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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO ... · H2, O 2, N 2 e CO 2; os polímeros como o PET (polietileno tereftalato), o PVC (policloreto de vinila); a molécula

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

MODELOS MOLECULARES: CONSTRUÇÃO E UTILIZAÇÃO NO

ENSINO DE LIGAÇÃO COVALENTE E ESTRUTURA

MOLECULAR

Autora: Clistina Paula Soares da Costa Cruz1

Orientadora: Profa. Dra. Rení Ventura Da Silva Alfaya2

RESUMO

Pensando que a escola deve incentivar a prática pedagógica fundamentada em diferentes metodologias, neste artigo é discutido o uso de uma metodologia para trabalhar o conteúdo de ligações covalentes, de maneira a facilitar o aprendizado dos alunos. Esta metodologia consistiu em construir e utilizar modelos moleculares como recurso didático para melhorar o estudo, a assimilação e o aprendizado de conceitos químicos que envolvem ligação covalente e estrutura molecular. Para esta atividade foram confeccionados modelos moleculares usando massa de biscuit e hastes flexíveis e com estes foram montados “kits” para serem usados em sala de aula. Este trabalho foi desenvolvido no primeiro trimestre do ano de 2014, no Colégio Estadual Souza Naves (CESN) - Rolândia - PR, com os alunos do primeiro ano do Ensino Médio. O conteúdo foi ensinado primeiro de maneira tradicional, na qual o professor explica o conteúdo e os alunos simplesmente escutam sem participação ativa e, em seguida, foi realizada uma avaliação. Em outra aula, foram montados os “kits” de modelos moleculares, momento no qual os alunos tiveram participação ativa tanto na montagem dos “kits” como no uso destes para representar a formação das moléculas. A análise das provas aplicadas tanto para os alunos que participaram do experimento como para aqueles que não, mostrou que os alunos que participaram do experimento tiveram um rendimento bem melhor, mostrando um melhor entendimento da formação das moléculas e do seu arranjo tridimensional.

Palavras-chave: Modelos moleculares. Ligação covalente. Ensino médio. Recurso didático. Geometria molecular.

1 Professora PDE 2013, Especialista em Administração, Supervisão e Orientação Escolar pela UNOPAR, Especialista em Física para o Ensino Médio pela UEL, Bacharel e Licenciada em Química pela UEL – Professora na área de Química no Colégio Estadual Souza Naves na cidade de Rolândia-PR. 2 Graduada em Licenciatura em Química pela Universidade Estadual de Maringá e Mestre e Doutora pela Universidade Estadual de Campinas – Professora Associado C do Departamento de Química da Universidade Estadual de Londrina na cidade de Londrina-PR.

1. INTRODUÇÃO

A preocupação com o desenvolvimento de materiais didáticos para o

ensino de Química é muito grande e tem sido objeto de pesquisa de inúmeros

pesquisadores em todo o mundo, uma vez que estes facilitam o processo de

aprendizagem.

A Lei Número 9.394/96 – Lei De Diretrizes e Bases (LDB), no artigo 36

parágrafo II diz: “adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem

a iniciativa dos estudantes”. Portanto, o profissional do ensino da Química

deve fazer isto e, ao fazê-lo, se puder construir seu próprio conjunto de material

didático poderá adaptá-lo da melhor maneira possível e que julgar necessária,

sempre com o intuito de melhorar o processo de ensino e aprendizagem. No

caso de modelos moleculares, as vantagens frente aos comerciais são: número

de peças suficiente; representação de moléculas de interesse para cada aula;

versatilidade e baixo custo.

No que diz respeito às dificuldades de aprendizagem de ligação

covalente no Ensino Médio, estas normalmente estão relacionadas com a

maneira como o assunto é abordado.

No ensino de ligação covalente, quando se trata do arranjo estrutural

das moléculas, tem-se uma dificuldade na visualização tridimensional destas

estruturas. A utilização de modelos moleculares desenvolve uma habilidade de

representação importante e facilita a visualização tridimensional das moléculas.

Além disso, favorece a compreensão dos principais conceitos relativos ao

estudo de ligações covalentes e geometria molecular no ensino médio. Diante

do exposto surge um problema que é o fato da maioria dos alunos

apresentarem muita dificuldade em imaginar as moléculas no espaço

tridimensional, o que exige maior abstração por parte deles. Ainda assim,

pouca ênfase é dada pela maioria dos professores no tratamento do assunto

por meio de recursos didáticos diferentes, permanecendo na tradicional aula

com a utilização de quadro negro e giz.

