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Érica Gutierrez R.A. 131308 8º Semestre de Pedagogia O PAPEL DO PEDAGOGO NO CONTEXTO HOSPITALAR Bragança Paulista 2007

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Érica Gutierrez

R.A. 131308

8º Semestre de Pedagogia

O PAPEL DO PEDAGOGO NO CONTEXTO HOSPITALAR

Bragança Paulista 2007

Érica Gutierrez

R.A. 131308

8º semestre de Pedagogia

O PAPEL DO PEDAGOGO NO CONTEXTO HOSPITALAR

Monografia apresentada à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Pedagogia da Universidade São Francisco, sob orientação da Professora Drª Rita da Penha Campos Zenorini, como exigência para conclusão do curso.

Bragança Paulista 2007

GUTIERREZ, Érica. O Papel do Pedagogo no Contexto Hospitalar. Monografia defendida e aprovada na Universidade São Francisco em 10 de dezembro de 2007 pela banca examinadora constituída pelos professores: ___________________________________________________________________________ Profª. Drª. Rita da Penha Campos Zenorini USF - orientadora ___________________________________________________________________________ Profº. Ms. Edmilson Nogueira USF - examinador

Dedico este trabalho, a todas as crianças que por algum motivo necessitam usufruir do trabalho oferecido pelos pedagogos e ou professores que atuam no âmbito hospitalar.

AGRADECIMENTOS Enfim, encontro-me ao término deste curso, concretizando o sonho de ser Pedagoga.

Tarefa árdua e de longa jornada, por isto devo meus agradecimentos a todas as pessoas generosas

que fizeram parte da minha história, contribuindo direta e indiretamente na elaboração deste

trabalho e para a minha formação profissional.

E em especial:

A Deus pela oportunidade de viver, pela força, saúde e sabedoria concedida a cada dia que

iluminou meus pensamentos e idéias.

Aos meus pais Renê e Marisa pelo esforço dedicado em todos estes anos, pelas horas de incentivo

e paciência e por participarem comigo nesta conquista.

A todos os professores do curso de Pedagogia que, durante a graduação, tanto contribuíram para

o meu crescimento intelectual e pessoal.

As minhas queridas amigas Milena Machado, Cátia Rodrigues, Juliana Nascimento, Helen

Gameiro, Renata Pereira, Patrícia Mello e Daniele Menegazi pela amizade, alegria,

companheirismo nestes quatro anos que com muito carinho e dedicação não mediram esforços

para conquistar aquilo que desejavam e que com exemplo e coragem, transmitiram valores de

justiça, respeito e cidadania.

Ao professor Edmilson pela ajuda indispensável na realização deste estudo e pela participação na

banca examinadora.

À professora Rita da Penha Campos Zenorini, por todos os momentos de aprendizado, pelo

constante estímulo em todas as fases da realização desta pesquisa e por todo o crescimento

pessoal e profissional que me proporcionou.

Não existem palavras para expressar toda a gratidão e homenagem a todas as pessoas

citadas, mas as palavras e agradecimentos não poderão substituir o tempo presente, assim cada

momento vivido ficará em minha lembrança acompanhado de muitas saudades.

Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho.

Os homens se educam em comunhão. (Paulo Freire)

GUTIERREZ, Érica. O Papel do Pedagogo no Contexto Hospitalar. 2007. Monografia – Curso de Pedagogia da Unidade Acadêmica da Área de Ciências Humanas e Sociais da Universidade São Francisco. Bragança Paulista

RESUMO A partir do acompanhamento pedagógico no contexto hospitalar, torna-se possível dar um atendimento mais humanizado para crianças e adolescentes que necessitam se afastar da escola para serem hospitalizadas. O atendimento escolar no ambiente hospitalar é denominado de classe hospitalar, este é um espaço pedagógico que aborda propostas educativas escolares, atendendo crianças e adolescentes de acordo com as necessidades de cada um, favorecendo a reinserção desta criança ao seu convívio escolar. Este trabalho propõe como objetivos, por meio de uma pesquisa bibliográfica, relatar as práticas pedagógicas desenvolvidas no hospital como diferentes possibilidades de produção de conhecimento e ainda destacar a importância das contribuições que o pedagogo pode trazer às crianças e adolescentes hospitalizados. Foi possível constatar por meio de relatos de experiências ocorridas em instituições hospitalares, que os projetos desenvolvidos relatam o valor de cada prática pedagógica que é desenvolvida na classe hospitalar, otimizando assim a recuperação das crianças internadas.

Palavras-chave: PEDAGOGIA HOSPITALAR, PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, CLASSE

HOSPITALAR.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................................08

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................................11

2.1. A Classe Hospitalar.................................................................................................................11

2.2. Legislação...............................................................................................................................12

2.3. PRÁTICAS EDUCATIVAS DESENVOLVIDAS NO HOSPITAL.... ...............................15

2.3.1 O brincar no hospital.............................................................................................................15

2.3.2 A brinquedoteca....................................................................................................................18

2.3.3 Brinquedoteca hospitalar......................................................................................................20

2.4 Biblioterapia............................................................................................................................23

2.5 Acompanhamento Pedagógico Educacional...........................................................................27

2.6 A atuação do Pedagogo no âmbito hospitalar.........................................................................30

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................33

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................35

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1. INTRODUÇÃO

Educação para todos é um compromisso assumido pelo Ministério da Educação – MEC,

por meio da Secretaria de Educação Especial, com a finalidade de garantir a inclusão de alunos

que apresentam necessidades especiais no sistema educacional. O direito de todos à educação é

garantido pela Política Nacional de Educação do MEC que assegura a estes alunos o atendimento

educacional, integrados ou não na rede regular de ensino.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nº. 9394/96 define educação especial como uma

modalidade da educação escolar, que deve contar com um conjunto de recursos e procedimentos

específicos do processo de ensino e aprendizagem colocados à disposição dos alunos com

necessidades especiais, em respeito às suas diferenças para que eles tenham acesso ao currículo e

conseqüentemente, conquistem sua integração social.

A classe hospitalar constituiu-se numa modalidade de atendimento educacional

especializado e faz parte da educação especial. Vale destacar a importância desse trabalho, que

permite um atendimento mais igualitário e humanizado e que deve ser colocado à disposição de

toda criança ou adolescente que possui doença crônica e precisa se afastar da escola para ser

hospitalizado.

Segundo Fonseca (2003) a classe hospitalar é um atendimento reconhecido pela legislação

brasileira que dá o direito à continuidade da escolarização a crianças e adolescentes no ambiente

hospitalar. Tem por objetivo o atendimento pedagógico-educacional e busca atender às

necessidades do desenvolvimento psíquico e cognitivo de crianças e jovens que, dadas as suas

condições especiais de saúde, se encontram impossibilitados de partilhar as experiências sócio-

intelectuais de sua família, de sua escola e de seu grupo social.

Dentre as práticas educativas desenvolvidas no contexto hospitalar o lúdico e a brincadeira

possuem um importante papel no desenvolvimento da aprendizagem e do conhecimento, além de

permitir a socialização da criança. É por meio do lúdico e das brincadeiras que a criança constrói

sua realidade de acordo com seus interesses e desejos.

Segundo Kishimoto (1993), é por meio da brincadeira que a criança vai conhecer, aprender

e se constituir como alguém pertencente a um grupo formando uma identidade cultural. A

brincadeira enquanto ações humanas são situações de construção de significado, de indagação e

transformação do mesmo, e emoções, afetividade e relações interpessoais.

9

Para que se obtenha um bom resultado em relação ao desenvolvimento e na recuperação

desta criança é necessário que o educador, junto com a família da criança e o hospital interajam e

assim consigam vencer os obstáculos. E para que haja esta interação, fica nítida a importância da

brinquedoteca no contexto hospitalar. Esta tem como objetivo tornar a estada da criança no

hospital um pouco mais alegre e menos traumatizante, favorecendo o equilíbrio emocional e

desenvolvendo a criatividade, a inteligência e a sociabilidade da criança. (CUNHA apud

RAMALHO, 2000).

