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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
MODELOS MOLECULARES: CONSTRUÇÃO E UTILIZAÇÃO NO
ENSINO DE LIGAÇÃO COVALENTE E ESTRUTURA
MOLECULAR
Autora: Clistina Paula Soares da Costa Cruz1
Orientadora: Profa. Dra. Rení Ventura Da Silva Alfaya2
RESUMO
Pensando que a escola deve incentivar a prática pedagógica fundamentada em diferentes metodologias, neste artigo é discutido o uso de uma metodologia para trabalhar o conteúdo de ligações covalentes, de maneira a facilitar o aprendizado dos alunos. Esta metodologia consistiu em construir e utilizar modelos moleculares como recurso didático para melhorar o estudo, a assimilação e o aprendizado de conceitos químicos que envolvem ligação covalente e estrutura molecular. Para esta atividade foram confeccionados modelos moleculares usando massa de biscuit e hastes flexíveis e com estes foram montados “kits” para serem usados em sala de aula. Este trabalho foi desenvolvido no primeiro trimestre do ano de 2014, no Colégio Estadual Souza Naves (CESN) - Rolândia - PR, com os alunos do primeiro ano do Ensino Médio. O conteúdo foi ensinado primeiro de maneira tradicional, na qual o professor explica o conteúdo e os alunos simplesmente escutam sem participação ativa e, em seguida, foi realizada uma avaliação. Em outra aula, foram montados os “kits” de modelos moleculares, momento no qual os alunos tiveram participação ativa tanto na montagem dos “kits” como no uso destes para representar a formação das moléculas. A análise das provas aplicadas tanto para os alunos que participaram do experimento como para aqueles que não, mostrou que os alunos que participaram do experimento tiveram um rendimento bem melhor, mostrando um melhor entendimento da formação das moléculas e do seu arranjo tridimensional.
Palavras-chave: Modelos moleculares. Ligação covalente. Ensino médio. Recurso didático. Geometria molecular.
1 Professora PDE 2013, Especialista em Administração, Supervisão e Orientação Escolar pela UNOPAR, Especialista em Física para o Ensino Médio pela UEL, Bacharel e Licenciada em Química pela UEL – Professora na área de Química no Colégio Estadual Souza Naves na cidade de Rolândia-PR. 2 Graduada em Licenciatura em Química pela Universidade Estadual de Maringá e Mestre e Doutora pela Universidade Estadual de Campinas – Professora Associado C do Departamento de Química da Universidade Estadual de Londrina na cidade de Londrina-PR.
1. INTRODUÇÃO
A preocupação com o desenvolvimento de materiais didáticos para o
ensino de Química é muito grande e tem sido objeto de pesquisa de inúmeros
pesquisadores em todo o mundo, uma vez que estes facilitam o processo de
aprendizagem.
A Lei Número 9.394/96 – Lei De Diretrizes e Bases (LDB), no artigo 36
parágrafo II diz: “adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem
a iniciativa dos estudantes”. Portanto, o profissional do ensino da Química
deve fazer isto e, ao fazê-lo, se puder construir seu próprio conjunto de material
didático poderá adaptá-lo da melhor maneira possível e que julgar necessária,
sempre com o intuito de melhorar o processo de ensino e aprendizagem. No
caso de modelos moleculares, as vantagens frente aos comerciais são: número
de peças suficiente; representação de moléculas de interesse para cada aula;
versatilidade e baixo custo.
No que diz respeito às dificuldades de aprendizagem de ligação
covalente no Ensino Médio, estas normalmente estão relacionadas com a
maneira como o assunto é abordado.
No ensino de ligação covalente, quando se trata do arranjo estrutural
das moléculas, tem-se uma dificuldade na visualização tridimensional destas
estruturas. A utilização de modelos moleculares desenvolve uma habilidade de
representação importante e facilita a visualização tridimensional das moléculas.
Além disso, favorece a compreensão dos principais conceitos relativos ao
estudo de ligações covalentes e geometria molecular no ensino médio. Diante
do exposto surge um problema que é o fato da maioria dos alunos
apresentarem muita dificuldade em imaginar as moléculas no espaço
tridimensional, o que exige maior abstração por parte deles. Ainda assim,
pouca ênfase é dada pela maioria dos professores no tratamento do assunto
por meio de recursos didáticos diferentes, permanecendo na tradicional aula
com a utilização de quadro negro e giz.
