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Prémio GAZETA do Tâmega e Sousa ao Nordeste repór ter do marão Nº 1266 | agosto ' 12 | Ano 29 | Mensal | Assinatura Nac. 40€ | Diretor: Jorge Sousa | Edição: Tâmegapress | Redação: Marco de Canaveses | t. 910 536 928 | Tiragem média: 20 a 30.000 ex. OFERECEMOS LEITURA. AGOSTO ’ 12 Tempos novos, velhas profissões Um moleiro à antiga no rio Sousa Agricultores com negócio fraco no mercado de Vila Real Novos rurais do Tâmega apostam nos frutos vermelhos Pasteleiro de Bragança faz da massa uma arte

Reporter do Marao

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Revista Mensal de Informação. Tiragem média de 20 a 30 mil exemplares. Distritos do Porto, Vila Real e Bragança e parte dos de Viseu, Aveiro e Braga. Regiões do Douro, Tâmega e Sousa, Trás-os-Montes

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Tempos novos,velhas profissõesUm moleiro à antiga no rio Sousa Agricultores com negócio fraco no mercado de Vila Real Novos rurais do Tâmega apostam nos frutos vermelhos Pasteleiro de Bragança faz da massa uma arte

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Numa viagem ao passado, os moinhos abundam nas levadas do rio, os moleiros trabalham horas e horas para recolherem a farinha e o centeio parece nunca mais acabar. Nesse passado, o ofício é natural e frequente. Atualmente, encontrar um moinho a funcionar à moda antiga é uma raridade. A profissão é do passado mas o conhecimento não se perdeu no tempo. Ainda existem jovens que não querem deixar morrer a tradição e que são movidos por uma força maior. São dinâmicos, conhecedores e com vontade de voltar a dar vida ao que parece ter morrido no tempo. Em Aguiar de Sousa, Paredes, Paulo é o exemplo de que as velhas profissões podem ser recuperadas nos tempos modernos.

Paulo Duarte tem o empreendedorismo a correr-lhe pelas veias, a paixão pela fa-rinha a alimentar-lhe a alma e o amor pelas origens a dar-lhe força para fazer renascer o que o tempo foi apagando. Aos 38 anos, Paulo produz farinha à moda antiga, de mi-lho e centeio, mas quer chegar mais longe num mercado que ainda pode ser explo-rado. O incentivo de 162 mil euros do PRODER [Programa de Desenvolvimento Rural] foi a alavanca que Paulo precisou para se lançar numa aventura consciente.

Os dias de Paulo são passados num pequeno moinho, no rio Sousa. Lá dentro, vol-ta-se ao passado com um sabor a tradição, que o jovem empresário quer fazer chegar a mais casas. As quatro mós funcionam dia e noite sem parar. A moega segura o cere-al que cai, lentamente, no quelho e é moído transformando-se em farinha. Por dia, o ritual repete-se vezes sem conta produzindo cerca de sessenta quilos de farinha por dia, o que corresponde a quase duas toneladas por mês, por cada mó.

O pequeno moinho, que deverá ser do século XVIII, rodeado por uma paisagem difícil de descrever, era do avô de Paulo e foi passando de geração em geração. O amor que tem ao moinho fez com que Paulo concorresse ao PRODER de modo a ob-ter financiamento para recuperar o moinho e construir uma fábrica com moagem elétrica. “Eu cresci sempre no meio deste negócio e sempre gostei disto. Quero muito

Além da recuperação do moinho (com quatro mós de pedra) está a construir uma moagem industrial

Joana Vales | [email protected] | Fotos | J.S.

Paulo mói farinha à moda antiga

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continuar neste ramo e criar condições para evoluir”, contou Paulo Duarte.

O investimento total da Moagem Duarte e Amé-lia, Lda. é de 270.570,21 euros em que o PRODER fi-nanciou 60 por cento do capital. “Até ao final do ano tenho que ter a moagem a funcionar. Estou otimista e sei que posso conseguir crescer e entrar no mercado”, salientou. Paulo irá ainda criar, pelo menos, dois pos-tos de trabalho. “Espero que as coisas evoluam favo-ravelmente e que tenhamos clientes de forma a po-der dar emprego a mais pessoas”.

Farinha moída na pedraé uma raridade

Paulo sonha em recuperar o moinho e continuar a tirar farinha moída pela força da mó de pedra e pela água que corre na levada. “Atualmente, é muito difí-cil encontrar quem ainda faça farinha assim, de forma artesanal. Essa é a minha grande vantagem e gostava de entrar num mercado que ainda está pouco explo-rado. Temos farinha com muita qualidade e isso tam-bém é cada vez mais importante para o consumidor”, explicou.

Se há 20 anos os moinhos se espalhavam ao lon-go do rio Sousa e transformavam quilos e quilos de cereais, hoje Paulo é dos poucos sobreviventes. “Este é um trabalho muito duro em termos físicos e que exige muito de nós. O que produzimos, vendemos a algumas padarias da zona e a particulares, mas que-remos chegar mais longe”, referiu.

O próximo passo de Paulo é a certificação para poder expandir a marca. “Queremos entrar no merca-

do dos produtos biológicos, conquistar novos clien-tes e oferecer qualidade”.

A farinha que sai do pequeno moinho está a ser vendida a 40 cêntimos o quilo, mas o negócio está su-jeito às oscilações do mercado. “As flutuações nos ce-reais podem ser comparadas às do petróleo. Ultima-mente o preço está sempre a subir e para nós é muito difícil competir com as grandes superfícies porque não conseguimos preço do cereal tão baixo”, disse.

Moagem em funcionamentoaté ao fim do ano

A nova fábrica vai-lhe permitir armazenar mais cereal e produzir mais. “Com a parte mecanizada não quero competir com as grandes moagens, mas sim colocar no mercado um produto diferente e [sobre-tudo] entrar num mercado mais exigente a nível de qualidade. Trabalhamos com tudo o que é nacional e isso ajuda-nos a marcar a diferença. Os nossos forne-cedores também têm o produto certificado o que é uma mais-valia para nós”, explicou Paulo.

Na fábrica que está a ser construída, em Aguiar de Sousa, os quatro silos serão capazes de produzir 300 quilos de farinha/hora e três mil quilos hora de farinha para uso animal. “A produção será muitíssimo maior e a ideia é colocar o produto ensacado e emba-lado para ser vendido ao quilo em lojas e supermer-cados”, revelou.

Se no pequeno moinho, Paulo está dependente da água, na fábrica não terá essa preocupação. “Para fazer a farinha de forma tradicional, estamos com-pletamente dependentes da água. Nos meses mui-

to secos, por vezes, temos de parar a produção. Po-rém, quando chove muito e a água corre na levada com muita força temos também de ter cuidados re-dobrados para controlar a grossura da farinha”, expli-cou Paulo, que conhece todos os segredos da arte de fazer farinha.

Sem recurso a crédito bancário

Os sonhos do jovem empreendedor estão bem definidos. “O que mais quero é ver a fábrica a funcio-nar, o moinho recuperado e o negócio a crescer. A mi-nha filha ainda é muito pequena mas gostava que, um dia, alguém desse continuidade a todo este esfor-ço que estamos a fazer para conseguir evoluir e dei-xar a nossa marca”, disse com otimismo.

Para completar o resto do investimento, a empre-sa de Paulo [que tem sociedade com um irmão] não recorreu a financiamento bancário, tendo os irmãos apostado as economias de uma vida. “Não nos qui-semos meter com créditos porque é sempre muito complicado. Investimos neste projeto as nossas eco-nomias e agora só queremos que as coisas corram bem”, desabafou.

Até que a fábrica fique a funcionar, o que se es-pera que aconteça até ao final do ano, Paulo Duarte continua no seu pequeno moinho a recolher a fari-nha que todos os dias é moída e a alimentar a alma com a paixão que o move.

Apesar dos novos tempos, as velhas tradições continuam vivas e correm hoje em sangue novo...

Além da recuperação do moinho (com quatro mós de pedra) está a construir uma moagem industrial

Paulo mói farinha à moda antiga

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Quem pisa o mercado de Vila Real reconhe-ce, quase de imediato, o rosto de Ester Lisboa, 65 anos. “A minha mãe trouxe-me na barriga e, depois, ao colo. Toda a vida vendi aqui.” O olhar saltitante, a atitude persistente e o jeito desen-rascado valem-lhe a atenção dos fregueses. “Vendo tomates, pimentos, alfaces, batatas, feijões, mas, mesmo os produtos tendo mais qualidade, as pessoas não dão valor, querem as coisas dadas.” Ultimamente, o negócio “não dá para o trabalho”, mas “o dinheiro não vai ter a casa e temos que o esgravatar”. Por isso, Ester vai repetindo o pregão: “oh patrão, leve a tron-cha [couve-portuguesa]”.

Para esta vendedora de Relvas, a jornada de trabalho começa às 5h e termina às 13h. Perante a falta de clientela, o desânimo toma--lhe conta da alma: “vale mais abandonar isto de uma vez e comermos o que temos, porque não dá para nada”. “Os supermercados corta-ram-nos as rédeas, mas tudo bem. Cada qual tem que governar a vida. Eles fazem tudo com tratores e máquinas. Os nossos braços é que têm de fazer tudo.”

“Oh patrão, leve a troncha”, matraqueia Es-ter e um cliente para, mostra-se interessado, ouve as explicações sobre o melhor modo de plantar e decide-se a levar. Quem estende as

mãos para receber o saco é Fernando Costa, 57 anos, que continua a alimentar o hábito de vir ao mercado pelo “preço e para conviver um bocado”. “Vou plantar este molho de couves para comer no Natal, se cá vier”, refere.

Emigrado em França, este funcionário pú-blico considera que “o pessoal devia fazer mais pela agricultura”. “Antigamente, tinha cabras, vacas, milho, toda a lavoira e bem me ajudou. Se se apostasse na agricultura, já não havia tanta crise, mas hoje ninguém granjeia nada”, sublinha.

Alcina Teixeira, 52 anos, espera que os clien-tes ultrapassem o corredor das hortícolas e cheguem ao das frutas. Há 25 anos que o mer-cado é uma espécie de segunda casa. “Antiga-mente, havia mais gente. Agora, somos mais vendedores do que compradores.”

