O ensino do Radiojornalismo na universidade: o caso RadioFam

7/31/2019 O ensino do Radiojornalismo na universidade: o caso RadioFam

1/14

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007

1

Qualquer estudante de jornalismo tem que sair da faculdade

dominando todas as linguagens utilizadas (...)

Uma dessas linguagens a do Rdio

a do som invisvel emitido em tempo real

e esta tem que ser estudada no que tem de especficoe, diga-se de passagem, tem que ser estudada

melhor do que tem sido na mdia das nossas faculdades.

(EDUARDO MEDITSCH)

O ensino do Radiojornalismo na universidade: o caso RadioFam 1

Joo Brito de Almeida 2 e Luciano Klckner 3

Professores da Faculdade de Comunicao (FAMECOS), da Pontifcia Universidade Catlicado Rio Grande do Sul (PUCRS)

Resumo: Prestes a completar 10 anos em 2007 como uma das radiowebs universitriaspioneiras no Pas, a RadioFam, freqncia digital dos alunos da Faculdade deComunicao Social da PUCRS do Rio Grande do Sul na Internet, realiza um trabalho,a partir da unio das caractersticas do Rdio e da Internet, com vistas aodesenvolvimento de uma programao especfica para o meio. O presente artigo recordapartes da histria do veculo Rdio, busca estabelecer alguns prognsticos na rea,considerando a tecnologia, a concorrncia e a audincia, os contedos e o novo perfil deprofissional, e procura contribuir para a reflexo do ensino do Radiojornalismo nauniversidade.

Palavras-chave: Rdio; Internet; RadioFam; webradio; ensino de radiojornalismo

Desde 1950, quando as primeiras imagens comearam a tomar conta dos poucos

aparelhos de televiso do Brasil, as previses em torno do futuro do Rdio apontavam

uma era no promissora para o meio. Alis, logo no incio das primeiras emisses por

ondas eletromagnticas, no limiar do sculo XX, o matemtico e fsico britnico Lord

Kelvin estimava que o rdio no tinha futuro!. Oitenta e sete anos aps a primeira

transmisso oficial no Brasil, os contedos do Rdio permearam e permeiam o fazer

de diversas outras mdias como a televiso, os textos dos jornais, dos sites e portais da

rede mundial de computadores; e ainda se impe como mdia vivel, principalmente no

Brasil que se apresenta como o segundo pas em audincia ao rdio, com 17,2 horas

semanais, conforme pesquisa de 2005 realizada em 30 pases pela consultoria americana

NOP World.

1 Trabalho apresentado no VII Encontro dos Ncleos de Pesquisa em Comunicao NP Rdio e Mdia Sonora.2 Mestre em Comunicao Social, Professor de Radiojornalismo. [email protected] Doutor em Comunicao Social. Professor de Radiojornalismo. [email protected]


2/14


2

Alm da capacidade de mimetizar-se aos diversos ambientes miditicos, o Rdio

demonstra caractersticas inovadoras, adaptando-se rpida e facilmente aos avanos

tecnolgicos. A rapidez nas respostas aos modelos emergentes deve ser absorvida

tambm pelos contedos disciplinares de radiojornalismo nas faculdades de

comunicao, o que depende de uma srie de fatores, destacando-se a tecnologia, a

concorrncia e a audincia, os contedos e o novo perfil de profissional.

1. A tecnologia: As experincias com a transmisso digital, em que o

som convertido em bits, chegando perfeitamente e sem distores ao receptor, esto se

desenvolvendo e o lanamento oficial do modelo de rdio digital deveria ocorrer em

meados de 2007, caso o governo definisse o padro a ser adotado no Brasil ainda em

dezembro de 20064. So dois os sistemas em teste5: o consrcio europeu Digital Radio

Mondiale (DRM) -, que exige a troca de receptores para digital; e o HDR (Hight

Definition Radio), da norte-americana iBiquity Digital Corporation, hbrido, capaz de

transmitir tanto para aparelhos digitais como analgicos at que todos os aparelhos

sejam digitais. Este modelo est baseado no IBOC (In Band On Channel). Alm do

udio perfeito, o sistema digital o futuro do rdio como meio de transmisso, pois

agregar outros servios codificados, permitindo a difuso de outras informaes em

texto.

