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Análise dos achados endoscópicos em pacientes com dispepsia atendidos no Serviço de Endoscopia do Hospital São João Batista, Criciúma – SC, no período de outubro de 2008 a março de 2009Analysis of endoscopic findings in patients with dyspepsia seen at the Endoscopy
Service of Hospital São João Batista in the period from October 2008 to March 2009
ResumoIntrodução: Dispepsia é o conjunto variável de sintomas
relacionados à dor ou queimação epigástrica, saciedade
precoce ou plenitude pós-prandial. Objetivo: Conhecer
a prevalência de achados endoscópicos em pacientes
portadores de dispepsia, submetidos à endoscopia
digestiva alta (EDA) no Serviço de Endoscopia do
Hospital São João Batista, em Criciúma (SC), no período
de outubro de 2008 a março de 2009. Metodologia: Estudo descritivo, observacional, retrospectivo, trans-
versal, composto por 324 laudos endoscópicos de
pacientes submetidos à endoscopia digestiva alta no
Hospital São João Batista, no período de 6 meses.
Os laudos pertenciam à pacientes do sexo masculino
e feminino entre 10 e 80 anos. Resultados: Foram
avaliados 369 laudos endoscópicos de pacientes
submetidos a endoscopia digestiva alta no Hospital
São João Batista, dos quais 324 laudos (88%) foram
selecionados, uma vez que pertenciam a pacientes
portadores de dispepsia, segundo os Critérios de Roma
III. Destes, 203 pertenciam a pacientes do sexo feminino
(63%) e 121 do sexo masculino (37%). A maioria dos
laudos endoscópicos incluídos no estudo apresentou
alterações à endoscopia (96,3%). A prevalência de
doença ulcerosa péptica foi de 9,9%, sendo a úlcera
péptica duodenal a responsável por 7,1% destes
achados e a úlcera péptica gástrica por 2,8%. Um
paciente apresentou câncer gástrico, sendo este achado
responsável por 0,3%. A endoscopia foi normal em 19,8%
dos laudos e 70% dos achados pertenciam a alterações
mínimas. Conclusões: Em nosso meio, a opção por
estratégias alternativas ao exame endoscópico para
pacientes dispépticos, sem investigação prévia, jovens
e adultos de média idade (abaixo de 45 anos), sem
sintomas de alarme, deve ser considerada.
Unitermos: Dispepsia, Endoscopia, Prevalência.
SummaryBackground: Dyspepsia is the variable set of symptoms
of epigastric pain or burning, early satiety or postprandial
fullness. Objective: To determine the prevalence of
endoscopic fi ndings in patients with dyspepsia who
underwent endoscopy at the Endoscopy Service of
St. John Baptist Hospital in Criciúma, in the period
October 2008 to March 2009. Methods: A descriptive,
observational, retrospective, cross, composed of 324
endoscopic reports in patients undergoing upper
endoscopy at St. John Baptist Hospital in Criciúma, in
the period of 6 months. The reports were from males
and females between 10 and 80 years. Results: We
evaluated 369 endoscopic reports in patients undergoing
endoscopy at the St. John Baptist Hospital, of which 324
reports (88%) were selected because they belonged to
patients with dyspepsia according to Rome III criteria.
Of these, 203 belonged to female patients (63%) and
121 males (37%). The majority of endoscopic reports in
the study showed changes in endoscopy (96.3%). The
prevalence of peptic ulcer disease was 9.9%, duodenal
1. Graduando em Medicina - Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). 2. Médico(a). Professor (a) titular do Curso de Medicina
da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). 3. Professor de Bioestatística do Curso de Medicina da Universidade do Extremo Sul
Catarinense (UNESC). Endereço para correspondência: Edson Souza Machado Durães - Rua João Johanny de Alcântara, 250 - Itajaí
– SC – Fazenda- CEP – 88306-120 [email protected]. Recebido em 11/08/2010. Aprovado em 27/09/2010.
