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ponto.com - 1 ponto.com Revista do Laboratório de Imprensa e Hipermedia e do Laboratório de Fotografia da Universidade Fernando Pessoa 1 2008.09

Revista ponto com n1

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Revista do Laboratório de Imprensa e Hipermédia da Universidade Fernando Pessoa

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nº 12008.09

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Ficha Técnica:

Director: Salvato Trigo

Director de Publicação: Ricardo Jorge Pinto

Coordenador Editorial: Ana Gabriela Nogueira

Edição Fotográfica: Tereza Castro Ribeiro

Paginação: Ana Gabriela Nogueira

Redacção e Fotografia: André Seixas, Bruna Alves, Bárbara Silva, Catarina Castro Melo,

Cláudia Ferreira, Cláudio Moreira, Diogo Pedrosa, Duarte Pernes, Eva Mata, Fátima Santos,

Filipe Loureiro, Francisco Silva, Hugo Gonçalo, Isabel Gonçalves, Isabel Santos, João

Gonçalves, Jorge Costa, José Cálix, Marta Graça, Miguel Leite, Ricardo Nunes, Rita Pereira,

Rolemberg Matos, Sandra Reis, Simão Fonseca, Sónia Rosa, Tiago Alves.

Resultado do trabalho jornalístico dos alunos de Ciências da Comunicação

da Universidade Fernando Pessoa, ponto.com é uma revista laboratório

que pretende defender o jornalismo universitário de qualidade.

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Edição nº 1 - Ano 2009

Índice

Saúde e Desporto:Saúde Ocular InfantilHóquei, Café e CampeõesAeródromo da Maia: desportos radicais com segurançaTermalismo: uma atitude dos 8 aos 80 anosSurf: do desporto ao estilo de vidaPanterinhas competem na ribalta

10 e 11

26 e 27

46 e 47

56 e 57

58 e 59

50 e 51

Cultura e Lazer:Os clássicos da baixa do Porto Leituras noutras artesRomânico no Vale do SousaTerras de Santa MariaTurismo de baixo custo não se impõe em PortugalFiligrana: rejuvenescer uma arte cansadaDo Underground com AmorQuestões sobre a adaptaçãoExperimentar memórias

06 e 07

08 e 09

12 a 15

16 e 17

18 e 19

30 e 31

44 e 45

52 e 53

54 e 55

Gentes e Sociedade:Tweeter: O que estás a fazer? Brasileiros de regresso ao BrasilSolidariedade UrgenteUm Centro de juventude e experiênciaEsoterismo para um bem estar espiritualMicrocrédito: o banco dos pobresAlerta BullyingFilantropia Social, no auxílio à probrezaDe volta à Feira A vida na Opus DeiTransformismo CulturalMata que é vida

04 e 05

20 e 21

22 e 23

24 e 25

28 e 29

32 e 33

34 e 35

36 e 37

38 e 39

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48 e 49

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Quando, na década de 60, o Homem imaginou que poderia ligar, através de uma máquina chamada Computador, um número não maior do que 100 pessoas, estava longe de imaginar que essa centena se transformaria em 100 milhões. Não imaginava também que esses 100 milhões, actualmente, desfrutam de plataformas comunicacionais on-line cujo intuito é divulgar o que cada um está a fazer. É o caso do Twitter, um projecto iniciado em Março de 2006, nos Estados Unidos da América, mais concretamente em S. Francisco, e que mundialmente aloja, até Fevereiro de 2009, mais de 7 milhões de utilizadores.

O Twitter é o mais recente fenómeno entre as redes sociais mais utilizadas diariamente. Se o hi5 e o MSN são os exemplos mais badalados entre os jovens, o Faceboock e o MySpace são objecto de uso por parte dos mais velhos, que utilizam a Internet

como ferramenta pessoal e profissional. Ao olhar para estes quatro exemplos, verifica-se uma dúvida: onde encaixar o Twitter? A resposta reside no seu funcionamento e mecânica.

“Twitter” em português significa “chilrear”: acto comunicativo utilizado entre passarinhos. Em linguagem ‘twitteriana’, chilrear é redigir um comentário até 140 caracteres que descreva um estado de espírito, o que se está ou vai fazer, um link e um comentário de algo que viu e decidiu divulgar, enfim, um sem número de descrições que determinado individuo decide partilhar. E com quem? Com os seus seguidores. O Twitter, como grande parte das redes sociais on-line, permite ao utilizador gerir o seu grupo de contactos, dando-lhe a opção de seguir qualquer outro utilizador, mediante permissão.

A singularidade desta plataforma define, também,

Web e Redes Sociais

O QUE ESTÁS A FAZER?Ao verificar um crescimento de 1382% no espaço de um ano, o Twitter veio para ficar no

mundo da Internet, mais propriamente no espaço das redes sociais até agora lideradas pelo hi5, Facebook, MySpace ou MSN. No mundo real, jornalistas e políticos vêem nele uma ferramenta que expande a expressão do seu trabalho. 140 caracteres que prometem revolucionar.

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a sua exclusividade no micro-blogging, ou seja, na transmissão de mensagens curtas, via Net. Ao modelar-se desta maneira, o Twitter figura-se como um serviço on-line, ao dispor de todos, onde inclusive os seus updates podem ser feitos por SMS. Assim sendo, não é de admirar que, entre Fevereiro de 2008 e Fevereiro de 2009, o uso desta plataforma tenha aumentado 1382%.

Porém, engana-se quem pensa que o Twitter serve apenas de entretenimento. Entre os mais de 7 milhões de registados no ‘site do passarinho’ encontramos jornalistas, políticos, empresários, músicos, meios de comunicação social, empresas, entre outros que recorrem deste potencial on-line para, não só tirarem proveito do que lá é anunciado, mas também usufruírem do contrário, ou seja, o Twitter tornou-se um meio extremamente valioso para publicar e ser publicado.

Em declarações ao ‘UFP Informação’, Ricardo Pinto, jornalista e editor do ‘Expresso’, reforçou a “enorme

utilidade que o Twitter tem em estabelecer contactos essenciais para a prática e rotina do jornalismo, pois não se sobrevive sem fontes de informação”. E estas fontes “nas suas diferentes áreas: política, economia, desporto, internacional, etc.” estão, do ponto de vista do editor do Expresso, “nas redes sociais, das quais o Twitter faz parte.”

Numa lista recentemente divulgada pela empresa Twitter, na qual constava, sem qualquer critério de escolha, 100 utilizadores sugeridos na rede, verificou-se que, após a sua divulgação, o número de seguidores de muitos desses twitterers duplicou num curto espaço de tempo. Jason Calacanis, CEO do motor de busca Mahalo, que tem, no Twitter, mais de 60 mil seguidores, disse que oferece 250 mil dólares à empresa para fazer parte do top 20 da lista de sugestões durante dois anos. Calacanis acredita que, no prazo de cinco, um lugar desses irá valer, por ano, um milhão de dólares.

Texto e foto: Ricardo Nunes

O Twitter em Portugal experienciou uma ascensão desde o início de 2009. Estima-se, e de acordo com o site TwitterPortugal (http://twitterportugal.com), que existam perto de 6000 portugueses ligados a esta plataforma. Um deles é o Presidente da República, Cavaco Silva. Ao se aceder a www.twitter.com/presidencia pode-se consultar a agenda do Presidente da República, saber onde e quando vai estar, como também ler os discursos recentemente proferidos por ele. É seguido por mais de 4000 twitterers e há quem interligue o surgimento do Twitter da Presidência da República com o boom de utilizadores em Portugal.

Contudo, quem lidera a lista de maior número de seguidores entre fronteiras interactivas portuguesas é o humorista Nuno Markl com cerca de 7000. Segue-se o jornal Público com 6000 seguidores. Perto destes está Paulo Querido, jornalista freelancer nas áreas das novas tecnologias e, por muitos, considerado o guru do Twitter em Portugal. Tem aproximadamente 4500 seguidores e classifica esta plataforma como “o telefone no início do século”.

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Na cidade Invicta há sítios onde ainda reina a calma e nos podemos sentir transportados para outros tempos. Estamos a falar dos alfarrabistas que podemos encontrar entre a Rua de Santa Catarina e o famoso Café Piolho. São pouco mais de uma dezena, mas, apesar da crise, não se antevê encerramentos. Todos giram à volta de livros mais ou menos antigos, mesmo que, por vezes, se encontrem livros recentes.

A crise, nestas casas, faz-se notar quando são mais os que entram para vender livros do que para comprar. Mas não são só as dificuldades económicas que afectam este negócio. A falta de interesse pela leitura nas camadas mais jovens também é um factor a ter em conta, assim como o aparecimento da Internet e das novas tecnologias. Foi com estas ideias que nos dirigimos para a baixa portuense.

O destino era a “Livraria Académica”, um dos mais antigos alfarrabistas portuenses, com 90 anos de história. O proprietário desta catedral do livro, Nuno Canavez, transmontano há muito radicado no Porto, é um amante de livros e dono de um grande saber. A sua jovialidade e o à-vontade com que nos

Na baixa portuense há lugares pouco conhecidos onde se encontram os melhores amigos dos livros: os alfarrabistas. Nos tempos que correm, em que a crise é geral, falámos com um destes sofredores de bibliofolia e com uma professora universitária para tentar perceber o lugar deste negócio na sociedade actual.

fala das obras que possui, não deixam transparecer a idade que tem: só à frente do negócio, já lá vão uns surpreendentes 60 anos...

Para este homem apaixonado, mas pragmático, a crise, sendo uma realidade que já vem de anos anteriores, só trará consequências nefastas para o alfarrabista que não se especialize. “Se nós formos para a especialização - quando digo especialização, é procurar ter aquilo que os outros não têm - o futuro não está em causa, até certo ponto; se vamos para o livro corrente é capaz de já estar”, diz-nos Nuno Canavez. Até porque, para este alfarrabista, a Internet e as novas tecnologias (como os telemóveis) vieram alhear os mais jovens da Cultura.

Do seu ponto de vista “as solicitações são tantas que é impossível captar-lhes a atenção.” No entanto, “eu não tenho grande dificuldade em vender uma primeira edição do Torga, do Régio, do Pessoa, do Almada ou de um Fialho D’Almeida. Por dez, vinte, trinta ou cinquenta vezes mais do que o que custa uma edição corrente. Porque, aí, já está em jogo o coleccionador e o bibliófilo.”

Os clássicos da baixa do Porto

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Nuno Canavez considera que o alfarrabista é um “divulgador de cultura” e não um mero vendedor de livros. Na sua livraria organiza, de dois em dois meses, um catálogo das obras que tem à venda, com descrições e informação detalhada. Organiza exposições temáticas de fotografia, pintura ou de livros e jornais antigos e tem também uma página online, onde divulga todo o trabalho que faz à volta da livraria (www.livraria-academica.com). Considera que estas iniciativas fazem parte do seu trabalho de “divulgador da Cultura, para além de serem uma boa forma de divulgar o meu negócio”, conclui.

O ponto de vista académicoPara os investigadores, os alfarrabistas podem ser uma boa fonte

de matéria-prima. Na opinião de Isabel Ponce de Leão, docente na Universidade Fernando Pessoa, os alfarrabistas são “uma fonte inesgotável de oportunidades que obtemos para encontrar certos livros que já não estão acessíveis”. Licenciada em Filologia Românica e doutorada em Literaturas Hispânicas, a docente considera esta profissão “imprescindível”.

No que aos mais novos diz respeito, a opinião da professora é peremptória. “Penso que os alfarrabistas nunca foram muito frequentados pela juventude. Não me parece que o seu público-alvo seja a gente jovem...” Mas defende que esta falta de interesse dá-se, do ponto de vista académico, porque os jovens consomem os livros indicados pelos professores, que se encontram, com facilidade, nas livrarias comuns.

Apesar da crise ser geral, Ponce de Leão acredita que os alfarrabistas continuarão a ter clientes. Quanto mais não seja porque há sempre os coleccionadores que compram obras bastante caras e aos quais a crise afecta menos. Para nós haverá sempre Nuno Canavez e a sua Livraria Académica, assim como os restantes alfarrabistas da baixa portuense.

Texto e fotos: Francisco Silva

Locais para outras leituras...Livraria Académica - Rua dos Mártires da Liberdade, nº 10

página web: www.livraria-academica.com

Livros e Coisas - Rua dos Mártires da Liberdade, 29

Moreira da Costa - Rua de Avis, 30

página web: www.moreiradacosta.com

Livraria Marinho – Rua do Almada, 215

Lóios - Largo dos Lóis, 50

TimTim por TimTim - Rua da Conceição, 27-29

Candelabro - Rua da Conceição, 3

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“A literatura não tem haver com o suporte e, por natureza, ultrapassa qualquer domínio, incluindo o tecnológico”, diz-nos Isabel Leite uma bibliotecária também escritora de contos infantis, acerca de 25 anos, e para quem a importância do papel no mundo tecnológico ficará inalterada. Divertida, assume-se “jurássica”: “utilizo, sobretudo, o lápis e a borracha. Depois processo no computador” ou seja, em termos formais, o resultado final é igual.

Isabel tem, nas bibiotecas e nas livrarias, os seus

espaços de eleição, mas sem saudosismo, até porque acredita que “as bibliotecas vão continuar a ser espaços privilegiados da leitura em papel apesar de, actualmente, serem também veículos de difusão de recursos electrónicos”, explica.

Por seu lado, João Leite tem opinião diversa. Para este bibliotecário, as bibliotecas no futuro poderão ser diferentes já que, a longo prazo, não coloca de parte a hipótese do papel vir a desaparecer. “As bibliotecas continuarão a exercer o seu papel de difusoras de

Leitura noutras artes:mudanças para a idade moderna

A Internet veio revolucionar o mundo da escrita e da leitura. Hoje, com um simples click, este sistema de multiredes permite que tenhamos acesso

a volumes incomensuráveis de informação sobre os mais inifitos assuntos.

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informação só que registada noutros suportes” refere João, que continua: “as bibliotecas tradicionais e as virtuais irão coexistir. Acredito na existência de bibliotecas sem livros.”

A voz do leitorNas entrevistas realizadas pelas ruas do Porto, as respostas

acabam por incidir, visivelmente, em que a Internet só vem beneficiar a leitura. De facto, a Web conquistou um público alvo, principalmente, dos 14 aos 30 anos que raramente trocavam o conforto de estar em casa com amigos por uma ida à biblioteca ou a comprar livros.

