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89 ~ Os Maios: a festa popular ourensana mais formosa do ano José Páz Rodríguez TRADICIONS J á o temos dito mais duma vez: o ciclo anual das festa popu- lares galegas e galaico-portu- guesas é um dos mais ricos do mundo. Só superado polo de esse grande e antigo país que é a Índia, de onde não falta quem opina procede a nossa cultura. Dentro do ciclo anual das festa populares que se cele- bram em Ourense e no sul da Galiza sobressae a dos “maios” 1 . Esta festa popular é para nós a mais formosa do ano. Embora não queremos restar-lhe importância e for- mosura à dos “magostos” (Novembro), “Natal” (Dezem- bro), “Entroido” (Fevereiro), “Fogueiras de S. João” e uns dias antes as do “Corpus” (Junho), ambas bastante esquecidas e que os ourensa- nos devemos recuperar quan- to antes. Algo que desde há anos se tem feito com a dos “maios” na cidade das Burgas com apoio da Câmar Municipal e volcando-se nas escolas e centros de ensino. Centros de ensino que deve- riam organizar actividades coincidinco com as diferentes festas cíclicas 2 e também com outras conmomerações não menos importantes, como são os dias dos direitos humanos de Europa, da Paz, da Árvore, do Livro, do Amor, dos Trabalhadores, da Mulher, do Meio ambiente, da Terra, da Música, do Teatro. Convém ademais recuperar desde as escolas –e tambén desde a denominada “escola paralela”– o verdadeiro senso que todas as culturas tiveram com o percurso da natureza e das estaçãos do ano. Porque as festas cíclicas respondem perfeitamente ao devir do tempo e das estações, ao pre- cesso verdadeiro da natureza. A dos “maios”, por exemplo aparece quando a natureza acorda (esperta), com o seu 1 A festa popular e cíclica dos “maios” celebra-se nos primeiros días de Maio. Em Ponte-Vedra é o dia um -sempre feriado- o dia escolhido para a cele- bração. Pola sua parte em Ourense o dia escolhido é o dia três -ao igual que em Laza- , dia da Santa Cruz e dia que se fez feriado por uma bula dum Papa para o têrmino municipal de Ourense, embora nos últimos tempos se estabelecem uma estéril polémica entre os ourensanos a favor ou em contra de decla- rar feriados o três de Maio ou a terça feira (Martes) de Entroido. 2 Com grande acerto, nosúltimos tempos a “Conselheria de Educación e Ordenación Universitária” da Junta da Galiza, promulga anualmente uma ordem na que se aconselha aos docentes que organizem nos seus centros de ensino actividades didácticas com os/as seus/suas alunos/as coincidindo com as dife- rentes festas cíclicas do ano e com as conmemorações internacionais. Isto provocou uma participação positiva em muitas escolas galegas ajudando a sensi- bilizar a nenos/as, crianças e moços/as.

Os Maios: a festa popular ourensana mais formosa do ano · 2019-07-31 · 89 ~ Os Maios: a festa popular ourensana mais formosa do ano José Páz Rodríguez TRADICIONS Já o temos

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Os Maios: a festa popular ourensanamais formosa do ano

José Páz Rodríguez

TRADICIONS

Já o temos dito maisduma vez: o cicloanual das festa popu-

lares galegas e galaico-portu-guesas é um dos mais ricos domundo. Só superado polo deesse grande e antigo país queé a Índia, de onde não faltaquem opina procede a nossacultura.

