Morgenbesser - Filosofia Da Ciencia - Ernest Nagel - Pag 11 a 24

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    ERNEST NAGEL, qu e est presentementena Columbia Unit;ersty (ond e "John DeweyPr ofessor of Philosophy "), nasceu em Novemesto, Checoslovquia , em 1901. Foi paraos Estados Unidos em 1911, estudando noCol/ege of th e City of Ne w York e na Columbia Unive rsity. O Dr. Nagel pertence aocorpo docen te desta universidad e, desd e 1931 .Presidiu a Association for Symbolic Logic C aAm erican Philosophical Association. mCInIrro da Associa ton for the Ad vancement ofSci ence e vice-presidente do 1nstitute for theUnity of Science. Desd e 1940 ed itor doJourn al of Philosophy. Recebeu , em dua socasies, as "G1tggenheim fel/owsh ips". Autor e co-aut or de n umerosos trabalh os d e Fi-losofia.

    GERALMENTE , O Homem no d ateno s tcnicas de que se vale para solucionar problemas, a no ser que osmtodos habituais venham a revelar-se V1satisfatrios face aqueste s novas. Na histria da Cincia, pelo menos, preocupao maior com problemas de ordem metodolgica emerge, freqentemente, do fato de formas costumeiras de anlise mostrarem-se inadequadas ou de apresentarem imperfeies os modos tradicionais de apreciar a evidncia e de interpretar as concluses da investigao. Nos dias atuais, to fortem ente marcados pelas comoes sociais, no surpreende, portanto, que oscientistas e filsofos profissionais estejam obrigados a dar grandeateno lgica da Cincia e ao significado amplo das conquistascientficas. A liter atur a contempornea acrca da filosofia daCincia , bsicamente, uma resposta crtica a algumas das dificuldades intelectuais criadas pelos recentes desenvolvimentos cientficos.

    H, em verdade, trs aspectos da Cincia atual que nos convidam a sria reflexo e nos auxiliam a definir-lhe a naturezae os objetivos; tenciono abordar superficialmente cada um dssesaspectos, embora reconhecendo que as limitaes de espao tornam impossvel tratar adequadamente inda que de um s.

    1 . Talvez o trao mais saliente da Cincia - e, por certo , o que mais comumente se reala - seja o de que permite13

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    contrle prtico da Natureza. Tornar-se-ia eruadonho realaras grandes contribuies da investigao cientfica em prol do~ m - e s t a r humano ou mesmo aludir aos ramos principais daTecnologia, como por exemplo a Medicina, que tiraram proveitodos avanos da pesquisa fundamental, terica e experimental .Baste as sinalar que a Cincia aplicada transformou a face da Terra e traou os contornos da civilizao ocidental contempornea.Sendo sses frutos tecnolgicos da investigao cientficaos que os homens sem treino cientfico ou intersses tericos podem mais fcilmente aprecigr, o domnio sbre a Natureza, quemuitas vzes decorre da pesquisa fundamental, a justificaoltima da Cincia para a maioria das pessoos. Como a realizao de investigaes cientficas demanda, hoje em dia, grandesinvestimentos, que dependem, largamente, de fundos pblicos,muitos pesquisadores, quando descrevem a natureza da Cinciaa auditrios de leigos, aos quais caber, afinal, custear a maiorparte dos gastos necessrios, tendem a acentuar, quase que ex-clusivamente, os benefcios prticos a esperar de estudos bsicos.Embora, eu, nem por um momento, subestime a importncia da Cincia como fonte de recursos tecnolgicos que, aperfeioados e disseminados, contribuem para a melhoria da vida humana, creio, no obstante, que a concepo cJg Cincia como algoque produz, incessantemente, novos meios de dominar a Natureza, tem sido sublinhada com demasiada ruase, levando a es-quecer outros de seus aspectos. De modo rugum se d que aconquista de bens e vantagens de carter prtico seja o nicoou o principal motivo que incentiva o homem a entregar-se investigao cientfica; e quando sse motivo se torna o principal, surge um quadro fortemente distorcido tanto dos objetivoscomplexos da Cincia como de sua prpria histria.Alm disso, aquela ruase pode levar a sociedade a encararde maneira perigosamente errnea o cientista, vendo-o como ho

    mem miraculoso, capaz de respostg infalvel para tooas as ma-zelas humanas. No se deve esquecer tambm a generalizadatendncia de considerar a Cincia como responsvel pela maneirablrbara por que, s vzes, so utilizadas as suas conquistas imputao indubitvelmente injusta, que pode levar a desprez-la, mas que se torna plausvel quando ela identificada s suasconseqncias tecnolgicas.14