Por outro lado, as novas tecnologias acabam por compensar o preço e o peso dos livros pois é “muito mais fácil consultar na web do que ir a uma biblioteca… Só traz vantagens!” desabafa Anabela Monteiro, de 36 anos. Assim, com uma ferramenta que facilita a leitura sem fronteiras, por exemplo, quem mora numa aldeia “ultrapassou a dificuldade de ir a uma livraria”, refere Nuno Ferreira, de 37 anos, porta-voz de muitos dos entrevistados.

Uma relação dos sentidosNa verdade, a facilidade de acesso à informação e a comodidade

de usar um recurso sem ter que se sair de casa é a grande vantagem da Internet, porém, é em relação à leitura de lazer, que a Internet poderá levantar discussão. Aqui, ao que parece, o impresso continua a merecer preferência, ou seja, para além de aspectos muito práticos como o manuseamento do livro temos de considerar aspectos do foro psicológico quando se invocam pormenores como o gesto de folhear e até mesmo o cheiro do papel.

É o que nos revela Paulo Moura, de 36 anos, desta vez, porta-voz dos bibliófilos: ”não há nada como ter um livro na mão e folhear, marcar, pousar e, no dia seguinte, continuar a história. Estar a ler no computador não é a mesma coisa… eu já fiz isso, mas perde emoção”. A nostalgia do livro aqui patente é comum à ideia de Marco Ferreira: “apesar de ter computador, prefiro ler um livro no papel, prefiro sentar-me e ficar a degustá-lo! O papel transmite outras sensações...”

Texto e foto: Miguel Leite

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Aproximar-se demasiado do papel e do monitor, mas com mais incidência “estar a ver televisão deitado ou girar a folha para escrever inclinado”, são alguns dos erros que Adriano Gonçalo, optometrista há 30 anos, refere como as principais agressões aos olhos dos mais pequenos. Contudo, este profissional admite que os pais, educadores e pediatras de hoje, estão “bastante sensibilizados e preocupam-se com a saúde ocular infantil”, aplicando no quotidiano familiar e doméstico regras de postura e descansos regulares.

O diagnóstico e tratamento precoce de possíveis anomalias oculares na criança é fundamental, “pois

algumas disfunções são somente reversíveis nos primeiros anos de vida, a maior parte delas com medidas terapêuticas simples” explica o especialista.

Para isso, os pais devem estar atentos a possíveis sintomas como, por exemplo, uma criança desenhar e escrever mal. Mas sem alarme: “nos dias que correm, é normal uma criança ter anomalias visuais”, admite o optometrista.

Detalhes vitaisO sector da óptica, atento aos problemas

dos mais pequenos, desenvolve produtos para

Hoje, com um ‘click’ temos uma máquina a trabalhar para nós e é preciso educar as crianças que,

cada vez mais cedo entram em contacto com as novas tecnologias,

a cuidar dos seus olhos.

saúde ocular

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que as anomalias visuais das crianças possam ser solucionadas de forma simples, minimizando os incómodos do tratamento.

De facto, Adriano Gonçalo considera que a saúde ocular dos mais jovens não tem nada a ver com a do seu tempo onde “não se punha tão pouco o problema desde que, a olho nu, não houvesse nada de anormal”. Felizmente, os novos tempos mudaram esta perspectiva: “existe muita informação e os pais estão mais sensibilizados, especialmente, se já sofrerem de problemas de visão”.

Do outro lado, em particular nos adolescentes, encontramos o “Efeito Placebo”, uma decisão médica a que está associado um tratamento em que o paciente é orientado através de um estímulo psicológico.

Adriano Gonçalo admite tratar muitos casos destes, relembrando, até, um mais recente onde uma criança com 12 anos já tinha ido a quatro optometristas e nenhum deles tinha detectado qualquer anomalia. No seu exame, também estava isento. Ao falar, à parte, com o encarregado de educação decidiu-se comprar uns óculos com umas lentes sem graduação. Com o tempo, a criança deixou os óculos e descobriu-se que, na altura, ela tinha tido como exemplo uma prima que usava óculos.

Diz-me com quem andas...Diogo Lucena, optometrista há 6 anos, confessou-

nos que, de uma maneira geral, os pais estão alertados para os erros que as crianças não podem cometer, mas que, por exemplo, “aqueles que nunca usaram óculos e, aos 40 anos, passaram a usar, não se lembraram de verificar se a visão da sua criança está bem”.

Nestes casos Diogo tenta sempre alertar que “os problemas dos olhos não são só os que obrigam ao

Estágios de desenvolvimento do cristalino, retina, íris e córnea. Em A, B e C esquema com cinco, seis e vinte semanas,

respectivamente. D recém-nascido.

Epitélio pigmentar da reinaem desenvolvimento

Camada nervosa da reinaem desenvolvimento

Espaço intra retiniano

Cristalino

Espaço ( futura câmera anerior do olho)

Ectoderme da superfície

MesodermaArtéria hialóide

EscleróticaPálpebra

Córnea

Membrana pupilar

Câmera anterior

Câmera posterior

Corpo vítreoTúnica vascular

do cristalino Corpo ciliar

Câmera anterior

Pálpebras fundidas

Córnea

Saco conjuntival

Epitélio do cristalino

Esclerótica Plexo vascular da coróide

Zona equatorialdo cristalino

Epitélio pigmentar da reina

Córnea

Canal hialóideArtéria central da retina

Camada nervosa da retina

Corpo ciliar

Ligamento suspenso

do cristalino

Íris

Seio venoso da esclerótida

desenvolvimento do olho

uso de óculos” por isso aconselha os pais a marcarem uma consulta para o seu bébé.

Um exemplo disto é o caso de Manuel Figueiras, de 37 anos e que nunca precisou de óculos. Na escola, a professora do seu filho Bruno, falou com ele porque reparou que a criança andava mais distraída e não se concentrava durante muito tempo, aconselhando-o a levá-la a uma consulta de optometria. “Não acreditei muito que o meu filho precisasse de óculos - confessa Manuel Figueiras - visto eu e a minha mulher não utilizarmos, mas no final de contas o doutor disse que era verdade...” Texto e fotos: Hugo Gonçalo

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Românico no Vale do

Sousauma rota do património

nacional

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Num país com uma história que já tem cerca de nove séculos, muitos monumentos foram erguidos em épocas diferentes e muitos foram esquecidos e deixados ao abandono. No entanto, há bons exemplos de conservação do património nacional. É este o caso da Rota do Românico, um projecto regional criado no Vale do Sousa.

Com cerca de vinte monumentos espalhados por vários concelhos, a Rota do Românico é um projecto estatal organizado e bem construído. Há um site oficial (www.rotadoromanico.com), mas nada melhor que fazer uma visita. “É um projecto muito vasto, com um compósito muito grande ao nível territorial, cultural e de mentalidade”, revela-nos Rosário Machado, directora da Rota.

Só de há um ano a esta parte tem maior projecção mediática. Em anos anteriores o trabalho foi sendo feito sem chamar a atenção, mas a recuperação dos monumentos e o planeamento eram essenciais. “O projecto já tem um trabalho de uma década de planeamento, intervenção, recuperação e preparação”, explica Rosalinda Machado, que acrescenta “a Rota do Românico é um bébé ainda muito pequenino, mas já temos superado muito as expectativas”.

Na realidade, este é daqueles projectos que leva tempo a crescer, mas que tem pernas para andar, face ao conjunto de objectivos definidos que servem, essencialmente, “para sabermos qual o nosso caminho e tentarmos corrigir”, explica a diretora do projecto.

Rotas e caminhosNas visitas aos vários monumentos pudemos verificar que todos estão

bem tratados e que a sinalização dos vários percursos para carro é bastante explícita. “Quisemos cumprir escrupulosamente as regras de orientação”, continua Rosalinda Machado. De facto, todos os pormenores obedecem

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Românico no Vale do Sousauma rota do património

nacional (cont.)

às leis vigentes para este tipo de sinalética e foram supervisionados por um geógrafo, para não haver falhas.

Um projecto turístico-cultural A estratégia foi delineada tendo em conta o Vale do Sousa, onde o

enoturismo e as actividades ligadas ao rio menos poluído da Europa - o Paiva - são uma atracção turística de excelência.

“Em termos territoriais abrangemos seis municípios: Castelo de Paiva, Lousada, Penafiel, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel”, explica Rosário Machado. Estamos a falar duma região fustigada pelo desemprego e projectos como este podem criar melhorias significativas no nível de vida local, “sendo que a Rota do Românico, acima de tudo, é um projecto de desenvolvimento regional” pois, mais turistas significa mais dinheiro, tornando possível “criar um sector produtivo, de forma estruturante, que comece a ganhar escala”, como nos diz a directora da Rota.

Em paralelo com o ordenamento do território, a qualificação dos recursos humanos é o ponto-chave. No Vale do Sousa, uma grande fatia da população é jovem e, existindo pouca mobilidade, “quem nasce aqui, vive aqui e fica aqui”, revela-nos a responsável.

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Sempre que a população sofre alterações, “como não têm qualificações, têm uma dificuldade de adaptação muito grande. Faz parte deste projecto estimular para a qualificação e formação em outras áreas, como património cultura, turismo”, explica a directora da Rota. Tudo isto é também uma forma de levantar a moral de quem desconhece as riquezas endógenas do seu património histórico e cultural.

Com este aproveitamento e uma boa divulgação, as populações locais também podem crescer em termos culturais e económicos. “Esta obra é de todos - esclarece Rosário Machado - pelo que o envolvimento das gentes locais é fundamental para o sucesso do projecto”.

Um dos próximos passos, de acordo com a directora da Rota, “é o desenvolvimento de acções pedagógicas junto das populações mais jovens. Em coordenação com as escolas locais, estas acções já estão a ser estruturadas”.

Ainda não há datas previstas para a implementação desta parte do projecto, mas em conjunto com a internacionalização são dois dos próximos objectivos a atingir. “Este é um projecto que está em constante evolução e com capacidade para ser bem sucedido”, conclui Rosário Machado.

Texto e fotos: Jorge Costa

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“A Câmara sente que está a fazer um trabalho notório, irrepreensível e até pioneiro no aspecto cultural e que eleva o concelho no panorama cultural”, explica Amadeu Albergaria, o responsável pelo Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira (CMSMF) - www.cm-feira.pt/portal/site/cm-feira/cultura.

Contudo, todo este dinamismo só é possível, “devido ao espírito culturalmente activo da maioria dos feirenses que voluntariam-se e participam

activamente através de multiplas associações que proliferam no concelho”, daí que estes grupos e a comunidade jovem que os constituem são fulcrais para o desenvolvimento e concretização destes eventos, o que leva o Vereador a afirmar que “seria mais díficil organizar eventos como a Viagem Medieval, num outro ambiente, num outro contexto”.

Fogaceiras premiadasSanta Maria da Feira, para além de todo o legado

O concelho de Santa Maria da Feira organiza, anualmente, três grandes eventos - as Fogaceiras, o Imaginarius e a Viagem Medieval - com grandes repercusões nacionais e internacionais.

Terras de Santa Maria

O Espólio Arquitectónico e Histórico legado a Santa Maria da Feira é impressionante. Começando pelo convento dos Lóios ou pelo Castelo, classificado como património histórico Português pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), passando pelos Castros de Romariz e Fiães, igualmente considerados pelo IPPAR, terminando nos belos e revitalizantes jardins da cidade ou nas termas das Caldas S. Jorge. Mas nem tudo é herança do passado. Recentemente, foi construída a biblioteca central do concelho que é uma representante portuguesa na rede das bibliotecas modelares reconhecidas pela UNESCO e com Certificação da Qualidade.

É na freguesia de Espargo que encontramos o Europarque, um moderno e amplo centro de congressos, que ocupa uma espantosa área de 150 hectares, albergando o Visionarium - Centro de Ciência do Europarque, um verdadeiro mu-seu de Ciência interactivo. O já mítico Cine-Teatro António Lamoso continua a receber espetáculos teatrais e musicais e é na freguesia de Lourosa que podemos visitar o único Parque Ornitológico do país.

de mão dada com a cultura

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arquitectónico (ver caixa de destaque), é comumente conhecida pela Festa das Fogaceiras, uma das tradições mais antigas do país. Decorre todos os anos desde 1505, em honra a S. Sebastião, o protector da peste. A população reúne-se durante o feriado municipal, dia 20 de Janeiro, no centro histórico que envolve o castelo, onde também é vendida a fogaça, marca etnográfica indiscutível do concelho.

Imaginarius, uma parceria Internacional Um festival que não tem uma tradição tão

vincada, mas começa a ganhar o seu espaço, é o Imaginarius, um Festival Internacional de Teatro de Rua, que já conta com oito edições e pretende “destacar o concelho no panorama Europeu e reforçar os vínculos de parceria com outros países que celebram este Festival” esclarece o Vereador.

Este evento conta com a ligação da CMSMF e da organização municipal “Feira Viva” com o grupo italiano “7 sóis 7 luas”, que leva a cabo uma política de descentralização cultural e intercâmbio de artistas entre as principais cidades europeias. No ano passado, no âmbito da Festa Europeia da Música, organizado pela “Feira Viva” e apoiado pelo “7 sóis 7 luas”, a banda feirense “The Loyd”, teve a oportunidade de actuar em Lausanne, Suíça.

Durante o Imaginaruis é possível assistir, ao ar

livre, aos mais diversos espetáculos de teatro de rua, dança, circo, música e até mesmo performances dos artistas mais improváveis, o público.

Uma viagem ao passadoDe todos, o talvez mais conhecido é a Viagem

Medieval (ver infografia). Já com uma dúzia de edições, a Viagem Medieval por Terras de Santa Maria decorre de 30 de Julho a 9 de Agosto e é a maior recriação histórica da Europa.

De todos, este é o evento que requer mais voluntariado e participação da comunidade jovem. Um exemplo disso é Leandro Silva. Com apenas 17 anos já participou tanto como voluntário como assalariado e afirma, convictamente, que participa “não pelo dinheiro, mas pelo convívio”.

Amadeu Albergaria revelou que, para além de a Viagem Medieval, este ano, ganhar mais um dia de evento, o recinto será alargado. Neste retorno ao passado são recriados grandes momentos de lazer medieval, o som é feito do bulício dos mercadores e dos artesãos, e o espaço pelas mais diversas personagens da época, sempre trajadas a rigor.

Desta forma, no centro histórico e comercial da cidade conjuga-se dança, malabarismo, artes de rua, cuspidores de fogo e intensos combates ou justas entre os mais audazes cavaleiros.

