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Seminário Bíblico Palavra da Vida HISTÓRIA DO ORIENTE MÉDIO ANTIGO 2005

Oriente Médio Antigo

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TeologiaHistória do Oriente Médio Antigo

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O Perodo Intertestamental 59os fariseus, os essnios eram deterministas, criam em anjos e demnios, tinham

Seminrio Bblico Palavra da Vida

HISTRIA DO ORIENTE MDIO ANTIGO

2005

Autoria de Carlos Osvaldo Pinto

Proibida a reproduo sem autorizao

NDICEINTRODUO: O Cenrio e Os Atores5I. A MESOPOTMIA ANTIGA6A. Contexto Histrico 61. Primrdios2. O imprio acdico3. O renascimento de Sumer4. O domnio dos amorreus na Mesopotmia5. A dinastia cassita em BabilniaB. Contexto Religioso121. A religio sumria2. A religio acdica3. Quadro comparativo das divindades sumrias e acdicas

II. O EGITO ANTIGO16

A. A Pr-Histria do EgitoB. Cronologia Dinstica do EgitoC. O Perodo Proto-Dinstico e o Reino AntigoD. O Primeiro Perodo IntermedirioE. O Reino MdioF. O Segundo Perodo IntermedirioG. O Reino NovoH. O Reino Novo - Perodo de AmarnaI. O Reino Novo - DeclnioJ. A Religio Egpcia

III. OS HITITAS27

A. OrigensB. O Reino AntigoC. O Perodo IntermedirioD. O ImprioE. Cultura e Religio

IV. OUTROS POVOS DO ORIENTE MDIO ANTIGO 32A. Os Assrios 321. O reino antigo2. O reino mdio3. O reino novoB. Os Hurrianos 36C. Os Elamitas 37D. Os Cananeus 37E. Os Amorreus 39F. Os Filisteus 40G. Os Arameus 41H. Os Caldeus 42I. Os Medos e Persas 44V. O PERODO INTERTESTAMENTAL 49A. Contexto Poltico 491. O domnio persa sobre a Palestina2. O domnio macednio sobre a Palestina3. A diviso do imprio macednio4. O domnio ptolemaico sobre a Palestina5. O domnio selucida sobre a Palestina6. O domnio hasmoneano sobre a Palestina7. O domnio romano sobre a PalestinaB. Contexto Religioso571. Templo, sinagoga e Tor2. Expectativa messinica3. Grupos religiosos

VI. TABELAS60

Introduo: O Cenrio e os Atores

A histria do OMA , principalmente, a histria dos povos semticos e sua interao no que conhecido como o Crescente Frtil, uma faixa de terra em formato aproximado de lua crescente, que se estende da fronteira entre o Egito e Cana, passando por Cana, pelo Lbano, parte da Sria e ocupando todo o vale dos rios Tigre e Eufrates, terminando na foz dos dois rios, no Golfo Prsico.

Limitada a leste, oeste e norte pelo Crescente Frtil, est uma vasta regio rida que compreende a pennsula arbica e o deserto da Sria, de onde tribos de bedunos saram de uma vida de mera sobrevivncia nmade em busca de uma vida mais farta nas reas frteis alm do horizonte. Depois de algum tempo, abandonaram o nomadismo,estabeleceram-se em tais regies e absorveram a cultura sua volta.

Os primeiros a se transformarem de pastores nmades em agricultores e aldees foram os acdicos (ou acadianos), que j ocupavam a parte central do vale mesopotmico quando os sumrios, povo de origem nebulosa (provavelmente indo- arianos), se estabeleceram na parte meridional, prxima ao Golfo Prsico. As datas de tais eventos so difceis de precisar, mas cr-se que os acdicos comearam a ocupar a Mesopotmia por volta do incio do terceiro milnio a.C. As evidncias mais antigas da civilizao sumria datam de aproximadamente 3000 a.C.

A onda migratria seguinte foi a dos amorreus, a quem os acdicos chamavam de "povos do oeste". Na verdade, essas tribos saram do deserto da Sria tanto para o leste quanto para o oeste (cf. a sua presena na terra de Cana ao tempo de Abrao). Essa nova migrao se deu por volta da virada do segundo milnio a.C. Um evento contemporneo a isso a entrada dos cananeus no que hoje Israel e Jordnia.

Prximo do final do segundo milnio, surgiram os arameus, que se estabeleceram nas cercanias de Damasco e em pequenos bolses prximos ao Eufrates na Alta Mesopotmia. Aparentados com estes ltimos so os caldeus, que se deslocaram para o delta dos rios Tigre e Eufrates, ocupando aquela regio pantanosa por vrios sculos, at eventualmente dominarem toda a regio no final do sculo VII a.C.

Menos conhecidos, provavelmente por seu pouco envolvimento com a histria bblica, so os cassitas, que dominaram Babilnia por quatro sculos (1530- 1150 a.C.), e que tinham alguma ascendncia indo-europia, os hurrianos (na Bblia chamados de horeus), vindos da Armnia, que se espalharam por toda a regio e fundaram o reino de Mitanni, na parte central da Mesopotmia (1500-1350 a.C.), e os hititas (povo tambm de origem indo-europia), que estabeleceram um vasto imprio centrado na Anatlia (atual Turquia). Esse imprio chegou a ser a segunda potncia no OMA, pouco depois do xodo.1 Os hititas (heteus na Bblia) passam nas pginas da histria entre 1800 e 1200 a.C. Seu imprio foi destrudo por mais uma onda migratria, desta vez vinda do oeste e do mar, os chamados Povos do Mar, cujos representantes bblicos so os filisteus.

Um tanto ou quanto margem do Crescente Frtil, mas a ele ligado cultural, comercial, poltica e militarmente, estava o Egito, cuja populao era um misto de tribos camitas, vindas tanto do sul quanto da pennsula arbica. Os incios da histria egpcia coincidem aproximadamente com os primeiros vestgios da civilizao sumria (c. 3000 a.C.).

I. A Mesopotmia Antiga

A. Contexto Histrico

1. Primrdios - Os Sumrios

A civilizao e a cultura desceram gradativamente das montanhas e vales da Alta Mesopotmia (norte) para a Baixa Mesopotmia (sul) a partir do fim do quinto milnio, no incio da chamada Era Calcoltica (Era da Pedra e do Bronze). Da metade para o fim do quarto milnio a.C. houve o desenvolvimento da arte cermica e da agricultura, com projetos rudimentares mas importantes de

1Levando em conta a chamada cronologia alta, que situa o xodo por volta da metade do sculo XV a.C.8 Histria do Oriente Mdio Antigo

A Mesopotmia Antiga 9

drenagem e irrigao, facilitando a vida sedentria e o surgimento de vilas e aldeias. Isso trouxe maior complexidade comercial e social, o que estimulou o surgimento das mais antigas cidades, organizadas em torno dos templos.

Durante o quarto milnio a.C. os sumrios, povo de origem geogrfica e racial desconhecida, e os semitas residentes conviveram na Baixa Mesopotmia. Por volta do sculo XXXV a.C. surgem as primeiras inscries pictogrficas em Ereque (Uruk ou Warka), que gradativa-mente viriam a assumir o carter cuneiforme (houve a passagem pelo ideogrfico e da ao silbico).

Este perodo realmente o limiar da histria documentada. As artes se desenvolveram e as cidades cresceram, passando a serem protegidas por muralhas. A de Ereque, por exemplo, tinha quase dez quilmetros de extenso e possua novecentas torres. O pico de Gilgams atribui a construo dessa muralha a Gilgams, o lendrio rei de Ereque.2

Com a entrada do terceiro milnio cresceu a importncia social do rei na vida dos sumrios, e surge o perodo dinstico antigo (2850-2350 a.C.). Das muitas cidades surgidas na poca (Mari, Assur, Nippur,Shuruppak, Eridu), a mais importante foi Ur, cuja ascendncia durou at 2350 a.C. Igualmente importante, por ter preservado muito de sua histria, foi Lagash. Ali aconteceu o que se pode chamar a primeira reforma social da histria, promovida por Urukagina, que foi elevado ao trono pelo povo e tomou medidas para proteger os pobres e restringir a ganncia dos sacerdotes.3 Um dos governantes mais famosos de Lagash foi Gudea, cuja

2Cf. ANET, p. 73. "Aquele que viu todas as coisas at os confins da terra, que tudo experimentou e tudo considerou ... viu o que estava escondido, exps o que no fora revelado. Ele trouxe um relatrio do que aconteceu antes do Dilvio, realizou uma grande viagem, cansando-se e repousando. Toda a sua labuta ele registrou numa estela de pedra. Ele construiu a muralha da cidade murada de Uruk e da santa Eanna o puro santurio."

3Cf. ANET, p. 526. Os textos legais posteriores nos deixam perceber o tipo de contedo dessas leis. Eram formuladas em termos casusticos. Por exemplo: "Se [um filho] disser a seu pai e a sua me: Tu no s meu pai e tu no s minha me,' perder [seu direito a] casa, campo, pomar, escravos e [qualquer outra] propriedade, e eles podero vend-lo [como escravo] a dinheiro por valor pleno."

representao em diversas esttuas apresenta uma espcie de ideal de vida para a poca serenidade e piedade.

Uma figura importante para essa cultura era o escriba ou secretrio, por ajudavam o desenvolvimento da sociedade. Abandonar uma regio significava tambm romper coma divindadade protegia aquela regio. No caso de Abrao significou ento deixar essa idolatria tambm. A hegemonia dos sumrios veio ao fim quando Lugalzaggisi, rei de Umma, tentou unificar as diversas cidades-estado sob sua autoridade, destruindo Lagash e submetendo outras localidades. Transformou Ereque (Uruk) em sua capital, mas seu imprio sumrio durou pouco; os acdicos, ex-nmades que haviam se estabelecido na Mesopotmia e assimilado a cultura sumria, estavam prontos a assumir a conduo poltica da regio.

2. O Imprio Acdico (2360-2180 a.C.)

Sargo I (Possvel cadidato a ser identificado como NINRODE de Gn 10.6) foi o fundador do primeiro imprio da histria, o imprio acdico. Depois de derrotar Lugalzaggisi,4 o vigoroso monarca empreendeu as conquistas de Ereque, Ur e todo o territrio sumrio at o Golfo Prsico. Aventurou- se a leste, conquistando os elamitas, investindo ainda contra a regio da atual Sria e chegando at ao atual Lbano. Sargo construiu uma nova capital, Agade, cuja localizao desconhecida.

Embora reverentes para com a cultura sumria, os acdicos espalharam sua lngua, cultura e arte militar por todo o Crescente Frtil. Por duzentos anos os descendentes de Sargo regeram a Mesopotmia, mas eventual- mente a fora dinstica se esgotou e o imprio foi conquistado pelos gutianos, povo semi-brbaro dos Montes Zagros, na regio do moderno Ir.5 Por cem anos (2180- 2080 a.C.) a Mesopotmia suportou um declnio cultural e social sob o domnio dos gutianos.6

4Cf. ANET, p. 267. "Sargo, rei de Agade, superintendente de Istar, rei de Kish, sacerdote ungido de Anu, rei do pas, grande ensi de Enlil; ele derrotou Uruk e derrubou sua muralha; na batalha com os habitantes de Uruk ele foi vitorioso. Lugalzaggisi, rei de Uruk, ele capturou nessa batalha, trazendo-o numa coleira at o porto de Enlil. Sargo, rei de Agade, foi vencedor na batalha contra os habitantes de Ur, cidade que derrotou e cuja muralha derrubou ..."

