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O TURISMO RURAL E OS IMPASSES PARA OS ATORES EM ESCALA LOCAL
Josemara Marques dos Rêis, (IC), Unespar – Câmpus de Campo Mourão,
[email protected] Juliana Carolina Teixeira (OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected]
RESUMO: A presente pesquisa, tem como objetivo identificar as possibilidades e os impasses do avanço do turismo rural como alternativa de renda para os agricultores de base familiar no município de Rancho Alegre d’Oeste no Estado do Paraná. Em meio à crescente urbanização do campo brasileiro, o turismo rural, vem sendo apontado como atividade não agrícola capaz de fomentar e diversificar a agricultura de base familiar. O poder público, nesse sentido, estimula a criação de políticas públicas para o segmento. Com o aumento de criação e execução de projetos, que se esforçam para promover o turismo e, adquirir dele riquezas capazes de amenizar os baixos índices de desenvolvimento. A metodologia de pesquisa está composta de pesquisa bibliográfica e o levantamento de dados em pesquisa de campo com entrevistas semiestruturadas e observações sistemáticas. Como resultado obtido observou-se que as políticas e programas de incentivo ao avanço do turismo como alternativo para os agricultores familiares na região não atingem seu público em razão dos gargalos existentes como a falta de conhecimento dos próprios agricultores sobre as mesmas e os entraves dos órgãos responsáveis em levar a cabo tais ações. Palavras-chave: Famílias Pluriativas. Novas Ruralidades . Municípios do interior do Paraná. INTRODUÇÃO
Devido o crescimento da urbanização nas áreas agrícolas brasileiras, o turismo rural vem se
propagando como uma atividade não agrícola capaz de aumentar e diversificar a agricultura de base
familiar. Com o intenso desenvolvimento da atividade o poder público estimula a criação de políticas
públicas para promover o turismo nestas localidades.
O avanço da modernização da agricultura ocorre de maneira desigual em diversas áreas do
território brasileiro. Dessa forma, essa modernização das atividades no campo aumenta o crescimento
econômico em regiões com características propícias ao trabalho mecanizado deixando as demais
localidades com outros níveis de pobreza. Nesta realidade houve o comprometimento da permanência de
agricultores de base familiar no campo.
Desta forma, a partir desse cenário, esses atores sociais buscam alternativas para a resistência e
manutenção nessa realidade. Para o desenvolvimento da pesquisa, optou-se, portanto, pelo município de
Rancho Alegre que integra a microrregião de Goioerê e se inserem no quadro exposto anteriormente.
A presente pesquisa teve como questionamento tentar compreender a real aplicabilidade das
políticas públicas sobre os benefícios do avanço do turismo rural como alternativa de renda para
agricultores de base familiar. As ações do Estado voltadas para dar suporte ao agricultor de base familiar na
implementação do turismo como alternativa de renda são realmente eficazes?
IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014
ISSN 1981-6480
Como possíveis respostas para o questionamento, foram trabalhadas com duas hipóteses. A
primeira foi que o Estado tem ações de suporte ao agricultor de base familiar, porém os agricultores não
têm conhecimentos sobre as mesmas e como elas podem beneficiá-los. A segunda hipótese trabalhada se
refere, que o Estado possui gargalos os quais impedem que as suas ações cheguem até o agricultor de
familiar para desenvolverem o turismo rural na região.
Baseado no questionamento a referente pesquisa teve como objetivo identificar as possibilidades e
os impasses para o avanço do turismo rural como alternativa de renda para os agricultores de base familiar
no município de Rancho Alegre d’Oeste.
Para comprovar as hipóteses casuais do referente trabalho, o estudo se baseou em pesquisa
descritiva e exploratória, tendo como característica do estudo pesquisa qualitativa. Em um primeiro
momento foi realizada uma revisão bibliográfica em livros, revistas especializadas, artigos científicos
e demais matérias da internet sobre os temas abordados. A pesquisa foi de grande importância, pois
deu embasamento para as discussões desenvolvidas no trabalho de pesquisa. Em um segundo
momento foi realizado a pesquisa de campo. Para a realização das coletas de dados foram utilizados os
métodos de observações em campo e entrevistas semiestruturadas.
O turismo, para essas regiões, é indicado como uma possível saída na busca de alternativas.
