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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
FACULDADE DE ODONTOLOGIA
OSTEONECROSE MAXILAR INDUZIDA POR
BISFOSFONATO EM PACIENTE PORTADOR DE MIELOMA
MÚLTIPLO – RELATO DE CASO
PATRICK ROCHA OSBORNE
MANAUS
2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
FACULDADE DE ODONTOLOGIA
PATRICK ROCHA OSBORNE
OSTEONECROSE MAXILAR INDUZIDA POR
BISFOSFONATO EM PACIENTE PORTADOR DE MIELOMA
MÚLTIPLO – RELATO DE CASO
Monografia apresentada à Disciplina de TCC II
da Faculdade de Odontologia da Universidade
Federal do Amazonas, como requisito parcial
para obtenção do título de Cirurgião-Dentista.
Orientador: Prof. Giorge Pessoa de Jesus
MANAUS
2011
PATRICK ROCHA OSBORNE
OSTEONECROSE MAXILAR INDUZIDA POR
BISFOSFONATO EM PACIENTE PORTADOR DE MIELOMA
MÚLTIPLO – RELATO DE CASO
Monografia apresentada à Disciplina de TCC II da
Faculdade de Odontologia da Universidade Federal
do Amazonas, como requisito parcial para
obtenção do título de Cirurgião-Dentista.
Aprovado em 11 de Novembro de 2011.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Giorge Pessoa de Jesus, Presidente
Universidade Federal do Amazonas - UFAM
Profª. Drª. Nikeila Chacon de Oliveira Conde, Membro
Universidade Federal do Amazonas - UFAM
Prof. Cleber Nunes Alexandre, Membro
Universidade Paulista – UNIP
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, que nunca mediram esforços para
que eu completasse essa jornada. São os grandes
responsáveis por essa minha conquista, pois sem
o apoio, o carinho, o amor, a compreensão, o
incentivo e a dedicação que me deram, nada disso
seria possível. Vocês são toda minha inspiração!
AGRADECIMENTOS
A Deus,
fonte da força e saúde que tive para superar obstáculos e atingir meu objetivo.
Ao meu pai Bruce Patrick Osborne,
que implantou em mim a disciplina, a ética e o respeito pelo próximo o meu agradecimento e ainda
pelo seu incansável apoio intelectual, emocional e pelo estímulo que me deu durante todo o curso.
A minha mãe Rosemary Rocha Osborne,
pela inspiração e orgulho que sinto hoje por ela, a sua carreira como dentista, foi quem me fez
optar pela odontologia e durante os seis anos de curso foi minha base,oferecendo-me seu
conhecimento e experiência em dúvidas persistentes.
Ao meu irmão Charles Osborne,
por ser um grande companheiro, sempre ajudando a me entreter quando eu mais precisava.
Ao meu Orientador Prof. Giorge Pessoa de Jesus,
quem primeiro me mostrou os caminhos da cirurgia bucomaxilofacial, pelo apoio acadêmico,
pelas suas orientações, pelas informações transmitidas e as diretrizes que levaram à
elaboração deste trabalho.
Aos Professores da FAO
sem distinção, pela introdução aos conhecimentos básicos, teóricos e práticos na área da
Odontologia e ainda, pela amizade demonstrada no dia a dia.
Ao professor da disciplina de TCC, Prof. Dr. Emílio Carlos Sponchiado Júnior,
que abraçou a carreira docente, conquistou seus alunos e conseguiu transmitir para todos, a
disciplina “Trabalho de Conclusão de Curso”, de forma clara e sem misticismo.
Ao Prof. Cleber Nunes Alexandre, pela dedicação e apoio fornecidos durante o
tratamento e diagnóstico da doença, assim como na elaboração do trabalho.
Aos professores integrantes da banca examinadora, por dedicarem o seu tempo e
emprestarem seus conhecimentos para à análise deste trabalho.
Aos servidores da FAO,
pela presteza, seriedade e empenho com que exercem sua função e a simpatia que me
trataram ao longo da minha jornada na FAO.
À Universidade Federal do Amazonas,
através da Faculdade de Odontologia, que fizeram um grande esforço para oferecer uma
nova estrutura para os alunos, como egresso procurarei elevar o nome da NOSSA UFAM
onde quer que eu esteja, esta Universidade que meus pais me ensinaram a amar e acreditar na
sua excelência, é com saudade que vou deixá-la como acadêmico.
Às colegas Aline Galvão e Dayane Oliveira,
que ao longo do curso me auxiliaram a realizar um atendimento odontológico de qualidade,
com seriedade e responsabilidade.
Aos colegas de turma,
pelo convívio, pelas parcerias, trocas de experiência e amizade, ao longo dos anos em que
passamos juntos.
Aos meus grandes amigos Guilherme, Sérgio, Victor e Vinicius,
pela companhia e amizade eterna, onde, sempre juntos, conciliamos horas de estudo e
diversão.
Aos pacientes,
que são atendidos na Faculdade, os quais contribuíram para o enriquecimento dos nossos
conhecimentos.
A minha família,
que vibraram com a minha classificação no vestibular e que ao longo do meu curso sempre
dedicaram uma atenção especial para mim.
E por fim, mas não menos importante, à paciente Julieta do Nascimento Peixoto e sua
família,
que procuraram o serviço de odontologia da FAO e sem saber, contribuíram, significativamente, para
a realização deste trabalho, contribuindo ainda mais pelo amor que sinto hoje pela CIRURGIA
BUCOMAXILOFACIAL.
RESUMO
A osteonecrose dos maxilares induzida por bisfosfonato (OMIB), é uma condição nova e
pouco conhecida descrita pela primeira vez em 2002. É caracterizada pela exposição de um osso
necrótico na maxila ou mandíbula, induzida pela administração de bisfosfonato, medicamento
que inibe a reabsorção óssea através da apoptose dos osteoclastos, e por isso indicado para
pacientes com doenças base como, Osteoporose, Doença de Paget, Câncer de Mama e Próstata, e
Mieloma Múltiplo. Este trabalho irá apresentar um relato de caso de uma paciente portadora de
mieloma múltiplo, a qual desenvolveu osteonecrose maxilar induzida por bisfosfonato, sendo
submetida à abordagem terapêutica e posterior reabilitação protética, abordando ainda, os tipos e
a farmacodinâmica dos bisfosfonatos, além da fisiopatologia e formas de prevenção da doença.
Visto que, é uma complicação que atinge única e exclusivamente os ossos gnáticos, é de extrema
importância o conhecimento da OMIB pelo cirurgião-dentista, este que deve reproduzir uma
minuciosa anamnese do paciente, além de realizar o tratamento da forma mais conservadora
possível.
Palavras-chave: Osteonecrose; Mieloma Múltiplo; Cirurgia.
ABSTRACT
The bisphosphonate-induced osteonecrosis of the jaws is a new and little known condition
described in detail for the first time in 2002. Its characteristic is exposed necrotic bone in the
maxilla or the mandible, induced by the administration of bisphosphonate, a medication that
inhibits bone resorption through osteoclast apoptosis and for this reason is indicated for patients
with diseases such as osteoporosis, Paget disease, breast and prostate cancer and multiple
myeloma. This study will also present a Case Report of a multiple myeloma patient who
developed bisphosphonate-induced osteonecrosis of the jaws, was treated therapeutically and
later with prosthetic rehabilitation; it will also present the types and the pharmacodynamics of
bisphosphonates, in addition to the physiopathology and disease prevention methods. Since it is
a complication which involves the gnathic bones, it is extremely important for dental surgeons to
have a sound knowledge of the disease, produce a detailed medical history of the patient, in
addition to administering treatment as conservatively as possible.
Keywords: Osteonecrosis; Multiple Myeloma; Surgery.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................17
2. REVISÃO DE LITERATURA.....................................................................................20
3. OBJETIVO....................................................................................................................46
4. RELATO DE CASO.....................................................................................................48
5. DISCUSSÃO................................................................................................................57
6. CONCLUSÃO..............................................................................................................65
7. REFERÊNCIAS...........................................................................................................67
FIGURAS E TABELAS
Fig. 1 Osteonecrose Maxilar induzida por Bisfosfonato...........................................................35
Fig. 2 Comunicação oroantral após ressecção de hemimaxila de osso necrótico.....................35
Fig. 3 Prótese parcial obturadora para o defeito cirúrgico da maxila.......................................35
Fig. 4 Aspecto facial inicial da paciente (frontal) mostrando a dificuldade na distensão dos
tecidos periorais associada à dor...............................................................................................47
Fig. 5 Exame intra-oral, evidenciando-se área de osso com aspecto necrótico........................48
Fig. 6 Exame intra-oral, podendo observar a região de comunicação oroantral.......................48
Fig. 7 Imagem radiolúcida na maxila direita, envolvendo assoalho e parede lateral direita da
fossa nasal, comunicação com o meio bucal, medindo 40 mm, no seu maior eixo. Podem ser
observadas também rarefações ósseas na mandíbula, aspectos característicos do Mieloma
Múltiplo.....................................................................................................................................49
Fig. 8 Sequestro ósseo após 1ª sessão de ostectomia................................................................50
Fig. 9 Aspecto após remoção total do sequestro ósseo, exibindo a área em fase de epitelização
com grande comunicação oroantral..........................................................................................50
Fig. 10 Fragmentos de osso necrótico removido......................................................................50
Fig. 11 Aspecto após 8 meses de pós-operatório, podendo ser observada boa cicatrização
local...........................................................................................................................................51
Fig. 12 Preparo do material para Moldagem.............................................................................52
Fig. 13 Molde Superior.............................................................................................................52
Fig. 14 Prótese superior concluída, vista frontal e lateral.........................................................52
Fig. 15 Instalação da prótese obturadora, aspecto imediato.....................................................53
Fig. 16 Área de comunicação após 2 anos................................................................................53
Fig. 17 Aspecto facial (frontal) após tratamento concluído......................................................54
Tabela 1 Avaliação do risco de OMIB através do exame CTX................................................35
17
INTRODUÇÃO
18
A Osteonecrose dos maxilares induzida por bisfosfonato (OMIB) é uma condição nova e
relativamente desconhecida, descrita pela primeira vez por Marx e Stern, em 2002 (MARX,
2003; MIGLIORATI, 2006; WANG, 2007). Esta complicação é caracterizada pela exposição
de osso da maxila ou mandíbula, persistindo por mais de oito semanas em um paciente que é
atualmente, ou já foi, submetido a algum tipo de tratamento com bisfosfonato. Clinicamente
essa doença se apresenta como exposição do osso alveolar, a qual pode ocorrer
espontaneamente ou devido a um procedimento cirúrgico invasivo, como, exodontia, cirurgia
periodontal ou cirurgia de implante dental, porém pode-se citar também como fator
predisponente ao desenvolvimento dessa doença, trauma oral, infecção, além da má higiene
oral (KOS et al. 2010). Esta doença é manifestada somente nos ossos maxilares, até hoje não
foi reportada em nenhum outro local do esqueleto humano (MARX, 2007).
