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stá uni calor de rachar, acima dos 30 graus. Além da tempera- •. tura invulgar para maio, o céu continua cinzento e completa- ;' . mente nublado. A hora de almoço, a Caldeira de Tróia e a res- * petiva laguna transformam-se num cenário abrasador. A areia reflete a luz. Até parece que estamos num deserto. Nas mar- gens felizmente bastantes pinheiros e sombra. Um pouco mais à frente, chegamos às ruínas de Tróia. Classificadas como monumento nacional desde 1910 foram valorizadas em 2010 e alvo de um per- curso que permite contemplar e conhecer a história daquele que foi o maior cen- tro de conserva e salga de peixe do Império Romano, entre o século I e VI. Hans Christian Andersen, que visitou as ruínas em 1866, classificou-as mesmo como a Pompeia de Setúbal. Uma parte desta metrópole romana - onde chegaram a viver 5000 pessoas - permanece ainda enterrada nas areias. K foi também graças às areias que os edifícios, mausoléus, tanques e termas chegaram até nós. A península de Tróia - uma estreita língua de terra - não é muito grande mas alberga um dos mais fascinantes recantos da costa portuguesa. De um lado o Atlântico, com um azul distinto, praias com areia quase branca, dunas e pinhal; do outro, mais pinhal, o rio Sado ea vista para Setúbal. Vi, no entanto, foram precisos muitos anos para que Tróia renascesse dos erros urbanísticos das décadas de 70/80. Apesar das torres anacrónicas, o Tróia Resort ofe- rece um conjunto variado de hotéis e apartamentos, campo de golfe, casino, eiclovias, uma marina com restaurantes e uma paisagem natural imbatível. R as praias claro. Do Bico das Lulas à Tróia Mar, passando pela Comporta. Qual a capital europeia que se pode gabar de ter um estância de praia como esta tão perto? Ainda para mais com o bónus da serra da Arrábida a emoldurar a paisagem. Sem esquecer os golfinhos do Sado... A completar este ramalhete, encontramos ainda as ruínas romanas e a laguna da Caldeira, ideal para observação de aves ou para um passeio a pé. PIQUENIQUE ENTRE ROMANOS... Voltemos às ruínas. Com o per- curso e os novos equipamentos é possível não visitá-las, mas solicitar um piquenique se estiver alojado no Tróia Resort. O almoço decorre na Rua da Princesa, protegidos pela sombra dos pinheiros, com vista para o rio e para Setúbal. Ainda estávamos a estender a toalha, com barcos de pesca e caiaques a desfilarem no rio e, antecedendo um ferry, um grupo de golfinhos, parece exibir-se para nós. Entre sanduíches, rissóis, em- padas, morangos, pastéis de nata e vinho rose, a conversa flui entre os admiráveis golfinhos e os não menos admiráveis romanos que ali se esta- beleceram a partir do século I. O nome de Rua da Princesa deve-se à infanta D. Maria I que iniciou os trabalhos das escavações. No século XIX as casas ali encontradas foram descritas como tendo rés-do-chão e primeiro andar, mosaicos e pinturas. Hoje restam ruínas destas residências, mas existe ainda muito sob a Um passadiço em madeira dá acesso à praia do Bico das LuLas. em frente a zona de hotéis e apartamentos. Protege os pés e as dunas...

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stá uni calor de rachar, acima dos 30 graus. Além da tempera-•. tura invulgar para maio, o céu continua cinzento e completa-;' . mente nublado. A hora de almoço, a Caldeira de Tróia e a res-* petiva laguna transformam-se num cenário abrasador. A areia

reflete a luz. Até parece que estamos num deserto. Nas mar-gens há felizmente bastantes pinheiros e sombra. Um poucomais à frente, chegamos às ruínas de Tróia. Classificadas como

monumento nacional desde 1910 foram valorizadas em 2010 e alvo de um per-curso que permite contemplar e conhecer a história daquele que foi o maior cen-tro de conserva e salga de peixe do Império Romano, entre o século I e VI. HansChristian Andersen, que visitou as ruínas em 1866, classificou-as mesmo como a

Pompeia de Setúbal. Uma parte desta metrópole romana - onde chegaram a viver5000 pessoas - permanece ainda enterrada nas areias. K foi também graças às

areias que os edifícios, mausoléus, tanques e termas chegaram até nós.

