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Université Rennes 2
Português DIÁRIO DE BORDO
Ano lectivo 2015-2016
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Objectivos:
1) Estudar as propriedades do português actual que o individualizam no contexto das
línguas românicas de sujeito nulo;
2) Analisar e compreender as características que distinguem as duas variedades
nacionais da língua portuguesa já estabilizadas, a europeia e a brasileira;
3) Apresentar uma abordagem linguística comparativa que abrange não apenas a norma
europeia e a norma brasileira, mas também o confronto do português com as demais
línguas românicas (nomeadamente, o espanhol, o italiano e o francês);
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ÍNDICE
I. UNIDADE (7-11)
A. Ditado B. Exercício de escrita e compreensão textual; Texto 1: “Suspeita; Texto 2: “O
erro de Moosprugger”; C. I. Infinitivo flexionado; D. Exercícios: 1. Presente do Indicativo
dos verbos ser e estar; 2. Presente do indicativo dos verbos ter e haver 3. Presente do
indicativo dos verbos terminados em –ar 4. Presente do indicativo dos verbos
terminados em –er e –ir; E. Leitura
II. UNIDADE (12-16)
A. Ditado; B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Translação» 1., Texto matriz:
“Até amanhã, ó macaco!”; C. II. Infinitivo gerundivo; D. Exercícios: 1. Determinantes e
pronomes demonstrativos; 2. Determinantes e pronomes possessivos; 3. Pronomes
pessoais precedidos de preposição; 4. Pronomes indefinidos; 5. Pronomes e advérbios
interrogativos; E. Leitura
III. UNIDADE (17-23)
A. Ditado; B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Translação» 2., Texto: “Fecha
o caixão!”; C. III. Topicalização “à inglesa”; D. Exercícios: 1. Pronomes e advérbio
relativos; 2. Grau comparativo dos adjectivos e dos advérbios; 3. Grau superlativo
absoluto sintético dos adjectivos e advérbios; 4. Preposições e locuções prepositivas de
lugar; 5. Preposições de tempo; E. Leitura
IV. UNIDADE (24-29)
A. Ditado; B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Translação» 3, Texto: “Bom garfo, copo melhor ainda”; C. A construção Pseudo-Clivada Invertida “é que” e a construção Semi-Pseudo-Clivada Básica; D. Exercícios: 1. Concordância com sujeitos simples; 2. Concordância com os sujeitos de quantificação complexa; 3. Concordância com sujeitos colectivos 4. Concordância com sujeitos complexos; 5. Sujeitos Pospostos/Invertidos; E. Leitura V. UNIDADE (30-37)
A. Ditado; B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Translação» 4, Texto: “Bons
tempos”; C. V. Colocação dos pronomes átonos; D. Exercícios: 1. Pronomes pessoais de
complemento directo; 2. Pronomes pessoais de complemento indirecto; 3. Verbos
reflexos; 4. Verbos impessoais; E. Leitura
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VI. UNIDADE (37-42)
A. Ditado; B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Translação» 5, Texto: “Ai, as
cicatrizes…”; C. VI. 1. Redução das formas de tratamento e da correspondente flexão
verbal; 2. Construções de anteposição ditas não canónicas, na língua oral; D. Exercícios:
1. Concordância verbal e nominal; E. Leitura
VII. UNIDADE (42-51)
A. Ditado; B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Translação» 6, Texto: “Sopa
de pedra”; C. VII. 1. Interrogativas directas parciais; 2. Colocação dos pronomes clíticos;
D. Exercícios: 1. Pretérito perfeito do indicativo; 2. Imperativo; 3. Pretérito imperfeito do
indicativo; E. Leitura
VIII. UNIDADE (51- 60)
A. Ditado; B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Rostos da escuridão»; C. VIII.
Tempos do Conjuntivo; D. Exercícios: 1. Concordância verbal e nominal; E. Leitura
IX. UNIDADE (61-63)
A. Ditado; B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Vozes na noite»; C. IX.
Português/ Espanhol, Aproximação comparativa do uso do conjuntivo (ver ficha
dropbox); D. Exercícios: 1. Concordância verbal; 2. Concordância em orações relativas; E.
Leitura
X. UNIDADE (63-65)
A. Ditado; B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Fragmentação/Coesão»; C. X.
Português/ Espanhol, “Falsos amigos” D. Exercício: “Portugal é fogo que arde sem se
prever”, Ricardo Araújo Pereira, in Revista Visão, 12 de Agosto de 2012; E. Leitura
7
I. UNIDADE
A. Ditado. Correcção e interpretação dos erros.
B. Exercício de escrita e compreensão textual:
Texto 1: “Suspeita”
Um francês foi detido no tristemente célebre Kitzbühel, apenas porque uma empregada
do hotel da Águia de Duas Cabeças o acusou de que, à meia-noite, quando, ao
responder aos seus desejos, lhe foi levar ao quarto um conhaque triplo, ele tentara
abusar dela o que o francês, segundo dizem os jornais, negou absolutamente na
esquadra, classificando-o de infâmia alpestre, vil e abjecta. O francês era professor de
Filologia germânica na famosa Sorbone de Paris e desejara descansar, no Hotel da Águia
das Duas Cabeças de Kitzbühel, das fadigas duma tradução do Assim falava Zarathustra
de Nietzsche, que lhe levara mais de dois anos. No entanto, a abrupta mudança do clima
de Paris para o de Kitzbühel, como é natural, não lhe caíra bem, e a consequência da sua
precipitada viagem de França para o Tirol fora uma gripe maligna, que o atacou assim
que chegou a Kitzbühel e o reteve na cama alguns dias. Como se provou que o professor
francês não estava de maneira nenhuma em condições para seduzir a empregada, já
para não falar em violentá-la realmente, ao fim de umas horas, foi posto já em liberdade
e voltou para o Águia de Duas Cabeças. A empregada foi expulsa do Águia de Duas
Cabeças e, quando descobriu a sua fotografia no jornal com a legenda Uma filha infame
de Kitzbühel, atirou-se imediatamente ao Inn. Até hoje o cadáver não foi encontrado.
(BERNHARD, 2009, p. 123)
● Actividade didáctica: Reestruturação cronológica da fábula
1. Um professor francês de Filologia germânica da Sorbone de Paris trabalha durante mais de dois anos na tradução de Assim falava Zarathustra de Nietzsche.
2. Para descansar da fadiga, vai para o Hotel da Águia de Duas Cabeças de Kitzbühel, no Tirol.
3. A abrupta mudança de clima, consequência da precipitada viagem, não lhe cai bem, e é atacado por uma gripe maligna assim que chega.
4. Depois de vários dias na cama, numa meia-noite pede a uma empregada que lhe traga para o seu quarto um conhaque triplo.
5. No dia seguinte, a empregada acusa-o de ter tentado abusar dela. 6. Detido na esquadra, o francês nega absolutamente a acusação, qualificando-a de
infâmia alpestre, vil e abjecta. 7. Ao fim de umas horas é posto em liberdade, depois de se ter provado que o
professor francês não estava de maneira nenhuma em condições para seduzir a empregada, para não falar em violentá-la realmente.
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8. O francês volta para o Águia de Duas Cabeças e a empregada é expulsa do Hotel. 9. (No dia seguinte) os jornais publicam a notícia, com a fotografia da empregada e
a legenda Uma filha infame de Kitzbühel. 10. A empregada, ao vê-la, atira-se imediatamente ao (rio) Inn. 11. Até hoje o cadáver não foi encontrado.
Texto 2: “O erro de Moosprugger”
O professor Moosprugger contou ter ido à estação de comboios buscar um colega a
quem não conhecia pessoalmente mas apenas mediante troca de correspondência.
Esperava, na verdade, encontrar outra pessoa em lugar daquela que desembarcou na
estação. Quando chamei a atenção de Moosprugger para o facto de que quem chega é
sempre uma pessoa diferente daquela que esperávamos encontrar, ele levantou-se e
foi-se embora com o único propósito de romper e abandonar todos os contactos que já
estabelecera na vida. (BERNHARD, 2009, p. 51)
● Actividade didáctica: Reestruturem cronologicamente a fábula.
C. I. Infinitivo flexionado
1. Como é sabido, o português moderno dispõe de uma forma verbal não
temporalizada com marcas de pessoa e número, uma raridade entre as línguas do
mundo, o infinitivo flexionado. As propriedades desta forma permitem a ocorrência de
frases infinitivas com sujeitos nominativos expressos em posição pré ou pós-verbal,
consoante os contextos. Em função da sua distribuição e da sua interpretação, podem
distinguir-se construções de infinitivo flexionado canónico e de infinitivo flexionado
gerundivo.
O uso do infinitivo flexionado é obrigatório quando: a) os sujeitos das duas orações são
diferentes (ex. Perdoo-te por comeres o bolo todo.); b) o sujeito do infinitivo está
expresso (ex. Convém vocês irem preparados para a matança.). O uso do infinitivo
flexionado é facultativo quando o sujeito do infinitivo pessoal não é expresso e o mesmo
da oração principal (ex. Por não termos apetite, deixámos tudo no prato.)
O infinitivo flexionado canónico ocorre em frases-raiz exclamativas sem sujeito expresso
(1), em completivas sujeito seleccionadas por verbos, nomes e adjectivos (2)-(4), em
completivas objecto dependentes de verbos epistémicos, declarativos, factivos,
perceptivos e causativos (5), em completivas introduzidas por preposição, seleccionadas
por verbos, nomes e adjectivos (6)-(8), e em orações absolutas infinitivas (9).
(1) Dizerem um disparate destes!
(2) «Ainda me surpreende termos conseguido fazer um filme tão intemporal, sem
restrições de qualquer espécie, e sem submissões a testes de audiência», disse
Schlesinger, ( ... )
9
(3) Se é um facto insofismável termos já dado passos importantes na abordagem das
implicações para Portugal do PHNE, a verdade é que nos encontramos hoje,
aparentemente, numa situação de total impasse.
(4) «Como é que é possível alguém justificar com a fé tanta dor?», perguntava-se.
(5) Pedro Miguel lamenta «existirem pessoas com um sentido relativo de
responsabilidade e de ética».
(6) Numa votação quase unânime ( ... ), o «parlamento» dos sérvios da Bósnia autorizou
ontem os seus dirigentes a «concluírem um acordo com a força de paz» da NA TO, ( ... )
(7) A ASPP lamenta o facto de o Conselho Superior da Polícia nunca ter reunido desde as
eleições de 4 de Junho de 1996, ( ... )
(8) ( ... ) mas pode bem adequar-se à moldura mental de uma geração nascida e criada
diante de televisores, computadores e telefones celulares -aquela que, até certo ponto,
é responsável por os jogos representarem um melhor negócio que os filmes.
(9) ( ... ) mas, adianta: «isso só vem reforçar a nossa posição, ao dizermos que se trata
efectivamente de uma estrutura sem carácter permanente».
Repare-se que, em outras línguas românicas, a possibilidade de ocorrência de infinitivas
com sujeitos nominativos expressos é muito mais restringida: em construções com
subida de um verbo auxiliar ou copulativo e sujeito pós-verbal como no exemplo (10) do
italiano; em orações independentes e em subordinadas adverbiais, sempre com sujeito
pós-verbal, como nos exemplos (11)-(12) do espanhol.
(10) "li Gentil ... aveva dichiarato molto significativamente esser la sua filosofia
nient'affato separata daI mondo degli uomini".
(11) Casarse tu hermano con la hija de Fulgencio!
(12) AI despertar Simona, lo primero que hizo fue leer la carta de Urbano.
D. Exercícios
1. Presente do Indicativo dos verbos ser e estar 1.1. Complete adequadamente com os verbos ser ou estar no presente do indicativo. 1. O Sr. Medeiros ……………. professor. 2. O Sr. Medeiros ……………. em casa. 3. As crianças ……………. felizes. 4. As crianças ……………. portuguesas. 5. A cadeira ……………. alta. 6. A cadeira ……………. partida.
10
7. ……………. bom tempo. 8. ……………. duas horas. 9. Eu ……………. de Ponta Delgada. 10. Eu ……………. em Ponta Delgada. 11. A sopa ……………. quente. 12. A sopa ……………. boa. 13. O Pedro e o João ……………. amigos. 14. O Pedro e o João ……………. zangados. 15. A Sara ……………. casada. 16. A Sara ……………. loira. 2. Presente do Indicativo dos verbos ter e haver 2.1. Complete as frases com os verbos ter e haver no presente do indicativo. 1. ……………. muitas farmácias nesta cidade. 2. A Rita ……………. uma farmácia. 3. Hoje ……………. um concerto de jazz. 4. Quantas mesas ……………. na sala de aula? 5. A sala de aula ……………. 20 mesas. 6. Nós ……………. muitos amigos em Portugal. 7. ……………. queijo e fiambre no frigorífico. 8. ……………. um bom filme no cinema, esta noite. 9. Ele ……………. uma casa muito bonita. 10. ……………. casas muito bonitas nesta rua. 3. Presente do Indicativo dos verbos terminados em –ar 3.1. Complete com o presente do indicativo dos verbos indicados entre parêntesis. 1. A Rita e o João ............................. (morar) na mesma casa. 2. Nós ............................. (cantar) todos os dias num coro. 3. O meu pai .............................. (trabalhar) muito. 4. Eu .................... (viajar) amanhã para a Noruega. 5. Tu ........................ (dançar) muito bem. 6. Vocês ............................ (passar) bastante tempo a ler. 7. Ela ................... (gostar) muito de morangos. 8. Eu e o Hugo ..................................... (conversar) sobre o jogo de futebol. 9. Ele também ..................... (jogar) futebol. 10. Eu ....................... (pensar) muito nesses problemas. 11. Vocês .................................. (telefonar) à Ana, esta noite. 12. O Sr. Santos ...................... (levar) o cão a passear todos os dias. 3.2. Complete o texto com o presente do indicativo dos verbos entre parêntesis. 1. A D. Ana ...................... (acordar) de manhã, ................. (ligar) o rádio e ............... (tomar) o pequeno-almoço. ..................... (trabalhar) todo o dia numa escola onde
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................... (dar) aulas. Ao fim da tarde, .................... (passear) com o filho e depois, em casa, ................... (sentar)-se e ................... (descansar) um pouco. Ao fim-de-semana, ................... (convidar) os amigos para pequenas festas. 4. Presente do Indicativo dos verbos terminados em – er e –ir 4.1. Preencha os espaços com o presente do indicativo dos verbos entre parêntesis. 1. Nós .................................... (pertencer) a uma orquestra. 2....................... (tu – beber) o galão todo? 3. O João ............................ (ver) televisão até muito tarde, todas as noites. 4.O Hugo ....................... (abrir) as janelas da sala. 5. ................................ (vocês – mexer) os ingredientes para o bolo. 6.Eu ......................... (dormir) muito cedo. 7.A Maria não .......................... (conseguir) andar de bicicleta. 8.Eu ........................(compreender) bem os exercícios. 9.Nós .................................... (fazer) uma festa de aniversário na próxima semana. 10........................... (eu – dizer) -te sempre a verdade. 4.2. Complete o texto seguinte. 1. A Marta ................... (atender) clientes na sua loja, de manhã. Ela ....................... (sair) às duas da tarde e, por isso, tem muito tempo livre. À tarde, a Marta ..................... (ir) passear para o jardim, ................... (ler) livros ou revistas, .................. (correr) na praia, ..................... (ouvir) música... À noite, .................. (comer) com os amigos. A Marta nunca se .................. (sentir) só! E. Leitura
HOMENAGEM A CESÁRIO VERDE
Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo-rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um último cigarro
um feijão branco em sangue e rolas cozidas
Pouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda há poetas cá no país!
