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The purpose of this paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists. We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife. The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals. Therefore, the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine.
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OBSERVACcedilAtildeO PARTICIPANTE UMA ABORDAGEM METODOLOacuteGICA PARA A PSICOLOGIA ESCOLAR1
JOAtildeO BATISTA MARTINS2
MARTINS J B Observaccedilatildeo participante uma abordagem metodoloacutegica para a psicologia escolar Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 set 1996
RESUMO O propoacutesito deste trabalho eacute discutir a observaccedilatildeo participante como uma metodologia aproshypriada para o trabalho do psicoacutelogo escolar Noacutes consideramos a escola como uma construccedilatildeo social circunscrita pelas representaccedilotildees sociais dos agentes que participam de seu dia a dia A observaccedilatildeo participante permite ao psicoacutelogo pesquisar as estruturas das relaccedilotildees sociais e oferecer soluccedilotildees altershynativas para os problemas emergentes na realizaccedilatildeo das metas da escola Portanto o trabalho do psicoacuteshylogo deve ser o de compreender as representaccedilotildees sociais dos segmentos sociais da escola no sentido de desvelar as contradiccedilotildees impliacutecitas nas relaccedilotildees escolares rotineiras
PALAVRAS-CHAVES Psicologia escolar observaccedilatildeo participante metodologia de pesquisa cotidiano
LOCALIZANDO A ATUACcedilAtildeO DO PSICOacuteLOGO ESCOLAR
A Psicologia mais especificamente a nascida na segunda metade do Seacutec XIX (Wundt 1879) na Europa numa sociedade capitalista industrial desenshyvolveu-se atraveacutes do embate de alguns paradigmas inshyconciliaacuteveis (FIGUEIREDO 1991 1993) Possui no entanto uma unidade que longe de ser cientiacutefica eacute ideoloacutegica Constituiu-se como instrumento das necesshysidades da sociedade em que nasceu com o objetivo de selecionar orientar adaptar e racionalizar visando em uacuteltima instacircncia a um aumento da produtividade (PATTO 1984 p 87)
A Psicologia Escolar por sua vez na medida em que nasceu com as matildeos dadas com a psicometria desenvolveu um conjunto de atividades onde se destashycam a avaliaccedilatildeo da prontidatildeo organizaccedilatildeo de classes e diagnoacutesticos e encaminhamentos de crianccedilas com distuacuterbios de aprendizagem
No Brasil a inserccedilatildeo dos psicoacutelogos na aacuterea da educaccedilatildeo foi fortemente influenciada por essas praacutetishycas e teorias impregnada pelas ideacuteias do chamado modelo cliacutenico (ANDALOacute 1984) onde os problemas satildeo equacionados em termos de sauacutede x doenccedila e eram interpretados como sintomas determinados por fatores subjacentes ao indiviacuteduo Neste modelo em que o conshyceito de patologia eacute central o papel do ambiente emshybora considerado eacute interpretado como secundaacuterio
Uma das razotildees para o predomiacutenio deste modelo pode ser vislumbrada com a implementaccedilatildeo das conshycepccedilotildees liberais subjacentes ao modelo capitalista deshysenvolvido nos paiacuteses ocidentais especialmente no tershyceiro mundo Assim uma concepccedilatildeo teoacuterica como o modelo cliacutenico que deposita no indiviacuteduo os principais determinantes dos problemas psicoloacutegicos encontrou ampla aceitaccedilatildeo numa sociedade que tem no individuashylismo um de seus principais suportes ideoloacutegicos (o sucesso ou o fracasso dependem basicamente do indishyviacuteduo)
A escola por sua vez reflete e reproduz as situshyaccedilotildees sociais que caracterizam tal modelo de sociedashyde Assim os mecanismos ideoloacutegicos inerentes ao sistema social - no Brasil extremamente marcado pelas desigualdades sociais - satildeo naturalizados atraveacutes de um processo de interiorizaccedilatildeo que faz com que passhysem a fazer parte da subjetividade daqueles que estatildeo inseridos no sistema educacional traduzindo-se em forma de relacionamentos e auto-percepccedilatildeo Tendo em vista as dificuldades das crianccedilas oriundas das classhyses subalternas (PATTO 1984) para se inserirem e se manterem no contexto escolar natildeo raro encontramos alunos (assim como seus familiares) que interpretam tal fracasso culpando-se porque achama-se burros ou porque tecircm sua cabeccedila oca Em suma uma quesshytatildeo que tem dimensotildees sociais passa a ser abordada e explicada no plano individual (MOYSEacuteS amp COLLARES 1992)
1 Uma versatildeo preliminar deste artigo foi apresentada no XXVI International Congress of Psychology realizado em Montreal no periacuteodo de 16 a 210896
2 Departamento de Psicologia Social e Institucional da Universidade Estadual de Londrina
Semillo Cio SociaisHum bull v 17 n 3 p_ 266-273
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o modelo liberal tambeacutem marca a estruturaccedilatildeo dos cursos de psicologia no Brasil a partir da deacutecada de 60 Isto possibilitou o estabelecimento de um ciacuterculo vicioso entre o modelo de formaccedilatildeo e a imagem social da profissatildeo - o psicoacutelogo eacute visto como um profissional atuando basicamente em consultoacuterios com a funccedilatildeo de curar os indiviacuteduos com problemas psicoloacutegicos3
Uma pesquisa realizada em 1981 pelo Sindicato dos Psicoacutelogos no Estado de Satildeo Paulo e pelo Conseshylho Regional de Psicologia 6ordf Regiatildeo (em 1981 o Conshyselho abrangia somente o Estado de Satildeo Paulo atualshymente abrange os Estados de Satildeo Paulo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) junto agraves faculdades que oferecishyam o curso de psicologia revelou que o embasamento teoacuterico da psicologia escolar ocorre tardiamente (7ordm peshyriacuteodo para os cursos semestrais) fato que parece inshyterferir na visatildeo que os alunos desenvolvem sobre a aacuterea como aacuterea menor de pouco peso
Apesar desta pesquisa se referir aos anos 80 ateacute este momento encontramos este mesmo vieacutes nos cursos de formaccedilatildeo de psicoacutelogos Tal situaccedilatildeo reflete na manutenccedilatildeo da expectativa por parte da sociedade e dos alunos que ingressam no curso de que o psicoacuteloshygo trabalha no consultoacuterio - curando loucos
Tal perspectiva tem um reflexo interessante junshyto agraves escolas Eacute comum identificarmos ali a percepccedilatildeo do psicoacutelogo como uma espeacutecie de maacutegico capaz de resolver todos os problemas que as crianccedilas possam apresentar Tal representaccedilatildeo nos sugere duas hipoacuteteshyses complementares de um lado esta situaccedilatildeo eacute uma tentativa de passar a responsabilidade da accedilatildeo pedashygoacutegica para outra pessoa - e neste caso o psicoacutelogo eacute bem vindo por outro lado na medida em que o psicoacuteloshygo eacute visto como maacutegico o cuidar de crianccedilas pode expressar um mecanismo de defesa - o que afasta a possibilidade de intervenccedilatildeo deste profissional junto a professores e direccedilatildeo
Uma pesquisa realizada em 1994 junto agraves escoshylas que recebem atendimento da Aacuterea de Psicologia Escolar do Departamento de Psicologia Social e InstitucionalUEL revelou que as solicitaccedilotildees de trabashylho feitas por estas instituiccedilotildees estavam diretamente relacionadas ao modelo cliacutenico referido anteriormente - esperava-se que as crianccedilas com dificuldades fosshysem tratadas fora do contexto escolar e apoacutes a cura fossem novamente inseridas nas salas de aula (COSshyTA KUMATA amp SIQUEIRA 1994)4
Numa pesquisa recente realizada pelo CONSEshyLHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - 6ordf REGIAtildeO (1995) constata-se que de um universo de 27718 psicoacutelogos
que participaram da pesquisa 4075 atua em consulshytoacuterios particulares enquanto que 8105 atua em escola Nota-se assim que o consultoacuterio particular continua a ser o setor predominante de trabalho do psicoacutelogo
MACHADO et ai (1993) numa investigaccedilatildeo soshybre a relaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar com outros profissishyonais em escolas (puacuteblicas e particulares) da cidade de Ribeiratildeo Preto mostra-nos que a funccedilatildeo mais exercida por estes profissionais no contexto escolar eacute a de mantenedor da disciplina escolar - entendida como uma accedilatildeo de suspensatildeo de alunos quando necessaacuterio conshyversa com pais tendo em vista a adaptaccedilatildeo escolar dos alunos agraves normas da instituiccedilatildeo (p 51)
Apesar das mudanccedilas ocorridas na relaccedilatildeo enshytre psicologia e educaccedilatilde05
ateacute hoje o que se esperashysocialmente falando - do trabalho do psicoacutelogo escolar eacute que ele resolva os problemas das crianccedilas com difishyculdades de aprendizagem indisciplina etc atraveacutes de um trabalho direto e exclusivo com elas (agraves vezes com seus familiares) sem relac ionar esses problemas com o sistema educacional as condiccedilotildees sociais etc refletidos na escola
Entendemos que a re-atualizaccedilatildeo do ideaacuterio libeshyrai - hoje conhecido como neoliberalismo assim como a formaccedilatildeo acadecircmica dos psicoacutelogos contribuem para a manutenccedilatildeo desta situaccedilatildeo Aleacutem disso vale ressalshytar que tal perspetiva de trabalho tambeacutem estaacute relacioshynada com a atuaccedilatildeo deste profissional Nesse sentido lembra-nos CAETANO (1992) eacute a praacutetica profissional a responsaacutevel pela criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da imagem de uma determinada profissatildeo e dos serviccedilos que ela pode oferecer ao puacuteblico (p 45)
A partir da consideraccedilatildeo de Caetano vale resshysaltar que as representaccedilotildees acerca do trabalho do psicoacutelogo escolar eacute circunscrita por condiccedilotildees objetishyvas de nossa realidade ou seja por condiccedilotildees econocircshymicas sociais poliacuteticas etc que de uma certa forshyma o localiza (assim com suas possibi lidades de intershyvenccedilatildeo) no contexto social
Desta forma a discussatildeo acerca do trabalho dos psicoacutelogos escolares deve passar - necessariamente shypor uma compreensatildeo dos fatores que possibilitaram a emergecircncia das representaccedilotildees a respeito de seu trashybalho - seja no contexto escolar seja no contexto socishyal em que estaacute inserido Conhecendo tais representashyccedilotildees assim como as condiccedilotildees que as engendraram este profissional teraacute a possibilidade de promover as situaccedilotildeesrelaccedilotildees que oportunizem a transformaccedilatildeo das mesmas Este seraacute o mote para nossa discussatildeo em seguida
Em 1988 o Conselho Regional de Psicologia - 6 Regiatildeo produziu um viacutedeo - Psicologia imagens e accedilotildees - cujo objetivo foi o de documentar o que pensam profissionais e populaccedilatildeo sobre o que eacute psicologia A parti r de uma anaacutelise do filme podemos dizer que tal visatildeo do psicoacutelogo estaacute muito presente em nossa populaccedilatildeo A mesma expectativa sobre o trabalho do psicoacutelogo escolar eacute expressa por SOUZA (1992) em estaacuteg io realizado na Aacuterea de Psicologia Escolar do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciecircncias e Letras de Assis - UNESP Ver tambeacutem os dados colhidos pelo SINDICATO DOS PSICOacuteLOGOS NO ESTADO DE SAtildeO PAULO amp CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - 6 REGIAtildeO (1981) Para uma discussatildeo acerca deste processo ver ALMEIDA amp GUZZO (1992) e COLL (1987)
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OBSERVACcedilAtildeO PARTICIPANTE E O QUE FAZER DO
PSICOacuteLOGO ESCOLAR
Antes de iniciarmos a discussatildeo sobre a obsershy
vaccedilatildeo participante e o que esta metodologia oferece
aos psicoacutelogos escolares conveacutem esclarecermos a concepccedilatildeo de escola que norteia nosso trabalho o que
ajudaraacute o leitor a situar melhor nossas propostas
Cotidiano escolar o objeto para o psicoacutelogo escolar
Entendemos a escola como uma instituiccedilatildeo soacuteshy
cio-cultural organizada e pautada por valores concepshy
ccedilotildees e expectativas perpassada por relaccedilotildees sociais
na organizaccedilatildeo do trabalho e da produccedilatildeo Nela os alushy
nos os professores a direccedilatildeo os pais e a comunidade
satildeo vistos como sujeitos histoacutericos culturais Na medida que abordamos a proacutepria instituiccedilatildeo
escolar como um produto histoacuterico cultural que age e interage numa trama de complexos processos soacutecioshy
culturais vislumbramos novas possibilidades para a
construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de escola
Segundo EZPELETA amp ROCKWELL (1986)
A escola eacute na teoria tradicional uma instituiccedilatildeo ou um aparelho do Estado Tanto na versatildeo positivista (Durkheim) como nas versotildees criacuteticas (Althuser Bourdieu) sua pertenccedila ao Estado transforma-a autoshymaticamente em representante uniacutevoca da vontade esshytatal A escola tem uma histoacuteria documentada geralshymente escrita a partir do poder estatal a qual destaca sua existecircncia homogecircnea Coexiste contudo com esta histoacuteria e existecircncia documentada outra histoacuteria e exisshytecircncia natildeo documentada atraveacutes da qual a escola toma forma material ganha vida Nesta histoacuteria a determinashyccedilatildeo e presenccedila estatal se entrecruza com as determishynaccedilotildees e presenccedila civis de variadas caracteriacutesticas A homogeneidade documentada decompotildee-se em muacuteltishyplas realidades cotidianas Nesta histoacuteria natildeo documenshytada nesta dimensatildeo cotidiana os trabalhadores os alunos e os pais se apropriam dos subsiacutedios e das presshycriccedilotildees estatais e constroem a escola (EZPELETA amp
ROCKWELL 1986 p 12-3 - assinalamentos no origishy
nai)
Sob esta oacutetica a escola natildeo eacute a mesma em todo o mundo capitalista pois ela se realiza num mundo proshyfundamente diverso e diferenciado Olhando o movimento
social a partir das situaccedilotildees e dos sujeitos que realishy
zam anonimamente a escola podemos dizer que a reashylidade de cada escola eacute umaconstruccedilatildeo social a consshy
truccedilatildeo de cada escola mesmo circunscrita por um movimento histoacuterico de longo alcance (como eacute o caso
do capitalismo) eacute sempre uma versatildeo local e particushy
lar Dessa expressatildeo local tomam forma internamente
as correlaccedilotildees de forccedilas as condiccedilotildees trabalhistas as
formas de relaccedilatildeo predominantes as prioridades admishynistrativas as tradiccedilotildees docentes que constituem a trashy
ma real em que se realiza a educaccedilatildeo
Eacute uma trama em permanente construccedilatildeo que arshyticula histoacuterias locais - pessoais e coletivas - diante
das quais a vontade estatal abstrata pode ser assumishyda ou ignorada mascarada ou recriada em particular
abrindo espaccedilos variaacuteveis a uma maior ou menor possishy
bilidade hegemocircnica Uma trama finalmente que eacute preshy
ciso conhecer porque constitui simultaneamente o
ponto de partida e o conteuacutedo do real em nossas altershy
nativas tanto pedagoacutegicas quanto poliacuteticas (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 11)
A observaccedilatildeo participante permite ao psicoacutelogo escolar inserido neste contexto olhar para o processo
de apropriaccedilatildeo de conhecimento dos vaacuterios segmentos
que estatildeo inseridos no ambiente escolar o que signifishyca analisar a existecircncia cotidiana da esola como histoacuteshy
ria acumulada buscar no seu presente os elementos
estatais e civis com as quais a escola se construiu Ou
seja na observaccedilatildeo da escola ele poderaacute averiguar o
que eacute convergente o que eacute divergente ou contraditoacuterio nas diversas formas do existir da escola
O cotidiano escolar assim passa a ser o espashy
ccedilo privilegiado para a pesquisa e para a intervenccedilatildeo do
psicoacutelogo escolar6 pois eacute aiacute onde se daacute o encontro dos
diversos segmentos que estatildeo envolvidos com o dia-ashy
dia da escola o que circunscreve o campo para a emershygecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashyccedilotildees sociais que ali se desenvolvem7bull
O cotidiano escolar enfim caracteriza-se como
um campo de interseccedilatildeo entre sujeitos individuais que
levam seus saberes especiacuteficos para a construccedilatildeo da escola Nestes espaccedilos incorporam-se e tornam-se sigshy
nificativos numerosos elementos natildeo previstos na realishydade nas categorias tradicionais da realidade escolar
A realiade escolar aparece sempre mediada pela ativishy
dade cotidiana pela apropriaccedilatildeo elaboraccedilatildeo
refuncionalizaccedilatildeo ou repulsa que os sujeitos levam a cabo
A partir do cotidiano escolar e atraveacutes da obsershyvaccedilatildeo participante o psicoacutelogo escolar teraacute acesso agraves
representaccedilotildees sociais que medeiam as relaccedilotildees que se travam intra e extra instituiccedilatildeo escolar As represhy
sentaccedilotildees sociais satildeo as explicaccedilotildees e as afirma-
Entendemos que o processo de pesquisa e de intervenccedilatildeo tendo como metodologia a observaccedilatildeo participante satildeo complementares no que fazer profissional do psicoacutelogo escolar Discutiremos esta perspectiva mais adiante KRAMER (1989) nos apresenta algumas destas contradiccedilotildees presentes no contexto de uma escola puacuteblica
Sem ina Ci SociaisHum v 17 n p 266-273
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ccedilotildees que os indiviacuteduos datildeo sobre sua realidade Eacute como assimila a estrutura social na qual integram suas expeshyriecircncias valores ou seja eacute a relaccedilatildeo que se estabeleshyce entre o homem e o meio (SALLES 19901991 p 15)8
Representaccedilatildeo social eacute portanto o conjunto de significados que os indiviacuteduos estabelecem para a sua realidade significados esses que satildeo expressos pela linguagem Tal perspectiva nos sugere que o psiquismo humano eacute produto da sociedade e concomitantemente as representaccedilotildees sociais satildeo engendradas coletivashymente pela sociedade Nesse sentido a partir de uma abordagem soacutecio-cultural do psiquismo human09
enshytendemos que os significados satildeo produzidos socialshymente e se transformam atraveacutes da atividade e pensashymento dos indiviacuteduos e assim individualizam-se subjetivam-se
Tendo em vista estas consideraccedilotildees podemos dizer que ao tomar o cotidiano escolar como espaccedilo social de pesquisaintervenccedilatildeo o psicoacutelogo escolar teraacute acesso as mediaccedilotildees que os indiviacuteduos estabelecem para compreenderem sua realidade - as representaccedilotildees sociais - e assim poderaacute desvelar os mecanismos utishylizados (individual e coletivamente) na construccedilatildeo de sentidos para a realidade escolar Dito de outra forma o psicoacutelogo escolar poderaacute desvelar os significados (conshyvergentes ou contraditoacuterios) que os agentes sociais envolvidos no processo educacional- pais alunos proshyfessores direccedilatildeo etc - atribuem para a relaccedilatildeo proshyfessor x aluno para o conhecimento para o processo ensinoaprendizagem para o processo de avaliaccedilatildeo etc aleacutem dos significados atribuiacutedos ao proacuteprio trashybalho do psicoacutelogo escolar