Alcina vem de Sabroso e garante que, por ali, se vende com mais qualidade e a melhores preços, mas “as pessoas não vêm”. “Antes que-rem ir às grandes superfícies. Aqui, também não temos estacionamento e, por isso, tam-bém não vêm.”

Rosalina Costa, vendedora de queijos, consi-dera que o mercado de Vila Real “morreu depois de abriram esses grandes”. “Isto agora está ruim, porque o povo não tem dinheiro e não pode

gastar. De ano para ano, está pior”, acrescenta.Desde mocinha que Maria Isilda Alves vem

ao mercado fazer compras. Agora “com outra higiene e muito mais bonito do que antiga-mente”, o mercado é, de longe, o seu local de eleição: “além de termos já os hipermercados, este é o lugar da gente fazer as compras”. “Te-mos de ir aonde é mais económico, porque da maneira que estamos hoje em dia…”, confessa. Aos 57 anos, Maria Isilda reconhece que nou-tros tempos havia “muitos mais clientes”. “Este mês, há muita gente, mas quando acabam os emigrantes, isto fica triste.”

“Não produzopara vir vender”

A presença de Eduardo Montes por entre as bancadas do mercado é ditada pelo volume da sua produção agrícola. Só vende “alguma coi-sa” do que lhe sobra e “é mais para não deixar estragar, porque não vale a pena andar a culti-var para vir vender”. “Já vendo aqui desde que o mercado abriu, por volta de 1992, mas isto é quase um vício”, diz. As transações dependem “do dia”: “lá vou vendendo, mas hoje é um dia muito, muito fraco”.

Aos 72 anos, Eduardo Montes considera que “estas grandes superfícies acabaram com o mercado”, onde pesa ainda a questão do es-tacionamento.

“O município cobra pelos lugares de esta-cionamento e pela banca. Às terças e sextas, devia ser gratuito para quem compra e para quem vende”, defende. Depois, a clientela que chega ao mercado “só vem para regatear. “Che-gam às grandes superfícies e pagam o que está marcado. Aqui, se a gente pede 50 cênti-mos, querem por 20 ou 30 cêntimos.”

Apesar da crise, clientes são cada vez menosO cheiro a terra fresca e a sobreposição dos pregões povoam a atmosfera do mercado municipal de Vila Real. Os produtos primam pela qualidade e, não raras vezes, pelo preço. Por ali, ainda se vende fiado e o atendimento é sempre personalizado. Os vendedores, esses, queixam-se que há cada vez menos clientes e que os negócios têm os dias contados. Contudo, a maior praça comercial de Vila Real continua a sobreviver à concorrência dos hipermercados e à falta de estacionamento.

Patrícia Posse | [email protected] | Fotos | P. P.

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As receitas obtidas com o feijão, a cebola, a batata, a fava ou a ervilha de Parada de Cunhos “pouco ajudam” a aliviar o seu orçamento. “A gente perde uma manhã e gasta no transporte para vender as coisitas, mas, muitas das vezes, não se vai para casa de mãos vazias.”

Na base da pirâmidedas necessidades

“As pessoas estão sem dinheiro e a flor está em último lugar”, constata Maria Alves Ferreira, 69 anos. Bem no centro do mercado, concen-tram-se as floristas e escasseiam os fregueses. Já a manhã ia avançada quando Maria despa-chou dois ramos de coroas imperiais. “Só me estreei agora e são 10h, daqui a pouco já não anda ninguém.”

Esta florista de Ferreiros encarregou-se do negócio da filha que, por causa “da crise ser tão grande”, se viu obrigada a emigrar. “Vou ven-der até aos fiéis e, depois, acabou, porque não se vende nadinha.”

As flores são usadas, essencialmente, para decorar capelas e igrejas, sepulturas e andores, sendo que o preço resume as preferências.

“A margarida veio roubar muito a venda da coroa, porque esta é mais cara. Cinco pés de margaridas são cinco euros”, informa. Ao co-nhecer o valor, o interesse da cliente esmorece e é vê-la dirigir-se à concorrência. “Se eu fizer cinco euros, aquela já faz menos 50 cêntimos”, lamenta.

Maria Alves Ferreira assegura que “não dá para ter rendimento”, porque as sementes têm de ser lançadas à terra, é necessário regar, cui-dar, aplicar algum remédio em caso de necessi-dade e, depois, cortar as flores, molhá-las e tra-zê-las para o mercado. “É demasiado trabalho…”

Apesar da crise, clientes são cada vez menos

Aos 18 anos, Augusta Silva é a vendedora mais jovem do mercado de Vila Real. Com um sorriso fran-co e uma prontidão dili-gente, vai atendendo os clientes que se abeiram da sua banca. Depois de con-cluir o 9º ano, Augusta aca-bou por abraçar o mesmo ofício da mãe, pois “não há hipóteses de trabalho e te-mos que nos dedicar a al-guma coisa”. “Há uns anos, escoava tudo e ainda ía-mos buscar mais. Agora, para vender isto, é cada vez pior e ainda levo muita coisa para casa”, relata.

No entanto, o seu traba-lho não começa e acaba no mercado municipal. “Es-tou aqui desde as três da manhã e só vou para casa às 20h, porque ainda vou vender pelas aldeias.” O que lucra com tanta corre-ria permite-lhe governar a vida, mas “é muito difícil”. “Tem que ser muita hora de trabalho para tirar um rendimento e é pequeno.”

Por 1,30 euros/dia, Au-gusta pode colocar sobre a banca a fruta e os legumes que, previamente, compra aos agricultores da região. “Em termos de qualidade, compensa comprar aqui, mas em termos de preço, é difícil concorrer com os hi-permercados”, admite.

Augusta encontrou alternativa à falta de emprego

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São jovens, formados e com uma visão estratégica. Chamam-lhe os “novos rurais” do Tâmega, uma geração que olha para as ter-ras e quintas abandonadas des-ta região com “olhos de ver” e nelas veem uma oportunidade: uma nova vida, a partir daquilo que a terra oferece. Dos “antigos rurais” herdaram o minifúndio mas pouco mais. Há respeito pe-las velhas tradições, sim, mas há que olhar para além dos merca-dos tradicionais: é preciso compe-tir nos mercados estrangeiros e, para isso, há que modernizar com novas culturas, novas formas de explorar a terra.

Apesar de ter um bom emprego na Bairrada, como técnica em vitivinicultura para um dos maiores produtores de vinhos nacionais, Rute Cardoso nun-ca se esqueceu da quinta em Amarante herdada da sua avó.

Em meados de 2010 decidiu que tinha acumula-do a experiência necessária para se aventurar na pro-dução de frutos vermelhos e “aviou as malas” e famí-

lia, rumo à freguesia de Lomba.Depois de pesquisar bem o assunto da sua pro-

dução, decidiu que a cultura de pequenos frutos, no-meadamente framboesas, mirtilos e amoras, é um negócio rentável e onde Portugal tem condições de competir.

“Este tipo de frutos é muito apreciado na Euro-pa pelo seu elevado valor nutricional. Não precisam

de grandes espaços para o seu cultivo, dão-se bem com o clima da região e têm um período de pratelei-ra prolongado”, explica a engenheira agrónoma.

Certificação de qualidade é a chave para maiores mercados

A empresa que formou, a Naturpassion, está há dois anos no mercado e projeta ter em finais de 2012 uma produção bruta de cerca de 20 toneladas de pe-quenos frutos que serão exportados para a França, Bélgica e Países Baixos.

Na mira da empresa estão ainda os países nórdi-cos mas para entrar naquele mercado há que certi-ficar a produção [atualmente em modo de "produ-ção integrada"] segundo normas mais específicas de qualidade e de proteção ambiental.

“A certificação vai-nos permitir o acesso ao merca-do nórdico. Utilizamos fungicidas só quando absolu-tamente necessário", explica a produtora, que afasta a opção pelo regime biológico "por não existir valoriza-ção ao nível do preço".

Na Europa, o produto português agrícola é sinónimo de qualidade

Ao contrário do que se pensa dentro de frontei-ras lusas, a qualidade dos produtos agrícolas é um dos fatores que Portugal tem a seu favor nos merca-dos estrangeiros. É uma realidade que Rute Cardo-so tem encontrado no terreno ao longo dos últimos dois anos e algo que, sublinha, devia ser “explorado

Paulo Alexandre Teixeira | [email protected] | Fotos P.A.T. e D.R.

Empresário agrícola é profissão emergenteProdução de frutos vermelhos temexportação (quase) assegurada

Execução do PRODER revela que hácada vez mais jovens na agricultura

Rute Cardoso

Page 7: Reporter do Marao

Empresário agrícola é profissão emergente

ao máximo” pelos produtores nacionais.“Podemos agradecer aos nossos vi-

nhos. Temos fama no mundo de sermos bons vitivinicultores e isso é uma opor-tunidade de ouro para nos afirmarmos com outros produtos da terra”, refere.

E para que a qualidade seja possível, o regresso à terra deve ser realizado de forma profissional, com “projetos sérios e muito bem pensados antes de arrancar”.

“Não há facilidades neste tipo de tra-balho. É duro e comporta um alto risco para o qual o produtor tem que se pre-parar com treino, formação e um pouco de sorte. A mentalidade de atirar semen-tes ao ar e esperar que o fruto cresça não cabe aqui”, conclui Rute Cardoso.

PRODER alivia o risco do investimento…

Armando Soares, consultor técnico em agronomia, sublinha que o risco é real e que o jovem agricultor que se de-dicar a este tipo de cultura terá que es-perar, em média, cinco anos até que o seu projeto comece a ser rentável: “Até lá, é só despesas”, afirma.

“São cinco anos a pagar as despesas e as obrigações fiscais. É um dos maio-res problemas que o jovem agricultor enfrenta hoje em dia: se o projeto não lhe correr bem, são cinco anos da sua vida em que poderia ter feito outra coi-sa”, adverte.

Licenciado em agronomia, Arman-do Soares lançou vários projetos de pro-dução de mirtilo em Santa Cruz do Dou-ro e Santa Leocádia, Baião, e espera que com a parceria de outros agricultores, o número de explorações aumente nesta região. O técnico agrónomo calcula que o total dos projetos atualmente em cur-so ou em fase de avaliação do PRODER para a sua zona ocupe cerca de 15 ha de terrenos e que a produção, exclusi-

vamente em regime biológico, chegue às 20 toneladas de mirtilo por hectare.

