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231 Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014 O HISTORIADOR E A METÁFORA * André Luiz Joanilho UEL Resumo: Este texto sustenta que escrita da história é uma metáfora do passado não reconhecida pelos historiadores, os quais, ao contrário, buscam o literal nas suas narrativas formadas por documentos que poderiam ser compreendidos também como metáforas, mas que são abordados como emulação do real. Do documento ao texto, a metáfora é esconjurada como ruído não real. No entanto, a escrita não é feita de verdades e literalidade, mas de imaginação e de fatos da linguagem, estando na origem dos eventos a dispersão e a descontinuidade. Abstract: This paper argues that the writing of history is a metaphor of the past unrecognized by historians, who, in contrast, seek the literal in their narratives made by documents which could also be understood as metaphors, but which are treated as the emulation of the real. From the document to the text, metaphor is banished as unreal noise. However, writing is not made up of truth and literalness, but of imagination and facts of language, dispersion and discontinuity being at the source of events. Para o historiador a metáfora não existe, ou melhor, não deveria existir. O discurso histórico é literal, busca o sentido exato dos acontecimentos, fugindo de quaisquer outras possíveis formas explicativas. Afinal, o historiador deve explicar e a sua clareza não pode se confundir com fatos de linguagem, mesmo quando se trata de estilo de escrita. Sabemos das figuras de linguagem que as narrativas históricas lançam mão para se fazer compreendidas. A discussão de Hayden White (1995) não nos é estranha. Porém, não estamos propondo discutir

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

O HISTORIADOR E A METÁFORA*

André Luiz Joanilho

UEL

Resumo: Este texto sustenta que escrita da história é uma metáfora do

passado não reconhecida pelos historiadores, os quais, ao contrário,

buscam o literal nas suas narrativas formadas por documentos que

poderiam ser compreendidos também como metáforas, mas que são

abordados como emulação do real. Do documento ao texto, a metáfora

é esconjurada como ruído não real. No entanto, a escrita não é feita de

verdades e literalidade, mas de imaginação e de fatos da linguagem,

estando na origem dos eventos a dispersão e a descontinuidade.

Abstract: This paper argues that the writing of history is a metaphor of

the past unrecognized by historians, who, in contrast, seek the literal in

their narratives made by documents which could also be understood as

metaphors, but which are treated as the emulation of the real. From the

document to the text, metaphor is banished as unreal noise. However,

writing is not made up of truth and literalness, but of imagination and

facts of language, dispersion and discontinuity being at the source of

events.

Para o historiador a metáfora não existe, ou melhor, não deveria

existir. O discurso histórico é literal, busca o sentido exato dos

acontecimentos, fugindo de quaisquer outras possíveis formas

explicativas. Afinal, o historiador deve explicar e a sua clareza não pode

se confundir com fatos de linguagem, mesmo quando se trata de estilo

de escrita.

Sabemos das figuras de linguagem que as narrativas históricas

lançam mão para se fazer compreendidas. A discussão de Hayden

White (1995) não nos é estranha. Porém, não estamos propondo discutir

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as estruturas narrativas em história e, em seguida, fazer um estudo

tropológico, mas apresentar a relação do historiador com a metáfora. E,

de início, o historiador deve fazer a sua narrativa “transparente” com

relação ao seu objeto, ou pelo menos esse é o aprendizado da disciplina.

Da chamada escola metódica às teorias interpretativas do “linguistic

turn” dos anos oitenta, a marca é a exatidão. Enquanto que os metódicos

sonhavam com uma história cientificista, na qual o documento era uma

expressão do real, os intérpretes contemporâneos pretendem desvendar

os significados dos documentos para se chegar à trama dos eventos do

passado. Porém, tanto uns quanto outros buscam descrever o que

aconteceu e tornar a narrativa uma emulação do que realmente

aconteceu.

Portanto, a exatidão, se podemos dizer que há alguma na escrita da

história, deve ser o norte da narrativa e, no limite, a metáfora deve

acrescentar mais clareza e remeter diretamente ao objetivo desejado se

for utilizada como recurso estilístico. Não deve haver nada além do

literal na narrativa histórica ou não deveria.