Mário Cesariny
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II. UNIDADE
A. Ditado. Correcção e interpretação dos erros.
B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Translação» 1.
● Actividade didáctica.
N.B. Seguindo o exemplo dado, pretende-se que se efectue uma redacção simples, um texto matriz, a partir dos seguintes dados: - A redacção deve ser escrita na primeira pessoa do singular; - A personagem descrita pode ter atravessado a “nossa” vida de uma forma acidental ou ter deixado um traço importante/ pode ser oriunda do passado/ pode reflectir uma circunstância concreta/ pode ter proporcionado uma experiência intensa, pela positiva ou pela negativa; - A redacção tem de integrar elementos narrativos e descritivos; - Em princípio, quanto mais denso for o texto, melhor se efectuará a translação; - Extensão máxima: 500 palavras. Texto matriz: “Até amanhã, ó macaco!”
Quando morreu o meu avô Ayres, com Y, eu ainda não tinha direito a voto. Despediu-se de mim com um singelo “Até amanhã, ó macaco!”. E saiu da sala para
o quarto de dormir. Quando acordei o meu avô jazia na cama e o cão estava deitado aos seus pés, em
homenagem. O Ayres Nunes era comandante da Marinha Mercante, mas não sabia nadar.
Durante a II Guerra recolhia os náufragos dos navios aliados, afundados pelos submarinos alemães, ao largo da Ilha de Moçambique, onde viveu Camões. Na casa onde dormia o meu avô.
Ayres Nunes saía do porto a bordo de um pequeno bote, dando com um estuque na cabeça dos tubarões-tigre que insistiam em seguir o rasto do barco, na esperança de conseguir uma refeição.
Era um homem de estatura média, magro na juventude, obeso mais tarde. Uma voz alta, sonora, nítida, afirmativa. Impunha-se pela profundidade do seu olhar azul-acinzentado, pelo desejo vincado de conhecer os outros e se dar a conhecer.
Embora conservador, era um contestatário. No dia do funeral, a sua amante quarentona compareceu e tentou beijar o cadáver
antes de o caixão descer à terra. E eu vi, na primeira fila, com estes que a terra há-de comer, o caixão a oscilar, como um barco da Marinha Mercante. Os insultos voaram de um lado e de outro e houve bengalas a zurzir a atmosfera. O funcionário da Agência Magno, um gordo careca, cordato, suava por todos os poros transpiradeiros.
“Meus senhores, minhas senhoras, um pouco de calma, por favor”. Naquele dia não tive lágrimas.
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E sabia que tinha perdido o meu melhor amigo. Eu tinha 17 anos. O Ayres Nunes
tinha 80, nascido com o século XX. Ayres Nunes, com Y. Ou melhor, I grego, como ele
gostava de dizer.
C. II O infinitivo gerundivo
O infinitivo gerundivo, assim denominado por ter uma interpretação idêntica à do
gerúndio, ocorre em orações independentes (13), em completivas dependentes de
verbos perceptivos (14), em modificadores internos a sintagmas nominais ou como
predicado secundário (15).
O infinitivo gerundivo não flexionado ocorre obrigatoriamente em construções com
verbos semi-auxiliares aspectuais como andar, começar, estar, ficar.
(13) Eles a falarem e elas a não ligarem nenhuma!
(14) «É sempre comovente ver 90 pessoas a fazerem alguma coisa com alma», diz
Fonseca, ( ... ).
(15) São dois homens, mas cada um deles desconhece o outro a um ponto que parecem
um homem e uma mulher a fazerem o que podem para ver se conseguem entender-se.
Também aqui, outras línguas românicas utilizam o gerúndio ou, no caso de construções
seleccionadas por verbos perceptivos, orações pseudo-relativas, como se exemplifica
em (16) para o italiano, 3 em (17) para o espanhol e em (18) para o francês.
(16) Maria ha sentito Piero che suonava il pianoforte.
(17) Oigo las campanas que suenan.
(18) J'entends les cloches qui sonnent.
D. Exercícios
1. Determinantes e pronomes demonstrativos 1.1. Siga o exemplo e complete. Ex: O que é isto? Isso são flores. Essas flores são para a Rita. 1. O que é isso? (caneta / do professor) …………………………………………………………………………… 2. O que é aquilo? ( bicicleta / dos irmãos da Sara) ……………………………………………………………………………. 3. O que é isto? (biscoitos / para a avó Luísa)
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…………………………………………………………………………… 4. O que é isso? (vestido / da mãe) …………………………………………………………………………… 5. O que é aquilo? (pasta / do pai) ……………………………………………………………………………. 6. O que é isto? (lápis / do meu colega) …………………………………………………………………………….. 7. O que é isso? (casaco / do avô) …………………………………………………………………………….. 8. O que é aquilo? (camisola / da tia Mafalda) …………………………………………………………………………….. 9. O que é isto? (sapatos / da senhora Ana) …………………………………………………………………………….. 10. O que é isso? (prenda / para o aniversário do Rui) …………………………………………………………………………….. 2. Determinantes e pronomes possessivos 2.1. Siga o exemplo e complete. Ex : Eu / livro / eles Eu tenho o meu livro e eles têm o deles. 1. Vocês / bicicletas / elas .................................................................................................................... 2. Tu / rádio / eu ................................................................................................................... 3. Eles / mochila / Rita .................................................................................................................... 4. Nós / carro / vocês .................................................................................................................... 5. Eu / computador / Miguel ..................................................................................................................... 2.2. Complete com os pronomes possessivos. Ex: Eu uso este computador, mas o computador não é meu. 1. Ela escreve com estes lápis, mas os lápis não são ................... 2. Eu conduzo este carro, mas o carro não é ............................ 3. Tu vives nessa casa, mas a casa não é .................................. 4. Eles andam de bicicleta, mas a bicicleta não é ..................... 5. Nós jogamos com esta bola, mas a bola não é ..................... 6. Vocês lêem este livro, mas o livro não é .............................
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7. Ele usa estes óculos, mas os óculos não são ........................... 3. Pronomes pessoais precedidos de preposição 3.1. Complete as frases com as formas: mim, ti, si, comigo, contigo, com ele, com ela, consigo, connosco, convosco, com vocês, com eles, com elas. 1. Vamos ao cinema. Queres vir ............................? 2. Esperem por ........................................... Estou quase pronto. 3. Estão aqui estas cartas para ..................................., Dr. Goulart. 4. Hoje não vou sair ..............................(ela). Podem contar ..................................(eu) para ir à praia. 5. Não estou a falar de ..................................., Margarida. 6. A Sofia vai falar ..................................... (tu) e, logo à tarde, vai também falar ............................... (ele), Teresa. 7. Quem é que vai ............................................... (vocês) no carro? 8. A Rute, a Teresa e o Paulo têm de ir ............................ (tu). 9. Vou sair ........................................., meninos. 10. Esta encomenda é para....................................., D. Ana. 11. Se eles não vêm .................................., podemos ir num só táxi. 12. Vou ............................... à festa, sr. Director. 13. Estão a conversar sobre .................................. e a minha situação no trabalho. 14. Pensamos em ................................ e queremos dar-te os parabéns. 15. O teu pai não vem ..................................... (nós) às compras, João. 16. Maria e Lúcia, não vão .......................... (eles)? 17. Lembra-se que não concordo .................................. (a senhora)? 18. Contamos .................................. (tu) para fazeres o jantar. 19. Vamos à festa da Ana e da Joana. Já falámos ………………….. 20. Querem vir ……………….. (eu)? 4. Pronomes indefinidos 4.1. Reescreva as frases alterando o pronome indefinido para o seu oposto. Ex: Ela usa muitas jóias. / Ela usa poucas jóias. Comes todos os bolos. Não comes bolos nenhuns. 1. Todas as pessoas têm televisão. ………………………………………………….. 2. Há papéis em todo o lado. ……………………………………………………….. 3. Nesta sala encontras tudo. ……………………………………………………….. 4. Fazes todos os serviços. ………………………………………………………….. 5. Há muito barulho aqui. …………………………………………………………… 4.2. Responda às perguntas, completando com os pronomes indefinidos. 1. Conheces a vizinha do segundo andar? – O segundo andar está vazio. Não mora lá ...........................................
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2. Alguém faz ginástica em tua casa? – Sim, os meus pais, os meus irmãos e eu; ........................... fazemos ginástica. 3. Bebeste o leite e comeste as torradas? – Sim, bebi o leite ...................... e comi as torradas .................., também. Comi ....................... Tomei um bom pequeno-almoço. 4. Falaste com a tua mãe para saber o horário do filme? – sim, mas ela não sabe ................................. 5. Quem vai à festa da Célia? – .........................vai; ...................... temos que ir tocar no concerto da Orquestra Metropolitana. 5. Pronomes e advérbios interrogativos 5.1. Complete, com os interrogativos apropriados. 1. ......................... é aquele senhor? 2. .......................... é a sua nacionalidade? 3. .......................... chega o avião da Graciosa?? 4. .......................... estás a comer? 5. .......................... horas são? 6. .......................... está o livro sobre os Açores? 7. .......................... anos tem a Maria? 8. ......................... é esta camisola? 9. ......................... custa um bilhete de barco para o Pico? 10. ......................... é o Filipe?
E. Leitura
OS PÁSSAROS NASCEM NA PONTA DAS ÁRVORES
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores Os pássaros começam onde as árvores acabam
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se Deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra Quando o Outono desce veladamente sobre os campos Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
Mas deixo essa forma de dizer ao romancista É complicada e não se da bem na poesia
Não foi ainda isolada da filosofia Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos? De quem é a mão a inúmera mão? Eu passo e muda-se-me o coração
Ruy Belo
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II. UNIDADE
A. Ditado. Correcção e interpretação dos erros.
B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Translação» 2.
● Actividade didáctica
N.B. Técnica global de escrita: partir do texto matriz e submetê-lo a variantes;
movimentar o texto. No texto 2, procede-se à translação da literariedade para a
oralidade.
O objectivo é partilhar o que se sabe com o leitor, reescrevendo o texto o mais próximo
possível do material antecedente mas em registo oral. O importante é saber escutar o
som da própria voz. De momento, o discurso não é dirigido a ninguém especificamente.
Será necessário introduzir alterações no processo de escrita, como é óbvio: modificar a
sintaxe, o vocabulário, gerir a economia narrativa e descritiva. Paralelamente, é
plausível que o texto se reduza, embora isso não aconteça forçosamente. Depende de
uma série de factores.
Texto: “Fecha o caixão!”
Imaginem a cena. O meu avô chega a casa e despeja um saco de caranguejos vivos
no lajedo da cozinha. Eram mais de quinze, todos a sapatear, com a criada aos gritos “Ó
sr. Comandante” e o cão a ladrar, com medo de morder os pobres dos caranguejos, que
se começaram a meter por baixo do tanque de lavar roupa.
Bem, quem conheceu o Ayres Nunes sabe que isto era uma cena normal.
Ele saía da Ilha de Moçambique, num pequeno bote, a dar com o estoque na
cabeça dos tubarões. Os submarinos nazis andavam à caça de navios aliados e o meu
avô recolhia os náufragos. Morreu aos 80 anos. Eu tinha 17.
Acabou de ver um filme, disse-me “Até amanhã, ó macaco”, saiu da sala e foi
deitar-se. Quando acordei, no outro dia, já ele estava morto, com o cão deitado aos pés
da cama. Os animais percebem. Ainda o mandei descer da cama, mas o “Beauty” voltou.
Era uma homenagem.
O meu avô parecia maior do que era, porque tinha um vozeirão e uns belos e raros
olhos claros que impressionavam qualquer um.
Ele gostava imenso de conviver e de se dar aos outros. Quem o conheceu sabe
como ele era. Adorava grandes patuscadas e coisas esquisitas, como diospiros, que
acompanhava com a sua bebida favorita: whisky.
E foi o Ayres Nunes até ao fim. A amante foi ao funeral e quis beijá-lo antes de o
caixão descer à terra. Foi o bom e o bonito. Parecia um funeral italiano. Insultos,
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bengalas a voar, como no tempo do Eça de Queiroz, o diabo a sete. O homem da Magno
a transpirar, sem saber o que fazer.
“Fecha o caixão”, “Não fecha nada o caixão”, “Velhacas, velhacas”, “Parece
impossível, umas senhoras tão dignas e afinal é isto”.
E eu ali, na primeira fila, com mais vontade de rir do que de chorar.
Tenho umas saudades loucas do meu avô.
Ayres Nunes, com Y.
Foi um mês tramado. O Sá Carneiro, o meu avô, o John Lennon, o Dr. Presas,
vizinho do sétimo, grande companheiro de copos do meu avô, explicador de matemática
e benfiquista convicto. Ficou a poucos metros do meu avô, no cemitério. Foram-se
todos de forma rápida e imprevista.
Meu Deus, que Dezembro!
C. III. Topicalização “à inglesa”
Em construções de anteposição de constituintes, o português moderno apresenta
propriedades singulares no contexto românico. Contrariamente às restantes línguas
românicas de sujeito nulo, admite Topicalização "à inglesa" de complementos nominais
definidos (19), indefinidos ou nus (20) e quantificados (21).
(19) O meu voto, podes crer que esse político nunca terá!
(20) Piscina, não sabia que tinha.
(21) Qualquer prospecto que lhe apareça, ele lê.
Como é sabido, as línguas românicas apenas admitem generalizadamente a construção
acima ilustrada se o constituinte anteposto não for nominal. No contexto ilustrado por
(19)-(21) utilizam a construção denominada Deslocação à Esquerda Clítica, i.e. "copiam"
o constituinte anteposto na frase-comentário sob a forma de um pronome átono.
Exceptua-se no espanhol o caso dos objectos directos constituídos por nomes nus (22)e,
em italiano, o de quantificadores nus (23) e de expressões nominais quantificadas
quando na oração a que pertencem ocorre um operador (por exemplo, de negação)
(24).
(22) Dinero, no creo que tengan.
(23) Oualcuno, trovero di sicuro perquesto compito.
(24) Molti amici, non ha invitato, che io sapia.
Do ponto de vista interpretativo, o português distingue-se da maioria das línguas
românicas,' que usam a Topicalização como uma estratégia de Focalização contrastiva.
