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O ser Humano na era das tecnologias

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A técnica, comumente considerada uma “ferramenta” à disposição do ser humano,tornou-se, hoje, o verdadeiro “sujeito” da história; o ser humano executa o papel de“funcionário” de seus equipamentos, cumpre aquelas ações descritas e prescritas no rolde “tarefas” das ferramentas e coloca sua personalidade entre parênteses em favor dafuncionalidade. Se, então, a técnica passou a ser o sujeito da história e o ser humanoseu servo obediente, o humanismo pode ser dado por concluído, e as categorias humanísticas,que até agora nós adotamos para ler a história, se tornam insuficientes parainterpretar a época iniciada com a era da técnica.Palavras-chave: técnica, humanismo, natureza

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  • O Ser Humano na Era da Tcnica

    The human being in the age of technique

    Umberto Galimberti

    Resumo

    A tcnica, comumente considerada uma ferramenta disposio do ser humano, tornou-se, hoje, o verdadeiro sujeito da histria; o ser humano executa o papel de funcionrio de seus equipamentos, cumpre aquelas aes descritas e prescritas no rol de tarefas das ferramentas e coloca sua personalidade entre parnteses em favor da funcionalidade. Se, ento, a tcnica passou a ser o sujeito da histria e o ser humano seu servo obediente, o humanismo pode ser dado por concludo, e as categorias hu-mansticas, que at agora ns adotamos para ler a histria, se tornam insuficientes para interpretar a poca iniciada com a era da tcnica.

    Palavras-chave: tcnica, humanismo, natureza.

    Abstract

    Often we have considered the technique as a tool available to the human being, when, instead, the technique has now become the true subject of history; the man was reduced to the role of employee of their equipment. Within them must fulfill the described and prescribed actions that make up the list of tasks, while his personality is bracketed in favor of its functionality. If, then, the technique has become the subject of history and the human being his obedient servant, humanism can be terminated, and the humanistic categories, which until now we have adopted to read the story became insufficient to interpret the period that began at the age of technique.

    Keywords: technique, humanism, nature.

  • O Ser Humano na Era da Tcnica

    Umberto Galimberti

    ano 13 n 218 vol. 13 2015 ISSN 1679-0316

    Traduo: Sandra DallOnder

    Reviso: Ramiro Mincato

  • Cadernos IHU ideias uma publicao quinzenal impressa e digital do Instituto Humanitas Unisinos IHU que apresenta artigos produzidos por palestrantes e convidados(as) dos eventos promovidos pelo Instituto, alm de artigos inditos de pesquisadores em diversas universidades e instituies de pesquisa. A diversidade transdisciplinar dos temas, abrangendo as mais diferentes reas do conhecimento, a caracterstica essencial desta publicao.

    UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS

    Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino, SJVice-reitor: Jos Ivo Follmann, SJ

    Instituto Humanitas Unisinos

    Diretor: Incio Neutzling, SJGerente administrativo: Jacinto Schneider

    www.ihu.unisinos.br

    Cadernos IHU ideiasAno XIII N 218 V. 13 2015ISSN 1679-0316 (impresso)

    Editor: Prof. Dr. Incio Neutzling Unisinos

    Conselho editorial: MS Caio Fernando Flores Coelho; Profa. Dra. Cleusa Maria Andreatta; Prof. MS Gilberto Antnio Faggion; Prof. MS Lucas Henrique da Luz; MS Marcia Rosane Junges; Profa. Dra. Marilene Maia; Profa. Dra. Susana Rocca.

    Conselho cientfico: Prof. Dr. Adriano Neves de Brito, Unisinos, doutor em Filosofia; Profa. Dra. Angelica Massuquetti, Unisinos, doutora em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade; Profa. Dra. Berenice Corsetti, Unisinos, doutora em Educao; Prof. Dr. Celso Cndido de Azambuja, Unisinos, doutor em Psicologia; Prof. Dr. Csar Sanson, UFRN, doutor em Sociologia; Prof. Dr. Gentil Corazza, UFRGS, doutor em Economia; Profa. Dra. Suzana Kilpp, Unisinos, doutora em Comunicao.

    Responsvel tcnico: MS Caio Fernando Flores Coelho

    Arte da capa: Caio Coelho e tomasinhache

    Reviso: Carla Bigliardi

    Editorao eletrnica: Rafael Tarcsio Forneck

    Impresso: Impressos Porto

    Cadernos IHU ideias / Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Instituto Humanitas Unisinos. Ano 1, n. 1 (2003)- . So Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2003- .

    v.

    Quinzenal (durante o ano letivo).

    Publicado tambm on-line: .

    Descrio baseada em: Ano 1, n. 1 (2003); ltima edio consultada: Ano 11, n. 204 (2013).

    ISSN 1679-0316

    1. Sociologia. 2. Filosofia. 3. Poltica. I. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Humanitas Unisinos.

    CDU 316 1

    32

    Bibliotecria responsvel: Carla Maria Goulart de Moraes CRB 10/1252

    ISSN 1679-0316 (impresso)

    Solicita-se permuta/Exchange desired.As posies expressas nos textos assinados so de responsabilidade exclusiva dos autores.

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  • O SER HUMANO NA ERA DA TCNICA

    Umberto Galimberti

    1. A tcnica, comumente considerada uma ferramenta disposio do homem, tornou-se, hoje, o verdadeiro sujeito da histria; o homem executa o papel de funcionrio de seus equipamentos, cumpre aquelas aes descritas e prescritas no rol de tarefas das ferramentas e coloca sua personalidade entre parnteses em favor da funcionalidade.

    Se, ento, a tcnica passou a ser o sujeito da histria e o homem seu servo obediente, o humanismo pode ser dado por concludo, e as categorias humansticas, que at agora ns adotamos para ler a hist-ria, se tornam insuficientes para interpretar a poca iniciada com a era da tcnica.

    De certo modo, a tcnica pode ser considerada a prpria essncia do homem. Porque o homem um ser vivo privado de instintos. A defini-o tradicional de animal racional substancialmente inadequada, pois falta-lhe a caracterstica essencial do animal, o instinto.

    O instinto uma resposta rgida diante de um estmulo. Se eu mostro a um herbvoro um pedao de carne, o herbvoro no percebe a carne como alimento, mas se eu lhe mostrar um fardo de feno, pula imediata-mente para com-lo. Os homens no tm essas respostas rgidas aos estmulos que chamamos de instintos.

    Freud em suas primeiras obras fala de Instinkt, mas depois abando-na esta palavra substituindo-a por Trieb, em portugus pulso, ou seja, um impulso genrico para alguma coisa. O prprio instinto sexual no to instintivo em ns, pois, na presena de um apelo, podemos nos entre-gar a todo tipo de perverso que no acontece com os animais , assim como focar-nos em algo no sexual: uma obra de arte, um poema, uma msica, etc. Freud chama isso de sublimao da pulso sexual.

    Desta forma, o homem no deve ser pensado como um animal dota-do de instintos, mas como um ser vivo que, no sendo codificado pelos instintos, somente sobrevive quando se torna imediatamente tcnico. Neste sentido, podemos datar o nascimento da humanidade no momento

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    em que o primeiro antropoide levantou um basto para pegar uma fruta. O componente tcnico , portanto, a dimenso com a qual o homem com-pensa a falta de instintos, e como representa a sua eminente liberdade.

    A liberdade no para ser considerada cada do cu. O homem livre porque biologicamente deficiente, porque no codificado de uma forma rgida pelos instintos. Assim, a liberdade uma sua indeterminao biolgica. Somos livres exatamente porque no somos codificados pelos instintos, ao contrrio do animal, que, a partir do momento em que nasce, sabe tudo o que tem de fazer at a sua morte.

    A teoria de que os homens no tm instintos foi apresentada pela primeira vez em Protgoras de Plato. Conta-se que Zeus encarregou Epimeteu (epi-metis, aquele que pensa depois, ou seja, imprevidente, inexperiente) de distribuir as qualidades a todos, qualidades que eram, pois, as instintivas. Quando chegou ao homem, j no tinha mais nada, pois havia sido generoso nas entregas anteriores. Ento Zeus, por com-paixo pelo destino humano, encarregou o irmo de Epimeteu, Prometeu (pro-metis, aquele que pensa antes), de dar suas prprias virtudes ao ser humano: a pre-cognio, a pre-viso.

    Hobbes sustenta que, enquanto os animais comem porque tm fo-me, o homem o nico famelicus famis futurae, isto , faminto tambm da fome futura. Ele no precisa ter fome para procurar comida, porque prev, e, mesmo estando saciado, sabe que chegar o momento que precisar de comida. Esta a virtude do homem: capacidade de previso.

    Ento, o homem originalmente nasce tcnico. Pode-se dizer usando uma frmula mais complexa que o dia em que entre os antropoi-des se manifestou pela primeira vez um ato tcnico, naquele dia nasceu o que hoje chamamos de homem.

