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OUT OF CONTROL - o fanzine digital do U2BR

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Edição nº 1 de OUT OF CONTROL - o fanzine digital do U2BR

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Juliano Trentini Macieleditor chefe

[email protected]@julianotrm

Tiago [email protected]@t0xxx4

Vagner Giacomazzicomunicação e notí[email protected]@duffu2

Duílio Antônio Pereiraeditor de conteúdo

[email protected]@dulho

Suderland Guimarãescolunista

[email protected]@suderland

Vivianne Nunesnotí[email protected]@vickyhewson

Sil Rigotecorrespondente nos [email protected]@silvox

Rômulo Bortolozzonotícias

[email protected]@rbcaller

Ricardo Camilonotícias

[email protected]@ricardocamilo

Alessandra Mendonçanotícias e fó[email protected]@aleh_

Andreia G. [email protected]@andreia_hewson

Nalini Vasconcelosvideomaker

[email protected]@nalinii

Rose Gomesnotí[email protected]@rosegomes

Marcelo Tschirknotí[email protected]@Marsthime

Armando Junioreventos e bandas cover

[email protected]@ju2nior

O U2BR E:

Rita Rocharedatora e editora

[email protected]@rocharita

acesse: www.u2br.comcurta: facebook.com/u2brsite

compartilhe: twitter.com/u2br

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Larry realmente queria ser o cantor, eu queria ser o guitarrista e Edge é um baterista frustrado. E Adam... Bem, Adam só quer tocar baixo.

Nós nunca consideramos “a canção” como a parte essencial

de nossos álbuns. 

Baixistas têm os fãs mais esquisitos. Eu tento conseguir os

estudantes de óculos do MIT. Bono consegue os poetas.

E Larry, infelizmente, consegue as garotas.

Nós devíamos ter pego um Ringo.”

Eu nunca quis que o U2 fosse a maior banda de rock do mundo,

só a melhor.

Sermos um, estarmos unidos,pode ser uma coisa muito boa,mas sabermos respeitar as diferenças pode ser melhor ainda.

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Um concerto é a forma mais autêntica de música. Os CDs

foram inventados muito depois da música, perguntem

ao Beethoven!

Qual é a minha profissão? Eu simulo fazer amor,

batendo num pedaço de madeira com um metal,

fazendo-o vibrar.

Existe um amor entre os membros desta banda que é mais profundo que qualquer coisa que surja entre nós. Depois de quase 15 anos, o que seria tempo para um divórcio em quase todo relacionamento, nós olhamos um para o outro e dissemos “solte suas armas”.

É duro ser popstar. Depois de pagar as contas, a faculadde dos

filhos, só sobra um pouco para comprar uma ilha no Pacífico Sul.

É duro!

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Segundo a Wikipedia, “fanzine é uma abreviação de fanatic magazine, da aglutinação da última sílaba da palavra magazine com a sílaba inicial de fanatic. Fanzine é, portanto, uma revista edi-tada por um fã”.

“Editada por fãs, feita por fãs...”

Foi com essa frase em mente que surgiu a id-eia de criarmos o nosso próprio fanzine. Ora, o mote do U2BR sempre foi “feito por fãs, para fãs”, portanto, nada mais “U2BR” do que uma fanzine. Pensando em tudo isso, resolvemos homenagear este tipo de publi-cação com a revista do U2BR. E é com muito orgulho que lançamos a edição nº 1 de OUT OF CONTROL, o fanzine digital do U2BR.

O fanzine foi um tipo de publicação foi muito popular nos anos 70 a 90, antes do surgimento e popularização da internet, e servia para que os fãs trocassem informações, que demoravam a chegar e deixavam os fãs ávidos por notícias de sua banda preferida. Pode-se dizer que os fanzines foram os pioneiros dos fãs-site, das redes sociais e de todos os outros canais de comunicação entre fãs.

A “rede social” fanzineira funcionava como um grupo – assim que entrava para ele, o “editor” ou criador do fanzine entrava também para “lista” de fanzineiros, para quem tinha o dever de mandar seu material assim que publicado – e dos quais também recebia material. O envio era feito via correio, com a opção de “carta social”, que barateava o custo e garantia que as revistas circulassem o país. Algumas lojas de discos também participavam desse esforço para a disseminação da informação.

Na nossa edição de estreia, você vai ver um bate-papo com Márcio Sno, jornalista e grande “zineiro” dos anos 90, que já fez palestras e exposições sobre fanzines ao redor do mundo todo, além de uma entrevista exclusiva com Carla Rodrigues, criadora do Iris Eyes Press. Claro que não poderíamos deixar passar em branco os últimos acontecimentos no mundo U2niano: uma crônica especial sobre os rumores

sobre o

novo álbum e a nova turnê e comentários espe-ciais do nosso grande cronista, Vagner Giacom-azzi (ou Duff, para os íntimos).

Nesta edição, também rola uma matéria da Nalini Vasconcelos sobre o conceito do DVD Colaborativo do U2BR, lançado em maio. Como foi desenvolvido, como surgiu a ideia e todos os detalhes dessa produção.

Veja as histórias inusitadas de um fã perdido pelo mundo em busca do U2, as histórias de fãs com trilha sonora do U2 e seus encontros com nossos ídolos, além de um bate-papo com a U2 Alive! e muito mais!

Editar o fanzine do U2BR não foi uma tarefa fácil. Todos nós, integrantes da equipe, temos um desejo muito grande de sempre levar o melhor possível aos fãs – porque é o que gostamos de receber, como fãs. Quem já viu nossos especiais para o site, os eventos que produ-zimos e transmitimos via stream sabe do que estou falando, dessa vontade que temos de deixar tudo o mais próximo possível da perfeição. É claro, não dá pra agradar gregos e troianos, mas é muito gratificante fazer algo “de fã para fã”. Compartilhamos com to-dos os nossos leitores as emoções de ser fã do U2: a espera pelos shows, por notícias, por um álbum novo. Também roemos as unhas a cada rumor sobre a banda, as “visitas secre-tas e surpresas” dos integrantes ao Brasil.

Foi com esse espírito que cada um de nós escreveu para a revista, perdeu umas horas do seu dia ou da sua noite para escrever, editar, corrigir, diagramar e selecionar a foto perfeita para ilustrar cada um dos textos. Foi com a vontade de extrapolar os limites do portal, de cri-ar conteúdo diferente e presentear nossos leitores com matérias especiais que chegamos até aqui.

Senhoras e senhores, com vocês, a primeira edição do fanzine digital do U2BR.

Stay safe tonight!

Rita Rochaeditora geral

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Vamos ao debut desta coluna! A partir de agora, compartilharei com vocês minha opinião sobre tudo que está rolando no mundo U2niano e outras coisinhas mais!

WATCH MORE TVA gente percebe que está “ficando velho” quando começa passar U2 na TCM, né? Durante todo o mês de maio, rolou o “crássico” Rattle & Hum, cujo fracasso retumbante deu origem ao genial Achtung Baby! Se não pôde assistir na TV, você pode comprar o DVD por 10 pilas em qualquer loja especializada... e original, hein!

EVERYTHING YOU KNOW IS WRONG

U2 na Colômbia, no Recife, na Lua... São tantos os boatos de shows da ban-da em tantos lugares... Ah, fica só entre nós, já comecei os contatos pra um show no quintal de casa também. Mas só vai rolar se eu me eleger a prefeito da cidade.

I FEEL NUMB Bora pra Amazônia? Dizem que Bono comprou uma casa lá no meio da floresta pra poder praticar tranquilamente sua fé no... SANTO DAIME! Excesso de imaginação, de chá de ayahuasca ou de chá de fita mesmo?

VOCÊ SABIA QUE... o U2 está entre os preferidos dos pombinhos ao subir no altar? E, pasmem! Não é ao som de ONE! Beatiful Day e City of Blinding Lights estão entre as mais tocadas!!! Há salvação no mundo ainda.

HOW LONG...

Pessoas que ganham promoção no site, mas “desaparecem”. Aí complica, né!

EVERY POET IS A THIEF

O chefão da Interscope dedurou o Will.I.Am (The Black Eyed Peas). Segundo o “chefe”, Will pegou emprestada a melodia/acordes de Go Crazy para compor I’ve Gotta a Feeling. Tô procurando a semelhança até hoje...

VELHO BARREIRONo último 10 de maio, Bono deixou de ser “uma boa ideia” e completou 52 anos. Todo elogio do mundo é pouco pra esse cara, como cantor, performer e ativista. Mas uma dúvida ainda paira no ar: quan-do ele vai assumir os cabelos grisalhos? Até o Silvio Santos assumiu! Assume, Bono! Faz luzes que fica bom!

IT’S A BEAUTIFUL DAYEm maio, ultrapassamos a marca de 10 mil curtidores no Facebook e estamos no mesmo caminho lá no tal do “tuiter” (até o fechamento desta edição, havíamos passado dos 9.400 seguidores).Obrigado pela preferência, galerinha do mal!

CONSELHO DE AMIGOJá baixou o nosso DVD Colaborativo?? Acesse dvd.u2br.com e divirta-se com essa excelente

lembrança dos shows no Brasil!

MONEY, MONEY, MONEY, MONEY...

O U2 é o 5º grupo mais rico do mundo. Tá bom ou quer mais? Só sei que alguns dos dólares meus “ajudaram” a banda.

Depois dessa... tchau, até a próxima edição! Enviem suas críticas, elogios ou sugestões e me ajude a fazer esta coluna!

Vagner Giacomazzi é estudante de Engenharia e está na equipe do U2BR desde 2005. Escreva pra ele: [email protected] ou @duffu2

por Vagner “Duff” Giacomazzi

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“See the world in yellow and green, São Paulo in a awake dream

Bahia to Amazônia, Amapá, Santa Catarina You, Brazil, is in emotion, Amazonas to Atlantic Ocean

See the bird with a leaf in her mouth After the flood all the colors came out...”

(Bono, “Beautiful Day”, São Paulo, 9 de abril de 2011)

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Você não ficaria muito feliz, não é mesmo?

De forma superficial, essa é a temática do livro de Neil McCormick, Killing Bono: I was Bono’s Doppelganger (em tradução livre: “Matando Bono: Eu era a cópia má de Bono”).

Apesar do nome do livro e do tom inicial das primeiras linhas, o livro não é uma crítica ao líder da banda irlandesa, nem ao menos de inveja,

mas sim uma leitura leve e divertida, que leva a uma passagem bem humorada sobre o começo e a ascensão da banda pelos olhos do autor.

A ironia é que até mesmo o título do livro foi feito a partir de uma insinuação que Bono fez para Neil, afirmando que, para continuar com sua vida, ele teria que matá-lo.

O início do livro nos remete à banda já estabele-cida, com Neil vendo seu amigo de infância com a vida que ele gostaria de ter: rodeado de personalidades que ele tinha visto apenas em sonho, com a fama e o amor dos fãs, sendo aclamado pelo público. Uma banda formada por quatro rapazes que eram seus contemporâneos, mas que tinha tido um final muito diferente do seu.

O flashback começa com a infância de Neil até culminar em sua chegada à Mount Temple. Pela sua descrição da escola, à época, temos a visão de como os quatro meninos de Dublin eram antes da fama: Paul Hewson, um garoto que chamava a atenção por si só, uma personalidade contagiante e um líder nato; Dave Evans, um pequeno gênio que tinha criado sua própria guitarra e que passava tardes na biblioteca lendo e procurando se aperfeiçoar; Adam Clayton, o garoto inglês que era a personificação da excentricidade que se procura em um astro de rock; e Larry Mullen Jr., o garoto bonito, sério e perfeccionista, culpado por formar a maior banda de todos os tempos.

Alguns nascem grandesAlguns alcançam a grandeza

Alguns têm a grandeza imposta a elesE alguns têm o infortúnio de ir à escola com Bono.

“O problema é saber que você fez tudo que eu sempre gostaria de fazer”, Neil uma vez reclamou a seu amigo famoso. “Eu sou a sua cópia”, Bono retrucou.

“Se você quiser sua vida de volta, terá que me matar”.

O que você faria se tivesse um grande sonho, mas, em vez de você conseguir realizá-lo, é seu amigo quem vira tudo aquilo que você gostaria de ser?

por Alessandra Mendonça

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Alessandra Mendonça é responsável por notícias e fórum no U2BR. Escreva pra ela: [email protected] ou @aleh_

Através do livro, temos outra visão das histórias que conhecemos de cor e salteado. Desde o famoso anúncio de Larry até os ensaios na cozinha, passando pelas apresen-tações em Dublin até chegarem à merecida fama.

É interessante ver não apenas o crescimen-to de Neil, mas também a visão dele sobre a própria banda, demonstrando o quanto eles trabalharam para chegarem ao topo e como eles não deixaram a fama os afetar - muito pelo contrário. Pela leitura, temos a impressão que eles ficaram ainda mais humildes do que quando eram jovens.

O livro é uma leitura engraçada, às vezes densa, às vezes leve, que faz você rir, chorar e até mesmo torcer em algumas partes.

Um livro não apenas para os fãs de U2, mas também para todos que apreciam uma boa leitura.

O filme homônimo também segue a mes-ma essência, capturando passagens engraça-das e semelhantes ao livro. Mas, no final das contas, nada consegue superar a essência do papel.

Atualmente, Neil McCormick é

crítico musical do jornal Telegraph e

foi responsável pelo prefácio do U2 by U2.

O único revés é que, até o momento, o livro não foi traduzido para o português (apesar de rumores dizerem que isso poderá ocorrer em breve), portanto, ele só é encontrado na língua inglesa. A escrita de Neil, especialmente no começo, é povoada de gírias, o que pode acarretar em uma complicação para aqueles que não são tão familiarizados.De qualquer forma, Killing Bono é um livro recomendado para aqueles que já conhecem a história da banda, mas que procuram aspectos mais pormenorizados e interessantes da banda, pelos olhos daquele que estava junto com eles. Não no palco, mas sim nos bastidores.

Esquerda, Martin McCann como Bono, cena no filme que tem o mesmo nome do livro e foi lançado em 2011. Acima, pôster do filme.

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Para descobrir o que é e como é feito um fanzine, o U2BR foi atrás do especialista Márcio Sno, autoridade quando o assunto é fanzine. Produziu diversos materiais nos anos 90, tanto no Brasil como no exterior e é, até hoje, grande entusiasta e incentivador deste formato de publicação. Em 2007, publicou o trabalho Fanzine de Papel, um ótimo trabalho sobre a história do fanzine no Brasil e no mundo. Seus trabalhos já foram temas de exposições em várias partes do mundo e hoje, após participar de algumas cooperativas de fanzines, é jornalista e edita o zine Arreia! e o documentário Fanzineiros do século passado. O U2BR bateu um papo com ele, que contou tudo sobre a história dos fanzines no Brasil.

U2BR: Pra começar nossa conversa explica pra nós o que é um fanzine?