O bisfosfonato é um adjuvante na medicação utilizada durante a quimioterapia, o
qual é utilizado para inibir a reabsorção óssea em pacientes com osteoporose, doença de
paget, câncer metastático, mieloma múltiplo, além de reverter a hipercalcemia da malignidade
dos tumores, promovendo a apoptose dos osteoclastos, além de outras funções que visam à
inibição da reabsorção óssea. Este medicamento é administrado na forma oral ou endovenosa,
dependendo da condição do paciente, sendo que na sua forma oral a concentração do
princípio ativo na matriz óssea é distribuída de maneira bem mais lenta do que na sua forma
endovenosa; a primeira demora de um a dois anos para concentrar a mesma quantidade que a
segunda demora de três a seis meses. Os bisfosfonatos mais comumente utilizados são
Zoledronato e Pamidronato administrados endovenosamente, e Alendronato, Ibandronato,
Etidronato e Risedronato, estes administrados por via oral (MARX, 2007).
O mieloma múltiplo, aumento descontrolado do número das células plasmáticas,
é responsável por alterar o sistema imunológico, podendo desenvolver um quadro de
pancitopenia, o seu principal tratamento é a quimioterapia, a qual tem como adjuvante o
19
bisfosfonato, medicamento este que numerosas complicações vêm sendo descritas,
destacando-se a osteonecrose dos maxilares.
A American Association of Oral and Maxillofacial Surgeons (AAOMS) refere
este tipo de osteonecrose como, “Osteonecrose dos maxilares relacionada ao bisfosfonato”, e
a Academy of Oral Medicine como “Osteonecrose dos maxilares associada ao bisfosfonato”,
nenhuma das duas são apropriadas. O termo cientificamente correto e mais consistente é
“Osteonecrose dos maxilares induzida por bisfosfonato” (OMIB). Nomenclatura esta que será
empregada no trabalho (THRONDSON, HEALY & ZWICKEY, 2005 apud MARX, 2009;
HELLENSTEIN e MAREK, 2006; KRUGER, 2007).
A AAOMS, classifica em estágios o grau de exposição óssea relacionada à
utilização da terapia com bisfosfonatos, definindo como Estágio 0 o paciente que usa
bisfosfonato porém não tem nenhuma evidência clínica; o paciente está no Estágio Ia se a
maior área de exposição óssea medir menos de 1 cm e no Estágio Ib se for maior que 1 cm;
os casos em que uma única área de exposição óssea mede menos de 2 cm e vem acompanhada
de dor e/ou sinais clínicos de infecção são classificados como Estágio IIa e IIb quando mede
mais de 2 cm e vem acompanhada de dor e/ou sinais clínicos de infecção. Casos com
múltiplas áreas de exposição óssea, mas sem sinais clínicos significativos de osteólise, fístula
orocutânea ou fratura patológica, classificam-se como Estágio IIIa, e por fim, são
classificados como Estágio IIIb casos de exposição óssea maior que 3 cm ou demonstrando
osteólise, fístula orocutânea ou fratura patológica (MARX, 2007).
Nos pacientes com risco de desenvolver OMIB, a necrose óssea costuma ocorrer
após os procedimentos odontológicos. Assim, é importante para o dentista uma compreensão
do papel, na patogênese da OMIB, da microbiota oral e da cicatrização do tecido danificado
após pequeno trauma cirúrgico. Este profissional deve estar atento para aperfeiçoar a saúde
bucal e prevenir sequelas graves dos pacientes nesta condição (LAM, et al. 2007).
20
REVISÃO DA LITERATURA
21
Marx (2003) apresentou 36 casos de exposição óssea associada à dor, em mandíbula,
maxila ou ambos, os quais não responderam a tratamento cirúrgico ou terapêutico. Todos os
pacientes recebiam terapia com Pamidronato ou Zoledronato. Dos 36 pacientes, 24 ainda
recebiam terapia de Pamidronato (Aredia), seis já haviam recebido Pamidronato (Aredia),
porém estes estavam recebendo Zoledronato (Zometa) na época da pesquisa, e os outros seis
pacientes já haviam recebido apenas Zoledronato (Zometa). Dezoito pacientes receberam
estas drogas indicadas para hipercalcemia associada ao Mieloma Múltiplo, dezessete
receberam com indicação para hipercalcemia associada ao câncer de mama, e um paciente
recebeu devido à osteoporose. Vinte e nove (80,5%) pacientes apresentavam osso necrótico
exposto na mandíbula, na maxila, foram cinco (14%), e em ambos, dois (5,5%). A extração do
dente com dor é na maioria das vezes o motivo inicial para o aparecimento do osso necrótico
não cicatrizante: isso aconteceu em 28 (77,7%) pacientes, os oito restantes o desenvolveram
espontaneamente. A prevenção dessa doença baseia-se em limitar o uso desses medicamentos,
utilizando drogas alternativas não associadas a complicações, além de evitar procedimentos
invasivos como exodontias, implantes dentários e cirurgias periodontais.
Ruggiero et al. (2004) estudaram durante três anos um grupo de pacientes com lesões
necróticas nos maxilares e que tinham em comum que todos recebiam terapia de
bisfosfonatos. As típicas lesões da doença se mostraram como extração não cicatrizada ou
osso necrótico exposto. As duas lesões eram refratárias ao debridamento conservador ou à
terapia antibiótica. A biópsia dessas lesões não mostrou a evidência de doença mestastática. A
maioria dos pacientes identificados foi submetida a procedimentos cirúrgicos para remoção do
osso envolvido. Em vista da tendência ao aumento e difusão do uso da terapia crônica de
bisfosfonatos, e aos fatores de risco observados neste trabalho, os autores recomenda que o
cirurgião-dentista deve estar em alerta monitorando o paciente sobre essa pouco conhecida
22
complicação. O diagnóstico prévio pode prevenir ou reduzir a morbidade resultante dessas
lesões tão destrutivas.
Marx et al. (2005) partem do pressuposto de que os bisfosfonatos inibem a reabsorção
e renovação óssea, devido sua atividade supressora do recrutamento e atividade dos
osteoblastos. Recentemente três bisfosfonatos, Pamidronato, Zoledronato e Alendronato
foram associados à exposição óssea dos maxilares. No presente estudo, 119 casos de
exposição óssea associada ao uso de bisfosfonatos são descritos. Dos 119 pacientes, 32 (26%)
recebiam Pamidronato, 48 (40,3%) Zoledronato, 36 (30,2%) eram tratados com Pamidronato,
posteriormente alterado para Zoledronato e três pacientes (2,5%) recebiam Alendronato. 62
pacientes (52,1%) tinham mieloma múltiplo, 50 (42%) eram acometidos por câncer de mama,
quatro (3,4%) por câncer de próstata e três (2,5%) por osteoporose. 37 (31,1%) pacientes
apresentavam o osso necrótico exposto assintomático, 82 (68,9%) sentiam dor, 28 (23,5%)
relatavam mobilidade dental, e 21 (17,6%) possuíam fístulas que não cicatrizavam. 81
(68,1%) dessas exposições ósseas ocorreram na mandíbula, 33 (27,7%) na maxila e cinco
(4,2%) foram descritos em ambos. Pacientes com morbidade sistêmica também foram
incluídos, sendo que 97,5 % possuíam alguma doença com potencial de malignidade, já
tinham sido submetidos ou ainda se submetiam à quimioterapia, os mesmos 97,5%, e 59,7 %
faziam tratamento com dexametasona. Das morbidades bucais, 84% tinham periodontite,
28,6% cárie dental, 13,4% dentes com abscesso, 10,9%, tratamento de canal e presença de
torus mandibular em 9,2% dos casos. As formas mais comuns do aparecimento da exposição
óssea foram: espontânea com 25,2% dos casos, extração dental, 37,8%, periodontite avançada,
28,6%, cirurgia periodontal, 11,2%, implante dental, 3,4% e cirurgia paraendodôntica em
0,8% dos casos. Aparentemente, a completa prevenção dessa doença não é possível.
Entretanto, uma boa saúde bucal reduz sua incidência, e procedimentos não-cirúrgicos podem
prevenir novos casos. Para aqueles pacientes que já apresentavam osso exposto na cavidade
23
oral, a utilização de um protocolo antibiótico associado à antissepsia com clorexidina 0,12%
intra-oral, pareceu exercer um controle efetivo da dor, porém sem resolução para a exposição
óssea em 90,1% dos casos estudados.
Melo et al. (2005) descreveram os bisfosfonatos como inibidores dos osteoclastos,
utilizados para aliviar muitas das devastadoras consequências associadas à metástase óssea.
Porém, recentes trabalhos vêm mostrando que os bisfosfonatos podem causar osteonecrose
dos maxilares. Desde a publicação desses trabalhos, os autores trataram muitos pacientes com
osteonecrose que tinham o histórico de receber tratamento com bisfosfonato. Os autores
revisaram a história médica, dos pacientes que foram atendidos entre setembro de 2003 e
dezembro de 2004, e em quem foi diagnosticado osteonecrose, assim como se utilizavam
terapia de bisfosfonatos, porém sem radiação a cabeça e pescoço. Foram estudados onze
pacientes (quatro mulheres e sete homens) com a média de 69 anos de idade. Eles haviam
recebido terapia com bisfosfonatos durante 34 meses, em média. Os dados radiográficos
mostraram perda de densidade óssea nos locais da osteonecrose, e ao exame histológico foi
demonstrada necrose óssea sem evidência de metástase. Os autores recomendam que medidas
sejam tomadas para prevenir a osteonecrose em pacientes com esse risco, inclusive identificar
pacientes com histórico de tratamento com bisfosfonatos antes de iniciar um procedimento de
cirurgia bucal. Para ajudar a identificar tais pacientes, os autores propõem o uso de um
questionário de triagem. Quando possível, os médicos devem contatar o dentista de seu
paciente antes de iniciar o tratamento com bisfosfonatos.
