as paacuteginas deste meu livro sobre Bacon que eu reescreveria em sua

totalidade haacute algumas conclusivas em particular as trecircs ou quatro dedicadas agrave

relaccedilatildeo Galileu-Bacon Lembro-me como se fosse ontem da objeccedilatildeo de Eugenio

Garin quanto ao fato de meu juiacutezo final ser substancialmente demasiado negativo

(foi este o termo que ele empregou) em relaccedilatildeo a Bacon Sei hoje que ele estava

com a razatildeo Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de Galileu

com Antonio Banfi e natildeo entendi direito o que ele queria dizer Como podem

fazer os alunos quando tecircm a sorte de natildeo lidar com mestres pequenos mantiveshy

me firme em minha opiniatildeo e natildeo lhe dei razatildeo Se fosse reescrever hoje minha

conclusatildeo faria - aproximadamente- o resumo que acabo de fazer das ideacuteias

expostas por Kuhn em seu ensaio de 1975 quanto agraves tradiccedilotildees matemaacuteticas e agraves

tradiccedilotildees experimentais no desenvolvimento das ciecircncias flsicas Meu livro sobre

Bacon parecera-lhe uma contribuiccedilatildeo capaz de modificar a inteligecircncia histoacuterica

das modalidades com as quais nasceram as novas ciecircncias experimentais no plano

das ideacuteias haviacuteamo-nos encontrado tambeacutem muito tempo antes de um coloacutequio

demasiado raacutepido nas jornadas galileanas de 1998 na Universidade de Paacutedua

] XI I i

As reflexotildees de Kuhn contribuiacuteram para criar um clima cultural

diferente do que era tatildeo acirradamente antibaconiano na deacutecada de 1970 Em

1983 lan Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representing and

Intervening Para se compreender o que eacute e o que faz a ciecircncia eacute necessaacuterio

soldar os dois termos a ciecircncia possui duas atividades fundamentais a teoria e

os experimentos As teorias procuram imaginar como o mundo eacute os experimentos

servem para controlar a validade das teorias e a tecnologia que disso deriva vai

mudando o mundo Noacutes representamos e intervimos Representamos para intervir

e intervimos agrave luz das representaccedilotildees Desde a eacutepoca da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica foi

tomando corpo uma espeacutecie de artefato coletivo que daacute caminho livre a trecircs

interesses humanos fundamentais a especulaccedilatildeo o caacutelculo oexpeIlTIeto A

colaboraccedilatildeo entre cada um desses trecircs acirciDbiacuteiotilde~-p~p~~iotildena ~middot~~d~~m dele~m enriquecimento de outra forma impossiacutevel Por isso conforme o ensinamento de

bull 1 middot-I~-middot----

Bacon a ciecircncia natildeo eacute uma observaccedilatildeo da natureza a partir do estado bruto Os

sentidos do homem satildeo ampliados por meio de instrumentos Os raios da oacuteptica

de Newton assim como as partiacuteculas da fisica contemporacircnea natildeo satildeo dados in TUltUra mas satildeo dados de uma natureza solicitada por instrumentos Diante da

natureza -conforme afirmara o Lorde Chanceler numa de suas metaacuteforas barrocas

- temos que aprender a torcer o rabo ao leatildeo Desse ponto de vista a histoacuteria

dos instrumentos natildeo eacute externa agrave ciecircncia mas uma sua parte integrante Ver na

ciecircncia de nossa eacutepoca significa quase exclusivamente interpretar signos gerados por instrumentos Fazer entrar os instrumentos na ciecircncia concebecirc-los quais

fontes de verdade (conforme mostram tambeacutem as vicissitudes da luneta de

Galileu) natildeo foi empresa faacutecil

Os filoacutesofos da ciecircncia aos olhos de Hacking menosprezaram durante

tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a respeito deles acaba sendoacute

uma novidade Dois modismos filosoacuteficos contribuiacuteram para distorcer alguns

fatos jaacute dados como descontados que dizem respeito agrave observaccedilatildeo a que Quipe

chama de ascese semacircntica (natildeo se fale das coisas mas do modo em que falamos

das coisas) e aquela que teoriza o domiacutenio da teoria sobre o experimento A

contemporacircnea filosofia da ciecircncia tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria

que a existecircncia mesma das observaccedilotildees e das experiecircncias preacute-te6ricas foi negada

Hacking pensa que eacute necessaacuterio abandonar o plano exclusivo da contemplaccedilatildeo

da conexatildeo teoria-mundo ou daquela teoria do conhecimento enquanto espetaacuteculo que obcecou a filosofia ocidental A partir do seacuteculo XVII - escreveu - a ciecircncia

natural tem sido a aventura de conectar entre si representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

Desse ponto de vista ele considera desejaacutevel que tenha iniacutecio um movimento de

volta a Bacon graccedilas ao qual se decirc maior atenccedilatildeo agrave ciecircncia experimental uma

vez que a experimentaccedilatildeo tem uma vida proacutepria

Razatildeo e realidade para Hacking devem ser distinguidas porque a realidade 1 tem a ver com aquilo que fazemos no mundo antes do que com aquilo que

pensamos do mundo Devemos considerar realuo que podemos usar para intervir

no mundo A base segura para um realismo natildeo controvertido pode ser

encontrada apenas na ciecircncia experimental Uma obsessatildeo simplista pela

representaccedilatildeo o pensamento e a teoria agraves custas da intervenccedilatildeo da accedilatildeo do

bull

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

faacutebulas antigas) Publicaccedilotildees da Rivista critica di storia dellafilosofia Roma-Milatildeo

Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

1957 pp 75-89

Francesco Bacone dalla magia alla scienxa (Francis Bacon da magia agrave ciecircncia)

Bari Laterza 1957 Turim Einaudi 1974 em ediccedilatildeo anglo-americana Londres

Routledge and Kegan Paul 1968 Chicago University of Chicago Press 1968

japonesa Tokyo The Simul Press 1970 espanhola Madri Alianza Editorial

1990

Sul carattere non utilitaristico delta filosofia di Francesco Bacone (Sobre o

caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

scienza in Francesco Bacone (Verdade e utilidade da ciecircncia em Francis Bacon

em lfilosofi ele macchine 1400-1700 (Os filoacutesofos e as maacutequinas 1400-1700) Milatildeo Feltrinelli 1962 1971 1980 1984 2002 pp 148-75 Em trad espanhola Barcelona Editorial Labor 1966 americana Nova York Harper and Row 1970

huacutengara Budapest Kossuth 1976 polonesa Warszawa Panstwowe Vydawnictwo

Naukowe 1978 brasileira Satildeo Paulo Editora Schwarcz 1989 japonesa Tokyo

GaktYutsu Shobo 1989 francesa Paris Presses Universitaires de France 1996)

La memoria artificiale come sezione della logica Ramo Bacone Cartesio (A memoacuteria artificial como seccedilatildeo da loacutegica Ramus Bacon Descartes) em Rivista critica di storia della filosofia Xv 1960 pp 203-63 depois refundido em CTavis universalis arti delTa memoria e logica combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis

universalis artes da memoacuteria e loacutegica combinatoacuteria de Llull a Leibniz) MilatildeoshyNaacutepoles Ricciardi 1960 em nova ediccedilatildeo Bolonha n Muliacuteno 1985 1988 O liVrEgt apareceu depois em ediccedilatildeo japonesa Tokyo Kokusho Kankokai 1984

mexicana Mexico Fondo de cultura econoacutemica 1989 francesa Grenoble Jeacuterocircme Miacutelion 1995 atildenglo-americana Londres The Athion Press e Chicago The University of Chicago Press 2001

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a filosofia dos modernos aspectos da revoluccedilatildeo cientiacutefica) Turim Bollatiacute

Boringhier~ 1989 pp 47-66 este em ediccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Universidade Estadual Paulista 1992

Prefazwne a B Farrington Francesco Baconefilosq[o delletagrave industriale (Francis Bacon filoacutesofo da idade industrial) Turim Einaud~ 1967

Galilei e Bacone (Galileu e Bacon) em Saggi su Gauacuteleo Galilei org Comitato

Nazionale per le manifestazioni celebrative nel IV centenario della nascita

Florenccedila Barbera 1967 pp l-50 (do excerto) depois em Aspetti delTa rivoluzione scientifica Ntlpoles Morano 1971 pp 85-1S0 e Venti maree ipotesi

bull-Satilde Latilde =tEcirc

astronomiche in Bacon e Galilei (Ventos mareacutes hipoacuteteses astronocircmicas em Bacon e Galileu) em La sCUmza e lafilosofia dei rtwlUacuterni aspetti della rivoluzione

scientifica Turim Bollati Boringhieri 1989 pp 114-68

Francis Bacon em I protagonisti della storia universale Milatildeo CEI1968

Francesco Bacone em Grande Antologia Filosqfzca il pensiero rtwlUacuternO Milatildeo