Uma outra prática desenvolvida é a biblioterapia cujo objetivo primário é humanizar o

processo de tratamento das crianças realizando a leitura de histórias com propósitos terapêuticos

(CALDIM, 2000). De acordo com a autora as práticas de leitura podem ajudar à criança a superar

seus medos, suas angústias e a ansiedade que acompanha sua doença, proporcionando alívio,

serenidade e consolo à comunidade infantil que se encontra hospitalizada, bem como diminuir o

stress de seus acompanhantes.

Esses procedimentos educacionais mencionados, assim como outros, tais como a

musicoterapia, os doutores da alegria, entre outros, são desenvolvidos em muitos hospitais por

voluntários das mais diversas áreas de atuação. No entanto o atendimento pedagógico em classe

hospitalar, que consiste na assistência didático-pedagógica, proporciona à criança e ao

adolescente o acesso aos conteúdos programáticos de sua escola de origem para que as mesmas

continuem estudando e não percam o ano letivo. Retifica também o direito à cidadania dessas

pessoas, além de ser um importante apoio ajudando-as a enfrentar a ruptura brusca de seu

cotidiano e os distúrbios que o ambiente do hospital costuma provocar.

A atuação do pedagogo no hospital vem se destacando a cada dia, é de extrema importância

a sua presença entre as crianças e adolescentes que ali se encontram. O trabalho desenvolvido por

este profissional possibilita o incentivo ao crescimento intelectual desses indivíduos, pois ele

buscará conhecer as necessidades curriculares de cada um, proporcionar condições adequadas de

aprendizagem, atender às especificidades, contribuindo assim para que não haja rupturas no

processo de ensino-aprendizagem, suprindo as carências cognitivas por meio de todas as práticas

pedagógicas acima citadas.

No entanto, nota-se que embora a atuação do pedagogo no ambiente hospitalar venha

crescendo nos últimos anos, essa ainda é uma área desconhecida para muitos educadores. Foi

considerando isso, que este trabalho propõe como objetivos, por meio de uma pesquisa

10

bibliográfica, relatar as práticas pedagógicas desenvolvidas no hospital como diferentes

possibilidades de produção de conhecimento e ainda destacar a importância das contribuições que

o pedagogo pode trazer às crianças e adolescentes hospitalizados.

Este trabalho será organizado com a seguinte estrutura, no primeiro capítulo serão

abordados os direitos das crianças e do adolescente hospitalizados, a obrigatoriedade das

brinquedotecas em hospitais com atendimento pediátrico em regime de internação, sobre a classe

hospitalar e seus objetivos.

Já no segundo capítulo falar-se-á da importância do brincar no desenvolvimento infantil,

dos diferentes tipos de brinquedotecas, mas em especial da brinquedoteca hospitalar, da

biblioterapia, da importância da escolarização em regime especial, às crianças e adolescentes por

meio do acompanhamento pedagógico-educacional, de maneira que ao sair do hospital a criança

possa dar continuidade ao ensino e dos relatos de experiência de cada prática educativa citadas

acima e da atuação do pedagogo no ambiente hospitalar.

E, finalmente, serão apresentadas as considerações finais deste trabalho.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. A Classe Hospitalar

As crianças e adolescentes quando hospitalizadas sofrem pelo distanciamento dos

familiares, dos amigos, e do seu ambiente social que é a escola, por isso destaca-se a importância

de se ter um acompanhamento pedagógico no hospital, que amenize o impacto causado por este

afastamento. A classe hospitalar busca recuperar a socialização da criança por um processo de

inclusão, dando continuidade a sua aprendizagem.

Fonseca (2003) conceitua classe hospitalar como a modalidade educacional que procura

atender pedagogicamente crianças e jovens que dadas suas condições de saúde, estejam

hospitalizados para tratamento médico e impossibilitados de participar das rotinas de sua família,

sua escola e de sua comunidade.

Fontes (2003) coloca que dentre alguns dos objetivos da classe hospitalar está a

possibilidade de compensar faltas e devolver um pouco de normalidade à maneira em que é feito

o seu tratamento de doença, sem esquecer as necessidades pessoais. Para a autora a intervenção

faz com que a criança mantenha rastros que a ajudem a recuperar seu caminho e garantir o

reconhecimento da sua identidade. Para Vasconcelos (2002) o principal objetivo da classe hospitalar é fazer um

acompanhamento das crianças com dificuldades graves de saúde física ou mental e que estão

definitiva ou temporariamente impedidos de freqüentar a escola regular

O processo de criação das classes escolares em hospitais é resultado do reconhecimento

formal de que crianças hospitalizadas, independentemente do período de permanência na

instituição ou de outro fator qualquer, têm necessidades educativas e direitos de cidadania, na

qual se inclui a escolarização.

De acordo com Fonseca e Ceccim (1999), o trabalho com a classe hospitalar não é

recente, os autores colocam que a partir da segunda metade do século XX, observou-se que, em

países desenvolvidos, como a Inglaterra, as instituições que prestavam algum tipo de assistência

às crianças, violavam aspectos básicos do seu desenvolvimento, e foi daí que decorreu a

iniciativa de por em prática experiências educativas para as crianças que estavam internadas em

instituições hospitalares. Com o tempo, o processo foi incorporado aos hospitais do Brasil.

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Após alguns projetos serem encaminhados ao Ministério da Educação mostrando a

importância do atendimento à classe hospitalar, no ano de 1997 o programa obteve

reconhecimento oficial. A partir disto os pedagogos começaram a ministrar os atendimentos

dando continuidade aos estudos de acordo com o currículo da escola em que a criança

encontrava-se matriculada. E foi a partir deste momento que o atendimento pedagógico na classe

hospitalar, amparado por lei vem crescendo, mesmo que lentamente em todo o país (TEDIOLLI,

2006).

Observa-se a valorização e o reconhecimento deste trabalho vem crescendo assim como o

apoio dos órgãos governamentais para que se amplie o conhecimento sobre o trabalho da classe

hospitalar.

Diante das citações apresentadas torna-se relevante o conhecimento das leis que amparam

e norteiam os atendimentos pedagógicos no contexto hospitalar.

2.2. Legislação

Para oferecer uma proteção mais adequada às crianças e adolescentes hospitalizados, em

1995, por meio da Resolução nº. 41, de 13/10/1995, foi implantada a lei dos Direitos da Criança e

do Adolescente Hospitalizados. Estas normas buscam garantir às crianças e aos adolescentes

hospitalizados uma condição digna e respeitosa.

1. Direito à proteção, à vida e à saúde, com absoluta prioridade e sem qualquer forma de discriminação.

2. Direito a ser hospitalizado quando for necessário ao seu tratamento, sem distinção de classe social, condição econômica, raça ou crença religiosa.

3. Direito a não ser ou permanecer hospitalizado desnecessariamente por qualquer razão alheia ao melhor tratamento de sua enfermidade.

4. Direito a ser acompanhado por sua mãe, pai ou responsável, durante todo o período de sua hospitalização, bem como receber visitas.

5. Direito a não ser separado da mãe ao nascer. 6. Direito a receber aleitamento materno sem restrições. 7. Direito a não sentir dor, quando existam meios para evitá-la. 8. Direito a ter conhecimento adequado de sua enfermidade, dos cuidados

terapêuticos e diagnósticos a serem utilizados, do prognóstico, respeitando sua fase cognitiva, além de receber aparo psicológico, quando se fizer necessário.

9. Direito de desfrutar alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde e acompanhamento do currículo escolar, durante sua permanência hospitalar.

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10. Direito a que seus pais ou responsáveis participem ativamente de seu diagnóstico, tratamento e prognóstico, recebendo informações sobre os procedimentos a que será submetido.

11. Direito a receber apoio espiritual e religioso conforme prática de sua família. 12. Direito a não ser objeto de ensaio clínico, provas diagnósticas e terapêuticas,

sem o consentimento informado de seus pais ou responsáveis e o seu próprio, quando tiver discernimento para tal.

13. Direito a receber todos os recursos terapêuticos disponíveis para sua cura, reabilitação e/ou prevenção secundária e terciária.

14. Direito à proteção contra qualquer forma de discriminação, negligência ou maus tratos.

15. Direito ao respeito de sua integridade física, psíquica e moral. 16. Direito à preservação de sua imagem, identidade, autonomia de valores, dos

espaços e objetos pessoais. 17. Direito a não ser utilizado pelos meios de comunicação, sem a expressa

vontade de seus pais ou responsáveis ou a sua própria vontade, resguardando-se a ética.