Goiato et al. ( 2006) realizaram estudos sobre as causas de aberturas no palato, podendo ser:
congênita ou adquirida em uma boca dentada, parcialmente desdentada ou totalmente
desdentada; a abertura pode estar relacionada a agentes traumáticos, ferimentos balísticos,
acidentes automobilísticos, doenças patológicas, radiações ou intervenções cirúrgicas. O
24
estudo ainda relata causas que necessitam da prótese como, distúrbios estéticos e funcionais
(sucção, deglutição, respiração, fonação, audição, mastigação) e aspectos psicológicos.
Segundo os autores, os defeitos maxilares resultam, em sua grande maioria, de tratamentos
cirúrgicos de neoplasias benignas e malignas. Há um aumento da incidência de aberturas
palatinas, tornando necessário um aumento no número de profissionais destinados a realizar
uma reabilitação protética, através do uso de uma prótese obturadora, a fim de garantir a
qualidade de vida do paciente. Essa tarefa cabe ao cirurgião dentista integrado com outras
especialidades, tornando a prótese bucomaxilofacial uma prótese humanitária.
Migliorati et al. (2006) estudaram a prevenção da osteonecrose associada a
bisfosfonatos e o tratamento de pacientes com câncer e/ou osteoporose que recebem
bisfosfonatos e quem tem osteonecrose ou apresentam fatores de risco para desenvolver tal
doença. Realizaram uma revisão de literatura sobre essa complicação oral, de descrição
recente, e avaliaram os bisfosfonatos de interesse, as medicações que podem estar associadas
a essa complicação, a população com maior risco de desenvolver osteonecrose, as doenças
tratadas com essa classe de medicamento, as características clínicas das lesões orais, o
protocolo de tratamento para pacientes que desenvolveram osteonecrose associada ao uso de
bisfosfonatos, a prevenção dessa doença baseada no conhecimento atual e recomendações
para o tratamento odontológico de rotina em pacientes que recebem terapia de bisfosfonatos.
O mecanismo de ação dos bisfosfonatos tende a inibir a remodelação óssea e diminuir o fluxo
sanguíneo intraósseo. Pessoas em risco incluem pacientes com mieloma múltiplo e com
câncer metastático que recebem terapia com bisfosfonato intravenoso, assim como pacientes
que recebem bisfosfonatos para osteoporose. A prevenção da osteonecrose induzida pelo uso
de bisfosfonatos é a melhor forma de manejo dessa complicação.
Scully et al. (2006) observam que os bisfosfonatos foram introduzidos como
alternativa a terapias de reposição hormonal para osteoporose e para tratar tumores
25
osteolíticos. Mas recentemente, ficou evidente que os bisfosfonatos usados intravenosamente,
tais como Pamidronato (Aredia) e Zoledronato (Zometa), em particular, poderiam levar a
dolorosas exposições ósseas refratárias (às vezes chamadas de osteoquimonecrose ou
osteonecrose dos maxilares. Os pacientes com esta doença normalmente apresentam-se após o
tratamento dentário com sinais e sintomas orais de osso dolorido, exposto e necrótico,
principalmente da mandíbula e, em menor grau, da maxila. Embora o evento que produz essa
complicação, a princípio, seja espontâneo, há pouca dúvida de que a cirurgia oral e implantes
osseointegrados sejam também responsáveis. A exodontia é o principal causador. O
mecanismo postulado atualmente de osteonecrose dos maxilares induzida por bisfosfonatos é
que o uso prolongado desse medicamento pode suprimir a regeneração óssea até o ponto em
que a função de reparo de microdanos fisiológicos do osso seja abolida. Tal mecanismo
poderia supostamente interferir no processo de cura após a colocação do implante. Embora
não haja evidência de que os distúrbios ósseos sejam uma contra-indicação aos implantes, há
evidência de que a terapia com bisfosfonato é uma contra-indicação. Quando possível, as
extrações deveriam ser evitadas e é melhor evitar toda a cirurgia oral eletiva em pacientes sob
bisfosfonatos, incluindo colocação de implante osseointegrado ou o tratamento deveria ser
realizado bem antes de começar a terapia com bisfosfonatos. Se a cirurgia for essencial com
paciente sendo submetido a terapia com bisfosfonatos, o paciente deve ser avisado sobre os
riscos.
Curi et al. (2007) relatam uma experiência do tratamento de três pacientes com câncer,
apresentando osteonecrose na mandíbula associada a um histórico de uso prolongado de
bisfosfonatos, e que foram tratados com ressecção óssea e plasma autógeno rico em plaquetas
(PRP). Os pacientes tinham como doença base, câncer de mama e mieloma múltiplo; todos
recebiam terapia com zoledronato, e apresentavam-se com a mesma queixa de que possuíam
um osso que não cicatrizava na região posterior da mandíbula onde haviam sido submetidos a
26
extrações. Os três pacientes receberam o mesmo protocolo de tratamento: sob anestesia geral,
eram submetidos à ressecção marginal da mandíbula, e então, como terapia adjuvante, era
aplicado topicamente o plasma rico em plaquetas (PRP) por toda a cavidade óssea formada. A
terapia com bisfosfonatos não foi interrompida durante ou após o procedimento cirúrgico,
permitindo sucesso em todos os três casos, onde o pós-operatório apresentou-se com uma
completa cicatrização na região. Esse estudo propõe uma modalidade de tratamento baseada
na ressecção óssea associada ao PRP, em pacientes que possuem osteonecrose na mandíbula,
porém mais estudos são necessários para confirmar esse tratamento.
Hungria (2007) apresenta várias manifestações clínicas do mieloma múltiplo, onde a
incidência de doença óssea é elevada, 80% apresentando lesões, tais como fraturas
patológicas, compressão da medula espinhal, hipercalcemia e dor crônica. As fraturas são
complicações que comprometem significativamente a qualidade de vida, provocando dores
crônicas e muitas vezes incapacitação motora. Estas complicações resultam de um
desequilíbrio na formação e reabsorção óssea e o aumento da atividade osteoclástica. A autora
observa, ainda, que nos estágios iniciais da doença, a formação óssea no mieloma é
aumentada pela atividade osteoclástica, mas com a progressão da doença, passa a diminuir,
ocorrendo perda óssea rápida. Para o tratamento da doença óssea do mieloma múltiplo, o
estudo aponta principalmente o uso de bisfosfonatos, radioterapia, analgesia das dores ósseas
e procedimentos cirúrgicos. Hungria considera o uso do bisfosfonatos importante para
equilibrar a reabsorção óssea e evitar as complicações do mieloma múltiplo. Os bisfosfonatos
estão entre os melhores inibidores da atividade e muito utilizados para controlar a
hipercalcemia em pacientes com mieloma múltiplo. A autora demonstra que os bisfosfonatos
contribuem para o controle da doença óssea a longo prazo e controlam a hipercalcemia,
diminuindo as dores ósseas e melhorando a qualidade de vida do paciente. Quanto à duração
do tratamento com bisfosfonato, embora não tenha nenhum estudo clinico realizado, vários
27
centros recomendam o uso de bisfosfonatos por, no mínimo, dois anos. A avaliação da doença
óssea através de exames radiológicos é fundamental. Os estudos clínicos em mieloma
múltiplo demonstram que os bisfosfonatos devem ser utilizados em pacientes com doença
óssea. Entretanto, muitos pontos, como o tempo de duração do tratamento, não estão bem
estabelecidos.
Wang, et al. (2007) determinam a incidência de osteonecrose em pacientes com
mieloma múltiplo, câncer de mama, ou câncer de próstata, tratados com bisfosfonatos. Foram
incluídos na pesquisa pacientes que foram avaliados e/ou tratados, entre 1º. de janeiro de 2000
e 31 de dezembro de 2005, com zoledronato e/ou pamidronato, para o tratamento do mieloma
múltiplo, câncer de mama ou câncer de próstata. Foram excluídos pacientes com histórico de
radioterapia no maxilar para tratamento de tumores ou cistos. Após a avaliação de 1086
pacientes, 447 estavam dentro do critério de inclusão: 11 (3,8%) dos 292 pacientes com
mieloma múltiplo possuíam osteonecrose, assim como 2,5% dos 81 pacientes com câncer de
mama e 2,9% dos 69 pacientes com câncer de próstata, durante um estudo de cinco anos. Os
resultados da incidência nesse estudo mostram que a osteonecrose não é um fenômeno
incomum, além de não justificar a interrupção da terapia com bisfosfonatos. Esses dados
mostram também que, há a possibilidade de esses números aumentarem, com o aumento da
duração do tratamento e o aumento da dose.
Boonyapakorn, et al. (2008) determinam a frequência da ocorrência, os fatores de
risco, a apresentação clínica e radiológica, a patologia e o tratamento correto da osteonecrose
dos maxilares induzida por bisfosfonato (OMIB). Foi feito, então um estudo com 80 pacientes
com mieloma múltipla e outras doenças malignas, dos quais 22 desenvolveram osteonecrose
dos ossos maxilares, 11 homens e 11 mulheres, com idade mediana de 65 anos. Dez pacientes
(46%) tinham mieloma múltipla, cinco (23%) tinham câncer de mama, e sete (32%) tinham
outras doenças malignas. Dos 22 pacientes com OMIB, 14 pacientes (64%) receberam
28
zoledronate, três (14%) receberam pamidronato, quatro (18%) receberam pamidronato
seguido mais tarde por zoledronato e um paciente recebeu ibandronato, seguido mais tarde por
zoledronato. 13 pacientes (59%) tinham OMIB com exposição óssea da mandíbula, seis
(27%) da maxila, e três (14%) em ambos os ossos maxilares. A osteonecrose ocorreu
espontaneamente em cinco pacientes (23%) e em 17 (77%) ocorreu após extração de dente. O
perigo cumulativo é significativamente mais alto no grupo zolendronato. Era 3,48% mais alto
que o outro grupo (somente pamidronato, pamidronato seguido de zoledronato; somente
ibandronato; somente etidronato; ibandronato seguido de zoledronato; ibandronato seguido de
pamidronato e zoledronato). Pacientes diagnosticados com mieloma múltiplo e câncer de
mama foram significantemente associados com OMIB. O uso prolongado dos bisfosfonatos
(mais de 2,5 anos) aumenta o risco de desenvolvimento da doença. A aplicação intravenosa de
zoledronato e extração dental prévia, também são relacionados como fatores de risco do
desenvolvimento de OMIB. Nenhum tratamento com alta dose quimioterápica de transplante
autógeno de células, nem com corticosteróides, talidomida ou bortezomib equivalem a fatores
de risco nesse estudo.
Lima et al. (2008) relatam um caso de osteonecrose de mandíbula em paciente
submetido ao tratamento de mieloma múltiplo com quimioterapia e pamidronato endovenoso.