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II pensiero di Francis BacO1 una antologia di scritti (O pensamento de Francis

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Note baconiane em Rivista critiaz di sforUacuteJ deTafilosqfio XXIX 1974 pp 31-60

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storia della filosofia come sapere critico studi offtrti a Mario Dal Pra Milatildeo Franco Angei 1984 pp 628-40 (Depois em I ragni e le formiche un apologia

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Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (Confronto dos engenhos

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bull67

F Bacone La Nuova Atlantide org Paolo Rossi Milano TEA 1991

Naufragi senza spettatore (Naufraacutegios sem espectador) em M Ciliberto e C

Vasoli (org) Filosota e cultura per Eugenio Garin Roma Editori Riuniti 1991 lI pp 397-415 Depois em forma menos reduzida no volume Natfragi senza

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Warszawa Polska Akademia Nauk - Instytut Filozofii i Socijologi~ 1998 Satildeo Paulo Editora UNESp 2000 Ankara Dost Kitabevi Yayinlan Kundakccedil 2002

Francis Bacon e leternitagrave deI mondo (Francis Bacon e a eternidade do mundo) in MT Marcialis (org) Studi in Tne1TUJria di Giovanni Solinas em Annali della

Facoltagrave di Lettere e Filosota dellUniversitagrave di Cagliari nuova serie IX (XLVI) 1998 (mas 1992) pp 91-100

Francis Bacon la N Uova Atlantide (Francis Bacon a Nova Atlacircntida) em LArco di Giano rivisla di MedicaI Humanities I 4 1994 pp 245-58

Dimenticare Bacone (Esquecer Bacon) em C Vinti (org) Alexandre Koyreacute lavventura intellettuale (Atti deI Quinto Seminario Internazionale di Studi

promosso dal laquoCentro Studi sul pensiero scientifico F Cesiraquo da Universitagrave di Perugia Acquasparta 80 set-8 out 1992) Naacutepoles Edizioni Scientifiche I taliane 1994 pp 25-88 depois republicado no volume Un altro presente saggi sulla storia dellafilosofia Bolonha Il Mulino 1999 pp 145-60

F Bacon Uomo e Natura scrittifilosofici (Homem e Natureza escritos filosoacuteficos) org E De Mas Introduccedilatildeo de Paolo Ross~ Roma-Bari Laterza 1994

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Seconda navigazUacuteJne la tecnica la vila i dilemmi dellazione Milatildeo Mondadori 1998 pp 42-78

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Progresso unidea ambivalente Due interpretazioni di Daniele 12 4lt

(Progresso uma ideacuteia ambivalente Duas interpretaccedilotildees de Daniel 124) em A

Vieira Per ta storia deZ foturo a org D Bigalli posfaacutecio de Paolo Rossi Aosta LEubage 2002 pp 207-18

Francis Bacon em I grandi delta scienza n 30 dezembro 2002 Le Scienze

(Scientific American)

Hidden knowledge publicknowledge em Archives dhistoire des sciences

Genebra LV 2002 pp 167-82

Sulla scienza e gli strumenti cinque divagazioni baconiane (Sobre a ciecircncia e os instrumentos cinco divagaccedilotildees baconianas) em Musa Musaei studies on scientific

instruments and collections in Iwnour cf MaTa Miniati org Marco Beretta Paolo Galluzzi Carlo Triarico Biblioteca di Nuncius Florenccedila Leo Olschki 2008

pp141-54

Magic science and the equality of human wits em Bill Fulford Katherine Morris John Sadler e Giovanni Stanghellini (org) Nature and narrative An introduction to the new Philosophy cf psychiatry Oxford Oxford University Press 2003 pp 268-74

Page 20: ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

experimento levaram a filosofia ao beco sem saiacuteda do idealismo Apenas com

o avento da ciecircncia moderna a realidade entendida do ponto de vista da

intervenccedilatildeo comeccedilou a afinar-se com a realidade enquanto representaccedilatildeo a partir do seacuteculo XVII a ciecircncia natural tem sido a tentativa de conectar entre si

~ I I representaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Desta grande aventura assim entendida a filosofia ~ i

( natildeo soube dar conta (I Hacking Conhecer e Experimentar trad it Conoscere e spenmiddotmenUacutelre Roma-Bari Laterza 1987 pp 22 154 155 173)

Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido exageradamente superestimada nos uacuteltimos cem anos aquela imagem alematilde da filosofia que estaacute ansiosa por ligar Descartes a Kant Vecirc em Francis

Bacon o principal opositor da deploraacutevel tendecircncia cartesiana que considera a

ciecircncia como o lugar que nos coloca proacuteximos de nosso ser autecircntico Se Francis

Bacon - conclui - tivesse sido tomado mais a seacuterio natildeo estariacuteamos condenados

ao cacircnone dos grandes filoacutesqfos modernos que fazem da subjetividade o seu tema essencial (R Rorty Habermas Lyotard et la postmoderniteacute em Critique n 442 1984 pp 191-96)

Creio possiacutevel afirmar que nos uacuteltimos vinte anos cresceu grandemente junto aos filoacutesofos e aos epistemoacutelogos a atenccedilatildeo para com os aspectos praacuteticos

e manipuladores da ciecircncia Muitos fIloacutesofos e socioacutelogos da ciecircncia puseram as

teorias no interior de uma descriccedilatildeo ou de uma fenomenologia do empreendimento

cientiacutefico muito mais ampla que no passado Um contexto como esse que descrevi sumariamente agora torna compreensiacutevel o surgimento concomitante na segunda

metade da deacutecada de 1980 de duas importantes monografias sobre Francis Bacon

a de Peter Urbach Francis Bacons Philosophy 0 Science La Salle _ Illinois 1987

e Antonio Peacuterez-Ramos Francis Bacons ldea 0 Science and lhe Makers Knowledge Tradition Oxford Claredon Press 1988 A primeira eacute uma liacutempida descriccedilatildeo do

meacutetodo teorizado no Novum Organum como sendo um meacutetodo hipoteacuteticoshyindutivo Tem o meacuterito de mostrar a total inconsistecircncia das interpretaccedilotildees de Popper e dos popperianos e o demeacuterito de aproximar demasiado a metodologia

de Bacon agrave de Popper A segunda eacute a melhor monografia que existe hoje sobre Bacon

bullr-- ~~======~ ~-~-~-~-~~~-~~-~~~~~~-=--~~~-~~~~~~

-$lA

XII

Num contexto que viu nascer coisas novas tanto junto a filoacutesofos quanto junto a historiadores tambeacutem a forccedila a persistecircncia e o caraacuteter

aacutespero e passional da polecircmica antibaconiana comeccedilaram a se transformar

em um problema histoacuterico Sobre o processo e a condenaccedilatildeo de Francis Bacon

foram escritas inuacutemeras paacuteginas nas quais o desdeacutem e as invectivas tomaram

muitas vezes o lugar das anaacutelises Mas tambeacutem sobre a personagem Francis Bacon e sua filosofia foram despejados inuacutemeros juiacutezos negativos Estes uacuteltimos natildeo costumam ser raros na histoacuteria da filosofia mas eacute realmente raro que eles

assumam como neste caso especiacutefico a forma da invectiva da condenaccedilatildeo Em

1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews que vive em Cortona publicou na Universidade de Yale um fascinante livro de quase seiscentas paacuteginas

que eacute fruto de mais de dez anos de trabalho sendo o que de melhor se pode ler

sobre o assunto O tiacutetulo jaacute alude agrave tese que eacute defendida no livro Francis Bacon The History 0 a Character Assassinatiacuteon No uacuteltimo capiacutetulo mas na realidade em

todo o livro tenta-se responder a uma pergunta por que algumas acusaccedilotildees e

alguns juiacutezos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada

sua inconsistecircncia

Quando publicou seu livro Mathew natildeo podia imaginar que apesar de seu longo esforccedilo a situaccedilatildeo ter-se ia ateacute mesmo agravado Isso foi salientado por

Peacuterez-Ramos em uma longa e bem articulada resenha ao livro provocatoacuterio de