18. Direito de confidência dos seus dados clínicos, bem como Direito a tomar conhecimento dos mesmos, arquivados na Instituição, pelo prazo estipulado em lei.

19. Direito a ter seus direitos Constitucionais e os contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente, respeitados pelos hospitais integralmente.

20. Direito a uma morte digna, junto a seus familiares, quando esgotados todos os recursos terapêuticos disponíveis.

Diante da legislação citada, compreende-se o direito à educação da criança e do adolescente

que por algum problema de saúde não freqüenta a escola, sendo impedidos de obter acesso à

educação, assim, como toda criança e adolescente tem o direito à escolarização na instituição

escolar, esse mesmo direito abrange a continuidade a essa escolarização durante a internação

hospitalar.

A Lei 8069 de 1990 “Estatuto da Criança e do Adolescente” ECA assegura no art.53 que

“toda criança e adolescente tem direito a educação”. O ECA ainda confirma o direito

constitucional da educação por meio do art.4:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos à vida, à saúde, a alimentação, a educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e á convivência familiar e comunitária.

A Lei nº. 9.364/96 de Diretrizes e Bases da Educação, descreve no seu artigo 4º que “a

educação é dever da família e do Estado”. Entende-se portanto, que é dever da família possibilitar

o acesso a educação e do Estado é de oferecer e proporcionar gratuitamente a escolarização.

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Contemplando ainda este direito, foi criada a portaria nº. 2.261/GM, de 23 de novembro de

2005, que instituiu que todas as unidades de saúde do país que tem atendimento pediátrico em

regime de internação são obrigadas a ter brinquedotecas em suas dependências. Esta iniciativa

tem por objetivo tornar a criança um parceiro ativo em seu processo de tratamento, aumentando a

aceitabilidade em relação à internação hospitalar, de forma que sua permanência seja mais

agradável. De acordo com o Capítulo II, art. 3º desta portaria, a brinquedoteca é um espaço

provido de brinquedos e jogos educativos, destinado a estimular as crianças e seus

acompanhantes a brincar, contribuindo para a construção e/ou fortalecimento das relações de

vínculo e afeto entre as crianças e seu meio social.

O capítulo III, art. 5º, coloca que os estabelecimentos hospitalares pediátricos devem

disponibilizar brinquedos variados, bem como propiciar atividades com jogos, brinquedos,

figuras, leitura e entretenimento nas unidades de internação e tratamento pediátrico como

instrumentos de aprendizagem educacional e de estímulos positivos na recuperação da saúde.

Com isto visa-se estimular positivamente o processo de cura, utilizando o brincar como forma de

lazer, alívio de tensões e como instrumento privilegiado de crescimento e desenvolvimento

infantil, proporcionando momentos de diálogo entre os familiares, as crianças e a equipe,

facilitando a integração entre os pacientes e o corpo funcional do hospital.

Coloca ainda à disposição para as crianças impossibilitadas de andar ou sair do leito, que

os profissionais devem facilitar o acesso desses pacientes às atividades desenvolvidas pela

brinquedoteca, dentro da enfermaria.

A portaria também estabelece no capítulo V, art. 7º, que a qualificação dos profissionais

da equipe serão determinados pelas necessidades de cada instituição, podendo funcionar com

equipes de profissionais especializados, equipes de voluntários ou equipes mistas.

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2.3. As práticas educativas desenvolvidas no hospital 2.3.1. O brincar no hospital

É brincando, que a criança aprende a lidar com o mundo, no sentido de recriar situações

que vivenciam em seu cotidiano, trabalhando com alguns sentimentos como, amor, medo, raiva,

afeto entre outros.

Segundo Kishimoto (1993), é por meio da brincadeira que a criança vai conhecer,

aprender e se constituir como alguém pertencente a um grupo formando uma identidade cultural.

As brincadeiras enquanto ações humanas são situações de construção de significado, de

indagação e transformação do mesmo, e emoções, afetividade e relações interpessoais. A autora,

relata que o ato de brincar insere-se em explicações psicológicas enquanto elemento funcional do

sujeito que constrói seu conhecimento. Dessa forma, brincar consiste em estratégia, que auxilia

na construção da individualidade.

Para Ramalho (2000, p. 66),

Brincar é importante porque é uma atividade que oferece a oportunidade de desenvolvimento de maneira prazerosa, a criança brinca e desenvolve-se na brincadeira. Brincar é diversão e prazer. O brincar possibilita experimentação, invenção, descoberta. Quando brinca, a criança se exercita e desenvolve habilidades motoras, além disso, a atividade de brincar é fundamental à saúde física, intelectual e afetiva, como também contribui para a formação de um futuro adulto equilibrado.

O brincar é uma atividade que funciona como instrumento de interpretação da realidade,

podendo assumir diversas formas desde o faz-de-conta, jogos de regras as atividades físicas e

outras, sendo que é fundamental que a criança brinque.

De acordo com Fantin (apud RAMALHO 2000, p.70),

A brincadeira possibilita saber como a criança vê o mundo e como gostaria que ele fosse, pois na brincadeira ela expressa seu pensamento, organizando e compreendendo o seu mundo. Isto ocorre porque a criança cria uma situação imaginária quando brinca, sendo que, esta situação imaginária nasce a partir do conhecimento que possui do mundo adulto, mundo onde necessita aprender viver. Assim a brincadeira é uma forma de conhecer o mundo físico e social bem como uma atividade que possibilita a interação com outros indivíduos, onde a criança convive com diferentes sentimentos, aprende a lidar com eles vivendo diversas emoções.

Por meio do ato de brincar a criança conhece a si própria e aos outros por meio de

relações de troca, aprende normas sociais de comportamento.

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De acordo com Maluf (2003) a criança é curiosa e imaginativa, está sempre

experimentando o mundo. Ela adquire experiências brincando e estas irão ajudá-la a amadurecer

emocionalmente e aprender uma forma de convivência mais rica.

O brincar além de ser fonte de lazer e também de conhecimento, está cheio de

significados, os quais implicam desde a construção de papéis sociais, até as relações interpessoais

do ponto de vista afetivo.

De acordo com Motta (2004) estudos indicam que a hospitalização pode afetar o

desenvolvimento da criança, interferindo na qualidade de vida. Para lidar com esta situação o

brincar tem funcionado como estratégia de enfrentamento. Para a autora a importância do brincar

no contexto hospitalar ganhou relevância social principalmente a partir do trabalho do médico

Patch Adams (1999), nos Estados Unidos da América, cuja história pessoal foi popularizada por

meio de filme1.

Para Fortuna (2001) quando a criança brinca no hospital, ela se expressa, mostra o que

sente e quem é, aparecendo como sujeito com vontades, e não mero objeto de cuidados. As

tensões provocadas pela internação diminuem, favorecendo a adesão ao tratamento e

relativizando sua condição cotidiana.

Brincar é uma forma de autoterapia para a criança e esta atividade pode se transformar em

excelente instrumento preventivo, diagnóstico, prognóstico e terapêutico as crianças. (BATISTA,

2003).

Segundo Ajuriaguerra (apud BATISTA 2003, p.129) “A hospitalização leva a criança a

confrontar-se com um estado de desamparo, ao perceber sua fragilidade corporal que resultou no

adoecimento, originando reações diversas, tais como regressões, estados depressivos, fobias e

transtornos de comportamento em geral”. O brincar se insere nesse contexto como uma tentativa

de transformar o ambiente das enfermarias, proporcionando condições psicológicas melhores

para as crianças e adolescentes internados. A mesma autora relata que se uma criança se sente

descontraída e feliz, sua permanência no hospital será mais fácil e seu desenvolvimento e sua

cura serão favorecidos.

Há vários estudos que buscam avaliar a importância do brincar no contexto hospitalar,

neste trabalho optou-se por relatar o de Motta e Enumo (2002) que procurou avaliar a

importância dada ao brincar pela criança como estratégia de enfrentamento da hospitalização.

1 1 “Patch Adams- O amor é contagioso”, de Tom Shadyac, Universal Pictures, 1998.

