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1
MINISTERIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÕNIA-UFRA
NATHO JÚNIOR GOMES DE OLIVEIRA
UMA ABORDAGEM ETNOBOTÂNICA NA TENDA DE UMBANDA CASA DE
TUPINAMBÁ, TRACUATEUA-PA
CAPANEMA
2017
2
MINISTERIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÕNIA-UFRA
NATHO JÚNIOR GOMES DE OLIVEIRA
UMA ABORDAGEM ETNOBOTÂNICA NA TENDA DE UMBANDA CASA DE
TUPINAMBÁ, TRACUATEUA-PA
Trabalho de conclusão de Curso apresentado ao curso de Ciências
Biológicas da Universidade Federal Rural da Amazônia como
requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Cláudio Moreira Melo Júnior.
CAPANEMA
2017
3
Oliveira, Natho Júnior Gomes de
Uma abordagem etnobotânica na tenda de umbanda casa de
Tupinambá, Tracuateua-PA / Natho Júnior, Gomes de Oliveira. –
Capanema, 2017.
106 f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Ciências
Biológicas) – Universidade Federal Rural da Amazônia, 2017.
Orientador: Luiz Cláudio Moreira Melo Júnior.
1. Simbolismo Religioso 2. Etnobotânica 3. Diversidade
cultural I. Melo Júnior, Luiz Cláudio Moreira, (orient.) II. Título.
CDD – 203.7
4
5
Dedico este trabalho aos meus pais, esposa, parentes e amigos que me deram total apoio nesta
jornada de estudos, dedico principalmente, a minha Vó Dona Rosa dos Santos Reis, que me
acolheu e me apoiou em meus estudos, e que neste ano de 2017 veio a falecer, sem ter
presenciado minha formação.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida, aos meus Orixás Ogum e Iemanjá. Pela
força, paciência e sabedoria durante minha caminhada.
Aos meus pais, Raimundo Nonato Silva de Oliveira e Ângela Gomes de Oliveira, por ter
acreditado, em minha vontade de vencer, e ter feito todos os esforços para que eu alcançasse
esta vitória. Sinto-me extremamente abençoado por ter pais como vocês.
Ao meu irmão Nadison Gomes de Oliveira, que esteve sempre me apoiando e abrindo meus
olhos. Obrigado maninho!!!
Aos meus avós Antônio Fernandes e Rosa dos Santos Reis, por me acolherem em sua casa, e
me tratarem da melhor forma possível tal qual meus pais. Dona Rosa Sinto saudades!!!!
A minha esposa Tainara de Araújo por esta presente nesta jornada, compartilhando felicidades
e tristezas. Muito obrigado meu amor!!!
Ao meu orientador Prof. Dr. Luiz Cláudio Moreira Melo Júnior, pelo seu comprometimento e
verdadeira preocupação com meu aprendizado durante esses períodos, agradeço pelos
ensinamentos, motivações, dedicações e especialmente pela paciência.
Aos irmãos da Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá, que abriram as portas para que o
conhecimento e a verdade possam ser transparentes para todos que almejam. Principalmente,
a minha Mãe de Santo Cleide, que me apoiou em todos os momentos para realização deste
trabalho.
A minha amiga Katherinne Thaisa Brito Lima que me acolheu em sua residência temporária.
Obrigado amiga!!!
As entidades espirituais que me acompanham em todos os momentos, livrando meus
caminhos de todo o mal.
Por fim, agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste
trabalho, há todos meus sinceros agradecimentos.
7
“Sem folha não tem sonho, sem folha não tem festa, sem folha não tem vida, sem folha não tem nada”.
(Maria Bethânia)
8
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo geral analisar as dinâmicas sociocultural, histórica e
ambiental de uso dos recursos naturais na Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá, no
município de Tracuateua-PA. O estudo foi realizado no município de Tracuateua-PA, na
Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá. O trabalho se caracterizou como uma pesquisa
exploratório-descritiva. Como principais resultados, constatou-se que a relação com o meio
etnobotânico é bastante presente na cultura religiosa umbandista. As formas de manejo e de
produção das ervas utilizadas nos rituais incluem plantações em quintais e compra nas feiras.
O desmatamento é uma prática que tem afetado as práticas religiosas umbandistas, em função
da restrição de locais para a realização das oferendas e da dificuldade para se encontrar
determinadas ervas nas áreas de mata, cada vez mais escassas. As principais ervas utilizadas
nos rituais de Umbanda são: manjericão (Ocimum minimum L.) e a catinga de mulata
(Tanacetum vulgare L.), citadas tanto pelos trabalhadores da casa quanto pelos consulentes.
As principais dificuldades de manejo das ervas utilizadas no terreiro de Umbanda estão
relacionadas às formas de plantio e de colheita e à escassez de ervas nas áreas de mata.
Palavras- chave: religiosidade, etnobotânica, diversidade cultural.
9
ABSTRACT
The objective of this work was to analyze the sociocultural, historical and environmental
dynamics of the use of natural resources in Tupinambá Tenda de Umbanda House in the
municipality of Tracuateua-PA. The study was carried out in the municipality of Tracuateua-
PA, in Tenda de Umbanda House of Tupinambá. The work was characterized as an
exploratory-descriptive research. As main results, it was verified that the relation with the
ethnobotanical environment is quite present in the Umbandist religious culture. The
management and production forms of the herbs used in the rituals include plantations in
backyards and purchase at fairs. Deforestation is a practice that has affected Umbanda
religious practices, due to the restriction of places for the realization of the offerings and the
difficulty to find certain herbs in the increasingly scarce forest areas. The main herbs used in
the rituals of Umbanda are basil (Ocimum minimum L.) and mulatta catinga (Tanacetum
vulgare L.), cited both by house workers and by the consultants. The main difficulties of
management of the herbs used in the Umbanda terreiro are related to the forms of planting
and harvesting and the scarcity of herbs in the forest areas.
Key words: religiosity, ethnobotany, cultural diversity.
10
LISTA DE ILUSTRAÇÃO
Figura 1- Área de estudo localizada no Município de Tracuateua................. 27
Figura 2-Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá, Tracuateua-
PA...................................................................................................................
28
Figura 3- Entrevista realizada com o Zelador da Tenda de Umbanda Casa
de Tupinambá..................................................................................................
30
Figura 4- Nível de escolaridade dos médiuns da Casa de Tupinambá,
Tracuateua-PA.................................................................................................
32
Figura 5- Porcentagem dos filhos que frequentam os trabalhos na Tenda de
Umbanda com os seus pais..............................................................................
32
Figura 6- Composição da renda familiar dos médiuns da Casa de
Tupinambá, Tracuateua-PA.............................................................................
33
Figura 7- Orixás regentes dos médiuns da Tenda de Umbanda Casa de
Tupinambá, Tracuateua-PA.............................................................................
34
Figura 8- Médium batendo cabeça para os Pretos Velhos.............................. 35
Figura 9- Médium batendo cabeça para Pai Oxalá......................................... 35
Figura 10- Palestra inicial dada pela Mãe de Santo Cleide de Oxum............. 36 Figura 11- Preta Velha Vovó Cambinda benzendo um consulente por meio
da Mãe de Santo..............................................................................................
37
Figura 12- Preto Velho Vovô Cipriano das Almas na Médium Mãe
pequena...........................................................................................................
37
Figura 13- Pretos Velhos trabalhando na cura dos consulentes..................... 39
Figura 14- Imagem do ponto riscado, da entidade Pai Tome......................... 39
Figura 15- Preta Velha Vovó Cambinda na Corroa mediúnica da Mãe de
Santo, abrindo os portais das almas.................................................................
41
Figura 16- Pretos Velhos incorporados, fazendo a queima de ervas seca...... 41
Figura 17- Pai Tome, fazendo a limpeza por meio do cachimbar.................. 42
Figura 18- Gira de Orixás............................................................................... 43
Figura 19- Médium fazendo a defumação na gira de Orixá........................... 43
Figura 20- Caboclo Rompe Mato na coroa mediúnica do Zelador................. 44
Figura 21- Senhor Ogum Beira Mar, na coroa do filho de santo da corrente. 45
Figura 22- Cabocla Mariana na coroa mediúnica da Zeladora....................... 47
Figura 23- Senhor José Raimundo na coroa do Zelador Luciano de Ogum... 47
Figura 24- Cabocla Dona Herondina na coroa da Mãe pequena.................... 48
Figura 25- Senhor Ricardinho, na coroa do médium filho de santo............... 48
Figura 26- Pessoas recebendo passe das entidades incorporadas................... 49
Figura 27- Beijada trabalhando na limpeza do médium................................. 49
Figura 28- Pombo Gira Dona Sara.................................................................. 50
Figura 29- Senhores Exus trabalhando na limpeza dos consulentes............... 51
Figura 30- José Pelintra na corroa da Zeladora da casa.................................. 52
Figura 31- Os Malandros da boemia em dialogo com os consulentes............ 53
Figura 32- Tenda preparada para louvação do Orixá Oxóssi......................... 54
Figura 33- Preparação das oferendas para louvação do Orixá Oxóssi na
mata..................................................................................................................
54
Figura 34- Oferendas para entidades caboclas................................................ 55
Figura 35- Pretos Velhos dando suas benções na louvação de Oxóssi........... 56
Figura 36- Pai Tupinambá em louvação de Oxóssi na mata........................... 56
Figura 37- Pai Tupinambá em louvação de Oxóssi na casa............................ 57
Figura 38- Banho do Amanci.......................................................................... 58
11
Figura 39- Batizado na Umbanda feito pela entidade Pai Tupinambá........... 58
Figura 40- Oferendas para as entidades Caboclas.......................................... 59
Figura 41- Frutas para serem trabalhadas...................................................... 59
Figura 42- Mestre José pelintra iniciando o Tombo da Jurema..................... 61
Figura 43- Oferenda para Orixá Oxalá doada pela Mãe de Santo.................. 62
Figura 44- Panela com mingau de milho preparado para os consulentes....... 63
Figura 45- Entidades Preto Velho, trabalhando no mingau............................ 64
Figura 46- Oferenda para Orixá Ogum sendo preparada................................ 65
Figura 47- Velas das oferendas sendo acesa pala Mãe pequena..................... 65
Figura 48- Oferenda para Orixá Ogum........................................................... 66
Figura 49- Gira de limpeza das entidades de Ogum....................................... 67
Figura 50- Oferenda de Xangô sendo preparada............................................. 68
Figura 51- Caboclos da linha de Xangô baixado nos médiuns da casa de
Tupinambá.......................................................................................................
69
Figura 52- Oferenda das entidades cangaceiros.............................................. 70
Figura 53- Entidades Cangaceiro dialogando com os consulentes................. 71
Figura 54- Mesa de doces para ser ofertada para Ibeijada..............................
Figura 55- Ibeijada trabalhando nas crianças presentes no trabalho...............
Figura 56- Tipos de usos das ervas na Tenda de Umbanda Casa de
Tupinambá, Tracuateua-PA.............................................................................
Figura 57- Locais de coleta das ervas usadas nos trabalhos...........................
Figura 58- Opinião dos entrevistados sobre o aumento do desmatamento
região município de Tracuateua-PA nos últimos anos.....................................
Figura 59- Percepção dos entrevistados sobre os efeitos do desmatamento
nos rituais religiosos.........................................................................................
Figura 60- Oferenda realizada dentro da Casa para entidade Cabocla
Mariana..............................................................................................................
Figura 61- Oferenda realizada na mata para Orixá Oxóssi..............................
Figura 62- Oferendas realizadas na praia para os orixás femininos.................
Figura 63- Porcentagem das entidades que solicitam o uso das ervas............. Figura 64- Partes das plantas mais utilizadas para as práticas religiosas.........
Figura 65- Porcentagem dos locais de coleta das ervas...................................
