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OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE: UMA ABORDAGEM METODOLÓGICA PARA A PSICOLOGIA ESCOLAR1 JOÃO BATISTA MARTINS2 MARTINS, J.B. Observação participante: uma abordagem metodológica para a psicologia escolar. Semi na: Ci. Sociais/Humanas, Londrina, v. 17, n. 3, p. 266-273, set. 1996 . RESUMO: O propósito deste trabalho é discutir a observação participante como uma metodologia apro- priada para o trabalho do psicólogo escolar. Nós consideramos a escola como uma construção social circunscrita pelas representações sociais dos agentes que participam de seu dia a dia. A observação participante permite ao psicólogo pesquisar as estruturas das relações sociais e oferecer soluções alter- nativas para os problemas emergentes na realização das metas da escola. Portanto, o trabalho do psicó- logo deve ser o de compreender as representações sociais dos segmentos sociais da escola no sentido de desvelar as contradições implícitas nas relações escolares rotineiras. PALAVRAS-CHAVES: Psicologia escolar, observação participante, metodologia de pesquisa, cotidiano. LOCALIZANDO A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR. .. A Psicologia, mais especificamente a nascida na segunda metade do Séc. XIX (Wundt, 1879), na Europa, numa sociedade capitalista industrial, desen- volveu-se através do embate de alguns paradigmas in- conciliáveis (FIGUEIREDO, 1991, 1993). Possui, no entanto, uma unidade que, longe de ser científica, é ideológica. Constituiu-se como instrumento das neces- sidades da sociedade em que nasceu, com o objetivo de "selecionar, orientar, adaptar e racionalizar, visando, em última instância, a um aumento da produtividade". (PATTO, 1984, p. 87). A Psicologia Escolar, por sua vez, na medida em que nasceu com as mãos dadas com a psicometria, desenvolveu um conjunto de atividades onde se desta- cam a avaliação da prontidão, organização de classes e diagnósticos e encaminhamentos de crianças com "distúrbios de aprendizagem" . No Brasil, a inserção dos psicólogos na área da educação foi fortemente influenciada por essas práti- cas e teorias, impregnada pelas idéias do chamado "modelo clínico" (ANDALÓ, 1984), onde os problemas são equacionados em termos de saúde x doença e eram interpretados como sintomas determinados por fatores subjacentes ao indivíduo. Neste modelo, em que o con- ceito de patologia é central, o papel do ambiente, em- bora considerado, é interpretado como secundário. Uma das razões para o predomínio deste modelo pode ser vislumbrada com a implementação das con- cepções liberais subjacentes ao modelo capitalista de- senvolvido nos países ocidentais, especialmente no ter- ceiro mundo. Assim, uma concepção teórica como o modelo clínico, que deposita no indivíduo os principais determinantes dos "problemas psicológicos", encontrou ampla aceitação numa sociedade que tem no individua- lismo um de seus principais suportes ideológicos ("o sucesso ou o fracasso dependem basicamente do indi- víduo"). A escola, por sua vez, reflete e reproduz as situ- ações sociais que caracterizam tal modelo de socieda- de. Assim, os mecanismos ideológicos inerentes ao sistema social - no Brasil extremamente marcado pelas desigualdades sociais - são naturalizados através de um processo de interiorização, que faz com que pas- sem a fazer parte da subjetividade daqueles que estão inseridos no sistema educacional, traduzindo-se em forma de relacionamentos e auto-percepção. Tendo em vista as dificuldades das crianças oriundas das clas- ses subalternas (PATTO, 1984) para se inserirem e se manterem no contexto escolar, não raro, encontramos alunos (assim como seus familiares) que interpretam tal fracasso culpando-se, porque achama-se "burros", ou porque têm sua "cabeça oca". Em suma, uma ques- tão que tem dimensões sociais passa a ser abordada e explicada no plano individual (MOYSÉS & COLLARES, 1992). 1 Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no XXVI International Congress of Psychology, realizado em Montreal, no período de 16 a 21.08.96. 2 Departamento de Psicologia Social e Institucional da Universidade Estadual de Londrina Semillo Cio Sociais/Hum .• v. 17. n. 3. p_ 266-273 266

Participative observation: a methodological approach to school psychology

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The purpose of this paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists. We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife. The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals. Therefore, the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine.

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Page 1: Participative observation: a methodological approach to school psychology

OBSERVACcedilAtildeO PARTICIPANTE UMA ABORDAGEM METODOLOacuteGICA PARA A PSICOLOGIA ESCOLAR1

JOAtildeO BATISTA MARTINS2

MARTINS J B Observaccedilatildeo participante uma abordagem metodoloacutegica para a psicologia escolar Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 set 1996

RESUMO O propoacutesito deste trabalho eacute discutir a observaccedilatildeo participante como uma metodologia aproshypriada para o trabalho do psicoacutelogo escolar Noacutes consideramos a escola como uma construccedilatildeo social circunscrita pelas representaccedilotildees sociais dos agentes que participam de seu dia a dia A observaccedilatildeo participante permite ao psicoacutelogo pesquisar as estruturas das relaccedilotildees sociais e oferecer soluccedilotildees altershynativas para os problemas emergentes na realizaccedilatildeo das metas da escola Portanto o trabalho do psicoacuteshylogo deve ser o de compreender as representaccedilotildees sociais dos segmentos sociais da escola no sentido de desvelar as contradiccedilotildees impliacutecitas nas relaccedilotildees escolares rotineiras

PALAVRAS-CHAVES Psicologia escolar observaccedilatildeo participante metodologia de pesquisa cotidiano

LOCALIZANDO A ATUACcedilAtildeO DO PSICOacuteLOGO ESCOLAR

A Psicologia mais especificamente a nascida na segunda metade do Seacutec XIX (Wundt 1879) na Europa numa sociedade capitalista industrial desenshyvolveu-se atraveacutes do embate de alguns paradigmas inshyconciliaacuteveis (FIGUEIREDO 1991 1993) Possui no entanto uma unidade que longe de ser cientiacutefica eacute ideoloacutegica Constituiu-se como instrumento das necesshysidades da sociedade em que nasceu com o objetivo de selecionar orientar adaptar e racionalizar visando em uacuteltima instacircncia a um aumento da produtividade (PATTO 1984 p 87)

A Psicologia Escolar por sua vez na medida em que nasceu com as matildeos dadas com a psicometria desenvolveu um conjunto de atividades onde se destashycam a avaliaccedilatildeo da prontidatildeo organizaccedilatildeo de classes e diagnoacutesticos e encaminhamentos de crianccedilas com distuacuterbios de aprendizagem

No Brasil a inserccedilatildeo dos psicoacutelogos na aacuterea da educaccedilatildeo foi fortemente influenciada por essas praacutetishycas e teorias impregnada pelas ideacuteias do chamado modelo cliacutenico (ANDALOacute 1984) onde os problemas satildeo equacionados em termos de sauacutede x doenccedila e eram interpretados como sintomas determinados por fatores subjacentes ao indiviacuteduo Neste modelo em que o conshyceito de patologia eacute central o papel do ambiente emshybora considerado eacute interpretado como secundaacuterio

Uma das razotildees para o predomiacutenio deste modelo pode ser vislumbrada com a implementaccedilatildeo das conshycepccedilotildees liberais subjacentes ao modelo capitalista deshysenvolvido nos paiacuteses ocidentais especialmente no tershyceiro mundo Assim uma concepccedilatildeo teoacuterica como o modelo cliacutenico que deposita no indiviacuteduo os principais determinantes dos problemas psicoloacutegicos encontrou ampla aceitaccedilatildeo numa sociedade que tem no individuashylismo um de seus principais suportes ideoloacutegicos (o sucesso ou o fracasso dependem basicamente do indishyviacuteduo)

A escola por sua vez reflete e reproduz as situshyaccedilotildees sociais que caracterizam tal modelo de sociedashyde Assim os mecanismos ideoloacutegicos inerentes ao sistema social - no Brasil extremamente marcado pelas desigualdades sociais - satildeo naturalizados atraveacutes de um processo de interiorizaccedilatildeo que faz com que passhysem a fazer parte da subjetividade daqueles que estatildeo inseridos no sistema educacional traduzindo-se em forma de relacionamentos e auto-percepccedilatildeo Tendo em vista as dificuldades das crianccedilas oriundas das classhyses subalternas (PATTO 1984) para se inserirem e se manterem no contexto escolar natildeo raro encontramos alunos (assim como seus familiares) que interpretam tal fracasso culpando-se porque achama-se burros ou porque tecircm sua cabeccedila oca Em suma uma quesshytatildeo que tem dimensotildees sociais passa a ser abordada e explicada no plano individual (MOYSEacuteS amp COLLARES 1992)

1 Uma versatildeo preliminar deste artigo foi apresentada no XXVI International Congress of Psychology realizado em Montreal no periacuteodo de 16 a 210896

2 Departamento de Psicologia Social e Institucional da Universidade Estadual de Londrina

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o modelo liberal tambeacutem marca a estruturaccedilatildeo dos cursos de psicologia no Brasil a partir da deacutecada de 60 Isto possibilitou o estabelecimento de um ciacuterculo vicioso entre o modelo de formaccedilatildeo e a imagem social da profissatildeo - o psicoacutelogo eacute visto como um profissional atuando basicamente em consultoacuterios com a funccedilatildeo de curar os indiviacuteduos com problemas psicoloacutegicos3

Uma pesquisa realizada em 1981 pelo Sindicato dos Psicoacutelogos no Estado de Satildeo Paulo e pelo Conseshylho Regional de Psicologia 6ordf Regiatildeo (em 1981 o Conshyselho abrangia somente o Estado de Satildeo Paulo atualshymente abrange os Estados de Satildeo Paulo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) junto agraves faculdades que oferecishyam o curso de psicologia revelou que o embasamento teoacuterico da psicologia escolar ocorre tardiamente (7ordm peshyriacuteodo para os cursos semestrais) fato que parece inshyterferir na visatildeo que os alunos desenvolvem sobre a aacuterea como aacuterea menor de pouco peso

Apesar desta pesquisa se referir aos anos 80 ateacute este momento encontramos este mesmo vieacutes nos cursos de formaccedilatildeo de psicoacutelogos Tal situaccedilatildeo reflete na manutenccedilatildeo da expectativa por parte da sociedade e dos alunos que ingressam no curso de que o psicoacuteloshygo trabalha no consultoacuterio - curando loucos

Tal perspectiva tem um reflexo interessante junshyto agraves escolas Eacute comum identificarmos ali a percepccedilatildeo do psicoacutelogo como uma espeacutecie de maacutegico capaz de resolver todos os problemas que as crianccedilas possam apresentar Tal representaccedilatildeo nos sugere duas hipoacuteteshyses complementares de um lado esta situaccedilatildeo eacute uma tentativa de passar a responsabilidade da accedilatildeo pedashygoacutegica para outra pessoa - e neste caso o psicoacutelogo eacute bem vindo por outro lado na medida em que o psicoacuteloshygo eacute visto como maacutegico o cuidar de crianccedilas pode expressar um mecanismo de defesa - o que afasta a possibilidade de intervenccedilatildeo deste profissional junto a professores e direccedilatildeo

Uma pesquisa realizada em 1994 junto agraves escoshylas que recebem atendimento da Aacuterea de Psicologia Escolar do Departamento de Psicologia Social e InstitucionalUEL revelou que as solicitaccedilotildees de trabashylho feitas por estas instituiccedilotildees estavam diretamente relacionadas ao modelo cliacutenico referido anteriormente - esperava-se que as crianccedilas com dificuldades fosshysem tratadas fora do contexto escolar e apoacutes a cura fossem novamente inseridas nas salas de aula (COSshyTA KUMATA amp SIQUEIRA 1994)4

Numa pesquisa recente realizada pelo CONSEshyLHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - 6ordf REGIAtildeO (1995) constata-se que de um universo de 27718 psicoacutelogos

que participaram da pesquisa 4075 atua em consulshytoacuterios particulares enquanto que 8105 atua em escola Nota-se assim que o consultoacuterio particular continua a ser o setor predominante de trabalho do psicoacutelogo

MACHADO et ai (1993) numa investigaccedilatildeo soshybre a relaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar com outros profissishyonais em escolas (puacuteblicas e particulares) da cidade de Ribeiratildeo Preto mostra-nos que a funccedilatildeo mais exercida por estes profissionais no contexto escolar eacute a de mantenedor da disciplina escolar - entendida como uma accedilatildeo de suspensatildeo de alunos quando necessaacuterio conshyversa com pais tendo em vista a adaptaccedilatildeo escolar dos alunos agraves normas da instituiccedilatildeo (p 51)

Apesar das mudanccedilas ocorridas na relaccedilatildeo enshytre psicologia e educaccedilatilde05

ateacute hoje o que se esperashysocialmente falando - do trabalho do psicoacutelogo escolar eacute que ele resolva os problemas das crianccedilas com difishyculdades de aprendizagem indisciplina etc atraveacutes de um trabalho direto e exclusivo com elas (agraves vezes com seus familiares) sem relac ionar esses problemas com o sistema educacional as condiccedilotildees sociais etc refletidos na escola

Entendemos que a re-atualizaccedilatildeo do ideaacuterio libeshyrai - hoje conhecido como neoliberalismo assim como a formaccedilatildeo acadecircmica dos psicoacutelogos contribuem para a manutenccedilatildeo desta situaccedilatildeo Aleacutem disso vale ressalshytar que tal perspetiva de trabalho tambeacutem estaacute relacioshynada com a atuaccedilatildeo deste profissional Nesse sentido lembra-nos CAETANO (1992) eacute a praacutetica profissional a responsaacutevel pela criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da imagem de uma determinada profissatildeo e dos serviccedilos que ela pode oferecer ao puacuteblico (p 45)

A partir da consideraccedilatildeo de Caetano vale resshysaltar que as representaccedilotildees acerca do trabalho do psicoacutelogo escolar eacute circunscrita por condiccedilotildees objetishyvas de nossa realidade ou seja por condiccedilotildees econocircshymicas sociais poliacuteticas etc que de uma certa forshyma o localiza (assim com suas possibi lidades de intershyvenccedilatildeo) no contexto social

Desta forma a discussatildeo acerca do trabalho dos psicoacutelogos escolares deve passar - necessariamente shypor uma compreensatildeo dos fatores que possibilitaram a emergecircncia das representaccedilotildees a respeito de seu trashybalho - seja no contexto escolar seja no contexto socishyal em que estaacute inserido Conhecendo tais representashyccedilotildees assim como as condiccedilotildees que as engendraram este profissional teraacute a possibilidade de promover as situaccedilotildeesrelaccedilotildees que oportunizem a transformaccedilatildeo das mesmas Este seraacute o mote para nossa discussatildeo em seguida

Em 1988 o Conselho Regional de Psicologia - 6 Regiatildeo produziu um viacutedeo - Psicologia imagens e accedilotildees - cujo objetivo foi o de documentar o que pensam profissionais e populaccedilatildeo sobre o que eacute psicologia A parti r de uma anaacutelise do filme podemos dizer que tal visatildeo do psicoacutelogo estaacute muito presente em nossa populaccedilatildeo A mesma expectativa sobre o trabalho do psicoacutelogo escolar eacute expressa por SOUZA (1992) em estaacuteg io realizado na Aacuterea de Psicologia Escolar do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciecircncias e Letras de Assis - UNESP Ver tambeacutem os dados colhidos pelo SINDICATO DOS PSICOacuteLOGOS NO ESTADO DE SAtildeO PAULO amp CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - 6 REGIAtildeO (1981) Para uma discussatildeo acerca deste processo ver ALMEIDA amp GUZZO (1992) e COLL (1987)

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OBSERVACcedilAtildeO PARTICIPANTE E O QUE FAZER DO

PSICOacuteLOGO ESCOLAR

Antes de iniciarmos a discussatildeo sobre a obsershy

vaccedilatildeo participante e o que esta metodologia oferece

aos psicoacutelogos escolares conveacutem esclarecermos a concepccedilatildeo de escola que norteia nosso trabalho o que

ajudaraacute o leitor a situar melhor nossas propostas

Cotidiano escolar o objeto para o psicoacutelogo escolar

Entendemos a escola como uma instituiccedilatildeo soacuteshy

cio-cultural organizada e pautada por valores concepshy

ccedilotildees e expectativas perpassada por relaccedilotildees sociais

na organizaccedilatildeo do trabalho e da produccedilatildeo Nela os alushy

nos os professores a direccedilatildeo os pais e a comunidade

satildeo vistos como sujeitos histoacutericos culturais Na medida que abordamos a proacutepria instituiccedilatildeo

escolar como um produto histoacuterico cultural que age e interage numa trama de complexos processos soacutecioshy

culturais vislumbramos novas possibilidades para a

construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de escola

Segundo EZPELETA amp ROCKWELL (1986)

A escola eacute na teoria tradicional uma instituiccedilatildeo ou um aparelho do Estado Tanto na versatildeo positivista (Durkheim) como nas versotildees criacuteticas (Althuser Bourdieu) sua pertenccedila ao Estado transforma-a autoshymaticamente em representante uniacutevoca da vontade esshytatal A escola tem uma histoacuteria documentada geralshymente escrita a partir do poder estatal a qual destaca sua existecircncia homogecircnea Coexiste contudo com esta histoacuteria e existecircncia documentada outra histoacuteria e exisshytecircncia natildeo documentada atraveacutes da qual a escola toma forma material ganha vida Nesta histoacuteria a determinashyccedilatildeo e presenccedila estatal se entrecruza com as determishynaccedilotildees e presenccedila civis de variadas caracteriacutesticas A homogeneidade documentada decompotildee-se em muacuteltishyplas realidades cotidianas Nesta histoacuteria natildeo documenshytada nesta dimensatildeo cotidiana os trabalhadores os alunos e os pais se apropriam dos subsiacutedios e das presshycriccedilotildees estatais e constroem a escola (EZPELETA amp

ROCKWELL 1986 p 12-3 - assinalamentos no origishy

nai)

Sob esta oacutetica a escola natildeo eacute a mesma em todo o mundo capitalista pois ela se realiza num mundo proshyfundamente diverso e diferenciado Olhando o movimento

social a partir das situaccedilotildees e dos sujeitos que realishy

zam anonimamente a escola podemos dizer que a reashylidade de cada escola eacute umaconstruccedilatildeo social a consshy

truccedilatildeo de cada escola mesmo circunscrita por um movimento histoacuterico de longo alcance (como eacute o caso

do capitalismo) eacute sempre uma versatildeo local e particushy

lar Dessa expressatildeo local tomam forma internamente

as correlaccedilotildees de forccedilas as condiccedilotildees trabalhistas as

formas de relaccedilatildeo predominantes as prioridades admishynistrativas as tradiccedilotildees docentes que constituem a trashy

ma real em que se realiza a educaccedilatildeo

Eacute uma trama em permanente construccedilatildeo que arshyticula histoacuterias locais - pessoais e coletivas - diante

das quais a vontade estatal abstrata pode ser assumishyda ou ignorada mascarada ou recriada em particular

abrindo espaccedilos variaacuteveis a uma maior ou menor possishy

bilidade hegemocircnica Uma trama finalmente que eacute preshy

ciso conhecer porque constitui simultaneamente o

ponto de partida e o conteuacutedo do real em nossas altershy

nativas tanto pedagoacutegicas quanto poliacuteticas (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 11)

A observaccedilatildeo participante permite ao psicoacutelogo escolar inserido neste contexto olhar para o processo

de apropriaccedilatildeo de conhecimento dos vaacuterios segmentos

que estatildeo inseridos no ambiente escolar o que signifishyca analisar a existecircncia cotidiana da esola como histoacuteshy

ria acumulada buscar no seu presente os elementos

estatais e civis com as quais a escola se construiu Ou

seja na observaccedilatildeo da escola ele poderaacute averiguar o

que eacute convergente o que eacute divergente ou contraditoacuterio nas diversas formas do existir da escola

O cotidiano escolar assim passa a ser o espashy

ccedilo privilegiado para a pesquisa e para a intervenccedilatildeo do

psicoacutelogo escolar6 pois eacute aiacute onde se daacute o encontro dos

diversos segmentos que estatildeo envolvidos com o dia-ashy

dia da escola o que circunscreve o campo para a emershygecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashyccedilotildees sociais que ali se desenvolvem7bull

O cotidiano escolar enfim caracteriza-se como

um campo de interseccedilatildeo entre sujeitos individuais que

levam seus saberes especiacuteficos para a construccedilatildeo da escola Nestes espaccedilos incorporam-se e tornam-se sigshy

nificativos numerosos elementos natildeo previstos na realishydade nas categorias tradicionais da realidade escolar

A realiade escolar aparece sempre mediada pela ativishy

dade cotidiana pela apropriaccedilatildeo elaboraccedilatildeo

refuncionalizaccedilatildeo ou repulsa que os sujeitos levam a cabo

A partir do cotidiano escolar e atraveacutes da obsershyvaccedilatildeo participante o psicoacutelogo escolar teraacute acesso agraves

representaccedilotildees sociais que medeiam as relaccedilotildees que se travam intra e extra instituiccedilatildeo escolar As represhy

sentaccedilotildees sociais satildeo as explicaccedilotildees e as afirma-

Entendemos que o processo de pesquisa e de intervenccedilatildeo tendo como metodologia a observaccedilatildeo participante satildeo complementares no que fazer profissional do psicoacutelogo escolar Discutiremos esta perspectiva mais adiante KRAMER (1989) nos apresenta algumas destas contradiccedilotildees presentes no contexto de uma escola puacuteblica