Devido o aumento da urbanização e da introdução de atividades não agrícolas no campo, a citada atividade
se coloca, para o poder público, como um dos fatores de desenvolvimento e de fixação da população rural
nessas áreas.
A atividade turística faz parte da sociedade moderna e se coloca como uma de suas características
marcantes. Isso ocorre porque, ela está baseada nas relações de consumo ao transformar o lazer em
mercadoria, que, por sua vez, se torna objeto de consumo durante as viagens. Dessa forma, é necessário
compreender que o turismo como atividade econômica capitalista, possui especificidades, que por sua vez,
dificultam a implementação em propriedades de famílias que baseiam seu trabalho na agricultura.
Entre os macros programas, programas e projetos que existem na referida região turística, ressalta-se o
Projeto Rota dos Morros & Colinas, que ocorre nos municípios da mesorregião Centro-Ocidental do
Paraná. O citado projeto tem como objetivo implementar a atividade turística no campo da
Mesorregião, como complementação de renda para seus agricultores de base familiar, ressaltando suas
belezas naturais e o modo de vida no campo.Nesse sentido, busca-se levantar as possibilidades e
impasses para o avanço do turismo rural como alternativa de renda para agricultores de base familiar
na região.
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O “NOVO RURAL” BRASILEIRO
Diversos autores defendem a urbanização do campo como características marcantes no
mundo, inclusive no campo brasileiro. Levando em consideração que mudanças ocorrem em todo e em
qualquer lugar, no campo não seria diferente principalmente em decorrência das mudanças nas
atividades como o aumento de ocupação não agrícola, a pluriatividade, modernização do campo,
chegada da infra-estrutura, algumas indústrias e o desenvolvimento dos meios de comunicações.
Com essas mudanças causam um irreversível processo de urbanização no campo.
Pode-se dizer que o meio rural brasileiro se urbanizou nas duas últimas décadas, como resultado do processo de industrialização da agricultura, de um lado, e, de outro, do transbordamento do mundo urbano naquele espaço que tradicionalmente era definido como rural (SILVA, 1997, p.43).
Tanto na indústria, como na agricultura essas novas tecnologias já estão alterando
profundamente não só as formas de organização do processo de trabalho, mas também diminuindo a
escala mínima necessária da atividade econômica e redefinindo os requisitos fundamentais de sua
localização espacial. Com todas essas mudanças, as políticas rurais direcionam-se basicamente pra
reduzir o isolamento das populações rurais, melhorarem as suas condições de vida e de qualificação.
Com o período pós-industrial os agricultores começaram a combinar atividades agropecuárias
com outras atividades não agrícolas, dentro ou fora de suas propriedades, variando os ramos da
atividade, sendo elas tradicionais ou novas como o turismo, laser, gastronomia e conservação da
natureza (SILVA, 1997).
Este fenômeno pode ser explicado de várias formas, mas o que se destaca entre todos são dois
motivos. Em primeiro lugar o tempo livre que muitos agricultores passaram a ter, afinal, atualmente
existem máquinas que plantam, colhe e até ordenham animais em seus lugares. Em segundo lugar com
as dificuldades vividas no campo diminuem as oportunidades em se trabalhar diretamente na
agropecuária. Muitas famílias, nesses casos, começam a liberar outros membros da família para buscar
formas, na cidade, de aumentar a renda com outros trabalhos remunerados (SILVA, 1997).
Com essas transformações, surge o que vem sendo chamado de “novo rural”, onde o campo
passa a ser utilizado para novas ocupações de trabalhos e modo de vida, deixando de ser
exclusivamente agrícola. Essas famílias que combinavam a atividades agrícolas com as atividades não
agrícolas passaram a ser denominadas famílias pluriativas, pois exerciam mais de uma atividade
econômica (SILVA, 1997).
Deste modo podemos compreender a pluriatividade como sendo atividades complementares
ou suplementares á produção agrícola, exercida por um ou mais membro da família. A pluriatividade
pode ser configurada de duas formas:
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a) através de um mercado de trabalho relativamente indiferenciado, que combina desde a prestação de serviços manuais até o emprego temporário nas indústrias tradicionais (agroindústrias, têxtil, vidro, bebidas,etc); b) através da combinação de atividades tipicamente urbanas do setor terciário com o “management” das atividades agropecuárias (SILVA, 1997, p. 5).