A península de Tróia - uma estreita língua de terra - não é muito grande masalberga um dos mais fascinantes recantos da costa portuguesa. De um lado o

Atlântico, com um azul distinto, praias com areia quase branca, dunas e pinhal;do outro, mais pinhal, o rio Sado e a vista para Setúbal.

Vi, no entanto, foram precisos muitos anos para que Tróia renascesse dos errosurbanísticos das décadas de 70/80. Apesar das torres anacrónicas, o Tróia Resort ofe-rece um conjunto variado de hotéis e apartamentos, campo de golfe, casino, eiclovias,uma marina com restaurantes e uma paisagem natural imbatível. R as praias claro.Do Bico das Lulas à Tróia Mar, passando pela Comporta. Qual a capital europeia quese pode gabar de ter um estância de praia como esta tão perto? Ainda para mais como bónus da serra da Arrábida a emoldurar a paisagem. Sem esquecer os golfinhos doSado... A completar este ramalhete, encontramos ainda as ruínas romanas e a lagunada Caldeira, ideal para observação de aves ou para um passeio a pé.

PIQUENIQUE ENTRE ROMANOS... Voltemos às ruínas. Com o per-curso e os novos equipamentos é possível não só visitá-las, mas solicitarum piquenique se estiver alojado no Tróia Resort. O almoço decorre naRua da Princesa, protegidos pela sombra dos pinheiros, com vista para o

rio e para Setúbal. Ainda estávamos a estender a toalha, com barcos de

pesca e caiaques a desfilarem no rio e, antecedendo um ferry, um grupode golfinhos, parece exibir-se para nós. Entre sanduíches, rissóis, em-

padas, morangos, pastéis de nata e vinho rose, a conversa flui entre os

admiráveis golfinhos e os não menos admiráveis romanos que ali se esta-beleceram a partir do século I.

O nome de Rua da Princesa deve-se à infanta D. Maria I que iniciou os

trabalhos das escavações. No século XIX as casas ali encontradas foramdescritas como tendo rés-do-chão e primeiro andar, mosaicos e pinturas.Hoje já só restam ruínas destas residências, mas existe ainda muito sob a

Um passadiço em madeiradá acesso à praia do Bicodas LuLas. em frente a zonade hotéis e apartamentos.Protege os pés e as dunas...

areia, como refere a arqueóloga Inês Vaz Pinto que nos conduznesta visita. Pinturas coloridas, e extraordinárias, vamos encontrá-las na Basílica Paleocristã, de finais do século IV, inícios do século

V. Atualmente coberta por uma já velha estrutura, será tambémela alvo de obras, para proteger os notáveis frescos e o edifício.

A atual península de Tróia seria na época romana uma ilha.«Pensa-se que seria a ilha de Acalá», explica a arqueóloga.Sabe-se sim que o nome de Cetóbriga que lhe foi atribuído du-rante anos estava errado pois essa seria designação correspondesim a Setúbal. Quanto ao nome Tróia terá origem numa palavraantiga para rede de pesca .

A riqueza em peixe do Atlântico e a qualidade do sal do Sadolevaram os romanos a ocupar a ilha para a sua apreciada salga de

peixe. Até nós chegaram os tanques e as oficinas de salga onde os

escravos preparavam as conservas de peixe que seriam enviadas

para todo o império. Inês Vaz Pinto conta que foram encontra-das ânforas de Tróia em Roma ou no Norte de África. Ali também se produzia o

garum, um molho espesso de peixe e tripas de peixe, com muita proteína. Até à

data foram identificadas 20 oficinas com dimensões variadas. O mausoléu ou as

inevitáveis termas mostram ainda como viviam e morriam os romanos.O percurso ali estabelecido e o trabalho feito pelos arqueólogos é admirável,

sobretudo para quem se lembra de como as minas estavam nos anos 80... Agoraa dignidade foi devolvida ao monumento e há visitas guiadas e atividades peda-gógicas para crianças. Além do refrescante piquenique - uma experiência que se

recomenda vivamente ~. é possível participar num almoço ou jantar romano, jogos

romanos, num passeio pela orla do estuário ou ser arqueólogo por um dia (paramaiores de 13 anos) acompanhando os trabalhos de escavação durante um dia. Por

fim, uma pequena mas interessante exposição que está no clubhouse do golfe mos-tra objetos recolhidos nas últimas escavações, de ânforas a ganchos para o cabelo.

