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Panorama da cadeia de suprimentos dos carros elétricos e híbridos no Brasil
Conference Paper · October 2019
DOI: 10.14488/ENEGEP2019_TN_WIC_291_1640_37468
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Reverse flows of medicines View project
STIER2030 - Aceleração e Dinamização dos Sistemas Tecnológicos de Inovação em Energia Renovável no Brasil: Estudo Prospectivo até 2030 View project
Cristian Fernando Oecksler
Federal University of Santa Catarina
3 PUBLICATIONS 0 CITATIONS
SEE PROFILE
Tainara Volan
Federal University of Santa Catarina
12 PUBLICATIONS 1 CITATION
SEE PROFILE
Caroline Rodrigues Vaz
Federal University of Santa Catarina, Campus Blumenau
150 PUBLICATIONS 347 CITATIONS
SEE PROFILE
Mauricio Uriona Maldonado
Federal University of Santa Catarina
183 PUBLICATIONS 482 CITATIONS
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by Tainara Volan on 19 November 2019.
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PANORAMA DA CADEIA DE
SUPRIMENTOS DOS CARROS
ELÉTRICOS E HÍBRIDOS NO BRASIL
Cristian Fernando Oecksler
Tainara Volan
Caroline Rodrigues Vaz
Mauricio Uriona Maldonado
A cadeia de suprimentos automobilístico está sofrendo alterações,
devido a inserção de novos tipos de veículos em sua fabricação, nesse
caso veículos elétricos e híbridos. Desse modo, o objetivo do presente
artigo, é realizar um levantamento do panorama atual da cadeia de
suprimentos de veículos elétricos e híbridos, com o intuito de discutir
questões relativas à novas mudanças que estão ocorrendo ou que
podem ocorrer futuramente. Para isso, realizou-se uma pesquisa
bibliográfica em diversos portais de conteúdo científicos, utilizou-se
também informativos e estatísticas. Como contribuição deste artigo,
evidencia-se os avanços atuais e desafios no setor.
Palavras-chave: veículos elétricos, cadeia de suprimentos, tecnologias
limpas
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
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“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
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1. Introdução
O automóvel é reconhecido como um dos precursores da produção e difusão do consumo em
massa, podendo ser compreendido como uma inovação transformadora única (GEELS;
SCHOT, 2007). Passando por diversas evoluções, acompanhado por mudanças geográficas,
tecnológicas e sociais e atualmente, impulsionado pelas preocupações ambientais, volatilidade
do mercado de petróleo e pelo desenvolvimento de novas tecnologias, os veículos elétricos
lideram um processo de transição que busca romper com a utilização de combustíveis fósseis
para um processo baseado em energias renováveis (ASSIS, 2018).
Tal sistema de inovação de veículos elétricos parte de cinco esferas que formam a base para o
sistema, os quais são: indústria automobilística, setor elétrico, educação e pesquisa, ambiente
político (governo) e por fim, ambiente de inovação (que permeia todas essas esferas)
(CONSONI et al., 2018).
Desse modo, o sistema industrial gira em torno de montadoras e sua extensa rede de autopeças,
assistências técnicas e colaboradores. Estas companhias apresentam investimentos em pesquisa
e desenvolvimento (P&D), além de coordenarem e governarem a cadeia de produção de
veículos (CONSONI et al., 2018). Sendo assim, considera-se um importante ator no sistema de
desenvolvimento de veículos elétricos.
Diante desses fatos a cadeia de suprimentos vem sofrendo modificações e tendo que se adaptar
as novas tecnologias em ascensão, dessa forma o objetivo deste trabalho é identificar o
panorama atual da cadeia de suprimentos dos veículos elétricos e híbridos no Brasil. Para
realizar esta pesquisa o método utilizado foi a revisão de literatura em bases de dados de artigos
científicos, sites especializados e notícias de jornais, buscando trabalhos que trazem a cadeia
de suprimentos para veículos convencionais comparando com a cadeia para veículos elétricos
e híbridos.
A estrutura do artigo está composta por quatro seções que inclui, além desta introdução, a seção
2 com um breve referencial sobre s veículos elétricos. Na seção 3 apresenta-se os resultados e
discussões da pesquisa. As considerações finais são apresentadas na Seção 4, encerrando-se
este trabalho com as referências utilizadas.
2. Veículos Elétricos e Híbridos
Atualmente existem diferentes tipos de veículos elétricos e híbridos. Os veículos puramente
elétricos não possuem motor a combustão, são integralmente movidos por energia elétrica, seja
provida por baterias ou células de combustível (CASTRO; FERREIRA, 2010).