Márcio Sno: Fanzine é um veículo de comu-nicação independente que divulga conteúdos de ilimitados segmentos ou estilos. Desde a mais básica produção alternativa até o mais alto mainstream. Geralmente é impresso em xerox ou em impressoras e é distribuído de mão em mão, em eventos ou mesmo via carta, geralmente circula em um circuito no qual seu conteúdo se enquadra. Resumindo: é um espaço para expressar e divulgar ideias e ideais, sem censura e da forma que achar melhor.

U2BR: Como surgiu esse movimento no Brasil?

Sno: Historicamente, os registros mostram que os fanzine surgiram no Brasil na

década de 1940, época em que pipocavam grupos de discussão sobre ficção científica (que até hoje são muito fortes). Nesse período Edson Rontani lançou o “Ficção”, que é considera-do o primeiro fanzine publicado por aqui. Naquela época o termo fanzine ainda não era adotado (isso só veio acontecer na década de 1960) e esse tipo de publicação era conhecida como boletim. Não só no Brasil, como no mundo todo, os fanzines ficaram mais populares na segunda metade da década de 1970, com o movi-mento punk que, com o lema “faça você mesmo”, incentivou pessoas a publicarem mais fanzines.

U2BR: Qual foi o primeiro fanzine ao qual você teve acesso?

Sno: Conheci os fanzines de uma forma meio curiosa. Isso foi em 1993, quando passei a entrar em contato via carta com pessoas de todo o Brasil, por intermédio de revistas de rock. Eu sempre via uma seção que tratava de fanzines. Como naquela época não tinha essa palavra no dicionário ou um Google pra descobrirmos de forma imediata o significado do termo, escrevi para alguns editores de zines perguntando como adquirir “aquilo”, porém, nunca demonstrei que não sabia nada do assunto! Depois de um tempo,chegam em minhas mãos alguns fanzines. Os primeiros que recebi foram o Secret Face e o Bomber, ambos já estão extintos.

por Rita Rocha

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U2BR: Como foi esse contato e por que você pensou em começar a editar fanzines?

Sno: Assim que conheci in loco do que se tratava, pensei: eu posso fazer um desses também! E ninguém me tirava da cabeça que eu faria isso! Como mantinha contato com algumas bandas, descobri que já tinha algumas fontes para concretizar esse processo. A partir daí, endoideci, passei a fazer contato com muita gente, divulgar o zine e estou preso a esse universo há 19 anos!

U2BR: Como era a circulação dos fanzines?

Sno: Eles circulavam pelos correios, em shows, eventos, encontros, lojas de disco, ou seja, de forma totalmente alternativa e fora dos padrões de divulgação que uma revista ou jornal tinham.Havia naquela época o flyer, que era uma espécie de cartão de visitas que funcionava assim: eu moro em São Paulo e ia mandar uma carta pra uma pessoa de Salvador. Na carta, eu colocava uns 10 flyers do meu fanzine e essa pessoa distribuía meus flyers para os contatos dela e isso ia circulando e começava a receber cartas de todos os cantos do mundo! Era uma forma muito eficiente de divulgação que pode ser comparada hoje com os spams que recebemos via e-mail. Mas era um spam do bem!

U2BR: Quem são os grandes “fanzineiros” bra-sileiros?

Sno: Ainda temos muitos fanzineiros na ativa. Temos os grandes nomes, que são referências desde sempre, como Henrique Magalhães, Edgard Guimarães, Gazy Andraus, Flávio Calazans, Joacy Jamys. Da década de 1990, na qual fui mais ativo na produção, temos Adolfo Sá e Rafael Jr (Cabrunco), Edson Luís (Abrigo Nuclear), Digão Duarte e Marcel Pauluk (Papakapika). Atualmente, Rodrigo Okuyama (La Permura!) e Flávio Grão (Manufatura).Tem muitas pessoas que não citei aqui, mas pra quem não conhece o universo dos fanzines e quer começar por esses, é um bom caminho.

U2BR: Qual foi o primeiro fanzine que você editou?

Sno: Foi o Aaah!!, que durou seis edições, também fiz o Don’t Worry! com a minha

esposa Joelma. Depois fiz o Ejaculação Precoce e o erótico Pleasure. Mais tarde, em 2006, lancei duas edições do Arreia!, o qual ainda quero retomar. Nesse período, também colaborei para outros fanzines com entrevistas, textos, ilustrações, capas e o que fosse necessário. U2BR: Você chegou a ter acesso ao Propaganda, que era o fanzine “oficial” sobre U2 ou a algum outro que falasse sobre a banda?

Sno: Conheci poucos fanzines de bandas e, por isso, infelizmente não conheci o Propaganda. Minha primeira colabração em fanzines se deu no Solid Solution, da Anarchy Solid Sound. Já vi fanzines muito legais como o Rotozine, do Pato Fu.

U2BR: O que mudou de lá pra cá no mundo dos fanzines?

Sno: Ah, muita coisa mudou. O avanço tecnológico forçou os editores a fazerem algo para se adaptar ao meio virtual. Mas uma característica marcante que mostra bem a diferença entre as duas épocas é que antes a cena de fanzines se caracter-izava pela quantidade, pois surgiam fanzines de todos os cantos e dos mais distintos

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pode se enquadrar tanto dento do conteúdo de blog como no de notícias de bandas, porém em formato impresso e com uma abrangência mais direcionada, segmentada e fragmentada, afinal, impresso gera custos de impressão e correio.

U2BR: Você acha que a popularização da internet e o surgimento da cultu-ra 2.0 mataram “o espírito” do fanzine?

Sno: Esse era o pensamento que povoou a cabeça de 10 em 10 fanzineiros que publicavam antes da chegada da internet, na segunda metade da década de 1990. Isso eu falo em relação ao Brasil.A história dos fanzines tem um divisor de águas importantíssimo que foi a popularização dos computadores pessoais e, na sequência, da internet. Assim como na chegada da televisão quando se decretou o fim do rádio, a mesma ameaça de morte sofreu não só os fanzines como todas as publicações impressas como jornais e revistas. No entanto, o formato impresso continua vivo e resistindo. Hoje, há muitas iniciativas que promovem a produção de fanzines, como grupos organizados como, por

exemplo, a Ugra Press, do qual faço parte, que realiza o Ugra Zine Fest e publica o “Anuário de Fanzines, Zines e Publicações A l t e r n a t i v a s ”, que estimulam a manter esse espíri-to vivo e renovado. Na pesquisas que tenho feito, esse fenômeno da internet ocorreu na Europa,

Estados Unidos e Canadá uma década antes de nós, e, hoje em dia, já conseguem tem uma convivência harmoniosa entre impresso e virtual. E o mesmo movimento vem acontecendo conosco. Ainda falta um bocado de coisas para que essa relação seja como lá fora, mas estamos seguindo no caminho certo.

U2BR: Conte-nos um pouco sobre o Fanzineiros do Século Passado. De onde surgiu a ideia de fazer esse documentário? Qual foi o critério de escolha dos entrevistados?

assuntos. Hoje,os editores estão primando mais pela qualidade: são poucos os títulos, porém, estão tendo o cuidado de apresentar materiais cada vez mais profissionais e utilizando-se de diversos recursos, formatos, cores, texturas, etc. No meu ponto de vista, a fase atual é mais interessante, pois prefiro muito mais ter satisfação a ler uma publicação ao invés de ter centenas para ler, mas que pouco poderá contribuir para meu deleite.

U2BR: Você acha que ainda há espaço para os fanzines nesse mundo 2.0?

Sno: Sim, sempre tem. O problema das notícias na velocidade da luz é que ela castra quem escreve ou produz algum tipo de informação. Quando você escreve ou publica na internet, tem que levar em consideração que os seus leitores não ficarão muito tempo em frente à tela do computador para ler determinada ma-téria. As informações têm que ser instantâneas, curtas e diretas. Para quem gosta de escrever – e detalhar – é uma frustração. Logo, na publi-cação impressa, você pode explorar mais essa parte. Claro, existem as limitações de espaço, mas tem também a vantagem de você ler em qualquer lugar, na hora que quiser e pode marcar, guardar e sempre voltar para buscar a informação, mes-mo porque um site pode sair do ar a qualquer momento e aquela informação registrada um dia nessa plataforma, se perde. Não quero, com esse discurso, promover uma discussão de que isso é melhor que aquilo, mas quero apontar que cada formato tem suas especificidades, pontos posi-tivos e negativos o que temos que fazer é sab-er adaptar cada formato para o que quer fazer.

U2BR: Pra você, qual é a grande diferença entre um blog ou site de notícias sobre uma banda e um fanzine?

Sno: Um blog tem a tendência de ser mais pessoal, onde você tem uma liberdade maior para falar o que pensa sobre determinado assunto. Um site de notícias de uma banda, é mais focado para abordar assuntos pertinentes a tal banda, é mais limitado, porém é mais certeiro nos seus objetivos e, pelo fato de ser um site, o seu alcance é maior. Já o fanzine

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Sno: Nas pesquisas que tenho feito desde 2005, percebi que além de poucos livros que falavam sobre zines no Brasil, a realidadeaudiovisual sobre isso era pior, pois não havia um registro falando apenas sobre fanzines! Incomodado com essa situação, resolvi resgatar um antigo sonho de re-alizar um documentário sobre o assunto.

Meu parceiro no documentário INGs – Indivíduos Não Governamentais, Fi Rocha, me emprestou seu equipamento e saí gravando... Daí veio a frase que virou um mantra para esse projeto: “Se ninguém faz, façamos!” Ao invés de ficar reclamando que não tinha, optei em fazer.Acabei de lançar o segundo capítulo e até o ano que vem fecharei a trilogia. Rita Rocha é redatora e editora-geral

de Out of Control e está no U2BR desde o aniversário de 51 anos do Bono. Escreva pra ela: [email protected] ou @rocharita

Os critérios, embora não explícitos, foram dois: proximidade, já que eu não tinha (e não tenho) grana para me deslocar de São Paulo para gravar em outras cidades ou estados.Logo, quem é de São Paulo ou estava aqui, eu gravei. O outro foram pessoas que se ofereceram em registrar depoimentos de outras cidades, estados e países. Portanto, trabalhei com o material que eu tinha na mão. Mas tenho certeza de que as pessoas que aparecem representam bem os demais zineiros que não consegui registrar seus depoimentos.

U2BR: Em quais projetos você está trabalhando agora?

Sno: Agora estou em fase de divulgação e distribuição do segundo capítulo do documentário e organizando as exibições pelo país afora. Estou meio que descansando do período louco que foi de captação de imagens, decupagem e edição, afinal, faço tudo isso em minhas horas vagas (que se tornaram “horas ocupadas”!). Continuo nas pesquisas sobre zines, dando oficinas e logo mais pensarei sobre o derradeiro capítulo da série de documentários.

U2BR: Agora é o seu espaço, manda aí seu recado pra galera.

Sno: Não fique esperando que a grande mídia traga de mãos beijadas as coisas para você: vá atrás, pesquise, cace! Não está satisfeito? Produ-za! Faça acontecer! Bote suas ideias para circular! Temos muitas ferramentas nas mãos, o grande lance é aprender a usá-las para construir ideias, pensamentos e culturas novas! Faça você mesmo!

Márcio e um exemplar de seu Fanzineiros do Século Passado - volume 1.

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Nome: Glécyo “Smoker” MedeirosIdade: 30 anosVive em: São Paulo/SPTwitter: @IWillFollow_U2

Como foi que você começou a curtir U2? “Foi quando eu vi o clipe de Even Better Than The Real Thing estreando na MTV que deixei de somente conhecer o U2 e a gostar de verdade. Ao fim do show da PopMart Tour, reparei que tinha acontecido algo ali que me mudaria pra sempre e deixei de apenas gostar muito e virar fã de verdade. Após a decepção de não terem vindo em 2001 com a Elevation Tour e o reencontro com eles na Vertigo Tour com o Morumbi pintado de vermelho, eu renovei meus votos com a banda e foi durante a 360, quando surgiu no telão a Joshua Tree, enquanto rolava minha favorita Where The Streets Have No Name, que tive a certeza que é pra sempre.”

Para participar da seção ALL BECAUSE OF U2 e ver sua história publicada no Out of Control, mande sua foto e sua história para [email protected]

Nome: Karine da SilvaIdade: 20 anosVive em: Peritiba/SCTwitter: @Nii_ki

Como foi que você começou a curtir U2? “O U2 é uma espécie de libertação. Uma luz que ilumina o caminho na escuridão, uma voz que chama no silêncio, o brilho no olhar, a emoção mais pura. Me faz voar alto sem tirar os pés do chão, me faz sonhar acordada, me inspira, me da forças e me faz ver até onde ninguém pode enxergar! U2 é a melodia da alma, a canção do coração!”.

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ELEMENTOS ESTÉTICOS PRESENTES NAS CAPAS DOS

DISCOS DO U2

Entre as várias coisas que fazem parte da vida de uma pessoa, mesmo que de maneira indireta, uma delas é a música. Seja ela de que estilo, ritmo ou língua que for. Ela exerce um papel fundamental no cotidiano e, graças ao avanço tecnológico, hoje, as pessoas caminham para um lado e para o outro com iPods, MP3 Players, celulares etc.

A música por si só é mutável e pode apresen-tar diferentes gêneros, fases e composições sonoras, que são também visíveis, graças à estética. Tomando como exemplo um gênero mutável como o rock’n’roll e tendo como base as trocas de fases que aconteceram durante a carreira da banda irlandesa U2 é que foi lançada a seguinte questão: quais foram os elementos estéticos presentes nas capas dos discos do U2 que mudaram ao longo do tempo?

Se uma pessoa que vive nos dias de hoje e não tem conhecimento aprofundado sobre o que é rock fosse questionada a falar o nome de algum artista que representasse esse gênero em nível mundial, tranquilamente a resposta mais aguardada seria Elvis Presley ou Beatles.

O fator primordial foi que aquele que era um som novo caiu no gosto do público como uma luva. E esse gosto foi cada vez mais reafirmado graças ao principal instrumento de difusão da época, o rádio e, consequentemente, os álbuns em LP.

Após a disseminação do rock, houve também uma mudança comportamental nas pessoas. Com o passar do tempo e graças ao avanço das tecnologias foi que se originaram pequenas tribos e guetos que se dividiam e escutavam o tipo ou gênero do rock que mais os agradavam. Talvez por isso o fenômeno do rock atinja de maneira mais direta o gosto dos jovens que muitas vezes estão transitando no processo de formação de caráter e pessoal. Toda a rebeldia e

frieza do rock se refletem nas atitudes em volta dele, o que também não quer dizer que as gerações posteriores aos anos 50 ou 60 não tenham sido influenciadas pelo som que seus pais, parentes ou amigos mais próximos ouviam nessa época. O rock, como fenômeno e produto cultural que é tem o poder de influenciar diretamente a consciência dos indivíduos e, dependendo da maneira como esse som se apresenta, pode surgir uma grande leva de seguidores dos cantores ou dos grupos de rock, afinal de contas, a estética liga os músicos aos seus fãs, em um processo de tribalização.Por estarem ligados à estética, o rock e a música fazem com que haja essa grande variação de estilos musicais dentro do gênero musical. Isso se reflete e se reproduz através de uma rede que seria a maneira de que como cada fã se apresenta no jeito de falar e de se vestir, o que faz com que haja uma relação homogênea com aqueles que estão ao seu redor.