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ccedilotildees que os indiviacuteduos datildeo sobre sua realidade Eacute como assimila a estrutura social na qual integram suas expeshyriecircncias valores ou seja eacute a relaccedilatildeo que se estabeleshyce entre o homem e o meio (SALLES 19901991 p 15)8

Representaccedilatildeo social eacute portanto o conjunto de significados que os indiviacuteduos estabelecem para a sua realidade significados esses que satildeo expressos pela linguagem Tal perspectiva nos sugere que o psiquismo humano eacute produto da sociedade e concomitantemente as representaccedilotildees sociais satildeo engendradas coletivashymente pela sociedade Nesse sentido a partir de uma abordagem soacutecio-cultural do psiquismo human09

enshytendemos que os significados satildeo produzidos socialshymente e se transformam atraveacutes da atividade e pensashymento dos indiviacuteduos e assim individualizam-se subjetivam-se

Tendo em vista estas consideraccedilotildees podemos dizer que ao tomar o cotidiano escolar como espaccedilo social de pesquisaintervenccedilatildeo o psicoacutelogo escolar teraacute acesso as mediaccedilotildees que os indiviacuteduos estabelecem para compreenderem sua realidade - as representaccedilotildees sociais - e assim poderaacute desvelar os mecanismos utishylizados (individual e coletivamente) na construccedilatildeo de sentidos para a realidade escolar Dito de outra forma o psicoacutelogo escolar poderaacute desvelar os significados (conshyvergentes ou contraditoacuterios) que os agentes sociais envolvidos no processo educacional- pais alunos proshyfessores direccedilatildeo etc - atribuem para a relaccedilatildeo proshyfessor x aluno para o conhecimento para o processo ensinoaprendizagem para o processo de avaliaccedilatildeo etc aleacutem dos significados atribuiacutedos ao proacuteprio trashybalho do psicoacutelogo escolar

Estas consideraccedilotildees levam-nos a indicar a obshyservaccedilatildeo participante como a metodologia mais adeshyquada para o psicoacutelogo escolar apreender compreenshyder e intervir no contexto escolar 0 Por um lado esta metodologia lhe proporciona uma aproximaccedilatildeo do cotishydiano escolar e de suas representaccedilotildees sociais resgashytando sua dimensatildeo histoacuterica soacutecio-cultural seus proshycessos Por outro lado permite-lhe intervir neste cotidishyano e nele trabalhar ao niacutevel das representaccedilotildees socishyais e propiciar a emergecircncia de novas necessidades para os agentes que ali se movimentam

A observaccedilatildeo participante se insere no conjunto das metodologias denominadas no campo educacioshynal de qualitativas e frequumlentemente de etnograacuteficas

Ver tambeacutem o trabalho de BONFIN amp ALMEIDA 19911992

ANDREacute (1992) avaliando a produccedilatildeo cientiacutefica que se desenvolveu sob esta abordagem nos uacuteltimos dez anos avalia

O que se verifica no entanto eacute que a grande maioria envolve dados de campo sistematizados em forma de descriccedilotildees que acrescentam muito pouco ao que se sabe ou conhece ao niacutevel do senso comum Eacute a empiria pela empiria O autor parece satisfazer-se com o fato de coletar uma grande quantidade de dados e parece esperar que esses dados por si produzam algushyma teoria Mas eacute evidente que sem um referencial de apoio que oriente o processo de reconstruccedilatildeo desses dados natildeo haacute avanccedilo teoacuterico - fica-se na constataccedilatildeo do oacutebvio na mesmice na reproduccedilatildeo do senso comum (ANDREacute 1992 p 3132)

A proposta que se coloca aqui vai na direccedilatildeo de superar tais limitaccedilotildees Trata-se de ir para aleacutem do senshyso comum Trata-se da tradiccedilatildeo etnograacutefica cuja esshysecircncia eacute identificada como documentar a realidade natildeoshydocumentada (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 15 n 3) Ela se circunscreve por um lado pela utilizaccedilatildeo das categorias2 utilizadas pelas ciecircncias sociais para a compreensatildeo da realidade (como classe social ideoshylogia poder etc ) e por outro pela criaccedilatildeo de novas categorias que satildeo construiacutedasreconstruiacutedas na relashyccedilatildeo pesquisador x escola pois

a heterogeneidade e a individualidade do cotishydiano existem outras dimensotildees ordenadoras Impotildeem forccedilosamente o reconhecimento de sujeitos que incorshyporam e objetivam a seu modo praacuteticas e saberes dos quais apropriaram em diferentes momentos e contexshytos de vida depositaacuterios que satildeo de uma histoacuteria acushymulada durante seacuteculos (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 28)

Atraveacutes da observaccedilatildeo participante portanto o psicoacutelogo escolar poderaacute reconstruir os processos que ocorrem na vida diaacuteria da escola Tal metodologia lhe permitiraacute integrar os vaacuterios momentos da escola e intershypretar sua realidade cotidiana Como tais processos se expressam por meio de elementos e situaccedilotildees diferenshytes que perpassam todos os acircmbitos com a metodologia acima indicada desvelar-se-aacute as tramas reais que se efetivam neste contexto e que se estruturam a partir de

Para um aprofundamento desta perspectiva ver VYGOTSKY 1991 1991 a e LEONTIEV 1978 10 O conceito de contexto que utilizamos para fazermos nossas proposiccedilotildees baseia-se na teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural

desenvolvida a partir das ideacuteias de Vygotsky Para tal teoria o contexto natildeo se reduz ao entorno ele expressa uma relaccedilatildeo qualitativa onde os objetos e os sujeitos e o entorno se mesclam constituindo-se numa unidade de anaacutelise Esta unidade compreende tanto os instrumentos materiais e simboacutelicos que permitem aos indiviacuteduos adaptarem-se a realidade como a dimensatildeo temporal histoacuterica na realidade humana que a configura Para mais detalhes ver LACASA 1993 e COLE 1995

11 Em 1983 aconteceu o Simpoacutesio A pesquisa qualitativa e o estudo da escola onde foi discutida amplamente esta perspectiva de pesquisa em educaccedilatildeo Os trabalhos ali apresentados foram reproduzidos em Cadernos de Pesquisa n 49 p 43-66

12 Cabe salientar que a utilizaccedilatildeo de categorias oferecidas pelas ciecircncias sociais agraves vezes limita o olhar do pesquisador sobre a escola pois natildeo lhe permite enxergar possibilidades outras de anaacutelises para tal realidade

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pequenas histoacuterias espaccedilos sociais onde se negocia e se reordena a continuidade das experiecircncias e a ativishydade escolar As contradiccedilotildees e incongruecircncias apashyrentes que se encontram nos mais diversos espaccedilos escolares (salas de aula reuniotildees na estrutura fiacutesica da escola etc ) adquirem sentido como resultado de mecanismos diferenciaacuteveis de reproduccedilatildeo e de aproprishyaccedilatildeo entre outros e mostram as diversas formas que a histoacuteria - social e individual - estaacute presente na vida cotishydiana da escola

A metodologia da observaccedilatildeo participante enshyfim possibilita ao psicoacutelogo escolar inserido no conshytexto da escola a olhar para as apropriaccedilotildees reais e potenciais que acontecem de baixo para cima a partir dos sujeitos individuais que vivenciam diariamente a instituiccedilatildeo Aleacutem disso ela cria a possibilidade de se construir um conhecimento que permite o estabelecishymento de relaccedilotildees mais reais com os processos que se datildeo no interior das escolas

Vale a pena resgatar por um momento algumas implicaccedilotildees da observaccedilatildeo participante inerentes na relaccedilatildeo psicoacutelogo escolar x escola considerando a dushypla perspectiva de sua atividade a de pesquisa e a inshytervenccedilatildeo Para tal aprofundamento faz-se necessaacuterio traccedilar algumas consideraccedilotildees sobre a observaccedilatildeo parshyticipante tendo como ponto de partida a Antropologia

Observaccedilatildeo Participante e a Antropologia

A observaccedilatildeo participante eacute uma metodologia elashyborada principalmente no contexto da pesquisa antroshypoloacutegica Trata-se de estabelecer uma adequada partishycipaccedilatildeo dos pesquisadores dentro dos grupos observashydos de modo a reduzir a estranheza reciacuteproca Os pesshyquisadores satildeo levados a compartilhar os papeacuteis e os haacutebitos dos grupos observados para estarem em conshydiccedilatildeo de observar fatos situaccedilotildees e comportamentos que natildeo ocorreriam ou que seriam alterados na presenshyccedila de estranhos Foi MALlNOWSKI (1978) quem sisteshymatizou as regras metodoloacutegicas para a pesquisa anshytropoloacutegica a ideacuteia que caracterizava o meacutetodo era a de que apenas atraveacutes da imersatildeo no cotidiano de uma outra cultura o antropoacutelogo poderia chegar a compreendecirc-Ia

Ou seja um dos pressupostos da observaccedilatildeo participante eacute o de que a convivecircncia do investigador com a pessoa ou grupo estudado cria condiccedilotildees privileshygiadas para que o processo de observaccedilatildeo seja condushyzido e decirc acesso a uma compreensatildeo que de outro modo natildeo seria alcanccedilaacutevel Admite-se que a experiecircncia direshyta do observador com a vida cotidiana do outro seja ele indiviacuteduo ou grupo eacute capaz de revelar na sua significashyccedilatildeo mais profunda accedilotildees atitudes episoacutedios etc

que de um ponto de vista exterior poderiam permaneshycer obscurecidas ou ateacute mesmo opacas

Assim o antropoacutelogo deveria passar por um proshycesso de transformaccedilatildeo atraveacutes do qual ele idealmente tornar-se-ia um nativo No entanto na medida em que essa experiecircncia natildeo eacute sistemaacutetica o antropoacutelogo deshyveria reelaboraacute-Ia transformando-a numa descriccedilatildeo objetiva (cientiacutefica) da cultura O resultado desta transshyformaccedilatildeo consiste no texto etnograacutefico onde o antroshypoacutelogo apresenta uma re-elaboraccedilatildeo de suas experiecircnshycias

O exerciacutecio desta metodologia trouxe para o censhytro da discussatildeo epistemoloacutegica questotildees referentes a relaccedilatildeo sujeito x objeto a partir da qual podemos situar alguns desdobramentos

Um dos problemas que se coloca para reflexatildeo refere-se agrave relaccedilatildeo entre o quanto se observa e o quanshyto se participa quando o pesquisador se encontra no campo BRANDAtildeO (1984) com a perspectiva de supeshyrar tal questionamento aponta uma certa orientaccedilatildeo para a abordagem das relaccedilotildees que ali se estabelecem Assim ele observa Eacute necessaacuterio que o cientista e sua ciecircncia seja primeiro um momento de compromisso e participaccedilatildeo com o trabalho histoacuterico e os projetos de luta do outro a quem mais do que conhecer para explishycar a pesquisa pretende compreender para servir (BRANDAtildeO 1984 p 12)

Tal perspectiva supotildee que os conhecimentos construiacutedos na relaccedilatildeo sujeito x objeto contribuem para a soluccedilatildeo dos conflitos sociais emergentes nas relashyccedilotildees sociais - luta contra a dominaccedilatildeo e a opressatildeo contra o preconceito e as discriminaccedilotildees etc Assim a relaccedilatildeo do pesquisador junto ao campo de pesquisa eacute uma relaccedilatildeo de implicaccedilatilde0 13 na vida da comunidade sociedade pesquisada o que se traduz para Brandatildeo em trabalho poliacutetico e luta popular Tal situaccedilatildeo na medida em que o outro se torna um companheiro de um compromisso leva o pesquisador a repensar tanto soshybre os destinos de sua pesquisa como tambeacutem a resshypeito de sua posiccedilatildeo pessoal

A relaccedilatildeo de participaccedilatildeo da praacutetica cientiacutefica no trabalho poliacutetico das classes populares desafia o pesshyquisador a ver e compreender tais classes seus sujei shytos e seus mundos tanto atraveacutes de suas pessoas nominadas quanto a partir de um trabalho social e poshyliacutetico de classe que constituindo a razatildeo da praacutetica constitui igualmente a razatildeo da pesquisa Estaacute inventashyda a pesquisa participante (BRANDAtildeO 1984 p 13shyassinalamentos no original) 14

Um outro desdobramento de tal questatildeo - a da relaccedilatildeo sujeito x objeto - vem sendo discutida a partir

Para um aprofundamento de ial conceito ver LOURAU 1975 GUATTARI 1987 e especialmente BARBIER 1985 Alguns tecircm se utilizado do termo pesquisa-accedilatildeo para caracterizar tal abordagem THIOLLENT (1984) estabelece as relaccedilotildees e as diferenccedilas entre estas duas formas de se abordar a realidade Ver tambeacutem ARDOINO 1993

Semina Ci SociaisHm v 17 n 3 p 266 -27~

14

270

da emergecircncia do paradigma hermenecircutico no campo

da Antropologia - que fundamenta a Antropologia Interpretativa a partir dos trabalhos de Clifford Geertz

Ao considerar que o trabalho do antropoacutelogo eacute fazer etnografias e que estas satildeo descriccedilotildees densas15 que

objetivam apreender uma cultura 16 e ao considerar a

etnografia como uma leitura - no sentido de construir uma leitura de - tal perspectiva coloca em pauta a posshytura do pesquisador no fazer antropoloacutegico a qual se

expressa no texto etnograacutefico pois

no estudo da cultura a anaacutelise penetra no proacuteshyprio corpo do objeto isto eacute comeccedilamos com as nosshy

sas proacuteprias interpretaccedilotildees do que pretendem nossos informantes ou o que achamos que eles pretendem e

depois passamos a sistematizaacute-Ias (enfim) os textos antropoloacutegicos satildeo eles mesmos interpretaccedilotildees e na verdade de segunda e terceira matildeo Trata-se portanto de ficccedilotildees ficccedilotildees no sentido de que satildeo algo

construiacutedo algo modelado (GEERTZ 197825-26 shyassinalamentos nossos)

o produto do trabalho do antropoacutelogo - o texto

etnograacutefico - eacute visto como o resultado da interaccedilatildeo que se estabelece entre o pesquisador e seu objeto de esshy

tudo uma interpretaccedilatildeo que se elabora a partir do resshygate da posiccedilatildeo histoacuterica do pesquisador na relaccedilatildeo com seu objeto de estudo

DaMatta a partir destes pressupostos consideshy

ra que em princiacutepio a Antropologia eacute uma ciecircncias da comutaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo pois

Em antropologia eacute preciso recuperar esse lado

extraordinaacuterio e estaacutetico das relaccedilotildees entre pesquisashydornativo Se este eacute o lado menos rotineiro eacute o mais

difiacutecil de ser apanhado da situaccedilatildeo antropoloacutegica eacute cershytamente porque ele se constitui no aspecto mais humashy

no de nossa rotina ( ) Essa descoberta da AntropQloshygia Social como mateacuteria interpretativa segue por outro

lado uma tendecircncia que parece marcar sua passashygem de uma ciecircncia natural da sociedade como querishyam os empiricistas ingleses e americanos para uma ciecircncia interpretativa destinada antes de tudo a conshy

frontar subjetividades e tratar delas (DAMATTA 1978 1112)

VELHO (1987) afirmando o caraacuteter aproximashytivo do conhecimento devido a uma certa dose de subshyjetividade do pesquisador afirma

A realidade sempre eacute filtrada por determinashydo ponto de vista do observador ela eacute percebida de maneira diferenciada ( ) natildeo estou proclamando a fashy

lecircncia do rigor cientiacutefico no estudo das sociedades mas a necessidade de percebecirc-lo enquanto objetividade reshy

lativa mais ou menos ideoloacutegico e sempre interpretativo (VELHO 1987 129)

Estas questotildees levam-nos a pensar que a consshy

truccedilatildeo do objeto em Antropologia implica simultaneashymente na construccedilatildeo do observador - o antropoacutelogo

Tal possibilidade eacute assinalada por Tedlock ao apontar que o domiacutenio das Ciecircncias Sociais caracteriza-se como

um repertoacuterio de conhecimento e expectativas ou cultushyra comum que foi compartilhado com os participantes

e foi criado a partir da interaccedilatildeo dos mesmos (TEDLOCK 1987184 - assinalamento nosso)

O produto do trabalho de campo (o texto etnograacutefico) portanto se constroacutei a partir da relaccedilatildeo pesquisador x pesquisado que ali se estabelece E na med ida em que tal relaccedilatildeo eacute um encontro

intersubjetivo nela tambeacutem estatildeo envolvidos aspecshytos da construccedilatildeo da identidade tanto do antropoacutelogo

como de seu objeto de estudo constituindo-se portanshyto faces de uma mesma moeda (MARTINS 1995)

Observaccedilatildeo participante e pesquisaintervenccedilatildeo

do psicoacutelogo escolar

As consideraccedilotildees anteriores sobre a observaccedilatildeo participante nos sugerem que esta maneira de abordar

o cotidiano escolar cria uma relaccedilatildeo de tensatildeo para o psicoacutelogo de um lado ele deve estabelecer do ponto

de vista analiacutetico (ou seja do ponto de vista epistemoloacutegico) um certo distanciamento do cotidiano escolar de tal modo que se possa conhecer seus interstiacutecios Por outro lado deve buscar estabelecer uma

relaccedilatildeo de implicaccedilatildeo junto aos agentes que estatildeo enshyvolvidos no processo educacional Tal perspectiva eacute

assim expressa por EZPELETA amp ROCKWELL (1986) Na observaccedilatildeo participante as relaccedilotildees interpessoais

entre pesquisador e sujeito ali chamadas relaccedilotildees soshyciais constituem as teorias eacute a relaccedilatildeo que determina o pensamento e natildeo o contraacuterio (p 83)

A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo sob a perspectiva

da observaccedilatildeo participante na medida em que tem como objeto o cotidiano escolar e as representaccedilotildees sociais que ali emergem natildeo deve se estruturar exclusivamenshy

te nas relaccedilotildees formais que se organizam dentro do 15 AZANHA (1992) vai propor para a pesquisa educacional a mesma proposiccedilatildeo de Geertz a elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees densas 16 Geertz define o objeto de estudo da Antropologia - a cultura - como essencialmente semioacutetica Para ele o homem eacute um animal

amarrado a te ias de significados que ele mesmo teceu [e assume] a cultura como sendo essas teias e a sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca de leis mas uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significado (GEERTZ 197815)

Semilla Ci SociaisHum v 17 n 3 p 266middot273

271

contexto escolar (reuniotildees encontros no gabinete com

alunos e professores etc ) Ele deve considerar os

espaccedilos informais (papos nos corredores hora do

cafezinho recreio dos alunos etc ) como oportunidashy

des tanto para conhecer (pesquisa) a real idade escolar

como um espaccedilo de intervenccedilatildeo junto ao universo das

representaccedilotildees daqueles que ali se inserem e se exshy

pressam

Nesse sentido entendemos que a principal funshy

ccedilatildeo do psicoacutelogo dentro da escola eacute a de - a partir de

seu cotidiano e de sua histoacuteria - proporcionar situaccedilotildees

coletivas onde se desvele os significados impliacutecitos nas

relaccedilotildees (sobre a escola sobre o conhecimento sobre

o aluno etc ) de tal forma que os envolvidos no proshy

cesso decircem novos significados para as relaccedilotildees que

ali estabelecem Tal possibilidade por sua vez conshy

cretiza-se na medida em que o psicoacutelogo cria oportunishy

dades para que o coletivo da escola construa e crie novas necessidades para si transforme as condiccedilotildees

e os mecanismos de construccedilatildeo dos significados impliacuteshy

citos nas relaccedilotildees intra e extra escolares

Tal perspectiva abre a possibilidade para a emershy

gecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashy

ccedilotildees que se estruturam no contexto escolar pois se

oportuniza a expressatildeo dos vaacuterios segmentos que comshy

potildeem a estrutura social da escola Isto nos faz pensar

na forccedila das contradiccedilotildees no engendramento das mushy

danccedilas histoacutericas e na capacidade do homem em

promovecirc-Ias e superaacute-Ias

Nesse sentido ANDREAZI (1992) afirma

Onde encontrar marcas da identidade subjetiva

simbolicamente evidenciadas No espaccedilo nas coisas

nas regras nos produtos das tarefas educativas nas interaccedilotildees Interessa perceber como as pessoas vecircem

e se vecircem como elementos vinculados agrave Escola Inteshy

ressa para quecirc Para uma compreensatildeo da dinacircmica

institucional poderes resistecircncias e percepccedilotildees conshy

traditoacuterias de um mesmo Real tecido por sujeitos reais

Que imagem se tem desta Escola Que Escola ela preshy

tende ser Onde estaacute por onde transita o desejo dos

que habitam este cotidiano Da resposta a estas quesshy

totildees surge o perfil de uma instituiccedilatildeo educacional que

pode mirar-se perceber-se como uacutenica como histoacuteria

recursos e possibilidades diferenciadas (p 94)