    2 . A Cincia assume outro aspecto qugndo concebida comoalgo que se prope atingir conhecimento sistemtico e seguro,de sorte que seus resultados possam ser tomados como conclu-ses certas a propsito de condies mais ou menos amplas euniformes sob as quais ocorrem os vrios tipos de acontecimentos. Em verdade, segundo frmula gntiga e ainda aceitvel, oobjetivo da Cincia "preservar os fenmenos" - isto , apresentar acontecimentos e processos como especificaes de leis eteorias gerais que enunciam padres invariveis de relaes entrecoisas. Perseguindo' sse objetivo, a Cincia busca tornar inteligvel o mundo; e sempre que o alcana, em alguma rea de in vestigao, satisfaz o anseio de saber e compreender que , tal-vez, o impulso mais poderoso a levar o homem g empenhar-seem estudos metdicos. Sabe-se que por ter colimado, de ma-neira usualmente bem sucedida, seus fins, que a atividade iniciada na antiguidade grega e atualmente chamada "Cincia" tem-semostrado fator importante no desenvolvimento da civilizaoliberal: serviu para eliminar crenas e prticas supersticiosas, paraafastar temores brotados da ignorncia e para fornecer base in-telectual de avaliao de costumes herdados e de normas tradicionais de conduta .Seria, naturalmente, afrontar a evidncia, negar que muitoantes do incio da pesquisa sistemtica os homens dispunham deconhecimentos razovelmente aceitveis acrca de muitas das ca-ractersticas do ambiente fsico, biolgico e social. Em verdade,ainda hoje, boa parte das informaes de que necessitamos paraorientao normal de nossas vidas no produto de investigaocientfica sistemtica, mas o que normalmente se chama conhecimento nascido do "bom senso".

    No obstante, sse tipo de conhecimento est sujeito anumerosas limitaes srias, algumas das quais devem ser apontadas . Assim, as crenas baseadas no bom senso so, em geral,imprecisas, e, freqentes vzes, aproximam coisas e processosque diferem de maneira essencial; no raro, so incoerentes demodo que a preferncia por uma de duas crenas incompatveis,como base para a ao, arbitrria; tendem a ser fragmentrias,em conseqncia do que as relaes lgicas e substantivas entreenunciados independentes so, de hbito, ignoradas; so geralmente aceitas com reduzida conscincia do alcance de sua legti

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    ma aplicao; so, via de regra, miopemente utilitaristas, preocupadas, em boa poro, com assuntos diretamente relacionados comintersses prticos imediatos e normalmente aplicveis apenas areas de experincia rotineira; por fim, e acima de tudo, as crenas baseadas no bom senso desprezam possibilidades outras paraenfrentar problemas concretos, mantendo vigncia por fra daautoridade conferida por um costume que no se critica e que,portanto, no pode ser prontamente modificado de modo a tornar as crenas guias seguros para enfrentar situaes novas.Embora no se possa traar linha ntida entre as asseresbaseadas no bom senso e as concluses da pesquisa cientfica pois certo que tda investigao cientfica parte de crenase distines oriundas do bom senso e, ao fim, a le refere assuas descobertas - a Cincia tem como sinal distintivo o detentar deliberadamente alcanar resultados total ou parcialmente livres das limitaes do senso comum.Conquanto a amplitude com que se alcanam tais concluses varie nos diferentes ramos da Cincia, e conquanto sejaindubitvelmente maior nas cincias naturais, nenhum campo deinvestigao sistemtica foi inteiramente mal sucedido nessa tentativa. Em geral, as concluses da investigao cientfica soapoiadas por evidncia mais adequada e apresentam melhoresrazes para serem consideradas conhecimento certo do que ascrenas baseadas no bom senso. Adiante direi alguma coisamais a sse respeito. De momento, contudo, desejo tornar claro que embora as descobertas cientficas sejam, costumeiramente, dignas de crdito, no so, em princpio, infallvelmente verdadeiros nem insuscetveis de emenda os relatrios cientfficosacrca de especficas questes de fato ou as leis e teorias elaboradas para indicar as condies invariveis sob as quais os fenmenos ocorrem.Houve tempo em que se admitiu que para ser genuinamen