Dentro do ciclo anual dasfesta populares que se cele-bram em Ourense e no sul daGaliza sobressae a dos“maios”

1. Esta festa popular é

para nós a mais formosa doano. Embora não queremosrestar-lhe importância e for-mosura à dos “magostos”

(Novembro), “Natal” (Dezem-bro), “Entroido” (Fevereiro),“Fogueiras de S. João” e unsdias antes as do “Corpus”(Junho), ambas bastanteesquecidas e que os ourensa-nos devemos recuperar quan-to antes. Algo que desde háanos se tem feito com a dos“maios” na cidade das Burgascom apoio da CâmarMunicipal e volcando-se nasescolas e centros de ensino.Centros de ensino que deve-riam organizar actividadescoincidinco com as diferentesfestas cíclicas

2e também com

outras conmomerações nãomenos importantes, como sãoos dias dos direitos humanos

de Europa, da Paz, da Árvore,do Livro, do Amor, dosTrabalhadores, da Mulher, doMeio ambiente, da Terra, daMúsica, do Teatro.

Convém ademais recuperardesde as escolas –e tambéndesde a denominada “escolaparalela”– o verdadeiro sensoque todas as culturas tiveramcom o percurso da natureza edas estaçãos do ano. Porqueas festas cíclicas respondemperfeitamente ao devir dotempo e das estações, ao pre-cesso verdadeiro da natureza.A dos “maios”, por exemploaparece quando a naturezaacorda (esperta), com o seu

1 A festa popular e cíclica dos “maios” celebra-se nos primeiros días de Maio. Em Ponte-Vedra é o dia um -sempre feriado- o dia escolhido para a cele-bração. Pola sua parte em Ourense o dia escolhido é o dia três -ao igual que em Laza- , dia da Santa Cruz e dia que se fez feriado por uma bula dum Papapara o têrmino municipal de Ourense, embora nos últimos tempos se estabelecem uma estéril polémica entre os ourensanos a favor ou em contra de decla-rar feriados o três de Maio ou a terça feira (Martes) de Entroido.

2 Com grande acerto, nosúltimos tempos a “Conselheria de Educación e Ordenación Universitária” da Junta da Galiza, promulga anualmente uma ordemna que se aconselha aos docentes que organizem nos seus centros de ensino actividades didácticas com os/as seus/suas alunos/as coincidindo com as dife-rentes festas cíclicas do ano e com as conmemorações internacionais. Isto provocou uma participação positiva em muitas escolas galegas ajudando a sensi-bilizar a nenos/as, crianças e moços/as.

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verdor, com as suas flores,com a sua alegria, com o seuamor, quando vem o cuco,quando os pássaros voltam acantar e fazer os seus ninhos,quando a terra se prepara paraa sementeira. A finais de Abrile princípios de Maio. Estamosseguros que se isto não acon-tecesse os humanos não orga-nizariam esta festa popularque é como uma adoração ànatureza na primavera. Comouma grande homenage àdensa terra, às árvores e pran-tas, às aves, aos animais, ànatureza toda...

POSSÍVEL ORIGEM DAFESTA DOS MAIOS

Existem muitas e variadasinterpretações acerca do sen-tido e origem desta festapopular e cíclica que se perdena noite dos tempos. Todas ecada uma das opiniões e inter-pretações –a maioria porintuição dos investigadores eestudiosos– tem o seu interes-se e a sua parte de verdade,polo que nós optamos polasíntese de todas, respeitandotodas as opiniões e integran-do-as de forma globalizadanum todo completo

3.

Vários dos etnógrafos e inves-tigadores galegos sinalam queesta festa nasce na pré-históriae, em concreto no últimoperiodo do paleolítico –pré-vio ao neolítico– o chamado“magdaleniense” que é quan-

do aparecem os cultos agrá-rios. Embora sãomais os quepensam que esta festa aparexejá no neolítico com o nasci-mento da agricultura, momen-to no que o homem deixa deser nómada para fazer-sesedentário, cultivar a terra ecuidar animais. Pola sua parte,Murguia, Filgueira, Risco eCuevilhas opinam que a festados maios é própia da culturados celtas, que tinham um ritoque tem muito que ver comesta festa. Tráta-se do rito de“alumear o pão” (com fachi-cos), que ainda se conservanalgumas zonas da nossaGaliza.