Iniciamos este trabalho assinalando que ainda

se apresenta em nossa sociedade a ideacuteia de que o psishycoacutelogo escolar eacute o profissional que trabalha com as crishy

anccedilas problemas dentro da escola Durante a nossa

exposiccedilatildeo afirmamos que eacute a praacutetica profissional que

determina as representaccedilotildees sobre os profissionais de

certas profissotildees A partir das consideraccedilotildees acerca

da inserccedilatildeo do psicoacutelogo no cotidiano escolar atraveacutes

da observaccedilatildeo participante podemos vislumbrar algushy

mas possibilidades de mudanccedilas nas representaccedilotildees

que se estruturam ao longo da histoacuteria sobre a Psicoloshy

gia Escolar Nesse sentido se o psicoacutelogo abordar e intervir junto as representaccedilotildees sociais que medeiam

suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar

desvelando os significados impliacutecitos nestas represenshy

taccedilotildees - abordando-os a partir da histoacuteria e do cotidiano

escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de

novos significados tanto para sua presenccedila no contexto

escolar como para o seu trabalho

Trabalhar junto as pessoas considerando-as enshy

quanto sujeitos histoacutericos de seus proacuteprios processos

ante os desafios do cotidiano escolar permite-nos consshy

tatar que natildeo existe uma uacutenica verdade acerca da realishy

dade escolar mas diferentes aproximaccedilotildees Tais aproshy

ximaccedilotildees possibilitadas por esse processo interativo

(que natildeo eacute fixo pela proacutepria natureza da histoacuteria) e pelas condiccedilotildees objetivas que a realidade social nos apreshy

senta deixa-nos como legado a ideacuteia de que viver e

desenvolver-se implica em transformaccedilotildees contiacutenuas

que se realizam atraveacutes da interaccedilatildeo dos indiviacuteduos entre si e entre os indiviacuteduos e o meio no qual se inserem

(LIMA 1990 p 19)

MARTINS JB Participative observation a methodological approach to school psychology Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 Sep 1996

ABSTRACT The purpose of th is paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals Therefore the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine

KEY-WORDS School Psychology - Participative Observation - Research Methodology - Quotidian

Sttm irw Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273

272

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Seminu Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273

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Page 2: Participative observation: a methodological approach to school psychology

o modelo liberal tambeacutem marca a estruturaccedilatildeo dos cursos de psicologia no Brasil a partir da deacutecada de 60 Isto possibilitou o estabelecimento de um ciacuterculo vicioso entre o modelo de formaccedilatildeo e a imagem social da profissatildeo - o psicoacutelogo eacute visto como um profissional atuando basicamente em consultoacuterios com a funccedilatildeo de curar os indiviacuteduos com problemas psicoloacutegicos3

Uma pesquisa realizada em 1981 pelo Sindicato dos Psicoacutelogos no Estado de Satildeo Paulo e pelo Conseshylho Regional de Psicologia 6ordf Regiatildeo (em 1981 o Conshyselho abrangia somente o Estado de Satildeo Paulo atualshymente abrange os Estados de Satildeo Paulo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) junto agraves faculdades que oferecishyam o curso de psicologia revelou que o embasamento teoacuterico da psicologia escolar ocorre tardiamente (7ordm peshyriacuteodo para os cursos semestrais) fato que parece inshyterferir na visatildeo que os alunos desenvolvem sobre a aacuterea como aacuterea menor de pouco peso

Apesar desta pesquisa se referir aos anos 80 ateacute este momento encontramos este mesmo vieacutes nos cursos de formaccedilatildeo de psicoacutelogos Tal situaccedilatildeo reflete na manutenccedilatildeo da expectativa por parte da sociedade e dos alunos que ingressam no curso de que o psicoacuteloshygo trabalha no consultoacuterio - curando loucos

Tal perspectiva tem um reflexo interessante junshyto agraves escolas Eacute comum identificarmos ali a percepccedilatildeo do psicoacutelogo como uma espeacutecie de maacutegico capaz de resolver todos os problemas que as crianccedilas possam apresentar Tal representaccedilatildeo nos sugere duas hipoacuteteshyses complementares de um lado esta situaccedilatildeo eacute uma tentativa de passar a responsabilidade da accedilatildeo pedashygoacutegica para outra pessoa - e neste caso o psicoacutelogo eacute bem vindo por outro lado na medida em que o psicoacuteloshygo eacute visto como maacutegico o cuidar de crianccedilas pode expressar um mecanismo de defesa - o que afasta a possibilidade de intervenccedilatildeo deste profissional junto a professores e direccedilatildeo

Uma pesquisa realizada em 1994 junto agraves escoshylas que recebem atendimento da Aacuterea de Psicologia Escolar do Departamento de Psicologia Social e InstitucionalUEL revelou que as solicitaccedilotildees de trabashylho feitas por estas instituiccedilotildees estavam diretamente relacionadas ao modelo cliacutenico referido anteriormente - esperava-se que as crianccedilas com dificuldades fosshysem tratadas fora do contexto escolar e apoacutes a cura fossem novamente inseridas nas salas de aula (COSshyTA KUMATA amp SIQUEIRA 1994)4

Numa pesquisa recente realizada pelo CONSEshyLHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - 6ordf REGIAtildeO (1995) constata-se que de um universo de 27718 psicoacutelogos

que participaram da pesquisa 4075 atua em consulshytoacuterios particulares enquanto que 8105 atua em escola Nota-se assim que o consultoacuterio particular continua a ser o setor predominante de trabalho do psicoacutelogo

MACHADO et ai (1993) numa investigaccedilatildeo soshybre a relaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar com outros profissishyonais em escolas (puacuteblicas e particulares) da cidade de Ribeiratildeo Preto mostra-nos que a funccedilatildeo mais exercida por estes profissionais no contexto escolar eacute a de mantenedor da disciplina escolar - entendida como uma accedilatildeo de suspensatildeo de alunos quando necessaacuterio conshyversa com pais tendo em vista a adaptaccedilatildeo escolar dos alunos agraves normas da instituiccedilatildeo (p 51)

Apesar das mudanccedilas ocorridas na relaccedilatildeo enshytre psicologia e educaccedilatilde05

ateacute hoje o que se esperashysocialmente falando - do trabalho do psicoacutelogo escolar eacute que ele resolva os problemas das crianccedilas com difishyculdades de aprendizagem indisciplina etc atraveacutes de um trabalho direto e exclusivo com elas (agraves vezes com seus familiares) sem relac ionar esses problemas com o sistema educacional as condiccedilotildees sociais etc refletidos na escola

Entendemos que a re-atualizaccedilatildeo do ideaacuterio libeshyrai - hoje conhecido como neoliberalismo assim como a formaccedilatildeo acadecircmica dos psicoacutelogos contribuem para a manutenccedilatildeo desta situaccedilatildeo Aleacutem disso vale ressalshytar que tal perspetiva de trabalho tambeacutem estaacute relacioshynada com a atuaccedilatildeo deste profissional Nesse sentido lembra-nos CAETANO (1992) eacute a praacutetica profissional a responsaacutevel pela criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da imagem de uma determinada profissatildeo e dos serviccedilos que ela pode oferecer ao puacuteblico (p 45)

A partir da consideraccedilatildeo de Caetano vale resshysaltar que as representaccedilotildees acerca do trabalho do psicoacutelogo escolar eacute circunscrita por condiccedilotildees objetishyvas de nossa realidade ou seja por condiccedilotildees econocircshymicas sociais poliacuteticas etc que de uma certa forshyma o localiza (assim com suas possibi lidades de intershyvenccedilatildeo) no contexto social

Desta forma a discussatildeo acerca do trabalho dos psicoacutelogos escolares deve passar - necessariamente shypor uma compreensatildeo dos fatores que possibilitaram a emergecircncia das representaccedilotildees a respeito de seu trashybalho - seja no contexto escolar seja no contexto socishyal em que estaacute inserido Conhecendo tais representashyccedilotildees assim como as condiccedilotildees que as engendraram este profissional teraacute a possibilidade de promover as situaccedilotildeesrelaccedilotildees que oportunizem a transformaccedilatildeo das mesmas Este seraacute o mote para nossa discussatildeo em seguida

Em 1988 o Conselho Regional de Psicologia - 6 Regiatildeo produziu um viacutedeo - Psicologia imagens e accedilotildees - cujo objetivo foi o de documentar o que pensam profissionais e populaccedilatildeo sobre o que eacute psicologia A parti r de uma anaacutelise do filme podemos dizer que tal visatildeo do psicoacutelogo estaacute muito presente em nossa populaccedilatildeo A mesma expectativa sobre o trabalho do psicoacutelogo escolar eacute expressa por SOUZA (1992) em estaacuteg io realizado na Aacuterea de Psicologia Escolar do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciecircncias e Letras de Assis - UNESP Ver tambeacutem os dados colhidos pelo SINDICATO DOS PSICOacuteLOGOS NO ESTADO DE SAtildeO PAULO amp CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - 6 REGIAtildeO (1981) Para uma discussatildeo acerca deste processo ver ALMEIDA amp GUZZO (1992) e COLL (1987)

SemlIo Cio SodaiJHllm bull v 17 n 3 p 266-273

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OBSERVACcedilAtildeO PARTICIPANTE E O QUE FAZER DO

PSICOacuteLOGO ESCOLAR

Antes de iniciarmos a discussatildeo sobre a obsershy

vaccedilatildeo participante e o que esta metodologia oferece

aos psicoacutelogos escolares conveacutem esclarecermos a concepccedilatildeo de escola que norteia nosso trabalho o que

ajudaraacute o leitor a situar melhor nossas propostas

Cotidiano escolar o objeto para o psicoacutelogo escolar

Entendemos a escola como uma instituiccedilatildeo soacuteshy

cio-cultural organizada e pautada por valores concepshy

ccedilotildees e expectativas perpassada por relaccedilotildees sociais

na organizaccedilatildeo do trabalho e da produccedilatildeo Nela os alushy

nos os professores a direccedilatildeo os pais e a comunidade

satildeo vistos como sujeitos histoacutericos culturais Na medida que abordamos a proacutepria instituiccedilatildeo

escolar como um produto histoacuterico cultural que age e interage numa trama de complexos processos soacutecioshy

culturais vislumbramos novas possibilidades para a

construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de escola

Segundo EZPELETA amp ROCKWELL (1986)

A escola eacute na teoria tradicional uma instituiccedilatildeo ou um aparelho do Estado Tanto na versatildeo positivista (Durkheim) como nas versotildees criacuteticas (Althuser Bourdieu) sua pertenccedila ao Estado transforma-a autoshymaticamente em representante uniacutevoca da vontade esshytatal A escola tem uma histoacuteria documentada geralshymente escrita a partir do poder estatal a qual destaca sua existecircncia homogecircnea Coexiste contudo com esta histoacuteria e existecircncia documentada outra histoacuteria e exisshytecircncia natildeo documentada atraveacutes da qual a escola toma forma material ganha vida Nesta histoacuteria a determinashyccedilatildeo e presenccedila estatal se entrecruza com as determishynaccedilotildees e presenccedila civis de variadas caracteriacutesticas A homogeneidade documentada decompotildee-se em muacuteltishyplas realidades cotidianas Nesta histoacuteria natildeo documenshytada nesta dimensatildeo cotidiana os trabalhadores os alunos e os pais se apropriam dos subsiacutedios e das presshycriccedilotildees estatais e constroem a escola (EZPELETA amp

ROCKWELL 1986 p 12-3 - assinalamentos no origishy

nai)

Sob esta oacutetica a escola natildeo eacute a mesma em todo o mundo capitalista pois ela se realiza num mundo proshyfundamente diverso e diferenciado Olhando o movimento

social a partir das situaccedilotildees e dos sujeitos que realishy

zam anonimamente a escola podemos dizer que a reashylidade de cada escola eacute umaconstruccedilatildeo social a consshy

truccedilatildeo de cada escola mesmo circunscrita por um movimento histoacuterico de longo alcance (como eacute o caso

do capitalismo) eacute sempre uma versatildeo local e particushy

lar Dessa expressatildeo local tomam forma internamente

as correlaccedilotildees de forccedilas as condiccedilotildees trabalhistas as

formas de relaccedilatildeo predominantes as prioridades admishynistrativas as tradiccedilotildees docentes que constituem a trashy

ma real em que se realiza a educaccedilatildeo

Eacute uma trama em permanente construccedilatildeo que arshyticula histoacuterias locais - pessoais e coletivas - diante

das quais a vontade estatal abstrata pode ser assumishyda ou ignorada mascarada ou recriada em particular

abrindo espaccedilos variaacuteveis a uma maior ou menor possishy

bilidade hegemocircnica Uma trama finalmente que eacute preshy

ciso conhecer porque constitui simultaneamente o

ponto de partida e o conteuacutedo do real em nossas altershy

nativas tanto pedagoacutegicas quanto poliacuteticas (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 11)

A observaccedilatildeo participante permite ao psicoacutelogo escolar inserido neste contexto olhar para o processo

de apropriaccedilatildeo de conhecimento dos vaacuterios segmentos

que estatildeo inseridos no ambiente escolar o que signifishyca analisar a existecircncia cotidiana da esola como histoacuteshy

ria acumulada buscar no seu presente os elementos

estatais e civis com as quais a escola se construiu Ou

seja na observaccedilatildeo da escola ele poderaacute averiguar o

que eacute convergente o que eacute divergente ou contraditoacuterio nas diversas formas do existir da escola

O cotidiano escolar assim passa a ser o espashy

ccedilo privilegiado para a pesquisa e para a intervenccedilatildeo do

psicoacutelogo escolar6 pois eacute aiacute onde se daacute o encontro dos

diversos segmentos que estatildeo envolvidos com o dia-ashy

dia da escola o que circunscreve o campo para a emershygecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashyccedilotildees sociais que ali se desenvolvem7bull

O cotidiano escolar enfim caracteriza-se como

um campo de interseccedilatildeo entre sujeitos individuais que

levam seus saberes especiacuteficos para a construccedilatildeo da escola Nestes espaccedilos incorporam-se e tornam-se sigshy

nificativos numerosos elementos natildeo previstos na realishydade nas categorias tradicionais da realidade escolar

A realiade escolar aparece sempre mediada pela ativishy

dade cotidiana pela apropriaccedilatildeo elaboraccedilatildeo

refuncionalizaccedilatildeo ou repulsa que os sujeitos levam a cabo

A partir do cotidiano escolar e atraveacutes da obsershyvaccedilatildeo participante o psicoacutelogo escolar teraacute acesso agraves

representaccedilotildees sociais que medeiam as relaccedilotildees que se travam intra e extra instituiccedilatildeo escolar As represhy

sentaccedilotildees sociais satildeo as explicaccedilotildees e as afirma-

Entendemos que o processo de pesquisa e de intervenccedilatildeo tendo como metodologia a observaccedilatildeo participante satildeo complementares no que fazer profissional do psicoacutelogo escolar Discutiremos esta perspectiva mais adiante KRAMER (1989) nos apresenta algumas destas contradiccedilotildees presentes no contexto de uma escola puacuteblica

Sem ina Ci SociaisHum v 17 n p 266-273

268

-

------------------------------------------- ---------shy

ccedilotildees que os indiviacuteduos datildeo sobre sua realidade Eacute como assimila a estrutura social na qual integram suas expeshyriecircncias valores ou seja eacute a relaccedilatildeo que se estabeleshyce entre o homem e o meio (SALLES 19901991 p 15)8

Representaccedilatildeo social eacute portanto o conjunto de significados que os indiviacuteduos estabelecem para a sua realidade significados esses que satildeo expressos pela linguagem Tal perspectiva nos sugere que o psiquismo humano eacute produto da sociedade e concomitantemente as representaccedilotildees sociais satildeo engendradas coletivashymente pela sociedade Nesse sentido a partir de uma abordagem soacutecio-cultural do psiquismo human09

enshytendemos que os significados satildeo produzidos socialshymente e se transformam atraveacutes da atividade e pensashymento dos indiviacuteduos e assim individualizam-se subjetivam-se

Tendo em vista estas consideraccedilotildees podemos dizer que ao tomar o cotidiano escolar como espaccedilo social de pesquisaintervenccedilatildeo o psicoacutelogo escolar teraacute acesso as mediaccedilotildees que os indiviacuteduos estabelecem para compreenderem sua realidade - as representaccedilotildees sociais - e assim poderaacute desvelar os mecanismos utishylizados (individual e coletivamente) na construccedilatildeo de sentidos para a realidade escolar Dito de outra forma o psicoacutelogo escolar poderaacute desvelar os significados (conshyvergentes ou contraditoacuterios) que os agentes sociais envolvidos no processo educacional- pais alunos proshyfessores direccedilatildeo etc - atribuem para a relaccedilatildeo proshyfessor x aluno para o conhecimento para o processo ensinoaprendizagem para o processo de avaliaccedilatildeo etc aleacutem dos significados atribuiacutedos ao proacuteprio trashybalho do psicoacutelogo escolar

Estas consideraccedilotildees levam-nos a indicar a obshyservaccedilatildeo participante como a metodologia mais adeshyquada para o psicoacutelogo escolar apreender compreenshyder e intervir no contexto escolar 0 Por um lado esta metodologia lhe proporciona uma aproximaccedilatildeo do cotishydiano escolar e de suas representaccedilotildees sociais resgashytando sua dimensatildeo histoacuterica soacutecio-cultural seus proshycessos Por outro lado permite-lhe intervir neste cotidishyano e nele trabalhar ao niacutevel das representaccedilotildees socishyais e propiciar a emergecircncia de novas necessidades para os agentes que ali se movimentam

A observaccedilatildeo participante se insere no conjunto das metodologias denominadas no campo educacioshynal de qualitativas e frequumlentemente de etnograacuteficas

Ver tambeacutem o trabalho de BONFIN amp ALMEIDA 19911992

ANDREacute (1992) avaliando a produccedilatildeo cientiacutefica que se desenvolveu sob esta abordagem nos uacuteltimos dez anos avalia

O que se verifica no entanto eacute que a grande maioria envolve dados de campo sistematizados em forma de descriccedilotildees que acrescentam muito pouco ao que se sabe ou conhece ao niacutevel do senso comum Eacute a empiria pela empiria O autor parece satisfazer-se com o fato de coletar uma grande quantidade de dados e parece esperar que esses dados por si produzam algushyma teoria Mas eacute evidente que sem um referencial de apoio que oriente o processo de reconstruccedilatildeo desses dados natildeo haacute avanccedilo teoacuterico - fica-se na constataccedilatildeo do oacutebvio na mesmice na reproduccedilatildeo do senso comum (ANDREacute 1992 p 3132)

A proposta que se coloca aqui vai na direccedilatildeo de superar tais limitaccedilotildees Trata-se de ir para aleacutem do senshyso comum Trata-se da tradiccedilatildeo etnograacutefica cuja esshysecircncia eacute identificada como documentar a realidade natildeoshydocumentada (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 15 n 3) Ela se circunscreve por um lado pela utilizaccedilatildeo das categorias2 utilizadas pelas ciecircncias sociais para a compreensatildeo da realidade (como classe social ideoshylogia poder etc ) e por outro pela criaccedilatildeo de novas categorias que satildeo construiacutedasreconstruiacutedas na relashyccedilatildeo pesquisador x escola pois

a heterogeneidade e a individualidade do cotishydiano existem outras dimensotildees ordenadoras Impotildeem forccedilosamente o reconhecimento de sujeitos que incorshyporam e objetivam a seu modo praacuteticas e saberes dos quais apropriaram em diferentes momentos e contexshytos de vida depositaacuterios que satildeo de uma histoacuteria acushymulada durante seacuteculos (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 28)

Atraveacutes da observaccedilatildeo participante portanto o psicoacutelogo escolar poderaacute reconstruir os processos que ocorrem na vida diaacuteria da escola Tal metodologia lhe permitiraacute integrar os vaacuterios momentos da escola e intershypretar sua realidade cotidiana Como tais processos se expressam por meio de elementos e situaccedilotildees diferenshytes que perpassam todos os acircmbitos com a metodologia acima indicada desvelar-se-aacute as tramas reais que se efetivam neste contexto e que se estruturam a partir de

Para um aprofundamento desta perspectiva ver VYGOTSKY 1991 1991 a e LEONTIEV 1978 10 O conceito de contexto que utilizamos para fazermos nossas proposiccedilotildees baseia-se na teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural

desenvolvida a partir das ideacuteias de Vygotsky Para tal teoria o contexto natildeo se reduz ao entorno ele expressa uma relaccedilatildeo qualitativa onde os objetos e os sujeitos e o entorno se mesclam constituindo-se numa unidade de anaacutelise Esta unidade compreende tanto os instrumentos materiais e simboacutelicos que permitem aos indiviacuteduos adaptarem-se a realidade como a dimensatildeo temporal histoacuterica na realidade humana que a configura Para mais detalhes ver LACASA 1993 e COLE 1995

11 Em 1983 aconteceu o Simpoacutesio A pesquisa qualitativa e o estudo da escola onde foi discutida amplamente esta perspectiva de pesquisa em educaccedilatildeo Os trabalhos ali apresentados foram reproduzidos em Cadernos de Pesquisa n 49 p 43-66

12 Cabe salientar que a utilizaccedilatildeo de categorias oferecidas pelas ciecircncias sociais agraves vezes limita o olhar do pesquisador sobre a escola pois natildeo lhe permite enxergar possibilidades outras de anaacutelises para tal realidade

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pequenas histoacuterias espaccedilos sociais onde se negocia e se reordena a continuidade das experiecircncias e a ativishydade escolar As contradiccedilotildees e incongruecircncias apashyrentes que se encontram nos mais diversos espaccedilos escolares (salas de aula reuniotildees na estrutura fiacutesica da escola etc ) adquirem sentido como resultado de mecanismos diferenciaacuteveis de reproduccedilatildeo e de aproprishyaccedilatildeo entre outros e mostram as diversas formas que a histoacuteria - social e individual - estaacute presente na vida cotishydiana da escola