    te cientfica, uma proposio deveria ser reconhecida como inquestionvelmente certa e absolutamente necessria. Tomando a Geometria dedutiva como paradigma, sse modo de versustentava que Cincia no basta simplesmente atestar quaisso os fatos, cabendo-lhe demonstrar que os fatos devem sercomo so e no poderiam ocorrer de outra maneira; mas, umaV ;G que, para estabelecer demonstrativamente um enunciado, so

    necessanas premissas que no podem ser demonstradas, essacorrente entendia que as premissas bsicas de uma Cincia devemser suscetveis de apreenso como au to-evidentes e necessriamente verdadeiras.Essa concepo da natureza ela Cincia era plausvel, enquanto a geometria euclidiana constitua o nico exemplo de co-nhecimento sistematizado; continua a ser defendida por muitos

    pensadores contemporneos que admitem que "o universo racional" e, assim, "no pode haver resduo de fatos irracionais(isto , contingcntemente verdadeiro ,) no conjunto da Cincia".Todavia , luz da histria da Cincia, tal concepo insustentvel. Com efeito , no h Cincia alguma cujos pressupostosbsicos relativos a questes de fato sejam realmente auto-evidentes e o progresso ela investigao, em todos os ramos da Cincia, revelou que princpios tidos como basilares em certa pocativeram de ser modificados ou substitudos para manter adequao a fatos revelados por novas descobertas. A tese de que oschamados primeiros princpios da Cincia so passveis de alterao claramente ilustrada por desenvolvimentos atuais da Fsica, onde se tem procedido a revises radicais em pressupostostericos que haviam sido considerados indubitveis.

    No sucede, porm, que essas revises de pressupostos bsicos possam ser corretamente interpretadas como sinais da "falncia" da Cincia moderna - tal como a tm freqentementecaracterizado pensadores presos errnea noo do racionalismoclssico, segundo a qual a Cincia que no pode garantir seremsuas concluses indiscutivelmente certas falhou em seu objetivode conduzir a conhecimento genuno . E , mais ainda, essas revises no justificam um ceticismo global com relao possibilidade de obter conhecimento seguro acrca do mundo pormeio da pesquisa cientfica - ceticismo que, por sua vez, surge a partir da insustentvel hiptese de que, sendo tdas as concluses da pesquisa cientfica passveis, em tese, de correo,nenhuma concluso , verdadeiramente, um acrscimo estvelao corpo de conhecimento. Seja-me permitido citar umexem-pIo que desmente essa ltima hiptese e que, ao mesmo tempo,mostra que, fornecendo explicaes bem fundadas para os fenmenos observados, a Cincia atende ao perene anseio de conhecimento e compreenso sistemticos.

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    Galileu assinalou que, aparentemente, h um limite superior para o tamanho de animais tais como o homem e levantoua questo de saber se, a despeito do que se possa julgar, houvetempo em que homens de propores gigantescas pisassem aface da Terra. Mostrou le, atravs de cuidadoso experimen.to, que a resistncia de uma estrutura varia de acrdo com suaseco transversal e admitiu, com fundadas razes, que a capacidade de os ossos animais suportarem fras de presso tambmvaria proporcionalmente area de suas seces transversais. Po routro lado, o pso de um animal terrestre (que deve ser suportado pelos membros) proporcional ao volume do mesmo animal. Em consonncia com isso, cabe dizer que a resistncia dosossos animais proporcional ao quadrado das dimenses linearesdo animal, enquanto o pso que sses ossos devem suportar proporcionai ao cubo das dimenses lineares. Em conseqncia, hlimites definidos para o tamanho dos animais terrestres e, as-sim, gigantes com membros proporcionais aos dos homens co-muns no poderiam existir, pois tais criaturas sucumbiriam sobo prprio pso.