    * * *

    2. O problema da tcnica foi objeto de estudo na Grcia antes mes-mo do nascimento da filosofia; por exemplo, na tragdia de squilo, intitu-lada Prometeu Acorrentado. No devemos pensar que as tragdias gre-gas sejam representaes teatrais encenadas simplesmente para fazer rir ou chorar. O povo grego o povo mais srio da Terra. Quando surgiram problemas na cidade, eles foram representados no teatro, ou em uma di-menso sagrada. De fato, todas as palavras gregas que comeam por thea, ou seja, theos (deus, entre os quais Zeus), theorema (teorema), theatro (teatro), contm uma referncia ao sagrado.

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    Na tragdia de squilo a qual nos referimos, Prometeu, o amigo dos homens, d-lhes o fogo com o qual eles podem transformar metais e pro-duzir ferramentas. D-lhes a capacidade de clculo, previso e, em al-guns aspectos, os princpios da operacionalidade tcnica. Neste ponto, no entanto, Zeus ficou com medo de que os homens, atravs da tcnica, pudessem se tornar mais poderosos que os deuses. Nesta passagem, j parece bvio o conflito entre religio e cincia. De fato, com a cincia e com a tcnica possvel obter o que antes era necessrio pedir aos deu-ses. Ento Zeus pune Prometeu: o amarra a uma rocha com uma guia que lhe devora o fgado, que continuamente se regenera para garantir o castigo eterno.

    Os mitos precisam ser analisados com muita ateno, porque no so contos, fbulas, puras invenes da imaginao. Nos mitos existe a cincia, o conhecimento. Por exemplo, supondo que o fgado se regene-re, contava-se com a capacidade dos mdicos da escola de Kos (uma pequena ilha grega perto da Turquia atual). Esses mdicos j tinham identificado uma caracterstica fundamental do fgado, que de se rege-nerar continuamente. De fato, a cada trs ou quatro semanas, as clulas do fgado se transformam. Havia, portanto, noes cientficas neste mito.

    Voltando a squilo, num certo momento, o Coro pergunta a Prome-teu quem o mais forte, a tcnica ou a natureza. A pergunta exige imer-so profunda no pensamento grego, isto , libertar-se da concepo crist de natureza, na qual estamos todos impregnados, tanto crentes quanto ateus.

    Na cultura judaico-crist a natureza foi criada pela vontade de Deus, e, como tudo que fruto da vontade, a natureza possui certas caracte-rsticas, mas poderia possuir outras, diferentes. No s. A natureza foi entregue aos homens para seu sustento e para exercer sobre ela seu poder. No livro do Gnesis, de fato, Deus confia a Ado o domnio sobre os animais da terra, sobre os peixes das guas e sobre as aves do cu. A natureza, portanto, produto da vontade de Deus colocada sob domnio do homem.

    Mas isso tudo inconcebvel para os antigos gregos. Para eles, a natureza um todo completamente imutvel, governado pela potente ca-tegoria da necessidade (annke). As leis da natureza no podem sofrer qualquer modificao. O Cosmos no foi criado por nenhum Deus e por nenhum homem diz Herclito , sempre foi e sempre ser imutvel1. No produto de uma vontade, que pode ser de um jeito, mas tambm de outro, e muito menos algo que o homem possa dominar. Plato diz: Ho-

    1 Fragmento n. 30.

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    mem mesquinho, no pense que este Cosmos foi criado para ti. Ters razo se te conformares harmonia universal2.

    Todos aqueles que pensam que os Gregos e, em particular, Plato so os precursores da cultura crist, ou no entenderam os Gregos ou no entenderam o cristianismo, pois h um abismo entre os dois cenrios.

    No mundo grego, os homens contemplam a natureza para compre-ender suas leis e, com elas, construir a ordem da cidade e a ordem da alma. A natureza, portanto, o horizonte de referncia tanto na poltica quanto no governo da alma, hoje outorgada psicologia.

    No mundo judaico-cristo, a natureza entregue ao homem para que a domine. No h contradio entre tcnica e natureza, enquanto para os gregos essa contradio aparecia com toda fora, porque se a natureza imutvel, o que aconteceria se a tecnologia a alterasse? Pro-meteu responde ao Coro de modo lapidar: Tchne dannkes asthenes-tra makr, a tcnica muito mais fraca que a necessidade, pois ela vincula a natureza imutabilidade e regularidade das leis.

    Para Sfocles, em Antgona, o arado sulca a terra, mas a terra logo depois se recompe. O navio ara o mar, mas as ondas recompem ime-diatamente a calmaria sonhada. A natureza no viola a lei da necessidade e a tcnica no vai alm da lei da natureza. A resposta de Prometeu s correta porque naquela poca a tcnica era bastante modesta.

    * * *

    3. Se pularmos dois mil anos, passamos da poca de squilo ao ano 1600 da nossa era, quando ainda se cultivavam os campos exatamente como no tempo dos Gregos; do ponto de vista tcnico, portanto, no ha-viam ocorrido grandes novidades. Por mais que tivssemos a arquitetura e a hidrulica romanas, aproveitavam-se ainda as encostas naturais e os recursos energticos oferecidos pela natureza. Na medicina, no era tan-to o remdio que curava, mas era a natureza que favorecia o processo de cura. Em sntese, a natureza ainda mantinha sua antiga primazia.

    Em 1600, no entanto, surge um fenmeno totalmente novo: a cin-cia moderna. Os nomes de referncia so Bacon, Descartes, Galileu, segundo os quais no era mais necessrio fazer como os gregos, que se limitavam a contemplar a natureza em uma tentativa de capturar as suas leis. necessria eles dizem uma operao inversa: formular

    2 PLATO, Leis, Livro X, 903c.

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    hipteses sobre a natureza, submeter a natureza s experincias, e se a natureza confirmar o experimento, transformamos as nossas suposi-es em leis da natureza. Este o mtodo cientfico, a base da chama-da cincia moderna.

    Dois sculos mais tarde, Kant refere-se quele evento como uma revoluo copernicana. Antes de Coprnico se pensava que a Terra fos-se o centro do universo. Com Coprnico a relao terra-sol se inverte: o centro do universo o sol com a terra que se move em torno dele. Kant tambm menciona dois nomes italianos: Galileu e Torricelli. Eles defen-de o filsofo de Knigsberg no se comportaram, em relao nature-za, como os estudantes que aceitam tudo o que diz o professor, mas co-mo os juzes que exigem que o ru responda s suas perguntas. A natureza agora o ru que responde s perguntas dos homens e, se as hipteses que estes formularam se confirmam, so tidas como leis da natureza.

    Ento, falemos claramente: a essncia do humanismo a cincia. O humanismo no a literatura em torno do homem, no o tratado de Lorenzo Valla, De dignitatae hominis, no a arte que glorifica o ser hu-mano. A essncia do humanismo a cincia, porque, como disse Descar-tes, atravs do mtodo cientfico o homem se torna dominator et posses-sor mundi, dominador e senhor do mundo. O homem descobriu o mtodo para ler a natureza e organiz-la de acordo com seus planos, e desta forma se torna um pouco ingnua a diviso entre as cincias humanas e as cincias naturais, uma vez que a cincia moderna que d ao homem a primazia sobre a ordem natural.

    necessrio, porm, esclarecer duas coisas. Quando se fala de cincia no se deve pensar em alguma coisa pura em relao a qual a tcnica constitui apenas uma aplicao, boa ou ruim, segundo o uso que se faz. Esta compreenso est baseada na falsa convico de que a tc-nica no passa de uma simples aplicao da cincia, quando na verdade ela essncia da cincia. No porque sem a tcnica no seria possvel nenhuma pesquisa cientfica, mas porque a cincia no olha o mundo para contempl-lo, mas para manipul-lo, transform-lo. O olhar cientfico possui logo inteno tcnica que o configura, qualifica e direciona para a manipulabilidade. como se um poeta e um marceneiro fossem visitar a floresta: os dois no enxergariam as rvores do mesmo modo, porque o marceneiro logo veria nela a madeira para os mveis.

    Passemos ao segundo preconceito. verdade que entre cincia e religio entre Zeus e Prometeu, citando o mito anterior h um certo conflito. Mas um conflito relativo, muito menos relevante do que a pro-funda identidade existente entre cincia e teologia.

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    A cincia filha da teologia medieval. Ainda que professe no ter uma finalidade precisa e se movimente como se Deus no existisse, a cincia inunda de metforas teolgicas. A teologia tinha marcado o tempo em passado, presente e futuro, determinando que o passado o mal (o pecado original), o presente o resgate (a redeno trazida por Cristo e, em seguida, por meio das boas obras dos homens) e o futuro a salva-o. Passado, presente e futuro so, portanto, trs tempos homogneos. Esta trade este modo de conceber o tempo a mesma encontrada na cincia, onde o passado ruim, porque representa a ignorncia, o pre-sente a pesquisa e o futuro o progresso. A cincia pensa teologica-mente, e, por isso, pode-se dizer que no trabalho dos cientistas existe uma profunda base teolgica.

