Rodolpho Mouta; Carlos Willian A. Paschoal ARTIGO 2(36).pdf · ... localizada no município de São Luís, ... Aprovado em abril 2011 14 Cad. Pesq., São Luís, vol. 19, n. especial,

LEVANTAMENTO DAS ÁREAS DE RISCO DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA SUB-BACIA DO RIO MARACANÃ*

SURVEY OF AREAS AT RISK OF CONTAMINATION OF GROUNDWATER IN THE SUB-BASIN OF MARACANÃ RIVER

ESTUDIO DE LAS ZONAS DE RIESGO DE CONTAMINACIÓN DE LAS AGUAS SUBTERRÁNEAS EN LA SUBCUENCA DEL RÍO MARACANÃ

Kerline Castro AmorimJorge Hamilton Souza Dos Santos

Resumo: No limiar do século XXI, o abastecimento público de água em termos de quantidade e quali-dade é uma preocupação crescente da humanidade em função da escassez deste recurso natural e da degradação da qualidade dos mananciais. Nesse sentido foi realizado um diagnóstico preliminar das águas subterrâneas da sub-bacia do rio Maracanã, localizada no município de São Luís, objetivando identificar e mapear as possíveis fontes de contaminação, bem como analisar os parâmetros físico-químicos e bacteri-ológicos, para avaliar os prováveis níveis de contaminação das águas dos poços. O método científico uti-lizado na pesquisa foi o método hipotético-dedutivo, apresentando resultados descritivos e qualitativos da sub-bacia do Maracanã, com levantamentos bibliográficos e cartográficos, visitas de campo, amostragem das águas, interpretação e análise das imagens dos satélites IKONOS e SPOT – 5 do ano de 2008, para confecção da carta temática preliminar das prováveis fontes de contaminação das águas subterrâneas. Foram amostrados cinco poços, e os resultados obtidos confirmam a existência de águas contaminadas entre as amostras coletadas, indicando com isto a gravidade da situação na área em análise. Dentre os parâmetros físico-químicos analisados: pH, ferro e nitrato apresentaram, respectivamente, os seguintes resultados 4,9; 0,24mg/L; 8,5mg/L sendo estes considerados valores prejudiciais a saúde humana, por se encontrarem abaixo e/ou acima dos valores permitidos para os padrões de qualidade. Os resultados bac-teriológicos confirmaram que 75% das amostras apresentaram contaminação das águas. Tal fato deve-se provavelmente à deficitária condição de saneamento básico do bairro ou a forma inadequada de construção e/ou manutenção dos poços.Palavras-chave: Águas subterrâneas. Risco de contaminação. Sub-bacia do Maracanã.

Abstract: In the beginning of the XXI century, the public water supply in terms of quantity and quality is a growing concern of humanity due to the scarcity of natural resource and degradation of the quality of well-springs. A preliminary diagnosis of undergroundwater sub-basin of the Maracanã River, in the city of São Luís was done, in order to identify and map the potential sources of contamination, as well as to analyze the physico-chemical and bacteriological parameters, to assess the propable levels of water contamina-tion of wells. The scientific method used in the research was hypothetical-deductive method, presenting descriptive and qualitative results of sub-basin of Maracanã, with bibliographical and cartographic surveys, field visits, water sampling, interpretation and analysis of satellite images IKONOS and SPOT - 5 in 2008, for production of thematic preliminary letter of the propable contamination sources of undergroundwater. Five wells were sampled and the results obtained confirm the existence of contaminated water into the samples collected, indicating the severity of the situation in the area in analysis. Among the physicochemi-cal parameters analyzed: pH, iron and nitrate showed the following results respectively 4.9; 0.24 mg/L; 8.5 mg/L these being considered harmful values to human health, because they are below and/or v above of allowed values by the standards of quality. The bacteriological results confirmed 75% of the samples presented waters contamination . This fact is probably due to deficient sanitation condition of the neighbor-hood or inadequate shape of construction and / or maintenance of the wells.Keywords: Undergroundwater. Risk of contamination. Sub-basin of Maracanã Riv.