Tambm o rdio por satlite vem despertando interesse de investidores e de

ouvintes. Duas empresas dos Estados Unidos, a Sirius Satellite Radio, de Nova Iorque, e

a XM Satellite Radio, de Washington DC, oferecem mais de uma centena de canais

pagos com melhor qualidade de som (MOREIRA, 2004, p. 328). O ponto de apoio para

o desenvolvimento do rdio via satlite a atual dificuldade de sintonia das emissoras

tradicionais em viagens intermunicipais e interestaduais, considerando que, com base

em estudos, as pessoas despendem 36 horas por ano em deslocamentos urbanos. O rdio

por satlite anularia de forma automtica esta dificuldade.Em se tratando de novas formas de transmisso, a de maior influncia tem sido a

Internet. No mundo, existem milhares de emissoras de rdio que se utilizam da Rede

para transmitir a sua programao habitual, com pginas especficas em que armazenam

os programas para que os ouvintes ouam quando quiserem e puderem. Nenhuma

informao se perde. E ainda h vantagens: os ouvintes aumentam seus vnculos com a

4 Rdio digital ser lanado at maio de 2007. Jornal Zero Hora, Porto Alegre/RS, 18 de outubro de 2006, p. 28.5 Extrado do documento Rdio Digital no Brasil Situao Atual, apresentado no Conselho de Comunicao, em 6de maro de 2006, pela Agncia Nacional de Telecomunicaes (ANATEL).


3/14


3

emissora e tornam-se ainda mais fiis. Igualmente proliferam as rdios que elaboram

programaes exclusivas para a Web. Denominadas de Webradios ou Netradios ou

ainda Radiowebs, elas no se adaptam s definies tradicionais da radiodifuso,

baseadas no uso de ondas eletromagnticas; mas se utilizam da Rede Mundial de

Computadores para transmitir a sua programao. Algumas iniciativas partem de

emissoras comerciais ou estatais, enquanto outras se constituem em empreendimentos

individuais ou de pequenos grupos, que colocam na Web contedos exclusivos para os

internautas e cyberouvintes.

A transmisso das emissoras de rdio tradicionais, via Internet, pode substituir,

tecnicamente, as emisses em Ondas Curtas (OC) - com melhor qualidade de som -,

oferecendo-se em seguida como alternativa para as rdios convencionais de Amplitude

Modulada (AM) e Freqncia Modulada (FM). A razo bvia: enquanto as duas

bandas restringem o nmero de emissoras, na Web a distribuio dos canais

praticamente ilimitada. O acesso Rede que ainda no ganhou agilidade e nem

barato. A evoluo e miniaturizao dos componentes e os menores custos da linha

telefnica vo permitir que a emissora via Internet seja sintonizada, talvez em breve,

no apenas por um computador de mesa, um notebook, mas por um palmtop, a partir de

um telefone celular ou de um sintonizador do tamanho de um pequeno receptor de mesa

tradicional que est sendo comercializado na Inglaterra desde o final de 2005 e que

consegue captar cerca de 10 mil radiowebs. Para o sucesso desse formato, no entanto,

preciso que a tecnologia consiga superar rapidamente o delay, uma variao de atraso na

recepo das mensagens.

Mais recentemente a discusso voltou-se para o Podcasting, uma forma de

produo descentralizada de contedo sonoro que disponibiliza os arquivos na Internet

para serem baixados quando o usurio bem entender. Esses arquivos, chamados de

Podcast, se assemelham a um modelo de programa de rdio, mas seria rdio e estariasuperando o modelo de transmisso por ondas hertzianas? H que considerar que a

velocidade de criao de novos modelos comunicativos na Internet vem, isto sim,

consumindo e extinguindo muitos dos seus canais. Um dos exemplos o ICQ, um

produto pouco comentado atualmente. De acordo com Medeiros (2006), o Podcasting,

que rendeu a reportagem principal da revista Wired, de maro de 2005 6 , o rdio estaria

com os dias contados aps o aparecimento deste fenmeno.

6http://www.wired.com/wired.com/wired/archive/13.03/the end of radio


4/14


4

Mas no passou de uma matria bombstica, pois as caractersticas doPodcasting so diferentes do rdio. A comear pela forma detransmisso que, no rdio em fluxo, e no podcasting por demanda[...], o modo de transmisso que no podcasting descentralizado e, nordio, centralizado e institucionalizado. E os modelos de podcast (...)que podem ser no mximo, uma metfora, uma referncia aosprogramas de rdio. Ao contrrio do rdio, o podcasting no difundido em broadcasting. Portanto, estando em lados conceituaisopostos e antpodas, no h como extinguir o modelo de transmissoradiofnico convencional (...) Ou seja, a existncia de um, no acarretano desaparecimento do outro. (MEDEIROS, 2006, p. 6)

2. A concorrncia e a audincia: A concorrncia com as outras mdias est

motivando os especialistas em Rdio a desenvolverem aes que mantenham o veculo

competitivo, tanto no processo de transmisso e, de modo especial, na gerao de

contedos. A caracterstica do Rdio adaptar-se com rapidez s novas situaes erejuvenescer-se. Com transmisses tecnicamente cada vez mais perfeitas, com som

digital, via satlite ou pela Internet, os produtores de contedo vm desenvolvendo a

estratgia de aproximar-se cada vez mais do ouvinte. Deix-lo participar de programas

por telefone ou no estdio no mais suficiente. preciso admiti-lo como parceiro,

realizando iniciativas conjuntas. No ser mais admissvel fazer para ou pelo ouvinte;

ser necessrio fazer as coisas com o ouvinte.