Desta forma foi proposta a construção e a utilização de modelos

moleculares, confeccionados pelos próprios alunos, orientados pela professora,

como recurso didático para o ensino de ligação covalente visando uma

aprendizagem mais significativa pelos alunos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Sabemos que os alunos, de uma maneira geral, demonstram

dificuldades em aprender Química, nos diversos níveis de ensino, porque não

percebem o significado ou a importância do que estudam.

Para Freire (1996), na educação, ensinar exige alegria e esperança.

Portanto, para tornar o ensino e a aprendizagem de Química, menos cansativo

e um pouco mais atraente, devemos investir em procedimentos didáticos

alternativos, em que os alunos possam adquirir conhecimentos mais

significativos, tentando então o professor desvincular-se de metodologias mais

tradicionais e que ainda estão presentes nas salas de aula.

A reflexão sobre o ensino de Química e o seu papel na escola, mais

especificamente no Ensino Médio, passa pela caracterização do conhecimento

químico, de sua produção científica, representando a caminhada do

pensamento da sociedade humana, como tradução da realidade da natureza.

O conjunto de conhecimentos de Química, acumulado ao longo dos tempos,

trata da composição dos materiais, das transformações químicas sofridas por

estes e das variações energéticas que as acompanham. (Urquieta, 1991).

Segundo este mesmo autor essas considerações implicam que ensinar

Química pressupõe a compreensão da natureza e do seu processo de

elaboração, além do compromisso com os conhecimentos elaborados

universalmente e convalidados.

A Química é uma ciência que apresenta intensas relações com as

atividades desenvolvidas pelo ser humano, pois desempenha nelas papel de

grande importância. Nesse sentido, contudo, é preciso reconhecer que a

compreensão do significado real dos fenômenos químicos surgiu a

relativamente pouco tempo, tendo em vista que foi a partir do século XVIII que

a Química começou a atingir foros de ciência. (Giesbrecht, 1979).

Hoje, devido à enorme utilização do conhecimento químico, tem-se

atribuído relevante importância à pesquisa das relações entre ciência e

tecnologia, de modo a fornecer meios para que o estudante, em função da sua

aprendizagem, possa distinguir e avaliar o avanço tecnológico – científico,

equacionando-o pela relação de causa e efeito.

A compreensão do conhecimento químico e de sua aplicação como um

todo, como uma unidade, é, por sua vez, parte do conhecimento universal com

o qual deverá estar relacionado. Para que atinja o todo geral, torna-se

importante a oportuna análise e correlação dos pontos de interface desses

conhecimentos com o de outras áreas exatas. O caráter integrado que a

Química possui com as ciências mais próximas requer uma abordagem mais

adequada e realista, pois a interdisciplinaridade deve permear o conteúdo de

cada ciência em separado, de tal forma que as relações entre diversas

disciplinas se revestirão de extrema importância para apresentar a Química

como um fator de integração social, conforme aponta Giesbrecht (1979).

Com o objetivo de promover o entendimento conceitual em estudantes

do Ensino Médio tem-se buscado várias alternativas e, a construção de

conjuntos de modelos moleculares surge como uma ferramenta de grande

importância que deve facilitar a visualização do arranjo espacial das moléculas,

sua assimilação e o aprendizado de conceitos que envolvam ligação covalente,

geometria molecular entre outros.

Atualmente, diversos trabalhos, como os de Ferreira (2008), Clement

(2000), e Chassot (2003) enaltecem a importância do uso de modelos

moleculares na mediação da aprendizagem, gerando discussões acerca do

significado dos mesmos para o ensino e aprendizado das ciências, e das

concepções dos professores a respeito de seu uso como recurso didático de

ensino. Segundo Lima e Neto (1999), a forma como alguns temas específicos

de Química são abordados em sala de aula, leva o estudante do Ensino médio

a imaginar a Química como uma ciência puramente abstrata. Neste aspecto,

diversos fatores colaboram para isso, como por exemplo, no caso de ensinar

geometria molecular, o fato dos discentes não conseguirem imaginar o espaço

tridimensional.

