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Relato de caso Relato de três casos de linxacariose felina (Lynxacarus radovskyi) no município de Joinville, Santa Catarina Report of three cases of feline linxacariosis (Lynxacarus radovskyi) in the city of Joinville, Santa Catarina State Jodelli Costa Budant – Médica Veterinária, Pós-graduada em Clínica Médica de Pequenos Animais – Universidade Federal Rural do Semi-árido – UFERSA – Mossoró-Rn Daniela Pedrassani – Médica Veterinária, Dra em Medicina Veterinária Preventiva pela UnESP – Jaboticabal-SP e professora do curso de Medicina Veterinária da UnC – Canoinhas-SC., e-mail: [email protected] Budant JC, Pedrassani D. Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2010; 8(25); 225-230. Resumo A linxacariose felina é uma ectoparasitose causada pela espécie de ácaro pilícola Lynxacarus rado- vskyi. Este trabalho tem o objetivo de relatar a ocorrência deste ácaro, no município de Joinville, Santa Catarina, Brasil, onde foram diagnosticados três casos em felinos, nos meses de julho a setembro de 2009. Os felinos são da raça Persa, sendo uma fêmea e dois machos. Os sinais clínicos observados variaram desde prurido com lambedura, pelagem irregular e seca, com aspecto de “sal e pimenta”, alopecia em região cervical, face e cauda, observado com maior severidade no felino macho de colo- ração branca e creme. Dois animais foram tratados efetivamente, com aplicação de Fipronil 10g drop spot (0,5ml), e um animal foi tratado efetivamente com duas aplicações de ivermectina 1% 0,3 mg/ Kg por via subcutânea, com intervalo de duas semanas entre as aplicações. Concluiu-se que, devido ao pequeno tamanho do parasito e as dificuldades no diagnóstico talvez este ectoparasito seja mais comum do que se imagina. Palavra-chave: Felino, ácaro, linxacariose. Abstract The cat fur mite is a disease caused by the external parasite Lynxacarus radovskyi. This paper aims to report the occurrence of this mite in the city of Joinville, Santa Catarina, Brazil, where three cases were diagnosed in cats, from July to September 2009. The cats are of Persian breed, one female and two males. The clinical signs ranged from licking and pruritus to dry and irregular hair with “salt and pepper” aspect, alopecia in the neck, face and tail, more severely observed in a white and cream male. Two animals were effectively treated with Fipronil 10g (0.5 ml) drop spot, and one animal was effec- tively treated with 1 % ivermectin 0.3 mg/kg subcutaneously with an interval of two weeks between two applications. It was concluded that, due to the small size of the parasite and the difficulties in diagnosing, this ectoparasite may be more common than previously thorught. Keywords: Cat, mite, linxacariasis 225 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2010;8(25); 225-230.

radovskyi) no município de Joinville, Santa Catarinamedvep.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Artigo079.pdf · to report the occurrence of this mite in the city of Joinville, Santa

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Relato de caso

Relato de três casos de linxacariose felina (Lynxacarus radovskyi) no município de Joinville, Santa Catarina

Report of three cases of feline linxacariosis (Lynxacarus radovskyi) in the city of Joinville, Santa Catarina State

Jodelli Costa Budant – Médica Veterinária, Pós-graduada em Clínica Médica de Pequenos Animais – Universidade Federal Rural do Semi-árido – UFERSA – Mossoró-Rn

Daniela Pedrassani – Médica Veterinária, Dra em Medicina Veterinária Preventiva pela UnESP – Jaboticabal-SP e professora do curso de Medicina Veterinária da UnC – Canoinhas-SC., e-mail: [email protected]

Budant JC, Pedrassani D. Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2010; 8(25); 225-230.