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Os veículos híbridos são assim chamados por combinarem motor a combustão e um motor
elétrico associado a uma bateria para tracionar as rodas a fim de economizar combustível. No
que tange ao tipo de tração, tem-se três classificações de híbridos (ANGELO, 2018):
• Híbrido paralelo: o motor elétrico e o motor a combustão funcionam ao mesmo tempo
de forma paralela, geralmente no eixo dianteiro localiza-se o motor elétrico e no eixo
traseiro, o motor a combustão. Exemplos de híbridos paralelos são o BMW i8 e o Honda
Insight;
• Híbrido-série: somente o motor elétrico gera tração, sendo que o motor a combustão é
utilizado para recarregar a bateria, como exemplo há o modelo GM Volt.
• Híbrido-misto ou combinado série-paralelo: há um conjunto eletrônico intrínseco que
avalia as condições de veículo e de percurso, selecionando desse modo os melhores
momentos para se utilizar o motor elétrico ou motor a combustão. Como exemplo,
apresentam-se o Toyota Prius e o Ford Fusion Hybrid.
Além destes, há a possibilidade de o veículo híbrido ser plug-in ou não, ou seja, se é possível o
carregamento em auto postos. Sumariza-se as informações anteriores na Figura 1.
Figura 1 – Tipos de veículos
Fonte: Adaptado de Castro e Ferreira (2010)
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Desse modo, os veículos elétricos trazem mudanças ao substituir o paradigma mecânico pelo
eletrônico. Sendo assim, alguns sistemas eletroeletrônicos já presentes nos sistemas a
combustão, passam a mudar de status, assumindo uma importância mais central no veículo
elétrico (CASTRO; FERREIRA, 2010).
3. Resultados e Discussões
3.1. Cadeia de suprimento dos carros
O setor automotivo tem importante participação na estrutura industrial mundial. No Brasil,
representa aproximadamente 22% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial, e 4% do PIB total
(ANFAVEA, 2018). Este setor emprega 1,3 milhões de pessoas direta e indiretamente, e
movimenta vários outros setores da indústria, dentre eles, o de autopeças.
Com isso, a indústria automotiva demanda de uma cadeia de suprimentos para a produção de
veículos. Esta cadeia de suprimentos inicia-se pelos insumos básicos, ou seja, as matérias
primas necessárias para a produção de um veículo. Por vezes estes insumos são adquiridos pelo
setor de autopeças para processá-los a fim de se tornarem novas peças ou módulos, ou então
são adquiridos diretamente pelas montadoras (no caso de vidros, por exemplo). A partir das
montadoras efetua-se a montagem e acabamento do veículo, para então o fornecerem para as
revendedoras e concessionárias, onde estes por sua vez comercializam o veículo para o cliente
final, como demonstra a Figura 2.
Figura 2 – Fluxograma da cadeia de suprimentos da indústria automobilística
Fonte: Adaptado de Scavarda e Hamacher (2001)
Essa estrutura de fluxograma pode ser expandida em cada um de seus tópicos, detalhando as
partes entendidas como insumos básicos, autopeças, montadora, concessionária e cliente, de
acordo com a Figura 3.
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Figura 3 – Estrutura da cadeia de suprimentos
Fonte: Autores
Em detalhes, o setor de insumos básicos fornece desde metais ferrosos, não ferrosos e não
metálicos, bem como outros (vidros e eletrônicos, por exemplo), principalmente para o setor de
autopeças, e em alguns casos específicos, como dos vidros, diretamente para a montadora. O
setor de autopeças faz uso dos insumos básicos para criar módulos com maior valor agregado,
como, por exemplo, motor, transmissão, carroceria e rodas, a partir dos metais. Desta forma, a
montadora adquire as autopeças desejadas conforme o projeto designado, sejam estes
automóveis leves, médios, pesados ou agrícolas. Por fim, os revendedores/concessionárias
comercializam o produto com os consumidores, que podem ser empresas, frotas, taxistas,
agropecuários, cliente final, entre outros.
3.2. Componentes do carro convencional – panorama internacional
Estima-se que o setor de autopeças movimente no mundo cerca de US$ 1,2 trilhões por ano
(CHIARI et al., 2016). Pela diversidade de segmentos envolvidos é comum separar as
empresas, conhecidas por OEMs (do inglês Original Equipament Manufacturer), por ramo de
atividade, que no presente trabalho, divide-se em 16 segmentos principais. A Figura 4 classifica
pelo menos cinco das maiores empresas globais em cada segmento de atuação atualmente.
