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PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE FEIJÃO GUANDU (Cajanus cajan) POR AGRICULTORES FAMILIARES NO SERTÃO DE PERNAMBUCO PRODUCTION AND COMMERCIALIZATION OF PIGEONPEA (Cajanus cajan) BY FAMILY FARMERS IN THE PERNAMBUCO OF SERTÃO Apresentação: Comunicação Oral Marileide de Souza Sá 1 ; Wanessa Antas de Morais 2 ; Nadjaneide dos Santos Guerra 3 ; Keyla Laura Lira dos Santos 4 DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00198 Resumo A agricultura familiar vem desempenhando um papel essencial na melhoria da qualidade de vida da população oferecendo ao consumidor um produto livre do uso de agrotóxicos, com boa qualidade, no qual se podem obter todas as informações de produção diretamente do produtor. Com isso, o objetivo deste trabalho foi identificar a produção e principais canais de comercialização do feijão guandu produzido por agricultores familiares em municípios do sertão pernambucano. Foram aplicados 18 questionários a agricultores familiares agroecológicos/orgânicos nos municípios de Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo-PE, no período de 11 a 19 de novembro de 2017, abordando questões que eles vivem no dia a dia, como as principais cidades de comercialização, preço do feijão (Kg), dificuldades e destino dos produtos, quem comercializa, área de plantio, tempo na atividade, quando iniciou o cultivo e quantidade produzida. Os dados foram categorizados e submetidos à análise fatorial por componentes principais utilizando a rotação ortogonal Varimax, com recursos do software SPSS® 22.0. Para explicar a produção e comercialização do feijão guandu foram extraídos quatro fatores, representando 81,4% da variância total dos dados. Verificou-se a partir dos fatores extraídos que os principais locais de comercialização da produção são as cidades de Santa Cruz da Baixa Verde e Serra Talhada, sendo a cidade de Triunfo a principal produtora. A venda é feita pelo próprio produtor, sendo o quilo do feijão vendido entre R$ 6,00 a 10,00 reais. Os principais locais de venda da produção são em feiras, restaurantes, armazéns e banco de sementes/cooperativas. No entanto, 40% dos entrevistados ainda relataram encontrar dificuldades na comercialização, devido ao sabor/gosto, preço e preconceito pela população que desconhece os benefícios nutricionais do feijão. O tamanho médio da área de plantio variou 1 Licenciatura em Geografia, discente de Bacharelado em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada. e-mail: [email protected] 2 Discente de Bacharelado em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada.e-mail: [email protected] 3 Discente de Bacharelado em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada.e-mail:[email protected] 4 Doutora em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada. e- mail: [email protected]

PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE FEIJÃO GUANDU Cajanus … · fatores extraídos que os principais locais de comercialização da produção são as cidades de Santa Cruz da Baixa

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PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE FEIJÃO GUANDU (Cajanus cajan) POR

AGRICULTORES FAMILIARES NO SERTÃO DE PERNAMBUCO

PRODUCTION AND COMMERCIALIZATION OF PIGEONPEA (Cajanus cajan) BY

FAMILY FARMERS IN THE PERNAMBUCO OF SERTÃO

Apresentação: Comunicação Oral

Marileide de Souza Sá1; Wanessa Antas de Morais2; Nadjaneide dos Santos Guerra3; Keyla

Laura Lira dos Santos4

DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00198

Resumo A agricultura familiar vem desempenhando um papel essencial na melhoria da qualidade

de vida da população oferecendo ao consumidor um produto livre do uso de agrotóxicos, com

boa qualidade, no qual se podem obter todas as informações de produção diretamente do

produtor. Com isso, o objetivo deste trabalho foi identificar a produção e principais canais de

comercialização do feijão guandu produzido por agricultores familiares em municípios do

sertão pernambucano. Foram aplicados 18 questionários a agricultores familiares

agroecológicos/orgânicos nos municípios de Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo-PE, no

período de 11 a 19 de novembro de 2017, abordando questões que eles vivem no dia a dia,

como as principais cidades de comercialização, preço do feijão (Kg), dificuldades e destino dos

produtos, quem comercializa, área de plantio, tempo na atividade, quando iniciou o cultivo e

quantidade produzida. Os dados foram categorizados e submetidos à análise fatorial por

componentes principais utilizando a rotação ortogonal Varimax, com recursos do software