    Um bom testemunho disto encontramos em Bacon quando diz expli-citamente que a cincia contribui para a redeno do homem (Novum Organum 52). Por qual motivo? Porque, escreve, por meio da cincia os homens podem recuperar as virtudes preternaturais que Ado possua antes do pecado original, e principalmente porque, e graas a ela, podem reduzir as penas resultantes do pecado original. Estas so como todos sabem a dor (dar luz na dor) e o trabalho (ganhar o po com o suor do rosto). A cincia, ou se preferirmos, a tecnocincia, reduzindo a fadi-ga do trabalho e a atrocidade da dor, contribui para a redeno do ho-mem. Este exatamente o cenrio teolgico no qual nasce a cincia moderna.

    Ainda em 1600, cidades tecnolgicas foram imaginadas e descritas em obras de leitura agradvel, como A Nova Atlntida, de Bacon, Utopia, de Thomas Morus, A cidade do sol, de Campanella. Mas claro que se trata de projees fantsticas, uma vez que, na realidade, a tcnica ainda no tinha encontrado suas aplicaes. Os campos eram cultivados ainda como na poca dos gregos.

    * * *

    4. Demos outro salto de 200 anos para chegar a Hegel. Ele diz duas coisas fundamentais para a estruturao da era tcnica. Na obra Cincia da Lgica Hegel sustenta que a riqueza, no futuro, no ser determinada pela posse dos bens, mas dos instrumentos, porque os bens so con-sumidos, enquanto os instrumentos so capazes de produzir novos bens.

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    Para ns que crescemos no mundo industrial, e depois tcnico, isso parece bvio, mas na poca de Hegel no era assim. Basta pensar que apenas 40 anos antes, Adam Smith o criador da economia poltica, em seu famoso livro Uma investigao sobre a Natureza e as Causas da Ri-queza das Naes havia indicado exatamente os bens como medida da riqueza. Hegel, ao contrrio, diz que no ser mais assim, a riqueza ser determinada pelos instrumentos, pelas mquinas, por aquilo que capaz de produzir, e no por aquilo que consumido.

    A segunda considerao decisiva de Hegel a seguinte: quando um fenmeno cresce do ponto de vista quantitativo, no ocorre somente um aumento de quantidade, mas uma variao qualitativa radical. Hegel d um exemplo muito simples: se eu arrancar um fio de cabelo, sou ainda algum que tem cabelos, se eu arrancar dois fios de cabelo, continuo al-gum com cabelos, mas se eu arrancar todos os cabelos, ento serei calvo. Houve, portanto, uma mudana qualitativa por causa do simples aumento quantitativo de um gesto.

    Marx captura esse teorema de Hegel e o aplica economia. Todos costumam considerar o dinheiro como um meio para atingir determinados fins, a satisfao das necessidades e a produo de bens. Mas diz Marx se o dinheiro aumenta quantitativamente at tornar-se a condio uni-versal para satisfazer qualquer necessidade e para produzir qualquer bem, ento o dinheiro no mais um meio, mas o principal fim, e para obt-lo se condicionar a satisfao das necessidades e em que medida se produziro os bens. O dinheiro passa de meio a fim, e os fins anterio-res passam a ser os instrumentos para atingir aquele fim (o dinheiro), mas que todos continuam a considerar somente um meio.

    O argumento de Marx pode ser aplicado tcnica. Se a tcnica a condio universal para alcanar qualquer objetivo, ela deixa de ser um meio e torna-se o fim primeiro a ser alcanado, para que se possa, de-pois, buscar os outros fins.

    H cerca de quinze anos assistimos queda da Unio Sovitica. Muitas vezes com grande ingenuidade atribuiu-se esta queda a ra-zes humansticas, como as condies materiais de vida ou a falta de liberdades civis e polticas. Mas no so as razes humansticas que de-terminam as quedas histricas.

    No incio dos anos 1960, a Unio Sovitica tinha um dispositivo tc-nico equivalente ao do seu antagonista, o mundo capitalista americano. Naqueles anos, quando a Unio Sovitica lanou o Sputnik, os america-nos no tinham ainda lanado satlites ao espao. A queda da Unio Sovitica, naquela poca, era invivel. Nos anos 1980, no entanto, a ins-trumentao tcnica americana alcana nveis inatingveis pelos soviti-

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    cos, como atestado por Gorbachev, que implora a Reagan que no cons-trua o escudo estelar antimssil, porque eles no tinham nada para contrapor. A esta altura a queda da Unio Sovitica era inevitvel. Como nos lembra Emanuele Severino na obra Il declino del capitalismo3, se o objetivo, ou seja, o comunismo, s pode ser alcanado atravs da dispo-nibilidade tcnica, no possuindo-a, o mesmo no ter mais nenhuma sustentao.

    Do mesmo modo, se a tcnica a condio universal para alcanar qualquer fim, a tcnica no ser mais um meio, mas o fim primeiro, aquilo que todo mundo quer, porque sem ele, mesmo os que so conside-rados verdadeiros fins por exemplo, o comunismo mundial ou o capita-lismo mundial no podero ser alcanados. As consequncias disso, em nvel antropolgico, so enormes. Por motivo de brevidade, limitare-mos a discusso a duas reas apenas: a poltica e a tica.

    * * *

    5. A poltica foi basicamente inventada por Plato, e , no fundo, algo recente. Antes da poltica havia a tirania. Como disse Giacomo Marramao em Dopo il Leviatano4, hoje a poltica parece um soberano destronado, necessria apenas para as representaes, para a coleta e organizao das afetividades, das identidades, das pertenas, mas no mais lugar de deciso. Porque a poltica, para decidir, depende da economia, e esta, por sua vez, decide se os investimentos esto conforme as disponibilida-des e os recursos tcnicos.

    Quando se argumenta que s podemos nos defender dos chineses melhorando a nossa tecnologia e, portanto, investindo em pesquisa, como se reconhecssemos a superioridade da tcnica sobre a economia, que por sua vez superior poltica. A poltica torna-se, assim, o lugar da representao da deciso, mas no mais o lugar da deciso. Isto mui-to perigoso, porque, como Plato nos lembra, as tcnicas sabem como as coisas devem ser feitas, mas no sabem se, de fato, devem ser feitas e nem o porqu de faz-las. Da, para Plato, a necessidade da tcnica regia (basilik tchne), que a poltica, capaz de dar s tcnicas as fina-lidades dos seus procedimentos. Para Plato a poltica devia supervisio-nar a tcnica, mas hoje esta relao est completamente invertida.

    3 SEVERINO, Emanuele. Il declino del capitalismo. Rizzoli editore, 1993.4 MARRAMAO, Giacomo. Dopo il Leviatano. Bollati Boringhieri, 2000.

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    No somente isto. A tcnica tambm subverte a estrutura do poder que, na era pr-tecnolgica, podia ser representada por uma espcie de tringulo. No topo estava o momento da tomada de deciso a vontade do soberano, a lei, o poder , e na base do tringulo, a obedincia ou trans-gresso, a legitimidade ou a ilegitimidade, os cidados ou os sditos.

    Hoje a tcnica no permite mais tal representao do poder. A tcni-ca empodera os que operam seus equipamentos. Assim, por exemplo, bastam dez controladores de trfego areo para paralisar todo aparato da navegao, enquanto uma greve, para ter sucesso, precisar envolver 80-90% dos trabalhadores daquele determinado setor.

    Estamos diante de um novo poder porque a tcnica envolve a coor-denao dos subequipamentos, garantindo o funcionamento regular e a coordenao absoluta. suficiente a interrupo de um pequeno seg-mento para bloquear todo o equipamento. Deste modo, a tcnica confere poder a todos que trabalham no equipamento, um poder que os america-nos identificaram claramente na definio no making power, o poder de no fazer.

    Invocar os polticos com poder de deciso como era comum na Itlia, na poca de Craxi e, de certa forma, ainda hoje na era da tcnica o menos eficiente, porque basta uma pequena absteno para bloquear todo o equipamento. O trabalho do poltico poder ser de mediao, mais do que de deciso. A deciso poltica no compatvel com a funcionali-dade da tcnica.

    A tcnica poderia determinar o fim da democracia (o condicional porque todos somos apaixonados pela democracia, mas, na verdade, po-deramos dizer que ela j acabou). A tcnica, de fato, nos coloca frente a frente com problemas que no sabemos resolver. Basta pensar no ltimo referendo sobre reproduo assistida, ou no debate sobre as usinas nu-cleares, ou sobre os organismos geneticamente modificados. Em todos esses casos, pode-se julgar com competncia somente sendo um mdi-co, um fsico nuclear, um bilogo molecular ou um geneticista. Pessoas sem essas qualificaes especficas tomariam posies de forma irracio-nal, como filiao ideolgica a um partido, fascnio pelos mais persuasi-vos na televiso, simpatia de um poltico.

    Plato teria definido este sistema que hoje poderamos chamar telecracia em termos de retrica ou sofisma. O que era a retrica na poca de Plato? Dos 35 dilogos do filsofo ateniense, uma dezena de-les dirigida contra os retricos e sofistas, isto , contra os que obtm consenso no por argumentos racionais, no ensinando como as coisas so, no distribuindo competncias, no argumentando suas teses, mas

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    defendendo-as em base comoo dos afetos, sofisticao dos paralo-gismos, recorrendo s autoridades e persuaso emocional.