Texto e foto: Tiago Alves

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Turismo de baixo custo não se impõe em Portugal

Depois da mania dos light e dos gourmet, no vocabulário dos portugueses existe mais uma expressão estrangeira que começa a ser usada como pertence da nossa cultura. O termo Low-cost (baixo custo), já é usado em viagens de avião, aluguer de automóveis e, agora, em estalagens ou hóteis contudo...

...o mais curioso destes lugares é que não são procurados apenas pelo seu baixo custo. Pernoitar num Hostel, por exemplo, é uma experiência que vai muito além do acto de poupar dinheiro.

Hoje em dia, as grandes cidades Europeias são invadidas por jovens que procuram os Hostel de forma tão vincada que nem se apercebem que, por vezes,

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Turismo de baixo custo não se impõe em Portugal

existem residenciais que practicam preços mais baixos. Mas será que estas são habitadas maioritariamente por jovens? Encontrarão nesses locais pessoas de toda a parte do globo com quem possam partilhar experiências? Poderá a música tocar alto, até horas tardias, sem que ninguém se incomode? Disponibilizarão essas estalagens computadores com acesso grátis à Internet?

O Não será a resposta para quase todas estas perguntas e ficar num Hostel é algo de obrigatório para jovens, menos jovens, ricos, pobres, viajantes rotineiros, inter-railers... no fundo a juventude não quer mais o conforto nem a calma dos Hóteis ou Residenciais. Até porque a preparação da festa começa, precisamente, nos bares que a maioria dos Hostels disponibliza.

Estranho é a ausência destes espaços no nosso país. Em Portugal existem oito Hostel e um Hotel de Low-Cost, apenas. Para Catarina Machado Vaz, directora-geral do único Hotel Low-Cost em Portugal, “estes equipamentos deviam existir em maior número, até porque temos um país em recessão e estes espaços atraíriam mais turismo nacional e internacional. Imagine o que seria um deles implementado no Alentejo! As pessoas que fogem ao caríssimo turismo rural da zona podiam gozá-la a um preço bem mais em conta...”. Se tivermos em mente que, por exemplo, em Cracóvia, (uma cidade sensivelmente igual ao Porto), existem 17 Hostel, verificamos que o que temos é bastante pouco.

Já Nuno Gonçalves, estudante de Turismo no ISLA, em Gaia, e actualmente a fazer Erasmus na Polónia, aborda a escassez de Hostel em Portugal por outro prisma: “nunca ouvi falar de Hostels em Portugal. Os Hostel são sinónimo de juventude nas cidades, de Turismo e de animação. Por exemplo, o Porto parece-me uma metrópole triste. Certamente que, com mais destes espaços, os jovens portugueses e

estrangeiros a encheriam de animação e fomentariam o Turismo, que continua muito mal aproveitado.”

Perante o cenário pouco satisfatório no que toca ao empreendimento destes negócios, resta aos estangeiros tentarem a sorte nos poucos que existem em solo nacional. E nem ficam mal servidos... Portugal tem, em Lisboa, três dos dez melhor Hostel do Mundo.

Texto e foto: João Gonçalves

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Brasileiros de regresso ao

Brasil

Rute vem das compras desanimada. Mais um dia em que esta brasileira de 50 anos chega à casa (um T0 emprestado, no centro do Porto) sem perspectivas e com uma conta na cabeça: esticar o subsídio de desemprego de menos de 300 euros por mês.

Seu último trabalho, como telefonista num callcenter de telecomunicações, foi mais uma experiência frustrada. “Estava difícil fazer contratos. O mercado já está tão saturado que só mesmo nas localidades do interior. Além disso, eu tinha de pedir para alguém passar recibos verdes para mim, senão eu

perderia o subsídio, que já não dá para nada”, recorda com embargo.

Esta cidadã brasileira, como muitos, vive há pelo menos 10 anos em Portugal e assiste a um fenómeno que, embora contrariado pelo crescente número de imigrantes a entrar pelas fronteiras portuguesas, faz-se notar a cada avião com destino ao Brasil: o regresso desses cidadãos ao seu país.

O fluxo migratório de brasileiros começou a ser notado apenas a partir da década de oitenta. Sucessivas crises económicas e o desemprego causado

A crise económica que atinge os portugueses não passa ao lado dos imigrantes brasileiros. O quadro negro que se vizinha

fortalece o desejo de voltar ao país de origem, onde o crescimento económico traz novas esperanças para um recomeço no Brasil.

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pelo impacto da globalização e das novas tecnologias fomentaram, na década de noventa, o desejo de buscar novas oportunidades em diversos países. Os Estados Unidos, o Paraguai e o Japão são aqueles que receberam o maior número de brasileiros, seguidos pela Europa, onde Portugal se destaca como o país escolhido pela maior parte desses imigrantes.

Mas qual é o perfil desses brasileiros que escolheram Portugal como segundo país? “Nos anos oitenta, os brasileiros que vinham para Portugal eram profissionais mais bem qualificados, mas a partir de 2000 notou-se a vinda de pessoas de todos os níveis, “desde aqueles que vem fazer uma pós-graduação a outros que não tem nem o 9º ano”, disse Flávio Paes, vice-presidente da AACILUS - Associação de Apoio à Imigração para as Comunidades Sul-Americanas e Africanas (www.aacilus.org/brasil), apontando ainda para o facto de se reflectirem, em Portugal, “as mesmas clivagens sociais que se vive no Brasil”.

De acordo com Rosilda Portas, secretária-geral da mesma Associação, muitas vezes o cidadão brasileiro opta por sair de Portugal e viver em outro estado membro da União Europeia, principalmente Espanha, Itália e Inglaterra, ou apostam numa volta definitiva ao Brasil. “Muitos dos que vão de férias ao Brasil têm a ilusão de que tudo está muito melhor do lado de lá do Atlântico e deixam Portugal, mas arrependem-se e acabam por bater à porta da Associação, meses depois”, disse a secretária da AACILUS.

Ainda assim, um dos factores de sucesso da

imigração brasileira, em termos de permanência, é o casamento com portugueses, assim como a estabilidade profissional. Diz Rosilda: “se o brasileiro casar com um português, este será um dos factores de adaptação. E se tiverem filhos, mais ainda, pois a educação pública é um factor levado em conta. No entanto, se os dois são brasileiros é mais difícil, porque um faz força para os dois voltarem.”

Novo rumoTatiana, nutricionista brasileira e ex-atleta

do Porto FC a viver em Braga, não acredita que a situação para estrangeiros e mesmo portugueses, vá melhorar tão cedo. “Meus planos são vender o apartamento e, no mais tardar, em dois anos, ir viver em Espanha”, revela.

Paulo Nicnick, professor de educação física, é outro brasileiro que, apesar da saudade de seu país, está tentado a ir para outro país europeu ainda por definir, confirmando o que é sabido na vida de muitos imigrantes lusófonos: “Portugal, muitas vezes, serve como um ponto de escala para outros países europeus ou como porto de abrigo, quando as coisas correm mal por lá”.

Texto e foto: Rolemberg Matos

http://www.sef.pt/portal/v10/PT/aspx/estatisticas

Bilhete de ida e volta...

Aproximadamente 70 mil brasileiros pediram vistos para viver em Portugal, em 2008, de acordo com o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras). Nem todos são aceites, mas acabam por entrar em território nacional. A não obrigatoriedade de visto para a entrada faz com que este seja o país escolhido por esses imigrantes.

As estatísticas do SEF mostram, também, um fenómeno interessante: em 1999, eram os homens que, maioritariamente, solicitavam visto para viver em Portugal, mas ano após ano, as mulheres brasileiras passaram a dominar os pedidos de permissão para viver em terras lusas.

Nem sempre a viagem é bem sucedida e alguns acabam em situações muito difíceis. Os que têm conhecimento, recorrem, através de associações, à Organização Internacional para as Migrações (OIM), mas “no fundo, é quase como se isso não existisse. Além do desconhecimento desse apoio, o imigrante custa a reconhecer que precisa voltar”, diz Rosilda, da AACILUS.

Número de cidadãos brasileiros documentados a residir em Portugal

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Quem entra no Centro Social da Paróquia de São Salvador de Grijó sente um clima melancólico,

inevitável, se atendermos ao facto de que o local está repleto de pessoas com pouca alegria, pois

a idade, a saúde e a solidão já não permitem. “Tentamos dar resposta a todos os seus

problemas, mas nem sempre conseguimos… somos humanos!” Realista e consciente das dificuldades

de quem trabalha em lares, Augusta Coelho, funcionária do Centro Social da Paróquia

de São Salvador de Grijó, assume o actual estado da situação. Extrovertida e emocionada,

Augusta, fala de experiências que não esquecerá e de momentos que não se podem descrever.

Necessidade social Para se poder ser utente do Centro Social,

aberto desde 1998, é necessário encontrar vaga no Centro de Dia e estar numa situação de alguma

dependência psicológica, emocional ou material. O Centro Social da Paróquia de São Salvador

de Grijó funciona com a vertente de Centro de Dia, onde, entre as 09 e as 16 horas, quarenta utentes passam as suas tardes. Na vertente do Domicilio, os funcionários do Centro Social vão ao encontro dos que estão em casa, dependentes de ajuda. À

conversa com a responsável pelo Centro de Dia e de Apoio ao Domicilio, Marisa Rodrigues, que também

presta funções de Assistente Social, chegamos à

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Cada vez há mais centros sociais - ou lares, como vulgarmente são conhecidos - e cada vez são mais os que se associam e dependem deles, isto porque as famílias ou não podem, ou não querem cuidar dos seus familiares. Infelizmente, a vida de muitos fica dependente de outros tantos que não abdicam de ajudar, diariamente, quem mais precisa.

conclusão que estruturas com esta dinâmica são cada vez mais requisitadas pois

“há cada vez mais pessoas a procurarem o apoio que, em casa, não possuem” e que “vêm para

os lares não para se divertir, mas sim, porque se sentem limitadas”.

Com várias emoções à mistura, Marisa Rodrigues diz que se, por um lado, se

sente contente por tudo estar a correr sobre rodas, “pois todos rumam a favor do mesmo”,

por outro, não deixa de sentir uma certa preocupação, dado que, todos os dias, aparecem

preocupações diferentes, “mas afinal, são questões do oficio”, refere, desvalorizando.

Uma causa justaComo muitos Centros Sociais, este também passa

por dificuldades a muitos níveis, mas graças às “duas equipas de funcionários e alguns

voluntários, que se dividem entre o Centro de Dia e o Apoio ao Domicilio, este projecto tem-se mantido

em pé”, diz Marisa Rodrigues. O Apoio ao Domicílio passa muito pelo

“tratamento das roupas, afazeres comuns às casas e higiene geral tanto da casa como do utente.”

Sorridente e bem disposto, Alberto Fontes, utente do Centro, de 62 anos, disse que veio para o lar principalmente, “para descansar”. Alberto frisou

ainda que gostava de frequentar o lar e, por isso,

recomendava-o “a outras pessoas”.A forma bem disposta com que Alberto

respondia a todas as questões não fazia - de todo - crer que se encontrava desanimado com a vida.

No entanto, se não existisse o lar, “não tinha outro remédio senão ficar em casa, sozinho”, até porque,

diz ter cinco filhos, mas não ser “pai de nenhum, porque vivem no estrangeiro” conta, com alguma

mágoa. “Contento-me em comer, beber e ver televisão”, confessa-nos com uma alegria resignada,

“é que as cartinhas já não dão...”, explica, apontando para a mão já imobilizada.

Dias diferentesVoltando à conversa com Augusta Coelho,

descobrimos que, ainda assim, o seu dia-a-dia no Centro é muito diversificado. “Faço um pouco

de tudo!”, o que quer dizer que tanto vai “buscar utentes, na carrinha”, como “ajudar as cozinheiras”

ou “fazer as compras” e é por isso que “todos os dias são diferentes!”, remata, feliz.

Ainda assim, Augusta não se escusou a revelar que, embora sentisse certas dificuldades em lidar

com algumas situações como doenças, mortes ou outros improvisos tinha “muito gosto”

em trabalhar no Centro. “Às vezes - reforça - certos familiares vêm agradecem-nos pelo grande

trabalho que temos feito.”Texto e fotos: Diogo Pedrosa

Solidariedade urgente

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O Centro Social de Nossa Senhora da Boavista foi criado em Maio de 1991, na Paróquia com o mesmo nome. Desde então, tem procurado acolher e dar resposta às necessidades tanto das crianças como dos mais idosos.

É esta a ideia sustentada pelo Padre

É na zona da Boavista, na cidade do Porto, que se encontra uma instituição que conjuga a sabedoria e experiência da terceira idade com a energia e jovialidade das crianças, conseguindo ainda apoiar aqueles que, dentro destas camadas, são mais necessitados.

Giulio Carrara, director do Centro, que acrescenta: “devido às crianças e aos idosos serem mais frágeis, o Centro reserva-lhes especial atenção. As crianças porque, a maior parte das que aqui estão, vivem em bairros sociais e, além disso, os pais trabalham até tarde. Como não existem muitas actividades sociais na zona, há sempre o risco de entrarem por caminhos

um Centrode juventude e experiência

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que lhes podem ser prejudiciais; daí o Centro ter um ATL. Os idosos, porque muitos não têm nenhuma ocupação, nem companhia”.

Uma das grandes valias deste equipamento social é o convívio regular entre faixas etárias díspares, algo que é enaltecido pelo director: “frequentemente organizamos actividades em que as crianças participam em conjunto com os velhinhos e, até hoje, tem sido um sucesso.”

Da parte dos frequentadores mais idosos, a opinião é consensual, já que todos têm a dizer bem quer das instalações quer da forma como são tratados pelos auxiliares. Exemplo disto é Manuel Eira, um dos utentes mais antigos, que faz questão de referir que “existem aqui estagiárias muito competentes e, acima de tudo, carinhosas”. Mesmo daqueles que frequentam o Centro há pouco tempo, não faltam elogios para descrever o espaço. Maria Vera, utente há pouco mais de um mês, assegura que “as pessoas são muito atenciosas e estão sempre a ver quando podem proporcionar momentos diferentes e divertidos, com jogos, passeios e outras coisas”.

Também os mais novos se apresentam com uma opinião fundamentada sobre o sítio onde passam muito do seu dia-a-dia. Ana Francisca, actualmente a cumprir o terceiro ano de escolaridade, é um destes casos. “Tenho aqui muitos dos meus amigos. Fazemos

jogos, brincamos no recreio, depois de fazermos os trabalhos de casa”, conta a criança. Também Pedro Costa é da mesma opinião: “Estou no sétimo ano, por isso não tenho tantos TPC’s e posso conviver mais com as educadoras e com os meus amigos. É muito bom ter esta oportunidade”.