Seguindo nessa mesma linha de raciocínio estético, conclui-se que o rock’n’roll pode apresentar várias vertentes. E foi exatamente através de uma dessas segmentações do rock que surgiu o U2, no ano de 1976, após um garoto colar no mural da escola em que estudava um cartaz no qual ele estava à procura de integrantes que estivessem dispostos a formar uma banda de rock. O garoto em questão era Larry Mullen Jr. e a história todos nós já sabemos. Com os desafios que foram sendo impostos nas sociedades contemporâneas, foi necessário que se buscasse uma linguagem artística que acompanhasse esses desafios, mais basicamente desde o começo da década de 80. Um exemplo disso pode ser notado nas capas dos discos do U2, que possuem uma característica marcante: a imagem de pessoas que, na maioria das vezes, são retratadas em preto e branco, evidenciando o jogo de luz esombra.

O U2 sempre nadou contra a maré dos modismos. Um exemplo disso é que, enquanto

por Murilo Dotto

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o movimento New Wave dominava a metade dos anos 80, o U2 estava fazendo rock sobre fé e religião no meio do deserto. Toda essa identidade criada pela banda pode ser retratada não somente nas músicas, mas também nas capas dos discos.

Em Boy, de 1980, um garoto aparece estático, em posição frontal. Não há efeito de pro-fundidade e, embora com pouco contraste, é possível perceber os traços do rosto e do corpo, que se confundem

com o fundo da capa, o que reforça que os senti-mentos expressos em seu rosto são imprecisos e intriga, provoca o observador, da mesma forma que a Mona Lisa de Da Vinci.

Em October, segundo trabalho do grupo, lançado em 1981, a banda é fotogra-fada em colorido. Talvez por influência da estética do movimento New Wave, que não era somente musical. Havia toda uma cena na qual o “look” era necessário para alcançar o status máxi-mo, principalmente entre os adolescentes. É interessante observar que a foto também não lembra movimento - os músicos estão sérios e, apesar da presença da cor, o tom é bastante apagado, talvez não apenas por opção es-tética, mas porque a qualidade das fo-tografias desta época é muito inferior.

Um pouco mais velho, o mesmo garoto da capa de BOY está na capa de War, de 1983. Diferente de Boy, agora há profundidade, mais contraste, efeito de luz e

sombra. A posição do corpo é a mesma, linhas retas, como uma alusão à simplicidade da Art Deco. O rosto aparece mais focado e com muito mais expressão.

Under a Blood Red Sky, de 1983, traz uma imagem expressionista, captada durante a apre-sentação que origi-nou o álbum ao vivo.

O expressionismo explorava a expressivi-dade da imagem, distorcendo a figura se necessário, utilizando cores fortes, contornos abruptos, atmosfera densa, quase irreal, exatamente como o que aparece na capa desse disco. O laranja é violento e expressa intinismo e emoção intensa.

The Joshua Tree, de1987, volta com a fotografia em preto e branco, desfocada e sem nitidez, criando um novo efeito. É possível con-siderar que, nesta capa, a foto do U2 começa a se contem-

porizar. A foto em questão foi tirada no deserto da Califórnia. Seria uma maneira de homenagear os Estados Unidos, já que a banda foi fortemente influenciada musicalmente por artistas americanos durante a composição do disco.

Lançado em 1988, Rattle and Hum traz na capa Bono e The Edge. Apesar de haver duas pessoas na capa, a atenção está toda na que aparece em primeiro plano, por causa do efeito provocado pela luz no fundo escuro. A imagem remete à técnica de luz e sombra dos desenhos. Ao observar esta imagem, a sensação é de que o personagem irá desfazer o movimento.

Há um excesso de infor-mações em Achtung Baby, de 1991. Fotografia colorida, preto e branca e digitalmente trabalhada. Há influências da Pop Art, da publicidade e da arte contemporânea,

trazendo um novo efeito em relação ao que o U2 fez anteriormente. São múltiplas imagens que acabam formando uma só. Detalhe importante a ser lembrado é a presença de um Trabant, carro popular da Alemanha, que foi utilizado como referência pela banda, já que grande parte do disco foi gravada em Berlin, pouco depois da queda do Muro. O clima de mudança que a capital apresentava foi determinante no lançamento desse trabalho que mudou a sonoridade da banda.

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O disco Zooropa, de 1993, traz em sua composição alguns elemen-tos já utilizados na capa do antecessor. Em função do próprio nome do álbum, a imagem traz as estrelas que

fazem parte da bandeira da União Europeia.

Pop foi lançado em 1997 e é o décimo disco do grupo irlandês. Nesse caso, a foto dos integrantes da banda é apresentada como uma máscara impenetrável, com cores luminosas e brilhantes, em uma imagem congelada como um produto da cultura de massa embalada para o público como produto de consumo. É uma releitura da obra de Andy Warhol, um dos ícones da Pop Art, movimento artístico surgido por volta de 1950 para questionar as manifestações da cultu-ra popular, criticando a posição do indivíduo diante da sociedade de consumo. A turnê de divulgação deste álbum foi a PopMart que, em sua concepção, trazia o nome do super-mercado e da cultura pop. No palco, havia um enorme arco amarelo que lembrava o arco do Mcdonald’s, para celebrar o consumismo.

All That You Can’t Leave Behind, de 2000, traz na capa um flagra, um recorte da re-alidade. Desta vez, eles não pousaram para a foto, trans-parece a ideia de naturalidade

e movimento. Parece mais uma foto jornalística do que artística, na qual o momento captado re-trata a rotina, a intimidade dos músicos. A foto foi tirada, no Aeroporto Internacional Charles de Gaulle, em Paris, na França, que foi fechado na ocasião. A tonalidade de preto e branco mais uma vez se fez presente na carreira da banda.

Os integrantes do U2 são expectadores em How To Dismantle An Atomic Bomb, de 2004. Eles é que estão nos ol-hando. Mais uma capa em preto e branco, com uma intervenção colorida que lembra uma

claquete de cinema. Há equilíbrio geométricoentre eles, nenhum chama mais atenção do que o outro.

No Line On The Horizon é o disco mais recente do grupo e é o que apresenta a capa mais atual de todas do U2. Propõe reflexão sobre a ideia

do limite e sobre o equilíbrioentre situações paradoxais, sobre a linha do horizonte. Leva-nos a pensar sobre a possibilidade de transitar nesse espaço impossível, entre real e ficcional. Logo após a apresentação da capa, o U2 foi acusado de plágio por parte do músico Taylor Deupree, que já havia utilizado a imagem. A fotografia de ambos os trabalhos foi feita pelo fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto.

O mais importante, além de analisar as capas dos trabalhos, é de notar que as imagens retratam ambientes ou sensações que nos remetem até a época em que foram lançados. Isso também pode ser comprovado se forem escutadas todas as músicas em ordem cronológica de lançamento.

Assim sendo, a cada novo trabalho que é lançado, acaba se construindo uma nova história em torno dele. Essa história pode ser traduzida de diversas maneiras: história do local onde foi gravado, da sonoridade utilizada no disco, dos elementos presentes na capa, do momen-to vivido na história, ou seja, se concebe um registro que vai ser perpétuo para o resto da vida.

As músicas de um disco têm um papel essencial, pois elas são os fatores primordiais em um álbum. Mas há de se registrar que a parte gráfica possui um valor importante, pois relatam, através da ima-gem, toda a essência que se faz presente na música.

Nosso membro honorário desta edição foi Murilo Dotto, estudante de Jornalismo. Seu contato é [email protected]

Para ver seu artigo publicado nas nossas próximas edições, escreva para [email protected]

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U2BR: Como era a circulação dos fanzines sobre U2 no Brasil?

Carla Rodrigues: A circulação dos fanzines eram através dos correios. Eram vistos anúncios sobre eles em revistas como SOMTRÊS, MIX MÚSICA E EQUIPAMENTOS, BIZZ, entre outras. Existia sempre uma expecta-tiva muito grande para a chegada de um novo exemplar e novas notícias da banda.

U2BR: Quais os fanzines aos quais você teve acesso?

Carla: Na verdade, tive acesso a somente dois: U2 Brasil (RJ) e Iris Eyes Press (SP).

U2BR: Você chegou a ter acesso ao Propaganda? Havia a informação da existência dele?

Carla: Não tive acesso a este fanzine, que era o oficial. Mas no fanzine U2 Brasil, tínhamos notícias reeditadas do Propaganda.

U2BR: Quem foram os grandes “fanzineiros” brasileiros de U2?

Carla: As que conheci foram: Mônica Santos Sarmento (U2 Brasil) e Carla Capelo/ Daniela Ramos (Iris Eyes Press)A Carla Capelo, tenho acesso pelo Facebook, as outras, infelizmente, não tive mais contato.

U2BR: Havia uma comunidade de fãs de U2? Como era? Como era feito o contato com fãs de outros estados?

Carla: Sim, havia uma grande comunidade de fãs do U2 e muitos de nós nos correspondíamos através de cartas, cartões postais, e tudo o que pudesse ser enviado através dos correios. Eu fazia desenhos da bandae vendia. Alguns, doava aos fanzines e muitos clientes e amigos fiz, através de anúncios nos próprios zines.

U2BR: Quantos fanzines sobre U2 chegaram até você?

Carla: Apenas os dois citados acima, mas em edições, foram muitas. Se eu não me engano, as edições eram trimestrais.

U2BR: Qual foi o período de circulação desses fanzines?

Carla: Entre 87/90...tenho uma ediçãop do Irish Eyes de Abr/Mai/Jun de 1990 ainda... Mas o U2 Brasil, já tinha a mais tempo.

U2BR: Como é fazer parte da história dos fanzines sobre U2 no Brasil?

Carla: É emocionante! Dá saudades! Era tudo o que tínhamos na época, era estar próximos aos nossos ídolos de certa forma, ou melhor, era a única forma de estar mais próximos. Era a maneira que tínhamos para conseguir saber da banda com mais frequência, antes mesmo das notícias saírem nas

por Rita Rocha

Carla (direita) na fila para os shows da 360º Tour

Para dar sequência à nossa edição especial sobre fanzines, trazemos uma entrevista com Carla Rodrigues, que foi membro do fanzine IRISH EYES PRESS, de São Paulo. Batemos um papo com Carla, que nos contou como era viver na época dos fanzines e a emoção de participar ativamente da circulação desse tipo de material entre os fãs de U2.

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revistas. Eram publicadas coisas sobre a vida íntima de cada um, hábitos e manias que nas revistas, não tínhamos este tipo de informação e são estas informações que um fã espera, sempre! A Mônica Sarmento, que era do RJ, era quase que “amiga íntima” da banda, ia seguido a Londres, buscando novas informações, fotos, autógrafos deles e falava bastante e diretamente com o Bono. Era uma emoção atrás da outra, de uma maneira simples, em folhas de papel A4, datilografadas, com imagens xerocadas, recortadas e coladas, mas que nos enchiam de alegria a cada recebimento destas simples folhas de papéis, que nos aproximavam cada vez mais do U2. Uma emoção bem mais forte, que um simples “clique” na procura do Google, dos dias de hoje.

Rita Rocha é redatora e editora-geral de Out of Control e está no U2BR desde o aniversário de 51 anos do Bono. Escreva pra ela: [email protected] ou @rocharita

Imagens cedidas por Carla, com algumas páginas do Irish Eyes Press, fanzine sobre U2 que circulou no Brasil entre 1987 e 1990.

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nosso site gratuitamente (http://dvd.u2br.com).Para a edição de cada música, houve uma média de 180 arquivos para serem avaliados, selecionados e sincronizados para o corte multicam de edição. Um trabalho desafiante que requer muita paciência e técnica, mas o maior trunfo de todos era o esforço de valorizar a vivência pessoal de cada um, tentando envolver o maior número de colaboradores possível, dentro de uma perspectiva estética.

A EXPERIÊNCIA

Estar à frente das edições me trouxe, particularmente, uma rica experiência social, pois me aproximou de muitos outros fãs. Já havia editado outros vídeos multicâmeras com uma dimensão menor, como os shows do Keane, em 2009, e Coldplay, em 2010. No projeto do U2, uma banda com décadas de estrada e um público extenso de seguidores ao redor do mundo, tudo virou mac-ro. Curiosamente, vale ressaltar a críti-ca de alguns europeus em relação à cap-tação de imagens feitas pelos por nós, latino-americanos, em shows. “Vocês tremem muito as filmagens”, disseram eles. Mas como não tremer? Brasileiro é emoção, cara! Nem todos podem se posicionar em um local do show com um tripé e uma câmera estática para gravar um show inteiro, sem nem curtir o espe-

Esta é a edição de abertura da coluna I’m ready for what’s next, que trará temas relacionados ao mundo audiovisual, multimídia e tecnológico do U2. O nome da coluna é inspirado na Zoo TV, a turnê que representa a explosão gráfica da banda, caracterizada por efeitos visuais, textos piscantes, transmissões via satélites e grandes telas de vídeos incorporadas nos shows, como referência crítica à programação de televisão e a cultura de massa. Na primeira edição, vamos falar sobre o projeto do DVD Colaborativo U2 360º Tour Brazil, editado pelo U2BR e produzido por todos nós, fãs do U2.

CURIOSIDADES

O projeto do DVD foi lançado oficialmente em abril de 2012, em comemoração a um ano da passagem da banda pelo Brasil com os 3 shows em São Paulo. O DVD foi editado a partir 5 mil arquivos de vídeos enviados por mais de 500 fãs e contém todas as músicas e o documentário pré-show, com momentos de compra de ingressos, arrumação de malas, montagem do palco, sobrevoo de helicóptero, espera na fila e a emocionante corrida na entrada do Morumbi. Qualquer fã pode baixar o DVD no

por Nalini Vasconcelos

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táculo, para garantir o produto. É extremamente válido obter o melhor ângulo, as melhores ima-gens e a melhor qualidade de vídeo, mas também é importante deixar fluir cada emoção, cada projeção pessoal nesse mar de diversidade. O resultado, muito além da uma mera recordação eternizada, torna-se “even better than the real thing”.

ONE LOVE

Os vídeos colaborativos começaram a pipocar pelo mundo já há alguns anos. Nos shows, cada fã quer levar seu próprio registro, pois representa a sua experiência pessoal daquele momento desejado. Ficou muito mais fácil fotografar e filmar com boa qualidade os concertos de rock. Os isqueiros foram trocados pelos celulares, transitamos entre telões de palco e em telinhas de celular. Estamos imersos em um show de referências imagéticas. Podemos ver as frases da Zoo TV Tour hoje em nossos tweets. Compartilhamos ações e expressões a cada segundo, pois estamos cada vez mais sedentos de visibilidade e participação.