A primeira configuração é a mais utilizada pelas famílias pluriativas, pois moram em áreas
rurais, trabalham em suas propriedades com o cultivo de algumas plantações e criação de animais para
a sua subsistência, mas obtém a maior parte renda nas indústrias onde se localiza na cidade.
Diante da nova realidade em que o campo se encontra, as famílias começaram a trabalhar em
atividades não agrícolas que antes essas atividades eram de fundo de quintal, hobbies, passaram a ser
geradora de renda como pesqueiros, floriculturas, criação de animais, fabricação de doces, turismo
rural, apicultura, suinocultura, criação de aves (galinha, avestruz e ema) entre outras atividades. Essas
características típicas do meio rural, envolvendo a paisagem natural, patrimônio cultural e os modos de
vida das populações rurais, passam a atrair um número cada vez maior de pessoas do meio urbano,
fortalecendo assim a prática do turismo rural que, em conseqüência, passa a receber maior atenção de
outras esferas da sociedade.
TURISMO RURAL
Um dos grandes problemas para estudar o Turismo Rural (TR) é a sua definição. Essa
tipologia de turismo é bastante abrangente. Para compreender esse segmento é preciso realizar um
breve histórico sobre o seu desenvolvimento.
A atividade turística teve seu inicio nos Estados Unidos e na Europa na década de 1950. O TR
surgiu para combater o êxodo rural, complementar a renda das propriedades e proteger a natureza. A
década de 1980 é considerada um marco inicial do turismo rural nos países como Brasil, Argentina,
África e Oceania. Apenas em 1990 esse seguimento teve inicio nos países como Mongólia,
Madagascar e Ucrânia (BRASIL, 2008, p.15)
A atividade surge com o intuito de promover a sociabilidade, a integração entre o rural e
urbano junto com a transformação socioeconômica, contribuindo para amenizar a pobreza no campo,
sem realizar o processo de aculturação. Por estes motivos a atividade passou a ser estudada pelos
governos.
O turismo rural surgiu em meio a uma frágil economia com o intuito de aumentar a renda dos agricultores e também de gerar empregos fazendo com que diminua o êxodo rural, havendo assim, o desenvolvimento local ou até mesmo regional com a atividade turística (TULIK, 2003, p.77).
O primeiro programa de desenvolvimento rural foi em 1991 na União Européia, e fizeram com
que muitos outros países programassem políticas públicas a fim de apoiar o TR e outras atividades não
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agrícolas capazes de revitalizar o território rural. No Brasil o TR foi implementado em 1986 em Lages,
SC, onde as propriedades rurais foram abertas as visitações. A partir deste momento a atividade
começou a ser caracterizada com TR e entendida como oportunidade de aumentar a renda das famílias
(BRASIL, 2010).
No final de 1990 o TR foi espalhado pelo país, fazendo com que um aumentasse os
empreendimentos em todas as regiões que se interessassem pelo segmento. Muitos desses
empreendimentos tinham pessoas qualificadas para as funções, em conseqüência, surgiram alguns
pontos negativos de sua implementação, de modo geral, á sobrecarga da estrutura rural, elevados
números de visitantes e veículos, problemas legais, degradação ambiental e descaracterização do meio
e da atividade turística (BRASIL, 2010).
Hoje em dia podemos perceber que com o desenvolvimento do TR muitos benefícios o
segmento turístico trouxe para o país, como diversificação da economia regional, melhorias das
condições de vida das famílias, diminuição do êxodo, integração campo cidade e o resgate da auto-
estima do homem no campo. As mudanças que vem ocorrendo no meio rural criam uma problemática
quanto à definição e delimitação entre o rural e urbano.
Existem várias definições para o TR, Beni diz que “[...] o deslocamento de pessoas para
espaços rurais, em roteiros programados ou espontâneos, com ou sem pernoite, para fruição dos
cenários e instalações rurícolas” (BENI, 2002, p.22). Nesse sentido, o turismo rural é visto, para
muitos pesquisadores, a exemplo de Graziano (2002), como uma forma de auxiliar a renda familiar.
O turismo rural compreende o segmento do agro turismo, o qual se caracteriza pela visitação e
a interação de turistas ou visitantes com as atividades realizadas no interior de pequenas propriedades
(TULIK, 2003).