Desta forma foi proposta a construção e a utilização de modelos
moleculares, confeccionados pelos próprios alunos, orientados pela professora,
como recurso didático para o ensino de ligação covalente visando uma
aprendizagem mais significativa pelos alunos.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Sabemos que os alunos, de uma maneira geral, demonstram
dificuldades em aprender Química, nos diversos níveis de ensino, porque não
percebem o significado ou a importância do que estudam.
Para Freire (1996), na educação, ensinar exige alegria e esperança.
Portanto, para tornar o ensino e a aprendizagem de Química, menos cansativo
e um pouco mais atraente, devemos investir em procedimentos didáticos
alternativos, em que os alunos possam adquirir conhecimentos mais
significativos, tentando então o professor desvincular-se de metodologias mais
tradicionais e que ainda estão presentes nas salas de aula.
A reflexão sobre o ensino de Química e o seu papel na escola, mais
especificamente no Ensino Médio, passa pela caracterização do conhecimento
químico, de sua produção científica, representando a caminhada do
pensamento da sociedade humana, como tradução da realidade da natureza.
O conjunto de conhecimentos de Química, acumulado ao longo dos tempos,
trata da composição dos materiais, das transformações químicas sofridas por
estes e das variações energéticas que as acompanham. (Urquieta, 1991).
Segundo este mesmo autor essas considerações implicam que ensinar
Química pressupõe a compreensão da natureza e do seu processo de
elaboração, além do compromisso com os conhecimentos elaborados
universalmente e convalidados.
A Química é uma ciência que apresenta intensas relações com as
atividades desenvolvidas pelo ser humano, pois desempenha nelas papel de
grande importância. Nesse sentido, contudo, é preciso reconhecer que a
compreensão do significado real dos fenômenos químicos surgiu a
relativamente pouco tempo, tendo em vista que foi a partir do século XVIII que
a Química começou a atingir foros de ciência. (Giesbrecht, 1979).
Hoje, devido à enorme utilização do conhecimento químico, tem-se
atribuído relevante importância à pesquisa das relações entre ciência e
tecnologia, de modo a fornecer meios para que o estudante, em função da sua
aprendizagem, possa distinguir e avaliar o avanço tecnológico – científico,
equacionando-o pela relação de causa e efeito.
A compreensão do conhecimento químico e de sua aplicação como um
todo, como uma unidade, é, por sua vez, parte do conhecimento universal com
o qual deverá estar relacionado. Para que atinja o todo geral, torna-se
importante a oportuna análise e correlação dos pontos de interface desses
conhecimentos com o de outras áreas exatas. O caráter integrado que a
Química possui com as ciências mais próximas requer uma abordagem mais
adequada e realista, pois a interdisciplinaridade deve permear o conteúdo de
cada ciência em separado, de tal forma que as relações entre diversas
disciplinas se revestirão de extrema importância para apresentar a Química
como um fator de integração social, conforme aponta Giesbrecht (1979).
Com o objetivo de promover o entendimento conceitual em estudantes
do Ensino Médio tem-se buscado várias alternativas e, a construção de
conjuntos de modelos moleculares surge como uma ferramenta de grande
importância que deve facilitar a visualização do arranjo espacial das moléculas,
sua assimilação e o aprendizado de conceitos que envolvam ligação covalente,
geometria molecular entre outros.
Atualmente, diversos trabalhos, como os de Ferreira (2008), Clement
(2000), e Chassot (2003) enaltecem a importância do uso de modelos
moleculares na mediação da aprendizagem, gerando discussões acerca do
significado dos mesmos para o ensino e aprendizado das ciências, e das
concepções dos professores a respeito de seu uso como recurso didático de
ensino. Segundo Lima e Neto (1999), a forma como alguns temas específicos
de Química são abordados em sala de aula, leva o estudante do Ensino médio
a imaginar a Química como uma ciência puramente abstrata. Neste aspecto,
diversos fatores colaboram para isso, como por exemplo, no caso de ensinar
geometria molecular, o fato dos discentes não conseguirem imaginar o espaço
tridimensional.
No século XIX muitos químicos criaram modelos em escala para
entender melhor a estrutura molecular. Temos uma ideia mais clara das
características que afetam a estrutura e a reatividade molecular quando
examinamos a forma tridimensional de uma molécula. (Francis A. Carey.