19
Assim, em frases com Topicalização que recebem uma interpretação contrastiva,
contrastam-se predicações, razão pela qual as paráfrases que explicitam tal
interpretação envolvem Despojamento e não Contraste Sintagmático -veja-se o
contraste entre as frases a. e b. de (25).
(25)a. b. # Esse livro, já li, (mas) este, ainda não.
(... mas este ainda não li) Desp.
Esse livro, já li, (e/mas) não este.
(esse livro, mas não este, já li) Cont. Sint.
Uma outra construção de anteposição disponível em português e ausente em outras
línguas românicas é a chamada construção de Objecto Nulo. Nesta construção, um
objecto directo nominal definido, indefinido, nu, ou quantificado é omitido, desde que
recuperável através do contexto discursivo (27) ou situacional (28).
(27) A: -Viste a Joana ontem?
B: -Vi na televisão. ([-] = a Joana)
(28) A aponta para a camisola que B tem vestida.
A: -Tricostaste tu? ([-] = a camisola)
Como tem sido referido na literatura, a construção de Objecto Nulo só está disponível
num subconjunto das línguas que admitem igualmente a Topicalização à inglesa1. 10
Tem sido sugerido que este subconjunto se caracteriza tipologicamente por ser
"orientado para o discurso".
3. O português moderno dispõe de um catálogo de elipses mais extenso do que o de
outras línguas românicas. Assim, a construção de Elipse do VP (VP Ellipsis) ocorre com
grande frequência em respostas fragmentárias a interrogativas sim/não (29), em
estruturas coordenadas (30) e em subordinadas (31).
(29) A: Tens ido ao cinema ultimamente?
B: Tenho. ([ -] = ido ao cinema ultimamente)
(30) O João estava a comer esparguete e a Maria também estava [-]. ([ -] = a comer
esparguete)
1 Em espanhol, a construção de Objecto Nulo está restringida a objectos directos nus (cf. Campos 1986),
exactamente o tipo de objectos que admite igualmente Topicalização: A: - ¿Vamos a comprar tortillas? B: - No creo que vendan [-] aquí.
20
(31) O João afirmou que já tinha entregado o relatório mas que a Maria ainda não tinha
[-].
([ -] = entregado o relatório)
O exemplo (29) ilustra adicionalmente a forma preferencial de responder
afirmativamente a perguntas sim/não: em vez de o fazer com o item de polaridade
positiva sim, utilizam-se mais frequentemente respostas fragmentárias em que se
repete o verbo da pergunta.
Na presença de um advérbio aspectual como já ou ainda, com escopo sobre o
predicado, ou de um advérbio de focalização com escopo sobre o sujeito ou sobre o
predicado como só ou apenas, a resposta fragmentária preferencial consiste na
repetição de tais advérbios, como se mostra em a. e b.
a. A: - Já viste o último filme de Stephen Frears?
B: -.Já.
b. A: - Só o João veio à conferência?
B: -Só.
Como se ilustra em (32)-(34), italiano, espanhol e francês não admitem Elipse de VP.
(32) * Gianni ha mangiato la pasta e anche Maria ha [-].
(33) * Juan había leído este libro y Pedro también había [-].
(34) * Maria a visité le musée, mais moi je n'ai pas [-].
D. Exercícios
1. Pronomes e advérbio relativos
1.1. Preencha os espaços com os pronomes e advérbio relativos adequados. 1. O senhor ......……………... te falei é o pai do Pedro. 2. O café ....................... costumamos ir chama-se “Mar e Sol”. 3. O João pediu o livro .................... te emprestou. 4. A senhora ......................... tu perguntaste as horas não é mãe da Manuela? 5. Os homens ........................ vieram cá a casa são da EDA. 6. Aqui vemos três obras de Picasso ............................. se nota já a tendência cubista. 7. O rapaz ..................................... a Ana se apaixonou anda em Medicina. 8. O senhor .................................. estive a falar é o meu professor de Biologia. 9. Tivemos as prendas .................................... pedimos. 10. Não conheço a pessoa ........................................ estás a falar.
21
11. Não percebo a pergunta ................................. fizeste. 12. O colega .................................. não me dou bem chama-se Paulo. 2. Grau comparativo dos adjectivos e advérbios 2.1. Complete as frases com o grau comparativo dos adjectivos e advérbios adequado. 1. As laranjas custam 1,50 € / kg e as maçãs custam 1,80 € / kg. Então, as maçãs são .......................................................................... as laranjas. 2. A Clara corre cinco km por dia e eu só corro três; eu corro .................................................................. a Clara. 3. O Filipe tem um 1,80 m e o Miguel tem 1,70 m; o Filipe é ........................................................................ o Miguel. 4. O apartamento tem um quarto e a casa tem cinco; então, a casa é .................................................................................... o apartamento. 5. A Maria pesa 45 kg e a Sara também; a Maria é ...................................................... a Sara. 6. O gelado é muito bom, mas gosto mais do bolo. Para mim, o bolo é .................................................................................... o gelado. 7. O meu dicionário tem muitas palavras difíceis, mas o teu não tem: o teu dicionário é ......................................................................................... o meu. 8. Aqueles livros são muito interessantes, mas estes também são. Estes são .................................................................................. aqueles. 9. Os cães-de-fila são cães grandes e os terrier não são; então, os cães-de-fila são....................................................................................... os terrier. 10. As calças custam 30 € e a saia 45 €. As calças são .......................................................... do que a saia. 3. Grau superlativo absoluto sintético dos adjectivos e advérbios 3.1. Complete o texto com os adjectivos ou advérbios no grau superlativo absoluto sintético. O vendedor está a tentar vender uma máquina de lavar roupa à D. Joana. D. Joana – A máquina é cara! Vendedor – Cara? Não! Faço-lhe um desconto, fica ................................ D. Joana – E é realmente boa? Vendedor – Boa, não, minha senhora, é ..........................!
22
D. Joana – Acho-a pequena. Vendedor – Não é pequena, pelo contrário, o interior é ........................ D. Joana – Mas gasta muita energia. Vendedor – Não, gasta ..................................... Tem um programa de poupança. D. Joana - Acho que não é muito resistente nem muito forte. Vendedor – Cara senhora, é .......................................... Está decidida? D. Joana – Não... Primeiro, quero ver outros modelos noutras lojas. Além disso, estou com pressa. Vendedor – Mas são três horas. É cedo. D. Joana – Para mim, é ..................................... Tenho de ir buscar a minha filha! Boa tarde! 4. Preposições e locuções prepositivas de lugar 4.1. Complete as frases com as seguintes preposições (contraídas com os determinantes) e locuções prepositivas de lugar: atrás, no, ao lado, dentro, na, em, em frente, num. 1. O João arruma os livros ................... da pasta. 2. Nós moramos ......................... apartamento, ................ Ponta Delgada. 3. O nosso apartamento fica .................... dos Correios e da Farmácia. 4. O gato dorme sempre ................... o sofá. Mas, às vezes, também dorme .................a cama. 5. À hora de almoço, eu sento-me, à mesa, ........................ da minha mãe. A minha mãe senta-se .............................. do meu pai. 5. Preposições de tempo 5.1. Complete com as preposições de tempo adequadas. 1. ................ fins-de-semana, vamos sempre jantar fora. 2. ................ próximo sábado, vou a uma festa em casa do Rui. 3. Os meus avós vêm a minha casa .............. Páscoa. 4. ................... meia-noite, chega o avião de Lisboa. 5. ............... dia 11 de Junho, começam os exames. 6. Faço anos .......... 16 ....... Setembro. 7. Já estamos ............... século XXI. 8. ........... quarta-feira, tenho aula de ginástica. 9. .............. Inverno, chove muito. 10. Almoço sempre ............ meio-dia. 11. Vamos à Bélgica .............. Fevereiro.
23
12. O meu avô nasceu ............ 1925. 13. ................ manhã, tomo sempre um bom pequeno-almoço. 14. ........... noite, costumo jantar com a minha família. 15. ............. próximo mês, vou mudar de casa.
E. Leitura
Errata
Onde se lê Deus deve ler-se morte.
Onde se lê poesia deve ler-se nada.
Onde se lê literatura deve ler-se o quê?
Onde se lê eu deve ler-se morte.
Onde se lê amor deve ler-se Inês.
Onde se lê gato deve ler-se Barnabé.
Onde se lê amizade deve ler-se amizade.
Onde se lê taberna deve ler-se salvação.
Onde se lê taberna deve ler-se perdição.
Onde se lê mundo deve ler-se tirem-me daqui.
Onde se lê Manuel de Freitas deve ser
com certeza um sítio muito triste.
Manuel de Freitas
24
IV. UNIDADE
A. Ditado. Correcção e interpretação dos erros.
B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Translação» 3.
● Actividade didáctica
N. B. Imagine-se agora um acto de generosidade: oferecer o texto a outra pessoa. É
preciso criar uma proto-personagem que tem um modo de falar distinto; muito distinto.
O seu idiolecto (idioma+dialecto) pode acontecer num campo idiomático, num campo
de região, grupo profissional, claque, etc. A proto-personagem pode ter uma idade
muito diferente, tal como a condição social. A ideia é oferecer a recordação que nós (A)
temos da pessoa que evocamos (X) à proto-personagem (B). (B) fala da recordação de
(X) como se ela fosse sua. É preciso ter atenção para não perder o principal do material
informativo referenciado nos textos anteriores.
Texto: “Bom garfo, copo melhor ainda”
O meu irmão era uma pessoa extraordinária. Um homem que se impunha pelo
olhar, pela sua voz. Falava alto, resmungava, às vezes embebedava-se, mas era uma
excelente pessoa.
Bom garfo, copo melhor ainda. Apreciador de whisky e de petiscos. Para ele, estar
à mesa era um acto por excelência social.
Veio de baixo, mas chegou a Comandante da Marinha Mercante. Tinha desgosto
de ter chegado lá apenas com 10 valores, o mínimo possível. E nem sequer sabia nadar.
Apenas boiar. Adorava viajar. Mormente conhecer as pessoas de todo o mundo.
Morreu de repente, apesar de enfermar de graves problemas pulmonares.
Resultado de anos a fio a fumar “Sagres”. Para lhe fazer companhia nas noites solitárias
na ponte dos navios.
Na Ilha de Moçambique era ele que recolhia os náufragos dos navios aliados. Os
tubarões sempre atrás do bote.
O funeral foi uma coisa dura. A amante quis beijar o rosto do meu irmão e o
ambiente azedou. Lastimo dizê-lo. Mas também quase posso jurar pelo meu nome que
o Ayres até teria achado piada, se pudesse assistir à sua própria cerimónia fúnebre.
Eu gostava muito ao Ayres. Ele insistia sempre que escrevessem o seu nome com
Y. Ele chamava-lhe I grego. Na altura dizia-se assim.
C. IV. A construção Pseudo-Clivada Invertida “é que” e a construção Semi-Pseudo-
Clivada Básica
25
No que respeita às construções de clivagem, estão disponíveis em português duas
construções inexistentes em outras línguas românicas. A primeira delas é a construção
Pseudo-Clivada Invertida de 'é que': é que cinde a frase em duas partes, ocorrendo o
constituinte focalizado, que pode desempenhar qualquer função sintáctica na frase, à
sua esquerda (35)-(36).
(35) O juiz é que devia ir preso.
(36) Onde menos se espera é que elas se encontram.
Esta construção de clivagem resulta de um processo de gramaticalização da expressão é
o que, que evoluiu para a expressão fixa é que. Como os exemplos em (37) mostram,
não é possível inserir material lexical entre é e que, e a forma é não admite variação de
tempo, pessoa ou número.
(37)a. Os políticos é que mentiram ao eleitorado.
b.* Os políticos é realmente que mentiram ao eleitorado.
c.* Os políticos foi que mentiram ao eleitorado.
d.* Os políticos são que mentiram ao eleitorado.
Note-se que a estratégia mais frequente de construção de interrogativas parciais em
português envolve igualmente a expressão é que (38), embora, neste caso, seja ainda
aceitável a variação em tempo da forma é (39).
(38) O que é que sente, depois de ter sobrevivido a tudo isto?
(39) Quando foi que o homem chegou à China?
Outra construção de clivagem específica do português é a Semi-Pseudo-Clivada Básica,
nesta construção, uma forma do verbo ser cinde a frase em duas partes, ocorrendo o
constituinte focalizado à direita desta forma (40)-(41).
(40) Olhe que é uma grande responsabilidade para um homem ter tantas mulheres atrás
dele!
(41) O corvo comeu foi o queijo.
Contrariamente ao que acontece nas restantes construções de clivagem, nesta não pode
ser focalizado o sujeito da frase (42), excepto se o mesmo não for um argumento
externo do verbo, utilizando-se neste caso como alternativa a Pseudo-Clivada Básica
(43).
(42)a. * Foi o corvo comeu o queijo.
b.* Comeu o queijo foi o corvo.
26
(43) Quem comeu o queijo foi o corvo.
No contexto das línguas românicas, apenas algumas variedades do espanhol falado na
América do Sul (na Colômbia, no Equador, no· Panamá e na Venezuela) admitem esta
construção (44).
( 44 ) Juan comía era papas.
D. Exercícios
1. Concordância com sujeitos simples
1.1. Preencha os espaços em branco colocando os verbos na sua forma correcta.
Esta ficha ___________ (incluir) exercícios vários, no que respeita à concordância verbal.
Nela __________ (ser) possível encontrar a tipologia de sujeitos que _______________
(estabelecer) a relação de concordância com o verbo.
Os pronomes indefinidos ___________ (constituir) um grupo de pronomes que, no
interior de um sintagma nominal, _______________ (quantificar) o seu núcleo. Os
pronomes indefinidos
_______________ (apresentar) formas variáveis e invariáveis. As formas variáveis
__________ (ser) também designadas pronomes adjectivos porque _____________
(concordar) em género e número com o núcleo nominal.
