Upload
doanhanh
View
215
Download
2
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
INSTITUTO DE ARTES E DESIGN – IAD
BACHARELADO EM MODA
Marina Esteves Americano
MOVIMENTO HIPPIE NAS DUNAS DE IPANEMA NA DÉCADA DE 1970
Juiz de Fora
2014
Marina Esteves Americano
MOVIMENTO HIPPIE NAS DUNAS DE IPANEMA NA DÉCADA DE 1970
Projeto de Conclusão para Graduação a ser submetida à Comissão Examinadora do Curso de Bacharelado em Moda, do Instituto de Artes e Design, da Universidade Federal de Juiz de Fora, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Bacharel em Moda. Orientadores: Teórico: Profa. Dra. Elisabeth Murilho Prático: Prof. Ms. Luiz Fernando Ribeiro
Juiz de Fora
2014
Marina Esteves Americano
MOVIMENTO HIPPIE NAS DUNAS DE IPANEMA NA DÉCADA DE 1970
Projeto de Conclusão para Graduação a ser submetida à Comissão Examinadora do Curso de Bacharelado em Moda, do Instituto de Artes e Design, da Universidade Federal de Juiz de Fora, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Bacharel em Moda.
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Elisabeth Murilho – Universidade Federal de Juiz de Fora
Prof. Ms. Luiz Fernando Ribeiro – Universidade Federal de Juiz de Fora
Prof. Ms. Andrea Lomeu Portela – CES/JF
Examinado em: 21/07/2014
Às minhas irmãs, Luísa e Maria Clara,
amores incondicionais.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, meus maiores exemplos e amores, pelo amor,
apoio, dedicação e confiança. Minha mãe, de quem eu certamente herdei o
interesse por moda, meu pai por todos os “presentes rosa”. Por lutarem ao meu lado
e não medirem esforços para me fazer feliz. Às minhas irmãs, pela paz que me
trazem e que me ajudam, cada uma à sua maneira, a enfrentar os desafios da vida.
Sem dúvidas os melhores presentes que meus pais me deram. À minha avó Marilda,
que me criou e sempre esteve ao meu lado. À toda minha família, minha madrasta
Letícia, meus padrinhos e minha grande amiga Juliana, prima emprestada, pelo
amor, risadas e apoio nos momentos difíceis. Às minhas amigas, que direta ou
indiretamente contribuíram para que esse momento chegasse, em especial a Talyta,
por nunca me deixar desistir. Renato, pelo amor, companheirismo, paciência e
solução de todos os problemas de ordem tecnológica. A todos os meus professores
do Instituto de Artes e Design, pelo conhecimento transmitido com tanta dedicação,
em especial aos meus orientadores, Elisabeth e Luiz Fernando - não tenho palavras
para agradecer a paciência e dedicação. Enfim, agradeço a todos que me apoiaram
e contribuíram para a conclusão de mais uma etapa.
RESUMO
O Movimento Hippie nas dunas da praia de Ipanema foi uma consequência das
transformações vividas no mundo após a Segunda Guerra Mundial, graças à
prosperidade econômica em várias nações, principalmente nos Estados Unidos e
Europa. Foi influenciado pelo Movimento Hippie nascido na Califórnia no final dos
anos 1960, quando os jovens se reuniam para protestar contra guerras e
industrialização massiva. Também buscavam relaxar e “viajar sem sair de casa”
através do uso de drogas e da música, principalmente o rock progressivo. Pregava-
se o sexo livre e o culto à natureza. No Rio de Janeiro, a juventude compactuava
com alguns dos preceitos hippies durante os anos 1970, nas areias da praia de
Ipanema. A pesquisa realizada teve como objetivo coletar informações sobre o
período, para construir uma coleção de moda contendo quinze modelos baseados
no tema: Movimento Hippie nas Dunas de Ipanema.
Palavras-chave: Cultura hippie no Brasil; Cultura juvenil; Píer de Ipanema; Dunas
de Ipanema.