    Segundo Plato, os sofistas deveriam ser expulsos da cidade, porque um sistema democrtico no pode ser criado com linguagem incompreen-svel e com a falta de consenso. Dizer que a telecracia ameaa a democra-cia repropor o problema de Plato a propsito da retrica e da democra-cia. Estamos agora na mesma situao, porque a tcnica traz tona questes que exigem conhecimento muito maior do que possumos.

    Passemos para algumas consideraes em relao tica. Muitas vezes, a tcnica apresenta problemas que exigem decises morais. Mas qual moral apropriada para os eventos tcnico-cientficos? No Ocidente, conhecemos, basicamente, trs tipos: a moral crist, com uma histria grandiosa, pois sobre ela foi construda toda a ordem jurdica europeia. a moral da inteno, no sentido de que o julgamento deve levar em conta a inteno de quem a promoveu ao. Se tinha a inteno de matar, culpado, se matou por engano sem, claro a inteno de faz-lo , o crime culposo, se o delito foi planejado anteriormente, um delito inten-cional, visto que tinha sido planejado, mas se no foi planejado de manei-ra estritamente cientfica, trata-se de um crime preterintencional, e assim por diante. Em todos os casos, estar sempre presente a categoria da inteno na investigao da conscincia, por meio da qual se julgar a bondade ou moralidade da conduta.

    Mas esta tica da inteno na era da tcnica no muito til. Diante de um evento tecnolgico, cujos efeitos podem ser devastadores, pouco importa conhecer as intenes de quem o produziu. No caso da bomba atmica, estamos interessados no seu potencial de destruio, e no nas razes que levaram Fermi e seus amigos a desenvolverem aquele projeto.

    Temos tambm a moral laica, que, por brevidade, resumimos na bela proposta de Kant: O homem deve ser tratado como um fim, nunca como um meio. Esta tambm uma moral de inteno, mas Kant a constri prescindindo de qualquer referncia teolgica, com instrumentos exclusi-vamente racionais. Por isso, pode ser definida como laica. Mas esta uma moral que nunca chegou a acontecer, porque o homem especial-mente na nossa cultura tem sua existncia justificada somente se for um funcionrio, um produtor de algo. Tomemos o exemplo de um imigrante: o fato de que ele exista e at mesmo que tenha necessidades bsicas a serem satisfeitas no legitima sua presena em nosso pas, que, porm, ser reconhecida se tiver alguma funo na produo. Como funcionrio de mercadorias, sua presena legitimada. Marx previu, com lucidez ex-

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    traordinria, a condio do homem na era da tcnica. E, se ele cometeu algum erro, foi somente de dizer menos do que poderia ter dito.

    Mesmo que os homens fossem tratados como fins e no como meios, este tipo de moral teria eficcia limitada. O que significa o homem ser tratado como um fim? Que todo o resto pode ser tratado como um meio. Mas, na era da tcnica, o ar um meio ou um fim a ser preservado? A gua um meio, ou por sua vez um fim a ser preservado? Os animais, as plantas, so meios ou fins a serem tutelados?

    Nenhuma destas morais, nem a laica, nem a crist, se responsa-bilizou pela natureza, porque naquela poca no era necessrio. A populao era pequena, e a natureza, abundante. Hoje, a populao mundial cresce sem medida e coloca em risco a natureza. necess-rio defend-la e proteg-la, mas estamos desprovidos de instrumentos ticos. Existem mecanismos legais, mas ainda no conseguimos me-lhorar a conscincia coletiva de que o poluidor comete um crime do ponto de vista moral. O estupro, s para dar um exemplo, imoral aos olhos de qualquer um, mas a poluio no, portanto a moral laica no est altura dos acontecimentos tcnicos.

    Em 1910 Max Weber teorizou uma moral, reproposta anos depois, em 1980, por um aluno de Heidegger, Hans Jonas. Trata-se da morale della responsabilit (Verantwortungsethik). Max Weber diz: ns no deve-mos olhar as intenes com as quais os homens executam aes, mas os efeitos das suas aes. E acrescenta: enquanto os efeitos forem previs-veis. Porque a mentalidade dos cientistas no ligada ao fim, mas ao processo, no sentido de que um cientista estuda uma determinada mol-cula por vinte anos, e outro, sem uma razo e objetivo, estuda uma outra por quinze anos. Se da combinao dessas habilidades acontecer algo de antropologicamente vantajoso, teremos, ento, alguma incidncia til.

    Por antropologicamente vantajoso, devemos entender tambm, e acima de tudo, economicamente vantajoso. Caso contrrio, j teramos curado a malria e a AIDS das populaes africanas, mas isso no acon-tece, porque a incidncia antropolgica no o objetivo principal do cien-tista, que, em sua pesquisa, no se importa com a utilidade, a finalidade e o destino.

    A tecnocincia no tem outra finalidade que no a sua mxima auto-capacitao. Prova disso o contnuo financiamento de pesquisas sobre energia nuclear. No mundo de hoje, as potncias nucleares tm capacida-de de destruir dez mil vezes a terra, mas isso no interrompeu a pesquisa sobre o aperfeioamento da bomba atmica. Estamos beirando o absur-do. E precisamente o absurdo que nos faz ver a principal caracterstica do aparato tcnico-cientfico, cuja nica finalidade a autocapacitao.

  • 14Umberto Galimberti

    No h nenhum poder controlador da cincia, porque no h poder altura da competncia cientfica. Os nveis de especializao so tais que nos Estados Unidos foram criadas revistas acessveis para fsicos. Elas so capazes de explicar ao fsico A o que est fazendo o fsico B, por meio de uma linguagem simplificada. Nestes nveis de especializao cientfica, quem poder exercer controle sobre eles?

    No entanto, no estamos ainda na era da tcnica completamente difusa. A economia ainda controla a cincia, no sentido de que somente promove pesquisas com incidncia econmica imediata. Mas, em pouco tempo, a tecnocincia tambm estar livre deste controle, pois a mais alta forma de racionalidade j alcanada.

    A economia era a forma mais elevada de racionalidade antes do ad-vento da tcnica, mas cedeu sua superioridade tcnica, porque a eco-nomia ainda sofre de uma paixo humana: a paixo pelo dinheiro, que um elemento irracional do ponto de vista da perfeita funcionalidade e oti-mizao da relao meio-fim. Podemos dizer que a economia, afetada por uma paixo humana, ainda uma cincia humanista, embora ainda condicione aquela competncia non-humanista que a tcnica.

    * * *

    6. A Segunda Guerra Mundial pode ser considerada o limiar da era tcnica. No porque antes no houvesse uma empresa de tecnologia. A tcnica entrou em operao em grande escala no sculo XIX, com a Re-voluo Industrial, e foi especialmente reforada pelas guerras. No entan-to, durante a Segunda Guerra Mundial, assistiu-se a um desenvolvimento tecnolgico que determinou uma mutao antropolgica sem preceden-tes. O modo de pensar deste perodo tornar-se- o paradigma dominante na era da tcnica.

    Esta a crena de Gnter Anders, filsofo alemo refugiado nos Estados Unidos por causa da perseguio nazista. Trabalhando numa fbrica da Ford, disse: Meu mestre Heidegger ensinou que o homem o pastor do ser. Aqui, porm, parece ser o pastor das mquinas que expressam habilidade, preciso, inteligncia to superiores minha que me fazem sentir certa vergonha prometeica em relao produo das mquinas.

    De acordo com Anders, judeu perseguido, houve uma mudana ra-dical de mentalidade na poca nazista. Em sua opinio, este fato mais trgico do que os seis milhes de judeus assassinados. Do que se trata?

  • Cadernos iHU ideias15

    Da passagem do agir para o puro e simples fazer: eu ajo quando fao algo em vista de um objetivo, enquanto eu fao, quando executo bem minhas funes, independentemente do objetivo final, que no conheo, ou, na hiptese de conhec-lo, dele no sou responsvel.

    Durante os julgamentos de Nuremberg, bem como durante o julga-mento de Eichmann, os generais questionados quanto responsabilidade de suas aes respondiam sempre a mesma coisa: Eu simplesmente seguia ordens. Na sociedade da tcnica a resposta est rigorosamente correta. Por isto, diz Anders, o nazismo foi um teatrinho provinciano, onde se fez a experimentao da era tcnica. Passou-se do agir ao fazer, do assumir responsabilidades em relao aos objetivos finais, onde en-contra-se o agir, ao puro assumir uma boa ou m execuo das funes: o fazer puro e simples.

    Gitta Sereny, em suas 170 entrevistas com Franz Stangl, diretor do campo de concentrao de Treblinka, pergunta, essencialmente, sempre a mesma coisa: como fazia para eliminar cinco mil pessoas por dia e, especialmente, o que sentia. Franz Stangl no entendia a pergunta e con-tinuava a repetir a mesma ladainha: chegavam trs mil pessoas s onze da manh, que deviam ser eliminadas at s trs da tarde, porque outras duas mil chegavam e deviam ser eliminadas at o dia seguinte. O mtodo havia sido criado por Wirth. Funcionava. E uma vez que funcionava, era irreversvel. Execut-lo era o meu trabalho (Arbeit).