As emissoras tradicionais voltam sua ateno para os Conselhos, Comits e/ouClubes de Ouvintes, reunindo-os para analisar e julgar as programaes. Os ouvintes

recebem uma infinidade de benefcios (cartes de convenincia, descontos, brindes,

acesso Internet etc.), oferecidos a partir de acordos firmados pelas rdios com

patrocinadores ou empresas. As conseqncias de manter o ouvinte fiel se fazem

presentes na publicidade radiofnica. A sociedade de consumo global est exigindo

informaes mais detalhadas sobre os produtos, modificando a apresentao da

publicidade no rdio, buscando interatividade com outros processos comunicativos, taiscomo o celular e o IPod. Os spots e jingles tendem a ser mais criativos e interativos,

partindo de uma comunicao mais elaborada.

Os patrocinadores anunciam pela emissora e remetem para uma determinada

promoo, que beneficia quem acessar a pgina da rdio ou da prpria empresa na

Internet. Com isso, alm de receber um desconto, os ouvintes obteriam dados adicionais

sobre o produto anunciado. Por sua vez, a rdio e as empresas ficam com o cadastro

deste ouvinte, informando-o e comunicando-se com ele para saber se est ou no


5/14


5

satisfeito com o produto adquirido, a opinio dele em relao ao spot ou jingle que

ouviu ou sobre a prpria programao da emissora.

Antes do advento da Internet, discutia-se sobre o alcance de transmisso das

emissoras de rdio a partir do satlite. Algumas teriam espectro mundial, enquanto

outras emitiriam para a recepo nacional, regional, estadual ou municipal, dependendo

da potncia do transmissor ou das restries da legislao concernente. A anlise

permanece atual, mas, neste nterim, dois fatos ocorreram no Brasil: a regulamentao

de funcionamento das rdios comunitrias em 1998 - gerando acmulo de pedidos de

emissoras locais; e a expanso da Internet que se consolidou como novo meio de

transmisso - oferecendo uma alternativa para que as emissoras locais transmitam

mundialmente. Com isso, h um acirramento da concorrncia entre as mdias para

capturar essa audincia - agora mais seletiva do que nunca - preocupada em encontrar

no Rdio, na TV, no Jornal e mesmo na Internet programaes mais especficas e

elaboradas.

3. Os contedos: O reflexo imediato da disputa de espao entre as mdias foi a

segmentao dos formatos radiofnicos em detrimento do estilo ecltico que imperava

at a influncia direta da Televiso na dcada de 50. Nos prximos anos, os contedos

do Rdio vo se especializar ainda mais. Haver rdios padronizadas, programando-se

conforme o perfil da recepo. Os ouvintes sero fidelizados atravs da interatividade

da programao, do pacote de benefcios que a emissora vai lhes oferecer, - que pode

partir de um simples acesso Internet at a distribuio de ingressos de shows, brindes,

etc. O mais importante que as emissoras devem mesmo integrar os seus ouvintes em

clubes e comits. Alis, isso que caracteriza o rdio, a possibilidade de reunir pessoas

em torno de um tema, de polemizar, de discutir, de agregar opinies e pontos de vista.7

A perspectiva de multiplicao dos canais dever impor uma tendncia

segmentao programtica, percebida atravs de mdulos especializados: canaisexclusivos de esporte em geral, de futebol, de notcias, de servios, de debates, de

cultura, de msica popular brasileira, de msica regional, etc. O fundamental que o

7 O rdio chega intimidade do indivduo, mas a diferena entre ouvir uma emissora de rdio e fazer umaprogramao de msica personalizada com o MP3 ou MP4, por exemplo, so justamente as amplas possibilidades deno-isolamento oferecidas pelo veculo. O rdio favorece a reunio de pessoas, resgata o ser humano solitrio econtribui para a sua compreenso de mundo.


6/14


6

contedo e a forma andem juntos. Uma programao bem feita e com contedo a

tendncia, conferindo a agilidade, a velocidade e a apresentao de informaes cada

vez mais completas. H que considerar o aspecto econmico. Num pas emergente

como o Brasil ser muito mais lenta a incluso digital pelos altos valores de

comercializao dos produtos miditicos digitais. O rdio continuar por longo tempo

falando diretamente para uma imensa camada de milhes de habitantes. Segundo o

IBGE (PNAD, 2002) 87% dos 44,7 milhes de domiclios brasileiros tinham aparelhos

de rdio. Percentual semelhante de receptores deve se repetir com 19 milhes de

automveis, caminhes, nibus (ANFAVEA, 2002) que circulam no pas. necessrio

ponderar sobre as possibilidades de audincia massiva a que esses nmeros induzem.