As funcionárias do Centro não escondem o orgulho e o prazer que lhes dá exercerem este tipo de funções sociais junto das crianças e dos idosos. Para Sónia Moreira “é muito compensador. Gosto muito de desempenhar trabalhos sociais e identifico-me com esta instituição e com as pessoas que trabalham comigo”. Susana Abreu, outra das educadoras acrescenta que “nem sempre é fácil conciliar este trabalho com a vida familiar, mas gosto imenso de conviver com as crianças, principalmente quando se trata de fazer trabalhos manuais”.

A longo prazo, este Centro Social pretende alargar o seu raio de acção através da construção de um novo edifício, na zona de Francos, que irá incluir a criação de um jardim infantil e um reforço dos apoios que já são dados aos mais desprotegidos. Sobre este aspecto, o Padre Giulio Carrara esclarece: “o projecto está preparado, basta agora conseguir as licenças camarárias e alguns apoios por parte do Governo”.

Texto e fotos: Duarte Pernes

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A inauguração do Clube de Hóquei dos Carvalhos (CHC) - www.hoquei-carvalhos.com - remonta a Janeiro de 1940 e, desde então,

sempre foram desenvolvidos esforços para a sua manutenção e dinâmica desportiva ficando, por isso, conhecido pela sua boa escola de formação. Aqui, vitórias não se expressam só em números pois o

trabalho que é realizado nos Carvalhos é regrado por valores humanos e canalizado para os triunfos da terra. De acordo com o presidente do

clube, Roberto Ferreira, o trabalho no CHC é equivalente a uma casa de família: ”não há dia nenhum que não venha cá… Se o pai ou a mãe não aparecer, os filhos não sabem como se orientar e essa é a base

da nossa harmonia.” Assim, desde sempre que a união e a amizade são valores inerentes ao clube. Mário Mata, jogador do clube explica:

“somos rapazes da terra e as coisas funcionam melhor com amizade do que só com profissionalismo. Temos um balneário coeso, em que

cada pessoa que chega é bem integrada”.

O lugar merecidoO fruto merecido deste ambiente desportivo aconteceu no dia 31 de

Maio de 2008, em que o Clube Hóquei dos Carvalhos conquistou o título de campeão nacional da segunda divisão. Com esta vitória,

o CHC, subiu à divisão de honra, lugar que ainda detém. Para Roberto Ferreira, “a formação foi um dos ingredientes para este sucesso:

foi uma equipa com 95% de jogadores que estão cá desde os três anos”. Mário Mata, por seu lado, clarifica a visão

dos adversários: “éramos apontados como candidatos a descer, mas mostramos valores individuais em função da equipa.

Contou também a união que é uma das grandes características do Clube Hóquei dos Carvalhos”. Mas este patamar não se

demonstra fácil para o CHC. Os adversários têm a experiência e a

Hóquei, Café e C ampeões

Nas ruas que, na sua maioria, homenageiam alguém, os carvalhenses encontram-se e confundem-se.

Há um sonho que os une, existe um lugar que os ampara, onde a raiva e a alegria se misturam

e dão lugar a uma beleza que encontra o seu auge na Avenida Santos Costa Pedroso, no Pavilhão

do Clube Hóquei dos Carvalhos.

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Hóquei, Café e C ampeões

disponibilidade a que o Carvalhos não está habituado. Agora, interessa contornar os obstáculos e sugar todas

as mais-valias da equipa para ultrapassarem as dificuldades.“Não estamos a falhar em nada. Estamos a cumprir aquilo a que

não nos propusemos e, nesta fase, não podemos entrar em loucuras...”, assume o presidente. Outra visão é dada por Mário Mata. Para

o jogador, houve ajustes ou falhas que não foram colmatadas para esta adaptação: “o clube não reforçou a equipa como muita gente estaria à espera. Organização, experiência, qualidade estão

interligadas e somos inexperientes. Há muito que não subíamos de divisão… se conseguirmos manter, já muito não irá falhar.”

Por amor à camisolaE se cada clube força a sua metamorfose ao tempo ou ao meio que se adivinha, é bom saber se estas transformações também

acontecem na modalidade. Roberto Ferreira evoca, principalmente, os apoios financeiros: “gastamos tanto dinheiro em formações

e não somos apoiados nem pela Associação, nem pela Federação... nada”.

Por seu lado, Mário Mata assinala outra perspectiva: “falta mostrar que o hóquei

existe, que tem pernas para andar. Mas tudo isto remete para uma Federação que, neste momento, está mal em termos

financeiros e, se um clube não tem dinheiro, a Federação em vez de ajudar, prejudica-o.

Não é assim que o hóquei há-de avançar, com toda a certeza”.

Texto e fotos: Eva Mata

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O Esoterismo envolve a descoberta do oculto, do que é considerado enigmático e imperceptível a um olhar desprevenido. Tem sobretudo em vista o desenvolvimento pessoal e envolve uma sabedoria específica por parte de quem o pratica, uma sabedoria que requer estudo constante e actualizado, associado a uma forte devoção e vocação.

As lojas Esotéricas não têm como objectivo primário o desenvolvimento comercial. São espaços alternativos, ocupados por gente que procura, acima de tudo, seguir um ‘dom’, pessoas que escolheram um caminho que confessam ser menos lucrativo, mas que fornece uma realização pessoal mais vantajosa.

No caso de Elsa M., dona de uma loja esotérica na Rua do Almada, “foi uma herança proveniente da cultura Africana”. Um destino incontornável, mesmo que, no seu caso, tenha sido difícil de assumir: “uma modalidade que não é considerada de sucesso, perante a sociedade, pode ser difícil de gerir”, desabafa. Por seu lado, os clientes não procuram o puro consumismo. Também eles procuram um bem-estar maior.

Percorrendo as ruas menos movimentadas do centro do Porto, as que se destacam pelo comércio alternativo, é possível encontrar lojas que chamam atenção pela sua aparência invulgar. São espaços que podem proporcionar bem-estar espiritual aos seus visitantes, pela variedade de curiosos produtos e serviços em que são especializadas. São as lojas Esotéricas, recheadas de cor, incensos, figuras exóticas, ervas ou chás para fins inesperados, sobretudo para quem as visita pela primeira vez…

Estrelas guiasAs práticas esotéricas têm forte incidência no

nosso sub-consciente, mantendo proximidade com a Teosofia. Alimentam-se de crenças que não se comprovam na ciência convencional e o seu público simpatiza com produtos que actuam pela transmissão de energias regeneradoras. Andreia T., frequentadora destes espaços, confessa gostar de Tarôt e dos incensos que consegue encontrar nas lojas: “parece que despertam, parece que uma pessoa fica mais alegre… mais relaxada.”

Também aqui é possível mergulhar em técnicas invulgares, com a ajuda da sabedoria particular de alguém que pretende ajudar os que necessitam de esclarecer dúvidas, de ir em busca de uma resposta invisível. Contudo, “tudo o que precisamos está dentro de nós”, assegura M. Nunes, gerente de uma loja esotérica na Rua das Flores “…só precisamos de procurar.”

Abertura a uma Nova EraOs portugueses sempre tiveram uma íntima e

Esoterismo,para um bem estar espiritual

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Antes do 25 de Abril......os temas Esotéricos eram completamente proibidos e perseguidos. Tal facto impossibilitou o

desenvolvimento da área no nosso país. No entanto, a persistência de alguns grupos em se reunirem secretamente, levou à criação do primeiro Centro Espírita do Porto, na Rua do Almada, a 31 de Março de

1975, desenvolvendo-se, na sua plenitude, até 1979. O espiritismo era uma fuga ao sofrimento ou aos desequilíbrios interiores e sempre despertou interesse no seio dos portugueses que nunca deixaram de estudar o tema. O espiritismo foi a porta de entrada para outras correntes espiritualistas e esotéricas.

www.ameporto.org/pt/entrevistas/castanheira.htm

secreta relação com o Esoterismo: “o povo tem sempre muitas crenças. É supersticioso e, desde

que o mundo é mundo, sempre procurou o Esoterismo …só que pela calada”, afirma Berta

R., dona de uma loja na Rua do Bolhão. O Esoterismo viveu uma grande

abertura com a ajuda da cultura brasileira em Portugal e já tem uma

procura mais abrangente, desprovida de preconceitos. Mantém-se

respeitado e relaciona-se com o oculto, com o desconhecido.

Assim, permanece num lugar

indefinido e pouco credível ainda, para muitos.O perfil dos que frequentam estes espaços

ampliou-se, englobando agora todas as classes sociais e faixas etárias, personalidades diversas, com curiosidades e intuitos diferentes, porém, existe uma preferência pela cartomancia, pelo reiki e pelo espiritismo, que fascina o seu público pela proximidade e interacção com uma entidade invisível. “Falar com o espírito fascina muito as pessoas” diz Elsa M. Trata-se também de uma busca de autoconfiança e protecção porque “as pessoas gostam de estar protegidas”, afirma M. Nunes.

Texto e foto: Sandra Reis

Runas, de origem Viking, é um método de aconselhamento que usa o lançamento pedras. As runas são, depois, interpretadas por uma linguagem mágica e encerram fortes significados de divinação.

Reiki, em japonês, significa “Energia Vital Universal” e implica ensinamentos de um mestre. Permite o desenvolvimento espiritual e um grande envolvimento

com energias que fluem no corpo. O Reiki origina uma transformação pessoal permanente e gratificante.

Quiromancia consiste na sabedoria da leitura das linhas e de outros detalhes das mãos cujas interpretações podem revelar traços pessoais e o destino de cada um. É uma ciência antiga que atravessa milénios e sempre despertou curiosidade.

Tarôt é um conjunto de cartas oraculares cujas sequencias constituem uma forma de respostas para auto-conhecimento e auto-ajuda. Tal como a maioria dos baralhos oraculares, contém imagens simbólicas que ajudam na construção de um significado.

www.numerologo.com.br/numerologia.htm e www.mistico.com/p/numerologia.html

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Travassos é uma aldeia perto de Póvoa de Lanhoso. Não tem muito para mostrar, a não ser casas e terrenos agrícolas. Todavia, esta pequena localidade tem elementos que mantêm a tradição e vão preservando a arte da Filigrana: o Museu do Ouro (http://museudoouro.blogspot.com) e os artesãos da que lá vivem.

Foi proporcional ao declínio da Filigrana o desaparecimento destes artífices e, hoje, não é fácil descobrir quem domine a tradição. No entanto, encontrámos a oficina dos irmãos Rodrigues da Silva.

Guilherme e Joaquim dedicaram boa parte da sua vida à Joalharia. A oficina é um espaço desorganizado, gasto, onde se notam as marcas do tempo: “aqui chegou-se a trabalhar para a 1ª Guerra Mundial! Servia para fazer fundições”, explicou Joaquim. Um cigarro puxa outro e os artesãos contam como, de muito novos, aprenderam a arte.

Mas, neste caso, a tradição não se mantém e Guilherme e Joaquim são dos últimos filigraneiros portugueses: “com a crise instalada, que pai é que está interessado em pôr o seu filho a aprender Filigrana? Se se tem uma profissão falida, não se leva o filho para

São cada vez menos as pessoas que dominam a técnica do fio e do grão para fazer Filigrana. A esperança desta arte está nas mãos das novas vagas

de designers de joalharia que sejam capazes de tornar a Filigrana actual e mais apelativa. Se assim acontecer, este tipo de joalharia poderá voltar a estar na ordem

do dia e a actividade dos artesãos filigraneiros poderá ser revitalizada.

ela… A realidade de hoje não tem nada que ver com a de outros tempos e, francamente, não me lembro de uma crise tão longa…”, desabafa Joaquim.

Ainda assim, os irmãos Rodrigues reclamam trabalho e não importa de que tipo. Actualmente, fazem Filigrana tradicional por gosto, mas o rendimento vem da “moderna”, como Joaquim lhe chama. Esse modernismo é dado pela designer de joalharia Liliana Guerreiro. Para Guilherme e Joaquim, o design é a revolução que pode bem ser a salvadora da sua arte: “aguardamos e fazemos votos para que isso aconteça, porque a arte tradicional está muito gasta.”

Filigrana depende dos jovens designersA continuidade da Filigrana tem futuro incerto. A

arte ficou ultrapassada e as pessoas desinteressaram-se por ela. Contudo, na ESAD (Escola Superior de Artes e Design), em Matosinhos, continuam a formar-se as novas vagas de designers de joalharia. Ana Campos é lá professora e um elemento activo na realização de projectos que perspectivam a renovação da Filigrana.

Ana tem acompanhado de perto as ideias dos novos alunos e fá-los ver a potencialidade que a arte tem.

rejuvenescer uma arte cansadaFiligrana

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Para esta docente, não há necessidade de ter medo de alterar a Filigrana… “indo às raízes da etimologia e da técnica, a Filigrana é um meio para trabalhar em Joalharia e nada mais. Assim, alheando-nos de formas supostamente tradicionais, trabalhar a Filigrana, do ponto de vista do projecto contemporâneo, não transgride qualquer tradição.” Deste modo, a ideia de começar a rejuvenescer a arte ganhou forma em 2003, graças ao projecto “Leveza: reanimar a Filigrana”, feito em parceria com o Museu do Ouro, em Travassos.

Deste projecto saíram as designers Joana Caldeira e Liliana Guerreiro que, ainda hoje, continuam a apostar na recuperação da Filigrana como modo de encontrarem o seu espaço na Joalharia. Ana Campos é da opinião que “trabalhar pré-existências pode ser uma via interessante e rentável de responder a desejos de destinatários.”

Por seu lado, Joana Ribeiro, finalista do curso de ‘Design de Joalharia’, pensa que a Filigrana actual tem muitas capacidades face à tradicional porque “tende a misturar outros materiais e não só o ouro.” A estudante também não vê obstáculos de mercado: “esta arte será sempre bem aceite porque, por muito que se mude o design, apela sempre às nossas tradições.” Talvez ainda mais importante, Joana Ribeiro tem a vontade de investir no rejuvenescimento desta arte cansada: “neste momento, só tenho o conceito teórico, mas gostava, um dia, de aprender a técnica e ser autónoma.”

Apesar de tudo, a designer Joana Caldeira (proprietária da loja ‘Olho de Perdiz’) afirma que “são necessários mais incentivos” para quem cria e vende tesouros em Filigrana.