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Figura 4 – Principais fornecedores globais de autopeças por segmento de atuação
Fonte: Adaptado de Chiari et al. (2016)
Nota-se que no setor de autopeças, há grande dominância de indústrias de grande porte
europeias, norte americanas e asiáticas. Ainda, utilizando-se dados de Crain Communications
(2018), que classifica as empresas OEM por receita anual em milhões de dólares no ano de
2017, sua sede e posição no ano anterior, 2016. Na Tabela 1, apresenta-se as dimensões
financeiras das empresas relacionadas no ramo.
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Tabela 1 – Ranking global de empresas de autopeças classificadas por receita anual
Ranking 2017 Empresa Sede Receita OEM 2017
(US$ milhões) Ranking 2016
1 Robert Bosch Alemanha 47500 1
2 Denso Japão 40782 4
3 Magna
International Canadá
38946 3
4 Continental Alemanha 35910 5
5 ZF Friedrichshafen Alemanha 34481 2
6 Aisin Seiki Japão 33837 6
7 Hyunday Mobis Coreia 24984 7
8 Lear Corp. USA 20467 9
9 Valeo França 19360 10
10 Faurecia França 19170 8
11 Adient USA 16200 11
12 Yazaki Corp. Japão 15754 13
13 Panasonic Japão 14995 17
14 Sumitomo Japão 14872 16
15 Mahle Alemanha 14441 15
16 Yanfeng China 14278 15
17 Toyota Boshoku Japão 13444 24
18 JTEKT Japão 12709 20
19 Thyssenkupp Alemanha 12591 18
20 BASF Alemanha 11157 21
21 Aptiv Irlanda 11824 -
22 Shaeffler Alemanha 10798 19
23 Samvardhana Índia 10550 26
24 Autoliv Suécia 10400 23
25 BorgWagner Inc. USA 9800 27
26 Plastic Omnium França 9596 29
27 Gestamp Espanha 9264 30
28 Magneti Marelli Itália 9234 28
29 Calsonic Kansei Japão 9061 22
30 Hitachi Japão 8900 25
Fonte: Adaptado de Crain Communications (2018)
3.3. Cenário dos carros elétricos e híbridos – tendências no Brasil
Os carros elétricos e híbridos estão entrando no mercado no Brasil, passando por dificuldades
para oferecer preços atrativos, principalmente pela falta de políticas públicas e fiscais. Contudo,
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percebe-se que será a maior tendência para o futuro, principalmente pela vantagem de não
emitir poluentes. Isto aliado à fonte hidrelétrica ser a principal matriz energética brasileira, e
aos 87,8% de energia renovável sobre a produção total de energia elétrica em junho de 2018
(MINAS E ENERGIA, 2018), que possui como consequência a atratividade de novos players
para este mercado.
O padrão dominante da cadeia de suprimentos de veículos elétricos ainda é incerto, há
indefinições quanto ao tipo de bateria e motor elétrico a utilizar, e até mesmo a própria
arquitetura do modelo (CASTRO; FERREIRA, 2010).
De acordo com uma análise efetuada pela revista Reusters, uma grande parte dos investidores
internacionais da indústria automotiva está focando nos fornecedores de autopeças, do que nos
fabricantes de automóveis, levando a entender que os fornecedores de autopeças serão os mais
beneficiados conforme a evolução de carros elétricos e de autônomos. Além disso, com os
governos levantando esforços para reduzir a poluição, grandes empresários aumentaram sua
exposição ao tema de veículos elétricos como forma de continuarem sendo produtivos, obtendo
rentabilidade a fim de não perder mercado (AYRE, 2018).
Estudos apontam que, até mesmo os setores que a princípio não haveriam mudanças, como os
pneus, está sofrendo projeções e mudanças à medida que os carros elétricos estão evoluindo.
Para Ayre (2018), empresas como Continental, Pirelli e Michelin, expectam maior demanda de
pneus de grande longevidade, uma vez que a média dos carros elétricos rodarão mais do que a
média de carros convencionais.