2. Concordância com os sujeitos de quantificação complexa
1. Escolha a alternativa correcta.
a) A maioria dos manifestantes …
é desempregada e não tem nada a fazer. ( )
são desempregados e não têm nada a fazer. ( )
b) Pelo menos mil moçambicanos…
estão a ser recrutados para trabalhar no sector agrícola na vizinha África do Sul. ( )
está a ser recrutado para trabalhar no sector agrícola na vizinha África do Sul. ( )
c) Um dos problemas dos estudantes universitários …
são a exiguidade na leitura. ( )
é a exiguidade na leitura. ( )
d) Uma quantidade reduzida destes cremes …
transporta substâncias nocivas ao homem. ( )
transportam substâncias nocivas ao homem. ( )
27
e) Cerca de três quartos da biodiversidade vegetal em Maputo…
são usados para a produção de biocombustíveis em Moçambique. ( )
é usada para a produção de biocombustíveis em Moçambique. ( )
3. Concordância com sujeitos colectivos 3.1 Escolha a alternativa correcta. a) Quando chega a sexta-feira, a camada jovem de várias localidades … distrai-se em discotecas. ( ) distraem-se em discotecas. ( ) b) Provavelmente, esta população das aldeias… não gostam de muitos ruídos. ( ) não gosta de muitos ruídos. ( ) c) A comunidade de crentes da cidade da Beira ... celebram amanhã 103 anos de existência. ( ) celebra amanhã 103 anos de existência. ( ) d) A juventude das Mahotas ... discute sobre a proliferação da cólera naquele bairro. ( ) discutem sobre a proliferação da cólera naquele bairro. ( ) e) A turma dos caloiros ... apresentam uma peça teatral nesta sexta-feira. ( ) apresenta uma peça teatral nesta sexta-feira. ( )
3.2 Flexione os verbos entre parêntesis, conforme o exemplo. a) A polícia (criar) situações no trânsito para extorquir dinheiro do automobilista. b) Quando há cheias, a população das zonas ribeirinhas (preferir) ficar naquele espaço. c) Muita gente, entre amigos e familiares, (estar) presente na festa de casamento. d) A banda “Os Gorhowane” (oferecer) um concerto gratuito na Matola Jazz para angariação de fundos. e) A marinha de guerra (iniciar) os bombardeamentos à Líbia.
4. Concordância com sujeitos complexos 4.1 Coloque nos espaços em branco os verbos entre parênteses, na forma correcta. a) Os acidentes de viação ________________ (constituir) um problema preocupante para a sociedade em geral. b) Quando chove, as estradas da cidade de Maputo ____________________ (ficar intransitável).
28
c) A falta de produção agrícola em muitas localidades __________ (dever)-se à fraca precipitação que ocorre nos últimos tempos. d) A mendicidade, a criminalidade e a promiscuidade _______________ (ser fruto) da pobreza absoluta em países subdesenvolvidos. e) Na semana passada, o conselho de ministros ___________ (aprovar) uma lei que proíbe o uso da moeda estrangeira nas escolas nacionais.
4.2 Complete as frases com os dados entre parênteses, fazendo a concordância necessária. Siga o exemplo. a) O baixo rendimento dos alunos nas escolas do ensino superior ... (justificar-se por fraca formação no ensino básico). b) O petróleo, o gás natural, o carvão ... (ser recurso mineral do nosso país). c) As decisões do Tribunal Administrativo … (ser de carácter obrigatório). d) Hoje em dia, crianças dos seus 5, 6, 8 anos ... (fazer-se presente às cerimónias fúnebres). e) Na noite de sábado, os jogadores do clube de desportos do Maxaquene… (ganhar o jogo do Moçambola). 4.3 Assinale com X a frase que está correctamente construída. a) A língua constitui um meio pelo qual membros de uma determinada sociedade se relacionam entre si, estabelecendo uma correspondência amigável. ( ) A língua constitui um meio pelo qual membros de uma determinada sociedade se relaciona entre si, estabelecendo uma correspondência amigável. ( ) b) Caro condutor, o álcool, a distracção e o excesso de velocidade causa acidentes mortais no país. ( ) Caro condutor, o álcool, a distracção e o excesso de velocidade causam acidentes mortais no país. ( ) c) O Ministério sul-africano dos Recursos Minerais manifestaram a sua preocupação pelo crescente número de mortes de trabalhadores na indústria mineira. ( ) O Ministério sul-africano dos Recursos Minerais manifestou a sua preocupação pelo crescente número de mortes de trabalhadores na indústria mineira. ( ) d) O Instituto Nacional de Acção Social – Delegação Provincial de Sofala – e o programa Mundial de Alimentação reforçou os seus laços de cooperação com o incremento no apoio alimentar às crianças órfãs. ( ) O Instituto Nacional de Acção Social – Delegação Provincial de Sofala – e o programa Mundial de Alimentação reforçaram os seus laços de cooperação com o incremento no apoio alimentar às crianças órfãs. ( ) e) O projecto de exploração de areias pesadas voltam a ser tema de conversa na Assembleia da República. ( ) O projecto de exploração de areias pesadas volta a ser tema de conversa na Assembleia
29
da República. ( ) 5. Sujeitos Pospostos/Invertidos
1. Assinale com X a frase que está correctamente construída. a) Esta palavra é um adjunto porque, quando foram aplicados os 2 testes, a frase ficou gramatical. ( ) Esta palavra é um adjunto porque, quando foi aplicado os 2 testes, a frase ficou gramatical. ( ) b) O homem de quem te falei, perguntou se existia algumas rotas específicas que fizessem parte da agenda dos transportes públicos urbanos. ( ) O homem de quem te falei, perguntou se existiam algumas rotas específicas que fizessem parte da agenda dos transportes públicos urbanos. ( ) c) Se formos a ver, existe, actualmente, um índice muito elevado de jovens desempregados que adere às manifestações políticas. ( ) Se formos a ver, existem, actualmente, um índice muito elevado de jovens desempregados que adere às manifestações políticas. ( ) d) Acabaram aquelas pastas que o Senhor António mandava vir do Qatar. ( ) Acabou aquelas pastas que o Senhor António mandava vir do Qatar. ( ) e) Reflecti sobre o que poderia ser as suas aspirações a trabalhar numa área tão técnica como esta: serralharia. ( ) Reflecti sobre o que poderiam ser as suas aspirações a trabalhar numa área tão técnica como esta: serralharia. ( )
E. Leitura
Deus é a Nossa Mulher-a-Dias
Deus é a nossa mulher-a-dias que nos dá prendas que deitamos fora como a vida porque achamos que não presta Deus é a nossa mulher-a-dias que nos dá prendas que deitamos fora como a fé porque achamos que é pirosa Adília Lopes
30
V. UNIDADE
A. Ditado. Correcção e interpretação dos erros.
B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Translação» 4.
● Actividade didáctica
N.B. Nesta fase do exercício, já atingimos uma zona que podemos designar como “às
portas do teatro”. É a altura de entrar no campo teatral. Mantemos a mesma
personagem (A) em diálogo com (B). Será um diálogo assimétrico. (B) é personagem
muito lacónica. Vamos trabalhar a pragmaticidade do discurso. (A) utiliza a recordação
para mudar algo em (B): por exemplo, humilhar, atacar, reduzi-lo a escombros. A pessoa
de quem falamos é (X). (Aqui a turma pode dividir-se em dois núcleos. Uma parte trata
da aproximação positiva e outra da aproximação negativa). Assim: (A) conta a (B)
lembranças de (X), com material linguístico da versão 2, para produzir determinado
efeito.
No exemplo que se segue: (A) enaltece (B) usando a recordação de (X).
Texto: “Bons tempos!”
Versão a)
A --- O Ayres era extraordinário. E o senhor foi das pessoas que se comportaram com
dignidade no funeral. Não o esqueço...
B (tímido e embaraçado) --- Por amor de Deus...
A --- Insisto. Por ocasião dos insultos, o senhor portou-se à altura. Conseguiu tirar a
amante de cena com o mínimo escândalo possível...
B --- Não fiz mais que a minha obrigação. Por amor de Deus...
Versão b)
A --- O Ayres era um homem generoso. E guardava com todo o carinho as cartas que o
meu amigo lhe enviara da Ilha de Moçambique...
B --- Bons tempos!..Bons tempos!.. deve ter cartas dos anos 40 e 50...
A --- Certamente. Ele dizia que o meu amigo lhe escrevia sempre cartas muito simpáticas
e interessantes...
B --- O seu irmão era uma pessoa interessantíssima. Não era difícil ser amigo dele.
A --- Nem toda a gente o conseguia. A frontalidade do meu irmão assustava muita
gente. E se ele era seu amigo, obviamente o senhor só pode ser um homem íntegro.
31
B (embaraçado, sorri, faz um gesto de humildade) --- Devo passar pelo Purgatório
quando chegar a minha hora. Sabe...isto...a vida...
A --- Não seja modesto. Sei que o senhor chegou a emprestar avultadas quantias ao meu
irmão, nos tempos difíceis...
B --- Nada de especial. O seu irmão era um homem de honra. Não corri nenhum risco.
A --- O amigo chegou a recolher náufragos com ele, não chegou?
B --- Muitas vezes (Pausa prolongada. Sorri). Com os tubarões atrás de nós...um tanto
assustador.
A --- O meu irmão disse-me que o senhor era um homem corajoso.
B --- Bondade dele.
C. V. Colocação dos pronomes átonos
Também a colocação dos pronomes átonos (i.e., clíticos) se distingue da que ocorre em
outras línguas românicas modernas. Assim, mantém-se activa a regra que proíbe a
ocorrência de clíticos em posição inicial da oração (45), contrariamente ao que se
verifica em outras línguas românicas (46).
(45)a. * Me canta os parabéns!
b. * Te perguntei se ias à festa.
(46)a. Ti confermo di averlo visto.
b. ¿Te parece que falta imaginación en el mondo deI periodismo?
c. L'avoir menti me remplit de honte.
Continua também activo, embora em perda, o padrão antigo da mesóclise nas formas de
futuro do indicativo e condicional, como substituto do padrão enclítico (47).
(47)a. Ser-te-á porventura difícil convencê-lo.
b. O João aborrecer-nos-ia com as suas histórias.
Mas o padrão de próclise, a colocação normal nas restantes línguas românicas modernas
(48), e a dominante no português clássico(49), foi substituído no português moderno
pelo padrão enclítico - compare-se (48) e (49) com (50).
(48)a. lo me lo ricordo.
b. Te daré algunos libros.
c. Je m'en souviens.
(49) ( ... ) e nos perguntaraõ o que queríamos, nos lhe respondemos que eramos
Christaõs naturaes de Malaca ( ... ) [Fernão Mendes Pinto, 1614]
32
(50) ( ... ) e perguntaram-nos o que queríamos, nós respondemos-lhes que éramos
cristãos naturais de Malaca ( ... ).
Contudo, vários contextos exigem o padrão de próclise. Eles podem caracterizar-se pela
presença de "atractores de próclise", e.g., conjunções e locuções conjuncionais
subordinativas (51), operadores de negação (52), aspectuais (53) e de focalização (54) e
um subconjunto de quantificadores (55), à esquerda do verbo que hospeda o clítico.
(51) Quero que lhe telefones.
(52) Não lhe telefonei.
(53) Já te telefono.
(54) Só eu lhe telefonei.
(55) Todos os amigos lhe telefonaram.
Curiosamente, a oposição tempo finito/tempo não finito que, em italiano e em
espanhol, determina, respectivamente, próclise vs. ênclise (56) não desempenha, em
português moderno, qualquer papel na colocação dos pronomes clíticos (57),
estendendo-as às orações não finitas as condições que actuam sobre as finitas: ênclise
como padrão não marcado, próclise na presença de atractores à esquerda do verbo
hospedeiro.
(56)a. Studiandolo, potrei ritenerlo meglio.
b. Guardé el libro sin haberlo leído.
(57)a. Estudando-o, poderei fixá-lo melhor.
b. Guardei o livro sem o ter lido.
Em síntese, em português moderno, ênclise é o padrão não marcado, próclise é o
padrão activado na presença de atractores. Na generalidade das construções, ênclise e
próclise estão em distribuição complementar. Apenas em contextos passíveis de duas
análises sintácticas distintas podem os dois padrões de colocação ocorrer em
distribuição livre. O exemplo paradigmático destes contextos é o de subordinadas não
finitas em que a forma que introduz a oração pode ser analisada pelos falantes ora
como uma verdadeira preposição, determinando o padrão de ênclise (58), ora como
uma conjunção, ocorrendo neste caso ênclise (59).
(58) Fiámo-nos em ti, porque não precisavas de trair-nos.
(59) Fiámo-nos em ti, porque não precisavas de nos trair.
D. Exercícios
33
1. Pronomes pessoais de complemento directo
1.1. Siga o exemplo e complete. Ex: Eu comprei as flores ontem. Eu comprei-as ontem. 1. Ela está a cortar o cabelo do Zé. ……………………………………………………………………… 2. Nunca mais vi a Ana por aqui. ……………………………………………………………………… 3. O Miguel trouxe a carta para casa, mas não leu a carta. ……………………………………………………………………… 4. Eu já entreguei as revistas à Margarida. ……………………………………………………………………… 5. O Pedro traz os livros para estudarmos. ……………………………………………………………………… 6. Vou ver a minha avó. ……………………………………………………………………… 7. Ele faz desenhos para oferecer ao pai. ……………………………………………………………………… 8. A Rita e o Filipe vão alugar um apartamento em Ponta Delgada. ……………………………………………………………………… 9. Ninguém vai convidar o Carlos para a festa. ……………………………………………………………………… 10. Tens uma chávena de café para a D. Vera? ……………………………………………………………………… 2. Pronomes pessoais de complemento indirecto 2.1. Complete com os pronomes pessoais de complemento indirecto. 1. Ela escreve-me e-mails muitas vezes! Também ....................... escrevo.
34
2. Apetece- .................. ir ao cinema. 3. Vamos à festa de aniversário da Rita e vamos oferecer-............... uma camisola. 4. O teu casaco novo fica-.............. muito bem! 5. Vamos para o Brasil amanhã. Podem enviar-........... toda a correspondência para esta morada? – Claro! Vamos enviar-............ tudo, por correio azul. 3. Verbos reflexos 3.1. Complete as frases com os verbos reflexos no presente do indicativo. 1. Tu nunca ....................... (sentar-se) na cadeira em frente do João; ................... sempre em frente da Maria. (sentar-se) 2. Como é que ele ......................... (chamar-se)? ….................... Filipe. (chamar-se) 3. Quando nós ................................................ (encontrar-se), ............................................ (cumprimentar-se) 4. O chefe do Miguel .......................... (zangar-se) com ele, porque o Miguel ............................ todos os dias. (atrasar-se) 5. De manhã, eu ................................. (lavar-se) e .................................. (vestir-se). Também ............................. (pentear-se). 6. Na minha casa, ninguém .......................... (deitar-se) antes da 1 hora. 7. Mas todos ............................... (levantar-se) antes das 9 horas. 8. Hoje, ........................ (eu - sentir-se) muito triste. 9. Já ............................... (tu - esquecer) do aniversário da Luísa? 10. Não, .......................... (eu - lembrar-se) sempre. 11. ............................................... (nós - aborrecer) aqui, à espera do avião. Tanto tempo! 4. Verbos Impessoais 4.1 Coloque nos espaços em branco os verbos, entre parênteses, na forma correcta.
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a) De certeza que, em tempos, __________ (haver) pessoas a marcarem bichas para comprar pão. b) Compraste muitas latas de fruta, embora ___________ (haver) tantas frutas naturais e, sobretudo, nutritivas. c) Se soubesse que já __________ (haver) escolas com ensino à distância na Universidade Pedagógica, talvez não me inscrevesse no ensino presencial na Manhiça. d) Ouvi dizer que ____________ (haver) dois acidentes graves na estrada nacional número um e morreram dezassete pessoas. e) No semestre passado, ____________ (haver) problemas naquela turma, que só os pais podem resolver. E. Leitura
Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
— eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
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como se toda a casa ardesse pousada na noite.