Mulher de 62 anos, com diagnóstico de mieloma múltiplo. Desde o diagnóstico, vinha
recebendo infusões mensais de pamidronato (90 mg). Cinco anos após o início da terapia
mensal com bisfosfonatos, a paciente queixou-se de intensa dor de dente e mandibular à
direita. Ao exame físico era evidenciada um edema na mandíbula à direita com 6 cm de
diâmetro, hiperemiada e dolorosa, com lesões ulcerativas em gengiva e necrose da mucosa
bucal adjacente às áreas de exposição óssea, edema e descarga purulenta. Ao exame
radiográfico, observaram-se lesões líticas em mandíbula, com erosão cortical, uma delas
apresentando comprometimento de partes moles e associadas à reação periosteal adjacente. O
29
uso do bisfosfonato (pamidronato) foi interrompido e a paciente recebeu opióides para
controle da dor. O tratamento da infecção secundária foi realizado com antibioticoterapia
(Clindamicina) e a paciente recebeu tranfusão sanguínea. A lesão regrediu com o tratamento,
com melhora dos sinais flogísticos, porém sem resolução da necrose mandibular. Os autores
sugerem que os pacientes com mieloma múltiplo em tratamento com bisfosfonatos devem ser
alertados sobre os riscos associados e orientados a procurar seu médico em caso de lesões
orais, infecções secundárias ou dor mandibular.
Naidu et al. (2008) testaram os efeitos dos bisfosfonatos sobre a viabilidade e função
dos osteoblastos. Osteoblastos primários de rato sofreram teste de cultura no seu conteúdo
normal e contendo altas concentrações de dois bisfosfonatos, alendronato e zoledronato.
Foram avaliados a interleucina (IL)-6, fator de crescimento (TGF)_1 e o ligante do ativador
do receptor do fator_B nuclear (RANKL), em 24, 48 e 72 horas. Células vivas e mortas foram
avaliadas; na medida em que as concentrações das drogas aumentavam, a viabilidade celular
diminuía significativamente. Altas concentrações de alendronato e zoledronato foram
citotóxicas, diminuindo a viabilidade celular em 72 horas. O fator de crescimento (TGF)_1
aumentou na medida em que a viabilidade celular diminuía, o que se apresentou sugestivo do
mecanismo de ação do bisfosfonato. Esses dados sugerem que baixas concentrações de
bisfosfonatos podem ter benefícios terapêuticos sem os efeitos citotóxicos que resultam na
osteonecrose.
Bagan et al. (2009) realizam uma concisa revisão da literatura para determinar recentes
avanços nos estudos da osteonecrose dos maxilares em pacientes tratados com bisfosfonatos.
A patogênese desta doença é defendida pela razão de que ocorre a inibição da formação de
osteoclastos pelos monócitos, aumentando a apoptose osteoclástica, prevenindo a formação
dessas células e recrutando precursores da matriz óssea. O envolvimento eletivo dos maxilares
comparado a outros locais é explicado devido a ser um osso exposto e que os bisfosfonatos
30
são preferencialmente depositados em ossos com alta taxa de turnover (remodelação óssea)
como os maxilares. A osteonecrose nos ossos maxilares é bem mais frequente em pacientes
tratados com bisfosfonatos intravenosos do que com bisfosfonatos orais. O tratamento com
alta potência de bisfosfonatos intravenosos como Zoledronato e Pamidronato e extrações
dentárias são os fatores de risco mais comuns; a duração do tratamento e a quantidade de
infusões de bisfosfonatos também atuam como fatores de risco. Os sinais e sintomas mais
comuns são dor, áreas de exposição e necrose óssea com dente com mobilidade, mucosa
edemaciada, eritema e úlcera, abscessos e fístulas. Os dois métodos de diagnóstico da doença
são por meio da tomografia computadorizada ou pela ressonância magnética, os quais ajudam
a observar o tamanho e extensão do osso necrótico. O manejo mais comumente utilizado para
esses tipos de pacientes é o mais conservador possível, porém há casos em que a intervenção
cirúrgica se faz necessária.
Carlson et al. (2009) examinaram o sucesso da ressecção do osso necrótico na
mandíbula e na maxila de pacientes com osteonecrose dos maxilares induzida por
bisfosfonatos (OMIB). Os autores identificaram 103 locais de OMIB em 82 pacientes, 32 na
maxila e 71 na mandíbula. Do total de pacientes, 30 estavam tomando medicação com
bisfosfonato oral, enquanto 52 estavam tomando medicação com bisfosfonato intravenoso.
Realizou-se a ressecção em 95 locais de osteonecrose em 74 pacientes, deixando sem
ressecção oito locais em oito pacientes. Realizou-se a ressecção em 27 locais com OMIB em
pacientes em tratamento com bisfosfonatos orais e em 68 locais com OMIB em pacientes em
tratamento com bisfosfonatos intravenosos. Dos 95 locais de ressecção, 87 (91,6%)
cicatrizaram de forma aceitável com a resolução da doença. De 27 locais resseccionados em
pacientes tomando medicação de bisfosfonato oral, 26 (96,3%) cicatrizaram satisfatoriamente,
com o desenvolvimento de recidiva em um local. De oito locais reseccionados em pacientes
recebendo bisfosfonato intravenoso, 61 (89,7%) cicatrizaram de forma satisfatória, com o
31
desenvolvimento de recidiva em sete locais. Todos os 29 pacientes (100%) que foram
submetidos a ressecção da maxila evoluíram satisfatoriamente, independentemente da forma
de medicação (oral ou parenteral). A recidiva dos oito pacientes aconteceu nos 7 a 250 dias
pós-operatórios (em média 73 dias). Dos oito locais de recidiva, seis se desenvolveram após
uma ressecção marginal da mandíbula com OMIB. Desenvolveu-se no pós-operatório novas
lesões de OMIB em três locais de dois pacientes, ambos tomando bisfosfonato intravenoso.
Ao exame histológico dos espécimes identificou-se doença maligna em quatro espécimes de
três pacientes. A ressecção da OMIB permite a cura satisfatória em pacientes tomando
medicamento bisfosfonato oral. A ressecção da OMIB na maxila de pacientes,
independentemente da forma de tomar a medicação, segue curso previsível quanto à cura. A
ressecção da OMIB na mandíbula de pacientes tomando medicamento bisfosfonato
intravenoso segue um curso pós-operatório variável, embora haja alto grau de sucesso. É
aconselhável que cirurgiões considerem a ressecção do osso necrótico da maxila ou da
mandíbula que se desenvolve em pacientes recebendo terapia de bisfosfonatos. Além disso,
possíveis recidivas podem ser combatidas com sucesso mediante uma ressecção mais
invasiva, especificamente uma ressecção segmentar da mandíbula após uma ressecção
marginal da mandíbula onde ocorreu a recidiva.
Dodson (2009) examina a evidência epidemiológica da associação entre bisfosfonatos
intravenosos e osteonecrose dos maxilares, identificando os fatores de risco para o
desenvolvimento da doença, avaliando o risco de osteonecrose para pacientes que recebem
bisfosfonatos intravenosos para tratamento de osteoporose. Os resultados desta revisão
sugerem uma convincente e circunstancial associação entre a exposição a bisfosfonatos
intravenosos e a osteonecrose dos maxilares. Os fatores consistentemente associados com um
aumento no risco de desenvolvimento dessa doença incluem a terapia com bisfosfonatos
intravenosos e procedimentos odontológicos invasivos. Por fim, este trabalho também conclui
32
que a terapia com bisfosfonatos intravenosos para tratamento de osteoporose não aumenta o
risco da osteonecrose em mulheres no período de pós-menopausa.
Dimopoulos et al. (2009) estudam a incidência e possíveis fatores de risco da
osteonecrose associada ao tratamento de bisfosfonatos em pacientes com mieloma múltiplo. A
osteonecrose dos maxilares foi avaliada desde julho de 2003 em 202 pacientes com mieloma
múltiplo que recebiam o tratamento com bisfosfonatos desde abril de 1995. Quinze pacientes
(7,4%) desenvolveram osteonecrose dos maxilares. O tempo médio de exposição aos
bisfosfonatos foi de 39 meses em pacientes com osteonecrose e 28 meses em pacientes que
não desenvolveram essa doença. O risco de desenvolver osteonecrose foi significativamente
maior em pacientes tratados apenas com ácido zoledrônico do que em pacientes tratados
somente com pamidronato e também nos que foram tratados com a associação de
Pamidronato e ácido zoledrônico. O risco de desenvolver osteonecrose dos maxilares é
aumentado com o tempo de exposição e provavelmente com o uso do ácido zoledrônico.
Grasko, Herrmann e Vasikaran (2009) descrevem um paciente com mieloma múltiplo
tratado por alguns anos com bisfosfonato intravenoso, apresentando um histórico de fratura
femoral por mecanismo de baixa energia acompanhada de osteonecrose, além de ter sido
encontrada, em uma investigação do metabolismo ósseo, a osteoesclerose generalizada.
Paciente do sexo masculino, foi diagnosticado com mieloma múltiplo do tipo IgG-K, em
agosto de 1997, quando tinha 57 anos. A biópsia da medula óssea mostrou a contagem dos
plasmócitos de 30%. Uma avaliação de seu esqueleto até esse ponto foi normal, não
identificou nenhuma lesão lítica. Durante a quimioterapia, entre outros medicamentos, foram
administradas infusões mensais de pamidronato 90mg. Em agosto de 2003, o paciente sofreu
uma fratura do maléolo medial da tíbia direita, sendo assim necessária uma redução aberta e a
fixação interna, o que levou à alteração do pamidronato mensal para o zoledronato 4mg
trimestral. No meio do ano de 2006, ele desenvolveu uma fratura atraumática do fêmur
33
esquerdo, diagnosticada por uma dor na coxa, necessitando a redução aberta e fixação interna.
Em agosto de 2006, o paciente relatou dor de dente em região superior direita, a qual
posteriormente foi diagnosticada como osteonecrose maxilar, sendo necessário a exodontia do
dente e o debridamento da área. O zoledronato foi suspenso então. A região necrosada
continuou a crescer formando uma fístula na área; foi realizada uma intervenção cirúrgica
para resolução do defeito. No início de 2007, o paciente foi diagnosticado com osteoporose
também. Uma avaliação de todo o esqueleto humano do paciente não evidenciou nenhum foco
de lesão lítica. Em agosto de 2007 ele foi readmitido ao hospital, pois no exame radiográfico
foi observada uma fratura no fêmur esquerdo. Enquanto o paciente estava em tratamento no
hospital, ele desenvolveu uma infecção de Escherichia coli diagnosticada com a cultura do
seu sangue: a doença se desenvolveu rapidamente levando-o a um caso de sepse e choque
séptico. O paciente morreu no dia seguinte. Esse caso apoia a hipótese de que os bisfosfonatos
induzem a osteonecrose, uma forma de osteopetrose induzida quimicamente, com a seqüela e
dificuldades terapêuticas que se espera para essa condição.