A CALDEIRA Ainda encerrados no ferry verde alface que liga Setúbal à penínsu-la e já estamos a admirar a paisagem e os encantos da natureza em Tróia. Antesou depois da \isita às ruínas há que dedicar um pouco de tempo à Caldeira. Tra-ta-se de um área de sapal, sujeita às marés, onde pescadores e aves coabitam pa-cificamente. Este braço do Sado é também um cenário de águas calmas, margensverdejantes e barcos abandonados. Também aqui a recuperação se faz sentir.A gestão ambiental do Tróia Resort, dirigida por Célia Ferreira, inclui um planode 260 mil euros para o ano de 2011/13 em ações de conservação e monitoriza-

ção ambiental no estuário do Sado, em^operação com o Instituto de Conserva-ção da Natureza. A vitalidade da Caldeira, com lingueirão e amêijoa, entre outrasespécies, atrai muitos pescadores, em especial na baixa-mar.

O pernilongo, o símbolo do Tróia Resort é uma das aves que se podem aliobservar. Mas as mais abundantes são os pilritos, os borrelhos, o mergulhão, as

garças e até o garajau. E a biodiversidade é uma riqueza protegida. Como su-

blinha Célia Ferreira, «aqui o o património natural foi encarado com um fator dí-ferenciador». Existem mais de 600 espécies - das quais 233 de flora, 152 de aves

e 207 de organismos que vivem na zona entre-marés, incluindo bivalves. Na zonaflorestal destacam-se duas espécies endémicas de zimbro, num habitat protegido

por legislação nacional e comunitária.Na área submersa da península encontram-se as pradarias marinhas da Susterá

(plantas aquáticas) com cavalos-marinhos, raias, chocos, amêijoas. Estas plantas ga-rantem um ecossistema único, protegem-no da erosão e funcionam como «berçá-rios» de invertebrados e peixes. É esta fauna que sustenta os golfinhos do Sado.

ONDE O MAR É MAIS AZUL... Nesta nova vida de Tróia, o ordenamento do acesso

às praias - Troiana, Troia-Galé e Bico das Lulas - distinguidas com bandeira azul, a

requalificação de áreas degradadas e a proteção das dunas melhorou substancialmen-

te a qualidade de vida de quem vai a banhos. Os passadiços em madeira, os apoios de

praia, a limpeza do areal e as dunas cobertas de vegetação surpreendem. Depois, e jáfora do Tróia Resort, há ainda as praias do Sol-Troia e as da Comporta para explorar.A escolha é vasta e os areais imensos, com espaço, mesmo no pico do Verão.

Com o atrativo suplementar dos golfinhos-roazes, o grupo de cerca de 27 mamífe-

ros que desde há alguns se estabeleceram no estuário do Sado, com elevado sucesso.

A observação começa por vezes logo no ferry, mas para maior proximidade, e parauma experiência mais intensa, nada como embarcar num passeio com especialistas.A Vertigem Azul foi a primeira companhia a prestar este serviço no Sado, em 1998.Desde 2007 passou do pequeno semirrígido para o grande veleiro catamarã Esperan-

ça, que recolhe passageiros em Setúbal e em TróiaPedro Narra e Maria João Fonseca são os dois responsáveis pela Vertigem Azul.