ABSTRACT
The Hippie Movement at Ipanema beach dunes was a consequence of the
transformations lived around the world after the World War II because of the huge
economic prosperity all over the world. It was affected by the Hippie Movement that
that was born at California at the end of the sixties, when the young used to get
together to protest against war, the industrial increasement, the consumism and
reunited to listen to music and to take drugs. They also preached unconstrained sex
and enjoy the nature. At Rio de Janeiro the youth used to be faithful to some hippie
concepts during the seventies, at Ipanema beach. This research had the intention to
collect some informations about this time to construct a fashion collection that
contains fifteen fashion drawings based on the selected theme: The Hippie
Movement at Ipanema beach dunes.
Key-Words: Brazilian hippie culture; Youthful Culture; Ipanema Beach Dunes.
SUMÁRIO
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 Introdução ……………………………………………1
1.2 Desenvolvimento ……………………………………2
1.3 Relações entre pesquisa e produto ………………..7
2 MERCADO ……………………………………………8
2.1 A Marca ……………………………………………….8
2.2 Prancha da marca …………………………………..9
2.3 Público-alvo ………………………………….………..10
2.4 Prancha de público-alvo …………………….……….11
3 COLEÇÃO …………………………………….………12
3.1 Prancha de tema ……………………….……………13
3.2 Matriz referencial ……………………….…………….14
3.3 Prancha de tendências ……………….…….………..16
3.4 Prancha de cartela de cores …………………….…..17
3.5 Prancha de cartela de tecidos ………………….……18
3.6 Prancha de design de superfície têxtil ………….…..19
4 DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÃO ……………..20
4.1 Mix de produtos ………………………………….…….20
5 CROQUIS …………………………………….………21
5.1.1 Croquis Musicalidade ……………………….……..22
5.1.2 Croquis Pôr-do-sol ………………………….…...…23
5.1.3 Croquis Zen ………………………………….……...24
5.1.4 Croquis Banho de mar …………………….……….25
6 PROTOTIPAGEM ……………………………….……..26
6.1 Croqui de modelo desenvolvido ……………….……..26
6.1.1 Ficha técnica ………………………………….….….27
6.2 Croqui de modelo desenvolvido ……………….….….29
6.2.1 Ficha técnica ……………………….………….…….30
6.3 Croqui de modelo desenvolvido ………………….……34
6.3.1 Ficha técnica …………………………………………35
6.4 Fotos dos Modelos Desenvolvidos…………………….37
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ……………………40
1
1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 - Introdução
O presente trabalho é o estudo do movimento hippie no Brasil,
especificamente. Esse assunto foi escolhido a partir do interesse pelo tema e pelo
desejo de estudar mais detidamente a indumentária do período, visando a criação
de uma coleção de moda inspirada no movimento hippie.
De início havia o desejo de estudar o movimento hippie de maneira geral,
mas, ao começar a pesquisa, tornou-se prioritário recortar o foco do trabalho para o
que é mais próximo da nossa realidade, ou seja, o período no Brasil.
É necessário primeiro, contextualizar a época que será abordada em nossa
pesquisa. O fim da Segunda Guerra Mundial representou um período de grandes
mudanças. Boa parte dos países europeus estavam devastados, com a economia
arruinada. A escassez de dinheiro embargava o desenvolvimento das indústrias,
inclusive a de moda. Por outro lado, nos Estados Unidos, a situação era de
prosperidade econômica. O país acumulava riquezas adquiridas através do
fornecimento de suprimentos para a Europa durante a guerra. Enquanto a indústria
de moda européia se via estagnada, nos Estados Unidos, segundo Valerie Mendes
e Amy de La Haye (2003), ela crescia a todo vapor com a produção do prêt-à-porter.
Também a partir da segunda metade do século XX, o mundo se viu imerso
na chamada “revolução cultural” que, segundo Hobsbawm (1995), foi uma mudança
na estrutura das relações entre os sexos e as gerações. A sociedade sofria a
transformação de costumes, principalmente relacionados à instituição familiar. Ainda
de acordo com Hobsbawm (1995) a família nuclear, formada por pai, mãe e filhos já
não era um modelo absoluto e havia um crescente relaxamento dos costumes. O
número de divórcios crescia, além de um menor desejo em ter filhos, possibilitado
pelo advento da pílula anticoncepcional, maior liberdade da mulher e alguma
aceitação da homossexualidade.
2
1.2 – Desenvolvimento
Com a chegada dos anos 1960, os jovens, fruto do “baby boom” do pós-
guerra, não conheciam aquele mundo de recessões e desemprego vivido pela
sociedade durante a Guerra, quando havia pouco dinheiro circulando, pouca oferta
de produtos, de alimentos e, principalmente, reduzidas possiblidades de empregos.