73
74
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90
12
Sumário 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 14
2.1. Religião, ambiente e complexidade ........................................................................................... 18
2.2. História ambiental ..................................................................................................................... 21
2.3. Religiões afro-brasileiras ........................................................................................................... 22
2.3.1 Rituais de cura na Umbanda ............................................................................................... 23
2.3.2 Entidades nas religiões afrodescendentes ........................................................................... 24
3. METODOLOGIA DA PESQUISA .................................................................................................. 27
3.1. Área de estudo ........................................................................................................................... 27
3.2. Métodos de levantamento de dados ........................................................................................... 28
4. RESULTADOS ................................................................................................................................ 31
4.1 O perfil socioeconômico dos entrevistados ................................................................................ 31
4.2 O perfil religioso dos entrevistados ............................................................................................ 33
4.3 As dinâmicas socioculturais dos trabalhos de Umbanda na Casa de Tupinambá ........................ 34
4.3.1 Gira de Preto Velho............................................................................................................. 34
4.3.2 A gira de caboclos ............................................................................................................... 40
4.3.3 A gira de encantaria ............................................................................................................ 45
4.3.4. A gira de Exu ...................................................................................................................... 50
4.3.5 Louvação do Orixá Oxóssi .................................................................................................. 53
4.3.6 A louvação de Pai Oxalá ..................................................................................................... 61
4.3.7 A louvação de Ogum ........................................................................................................... 64
4.3.8 A louvação dos Pretos Velhos ............................................................................................. 67
4.3.9 A louvação de Xangô ........................................................................................................... 67
4.3.10 A louvação dos cangaceiros .............................................................................................. 69
4.3.11 A louvação dos senhores Exus e Pomba Giras .................................................................. 71
4.3.12 A louvação da Ibeijada ...................................................................................................... 72
4.3.13 A louvação de Pai Obaloaê ............................................................................................... 74
4.3.14 A louvação das Iabas ......................................................................................................... 75
4.4 As crenças e as histórias relacionadas aos usos das ervas ........................................................... 75
4.5 Os significados de natureza na visão dos médiuns da Casa de Umbanda de Tupinambá............ 76
4.6 A diversidade de ervas e os seus usos na Casa de Umbanda Tupinambá ................................... 77
4.7 Indicações de remédios, banhos e defumações relacionadas com as ervas destinadas aos
consulentes ....................................................................................................................................... 87
5. CONCLUSÃO ................................................................................................................................. 91
APÊNDICES........................................................................................................................................ 96
13
Apêndice A- Questionário aplicado com os trabalhadores da corrente mediúnica. .............................. 97
Apêndice B- Questionário aplicado com os consulentes. ..................................................................... 98
ANEXOS ............................................................................................................................................. 99
Anexo B- Orixá Oxalá........................................................................................................................ 101
Anexo C- Cabocla Ita. ........................................................................................................................ 103
Anexo D- Exu Apavanã. .................................................................................................................... 104
Anexo E- Hino da Umbanda. ............................................................................................................. 105
14
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho de conclusão de curso (TCC) aborda as relações sistêmicas entre
religiosidade, meio ambiente e etnobotânica. Pretende-se estudar as dinâmicas sociocultural,
histórica e ambiental do uso de recursos naturais na tenda de Umbanda Casa de Tupinambá no
município de Tracuateua-PA. Busca-se de mobilizar diversas abordagens que tratam das
dinâmicas socioculturais e ambientais, com ênfase na religação dos saberes (MORIN, 2003),
no valor intrínseco dos seres vivos (NAESS, 1973), na valorização da teia da vida (CAPRA,
2006), e no estudo da religião como um aspecto importante da sociobiodiversidade amazônica
(MAUÉS, 1998).
A Umbanda de lei ou Umbanda branca1 se iniciou no Rio de Janeiro, por volta de
1908, com a manifestação do Senhor Caboclo das Sete Encruzilhadas por meio do médium
Zélio Fernandinho de Moraes. A primeira tenda de Umbanda no Brasil se chamou Tenda
Espírita Nossa Senhora da Piedade. Esta nova religião não diferencia os seus adeptos, podiam
eles ser pobres, ricos, brancos, negros, bons de saúde ou doentes. Dentro desta religião há a
manifestação de características de outros credos, como o catolicismo e a doutrina kardecista,
dentre outras de dentro e fora do Brasil, sendo associados às manifestações dos espíritos de
Caboclos (índios, cangaceiros, boiadeiros, marinheiros, ciganos, etc.) e dos Pretos Velhos
(espíritos de cultura africana), muitos ex-escravos. Segundo Meira Celio (2014), não se pode
afirmar que a religião seja católica pelo fato de ter absorvido elementos do catolicismo,
tampouco que seja de matriz africana, pois não absorveu elementos somente desta, sendo a
Umbanda a junção de várias culturas.
Diante disto, não se pode classificar a Umbanda dentro destes modelos, mas sendo
uma das religiões de origem também afro-brasileira, com tradição baseada na oralidade, que é
passado de geração em geração, podendo apresentar diversas modalidades. Todas essas
culturas dentro da Umbanda fazem culto às ervas, cada grupo com a sua particularidade, seja
em forma de oferendas, banhos, defumações e remédios. Cada prática desses grupos é de
conhecimento particular que é ofertado para os seus adeptos.
Muitas das ervas usadas nesses rituais são retiradas de seus próprios quintais, mas
algumas são compradas ou retiradas diretamente das matas. Em seus dogmas, a Umbanda
demostra o respeito à natureza, aos espíritos que lá habitam e ao Orixá Oxóssi2 que rege as
matas. Todo esse respeito é repassado para os seus adeptos, com isso mostrando que o que é
1 Denomina-se Umbanda branca ou de lei aquela que segue todas as leis divinas, que tem a pratica do
amor e a caridade.
2 Oxóssi Orixá é uma divindade regente das matas e das ervas, no sincretismo é São Sebastião;
15
retirado do ambiente natural tem que ser recolocado. Tal foco na sustentabilidade e na
conservação da natureza nos remete a Diegues (2000), que mostra em seu trabalho que a
conservação da natureza é uma das questões mais críticas para a humanidade, sendo grande o
enfoque para a sua conservação, ou seja, o homem pode utilizar tudo o que a natureza lhe
oferece, tendo a consciência de que deverá retribuir, devolvendo sempre o que dela é retirado,
a fim de minimizar o risco de perda dos ecossistemas. A ligação do homem com a natureza e
suas formas diversas de manejo tem sido o enfoque de uma nova ciência chamada de
Etnobotânica, que segundo Albuquerque (2005), é o estudo da relação do homem com o meio
vegetal.
O uso das plantas é tão antigo quanto à própria humanidade. No século XVIII tal uso
chegava a ser até mais comum do que a da medicina convencional. O homem sempre
dependeu do meio botânico para a sua sobrevivência. (CARDOSO, 2008). No Brasil, os
estudos que utilizaram a etnobotânica como referencial têm abordado questões como a
interação entre as plantas, o conhecimento e as crenças de uma comunidade afro-descendente
(SALGADO, 2011), o legado africano no Brasil, do candomblé à umbanda (MEIRA e
OLIVEIRA, 2014), os poderes das plantas sagradas numa abordagem etnofarmacobotânica
(CAMARGO, 2006) e as plantas medicinais que são utilizadas nas religiões de matriz
africana (GOMES et al., 2008).
Para os adeptos das religiões afro-brasileiras, todas as plantas são sagradas, pois a
mesma expressa toda energia que vem do meio natural (axé), que é considerado energia pura
capaz de curar males físicos e espirituais. Além disso, as ervas também têm o seu valor
simbólico, pois é nelas que são representados os Orixás, seja ela conhecida e atribuída, ou
não, ainda que, não raro, muitos sacerdotes dos candomblés e da umbanda tenham
conhecimento botânico empírico e dominem as propriedades medicinais das plantas
(CAMARGO, 2006).
A humanidade sempre esteve à mercê de ideias que possam dar explicações de como a
vida funciona e de tudo que está ligado ao sobrenatural, que a mente humana não é capaz de
explicar. Certamente, foi dos conflitos íntimos que surgiu a magia como forma de gerar
respostas para questões que não poderiam ser explicadas, dando configuração para o
imaginário, iniciando mitos, novas crenças, rituais e entidades divinizadas habitando uma
realidade sacralizada, responsável por tudo (CAMARGO, 2006). Contudo, a umbanda, assim
como outras religiões afrodescendentes, sofre com o preconceito dos que não são adeptos,
pois os seus rituais são feitos com cânticos, acompanhados dos toques de tambores,
defumações, giras de Caboclos, Pretos velhos e Exus. Essas entidades espirituais se
16
manifestam por meio da incorporação em seus médiuns durante as giras. O preconceito vem
sendo demonstrado desde o início da Umbanda, tanto por parte da sociedade como de outras
religiões.
Muitos adeptos são denominados pela sociedade como “macumbeiros, feiticeiros ou
bruxos”, isso por haver uma generalização dos cultos. A Umbanda Branca nos seus ritos e
fundamentos não trabalha com amarrações, matança de animais, trabalhos para a pessoa
ganhar dinheiro, para trazer a pessoa amada em determinada quantidade de dias, trabalhos
para prejudicar outras pessoas, entre outras coisas negativas, posto que acontece exatamente o
contrário. Nela, os trabalhos são feitos para obter uma limpeza espiritual, remédios para curar
doenças carnais ou espirituais, limpar os caminhos e ensinar a caridade e o amor fraterno.
Casas que fazem magias negras são chamadas de “casas baixas”3 totalmente diferentes da
Umbanda Branca de lei. E é por conta dessas “casas baixas” estarem em grande quantidade no
Brasil, que há essa generalização errônea das verdadeiras crenças da Umbanda sagrada.
Em relação às entidades espirituais, principalmente, os Senhores Exus, Pomba Giras e
o Malandro José Pelintra e sua falange que são taxados pela sociedade como “demônios”,
venho por meio desta pesquisa, desmistificar esse pensamento errôneo construído desde a
catequização dos escravos pela Igreja Católica. Segundo Araújo (2011), os negros
manifestavam a sua fé aos orixás escondidos de seus donos por meio do sincretismo. A Igreja
Católica, para exterminar esses cultos africanos, ensinava para a sociedade da época que os
deuses que os negros cultuavam eram, na verdade, demônios que estavam ali para puni-los.
Como cegos, passaram a guiar outros cegos, desvirtuando, incitando-os a externarem seus
desequilíbrios, tais como ódio, revolta, fanatismo, imputando todos esses sentimentos
viciados originados em nós a uma criação mental humana denominada de demônio, satanás,
capeta, anjo caído.
Dessa forma, este trabalho teve como objetivo geral analisar as dinâmicas
sociocultural, histórica e ambiental de uso dos recursos naturais na Tenda de Umbanda Casa
de Tupinambá no município de Tracuateua-PA. Para o alcance deste objetivo geral, foram
construídos os seguintes objetivos específicos: A) conhecer a dinâmica de uso das plantas
medicinais e místicas nos rituais de Umbanda; B) identificar as principais ervas utilizadas nos
rituais de Umbanda; C) descrever as principais dificuldades de manejo das ervas utilizadas no
terreiro de Umbanda, e D) analisar e comparar os usos e práticas Umbandistas do passado e
do presente.
3 Denominam-se casas baixas as que trabalham com o intuito de prejudicar outras pessoas, com
matanças de animais ou amarrações, dentre outras coisas negativas.
17
Por haver tanto preconceito a esta religião, este trabalho tem como justificativa
estabelecer um diálogo, em bases cientificas, sobre as dinâmicas socioambientais presentes
nas práticas de Umbanda, deixadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas na Tenda Nossa
Senhora da Piedade de Zélio Fernandinho de Moraes dentro da casa de Tupinambá em
Tracuateua-PA, evidenciando as relações dos seus adeptos com o uso dos recursos naturais.
Dessa forma, aposta-se aqui na necessidade de abordagens integradas no trato da questão
ambiental, partindo do pressuposto de que a diversidade cultural está intimamente relacionada
com a diversidade biológica.
Ademais, este trabalho de conclusão de curso procura preencher uma lacuna
identificada na literatura acerca de estudos etnobotânicos que integrem a religiosidade como
um elemento importante das dinâmicas socioambientais locais na região Nordeste Paraense.
Para tanto, mobiliza-se as abordagens em torno dos estudos das relações étnico raciais na
Amazônia e suas relações com os saberes populares, os valores e as crenças locais, que devem
ser valorizadas e respeitadas enquanto marcas da sociobiodiversidade amazônica.