Estas consideraccedilotildees levam-nos a indicar a obshyservaccedilatildeo participante como a metodologia mais adeshyquada para o psicoacutelogo escolar apreender compreenshyder e intervir no contexto escolar 0 Por um lado esta metodologia lhe proporciona uma aproximaccedilatildeo do cotishydiano escolar e de suas representaccedilotildees sociais resgashytando sua dimensatildeo histoacuterica soacutecio-cultural seus proshycessos Por outro lado permite-lhe intervir neste cotidishyano e nele trabalhar ao niacutevel das representaccedilotildees socishyais e propiciar a emergecircncia de novas necessidades para os agentes que ali se movimentam
A observaccedilatildeo participante se insere no conjunto das metodologias denominadas no campo educacioshynal de qualitativas e frequumlentemente de etnograacuteficas
Ver tambeacutem o trabalho de BONFIN amp ALMEIDA 19911992
ANDREacute (1992) avaliando a produccedilatildeo cientiacutefica que se desenvolveu sob esta abordagem nos uacuteltimos dez anos avalia
O que se verifica no entanto eacute que a grande maioria envolve dados de campo sistematizados em forma de descriccedilotildees que acrescentam muito pouco ao que se sabe ou conhece ao niacutevel do senso comum Eacute a empiria pela empiria O autor parece satisfazer-se com o fato de coletar uma grande quantidade de dados e parece esperar que esses dados por si produzam algushyma teoria Mas eacute evidente que sem um referencial de apoio que oriente o processo de reconstruccedilatildeo desses dados natildeo haacute avanccedilo teoacuterico - fica-se na constataccedilatildeo do oacutebvio na mesmice na reproduccedilatildeo do senso comum (ANDREacute 1992 p 3132)
A proposta que se coloca aqui vai na direccedilatildeo de superar tais limitaccedilotildees Trata-se de ir para aleacutem do senshyso comum Trata-se da tradiccedilatildeo etnograacutefica cuja esshysecircncia eacute identificada como documentar a realidade natildeoshydocumentada (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 15 n 3) Ela se circunscreve por um lado pela utilizaccedilatildeo das categorias2 utilizadas pelas ciecircncias sociais para a compreensatildeo da realidade (como classe social ideoshylogia poder etc ) e por outro pela criaccedilatildeo de novas categorias que satildeo construiacutedasreconstruiacutedas na relashyccedilatildeo pesquisador x escola pois
a heterogeneidade e a individualidade do cotishydiano existem outras dimensotildees ordenadoras Impotildeem forccedilosamente o reconhecimento de sujeitos que incorshyporam e objetivam a seu modo praacuteticas e saberes dos quais apropriaram em diferentes momentos e contexshytos de vida depositaacuterios que satildeo de uma histoacuteria acushymulada durante seacuteculos (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 28)
Atraveacutes da observaccedilatildeo participante portanto o psicoacutelogo escolar poderaacute reconstruir os processos que ocorrem na vida diaacuteria da escola Tal metodologia lhe permitiraacute integrar os vaacuterios momentos da escola e intershypretar sua realidade cotidiana Como tais processos se expressam por meio de elementos e situaccedilotildees diferenshytes que perpassam todos os acircmbitos com a metodologia acima indicada desvelar-se-aacute as tramas reais que se efetivam neste contexto e que se estruturam a partir de
Para um aprofundamento desta perspectiva ver VYGOTSKY 1991 1991 a e LEONTIEV 1978 10 O conceito de contexto que utilizamos para fazermos nossas proposiccedilotildees baseia-se na teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural
desenvolvida a partir das ideacuteias de Vygotsky Para tal teoria o contexto natildeo se reduz ao entorno ele expressa uma relaccedilatildeo qualitativa onde os objetos e os sujeitos e o entorno se mesclam constituindo-se numa unidade de anaacutelise Esta unidade compreende tanto os instrumentos materiais e simboacutelicos que permitem aos indiviacuteduos adaptarem-se a realidade como a dimensatildeo temporal histoacuterica na realidade humana que a configura Para mais detalhes ver LACASA 1993 e COLE 1995
11 Em 1983 aconteceu o Simpoacutesio A pesquisa qualitativa e o estudo da escola onde foi discutida amplamente esta perspectiva de pesquisa em educaccedilatildeo Os trabalhos ali apresentados foram reproduzidos em Cadernos de Pesquisa n 49 p 43-66
12 Cabe salientar que a utilizaccedilatildeo de categorias oferecidas pelas ciecircncias sociais agraves vezes limita o olhar do pesquisador sobre a escola pois natildeo lhe permite enxergar possibilidades outras de anaacutelises para tal realidade
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pequenas histoacuterias espaccedilos sociais onde se negocia e se reordena a continuidade das experiecircncias e a ativishydade escolar As contradiccedilotildees e incongruecircncias apashyrentes que se encontram nos mais diversos espaccedilos escolares (salas de aula reuniotildees na estrutura fiacutesica da escola etc ) adquirem sentido como resultado de mecanismos diferenciaacuteveis de reproduccedilatildeo e de aproprishyaccedilatildeo entre outros e mostram as diversas formas que a histoacuteria - social e individual - estaacute presente na vida cotishydiana da escola
A metodologia da observaccedilatildeo participante enshyfim possibilita ao psicoacutelogo escolar inserido no conshytexto da escola a olhar para as apropriaccedilotildees reais e potenciais que acontecem de baixo para cima a partir dos sujeitos individuais que vivenciam diariamente a instituiccedilatildeo Aleacutem disso ela cria a possibilidade de se construir um conhecimento que permite o estabelecishymento de relaccedilotildees mais reais com os processos que se datildeo no interior das escolas
Vale a pena resgatar por um momento algumas implicaccedilotildees da observaccedilatildeo participante inerentes na relaccedilatildeo psicoacutelogo escolar x escola considerando a dushypla perspectiva de sua atividade a de pesquisa e a inshytervenccedilatildeo Para tal aprofundamento faz-se necessaacuterio traccedilar algumas consideraccedilotildees sobre a observaccedilatildeo parshyticipante tendo como ponto de partida a Antropologia
Observaccedilatildeo Participante e a Antropologia
A observaccedilatildeo participante eacute uma metodologia elashyborada principalmente no contexto da pesquisa antroshypoloacutegica Trata-se de estabelecer uma adequada partishycipaccedilatildeo dos pesquisadores dentro dos grupos observashydos de modo a reduzir a estranheza reciacuteproca Os pesshyquisadores satildeo levados a compartilhar os papeacuteis e os haacutebitos dos grupos observados para estarem em conshydiccedilatildeo de observar fatos situaccedilotildees e comportamentos que natildeo ocorreriam ou que seriam alterados na presenshyccedila de estranhos Foi MALlNOWSKI (1978) quem sisteshymatizou as regras metodoloacutegicas para a pesquisa anshytropoloacutegica a ideacuteia que caracterizava o meacutetodo era a de que apenas atraveacutes da imersatildeo no cotidiano de uma outra cultura o antropoacutelogo poderia chegar a compreendecirc-Ia
Ou seja um dos pressupostos da observaccedilatildeo participante eacute o de que a convivecircncia do investigador com a pessoa ou grupo estudado cria condiccedilotildees privileshygiadas para que o processo de observaccedilatildeo seja condushyzido e decirc acesso a uma compreensatildeo que de outro modo natildeo seria alcanccedilaacutevel Admite-se que a experiecircncia direshyta do observador com a vida cotidiana do outro seja ele indiviacuteduo ou grupo eacute capaz de revelar na sua significashyccedilatildeo mais profunda accedilotildees atitudes episoacutedios etc
que de um ponto de vista exterior poderiam permaneshycer obscurecidas ou ateacute mesmo opacas
Assim o antropoacutelogo deveria passar por um proshycesso de transformaccedilatildeo atraveacutes do qual ele idealmente tornar-se-ia um nativo No entanto na medida em que essa experiecircncia natildeo eacute sistemaacutetica o antropoacutelogo deshyveria reelaboraacute-Ia transformando-a numa descriccedilatildeo objetiva (cientiacutefica) da cultura O resultado desta transshyformaccedilatildeo consiste no texto etnograacutefico onde o antroshypoacutelogo apresenta uma re-elaboraccedilatildeo de suas experiecircnshycias
O exerciacutecio desta metodologia trouxe para o censhytro da discussatildeo epistemoloacutegica questotildees referentes a relaccedilatildeo sujeito x objeto a partir da qual podemos situar alguns desdobramentos
Um dos problemas que se coloca para reflexatildeo refere-se agrave relaccedilatildeo entre o quanto se observa e o quanshyto se participa quando o pesquisador se encontra no campo BRANDAtildeO (1984) com a perspectiva de supeshyrar tal questionamento aponta uma certa orientaccedilatildeo para a abordagem das relaccedilotildees que ali se estabelecem Assim ele observa Eacute necessaacuterio que o cientista e sua ciecircncia seja primeiro um momento de compromisso e participaccedilatildeo com o trabalho histoacuterico e os projetos de luta do outro a quem mais do que conhecer para explishycar a pesquisa pretende compreender para servir (BRANDAtildeO 1984 p 12)
Tal perspectiva supotildee que os conhecimentos construiacutedos na relaccedilatildeo sujeito x objeto contribuem para a soluccedilatildeo dos conflitos sociais emergentes nas relashyccedilotildees sociais - luta contra a dominaccedilatildeo e a opressatildeo contra o preconceito e as discriminaccedilotildees etc Assim a relaccedilatildeo do pesquisador junto ao campo de pesquisa eacute uma relaccedilatildeo de implicaccedilatilde0 13 na vida da comunidade sociedade pesquisada o que se traduz para Brandatildeo em trabalho poliacutetico e luta popular Tal situaccedilatildeo na medida em que o outro se torna um companheiro de um compromisso leva o pesquisador a repensar tanto soshybre os destinos de sua pesquisa como tambeacutem a resshypeito de sua posiccedilatildeo pessoal
A relaccedilatildeo de participaccedilatildeo da praacutetica cientiacutefica no trabalho poliacutetico das classes populares desafia o pesshyquisador a ver e compreender tais classes seus sujei shytos e seus mundos tanto atraveacutes de suas pessoas nominadas quanto a partir de um trabalho social e poshyliacutetico de classe que constituindo a razatildeo da praacutetica constitui igualmente a razatildeo da pesquisa Estaacute inventashyda a pesquisa participante (BRANDAtildeO 1984 p 13shyassinalamentos no original) 14
Um outro desdobramento de tal questatildeo - a da relaccedilatildeo sujeito x objeto - vem sendo discutida a partir
Para um aprofundamento de ial conceito ver LOURAU 1975 GUATTARI 1987 e especialmente BARBIER 1985 Alguns tecircm se utilizado do termo pesquisa-accedilatildeo para caracterizar tal abordagem THIOLLENT (1984) estabelece as relaccedilotildees e as diferenccedilas entre estas duas formas de se abordar a realidade Ver tambeacutem ARDOINO 1993
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14
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da emergecircncia do paradigma hermenecircutico no campo
da Antropologia - que fundamenta a Antropologia Interpretativa a partir dos trabalhos de Clifford Geertz
Ao considerar que o trabalho do antropoacutelogo eacute fazer etnografias e que estas satildeo descriccedilotildees densas15 que
objetivam apreender uma cultura 16 e ao considerar a
etnografia como uma leitura - no sentido de construir uma leitura de - tal perspectiva coloca em pauta a posshytura do pesquisador no fazer antropoloacutegico a qual se
expressa no texto etnograacutefico pois
no estudo da cultura a anaacutelise penetra no proacuteshyprio corpo do objeto isto eacute comeccedilamos com as nosshy
sas proacuteprias interpretaccedilotildees do que pretendem nossos informantes ou o que achamos que eles pretendem e
depois passamos a sistematizaacute-Ias (enfim) os textos antropoloacutegicos satildeo eles mesmos interpretaccedilotildees e na verdade de segunda e terceira matildeo Trata-se portanto de ficccedilotildees ficccedilotildees no sentido de que satildeo algo
construiacutedo algo modelado (GEERTZ 197825-26 shyassinalamentos nossos)
o produto do trabalho do antropoacutelogo - o texto
etnograacutefico - eacute visto como o resultado da interaccedilatildeo que se estabelece entre o pesquisador e seu objeto de esshy
tudo uma interpretaccedilatildeo que se elabora a partir do resshygate da posiccedilatildeo histoacuterica do pesquisador na relaccedilatildeo com seu objeto de estudo
DaMatta a partir destes pressupostos consideshy
ra que em princiacutepio a Antropologia eacute uma ciecircncias da comutaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo pois
Em antropologia eacute preciso recuperar esse lado
extraordinaacuterio e estaacutetico das relaccedilotildees entre pesquisashydornativo Se este eacute o lado menos rotineiro eacute o mais
difiacutecil de ser apanhado da situaccedilatildeo antropoloacutegica eacute cershytamente porque ele se constitui no aspecto mais humashy
no de nossa rotina ( ) Essa descoberta da AntropQloshygia Social como mateacuteria interpretativa segue por outro
lado uma tendecircncia que parece marcar sua passashygem de uma ciecircncia natural da sociedade como querishyam os empiricistas ingleses e americanos para uma ciecircncia interpretativa destinada antes de tudo a conshy
frontar subjetividades e tratar delas (DAMATTA 1978 1112)
VELHO (1987) afirmando o caraacuteter aproximashytivo do conhecimento devido a uma certa dose de subshyjetividade do pesquisador afirma
A realidade sempre eacute filtrada por determinashydo ponto de vista do observador ela eacute percebida de maneira diferenciada ( ) natildeo estou proclamando a fashy
lecircncia do rigor cientiacutefico no estudo das sociedades mas a necessidade de percebecirc-lo enquanto objetividade reshy
lativa mais ou menos ideoloacutegico e sempre interpretativo (VELHO 1987 129)
Estas questotildees levam-nos a pensar que a consshy
truccedilatildeo do objeto em Antropologia implica simultaneashymente na construccedilatildeo do observador - o antropoacutelogo
Tal possibilidade eacute assinalada por Tedlock ao apontar que o domiacutenio das Ciecircncias Sociais caracteriza-se como
um repertoacuterio de conhecimento e expectativas ou cultushyra comum que foi compartilhado com os participantes
e foi criado a partir da interaccedilatildeo dos mesmos (TEDLOCK 1987184 - assinalamento nosso)
O produto do trabalho de campo (o texto etnograacutefico) portanto se constroacutei a partir da relaccedilatildeo pesquisador x pesquisado que ali se estabelece E na med ida em que tal relaccedilatildeo eacute um encontro
intersubjetivo nela tambeacutem estatildeo envolvidos aspecshytos da construccedilatildeo da identidade tanto do antropoacutelogo
como de seu objeto de estudo constituindo-se portanshyto faces de uma mesma moeda (MARTINS 1995)
Observaccedilatildeo participante e pesquisaintervenccedilatildeo
do psicoacutelogo escolar
As consideraccedilotildees anteriores sobre a observaccedilatildeo participante nos sugerem que esta maneira de abordar
o cotidiano escolar cria uma relaccedilatildeo de tensatildeo para o psicoacutelogo de um lado ele deve estabelecer do ponto
de vista analiacutetico (ou seja do ponto de vista epistemoloacutegico) um certo distanciamento do cotidiano escolar de tal modo que se possa conhecer seus interstiacutecios Por outro lado deve buscar estabelecer uma
relaccedilatildeo de implicaccedilatildeo junto aos agentes que estatildeo enshyvolvidos no processo educacional Tal perspectiva eacute
assim expressa por EZPELETA amp ROCKWELL (1986) Na observaccedilatildeo participante as relaccedilotildees interpessoais
entre pesquisador e sujeito ali chamadas relaccedilotildees soshyciais constituem as teorias eacute a relaccedilatildeo que determina o pensamento e natildeo o contraacuterio (p 83)
A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo sob a perspectiva
da observaccedilatildeo participante na medida em que tem como objeto o cotidiano escolar e as representaccedilotildees sociais que ali emergem natildeo deve se estruturar exclusivamenshy
te nas relaccedilotildees formais que se organizam dentro do 15 AZANHA (1992) vai propor para a pesquisa educacional a mesma proposiccedilatildeo de Geertz a elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees densas 16 Geertz define o objeto de estudo da Antropologia - a cultura - como essencialmente semioacutetica Para ele o homem eacute um animal
amarrado a te ias de significados que ele mesmo teceu [e assume] a cultura como sendo essas teias e a sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca de leis mas uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significado (GEERTZ 197815)
Semilla Ci SociaisHum v 17 n 3 p 266middot273
271
contexto escolar (reuniotildees encontros no gabinete com
alunos e professores etc ) Ele deve considerar os
espaccedilos informais (papos nos corredores hora do
cafezinho recreio dos alunos etc ) como oportunidashy
des tanto para conhecer (pesquisa) a real idade escolar
como um espaccedilo de intervenccedilatildeo junto ao universo das
representaccedilotildees daqueles que ali se inserem e se exshy
pressam
Nesse sentido entendemos que a principal funshy
ccedilatildeo do psicoacutelogo dentro da escola eacute a de - a partir de
seu cotidiano e de sua histoacuteria - proporcionar situaccedilotildees
coletivas onde se desvele os significados impliacutecitos nas
relaccedilotildees (sobre a escola sobre o conhecimento sobre
o aluno etc ) de tal forma que os envolvidos no proshy
cesso decircem novos significados para as relaccedilotildees que
ali estabelecem Tal possibilidade por sua vez conshy
cretiza-se na medida em que o psicoacutelogo cria oportunishy
dades para que o coletivo da escola construa e crie novas necessidades para si transforme as condiccedilotildees
e os mecanismos de construccedilatildeo dos significados impliacuteshy
citos nas relaccedilotildees intra e extra escolares
Tal perspectiva abre a possibilidade para a emershy
gecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashy
ccedilotildees que se estruturam no contexto escolar pois se
oportuniza a expressatildeo dos vaacuterios segmentos que comshy
potildeem a estrutura social da escola Isto nos faz pensar
na forccedila das contradiccedilotildees no engendramento das mushy
danccedilas histoacutericas e na capacidade do homem em
promovecirc-Ias e superaacute-Ias
Nesse sentido ANDREAZI (1992) afirma
Onde encontrar marcas da identidade subjetiva
simbolicamente evidenciadas No espaccedilo nas coisas
nas regras nos produtos das tarefas educativas nas interaccedilotildees Interessa perceber como as pessoas vecircem
e se vecircem como elementos vinculados agrave Escola Inteshy
ressa para quecirc Para uma compreensatildeo da dinacircmica
institucional poderes resistecircncias e percepccedilotildees conshy
traditoacuterias de um mesmo Real tecido por sujeitos reais
Que imagem se tem desta Escola Que Escola ela preshy
tende ser Onde estaacute por onde transita o desejo dos
que habitam este cotidiano Da resposta a estas quesshy
totildees surge o perfil de uma instituiccedilatildeo educacional que
pode mirar-se perceber-se como uacutenica como histoacuteria
recursos e possibilidades diferenciadas (p 94)
Iniciamos este trabalho assinalando que ainda
se apresenta em nossa sociedade a ideacuteia de que o psishycoacutelogo escolar eacute o profissional que trabalha com as crishy
anccedilas problemas dentro da escola Durante a nossa
exposiccedilatildeo afirmamos que eacute a praacutetica profissional que
determina as representaccedilotildees sobre os profissionais de
certas profissotildees A partir das consideraccedilotildees acerca
da inserccedilatildeo do psicoacutelogo no cotidiano escolar atraveacutes
da observaccedilatildeo participante podemos vislumbrar algushy
mas possibilidades de mudanccedilas nas representaccedilotildees
que se estruturam ao longo da histoacuteria sobre a Psicoloshy
gia Escolar Nesse sentido se o psicoacutelogo abordar e intervir junto as representaccedilotildees sociais que medeiam
suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar
desvelando os significados impliacutecitos nestas represenshy