Apesar dos problemas financeiros que o país e o resto da Europa atraves-sam atualmente, há ainda programas comunitários a que os potenciais agri-cultores podem recorrer para realizar os seus projetos.

Entretanto, foi anunciado pelo MI-nistério da Agricultura que desde que foi criado, em dezembro de 2007, até ju-lho passado, o PRODER já apoiou cerca de 4 500 projetos de instalação de jo-vens agricultores e daqueles o Norte re-presenta cerca de 55 por cento.

Na região do Baixo Tâmega, graças à implementação de um subprogra-ma deste projeto, o LEADER +, já foram aprovados, desde 2009, mais de 30 pro-jetos agrícolas para incentivar a produ-ção de culturas tão diversas como ci-trinos, ervas aromáticas, cogumelos e hortícolas.

“É na realidade uma forma de aliviar o risco, pelo menos pela parte do inves-timento, que um jovem agricultor tem que fazer inicialmente”, explica Arman-do Soares.

Estado tem que assumir um papel de regulador

Por outro lado, o jovem agricultor considera que a falta de regulação por parte do Estado neste setor representa, na sua opinião, um dos maiores riscos para os novos produtores.

“Em termos hipotéticos, a entrada em cena de um grande produtor com capacidade para plantar 100 ha de mir-tilo, por exemplo, arrasaria todas as ou-tras produções nacionais. O Estado tem que olhar para este e outros cenários possíveis e assumir um papel de regu-lador para assegurar o equilíbrio na pro-dução”, conclui.

Plantações de mirtilo avançam nos concelhos de Amarante e Baião

Execução do PRODER revela que hácada vez mais jovens na agricultura

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Albufeira da Pala volta a receber motonáuticaProva decorre a 29 e 30 de setembro e conta para o campeonato das categorias 750, T850 e F4Uma década depois da última prova a contar para o Nacional da modalidade, a albufeira da Pala, em Baião, na margem di-reita do rio Douro, volta a receber as embarcações de três ca-tegorias de motonáutica, um evento patrocinado pela Câma-ra Municipal de Baião e realizado em parceria com a Federação Portuguesa de Motonáutica (FPM) e o Clube Náutico de Riba-douro.

É preciso recuar ao ano de 2002 para se recordar o último evento realiza-do na albufeira da Pala. Antes, realizaram-se provas para o campeonato oficial da modalidade, que começaram em 1990. A projeção da prova durante mais de uma década foi tal que acabou por ser palco de duas grandes competições internacionais.

Naquele intervalo temporal tiveram lugar provas do Campeonato da Euro-pa de Fórmula 2 (em 1999) e do Campeonato do Mundo de Fórmula 3 (2001).

Segundo fonte do clube náutico, a pista de Ribadouro (criada pelas águas da albufeira da barragem de Carrapatelo) foi considerada em 1999 pela União Internacional de Motonáutica de "nível 1" e classificada como "uma das melho-res da Europa". O clube também mereceu classificação internacional do idên-tico nível, dando-o como apto a realizar qualquer tipo de prova do calendário

mundial de motonáutica.Este regresso da modalidade a Baião, é saudado pelo vereador do pelouro

do Desporto, Paulo Pereira. “Trata-se do regresso de um evento de grande im-portância desportiva, que durante vários anos se realizou na zona da Pala, que para além da enorme beleza paisagística, possui excelentes condições para a realização de provas de desportos náuticos”.

Além do programa de competição das três categorias a contar para o cam-peonato nacional (750, T850, em monocasco e Fórmula 4, tipo catamaran), terá ainda lugar uma etapa da “Fórmula Futuro”, prova disputada com barcos “semi--rígidos” e na qual podem participar jovens dos 8 aos 16 anos de idade.

Segundo anunciou a autarquia, estão abertas as inscrições para os jovens de Baião, sendo condição fundamental que saibam nadar. A embarcação, bem como o equipamento de segurança, colete e capacete, são garantidos pela or-ganização, que proporciona também um monitor para acompanhar os parti-cipantes durante a prova.

Os jovens que queiram inscrever-se na “Fórmula Futuro” devem contactar o pelouro do Desporto da CM Baião, no edifício dos Paços do Concelho ou pelo e-mail [email protected].

A jornada de motonáutica do final de setembro será a quarta nesta épo-ca no rio Douro (o que demonstra as aptidões deste curso de água para este tipo de provas desportivas), tendo já decorrido etapas do campeonato na-cional na Régua (a 30 de junho e 1 de julho), em Resende (14 e 15 de julho) e Cinfães (28 de julho).

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MARCO DE CANAVESES: DOLMEN - Alameda Dr. Miranda da Rocha, 266 | T. 255 521 004

Dolmen patrocina a Douro Bike RaceA Dolmen apoia a edição deste ano da Douro Bike

Race, uma prova de BTT que vai percorrer as serras do Al-vão, Marão e Aboboreira entre 13 e 16 de setembro.

Além de uma presença física na aldeia da prova (a ins-talar no parque do Ribeirinho, em Amarante) – um centro de promoção de produtos locais com a marca Dolmen – a cooperativa que gere o programa comunitário PRODER patrocina o evento através da oferta de prémios aos me-lhores classificados, iniciativa que visa "promover e fo-mentar a comercialização" de artesanato, doçaria regional, compotas, mel e vinhos, entre outros produtos da região.

Segundo a organização, a prova tem partida e chega-da sempre em Amarante, mas que percorre cinco conce-

lhos diferentes, entre os quais, Baião e Marco de Canave-ses. Passa por 35 freguesias destes cinco concelhos e por três serras : Marão, Alvão e Aboboreira.

Visita alguns ícones da região como os monumentos megalíticos da Serra da Aboboreira, aldeias isoladas como Mafomedes na Serra do Marão ou as Fisgas de Ermelo na Serra do Alvão.

"A prova conta até ao momento com 900 atletas ins-critos nos 3 níveis da prova – EPIC, ADVENTURE e RIDE. Há desportistas oriundos dos quatro cantos do mundo e os melhores atletas nacionais também já confirmaram a pre-sença e prometem fazer frente aos atletas internacionais presentes", refere a Douro Bike Race.

Centro Veterinário de Vila Meã com tecnologia de pontaO Centro Veterinário de Vila Meã, inaugurado este mês, é um projeto de alta tecnologia financiado pelo programa PRODER que visa ajudar os pro-dutores de gado da região, dotando-os de apoio técnico especializado para o desenvolvimento dos seus efetivos pecuários. Além da prestação dos normais serviços clínicos a animais de companhia, o Centro Veterinário de Vila Meã – projeto de um casal de médicos veteri-nários formados na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que constituíram a Braviniciativa, Unipessoal, Lda. – foi apetrechado com tecnologia avançada para o exercício da medicina veterinária, nomeada-mente um aparelho de Raios X digital (sem necessidade de revelação de película e de controlo dos resíduos perigosos), um ecógrafo portátil, aná-lises sanguíneas e de urina, sala para cirurgias e câmara de frio, funda-mental para o congelamento de órgãos ou até de animais, quando está em causa a realização de análises especializadas em laboratório para deter-minar a causa de doenças ou morte.O centro veterinário está ainda dotado de internamento para pequenos animais, dispondo de nove jaulas. O projeto inclui ainda a aquisição de uma carrinha para deslocações ao domicílio, bem como transporte de me-dicamentos e análises ou ainda pequenos animais.Para a aprovação do projeto foi determinante a iniciativa dos promo-tores de prestar serviço veterinário especializado ao domicílio, de ra-ças autóctones ou outras, nomeadamente de bovinos, caprinos ou suínos. Segundo os promotores, estão já em curso algumas parce-rias de assistência técnica sanitária com produtores da região.O investimento global é de 136.264,51 euros, receberá um incentivo de 81.758,71 euros e vai criar dois postos de trabalho.

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BAIÃO: DOLMEN - Centro de Promoção Produtos Locais | Rua de Camões, 296 | T. 255 542 154

Produção editorial da responsabilidade da DOLMEN

Casa da Lavandeira, uma jóia no turismo ruralA Quinta da Lavandeira, em Penalva, Ancede,

está a transformar-se num dos empreendimentos de topo na oferta de turismo rural no concelho de Baião e da região. Beneficiando da excelente re-cuperação do património existente e das condições ímpares que a localização junto ao rio Ovil lhe pro-porciona, a Casa da Lavandeira (a cerca de 40 mi-nutos da cidade do Porto) ganha estatuto de refe-rência turística para a realização de eventos, festas ou refúgio para um período de férias.

À recuperação da casa senhorial (construída entre os séculos XVIII e XIX) e da quinta que a ro-deia – projeto lançado por um casal de empresários do Porto mas em que um dos elementos tem liga-ções familiares ao concelho – juntou-se um moder-no edifício para eventos e que tem capacidade para acolher até 300 pessoas.

O complexo de agroturismo, instalado numa quinta que se estende por 9 hectares de terreno e que representa um investimento global de 1,2 mi-lhões de euros, segundo revelaram os promotores, dispõe de sete quartos, todos equipados com insta-lações sanitárias privativas, mas brevemente a re-cuperação de uma habitação rural permitirá criar um apartamento com dois quartos e ampliar a ofer-ta global para 11 quartos.

Mais do que a oferta residencial, os promotores pretendem – bem dentro do espírito do turismo ru-ral – que os hóspedes se integrem num ambiente que privilegia a ruralidade, com uma estadia dota-

da de todo o conforto dos grandes empreendimen-tos turísticos.

Os clientes podem, assim, fruir a quinta e a casa, nomeadamente uma lareira tradicional, salas de jogos e de estar, piscina, etc. Um parque com ár-vores centenárias e os muitos recantos verdes, in-clusive a berma do rio Ovil, onde existem três moi-nhos de água centenários (a reconstruir em breve), são também um esplendoroso convite ao descanso e ao lazer. A quinta está ainda dotada de uma va-liosa coleção de carros antigos e de cavalos e em breve serão preparados eventos para que os hós-pedes possam participar nas vindimas.