18
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Religião, ambiente e complexidade
Convencionou-se pensar em religião e meio ambiente de forma separada, ou seja,
como se não houvesse comunicação entre os dois. Porém, argumentamos que essa ideia pode
ser considerada equivocada, principalmente em casos relacionados às religiões afro-
brasileiras, mais especificamente à Umbanda.
As atividades antrópicas, principal responsável pela degradação do meio ambiente,
interferem direta ou indiretamente nas comunidades e nas manifestações e rituais religiosos.
Silveira et al. (2011) realizaram um estudo que busca compreender como os adeptos
umbandistas enfrentam o problema da falta de locais para a realização dos rituais devido à
crescente degradação do meio ambiente. Isso porque o avanço tecnológico resultante da
expansão dos sistemas capitalistas de produção e de consumo alteram os ecossistemas e, por
conseguinte, podem afetar comunidades e práticas religiosas, direta ou indiretamente (LEFF,
2009).
O meio ambiente é um desafio metodológico para os estudos sobre as interações
sistêmicas entre comunidades, práticas religiosas e uso de recursos naturais. Este desafio nos
remete ao pensamento de Bertalanffy (1969), quando o autor nos propõe uma teoria geral dos
sistemas, que busca um conhecimento da ciência da totalidade, envolvendo tanto os sistemas
sociais quanto os sistemas naturais. O estudo dessas interações pede uma visão holística,
dando origem a uma teia de pensamentos sistêmicos (CAPRA, 2006).
Comunidades e religiões tem uma ligação sistêmica com a natureza, evidenciada por
meio de crenças e mitos de diferentes culturas (LEFF, 2009). As religiões de matriz africana
possuem um olhar especial sobre o meio ambiente, pois acreditam que é deste que emana a
força da sua existência, o poder (axé) (ARAUJO, 2014). Todo o conhecimento tradicional
relacionado com a vegetação é repassado de geração em geração, disponibilizando práticas de
manejo sustentável dos recursos naturais, por meio de suas culturas particulares de
organização produtiva (LEFF, 2009).
Partindo do ponto de vista sistêmico, as únicas soluções viáveis são as soluções
"sustentáveis". O conceito de sustentabilidade adquiriu importância-chave no movimento
ecológico e é realmente fundamental (CAPRA, 2006). Castro (2000), discorrendo sobre as
formas de ligação do pensamento tradicional com padrões ocidentais, relata o desafio que é
trazido pela necessidade de superar uma perspectiva que interroga os saberes de povos
tradicionais, objetivando valorizar os recursos naturais para poder controlar e racionalizar os
seus usos sobre padrões ocidentais de sustentabilidade.
19
Leff (2009) comenta que a ciência que estuda a interação do homem com o meio
ambiente, chamada de etnociência, utiliza ferramentas teóricas indispensáveis na reconstrução
histórica das relações sociedade-natureza. Uma linha de pesquisa nessa direção é a
etnobotânica, que, como visto, busca interpretar os conhecimentos populares, culturais e
ritualísticos relacionados com o meio botânico, resgatando o conhecimento tradicional,
inclusive o religioso, sobre o uso dos recursos da flora (GUARIN NETO et al., 2000). Pode-
se dizer que Harshberge (1896) foi o primeiro pesquisador a utilizar o termo “etnobotânica”,
sendo o principal responsável em divulgar esta linha de estudo.
Desde então, a linha de pesquisa etnobotânica vem se intensificando por meio de
diversos estudos realizados em comunidades sobre os rituais de benzeduras e demais práticas
e rituais de religiões afrodescendentes. Castro et al. (2011), ao realizarem um trabalho de
pesquisa em comunidade, mobilizaram uma abordagem etnobotânica dos conhecimentos
populares com moradores de um bairro de Cuiabá-MT, observando o uso e os costumes
relacionados à utilização de plantas alimentares, ornamentais e medicinais, com a finalidade
de promover a integração entre o conhecimento original da comunidade local e aquele
advindo do meio acadêmico.
Já Oliveira e Trovão (2009) observaram o uso de plantas em rituais de rezas e
benzeduras, lançando um olhar sobre estas práticas no estado da Paraíba. Gomes et al. (2008),
por sua vez, fizeram um estudo das plantas medicinais que são utilizadas nos terreiros de
umbanda e candomblé na zona leste da cidade de Campina Grande, Paraíba.
Outra ênfase dos estudos etnobotânicos tem sido a busca de compreender a interação
do conhecimento de populações tradicionais e de sua cultura com as formas de manejo dos
elementos da flora, gerando um campo de pesquisas interdisciplinares (CABALLERO, 1979).
Na pesquisa etnobotânica, o pesquisador procura conhecer a cultura e o cotidiano da
comunidade estudada, assim como as formas de uso das ervas para a produção de remédios,
quais as partes do vegetal utilizadas, de que forma é feita a preparação, dentre outros aspectos
(ARAÚJO, 2014).
Albuquerque (2005) afirma que os homens são dependentes das plantas como recursos
necessários à sobrevivência e que culturas diversas detêm um saber tradicional sobre o uso de
plantas para os mais variados fins. Todo o conhecimento é portador de uma linha temporal,
que pode dar a capacidade de resgate de um conhecimento perdido. Dai a importância do
relato de Leff (2009) no sentido de que:
20
Do ponto de vista temporal ou histórico, os estudos antropológicos
permitem-nos entender a racionalidade de comportamento etnobotânico das
sociedades “primitivas”, através do conhecimento das sociedades não
capitalistas da atualidade, por outro lado, a antropologia contribui para a
análise das articulações destas formações culturais com o modo de produção
capitalista, das quais resultam padrões específicos de apropriação, manejo e
exploração da natureza (LEFF, 2009, p. 98- 142).
Assim, segundo Leff (2009), para se compreender o funcionamento destas estratégias
culturais de manejo dos recursos naturais interessa não só conhecer as classificações
taxonômicas que reflete o saber florístico e faunístico das diversas etnias, como também todo
um sistema de crenças e saberes, de mitos e ritos, que conformam os “modelos holísticos” de
percepção e aproveitamento dos recursos ambientais das culturas tradicionais. Daí se dizer
que a interação com o meio ambiente permite que os organismos vivos se mantenham e se
renovem continuamente, usando, para esse propósito, energia e recursos extraídos do próprio
ambiente (CAPRA, 2006).
Para Lovatto et al. (2010), a visão cartesiana é antropocêntrica, pois exclui o homem
da integralidade da natureza. Esse pensamento precisa ser substituído por uma racionalidade
ecológica e por práticas conservacionistas, mobilizando as técnicas das sociedades
tradicionais, nas quais o processo simbólico e de significação cultural estabelecem práticas
produtivas articuladas com as cosmovisões, com os mitos e com as crenças religiosas
comunitárias (LEFF, 2009).
Dessa forma, o conhecimento étnico deve ser valorizado, evitando a erosão do
patrimônio cultural da comunidade e de culturas místicas (CASTRO, 2011). Daí a
importância do estudo das religiões de matriz africana, que passaram por uma transformação
cultural por meio do sincretismo dos deuses africanos, orixás, e os santos católicos, isto por
não poderem demostrar as suas crenças perante a sociedade escravocrata (SILVEIRA, 2011).
Alguns autores acadêmicos se referem à Umbanda como sendo o resultado de uma síntese
transformadora, algo novo que se diferencia de todas as vertentes que contribuíram com
aspectos culturais em sua formação, que abraça diversas etnias, trazendo consigo todas as suas
formas de conhecimento empírico (ROHDE, 2009).
A religião de matriz africana, que se deu início nas terras brasileiras, chamada
Umbanda, agrega linguagem Tupy, deixada pelos índios caboclos, linguagem europeia
deixada pelos imigrantes e assim como as outras também dos povos da África. Os africanos
trouxeram um vasto acervo cultural para o Brasil, como línguas, costumes, religião, práticas
21
culinárias, tecnologias, e várias outras informações que foram incorporadas ou desprezadas
pelos colonizadores em razão do preconceito (ARAUJO, 2014).
2.2. História ambiental
Segundo Franco (2012), a história ambiental relata as principais mudanças
relacionadas ao meio ambiente, em diferentes épocas, e suas relações com os movimentos
sociais. Assim, a história ambiental que é dada no século XX é bem mais complexa do que
um inventário diacrônico dos males infringidos pelos seres humanos ao planeta (PÁDUA,
2012). Essa complexidade, segundo Lovatto (2011), se dá por haver essa ligação intensa do
homem com a natureza. A problemática ambiental está vinculada à questão ética do ponto de
vista ecológico, que pode desencadear uma mudança cultural urgente, dando início a uma
esfera de movimento.
A história ambiental retrata os problemas ambientais deixados como consequência das
práticas de exploração e de extração de recursos naturais não renováveis, das florestas e os
seus impactos, haja vista que, o desmatamento é um dos fatores mais salientes na mudança de
paisagens de um país. As perguntas que vêm à tona quando se trabalha com esse tipo de
devastação e as respostas que procuramos se entrelaçam sobre questões como, por que e
quando os seres humanos eliminaram árvores e alteraram florestas. Além disso, as diferentes
pesquisas realizadas por historiadores ambientais apontam que o homem tem manipulado os
ecossistemas desde que se têm registros de sua passagem na terra (MAUCH, 2014).
Alguns pensamentos relacionados à solução destes problemas são constituídos, muitas
vezes, fora do Brasil, porém a realidade vista “de fora” não faz juz ao que de fato está
acontecendo, como é o casso do impacto de grandes empreendimentos econômicos e até
mesmo de politicas preservacionistas sobre as comunidades tradicionais (DIEGUES, 2000).
Daí a necessidade de uma mudança de paradigmas não apenas no âmbito da ciência, mas
também no aspecto social (CAPRA, 2006), na direção do que Leff (2009) denomina
racionalidade ambiental.
A perspectiva da sustentabilidade e de uma racionalidade ambiental, as
diversidades ecológicas e culturais aparecem não só como princípios éticos e
como valores não mercantilizáveis, mas como verdadeiros potenciais
produtivos que entregam um sistema de recursos naturais, culturais e
tecnológicos, capazes de reorientar a produção para a satisfação das
necessidades básicas das populações do Terceiro Mundo. Esta visão de
desenvolvimento sustentável integra a socialização da natureza e os
potenciais ecológicos, os quais aparecem como meios de produção e levam
ao aparecimento de novos movimentos sociais nas áreas rurais do Terceiro
22
Mundo pela reapropriação de seu patrimônio de recursos naturais e culturais
e pela autogestão dos processos produtivos (LEFF, 2009, p. 98- 142).
Em meados do século XX, iniciou-se uma corrente do ambientalismo mundial, onde
acreditava-se que as culturas e a manutenção da biodiversidade estariam relacionadas com os
saberes dos povos tradicionais, inclusive das comunidades rurais amazônicas, contribuindo
para a construção de uma ética de conservação ambiental (COSTA, 2013; TOURINHO et al.,
2017). Tal perspectiva valoriza o processo simbólico e de significação cultural, que estabelece
as formas nas quais as práticas produtivas estão articuladas com as cosmovisões, os mitos e as
crenças religiosas de cada comunidade (LEFF, 2009). Para Lovatto (2011), não se trata
apenas de estabelecer uma relação entre os humanos e a natureza, mas dos humanos entre si e
desses com a natureza, mantendo uma relação de equilíbrio.
No Brasil, o compromisso de se escrever uma história ambiental é bastante recente,
com destaque para determinados aspectos da relação entre homem e natureza (FRANCO,
2003). Na década de 1990, o pensamento ambientalista tomou um cenário mais amplo e as
questões ambientais também ganharam maior visibilidade e materialidade. O meio ambiente
se inseriu em meios políticos, acadêmicos, escolares, sociais e econômicos (MARTINEZ,
2005).
A questão ambiental ganhou repercussão com as discussões em torno da exploração da
floresta amazônica (RIBEIRO, 2002). O gigantesco valor econômico que a biodiversidade foi
adquirindo nos últimos anos, ampliado pelas ameaças reais de extinção de muitas formas de
vida, inúmeras delas ainda desconhecidas e pouco estudadas, desperta atenções para o meio
ambiente e para o relacionamento dos seres humanos com a natureza em diferentes épocas e
sociedades (MARTINEZ, 2005). Os processos econômicos adotados pelos colonizadores
europeus em regiões como as ilhas Maurício, o Caribe, partes da Índia e da África, e o próprio
Brasil, estavam provocando uma degradação ambiental acelerada e evidente (FRANCO,
2003).