E tal como no filme de Jean-Luc Besson a «vertigem» é agora ainda maior, em

especial nas redes da proa. Ao fim de todos estes anos, os dois mostram a mesma

paixão pelos brincalhões golfinhos e tratam-nos pelo nome próprio: o «Raiz», o

«Arpão», o «Esporão»... Reconhecem-nos pela barbatana dorsal quefunciona como uma «impressão digital» de cada golfinho. E são eles

que, desde 1978, lhes dão nome. E alguns já andam no rio há bastan-te tempo, o «Raiz» foi avistado pela primeira vez em 1981, ou seja, játem mais de 40 anos. No ano passado nasceram duas crias. No total,nos últimos seis anos nasceram 11 crias, das quais 9 ficaram no Sado.«É um sinal de esperança», consideram.

«O Pedro nem precisa de binóculos para os avistar», diz Maria João

enquanto se empoleira, na popa para procurar os roazes. O dia está

quente, muito quente mesmo, mas as nuvens persistem e o rio tomauma cor de chumbo que se confunde com o próprio céu. Lembramo-nos

Há quem opte por ir até à

Carrasqueira, e à Comporta,de bicicleta

que no dia anterior os avistáramos em frente às minas e é paralá que Pedro decide rumar. Na proa, famílias, casais, adolescen-tes e crianças tentam vislumbrar os desejados cetáceos. Ao pri-meiro avistamento, de máquina fotográfica em punho, é inevi-tável a corrida entusiasmada à proa e a estibordo. Há qualquercoisa de mágico nestes animais, no seu espírito brincalhão e

sociável que contagia crianças e adultos de igual forma. Primei-ro são poucos os golfinhos, depois surgem em vários grupos e

«disputam» a nossa atenção e a das câmaras fotográficas. Deresto, ao longo do passeio, os adultos seriam os mais eufóricos

já que as crianças depois de passada a novidade inicial dos pri-meiros minutos depressa se acalmam.

«Estão a caçar, estão a caçar!», alerta Pedro para a opor-tunidade de ver os golfinhos a almoçar. Comem peixe, entre15 e 20 quilos por dia, mas também moluscos e crustáceos.É giro vê-los a caçar polvo e a bater com o polvo na águapara largar os tentáculos. Ao longe conseguimos ver um mo-mento divertido de caça, em que atiram o peixe ao ar antes de o comerem.

Esta comunidade do Sado tem interação com golfinhos de outras comunida-des mas não passa do Cabo Espichei para Norte e até Pinheiro da Cruz a Sul.Maria João e Pedro já colocaram toda a sua experiência no livro Golfinhos do

Sado, recheado de belas imagens e informação sobre os «seus» mamíferos. Nototal o passeio dura três horas e no verão, o barco fundeia e há tempo até paraum mergulho. Mas a observação dos golfinhos não pode exceder a meia hora.

EM TERRA DE PEIXE... Uns dias de férias em Tróia não ficam completos semum passeio gastronómico. Na marina de Tróia há algumas propostas a ter emconta. Experimentámos o Púrpura Marina (do mesmo proprietário do PúrpuraBeach e do Comporta Café, ambos na praia) que ainda não fez um ano, e temalgumas ideias interessantes e um espaço bem concebido, com uma decoraçãocuidada. As entradas e as sobremesas são de comer e chorar por mais. Nos pra-tos principais, o peixe da região domina.

Saindo do Tróia Resort, ir até à Comporta é um passeio proveitoso. E depois ru-mar à Carrasqueira, uma aldeia de pescadores, onde se encontra o porto palafita,que impressiona pelas suas construções intrincadas e labirínticas rio adentro. Este

porto em estacas e passadiços de madeira enterrados no lodo do sapal assemelha-

se a uma mini-Veneza de cariz popular, pemitindo o acesso aos barcos mesmo namaré vazia. A comunidade de pescadores continua forte por ali, mas o peixe dalota - essencialmente choco - não é vendido diretamente ao público. Há por isso

que rumar ao Retiro do Pescador, conhecido pelas suas doses generosas e espe-cialista em arroz de marisco, arroz de lingueirão, caldeiradas, arroz de camarão,choco frito.... Na Carrasqueira, onde ainda se vêem algumas casas tradicionais e

curiosas - os palheiros - com riscas brancas e castanhas, portas e janelas azuis etelhados de colmo, come-se mesmo muito bem. d

Na nova marina de Tróia, o

Púrpura tem a decoraçãomais original