Texto e fotos: André Seixas

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Manuela Baptista tem 31 anos e é formada em Gestão de Empresas, mas foi a ajudar um amigo na área das Relações Públicas que descobriu a vocação. Assim, a organização de eventos tem sido a sua vida e sustento nos últimos dois anos, desde que criou a sua própria microempresa, a “3NOS eventos” que, com sede no Porto, já se expandiu a Braga.

Mas Manuela Baptista não conseguiu esta proeza sozinha. Na altura em que trabalhava a ideia de abrir um negócio seu, “estava a assistir ao ‘Sociedade Civil’, na RTP, onde falaram, precisamente, do Microcrédito. Foi aí que comecei a pesquisar e acabei por dirigir-me à Associação, no Porto, onde me inscrevi.”

Imagine que tem uma ideia genial para montar um negócio próprio, mas necessita uma orientação e, mais que isso, um apoio financeiro. Essas são as duas principais funções da ANCD - Associação Nacional de Direito ao Crédito (www.microcredito.com.pt), mais conhecida como Microcrédito, que completa agora 10 anos de existência em Portugal.

De acordo com Mónica Cardoso, agente da ANDC na Invicta, da inscrição ao empréstimo vão cerca de dois meses, ou menos, algo que, acrescido ao acompanhamento e apoio incondicional da ANDC, distingue, determinantemente, esta Associação de um empréstimo bancário comum. “No Microcrédito, acompanhamos o cliente desde que se inscreve até começar a trabalhar no negócio que construiu com a nossa ajuda”, explica Mónica Cardoso, apoiada por Manuela Baptista que afirma: “fui e continuo a ser muito bem acompanhada pela ANDC e, mesmo agora, sem reuniões mensais, basta ligar-lhes para resolver algum problema”.

Patrocinado pelo Millennium, pela Caixa Geral de Depósitos e pelo BES, dez mil euros é o valor máximo que o Microcrédito dispõe para cada cliente, um montante que não é totalmente empregue numa primeira fase do negócio, de modo a salvaguardar-se cerca de 40% desse valor para um possível alargamento do projecto.

Microcrédito:o banco dos pobres

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Os pós e os contrasMas quem pode adquirir o Microcrédito?

Desempregados, desocupados, trabalhadores em regime precário, pessoas com uma boa ideia de negócio ou com necessidade de um pequeno financiamento. Isto porque outra das particularidades do Microcrédito é o perfil aprofundado, pois só desta forma se poderá prever se o cliente em questão terá condições de levar o seu projecto adiante.

Esmeralda Amaral, economista, deu o seu ponto de vista profissional e diz que vê o Microcrédito como uma arma muito eficaz de combate à actual crise, afirmando que a originalidade e a vontade de trabalhar são dois requisitos indispensáveis para pessoas nessa situação. “É muito importante que a pessoa que vai dirigir um negócio novo tenha o mínimo de formação, porque não é qualquer um que tem estofo e preparo

suficientes para começar algo do zero. Ser patrão é muito bom, mas dá muita dor de cabeça, ao contrário do que pensam”, assume.

Para além destes, Paula Oliveira, contabilista e colega de escritório de Esmeralda Amaral, afirma que existem outros problemas a ultrapassar na nossa sociedade e que impedem muitos dos clientes do Microcrédito obterem o sucesso esperado. “Somos um povo muito acomodado, não estamos para nos preocupar com o que vem daqui a dois anos quando o subsídio do desemprego terminar, por isso, acho que a questão do Microcrédito será a opção perfeita para jovens formados, ou mesmo para pessoas mais velhas que tenham tido o mínimo de formação”, afirma Paula, apoiada pela colega Esmeralda, que acrescenta: “Infelizmente, somos subsidiodependentes”.

O facto é que o Microcrédito completou, em 2008, o seu 10º aniversário em Portugal, chegando ao seu milionésimo cliente no final desse mesmo ano. Entre grandes sucessos e algumas desilusões, o balanço geral da primeira década da ANDC em Portugal é bastante positivo, ou não fossemos o país das pequenas e médias empresas.

Texto e foto: Cláudia Ferreira

Importante saber que…

• Mohamad Yunus é o criador do Microcrédito (que,

originalmente foi apelidado de “O Banco dos Pobres”) e foi

fundado na Índia, seu país de origem;

• O projecto foi adoptado um pouco por todo o mundo, sendo

que, em Portugal, chegou no final da década de ‘90;

• Yunus recebeu o Prémio Nobel da Paz pelo magnífico trabalho

que começou pela simples necessidade em ajudar o próximo.

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Ainda revestida por uma marcante falta de debate, esta problemática social é, hoje, objecto de estudo por parte de psicólogos, psiquiatras e sociólogos. Actualmente, é possível definir dados indicadores que contribuam para a formação de um possível agressor, bem como o seu perfil psicológico.

De acordo com a psicóloga clínica Tânia Patinha “quando falamos num agressor estamos a falar de alguém que experienciou, num padrão muito precoce de relação parental, a violência e a humilhação”. Para traços de personalidade são enunciadas características como a aparente confiança, segurança e elevada auto-estima, bem como dificuldade nos relacionamentos e uma iludida cobardia.

Na maior parte das vezes este agressor apreende sinais subliminares em quem poderá vir a tornar-se uma vítima. Tânia Patinha afirma que, na generalidade, as vítimas de Bullying “revelam sempre medo. Medo que não gostem dela, de desagradar, de ser rejeitado. O que, inevitavelmente, faz com que fiquem numa posição frágil e vulnerável”.

Intimidar, humilhar repetidamente, torturar emocional e fisicamente ao longo de meses ou anos, indivíduos que são vistos como alvos fáceis. Este é um fenómeno recentemente

abordado que acontece nos mais diversos locais sendo, as escolas, o lugar onde apresenta uma maior incidência. Há falta de uma palavra portuguesa, este fenómeno é conhecido

por Bullying e manifesta-se em todo o mundo, não sendo Portugal excepção.

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TipologiasDevido à complexidade e diversidade de agressões,

é frequente o recurso a duas principais categorias. Habitualmente, menciona-se a existência de um Bullying Psicológico e de um Bullying Físico.

Considerado silencioso, o Bullying Psicológico abarca as mais variadas agressões verbais e escritas. Através do recurso repetido à humilhação, à ameaça, às críticas e à tentativa de isolamento, as crianças e jovens são desvalorizados e marginalizados. Referente a este tipo de bullying destaque para um novo conceito: o Cyberbullying.

Utilizando a Internet como plataforma, através de chats ou redes socais, o agressor divulga fotografias, lança insultos e adultera a sua identidade. Hoje, a Internet é uma ferramenta de conhecimento e diversão encontrando-se vulgarizada. Inevitavelmente, esta frequente utilização traduz-se, também, num aumento significativo da prática de Cyberbullying.

“Gozaram-me muito - diz Luís, um estudante de 13 anos - apareceram umas fotos minhas no blogue de um rapaz que nunca gostou de mim. Durante muito tempo ouvi muita coisa”. Por sua vez, Diogo, 11 anos, também estudante, pensou durante muito tempo estar a falar, por Messenger, com uma rapariga. Mais tarde, soube que era um grupo de rapazes que o humilhava por diversão: “adicionaram o meu email. Começaram a falar muito comigo, como se gostassem mesmo de mim”, explica.

Tal como indicado, o tipo de Bullying Físico,

refere-se a actos violentos físicos. Actualmente, no 10º ano, João diz que “no 8º, um grupo de rapazes mais velhos e uma rapariga esperam por mim no portão da escola. Bateram-me porque disseram que eu não os respeitava”, revela-nos, retratando o fenómeno.

Muito embora não seja possível percepcionar, na totalidade, as consequências de actos repetidos de violência, sabe-se que a formação de um auto-conceito negativo, insegurança, desconfiança, baixa auto-estima e o desenvolvimento de doenças psicossomáticas são os futuros danos emocionais mais frequentes.

Estranhamente, o Bullying é ignorado no relatório sobre Violência e Segurança Escolar e também no estudo parlamentar de Educação e Ciência, mas facto é que existe e não pode ser negligenciado. Allan Beane, especialista norte-americano em Educação, declarou, em Janeiro de 2007, no Pavilhão Atlântico: “Portugal deve estar atento. A campanha contra a violência tem de tornar-se uma forma de vida”.

Texto e fotos: Catarina Castro Melo

Na Escola Secundária Padrão da Légua decorreu, de 16 a 20 de Março, uma campanha institucional de nome “Alerta Bullying”. Através de uma acção de formação, o grupo de licenciatura em Ciências da Comunicação da Universidade Fernando Pessoa, debateu esta problemática social com cerca de 400 alunos, do 7º ano ao 9º ano de escolaridade.

Ricardo Nunes, membro do grupo de trabalho, afirmou serem dois os principais objectivos deste projecto: “a nossa prioridade é alertar os jovens e os educadores para a prática do Bullying, incitando a que as potenciais vítimas tenham voz para pedir auxílio. Por outro lado, queremos contribuir para a diminuição desta prática, através da prevenção”. Isabel Maria Morgado, presidente do Conselho Executivo da instituição, diz que “foi uma campanha muito válida. Os alunos precisam destas formações para construírem a sua identidade”.

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A ANAP - Associação Nacional de Ajuda aos Pobres - é uma associação particular de Solidariedade Social (situada em Paranhos, Porto) que vive apenas de donativos. No terreno há seis anos, este projecto começou pela mão da filha da directora, Claudina Costa. Ao participar numa campanha de solidariedade na escola, Joana, de 17 anos, começou a interessar-se pelo voluntariado. Ainda assim, Claudina revela que a sua família sempre gostou de ajudar, “particularmente na distribuição de bens pelas ruas do Porto. Mas, hoje - explica - existe um novo tipo de pobreza. São casais que tinham trabalho, casa, carro, que perderam tudo e, agora, andam a pedir...”

A Associação auxilia mais de 200 famílias. Nas suas instalações existe um refeitório para almoços que só fecha ao Domingo sendo que “quem tiver como cozinhar o jantar pode levar os alimentos”. A ANAP permite também que os sem-abrigo tomem banho e lavem as roupas. Mas de modo a não permitir abusos, a Associação avalia todos os inscritos, periodicamente.

Dar e ReceberCom um filho para criar sozinha, Cristina Diodato

sobrevive do abono de família e do rendimento

Filantropia socialno auxílio à pobreza

mínimo. “A Associação tem-me ajudado bastante. Venho buscar alimentos pois nem sempre consigo aguentar as despesas. Se não fosse este apoio, o dinheiro não chegaria para contas e comida”, desabafa. O futuro, segundo Cristina, é incerto, mas acredita que tudo se vai equilibrando da melhor forma.

Para o seu funcionamento, a ANAP conta com uma equipa de voluntários que também são utentes. Manuel Moreira é um deles. “O voluntariado mantêm-me ocupado. Acho que já tinha morrido se não conhecesse a Associação. Faz parte da minha vida”, afirma. Lucília Sousa, também voluntária-utente, define o projecto como sendo “óptimo”. “Sempre gostei de ajudar o próximo e desde que faço voluntariado, sinto muita diferença. Aprendi muita coisa e conheci muita gente”, explica feliz.

Projectos e futuroPara além da solidariedade, na ANAP funcionam

outras actividades, como aulas de música (cuja professora também é utente) e aulas para idosos que querem combater o analfabetismo.

Para um desejado futuro próximo, a ANAP está a trabalhar para uma casa de acolhimento temporário

Com a taxa de desemprego a aumentar, existem cada vez mais pessoas a passar dificuldades e a precisar de ajuda e é nesse sentido que as instituições de solidariedade social trabalham para

ir de encontro às necessidades dos mais desfavorecidos.

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de crianças dos 0 aos 12 anos, contudo, o Quero Colo, está parado por falta de verbas para as obras da casa já alugada. A directora da ANAP sonha ainda abrir um lar de idosos, por quem tem “um carinho muito especial, mas esse projecto será a longo prazo”, revela-nos.

De acordo com Claudina Costa, é muito dificil conseguir sobreviver dos donativos, “pois são excassos, face às contas para pagar”, situação que veio a ser agravada pela crise financeira actual. “Há menos dinheiro e mais utentes. Estamos à espera que a Segurança Social nos passe a IPSS para podermos beneficiar dos seus fundos monetários”, explica a responsável pela a Associação, que continua: “muitas vezes temos de pedir donativos adiantados, para poderemos pagar as contas”.

Apesar de tudo, vezes demais, a ANAP não é muito bem vista pelos utentes... “querem sempre mais!...”, desabafa a responsável. “Por vezes, sabemos que estão a usufruir de cabazes de outra instituição e temos de cortar. Por outro lado, nem sempre podemos ir de encontro às necessidades de todos” explica, assertivamente, Claudina.

Mas, acima de tudo, Claudina é daquelas pessoas a quem “se me tiram isto tiram-me a Vida. Adoro o que faço. Só conto com os que nos ajudam, mas a ajuda poderia ser muito maior se as instituições não se isolassem...”

Para o futuro, Claudina Costa espera “não viver neste sufoco e ter o Quero Colo pronto...”

Texto e fotos: Marta Graça

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Face às mudanças económicas, os hábitos de compra alteram-se e a feira e o mercado voltaram a ter uma nova dinâmica de clientes. A Feira dos Carvalhos ressurge como um amplo mercado situado na zona litoral norte. As pessoas voltam a optar pelos preços dos feirantes e fazem disso a sua peregrinação semanal.

De volta à Feira

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São 4 da manhã e Jorge levanta-se. A rotina é diária, mas à quarta dirige-se para a Feira dos Carvalhos. Este feirante, que há quinze anos tomou conta do negócio dos pais, vem sempre com boa disposição, apesar do esforço de se levantar tão cedo. “São os clientes que me fazem esquecer o quanto esta vida custa”, afirma.

Como ele, muitos outros encaram esta vida como normal e, alguns, até levam os filhos. “Têm de aprender. Da idade deles também vinha trabalhar!” justificam. Contudo, este negócio que os obriga a andar com a mercadoria de feira em feira, não os faz esquecer como a educação é importante, “vão à escola na mesma, só que, quando não têm aulas, vêm connosco”.

A Feira dos Carvalhos é uma tradição para muitos ao ponto de, quarta-feira, ser “o único dia que venho aos Carvalhos”. Antigamente, havia mais gente. Porém, com a economia em crise, as pessoas voltaram a comprar num mercado onde a escolha não é grande, mas tem pre ços mais baixos. Ainda assim, há quem diga que a fruta e os legumes costumam ser mais frescos e caseiros. Os feirantes desta categoria confirmam, tendo em conta que plantam e colhem o que vendem, “sem químicos na produção”.

