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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
O DEFICIENTE AUDITIVO NA ESCOLA INCLUSIVA
Ivacilda Souza Kropf de Abreu
Mary Sue
Julho de 2005
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
O DEFICIENTE AUDITIVO NA ESCOLA INCLUSIVA
Esse trabalho monográfico tem por
objetivo desenvolver a profundidade
de conteúdos e a reflexão de
possíveis soluções na Educação
Inclusiva.
3
AGRADECIMENTOS
A todos que me auxiliaram e
contribuíram para a realização
desse trabalho acadêmico.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a minha
família e ao meu sobrinho Diego,
que tanto colaborou para a
confecção e o aperfeiçoamento
desse trabalho.
5
Resumo
Após uma breve revisão bibliográfica o objetivo deste
trabalho é a reflexão acerca da detecção da perda
auditiva e da integração do deficiente auditivo na escola
inclusiva. Apoiado no embasamento teórico é descrito
a classificação das perdas auditivas de acordo com o grau
de deficiência e localização da lesão. O atraso no
desenvolvimento da linguagem nem sempre é decorrente de
deficiência auditiva.
Podem ocorrer achados audiométricos dentro dos padrões
da normalidade, e mesmo assim a criança pode apresentar
dificuldades em reconhecer ou interpretar a fala.
Dificuldades estas que podem ocasionar parcial ou até a
total falta de compreensão da fala.
É entendido que, desde os primeiros anos de vida da
criança surda é necessário que ela tenha disponibilidade
de participar de um meio de comunicação eficaz para que
ela possa ter um desenvolvimento igual ao de qualquer
criança. Focando desta forma, vê-se a surdez como
diferença e não deficiência. Os novos paradigmas estão
nos moldando, para que tenhamos novos conceitos com
relação aos portadores de necessidades especiais, pois a
inclusão é um processo constante e que pensemos nela, não
como uma ação inalcançável e sim praticá-la o tempo
inteiro. Devemos ver a deficiência como uma incapacidade
do indivíduo de exercer determinadas funções, mas que
nada impede dele conduzir sua vida dentro dos padrões da
normalidade e para isso é necessário a ajuda de
profissionais competentes, éticos, criativos que
possibilitem condições adequadas com a realidade em que o
portador está inserido. Não há dúvidas que o novo
assusta, intimida e, muitas vezes imobiliza. Talvez, o
6
maior obstáculo para a mudança esteja dentro de cada um
de nós. O principal para superação dos obstáculos é o
reconhecimento de que toda pessoa é única e diferente,
com suas competências, aptidões e inaptidões, erros e
acertos. Daí a importância de respeitar as diferenças e
valores de cada um, assinalando a riqueza da diversidade
e da pluralidade, sabendo que essa diferença é
fundamental para o desenvolvimento de nossa sociedade.
7
Metodologia
Para dar subsídios a este trabalho de revisão
bibliográfica fez-se necessário buscar conhecimentos
teóricos em livros, revistas e artigos que abordassem
pontos importantes referentes ao tema. Pretende-se, com
este trabalho mostrar a importância do aluno especial na
educação inclusiva e o quanto ainda tem-se a desenvolver
na prática. Com o objetivo de maior entendimento sobre o
tema escolhido, efetivou-se uma intensa leitura da
bibliografia proposta buscando posteriormente uma análise
crítica das informações encontradas, ampliando assim
minha visão.
8
Sumário
Introdução 9
I-Fonoaudiologia: Um breve histórico 11
II-A história da educação de surdos 16
III-A detecção da perda auditiva e a integração do
deficiente auditivo na escola 21
IV-Surdez e escolaridade: desafios e reflexões sobre a
atuação do fonoaudiólogo junto a equipe pedagógica 26
Conclusão 34
Atividades Culturais 36
Bibliografia 37
9
Introdução
A prática da inclusão e integração por ser um tema
fascinante para profissionais que trabalham com crianças
especiais, tanto na área de educação quanto na área de
saúde, nos levando a pensar na parceria fundamental da
Fonoaudiologia e a Educação.
Tendo em vista os inúmeros problemas apresentados por
crianças diferentes ao acesso à qualquer instituição
educacional, este trabalho introdutório merece estudos
aprofundados sobre a parceria entre a Fonoaudiologia e a
Educação que ultimamente enfrentou diversas modalidades.
Serão abordadas questões relacionadas a problemática
encontrada na inserção, integração de crianças que estão
em processo de desenvolvimento da aprendizagem.
Serão enfatizadas situações pelas quais as crianças
passam durante este processo que muitas das vezes é de
origem institucional. Forma surgindo algumas escolas
especiais e centros de reabilitação. O não atendimento
especial aos portadores de deficiência em qualquer
situação constitui uma barreira absolutamente marcante,
produzindo efeitos que poderão acompanhar a criança desde
a infância ou por toda a sua vida adulta.
A escola efetivamente intervém na socialização da
criança, que inicia o aprendizado no seu contato com o
meio e encontra na educação escolar uma série de
transformações sociais que conseqüentemente implica em
muitas outras instâncias.
O fonoaudiólogo tem a percepção do quanto o ambiente
em que a criança está inserida tem papel fundamental no
10
processo de socialização. O fonoaudiólogo trabalha com a
linguagem verbalizada, e entende-se claramente sobre a
importância do foco educacional em relação à educação dos
surdos.
É o profissional identificado que também ensina a
língua oral aos surdos, com ênfase especial no que o
surdo é capaz, a oralização.
A escola tem a preocupação central com o ensino da
fala como pré-requisito para as demais aprendizagens. O
ensino da articulação oral do português sempre esteve na
preocupação dos profissionais dentro das escolas de
surdos.
Serão abordadas questões relacionadas desde o
histórico da Fonoaudiologia que começou como técnica e
hoje faz parte das ciências de comunicação.