    Gnter Anders escreveu uma carta de 60 pginas para o piloto ame-ricano que lanou a bomba sobre Hiroshima. Quer entender de onde ele tirou fora e motivao para fazer uma coisa do gnero: lanar uma bom-ba atmica sobre um povo que no conhecia e onde nunca tinha estado, sabendo dos efeitos que produziria. O piloto nunca respondeu carta, mas, tempos depois, durante uma entrevista a um jornal, perguntado so-bre o que teria dito a Anders, sua resposta foi: Nothing, that was my job (Nada, era o meu trabalho). Em outras palavras, se considerava um bom piloto, porque sabia quando e como o boto devia ser pressionado. O que era necessrio era apenas uma habilidade tcnica. Este era o seu traba-lho e, alm disso, no era o responsvel.

    A palavra trabalho, plena de consideraes positivas, na era da tcnica muito perigosa, porque limita a responsabilidade boa execu-o de ordens, e a responsabilidade em relao ao superior, sem qual-quer considerao em relao aos efeitos de suas aes.

    Se fssemos ao local onde se fabricam minas anti-homens, como deveramos classificar a pessoa que ali trabalha, delinquente ou oper-rio? No final, temos que decidir, de alguma forma, preciso defini-lo. Talvez fosse mais apropriado cham-lo de operrio, porque temos certe-

  • 16Umberto Galimberti

    za de que se lhe oferecessem o dobro do salrio para trabalhar em uma indstria de alimentos, ele iria de bom grado. Neste caso, tambm, esta-mos diante de uma indiferena substancial em relao ao objetivo final de um trabalho.

    Quando, h vinte anos, um banco italiano se envolveu no escndalo do fornecimento de armas para Saddam, os funcionrios do banco eram culpados? Evidentemente que no. E aqueles que trabalhavam na em-presa de telefonia americana que contribuiu para o golpe no Chile, e aqueles que possuam aes naquela empresa, eram culpados ou no? Tambm no.

    Quando investimos dinheiro no mercado de aes, somos respons-veis pelos objetivos finais das indstrias que o dinheiro financia? No, porque a tcnica obriga a lidar somente com o setor que abrange a rela-o entre o investimento e a rentabilidade. A responsabilidade termina a. E isso significa passar do agir ao puro e simples fazer. Esta a era da tcnica como frequentemente nos lembra o presidente dos Estados Uni-dos, quando diz que vai permanecer no Iraque at terminar nosso traba-lho, como se fosse apenas uma tarefa, sem responsabilidade final, in-dcio de uma completa ausncia de responsabilizao em relao ao que est realmente acontecendo.

    * * *

    7. Martin Heidegger, talvez porque prximo ideologia nazista, de-pois de ver o teatrinho provinciano mencionado por Gnter Anders, j havia antevisto a era tcnica, sobre a qual escreveu: O que realmente inquietante no que o mundo ser dominado pela tcnica. Muito mais preocupante que o homem no est preparado para essa mudana ra-dical. E ainda mais preocupante que no temos capacidade de chegar, por meio da meditao e do pensamento, a um confronto adequado com o que realmente est acontecendo na nossa poca (Gelassenheit, 1959).

    Hoje, de fato, dispomos apenas daquele tipo de pensamento que Heidegger chama de calculista (Denken als rechnen), capaz somente de fazer contas, de responder ao apelo do til e do vantajoso, de traba-lhar somente naquele breve espao que separa os meios dos fins, de modo a otimizar o uso com o menor custo. A prpria beleza faz parte deste mecanismo, porque at mesmo a obra de arte, quando entra no mercado, ser objeto de clculo e de avaliao. Pois a arte no ter valor em si mesma, se no for comercial e, portanto, calculvel. Des-

  • Cadernos iHU ideias17

    ta forma, no sabemos mais o que belo, bom, justo, virtuoso, santo, e o que verdadeiro.

    H ainda alguns pensamentos livres, mas eles nada mais so que um passatempo, uma atividade dominical. No incidem sobre o que acon-tece no mundo, onde tudo gira em torno da utilidade, da otimizao, da relao meio-fim.

    A tcnica modifica radicalmente o nosso modo de pensar, porque as mquinas, embora concebidas pelos homens, j contm uma objeti-vao da inteligncia humana que muito superior competncia dos indivduos. A memria de um computador muito superior nossa me-mria. E mesmo que seja uma memria burra, ela pode mudar o nosso pensamento, levando-o de problemtico, como sempre foi, a binrio, de acordo com o esquema de 1/0, permitindo-nos apenas dizer sim ou no ou no mximo no sei.

    No foi por acaso que o pensamento humano evoluiu quando supe-rou este tipo de organizao. O pensamento primitivo estava embasado nos binmios luz e sombras, dia e noite, terra e cu. Foram dois os par-metros que iniciaram nossa histria. S depois comeamos a pensar de forma problemtica e complexa. Hoje, o pensamento da lgica binria implode novamente e encontrado em transmisses de programas de perguntas e respostas que acabam trazendo de reboque os noticirios , nos exames escolares e, at mesmo, na universidade.

    Nem se aplica a alegao de que a tcnica boa ou ruim de acordo com o uso que dela se faz, porque o que nos modifica no o bom ou mau uso, mas o simples fato de usarmos. O uso nos modifica. Falar com nossos amigos atravs de um chat significa sofrer uma transformao no modo de se relacionar, porque falar via chat diferente de um encontro face a face. Se os nossos filhos veem televiso quatro ou mais horas por dia inevitvel que o seu modo de pensar, de sentir, mude. E isso, inde-pendentemente da qualidade dos programas, se bons ou ruins. Basta a exposio prolongada.

    At mesmo os nossos sentimentos so significativamente modifica-dos. Ns temos uma psique que responde ao ambiente circundante (Um-welt), aquele onde nascemos e cultivamos nossas relaes e amiza-des. Mas a mdia nos coloca em contato com os problemas do mundo todo (Welt). Ento, como vamos lidar com isso? Se o meu irmo morre eu choro, se morre o meu vizinho, presto condolncias famlia, se me di-zem que a cada segundo morrem de fome oito crianas no mundo, eu sinto muito, mas para mim isso acaba sendo apenas uma estatstica: no reajo mais, porque o cenrio que me oferecido ultrapassa a minha ca-pacidade de percepo emocional. O muito grande deixa-me indiferen-

  • 18Umberto Galimberti

    te. E para no sentir minha impotncia em modificar o curso dos fatos, removo a informao. Nem emotivamente, por isso, estamos altura do evento tcnica.

    Mais uma vez sentimos que tcnica no um meio disposio do homem, mas o prprio ambiente no interior do qual o homem sofre mo-dificaes, no qual ela pode marcar aquele ponto absolutamente novo na histria, talvez irreversvel, onde a questo no mais: O que podemos fazer com a tcnica, mas O que a tcnica poder fazer conosco.

  • Publicaes do Instituto Humanitas Unisinos

    N 47 Alimento e nutri-o: no contexto dos obje-tivos de desenvolvimento do milnio

    Cadernos IHU em formao uma publicao do Instituto Humanitas Unisinos IHU que rene entrevistas e artigos sobre o mesmo tema, j divulgados na revista IHU On-Line e nos Cadernos IHU ideias. Desse modo, queremos facili-tar a discusso na academia e fora dela, sobre temas considerados de fronteira, relacionados com a tica, o trabalho, a teologia pblica, a filosofia, a poltica, a economia, a literatura, os movimentos sociais etc., que caracterizam o Instituto Humanitas Unisinos IHU.

    A publicao dos Cadernos Teologia Pblica, sob a responsabilidade do Instituto Humanitas Unisinos IHU, quer ser uma contribuio para a relevncia pblica da teologia na universidade e na sociedade. A Teologia Pblica busca articular a reflexo teolgica em dilogo com as cincias, as culturas e as religies, de mo-do interdisciplinar e transdisciplinar. Procura-se, assim, a participao ativa nos debates que se desdobram na esfera pblica da sociedade. Os desafios da vida social, poltica, econmica e cultural da sociedade hoje, especialmente a excluso socioeconmica de imensas camadas da populao, constituem o horizonte da teologia pblica. Os Cadernos Teologia Pblica se inscrevem nesta perspectiva.

    N 92 Teologia Materialista Adam Kotsko

  • N 50 Ilustrao e me-tatica em Dogville de Lars von Trier Pedro Marques Harres

    Os Cadernos IHU divulgam pesquisas produzidas por professo-res/pesquisadores e por alunos dos cursos de Ps-Graduao, bem como trabalhos de concluso de acadmicos dos cursos de Graduao. Os artigos publicados abordam os temas tica, tra-balho e teologia pblica, que correspondem aos eixos do Instituto Humanitas Unisinos IHU.

    N 217 A Arte da Cin-cia e a Cincia da Arte: Uma abordagem a partir de Paul Feyerabend Hans Georg Flickinger

    Os Cadernos IHU ideias apresentam artigos produzidos pelos convidados-palestrantes dos eventos promovidos pelo IHU. A diversidade dos temas, abrangendo as mais diferentes reas do conhecimento, um dado a ser destacado nesta publicao, alm de seu carter cientfico e de agradvel leitura.