Para Martinez (2005), a história ambiental seria a expressão de singularidades sociais
derivadas das particularidades regionais, a exemplo das amazônicas. Esta diversidade
ecológica seria inseparável das diversidades social, cultural e religiosa.
2.3. Religiões afro-brasileiras
Os escravos africanos que foram trazidos ao Brasil trouxeram consigo também as suas
culturas e tradições, independente da nação da qual eram oriundos. As suas manifestações
23
chamavam a atenção por serem diferentes em relação às práticas culturais dos colonizadores.
Esse fato gerou diversos preconceitos, principalmente aqueles relacionados às manifestações
religiosas, os quais persistem ainda hoje (VIEIRA, 2016). Conforme Prisco (2009),
Diversas etnias africanas foram inseridas no Brasil, e consigo trouxeram suas
culturas, um deles são os bantus, grupo mais numeroso, que se dividiam em
dois subgrupos: angola-congoleses e moçambiques. A origem desse grupo
estava ligada ao que hoje representa Angola, Zaire e Moçambique
(correspondentes ao centro-sul do continente africano) e tinha como destino
Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Os
IORUBÁS são o principal grupo étnico nos estados de Ekiti, Kwara, Lagos,
Ogun, Ongo, Osun,e Oyo. Um número considerável de iorubas vive na
República do Benin. Os JEJES são um povo africano que habita o Togo,
Gana, Benim e regiões vizinhas, representado, no contingente de escravos
trazidos para o Brasil, pelos povos denominados fon, éwé, mina, fanti e
ashanti. E com eles torceram as crenças nos orixás, são eles Oxalá, Ogum,
Xangó, Obaluaye, Oxóssi, Iemanjá, Oxum, Nana e Iansã. Para cada orixá
havia uma demanda de ervas representativa dos mesmos (PRISCO, 2009, p.
2-4).
As crenças religiosas introduzidas no Brasil pelos povos africanos deram origem às
religiões afrodescendentes, são elas: o Candomblé, a Umbanda, o Cabula e a Quimbanda
(PRISCO, 2012). Oliveira (2009) relata que essas religiões só conseguiram se inserir na
sociedade por serem inicialmente manifestadas de forma clandestina e subalterna,
fragmentando internamente e hegemonicamente a religião católica. Por não poderem
manifestar suas crenças nos deuses africanos (Orixás) ocorreu o sincretismo dos mesmos com
os santos do catolicismo. A religião em foco neste trabalho, a Umbanda, desde que se iniciou
rapidamente se enquadrou dentro do contexto social brasileiro (PERY, 2008).
Segundo Giumbelli (2002) a Umbanda se iniciou no ano de 1908, com a manifestação
do Caboclo das Sete Encruzilhadas, no médium espírita Zélio Fernandinho de Morais,
fundando a primeira tenda de Umbanda, a Tenda Espirita Nossa Senhora da Piedade,
localizada na cidade do Rio de Janeiro. Desde então, a Umbanda vem adquirindo tradições
oriundas de culturas distintas, com destaque para a oralidade do culto, as vestimentas próprias
e os rituais preservados por meio da tradição oral, repassado ao longo das gerações
(CAMPOS, 2013).
2.3.1 Rituais de cura na Umbanda
Estudos anteriores já demostraram que a doença é um dos principais motivos de busca
por uma religião (ARAÚJO, 2014). As principais manifestações dos cultos afro-brasileiros
estão relacionadas com o serviço da cura, seja ela do corpo ou do espírito. Esse trabalho de
cura já era manifestado pelos escravos a seus amos, quando não se tinha mais esperanças na
24
medicina, e isso se intensificou por haver baixa quantidade de médicos (MOTA e TRAD,
2006). Em geral, a população brasileira costuma manter as aplicações do saber empírico
repassado de geração em geração, quando se fala de métodos alternativos de cura das doenças
mais comuns (FRANCO e BARROS, 2006).
Dos trabalhadores da linha de matriz africana, os mais procurados são os curandeiros e
os receitistas4, que não necessariamente são agregados às religiões afro-brasileiras, pois
muitos adotam a prática do curandeirismo independente do culto religioso (SOUZA, 1933).
Além de exercerem a cura por meio das ervas, também há atuação do lado mágico, com as
rezas, as benzeduras e as orações que os povos utilizam nas curas dos males físicos e mentais.
Meira (2013) acrescenta que as medicinas tradicionais e mágicas, que estão relacionadas com
os rituais de origem africana e indígenas, principalmente no Candomblé e na Umbanda,
procuram formas de curas do espírito, buscando solucionar os males que abatem as pessoas.
Os índios tupinambá já aplicavam a cura por meio da magia. Eles possuíam um rito de
cura chamado “pajelança” feito pelo pajé (sacerdote), fazendo uso das ervas e fumos nas
sessões de cura com benzedura, chupão e beberagem (garrafadas) (CARDOSO e
NASCIMENTO, 2008). No caso da Umbanda, ocorre a manifestação de entidades espirituais
que atuam em comunhão com os seres humanos na cura dos consulentes. Essas entidades
estão em constante evolução, os mesmos trabalham nas vibrações dos Orixás, de acordo com
a necessidade da cura e do momento, são esses espíritos que “incorporam” nos médiuns
realizando a “limpeza” das energias negativas que afligem o copo humano. Essas entidades
também orientam e realizam os trabalhos espirituais nas casas de Umbanda. Nos trabalhos de
cura, as entidades espirituais responsáveis são os “Pretos Velhos” regidos pelo Orixá Obaloae
/Omolu, e para trabalhar na limpeza do corpo espiritual estão as Crianças “Ibejês” e os
Caboclos (VIEIRA, 2016).
2.3.2 Entidades nas religiões afrodescendentes
Diante dos conflitos íntimos dos seres humanos, a magia surgiu como uma ponte para
buscar respostas para todas as indagações, e, assim, construiu-se o imaginário, os mitos, os
ritos e as entidades divinizadas habitando um universo sacralizado, responsável por tudo
(CAMARGO, 2006). Para a realização dessa manifestação do imaginário, necessita-se de uma
esfera material, e o meio vegetal entra para suprir essa carência, introduzindo-o dentro da
4 Médiuns receitastes: têm a especialidade de servirem mais facilmente de intérpretes aos Espíritos
para as prescrições médicas.
25
magia vegetoastromagnética5
, o qual provoca mudanças no corpo astral do médium,
facilitando a ligação do homem com as entidades. Dentro desse pensamento, as ervas têm
como função produzir um movimento fluídico e dinâmico, tentando quebrar os reflexos
condicionados (CARDOSO e NASCIMENTO, 2008). Cada entidade atuante dentro dos
terreiros de Umbanda tem uma ligação direta com uma divindade superior.
O meio vegetal é constituído dentro das crenças afrodescendentes de
representantes, sendo eles entidades e orixás de origem africana, tais como
Exus e Pombagiras, Ogum dos mais variados tipos (como os Ogum de
Ronda, Ogum de Lei, Ogum Beira-mar, Ogum Marinho), Iansã, Iemanjá,
Oxum, Xangô, Oxóssi, Omolu (muito associado aos Pretos velhos), os Ibejês
(ligando São Cosme e São Damião). Por outro lado, são cultuados os
Caboclos, com uma grande variedade de nomes e tipos (Caboclos das matas,
Caboclos do sertão, Caboclos das pedreiras etc.). Por mais que tenha uma
vasta gama de entidades, a Umbanda é uma religião monoteísta que concebe
a Trindade: Zâmbi (Tradição Banto) ou Olorum (Tradição Yoruba)
considerados como Deus único do Universo, Orixás (Divindades) e Guias ou
Entidades espirituais. Suas crenças principais são: Crença em Jesus Cristo,
em Anjos (figuras sagradas), Orixás, Guias e Guardiões, reencarnação e
mediunidade (VIERIA, 2016, p 8).
Os espíritos são invocados por meio dos cantos, dos toques de tambor e das rezas para
que haja a manifestação, no pai ou mãe-de-santo da casa e nos filhos que recebem entidades.
Cada entidade possui um cântico particular, às vezes dado pela entidade, outrora ofertada por
um médium. Essas músicas ou seus “pontos”, como são chamados na religião, são
acompanhados com o toque do atabaque, embora existam casas que não fazem o uso de
instrumentos (MEIRA e OLIVEIRA, 2014). É nessa comunicação, em contato com as
entidades invocadas, que os adeptos destas religiões vão buscar as soluções para os problemas
que os afligem (CAMARGO, 2006).
As entidades que mais sofrem preconceitos são os Exus, por possuírem uma natureza
cósmica mutável, flexível e em constante transformação (PEIXOTO, 2008). Um exemplo são
as formas de apresentação dos espíritos que se classificam como exus, que são as mais
diversas possíveis, descartando-se a ideia, segundo a qual somente caboclos, pretos velhos e
crianças são "entidades de Umbanda", embora reconheçamos que são as principais, sem
desmerecer nenhuma outra ou dar uma conotação de superioridade sobre as demais,
pois sabemos que formam uma espécie de triângulo fluídico que sustenta o movimento do
Astral para a Terra.
5 Energia presente nas ervas.
26
Silveira (2011) aponta a necessidade de desconstruir os preconceitos em torno das
práticas religiosas afrodescendentes, inclusive em função do amparo legal que os adeptos da
religião de matriz africana encontram na legislação, que lhes assegura a liberdade de culto e
de crença, a exemplo da Lei 10.639/2003, que trata do ensino de história da cultura africana e
afro-brasileira.
Segundo Oliveira (2008),
No início do século XIX, a macumba era ritualmente pobre e muito próxima
da estrutura do culto praticado pelos bantos, no qual invocavam os espíritos
dos antepassados tribais. Os orixás nagôs ainda não haviam assumido um
papel mais importante no culto. Foram lentamente introduzidos a partir do
crescimento do prestígio do candomblé. (...) A primitiva macumba, longe de
ser um culto organizado, era um agregado de elementos da cabula, do
candomblé, das tradições indígenas e do catolicismo popular, sem o suporte
de uma doutrina capaz de integrar os diversos pedaços que lhe davam forma.
É deste conjunto heterogêneo que nascerá a umbanda, a partir do encontro de
representantes da classe mais pobre com elementos da classe média egressos
do espiritismo kardecista. Foi este último grupo que se apropriou do ritual da
macumba, impôs-lhe uma nova estrutura e, articulando um novo discurso,
deu início ao processo de legitimação (OLIVEIRA, 2008, p. 76).
Além dos preconceitos contra os adeptos dessas religiões, existe ainda o preconceito
construído entre as diferentes religiões entre si. As entidades Caboclas, por exemplo, com
frequência, são denominados de espíritos inferiores, e como relata Pery (2008), a opção do
espirito é um direito dele e não cabe a ninguém intervir, sua forma “plasmada” é de acordo
com a vontade da entidade. O que as outras religiões não têm direito, ainda segundo Pery
(2008), é de dizer que a Umbanda é inferior ou que esteja num estágio evolutivo abaixo do
Espiritismo, baseado simplesmente no fato de a Umbanda se utilizar de rituais que eles estão
longe de entender ou não se identificar, ou ainda por ter a Umbanda raízes, influências
africanas, ameríndias, católicas e espíritas.
27
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
3.1. Área de estudo
O estudo foi realizado no município de Tracuateua-PA (Figura 1), localizado a 13km
do município de Bragança-PA, Situado no Nordeste paraense, a densidade demográfica é de
29, 3 habitantes por km2. A pesquisa foi realizada na Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá
(Figura 2).
Figura 1: Área de estudo localizada no Município de Tracuateua.
Fonte: Modificado do Google Earth.
28
Figura 2. Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá, Tracuateua-PA.
Fonte: Acervo do Autor (2017).
3.2. Métodos de levantamento de dados
O estudo se iniciou por meio de revisão bibliográfica sobre os temas religiosidade,
meio ambiente e etnobotânica. Segundo Macêdo (2009), a revisão bibliográfica é um
levantamento de conhecimentos disponíveis sobre um determinado tema. A revisão
bibliográfica se caracteriza como um conjunto de elementos que permitem a identificação, no
todo ou em parte, de documentos escritos ou não, tendo como fonte a consulta de uma base de
trabalhos publicados (MACÊDO, 2009; MARCONI e LAKATOS, 2010).