A metodologia da observaccedilatildeo participante enshyfim possibilita ao psicoacutelogo escolar inserido no conshytexto da escola a olhar para as apropriaccedilotildees reais e potenciais que acontecem de baixo para cima a partir dos sujeitos individuais que vivenciam diariamente a instituiccedilatildeo Aleacutem disso ela cria a possibilidade de se construir um conhecimento que permite o estabelecishymento de relaccedilotildees mais reais com os processos que se datildeo no interior das escolas

Vale a pena resgatar por um momento algumas implicaccedilotildees da observaccedilatildeo participante inerentes na relaccedilatildeo psicoacutelogo escolar x escola considerando a dushypla perspectiva de sua atividade a de pesquisa e a inshytervenccedilatildeo Para tal aprofundamento faz-se necessaacuterio traccedilar algumas consideraccedilotildees sobre a observaccedilatildeo parshyticipante tendo como ponto de partida a Antropologia

Observaccedilatildeo Participante e a Antropologia

A observaccedilatildeo participante eacute uma metodologia elashyborada principalmente no contexto da pesquisa antroshypoloacutegica Trata-se de estabelecer uma adequada partishycipaccedilatildeo dos pesquisadores dentro dos grupos observashydos de modo a reduzir a estranheza reciacuteproca Os pesshyquisadores satildeo levados a compartilhar os papeacuteis e os haacutebitos dos grupos observados para estarem em conshydiccedilatildeo de observar fatos situaccedilotildees e comportamentos que natildeo ocorreriam ou que seriam alterados na presenshyccedila de estranhos Foi MALlNOWSKI (1978) quem sisteshymatizou as regras metodoloacutegicas para a pesquisa anshytropoloacutegica a ideacuteia que caracterizava o meacutetodo era a de que apenas atraveacutes da imersatildeo no cotidiano de uma outra cultura o antropoacutelogo poderia chegar a compreendecirc-Ia

Ou seja um dos pressupostos da observaccedilatildeo participante eacute o de que a convivecircncia do investigador com a pessoa ou grupo estudado cria condiccedilotildees privileshygiadas para que o processo de observaccedilatildeo seja condushyzido e decirc acesso a uma compreensatildeo que de outro modo natildeo seria alcanccedilaacutevel Admite-se que a experiecircncia direshyta do observador com a vida cotidiana do outro seja ele indiviacuteduo ou grupo eacute capaz de revelar na sua significashyccedilatildeo mais profunda accedilotildees atitudes episoacutedios etc

que de um ponto de vista exterior poderiam permaneshycer obscurecidas ou ateacute mesmo opacas

Assim o antropoacutelogo deveria passar por um proshycesso de transformaccedilatildeo atraveacutes do qual ele idealmente tornar-se-ia um nativo No entanto na medida em que essa experiecircncia natildeo eacute sistemaacutetica o antropoacutelogo deshyveria reelaboraacute-Ia transformando-a numa descriccedilatildeo objetiva (cientiacutefica) da cultura O resultado desta transshyformaccedilatildeo consiste no texto etnograacutefico onde o antroshypoacutelogo apresenta uma re-elaboraccedilatildeo de suas experiecircnshycias

O exerciacutecio desta metodologia trouxe para o censhytro da discussatildeo epistemoloacutegica questotildees referentes a relaccedilatildeo sujeito x objeto a partir da qual podemos situar alguns desdobramentos

Um dos problemas que se coloca para reflexatildeo refere-se agrave relaccedilatildeo entre o quanto se observa e o quanshyto se participa quando o pesquisador se encontra no campo BRANDAtildeO (1984) com a perspectiva de supeshyrar tal questionamento aponta uma certa orientaccedilatildeo para a abordagem das relaccedilotildees que ali se estabelecem Assim ele observa Eacute necessaacuterio que o cientista e sua ciecircncia seja primeiro um momento de compromisso e participaccedilatildeo com o trabalho histoacuterico e os projetos de luta do outro a quem mais do que conhecer para explishycar a pesquisa pretende compreender para servir (BRANDAtildeO 1984 p 12)

Tal perspectiva supotildee que os conhecimentos construiacutedos na relaccedilatildeo sujeito x objeto contribuem para a soluccedilatildeo dos conflitos sociais emergentes nas relashyccedilotildees sociais - luta contra a dominaccedilatildeo e a opressatildeo contra o preconceito e as discriminaccedilotildees etc Assim a relaccedilatildeo do pesquisador junto ao campo de pesquisa eacute uma relaccedilatildeo de implicaccedilatilde0 13 na vida da comunidade sociedade pesquisada o que se traduz para Brandatildeo em trabalho poliacutetico e luta popular Tal situaccedilatildeo na medida em que o outro se torna um companheiro de um compromisso leva o pesquisador a repensar tanto soshybre os destinos de sua pesquisa como tambeacutem a resshypeito de sua posiccedilatildeo pessoal

A relaccedilatildeo de participaccedilatildeo da praacutetica cientiacutefica no trabalho poliacutetico das classes populares desafia o pesshyquisador a ver e compreender tais classes seus sujei shytos e seus mundos tanto atraveacutes de suas pessoas nominadas quanto a partir de um trabalho social e poshyliacutetico de classe que constituindo a razatildeo da praacutetica constitui igualmente a razatildeo da pesquisa Estaacute inventashyda a pesquisa participante (BRANDAtildeO 1984 p 13shyassinalamentos no original) 14

Um outro desdobramento de tal questatildeo - a da relaccedilatildeo sujeito x objeto - vem sendo discutida a partir

Para um aprofundamento de ial conceito ver LOURAU 1975 GUATTARI 1987 e especialmente BARBIER 1985 Alguns tecircm se utilizado do termo pesquisa-accedilatildeo para caracterizar tal abordagem THIOLLENT (1984) estabelece as relaccedilotildees e as diferenccedilas entre estas duas formas de se abordar a realidade Ver tambeacutem ARDOINO 1993

Semina Ci SociaisHm v 17 n 3 p 266 -27~

14

270

da emergecircncia do paradigma hermenecircutico no campo

da Antropologia - que fundamenta a Antropologia Interpretativa a partir dos trabalhos de Clifford Geertz

Ao considerar que o trabalho do antropoacutelogo eacute fazer etnografias e que estas satildeo descriccedilotildees densas15 que

objetivam apreender uma cultura 16 e ao considerar a

etnografia como uma leitura - no sentido de construir uma leitura de - tal perspectiva coloca em pauta a posshytura do pesquisador no fazer antropoloacutegico a qual se

expressa no texto etnograacutefico pois

no estudo da cultura a anaacutelise penetra no proacuteshyprio corpo do objeto isto eacute comeccedilamos com as nosshy

sas proacuteprias interpretaccedilotildees do que pretendem nossos informantes ou o que achamos que eles pretendem e

depois passamos a sistematizaacute-Ias (enfim) os textos antropoloacutegicos satildeo eles mesmos interpretaccedilotildees e na verdade de segunda e terceira matildeo Trata-se portanto de ficccedilotildees ficccedilotildees no sentido de que satildeo algo

construiacutedo algo modelado (GEERTZ 197825-26 shyassinalamentos nossos)

o produto do trabalho do antropoacutelogo - o texto

etnograacutefico - eacute visto como o resultado da interaccedilatildeo que se estabelece entre o pesquisador e seu objeto de esshy

tudo uma interpretaccedilatildeo que se elabora a partir do resshygate da posiccedilatildeo histoacuterica do pesquisador na relaccedilatildeo com seu objeto de estudo

DaMatta a partir destes pressupostos consideshy

ra que em princiacutepio a Antropologia eacute uma ciecircncias da comutaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo pois

Em antropologia eacute preciso recuperar esse lado

extraordinaacuterio e estaacutetico das relaccedilotildees entre pesquisashydornativo Se este eacute o lado menos rotineiro eacute o mais

difiacutecil de ser apanhado da situaccedilatildeo antropoloacutegica eacute cershytamente porque ele se constitui no aspecto mais humashy

no de nossa rotina ( ) Essa descoberta da AntropQloshygia Social como mateacuteria interpretativa segue por outro

lado uma tendecircncia que parece marcar sua passashygem de uma ciecircncia natural da sociedade como querishyam os empiricistas ingleses e americanos para uma ciecircncia interpretativa destinada antes de tudo a conshy

frontar subjetividades e tratar delas (DAMATTA 1978 1112)

VELHO (1987) afirmando o caraacuteter aproximashytivo do conhecimento devido a uma certa dose de subshyjetividade do pesquisador afirma

A realidade sempre eacute filtrada por determinashydo ponto de vista do observador ela eacute percebida de maneira diferenciada ( ) natildeo estou proclamando a fashy

lecircncia do rigor cientiacutefico no estudo das sociedades mas a necessidade de percebecirc-lo enquanto objetividade reshy

lativa mais ou menos ideoloacutegico e sempre interpretativo (VELHO 1987 129)

Estas questotildees levam-nos a pensar que a consshy

truccedilatildeo do objeto em Antropologia implica simultaneashymente na construccedilatildeo do observador - o antropoacutelogo

Tal possibilidade eacute assinalada por Tedlock ao apontar que o domiacutenio das Ciecircncias Sociais caracteriza-se como

um repertoacuterio de conhecimento e expectativas ou cultushyra comum que foi compartilhado com os participantes

e foi criado a partir da interaccedilatildeo dos mesmos (TEDLOCK 1987184 - assinalamento nosso)

O produto do trabalho de campo (o texto etnograacutefico) portanto se constroacutei a partir da relaccedilatildeo pesquisador x pesquisado que ali se estabelece E na med ida em que tal relaccedilatildeo eacute um encontro

intersubjetivo nela tambeacutem estatildeo envolvidos aspecshytos da construccedilatildeo da identidade tanto do antropoacutelogo

como de seu objeto de estudo constituindo-se portanshyto faces de uma mesma moeda (MARTINS 1995)

Observaccedilatildeo participante e pesquisaintervenccedilatildeo

do psicoacutelogo escolar

As consideraccedilotildees anteriores sobre a observaccedilatildeo participante nos sugerem que esta maneira de abordar

o cotidiano escolar cria uma relaccedilatildeo de tensatildeo para o psicoacutelogo de um lado ele deve estabelecer do ponto

de vista analiacutetico (ou seja do ponto de vista epistemoloacutegico) um certo distanciamento do cotidiano escolar de tal modo que se possa conhecer seus interstiacutecios Por outro lado deve buscar estabelecer uma

relaccedilatildeo de implicaccedilatildeo junto aos agentes que estatildeo enshyvolvidos no processo educacional Tal perspectiva eacute

assim expressa por EZPELETA amp ROCKWELL (1986) Na observaccedilatildeo participante as relaccedilotildees interpessoais

entre pesquisador e sujeito ali chamadas relaccedilotildees soshyciais constituem as teorias eacute a relaccedilatildeo que determina o pensamento e natildeo o contraacuterio (p 83)

A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo sob a perspectiva

da observaccedilatildeo participante na medida em que tem como objeto o cotidiano escolar e as representaccedilotildees sociais que ali emergem natildeo deve se estruturar exclusivamenshy

te nas relaccedilotildees formais que se organizam dentro do 15 AZANHA (1992) vai propor para a pesquisa educacional a mesma proposiccedilatildeo de Geertz a elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees densas 16 Geertz define o objeto de estudo da Antropologia - a cultura - como essencialmente semioacutetica Para ele o homem eacute um animal

amarrado a te ias de significados que ele mesmo teceu [e assume] a cultura como sendo essas teias e a sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca de leis mas uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significado (GEERTZ 197815)

Semilla Ci SociaisHum v 17 n 3 p 266middot273

271

contexto escolar (reuniotildees encontros no gabinete com

alunos e professores etc ) Ele deve considerar os

espaccedilos informais (papos nos corredores hora do

cafezinho recreio dos alunos etc ) como oportunidashy

des tanto para conhecer (pesquisa) a real idade escolar

como um espaccedilo de intervenccedilatildeo junto ao universo das

representaccedilotildees daqueles que ali se inserem e se exshy

pressam

Nesse sentido entendemos que a principal funshy

ccedilatildeo do psicoacutelogo dentro da escola eacute a de - a partir de

seu cotidiano e de sua histoacuteria - proporcionar situaccedilotildees

coletivas onde se desvele os significados impliacutecitos nas

relaccedilotildees (sobre a escola sobre o conhecimento sobre

o aluno etc ) de tal forma que os envolvidos no proshy

cesso decircem novos significados para as relaccedilotildees que

ali estabelecem Tal possibilidade por sua vez conshy

cretiza-se na medida em que o psicoacutelogo cria oportunishy

dades para que o coletivo da escola construa e crie novas necessidades para si transforme as condiccedilotildees

e os mecanismos de construccedilatildeo dos significados impliacuteshy

citos nas relaccedilotildees intra e extra escolares

Tal perspectiva abre a possibilidade para a emershy

gecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashy

ccedilotildees que se estruturam no contexto escolar pois se

oportuniza a expressatildeo dos vaacuterios segmentos que comshy

potildeem a estrutura social da escola Isto nos faz pensar

na forccedila das contradiccedilotildees no engendramento das mushy

danccedilas histoacutericas e na capacidade do homem em

promovecirc-Ias e superaacute-Ias

Nesse sentido ANDREAZI (1992) afirma

Onde encontrar marcas da identidade subjetiva

simbolicamente evidenciadas No espaccedilo nas coisas

nas regras nos produtos das tarefas educativas nas interaccedilotildees Interessa perceber como as pessoas vecircem

e se vecircem como elementos vinculados agrave Escola Inteshy

ressa para quecirc Para uma compreensatildeo da dinacircmica

institucional poderes resistecircncias e percepccedilotildees conshy

traditoacuterias de um mesmo Real tecido por sujeitos reais

Que imagem se tem desta Escola Que Escola ela preshy

tende ser Onde estaacute por onde transita o desejo dos

que habitam este cotidiano Da resposta a estas quesshy

totildees surge o perfil de uma instituiccedilatildeo educacional que

pode mirar-se perceber-se como uacutenica como histoacuteria

recursos e possibilidades diferenciadas (p 94)

Iniciamos este trabalho assinalando que ainda

se apresenta em nossa sociedade a ideacuteia de que o psishycoacutelogo escolar eacute o profissional que trabalha com as crishy

anccedilas problemas dentro da escola Durante a nossa

exposiccedilatildeo afirmamos que eacute a praacutetica profissional que

determina as representaccedilotildees sobre os profissionais de

certas profissotildees A partir das consideraccedilotildees acerca

da inserccedilatildeo do psicoacutelogo no cotidiano escolar atraveacutes

da observaccedilatildeo participante podemos vislumbrar algushy

mas possibilidades de mudanccedilas nas representaccedilotildees

que se estruturam ao longo da histoacuteria sobre a Psicoloshy

gia Escolar Nesse sentido se o psicoacutelogo abordar e intervir junto as representaccedilotildees sociais que medeiam

suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar

desvelando os significados impliacutecitos nestas represenshy

taccedilotildees - abordando-os a partir da histoacuteria e do cotidiano

escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de

novos significados tanto para sua presenccedila no contexto

escolar como para o seu trabalho

Trabalhar junto as pessoas considerando-as enshy

quanto sujeitos histoacutericos de seus proacuteprios processos

ante os desafios do cotidiano escolar permite-nos consshy

tatar que natildeo existe uma uacutenica verdade acerca da realishy

dade escolar mas diferentes aproximaccedilotildees Tais aproshy

ximaccedilotildees possibilitadas por esse processo interativo

(que natildeo eacute fixo pela proacutepria natureza da histoacuteria) e pelas condiccedilotildees objetivas que a realidade social nos apreshy

senta deixa-nos como legado a ideacuteia de que viver e

desenvolver-se implica em transformaccedilotildees contiacutenuas

que se realizam atraveacutes da interaccedilatildeo dos indiviacuteduos entre si e entre os indiviacuteduos e o meio no qual se inserem

(LIMA 1990 p 19)

MARTINS JB Participative observation a methodological approach to school psychology Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 Sep 1996

ABSTRACT The purpose of th is paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals Therefore the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine

KEY-WORDS School Psychology - Participative Observation - Research Methodology - Quotidian

Sttm irw Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273

272

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PATTO MHS Psicologia e ideologia uma introduccedilatildeo criacutetica a psicologia escolar Satildeo Paulo TA Queiroz 1984

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VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 3 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

VYGOTSKY LS A formaccedilatildeo social da mente 3 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1991 a

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Page 3: Participative observation: a methodological approach to school psychology

OBSERVACcedilAtildeO PARTICIPANTE E O QUE FAZER DO

PSICOacuteLOGO ESCOLAR

Antes de iniciarmos a discussatildeo sobre a obsershy

vaccedilatildeo participante e o que esta metodologia oferece

aos psicoacutelogos escolares conveacutem esclarecermos a concepccedilatildeo de escola que norteia nosso trabalho o que

ajudaraacute o leitor a situar melhor nossas propostas

Cotidiano escolar o objeto para o psicoacutelogo escolar

Entendemos a escola como uma instituiccedilatildeo soacuteshy

cio-cultural organizada e pautada por valores concepshy

ccedilotildees e expectativas perpassada por relaccedilotildees sociais

na organizaccedilatildeo do trabalho e da produccedilatildeo Nela os alushy

nos os professores a direccedilatildeo os pais e a comunidade

satildeo vistos como sujeitos histoacutericos culturais Na medida que abordamos a proacutepria instituiccedilatildeo

escolar como um produto histoacuterico cultural que age e interage numa trama de complexos processos soacutecioshy

culturais vislumbramos novas possibilidades para a

construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de escola

Segundo EZPELETA amp ROCKWELL (1986)

A escola eacute na teoria tradicional uma instituiccedilatildeo ou um aparelho do Estado Tanto na versatildeo positivista (Durkheim) como nas versotildees criacuteticas (Althuser Bourdieu) sua pertenccedila ao Estado transforma-a autoshymaticamente em representante uniacutevoca da vontade esshytatal A escola tem uma histoacuteria documentada geralshymente escrita a partir do poder estatal a qual destaca sua existecircncia homogecircnea Coexiste contudo com esta histoacuteria e existecircncia documentada outra histoacuteria e exisshytecircncia natildeo documentada atraveacutes da qual a escola toma forma material ganha vida Nesta histoacuteria a determinashyccedilatildeo e presenccedila estatal se entrecruza com as determishynaccedilotildees e presenccedila civis de variadas caracteriacutesticas A homogeneidade documentada decompotildee-se em muacuteltishyplas realidades cotidianas Nesta histoacuteria natildeo documenshytada nesta dimensatildeo cotidiana os trabalhadores os alunos e os pais se apropriam dos subsiacutedios e das presshycriccedilotildees estatais e constroem a escola (EZPELETA amp

ROCKWELL 1986 p 12-3 - assinalamentos no origishy

nai)

Sob esta oacutetica a escola natildeo eacute a mesma em todo o mundo capitalista pois ela se realiza num mundo proshyfundamente diverso e diferenciado Olhando o movimento

social a partir das situaccedilotildees e dos sujeitos que realishy

zam anonimamente a escola podemos dizer que a reashylidade de cada escola eacute umaconstruccedilatildeo social a consshy

truccedilatildeo de cada escola mesmo circunscrita por um movimento histoacuterico de longo alcance (como eacute o caso

do capitalismo) eacute sempre uma versatildeo local e particushy

lar Dessa expressatildeo local tomam forma internamente

as correlaccedilotildees de forccedilas as condiccedilotildees trabalhistas as

formas de relaccedilatildeo predominantes as prioridades admishynistrativas as tradiccedilotildees docentes que constituem a trashy

ma real em que se realiza a educaccedilatildeo

Eacute uma trama em permanente construccedilatildeo que arshyticula histoacuterias locais - pessoais e coletivas - diante

das quais a vontade estatal abstrata pode ser assumishyda ou ignorada mascarada ou recriada em particular

abrindo espaccedilos variaacuteveis a uma maior ou menor possishy

bilidade hegemocircnica Uma trama finalmente que eacute preshy

ciso conhecer porque constitui simultaneamente o

ponto de partida e o conteuacutedo do real em nossas altershy

nativas tanto pedagoacutegicas quanto poliacuteticas (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 11)

A observaccedilatildeo participante permite ao psicoacutelogo escolar inserido neste contexto olhar para o processo

de apropriaccedilatildeo de conhecimento dos vaacuterios segmentos

que estatildeo inseridos no ambiente escolar o que signifishyca analisar a existecircncia cotidiana da esola como histoacuteshy

ria acumulada buscar no seu presente os elementos

estatais e civis com as quais a escola se construiu Ou

seja na observaccedilatildeo da escola ele poderaacute averiguar o

que eacute convergente o que eacute divergente ou contraditoacuterio nas diversas formas do existir da escola

O cotidiano escolar assim passa a ser o espashy

ccedilo privilegiado para a pesquisa e para a intervenccedilatildeo do

psicoacutelogo escolar6 pois eacute aiacute onde se daacute o encontro dos

diversos segmentos que estatildeo envolvidos com o dia-ashy

dia da escola o que circunscreve o campo para a emershygecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashyccedilotildees sociais que ali se desenvolvem7bull