ResumoA linxacariose felina é uma ectoparasitose causada pela espécie de ácaro pilícola Lynxacarus rado-vskyi. Este trabalho tem o objetivo de relatar a ocorrência deste ácaro, no município de Joinville, Santa Catarina, Brasil, onde foram diagnosticados três casos em felinos, nos meses de julho a setembro de 2009. Os felinos são da raça Persa, sendo uma fêmea e dois machos. Os sinais clínicos observados variaram desde prurido com lambedura, pelagem irregular e seca, com aspecto de “sal e pimenta”, alopecia em região cervical, face e cauda, observado com maior severidade no felino macho de colo-ração branca e creme. Dois animais foram tratados efetivamente, com aplicação de Fipronil 10g drop spot (0,5ml), e um animal foi tratado efetivamente com duas aplicações de ivermectina 1% 0,3 mg/Kg por via subcutânea, com intervalo de duas semanas entre as aplicações. Concluiu-se que, devido ao pequeno tamanho do parasito e as dificuldades no diagnóstico talvez este ectoparasito seja mais comum do que se imagina.

Palavra-chave: Felino, ácaro, linxacariose.

Abstract The cat fur mite is a disease caused by the external parasite Lynxacarus radovskyi. This paper aims to report the occurrence of this mite in the city of Joinville, Santa Catarina, Brazil, where three cases were diagnosed in cats, from July to September 2009. The cats are of Persian breed, one female and two males. The clinical signs ranged from licking and pruritus to dry and irregular hair with “salt and pepper” aspect, alopecia in the neck, face and tail, more severely observed in a white and cream male. Two animals were effectively treated with Fipronil 10g (0.5 ml) drop spot, and one animal was effec-tively treated with 1 % ivermectin 0.3 mg/kg subcutaneously with an interval of two weeks between two applications. It was concluded that, due to the small size of the parasite and the difficulties in diagnosing, this ectoparasite may be more common than previously thorught.

Keywords: Cat, mite, linxacariasis

225Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2010;8(25); 225-230.

Relato de três casos de linxacariose felina (Lynxacarus radovskyi) no município de Joinville, Santa Catarina

IntroduçãoOs distúrbios de pele representam cerca de 30 a 40% do

atendimento clínico de carnívoros domésticos, independente da localização geográfica e desenvolvimento sócio-econômi-co do país considerado (1).

Os ectoparasitos são causadores de dermatopatias nos animais domésticos, constituindo um grupo de interesse ve-terinário, pois evoluíram e se desenvolveram junto com mui-tos dos seus hospedeiros, podendo ou não provocar doença clínica dependendo de uma variedade de fatores ambientais, ecológicos, imunológicos, fisiológicos e de manejo que in-fluenciam na relação hospedeiro-parasita. Observar a distri-buição das lesões, principalmente nos estágios iniciais, pode ser muito significativo na hora de descartar diagnósticos diferenciais (2). Diagnosticar a causa primária de pruridos em gatos pode ser difícil devido às variadas apresentações clínicas e às numerosas possibilidades de etiologia. Muitos proprietários não sabem informar o quanto seus gatos se co-çam ou lambem, tornando difícil para o veterinário saber a intensidade do distúrbio.

A linxacariose felina ocasionada pelo ácaro Lynxacarus ra-dovskyi é uma parasitose que acomete felinos em regiões tro-picais e subtropicais (3,4,5). Infesta qualquer local do corpo do animal, sendo mais comum em face, região dorsal (3,6) e base da cauda, podendo generalizar (7). A transmissão pode ocor-rer por fômites e contato direto (3,5,8). Os sinais clínicos, pro-porcionais ao número de ácaros e a duração da infestação (9), incluem a alopecia, prurido (3,6,7) e lambedura excessiva (10).

O diagnóstico é realizado pelo raspado de pele (2,7) ou avulsão do pelo (3). Pode ser realizada também, observação em lupa (11). O tratamento é realizado com ectoparasiticidas em xampus, pós ou imersão (12) a base de imidacloprida, se-lamectina, ivermectina, carbaryl pó (5,6,13) e fipronil (3).

Embora seja considerado um ácaro incomum (3), sua ocorrência vem sendo registrada em vários locais do mundo, inclusive no Brasil (4,9,11,14). Na região Sul, a ocorrência de Linxacariose em felinos foi registrada pela primeira vez no Estado do Rio Grande do Sul em 1997 (4). O presente rela-ta o diagnóstico desse ácaro em três felinos do município de Joinville, Santa Catarina, sendo que o primeiro registro neste município foi em 2009 (15).