No século XIX muitos químicos criaram modelos em escala para

entender melhor a estrutura molecular. Temos uma ideia mais clara das

características que afetam a estrutura e a reatividade molecular quando

examinamos a forma tridimensional de uma molécula. (Francis A. Carey.

Química Orgânica, 7a edição, Editora Bookman, 2011)

Segundo Ferreira (2000) a utilização de material didático no ensino de

Química, usado em sala de aula ou em laboratórios didáticos, tem importância

historicamente reconhecida no processo de ensino e aprendizagem. No

entanto, alguns dos materiais didáticos (livros, apostilas, modelos moleculares,

etc.) utilizados nesse processo, foram desenvolvidos há décadas e continuam

sendo utilizados sem terem sofrido alterações significativas.

O autor cita ainda que a década de 1970 foi marcada pelo

desenvolvimento de projetos que visavam a preparação de professores e a

adequação de materiais didáticos para o uso em sala de aula. São apontadas

inúmeras dificuldades em se alcançar essas metas, devido à falta de condições

mínimas (laboratórios, equipamentos, salas de aula, etc.), nas escolas

públicas, para o desenvolvimento das aulas.

Portanto, diante da dificuldade de aquisição de materiais didáticos,

principalmente no sistema público de ensino, o ensino de Química desperta

pouco interesse do aluno e isso dificulta o trabalho do professor, uma vez que o

aluno não tem motivação para aprender.

Pensando nisto foi proposta uma metodologia diferenciada para o ensino

de um conteúdo, na qual professor e alunos trabalharam juntos para promover

a aprendizagem, com intuito de tornar a aula mais atraente e os alunos mais

interessados em aprender.

O conteúdo em foco foi o de ligações covalentes, dando ênfase à forma

das moléculas formadas por este tipo de ligações, e foi desenvolvido por meio

da construção de modelos moleculares e utilização destes na simulação da

formação de substâncias moleculares. Para esta simulação foram montados

“kits” de modelos moleculares confeccionados com massa de biscuit e hastes

flexíveis.

Estes conteúdos são muito importantes porque há muito se sabe que as

propriedades de uma substância dependem do tipo de ligação química que une

seus átomos e da sua estrutura.

São muitos os exemplos de compostos formados por ligações

covalentes: o líquido mais precioso presente em nosso planeta, a água (H2O);

os combustíveis comuns têm muitos compostos covalentes como o metano

(CH4), o etanol (CH3CH2OH); os gases presentes na nossa atmosfera como o

H2, O2, N2 e CO2; os polímeros como o PET (polietileno tereftalato), o PVC

(policloreto de vinila); a molécula de ácido desoxirribonucleico, o ADN, ou mais

conhecido como DNA por causa do nome em inglês (deoxyribonucleic acid).

Embora os princípios básicos sobre estrutura e ligação sejam

exemplificados utilizando-se moléculas ou íons formados por uns poucos

átomos, estes princípios podem ser aplicados a moléculas com dimensões

muito maiores, como, por exemplo, o DNA. (KOTZ, 2002). Todos os compostos

orgânicos e muitos dos inorgânicos são compostos moleculares, logo,

formados por ligações covalentes.

2.1. A LIGAÇÃO COVALENTE E ESTRUTURA MOLECULAR

Segundo Kotz e Treichel (1998), forma-se uma ligação covalente

simples quando dois átomos compartilham um par de elétrons. A ligação

covalente ocorre, em geral, entre não metais, elementos que estão no canto

superior direito da tabela periódica.

O compartilhamento de elétrons entre átomos acontece quando a

transferência de elétrons é energeticamente “desfavorável”. Os elétrons

compartilhados atraem os núcleos e isso provoca uma diminuição da energia

potencial dos átomos quando a ligação covalente se forma. Uma ligação

covalente resulta do compartilhamento de um par de elétrons entre átomos. A

força de ligação resulta da atração entre estes elétrons compartilhados e os

núcleos positivos dos átomos que participam da ligação. (BRADY, RUSSELL e

HOLUM, 2002).

Ex.:

Quando átomos se unem por meio de ligações covalentes são formadas

moléculas e quando se fala de molécula não se pode deixar de lado o seu

arranjo estrutural, o qual pode ser conhecido determinando-se sua geometria

molecular. A geometria molecular descreve como os núcleos estão

posicionados uns em relação aos outros, segundo Peruzzo e Do Canto (2010).