A etapa exploratório-descritiva visou descrever e analisar as principais formas de
trabalho da Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá, mobilizando diversas variáveis que
envolvem as relações com o meio botânico. O estudo exploratório permite ao investigador
aumentar a sua experiência em torno de um determinado problema, podendo desenvolver
ideias e hipóteses determinantes de fenômenos relevantes (MACÊDO, 2009). No estudo
descritivo, o investigador não se limita apenas ao uso de um método de coleta de dados,
podendo empregar diversos métodos que ajudem a responder os seus objetivos (MACÊDO,
2009).
A etapa de observação participante envolveu uma inserção direta nos trabalhos
realizados dentro do terreiro de Umbanda Casa de Tupinambá. A pesquisa participante
29
consiste em observação real do pesquisador na comunidade ou grupo, integrando-se ao grupo,
ficando próximo dos membros do grupo que se está estudando e participando diretamente das
atividades realizadas pelo grupo estudado (MARCONI e LAKATOS, 2010). Foram feitas
ainda observações diretas sobre as práticas de uso das ervas nos rituais umbandistas. Segundo
Gil (2011) a etapa observacional é aquela que faz uso de todos os sentidos para se obter uma
melhor compreensão do que está sendo observado.
O Quadro1 apresenta os procedimentos metodológicos adotados para o alcance de
cada objetivo específico do trabalho.
Quadro 1- Procedimentos metodológicos adotados de acordo com cada objetivo específico do
trabalho.
Objetivos específicos Como?
a) Conhecer a dinâmica de uso das plantas
medicinais e místicas dos rituais de Umbanda.
a) Aplicação de questionários, observação
participante, relatos orais e registros
fotográficos.
b) Identificar as principais ervas utilizadas nos
rituais de Umbanda.
b) Aplicação de questionários, observação
participante, relatos orais e registros
fotográficos.
c) Descrever as principais dificuldades de manejo
das ervas utilizadas nos terreiros de Umbanda.
c)Aplicação de questionários, observação
participante, relatos orais e registros
fotográficos.
d) Analisar e comparar os usos e práticas
Umbandistas das ervas do passado e do presente.
d)Aplicação de questionários, observação
participante e relatos orais.
Fonte: Elaboração própria (2017).
O trabalho foi realizado, num primeiro momento, por meio da sistematização de dados
primários coletados previamente nas pesquisas de campo exploratórias por meio de registros
fotográficos e relatos orais. A inserção na pesquisa se iniciou no ano de 2013 com
observações e anotações, inclusive por meio de registros fotográficos, inicialmente, como
consulente, e, posteriormente como trabalhador da corrente mediúnica. A observação
participante se revelou fundamental para o processo de coleta dos dados da pesquisa, pois
permitiu uma inserção profunda na realidade vivida/pesquisada.
Na pesquisa de campo definitiva, foram realizadas entrevistas com os participantes da
Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá (Figura 3). O conteúdo do roteiro das entrevistas para
os trabalhadores da corrente mediúnica (Apêndice A) e as entrevistas com os consulentes
(Apêndice B).
Também foi observada a relação que a Tenda de Umbanda tem para com o meio
natural e sociocultural, visando à observação dos trabalhos realizados fora do Terreiro sendo
eles na praia e na mata, onde também são preparadas e depositadas as oferendas. Os dados
30
coletados foram tabulados e analisados com o apoio do programa Excel versão 2013 para a
construção de gráficos e tabelas.
Figura 3. Entrevista realizada com o Zelador da Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá.
Fonte: Acervo do autor (2017).
31
4. RESULTADOS
4.1 O perfil socioeconômico dos entrevistados
A Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá teve início no ano de 2012, tendo como
dirigentes a Mãe Cleide de Oxum, o Zelador Luciano de Ogum e a Mãe Pequena Lucicleia de
Iansã. A casa é composta por 11 médiuns, atuantes na vidência, incorporação e cambone
(Tabela 1).
Tabela 1- Perfil dos Médiuns: idade, estado civil, naturalidade, sexo e religião de matriz.
Idade Estado civil Sexo Naturalidade Religião de matriz
21 anos Solteira Feminina Tracuateua Católica
39 anos Solteira Feminina Tracuateua Católica
36 anos Solteira Feminina Tracuateua Católica
15 anos Solteiro Masculino Tracuateua Católico
17 anos Solteiro Masculino Ananindeua Umbanda
36 anos Solteira Feminina Bragança Católica
45 anos Casado Masculino Belém Católico
43 anos Solteira Feminina Tracuateua Espírita
52 anos Casado Masculino Tracuateua Espírita
36 anos Casada Feminina Tracuateua Católica
Fonte: Dados de campo (2017).
A Tenda é composta por 6 mulheres e 5 homens, incluindo o autor. A idade mais
elevada é 45 anos e a mais baixa é 15 anos. A média da idade dos trabalhadores da Casa gira
em torno de 33 anos. 72% trabalhadores são nascidos no município de Tracuateua e 28% são
nascidos em outros municípios, como Belém, Bragança e Ananindeua. 72% trabalhadores
vieram da religião cristã católica; 27% são oriundos do espiritismo e apenas 9% já era da
Umbanda.
Quanto ao nível de escolaridade dos entrevistados, 20% dos adeptos têm o grau
superior completo, 20% o superior incompleto, 20% o médio completo, 10% o médio
incompleto e 30% o fundamental incompleto (Figura 4).
32
Figura 4- Nível de escolaridade dos médiuns da Casa de Tupinambá, Tracuateua-PA.
Fonte: Dados de campo (2017).
Na casa de Tupinambá 50% dos filhos dos médiuns frequentam os trabalhos, sendo
que um dos filhos de cada médium está sendo preparado para ser o Ogan da Casa, outro está
sendo preparado para dirigir uma nova casa e os outros são crianças levadas pelos pais.
Segundo o Zelador, “temos que levar nossos filhos desde criança para eles irem aprendendo
os costumes da nossa religião”6. Cerca de 40% não têm filhos e apenas 10% dos filhos não
frequentam os trabalhos (Figura 5).
Figura 5- Porcentagem dos filhos que frequentam os trabalhos na Tenda de Umbanda com os seus pais.
Fonte: Dados de campo (2017).
6 Trecho da entrevista realizada com o Sr. L. R. no dia 12/07/2017 na Tenda de Umbanda Casa de
Tupinambá, Tracuateua-PA.
20%
20%
10% 20%
30% Superior incompleto
Superior Completo
Medio incompleto
Medio completo
Fundamental Incompleto
10%
40%
50% Não frequenta
Não tem filhos
Frequentão
33
A composição da renda familiar é a seguinte: 28% são assalariados; 22% recebem
bolsas; 22% atuam no comércio; 17% trabalham na lavoura e 11% são aposentados (Figura
6).
Figura 6- Composição da renda familiar dos médiuns da Casa de Tupinambá, Tracuateua-PA.
Fonte: Dados de campo (2017).
4.2 O perfil religioso dos entrevistados
Os adeptos de uma casa de Umbanda são protegidos por entidades poderosas
denominadas de Orixá. Cada pessoa é regida por uma força diferente, por isso tem Orixás
diferenciados. Cada Orixá tem um ponto de atuação: Iemanjá atua nas águas salgadas, Oxum
nas águas doces, Nanã nos mangues, Iansã nas tempestades, Xangô na justiça,
Obaloae/Omolum na cura, Ogum na proteção, Oxóssi nas matas e Oxalá, Orixá mais velho e
regente de todas as forças, sincretizado com Jesus Cristo. As pessoas regidas por esses Orixás
são chamadas de filho do Orixá. Na Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá, 21% dos
médiuns são regidos por Iansã; 16% são filhos de Oxóssi; 16% são filhos de Iemanjá; 16%
são regidos por Ogum; 11% são filhos de Oxum; 10% de Obaloae; 5% de Xangô, e 5% de
Nanã (Figura 7).
28%
17%
11%
22%
22%
Assalariado
Lavoura
Aposentadoria
Comércio
Bolsa
34
Figura 7- Orixás regentes dos médiuns da Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá, Tracuateua-PA.
Fonte: Dados de campo (2017).
4.3 As dinâmicas socioculturais dos trabalhos de Umbanda na Casa de Tupinambá
Os trabalhos de Umbanda na Casa de Tupinambá são divididos em giras, são elas: gira
de Preto velho, gira de Caboclo (encantaria, mata) e gira de Exu. Além desses trabalhos, há
também as louvações, que consistem em trabalhos realizados em agradecimento e louvor aos
orixás, tendo dias específicos do ano para serem realizados. Vejamos a caracterização de cada
um dos trabalhos.
4.3.1 Gira de Preto Velho
A gira de Preto Velho7 acontece sempre nas segundas-feiras, tendo seu início às 19
horas. De acordo com a chegada dos médiuns, é feita a organização dos materiais usados
pelas entidades. Ao término, veste-se o uniforme da casa, de cor branca. O uniforme dos
homens consiste em calça, camisa, toca e uma espada8. Já as mulheres trajam saia, camisa,
espada e lenço de cabeça. Cada Médium tem como dever reverenciar (bater cabeça) nos
pontos de cada entidade (Figura 8), tendo como ponto principal uma apresentação no altar de
Pai Oxalá (Figura 9). No altar o médium irá receber as bênçãos para trabalhar sem a energia
negativa que vem das ruas.
7 Entidade espiritual de matriz Africana.
8 Tira de tecido utilizado ao redor do pescoço.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
Iemanjá obaloae Ogum Iansã oxossi Oxum Xangô Nanã
35
Figura 8- Médium batendo cabeça para os Pretos Velhos.
Fonte: Acervo do autor (2015).
Figura 9- Médium batendo cabeça para Pai Oxalá.
Fonte: Acervo do autor (2015).
36
A preparação para o trabalho é feita por meio de preces, concentração, fazendo a
conexão por intermédio do cachimbar, utilizando o fumo e o cachimbo. Posteriormente, é
realizada uma pequena palestra pela Mãe de Santo Cleide de Oxum (Figura 10). Após a
palestra, é realizada uma oração inicial pedindo as benções de Deus para os trabalhos de cura.
A oração se inicia com um Pai nosso e com a oração de Omolu/Obaluaê.
Figura 10- Palestra inicial dada pela Mãe de Santo Cleide de Oxum.
Fonte: Acervo do autor (2016).
Após as orações iniciais, é feito o ritual da defumação com alecrim, alfazema, breu
branco, incensos e outras ervas secas defumando os médiuns e a Casa e fazendo a limpeza de
purificação. Terminada a defumação, iniciam-se os cânticos para a chegada dos Pretos
Velhos. A primeira a incorporar é a Mãe de Santo, que recebe em seu aparelho mediúnico a
Preta Velha Vovó Cambinda de Guiné (Figura 11). A segunda a incorporar é a Mãe pequena,
que dá passagem para o Preto Velho Vovô Cipriano das Almas (Figura 12). O próximo a
incorporar é o Pai pequeno, recebendo o Preto Velho Pai Antônio de Aruanda. Por fim o filho
de santo incorpora o Preto Velho Vovô Joaquim de Angola.
37
Figura 11- Preta Velha Vovó Cambinda benzendo um consulente por meio da Mãe de Santo.
Fonte: Acervo do autor (2016).
Figura 12- Preto Velho Vovô Cipriano das Almas na Médium Mãe pequena.
Fonte: Acervo do autor (2015).
38
A assistência9 que vai em busca das curas física e espiritual, aguarda enquanto é
feita a preparação dos leitos, nos quais serão colocados para serem trabalhados. Os leitos são
colchões cobertos com lençóis brancos e outros reservados para cobrir os consulentes (Figura
13). Ao lado de cada leito as entidades abrem os seus portais espirituais (ponto riscado)
(Figura 14), deixando pronto para receber os consulentes.