SPSS® 22.0. Para explicar a produção e comercialização do feijão guandu foram extraídos

quatro fatores, representando 81,4% da variância total dos dados. Verificou-se a partir dos

fatores extraídos que os principais locais de comercialização da produção são as cidades de

Santa Cruz da Baixa Verde e Serra Talhada, sendo a cidade de Triunfo a principal produtora.

A venda é feita pelo próprio produtor, sendo o quilo do feijão vendido entre R$ 6,00 a 10,00

reais. Os principais locais de venda da produção são em feiras, restaurantes, armazéns e banco

de sementes/cooperativas. No entanto, 40% dos entrevistados ainda relataram encontrar

dificuldades na comercialização, devido ao sabor/gosto, preço e preconceito pela população

que desconhece os benefícios nutricionais do feijão. O tamanho médio da área de plantio variou

1Licenciatura em Geografia, discente de Bacharelado em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada. e-mail: [email protected] 2Discente de Bacharelado em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada.e-mail: [email protected] 3Discente de Bacharelado em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada.e-mail:[email protected] 4 Doutora em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada. e-mail: [email protected]

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de 0,5 a 1,0 hectare (61,1%), a maioria iniciou na atividade há 30 anos (44,4%) por incentivo

dos pais, tradição ou gostarem do feijão (77,8%), sendo as variedades Ligeiro e Custoso (POJ)

as mais comuns na região. Com relação à escolaridade 71,4% das mulheres possuem ensino

médio e apenas 28,6% dos homens, enquanto que 49,9% não completaram o ensino

fundamental. Desta forma, é importante desenvolver trabalhos junto aos agricultores familiares

ampliando o cultivo do feijão, a comercialização de seus produtos e esclarecendo a população

dos benefícios de seu consumo para saúde, para que possam gerar mais renda familiar pela

disponibilidade de um produto de qualidade nutricional no mercado.

Palavras-Chave: Alimento orgânico, geração de renda, qualidade de vida.

Abstract Family farming has been playing a key role in improving the quality of life of the

population by providing the consumer with a product free of the use of pesticides with good

quality and that the consumer can obtain all the production information directly from the

producer. Therefore, the objective of this work was to identify the production and main

commercialization channels of the Pigeonpea produced by family farmers in the municipalities

in the sertão of Pernambuco. Eighteen questionnaires were applied to agroecological / organic

family farmers in the municipalities of Santa Cruz da Baixa Verde and Triunfo-PE, during the

period from November 11 to 19, 2017, addressing issues that they live in daily life, such as the

main commercialization cities , price of beans (kg), difficulties and destination of the products,

who markets, area of planting, time, when the cultivation began, quantity produced. The data

were categorized and submitted to factorial analysis by main components using Varimax

orthogonal rotation, using the SPSS® 22.0 software features. To explain the production and

commercialization of the pigeonpea were extracted four factors representing 81.44% of the total

variances of the data. It was verified from the extracted factors that the main production sites

are the cities of Santa Cruz da Baixa Verde and Serra Talhada, the city of Triunfo being the

main producer. The sale is made by the producer himself, and the kilo of the beans sold between

R $ 6.00 and R $ 10.00. The main production outlets are at fairs, restaurants, warehouses and

seed bank / cooperatives. However, 40% of the interviewees still reported difficulty in

marketing due to the taste / taste, price and prejudice by the population that does not know the

nutritional benefits of the beans. The average size of farms ranged from 0.5 to 1.0 hectare

(61.1%), most of them started planting more than 30 years (44.4%), by parenting, tradition or

liking beans ( 77.8%), being the Light and Costly (POJ) varieties the most common in the

region. With regard to schooling, 71.4% of women have high school and only 28.6% of men,

while 49.9% did not complete elementary school. In this way, it is important to develop work

with family farmers, increasing the cultivation of beans, marketing their products and clarifying

the population of the benefits of their consumption for health, so that they can generate more

family income through the availability of a product of nutritional quality in the Marketplace.