Markose et al. (2009) apresentaram um protocolo para o manejo de um grupo de
pacientes com osteonecrose associada ao uso de bisfosfonatos que apresentavam dor em osso
alveolar necrótico exposto na cavidade bucal. Foram incluídos na pesquisa pacientes com
osteonecrose associada ao uso de bisfosfonatos que apresentavam dor e infecção na área
subjacente ao local atingido. Foram excluídos da pesquisa pacientes com osteonecrose
assintomática, com fraturas patológicas ou fístulas extraorais. Todas as operações seguiram o
mesmo protocolo, no qual foi incluído clindamicina profilática no pré-operatório, extração do
dente envolvido na região, remoção do osso necrótico a um nível onde o osso compacto
sangrante era coberto por periósteo para permitir a cicatrização primária. A ferida era fechada
com fio de sutura reabsorvível, e ao paciente era recomendado manter a higiene oral e
bochechar clorexidina 0,2%. Os pacientes eram submetidos à reavaliação semanal,
34
examinando-se a cicatrização, a deiscência da ferida, dor, desconforto e a higiene oral. Os
pacientes foram reavaliados no pós-operatório de 3, 6, 12 e 24 meses. Foram estudados 15
pacientes que apresentavam osteonecrose associada ao uso de bisfosfonatos, 11 deles
apresentando esta doença após múltiplas extrações e 4 acometidos espontaneamente pelo osso
necrótico exposto. Oito estavam sendo tratados com pamidronato intravenoso e sete com
zoledronato. Após duas semanas de pós-operatório, 14 pacientes apresentaram cicatrização
completa da ferida e apenas um paciente necessitou de uma semana a mais para o completo
fechamento da ferida. A descontinuação do tratamento com bisfosfonatos não oferece
benefícios de curto prazo, porém a longo prazo, se a condição sistêmica do paciente permitir,
pode ajudar na redução gradual da osteonecrose.
Marx (2009), após discutir o termo cientificamente correto e mais consistente da
doença, que, segundo ele, é “osteonecrose dos maxilares induzida por bisfosfonatos” (OMIB),
o autor discorre sobre a doença propriamente dita, seus fatores de risco e o protocolo
terapêutico adotado, isso expondo casos de cirurgias reconstrutivas de defeitos causados pela
OMIB, em pacientes tratados com bisfosfonatos intravenosos e orais. Nos pacientes que
adquiriram tal complicação com o uso de bisfosfonatos intravenosos, o autor cita
reconstruções com fixação interna rígida imediata, reconstruções com fixação interna rígida
tardia, ressecção de osteonecrose maxilar induzida por bisfosfonatos associada à prótese
obturadora (Fig. 1 - 3), reconstruções que necessitam de enxertos e reconstruções ósseas de
defeitos contínuos após a ressecção. O autor também relata reconstruções de defeitos devido à
utilização de bisfosfonatos orais, explica o teste de CTX em jejum, o qual representa um
índice da função dos osteoclastos e turnover óssea (observado na tabela abaixo), e por fim,
relata casos de cirurgia de reconstrução em pacientes tratados com bisfosfonatos orais.
35
CTX (pg/ml) Risco de OMIB
300 – 600 (Normal) Nenhum
150 – 299 Nenhum ou risco mínimo
101 – 149 Médio
≤ 100 Alto
Fig. 3 Prótese parcial obturadora
para o defeito cirúrgico da maxila.
Fig. 1 Osteonecrose Maxilar
induzida por Bisfosfonato
Fig. 2 Comunicação oroantral após
ressecção de hemimaxila de osso
necrótico
Tabela 1 – Avaliação do risco de OMIB através do exame CTX.
36
Sarasquete et al. (2009) revisaram aspectos epidemiológicos, clínicos e biológicos
associados ao desenvolvimento de osteonecrose dos maxilares induzida por bisfosfonato
(OMIB) em pacientes com mieloma múltipla (MM), com ênfase especial nos aspectos
genéticos. O artigo revisa em detalhes os fatores de risco já descritos na literatura, além das
descobertas genéticas recentes, dando especial atenção ao componente genético da OMIB.
Examinou-se minuciosamente a variabilidade genética, com o propósito de ilustrar
clinicamente os aspectos genéticos da OMIB. A prevalência crua e a incidência cumulativa
durante cinco anos foram considerados os pontos culminantes mais importantes para efeitos
de predição. Vários fatores adquiridos também foram reconhecidos como elementos de
predição, tais como bisfosfonato intravenoso, trauma dental e idade avançada. Entre os fatores
genéticos, os polimorfos no gene CYP2C8 surgem como fator de risco promissor. A
osteonecrose dos maxilares induzida por bisfosfonato pode ser prevista por meio de uma
combinação de fatores de risco genéticos e ambientais.
Epstein et al. (2010) afirmam que em estudos, o uso da pentoxifilina e do tocoferol em
casos de osteoradionecrose dos maxilares mostrou-se eficaz nessas condições. Então eles
descrevem uma série de casos iniciais com o uso da pentoxifilina junto com o tocoferol em
pacientes com osteonecrose associada ao uso de bisfosfonatos. Em seis casos de osteonecrose
associada ao uso de bisfosfonatos, foram utilizados a pentoxifilina e o tocoferol associados à
terapia antibiótica, e foram acompanhados durante 10 meses em média. Houve um decréscimo
de 74% da área de exposição óssea, além do controle dos sintomas como dor, eritema e
secreção purulenta da região, em todos casos citados. A pentoxifilina associada ao tocoferol
represente talvez uma estratégia de tratamento da osteonecrose associada ao uso de
bisfosfonatos, porém outros estudos devem ser realizados para efeitos de comprovação.
Kos et al. (2010) identificam fatores que influenciam no desenvolvimento da
osteonecrose dos maxilares induzida por bisfosfonatos (OMIB). Foram avaliados pacientes
37
ainda em tratamento; eram relatados alguns fatores como, sexo, idade, diagnóstico inicial, tipo
de bisfosfonato, duração e modo de administração da droga, localização da lesão, sintomas
clínicos, colonização de Actinomyces, tratamento e os resultados. Os sintomas foram
inicialmente analisados respeitando a potência do bisfosfonato e a dose acumulada. As
doenças bases encontradas nos pacientes estudados foram mieloma múltiplo, câncer de mama,
câncer de próstata e osteoporose. Foram estudados 34 pacientes: em 31 destes, a OAB foi
citada como uma complicação de extração dental, apicectomia, prótese mal adaptada,
enucleação de cisto, colocação de implante ou trauma; em três pacientes, o desenvolvimento
da OAB não foi identificado. A colonização por Actinomyces foi observada em 18 pacientes
(53%). A ocorrência da OAB não está diretamente relacionada à dosagem ou potência dos
bisfosfonatos. Constatou-se a ocorrência da doença mais em mulheres com mieloma múltiplo
do que em homens; além disso também pôde ser observada em pacientes com osteoporose que
faziam o uso simultâneo de corticosteróides e bisfosfonatos. Concluíram que a OAB é
primariamente associada à potência ou dose dos bisfosfonatos, e que os fatores que aumentam
o risco da doença são: pacientes do sexo feminino, cirurgia oral e a administração de
corticosteróides com bisfosfonatos oral ou intravenoso. A deposição de bisfosfonatos nos
ossos maxilares pode aumentar o risco de OAB devido à promoção da colonização bacteriana;
no entanto, essa hipótese requer mais estudos.
Filleul, Crompot e Saussez (2010) realizaram uma revisão de todos os casos descritos
na literatura de janeiro de 2003 (ano do primeiro relato) a setembro de 2009, avaliando-se,
para cada caso, as informações de relevância clínica, como o diagnóstico primário e o tipo de
tratamento. Encontraram 2408 casos, 88% dos quais estavam associados à terapia intravenosa
de bisfosfonatos, sendo o zoledronato o mais usado. 89% do total dos casos estavam
associados ao tratamento de uma condição de malignidade, particularmente o mieloma
múltiplo, este em 43% dos casos. De todos os casos de osteonecrose induzida por
38
bisfosfonatos, 67% ocorreram após uma extração dental e apenas 35% dos pacientes foram
curados. Segundo os autores, a prevenção é melhor que o tratamento, devendo-se priorizar o
estabelecimento de uma meticulosa higiene oral e a realização, se necessário, de
procedimentos cirúrgicos antes do inicio do tratamento com bisfosfonatos. Esta revisão avalia
o atual conhecimento desta severa complicação, porém, estudos futuros são necessários para
melhor entender esta doença devastadora.
Mucke et al. (2010) avaliam o sucesso da ressecção do osso necrótico e identificam os
fatores de risco de recorrência nestes pacientes. Cento e oito pacientes foram avaliados
prospectivamente e investigados pelo menos duas vezes. Usou-se a análise de regressão
logística múltipla para determinar fatores associados independentemente com a variável
dependente da recorrência da osteonecrose induzida por bisfosfonatos. Fatores que
influenciaram o desenvolvimento da recorrência da osteonecrose induzida por bisfosfonato
eram a presença de infecção óssea bacteriana na área necrótica, tipo de tratamento, com
recorrência menor para os tratados cirurgicamente, a extensão do tratamento cirúrgico, com
melhores resultados em ressecções maiores, número de debridamentos realizados e a extensão
do aparecimento radiográfico da osteólise avaliada por meio de radiografia panorâmica. O
risco de recorrência aumenta em casos de infecção óssea bacteriana da área necrótica, tipo de
tratamento conservador ou cirúrgico, a extensão do tratamento cirúrgico, com melhores
resultados em ressecções maiores e o número de debridamentos realizados. Deve se
considerar a transferência de tecido vascular em casos selecionados onde todas as demais
opções não tiverem tido efeito.