Química Orgânica, 7a edição, Editora Bookman, 2011)
Segundo Ferreira (2000) a utilização de material didático no ensino de
Química, usado em sala de aula ou em laboratórios didáticos, tem importância
historicamente reconhecida no processo de ensino e aprendizagem. No
entanto, alguns dos materiais didáticos (livros, apostilas, modelos moleculares,
etc.) utilizados nesse processo, foram desenvolvidos há décadas e continuam
sendo utilizados sem terem sofrido alterações significativas.
O autor cita ainda que a década de 1970 foi marcada pelo
desenvolvimento de projetos que visavam a preparação de professores e a
adequação de materiais didáticos para o uso em sala de aula. São apontadas
inúmeras dificuldades em se alcançar essas metas, devido à falta de condições
mínimas (laboratórios, equipamentos, salas de aula, etc.), nas escolas
públicas, para o desenvolvimento das aulas.
Portanto, diante da dificuldade de aquisição de materiais didáticos,
principalmente no sistema público de ensino, o ensino de Química desperta
pouco interesse do aluno e isso dificulta o trabalho do professor, uma vez que o
aluno não tem motivação para aprender.
Pensando nisto foi proposta uma metodologia diferenciada para o ensino
de um conteúdo, na qual professor e alunos trabalharam juntos para promover
a aprendizagem, com intuito de tornar a aula mais atraente e os alunos mais
interessados em aprender.
O conteúdo em foco foi o de ligações covalentes, dando ênfase à forma
das moléculas formadas por este tipo de ligações, e foi desenvolvido por meio
da construção de modelos moleculares e utilização destes na simulação da
formação de substâncias moleculares. Para esta simulação foram montados
“kits” de modelos moleculares confeccionados com massa de biscuit e hastes
flexíveis.
Estes conteúdos são muito importantes porque há muito se sabe que as
propriedades de uma substância dependem do tipo de ligação química que une
seus átomos e da sua estrutura.
São muitos os exemplos de compostos formados por ligações
covalentes: o líquido mais precioso presente em nosso planeta, a água (H2O);
os combustíveis comuns têm muitos compostos covalentes como o metano
(CH4), o etanol (CH3CH2OH); os gases presentes na nossa atmosfera como o
H2, O2, N2 e CO2; os polímeros como o PET (polietileno tereftalato), o PVC
(policloreto de vinila); a molécula de ácido desoxirribonucleico, o ADN, ou mais
conhecido como DNA por causa do nome em inglês (deoxyribonucleic acid).
Embora os princípios básicos sobre estrutura e ligação sejam
exemplificados utilizando-se moléculas ou íons formados por uns poucos
átomos, estes princípios podem ser aplicados a moléculas com dimensões
muito maiores, como, por exemplo, o DNA. (KOTZ, 2002). Todos os compostos
orgânicos e muitos dos inorgânicos são compostos moleculares, logo,
formados por ligações covalentes.
2.1. A LIGAÇÃO COVALENTE E ESTRUTURA MOLECULAR
Segundo Kotz e Treichel (1998), forma-se uma ligação covalente
simples quando dois átomos compartilham um par de elétrons. A ligação
covalente ocorre, em geral, entre não metais, elementos que estão no canto
superior direito da tabela periódica.
O compartilhamento de elétrons entre átomos acontece quando a
transferência de elétrons é energeticamente “desfavorável”. Os elétrons
compartilhados atraem os núcleos e isso provoca uma diminuição da energia
potencial dos átomos quando a ligação covalente se forma. Uma ligação
covalente resulta do compartilhamento de um par de elétrons entre átomos. A
força de ligação resulta da atração entre estes elétrons compartilhados e os
núcleos positivos dos átomos que participam da ligação. (BRADY, RUSSELL e
HOLUM, 2002).
Ex.:
Quando átomos se unem por meio de ligações covalentes são formadas
moléculas e quando se fala de molécula não se pode deixar de lado o seu
arranjo estrutural, o qual pode ser conhecido determinando-se sua geometria
molecular. A geometria molecular descreve como os núcleos estão
posicionados uns em relação aos outros, segundo Peruzzo e Do Canto (2010).