3.4. Estrutura complementar e estudo de casos de veículos elétricos
Com o surgimento dos carros elétricos, toda uma demanda de suprimentos para sua fabricação
e estrutura é exigida, só assim é possível a difusão dessa tecnologia. No Brasil, a principal
necessidade é a criação de auto postos, que possuem a funcionalidade de recarga dos veículos
elétricos, tema este gerador de longas discussões em torno do incentivo de subsídios
governamentais. Modelos de negócios poderão sofrer alterações, um exemplo disso são as
conveniências de postos de gasolina que oferecerem recarga para veículos elétricos, devido ao
tempo necessário para recarga da bateria o consumidor irá passar mais tempo em seus
estabelecimentos. O modelo i3 da BMW, possui um tempo para a recarga, de 80% da bateria,
de no mínimo 39 minutos (BMW, 2018).
Para um melhor entendimento da cadeia de suprimentos, apresenta-se na próxima seção estudos
de casos de veículos existentes.
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3.4.1. Estudo de caso: BMW i3
O modelo i3 da BMW é o único veículo totalmente elétrico comercializado para pessoas físicas
no Brasil (CONSIGLIO, 2018). Este é o primeiro projeto da BMW onde toda a sustentabilidade
foi analisada anteriormente de sua execução. A produção do carro em Leipzig, na Alemanha
provém de energia eólica autogerada. O chassi é de fibra de carbono, provido de terceiros que
utilizam energias renováveis para sua fabricação. A fábrica utiliza 70% menos água para
fabricá-lo e sua carroceria utiliza cola, como substituição da solda, desse modo a fábrica tornou-
se um ambiente silencioso e agradável para os funcionários, diferente de todas as fábricas
automotivas. Outro diferencial é a utilização de cerca de 25% de todo o plástico do interior do
veículo ser derivado de material reciclado ou renovável. Na composição de suas baterias, há
também 10% de materiais reciclados. A Figura 5 apresenta o modelo i3 da BMW.
Figura 4 – BMW i3
Fonte: Revista Quatro Rodas (RODRIGUEZ, 2018)
Como itens diferenciais da cadeia convencional, tem-se: propulsores elétricos de 125kW de
potência; sistema de controle de carga, tanto de corrente alternada, considerada carga lenta,
como de corrente contínua, conhecida como carga rápida; sistema de freios regenerativos, que
dissipa e transforma o movimento mecânico em energia elétrica, ou seja, o propulsor acaba se
tornando um gerador ao desacelerar o carro. Baterias de íons de lítio, a qual possui 8 anos ou
100 mil quilômetros de garantia, assim como sua logística reversa ao fim de vida (BMW, 2016).
3.4.2. Estudo de caso: GM Volt
O modelo Volt é a aposta da GM em veículos elétricos, sua fabricação é em Orion, nos Estados
Unidos, diferentemente do BMW i3 que possui um espaço dedicado para sua fabricação, o Volt
compartilha a mesma linha de montagem dos modelos compactos Sonic Hatch e Sedan. Devido
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a isso, aos que visitam a fábrica, é visível as principais diferenças entre a montagem de veículos
convencionais e elétricos, para Felix (2018):
“Em relação ao Sonic há apenas dois momentos de distinção na montagem. O primeiro
ocorre na montagem do tanque de combustível, que no caso do elétrico representa o
acoplamento do conjunto de baterias ao assoalho do carro. O segundo está na seção que
integra a carroceria ao conjunto motor-transmissão-suspensões, já que o Volt dispõe de
um propulsor elétrico.”
Contudo, isso não significa que a indústria automotiva está dominando a produção dos veículos
elétricos, ainda existem muitas dificuldades a serem superadas. Segundo Felix (2018), é
possível elencar alguns desafios que a indústria automotiva vem sofrendo, para isso, Ricardo
Takahira, membro da comissão de híbridos e elétricos da SAE Brasil (Associação Nacional de
Engenharia Automotiva) é entrevistado para comentar as dificuldades de engenharia
automotiva.
Primeiramente, os carros elétricos são mais complexos, mesmo possuindo menor número de
peças quando comparado aos veículos a combustão. Um propulsor a combustão juntamente
com a transmissão de um carro convencional, reúne mais de 5 mil peças em seu conjunto, para
o veículo elétrico todas essas peças são substituídas por algumas dezenas (FELIX, 2018).
Contudo, há um paradoxo, mesmo sendo mais simples em número de componentes, o carro
elétrico é tecnologicamente mais complexo e custa o equivalente ao dobro de um veículo
convencional. A Figura 6 apresenta a plataforma do modelo Volt.