— E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
— não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço —
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave — qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
que te procuram.
Herberto Helder
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VI. UNIDADE
A. Ditado. Correcção e interpretação dos erros.
B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Translação» 5
● Actividade didáctica
N.B. Chegámos à fase da interacção. Vamos aproveitar ao máximo o material verbal das
versões anteriores, com uma variante importante: activar (B), integrar o seu discurso de
um modo dinâmico. (B) deixa de ser passivo, limitando-se a acatar a intencionalidade
pragmática de (A). (B) quer algo. Tem vontade e intencionalidade. (A) não tem muito
interesse em falar de (X). Furta-se. Não quer transmitir as recordações de (X). Está
reticente. (B) precisa das recordações de (X). Necessita “sacar” as lembranças, evocar.
(B) tem alguma informação sobre experiências de vida comuns a (A) e (X). Quer
detalhes, para obter algo. Como se (B) estivesse em demanda para obter dados sobre
(X): informações gerais, descrição física, sentimentos, etc.
Texto: “Ai, as cicatrizes…”
B --- Então, em 1943 o seu irmão já estava há bastante tempo na Ilha de Moçambique...
A (tom levemente aborrecido) --- Exacto.
B --- Ele era o comandante do porto, não é verdade?
A --- Sim.
B ---E o meu amigo pensa que ele gostava disso?
A --- Presumo que sim. Não me lembro de o ouvir queixar-se.
B --- Devia ser um homem forte...
A --- Razoavelmente...
B --- Quanto é que ele pesava...
A --- Perto de 90 quilos...
B--- Um bocado pesadote para a altura. Não era muito alto, pois não?
A --- Quase 1 metro e 70...
B --- O meu amigo nunca esteve em África, presumo. Mas teve muitas experiências com
o seu irmão, principalmente na adolescência, em Lisboa...estou certo, presumo?
A --- Sabe, tivemos uma adolescência ao sabor dos tempos da altura, que eram duros.
Não gosto muito de recordar isso.
B (insistente) --- Então diga-me uma coisa: e a história do funeral?!? Hein?!? O meu
amigo assistiu a tudo ali de primeira fila, não foi?..
A --- Pois foi. (Pausa). Infelizmente.
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B --- Contaram-me que foi aborrecido. Havia um problema qualquer com as amantes
dele, não é?
A (já enervado, corrige o dado errado) --- A amante. A amante. Era só uma.
B --- Ela quis ir com ele para o caixão e atirou-se lá para dentro, não foi?
A (já com a voz alterada) --- É extraordinário como as histórias mudam. Quem conta um
conto... não aconteceu nada disso...
B (quase divertido, muito curioso, não se apercebendo até que ponto já exasperou A) ---
Então conte lá. Concretamente, o que se passou?
A --- Ela quis beijar o meu irmão antes de o caixão descer à terra...e não queria estar a
falar disto, porque as cicatrizes...
B (completamente desprovido de sensibilidade, interrompendo) --- E foi nessa altura
que houve pancada...
A --- Não chegou a haver pancada...
B --- Ai não?
A --- Não.
B --- Seguraram a amante...
A --- Não. Ela acabou por se retirar. Houve apenas alguma troca de impropérios,
moderada. Mas inadequada à situação.
B --- E o meu amigo gostava da amante dele? Conheciam-se, presumo...
A (mais veemente, já completamente saturado) --- Sim, mas acho melhor mudarmos de
conversa. Hoje não me está a apanhar num dia particularmente bom para falarmos do
meu irmão. Há cicatrizes que não saram nunca.
B (inapto na forma de apresentar desculpas à sua maneira) --- Já vi que é um homem
sensível. Não o queria enervar. Mas como há tanta gente a falar dessa situação do
funeral de forma aberta, pensei que não se importasse...e já foi há tantos anos...
A --- As recordações permanecem.
B --- É que eu tenho uma enorme curiosidade em relação ao seu irmão. Dizem-me que
era um homem extraordinário.
A (pausa longa. Suspiro) --- Era efectivamente um homem extraordinário.
B (pausa. Tom desadequadamente jovial) --- Já há poucos. Já há poucos.
C. VI. 1. Redução das formas de tratamento e da correspondente flexão verbal
Enquanto o sistema de formas de tratamento do português europeu padrão perde a 2. a
pessoa do plural, cria as formas você, vocês e a gente e mantém cinco flexões de pessoa
e número no verbo, o português brasileiro perde a 2. a pessoa do singular e do plural,
retém a forma a gente e apenas mantém quatro flexões de pessoa e número no verbo.
A esta perda morfológica tem sido atribuída a baixa frequência de sujeitos sem
realização lexical, que tem levado muitos linguistas brasileiros, a partir dos anos oitenta,
a considerar que o português brasileiro está a evoluir no sentido de se tomar uma língua
que não aceita sujeitos nulos, i.e., uma língua como o francês ou o inglês. Contudo, os
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mesmos linguistas reconhecem que o português brasileiro não recorre a sujeitos
expletivos (61) e admite generalizadamente sujeitos pós-verbais com verbos
inacusativos (62), propriedades que não se encontram nem no francês nem no inglês.
(61) Tem um homem no jardim.
(62)a. Desapareceu um livro.
b. Foi morto um homem.
Na realidade, encontram-se igualmente em textos escritos muitos exemplos de frases
finitas com sujeitos sem realização lexical, como ilustra o diálogo de uma short story de
Rubem Fonseca transcrito em (63), e exemplos de sujeitos pospostos em orações com
verbos transitivos e inergativos (64).
(63) Entra no quarto. Volta brilhando, engomadinha, perfumadinha.
"Vou tomar um banho", digo.
Está na porta do meu quarto, quando saio.
"Você tomou algum Lexotan?"
"Tomei."
"Hum."
"Vou dar um telefonema antes de sair."
Desta vez a campainha do telefone toca duas vezes apenas e atendem.
[FONSECA, Rubem. Romance Negro e Outras Histórias, p. 110]
(64)a. Não faz revolução uma população que só come uma vez por dia.
b. Faltou à minha prima a capacidade de separar a curiosidade libidinal do sentimento
profundo do amor.
Em síntese, existe em português brasileiro uma redução das formas de tratamento e das
flexões verbais correspondentes; é prematura a afirmação de que o português brasileiro
já evoluiu para uma língua não pro-drop.
2. Construções de anteposição ditas não canónicas, na língua oral
Em finais dos anos setenta, Eunice Pontes recolhe enunciados orais como os
exemplificados em (65) e defende que os mesmos constituem evidência a favor da ideia
de que o português brasileiro evoluiu tipologicamente para língua de proeminência de
tópico, enquanto o português europeu permanece uma língua de proeminência do
sujeito, como as suas irmãs românicas.
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(65)a. O carro da vizinha, o pneu teve um furo.
b. A vizinha, o carro dela, o pneu teve um furo.
Contudo, enunciados deste tipo, também designados de sujeitos múltiplos, ocorrem na
oralidade em outras línguas românicas (66), incluindo em português europeu.
(66)a. Moi, Marie, elle m'aide beaucoup.
b. Marie, les fleurs, elle les cueille fraiches.
c. Moi, mon mari, mes enfants, ils lui obéissent au doigt et à l'œil.
Outros autores salientaram que a especificidade do português brasileiro reside no facto
de ser muito frequente o redobro do sujeito através de um pronome pessoal, sem que
exista ruptura entoacional entre o sujeito e tal pronome (67), contrariamente ao que
acontece em português europeu e em francês (68)?
(67) Maria ela quase morreu de medo.
(68)a. A Maria, ela quase morreu de medo.
b. Marie, elle est presque morte de peur.
Em síntese: construções de anteposição por vezes denominadas de sujeitos múltiplos
são correntes na oralidade em português europeu e em outras línguas românicas; o que
parece ser específico do português brasileiro em construções de redobro do sujeito por
um pronome, é a ausência de ruptura prosódica entre o sujeito e o pronome.
D. Exercícios
1. Concordância verbal e nominal
1.1. Complete cada uma das frases seguintes com a forma verbal adequada.
a. _________________(Comentasse / Comenta-se) que as grandes descobertas científicas permitem que nos aproximemos cada vez mais dos mistérios do universo. b. Sei que tens dois livros que falam da importância dos sonhos na vida do ser humano. ________________(Emprestamos/Empresta-mos) e devolvê-los-ei na próxima semana. c. Ainda que eu te ____________(contasse/conta-se) os meus sonhos, na verdade, tu nunca chegarias a conhecê-los. d. Quando tu ____________(chegaste/chegastes), eu já tinha partido para a minha viagem.
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1.2. Complete as frases seguintes, fazendo a concordância entre o verbo indicado e o
sujeito. Usa qualquer tempo e qualquer modo adequados ao contexto.
a) Só eu e a Maria ______________(responder) à questão.
b) Tanto o Miguel como o Joaquim ______________ (assistir) ao jogo de futebol.
c) És tu quem ________________ (costumar) fazer barulho nas aulas?
d) Matemática, Ciências, Línguas, tudo _____________ (ser) interessante.
e) Nem o cansaço nem a dor ________________ (fazer) a atleta desistir.
a) Foste tu que ______________________ (fazer) isto?
b) Foram eles quem ______________________ (dizer) isto?
c) Queres ir ajudar a limpar a mata? A gente ______________________ (ir).
1.3. Complete cada uma das frases seguintes, usando as formas verbais apresentadas:
existiam; defende-se; dispusessem; virão; viram; haviam; defendesse; depusessem.
a) O juiz exigiu que as testemunhas………………… naquele mesmo dia, em tribunal.
b) Actualmente, ……………………muito o ambiente, mas há cada vez mais animais
em risco.
c) Antigamente, ………………………… mais espécies marinhas nos mares de todo o
mundo.
d) No futuro, novas espécies…………………….enriquecer a fauna dos oceanos.
1.4. Complete cada uma das frases seguintes com as formas adequadas dos verbos
apresentados entre parênteses, usando apenas tempos simples.
a) Os ecologistas lamentam que, frequentemente, as cegonhas _______ (fazer) ninhos
em cabos de alta tensão.
b) É possível que, antigamente, _________ (haver) mais espécies de aves a sul do Tejo.
c) Conheço um ornitólogo que, ainda que _________ (chover) torrencialmente, vai para
o campo observar aves todos os dias.
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d) Os serviços de protecção florestal querem que os ornitólogos _________ (criar)
centros de observação para estudar as aves.
e) No próximo ano, talvez _________ (haver) mais poetas presentes na feira do livro.
f) O actor não esperava que __________ (aparecer) tantos alunos no recital.
g) O professor quer que eu, a Ana e o Bruno _______(participar) na comemoração do
Dia Mundial da Poesia.
h) Era desejável que estas obras de Camões, de Bocage, de Pessoa, enfim, tudo
__________(caber) nesta estante.
5. Indique a forma verbal que concorda com o sujeito, em cada uma das frases que se
seguem:
1. Eu e ela fomos / foi a Madrid.
2. Mais de um
funcionário
respondeu /
responderam
ao anúncio.
3. Paula é uma das que adora / adoram divertir-se.
4. Tu e ele estareis / estarão lá.
5. Um grupo de
adolescentes
ateou /atearam fogo às matas.
6. Uma força do exército invadiu / invadiram uma cidade do
Iraque.
7. A maioria daqueles
homens
é / são a favor da paz.
8. Naquele campo haviam / havia flores muito
coloridas.
9. Nenhum deles quis / quiseram assumir o erro.
10. Ou a satisfação ou a
emoção
fizeram / fez rebentar as
lágrimas.
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VII. UNIDADE
A. Ditado. Correcção e interpretação dos erros.
B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Translação» 6
● Actividade didáctica
N.B. Estamos na fase de permeabilização. Impõe-se situar (A) e (B) num espaço e tempo concretos. Atribuir-lhes características. Estão a fazer algo. Um deles, pelo menos. Há interferências na comunicação entre os dois. Existe ruído, no sentido linguístico (toda e qualquer actividade que perturbe a comunicação). Será necessário apostar na ininteligibilidade, lutar contra o clássico diálogo pingue-pongue. A permeabilização recorda-nos que o meio teatral permite a criação de uma teia de cumplicidades através do ruído. A situação pode ser explorada através dos diversificados códigos e elementos: espaço/tempo/som/luz/outros. Não se deve perder de vista a recordação querida, o lado afectivo e tentar utilizar o máximo de elementos. Texto: “Sopa de pedra” (A) e (B) estão a jogar snooker, no Snooker Clube. É um espaço de ambiente requintado, com luzes do tecto numa intensidade reduzida e muito boa iluminação sobre a mesa. Têm bebidas numa mesa circular ao lado da mesa de jogo. (A) veste uma camisa de marca e calças de ganga. (B) está de casaco e gravata. A (aproxima-se da mesa e faz o “break”) --- Não caiu nenhuma bola... B --- Qual bola? A --- O quê?!? B --- Falaste numa bola... A --- Eu?!? Joga lá...não meti bola nenhuma... B --- Então eu posso escolher se jogo com as listradas ou as lisas... A --- Mas escolher o quê?!? Primeiro tens de meter uma bola. Só depois é que podes escolher. B --- Não... A --- Como não?!?... B --- Se meter uma bola não posso escolher. Tenho de jogar com as bolas da cor da que entrar... A --- Então e se entrar a branca? Ou a preta? B --- Se entrar a branca tenho de tirar uma bola... A --- Como é que tiras se não tens nenhuma bola metida? B --- Se não tiver, jogas tu. A --- Então e a preta?
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B --- A preta o quê? A --- Se entrar a preta? B --- Perdes. A --- Mas assim não escolho. B --- Escolhes. A --- Como? B ---Se meteres uma bola de outra cor antes de entrar a preta. Bebe lá a tua cerveja. E joga. A --- Não. B --- Não jogas? A --- Jogo. Mas não bebo cerveja nenhuma. B --- Então para que pediste a cerveja? Sabes que eu não bebo cerveja. A--- A minha bebida não é cerveja. É whisky. B --- Não interessa. É o que tu pediste. Bebe lá o teu vodka e joga. A --- Está bem. (A joga. Uma das bolas salta da mesa. Vai buscá-la e regressa à mesa de jogo) A --- O Ayres também dava com o taco na cabeça dos tubarões. B --- Qual taco? A --- O taco de levar para o bote, na Ilha de Moçambique. B --- Havia lá snooker? A --- Havia o Vitória Bar. Era do Ayres, davam marisco de graça quando se pedia uma cerveja. B --- O Ayres era comandante do Porto. Não tinha nenhum bar na Ilha de Moçambique. A --- Tinha sim, senhor. B --- O que ele tinha era uma amante no funeral. A --- Qual funeral? B --- O funeral dele. Parece que és parvo e vieste para aqui só para desconversar. A --- Vim para jogar snooker e beber o meu gin. B --- Então bebe lá a tua amarguinha e joga. A --- Não me apetece. Joga tu. B --- Não posso jogar duas vezes seguidas sem ter metido uma bola. A --- Quem te impede? B --- As regras. A --- Mas eu deixo. Estou a dizer-te que jogues. B --- O Ayres tinha uma amante no funeral. Ou mais do que uma? A --- Sei lá. O Ayres tinha era uma vontade danada de chatear as pessoas. B --- Estás parvo. Ele era generoso. A (irónico) --- Era. E tinha os olhos cinzentos e azuis. B --- Ahn??? Como?? A --- Tinha os olhos cinzentos e azuis. B --- Cinzentos ou azuis? A --- Cinzentos e azuis. Conforme os dias e a cor da luz. B --- A luz não tem cor. É branca. A --- Se não tem cor não é branca. B --- É branca, sim senhor. Joga à branca. Põe a bola aí no triângulo e joga. A --- Qual triângulo? B --- Aí na mesa.