5Esta catstrofe foi explicada "teologicamente" num documento chamado "A Maldio de Agade" como o abandono da civilizao acdica pelos principais deuses (Inana, Ninurta, Enki e Utu) por causa da atitude desafiadora de Naram-Sin, quarto regente acdico (provavelmente um dos netos de Sargo). Cf. ANET 646-650. Naram-Sin (2254-2218 a.C.) lutou contra um povo que ele chamou de lullubi, que talvez deva ser identificado com os gutianos

6O Lamento pela Destruio de Sumer e Ur diz (linhas 223-4, 233): " minha cidade destruda, minha casa destruda!', chorou ele amargamente. Eridu, a cidade que transbordava de grandes' guas foi privada de gua potvel ... Os gutianos, os destruidores, nos esto esmagando ..." ANET, p. 615. A

3. O Renascimento de Sumer (Terceira Dinastia de Ur, 2060- 1950 a.C.)

Ao destruirem o poder de Acade, os gutianos permitiram a recuperao dos sumrios, que pouco sofreram ao sul da Mesopotmia. O rei de Ereque, Utuhegal foi o responsvel pela derrota dos gutianos, mas quem dela se aproveitou foi Ur-Nammu, de Ur, que se revoltou e tomou o ttulo de "rei de Sumer e Acade". Dessa poca datam cdigos legais que serviriam de base parao famoso Cdigo de Hamurbi.

Nessa fase, a cidade de Ur possua cerca de 24 mil habitantes e ocupava uma rea de 640 mil metros quadrados. Seu ltimo rei foi Ibbisin, derrotado e aprisionado pelos elamitas. Com ele morreram a unidade do imprio sumrio- acdico e o domnio dos sumrios sobre a Mesopotmia.

Parte do Cdigode Ur-Nammu (2050 a.C.)

4. O Domnio dos Amorreus Sobre a Mesopotmia

Por cerca de 150 anos ocorreram disputas entre vrias foras polticas na regio. Os elamitas obtiveram uma certa hegemonia na regio prxima ao Golfo Prsico e no atual Ir. Em Babilnia um amorreu, Sumu-abum instalou-se como governante independente, enquanto que ao norte, a Assria, seafirmava como a guardi da tradio e da herana acdica.

Enquanto os elamitas assumiam o controle da Baixa Mesopotmia, os amorreus ("povos do oeste") se espalhavam e se estabeleciam por todo o Crescente Frtil, dominando a Palestina e a regio prxima ao Mdio Eufrates, adotando a cultura sumrio- acdica e estabelecendo cidades- estado por toda a regio.

Na segunda metade do sculo XVIII a.C. os elamitas pareciam encaminhar-se para o domnio completo da Baixa Mesopotmia, quando foram surpreendidos e suplantados pelo

cronologia alta, adotada neste curso, sugere que Abrao viveu em Ur durante o perodo de domnio dos gutianos.

amorreu Hamurbi, de Babilnia (1728-1686 a.C.). Depois de derrotar Rimsin, o governante elamita de Larsa, Hamurbi conquistou Mari, um reino vassalo da Assria. Terminadas suas conquistas, Hamurbi se voltou para a administrao de seu reinado, para a qual preparou um cdigo legal.7 No foi uma obra original, mas uma compilao e editorao de material j existente na legislao sumrio-acdica (cdigos de Ur-Nammu e de Lipit-ishtar).

Exemplos de Legislao Mesopotmica

Ur-Nammu (~2100 a.C.)Lipit-ishtar (~1950 a.C.)Hamurbi (~1700 a.C.)

Lei 6 - Se um homem se divorciar de sua primeira esposa, dever pagar a ela uma mina de prata.Lei 28 - Se um homem voltar seu rosto contra sua primeira esposa ... mas ela no tiver sado de sua casa, a mulher que ele tiver desposado como sua favorita uma segunda esposa; ele ter que continuar sustentando sua primeira esposa.Lei 138 - Se um nobre quiser divorciar-se de sua esposa que no lhe deu filhos, devolver a ela toda a quantia de seu preo de casamento e tambm o dote que ela trouxe da casa de seu pai, e s ento poder divorciar-se dela.

Lei 11 - Se um homem acusar a esposa de outro homem de fornicao e [a prova d]o rio provar que ela inocente, o homem que a acusou dever pagar um tero de mina de prata.Lei 25 - Se um homem tomar esposa e ela lhe der filhos e os filhos estiverem vivos, e uma serva tambm lhe der filhos, e o pai conceder liberdade serva e seus filhos, os filhos da serva no partilharo da herana com os outros filhos de seu antigo senhor.Lei 131 - Se a esposa de um nobre foi acusada por seu marido mas no foi apanhada deitando-se com outro homem, ela far juramento em nome do deus e voltar para sua casa.

Lei 28 - Se um homem inundar o campo de outro homem com gua, medir para ele trs kor de cevada para cada iku de campo.Lei 10 - Se um homem cortar uma rvore no pomar de outro homem, pagar meia mina de prata.Lei 55 - Se um nobre, ao abrir seu canal de irrigao, se mostrar relapso e permitir que a gua inunde um campo adjacente, dar como indenizao cereal equivalente produo docampo inundado.

7H paralelos entre o Cdigo de Hamurbi e o Pentateuco. Por exemplo: Se um filho golpear seu pai, sua mo ser cortada (lei 195); comparar com xodo 21.15: Quem agredir o prprio pai ou a prpria me ser executado (NVI). Cf. ainda as leis 196 e 197, que so a verso mesopotmica da lei de talio. Via de regra, as punies bblicas so mais severas.10 Histria do Oriente Mdio Antigo

A Mesopotmia Antiga 11

Depois de Hamurbi, Babilnia gradativamente perdeu seu poder, lutando contra os cassitas, um povo de origem indo-ariana vindo da regio do Cucaso, e finalmente sendo conquistada pelo rei hitita Mursilis I, em 1531 a.C.8 O enfraquecimento foi tal que os cassitas, j estabelecidos em pequenos principados, acabaram por ocupar Babilnia.

5. A Dinastia Cassita em Babilnia

Os cassitas, que se haviam estabelecido no nordeste da Mesopotmia, assumiram o controle de Babilnia ao final do sculo XVI a.C. e somente o entregaram na metade do sculo XIIa.C. Durante esse perodo mantiveram lutas de fronteira com os assrios e os hurrianos de Mitanni. H evidncias de contatos diplomticos com o Egito (cartas de Amarna), com a finalidade de

Carta de rei cassita a Amenfis IV

se protegerem mutuamente contra a expanso hitita.

Estela de Naram-Sin

Conflitos com a Assria na metade do sculo XIII a.C. resultaram na derrota dos cassitas, com o aprisionamento de Kashtilliash IV em Assur, e na demolio das muralhas de Babilnia. Apesar disso, a dinastia cassita ainda se manteve no poder por mais cem anos. O golpe final contra ela foi dado pelos elamitas, que saquearam Babilnia em 1155 a.C. e levaram como trofus as estelas de Hamurbi (cdigo legal) e de Naramsin (comemorativa de sua vitria sobre os lullubi quase 900 anos antes).

8 intrigante essa fascinao pela conquista de Babilnia. Mursilis I levou seus exrcitos a milhares de quilmetros de sua terra para conquistar uma cidade que no poderia manter sobre seu domnio. A resposta pode se achar no poema Enuma Elish, o pico acdico da criao, no qual encontramos a idia de que Babilnia fora construda pelos prprios deuses como recompensa a Marduk por sua parte na derrota de Tiamat e na subsequente criao do universo (cf. ANET, pp. 68-69).

B. Contexto Religioso

1. A Religio Sumria

A religio sumria era politesta. O panteo de Sumer envolvia deuses ligados s foras da natureza e, mais especialmente, aos fenmenos relacionados agricultura.9

16 Histria do Oriente Mdio Antigo

A Mesopotmia Antiga 15

Alm disso, cada cidade-estado possua o seu deus patrono (ou deusa), com um templo local que era o centro da vida da cidade. O abandono da cidade equivalia ao abandono do deus e era algo impensado entre os sumrios. Isso torna ainda mais dramtica a ordem divina a Abro, "Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai ..." (Gn 12.1).

Mini-esttua de Ur- Nammu encontrada no alicerce de um templo

Havia vrios rituais e festivais religiosos entre os sumrios. Havia festas anuais, uma espcie de "aniversrio" do deus, em que outras cidades eram convidadas e traziam o seu deus para participar nas festividades. O mais elaborado dos festivais religiosos era o chamado Akitu,10 a festa do ano novo, em que o rei se unia sacerdotisa, que representava Inanna, a deusa do amor e da fertilidade.11

Alm deste, os rituais dedicados a Dumuzi, o deus da vegetao, que se acreditava morrer com a chegada do calor intenso, e renascer no equincio outonal, trazido por sua esposa-irm (Inanna) desde o mundo inferior. O quadro abaixo resume o panteo sumrio:

9Um hino a Enlil como divindade governante do universo diz: poderoso, a chuva do cu, a gua da terra esto sob teu cuidado ... Pai Enlil, que fazes crescer as plantas, que fazes crescer os gros ... que fazes as aves se multiplicarem nos cus, enches o mar de peixes ... (ANET, 576). Mesmo Ninurta, geralmente associado com a guerra, exaltado como Deus da vegetao: Smem doador da vida, semente doadora da vida ... a ovelha deu luz o cordeiro, pronunciarei teu nome vez aps vez [gratido] ... no campo cresceu o rico gro ... o mar se encheu de peixe ... (ANET, 576-577).

10Em Babilnia, um festival de ano novo chamado akitu era celebrado durante os primeiros doze dias do ms de Nisan; este festival comemorava a renovao da criao por Marduque e o fato dele ser rei. Alguns estudiosos (cf. a anlise Roland de Vaux, Instituies de Israel no Antigo Testamento, pp. 540-542) sugerem que tal festividade acontecia tambm em Israel e que os chamados salmos do reino messinico (47, 93, 96-99) retratam tais festividades. O fato que a literatura histrica e legal de Israel no contm o menor vestgio de tais celebraes ou de adaptao sincrtica desse festival babilnico, pelo menos em termos normativos.

11A importncia de Inanna pode ser vista nas primeiras linhas de um hino a ela dedicado: Meu pai me deu o cu, e me deu a terra. Eu, rainha do cu sou eu! Haver algum deus que possa competir comigo? (ANET, 578). Ao final deste hino h uma lista de cidades onde se reivindica a autoridade de Inanna, o que pode sugerir alguma medida de sincretismo.

Nome do DeusSua rea de AutoridadeCidade Sede do Culto

InannaAmor e fertilidadeEreque

AnuCuEreque

Enki (Ea)gua doceEridu

NannaLuaUr

EnlilAr; deus-mrNippur

UtuSolSippar

DumuziVegetaoToda a Sumria

2. A Religio Acdica

Trs fenmenos marcam a passagem da religio sumria para a acdica. O primeiro a mudana de uma religio agrcola para uma religio astral. O segundo um sincretismo, uma absoro semelhante quela que se processou entre o catolicismo romano e os cultos indgenas e africanos em nosso pas. Houve uma identificao entre deuses distintos mas que possuam reas semelhantes de atuao ou influncia. Por fim, o fato dos acdicos terem uma viso poltica diferente dos sumrios, tendendo ao imperialismo, trouxe uma certa nacionalizao dos deuses, em contraste com a diversidade regional dos deuses sumrios.

A ascenso poltica de Acade foi acompanhada pelo crescente prestgio do deus-sol dos acdicos, Shamash, filho do deus da lua, Sin. A trade de deuses principais era completada pela deusa de Vnus, Ishtar Anunitu.

O sincretismo acdico identificou Sin com o sumrio Nanna, Ishtar com Inanna e Shamash com Dumuzi (identificao esta um tanto surpreendente luz da diversidade de reas de poder).

Os acdicos, bem como os sumrios, entendiam que esta vida como que refletia a vida divina. Havia uma medida de consubstancialidade, obtida por meio do culto, mas o cidado comum no participava da maioria dos rituais religiosos. O rei era um tipo de representante dos deuses, que por sua vez no eram especialmente generosos ou benevolentes para com os homens. As condies adversas de vida para a enorme maioria da populao provocavam essa cosmoviso.

Deus acdico

O quadro abaixo apresenta o panteo acdico:

Nome do DeusSua rea de Autoridade

ShamashSol

IshtarVnus; amor; fertilidade

SinLua

Apsugua doce

TiamatOceano

EnlilAr

NergalMundo inferior

3. Quadro comparativo das divindades sumrias e acdicas

Nome Sumrio do Deusrea de AutoridadeNome Acdico do Deus

AnCuAnu

Enkigua-Sabedoria-MgicaEa

EnlilArEnlil, Ellil

Ninhursag, Nummah, NintuDeusa-meAruru

Nanna, SinLuaSin

UtuSolShamash

InannaAmor; fertilidadeIshtar

Abzugua doceApsu

IshkurTempestadeAdad / Marduk / Ashur / Bel

NansheOceanoTiamat

DumuziVegetao; rebanhosTammuz

Ereshkigal (fem.)Mundo inferiorNergal (masc.)