Esse mundo fechado do historiador se confronta com a metáfora que

está fora da sua objetividade, justamente no seu material mais precioso:

os documentos. Estes sim, repletos de fatos de linguagem. O documento

nunca é a expressão do que aconteceu mas o material que permite ao

historiador compor quadros narrativos. Pode-se até mesmo dizer que o

documento é uma metáfora do evento.

De um, lado o historiador e a objetividade, de outro o documento

enquanto metáfora do real. O trabalho historiográfico consiste em

transitar entre esses polos opostos do fazer história. Evidentemente que

não se compreende o documento como expressão do que aconteceu,

pois, como iremos considerar adiante, ele não traz consigo tudo o que

aconteceu. Mesmo a reunião de todos os documentos sobre um

determinado evento, não é suficiente, pois, para usar uma metáfora, a

narrativa histórica “não é um geometral”, ou citando Paul Veyne (1982,

p.31): “Os acontecimentos não existem com a consistência de um objeto

concreto. É necessário acrescentar, não importa o que se diga, não

existem também como um ‘geometral’; prefere-se afirmar que eles têm

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existência em si mesmos como um cubo ou uma pirâmide: nunca

percebemos todas as faces de um cubo ao mesmo tempo, só temos um

ponto de vista parcial”. Há uma impossibilidade em apreender tudo do

passado.

Mas, além de ser metáfora do real, o documento ele próprio, muitas

vezes é metafórico, ou seja, traz consigo fatos de linguagem. Uma

pintura, por exemplo, remete a algo para além da figuração. Poder-se-

ia dizer que ela é de fato uma representação. Mas o que é uma

representação senão uma metáfora? Uma fotografia é uma

representação, mas também uma metáfora, pois alude a algo que não é

ela própria. Mesmo um documento escrito pode ser compreendido

como postulando metáforas. Podemos tomar como exemplo um artigo

num jornal operário do início do século XX no Brasil:

Anarquia e Revolução

Não devemos abandonar nunca a ideia da revolução. Só ela é

fecunda, só ela produzirá todos os frutos que a anarquia vem

cultivando num imenso labor de mais de meio século. A

revolução é também o único, o exclusivo elemento de conquista

da igualdade e da justiça social (...).

Os nossos esforços devem convergir para a organização do

levante geral das vítimas, pouco nos importando qual seja o ideal

que se batem os revoltados. A anarquia é uma perpétua revolução

e deve sair da revolução; ao passo que a revolução nem sempre

sai e pode mesmo não sair da anarquia.

É pouco provável que os povos só se revoltem definitivamente

quando hajam compreendido a anarquia; eles se revoltarão de

preferência por motivos alheios a tão nobre ideal. A nós,

anarquistas, faltando o impulso e a decisão revolucionária, falta

o senso e a razão de ser na sociedade. Há, entretanto, inúmeros

revolucionários que ignoram completamente a anarquia. Ora, a

sociedade futura deverá sua existência à devastação da atual

esterqueira. Portanto, é preciso que nós nos revoltemos;

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naturalmente com a maior urgência possível. (D.R.F. A Plebe, nº

4 ano II, 15/09/1919, p. 4).

Se o historiador está formando um quadro a respeito da luta de

classes na sociedade brasileira no início do século XX, encontrará farto

material em documentos deste tipo. Haveria clareza e transparência,

afinal o autor do artigo mostra a necessidade de organizar o movimento

revolucionário a partir do ideal anarquista e de que forma a revolução

pode e deve ocorrer. Mas, há uma pletora de metáforas no texto.

“Vítimas”, “frutos”, “nobre ideal”, “a atual esterqueira”, etc., que nos

remete justamente aos fatos de linguagem e ao discurso. Como

dissemos, o documento possui uma duplicidade: composto de

metáforas e ele próprio sendo uma metáfora dos eventos passados.

Assim, de uma história da luta de classes, pode-se passar a uma

história das práticas discursivas. Há discurso e práticas no texto do

militante. Por mais que não se dispusesse a ter posição, ele tem de se

remeter às imagens ou representações sociais correntes, ou melhor, ele

as usa porque tem de usá-las. Não está à sua disposição como numa

prateleira de supermercado na qual faria escolhas. As escolhas, de certo

modo, estão dadas e é a partir disso que podemos compreender as

práticas discursivas.