Em especial no Ocidente, boa parte da juventude buscava a transgressão, se
envolvia na política, organizava protestos, com um forte desejo de transformar a
sociedade em que viviam e os seus costumes. Essa juventude possuía maior
domínio das tecnologias, o que fazia que o modelo tradicional, dos pais ensinando
os filhos também sofresse transformações.
Como explicita Hobsbawm (1995), os jovens de classe média começavam a
trabalhar cedo, assim como seus antecessores, porém, nesse momento, graças ao
enriquecimento gerado pela prosperidade econômica do pós-guerra, não precisavam
contribuir com o orçamento familiar, o que lhes conferia uma maior autonomia. Eles
ganhavam o próprio dinheiro e, por isso, possuíam a liberdade de gastar da maneira
que bem entendessem e escolhiam o que consumiam, sem depender dos pais.
Entende-se através da obra de Hobsbawm (1995), que essa geração
adolescente tinha interesse em diferenciar-se daqueles que tinham mais de trinta
anos - idade considerada decadente por esses jovens, que tinham como expressão
cultural o rock e, como ídolos, Janis Joplin, Jimi Hendrix e Bob Marley, artistas que
tiveram uma morte precoce, legitimando a ideia de que o auge da vida das pessoas
era os vinte e poucos anos e que depois dessa idade, todos tornavam-se velhos
demais.
Os jovens passaram então a almejar um estilo de vida diferente - e a moda
girava em torno dessa juventude. Como explicitado na obra de Mendes e La Haye
(2003), a juventude representava um mercado crescente, fazendo surgir uma
sociedade voltada para o consumismo, possibilitado principalmente pela difusão do
prêt-à-porter, que trazia roupas com preços mais acessíveis, o que facilitava que se
comprasse mais.
As roupas passaram a ser quase descartáveis, além de permitir, segundo
Laver (1989), que o ciclo de tendências fosse mais curto. Assim, várias tendências
3
coexistiam. Isso também era facilitado pela ligação mais rápida entre os continentes,
o que fazia com que as novas modas fossem difundidas mais rapidamente.
Nesse contexto os jovens, com toda sua autonomia e desejo de diferenciação
daqueles considerados “velhos”, passam a criar sua própria moda usando, por
exemplo, de acordo com Hobsbawm (1995) e Crane (2006), o jeans, traje casual
usado largamente pela juventude, mas também adotado como roupa de lazer para
os homens mais velhos.
Com base nos trabalhos de Crane (2006) e de Silva (2011), podemos
perceber que a indústria de moda, enxergando essa diferenciação, passou a
observar o que era usado na rua com o objetivo de trazer as novidades para as suas
vitrines, ou seja, a moda vinha das ruas e não dos grandes ateliês. A partir de Crane
(2006), compreende-se que a moda já não se pautava na elite, mas nos jovens das
camadas médias, mesmo porque eram esses os grandes consumidores da época.
A moda, a partir da década de 1960, passa a ser ligada à atitude, ao
comportamento. As pessoas se vestiam de acordo com a imagem que desejavam
transmitir.
Também no final da década de 60 do século passado eclodem os
movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos, através de protestos a favor
dos negros, dos homossexuais e do feminismo, além do movimento hippie, que
surgiu em São Francisco, na Califórnia.
De acordo com Carmo (2003), o movimento hippie se desenvolveu em São
Francisco graças à existência de um porto na região, possibilitando que a cidade
recebesse pessoas de vários locais do mundo, tornando-a mais liberal e mais
receptiva a diferentes costumes e culturas.
O movimento surgiu a partir da luta contra a Guerra do Vietnã e da rejeição à
sociedade tão fiel e focada na indústria de consumo, que vinha se formando.
Baseava-se na busca por uma vida pautada por um desejo de maior liberdade
quanto aos costumes e uma alimentação mais natural. Foi um movimento que
apesar de se encaixar inicialmente no conceito de contracultura possuía suas
particularidades.