AshnanCereaisDagan

NidabaEscritaNabu

As Escrituras registram, sem apresentar desculpas, que havia uma herana idlatra e politesta em Israel. Gnesis 31.25-35 relata a realidade da idolatria domstica na famlia de Labo. Talvez seja a esse fato que Josu se refere na cerimnia de renovao da aliana em Josu 24.15, ao mencionar os deuses que os seus antepassados serviram alm do Eufrates.

Sculos de influncia sumero-acdica na Mesopotmia certamente devem ter influido no estilo de vida dos arameus de Alm do Eufrates, como se pode inferir das prticas de Balao, o conjurador.

II. O Egito Antigo

A. A Pr-Histria Egpcia

H uma frase atribuda a Herdoto que diz que "o Egito uma ddiva do Nilo." A verdade que as inundaes peridicas, que comeam em junho e podem durar at novembro, cobrem o vale do rio por vrios quilmetros em ambas as direes, restaurando a fertilidade do solo.

A isso somou-se a atividade humana, com a construo e manuteno de canais de irrigao, diques e rodas d'gua que permitiam a agricultura alm da rea regularmente inundada pelo Nilo.

H evidncia arqueolgica de contatos culturais entre a Mesopotmia e o Egito por volta de 3000 a.C., no perodo anterior primeira dinastia. Tumbas feitas de tijolos da regio do delta do Nilo contm artefatos tpicos da Mesopotmia.

B. Cronologia Dinstica do Egito

A cronologia egpcia est baseada num fenmeno chamado o Ciclo Stico, que consiste da coincidncia, a cada 1460 anos do ano civil com ano stico, ou seja com o raiar pr-matutino da estrela Srius (Sothis na lngua grega). Assim, no calendrio egpcio, o ano civil (12 meses de 30 dias mais cinco dias adicionais) ficava defasado do ano astronmico aproximadamente um dia a cada quatro anos, ou seja um ano a cada 1460 anos. Com a ajuda deste fenmeno, as datas dos reis egpcios podem ser calculadas com razovel exatido.

A classificao dos reis egpcios em trinta dinastias foi instituda por Manetho, um sacerdote egpcio do terceiro sculo a.C., e ainda hoje seguida pelos egiptlogos. Suas datas aproximadas so as seguintes:

PerodoDinastiasDatas (a.C.)

ProtodinsticoI-II2850-2615

Reino AntigoIII-VI2615-2175

1 Perodo IntermedirioVII-XI2175-1991 [Patriarcas]

Reino MdioXII1991-1786 [Descida]

2 Perodo IntermedirioXIII-XVII1785-1570 [Hicsos]

Reino NovoXVIII-XX1570-1065 [xodo]

Perodo Dinstico RecenteXXI-XXXI1065-332 [Monarquia]

C. O Perodo Proto-Dinstico e o Reino Antigo

O Egito antigo era, na verdade, dois reinos, o Alto Egito e o Baixo Egito. Cada reino tinha duas capitais, uma poltica e outra religiosa (Necabe e Nequm; Dep e P). Eventualmente esses dois reinos foram unidos sob uma s coroa (capacete alto branco e diadema vermelho). Evidncias arqueolgicas sugerem que o primeiro monarca a usar a dupla coroa do Egito unido foi Narmer, que era do Alto Egito (sul). Foi provavelmente o seu sucessor, Menes, quem fundou Mnfis, a capital do Reino Antigo, situada no Baixo Egito, prxima ao local onde o Nilo se abre em seu delta.

O Reino antigo evidencia algum intercmbio cultural e arquitetnico com a Sumria (tumbas e os costumes morturios so semelhantes).

Militarmente, h contatos com nmades do Sinai em disputa de minas de malaquita (cobre) e turquesa. H evidncias de comrcio com Biblos, de onde os egpcios importavam o precioso cedro. H contatos tambm com a ilha de Creta.

18 Histria do Oriente Mdio Antigo

O Egito Antigo 19

Pirmide de Djoser, a mais antiga do Egito

A partir da terceira dinastia comea a prtica de construir cmaras morturias grandiosas, e na quarta dinastia comea a era das pirmides. Snefru foi o primeiro fara a constru-las (3), e Queps (Khufu) construiu a maior de todas

(250 m de lado e 160 m de altura).12 Durante todo o Reino Antigo, os nobres tambm construam tumbas prximas pirmide real, como meio de assegurar sua sobrevivncia eterna como servos do rei.

As dinastias seguintes viram declinar a prosperidade da nao (entre outras coisas devido aos excessos dos construtores de pirmides). Ao fim da sexta dinastia, com o reino de Pepi II (c. 2150 a.C.), houve o enfraquecimento do poder central, que acabou por produzir a diviso entre os reinos "naturais" do Egito na poca da oitava dinastia.

Durante o Antigo Reino comeou a prtica faranica de doar pequenas vilas a indivduos ("amigos do rei") cujas famlias dali extraam o necessrio para fazer ofertas funerrias ao rei e ao amigo falecido. Com isso, a idia de propriedade particular se espalhou pelo Egito, onde antes toda a terra era considerada propriedade do rei. OBSERVE O PARALELO QUE ESTA OBSERVAO TEM COM A HISTRIA DE JOS EM GNESIS

Pirmides de Gizeh, da quarta dinastia

47.13-26. O Reino Antigo parece ter-se dissolvido em um sistema feudal em toda a terra do Egito.

D. O Primeiro Perodo Intermedirio

Pouco se sabe sobre este perodo, que durou cerca de cem anos (2150- 2052 a.C.), a no ser que a instabilidade poltico-social contribuiu para um despertamento literrio sem paralelo na histria do Egito.

O caos poltico produziu um pessimismo generalizado e uma depreciao do conceito da divindade do fara. Por outro lado, cresceu a impresso de uma responsabilidade individual perante os deuses. Um trecho do "Ensino ao Rei Merikare" diz: Mais aceitvel o carter do reto de corao do que o touro do malfeitor,13 que pode ser comparado com Provrbios 15.8 e Isaas 1.11.

Durante este perodo ganhou popularidade o culto a Osris, o deus dos mortos, onde havia o conceito de um juzo final. Depois de morto por seu irmo

12Djoser, fara da terceira dinastia, construiu a famosa "pirmide em degraus", em Saqqara, prximo a Mnfis. Essa pirmide foi o prottipo das que a seguiram, ainda que com uma forma distinta.

13ANET, p. 417.

Seth, e depois de sua ressurreio acontecida com a interveno de sis e Hrus, Osris acusado por Seth perante os demais deuses. Por sua eloqncia ele considerado justo e, assim, se torna um modelo de "salvao pela eloqncia", uma teoria que na prtica se traduz na popularizao dos textos mgicos, em que oraes, encantamentos e confisses eram oferecidas como garantia de obter o ttulo "verdadeiro de voz". Assim, ideais bem prximos da verdade bblica foram abafados e distorcidos pela idolatria.

A datao de eventos no perodo ganhou nova forma. Em lugar das construes faranicas, muito raras devido instabilidade social, surgiram os selos, dos quais o mais comum era aquele em forma de escaravelho, um besouro sagrado para os egpcios por simbolizar a ressurreio. Como traziam gravados neles o nome do monarca reinante, ajudam a datar os stios arqueolgicos em que so encontrados.

E. O Reino Mdio

A reunificao do Egito foi conseguida pelos Faras da 11 dinastia, cuja sede era localizada em Tebas. Mentuhotep II conquistou Heraclepolis e unificou o reino em 2052 a.C. Uma vez que Tebas estava localizada no Alto Egito, onde o terreno montanhoso, os faras dessa dinastia abandonaram as pirmides e passaram a construir templos morturios com grandes colunatas. Os nobres de suas cortes, passaram a escavar suas tumbas nas prprias montanhas adjacentes ao templo do monarca.

Durante a 12 dinastia a capital do pas foi mudada de volta para Mnfis, onde as pirmides voltaram a ser construdas(plancie). Igualmente retornaram as tumbas volta da pirmide, indicao de que o poder dos senhores feudais permanecia intacto.

Por volta do reinado de Sesostris III (1878-1841 a.C.) essas tumbas dos nomarcas (senhores dos nomos, divises do Egito) somem subitamente. Uma explicao que esse monarca resolveu eliminar a ameaa do feudalismo num s golpe. UMA EXPLICAO ALTERNATIVA A DA COMPRA DA TERRA POR FARA, ATESTADA EM GNESIS 47.

F. O Segundo Perodo Intermedirio

A 13 e a 14 dinastias, que se estendem de 1778 a 1670 a.C. pertencem a um perodo de gradativa deteriorao do poder real que acabou por abrir as portas do Egito aos conquistadores hicsos. Estes ilustres desconhecidos eram basicamente semitas, dominados por uma minoria de hurrianos e arianos, grupos que haviam invadido o Norte da Mesopotmia durante a primeira metade do segundo milnio e deslocado as antigas populaes da Sria e Palestina.

A minoria dominante era provavelmente uma classe guerreira (os chamados marianni), responsvel (segundo alguns historiadores) pela introduo do cavalo e da carruagem de guerra no Egito. Foram tambm responsveis pela formao de um exrcito permanente, composto principalmente de mercenrios nbios.

Os hicsos formaram a 15 e a 16 dinastias, cuja capital era Avaris, localizada no delta oriental, uma regio semi-pantanosa, na qual pouca evidncia arqueolgica restou. O reaparecimento de Tebas como reino vassalo marca o comeo da guerra de libertao contra os hicsos, no final do sculo XVII a.C.

Muitos estudiosos situam a descida de Jac ao Egito no perodo dos hicsos, advogando que a semelhana de origem favoreceria os primeiros israelitas, e que a sua localizao em Gsen era evidncia da boa vontade dos reis hicsos para com seus amigos asiticos. Na opinio deste autor, os hicsos so melhores candidatos ao ttulo de opressores de Israel, pois em xodo 1.9, o fara da opresso afirma que Israel era mais numeroso que seu povo, o que seria impossvel no caso dos egpcios, mas perfeitamente possvel no caso de uma oligarquia de hurrianos e indo-arianos.

G. O Reino Novo

A guerra de libertao foi levada a efeito pelos primeiros faras da 17 dinastia e completada por Kamosis e por seu irmo Amosis. A consolidao interna do Egito foi rpida e os sucessores de Amosis na 18 dinastia logo puderam estender o poderio egpcio alm das fronteiras antigas.20 Histria do Oriente Mdio Antigo

O Egito Antigo 21

Tutmoses I conquistou a Nbia at a quarta catarata do Nilo, realizou operaes militares na Palestina e na Sria e chegou a cruzar o Eufrates. Ele foi responsvel pelo reincio da construo do templo de Amom em Tebas, e acabou de vez com o costume de construir pirmides como tmulos de faras. NA CRONOLOGIA PREFERIDA POR ESTE AUTOR TUTMOSES I FOI O FARA DURANTE CUJO REINADO MOISS NASCEU.

Depois de Tutmoses I seguiu-se Tutmoses II, um rei sem expresso, fraco no fsico e na mente. Quando sua esposa real e meia-irm, Hatshepsut, foi incapaz de lhe dar um herdeiro, Tutmoses II indicou um de seus filhos "no-reais" como seu sucessor. Quando Tumoses II morreu, o menino, Tutmoses III, tinha apenas seis anos. Teve que amargar um longo perodo de obscuridade, durante o qual sua tia e madrasta usurpou o trono. Hatshespsut foi o poder efetivo de 1504 a 1480 a.C. Nos monumentos que mandou erigir ela se apresenta com roupas masculinas, usando a coroa dupla dos faras. Ela cultivou as artes e a religio, reconstruindo templos no Alto Egito. Seu templo morturio, na regio de Tebas, de extremo esplendor.