Nesse caso, o amor não é a cegueira. Nós queremos é ver! A tecnologia está a nosso favor. Podemos nos agrupar e interagir com pessoas distantes com mais facilidade hoje em nosso híbrido mundo.

As comunidades virtuais permitem que os agrupamentos por afinidades aconteçam com rapidez. Podemos estar “tão longe e tão perto” ao mesmo tempo, porque “com satélite, televisão (e acrescentamos a internet), podemos ir a qualquer lugar”

O clima colaborativo sempre esteve presente no U2 e pode nos inspirar muito até hoje. Quando Bono cantava “tonight, we can be as one”, em Sunday Bloody Sunday, nas turnês dos anos 80, a frase ganhava um peso. E era essa força, partida de um sentimento de protesto, que chegava aos fãs para fazê-los entender o poder do coletivo. Na década de 90, em One, as estrofes que traziam temores e feridas de um relacionamento nos

fazem hoje refletir sobre o papel de cada um diante da nossa diferença: “We’re one but we’re not the same”. Sim, somos diferentes, mas somos um. Como podemos nos unir, contribuir, somar, multiplicar diante das nossas diferenças? Como podemos ser um?

A essência de um trabalho dessa dimensão é envolver a contribuição de cada um de nós, transformando a dose individual em um resultado coletivo. Dessa forma, cada tarefa, cada etapa veio de uma habilidade, de um esforço peculiar, de uma emoção particular e de um desejo nosso em nome de um sentimento que nos une: o amor por essa banda.

IS THAT ALL?

Não. Para o U2, isso não é tudo. A inovação tecnológica e o espetáculo de imagens é marca do U2, como poderemos ver nas próximas edições dessa coluna. Se “the new media was the big ideia”, qual será a próxima ideia, U2? Será que iremos retornar à simplicidade e ao clima intimista ou veremos algo novo e gradiosamente imprevisível?

Nalini Vasconcelos é videomaker e também é a responsável pela edição dos DVDs Colaborativos

do Keane e do Colplay. Escreva para ela: [email protected] ou @nalinii

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Olá pessoal! Essa será a primeira coluna que escrevo, contando um pouco das aventuras que meu marido Ken já viveu com o nosso querido U2. Fã da banda há anos, Ken acompanha o U2 ao vivo desde a The Unforgetable Fire tour, ou seja, boas histórias é o que não falta pra ele nos contar. Então, vamos ao primeiro relato dele, sobre a Popmart.  

“Em 98, eu visitei o Japão, um país que eu sempre quis conhecer e tive a oportunidade de ir, quando duas das minhas bandas favoritas (U2 e The Rolling Stones) estavam em turnê por lá.

No dia 11 de março de 98, o U2 tocou em Osaka, seu segundo e último show no Japão pela turnê Pop Mart. Eu viajei de Tóquio, até Osaka no dia do show, sem ter ingresso, mas confidente de que eu conseguiria comprar um, já que o show não estava esgotado. Quando cheguei no estádio, conheci um casal europeu que tinha umingresso sobrando e   acabei comprando. Não sabia qual era a localização, já que estava tudo escrito em japonês. Quando eu entrei, descobri que era pra ficar na parte final da pista, curiosa-mente, uma área que não existia naquele show, então me mudaram pra um acento próximo à passarela, onde tinha a área VIP e a mesa de som.

Não teve banda de abertura e o show estava marcado pra começar as 7 da noite. Antes da banda entrar no palco, eu pude notar que a equipe do U2 que estava próxima da mesa de som, notou a minha presença ali, já que eu era o único fã não japonês próximo à eles, sem contar que é meio difícil que eu não seja notado, por causa dos meus 1,93 de altura e a minha cara de gringo. Logo depois que o show começou, percebi   a presença do Paul MacGuinness, no cantinho da área VIP e eu decidi que iria tentar ir até lá pra conversar com ele no intervalo entre uma música e outra. Embora o público japonês parecesse animado com o show, e aplaudissem bastante durante as músicas, nos intervalos o estádio todo ficava em silêncio. Isso ajudou com que eu pudesse

conversar brevemente com o MacGuinness. Disse que eu tinha vindo de Los Angeles pra ver o show, ele pareceu surpreso e me fez algumas perguntas.

Eu falei que tinha visto o show de abertura da turnê em Las Vegas e que  eu queria ver o final da turnê também. Ele me disse que eu estava parecendo um pássaro fora do ninho, no meio daquele mar de japoneses e me convidou pra ver o show da área VIP. Conversei com ele um pouco mais e depois fiquei prestando mais atenção no show. A banda estava impecável e diferença desse show para  o primeiro foi gritante. 

Como eu havia dito, o silêncio e o bom comportamento dos japoneses entre uma música e outra era tão notório, que o Bono percebeu e no meio de “Where The Streets Have no Name”, ele decidiu descer do palco e correr no meio da multidão, sem nenhum segurança. Naquele momento, o público começou a reagir e alguns tentaram agarrar o Bono, me lembro de ver isso tudo da área VIP e decidi seguir o Bono e fazer parte da loucura. Nesse momento Bono já estava cercado de seguranças japoneses. Eu consegui chegar próximo à ele e comecei a andar junto com os seguranças pra uma portinha lateral. Eles abriram a porta e impediram os fãs de entrarem, mas fizeram um sinal pra que eu entrasse, logo

por Sil Rigote

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depois que o Bono passou e fecharam a porta. Então eramos eu, Bono e sete guardinhas japoneses naquela salinha. Bono seguiu para uma passagem que o levaria de volta ao palco e eu decidi (lógico) sair pela porta por onde havia entrado e voltar pro meu lugar. Na certa, me confundiram com um algum segurança do Bono, já que no meio deles, eu era o único que não era japinha.

Durante todo esse tempo, Edge, Adam e Larry continuaram tocando, foi uma versão mais longa de “Streets” pra dar tempo do Bono retor-nar ao palco. Quando o show terminou, mais ou menos as 9pm, eu notei a presença do Howie B, conversei com ele por alguns minutos, ele mencionou que ia ter uma festa pós show, fiquei na esperança de que ele me falasse onde era, mas nem rolou, minha cota de sorte havia acabado ali.

No Japão a organização pra sair do estádio após um show é bem peculiar, eles liberam as pessoas de acordo com as sessões em que as

Sil Rigote é nossa correspondente internacional, que sempre nos envia notícias fresquinhas diretamente dos EUA. Escreva pra ela: [email protected] ou @silvox

mesmas estão sentadas, pude notar que quemnão era japonês, ficou muito irritado, pq isso fez com que a demora pra sair do estádio se triplicasse. Esse foi com certeza, um dos shows mais malu-cos do U2 dos muitos que já vi, e um dos meus preferidos, com uma performance espetacular da banda”.

A Popmart Tour foi a turnê para promover o álbum POP, lançado em 1997.

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“Foi no final de 2005, quando começaram os boatos e a ansiedade do pessoal por causa da passagem da Vertigo Tour por aqui em 2006. Nós nos conhecemos no Orkut e passamos a conversar todos os dias.

Eu ainda era muito inexperiente nesses assuntos do coração, mas já naquela época ele me fez sentir algo estranho, uma paixonite. Deixei pra lá, achando que era coisa da minha cabeça. O tempo passou, criamos uma turma grande de amigos que gostavam de U2, mas acabamos nos afastando um pouco com o tempo. Cada um foi pro seu canto, alguns iniciaram relacionamentos (entre si e com outras pessoas que não faziam parte do grupinho), inclusive nós (cada um com seu respectivo par).

Até que, no final de 2010, quando o U2 disse que viria pro Brasil, toda aquela empolgação voltou, como também voltaram os amigos, as amizades... e ele. Só que dessa vez estava todo mundo mais velho, mais maduro, inclusive eu. Nós não fomos aos shows do U2 juntos, mas nos falamos e nos vimos todos os dias antes do show. Era estranho, mas era bom. Eu tinha acabado de sair do relacionamento, que tinha começado lá atrás, na época que nos afastamos, e isso serviu pra nos aproximarmos e ele acabou se tornando meu

melhor amigo, pra quem eu contava coisas que não tinha coragem de contar pra mais ninguém. Ele sempre foi muito fechado, mas retribuia a confiança e também confiava em mim de um jeito que mostrava que eu também era a melhor amiga dele.

Nós estávamos sempre juntos e sempre em sintonia, daquelas de completar frases um do outro, pensar as mesmas coisas, agir do mesmo jeito... tanto que nossos amigos sempre achavam que a gente escondia algo e que tinha alguma coisa entre nós. Mas não tinha, nem intenção. Não tinha mesmo. Pelo menos era o que a gente tentava se convencer. Mas o tempo passou e de repente nós começamos a olhar diferente um pro outro. É claro que os dois lutaram contra, pois não queríamos estragar aquela amizade que tínhamos construído.

Já era metade do ano e nós continuávamos saindo e fazendo planos juntos. Era difícil não notar que ficava cada vez mais difícil disfarçar que havia alguma coisa diferente no ar. Mas nós dois continuávamos lutando. Chegamos até a viajar juntos, mas nada aconteceu. Os dois tinham muito medo de estragar a amizade. Tempos depois, veio o meu aniversário e o melhor presente do mundo veio dele, é claro. Não foi pelo valor, mas pelo cuidado que ele teve ao pensar nos mínimos detalhes. Coisa de gente perfeccionista, coisa que nós dois sempre fomos.

Naquele ano, eu resolvi que queria comemorar o meu aniversário várias vezes, porque tinha sido um ano maravilhoso e eu estava muito feliz. Coincidentemente, a segunda comemoração do meu aniversário aconteceu num show de banda cover de U2. Nada mais perfeito, meus amigos e U2. Foi nesse dia, ao som de With or Without

Já que estamos às vésperas do Dia dos Namorados, nada melhor que uma história de amor ao som de U2. Recebemos um e-mail de uma frequentadora do site que gostaria de homenagear uma pessoa especial contando sua história.

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You, que aconteceu nosso primeiro beijo. E foi daqueles que a gente acha que só existe nos filmes. naquele momento, tive a sensação de que tinha encontrado o meu lugar no mundo.Confesso que tive muito medo de estragar nossa amizade e falei com ele sobre isso, dias depois,... a resposta dele foi “nada nunca vai estragar nossa amizade”.

Desde então, vivemos dias extremamente felizes, tendo a certeza de termos achado nossos lugares no mundo. Ele me fez uma surpresa no Ano Novo e viajou para passar a virada comigo. Resolvemos fazer uma brincadeira com os amigos que estavam juntos, cada um tinha que dizer as 5 melhores coisas do ano que estava terminando. Ele disse apenas 4. Depois, veio perto do meu ouvido e disse que a quinta era eu. Imagina como eu fiquei feliz por ouvir isso. O tempo foi passando, nós continuávamos super felizes juntos... até que um dia eu acordei e descobri o nome do que sentia por ele. Como canta o Bono, “you can run from love and if it’s really love it will find you, catch you by the heel”. E foi isso, o amor me pegou pelo calcanhar. Mas eu não conseguia dizer a ele que o que eu sentia por ele era amor. Sempre que estávamos juntos eu ficava olhando pra ele com cara de boba e me testando... “mas será? é... eu o amo”.

Ele também se mostrava cada dia mais apaixonado por mim, mas nenhum dos dois dizia nada, a única coisa que fazíamos era tentar “mandar recados mentais”, como a gen-te dizia. E aí foi a vez dele fazer aniversário. Eu quis retribuir à altura o presente que ele me deu e passei 20 dias montando uma surpresa pra ele. Quando ele viu, só conseguiu

dizer “é o melhor presente que eu já ganhei na vida”. E nem era um ingresso permanente para todos os shows do U2! (risos). Nesse dia, nós dois dissemos “eu te amo” sem dizer. Com os olhares e com os gestos. Também tentamos usar a técnica do “recado mental” e ela certamente funcionou, porque as coisas ficaram diferentes depois desse dia.

Mas, apenas quatro dias depois, aconteceu uma discussão muito estranha entre nós e acabamos nos separando. O curioso é que foi no dia da nossa separação que nós dois dissemos a frase que queríamos ter dito há muito tempo. Nós conversamos, eu disse que achava que a nós poderíamos ultrapassar o obstáculo (foi nossa primeira e única crise), mas acabamos nos separando. Hoje em dia, nós não somos mais amigos, não nos falamos mais e também não temos mais notícias um do outro. Infelizmente, descumprimos tudo que falamos sobre amor e amizade.

Nem toda história de amor tem final feliz, mas nenhum amor tem final e, apesar de não termos mais contato, eu continuo torcendo muito para o sucesso dele, para que tudo dê certo na vida dele, como sempre torci... e continuo tendo o mesmo sentimento por ele. Não é porque não temos mais contato que tenho que desejar o mal a ele. Muito pelo contrário, eu continuo desejando todas as melhores coisas do mundo. Se eu sinto falta dele? Todos os minutos de todos os dias. Sinto falta daquela convivência que tínhamos, como amigos e como casal. Hoje em dia, cada um foi para o seu lado, viver a vida que tinha. Se eu gostaria de tê-lo de volta e tê-lo comigo nesse Dia dos Namorados? Com certeza. Porque a cada vez que o rádio ou o iPod toca With or Without You, é impossível não deixar algumas lágrimas escorrerem por lembrar dele e de toda a história que vivemos juntos e sorrir com saudade daquela sensação de estar no lugar certo, de ter encontrado o amor ao lado do meu melhor amigo.

Você também tem uma história ao som de U2? Conte pra gente! Escreva para [email protected]

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QUAL É O FUTURO DO U2?

Não há assunto melhor para inauguração de uma nova fase, que falar de um novo álbum, não é mesmo? O assunto inaugural povoa o imaginário de muitos fãs: como será o futuro do U2? O que os próximos anos nos reservam em termos de periodicidade de lançamento de álbuns e turnês?Antes de começar o texto propriamente dito, devemos ressaltar que as opiniões aqui expostas são pessoais da colunista, que se baseou em alguns fatos concretos para compor sua análise.

A pergunta em voga na comunidade U2niana é: quando será lan-çado um novo álbum? Esse é um assunto que remete até mes-mo à época do lançamento de No Line On The Horizon. Por muito tempo, Bono falou sobre um novo álbum, chamado Songs of Ascent.

Também de acordo com Paul M c G u i n n e s s ,

havia uma previsão para que houvesse o lançamento desse álbum ainda em 2011. O próprio líder do U2 havia falado que se-ria um álbum no mesmo estilo do NLOTH, mas com aspecto mais “calmo”, mais “experimental”, um álbum mais intrínseco.

De acordo com notícias que começaram a sair desde essa época, a banda estaria trabalhando em três álbuns ao mesmo tempo e também esta-va em contato com o produtor RedOne e termi-nando a trilha sonora do musical da Broadway, SpiderMan – Turn Off The Dark.