taccedilotildees - abordando-os a partir da histoacuteria e do cotidiano
escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de
novos significados tanto para sua presenccedila no contexto
escolar como para o seu trabalho
Trabalhar junto as pessoas considerando-as enshy
quanto sujeitos histoacutericos de seus proacuteprios processos
ante os desafios do cotidiano escolar permite-nos consshy
tatar que natildeo existe uma uacutenica verdade acerca da realishy
dade escolar mas diferentes aproximaccedilotildees Tais aproshy
ximaccedilotildees possibilitadas por esse processo interativo
(que natildeo eacute fixo pela proacutepria natureza da histoacuteria) e pelas condiccedilotildees objetivas que a realidade social nos apreshy
senta deixa-nos como legado a ideacuteia de que viver e
desenvolver-se implica em transformaccedilotildees contiacutenuas
que se realizam atraveacutes da interaccedilatildeo dos indiviacuteduos entre si e entre os indiviacuteduos e o meio no qual se inserem
(LIMA 1990 p 19)
MARTINS JB Participative observation a methodological approach to school psychology Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 Sep 1996
ABSTRACT The purpose of th is paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals Therefore the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine
KEY-WORDS School Psychology - Participative Observation - Research Methodology - Quotidian
Sttm irw Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273
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o modelo liberal tambeacutem marca a estruturaccedilatildeo dos cursos de psicologia no Brasil a partir da deacutecada de 60 Isto possibilitou o estabelecimento de um ciacuterculo vicioso entre o modelo de formaccedilatildeo e a imagem social da profissatildeo - o psicoacutelogo eacute visto como um profissional atuando basicamente em consultoacuterios com a funccedilatildeo de curar os indiviacuteduos com problemas psicoloacutegicos3
Uma pesquisa realizada em 1981 pelo Sindicato dos Psicoacutelogos no Estado de Satildeo Paulo e pelo Conseshylho Regional de Psicologia 6ordf Regiatildeo (em 1981 o Conshyselho abrangia somente o Estado de Satildeo Paulo atualshymente abrange os Estados de Satildeo Paulo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) junto agraves faculdades que oferecishyam o curso de psicologia revelou que o embasamento teoacuterico da psicologia escolar ocorre tardiamente (7ordm peshyriacuteodo para os cursos semestrais) fato que parece inshyterferir na visatildeo que os alunos desenvolvem sobre a aacuterea como aacuterea menor de pouco peso
Apesar desta pesquisa se referir aos anos 80 ateacute este momento encontramos este mesmo vieacutes nos cursos de formaccedilatildeo de psicoacutelogos Tal situaccedilatildeo reflete na manutenccedilatildeo da expectativa por parte da sociedade e dos alunos que ingressam no curso de que o psicoacuteloshygo trabalha no consultoacuterio - curando loucos
Tal perspectiva tem um reflexo interessante junshyto agraves escolas Eacute comum identificarmos ali a percepccedilatildeo do psicoacutelogo como uma espeacutecie de maacutegico capaz de resolver todos os problemas que as crianccedilas possam apresentar Tal representaccedilatildeo nos sugere duas hipoacuteteshyses complementares de um lado esta situaccedilatildeo eacute uma tentativa de passar a responsabilidade da accedilatildeo pedashygoacutegica para outra pessoa - e neste caso o psicoacutelogo eacute bem vindo por outro lado na medida em que o psicoacuteloshygo eacute visto como maacutegico o cuidar de crianccedilas pode expressar um mecanismo de defesa - o que afasta a possibilidade de intervenccedilatildeo deste profissional junto a professores e direccedilatildeo
Uma pesquisa realizada em 1994 junto agraves escoshylas que recebem atendimento da Aacuterea de Psicologia Escolar do Departamento de Psicologia Social e InstitucionalUEL revelou que as solicitaccedilotildees de trabashylho feitas por estas instituiccedilotildees estavam diretamente relacionadas ao modelo cliacutenico referido anteriormente - esperava-se que as crianccedilas com dificuldades fosshysem tratadas fora do contexto escolar e apoacutes a cura fossem novamente inseridas nas salas de aula (COSshyTA KUMATA amp SIQUEIRA 1994)4
Numa pesquisa recente realizada pelo CONSEshyLHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - 6ordf REGIAtildeO (1995) constata-se que de um universo de 27718 psicoacutelogos
que participaram da pesquisa 4075 atua em consulshytoacuterios particulares enquanto que 8105 atua em escola Nota-se assim que o consultoacuterio particular continua a ser o setor predominante de trabalho do psicoacutelogo
MACHADO et ai (1993) numa investigaccedilatildeo soshybre a relaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar com outros profissishyonais em escolas (puacuteblicas e particulares) da cidade de Ribeiratildeo Preto mostra-nos que a funccedilatildeo mais exercida por estes profissionais no contexto escolar eacute a de mantenedor da disciplina escolar - entendida como uma accedilatildeo de suspensatildeo de alunos quando necessaacuterio conshyversa com pais tendo em vista a adaptaccedilatildeo escolar dos alunos agraves normas da instituiccedilatildeo (p 51)
Apesar das mudanccedilas ocorridas na relaccedilatildeo enshytre psicologia e educaccedilatilde05
ateacute hoje o que se esperashysocialmente falando - do trabalho do psicoacutelogo escolar eacute que ele resolva os problemas das crianccedilas com difishyculdades de aprendizagem indisciplina etc atraveacutes de um trabalho direto e exclusivo com elas (agraves vezes com seus familiares) sem relac ionar esses problemas com o sistema educacional as condiccedilotildees sociais etc refletidos na escola
Entendemos que a re-atualizaccedilatildeo do ideaacuterio libeshyrai - hoje conhecido como neoliberalismo assim como a formaccedilatildeo acadecircmica dos psicoacutelogos contribuem para a manutenccedilatildeo desta situaccedilatildeo Aleacutem disso vale ressalshytar que tal perspetiva de trabalho tambeacutem estaacute relacioshynada com a atuaccedilatildeo deste profissional Nesse sentido lembra-nos CAETANO (1992) eacute a praacutetica profissional a responsaacutevel pela criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da imagem de uma determinada profissatildeo e dos serviccedilos que ela pode oferecer ao puacuteblico (p 45)
A partir da consideraccedilatildeo de Caetano vale resshysaltar que as representaccedilotildees acerca do trabalho do psicoacutelogo escolar eacute circunscrita por condiccedilotildees objetishyvas de nossa realidade ou seja por condiccedilotildees econocircshymicas sociais poliacuteticas etc que de uma certa forshyma o localiza (assim com suas possibi lidades de intershyvenccedilatildeo) no contexto social
Desta forma a discussatildeo acerca do trabalho dos psicoacutelogos escolares deve passar - necessariamente shypor uma compreensatildeo dos fatores que possibilitaram a emergecircncia das representaccedilotildees a respeito de seu trashybalho - seja no contexto escolar seja no contexto socishyal em que estaacute inserido Conhecendo tais representashyccedilotildees assim como as condiccedilotildees que as engendraram este profissional teraacute a possibilidade de promover as situaccedilotildeesrelaccedilotildees que oportunizem a transformaccedilatildeo das mesmas Este seraacute o mote para nossa discussatildeo em seguida
Em 1988 o Conselho Regional de Psicologia - 6 Regiatildeo produziu um viacutedeo - Psicologia imagens e accedilotildees - cujo objetivo foi o de documentar o que pensam profissionais e populaccedilatildeo sobre o que eacute psicologia A parti r de uma anaacutelise do filme podemos dizer que tal visatildeo do psicoacutelogo estaacute muito presente em nossa populaccedilatildeo A mesma expectativa sobre o trabalho do psicoacutelogo escolar eacute expressa por SOUZA (1992) em estaacuteg io realizado na Aacuterea de Psicologia Escolar do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciecircncias e Letras de Assis - UNESP Ver tambeacutem os dados colhidos pelo SINDICATO DOS PSICOacuteLOGOS NO ESTADO DE SAtildeO PAULO amp CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - 6 REGIAtildeO (1981) Para uma discussatildeo acerca deste processo ver ALMEIDA amp GUZZO (1992) e COLL (1987)
SemlIo Cio SodaiJHllm bull v 17 n 3 p 266-273
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OBSERVACcedilAtildeO PARTICIPANTE E O QUE FAZER DO
PSICOacuteLOGO ESCOLAR
Antes de iniciarmos a discussatildeo sobre a obsershy
vaccedilatildeo participante e o que esta metodologia oferece
aos psicoacutelogos escolares conveacutem esclarecermos a concepccedilatildeo de escola que norteia nosso trabalho o que
ajudaraacute o leitor a situar melhor nossas propostas
Cotidiano escolar o objeto para o psicoacutelogo escolar
Entendemos a escola como uma instituiccedilatildeo soacuteshy
cio-cultural organizada e pautada por valores concepshy
ccedilotildees e expectativas perpassada por relaccedilotildees sociais
na organizaccedilatildeo do trabalho e da produccedilatildeo Nela os alushy
nos os professores a direccedilatildeo os pais e a comunidade
satildeo vistos como sujeitos histoacutericos culturais Na medida que abordamos a proacutepria instituiccedilatildeo
escolar como um produto histoacuterico cultural que age e interage numa trama de complexos processos soacutecioshy
culturais vislumbramos novas possibilidades para a
construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de escola
Segundo EZPELETA amp ROCKWELL (1986)
A escola eacute na teoria tradicional uma instituiccedilatildeo ou um aparelho do Estado Tanto na versatildeo positivista (Durkheim) como nas versotildees criacuteticas (Althuser Bourdieu) sua pertenccedila ao Estado transforma-a autoshymaticamente em representante uniacutevoca da vontade esshytatal A escola tem uma histoacuteria documentada geralshymente escrita a partir do poder estatal a qual destaca sua existecircncia homogecircnea Coexiste contudo com esta histoacuteria e existecircncia documentada outra histoacuteria e exisshytecircncia natildeo documentada atraveacutes da qual a escola toma forma material ganha vida Nesta histoacuteria a determinashyccedilatildeo e presenccedila estatal se entrecruza com as determishynaccedilotildees e presenccedila civis de variadas caracteriacutesticas A homogeneidade documentada decompotildee-se em muacuteltishyplas realidades cotidianas Nesta histoacuteria natildeo documenshytada nesta dimensatildeo cotidiana os trabalhadores os alunos e os pais se apropriam dos subsiacutedios e das presshycriccedilotildees estatais e constroem a escola (EZPELETA amp
ROCKWELL 1986 p 12-3 - assinalamentos no origishy
nai)
Sob esta oacutetica a escola natildeo eacute a mesma em todo o mundo capitalista pois ela se realiza num mundo proshyfundamente diverso e diferenciado Olhando o movimento
social a partir das situaccedilotildees e dos sujeitos que realishy
zam anonimamente a escola podemos dizer que a reashylidade de cada escola eacute umaconstruccedilatildeo social a consshy
truccedilatildeo de cada escola mesmo circunscrita por um movimento histoacuterico de longo alcance (como eacute o caso
do capitalismo) eacute sempre uma versatildeo local e particushy
lar Dessa expressatildeo local tomam forma internamente
as correlaccedilotildees de forccedilas as condiccedilotildees trabalhistas as
formas de relaccedilatildeo predominantes as prioridades admishynistrativas as tradiccedilotildees docentes que constituem a trashy
ma real em que se realiza a educaccedilatildeo
Eacute uma trama em permanente construccedilatildeo que arshyticula histoacuterias locais - pessoais e coletivas - diante
das quais a vontade estatal abstrata pode ser assumishyda ou ignorada mascarada ou recriada em particular
abrindo espaccedilos variaacuteveis a uma maior ou menor possishy
bilidade hegemocircnica Uma trama finalmente que eacute preshy
ciso conhecer porque constitui simultaneamente o
ponto de partida e o conteuacutedo do real em nossas altershy
nativas tanto pedagoacutegicas quanto poliacuteticas (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 11)
A observaccedilatildeo participante permite ao psicoacutelogo escolar inserido neste contexto olhar para o processo
de apropriaccedilatildeo de conhecimento dos vaacuterios segmentos
que estatildeo inseridos no ambiente escolar o que signifishyca analisar a existecircncia cotidiana da esola como histoacuteshy
ria acumulada buscar no seu presente os elementos
estatais e civis com as quais a escola se construiu Ou
seja na observaccedilatildeo da escola ele poderaacute averiguar o
que eacute convergente o que eacute divergente ou contraditoacuterio nas diversas formas do existir da escola
O cotidiano escolar assim passa a ser o espashy
ccedilo privilegiado para a pesquisa e para a intervenccedilatildeo do
psicoacutelogo escolar6 pois eacute aiacute onde se daacute o encontro dos
diversos segmentos que estatildeo envolvidos com o dia-ashy
dia da escola o que circunscreve o campo para a emershygecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashyccedilotildees sociais que ali se desenvolvem7bull
O cotidiano escolar enfim caracteriza-se como
um campo de interseccedilatildeo entre sujeitos individuais que
levam seus saberes especiacuteficos para a construccedilatildeo da escola Nestes espaccedilos incorporam-se e tornam-se sigshy
nificativos numerosos elementos natildeo previstos na realishydade nas categorias tradicionais da realidade escolar
A realiade escolar aparece sempre mediada pela ativishy
dade cotidiana pela apropriaccedilatildeo elaboraccedilatildeo
refuncionalizaccedilatildeo ou repulsa que os sujeitos levam a cabo
A partir do cotidiano escolar e atraveacutes da obsershyvaccedilatildeo participante o psicoacutelogo escolar teraacute acesso agraves
representaccedilotildees sociais que medeiam as relaccedilotildees que se travam intra e extra instituiccedilatildeo escolar As represhy
sentaccedilotildees sociais satildeo as explicaccedilotildees e as afirma-
Entendemos que o processo de pesquisa e de intervenccedilatildeo tendo como metodologia a observaccedilatildeo participante satildeo complementares no que fazer profissional do psicoacutelogo escolar Discutiremos esta perspectiva mais adiante KRAMER (1989) nos apresenta algumas destas contradiccedilotildees presentes no contexto de uma escola puacuteblica
Sem ina Ci SociaisHum v 17 n p 266-273
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-
------------------------------------------- ---------shy
ccedilotildees que os indiviacuteduos datildeo sobre sua realidade Eacute como assimila a estrutura social na qual integram suas expeshyriecircncias valores ou seja eacute a relaccedilatildeo que se estabeleshyce entre o homem e o meio (SALLES 19901991 p 15)8
Representaccedilatildeo social eacute portanto o conjunto de significados que os indiviacuteduos estabelecem para a sua realidade significados esses que satildeo expressos pela linguagem Tal perspectiva nos sugere que o psiquismo humano eacute produto da sociedade e concomitantemente as representaccedilotildees sociais satildeo engendradas coletivashymente pela sociedade Nesse sentido a partir de uma abordagem soacutecio-cultural do psiquismo human09
enshytendemos que os significados satildeo produzidos socialshymente e se transformam atraveacutes da atividade e pensashymento dos indiviacuteduos e assim individualizam-se subjetivam-se
Tendo em vista estas consideraccedilotildees podemos dizer que ao tomar o cotidiano escolar como espaccedilo social de pesquisaintervenccedilatildeo o psicoacutelogo escolar teraacute acesso as mediaccedilotildees que os indiviacuteduos estabelecem para compreenderem sua realidade - as representaccedilotildees sociais - e assim poderaacute desvelar os mecanismos utishylizados (individual e coletivamente) na construccedilatildeo de sentidos para a realidade escolar Dito de outra forma o psicoacutelogo escolar poderaacute desvelar os significados (conshyvergentes ou contraditoacuterios) que os agentes sociais envolvidos no processo educacional- pais alunos proshyfessores direccedilatildeo etc - atribuem para a relaccedilatildeo proshyfessor x aluno para o conhecimento para o processo ensinoaprendizagem para o processo de avaliaccedilatildeo etc aleacutem dos significados atribuiacutedos ao proacuteprio trashybalho do psicoacutelogo escolar
Estas consideraccedilotildees levam-nos a indicar a obshyservaccedilatildeo participante como a metodologia mais adeshyquada para o psicoacutelogo escolar apreender compreenshyder e intervir no contexto escolar 0 Por um lado esta metodologia lhe proporciona uma aproximaccedilatildeo do cotishydiano escolar e de suas representaccedilotildees sociais resgashytando sua dimensatildeo histoacuterica soacutecio-cultural seus proshycessos Por outro lado permite-lhe intervir neste cotidishyano e nele trabalhar ao niacutevel das representaccedilotildees socishyais e propiciar a emergecircncia de novas necessidades para os agentes que ali se movimentam
A observaccedilatildeo participante se insere no conjunto das metodologias denominadas no campo educacioshynal de qualitativas e frequumlentemente de etnograacuteficas
Ver tambeacutem o trabalho de BONFIN amp ALMEIDA 19911992
ANDREacute (1992) avaliando a produccedilatildeo cientiacutefica que se desenvolveu sob esta abordagem nos uacuteltimos dez anos avalia
O que se verifica no entanto eacute que a grande maioria envolve dados de campo sistematizados em forma de descriccedilotildees que acrescentam muito pouco ao que se sabe ou conhece ao niacutevel do senso comum Eacute a empiria pela empiria O autor parece satisfazer-se com o fato de coletar uma grande quantidade de dados e parece esperar que esses dados por si produzam algushyma teoria Mas eacute evidente que sem um referencial de apoio que oriente o processo de reconstruccedilatildeo desses dados natildeo haacute avanccedilo teoacuterico - fica-se na constataccedilatildeo do oacutebvio na mesmice na reproduccedilatildeo do senso comum (ANDREacute 1992 p 3132)
A proposta que se coloca aqui vai na direccedilatildeo de superar tais limitaccedilotildees Trata-se de ir para aleacutem do senshyso comum Trata-se da tradiccedilatildeo etnograacutefica cuja esshysecircncia eacute identificada como documentar a realidade natildeoshydocumentada (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 15 n 3) Ela se circunscreve por um lado pela utilizaccedilatildeo das categorias2 utilizadas pelas ciecircncias sociais para a compreensatildeo da realidade (como classe social ideoshylogia poder etc ) e por outro pela criaccedilatildeo de novas categorias que satildeo construiacutedasreconstruiacutedas na relashyccedilatildeo pesquisador x escola pois
a heterogeneidade e a individualidade do cotishydiano existem outras dimensotildees ordenadoras Impotildeem forccedilosamente o reconhecimento de sujeitos que incorshyporam e objetivam a seu modo praacuteticas e saberes dos quais apropriaram em diferentes momentos e contexshytos de vida depositaacuterios que satildeo de uma histoacuteria acushymulada durante seacuteculos (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 28)
Atraveacutes da observaccedilatildeo participante portanto o psicoacutelogo escolar poderaacute reconstruir os processos que ocorrem na vida diaacuteria da escola Tal metodologia lhe permitiraacute integrar os vaacuterios momentos da escola e intershypretar sua realidade cotidiana Como tais processos se expressam por meio de elementos e situaccedilotildees diferenshytes que perpassam todos os acircmbitos com a metodologia acima indicada desvelar-se-aacute as tramas reais que se efetivam neste contexto e que se estruturam a partir de
Para um aprofundamento desta perspectiva ver VYGOTSKY 1991 1991 a e LEONTIEV 1978 10 O conceito de contexto que utilizamos para fazermos nossas proposiccedilotildees baseia-se na teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural
desenvolvida a partir das ideacuteias de Vygotsky Para tal teoria o contexto natildeo se reduz ao entorno ele expressa uma relaccedilatildeo qualitativa onde os objetos e os sujeitos e o entorno se mesclam constituindo-se numa unidade de anaacutelise Esta unidade compreende tanto os instrumentos materiais e simboacutelicos que permitem aos indiviacuteduos adaptarem-se a realidade como a dimensatildeo temporal histoacuterica na realidade humana que a configura Para mais detalhes ver LACASA 1993 e COLE 1995
11 Em 1983 aconteceu o Simpoacutesio A pesquisa qualitativa e o estudo da escola onde foi discutida amplamente esta perspectiva de pesquisa em educaccedilatildeo Os trabalhos ali apresentados foram reproduzidos em Cadernos de Pesquisa n 49 p 43-66
12 Cabe salientar que a utilizaccedilatildeo de categorias oferecidas pelas ciecircncias sociais agraves vezes limita o olhar do pesquisador sobre a escola pois natildeo lhe permite enxergar possibilidades outras de anaacutelises para tal realidade
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pequenas histoacuterias espaccedilos sociais onde se negocia e se reordena a continuidade das experiecircncias e a ativishydade escolar As contradiccedilotildees e incongruecircncias apashyrentes que se encontram nos mais diversos espaccedilos escolares (salas de aula reuniotildees na estrutura fiacutesica da escola etc ) adquirem sentido como resultado de mecanismos diferenciaacuteveis de reproduccedilatildeo e de aproprishyaccedilatildeo entre outros e mostram as diversas formas que a histoacuteria - social e individual - estaacute presente na vida cotishydiana da escola
A metodologia da observaccedilatildeo participante enshyfim possibilita ao psicoacutelogo escolar inserido no conshytexto da escola a olhar para as apropriaccedilotildees reais e potenciais que acontecem de baixo para cima a partir dos sujeitos individuais que vivenciam diariamente a instituiccedilatildeo Aleacutem disso ela cria a possibilidade de se construir um conhecimento que permite o estabelecishymento de relaccedilotildees mais reais com os processos que se datildeo no interior das escolas
Vale a pena resgatar por um momento algumas implicaccedilotildees da observaccedilatildeo participante inerentes na relaccedilatildeo psicoacutelogo escolar x escola considerando a dushypla perspectiva de sua atividade a de pesquisa e a inshytervenccedilatildeo Para tal aprofundamento faz-se necessaacuterio traccedilar algumas consideraccedilotildees sobre a observaccedilatildeo parshyticipante tendo como ponto de partida a Antropologia
Observaccedilatildeo Participante e a Antropologia
A observaccedilatildeo participante eacute uma metodologia elashyborada principalmente no contexto da pesquisa antroshypoloacutegica Trata-se de estabelecer uma adequada partishycipaccedilatildeo dos pesquisadores dentro dos grupos observashydos de modo a reduzir a estranheza reciacuteproca Os pesshyquisadores satildeo levados a compartilhar os papeacuteis e os haacutebitos dos grupos observados para estarem em conshydiccedilatildeo de observar fatos situaccedilotildees e comportamentos que natildeo ocorreriam ou que seriam alterados na presenshyccedila de estranhos Foi MALlNOWSKI (1978) quem sisteshymatizou as regras metodoloacutegicas para a pesquisa anshytropoloacutegica a ideacuteia que caracterizava o meacutetodo era a de que apenas atraveacutes da imersatildeo no cotidiano de uma outra cultura o antropoacutelogo poderia chegar a compreendecirc-Ia
Ou seja um dos pressupostos da observaccedilatildeo participante eacute o de que a convivecircncia do investigador com a pessoa ou grupo estudado cria condiccedilotildees privileshygiadas para que o processo de observaccedilatildeo seja condushyzido e decirc acesso a uma compreensatildeo que de outro modo natildeo seria alcanccedilaacutevel Admite-se que a experiecircncia direshyta do observador com a vida cotidiana do outro seja ele indiviacuteduo ou grupo eacute capaz de revelar na sua significashyccedilatildeo mais profunda accedilotildees atitudes episoacutedios etc
que de um ponto de vista exterior poderiam permaneshycer obscurecidas ou ateacute mesmo opacas
Assim o antropoacutelogo deveria passar por um proshycesso de transformaccedilatildeo atraveacutes do qual ele idealmente tornar-se-ia um nativo No entanto na medida em que essa experiecircncia natildeo eacute sistemaacutetica o antropoacutelogo deshyveria reelaboraacute-Ia transformando-a numa descriccedilatildeo objetiva (cientiacutefica) da cultura O resultado desta transshyformaccedilatildeo consiste no texto etnograacutefico onde o antroshypoacutelogo apresenta uma re-elaboraccedilatildeo de suas experiecircnshycias
O exerciacutecio desta metodologia trouxe para o censhytro da discussatildeo epistemoloacutegica questotildees referentes a relaccedilatildeo sujeito x objeto a partir da qual podemos situar alguns desdobramentos
Um dos problemas que se coloca para reflexatildeo refere-se agrave relaccedilatildeo entre o quanto se observa e o quanshyto se participa quando o pesquisador se encontra no campo BRANDAtildeO (1984) com a perspectiva de supeshyrar tal questionamento aponta uma certa orientaccedilatildeo para a abordagem das relaccedilotildees que ali se estabelecem Assim ele observa Eacute necessaacuterio que o cientista e sua ciecircncia seja primeiro um momento de compromisso e participaccedilatildeo com o trabalho histoacuterico e os projetos de luta do outro a quem mais do que conhecer para explishycar a pesquisa pretende compreender para servir (BRANDAtildeO 1984 p 12)
Tal perspectiva supotildee que os conhecimentos construiacutedos na relaccedilatildeo sujeito x objeto contribuem para a soluccedilatildeo dos conflitos sociais emergentes nas relashyccedilotildees sociais - luta contra a dominaccedilatildeo e a opressatildeo contra o preconceito e as discriminaccedilotildees etc Assim a relaccedilatildeo do pesquisador junto ao campo de pesquisa eacute uma relaccedilatildeo de implicaccedilatilde0 13 na vida da comunidade sociedade pesquisada o que se traduz para Brandatildeo em trabalho poliacutetico e luta popular Tal situaccedilatildeo na medida em que o outro se torna um companheiro de um compromisso leva o pesquisador a repensar tanto soshybre os destinos de sua pesquisa como tambeacutem a resshypeito de sua posiccedilatildeo pessoal
A relaccedilatildeo de participaccedilatildeo da praacutetica cientiacutefica no trabalho poliacutetico das classes populares desafia o pesshyquisador a ver e compreender tais classes seus sujei shytos e seus mundos tanto atraveacutes de suas pessoas nominadas quanto a partir de um trabalho social e poshyliacutetico de classe que constituindo a razatildeo da praacutetica constitui igualmente a razatildeo da pesquisa Estaacute inventashyda a pesquisa participante (BRANDAtildeO 1984 p 13shyassinalamentos no original) 14
Um outro desdobramento de tal questatildeo - a da relaccedilatildeo sujeito x objeto - vem sendo discutida a partir
Para um aprofundamento de ial conceito ver LOURAU 1975 GUATTARI 1987 e especialmente BARBIER 1985 Alguns tecircm se utilizado do termo pesquisa-accedilatildeo para caracterizar tal abordagem THIOLLENT (1984) estabelece as relaccedilotildees e as diferenccedilas entre estas duas formas de se abordar a realidade Ver tambeacutem ARDOINO 1993
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14
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da emergecircncia do paradigma hermenecircutico no campo
da Antropologia - que fundamenta a Antropologia Interpretativa a partir dos trabalhos de Clifford Geertz
Ao considerar que o trabalho do antropoacutelogo eacute fazer etnografias e que estas satildeo descriccedilotildees densas15 que
objetivam apreender uma cultura 16 e ao considerar a
etnografia como uma leitura - no sentido de construir uma leitura de - tal perspectiva coloca em pauta a posshytura do pesquisador no fazer antropoloacutegico a qual se
expressa no texto etnograacutefico pois
no estudo da cultura a anaacutelise penetra no proacuteshyprio corpo do objeto isto eacute comeccedilamos com as nosshy
sas proacuteprias interpretaccedilotildees do que pretendem nossos informantes ou o que achamos que eles pretendem e
depois passamos a sistematizaacute-Ias (enfim) os textos antropoloacutegicos satildeo eles mesmos interpretaccedilotildees e na verdade de segunda e terceira matildeo Trata-se portanto de ficccedilotildees ficccedilotildees no sentido de que satildeo algo
construiacutedo algo modelado (GEERTZ 197825-26 shyassinalamentos nossos)
o produto do trabalho do antropoacutelogo - o texto
etnograacutefico - eacute visto como o resultado da interaccedilatildeo que se estabelece entre o pesquisador e seu objeto de esshy
tudo uma interpretaccedilatildeo que se elabora a partir do resshygate da posiccedilatildeo histoacuterica do pesquisador na relaccedilatildeo com seu objeto de estudo
DaMatta a partir destes pressupostos consideshy
ra que em princiacutepio a Antropologia eacute uma ciecircncias da comutaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo pois
Em antropologia eacute preciso recuperar esse lado
extraordinaacuterio e estaacutetico das relaccedilotildees entre pesquisashydornativo Se este eacute o lado menos rotineiro eacute o mais
difiacutecil de ser apanhado da situaccedilatildeo antropoloacutegica eacute cershytamente porque ele se constitui no aspecto mais humashy
no de nossa rotina ( ) Essa descoberta da AntropQloshygia Social como mateacuteria interpretativa segue por outro
lado uma tendecircncia que parece marcar sua passashygem de uma ciecircncia natural da sociedade como querishyam os empiricistas ingleses e americanos para uma ciecircncia interpretativa destinada antes de tudo a conshy
frontar subjetividades e tratar delas (DAMATTA 1978 1112)
VELHO (1987) afirmando o caraacuteter aproximashytivo do conhecimento devido a uma certa dose de subshyjetividade do pesquisador afirma
A realidade sempre eacute filtrada por determinashydo ponto de vista do observador ela eacute percebida de maneira diferenciada ( ) natildeo estou proclamando a fashy
lecircncia do rigor cientiacutefico no estudo das sociedades mas a necessidade de percebecirc-lo enquanto objetividade reshy
lativa mais ou menos ideoloacutegico e sempre interpretativo (VELHO 1987 129)
Estas questotildees levam-nos a pensar que a consshy
truccedilatildeo do objeto em Antropologia implica simultaneashymente na construccedilatildeo do observador - o antropoacutelogo
Tal possibilidade eacute assinalada por Tedlock ao apontar que o domiacutenio das Ciecircncias Sociais caracteriza-se como
um repertoacuterio de conhecimento e expectativas ou cultushyra comum que foi compartilhado com os participantes
e foi criado a partir da interaccedilatildeo dos mesmos (TEDLOCK 1987184 - assinalamento nosso)
O produto do trabalho de campo (o texto etnograacutefico) portanto se constroacutei a partir da relaccedilatildeo pesquisador x pesquisado que ali se estabelece E na med ida em que tal relaccedilatildeo eacute um encontro
intersubjetivo nela tambeacutem estatildeo envolvidos aspecshytos da construccedilatildeo da identidade tanto do antropoacutelogo
como de seu objeto de estudo constituindo-se portanshyto faces de uma mesma moeda (MARTINS 1995)
Observaccedilatildeo participante e pesquisaintervenccedilatildeo
do psicoacutelogo escolar
As consideraccedilotildees anteriores sobre a observaccedilatildeo participante nos sugerem que esta maneira de abordar
o cotidiano escolar cria uma relaccedilatildeo de tensatildeo para o psicoacutelogo de um lado ele deve estabelecer do ponto
de vista analiacutetico (ou seja do ponto de vista epistemoloacutegico) um certo distanciamento do cotidiano escolar de tal modo que se possa conhecer seus interstiacutecios Por outro lado deve buscar estabelecer uma
relaccedilatildeo de implicaccedilatildeo junto aos agentes que estatildeo enshyvolvidos no processo educacional Tal perspectiva eacute
assim expressa por EZPELETA amp ROCKWELL (1986) Na observaccedilatildeo participante as relaccedilotildees interpessoais
entre pesquisador e sujeito ali chamadas relaccedilotildees soshyciais constituem as teorias eacute a relaccedilatildeo que determina o pensamento e natildeo o contraacuterio (p 83)
A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo sob a perspectiva
da observaccedilatildeo participante na medida em que tem como objeto o cotidiano escolar e as representaccedilotildees sociais que ali emergem natildeo deve se estruturar exclusivamenshy
te nas relaccedilotildees formais que se organizam dentro do 15 AZANHA (1992) vai propor para a pesquisa educacional a mesma proposiccedilatildeo de Geertz a elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees densas 16 Geertz define o objeto de estudo da Antropologia - a cultura - como essencialmente semioacutetica Para ele o homem eacute um animal
amarrado a te ias de significados que ele mesmo teceu [e assume] a cultura como sendo essas teias e a sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca de leis mas uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significado (GEERTZ 197815)
Semilla Ci SociaisHum v 17 n 3 p 266middot273
271
contexto escolar (reuniotildees encontros no gabinete com
alunos e professores etc ) Ele deve considerar os
espaccedilos informais (papos nos corredores hora do
cafezinho recreio dos alunos etc ) como oportunidashy
des tanto para conhecer (pesquisa) a real idade escolar
como um espaccedilo de intervenccedilatildeo junto ao universo das
representaccedilotildees daqueles que ali se inserem e se exshy
pressam
Nesse sentido entendemos que a principal funshy
ccedilatildeo do psicoacutelogo dentro da escola eacute a de - a partir de
seu cotidiano e de sua histoacuteria - proporcionar situaccedilotildees
coletivas onde se desvele os significados impliacutecitos nas
relaccedilotildees (sobre a escola sobre o conhecimento sobre
o aluno etc ) de tal forma que os envolvidos no proshy
cesso decircem novos significados para as relaccedilotildees que
ali estabelecem Tal possibilidade por sua vez conshy
cretiza-se na medida em que o psicoacutelogo cria oportunishy
dades para que o coletivo da escola construa e crie novas necessidades para si transforme as condiccedilotildees
e os mecanismos de construccedilatildeo dos significados impliacuteshy
citos nas relaccedilotildees intra e extra escolares
Tal perspectiva abre a possibilidade para a emershy
gecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashy
ccedilotildees que se estruturam no contexto escolar pois se
oportuniza a expressatildeo dos vaacuterios segmentos que comshy
potildeem a estrutura social da escola Isto nos faz pensar
na forccedila das contradiccedilotildees no engendramento das mushy
danccedilas histoacutericas e na capacidade do homem em
promovecirc-Ias e superaacute-Ias
Nesse sentido ANDREAZI (1992) afirma
Onde encontrar marcas da identidade subjetiva
simbolicamente evidenciadas No espaccedilo nas coisas
nas regras nos produtos das tarefas educativas nas interaccedilotildees Interessa perceber como as pessoas vecircem
e se vecircem como elementos vinculados agrave Escola Inteshy
ressa para quecirc Para uma compreensatildeo da dinacircmica
institucional poderes resistecircncias e percepccedilotildees conshy
traditoacuterias de um mesmo Real tecido por sujeitos reais
Que imagem se tem desta Escola Que Escola ela preshy
tende ser Onde estaacute por onde transita o desejo dos
que habitam este cotidiano Da resposta a estas quesshy
totildees surge o perfil de uma instituiccedilatildeo educacional que
pode mirar-se perceber-se como uacutenica como histoacuteria
recursos e possibilidades diferenciadas (p 94)
Iniciamos este trabalho assinalando que ainda
se apresenta em nossa sociedade a ideacuteia de que o psishycoacutelogo escolar eacute o profissional que trabalha com as crishy
anccedilas problemas dentro da escola Durante a nossa
exposiccedilatildeo afirmamos que eacute a praacutetica profissional que
determina as representaccedilotildees sobre os profissionais de
certas profissotildees A partir das consideraccedilotildees acerca
da inserccedilatildeo do psicoacutelogo no cotidiano escolar atraveacutes
da observaccedilatildeo participante podemos vislumbrar algushy
mas possibilidades de mudanccedilas nas representaccedilotildees
que se estruturam ao longo da histoacuteria sobre a Psicoloshy
gia Escolar Nesse sentido se o psicoacutelogo abordar e intervir junto as representaccedilotildees sociais que medeiam
suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar
desvelando os significados impliacutecitos nestas represenshy
taccedilotildees - abordando-os a partir da histoacuteria e do cotidiano
escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de
novos significados tanto para sua presenccedila no contexto
escolar como para o seu trabalho
Trabalhar junto as pessoas considerando-as enshy
quanto sujeitos histoacutericos de seus proacuteprios processos
ante os desafios do cotidiano escolar permite-nos consshy
tatar que natildeo existe uma uacutenica verdade acerca da realishy
dade escolar mas diferentes aproximaccedilotildees Tais aproshy
ximaccedilotildees possibilitadas por esse processo interativo
(que natildeo eacute fixo pela proacutepria natureza da histoacuteria) e pelas condiccedilotildees objetivas que a realidade social nos apreshy
senta deixa-nos como legado a ideacuteia de que viver e
desenvolver-se implica em transformaccedilotildees contiacutenuas
que se realizam atraveacutes da interaccedilatildeo dos indiviacuteduos entre si e entre os indiviacuteduos e o meio no qual se inserem
(LIMA 1990 p 19)
MARTINS JB Participative observation a methodological approach to school psychology Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 Sep 1996
ABSTRACT The purpose of th is paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals Therefore the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine
KEY-WORDS School Psychology - Participative Observation - Research Methodology - Quotidian
Sttm irw Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273
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Seminu Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273
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OBSERVACcedilAtildeO PARTICIPANTE E O QUE FAZER DO
PSICOacuteLOGO ESCOLAR
Antes de iniciarmos a discussatildeo sobre a obsershy
vaccedilatildeo participante e o que esta metodologia oferece
aos psicoacutelogos escolares conveacutem esclarecermos a concepccedilatildeo de escola que norteia nosso trabalho o que
ajudaraacute o leitor a situar melhor nossas propostas
Cotidiano escolar o objeto para o psicoacutelogo escolar
Entendemos a escola como uma instituiccedilatildeo soacuteshy
cio-cultural organizada e pautada por valores concepshy
ccedilotildees e expectativas perpassada por relaccedilotildees sociais
na organizaccedilatildeo do trabalho e da produccedilatildeo Nela os alushy
nos os professores a direccedilatildeo os pais e a comunidade
satildeo vistos como sujeitos histoacutericos culturais Na medida que abordamos a proacutepria instituiccedilatildeo
escolar como um produto histoacuterico cultural que age e interage numa trama de complexos processos soacutecioshy
culturais vislumbramos novas possibilidades para a
construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de escola
Segundo EZPELETA amp ROCKWELL (1986)