O Rdio tambm recebe influncia de um outro fator: a interpenetrao dos

meios de comunicao de massa. O processo constitui-se numa convergncia miditica,

em que uma mdia se apropria de algumas caractersticas da outra para evoluir. Pode-se

citar a Televiso, por exemplo, que se utilizou da imagem do Cinema e do som do

Rdio para se transformar em outra mdia, e, s a partir da, desenvolveu uma

linguagem prpria. Ou a Internet, que soma texto (Jornal), imagem (Cinema e

Televiso) e som (Rdio) e at transmite por ondas eletromagnticas o que permite a

imediata recepo, com rapidez e agilidade na instalao. O Rdio segue este caminho e

j se utiliza de outros meios (Internet, Televiso, etc.), para agregar servios em outros

nveis, alm de oferecer a sua programao habitual. Algumas emissoras de Rdio, hoje,

alm de transmitir pela Rede Mundial de Computadores, utilizam canais de satlite para

que o udio chegue a ouvintes distantes. Esta evoluo tecnolgica permitiu que o

veculo rdio fosse o primeiro a conectar instantaneamente todas as aldeias,

aproximando-se da idia desenvolvida por McLuhan a partir da primeira metade do

sculo XX. Cabe destacar que as opes de cruzamentos das mdias so infinitas.

Quanto programao em si, o imaginrio radiofnico parece noestar suficientemente ativado. Nas FMs musicais, por exemplo, osmodelos tradicionais so repetidos exausto: praticamente o mesmotipo de emissora, trabalhando com o mesmo tipo de perfil de ouvinte -em sua maioria jovem, com falas, propagandas, jingles quase iguais. Seo proprietrio das emissoras visa ao lucro - objetivo fundamental para asobrevivncia da empresa -, os pesquisadores do Rdio no podem secontentar e simplesmente aproveitar modelos prontos. Precisamtrabalhar em novas propostas, reconhecer que possvel evoluir naprogramao. Se a tendncia segmentar, especializar ainda mais, issopode ser feito com criatividade, ao se construir, atravs do contexto,uma ponte musical entre o moderno e o nostlgico. (KLCKNER e

TORINO, 2000, p. 8 e 9)


7/14


7

Neste aspecto, evidente que no basta o gosto pessoal. As pessoas que dirigem

e pesquisam o rdio necessitam de empatia - colocar-se no lugar da sua audincia,

pesquisar o universo dos seus ouvintes e atualizar-se permanentemente. O AM tambm

deve se especializar ainda mais, deixando de obedecer aos rgidos formatos atuais. A

implantao do rdio digital, por exemplo, pode devolver ao AM a afinao

estereofnica que dar passagem a msicas, o que, provavelmente, poder causar uma

revoluo no dial.

O Rdio excita o imaginrio das pessoas e tem que ser permanentemente criativo

e sempre disposto a perscrutar novos formatos e estilos. No vislumbrar modelos novos

bloquear a capacidade imaginativa, caracterstica prpria do veculo. Entre as

possibilidades de atualizar a linguagem radiofnica, esto as pesquisas dos modos de

produo nos centros tecnolgicos especficos localizados nas universidades bem como

aes para identificar e diagnosticar os interesses da audincia, componente relevante na

definio dos futuros caminhos do rdio.

4. O profissional: As mudanas vo exigir um profissional completo. O novo

modelo persegue o mais amplo e profundo conhecimento possvel, abrindo o campo de

viso dos fatos para selecionar as informaes mais convenientes para a audincia.

Cursos permanentes de reciclagem e atualizao acadmica tornam-se exigncias

incontestes. Ao lado disso, s faculdades de jornalismo caber uma adequao

curricular, visando oferecer contedos optativos e especializados, alm da experincia

prtica, estimulando a reflexo sobre o Rdio para que os futuros jornalistas tenham

condies de estabelecer novos processos de mediao com a audincia e com os novos

canais disponibilizados pela tecnologia.

A escolha do profissional est mais criteriosa, levando em conta a disposio - e

o pendor - do profissional para trabalhar no veculo e a bagagem que ele traz das

universidades, questes que sero avaliadas pela seleo de pessoal das organizaes,promotoras de programas especiais para a descoberta de novos talentos. A preparao

do novo profissional dever aliar slidos contedos tericos, ticos e tecnolgicos,

intensificando o estmulo para a realizao experimental em laboratrios adaptados s

novas tecnologias.