Nestas condições, a Feira dos Carvalhos tem pessoas de todas as classes sociais. “Agora, até os ricos querem poupar…” conta Jorge que tem uma tenda com “roupa moderna e igual à do shopping”. De facto, os feirantes não pretendem aumentar os preços, pois podem perder os clientes que estão a optar por este comércio.

Um quotidiano dos inícios do tempoÀs 8 da manhã Jorge já tem tudo pronto. A essa

hora também começam aparecer os autocarros das redondezas. Como o uso do carro está banalizado, às quartas, o trânsito torna-se complicado por estas ruas “mas assim, posso trazer o que quero

e não me importo de vir carregada”, confidencia a Maria. “O meu marido fica a passear enquanto ando às compras…” De facto, as clientes trazem maridos, filhos e netos que, para além de possíveis compradores, ajudam a carregar as compras.

Como o centro dos Carvalhos é um local com uma grande quantidade de serviços, quando vêm à feira aproveitam para fazer tudo o que precisam na mini-cidade. “À quarta, também é dia de cabeleireiro”, confidencia alguém... Alguns comerciantes afirmam que a feira “ajuda a chamar gente” pelo que, na restauração, a quarta-feira é dos dias mais rentáveis.

As vantagens da criseJorge também sente a crise, no entanto nota uma

subida de lucro desde que ouve falar da perda de poder de compra. “Acho que estamos a lucrar com esta crise mundial”, revela. Jorge tem a escolaridade obrigatória, pois não se via a fazer outra coisa. “Não trago os meus filhos porque são muito pequenos, mas acho que eles não vão querer isto para nada”, desabafa.

Ainda assim, Jorge prefere que os filhos sigam o que mais gostarem ainda que, face às dificuldades no mercado laboral, acredite que a feira é um bom futuro, porém “é preciso ter muita força de vontade”. Este é também o receio do responsável pelo comércio da freguesia de Pedroso, António Tavares: “as feiras podem cair em desuso pois a maior parte dos trabalhadores está envelhecido”.

Nem os frequentadores da Feira dos Carvalhos nem os seus habitantes imaginam a terra sem este mercado. Os clientes confiam em quem lá vende e a localidade já é conhecida pela feira supra centenária.

Às 5 da tarde começam a empacotar. Arruma-se tudo antes do anoitecer. Os feirantes ainda têm de preparar as coisas para o dia seguinte. A rotina repete-se. Só muda o local e as pessoas.

Texto e fotos: Rita Pereira

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A Opus Dei está, hoje, espalhada por todo o Mundo. “A Obra”, como também é conhecida, está dividida em dois grandes grupos: os Numerários que, vivendo separados entre homens e mulheres em casas da mesma, se consagram à causa e nunca irão constituir família, e os Supranumerários que “são membros da prelatura, fiéis da Obra, que não vivem o celibato e que, habitualmente, constituem família”, explica José Abreu, há 40 anos membro desta classe.

Os Numerários dedicam a sua vida à evangelização e à sua santificação através do trabalho. Tentam uma aproximação com Cristo sendo, por isso, usual a utilização de cilícios (ferros espetados na coxa) e disciplinas (penalidades físicas auto-infligidas). “Estas práticas não se podem entender do ponto de vista humano: são uma tentativa de aproximação a Deus e ao sofrimento na cruz. Claro está que, em caso de problemas de saúde e idade avançada, não são efectuadas” explica uma Numerária que prefere manter anonimato.

Fora desta organização, fala-se, muitas vezes,

A Prelatura da Santa Cruz e Opus Dei, hoje conhecida apenas como Opus Dei, é uma instituição hierárquica da Igreja Católica que chegou a Coimbra no ano de 1946. Criada, em 1928, por Josemaría Escrivã de Balaguer, a obra tem como objectivo a santificação através do trabalho.

A Vida naOpus dei

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em secretismo, fanatismo ou até mesmo é utilizada a palavra ‘seita’ para descrever os que dela fazem parte. Contudo, “somos pessoas como outras quaisquer. - afirma Joana Bouça, uma Supranumerária de 27 anos - A não ser os factos da nossa vida privada, não temos nada a esconder.”

Escolha de vidaDe facto, os Supranumerários vivem nas suas

próprias casas e, a maioria, com família constituída. “Ser Supranumerária significa a santificação através do trabalho, onde podemos por em prática todas as virtudes e santificar o próximo, aproximá-lo de Deus para que seja mais feliz”, esclarece Joana Bouça, acrescentando que “se não fosse Supranumerária penso que seria menos paciente com os outros. Ao fazer o exame de consciência diário tenho percepção dos erros e tento melhorar. Mas a diferença é que eu posso casar, ter filhos, ir ao cinema ou à discoteca, coisa que os Numerários não fazem, por sacrifício.”

Assim como os Numerários, estes membros do Opus Dei recorrem aos retiros onde, por alguns dias, se entregam à oração. “Claro que custa. Não vou dizer que não custa ir, mas quando volto, venho melhor pessoa”, conta a jovem supranumerária.

“Ser parte integrante do Opus Dei só mudou a

minha vida para melhor, obriga-me a reflectir no que quero da Vida, a ajudar os outros e a melhorar a minha personalidade. Faço isso através da oração e dos pensamentos diários”, conclui Joana.

O lado de foraAinda que para os seus membros esta seja,

essencialmente, uma forma de estar na vida, hoje, um pouco por todo o lado, a ostentação da Opus Dei reflecte uma estrutura que, para muitos leigos, é algo pouco positivo, que limita e condiciona a vida dos que dela fazem parte.

Ainda que o lema essencial desta Prelatura consista na santificação pelo trabalho, para o leigo Nuno Riscado “o objectivo primordial é controlar todos os sectores da sociedade civil, militar e religiosa”. Por seu lado, ao exemplo de muitas vozes, Rosa Maria Figueiredo defende que “A Obra condiciona a vida das pessoas. Enquanto a Igreja Católica ameaça com o Inferno, n’ A Obra, as ameaças são essas e muitas mais. As pessoas têm medo de perder os empregos devido aos altos cargos serem quase todos ligados a eles, até casamentos conseguem que se anule com grande facilidade. É compreensível que quem não está inserido nela prefira manter-se à margem”.

Texto e fotos: Isabel Santos

Esta organização católica tem como base três livros fundamentais escritos pelo seu fundador Josemaría Escrivã, os quais descrevem o comportamento e ideais que os seus membros devem adoptar, são eles ‘O Caminho’, ‘Cristo que passa’ e ‘Amigos de Deus’.

É também de referir que, alguns livros, são apontados como proibidos aos seguidores da Opus Dei, porém, segundo elementos desta organização, esta é uma afirmação sem veracidade: existem, sim, obras que são pouco aconselhadas, pois contrariam as bases da mesma ou os seus princípios.

Nestes casos, os seus membros são aconselhados a participar o seu interesse por esta leitura “e a consultar uma ficha técnica realizada pela Prelatura com a explicação dos erros

doutrinais explícitos nas mesmas”, explica a Numerária anónima, isto porque pode não existir uma formação espiritual sólida para a sua compreensão.

Membros do Opus Dei

América - 29.000

Ásia a Oceania - 4.700

África - 1.600

Europa - 48.700

www.montemuro.org/gdi/OpusDei_DadosInformativos.pdf

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João Santos tem 20 anos, é heterossexual e frequenta bares GLS. “Não me considero preconceituoso e frequento espaços onde encontro pessoas com

os mesmos gostos que eu, ou não...!” De facto, o Pride tem o condão de animar todos os visitantes com as suas festas temáticas e, para

João, sente-se que esta dinâmica tem, como principal objectivo,

Transformismo Cultural

Durante o séc. XIII eram considerados pecadores, sendo, por isso, muito mal tratados nos conceitos religiosos, culturais e económicos

que, em consonância com a ciência, muito contribuíram para a homofobia, rotulando de ‘doença’ o que antes era considerado pecado ou crime. Só a partir do séc. XIV os conceitos sexuais foram definitivamente divididos em hetero e homossexuais. Os primeiros, desde sempre foram estimulados publicamente, já os homossexuais continuaram reprimidos e

estigmatizados até ao ponto de, durante o séc. XIX, na Teoria da Medicina,

a homossexualidade ser considerada uma degeneração. A castração, os choques eléctricos

e a lobotomia, eram os tratamentos do que diziam ser “perversão”, mas essas técnicas,

agora abomináveis, só causavam sofrimento e os resultados pretendidos nunca surgiram. Só a

partir do séc. XX é que a sociedade começou a ser mais compreensiva. Hoje, estamos numa era

de liberdade de escolha.

Enquanto o Mundo se agita com a compulsão do preconceito mal-humorado usado contra bissexuais, transexuais, lésbicas e gays, surge, para alegrar as almas

remanescentes do gueto dos homofóbicos, um lugar onde se pode entrar e permanecer livre, sem temores. O Pride é um bar alegre, sem preconceitos, situado na rua do Bom

Jardim, no Porto. É um GLS diferente, ou seja, são Gays, Lésbicas e ...Simpatizantes.

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provocar o bem-estar do cliente: “vou porque gosto bastante do espaço. Sinto-me bem. Respeito e sou respeitado… no final, somos todos humanos”. Igual opinião tem André Azevedo que, tal como João, vai ao Pride pela música e pela animação. “Para mim - confirma - ainda não encontrei nenhum espaço com o género de música deste bar.”

E a verdade é que, durante a reportagem, encontramos sempre um espaço com música e ambiente agradáveis ao ponto de fidelizar os clientes heterossexuais que ultrapassaram constrangimentos.

André, relativiza enfatizando, tal como João, o respeito mútuo: “é complicado, claro. Eu, se calhar, às vezes rio-me, por causa de um piscar de olhos ou de um beijo que mandam, mas depois, percebem que não somos homossexuais e ninguém se mete com ninguém. Aliás, parece que eles sabem quem é gay e quem não o é…!”

O preconceito em quedaA admiração vista nos olhos dos heterossexuais que, regularmente, estão

neste bar é uma lufada de ar fresco para uma sociedade ainda amarfanhada pelo descabido apontar de dedos. Estamos perante um bar ainda sem concorrência. Apesar da Invicta ter mais espaços do género, o Pride abrange diferentes públicos. “Tenho todo o tipo de clientela, mas com respeito, não há qualquer problema”, afirma Fernando Ferreira, dono do espaço.

Tal como nos clientes, este espaço, alberga, harmoniosamente, trabalhadores homo e heterossexuais, tratados de igual para igual, enquanto mostra aos seus frequentadores, artistas que usam o seu bom humor como arma contra o preconceito. “Para se trabalhar aqui é essencial ser-se simpático e gostar de trabalhar em bares. Não é preciso mais nada para evitar desavenças”, assegura Fernando Ferreira.

Descriminação em agoniaCom paradas realizadas em várias partes do globo, o mundo Gay vai

ganhando força e vai-se fazendo notar com persistência. Finalmente, as pessoas começam a assumir a sua condição sem medos, passando a ser aceites como humanos sem rótulos. Para Fernando Ferreira “o Porto, enquanto

sociedade bairrista, é muito preconceituoso… Infelizmente, embora esteja a melhorar, a sociedade continua retrógrada.”

Sobre descriminação, o patrão do Pride não deixou esquecer a problemática dos travestis, “que querem ser mulheres, isso é óbvio, mas nunca vão ser e elas sabem disso. Mas não há rivalidade. Acho que os travestis são marginalizados pela sociedade, mas também por eles próprios. De todos os Gays, são os mais maltratados… Mais dez ou vinte anos e pode ser que isto vá ao lugar.”

Texto e fotos: Bruna Alves

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A rivalidade entre o Metal e o Hardcore Punk tem vindo a diminuir ao ponto de ambos darem as mãos na luta pela conquista do respeito social. “Tanto o Metal como o Punk/Hardcore surgem como formas de arte associadas a tribos urbanas específicas, mas ambos cresceram paralelos e são, hoje, fenómenos muito mais massificados do que alguma vez se imaginara”, diz Bruno Fernandes, membro dos The Firstborn.

Embora, tal como afirma Jorge Sousa (um ouvinte

assíduo), venham ambos do Rock, o preconceito social subsiste, ainda que não seja algo que aborreça muito praticantes e fãs. “Ao início - explica Álvaro Torrinha, de 22 anos - era lixado... os meus pais e amigos metiam-se comigo por causa do som extremo, do ‘barulho’ e da roupa, mas não percebiam que era música muito técnica. Vá lá que hoje sou melhor aceite”, conclui.

A má imagem que os mídia ainda transmitem parece não preocupar as bandas, ao contrário, dá-

Géneros musicais socialmente oprimidos, sem apoios, sem muitas salas de espectáculos, mas com muito amor à causa e com uma atitude anti mainstream. Assim se define esta

música agressiva e pouco easy listening, designada por Metal e por Hardcore Punk.

Metal e Hardcore Punk:

do underground com amor

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lhes força. “Pressão? Não, não sinto a mínima. Ao início era complicado, mas hoje passa-me ao lado”, assume Ima, vocalista dos Loss Spectra of Pure.

E, do silêncio, sai um abrupto “relativamente a isso, estou-me a lixar!” Quem desabafa é João, o baixista dos Koltum. “O meu Black Metal - continua - baseia-se em ódio, sentimento, Satanás e álcool. ...Sou feliz assim”. Mas, a opinião geral é que a ideia do sensacionalismo que milita nos mídia mais mainstream acaba por originar visões recalcadas e, principalmente, deformadas destes estilos musicais.

Salas, apoios e… undergroundPara as bandas e fãs, o que claramente mais os afecta é a

falta de salas de espectáculos. “Eu costumo ir ao Metalpoint e ao Porto-Rio. Mas há poucas salas para se ver bons concertos”, opina Filipe Carvalho.

De facto, há muitas bandas e adeptos, mas também um gritante caso de falta de salas que se agravou com o encerramento do Hard Club, de Vila Nova de Gaia. “Lá era a nossa casa. Víamos grandes bandas. Era fenomenal aquela sala”, recorda Luís Sousa. “Tens um monte de bandas em

S.J.Madeira ou no Porto e não tens sítios para tocar” lamenta, por seu lado, Paulo, vocalista dos EAK.

Os promotores encontram-se, no geral, a trabalhar sob termo “do it yourself”. Confrangedor, para um país que tem tido cidades capitais da cultura... “O lucro é o suficiente para poder continuar. Apoios?! Zero. Faço tudo por mim. Não queria apoio monetário, mas de divulgação”, afirma Hugo Almeida, proprietário do Metal Point Bar, numa afirmação que faz eco das outras opiniões na área.