Revisão de literaturaA linxacariose é uma parasitose que acomete felinos. Há

controvérsias quanto à preferência climática deste parasita. Para Foley (5) L. radovskyi está adaptado ao clima subtropical de algumas ilhas da América do Norte enquanto que Craig et al. (8) afirmaram que este ácaro é mais comum em gatos de clima tropical, como no Texas e Flórida.

Seu agente etiológico o L. radovskyi (16) é um ácaro pilícola sarcoptiforme, da subordem Astigmata (9,11) e da família Li-trosphoridae (5), com tamanho de 430 a 515 μm, podendo ser visibilizado a olho nú, geralmente aderido ao terço distal da haste pilosa (5,12). Na microscopia observa-se que é um áca-ro que possui o revestimento anterior em marrom e o restan-

te em branco. Seu corpo é alongado e achatado lateralmente (9,12). Todas as suas patas possuem ventosas terminais, e ele se agarra a haste do pêlo com os palpos e os dois primeiros pares de patas (9,17). Os ovos são grandes, podendo medir 200 μm, sendo possível a visibilização em aumento de 10X (18,19).

O L. radovskyi foi descrito pela primeira vez no Havaí por Tenório em 1974 (16), e a partir de então sua ocorrência vem sendo registrada em vários locais do mundo (4). No Brasil, sua ocorrência foi relatada pela primeira vez no Estado do Rio de Janeiro em 1986 (20), sendo que já foi descrito também nos Estados de Ceará, Paraíba, Espírito Santo (11), Pernam-buco, Bahia, São Paulo, Rio Grande do Norte e Alagoas (3). Na região Sul, a ocorrência foi registrada pela primeira vez no Rio Grande do Sul no ano de 1997 (4), e o presente traba-lho relata o diagnóstico desse ácaro em três felinos do muni-cípio de Joinville, Santa Catarina.

A infestação pode ser encontrada em qualquer local do corpo do animal (10), porém as áreas mais afetadas são face, região dorsal (3,6), e base da cauda, tendendo a tornar-se uma infestação generalizada (7,9). A transmissão pode ser realiza-da por fômites e contato direto (8,17), embora sejam pouco contagiosos (3). Não há relato da transmissão do L. radovskyi por contato com outras espécies animais e ao homem (10).

Serra-Freire et al. (7) relataram que gatas são mais predis-postas a este parasito, talvez decorrente da imunidade com-prometida por estarem recém paridas ou em amamentação. Já Figueiredo et al. (11) observaram que machos são três ve-zes mais parasitados que fêmeas.

A maioria das infestações é subclínica (10). Supondo-se que a alimentação deste ácaro seja da superfície do pêlo (9), pode-se explicar o porquê da maioria dos casos ser assinto-mático. A grande quantidade de ácaros no pêlo dá impres-são de pelagem com “sal e pimenta” (6,8,13) e um único pêlo pode ser parasitado por vários exemplares (15). A pelagem fica com aspecto mal cuidado, com presença excessiva de hi-pequeratose (9), podendo ainda cursar com infecção bacteria-na secundária (17).

Quando apresenta sinais clínicos, estes são proporcionais ao número de ácaros fixados nos pêlos do animal e a duração da infestação (9). Craig et al. (8) e Borba e Steuernagel (15) su-geriram uma hipersensibilidade individual ao ácaro, o qual pode influenciar a intensidade de prurido e lambedura.

Os sinais observados são a alopecia seguida ou não de prurido (3), a lambedura excessiva (10). Há descrito também ocorrência de gengivite (21), podendo ocorrer ainda úlceras indolentes pela hipersensibilidade ao ácaro (15) e, erupções papulocrostosas disseminadas (10). O diagnóstico diferen-cial é de extrema importância, principalmente de pediculose (Felicola subrostrata) e queiletielose (Cheyletiela sp.) (9). Muitas vezes estes parasitos podem estar associados (3).