No segundo capítulo será abordada a história da
educação de surdos, na qual foram utilizadas várias
filosofias e que atualmente estudos lingüísticos
avançaram no sentido de contextualização do discurso
refletindo na área do deficiente auditivo.
No terceiro capítulo será abordada a detecção da perda
auditiva, quanto mais precoce melhor até a integração do
deficiente auditivo na Escola Inclusiva.
No quarto capítulo será tratado sobre os principais
entraves da escolaridade do surdo e da atuação do
fonoaudiólogo junto aos portadores de deficiência
auditiva.
11
Capítulo I
FONOAUDIOLOGIA: Um breve histórico
Segundo Lopes (2001), técnicas eram discutidas para
aperfeiçoamento da oratória antes de Cristo, técnicas
essas que eram para falar bem, valorizavam pessoas que
tinham habilidades com a palavra, pois gerava poder,
capacidade de convencimento, pois naquela época, quem
falava bem era considerada uma grande ascensão. O aspecto
de falar bem nunca saiu da cabeça das pessoas, a palavra
era a preocupação entre os romanos.
Para Souza (1999), Demóstenes, naquela época utilizava
artifícios para melhor conviver com sua gagueira,
colocando pedrinhas na boca postando uma espada diante de
seu peito para melhor administrar sua postura corporal,
criando a arte da oratória. Mais tarde as perturbações da
linguagem foram estudadas por Aristóteles e Galeno, que
pensavam, ser ocasionada por defeitos orgânicos, atrofia
ou hipertrofia da língua, ou má estrutura dos órgãos do
aparelho fonador. Em 1861 o fisiologista francês Broca,
através da dissecação de um indivíduo que quando era vivo
ficou privado do uso da palavra, pôde determinar onde
estava, no cérebro, o centro da linguagem articulada. Em
1880, Colombat criou o termo Ortofonia, vindo a seguir a
publicação do Primeiro Tratado de Ortofonia abordando
diversos temas: a fonação, a técnica ortofônica do som
estático, a pedagogia da gagueira e outros vícios da
palavra, reeducação dos surdos mudos, correção vocal de
criança retardada.
A história da Fonoaudiologia no Brasil era vista como
Educação Especial, na época do Império se pensava na
12
reabilitação. Em 1912 o médico escolar Augusto Linhares
foi o grande iniciador da Fonoaudiologia no Brasil, no
momento em que proporcionava o início das pesquisas de
reabilitação dos distúrbios da comunicação e também
cursos para orientação a professores. Na década de 1930,
o professor era visto como um profissional especializado
que atuaria dentro da escola como medida de prevenção e
correção dos vários vícios de linguagem e defeitos da
fala de crianças.
Em 1930 e 1940, Souza Mendes e Júlio Vieira
publicaram trabalhos a respeito dos problemas da voz.
Pedro Bloch (RJ) e Mauro Spinelli (SP) trouxeram a
Foniatria para o Brasil como especialidade médica. No Rio
de Janeiro, o Instituto de Educação de Surdos (INES)
ficou com responsabilidade da escolarização de
deficientes auditivos, mas também tinha preocupação
voltada para os problemas da voz, fala e linguagem. São
Paulo ficou mais voltado para os problemas de
escolaridade decorrentes da surdez, mas ambos os estados
tratavam dos problemas de comunicação. Nas décadas de 40
e 50 manifestava-se a concretização do profissional
especializado que era a professora, atuando na eliminação
dos problemas de fala, surgindo então a palavra ORTOFONIA
que significa pronúncia normal e correta, ruído de vozes
ou a arte de combinar sons, conseqüentemente a palavra
ortofonia foi substituída por Terapia da Palavra. Nesta
mesma época, Pedro Bloch fez a reeducação dos problemas
da fala e voz, criando o setor de Foniatria da Associação
Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR).
Em 1947, Mauro Spinelli no Serviço de
Otorrinolaringologia (USP) iniciou o atendimento
educacional à criança com problemas de linguagem. As
professoras de surdos Rute Pereira e Ivete Vasconcelos
13
encontraram-se na Sociedade Pestalozzi e se dedicaram ao
estudo da surdez. Em 1947 Ivete Vasconcelos vai para o
Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Em 1963
Ivete se apresenta no XII Congresso Brasileiro de
Otorrinolaringologia e em 1964 no Congresso Mundial do
México. Em 1965 é criado o Centro de Terapia da Palavra,
da Secretaria de Educação e na década de 80 esse centro
teve seus trabalhos absorvidos pela Secretaria Municipal
de Saúde (SMS).
Em 1964 na Sociedade Pestalozzi do Rio de Janeiro
encontraram-se Lúcia Bentes e Rute Pereira, ambas de
trajetória paralela trabalhando no magistério primário e
os “diferentes”. O distúrbio de linguagem é o que as
aproxima e recebendo uma bolsa da Organização dos Estados
Americanos (OEA) vai para o México, freqüentar o
Instituto Mexicano de Audição e Linguagem, recebendo
título de mestras na Terapia da Linguagem e na Educação
dos Surdos. No Brasil formaram três cursos de Terapia da
Linguagem, que foram reconhecidos pelo Ministério de
Educação e Cultura (MEC). Em 1965, com a morte de Lúcia
Bentes o curso foi extinto e Rute Pereira cria o Setor de
Reabilitação da fala no Instituto de Reabilitação Motora.
O curso de Logopedia foi criado em 1965 por Júlio
Ferreira de Souza, Hermínio de Lima e Edir Pinheiro Alves
na cadeira de otorrinolaringologia do Hospital São
Francisco de Assis da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ).
Em 1961 Edmée Brandi atuava como especialista em voz e
audição da Faculdade de Filosofia da Universidade do
Brasil (hoje UFRJ), inicialmente com atendimento aos
alunos e funcionários da faculdade.