Keywords: Organic food, income generation, quality of life.

Introdução

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Ao longo dos anos a população já se organizava em comunidades para a produção dos

produtos para subsistência familiar, pois o alimento é um recurso necessário para sustento

humano, onde a sua falta desencadeia problemas de distúrbios nutricionais, daí a importância

da organização de comunidades sociais para se evitar um colapso alimentar mundial. A

produção do próprio alimento é uma técnica ancestral disseminada pela agricultura humana,

sendo difundida por diversos lugares e culturas. Os primitivos sistemas agrícolas ocorreram

para assegurar a alimentação familiar e coletiva, fundamentando nas grandes áreas de coleta,

caça em pequenos roçados cultivados, utilizando de animais domésticos e consorciação de

produção vegetal (DUVAL et al., 2009).

A procura da população por uma alimentação equilibrada e saudável para obtenção de

uma saúde melhor, fez com que houvesse uma mudança na forma de produção desses alimentos,

mudando a produção de agricultura convencional para uma agricultura orgânica, livre de

produtos tóxicos a saúde humana, preservando assim os recursos naturais, motivando a inclusão

social e um produto diferenciado no final (QUEIROGA et al., 2011).

A agricultura orgânica é um exemplo de agricultura na qual não se utiliza de produtos

químicos sintéticos para a produção de alimentos. Onde nesse sistema estão incluídas as

agriculturas orgânica, biodinâmica, biológica e permacultura, incluindo ainda a agroecologia

que se relaciona com as reflexões a acerca das questões sociais da comunidade agrícola

(OLIVEIRA et al., 2018).

A produção harmoniosa existente na agricultura orgânica através da reciclagem de

nutrientes, e maior aproveitamento dos insumos orgânicos gerados reduzindo dessa forma os

impactos ambientais, poluição e o uso de mecanização pesada. Em determinadas ocasiões se

faz uso de tratores leves, aração e plantio direto para aumento da produtividade, minimizando

o uso de matéria prima externa, produzindo alimentos baratos e de alta qualidade, que podem

prover as necessidades internas e exportar os excedentes (PREISS & MARQUES, 2017).

Segundo Fornazier (2014), essa forma de agricultura resgata conhecimentos seculares das

populações rurais, com a utilização de técnicas atuais, que não venham a agredir o meio

ambiente, mas melhorar a qualidade de vida do produtor e da sua família, como também da

população urbana que procura produtos livres de contaminantes e que não degradem o ambiente

de cultivo. Os produtores antigamente se preocupavam apenas em colocar o produto no

mercado e hoje com a demanda de um consumidor cada vez mais exigente, que se preocupam

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com outras características como cor, tamanho, onde é produzido, se respeitam as normas

ambientais e acordos sociais entre outros.

De acordo com Daros et al. (2007), a realização de mudanças na produção requer alguns

custos para regularização da comercialização de seus produtos, o que torna um procedimento

inacessível para pequenos produtores. Com isso, a alternativa são eles se organizarem em

associações e cooperativas a fim de adquirir isenções e minimizar custos com aquisição de

produtos e documentações em maior escala de produção. Por meio dessas organizações os

produtores podem melhorar a renda, gerar empregos, desenvolvimento regional e

consequentemente contribuir para a fixação do homem no campo.