Pode-se prever a forma das moléculas utilizando a chamada teoria da
repulsão do par eletrônico da camada de valência (RPECV). Esta teoria é
baseada na noção de que os pares de elétrons da camada de valência,
carregados negativamente, permanecem tão separados quanto possível, de
modo a minimizar suas repulsões mútuas. (BRADY, RUSSELL e HOLUM,
2002).
São cinco as geometrias previstas para as moléculas pela teoria
RPECV, mostradas na Figura 1, para que os pares de elétrons ligados ao
átomo central fiquem mais afastados possível uns dos outros. Estas são as
geometrias de par de elétrons (GPE).
Figura 1. Geometrias de par de elétrons previstas pela teoria RPECV.
Para determinar a geometria da molécula (GM) ou a forma da molécula
só se considera os pares de elétrons ligados entre dois átomos. Então, se
sobre o átomo central não tiver nenhum par de elétrons isolados as geometrias,
GPE e GM, coincidem, caso contrário elas são diferentes. Por exemplo, as
moléculas de CH4, NH3, H2O têm quatro pares de elétrons em volta do átomo
central, logo, todas têm GPE tetraédrica, mas a GM ou a forma da molécula
são, respectivamente, tetraédrica, pirâmide trigonal e angular, como mostra a
Figura 2.
Figura 2. Geometria das moléculas ou forma das moléculas de CH4, NH3, H2O.
Quando se determina a geometria molecular, um parâmetro muito
importante é o ângulo de ligação. Por exemplo, nas moléculas lineares como
CO2 e BeF2 ele vale 180°; na trigonal como o BF3, vale 120°; e nas tetraédricas
como CH4 e CCl4, vale 109,5°.
Na água, H2O, (angular) e na amônia, NH3, (pirâmide trigonal), os
ângulos entre as ligações valem, respectivamente, 105° e 107,5°. O fato destes
ângulos serem menores do que 109,5° é explicado pela acentuada repulsão
que existe entre os pares de elétrons não compartilhados. (PERUZZO e DO
CANTO, 2010).
3. METODOLOGIA
O projeto foi desenvolvido no primeiro trimestre do ano de 2014, no
CESN - Rolândia - PR, localizado na Rua Monteiro Lobato, no 421, com os
alunos do primeiro ano do ensino médio do período matutino.
Com o projeto pretendeu-se dar condições para os alunos
compreenderem como ocorre a formação de substâncias nas quais os átomos
são unidos por ligações covalentes e suas formas moleculares, por meio da
construção e utilização de “kits” de modelos moleculares. Assim, o
desenvolvimento do projeto foi realizado por meio da aplicação do conteúdo de
uma unidade didática e seguiu as etapas abaixo.
� Etapa 1
A professora ensinou como ocorrem as ligações covalentes e estrutura
molecular, focando qual a forma das moléculas, utilizando exemplos de
compostos formados por estas ligações que são comuns no dia a dia dos
alunos e ao final verificou o que os alunos aprenderam por meio de um
questionário avaliativo. Nesta aula os recursos utilizados foram somente o
quadro negro e giz.
� Etapa 2
Após a avaliação do questionário, a professora propôs aos alunos a
realização de um experimento no qual montaram, passo a passo, kits de
modelos moleculares para representar a formação das ligações covalentes e
as estruturas moleculares, visando facilitar e melhorar o entendimento deste
conteúdo. Os alunos foram divididos em cinco grupos.
Os materiais necessários para os “kits” e o procedimento para a
montagem destes são descritos a seguir
.
Materiais - Massa de biscuit
- Hastes flexíveis
-Tinta acrílica (preto, azul, branco, vermelho, verde-escuro, verde-claro,
amarelo, púrpura)
-Tesoura
- Transferidor
- Balança digital Procedimento
A massa de biscuit foi usada para elaboração dos modelos moleculares,
tendo cuidado de selecionar as devidas cores de acordo com a tabela padrão
dos elementos, encontrada nos modelos comerciais (Tabela 1) (GONÇALVES
ET AL, 2007).