Com a morte de Hatshepsut, Tutmoses III lanou-se tarefa de expandir o poderio egpcio. Ele conquistou toda a Palestina e chegou a enfrentar o reino hurriano de Mitanni no Eufrates. Na sexta expedio Sria Tutmoses conquistou a cidade de Qadesh, no rio Orontes. Assim, o imprio egpcio se estendeu por mais de 3000 quilmetros, do Orontes quarta catarata do Nilo.

Tutmoses procurava promover relaes amistosas entre os povos subjugados e o Egito por meio de casamentos (e.g. uma princesa de Mitanni fazia parte de seu harm) e da educao dos filhos de governantes conquistados na corte em Tebas. Apesar disso, seu poder se baseava no militarismo, e isso deu origem a uma casta de oficiais militares que progrediu muito na escala social do Egito. Tutmoses III morreu em 1448 a.C., deixando no trono seu filho e co-regente Amenfis II.

Exceto por uma incurso Palestina e Sria, para consolidar as conquistas de seu pai, seu reinado de 26 anos foi pacfico. A CRONOLOGIA AQUI ADOTADA CONSIDERA QUE AMENFIS II FOI O FARA DO XODO, LEVANDO EM CONTA O LONGO REINADO DE SEU PAI E A NECESSIDADE DE UM REINADO PACFICO PARA QUEM PERDERA SUA CAVALARIA NAS GUAS DO MAR DOS JUNCOS.

Um fator que contribui para a identificao acima que seu sucessor,Tutmoses IV, no era o filho primognito de Amenfis. Uma estela de granito encontrada junto s patas da Esfinge fala de um sonho em que o deus Harmaquis prometera ao jovem o trono se ele removesse a areia que ameaava a Esfinge. Tal sonho no teria explicao lgica exceto se essa no fosse a expectativa normal de26 Histria do Oriente Mdio Antigo

O Egito Antigo 25

Tutmoses.14

Templo de Amom em Luxor

O reinado seguinte, de Amenfis III foi o ponto mximo do Reino Novo. Desfrutando dos recursos derivados das conquistas de seus predecessores, o monarca construiu grandiosamente. Sua maior obra foi o templo de Amom em Luxor, acompanhada pelos dois "colossos" de Memnon, gigantescas esttuas do rei construdas junto ao Nilo.

Datam de seu reinado as famosas Cartas de Amarna, mais de trezentos tabletes com inscries cuneiformes, que atestam, entre outras coisas, que o prestgio e a autoridade do Egito na Palestina estavam se deteriorando com rapidez. Em algumas delas h referncias ao habiru/hapiru, hordas de invasores que pilhavam cidades da Palestina.15 A grandeza do imprio cujo deus principal era o sol pode ter contribudo, neste perodo, para a efmera mudana para um sistema monlatra que aconteceria no perodo seguinte, em que o Egito comea a declinar como poder mundial.

H. O Perodo de Amarna

Embora tecnicamente pertena ao Reino Novo, o perodo de Amarna merece ser destacado por algumas de suas caractersticas. A principal delas foi a mudana religiosa, contemplada por Amenfis III mas promovida por Amenfis IV,

14A narrativa desse orculo se acha em ANET, 449. V-me, olha para mim, meu filho Tutmoses! Eu sou teu pai, Harmaquis ... Eu te darei o meu reino sobre a terra como cabea dos viventes. Tu usars a coroa do sul e a coroa do norte no trono de Geb, prncipe real [dos deuses] ... As areias do deserto se amontoavam sobre mim, mas esperei para te permitir fazeres o que est em meu corao pois sabia que s meu filho e meu protetor.

15Cf. por exemplo, cartas 271 ... forte a hostilidade contra mim e contra Shuwardata. Que o rei, meu senhor, proteja sua terra das mos dos apiru e 106 Saiba o rei, meu senhor, que o principal dos Apiru se levantou em armas contra as terras que o deus do rei, meu senhor, me concedeu ... que o rei me envie Yanhamu para guerrearmos efetivamente, e assim as terras do rei, meu senhor, sejam restauradas a seus [antigos] limites!, ANET 486-487.

que envolveu a fuso de vrias divindades ligadas ao sol como objeto de adorao exclusiva, sob o nome Aten, o disco solar.

Resistido a princpio pelos sacerdotes de Amom em Tebas, Amenfis IV mudou a capital do reino para Amarna, situada a meio caminho entre Tebas e Mnfis. Comeada no sexto ano do reinado, a capital esteve em construo durante doze anos e nunca foi terminada.

A mudana religiosa trouxe tambm mudanas de natureza artstica e prtica. Os cemitrios egpcios, antes todos voltados para o oeste, passaram a voltar-se para o leste, em respeito ao sol nascente. Cenas em tmulos se tornaram mais fiis realidade e a concepo da divindade se aproximou mais daquela encontrada nas Escrituras. O Hino a Aten semelhante em contedo ao Salmo 104.

Apesar da devoo do fara ao novo deus, o sincretismo e o politesmo egpcios eram mais fortes que a nova religio. As muitas faces da realidade exigiam uma multiplicidade de deuses para os egpcios, que no viam problema nas teologias discrepantes de Mnfis e Helipolis. Alm do descrdito domstico, Amenfis IV (que mudara seu nome para Akhenaten), perdeu o pouco prestgio de que seu pas gozava na Palestina. As Cartas de Amarna atestam a presena desagregadora dos habiru/hapiru na Palestina, e muitos estudiosos os identificam com os israelitas.

O filho de Akhenaten, Semenkhare, desapareceu depois de um curto reinado, dando lugar a Tutenkhaten, genro de Akhenaten. Os sacerdotes de Amom se aproveitaram da fraqueza do monarca e o persuadiram a retornar antiga religio e a trazer a corte real de volta a Tebas. O jovem monarca mudou seu nome para Tutenkhamom e foi generosamente recompensado pela classe sacerdotal. Sua tumba, descoberta em 1922, estava ricamente adornada e foi muito bem preservada. hoje um dos maiores tesouros arqueolgicos do Egito.

I. O Reino Novo - Declnio

Os ltimos reis do perodo de Amarna foram Eye, que no era de estirpe real e reinou apenas cinco anos (1349-1345 a.C.). Eye foi sucedido por um general, Haremhab, que reinou por 27 anos e esforou-se por apagar os vestgios do culto a Aten e recuperar a administrao real. Ele considerado o fundador da 19 dinastia.

O sucessor de Haremhab no foi seu filho, mas um outro general, Ramses I. Este foi seguido, depois de breve reinado por Seti I, que fez muito para reorganizar o exrcito e restabelecer o controle egpcio na sia. Ele submeteu a maior parte da costa da Palestina, mas no conseguiu recuperar o controle da Sria, onde os hititas estavam firmemente estabelecidos.

O monarca seguinte um dos mais famosos, Ramses II, cujo reinado de 67 anos (1301-1234 a.C.) representa o ltimo pico de poderio egpcio. Ramses II tratou de fortalecer suas fronteiras na Palestina e na Sria, ameaadas pelo expansionismo hitita de Muwatallis. A famosa batalha de Kadesh aconteceu em 1296 a.C. e nela o exrcito egpcio escapou de ser destroado apenas por causa da bravura do prprio Fara.

A paz com os hititas s foi alcanada 16 anos depois, num tratado celebrado entre Ramses II e Hattusilis III. Mais tarde, para confirmar o tratado, Ramses II casou-se com uma das filhas de Hattusilis. Assim, a situao no Oriente Mdio se estabilizou at a invaso dos Povos do Mar, quando o imprio hitita entrou em colapso e o prprio Egito quase sucumbiu.

No campo interno, Ramses II foi um grande construtor. Ao sul, construiu o grandioso templo de Abu-Simbel. Ao norte, reconstruiu Avaris como residncia real. Ramses II morreu em 1234 a.C. e foi sucedido por seu dcimo- terceiro filho(!), Merenpta ou Mernept (1234-1225 a.C.).

Em seu quinto ano de reinado Mernept repeliu a primeira leva de Povos do Mar, que se ajuntaram aos lbios e atacaram o Egito do oeste. Repelidos no Egito, esses grupos agressivos acabaram por se instalar em Cana (a leste), na Etrria, Sardenha e Siclia (a oeste). Seus representantes mais diretamente relacionados histria bblica so os filisteus. Mernept celebrou sua vitria com uma estela que ficou conhecida como "Estela de Israel", pois nela aparece, pela primeira vez num documento egpcio, o nome Israel.

Os problemas do Egito com os Povos do Mar no pararam a. Pouco mais de vinte anos depois, novas hordas voltaram ao ataque e Ramses III (1197- 1165 a.C.) teve que se desdobrar em batalhas terrestres e martimas para recha- los. Esta outra leva de invasores se transferiu para Cana depois de derrotada no Egito. Ramses III ainda defendeu com sucesso sua terra contra invases dos lbios, mas foi pouco a pouco perdendo o controle sobre a Palestina.

A 20 dinastia teve apenas reis fracos depois da morte de Ramses III. O ltimo deles, Ramses XI, provavelmente j no governou sobre todo o Egito, pois um certo Herihor, reivindicou a coroa em Tebas. Enquanto isso, ao norte, Smendes, o fundador da 21 dinastia assumiu o poder. Foi provavelmente um dos faras dessa dinastia, Psusenes, que deu sua filha em casamento a Salomo. Essa condio de fraqueza e diviso permaneceu at a chegada da 22 dinastia, ou dinastia lbia, inaugurada por Sheshonk (o Sisaque de 1 Reis).

J. A Religio Egpcia

De todas as religies do OMA, a religio egpcia a que mais intriga o estudante moderno. Havia em Helipolis, ao tempo do Reino Antigo, uma enade de deuses principais. Atum, que havia gerado Shu (ar) e adeusa Tefnet. Do conbio entre esses dois nasceram Geb (terra) e Nut (cu), que por sua vez geraram dois pares, Osris e sis, Seth e Neftis. A multiplicidade de deuses menores sob as formas mais incrveis acaba por criar contradies inaceitveis mente moderna, mas que eram perfeitamenteImagensdadeusa aceitveis para a elstica tolerncia religiosa dos egpcios.

Sekhmet

Estes eram capazes de conservar o velho e adaptar o novo

sem verem incongruncia ou se preocuparem com contradies.

A religio primitiva do Egito parece ter sido um culto animista natureza com uma variedade de espritos tutelares ligados aos diversos nomos ou distritos do delta e do vale do Nilo. Esses espritos eram incorporados em animais tpicos da regio, sendo amistosos ou ameaadores de acordo com a natureza do animal. O favor das divindades era obtido por meio de encantamentos e fetiches, realizados em casas (templos) para eles construdas na cidade ou regio de sua adorao. O quadro abaixo uma tentativa de representar os deuses egpcios mais importantes:16

16Este quadro no pode ser de maneira alguma visto como abrangente ou definitivo. Mesmo a enade de deuses aqui mencionada no era a nica lista de deuses maiores.

Nome do(a) deus(a)Animal representativorea de autoridadeLocal de Adorao

Totbis / BabunoCincia; escritaHermpolis

AnubisChacalTmulos; mortosCinpolis

SebekCrocodilo?Al Fayyum

TaweretHipoptamoGravidez

HeqtRParto

ErnutetCobraColheita

NekhbetAbutreAlto Egito

WadjitCobraBaixo Egito

RaFalcoSolNekhen

HorusFalcoTodo o Egito

SethHomem animalizadoMal; morteDelta

HathorVacaCu; deusa-meDandarah

AtenDisco SolarAmarna

AmonAr; atmosferaTebas

PtahBoi (pis)FertilidadeMnfis

OsrisVida; vegetaoTodo o Egito

sisFertilidadeTodo o Egito

Os egpcios tinham uma preocupao quase obsessiva com o ps-vida, para o que faziam elaboradas preparaes, chegando ao absurdo das pirmides. Havia, por trs disso, uma noo de uma alma eterna que sobrevivia morte do corpo. Para que a alma no se perdesse do corpo de seu "proprietrio" foi desenvolvido um cuidadoso processo de preservao.