O cotidiano escolar enfim caracteriza-se como

um campo de interseccedilatildeo entre sujeitos individuais que

levam seus saberes especiacuteficos para a construccedilatildeo da escola Nestes espaccedilos incorporam-se e tornam-se sigshy

nificativos numerosos elementos natildeo previstos na realishydade nas categorias tradicionais da realidade escolar

A realiade escolar aparece sempre mediada pela ativishy

dade cotidiana pela apropriaccedilatildeo elaboraccedilatildeo

refuncionalizaccedilatildeo ou repulsa que os sujeitos levam a cabo

A partir do cotidiano escolar e atraveacutes da obsershyvaccedilatildeo participante o psicoacutelogo escolar teraacute acesso agraves

representaccedilotildees sociais que medeiam as relaccedilotildees que se travam intra e extra instituiccedilatildeo escolar As represhy

sentaccedilotildees sociais satildeo as explicaccedilotildees e as afirma-

Entendemos que o processo de pesquisa e de intervenccedilatildeo tendo como metodologia a observaccedilatildeo participante satildeo complementares no que fazer profissional do psicoacutelogo escolar Discutiremos esta perspectiva mais adiante KRAMER (1989) nos apresenta algumas destas contradiccedilotildees presentes no contexto de uma escola puacuteblica

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------------------------------------------- ---------shy

ccedilotildees que os indiviacuteduos datildeo sobre sua realidade Eacute como assimila a estrutura social na qual integram suas expeshyriecircncias valores ou seja eacute a relaccedilatildeo que se estabeleshyce entre o homem e o meio (SALLES 19901991 p 15)8

Representaccedilatildeo social eacute portanto o conjunto de significados que os indiviacuteduos estabelecem para a sua realidade significados esses que satildeo expressos pela linguagem Tal perspectiva nos sugere que o psiquismo humano eacute produto da sociedade e concomitantemente as representaccedilotildees sociais satildeo engendradas coletivashymente pela sociedade Nesse sentido a partir de uma abordagem soacutecio-cultural do psiquismo human09

enshytendemos que os significados satildeo produzidos socialshymente e se transformam atraveacutes da atividade e pensashymento dos indiviacuteduos e assim individualizam-se subjetivam-se

Tendo em vista estas consideraccedilotildees podemos dizer que ao tomar o cotidiano escolar como espaccedilo social de pesquisaintervenccedilatildeo o psicoacutelogo escolar teraacute acesso as mediaccedilotildees que os indiviacuteduos estabelecem para compreenderem sua realidade - as representaccedilotildees sociais - e assim poderaacute desvelar os mecanismos utishylizados (individual e coletivamente) na construccedilatildeo de sentidos para a realidade escolar Dito de outra forma o psicoacutelogo escolar poderaacute desvelar os significados (conshyvergentes ou contraditoacuterios) que os agentes sociais envolvidos no processo educacional- pais alunos proshyfessores direccedilatildeo etc - atribuem para a relaccedilatildeo proshyfessor x aluno para o conhecimento para o processo ensinoaprendizagem para o processo de avaliaccedilatildeo etc aleacutem dos significados atribuiacutedos ao proacuteprio trashybalho do psicoacutelogo escolar

Estas consideraccedilotildees levam-nos a indicar a obshyservaccedilatildeo participante como a metodologia mais adeshyquada para o psicoacutelogo escolar apreender compreenshyder e intervir no contexto escolar 0 Por um lado esta metodologia lhe proporciona uma aproximaccedilatildeo do cotishydiano escolar e de suas representaccedilotildees sociais resgashytando sua dimensatildeo histoacuterica soacutecio-cultural seus proshycessos Por outro lado permite-lhe intervir neste cotidishyano e nele trabalhar ao niacutevel das representaccedilotildees socishyais e propiciar a emergecircncia de novas necessidades para os agentes que ali se movimentam

A observaccedilatildeo participante se insere no conjunto das metodologias denominadas no campo educacioshynal de qualitativas e frequumlentemente de etnograacuteficas

Ver tambeacutem o trabalho de BONFIN amp ALMEIDA 19911992

ANDREacute (1992) avaliando a produccedilatildeo cientiacutefica que se desenvolveu sob esta abordagem nos uacuteltimos dez anos avalia

O que se verifica no entanto eacute que a grande maioria envolve dados de campo sistematizados em forma de descriccedilotildees que acrescentam muito pouco ao que se sabe ou conhece ao niacutevel do senso comum Eacute a empiria pela empiria O autor parece satisfazer-se com o fato de coletar uma grande quantidade de dados e parece esperar que esses dados por si produzam algushyma teoria Mas eacute evidente que sem um referencial de apoio que oriente o processo de reconstruccedilatildeo desses dados natildeo haacute avanccedilo teoacuterico - fica-se na constataccedilatildeo do oacutebvio na mesmice na reproduccedilatildeo do senso comum (ANDREacute 1992 p 3132)

A proposta que se coloca aqui vai na direccedilatildeo de superar tais limitaccedilotildees Trata-se de ir para aleacutem do senshyso comum Trata-se da tradiccedilatildeo etnograacutefica cuja esshysecircncia eacute identificada como documentar a realidade natildeoshydocumentada (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 15 n 3) Ela se circunscreve por um lado pela utilizaccedilatildeo das categorias2 utilizadas pelas ciecircncias sociais para a compreensatildeo da realidade (como classe social ideoshylogia poder etc ) e por outro pela criaccedilatildeo de novas categorias que satildeo construiacutedasreconstruiacutedas na relashyccedilatildeo pesquisador x escola pois

a heterogeneidade e a individualidade do cotishydiano existem outras dimensotildees ordenadoras Impotildeem forccedilosamente o reconhecimento de sujeitos que incorshyporam e objetivam a seu modo praacuteticas e saberes dos quais apropriaram em diferentes momentos e contexshytos de vida depositaacuterios que satildeo de uma histoacuteria acushymulada durante seacuteculos (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 28)

Atraveacutes da observaccedilatildeo participante portanto o psicoacutelogo escolar poderaacute reconstruir os processos que ocorrem na vida diaacuteria da escola Tal metodologia lhe permitiraacute integrar os vaacuterios momentos da escola e intershypretar sua realidade cotidiana Como tais processos se expressam por meio de elementos e situaccedilotildees diferenshytes que perpassam todos os acircmbitos com a metodologia acima indicada desvelar-se-aacute as tramas reais que se efetivam neste contexto e que se estruturam a partir de

Para um aprofundamento desta perspectiva ver VYGOTSKY 1991 1991 a e LEONTIEV 1978 10 O conceito de contexto que utilizamos para fazermos nossas proposiccedilotildees baseia-se na teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural

desenvolvida a partir das ideacuteias de Vygotsky Para tal teoria o contexto natildeo se reduz ao entorno ele expressa uma relaccedilatildeo qualitativa onde os objetos e os sujeitos e o entorno se mesclam constituindo-se numa unidade de anaacutelise Esta unidade compreende tanto os instrumentos materiais e simboacutelicos que permitem aos indiviacuteduos adaptarem-se a realidade como a dimensatildeo temporal histoacuterica na realidade humana que a configura Para mais detalhes ver LACASA 1993 e COLE 1995

11 Em 1983 aconteceu o Simpoacutesio A pesquisa qualitativa e o estudo da escola onde foi discutida amplamente esta perspectiva de pesquisa em educaccedilatildeo Os trabalhos ali apresentados foram reproduzidos em Cadernos de Pesquisa n 49 p 43-66

12 Cabe salientar que a utilizaccedilatildeo de categorias oferecidas pelas ciecircncias sociais agraves vezes limita o olhar do pesquisador sobre a escola pois natildeo lhe permite enxergar possibilidades outras de anaacutelises para tal realidade

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pequenas histoacuterias espaccedilos sociais onde se negocia e se reordena a continuidade das experiecircncias e a ativishydade escolar As contradiccedilotildees e incongruecircncias apashyrentes que se encontram nos mais diversos espaccedilos escolares (salas de aula reuniotildees na estrutura fiacutesica da escola etc ) adquirem sentido como resultado de mecanismos diferenciaacuteveis de reproduccedilatildeo e de aproprishyaccedilatildeo entre outros e mostram as diversas formas que a histoacuteria - social e individual - estaacute presente na vida cotishydiana da escola

A metodologia da observaccedilatildeo participante enshyfim possibilita ao psicoacutelogo escolar inserido no conshytexto da escola a olhar para as apropriaccedilotildees reais e potenciais que acontecem de baixo para cima a partir dos sujeitos individuais que vivenciam diariamente a instituiccedilatildeo Aleacutem disso ela cria a possibilidade de se construir um conhecimento que permite o estabelecishymento de relaccedilotildees mais reais com os processos que se datildeo no interior das escolas

Vale a pena resgatar por um momento algumas implicaccedilotildees da observaccedilatildeo participante inerentes na relaccedilatildeo psicoacutelogo escolar x escola considerando a dushypla perspectiva de sua atividade a de pesquisa e a inshytervenccedilatildeo Para tal aprofundamento faz-se necessaacuterio traccedilar algumas consideraccedilotildees sobre a observaccedilatildeo parshyticipante tendo como ponto de partida a Antropologia

Observaccedilatildeo Participante e a Antropologia

A observaccedilatildeo participante eacute uma metodologia elashyborada principalmente no contexto da pesquisa antroshypoloacutegica Trata-se de estabelecer uma adequada partishycipaccedilatildeo dos pesquisadores dentro dos grupos observashydos de modo a reduzir a estranheza reciacuteproca Os pesshyquisadores satildeo levados a compartilhar os papeacuteis e os haacutebitos dos grupos observados para estarem em conshydiccedilatildeo de observar fatos situaccedilotildees e comportamentos que natildeo ocorreriam ou que seriam alterados na presenshyccedila de estranhos Foi MALlNOWSKI (1978) quem sisteshymatizou as regras metodoloacutegicas para a pesquisa anshytropoloacutegica a ideacuteia que caracterizava o meacutetodo era a de que apenas atraveacutes da imersatildeo no cotidiano de uma outra cultura o antropoacutelogo poderia chegar a compreendecirc-Ia

Ou seja um dos pressupostos da observaccedilatildeo participante eacute o de que a convivecircncia do investigador com a pessoa ou grupo estudado cria condiccedilotildees privileshygiadas para que o processo de observaccedilatildeo seja condushyzido e decirc acesso a uma compreensatildeo que de outro modo natildeo seria alcanccedilaacutevel Admite-se que a experiecircncia direshyta do observador com a vida cotidiana do outro seja ele indiviacuteduo ou grupo eacute capaz de revelar na sua significashyccedilatildeo mais profunda accedilotildees atitudes episoacutedios etc

que de um ponto de vista exterior poderiam permaneshycer obscurecidas ou ateacute mesmo opacas

Assim o antropoacutelogo deveria passar por um proshycesso de transformaccedilatildeo atraveacutes do qual ele idealmente tornar-se-ia um nativo No entanto na medida em que essa experiecircncia natildeo eacute sistemaacutetica o antropoacutelogo deshyveria reelaboraacute-Ia transformando-a numa descriccedilatildeo objetiva (cientiacutefica) da cultura O resultado desta transshyformaccedilatildeo consiste no texto etnograacutefico onde o antroshypoacutelogo apresenta uma re-elaboraccedilatildeo de suas experiecircnshycias

O exerciacutecio desta metodologia trouxe para o censhytro da discussatildeo epistemoloacutegica questotildees referentes a relaccedilatildeo sujeito x objeto a partir da qual podemos situar alguns desdobramentos

Um dos problemas que se coloca para reflexatildeo refere-se agrave relaccedilatildeo entre o quanto se observa e o quanshyto se participa quando o pesquisador se encontra no campo BRANDAtildeO (1984) com a perspectiva de supeshyrar tal questionamento aponta uma certa orientaccedilatildeo para a abordagem das relaccedilotildees que ali se estabelecem Assim ele observa Eacute necessaacuterio que o cientista e sua ciecircncia seja primeiro um momento de compromisso e participaccedilatildeo com o trabalho histoacuterico e os projetos de luta do outro a quem mais do que conhecer para explishycar a pesquisa pretende compreender para servir (BRANDAtildeO 1984 p 12)

Tal perspectiva supotildee que os conhecimentos construiacutedos na relaccedilatildeo sujeito x objeto contribuem para a soluccedilatildeo dos conflitos sociais emergentes nas relashyccedilotildees sociais - luta contra a dominaccedilatildeo e a opressatildeo contra o preconceito e as discriminaccedilotildees etc Assim a relaccedilatildeo do pesquisador junto ao campo de pesquisa eacute uma relaccedilatildeo de implicaccedilatilde0 13 na vida da comunidade sociedade pesquisada o que se traduz para Brandatildeo em trabalho poliacutetico e luta popular Tal situaccedilatildeo na medida em que o outro se torna um companheiro de um compromisso leva o pesquisador a repensar tanto soshybre os destinos de sua pesquisa como tambeacutem a resshypeito de sua posiccedilatildeo pessoal

A relaccedilatildeo de participaccedilatildeo da praacutetica cientiacutefica no trabalho poliacutetico das classes populares desafia o pesshyquisador a ver e compreender tais classes seus sujei shytos e seus mundos tanto atraveacutes de suas pessoas nominadas quanto a partir de um trabalho social e poshyliacutetico de classe que constituindo a razatildeo da praacutetica constitui igualmente a razatildeo da pesquisa Estaacute inventashyda a pesquisa participante (BRANDAtildeO 1984 p 13shyassinalamentos no original) 14

Um outro desdobramento de tal questatildeo - a da relaccedilatildeo sujeito x objeto - vem sendo discutida a partir

Para um aprofundamento de ial conceito ver LOURAU 1975 GUATTARI 1987 e especialmente BARBIER 1985 Alguns tecircm se utilizado do termo pesquisa-accedilatildeo para caracterizar tal abordagem THIOLLENT (1984) estabelece as relaccedilotildees e as diferenccedilas entre estas duas formas de se abordar a realidade Ver tambeacutem ARDOINO 1993

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14

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da emergecircncia do paradigma hermenecircutico no campo

da Antropologia - que fundamenta a Antropologia Interpretativa a partir dos trabalhos de Clifford Geertz

Ao considerar que o trabalho do antropoacutelogo eacute fazer etnografias e que estas satildeo descriccedilotildees densas15 que

objetivam apreender uma cultura 16 e ao considerar a

etnografia como uma leitura - no sentido de construir uma leitura de - tal perspectiva coloca em pauta a posshytura do pesquisador no fazer antropoloacutegico a qual se

expressa no texto etnograacutefico pois

no estudo da cultura a anaacutelise penetra no proacuteshyprio corpo do objeto isto eacute comeccedilamos com as nosshy

sas proacuteprias interpretaccedilotildees do que pretendem nossos informantes ou o que achamos que eles pretendem e

depois passamos a sistematizaacute-Ias (enfim) os textos antropoloacutegicos satildeo eles mesmos interpretaccedilotildees e na verdade de segunda e terceira matildeo Trata-se portanto de ficccedilotildees ficccedilotildees no sentido de que satildeo algo

construiacutedo algo modelado (GEERTZ 197825-26 shyassinalamentos nossos)

o produto do trabalho do antropoacutelogo - o texto

etnograacutefico - eacute visto como o resultado da interaccedilatildeo que se estabelece entre o pesquisador e seu objeto de esshy

tudo uma interpretaccedilatildeo que se elabora a partir do resshygate da posiccedilatildeo histoacuterica do pesquisador na relaccedilatildeo com seu objeto de estudo

DaMatta a partir destes pressupostos consideshy

ra que em princiacutepio a Antropologia eacute uma ciecircncias da comutaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo pois

Em antropologia eacute preciso recuperar esse lado

extraordinaacuterio e estaacutetico das relaccedilotildees entre pesquisashydornativo Se este eacute o lado menos rotineiro eacute o mais

difiacutecil de ser apanhado da situaccedilatildeo antropoloacutegica eacute cershytamente porque ele se constitui no aspecto mais humashy

no de nossa rotina ( ) Essa descoberta da AntropQloshygia Social como mateacuteria interpretativa segue por outro

lado uma tendecircncia que parece marcar sua passashygem de uma ciecircncia natural da sociedade como querishyam os empiricistas ingleses e americanos para uma ciecircncia interpretativa destinada antes de tudo a conshy

frontar subjetividades e tratar delas (DAMATTA 1978 1112)

VELHO (1987) afirmando o caraacuteter aproximashytivo do conhecimento devido a uma certa dose de subshyjetividade do pesquisador afirma

A realidade sempre eacute filtrada por determinashydo ponto de vista do observador ela eacute percebida de maneira diferenciada ( ) natildeo estou proclamando a fashy

lecircncia do rigor cientiacutefico no estudo das sociedades mas a necessidade de percebecirc-lo enquanto objetividade reshy

lativa mais ou menos ideoloacutegico e sempre interpretativo (VELHO 1987 129)

Estas questotildees levam-nos a pensar que a consshy

truccedilatildeo do objeto em Antropologia implica simultaneashymente na construccedilatildeo do observador - o antropoacutelogo

Tal possibilidade eacute assinalada por Tedlock ao apontar que o domiacutenio das Ciecircncias Sociais caracteriza-se como

um repertoacuterio de conhecimento e expectativas ou cultushyra comum que foi compartilhado com os participantes

e foi criado a partir da interaccedilatildeo dos mesmos (TEDLOCK 1987184 - assinalamento nosso)

O produto do trabalho de campo (o texto etnograacutefico) portanto se constroacutei a partir da relaccedilatildeo pesquisador x pesquisado que ali se estabelece E na med ida em que tal relaccedilatildeo eacute um encontro

intersubjetivo nela tambeacutem estatildeo envolvidos aspecshytos da construccedilatildeo da identidade tanto do antropoacutelogo

como de seu objeto de estudo constituindo-se portanshyto faces de uma mesma moeda (MARTINS 1995)

Observaccedilatildeo participante e pesquisaintervenccedilatildeo

do psicoacutelogo escolar

As consideraccedilotildees anteriores sobre a observaccedilatildeo participante nos sugerem que esta maneira de abordar

o cotidiano escolar cria uma relaccedilatildeo de tensatildeo para o psicoacutelogo de um lado ele deve estabelecer do ponto

de vista analiacutetico (ou seja do ponto de vista epistemoloacutegico) um certo distanciamento do cotidiano escolar de tal modo que se possa conhecer seus interstiacutecios Por outro lado deve buscar estabelecer uma

relaccedilatildeo de implicaccedilatildeo junto aos agentes que estatildeo enshyvolvidos no processo educacional Tal perspectiva eacute

assim expressa por EZPELETA amp ROCKWELL (1986) Na observaccedilatildeo participante as relaccedilotildees interpessoais

entre pesquisador e sujeito ali chamadas relaccedilotildees soshyciais constituem as teorias eacute a relaccedilatildeo que determina o pensamento e natildeo o contraacuterio (p 83)

A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo sob a perspectiva

da observaccedilatildeo participante na medida em que tem como objeto o cotidiano escolar e as representaccedilotildees sociais que ali emergem natildeo deve se estruturar exclusivamenshy

te nas relaccedilotildees formais que se organizam dentro do 15 AZANHA (1992) vai propor para a pesquisa educacional a mesma proposiccedilatildeo de Geertz a elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees densas 16 Geertz define o objeto de estudo da Antropologia - a cultura - como essencialmente semioacutetica Para ele o homem eacute um animal

amarrado a te ias de significados que ele mesmo teceu [e assume] a cultura como sendo essas teias e a sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca de leis mas uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significado (GEERTZ 197815)

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contexto escolar (reuniotildees encontros no gabinete com

alunos e professores etc ) Ele deve considerar os

espaccedilos informais (papos nos corredores hora do

cafezinho recreio dos alunos etc ) como oportunidashy

des tanto para conhecer (pesquisa) a real idade escolar

como um espaccedilo de intervenccedilatildeo junto ao universo das

representaccedilotildees daqueles que ali se inserem e se exshy

pressam

Nesse sentido entendemos que a principal funshy

ccedilatildeo do psicoacutelogo dentro da escola eacute a de - a partir de

seu cotidiano e de sua histoacuteria - proporcionar situaccedilotildees

coletivas onde se desvele os significados impliacutecitos nas

relaccedilotildees (sobre a escola sobre o conhecimento sobre

o aluno etc ) de tal forma que os envolvidos no proshy

cesso decircem novos significados para as relaccedilotildees que

ali estabelecem Tal possibilidade por sua vez conshy

cretiza-se na medida em que o psicoacutelogo cria oportunishy

dades para que o coletivo da escola construa e crie novas necessidades para si transforme as condiccedilotildees

e os mecanismos de construccedilatildeo dos significados impliacuteshy

citos nas relaccedilotildees intra e extra escolares

Tal perspectiva abre a possibilidade para a emershy

gecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashy

ccedilotildees que se estruturam no contexto escolar pois se

oportuniza a expressatildeo dos vaacuterios segmentos que comshy

potildeem a estrutura social da escola Isto nos faz pensar

na forccedila das contradiccedilotildees no engendramento das mushy

danccedilas histoacutericas e na capacidade do homem em

promovecirc-Ias e superaacute-Ias

Nesse sentido ANDREAZI (1992) afirma

Onde encontrar marcas da identidade subjetiva

simbolicamente evidenciadas No espaccedilo nas coisas

nas regras nos produtos das tarefas educativas nas interaccedilotildees Interessa perceber como as pessoas vecircem

e se vecircem como elementos vinculados agrave Escola Inteshy

ressa para quecirc Para uma compreensatildeo da dinacircmica

institucional poderes resistecircncias e percepccedilotildees conshy

traditoacuterias de um mesmo Real tecido por sujeitos reais

Que imagem se tem desta Escola Que Escola ela preshy

tende ser Onde estaacute por onde transita o desejo dos

que habitam este cotidiano Da resposta a estas quesshy

totildees surge o perfil de uma instituiccedilatildeo educacional que

pode mirar-se perceber-se como uacutenica como histoacuteria

recursos e possibilidades diferenciadas (p 94)