Pode-se prever a forma das moléculas utilizando a chamada teoria da

repulsão do par eletrônico da camada de valência (RPECV). Esta teoria é

baseada na noção de que os pares de elétrons da camada de valência,

carregados negativamente, permanecem tão separados quanto possível, de

modo a minimizar suas repulsões mútuas. (BRADY, RUSSELL e HOLUM,

2002).

São cinco as geometrias previstas para as moléculas pela teoria

RPECV, mostradas na Figura 1, para que os pares de elétrons ligados ao

átomo central fiquem mais afastados possível uns dos outros. Estas são as

geometrias de par de elétrons (GPE).

Figura 1. Geometrias de par de elétrons previstas pela teoria RPECV.

Para determinar a geometria da molécula (GM) ou a forma da molécula

só se considera os pares de elétrons ligados entre dois átomos. Então, se

sobre o átomo central não tiver nenhum par de elétrons isolados as geometrias,

GPE e GM, coincidem, caso contrário elas são diferentes. Por exemplo, as

moléculas de CH4, NH3, H2O têm quatro pares de elétrons em volta do átomo

central, logo, todas têm GPE tetraédrica, mas a GM ou a forma da molécula

são, respectivamente, tetraédrica, pirâmide trigonal e angular, como mostra a

Figura 2.

Figura 2. Geometria das moléculas ou forma das moléculas de CH4, NH3, H2O.

Quando se determina a geometria molecular, um parâmetro muito

importante é o ângulo de ligação. Por exemplo, nas moléculas lineares como

CO2 e BeF2 ele vale 180°; na trigonal como o BF3, vale 120°; e nas tetraédricas

como CH4 e CCl4, vale 109,5°.

Na água, H2O, (angular) e na amônia, NH3, (pirâmide trigonal), os

ângulos entre as ligações valem, respectivamente, 105° e 107,5°. O fato destes

ângulos serem menores do que 109,5° é explicado pela acentuada repulsão

que existe entre os pares de elétrons não compartilhados. (PERUZZO e DO

CANTO, 2010).

3. METODOLOGIA

O projeto foi desenvolvido no primeiro trimestre do ano de 2014, no

CESN - Rolândia - PR, localizado na Rua Monteiro Lobato, no 421, com os

alunos do primeiro ano do ensino médio do período matutino.

Com o projeto pretendeu-se dar condições para os alunos

compreenderem como ocorre a formação de substâncias nas quais os átomos

são unidos por ligações covalentes e suas formas moleculares, por meio da

construção e utilização de “kits” de modelos moleculares. Assim, o

desenvolvimento do projeto foi realizado por meio da aplicação do conteúdo de

uma unidade didática e seguiu as etapas abaixo.

� Etapa 1

A professora ensinou como ocorrem as ligações covalentes e estrutura

molecular, focando qual a forma das moléculas, utilizando exemplos de

compostos formados por estas ligações que são comuns no dia a dia dos

alunos e ao final verificou o que os alunos aprenderam por meio de um

questionário avaliativo. Nesta aula os recursos utilizados foram somente o

quadro negro e giz.

� Etapa 2

Após a avaliação do questionário, a professora propôs aos alunos a

realização de um experimento no qual montaram, passo a passo, kits de

modelos moleculares para representar a formação das ligações covalentes e

as estruturas moleculares, visando facilitar e melhorar o entendimento deste

conteúdo. Os alunos foram divididos em cinco grupos.

Os materiais necessários para os “kits” e o procedimento para a

montagem destes são descritos a seguir

.

Materiais - Massa de biscuit

- Hastes flexíveis

-Tinta acrílica (preto, azul, branco, vermelho, verde-escuro, verde-claro,

amarelo, púrpura)

-Tesoura

- Transferidor

- Balança digital Procedimento

A massa de biscuit foi usada para elaboração dos modelos moleculares,

tendo cuidado de selecionar as devidas cores de acordo com a tabela padrão

dos elementos, encontrada nos modelos comerciais (Tabela 1) (GONÇALVES

ET AL, 2007).