III. Os Hititas

A. Origens

Por muitos anos a Bblia foi escarnecida por mencionar (e.g. 2 Re 7.6) os hititas (ou heteus) como um povo capaz de influenciar batalhas. No havia evidncia conclusiva da existncia desse povo at o comeo do sculo XX, quando Hugo Winckler trouxe luz milhares de inscries e runas monumentais na regio de Bogazkhoy, na Turquia central. Inscries acdicas e egpcias descobertas depois disso mencionam a "terra de Hatti" e a "terra de Heta", respectivamente. Assim, o que era motivo de zombaria de crticos radicais se tornou a comprovao das palavras bblicas.

geralmente aceito que os hititas migraram, junto com outros povos indo-arianos, da parte meridional da moderna Rssia, no comeo do segundo milnio a.C. Depois de atravessar o Cucaso, dirigiram-se para o oeste, ocupando a sia Menor.17 Ali entraram em contato com as civilizaes mesopotmicas, de quem absorveram a escrita cuneiforme e algumas idias religiosas.

Os hititas no formavam uma etnia particular, sendo um ajuntamento de grupos que envolvia os hititas propriamente ditos, os palaianos e os luvianos. A histria dos hititas pode ser dividida em trs perodos: o Reino Antigo (1800-1450 a.C.), o Perodo Intermedirio (1450-1400 a.C.), e o Imprio (1400-1200 a.C.).

B. O Reino Antigo

A unificao de vrios cls hititas parece ter sido resultado dos esforos blicos e polticos de um certo Anittas. Seus sucessores no so conhecidos e provavelmente no houve uma dinastia estabelecida ou capital reconhecida at o tempo de Labarnas, cujo filho adotou o mesmo nome e era conhecido como "rei de Kussara". Foi ele quem transferiu a capital para Hattusas, e assumiu o nome de Hattusilis. A esta altura a nobreza j havia cedido ao rei o direito de nomear seu sucessor.

17Alguns historiadores preferem uma origem mais ocidental para os hititas, que teriam assim cruzado os Balcs e caminhado para o leste em direo sia Menor. (Cf. Jaan Puhvel, "Hittites", Encyclopaedia Britannica, 11.551).28 Histria do Oriente Mdio Antigo

Os Hititas 29

Hattusilis foi o primeiro hitita a empreender guerras de conquista, atravessando a cadeia do Taurus e atacando Aleppo, na Sria. Este empreendimento fracassou, e talvez o rei tenha sofrido ferimentos suficientemente graves na batalha, dos quais veio a falecer. Antes, porm, designou o filho mais novo, Mursilis, como seu sucessor, deixando de lado filhos mais velhos e outros parentes.

Com Mursilis I os hititas influem pela primeira vez na histria da Mesopotmia. Depois de vingar seu pai, tomando Aleppo, o jovem monarca embarcou numa srie de ataques a cidades da Mesopotmia, concluindo a destruio de Mari (comeada por Hamurbi) e saqueando Babilnia (c. 1531 a.C.), ento nas mos dos amorreus. Alm disso, enfrentou os hurrianos no Alto Eufrates e retornou a Hattusas com riquezas, escravos, e fama. Isso no impediu um golpe palaciano em que ele foi assassinado a mando do prprio irmo, Hantilis.

C. O Perodo Intermedirio

Com a morte de Mursilis I comeou um perodo de enfraquecimento para os hititas. Hantilis ainda procurou manter um expansionismo moderado, mas foi apertado por invasores hurrianos e por bandos de montanheses rebeldes. Assim, preferiu investir na fortificao da capital Hattusas. Depois da morte de Hantilis aconteceu uma srie de lutas internas pelo poder, nas quais a famlia real se auto- destruiu.

Um parente distante, Telipinus, assumiu o poder e criou legislao para evitar novas lutas internas, submetendo questes polticas ao pankus, um colgio eleitoral dos nobres hititas. Essa legislao foi respeitada at o fim do imprio hitita, e excees s aconteceram quando acompanhadas de longas justificativas (o caso de Hattusilis III).

A atividade internacional de Telipinus limitou-se defesa de suas fronteiras. Parte desse esforo foi a diplomacia, que permitiu aos hititas viver em paz com os egpcios, cujo poderoso monarca Tutmoses III realizou incurses Sria, onde o poder de outro grupo indo-europeu, os hurrianos, ameaava sua soberania.

Um perodo de durao desconhecida, cerca de 100 anos talvez, marca os sucessores de Telipinus. Certos historiadores duvidam at da existncia de alguns dos reis desse perodo! Foi um tempo de opresso por parte dos hurrianos

em toda a Anatlia, e a influncia desses invasores se faria sentir no perodo do Imprio.

D. O Imprio

Com o acesso de Tudhaliyas II ao trono comea uma renovao dinstica que haveria de produzir o Imprio hitita. Os comeos foram difceis, pois apesar de conseguir uma campanha militar contra Aleppo, que se aliara aos hurrianos de Mitanni, Tudhaliyas viu o sul da sia Menor se aliar a seus inimigos.

Por algum tempo os hititas ficaram entre o malho e a bigorna no conflito entre os egpcios e os hurrianos, sofrendo ataques de provncias no subjugadas (aliadas ao Egito de Amenfis III) que chegaram a saquear a capital Hattusas ao tempo de Tudhaliyas III.

O libertador e reconstrutor do poder hitita foi Suppiluliumas, que subiu ao trono por volta de 1375 a.C. Ele reconstruiu Hattusas e provavelmente fortificou as muralhas da cidade. Politicamente ele consolidou a autoridade de Hatti sobre as provncias ao sul e a oeste e reorganizou o governo distribuindo a autoridade sobre as provncias a pessoas da famlia real.

Suppiluliumas tirou partido da instabilidade egpcia, causada pelas reformas religiosas de Akhenaten (Amenfis IV) e anexou todo territrio srio at o Rio Kelb, ao norte da moderna Beirute. Submeteu ainda toda a sia Menor e o reino de Mitanni. Astutamente, o conquistador hitita celebrou um tratado com o filho do rei hurriano, Mattiwaza, dando uma de suas filhas em casamento e assim estabelecendo um estado-tampo hurriano entre Hatti e a Assria, que comeara a crescer sob o comando de Ushur-uballit I.

O prestgio de Suppiluliumas era tanto que a viva de Tutankhamen lhe escreveu solicitando que um dos filhos do rei hitita lhe fosse dado em casamento. Se isso tivesse sido concretizado, esse prncipe hitita teria se tornado fara. Eventualmente, todavia, ele foi assassinado a caminho do Egito por ordem de Eye, que aspirava ao trono egpcio.

O verdadeiro sucessor de Suppiluliumas foi seu neto Mursilis II, pois o filho do grande rei morrera pouco depois da morte do pai, vitimado pela mesma doena. Mursilis teve que lutar para manter unido o imprio construdo pelo av.

Sua estratgia militar e poltica foi to eficiente que quando seu filho Muwattalis subiu ao trono no teve que enfrentar a srie de rebelies provinciais que caracterizaram a histria hitita.

Foi Muwattalis que enfrentou Ramses II na famosa batalha de Kadesh, no Orontes, em 1296 a.C. Embora o fara tenha registrado a batalha como uma vitria egpcia, o resultado mais provvel foi um empate, j que os hititas mantiveram suas fronteiras na Sria. Ao retornar da campanha contra o Egito, Muwattalis mudou sua residncia para o sul, deixando o norte sob a liderana de seu irmo Hattusilis, que eventualmente tomou o poder do sobrinho Urhi-Teshub, que herdara o trono do pai. Essa quebra do protocolo hitita foi longamente explicada na biografia do novo rei, Hattusilis III.

Depois de longa guerra contra o Egito, Hattusilis III acabou celebrando um tratado de paz com Ramses II, oferecendo-lhe uma de suas filhas em casamento. Por outro lado, teve que enfrentar a ameaa crescente da Assria nos reinados de Adad-Nirari II e Salmaneser I, acabando por ceder a fronteira leste aos assrios.

Os sucessores de Hattusilis III tiveram que enfrentar um poder crescente vindo do oeste, tribos migrantes que os hititas chamavam de Ahhiyawa, que alguns associam Acaia. provvel que essas invases estejam ligadas s grandes migraes dos dricos e ilirianos nos Blcs, que motivaram a movimentao blica dos chamados "Povos do Mar". Tecnologicamente equivalentes aos hititas no uso do ferro e com poderio sobre o mar, esses invasores despedaaram o imprio hitita, do qual apenas alguns bolses sobreviveram na Sria(e.g. Hamate, ao tempo de Davi) e, por deslocamento, em Cana.

E. Cultura e Religio

Os hititas eram historicamente bilnges. Sua lngua nativa, indo- europia, era usada para a administrao interna, e o acdico servia como lngua diplomtica. A escrita era cuneiforme, aprendida com os acdicos e usada em documentos, ou hieroglfica, usada em inscries monumentais.

A elite indo-ariana manteve o poder para si, entre os nobres primeiro e depois de maneira dinstica. O rei era visto como representante terreno do deus30 Histria do Oriente Mdio Antigo

Os Hititas 31

da tempestade, uma espcie de sumo-sacerdote que se envolvia em inmeras atividades e funes religiosas.

A sociedade era essencialmente feudal, e os nobres possuidores de terras formavam tambm uma elite militar, provavelmente responsveis pela cavalaria e pelas carruagens de guerra.18 Havia castas zelosamente preservadas: lavradores, artesos, escravos e prias. A lei hitita, todavia, parecia zelar pelos "direitos" de cada uma.

A lei hitita era regulada por um cdigo com cerca de duzentas leis de natureza casustica. Dois aspectos dignos de nota so a rejeio de um esprito vingativo e a preferncia pela restituio em lugar da punio. A pena de morte era usada para casos de estupro, incesto, bestialidade e desobedincia civil.

Os hititas eram politestas como todos os seus vizinhos. Alm disso, eram mais dispostos a assimilar as divindades das naes sua volta, especialmente os deuses hurrianos e sumrio-acadianos. Os principais deuses so os seguintes:

Deus hitita do trovo

Nome do(a) deus(a)rea de AutoridadeParalelo Estrangeiro

Arinna/WurusemuSol; deusa-me

TaruTempestadeAdad (Acdico)

IstanusSol; juzoShamash (Babilnico)

Shaushka (f)Vida; fertilidadeIshtar (Acdica)

Hebat (f)(Hurriana)

TeshubTempo (clima)(Hurriano)

KushuhLuaSin (Acdico)

18As carruagens de guerra hititas eram diferentes das egpcias. Estas possuam uma tripulao de apenas dois homens condutor e arqueiro, ao passo que as hititas eram maiores e levavam trs condutor, escudeiro e arqueiro.

IV. Outros Povos do Oriente Mdio Antigo

A. Os Assrios

A terra-me dos assrios o nordeste do Crescente Frtil, junto ao rio Tigre e s montanhas do Curdisto. O nome da regio e da cidade onde a civilizao assria floresceu Asshur, idntico ao da divindade nacional. Sua populao era de semitas que haviam absorvido a cultura anterior. Esses semitas produziram uma civilizao culturalmente inferior de Babilnia, porm mais dinmica e militarmente orientada.

A Assria aparece pela primeira vez na histria depois do reinado deSargo I de Acade, depois da queda da terceira dinastia de Ur, por volta de 1950a.C. A primeira razo pela qual os assrios foram reconhecidos historicamente foi sua atividade comercial com colnias na sia Menor.

1. O Reino Antigo

A primeira fase do poderio assrio est ligada pessoa de Shamshi- Adad I (1747-1717 a.C.). Ele tomou a cidade de Asshur frente de uma tribo de bedunos, e dali comeou a mover-se em direo a Mari, cidade que acabou por atacar e conquistar. Sustentando-se contra os ataques dos hurrianos ao norte, manteve controle da Mesopotmia setentrional e restaurou o comrcio com as colnias na sia Menor.

Depois da morte de Shamshi-Adad I, seu filho Ishme-Dagom no conseguiu resistir s presses externas. Aliou-se ao rei amorreu de Eshnunna para combater o inimigo comum, Hamurbi de Babilnia, mas este acabou por conquistar toda a Mesopotmia. possvel que Ishme-Dagom tenha permanecido como rei vassalo, mas depois dele no h registros histricos confiveis sobre a Assria.