Até algum tempo, eram esses os rumores que estávamos seguindo, ou seja, que os três álbuns se referiam ao SoA, o novo álbum com RedOne e a trilha sonora do Spiderman. Hoje, no entanto, as coisas mudaram um pouco de figura. As gravações de um novo álbum foram interrompidas, não só pela própria turnê 360º em si, mas também pela operação de Bono, acarretando, portanto, em atrasos no que se refere à última turnê, e afetando, por con-seguinte, os trabalhos relativos ao novo álbum.

De acordo com uma entrevista concedida pelos membros do U2, o trabalho com RedOne não estava indo pelo rumo correto. E a trilha sonora já foi lançada. Du-rante esse período, o nome de outro produtor veio à tona: Danger Mouse.

As músicas criadas com Dangerpare-ciam mais promisso-ras, exatamente pela falta de informações sobre ele, como houve com RedOne.

No começo de 2012, The Edge e Bono deram uma entrevista para o site oficial da banda novamente afirmando que estariam trabalhando em três álbuns. Efetivamente, um deles é o Songs Of Ascent, o álbum que estava “pronto” desde a época de No Line On The Horizon. Fica, no entanto, a dúvida a respeito dos outros dois. Ainda no começo de 2012, produtores como David Guetta e Carl Fark também foram apontados como envolvidos no processo de produção do(s) álbum(ns). The Edge também afirmou que “o novo álbum iria chocar as pessoas”.

por Alessandra Mendonça

o produtor RedOne

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Uma das últimas notícias em mídia impressa revelou-se ser uma entrevista com Norah Jones pela revista RTE, na qual o novo álbum do U2 foi mencionado duas vezes: primeiramente, a cantora afirmou que que Brian Burton (Danger Mouse) tinha acabado de finalizar a produção de um novo álbum da banda, posteriormente, contudo, ela infere que ele “estava terminando”.

No final de maio deste ano, Bono afirmou, em entrevista para o programa The Late Show, que as últimas três semanas (ou seja, as primeiras semanas de maio) foram as melhores da banda em estúdio desde 1979.

Com essas informações “precisas”, chegou a hora de começarmos a fazer as divagações lógicas:

É conhecimento geral que o NLOTH não teve uma boa recepção da “grande massa”, ou seja, não foi um álbum com grande receptividade no cenário musical. Obviamente, para a maior parte dos fãs, o NLOTH é uma obra-prima, mas, infelizmente, não teve o sucesso esperado. Existem muitas causas para isso, mas não cabe descrevê-las agora. O fato é que seria muito arriscado que o U2 lance um álbum no estilo de SoA como sucessor do NLOTH, visto que seria um gênero musical mais interpretativo e não tão literal. Com a afirmação de Edge dizendo que o novo álbum iria chocar as pessoas, pode ser que o SoA se encaixe nesse sentido.

Não podemos esquecer, porém, que em uma outra entrevista, Bono afirmou que o referido álbum tinha um pouco do que eles queriam mostrar agora. Portanto, é provável que em breve possamos ouvir falar em SoA, talvez não como um álbum carro-chefe, mas um lançamento secundário muito próximo. Não só Bono, como também Adam e Edge, deram declarações sobre esse assunto, falaram muito, especialmente depois da 360º, sobre a banda e o seu papel no cenário da música nos dias de hoje. Quem não se lembra das afirmações de Bono sobre a banda se tornar irrelevante, o que reforça a tese de que um álbum como SoA não seria o sucessor do NLOTH, mas sim um álbum completamente diferente, no qual a banda possivelmente está trabalhando agora.Como dito antes, em aparições mais recentes, Bono afirmou que a banda estava em estúdio e trabalhando num álbum com participações como de David Guetta.

Pode ser que estejamos diante do processo de “lapidação” das músicas feitas em parceria com RedOne, e com Danger Mouse - mas também podem ser músicas totalmente novas, talvez o tal terceiro álbum ao qual os integrantes da banda fizeram alusão.

Há uma preocupação também acerca da banda estar trabalhando com produtores que sejam conhecidos pelo trabalho com outro

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ritmo musical. Ocorre que eles sempre flertaram com o pop. Não é de hoje seus trabalhos e até mesmo seus produtores têm conexões com esse ritmo musical; até mesmo a primeira apresentação deles, o primeiro cover, foi um pop chiclete do Bay City Rollers. Se eles afirmaram que o trabalho com RedOne foi deixado de lado, é porque talvez eles não saibam ainda o que querem. Mas com certeza sabem o que não querem.

Não acredito que devemos nos preocupar sobre o estilo musical ou que o U2 começará a fazer hip hop com Nicki Minaj (SOCORRO!), mas sim que a banda está ama-durecida o bastante para colocar sua marca e seu estilo musical com qualquer tipo de produtor que aparecer. Querendo ou não, esse novo álbum é um momento de virada para o U2. Eles precisam acertar. Não que o NLOTH seja um fracasso, mas o álbum não teve a recepção que a banda esperava.

O U2 não é uma banda que vive de passado ou de reciclar um estilo que dá certo. Portanto, o próximo lançamento da banda deve provavelmente será um álbum que agradará em cheio não só aos fãs da banda, mas também ao público em geral. Isso não significa que o U2 perderá sua essência, mas sim que haverá uma busca por músicas que tenham aceitação geral - um álbum mais comercial.

O fato é: o U2 precisa de um novo Achtung Baby ou um novo Joshua Tree - um álbum de sucesso estrondoso, talvez não nas mesmas proporções dos últimos, mas que venha a ser lembrado, como o são os álbuns citados. E Bono tem plena noção disso. Se não, não teria afirmado, após o final da turnê, que o U2 estava se tornando “irrelevante”.

O U2 precisa de um novo Achtung Baby. Não para nós, fãs, não para os críticos, mas talvez para eles mesmos terem certeza de que não estão mesmo se tornando “irrelevantes”. Este é um momento extremamente importante na carreira do U2.

Numa análise temporal, a banda lançou o U23D, sobre a Vertigo Tour, um álbum sem grandes hits ou sucesso comercial, saíram do que foi considerada a maior turnê do

mundo e apontaram a megalomania do Bono acerca de suas empreitadas. Isso não nos faz lembrar de uma certa época, mais especificamente o final de 1980 e o começo dosanos 90? Será que essa não seria a brecha para fazerem novamente um álbum tão influente como o Achtung Baby?

O U2 precisa se reinventar novamente.

E isso nos leva a um assunto importante no sucesso de um álbum: a turnê.

Se eles realmente lançaram um álbum comercial (ao estilo de All That You Can’t Leave Behind ou até mesmo Achtung Baby – que foi uma proposta arriscada, mas fez um sucesso estrondoso) , não há como não fazer uma turnê para maximizar os resultados de sucesso. Willie Williams já disse que há um trabalho no sentido de pensar em como será a próxima turnê, e o próprio Adam deu a entender que o sucessor do NLOTH também seria alvo de uma turnê, portanto, é quase certo que esse álbum dará origem a uma tour também.

Aqui cabe a pergunta: quando será lançado o novo álbum?

Tendo em vista a confirmação de que sim, teremos um novo álbum, resta a grande pergunta de “quando?”. O primeiro semestre de 2012 está descartado. Segundo uma entrevista feita pela revista Rolling Stone em junho de 2011, houve a veiculação que o novo álbum ( com as músicas de Danger Mouse) seria lançado no final deste ano. Pois bem, seguindo a lógica que o U2 tem adotado, o novo CD será sucedido de uma nova turnê, o que não coaduna com o

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lançamento de um novo álbum agora no final de 2012, no sentido de que, se realmente tivermos uma nova turnê, 2013 parece cedo demais, seguindo o padrão temporal de turnês do U2.

Tendo como base as entrevistas concedidas pelos membros da banda a partir de setembro de 2012, começamos a ver o desenho de possíveis cenários do lançamento de um novo álbum. O U2 não lançaria um álbum com o qual estão tão empolgados sem que haja uma turnê para acompanhar, como já escrito anteriormete.

A melhor aposta é que só veremos concretamente o próximo álbum em 2013, com uma grande campanha publicitária, promos, seguindo um lançamento parecido com o do All That You Can Leave Behind, em 2001. A propaganda e a turnê são as melhores armas da banda para um grande sucesso do álbum.Aliás, seguindo esse padrão, poderíamos apostar no final de 2013 para o marco inicial de uma nova turnê, com a promo tour começando pelos Estados Unidos e Europa, e chegando à América Latina e América do Sul somente em 2014 - uma turnê muito parecida com a Elevation Tour.

Levando em consideração o que foi dito acima, em acordo com as últimas notícias dadas pelo Bono, quando indagado acerca de uma nova turnê para 2013, este se limitou em afirmar apenas “talvez”; “possivelmente”; “nós queremos”; “não sei”.

Baseando-se com cautela nas declarações do líder da banda, acerca de turnê e álbum, sabe-se que existem ao menos 55 músicas, que poderão ou não ser parte de um lançamento oficial, portanto, pode-se afirmar que nem ao menos a banda sabe qual destas músicas serão lançadas. Entre “fazer” uma

música e “lançar” um álbum, há um longo caminho a recorrer. Existem muitas etapas a serem cumpridas, em fase de produção, pós-produção e lançamento de um novo álbum e uma turnê para o seguir.

Como estamos em meados de 2012 e ainda não há nenhuma notícia concreta a respeito da data de lançamento um novo álbum, nos parece difícil que ocorra um lançamento em outubro ou novembro de 2012 e uma turnê em fevereiro ou março de 2013. Um novo álbum em fevereiro/março de 2013 e posterior turnê em junho/julho de 2013 parece mais plausível. Contudo, de acordo com os lançamentos prévios da banda e turnês antecessoras, não parece um cenário coerente.

De fato, talvez a melhor aposta seja em um novo álbum nos meses finais de 2012 (setembro/outubro) e uma turnê promocional em novembro/dezembro para que, então, no início de 2014, seja dado início a uma turnê mundial. Infelizmente, porém, não estamos tratando de uma ciência exata, apenas por suposições coerentes, que podem se concretizar ou não.

Possivelmente, esse álbum terá um grande apoio promocional, com uma publicidade maciça. Não é de agora que Bono demonstra interesse em novas mídias e tecnologias como aplicativos para celulares. Quem sabe a banda não faz como fez a cantora Bjork, com um aplicativo para celular concomitante ao lançamento do álbum?

Por fim, mesmo com todas as divagações que todos os fãs têm feito a respeito do novo álbum e de uma nova turnê, as divagações baseiam-se apenas em “achismos”. Ademais, estamos falando do U2 e eles sempre nos surpreendem.

O fato é que ainda estamos diante de 3 álbuns a ser lançados e um contrato com a Live Nation válido até 2020(!). E isso, como bem sabemos, é tempo mais do que suficiente para que o U2 se reinvente e sonhe tudo novamente.

Alessandra Mendonça é responsável por notícias e fórum no U2BR. Escreva pra ela: [email protected] ou @aleh_

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Nascido Paul David Hewson, no Rotunda Hospital, em 10 de maio de 1960, o barulhento filho de Iris e Bob Hewson viveu sua infância no norte de Dublin, em Ballymun, ao lado de seu irmão Norman. Foi o segundo filho de uma família de pai católico e mãe protestante – uma divisão

tão comumente vista na Irlanda, mas não tão comum para uma família. Enquanto criança, Paul foi um garoto precoce e “barulhento” e suas experiências da infância provavelmente mol-daram a personalidade de um dos homens mais importantes do mundo. Começou seus estudos numa escola da Igreja Protestante da Irlanda e depois foi para o colégio da Igreja de St. Patrick.

Segundo as palavras do próprio, eu passei um ano neste colégio, totalmente infeliz, e então, basicamente, eles me pediram para sair”. Isso provavelmente foi resposta ao fato de Paul ter atirado fezes de cachorro contra sua professora de espanhol, o que, consequentemente, o levou à Mount Temple Comprehensive School, em 1972. Mount Temple era uma escola controversa e liberal, mal vista por muitos dos irlandeses conservadores, mas Paul se ajustou mui-to rapidamente à escola.

Dave Howell Evans nasceu em 8 de agosto de 1961, em Barking, Essex, no lado leste de Londres. Ao lado do irmão Richard, da irmã Gillian e dos pais,

por Rita Rocha

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Gwenda e Garvin, mudou-se para Dublin quando tinha apenas um ano de idade. As três crianças dos Evans sempre foram muito inteligentes e Dave sempre se mostrou uma criança muito quieta e que tinha o desejo de ir para a universidade para se tornar um engenheiro.

Para homenagear os aniversariantes do trimestre, o U2BR traz uma matéria especial sobre a grande amizade existente entre Paul David Hewson e Dave Howell Evans, também conhecidos como Bono e The Edge.

Setembro de 1974. Um grande e devastador trauma atingiu a família Hewson, quando Iris falece depois de ter um colapso, apenas quatro dias após o funeral de seu pai. A par-tir deste ponto, a vida de Paul se tornou consideravelmente traumática. Apesar da tentativa de Robert Hewson em manter a unidade da família, o filho famoso de Bob sempre disse que “ele não conseguiu fazer isso muito bem”. Assim, a relação entre pai e filho nunca foi muito próxima, com Bob proferindo incentivos do tipo “sonhar é se desapontar”.

Bono já citou isso como uma das razões pelas quais sempre foi tão ambicioso e se tornou cada vez mais determinado em seguir seus sonhos. Também nesta época, junto aos amigos do Lypton Village, Paul adotou seu novo nome, que originalmente era “Steinhegvanhuysenolegbangbangbang”,depois passou para “Bonavox of O’Connell Street” (em referência a uma conhecida loja de aparelhos auditivos), foi encurtado para “Bonavox”, “Bono Vox” (do latim “boa voz”) e, finalmente, Bono. O responsável pelo “batismo” foi Guggi, amigo de infância de Bono e membro do grupo, ao lado de Gavin Friday, outro amigo de longa data que acompanha o cantor até os dias de hoje.

1976, o ano que mudaria a vida de todos nós. A princípio, um simples anúncio no mural de recados do colégio. Olhando para a figura maior, um pedaço de papel que mudou a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. Segundo Bono, ele respondeu o anúncio de Larry Mullen Jr. por culpa de sua “promiscuidade com as próprias ambições”, que o fazia flertar com toda a sorte de coisas. The Edge foi o primeiro a responder e, para a reunião na

casa da Rosemount Avenue, ele levou seu irmão Dick. No mesmo encontro, também estava um conhecido dos irmãos Evans – Adam Clayton, além de alguns outros garotos (entre eles, Ivan McCormick, irmão do jornalista Neil McCormick, autor de Killing Bono). The Edge mostrou seus conhecimentos de guitarra – levando para o encontro o aparelho que construiu ao lado do irmão – e a química entre os quatro foi imediata (apesar de Bono querer roubar a cena e, com isso, ter irritado um pouco o dono da casa). Dessa forma, nasceu o embrião do U2. Assim que o Feedback (nome inicial da banda) teve início, Bono rebatizou Dave como “The Edge”, devido ao formato de sua cabeça – também há a hipótese de que seja devido à maneira como Dave observava as coisas “de cima”, com sua inteligência fora do comum.