Iniciamos este trabalho assinalando que ainda

se apresenta em nossa sociedade a ideacuteia de que o psishycoacutelogo escolar eacute o profissional que trabalha com as crishy

anccedilas problemas dentro da escola Durante a nossa

exposiccedilatildeo afirmamos que eacute a praacutetica profissional que

determina as representaccedilotildees sobre os profissionais de

certas profissotildees A partir das consideraccedilotildees acerca

da inserccedilatildeo do psicoacutelogo no cotidiano escolar atraveacutes

da observaccedilatildeo participante podemos vislumbrar algushy

mas possibilidades de mudanccedilas nas representaccedilotildees

que se estruturam ao longo da histoacuteria sobre a Psicoloshy

gia Escolar Nesse sentido se o psicoacutelogo abordar e intervir junto as representaccedilotildees sociais que medeiam

suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar

desvelando os significados impliacutecitos nestas represenshy

taccedilotildees - abordando-os a partir da histoacuteria e do cotidiano

escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de

novos significados tanto para sua presenccedila no contexto

escolar como para o seu trabalho

Trabalhar junto as pessoas considerando-as enshy

quanto sujeitos histoacutericos de seus proacuteprios processos

ante os desafios do cotidiano escolar permite-nos consshy

tatar que natildeo existe uma uacutenica verdade acerca da realishy

dade escolar mas diferentes aproximaccedilotildees Tais aproshy

ximaccedilotildees possibilitadas por esse processo interativo

(que natildeo eacute fixo pela proacutepria natureza da histoacuteria) e pelas condiccedilotildees objetivas que a realidade social nos apreshy

senta deixa-nos como legado a ideacuteia de que viver e

desenvolver-se implica em transformaccedilotildees contiacutenuas

que se realizam atraveacutes da interaccedilatildeo dos indiviacuteduos entre si e entre os indiviacuteduos e o meio no qual se inserem

(LIMA 1990 p 19)

MARTINS JB Participative observation a methodological approach to school psychology Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 Sep 1996

ABSTRACT The purpose of th is paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals Therefore the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine

KEY-WORDS School Psychology - Participative Observation - Research Methodology - Quotidian

Sttm irw Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273

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Seminu Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273

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ccedilotildees que os indiviacuteduos datildeo sobre sua realidade Eacute como assimila a estrutura social na qual integram suas expeshyriecircncias valores ou seja eacute a relaccedilatildeo que se estabeleshyce entre o homem e o meio (SALLES 19901991 p 15)8

Representaccedilatildeo social eacute portanto o conjunto de significados que os indiviacuteduos estabelecem para a sua realidade significados esses que satildeo expressos pela linguagem Tal perspectiva nos sugere que o psiquismo humano eacute produto da sociedade e concomitantemente as representaccedilotildees sociais satildeo engendradas coletivashymente pela sociedade Nesse sentido a partir de uma abordagem soacutecio-cultural do psiquismo human09

enshytendemos que os significados satildeo produzidos socialshymente e se transformam atraveacutes da atividade e pensashymento dos indiviacuteduos e assim individualizam-se subjetivam-se

Tendo em vista estas consideraccedilotildees podemos dizer que ao tomar o cotidiano escolar como espaccedilo social de pesquisaintervenccedilatildeo o psicoacutelogo escolar teraacute acesso as mediaccedilotildees que os indiviacuteduos estabelecem para compreenderem sua realidade - as representaccedilotildees sociais - e assim poderaacute desvelar os mecanismos utishylizados (individual e coletivamente) na construccedilatildeo de sentidos para a realidade escolar Dito de outra forma o psicoacutelogo escolar poderaacute desvelar os significados (conshyvergentes ou contraditoacuterios) que os agentes sociais envolvidos no processo educacional- pais alunos proshyfessores direccedilatildeo etc - atribuem para a relaccedilatildeo proshyfessor x aluno para o conhecimento para o processo ensinoaprendizagem para o processo de avaliaccedilatildeo etc aleacutem dos significados atribuiacutedos ao proacuteprio trashybalho do psicoacutelogo escolar

Estas consideraccedilotildees levam-nos a indicar a obshyservaccedilatildeo participante como a metodologia mais adeshyquada para o psicoacutelogo escolar apreender compreenshyder e intervir no contexto escolar 0 Por um lado esta metodologia lhe proporciona uma aproximaccedilatildeo do cotishydiano escolar e de suas representaccedilotildees sociais resgashytando sua dimensatildeo histoacuterica soacutecio-cultural seus proshycessos Por outro lado permite-lhe intervir neste cotidishyano e nele trabalhar ao niacutevel das representaccedilotildees socishyais e propiciar a emergecircncia de novas necessidades para os agentes que ali se movimentam

A observaccedilatildeo participante se insere no conjunto das metodologias denominadas no campo educacioshynal de qualitativas e frequumlentemente de etnograacuteficas

Ver tambeacutem o trabalho de BONFIN amp ALMEIDA 19911992

ANDREacute (1992) avaliando a produccedilatildeo cientiacutefica que se desenvolveu sob esta abordagem nos uacuteltimos dez anos avalia

O que se verifica no entanto eacute que a grande maioria envolve dados de campo sistematizados em forma de descriccedilotildees que acrescentam muito pouco ao que se sabe ou conhece ao niacutevel do senso comum Eacute a empiria pela empiria O autor parece satisfazer-se com o fato de coletar uma grande quantidade de dados e parece esperar que esses dados por si produzam algushyma teoria Mas eacute evidente que sem um referencial de apoio que oriente o processo de reconstruccedilatildeo desses dados natildeo haacute avanccedilo teoacuterico - fica-se na constataccedilatildeo do oacutebvio na mesmice na reproduccedilatildeo do senso comum (ANDREacute 1992 p 3132)

A proposta que se coloca aqui vai na direccedilatildeo de superar tais limitaccedilotildees Trata-se de ir para aleacutem do senshyso comum Trata-se da tradiccedilatildeo etnograacutefica cuja esshysecircncia eacute identificada como documentar a realidade natildeoshydocumentada (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 15 n 3) Ela se circunscreve por um lado pela utilizaccedilatildeo das categorias2 utilizadas pelas ciecircncias sociais para a compreensatildeo da realidade (como classe social ideoshylogia poder etc ) e por outro pela criaccedilatildeo de novas categorias que satildeo construiacutedasreconstruiacutedas na relashyccedilatildeo pesquisador x escola pois

a heterogeneidade e a individualidade do cotishydiano existem outras dimensotildees ordenadoras Impotildeem forccedilosamente o reconhecimento de sujeitos que incorshyporam e objetivam a seu modo praacuteticas e saberes dos quais apropriaram em diferentes momentos e contexshytos de vida depositaacuterios que satildeo de uma histoacuteria acushymulada durante seacuteculos (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 28)

Atraveacutes da observaccedilatildeo participante portanto o psicoacutelogo escolar poderaacute reconstruir os processos que ocorrem na vida diaacuteria da escola Tal metodologia lhe permitiraacute integrar os vaacuterios momentos da escola e intershypretar sua realidade cotidiana Como tais processos se expressam por meio de elementos e situaccedilotildees diferenshytes que perpassam todos os acircmbitos com a metodologia acima indicada desvelar-se-aacute as tramas reais que se efetivam neste contexto e que se estruturam a partir de

Para um aprofundamento desta perspectiva ver VYGOTSKY 1991 1991 a e LEONTIEV 1978 10 O conceito de contexto que utilizamos para fazermos nossas proposiccedilotildees baseia-se na teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural

desenvolvida a partir das ideacuteias de Vygotsky Para tal teoria o contexto natildeo se reduz ao entorno ele expressa uma relaccedilatildeo qualitativa onde os objetos e os sujeitos e o entorno se mesclam constituindo-se numa unidade de anaacutelise Esta unidade compreende tanto os instrumentos materiais e simboacutelicos que permitem aos indiviacuteduos adaptarem-se a realidade como a dimensatildeo temporal histoacuterica na realidade humana que a configura Para mais detalhes ver LACASA 1993 e COLE 1995

11 Em 1983 aconteceu o Simpoacutesio A pesquisa qualitativa e o estudo da escola onde foi discutida amplamente esta perspectiva de pesquisa em educaccedilatildeo Os trabalhos ali apresentados foram reproduzidos em Cadernos de Pesquisa n 49 p 43-66

12 Cabe salientar que a utilizaccedilatildeo de categorias oferecidas pelas ciecircncias sociais agraves vezes limita o olhar do pesquisador sobre a escola pois natildeo lhe permite enxergar possibilidades outras de anaacutelises para tal realidade

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pequenas histoacuterias espaccedilos sociais onde se negocia e se reordena a continuidade das experiecircncias e a ativishydade escolar As contradiccedilotildees e incongruecircncias apashyrentes que se encontram nos mais diversos espaccedilos escolares (salas de aula reuniotildees na estrutura fiacutesica da escola etc ) adquirem sentido como resultado de mecanismos diferenciaacuteveis de reproduccedilatildeo e de aproprishyaccedilatildeo entre outros e mostram as diversas formas que a histoacuteria - social e individual - estaacute presente na vida cotishydiana da escola

A metodologia da observaccedilatildeo participante enshyfim possibilita ao psicoacutelogo escolar inserido no conshytexto da escola a olhar para as apropriaccedilotildees reais e potenciais que acontecem de baixo para cima a partir dos sujeitos individuais que vivenciam diariamente a instituiccedilatildeo Aleacutem disso ela cria a possibilidade de se construir um conhecimento que permite o estabelecishymento de relaccedilotildees mais reais com os processos que se datildeo no interior das escolas

Vale a pena resgatar por um momento algumas implicaccedilotildees da observaccedilatildeo participante inerentes na relaccedilatildeo psicoacutelogo escolar x escola considerando a dushypla perspectiva de sua atividade a de pesquisa e a inshytervenccedilatildeo Para tal aprofundamento faz-se necessaacuterio traccedilar algumas consideraccedilotildees sobre a observaccedilatildeo parshyticipante tendo como ponto de partida a Antropologia

Observaccedilatildeo Participante e a Antropologia

A observaccedilatildeo participante eacute uma metodologia elashyborada principalmente no contexto da pesquisa antroshypoloacutegica Trata-se de estabelecer uma adequada partishycipaccedilatildeo dos pesquisadores dentro dos grupos observashydos de modo a reduzir a estranheza reciacuteproca Os pesshyquisadores satildeo levados a compartilhar os papeacuteis e os haacutebitos dos grupos observados para estarem em conshydiccedilatildeo de observar fatos situaccedilotildees e comportamentos que natildeo ocorreriam ou que seriam alterados na presenshyccedila de estranhos Foi MALlNOWSKI (1978) quem sisteshymatizou as regras metodoloacutegicas para a pesquisa anshytropoloacutegica a ideacuteia que caracterizava o meacutetodo era a de que apenas atraveacutes da imersatildeo no cotidiano de uma outra cultura o antropoacutelogo poderia chegar a compreendecirc-Ia

Ou seja um dos pressupostos da observaccedilatildeo participante eacute o de que a convivecircncia do investigador com a pessoa ou grupo estudado cria condiccedilotildees privileshygiadas para que o processo de observaccedilatildeo seja condushyzido e decirc acesso a uma compreensatildeo que de outro modo natildeo seria alcanccedilaacutevel Admite-se que a experiecircncia direshyta do observador com a vida cotidiana do outro seja ele indiviacuteduo ou grupo eacute capaz de revelar na sua significashyccedilatildeo mais profunda accedilotildees atitudes episoacutedios etc

que de um ponto de vista exterior poderiam permaneshycer obscurecidas ou ateacute mesmo opacas

Assim o antropoacutelogo deveria passar por um proshycesso de transformaccedilatildeo atraveacutes do qual ele idealmente tornar-se-ia um nativo No entanto na medida em que essa experiecircncia natildeo eacute sistemaacutetica o antropoacutelogo deshyveria reelaboraacute-Ia transformando-a numa descriccedilatildeo objetiva (cientiacutefica) da cultura O resultado desta transshyformaccedilatildeo consiste no texto etnograacutefico onde o antroshypoacutelogo apresenta uma re-elaboraccedilatildeo de suas experiecircnshycias

O exerciacutecio desta metodologia trouxe para o censhytro da discussatildeo epistemoloacutegica questotildees referentes a relaccedilatildeo sujeito x objeto a partir da qual podemos situar alguns desdobramentos

Um dos problemas que se coloca para reflexatildeo refere-se agrave relaccedilatildeo entre o quanto se observa e o quanshyto se participa quando o pesquisador se encontra no campo BRANDAtildeO (1984) com a perspectiva de supeshyrar tal questionamento aponta uma certa orientaccedilatildeo para a abordagem das relaccedilotildees que ali se estabelecem Assim ele observa Eacute necessaacuterio que o cientista e sua ciecircncia seja primeiro um momento de compromisso e participaccedilatildeo com o trabalho histoacuterico e os projetos de luta do outro a quem mais do que conhecer para explishycar a pesquisa pretende compreender para servir (BRANDAtildeO 1984 p 12)

Tal perspectiva supotildee que os conhecimentos construiacutedos na relaccedilatildeo sujeito x objeto contribuem para a soluccedilatildeo dos conflitos sociais emergentes nas relashyccedilotildees sociais - luta contra a dominaccedilatildeo e a opressatildeo contra o preconceito e as discriminaccedilotildees etc Assim a relaccedilatildeo do pesquisador junto ao campo de pesquisa eacute uma relaccedilatildeo de implicaccedilatilde0 13 na vida da comunidade sociedade pesquisada o que se traduz para Brandatildeo em trabalho poliacutetico e luta popular Tal situaccedilatildeo na medida em que o outro se torna um companheiro de um compromisso leva o pesquisador a repensar tanto soshybre os destinos de sua pesquisa como tambeacutem a resshypeito de sua posiccedilatildeo pessoal

A relaccedilatildeo de participaccedilatildeo da praacutetica cientiacutefica no trabalho poliacutetico das classes populares desafia o pesshyquisador a ver e compreender tais classes seus sujei shytos e seus mundos tanto atraveacutes de suas pessoas nominadas quanto a partir de um trabalho social e poshyliacutetico de classe que constituindo a razatildeo da praacutetica constitui igualmente a razatildeo da pesquisa Estaacute inventashyda a pesquisa participante (BRANDAtildeO 1984 p 13shyassinalamentos no original) 14

Um outro desdobramento de tal questatildeo - a da relaccedilatildeo sujeito x objeto - vem sendo discutida a partir

Para um aprofundamento de ial conceito ver LOURAU 1975 GUATTARI 1987 e especialmente BARBIER 1985 Alguns tecircm se utilizado do termo pesquisa-accedilatildeo para caracterizar tal abordagem THIOLLENT (1984) estabelece as relaccedilotildees e as diferenccedilas entre estas duas formas de se abordar a realidade Ver tambeacutem ARDOINO 1993

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14

270

da emergecircncia do paradigma hermenecircutico no campo

da Antropologia - que fundamenta a Antropologia Interpretativa a partir dos trabalhos de Clifford Geertz

Ao considerar que o trabalho do antropoacutelogo eacute fazer etnografias e que estas satildeo descriccedilotildees densas15 que

objetivam apreender uma cultura 16 e ao considerar a

etnografia como uma leitura - no sentido de construir uma leitura de - tal perspectiva coloca em pauta a posshytura do pesquisador no fazer antropoloacutegico a qual se

expressa no texto etnograacutefico pois

no estudo da cultura a anaacutelise penetra no proacuteshyprio corpo do objeto isto eacute comeccedilamos com as nosshy

sas proacuteprias interpretaccedilotildees do que pretendem nossos informantes ou o que achamos que eles pretendem e

depois passamos a sistematizaacute-Ias (enfim) os textos antropoloacutegicos satildeo eles mesmos interpretaccedilotildees e na verdade de segunda e terceira matildeo Trata-se portanto de ficccedilotildees ficccedilotildees no sentido de que satildeo algo

construiacutedo algo modelado (GEERTZ 197825-26 shyassinalamentos nossos)

o produto do trabalho do antropoacutelogo - o texto

etnograacutefico - eacute visto como o resultado da interaccedilatildeo que se estabelece entre o pesquisador e seu objeto de esshy

tudo uma interpretaccedilatildeo que se elabora a partir do resshygate da posiccedilatildeo histoacuterica do pesquisador na relaccedilatildeo com seu objeto de estudo

DaMatta a partir destes pressupostos consideshy

ra que em princiacutepio a Antropologia eacute uma ciecircncias da comutaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo pois

Em antropologia eacute preciso recuperar esse lado

extraordinaacuterio e estaacutetico das relaccedilotildees entre pesquisashydornativo Se este eacute o lado menos rotineiro eacute o mais

difiacutecil de ser apanhado da situaccedilatildeo antropoloacutegica eacute cershytamente porque ele se constitui no aspecto mais humashy

no de nossa rotina ( ) Essa descoberta da AntropQloshygia Social como mateacuteria interpretativa segue por outro

lado uma tendecircncia que parece marcar sua passashygem de uma ciecircncia natural da sociedade como querishyam os empiricistas ingleses e americanos para uma ciecircncia interpretativa destinada antes de tudo a conshy

frontar subjetividades e tratar delas (DAMATTA 1978 1112)

VELHO (1987) afirmando o caraacuteter aproximashytivo do conhecimento devido a uma certa dose de subshyjetividade do pesquisador afirma

A realidade sempre eacute filtrada por determinashydo ponto de vista do observador ela eacute percebida de maneira diferenciada ( ) natildeo estou proclamando a fashy

lecircncia do rigor cientiacutefico no estudo das sociedades mas a necessidade de percebecirc-lo enquanto objetividade reshy

lativa mais ou menos ideoloacutegico e sempre interpretativo (VELHO 1987 129)

Estas questotildees levam-nos a pensar que a consshy

truccedilatildeo do objeto em Antropologia implica simultaneashymente na construccedilatildeo do observador - o antropoacutelogo

Tal possibilidade eacute assinalada por Tedlock ao apontar que o domiacutenio das Ciecircncias Sociais caracteriza-se como

um repertoacuterio de conhecimento e expectativas ou cultushyra comum que foi compartilhado com os participantes

e foi criado a partir da interaccedilatildeo dos mesmos (TEDLOCK 1987184 - assinalamento nosso)

O produto do trabalho de campo (o texto etnograacutefico) portanto se constroacutei a partir da relaccedilatildeo pesquisador x pesquisado que ali se estabelece E na med ida em que tal relaccedilatildeo eacute um encontro

intersubjetivo nela tambeacutem estatildeo envolvidos aspecshytos da construccedilatildeo da identidade tanto do antropoacutelogo

como de seu objeto de estudo constituindo-se portanshyto faces de uma mesma moeda (MARTINS 1995)

Observaccedilatildeo participante e pesquisaintervenccedilatildeo

do psicoacutelogo escolar

As consideraccedilotildees anteriores sobre a observaccedilatildeo participante nos sugerem que esta maneira de abordar

o cotidiano escolar cria uma relaccedilatildeo de tensatildeo para o psicoacutelogo de um lado ele deve estabelecer do ponto

de vista analiacutetico (ou seja do ponto de vista epistemoloacutegico) um certo distanciamento do cotidiano escolar de tal modo que se possa conhecer seus interstiacutecios Por outro lado deve buscar estabelecer uma

relaccedilatildeo de implicaccedilatildeo junto aos agentes que estatildeo enshyvolvidos no processo educacional Tal perspectiva eacute

assim expressa por EZPELETA amp ROCKWELL (1986) Na observaccedilatildeo participante as relaccedilotildees interpessoais

entre pesquisador e sujeito ali chamadas relaccedilotildees soshyciais constituem as teorias eacute a relaccedilatildeo que determina o pensamento e natildeo o contraacuterio (p 83)

A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo sob a perspectiva

da observaccedilatildeo participante na medida em que tem como objeto o cotidiano escolar e as representaccedilotildees sociais que ali emergem natildeo deve se estruturar exclusivamenshy

te nas relaccedilotildees formais que se organizam dentro do 15 AZANHA (1992) vai propor para a pesquisa educacional a mesma proposiccedilatildeo de Geertz a elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees densas 16 Geertz define o objeto de estudo da Antropologia - a cultura - como essencialmente semioacutetica Para ele o homem eacute um animal

amarrado a te ias de significados que ele mesmo teceu [e assume] a cultura como sendo essas teias e a sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca de leis mas uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significado (GEERTZ 197815)