Comecemos por “nobre ideal”. Se a anarquia luta para exterminar

qualquer diferença social, não deixa de ser sintomático que o termo

“nobre” seja utilizado, palavra que remete à diferenciação, mesmo se

tratando de ideias. A anarquia é nobre, superior, logo os anarquistas

também são superiores e podem conduzir a revolução, portanto o povo.

Ao lado de “nobre” temos o termo “ideal”, também sintomático, pois

sendo a anarquia uma prática, nada teria de idealização, ou melhor, as

suas ideias sairiam da prática revolucionária, como o militante afirma:

“A anarquia é uma perpétua revolução e deve sair da revolução”. É

possível identificar uma prática discursiva a respeito de como os

sujeitos devem proceder ou se conduzir: as ideias anarquistas são

superiores, portanto se impõem “naturalmente”, ou seja, a revolução,

no fim das contas, é uma ação de homens superiores.

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Ora, para a história tradicional, ou ainda, para os historiadores que

acreditam na transparência de suas narrativas e o evento, o primeiro

trabalho é justamente “limpar” o documento das metáforas, isto é,

“traduzi-las” para uma linguagem “científica” (as aspas são para marcar

os termos, afinal é o trabalho do historiador explicar o que aconteceu e,

como foi dito acima, a metáfora não deveria existir). Porém, de modo

contraditório, não é possível ao historiador escapar da metáfora. Logo,

o discurso histórico é metafórico, ou ainda, o discurso científico é

metafórico. Vejamos um exemplo atual: como explicar o Bóson de

Higgins?

O bóson de Higgs é um elemento-chave da estrutura fundamental

da matéria conhecida como a "Partícula de Deus". No "modelo

padrão", a teoria da estrutura fundamental da matéria elaborada

nos anos 60 para descrever todas as partículas e forças do

universo, o bóson de Higgs é considerado a partícula que

proporciona sua massa a todas as demais. Ao tentar isolar os

menores componentes da matéria, os físicos descobriram várias

séries de partículas elementais.

Em 1964, por dedução, o físico britânico Peter Higgs postulou que

existia o bóson que hoje leva seu nome e que devia dar sua massa a

outras partículas. "A ideia é que existem partículas que se chocam

permanentemente com bósons de Higgs. Estes choques freiam seu

movimento, que se torna mais lento, e dão a eles a aparência de uma

massa", explica o físico e filósofo Etienne Klein.

Klein compara este fenômeno com um homem que tenta passar

correndo em meio a uma multidão, que freia sua corrida e faz com

que diminua sua velocidade. Também compara o campo de Higgs

com uma espécie de cola em meio à qual se encontrariam

relativamente aderidas as partículas, o que seria percebido como

uma massa. (AFP, 08/10/2013,

http://br.noticias.yahoo.com/b%C3%B3son-higgs-

part%C3%ADcula-chave-f%C3%ADsica-fundamental-

142036455.html)

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Este simples exemplo nos mostra que nenhum discurso escapa do

metafórico, muito menos a história. Afinal, um homem “correndo no

meio a uma multidão, que freia a sua corrida” é uma boa explicação

para os bósons.

Porém, toda a história da ciência, se podemos dizer que há uma

ciência, é, além do mais, a história da separação entre o metafórico e o

literal. O ponto de inflexão, nas narrativas que buscam a origem do

pensamento científico, teria sido Aristóteles. Nele nasceu a definição

do discurso verdadeiro ou literal e o metafórico, sempre colocado como

inferior em relação ao literal já que este explicaria o real e “junto à

Aristóteles, o julgamento negativo (...) do que ele chama de metáfora

em importantes campos, na sua lógica e na sua filosofia da natureza, é

bem mais marcado. Ele sustenta, por exemplo, que é preciso evitar a

metáfora e as expressões metafóricas numa definição” (LLOYD, 1993,

p.42)1.

Essa separação não cessou de fazer caso no discurso científico. A

metáfora é boa para se fazer poesia, mas negativa para a explicação

científica (ibidem, p.44). E não somente para Aristóteles, mas também

para os historiadores da ciência. Seguindo ainda a análise sobre este

assunto, Geoffrey Lloyd afirma que o seu “argumento é então que a

distinção entre o literal e o metafórico – como a distinção entre mito

(como ficção) e a narrativa racional – não seria somente, na origem, um

elemento neutro e inocente de análise lógica, mas uma arma forjada

para defender um território, expulsar o inimigo, humilhar os rivais”

(ibidem, p.46)2. Aristóteles utiliza a distinção para fazer a sua lógica

superior aquela dos seus rivais. Nenhuma inocência ou superioridade

do científico sobre o mito, apenas um jogo de forças que impõe o literal

como superior, devendo o metafórico se ater ao literário, pois, “na sua

exigência de clareza, ele (Aristóteles) exclui a metáfora porque tudo

que se diz através de metáfora é obscuro” (ibidem, p.42)3.