A escola eacute na teoria tradicional uma instituiccedilatildeo ou um aparelho do Estado Tanto na versatildeo positivista (Durkheim) como nas versotildees criacuteticas (Althuser Bourdieu) sua pertenccedila ao Estado transforma-a autoshymaticamente em representante uniacutevoca da vontade esshytatal A escola tem uma histoacuteria documentada geralshymente escrita a partir do poder estatal a qual destaca sua existecircncia homogecircnea Coexiste contudo com esta histoacuteria e existecircncia documentada outra histoacuteria e exisshytecircncia natildeo documentada atraveacutes da qual a escola toma forma material ganha vida Nesta histoacuteria a determinashyccedilatildeo e presenccedila estatal se entrecruza com as determishynaccedilotildees e presenccedila civis de variadas caracteriacutesticas A homogeneidade documentada decompotildee-se em muacuteltishyplas realidades cotidianas Nesta histoacuteria natildeo documenshytada nesta dimensatildeo cotidiana os trabalhadores os alunos e os pais se apropriam dos subsiacutedios e das presshycriccedilotildees estatais e constroem a escola (EZPELETA amp
ROCKWELL 1986 p 12-3 - assinalamentos no origishy
nai)
Sob esta oacutetica a escola natildeo eacute a mesma em todo o mundo capitalista pois ela se realiza num mundo proshyfundamente diverso e diferenciado Olhando o movimento
social a partir das situaccedilotildees e dos sujeitos que realishy
zam anonimamente a escola podemos dizer que a reashylidade de cada escola eacute umaconstruccedilatildeo social a consshy
truccedilatildeo de cada escola mesmo circunscrita por um movimento histoacuterico de longo alcance (como eacute o caso
do capitalismo) eacute sempre uma versatildeo local e particushy
lar Dessa expressatildeo local tomam forma internamente
as correlaccedilotildees de forccedilas as condiccedilotildees trabalhistas as
formas de relaccedilatildeo predominantes as prioridades admishynistrativas as tradiccedilotildees docentes que constituem a trashy
ma real em que se realiza a educaccedilatildeo
Eacute uma trama em permanente construccedilatildeo que arshyticula histoacuterias locais - pessoais e coletivas - diante
das quais a vontade estatal abstrata pode ser assumishyda ou ignorada mascarada ou recriada em particular
abrindo espaccedilos variaacuteveis a uma maior ou menor possishy
bilidade hegemocircnica Uma trama finalmente que eacute preshy
ciso conhecer porque constitui simultaneamente o
ponto de partida e o conteuacutedo do real em nossas altershy
nativas tanto pedagoacutegicas quanto poliacuteticas (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 11)
A observaccedilatildeo participante permite ao psicoacutelogo escolar inserido neste contexto olhar para o processo
de apropriaccedilatildeo de conhecimento dos vaacuterios segmentos
que estatildeo inseridos no ambiente escolar o que signifishyca analisar a existecircncia cotidiana da esola como histoacuteshy
ria acumulada buscar no seu presente os elementos
estatais e civis com as quais a escola se construiu Ou
seja na observaccedilatildeo da escola ele poderaacute averiguar o
que eacute convergente o que eacute divergente ou contraditoacuterio nas diversas formas do existir da escola
O cotidiano escolar assim passa a ser o espashy
ccedilo privilegiado para a pesquisa e para a intervenccedilatildeo do
psicoacutelogo escolar6 pois eacute aiacute onde se daacute o encontro dos
diversos segmentos que estatildeo envolvidos com o dia-ashy
dia da escola o que circunscreve o campo para a emershygecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashyccedilotildees sociais que ali se desenvolvem7bull
O cotidiano escolar enfim caracteriza-se como
um campo de interseccedilatildeo entre sujeitos individuais que
levam seus saberes especiacuteficos para a construccedilatildeo da escola Nestes espaccedilos incorporam-se e tornam-se sigshy
nificativos numerosos elementos natildeo previstos na realishydade nas categorias tradicionais da realidade escolar
A realiade escolar aparece sempre mediada pela ativishy
dade cotidiana pela apropriaccedilatildeo elaboraccedilatildeo
refuncionalizaccedilatildeo ou repulsa que os sujeitos levam a cabo
A partir do cotidiano escolar e atraveacutes da obsershyvaccedilatildeo participante o psicoacutelogo escolar teraacute acesso agraves
representaccedilotildees sociais que medeiam as relaccedilotildees que se travam intra e extra instituiccedilatildeo escolar As represhy
sentaccedilotildees sociais satildeo as explicaccedilotildees e as afirma-
Entendemos que o processo de pesquisa e de intervenccedilatildeo tendo como metodologia a observaccedilatildeo participante satildeo complementares no que fazer profissional do psicoacutelogo escolar Discutiremos esta perspectiva mais adiante KRAMER (1989) nos apresenta algumas destas contradiccedilotildees presentes no contexto de uma escola puacuteblica
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ccedilotildees que os indiviacuteduos datildeo sobre sua realidade Eacute como assimila a estrutura social na qual integram suas expeshyriecircncias valores ou seja eacute a relaccedilatildeo que se estabeleshyce entre o homem e o meio (SALLES 19901991 p 15)8
Representaccedilatildeo social eacute portanto o conjunto de significados que os indiviacuteduos estabelecem para a sua realidade significados esses que satildeo expressos pela linguagem Tal perspectiva nos sugere que o psiquismo humano eacute produto da sociedade e concomitantemente as representaccedilotildees sociais satildeo engendradas coletivashymente pela sociedade Nesse sentido a partir de uma abordagem soacutecio-cultural do psiquismo human09
enshytendemos que os significados satildeo produzidos socialshymente e se transformam atraveacutes da atividade e pensashymento dos indiviacuteduos e assim individualizam-se subjetivam-se
Tendo em vista estas consideraccedilotildees podemos dizer que ao tomar o cotidiano escolar como espaccedilo social de pesquisaintervenccedilatildeo o psicoacutelogo escolar teraacute acesso as mediaccedilotildees que os indiviacuteduos estabelecem para compreenderem sua realidade - as representaccedilotildees sociais - e assim poderaacute desvelar os mecanismos utishylizados (individual e coletivamente) na construccedilatildeo de sentidos para a realidade escolar Dito de outra forma o psicoacutelogo escolar poderaacute desvelar os significados (conshyvergentes ou contraditoacuterios) que os agentes sociais envolvidos no processo educacional- pais alunos proshyfessores direccedilatildeo etc - atribuem para a relaccedilatildeo proshyfessor x aluno para o conhecimento para o processo ensinoaprendizagem para o processo de avaliaccedilatildeo etc aleacutem dos significados atribuiacutedos ao proacuteprio trashybalho do psicoacutelogo escolar
Estas consideraccedilotildees levam-nos a indicar a obshyservaccedilatildeo participante como a metodologia mais adeshyquada para o psicoacutelogo escolar apreender compreenshyder e intervir no contexto escolar 0 Por um lado esta metodologia lhe proporciona uma aproximaccedilatildeo do cotishydiano escolar e de suas representaccedilotildees sociais resgashytando sua dimensatildeo histoacuterica soacutecio-cultural seus proshycessos Por outro lado permite-lhe intervir neste cotidishyano e nele trabalhar ao niacutevel das representaccedilotildees socishyais e propiciar a emergecircncia de novas necessidades para os agentes que ali se movimentam
A observaccedilatildeo participante se insere no conjunto das metodologias denominadas no campo educacioshynal de qualitativas e frequumlentemente de etnograacuteficas
Ver tambeacutem o trabalho de BONFIN amp ALMEIDA 19911992
ANDREacute (1992) avaliando a produccedilatildeo cientiacutefica que se desenvolveu sob esta abordagem nos uacuteltimos dez anos avalia
O que se verifica no entanto eacute que a grande maioria envolve dados de campo sistematizados em forma de descriccedilotildees que acrescentam muito pouco ao que se sabe ou conhece ao niacutevel do senso comum Eacute a empiria pela empiria O autor parece satisfazer-se com o fato de coletar uma grande quantidade de dados e parece esperar que esses dados por si produzam algushyma teoria Mas eacute evidente que sem um referencial de apoio que oriente o processo de reconstruccedilatildeo desses dados natildeo haacute avanccedilo teoacuterico - fica-se na constataccedilatildeo do oacutebvio na mesmice na reproduccedilatildeo do senso comum (ANDREacute 1992 p 3132)
A proposta que se coloca aqui vai na direccedilatildeo de superar tais limitaccedilotildees Trata-se de ir para aleacutem do senshyso comum Trata-se da tradiccedilatildeo etnograacutefica cuja esshysecircncia eacute identificada como documentar a realidade natildeoshydocumentada (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 15 n 3) Ela se circunscreve por um lado pela utilizaccedilatildeo das categorias2 utilizadas pelas ciecircncias sociais para a compreensatildeo da realidade (como classe social ideoshylogia poder etc ) e por outro pela criaccedilatildeo de novas categorias que satildeo construiacutedasreconstruiacutedas na relashyccedilatildeo pesquisador x escola pois
a heterogeneidade e a individualidade do cotishydiano existem outras dimensotildees ordenadoras Impotildeem forccedilosamente o reconhecimento de sujeitos que incorshyporam e objetivam a seu modo praacuteticas e saberes dos quais apropriaram em diferentes momentos e contexshytos de vida depositaacuterios que satildeo de uma histoacuteria acushymulada durante seacuteculos (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 28)
Atraveacutes da observaccedilatildeo participante portanto o psicoacutelogo escolar poderaacute reconstruir os processos que ocorrem na vida diaacuteria da escola Tal metodologia lhe permitiraacute integrar os vaacuterios momentos da escola e intershypretar sua realidade cotidiana Como tais processos se expressam por meio de elementos e situaccedilotildees diferenshytes que perpassam todos os acircmbitos com a metodologia acima indicada desvelar-se-aacute as tramas reais que se efetivam neste contexto e que se estruturam a partir de
Para um aprofundamento desta perspectiva ver VYGOTSKY 1991 1991 a e LEONTIEV 1978 10 O conceito de contexto que utilizamos para fazermos nossas proposiccedilotildees baseia-se na teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural
desenvolvida a partir das ideacuteias de Vygotsky Para tal teoria o contexto natildeo se reduz ao entorno ele expressa uma relaccedilatildeo qualitativa onde os objetos e os sujeitos e o entorno se mesclam constituindo-se numa unidade de anaacutelise Esta unidade compreende tanto os instrumentos materiais e simboacutelicos que permitem aos indiviacuteduos adaptarem-se a realidade como a dimensatildeo temporal histoacuterica na realidade humana que a configura Para mais detalhes ver LACASA 1993 e COLE 1995
11 Em 1983 aconteceu o Simpoacutesio A pesquisa qualitativa e o estudo da escola onde foi discutida amplamente esta perspectiva de pesquisa em educaccedilatildeo Os trabalhos ali apresentados foram reproduzidos em Cadernos de Pesquisa n 49 p 43-66
12 Cabe salientar que a utilizaccedilatildeo de categorias oferecidas pelas ciecircncias sociais agraves vezes limita o olhar do pesquisador sobre a escola pois natildeo lhe permite enxergar possibilidades outras de anaacutelises para tal realidade
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pequenas histoacuterias espaccedilos sociais onde se negocia e se reordena a continuidade das experiecircncias e a ativishydade escolar As contradiccedilotildees e incongruecircncias apashyrentes que se encontram nos mais diversos espaccedilos escolares (salas de aula reuniotildees na estrutura fiacutesica da escola etc ) adquirem sentido como resultado de mecanismos diferenciaacuteveis de reproduccedilatildeo e de aproprishyaccedilatildeo entre outros e mostram as diversas formas que a histoacuteria - social e individual - estaacute presente na vida cotishydiana da escola
A metodologia da observaccedilatildeo participante enshyfim possibilita ao psicoacutelogo escolar inserido no conshytexto da escola a olhar para as apropriaccedilotildees reais e potenciais que acontecem de baixo para cima a partir dos sujeitos individuais que vivenciam diariamente a instituiccedilatildeo Aleacutem disso ela cria a possibilidade de se construir um conhecimento que permite o estabelecishymento de relaccedilotildees mais reais com os processos que se datildeo no interior das escolas
Vale a pena resgatar por um momento algumas implicaccedilotildees da observaccedilatildeo participante inerentes na relaccedilatildeo psicoacutelogo escolar x escola considerando a dushypla perspectiva de sua atividade a de pesquisa e a inshytervenccedilatildeo Para tal aprofundamento faz-se necessaacuterio traccedilar algumas consideraccedilotildees sobre a observaccedilatildeo parshyticipante tendo como ponto de partida a Antropologia
Observaccedilatildeo Participante e a Antropologia
A observaccedilatildeo participante eacute uma metodologia elashyborada principalmente no contexto da pesquisa antroshypoloacutegica Trata-se de estabelecer uma adequada partishycipaccedilatildeo dos pesquisadores dentro dos grupos observashydos de modo a reduzir a estranheza reciacuteproca Os pesshyquisadores satildeo levados a compartilhar os papeacuteis e os haacutebitos dos grupos observados para estarem em conshydiccedilatildeo de observar fatos situaccedilotildees e comportamentos que natildeo ocorreriam ou que seriam alterados na presenshyccedila de estranhos Foi MALlNOWSKI (1978) quem sisteshymatizou as regras metodoloacutegicas para a pesquisa anshytropoloacutegica a ideacuteia que caracterizava o meacutetodo era a de que apenas atraveacutes da imersatildeo no cotidiano de uma outra cultura o antropoacutelogo poderia chegar a compreendecirc-Ia
Ou seja um dos pressupostos da observaccedilatildeo participante eacute o de que a convivecircncia do investigador com a pessoa ou grupo estudado cria condiccedilotildees privileshygiadas para que o processo de observaccedilatildeo seja condushyzido e decirc acesso a uma compreensatildeo que de outro modo natildeo seria alcanccedilaacutevel Admite-se que a experiecircncia direshyta do observador com a vida cotidiana do outro seja ele indiviacuteduo ou grupo eacute capaz de revelar na sua significashyccedilatildeo mais profunda accedilotildees atitudes episoacutedios etc
que de um ponto de vista exterior poderiam permaneshycer obscurecidas ou ateacute mesmo opacas
Assim o antropoacutelogo deveria passar por um proshycesso de transformaccedilatildeo atraveacutes do qual ele idealmente tornar-se-ia um nativo No entanto na medida em que essa experiecircncia natildeo eacute sistemaacutetica o antropoacutelogo deshyveria reelaboraacute-Ia transformando-a numa descriccedilatildeo objetiva (cientiacutefica) da cultura O resultado desta transshyformaccedilatildeo consiste no texto etnograacutefico onde o antroshypoacutelogo apresenta uma re-elaboraccedilatildeo de suas experiecircnshycias
O exerciacutecio desta metodologia trouxe para o censhytro da discussatildeo epistemoloacutegica questotildees referentes a relaccedilatildeo sujeito x objeto a partir da qual podemos situar alguns desdobramentos
Um dos problemas que se coloca para reflexatildeo refere-se agrave relaccedilatildeo entre o quanto se observa e o quanshyto se participa quando o pesquisador se encontra no campo BRANDAtildeO (1984) com a perspectiva de supeshyrar tal questionamento aponta uma certa orientaccedilatildeo para a abordagem das relaccedilotildees que ali se estabelecem Assim ele observa Eacute necessaacuterio que o cientista e sua ciecircncia seja primeiro um momento de compromisso e participaccedilatildeo com o trabalho histoacuterico e os projetos de luta do outro a quem mais do que conhecer para explishycar a pesquisa pretende compreender para servir (BRANDAtildeO 1984 p 12)
Tal perspectiva supotildee que os conhecimentos construiacutedos na relaccedilatildeo sujeito x objeto contribuem para a soluccedilatildeo dos conflitos sociais emergentes nas relashyccedilotildees sociais - luta contra a dominaccedilatildeo e a opressatildeo contra o preconceito e as discriminaccedilotildees etc Assim a relaccedilatildeo do pesquisador junto ao campo de pesquisa eacute uma relaccedilatildeo de implicaccedilatilde0 13 na vida da comunidade sociedade pesquisada o que se traduz para Brandatildeo em trabalho poliacutetico e luta popular Tal situaccedilatildeo na medida em que o outro se torna um companheiro de um compromisso leva o pesquisador a repensar tanto soshybre os destinos de sua pesquisa como tambeacutem a resshypeito de sua posiccedilatildeo pessoal
A relaccedilatildeo de participaccedilatildeo da praacutetica cientiacutefica no trabalho poliacutetico das classes populares desafia o pesshyquisador a ver e compreender tais classes seus sujei shytos e seus mundos tanto atraveacutes de suas pessoas nominadas quanto a partir de um trabalho social e poshyliacutetico de classe que constituindo a razatildeo da praacutetica constitui igualmente a razatildeo da pesquisa Estaacute inventashyda a pesquisa participante (BRANDAtildeO 1984 p 13shyassinalamentos no original) 14
Um outro desdobramento de tal questatildeo - a da relaccedilatildeo sujeito x objeto - vem sendo discutida a partir
Para um aprofundamento de ial conceito ver LOURAU 1975 GUATTARI 1987 e especialmente BARBIER 1985 Alguns tecircm se utilizado do termo pesquisa-accedilatildeo para caracterizar tal abordagem THIOLLENT (1984) estabelece as relaccedilotildees e as diferenccedilas entre estas duas formas de se abordar a realidade Ver tambeacutem ARDOINO 1993
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da emergecircncia do paradigma hermenecircutico no campo
da Antropologia - que fundamenta a Antropologia Interpretativa a partir dos trabalhos de Clifford Geertz
Ao considerar que o trabalho do antropoacutelogo eacute fazer etnografias e que estas satildeo descriccedilotildees densas15 que
objetivam apreender uma cultura 16 e ao considerar a
etnografia como uma leitura - no sentido de construir uma leitura de - tal perspectiva coloca em pauta a posshytura do pesquisador no fazer antropoloacutegico a qual se
expressa no texto etnograacutefico pois
no estudo da cultura a anaacutelise penetra no proacuteshyprio corpo do objeto isto eacute comeccedilamos com as nosshy
sas proacuteprias interpretaccedilotildees do que pretendem nossos informantes ou o que achamos que eles pretendem e
depois passamos a sistematizaacute-Ias (enfim) os textos antropoloacutegicos satildeo eles mesmos interpretaccedilotildees e na verdade de segunda e terceira matildeo Trata-se portanto de ficccedilotildees ficccedilotildees no sentido de que satildeo algo
construiacutedo algo modelado (GEERTZ 197825-26 shyassinalamentos nossos)
o produto do trabalho do antropoacutelogo - o texto
etnograacutefico - eacute visto como o resultado da interaccedilatildeo que se estabelece entre o pesquisador e seu objeto de esshy
tudo uma interpretaccedilatildeo que se elabora a partir do resshygate da posiccedilatildeo histoacuterica do pesquisador na relaccedilatildeo com seu objeto de estudo
DaMatta a partir destes pressupostos consideshy
ra que em princiacutepio a Antropologia eacute uma ciecircncias da comutaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo pois
Em antropologia eacute preciso recuperar esse lado
extraordinaacuterio e estaacutetico das relaccedilotildees entre pesquisashydornativo Se este eacute o lado menos rotineiro eacute o mais
difiacutecil de ser apanhado da situaccedilatildeo antropoloacutegica eacute cershytamente porque ele se constitui no aspecto mais humashy
no de nossa rotina ( ) Essa descoberta da AntropQloshygia Social como mateacuteria interpretativa segue por outro
lado uma tendecircncia que parece marcar sua passashygem de uma ciecircncia natural da sociedade como querishyam os empiricistas ingleses e americanos para uma ciecircncia interpretativa destinada antes de tudo a conshy
frontar subjetividades e tratar delas (DAMATTA 1978 1112)
VELHO (1987) afirmando o caraacuteter aproximashytivo do conhecimento devido a uma certa dose de subshyjetividade do pesquisador afirma
A realidade sempre eacute filtrada por determinashydo ponto de vista do observador ela eacute percebida de maneira diferenciada ( ) natildeo estou proclamando a fashy
lecircncia do rigor cientiacutefico no estudo das sociedades mas a necessidade de percebecirc-lo enquanto objetividade reshy