São mais os etnógrafos queopinam que os “maios” é umacelebração tipicamente greco-latina –e que polo menos foina Grécia e em Roma quandoconseguiu maior esplendor–.O etno-musicólogo Inzengaopina que na cultura gregaestá o berço desta festa.Murguia, Celso Garcia de laRiega, Risco, Lois Tobio eBouça-Brei colocam a origemmais na cultura romana, aoanalizar com profundidade ocalendário romano dos mesesde Agril e Maio. Não lhes faltarazão porque deitando umaolhada sintética a este calen-dário o 12 de Abril celebra-vam-se os jogos na honra dadeusa Ceres (dos cereais); o15 de Abril era a “Fordicídia”na honra do deus Telles; o 19de Abril era o culmem do

ciclo destas festas organizan-do a “Ceriália”. O 21 de Abriltinham lugar as festas da“Palília” na honra da deusaPales; e do 23 ao 25 de Abrilcelebravam-se em Roma asfestas da “Vinália” e da“Robigália” na honra deElícius e Robigo. Mais, certa-mente, para esta festa as datasmais significativas desenvol-viam-se em Roma do 28 deAbril ao 3 de Maio: eram as“Florália” na honra da deusaFlora, incluindo o dia primei-ro de Maio com a festa emhonra da deusa Maia. O cicloterminava na cultura latina odia 19 de Maio com as festas“Ambarválias” outra vez nahonra de Ceres, deusa dosCereais (trigo, centeio, aveia,etc.) que tão importanteseram para o império romano.

Não há quem deixe de opinar,como Benito Vicetto e omesmo Bouça-Brei, que estafesta procede da cultura ger-mánica –e mais em concretodo povo dos suevos– ao sina-lar a inportância da influênciada cultura centro-europeiapor médio do culto ao lumecoincidindo com o solstíciode verão.

Pola sua parte, o Cristianismoconsiderou a festa dos maioscomo uma festa de carácterpagano. E como não pudo eli-miná-la, como em outroscasos, acabou por cristianizá-la, fazendo-a coincidir em

3 Sobre a festa popular dos “maios” têm investigado e escrito grandes vultos da nossa cultura. Entre eles temos que destacar a Manuel Murguia, ForentinoLópez Cuevilhas, Vicente Risco, Benito Vicetto, Fermím Bouça-Brei, Joaquím Lourenço (Xocas), Luis Tobio, Filgueira Valverde, Jesús Taboada Chivite, CarreAldao, António Fraguas, Clódio González Pérez, Felipe-Sen´m López-Gómez e, muito especialmente José-Ramóm e Fernández Ojea (conhecido polo pseu-dónimo de “Ben-Cho-Shei”) que foi um dos galegos bons e generosos que mais investigaron sobre “os maios” conservando um arquivo sobre o tema e umaextraordinária biblioteca, felizmente recuperada pola Deputação Provincial de Ourense, e que pode ser consultada nos baixos desta institução ourensana. EmPotugal temos que destacar entre os investigadores mais importantes sobre esta festa a Rui de Serpe Pinto, António Lourenço Fontes, Ernesto Veiga de Oliveira,Theófilo Braga, e o grande etnógrafo José Carao Baroja. O livro de James Frazer, La rama dorada (Madrid, F.C.E., 1984) é realmente interessante paraentender muitas das claves das festas que configuram o denominado ciclo do Maio até a das fogueiras do S. João que abrem o solstício de verão.

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muitos lugares (como emOurense) com a festa da Sta.Cruz, e incluindo elementos esímbolos tipicamente cristia-nos. As cruzes na cima dosmaios, os maios figurativosem forma de cruz, a festa típi-ca de Laza, são exemplosvivos e paradigmáticos da cris-tianização da festa populardos maios.