Em termos gerais, a informao direta - de consumo imediato - permanece nas

rdios AM que trabalham com o segmento jornalstico; mas o ouvinte espera uma

explicao sobre aquele fato, quer o contexto. O ouvinte de rdio ficou mais exigente.Atualmente, as emissoras de servio, aquelas dedicadas a orientar e ajudar o ouvinte na


8/14


8

sua movimentao cotidiana, j incorporam esta tendncia, reforada pela percepo do

glocal, a informao globalizada colada na informao local, a mais prxima ao

ouvinte e que diz respeito a rua, ao bairro, a cidade onde mora. Junto informao est

o esclarecimento, e mais: essas radioemissoras tm despertado a cidadania, incitando a

comunidade a resolver os problemas, a no esperar passivamente s pelas autoridades.

Cidadania a prtica de participao ativa do ser humano nos eventos que envolvem o

adequado funcionamento dos aparatos pblicos e privados que o cercam. E, para fazer

isso, o jornalista de rdio dever estar habilitado. Capacitado para ouvir, perceber as

necessidades do seu pblico; cabe universidade alert-lo e prepar-lo para estas

situaes. No adianta s um currculo adequado; sero necessrios agentes de educao

atualizados e imbudos da necessidade destas mudanas.

Refletindo sobre o ensino

Uma reflexo sobre o ensino do rdio nos tempos atuais foi realizada por

Meditsch (2001, p. 225-231). O autor no s questiona as previses pessimistas de que

o veculo no teria futuro, como apregoa estudos especficos para a rea. Aponta trs

motivos bsicos: 1) quem domina a linguagem radiofnica se adapta mais facilmente as

demais linguagens; 2) quem quiser saber como vai evoluir a internet precisa antes

compreender como evoluram os outros meios de comunicao, especialmente o rdio;

3) o ponto de partida saber de qual rdio e de qual internet estamos falando, isto , se

o meio de transmisso ou o meio de expresso.

Segundo ele, existe uma convergncia sim, mas no entre mdias e sim de

sistemas de telecomunicao, que antes operavam isoladamente e agora esto todos

combinados (MEDITSCH, 2001, p. 227). Esta a internet meio de transmisso. Para

ele, a outra internet, ou a internet meio de comunicao vive a pr-histria, unindo

diversas possibilidades e fundindo linguagens, mas no Rdio, nem Televiso e nemJornal.

Meditsch sustenta que a confuso em torno das webradios se d por uma

ausncia de clareza conceitual do que seja o Rdio. Baseado na obra de Arnheim

(1936), que diferencia o rdio meio de transmisso, de meio de expresso, define a sua

especificidade, a partir de trs caractersticas indissociveis:

[...] um meio de comunicao sonoro, invisvel e que emite emtempo real. Se no for feito de som no rdio, se tiver imagem junto

no mais rdio, se no emitir em tempo real (o tempo da vida real doouvinte e da sociedade em que est inserido) fonografia, tambm no


9/14


9

rdio. uma definio radical, mas permite entender que o rdiocontinua rdio (como meio de comunicao) mesmo quando no transmitido por onda de radiofreqncia. E permite distinguir umawebradio (em que ouvir s o som basta) de um site sobre rdio (quepode incluir transmisso de rdio) ou de um site fonogrfico.(MEDITSCH, 2001, p. 229)

O prognstico do autor de que o rdio continuar existindo e ser to somente

aperfeioado pelas novas tecnologias, sem deixar de ser o que , pois cada vez mais, as

pessoas vo precisar ser informadas em tempo real a respeito do que est acontecendo,

sem paralisar as demais atividades ou monopolizar a sua ateno para receber esta

informao (MEDITSCH, 2001, p. 229). Com a internet, ele acredita ser mais fcil

ensinar rdio, j que agora, se pode citar o exemplo de qualquer emissora do mundo e

mandar os alunos ouvirem. Isso vale tambm para a pesquisa em torno do veculo emesmo arquivos de udio, maior deficincia das emissoras de rdio, prestimosas em

colocar a informao imediata no ar, sem muitas vezes reconhecer para a posteridade o

carter histrico da notcia veiculada.

O Radiojornalismo na FAMECOS

O curso de Jornalismo comeou na Pontifcia Universidade Catlica do Rio

Grande do Sul (PUCRS) no ano de 1952, ligado Faculdade de Filosofia, Cincias eLetras, no prdio do Colgio Nossa Senhora do Rosrio, com a durao de trs anos. A

disciplina especfica de Rdio, com o nome de Rdio-jornalismo, era ministrada no

ltimo ano. O primeiro professor de Radiojornalismo foi Nilo Ruschel, diretor da Rdio

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professor da UFRGS. Em 1963, a

cadeira teve o nome alterado para Tcnica de Rdio e Tele-jornal e, um ano depois,

com a transformao do curso em Escola de Jornalismo, recebeu a denominao de

Tcnica de Rdio e de TV.