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Participaram do estudo28 crianças (9 meninas, 19 meninos), com idade entre 6 e 12 anos, em

tratamento no Serviço de Onco-Hematologia de um hospital infantil público, em Vitória/ES.

Para a coleta de dados foram utilizados como instrumentos: uma ficha para registro

obtidos em prontuários médicos e fichas de dados sociais; um roteiro de entrevista sobre o

Serviço de Oncologia; um roteiro de entrevista com perguntas abertas que foi feita com a criança

para identificar: a) suas estratégias de enfrentamento da hospitalização (pensamentos,

sentimentos e atitudes), b) o que gostaria de fazer no hospital e c) o brincar (definição do brincar,

preferência sobre o quê e com quem brincar no hospital e por fim um instrumento especialmente

elaborado para a avaliação das estratégias de enfrentamento da hospitalização e para a

caracterização do brincar no hospital que foi denominado de Avaliação das Estratégias de

Enfrentamento da Hospitalização – AEH, constituído por 2 conjuntos: Conjunto A:

Enfrentamento da hospitalização, com 20 pranchas com desenhos de estratégias de enfrentamento

da hospitalização, incluindo o brincar e Conjunto B: Brincar no Hospital, com um caderno de

desenho espiral com 24 tipos de brincadeiras desenhadas em preto e branco. O conjunto B

permitiu investigar, de modo mais específico, a importância atribuída ao brincar pela criança no

seu processo de enfrentamento da hospitalização, sendo que as brincadeiras contempladas foram:

jogos de exercícios como jogar bolas, jogos simbólicos como desenhar, jogos de acoplagem

como recorte/colagem, jogos de regras como dominó e atividades recreativas diversas como

cantar e dançar.

A partir dos dados obtidos pelo roteiro de entrevista, verificou-se que a maioria das

crianças definiram o brincar como divertimento, alegria e prazer.

Na verificação dos dados obtidos pelo AEH – Conjunto B: brincar no hospital, o brincar

de um modo geral está presente nas pretensões da criança quando está hospitalizada. Ela quer

brincar e parece não selecionar muito o tipo de brincadeira que gostaria de fazer, pois, do ponto

de vista da criança, o interesse e o uso da brincadeira deve-se ao efeito imediato que se tem de se

divertir e se entreter.

Os autores consideram que os dados obtidos mostraram que para as crianças

hospitalizadas com câncer, brincar, é considerado uma estratégia positiva para o enfrentamento

da hospitalização. Colocam ainda que as crianças já brincam enquanto estão hospitalizadas, e o

fato de desejarem continuar brincando demonstra os efeitos positivos que este comportamento

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traz, e que brincando a criança reproduz no espaço hospitalar, experiências cotidianas,

aproximando ainda mais do seu contexto familiar.

De modo geral, os autores descrevem que o brincar constitui-se de fato em um recurso

viável e adequado para o enfrentamento da hospitalização e pode ser mais utilizado quando a

criança encontra apoio nas ações institucionais que viabilizam e disponibilizam recursos humanos

e materiais para este fim.

Ao se discutir o brincar no hospital não se pode deixar de mencionar a brinquedoteca

como um espaço que viabiliza o trabalho do educador nesse contexto. Como bem menciona

Maluf (2003), o surgimento das brinquedotecas dentro das instituições, têm levado os

profissionais, educadores a rever a importância da brincadeira para a criança. Senso assim a

brinquedoteca deve ser considerada como um local onde as crianças brincam enquanto quiserem,

no intuito de tornar a infância mais alegre e mais vivida por meio dos brinquedos e brincadeiras.

2.3.2. A Brinquedoteca

A brinquedoteca surgiu a partir do intuito de valorizar a brincadeira e fazer dela um ponto

importante no desenvolvimento infantil. Ela ajuda a suprir a necessidade de um espaço onde a

criança possa estar se integrando socialmente e vivenciando atividades em um ambiente cheio de

ludicidade. Contribui para o processo de socialização das crianças, oferecendo-lhes oportunidade

de realizar atividades coletivas. Também pode ter efeitos positivos para o processo de

aprendizado por meio de jogos, brinquedos e brincadeiras que estimulem o desenvolvimento das

habilidades básicas e aquisição de novos conhecimentos (MAGALHÃES, 2003).

Segundo Vaz (1994) a brinquedoteca não se trata apenas de um simples depósito de

brinquedo, mas sim, de um lugar que estimula o brincar, oferecendo a criança, um acervo de

brinquedos e brincadeiras de vários tipos, contando com o auxílio de pessoas preparadas para o

atendimento.

De acordo com Cunha (1994), a brinquedoteca é um espaço lúdico, mágico, com uma

atmosfera agradável, encantadora. Um local onde a magia, a alegria e o afeto devem ser

extremamente perceptíveis.

19

Ainda Cunha (1994, p.37) ressalta “sendo um ambiente para estimular a criatividade, deve

ser preparado de forma criativa, com espaços que incentivem a brincadeira de faz-de-conta a

dramatização, a construção, a solução de problemas, a sociabilidade e a vontade de inventar”.

A brinquedoteca pode ter várias funções como: Pedagógica - com a função de possibilitar

acesso a brinquedos bons e de qualidade; Social: que gera a oportunidade de acesso a brinquedos

pelas crianças menos favorecidas economicamente; e Função Comunitária que favorece as

crianças que jogam em grupos, o desenvolvimento do respeito e da compreensão (MALUF,

2003).

Inicialmente a brinquedoteca foi criada para empréstimo de brinquedos e evoluiu

conforme as necessidades de cada país e então, passou a oferecer diversos serviços. Cada

brinquedoteca apresenta o perfil da comunidade que dá origem, mas sempre focando o

desenvolvimento de atividades lúdicas e o empréstimo de brinquedos e materiais de jogo.

(KISHIMOTO, 1994).

Santos (1994) descreve os diferentes tipos de brinquedoteca e explica que dependendo do

contexto em que as elas forem criadas elas podem atender às preocupações específicas como, por

exemplo, as criadas em escola, que geralmente trabalham com Educação Infantil e procuram

suprir as necessidades de materiais para o desenvolvimento da aprendizagem. Elas caracterizam-

se pela montagem de um acervo, sendo utilizada a própria sala de aula como espaço para brincar,

logo após a utilização, os brinquedos retomam a sala do acervo, sua dinâmica é semelhante ao da

biblioteca. A brinquedoteca de bairro que são aquelas montadas com a participação de

associações, sendo freqüentadas pelas crianças da comunidade. A brinquedoteca hospitalar, que

colabora no tratamento de crianças, para amenizar traumas de internação ou em terapia.

Brinquedotecas de universidades, montadas por profissionais de educação, com a finalidade

principal de pesquisa e formação de recursos humanos. Brinquedotecas circulantes, também

chamadas de ambulantes, móveis, itinerantes, esse tipo pode ser adaptada ao ônibus ou instalada

dentro de um circo. A finalidade é levar a brinquedoteca em diferentes lugares.

A autora chama a atenção para o fato de que independentemente do tipo e do local onde as

brinquedotecas estejam instituídas, ou seja, na escola, no hospital, no bairro etc, o objetivo de

todas elas é o desenvolvimento das atividades lúdicas e a valorização do brincar,.

Segundo Kishimoto (1994, p.59), “embora existam especificidades no trabalho de cada

tipo de brinquedoteca, observa-se que em todas elas, a brinquedoteca é um espaço destinado a:

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trabalho em equipe; encontro e socialização; desenvolvimento da criança; expressão da

linguagem infantil e brincadeiras de todas as idades”.

A autora relata que as atividades mais desenvolvidas nas brinquedotecas são: estimular

brincadeiras, emprestar brinquedos, trabalhar com pais e profissionais, realizar oficinas de

exposições, educar o consumidor, proporcionar o encontro e a socialização e garantir o direito da

criança ao brinquedo, a educação e ao desenvolvimento enquanto cidadão e ser humano,

mostrando seu empenho para melhorar a qualidade de vida das crianças.

2.3.3. Brinquedoteca Hospitalar

A brinquedoteca hospitalar tem a finalidade de proporcionar um ambiente mais alegre e

menos traumatizante, favorecendo melhores condições para recuperação da criança.