  • CADERNOS IHU IDEIAS

    N. 01 A teoria da justia de John Rawls Jos NedelN. 02 O feminismo ou os feminismos: Uma leitura das produ-

    es tericas Edla Eggert O Servio Social junto ao Frum de Mulheres em So

    Leopoldo Clair Ribeiro Ziebell e Acadmicas Anemarie Kirsch Deutrich e Magali Beatriz Strauss

    N. 03 O programa Linha Direta: a sociedade segundo a TV Globo Sonia Montao

    N. 04 Ernani M. Fiori Uma Filosofia da Educao Popular Luiz Gilberto Kronbauer

    N. 05 O rudo de guerra e o silncio de Deus Manfred ZeuchN. 06 BRASIL: Entre a Identidade Vazia e a Construo do No-

    vo Renato Janine RibeiroN. 07 Mundos televisivos e sentidos identirios na TV Suza-

    na KilppN. 08 Simes Lopes Neto e a Inveno do Gacho Mrcia

    Lopes DuarteN. 09 Oligoplios miditicos: a televiso contempornea e as

    barreiras entrada Valrio Cruz BrittosN. 10 Futebol, mdia e sociedade no Brasil: reflexes a partir

    de um jogo dison Luis GastaldoN. 11 Os 100 anos de Theodor Adorno e a Filosofia depois de

    Auschwitz Mrcia TiburiN. 12 A domesticao do extico Paula CaleffiN. 13 Pomeranas parceiras no caminho da roa: um jeito de

    fazer Igreja, Teologia e Educao Popular Edla EggertN. 14 Jlio de Castilhos e Borges de Medeiros: a prtica polti-

    ca no RS Gunter AxtN. 15 Medicina social: um instrumento para denncia Stela

    Nazareth MeneghelN. 16 Mudanas de significado da tatuagem contempornea

    Dbora Krischke LeitoN. 17 As sete mulheres e as negras sem rosto: fico, histria

    e trivialidade Mrio MaestriN. 18 Um itinenrio do pensamento de Edgar Morin Maria da

    Conceio de AlmeidaN. 19 Os donos do Poder, de Raymundo Faoro Helga Irace-

    ma Ladgraf PiccoloN. 20 Sobre tcnica e humanismo Oswaldo Giacia JuniorN. 21 Construindo novos caminhos para a interveno socie-

    tria Lucilda SelliN. 22 Fsica Quntica: da sua pr-histria discusso sobre o

    seu contedo essencial Paulo Henrique DionsioN. 23 Atualidade da filosofia moral de Kant, desde a pers-

    pectiva de sua crtica a um solipsismo prtico Valrio Rohden

    N. 24 Imagens da excluso no cinema nacional Miriam Rossini

    N. 25 A esttica discursiva da tev e a (des)configurao da informao Nsia Martins do Rosrio

    N. 26 O discurso sobre o voluntariado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS Rosa Maria Serra Bavaresco

    N. 27 O modo de objetivao jornalstica Beatriz Alcaraz Marocco

    N. 28 A cidade afetada pela cultura digital Paulo Edison Belo Reyes

    N. 29 Prevalncia de violncia de gnero perpetrada por com-panheiro: Estudo em um servio de ateno primria sade Porto Alegre, RS Jos Fernando Dresch Kronbauer

    N. 30 Getlio, romance ou biografia? Juremir Machado da Silva

    N. 31 A crise e o xodo da sociedade salarial Andr Gorz

    N. 32 meia luz: a emergncia de uma Teologia Gay Seus dilemas e possibilidades Andr Sidnei Musskopf

    N. 33 O vampirismo no mundo contemporneo: algumas con-sideraes Marcelo Pizarro Noronha

    N. 34 O mundo do trabalho em mutao: As reconfiguraes e seus impactos Marco Aurlio Santana

    N. 35 Adam Smith: filsofo e economista Ana Maria Bianchi e Antonio Tiago Loureiro Arajo dos Santos

    N. 36 Igreja Universal do Reino de Deus no contexto do emer-gente mercado religioso brasileiro: uma anlise antropo-lgica Airton Luiz Jungblut

    N. 37 As concepes terico-analticas e as proposies de poltica econmica de Keynes Fernando Ferrari Filho

    N. 38 Rosa Egipcaca: Uma Santa Africana no Brasil Colonial Luiz Mott

    N. 39 Malthus e Ricardo: duas vises de economia poltica e de capitalismo Gentil Corazza

    N. 40 Corpo e Agenda na Revista Feminina Adriana BragaN. 41 A (anti)filosofia de Karl Marx Leda Maria PaulaniN. 42 Veblen e o Comportamento Humano: uma avaliao

    aps um sculo de A Teoria da Classe Ociosa Leonardo Monteiro Monasterio

    N. 43 Futebol, Mdia e Sociabilidade. Uma experincia etno-grfica dison Luis Gastaldo, Rodrigo Marques Leist-ner, Ronei Teodoro da Silva e Samuel McGinity

    N. 44 Genealogia da religio. Ensaio de leitura sistmica de Marcel Gauchet. Aplicao situao atual do mundo Grard Donnadieu

    N. 45 A realidade quntica como base da viso de Teilhard de Chardin e uma nova concepo da evoluo biolgica Lothar Schfer

    N. 46 Esta terra tem dono. Disputas de representao sobre o passado missioneiro no Rio Grande do Sul: a figura de Sep Tiaraju Ceres Karam Brum

    N. 47 O desenvolvimento econmico na viso de Joseph Schumpeter Achyles Barcelos da Costa

    N. 48 Religio e elo social. O caso do cristianismo Grard Donnadieu

    N. 49 Coprnico e Kepler: como a terra saiu do centro do uni-verso Geraldo Monteiro Sigaud

    N. 50 Modernidade e ps-modernidade luzes e sombras Evilzio Teixeira

    N. 51 Violncias: O olhar da sade coletiva lida Azevedo Hennington e Stela Nazareth Meneghel

    N. 52 tica e emoes morais Thomas Kesselring Juzos ou emoes: de quem a primazia na moral?

    Adriano Naves de BritoN. 53 Computao Quntica. Desafios para o Sculo XXI

    Fernando HaasN. 54 Atividade da sociedade civil relativa ao desarmamento

    na Europa e no Brasil An VranckxN. 55 Terra habitvel: o grande desafio para a humanidade

    Gilberto DupasN. 56 O decrescimento como condio de uma sociedade

    convivial Serge LatoucheN. 57 A natureza da natureza: auto-organizao e caos

    Gnter KppersN. 58 Sociedade sustentvel e desenvolvimento sustentvel:

    limites e possibilidades Hazel HendersonN. 59 Globalizao mas como? Karen GloyN. 60 A emergncia da nova subjetividade operria: a sociabi-

    lidade invertida Cesar SansonN. 61 Incidente em Antares e a Trajetria de Fico de Erico

    Verssimo Regina Zilberman

  • N. 62 Trs episdios de descoberta cientfica: da caricatura empirista a uma outra histria Fernando Lang da Sil-veira e Luiz O. Q. Peduzzi

    N. 63 Negaes e Silenciamentos no discurso acerca da Ju-ventude Ctia Andressa da Silva

    N. 64 Getlio e a Gira: a Umbanda em tempos de Estado No-vo Artur Cesar Isaia

    N. 65 Darcy Ribeiro e o O povo brasileiro: uma alegoria huma-nista tropical La Freitas Perez

    N. 66 Adoecer: Morrer ou Viver? Reflexes sobre a cura e a no cura nas redues jesutico-guaranis (1609-1675) Eliane Cristina Deckmann Fleck

    N. 67 Em busca da terceira margem: O olhar de Nelson Pe-reira dos Santos na obra de Guimares Rosa Joo Guilherme Barone

    N. 68 Contingncia nas cincias fsicas Fernando HaasN. 69 A cosmologia de Newton Ney LemkeN. 70 Fsica Moderna e o paradoxo de Zenon Fernando

    HaasN. 71 O passado e o presente em Os Inconfidentes, de Joa-

    quim Pedro de Andrade Miriam de Souza RossiniN. 72 Da religio e de juventude: modulaes e articulaes

    La Freitas PerezN. 73 Tradio e ruptura na obra de Guimares Rosa Eduar-

    do F. CoutinhoN. 74 Raa, nao e classe na historiografia de Moyss Vellinho

    Mrio MaestriN. 75 A Geologia Arqueolgica na Unisinos Carlos Henrique

    NowatzkiN. 76 Campesinato negro no perodo ps-abolio: repensan-

    do Coronelismo, enxada e voto Ana Maria Lugo RiosN. 77 Progresso: como mito ou ideologia Gilberto DupasN. 78 Michael Aglietta: da Teoria da Regulao Violncia da