Artigo Original
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(3):
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CURSO DE MEDICINA-UNIDA DE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE-UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE (UNESC)
EDSON SOUZA MACHADO DURÃES1; MARIANA ROCHA FABRIS
1; ALEXANDRE JOSÉ FARACO2; KRISTIAN
MADEIRA3; LÍGIA ROCHA DE LUCA
2
GED gastroenterol. endosc.dig. 2010: 29(3):73-78
Homenagem póstuma à professora e gastroenterologista Ligia Rocha de Luca
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Dispepsia e achados endoscópicos
ulcer was responsible for 7.1% of these fi ndings and gastric
ulcer by 2.8%. One patient had gastric cancer and that
was responsible for 0.3%. Endoscopy was normal in 19.8%
of reports and 70% belonged to the fi ndings of uncertain
clinical signifi cance or minor changes. Conclusion: In our
environment, the choice of alternative strategies to endoscopy
for dyspeptic patients, without prior investigation, youth
and adults of average age (below 45 years) without alarm
symptoms should be considered.
Keywords: Dyspepsia, Endoscopy, Prevalence.
Introdução
A dispepsia é uma das condições mórbidas mais prevalentes
relacionadas ao trato digestivo superior, acometendo em
média 25% da população e a sua incidência exata depende
de alguns fatores, entre eles a conceituação de dispepsia
utilizada e os métodos epidemiológicos empregados1,2. De
acordo com os Critérios de Roma III, dispepsia ou síndrome
dispéptica é o conjunto variável de sintomas relacionados à dor
ou queimação centrados no epigástrio, saciedade precoce ou
plenitude pós-prandial. Duração mínima dos sintomas é de 3
meses (12 semanas, não necessariamente consecutivas), com
o início da sintomatologia de, pelo menos, 6 meses antes do
diagnóstico3,4,5. Náusea, vômito e eructação também podem
estar associados. Dor nos hipocôndrios direito e esquerdo
não é considerada como sintoma dispéptico, assim como azia
ou pirose retroesternal e regurgitação não fazem parte do
conjunto de sintomas que integra a dispepsia, uma vez que
não mais se considera dispepsia do tipo refl uxo devido ao
moderado a alto valor preditivo destes sintomas para doença
do refl uxo gastroesofágico.
Constitui motivo frequente de consultas médicas, sendo em
torno de 5 a 10% das consultas a clínicos gerais e de 20
a 40% das consultas a especialistas1,2,6. A grande maioria
dos pacientes acometidos pela dispepsia não procura
auxílio médico, uma vez que apresentam sintomas de curta
duração e de intensidade leve a moderada, recorrendo
à automedicação. Em suas formas mais graves tem um
grande impacto na qualidade de vida dos pacientes e, de
forma geral, a dispepsia motiva grandes despesas diretas
(consultas, exames complementares, medicamentos) e
indiretas (absenteísmo, perda de produtividade)1,2.
Até o momento, em nosso país, faltam estudos embasados
na análise de conhecimentos científi cos para sistematizar
quais pacientes devem ser submetidos à endoscopia ou
os principais diagnósticos observados nas diferentes faixas
etárias. Assim, torna-se necessário a elaboração de estudos
sistematizados bem conduzidos em centros de endoscopia
para defi nição da realidade local acerca da prevalência dos
achados endoscópicos, com objetivo de orientar condutas
médicas individuais e institucionais no que diz respeito à
propedêutica e terapêutica das doenças do trato digestivo
superior6.
Neste contexto, propõe-se nesse trabalho conhecer a
prevalência de achados endoscópicos em pacientes
portadores de dispepsia (segundo Critérios de Roma III),
submetidos à endoscopia digestiva alta (EAD) no Serviço de
Endoscopia do Hospital São João Batista, em Criciúma (SC),
no período de outubro de 2008 a março de 2009.
Métodos
Foi realizado um estudo descritivo, observacional, retrospec-
tivo, transversal, composto por 369 laudos endoscópicos de
pacientes submetidos à EDA no Hospital São João Batista,
em Criciúma (SC), no período de outubro de 2008 a março
de 2009. Após critérios de inclusão e exclusão, 324 laudos
foram selecionados para a análise.
Foram incluídos no estudo os laudos dos pacientes admitidos
no serviço de referência para realização do exame endos-
cópico no período determinado, em regime exclusivamente
ambulatorial, encaminhados por convênios médicos, clínicas
privadas e por vários postos de atendimento em saúde
pública. Estes eram portadores de dispepsia não-investigada,
e classifi cados como dispépticos de acordo com os Critérios
de Roma III. Os pacientes participantes da pesquisa tiveram
dados demográfi cos e laudos completos, incluindo os dados
da anamnese, colhidos e anotados de forma sistemática e
rigorosamente de acordo com o protocolo defi nido pelos
médicos do serviço e pelo acadêmico Edson S. M. Durães.