Como todas as casas senhoriais, a Casa da La-vandeira está dotada de uma capela do século XIX, com talha e azulejos de grande valor artístico, pelo que constitui uma excelente escolha para eventos de natureza religiosa, como casamentos e batiza-dos.

A Casa da Lavandeira criou também um centro interpretativo para a gastronomia regional – A Tas-quinha do Penedo – unidade que permite também a realização de eventos. Apesar da dimensão do empreendimento, sob marcação prévia, são acei-tes almoços ou jantares para pequenos grupos (a partir de 8 pessoas).

Este projeto foi financiado pelo PRODER em 125.566,90 euros, tendo criado 4 novos postos de trabalho.CASA DA LAVANDEIRA - Tlf. 913885561/914536559 • GPS: 41.108031, -8.063697

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Licenciatura de Educação Física e Desportopretende suprir lacuna no Tâmega e Sousa

Fundado em 1992, o Instituto Supe-rior de Ciências Educativas / ISCE-Fel-gueiras, que comemora este ano o 20º aniversário, acaba de lançar a nova Li-cenciatura de Educação Física e Des-porto, oferta formativa que o Presidente da instituição, Prof. Doutor Mário Gan-dra, considera inexistente na região do Tâmega e Sousa. O responsável do IS-CE-Felgueiras também realça o vasto leque de saídas profissionais para os fu-turos alunos da instituição.

Tendo em conta as licenciaturas já existentes no ISCE-Felgueiras, que razões justificaram a criação da Licenciatura de Educação Física e Desporto, já acreditada pela A3ES? A nível regional, não existia ainda esta oferta formativa?

- Em primeiro lugar, esta área de formação é uma área de formação tradicional do ISCE de Felgueiras. Formaram-se na instituição, ao lon-go dos anos, várias centenas de profissionais de Educação Física, no âmbito do curso que ante-riormente esteve em funcionamento, e que se des-tinava, especialmente à formação de professores, embora muitos dos nossos diplomados tenham escolhido outros caminhos profissionais, fora do sistema escolar. Surge agora esta nova licencia-tura em Educação Física e Desporto, adequada ao perfil de Bolonha, depois de um ligeiro hiato temporal. Para além de se constituir como evo-lução natural na lógica formativa institucional, este curso novo aparece para dar resposta a ne-cessidades de formação identificadas e reconhe-cidas na região, não só em Felgueiras, mas nos municípios que constituem a Comunidade Inter-municipal do Tâmega e Sousa. No âmbito desta região, não há outra oferta formativa ao nível do ensino superior nesta área.

O Ensino Superior, face à conjuntura do país, debate-se com o dilema de colocar no mercado cur-sos que têm expectativas de gerar empregabilidade. Acredita que os futuros alunos desta licenciatura vão ter emprego no final dos três anos da forma-ção? Que saídas profissionais lhes são apontadas?

Quanto à questão da empregabilidade, pode dizer-se que a região precisa de profissionais como os que sairão desta licenciatura em Educa-

ção Física e Desporto, pois há capacidade insta-lada na área desportiva e na atividade física que carece de técnicos superiores com as competên-cias adequadas à resolução dos problemas atuais. Hoje em dia esta área está intimamente associa-da à necessidade de uma boa qualidade de vida das populações e a uma vida saudável ao longo de todo o percurso vital. Isto abarca vários tipos de instituições, para além das de carácter eminen-temente desportivo, autarquias, instituições so-ciais, empresas, e abrange um público de todas as idades, que atravessa todo o tecido social. O cur-so estimula também a capacidade de empreende-dorismo dos alunos que é essencial para conse-guir determinar caminhos e soluções de emprego numa área que, como se disse, é carente de profis-sionais competentes.

Indicamos como principais saídas profissio-nais as de treinador, a vários níveis de prática desportiva, prescrição do exercício para pessoas aparentemente saudáveis com condições sub-clí-nicas ou com deficiência, promotor de atividades de lazer e animação desportiva, exercício físi-co e controlo de peso, diretor desportivo, técni-co de pelouro desportivo de autarquia, diretor de Instalações, gestor de eventos desportivos. Mas, além destas, a imaginação e a criatividade dos es-tudantes/futuros profissionais, estamos certos, abrirá novas possibilidades.

Quantos alunos espera o ISCE receber no pri-meiro ano da licenciatura? Quem pode ingressar no curso? Que provas de ingresso são necessárias? Os +23 também podem aceder ao curso? Há horário pós-laboral para quem já ingressou na vida ativa?

- Poderemos receber até 50 alunos no 1º ano. Podem aceder ao curso alunos que venham dire-

tamente do secundário, através de uma das pro-vas de ingresso nacionais (02 - Biologia e Geolo-gia, 17 - Matemática aplicada às Ciências Sociais, ou 18 - Português), os maiores de 23 anos, pres-tando as provas perspetivadas para esse efeito, e estão, naturalmente, previstas todas as vias de acesso legalmente previstas.

Os horários serão organizados tendo em con-ta, necessariamente, as características do grupo de alunos e as suas necessidades. Além disso, con-vém ter em conta que o curso funcionará no sis-tema de b-learning, o que implica uma determi-nada carga horária em que as aprendizagens são realizadas à distância, através da plataforma in-terativa Blackboard. Isso permitirá que os alu-nos não sejam obrigados a deslocar-se às insta-lações escolares durante esses tempos, poupando, assim, tempo, dinheiro e energia.

A duração do curso é de seis semestres (180 ECTS). Que áreas de formação (plano de estudos) vão ser abordadas?

O curso organiza-se em 6 semestres (3 anos letivos) e dispõe de um plano de estudos equi-librado, estruturado para conseguir uma for-mação na área da educação física e da ativida-de desportiva suficientemente abrangente, mas simultaneamente suportada em sólidas bases científicas, pedagógicas, técnicas e tecnológicas e desportivas, oferecendo Unidades Curricula-res das várias componentes científicas implica-das, ciências sociais de base, metodologias para a investigação na área, didáticas e técnicas e, evidentemente, as respeitantes às modalidades desportivas. É de salientar a existência de duas UC de Estágio desportivo, nos 2 últimos semes-tres do curso, que permitirão o acesso à carreira de Treinador Desportivo grau I, o que constitui uma mais-valia formativa e trará vantagens na empregabilidade.

Sendo o ISCE-Felgueiras um estabelecimen-to de ensino superior na área do politécnico é im-portante e até fundamental a ligação da Escola com o meio envolvente, sobretudo o empresarial. Como caracteriza a ligação do ISCE com esta mesma re-gião?

O ISCE é uma instituição que existe na região há 20 anos, estando completamente integrado e com uma forte ligação às forças vivas regionais e locais. Há protocolos de cooperação com as au-tarquias e com várias empresas e instituições.

Instituição de Felgueiras está a comemorar o 20º Aniversário

Principais saídas profissionais do curso são as de treinador, promotor de atividades de lazer e animação desportiva, diretor desportivo, técnico de pelouro desportivo de autarquia, diretor de Instalações e gestor de eventos desportivos.’ Este curso novo aparece para dar resposta

a necessidades de formação identificadas e reconhecidas na região, não só em Felgueiras, mas nos municípios do Tâmega e Sousa.

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EPAMAC

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Produção editorial da responsabilidade da EPAMAC

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sol acorda a manhã. O céu ainda mal teve tempo de se refa-zer da noite, e já estoiram entre o azul recém acordado fo-guetes de anunciação. É dia de festa. Primeiro um, depois outro, depois muitos. A cana já não sobe, que os tempos são outros, mas a tradição manda igualar o som – o estoiro – aos de antigamente. E assim seja. Na rua, os músicos ali-nham-se. Calça azul escura, camisa branca, gravata tam-bém azul e fina. O maestro posiciona-se em frente a todos. É mais baixo e mais gordo que os restantes músicos. Ex-

ceção feita aos que tocam tuba, que fazem honras ao imaginário infantil: quem toca tuba é grande e cheio. A esta hora já os músicos seguem pela rua, prontos para acordar quem ainda dorme, quem resistiu ao estoiro dos foguetes. O ma-estro manda alinhar, a caixa marca o ritmo e ... aí vão eles. É escutar a música. Rua acima, rua abaixo, as persianas vão se abrindo. Mulheres com o cabelo ain-da com as marcas da almofada, vão espreitando. Miúdos de pijama com os pés descalços e remela nos olhos acordam à porta, como se ali tivessem dormido. Cumprimentam-se os vizinhos de um lado para o outro da rua, os cães ladram. Há até um mais pequeno que se atreve a seguir o passo da marcha num ladrar contínuo, talvez com ânsias de se fazer ouvir, ou apenas de morder os calcanha-res aos músicos que passam. São coisas de cão, que jamais saberemos. A ban-da acaba de passar por esta rua onde estamos e já os homens se preparam para matar o bicho com um copo de vinho, pão e presunto. Do melhor. As mulheres já arrumaram o cabelo, já vestiram a blusa e a saia, já puseram a bata ou o aven-tal e já navegam na cozinha entre panelas de tamanho grande. O cabrito está no frigorifico, num alguidar, marinando em azeite, louro e colorau. E cheira bem. As batatas aparam-se que são novas e muitas, porque a mesa hoje vai encher. Então: os dois filhos, o de cá e o que está na Suíça, mais as noras e dois miúdos filhos do filho de cá, mais um menina que ainda mal anda, mas que é uma gra-cinha, e que é filha do filho da Suíça, mais a avó e o tio que não casou. Sem falar nos da casa, os habituais. Contas feitas, mesa mais cheia do que habitual. Aliás, os pratos que daqui a nada se vão distribuir pela mesa, até são do serviço de loi-ça que está arrumado no armário da sala, e que só se usa nestas ocasiões. Por isso é melhor passar os pratos por água antes de chegarem à mesa. Coisa rápida que a mulher de avental ou bata faz, mesmo antes de virar o cabrito no forno, de passar mais molho por cima das batatas, de tirar os talheres, os copos, de esten-der a toalha grande na mesa da sala, de espreitar o arroz para não agarrar, de ir