lativa mais ou menos ideoloacutegico e sempre interpretativo (VELHO 1987 129)
Estas questotildees levam-nos a pensar que a consshy
truccedilatildeo do objeto em Antropologia implica simultaneashymente na construccedilatildeo do observador - o antropoacutelogo
Tal possibilidade eacute assinalada por Tedlock ao apontar que o domiacutenio das Ciecircncias Sociais caracteriza-se como
um repertoacuterio de conhecimento e expectativas ou cultushyra comum que foi compartilhado com os participantes
e foi criado a partir da interaccedilatildeo dos mesmos (TEDLOCK 1987184 - assinalamento nosso)
O produto do trabalho de campo (o texto etnograacutefico) portanto se constroacutei a partir da relaccedilatildeo pesquisador x pesquisado que ali se estabelece E na med ida em que tal relaccedilatildeo eacute um encontro
intersubjetivo nela tambeacutem estatildeo envolvidos aspecshytos da construccedilatildeo da identidade tanto do antropoacutelogo
como de seu objeto de estudo constituindo-se portanshyto faces de uma mesma moeda (MARTINS 1995)
Observaccedilatildeo participante e pesquisaintervenccedilatildeo
do psicoacutelogo escolar
As consideraccedilotildees anteriores sobre a observaccedilatildeo participante nos sugerem que esta maneira de abordar
o cotidiano escolar cria uma relaccedilatildeo de tensatildeo para o psicoacutelogo de um lado ele deve estabelecer do ponto
de vista analiacutetico (ou seja do ponto de vista epistemoloacutegico) um certo distanciamento do cotidiano escolar de tal modo que se possa conhecer seus interstiacutecios Por outro lado deve buscar estabelecer uma
relaccedilatildeo de implicaccedilatildeo junto aos agentes que estatildeo enshyvolvidos no processo educacional Tal perspectiva eacute
assim expressa por EZPELETA amp ROCKWELL (1986) Na observaccedilatildeo participante as relaccedilotildees interpessoais
entre pesquisador e sujeito ali chamadas relaccedilotildees soshyciais constituem as teorias eacute a relaccedilatildeo que determina o pensamento e natildeo o contraacuterio (p 83)
A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo sob a perspectiva
da observaccedilatildeo participante na medida em que tem como objeto o cotidiano escolar e as representaccedilotildees sociais que ali emergem natildeo deve se estruturar exclusivamenshy
te nas relaccedilotildees formais que se organizam dentro do 15 AZANHA (1992) vai propor para a pesquisa educacional a mesma proposiccedilatildeo de Geertz a elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees densas 16 Geertz define o objeto de estudo da Antropologia - a cultura - como essencialmente semioacutetica Para ele o homem eacute um animal
amarrado a te ias de significados que ele mesmo teceu [e assume] a cultura como sendo essas teias e a sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca de leis mas uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significado (GEERTZ 197815)
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contexto escolar (reuniotildees encontros no gabinete com
alunos e professores etc ) Ele deve considerar os
espaccedilos informais (papos nos corredores hora do
cafezinho recreio dos alunos etc ) como oportunidashy
des tanto para conhecer (pesquisa) a real idade escolar
como um espaccedilo de intervenccedilatildeo junto ao universo das
representaccedilotildees daqueles que ali se inserem e se exshy
pressam
Nesse sentido entendemos que a principal funshy
ccedilatildeo do psicoacutelogo dentro da escola eacute a de - a partir de
seu cotidiano e de sua histoacuteria - proporcionar situaccedilotildees
coletivas onde se desvele os significados impliacutecitos nas
relaccedilotildees (sobre a escola sobre o conhecimento sobre
o aluno etc ) de tal forma que os envolvidos no proshy
cesso decircem novos significados para as relaccedilotildees que
ali estabelecem Tal possibilidade por sua vez conshy
cretiza-se na medida em que o psicoacutelogo cria oportunishy
dades para que o coletivo da escola construa e crie novas necessidades para si transforme as condiccedilotildees
e os mecanismos de construccedilatildeo dos significados impliacuteshy
citos nas relaccedilotildees intra e extra escolares
Tal perspectiva abre a possibilidade para a emershy
gecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashy
ccedilotildees que se estruturam no contexto escolar pois se
oportuniza a expressatildeo dos vaacuterios segmentos que comshy
potildeem a estrutura social da escola Isto nos faz pensar
na forccedila das contradiccedilotildees no engendramento das mushy
danccedilas histoacutericas e na capacidade do homem em
promovecirc-Ias e superaacute-Ias
Nesse sentido ANDREAZI (1992) afirma
Onde encontrar marcas da identidade subjetiva
simbolicamente evidenciadas No espaccedilo nas coisas
nas regras nos produtos das tarefas educativas nas interaccedilotildees Interessa perceber como as pessoas vecircem
e se vecircem como elementos vinculados agrave Escola Inteshy
ressa para quecirc Para uma compreensatildeo da dinacircmica
institucional poderes resistecircncias e percepccedilotildees conshy
traditoacuterias de um mesmo Real tecido por sujeitos reais
Que imagem se tem desta Escola Que Escola ela preshy
tende ser Onde estaacute por onde transita o desejo dos
que habitam este cotidiano Da resposta a estas quesshy
totildees surge o perfil de uma instituiccedilatildeo educacional que
pode mirar-se perceber-se como uacutenica como histoacuteria
recursos e possibilidades diferenciadas (p 94)
Iniciamos este trabalho assinalando que ainda
se apresenta em nossa sociedade a ideacuteia de que o psishycoacutelogo escolar eacute o profissional que trabalha com as crishy
anccedilas problemas dentro da escola Durante a nossa
exposiccedilatildeo afirmamos que eacute a praacutetica profissional que
determina as representaccedilotildees sobre os profissionais de
certas profissotildees A partir das consideraccedilotildees acerca
da inserccedilatildeo do psicoacutelogo no cotidiano escolar atraveacutes
da observaccedilatildeo participante podemos vislumbrar algushy
mas possibilidades de mudanccedilas nas representaccedilotildees
que se estruturam ao longo da histoacuteria sobre a Psicoloshy
gia Escolar Nesse sentido se o psicoacutelogo abordar e intervir junto as representaccedilotildees sociais que medeiam
suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar
desvelando os significados impliacutecitos nestas represenshy
taccedilotildees - abordando-os a partir da histoacuteria e do cotidiano
escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de
novos significados tanto para sua presenccedila no contexto
escolar como para o seu trabalho
Trabalhar junto as pessoas considerando-as enshy
quanto sujeitos histoacutericos de seus proacuteprios processos
ante os desafios do cotidiano escolar permite-nos consshy
tatar que natildeo existe uma uacutenica verdade acerca da realishy
dade escolar mas diferentes aproximaccedilotildees Tais aproshy
ximaccedilotildees possibilitadas por esse processo interativo
(que natildeo eacute fixo pela proacutepria natureza da histoacuteria) e pelas condiccedilotildees objetivas que a realidade social nos apreshy
senta deixa-nos como legado a ideacuteia de que viver e
desenvolver-se implica em transformaccedilotildees contiacutenuas
que se realizam atraveacutes da interaccedilatildeo dos indiviacuteduos entre si e entre os indiviacuteduos e o meio no qual se inserem
(LIMA 1990 p 19)
MARTINS JB Participative observation a methodological approach to school psychology Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 Sep 1996
ABSTRACT The purpose of th is paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals Therefore the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine
KEY-WORDS School Psychology - Participative Observation - Research Methodology - Quotidian
Sttm irw Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273
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------------------------------------------- ---------shy
ccedilotildees que os indiviacuteduos datildeo sobre sua realidade Eacute como assimila a estrutura social na qual integram suas expeshyriecircncias valores ou seja eacute a relaccedilatildeo que se estabeleshyce entre o homem e o meio (SALLES 19901991 p 15)8
Representaccedilatildeo social eacute portanto o conjunto de significados que os indiviacuteduos estabelecem para a sua realidade significados esses que satildeo expressos pela linguagem Tal perspectiva nos sugere que o psiquismo humano eacute produto da sociedade e concomitantemente as representaccedilotildees sociais satildeo engendradas coletivashymente pela sociedade Nesse sentido a partir de uma abordagem soacutecio-cultural do psiquismo human09
enshytendemos que os significados satildeo produzidos socialshymente e se transformam atraveacutes da atividade e pensashymento dos indiviacuteduos e assim individualizam-se subjetivam-se
Tendo em vista estas consideraccedilotildees podemos dizer que ao tomar o cotidiano escolar como espaccedilo social de pesquisaintervenccedilatildeo o psicoacutelogo escolar teraacute acesso as mediaccedilotildees que os indiviacuteduos estabelecem para compreenderem sua realidade - as representaccedilotildees sociais - e assim poderaacute desvelar os mecanismos utishylizados (individual e coletivamente) na construccedilatildeo de sentidos para a realidade escolar Dito de outra forma o psicoacutelogo escolar poderaacute desvelar os significados (conshyvergentes ou contraditoacuterios) que os agentes sociais envolvidos no processo educacional- pais alunos proshyfessores direccedilatildeo etc - atribuem para a relaccedilatildeo proshyfessor x aluno para o conhecimento para o processo ensinoaprendizagem para o processo de avaliaccedilatildeo etc aleacutem dos significados atribuiacutedos ao proacuteprio trashybalho do psicoacutelogo escolar
Estas consideraccedilotildees levam-nos a indicar a obshyservaccedilatildeo participante como a metodologia mais adeshyquada para o psicoacutelogo escolar apreender compreenshyder e intervir no contexto escolar 0 Por um lado esta metodologia lhe proporciona uma aproximaccedilatildeo do cotishydiano escolar e de suas representaccedilotildees sociais resgashytando sua dimensatildeo histoacuterica soacutecio-cultural seus proshycessos Por outro lado permite-lhe intervir neste cotidishyano e nele trabalhar ao niacutevel das representaccedilotildees socishyais e propiciar a emergecircncia de novas necessidades para os agentes que ali se movimentam
A observaccedilatildeo participante se insere no conjunto das metodologias denominadas no campo educacioshynal de qualitativas e frequumlentemente de etnograacuteficas
Ver tambeacutem o trabalho de BONFIN amp ALMEIDA 19911992
ANDREacute (1992) avaliando a produccedilatildeo cientiacutefica que se desenvolveu sob esta abordagem nos uacuteltimos dez anos avalia
O que se verifica no entanto eacute que a grande maioria envolve dados de campo sistematizados em forma de descriccedilotildees que acrescentam muito pouco ao que se sabe ou conhece ao niacutevel do senso comum Eacute a empiria pela empiria O autor parece satisfazer-se com o fato de coletar uma grande quantidade de dados e parece esperar que esses dados por si produzam algushyma teoria Mas eacute evidente que sem um referencial de apoio que oriente o processo de reconstruccedilatildeo desses dados natildeo haacute avanccedilo teoacuterico - fica-se na constataccedilatildeo do oacutebvio na mesmice na reproduccedilatildeo do senso comum (ANDREacute 1992 p 3132)
A proposta que se coloca aqui vai na direccedilatildeo de superar tais limitaccedilotildees Trata-se de ir para aleacutem do senshyso comum Trata-se da tradiccedilatildeo etnograacutefica cuja esshysecircncia eacute identificada como documentar a realidade natildeoshydocumentada (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 15 n 3) Ela se circunscreve por um lado pela utilizaccedilatildeo das categorias2 utilizadas pelas ciecircncias sociais para a compreensatildeo da realidade (como classe social ideoshylogia poder etc ) e por outro pela criaccedilatildeo de novas categorias que satildeo construiacutedasreconstruiacutedas na relashyccedilatildeo pesquisador x escola pois
a heterogeneidade e a individualidade do cotishydiano existem outras dimensotildees ordenadoras Impotildeem forccedilosamente o reconhecimento de sujeitos que incorshyporam e objetivam a seu modo praacuteticas e saberes dos quais apropriaram em diferentes momentos e contexshytos de vida depositaacuterios que satildeo de uma histoacuteria acushymulada durante seacuteculos (EZPELETA amp ROCKWELL 1986 p 28)
Atraveacutes da observaccedilatildeo participante portanto o psicoacutelogo escolar poderaacute reconstruir os processos que ocorrem na vida diaacuteria da escola Tal metodologia lhe permitiraacute integrar os vaacuterios momentos da escola e intershypretar sua realidade cotidiana Como tais processos se expressam por meio de elementos e situaccedilotildees diferenshytes que perpassam todos os acircmbitos com a metodologia acima indicada desvelar-se-aacute as tramas reais que se efetivam neste contexto e que se estruturam a partir de
Para um aprofundamento desta perspectiva ver VYGOTSKY 1991 1991 a e LEONTIEV 1978 10 O conceito de contexto que utilizamos para fazermos nossas proposiccedilotildees baseia-se na teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural
desenvolvida a partir das ideacuteias de Vygotsky Para tal teoria o contexto natildeo se reduz ao entorno ele expressa uma relaccedilatildeo qualitativa onde os objetos e os sujeitos e o entorno se mesclam constituindo-se numa unidade de anaacutelise Esta unidade compreende tanto os instrumentos materiais e simboacutelicos que permitem aos indiviacuteduos adaptarem-se a realidade como a dimensatildeo temporal histoacuterica na realidade humana que a configura Para mais detalhes ver LACASA 1993 e COLE 1995
11 Em 1983 aconteceu o Simpoacutesio A pesquisa qualitativa e o estudo da escola onde foi discutida amplamente esta perspectiva de pesquisa em educaccedilatildeo Os trabalhos ali apresentados foram reproduzidos em Cadernos de Pesquisa n 49 p 43-66
12 Cabe salientar que a utilizaccedilatildeo de categorias oferecidas pelas ciecircncias sociais agraves vezes limita o olhar do pesquisador sobre a escola pois natildeo lhe permite enxergar possibilidades outras de anaacutelises para tal realidade
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pequenas histoacuterias espaccedilos sociais onde se negocia e se reordena a continuidade das experiecircncias e a ativishydade escolar As contradiccedilotildees e incongruecircncias apashyrentes que se encontram nos mais diversos espaccedilos escolares (salas de aula reuniotildees na estrutura fiacutesica da escola etc ) adquirem sentido como resultado de mecanismos diferenciaacuteveis de reproduccedilatildeo e de aproprishyaccedilatildeo entre outros e mostram as diversas formas que a histoacuteria - social e individual - estaacute presente na vida cotishydiana da escola
A metodologia da observaccedilatildeo participante enshyfim possibilita ao psicoacutelogo escolar inserido no conshytexto da escola a olhar para as apropriaccedilotildees reais e potenciais que acontecem de baixo para cima a partir dos sujeitos individuais que vivenciam diariamente a instituiccedilatildeo Aleacutem disso ela cria a possibilidade de se construir um conhecimento que permite o estabelecishymento de relaccedilotildees mais reais com os processos que se datildeo no interior das escolas
Vale a pena resgatar por um momento algumas implicaccedilotildees da observaccedilatildeo participante inerentes na relaccedilatildeo psicoacutelogo escolar x escola considerando a dushypla perspectiva de sua atividade a de pesquisa e a inshytervenccedilatildeo Para tal aprofundamento faz-se necessaacuterio traccedilar algumas consideraccedilotildees sobre a observaccedilatildeo parshyticipante tendo como ponto de partida a Antropologia
Observaccedilatildeo Participante e a Antropologia
A observaccedilatildeo participante eacute uma metodologia elashyborada principalmente no contexto da pesquisa antroshypoloacutegica Trata-se de estabelecer uma adequada partishycipaccedilatildeo dos pesquisadores dentro dos grupos observashydos de modo a reduzir a estranheza reciacuteproca Os pesshyquisadores satildeo levados a compartilhar os papeacuteis e os haacutebitos dos grupos observados para estarem em conshydiccedilatildeo de observar fatos situaccedilotildees e comportamentos que natildeo ocorreriam ou que seriam alterados na presenshyccedila de estranhos Foi MALlNOWSKI (1978) quem sisteshymatizou as regras metodoloacutegicas para a pesquisa anshytropoloacutegica a ideacuteia que caracterizava o meacutetodo era a de que apenas atraveacutes da imersatildeo no cotidiano de uma outra cultura o antropoacutelogo poderia chegar a compreendecirc-Ia
Ou seja um dos pressupostos da observaccedilatildeo participante eacute o de que a convivecircncia do investigador com a pessoa ou grupo estudado cria condiccedilotildees privileshygiadas para que o processo de observaccedilatildeo seja condushyzido e decirc acesso a uma compreensatildeo que de outro modo natildeo seria alcanccedilaacutevel Admite-se que a experiecircncia direshyta do observador com a vida cotidiana do outro seja ele indiviacuteduo ou grupo eacute capaz de revelar na sua significashyccedilatildeo mais profunda accedilotildees atitudes episoacutedios etc
que de um ponto de vista exterior poderiam permaneshycer obscurecidas ou ateacute mesmo opacas
Assim o antropoacutelogo deveria passar por um proshycesso de transformaccedilatildeo atraveacutes do qual ele idealmente tornar-se-ia um nativo No entanto na medida em que essa experiecircncia natildeo eacute sistemaacutetica o antropoacutelogo deshyveria reelaboraacute-Ia transformando-a numa descriccedilatildeo objetiva (cientiacutefica) da cultura O resultado desta transshyformaccedilatildeo consiste no texto etnograacutefico onde o antroshypoacutelogo apresenta uma re-elaboraccedilatildeo de suas experiecircnshycias
O exerciacutecio desta metodologia trouxe para o censhytro da discussatildeo epistemoloacutegica questotildees referentes a relaccedilatildeo sujeito x objeto a partir da qual podemos situar alguns desdobramentos
Um dos problemas que se coloca para reflexatildeo refere-se agrave relaccedilatildeo entre o quanto se observa e o quanshyto se participa quando o pesquisador se encontra no campo BRANDAtildeO (1984) com a perspectiva de supeshyrar tal questionamento aponta uma certa orientaccedilatildeo para a abordagem das relaccedilotildees que ali se estabelecem Assim ele observa Eacute necessaacuterio que o cientista e sua ciecircncia seja primeiro um momento de compromisso e participaccedilatildeo com o trabalho histoacuterico e os projetos de luta do outro a quem mais do que conhecer para explishycar a pesquisa pretende compreender para servir (BRANDAtildeO 1984 p 12)
Tal perspectiva supotildee que os conhecimentos construiacutedos na relaccedilatildeo sujeito x objeto contribuem para a soluccedilatildeo dos conflitos sociais emergentes nas relashyccedilotildees sociais - luta contra a dominaccedilatildeo e a opressatildeo contra o preconceito e as discriminaccedilotildees etc Assim a relaccedilatildeo do pesquisador junto ao campo de pesquisa eacute uma relaccedilatildeo de implicaccedilatilde0 13 na vida da comunidade sociedade pesquisada o que se traduz para Brandatildeo em trabalho poliacutetico e luta popular Tal situaccedilatildeo na medida em que o outro se torna um companheiro de um compromisso leva o pesquisador a repensar tanto soshybre os destinos de sua pesquisa como tambeacutem a resshypeito de sua posiccedilatildeo pessoal
A relaccedilatildeo de participaccedilatildeo da praacutetica cientiacutefica no trabalho poliacutetico das classes populares desafia o pesshyquisador a ver e compreender tais classes seus sujei shytos e seus mundos tanto atraveacutes de suas pessoas nominadas quanto a partir de um trabalho social e poshyliacutetico de classe que constituindo a razatildeo da praacutetica constitui igualmente a razatildeo da pesquisa Estaacute inventashyda a pesquisa participante (BRANDAtildeO 1984 p 13shyassinalamentos no original) 14