Porém, sabe-se que o discurso científico recorre às metáforas e aos

seus próprios mitos (o que seria o Big Bang senão uma ótima metáfora)

e o discurso histórico é pleno delas. A sua pretensa objetividade se

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perde ao emaranhado de práticas discursivas, quer dizer, não há uma

segunda natureza nos discursos. Há fatos de linguagem que remetem a

uma espécie de positividade. O que está dito quer dizer exatamente o

que está dito. A metáfora, neste aspecto, não é um fato de linguagem

que remete a um sentido que estaria aquém ou além do próprio discurso,

mas o informa. Porém, na sua maior parte, os historiadores reconhecem

nas metáforas um sentido além do que está dito. Há algo na superfície

que torna opaco o seu verdadeiro sentido. O historiador deve trazer à

luz o que não está aparente e deve encontrar o que realmente se quis

dizer. O pensamento de Aristóteles ainda frequenta as práticas dos

historiadores. Vejamos:

Empédocles tinha dito que o mar é salgado porque ele seria o

suor da terra (...) Mas Aristóteles fez o seguinte comentário:

‘Dizer tal coisa pode ser apropriada por razões poéticas – pois a

metáfora é poética – mas isso não serve para compreender a

natureza [da coisa].

Outras imagens utilizadas por Empédocles e determinados

filósofos pré-socráticos foram condenadas porque elas seriam ou

obscuras, ou grosseiras, ou ainda que elas precisam ser

nuançadas, ou então porque as similitudes sobre as quais são

fundadas eram superficiais, ou até mesmo porque os exemplos

comparados não tem algum ponto em comum (ibidem, p.43)4.

É perceptível o quanto este pensamento ainda persiste no discurso

científico e, sendo a narrativa histórica uma tentativa de emular este

tipo de discurso, nas formas de narrar que se tornaram inerentes à

ciência. A lógica da explicação deve ser feita com base na prova,

estando o documento disponível para que se efetive esse discurso. Não

deve haver obscuridade ou conflito, apenas clareza e comprovação.

Então, podemos compreender que há um espaço entre o documento

e a narrativa histórica, sendo preenchido por explicação e não qualquer

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uma. Deve ser uma explicação “densa” que produza uma narrativa que

não deixe nenhum vão entre o literal e a metáfora.

Mas o que fabrica o historiador com a densidade da sua narrativa?

Efeito de real, para citar a expressão de Roland Barthes (1968), porém

de modo diferente. Enquanto na literatura este efeito produz o

verossímil, o historiador acredita que, pelo fato de utilizar documento,

de qualquer tipo, para a sua narrativa, trata do real. Tanto que a narrativa

é algo que quase não frequenta as preocupações de quem escreve

história, pois é dado como incontornável o fato de se escrever o real. É

notável que nas graduações de história, ou na formação de historiadores

em outros países, não se vê uma disciplina “Narrativa em História”.

Discute-se teoria, às vezes ainda, filosofia da história, historiografia,

mas quase nada sobre documentos e nada sobre argumentação.

Essa naturalização da escrita é herança da história cientificista do

século XIX. O discurso científico é expressão do real, porém, como

estamos apontando, ele deixa escapar metáforas e, no caso do

historiador, a sua duplicação no documento é como um quarto de

espelhos: a imagem refletida pela narrativa não deixa de ser outra

imagem. Logo, não é possível apreender o real por essa duplicação em

escala.

Haveria alguma possibilidade de se apreender o que realmente

aconteceu? Somente se o passado se tornasse fixo, imóvel. Porém, o

que podemos apreender é a polissemia dos acontecimentos da mesma

maneira que a memória individual é polissêmica. Nunca damos a

mesma explicação para o que nos aconteceu e nem o mesmo sentido.