    Investigaes levadas a efeito nos trs sculos seguintes refinaram e tornaram mais precisa a concluso de Galileu, e aspresunes em que le a baseou, mas no chegaram a modific-la substancialmente. O exemplo sustenta, pois, a tese deque, embora sejam passveis de correo as descobertas cientficas, o contedo da Cincia no um fluxo instvel de opinies,mas, ao contrrio, a Cincia pode alcanar xito no seu propsito de fornecer explicaes dignas de confiana, bem fundadase sistemticas para numerosos fenmenos.

    3 . tempo de considerar o terceiro aspecto que a Cincia apresenta: seu mtodo de investigao. Aspecto muitas vzes mal interpretado e sempre difcil de descrever COm brevidade, mas que , talvez, seu trao mais permanente e garantialtima do crdito que merecem as concluses da investigaocientfica.Afirmao freqente, subsorita, s vzes, por eminentescientistas, a de que "no h, como tal, um mtodo cientfico",mas apenas "a utilizao livre e ampla da inteligncia". Essaafirmao ter procedncia, caso a expresso "mtodo cientfico"seja considerada como equivalente a um conjunto de regras fi

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    xas, aceitas de maneira geral e orientadas a proporcionar a descoberta de solues para qualquer problema. No h dvidade que a anlise histrica do mtodo cientfico leva a colocar nfase considervel, se no exclusiva, na tarefa de formular preceitos para desvendar as causas ou efeitos dos fenmenos e paraelaborar leis e teorias a partir dos resultados da observao. Entretanto, nenhuma das regras propostas para orientar descobertas atinge o propsito visado; e a maioria dos estudiosos do as-sunto concorda em que pretender estabelecer tais regras empreendimento sem esperana.Qu e , ento, mtodo cientfico? Devo esclarecer, preliminarmente, que o vocbulo "mtodo" no sinnimo do vocbulo "tcni ca". A tcnica de mensurao de comprimentosde ondas luminosas por meio do espectroscpio patentementediversa da tcnica de mensurao da velocidade de um impulsonervoso e ambas diferem das tcnicas empregadas para determinao dos efeitos de um tipo de organizao empresarial sbre a produtividade. As tcnicas, via de regra, variam de acrdo com o assunto de que se trat a e podem alterar se rpidamente com o progresso tecnolgico. De outro lado, tooas as cin

    cias empregam um mtodo comum em suas investigaes, namedida em que utilizam os mesmos princpios de avaliao daevidncia; os mesmos cnones para julgar da adequao das explicaes propostas; e os mesmos critrios para selecionar umadentre vrias hipteses.Em suma, mtodo cientfico a lgica geral, tcita ou explicitamente empregada para apreciar os mritos de uma pesquisa. Convm, portanto, imaginar o mtodo da Cincia co-mo um conjunto de normas-padro que devem ser satisfeitas,caso se deseje que a pesquisa seja tida por adequadamente conduzida e capaz de levar a concluses merecedoras de adeso racional. Prete ndo, agora, examinar, ligeiramente, alguns ele

    mentos do mtodo cientfico assim entendido.Comecemos lembrando que a Cincia uma instituio so-cial e que o cientista membro de uma comunidade intelectualdedicada perseguio da verdade, segundo padres que evolveram e se mostraram satisfatrios, ao longo de um contnuoprocesso de crtica. Muitos pensadores imaginaram que a objetividade das concluses alcanadas pela Cincia estaria asse19