Resumen: A comienzos del siglo XXI, el abastecimiento público de agua, en lo que se refiere a cantidad y a calidad, es una procupación creciente de la humanidad, debido a la escasez de este recurso natural y también a la degradación de la calidad de los manantiales. Debido a eso se realizó un diagnóstico preliminar de las aguas subterráneas de la subcuenca del río Maracaná, en la ciudad de San Luis, con el fin de iden-tificar y mapear las posibles fuentes de contaminación, así como analizar las propiedades físico-químicas

Rodolpho Mouta; Carlos Willian A. Paschoal

Trabalho premiado durante o XXIII Encontro do SEMIC realizado na UFMA entre os dias 08 a 11 de novembro de 2011.*Artigo recebido em fevereiro 2012 Aprovado em abril 2011

14 Cad. Pesq., São Luís, vol. 19, n. especial, jul. 2012

ARTIGO

Levantamento das áreas de risco de contaminação

1 INTRODUÇÃO

A água constitui um dos compostos de maior distribuição na crosta terrestre, essen-cial para a conservação da vida, à manutenção do desenvolvimento e do meio ambiente. Sua constituição está diretamente relacionada ao ambiente por onde ela circula na natureza, por meio do ciclo hidrológico e especialmente em função das atividades antrópicas.

Ao longo da história da humanidade, o de-senvolvimento econômico e a diversificação da sociedade resultaram em usos múltiplos e va-riados dos recursos hídricos superficiais e sub-terrâneos, aumentando a demanda e gerando escassez. E uma das causas dessa problemáti-ca é a falta de gerenciamento e planejamento das bacias hidrográficas, no qual esta se ca-racteriza por um rio principal e seus afluentes, transportando água e sedimentos ao longo dos seus canais, representando uma unidade mais apropriada para o estudo qualitativo e quan-titativo dos recursos hídricos. No entanto, o desenvolvimento das atividades humanas de-correntes da urbanização, atividades agrícolas e da intensificação industrial tem gerado diver-sos problemas aos mananciais.

Diante disso, realizou-se um diagnóstico preliminar das águas subterrâneas da sub--bacia do rio Maracanã, em função de diversos problemas de poluição provenientes de ocupa-ção desordenada sobre as áreas de recarga de aquíferos e das áreas de preservação perma-nente – APPs. Tal ocupação contribui para a redução e contaminação das águas superficiais e subterrâneas do local.

Esta pesquisa realizou-se a partir de pesqui-sa bibliográfica, trabalhos de campo, análises laboratoriais e de levantamentos fotográficos das prováveis fontes de poluição e/ou conta-minação dos recursos hídricos, com o objetivo de realizar análise físico-química e bacterioló-gica das águas subterrâneas da sub-bacia do

Maracanã. Os resultados obtidos servirão para alertar a comunidade local sobre a qualidade das águas consumidas e prováveis riscos de contaminação pela forma inadequada do uso e da ocupação do solo.

2 METODOLOGIA

O método científico desenvolvido na pes-quisa foi o método hipotético-dedutivo, que parte da observação e experimentação, tendo sua origem no problema, procurando soluções por meio de tentativas, hipóteses e teoria, apresentando também pesquisas descritivas, que estudam as características de determina-do fenômeno (fatos são observados, registra-dos, analisados, classificados e interpretados). Esse tipo de análise está muito relacionado ao estudo de caso, permitindo um estudo deta-lhado e com profundidade.

Em virtude disso, para realizar a pesquisa foram feitas atividades de escritório através de levantamento e análise do material cartográfi-co e bibliográfico, destacando-se, entre esses materiais, publicações em livros, artigos, textos, cartas, mapas, dissertações e teses que serviram para subsidiar a pesquisa; além disso, ocorreu o trabalho de campo para ob-tenção de dados e/ou informações relaciona-dos ao uso e ocupação do solo na sub-bacia do Maracanã, com registros fotográficos e en-trevistas informais com os moradores locais. Sendo estes trabalhos imprescindíveis para a obtenção das coordenadas geográficas e UTM, para o georreferenciamento das imagens de satélites, coleta das amostras de água subter-râneas dos poços na sub-bacia.

A coleta foi realizada para a determinação preliminar da qualidade das águas subterrâ-neas em cinco poços distribuídos na sub-ba-cia do Maracanã, levando em consideração os parâmetros físico-químicos e os parâmetros

y bacteriológicas, para evaluar la probabilidad de los niveles de contaminación del agua de los pozos. El método científico utilizado en la investigación fue el método hipotético-deductivo, con datos bibliográficos y cartográficos, visitas de campo, muestreo de agua, interpretación y análisis de imágenes de satélite IKO-NOS y SPOT - 5 de 2008, para la confección de una carta temática preliminar sobre las posibles fuentes de contaminación del agua subterránea. Se muestrearon cinco pozos y los resultados confirman la existencia de agua contaminada entre las muestras, lo que muestra la gravedad de la situación en la zona en cuestión. Entre los parámetros físico-químicos analizados: pH, hierro y nitratos obtuvieronse los siguientes resul-tados, respectivamente,: 4.9, 0.24mg / L, 8.5mg / L y destacandose que estos son valores considerados perjudiciales para la salud humana, debido a que están abajo y / o encima de los valores permitidos por los estándares de calidad. Los resultados bacteriológicos confirmaron que el 75% de las muestras de aguas estaban contaminadas. Este hecho es probablemente debido a la condición de saneamiento deficiente de la zona habitada, ou de la incorrecta construcción y / o mantenimientode los pozos.Palabras clave: Las aguas subterrâneas. Riesgo de contaminación. Sub-cuenca del Maracaná