A partir do Parecer emitido em 1/12/1965, a escola se transformou em

Faculdade dos Meios de Comunicao Social FAMECOS. Em abril de 1966, entrou

no ar, a Rdio Setembrina, a Rdio Educacional da Universidade, com sede em Viamo,

com programas artsticos e culturais produzidos pelos alunos. O professor Ruschel

utilizava-se da emissora para as aulas prticas, mas as dificuldades de transmisso no

permitiram que alcanasse o desenvolvimento esperado.

Com a deciso de transferncia da FAMECOS para a cidade universitria em

1967, houve a reestruturao do curso e a disciplina assumiu o nome de Tcnica de


10/14


10

Rdio, com o professor Nilo Ruschel e a contratao de um novo professor: o radialista

Carlos Alberto Carvalho, o que ocorreu em 1968. Aps desenvolverem os contedos de

Radiojornalismo, os professores Ruschel e Carvalho estabeleceram um projeto conjunto

entre a PUCRS e a UFRGS. As aulas prticas dos alunos de Radiojornalismo da

faculdade eram tambm ministradas na Rdio da Universidade Federal do Rio Grande

do Sul, enquanto os alunos da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicao da

UFRGS (FABICO) assistiam as aulas prticas de TV na PUCRS, cujos novos

equipamentos estavam localizados no mezanino do prdio 9 onde funcionava o curso de

Engenharia Mecnica.

A Tcnica de Rdio permaneceu com os dois professores at o fim dos anos 60.

Em 1970, comeou a vigorar o Estgio em Rdio, coordenado pelo professor Carlos

Alberto Carvalho, e houve a realizao do primeiro curso de extenso: em Jornalismo

Esportivo, com a participao do cronista de rdio Cid Pinheiro Cabral. Tratou-se de um

ano marcante para a FAMECOS que forma a primeira turma em Jornalismo Polivalente

(Impresso, Radiofnico, Televisionado e Cinematogrfico).

Em 1972, o prdio 7 da FAMECOS inaugurado, com setores especficos

(laboratrios e estdios) para o Rdio, a Televiso, o Cinema e para a Fotografia

(CLEMENTE, 2002, p. 39). Neste ano, a distribuio das disciplinas correspondia a

dois semestres bsicos, quatro semestres gerais e dois semestres finais por opo de rea

(profissionalizantes), ministrados no turno da noite. O Guia do Estudante de 1972

apontou Tcnica de Rdio I e Tcnica de Rdio II, respectivamente nos nveis 5 e 6. A

mesma publicao para os anos de 1973 a 1978 registrou dos nveis 5, 6, 7 e 8, as

disciplinas de Tcnica de Rdio I, Tcnica de Rdio II, Tcnica de Rdio III e Tcnica

de Rdio IV.

Ainda na dcada de 70, os alunos de Radiojornalismo passaram a produzir o

programa Assunto de Reportagem, veiculado na Rdio da Universidade AM (1080KHz), iniciativa que perdurou at o fim dos anos 80. Posteriormente, foi firmada uma

parceria com a Rdio Cultura FM (107.7 MHz), para divulgao de diversos programas

realizados pelos alunos, entre os quais, documentrios, adaptaes, reportagens,

entrevistas e radiojornais, no espao Unirdio, que permanece at hoje.

Um novo currculo vigorou a partir de 1979 e tambm em 1985 e 2004.

Atualmente, as ementas de Radiojornalismo contemplam as disciplinas de Laboratrio

em Jornalismo (um mdulo destinado ao Radiojornalismo), Radiojornalismo I(concentrado basicamente na histria das emissoras e nos modos de transmisso),


11/14


11

Radiojornalismo II (linguagem, texto, reportagem, radiojornal), Radiojornalismo III

(reportagem especial e entrevista), Radiojornalismo IV (produo de mesas redondas,

documentrios e adaptaes), Projeto Experimental (Projeto Vozes do Rdio e

produes experimentais) e Estgio (realizado no Sistema de udio da faculdade e na

radioweb da Famecos (RadioFam). Em 2007, a FAMECOS conta com cinco

professores de Radiojornalismo8.

Desde o ano 2000, todos os laboratrios da FAMECOS foram disponibilizados

para alunos voluntrios, que j a partir do semestre inicial poderiam exercer as

atividades em horrios que no coincidissem com o Estgio Curricular ou com as aulas

do curso. Alm das disciplinas, por convnios celebrados entre emissoras, o Sindicato

dos Jornalistas e a faculdade, os alunos realizam atividades por tempo determinado em

rdios profissionais, visando aperfeioar os conhecimentos e estreitar os contatos com o

mercado de trabalho.