Nas décadas de 60 e 70 profissionais atuantes na área
de comunicação começaram a lutar pela regulamentação da
14
profissão e legitimar o perfil desse profissional. Em
1961 com a criação dos cursos da Universidade de São
Paulo, foi dado o início ao ensino da Fonoaudiologia no
Brasil vinculado à clínica de otorrinolaringologia no
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina,
Pontifície Universidade Católica (PUC), de São Paulo. No
Rio de Janeiro é criado o primeiro serviço especializado
de terapia da palavra pela Secretaria de Educação dentro
das escolas municipais e oficializadas pelo Governo
Estadual.
Em 1969 foi implantado no Instituto de Educação do Rio
de Janeiro, o setor de foniatria no Serviço de Saúde. Nos
anos 70, profissionais atuantes na área da comunicação
passaram a lutar com movimentos pelo reconhecimento dos
cursos e regulamentação da profissão. Só em 1977 o curso
de Fonoaudiologia da Universidade de São Paulo (USP), foi
o primeiro a ter funcionamento autorizado.
Em Brasília, no dia 09 de dezembro de 1981, o então
presidente João Batista Figueiredo, de acordo com o
Ministério da Saúde, finalmente aprova a lei nº6965/81,
regulamentando a profissão de fonoaudiólogo que, de
acordo com a referida lei, o fonoaudiólogo é o
profissional com graduação plena que atua em pesquisa,
prevenção, avaliação e terapias fonoaudiológicas na área
da comunicação oral e escrita, voz e audição, bem como
aperfeiçoamento dos padrões de fala e da voz.
Em 1985 a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de
Janeiro criou o quadro de fonoaudiólogos e somente em
13/04/1996 que a resolução nº157 determinou os critérios
de concessão do título de especialistas em quatro áreas
distintas: Audiologia, Motricidade oral, Linguagem e Voz.
A fonoaudiologia, que começou como técnica, hoje faz
parte das ciências de comunicação, pesquisando
15
comunicação patológica e estudando teorias. Nesse início
de século, finalmente a patologia da linguagem está sendo
mais compreendida, é um fenômeno biopsicossocial
complexo. Somente o homem tem a capacidade da linguagem,
podendo ela ser patológica, estranha e dialógica. A
fonoaudiologia busca compreender essa patologia da
linguagem a qual apresenta inúmeros distúrbios em
crianças que se encontram na fase do processo do
desenvolvimento da aprendizagem.
16
Capítulo II
A história da educação dos surdos
O histórico é importante para o entendimento da
situação atual que se encontram os surdos, eles não
tinham direitos como casar e herdar.
Os primeiros educadores de surdos usaram métodos
diferentes para alcançar seus objetivos, uns usavam
apenas a língua oral, outros a língua de sinais ou
códigos visuais que serviam para facilitar a comunicação
entre educadores e surdos.
L’Epeé em 1750, na França criou os “Sinais Metódicos”
que era uma combinação de língua de sinais com gramática
sinalizada francesa e deu início a uma aproximação com
surdos que viviam como marginais nas ruas de Paris,
educando vários deles com sua metodologia.
A qualidade e quantidade de surdos que tiveram acesso
à educação no século XVIII, foi um período importante
graças ao uso da Língua de Sinais da Europa e Estados
Unidos. Gallaudet, professor americano, interessou-se
tanto pela educação de surdos que fundou a primeira
escola permanente para surdos nos EUA e a forma de
comunicação era a união do léxico da Língua de Sinais
francesa com a estrutura da língua francesa adaptada para
o inglês, sendo mais tarde essa metodologia usada na
filosofia da comunicação total.
A primeira universidade nacional para surdos foi
fundada em 1984, Universidade Gallaudet.
Na década de 1860 começou a difusão da idéia de que
aquisição de Língua de Sinais pela criança surda
17
retardaria a aprendizagem da língua oral, surgindo aí os
opositores de Língua de Sinais.
Em 1880 no Congresso Internacional de Educação de
Surdos, em Milão foi decidido por professores, não de
surdos que eles só deveriam aprender língua oral e língua
de sinais não, porque seria prejudicial ao
desenvolvimento da criança surda. No início do século XX
a oralização passou a ser o objetivo principal da
educação das crianças surdas deixando de utilizar a
Língua de Sinais.
A filosofia educacional do Oralismo é a idéia de que a
língua oral é a única que o surdo deve aprender e foi
dominante em todo o mundo até 1960.
Houve uma grande insatisfação por parte de educadores
dos surdos com o método oral, originando a Língua de
Sinais e outros códigos manuais na educação da criança
surda, surgindo então a filosofia da Comunicação Total. E
a partir de 1980 começaram a ser divulgadas idéias em
relação à terceira filosofia educacional, o Bilingüismo.
O Oralismo acredita que a aquisição da Língua de
Sinais é prejudicial para o deficiente auditivo e este
desinteressaria em aprender a língua oral que é
essencial, é a língua que se fala nas ruas, na mídia, na
sociedade, enquanto a Língua de Sinais é usada apenas na
comunidade surda. Os oralistas argumentam também que os
pais das crianças surdas em sua maioria são ouvintes
desconhecendo a Língua de Sinais.
Os que seguem a linha de ensinar a língua oral ao
deficiente auditivo são os oralistas profissionais e
instituições, que negam e consideram prejudicial para o
desenvolvimento o contato com a língua de sinais ou
qualquer outro código na modalidade espaço-visual.
18
Para o deficiente auditivo aprender a língua oral é
muito difícil, é um processo longo que pode durar oito a
doze anos dependendo das variáveis, como a época da perda
auditiva, o grau, a participação da família, entre
outros. Todos devem se esforçar bastante para em sucesso
desejado.
Em 1911, no Brasil, o maior centro educacional para
surdos no país, o INES, a filosofia oralista começou a
ser utilizada, ocorreram várias mudanças desde o início
do século, crianças deficientes auditivas não podiam
fazer gestos espontâneos e era terminantemente proibida a
Língua de Sinais. Hoje é totalmente diferente o uso de
libras e gestos espontâneos é permitido e estimulado
dependendo do profissional ou instituição.