Para a representação dos átomos individuais, utilizando a massa de
biscuit, foi preciso fazer pequenas esferas, com um tamanho relativo de acordo
com a massa de cada elemento, isto é, átomos maiores foram representados
por esferas maiores e os menores por esferas menores, pesando-se então
massas diferentes dependendo do tamanho do átomo. Sendo assim, o átomo
de hidrogênio foi representado pela esfera de menor tamanho. Antes da massa
de biscuit secar por completo, as esferas foram perfuradas com o palito em
posições de acordo com a geometria da molécula a ser representada e foram
medidos, com transferidor, os ângulos de ligação. As esferas tinham diferentes
cores, dependendo do átomo representado, a esfera teve uma determinada
cor. Teve-se o cuidado de não deixar as esferas entrarem em contato umas
com as outras durante a secagem. A massa foi deixada secar ao ar, por um
período entre 12 e 48h. As hastes flexíveis foram usadas para as ligações entre
as esferas. Para isto, foram retiradas das mesmas as pontas de algodão e
cortadas, com uma tesoura, em pedaços de comprimento entre 2,5 e 3 cm.
Tabela 1: Identificação dos elementos por cores de acordo com a tabela
padrão dos elementos (GONÇALVES ET AL, 2007).
ELEMENTO COR
Carbono Preto
Nitrogênio Azul
Hidrogênio Branco
Oxigênio Vermelho
Cloro Verde-escuro
Flúor Verde-claro
Enxofre Amarelo
Fósforo Púrpura
As moléculas escolhidas para serem representadas pelos modelos de
biscuit foram H2, O2, N2, CO2, H2O, NH3, CH4, CH3CH2OH, H2SO4, HCl,, CF4,
PH3, entre outras, porque são bastante conhecidas no cotidiano dos alunos.
� Etapa 3
Depois da preparação dos “kits” e da utilização destes para a montagem
de moléculas, utilizando vários exemplos diferentes de compostos e da
discussão destes exemplos, a professora voltou a questionar os alunos sobre
seu conhecimento de ligações covalentes, para verificar o quanto o uso dos
“kits” contribuiu para que estes alunos compreendessem melhor o conteúdo
trabalhado. Outra maneira de avaliar a eficiência do uso dos “kits” foi a
comparação das notas das provas dos alunos que participaram desta
experiência com as notas daqueles que não participaram.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ensinar os conteúdos de Química já não é uma tarefa fácil, ainda mais
sendo esta uma matéria considerada pelos alunos como de difícil
aprendizagem, portanto, a construção e a utilização de modelos moleculares
tiveram como objetivo melhorar o aprendizado do conteúdo ligação covalente e
estrutura molecular.
Em uma primeira averiguação com os alunos foi verificado que eles não
tinham conhecimento sobre ligações covalentes, forma das moléculas, e qual a
influência que a forma da molécula tem nas suas propriedades. A professora
então deu várias aulas referentes alguns conteúdos, tabela periódica, teoria do
octeto, ligação iônica, ligação covalente e geometria molecular. Iniciando o
assunto ligação covalente utilizou-se vários exemplos de moléculas de
compostos que são comuns no cotidiano dos alunos de modo que estes
pudessem ver que era importante aprender este conteúdo. Depois disso foi
feita uma avaliação, por escrito, sobre e quanto os alunos tinham aprendido do
conteúdo ensinado e verificou que para a maioria ainda não tinha entendido
bem o conteúdo em questão.
Visto isto, partiu-se para uma estratégia de ensino diferente, onde a
professora e os alunos montaram os “kits” conforme descrito anteriormente, na
parte de metodologia, para ajudar na visualização da forma das moléculas. Foi
bastante interessante porque mesmo os alunos que não demonstravam
nenhum interesse pelo assunto passaram a querer montar as moléculas e
querer entender porque tinham esta e não aquela forma. Foi interessante notar
como a turma se transformou, indo de uma apatia geral quando a professora
deu uma aula expositiva para uma turma totalmente interessada e participativa
durante a aula em que montaram e utilizaram os “kits” para o estudo das
moléculas. As fotos apresentadas nas figuras mostram os materiais
necessários para preparar os “kits”, a pesagem, a medição do ângulo de
ligação, representações dos átomos, (Figura 1, Figura 2, Figura 3) e depois
com várias moléculas montadas pelos alunos (Figura 4).
Figura 1. Pesagem da massa de biscuit.
Figura 2. Medindo o ângulo de ligação.
Figura 3. Representações dos átomos colocados para secar após pintar.
Figura 4. Alguns modelos de moléculas montados pelos alunos.