Foram excluídos da análise os laudos de pacientes que
não preencheram os critérios de Roma III para dispepsia,
de pacientes em programas de terapêutica endoscópica
(escleroterapia de varizes, ligadura elástica, dilatação
esofagiana, tratamento de mega-esôfago e esclerose de
lesões sangrantes) e que apresentaram sintomas sugestivos
ou diagnóstico prévio de afecções esofágicas (disfagia, azia ou
pirose retroesternal, DRGE, hérnia de hiato por deslizamento,
esofagite, neoplasia esofagiana, entre outros). Também
foram rejeitados os laudos com anamnese incompleta ou
cujos dados não estavam devidamente registrados, e os de
pacientes que não completaram a endoscopia digestiva alta
por motivos alheios a um impedimento anatômico.
As variáveis do estudo foram: idade, sexo, sintomas
dispépticos (dor epigástrica, queimação epigástrica, plenitude
pós-prandial e saciedade precoce) e achados endoscópicos
(úlcera péptica gástrica e duodenal, câncer gástrico, gastrite
enantematosa e erosiva, atrofi a de mucosa, duodenite
inespecífi ca, normal e OUTROS). Em um primeiro momento,
incluímos no grupo denominado por nós de OUTROS, os
seguintes achados: pólipos, atrofi a mucosa gástrica (corpo
e antro), varizes de fundo gástrico, pâncreas ectópico. Em
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seguida, incluímos os achados de gastrite (enantematosa e
erosiva), duodenite inespecífi ca e atrofi a de mucosa intestinal
neste grupo, e passamos a considerá-lo como de alterações
mínimas ou de achados endoscópicos de signifi cância clínica
incerta. Após avaliação da frequência desses diagnósticos
isolados, foi realizado o levantamento das demais variáveis
isoladamente e em seguida as confrontamos.
Os dados dos prontuários dos pacientes pesquisados foram
organizados em um banco de dados, utilizando-se o software
estatístico Microsoft Excel®, após cadastro do levantamento
de dados em planilha, utilizando o mesmo. Para a análise
estatística e gráfi ca das variáveis observadas foram utilizados
os softwares estatísticos Microsoft Excel® e SPSS. O projeto
de pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética
da UNESC (Universidade do Extremo Sul Catarinense de
Criciúma-SC), sob o protocolo 367/2008.
Resultados
Em nosso estudo foram avaliados, retrospectivamente, 369
laudos endoscópicos de pacientes submetidos à EDA no
Hospital São João Batista, em Criciúma (SC), no período de
outubro de 2008 a março de 2009. Deste total, 324 laudos
(88%) foram selecionados, uma vez que pertenciam a
pacientes portadores de dispepsia, segundo os Critérios de
Roma III.
Dos 324 laudos endoscópicos incluídos no estudo, 203
pertenciam a pacientes do sexo feminino (63%) e 121 do
sexo masculino (37%). Para facilitar a análise, os pacientes
foram distribuídos em faixas etárias de dez anos. A grande
maioria dos laudos (72,5%) pertencia a pacientes entre 20 e
59 anos. A idade dos pacientes estudados variou de 10 a 86
anos (Gráfi co 1).
A maioria dos laudos endoscópicos incluídos no estudo
apresentou alterações à EDA (96,3%), como se pôde
observar no Gráfi co 2.
A discrepância encontrada no somatório das porcentagens
dos achados encontrados no gráfi co 2 é justifi cável, pois 44
pacientes apresentaram associação de dois ou três achados
endoscópicos ao exame (40 e 4 casos, respectivamente),
sendo então incluídas todas as alterações às análises em um
primeiro momento.
O principal achado endoscópico foi o de gastrite endos-
cópica enantematosa (45,7%), seguido da gastrite endos-
cópica erosiva (29,3%). Estas alterações infl amatórias na
mucosa gástrica estiveram presentes em 75% dos laudos
endoscópicos. A prevalência de doença ulcerosa péptica foi
de 9,9%, sendo a úlcera péptica duodenal a responsável por
7,1% destes achados e a úlcera péptica gástrica por 2,8%.