Agroturismo, portanto, conforme as experiências europeias, desenvolvem-se integrado a uma propriedade rural ativa, de organização e gestão familiar, com a presença do proprietário, como forma complementar de atividades e de renda; pressupõe o contato direto do turista com o meio rural, alojamento na propriedade e possibilidade de participar das atividades rotineiras (TULIK, 2003, p.39).
Como podemos observar pelas definições de TR, que se deve usar este conceito apenas
quando o turista se hospeda ou passa o dia no meio rural e participa de forma lúdica das atividades de
rotina. Podemos compreender que se atividade não se caracterizar nestas definições, pode se
considerar uma atividade turística no espaço rural.
Segundo o MTUR, se considera turismo no espaço rural ou em áreas rurais como:
Todas as atividades praticadas no meio não urbano, que consiste de atividades de lazer no meio rural em várias modalidades definidas com base na oferta: turismo rural, turismo ecológico ou ecoturismo, turismo de aventura, turismo de negócios e
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eventos, turismo de saúde, turismo cultural, turismo esportivo, atividades estas que se complementam ou não (BRASIL, 2010, p.17).
Essa definição de Turismo no Espaço Rural (TER) é resultado de uma ampla discutição com
diversos representantes da área de turismo. Essa terminologia pode se entender como várias atividades
de lazer e turismo que seja realizada no meio rural, essas atividades podem ser hospedagem,
alimentação, operação e agenciamento, transportes de visitantes, realização de eventos entre outros
(BRASIL, 2010).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo se baseou na pesquisa descritiva e exploratória. A pesquisa descritiva tem como
objetivo avaliar diversos aspectos, dimensões ou componentes a serem pesquisados, juntamente com a
pesquisa exploratória que tem como objetivo principal descobrir novas idéias e novas perspectivas. A
pesquisa exploratória auxiliou na realização dos levantamentos de dados e ajudou nas descobertas de
novas informações. O método descritivo auxiliou no processo de avaliação e interpretação das
variáveis existentes entre a agricultura familiar e o turismo rural (LAKATOS e MARCONI, 2007).
Essa pesquisa se caracteriza como qualitativa em que se preocupa em analisar e interpretar as
características mais profundas, descrevendo e fazendo análises sobre as descobertas da investigação
(LAKATOS e MARCONI, 2007).
Para melhor o desenvolvimento da pesquisa, em um primeiro momento foi realizada uma
revisão bibliográfica sobre o assunto abordado realizando um levantamento em livros, revistas
especializadas, artigos científico e demais materiais na internet. Os temas estudados foram às
características dos municípios em questão (que são propostas como atrativos para o turismo); sobre o
fenômeno social da agricultura de base familiar e sobre os aspectos do próprio turismo que ocorre no
campo.
Em um segundo momento trabalhou-se com a pesquisa de campo. Foram aplicadas entrevistas
semi-estruturadas com representantes do Estatuto Paranaense de Pesquisa de Extensão rural
(EMATER) local de cada município com o objetivo de levantar os agricultores que trabalham ou
possuem interesse de trabalhar com atividades alternativas como o turismo e sobre quais as ações do
EMATER para auxiliar tais agricultores a implementar a atividade ou incentivar o desenvolvimento de
tais projetos. Um dos objetivos dessa coleta também foi observar, nesse sentido, o papel fundamental
do EMATER local de interlocutor entre o Estado e suas políticas e programas de turismo para os
agricultores familiares e os próprios agricultores familiares alvos centrais de tais políticas.
Posteriormente foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas com os agricultores familiares
que buscam avançar trabalhando com atividades alternativas como o turismo em suas propriedades. A
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metodologia de trabalho empregada na pesquisa de campo, portanto, além das entrevitas se baseou
também na observação sistemática, uma vez que há a necessidade de traçar parâmetros de análise para
manter objetividade nos estudos realizados (LAKATOS e MARCONI, 2007).
TURISMO RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR E O MUNICÍPIO DE RANCHO ALEGRE
É chamado de Turismo Rural na Agricultura Familiar (TRAF) as famílias que realizam
atividade turística em suas pequenas e médias propriedades e que mantém as atividades econômicas
típicas das famílias, valorizando, respeitando e compartilhando seu modo de vida, o patrimônio cultura
e natural ofertando produtos e serviços de qualidade e proporcionando o bem estar social (BRASIL,
2010).