Embora tenhamos nos habituado a falar do movimento hippie como o retrato da geração dos anos 1970, é bom ressaltar que esse foi um acontecimento marcante para as pessoas que eram jovens nesse período, mas ao qual nem todos aderiram. Ou, de outra parte, nem todos aderiram
4
por completo, pois, ao tornar-se moda, as roupas hippies passaram a não identificar mais seu usuário como um partidário dos mesmos ideais. A partir daí essa experiência é vivida mais culturalmente do que como um engajamento completo num movimento contracultural, pois muitos jovens identificavam-se apenas com a música ou com as roupas, mas negavam a emancipação da mulher e o amor livre, ou, ainda, aderiam às experiências com drogas, mas não desejavam abolir a propriedade privada ou a autoridade familiar, por exemplo. Isso quer dizer que, como resultado de certa expansão do eu, a cultura hippie também foi vivida de maneira self-service, sendo possível aos indivíduos adquirir alguns ideais e recusar o pacote completo. (SILVA, 2011, p.10)
E, assim como aqueles ligados ao rock, citados acima, que se vestiam de
acordo com o grupo que pertenciam, os hippies também podiam ser identificados
pela sua aparência e indumentária próprias. Era um vestuário de protesto - que
contrastava com o que era visto na sociedade – e muito diferente do que era usado
até então. Roupas coloridas e folgadas, além de cabelos longos e desgrenhados
eram formas de transmitir a ideia da liberdade almejada por esses jovens.
Aplicações de tricô e crochê se tornaram comuns, como forma de produzir ou
customizar as roupas, negando assim, a industrialização. Calças boca-de-sino,
aplicações de flores, camisas com motivos indianos, saias longas e flores nos
cabelos, enquanto a aparência “normal” do período era mais formal. Eram os
vestidos tubinho, minissaias, estampas e modelagens geométricas, botas de cano
longo e maquiagem bem marcada.
Na produção do vestuário, a característica principal era o uso de técnicas
artesanais, sempre estimulando a experimentação, a imaginação e o “faça você
mesmo”, em contraposição às facilidades oferecidas pela massificação da moda
industrializada. Havia a rejeição dos produtos industrializados e, assim, a recusa de
se usar roupas produzidas em larga escala, com a preferência pela expressão das
individualidades, ou seja, cada um confeccionando suas próprias peças, fazendo-as
à mão, reciclando, customizando, como protesto contra o capitalismo e o
desperdício.
Os hippies viviam o universo das drogas, da música e do sexo livre.
Buscavam a liberdade de expressão, além do amor livre e sem distinções. A frase
do momento era “paz e amor”, pois adeptos do pacifismo. Sua grande bandeira
eram os protestos contra a Guerra do Vietnã, um conflito armado que ocorreu entre
1955 e 1975, matando a população vietnamita e os jovens soldados dos países que
se envolveram na guerra.
5
O movimento hippie procurou levar as pessoas ao retorno a uma vida simples
e o cuidado com o corpo e a saúde tornou-se uma tônica. Alimentos naturais eram
consumidos, em oposição ao consumo de alimentos industrializados e repletos de
aditivos químicos. A atitude ia ao encontro da cultura da boa forma, que também
passou a ser apregoada no período pelo binômio alimentação saudável e exercícios
físicos.
Os hippies abraçaram ainda aspectos da religião budista e hinduísta, e
meditavam na busca pela liberação da mente - que também era feita através do uso
de drogas, como maconha e LSD. A música pop e o rock psicodélicos, uma variação
do rock que tem como tema central loucura, alucinação e obsessão, eram as
preferidas. As bandas de rock psicodélico mais representativas eram o Pink Floyd,
The Who e The Beatles, no caso desses particularmente o álbum Sgt. Pepper’s
Lonely Hearts Club Band. No Brasil, Os Mutantes são o exemplo mais marcante
desse estilo musical.
O festival de Woodstock em 1969 foi o auge do movimento hippie em termos
de expressão musical e contou com a apresentação de 32 músicos da época, entre
eles Janis Joplin, The Who e Jimi Hendrix. Não há como negar que o movimento de
contracultura afetou o mundo, que teve de voltar os olhos para diversas mudanças
no comportamento social, principalmente através da contestação dos valores da
sociedade.
No Brasil aconteceram várias manifestações da cultura hippie, mas essa
expressão, em particular, foi marcante no verão de 1972, no Rio de Janeiro, mais
precisamente, na praia de Ipanema, onde explodiu o movimento do “desbunde”, que
acompanhava os princípios hippies presentes nos Estados Unidos, principalmente
na Califórnia.