Um paciente apresentou câncer gástrico, sendo este achado
responsável por 0,3%.
A duodenite inespecífi ca foi responsável por 7,7% dos
achados e a atrofi a de mucosa intestinal por 1,9%. Neste
primeiro momento, fi zeram parte do grupo de achados
denominados por nós de OUTROS os seguintes achados:
pólipos, atrofi a de mucosa gástrica (corpo e antro), varizes
de fundo gástrico, pâncreas ectópico. Nesta primeira etapa,
5 pacientes foram classifi cados neste grupo (1,5%), sendo
o único achado entre eles o de lesão polipoide gástrica. Em
seguida, incluímos os achados de gastrite (enantematosa e
erosiva), duodenite inespecífi ca e atrofi a de mucosa intestinal
neste grupo, e passamos a considerá-lo como de alterações
mínimas ou de achados endoscópicos de signifi cância clínica
incerta, totalizando aproximadamente 70% dos achados
(gráfi co 3).
2,80
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
upg
7,1
upd
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45,7
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0,3
cag
1,9
am
7,7
DI
19,8
Nor
mal
1,5
Out
ros
achados endoscópicos
Per
cen
tual
Gráfi co 2 - Prevalência de achados endoscópicos em pacientes dispépticos submetidos à EDA no HSJB
19,14%
19,44%
17,14%
16,67%
7,10%
3,09%
6.17%
11.11%
Gráfi co 1 - Perfi l de Faixa Etária
10-20 20-30 30-40 40-50 50-60 60-70 70-80 80-90
sim
não
29
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E. S. M. DURÃES; M. R. FABRIS; A. J. FARACO; K. MADEIRA; L. R. LUCA
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A EDA foi normal em 19,8% dos laudos, sendo estes pacientes
classifi cados como portadores de dispepsia funcional,
segundo os critérios de Roma III. (gráfi co 3).
O sintoma dispéptico mais prevalente foi o de dor epigástrica
(79%), seguido da plenitude pós-prandial (24,4%), da
queimação epigástrica (23,1%) e, por último, a saciedade
precoce (16,4%). Difi cilmente o paciente dispéptico apresenta
apenas um sintoma isolado, sendo mais comum a associação
entre eles, fato este que explica a discrepância no somatório
das percentagens.
Após avaliação da prevalência dos achados endoscópicos e
das faixas etárias resolvemos realizar um cruzamento entre
estas duas variáveis. Dos portadores de gastrite endoscópica
enantematosa, 73,6% eram pacientes entre 20 e 59 anos, já
os que tiveram laudo de gastrite endoscópica erosiva estavam
entre 30 e 59 anos (64,2%).
Os portadores de úlcera péptica duodenal apresentaram 2
picos de faixa etária: primeiro de 20 a 39 anos e depois dos
60 aos 79 anos (aproximadamente 39%, respectivamente).
Igualmente dois picos foram encontrados nos que
apresentaram úlcera péptica gástrica: o primeiro dos 10 aos
19 anos (22%) e o segundo dos 50 aos 59 anos (33%).
O único achado de câncer gástrico foi em um paciente de
65 anos do sexo masculino. Atrofi a de mucosa intestinal
esteve presente em 50% dos pacientes entre 20 e 29 anos,
já a duodenite inespecífi ca teve destaque na faixa etária
entre 20 e 39 anos (40%) e outro pico entre 50 e 59 anos
(28%). Outros achados (lesão polipoide gástrica foi o único
neste grupo) tiveram seus representantes nas faixas etárias
entre 70 e 89 anos (80%) e outro pico, desta vez menor,
entre 40 e 49 anos (20%), no primeiro momento da análise
(antes de considerarmos este grupo como o de achados
de signifi cância clínica incerta ou alterações mínimas). No
segundo momento, a faixa etária predominante neste grupo
foi de 20 a 59 anos (75,6%).
Achados normais ao exame endoscópico foram encontrados
em todas as faixas etárias, exceto entre os de 80 e 89 anos,
com destaque entre 30 e 59 anos (57,8%). Após o cruzamento
destas variáveis, idade e achados endoscópicos, realizamos
o teste de análise de variância (ANOVA) e constatamos
que não há evidências sufi cientes, em nosso trabalho, para
afi rmar que a idade seja determinante do aparecimento de
algum achado endoscópico (p> 0,05).