Julian Martin Francis Bacon The 8tale and the Reform 0 Natural Philosophy Cambridge University Press 1992 no qual se faz derivar a inteira filosofIa de Bacon de sua poliacutetica e afirma-se repetidamente e em contraste com uma montanha de textos que Bacon considerou-se sempre um homem de estado inglecircs mais do que um filoacutesofo e acreditou sempre que sua filosofia fosse uma contribuiccedilatildeo ao avanccedilo do estado inglecircs Conforme escreveu seu resenhista Martin aplica uma forma de reducionismo poliacutetico que natildeo reconhece nenhum espaccedilo autocircnomo agraves ideacuteias A abordagem de Martin natildeo eacute nem nova nem frutiacutefera O tom forense de seus escritos eacute conhecido aos historiadores a partir da obra de Liebig e a semelhanccedila de seu meacutetodo com os procedimentos retoacutericos da reuniatildeo

bull

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

faacutebulas antigas) Publicaccedilotildees da Rivista critica di storia dellafilosofia Roma-Milatildeo

Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

1957 pp 75-89

Francesco Bacone dalla magia alla scienxa (Francis Bacon da magia agrave ciecircncia)

Bari Laterza 1957 Turim Einaudi 1974 em ediccedilatildeo anglo-americana Londres

Routledge and Kegan Paul 1968 Chicago University of Chicago Press 1968

japonesa Tokyo The Simul Press 1970 espanhola Madri Alianza Editorial

1990

Sul carattere non utilitaristico delta filosofia di Francesco Bacone (Sobre o

caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

scienza in Francesco Bacone (Verdade e utilidade da ciecircncia em Francis Bacon

em lfilosofi ele macchine 1400-1700 (Os filoacutesofos e as maacutequinas 1400-1700) Milatildeo Feltrinelli 1962 1971 1980 1984 2002 pp 148-75 Em trad espanhola Barcelona Editorial Labor 1966 americana Nova York Harper and Row 1970

huacutengara Budapest Kossuth 1976 polonesa Warszawa Panstwowe Vydawnictwo

Naukowe 1978 brasileira Satildeo Paulo Editora Schwarcz 1989 japonesa Tokyo

GaktYutsu Shobo 1989 francesa Paris Presses Universitaires de France 1996)

La memoria artificiale come sezione della logica Ramo Bacone Cartesio (A memoacuteria artificial como seccedilatildeo da loacutegica Ramus Bacon Descartes) em Rivista critica di storia della filosofia Xv 1960 pp 203-63 depois refundido em CTavis universalis arti delTa memoria e logica combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis

universalis artes da memoacuteria e loacutegica combinatoacuteria de Llull a Leibniz) MilatildeoshyNaacutepoles Ricciardi 1960 em nova ediccedilatildeo Bolonha n Muliacuteno 1985 1988 O liVrEgt apareceu depois em ediccedilatildeo japonesa Tokyo Kokusho Kankokai 1984

mexicana Mexico Fondo de cultura econoacutemica 1989 francesa Grenoble Jeacuterocircme Miacutelion 1995 atildenglo-americana Londres The Athion Press e Chicago The University of Chicago Press 2001

Bacone e la Bibbia (Bacon e a Biacuteblia) em Archiwum Historii Filozofii y Misly SpoleC1IeJ XII 1966 pp IOS-2S poi in Aspetti della rivoluzione scientifica (Aspectos da revoluccedilatildeo cientiacutefica) Naacutepoles Morano 1971 pp SI-82 e em La scienza e Ta filosofia dei moderni aspetti della rivoluzione scientiftca (A ciecircnCia e

a filosofia dos modernos aspectos da revoluccedilatildeo cientiacutefica) Turim Bollatiacute

Boringhier~ 1989 pp 47-66 este em ediccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Universidade Estadual Paulista 1992

Prefazwne a B Farrington Francesco Baconefilosq[o delletagrave industriale (Francis Bacon filoacutesofo da idade industrial) Turim Einaud~ 1967

Galilei e Bacone (Galileu e Bacon) em Saggi su Gauacuteleo Galilei org Comitato

Nazionale per le manifestazioni celebrative nel IV centenario della nascita

Florenccedila Barbera 1967 pp l-50 (do excerto) depois em Aspetti delTa rivoluzione scientifica Ntlpoles Morano 1971 pp 85-1S0 e Venti maree ipotesi

bull-Satilde Latilde =tEcirc

astronomiche in Bacon e Galilei (Ventos mareacutes hipoacuteteses astronocircmicas em Bacon e Galileu) em La sCUmza e lafilosofia dei rtwlUacuterni aspetti della rivoluzione

scientifica Turim Bollati Boringhieri 1989 pp 114-68

Francis Bacon em I protagonisti della storia universale Milatildeo CEI1968

Francesco Bacone em Grande Antologia Filosqfzca il pensiero rtwlUacuternO Milatildeo

Marzorati 1969 voi VI pp 219-37

II pensiero di Francis BacO1 una antologia di scritti (O pensamento de Francis

Bacon uma antologia de escritos) org Paolo Rossi Turim Loescher 1971

Note baconiane em Rivista critiaz di sforUacuteJ deTafilosqfio XXIX 1974 pp 31-60

R Bacon Scrittifilosqfzci (F Bacon Escritos fIlosoacutefIcos) org Paolo Rossi Turim

U tet 1976 Baconianismem Dictionary qf the History qf ldeas Nova York Scribner

1974 I pp 172-79

Francis Bacon em V Mathieu ( org) Questioni di storiografiafilosoftca dalle origini

allOttocento Brescia La Scuola 1974 pp 183-206

Francis Bacon in MDal Pra (org) Storia delTafilosojia Milatildeo Vallardi 1975shy

76 voI IV pp 553-71

FrancIacutes Bacon Richard Hooker e le 1eggi della natura (Francis Bacon Richard

Hooker e as 1eis da natureza) em Rivista critica di storia dellafilosofia XXXI

1977 pp 72-77

Formiche ragni epistemologi (Formigas aranhas epistemologistas) em La

storia della filosofia come sapere critico studi offtrti a Mario Dal Pra Milatildeo Franco Angei 1984 pp 628-40 (Depois em I ragni e le formiche un apologia

della storia della scienza Bolonha li Mulino 1986 pp 96-118) em trad inglesa

Ants spiders epistemologists em M Fattori (org) Francis Bacon Roma Edizioni dellAteneo 1985 pp 245-60 Em trad espanhola Barcelona Editorial

Criacutetica 1990

Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (Confronto dos engenhos

modernos e poacutes-modernos) Bolonha II Mulino 1989

bull67

F Bacone La Nuova Atlantide org Paolo Rossi Milano TEA 1991

Naufragi senza spettatore (Naufraacutegios sem espectador) em M Ciliberto e C

Vasoli (org) Filosota e cultura per Eugenio Garin Roma Editori Riuniti 1991 lI pp 397-415 Depois em forma menos reduzida no volume Natfragi senza

spettatore lidea di progresso (Naufraacutegios sem espectador a ideacuteia de progresso) Bolonha 11 Mulino 1995 pp 21-43 O livro saiu em polonecircs brasileiro e turco

Warszawa Polska Akademia Nauk - Instytut Filozofii i Socijologi~ 1998 Satildeo Paulo Editora UNESp 2000 Ankara Dost Kitabevi Yayinlan Kundakccedil 2002

Francis Bacon e leternitagrave deI mondo (Francis Bacon e a eternidade do mundo) in MT Marcialis (org) Studi in Tne1TUJria di Giovanni Solinas em Annali della

Facoltagrave di Lettere e Filosota dellUniversitagrave di Cagliari nuova serie IX (XLVI) 1998 (mas 1992) pp 91-100

Francis Bacon la N Uova Atlantide (Francis Bacon a Nova Atlacircntida) em LArco di Giano rivisla di MedicaI Humanities I 4 1994 pp 245-58

Dimenticare Bacone (Esquecer Bacon) em C Vinti (org) Alexandre Koyreacute lavventura intellettuale (Atti deI Quinto Seminario Internazionale di Studi

promosso dal laquoCentro Studi sul pensiero scientifico F Cesiraquo da Universitagrave di Perugia Acquasparta 80 set-8 out 1992) Naacutepoles Edizioni Scientifiche I taliane 1994 pp 25-88 depois republicado no volume Un altro presente saggi sulla storia dellafilosofia Bolonha Il Mulino 1999 pp 145-60

F Bacon Uomo e Natura scrittifilosofici (Homem e Natureza escritos filosoacuteficos) org E De Mas Introduccedilatildeo de Paolo Ross~ Roma-Bari Laterza 1994