Por outro lado, embarcar numa carreira internacional não agrada a todas as bandas, pois “implicaria ter de vergar perante as expectativas de uma editora ou de um público que, entretanto, seria premente agradar. Música é arte, logo, tem de ser o mais genuína possível”, adverte Guilhermino Martins, membro dos ThanatoSchizO.

É de longe o amor ao underground que une toda esta ‘tribo’ que não reivindica luxos, nem Grammies, nem capas de revista: só quer “oportunidades iguais para demonstrar a sua arte”, explicam a uma voz.

Texto e fotos: Simão Fonseca

Músculo, amor, o obscuro e Buda

Os Koltum, de Guimarães, nas palavras do baixista João, praticam “‘grim’ Black Metal cru, por assim dizer, na onda da velha escola”. Venom, com a canção “Black Metal”, deu nome a todo um género musical, caracterizado, regra geral, por anti-cristianismo, magia negra e Satanismo. Mais tarde há a afirmação de Bathory, Darkthrone e Mayhem, bandas com as quais o ódio dos Koltum se identifica, sonora e liricamente.

Loss Spectra of Pure opta por uma mistura de Hardcore, Noisecore, Death e Thrash Metal. “Gostamos do ‘groove’ do Hardcore e do peso que o Death Metal oferece”, confessa o vocalista Ima. “Nas letras, gosto de escrever sobre problemas sociais e relações. Para já, não escrevo sobre o ‘gore’ habitual do Death Metal”, assegura o mesmo.

‘Musclecore’: nome invulgar, mas é assim que o vocalista Paulo caracteriza os E.A.K. “Escrevo sobre mim, quem conheço… é só amor e amizade. Músculos? Porque é música musculada falada com sentimento”. Contudo, a pujança do Hardcore, a atitude roqueira e algum Metal talvez não sejam suficientes para descrever o caótico Musclecore.

Os transmontanos ThanatoSchizO absorvem desde as sonoridades mais agrestes do Metal ao lado mais exploratório e psicadélico do Rock progressivo, a frescura étnica da World Music e alguma electrónica. Assim, a banda tem uma “enorme ligação com poesia, sentimentos, pensamentos e factos da vida real”, refere Guilhermino Martins, o mentor.

Inicialmente, como banda de Black Metal, os The Firstborn de hoje abordam a filosofia e religião Budista. Praticam um Metal muito dinâmico, com guitarras densas, muito trabalho de percussão, incluem instrumentos orientais como a sítar e tabla e também recorrem à World Music. “Deixámo-nos de rever no cliché ‘shock value’ do Black Metal e o Budismo é, a todos os níveis, um apelo diário, e

que terá, necessariamente, que se reflectir na música que crio”, explica Bruno Fernandes, vocalista. Não são uma banda activista, mas ajudam a Associação Free Tibet com parte do valor de cada venda do novo disco.

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Nascido por iniciativa do Município, o Aeródromo da Maia tem uma importância determinante “pois é o único entre Espinho e Braga. Até Coimbra, há apenas cinco ou seis e, até Lisboa, este é o que gera mais movimento”, explicam José Carlos Amaral, responsável pelo espaço e Pedro Ferreira, professor de Pára-quedismo.

Com cursos de Pára-quedismo e de Pilotagem à disposição, é necessário ter, no mínimo, 16 a nos para se iniciar as actividades que o Aeródromo inclui. “Ocasionalmente - revela José Carlos - recebemos crianças.” Contudo, apesar de poderem destacar as manifestações de BTT, os testes de automóveis e o apoio a colectividades, dos eventos a que já deram apoio, o maior foi, sem dúvida, o RedBull Air Race: “transforma o dia-a-dia do Aeródromo!”, explica o responsável do espaço.

Ainda assim, “sobrevivemos, primeiro, do apoio da Câmara da Maia e, depois, das entidades aqui sediadas”. Para já, a maior dificuldade é a finalização

Aeródromo da Maia: desportos radicais com segurança

O Aeródromo de Vilar da Luz, também conhecido como Aeródromo da Maia (www.paraclubedamaia.pt/acesso.html), foi inaugu-

rado em 1993 e, desde aí, começou em funcio-namento quer na prática de aviação quer nas

aulas de pára-quedismo.

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de uma aerogare “em que está protocolado um apoio estatal que é adiado de ano para ano”, desabafa o responsável pelo Aeródromo.

Com o coração no arO Pára-quedismo é um desporto com várias

modalidades, mas desde a abertura do Aeródromo, “apenas houve um pé partido”, refere Pedro Ferreira.

O curso começa pelo salto de Abertura Automática, após o qual se fica apto para frequentar o de Queda-livre “onde se aprende as manobras para o espaço que se percorre com o pára-quedas fechado”. Depois, pode abraçar-se “o Free-fly, o Skysurf e o voo relativo em Queda-livre.”

No Pára-quedismo, os riscos surgem “a partir dos 300/400 saltos pois, aqui, começam as aterragens mais radicais” no entanto, o curso ensina a “avaliar as condições atmosféricas, operar o equipamento, avaliações de risco para aterragem fora do Aeródromo, reagir e resolver emergências, etc.”, explicou Pedro Ferreira, assegurando ser “um risco muito reduzido” o pára-quedas não abrir ou abrir mal. Acima de tudo, numa emergência, o instrutor aconselha a “reagir mecanicamente” até porque, ajudar quem está no ar é “coisa de filme...”

“A vantagem do Pára-quedismo desportivo é ser personalizado” até porque a principal diferença entre as vertentes é a velocidade e, daí, o requisito para mudar de modalidade ser o número de saltos “por exemplo, o Skysurf pede 150, mas para todas as outras, 50 saltos em Queda-livre já chegam”, explica Pedro Ferreira.

A ex-aluna Filipa Reis, pratica Pára-quedismo há já 11 anos e garante que “é o descarregar de todas as energias, um pico da adrenalina viciante! É uma sensação de liberdade saltar para o nada… Acho que toda a gente deveria praticar”.

Eduardo Evangelista é piloto no Aeródromo e fascinado por aviões desde pequeno. “Em 2001 tirei o curso de piloto privado. O ano passado acabei o de piloto comercial”. Actualmente, não exerce. Tem concorrido, “mas há uma estagnação por causa dos combustíveis… Acredito que melhore”, afirma.

De acordo com Pedro e Eduardo, o Aeródromo de Vilar da Luz reúne todas as condições porém ainda falta, para o Pára-quedismo, um relvado para aterragem e, para a Pilotagem, “iluminação de pista, rádio-ajuda… mas penso que acabará por vir com o tempo e, talvez, com vontades políticas”, revela Eduardo. Já Filipa assume que “porque se quer evoluir, há sempre coisas a melhorar.”

Ainda assim, para o futuro existem planos de melhoramento “para que o espaço seja da satisfação dos utentes. A curto prazo decorrerá um encontro com 7000 idosos da Área Metropolitana do Porto e, depois, o RedBull volta a passar por cá”, adiantou José Amaral.

Texto e fotos: Isabel Gonçalves

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MataMata que é vida

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O passado mais recente em termos de incêndios florestais foi devastador em Portugal. O conselho de Vila Nova de Gaia não foge à regra e 2009 não augura

boas perspectivas para o Verão que se aproxima.

“A área reflorestada em anos anteriores está pronta para queimar”. Quem o afirma é Luís Moita, responsável pelo Gabinete Técnico Florestal de Vila Nova de Gaia, a propósito do que pode vir a ser o ano de 2009 em matéria de incêndios florestais, dado que, até Março deste ano, a área ardida é equivalente ao período de 2008. Assim, este Verão deverá ser “problemático”, assumem Luís Moita e José Areias, comandante interino da corporação de Bombeiros Voluntários de Crestuma.

Muito embora haja cada vez mais informação sobre a prevenção e as pessoas estejam, nas palavras de Luís Moita, “bem informadas”, ambos referem a negligência como causa principal dos incêndios.

Para evitar que o volume de desleixo amplie, tanto as corporações como os Gabinetes Técnicos Florestais, estão a apostar numa política preventiva baseada no contacto directo com o cidadão, uma vez que o comandante interino dos Bombeiros Voluntários de Crestuma duvida “que as pessoas estejam informadas a cem por cento”. E esta política é reforçada numa época insuspeita: a dos santos populares. “O maior número de ocorrências é de 23 para 24 de Junho, no S. João”, afiança Luís Moita. Curiosamente, apesar da total proibição do lançamento de balões, “a venda é permitida”, desabafa o especialista.

Contudo, a floresta não se aflige apenas com os descuidos das populações. Num estudo levado a cabo pelo NÚMENA - Centro de Investigação em Ciências Sociais e Humanas (www.numena.org.pt), ao abrigo de um protocolo com a Direcção-Geral dos Recursos Florestais, a piromania é considerada por peritos na

área, a motivação mais provável para o incendiarismo. Enquanto José Areias se questiona - “como é possível haver um incêndio às 2h ou 3h da manhã no meio de uma serra?” - Luís Moita constata, cabisbaixo, que “a chama atrai pela sua beleza natural e é a floresta quem paga a factura”.

Portanto, no que diz respeito a Vila Nova de Gaia, para minimizar os estragos provocados, há que saber trabalhar em conjunto. Ambos os entrevistados garantiram que não há anomalias entre corporações voluntárias e sapadoras, pois a salvação do ambiente florestal assim o obriga. “As relações são óptimas”, afirma José Areias. Luís Moita vai ao encontro do comandante interino reforçando que “a floresta não pode ser alvo de competição por quem quer que seja... já tem inimigos que chegue”.

Outra das medidas para a consciencialização cívica é uma aposta forte nas crianças através de formação nas escolas, na tentativa de demonstrar quais os perigos mais eminentes. Celebrações como o Dia da Árvore ou a Semana da Floresta explicam princípios básicos sobre a preservação do ambiente.

Então, para uma concretização de todos estes objectivos, os bombeiros, quer sejam Voluntários, quer Sapadores, precisam de uma formação que seja capaz de moldar todas as valências inerentes à sua árdua tarefa. “A formação nunca é suficiente. O Bombeiro não pode estar apenas apto a apagar incêndios, tem outras tarefas importantes”, explica José Areias, pelo que “as formações devem ser cada vez mais exigentes”. Luís Moita compartilha e vai mais longe, justificando: “vivemos numa sociedade mutável.”

Texto e fotos: Cláudio Moreira

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São 9.00h da manhã de uma sexta-feira solarenga e Bruno está a caminho das Caldas de São Jorge. Durante o percurso, explica-nos porque vai, três vezes por semana, a um balneário termal: “durante um futebolada parti o tornozelo. Após a operação, os médicos recomendaram-me as termas, para recuperação.” Escolheu nas Termas de São Jorge, uma vez que as suas águas sulfurosas são vocacionadas para a área músculo-esquelética.

Mas enquanto uma grande parte dos utentes procura o Termalismo pela saúde, outros fazem-no para o bem-estar. Deste grupo destacam-se os jovens cuja adesão tem vindo, a aumentar.

Lídia Melo, relações públicas das Termas de São

Jorge (www.termas-sjorge.com), refere que o principal motivo da adesão deste público prende-se com a existência “de programas apelativos como o Day-Spa, o anti-stress ou a cura de repouso”. Porém, só a partir de 2003 é que a afluência tem sido significativa.

As Termas assumem-se, hoje, como um espaço de bem-estar cada vez mais procurado pelos jovens na ânsia de encontrar o conforto físico e psicológico.

Uma nova forma de relaxar João António é um dos jovens adeptos das termas,

em especial dos programas de bem-estar. “A minha iniciação deu-se porque minha namorada ofereceu-me um tratamento de Day-Spa. Essa experiência foi de tal forma gratificante que tornei-me num frequentador assíduo das Caldas de São Jorge e - acrescenta - face aos resultados, recomendo a todos que experimentem.”

Embora os motivos sejam diferentes, também Bruno partilha da opinião de João salientando que veio para as Termas “por questões de saúde, mas, hoje, frequento-as por lazer porque esta vivência deixa-me bem quer física, quer espiritualmente.”

Tal como João e Bruno, também outros têm vindo aderir ao conceito termal e o público jovem demonstra vontade em querer continuar. Como nos diz Lídia Melo, “o feedback que tenho recebido é de sucesso com continuação, em especial do sexo masculino.”

uma atitude dos 8 aos 80 anosTermalismo:

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A prática do Termalismo em território nacional remonta a tempos longínquos,

mais concretamente aos Romanos que tinham como hábito banhar-se em águas

quentes com propriedades terapêuticas. Esta cultura de ‘ir a banhos’

levou à exploração das propriedades medicinais das águas portuguesas

impulsionando a criação de termas em diversas localidades. Os

banhos em águas quentes ficaram de tal forma enraizados na cultura

nacional que, ainda hoje, algumas cidades mantêm na sua toponímia a

designação de caldas (que vem do latim “cálidas”, ou seja, “quentes) tais

como: Caldas de São Jorge, Caldas da Rainha, Caldas do Gêres, entre

outras. Ainda do latim provém o termo que designa o frequentador de

um balneário termal ou aquista, que vem de “aqua”.

Um antigo preconceito Apesar de tudo, ainda persiste, na mente de

alguns, o preconceito de que as termas são espaços destinados à terceira idade. A principal razão é, de acordo com algumas vozes, a falta de divulgação sobre a oferta termal.

Margarida tem 18 anos e faz parte do grupo de não frequentadores dos balneários termais: “já estive nas Termas de São Jorge a acompanhar um familiar, mas nunca lá fiz tratamentos. Para mim, as termas sempre foram associadas aos problemas de pessoas com idade mais avançada”, justifica-se.

Porém, se se sentisse devidamente informada sobre a oferta termal, Margarida confidenciou-nos que seria uma das primeiras a aderir: “a existência de programas de bem-estar denota a preocupação das Termas em atingir outros segmentos. Se essa informação fosse mais divulgada, certamente que aderíamos muito mais!”

Assim como Margarida também Vânia, de 22 anos, concorda com que a falta de informação tem condicionado a adesão dos jovens. “No meu concelho (Santa Maria da Feira) existem umas Termas, no entanto, não tenho informação sobre o que elas têm para oferecer à minha idade”, refere.