Desta forma, é importante conhecer os aspectos da produção e comercialização do feijão

guandu (Cajanus cajan), por grupos de agricultores familiares em municípios do sertão

pernambucano.

Fundamentação Teórica

As relações de mercado entre os agricultores familiares com os mercados tradicionais são

bem mais complicadas do que são estabelecidas para os chamados ramos do agronegócio. Os

produtores rurais seguem um processo de comercialização advindo de costumes culturais, por

isso, o mercado para a agricultura familiar deve ser ajustado a uma dinâmica própria, as

diversidades produtivas e as características culturais, para que esses produtores garantam a

quantidade e qualidade da produção (OLIVEIRA et al., 2018).

A falta de apoio de alguns municípios para com os agricultores no sentido de melhoria

das condições de infraestrutura, serviços para o progresso do escoamento da produção,

contribuem para a queda na produtividade agropecuária local. Para alguns produtores é preciso

que haja uma conscientização da população sobre o hábito de consumir produtos orgânicos, que

pode está relacionada ao alto preço, baixa oferta e divulgação da qualidade dos produtos

(ROEL, 2002).

De acordo com Fischer et al. (2016), um dos grandes gargalos enfrentados pelos

agricultores é a comercialização de seus produtos, onde muitas vezes são obrigados a expor o

produto a preços baixos para revenda, levando a grandes perdas na comercialização de produtos

fundamentais como feijão, milho e animais de pequeno porte. Dessa forma, não adianta

políticas para melhoria da infraestrutura local, alternativas tecnológicas de convivência com o

semiárido, sem pensar em capacitações, assistência técnica de qualidade, créditos e

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comercialização.

Silva et al. (2015) acreditam que através da agricultura familiar podemos melhorar a

eficiência e o desenvolvimento agrícola rural, porém ainda é preciso que sejam sanadas algumas

dificuldades de características sociais. O agricultor é um ser que sabe se desvencilhar das

grandes limitações que lhe afligem, o que o torna potencialmente capaz de elevar a agricultura

familiar pelos sistemas de produção adotados, apesar do enfrentamento de grandes problemas

de contexto ambiental, políticas públicas e recursos voltados para a melhoria do setor.

Dentre os produtos produzidos pela agricultura familiar o feijão representa o de maior

importância para a melhoria da segurança alimentar brasileira, buscando sempre um auto

consumo do produto pela implantação de sistemas de produção cada vez mais livre do uso de

produtos externos para melhoria da produção (SILVA et al., 2015).

Entre as variedades de feijão cultivadas no Brasil temos o guandu, uma cultura de ciclo

anual ou perene, produzindo sementes que são ricas em proteínas, e conseguem suportar solos

de baixa fertilidade, suportando altas temperaturas e condições de seca como a região semiárida

brasileira. Com uma raiz pivotante que penetra em mais de metro do solo, ajudando na

descompactação de solos, as raízes secundárias apresentam nódulos com bactérias do gênero

Rhizobium, que fazem fixação biológica de nitrogênio atmosférico que é cedido a planta para a

formação de aminoácidos e proteínas. O guandu é uma cultivar que pode ser utilizada de

diversas maneiras como interesse forrageiro, fornecedora de grãos para consumo humano, aves,

suínos e melhoradora de solos (SEIFFERT & LOPES, 1983).

Desta forma, o produtor de feijão e produtos orgânicos/agroecológicos apresenta ao

mercado produtos mais atrativos, dispondo de novos mercados, podendo expandir para

territórios mais próximos, valorizando o seu produto com preço diferenciado e competitivo no

mercado, priorizando a sustentabilidade da atividade e melhoria socioeconômica da

comunidade (AOKI et al., 2015)

Metodologia

A obtenção de informações referente à produção e comercialização de feijão guandu

(Cajanus cajan), se deu pela aplicação de 18 questionários a agricultores familiares

agroecológicos/orgânicos nos municípios de Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo-PE.