buscar os sumos para os garotos que as mães não deixam beber, mas que raios, porque hoje é dia de festa, bebam os sumos com gás que a avó deixa. Mesmo an-tes disso tudo, a mulher passa os pratos por água, com os dedos roliços, a lem-brar que estes pratos (que não têm qualquer lasca) foram presente de casamen-to, foram presente de um dia que faz muitos anos, em que os dedos ainda não eram roliços e onde uma aliança brilhava. Sem lascas. Sem lascas. E quase que apetecia a esta mulher deixar cair uma lágrima nos pratos de loiça boa, de loi-ça branca, uma lágrima apenas entre a água da torneira e os dedos roliços, mas hoje é dia da padroeira, que Nossa Senhora a ajude a seguir a tarefa sem senti-mentalismos, que daqui a nada a casa está cheia e o homem deve estar a chegar, e os filhos, e as noras, e os netos e os outros que aparecerem. E em dia de fes-ta, lágrimas não são consentidas, a menos que sejam de emoção por ver o andor da Senhora mais logo à tarde a levantar da igreja e a percorrer as ruas, aben-çoando-as. Mais logo à tarde. Agora, e neste entretanto, a mesa já está posta, o cabrito a sair do forno, a miudagem à volta das mesas e todos. E todos falam ao mesmo tempo, as noras medem-se nos olhos, uma está mais gordinha do que a outra, mas também só teve a miúda faz ano e meio para o mês que vem. E todos comem, o arroz está muito bom, o cabrito nem se fala. Foi caro, também. É uma vez por ano, que se lixe o dinheiro. Arruma-se a cozinha, arruma a mulher de bata ou avental, que diz às noras que não quer ajuda, não senhora, muito obri-gada, que vão com os maridos e os miúdos ao café. E vão todos, menos a mulher que fica a arrumar a cozinha, porque daqui a nada é hora da missa e da procis-são. Valha-nos Deus, não se vá atrasar. Olha o sino a tocar. Hora da missa. E lá segue a aldeia toda a ouvir o que o padre tem para dizer, ao mesmo tempo que na rua os meninos preparam as asas para seguirem na procissão e os andores levantam repletos de flores e notas de 20 euros. Já vai a procissão no adro e o tempo parece que pára. A mulher fixa os olhos no neto mais novo que vai vestido de Santo António e que está um amor. Reza baixinho, esta mulher – voz de todas as mulheres do mundo - para que para o ano todos ali estejam, todos estejam bem, pelo menos de saúde. Reza para que as saudades não apertem demasiado o coração dos que ficam e dos que partem. E se Deus quiser para o ano a pro-cissão até vai levar mais um ou dois andores, que a fé tem destas coisas, quan-do menos se espera é que ela aparece. E a tarde cai ao ritmo dos passos lentos da procissão e todos regressam a casa para comer o que resta do cabrito e pro-var um pedaço de bola de carne. E depois, as tias velhas beijam as faces coradas dos meninos que correm pela casa e olha-se o céu, até para o ano. Assim seja.

Eduarda Freitas

A festa que acorda o dia

O

Foto: http://vi.sualize.us

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O toque, pessoal e inconfundível, eleva o sabor daqui-lo que melhor se cultiva na região transmontana. O dese-jo de causar satisfação em quem prova é o que move Euri-co Castro, pasteleiro com 26 anos de carreira. O ouriço de castanha de Bragança ou o bolo-rei de castanha são algu-mas das criações que consagraram o seu nome.

“Em Trás-os-Montes, temos produtos excecionalmente bons e é preciso preservá--los e valorizá-los. Em vez de tentar vender aquilo que não temos em massa, vamos aproveitar para ir aos nichos de mercado, àqueles que consomem, pagam e sabem dizer bem daquilo que é bom”, defende Eurico Castro.

Na sua bancada de trabalho, o “verdadeiro segredo” é colocar carinho e dedica-ção naquilo que se faz, sempre “com a perspetiva de agradar ao cliente”. Aos 39 anos, o pasteleiro não abdica de um ingrediente essencial: “a criatividade acaba por vir alia-da ao bom gosto, é algo que vai aparecendo ao longo do tempo e se vai estimulando”.

Nascido em Macedo de Cavaleiros, Eurico teve o primeiro contacto com o mun-do dos aromas adocicados aos 12 anos. Nas pausas letivas, ficava aborrecido por es-tar em casa e, como não era dado à prática desportiva, rapidamente encontrou ou-tras lides. “Ia para a pastelaria de um senhor que me achava piada e me deixava andar por ali, a limpar os tabuleiros e a virar as farturas.” Assim foi até que decidiu abando-nar definitivamente a escola para ser pasteleiro. O percurso, esse, foi feito a pulso.

Aos 14 anos, mudou-se para outra pastelaria de Macedo de Cavaleiros. “Só o fac-to de manipular um produto e ver alguém consumi-lo já era fantástico. Foi por aí que começou a vontade de querer crescer em pastelaria”, recorda Eurico.

Acabaria por trabalhar em Vila Nova de Foz Côa até receber uma proposta para se instalar num hipermercado em Bragança. “O que eu gostava mesmo de fazer era produtos de qualidade para outros mercados”, explica. Por isso, iniciou um novo ciclo numa das pastelarias da cidade, interrompido por duas incursões ao estrangeiro. “Es-tava farto de me repetir e fui apanhar morangos para o sul de França. Acabei por co-nhecer produtos para cozinha que não conhecia.”

De regresso a Bragança, Eurico decidiu arrancar com um projecto de restauração no mercado municipal e uma pastelaria gourmet, onde se podem degustar as suas iguarias. A par do trabalho nas áreas da hotelaria, da restauração e do catering, tem

Patrícia Posse | [email protected] | Fotos | D.R.

Criatividade na pastelaria é arteEurico Castro pretende levar Trás-os-Montes aos qua tro cantos do planeta

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também em mãos “um novo projecto à escala mundial”, que assentará na divulgação dos produtos que tenham como base a castanha.

Uma aposta ganha

Eurico Castro procura dar “uma roupagem diferente” aos produtos tradicionais da região. “A castanha foi uma das minhas grandes apostas, porque em Trás-os-Montes, temos um volume de produção de 40 mil toneladas/época e zero de transformação. Comecei a perceber aí uma forma de desenvolver produtos que permitissem ter es-cala a nível mundial.”

A primeira obra-prima foi o ouriço de castanha de Bragança, um doce sazonal re-cheado com pasta de castanha e embrulhado numa massa fina e estaladiça. Nascido em 2007, o ouriço alcançou uma rápida projeção internacional graças ao empenho do seu criador, que o deu a provar em Nova Iorque e em Paris. “Fomos às pastelarias para saber se as pessoas estariam disponíveis para prová-lo e o primeiro impacto foi muito positivo.”

Quando decidiu visitar a cidade americana pela terceira vez, Eurico já levava na bagagem a intenção de “testar os ouriços” num sítio onde não era conhecido. “O mesmo aconteceu depois, em Paris, mas foi mais fácil porque as pessoas estão mais familiarizadas com a castanha.”

Prioridades em 2013

Estabelecido em Bragança há mais de duas décadas, Eurico Castro não tem dúvi-das de que a capital de distrito é um bom ponto de partida. “Temos oportunidades fantásticas para brilharmos em qualquer parte do mundo, sem ter preconceitos e di-zer que ‘somos pequeninos’. Somos do tamanho dos outros. Estamos é em localiza-ções diferentes.” Por outro lado, a construção da autoestrada transmontana é “mui-to importante, porque mais facilmente as pessoas se podem deslocar”. “A região tem a vantagem de ser ainda um pouco desconhecida ou não ser tanto de massas como são as cidades do Litoral e isso, hoje, pode jogar a nosso favor”, sublinha.

A partir de novembro, Eurico Castro vai disponibilizar pasta de castanha para que “todo o País possa fazer várias coisas com base da castanha”. No próximo ano, vai in-vestir ainda nos bolos de casamento, nos produtos da linha gourmet e em projetos ligados à alta cozinha.

“Vamos lançar cinco novos bolos de casamento”, anunciou ao RM.

Patrícia Posse | [email protected] | Fotos | D.R.

Criatividade na pastelaria é arte

Os bolos de casamento têm-se tornado numa das imagens de marca de Eurico Castro. “Cada bolo tem um estudo prévio e não está catalogado em lado nenhum. É sempre feito à imagem de cada cliente e com matérias-pri-mas de excelência.”

Em estudo continua a exportação em escala, pois “a forma de transpor-tar não é fácil, já que se trata de um produto fresco, sem corantes nem con-servantes”. Eurico Castro revela que há contactos com Brasil, Estados Unidos, África e alguns países asiáticos, mas ressalva que é preciso “ir com muito cui-dado”. “Temos que perceber em que condições conseguimos colocar lá os produtos e com a qualidade que têm aqui. A pasta da castanha é para colma-tar algumas das falhas que possam haver na exportação.”

Da pastelaria à cozinha de autorPara Eurico Castro, a criação é sempre inspirada em quem se senta à mesa.

“A parte mais íntima do trabalho é tentar perceber qual é o gosto do cliente e aproximar-me ao máximo. Depois, é olhar para a pessoa e perceber que gos-tou. Essa é a verdadeira recompensa.”

Ao longo do seu percurso profissional, Eurico sentiu que a pastelaria não o completava, tendo abraçado também a cozinha de autor. O fascínio pela be-leza, a tentativa de atingir a perfeição e o respeito pelos produtos distinguem as suas confeções. “Agarrei-me muito às bases da nossa cozinha tradicional e tentei dar-lhe uma roupagem e uma dignidade diferentes”, revela.

A mistura dos ingredientes e a perceção de “como é que aquilo tudo fun-ciona, em sintonia de cor e de sabor, é um mundo fascinante, quase zen”. Já no reino da degustação, é esperar que “as pessoas olhem e gostem daquilo que veem e, depois, gostem muito daquilo que estão a comer”.