2. O Reino Mdio

Por cerca de 150 anos os assrios estiveram sob a influncia, se no sob o domnio do reino hurriano de Mitanni, de que comeam a emergir sob a liderana de Puzur-Asshur III (c. 1490-1470 a.C.). No comeo do sculo XIV os assrios34 Histria do Oriente Mdio Antigo

Outros Povos do Oriente Mdio Antigo 35

aparecem em liga com o Egito contra a expanso dos hititas, mas acabam se curvando ao imperialismo de Suppiluliumas.

Um famoso rei assrio que seguiu essa poltica foi Asshur-Uballit I, que manteve suas fronteiras diante do poderio hitita e expandiu seu domnio para o leste, chegando a invadir Babilnia (c. 1350 a.C.). Seus descendentes tiveram que lutar em vrias frentes, enfrentando tribos nmades ao norte, conquistando territrio de Mitanni e tornando-se um poder que o prprio imprio hitita tinha que respeitar. O monarca que realizou tais faanhas foi Salmaneser I (1265-1235 a.C.).

O filho de Salmaneser, Tukulti-Ninurta (1235-1198 a.C.), que tinha em seu nome o nome do deus da guerra, foi um grande conquistador. Ele estendeu o domnio assrio da Armnia ao Golfo Prsico, capturando o rei cassita de Babilnia e demolindo suas muralhas. Quando sua sede de poder foi acalmada, Tukulti- Ninurta se dedicou construo de palcios e templos, perdendo contato com a poltica e afinal sucumbindo a um golpe palaciano que envolveu seu prprio filho. Este no tinha a capacidade paterna e acabou sendo dominado pelos cassitas de Babilnia. A Assria passou ento por um perodo de inferioridade poltica e militar, especialmente durante o reinado de Nabucodonozor I (c. 1128-?), que expulsara os cassitas e tomara o trono de Babilnia.

Com o declnio de Babilnia depois da morte de Nabucodonozor I, a Assria voltou a ter certa hegemonia na regio. Foi a poca de Tiglate-Pileser I (1115-1077 a.C.), um conquistador cujas faanhas se tornaram o modelo dos reis assrios pelo resto de sua histria. Ele transformou o exrcito assrio numa formidvel mquina blica que espalhava terror por todo OMA. Tiglate-Pileser I expandiu o domnio assrio para o oeste at a sia Menor e a costa do Lbano, at o Mar Negro ao Norte e at o Golfo Prsico, alm de conquistar mais uma vez Babilnia, a cidade-ideal da Mesopotmia.

Tiglate-Pileser embelezou suas cidades com templos e palcios e foi provavelmente o responsvel pela criao da primeira biblioteca assria. As circunstncias de sua morte so desconhecidas e seus sucessores no conseguiram emular seu sucesso. A sede de poder mundial do deus assrio, Asshur, acabava por esgotar os recursos humanos e materiais do reino. Seguiram-se vrios sculos de relativa inexpressividade, enquanto os nmades arameus se estabeleciam em territrio assrio e formavam reinos independentes, que eventualmente se uniriam durante o sculo X a.C.

3. O Novo Reino

Os arameus haviam ocupado a Sria e tomado Babilnia. Por mais de cem anos a Assria permaneceu impotente no cenrio do OMA, at Asshur-dan II subir ao trono (932-910 a.C.). Seu sucessor, Adad-Nirari II (909-889 a.C.) recuperou o exrcito e reinaugurou a era das conquistas, capturando Babilnia e fazendo um tratado poltico com ela.

A necessria subjugao dos arameus veio com Assurnasirpal (Asshur- nasir-apli II; 883-859 a.C.), que foi responsvel pelo engrandecimento e embelezamento das cidades assrias. Seu sucessor, Salmaneser III (Shulman- Asharid III; 858-824 a.C.) levou adiante as guerras deconquista, mas seu poder foi efetivamente confrontado por uma aliana ocidental na batalha de Qarqar, em 853 a.C., batalha da qual participaram Acabe, rei de Israel e Ben-Hadade, rei da Sria. Eventualmente os assrios voltaram carga, e o famoso Obelisco Negro de Salmaneser apresenta Je, rei de Israel, curvado diantedo monarca assrio.Detalhe do Obelisco Negro

Duas geraes mais tarde, a Assria novamente encontrou condies favorveis ao seu crescimento e Adad-Nirari III realizou extensas campanhas no oeste. Ajudou Israel esmagando o reino de Damasco, e sujeitou a tributos toda a Palestina. Seus seguidores foram reis fracos e permitiram que um vcuo de poder se estabelecesse no Crescente Frtil, do que se aproveitaram Israel e Jud durante os reinados de Jeroboo II e Uzias.

frente de uma revolta militar, Tiglate-Pileser III (Tukulti-apal- Esharra; 745-727 a.C.) recolocou a Assria no mapa do poder. Depois de derrotar o reino de Urartu, ao norte, e derrotar uma coalizo de 19 reis em Hamate, Tiglate- Pileser III voltou seus exrcitos contra a Sria, que foi conquistada em 732 a.C. (eventos contemporneos a Isaas 7-11). O enrgico monarca reconquistou Babilnia em 729 a.C. e se proclamou "rei do universo, rei da Assria, rei de Babilnia, rei de Sumer e Acade, rei dos quatro cantos do mundo". Apenas junto ao Golfo Prsico, os caldeus resistiam ao seu poder. Dali ao Egito, por toda a Mesopotmia at o mar Cspio e o Mar Negro a Assria reinava soberana.

Seu filho e sucessor, Salmaneser V (726-722 a.C.), manteve uma poltica de boas relaes com Babilnia e de conquista e represso a oeste, onde Israel caiu sob sua ira. Apesar de vitorioso no campo de batalha, foi alvo de uma rebelio e perdeu o trono para Sharru-kin, que assumiu o reino sob o nome mstico do primeiro conquistador acdico como Sargo II.

Sargo II continuou a tradio militarista de Tiglate-Pileser III. Sob seu poder a Assria destruiu Samaria, conquistou Carquemis, o ltimo bolso hitita na Mesopotmia, Urartu ao norte, e a Cilcia na sia Menor. Depois de muitas escaramuas, Sargo II conquistou Babilnia, que fora antes ocupada pelo prncipe arameu (caldeu) de Bit Yakin, Marduk-apal-idina (o Merodaque-Balad de Isaas 39).19

O filho e sucessor de Sargo II foi Senaqueribe (Sin-akhkhe-eriba; 704-681 a.C.). Ele manteve o imprio unido a ferro e fogo, conquistando novamente toda a Palestina, exceo de Jerusalm. No front oriental, ele lutou contra o perene Marduk-apal-idina, que voltara ao trono de Babilnia. Em 689 a.C., todavia, Senaqueribe voltou carga e arrasou a cidade, levando cativa a imagem de Marduque, e trucidando milhares de habitantes.

Depois dele reinou seu filho Esar-haddon (Ashur-akh-iddina; 680-669 a.C.), que levou a cabo a mais audaciosa das empreitadas militares da Assria, a conquista do Egito. Depois de uma expedio mal sucedida, derrotada por Tirhakah s portas do Egito, uma segunda campanha foi bem sucedida e o Egito foi conquistado at Mnfis. Depois de voltar Assria, Esar-haddon foi confrontado com revoltas domsticas e estrangeiras. Depois de sufocar a rebelio interna, Esar- haddon marchou outra vez contra o Egito, mas morreu a caminho. Assumiu o trono seu filho mais novo, Assurbanipal (Assur-bani-apli; 668-631 a.C.), o ltimo dos grandes reis assrios.

Os grandes mritos de Assurbanipal foram a reconquista do Egito em 663 a.C. (queda de Tebas) e um renascimento cultural em Nnive. Com ele a Assria chegou ao znite de seu poder. A violncia pela qual vivera e de que tanto se gloriava havia de alcanar Assurbanipal, entretanto. Seu irmo, Shamash-shum- ukin, que Esar-haddon havia colocado como regente em Babilnia, rebelou-se contra o rei. Assurbanipal conquistou-a sem muita destruio e levou a guerra at

19Esse captulo est fora de ordem cronolgica, pois as atividades diplomticas de Bit Yakin contra os assrios so anteriores s invases de Senaqueribe.

o territrio de Elam. Esse esforo a leste deixou o Egito livre para mais uma rebelio, que os assrios no mais puderam debelar.

Segue-se uma lista de reis cada vez mais fracos, enquanto que a leste crescia o poder dos caldeus em Babilnia e o dos medos alm dos Montes Zagros. A conjuno dessas foras haveria de pr fim ao imprio assrio. Nnive caiu em 612 a.C., e Asshur-uballit II perdeu Har para as foras conjuntas de Babilnia, Mdia e Uman-Manda20 em 609 a.C. Quatro anos depois, na famosa batalha de Carquemis, os ltimos vestgios do imprio assrio desapareceram, depois de sculos de domnio mantido base da fora e do terror.

B. Os Hurrianos

Este povo, provavelmente de origem indo-ariana, ocupava originalmente uma regio entre o rio Tigre e as montanhas Zagros. Pressionados por outras tribos indo-iranianas eles se movimentaram em direo Mesopotmia setentrional, onde se localizaram principalmente no vale do rio Tigre.

Seus contatos com os sumrios datam do fim do terceiro milnio a.C. e aos poucos os hurrianos estabeleceram centros culturais e comerciais importantes como Mari e Nuzi, cujos contatos chegavam a Babilnia, a sudeste, e costa da Palestina. H indcios de que os horeus, mencionados no AT, eram colonos hurrianos em Cana. Os hurrianos nos legaram comprovaes de vrios costumes mencionados no livro de Gnesis; esses documentos so os famosos Tabletes de Nuzi, que datam da era patriarcal. Alm disso, os hurrianos estiveram claramente envolvidos com o movimento dos hicsos no sculo XVIII a.C., dando assim sua parcela de contribuio histria bblica.

Por volta do sculo XV a.C. essas cidades estado se fundiram num reino poderoso chamado Mitanni, situado ao norte da Sria, liderado por uma oligarquia militar denominada marianni. Esse grupo teve alguma influncia sobre os

20Esta a designao tradicional de um grupo de tribos citas, originrio das estepes da Sibria ocidental e Rssia meridional, entre os mares Negro e Cspio. Eram nmades guerreiros (cavaleiros) que gradualmente se deslocaram para a rea da Mesopotmia. Ali ajudaram os assrios durante o cerco de Nnive pelos medos em 630 a.C., mas depois voltaram-se contra seus aliados no ataque a Har. Ainda no sculo VII a.C. invadiram a parte costeira da Palestina, e ameaaram conquistar o Egito, o que foi evitado por um pagamento feito por Psamtico I. Sculos depois, fixaram-se na pennsula da Crimia, de onde comerciavam com os gregos. a esse grupo sedentrio, mas possuidor de uma histria de nomadismo que Paulo faz referncia em Colossenses 3.11.38 Histria do Oriente Mdio Antigo

Outros Povos do Oriente Mdio Antigo 39

hititas, a oeste. O apogeu da cultura hurriana se deu entre 1470 e 1350 a.C., quando o reino de Mitanni foi por fim subjugado pelos hititas.

C. Os Elamitas

O nome Elam ou Elo ocorre em Gnesis 10.22, na tabela das naes, e 14.1, 9, na lista de reis da Mesopotmia que invadiram Cana ao tempo de Abrao. Eles so os predecessores dos persas, e ocupavam a regio montanhosa a leste do Golfo Prsico.

Os elamitas foram um espinho no flanco dos ocupantes da Mesopotmia meridional. Por duas vezes eles conquistaram Babilnia e se estabeleceram na regio: a primeira vez foi ao tempo da terceira dinastia de Ur por volta de 1950 a.C., e a segunda ao tempo dos cassitas, em 1155 a.C.