De acordo com Magalhães (2002) no contexto hospitalar o brincar exerce uma grande

importância na saúde, de modo minimizar as conseqüências da hospitalização no

desenvolvimento de potencialidades da criança.

Teixeira de Paula (2002, p.24) menciona que “a ausência de brinquedos, brincadeiras e da

própria escolarização no ambiente hospitalar gerariam perturbações afetivas, sociais, físicas e

cognitivas que atingiriam as crianças das mais variadas idades”.

Kishimoto (apud TEIXEIRA DE PAULA, 2002) defende que as brinquedotecas nos

hospitais são de extrema importância no processo de recuperação da criança, pois por meio dos

jogos e das brincadeiras ela pode representar problemas vividos na internação, encontrando assim

mecanismos para enfrentar os seus medos e angustias.

Segundo Cunha (apud RAMALHO, 2000, p.97) “a brinquedoteca oferece a possibilidade

de resgatar o direito a infância, dando a oportunidade de desenvolvimento da criatividade, num

ambiente que surge espontaneidade”. Esta autora destaca as principais finalidades de uma

brinquedoteca que são:

- favorecer o equilíbrio emocional;

- desenvolver a criatividade, inteligência e sociabilidade;

- dar oportunidades à expansão de potencialidades;

- proporcionar acesso a brinquedos que lhe proporcionem experiências e descobertas;

21

- estabelecer o relacionamento entre a criança e seus familiares;

- incentivar a valorização do brincar e das atividades lúdicas para o desenvolvimento

psicoemocional, intelectual e social;

- valorizar os sentimentos afetivos e cultivar sensibilidade, proporcionar um espaço

onde a criança possa brincar sossegada, sem que alguém interrompa ou diga que está

atrapalhando, entre outros.

Como já mencionado a Portaria 2.261/GM, de 23 de novembro de 2005, todas as unidades

de saúde do país que tem atendimento pediátrico em regime de internação são obrigadas a ter

brinquedotecas em suas dependências. Essa Legislação ressalta o direito da criança de desfrutar

de formas de recreação de acompanhamento do currículo escolar durante a sua permanência no

hospital. Dentre os artigos que a lei apresenta destaca-se o artigo 2º que descreve o objetivo da

brinquedoteca que consiste em “Tornar a criança um parceiro ativo em seu processo de

tratamento, aumentando a aceitabilidade em relação à internação hospitalar, de forma que sua

permanência seja mais agradável”.

Dentre outros estudos que enfatiza o papel da brinquedoteca no hospital destaca-se o de

Chaves (2004) que relata que por meio do projeto do Serviço de Terapia Ocupacional do Hospital

das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, procurou-se avaliar a

importância da brinquedoteca hospitalar. Os integrantes do projeto relatam que este se deu a

partir da solicitação das crianças pela permanência dos brinquedos nos leitos que eram utilizados

esporadicamente como recurso terapêutico, com isto viu-se a necessidade de criar um espaço

próprio para o brincar na enfermaria pediatria do Hospital das Clínicas.

Os objetivos deste projeto consistiram em oferecer a possibilidade de brincar livremente,

podendo a criança dirigir a atividade, criar, inventar, construir, transformar e se expressar. Neste

espaço as crianças tinham transito livre e suas escolhas eram respeitadas, com isto as mesmas

resgataram o exercício de autonomia, o que possibilitou o crescimento individual e a aquisição de

hábitos de responsabilidade, permitiu a criança participar de momentos em comunidade,

contribuindo assim para uma melhor integração social.

Atualmente as atividades do projeto têm se caracterizado por garantir a existência de um

espaço específico para o brincar, que faça parte da rotina diária da unidade pediátrica, fazendo

com que a mesma participe ativamente das atividades lúdicas e culturais que ocorrem na

brinquedoteca, sendo que também são feitos os empréstimos dos brinquedos.

22

A autora apresenta os resultados quantitativos das atividades desenvolvidas ao longo do

trabalho (Quadro 1). Nota-se que as atividades de brincar no espaço da brinquedoteca têm

aumentado ao longo dos anos, ao passo que os empréstimos, apesar de serem o maior número de

atividades vem diminuindo gradativamente, com isto acredita-se que no que se refere a

estabelecer-se como um espaço específico para o brincar na Unidade Pediátrica do Hospital das

Clínicas/UFMG, a brinquedoteca tem alcançado seus objetivos.

Quadro 1: Atividades desenvolvidas de 1998 a 2003

1998 1999 2000 2001 2002 2003 Total

Crianças Atendidas 814 1.600 1.528 1.292 1.097 1.288 7.619

Crianças Brincando 492 1.155 1.092 1.074 1.116 1.376 6.305

Empréstimos 2.879 3.550 2.774 2.688 2.934 1.964 16.789

Em relação aos resultados qualitativos os integrantes do projeto colocam que é difícil

estabelecer parâmetros definidos que apontem claramente para os efeitos desta atividade. Relata

ainda que tem usado como referencial o conhecimento da equipe, acompanhantes e crianças que

já assimilaram a atividade na rotina da unidade, que reclamam quando, por algum motivo ela

deixa de acontecer, que freqüentam-na apesar das limitações, às vezes importantes, impostas pela

doença/tratamento.

Conclui-se que a brinquedoteca tem se mostrado como recurso que otimiza a recuperação

das crianças internadas, criando um ambiente lúdico e recreativo, podendo assim minimizar o

sofrimento advindo da internação de pacientes pediátricos.

Um outro estudo é o de Abrão et al (2004) que relatam a parceria entre o Departamento

de Psicologia Social, Evolutiva e Escolar da UNESP/Assis e a Santa Casa de Misericórdia de

Assis. Dessa parceria nasceu o projeto de intervenção da Brinquedoteca Hospitalar na tentativa

de tornar a ala pediátrica do hospital num ambiente menos hostil à criança, utilizando para isso o

brincar, que é um importante elemento constituinte do desenvolvimento infantil e uma estratégia

para aliviar as angústias e favorecer a recuperação da criança.

Os autores colocam que o trabalho tinha como objetivos minimizar a angústia e ansiedade

causada pela doença e pelo processo de hospitalização, auxiliando mesmo que indiretamente o

trabalho da equipe de enfermagem, esclarecendo dúvidas e fantasias em relação à doença e aos

23

procedimentos médicos, incentivando o brincar como atividade geradora desenvolvimento

intelectual, emocional e social da criança.

A intervenção se deu pelo trabalho de treze estagiárias do 4º e 5º ano de psicologia, que

revezaram num atendimento diário de aproximadamente 4 horas. Os materiais utilizados foram

livros e brinquedos para todas as idades e sexo. As crianças tinham direito de escolher o material

que desejavam, optando ou não pela intervenção das estagiárias, mães e ou responsáveis.

Os autores ressaltam que o projeto existe há quatro anos e somente no período de março a

novembro de 2003 foram atendidas 642 crianças de ambos os sexos com idade variando entre

quatro e quatorze anos, sendo a maior incidência de crianças de zero a um ano e onze meses

(247). Verificou-se ainda que as possibilidades de interação e expressão das crianças ampliaram

na medida em que foram disponibilizados os recursos lúdicos da brinquedoteca, comprovando o

efeito benéfico do brincar, aliviando a angústia e a ansiedade da criança, bem como a angústia

dos pais e ou acompanhantes.

Nota-se que o projeto contribuiu para o processo de humanização hospitalar, cumprindo seu

papel social revertendo os conhecimentos proporcionados pela universidade pública em benefício

à população da cidade que abriga o campus da UNESP, num atendimento expressivo de crianças

de Assis e região.

Uma outra prática educativa que também é desenvolvida nos hospitais, trazendo

contribuições para a produção de conhecimentos na classe hospitalar, é a biblioterapia que será

apresentada a seguir.

2.4. Biblioterapia

De acordo com Ribeiro (2006) a biblioterapia existe desde a antiguidade, seu uso se

realizava a partir de leituras de histórias que distraiam crianças e jovens, procurando ocupar o

tempo ocioso, até que esse procedimento foi identificado como um instrumento terapêutico,

passando então a ser usado em hospitais, prisões etc, até os dias de hoje.