Rugani et al. (2010) avaliaram o efeito da aplicação cirúrgica do laser ErCrYSGG em
cinco casos de osteonecrose relacionada ao uso de bisfosfonatos no estágio II da doença,
demonstrando o sucesso da técnica com fechamento estável da mucosa na região. Todos os
pacientes foram submetidos à cirurgia sob anestesia local, profilaxia antibiótica de
39
amoxicilina com ácido clavulâncio, administrado um dia antes da cirurgia e postergado até a
sutura ser removida com 10 dias de pós-operatório. O seqüestro ósseo e o osso adjacente à
região foram removidos e as espículas ósseas suavizadas com brocas rotatórias. Realizado o
último debridamento da cirurgia, era aplicado o laser ErCrYSGG trabalhando a 1 mm da
região, de maneira que, para a regularização dos bordos ósseos, era utilizado com 2780nm,
6W, 30% de água e 70% de ar, com 30 pulsações por segundo no modo de alta potência, e
2780nm, 3W, 30% de água e 70% de ar, com 25 pulsações por segundo no modo de baixa
potência para remoção do tecido inflamado; por fim, eram realizadas incisões periósteas para
um total fechamento da mucosa durante a sutura e melhor cicatrização. O paciente era
examinado duas vezes por semana durante os 14 dias de pós-operatório. Em casos de infecção
da região, eram aplicados peróxido de hidrogênio 3% e terapia fotodinâmica com laser de
baixa potência (680 nm, 75mW, 90 s, 2 mm de distância). As suturas foram removidas após
10 dias. Em casos de osteonecrose relacionada ao uso de bisfosfonatos, a cobertura da mucosa
é importante para prevenir infecções secundárias e progressão da doença. No entanto, a
aplicação cirúrgica do laser ErCrYSGG nos cinco casos relatados demonstrou o sucesso da
realização da cobertura da mucosa. O protocolo de tratamento adotado neste trabalho
necessita mais avaliações em outros casos.
Scoletta et al. (2010) avaliam a taxa de sucesso de dois anos de manejo de pacientes
com osteonecrose associada a bisfosfonatos. Foram descritos 37 pacientes, sendo a extração
dental o tratamento mais necessário, observado em 22 casos (59,5%); então 13 pacientes
(35,1%) foram submetidos à cirurgia e 24 (64,9%) realizaram apenas terapia antibiótica. Após
dois anos, 20 pacientes (54,1%) apresentaram pouca cicatrização tecidual associada à
exposição óssea, sem diferença entre gênero, idade, tipo de bisfosfonato ou modalidade de
tratamento. O prognóstico parecia ser pior para lesões espontâneas. A terapia antibiótica e
posterior tratamento cirúrgico em pacientes que não obtiveram resposta ao tratamento
40
terapêutico, parece ser a melhor modalidade de tratamento para pacientes com osteonecrose
associada ao uso de bisfosfonatos. Os autores, porém, afirmam que esses resultados precisam
ser confirmados com um número maior de pacientes.
Walter et al. (2010) estudam a prevalência e os fatores de risco para o
desenvolvimento da osteonecrose associada ao uso de bisfosfonatos em pacientes com
mieloma múltiplo. Foram avaliados pacientes que já haviam sido atendidos no serviço entre
janeiro de 2000 e fevereiro de 2006, e pacientes em atendimento ou que ainda iam ser
atendidos, entre outubro de 2006 a março de 2008, e haviam sido submetidos ao exame físico
e odontológico. Além disso, realizaram uma revisão da literatura, para avaliar artigos que
reportavam a prevalência de osteonecrose associada ao uso de bisfosfonatos. Dos 161
pacientes que já haviam sido atendidos, os dados de somente 81 puderam ser obtidos, e
desses, quatro pacientes (4,9%) desenvolveram osteonecrose. No estudo com pacientes em
tratamento ou que ainda iam ser tratados, 16 dos 78 pacientes (20,5%) desenvolveram essa
doença. Todos os que foram acometidos pela osteonecrose haviam recebido zoledronato: 12
deles recebiam mais um bisfosfonato associado ao zoledronato. Todos, com exceção de um
paciente, haviam sido submetidos aos fatores de risco, 14 deles por extração dental, dois por
algum outro tipo de procedimento cirúrgico e outros três por remoção de espículas ósseas. O
exame intra-oral dos pacientes em tratamento ou que ainda iam ser atendidos pode explicar a
maior prevalência da doença, pois eram avaliados desde estágios assintomáticos ou
inicialmente sintomáticos da osteonecrose. A maioria dos pacientes que desenvolveram
osteonecrose evidenciou algum dos fatores de risco associados. Segundo os autores, uma boa
higiene oral pode reduzir a incidência dessa doença.
Junquera, Gallego e Pelaz (2011) apresentam um caso de mieloma múltiplo associado
a um implante dental na mandíbula de um paciente que desenvolveu osteonecrose induzida
pelo uso de bisfosfonatos na região, após o tratamento com zoledronato intravenoso. Paciente
41
do sexo masculino, 59 anos de idade, foi submetido a cirurgia para colocação de um implante
dental na região posterior da mandíbula. Um ano depois, foi diagnosticado com mieloma
múltiplo e então submetido à terapia com bisfosfonato: recebeu 17 doses de zoledronato 4 mg.
Um ano depois o paciente retornou, queixando-se de um desconforto na região, associada a
uma parestesia no lábio inferior. Ao exame clínico, foi observado osso necrótico exposto ao
lado do implante. O osso e o implante foram removidos sob anestesia local. À avaliação
microscópica, o espécime foi diagnosticado como seqüestro ósseo com colonização
microbiana de actimomyces. Com um mês de pós-operatório, a dor havia desaparecido quase
que por completo, a lesão estava assintomática e os tecidos da região completamente
cicatrizados. O desenvolvimento da osteonecrose relacionada a um implante osseointegrado é
uma condição muito rara, nunca descrita antes.
Manfredi et al. (2011) relatam que os bisfosfonatos são utilizados para tratar doenças
metabólicas do osso, como a osteoporose. Nesse estudo a ocorrência de osteonecrose dos
maxilares induzida por bisfosfonato (OMIB) é relatada em 25 pacientes que recebiam terapia
com bisfosfonatos para tratamento da osteoporose com diferentes doses administradas. De
junho/2005 a maio/2009, foram observados 25 pacientes afetados por OMIB; 18 deles (75%)
tinham histórico de cirurgia oral. Dos 22 pacientes tratados pelos autores, 20 (91%)
demonstraram uma boa cicatrização no período médio de acompanhamento de 16,6 meses,
com especial atenção àqueles submetidos a cirurgia oral e a aplicações de laser. (10/22 –
45%). O risco de desenvolver OMIB em pacientes que receberam bisfosfonato como
tratamento de osteoporose é mais baixo do que em pacientes com câncer, mas não é pequeno.
É aconselhável que o médico responsável recomende uma avaliação odontológica antes do
tratamento, pelo menos para aqueles pacientes que não consultaram um dentista nos últimos
12 meses.
42
Pautke et al. (2011) descreveram que o debridamento cirúrgico é a terapia de escolha
em estágios avançados de osteonecrose dos maxilares associada ao uso de bisfosfonatos.
Entretanto, esta terapia é atualmente livremente padronizada, pois não existe uma modalidade
de tratamento com imagem. O estudo objetiva mudar esse conceito, explorando a adequação e
reprodutibilidade da ressecção óssea com guia fluorescente em pacientes com osteonecrose.
Foram avaliados 15 pacientes com 20 lesões de osteonecrose entre eles, todos com histórico
de tratamento com bisfosfonatos intravenosos para doença de metástase óssea. Durante 10
dias de pré-operatório, é administrada ao paciente doxiciclina (derivado da tetraciclina); esta
se incorpora internamente ao osso onde ocorre a remodelação óssea; em contato com uma
lâmpada fluorescente apropriada, toda a área vital aparece verde, enquanto a área de necrose
óssea não colore. O procedimento teria sucesso no caso de observar-se o fechamento completo
da ferida cirúrgica e ocorrer o desaparecimento dos sintomas em até quatro semanas de pós-
operatório. Após quatro semanas de pós-operatório, o fechamento da ferida foi observado em
17 das 20 lesões de osteonecrose (85%). Esses pacientes estavam livres de qualquer sintoma.
A falha na técnica era definida como a deiscência ou exposição óssea, a qual foi observada em
três dos 20 casos (15%). A taxa de sucesso do procedimento cirúrgico foi respeitável, fazendo
com que a ressecção do osso necrótico com guia fluorescente possa ser considerada um
efetivo tratamento da osteonecrose associada ao uso de bisfosfonatos em sua forma avançada.
A reprodutibilidade da técnica oferece uma oportunidade de padronizar esta terapia cirúrgica.
Mais estudos devem ser realizados para comparar a ressecção do osso com guia fluorescente
com a terapia cirúrgica convencional, assim como a comparação entre a técnica cirúrgica e o
tratamento conservador em casos iniciais de osteonecrose induzida por bisfosfonatos.
Scoletta et al. (2011) detalharam um protocolo cirúrgico para extração dental de
pacientes com osteonecrose induzida pelo uso de bisfosfonatos. Foram incluídos na pesquisa
pacientes com, no mínimo, quatro meses de diagnóstico da doença. O procedimento cirúrgico
43
foi realizado utilizando um aparato cirúrgico ultra-sônico, e a cicatrização estimulada pelo
enchimento do local da extração de plasma autólogo rico em fatores de crescimento. As
infecções locais e sistêmicas eram controladas por terapia antibiótica. Participaram desse
estudo 64 pacientes, com 220 extrações dentais realizadas. A osteonecrose induzida pelo uso
de bisfosfonatos ocorreu em cinco locais no pós-operatório (2,27%), nenhuma diferença
estatística foi relevante, considerando idade, gênero, duração de tratamento com bisfosfonatos,
terapia com corticosteróides concomitante ao procedimento, tempo cirúrgico e paciente com
doenças imunodepressoras. Em contraste a isso, a mandíbula apareceu com maior risco de
desenvolver osteonecrose do que a maxila. Mesmo com limitações, o procedimento cirúrgico
proposto no estudo, pareceu-se como uma possível escolha para pacientes tratados com
bisfosfonatos intravenosos que necessitam realizar extração dental. Mais estudos são
necessários para determinar se esse protocolo seria o mesmo em um número maior de
pacientes com diferentes características clínicas.
Wilde et al. (2011) relatam que a osteonecrose dos maxilares induzida por bisfosfonato
(OMIB) parece resistente ao seu tratamento convencional. O autor relata um estudo de um
planejamento cirúrgico caracterizado pela ressecção do osso necrótico seguido de sutura
oclusiva. No estudo de 24 pacientes com 33 locais acometidos pela OMIB, a terapia cirúrgica
era composta com tratamento conservador utilizando terapia antibiótica, a ressecção do osso
necrótico por inteiro e arredondamento das paredes ósseas, e cobertura do restante do osso
com a sutura oclusiva. Em 88% dos casos, a osteonecrose pôde ser tratada com sucesso pela
terapia cirúrgica citada, com um acompanhamento de 60 semanas. Devido à alta taxa de
sucesso desta terapia cirúrgica, parece correto submeter pacientes com OMIB a tal manejo.