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A --- A mesa não tem nenhum triângulo. O triângulo está ali guardado para quando for preciso dar a bola de saída. B --- Nada disso. O triângulo de madeira está guardado para quando for preciso fazer o “break”. A --- O triângulo não é de madeira. É das Bermudas. B --- Eu não estou de bermudas. Estou de casaco e gravata. A --- Porque queres. Alma até Almeida. B --- Qual almeida? A --- O dono do clube. B --- Não vejo ninguém a varrer. O Almeida é padre? A --- O quê? B --- Para varrer a alma tem de ser padre. (Pausa. Vão os dois direitos à mesma bola. Um mete a bola na bolsa. O outro falha-a. Nenhum deles parece perturbar-se. O que acertou felicita o que falhou) B --- Boa bola. A --- Obrigado. O Ayres continuou a namorar com a amante depois do funeral? B --- Não. Acho que ele morreu. A --- Antes do funeral, portanto? B --- Acho que sim, eu não fui ao funeral. Tive uma cremação com chantilly. A --- Parece que ouve insultos. B --- No chantilly? A --- No funeral do Ayres. B --- Já nada me espanta. Bebe a tua bebida. A --- Bebe tu. B --- A minha ou a tua? A --- O Ayres era comandante do porto? Em Moçambique? B --- Acho que sim. Porquê? A --- Porque o Porto é no continente. Para ir para o porto de Moçambique tinha de ir de barco. B --- Ele era comandante do Porto. A --- Mandava mais que o Pinto da Costa? B --- Na costa não sei. Mas por alturas do pinto, certamente. A --- O que pinto? B --- Harold Pinter. A --- Porquê? B --- Porque o professor é um Pintérico da melhor espécie. E agora José? A --- Finito. Kaput. Achas que cumprimos as consignas? B --- Talvez. O logos é uma trampa. A --- Isto já me está a cheirar mal. O melhor é pararmos. B --- Tens razão. Joga. A --- Não. Joga tu. B --- Não. Yoga. Tu.
C. VII. 1. Interrogativas directas parciais
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Como referido antes, são frequentes em português europeu interrogativas directas
parciais que mantêm a ordem de palavras canónica SVO, desde que, entre a expressão
interrogativa e o resto da oração, ocorra a forma é que (69). Quando esta expressão não
ocorre, é obrigatória a ordem expressão interrogativa –V –X (70).
(69) O que é que os estudantes decidiram na reunião de associações académicas?
(70) O que decidiram os estudantes na reunião de associações académicas?
No português brasileiro, a estratégia ilustrada em (70) encontra-se em perda, sendo
possível utilizar, a par da estratégia com é que, uma construção em que apenas que
separa a expressão interrogativa do resto da oração (71), ou manter a ordem canónica
SVO (72).
(71) O que que os estudantes decidiram na reunião de associações académicas?
(72) O que os estudantes decidiram na reunião de associações académicas?
Nenhuma destas duas estratégias é permitida no português europeu.
2. Colocação dos pronomes clíticos
Na oralidade, as distinções casuais dos pronomes pessoais estão em perda, com
particular relevância para as formas acusativas (73).
(73) Gatos, não quero eles em casa.
Paralelamente, tem sido referido que o português brasileiro já perdeu a mesóclise e está
a evoluir para a próclise como colocação normal (74).
(74) Nasci em Brasília e me envergonho de meus conterrâneos que elegeram, pelo voto
direto, o governador Joaquim Roriz.
Na realidade, o que acontece é que existe variação livre de próclise e de ênclise em
contextos em que o português europeu exige ênclise (75) e em contextos em que exige
próclise (76).
(75)a. A nota limitou-se a registrar que a Assembléia Legislativa de Sergipe votará
projeto de lei que intimidará a divulgação de notícias originadas de informações do
Ministério Público Estadual.
b. E, nesse ponto, a Nestlé me ajuda muito.
c. Rafael não queria viver dessa falsa imagem que muitos artistas passam ao consumir
drogas. O público dele era infanto-juvenil. Mas o sucesso subiu-lhe à cabeça.
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(76)a. Separei-me há dois meses e, pela primeira vez, li algo que aliviou a angústia e
tirou-me a sensação de fracasso.
b. Surpreendi-me ao ler a entrevista do psiquiatra infantil Hubert Montagner e saber
que é possível estimular um bebê para que, no futuro, torne-se um bom aluno.
Ao observarmos dados deste tipo, podemos concluir que encontramos no português
brasileiro uma situação mais próxima da existente no português europeu antigo e
clássico do que o exemplo de uma deriva inovadora.
Onde existe inovação é na colocação dos clíticos em sequências verbais. Enquanto
nestes contextos o português europeu exige adjacência do pronome clítico ao verbo
finito ou ênclise à forma infinitiva (77), o português brasileiro permite próclise à forma
participial ou infinitiva (78).
(77)a. O João tinha-se encontrado muitas vezes com a Maria.
b. Nenhum outro carro faz você sentir-se tão em casa mesmo longe dela.
(78)a. João tinha muitas vezes se encontrado com Maria.
b. Nenhum outro carro faz você se sentir tão em casa mesmo longe dela.
Considerações finais
No Brasil, é numa complexa situação de contacto em que foram maioritárias como
língua materna, pelo menos até meados do século XVIII, línguas ameríndias e línguas
africanas, que a língua portuguesa vai sendo adquirida como língua segunda por
sucessivas gerações de "proto-brasileiros" e brasileiros (descendentes de portugueses e
índias, descendentes de índios, descendentes de escravos negros, descendentes de
sucessivos contingentes de emigrantes falantes de línguas românicas, germânicas,
altaicas, eslavas e semíticas) que fornecem dela um modelo "diluído" para a sua
aquisição como língua materna pela geração seguinte.
Como afirma Rosa Virgínia Mattos e Silva,
Por todo o período colonial, de 1532 a 1822, a taxa populacional de africanos e afro-
brasileiros, de indígenas e seus descendentes somados atinge uma constante média de
70% da população, enquanto os portugueses europeus e os seus descendentes perfazem,
consequentemente, 30% do todo. Esse fator demográfico indica que a massa da
população colonial adquiriu a língua hegemónica da colonização, o português europeu,
numa situação hoje designada de aquisição imperfeita ou de aprendizagem irregular,
isto é, em condições de história familiar que configuram a situação de aquisição de uma
língua segunda. (MATTOS E SILVA, 2000, p. 170).
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Acresce que este processo de transmissão irregular decorreu esmagadoramente na
oralidade, já que Durante três séculos, o Brasil foi, no dizer de Caio Prado Júnior, uma
"vasta colônia de analfabetos". Sem núcleos culturais capazes de irradiar um padrão
idiomático, sem Universidades, com um número insignificante de escolas de primeiras
letras - as únicas que ensinavam o idioma -, sem imprensa (lembre-se de que o primeiro
texto impresso no Brasil data de 1808, quando da transferência da Corte Portuguesa
para o Rio de Janeiro), com a população realmente produtiva espalhada pelas fazendas
e pelos engenhos, a língua oral passou a seguir os seus caminhos semnenhum controle
normativo.(CUNHA, 1985, p. 71). e que a escolarização como factor de normalização
linguística desempenhou um papel diminuto:
Acrescente-se a essa situação bilingüe / multilingüe o fato de essa aquisição se ter
processado plenamente na oralidade, sem a sistematização e a pressão normativa da
escolarização e conseqüentemente sem o suporte regulador da escrita. A história do
Brasil informa que, até ao final do século XVII, o número de letrados não ultrapassariam
0,5% da população (Houaiss 1985: 147). Só ao longo do século XIX e inícios do XX é que
essa precaridade do letramento no Brasil passa a um patamar significativo de 20 a 30%
de indivíduos escolarizados. (MATTOS E SILVA, 2000, p. 171).
Dados do 10 censo brasileiro, de 1872, indicam que, numa população estimada em 4
600 000 habitantes, (a) 99.9% dos escravos eram analfabetos, (b) 80% da população
livre era analfabeta, (c) só 16.8% da população entre os 6 e os 15 anos frequentava a
escola primária e (d) só 12 000 alunos estavam matriculados em cursos secundários. Ora
dados de Março de 1990 indicam que:
Se admitirmos como letrados os que concluem o 10 grau, tem-se ainda hoje a taxa de
20% com que iniciamos o século XX. (MATTOS E SILVA, 2000, p. 171).
Esta situação de dramático insucesso escolar, que compromete o desenvolvimento
económico e cultural do Brasil, coloca compreensivelmente o problema da variante da
língua portuguesa a adoptar como língua de escolarização. Ou seja, a questão da norma
padrão da variante brasileira torna-se uma questão política central, e confrontados com
os dados do insucesso escolar, muitos linguistas brasileiros subscrevem a ideia de que
ela deve ser construída exclusivamente sobre a língua falada (ainda que nem sempre o
explicitem).
D. Exercícios
1. Pretérito Perfeito do Indicativo 1.1. Complete os textos abaixo com os verbos no pretérito perfeito do indicativo.
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1. Ontem, o sr. Sousa .......................... (chegar) do trabalho muito cedo. ..................... (entrar) em casa, ............................. (despir) o casaco, ...................... (ligar) o rádio e ........................... (ouvir) as notícias. Depois, ......................... (calçar) as suas pantufas e ............................. (pôr) um CD a tocar. O sr. Sousa ........................ (cozinhar) um jantar especial e .................. (decidir) convidar alguns amigos. Quando os amigos ............................ (chegar), o sr Sousa ................................ (fazer)-lhes um desafio – um concurso de dança! Então, .......................... (passar) toda a noite a dançar! 2. Há dois meses atrás, eu ................................ (querer) ter uma experiência diferente. ......................... (ir) para a Índia durante algumas semanas, e ......................... (aprender) muito sobre a cultura e costumes daquele país exótico. ................... (viver) com uma família indiana, ........................ (comer) muitos pratos diferentes, com caril e sementes, ....................... (seguir) as suas tradições religiosas, ....................... (tomar) banho no Ganges, ................. (andar) de barco, e ........................ (divertir-se) muito. ....................... (ser) uma viagem inesquecível! 2. Imperativo 2.1. Os verbos desta receita tradicional de São Miguel estão no infinitivo. Coloque-os no imperativo (você). Bolo lêvedo Ingredientes: 1 kg de farinha de trigo 100 grs de manteiga 15 grs de sal 0,5 l de leite 250 grs de açúcar 60 grs de fermento 4 ovos água farinha de milho q.b. Modo de fazer: Desfazer a farinha de trigo em água morna. Fazer uma bola de massa. Cobrir com farinha; abafar uma hora e depois tirar o pano quando a massa apresentar pequenos furos. Juntar, então, o açúcar, a manteiga e os ovos. Bater à mão. Misturar bem, durante 20 minutos. Deitar leite quente, pouco a pouco, e amassar, de baixo para cima. Juntar o fermento. Deixar levedar até ao dia seguinte. Depois, fazer bolos de 50 grs – polvilhar cada um com farinha de milho, achatar, e cozer em forno quente. ………………………………………………………………………………………………......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
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..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
.......................... 2.2. Ajude o seu amigo Jorge na sua aula de ginástica. Dê-lhe instruções. 1. Pôr/ braços/ cima! ................................................................................. 2. Levantar / cabeça! ................................................................................. 3. Encolher / barriga! ................................................................................. 4. Esticar /pernas! ................................................................................. 5. Rodar/corpo! ................................................................................. 6. Sorrir/sempre! ................................................................................. 3. Pretérito Imperfeito do Indicativo 3.1. Complete os seguintes textos com os verbos no pretérito imperfeito do indicativo. 1. Antigamente, o Filipe ....................... (ser) estudante de Medicina e .................. (estudar) muito depois das aulas, todos os dias. .......................... (morar) numa casa, com outros estudantes, .................... (comer) na cantina da Universidade, ................... (ter) um emprego aos fins-de-semana num café para ganhar algum dinheiro extra. ................................ (trabalhar) só quatro horas por dia, mas .................... (ficar) muito cansado. Não ...................... (ter) muito tempo livre, mas ........................ (jogar) andebol às quintas e domingos, ...................... (ouvir) música e, claro, ................................ (ler) muito. Nesse tempo, o Filipe ....................... (ser) muito magro e ...................... (usar) lentes de contacto. 2. Quando tu ............................. (viver) no campo, ............................ (passar) muito tempo ao ar livre. ........................... (fazer) piqueniques ao sábado, .................. (colher)
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flores, ....................... (respirar) o ar puro, ............................ (passear) pelas colinas. Não .......................... (ter) preocupações com o trânsito e o fumo. Mas nunca ........................... (poder) ir ao teatro, raramente .......................... (ver) um filme no cinema, ............................. (assistir) a um concerto ou a um ballet. A cidade tem as suas vantagens!
VIII. UNIDADE
A. Ditado. Correcção e interpretação dos erros.
B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Rostos da escuridão»
● Actividade didáctica
N. B.
1- Um rosto e uma voz (A) emergem da escuridão e do silêncio.
- Descrição do rosto.
- Discurso interpelativo (tu, vocês).
- Não se percebe a intencionalidade concreta.
2- A luz faz surgir -de corpo inteiro - uma segunda personagem (B) ocupada numa
actividade física.
- Descrição geral de (B).
- Não se percebe onde está.
- Depois de 10 segundos, a escuridão a apaga.
- Não se interromperam nem o discurso nem a imagem de (A).
3- A luz faz surgir -de corpo inteiro - uma terceira personagem (C) imóvel.
- Descrição geral.
- Não se percebe onde está.
- Depois de 10 segundos, a escuridão a apaga.
- O discurso de (A) altera-se emocionalmente e adquire intencionalidade.
4- Um efeito sonoro -musical ou não -, progressivamente reconhecível, cresce em
intensidade e acaba por eclipsar o discurso de (A).