O diagnóstico definitivo é realizado pelo exame de raspa-do de pele (2,7), impressão em fita de acetato (9), ou avulsão do pelo, observando os ácaros aderidos ao pelo, em microscó-pio óptico ou lupa (3,6,11). Na microscopia pode-se observar a presença de ácaros adultos, ninfas, larvas e ovos de L. rado-vskyi (21). Quando a observação em microscópio óptico não é possível na hora da coleta, pode-se conservar o material em

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álcool 70% para posterior exame (3). A amostra pode ainda ser submetida à clarificação com potassa 10% (4), fixação e montagem em lâmina (7).

A indicação de tratamento para estes casos varia entre autores. Geralmente são recomendados ectoparasiticidas, em formulações de xampus, pós, ou imersão (12). Alguns princí-pios indicados são a imidacloprida, a selamectina, o fipronil e o carbaryl pó (3,5,6,13,22). É preconizada ainda, a prevenção com uso frequente de acaricidas (3).

Relato dos casos clínicosTrês felinos foram recebidos, de junho a agosto/2009,

para atendimento em consultório no município de Joinville, SC, Brasil. O felino 1 (F1) era um macho, de 5 Kg, não cas-trado, persa Himalaia de pelagem branca e creme. O felino 2 (F2) era fêmea, de 3,5 Kg, não castrada, raça persa de pelagem creme. Ambos residiam na mesma casa, não tendo acesso à parte externa da residência, não recebiam banhos com frequ-ência e a proprietária não soube informar se um dos animais manifestou lesões antes do outro. O felino 3 (F3) era macho, 3,7 Kg, não castrado, raça persa, pelagem azul e branca, e que residia em casa juntamente com outro felino hígido. Era ba-nhado com shampoo neutro quinzenalmente.

No exame clínico os três felinos, apresentaram parâmetros normais de batimentos cardíacos, movimentos respiratórios e temperatura retal. Os animais 1 e 2 apresentavam rarefação pilosa, pêlos quebradiços e principalmente rarefação pilosa. A alopecia e o aspecto “sal-e-pimenta” foram detectados em regi-ões da cauda, pescoço (Figura 1) e laterais do dorso no F1 e nas regiões pescoço e cauda no F2. Os pêlos podiam ser arrancados facilmente. A proprietária dos felinos 1 e 2 informou que os animais foram adquiridos em diferentes gatis em São Paulo-SP, onde residiram por alguns anos. Essa relatou que os animais não apresentavam qualquer sinal clínico quando moravam na cidade de São Paulo-SP, e inclusive que os gatos participavam de exposições. A mudança para Joinville-SC ocorreu em 2004, sendo que vieram apresentar lesões somente três anos depois. Na anamnese quando questionada sobre alguma mudança no ambiente, esta relatou somente que em novembro/2008 houve uma enchente em Joinville e que os gatos pisaram na água.

Os felinos 1 e 2 encontravam-se em bom estado nutricio-nal, e foi observada a presença de intenso prurido no F1, e prurido de grau moderado no F2, apresentando-se de acordo com o grau de infestação. Não apresentaram infecção bacte-riana secundária, e no exame clínico, a única suspeita foi a presença de ectoparasitas devido à apresentação da pelagem e presença de áreas alopécicas irregulares.

Para o diagnóstico definitivo, foram coletadas amostras de pelo, que foram colocadas em lâmina com óleo de imer-são, cobertos com lamínula e visibilizados em microscópio óptico Nikon Eclipse E200 em aumentos de 100 e 400X. Fo-ram identificados ácaros L. radovskyi nas fases de ovo e adul-tos (machos e fêmeas), conforme descrição morfológica de Faccini e Coutinho (20) e Jaffé et al. (9) (Figuras 2, 3 e 4).

O terceiro felino, um macho, persa, pelagem azul e bran-ca, não castrado, 3,6 kg foi como de costume para o banho quinzenal. Durante esse procedimento foram detectadas al-terações na pelagem e o animal foi encaminhado para con-sulta. No exame clínico, foram visibilizados pontilhados na pelagem da região dorsal, sugestivo de infestação por ácaros. Esse animal convivia com mais um felino, que no exame não apresentou qualquer alteração. Com autorização da proprie-tária foi realizada avulsão do pelo para a realização do exame de microscopia, onde ácaros da espécie L. radovskyi (adultos, jovens e ovos) foram visibilizados em aumentos de 100 e 400x.