44
OBJETIVO
45
Apresentar um relato de caso de uma paciente portadora de Mieloma Múltiplo, a qual
desenvolveu osteonecrose maxilar induzida por bisfosfonato. Deverá ser apresentado também
sua abordagem terapêutica, os tipos e a farmacodinâmica dos bisfosfonatos, além da
fisiopatologia e formas de prevenção da doença.
46
RELATO DE CASO
47
Paciente J.N.P., sexo feminino, leucoderma, 82 anos, chegou ao Serviço de
Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (CTBMF) da Faculdade de
Odontologia da UFAM, encaminhada do Serviço de Odontologia do HEMOAM
(Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas), para avaliação de lesão na
maxila do lado direito, com evolução de um ano. A paciente chegou com o diagnóstico
de plasmocitoma, após uma biópsia incisional da mucosa bucal, a qual revelou
infiltração óssea com células plasmocíticas. Também relatou ter sido submetida a duas
sessões de infusões mensais de 4 mg de Zoledronato, a primeira durante 6 meses e a
segunda sessão durante 4 meses, concomitante a isso também recebia administração
medicamentosa de Melfalan, Talidomida e Prednisona, associação esta de caráter anti-
neoplásico (Fig 4).
Fig. 4 Aspecto facial inicial da paciente (frontal)
mostrando a dificuldade na distensão dos tecidos
periorais associada à dor.
Fig. 4 Aspecto facial inicial da paciente (frontal)
mostrando a dificuldade na distensão dos tecidos
periorais associada à dor.
48
Ao exame intra-oral, foi observado osso de aspecto necrótico na maxila do lado
direito, de aproximadamente 4 cm, exposto na cavidade bucal (Fig. 5), região a qual a
paciente era portadora de uma prótese total mal adaptada. Foi observada ainda uma comunicação
oroantral, (Fig 6) odor fétido, limitação de abertura bucal e dor à palpação. Com base nessas
observações e avaliando o quadro clínico da paciente, foi caracterizado quadro de sequestro ósseo,
associando-se à administração do bisfosfonato para o tratamento do Mieloma Múltiplo.
Fig. 5 Exame intra-oral, evidenciando-se área
de osso com aspecto necrótico.
Fig. 6 Exame intra-oral, podendo observar a região de
comunicação oroantral.
49
Foram solicitados exames laboratoriais e exame de imagem (radiografia panorâmica). Na
imagem radiográfica foi observada uma área de sequestro ósseo envolvendo toda uma
hemimaxila, com imagem sugestiva de fratura, além de rarefações ósseas em região de corpo
e ramo da mandíbula (Fig. 7).
Após a avaliação dos exames laboratoriais (Hemograma, TP, TTPA e Glicemia), que se
mostraram dentro dos padrões de normalidade levando em conta a doença de base da
paciente, a nível ambulatorial iniciou-se um tratamento conservador, com irrigação semanal
de clorexidina 0,12%, e manutenção de bochecho diário com a mesma solução. Após duas
semanas em tratamento, foi observado a não involução da lesão e radiograficamente
observado que o seqüestro ósseo não possuía inserção óssea. Então, como parte do
planejamento do tratamento, foi realizada a cirurgia para remoção do osso necrótico, em
sessões curtas durante um mês (Fig.8), com debridamento da lesão, ostectomia e clivagem até
a remoção total do osso necrótico (Fig.9).
Fig. 7 Imagem radiolúcida na maxila direita, envolvendo assoalho e parede lateral direita da fossa
nasal, comunicação com o meio bucal, medindo 40 mm, no seu maior eixo. Podem ser observadas
também rarefações ósseas na mandíbula, aspectos característicos do Mieloma Múltiplo.
50
Os fragmentos de osso necrótico removidos (Fig. 10) foram enviados para análise
histopatológica, obtendo posteriormente o resultado de osso necrótico, favorecendo o
diagnóstico conclusivo de Osteonecrose maxilar induzida por bisfosfonato, Estágio IIIb, na
escala da AAOMS.
Fig.8 Sequestro ósseo após 1ª sessão de
ostectomia.
Fig.9 Aspecto após remoção total do sequestro ósseo,
exibindo a área em fase de epitelização com grande
comunicação oroantral.
Fig. 10 Fragmentos de osso necrótico removido.
51
Após o debridamento e a remoção completa da lesão óssea, a paciente era
reavaliada a cada dois meses e ao exame físico, apresentava bom aspecto cicatricial da
abordagem cirúrgica. A sintomatologia dolorosa e o odor fétido foram eliminados,
proporcionando um melhor convívio social e uma melhor qualidade de vida à paciente.
Após 8 meses de pós-operatório, visto que a paciente apresentava uma boa
recuperação e grande epitelização da região (Fig. 11), foi dada continuidade ao seu
tratamento, com o planejamento da confecção de uma prótese obturadora visando a
melhorar sua mastigação e diminuir a retenção alimentar na comunicação oroantral.
Para a moldagem da paciente, foi utilizado material de impressão à base de
polieter, Impregum™ Soft (Fig.12). O molde foi encaminhado para o laboratório com
recomendações específicas (Fig 13).
Fig. 11 Aspecto após 8 meses de pós-operatório, podendo ser observada
boa cicatrização local.
52
Após a instalação da prótese obturadora, (Fig. 14 e 15), a paciente continuou com suas
consultas bimestrais, para limpeza e avaliação da região.
Fig. 12 Preparo do material para Moldagem. Fig. 13 Molde Superior.
Fig.14 Prótese superior concluída, vista frontal e lateral.
53
Atualmente, com dois anos de acompanhamento, a paciente está totalmente
recuperada do seu estado debilitado inicial, a região da comunicação apresenta-se em
ótimo estado (Fig 16), e está sob terapia de Talidomida em dose diária para tratamento
do Mieloma Múltiplo.
Fig. 15 Instalação da prótese obturadora, aspecto imediato.
Fig. 16 Área de comunicação após 2 anos.
54
Fig.4 Aspecto facial inicial da paciente (frontal)
mostrando a dificuldade na distensão dos tecidos
periorais associada à dor.
Fig. 17 Aspecto facial (frontal) após tratamento concluído.
55
DISCUSSÃO
56
O mieloma múltiplo é um câncer que se desenvolve na medula óssea, devido ao
crescimento descontrolado de células plasmáticas. Estas produzem citocinas chamadas fatores
de ativação dos osteoclastos (FAOs). O consequente aumento da quantidade de FAOs
estimula o crescimento e a atividade osteoclástica, ocorrendo então lesões ósseas (HUNGRIA,
2007).
Os bisfosfonatos são indicados para pacientes portadores de doenças como mieloma
múltiplo, doença de Paget, osteoporose, e algumas doenças relacionadas à metástase óssea,
como câncer de mama e de próstata, pois enquanto mediadores dos inibidores da reabsorção
óssea, eles atuam principalmente nos osteoclastos, de forma que, aumentam sua apoptose,
estimulam a inibição, previnem o desenvolvimento e reduzem a atividade destas células. A
diminuição da atividade osteoclática, por sua vez, reduz a reabsorção óssea, a hipercalcemia
em algumas malignidades e a osteólise na metástase óssea (BAGAN et al., 2009; MARX,
2003; FILLEUL, CROMPOT e SAUSSEZ, 2010).
O caso relatado neste trabalho apresentou uma paciente portadora de Mieloma
Múltiplo, que desenvolveu osteonecrose maxilar induzida pela sua terapia com o bisfosfonato
Zoledronato, de forma endovenosa. A maioria dos casos de OMIB examinados está associada
com o tratamento de uma condição de malignidade, particularmente o Mieloma Múltiplo,
seguido de câncer de mama, osteoporose e câncer de próstata, com Pamidronato ou
Zoledronato (RUGGIERO, et al. 2004; MARX, et al. 2005; MELO e OBEID, 2005;
MIGLIORATI, et al. 2006; WANG, et al. 2007; BOONYAPAKORN, et al. 2008;
DIMOPOULOS et al. 2009; FILLEUL, CROMPOT e SAUSSEZ 2010).
Os bisfosfonatos como Etidronato, Residronato e Tiludronato, são de uso comum hoje
em dia e de menor risco à necrose óssea, por serem bisfosfonatos não nitrogenados e
rapidamente metabolizados; já o Pamidronato e o Zoledronato, bisfosfonatos nitrogenados,
57
são muito mais potentes e não metabolizados tão facilmente, acumulando-se no osso,
provocando assim um efeito mais duradouro, causando a necrose óssea (MARX, 2003).
Há incidência da osteonecrose induzida por bisfosfonatos somente nos ossos gnáticos e
até hoje, não houve relatos de tal complicação em nenhum outro local do esqueleto humano,
isso se deve ao fato de serem ossos expostos e os bisfosfonatos preferencialmente depositados
em ossos com alta taxa de turnover, como é o caso dos maxilares (BAGAN et al., 2009).
Porém, outra explicação para isso é que o processo alveolar, primeiro local onde a
osteonecrose se desenvolve, possui a taxa de remodelação óssea 10 vezes maior que a taxa da
tíbia, cinco vezes a taxa da mandíbula em região de canal mandibular, e 3,5 vezes mais a taxa
da borda da mandíbula. Como resultado, o osso alveolar tem uma maior absorção de
bisfosfonatos e prontamente acumula maior concentração do medicamento (DIXON,
TRICKER e GARETTO, 1997 apud MARX, 2007).
Durante a terapia com bisfosfonato, como a demanda por remodelação óssea continua,
se mais bisfosfonatos acumulam no osso, ou se um trauma, como uma extração, ocorre, o osso
alveolar não consegue mais responder com nova formação óssea pela remodelação dos
osteoclastos, tornando-se necrótico. Como conseqüência disso a mucosa adjacente fica
desprovida de suprimento sanguíneo, ocorrendo assim deiscência da região, causando a
exposição desse osso necrótico (MARX, 2007).
Por meio da tomografia computadorizada ou pela ressonância magnética é possível
observar o tamanho e extensão do osso necrótico, podendo considerá-las bons métodos de
diagnóstico desta doença (BAGAN et al., 2009). Porém não se deve excluir a radiografia
periapical ou a panorâmica, pois há características radiográficas de diagnóstico da
osteonecrose que podem ser observadas nesses tipos mais comuns de imagem, como a
esclerose da lâmina dura e o espessamento do ligamento periodontal da região atingida. Essas
alterações se devem ao fato de que, sob a força de oclusão normal, os locais de tensão do
58
dente ocorrem na lâmina dura, o que elimina as fibras restantes do ligamento periodontal; a
remodelação da lâmina dura para ajustar esta força seria a resposta normal; no entanto, se o
paciente tiver absorvido e acumulado quantidade suficiente de bisfosfonato, a lâmina dura não
remodela, tornando-se mineralizada, o que aumenta a sua esclerose e o espessamento do
ligamento periodontal (MARX, 2007).