Atualmente os estudos lingüísticos avançaram no
sentido da importância da contextualização do discurso,
refletindo na área do deficiente auditivo com a
compreensão do diálogo inserido num contexto
comunicativo.
Na década de 1960 surgiu a Comunicação Total, foi
nesta época que a Língua de Sinais foi realmente
reconhecida como uma língua, o surdo não querendo ser
chamado de deficiente auditivo e sim surdo, a pedidos da
própria comunidade surda.
A Comunicação Total tem por objetivo evitar ou
minimizar os problemas comunicativos gerados pela surdez.
Enquanto a filosofia da Comunicação Total se limita à
aprendizagem de uma língua, no Oralismo visa à
comunicação do surdo, pois ele vive um bloqueio de
comunicação trazendo várias conseqüências a níveis
social, emocional e cognitivo.
A Comunicação Total usa vários recursos, o principal é
o bimodalismo que é a utilização simultânea de um código
19
oral e um manual. São recursos que se utiliza para chegar
a fonoarticulação, mas a principal preocupação é chegar à
oralidade.
A língua oral não pode ser usada simultaneamente com a
língua de sinais porque é impossível o ser humano
processar duas línguas paralelamente. Esta
impossibilidade é solucionada pela Comunicação Total.
Dependendo da filosofia adotada, o processo de
oralização e educação em geral da criança é diferente,
ressaltando que o fonoaudiólogo independente de qual
filosofia adotar, o seu objetivo é chegar à oralidade, e
deve utilizar o bimodalismo em seu atendimento
fonoterápico.
A Comunicação Total acusa o Oralismo de se preocupar
apenas com a aprendizagem da língua oral e esquece-se de
dar importância à comunicação para a criança surda,
surdos adultos e sua família.
A relação da família é fundamental entre a criança
surda e sua família ouvinte. Ciccone (1990) afirma que a
postura do Bilingüismo de impor aos pais que utilizam
somente o português e a Língua de Sinais separadamente ,
é semelhante à postura do Oralismo que nesse caso o
objetivo é igualar a criança surda ao padrão ouvinte e o
Bilingüismo procura igualar a família ouvinte ao padrão
surdo. As duas filosofias tentam igualar a família
ouvinte e a criança surda.
Segundo Márcia Goldfeld, a Comunicação Total aceita e
convive com a diferença, na procura de aproximar e
facilitar a comunicação entre a criança surda e sua
família ouvinte.
Para o Bilingüismo o surdo deve ser bilíngüe,
adquirindo a língua materna, a língua de sinais que é
natural dos surdos e a segunda língua a oral, e que ambas
20
não devem ser utilizadas simultaneamente, como a
Comunicação Total propõe, para que suas estruturas
continuem preservadas.
As comunidades surdas adotaram a Língua de sinais
espontaneamente, são línguas naturais, possuem todos os
níveis lingüísticos. A Língua de Sinais é própria de cada
país, possuindo sua própria estrutura.
O Bilingüismo acredita que dominando a Língua de
Sinais, é mais fácil para o surdo perceber os aspectos na
língua oral porque ele tem exemplos na Língua de Sinais
para seguir. O surdo do Bilingüismo aprende piadas,
frases irônicas, associação de expressões faciais e etc.
É aceitável em todo o mundo a aceitação e utilização das
Línguas de Sinais. No Brasil fica a critério de cada
profissional ou instituição adotar a filosofia que
considerar mais eficaz.
O processo de oralização da criança surda é longo,
exige dedicação dos pais, da criança e dos profissionais,
quando muitas vezes é necessário o apoio de uma equipe
multidisciplinar. O fonoaudiólogo deve utilizar a
metodologia de oralização que mais convier para a criança
em destaque, mas todas têm o objetivo de trabalhar com a
estimulação da audição residual, permitindo uma melhora
significativa na qualidade de discriminação auditiva.
21
Capítulo III
A detecção da perda auditiva e a
integração do deficiente auditivo na
Educação Inclusiva
A surdez é caracterizada por privação sensorial e não
só limita as dificuldades auditivas, mas também os
aspectos lingüísticos, emocionais educacionais
culturais.
Segundo Ieda Russo (1993) com o desenvolvimento de
equipamentos e técnicas sofisticadas, hoje é possível
diagnosticar a deficiência auditiva a partir do 5º mês de
vida intra-uterina e, em alguns casos, prevenir seu
aparecimento.
O diagnóstico precoce possibilita a intervenção dos
profissionais envolvidos no processo de habilitação da
criança antes que este sujeito se encontre seriamente
marcado pelas conseqüências sérias da deficiência
auditiva.
O conhecimento das causas da deficiência auditiva,
seja no adulto ou na criança, permitem a adoção de
estratégias mais adequadas no processo de prevenção no
campo da clínica médica, de reabilitação ou de educação.
A deficiência auditiva pode ser classificada, levando-
se em consideração os seguintes fatores: o momento em que
ocorre: (pré-natal) se ocorre durante a vida gestacional;
(peri-natal) se ocorre durante o nascimento; (pós-natal)
se ocorre após o nascimento. Se a origem do problema é
hereditária ou não hereditária.
22
As perdas auditivas são classificadas de acordo com o
grau de deficiência auditiva e são denominadas de acordo
com o local em que a lesão está situada, e são
denominadas perdas auditivas condutivas; perdas auditivas
neuro-sensoriais; distúrbios auditivos centrais.
As perdas auditivas de origem condutiva são
determinadas por patologias que ocorrem no ouvido externo
e/ou ouvido médio. Neste caso a audição se encontra
rebaixada na via aérea e via óssea e se encontra dentro
dos padrões da normalidade. Estas patologias podem variar
desde a presença de corpo estranho no conduto auditivo
externo até a completa malformação de todo sistema de
transmissão.