Após confirmação de diagnóstico, os felinos 1 e 2 foram tratados com aplicação de uma dose semanal de fipronil 10g (0,5mL)1 (22), por quatro semanas consecutivas, enquanto o felino 3 foi tratado com duas aplicações de ivermectina 1%2, 300 µg/Kg via subcutânea (5,6,13), com um intervalo de quin-ze dias entre aplicações. Os proprietários dos felinos aceita-ram que os seus animais fossem incluídos nesse trabalho

Para analisar a cura foram examinados semanalmente, pelos removidos por avulsão de cada um dos animais..

1 Fiprolex drop spot® - Laboratório Ceva Sante Animale.2 Ivermectina Ouro Fino® - Laboratório Ouro Fino Saúde Animal

A

B

Figura 1: Felino apresentando pelagem com aspecto “sal e pimenta” (A) e rarefação pilosa na região auricular decorrente da infestação por Lynxacarus radovskyi. Joinville, Santa Catarina, 2009.

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Figura 2: Formas adultas de Lynxacarus radovskyi em haste pilosa de felinos de Joinville, Santa Catarina, 2009 (aumento de 100x).

Figura 3: Lynxacarus radovskyi nos pelos de felinos de Joinville, Santa Catarina, 2009. A - Macho; B – Fêmea ovígera (aumento de 40x).

BA

Figura 4: Ovos de Lynxacarus radovskyi aderidos ao pelo de felino de Joinville, Santa Catarina, 2009 (aumento de 40x).

228 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2010;8(25); 228-230.

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DiscussãoO Lynxacarus radovskyi está sendo encontrado cada vez mais

comumente em gatos domésticos no Brasil (4,7), mostrando as-sim que a ocorrência não é tão rara. Isso pode estar ocorrendo devido ao grande fluxo de animais entre estados (15).

A linxacariose é pouco frequente em felinos de Joinvil-le, SC, tendo sido relatada apenas por Borba; Steuernagel (15), em quatro felinos da raça persa, e um da raça hima-laia. Três dos cinco animais eram de um mesmo gatil, po-rém não foi citado em que cidade e estado estava localiza-do esse gatil.

Todos os felinos desse relato de caso eram da raça persa, concordando com as observações de Serra-Freire et al. (7) e Rocha et al. (23) de que gatos persas são naturalmente mais vulneráveis ao L. radovskyi.

Os parasitos observados possuíam a porção anterior com revestimento marrom e o restante branco, e ventosas termi-nais nas patas com as quais estavam aderidos aos pelos, es-tando de acordo com relatos da literatura (17,19).

Figueiredo et al. (11) observaram que machos são três ve-zes mais parasitados que fêmeas. Essa informação é compatí-vel com o relato descrito.

Os três felinos envolvidos nesse estudo eram de pelagem clara. Alguns autores indicam que há uma maior ocorrência em gatos de pêlos brancos (7), já outros afirmaram predomi-nância do parasitismo em pelagem de cor preta e escura (4), havendo divergência entre os autores quanto a esse aspecto. Em relação ao comprimento da pelagem, os felinos deste rela-to possuíam pelagem longa, concordando com as afirmações de Romeiro et al. (4).

O local de predileção do parasitismo nos casos relatados foi face ventral da região cervical nos gatos 1 e 2, e região dorsal do gato 3. Clare et al. (22) indicaram que as áreas mais acometidas por este ácaro são as laterais do animal e a região lombo-sacra. Segundo Serra-Freire et al. (7) o local de predi-leção do parasitismo é a região epigástrica.