Pessini (2004) chama atenção para a necessidade de adoção de práticas que promovam a

interação entre paciente e os profissionais que ali atuam.

24

A literatura infantil contribui na inteligência e na afetividade, promovendo mudanças de

comportamento e atitudes, sensibilizando o ser para a consciência e análise do mundo em que

vive (CUNHA, 1983).

O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil – RCNEI (1998, p.147 v.3)

menciona que:

A leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo de valores, costumes e comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e lugares que não os seu. A partir daí, ela pode estabelecer relações com sua forma de pensar e o modo de ser grupo social ao qual pertence. [...] essas histórias se constituem em uma rica fonte de informação sobre diversas formas culturais de lidar com as emoções [...].

O conto de fadas favorece o desenvolvimento da personalidade da criança, enriquece a

existência dela de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à diversidade de

contribuições que esses contos dão à vida da criança (BETTELHEIM apud FERREIRA, 1999).

O objetivo da biblioterapia é incentivar a criança a participar do processo do gosto pela

leitura, é desenvolver atividades que despertem o interesse pela leitura não só como forma de

lazer, mas também como tratamento da sua doença, a literatura infantil também é utilizada como

instrumento de relaxamento de tensões, ensinando a refletir sobre a realidade.

Ramalho (2000, p.70) aponta que

A leitura é um meio eficaz para o aumento de vocabulário infantil, pois proporciona o despertar pelo conhecimento de novas palavras. Sendo assim, a participação de um adulto na leitura dos livros de literatura infantil, é muito importante, tanto em relação às trocas de experiências quanto à introdução de novos conceitos e desenvolvimento da linguagem propriamente dita.

Caldim (2001) descreve que as histórias lidas as crianças amenizam sua situação e

proporciona um certo alívio nas dores, nos medos que decorrem da doença e do ambiente

hospitalar. Relata ainda que o resgate do sonho, do imaginário e do lúdico fornece um suporte

emocional às crianças enfermas.

A autora coloca a importância da literatura na rotina das crianças internadas, como um

procedimento que pode auxiliar no fortalecimento da auto-estima das crianças, ajudando-a a se

compreender como um agente em seu processo de tratamento, o que provavelmente contribuirá

para a sua recuperação e despertará o gosto e o prazer da leitura e de ouvir histórias.

25

Para Abramovich (2004) a leitura das histórias e a troca que é feita em torno dos livros,

com um adulto são elementos fundamentais na socialização e desenvolvimento saudável de todas

as crianças.

Ainda Abramovich (2004, p.17) destaca “que é por meio das histórias que as crianças

podem sentir emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem estar, o medo, a

alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, amizade, e tantas outras mais, escutando histórias

a criança ouve e enxerga com os olhos imaginários”.

A literatura infantil não se limita apenas em distrair a crianças, por meio das histórias

infantis a criança compreende o mundo, e a si mesma, ou seja, por meio destas atividades lúdicas

fica mais fácil combater os estados depressivos das crianças hospitalizadas. Além de dar a

oportunidade das mesmas enriquecerem e transformar o seu conhecimento pelo mundo, tendo a

possibilidade de expressar suas emoções.

Caldin (2002) relata o trabalho desenvolvido no Hospital Universitário (HU) da

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), respaldado pelo Curso de Biblioteconomia, o

qual forneceu suporte teórico necessário às atividades biblioterapêuticas colocadas em prática na

Divisão Pediátrica do mesmo.

A internação pediátrica do HU contou com 30 leitos, sendo 12 para lactantes, 12 para pré-

escolares e 6 para escolares. Estas crianças ficaram internadas por um período aproximado de 10

dias, sendo que a maioria obteve a presença de um acompanhante.

O objetivo primário foi humanizar o processo de tratamento das crianças realizando

leitura de histórias com propósitos terapêuticos, favorecendo a identificação das crianças com os

personagens das histórias; aliviando suas tensões diárias; ajudando as crianças a entender melhor

as suas reações, limitações, frustrações e seus conflitos; facilitando a comunicação das crianças

com a equipe médica; facilitando a socialização pela participação em grupo; diminuindo o stress

dos acompanhantes; entre outros.

Como metodologia, procedeu-se á leitura individual e a leitura em grupo, utilizando ainda

alguns recursos lúdicos como a dramatização, músicas, “contação” e gravuras. Buscou-se

também a parceria com a psicóloga da ala infantil, a qual constituiu-se de conversas com as

crianças para saber suas preferências e leitura; buscou-se de colaboração dos pais ou

acompanhantes nas atividades; a utilização de um plano de atividades de cada sessão de

biblioterapia; a organização de um registro diário das atividades; a constante avaliação das

26

atividades, por meio de depoimentos das crianças, dos pais, dos enfermeiros, da psicóloga, dos

acadêmicos e observações da coordenadora do projeto; o resgate das impressões das crianças

acerca das histórias e encontros diários com as crianças para a leitura das histórias.

A avaliação baseou-se no resgate das impressões das crianças acerca das histórias lidas,

em observações da coordenadora do programa de leitura em depoimentos dos acadêmicos

colaboradores do projeto biblioterapêutico e da Divisão Pediátrica do Hospital.

Caldin (2002) relata que o objetivo primário foi atingido, pois se constatou que a leitura

ou a “contação” de textos literários infantis tiveram efeitos terapêuticos, ao humanizar o processo

de tratamento das crianças hospitalizadas. Coloca ainda que foi feito o resgate do sonho da leitura

que forneceu suporte emocional às crianças.

Os resultados obtidos confirmaram que a biblioterapia conduz à tranqüilidade das

emoções, pois o desconforto e a dor cediam lugar às risadas diante das passagens divertidas das

histórias, fazendo com que no instante da leitura as crianças se identificassem com os

personagens contribuindo assim no alívio das pressões emocionais.

Silva et al (2003) relatam o Projeto Amigos da Leitura, desenvolvido desde 2003, que

consiste em atividades voltadas para o atendimento de crianças hospitalizadas. Este projeto teve

seu início no Hospital Municipal Materno Infantil, e atualmente todo o desenvolvimento do

projeto é voltado para o Hospital Santa Casa de Misericórdia de Marília.

O objetivo do projeto foi de apresentar o trabalho dos alunos de Biblioteconomia com

crianças de três a doze anos internadas nas alas de Pediatria e Unidade de Terapia de Queimados,

no desenvolvimento do ato de ler, como forma de estabelecer o contato do livro com os

hospitalizados.

As atividades foram planejadas em reuniões com o grupo de envolvidos, quando foi

estabelecido um calendário de ações voltadas para o incentivo da leitura. O planejamento foi

estabelecido a partir da análise da leitura disponível sobre o desenvolvimento do gosto pela

leitura e foi elaborado mensalmente com o intuito de resgatar a criatividade, aproximando assim a

criança da leitura e do hábito de utilizar livros de modo prazeroso.

Os livros utilizados no desenvolvimento das atividades foram selecionados entre aqueles

que estavam disponíveis no acervo da brinquedoteca do hospital como forma de construir um

vínculo para o uso do acervo. As atividades foram planejadas para atender as diferentes faixas

etárias e diferentes habilidades cognitivas.

27

Como resultado observou-se um bom envolvimento das crianças com a leitura e como o

desenvolvimento de atividades paralelas, como recontar as histórias, construir outros textos,

pintar, desenhar, etc.

Os autores relatam que o ato de ler na perspectiva da estrutura planejada do projeto

Amigos da Leitura, como uma atividade que proporcionou aos envolvidos a possibilidade de um

distanciamento do local em questão, um momento lúdico, que tem gerado, em alguns momentos

mudanças de atitudes comportamentais das crianças hospitalizadas que participaram das

atividades, auxiliando de algum modo o trabalho dos enfermeiros e proporcionando o

envolvimento e serenidade dos pais e acompanhantes, conduzindo a tranqüilidade das emoções.

Dentre as diversas práticas educativas desenvolvidas no contexto hospitalar, este trabalho

destacou até então o brincar, a brinquedoteca, a biblioterapia, a seguir será discutida a

importância do acompanhamento pedagógico-educacional que ocorre nas classes hospitalares.