As perdas auditivas de origem neuro-sensoriais são
aquelas quando localizadas na cóclea e/ou nervo coclear,
a deficiência auditiva e resultante é denominada neuro-
sensorial. Atualmente é possível estabelecer o local da
lesão de forma objetiva através de técnicas
eletrofisiológicas sofisticadas, tais como
eletrococleografia, a audiometria de tronco cerebral e a
otoemissão acústica. Os achados audiológicos neste caso
caracterizam-se por perdas auditivas, tanto na via aérea
quanto na via óssea. Os achados timpanométricos
encontram-se dentro dos padrões normais.
Nos distúrbios auditivos centrais, em alguns casos, o
problema se manifesta através do comportamento auditivo.
Nem sempre o atraso no desenvolvimento da linguagem é
decorrente de deficiência auditiva periférica. Muitas
vezes os achados audiométricos são encontrados dentro dos
padrões de normalidade e, mesmo assim, tem dificuldades
para reconhecer ou interpretar a fala. Estas dificuldades
podem variar muito, passando de uma leve dificuldade para
23
tarefas auditivas até a completa falta de compreensão da
fala.
A classificação das perdas auditivas é analisada e
classificada através do critério do grau de perda
auditiva.
Este método baseia-se na obtenção da média de perda
auditiva para freqüências de 500, 1000 e 2000Hz e a
comparação do valor obtido com a tabela elaborada por
Davis e Silvermann (1970). A classificação das perdas
auditivas quanto ao grau é: normal – de 0 a 25 dBNA; leve
– de 26 a 40 dBNA; moderada – de 41 a 70 dBNA; severa –
de71 a 90 dBNA; profunda – de 91 dBNA a...
Quando classificamos o grau de perda auditiva em uma
criança torna-se fundamental lembrarmos da importância
que a audição tem para o desenvolvimento adequado da fala
e da linguagem. Faz-se então necessário definir o que é
perda auditiva em uma criança. Em que momentos podem
dizer que esta ou aquela criança tem sua audição normal
ou anormal?
O diagnóstico de uma perda auditiva em qualquer caso,
seja o problema de origem condutiva em qualquer caso,
seja o problema de origem condutiva ou neuro-sensorial,
deixa de ser um processo diagnóstico que inclui não só os
profissionais da área do ouvido e dos testes auditivos,
mas deve incluir avaliação da linguagem receptiva e
expressiva das vocalizações ou dos níveis de fala e do
comportamento geral da criança. Tais avaliações
diagnósticas podem ser feitas por outras disciplinas que
irão determinar se o atraso de linguagem apresentado pela
criança necessita de intervenção educacional. A
identificação destas crianças está principalmente nas
mãos de uma equipe multidisciplinar como o professor, o
fonoaudiólogo, o psicólogo, o psicopedagogo, enfim até
24
mesmo de pessoas que convivem diariamente com essas
crianças.
O princípio fundamental da Escola Inclusiva é o de que
todos os alunos, sempre que possível, devem aprender
juntos independentemente de suas dificuldades e
diferenças.
São inúmeras as implicações da escola inclusiva no
alunado que tem surdez, pois é um processo com muitas
variáveis e cheio de controvérsias.
A definição de surdez empregada por Behares (1991)
permite entender que a pessoa surda por ter um déficit de
audição, apresenta uma diferença com respeito ao padrão
esperado e, portanto deve construir uma identidade em
termos dessa diferença para integrar-se na sociedade e na
cultura que nasceu.
Diante dessa perspectiva, o surdo não pode ser
considerado deficiente, mas sim com diferente. É esta
diferença que servirá como ponto de partida para as
considerações sobre seus processos de integração social e
construção de sua identidade.
Além disso, alguns agravantes da atualidade contribuem
para o “mal-estar” dessas pessoas que pertencem a
universos distintos com problemas tanto sociais, quanto
de aprendizagem, principalmente nos adolescentes que
apresentam dificuldades de integração na sociedade.
Dentre eles podem ser encontrados a escassez de empregos,
o não aproveitamento de mão-de-obra, a desvalorização de
diplomas profissionais e/ou técnicos, a pouca chance de
competitividade, discriminação social e a surpreendente
exigência de máxima escolarização.
A situação se agrava em adolescentes surdos, que além
de estarem inseridos neste panorama social, ainda são
classificados como “deficientes”, quando, de fato, não
25
apresentam qualquer tipo de deficiência. Simplesmente não
pertencem ao grupo de pessoas que ouvem, mas a um grupo
diferente deste, que possui características comuns e
inquietações próprias aos adolescentes, não portando
nenhum indicador de comportamento psíquico e/ou
cognitivo, apenas um modo específico de se comunicar que
não é entendido universalmente. É importante ter clareza
que os deficientes auditivos não são intelectualmente
limitados. Eles podem aprender tanto quanto qualquer
aluno, porque integrar o surdo ao processo educativo
implica em levar em conta sua condição específica,
diferente e consequentemente reestruturá-lo ao
funcionamento educacional.
É hora de vermos o outro lado, o dos surdos: as suas
potencialidades normais, só o ouvido é deficiente. E isto
ele pode superar, pois é um ser humano inteligente e
muito capaz.
Em primeiro lugar é necessário que nós pessoas
“ouvintes” pensemos que não nos foi dado direito de
excluir ninguém por ter uma deficiência, por ser
diferente do padrão normal.
Em segundo lugar, a surdez não tem um padrão, o que há
dentro da surdez é uma imensa gama de diferenças que,
estas sim, precisam e devem ser pesquisadas e orientadas
individualmente.