Cada Preto Velho tem a sua maneira particular de trabalhar, porém todos trabalham
com ervas: manjericão, arruda, pião roxo, japana branca, café, guiné, comigo-ninguém-pode,
babosa, cipó-alho, espada de São Jorge, catinga de mulata, alfazema, casca e dente de alho,
dentre outras. Durante todo o trabalho de cura os Guias10
utilizam alguns elementos para a
firmeza do médium incorporado, como o café adoçado com açúcar mascavo, rapadura ou mel
de abelha. Fazem uso também, principalmente para limpeza dos consulentes, do tabaco e do
cachimbo. Após todas as pessoas da assistência serem trabalhadas, os Pretos velhos se
preparam para subir11
, deixando um por vez os seus aparelhos mediúnicos.
Ao final da gira dos pretos velhos, é feita a oração de encerramento pela Mãe
pequena e todos os médiuns batem cabeça novamente para pai Oxalá, o maior orixá da
Umbanda e para as demais entidades.
9 Participantes que não fazem parte da corrente mediúnica.
10 Entidades espirituais.
11 Termo usado para quando a entidade espiritual se desconecta do médium.
39
Figura 13- Pretos Velhos trabalhando na cura dos consulentes.
Fonte: Acervo do autor (2016).
Figura 14- Imagem do ponto riscado, da entidade Pai Tome.
Fonte: Acervo do autor (2017).
40
4.3.2 A gira de caboclos
A gira de caboclos consiste em dois momentos. A primeira parte é com os pretos
velhos e a segunda com os Caboclos das Matas. Todos os trabalhos se iniciam com a
organização dos materiais das entidades, com uma defumação dos materiais e da casa, com o
cachimbá dos filhos da corrente mediúnica. Após tudo ser preparado, o ritual do trabalho se
inicia com uma palestra da Mãe de Santo ou de algum filho da corrente desguiando pela Mãe
de Santo. É feita a oração inicial, como o Pai nosso e a Prece de Omolu/Obaluaê (Anexo A).
São iniciados os cânticos para a chegada dos Pretos velhos que fazem parte da
primeira parte dos trabalhos, onde é feita uma limpeza das demandas, que são direcionadas
para a casa, para os filhos da corrente ou para as pessoas da assistência. Como na gira de
Preto Velho, as ordens de chegada das entidades permanecem as mesmas, porém o Pai
Pequeno da Casa recebe o Preto Velho Pai Tome, ao invés de Pai Antônio.
Após a chegada das entidades, são firmados os pontos (pontos riscados) (Figura 15),
para que as almas de energia negativa possam ser encaminhadas. Cada Preto Velho tem sua
maneira particular de trabalhar. Muitos deles fazem as queimas, que é feito com “água
ardente”, arruda seca, guiné seca, demandas (pólvora), e várias ervas secas (Figura 16). Este
trabalho é feito para o encaminhamento das almas perdidas, para a quebra de trabalhos que
prejudicam as pessoas e para desfazer energias negativas. De momento em momento, os
Pretos Velhos fazem a defumação com o cachimbo e o bater dos cajados no chão para fazer a
limpeza na casa e nas pessoas (Figura 17), direcionando tudo o que é retirado para os portais
(pontos riscados). Com toda a limpeza feita, com os espíritos atormentados encaminhados e
com a Casa limpa, a médium da corrente se prepara para receber a Senhora das Almas,
entidade responsável em levar todos os espíritos que os Pretos Velhos encaminharam. Essa
entidade é da Linha de Iansã e ela baixa girando em todo o terreiro. Com o término da
limpeza, a Senhora das Almas sobe e os Pretos Velhos também se preparam para subir.
41
Figura 15- Preta Velha Vovó Cambinda na Corroa mediúnica da Mãe de Santo, abrindo os portais das almas.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Figura 16- Pretos Velhos incorporados, fazendo a queima de ervas seca.
Fonte: Acervo do autor (2017).
42
Figura 17- Pai Tome, fazendo a limpeza por meio do cachimbar.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Com a subida dos Pretos velhos, os médiuns fazem a limpeza e a organização do
material dos guias espirituais para a segunda parte dos trabalhos com os Caboclos da Mata,
isso com um pequeno intervalo de 10 minutos.
Com o término do intervalo, inicia-se a gira dos Orixás (Figura18). Os médiuns com
idade acima de 16 anos compõem a gira e a Mãe de Santo fica fora, mas é ela quem puxa os
pontos cantados. Iniciando com a defumação (Figura 19) e com os Pontos cantados, na Gira
de caboclos das Matas, são para os Orixás, Oxalá, Obaluaê, Ogum, Oxóssi, Oxum e Pai
Tupinambá (Anexo B).
43
Figura 18- Gira de Orixás.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Figura 19- Médium fazendo a defumação na gira de Orixá.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Durante a gira de Orixá, o Caboclo Rompe Mato baixa na coroa do Pai Pequeno
(zelador) (Figura 20) e o Senhor Caboclo Ogum Beira Mar baixa no Filho da corrente (Figura
21). Ambos os guias espirituais fazem a limpeza da porteira da casa, com o cachimbar de
tauari e pólvora. Feita a limpeza, o Senhor Ogum beira Mar sobe, enquanto o senhor Caboclo
44
Rompe Mato permanece para a limpeza da assistência. Terminado a gira de Orixá, inicia-se o
ponto cantado para a Cabocla Ita (Anexo C).
Figura 20- Caboclo Rompe Mato na coroa mediúnica do Zelador.
Fonte: Acervo do autor (2017).
45
Figura 21- Senhor Ogum Beira Mar, na coroa do filho de santo da corrente..
Fonte: Acervo do autor (2017).
A Mãe de Santo incorpora a Cabocla Ita, em seguida a Mãe pequena incorpora a
Cabocla Jurema. E, por fim, baixa o Caboclo Pena verde no Filho de Santo, cantando os
pontos do Caboclo Pena Verde e de Caboclo Rompe Mato. Enquanto são cantados os pontos,
os caboclos fazem a abertura dos seus portais, por meio dos pontos riscados. Para manter a
firmeza com os seus aparelhos mediúnicos os caboclos fazem uso do tauari, de bebidas que
pode ser chá ou água. Cada guia incorporado usa um pano que envolve os aparelhos
mediúnicos chamado de espada. Terminada a firmeza, todas as pessoas da assistência são
direcionadas para as entidades fazer o passe, que é feito com defumação com o tauari usado
pelas entidades.
Com todos limpos, os Guias espirituais aconselham quando deve ser aconselhado,
fecham os seus portais e se preparam para subir um por vez. Após a subida de todas as
entidades, é feito o enceramento do trabalho pela Mãe pequena ou pelo Pai Pequeno.
4.3.3 A gira de encantaria
Assim como a gira de Caboclos, a gira de encantaria tem duas partes. A primeira
acontece da mesma forma que na gira de caboclo. A segunda é constituída também com a gira
para os Orixás, que são: Oxalá, Obaloaê, Ogum, Xangô, Iemanjá, Nanã, Iansã e os três reis de
46
Minas: Dom João de Marambaia, Rei Sebastião e Verequete. Como na gira de caboclo, o
Senhor Ogum Rompe Mato e o Senhor Ogum Beira Mar também baixam para fazer a limpeza
e a firmeza da “porteira”, porém tanto o senhor Rompe Mato quanto o Senhor Beira Mar
sobem.
Terminada a gira para os Orixás, baixa na coroa da Zeladora a Cabocla Mariana
(Figura 22), na coroa do Zelador o Senhor José Raimundo (Figura 23), na coroa mediúnica da
Mão Pequena baixa a entidade espiritual Dona Herondina (Figura 24), e, por fim, na Coroa
mediúnica do filho de santo, baixa o Senhor Ricardinho (Figura 25). Todas essas entidades de
encantaria utilizam para fazer os seus trabalhos o tauari e bebida composta de água com “água
ardente”. Após a firmeza dos Guias, as pessoas são direcionadas para receberem o passe das
entidades incorporadas (Figura 26). Terminados os passes, os caboclos sobem, ficando
somente a Cabocla Mariana na coroa da Zeladora, e os outros se preparam para receber a
falange da Ibeijada.
A Mãe pequena recebe a entidade Marinheirinho Lico, o Zelador a entidade
Joãozinho da Beira do Rio e o filho de santo, Joãozinho da Praia. Essas entidades que baixam
em forma de crianças, brincam, correm e pulam distribuindo bombons para as pessoas
presente no trabalho. Essas travessuras é a forma que a Ibeijada trabalha para limpar as
pessoas e, principalmente, as crianças que estão no trabalho (Figura 27). Com a ordem de
Mão Mariana, as crianças da Ibeijada sobem, e Dona Mariana também se prepara para subir,
dando final a gira de encantaria. Assim como em todos os trabalhos, o encerramento é feito
com orações em agradecimento pelo trabalho do dia.
47
Figura 22- Cabocla Mariana na coroa mediúnica da Zeladora.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Figura 23- Senhor José Raimundo na coroa do Zelador Luciano de Ogum.
Fonte: Acervo do autor (2017).
48
Figura 24- Cabocla Dona Herondina na coroa da Mãe pequena.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Figura 25- Senhor Ricardinho, na coroa do médium filho de santo.
Fonte: Acervo do autor (2017).
49
Figura 26- Pessoas recebendo passe das entidades incorporadas.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Figura 27- Beijada trabalhando na limpeza do médium.
Fonte: Acervo do autor (2017).
50
4.3.4. A gira de Exu
A gira de Exu também é constituída de dois momentos. O primeiro é com os senhores
Exu e Pompa-giras e o segundo com José Pelintra e toda a sua falange e acontece sempre na
última sexta-feira de cada mês. No início dos trabalhos de gira de Exu, é feita uma defumação
na Casa, nos materiais dos médiuns e com todos os materiais arrumados. Inicia-se com a
palestra da Zeladora da Casa. Terminada a palestra, é feita a oração inicial e os médiuns se
preparam para a chegada da entidade espiritual Dona Sara, que baixa no aparelho mediúnico
da Zeladora da casa (Figura 28). Logo após a chegada de Dona Sara, cantam-se os pontos do
grande Senhor Exu Tranca Rua das Almas, que incorpora no Zelador da casa. Com a chegada
de Exu Tranca Rua das Almas, é contado o ponto do Grande Senhor Exu Tiriri Lonã, que
baixa no aparelho mediúnico do filho da casa (Figura 29). E, por fim, baixa na corroa da Mãe
pequena da casa, a Senhor Pomba-Gira Maria Padilha.
Figura 28. Pombo Gira Dona Sara.
Fonte: Acervo do Autor (2016).
51
Figura 29. Senhores Exus trabalhando na limpeza dos consulentes.
Fonte: Acervo do Autor, (2016).
Com todas as entidades firmadas no terreiro, a senhora Pomba-Gira Dona Sara firma
seu portal de luz na porteira da casa e o Senhor Exu Tranca Rua das Almas firma seu portal
no assentamento dos senhores Exus. Com os portais firmados, a assistência é direcionada para
receber o passe das entidades incorporadas nos médiuns da casa. As entidades femininas
trabalham com leques, cartas, punhais, joias, demandas, cigarrilhas e champanhe. Já as
entidades masculinas trabalham com charutos, punhais, espadas, capa, velas vermelhas,
demandas, charuto e vinho.
Depois de todos os consulentes serem atendidos, os Senhores Exus fazem a limpeza do
terreiro com três velas vermelhas nas mãos, charuto e demandas. Enquanto é feita a limpeza
do terreiro, as senhoras Pomba-giras estão girando para direcionar as energias negativas, que
vêm da limpeza feita pelos senhores Exus. Com a limpeza terminada, os portais são fechados
e as Senhoras Pomba-giras se preparam para subir. A primeira a ir é a Senhora Maria Padilha.
O segundo é o senhor Exu Tiriri Lonã, ficando no terreiro apenas Dona Sara e o Senhor Exu
Tranca Rua das Almas. Antes de subirem, eles fazem uma pequena apresentação de dança
característica deles. Em seguida, o Senhor Exu Tranca Rua das Almas sobe e, logo após,
Dona Sara também.
Para se iniciar a segunda parte, é dado um pequeno intervalo de 10 minutos para a
retirada dos materiais dos senhores Exus e Pomba-giras e para a arrumação dos materiais do
Senhor José Pelintra e sua falange; Com a chegada do Senhor José Pelintra, que vem na
52
corroa mediúnica da Zeladora (Figura 30), chegando com muita alegria e firmeza, ele chama
sua falange, o Senhor Jorge Malandro, que vem na corroa do Zelador. O Senhor Zé Pretinho
vem na Corroa da Mãe Pequena e o Senhor João da Curva vem na corroa do filho da casa.