A RadioFam, a freqncia digital da Famecos na Rede

Prestes a completar 10 anos, a RadioFam considerada por alunos e professores

como um laboratrio onde o erro, o acerto e a possibilidade de novos formatos

convivem lado a lado. As atividades da rdio comearam em 1997; quando o

engenheiro eletrnico do projeto, Luiz Sperotto Teixeira, colocou, em carter

experimental, um servidor de udio e softwares especficos para msicas. Tudo era

novidade na poca em que a Internet tinha pouca utilizao geral e a qualidade de

transmisso de sons e imagens era baixa. Com a evoluo de equipamentos e

programas, os professores de Radiojornalismo desenvolveram um projeto para o

aproveitamento do servidor de udio, ligado inicialmente UniTV9. Estava na Rede a

RadioFam, uma nas webradios universitrias pioneiras no Pas.

Conforme levantamento realizado pelo Laboratrio de Relaes Pblicas(LARP) em colgios e universidades da regio metropolitana da capital gacha, o

pblico alvo da RadioFam situa-se entre 15 e 30 anos, faixa onde est maior nmero

de internautas e usuais consumidores de sons. A programao busca considerar o

segmento pesquisado e foi dividida em Tempo Real e Arquivo. Na primeira modalidade,

a rdio transmite 24 horas no ar, de segunda a sexta com produo ao vivo dos alunos,

8 Em ordem alfabtica: Doris Fagundes Haussen, Joo Brito de Almeida, Mgda Rodrigues da Cunha, LucianoKlckner e Srgio Stosch.9 Trata-se do canal 15 no cabo em Porto Alegre, instalado no prdio 7 da PUCRS, onde est a FAMECOS.


12/14


12

das 7h s 22h. Na madrugada, aos sbados, aos domingos e nos feriados, rodam blocos

musicais com informaes e chamadas dos programas gravados.

Na operao por Arquivo, os programas especiais e projetos desenvolvidos nas

disciplinas ficam disponveis para acessos, com atualizaes peridicas, como, por

exemplo: 1) Projeto Vozes do Rdio (resgate da histria do rdio gacho), 2)

Radiojornais temticos (com assuntos atemporais); 3) Entrevistas/Palestras (temas

variados, entretenimento, esporte, pesquisa cientfica, vestibular); 4) Msicas

(programas especiais e seleo atualizada por segmentos diversos.); 5) Eventos

(transmisso ao vivo ou gravada de eventos na universidade)

A primeira transmisso ao vivo ocorreu em outubro de 2000, durante a

realizao do 13o SET Universitrio Festival de Laboratrios da FAMECOS, quando

os alunos da disciplina de Radiojornalismo III, colocaram ao vivo na Internet uma

programao exclusiva. Foram mais de 10 horas de cobertura com informaes,

msicas e entrevistas, com apoio de patrocinadores na distribuio brindes (revistas,

camisetas, ingressos para shows).

Desde ento uma equipe, - que comeou com 20, mas hoje est com cerca de 80

alunos estagirios (matriculados e voluntrios) -, passou a transmitir, em perodos

alternados, programas dirios, alm de divulgar trabalhos prticos das disciplinas de

Radiojornalismo e dos demais cursos como Publicidade e Propaganda, Relaes

Pblicas, Turismo e Hotelaria. Muitos grupos musicais tm feito apresentaes na

RadioFam. Nos meses tradicionais consagrados s frias (julho, janeiro e fevereiro), a

emissora vem operando com programao gravada, exceo para transmisses externas

especiais como o Vestibular, por exemplo.

Considerada uma das primeiras experincias do gnero no Pas10, a RadioFam

tem moderno estdio localizado no Centro de Produo Multimdia da faculdade

(CPM). inteiramente operada por alunos, que concebem a programao, atualizam apgina com textos, imagens e sons, atuam como monitores, editores, produtores,

reprteres, apresentadores, divulgando msica e informao. Entre os programas

desenvolvidos na fase experimental da RadioFam foram para a web, entre outros, o Caf

da Manh, Hora do Recreio, Congesto, o Freqncia Voluntria e Freqncia Digital.