26
Capítulo IV
Surdez e escolaridade: desafios e
reflexões sobre a atuação do fonoaudiólogo
junto à equipe pedagógica
Muitos nomes e siglas têm sido usados para designar
pessoas que por uma outra característica não se enquadram
no que costumamos chamar de “normalidade”. Excepcionais,
especiais, deficientes, diferentes, PPD, PNE, enfim,
pessoas que se encontram em condições físicas e mentais
que exigem uma escola e uma sociedade diferenciada,
adaptada para que elas tenham oportunidade de conviver e
desenvolver suas potencialidades.
No entanto, a idéia é de que os portadores de
necessidades especiais podem e devem ser tratados com
igualdade pela sociedade. Logo, a inclusão de crianças
com características diversas vêm impondo aos educadores
novas questões, a necessidade especial de incluir e
repensar as concepções de escola homogenizadora, suas
práticas de ensino, formas de avaliação e os tempos de
progressão.
O objetivo inicial da escola era que todos os alunos
soubessem os mesmos conteúdos e conhecimentos ao final do
ano e tivessem habilidades que lhes permitissem inserir-
se no mercado de trabalho. Essa concepção sofre vários
questionamentos sobre os processos de inclusão e da idéia
de uma escola para todos.
A inclusão é um caminho sem volta, com muitas dúvidas
e desafios. Ao tentar-se esclarecer o significado de
27
inclusão chega-se a um consenso de que inclusão exige uma
reorganização fundamental das escolas e salas de aula
regulares com o objetivo de atender a diversidade de
necessidades.
Segundo Mittler (2000), a inclusão envolve mudanças em
três níveis: todas as crianças freqüentando escola local,
na sala de aula regular e com o devido apoio; todas as
escolas reestruturando seu programa de ensino, pedagogia,
avaliação e sistemas de agrupamento; todos os professores
aceitando a responsabilidade pelo aprendizado, recebendo
treinamento contínuo de toda a equipe administrativa
escolar.
Qualquer política de inclusão precisa estar firmemente
embasada na suposição inicial de que todas as crianças
devem ser educadas em escolas regulares. Primeiramente,
deve-se reconhecer que os obstáculos à inclusão estão na
escola e na sociedade, e não na criança. A identificação
das dificuldades de uma criança deve ser avaliada
individualmente, pois o processo deve também incluir a
avaliação dos obstáculos à inclusão no ambiente em geral
e principalmente na escola. Ao traçar um plano de
inclusão individual que vai desde a avaliação tradicional
aos tipos de mudanças ambientais. Inicialmente algumas
escolas precisam modificar suas instalações de acesso à
sala de aula, pisos adequados, instalações recreativas e
banheiros; muitas precisam do auxílio pessoal de um
assistente pedagógico, ou de um fonoaudiólogo em
determinadas aulas ou atividades.
A proposta inclusiva tem gerado alguns equívocos como:
supor que é assunto específico da educação especial;
acreditar que a proposta é dirigida apenas a alunos
portadores de deficiência ou portadores de síndromes
neurológicas; supor que alunos com altas habilidades /
28
superdotados não são sujeitos da proposta de inclusão
educacional escolar, enfim, confundir a inclusão com
inserção.
A proposta de Educação Inclusiva não está restrita
apenas aos profissionais da educação especial, é uma
modalidade de integração, ainda um pouco restrita as
salas de recurso para apoio aos alunos integrados em
classes regulares. Quando se fala em educação que integra
realmente qualquer tipo de aluno; não só o aluno portador
de deficiência, é a educação voltada para a diversidade.
Quando se fala em integração, pensa-se no movimento que
na verdade é de fora para dentro. Acredita-se que o
processo de educação inclusiva envolve demais
profissionais responsáveis pela integração e não apenas
os que atuam na educação especial.
Em relação aos profissionais não há como estabelecer
uma diferença dos alunos com surdez para os outros
alunos. Há uma grande diversidade de uma classe onde não
haja essas diferenças, ouvintes/surdos, cegos ou não,
onde é realizado um trabalho completamente diferenciado.
São realizados processos diferentes de aprendizagem, no
caso dos surdos, a diversidade lingüística. Se para o
surdo é adquirir o conhecimento na língua portuguesa
oral, poderia chamar de oralista, é a educação bilíngüe.
Acredita-se que o aluno surdo tenha de se apropriar de
ambas as línguas para estar nos diferentes momentos de
vida em sociedade de forma integrada.
Se ele está lidando com ouvintes que só falam e não
gestualizam, é importante que ele tenha feito a
apropriação dessa comunicação oral. Pois o surdo tem sua
vivência não só dentro da escola, mas num plano em geral.
No caso específico da educação voltada para a pessoa
surda não existem dados que comprovem uma educação
29
adequada para esse grupo social. A língua falada e
escrita é o principal suporte de comunicação.
No entanto, esse suporte de comunicação tem sido um
potencializador de exclusão socioeconômica entre vários
grupos, dentre eles, destacam-se os surdos.
A população surda, cuja primeira língua é a LIBRAS-
Língua Brasileira de Sinais- tem apresentado problemas no
processo de aprendizagem da língua portuguesa, o que
dificulta, quando não inviabiliza, uma integração com a
comunidade externa ao seu universo. No Brasil é flagrante
a falta de entendimento da língua portuguesa, o que torna
esse problema sem dúvida, um dos principais a serem
enfrentados. A população surda apresenta dificuldades
para ler e escrever em língua portuguesa, quando sabemos
que a língua falada e escrita é o principal suporte de
comunicação, independente do idioma utilizado. No caso
dos surdos, eles se utilizam muito de recursos visuais,
pois percebe-se também que apresentam uma grande
habilidade na representação gráfica.
Segundo Brito (1995) as línguas de sinais têm
estrutura altamente sofisticadas e são constituídas de
uma gramática com especificidades nos campos da
fonologia, da sintaxe, da semântica e da pragmática,
embora pareçam se utilizar de princípios das línguas
orais e não recorrer a sons, mas às mãos, a expressão
facial, ao corpo, ao espaço e ao movimento.