Bacons idea of science in Markku Peltonen (org) The Cambridge Campanion to Bacon Cambridge Cambridge University Press 1996 pp 25-46

Dedalo e il labirinto (Deacutedalo e o labirinto) em Annuario Filosifzco 1998

Seconda navigazUacuteJne la tecnica la vila i dilemmi dellazione Milatildeo Mondadori 1998 pp 42-78

-w- bull 1

Craftsman-and-Scholar Thesis em W Applebaum (org) Encyclopedia cif the Scientific Revolutionfrom Copernicus to Newton Nova York e Londres Garland

2000 pp 174-77

Progresso unidea ambivalente Due interpretazioni di Daniele 12 4lt

(Progresso uma ideacuteia ambivalente Duas interpretaccedilotildees de Daniel 124) em A

Vieira Per ta storia deZ foturo a org D Bigalli posfaacutecio de Paolo Rossi Aosta LEubage 2002 pp 207-18

Francis Bacon em I grandi delta scienza n 30 dezembro 2002 Le Scienze

(Scientific American)

Hidden knowledge publicknowledge em Archives dhistoire des sciences

Genebra LV 2002 pp 167-82

Sulla scienza e gli strumenti cinque divagazioni baconiane (Sobre a ciecircncia e os instrumentos cinco divagaccedilotildees baconianas) em Musa Musaei studies on scientific

instruments and collections in Iwnour cf MaTa Miniati org Marco Beretta Paolo Galluzzi Carlo Triarico Biblioteca di Nuncius Florenccedila Leo Olschki 2008

pp141-54

Magic science and the equality of human wits em Bill Fulford Katherine Morris John Sadler e Giovanni Stanghellini (org) Nature and narrative An introduction to the new Philosophy cf psychiatry Oxford Oxford University Press 2003 pp 268-74

Page 21: ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

1 i

de um conjunto de topoi tornou-se um lugar-comum desde a eacutepoca em que saiu

o livro de Paolo Rossi em 1957 (A Peacuterez-Ramos 1 Lawyer at large Variation on Old Baconian Themes em Physis 1994 pp 341-58)

Depois da difusatildeo no mundo anglo-saxatildeo da tese sustentada por Michel Foucault em Vigiar e Punir(trad it Sorvegliare epunire 1975) da coincidecircncia verdadeshy

poder na criaccedilatildeo dos sistemas opressivos a historiografiaimundiacutecie que tem por objeto o Lorde Chanceler conheceu nas uacuteltimas deacutecadas um novo floredmento Muitos

de seus produtos fazem parecer o livro de Carolyn Merchant um exemplo da historiografia acadecircmica alematilde da segunda metade do seacuteculo Xrx Apesar disso eu

continuo acreditando teimosamente que o ponto mais baixo da fortuna de Francis

Bacon tenha coincidido com a tentativa de reduzir integralmente sua filosofia ao

terreno da epistemologia de uma teoria do meacutetodo No interior de uma histoacuteria

dinaacutestica da filosofia foi possiacutevel ver em Bacon apenas o construtor de uma grande

maacutequina loacutegica destinada a permanecer inutilizada Uma vez identificada a inteira

obra de Bacon como sendo tatildeo somente o segundo livro (que Bacon deixou

deliberadamente inacabado) do Novum Organum a empresa apresentava-se como natildeo excessivamente difici Conforme foi evidenciado por muitos dos estudos

sobre Bacon que surgiram na segunda metade do seacuteculo xx o grande programa

de reforma no qual trabalhou Francis Bacon partia de uma ampla consideraccedilatildeo

de caraacuteter histoacuterico e colocava-se conscientemente contra qualquer reforma que nascesse apenas dos sistemas ou das seitas filosoacuteficas

Quando na histoacuteria emergem coisas novas (e a ciecircncia moderna foi uma delas) se verificam muitas vezes misturas extraordinaacuterias Naqueles contextos

fala-se mais frequumlentemente do futuro do que do passado Natildeo me interessa aquilo

que jaacute foi feito interessa o que se pode fazer escreveu uma vez Francis Bacon Ele

comparou vaacuterias vezes a sua fllosofia a uma viagem aventurosa rumo a um oceano inexplorado e achou que sua empresa era semelhante agrave de Colombo Pensou em si

mesmo como em um arauto um anunciador um mensageiro A Bacoo que era um contemporacircneo de Galileu natildeo pode ser atribuiacuteda nenhuma das grandes descobertas

cientiacuteficas que caracterizaram a primeira modernidade Ele deu entretanto uma

contribuiccedilatildeo decisiva para o nascimento e a afirmaccedilatildeo do que chamamos ciecircncia

moderna Foi o construtor shy sem duacutevida o maior - de uma imagem moderna da

ciecircncia seu discurso - amplo articulado cheio de forccedila intelectual e literariamente

bull i --L

eficaz - ocupa-se essencialmente com o que a ciecircncia eacute e pode ser e com o que a

ciecircncia natildeo deve ser Esse discurso torna-se tambeacutem um discurso sobre a civilizaccedilatildeo

e a cultura da Europa suas origens e as esperanccedilas que seus contemporacircneos possam

sensatamente alimentar O argumento central de seu discurso diz respeito agrave funccedilatildeo

da ciecircncia navida dos indiviacuteduos e da sociedade aos valores e aos objetivos que

devem caracterizar o conhecimento cientiacutefico

Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das

grandes tradiccedilotildees que nele atuavam natildeo fez referecircncia alguma agrave fIlosofia Isso

por ele achar - simplesmente - que as filosofias dependiam daquilo que acontece

no mundo e que a convicccedilatildeo difundida entre os flloacutesofos de criar mundos fosse

tatildeo-somen te uma ilusatildeo Por isso afirmou que a tradiccedilatildeo filosoacutefica havia construiacutedo

inuacutemeros mundos de palco parecidos com o teatro dos poetas onde as estoacuterias

contadaS tecircm como uacutenica prerrogativa a de corresponderem aos desejos de cada

um Disse que as grandes viagens oceacircnicas a buacutessola a poacutelvora a imprensa haviam

provocado na histoacuteria humana mudanccedilas maiores do que as exercidas por qualquer

impeacuterio por qualquer filosofia por qualquer estrela Por isso natildeo fazia muito sentido

segundo ele atingir as filosofias tradicionais em sua honra ou competir com elas

para arrancar-lhes a palma do engenho No mundo antigo cheio de faacutebulas sem

um passado histoacuterico fechado no breve espaccedilo das cidades aquelas filosofias eram

verdadeiras Algo aconteceu natildeo nas fUosofias mas na histoacuteria e no mundo das

invenccedilotildees e das maneiras de viver que as tornou natildeo mais utilizaacuteveis

Perguntei-me vaacuterias vezes o porquecirc do encarniccedilamento - pois de

encarniccedilamento se trata - que muitos fIl6sofos profissionais manifestaram para

com Francis Bacon Suas obras suas teses sua fama sua personalidade seu estilo

sua vida tudo isso os irritou sobremaneira ora um ora outro Penso tambeacutem

nos autores que depois da deacutecada de 1950 foram meus companheiros de estrada

e escreveram sobre Bacon ensaios e livros importantes - entre eles Marie Hesse

Lisa Jardine Antonio Peacuterez-Ramos Peter Urbach Brian Vickers (que deveria se

decidir a reunir em um livro todas suas penetrantes e imprescindiacuteveis

contribuiccedilotildees baconianas) - que se colocaram essa mesma pergunta Natildeo sei dar

uma resposta precisa Estou poreacutem cada vez mais convencido de que o que os

fil6sofos mais amam eacute a convicccedilatildeo de que a filosofia (agraves vezes a pessoal deles

bull

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

faacutebulas antigas) Publicaccedilotildees da Rivista critica di storia dellafilosofia Roma-Milatildeo

Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

1957 pp 75-89

Francesco Bacone dalla magia alla scienxa (Francis Bacon da magia agrave ciecircncia)

Bari Laterza 1957 Turim Einaudi 1974 em ediccedilatildeo anglo-americana Londres

Routledge and Kegan Paul 1968 Chicago University of Chicago Press 1968

japonesa Tokyo The Simul Press 1970 espanhola Madri Alianza Editorial

1990

Sul carattere non utilitaristico delta filosofia di Francesco Bacone (Sobre o

caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

scienza in Francesco Bacone (Verdade e utilidade da ciecircncia em Francis Bacon

em lfilosofi ele macchine 1400-1700 (Os filoacutesofos e as maacutequinas 1400-1700) Milatildeo Feltrinelli 1962 1971 1980 1984 2002 pp 148-75 Em trad espanhola Barcelona Editorial Labor 1966 americana Nova York Harper and Row 1970

huacutengara Budapest Kossuth 1976 polonesa Warszawa Panstwowe Vydawnictwo

Naukowe 1978 brasileira Satildeo Paulo Editora Schwarcz 1989 japonesa Tokyo

GaktYutsu Shobo 1989 francesa Paris Presses Universitaires de France 1996)