O agricultor familiar é definido pela Lei 11.326, de 24 de julho de 2006 quando a mão-de-obra
é extremamente familiar; a gestão do estabelecimento cabe à própria família; a área da propriedade
não supera 4 módulos fiscais1; a principal fonte de renda da família se origina de atividades
econômicas vinculadas ao estabelecimento (BRASIL, 2010).
O ministério do turismo em parceria com o ministério do desenvolvimento agrário tem o
intuito de apoiar a estruturação de roteiros turísticos que considerem a agricultura familiar e a inserção
de produtos da agricultura familiar como alimentos, bebidas, artesanato, meio de hospedagem, bares,
restaurantes, lojas entre outras (BRASIL, 2010).
Na microrregião de Goioerê, o processo de modernização da agricultura não avançou com
facilidade em função da impossibilidade de utilizar maquinários agrícolas nessas regiões, dentre outras
questões. Para essas áreas se mantiveram, com maior intensidade, as pequenas propriedades e o modo
de vida e produção baseado no trabalho familiar, em função da concentração fundiária. As
características da paisagem e a permanência de pequenos agricultores de base familiar nesses locais
deram origem a iniciativas de revalorização das mesmas e de seus atores para o turismo, a exemplo da
criação do projeto Rota dos Morros & Colinas, que funcionaria, ao mesmo tempo, como alternativa de
desenvolvimento regional.
1 Módulo Fiscal: Unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada município, considerando o tipo de exploração predominante no município; a renda obtida com a exploração predominante; outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam significativas em função da renda ou da área utilizada; o conceito de propriedade familiar.
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Segundo a Rede de Turismo Regional (2012), responsável pela região turística Corredores das
Águas no período em que a microrregião pertencia a essa região turística2, o turismo regional, começa
a ser incentivado por volta do ano de 1998, a partir da iniciativa do secretário da Indústria, Comércio e
Turismo de Campo Mourão da época, sr. Jacó Gimenes, o qual atualmente é presidente da Rede de
Turismo Regional (RETUR), Instância de Governança do Turismo no Noroeste do Paraná. Por
iniciativa do sr. Jacó Gimenes, criou-se o Projeto de Turismo Rota dos Morros & Colinas que engloba
todos os 25 municípios da mesorregião Centro-Ocidental. O citado projeto foi desenvolvido pela
necessidade de geração de emprego e renda regional e para organizar e planejar o turismo.
Diante desta realidade cresce o esforço público para o avanço da atividade como alternativa de
desenvolvimento para porções mais pobres do território. Esse é caso da microrregião de Goioerê. O
turismo é apontado como alternativa na busca pelo desenvolvimento desses municípios. A região possui
inúmeras características importantes e atrativas para o desenvolvimento da atividade: grande número de
agricultores de base familiar, como apontou o último Censo Agropecuário do IBGE (2006); vasta paisagem
de campo com áreas naturais ainda preservadas; paisagens de morrarias, em função de seu relevo
acidentado; forte cultura do homem do campo; entre outros
A avaliação do potencial turístico da paisagem, [...], pode ser realizada mediante cinco variáveis: diversidade, naturalidade, singularidade, planos de visualização e ausência de detratores visuais,[...] uma série de elementos que indicam seu potencial interessante para o turismo rural (CALVANTE,2005, p.76)
Tulik complementa em sua fala alguns pontos positivo do turismo rural para os agricultores de
agricultura familiar.
Entendido no sentido amplo ou estrito, o Turismo Rural tem a seu favor argumentos baseados nas possibilidades que ele detém como fonte geradora de emprego e renda, capaz de evitar o êxodo rural e reanimar áreas rurais deprimidas, e de promover o desenvolvimento local e em, alguns casos, regional. Temas de grande relevância social, relacionados á fragilidade econômica da maior parte das zonas rurais- que decorre do desemprego e do decréscimo demográfico- trazem, embutidos nas ideias apresentadas, os pressupostos do Turismo Rural como alternativa de desenvolvimento sustentável. (TULIK, 2003, p.76)
Tais beneficios podem ser carreados para os agricultores de base familiar localizados no município
de Rancho Alegre d’Oeste, porém, o que se observa atualmente é que embora existam ações
governamentais para beneficiar a partir do turismo rural tais familias as mesmas não atingem localmente os
atores a que se propõem. Desde a escala federal até a municipal existem políticas, progrmas e projetos para 2 Atualmente a microrregião de Goierê juntamente com a microrregião de Campo Mourão formam a nova região
turística do Paraná Roteiros da COMCAM, não sendo mais gerida pela instância de Governança Corredores das Águas de responsabilidade da Retur.