15Cad. Pesq., São Luís, vol. 19, n. especial, jul. 2012

bacteriológicos (coliformes totais e coliformes termotolerantes), dentro dos critérios de pota-bilidade, de acordo com a Portaria n° 518/2004 do Ministério da Saúde, e das especificações dos padrões de qualidade da água subterrânea previsto na Resolução CONAMA n° 396/2008.

Todas as amostras de análise físico-quími-ca e bacteriológica foram coletadas em frasco reagente de polipropileno boca estreita 30 mm, com capacidade de 500 ml R–2350 Nalgon, diretamente do cano ou torneiras ligadas aos poços, deixando a água escoar por algum tempo (um minuto), desprezando as primeiras águas fora do local da coleta.

O critério utilizado para o estabelecimento dos pontos de coletas baseou-se no risco de vulnerabilidade com a fonte poluidora. A dis-tribuição foi realizada da seguinte maneira: o primeiro poço um (P 1) do tipo particular situado próximo ao cemitério, possui 6m de profundidade; poço dois (P 2) tipo coletivo (Comunidade 21 de abril) possui 80m de pro-fundidade; poço três (P 3) poço da escola C.E Augusto Mochel com profundidade de 50m; poço quatro (P 4) poço próximo ao rio princi-pal, possui 15m de profundidade; poço cinco (P 5) possui 18 m de profundidade e localiza-

Nº PoçoLocalização Tipo de

PoçoProf. Tipo

de CaptaçãoS W (m)

P1 PP 02° 38' 06,9" 44° 17' 01,0" C 6 B

P2 PC 02° 37' 57,6" 44° 17' 01,4" T 80 BB

P3 PP 02° 37' 38,8" 44° 16' 54,9" T 50 BB

P4 PC 02° 37' 44,9" 44° 16' 22,6" T 15 BB

P5 PP 02° 37' 59,7" 44° 16' 53,7" T 18 BB

Tabela 1 - Características dos pontos amostrados

PP - Poço Particular; PC - Poço Coletivo; C - Poço Cacimba; T - Poço Tubular; BB - Bombeamento; B – Balde.

Fonte: Elaborada pelos autores

área de aproximadamente 21km², perímetro de 19,8 Km de extensão, amplitude altimétrica de 45m e a hierarquia de canais de 4° ordem (CYSNE; SANTOS, 2010).

3.2 Características Físicas da Área de Estudo

A Ilha do Maranhão está situada em uma feição geológico-geomorfológica denominada Golfão Maranhense, fazendo parte da Bacia Costeira de São Luís, parte integrante da

margem costeira do Brasil, formada por rifte-amento durante o período Cretáceo. Limita-se ao norte com a plataforma Ilha Santana, ao sul pelos Altos Estruturais Arco Ferrer – Urbano Santos, a leste pelo Horst de Rosário e a oeste pelo Arco de Tocantins. Segundo Pereira (2006, p. 65), a composição sedimentar da Bacia de São Luís iniciou-se com os sedimen-tos: do Cretáceo da Formação Itapecuru, do Terciário-Paleogeno da Formação Barreiras e por fim pelos sedimentos mais recentes da Formação Açuí.

-se relativamente distante do rio Maracanã, Conforme apresentado na tabela 1.

As amostras de análises bacteriológicas foram realizadas de acordo com o recomen-dado pelas normas do Stander Methods for the Examination of Water and wastewater. O número mais provável por 100 mL (NMP/ 100 mL) foi estimado utilizando a técnica dos tubos múltiplos em série de dez tubos para colifor-mes totais, Clostridium perfrigens, Pseudomo-nas aeruginosa (AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION; AMERICAN WATER WORKS AS-SOCIATION; WATER POLLUTIONS CONTROL FEDERATION, 1992), e na pesquisa CE, coli-formes termotolerantes, foram identificados quanto sua presença ou ausência e a conta-gem de bactérias heterotróficas totais foi esti-mada utilizando a técnica do Pour plate (APHA, AWWA,WEF, 1992).