Eurico Castro pretende levar Trás-os-Montes aos qua tro cantos do planeta

ROtA DOS SAbORES - Av. Sá Carneiro, 101 - Bragança - Tlf. 938 327 587

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20 agosto '12

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I Irepórterdomarão opinião

[A seu pedido, alguns colaboradores escrevem de acordo com a antiga ortografia]

Os portugueses têm a inata capacidade de descobrir o motivo e a ra-zão de ser de tudo o que os rodeia e faz parte da sua vida. Inibe-se depois a dar o salto para a resolução dos problemas, esperando que alguém o faça para o copiar, o que raramente acontece pois todos esperam o mesmo, e entretém-se à espera dum milagre, que pode vir de qualquer lado menos dos políticos que lhes afagam o ego e lhe alimentam a ilusão e a delonga.

Exemplo interessante é o dos inúmeros provérbios onde temos um para o sim e outro para o contrário, como bem os conhecemos. Há sem-pre uma justificação para tudo, sendo o artifício que os fundamenta tão ou mais fantasioso conforme o cargo ou cotação social de quem o emite. Completa-se o ramo com um ordenamento jurídico que, de cada vez que se melhora, fica sempre pior e que, quando se diz que vai tapar os furos, acaba por alargar a malha. A semântica completa o ramalhete da viscosi-dade que lubrifica a escapatória, sendo a última invenção o Tribunal Cons-titucional. Depois de correr todas as instâncias que o condenaram, sabe que ali terá mais sorte pois se nem a Constituição faz cum-prir, coisa para que foi (exclusiva-mente) criado, a dilação é qua-se certa a confinar na prescrição. Roubar devia ter uma só interpre-tação: alguém que se apropria de algo que não é seu. Mas o “con-texto”, “enquadramento”, “condi-cionalismos” e tudo o mais que se lhe apode, variam e valem confor-me a encomenda, a sageza do ju-rista, a “textura” financeira do ar-guido e a maré da justiça.

Apresentam-se medidas para tornar o sistema mais justo e equitati-vo, e dá-se-lhe um ar de seriedade como o das listas de devedores de ser-viços acima dos 15 Euros. Palmas e parangonas de encómio pois é preciso acabar com os calotes. E a lista dos grandes devedores, à praça ou à ban-ca, que com as suas falcatruas e negociatas nos puseram a pagar por eles os milhões embolsados?

A nacionalidade fundou-se com o Rei a defender e a apoiar-se nos fra-cos, embora a História nos diga que havia Clero, Nobreza e Povo. Havia mais Justiça e equidade. Mas quando passámos às “classes”, o Rei, que se esvaziava de poderes que transferia do Povo, aguentava-se com comen-das e prebendas aos poderosos. Pegou a moda e, mesmo na Democracia constitucional, com Rei ou República, manteve-se o sistema para garantir o voto e o sistema. Replicou-se em tudo, da Assembleia da República à do clube de bairro, pois quem vota não escolhe: põe a cruz onde lhe mandam ou tem interesses, limitando-se a corroborar a escolha de quem normal-mente nem sequer conhece. E se já não há títulos de nobreza, há os de ri-queza, cargos e lugares, em entidades que já existem ou para isso se criam, seja uma empresa fantasma ou um banco.

Outra “distracção” bem recente tem a ver com a criminalização do «vandalismo urbano». Sempre defendi que tudo o que é do Estado (por-tanto nosso), devia ser escrupulosamente acautelado e severa e equita-tivamente punido e ressarcido. Agora prender ou multar o rapazola que pinta na parede uma declaração de amor, o anarca que nos diverte com os escritos, e noutras vezes até formas bem engraçadas e artísticas, para não gastar ao que se diz alguns milhares de euros em limpezas ou restauros, quando se deixam de fora os milhares de milhões que configuram um au-têntico terrorismo de estado que sabemos, ouvimos e lemos mas não lhe vemos veredicto.

Mudemos de assunto pois chega desta amofinação e passemos a ou-tra que é mais nossa: o Douro. Voz que se presume autorizada pois disso é responsável, diz que a Entidade Regional de Turismo vai acabar. Ao lon-go dos últimos anos o Douro foi perdendo instituições que enquanto exis-tiram fizeram obra, como o Instituto de Navegabilidade, outros que trans-feriram para cá mas perderam o comboio, como o Instituto do Vinho do Porto e Douro, e outros ainda que perderam força, representatividade e li-derança, apagando-se do mapa, como a Casa do Douro. Os rios renderam--se à electricidade e nem disso beneficiamos, e ainda com possíveis pre-juízos inerentes à classificação de Património. O que nos fica? Onde estão os Homens do Douro?

Espero que as autarquias, se não lhes cair em cima o herbicida da rel-va, assumam, na provável extinção da entidade, o seu papel primordial na afirmação do Douro turístico e aproveitem as estruturas e técnicos que sa-berão fazer o que é preciso. É barato. O Norte a promoverá lá fora, mas é preciso uma imagem identitária de malha mais fina. Não podemos conti-nuar a perder e por isso o empenho autárquico terá de se assumir como último arrimo e suporte de futuro.

É PRECISO ENTRETER...

Armando MiroJornalista

Todo o empresário é instado a saber responder à competitividade, aos desafios dos mercados, a anteci-par a sua estratégia de negócios, a promover a sua pró-pria imagem para impressionar a clientela. Em torno deste quadro de deveres, obsidiante e possessivo, vá-rias disciplinas procuram atrair empresários e execu-tivos para uma série de obrigações sem as quais tudo pode falhar: desenvolvimento pessoal, marketing pes-soal, etiqueta e boas maneiras. Convém lembrar que uma profissional de relações públicas ganhou noto-riedade com livros convidativos para que executivos e empresários dessem conta da necessidade de terem boas maneiras, conhecerem o elementar da civilida-de e etiqueta e manejarem a arte das boas impressões. Paula Bobone escreveu livros sobre estas obrigações de se cuidar da imagem, já que ela é o espelho da eficá-cia e da eficiência da empresa que se comanda. Mas o que é isto da arte das boas impressões? Primeiro, cuidar da imagem (diz Paula Bobone que o que determina a nossa imagem é o que os outros vêm em nós). Há, pois, que causar boa imagem, capitalizar o seu valor, cultivar a nossa personalidade. Daí a importância da indumen-tária, do saber cuidar do look, do saber adotar um es-tilo. Segundo, sem etiqueta naufraga-se na vida social e profissional. A etiqueta integra ce-rimoniais e ritos que não devem ser confrontados, pode-se insultar aque-le a quem se apresenta condolências, não saber estar à mesa, etc. Terceiro, o agir com correção a nível profissio-nal pressupõe um domínio das regras da vida pública e social. Quarto, a eti-queta nos negócios ou na vida pro-fissional é um verdadeiro saber viver criando imagem na comunicação co-mercial, sair airoso numa conferên-cia de imprensa sobre um tema escal-dante, é indispensável restabelecer a confiança do mercado. Quinto, o protocolo empresarial não se organiza à toa, é preciso avaliar a participação em reuniões de trabalho ou nos atos sociais, caso das refeições ou viagens de trabalho.

Resta acrescentar que a sociedade de consumo é mediática: “Passámos a ser definidos pelo consumo de imagens, pela industrialização do espírito, pela adesão à cultura de massas e esta baseia-se na rádio, televisão, publicidade, marketing, redes sociais e outros interme-diários das transações de informação. Nesse universo pontificam as vedetas das indústrias de entretenimen-to e mesmo esses empresários e executivos que sabem tirar partido do marketing social.

Serve este preâmbulo para registar a chegada mais o manual de etiqueta, comportamento e marke-ting pessoal: “Os sete pecados do mundo corporativo” por Lígia Marques, Editora Vozes. A contracapa testa, à queima-roupa as potencialidades do leitor: “Você con-segue fazer da sua conversa algo interessante e produ-tivo? Sabe usar o seu cartão de visitas de forma correta? Sabe vestir-se para uma reunião com um cliente e para outras ocasiões do mundo empresarial? Sente-se inse-guro à mesa de negócios ou numa entrevista de em-prego? Pois a autora esclarece estas e outras questões sobre etiqueta, comportamento e marketing pessoal e para isso desnuda os sete pecados que podem com-prometer uma carreira.

O primeiro pecado é a incultura, é preciso possuir uma boa cultura pessoal, conhecer um pouco sobre tudo o que nos cerca. A autora é veemente com os can-didatos: devem participar em blogues, escrever para jornais e revistas, frequentar teatros e outros territórios da cultura. E para desassossegar os indiferentes, segue--se um questionário do tipo: “Como foram chamadas as mulheres que, na Argentina, exigiram informações so-

bre os seus filhos desaparecidos durante o regime mi-litar? a) Mulheres de Evita; b) Mães da Praça de Maio”. E também: “Stradivarius é: a) Um compositor clássico do século XVI; b) Uma marca de instrumento musical”. O leitor é livre de tirar conclusões, a formação cultural é um dado relativo, não se pode saber um pouco de tudo, por vezes a rica personalidade e a autenticidade do exe-cutivo que pode ser a chave do seu sucesso.

O segundo pecado é não saber trabalhar a sua marca, não ter boas maneiras, não saber cumprimen-tar, não conhecer a precedência nos cumprimentos, não saber fazer as apresentações, abusar da personali-dade exuberante e andar aos abraços a toda a gente. A autora aproveita para dissertar sobre o cartão de visitas, igualmente como saber receber um cartão.

O terceiro pecado é não saber comunicar-se, não saber explorar as palavras, a voz e a expressão corpo-ral; mas também saber inserir-se num círculo e não abrir a boca à toa, estar constantemente a atender o te-lemóvel. É preciso saber falar em público, dirigir reuni-ões, conduzir ou participar em entrevistas de emprego. Tem sucesso, adiciona a autora, aquele que sabe valori-zar os contatos pessoais privilegiando-os aos telefóni-cos ou via e-mail.

O quarto pecado é não se saber portar à mesa, não chegar a horas, não conhecer o uso dos copos e ta-lheres, quais as atitudes corretas du-rante as refeições, é indispensável co-nhecer a enologia básica, à mesa não se fala alto.

O quinto pecado é não saber tra-balhar a sua embalagem, isto é, a sua imagem. Diz a autora que o profissio-nal de sucesso tem uma imagem glo-bal que deixa transparecer a sua ca-pacidade, a sua competência e o seu poder. As suas atitudes são inequí-

vocas, incluindo o andar, o sentar, o olhar, o vestir, os gestos. Cuidar da sua imagem é também saber em que condições se usam um trajo de passeio, a que eventos é que se podem ir de blazer ou quando se usa o traje es-curo. É o mundo das gravatas, das meias e dos sapatos e de saber combinar a camisa com a gravata.