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beneficiar agricultores familiares que desejam trabalhar com turismo rural. Pensar o desenvolvimento local
sem a articulação de organismos, programas e políticas em outras escalas é negligenciar as relações
existentes entre elas (CALVENTE, 2005, p.13).
Como no caso do turismo como alternativa de desenvolvimento para as áreas rurais e seus atores
sociais, deve-se lembrar das influências pelas mais diversas escalas, que, por mais que não contribuam
financeiramente, regem determinados direcionamentos dados ao planejamento da atividade localmente.
Pode-se observar as questões discutidas anteriormente no objeto da presente pesquisa o município
de Rancho Alegre d’Oeste. A localização do município pode ser observada na Figura 01:
Figura 01: Localização do município de Rancho Alegre d’Oeste Fonte: IPARDES, 2013.
O município apresenta um Indice de Desenvolvimento Municipal (IDH-M) em 2010 de 0,704
(IPARDES, 2013). Segundo o último Censo Agropecuário (IBGE, 2006) o município possui maior número
de propriedades familiares ocupando menor área contra um menor número de propriedades não-familiares
ocupando maior área sendo: 392 estabelecimentos de agricultura familiar ocupando uma área de 7616 ha.
contra um total de 87 estabelecimentos não-familiares que, porém, ocupam uma área de 20271 ha. Os
dados do Censo ainda apontam que regionalmente a agricultura familiar é responsável pela maior parte do
pessoal ocupado.
O município é rico em uma paisagem de morrarias em função de seu relevo acidentado e
também é palco da resistência da agricultura familiar como observado nos dados apresentados
anteriormente. Conforme os responsáveis da EMATER municipal, em entrevista3, o município possui
3 Informações obtidas em depoimento no mês de julho de 2014 (Duração: 30 min. e 54 s.).
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uma família de agricultores que tentou trabalhar com o turismo dentro de sua propriedade como
alternativa recebendo visitantes para atividades de lazer. A atividade a ser impulsionada caracteriza-se
como de pesque-pague4 e as famílias utilizaram recursos próprios para tentar desenvolver a atividade
pois não houveram recursos de programas governamentais carreados para auxiliar a família a
impulsionar o empreendimento. O responsável pela EMATER afirmou que atualmente não existem
ações locais tanto de caráter financeiro ou técnico que buscam incentivar e auxiliar os agricultores a
trabalhar com atividades de turismo em suas propriedades. Em entrevista o técnico afirmou que faltam
recursos de infraestrutura, pessoal capacitado e elaboração de projetos que captem os recursos dos
programas do governo.
O estabelecimento em questão foi observado em pesquisa de campo e atualmente a família
trabalha com piscicultura. A propriedade, retratada na Figura 02, conta com 5 tanques onde se criam os
peixes, que são vendidos para a cooperativa que auxilia no financiamento da atividade. Antes da família
implantar esse sistema de piscicultura para a cooperativa a mesma trabalhava na pequena propriedade com
a atividade de pesque-pague. Por falta de incentivos de órgãos públicos e as más condições das estradas
vicinais de acesso a família precisou encerrar o negócio5.
Figura 02: Foto da propriedade Fonte: Autoras
Quando trabalhava com a atividade do pesque-pague, os proprietários chegavam a receber cerca de
50 á 60 pessoas no final de semana. Na propriedade além dos de peixes, os visitantes aproveitavam para
tomar banho, fazer churrasco e realizar outras atividades de lazer no rio que passa ao fundo do
4 Pesque-pague é uma modalidade de pesca que se pratica como um esporte ou hobby, sem que dela dependa a subsistência do pescador. Também se pode chamar de pesca de lazer ou pesca amadora.
5 Informações obtidas em depoimento coletado no mês de julho de 2014 (Duração: 1 h 23 min e 4 s).
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estabelecimento rural familiar. Na figura 03 pode-se observar a lanchonete construída para receber os
visitantes que atualmente encontra-se desativada da sua função inicial depois que as atividades de pesque-
pague foram encerradas.
Figura 03: Lanchonete no centro da propriedade Fonte: Autoras
Na lanchonete que ficava no centro dos tanques tinham cadeiras, mesas e eram vendidas porções.