Os sinais clínicos foram proporcionais ao número de ácaros fixados nos pêlos dos animais, concordando com dados de literatura (17,24). Nos casos relatados, o felino 1 apresentava intenso prurido, sendo que este se apresen-tava com uma infestação intensa de ácaros. Já a fêmea que convivia no mesmo ambiente, não apresentava uma infes-tação tão alta, sendo compatível com o prurido que apre-sentava. O terceiro felino, filho deste casal de gatos, porém residindo em outro local, apresentava uma infestação mo-derada de ácaros, e a proprietária não sabia relatar se havia presença ou ausência de prurido, e durante o período de atendimento clínico, nada apresentou. Em relação à pre-sença ou ausência de prurido, Munro; Munro (25) e Facci-ni; Coutinho (20) reportaram também estes sinais clínicos, enquanto Bowman; Domrow (18), Foley (5), Alves et al. (24) e Serra-Freire et al. (7) não mencionaram a ocorrência de prurido. Estas divergências são de difícil interpretação à luz do atual conhecimento sobre a epidemiologia da lin-xacariose felina.

O tratamento escolhido para os felinos 1 e 2 foi a aplica-ção semanal de fipronil, durante quatro semanas, seguindo orientação da literatura, onde geralmente recomendam-se para ectoparasitas, os pulicidas que muitas vezes também são piolhicidas, podendo estes ser aplicados em formas de xampus, pós, ou imersão (12). Alguns pulicidas indicados são o imidacloprida, selamectina, fipronil, e carbaryl pó a 5% (3,5,6). O tratamento com fipronil já foi utilizado por Clare et al. (22) para L. radovskyi, obtendo 100% de cura e corroboran-do com os dados deste relato.

Já para o felino 3 foi optado pela aplicação da ivermectina, duas doses de 300μg/kg por via subcutânea, com intervalo de 15 dias entre aplicações, seguindo indicação literária de tratamento da linxacariose felina (5,6,13).

No retorno dos animais à clínica, após a primeira apli-cação, observou-se a melhora dos sinais clínicos e redução da alopecia, associado à morte dos ácaros. As demais apli-cações foram realizadas para eliminar ácaros recém eclo-didos de ovos e para seguir os protocolos já existentes, garantindo bons resultados. A recomendação de Aguiar et al. (3) para um tratamento eficaz, incluindo a morte dos ovos, é que esse seja realizado por cinco semanas conse-cutivas.

O tratamento foi considerado efetivo devido à morte dos ácaros, porém os felinos 1 e 2 ainda apresentavam ácaros mortos na pelagem, talvez pela ausência de banhos durante o período do tratamento, por opção da proprietária. Já o felino 3 não apresentou ácaros na pelagem, sendo este fato atribuí-do ao banho quinzenal que é submetido.

Conforme indicação da literatura foi realizada, após 15 dias do término do tratamento, análise microscópica de pelos observados em lâmina em aumentos de 100X e 400X, verifi-cando a eficácia dos tratamentos pelo a ausência de ácaros. Porém, o exame dos pelos dos felinos 1 e 2, ficou prejudicado, pois esses foram submetidos à tosa antes da realização desta avaliação por opção da proprietária.

A duração do tratamento com o fipronil foi de quatro se-manas consecutivas, porém foi observada a morte dos ácaros logo após a primeira aplicação, sendo as demais efetuadas para eliminar parasitas recém eclodidos. Na literatura, en-contra-se que somente é considerado um tratamento efetivo, quando não se encontra mais L. radovskyi no hospedeiro tra-tado, em dois exames clínicos sucessivos, com intervalos de 15 dias a partir do término da aplicação terapêutica (7) confir-mando a eficácia dos tratamentos.

Considerações finaisPercebe-se uma ampliação no número de diagnósticos de

Linxacariose felina, que já esta apresentando uma distribui-ção ampla no Brasil. O trânsito de animais pelo comércio e exposições deve estar auxiliando na disseminação dessa in-festação.

O fipronil e a ivermectina se mostraram princípios ativos eficazes para o tratamento desse ácaro.

229Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2010;8(25); 229-230.

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Recebido para publicação em: 01/06/2010.Enviado para análise em: 01/06/2010.Aceito para publicação em: 10/06/2010.

230 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2010;8(25); 230-230.