D. Os Cananeus

Em contraste com a maioria dos povos do OMA, os cananeus praticamente no deixaram traos histricos relevantes de sua passagem. No h uma cidade central que empreste seu nome ao povo (como Assur ou Babilnia), nem uma histria claramente delineada em documentos literrios ou inscries monumentais; h apenas referncias ocasionais em documentos originados em povos que tiveram contato com os cananeus em diversas fases da histria. H documentos egpcios, israelitas e ugarticos.21

A primeira definio bblica dos cananeus se acha na tabela das naes em Gnesis 10, onde Cana, o neto de No surge como o "pai" de Sidom e Hete, dos jebuseus, amorreus, girgaseus, heveus, arqueus, sineus, arvadeus, zemareus e hamateus. Os cinco primeiros adjetivos ptrios depois de Hete so posteriormente indicados no Pentateuco como os habitantes da Terra Prometida. A evidncia cumulativa das Escrituras e inscries egpcias sugere que as fronteiras da terra se estendiam de Gaza at Hamate, do Mar Mediterrneo at o Rio Jordo (alm dele nas Escrituras).

21Ugarit era uma cidade-estado situada a norte da Sria, prximo ao Mar Mediterrneo. Sofreu influncia dos amorreus e dos hurrianos, ficando eventualmente na rbita hitita de influncia. Era um centro comercial e cultural, de religio sincrtica e lngua semelhante ao hebraico.

Millard sugere que o desenvolvimento de uma cultura cananita se deveu interao de elementos egpcios e mesopotmicos na regio de Biblos, por volta do final do terceiro milnio e comeo do segundo milnio a.C. Os hurrianos (cf. horeus) vieram como migrantes e foram acompanhados pelos amorreus, que ainda se deslocavam pelo OMA; estes ltimos levaram consigo essas influncias e acabaram por se radicar na parte meridional da Palestina, adotando um estilo mais sedentrio de vida e formando povoados e cidades, em contraste com o nomadismo da antiga populao cananita. Assim, um amorreu seria um cananeu sedentrio.22

A civilizao cananita no produziu um grande centro que dominasse sobre a regio, mas um nmero de cidades-reino, basicamente independentes mas ocasionalmente unidas contra agressores comuns (cf. exemplos em Gnesis 14 e Josu). Este detalhe bblico confirmado pelos Textos Execratrios do Egito. Havia uma oligarquia que dominava o comrcio e desfrutava de razovel conforto, enquanto a maioria da populao camponesa e artes vivia de maneira muito simples e despojada de qualquer luxo.

A maior contribuio dos cananeus para a histria da humanidade foi a criao do alfabeto. Situados entre dois sistemas pouco prticos de grafia, o hieroglfico do Egito e o cuneiforme silbico da Mesopotmia, os cananeus criaram, sem que se possa precisar uma data definida para o processo, um sistema de sinais para representar sons que formavam palavras.

Em termos de religio os cananeus so famosos por dois fatores: a ubiqidade dos "altos" e a promiscuidade de seu culto. Em geral os deuses so personificaes de foras e objetos da natureza. El era o deus maior, o cabea do panteo, que aos poucos perdeu em importncia para Hadade, o deus do clima. Esse deus tambm era conhecido pelo nome genrico de Baal, que significa "mestre, senhor". Por controlar as chuvas, a neblina e o orvalho, Hadade era fundamental para a preservao da vida. Suas relaes sexuais com Astarte (cf. Ishtar da Mesopotmia) eram reencenadas no culto, com o fim de garantir os ciclos de chuva e produtividade da terra. Outros deuses cananeus esto alistados no grfico abaixo.23 Prticas comuns entre os cananeus eram a prostituio cultual e

22A. R. Millard, "The Canaanites", em Peoples of Old Testament Times, editado por D. J. Wiseman, pp. 36-38. Millard prefere a chamada cronologia baixa, fixando tais acontecimentos por volta de 1850 a.C. Compare a proposta deste autor no Quadro Comparativo de Cronologia do Antigo Testamento, onde se adota a cronologia alta.

23Ver os grficos de John Walton em Quadros Cronolgicos do Antigo Testamento para complementar a informao aqui oferecida.

a idolatria, na qual a figura do touro era predominante como representao da divindade (cf. os touros de Jeroboo).

Nome da Divindaderea de AutoridadeEquivalente em outras culturas no OMA

ElDeus chefe do panteoAnu

Hadade (Baal)Deus do clima, da tempestadeMarduque, Bel, Enlil, Teshub

DagomDeus da agriculturaDumuzi, Tamuz, Dagan

MotDeus da morteEreshkigal, Nergal

Anate (f.)Deusa da guerraNinurta (m.)

AstarteDeusa do amor, da fertilidadeIshtar, Inanna

YamDeus do mar, gua salgadaTiamat, Nashe

Com o estabelecimento dos filisteus como uma fora poltica no litoral sul e dos israelitas como um imprio na parte central da Palestina, os cananeus foram reduzidos aos centros localizados no litoral norte da regio, chamada de Fencia. Os fencios de Tiro e Sidom foram os grandes comerciantes e marinheiros da antiguidade, estendendo seus contatos e suas colnias por todo o Mediterrneo. Dessas colnias a mais famosa foi Cartago (situada onde hoje a Tunsia), destinada a tornar-se maior que a prpria terra-me, e que teve papel importante na histria posterior da bacia mediterrnea.

E. Os Amorreus

Os amorreus so mencionados com frequncia no Pentateuco, mas nem sempre so distinguidos adequadamente dos cananeus. Os amorreus so semitas que migraram do deserto da Sria para a Mesopotmia. Mostram afinidades lingusticas com os cananeus e com os acdicos.

Espalhados por toda a Mesopotmia, os amorreus conquistaram Asshur e Mari, e ali desenvolveram sua civilizao at serem conquistados por Hamurbi, outro amorreu, que se tornara rei em Babilnia. Os amorreus se estabeleceram tambm na Palestina, onde exerceram poder e influncia desde o tempo de Abrao

at a poca da conquista. Documentos de Mari atestam costumes patriarcais e contm nomes semelhantes a Abrao, Jac, Serugue, Ter e Naor.

No perodo de Amarna, os amorreus se uniram num reino situado na regio montanhosa do que hoje o Lbano, e ali viveram uma existncia precria como estado tampo, ora servindo como vassalos do Egito, ora do imprio hitita. Suppiluliumas imps a vassalagem definitiva aos amorreus, que durou at o final do sculo XIII a.C., quando as convulses sociais da regio da Sria puseram fim existncia do reino amorreu como estado independente.

F. Os Filisteus

1. Origem

H grande debate sobre a origem dos filisteus. Gnesis afirma que eles eram descendentes dos casluim, um grupo camita originrio de Mitsrayim, ou Egito. Ams 9.7, todavia, afirma que Caftor (Creta) seu local de origem. O mais provvel que ambos estejam certos.

Ams estava falando da linhagem dos filisteus, ao passo que Moiss, descrevendo grandes movimentos de povos, apontava para migrao desse grupo tnico at a Palestina, terra que acabou por herdar o nome daqueles que jamais a possuram por completo.

2. Cronologia

Gnesis sempre foi ridicularizado por mencionar filisteus em contato com os patriarcas, quando a histria secular s registra suas invases no final do sculo XIII a.C. Todavia, esse grupo descrito em Gnesis 20 e 26 claramente distinto daquele que invadiu Cana sculos mais tarde. So pacficos e adaptveis, pois seu rei exibe um nome semtico. Sua atitude pacfica tpica de grupos pequenos, que esto colonizando uma regio ou estabelecendo postos comerciais avanados, e no procurando subjug-la pela fora das armas.

A segunda leva de filisteus chegou Palestina via Egito, onde foram sucessivamente derrotados por Mernept e Ramss III, durante o sculo XIII a.C. Com sua chegada a Palestina ingressa efetivamente na Idade do Ferro.42 Histria do Oriente Mdio Antigo

Outros Povos do Oriente Mdio Antigo 41

3. Sociedade

Os filisteus no formavam um reino, mas uma anfictionia, isto , uma liga de cidades independentes que se uniam apenas em ocasies de guerra ou perigo. As principais cidades eram Ascalom, Asdode, Ecrom, Gate e Gaza, todas situadas na plancie costeira de Cana.

Depois do perodo da conquista e at o tempo de Davi os filisteus foram o chicote divino contra Israel. Sua superioridade tecnolgica lhes garantia um exrcito melhor equipado, e seus soldados eram valorosos ao ponto de Davi ter um contingente de mercenrios filisteus.

4. Histria Posterior

Mesmo depois de derrotados por Davi, os filisteus continuaram como um vizinho incmodo para Israel, e um "osso duro de roer" para os grandes imprios conquistadores. Assrios e caldeus tiveram que lutar bravamente para conquistar cidades como Ascalom e Gaza.

Ainda depois do exlio, ao tempo de Neemias, os asdoditas continuavam a figurar entre os inimigos de Israel. A migrao contnua de rabes em sculos posteriores acabou por "dissolver" a identidade dos filisteus.

G. Os Arameus

A referncia mais antiga aos arameus data do sculo XXIII a.C. Vrios reis da Mesopotmia reportam contatos hostis com bandos de nmades a quem chamam de akhlamu. Esses nmades se estabeleceram ao norte da Mesopotmia, aproveitando a fraqueza momentnea dos assrios (sculo XI a.C.).

Os vrios micro-reinos ento formados acabariam por unir-se em dois grandes blocos. Um deles formou o que o Antigo Testamento chama de Sria, ou Aram, posterior monarquia unida, quando ainda existiam como grupos distintos (cf. 2 Sm 10). Um bolso de arameus se formou na extremidade sul da

Mesopotmia, no terreno pantanoso prximo ao Golfo Prsico, assumindo o nome de Bit Yakin. Esses viriam a ser os caldeus do sculo VII a.C.

Nos sculos X e IX a.C. os arameus foram o espinho na carne do reino do norte, at que seu poder comeou a ser reduzido pela expanso assria de Adad- Nirari III. Seu fim veio ao tempo de Tiglate-Pileser III, que conquistou Damasco e subjugou a maior parte de Israel em 732 a.C. Curiosamente, a dissoluo de Aram como estado significativo no OMA coincidiu com a disseminao de sua lngua, o aramaico, como a nova lngua franca da regio, substituindo o acdico.

Com o advento dos grandes imprios persa e grego, os arameus foram assimilados e desapareceram como povo. Sua lngua sobreviveu at depois de iniciada a era crist, e sobrevive na Peshitta (a Bblia em siraco), e no Talmude judaico.

H. Os Caldeus

Esse nome no deve ser confundido com "babilnios". Os caldeus, ou kasdim, eram descendentes de nmades aparentados com os arameus, que haviam se estabelecido junto foz dos rios Eufrates e Tigre, regio que era chamada pelos assrios de "terra do mar". Por longo tempo vassalos dos assrios, os caldeus de Bit Yakin, comearam a se afirmar como poder importante no final do oitavo sculo a.C.

Marduk-apal-idinna (o Merodaque-Balad das Escrituras) foi um mestre de intriga internacional a incomodar os assrios, e, com a ajuda dos elamitas, chegou a tomar Babilnia, onde reinou por cerca de 11 anos (721-710 a.C.)! Depois de derrotado por Sargon II, Marduk-apal-idinna voltou a invadir Babilnia em 703 a.C., sendo expulso por Senaqueribe.

A posse de Babilnia foi disputada pelos assrios, pelos elamitas e pelos caldeus por mais quinze anos, at que a cidade foi arrasada por Senaqueribe em 689 a.C., quando ela era controlada por um caldeu, Mushezib-Marduk. Esar-haddon, filho de Senaqueribe era pr-babilnico em sua poltica, e empreendeu a restaurao da cidade. O domnio assrio seguiu inconteste at 652 a.C., quando o caldeu Shamash-shun-ukin se rebelou, com a ajuda de Psamtico I, do Egito, e de tribos elamitas e srias. Assurbanipal, filho de Esar-haddon reconquistou Babilnia, e colocou como governante um certo Kandalanu. Com a morte deste em 627 a.C. a anarquia se instalou na regio, do que se aproveitou um caldeu de origem

aparentemente humilde, Nabu-apal-usur (Nabopolassar), que assumiu o controle da regio e se fez rei de Babilnia em 626 a.C.