A montagem das moléculas facilitou muito o entendimento de porque as
moléculas têm determinadas formas e é muito importante que os alunos
entendam bem isto uma vez que as propriedades dos compostos moleculares
estão relacionadas com a forma das moléculas. A água (Figura 5), por
exemplo, é polar por causa de sua forma angular, já o dióxido de carbono,
apesar de ter ligações polares, é um composto apolar porque sua molécula é
linear.
Figura 5. Representação da molécula da H2O.
Após terem trabalhado bastante com os “kits” (Figura 6), montando
moléculas de várias formas moléculas diferentes, principalmente de compostos
bem comuns no dia a dia dos alunos, a professora voltou a questionar os
alunos e pode verificar que estes apresentaram uma compreensão bem maior
do conteúdo trabalhado. Isto mostra que o fato dos alunos montarem as
moléculas com os “kits”, fez com que eles conseguissem visualizar a forma
desta e não ficar simplesmente imaginando como ela seria. Então o uso destes
modelos ajudou muito na aprendizagem dos alunos.
Figura 6. Kits de modelos moleculares prontos.
Com os kits de modelos moleculares em mãos, foram escolhidos alguns
alunos da turma que já tinha participado do experimento e com o auxílio
destes, atuando como monitores, a metodologia foi aplicada em outra turma.
Os monitores explicaram a atividade e auxiliaram os alunos na montagem e
uso dos modelos moleculares, tudo isto com a supervisão da professora.
Logo após o encerramento da atividade, foi solicitado aos alunos monitores
que descrevessem o que sentiram no momento em que estavam explicando
aos colegas e a seguir são citadas algumas falas destes:
Aluno 1: De início pareceu ser fácil, mas explicar para eles na prática
não foi nada fácil. Alguns eu tive que explicar desde a tabela periódica, outros
já sabiam, mas o mais desgastante é ter que forçar a voz. Se me
perguntassem “Como foi ser professor?” eu diria sem dúvida: “Difícil,
desgastante e cansativo”, mas gostei da experiência, foi legal.
Aluno 2: Na parte da explicação que foi complicado pois alguns alunos
tinham dificuldade na hora de entender e outros muita facilidade. Depois que
você explica para as pessoas você vê o apuro que o professor passa pra
explicar pra sala toda.
Aluno 3: A minha sensação no momento que tive que explicar os
modelos aos alunos foi de nervosismo, mas com o avanço da aula, já me
sentia mais confortável e seguro, sendo assim, consegui explicar os modelos
melhor e acho que os alunos também entenderam melhor o conteúdo.
A partir das respostas obtidas pode-se afirmar que não é fácil a tarefa
ensinar, mas faz parte do processo ensino e aprendizagem, melhorando o
relacionamento entre aluno-professor e aluno-aluno tornando as aulas mais
dinâmicas e significativas.
É importante usar uma metodologia diferenciada, um recurso didático
para ensinar porque facilita o ensino e os alunos ficam muito mais
interessados em aprender. Este experimento pode ser realizado em qualquer
escola, pois os itens necessários para a preparação dos “kits” são materiais
baratos e fáceis de ser obtidos, inclusive com uma boa parte podendo ser
providenciado pelos próprios alunos fazendo com que eles se sintam mais
incluídos no processo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto de intervenção pedagógica, proposto no Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE) foi desenvolvido no primeiro trimestre do
ano de 2014, no CESN – Rolândia - PR, localizado na Rua Monteiro Lobato, nọ
421, com os alunos do primeiro ano do ensino médio matutino.
A observação de que os alunos inicialmente não tinham conhecimento
sobre o conteúdo e que mesmo após assistirem uma aula tradicional sobre o
assunto estes ainda não tinham conseguido entender, a professora viu a
necessidade de aplicar uma metodologia diferente que foi a aula experimental
onde usaram os “kits” para montar as moléculas. A partir daí os alunos se
tornaram muito mais interessados no conteúdo e tiveram um aproveitamento
bem melhor do que tinham apresentado antes do experimento. Estes “kits”,
preparados de maneira muito simples e com materiais baratos e acessíveis,
logo podendo ser utilizado em qualquer escola por mais simples que seja,
transformou a aula em um evento muito mais atrativo e os alunos se sentiram
parte do processo, pois participaram na confecção dos “kits” e na utilização
destes para montagem das formas das moléculas.
REFERÊNCIAS
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