Para a representação dos átomos individuais, utilizando a massa de

biscuit, foi preciso fazer pequenas esferas, com um tamanho relativo de acordo

com a massa de cada elemento, isto é, átomos maiores foram representados

por esferas maiores e os menores por esferas menores, pesando-se então

massas diferentes dependendo do tamanho do átomo. Sendo assim, o átomo

de hidrogênio foi representado pela esfera de menor tamanho. Antes da massa

de biscuit secar por completo, as esferas foram perfuradas com o palito em

posições de acordo com a geometria da molécula a ser representada e foram

medidos, com transferidor, os ângulos de ligação. As esferas tinham diferentes

cores, dependendo do átomo representado, a esfera teve uma determinada

cor. Teve-se o cuidado de não deixar as esferas entrarem em contato umas

com as outras durante a secagem. A massa foi deixada secar ao ar, por um

período entre 12 e 48h. As hastes flexíveis foram usadas para as ligações entre

as esferas. Para isto, foram retiradas das mesmas as pontas de algodão e

cortadas, com uma tesoura, em pedaços de comprimento entre 2,5 e 3 cm.

Tabela 1: Identificação dos elementos por cores de acordo com a tabela

padrão dos elementos (GONÇALVES ET AL, 2007).

ELEMENTO COR

Carbono Preto

Nitrogênio Azul

Hidrogênio Branco

Oxigênio Vermelho

Cloro Verde-escuro

Flúor Verde-claro

Enxofre Amarelo

Fósforo Púrpura

As moléculas escolhidas para serem representadas pelos modelos de

biscuit foram H2, O2, N2, CO2, H2O, NH3, CH4, CH3CH2OH, H2SO4, HCl,, CF4,

PH3, entre outras, porque são bastante conhecidas no cotidiano dos alunos.

� Etapa 3

Depois da preparação dos “kits” e da utilização destes para a montagem

de moléculas, utilizando vários exemplos diferentes de compostos e da

discussão destes exemplos, a professora voltou a questionar os alunos sobre

seu conhecimento de ligações covalentes, para verificar o quanto o uso dos

“kits” contribuiu para que estes alunos compreendessem melhor o conteúdo

trabalhado. Outra maneira de avaliar a eficiência do uso dos “kits” foi a

comparação das notas das provas dos alunos que participaram desta

experiência com as notas daqueles que não participaram.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ensinar os conteúdos de Química já não é uma tarefa fácil, ainda mais

sendo esta uma matéria considerada pelos alunos como de difícil

aprendizagem, portanto, a construção e a utilização de modelos moleculares

tiveram como objetivo melhorar o aprendizado do conteúdo ligação covalente e

estrutura molecular.

Em uma primeira averiguação com os alunos foi verificado que eles não

tinham conhecimento sobre ligações covalentes, forma das moléculas, e qual a

influência que a forma da molécula tem nas suas propriedades. A professora

então deu várias aulas referentes alguns conteúdos, tabela periódica, teoria do

octeto, ligação iônica, ligação covalente e geometria molecular. Iniciando o

assunto ligação covalente utilizou-se vários exemplos de moléculas de

compostos que são comuns no cotidiano dos alunos de modo que estes

pudessem ver que era importante aprender este conteúdo. Depois disso foi

feita uma avaliação, por escrito, sobre e quanto os alunos tinham aprendido do

conteúdo ensinado e verificou que para a maioria ainda não tinha entendido

bem o conteúdo em questão.

Visto isto, partiu-se para uma estratégia de ensino diferente, onde a

professora e os alunos montaram os “kits” conforme descrito anteriormente, na

parte de metodologia, para ajudar na visualização da forma das moléculas. Foi

bastante interessante porque mesmo os alunos que não demonstravam

nenhum interesse pelo assunto passaram a querer montar as moléculas e

querer entender porque tinham esta e não aquela forma. Foi interessante notar

como a turma se transformou, indo de uma apatia geral quando a professora

deu uma aula expositiva para uma turma totalmente interessada e participativa

durante a aula em que montaram e utilizaram os “kits” para o estudo das

moléculas. As fotos apresentadas nas figuras mostram os materiais

necessários para preparar os “kits”, a pesagem, a medição do ângulo de

ligação, representações dos átomos, (Figura 1, Figura 2, Figura 3) e depois

com várias moléculas montadas pelos alunos (Figura 4).

Figura 1. Pesagem da massa de biscuit.

Figura 2. Medindo o ângulo de ligação.

Figura 3. Representações dos átomos colocados para secar após pintar.

Figura 4. Alguns modelos de moléculas montados pelos alunos.