3 ASPECTOS GERAIS DA ÁREA

3.1 Localização Geográfica

A sub-bacia do Maracanã localiza-se entre as seguintes coordenadas geográfi-cas: 2°35’35” e 2°39’17” Lat.S e 44°14’23” e 44°19’30” Long. W (figura 01). Com uma

Kerline Amorim; Jorge dos Santos


Quanto aos aspectos geomorfológicos, a Ilha apresenta praias, dunas, falésias, planí-cies fluviais e flúvio-marinhas (com altitudes entre 0 e 5 metros), suaves colinas (entre 20 a 30 metros) e os tabuleiros costeiros (com altitudes de até 60 metros).

O solo da área de estudo pertence predo-minantemente à classe dos latossolos. Entre-tanto, existindo manchas de plintossolos e de argissolos restritos a pequenos cursos d’água que fazem parte da sub-bacia hidrográfica do Maracanã, esta por sua vez integra a bacia hi-drográfica do Bacanga (FARIAS FILHO, 2010, p. 17-18). Segundo Pereira (2006, p. 71),

O solo residual, típico na área da Bacia do Rio Bacan-ga, caracteriza-se pela alta concentração de ferro nos sedimentos areno-argilosos, argilo-arenosos, areia fina, sendo, geralmente, capeado por extensas for-mações de laterita (petroplintitas), cuja gênese está diretamente relacionada com as condições geológicas e do clima tropical.

Segundo Farias Filho (2010, p. 17), a tem-peratura da região tem média de 26ºC, com amplitude térmica não superior a 7ºC no ano. A temperatura local é influenciada diretamente pela maré, pois, durante a preamar, quando, por vezes, o tempo apresenta-se mais ou menos nublado, as massas de ar perdem par-cialmente sua dinâmica, deixando de circular e impedindo que o calor seja dissipado para a atmosfera, ocasionando, consequentemen-te, uma concentração de calor na área. Outro fator que influencia a temperatura local é a ve-getação, especialmente aquela referente aos brejais que, associada aos recursos hídricos a

ela inerentes, tornam o local bastante aprazí-vel em grande parte dos dias de um ano.

A sub-bacia do Maracanã (21km²) apresen-ta drenagem dendrítica e localiza-se no curso superior da Bacia do Rio Bacanga (106 Km²). O rio Maracanã (fotografia 1) com 5,1km nasce na área elevada do tabuleiro do bairro Maraca-nã, direcionando-se até o ponto de comunica-ção com as águas do rio Bacanga apresentando um canal aproximadamente retilíneo.

Fotografia 1 - Rio Maracanã


4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Análises físico-químicas e bacterioló-gicas das amostras de água

A água é um excelente solvente e pode conter inúmeras substâncias dissolvidas. As ca-

Figura 1 - Localização geográfica da sub-bacia do Rio Maracanã

Fonte: CYSNE; SANTOS, 2010 apud SISCON/IBAMA, 2009.



racterísticas químicas das águas subterrâneas re-fletem os meios por onde percolam, guardando uma estreita relação com os tipos de rochas e com os produtos das atividades humanas ad-quiridas ao longo de seu trajeto, dissolvendo e incorporando substâncias. Todavia, esses re-lacionamentos entre o teor dos elementos e substâncias químicas e a saúde do homem e dos animais podem estar comprometidos por questões relativas à mobilidade e à dispersão destes elementos e substâncias, direcionadas pelos princípios da geoquímica e da dinâmica das águas superficiais e subterrâneas. Diante disso, é imprescindível fazer análises físico--químicas das águas para se determinar de modo preciso e explícito as características da água, bem como o modo seguro para se avaliar as propriedades da mesma.

A análise bacteriológica da água com-preende o estudo das bactérias, vírus, algas, protozoários e fungos microscópicos. Alguns desses microrganismos são próprios do habitat local e outros são lançados nas fontes hídricas pela ação dos ventos ou pelos efluentes indus-triais e domésticos. Esse tipo de análise é uma ferramenta importante ao reconhecimento da qualidade da água de consumo.

A contaminação por agentes microbioló-gicos presentes nas águas (bactérias, vírus, protozoários e ovos de helmintos) se constitui num dos graves problemas de saúde pública mais comum em nosso país. Essas doenças são transmitidas por excrementos humanos e de animais, despejados nas fontes de água, tornando-a imprópria para o consumo. A transmissão dessas doenças ocorre de forma direta ou indireta: com a ingestão da água, no preparo de alimentos, na higiene pessoal, na agricultura ou no lazer. Essas doenças no homem estão associadas a infecções intesti-nais e doenças como meningites, intoxicações alimentares, infecções urinárias e pneumonias nosocomiais (KONEMAN et al., 2001).