Figura 5 – Plataforma do Chevrolet Volt
Fonte: Felix (2018)
O custo da unidade motriz dos carros elétricos é significativamente elevado devido ao alto preço
das baterias de íons de lítio. Nos carros convencionais o conjunto de propulsão não chega a
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representar 30% do custo de produção, enquanto nos elétricos, o conjunto de propulsão pode
representar 50% do veículo. Para o especialista Takahira, os engenheiros fazem um trabalho
excepcional com foco em aumentar a autonomia e reduzir os tempos de recarga, contudo, com
a chegada das novas soluções, estas ainda não permitem que o preço caia ou que o sistema se
popularize (FELIX, 2018).
Outro limitante na difusão de veículos elétricos é a complexidade e dependência de outras
tecnologias. Com o sistema totalmente elétrico, há a proliferação de módulos, centrais
eletrônicas e chicotes para embarcar as tecnologias necessárias, além disso itens como
acelerador e freios devem ser eletronicamente operados, o que, consequentemente, aumenta a
complexidade do sistema e o valor.
Posteriormente, a última barreira é a logística reversa da bateria. A manutenção do veículo
elétrico é extremamente reduzida e preferencialmente restrita a concessionária, devido a sua
tecnologia embarcada, a bateria possui um ciclo de vida limitado e tende a diminuir a
longevidade de sua autonomia ao longo dos anos, necessitando de reposição. Quando ela for
substituída, é responsabilidade do fabricante efetuar o correto descarte pela logística reversa, e
este valor acaba sendo projetado e embutido no preço final (FELIX, 2018).
3.5. Oportunidades de mercado e cadeia produtiva de carros elétricos e híbridos
Dada as dificuldades apresentadas para a difusão de tecnologias de veículos elétricos,
evidencia-se também as áreas de oportunidades da cadeia de suprimentos em ascensão, como
exemplo disso, apresenta-se as tecnologias embarcadas, infraestrutura elétrica, logística
reversa, componentes como baterias e propulsores, dentre outros. Identifica-se que grande parte
da cadeia é de alta tecnologia, contudo, como já citado, vários setores de autopeças e de insumos
básicos que já fornecem para as montadoras de veículos convencionais, vêm se adaptando para
fornecer produtos tecnológicos compatíveis com os montadores de veículos elétricos a fim de
não perder a fatia de mercado que está por surgir.
Além dos estudos de casos aqui apresentados, surgem outros veículos no território nacional,
como o Nissan Leaf, Chery eO e o Renault Zoe, provando que os elétricos estão na atualidade
e são o futuro. Diante da diversidade de modelos surgindo, o mercado torna-se cada vez mais
competitivo, gerando vantagens para o cliente final, incentivando a popularização e a prática
de preços acessíveis.
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Para veículos com previsões imediatistas e competitivas, cita-se os veículos híbridos. Tendo
como exemplo nesse setor a previsão de lançamento o Toyota Corolla híbrido para 2019
(VILLAÇA, 2019).
As montadoras apostam em carros híbridos pois são mais similares com os veículos a
combustão e compartilham praticamente a mesma cadeia produtiva de suprimentos, conforme
Figura 7, com exceção da necessidade de um motor elétrico e de uma bateria juntamente com
os sistemas de gestão energética, assim como a logística reversa, dado que a bateria possui uma
vida útil determinada.
Figura 6 – Cadeia produtiva do carro híbrido
Fonte: Felix (2018)
Contudo, diferentemente do carro movido a motor de combustão, o veículo elétrico possui
conjuntos mais simples e acabam por dispensar motor a combustão, velas, correias, catalisador,
escapamento, alternador, motor de partida, caixa de transmissão, entre outros (ZANETI, 2018).
O que acaba alterando a cadeia produtiva do carro. Ao invés de necessitar destes itens, por sua
vez surgem novos fornecedores para os novos sistemas necessários, como motores elétricos,
baterias, sistemas de carregamento, sistemas eletrônicos de potência, conectividade,
sensoriamento, inteligência artificial, entre outras possibilidades, como demonstra a Figura 8.
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Figura 7 – Cadeia produtiva do carro elétrico
Fonte: Autores
No cenário internacional, se percebeu a entrada de players no mercado de carros elétricos que
antes atuavam puramente no setor eletroeletrônico, como Siemens, Danfoss, Toshiba, entre
outras. Isso indica que o mercado de carros elétricos não atrai somente quem é especialista em
produção veicular, mas que pode atrair perfeitamente especialistas de determinas áreas, como
foi o caso dos eletrônicos, como é o caso da visão computacional e inteligência artificial, que
hoje é amplamente aplicada na Tesla.