Foram elaborados questionários semi estruturado, com perguntas abertas e fechadas,

sobre principais cidades de comercialização, preço do feijão (Kg), dificuldades e destino dos

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produtos, quem comercializa, qual a área de plantio, o tempo na atividade, início do cultivo e a

quantidade produzida. As entrevistas foram realizadas por uma única pessoa, no período de 11

a 19 de novembro de 2017.

As variáveis respondidas foram categorizadas, sendo atribuídas para as respostas

objetivas: 1 (sim), 2 (não) e 0 (não sabe ou não respondeu). Para as perguntas subjetivas foram

criadas escalas variando de 1 até 7.

Os dados foram submetidos à análise exploratória como frequência e fatorial por

componentes principais utilizando a rotação ortogonal Varimax, com recursos do software

SPSS® 22.0 (2018). Para avaliar a adequação da análise fatorial foi utilizado o teste de Kaiser-

Meyer-Olkin (KMO) e o teste de esferacidade de Bartlett, cujos valores obtidos foram 0,439,

respectivamente, com significância de 0,001.

O critério para escolha do número de fatores foi a raiz latente ou de Kaiser, que retém

os fatores com autovalores superiores a 1.

Resultados e Discussão

Utilizando-se a análise fatorial por componentes principais, 81,4% do total da variância

dos dados podem ser explicadas por quarto fatores (Tabela 1). Podemos perceber que os

autovalores dos primeiros quatro fatores são todos maiores que um, sendo que os fatores

restantes correspondem uma proporção muito pequena da variabilidade e sem muita

importância para influência nos dados.

Tabela 1- Autovalores e percentual das variâncias total explicada.

Autovalores % Total

Variância

% Total

Var. acumulada

1 4,5 37,3 37,3 2 2,4 19,9 57,2 3 1,5 12,3 69,5 4 1,4 11,9 81,4

Observa-se que das 12 varáveis estudadas a proporção da variância explicada pelos

autovalores foi reduzindo para fatores acima de seis, e a curva foi ficando mais próxima do eixo

das abcissas (Figura 1). O número de fatores, sua composição e suas respectivas cargas indicam

quanto cada variável está associada a cada fator e os autovalores associados a cada um dos

fatores envolvidos (ARTES, 1998, citado por SANTOS, 2012).

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Figura 1- Autovalores por número de fatores.

A Tabela 2 mostra as cargas fatoriais rotacionadas e as comunalidades para os fatores

considerados. Para explicar os quatro fatores, apenas as cargas das variáveis associadas aos

fatores mais significativos, com correlação acima de 0,500 foram consideradas. Os valores das

comunalidades representam a proporção de variância explicada pelas variáveis comum a cada

fator.

Tabela 2 - Coeficiente de correlação das variáveis com suas respectivas cargas fatoriais e comunalidade.

*Estão em negrito os valores com correlação igual ou superior 50%

O primeiro fator está relacionado com as características da comercialização e explica

37,5% da variância total dos dados. Reúne cinco variáveis com alto grau de correlação: cidade

que comercializa a produção, preço do quilo de feijão, dificuldades na comercialização, quem

Variáveis Coeficiente de correlação Comunalidade

(%) F1 F2 F3 F4

Cidade que comercializa a produção 0,959* 0,071 0,032 -0,098 0,935

Preço do quilo de feijão 0,955 0,200 -0,029 0,001 0,952

Dificuldades na comercialização 0,936 0,112 -0,034 0,024 0,891

Quem comercializa a produção 0,894 -0,307 0,124 0,155 0,933

Destino da produção 0,784 -0,490 0,190 0,042 0,893

Área de plantio de feijão guandu 0,144 0,789 0,113 -0,082 0,662

Tempo que planta feijão guandu -0,139 0,741 -0,271 0,005 0,642

Uso de rotação de cultura 0,149 -0,709 -0,500 -0,016 0,775

Como iniciou a plantação de guandu 0,441 0,552 -0,461 0,267 0,783

Variedade de feijão comercializada 0,152 -0,005 0,904 0,080 0,847

Nível educacional 0,107 0,089 0,139 -0,824 0,718

Quantidade de feijão produzido 0,149 0,066 0,222 0,811 0,733

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comercializa a produção e destino da produção.