La memoria artificiale come sezione della logica Ramo Bacone Cartesio (A memoacuteria artificial como seccedilatildeo da loacutegica Ramus Bacon Descartes) em Rivista critica di storia della filosofia Xv 1960 pp 203-63 depois refundido em CTavis universalis arti delTa memoria e logica combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis

universalis artes da memoacuteria e loacutegica combinatoacuteria de Llull a Leibniz) MilatildeoshyNaacutepoles Ricciardi 1960 em nova ediccedilatildeo Bolonha n Muliacuteno 1985 1988 O liVrEgt apareceu depois em ediccedilatildeo japonesa Tokyo Kokusho Kankokai 1984

mexicana Mexico Fondo de cultura econoacutemica 1989 francesa Grenoble Jeacuterocircme Miacutelion 1995 atildenglo-americana Londres The Athion Press e Chicago The University of Chicago Press 2001

Bacone e la Bibbia (Bacon e a Biacuteblia) em Archiwum Historii Filozofii y Misly SpoleC1IeJ XII 1966 pp IOS-2S poi in Aspetti della rivoluzione scientifica (Aspectos da revoluccedilatildeo cientiacutefica) Naacutepoles Morano 1971 pp SI-82 e em La scienza e Ta filosofia dei moderni aspetti della rivoluzione scientiftca (A ciecircnCia e

a filosofia dos modernos aspectos da revoluccedilatildeo cientiacutefica) Turim Bollatiacute

Boringhier~ 1989 pp 47-66 este em ediccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Universidade Estadual Paulista 1992

Prefazwne a B Farrington Francesco Baconefilosq[o delletagrave industriale (Francis Bacon filoacutesofo da idade industrial) Turim Einaud~ 1967

Galilei e Bacone (Galileu e Bacon) em Saggi su Gauacuteleo Galilei org Comitato

Nazionale per le manifestazioni celebrative nel IV centenario della nascita

Florenccedila Barbera 1967 pp l-50 (do excerto) depois em Aspetti delTa rivoluzione scientifica Ntlpoles Morano 1971 pp 85-1S0 e Venti maree ipotesi

bull-Satilde Latilde =tEcirc

astronomiche in Bacon e Galilei (Ventos mareacutes hipoacuteteses astronocircmicas em Bacon e Galileu) em La sCUmza e lafilosofia dei rtwlUacuterni aspetti della rivoluzione

scientifica Turim Bollati Boringhieri 1989 pp 114-68

Francis Bacon em I protagonisti della storia universale Milatildeo CEI1968

Francesco Bacone em Grande Antologia Filosqfzca il pensiero rtwlUacuternO Milatildeo

Marzorati 1969 voi VI pp 219-37

II pensiero di Francis BacO1 una antologia di scritti (O pensamento de Francis

Bacon uma antologia de escritos) org Paolo Rossi Turim Loescher 1971

Note baconiane em Rivista critiaz di sforUacuteJ deTafilosqfio XXIX 1974 pp 31-60

R Bacon Scrittifilosqfzci (F Bacon Escritos fIlosoacutefIcos) org Paolo Rossi Turim

U tet 1976 Baconianismem Dictionary qf the History qf ldeas Nova York Scribner

1974 I pp 172-79

Francis Bacon em V Mathieu ( org) Questioni di storiografiafilosoftca dalle origini

allOttocento Brescia La Scuola 1974 pp 183-206

Francis Bacon in MDal Pra (org) Storia delTafilosojia Milatildeo Vallardi 1975shy

76 voI IV pp 553-71

FrancIacutes Bacon Richard Hooker e le 1eggi della natura (Francis Bacon Richard

Hooker e as 1eis da natureza) em Rivista critica di storia dellafilosofia XXXI

1977 pp 72-77

Formiche ragni epistemologi (Formigas aranhas epistemologistas) em La

storia della filosofia come sapere critico studi offtrti a Mario Dal Pra Milatildeo Franco Angei 1984 pp 628-40 (Depois em I ragni e le formiche un apologia

della storia della scienza Bolonha li Mulino 1986 pp 96-118) em trad inglesa

Ants spiders epistemologists em M Fattori (org) Francis Bacon Roma Edizioni dellAteneo 1985 pp 245-60 Em trad espanhola Barcelona Editorial

Criacutetica 1990

Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (Confronto dos engenhos

modernos e poacutes-modernos) Bolonha II Mulino 1989

bull67

F Bacone La Nuova Atlantide org Paolo Rossi Milano TEA 1991

Naufragi senza spettatore (Naufraacutegios sem espectador) em M Ciliberto e C

Vasoli (org) Filosota e cultura per Eugenio Garin Roma Editori Riuniti 1991 lI pp 397-415 Depois em forma menos reduzida no volume Natfragi senza

spettatore lidea di progresso (Naufraacutegios sem espectador a ideacuteia de progresso) Bolonha 11 Mulino 1995 pp 21-43 O livro saiu em polonecircs brasileiro e turco

Warszawa Polska Akademia Nauk - Instytut Filozofii i Socijologi~ 1998 Satildeo Paulo Editora UNESp 2000 Ankara Dost Kitabevi Yayinlan Kundakccedil 2002

Francis Bacon e leternitagrave deI mondo (Francis Bacon e a eternidade do mundo) in MT Marcialis (org) Studi in Tne1TUJria di Giovanni Solinas em Annali della

Facoltagrave di Lettere e Filosota dellUniversitagrave di Cagliari nuova serie IX (XLVI) 1998 (mas 1992) pp 91-100

Francis Bacon la N Uova Atlantide (Francis Bacon a Nova Atlacircntida) em LArco di Giano rivisla di MedicaI Humanities I 4 1994 pp 245-58

Dimenticare Bacone (Esquecer Bacon) em C Vinti (org) Alexandre Koyreacute lavventura intellettuale (Atti deI Quinto Seminario Internazionale di Studi

promosso dal laquoCentro Studi sul pensiero scientifico F Cesiraquo da Universitagrave di Perugia Acquasparta 80 set-8 out 1992) Naacutepoles Edizioni Scientifiche I taliane 1994 pp 25-88 depois republicado no volume Un altro presente saggi sulla storia dellafilosofia Bolonha Il Mulino 1999 pp 145-60

F Bacon Uomo e Natura scrittifilosofici (Homem e Natureza escritos filosoacuteficos) org E De Mas Introduccedilatildeo de Paolo Ross~ Roma-Bari Laterza 1994

Bacons idea of science in Markku Peltonen (org) The Cambridge Campanion to Bacon Cambridge Cambridge University Press 1996 pp 25-46

Dedalo e il labirinto (Deacutedalo e o labirinto) em Annuario Filosifzco 1998

Seconda navigazUacuteJne la tecnica la vila i dilemmi dellazione Milatildeo Mondadori 1998 pp 42-78

-w- bull 1

Craftsman-and-Scholar Thesis em W Applebaum (org) Encyclopedia cif the Scientific Revolutionfrom Copernicus to Newton Nova York e Londres Garland

2000 pp 174-77

Progresso unidea ambivalente Due interpretazioni di Daniele 12 4lt

(Progresso uma ideacuteia ambivalente Duas interpretaccedilotildees de Daniel 124) em A

Vieira Per ta storia deZ foturo a org D Bigalli posfaacutecio de Paolo Rossi Aosta LEubage 2002 pp 207-18

Francis Bacon em I grandi delta scienza n 30 dezembro 2002 Le Scienze

(Scientific American)

Hidden knowledge publicknowledge em Archives dhistoire des sciences

Genebra LV 2002 pp 167-82

Sulla scienza e gli strumenti cinque divagazioni baconiane (Sobre a ciecircncia e os instrumentos cinco divagaccedilotildees baconianas) em Musa Musaei studies on scientific

instruments and collections in Iwnour cf MaTa Miniati org Marco Beretta Paolo Galluzzi Carlo Triarico Biblioteca di Nuncius Florenccedila Leo Olschki 2008

pp141-54

Magic science and the equality of human wits em Bill Fulford Katherine Morris John Sadler e Giovanni Stanghellini (org) Nature and narrative An introduction to the new Philosophy cf psychiatry Oxford Oxford University Press 2003 pp 268-74