De acordo com Sá (1999), a abordagem educacional com
Bilingüismo para a população surda refere-se ao ensino
feito em duas línguas: a língua de sinais, considerada
como natural e primeira língua; e a língua da comunidade
considerada como segunda língua. Essa abordagem baseia-se
no entendimento que o Bilingüismo incrementa tanto as
capacidades cognitivas quanto as capacidades lingüísticas
30
do sujeito surdo, favorecendo o surgimento de melhores
resultados.
Para Skiliar, Massone e Veinburg (1999) o Bilingüismo
se traduz em um aumento das capacidades metacognitivas e
metalingüísticas. Compreende-se “atitudes metacognitivas”
como a possibilidade de dirigir os processos de
compreensão, monitorando-os. E como “atitudes
metalingüísticas”, a capacidade de considerar a linguagem
como objeto de reflexão, manejando forma e função. Para
esses autores a população surda desenvolve a língua de
sinais porque esta é a língua natural do sujeito surdo,
ou seja, a língua adquirida sem ensino sistemático, do
mesmo modo que a criança ouvinte adquire a língua falada
de seu meio. Concluem assim, que por meio dessa língua o
surdo põe em funcionamento a faculdade da linguagem, que
lhe é natural do ser humano.
A complexidade desse “bilingüismo” inicia-se pelo fato
de a língua de sinais, para a maioria dos surdos,
desempenhar um papel de segunda língua, uma vez que é
mais freqüente os surdos terem pais ouvintes. Quando na
realidade apenas crianças surdas filhas de pais surdos,
aprenderão a LIBRAS como sua língua nativa.
No Brasil com a precária formação do surdo em sua
primeira língua a LIBRAS que na realidade facilitaria o
aprendizado de uma outra língua, como a língua
portuguesa, tem revelado a precária formação dessa
comunidade. No entanto, para que esse entrave seja
admitido, é de fundamental importância que o surdo seja
reconhecido como um grupo que possui cultura própria, com
uma língua sofisticada e que necessita ser estudada.
No Brasil conforme dados publicados na revista da
FENEIS, Nº. 18, 2000, havia 400 intérpretes com formação
em cursos técnicos de Ensino Médio que não conseguem
31
atender à demanda educacional para a população surda do
país.
No entanto, no Brasil, a própria comunidade surda
concorda que a utilização de legendas em substituição às
informações sonoras, pode vir a ser uma grande aliada
para construção do conhecimento, mas ao mesmo tempo
demonstram preferência por intérpretes de textos
legendados mais lentos.
Essa contradição é provocada pela dificuldade de
entendimento das legendas, somada ao reduzido número de
programas produzidos para entretenimento dessa população.
Percebe-se pouco empenho da mídia, principalmente da
televisão, em produzir programas legendados (em média
sete diários, contra uma grade de centenas de programas
produzidos sem legenda). Além disso, as legendas
principalmente as capturadas via “closed caption”, são de
baixa qualidade, rápidas e truncadas, justificando o
desejo das comunidades surdas por informações produzidas
pela televisão, mas apresentadas com a utilização da
LIBRAS, por intermédio de intérpretes.
Por outro lado, como utilizar intérpretes em um canal
de comunicações que só permite textos? O “closed caption”
é legenda fechada. Como gerar legendas mais lentas para
substituir informações sonoras sem considerar o tempo de
imagem e de fala?
O entanto, a problemática do surdo verifica-se quase a
metade dos sujeitos surdos, todos com Ensino Médio
completo, não conseguiram entender o que lhes era
apresentado por meio de legenda, mesmo com algum
conhecimento sobre os assuntos, apresentados com imagens,
revelando o baixo nível de formação escolar, e além
disso, há os surdos que jamais entrarem na escola.
32
Podemos dizer que apesar de novas tecnologias poderem
contribuir para a inserção do surdo no universo da
informação, a formação e educação lingüística dessa
população, bem como a sua inclusão ativa na sociedade
acompanhada de maior participação socioeconômica,
dependerá de uma nova compreensão do poder público.
Neste sentido, os responsáveis pelas políticas
públicas são obrigados a compreender que as novas
tecnologias só poderão auxiliar a comunidade de surdos
quando cada surdo tiver adquirido e desenvolvido
conhecimentos sobre a língua portuguesa. E esse
desenvolvimento somente ocorrerá quando esse grupo
adquirir o entendimento de mundo por meio de sua própria
língua que é a LIBRAS.
Sabe-se que o campo de trabalho da fonoaudiologia
escolar está em desenvolvimento com uma vasta atuação,
podendo oferecer um papel de consultor da equipe
pedagógica e realização de triagens avaliativas
objetivando verificar a existência ou não de aluno para
aprendizado formal e também de caráter clínico
terapêutico. O foco principal é detectar, identificar,
certificar problemas dos mais variados em alunos que
apresentam algum distúrbio.
Durante a fase de alfabetização a criança apresenta
dificuldades, pois ela está penetrando num mundo muito
diferente. Por isso é fundamental a presença do
fonoaudiólogo na escola, pois esse profissional pode ser
um grande colaborador do professor, a respeito dos
distúrbios detectados em sala de aula.
É de fundamental importância a troca de informações
entre professor e fonoaudiólogo. O aluno que apresenta
algum distúrbio na comunicação, tem prejudicado seu
33
desempenho escolar e relação social em seu ambiente
escolar.
É preciso ficar claro que não há método que resolva
todas as dificuldades e os problemas do surdo. O Oralismo
não resolveu. E a língua de sinais também, por si só, não
resolve. O Bilingüismo, por sua vez acredita que o surdo
dominando sua língua natural, ele terá mais facilidade de
perceber os aspectos da língua oral.
O importante é aceitar o portador de surdez como surdo
diferente do ouvinte e precisando ser educado para
desenvolver sua potencialidade. É conhecendo a
potencialidade e as dificuldades do surdo que deve ser
escolhido qual o melhor método para minimizar os seus
problemas e dificuldades.