Menção aparte merece a opi-nião do grande galego e gale-guista, o ourensano José-Ramóm e Fernández Ojea(“Ben-Cho-Shei”), um dosmaiores estudosos da festa,que colocou a origem destaformosa festa nos cultos pri-maverais na honra da deusaAfraodita (deusa grega doamor), da deusa Astarté fení-cia, da deusa babilónica Militae da Istar asíria; diferentes

nomes para um mesmo mode-lo de densa do amor. Tantasopiniões sobre o tema obri-gam-nos a ser eclécticos, con-siderando as mesmas parciais,mais não exentas de certeza everdade, e fazendo uma sínte-se e uma integração das mes-mas. Polo que concluimossobre esta importante festa:a) Tráta-se duma manifestaçãorelacionada com a fecundida-de vegetal (também animal ehumana).b) A origem e procedência édiversa, pola variedade de for-mas, ritos e ceremónias.c) Cronologicamente, a festavem da pré-história, desenvol-vendo-se até a Idade Média epode que ainda mais recente. d) Deve sinalar-se o decisivopapel do Cristianismo queacabou com muitas festas con-sideradas pagãs, anhorououtras e fez jurdir outrasnovas para ocupar o lugar dassuprimidas.e) Os maios humanos (tam-bém chamadas “maias”)podem ser consideradoscomo os maios mais auténti-cos e, desde logo, como osmais primitivos e antigos.Crianças, e jovens disfraçadoscom fiuncho, flores, folhas,ervas, espadanas, etc. configu-ram o verdaderio maio, susti-tuido posteriormente polosmaios figurativos e engebres,piramidais e artísticos emOurense, e cómicos em Ponte-Vedra.

GEOGRAFIA DA FESTA

Precisamente é interessantever também os lugares nosque se celebrou e ainda secelebram os maios, ao largo eancho de toda a Europa. A

Europa Nórdica e Central –sãomuito interessantes os cele-brados na Baviera alemana– ePortugal (“maias” e arcos demaio” devem ser lugades adestacar na celbração destafesta primaveral.

Na Galiza, a Nossa Terra,temos que destacar muitoespecialmente, com as suaspeculiaridades e os seusmodelos de maios e coplas, aslocalidades nas que ainda, porsorte, se mantém a festa. Esteé o feliz caso de Compostela,Ourense (lugaro onde se dá omaior índice de participaçãonos últimos anos), Laza (como seu maio especial),Portomarím e a vizinha locali-dade de Vila-Franca do Berço–em ambas com maios huma-nos–, Ponte-Vedra, Redondela,Marím, Poio, Vilagrcia de

ARCO-MAIO de TABAGÖM do ano 1956

ARCO-MAIO de TABAGÖM do ano 1980

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Arousa e Caldas de Reis.

Pola sua parte, está datada acelebração (antiga ou recen-te) desta festa emPontedeume, Corunha, Portodo Som, Portosim, Betanços(onde eram famosas as“maias”), Arca, Carnota, Cee,Muros, Noia, As Pontes,Rianjo, Ribeira, Narom, Urdilde Vilajoám, Sangenjo,Combarro, Carril, Tui, Arcade,A Estrada, Baióm, Ons,Baiona, Vila-Nova de Arousa,Portonovo, Bueu, Cambados,Vigo, Cangas do Morraço,Catoira, Tabagóm (com osfamosos e gigantescos “arcosde maio”), Viana do Bolo,Lobeira, Toém, Castrelo doVal, Leiro, Verím, O Barco deVal-de-Orras, Boborás,Carvalhinho, Castro Caldelas,Celanova, Ribadávia, Riós,Alhariz, Coles, Ribadeu,Viveiro, Mondonhedo, Lugo,As Nogais, Queiroga, Vilalva eMonforte de Lemos.

AS COPLAS E OS MODELOS DE MAIOS

Desconhece-se também omomento da a parição dascoplas cantadas arredor domaio ou polo maio humano.Se bem pode supor-se que jána cultura grega (que tantaimportância lhe dava à músicae ao canto) havia coplas. E aseguir também na culturaromana. Na Idade Média jáestá datado o canto das coplaspolos maios humanos.