Page 22: ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

mesmos) eacute o motor primeiro das grandes mudanccedilas ou o desvelamento do

significado escondido e profundo da histoacuteria O que mais os fascina eacute o sonho de

um grande relato uniacutevoco Soacute que o deles agrave diferenccedila de Bacon natildeo estaacute fundado

apenas em incertezas e esperanccedilas natildeo eacute parecido com uma viagem arriscada

nas aacuteguas ardilosas do oceano mas eacute ao contraacuterio a enunciaccedilatildeo de um destino

fatal Natildeo seraacute dado subtrair-se a ele Procede-se agrave homogeneizaccedilatildeo e agrave anulaccedilatildeo

das diferenccedilas agrave indicaccedilatildeo de abismos baseando-se em alternativas sobremaneira

vagas e indeterminadas Para qualquer possiacutevel problema jaacute haacute uma resposta

pronta que eacute tambeacutem para quem tenha um miacutenimo de praacutetica do oficio

completamente previsiacutevel A resposta consiste em se aflrmar que as diferenccedilas

natildeo existem e que apenas natildeo-filoacutesofos ingecircnuos e desprovidos podiam ou podem

pensar que ao contraacuterio sim elas existem Este tipo de fIlosofia natildeo eacute de recente

invenccedilatildeo Jaacute era bem conhecida tambeacutem do Lorde Chanceler que a definiu pelo

menos duas vezes A primeira vez escreveu a tradiccedilatildeo filosoacutefica construiu

inuacutemeros mundos teatrais onde as histoacuterias tecircm como uacutenica prerrogativa a de

corresponderem aos desejos de cada um A segunda vez escreveu eles tecircm o ar

Ide cozinheiros inalcanccedilaacuteveis e datildeo-te para comer sempre o mesmo prato que eacuteshy

i invariavelmente _ carne de porco domeacutestico

Quem sabe tenha sido justamente a negaccedilatildeo destemida do caraacuteter decisivo da fIlosofia que uma parte da tradiccedilatildeo ftlosoacutefica posterior nunca perdoou a Francis

Bacon

Agradeccedilo ao Dr Roberto Bondl da Universidade da Calaacutebria pela preciosa

obra de revisatildeo do inteiro volume

PR Cittagrave di Castello dezembro de 2003

l bull

1~====~==================iUEI

Linterpretazione baconiana delle favole antiche (A interpretaccedilatildeo baconiana das

faacutebulas antigas) Publicaccedilotildees da Rivista critica di storia dellafilosofia Roma-Milatildeo

Bocca 1953

Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone (As faacutebulas antigas no

pensamento de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofia IX 1954

pp 156-95

F Bacon La Nuova Atlantide ed altri scritti (A nova Atlacircntida e outros escritos)

org Paolo Rossi Milatildeo Cooperativa deI Libro Popolare 1954

Per una bibliografia degli scritti su Francesco Bacone (Para uma bibliografta

dos escritos sobre Francis Bacon) in Rivista critica di stona della filosofia XII

1957 pp 75-89

Francesco Bacone dalla magia alla scienxa (Francis Bacon da magia agrave ciecircncia)

Bari Laterza 1957 Turim Einaudi 1974 em ediccedilatildeo anglo-americana Londres

Routledge and Kegan Paul 1968 Chicago University of Chicago Press 1968

japonesa Tokyo The Simul Press 1970 espanhola Madri Alianza Editorial

1990

Sul carattere non utilitaristico delta filosofia di Francesco Bacone (Sobre o

caraacuteter natildeo utilitarista da filosofia de Francis Bacon) em Rivista critica di storia dellafilosofiacutea XII 1957 pp 23-42 (depois com o tiacutetulo Veritagrave e utilitagrave della

bull

scienza in Francesco Bacone (Verdade e utilidade da ciecircncia em Francis Bacon

em lfilosofi ele macchine 1400-1700 (Os filoacutesofos e as maacutequinas 1400-1700) Milatildeo Feltrinelli 1962 1971 1980 1984 2002 pp 148-75 Em trad espanhola Barcelona Editorial Labor 1966 americana Nova York Harper and Row 1970

huacutengara Budapest Kossuth 1976 polonesa Warszawa Panstwowe Vydawnictwo

Naukowe 1978 brasileira Satildeo Paulo Editora Schwarcz 1989 japonesa Tokyo

GaktYutsu Shobo 1989 francesa Paris Presses Universitaires de France 1996)

La memoria artificiale come sezione della logica Ramo Bacone Cartesio (A memoacuteria artificial como seccedilatildeo da loacutegica Ramus Bacon Descartes) em Rivista critica di storia della filosofia Xv 1960 pp 203-63 depois refundido em CTavis universalis arti delTa memoria e logica combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis

universalis artes da memoacuteria e loacutegica combinatoacuteria de Llull a Leibniz) MilatildeoshyNaacutepoles Ricciardi 1960 em nova ediccedilatildeo Bolonha n Muliacuteno 1985 1988 O liVrEgt apareceu depois em ediccedilatildeo japonesa Tokyo Kokusho Kankokai 1984

mexicana Mexico Fondo de cultura econoacutemica 1989 francesa Grenoble Jeacuterocircme Miacutelion 1995 atildenglo-americana Londres The Athion Press e Chicago The University of Chicago Press 2001

Bacone e la Bibbia (Bacon e a Biacuteblia) em Archiwum Historii Filozofii y Misly SpoleC1IeJ XII 1966 pp IOS-2S poi in Aspetti della rivoluzione scientifica (Aspectos da revoluccedilatildeo cientiacutefica) Naacutepoles Morano 1971 pp SI-82 e em La scienza e Ta filosofia dei moderni aspetti della rivoluzione scientiftca (A ciecircnCia e

a filosofia dos modernos aspectos da revoluccedilatildeo cientiacutefica) Turim Bollatiacute

Boringhier~ 1989 pp 47-66 este em ediccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Universidade Estadual Paulista 1992

Prefazwne a B Farrington Francesco Baconefilosq[o delletagrave industriale (Francis Bacon filoacutesofo da idade industrial) Turim Einaud~ 1967

Galilei e Bacone (Galileu e Bacon) em Saggi su Gauacuteleo Galilei org Comitato

Nazionale per le manifestazioni celebrative nel IV centenario della nascita

Florenccedila Barbera 1967 pp l-50 (do excerto) depois em Aspetti delTa rivoluzione scientifica Ntlpoles Morano 1971 pp 85-1S0 e Venti maree ipotesi

bull-Satilde Latilde =tEcirc

astronomiche in Bacon e Galilei (Ventos mareacutes hipoacuteteses astronocircmicas em Bacon e Galileu) em La sCUmza e lafilosofia dei rtwlUacuterni aspetti della rivoluzione

scientifica Turim Bollati Boringhieri 1989 pp 114-68

Francis Bacon em I protagonisti della storia universale Milatildeo CEI1968

Francesco Bacone em Grande Antologia Filosqfzca il pensiero rtwlUacuternO Milatildeo

Marzorati 1969 voi VI pp 219-37

II pensiero di Francis BacO1 una antologia di scritti (O pensamento de Francis

Bacon uma antologia de escritos) org Paolo Rossi Turim Loescher 1971

Note baconiane em Rivista critiaz di sforUacuteJ deTafilosqfio XXIX 1974 pp 31-60

R Bacon Scrittifilosqfzci (F Bacon Escritos fIlosoacutefIcos) org Paolo Rossi Turim

U tet 1976 Baconianismem Dictionary qf the History qf ldeas Nova York Scribner

1974 I pp 172-79

Francis Bacon em V Mathieu ( org) Questioni di storiografiafilosoftca dalle origini

allOttocento Brescia La Scuola 1974 pp 183-206

Francis Bacon in MDal Pra (org) Storia delTafilosojia Milatildeo Vallardi 1975shy

76 voI IV pp 553-71

FrancIacutes Bacon Richard Hooker e le 1eggi della natura (Francis Bacon Richard

Hooker e as 1eis da natureza) em Rivista critica di storia dellafilosofia XXXI

1977 pp 72-77

Formiche ragni epistemologi (Formigas aranhas epistemologistas) em La

storia della filosofia come sapere critico studi offtrti a Mario Dal Pra Milatildeo Franco Angei 1984 pp 628-40 (Depois em I ragni e le formiche un apologia

della storia della scienza Bolonha li Mulino 1986 pp 96-118) em trad inglesa

Ants spiders epistemologists em M Fattori (org) Francis Bacon Roma Edizioni dellAteneo 1985 pp 245-60 Em trad espanhola Barcelona Editorial