Um outro desdobramento de tal questatildeo - a da relaccedilatildeo sujeito x objeto - vem sendo discutida a partir
Para um aprofundamento de ial conceito ver LOURAU 1975 GUATTARI 1987 e especialmente BARBIER 1985 Alguns tecircm se utilizado do termo pesquisa-accedilatildeo para caracterizar tal abordagem THIOLLENT (1984) estabelece as relaccedilotildees e as diferenccedilas entre estas duas formas de se abordar a realidade Ver tambeacutem ARDOINO 1993
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da emergecircncia do paradigma hermenecircutico no campo
da Antropologia - que fundamenta a Antropologia Interpretativa a partir dos trabalhos de Clifford Geertz
Ao considerar que o trabalho do antropoacutelogo eacute fazer etnografias e que estas satildeo descriccedilotildees densas15 que
objetivam apreender uma cultura 16 e ao considerar a
etnografia como uma leitura - no sentido de construir uma leitura de - tal perspectiva coloca em pauta a posshytura do pesquisador no fazer antropoloacutegico a qual se
expressa no texto etnograacutefico pois
no estudo da cultura a anaacutelise penetra no proacuteshyprio corpo do objeto isto eacute comeccedilamos com as nosshy
sas proacuteprias interpretaccedilotildees do que pretendem nossos informantes ou o que achamos que eles pretendem e
depois passamos a sistematizaacute-Ias (enfim) os textos antropoloacutegicos satildeo eles mesmos interpretaccedilotildees e na verdade de segunda e terceira matildeo Trata-se portanto de ficccedilotildees ficccedilotildees no sentido de que satildeo algo
construiacutedo algo modelado (GEERTZ 197825-26 shyassinalamentos nossos)
o produto do trabalho do antropoacutelogo - o texto
etnograacutefico - eacute visto como o resultado da interaccedilatildeo que se estabelece entre o pesquisador e seu objeto de esshy
tudo uma interpretaccedilatildeo que se elabora a partir do resshygate da posiccedilatildeo histoacuterica do pesquisador na relaccedilatildeo com seu objeto de estudo
DaMatta a partir destes pressupostos consideshy
ra que em princiacutepio a Antropologia eacute uma ciecircncias da comutaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo pois
Em antropologia eacute preciso recuperar esse lado
extraordinaacuterio e estaacutetico das relaccedilotildees entre pesquisashydornativo Se este eacute o lado menos rotineiro eacute o mais
difiacutecil de ser apanhado da situaccedilatildeo antropoloacutegica eacute cershytamente porque ele se constitui no aspecto mais humashy
no de nossa rotina ( ) Essa descoberta da AntropQloshygia Social como mateacuteria interpretativa segue por outro
lado uma tendecircncia que parece marcar sua passashygem de uma ciecircncia natural da sociedade como querishyam os empiricistas ingleses e americanos para uma ciecircncia interpretativa destinada antes de tudo a conshy
frontar subjetividades e tratar delas (DAMATTA 1978 1112)
VELHO (1987) afirmando o caraacuteter aproximashytivo do conhecimento devido a uma certa dose de subshyjetividade do pesquisador afirma
A realidade sempre eacute filtrada por determinashydo ponto de vista do observador ela eacute percebida de maneira diferenciada ( ) natildeo estou proclamando a fashy
lecircncia do rigor cientiacutefico no estudo das sociedades mas a necessidade de percebecirc-lo enquanto objetividade reshy
lativa mais ou menos ideoloacutegico e sempre interpretativo (VELHO 1987 129)
Estas questotildees levam-nos a pensar que a consshy
truccedilatildeo do objeto em Antropologia implica simultaneashymente na construccedilatildeo do observador - o antropoacutelogo
Tal possibilidade eacute assinalada por Tedlock ao apontar que o domiacutenio das Ciecircncias Sociais caracteriza-se como
um repertoacuterio de conhecimento e expectativas ou cultushyra comum que foi compartilhado com os participantes
e foi criado a partir da interaccedilatildeo dos mesmos (TEDLOCK 1987184 - assinalamento nosso)
O produto do trabalho de campo (o texto etnograacutefico) portanto se constroacutei a partir da relaccedilatildeo pesquisador x pesquisado que ali se estabelece E na med ida em que tal relaccedilatildeo eacute um encontro
intersubjetivo nela tambeacutem estatildeo envolvidos aspecshytos da construccedilatildeo da identidade tanto do antropoacutelogo
como de seu objeto de estudo constituindo-se portanshyto faces de uma mesma moeda (MARTINS 1995)
Observaccedilatildeo participante e pesquisaintervenccedilatildeo
do psicoacutelogo escolar
As consideraccedilotildees anteriores sobre a observaccedilatildeo participante nos sugerem que esta maneira de abordar
o cotidiano escolar cria uma relaccedilatildeo de tensatildeo para o psicoacutelogo de um lado ele deve estabelecer do ponto
de vista analiacutetico (ou seja do ponto de vista epistemoloacutegico) um certo distanciamento do cotidiano escolar de tal modo que se possa conhecer seus interstiacutecios Por outro lado deve buscar estabelecer uma
relaccedilatildeo de implicaccedilatildeo junto aos agentes que estatildeo enshyvolvidos no processo educacional Tal perspectiva eacute
assim expressa por EZPELETA amp ROCKWELL (1986) Na observaccedilatildeo participante as relaccedilotildees interpessoais
entre pesquisador e sujeito ali chamadas relaccedilotildees soshyciais constituem as teorias eacute a relaccedilatildeo que determina o pensamento e natildeo o contraacuterio (p 83)
A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo sob a perspectiva
da observaccedilatildeo participante na medida em que tem como objeto o cotidiano escolar e as representaccedilotildees sociais que ali emergem natildeo deve se estruturar exclusivamenshy
te nas relaccedilotildees formais que se organizam dentro do 15 AZANHA (1992) vai propor para a pesquisa educacional a mesma proposiccedilatildeo de Geertz a elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees densas 16 Geertz define o objeto de estudo da Antropologia - a cultura - como essencialmente semioacutetica Para ele o homem eacute um animal
amarrado a te ias de significados que ele mesmo teceu [e assume] a cultura como sendo essas teias e a sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca de leis mas uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significado (GEERTZ 197815)
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contexto escolar (reuniotildees encontros no gabinete com
alunos e professores etc ) Ele deve considerar os
espaccedilos informais (papos nos corredores hora do
cafezinho recreio dos alunos etc ) como oportunidashy
des tanto para conhecer (pesquisa) a real idade escolar
como um espaccedilo de intervenccedilatildeo junto ao universo das
representaccedilotildees daqueles que ali se inserem e se exshy
pressam
Nesse sentido entendemos que a principal funshy
ccedilatildeo do psicoacutelogo dentro da escola eacute a de - a partir de
seu cotidiano e de sua histoacuteria - proporcionar situaccedilotildees
coletivas onde se desvele os significados impliacutecitos nas
relaccedilotildees (sobre a escola sobre o conhecimento sobre
o aluno etc ) de tal forma que os envolvidos no proshy
cesso decircem novos significados para as relaccedilotildees que
ali estabelecem Tal possibilidade por sua vez conshy
cretiza-se na medida em que o psicoacutelogo cria oportunishy
dades para que o coletivo da escola construa e crie novas necessidades para si transforme as condiccedilotildees
e os mecanismos de construccedilatildeo dos significados impliacuteshy
citos nas relaccedilotildees intra e extra escolares
Tal perspectiva abre a possibilidade para a emershy
gecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashy
ccedilotildees que se estruturam no contexto escolar pois se
oportuniza a expressatildeo dos vaacuterios segmentos que comshy
potildeem a estrutura social da escola Isto nos faz pensar
na forccedila das contradiccedilotildees no engendramento das mushy
danccedilas histoacutericas e na capacidade do homem em
promovecirc-Ias e superaacute-Ias
Nesse sentido ANDREAZI (1992) afirma
Onde encontrar marcas da identidade subjetiva
simbolicamente evidenciadas No espaccedilo nas coisas
nas regras nos produtos das tarefas educativas nas interaccedilotildees Interessa perceber como as pessoas vecircem
e se vecircem como elementos vinculados agrave Escola Inteshy
ressa para quecirc Para uma compreensatildeo da dinacircmica
institucional poderes resistecircncias e percepccedilotildees conshy
traditoacuterias de um mesmo Real tecido por sujeitos reais
Que imagem se tem desta Escola Que Escola ela preshy
tende ser Onde estaacute por onde transita o desejo dos
que habitam este cotidiano Da resposta a estas quesshy
totildees surge o perfil de uma instituiccedilatildeo educacional que
pode mirar-se perceber-se como uacutenica como histoacuteria
recursos e possibilidades diferenciadas (p 94)
Iniciamos este trabalho assinalando que ainda
se apresenta em nossa sociedade a ideacuteia de que o psishycoacutelogo escolar eacute o profissional que trabalha com as crishy
anccedilas problemas dentro da escola Durante a nossa
exposiccedilatildeo afirmamos que eacute a praacutetica profissional que
determina as representaccedilotildees sobre os profissionais de
certas profissotildees A partir das consideraccedilotildees acerca
da inserccedilatildeo do psicoacutelogo no cotidiano escolar atraveacutes
da observaccedilatildeo participante podemos vislumbrar algushy
mas possibilidades de mudanccedilas nas representaccedilotildees
que se estruturam ao longo da histoacuteria sobre a Psicoloshy
gia Escolar Nesse sentido se o psicoacutelogo abordar e intervir junto as representaccedilotildees sociais que medeiam
suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar
desvelando os significados impliacutecitos nestas represenshy
taccedilotildees - abordando-os a partir da histoacuteria e do cotidiano
escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de
novos significados tanto para sua presenccedila no contexto
escolar como para o seu trabalho
Trabalhar junto as pessoas considerando-as enshy
quanto sujeitos histoacutericos de seus proacuteprios processos
ante os desafios do cotidiano escolar permite-nos consshy
tatar que natildeo existe uma uacutenica verdade acerca da realishy
dade escolar mas diferentes aproximaccedilotildees Tais aproshy
ximaccedilotildees possibilitadas por esse processo interativo
(que natildeo eacute fixo pela proacutepria natureza da histoacuteria) e pelas condiccedilotildees objetivas que a realidade social nos apreshy
senta deixa-nos como legado a ideacuteia de que viver e
desenvolver-se implica em transformaccedilotildees contiacutenuas
que se realizam atraveacutes da interaccedilatildeo dos indiviacuteduos entre si e entre os indiviacuteduos e o meio no qual se inserem
(LIMA 1990 p 19)
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ABSTRACT The purpose of th is paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals Therefore the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine
KEY-WORDS School Psychology - Participative Observation - Research Methodology - Quotidian
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Seminu Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273
273
pequenas histoacuterias espaccedilos sociais onde se negocia e se reordena a continuidade das experiecircncias e a ativishydade escolar As contradiccedilotildees e incongruecircncias apashyrentes que se encontram nos mais diversos espaccedilos escolares (salas de aula reuniotildees na estrutura fiacutesica da escola etc ) adquirem sentido como resultado de mecanismos diferenciaacuteveis de reproduccedilatildeo e de aproprishyaccedilatildeo entre outros e mostram as diversas formas que a histoacuteria - social e individual - estaacute presente na vida cotishydiana da escola
A metodologia da observaccedilatildeo participante enshyfim possibilita ao psicoacutelogo escolar inserido no conshytexto da escola a olhar para as apropriaccedilotildees reais e potenciais que acontecem de baixo para cima a partir dos sujeitos individuais que vivenciam diariamente a instituiccedilatildeo Aleacutem disso ela cria a possibilidade de se construir um conhecimento que permite o estabelecishymento de relaccedilotildees mais reais com os processos que se datildeo no interior das escolas
Vale a pena resgatar por um momento algumas implicaccedilotildees da observaccedilatildeo participante inerentes na relaccedilatildeo psicoacutelogo escolar x escola considerando a dushypla perspectiva de sua atividade a de pesquisa e a inshytervenccedilatildeo Para tal aprofundamento faz-se necessaacuterio traccedilar algumas consideraccedilotildees sobre a observaccedilatildeo parshyticipante tendo como ponto de partida a Antropologia
Observaccedilatildeo Participante e a Antropologia
A observaccedilatildeo participante eacute uma metodologia elashyborada principalmente no contexto da pesquisa antroshypoloacutegica Trata-se de estabelecer uma adequada partishycipaccedilatildeo dos pesquisadores dentro dos grupos observashydos de modo a reduzir a estranheza reciacuteproca Os pesshyquisadores satildeo levados a compartilhar os papeacuteis e os haacutebitos dos grupos observados para estarem em conshydiccedilatildeo de observar fatos situaccedilotildees e comportamentos que natildeo ocorreriam ou que seriam alterados na presenshyccedila de estranhos Foi MALlNOWSKI (1978) quem sisteshymatizou as regras metodoloacutegicas para a pesquisa anshytropoloacutegica a ideacuteia que caracterizava o meacutetodo era a de que apenas atraveacutes da imersatildeo no cotidiano de uma outra cultura o antropoacutelogo poderia chegar a compreendecirc-Ia
Ou seja um dos pressupostos da observaccedilatildeo participante eacute o de que a convivecircncia do investigador com a pessoa ou grupo estudado cria condiccedilotildees privileshygiadas para que o processo de observaccedilatildeo seja condushyzido e decirc acesso a uma compreensatildeo que de outro modo natildeo seria alcanccedilaacutevel Admite-se que a experiecircncia direshyta do observador com a vida cotidiana do outro seja ele indiviacuteduo ou grupo eacute capaz de revelar na sua significashyccedilatildeo mais profunda accedilotildees atitudes episoacutedios etc
que de um ponto de vista exterior poderiam permaneshycer obscurecidas ou ateacute mesmo opacas
Assim o antropoacutelogo deveria passar por um proshycesso de transformaccedilatildeo atraveacutes do qual ele idealmente tornar-se-ia um nativo No entanto na medida em que essa experiecircncia natildeo eacute sistemaacutetica o antropoacutelogo deshyveria reelaboraacute-Ia transformando-a numa descriccedilatildeo objetiva (cientiacutefica) da cultura O resultado desta transshyformaccedilatildeo consiste no texto etnograacutefico onde o antroshypoacutelogo apresenta uma re-elaboraccedilatildeo de suas experiecircnshycias
O exerciacutecio desta metodologia trouxe para o censhytro da discussatildeo epistemoloacutegica questotildees referentes a relaccedilatildeo sujeito x objeto a partir da qual podemos situar alguns desdobramentos
Um dos problemas que se coloca para reflexatildeo refere-se agrave relaccedilatildeo entre o quanto se observa e o quanshyto se participa quando o pesquisador se encontra no campo BRANDAtildeO (1984) com a perspectiva de supeshyrar tal questionamento aponta uma certa orientaccedilatildeo para a abordagem das relaccedilotildees que ali se estabelecem Assim ele observa Eacute necessaacuterio que o cientista e sua ciecircncia seja primeiro um momento de compromisso e participaccedilatildeo com o trabalho histoacuterico e os projetos de luta do outro a quem mais do que conhecer para explishycar a pesquisa pretende compreender para servir (BRANDAtildeO 1984 p 12)
Tal perspectiva supotildee que os conhecimentos construiacutedos na relaccedilatildeo sujeito x objeto contribuem para a soluccedilatildeo dos conflitos sociais emergentes nas relashyccedilotildees sociais - luta contra a dominaccedilatildeo e a opressatildeo contra o preconceito e as discriminaccedilotildees etc Assim a relaccedilatildeo do pesquisador junto ao campo de pesquisa eacute uma relaccedilatildeo de implicaccedilatilde0 13 na vida da comunidade sociedade pesquisada o que se traduz para Brandatildeo em trabalho poliacutetico e luta popular Tal situaccedilatildeo na medida em que o outro se torna um companheiro de um compromisso leva o pesquisador a repensar tanto soshybre os destinos de sua pesquisa como tambeacutem a resshypeito de sua posiccedilatildeo pessoal
A relaccedilatildeo de participaccedilatildeo da praacutetica cientiacutefica no trabalho poliacutetico das classes populares desafia o pesshyquisador a ver e compreender tais classes seus sujei shytos e seus mundos tanto atraveacutes de suas pessoas nominadas quanto a partir de um trabalho social e poshyliacutetico de classe que constituindo a razatildeo da praacutetica constitui igualmente a razatildeo da pesquisa Estaacute inventashyda a pesquisa participante (BRANDAtildeO 1984 p 13shyassinalamentos no original) 14
Um outro desdobramento de tal questatildeo - a da relaccedilatildeo sujeito x objeto - vem sendo discutida a partir
Para um aprofundamento de ial conceito ver LOURAU 1975 GUATTARI 1987 e especialmente BARBIER 1985 Alguns tecircm se utilizado do termo pesquisa-accedilatildeo para caracterizar tal abordagem THIOLLENT (1984) estabelece as relaccedilotildees e as diferenccedilas entre estas duas formas de se abordar a realidade Ver tambeacutem ARDOINO 1993
Semina Ci SociaisHm v 17 n 3 p 266 -27~
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da emergecircncia do paradigma hermenecircutico no campo
da Antropologia - que fundamenta a Antropologia Interpretativa a partir dos trabalhos de Clifford Geertz
Ao considerar que o trabalho do antropoacutelogo eacute fazer etnografias e que estas satildeo descriccedilotildees densas15 que
objetivam apreender uma cultura 16 e ao considerar a
etnografia como uma leitura - no sentido de construir uma leitura de - tal perspectiva coloca em pauta a posshytura do pesquisador no fazer antropoloacutegico a qual se
expressa no texto etnograacutefico pois
no estudo da cultura a anaacutelise penetra no proacuteshyprio corpo do objeto isto eacute comeccedilamos com as nosshy
sas proacuteprias interpretaccedilotildees do que pretendem nossos informantes ou o que achamos que eles pretendem e
depois passamos a sistematizaacute-Ias (enfim) os textos antropoloacutegicos satildeo eles mesmos interpretaccedilotildees e na verdade de segunda e terceira matildeo Trata-se portanto de ficccedilotildees ficccedilotildees no sentido de que satildeo algo
construiacutedo algo modelado (GEERTZ 197825-26 shyassinalamentos nossos)
o produto do trabalho do antropoacutelogo - o texto
etnograacutefico - eacute visto como o resultado da interaccedilatildeo que se estabelece entre o pesquisador e seu objeto de esshy
tudo uma interpretaccedilatildeo que se elabora a partir do resshygate da posiccedilatildeo histoacuterica do pesquisador na relaccedilatildeo com seu objeto de estudo
DaMatta a partir destes pressupostos consideshy
ra que em princiacutepio a Antropologia eacute uma ciecircncias da comutaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo pois
Em antropologia eacute preciso recuperar esse lado
extraordinaacuterio e estaacutetico das relaccedilotildees entre pesquisashydornativo Se este eacute o lado menos rotineiro eacute o mais
difiacutecil de ser apanhado da situaccedilatildeo antropoloacutegica eacute cershytamente porque ele se constitui no aspecto mais humashy
no de nossa rotina ( ) Essa descoberta da AntropQloshygia Social como mateacuteria interpretativa segue por outro
lado uma tendecircncia que parece marcar sua passashygem de uma ciecircncia natural da sociedade como querishyam os empiricistas ingleses e americanos para uma ciecircncia interpretativa destinada antes de tudo a conshy