Em qualquer centro urbano havia um local onde esses remanescentes da contracultura se enturmavam para “trocar idéias” e de onde lançavam todo tipo de moda, inclusive na maneira de se expressar na forma de gírias (“bicho”,, “putzgrila”, “pô”, “cara”, “jóia”, “positivo”, e “maior barato”). Toda essa agitação não poderia deixar de ocorrer no Rio de Janeiro. (CARMO, 2003, p.119)
Nesse período o Rio de Janeiro torna-se a capital da contracultura no Brasil, e
o cenário principal era a Duna de Ipanema. Os jovens que aderiam ao movimento
ocupavam um trecho na praia que anteriormente abrigava o píer de Ipanema, que
6
estava em obras para a construção de um emissário submarino. A retirada de areia
do local formara uma duna, onde os jovens se encontravam para conversar, se
divertir, surfar – com a construção do píer, a água do mar batia na obra de maneira a
tornar as ondas desse trecho da praia mais adequadas para a prática do esporte –
ver o pôr-do-sol e usar drogas, principalmente maconha, como uma maneira de
“viajar” sem sair de casa.
Segundo Alonso (2013), o píer era um espaço em que a ditadura não
intervinha, apesar de todas as regras e proibições do período, pois interessava ao
governo militar que aquela juventude, que julgava “alienada”, permanecesse ali, se
divertindo sem ir para as ruas protestar contra o regime.
Com o grande desenvolvimento do surfe nas praias cariocas, principalmente
em Ipanema, esse estilo de vida ligado ao esporte e à vida saudável crescia cada
vez mais entre os jovens, que também levavam uma vida despolitizada e
despreocupada. Era um momento de “ressaca” de todos os conflitos que haviam
ocorrido devido à ditadura.
É notório, no entanto, perceber que foi um movimento de jovens da elite
carioca, já que eram eles que podiam passar o dia inteiro na praia para aplaudir o
pôr-do-sol, sem preocupações financeiras.
Apesar das relações do movimento hippie nas dunas de Ipanema com o
movimento hippie da Califórnia, como o estilo de vida mais relaxado e o interesse
em uma vida mais natural, além do modo de se vestir e o uso de drogas, é
importante ressaltar que essa juventude carioca não possuía a preocupação que os
hippies da Califórnia possuíam em transformar o mundo em que viviam, fazendo
protestos como, por exemplo, os hippies norte-americanos faziam em oposição à
guerra. Em Ipanema, o movimento sustentava-se mais em curtir a vida aqui e agora.
O Píer tornou-se a praia hippie de Ipanema, um grande underground a céu aberto, o epicentro do desbunde – e, como tal, freqüentado por gente de todo tipo, muitos sem nenhuma intimidade com a areia. Rose di Primo acabara de lançar ali a tanga, mas a moda no Píer eram as saias longas com umbigo de fora e as batas indianas. Havia também quem circulasse vestido de calças saint-tropez, macacões e até ponchos. Sob um sol de quarenta graus, raros caíam n’água [...] Não era uma praia, era uma atitude [...] As conversas eram sobre mapa astral, macrobiótica, orientalismo, comunidades alternativas, a “nova era”, o disco do Cream, a peça Hair ou o último reparte de cannabis na praça. Ali se venderam os primeiros sanduíches naturebas, os livros de poesia da Geração Mimeógrafo e gibis, revistas e jornais alternativos. (CASTRO, 1999, p.298 apud CARMO, 2003, p.119).
7
A partir da pesquisa em torno do Movimento Hippie como um todo e,
principalmente, do reflexo desse movimento no Brasil, em especial, na praia de
Ipanema, no Rio de Janeiro, foi desenvolvida uma coleção de moda, contendo
quinze croquis inspirados nos hippies cariocas que frequentavam a praia de
Ipanema. O objetivo é buscar inspirações nos costumes desse período – como o
desejo de liberdade, a busca por um corpo mais livre, tecidos leves e a comunhão
com a natureza – para os transformar em peças que possam ser usadas atualmente
e que se adaptem a várias ocasiões, inclusive assistir o pôr-do-sol na praia com os
amigos, típico programa dos jovens do “desbunde”
1.3 - Relações entre pesquisa e produto
Os produtos desse trabalho são peças para uma mini-coleção inspirada no
movimento hippie no Brasil, mais precisamente nas dunas de Ipanema, no Rio de
Janeiro, onde os jovens representantes desse movimento de contracultura se
reuniam para conversar, apreciar a paisagem e praticar surfe.