Mudamos e o nosso passado muda. No caso da história há as relações

sociais que se constituem e desfazem ao longo do tempo. Portanto, há

um agravante. Nunca o historiador estará em condições de fixar o que

realmente aconteceu pela mobilidade do presente e pela

impossibilidade temporal, ou melhor, pelo paradoxo geográfico do

conto de Borges: um rei queria o mapa perfeito e os geógrafos se

esforçaram tanto que o mapa ficou do tamanho do próprio reino. Uma

narrativa que apreenda o real levará tanto tempo para ser feita quanto o

próprio acontecimento e se isso for possível, a sua leitura levará o

mesmo tanto.

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Podemos, como outro exemplo, reproduzir parte da narrativa da vida

de Danton:

Danton, como Robespierre e Marat, foi uma criação da

Revolução (Francesa). Emergiu do enorme acontecimento sem

qualquer aviso prévio. Apesar dos esforços de seus biógrafos em

buscar na sua juventude traços que lhe anunciassem a carreira, é

difícil discernir no jovem Danton de seus retratos um

personagem já destinado à futura Revolução (...) Nas vésperas da

Revolução era um advogado modesto, menos desprovido de

recursos do que o disseram os seus adversários (para melhor

salientar o caráter súbito e inconveniente de sua fortuna), menos

próspero do que o garantem seus partidários. Sem dúvida possuía

a Encyclopédie em sua biblioteca, entre os volumes de Plutarco

e Beccaria, mas tratava-se de uma propriedade então quase

obrigatória, o que não faz concluir que ele se alimentava de

Diderot. Como primeira causa, tivera de defender um pastor

contra um senhor, mas a que advogado não coubera naqueles

tempos tratar de tal assunto de eleição? Nada disso basta para

explicar um engajamento revolucionário (FURET e OZOUF,

1989, p.240).

O efeito produzido é a sensação de que se trata da vida de Danton,

porém, os documentos – obras biográficas, biblioteca pessoal, palavras

de detratores, palavras de partidários – que emulariam um real são

metáforas do que foi Danton e neles próprios vamos encontrar as

metáforas que os constituem. Nesta duplicidade, o historiador produz o

efeito de real que não deixa de ser também uma metáfora, pois não é

efetivamente o narrado, mas resultante de um jogo metafórico que deixa

de ser duplo para ser tríplice, ou seja, entre o que está representado no

documento, ele próprio e a escrita do historiador.

Danton revolucionário não está exatamente onde se poderia pensar,

na linearidade temporal da sua vida, mas numa teia de relações que é

impossível de reconstituir inteiramente. Por isso, deve o historiador

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praticar esse jogo tríplice para produzir o efeito de real. Porém, quase

não há consciência do jogo e muitos o tomam como o próprio quadro

retratado na narrativa, não se afastando o suficiente do que seria o

objeto da escrita.

Não encontramos Danton antes de 1789, mas na Revolução. Nela

emerge o personagem. O historiador percorre essa trajetória por elipses

que são preenchidas pela explicação, logo o personagem só se torna

pleno quando eclode a Revolução e não antes. Danton, enquanto

revolucionário, só o pode ser após 1789, portanto há uma

“metaforização” da narrativa, mesmo porque “trata-se de ordenar o

heterogêneo e, mais efetivamente, encontrar o Outro apenas no plano

da imaginação – portanto, sem sair do território do Mesmo” (OHARA,

2013, p.117-212). A imaginação, que podemos substituir por

explicação, é o jogo estabelecido entre acontecimento, documento e

narrativa.

Este jogo dá a sensação de que se trata da verdade, pois abordaria o

que realmente aconteceu, por isso, recorre aos documentos de qualquer

espécie e “a verdade em história deriva, em última instância, das

referências aos discursos das testemunhas” (HULAK, 2012, p.26)5.

Sem este recurso a história não poderia se estabelecer. O documento é

o zero do discurso histórico e nos passa a sensação de que ele é total,

pode dar conta do acontecimento, por isso o historiador chama a

testemunha para estabelecer a veracidade da sua narrativa. No início

temos o documento e todo o resto decorre deste epifenômeno da

memória que, no seu estado bruto, será o campo de atuação do

historiador. Há um claro sentimento que a história está estabelecida nos

próprios acontecimentos e a memória é a testemunha chamada para

comprovar a narrativa do historiador.