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271

contexto escolar (reuniotildees encontros no gabinete com

alunos e professores etc ) Ele deve considerar os

espaccedilos informais (papos nos corredores hora do

cafezinho recreio dos alunos etc ) como oportunidashy

des tanto para conhecer (pesquisa) a real idade escolar

como um espaccedilo de intervenccedilatildeo junto ao universo das

representaccedilotildees daqueles que ali se inserem e se exshy

pressam

Nesse sentido entendemos que a principal funshy

ccedilatildeo do psicoacutelogo dentro da escola eacute a de - a partir de

seu cotidiano e de sua histoacuteria - proporcionar situaccedilotildees

coletivas onde se desvele os significados impliacutecitos nas

relaccedilotildees (sobre a escola sobre o conhecimento sobre

o aluno etc ) de tal forma que os envolvidos no proshy

cesso decircem novos significados para as relaccedilotildees que

ali estabelecem Tal possibilidade por sua vez conshy

cretiza-se na medida em que o psicoacutelogo cria oportunishy

dades para que o coletivo da escola construa e crie novas necessidades para si transforme as condiccedilotildees

e os mecanismos de construccedilatildeo dos significados impliacuteshy

citos nas relaccedilotildees intra e extra escolares

Tal perspectiva abre a possibilidade para a emershy

gecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashy

ccedilotildees que se estruturam no contexto escolar pois se

oportuniza a expressatildeo dos vaacuterios segmentos que comshy

potildeem a estrutura social da escola Isto nos faz pensar

na forccedila das contradiccedilotildees no engendramento das mushy

danccedilas histoacutericas e na capacidade do homem em

promovecirc-Ias e superaacute-Ias

Nesse sentido ANDREAZI (1992) afirma

Onde encontrar marcas da identidade subjetiva

simbolicamente evidenciadas No espaccedilo nas coisas

nas regras nos produtos das tarefas educativas nas interaccedilotildees Interessa perceber como as pessoas vecircem

e se vecircem como elementos vinculados agrave Escola Inteshy

ressa para quecirc Para uma compreensatildeo da dinacircmica

institucional poderes resistecircncias e percepccedilotildees conshy

traditoacuterias de um mesmo Real tecido por sujeitos reais

Que imagem se tem desta Escola Que Escola ela preshy

tende ser Onde estaacute por onde transita o desejo dos

que habitam este cotidiano Da resposta a estas quesshy

totildees surge o perfil de uma instituiccedilatildeo educacional que

pode mirar-se perceber-se como uacutenica como histoacuteria

recursos e possibilidades diferenciadas (p 94)

Iniciamos este trabalho assinalando que ainda

se apresenta em nossa sociedade a ideacuteia de que o psishycoacutelogo escolar eacute o profissional que trabalha com as crishy

anccedilas problemas dentro da escola Durante a nossa

exposiccedilatildeo afirmamos que eacute a praacutetica profissional que

determina as representaccedilotildees sobre os profissionais de

certas profissotildees A partir das consideraccedilotildees acerca

da inserccedilatildeo do psicoacutelogo no cotidiano escolar atraveacutes

da observaccedilatildeo participante podemos vislumbrar algushy

mas possibilidades de mudanccedilas nas representaccedilotildees

que se estruturam ao longo da histoacuteria sobre a Psicoloshy

gia Escolar Nesse sentido se o psicoacutelogo abordar e intervir junto as representaccedilotildees sociais que medeiam

suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar

desvelando os significados impliacutecitos nestas represenshy

taccedilotildees - abordando-os a partir da histoacuteria e do cotidiano

escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de

novos significados tanto para sua presenccedila no contexto

escolar como para o seu trabalho

Trabalhar junto as pessoas considerando-as enshy

quanto sujeitos histoacutericos de seus proacuteprios processos

ante os desafios do cotidiano escolar permite-nos consshy

tatar que natildeo existe uma uacutenica verdade acerca da realishy

dade escolar mas diferentes aproximaccedilotildees Tais aproshy

ximaccedilotildees possibilitadas por esse processo interativo

(que natildeo eacute fixo pela proacutepria natureza da histoacuteria) e pelas condiccedilotildees objetivas que a realidade social nos apreshy

senta deixa-nos como legado a ideacuteia de que viver e

desenvolver-se implica em transformaccedilotildees contiacutenuas

que se realizam atraveacutes da interaccedilatildeo dos indiviacuteduos entre si e entre os indiviacuteduos e o meio no qual se inserem

(LIMA 1990 p 19)

MARTINS JB Participative observation a methodological approach to school psychology Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 Sep 1996

ABSTRACT The purpose of th is paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals Therefore the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine

KEY-WORDS School Psychology - Participative Observation - Research Methodology - Quotidian

Sttm irw Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273

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Seminu Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273

273

  • 4 -1
  • 4 -2
Page 5: Participative observation: a methodological approach to school psychology

pequenas histoacuterias espaccedilos sociais onde se negocia e se reordena a continuidade das experiecircncias e a ativishydade escolar As contradiccedilotildees e incongruecircncias apashyrentes que se encontram nos mais diversos espaccedilos escolares (salas de aula reuniotildees na estrutura fiacutesica da escola etc ) adquirem sentido como resultado de mecanismos diferenciaacuteveis de reproduccedilatildeo e de aproprishyaccedilatildeo entre outros e mostram as diversas formas que a histoacuteria - social e individual - estaacute presente na vida cotishydiana da escola

A metodologia da observaccedilatildeo participante enshyfim possibilita ao psicoacutelogo escolar inserido no conshytexto da escola a olhar para as apropriaccedilotildees reais e potenciais que acontecem de baixo para cima a partir dos sujeitos individuais que vivenciam diariamente a instituiccedilatildeo Aleacutem disso ela cria a possibilidade de se construir um conhecimento que permite o estabelecishymento de relaccedilotildees mais reais com os processos que se datildeo no interior das escolas

Vale a pena resgatar por um momento algumas implicaccedilotildees da observaccedilatildeo participante inerentes na relaccedilatildeo psicoacutelogo escolar x escola considerando a dushypla perspectiva de sua atividade a de pesquisa e a inshytervenccedilatildeo Para tal aprofundamento faz-se necessaacuterio traccedilar algumas consideraccedilotildees sobre a observaccedilatildeo parshyticipante tendo como ponto de partida a Antropologia

Observaccedilatildeo Participante e a Antropologia

A observaccedilatildeo participante eacute uma metodologia elashyborada principalmente no contexto da pesquisa antroshypoloacutegica Trata-se de estabelecer uma adequada partishycipaccedilatildeo dos pesquisadores dentro dos grupos observashydos de modo a reduzir a estranheza reciacuteproca Os pesshyquisadores satildeo levados a compartilhar os papeacuteis e os haacutebitos dos grupos observados para estarem em conshydiccedilatildeo de observar fatos situaccedilotildees e comportamentos que natildeo ocorreriam ou que seriam alterados na presenshyccedila de estranhos Foi MALlNOWSKI (1978) quem sisteshymatizou as regras metodoloacutegicas para a pesquisa anshytropoloacutegica a ideacuteia que caracterizava o meacutetodo era a de que apenas atraveacutes da imersatildeo no cotidiano de uma outra cultura o antropoacutelogo poderia chegar a compreendecirc-Ia

Ou seja um dos pressupostos da observaccedilatildeo participante eacute o de que a convivecircncia do investigador com a pessoa ou grupo estudado cria condiccedilotildees privileshygiadas para que o processo de observaccedilatildeo seja condushyzido e decirc acesso a uma compreensatildeo que de outro modo natildeo seria alcanccedilaacutevel Admite-se que a experiecircncia direshyta do observador com a vida cotidiana do outro seja ele indiviacuteduo ou grupo eacute capaz de revelar na sua significashyccedilatildeo mais profunda accedilotildees atitudes episoacutedios etc

que de um ponto de vista exterior poderiam permaneshycer obscurecidas ou ateacute mesmo opacas

Assim o antropoacutelogo deveria passar por um proshycesso de transformaccedilatildeo atraveacutes do qual ele idealmente tornar-se-ia um nativo No entanto na medida em que essa experiecircncia natildeo eacute sistemaacutetica o antropoacutelogo deshyveria reelaboraacute-Ia transformando-a numa descriccedilatildeo objetiva (cientiacutefica) da cultura O resultado desta transshyformaccedilatildeo consiste no texto etnograacutefico onde o antroshypoacutelogo apresenta uma re-elaboraccedilatildeo de suas experiecircnshycias

O exerciacutecio desta metodologia trouxe para o censhytro da discussatildeo epistemoloacutegica questotildees referentes a relaccedilatildeo sujeito x objeto a partir da qual podemos situar alguns desdobramentos

Um dos problemas que se coloca para reflexatildeo refere-se agrave relaccedilatildeo entre o quanto se observa e o quanshyto se participa quando o pesquisador se encontra no campo BRANDAtildeO (1984) com a perspectiva de supeshyrar tal questionamento aponta uma certa orientaccedilatildeo para a abordagem das relaccedilotildees que ali se estabelecem Assim ele observa Eacute necessaacuterio que o cientista e sua ciecircncia seja primeiro um momento de compromisso e participaccedilatildeo com o trabalho histoacuterico e os projetos de luta do outro a quem mais do que conhecer para explishycar a pesquisa pretende compreender para servir (BRANDAtildeO 1984 p 12)

Tal perspectiva supotildee que os conhecimentos construiacutedos na relaccedilatildeo sujeito x objeto contribuem para a soluccedilatildeo dos conflitos sociais emergentes nas relashyccedilotildees sociais - luta contra a dominaccedilatildeo e a opressatildeo contra o preconceito e as discriminaccedilotildees etc Assim a relaccedilatildeo do pesquisador junto ao campo de pesquisa eacute uma relaccedilatildeo de implicaccedilatilde0 13 na vida da comunidade sociedade pesquisada o que se traduz para Brandatildeo em trabalho poliacutetico e luta popular Tal situaccedilatildeo na medida em que o outro se torna um companheiro de um compromisso leva o pesquisador a repensar tanto soshybre os destinos de sua pesquisa como tambeacutem a resshypeito de sua posiccedilatildeo pessoal

A relaccedilatildeo de participaccedilatildeo da praacutetica cientiacutefica no trabalho poliacutetico das classes populares desafia o pesshyquisador a ver e compreender tais classes seus sujei shytos e seus mundos tanto atraveacutes de suas pessoas nominadas quanto a partir de um trabalho social e poshyliacutetico de classe que constituindo a razatildeo da praacutetica constitui igualmente a razatildeo da pesquisa Estaacute inventashyda a pesquisa participante (BRANDAtildeO 1984 p 13shyassinalamentos no original) 14

Um outro desdobramento de tal questatildeo - a da relaccedilatildeo sujeito x objeto - vem sendo discutida a partir

Para um aprofundamento de ial conceito ver LOURAU 1975 GUATTARI 1987 e especialmente BARBIER 1985 Alguns tecircm se utilizado do termo pesquisa-accedilatildeo para caracterizar tal abordagem THIOLLENT (1984) estabelece as relaccedilotildees e as diferenccedilas entre estas duas formas de se abordar a realidade Ver tambeacutem ARDOINO 1993

Semina Ci SociaisHm v 17 n 3 p 266 -27~

14

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da emergecircncia do paradigma hermenecircutico no campo

da Antropologia - que fundamenta a Antropologia Interpretativa a partir dos trabalhos de Clifford Geertz

Ao considerar que o trabalho do antropoacutelogo eacute fazer etnografias e que estas satildeo descriccedilotildees densas15 que

objetivam apreender uma cultura 16 e ao considerar a

etnografia como uma leitura - no sentido de construir uma leitura de - tal perspectiva coloca em pauta a posshytura do pesquisador no fazer antropoloacutegico a qual se

expressa no texto etnograacutefico pois

no estudo da cultura a anaacutelise penetra no proacuteshyprio corpo do objeto isto eacute comeccedilamos com as nosshy

sas proacuteprias interpretaccedilotildees do que pretendem nossos informantes ou o que achamos que eles pretendem e

depois passamos a sistematizaacute-Ias (enfim) os textos antropoloacutegicos satildeo eles mesmos interpretaccedilotildees e na verdade de segunda e terceira matildeo Trata-se portanto de ficccedilotildees ficccedilotildees no sentido de que satildeo algo

construiacutedo algo modelado (GEERTZ 197825-26 shyassinalamentos nossos)

o produto do trabalho do antropoacutelogo - o texto

etnograacutefico - eacute visto como o resultado da interaccedilatildeo que se estabelece entre o pesquisador e seu objeto de esshy

tudo uma interpretaccedilatildeo que se elabora a partir do resshygate da posiccedilatildeo histoacuterica do pesquisador na relaccedilatildeo com seu objeto de estudo

DaMatta a partir destes pressupostos consideshy

ra que em princiacutepio a Antropologia eacute uma ciecircncias da comutaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo pois

Em antropologia eacute preciso recuperar esse lado

extraordinaacuterio e estaacutetico das relaccedilotildees entre pesquisashydornativo Se este eacute o lado menos rotineiro eacute o mais

difiacutecil de ser apanhado da situaccedilatildeo antropoloacutegica eacute cershytamente porque ele se constitui no aspecto mais humashy

no de nossa rotina ( ) Essa descoberta da AntropQloshygia Social como mateacuteria interpretativa segue por outro

lado uma tendecircncia que parece marcar sua passashygem de uma ciecircncia natural da sociedade como querishyam os empiricistas ingleses e americanos para uma ciecircncia interpretativa destinada antes de tudo a conshy

frontar subjetividades e tratar delas (DAMATTA 1978 1112)

VELHO (1987) afirmando o caraacuteter aproximashytivo do conhecimento devido a uma certa dose de subshyjetividade do pesquisador afirma

A realidade sempre eacute filtrada por determinashydo ponto de vista do observador ela eacute percebida de maneira diferenciada ( ) natildeo estou proclamando a fashy

lecircncia do rigor cientiacutefico no estudo das sociedades mas a necessidade de percebecirc-lo enquanto objetividade reshy

lativa mais ou menos ideoloacutegico e sempre interpretativo (VELHO 1987 129)

Estas questotildees levam-nos a pensar que a consshy

truccedilatildeo do objeto em Antropologia implica simultaneashymente na construccedilatildeo do observador - o antropoacutelogo

Tal possibilidade eacute assinalada por Tedlock ao apontar que o domiacutenio das Ciecircncias Sociais caracteriza-se como

um repertoacuterio de conhecimento e expectativas ou cultushyra comum que foi compartilhado com os participantes

e foi criado a partir da interaccedilatildeo dos mesmos (TEDLOCK 1987184 - assinalamento nosso)

O produto do trabalho de campo (o texto etnograacutefico) portanto se constroacutei a partir da relaccedilatildeo pesquisador x pesquisado que ali se estabelece E na med ida em que tal relaccedilatildeo eacute um encontro

intersubjetivo nela tambeacutem estatildeo envolvidos aspecshytos da construccedilatildeo da identidade tanto do antropoacutelogo

como de seu objeto de estudo constituindo-se portanshyto faces de uma mesma moeda (MARTINS 1995)

Observaccedilatildeo participante e pesquisaintervenccedilatildeo

do psicoacutelogo escolar

As consideraccedilotildees anteriores sobre a observaccedilatildeo participante nos sugerem que esta maneira de abordar

o cotidiano escolar cria uma relaccedilatildeo de tensatildeo para o psicoacutelogo de um lado ele deve estabelecer do ponto

de vista analiacutetico (ou seja do ponto de vista epistemoloacutegico) um certo distanciamento do cotidiano escolar de tal modo que se possa conhecer seus interstiacutecios Por outro lado deve buscar estabelecer uma

relaccedilatildeo de implicaccedilatildeo junto aos agentes que estatildeo enshyvolvidos no processo educacional Tal perspectiva eacute

assim expressa por EZPELETA amp ROCKWELL (1986) Na observaccedilatildeo participante as relaccedilotildees interpessoais

entre pesquisador e sujeito ali chamadas relaccedilotildees soshyciais constituem as teorias eacute a relaccedilatildeo que determina o pensamento e natildeo o contraacuterio (p 83)

A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo sob a perspectiva

da observaccedilatildeo participante na medida em que tem como objeto o cotidiano escolar e as representaccedilotildees sociais que ali emergem natildeo deve se estruturar exclusivamenshy

te nas relaccedilotildees formais que se organizam dentro do 15 AZANHA (1992) vai propor para a pesquisa educacional a mesma proposiccedilatildeo de Geertz a elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees densas 16 Geertz define o objeto de estudo da Antropologia - a cultura - como essencialmente semioacutetica Para ele o homem eacute um animal

amarrado a te ias de significados que ele mesmo teceu [e assume] a cultura como sendo essas teias e a sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca de leis mas uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significado (GEERTZ 197815)

Semilla Ci SociaisHum v 17 n 3 p 266middot273

271

contexto escolar (reuniotildees encontros no gabinete com

alunos e professores etc ) Ele deve considerar os

espaccedilos informais (papos nos corredores hora do

cafezinho recreio dos alunos etc ) como oportunidashy

des tanto para conhecer (pesquisa) a real idade escolar

como um espaccedilo de intervenccedilatildeo junto ao universo das

representaccedilotildees daqueles que ali se inserem e se exshy

pressam

Nesse sentido entendemos que a principal funshy

ccedilatildeo do psicoacutelogo dentro da escola eacute a de - a partir de

seu cotidiano e de sua histoacuteria - proporcionar situaccedilotildees

coletivas onde se desvele os significados impliacutecitos nas

relaccedilotildees (sobre a escola sobre o conhecimento sobre

o aluno etc ) de tal forma que os envolvidos no proshy

cesso decircem novos significados para as relaccedilotildees que

ali estabelecem Tal possibilidade por sua vez conshy

cretiza-se na medida em que o psicoacutelogo cria oportunishy

dades para que o coletivo da escola construa e crie novas necessidades para si transforme as condiccedilotildees

e os mecanismos de construccedilatildeo dos significados impliacuteshy

citos nas relaccedilotildees intra e extra escolares

Tal perspectiva abre a possibilidade para a emershy

gecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashy

ccedilotildees que se estruturam no contexto escolar pois se

oportuniza a expressatildeo dos vaacuterios segmentos que comshy

potildeem a estrutura social da escola Isto nos faz pensar

na forccedila das contradiccedilotildees no engendramento das mushy

danccedilas histoacutericas e na capacidade do homem em

promovecirc-Ias e superaacute-Ias

Nesse sentido ANDREAZI (1992) afirma

Onde encontrar marcas da identidade subjetiva

simbolicamente evidenciadas No espaccedilo nas coisas

nas regras nos produtos das tarefas educativas nas interaccedilotildees Interessa perceber como as pessoas vecircem

e se vecircem como elementos vinculados agrave Escola Inteshy

ressa para quecirc Para uma compreensatildeo da dinacircmica

institucional poderes resistecircncias e percepccedilotildees conshy

traditoacuterias de um mesmo Real tecido por sujeitos reais

Que imagem se tem desta Escola Que Escola ela preshy

tende ser Onde estaacute por onde transita o desejo dos

que habitam este cotidiano Da resposta a estas quesshy

totildees surge o perfil de uma instituiccedilatildeo educacional que

pode mirar-se perceber-se como uacutenica como histoacuteria

recursos e possibilidades diferenciadas (p 94)

Iniciamos este trabalho assinalando que ainda

se apresenta em nossa sociedade a ideacuteia de que o psishycoacutelogo escolar eacute o profissional que trabalha com as crishy

anccedilas problemas dentro da escola Durante a nossa

exposiccedilatildeo afirmamos que eacute a praacutetica profissional que

determina as representaccedilotildees sobre os profissionais de

certas profissotildees A partir das consideraccedilotildees acerca

da inserccedilatildeo do psicoacutelogo no cotidiano escolar atraveacutes

da observaccedilatildeo participante podemos vislumbrar algushy

mas possibilidades de mudanccedilas nas representaccedilotildees

que se estruturam ao longo da histoacuteria sobre a Psicoloshy

gia Escolar Nesse sentido se o psicoacutelogo abordar e intervir junto as representaccedilotildees sociais que medeiam

suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar

desvelando os significados impliacutecitos nestas represenshy

taccedilotildees - abordando-os a partir da histoacuteria e do cotidiano

escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de

novos significados tanto para sua presenccedila no contexto

escolar como para o seu trabalho

Trabalhar junto as pessoas considerando-as enshy

quanto sujeitos histoacutericos de seus proacuteprios processos

ante os desafios do cotidiano escolar permite-nos consshy

tatar que natildeo existe uma uacutenica verdade acerca da realishy

dade escolar mas diferentes aproximaccedilotildees Tais aproshy

ximaccedilotildees possibilitadas por esse processo interativo

(que natildeo eacute fixo pela proacutepria natureza da histoacuteria) e pelas condiccedilotildees objetivas que a realidade social nos apreshy

senta deixa-nos como legado a ideacuteia de que viver e

desenvolver-se implica em transformaccedilotildees contiacutenuas

que se realizam atraveacutes da interaccedilatildeo dos indiviacuteduos entre si e entre os indiviacuteduos e o meio no qual se inserem

(LIMA 1990 p 19)

MARTINS JB Participative observation a methodological approach to school psychology Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 Sep 1996

ABSTRACT The purpose of th is paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals Therefore the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine

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SALLES LMF Representaccedilatildeo social e cotidiano Didaacutetica Satildeo Paulo V 2627 p 11-20 19901991

SINDICATO DOS PSICOacuteLOGOS NO ESTADO DE SAtildeO PAULO amp CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - 6ordf REGIAtildeO Anais do I Encontro de Psicoacutelogos da Aacuterea de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo do Autor 1981