Os principais microrganismos presentes na água contaminada e responsáveis por nume-rosas doenças são Salmonella sp, Shigella sp, Escherichia coli e Vibrio cholerae. As espécies bacterianas existentes nas águas naturais são principalmente espécies dos gêneros Pseudo-monas, Chromobacterium, Proteus, Micrococ-cus, Bacillus, Enterococcus, Enterobacter e Es-cherichia coli. É provável que as três últimas bactérias sejam contaminantes (NASCIMEN-TO; MOUCHREK FILHO, 1995, p. 28). Além de existirem outros gêneros tais como Entero-bacter, Citrobacter, Klebisiella e Serratia, que

vivem na água, no solo e também constituem a flora intestinal do homem.

Para se avaliar o grau de potabilidade da água deve-se levar em consideração as diver-sas substâncias que se encontram em seu meio e os parâmetros físico-químicos e bacteriológi-cos. Assim, uma água é considerada potável quando é inofensiva à saúde do homem, quando é agradável aos sentidos, adequada aos usos domésticos e os seus limites de to-lerância das substâncias presentes na água possam garantir característica de potabilidade.

Por isso o estudo da bacia do Maracanã consiste em fazer um diagnóstico sobre a água subterrânea e um levantamento das áreas mais propícias à poluição.

O bairro do Maracanã é deficiente em água encanada pela Companhia de Saneamento Ambiental de Águas e Esgotos do Maranhão – CAEMA, obrigando os moradores a utilizarem o sistema de poços cacimbão (tubos de cimento ou escavado) e tubular – PVC (fotografia 2 e 3). Tai poços são construídos para o abastecimento individual ou coletivo dos morador(es) locais.

Fotografia 2 - Poço cacimbão individual (tubos de cimento)


Fotografia 3 - Poço tubular coletivo (PVC)




Faz-se necessário um controle na qualidade dessas águas, utilizadas para todas as atividades humanas e que correm risco de serem contami-nadas de maneira direta ou indireta, por ativida-des humanas ou por processos naturais, sendo mais frequente a ação combinada de ambos os agentes. Nas atividades humanas, uma das maiores preocupações são os instrumentos de manuseio impróprios como baldes, cordas e tu-bulações enferrujadas.

Outro aspecto observado diz respeito à proxi-midade dos poços das áreas onde existem efluen-tes domésticos, banheiros (Fotografia 4) e lixões. Tal situação torna-se recorrente na área devido à falta de esgotamento sanitário e coleta de lixo na maior parte do bairro. Sabe-se que a concen-tração desse material no solo pode percolar até o lençol freático aumentando o nível de partículas, bactérias patogênicas, substâncias e gases dis-solvidos responsáveis pela sua poluição.

Fotografia 4 - Poço com presença de banheiro nas proximidades


Esse tipo de poluição, ao atingir o aqüífero, origina um aumento da mineralização, elevação da temperatura, aparecimento de cor, sabor e odor desagradáveis. É o que aconteceu em alguns poços da bacia, principalmente aqueles encontrados no nível topográfico mais baixo e próximo aos cursos do rio (fotografia 5).

Fotografia 5 - Poço poluído/desativado


Para detalhar as fontes de poluição e os locais propícios a esse risco, optou-se por re-alizar cinco coletas de água. Os resultados foram obtidos e confrontados com os critérios físico-químicos e bacteriológicos, de acordo com a Portaria 518/04 do Ministério da Saúde, que estabelece os critérios obrigatórios no país para água potável, assim como a Resolução CONAMA n° 396/2008, que também trata dos critérios de potabilidade. Os resultados obtidos das amostras de água dos poços selecionados são apresentados na tabela 2.

Os valores de pH dos poços analisados ficaram abaixo do valor permitido pela Resolu-ção CONAMA n° 396/2008, tornando as águas levemente ácidas. Essa acidificação reage com os metais presentes no solo, aumentando a concentração de elementos químicos na água para consumo, levando ao desenvolvimento de doenças como cáries dentárias, úlceras gástri-cas e duodenais, dermatites, otites, conjunti-vites, dentre outras (SOUZA, 2008).

De acordo com a Portaria 518/04 do Minis-tério da Saúde, os teores de ferro apresenta-ram valores acima do permitido nos poços P3 e P5. Nessa avaliação, as altas concentrações de ferro podem estar relacionadas a depósitos orgânicos, detritos de plantas, podendo asso-ciar-se a colóides ou húmus, o que dá a cor amarelada à água (COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS, 1997). No Brasil, esses altos teores são comuns, particularmen-te naquelas águas captadas em terrenos de aluviões.