O sexto pecado é desconhecer o mundo à sua volta, pensar que o mercado de negócios é o mesmo na África do Sul ou nos países árabes, não ter sensibilidade ou dis-cernimento para visitar um cliente alemão e saber que ele é diferente de um argentino ou de um chinês. Ultra-passar este pecado é dominar uma série de práticas co-muns sob pena de caminhar para um desastre, ofenden-do ou influenciando negativamente o cliente.

O sétimo pecado é não saber mover-se nos círculos sociais, quem e como cumprimentar, com quem pode dançar, como deve receber visitas e como, em caso al-gum, deve ter relacionamentos amorosos na empresa. Estas são as respostas que Lígia Marques tem para os empresários, assim os deixa preparados para enfrentar o seu dia-a-dia com segurança, elegância e eficiência. Que o leitor não se ria, a nossa sociedade de consumo é também de simulacro e de aparências. A boa imagem depende da exigência de boas maneiras. A idealização deste empresário é de que ele é um ator exímio, conhe-ce os limites do aceitável e inaceitável, sabe pisar os pal-cos. Estas recomendações não são grotescas, estamos a falar de uma economia do terciário onde há professores de dição e estas profissionais de relações públicas ga-nham a sua vida contribuindo para que os empresários vivam a representar e a seduzir. O preço de não acei-tar este marketing pessoal pode ser muito pesado: a má imagem pode ser sancionada para toda a vida. Dito de outro modo, que o empresário e o executivo não se es-queçam, as aparências não são para iludir.

TRIuNfaR NOS NEgóCIOSgRaçaS aO maRkETINg PESSOal

Beja Santos Assessor D. G. Consumidor

Page 21: Reporter do Marao

Cenários deEnvelhecimento

Cláudia Moura

SEXUALIDADE E IDADEO envelhecimento não compromete necessariamente

a sexualidade. Os indivíduos que chegam à terceira idade com disposição emocional para manter uma vida

sexual ativa vivem mais e melhor.

[email protected] Professora Universitária e Investigadora na área da Gerontologia.

DEIXO-VOS A PENSAR … A pirâmide das idades mostra um envelhecimento progressivo

da população. Não exclusivamente os seres humanos vivem mais tempo, mas também as condições de saúde e o potencial de in-tegração social são prolongados. Entretanto, os estereótipos liga-dos à degradação biológica, a qual serviu durante séculos para ca-racterizar o processo do envelhecimento, continuam a impregnar o imaginário cultural. E as repercussões do processo de envelhe-cimento sobre a sexualidade constituem um assunto particular-mente contaminado por preconceitos.

Com uma visão demarcada, tanto em relação à sexualidade como à velhice, a sociedade qualifica este período da vida como um período assexuado.

Esta visão assexuada do idoso admite compreender que ser idoso continua a ser entendido como um período em que não se sente, não se deseja, e não se quer.

Daí a urgência em realçar a necessidade de reformular tais crenças perante a sexualidade no processo do envelhecimento. Afinal a afetividade tem sido apontada como um excelente remé-dio contra a solidão, o abandono e a depressão, que são os mais sérios problemas enfrentados pelos idosos. Lá vai o tempo em que o homem ou a mulher que chegavam à terceira idade se sentia in-capacitado para usufruir uma vida sexualmente feliz. Efetivamen-te, sem ignorar que à idade estão associadas mudanças físicas que em determinados casos, podem conduzir a doenças e outras difi-culdades que interferem na sexualidade.

Envelhecer é um processo fisiológico que começa na conce-ção e acarreta mudanças, específicas de cada espécie durante todo o ciclo vital. Portanto, a progressão do envelhecimento não pode ser evitada, mas sim melhorada, sendo necessário distinguir as alterações produzidas pelas diversas doenças no idoso, das mu-danças que ocorrem no organismo apenas pela passagem dos anos, correspondentes aos efeitos naturais do processo de enve-lhecimento. Desta forma, não devemos relacionar a terceira idade apenas a processos patológicos, mas também a idosos saudáveis, à procura de orientações que melhorem a sua expectativa e qua-lidade de vida. O facto de o idoso apresentar uma diminuição das atividades sexuais, não significa portanto, a decadência da capaci-dade de amar, desejar, dar e receber prazer. Afinal a diminuição da frequência das atividades sexuais, não significa, fim da expressão ou do desejo sexual.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, os indivíduos que chegam à terceira idade com disposição emocional para manter uma vida sexual ativa vivem mais e melhor, isto porque, a sexu-alidade na terceira idade reafirma a identidade de cada parceiro.

A afetividade é desta forma explicada como uma excelente resposta para solidão e abandono, sendo este um dos mais sérios problemas enfrentados pelos idosos. Por isso, envelhecer não sig-nifica necessariamente redução de capacidade e diminuição afeti-va, mas deve significar vida aprazível.

A vida sexual transforma-se constantemente ao longo de toda a evolução individual, porém só desaparece com a morte.

O termo do contrato de conservação do maior troço do IP4, entre Amarante e Vila Real, uma estrada com elevado índice de sinistralidade, apesar da redução dos últimos anos, é a principal consequência da negociação entre a Estra-das de Portugal (EP) e a Autoestradas XXI, subconcessionária da Autoestrada Transmontana, que acordaram reduzir o objeto da concessão em 80 milhões de euros.

Ao contrário do noticiado pela maioria da comunicação social, não se regista qualquer poupança em encargos fi-nanceiros nesta ou noutras concessões (em taxas de juro, margens de lucro, etc.) mas tão só a redução do objeto das concessões, com a consequente diminuição de custos.

Segundo o comunicado da EP, o concessionário AEXXI – que fazia a conservação do troço do Marão desde 2008 e realizou em 2011 importantes obras de pavimentação e sinalização (foto) – deixa de ter a seu cargo a manutenção dos dois troços do IP4 que se mantêm em serviço em simultâneo com a futura A4 – Amarante /Vila Real e a Variante de Bragança – estradas que, agora, passam para a responsabilidade da Estradas de Portugal.

O mesmo tipo de negociação foi anunciado entre a EP e a Ascendi na subconcessão do Pinhal Interior. Há redução de encargos globais através da diminuição do objeto da concessão, tendo sido eliminados contratos de conservação de estradas e alguns troços novos ainda por construir.

Entretanto, a construção e exploração da Autoestrada A4 entre Vila Real (Parada de Cunhos) e Quintanilha prosse-gue a bom ritmo, estando cerca de 60 quilómetros já concluídos e abertos ao tráfego e os restantes 73 quilómetros em fase adiantada de construção. Prevê-se que em setembro abram mais dois troços (17,7 km) e que até ao final do ano estejam em serviço 108 km de autoestrada. Para o primeiro trimestre de 2013 ficam os dois restantes lanços: Pa-rada de Cunhos/Vila Real Nascente (10,6 km), troço com portagem (à semelhança da variante de Bragança da A4, em serviço desde há um ano) e Nó IP2/Vale de Nogueira (14,4 km).

Quanto à concessão Túnel do Marão, entre Padronelo (Amarante) e Parada de Cunhos (Vila Real), com 25,4 km de extensão, incluindo o túnel de 5,6 km, a abertura ao tráfego poderá ocorrer em 2014 se as negociações entre o Esta-do e o consórcio construtor (liderado pela Somague) – eventualmente para a rescisão do contrato – ficarem concluí-das até ao fim do ano. As obras estão paradas por falta de financiamento (o atraso global da obra já ultrapassa 20 me-ses) mas o Governo tem anunciado que reservou 200 milhões de euros para concluir a obra, verba conseguida com a recente reprogramação dos fundos comunitários.

Troço do Marão no IP4perde contrato de manutenção

21agosto '12

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I repórterdomarãodiversos

Page 22: Reporter do Marao

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A opinião expressa nos artigos assinados pode não corresponder necessariamente à da Direção deste jornal.

Esta edição foi globalmente escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico. Porém, alguns textos, sobretudo de colaboradores, utilizam ainda a grafia anterior.

22 agosto '12

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I Irepórterdomarão crónica & artes

S/ Título 2Amarante

Anos 50

O PADRINHOA.M.PIRES CABRAL

Nota: Este texto foi escrito com delibe-rada inobservância do Acordo (?) Orto-gráfico.

O OLHAR DE... Eduardo Pinto

1933-2009

Cartoons de Santiagu [Pseudónimo de António Santos]

EÇADEQUEIROZ2012

PUbLICIDADE 910 536 [email protected]

Lido assim, sem mais, o título des-ta crónica tem ressonâncias sinistras. Traz à memória a celebrada série de filmes sobre a máfia de Francis Ford Coppola, em que pontifica a figura de Don Vito Corleone, um Marlon Bran-do maduro e, como o vinho do porto, melhorado pela idade.

Ora, longe de mim querer fazer arrepiar o Leitor com sugestões des-te grau de crueldade. O padrinho de que aqui se fala está mais próximo da branda tradição portuguesa, plas-mada desta forma no Dicionário da Academia: «1. Aquele que serve de testemunha ao baptismo, ao crisma ou ao casamento de outra pessoa [...]. 2. Aquele que atribui um nome a al-guém, a alguma coisa... ou que presi-de a uma inauguração [...].»

E o padrinho em questão sou eu – criatura de bonomia, tolerância e poderio nos antípodas dos de Don Corleone.

Padrinho na primeira das acepções transcritas, fui-o escassamente: dois ou três afilhados de baptismo, outros tantos de casamento, zero de crisma, não fui além disso. E até há bem pou-co tempo andavam por aí as minhas incursões no terreno escorregadio do apadrinhamento. De repente, eis que surjo como padrinho, agora na se-gunda acepção, e logo padrinho por duas vezes: da filial em Vila Real da Livraria Bertrand e de um clube de fo-tografia em M. Cavaleiros, que tem o sugestivo nome de Alustro, alusão ao modo de o povo se referir ao flash dos fotógrafos. (E não faltará quem pense – e eu sou um deles – que ‘alustro’ é bem melhor e mais português do que o internacionalmente consagrado flash.)