5- O som, chegado à sua máxima intensidade, produz um brusco silêncio, enquanto a
súbita escuridão apaga o rosto de (A).
6- Depois de 10 segundos de escuridão e silêncio, a luz revela um lugar concreto em que
estão (B) e (C), a primeira ocupada na sua actividade e a segunda imóvel.
7- Começa entre eles um diálogo em esticomitias, em princípio não conflitual.
8- A conflituosidade aparece e cresce entre (B) e (C).
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9- Quando o conflito alcança a sua máxima intensidade, (B) abandona bruscamente a
sua actividade e fica escuro de repente.
10- Na escuridão, o som anterior (4) cresce em intensidade e, bruscamente, cessa.
11- Um rosto e uma voz (C) emergem da escuridão e do silêncio.
- O seu discurso é formalmente similar ao de (A).
12- A luz destaca de corpo inteiro a (A) ocupado/a na mesma tarefa física que antes
realizava B.
- Descrição geral de (A).
- Não se percebe onde está.
- Depois de 10 segundos, a escuridão a apaga.
- Não se interrompeu o discurso de (C).
13- A luz destaca -de corpo inteiro - a (B), imóvel.
- O seu aspecto físico mudou sensivelmente.
- Não se percebe onde está.
- Depois de 10 segundos, a escuridão a apaga.
- O discurso de (C) altera-se emocionalmente e adquire intencionalidade.
14- O efeito sonoro (4 e 10) irrompe bruscamente na sua máxima intensidade, apaga a
voz e a imagem de C e depois vai decrescendo até extinguir-se.
15- Depois de 10 segundos de silêncio e escuridão, a luz revela o lugar anterior (6),
agora notavelmente modificado, em que estão (A) e (B), a primeira ocupada na sua
actividade e a segunda imóvel.
16- Começa entre eles um diálogo em esticomitias, em princípio não conflitual.
17- A conflituosidade aparece e cresce entre (A) e (B).
18- Quando o conflito alcança a sua máxima intensidade, (A) abandona bruscamente a
sua actividade e fica escuro de repente.
CONTINUAR A COMBINAR LIVREMENTE AS VARIÁVEIS DO SISTEMA.
Variáveis:
1- Rosto(s) na escuridão
- a falar
- sem falar
2- “Flashes” (10 segundos) de corpo inteiro
-em movimento
-imóveis
3- Som crescente / decrescente
-com luz
-na escuridão
4- Monólogos interpelativos
5- Diálogos em esticomitias
6- Lugar
7- Transformações de aspecto
8- Duração
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C. VIII. Tempos do conjuntivo
Os tempos do conjuntivo (Br. subjuntivo) são empregues para descrever uma acção/situação fora do plano real. Assim, o presente do conjuntivo pressupõe uma avaliação/acção associada à situação descrita nesse tempo; o futuro do conjuntivo representa uma acção ainda sem realização específica (sem localização temporal determinada ou com um actor genérico); e o imperfeito do conjuntivo descreve essa acção como uma hipótese contrária aos factos. Os tempos compostos, por outro lado, apenas adicionam ao sentido do tempo simples a informação de que a acção/situação é encarada como passada, ou seja, já completada, e não introduzem pois nenhum elemento adicional de sentido. É importante salientar que, ao contrário de outras línguas, os tempos do conjuntivo não apresentam sinais de desaparecimento em português. Futuro do conjuntivo Este tempo usa-se apenas em dois tipos de contextos:
1. em orações iniciadas por se, em que se põe a hipótese da acção descrita por esse tempo vir a ocorrer Se vieres a Lisboa, vem cá ter a casa. Eu pago-lhe o almoço se ele quiser. Se ganhar a lotaria, compro uma vivenda no Restelo.
2. em frases iniciadas por quando, quem, o que, como, etc., em que descreve uma acção genérica, ou melhor, uma acção em que uma dada característica ainda não foi fixada Quando vieres a Lisboa telefona-me. Quem puder ler o artigo, por favor fale comigo. Arranja-te como quiseres. Faz o que entenderes. Dentro deste grupo, destacam-se também alguns tipos de subordinadas temporais (cujo significado está relacionado com quando): Logo que puderes, telefona-me. Enquanto estiveres em Cuba, não precisas de cá vir. Enquanto não fores a Bergen, não sabes do que estás a falar. Assim que fizer este embrulho, vou para aí.
Presente do conjuntivo N.B. As frases marcadas com asterisco indicam que o modo indicativo também é possível:
expressão de crença/descrença Duvido que o Pedro venha. Acredito que o Partido saia reforçado deste congresso.* Suponho que estejas cansado.* Imagino que não te lembres de mim.
expressão de desejo/receio Espero que o livro seja um sucesso. Receio que esse movimento traga consequências graves.
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Tenho medo que este depoimento perturbe a campanha. Temo que não apareça. Desejo que tenhas uma vida muito feliz.
expressão de afirmação (acto de fala) Insisto para que faças o que prometeste. Nego que o tenha feito alguma vez.* Sugiro que ponha o lugar à disposição. Proponho que a comissão se reúna. Peço que me dispense amanhã. Não digo que não o conheça.*
expressão de avaliação (quer sobre a veracidade da oração no conjuntivo, quer sobre os seus resultados) Pode ser que o rapaz não esteja a mentir. É possível que ele entregue o artigo a tempo. É (pouco) provável que este livro desencadeie grande oposição. É bom que ele seja tão aplicado. É mau que os portugueses não votem. É uma maravilha que as crianças aprendam uma língua sem dificuldade.
Exemplos dos mesmos verbos (marcados com asterisco) seguidos de orações no indicativo Acredito que ele é honesto. Não nego que ele trabalha bem. Suponho que és comunista. Também em orações dependentes de nomes aparecem associados estes valores: A proposta de que se construa uma nova ponte foi rejeitada. O receio de que ele esteja doente amargura-lhes a vida. O medo de que o furacão chegue à cidade levou já vários habitantes a fugir para o campo. A sugestão de que se faça um livro de actas colheu grande apoio. A esperança de que esta medida melhore significativamente as condições no país levou a uma grande receptividade por parte dos cidadãos. Dois advérbios em posição pré-verbal também requerem o conjuntivo: talvez e oxalá. Oxalá venha depressa! Oxalá que consigam fazer o que querem! Ele talvez não tenha sido convidado. Talvez queira um cigarro. Em relação a talvez, note-se que existem alguns casos marginais em que é usado em posição pós-verbal, com o verbo portanto no indicativo, nesse caso apenas se reportando ao sintagma imediatamente a seguir: Ele é talvez o melhor romancista do século XX.
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Este hipopótamo come talvez dez quilos de forragem por dia. Muitas conjunções em orações subordinadas também pedem o presente do conjuntivo, quando a oração principal se reporta ao presente ou futuro: Quer chova quer faça sol, lá está ele de plantão de madrugada. Embora seja convidado, não é tratado como os outros. Mesmo que venha, já não chegará a tempo para ouvir o discurso. Por mais que faça, chega sempre atrasado. A não ser que se veja livre dela, não sei como a poderá esconder. Contanto que faça os deveres, deixo-o sair. Caso perca o passe, pode sempre comprar um bilhete. Logo que ele entre, não o deixo escapar-se. A fim de que o João não me ouça, trouxe-te para aqui. Faço isto tudo para que não te queixes mais tarde de que não te ouvi. Isto vai ser uma desgraça, a menos que o tal artista apareça. Fica aqui até que a aurora desponte. Desde que coma o bife, tem direito a sobremesa. (=a condição mínima para comer a sobremesa é ter comido o bife) Antes que te arrependas, pára com isso! (= pára com isso para que não te arrependas) Existem alguns casos de orações subordinadas sem conjunção, correspondendo a quer ... quer Faça sol ou chuva, ele percorre o país de lés a lés. Venha o rei ou a sua comitiva, não conseguem demovê-lo. ou especificamente indicando várias hipóteses (através de uma oração com futuro do conjuntivo): Venha quem vier, faço o discurso. Faça-se o que se fizer, acontece sempre a mesma coisa. Aqui em Oslo ela não conhece seja quem for que a possa ajudar nesse assunto. Em orações relativas, o presente do conjuntivo indica uma dada propriedade sobre a qual não há ainda instância (caso particular): Procuro uma secretária que saiba alemão. Quero um prato que não tenha muito sal. Não mora aqui ninguém que eu conheça. A quem prometa mundos e fundos não se pode entregar o governo. Por outro lado, o presente do conjuntivo é usado em expressões objecto de verbos indicando existência, expressões essas indefinidas devido ao pronome quem. Há quem diga que a casa está assombrada. Não falta quem goste de apoucar os outros. Finalmente, em linguagem popular usa-se a expressão eu seja "qq coisa má" se para indicar de forma extrema que a frase seguinte é verdadeira:
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Eu seja ceguinho se estou a mentir. (= Não estou a mentir) Eu seja desgraçada se ele não me mostrou a criança. (= Ele mostrou-me a criança) Futuro do conjuntivo vs. presente do conjuntivo em orações relativas A distinção entre o futuro do conjuntivo e o presente do conjuntivo em orações relativas é semelhante àquela que opõe "uma pessoa qualquer" a "qualquer pessoa". Com efeito, uma oração relativa no presente do conjuntivo descreve uma pessoa qualquer com uma dada propriedade, mas apenas uma, enquanto que no futuro do conjuntivo descreve qualquer pessoa com essa propriedade: Uma secretária que souber alemão arranja emprego facilmente. Um prato que tiver muito sal é desagradável ao cliente. Uma educadora que puder tratar desse problema será bem-vinda. Imperfeito do conjuntivo Usa-se em dois contextos distintos:
1. Como passado, tanto do presente do conjuntivo como do futuro do conjuntivo, o que é flagrante no discurso indirecto, mas que é válido sempre que nos encontramos numa situação transposta do presente para o passado:
2. Disse-lhe que quando viesse a Lisboa me telefonasse. Ordenei-lhe que entrasse. Redargui-lhe que enquanto não fosse a Bergen, não sabia do que estava a falar. Pedi-lhe que me telefonasse logo que pudesse. Fizesse sol ou chuva, estava sempre cedo na loja. Contanto fizesse os deveres, ela deixava-o sair. Ela negou que ele lhe tivesse pedido alguma vez para sair. Ela esperava que ele se retirasse antes que deitasse tudo a perder. Havia quem dissesse que a casa estava assombrada. Um caso típico do imperfeito do conjuntivo como "passado do presente do conjuntivo" são as recriminações, ou "ordens passadas", próprias da linguagem oral: Estudasses! Fizesses o que te mandei e nada disto tinha acontecido! Não tivesses deixado tudo para a última hora!
3. Em orações se, o imperfeito do conjuntivo contrasta com o futuro do conjuntivo porque indica que a acção não só é puramente hipotética mas é irreal Se pudesse ter filhos, teria tido uma vida diferente. Se ele casasse com a Margarida, seria muito mais feliz. Ele comprava um Mercedes se pudesse. Se o Manuel fosse mais sensato, nada disto lhe acontecia.
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Pode-se talvez analisar este caso também como o passado do se + futuro do conjuntivo, mas esse passado traduz-se em irrealidade que pode ser projectada para o futuro: Se fosse rica, não trabalharia. Se ele tivesse estudado, não estaria agora na miséria. Se ele tivesse estudado, não teria chumbado vergonhosamente.
4. É obrigatório no contexto como se Ele anda como se tivesse o rei na barriga Elas comportam-se como se ele simplesmente não estivesse na sala
5. É usado para descrever uma acção passada sobre a qual se fala no presente Duvido que ele dissesse tal coisa Tenho pena que ele fizesse isso
Conjuntivo vs. indicativo Alguns verbos usam o conjuntivo quando negados, mas o indicativo se não negados: achar, acreditar, crer, pensar, ter a certeza. Não acho que este vinho seja mau, mas acho que o outro é bem melhor. Não acredito que o João seja assim. Acredito que ele é honesto. Não creio que esteja errado. Creio que são três horas. Não penso que ele seja mau de todo, mas penso que a sua companhia te é prejudicial. Não tenho a certeza de que não haja políticos honestos, mas tenho a certeza de que são poucos. D. Exercícios
1. Concordância verbal e nominal
1.1. Complete cada uma das frases seguintes, usando, nos tempos indicados, a forma
correcta do verbo apresentado entre parênteses.
a)Pretérito perfeito simples do indicativo:
O João e o Miguel não __________ (querer) aceitar o convite de um amigo para
trabalharem num restaurante.
b)Pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo:
O Jorge pintou um brinquedo que ___________ (encontrar) no sótão.
c)Pretérito imperfeito do conjuntivo:
Se as plantas_______________ (poder) falar, talvez ____________ (haver) mais
respeito pela natureza.
d)Pretérito perfeito simples do indicativo:
A UE ______________ (distinguir) alguns Estados-membros pela implementação de
boas práticas ambientais.
e)Pretérito imperfeito simples do indicativo:
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Já em 1993, _______________ (haver) instituições preocupadas com o desenvolvimento
sustentável.
f)Presente do indicativo:
Algumas organizações não-governamentais _______________ (intervir) na definição das
políticas ambientais.
g)Futuro do indicativo:
Acreditamos que os jovens _______________ (fazer) a diferença.
h)Presente do indicativo:
Nas aulas de língua estrangeira, os alunos _______________ (intervir) frequentemente
para praticar a expressão oral.
i)Futuro simples do conjuntivo:
Quando nós _______________ (fazer) a tradução do livro, este será lido por todos os
alunos.
j)Pretérito imperfeito do conjuntivo:
Se _______________ (haver) mais escolas de português no estrangeiro, seria mais fácil
divulgar a nossa língua.
k)Pretérito perfeito simples do indicativo:
João, onde é que tu _______________ (pôr) os meus dicionários?
l)Pretérito perfeito simples do indicativo:
Os atores dessa peça _______________ (obter) grande reconhecimento do público pelo
seu trabalho.
m)Futuro simples do indicativo:
A representação dessa peça _______________ (trazer) muito sucesso à companhia de
teatro.
n)Pretérito imperfeito do conjuntivo:
Os atores esperaram que os espectadores _______________ (parar) de aplaudir.
o)Futuro simples do conjuntivo:
Se essa companhia de teatro _______________ (vir) a Portugal, quero assistir ao seu
espectáculo.
p)Pretérito perfeito simples do indicativo:
Os arqueólogos _______________ (propor) às autoridades a exploração subaquática
dos navios naufragados.
q)Pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo:
Antes da época dos Descobrimentos, já _______________ (haver) muitos naufrágios
nesta baía.