Primeiro as coplas versifica-das eram uma homenagem ànatureza à que cantavam. Nosúltimos séculos e temposcomeçaram a aparecer ascoplas satíricas e crítias.Durante a dictaduras deviampassar censura, e muitasforam censuradas. Como tam-bém, bem por ordem dopoder eclessiástico ou dopoder civil, estiveram muitoproibidas as “maias” e os dis-fraçes das nenas em forma dasmaias romanas, por considerá-las paganas.

4

Polo que se refire aos modelosde maios na Galiza e Portugalconvém destacar especial-mente os maios-ramos ouramos de maio, que são osmaios sigelos, os maios huma-nos ou maios viventes (comomais lhe gostava a Risco deno-miná-los), os que para nós sãoos mais antigos, auténticos eprimitivos e que ainda se con-sevam em Vila-Franca do

4 É muito interessante a leitura dos livros de Clódio Conzález Pérez sobre a Festa dos Maios publicados por Ir Indo e pola Deputação Provincial de Ponte-Vedra, para conhecer as proibições que tiveram que sofrer os mais e as coplas.

Debuxo de Castelao

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Berço e Portomarim e esta-mos a recuperá-los emOurense. Assim mesmo osmaios figurativos (em formacónica ou piramidal), tambémchamados engebres, os maiosartísticos própios de Ourense,os barcos de maio em zonasmarinheiras, as maias, as cru-zes de maio, os arcos do maioe os jogos dramáticos de Laza.

OS MAIOS DE OURENSE

No labor de recuperação dafesta dos maios de Ourenseconvém destacar à CâmaraMunicipal e às diferantes cor-porações e às persoas comsensibilidade para com estafesta que ajtaram a maté-la:“Ben-Cho-Shei”, JoaquimLourenço (“Xocas”), BlancoGuerra, Rego Nieto, HenriqueBande, J.A. Tarrio, A. Fidalgo

Santamarina, Vicente Risco,Cuevilhas, Otero Pedraio,Anxo, Paulino Izquierdo,Xavier Paz e Balbino Álvarez.E a entidades como as asso-ciações de vizinhos –nomea-damente as de Rabo de Galo,Seixalvo e Cabeza de Vaca–colégios como CurrosEnríquez e As Lagoas, aASPGP nos últimos anos, cen-tro “Guillelme Brown”,“Auriense”, “Meendinho”,“Gente da Barreira”, etc.

Segundo o ourensano deCenlhe Clódio González Pérez–o maior estudoso e investiga-dor actual da festa– o primei-ro documento sobre os maiosde Ourense é do ano 1849,escrito por Pascual Madoz noseu Diccionario geográfico-estadístico e histórico deEspaña. Assim mesmo desta-ca que a principios de século

foi muito importante o labordesenvolvido para recuperaresta festa em Ourense por:Aigínio Ameijeiras, directorem 1909 do semanário O TioMarcos da Portela, e tembémo redactor deste jornal XavierPrado “Lameiro”. Merecemdestacar-se também ModestoFernández, António Saco eArce e os homens ourensanospertencentes às Irmandadesda Fala, pois durante os anos17, 18 e 19 tiveram os maiosde Ourense grande resplan-dor. De dez ou quince anospara acá existe uma grandeparticipação que fazem destafesta em Ourense a mais for-mosa e viva de todas as cícli-cas do ano, sendo um exem-plo para o resto de localidadesda Galiza. Mais convém –ade-mais de manter os que já há–que se recuperem os maioshumanos, as cruzes de maios,os ramos de mordomos e pro-cessionis, as coplas tradicio-nais, os sinos do remate e osacrifício final do maio artísti-co ou engebre tirando-o desdea Ponte Velha ao Minho oudesde a Horta do Concelho aoBarbanha, com se fazia háanos. Porque a natureza devevoltar à natureza. E potenciarem todos os centros de ensinoesta festa.