Em estudos de osteoblastos in vitro com altas concentrações de Alendronato e
Zoledronato, concluiu-se que essas drogas são citotóxicas, diminuindo a viabilidade celular
em até 72 horas, e por isso é sugerido que baixas concentrações de bisfosfonatos podem ter
benefícios terapêuticos sem os efeitos citotóxicos que resultam na osteonecrose (NAIDU, et
al. 2008). A incidência desta complicação pode aumentar com a duração do tratamento e o
aumento da dose dos bisfosfonatos (WANG, et al. 2007; DIMOPOULOS, et al. 2009).
Alguns sintomas como dor, mobilidade dental, fístula que não cicatriza, além de osso
necrótico exposto assintomático, são achados mais freqüentes em pacientes que apresentam
OMIB. A grande maioria dessas exposições ósseas ocorre na mandíbula, porém também pode
ser observada na maxila, e com menos freqüência em ambos os maxilares (MARX, et al.
2005). A paciente do caso relatado apresentava dor na região, odor fétido associados ao
seqüestro ósseo da hemimaxila direita.
As formas mais comuns do aparecimento da exposição óssea podem ocorrer de forma
espontânea, ou após realização de algum procedimento invasivo como, extração dental,
cirurgia periodontal, implante dental (JUNQUERA, GALLEGO e PELAZ, 2011) e cirurgia
paraendodôntica, além de casos de periodontite avançada (MARX, et al. 2005), sendo a
extração dental o fator de risco principal desse tipo de lesão (BOONYAPAKORN, et al.
2008; FILLEUL, CROMPOT e SAUSSEZ, 2010; WALTER et al., 2010).
Além desses riscos citados acima, a apicectomia, próteses mal adaptadas, a enucleação
de cisto ou trauma oral, também podem desencadear a OMIB (KOS, et al. 2010). Riscos estes
59
que um deles foi apresentado no relato de caso exposto no trabalho onde a paciente queixava-
se que a sua prótese a incomodava, causando dor e irritação, e o local de exposição do osso
necrótico foi exatamente onde a paciente sofria este trauma. Concomitante à terapia com
Zoledronato, a paciente recebia administração medicamentosa de Melfalan, Talidomida e
Prednisona, associação esta de caráter anti-neoplásico.
O uso de medicamentos como corticosteróides, quimioterápicos e Talidomida,
associado ao uso concomitante do bisfosfonato, descreve um possível fator de risco sistêmico
da OMIB (MIGLIORATI, et al. 2006; SCULLY, et al. 2006; ZERVAS, et al. 2006; JADU, et
al. 2007; DODSON, et al. 2009; SARASQUETE, et al. 2009; KOS, et al. 2010), além de
morbidades sistêmicas como obesidade, alcoolismo (SARASQUETE, et al. 2009) e abuso de
tabaco (WESSEL, et al. 2008; SARASQUETE, et al. 2009).
A dificuldade em tratar essa doença é que o debridamento envolve o osso necrótico
podendo causar uma posterior exposição óssea devido a esse tratamento invasivo. Além
disso, a remoção do dente atingido pode aliviar a dor, porém pode causar mais exposição
óssea e mais dor relacionada a esta (MARX, 2003).
No relato de caso apresentado, aplicou-se primeiramente um tratamento conservador,
com irrigação semanal de clorexidina 0,12%, e manutenção de bochecho diário com a mesma
solução, após duas semanas em tratamento foi observado a não involução da lesão e
radiograficamente observado que o seqüestro ósseo não possuía inserção óssea, então foi
planejada sua remoção, a qual foi realizada em sessões curtas durante um mês, com
debridamento da lesão, ostectomia e clivagem até a remoção total do osso necrótico.
O protocolo terapêutico da OMIB pode ser conservador com irrigação semanal de
clorexidina 0,12%, porém não é muito aconselhado, pois visa apenas à limpeza da região e
não elimina o osso necrótico, para isso devem ser realizadas sessões curtas de debridamento
60
da lesão, ostectomia e clivagem até a remoção total do seqüestro ósseo (MARX, et al. 2003;
RUGGIERO, et al. 2004; MARX, et al. 2005; CARLSON e BASILE, 2009; MUCKE, et al.
2010; SCOLETTA, et al. 2010; SCOLETTA, et al. 2011; WILDE, et al. 2011) .
A utilização de clindamicina profilática no pré-operatório associada à extração do
dente envolvido na região e remoção do osso necrótico, é um protocolo também
recomendado, sendo que a manutenção da higiene oral e bochecho com clorexidina 0,2%,
sejam orientados ao paciente (MARKOSE, et al. 2009).
Mesmo que ocorra a interrupção da terapia à base de bisfosfonatos em pacientes que
serão submetidos ao debridamento e ressecção da lesão (LIMA, et al. 2008 ; BAGAN, et al.
2009 ; GRASKO, HERRMANN e VASIKARAN, 2009), uma vez iniciada a terapia com esse
tipo de medicamento, a sua descontinuação não diminui o risco de osteonecrose, pois os
bisfosfonatos são metabolizados muito lentamente pelo organismo e podem permanecer no
corpo por dez anos ou mais, prolongando o risco de OMIB, mesmo muito tempo depois de o
paciente ter parado de usar o medicamento (CURI, et al. 2007; MARX, 2007). No trabalho
relatado a paciente apresentou-se cerca de seis meses após seu médico ter interrompido a
administração de bisfosfonatos.
Como forma de diagnosticar o risco de OMIB após a interrupção do tratamento com
bisfosfonato, para realização de algum procedimento odontológico, o teste CTX em jejum, é
atualmente o melhor guia para avaliação da taxa de supressão de turnover óssea pelos
bisfosfonatos, e tem se mostrado mais confiável e menos variável do que outros testes
similares (BLACK, et al. 2006; BLACK, et al. 2007 apud MARX, 2009).
A ressecção óssea com guia fluorescente é uma técnica nova de distinção trans-
cirúrgica de osso vital e osso necrótico, com isso a remoção do osso necrótico pode ser
realizada com mais precisão, com uma boa taxa de sucesso no tratamento da OMIB, esta
61
técnica pode ser considerada como uma boa alternativa de terapêutica da doença (PAUTKE,
et al. 2011).
Outra técnica recém utilizada para tratamento da OMIB é a aplicação cirúrgica do laser
erCrYSGG após a remoção do seqüestro ósseo e do osso adjacente à região, sendo as
espículas ósseas suavizadas com brocas rotatórias. Em casos de osteonecrose induzida por
bisfosfonatos, a cobertura da mucosa é importante para prevenir infecções secundárias e
progressão da doença. A aplicação cirúrgica do laser ErCrYSGG obteve sucesso na realização
da cobertura da mucosa, porém esse protocolo necessita de mais estudos para sua
concretização (RUGANI, et al. 2010; MANFREDI, et al. 2011).
É aconselhado que em pacientes submetidos a longo período de administração de
bisfosfonatos, a ressecção óssea seja associada à aplicação de plasma autógeno rico em
plaquetas (PRP), como uma terapia adjuvante, o PRP é aplicado topicamente por toda a
cavidade óssea formada (CURI, et al. 2007).
Em pacientes com osteonecrose maxilar deve-se ter um cuidado a mais, pois a ressecção do
osso necrótico pode resultar em uma comunicação naso oroantral, fazendo-se assim
necessário um esplinte obturador provisório para a inserção após essa ressecção, e após 6 a 9
meses de proservação, tempo suficiente para o defeito tornar-se estável, deve ser
confeccionado uma prótese obturadora permanente (MARX, 2009), visto que, esse defeito
ósseo provoca alterações funcionais, estéticas e muitas vezes, psicológicas com repercussões
sociais e emocionais. A reabilitação protética desses pacientes devolve o bem-estar físico e
mental a esses indivíduos, restaurando a estética, a fala e principalmente a função, pela
retomada da mastigação e deglutição (GOIATO, et al. 2006).
No trabalho apresentado a paciente foi submetida à ressecção de uma hemimaxila do
lado direito, causando uma comunicação oroantral, após oito meses de avaliações bimestrais,
62
e somente após a observação de uma boa cicatrização da comunicação, foi confeccionado a
prótese obturadora, visando melhorar sua mastigação e diminuir a retenção alimentar na
comunicação.
A aplicação de medidas preventivas como, estudar a condição dental e possíveis
formas de tratamento, evitando procedimentos invasivos em pacientes de risco, é uma forma
de prevenir ou diminuir a incidência da OMIB (RUGGIERO, et al. 2004; MELO e OBEID,
2005; BOONYAPAKORN, et al. 2008; MARX, et al. 2009; FILLEUL, CROMPOT e
SAUSSEZ, 2010; PAUTKE, et al. 2011; SCOLETTA, et al. 2011).
A manutenção de uma excelente higiene oral, a fim de reduzir o risco de infecções
dentais ou periodontais, checar e ajustar próteses removíveis que possam estar traumatizando,
realizar exames semiológicos de rotina para evitar qualquer injúria do tecido, tratar problemas
dentais de forma não cirúrgica com tratamento de canal ou com mínima intervenção cirúrgica,
são importantes atitudes que o Cirurgião-dentista deve ter para com um paciente que é
atualmente, ou já foi, submetido a algum tipo de tratamento com bisfosfonato, a fim de
prevenir ou reduzir os riscos da OMIB (SCULLY, et al. 2006).
63
CONCLUSÃO
64
O manejo do paciente, que faz uso de bisfosfonatos, na clínica diária deve ser
realizado de forma atenciosa, disposto de uma minuciosa anamnese, visto que é necessária a
informação de todo tipo de medicamento que no paciente é administrado.
O tratamento deve ser da forma mais conservadora possível, evitando ao máximo a
realização de procedimentos invasivos, se uma cirurgia for essencial o paciente deve ser
aconselhado sobre os riscos.
Há diversos protocolos terapêuticos, alguns deles discutidos neste trabalho, porém o
tratamento mais utilizado e preconizado é o debridamento da lesão associada à ressecção do
osso necrótico envolvido.
O cirurgião dentista deve ter um contato direto com o médico do paciente, e a este
sempre informar a importância da manutenção de sua higiene oral para prevenção e redução
dos riscos da doença.
65
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