frontar subjetividades e tratar delas (DAMATTA 1978 1112)
VELHO (1987) afirmando o caraacuteter aproximashytivo do conhecimento devido a uma certa dose de subshyjetividade do pesquisador afirma
A realidade sempre eacute filtrada por determinashydo ponto de vista do observador ela eacute percebida de maneira diferenciada ( ) natildeo estou proclamando a fashy
lecircncia do rigor cientiacutefico no estudo das sociedades mas a necessidade de percebecirc-lo enquanto objetividade reshy
lativa mais ou menos ideoloacutegico e sempre interpretativo (VELHO 1987 129)
Estas questotildees levam-nos a pensar que a consshy
truccedilatildeo do objeto em Antropologia implica simultaneashymente na construccedilatildeo do observador - o antropoacutelogo
Tal possibilidade eacute assinalada por Tedlock ao apontar que o domiacutenio das Ciecircncias Sociais caracteriza-se como
um repertoacuterio de conhecimento e expectativas ou cultushyra comum que foi compartilhado com os participantes
e foi criado a partir da interaccedilatildeo dos mesmos (TEDLOCK 1987184 - assinalamento nosso)
O produto do trabalho de campo (o texto etnograacutefico) portanto se constroacutei a partir da relaccedilatildeo pesquisador x pesquisado que ali se estabelece E na med ida em que tal relaccedilatildeo eacute um encontro
intersubjetivo nela tambeacutem estatildeo envolvidos aspecshytos da construccedilatildeo da identidade tanto do antropoacutelogo
como de seu objeto de estudo constituindo-se portanshyto faces de uma mesma moeda (MARTINS 1995)
Observaccedilatildeo participante e pesquisaintervenccedilatildeo
do psicoacutelogo escolar
As consideraccedilotildees anteriores sobre a observaccedilatildeo participante nos sugerem que esta maneira de abordar
o cotidiano escolar cria uma relaccedilatildeo de tensatildeo para o psicoacutelogo de um lado ele deve estabelecer do ponto
de vista analiacutetico (ou seja do ponto de vista epistemoloacutegico) um certo distanciamento do cotidiano escolar de tal modo que se possa conhecer seus interstiacutecios Por outro lado deve buscar estabelecer uma
relaccedilatildeo de implicaccedilatildeo junto aos agentes que estatildeo enshyvolvidos no processo educacional Tal perspectiva eacute
assim expressa por EZPELETA amp ROCKWELL (1986) Na observaccedilatildeo participante as relaccedilotildees interpessoais
entre pesquisador e sujeito ali chamadas relaccedilotildees soshyciais constituem as teorias eacute a relaccedilatildeo que determina o pensamento e natildeo o contraacuterio (p 83)
A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo sob a perspectiva
da observaccedilatildeo participante na medida em que tem como objeto o cotidiano escolar e as representaccedilotildees sociais que ali emergem natildeo deve se estruturar exclusivamenshy
te nas relaccedilotildees formais que se organizam dentro do 15 AZANHA (1992) vai propor para a pesquisa educacional a mesma proposiccedilatildeo de Geertz a elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees densas 16 Geertz define o objeto de estudo da Antropologia - a cultura - como essencialmente semioacutetica Para ele o homem eacute um animal
amarrado a te ias de significados que ele mesmo teceu [e assume] a cultura como sendo essas teias e a sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca de leis mas uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significado (GEERTZ 197815)
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contexto escolar (reuniotildees encontros no gabinete com
alunos e professores etc ) Ele deve considerar os
espaccedilos informais (papos nos corredores hora do
cafezinho recreio dos alunos etc ) como oportunidashy
des tanto para conhecer (pesquisa) a real idade escolar
como um espaccedilo de intervenccedilatildeo junto ao universo das
representaccedilotildees daqueles que ali se inserem e se exshy
pressam
Nesse sentido entendemos que a principal funshy
ccedilatildeo do psicoacutelogo dentro da escola eacute a de - a partir de
seu cotidiano e de sua histoacuteria - proporcionar situaccedilotildees
coletivas onde se desvele os significados impliacutecitos nas
relaccedilotildees (sobre a escola sobre o conhecimento sobre
o aluno etc ) de tal forma que os envolvidos no proshy
cesso decircem novos significados para as relaccedilotildees que
ali estabelecem Tal possibilidade por sua vez conshy
cretiza-se na medida em que o psicoacutelogo cria oportunishy
dades para que o coletivo da escola construa e crie novas necessidades para si transforme as condiccedilotildees
e os mecanismos de construccedilatildeo dos significados impliacuteshy
citos nas relaccedilotildees intra e extra escolares
Tal perspectiva abre a possibilidade para a emershy
gecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashy
ccedilotildees que se estruturam no contexto escolar pois se
oportuniza a expressatildeo dos vaacuterios segmentos que comshy
potildeem a estrutura social da escola Isto nos faz pensar
na forccedila das contradiccedilotildees no engendramento das mushy
danccedilas histoacutericas e na capacidade do homem em
promovecirc-Ias e superaacute-Ias
Nesse sentido ANDREAZI (1992) afirma
Onde encontrar marcas da identidade subjetiva
simbolicamente evidenciadas No espaccedilo nas coisas
nas regras nos produtos das tarefas educativas nas interaccedilotildees Interessa perceber como as pessoas vecircem
e se vecircem como elementos vinculados agrave Escola Inteshy
ressa para quecirc Para uma compreensatildeo da dinacircmica
institucional poderes resistecircncias e percepccedilotildees conshy
traditoacuterias de um mesmo Real tecido por sujeitos reais
Que imagem se tem desta Escola Que Escola ela preshy
tende ser Onde estaacute por onde transita o desejo dos
que habitam este cotidiano Da resposta a estas quesshy
totildees surge o perfil de uma instituiccedilatildeo educacional que
pode mirar-se perceber-se como uacutenica como histoacuteria
recursos e possibilidades diferenciadas (p 94)
Iniciamos este trabalho assinalando que ainda
se apresenta em nossa sociedade a ideacuteia de que o psishycoacutelogo escolar eacute o profissional que trabalha com as crishy
anccedilas problemas dentro da escola Durante a nossa
exposiccedilatildeo afirmamos que eacute a praacutetica profissional que
determina as representaccedilotildees sobre os profissionais de
certas profissotildees A partir das consideraccedilotildees acerca
da inserccedilatildeo do psicoacutelogo no cotidiano escolar atraveacutes
da observaccedilatildeo participante podemos vislumbrar algushy
mas possibilidades de mudanccedilas nas representaccedilotildees
que se estruturam ao longo da histoacuteria sobre a Psicoloshy
gia Escolar Nesse sentido se o psicoacutelogo abordar e intervir junto as representaccedilotildees sociais que medeiam
suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar
desvelando os significados impliacutecitos nestas represenshy
taccedilotildees - abordando-os a partir da histoacuteria e do cotidiano
escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de
novos significados tanto para sua presenccedila no contexto
escolar como para o seu trabalho
Trabalhar junto as pessoas considerando-as enshy
quanto sujeitos histoacutericos de seus proacuteprios processos
ante os desafios do cotidiano escolar permite-nos consshy
tatar que natildeo existe uma uacutenica verdade acerca da realishy
dade escolar mas diferentes aproximaccedilotildees Tais aproshy
ximaccedilotildees possibilitadas por esse processo interativo
(que natildeo eacute fixo pela proacutepria natureza da histoacuteria) e pelas condiccedilotildees objetivas que a realidade social nos apreshy
senta deixa-nos como legado a ideacuteia de que viver e
desenvolver-se implica em transformaccedilotildees contiacutenuas
que se realizam atraveacutes da interaccedilatildeo dos indiviacuteduos entre si e entre os indiviacuteduos e o meio no qual se inserem
(LIMA 1990 p 19)
MARTINS JB Participative observation a methodological approach to school psychology Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 Sep 1996
ABSTRACT The purpose of th is paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals Therefore the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine
KEY-WORDS School Psychology - Participative Observation - Research Methodology - Quotidian
Sttm irw Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273
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da emergecircncia do paradigma hermenecircutico no campo
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Ao considerar que o trabalho do antropoacutelogo eacute fazer etnografias e que estas satildeo descriccedilotildees densas15 que
objetivam apreender uma cultura 16 e ao considerar a
etnografia como uma leitura - no sentido de construir uma leitura de - tal perspectiva coloca em pauta a posshytura do pesquisador no fazer antropoloacutegico a qual se
expressa no texto etnograacutefico pois
no estudo da cultura a anaacutelise penetra no proacuteshyprio corpo do objeto isto eacute comeccedilamos com as nosshy
sas proacuteprias interpretaccedilotildees do que pretendem nossos informantes ou o que achamos que eles pretendem e
depois passamos a sistematizaacute-Ias (enfim) os textos antropoloacutegicos satildeo eles mesmos interpretaccedilotildees e na verdade de segunda e terceira matildeo Trata-se portanto de ficccedilotildees ficccedilotildees no sentido de que satildeo algo
construiacutedo algo modelado (GEERTZ 197825-26 shyassinalamentos nossos)
o produto do trabalho do antropoacutelogo - o texto
etnograacutefico - eacute visto como o resultado da interaccedilatildeo que se estabelece entre o pesquisador e seu objeto de esshy
tudo uma interpretaccedilatildeo que se elabora a partir do resshygate da posiccedilatildeo histoacuterica do pesquisador na relaccedilatildeo com seu objeto de estudo
DaMatta a partir destes pressupostos consideshy
ra que em princiacutepio a Antropologia eacute uma ciecircncias da comutaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo pois
Em antropologia eacute preciso recuperar esse lado
extraordinaacuterio e estaacutetico das relaccedilotildees entre pesquisashydornativo Se este eacute o lado menos rotineiro eacute o mais
difiacutecil de ser apanhado da situaccedilatildeo antropoloacutegica eacute cershytamente porque ele se constitui no aspecto mais humashy
no de nossa rotina ( ) Essa descoberta da AntropQloshygia Social como mateacuteria interpretativa segue por outro
lado uma tendecircncia que parece marcar sua passashygem de uma ciecircncia natural da sociedade como querishyam os empiricistas ingleses e americanos para uma ciecircncia interpretativa destinada antes de tudo a conshy
frontar subjetividades e tratar delas (DAMATTA 1978 1112)
VELHO (1987) afirmando o caraacuteter aproximashytivo do conhecimento devido a uma certa dose de subshyjetividade do pesquisador afirma
A realidade sempre eacute filtrada por determinashydo ponto de vista do observador ela eacute percebida de maneira diferenciada ( ) natildeo estou proclamando a fashy
lecircncia do rigor cientiacutefico no estudo das sociedades mas a necessidade de percebecirc-lo enquanto objetividade reshy
lativa mais ou menos ideoloacutegico e sempre interpretativo (VELHO 1987 129)
Estas questotildees levam-nos a pensar que a consshy
truccedilatildeo do objeto em Antropologia implica simultaneashymente na construccedilatildeo do observador - o antropoacutelogo
Tal possibilidade eacute assinalada por Tedlock ao apontar que o domiacutenio das Ciecircncias Sociais caracteriza-se como
um repertoacuterio de conhecimento e expectativas ou cultushyra comum que foi compartilhado com os participantes
e foi criado a partir da interaccedilatildeo dos mesmos (TEDLOCK 1987184 - assinalamento nosso)
O produto do trabalho de campo (o texto etnograacutefico) portanto se constroacutei a partir da relaccedilatildeo pesquisador x pesquisado que ali se estabelece E na med ida em que tal relaccedilatildeo eacute um encontro
intersubjetivo nela tambeacutem estatildeo envolvidos aspecshytos da construccedilatildeo da identidade tanto do antropoacutelogo
como de seu objeto de estudo constituindo-se portanshyto faces de uma mesma moeda (MARTINS 1995)
Observaccedilatildeo participante e pesquisaintervenccedilatildeo
do psicoacutelogo escolar
As consideraccedilotildees anteriores sobre a observaccedilatildeo participante nos sugerem que esta maneira de abordar
o cotidiano escolar cria uma relaccedilatildeo de tensatildeo para o psicoacutelogo de um lado ele deve estabelecer do ponto
de vista analiacutetico (ou seja do ponto de vista epistemoloacutegico) um certo distanciamento do cotidiano escolar de tal modo que se possa conhecer seus interstiacutecios Por outro lado deve buscar estabelecer uma
relaccedilatildeo de implicaccedilatildeo junto aos agentes que estatildeo enshyvolvidos no processo educacional Tal perspectiva eacute
assim expressa por EZPELETA amp ROCKWELL (1986) Na observaccedilatildeo participante as relaccedilotildees interpessoais
entre pesquisador e sujeito ali chamadas relaccedilotildees soshyciais constituem as teorias eacute a relaccedilatildeo que determina o pensamento e natildeo o contraacuterio (p 83)
A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo sob a perspectiva
da observaccedilatildeo participante na medida em que tem como objeto o cotidiano escolar e as representaccedilotildees sociais que ali emergem natildeo deve se estruturar exclusivamenshy
te nas relaccedilotildees formais que se organizam dentro do 15 AZANHA (1992) vai propor para a pesquisa educacional a mesma proposiccedilatildeo de Geertz a elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees densas 16 Geertz define o objeto de estudo da Antropologia - a cultura - como essencialmente semioacutetica Para ele o homem eacute um animal
amarrado a te ias de significados que ele mesmo teceu [e assume] a cultura como sendo essas teias e a sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca de leis mas uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significado (GEERTZ 197815)
Semilla Ci SociaisHum v 17 n 3 p 266middot273
271
contexto escolar (reuniotildees encontros no gabinete com
alunos e professores etc ) Ele deve considerar os
espaccedilos informais (papos nos corredores hora do
cafezinho recreio dos alunos etc ) como oportunidashy
des tanto para conhecer (pesquisa) a real idade escolar
como um espaccedilo de intervenccedilatildeo junto ao universo das
representaccedilotildees daqueles que ali se inserem e se exshy
pressam
Nesse sentido entendemos que a principal funshy
ccedilatildeo do psicoacutelogo dentro da escola eacute a de - a partir de
seu cotidiano e de sua histoacuteria - proporcionar situaccedilotildees
coletivas onde se desvele os significados impliacutecitos nas
relaccedilotildees (sobre a escola sobre o conhecimento sobre
o aluno etc ) de tal forma que os envolvidos no proshy
cesso decircem novos significados para as relaccedilotildees que
ali estabelecem Tal possibilidade por sua vez conshy
cretiza-se na medida em que o psicoacutelogo cria oportunishy
dades para que o coletivo da escola construa e crie novas necessidades para si transforme as condiccedilotildees
e os mecanismos de construccedilatildeo dos significados impliacuteshy
citos nas relaccedilotildees intra e extra escolares
Tal perspectiva abre a possibilidade para a emershy
gecircncia das contradiccedilotildees que estatildeo impliacutecitas nas relashy
ccedilotildees que se estruturam no contexto escolar pois se
oportuniza a expressatildeo dos vaacuterios segmentos que comshy
potildeem a estrutura social da escola Isto nos faz pensar
na forccedila das contradiccedilotildees no engendramento das mushy
danccedilas histoacutericas e na capacidade do homem em
promovecirc-Ias e superaacute-Ias
Nesse sentido ANDREAZI (1992) afirma
Onde encontrar marcas da identidade subjetiva
simbolicamente evidenciadas No espaccedilo nas coisas
nas regras nos produtos das tarefas educativas nas interaccedilotildees Interessa perceber como as pessoas vecircem
e se vecircem como elementos vinculados agrave Escola Inteshy
ressa para quecirc Para uma compreensatildeo da dinacircmica
institucional poderes resistecircncias e percepccedilotildees conshy
traditoacuterias de um mesmo Real tecido por sujeitos reais
Que imagem se tem desta Escola Que Escola ela preshy
tende ser Onde estaacute por onde transita o desejo dos
que habitam este cotidiano Da resposta a estas quesshy
totildees surge o perfil de uma instituiccedilatildeo educacional que
pode mirar-se perceber-se como uacutenica como histoacuteria
recursos e possibilidades diferenciadas (p 94)
Iniciamos este trabalho assinalando que ainda
se apresenta em nossa sociedade a ideacuteia de que o psishycoacutelogo escolar eacute o profissional que trabalha com as crishy
anccedilas problemas dentro da escola Durante a nossa
exposiccedilatildeo afirmamos que eacute a praacutetica profissional que
determina as representaccedilotildees sobre os profissionais de
certas profissotildees A partir das consideraccedilotildees acerca
da inserccedilatildeo do psicoacutelogo no cotidiano escolar atraveacutes
da observaccedilatildeo participante podemos vislumbrar algushy
mas possibilidades de mudanccedilas nas representaccedilotildees
que se estruturam ao longo da histoacuteria sobre a Psicoloshy
gia Escolar Nesse sentido se o psicoacutelogo abordar e intervir junto as representaccedilotildees sociais que medeiam
suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar
desvelando os significados impliacutecitos nestas represenshy
taccedilotildees - abordando-os a partir da histoacuteria e do cotidiano
escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de
novos significados tanto para sua presenccedila no contexto
escolar como para o seu trabalho
Trabalhar junto as pessoas considerando-as enshy
quanto sujeitos histoacutericos de seus proacuteprios processos
ante os desafios do cotidiano escolar permite-nos consshy
tatar que natildeo existe uma uacutenica verdade acerca da realishy
dade escolar mas diferentes aproximaccedilotildees Tais aproshy
ximaccedilotildees possibilitadas por esse processo interativo
(que natildeo eacute fixo pela proacutepria natureza da histoacuteria) e pelas condiccedilotildees objetivas que a realidade social nos apreshy
senta deixa-nos como legado a ideacuteia de que viver e
desenvolver-se implica em transformaccedilotildees contiacutenuas
que se realizam atraveacutes da interaccedilatildeo dos indiviacuteduos entre si e entre os indiviacuteduos e o meio no qual se inserem
(LIMA 1990 p 19)
MARTINS JB Participative observation a methodological approach to school psychology Semina Ci SociaisHumanas Londrina v 17 n 3 p 266-273 Sep 1996
ABSTRACT The purpose of th is paper is to take the participative observation into consideration as an appropriate methodology to the work of scholar psychologists We consider the school as a social construction prescribed through the representations of the social agents who participate in its day by day Iife The participative observation permits the psychologists to research the structures of social relations and to give alternative ways to solve the problems in order to achieve the school goals Therefore the job of psychologists should be to get the social representations of school social segments in the sense to discover the contraditions that come up in the school relation routine
KEY-WORDS School Psychology - Participative Observation - Research Methodology - Quotidian
Sttm irw Cio SociaisHum v 17 n 3 p 266-273
272
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suas relaccedilotildees com os envolvidos no ambiente escolar
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escolar - abre-se a possibilidade para a emergecircncia de
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escolar como para o seu trabalho
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