SOUZA M de Relatoacuterio (a bordo) de meia-viagem uma experiecircncia (em tracircnsito) em psicologia escolar Vertentes Assis n 2 p 93-105 1992

TEDLOCK D A tradiccedilatildeo analoacutegica e o surgimento de uma antropologia diaboacutelica Anuaacuterio de Antropologia85 1988

THIOLLENT M Notas para o debate sobre a pesquisa-accedilatildeo In BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (org) Repensando a pesquisa participante Satildeo Paulo Brasiliense 1984 p 82-103

VELHO G Observando o familiar In VELHO G Individualismo e cultura notas para uma antropologia da sociedades contemporacircnea 2 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 1987 p 121-132

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 3 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

VYGOTSKY LS A formaccedilatildeo social da mente 3 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1991 a

Seminu Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273

273

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Page 6: Participative observation: a methodological approach to school psychology

da emergecircncia do paradigma hermenecircutico no campo

da Antropologia - que fundamenta a Antropologia Interpretativa a partir dos trabalhos de Clifford Geertz

Ao considerar que o trabalho do antropoacutelogo eacute fazer etnografias e que estas satildeo descriccedilotildees densas15 que

objetivam apreender uma cultura 16 e ao considerar a

etnografia como uma leitura - no sentido de construir uma leitura de - tal perspectiva coloca em pauta a posshytura do pesquisador no fazer antropoloacutegico a qual se

expressa no texto etnograacutefico pois

no estudo da cultura a anaacutelise penetra no proacuteshyprio corpo do objeto isto eacute comeccedilamos com as nosshy

sas proacuteprias interpretaccedilotildees do que pretendem nossos informantes ou o que achamos que eles pretendem e

depois passamos a sistematizaacute-Ias (enfim) os textos antropoloacutegicos satildeo eles mesmos interpretaccedilotildees e na verdade de segunda e terceira matildeo Trata-se portanto de ficccedilotildees ficccedilotildees no sentido de que satildeo algo

construiacutedo algo modelado (GEERTZ 197825-26 shyassinalamentos nossos)

o produto do trabalho do antropoacutelogo - o texto

etnograacutefico - eacute visto como o resultado da interaccedilatildeo que se estabelece entre o pesquisador e seu objeto de esshy

tudo uma interpretaccedilatildeo que se elabora a partir do resshygate da posiccedilatildeo histoacuterica do pesquisador na relaccedilatildeo com seu objeto de estudo

DaMatta a partir destes pressupostos consideshy

ra que em princiacutepio a Antropologia eacute uma ciecircncias da comutaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo pois

Em antropologia eacute preciso recuperar esse lado

extraordinaacuterio e estaacutetico das relaccedilotildees entre pesquisashydornativo Se este eacute o lado menos rotineiro eacute o mais

difiacutecil de ser apanhado da situaccedilatildeo antropoloacutegica eacute cershytamente porque ele se constitui no aspecto mais humashy

no de nossa rotina ( ) Essa descoberta da AntropQloshygia Social como mateacuteria interpretativa segue por outro

lado uma tendecircncia que parece marcar sua passashygem de uma ciecircncia natural da sociedade como querishyam os empiricistas ingleses e americanos para uma ciecircncia interpretativa destinada antes de tudo a conshy

frontar subjetividades e tratar delas (DAMATTA 1978 1112)

VELHO (1987) afirmando o caraacuteter aproximashytivo do conhecimento devido a uma certa dose de subshyjetividade do pesquisador afirma

A realidade sempre eacute filtrada por determinashydo ponto de vista do observador ela eacute percebida de maneira diferenciada ( ) natildeo estou proclamando a fashy

lecircncia do rigor cientiacutefico no estudo das sociedades mas a necessidade de percebecirc-lo enquanto objetividade reshy

lativa mais ou menos ideoloacutegico e sempre interpretativo (VELHO 1987 129)

Estas questotildees levam-nos a pensar que a consshy

truccedilatildeo do objeto em Antropologia implica simultaneashymente na construccedilatildeo do observador - o antropoacutelogo

Tal possibilidade eacute assinalada por Tedlock ao apontar que o domiacutenio das Ciecircncias Sociais caracteriza-se como

um repertoacuterio de conhecimento e expectativas ou cultushyra comum que foi compartilhado com os participantes

e foi criado a partir da interaccedilatildeo dos mesmos (TEDLOCK 1987184 - assinalamento nosso)

O produto do trabalho de campo (o texto etnograacutefico) portanto se constroacutei a partir da relaccedilatildeo pesquisador x pesquisado que ali se estabelece E na med ida em que tal relaccedilatildeo eacute um encontro

intersubjetivo nela tambeacutem estatildeo envolvidos aspecshytos da construccedilatildeo da identidade tanto do antropoacutelogo

como de seu objeto de estudo constituindo-se portanshyto faces de uma mesma moeda (MARTINS 1995)

Observaccedilatildeo participante e pesquisaintervenccedilatildeo

do psicoacutelogo escolar

As consideraccedilotildees anteriores sobre a observaccedilatildeo participante nos sugerem que esta maneira de abordar

o cotidiano escolar cria uma relaccedilatildeo de tensatildeo para o psicoacutelogo de um lado ele deve estabelecer do ponto

de vista analiacutetico (ou seja do ponto de vista epistemoloacutegico) um certo distanciamento do cotidiano escolar de tal modo que se possa conhecer seus interstiacutecios Por outro lado deve buscar estabelecer uma

relaccedilatildeo de implicaccedilatildeo junto aos agentes que estatildeo enshyvolvidos no processo educacional Tal perspectiva eacute

assim expressa por EZPELETA amp ROCKWELL (1986) Na observaccedilatildeo participante as relaccedilotildees interpessoais

entre pesquisador e sujeito ali chamadas relaccedilotildees soshyciais constituem as teorias eacute a relaccedilatildeo que determina o pensamento e natildeo o contraacuterio (p 83)

A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo sob a perspectiva

da observaccedilatildeo participante na medida em que tem como objeto o cotidiano escolar e as representaccedilotildees sociais que ali emergem natildeo deve se estruturar exclusivamenshy

te nas relaccedilotildees formais que se organizam dentro do 15 AZANHA (1992) vai propor para a pesquisa educacional a mesma proposiccedilatildeo de Geertz a elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees densas 16 Geertz define o objeto de estudo da Antropologia - a cultura - como essencialmente semioacutetica Para ele o homem eacute um animal

amarrado a te ias de significados que ele mesmo teceu [e assume] a cultura como sendo essas teias e a sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca de leis mas uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significado (GEERTZ 197815)

Semilla Ci SociaisHum v 17 n 3 p 266middot273

271

contexto escolar (reuniotildees encontros no gabinete com

alunos e professores etc ) Ele deve considerar os

espaccedilos informais (papos nos corredores hora do

cafezinho recreio dos alunos etc ) como oportunidashy

des tanto para conhecer (pesquisa) a real idade escolar

como um espaccedilo de intervenccedilatildeo junto ao universo das

representaccedilotildees daqueles que ali se inserem e se exshy

pressam

Nesse sentido entendemos que a principal funshy

ccedilatildeo do psicoacutelogo dentro da escola eacute a de - a partir de

seu cotidiano e de sua histoacuteria - proporcionar situaccedilotildees

coletivas onde se desvele os significados impliacutecitos nas

relaccedilotildees (sobre a escola sobre o conhecimento sobre

o aluno etc ) de tal forma que os envolvidos no proshy

cesso decircem novos significados para as relaccedilotildees que

ali estabelecem Tal possibilidade por sua vez conshy

cretiza-se na medida em que o psicoacutelogo cria oportunishy

dades para que o coletivo da escola construa e crie novas necessidades para si transforme as condiccedilotildees

e os mecanismos de construccedilatildeo dos significados impliacuteshy

citos nas relaccedilotildees intra e extra escolares

Tal perspectiva abre a possibilidade para a emershy

gecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashy

ccedilotildees que se estruturam no contexto escolar pois se

oportuniza a expressatildeo dos vaacuterios segmentos que comshy

potildeem a estrutura social da escola Isto nos faz pensar

na forccedila das contradiccedilotildees no engendramento das mushy

danccedilas histoacutericas e na capacidade do homem em

promovecirc-Ias e superaacute-Ias

Nesse sentido ANDREAZI (1992) afirma

Onde encontrar marcas da identidade subjetiva

simbolicamente evidenciadas No espaccedilo nas coisas

nas regras nos produtos das tarefas educativas nas interaccedilotildees Interessa perceber como as pessoas vecircem

e se vecircem como elementos vinculados agrave Escola Inteshy

ressa para quecirc Para uma compreensatildeo da dinacircmica

institucional poderes resistecircncias e percepccedilotildees conshy

traditoacuterias de um mesmo Real tecido por sujeitos reais

Que imagem se tem desta Escola Que Escola ela preshy

tende ser Onde estaacute por onde transita o desejo dos

que habitam este cotidiano Da resposta a estas quesshy

totildees surge o perfil de uma instituiccedilatildeo educacional que

pode mirar-se perceber-se como uacutenica como histoacuteria

recursos e possibilidades diferenciadas (p 94)

Iniciamos este trabalho assinalando que ainda

se apresenta em nossa sociedade a ideacuteia de que o psishycoacutelogo escolar eacute o profissional que trabalha com as crishy

anccedilas problemas dentro da escola Durante a nossa

exposiccedilatildeo afirmamos que eacute a praacutetica profissional que

determina as representaccedilotildees sobre os profissionais de

certas profissotildees A partir das consideraccedilotildees acerca

da inserccedilatildeo do psicoacutelogo no cotidiano escolar atraveacutes

da observaccedilatildeo participante podemos vislumbrar algushy

mas possibilidades de mudanccedilas nas representaccedilotildees

que se estruturam ao longo da histoacuteria sobre a Psicoloshy

gia Escolar Nesse sentido se o psicoacutelogo abordar e intervir junto as representaccedilotildees sociais que medeiam

suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar

desvelando os significados impliacutecitos nestas represenshy

taccedilotildees - abordando-os a partir da histoacuteria e do cotidiano

escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de

novos significados tanto para sua presenccedila no contexto

escolar como para o seu trabalho

Trabalhar junto as pessoas considerando-as enshy

quanto sujeitos histoacutericos de seus proacuteprios processos

ante os desafios do cotidiano escolar permite-nos consshy

tatar que natildeo existe uma uacutenica verdade acerca da realishy

dade escolar mas diferentes aproximaccedilotildees Tais aproshy

ximaccedilotildees possibilitadas por esse processo interativo

(que natildeo eacute fixo pela proacutepria natureza da histoacuteria) e pelas condiccedilotildees objetivas que a realidade social nos apreshy

senta deixa-nos como legado a ideacuteia de que viver e

desenvolver-se implica em transformaccedilotildees contiacutenuas

que se realizam atraveacutes da interaccedilatildeo dos indiviacuteduos entre si e entre os indiviacuteduos e o meio no qual se inserem

(LIMA 1990 p 19)

MARTINS JB Participative observation a methodological approach to school psychology Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 Sep 1996

ABSTRACT The purpose of th is paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals Therefore the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine

KEY-WORDS School Psychology - Participative Observation - Research Methodology - Quotidian

Sttm irw Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

A pesquisa qualitativa e o estudo da escola (Simpoacutesio) Cadernos de pesquisa Satildeo Paulo n 49 p 43-66 1984

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ANDALOacute CS de L deg papel do psicoacutelogo escolar Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo Brasiacutelia CFP Ano IV n 1 p 43-46 1984

ANDREacute MEDA Cotidiano escolar e praacuteticas soacutecioshypedagoacutegicas Em Aberto Brasiacutelia Ano 11 n 53 p 29-38 1992

ANDREAZI LC Uma histoacuteria do olhar e do fazer do psicoacutelogo na escola In CAMPOS Florianita C B (org) Psicologia e sauacutede repensando praacuteticas S Paulo Hucitec p 65-84 1992

ARDOINO J Editorial De uma ambiguumlidade proacutepria a pesquisa-accedilatildeo as confusotildees mantidas pelas praacuteticas de intervenccedilatildeo Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos Brasiacutelia v 74 n 178 p 701-720 setldez 1993

AZANHA JMP Uma ideacuteia de pesquisa educacional Satildeo Paulo EDUSP FAPESP 1992

BARBIER R A pesquisa-accedilatildeo na instituiccedilatildeo educativa Rio de Janeiro Jorge Zahar 1985

BONFIN ZAC amp ALMEIDA SFC de Representaccedilatildeo social conceituaccedilatildeo dimensatildeo e funccedilotildees Revista de Psicologia Fortaleza v 9 n 12 p 75-89 19911992

BRANDAtildeO CR Participar-pesquisar In BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (org ) Repensando a pesquisa participante Satildeo Paulo Brasiliense 1984 p 7-14

CAETANO MOA A construccedilatildeo de representaccedilatildeo social a representaccedilatildeo de pais e alunos sobre a atuaccedilatildeo do psicoacutelogo na escolar PUCSP Dissertaccedilatildeo de Mestrado 1992

COLE M Socio-cultural-historical psycholog some general remarks and a proposal for a new kind of cultural-genetic methodolog In WERTSCH James V RIO Pablo Del amp Alvarez Amelia Sociocultural studies of mind Cambridge Cambridge University Press 1995 p 187-214

COLL C As contribuiccedilotildees da psicologia para a educaccedilatildeo teoria geneacutetica e aprendizagem escolar In LEITE Luci Banks (org) Piaget e a Escola de Genebra Satildeo Paulo Cortez 1987 p 164-197

CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - 6ordf REGIAtildeO Psicologia formaccedilatildeo atuaccedilatildeo profissional e mercado de trabalho - Estatiacutesticas 1995 Satildeo Paulo CRP06 1995

COSTA AC KUMATA LY amp SIQUEIRA S de L Esclarecimento do papel do psicoacutelogo em instituiccedilatildeo escolar e levantamento nas escolas das facilidadesdificuldades encontradas pelos estagiaacuterios Relatoacuterio de Pesquisa Londrina Dep Psicologia Social e InstitucionalUEL 1994 mimeo

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FIGUEIREDO LCM Matrizes do pensamento psicoloacutegico Petroacutepolis Vozes 1991

FIGUEIREDO LCM Sob o signo da multiplicidade Estudos

de Psicologia Campinas v 10 n 1 p 11-18 1993

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GUATTARI F Revoluccedilatildeo molecular pulsaccedilotildees pol iacuteticas do desejo 3 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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LOURAU R A anaacutelise institucional Petroacutepolis Vozes 1975

MACHADO VLS et ai Psicoacutelogo escolar orientador pedagoacutegico e assistente pedagoacutegico na escola um trabalho em cooperaccedilatildeo Paideacuteia Rib PretoUSP n 4 p 45-63 1993

MALlNOWSKI B Argonautas do Paciacutefico Ocidental 2 ed Satildeo Paulo Abril Cultural 1978

MARTINS JB Marolas antropoloacutegicas identidades em mudanccedila na Praia do Santinho Florianoacutepolis UFSC Dissertaccedilatildeo de Mestrado 1995

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PATTO MHS Psicologia e ideologia uma introduccedilatildeo criacutetica a psicologia escolar Satildeo Paulo TA Queiroz 1984

SALLES LMF Representaccedilatildeo social e cotidiano Didaacutetica Satildeo Paulo V 2627 p 11-20 19901991

SINDICATO DOS PSICOacuteLOGOS NO ESTADO DE SAtildeO PAULO amp CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - 6ordf REGIAtildeO Anais do I Encontro de Psicoacutelogos da Aacuterea de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo do Autor 1981

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TEDLOCK D A tradiccedilatildeo analoacutegica e o surgimento de uma antropologia diaboacutelica Anuaacuterio de Antropologia85 1988

THIOLLENT M Notas para o debate sobre a pesquisa-accedilatildeo In BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (org) Repensando a pesquisa participante Satildeo Paulo Brasiliense 1984 p 82-103

VELHO G Observando o familiar In VELHO G Individualismo e cultura notas para uma antropologia da sociedades contemporacircnea 2 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 1987 p 121-132

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 3 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1991

VYGOTSKY LS A formaccedilatildeo social da mente 3 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1991 a

Seminu Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273

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Page 7: Participative observation: a methodological approach to school psychology

contexto escolar (reuniotildees encontros no gabinete com

alunos e professores etc ) Ele deve considerar os

espaccedilos informais (papos nos corredores hora do

cafezinho recreio dos alunos etc ) como oportunidashy

des tanto para conhecer (pesquisa) a real idade escolar

como um espaccedilo de intervenccedilatildeo junto ao universo das

representaccedilotildees daqueles que ali se inserem e se exshy

pressam

Nesse sentido entendemos que a principal funshy

ccedilatildeo do psicoacutelogo dentro da escola eacute a de - a partir de

seu cotidiano e de sua histoacuteria - proporcionar situaccedilotildees

coletivas onde se desvele os significados impliacutecitos nas

relaccedilotildees (sobre a escola sobre o conhecimento sobre

o aluno etc ) de tal forma que os envolvidos no proshy

cesso decircem novos significados para as relaccedilotildees que

ali estabelecem Tal possibilidade por sua vez conshy

cretiza-se na medida em que o psicoacutelogo cria oportunishy

dades para que o coletivo da escola construa e crie novas necessidades para si transforme as condiccedilotildees

e os mecanismos de construccedilatildeo dos significados impliacuteshy

citos nas relaccedilotildees intra e extra escolares

Tal perspectiva abre a possibilidade para a emershy

gecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashy

ccedilotildees que se estruturam no contexto escolar pois se

oportuniza a expressatildeo dos vaacuterios segmentos que comshy

potildeem a estrutura social da escola Isto nos faz pensar

na forccedila das contradiccedilotildees no engendramento das mushy

danccedilas histoacutericas e na capacidade do homem em

promovecirc-Ias e superaacute-Ias

Nesse sentido ANDREAZI (1992) afirma

Onde encontrar marcas da identidade subjetiva

simbolicamente evidenciadas No espaccedilo nas coisas

nas regras nos produtos das tarefas educativas nas interaccedilotildees Interessa perceber como as pessoas vecircem

e se vecircem como elementos vinculados agrave Escola Inteshy

ressa para quecirc Para uma compreensatildeo da dinacircmica

institucional poderes resistecircncias e percepccedilotildees conshy

traditoacuterias de um mesmo Real tecido por sujeitos reais

Que imagem se tem desta Escola Que Escola ela preshy

tende ser Onde estaacute por onde transita o desejo dos

que habitam este cotidiano Da resposta a estas quesshy

totildees surge o perfil de uma instituiccedilatildeo educacional que

pode mirar-se perceber-se como uacutenica como histoacuteria

recursos e possibilidades diferenciadas (p 94)

Iniciamos este trabalho assinalando que ainda

se apresenta em nossa sociedade a ideacuteia de que o psishycoacutelogo escolar eacute o profissional que trabalha com as crishy

anccedilas problemas dentro da escola Durante a nossa

exposiccedilatildeo afirmamos que eacute a praacutetica profissional que

determina as representaccedilotildees sobre os profissionais de

certas profissotildees A partir das consideraccedilotildees acerca

da inserccedilatildeo do psicoacutelogo no cotidiano escolar atraveacutes

da observaccedilatildeo participante podemos vislumbrar algushy

mas possibilidades de mudanccedilas nas representaccedilotildees

que se estruturam ao longo da histoacuteria sobre a Psicoloshy

gia Escolar Nesse sentido se o psicoacutelogo abordar e intervir junto as representaccedilotildees sociais que medeiam

suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar

desvelando os significados impliacutecitos nestas represenshy

taccedilotildees - abordando-os a partir da histoacuteria e do cotidiano

escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de

novos significados tanto para sua presenccedila no contexto

escolar como para o seu trabalho

Trabalhar junto as pessoas considerando-as enshy

quanto sujeitos histoacutericos de seus proacuteprios processos

ante os desafios do cotidiano escolar permite-nos consshy

tatar que natildeo existe uma uacutenica verdade acerca da realishy

dade escolar mas diferentes aproximaccedilotildees Tais aproshy

ximaccedilotildees possibilitadas por esse processo interativo

(que natildeo eacute fixo pela proacutepria natureza da histoacuteria) e pelas condiccedilotildees objetivas que a realidade social nos apreshy

senta deixa-nos como legado a ideacuteia de que viver e

desenvolver-se implica em transformaccedilotildees contiacutenuas

que se realizam atraveacutes da interaccedilatildeo dos indiviacuteduos entre si e entre os indiviacuteduos e o meio no qual se inserem

(LIMA 1990 p 19)

MARTINS JB Participative observation a methodological approach to school psychology Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 Sep 1996

ABSTRACT The purpose of th is paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals Therefore the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine

KEY-WORDS School Psychology - Participative Observation - Research Methodology - Quotidian

Sttm irw Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273

272

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

A pesquisa qualitativa e o estudo da escola (Simpoacutesio) Cadernos de pesquisa Satildeo Paulo n 49 p 43-66 1984

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BRANDAtildeO CR Participar-pesquisar In BRANDAtildeO Carlos Rodrigues (org ) Repensando a pesquisa participante Satildeo Paulo Brasiliense 1984 p 7-14

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de Psicologia Campinas v 10 n 1 p 11-18 1993

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PATTO MHS Psicologia e ideologia uma introduccedilatildeo criacutetica a psicologia escolar Satildeo Paulo TA Queiroz 1984

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