    Moeda Octavio A. C. ConceioN. 79 Dante de Laytano e o negro no Rio Grande Do Sul

    Moacyr FloresN. 80 Do pr-urbano ao urbano: A cidade missioneira colonial e

    seu territrio Arno Alvarez KernN. 81 Entre Canes e versos: alguns caminhos para a leitura

    e a produo de poemas na sala de aula Glucia de Souza

    N. 82 Trabalhadores e poltica nos anos 1950: a ideia de sindicalismo populista em questo Marco Aurlio Santana

    N. 83 Dimenses normativas da Biotica Alfredo Culleton e Vicente de Paulo Barretto

    N. 84 A Cincia como instrumento de leitura para explicar as transformaes da natureza Attico Chassot

    N. 85 Demanda por empresas responsveis e tica Concor-rencial: desafios e uma proposta para a gesto da ao organizada do varejo Patrcia Almeida Ashley

    N. 86 Autonomia na ps-modernidade: um delrio? Mario Fleig

    N. 87 Gauchismo, tradio e Tradicionalismo Maria Eunice Maciel

    N. 88 A tica e a crise da modernidade: uma leitura a partir da obra de Henrique C. de Lima Vaz Marcelo Perine

    N. 89 Limites, possibilidades e contradies da formao hu-mana na Universidade Laurcio Neumann

    N. 90 Os ndios e a Histria Colonial: lendo Cristina Pompa e Regina Almeida Maria Cristina Bohn Martins

    N. 91 Subjetividade moderna: possibilidades e limites para o cristianismo Franklin Leopoldo e Silva

    N. 92 Saberes populares produzidos numa escola de comuni-dade de catadores: um estudo na perspectiva da Etno-matemtica Daiane Martins Bocasanta

    N. 93 A religio na sociedade dos indivduos: transformaes no campo religioso brasileiro Carlos Alberto Steil

    N. 94 Movimento sindical: desafios e perspectivas para os prximos anos Cesar Sanson

    N. 95 De volta para o futuro: os precursores da nanotecno-cincia Peter A. Schulz

    N. 96 Vianna Moog como intrprete do Brasil Enildo de Mou-ra Carvalho

    N. 97 A paixo de Jacobina: uma leitura cinematogrfica Ma-rins Andrea Kunz

    N. 98 Resilincia: um novo paradigma que desafia as religies Susana Mara Rocca Larrosa

    N. 99 Sociabilidades contemporneas: os jovens na lan house Vanessa Andrade Pereira

    N. 100 Autonomia do sujeito moral em Kant Valerio RohdenN. 101 As principais contribuies de Milton Friedman Teoria

    Monetria: parte 1 Roberto Camps MoraesN. 102 Uma leitura das inovaes bio(nano)tecnolgicas a par-

    tir da sociologia da cincia Adriano PremebidaN. 103 ECODI A criao de espaos de convivncia digital

    virtual no contexto dos processos de ensino e aprendi-zagem em metaverso Eliane Schlemmer

    N. 104 As principais contribuies de Milton Friedman Teoria Monetria: parte 2 Roberto Camps Moraes

    N. 105 Futebol e identidade feminina: um estudo etnogrfico sobre o ncleo de mulheres gremistas Marcelo Pizarro Noronha

    N. 106 Justificao e prescrio produzidas pelas Cincias Humanas: Igualdade e Liberdade nos discursos educa-cionais contemporneos Paula Corra Henning

    N. 107 Da civilizao do segredo civilizao da exibio: a famlia na vitrine Maria Isabel Barros Bellini

    N. 108 Trabalho associado e ecologia: vislumbrando um ethos solidrio, terno e democrtico? Telmo Adams

    N. 109 Transumanismo e nanotecnologia molecular Celso Candido de Azambuja

    N. 110 Formao e trabalho em narrativas Leandro R. Pinheiro

    N. 111 Autonomia e submisso: o sentido histrico da adminis-trao Yeda Crusius no Rio Grande do Sul Mrio Maestri

    N. 112 A comunicao paulina e as prticas publicitrias: So Paulo e o contexto da publicidade e propaganda Denis Gerson Simes

    N. 113 Isto no uma janela: Flusser, Surrealismo e o jogo contra Esp. Yentl Delanhesi

    N. 114 SBT: jogo, televiso e imaginrio de azar brasileiro So-nia Montao

    N. 115 Educao cooperativa solidria: perspectivas e limites Carlos Daniel Baioto

    N. 116 Humanizar o humano Roberto Carlos FveroN. 117 Quando o mito se torna verdade e a cincia, religio

    Rber Freitas BachinskiN. 118 Colonizando e descolonizando mentes Marcelo

    DascalN. 119 A espiritualidade como fator de proteo na adolescn-

    cia Luciana F. Marques e Dbora D. DellAglioN. 120 A dimenso coletiva da liderana Patrcia Martins Fa-

    gundes Cabral e Nedio SeminottiN. 121 Nanotecnologia: alguns aspectos ticos e teolgicos

    Eduardo R. CruzN. 122 Direito das minorias e Direito diferenciao Jos

    Rogrio LopesN. 123 Os direitos humanos e as nanotecnologias: em busca de

    marcos regulatrios Wilson EngelmannN. 124 Desejo e violncia Rosane de Abreu e SilvaN. 125 As nanotecnologias no ensino Solange Binotto FaganN. 126 Cmara Cascudo: um historiador catlico Bruna Rafaela

    de LimaN. 127 O que o cncer faz com as pessoas? Reflexos na litera-

    tura universal: Leo Tolstoi Thomas Mann Alexander Soljentsin Philip Roth Karl-Josef Kuschel

    N. 128 Dignidade da pessoa humana e o direito fundamental identidade gentica Ingo Wolfgang Sarlet e Selma Rodrigues Petterle

    N. 129 Aplicaes de caos e complexidade em cincias da vida Ivan Amaral Guerrini

    N. 130 Nanotecnologia e meio ambiente para uma sociedade sustentvel Paulo Roberto Martins

  • N. 131 A phila como critrio de inteligibilidade da mediao comunitria Rosa Maria Zaia Borges Abro

    N. 132 Linguagem, singularidade e atividade de trabalho Mar-lene Teixeira e derson de Oliveira Cabral

    N. 133 A busca pela segurana jurdica na jurisdio e no processo sob a tica da teoria dos sistemas sociais de Nicklass Luhmann Leonardo Grison

    N. 134 Motores Biomoleculares Ney Lemke e Luciano Hennemann

    N. 135 As redes e a construo de espaos sociais na digitali-zao Ana Maria Oliveira Rosa

    N. 136 De Marx a Durkheim: Algumas apropriaes tericas para o estudo das religies afro-brasileiras Rodrigo Marques Leistner

    N. 137 Redes sociais e enfrentamento do sofrimento psquico: sobre como as pessoas reconstroem suas vidas Breno Augusto Souto Maior Fontes

    N. 138 As sociedades indgenas e a economia do dom: O caso dos guaranis Maria Cristina Bohn Martins

    N. 139 Nanotecnologia e a criao de novos espaos e novas identidades Marise Borba da Silva

    N. 140 Plato e os Guarani Beatriz Helena DominguesN. 141 Direitos humanos na mdia brasileira Diego Airoso da

    MottaN. 142 Jornalismo Infantil: Apropriaes e Aprendizagens de

    Crianas na Recepo da Revista Recreio Greyce Vargas

    N. 143 Derrida e o pensamento da desconstruo: o redimen-sionamento do sujeito Paulo Cesar Duque-Estrada

    N. 144 Incluso e Biopoltica Maura Corcini Lopes, Kamila Lockmann, Morgana Domnica Hattge e Viviane Klaus

    N. 145 Os povos indgenas e a poltica de sade mental no Bra-sil: composio simtrica de saberes para a construo do presente Bianca Sordi Stock

    N. 146 Reflexes estruturais sobre o mecanismo de REDD Ca-mila Moreno

    N. 147 O animal como prximo: por uma antropologia dos movi-mentos de defesa dos direitos animais Caetano Sordi

    N. 148 Avaliao econmica de impactos ambientais: o caso do aterro sanitrio em Canoas-RS Fernanda Schutz

    N. 149 Cidadania, autonomia e renda bsica Josu Pereira da Silva

    N. 150 Imagtica e formaes religiosas contemporneas: en-tre a performance e a tica Jos Rogrio Lopes

    N. 151 As reformas poltico-econmicas pombalinas para a Amaznia: e a expulso dos jesutas do Gro-Par e Maranho Luiz Fernando Medeiros Rodrigues

    N. 152 Entre a Revoluo Mexicana e o Movimento de Chia-pas: a tese da hegemonia burguesa no Mxico ou por que voltar ao Mxico 100 anos depois Claudia Wasserman

    N. 153 Globalizao e o pensamento econmico franciscano: Orientao do pensamento econmico franciscano e Caritas in Veritate Stefano Zamagni

    N. 154 Ponto de cultura teko arandu: uma experincia de inclu-so digital indgena na aldeia kaiow e guarani Teikue no municpio de Caarap-MS Neimar Machado de Sousa, Antonio Brand e Jos Francisco Sarmento

    N. 155 Civilizar a economia: o amor e o lucro aps a crise eco-nmica Stefano Zamagni

    N. 156 Intermitncias no cotidiano: a clnica como resistncia inventiva Mrio Francis Petry Londero e Simone Mai-nieri Paulon