Porém, convém lembrar que o primeiro gesto do historiador

“começa com o gesto de separar, de reunir, de transformar em

‘documentos’ certos objetos distribuídos de outra maneira”

(CERTEAU, 1982, p.81). Por isso mesmo que não se toma o passado

pelo o que ele é. Podemos retomar o artigo escrito pelo militante

anarquista, citado acima. Primeira questão, qual foi o lugar de sua

produção? Segunda, quais as intenções do articulista? Terceira, em que

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série de produção se inseria o artigo? Ao respondê-las é perceptível a

distância que nos separa do artigo, não apenas temporal, também pela

própria produção. Afinal, estamos tomando-o por documento, enquanto

o articulista o tomava por uma peça de conscientização e de

compreensão da prática anarquista.

Apartamos o documento de seu local de produção, de suas intenções

iniciais, de sua série e o inserimos em outra produção, outra intenção e

outra série, aquelas do historiador. Este, pela explicação, torna o

documento pleno de sentido, mas qual? O da explicação histórica,

assim, recortando o documento, o historiador lhe dá um sentido

específico e o torna “pleno” de certezas. Não há dúvida, ambiguidade,

imprecisão na narrativa, somente a certeza de um vetor temporal que

evoca o passado para estabelecer o presente. Afastada a metáfora do

literal, a explicação histórica somente pode se ver como identitária. A

metáfora é a dispersão e movimento, enquanto o literal é a unidade e

imobilidade.

Podemos dizer, utilizando o conceito de heterotopia de Michel

Foucault (1994), que a metáfora é outro espaço no qual o historiador

tradicional não se reconhece, aliás não o deseja. A metáfora é uma

heterotopia, espaço asilar – dos loucos, dos mortos, dos leprosos, dos

velhos, dos marginais –, por isso deve ser afastada, pois é a não

identidade, o lugar dos desvios que os discursos identitários tratam de

normatizar e normalizar.

Daí é possível compreender porque a escrita do historiador é tão

normatizada; porque deve conter determinados padrões explicativos

para se fazer entender, aceita e compreendida. Ela remete à identidade

que escapa todo o tempo por desvãos metafóricos. Assim, para conjurar

o caráter errático da metáfora, o historiador faz apelo para as ideologias

ou para as representações, dependendo da ótica adotada, pois tanto as

primeiras quanto as segundas são dotadas de sentidos únicos se são bem

“trabalhadas” pela escrita.

Mas é interessante perceber que esses padrões tão arraigados são

também dispersos no tempo. A escrita historiográfica com suas certezas

de hoje se tornará erro amanhã, do mesmo modo que as de ontem se

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tornaram obsoletas, pueris, inocentes ou mal intencionadas e erradas. A

conjuração da metáfora só é possível no instante que se produz escrita

literal, mas ela permanece enquanto heterotopia do próprio discurso.

Mas é possível outra escrita da história? Não totalmente. Se

pensarmos junto com Michel de Certeau a produção historiográfica,

deveremos reconhecer, de início, o lugar de produção. Há uma forma

de produzir história e ela está determinada pela “instituição histórica”,

isto é, o fazer deve ser feito de acordo com padrões e normas

“científicos” ou, no melhor dos casos, acadêmicos. Não é qualquer um

que pode escrever história, mas aqueles dotados de determinados

conhecimentos e práticas, pois a escrita será validada pelos pares e “este

discurso – e o grupo que o produz – faz o historiador, mesmo que a

ideologia atomista de uma profissão ‘liberal’ mantenha a ficção do

sujeito autor e deixe de acreditar que a pesquisa individual constrói a

história” (CERTEAU, 1982, p.72). A crença num sujeito independente

e produtor de saber é correlata à noção de que a sua escrita é sempre

literal e os documentos se rementem ao real.

A instituição História é o lugar no qual permite ou interdita a escrita,

afinal a instituição “torna possíveis certas pesquisas em função de

conjunturas e problemáticas comuns. Mas torna outras impossíveis;

exclui do discurso aquilo que é sua condição num momento dado;

representa o papel de uma censura com relação aos postulados presentes

na análise” (ibidem, p.77). A possibilidade ou a interdição se

apresentam como “naturais”, pois é assim que tem de ser ou isto é

realmente importante, aquilo nem tanto e aquilo outro nem se deve

falar. Há assuntos completamente tabus na nossa sociedade, mas disso

não queremos saber.