Contudo, para além da questão da procura, há a de ser procurado e, a este respeito, apesar de Lídia Melo concordar que, só há pouco tempo, as Termas de São Jorge iniciaram um investimento na estratégia de comunicação, o que faz os jovens terem parte da razão, também defende que: “mesmo sendo a presença das Termas na comunicação social cada vez mais expressiva, o problema dos jovens é não terem curiosidade em conhecê-las.”

Texto e fotos: Sónia Rosa

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O filme Ensaio sobre a Cegueira, um dos mais

conhecidos romances do famoso escritor Português

José Saramago, publicado em 1995, estreou em

Portugal a 13 de Novembro passado, numa adaptação

de Fernando Meirelles, realizador de filmes como

Cidade de Deus e O Fiel Jardineiro. É uma história que

nos descreve o momento em que a Humanidade,

atacada por uma misteriosa epidemia descrita como

cegueira branca, se revela tão egoísta como solidária.

Para Isabel Ponce de Leão, docente da Universidade

Fernando Pessoa, “estas obras presentificam-se como

grandes metáforas e configuram o mundo em que

vivemos. Oportunismos, indiferenças, egoísmos,

ignorância de valores políticos, éticos e morais e,

muito particularmente, um estudado autismo face à

desgraça alheia. Não há cegos nestas obras: há seres

que não querem ver.”

Por seu lado, para Carlos Melo Ferreira, professor

de Cinema na ESAP , “a adaptação fica aquém do

livro porque se limita a tentar encontrar equivalentes

visuais e sonoros em vez de deixar o filme construir o

seu próprio pensamento. Mas não considero que o

filme tenha desprestigiado o livro.”

Independentemente da leitura prévia ou não do

romance, qualquer espectador consegue assimilar

a mensagem transmitida pelo filme. “Estamos em

presença de uma obra de arte logo, aberta a múltiplas

interpretações. Não é preciso ler-se o livro para se

entender o filme. Seja como for, trata-se de obras

independentes que vivem por si, sem necessidade de

entreajuda”, refere Ponce de Leão.

De algum modo, o espectador acaba por se comover

e identificar com alguma das personagens envolvidas.

Pedro Almeida, estudante universitário, sentiu

que “ao longo do filme, fui pensando

como seria se um delas fosse

eu e de que grupo

faria parte,

tendo em

conta as condições físicas

e psicológicas a que estavam sujeitos. A submissão

das mulheres foi um dos pontos que mais me tocou.”

Existe uma grande carga simbólica nesta obra. José

Saramago afirmou mesmo: “se existe alguma mensagem

nos meus livros, ela está no momento em que um cão

lambe as lágrimas de uma mulher, no romance Ensaio

sobre a Cegueira.”

Adaptação cinematográfica

O fenómeno da adaptação cinematográfica,

ao longo das décadas, tem vindo a tomar grandes

proporções. De acordo com Carlos Melo Ferreira, “a

adaptação é uma simples transposição de linguagens

entre dois meios de expressão diferentes.”

Apesar do mito da narrativa fílmica destruir o

fascínio da literária, falamos de dois códigos distintos,

pois, diz Isabel Ponce de Leão, “o realizador é leitor

de uma obra que, depois, reescreve na justa

medida da sua interpretação. Torna-se num

outro autor. Há, assim, dois textos de dois

autores, escritos em diferentes códigos.

Independentes, portanto.”

Conhecedor dos processos

de adaptação, Carlos

Ferreira, afirma: “o

tentar ser demasiado

fiel a um livro

pode ser um

erro de

adaptação

adaptação. E quanto

mais fiel quiser ser maior é o erro

do ponto de vista do filme. A adaptação

integral, feita, por exemplo, por Manoel de Oliveira, em

alguns dos seus filmes, decorre de opção do realizador e não é fácil

nem popular.”

Texto e foto: Bárbara Silva

questões sobre a

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A criação do Museu do Papel (www.museudopapel.org) justifica-se pela importância que a arte do fabrico do papel teve desde 1708. “Esta indústria, com quase trezentos anos de tradição, foi o ganha-pão da maioria das pessoas desta terra, assim como de concelhos vizinhos”, refere Manuel Belinha, um brandoense com 80 anos que trabalhou, a maior parte da sua vida, na arte de fazer papel. “Foi este trabalho que deu de comer à minha grande família”, recorda, com emoção.

Actualmente, são poucas os que exercem, mas ainda existe quem siga as pegadas dos seus

antecessores. “Fico feliz pelo meu filho mais novo ter seguido as minhas pegadas. Desde pequeno que me acompanhava na carrinha para a venda e compra de papel. Hoje, é um homem que está bem na vida, graças ao armazém de papel que lhe deixei”, refere, com alegria, Manuel Belinha.

No sentido de reafirmar este valor, a instituição

experimentar memórias

Situado em Paços de Brandão, uma pequena freguesia do concelho de Santa Maria da Feira, o Museu do Papel de terras da Santa Maria foi inaugurado a 26 de Outubro de 2001 e constitui o primeiro espaço museológico dedicado à História do Papel em Portugal.

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assume-se como “um museu industrial em actividade”, refere António Marques da Silva, responsável pela comunicação e imagem deste Museu isto porque, não é só um espaço museográfico: o papel continua a ser fabricado, envolvendo os visitantes nos processos da produção. “Os gestos dos antigos operários que ali trabalharam, desde o início do século XIX, são repetidos por quem aqui vem”, explica-nos Lúcia Santos, uma jovem estudante universitária visitante do Museu. “Este lugar proporciona experiências únicas. É de um dinamismo fora do vulgar, com umas condições formidáveis”, reforça a jovem brandoense.

Dinamismo direccionadoApesar de ter de conservar e até recuperar o património industrial e memórias

do papel, este Museu tem outros objectivos que cativam todas as faixas etárias. Como refere Ana Lúcia, de 11 anos, “aprendi muita coisa...! Ensinaram-me a importância da reciclagem e foi muito giro fazer papel”.

Neste aspecto, os serviços educativos são o elemento essencial para o funcionamento da instituição pois dinamizam a relação entre o visitante e o espaço, nomeadamente, apresentando colecções variadas, promovendo actividades e exposições, oficinas e iniciativas dirigidas a grupos especiais, em particular, indivíduos portadores de deficiência visual e/ou auditiva.

Para além de oferecer experiências sociais e culturais gratificantes, os principais objectivos desta instituição baseiam-se no fomento da cultura do papel e da valorização do seu património, com vista a entusiasmar visitas regulares ao Museu do Papel e a outras instituições culturais da região.

Este Museu, que integra no seu espaço duas antigas fábricas de papel do início do século XIX (a Fábrica de Papel de Custódio Pais e a Fábrica de Papel dos Azevedos), não tem uma divulgação tão ampla como a maioria dos centros museológicos pois, como refere António Marques da Silva, por questões de interação com o espaço, “a divulgação deve ser sustentada”.

Texto e fotos: Fátima Santos

Os Primeiros Fabricantes de Papel desta região eram os senhores das grandes propriedades, aristocratas e com prestígio cultural que, devido aos ventos do liberalismo agoirarem tempos de mudança, passaram a investir em novas fontes de riqueza, transformando os seus moinhos de cereal em moinhos papeleiros.

Com o passar do tempo, seguindo o exemplo dos grandes senhores, pequenos e médios proprietários, homens simples e analfabetos (alguns deles mestres dos primeiros engenhos de papel), tornam-se também fabricantes papeleiros começando a afirmar-se dum modo autónomo, com uma produção de baixa qualidade dirigida ao mercado local.

A falta de capital era, na maioria dos casos, ultrapassada pela conjunção de esforços e de aptidões, através de sociedades onde um sócio entrava com o terreno, a água e o conhecimento da arte, e um segundo, com o capital. Assim, entre os primeiros fabricantes de papel da Terras de Santa Maria, coexistam mentalidades culturais e, naturalmente, níveis de alfabetização diferentes, em consequências das respectivas origens sociais.

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Um dos desportos radicais mais

praticados actualmente, o Surf é a interacção com o mar, a arte de domar

a natureza que fascina surfistas e

simpatizantes e que já

conquistou milhares, criando

uma legião mundial de fiéis e apaixonados

seguidores. De facto, o Surf, hoje, deixou de ser apenas um

desporto e é uma filosofia de vida, exercendo grande influência na moda,

na música, no cinema. O praticante deste desporto possui um estilo próprio e pode facilmente ser

identificado, mas engana-se quem pensa que o surfista não tem, hoje, um papel

activo na sociedade.Existem praticantes das mais diversas

áreas sócio-empresariais e todos encontram no Surf a mesma paixão: um equilíbrio para uma vida que, por vezes,

parece demasiado agitada.

Nos dias que correm o Surf assume-se como um estilo de vida que conquista cada vez mais adeptos. O mito do surfista que leva uma vida marginal começa a desaparecer dando lugar a uma nova imagem - a de um desportista com um papel activo na socie-dade. Para estas pessoas o Surf é um ritual, uma paixão. Um momento de pausa onde se encontram consigo mesmos.

do desporto ao estilo de vida

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Na praia de Espinho, a mais conceituada para a prática desta modalidade no Norte

de Portugal, encontrámos André Meneses, seguidor desta filosofia de vida há mais de dez anos. Com ele, percebemos um pouco melhor que o mito do praticante de surf, como indivíduo à margem da sociedade,

de facto, não faz mais sentido.Talvez persista pois, para quem surfa, o ritual de entrar na água para apanhar umas

ondas, torna-se um vício... “O Surf é muito mais do que um desporto.

Geralmente, quem o pratica fica um aficionado e se tiver oportunidade para fazer disso a sua vida, com certeza que

o vai fazer”, assume o surfista.Na realidade, os aficionados são

cada vez mais e não se restringem a um escalão etário, nem a um tipo

de ocupação: “hoje em dia, é comum verem-se empresários e outros

trabalhadores que, antes de mudarem para o fato que deixaram no carro, vêm

fazer o seu Surf matinal”.Assim para a grande maioria dos

praticantes, encarar o Surf apenas como um desporto ou como um hobby, deixa de fazer sentido. “O caminhar sobre as

ondas, transforma-se numa paixão capaz de moldar a vida de quem a sente, em função dos ventos e das marés”, explica o surfista.Certo é que a tranquilidade parece ser o sentimento comum aos que praticam esta modalidade, assumindo-a quase como uma terapia, para o seu equilíbrio físico e emocional: “o papel que o Surf desempenha?... Posso chamar de estabilizador. Se falha um dia já não me vou deitara sentir a paz habitual.”Apesar de ainda ser visto por muitos como uma moda, um caminho marginal, as ideias pré-concebidas sobre esta filosofia de vida, vão-se desvanecendo.“Tentar classificar o Surf e restringi-lo a um conceito é difícil e limitador, pois este é um desporto e uma indústria que gera milhões, um modo ou uma filosofia de vida, mas acima de tudo é um momento de pausa onde tudo o que se passa em terra é esquecido e onde o reencontro connosco acontece, mesmo num dia gélido, de tons cinzentos, pouco convidativo a entrar no mar”, conclui André Meneses.

Texto e foto: José Calix

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Panterinhascompetem na ribalta

Nos escalões mais jovens do Boavista F. C. há uma equipa que detém o primeiro lugar da classificação e surge, assim, não só como uma lufada de ar fresco para os axadrezados, como passa a ser a esperança de um clube em sérias dificuldades.

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Com mais de um século, o Boavista terá sido o primeiro clube a praticar e a profissionalizar o futebol em Portugal. Hoje, com esforço e uma enorme devoção ao desporto adorado, o seu escalão Júnior E consegue captar a atenção da imprensa e dos grandes clubes nacionais mostrando ser possível obter, ainda que sem financiamento, bons resultados e participar num projecto gratificante (http://futebolformacaobfc.com.sapo.pt). “É uma experiência muito boa. Temos 16 jogadores, cada um com o seu feitio e a sua maneira de ser criança. Ter uma equipa como esta é quase como ter 16 filhos, com uma grande heterogeneidade, o que torna o desafio aliciante” explica o treinador Luís Pedroso, de 31 anos.

Os treinos são efectuados num campo de terra batida, emprestado pelo Pasteleira, com todas as implicações a nível físico que daí advêm. Para além disso, as deslocações necessárias ao longo da época, obrigam os treinadores e os pais dos pequenos jogadores a terem essa despesa extra. Contudo, na voz do treinador, a vontade em singrar fica bem patente: “o que nós estamos aqui a fazer é um grande favor ao clube… Treinamos de graça, temos gastos pessoais para além do combustível e abdicamos, muitas vezes, de um ou outro trabalho nas nossas actividades paralelas. Mas queremos continuar!”

Esta postura pode ser o prenúncio da recuperação deste clube da cidade do Porto. Para além da obtenção de resultados positivos nas camadas jovens, a qualidade dos recursos humanos poderá representar uma mudança na maneira de estar das gentes do clube, no mundo do Futebol. “Estamos a ajudar o clube com o nosso esforço, para que, juntos, consigamos

ultrapassar estas grandes dificuldades. Será um longo processo, em que todos temos de ajudar e, aos poucos, conseguiremos dar a volta à situação”, explica Luís Pedroso. A luta contra a adversidade é diária, mas ao mesmo tempo, esta situação tem reforçado a união e os resultados estão à vista. “Pais, directores, treinadores e jogadores fazem parte de um conjunto que explica a nossa força”, revela o treinador.

Dado o bom momento que atravessam, os adeptos acompanham, em massa, os jogos destes pequenos-grandes jogadores. Durante o treino, ouvimos Miguel Domingues. Este incondicional apoiante do clube axadrezado, não conteve a emoção de estar a viver um momento tão prometedor: “isto faz-nos sonhar um bocado e esperemos que esta equipa - que daqui a meia dúzia de anos é sénior - continue a ter estas vitórias para que, a médio prazo, voltemos a ter um conjunto de primeira liga.”

A imprensa, sabendo da sede de notícias positivas que os boavisteiros têm, está presente quase todos os dias nos treinos e jogos da formação para a Série 3 do Campeonato da Associação de Futebol do Porto, dando eco ao sucesso alcançado pelos jovens atletas.

Luka, a jovem promessa desta equipa infantil já tem nome de craque. Apesar dos seus 11 anos, o seu desempenho mereceu a atenção do F. C. Porto. Com a respiração ofegante, no fim do treino deu-nos a sua tímida opinião acerca deste passo importante para a sua ainda curta carreira: “quando o mister me disse eu não acreditei, só acreditei quando falei com os senhores do Porto. Aí vi que era verdade, mas só irei mesmo saber o que isto tudo representa quando vestir aquela camisola pela primeira vez…”

Texto e fotos: Filipe Loureiro

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