Segundo Delvin, et al (1998), essas altas concentrações de ferro nas águas subterrâne-as para consumo humano provocam o acúmulo de ferro no fígado, no pâncreas e no coração, podendo levar à cirrose e tumores hepáticos, diabetes e insuficiência cardíaca. As águas com elevada presença de ferro contribuem para gerar quantidades excessivas de radicais livres que atacam as moléculas celulares, au-mentando o número de moléculas potencial-mente carcirogênicas (MAHAN, 2000).

O nitrato é um dos compostos mais perigo-sos encontrados nas águas subterrâneas; por sua mobilidade a persistir condições aeróbicas, pode ser removido de camadas superiores do solo para as águas subterrâneas, representan-do um dos maiores poluentes das águas sub-terrâneas. Sua ocorrência está associada às atividades humanas (esgotos, fossas sépticas, depósito de lixo, cemitérios, adubos nitroge-nados, resíduos de animais etc.). Os poços amostrados P1 e P2 apresentaram valores



acima do permitido pela Portaria 518/04 MS para o nitrato.

O poço P1 encontra-se próximo do cemité-rio e das fossas sépticas encontradas na área, enquanto que o P2, por se encontrar em uma área topograficamente mais elevada (colina), deveria ser isento de contaminação. Porém, o mesmo apresentou valores elevados devido provavelmente à presença de um lixão em suas proximidades, onde as águas do escoamento superficial, durante o período chuvoso, lavam o solo e propiciam a percolação dos poluentes e/ou contaminantes para o lençol freático con-taminando as referidas águas.

O principal risco de contaminação por nitrato é originado no organismo humano compostos por material cancerígenos, capaz de provocar doenças como a metahemoglobi-nemia, que altera a hemoglobina do sangue provocando sintomas semelhantes à asfixia.

Os outros parâmetros analisados estão re-lacionados à sua composição. Assim o conjunto de todos os elementos que a compõem permite estabelecer os padrões de qualidade da água.

Dentre as análises bacteriológicas de co-liformes totais (tabela 3) pode-se inferir que os poços P1 e P3 são os que apresentaram os maiores níveis de contaminação; o poço P4 apresenta um valor acentuado de contamina-ção, porém menor do que já apresentado, e o poço P5 apresenta o valor mais baixo das amostras.

Diante disso, observou-se que o P1 loca-lizado próximo ao cemitério e o P3 localizado próximo à margem do rio Maracanã possuem topografia mais baixa quando comparada aos outros poços amostrados. Desta maneira, pre-sume-se que a altimetria tenha influenciado diretamente nos resultado obtidos, ou seja, é provável que o rio Maracanã já apresen-te algum tipo de poluição, pois os poços que se encontram próximos a ele já apresentam níveis elevados de contaminação se compara-dos aos outros poços mais afastados do rio.

Enquanto que os poços P5 e P4 se encon-tram em uma topografia mais elevada, porém mesmo com esse nível mais elevado, a conta-minação está alta para essas áreas, uma vez que estas são menos suscetíveis à contamina-ção devido à sua elevação, considerando que os contaminantes são carreados e depositados nas áreas mais baixas.

No entanto, o poço P2 possui o nível mais baixo de contaminação, sendo este o mais in-dicado para o uso em geral. Contudo, segundo dados de Portaria 518/04 do Ministério da Saúde, que determina as diretrizes de potabi-lidade, o mesmo não apresenta valores ade-quados para consumo. Dessa forma, nenhum poço do Maracanã amostrado, nesta pesqui-sa, se encontra livre de contaminação por coliformes totais, tendo em vista que todos possuem valores acima do aceitável para o consumo humano.

Parâmetros Unidade VMPResultados

Poço 01

Resultados

Poço 02

Resultados

Poço 03

Resultados

Poço 04

Resultados

Poço 05

Órgão

regulador

pH 6,0 - 9,0 5,8 4,7 5,2 4,9 4,2 CONAMA

C.E ms/cm - 26,5 89 26,2 27,5 33,1 -

Alcalinidade mg/L - 14 8 9 9 9 -

Dureza mg/L 500 40 28 30 30 26 MS

Ferro mg/L 0,3 0,16 0,02 0,52 0,03 0,49 MS

Cálcio mg/L - 14,4 8,02 8,02 10,42 9,62 -

Cloro mg/L 250 50 32 10 13 8 CONAMA

Sulfato mg/L 250 14,22 3,96 4,04 3,52 4 CONAMA

Sódio mg/L - 44 13,2 2,6 3,6 2,2 -

Potássio mg/L - 2,1 1,6 0,8 1 1,5 -

Magnésio mg/L - 0,97 1,94 2,43 0,97 0,486

Nitrato mg/L 10 17,71 14,08 1,71 3,02 6,12 MS

Amônia mg/L 1,5 NR NR NR NR NR MS

Fosfato mg/L 0,025 NR NR NR NR NR CONAMA


Tabela 2 – Resultado das análises físico-química das amostras de água da sub-bacia do Maracanã.