Além do interdito há o normatizado e, seguindo ainda Michel de

Certeau, o historiador:

trabalha sobre um material para transformá-lo em história.

Empreende uma manipulação que, como as outras, obedece a

regras. Manipulação semelhante é aquela feita com o mineral já

refinado. Transformando inicialmente matérias-primas (uma

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informação primária) em produtos standard (informações

secundárias), ele os transporta de uma região da cultura (as

‘curiosidades’, os arquivos, as coleções, etc.) para outra (a

história) (ibidem, p.79).

Não esquecendo de que os próprios arquivos já são “refinados”,

quer dizer, já passaram por uma seleção, uma separação. Portanto, o

historiador, ao obedecer a regras de produção, deve enquadrar a sua

escrita numa espécie de “gosto médio” de seus pares. Este

procedimento permite a aceitação do produto. Separar e reunir: a

operação do historiador implica numa produção num sentido mais

integral, isto é, ele produz história. Para ajudar no raciocínio: “longe de

aceitar os ‘dados’, ele os constitui. O material é criado por ações

combinadas, que o recortam no universo do uso, que vão procurá-lo

também fora das fronteiras do uso, e que o destinam a um reemprego

coerente” (ibidem, p.81).

Isso nos leva a questão, o objeto histórico se encontra à espera do

historiador para ser desvendado? Se o material é criado pelo historiador,

logo ele não está dado, não se encontra disponível para ser garimpado

como ouro de aluvião. Ele deve ser produzido plenamente, logo, o

objeto não é natural. Não é encontrado naturalmente. Mais ceticamente

pode-se dizer que o fato “Segunda Guerra Mundial” está dado. Sim num

sentido, não em outro. O que se escolhe para narrar da Segunda Guerra?

Qual é a abordagem? Qual o material que será observado? Se ficarmos

no nível das estratégias de aliados e eixo, será um recorte, uma criação,

pois a guerra não se desenrola unicamente nos bunkers dos ministérios

da defesa. A possibilidade de criar um objeto cresce exponencialmente

quando multiplicamos o efeito da escrita para “uma visão de baixo”,

aquela dos soldados. Podemos ainda estender para as famílias, para as

economias das pequenas cidades, para o sistema de saúde e assim por

diante. Todos esses “objetos” não estão prontos à espera da narrativa

que os traga a lume. São produções historiográficas.

A escrita é a mise em scène de uma representação histórica, pois

busca a identidade, mas, se compreendermos que o relato histórico

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como metáfora, então nos afastamos da hipótese identitária e passamos

à diversidade, ou ainda, a metáfora é a dispersão do sujeito constituinte.

Porém, a história praticada marca a identidade, pelo menos enquanto

fundamento de sua própria formulação e “não existe relato histórico no

qual não esteja explicitada a relação com o corpo social e com uma

instituição de saber” (ibidem, p.93).

Este pertencimento impede, até certo ponto, encontrar na origem de

uma série de eventos a dispersão, a heterotopia. Por isso, o recurso à

citação é exaustiva nos discursos científicos, pois:

a linguagem citada tem por função comprovar o discurso: como

referencial, introduz nele um efeito de real; e por seu

esgotamento remete, discretamente, a um lugar de autoridade.

Sob este aspecto, a estrutura desdobrada do discurso funciona à

maneira de uma maquinaria que extrai da citação uma

verossimilhança do relato e uma validade do saber. Ela produz

credibilidade (ibidem, p.101).

A escrita ganha validade e atesta “o que aconteceu”, produzindo o

efeito de real desejado e tornando o discurso histórico verdadeiro. Por

isso, a metáfora deve passar ao largo. Ela instaura o quiproquó e a

dispersão. Ela pode ser aceita se domesticada, se o seu uso for para dar

mais estilo ao efeito de real, mas no estado bruto, tomando o discurso

como metáfora do passado, o documento como metáfora do real e as

metáforas no interior do próprio documento, isso produz um intenso

ruído e não instaura a identidade.