A ascenso dos caldeus se deveu, obviamente, ao enfraquecimento da Assria, e foi fulminante. Em cerca de um sculo passaram de uma obscura provncia do imprio assrio a dominadores do OMA. Seu domnio sobre Babilnia, j no sculo VII a.C., deu quela cidade famosa seus dias de maior glria. Os arquitetos dessa glria foram Nabopolassar (625-605 a.C.) e seu filho, Nabu-kudurri-usur (Nabuco- donozor II, 605-562 a.C.). O pai aliou-se a Ciaxares, rei da Mdia, para pr fim ao imprio assrio. O filho derrotou o Egito e seus tteres palestinos e submeteu todo o Crescente Frtil ao seu despotismo iluminado.

Durante os primeiros anos de seu reinado Nabucodonozor dedicou-se ao estabelecimento de sua soberania na regio da Sria-Palestina, com trs expedies contra a regio, responsveis pelas trs levas de exilados judeus e pela destruio de Jerusalm. Em anos posteriores o monarca se dedicou ao embelezamento de Babilnia e ao desenvolvimento das artes e da cincia, numa espcie de reavivamento da cultura acdica.

Os reis que se seguiram a Nabucodonozor tiveram reinos breves e sem expresso poltica ou militar. Amel-Marduk (o Evil-Merodaque das Escrituras, 562- 560 a.C.) tem como realizao notvel o perdo que ofereceu ao rei Joaquim. Seguiram-no seu cunhado Nergal-shar-usur (Neriglissar, 559-556 a.C.), conhecido por algumas edificaes e por uma campanha militar na Cilcia, e seu filho menor, Labashi-Marduk (556).

Subiu ento ao trono o ltimo rei dos caldeus, Nabu-na'id (Nabonido, 556-539 a.C.). Natural de Har, Nabonido era devoto do deus local, Sin, deus da lua. Ele procurou substituir o patrono de Babilnia, Marduque (ou Bel) pelo deus de sua devoo, Sin, incorrendo assim na ira da casta religiosa de Babilnia. Aproveitando a oportunidade, Nabonido se retirou de Babilnia, passando a viver em Tema, na pennsula da Arbia, localidade que usou como base para incurses contra tribos rabes. Deixou em seu lugar seu filho Bel-shar-ushur (o Belsazar do livro de Daniel), que serviu de regente at a conquista de Babilnia pelos persas em 539 a.C.

Os caldeus foram conquistadores esclarecidos, e sob sua gide os judeus cativos se estabeleceram por todo o imprio, mas principalmente em Babilnia. No houve tentativas premeditadas de forar a religio dos caldeus,48 Histria do Oriente Mdio Antigo

Outros Povos do Oriente Mdio Antigo 47

basicamente astrolgica, sobre os judeus, que todavia ali assimilaram influncias que haveriam de se manifestar sculos mais tarde na prtica do cabalismo. No grfico abaixo esto alistadas as principais divindades babilnicas.

Nome da Divindaderea de Autoridade

Marduque (Bel)Jovem deus da tempestade

Nebo (Nabu)Deus da escrita; secretrio do panteo

EaDeus da gua doce

SinDeus da lua

EnlilDeus da tempestade

IshtarDeusa do sexo e da fertilidade

ShamashDeus do sol

I. Os Medos e Persas

Ciro, o Grande, reivindicava ascendncia dos medos e dos persas. Ambos os povos eram descendentes de tribos arianas que haviam se deslocado para o sul, vindos das estepes russo-siberianas e, por volta do ano 1000 a.C. haviam se estabelecido s margens do Lago Urmia, no que hoje o extremo noroeste do Ir.

Gradualmente os medos se deslocaram para o leste e ocuparam a regio ao sul do Mar Cspio, ao passo que os persas migraram para o sudeste e se estabeleceram mais prximo ao Golfo Prsico.

Por mais de dois sculos os medos ficaram sob dominao assria (at pouco depois da morte de Sargo II). provvel que os descendentes de um certo Deioces, levado cativo por Sargo II tenham conseguido recuperar sua liberdade com o enfraquecimento do imprio assrio. Com o passar do tempo, os medos foram novamente conquistados, desta vez pelos citas, que dominaram aquela regio montanhosa entre 650 e 625 a.C.

Surge ento o nome de Cixares (Huvakhshthra, em persa antigo), a quem cabe o crdito de unificar as tribos do Ir. Ele reorganizou o exrcito mdio e renovou a guerra contra a Assria, de cuja destruio participou em 612 a.C., na

queda de Nnive e em 609 a.C, na conquista de Har. Cixares manteve uma poltica expansionista, conquistando o reino de Urartu e fazendo campanhas contra a Ldia at 585 a.C., quando um tratado foi formalizado entre os dois reinos, com a fronteira fixada no Rio Halis. O filho e sucessor de Cixares, Astages, assumiu a liderana dos medos em 583 a.C. e aliou-se aos persas, tribos aparentadas que viviam ao sul.

No comeo do sculo VII a.C. o persa Hakhamanish (Aquemenes) estabeleceu um domnio em Parsumas. Este foi estendido para o sul por seu filho Teispes (675-640). Aproveitando o domnio dos citas sobre a Mdia, Teispes prosseguiu sua campanha para o sul e depois dividiu seu territrio entre os filhos: Ariaramnes ficou com o sul e Ciro I (Kurush, em persa antigo) ficou com o norte. Estes foram feitos vassalos de Cixares, que subjugou toda a regio do Ir.

O filho de Ciro I, Cambises I (Kanbujiya em persa antigo), casou-se com a filha de Astages, neta de Cixares. Dessa unio nasceu Ciro II, que viria a ser conhecido como Ciro, o Grande. Ciro foi vassalo de seu av, Astages, governando uma regio conhecida como Anshan. Fez de Pasrgada sua capital, e foi unificando as tribos persas a seu redor. Num gesto de desafio ao prprio av, Ciro fez aliana com Nabonido, rei de Babilnia, que era o principal adversrio de Astages. Quando foi convocado para dar explicaes, Ciro recusou-se a ir a Ecbtana, e veio a guerra. O exrcito de Astages o abandonou e Ciro conquistou a Mdia. Em questo de um sculo a situao havia se revertido, e a Prsia era senhora do imprio medo, que ia do Golfo Prsico ao Rio Halis.

Imediatamente, Creso, rei da Ldia, reagiu ameaa expansionista persa. Ciro o atacou, forou-o a voltar para Sardis, e ali o derrotou (547 a.C.). Nessa campanha Ciro travou contato com os gregos, que mais tarde serviram como mercenrios em seu exrcito. Depois dessa conquista, apenas Babilnia se apresentava como adversrio para Ciro, mas um adversrio j vencido por sua prpria exausto poltico-cultural-religiosa. Em 539 a.C. Ciro enviou contra Babilnia um exrcito sob a direo de Gubaru (Gobryas), que conquistou a cidade sem muita luta e absolutamente sem destruio, com Dario, o medo, filho de Assuero, assumindo o controle .24

24H muito debate sobre a identidade de Dario, o medo. Alguns crm que se trata do prprio Ciro (D.J. Wiseman); outros, preferem o general Gubaru (John Whitcomb); uma terceira sugesto Cambises II, filho de Ciro.

Ciro preferia manter o status quo nos territrios que conquistava, evitando assim o dio e o ressentimento que os conquistados haviam devotado aos assrios e caldeus. Uma rea em que isso ficava evidente era a religiosa, pois ele no impunha sua religio aos povos conquistados. Isso o levou a promulgar o edito religioso de 538 a.C., diretamente ligado histria do povo de Israel. Esse monarca politicamente correto continuou a expandir e consolidar seu reinado at morrer em batalha contra os massagetas junto ao Rio Jaxartes, na sia Central.

O sucessor de Ciro foi seu filho mais velho, Cambises II (529-522 a.C.), que foi em tudo o reverso do pai. Seu nico grande mrito foi haver conquistado o Egito (525 a.C.). Confrontado com uma rebelio liderada por um certo Gaumata, que alegava ser Smerdis, o irmo que Cambises mandara matar, o rei aparentemente suicidou-se a caminho da Prsia.

O usurpador Gaumata era contrrio ao Zoroastrismo, e em resposta a ele levantou-se Dario (Daryawesh em persa antigo), filho de Histaspes, um dos netos de Teispes, e que possua legtimo sangue aquemnida. Aps eliminar Gaumata, Dario passou cerca de dois anos pacificando o imprio, e outros trinta e seis consolidando seus domnios, que se estendiam da Lbia e do Mar Egeu ndia, do Mar Negro e do Mar Cspio ao Oceano ndico.

O brilho de suas realizaes foi empanado por sua fragorosa derrota contra os gregos em Maratona, em 490 a.C. Dario morreu enquanto preparava uma nova expedio, que foi assumida por seu filho e sucessor, Xerxes (Khshayarsha em persa antigo; 486-465 a.C.). Depois de pacificar fora tanto o Egito (484) quanto Babilnia (482), Xerxes fez seu exrcito de um milho de soldados atravessar o Helesponto e invadir a Grcia. Apesar de longas preparaes e dramtica vantagem numrica, Xerxes foi derrotado tanto no mar (batalha de Salamis, 480 a.C.) quanto em terra (batalha de Platia, 479 a.C.).

O sucessor de Xerxes foi seu filho Artaxerxes I (Artakhshathra em persa antigo; 465-423 a.C.), que conseguiu pacificar algumas regies rebeladas e manter o imprio intacto, apesar de perder territrio asitico para os gregos. Ele mais conhecido por ter assinado o decreto que permitiu a reconstruo dos muros de Jerusalm (Ne 2; cf. Dn 9.24-27).

Depois dele seguiram-se imperadores cada vez mais fracos, incapazes de sustentar a unidade do imprio e deter o crescimento dos gregos no ocidente. Dario II (423-404 a.C.) tem contato com a histria israelita por estar no poder

quando a colnia judaica na ilha de Elefantina, no Rio Nilo, solicitou ao governador persa em Jerusalm, Bigvai (Bagoas), permisso e ajuda para a construo de seu templo alternativo (fim do sculo V a.C.).

O imprio persa continuou em colapso interno, com revoltas e golpes palacianos, at que no reinado de Dario III (336-331 a.C.), acabou por cair diante dos macednios de Alexandre, depois de trs batalhas memorveis, Granico, Isso e Arbela (ou Gaugamela).

A religio persa merece alguma considerao, pois muitos estudiosos vem nela pontos de contato com a religio de Israel. Seu fundador, Zoroastro (em persa Zarathustra), no pode ser localizado historicamente com preciso. Seu nascimento tem sido situado entre os extremos de 1000 e 700 a.C., e mesmo essas datas no so definitivas. O local de seu nascimento tambm varia com as fontes gregas consultadas, sendo apresentado como medo, bactriano, ou persa. Escritos persas sugerem a regio noroeste da Mdia como o local de seu nascimento.

A pessoa de Zoroastro histrica, mas assumiu carter lendrio nos escritos religiosos posteriores. Ele surge como a alegria da criao (Yasht 13,93), o conquistador dos demnios (Yasht 17,19) e aquele que triunfa sobre o tentador (Vendidad 19,6).

A antiga religio iraniana tinha notveis semelhanas com o politesmo indo-ariano encontrado nos Vedas. Zoroastro no podia aceitar o carter moralmente reprovvel de algumas daquelas deidades, e por isso voltou-se para uma religio popular ainda mais antiga, que conseguiu introduzir em sua terra natal com a ajuda oficial de um rei semi-lendrio chamado Vishtaspa, que se tornou discpulo e protetor de Zoroastro.

A religio proposta pelo novo mestre concebia dois espritos ou duas divindades pr-existentes, uma das quais era moralmente boa (Ahura Mazda) e outra moralmente m (Angro Mainyush). Ambos possuam poderes criativos, com o primeiro exercendo tal poder para o bem, criando luz e vida, e tudo que puro e bom; o segundo, por sua vez, a essncia da escurido, imundcia e morte. Apesar desse dualismo, os escritos sagrados do zoroastrismo apresentam Angro Mainyush com menos atributos de plena personalidade e individualidade.

Em comum com outras religies orientais, o Zoroastrismo tem o conceito de bons e maus espritos (amesha spenta e daeva), que so emanaes

de Ahura Mazda e Angro Mainyush respectivamente. Entre as emanaes de Ahura Mazda se encontra Mithra, cuja religio se desenvolveu mais tarde entre os gregos e romanos. Algumas dessa emanaes so personificae