A inspiração vem dos princípios da cultura hippie da busca por um corpo livre,
dos cuidados com o corpo, se alimentar de maneira saudável e praticar esportes. A
coleção traz consigo a leveza do espírito hippie e dos tecidos, além do bronzeado e
da cultura de praia. Daí surgem os looks de modelagem simples e ampla, com cores
que remetem ao pôr-do-sol e às areias da praia, tecidos leves e frescos, para que a
consumidora se sinta confortável o tempo todo, mesmo no calor da areia da praia.
A intenção nessa coleção é de produzir roupas que remetem à cultura hippie,
porém, adequadas aos dias atuais. Peças fluidas e frescas, Além disso, a coleção
traz também, peças mais sofisticadas, que vão além desse universo rústico
É uma coleção versátil, que permite o comparecimento aos mais diversos
locais e situações do dia a dia, como ir à praia, caminhar no calçadão, reunir os
amigos, enquanto também possui modelos de uma linha hippie chic, atendendo à
mulher que sai à noite e deseja um look mais luxuoso, sem perder o estilo hippie.
8
2 – MERCADO
2.1 A marca
A marca terá como sede a cidade de Juiz de Fora, localizada em Minas
Gerais. A cidade tem uma população de mais de quinhentos mil habitantes e, por
possuir uma importante Universidade Federal do país, recebe anualmente muitos
estudantes de outros municípios, o que faz a população jovem na cidade ser muito
significativa.
A grande proximidade do Rio de Janeiro faz com que os moradores de Juiz
de Fora sintam-se quase cariocas e usem no verão trajes típicos de cidades com
praias e que são influenciadas pelo clima tropical. As roupas são mais soltas e com
cores claras o que permite que a marca tenha, portanto, a identidade visual praiana
e tropical, tanto nas modelagens, como nas cores.
No passado, Juiz de Fora foi uma cidade industrial, porém, nos dias de hoje,
essa já não é a tônica do município, que se destaca regionalmente como pólo de
prestação de serviços e na área de ensino. O município conta com um considerável
potencial de consumo e, entre diversos eventos ligados a negócios, tem uma
Semana de Moda, que apresenta as coleções das lojas da cidade, apesar das
mesmas serem, em sua maioria, multimarcas ou marcas de outras cidades, com
filiais em Juiz de Fora. Apesar dessa característica, Juiz de Fora é um mercado que
possui espaço para a chegada de novas marcas e que tem a possibilidade de
apresentação em desfiles, levando a uma maior visibilidade e um maior alcance de
público.
9
2.2 – Prancha da marca
10
2.3 – Público-alvo:
O público-alvo da marca são mulheres de 18 a 35 anos, moradoras da cidade
de Juiz de Fora, que costumam aproveitar o verão nas areias cariocas, em piscinas
particulares ou em clubes da cidade. São consumidoras que têm a preocupação de
manter o corpo bronzeado, com a saúde e com o bem-estar. Elas também não
abrem mão de finais de semana em cachoeiras, em contato com a natureza. São
mulheres antenadas com a moda e interessadas em conforto e praticidade,
frequentam eventos variados e não dispensariam assistir o pôr-do-sol na praia
seguido de um lual com amigos ao som de músicas calmas e relaxantes.
11
2.4 – Prancha de público-alvo
12
3 – COLEÇÃO
A coleção primavera/verão 2015 é composta por quinze modelos inspirados
na cultura hippie das areias de Ipanema e no estilo de vida livre e natural do período.
No entanto, traz o olhar atual, para a produção das peças, adequadas a todos os
momentos da mulher jovem e moderna, desde um banho de mar até um evento com
amigos.
13
3.1 – Prancha de tema
14
3.2 – Matriz referencial
A matriz referencial é uma análise da coleção dividida entre famílias que
dialogam entre si. Essa análise se dá a partir de seus tecidos, cores de fundo e de
superfície, design de superfície têxtil e silhueta desenvolvidos. A partir do tema
“Movimento Hippie nas Dunas de Ipanema na Década de 1970”, a coleção foi criada
e dividida entre quatro famílias.