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    gllrada, se os cientistas deliberassem no aceitar qualquer proposio a respeito da qual pairasse sombra de dvida ou queno fsse transparentemente verdadeira. Os homens, raramente se do conta de que h muito de hipottico no que tm porindubitvel e, muitas vzes, acreditam-se livres de compromissos intelectuais de qualquer espcie, quando, na verdade, estoendossando tcitamente muito de falso.Embora a deliberao de adotar atitude crtica relativamente s presunes possa ter certo valor, a objetividade da Cincia no conseqncia dela. Ao contr rio, a objetividade de-ve-se a uma comunidade de pensadores, cada qual dles a criticar severamente as afirmaes dos demais. Nenhum cientista infalvel e todos apresentam s u a ~ peculiares deformaes intelectuais ou emocionais. As deformaes raramente so asmesmas; e as idias que sobrevivem s crticas de numerososespritos independentes revelam maior probabilidade de seremlegtimas do que as concepes tidas por vlidas simplesmentepelo fato de parecerem auto-evidentes a um pensador isolado.Seja-me permitido, a seguir, discorrer sbre a maneira po pular, algumas vzes endossada por cientistas, de imaginar que

    a pesquisa cientfica deve principiar com a coleta de dados; osdados assim coligidos passariam por um crivo lgico, da resultando formulao unlvocamente determinada de certa regularidade entre os acontecimentos estudados. A improcednciadessa verso torna-se evidente quando constatamos que no fcil precisar quais os fatos a coletar para resolver dado problema, nem fcil saber se realmente fato aquilo que apresentado como tal.Para exemplificar, quais os fatos que deveriam ser reunidos para pesquisa das causas da leucemia? li lua maiorquando est prxima do horizonte do que quando se encontrano znite? O nmero de fatos que se poderia reunir enorme

    e seria impossvel examin-los todos; e o que se tem como fatopode no p ~ s a r de uma iluso. Faz-se claro, portanto, que osfatos devem ser selecionados segundo pressupostos que indiquem os relevantes para a soluo de um dado problema; e asobservaes devem ser realizadas segundo condies que se presuma exclurem a possibilidade de que relatrios do que se alegater sido observado incidam em rro grosseiro. Assim, qualquero

    significativa coleta de fatos para fins de pesquisa controladapor pressupostos de vrios tipos, dependentes do cientista e nodo assunto investigado. Como os fatos no so relevantes ouirrelevantes por si mesmos, o cientista est obrigado a adotaralgumas hipteses preliminares acrca de quais os fatos de intersse para o problema que enfrenta - a determinar, por exemplo, quais dentre os numerosos fatres que podem estar presentes, ligam-se causalmente ao fenmeno em exame - e atque essas hipteses sejam alteradas so elas que orientam a investigao.Ausentes essas hipteses, a pesquisa cega e sem objetivo .No h, porm, regras para fazer surgirem hipteses frutferas;como Albert Einstein observou repetidamente, as hipteses queconstituem as modernas teorias da Fsica so "livres criaesda mente" cuja inveno e elaborao requerem dotes imaginativos anlogos aos que permitem a criao artstica .

    No obstante, ainda que se deva admitir que a imaginaocriadora tem um papel a desempenhar no campo da investigaocientfica, a Cincia no poesia nem especulao; as hipteseslevantadas durante a pesquisa, assim como outras explicaespropostas para certa classe de fenmenos, devem ser submetidas teste. Em geral, ste teste requer que se examine a compatibilidade de uma hiptese (ou de suas conseqncias lgicas) simultneamente com estados de coisas observveis e comoutras hipteses cuja concordncia com fatos observados j tenhasido assentada.

    No cabe aqui uma pormenorizada anlise da lgica empregada para submeter a teste as hipteses; mas cabe referncia,ainda que breve, noo de investigao controlada - que ,talvez, de todos os elementos de uma lgica dsse tipo, o maisimportante. Um exemplo simples deve ser bastante para indicar a maneira como se caracterizam tais investigaes. A crena outrora muito comum de que banhos com gua fria e sal-gada eram benficos para os pacientes atacados de febres altasparece ter-se baseado em repetidas observaes de que melhorasresultavam dsse tratamento. Entretanto, independentementede indagar se a crena ou no legtima - e na verdade noo - a evidncia em que se baseava insuficiente para sustent-la . Aparentemente, no ocorreu aos que aceitavam essa