Criacutetica 1990

Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (Confronto dos engenhos

modernos e poacutes-modernos) Bolonha II Mulino 1989

bull67

F Bacone La Nuova Atlantide org Paolo Rossi Milano TEA 1991

Naufragi senza spettatore (Naufraacutegios sem espectador) em M Ciliberto e C

Vasoli (org) Filosota e cultura per Eugenio Garin Roma Editori Riuniti 1991 lI pp 397-415 Depois em forma menos reduzida no volume Natfragi senza

spettatore lidea di progresso (Naufraacutegios sem espectador a ideacuteia de progresso) Bolonha 11 Mulino 1995 pp 21-43 O livro saiu em polonecircs brasileiro e turco

Warszawa Polska Akademia Nauk - Instytut Filozofii i Socijologi~ 1998 Satildeo Paulo Editora UNESp 2000 Ankara Dost Kitabevi Yayinlan Kundakccedil 2002

Francis Bacon e leternitagrave deI mondo (Francis Bacon e a eternidade do mundo) in MT Marcialis (org) Studi in Tne1TUJria di Giovanni Solinas em Annali della

Facoltagrave di Lettere e Filosota dellUniversitagrave di Cagliari nuova serie IX (XLVI) 1998 (mas 1992) pp 91-100

Francis Bacon la N Uova Atlantide (Francis Bacon a Nova Atlacircntida) em LArco di Giano rivisla di MedicaI Humanities I 4 1994 pp 245-58

Dimenticare Bacone (Esquecer Bacon) em C Vinti (org) Alexandre Koyreacute lavventura intellettuale (Atti deI Quinto Seminario Internazionale di Studi

promosso dal laquoCentro Studi sul pensiero scientifico F Cesiraquo da Universitagrave di Perugia Acquasparta 80 set-8 out 1992) Naacutepoles Edizioni Scientifiche I taliane 1994 pp 25-88 depois republicado no volume Un altro presente saggi sulla storia dellafilosofia Bolonha Il Mulino 1999 pp 145-60

F Bacon Uomo e Natura scrittifilosofici (Homem e Natureza escritos filosoacuteficos) org E De Mas Introduccedilatildeo de Paolo Ross~ Roma-Bari Laterza 1994

Bacons idea of science in Markku Peltonen (org) The Cambridge Campanion to Bacon Cambridge Cambridge University Press 1996 pp 25-46

Dedalo e il labirinto (Deacutedalo e o labirinto) em Annuario Filosifzco 1998

Seconda navigazUacuteJne la tecnica la vila i dilemmi dellazione Milatildeo Mondadori 1998 pp 42-78

-w- bull 1

Craftsman-and-Scholar Thesis em W Applebaum (org) Encyclopedia cif the Scientific Revolutionfrom Copernicus to Newton Nova York e Londres Garland

2000 pp 174-77

Progresso unidea ambivalente Due interpretazioni di Daniele 12 4lt

(Progresso uma ideacuteia ambivalente Duas interpretaccedilotildees de Daniel 124) em A

Vieira Per ta storia deZ foturo a org D Bigalli posfaacutecio de Paolo Rossi Aosta LEubage 2002 pp 207-18

Francis Bacon em I grandi delta scienza n 30 dezembro 2002 Le Scienze

(Scientific American)

Hidden knowledge publicknowledge em Archives dhistoire des sciences

Genebra LV 2002 pp 167-82

Sulla scienza e gli strumenti cinque divagazioni baconiane (Sobre a ciecircncia e os instrumentos cinco divagaccedilotildees baconianas) em Musa Musaei studies on scientific

instruments and collections in Iwnour cf MaTa Miniati org Marco Beretta Paolo Galluzzi Carlo Triarico Biblioteca di Nuncius Florenccedila Leo Olschki 2008

pp141-54

Magic science and the equality of human wits em Bill Fulford Katherine Morris John Sadler e Giovanni Stanghellini (org) Nature and narrative An introduction to the new Philosophy cf psychiatry Oxford Oxford University Press 2003 pp 268-74

Page 23: ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

scienza in Francesco Bacone (Verdade e utilidade da ciecircncia em Francis Bacon

em lfilosofi ele macchine 1400-1700 (Os filoacutesofos e as maacutequinas 1400-1700) Milatildeo Feltrinelli 1962 1971 1980 1984 2002 pp 148-75 Em trad espanhola Barcelona Editorial Labor 1966 americana Nova York Harper and Row 1970

huacutengara Budapest Kossuth 1976 polonesa Warszawa Panstwowe Vydawnictwo

Naukowe 1978 brasileira Satildeo Paulo Editora Schwarcz 1989 japonesa Tokyo

GaktYutsu Shobo 1989 francesa Paris Presses Universitaires de France 1996)

La memoria artificiale come sezione della logica Ramo Bacone Cartesio (A memoacuteria artificial como seccedilatildeo da loacutegica Ramus Bacon Descartes) em Rivista critica di storia della filosofia Xv 1960 pp 203-63 depois refundido em CTavis universalis arti delTa memoria e logica combinatoria da Lullo a Leibniz (Clavis

universalis artes da memoacuteria e loacutegica combinatoacuteria de Llull a Leibniz) MilatildeoshyNaacutepoles Ricciardi 1960 em nova ediccedilatildeo Bolonha n Muliacuteno 1985 1988 O liVrEgt apareceu depois em ediccedilatildeo japonesa Tokyo Kokusho Kankokai 1984

mexicana Mexico Fondo de cultura econoacutemica 1989 francesa Grenoble Jeacuterocircme Miacutelion 1995 atildenglo-americana Londres The Athion Press e Chicago The University of Chicago Press 2001

Bacone e la Bibbia (Bacon e a Biacuteblia) em Archiwum Historii Filozofii y Misly SpoleC1IeJ XII 1966 pp IOS-2S poi in Aspetti della rivoluzione scientifica (Aspectos da revoluccedilatildeo cientiacutefica) Naacutepoles Morano 1971 pp SI-82 e em La scienza e Ta filosofia dei moderni aspetti della rivoluzione scientiftca (A ciecircnCia e

a filosofia dos modernos aspectos da revoluccedilatildeo cientiacutefica) Turim Bollatiacute

Boringhier~ 1989 pp 47-66 este em ediccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Universidade Estadual Paulista 1992

Prefazwne a B Farrington Francesco Baconefilosq[o delletagrave industriale (Francis Bacon filoacutesofo da idade industrial) Turim Einaud~ 1967

Galilei e Bacone (Galileu e Bacon) em Saggi su Gauacuteleo Galilei org Comitato

Nazionale per le manifestazioni celebrative nel IV centenario della nascita

Florenccedila Barbera 1967 pp l-50 (do excerto) depois em Aspetti delTa rivoluzione scientifica Ntlpoles Morano 1971 pp 85-1S0 e Venti maree ipotesi

bull-Satilde Latilde =tEcirc

astronomiche in Bacon e Galilei (Ventos mareacutes hipoacuteteses astronocircmicas em Bacon e Galileu) em La sCUmza e lafilosofia dei rtwlUacuterni aspetti della rivoluzione

scientifica Turim Bollati Boringhieri 1989 pp 114-68

Francis Bacon em I protagonisti della storia universale Milatildeo CEI1968

Francesco Bacone em Grande Antologia Filosqfzca il pensiero rtwlUacuternO Milatildeo

Marzorati 1969 voi VI pp 219-37

II pensiero di Francis BacO1 una antologia di scritti (O pensamento de Francis

Bacon uma antologia de escritos) org Paolo Rossi Turim Loescher 1971

Note baconiane em Rivista critiaz di sforUacuteJ deTafilosqfio XXIX 1974 pp 31-60

R Bacon Scrittifilosqfzci (F Bacon Escritos fIlosoacutefIcos) org Paolo Rossi Turim

U tet 1976 Baconianismem Dictionary qf the History qf ldeas Nova York Scribner

1974 I pp 172-79

Francis Bacon em V Mathieu ( org) Questioni di storiografiafilosoftca dalle origini

allOttocento Brescia La Scuola 1974 pp 183-206

Francis Bacon in MDal Pra (org) Storia delTafilosojia Milatildeo Vallardi 1975shy