    N. 157 Democracia, liberdade positiva, desenvolvimento Stefano Zamagni

    N. 158 Passemos para a outra margem: da homofobia ao respeito diversidade Omar Lucas Perrout Fortes de Sales

    N. 159 A tica catlica e o esprito do capitalismo Stefano Zamagni

    N. 160 O Slow Food e novos princpios para o mercado Eri-berto Nascente Silveira

    N. 161 O pensamento tico de Henri Bergson: sobre As duas fontes da moral e da religio Andr Brayner de Farias

    N. 162 O modus operandi das polticas econmicas keynesia-nas Fernando Ferrari Filho e Fbio Henrique Bittes Terra

    N. 163 Cultura popular tradicional: novas mediaes e legitima-es culturais de mestres populares paulistas Andr Luiz da Silva

    N. 164 Ser o decrescimento a boa nova de Ivan Illich? Serge Latouche

    N. 165 Agostos! A Crise da Legalidade: vista da janela do Consulado dos Estados Unidos em Porto Alegre Carla Simone Rodeghero

    N. 166 Convivialidade e decrescimento Serge LatoucheN. 167 O impacto da plantao extensiva de eucalipto nas

    culturas tradicionais: Estudo de caso de So Luis do Paraitinga Marcelo Henrique Santos Toledo

    N. 168 O decrescimento e o sagrado Serge LatoucheN. 169 A busca de um ethos planetrio Leonardo BoffN. 170 O salto mortal de Louk Hulsman e a desinstitucionaliza-

    o do ser: um convite ao abolicionismo Marco Anto-nio de Abreu Scapini

    N. 171 Sub specie aeternitatis O uso do conceito de tempo como estratgia pedaggica de religao dos saberes Gerson Egas Severo

    N. 172 Theodor Adorno e a frieza burguesa em tempos de tec-nologias digitais Bruno Pucci

    N. 173 Tcnicas de si nos textos de Michel Foucault: A influncia do poder pastoral Joo Roberto Barros II

    N. 174 Da mnada ao social: A intersubjetividade segundo Levinas Marcelo Fabri

    N. 175 Um caminho de educao para a paz segundo Hobbes Lucas Mateus Dalsotto e Everaldo Cescon

    N. 176 Da magnitude e ambivalncia necessria humani-zao da tecnocincia segundo Hans Jonas Jelson Roberto de Oliveira

    N. 177 Um caminho de educao para a paz segundo Locke Odair Camati e Paulo Csar Nodari

    N. 178 Crime e sociedade estamental no Brasil: De como la ley es como la serpiente; solo pica a los descalzos Lenio Luiz Streck

    N. 179 Um caminho de educao para a paz segundo Rousseau Mateus Boldori e Paulo Csar Nodari

    N. 180 Limites e desafios para os direitos humanos no Brasil: entre o reconhecimento e a concretizao Afonso Ma-ria das Chagas

    N. 181 Aptridas e refugiados: direitos humanos a partir da ti-ca da alteridade Gustavo Oliveira de Lima Pereira

    N. 182 Censo 2010 e religies:reflexes a partir do novo mapa religioso brasileiro Jos Rogrio Lopes

    N. 183 A Europa e a ideia de uma economia civil Stefano Zamagni

    N. 184 Para um discurso jurdico-penal libertrio: a pena como dispositivo poltico (ou o direito penal como discurso-li-mite) Augusto Jobim do Amaral

    N. 185 A identidade e a misso de uma universidade catlica na atualidade Stefano Zamagni

    N. 186 A hospitalidade frente ao processo de reassentamento solidrio aos refugiados Joseane Marile Schuck Pinto

    N. 187 Os arranjos colaborativos e complementares de ensino, pesquisa e extenso na educao superior brasileira e sua contribuio para um projeto de sociedade susten-tvel no Brasil Marcelo F. de Aquino

    N. 188 Os riscos e as loucuras dos discursos da razo no cam-po da preveno Luis David Castiel

    N. 189 Produes tecnolgicas e biomdicas e seus efeitos produtivos e prescritivos nas prticas sociais e de gne-ro Marlene Tamanini

    N. 190 Cincia e justia: Consideraes em torno da apropria-o da tecnologia de DNA pelo direito Claudia Fonseca

    N. 191 #VEMpraRUA: Outono brasileiro? Leituras Bruno Lima Rocha, Carlos Gadea, Giovanni Alves, Giuseppe Cocco, Luiz Werneck Vianna e Rud Ricci

  • N. 192 A cincia em ao de Bruno Latour Leticia de Luna Freire

    N. 193 Laboratrios e Extraes: quando um problema tcnico se torna uma 0questo sociotcnica Rodrigo Ciconet Dornelles

    N. 194 A pessoa na era da biopoltica: autonomia, corpo e sub-jetividade Heloisa Helena Barboza

    N. 195 Felicidade e Economia: uma retrospectiva histrica Pedro Henrique de Morais Campetti e Tiago Wickstrom Alves

    N. 196 A colaborao de Jesutas, Leigos e Leigas nas Univer-sidades confiadas Companhia de Jesus: o dilogo en-tre humanismo evanglico e humanismo tecnocientfico Adolfo Nicols

    N. 197 Brasil: verso e reverso constitucional Fbio Konder Comparato

    N. 198 Sem-religio no Brasil: Dois estranhos sob o guarda-chuva Jorge Claudio Ribeiro

    N. 199 Uma ideia de educao segundo Kant: uma possvel contribuio para o sculo XXI Felipe Bragagnolo e Paulo Csar Nodari

    N. 200 Aspectos do direito de resistir e a luta socialpor moradia urbana: a experincia da ocupao Razes da Praia Natalia Martinuzzi Castilho

    N. 201 Desafios ticos, filosficos e polticos da biologia sintti-ca Jordi Maiso

    N. 202 Fim da Poltica, do Estado e da cidadania? Roberto Romano

    N. 203 Constituio Federal e Direitos Sociais: avanos e recuos da cidadania Maria da Glria Gohn

    N. 204 As origens histricas do racionalismo, segundo Feyera-bend Miguel ngelo Flach

    N. 205 Compreenso histrica do regime empresarial-militar brasileiro Fbio Konder Comparato

    N. 206 Sociedade tecnolgica e a defesa do sujeito: Techno-logical society and the defense of the individual Karla Saraiva

    N. 207 Territrios da Paz: Territrios Produtivos? Giuseppe Cocco

    N. 208 Justia de Transio como Reconhecimento: limites e possibilidades do processo brasileiro Roberta Cami-neiro Baggio

    N. 209 As possibilidades da Revoluo em Ellul Jorge Barrientos-Parra

    N. 210 A grande poltica em Nietzsche e a poltica que vem em Agamben Mrcia Rosane Junges

    N. 211 Foucault e a Universidade: Entre o governo dos outros e o governo de si mesmo Sandra Caponi

    N. 212 Verdade e Histria: arqueologia de uma relao Jos DAssuno Barros

    N. 213 A Relevante Herana Social do Pe. Amstad SJ Jos Odelso Schneider

    N. 214 Sobre o dispositivo. Foucault, Agamben, Deleuze San-dro Chignola

    N. 215 Repensar os Direitos Humanos no Horizonte da Liberta-o Alejandro Rosillo Martnez

    N. 216 A realidade complexa da tecnologia Alberto CupaniN. 217 A Arte da Cincia e a Cincia da Arte: Uma abordagem

    a partir de Paul Feyerabend Hans Georg Flickinger

  • Umberto Galimberti nasceu em Monza em 1942, Professor de Antropologia Cultural desde 1976 e Professor Associado de Filo-sofia da Histria desde 1983. Desde 1999, tem desenvolvido ativi-dades como professor da Universidade Ca Foscari de Veneza. Em 1985, Galimberti se tornou membro de pleno direito da Associao Internacional de Psicologia Analtica. Foi curador e responsvel pela traduo da obra de Karl Jaspers na Itlia. J colaborou regu-larmente com diferentes jornais italianos, entre eles La Repubblica e Il Sole 24 ORE. Em 2011 foi agraciado com o Prmio Ignazio Silone per la cultura.

    Algumas obras do autorGALIMBERTI, Umberto. Cristianesimo: la religione dal cielo vuoto. Milo: Feltrinelli, 2012.

    ______. Dicionrio de Psicologia. So Paulo: Paulinas, 2010.

    ______. Il miti del nostro tempo. Milo: Feltrinelli, 2009.

    ______. Coisas do amor. Casal de Cambra: Caleidoscopio, 2009.

    ______. Psiche e techne. O homem na idade da tcnica. So Paulo: Paulus, 2005.

    ______. Os vcios capitais e os novos vcios. So Paulo: Paulus, 2004.

    _______. Rastros do sagrado. So Paulo: Paulus, 2003.

    Outras publicaesGALIMBERTI, Umberto. A dimenso racional da Tcnica e a modelagem da vida [29/10/2013]. Revista IHU On-line. So Leopoldo: Instituto Humanitas Unisinos IHU. Entrevista concedida Mrcia Junges e Ricardo Machado.

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