Discussão
Foi verifi cado em nosso estudo que a maioria dos pacientes
encaminhados para o Serviço de Endoscopia Digestiva Alta
do Hospital São João Batista apresentava queixas de dispep-
sia (88%). Ocorreu predominância de pacientes entre 20 e 59
anos, e em relação à distribuição do grupo estudado quanto
a sexo, confi rmou-se o predomínio do feminino (63%) sobre
o masculino (37%). Alves, em sua tese de doutordo, estu-
dando as características clínicas e endoscópicas de 12.261
pacientes encaminhados para o exame endoscópico, encon-
trou percentuais semelhantes aos do nosso estudo. Verifi cou
que, aproximadamente, 80% dos pacientes apresentavam
sintomas dispépticos ou queixas de refl uxo gastroesofágico
e houve predomínio do sexo feminino (52,9%) entre os pa-
cientes estudados. A faixa etária predominante neste estudo
foi entre 25 e 55 anos6. Em 1994, Talley et al., em estudo
populacional avaliando a prevalência da dispepsia em uma
comunidade, verifi cou que 58% dos portadores de dispepsia
eram do sexo feminino6. O sexo feminino tem sido apontado
como fator de risco para distúrbios funcionais do trato gas-
trointestinal por muitos estudiosos. Outro fator relevante é a
crescente relação de distúrbios psiquiátricos, como ansieda-
de e depressão (mais frequentes entre as mulheres), e a
dispepsia funcional.
Geralmente, os portadores de dispepsia apresentam asso-
ciação de sintomas dispépticos, sendo que alguns trabalhos
demonstram média de 3 a 4 sintomas por paciente, fato
este também observado em nosso estudo e em um estudo
multicêntrico realizado por Thomson et al., no Canadá, em que
99,4% dos pacientes apresentavam no mínimo 3 sintomas
dispépticos7. O principal sintoma encontrado entre os
dispépticos submetidos à EDA no Hospital São João Batista
foi o de dor epigástrica (79%). Em 2004, Kolk, investigando
a associação dos sintomas dispépticos com os achados
endoscópicos em pacientes encaminhados para endoscopia
digestiva alta, na Estônia, país com alta prevalência de
infecção pelo H. pylori, encontrou uma prevalência de dor
epigástrica de 73%, achado semelhante ao nosso8.
Johnsen et al., em 1991, em clássico estudo de prevalência
realizado na Noruega, verifi cou que, dos seus 309 pacientes
Prevalência dos Achados Endoscópicos
2,79%
0,31%
19,81%
69,97%
7,12%
Gráfi co 3 - Perfi l de Faixa Etária
UPG UPD
CAG Outros Normal
Dispepsia e achados endoscópicos2
9(3
):7
3-7
8
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77
dispépticos estudados, 125 (40,5%) apresentavam queixas
de dor epigástrica9. Avaliando a prevalência de achados
endoscópicos em adolescentes (11 a 18 anos), Okello
verifi cou que a principal justifi cativa para realização da EDA
foi a de dor epigástrica (67,4%), seguida pela dispepsia
(11,9%), com predomínio do sexo feminino (71,8%) sobre o
masculino (28,2%)10.
Após levantamento dos exames endoscópicos em nosso
estudo, constatamos alterações variáveis na grande maioria
dos casos (96,3%) e os exames foram normais em 19,8%.
Na Holanda, em 1994, foi realizado um estudo transversal e
multicêntrico para avaliar a prevalência de doenças digestivas
altas em centro de endoscopia digestiva, no qual, após
levantamento de dados, foi verifi cado que 16% dos pacientes
apresentaram dispepsia funcional (Numans, 1994 apud Alves,
2006). Um estudo prospectivo escocês utilizou os sintomas
dispépticos como critério de inclusão dos pacientes, sem no
entanto, agrupar esses sintomas, observou que a dispepsia
funcional foi diagnosticada em 22% dos casos (Crean, 1994
apud Alves, 2006).