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r)Futuro simples do conjuntivo:
Sempre que eu e a Sara _______________ (fazer) um passeio por Tróia, vamos pensar
na história da «nau da prata».
s)Pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo:
Se os piratas _______________ (querer), teriam afundado o navio inglês.
t)Pretérito perfeito composto do indicativo:
Estes cientistas são quem _______________ (descobrir) mais vestígios de meteoros na
Terra.
u)Pretérito mais-que-perfeito simples do indicativo:
Antes da partida, os aventureiros despediram-se de quem _______________ (fazer)
questão de os apoiar.
v)Pretérito imperfeito do conjuntivo:
Contávamos com escritores que _______________ (intervir) de forma decisiva no
debate sobre ficção científica.
w)Futuro simples do conjuntivo:
Todos aqueles que _______________ (ser) corajosos serão aceites nesta missão.
x)Pretérito imperfeito do indicativo:
Antes de partirmos, eu e os meus amigos _______________ (colocar) sempre uma
máquina fotográfica na mochila.
y)Pretérito perfeito composto do indicativo:
Ultimamente, _______________ (vir) a público muitas notícias sobre a exploração
espacial.
z)Presente do conjuntivo:
Interessam-me todos os livros de viagens que _______________ (conter) sugestões de
rotas exóticas.
zz)Pretérito imperfeito do conjuntivo:
Oxalá tu _______________ (poder) viajar connosco nas férias de verão.
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IX. UNIDADE
A. Ditado. Correcção e interpretação dos erros.
B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Vozes na noite»
● Actividade didáctica
N. B. Circunstâncias:
- A acção tem lugar no estúdio de uma emissora bastante medíocre, depois da
noite;
- (A) dirige um programa radiofónico (“Vozes na noite”) que emite em directo
chamadas de ouvintes: vagos pedidos, confidências, pedidos de conselhos e canções
nostálgicas, etc. (Insistir no nome do locutor);
- Precisamente hoje, (A) está, para além disso, dependente do seu telemóvel
para obter, quiçá, uma notável melhoria profissional. (Dosificar a informação ao longo
das sequências 3,5,7, etc.);
- Estrutura geral da acção: alternam-se as chamadas de ouvintes solitários e a
audição das canções, momentos que (A) dedica à sua expectativa laboral.
Sequências da acção (depois da anotação inicial):
1- Termina uma canção e (A) “reata” o discurso do programa. (Criar uma
retórica particular.)
2- Produz-se a primeira chamada: amante abandonado/a. Diálogo.
3- Canção solicitada e primeiro momento pessoal de (A) com o telemóvel.
4- Segunda chamada: doente/a crónico/a. Diálogo.
5- Canção solicitada e segundo momento pessoal de (A) com o telemóvel.
6- Terceira chamada: vigilante nocturno com problemas económicos e/ou
laborais. Diálogo.
7- Canção solicitada e terceiro momento pessoal de (A) com o telemóvel.
8- Quarta chamada: adolescente suicida por motivos existenciais. Diálogo.
9- Canção e quarto momento pessoal de (A). A expectativa parece confirmar-se.
10- Quinta chamada: B, pessoa decisiva no passado de (A), que o interpela com
outro nome. Diálogo.
11- Coloca-se para (A) um conflito entre a sua expectativa profissional e a
circunstância aberta pela chamada de (B), que interrompe subitamente a
comunicação.
12- A oferece aos seus ouvintes uma canção... enquanto se debate no conflito.
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13- Sexta chamada: um ouvinte brincalhão, assíduo do programa de (A). Diálogo.
14- Canção e desenvolvimento do conflito de (A).
Dilema da personagem, opção do autor: resolve-o através do telemóvel
ou em directo, no programa?
15- Sétima chamada: de novo o/a suicida adolescente.
Opção: agonia em directo ou renúncia/adiamento do suicídio?
16- Última canção e resolução imprevisível do conflito de (A). (Final
heteropoético)
VARIANTE 1: (A) está dependente de várias expectativas profissionais. Diversidade e
multiplicidade também no contexto unificador.
VARIANTE 2: (A) tem que incluir publicidade no programa.
C. IX. Português/ Espanhol, Aproximação comparativa do uso do conjuntivo (ver ficha
dropbox)
D. Exercícios
1. Concordância verbal
1.1. Indique o tempo e o modo das formas verbais sublinhadas.
a)Levanto-me cedo todos os dias.
b)Gostaria muito de que regressasses.
c)No próximo Domingo vou a tua casa.
d)Quando eu aparecia, ele escondia-se.
f)Tinha voltado de manhã cedo.
g)Já partira quando o recado chegou.
h)Tinha voltado de manhã cedo.
i)É bom estarmos aqui.
j)Talvez lhe tivesse contado tudo.
k)Eles trabalharão muito, para seu bem.
l)Se adivinhasse não punha cá os pés.
m)Estuda, rapaz!
n)Não se pode deixar os livros desarrumados.
o)Não faças coisas mal feitas!
p)Terminado o estudo, foi brincar.
q)Ele tem estudado muito.
r)Quando saírem as notas, ficará contente.
s)Pode ser que ele goste da montanha.
t)Talvez já lá tenha ido.
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u)Amanhã tudo terá terminado.
v)Entrámos pela porta da cozinha.
w)Oxalá tenhamos bom tempo no Sábado.
2. Concordância em orações relativas
2.1 Complete as frases, realizando as concordâncias necessárias.
a) Os livros de matemática que (ser oferecido /ir para a biblioteca nacional). _______________________________________________________________________ b) As matérias primas que (vir da capital/ser importado de fora do país). _______________________________________________________________________ c) No Instituto de Línguas, os estudantes que (vir do estrangeiro/ ser encaminhado para uma turma especial). _______________________________________________________________________ d) Os mosquitos que (transmitir malária / ser designado por anófele). _______________________________________________________________________ e) As publicidades que (andar por aí/contribuir muito pouco para a formação do cidadão). _______________________________________________________________________ 2.2 Organize o material dado em frases com sentido: a) As governantas mostrar ontem no noticiário das 20:00 horas ser ex-reféns da dinastia chinesa. _______________________________________________________________________ b) Os estudantes mais novos não se fazer apresentar-se de amanhã ser penalizados pela sua indisciplina. _______________________________________________________________________ c) Os quadros chegar do Brasil no mês passado ser plagiar dos de Malangatana. _______________________________________________________________________ d) Um dos trabalhadores morrer no naufrágio do navio Vega Cinco frequentar o último ano do curso de Hotelaria e Turismo em Inhambane. _______________________________________________________________________ e) Os bolos comer na festa de despedida de solteira da Ana cair-me mal. _______________________________________________________________________ 5.3 Complete as frases, organizando o material entre parênteses: a) Os sociólogos moçambicanos (receber a bolsa de estudos para pós-graduação viajar amanhã para Espanha). _______________________________________________________________________ b) A polícia sul-africana (disparar canhões de água contra activistas depor hoje no Tribunal Supremo). _______________________________________________________________________ c) Os astronautas (falar com o Papa Bento XVI a partir da nave espacial internacional ser
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norte-americano) . _______________________________________________________________________ d) Os camponeses (reclamar contra falta de sementes ter conversações com o ministro de agricultura na passada sexta-feira). _______________________________________________________________________ e) Os autocarros (acabar de chegar fazer a trajectória Maputo-Johanesburg-Botswana-Namíbia). _______________________________________________________________________
X. UNIDADE
A. Ditado. Trabalho de grupo de correcção e interpretação dos erros.
B. Exercício de escrita e compreensão textual: «Fragmentação/Coesão»
● Actividade didáctica
N. B. Circunstâncias:
1) Triálogo. Ao alternarem-se no uso da palavra, três personagens narram (no passado e
no presente) um parto humano.
2) Diálogo. Uma personagem está a tentar assustar a outra com um perigo iminente que
não chega a ser definido.
3) Monólogo. Enunciação (?) de uma receita de cozinha que vai deslizando até à
incongruência.
4) Coro. Uma fila de espectadores comenta um espectáculo (em sentido largo).
5) Diálogo. Duas mulheres num cabeleireiro (com o casco posto e na presença das duas
cabeleireiras) intercambiam insultos e acusações progressivamente graves.
6) Didascália. Descrição de um lugar ao que acede uma personagem e o transforma
gradual e ostensivamente.
7) Triálogo. Diálogo amoroso interferido pelos comentários sarcásticos de um terceiro.
8) Monólogo. Enunciação narrativa (?) de uma notícia catastrófica de actualidade,
estilisticamente adocicada.
9) Coro. Imóvel num espaço vazio, uma personagem ouve vozes em off (fragmentos de
frases) de gente que não é feliz.
10) Monólogo. Uma personagem mostra ao público um objecto artístico de uma cultura
“primitiva”, ao descrevê-la e ao interpretá-la.
11) Diálogo. Versão livre de um famoso diálogo teatral.
12) Didascália. Várias personagens realizam em silêncio um trabalho colectivo, ao
princípio harmonicamente e no fim conflitualmente.
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13) Triálogo. Três personagens descrevem e julgam uma quarta personagem (ausente).
Concordâncias e discrepâncias.
14) Diálogo. Entrevista a uma famosa personagem (real), frequentemente interrompida
por aplausos de uma audiência invisível.
15) Monólogo. Uma personagem censura algo a outra de sete maneiras distintas.
Reiteração/ variação.
16) Coro. Várias personagens formulam perguntas ao público sobre conflitos bélicos
actuais ou recentes.
17) Didascália. O mito de Sísifo em versão contemporânea.
18) Coro anafórico. Enunciação (?) de uma série de frases iniciais por “Chegará um dia
em que...”
19) Triálogo. Três personagens, olhando para o alto, descrevem e comentam uma
tentativa de suicídio.
20) Didascália. Sobre um fundo sonoro e/ou musical não habitual num aeroporto,
diversas personagens e grupos vão desaparecendo, com as suas respectivas bagagens,
pela porta de saída de passageiros que se abre e se fecha intermitentemente. Descrição
de aspecto, atitude, comportamento e ritmo de aparição.
Modo de realização:
Cada autor escolhe uma (ou duas) das sequências e a(s) desenvolve livremente (com
limitação de tempo de escrita e/ou de extensão).
Depois de ler, comentar e analisar em grupo as sequências desenvolvidas, propõem-se e
decidem colectivamente os factores de coesão que terá de permitir uma recepção mais
ou menos unitária do conjunto de fragmentos.
Antes ou depois da intervenção coesiva, podem ser realizadas pequenas mudanças em
cada uma das sequências para acentuar as ressonâncias ou os contrastes do conjunto.
Os signos de interrogação (?) indicam liberdade na escolha da modalidade e/ou o
contexto enunciativo.
C. X. Português/ Espanhol, “Falsos amigos” (ver ficha dropbox)
D. Exercício
“Portugal é fogo que arde sem se prever”, Ricardo Araújo Pereira, in Revista Visão, 12 de
Agosto de 2012.
É todos os anos a mesma coisa: chega o verão e começam os incêndios, os jornalistas
fazem reportagens em direto à frente das chamas, os bombeiros queixam-se da falta de
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meios, os comentadores perguntam como é possível que ninguém se tenha lembrado
de limpar as florestas e há sempre um parvo que assinala que é todos os anos a mesma
coisa. Cada um tem a sua função nesta farsa - e a minha, pelos vistos, é esta.
O aspeto mais intrigante dos incêndios de verão é a aparente surpresa com que
acolhemos um fenómeno que é recorrente e pontual. Não há nada mais previsível do
que os fogos em agosto, e no entanto continuam a abrir telejornais. Todos os anos
Portugal escorrega na mesma casca de banana, e é sempre notícia. Trata-se de uma
tradição que sobressalta.
Toda a gente está preparada para a Volta a Portugal em Bicicleta, mas ninguém espera a
Volta a Portugal em Carro de Bombeiros, que decorre todos os verões exatamente na
mesma altura. Imagino que, nas redações, os jornalistas tenham uma minuta com o
modelo da reportagem e as questões que é preciso colocar a populares, bombeiros e ao
ministro da Administração Interna. No final de julho, tiram a minuta da gaveta e
dirigem-se para onde houver labaredas. O espetador tem a sensação de estar a ver
sempre o mesmo jornalista, o mesmo bombeiro, e o mesmo ministro da Administração
Interna. Não são reportagens, é uma peça de teatro. E está em cartaz há mais tempo
que Te Mostrar em Londres.
JORNALISTA: Estamos aqui em [colocar nome da localidade], onde um violento incêndio
está a consumir a floresta e começa a ameaçar algumas casas. Comigo tenho o
comandante [nome do bombeiro]. Sr. comandante, qual é o ponto da situação?
BOMBEIRO: Olhe, com os meios que temos estamos a fazer o melhor possível. O
batalhão é pequeno e, além disso, precisávamos de mais dois camiões cisterna e dava-
nos jeito um helicóptero.
JORNALISTA: Aproveito então para falar com o ministro da tutela, que também tenho
junto a mim. Sr. ministro, o que é que está a ser feito para prevenir este desastre?
MINISTRO: Disse desastre? Costuma ser flagelo.
JORNALISTA: Tem razão. Desastre é para as cheias. Peço desculpa. O que é que está a
ser feito para prevenir este flagelo?
MINISTRO: Estamos a trabalhar no sentido de criar condições que permitam promover
um esforço muito sério com vista a desenvolver mecanismos que conduzam ao reforço
das infraestruturas. E recordo que a área ardida este ano é menor que a do ano
passado.
JORNALISTA: Obrigado, sr. ministro. Adeus e até para o ano no mesmo sítio e à mesma
hora.
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E depois cai o pano. Os atores recolhem aos bastidores e a plateia boceja. O incêndio
continua a queimar tudo, incluindo o papel onde os responsáveis apontaram que, para o
ano, é mesmo necessário limpar as matas. Os únicos metros quadrados que não ardem
são aqueles em que as estações de televisão montam o tripé para o jornalista
entrevistar os bombeiros e o ministro. O resto costuma desaparecer, até porque
Portugal parece ser um país que tem mais pirómanos por metro quadrado do que
árvores. A vida também está difícil para eles. A quantidade de pirómanos residentes em
território nacional sugere que, no nosso país, aquela máxima sobre a plena realização
pessoal foi ligeiramente adaptada. Aqui, ao que parece, só tem uma vida
verdadeiramente completa o cidadão que tiver um filho, escrever um livro e queimar
uma árvore.
Referências bibliográficas
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Letras, 2009.
DUARTE, Inês. « La topicalisation en Portugais moderne ». Revue de Langues Romanes,
v. 2, n.93, p.275-304,1989.
DUARTE, Inês. Sobre interrogativas, em Português Europeu e Português Brasileiro. Évora,
Universidade de Évora. 2000. Congresso Internacional 500 Anos da Língua Portuguesa
no Brasil.
DUARTE, Inês. In: MATEUS, Maria Helena et aI. Gramática da Língua Portuguesa. 5 ed.
rev. Lisboa: Caminho, 2003. p. 489-506.
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MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. O que corrigir no português de nossos alunos? Uma
avaliação do fator escolarização na compreensão do português brasileiro. In: REIS et
aI.(org.). Didáctica da Língua e da Literatura. Coimbra: Almedina, 2000. p. 165-73. V. 1.