A SUA DURAÇÃO

A celebração da Festa dosMaios transcorre nos mesesde Março, Abril ou Maio.Parece que o dia mais própriona Galiza é o do 1 de maio;mas em muitos lugares passouao dia 3 para cristianizá-la,fazendo-a coincidir com afesta cristiana da Santa Cruz.

A. Portela

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O feito de que em quase todosos lugares se fizesse a Festadoa Maios no primeiro de méspode que tenha relação com acelebração que nesta datafaziam os romanos á deusa“Bona Dea”, charnada Maia,pradroa do mes, em honor daque se celebravam as festasChamadas “Florália”, que fina-lizavam o dia 3; era realmentea Festa da Primavera e dasFlores.

ELEMENTOS DOS MAIOS

A) A árvore do Maio.É uma árvore trazida domonte. Às vezes roubada, quese vai procurar pola noite etraz-se nurn carro que chiemuito no seu eixo, para quedesperte a todos os vizinhos.Chanta-se no sítio mais visíbelda vila, enfeita-se com fitas decores, flores, bolos, roscas,ovos, chouriços, etc. O ritualé praticamente o mesmo naAlemanha,a Irlanda, a Espanhae notros pontos da Europa.

B) O Rei do Maio.Tambén chamado “Conde doMaio”, “Conde das Flores” ou“Rei da Páscoa”. Leva umacoroa de flores e val cobertode folhas verde às vezes pín-tam-lhe a cara de preto pararepresentar o espíritu invisí-vel.Polo que se refere à Galiza, ochamado “Maio” vem ser o“Rei do Maio” europeu erepresenta-o um raparigo.Haveria que pó-lo em relaçãocom o Adám de Laza.

C) A Rainha do Maio.Chamada também “Rosa do

Maio” ou “Maia”. Existe emquase toda Europa, desde oséculo VIII. É uma bonecacoberta de ramalhos e alfaias,colhida pola mão dum rapaz;leva uma procissão detrás.Num lugar público mantem-na num nicho com flores e ascompanheiras padem para adote.Na Galiza a “Maia” ou “Penla”(Redondela) é a única mostraque fica.

D) Ramos nas casas e nas lei-ras.Principalmente na provin-cia de Lugo enfeitam as casase os carros de bois com gies-tas e codesos, costume quepassou às festas do Corpus.Nesta terra sacode-se umramalho molhado em águaabençoada.

E) O “Maio”.E um homem ou raparigocoberto de folhatos e flores. Émais próprio do Norte daGaliza.Os moços e nenos ou miúdosque acompanham o Maio can-tam arredor dele coplas tradi-cionais, pedindo “maiolas”,“maias” (castanhas secas) ounozes, e agora também din-heiro. Os do coro levampauspara marcar o som. O maiocanta a estrofa principal e ocoro repete-a. Vam-se enga-dindo às coplas tradicionaisoutras dirigidas aos que darãoa esmola.

Tradicional

Ai vem o Maio pola rua arriba ai vem o Maioque Deul-o bendiga

X. Lorenzo

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Dirigida

Aqui vem o Maio pola rua arriba abra-nos a porta senhora Marta.

Aos que não colaboram comum donativo dirigem-se-lhecarrascos, fiuncho, etc.,

segundo as zonas. Com os“aguinaldos”, consoadas oupresentes que juntam, fam arepartição dando-lhe umamaior parte ao Maio, e com oresto que fica fazem umamerenda.

F) O Maio figurativo.Apresenta as seguintes for-mas: cuniforrrie, piramidal,estrelado, de cruzeiro, dehórreo ou espigueiro, debarco, de palheiro. Adornam-nos com ramalhos, folhas, flo-res e fiuncho e ovos. Pode sertransportado por meio derodas e angarelas.‘I’em-se dado verdadeirasobras de fantasia repre-sentando monumentos,torres, igrejas, moinhos, pon-tes, castelos, etc.