A maior dificuldade que eles encontravam era a situação da estrada, pois se chovesse e os visitantes
estivessem na propriedade, não conseguiriam voltar para a cidade, pois os carros ficavam atolados na beira
da estrada.
A família fechou o empreendimento cerca de 7 anos atrás e começaram a trabalhar com a
cooperativa. A agricultora, em entrevista, relatou que gostaria de voltar a trabalhar com o pesque-pague,
mas por falta de conhecimento, de capacitação e recursos financeiros fica inviável reabrir.
A paisagem e relevo da localidade se tornam um atrativo que diferencia o modo de produzir das
pequenas famílias, fazendo com que essa atividade diferenciada se torne o atrativo esperado. Porém, apesar
dos prováveis pontos fortes para o avanço do turismo rural os municípios também podem possuir inúmeros
pontos fracos como, por exemplo, a falta de conhecimento sobre a própria atividade do turismo, sobre os
órgãos gestores da atividade em níveis regionais, municipais, estaduais e nacional; desconhecimento sobre
políticas públicas voltadas para o suporte do desenvolvimento de tal atividade; linhas de crédito voltadas
para o fomento do turismo rural; pouca ou nenhuma capacitação dos gestores públicos em nível municipal
para a gestão da atividade; dentre outros inúmeros fatores que se colocam como gargalos para o
desenvolvimento do turismo rural como fator de alternativa de renda para os agricultores de base familiar
dos municípios em questão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A principal conclusão tirada dos dados analisados da zona rural de Rancho Alegre d’Oeste é
que as atividades agrícolas constituem ainda a mais significativa forma de ocupação das famílias
residentes no meio rural, e as não agrícolas constituem também uma forma importante de
complementar à renda dos produtores, tratando-se de uma questão de sobrevivência.
A pluriatividade tem mudado a paisagem do Município, tornando a economia rural mais
dinâmica e diversificada, criando alternativas de sobrevivência, para que o homem do campo
permaneça no meio rural, sem ter que migrar para a cidade e viver na periferia sem emprego e fazer
parte saturação dos centros urbanos.
Os agricultores pluriativos do município de Rancho Alegre d’Oeste não almejam aumentar suas
propriedades, mas sim, terem melhores condições e incentivos para poderem produzir e sobreviver no
campo. Em função do avanço da urbanização de forma crescente, as ruralidades vão sendo
revalorizadas. Além disso, o processo de modernização da agricultura trouxe consequências para áreas
rurais, como a concentração fundiária e o êxodo rural. Dessa forma, o desenvolvimento desigual no
campo, com áreas rurais mais pobres e áreas rurais mais ricas, faz surgir um quadro em que os atores
sociais das áreas menos favorecidas buscam alternativas para seu fortalecimento.
Nesse sentido, com a revalorização das ruralidades, o turismo começa a ser citado como
atividade alternativa para agricultores de base familiar, afirmando que de muitas maneiras pode
auxiliar no desenvolvimento de regiões pobres. Nessa realidade se encontra o município de Rancho
Alegre. Em função de suas características físicas, de morros e colinas, da resistência dos agricultores
na mesma e do baixo índice de desenvolvimento humano, o turismo começa a ser citado como
possível solução, como vetor de desenvolvimento gerando emprego e renda para sua população.
Para melhor atendimento dos antigos turistas, foi construída uma infraestrutura adequada para
melhor acolher os visitantes na propriedade, além disso, a atividade está baseada nas relações de
compra e venda do lazer no meio rural. Essas observações apontam para as dificuldades que se
colocam como impedimento para o avanço da atividade junto aos agricultores do município.
As famílias que vivem no campo e sobrevivem da pluriatividade, que consiste em trabalhar no
campo e na cidade, não conhecem as políticas públicas para os fortalecimentos das atividades não
agrícolas na propriedade. Um dos motivos que dificulta esta comunicação entre as políticas existentes
e os agricultores de base familiar é dos gargalos existentes, como a falta de conhecimento dos
próprios agricultores sobre as mesmas e os entraves dos órgãos responsáveis em levar a cabo
tais ações.
REFERÊNCIAS BENI, M. C. Análise Estrutural do Turismo. São Paulo, Senac , 1997.
IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014
ISSN 1981-6480
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