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    crena indagar se pacientes no submetidos ao mesmo tratamento poderiam mostrar melhoria semelhante. Em suma, a crena no era o resultado de uma investigao controlada - ouseja, o curso da molstia em pacientes submetidos ao tratamento no era comparado ao seu curso num grupo "de contrle" ,constitudo por pacientes que no o recebiam, de modo que nohavia base racional para decidir se o tratamento produzia algum efeito.De maneira mais geral, uma investigao controlada so-mente se, criando alguma espcie de processo de eliminaotorna possvel determinar os efeitos diferenciais de um fator quese considera relevante para a ocorrncia de dado fenmeno.So sses processos de eliminao, algumas vzes, mas no necessriamente, experimentalmente viveis; em muitos setorese em sua maioria, no o so, de modo que recursos analticossutis e complicados devem ser , freqentemente, empregados pa

    ro que se extraia da evidncia existente a informao que se faznecessria e que tornar possvel racional tomada de posio acrca dos mritos de uma hiptese. De uma forma ou de outra, anoo de contrle elemento essencial da lgica do mtodo ci-entfico - pois, via de regra, a confiana merecida pelos resultados cientficos funo da multiplicidade e do rigor dos contrles a que foram submetidos. .

    Gostaria, por fim, de fazer ligeiro comentrio acrca dopapel das distines quantitativas e da mensurao no ampliaros objetivos da Cincia e no aumentar o grau de confiana adepositar nas concluses por ela alcanadas. Embora haja importantes diferenas estruturais entre as vrias determinaesquantitativas, todos os tipos de mensurao desempenham funo tripla. A primeira a de aumentar a preciso, reduzindoassim a fluidez, com que os fatos produzidos e as explicaespara les propostas podem ser apresentados, de maneira que aforma de apresentao seja, mais fcilmente, submetida a teste .A segunda a de tornar possveis discriminaes mais minuciosas dos traos dos vrios assuntos, de modo que enunciados arespeito dles tenham condio de ser submetidos a contrlesmais rigorosos. A terceira a d;: permit ir comparaes maisgerais entre os diversos acontecimentos a fim de possibilitarque sejam formuladas, sistemtica e aCUIadamente, as relaes2

    entre as coisas. , portanto, errneo sustentar, como ocorremuitas vzes, que as chamadas cincias quantitativas, fazendoamplo uso da mensurao, ignorom, por isso mesmo, os aspectos qualitativos da realidade. Quo despida de base essa p0 -sio, ser evidenciado por um exemplo simples.Os sres humanos esto capacitados a distinguir certo nmero de diferenas na temperatura dos objetos e trmos taiscomo "quente", "mrno", "tpido", "frio" e "gelado" correspondem a distines reconhecidas. Mas essas diferenas noforam ignoradas ou negadas quando, no sculo XVII, se inventou o termmetro; ao contrrio , a inveno dsse instrumf'ototraduziu o fato de que as variaes de temperatura que eramexperimentadas, em relao a muitas substncias, estavam ligadas a alteraes dos volumes relativos dessas substncias. Emconseqncia, variaes de volume podem ser utilizadas para indicar alteraes no estado fsico de um corpo, alteraes que,em alguns casos, cor respondem a diferenas de temperatura sentidas pelo homem. A par disso, possvel assinalar diferenas menores nas variaes de volume do que nas alteraes detemperatura , diretamente percebidas; e h extremos de calor

    e frio alm da capacidade de discriminao dos sres humanos,embora, nesses extremos , possam ser ainda apontadas as alteraes de volume . Por isso mesmo, cabe dizer qutt , usandouma escala termomtrica , no somos levados a ignorar diferenas qualitativas : o uso da escala permite-nos assinalar difenmas de qualidade que , de outra forma, nos passariam despercebidas, habilitando-nos, ao mesmo tempo, a ordenar essas qualidades de maneira clara e urforme.Concluirei com um sumrio. A fra bsica, geradora daCincia, o desejo de obter explanaes simultneamente sistemticas e controlveis pela evidncia fatual. O fim especfico da Cincia , portanto , a descoberta e a formulao, emtrmos gerais , das condies sob as quais ocorrem os diversostipos de acontecimento, servindo os enunciados generalizadosdessas condies determinantes como explicaes dos fatos correspondentes. ~ s s e objetivo s pode ser atingido identificandoou isolando certas propriedades do assunto estudado e estabelecendo quais os reiterados padres de dependncia que governam a inter-relao daquelas propriedades . Em razo disso,23

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