Todos trabalham, com charutos ou cigarros, vinho, cerveja e demandas. As pessoas são
limpas por eles por meio do trabalho chamado demandar, onde todos os malandros colocam
umas demandas em frente à assistência. As demandas são acesas e quando estouradas as
pessoas fazem a limpeza do corpo e do espirito. Com a permissão do Mestre José Pelintra, os
Malandros podem conversar com as pessoas da assistência (Figura 31), dando conselhos.
Figura 30. José Pelintra na corroa da Zeladora da casa.
Fonte: Acervo do Autor ( 2016).
53
Figura 31. Os Malandros da boemia em dialogo com os consulentes.
Fonte: Acervo do Autor, (2016).
Chegado o momento de sua subida, os Malandros dançam o samba de raiz ou dançam
capoeira, todos sobem no mesmo momento, exceto o senhor José Pelintra, que é o último. Ele
trabalha nos médiuns que estavam recebendo as entidades, aconselhando e, após isso, prepara-
se para subir. Após a sua subida, as entidades são saudadas, laroiê Exu, Exu e Mojubá,
saudação dos senhores exus, Aluvaia as Senhoras Pomba-giras de Lei, saudação das senhoras
Pomba-giras, Sarava Seu Zé, saudação do Metre José Pelintra e sua falange. Por fim, canta-se
o ponto de enceramento (Anexo D).
4.3.5 Louvação do Orixá Oxóssi
O trabalho acontece na Casa de Tupinambá no dia 28 de janeiro. Trata-se de uma
homenagem feita a este Orixá de grande conhecimento das ervas sagradas. Em sua louvação,
o uniforme dos homens é camisa e espada verde, calça e toca branca. As mulheres usam saia,
camisa, espada e pano de cabeça verde. Este trabalho é feito um ano na casa (Figura 32) e, no
ano seguinte, na mata (Figura 33).
54
Figura 32- Tenda preparada para louvação do Orixá Oxóssi.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Figura 33- Preparação das oferendas para louvação do Orixá Oxóssi na mata.
Fonte: Acervo do autor (2015).
55
Tanto na mata quanto na casa são arriadas oferendas (Figura 34), que consiste em
frutas e plantas diversas. Cada médium que deseja ofertar para este Orixá prepara a sua
oferenda, antes de iniciar os trabalhos. Com a oferenda pronta, o médium acende as velas
cantando os pontos do Orixá.
Figura 34- Oferendas para entidades caboclas.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Quando o trabalho é feito na mata, os Pretos Velhos (Figura 35) vêm para abrilhantar
o trabalho, para dar suas bênçãos, fazer defumações em seus filhos com o cachimbar e
aconselhar, quando necessário.
56
Figura 35- Pretos Velhos dando suas benções na louvação de Oxóssi.
Fonte: Acervo do autor (2015).
Quando o trabalho é feito na casa, a entidade Preto Velho não baixa, vem apenas os
caboclos e o grande juremeiro José Pelintra. Na louvação do grande senhor Oxóssi, o dono da
casa Caboclo Tupinambá sempre vem, seja na mata (Figura 36) seja na casa de Tupinambá
(Figura 37).
Figura 36- Pai Tupinambá em louvação de Oxóssi na mata.
Fonte: Acervo do autor (2015).
57
Figura 37- Pai Tupinambá em louvação de Oxóssi na casa.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Para os entrevistados, o grande caboclo vem para aconselhar, dar uma palavra de fé,
de renovação e de perseverança. Quando o trabalho é feito na casa, os médiuns são banhados
com o amanci (Figura 38), banho preparado com as ervas dos Orixás, quais sejam: pétalas de
rosa brancas, sete brotos de boldo, sete palmas amarelas, sete espadas de santa Bárbara, sete
rosa de cor rosa ou pétalas de rosas, musgo colido na beira do igarapé, ervas de santa Luzia ou
ervas de água doce, sete punho de algas marinhas, flores azuis, sete folhas novas de
samambaias, cravos vermelhos, espada de são Jorge, orquídeas rosas ou marrons, brotos de
ervas de Xangô, violetas, flores roxas, cravo de defunto, arruda e guiné. Este banho é
preparado durante uma semana, antes da louvação ao senhor Oxóssi. Na mata, não há o banho
do amanci, porém é feito o batizado (Figura 39).
58
Figura 38- Banho do Amanci.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Figura 39- Batizado na Umbanda feito pela entidade Pai Tupinambá.
Fonte: Acervo do autor (2015).
Depois da realização das oferendas (Figura 40), são colocadas frutas (Figura 41) que
serão preparadas para consumo da assistência, tanto na mata quanto na casa.
59
Figura 40- Oferendas para as entidades Caboclas
Fonte: Acervo do autor (2017).
Figura 41- Frutas para serem trabalhadas.
Fonte: Acervo do autor (2017).
60
As entidades dos caboclos que vêm na forma de índios baixam para louvar o grande
Senhor Oxóssi. Após a firmeza de Pai Tupinambá, ele sobe dando passagem para a Cabocla
Ita, que vem na corroa de Mãe de santo. O Pai pequeno recebe o caboclo Rompe Mato, a Mãe
pequena recebe a Cabocla Jurema e Caboclinho da Mata. O médium filho de santo recebe o
Caboclo Curibatã, o Caboclo Flecheiro, o Caboclo Pena Vermelha e o Caboclo Pena Verde.
Cada entidade baixa um por vez para louvar Oxóssi, com suas danças e cânticos. O outro filho
de santo recebe o caboclo Arranca Toco. A filha de santo recebe o Caboclo Pena Branca.
Com as entidades firmadas na coroa dos médiuns, são abertos os portais para as frutas serem
trabalhadas e limpas das energias negativas. É feito o preparo dos materiais para o batizado
quando a louvação é na mata. Na Casa, as entidades fazem a limpeza das frutas para ser
consumidas pelas pessoas e, logo após, as pessoas que estão na assistência são trabalhadas.
Em seguida, as entidades se preparam para subir, deixando a coroa mediúnica dos médiuns de
incorporação. Enquanto são preparados os materiais das outras entidades, as frutas que foram
trabalhadas pelos caboclos podem ser consumidas.
Na mata, os pretos velhos baixam a Mãe de santo da Casa recebe a Preta Velha Vovó
Cambinda. O Pai pequeno recebe o Preto Velho Pai Tomé. A Mãe pequena recebe o Preto
Velho Vovô Cipriano das Almas e Vovó Catarina, um por vez. O médium filho de santo
recebe Pai Joaquim de Angola, Preto velho Vovô João de Minas e Pai Antônio, um por vez. O
outro recebe Pai José. E a médium a Preta Velha Maria Redonda. As entidades Pretas velhas
vêm para abençoar os trabalhos que foram feitos, como o batizado, e prepara as pessoas para
o tombo da Jurema direcionadas pela entidade espiritual José Pelintra.
Com a subida dos Pretos velhos, a Mãe de santo se prepara para incorporar o Senhor
José Pelintra, quando baixa firma seu ponto riscado, e os participantes iniciam a gira da
Jurema (Figura 42). O Mestre José Pelintra chama uma pessoa para tomar o chá da Jurema.
Ao tomar a pessoa, retorna a gira para se preparar para o tombo da Jurema. Todas as pessoas
participantes da gira, em algum momento, tomam o chá. A gira acontece tanto na mata quanto
na casa. Terminado o ritual, o Mestre José Pelintra se prepara para subir, deixando a coroa da
Mãe de Santo. Com isso, é feito o encerramento do trabalho, com uma oração feita pelos
dirigentes da casa.
61
Figura 42. Mestre José pelintra iniciando o Tombo da Jurema.
Fonte: Acervo do autor (2015).
4.3.6 A louvação de Pai Oxalá
A louvação de Pai Oxalá acontece na Casa de Tupinambá no dia 25 de março. As
roupas usadas pelos médiuns são brancas, e suas oferendas são flores brancas, milho branco e
coco ralado e velas brancas (Figura 43).
62
Figura 43- Oferenda para Orixá Oxalá doada pela Mãe de Santo.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Durante a preparação para a louvação, é feito o mingau de milho branco (Figura 44),
trabalhado para as pessoas.
63
Figura 44- Panela com mingau de milho preparado para os consulentes.
Fonte: Acervo do autor (2017).
A Zeladora da Casa faz uma pequena palestra e inicia com uma oração. Logo após, é
cantado os pontos para os caboclos da linha de Oxalá baixar. Para os caboclos são ofertados
água e tauari. As entidades deixam sua palavra de luz, abençoando todos os presentes e
também os que estão ausentes. Após as bênçãos, as entidades sobem. Na segunda parte da
louvação, os médiuns irão incorporar os pretos velhos, que são os mesmos dos outros
trabalhos e da mesma forma: os Pretos velhos, firmam os seus portais e trabalham no mingau
que será distribuído (Figura 45). Terminados os trabalhos, as entidades se preparam para
subir. No encerramento, a Mãe pequena ou o Pai pequeno faz uma prece e os agradecimentos.
Canta-se o Hino da Umbanda (Anexo E).
64
Figura 45- Entidades Preto Velho, trabalhando no mingau.
Fonte: Acervo do autor (2017).
4.3.7 A louvação de Ogum
A louvação de Ogum acontece no dia 22 de abril. As vestimentas dos médiuns são:
para os homens, camisa azul, calça e toca branca e espada vermelha; para as mulheres, saia e
camisa azul, espada vermelha e lenço de cabeça azul. Inicia-se com as oferendas sendo
preparadas (Figura 46) e colocadas para o grande Orixá Ogum. São acesas as velas das
obrigações (Figura 47) enquanto são cantados os pontos do orixá. As oferendas do Orixá
Ogum são compostas por sete deferentes grãos (Figura 48). Depois de ofertadas as oferendas
faz-se uma oração inicial pela Mãe de santo da Casa de Tupinambá e após isso, inicia-se a
gira, na qual todos os médiuns com mais de 16 anos participam. Enquanto acontece a gira, os
filhos do Orixá Ogum recebem a sua energia, manifestando, assim, os seus movimentos
irradiados pelo Orixá. Cada filho de Ogum recebe essa energia, um por vez. Finalizado a gira,
iniciam-se os pontos cantados dos Caboclos de Ogum, são eles: Caboclo Rompe Mato (Coroa
do zelador), Senhor Ogum Beira Mar (Mãe pequena ), Senhor Ogum Megê (filho de santo).
65
Figura 46. Oferenda para Orixá Ogum sendo preparada.
Fonte: Acervo do autor, (2017).
Figura 47- Velas das oferendas sendo acesa pala Mãe pequena.
Fonte: Acervo do autor (2017).
66
Essas entidades, depois de baixar, vão para a firmeza da porteira. Enquanto isso, os
filhos da corrente preparam um túnel com espadas de São Jorge, para que os guias possam
passar. Com a sua chegada, é cantado os pontos para que os outros guias da falange de Ogum
possam vir. A assistência é encaminhada para ser trabalhado pelas entidades. Depois que
todos são trabalhados, as entidades fazem a benção das espadas de São Jorge levados pelas
pessoas. Essas espadas são levadas para as suas residências e colocadas na frente delas para
afastar olho gordo, inveja, dentre outras coisas.
Figura 48- Oferenda para Orixá Ogum.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Todos os guias trabalham com uma espada de são Jorge, água e tauari. Em
determinado momento dos trabalhos, os guias incorporados fazem uma pequena gira (Figura
49), onde os participantes, sejam eles da corrente ou não, passam por dentro da gira,
recebendo a defumação do cachimbar dos guias. Após essa pequena gira, os guias se
preparam para subir, deixando a coroa dos médiuns. O trabalho se encerra com uma oração
feita pelo zelador ou pela mãe pequena da casa e se canta o Hino da Umbanda.
67
Figura 49- Gira de limpeza das entidades de Ogum.
Fonte: Acervo do autor (2017).