34
Conclusão
No Brasil, a grande maioria de pessoas portadoras de
deficiência tem sido excluída de todos os setores da
sociedade, como nas áreas de atividade como educação,
saúde, mercado de trabalho, lazer, desporto, turismo,
artes e cultura.
Neste sentido a situação das pessoas com deficiência
em nosso país não é diferente da que ocorre em outras
partes do mundo.
A exclusão social de pessoas com deficiência ocorria e
continua ocorrendo em toda a sociedade para qualquer
atividade porque eram consideradas inválidas, ou seja,
sem utilidade para a sociedade e incapazes para
trabalhar. O preconceito contra pessoas com deficiência
existe em todos os níveis socioeconômicos que são
formados por costumes e normas sociais.
O mercado de trabalho tem sido um exemplo de exclusão.
A pessoa com deficiência tem que estar cada vez mais
profissionalmente qualificada para vencer a barreira de
obter um emprego.
Estamos vivendo o mais desafiador de todos os tempos.
São muitos desafios. O paradigma da integração social
consiste em adaptarmos as pessoas com deficiência aos
sistemas sociais comuns para lhes garantir a melhor
adaptação possível das pessoas com deficiência para que
elas possam fazer parte da sociedade.
Basicamente a sociedade continua a mesma. Este
paradigma não mais satisfaz a compreensão que adquirimos
a respeito de como deve ser a sociedade ideal não somente
para pessoas com deficiência, como também para todas as
demais pessoas.
35
Devemos estar atentos para as novas políticas
públicas, certas práticas geradas sob o paradigma da
integração social como: a criação de subsistemas para
pessoas com deficiência, escolas especiais, classes
especiais, reserva de vagas em concursos, no mercado de
trabalho, reserva de funções exclusivas, assentos em
transportes coletivos, etc. tais práticas são
segregativas, discriminatórias e reforçadas de estigmas.
Em vez de separarmos pessoas em guetos ou delimitar
espaços comuns, deveríamos exigir a não descriminação e a
disponibilidade de espaços acolhedores.
Precisamos educar a sociedade para que ela adote a
visão inclusivista na prática das políticas públicas.
Outro aspecto importante no paradigma da inclusão
social consiste no papel das pessoas dentro do processo
de mudanças sociais, com os conceitos de independência,
autonomia e autodeterminação.
Um dos grandes desafios é manter a busca incessante da
compreensão do mundo em que os portadores de surdez estão
inseridos, que é diferente do mundo dos ouvintes.
Esperamos que a escola inclusiva seja oportunidade
efetiva de exercer a democracia em termos de escola, na
medida em que se permita a todo e qualquer aluno a
participação em uma educação de qualidade. Educação para
todos, mas uma educação para todos, efetivamente e que a
diversidade se aproprie verdadeiramente dos conteúdos
escolares. Essa é a fé da escola.
36
Bibliografia
Espaço: informativo técnico-científico do INES
- Vol. 7 Ano IV – junho 1997
- Rio de Janeiro: INES 1997
Tecnologia Educacional – Revista Brasileira de tecnologia
Educacional
- ano XXXI Nº. 161/162
Bohadana, E. o terceiro milênio e a reconfiguração da
humanidade: ética, educação, e cultura. In: revista
eletrônica Redeen, 2001.
Brito, F.L. por uma Gramática de sinais. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1995
Cárnio, M.S. et al. Linguagem e Surdez. In. Lacerda, C.et
Allorg. Fonoaudiologia: Surdez e Abordagem Bilíngüe. São
Paulo: Plexus, 2000.
Couto, A.F. Conceito de Deficiência Auditiva In. Dorziat,
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Felipe, T.A. Introdução à gramática da LIBRAS, Educação
Especial, Língua Brasileira de Sinais, Volume IV, Série
Atualidades Pedagógicas 4. Mec/SEESP, 1997;
LIBRAS em Contexto. Curso Básico. Programa nacional de
Apoio à educação de Surdos. Brasília: MEC: SEESP, 2000
37
Lira, G. e Bohadana, E. Portadores de deficiência
auditiva: novas tecnologias, novas perspectivas – III
Simpósio da Educação da UEPG – Trabalho, 2002.
Lira, G. educação do surdo, linguagem e inclusão digital.
Dissertação aprovada para obtenção do título de mestre em
educação e Cultura Contemporânea. Universidade Estácio de
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Perlin, G. Martins, R e Miranda. A Educação de Surdos em
Escola Inclusiva. Rio de Janeiro: revista espaço, INES –
Junho de 1997.
Skiliar C. presente, passado e futuro na educação de
surdos, Argentina: Universidade de Cuyo, 1997.
Sassaki, Romeu Kazumi. O censo de pessoas com deficiência
na era da inclusão. Revista nacional de reabilitação São
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Revista da FENEIS, ano V, Nº17- jan-mar 2003
Revista da FENEIS, ano IV, Nº15 jul-out.2002
Educação Inclusiva – Contextos Sociais
Peter Mittler – Ed. 2003
40
Índice
Folha de rosto 2
Agradecimentos 3
Dedicatória 4
Resumo 5
Metodologia 7
Sumário 8
Introdução 9
I-Fonoaudiologia: Um breve histórico 11
II-A história da educação de surdos 16
III-A detecção da perda auditiva e a integração do
deficiente auditivo na escola 21
IV-Surdez e escolaridade: desafios e reflexões sobre a
atuação do fonoaudiólogo junto à equipe pedagógica 26
Conclusão 34
Bibliografia 36
Atividades Culturais 38
41
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação “Lato Sensu”
Título do livro: O deficiente auditivo na Escola
Inclusiva
Data da Entrega:___________________________
Auto Avaliação: Como você avaliaria este livro?
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Avaliado por:______________________________Grau_________.
______________________._____de_________________de 2005.