A grade composta basicamente pelos seguintes programas: Caf da Manh (7h

s 8h), Hora do Recreio (9:30-10h), RadioMania (8h-10h), Ultrassom (11:30-12:15),

10 Nas ondas do rdio virtual.Jornal do Comrcio - Caderno Empresas & Negcios, 12 de maro de 2001, p. 3.


13/14


13

Fato Consumado (12:15-13h), Congesto (13h-14h), Expresso Famecos (17h-18h),

Resumo Esportivo (17:30-18h), Freqncia Digital (19h-19:30), CultFam (19:30 20h),

EcoFam e A Vs, do Brasil (20h-21h), Conversas de Jornalismo, Marca da Moda e a

Hora do Soul (21-22h), Play the List (22h-7h). Nos demais horrios, os alunos

desenvolvem quadros e programas especiais como as transmisses (off tube) dos

principais jogos de futebol do pas e do exterior. Uma caracterstica da RadioFam a

interao, via MSN, com os ouvintes. Eles comentam, aprovam e criticam a

programao de forma instantnea. Cada horrio dispe de um monitor-editor com uma

equipe que se reveza nas funes de apresentao, produo, reportagem, atualizao da

pgina na Web, etc. A interao com os webouvintes ocorre atravs da homepage da

RadioFam, no seguinte endereo: www.pucrs.br/radiofam.

Atravs da prtica em lidar com o veculo transmitido exclusivamente pela

Internet, os alunos, com a orientao de professores, tm desenvolvido idias originais

que identificam o rdio na Web por caractersticas prprias e no por simples

reproduo do rdio tradicional. Tornou-se, por esta razo, um dos primeiros

laboratrios de pesquisa aplicada em webradio. Abordado sob um critrio pedaggico

especfico, poderia ser chamado de Laboratrio do Erro. Errar, repetir e aprender o

lema dos comunicadores acadmicos da RadioFam. Ao lado disso, destacam-se as

discusses sobre a participao do Rdio nos tempos ps-internet, alm do manuseio em

tempo real de tecnologias s disponveis nos laboratrios de pesquisa das universidades.

A utilizao da RadioFam, a Rdio da FAMECOS na Internet, e do Sistema de

udio no saguo da faculdade, por alunos de Estgio Curricular e Estgio Voluntrio,

conferiu experincias nicas para alunos e professores no sentido da superviso de uma

emissora transmitida pela Rede. Na RadioFam, ao lado da aplicao dos contedos

como extenso de sala de aula, h o desenvolvimento de novos experimentos e a prpria

administrao da rdio que realizada pelos estudantes, com acompanhamento dosprofessores. A experincia vem no s garantindo alunos recm-formados com

habilidades para a contratao imediata, mas a criao de novos formatos radiofnicos,

a partir da reflexo crtica do veculo, questes que se tornam primordiais para o ensino

do Radiojornalismo no perodo ps-internet.


14/14


14

Referncias bibliogrficas

CEBRIN, Luis. A Rede, So Paulo, Summus, 1999

CLEMENTE, Elvo. O Curso de Jornalismo. In.: DORNELLES, Beatriz (org). PUCRS: 50 anosformando Jornalista. Porto Alegre: Edipucrs, 2002.

DEL BIANCO, Nlia e MOREIRA, Sonia Virgnia. Rdio no Brasil: tendncias e perspectivas.Rio de Janeiro: EdUERJ; Braslia, D.F.: UnB, 1999.

FORTES, Dbora. As mais, mais da Web As 100 maiores da Internet. Info-Exame, no.168,maro 2000.

KLCKNER, Luciano e TORINO, Paulo. O rdio no tem futuro. In.: SILVEIRA, Nbia eRECH, Iara. A vida no prximo milnio a comunicao no mundo globalizado, Suplementodo Jornal NH, fevereiro de 2000, Novo Hamburgo/RS.

MEDEIROS, Macello de. Podcasting: Um antpoda Radiofnico. Trabalho apresentado noXXIXCongresso Brasileiro de Cincias da Comunicao, no GT de Mdia Sonora, da SociedadeBrasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao (INTERCOM), de 6 a 9 de setembrode 2006, em Braslia/DF.

MEDITSCH, Eduardo. O ensino do radiojornalismo em tempo de internet. In.: MOREIRA,SoniaVirginia Moreira e DEL BIANCO, Nlia (orgs). Desafios do rdio no sculo XXI. SoPaulo:Intercom; Rio de Janeiro: UERJ, 2001.

MOREIRA, Sonia Virginia. In.: BARBOSA FILHO, Andr; BENETON, Rosana ePIOVESAN, ngelo (orgs.) Rdio: Sintonia do Futuro. So Paulo: Paulinas, 2004.

NEGROPONTE, Marcelo. dois crique o bom e velho rdio renasce na tima e novssimaWeb. Revista da Web!, no. 9, junho de 2000.

Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul. Anurios de 1952 a 2003. Porto Alegre:Livraria Continente, Epec e Edipucrs.

Documents

O ensino do Radiojornalismo na universidade: o caso RadioFam