A cidade de maior comercialização dos feijões são as que possuem feiras agroecológicas

nas cidades, como Santa Cruz da Baixa Verde (50,0%) e Serra Talhada (50,0%). Quem

comercializa nestas cidades também vendem para cidades de Triunfo (66,3%), que se destaca

também como principal produtor e Flores (33,6%). Com relação ao preço do feijão (Tabela 3)

houve uma variação de R$ 6,00 a 10,00, sendo a cidade Serra Talhada onde o preço do feijão é

o mais caro, isso pode ser atribuído ao fato do feijão guandu não ser produzido na cidade, vindo

principalmente das cidades de Triunfo e Santa Cruz da baixa Verde, além do maior poder

aquisitivo da população.

Tabela 3- Preço do feijão guandu comercializado em feiras agroecológicas do sertão pernambucano, no período

de 11 a 19 de novembro de 2017.

Em relação à comercialização 60,0% disseram não ter problema na comercialização do

produto. Porém, 40% dos comerciantes, principalmente em Serra Talhada, relacionaram as

dificuldades da comercialização a sua aceitação pelo consumidor que acha o produto com

sabor/gosto amargo (50%), preço (25%) e preconceito (25%) por considerar um feijão fraco

que não sacia a fome, além disso, está associado com a falta de recursos por parte de quem

consome. Conforme trabalho realizado por Abreu et al., (2016), um dos maiores problemas é

justamente com a comercialização do produto, por não conhecerem ou acharem o grão de feijão

pequeno.

Uma particularidade da produção do feijão guandu é o seu autoconsumo, com 55,5%

da produção destinada a consumo e venda pelo produtor. A comercialização do produto é feita

direto do produtor (100%), sendo os locais de comercialização muito variável: feiras (43,7%),

restaurantes (18,7%), armazéns (18,2%), cooperativas/banco de semente (12%) e

supermercados (6,2%).

O segundo fator, com 19,9% da variância total, está relacionado com as características

do produtor e a adoção de tecnologia. Sendo correlacionadas positivamente as variáveis: área

Cidades Preço médio do feijão guandu verde (R$/Kg)

Triunfo 8,00

Serra Talhada 10,00

Santa Cruz da Baixa Verde 6,00

Flores 7,00

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de plantio de feijão guandu, tempo na atividade e como iniciou a plantação de guandu, e

negativamente, com o uso de rotação de cultura.

O tamanho médio das propriedades com área de plantio de feijão guandu variou de 0,5

a 1,0 hectare (61,1%) na maior parte das propriedades analisadas (Figura 2). Corroborando com

o trabalho de Silva et al. (2015), onde as áreas de cultivo dos pequenos produtores ficam em

pequenas áreas em torno de 1,0 ha. Em relação ao plantio, a rotação de cultura é uma técnica

realizada por 88,9% dos produtores, que também não fazem uso de defensivos e fertilizantes

químicos. A rotação de culturas faz com os produtores possam produzir diversas culturas em

sucessivos cultivos, aumentar a biodiversidade, diminuindo o surgimento de pragas e doenças,

favorecendo a produtividade das culturas (SANTOS et al., 2018).

Figura 2 – Área de plantio de feijão guandu por agricultores agroecológicos no sertão pernambucano.

Quanto ao tempo na atividade este variou de um a 30 anos, sendo até 10 anos 16,6% e

acima de 30 anos 44,4% (Figura 3) verifica-se que apesar do feijão não ser produzido em grande

escala é uma cultura que vem sendo cultivada há vários anos. O início do plantio de guandu

ocorreu por incentivo dos pais, tradição ou gostarem do feijão (77,8%) e por sua adaptabilidade

e necessidade de uma fonte de alimentação (22,2%). Assim, é preciso que esta cultura continue

difundida entre os produtores e seus filhos para que o consumo do guandu não venha a se perder

na região.