Isto de ser padrinho tem muito que se lhe diga. Também na segunda acepção. A pessoa tem de pensar que ao emprestar ou a sua imagem (caso da filial da Bertrand) ou mesmo o seu nome (caso do Alustro – Clube de Fo-tografia A. M. Pires Cabral) está de alguma forma a comprometer-se com os ‘afilhados’, a interessar-se pelo seu presente e pelo seu futuro. Padrinhos são segundos pais, diz o povo, que

têm de avançar se os primeiros (os biológicos) faltarem.

Bom, claro que no primeiro dos ca-sos as minhas responsabilidades estão muito atenuadas. O apadrinhamento da Bertrand foi mais um happening para a inauguração das novas instala-ções do que outra coisa. Fui lá, debitei duas larachas, apresentei um livro e no fim cortei uma fita e bebi um trago de vinho do porto – e adeus, que por aqui me vou. De futuro, passarei por lá uma vez ou outra, a saber das no-vidades editoriais, a ver da saúde do ‘afilhado’ e a cumprimentar o pessoal, todo muito simpático. Mas não me sinto obrigado a mais nada. Aceitei apadrinhar porque a Bertrand, sendo embora uma empresa comercial, é ao mesmo tempo uma entidade empe-nhada no mesmo que eu – difundir o livro e a cultura –, estribada em quase trezentos anos de história. Apadrinhá--la não é exactamente o mesmo que apadrinhar uma loja McDonald’s – com todo o respeito pela McDonald’s.

Já quanto ao clube de fotografia houve razões mais ponderosas, en-volvendo outra casta de sentimentos e motivações e exigindo outro nível de envolvimento. O Alustro é uma apos-ta de um grupo de jovens macedenses, com duas coisas em comum (além da juventude): amor ao terrunho e gosto pela fotografia. Como reconhecem em mim exactamente os mesmíssimos predicados (excepto, ai de mim, a ju-ventude), vá de me convidarem a ser, de algum modo, o patrono do clube. O Leitor adivinha o gosto com que acei-tei o convite e abracei o projecto. Não é um apadrinhamento descartável, como o outro. É algo que me vincu-lará animicamente, enquanto a coisa tiver pernas e vontade de andar. Que oxalá tenha por muitos anos e bons, e eu que os conte, sempre a alustrar – eles e eu.

[email protected]

Prémio Especial “António Oliveira Guimarães” na III BIENAL DO HUMOR LUÍS OLIVEIRA GUIMARÃES (2012) - Espinhal - Penela

Page 23: Reporter do Marao

ELISAbEtE e OSVALDO

Penso que foi a melhor de-cisão da minha vida. Bem, tal-vez esteja a exagerar; o me-lhor e o pior são dois termos muito perigosos, tornam-nos pouco tolerantes. Não acha que tenho razão?

Se não foi a melhor, foi uma das melhores decisões que tomei na minha vida. Dis-so estou certa. E não foi fácil, acredite. Mas eu não quero estar a hiperbolizar as minhas agruras, irrita-me ouvir gente que passa a vida a dizer que está cansada e doente. Se eu pergunto: então como vai?, não tenho de receber um rol imenso de doenças da famí-lia inteira. É um desconforto ouvir essa gente. Acho que mais de meio Portugal so-fre de qualquer maleita. So-mos um povo muito exagera-damente hipocondríaco, não acha que estou a dizer coisas acertadas?

Falemos então da decisão que me mudou a vida. Mas as realidades não são tão linea-res como parecem. Eu penso que nós somos como os vul-cões adormecidos que de re-pente acordam e queimam tudo em volta.

A correr, a correr, para não estar a contar a minha vida a uma pessoa que mal acabei de conhecer, mas que me pa-rece simpática e muito aten-ta, devo falar de uma família muito ciosa do seu brasão, e de uns pais fechados ao mun-do, castradores, tradicionais e moralistas até não se aguen-tar. E eu, para mal dos meus pecados, tive o azar de ser a filha única, a menina que ti-nha o dever de dar continui-dade à egrégia família. Acha-va um piadão quando o primo Lourenço, com o seu ar afetado começava a falar da nossa egrégia família. Quan-do o ouvi falar dos egrégios corri à procura de um dicio-nário para não fazer o papel de parva.

Depois da faculdade co-mecei a dar aulas. E de repen-te já estava casada com um homem bonito, muito inte-ligente, com dinheiro e ad-vogado. Meio ano depois do casamento já andava com os enjoos do meu João. Naque-le tempo era assim. Um ano depois nasceu a Isabel. Nessa altura eu era uma mulher de certa forma acomodada. Ti-

nha um marido, tinha uma fa-mília, não me faltava dinhei-ro, que é que eu mais queria?

Quando a Isabel fez cin-co anos o encanto acabou. Descobri que tinha em casa um marido amável, e não o meu homem. Ele é muito in-teligente, reconheço, mas eu também não me considero destituída. O Osvaldo era as-tuto, pensava que eu engo-lia as patranhas que ia inven-tando para justificar a entrada em casa a desoras. Contei a minha mãe quem era o ver-dadeiro Osvaldo. E disse que queria o divórcio. Nem pen-sar, disse minha mãe, nesta família nunca houve um di-vórcio, e não será, certamen-te, a Elisabete a quebrar a tra-dição. Era o que mais faltava!

Encolhi-me. Tive receio de ficar sozinha e ostracizada. E aguentei mais treze anos aquele casamento de faz de conta, cada um na sua cama. Um dia ganhei coragem e dis-se-lhe: Osvaldo quero divor-ciar-me. Ele respondeu que não estava de acordo. E que se isso acontecesse que me ia fazer a vida num inferno.

Eu pedi o divórcio. E ele fez--me sofrer imenso e tirou-me tudo o que pôde. O João e a Isabel ficaram a viver comigo e eu aguentei as despesas.

Abreviando, para não abor-recer: os filhos casaram e ago-ra já tenho três netos, todos rapazes.

No ano em que me refor-mei decidi: Elisabete, está na altura de cuidares de ti, bas-ta de viveres em função dos outros. Passei por uma agên-cia e comprei uma viagem num cruzeiro. Foram três se-manas de deslumbramento. Voltei a passar pela agência e marquei outra viagem. De-pois outra, e outra, e outra. Todos os meses viajo, umas vezes para mais perto, outras para mais longe, viagens ba-ratinhas e viagens com maior orçamento.

Viajar é a minha nova pro-fissão. Adoro ser uma mu-lher livre, sem ter de dar sa-tisfações a ninguém, adoro conhecer gente e mundo.

Não acha que tomei a me-lhor decisão da minha vida?

António Mota

23agosto '12

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I repórterdomarãodiversos | crónica

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A zona de Fisgas de Ermelo, em plena serra do Alvão, poderá ser requalificada no âmbito das contrapartidas pela construção da barra-gem de Fridão, anunciou o Município de Mon-dim de Basto.

A barragem, localizada no rio Tâmega a menos de dez quilómetros a montante de Amarante e concessionada à EDP, tinha arran-que anunciado para este ano mas tudo indica que sofreu um adiamento devido à conjuntura económica desfavorável.

Segundo o presidente da câmara de Mon-dim de Basto, Humberto Cerqueira, existe a possibilidade de incluir este projeto no Plano de Desenvolvimento Regional, que será imple-mentado se a barragem avançar.

É nesse pressuposto que a Câmara de Mon-dim de Basto e a Universidade de Trás-os-Mon-tes e Alto Douro (UTAD) estão "a desenvolver um projecto de valorização, melhoria das aces-sibilidades e sinalização das Fisgas de Ermelo".

As Fisgas de Ermelo – que atraem cada vez mais visitantes, mormente devido às piscinas naturais que se formaram no leito do rio Olo – são das maiores quedas de água da Península Ibérica e o principal motivo de atração do Par-que Natural do Alvão (PNA) e do próprio con-celho de Mondim de Basto.

Centenas de pessoas, sobretudo no verão, deslocam-se para observar a cascata (com um

desnível de quase 200 metros) ou banharem--se nas suas lagoas, que se transformaram em praias fluviais de águas muito límpidas.

O projeto em que intervém uma equipa da UTAD pretende a recuperação de duas ca-sas florestais próximas das fisgas, destinadas a instalação de um centro interpretativo, bem como a acomodar alojamento para investiga-dores.

Foi anunciada uma intervenção a nível das acessibilidades, através da construção de um parque de estacionamento, nas imediações do miradouro, onde será instalada uma platafor-ma de observação, dotando-a de condições de segurança para os visitantes. Será ainda me-lhorada a sinalização de trilhos e percursos.

"O objetivo é valorizar e promover esta área das fisgas e criar melhores condições para atrair mais pessoas", frisou o presidente da au-tarquia de Mondim de Basto, citado pela Lusa.

Entretanto, As Fisgas de Ermelo estão en-tre os dez locais mais votados no concurso "7 Maravilhas - Praias de Portugal", na categoria de praias selvagens. Outro local paradisíaco de Trás-os-Montes – a praia da Ribeira, na albufei-ra do Azibo, em Macedo de Cavaleiros – tam-bém está entre os mais votados na sua cate-goria: praias de albufeira e lagoas. A votação nacional decorre até 7 de setembro (mais in-formações no site www.7maravilhas.pt).

Câmara do Marco homenageia produtores de vinho verdeA Câmara Municipal do Marco de Canaveses homenageia a 1 de setembro os pro-

dutores de vinho verde do concelho que foram premiados ao longo do ano nos diver-sos concursos vínicos, alguns deles em concursos de âmbito nacional. O evento terá uma sessão na câmara (às 21:30) e uma festa com animação musical (23:00).

A criação da Rota dos Vinhos do Marco veio dar visibilidade aos produtores-engar-rafadores do concelho, tendo surgido nos últimos anos diversas marcas com visibili-dade no mercado do vinho verde. São mais de duas dezenas as quintas e produtores associados na Rota do Marco, entre eles a Casa de Vilacetinho, a Quinta do Burgo, a Quinta da Herdade, o Solar de Carvalhosa, a Quinta da Samoça e a Casa de Ambrães.

Projeto da UTAD e da CM Mondimpretende valorizar as Fisgas de Ermelo

Foto: Patrícia Posse

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