Em meados dos anos 70, já como U2, Bono e The Edge começaram a frequentar um grupo de orações chamado Shalom, ao lado de Larry Mullen Jr. e Alison Stewart, namorada e futura esposa de Bono, em busca de respostas a grandes questões.

No início dos anos 80, durante as sessões de October, os três integrantes ficaram divididos entre a espiritualidade e a carreira. Larry e Bono escolheram a banda, enquanto The Edge estava em dúvida. Bono o aconselhou a seguir seu coração. E a consequência... bem, todos nós sabemos. O guitarrista percebeu que não precisava ter problemas para conciliar suas crenças com sua música e seu estilo de vida. Em suas palavras, “não havia problema. Era problema das outras pessoas”. Bono sempre teve a reputação de conseguir se conectar física e emocionalmente com os fãs num nível espantador. Segundo ele, sua técnica

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foi construída nos pequenos shows do início da carreira, ao custo de “andar até as mesas das pessoas, beijar suas namoradas e beber seu vinho”.

Ao longo dos anos, a amizade de Bono e Edge foi solidificada e reafirmada em diversas parcerias – musicais e de negócios. Acredita-se que a amizade tenha, inclusive, feito com que The Edge tenha se tornado menos tímido – o que o levou a gravar algumas músicas nos álbuns do U2: Van Diemen’s Land e Numb, além da versão solo de Sunday Bloody Sunday durante a Popmart. Ao longo do tempo, Bono se tornou uma espécie de figura “messiânica” nos palcos, com seus sermões sobre política e religião – o que, no início dos anos 90, levou a banda a “repensar” as personas de Bono. Foi assim que nasceram The Fly, Mr. Macphisto e Mr. Mirrorball Man. É claro que isso também nos leva a pensar na infância atípica de Bono, entretanto, a mudança de atitude deve-se, principalmente, às críticas que a banda (e principalmente o cantor) recebia a respeito de seu comportamento religioso e político.

“Vamos dar a eles um rockstar” – diz Bono, no

documentário From The Sky Down, que foi lançado recentemente, ao lado da über deluxe, caixa comemorativa dos 20 anos do lançamento de Achtung Baby. O resto é história. A história que todos conhecemos.

Apesar de sempre ter apoiado Bono em seus incentivos a causas sociais, como Greenpeace e a Anistia Internacional, foi só em 2005

que The Edge começou a se tornar publicamente envolvido com filantropia, aoco-fundar, ao lado de Bob Ezrin e Henry Juszkiewicz, a Music Rising, fundação de apoio às vítimas do furacão Katrina que tinha como objetivo repor os instrumentos musicais que haviam sido perdidos no desastre. Além desta, Edge também apoia o

New York Food Bank e a Mencap, instituição de apoio a pessoas com desordem de aprendizagem na Irlanda do Norte.

A carreira de ativista de Bono, por vezes, chega a suplantar a carreira de cantor. Seu trabalho teve início em meados dos anos 80, quando, após o Live Aid (1985), ele viajou à Etiópia ao lado de sua esposa para trabalhar num campo de refugiados. No mesmo ano, foi à Nicarágua e a El Salvador para ver os danos causados pelas operações americanas e, depois disso, o U2 fez parte da turnê beneficente da Anistia Internacional, “A Conspiracy of Hope”. Nos anos 90, ao lado do U2, fez campanha com o Greenpeace contra a instalação de usinas nucleares em Sellafield, no norte da Inglaterra, além de participar de um concerto ao lado de Luciano Pavarotti, com a performance de Miss Sarajevo, que teve como objetivo chamar a atenção para o conflito na Bósnia.

Em 2002, Bono co-fundou a DATA e, em 2004, a ONE. As duas instituições têm como objetivo o auxílio aos problemas de dívidas, fome e pobreza na África. Em nome das duas organizações, em 2005, ao lado de Bob Geldof, Bono foi responsável pelos shows do Live 8, que tinham como objetivo pressionar os líderes mundiais do G8 a cancelar a dívida do Terceiro Mundo e melhorar as políticas de comércio com os países pobres.

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No mesmo ano, fundou, ao lado da esposa Ali e do designer Rogan Gregory, a EDUN, grife com o objetivo de promover o comércio justo e o desenvolvimento sustentável, base-ando sua produção em comunidades pobres da África. Em 2006, ao lado de Bob Shriver, co-fundou a (RED) Campaign, que tem como iniciativa persuadir as grandes marcas mundiais a vender produtos específicos dos quais parte dos lucros serão doados ao Fundo Mundial de Luta contra a AIDS, Tuberculose e Malária.

Durante os concertos da Vertigo Tour, a banda como um todo apoiou e clamou pela libertação de Aung San Suu Kyi, líder política da oposição na Birmânia, que foi prisioneira política entre 1989 e 2010. A campanha era feita durante a execução de “One” e Bono pedia que os fãs apoiassem a iniciativa de apoio à libertação da ativista. Em 2011, durante os concertos da 360°, pudemos comemorar, ao lado do U2 e dos membros da ONE e da Anistia Internacional, a libertação de Aung San Suu Kyi.

INDICAÇÃO AO NOBEL Por seu trabalho como ativista, Bono recebeu diversos prêmios e duas indicações ao Nobel da Paz e figura entre os principais nomes de eventos políticos e sociais – esteve presente nas últimas edições do Fórum Econômico Mundial e em diversas outras discussões envolvendo causas sociais e assuntos sobre a África e a economia mundial.

Em 2012, Bono e The Edge completam 36 anos de amizade e, respectivamente, 52 e 51 anos. Ao longo da história de mais de 30 anos de relacionamento, é possível ver diversos momentos nos quais os amigos estiveram

apoiando-se mutuamente, como na separação de The Edge ou na morte de Bob Hewson, pai de Bono.

Quando The Edge esteve com dificuldades no seu primeiro casamento, no início dos anos 90, foi Bono quem esteve ao seu lado, ajudando-o a suportar a dor de um momento tão difícil – que culminou em composições como “Love is Blindness” e sua dolorida performance, que vemos de um ângulo especial em From The Sky Down, no qual The Edge nos conta a história e nos mostra o catártico solo, que serviu

para expressar toda sua dor e tristeza pela separação. Curiosidade: no período de gravação da música, The Edge precisou de muitas dezenas de cordas e, durante a Zoo TV, entre 1992 e 93, a canção era executada por último no setlist, acompanhada de um trecho de “Can’t Help Falling in Love”, de Elvis Presley, que era usada pelo Rei do Rock para encerrar seus shows.

Em 2001, quando a família Hewson enfrentava uma dura batalha contra o câncer de Bob Hewson, The Edge esteve ao lado de Bono em todos os momentos – inclusive durante a composição de “Kite”, que, segundo o guitarrista, não é sobre as filhas de Bono (como o cantor achou/disse que era), mas sim sobre seu pai, que estava no hospital, perdendo a luta contra um câncer. Uma performance especialmente marcante é a do DVD U2 Go Home: Live From Slane Castle, que contém o show ocorrido poucos dias após o funeral de Bob Hewson.

a dupla no Live 8 (2005).

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Nela, o cantor dedica a música ao pai e fica visivelmente emocionado frente às mais de 80 mil pessoas que estavam na plateia.

É humanamente inevitável perceber, seja estando num show ao vivo ou assistindo a um DVD, a sintonia entre os dois amigos. É comose fossem almas gêmeas, elementos comple-mentares – os anos de amizade e afinidade permitem que Edge preveja até mesmo as improvisações que Bono adora fazer nos shows. A intimidade existente entre ambos é visível e se traduz em parcerias dos mais diversos tipos.

A participação no show para a Clinton Foundation (em outubro de 2011), a produção e composição das canções do musical SpiderMan: Turn Off The Dark (que teve seu début na Broadway em novembro de 2010 e junho de 2011, em sua pré-estreia e estréia, respectivamente), a participação no Pavarotti and Friends (1995) com a performance de Miss Sarajevo, a sociedade no The Clarence Hotel, o investimento conjunto na start-up DropBox e até mesmo a casa que ambos compraram juntos em Èze, no sul da França

(aquela mesma praia de onde geralmente vêm os “beach clips” e que também serviu de locação para o clipe de Electrical Storm).

Ver uma amizade como essa nos faz ter vontade de termos algo parecido, um confidente, um melhor amigo com quem sempre podemos contar, tanto nas horas boas quanto nas ruins, alguém que teria a capacidade de escrever uma canção ou um poema descrevendo exatamente o que sentimos apenas por sentir a situação pela qual estamos passando. Ver uma amizade como essa nos faz refletir sobre o verdadeiro valor da amizade e sobre os verdadeiros, poucos e bons amigos que trazemos conosco durante a vida. Bono e The Edge são como o “Yin” e o “Yang”, são seres complementares.

Essa relação é evidente e pode ser vista nos estúdios, nas entrevistas, nos palcos. Bono é o falastrão, é a criança barulhenta, é o que puxa a garota para o palco, o que rebola de um jeito desengonçado em Mysterious Ways e leva a ala feminina ao delírio, é o sussurro sensual em If You Wear That Velvet Dress. Bono é a emoção.

Por seu lado, The Edge é o taciturno, o observador, é quem, de fato, observa Bono fazer suas estripulias em cima do palco e, ao dançar, acaba parecendo um robô (como vemos em diversas das suas tentativas, em shows ou DVDs). The Edge é a expressão da emoção pela razão,

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Rita Rocha é redatora e editora-geral de Out of Control e está no U2BR desdeo aniversário de 51 anos do Bono. Escreva pra ela: [email protected] ou @rocharita

A dupla em sessão de fotos para uma revista à época do lançamento de How to Dismantle An Atomic Bomb.

é o lamento sem palavras, transformado em um solo de guitarra. Bono é o Diabo em Until The End of The World, enquanto The Edge é Deus. Fogo e Água. Emoção e Razão. Tempestade e Calmaria.

E é por toda essa infinidade (reais ou surreais) de motivos que os uniu que fazemos um brinde à amizade dos dois aniversariantes desta edição e desejamos que, além de muitos anos de vida, eles tenham mais muitos anos de amizade sincera, confiável e tão produtiva para ambos (e também para nós, fãs!).

A performance de Until the End of The World na Elevation Tour.

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Os fãs de U2, são conhecidos pelo “vício”, um tanto quanto exagerado, pela banda. Esse vício, por vezes, é traduzido na compra de CDs, camisetas, materiais promocionais e/ou raridades. Às vezes, essa “espécime” é reconhecida pelo “assunto”, que passa a ser rotineiro em sua vida e que nunca falta no papo entre amigos. Noutras vezes, esse vício é tanto que não basta tudo isso, pois a banda passa a “dar sentido” à sua vida, tornando-o um “fã 24 horas por dia” e com trilha sonora “exclusiva” e “só sua”.

A partir desta edição inaugural, o U2BR trará entrevistas realizadas com as maiores bandas cover de U2 da atualidade, esmiuçando suas car-reiras, os bastidores, a relação entre seus integran-tes e, principalmente, se tudo isso está relacio-nado a esse “vício” que é tão comum entre os fãs.

A cada edição, uma banda diferente vai contar um pouco da sua história e, de forma descontraída, vamos saber como o U2 influenciou cada uma delas.

Nesta primeira edição, os entrevistados são os atuais integrantes da U2 Cover Alive!, que, em sua formação atual, conta com:

Luciano Menezes (The Edge)Bruno de Souza (Bono)Pedro Henning (Larry Mullen Jr.) Leonardo Magalhães (Adam Clayton)

U2BR: A banda U2 Cover Alive! foi criada em 1994. Quais eram os integrantes naquela época e como foi o processo de escolha do nome da banda?

Luciano Menezes: A U2 Cover Alive! foi criada em 1994 por Luciano Menezes, Phillippe Tillier, João Marques e Abel Marques. Nós queríamos um nome forte, marcante e então escolhemos Alive! U2 Alive! significa U2 ao vivo e a nossa ideia foi transmitir toda a energia do U2 nos shows. Sempre demos ênfase às versões ao vivo das músicas. Em alguns álbuns da carreira do U2, eles finalizaram as composições e arranjos de suas músicas ao vivo. U2BR: Quantos integrantes a banda já teve em sua trajetória? 

Luciano Menezes: Na formação original, de 1994-1997, Luciano Menezes (guitarra, piano, programação do sequencer e vocais), Philippe Tillier (baixo e vocal), João Marques (vocal, violão e gaita) e Abel Marques (bateria e vocal). Na junção com a U2 cover de São Paulo, formando a U2 Brasil em 1998, com Luciano Menezes (guitarra, piano, programação do sequencer e vocais), Phillippe Tillier (baixo), Nivaldo Kassalias (bateria) e Éverson Cândido (vocal, violão e gaita). A formação atual da U2 Alive! conta com Luciano Menezes (guitarra, piano, programação do sequencer e vocais), Bruno de Souza (vocal, violão e gaita), Pedro Henning (bateria) e Leonardo Magalhães (baixo).

U2BR: Vocês são fãs de U2 que decidiram criar sua “própria” banda pra tocar o que vocês gostavam ou enxergaram nisso uma forma de ganhar dinheiro?

Luciano Menezes: Sempre fomos fãs de U2 e um produtor de São Paulo, sabendo disso, sugeriu que montássemos uma banda cover de U2. Para nós, foi uma ótima oportunidade de trabalhar tocando a música da qual gosta-mos. É ótimo viver a música com a qual você se identifica. Melhor que escutar uma

por Armando Junior

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música que gostamos é fazer com que ela saia de nossas próprias mãos.Bruno Souza: Quando assisti pela primeira vez ao Rattle and Hum, fiquei impressionado com a atitude do U2 em relação às letras e ao com-portamento da banda. Aprendi a cantar alguns sucessos do U2 e, mais tarde, acabei entrando na U2 ALIVE!

U2BR: Vocês se lembram de qual a primeira música que ouviram do U2 e quando foi? 

Luciano: New Year’s Day, logo após o lançamento do WAR. Achei a voz do Bono fantástica e aquela introdução de piano era muito diferente do que rolava. Muito legal!Leonardo Magalhães: Sunday Bloody Sunday, por volta de 98, quando estava começando a tocar. Não sosseguei enquanto não consegui tocar.Pedro Henning: Sunday Bloody Sunday – não tenho certeza de quando foi... Mas já faz muito tempo.Bruno: Pride, Sunday... Aprendi com meu pai a ouvir rock desde criança.

U2BR: Em algum momento vocês “gostaram menos” de U2 a ponto de pensar em desistir do projeto cover? Já ficaram “de saco cheio” de U2?