A montagem das moléculas facilitou muito o entendimento de porque as

moléculas têm determinadas formas e é muito importante que os alunos

entendam bem isto uma vez que as propriedades dos compostos moleculares

estão relacionadas com a forma das moléculas. A água (Figura 5), por

exemplo, é polar por causa de sua forma angular, já o dióxido de carbono,

apesar de ter ligações polares, é um composto apolar porque sua molécula é

linear.

Figura 5. Representação da molécula da H2O.

Após terem trabalhado bastante com os “kits” (Figura 6), montando

moléculas de várias formas moléculas diferentes, principalmente de compostos

bem comuns no dia a dia dos alunos, a professora voltou a questionar os

alunos e pode verificar que estes apresentaram uma compreensão bem maior

do conteúdo trabalhado. Isto mostra que o fato dos alunos montarem as

moléculas com os “kits”, fez com que eles conseguissem visualizar a forma

desta e não ficar simplesmente imaginando como ela seria. Então o uso destes

modelos ajudou muito na aprendizagem dos alunos.

Figura 6. Kits de modelos moleculares prontos.

Com os kits de modelos moleculares em mãos, foram escolhidos alguns

alunos da turma que já tinha participado do experimento e com o auxílio

destes, atuando como monitores, a metodologia foi aplicada em outra turma.

Os monitores explicaram a atividade e auxiliaram os alunos na montagem e

uso dos modelos moleculares, tudo isto com a supervisão da professora.

Logo após o encerramento da atividade, foi solicitado aos alunos monitores

que descrevessem o que sentiram no momento em que estavam explicando

aos colegas e a seguir são citadas algumas falas destes:

Aluno 1: De início pareceu ser fácil, mas explicar para eles na prática

não foi nada fácil. Alguns eu tive que explicar desde a tabela periódica, outros

já sabiam, mas o mais desgastante é ter que forçar a voz. Se me

perguntassem “Como foi ser professor?” eu diria sem dúvida: “Difícil,

desgastante e cansativo”, mas gostei da experiência, foi legal.

Aluno 2: Na parte da explicação que foi complicado pois alguns alunos

tinham dificuldade na hora de entender e outros muita facilidade. Depois que

você explica para as pessoas você vê o apuro que o professor passa pra

explicar pra sala toda.

Aluno 3: A minha sensação no momento que tive que explicar os

modelos aos alunos foi de nervosismo, mas com o avanço da aula, já me

sentia mais confortável e seguro, sendo assim, consegui explicar os modelos

melhor e acho que os alunos também entenderam melhor o conteúdo.

A partir das respostas obtidas pode-se afirmar que não é fácil a tarefa

ensinar, mas faz parte do processo ensino e aprendizagem, melhorando o

relacionamento entre aluno-professor e aluno-aluno tornando as aulas mais

dinâmicas e significativas.

É importante usar uma metodologia diferenciada, um recurso didático

para ensinar porque facilita o ensino e os alunos ficam muito mais

interessados em aprender. Este experimento pode ser realizado em qualquer

escola, pois os itens necessários para a preparação dos “kits” são materiais

baratos e fáceis de ser obtidos, inclusive com uma boa parte podendo ser

providenciado pelos próprios alunos fazendo com que eles se sintam mais

incluídos no processo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto de intervenção pedagógica, proposto no Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE) foi desenvolvido no primeiro trimestre do

ano de 2014, no CESN – Rolândia - PR, localizado na Rua Monteiro Lobato, nọ

421, com os alunos do primeiro ano do ensino médio matutino.

A observação de que os alunos inicialmente não tinham conhecimento

sobre o conteúdo e que mesmo após assistirem uma aula tradicional sobre o

assunto estes ainda não tinham conseguido entender, a professora viu a

necessidade de aplicar uma metodologia diferente que foi a aula experimental

onde usaram os “kits” para montar as moléculas. A partir daí os alunos se

tornaram muito mais interessados no conteúdo e tiveram um aproveitamento

bem melhor do que tinham apresentado antes do experimento. Estes “kits”,

preparados de maneira muito simples e com materiais baratos e acessíveis,

logo podendo ser utilizado em qualquer escola por mais simples que seja,

transformou a aula em um evento muito mais atrativo e os alunos se sentiram

parte do processo, pois participaram na confecção dos “kits” e na utilização

destes para montagem das formas das moléculas.

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