38,9%

22,2%

5,5%

11,1%

22,2 %

0,5 ha

1,0 há

1,5 ha

Acima de 1 ha e menor 1,5 ha

Acima 0,5 ha e menor 1,0 há

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Figura 3 – Tempo em anos que iniciou a produção de feijão guandu.

Com relação ao terceiro fator, ele explica 12,3% variância e 69,5% variância total

acumulada dos fatores 1 e 2, e está ligado com a qualidade ou tipo de feijão comercializado.

Entre as variedades de feijão guandu plantadas na região tem-se preferência tanto para o ligeiro,

quanto para o POJ (custoso), 44,4% respectivamente, e alguns cultivam as duas variedades

somam (11,1%). A escolha da variedade depende da localidade do produtor, das condições

climáticas e do solo no período de cultivo do feijão. Pois a depender da variedade cultivada esta

poderá produzir de 500 a 1.500 kg/há de grãos, com teor de proteína de ótima qualidade

variando de 18 a 32%. Já a sua forragem pode chegar de 18 a 22% de proteína bruta, tornando

uma boa alternativa para alimentação animal (SEIFFERT & LOPES, 1983).

O quarto fator representa 11,9% da variância total dos dados e está relacionado com a

importância social da produção de feijão guandu, sendo correlacionado negativamente com

nível de escolaridade e positivamente com quantidade produzida de feijão.

Verificou-se em relação à escolaridade, que estão sem estudo formal 11,1%, com ensino

fundamental completo 5,5%, fundamental incompleto 38,9%, ensino médio 38,9% e médio

incompleto 5,5%. Ou seja, 49,9% não têm o ensino fundamental completo. Em relação ao

ensino médio completo, destes 71,4% são mulheres e 28,6% são do sexo masculino. Podendo

está relacionada à questão que as mulheres são responsáveis pelos cuidados da casa e da

educação e os homens pelo trabalho, onde nos últimos anos pelas políticas públicas voltadas

para as mulheres, que agora estão se inserindo no trabalho da agricultura. Com relação à

quantidade de feijão produzido 50% produzem em média de 1 a 2 sacos de feijão ao ano.

5,5% 5,5% 5,5%

16,7%

11,10% 11,11%

44,4%

1 -9 meses 1- 5 anos 6-10 anos 11 -15 anos 16 - 20 anos 21 -30 anos Acima de 30anos

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Conclusões

A partir dos fatores extraídos verificou-se a importância socioeconômica e cultural da

produção de feijão guandu para os pequenos agricultores do sertão pernambucano, por este ser

produzido em pequenas áreas, servindo tanto para seu autoconsumo quanto para ser

comercializado. No entanto, é preciso que sejam realizados mais trabalhos junto a esses

produtores no sentido de alavancar a sua produção, ampliando a cadeia produtiva e os canais

de comercialização dos seus produtos que ainda são muito restritos as feiras livres e mercados

locais e de cidades vizinhas.

Por outro lado, a falta de conhecimento do valor nutritivo do feijão ainda gera muito

preconceito pela população local. O consumidor precisa ser esclarecido dos benefícios do

consumo do feijão guandu para complementar a sua alimentação com níveis nutricionais

adequados, manter sua saúde e bem estar.

Essas medidas são importantes para ampliar o cultivo do feijão, para que possam gerar

mais renda familiar pela disponibilidade de um produto de qualidade nutricional no mercado e

permanência do homem no campo.

Referências

ABREU, K. G.; PAIVA, I. A. M.; BENEDITO, N. C.; DORNELAS, C. S. M. As dificuldades

de produtores rurais na comercialização de produtos agroecológicos no município de Sumé -

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