Luciano: Nunca fiquei de saco cheio de U2. Existem fases da banda que gostamos mais e outras menos, assim como qualquer fã normal. É mais fácil ficar de saco cheio de ser músico, num país que não valoriza a educação e a cultura [risos]!Leonardo: Como a gente tem um nível de cobrança muito alto de nós mesmos, às vezes, fica cansativo repetir e

treinar cada música até chegar ao ponto de soar exatamente como nos shows do U2. Isso faz com que a gente fique um pouco traumati-zado de tanto repetir a mesma música [risos]. Apesar disso, a resposta do público nos nossos shows faz valer a pena esse cansaço e dedicação.Bruno: Já pensei em desistir, mas não era um problema com alguma fase do U2, e sim comigo mesmo.

U2BR: O U2 faz parte do dia a dia da banda? Vocês ficam ansiosos quando está pra sair algum trabalho novo? 

Luciano: Claro, sempre ficamos ansiosos por músicas novas! E como todo fã de U2, há 18 anos, acaba quase sendo a trilha sonora da minha vida.Leonardo: Com certeza! O U2 sempre foi uma banda muito inovadora e surpreendente a cada novo trabalho. Seja um disco, nova turnê. A gente sempre fica esperando o que vem de novidade.Bruno: Do dia a dia não, pois tenho outros trabalhos com outra banda. Canto e toco rock anos 60, 70, 80... E um projeto de música própria.

U2BR: Mesmo após uma noite de shows, vocês têm vontade de ouvir U2 no dia seguinte?

Luciano: Às vezes sim, às vezes não. Para mim, independente se tive show ou não. Já voltei muitas vezes das viagens para shows escutando U2 nos fones.Bruno:  Após noites de show, eu procuro pas-sar meu tempo com outra coisa que não seja “música”.Leonardo: O U2 tem muitas músicas! A gente pula as que tocamos no dia anterior [risos]. U2BR: Quando não estão curtindo U2, o que os integrantes da banda ouvem? Quais a outras influências musicais de vocês?

Bruno: Dream Theater, Queen, Pink Floyd, Beatles, Oasis, A-Ha, Tears For Fears, Bon Jovi, Coldplay...Luciano: Gosto de jazz/fusion, música instrumental. Minhas primeiras influências como guitarrista foram: Ace Frehley, Eddie Van Halen, Yngwie Malmsteen, Ritchie Blackmore, depois: John McLaughlin, Pat Metheny e Pat Martino. Nos dias de hoje, tenho ouvido Slash, o Joe Bonamassa e a Black

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Country Communion, com o Glenn Hughes.Leonardo: Tive muita influência de bandas de rock na minha primeira fase como músico, Guns, Aerosmith, Led Zeppelin. Também gosto muito de ouvir Jazz, música instrumental em geral.Pedro: Ouço bastante jazz e música brasileira.

U2BR: Se tiver que fazer uma seleção de 5 músicas, quais são as que vocês mais tocaram nesses anos de carreira e quais as 3 que não podem faltar no repertório?

Bruno: With Or Without You, One, Pride, Sunday Bloody Sunday E Elevation são as que mais toquei e cantei. As que não podem faltar são With Or Without You, Pride, Sunday Bloody Sunday.Luciano: Ah... 5 ou 3 músicas é pouco. “One” se tornou um hino, não pode fal-tar. Mas, para falar de algumas, “Where The Streets Have No Name”, “Pride”, “With Or Without You”, “Beautiful Day” e “Elevation”.Leonardo: Entre as mais tocadas estão “With or Without You”, “Pride”, “I Will Follow”, “Sunday Bloody Sunday”.

U2BR: Vocês costumam “estudar” a fundo as apresentações do U2 original (para captar a musicalidade, os trejeitos, os timbres etc.), a ponto de passar horas e horas numa única música, ou simplesmente curtem como fãs, sobem ao palco e deixam o som rolar?

Bruno: Eu assisti a muitos shows do U2, mes-mo antes de fazer o trabalho cover da banda, e isso me ajudou muito... Antes da apresentação, eu faço uma oração... Bebo um gole de whisky e depois deixo rolar!Luciano: Faço ambas as coisas. Às vezes, fico anos numa única música até me satisfazer, encon-trar as notas, a sonoridade, os tim-bres. Reproduzir certos timbres pode levar semanas de pesquisa.Leonardo: A gen-te treina muito em todos os aspectos. Tanto musical quanto gestual e tudo mais.Pedro: Sim, tentamos chegar o mais próximo do U2 sempre.

U2BR: Quais os fatos mais marcantes da relação U2 e a U2 Cover Alive?

Luciano: Vou citar alguns. Em 1998, fui a uma festa no Clube Base, onde estavam Adam Clay-ton e Paul McGuinness. Também fui até os bas-tidores do 1º show da 360° aqui em São Paulo e conversei bastante com o Dallas Schoo, que me deu algumas palhetas, mostrou todo o eq-uipamento do The Edge e me explicou como ele controlava os efeitos debaixo do palco enquanto trocava cordas de uma das guitarras do Edge. Neste dia, conheci até o Stuart Morgan, que substituiu o Adam num dos shows da ZOO TV. Também em 2000, quando o U2 fez aquele especial para o Fantástico, na época da U2 Brasil, a produção da TV Globo nos pediu para esperarmos porque queriam filmar um encontro da banda cover com a banda original. Depois de uma hora esperando, disseram-nos que não ia rolar porque o U2 tinha saído para um bar, jogar sinuca e gravar cenas para o que seria o vídeo clipe de Walk On (versão internacional).Leonardo: Certa vez, pouco antes de entrar para a banda, fui ver um amigo tocando em um pub aqui de SP e, quando olho para o lado, o Bono estava sentado em uma das mesas. Toda a equipe de produção da turnê estava reunida para comemorar o sucesso dos shows e, mesmo não conseguindo conversar com o Bono, já fui pegando informações valiosas com os técnicos da banda.

Pedro: Sermos escolhidos pela Universal para representar o U2 num evento oficial.

U2 Alive! em evento do U2BR com a Universal Music

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U2BR: Qual o público perfeito para uma apresentação da U2 Alive? Aquele que só pede as “Top 10” e canta somente o refrão ou o fã que sabe todas as letras, mas torce o nariz quando “algo” sai errado?

Bruno: A mistura dos dois públicos é o ideal.

Pedro: Acho que todos os públicos são bons para nós. Os que já conhecem muito e exigem mais e os não tão fanáticos, que simplesmente vão para se divertir!Luciano: Temos repertório para os dois tipos de público. Tentamos achar um equilíbrio entre nossas preferências e o que o público espera. O repertório depende bastante do público, se são grandes fãs ou não. Os grandes fãs não gostam de escutar um show do tipo “The Best Of ”. Mas o público que sabe todas as letras é que direciona a qualidade de nosso trabalho. É nossa referência. Sempre aceitamos críticas construtivas de quem realmente entende de U2.Leonardo: É sempre bom fazer show para quem conhece o repertório, pede músicas menos conhecidas e canta junto com a banda, porém, a gente tem que ter a consciência de que nem todo nosso público é assim. Procuramos agradar tanto o fã mais fervoroso até aquele que conhece as mais clássicas e recentes. Pelo resultado e empolgação nos nossos shows, acho que conseguimos.

U2BR: Se vocês tivessem a opção de encontrar a banda original e tocar uma única música com os integrantes do U2, qual seria e por quê?

Leonardo: “Out of Control”. Pela animação e o clima de festa que ela passa, como um encontro com todo mundo se divertindo.Pedro: Desire! Porque vamos poder improvisar junto com eles!Bruno: Sunday ou Pride... As duas têm um sig-nificado maior do que uma simples música.

U2BR: Como seria o repertório perfeito de uma “jam session” entre U2 e  U2 Cover Alive?

Pedro: Elevation, Even Better Than The Real Thing, Desire, Sunday Bloody Sunday, Pride, I Will Follow, Where The Streets Have No Name, All I Want Is You, Walk On e Electrical Storm.Luciano: Nunca pensei sobre isso. Para mim, o mais natural é que rolassem músicas comuns para o gosto de todos, que são influências para eles e para nós. Sei lá! [risos] Acho que se o repertório fosse premeditado, deixaria de ser uma jam.Bruno: Não sei. Mas, se for para escolher hoje um setlist de 10 músicas do U2, eu escolheria Bullet The Blue Sky, Unforgettable Fire, Miracle Drug, A Sort Homecoming, When I Look At The World, Sunday Bloody Sunday, Who’s Gonna Ride Your Wild Horses, Gloria, Heartland e Pride.

U2BR: Que música vocês gostariam de tocar nos seus shows, mas ainda não conseguiram? Por quê?

Pedro: Não tive isso, acho que tocamos todas que queremos.Luciano: Gostaria de tocar Love is Blindness, mas ainda não tivemos tempo para ensaio, oportunidade ou contexto. Também Please e outras do POP.Bruno: When I Look At The World, mas nem U2 tocou ao vivo. Também tenho vontade de tocar Miracle Drug e The Ground Beneath Her Feet.   U2BR: Vocês sofrem ou já sofreram algum tipo de preconceito quando dizem que são uma “banda cover”? 

Pedro: Não.

U2 Alive! em mais um show com casa cheia.

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Armando Junior é responsável pelo contato com bandas cover e pela participação do U2BR em eventos. Escreva pra ele: [email protected] ou @ju2nior

U2 ALIVE! no evento de pré-lançamento do DVD Colaborativo do U2BR.

Bruno: Não, a U2 Alive! é uma banda cover mesmo.Luciano: Já sofri e sofro. Algumas pessoas acreditam que músicos de banda cover são pessoas sem talento ou capacidade para compor, o que não é verdade. Hoje em dia, no mercado brasileiro, é muito mais fácil achar bons músicos fazendo cover do que em bandas de som próprio fazendo sucesso nas rádios. O mercado autoral para música de qualidade está muito ruim, já que os grandes produtores preferem investir na música de fácil assimilação. Gosto de compor, mas também gosto de tocar U2. Na verdade, são duas áreas diferentes de atuação dentro da profissão de músico.

Leonardo: Sempre tem gente que trata banda cover como um trabalho fácil e, às vezes, até julgam estarmos ganhando dinheiro de forma desrespeitosa, mas estão enganados. Muitas pessoas que vão aos nos-sos shows nos dizem que, fechando os ol-hos, sentem como se fosse o próprio U2. Para alcançar esse resultado, o esforço e dedicação são muito grandes. A intenção é homenagear a banda e dar ao público fã de U2 uma possibilidade de ouvir as músicas como o próprio U2 toca em seus shows.

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por Vagner “Duff” GiacomazziRose Gomes

Marcelo Tschirk

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MENSAGEM SUBLIMINAR EM WITH OR WITHOUT YOU?

A música With or Without You é, sem dúvida, um dos grandes sucessos da banda. Não há quem não conheça essa linda balada do U2! Mas você sabia que há uma provável mensagem subliminar em sua letra? Ao tocar o trecho “and I wait without you” ao contrário, (a partir dos 0:53 segundos), pode-se ouvir algo como “mmm...we slap you...mmm...we want it”, que, em uma tradução livre, quer dizer “humm, nós damos um tapa em você, nós queremos isso”. Será?

A LETRA QUASE INDECIFRÁVEL NO

FINAL DE IF GOD WILL SEND HIS ANGELS

No final de If God Will Send His Angels, de POP, de 1997, Bono canta uma frase quase inaudível aos 05:18, algo como “feels just like I’m bleeding all over again”, ou “sinto como se estivesse sangrando novamente”. Porém, há quem diga que a frase correta dita por Bono seria “baby, just like that you turn away from love. , ou “baby, assim você se afasta do amor”. E você, o que acha?

“THE DESERT SONGS” EM VEZ DE

“THE JOSHUA TREE”?

O aclamado The Joshua Tree, de 1987, na verdade se chamaria The Desert Songs. Por isso, as fotos do álbum foram feitas em um deserto nos EUA.  Porém, o fotógrafo Anton Corbjin, responsável pelas belas fotos do álbum contou a Bono sobre a “Joshua Tree” , uma planta resistente e retorcida nos desertos do sudoeste americano, o que o fez sugerir na utilização na capa. Bono, consultando a Bíblia,  descobriu um significado religioso para a planta e declarou que o álbum deveria ser intitulado como The Joshua Tree. Na manhã seguinte, eles avistaram um pé de árvore sozinha no deserto (esta planta é geralmente encontrada em grupos) e  pararam para fotogra-far com a árvore isolada por cerca de 20 minutos.

O ERRO DE PRIDE

A música “Pride (in the name of love)”, do álbum The Unforgettable Fire, é uma homenagem ao pastor e ativista político norte-americanoMartin Luther King, assassinado em  1968. A letra, composta por Bono, apresenta um certo “erro histórico”. A letra diz “Early morning, April 4th, a shot rings out in the Memphis sky” (“cedo pela manhã, 4 de abril, uma bala é disparada no céu de Memphis”), referência ao assassinato de Martin. No entanto, como sabemos, MLK foi morto no começo da noite. Bono admite o erro, explicando o “morning” como fato de só ter ficado sabendo do acontecido na manhã do dia seguinte. 

REFERÊNCIA À SUPOSTA MORTE DE PAUL MCCARTNEY NO SINGLE DE 

DISCOTHÈQUE?

O single Discothèque apresenta uma história um tanto quanto estranha. Algumas pessoas acreditam que ele apresente referências à suposta morte de Paul McCartney. A lenda “Paul Is Dead”, conhecida mundialmente, sugere que Paul McCartney teria morrido em um acidente em 1966 e sido substituído por um sósia. Desde lá, surgiram diversas referências a morte do baixista, presente nas capas dos álbuns da banda, e em letras de músicas dos Beatles. Segundo mui-tos fãs, o single de Discothèque apresenta mais uma evidência. No single, o “selo” do CD mostra Edge, Adam e Larry sentados em um sofá, sem Bono (que, coincidentemente, também se chama Paul). Já em uma das outras versões do single, há uma foto de Bono sozinho, sentado no chão com o rosto coberto, usando chapéu e casaco brancos. Alguns fãs acreditam que essas seriam possíveis referências à morte de Paul, separando o Paul (Hewson, do U2) dos demais membros da banda.