2.5. Acompanhamento pedagógico-educacional

Ortiz (2000) ressalta a importância do projeto escolar no hospital estar embasado no direito

fundamental da criança, ou seja, é necessário que durante a sua permanência no hospital ou

durante o período de tratamento médico, ela receba o acompanhamento do currículo escolar, de

acordo com suas condições de aprendizagem. Destaca ainda, a necessidade de se desenvolver

metodologia que privilegiem o paciente-aluno para despertar seu interesse pelo conhecimento,

seu gosto pelo imaginário e literário, contudo mediado pela tarefa fundamental que é a produção

do conhecimento. Um fazer pedagógico que busca um acompanhamento do diagnóstico de

situação educacional, estruturando o administrativo pedagógico, sistematizando um currículo que

garanta o preparo do paciente-aluno à vida escolar, tornando o ato de aprender um prazer,

causando um interesse ao reingresso a escola, em um processo de situação de conflito.

Ratificando a relevância das práticas pedagógicas desenvolvidas no hospital, é importante

conhecer a experiência do Hospital Geral de Nova Iguaçu2 (Hospital da Posse), em relação ao

reforço escolar, contudo é necessário registrar que os dados foram retirados das páginas

disponibilizadas na Internet. 2 www.hgni.saude.gov.br/imprensa_noticias.asp?codNoticia=95

28

De acordo com o site do Hospital da Posse a iniciativa foi desenvolvida em parceria com as

secretarias municipais de Educação e de Saúde.

O objetivo do trabalho realizado foi de dar auxílio escolar às crianças que estavam

internadas no setor de pediatria da unidade para garantir que elas não tivessem o ensino

prejudicado evitando assim a evasão escolar.

No período em que estavam hospitalizadas, as crianças tiveram acompanhamento diário de

uma professora. O reforço escolar foi feito de segunda a sexta-feira no próprio setor de pediatria.

As aulas foram ministradas por uma professora que deu aula a três turmas que foram organizadas

de acordo com a faixa etária e com as séries escolares de cada criança. As aulas aconteceram no

período da manhã e da tarde, sendo que as crianças que não puderam se deslocar até a sala

montada na pediatria, tiveram aulas no próprio leito.

Observa-se que os resultados obtidos do reforço escolar no Hospital da Posse, possibilitou

o retorno das crianças ao colégio de origem após a alta hospitalar, sem que houvesse qualquer

tipo de perda, sendo que os alunos ainda tiveram suas faltas abonadas. Em relação às crianças que

eram moradoras de municípios vizinhos, foram feitos relatórios sobre os trabalhos realizados na

Pediatria à Secretaria de Educação do município onde estas residiam.

Um outro projeto é o “Viver e Aprender” desenvolvido na Casa Hope em parceria com as

Faculdades Oswaldo Cruz e a Secretaria Municipal de Educação. Este projeto é basicamente uma

escola diferenciada, que proporciona escolarização regulamentar para as crianças e adolescentes

com câncer transplantados de fígado e rim que estão impossibilitadas de freqüentarem a escola

regular (reforço escolar).

O mesmo teve início em 20 de setembro de 1999, com o objetivo de inserir ou reinserir o

educando na rede formal de ensino; abrir uma escuta pedagógica par aos alunos gravemente

enfermos; descentrar os alunos da perspectiva de doença e morte e investir em atitudes de vida e

recuperação; atender as especificidades dos educandos, tais como seqüelas da doença e dos

tratamentos, estados emocionais, aspectos sócio-econômicos e culturais; aperfeiçoar e difundir a

metodologia de trabalho com as crianças gravemente enfermas junto a profissionais da área da

educação; entre outros.

O projeto é desenvolvido de segunda à sexta-feira, com aulas nos períodos da manhã e da

tarde com 40 horas semanais e o mínimo de 200 dias letivos/ano.

29

Na classe o grupo de crianças é variável e seus integrantes se encontram em diferentes

graus de escolarização, sendo que elas freqüentam as aulas na medida de suas possibilidades.

No processo individual ocorre o acolhimento, que acontece logo após a inserção no

processo, na qual é feita uma entrevista com a criança para que se sinta segura. Depois é feita a

sondagem, nesta etapa cria-se situações para detectar o nível de desempenho que esta criança

apresenta. N a seqüência e feito o plano de intervenção, partindo-se de suas referências, traça-se

um plano de trabalho a ser desenvolvido junto à criança, possibilitando que ela avance no seu

processo pessoal de aprendizagem considerando-se os Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCNs), o Referêncial Curricular e os Temas Transversais. A intervenção é a etapa que abrange o

desenvolvimento de ações e atividades em todas as áreas de conhecimento, por meio do

letramento, questionamentos, uso da lingüagem verbal, corporal, plástica e digital, jogos

pedagógicos e interativos, pesquisas, softwares pedagógicos, passeios culturais e comemorações,

entre outros. Cada aluno é acompanhado pelo processo de avaliação ao longo das intervenções

realizadas, para que seja possível desenvolver as propostas de atividades focando sua

aprendizagem. O sistema de avaliação das crianças é diagnóstica, contínua e permanente e busca

auxiliar e embasar o processo de planejamento e atendimento.

Os participantes do projeto constataram que, apesar da doença, a rotina escolar das crianças

e adolescentes voltou a fazer parte de sua vida, trazendo novas expectativas e vínculos saudáveis

com a vida, onde a doença se tornou apenas um aspecto da vida e não a vida na sua totalidade.

A seguir apresento o quadro mostrando que o projeto tem evoluído qualitativamente e

quantitativamente, com os seguintes resultados anuais:

Quadro 2: Atividades desenvolvidas de 2002 a 2005.

2002 2003 2004 2005

Porcentagem de alunos incluídos no processo de

escolarização

62% 98% 91% 92%

Número de atendimentos escolares 2.442 3.375 3.501 3.892

As crianças e adolescentes atendidos por este projeto, ao retornarem para seus locais de

origem, são inseridas na rede regular de ensino em condições iguais ou melhores do que dos

colegas, facilitando assim a sua reinserção e integração em suas escolas.

30

Diante das práticas pedagógicas citadas acima, torna- se relevante destacar a importância

da atuação do pedagogo no ambiente hospitalar.

2.6 Atuação do Pedagogo no âmbito hospitalar

É importante destacar que a educação não é um elemento exclusivo da escola, assim como

a saúde não é elemento exclusivo do hospital, com isto é indispensável discutir sobre a formação

do profissional da educação no âmbito hospitalar no sentido de instrumentalizar sua prática.

De acordo com Caiado (2003) uma das dificuldades encontradas é que na formação do

Pedagogo é discutida apenas o cotidiano escolar, com isto os cursos de formação de profissionais

da saúde acabam não considerando o professor como participante da equipe hospitalar.

O professor desempenha um essencial papel no desenvolvimento, na aprendizagem e no

resgate da saúde da criança e do adolescente hospitalizado. Mas para isso é necessário que o

educador esteja preparado para atuar junto à criança hospitalizada.

O Ministério da Educação – BRASIL – MEC 2002, p.22 enfatiza que,

O professor que irá atuar em classe hospitalar ou no atendimento pedagógico domiciliar deverá estar capacitado para trabalhar com a diversidade humana e diferentes vivencias culturais, identificando as necessidades educacionais especiais dos educando impedidos de freqüentar a escola definindo e implantando estratégias de flexibilização e adaptação curriculares. Deverá ainda, propor os procedimentos didático-pedagógicos e as práticas alternativas necessárias ao processo ensino-aprendizagem dos alunos, bem como ter disponibilidade para o trabalho em equipe e o assessoramento às escolas quanto à inclusão dos educandos que estiverem afastados do sistema educacional, ou seja no seu retorno, seja para seu ingresso

Para Frison (2004) a formação recebida pelos profissionais da educação enfoca o

desenvolvimento humano, os processos de aprendizagem, desta forma o pedagogo tem condições

de trabalhar em ambientes educativos, escolares ou não escolares como o hospital, podendo assim

minimizar o sofrimento das crianças no período em que as mesmas estão internadas, buscando

desenvolver ações recreativas e educativas.