76 voI IV pp 553-71

FrancIacutes Bacon Richard Hooker e le 1eggi della natura (Francis Bacon Richard

Hooker e as 1eis da natureza) em Rivista critica di storia dellafilosofia XXXI

1977 pp 72-77

Formiche ragni epistemologi (Formigas aranhas epistemologistas) em La

storia della filosofia come sapere critico studi offtrti a Mario Dal Pra Milatildeo Franco Angei 1984 pp 628-40 (Depois em I ragni e le formiche un apologia

della storia della scienza Bolonha li Mulino 1986 pp 96-118) em trad inglesa

Ants spiders epistemologists em M Fattori (org) Francis Bacon Roma Edizioni dellAteneo 1985 pp 245-60 Em trad espanhola Barcelona Editorial

Criacutetica 1990

Paragone degli ingegni moderni e postmoderni (Confronto dos engenhos

modernos e poacutes-modernos) Bolonha II Mulino 1989

bull67

F Bacone La Nuova Atlantide org Paolo Rossi Milano TEA 1991

Naufragi senza spettatore (Naufraacutegios sem espectador) em M Ciliberto e C

Vasoli (org) Filosota e cultura per Eugenio Garin Roma Editori Riuniti 1991 lI pp 397-415 Depois em forma menos reduzida no volume Natfragi senza

spettatore lidea di progresso (Naufraacutegios sem espectador a ideacuteia de progresso) Bolonha 11 Mulino 1995 pp 21-43 O livro saiu em polonecircs brasileiro e turco

Warszawa Polska Akademia Nauk - Instytut Filozofii i Socijologi~ 1998 Satildeo Paulo Editora UNESp 2000 Ankara Dost Kitabevi Yayinlan Kundakccedil 2002

Francis Bacon e leternitagrave deI mondo (Francis Bacon e a eternidade do mundo) in MT Marcialis (org) Studi in Tne1TUJria di Giovanni Solinas em Annali della

Facoltagrave di Lettere e Filosota dellUniversitagrave di Cagliari nuova serie IX (XLVI) 1998 (mas 1992) pp 91-100

Francis Bacon la N Uova Atlantide (Francis Bacon a Nova Atlacircntida) em LArco di Giano rivisla di MedicaI Humanities I 4 1994 pp 245-58

Dimenticare Bacone (Esquecer Bacon) em C Vinti (org) Alexandre Koyreacute lavventura intellettuale (Atti deI Quinto Seminario Internazionale di Studi

promosso dal laquoCentro Studi sul pensiero scientifico F Cesiraquo da Universitagrave di Perugia Acquasparta 80 set-8 out 1992) Naacutepoles Edizioni Scientifiche I taliane 1994 pp 25-88 depois republicado no volume Un altro presente saggi sulla storia dellafilosofia Bolonha Il Mulino 1999 pp 145-60

F Bacon Uomo e Natura scrittifilosofici (Homem e Natureza escritos filosoacuteficos) org E De Mas Introduccedilatildeo de Paolo Ross~ Roma-Bari Laterza 1994

Bacons idea of science in Markku Peltonen (org) The Cambridge Campanion to Bacon Cambridge Cambridge University Press 1996 pp 25-46

Dedalo e il labirinto (Deacutedalo e o labirinto) em Annuario Filosifzco 1998

Seconda navigazUacuteJne la tecnica la vila i dilemmi dellazione Milatildeo Mondadori 1998 pp 42-78

-w- bull 1

Craftsman-and-Scholar Thesis em W Applebaum (org) Encyclopedia cif the Scientific Revolutionfrom Copernicus to Newton Nova York e Londres Garland

2000 pp 174-77

Progresso unidea ambivalente Due interpretazioni di Daniele 12 4lt

(Progresso uma ideacuteia ambivalente Duas interpretaccedilotildees de Daniel 124) em A

Vieira Per ta storia deZ foturo a org D Bigalli posfaacutecio de Paolo Rossi Aosta LEubage 2002 pp 207-18

Francis Bacon em I grandi delta scienza n 30 dezembro 2002 Le Scienze

(Scientific American)

Hidden knowledge publicknowledge em Archives dhistoire des sciences

Genebra LV 2002 pp 167-82

Sulla scienza e gli strumenti cinque divagazioni baconiane (Sobre a ciecircncia e os instrumentos cinco divagaccedilotildees baconianas) em Musa Musaei studies on scientific

instruments and collections in Iwnour cf MaTa Miniati org Marco Beretta Paolo Galluzzi Carlo Triarico Biblioteca di Nuncius Florenccedila Leo Olschki 2008

pp141-54

Magic science and the equality of human wits em Bill Fulford Katherine Morris John Sadler e Giovanni Stanghellini (org) Nature and narrative An introduction to the new Philosophy cf psychiatry Oxford Oxford University Press 2003 pp 268-74

Page 24: ROSSI, Paolo. Francis bacon. Da magia à ciência. Pref. 3 edicao.pdf

F Bacone La Nuova Atlantide org Paolo Rossi Milano TEA 1991

Naufragi senza spettatore (Naufraacutegios sem espectador) em M Ciliberto e C

Vasoli (org) Filosota e cultura per Eugenio Garin Roma Editori Riuniti 1991 lI pp 397-415 Depois em forma menos reduzida no volume Natfragi senza

spettatore lidea di progresso (Naufraacutegios sem espectador a ideacuteia de progresso) Bolonha 11 Mulino 1995 pp 21-43 O livro saiu em polonecircs brasileiro e turco

Warszawa Polska Akademia Nauk - Instytut Filozofii i Socijologi~ 1998 Satildeo Paulo Editora UNESp 2000 Ankara Dost Kitabevi Yayinlan Kundakccedil 2002

Francis Bacon e leternitagrave deI mondo (Francis Bacon e a eternidade do mundo) in MT Marcialis (org) Studi in Tne1TUJria di Giovanni Solinas em Annali della

Facoltagrave di Lettere e Filosota dellUniversitagrave di Cagliari nuova serie IX (XLVI) 1998 (mas 1992) pp 91-100

Francis Bacon la N Uova Atlantide (Francis Bacon a Nova Atlacircntida) em LArco di Giano rivisla di MedicaI Humanities I 4 1994 pp 245-58

Dimenticare Bacone (Esquecer Bacon) em C Vinti (org) Alexandre Koyreacute lavventura intellettuale (Atti deI Quinto Seminario Internazionale di Studi

promosso dal laquoCentro Studi sul pensiero scientifico F Cesiraquo da Universitagrave di Perugia Acquasparta 80 set-8 out 1992) Naacutepoles Edizioni Scientifiche I taliane 1994 pp 25-88 depois republicado no volume Un altro presente saggi sulla storia dellafilosofia Bolonha Il Mulino 1999 pp 145-60

F Bacon Uomo e Natura scrittifilosofici (Homem e Natureza escritos filosoacuteficos) org E De Mas Introduccedilatildeo de Paolo Ross~ Roma-Bari Laterza 1994

Bacons idea of science in Markku Peltonen (org) The Cambridge Campanion to Bacon Cambridge Cambridge University Press 1996 pp 25-46

Dedalo e il labirinto (Deacutedalo e o labirinto) em Annuario Filosifzco 1998

Seconda navigazUacuteJne la tecnica la vila i dilemmi dellazione Milatildeo Mondadori 1998 pp 42-78

-w- bull 1

Craftsman-and-Scholar Thesis em W Applebaum (org) Encyclopedia cif the Scientific Revolutionfrom Copernicus to Newton Nova York e Londres Garland

2000 pp 174-77

Progresso unidea ambivalente Due interpretazioni di Daniele 12 4lt

(Progresso uma ideacuteia ambivalente Duas interpretaccedilotildees de Daniel 124) em A

Vieira Per ta storia deZ foturo a org D Bigalli posfaacutecio de Paolo Rossi Aosta LEubage 2002 pp 207-18

Francis Bacon em I grandi delta scienza n 30 dezembro 2002 Le Scienze

(Scientific American)

Hidden knowledge publicknowledge em Archives dhistoire des sciences

Genebra LV 2002 pp 167-82

Sulla scienza e gli strumenti cinque divagazioni baconiane (Sobre a ciecircncia e os instrumentos cinco divagaccedilotildees baconianas) em Musa Musaei studies on scientific

instruments and collections in Iwnour cf MaTa Miniati org Marco Beretta Paolo Galluzzi Carlo Triarico Biblioteca di Nuncius Florenccedila Leo Olschki 2008

pp141-54

Magic science and the equality of human wits em Bill Fulford Katherine Morris John Sadler e Giovanni Stanghellini (org) Nature and narrative An introduction to the new Philosophy cf psychiatry Oxford Oxford University Press 2003 pp 268-74