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1 – O U2 já fez várias turnês, em qual delas eles mais fizeram shows?A) Joshua Tree TourB) Zoo Tv TourC) Boy TourD) 360° TourE) Vertigo Tour

2) E exatamente quantos shows foram feitos nessa turnê?A) 202B) 135C) 156D) 180 E) 157

3) Com mais de 30 anos de carreira o U2, já se apresentou em muitos lugares. Alguns lu-gares acabam sendo mais privilegiados que outros e já receberam vários shows, muitos memoráveis. Mas qual foi o local em que o U2 mais vezes se apresentou?A) Chicago - United CenterB) Dublin - Croke ParkC) East Rutherford - Giants Stadium D) New York - Madison Square GardenE) Sydney - Entertainment Center

4) E exatamente quantas vezes eles se apre-sentaram nesse local?A) 18B) 10C) 26D) 14E) 37

5) Qual música abriu todos os shows da ZooTv Tour?A) Even Better Than The Real ThingB) Where The Streets Have No NameC) I Will FollowD) MOFOE) Zoo Station

6) Na Joshua Tree Tour o U2 chegou a abrir alguns de seus próprios shows fingindo ser outra banda, qual era o nome dessa banda?A) FeedbackB) The Dalton BrothersC) The HypeD) The Macphisto’s BandE) The Sweetest Band

7) Qual o nome do primeiro single do U2?A) U2 3B) 11 O’ Clock Tick TockC) I Will FollowD) Another DayE) Fire

8) Qual foi a música que encerrou o último show da 360° Tour?A) Moment Of SurrenderB) Out Of ControlC) “40”D) With Or Without YouE) Vertigo

9) De todos os álbuns de estúdio apenas um já teve todas as músicas tocadas ao vivo pelo menos uma vez, que álbum é esse?A) Achtung BabyB) Rattle and HumC) How To Dismantle An Atomic BombD) BoyE) War

10) Nos anos 90, o U2 tinha uma revista para fãs chamada Propaganda e, em 1995, foi lançado um álbum de remixes exclusivo para assinantes da revista. Qual era o nome desse álbum?A) Lemon – Remixes For PropagandaB) Fruitmixes – Remixes For PropagandaC) Melon – Remixes For PropagandaD) Watermelon – Remixes For PropagandaE) Zoomix – Remixes For Propaganda

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Esta seção é possível através de um esforço conjunto de Vagner Giacomazzi ([email protected] ou @duffu2), Rose Gomes ([email protected] ou @rosegomes) e Marcelo Tschirk ([email protected] ou @marsthime). Se você tiver dúvidas ou sugestões, escreva para nossos colaboradores!

PALAVRAS CRUZADAS

HORIZONTAL:mcguinness outofcontrol

pridedavidmaiobaby

u2byu2cozinha

miss sarajevoone

facebook

VERTICAL:barcelona

garraoctoberadam

popmartdublin

walk onmonctonguitarra POPQUIZ

1 – C2 – E3 – D4 – A5 – E6 – B7 – A8 – C9 – D10 – C

(Fontes: U2.com, U2Gigs, U2BR e U2 by U2)

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Uma das coisas que eu penso é que nós temos sido bons em não deixar que nos vejam como beatos. Isso aconteceu conosco por um tempo nos anos 80 e nós não queremos que aconteça novamente. Fico sempre chocado com as pessoas que ficam chocadas quando descobrem que a tolice é uma ocorrência diária com o U2. É o golpe final para as pessoas que não nos suportam. Que nós parecemos ser sempre melhores do que todos os outros. Como se não fosse suficiente não termos rompido, termos feito algumas música inspiradoras ao longo dos anos, mas também ter se divertido bastante. A diversão faz parte da nossa história e não é simulação.

(Bono, em entrevista ao The Guardian)

I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight seria um tipo de resposta àqueles religiosos que cobram de Bono uma postura de abstinência, como a de um monge, onde o fiel deve se abster dos prazeres e das diversões – isso é o que os legalistas chamam equivocadamente de “santificação” – para ser considerado um autêntico cristão e ser aceito pelos “fariseus”.

O curioso é que esse tipo de religioso era exatamente o tipo de pessoa que se opunha a Jesus, chamando-O, inclusive, de “um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e pecadores.” Lc 7:34.

Os adjetivos de Jesus para esses religiosos eram duros: “hipócritas”, “sepulcros aiados, bonitos por fora, podres por dentro” etc.

por Suderland Guimarães

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Ela é um arco-íris e adora a vida pacata Sabe que enlouquecerei se não ficar louco

esta noite Existe uma parte de mim no caos que é calma

E existe uma parte de você que deseja que eu me rebele

A partir das declarações do Bono ao “The Guardian”, entendo que a música é uma espécie de confissão descontraída de um conflito psicológico exposto por ele, usando uma personagem femini-na logo na primeira estrofe ,quando ele diz “Existe uma parte de mim no caos que é calma/E existe uma parte de você que deseja que eu me rebele”. Ou seja, essa personagem possui uma parte que se comporta com fé em meio ao caos, mas também possui outra parte que é rebelde, assim como o próprio apóstolo Paulo confessou (Rm 7:19-23).

Essa situação gera um conflito na personagem, pois ela adora uma vida pacata, mas ao mesmo tempo sente necessidade de se divertir. Transferindo isso ao autor da letra, Bono, eu diria que o conflito é que ele crê em Jesus e procura seguir Seus ensinamentos, leva uma vida pacata – e, de fato, ele é um conhecido no mundo todo como um cidadão de bem -, mas não consegue se sentir à vontade com os religiosos legalistas, que são os “fariseus” da nossa época, pois eles cobram atitudes sectaristas, coisa que o próprio Jesus condenou severamente (Mateus 9:11-13; 11:19). Então, ele confessa que tem uma parte dele que sente a necessidade de se divertir e outra que gosta de uma vida pacata.

Todo mundo precisa chorar ou precisa desabafar Todo dente de leite precisa só de um pequeno golpe

Toda beldade precisa sair com um idiota Como você pode estar perto da verdade e não vê-la?

Uma mudança no coração acontece devagar

Então, Bono constata características inerentes aos seres humanos. Todo ser humano precisa expressar seus sentimentos (choro ou desabafo), não dá para usar sempre uma máscara que serve para o indivíduo transmitir uma imagem falsa de si mesmo. Todo dente de leite precisa de um pequeno golpe para que um dente novo e melhor nasça. Da mesma forma que o ser humano precisa de tombos ao longo do

caminho para se tornar humilde e misericordioso, pois sabe perdoar os que erram como ele. Sobre isso, Jesus disse: “Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama” (Lucas 7:47). Só quando a ferida dói é que lembramos do médico e temos compaixão por quem passa a mesma dor. Só quando reconhecemos nossas fraquezas é que entendemos o amor de Deus por nós e o amamos verdadeiramente.

E assim como o ouro, que, para se tornar belo e brilhoso, precisa passar pelo fogo, nós, humanos, precisamos passar por dificuldades nessa vida para amadurecermos e moldarmos nossa personalidade. Quando uma beldade (mulher muito desejada e cheia de si) sai com um idiota, geralmente ele a faz sofrer, então, em meio ao sofrimento, ela meditará, se auto-avaliará e se enxergará interiormente (auto-conhecimento), sem as ilusões de sua beleza externa, que a tornava arrogante e superficial. Então vem uma pergunta: “Como você pode estar perto da verdade e não vê-la?”. Qual é a verdade a que o Bono se refere? Provavelmente, a afirmação seguinte: “Uma mudança no coração acontece devagar”. Que mudança no coração seria essa? O amadurecimento. O verdadeiro cresci-mento espiritual. A formação de um ser humano melhor, mais amoroso, benigno, bondoso, manso, misericordioso etc. E o primeiro passo para haver mudança no coração é querer mudar. E um novo dente (nova consciência, novo coração) só nasce após o “dente de leite” (velha consciência) cair, o que acontece,

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geralmente, após um golpe. Mas um coração não muda do dia para a noite, é uma mudança lenta. Daí a crise existencial da primeira estrofe.

Não é uma colina, é uma montanha Quando você começa a escalar

O caminho para o nosso amadurecimento e crescimento interior é longo e os obstáculos não são pequenos. Muitas vezes, as dificuldades nos fazem pensar em desistir, pois não estamos diante de uma “pequena colina”. Ao contrário, estamos diante de uma “montanha”, que, dia após dia, temos de escalar até chegarmos ao topo, o prêmio máximo dos perseverantes (I Co 9:24).

Você acredita em mim ou está duvidando? Faremos isso por todo o caminho para a luz Mas eu sei que enlouquecerei se eu não ficar

louco esta noite

Aqui, Bono demonstra a certeza (fé) de que conseguirá chegar ao topo da montanha, a certeza de que alcançará o prêmio máximo: a luz! E ele já está escalando a montanha em busca da luz, mas hoje à noite ele precisa descansar da escalada e alegrar o seu coração. Um detalhe curioso é que “luz” pode ser interpretada como uma referência direta a Jesus, posto que Ele mesmo se descreve como luz do mundo: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” (João 8:12).

Toda geração tem a chance de mudar o mundo Triste da nação que não ouve seus garotos

Porque a mais doce melodia é aquela que nós ainda não ouvimos

Nessa estrofe há uma mensagem tipicamente político-social. Uma ideia muito repetida por Bono nos discursos que profere aos políticos para defender as causas sociais pró-África. É uma conclamação aos jovens das nações, um convite para que eles acreditem no seu poten-cial de fazer um mundo melhor. E ele lamenta que os países não ouçam os anseios dos seus jovens, que, usualmente são seres idealis-tas, carregados de esperança e justiça social.

Sobre a atuação dos jovens, Bono deu uma declaração interessante numa entrevista publicada na revista Veja de 15/12/2004: “Mesmo que não tenha poderes políticos, o roqueiro entra

no pequeno mundo que existe na cabeça de seus fãs e pode incentivá-los a sair de casa e mudar o que está errado ao seu redor. As pessoas precisam acreditar que podem mudar o mundo. Se deixarem de ter fé nisso, não restará nada além da alienação”.

É verdade que o amor perfeito

lança fora todo o medo? O direito de ser ridículo é algo que prezo muito

Mas mudanças do coração acontecem devagar

Bono já usou essa frase, “O direito de parecer ridículo é algo que prezamos”, em entrevista há alguns anos.

Isso tem a ver com ser ele mesmo, sem máscaras, sem dissimulação, sem fingimentos típicos dos religiosos hipócritas. No entanto, neste verso, há uma frase crucial que explica o porquê do título e do refrão desta canção.

Quando Bono pergunta: “E é verdade que o amor perfeito lança fora todo o medo?” (uma citação direta de 1 Jo. 4:18), ele está dizendo de forma descontraída como o peregrino cristão deve escalar a montanha. Quem conhece a Deus sabe o quanto é amado por Ele, sabe-se filho, sabe-se amado pelo Pai Celeste até mesmo quando erra. Assim, cristão nenhum precisa ter medo de mostrar a Deus suas imperfeições, ao contrário, elas devem ser apresentadas a Ele, que é Misericordioso e é nosso Amigo e Médico. Além do mais, as imperfeições são naturais em todo ser humano, todos erram em maior ou menor grau. Por isso, Jesus condenou o coração duro que joga pedra no próximo que peca, pois isso geraria um hipócrita. Diante dessa escalada na “montanha da vida”, nossa alma clama por descanso e alegria. A escalada na montanha é exaustiva, requer alegria para apascentar a alma. É o que o autor de Eclesiastes relata: “Então louvei eu a alegria, porquanto para o homem nada há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; porque isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da sua vida que Deus lhe dá debaixo do sol.” (Ec 8:15). Mas ele termina lembrando que o coração muda devagar, com o tempo, e muitas dessas carências da alma poderão ser saciadas com o tempo.

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Baby, baby, baby, Eu sei que não estou sozinho Baby, baby, baby, Eu sei que não estou sozinho Entendo essa estrofe como uma confissão de fé numa das últimas palavras de Jesus aos Seus discípulos: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.” (Mateus 28:20). Essa esperança, a certeza de não se estar sozinho, gera uma força interior que faz com que ele não desista e suba a montanha.

Não é uma colina, é uma montanha Quando nós começamos a escalar

Me escute, eu estou gritando Gritando até que a escuridão solte faíscas de luz

Aqui, Bono reforça novamente o quanto a camin-hada até a luz é longa e difícil, mas também de-screve sua obstinação em conseguir alcançar a luz. Ele chega ao ponto de ficar “Gritando até que a escuridão solte faíscas de luz”. Esse gesto também expressa seu altruísmo, seu cuidado com o próximo, sua misericórdia. Algo que ve-mos muito quando Bono faz suas campanhas para ajudar os famintos da África. Bono, como a maioria dos “rockstars”, poderia estar em al-guma ilha só curtindo seus dólares, bebendo, se drogando, destruindo hotéis etc. Mas ele prefere ser fiel aos seus princípios cristãos, mesmo en-frentando críticas de que faz isso por auto-pro-moção. Porém, sua opinião sempre foi calcada em sua fé em Cristo, como vemos nessa frase dele da década de 80: “Para mim a fé em Jesus Cristo, que não está envolvida com justiça social, que não está envolvida com o pobre, não é NADA.”Realmente acredito que ainda existam pessoas de boa vontade nesse mundo. Pessoas que procuram seguir a máxima de Jesus de “amar o próximo como a ti mesmo”. Pessoas

Suderland Guimarães é colunista do U2BR e responsável pelas interpretações musicais. Para falar com ele, escreva para [email protected] ou @suderland

conscientes, que tem os pés no chão, que lutam por um mundo melhor sem ter o dinheiro como “senhor”. Pessoas altruístas. E acho que a maioria das pessoas que criticam Bono por fazer isso são justamente aquelas pessoas egoístas ou acomo-dadas, que não fazem nada pelo próximo e fi-cam procurando desculpas para se justificarem.

Você sabe que vamos enlouquecer Você sabe que vamos enlouquecer

Mas eu sei que nós vamos ficar loucos se nós não enlouquecermos esta noite

Oh, oh Bem devagar agora…

De onde vem essa certeza de Bono de que ficará louco? Talvez essa certeza seja fruto de afirmações como a do Evangelho, que Bono confessa crer: “Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que crêem por meio da LOUCURA da pregação” (1 Co 1:21). Seguir o Evangelho de Jesus, para o mundo, é mergulhar numa “loucura”. Creio que daí vem a certeza que o fez dizer “Você sabe que vamos enlouquecer”. Mas enquanto estamos subindo a montanha, há momentos em que é preciso alegrar o coração para a alma não desfalecer, mas é preciso prudência, visto que o mundo pode nos passar uma rasteira. Muitas rosas possuem espinhos.

Não é uma colina, é uma montanha Quando você começa a escalar Ouça-me, eu estarei gritando

Nós vamos percorrer todo o caminho para a luz Mas você sabe que enlouquecerei se eu não ficar

louco esta noite

Bono reforça novamente o quanto a jornada espiritual será exaustiva, como uma escalada numa montanha, mas aqui ele se dispõe a ajudar e a caminhar junto nessa jornada rumo à Luz, ajudando, sendo companheiro, mas sem esquecer de alegrar o coração para suportar a longa jornada.

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EDITORA GERALRita Rocha ([email protected])

CONSELHO EDITORIALTiago Trentini ([email protected])

Vagner “Duff ” Giacomazzi ([email protected])Juliano Trentini ([email protected])

EDITORES RESPONSÁVEISAlessandra Mendonça ([email protected])

Armando Junior ([email protected])Marcelo Tschirk ([email protected])Nalini Vasconcelos ([email protected])

Rita Rocha ([email protected])Rose Gomes ([email protected])

Sil Rigote ([email protected])Suderland Guimarães ([email protected])Vagner “Duff ” Giacomazzi ([email protected])

Tiago Trentini ([email protected])

PESQUISA DE IMAGENSAndreia G. Sena ([email protected])

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