A primeira família representada, “Pôr-do-Sol” compreende os modelos mais
sofisticados da coleção, dedicados aos programas noturnos.
A segunda família representada, “Zen”, foi criada para os momentos de mais
relaxamento e para o dia a dia.
15
A terceira família representada, denominada “Musicalidade”, tem como
objetivo trazer looks descolados, para programas sociais descontraídos, como ir ao
cinema, shows ou festivais.
A quarta família representada, “Banho de Mar”, como o próprio nome diz,
compreende peças dedicadas aos momentos de lazer na praia ou piscina.
16
3.3 – Prancha de tendências
17
3.4 – Cartela de Cores
18
3.5 – Cartela de tecidos
19
3.6 – Design de superfície têxtil
20
4 – DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÃO
4.1 – Mix de produtos
No mix de produtos há peças variadas, para que a consumidora possa
usufruir da coleção em vários momentos diferentes.
Foram criados modelos de beachwear, compostos por um biquíni, uma saída
de praia e um vestido curto com aplicações de renda, que pode ser usado como
saída de praia.
Na seção de peças informais, para o dia a dia, foram criados um vestido curto
de manga longa, três batas, uma saia longa e duas calças, sendo uma delas flare e
a outra, pantalona.
21
Na seção de peças intermediárias, que podem ser usadas para eventos
casuais, a seção “Musicalidade”, foram criados um vestido curto com franjas de
couro, uma bata de renda, dois top cropped, um com aplicação de renda guipir e um
com aplicação de franjas. Um short, uma saia longa com aplicação de renda e uma
calça pantalona com modelagem muito ampla.
Finalmente, na seção de roupas mais sofisticadas, denominada “Pôr-do-Sol”,
foram criados dois vestidos longos, sendo um com aplicações de renda e o outro de
malha estampada. Um kafta, de modelagem ampla, uma saia de malha estampada e
uma blusa no modelo poncho, com aplicações de renda e top.
5 – Croquis
22
5.1 – Croquis Musicalidade
23
5.2 – Croquis Pôr-do-Sol
24
5.3 – Croquis Zen
25
5.4 – Croquis Banho de Mar
26
6 – Prototipagem 6.1 – Croqui de Modelo Desenvolvido
27
6.1.1 – Ficha técnica
28
29
6.2 – Croqui de modelo desenvolvido
30
6.2.1 – Ficha técnica
31
32
33
34
6.3 – Croqui de modelo desenvolvido
35
6.3.1– Ficha técnica
36
37
6.4 – Foto dos Modelos Desenvolvidos
38
39
40
7 – REFERÊNCIAS
ALONSO, Gustavo. O Píer da Resistência: Contracultura, Tropicália e Memória no Rio de Janeiro. achegas.net, janeiro/julho de 2013. CAMARENA, Elá, Desenho de Moda no Corel Draw X5. SENAC, 2011. CRANE, Diana, A Moda e Seu Papel Social: Classe, gênero e identidade das roupas. SENAC, 2006. CARMO, Paulo Sérgio do. Culturas da Rebeldia: A Juventude em Questão. São Paulo: SENAC, 2003. DIAS,Cleber; FORTES, Rafael e MELO, Victor Andrade de. Sobre as Ondas: Surfe, Juventude e Cultura no Rio de Janeiro dos anos 1960. Est. Hist., Rio de Janeiro, vol. 25, no 49, p. 112-128, janeiro-junho de 2012. DUARTE, Sonia; SAGGESE, Sylvia. Modelagem Industrial Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Guarda-roupa, 2008. HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O Breve Século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. LA HAYE, Amy e MENDES, Valerie. A Moda do Século XX. São Paulo:Martins Fontes, 2003. LAVER, James. A Roupa e a Moda: Uma história Concisa. São Paulo: Companhia das Letras,1989. PEZOLO, Dinah Bueno. Tecidos: História, Tramas, Tipos e Usos. São Paulo: SENAC, 2007. SILVA, Elisabeth Murilho da. É Possível Falar de Tribos Urbanas Hoje? A Moda e a Cultura Juvenil. Iara – Revista de Moda, Cultura e Arte - São Paulo – Volume 4, N°1 abril 2011.