Quanto à análise de coliformes termotole-rantes, as amostras foram classificadas como positivo e negativo, apresentando valor negativo para os poços P2, P3 e P4. Já os poços P1 e P5 possuem valor positivo, caracterizando-se como impróprios para o consumo humano.

Para a Organização Pan-Americana da Saúde (1999), as amostras onde foram detectados os coliformes termotolerantes podem ser enquadra-das como água contaminada e representa risco em potencial. Mas se não forem encontrados mi-croorganismos indicadores, presumi-se que esta água corresponde aos padrões estabelecidos. De qualquer maneira, não se pode descartar a pos-sibilidade de contaminação por microorganismos de origem termotolerantes ou de outra origem, como os vírus e protozoários. Na opinião de espe-cialistas da OMS, este risco é muito remoto.

Sendo assim, as amostras dos poços da sub--bacia do rio Maracanã apresentaram valores po-sitivos para coliformes totais e algumas amostras valores negativos, indicando possivelmente que todas as amostras apresentaram suscetibilidade à contaminação.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde a água microbiologicamente conta-minada pode transmitir grande variedade de doenças infecciosas de diversas maneiras:

1- Diretamente pela água (water-borne diseases): provocadas pela ingestão de água contaminada com urina ou fezes, humanas ou animais, contendo bac-

MicroorganismosPoços

P 1 P 2 P 3 P 4 P 5

Coliformes totais (NMP/100mL)

93 9,1 93 75 43

Coliformes ter-motolerantes (NMP/100mL)

+ - - - +

Tabela 3 - Resultados das análises bacteriológicas das amostras de água.

Fonte: Elaborada pelos autores.

inadequada ocupação do espaço, geram frequentes enchentes urbanas, problemas na coleta e disposição do lixo urbano, que resultam em contaminação dos aquíferos e águas superficiais e perdas de distribuição, além da produção concentrada de esgotos que aumentou extraordinariamente nos últimos 30 anos.

Essa contaminação só ocorre pela ocupa-ção inadequada de áreas onde não são ava-liados seus riscos, isto é, pela capacidade do

aquífero em degradar substâncias tóxicas in-troduzidas no ambiente, principalmente nas áreas de recargas. Ressalta-se que as fontes de contaminação encontradas na área de estudo foram: fossas sépticas e negras, infiltração de efluentes industriais, fugas da rede de esgoto e galerias de águas pluviais; vazamentos de postos de serviço, por aterros sanitários e lixões; uso indevido de fertilizantes nitroge-nados, depósitos de lixo próximo dos poços, localização do cemitério do Maracanã próximo

térias ou vírus patogênicos. Incluem cólera, febre tifóide, amebíase, leptospirose, giardíase, hepatite infecciosa e diarréias agudas.2- Causadas pela falta de limpeza e de higiene com água (water-washed diseases): provocadas por má higiene pessoal ou contato de água contaminada na pele ou nos olhos. Incluem escabiose, pediculose (piolho), tracoma, conjuntivite bacteriana aguda, sal-monelose, tricuriase, enterobiase, ancilostomiases, ascaridiase.3- Causadas por parasitas encontrados em organis-mos que vivem na água ou por insetos vetores com ciclo de vida na água(water-based and water-related diseases). Incluem esquistossomose, dengue, malá-ria, febre amarela, filarioses e oncocercoses.

4.2 Carta preliminar das fontes de polui-ção das águas subterrâneas

A população brasileira tem crescido muito nas últimas décadas e uma das consequências desse aumento é a pressão considerável sobre os recursos hídricos, o qual provoca destruição de florestas, degradação de mananciais, con-taminação e poluição. Devido a falta de plane-jamento, o uso e a ocupação do solo têm ocor-rido de forma desordenada em muitas cidades do Brasil. E em São Luís essa problemática não é diferente, muitos bairros são desprovidos de infra-estrutura básica como água encanada, um sistema de esgotamento sanitário e precá-rio sistema de coleta de lixo como é o caso do bairro Maracanã e suas proximidades.

Segundo Tundisi (2011, p. 125), as alte-rações no ciclo hidrológico, produzidas pela



às áreas de recargas e a poluição química que acarreta danos irreversíveis.