Por isso que “citando, o discurso transforma o citado em fonte de

credibilidade e léxico de um saber. Mas, por isso mesmo, coloca o leitor

na posição do que é citado; ele o introduz na relação entre um saber e

um não-saber. Dito de outra maneira, o discurso produz um contrato

enunciativo entre o remetente e o destinatário” (ibidem, p.102).

Incluindo o leitor na relação de saber, o discurso histórico provoca a

sensação de que o que ele produz é a identidade do sujeito apartado dela

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pelo tempo que passa, daí também o exercício da cronologia nos relatos.

A temporalidade passado-presente produz o efeito de que o sujeito

destinatário está no topo de uma cadeia evolutiva, portanto, mais

consciente e mais “sabedor” do que aqueles que viveram em outros

tempos.

O continuum na escrita é o corolário da identidade, a certeza de que

não haverá distância ou corte na constituição do sujeito:

A história contínua é o correlato indispensável à função

fundadora do sujeito: a garantia de que tudo que lhe escapou

poderá ser devolvido; a certeza de que o tempo nada dispersará

sem reconstituí-lo em uma unidade recomposta; a promessa de

que o sujeito poderá um dia – sob a forma da consciência

histórica –, se apropriar, novamente, de todas essas coisas

mantidas à distância pela diferença, restaurar seu domínio sobre

elas e encontrar o que se pode chamar sua morada (FOUCAULT,

1986, p.14-15).

Finalmente poderíamos perguntar se é possível uma história da

dispersão. Sim, ela teria de lançar mão de outros procedimentos para se

constituir. Temos um ótimo exemplo com a História da Loucura, de

Michel Foucault. Ele não persegue ao longo da sua escrita a evolução

do conceito de loucura e nem de como, infantilmente, outras eras

tratavam os loucos, mas trata da própria constituição da ideia de

loucura, ou seja, trata dos discursos que conformaram a prática em torno

da loucura em cada época, portanto, não é uma curva evolutiva, mas

quadros que se formaram num determinado momento e depois

desapareceram nos levando a pensar que o nosso próprio quadro sobre

a loucura irá desaparecer para dar lugar a novas práticas sociais.

Nesse tipo de história, não temos a busca pela constituição da

identidade, entendida ela própria como fruto de práticas. Dessa forma,

temos no início a metáfora, a remissão a algo que essencialmente não é

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a verdade, mas formas de dizer que existem práticas que constituem a

verdade e de imaginá-las.

A metáfora, se o historiador adotá-la, o lembrará de que o discurso

é um jogo de remissões e de imaginação. Talvez, assim, poder-se-ia

descobrir o papel do historiador na sociedade: contar história.

Notas

* Este texto foi possível graças à bolsa-produtividade da Fundação Araucária. 1 “Mais chez Aristote, le jugement négatif (...) de ce qu’il appelle metaphora dans des

domaines improtants, à la fois dans sa logique et dans sa philosophie de la nature, est bien plus marqué. Il soutient par exemple qu’il faut éviter la métaphore et les

expressions métaphoriques dans la définition.” 2 “Mon argument est donc que la distinction entre le littéral et me métaphorique – comme la distinction entre me lythe (en tant que fiction) et le récit rationnel – n’était pas seulement, à l’origine, un élément neutre et innocent d’analyse logique, mais une

arme forgée pour défendre un territoire, repousser l’ennemi, humilier les rivaux.” 3 “Dans son exigence de clarté, il exclut la métaphore parce que ‘tout ce qui se dit par

métaphore est obscur.” 4 “Dire cela est peut-être approprié pour des raisons poétiques – car la métaphore est poétique – mais ça ne l’est pas pour compreendre la nature [de la chose]. D’autres images utilisées par Empedocle et certains philosophes présocratiques sont condamnées parce que qu’elles sont soit obscures, soit grossières, ou qu’elles ont besoin d’être nuancées, ou parce que les similitudes sur lesquelles elles sont fondées sont superficielles, ou même parce que les exemples comparées n’ont aucun point

commun”. 5 “La vérité en histoire dérive, en dernière instance, de la visée référentielle des

discours des témoins.”

Referências bibliográficas CERTEAU, M. (1982). A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1982.

FOUCAULT, M. (1986). A Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense-Universitária.

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VEYNE, P. (1982). Como se escreve a história. Brasília: Editora UnB.

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Palavras-chave: História; escrita; literalidade

Keywords: History; writing; literalness