Devido a transformação da indústria automobilística, transita-se novos modelos de negócios,
inclusive serviços, desse modo a cadeia de valor se espalha para outras áreas, como a
infraestrutura de recarga e o gerenciamento de informações, na Figura 8, destaca-se algumas
etapas que só existem na cadeia de valor de veículos elétricos (DELGADO et al., 2017).
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Figura 8 – Novos elementos da cadeia de valor de Veículos Elétricos
Fonte: Adaptado de Delgado (2017)
A compra estratégia de empresas por grandes players como BMW (HANCOCK, 2018) retrata
que os tópicos de interesse estão sendo alcançados por empresários em âmbito internacional.
Contudo, no mercado brasileiro, surgem iniciativas interessantes apesar de todas as dificuldades
locais. No âmbito local, a Hercules Motores, de Timbó, no estado de Santa Catarina, apresentou
em 2018 no salão do automóvel um motor para carros elétricos (JENSEN, 2018). Empresas
inteiramente verticalizadas também aparecem no mercado, a Mobilis de Florianópolis/SC,
empresa que visa oferecer uma solução completa de veículos elétricos, dentre outras.
4. Considerações finais
Com o desenvolvimento da eletrificação veicular todo o setor automotivo é transformado,
representando assim uma reestruturação setorial (CASTRO; FERREIRA, 2010). Com isso há
geração de amplas oportunidades de mercado para diversos setores da cadeia automobilística,
tendendo a ser cada vez mais nacionalizada, devido a necessidade de redução de custos.
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No entanto, constata-se ainda ausência de foco no apoio a novos serviços e modelos de
negócios, não há uma configuração de instrumentos de apoio e estímulos governamentais para
o desenvolvimento das cadeias de suprimentos necessárias à mobilidade elétrica (CONSONI
et al., 2018). Gerando instabilidade para a geração de novos negócios.
A mídia mostra diariamente reportagens de investimentos de grandes fabricantes de automóveis
na área de mobilidade elétrica, as quais estão unindo-se a empresas de tecnologia para um
desenvolvimento completo e mais rápido. Com questões ambientais em alta no mercado, além
das fabricantes, todo o restante da cadeia de suprimentos deve buscar uma forma de se organizar
e se reprogramar para atender a um novo produto em ascensão no mercado.
Para trabalhos futuros, são necessários estudos em áreas especificas, como exemplo, análises
em matérias primas usadas em baterias, que atualmente são provenientes de fontes finitas,
reestruturação dos atores envolvidos na cadeia de suprimentos, entre outras.
5. Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio do grupo Sinergia do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção – PPGEP e o Programa de Engenharia de Controle e Automação da
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, bem como a Capes, e ao CNPq pelo projeto
de iniciação científica: Mapeamento da difusão de tecnologia no setor automotivo: caso dos
veículos elétricos e híbridos no Brasil.
REFERÊNCIAS
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2018
ANGELO, B. Entenda quais são os três tipos de carros híbridos. Auto Papo, 2018. Disponível em: <
https://autopapo.com.br/noticia/entenda-os-tres-tipos-de-carros-hibridos/ >.
ASSIS, F. S. D. Análise da estrutura relacional de patentes: o caso domínio tecnológico no seguimento
dos veículos elétricos e híbridos. Universidade Federal de São Carlos: Centro de Ciências Exatas e de
Tecnologia - Programa de Pós-Gradução em Engenharia de Produção 2018.
AYRE, J. Investors Positioning Themselves For EV Boom By Betting On Parts Suppliers, Not Auto
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BMW, B. BMW i3. BMW - Pelo prazer de conduzir, 2016. Disponível em: <
https://www.bmw.pt/content/dam/bmw/marketPT/bmw_pt/catalogos/i3_catalogue_2016.pdf >.
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CASTRO, B. H. R. D.; FERREIRA, T. T. Veículos elétricos: aspectos básicos, perspectivas e
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CHIARI, D. et al. Panorama da indústria de autopeças no Brasil: características, conjuntura,
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CONSIGLIO, T. Único carro elétrico à venda no Brasil, BMW i3 reestilizado tem preço de R$
199.950 - AUTO ESPORTE | Notícias 2018.
CONSONI, F. L. et al. Estudo de Governança e Políticas Públicas para Veículos Elétricos. Projeto
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