A discrepância no somatório das percentagens dos exames
endoscópicos em nosso estudo explica-se da seguinte ma-
neira. Em um primeiro momento, consideramos todos
os achados endoscópicos incluídos no estudo, indepen-
dentemente de sua relevância clínica, sendo que alguns
pacientes apresentaram associação de achados ao exame
endoscópico, que acabamos considerando também para
análise. Em um segundo momento, resolvemos considerar os
achados como pertencentes a 2 grupos - os de relevância
clínica indiscutível (úlcera péptica gástrica, duodenal e
CA gástrico), responsáveis por 10,2% dos achados, e os
de alterações mínimas e/ou de signifi cado clínico incerto
(gastrite, duodenite inespecífi ca e atrofi a de mucosa que
foram adicionados ao grupo referente a OUTROS achados),
presentes em aproximadamente 70% dos laudos. Desta
maneira, conseguimos comparar, com maior propriedade,
nossos achados com os dados encontrados em outros
estudos publicados.
Em 2006, Alves defendeu tese de doutorado junto à
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais, estudando as características clínicas e endoscópicas
de pacientes encaminhados para o exame endoscópico e
verifi cou que foi normal ou mostrou alterações mínimas em
51,7% dos casos (Alves, 2006). Johnsen em 1991 verifi cou,
em seu estudo, que a prevalência de exames endoscópicos
normais entre os dispépticos foi de 53,5%, concluindo-se
que a maioria dos pacientes dispépticos de uma determinada
população é provavelmente portadora de uma síndrome
funcional. Quando realizada correlação com a histologia, esse
percentual caiu para 10,3% (Johnsen, 1991).
A inclusão dos diagnósticos como os de gastrite (enantematosa
e erosiva) e duodenite inespecífi ca, por exemplo, no grupo
de alterações mínimas sustentou-se no fato de existir pobre
correlação destes achados com os sintomas dispépticos e/
ou pela abordagem terapêutica ser semelhante à empregada
nos portadores de dispepsia funcional. Soma-se a isso o fato
de que estudos, utilizando grupos-controle, demonstraram
grande prevalência destes diagnósticos entre os indivíduos
assintomáticos 6,7,9,11.
Em nosso estudo, as alterações infl amatórias da mucosa
gástrica estiveram presentes em 75% dos laudos
endoscópicos, sendo que 45,7% destes foram classifi cados
como gastrite endoscópica enantematosa e 29,3% como
gastrite endoscópica erosiva. A duodenite inespecífi ca foi
responsável por 7,7% dos achados. Erosões pré-pilóricas são
achados frequentes à endoscopia, sendo consideradas como
marcadores do diagnóstico endoscópico de gastrite crônica6.
Johnsen et al., em estudo prospectivo comparando pacientes
sintomáticos com controles assintomáticos, ao relacionarem
alterações endoscópicas e histológicas, encontraram, res-
pectivamente, taxas de gastrite na ordem de 20,1% e 16,1%
à endoscopia de 43,2% e 37,4% à histologia e taxas de
duodenite, de 20,1% e 8,8% à endoscopia e de 62,3% e 70%
à histologia9.
Bernersen et al., em estudo endoscópico populacional, encon-
traram o diagnóstico de gastrite crônica em 38,5% dos
dispépticos e em 35,1% dos controles assintomáticos6. Em
2002, Tytgat, avaliando o papel da endoscopia e da biópsia
na abordagem do paciente dispéptico, verifi cou taxas gastrite
superfi cial de 22% e 16% e de duodenite na ordem de 20% e
9%, em pacientes dispépticos e de controles assintomáticos,
respectivamente11. Kruening et al., avaliando a histologia
de indivíduos assintomáticos, encontraram taxas de 12%
de duodenite inespecífi ca6. Em nosso estudo, os pacientes
classifi cados como portadores de alterações mínimas encon-
traram-se na faixa etária entre 20 e 59 anos, coincidindo
com a faixa etária mais prevalente encontrada nos pacientes
dispépticos submetidos ao exame endoscópico no Serviço
de Endoscopia do Hospital São João Batista.
Encontramos um percentual de doença ulcerosa péptica na
ordem de 9,9%, sendo a úlcera péptica duodenal responsável
por 7,1% deste total e a úlcera péptica gástrica por 2,8%.
Notamos um predomínio destes achados nos pacientes entre
50 e 79 anos. Tytgat em 2002, após levantamento de mais
de 22 estudos, observou uma prevalência média de doença
ulcerosa péptica de 17%, úlcera péptica gástrica de 5,5%
e úlcera péptica duodenal de 10% entre os dispépticos11.