De acordo com Sassi et al (2004, p.43):

o papel do pedagogo é o de problematizador na prática educativa, investigando-a sistematicamente e buscando encaminhamento num processo coletivo. O professor ao ministrar uma aula executa a prática educativa. O pedagogo executa

31

uma prática pedagógica , pois busca solucionar problemas e melhorar o ensino. A prática pedagógica não deve ser restrita às escolas, mas a todas as práticas educativas de uma sociedade, além de potencializar a ação educacional com fins educativos.

Fonseca (2003, p.31) destaca que o papel do professor antes de qualquer outro é o de

mediador das interações das crianças com o ambiente hospitalar. “O perfil pedagógico –

educacional do professor deve adequar-se à realidade na qual transita, ressaltando as

potencialidades do aluno e auxiliando-o no encontro com a vida que, apesar da doença, ainda

pulsa dentro da criança com a força suficiente para ser percebida”

De acordo com Fonseca (2003, p.31,32)

o professor com a participação do acompanhante e as contribuições dos profissionais de saúde, detém condições ótimas de demonstrar que o atendimento pedagógico-educacional no ambiente hospitalar em muito colabora para que a criança não se sinta presa no hospital e possa, além de melhorar a sua compreensão sobre o ambiente hospitalar em que está inserido, de alguma forma estabelecer, manter ou estreitar os seus laços com o mundo fora do hospital.

É importante destacar a importância do projeto escolar no hospital, embasando assim no

direito fundamental da criança durante a sua hospitalização, devendo receber o acompanhamento

do currículo escolar, de acordo com as suas condições de aprendizagem, garantindo o preparo do

paciente à vida escolar, tornando o ato de aprender um prazer, com isto despertando o interesse

ao reingresso à escola (ORTIZ 2000).

Amaral e Silva (2003), ressaltam que a prática pedagógica hospitalar, exige uma maior

flexibilidade, pois se trata de uma clientela que se apresenta em constante modificação, ou seja,

tanto em número quanto ao período em que estas permanecem internadas e ainda pelo fato de

serem crianças e jovens com diferentes patologias, requisitando diferentes intervenções e

cuidados específicos. Com isto pode-se entender que a atuação do pedagogo no hospital necessita

de uma maior compreensão por parte do profissional, pois cada dia significa um novo desafio a

ser cumprido, a partir de temas preestabelecidos com caminhos individualizados, ou seja, tudo

isso requer que o pedagogo hospitalar saiba aprender a lidar com esses fatores, quando ainda está

em formação com o objetivo de facilitar seu trabalho e sua atuação.

Em relação à função e atuação do pedagogo dentro do ambiente hospitalar Matos, (2001,

p.45) considera que “Se o pedagogo, hoje conta com espaços de atuação em hospitais, é porque

houve reconhecimento da necessidade da convivência da sua presença”.

32

É necessário que o pedagogo hospitalar desenvolva sua sensibilidade, força de vontade,

compreensão, agindo com muita paciência para atingir suas metas e objetivos, criando projetos

competentes e criativos que desenvolvam práticas específicas para a criança que está

hospitalizada, sendo que estas precisam estar adaptadas as condições de aprendizagem que fogem

dos padrões de uma sala de aula “normal”. Cabe ainda uma superação da visão fragmentada em

busca de uma visão de todo o atendimento pedagógico, valorizando assim um conceito integral

de educação como aperfeiçoamento humano, englobando intuição, sensação, razão como forma

de construir uma nova consciência no educando. A prática pedagógica desenvolvida no hospital

valoriza o indivíduo, mas para isso os pais precisam estar conscientizados para apoiar e estimular

a criança, dando-lhe segurança e agindo de forma positiva no processo de cura (SASSI et al,

2004).

De acordo com Willis (apud FONSECA, 1999) a função do professor na classe hospitalar

não deve se restringir em apenas manter a criança ocupada e sim incentivar o crescimento e o

desenvolvimento da mesma.

É indispensável à avaliação contínua do trabalho do pedagogo, verificando se está de

acordo com a realidade em que está inserido e se está possibilitando o desenvolvimento e a

aquisição da aprendizagem dos alunos.

As crianças aprendem por meio de tudo o que fazem, de suas interações, de tudo que está

ao seu redor e o que realmente importa é preencher adequadamente o dia da criança. Cabe aos

educadores encontrar coisas diferentes para que a criança possa olhar com interesse e sinta

vontade de experimentar o novo. A criatividade conta muito neste processo, de transformar a

rotina em algo divertido.

Com a participação do pedagogo no âmbito hospitalar, pais e filhos aprendem juntos, as

crianças saem da rotina do hospital, se distraem e ocupam o tempo aprendendo.

Observa-se o quanto é importante e necessária a atuação do pedagogo no hospital, pois o

mesmo incentiva o crescimento intelectual da criança, conhece as suas necessidades curriculares,

proporcionado-as condições para a aprendizagem e atendendo as especificidades de cada um,

contribuindo assim para que não ocorra rupturas no processo de aprendizagem desta criança e

adolescente, suprindo sua carência cognitiva por meio de toda esta prática pedagógica.

33

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A intenção do presente trabalho foi apresentar a importância da classe hospitalar e suas

questões legais, onde foi possível verificar que a classe hospitalar contribui para a continuidade

do aprendizado da criança, possibilitando que ela participe e aprenda desfrutando assim, do

direito básico ao desenvolvimento pleno, independente de sua hospitalização, sendo que é

importante destacar que esse trabalho só se torna possível a partir das ações do professor que

deve atuar diretamente com os alunos, auxiliando-os da melhor forma possível no convívio com a

especificidade do ambiente hospitalar.

Buscou-se também discutir sobre o principal objetivo das práticas pedagógicas educativas

desenvolvidas no hospital, que é fazer com que as crianças não percam a continuidade de suas

vidas, principalmente em sua condição escolar, desta forma busca-se desenvolver ações

recreativas e educativas neste contexto.

Dentro das práticas pedagógicas que são desenvolvidas no hospital optou-se por discutir

sobre a importância do brincar no desenvolvimento infantil, sobre brinquedoteca hospitalar, sobre

a biblioterapia e ainda sobre a importância da escolarização em regime especial, por meio de

acompanhamento pedagógico-educacional.

No que diz respeito ao brincar observou-se por meio de pesquisa que este é considerado

uma estratégia positiva para o enfrentamento da hospitalização, pois a partir do brincar as

crianças aprendem a recriar situações que vivenciam em seu cotidiano, trabalhando com alguns

sentimentos como o amor, medo, raiva, afeto entre outros.

Em relação à brinquedoteca hospitalar pode-se ressaltar que a mesma tem a finalidade de

proporcionar um ambiente menos traumatizante para as crianças, pois a brinquedoteca tem se

mostrado como um recurso que otimiza a recuperação das crianças internadas, criando um

ambiente lúdico e recreativo, podendo assim minimizar o sofrimento advindo da internação de

pacientes.

Buscou-se ainda discutir a importância da literatura infantil na vida das crianças

hospitalizadas e relatar trabalhos que vem sendo desenvolvidos nesta área. Pode-se perceber que

por meio das histórias infantis as crianças têm oportunidade de ampliar, enriquecer e transformar

seu conhecimento sobre o mundo e sobre as coisas. Ao ouvirem e lerem as histórias, as crianças

têm a possibilidade sentir e expressar suas emoções e aflições.

34

A partir dos estudos realizados sobre as práticas educativas, foi possível constatar que estas

contribuem para a humanização do processo, possibilitando o retorno das crianças a sua escola de

origem após a alta hospitalar sem qualquer perda em relação ao ensino regular, facilitando assim

a reinserção e a integração no convívio escolar.

Destaca-se ainda a importância da participação e da atuação do pedagogo na recuperação e

bem estar das crianças e adolescentes internados, e que por meio de um trabalho eficiente auxilia

o desenvolvimento geral dos mesmos proporcionando um melhor desempenho escolar,

proporcionando condições para o aprendizado, atendendo e suprindo suas necessidades.

No decorrer deste estudo notou-se a dificuldade em encontrar materiais sobre este assunto,

pois infelizmente o mesmo ainda é pouco discutido, com isto, ressalto a necessidade de outras

pesquisas com o objetivo de mostrar o quanto o pedagogo é necessário no ambiente hospitalar,

assim como suas práticas pedagógicas.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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