Assim, baseada no risco de contaminação foi elaborada a carta preliminar das fontes de poluição da sub-bacia do rio Maracanã SPOT -5 e IKONOS, do ano de 2008, através da fusão entre imagens SPOT -5 e IKONOS, do ano de 2008, subsidiadas pelos trabalhos de campo, conforme apresentado na figura 2.

Segundo Cysne, Santos (2010), o rio prin-cipal da sub-bacia do rio Maracanã possuía, no ano de 1980, aproximadamente 6,9 km de ex-tensão e atualmente o mesmo rio possui cerca de 5,1 km de extensão. Essa redução pode ser explicada pelo intenso processo de urbaniza-ção que ocorreu na área das principais nascen-tes do rio Maracanã, principalmente no setor nordeste (NE) da sub-bacia. Além disso, houve sucessivos aterros e desmatamentos nestas áreas, o que certamente ocasionou a redução da infiltração das águas subterrâneas e a con-sequente migração das nascentes na direção jusante. (Figura 2)

A pressão das atividades humanas sobre os recursos hídricos tem aumentado o risco de poluição e/ou contaminação dos manan-ciais e das águas subterrâneas, principalmente na sub-bacia do rio Maracanã, pois a mesma passa por profundas alterações no curso do

rio; degradação e aterros das nascentes; des-matamentos; urbanização nas margens e des-carga de poluentes industriais, nitrogenados e domésticos.

Essas atividades têm gerado a diminuição e o risco de contaminação das águas subter-râneas, no qual os poços já amostrados indi-caram susceptibilidade à contaminação, tanto aqueles próximos ao leito do rio como os mais distantes, encontrados nas áreas de recarga de aquíferos. Faz-se necessário um gerencia-mento e planejamento ambiental, priorizando as zonas de recargas, as APPs, o destino do lixo e dos efluentes domésticos e industriais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Os resultados obtidos até o momento sobre a qualidade das águas dos poços amostrados demonstram o risco de poluição e/ou contami-nação dos recursos hídricos, por apresentarem alterações nos padrões de qualidade microbio-lógica e físico-química da água, tornando-se impróprias para consumo humano por conter agentes patogênicos e alterações nos parâ-metros físico-químico das amostras analisa-das. Embora o número de amostras ainda não seja suficiente para expressar a real situação

Figura 2 - Carta Preliminar das fontes de poluição das águas subterrâneas da sub-bacia do Maracanã




sobre a qualidade das águas subterrâneas da sub-bacia do Maracanã, não se pode deixar de destacar a possível contaminação resultante de condições naturais, mas principalmente do uso e da ocupação do solo da sub-bacia, por possuir fontes de poluição, como os efluentes domésti-cos e industriais, fossas sépticas, lixo, cemité-rio, desmatamentos e agricultura.

Atrelado a isso, há pouca informação dos moradores sobre qualidade de água, a má con-servação dos poços domésticos e de abasteci-mento, a baixa qualidade das redes de distri-buição e a falta de estrutura sanitária.

Nesta perspectiva, elaborou-se a carta de vulnerabilidade à contaminação do aquífe-ro barreiras da sub-bacia do Maracanã, a fim de compatibilizar as atividades antrópicas e a capacidade do terreno em suportá-las am-bientalmente. Através dessa carta pretende--se criar ferramentas de proteção dos recur-sos hídricos subterrâneos, não apenas nesta sub-bacia como em outras de características semelhantes.

AGRADECIMENTOS Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financia-mento do projeto “Recuperação das áreas de recarga e descarga do aquífero barreiras da sub-bacia do rio Maracanã” e ao Profº Dr.Odilon Teixeira de Melo (LABOHIDRO/UFMA) pelas análises físico-química das amostras de águas coletadas.

REFERÊNCIAS

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CYSNE, A. L. N.; SANTOS, J. H. S. dos. Caracterização das feições geomorfológicas, hidrográficas e de uso e cobertura do solo da sub-bacia do rio Maracanã. Relatório Final- FAPEMA/PIBIC, 2010.

COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS. Hidrogeologia: conceitos e aplicações. Coordenadores: Feitosa F. A. C. & Filho, J. M. Fortaleza: CPRM, LABHID- UFPE, 1997.

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TUNDISI, José Galizia. Recursos hídricos no século XXI. São Paulo: Oficina de textos, 2011.



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Rodolpho Mouta; Carlos Willian A. Paschoal ARTIGO 2(36).pdf · ... localizada no município de São Luís, ... Aprovado em abril 2011 14 Cad. Pesq., São Luís, vol. 19, n. especial,