Johnsen et al. encontraram prevalência de 8,4% de úlcera
péptica em seu estudo, achado semelhante ao nosso9.
Thomson et al., em estudo multicêntrico realizado no
Canadá, com objetivo de verifi car a frequência de achados
endoscópicos clinicamente signifi cantes em portadores de
dispepsia não investigada, encontrou prevalência de doença
ulcerosa péptica de 5,3%, sendo a úlcera gástrica responsável
por 3% deste total e a úlcera duodenal por 2,8%7. Em 2006,
29
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E. S. M. DURÃES; M. R. FABRIS; A. J. FARACO; K. MADEIRA; L. R. LUCA
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Alves em sua tese de doutorado, estudando as características clínicas e endoscópicas de pacientes encaminhados a um serviço de endoscopia de referência, verifi cou aumento gradativo na prevalência de úlcera péptica a partir dos 30 anos. Os portadores de úlcera duodenal apresentaram maior prevalência entre a quarta e quinta décadas de vida, e os portadores de úlcera gástrica na década seguinte. Nos pacientes com dispepsia tipo úlcera, o diagnóstico de úlcera gástrica ocorreu em 3,3% dos pacientes abaixo de 30 anos e em 15,5% dos acima de 50 anos. Já a úlcera duodenal, neste grupo, foi responsável por 31% nos pacientes com até 30 anos e 36,6% nos pacientes entre 45 e 50 anos6.
Em nosso estudo, a neoplasia gástrica foi diagnosticada em um paciente de 65 anos, do sexo masculino, cuja sintomatologia era de plenitude pós-prandial (0,3%). Tytgat em seu estudo, após levantamento em outras 22 publicações, encontrou taxas de neoplasia gástrica que variaram de 0 a 3,4% (média de 1,2%)11. Achado semelhante ao encontrado por Alves, em sua tese de doutorado, que diagnosticou a neoplasia gástrica em 141 pacientes (1,2%), dos 12.261 pacientes incluídos neste estudo. Verifi cou também que a distribuição do câncer gástrico em relação ao sexo e à idade era de 1,8 homens para uma mulher, com média de idade de 65 anos6. Thomson et al., em estudo multicêntrico com 1.040 pacientes, avaliando a frequência dos achados endoscópicos clinicamente signi-fi cantes, encontraram 2 casos de neoplasia gástrica7.
A Associação Americana de Gastroenterologia (AGA), entre outros grupos de estudiosos e associações, recomenda que pacientes dispépticos jovens (abaixo de 45 anos), sem sintomas de alarme e sem investigação prévia, devam ser submetidos a teste não-invasivo para o diagnóstico de H. pylori. Recomendam a terapêutica de erradicação empírica para os portadores da bactéria e o emprego de medicações antissecretoras, por seis a oito semanas, nos casos de testes negativos. A endoscopia estará indicada para os pacientes que persistirem sintomáticos6,7,11.
Baseado no levantamento bibliográfi co e análise dos achados endoscópicos, dos 324 laudos de pacientes dispépticos selecionados em nosso estudo, no período de outubro de 2008 a março de 2009, podemos concluir que a maioria dos pacientes encaminhados para realização de endoscopia digestiva alta apresenta dispepsia, sendo a dor epigástrica o sintoma dispéptico mais frequente. A maioria dos pacientes que realiza o exame endoscópico é do sexo feminino. Alguns autores consideram o gênero feminino como fator de risco para dispepsia funcional.
A maioria das lesões ulceradas pépticas é de localização duodenal e, com o avançar da idade, a chance de processos orgânicos à EDA aumenta. A maioria dos pacientes encami-nhados para realização da EDA é portador de alterações de signifi cado clínico incerto (alterações mínimas) e/ou apresentam exames normais à visão endoscópica; desta forma, em nosso meio, a opção por estratégias alternativas ao exame endoscópico para pacientes dispépticos, sem investigação prévia, jovens e adultos de média idade (abaixo de 45 anos), sem sintomas de alarme, deve ser considerada.
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Análise dos achados endoscópicos em pacientes com dispepsia atendidos no serviço de endoscopia do Hospital São João Batista, Criciúma – SC, no período de outubro de 2008 a março de 2009
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