G) Os Concursos.Não se conhece a origemdeles exactamente, mas sabe-mos que são antigos. A pri-meiros de século organizaram-se com prémios para recu-perar este costume ou tra-dição que se estava a perder.Hoje há concelhos e entida-

des culturais que organizam aFesta dos Maios e outorgam osprémios (dinheiro e roscões).

H) Os barcos.Armam-se com cartão e papelsobre uns varais de madeira.Aduviam-nos com bandeiras eflores. Hai-nos pequenos, delevar na mão, e grandes, deandar sobre rodas. Tem coplaspróprias.

Aqui vem o nosso Maioesta fragata valentecom bandeiras e canhõesque são o pasmo da gente.

I) As cruzes.Parecem uma importação ousobreposição da festa, masvem de antigo. Saen o dia daSanta Cruz e o dia 1 de maio;supõem uma cristianização daFesta pagana. Levam-nasmaiormente as meninhasadornadas com ristras e flo-res. As cantigas ou cançõessom de carácter religioso.São Festas dos Maios impor-tantes as de Pontevedra,Marim, REdondela, Vilagarcia,Laza, etc.

BIBLIOGRAFIA:

-BEN-CHO-SHEI (José Ramóm eFernández Ojea): “Os Maios deOurense”. Revista Galicia Emigrante, nº34 - Abril - Maio - 1958 (ano V) p. 5-6.-Idem: Diário La Región, artigos do sdias 14-V-1968 e 6-V-1972.-Idem: Vellas Tradiciós da nosa Galiza:Os Maios. Corunha, 1971, Clube deDirigentes de Empresa-Cámara Oficialde Comercio, Industria e Navegación.-ASPGP: Os maios (Unidade Didáctica),Ourense,1984 (apdo. 447 - 32080,Ourense). -GONZÁLES PÉREZ, Clódio (1989): Afesta dos maios. Vigo: Ir Indo.-Idem (1991): As festas cíclicas do ano.Compostela: Museu do Povo Galego.

-Idem (1989): A festa dos maios enGaliza. Ponte-Vedra: DeputaciónProvincial (Nota: ao final desta livrorecolhe-se uma abundante bibliografiasobre a festa dos maios, tanto de livroscomo de revistas e jornais).-LÓPEZ de SOTO, Joaquín (1972): Osmaios en Pontevedra. Ponte-Vedra:Casal de Ediciós.-LÓPEZ GÓMEZ, Felipe-Senén (1996) :Maios. Corunha: Bahía Ediciós (Nota:contém 24 diapositivos).-PAZ GARÇA, Xavier (1994): “Osmaios humanos” in Rev. Eirozinho dosCavaleiros nº 1, ano 94, p. 2.-PAZ RODRÍGUEZ, José (1985, baixo opseudónimo de “Pepe da Torcela”): “Osmaios: uma festa popular galega”, inRev. Bisbarra nº 2, Ourense, 1985,

p.12-13.-Idem (1994): “A Festa Popular de «OsMaios» na Escola”, in Rev. Eirozinhodos Cavaleiros nº 1, ano 94, p. 4.-RISCO, Vicente (1979): “Etnografia:cultura espiritual” in Historia de Galiza,Vol. 1, p. 648-665. Madrid: Akal (coor-denada por Otero Pedraio).-TABOADA CHIVITE, Jesús (1972):Etnografia galega (cultura espiritual).Vigo: Galaxia, p. 66-69.-TARRIO FDEZ., J. Antonio (1989):Cultura, educaión e tradicións popularesna Galiza, Sada: Ed. Do Castro (tese dedoutoramento).-VEIGA de OLIVEIRA, Ernesto (1984):Festividades cíclicas em Portugal.Lisboa: Pubicações Dom Quixote. Nº 6.Col. “Portugal de Perto”. P. 109-112.

A. Portela

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Apénd i ces documenta i s