4.3.8 A louvação dos Pretos Velhos
A louvação de Pretos Velhos acontece no dia 13 de maio. As roupas dos médiuns são
todas brancas. As oferendas são todas colocadas em frente ao cruzeiro das almas e acesas
cantando os pontos. A mãe de santo da Casa inicia o ritual com uma pequena palestra e,
depois, são cantados os pontos para que os Pretos Velhos possam baixar. Quando chegam,
preparam os seus portais riscando pontos, bebem seu café e fumam seu cachimbo. As pessoas
podem ir para conversar com as entidades ou serem trabalhadas. Terminado este momento de
diálogo com as pessoas, os Pretos Velhos trabalham no mingau de milho que foi feito para ser
distribuído ao término dos trabalhos. Com o mingau trabalhado, os pretos velhos dançam o
junco e, terminada a dança, eles se preparam para subir. O trabalho se encerra com uma
oração final feita pela Mãe pequena ou pelo Zelador. No final, é cantado o Hino da Umbanda.
4.3.9 A louvação de Xangô
A louvação de Xangô acontece no dia 24 de junho. As vestimentas para o homens são:
camisa e espada marrom e toca branca. As mulheres vestem saia estampada, camisa e espada
marrom e lenço estampado. São feitas os preparos das oferendas (Figura 50), acendidas as
68
velas, cantando os pontos da linha de Xangô. Com as oferendas ofertadas, é feita uma
pequena palestra da Zeladora e, logo em seguida, uma oração inicial.
Figura 50. Oferenda de Xangô sendo preparada.
Fonte: Acervo do autor (2017).
É feita a gira com os médiuns a cima de 16 anos de idade, onde os filhos de Xangô
incorporam a sua energia irradiada, dançando com suas machadinhas. Enquanto isso, são
cantados os pontos de Xangô. Depois de terminada a gira, são cantados os pontos para os
caboclos de Xangô baixar, são eles: caboclo da Pedra Preta (Mãe pequena), Seu Curibatã
(médium filho de santo), Caboclo da Cachoeira (Mãe de Santo), Sete Pedras (filho de santo R.
N.), Caboclo Flecheiro (Zelador) (Figura 51). As entidades espirituais trabalham na limpeza e
no equilíbrio das energias dos médiuns e consulentes com água e tauari. Após o trabalho, as
entidades sobem. No enceramento, é feita uma oração final do Pai pequeno ou Mãe pequena e
é cantado o Hino da Umbanda.
69
Figura 51. Caboclos da linha de Xangô baixado nos médiuns da casa de Tupinambá.
Fonte: Acervo do autor (2017).
4.3.10 A louvação dos cangaceiros
Essa louvação acontece no dia 30 de junho. As vestimentas para o homens são:
camisa, espada, calça e toca branca. As mulheres usam saia, camisa, espada e lenço branco.
Todas as oferendas são ofertadas e acesas as velas, cantando os pontos das entidades.
Também é feita uma pequena fogueira que ficará acesa durante a parte que os cangaceiros
baixam, também é feito as oferendas (Figura 52).
70
Figura 52. Oferenda das entidades cangaceiros.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Terminado isto, é feita uma pequena palestra e uma oração inicial pela Zeladora da
Casa. Cantam-se os pontos dos cangaceiros para a sua chegada. O primeiro a baixar é o
Senhor Virgulino (Zeladora). Depois de firmado, a entidade espiritual chama as outras
entidades para baixar. São elas: o Senhor Balão (filho de santo N. O.), o Senhor Baião
(Zelador), o Senhor Corisco (filho de santo R.N.) e o Senhor Severino (Mãe pequena). As
entidades conversam e contam cordéis, enquanto as pessoas são trabalhadas (Figura 53). No
trabalho de limpeza, usa-se água, cigarro caseiro e tesado. Com todas as pessoas limpas, as
entidades se preparam para subir.
71
Figura 53. Entidades Cangaceiro dialogando com os consulentes.
Fonte: Acervo do autor (2017).
Nesta louvação, tem um segundo momento, que é feito com os baianos Chica Baiana
(Zeladora), Seu Baiano Grande (Zelador), Zé Baiano (filho de santo N.O), Zé do Coco (Filho
de santo R.N), Maria do Coco (Mãe pequena). Ao baixar, todos dançam e trabalham nos
milhos, paçocas, rapaduras, pé de moleque, dentre outras coisas. Terminado este trabalho,
esses alimentos são distribuídos paras as pessoas que estão participando do trabalho. Logo
após, todos sobem e o trabalho se encerra com uma oração final e é cantado o Hino da
Umbanda.
4.3.11 A louvação dos senhores Exus e Pomba Giras
Essa louvação acontece no dia 26 de agosto. As vestes para o homens são camisa
vermelha, calça branca e espada roxa e para as mulheres são saia e camisa vermelha, espada
roxa, lenço vermelho com moedas. Todas as obrigações são ariadas, com os pontos cantados.
Uma pequena palestra e uma oração inicial são feitas pela Mãe de Santo. É cantado o ponto
da Cigana Sara (Zeladora), que baixa girando. Depois, são cantados os pontos para a chegada
dos Senhores Exus Caveiras, são eles: Exu Caveira (filho de santo N.O.), Exu Caveirinha
(Zelador) e Exu João Caveira (filho de santo R.N). Os senhores Caveiras não falam, mas
firmam seus portais com pontos riscados e trabalham com vinho e charuto. Terminada a sua
72
firmeza, eles sobem e é cantado os pontos dos Exu Tranca Ruas das Almas (Zelador), Exu
Tiriri (filho de santo N.O), Exu Bará (filho de santo R.N).
Somente depois dos senhores exus baixados, vem a Senhora pomba gira Maria Padilha
(Mãe pequena), com todos baixados as pessoas são levadas para serem trabalhadas pelas
entidades com três velas vermelhas, vinho e charuto; e as senhoras pompa giras com
champanhe e cigarrilhas. Os homens são trabalhados pelos senhores exus e as mulheres pelas
senhoras pomba giras. Depois dos trabalhos, os senhores Exus saem para fazer a limpeza do
terreiro e, terminada a limpeza, as senhoras pomba giras giram para levarem tudo que foi
retirado. Após isso, elas sobem e os senhores exus sobem em seguida.
Na segunda parte da louvação, vem o Mestre José Pelintra com todos os seus
Malandros da Boemia. O senhor Zé Pelintra vem na coroa da Zeladora da Casa, no zelador
vem Seu Jorge Malandro, na Mãe Pequena vem Seu Zé Pretinho, no Filho da Casa vem Seu
João da Curva e no outro Filho, R.N, vem Seu Junco. Todos trabalham com vinho ou cerveja,
charuto e demandas. Todos sempre dançam o samba de gafieira e trabalham limpando as
pessoas. Em determinado momento, o Mestre manda os seus Malandros demandarem. Então
são acesas as demandas todas ao mesmo tempo, quando estouram, as pessoas se limpam.
Quando é permitido pelo Mestre, os malandros brincam e conversam com as pessoas. Na hora
que o Mestre manda, todos sobem e, depois, o Grande Mestre também sobe, finalizando o
trabalho. O zelador ou a Mãe pequena fazem a oração final e é cantado o Hino da Umbanda.
4.3.12 A louvação da Ibeijada
A louvação da Ibeijada acontece no dia 30 de setembro. As vestimentas dos homens
são: toda a roupa branca com espada azul claro para os médiuns que não incorporam; os que
incorporam ficam vestidos com as roupas características das entidades espirituais, que vem
em forma de crianças. As mulheres vestem roupa branca, espada e lenço de cabeça rosa, isso
somente para as médiuns que não incorporam. É feita uma preparação antes de se iniciarem os
trabalhos das oferendas, que consistem em vários tipos de doces e guaraná (Figura 54). São
acesas as velas, cantando os pontos da Ibeijada. Com tudo ofertado, é feita a oração inicial
pela Zeladora da casa e se canta o ponto para Cabocla Mariana baixar (Corroa da Zeladora),
que chama a ibeijada para baixar. Na Mãe pequena, baixa o Marinheirinho Lico, no zelador,
vem Joãozinho da Beira do Rio, no filho de santo, R. N., baixa Doum, na filha de santo baixa
Maria Aninha, no filho de santo, N. O., baixa Joãozinho da Praia.
73
Figura 54. Mesa de doces para ser ofertada para Ibeijada.
Fonte: Acervo do autor (2015).
As crianças baixam e brincam com as crianças encarnadas que estão presentes na casa
durante o trabalho, sempre com muitos doces, brinquedos e guaraná (Figura 55). Elas
trabalham nas pessoas, sujando-as de bolo, enchendo a boca das pessoas de bombons, isso
para que seja feito uma limpeza do espírito de quem está presente. Essas entidades têm o
grande poder de transformar pessoas que estão deprimidas, que perderam a noção de como é
bom ser criança. Depois de todas as brincadeiras, Cabocla Mariana manda a Ibeijada se
despedir. Com isso, todas as crianças sobem, deixando somente a Zeladora incorporando
Dona Mariana. Ela dá uma palestra e, por fim, se despede, deixando o aparelho mediúnico da
Zeladora. O trabalho se encerra com uma oração final feita pelo Pai ou Mãe pequena e é
cantado o Hino da Umbanda.
74
Figura 55. Ibeijada trabalhando nas crianças presentes no trabalho.
Fonte: Acervo do autor (2014).
4.3.13 A louvação de Pai Obaloaê
A louvação é feita no dia 4 de novembro. As vestimentas para o homens e mulheres
são roupas brancas, espadas roxa e, ainda, lenço de cabeça roxo (mulheres) para os médiuns
que não irão incorporar os Senhores Caveira. Para os que irão incorporar, os trajes são roupa
roxa, tanto para os homens quanto para as mulheres. Como em todo trabalho, seja normal ou
louvação, é sempre ofertado primeiro as oferendas com os pontos cantados, para depois se
iniciar uma pequena palestra da zeladora e a oração inicial. Feito isso, é cantado os pontos dos
senhores Caveiras que irão baixar para firmar a porteira, são eles Senhor Exu Caveira
(Médium N. O.), Senhor Exu Tata Caveira (Mãe pequena) e Senhor Exu João Caveira
(Médium R.N.). Todos firmam os seus portais com pontos riscados, porém apenas o senhor
Exu João Caveira sobe, deixando o aparelho mediúnico do filho de santo da casa. Os outros se
acomodam em seus assentos para observar a gira para o Orixá Obaloaê.
Os filhos da casa compõem a gira, a Zeladora da casa recebe a energia da Orixá Nanã
e somente os filhos do Orixá Obaloaê recebem a irradiação desta entidade de luz curadora.
Terminado a gira com seus pontos cantados, os Senhores caveiras sobem e os médiuns se
preparam para receber os Pretos Velhos que irão compor uma segunda parte do trabalho.
Os pretos velhos baixam nos seus aparelhos mediúnicos e firmam seus portais de luz
com pontos riscados. Durante este trabalho, é feita a benção do círculo de palha que contém
nomes de pessoas que querem se manter livres das doenças da carne e do espirito. Após o
trabalho, as entidades dão a benção final e o círculo de palha fica guardado para ser deixado
75
no mar. Os pretos velhos sobem, deixando seus aparelhos mediúnicos e a Mãe ou Pai pequeno
encerram o trabalho com uma oração e é cantado o hino da Umbanda para finalizar.
4.3.14 A louvação das Iabas
A louvação acontece no dia 9 de dezembro. As vestes são de acordo com a cor de sua
Orixá de cabeça. Um ano é feito na praia e outro na Casa. Tanto na praia quanto na casa é
arriado as obrigações, cantados os pontos e suas filhas incorporam a irradiação de seus Orixás
femininos: Oxum, Nanã, Iemanjá e Iansã. Depois de terminada essa gira na praia, os senhores
Ogum Beira Mar (N.O.), Senhor Marinheiro Fernando (Pai pequeno ) e o Senhor Marinheiro
(R. N.) firmam seus portais e pedem as benções da grande senhora do mar para dar
prosseguimento do trabalho e para ser feita a limpeza dos filhos da corrente. Dadas as
benções, os senhores sobem e é cantado o ponto para Cabocla Mariana baixar e limpar as
pessoas presentes.
Na casa, depois que as filhas dos orixás femininos recebem a sua energia, a Cabocla
Mariana baixa trazendo toda sua falange de encantaria, como por exemplo: Senhor
Marinheiro (R. N.), senhor Ricardinho (N. O.), Senhor Marinheiro Fernando (Pai pequeno),
Cabocla Herondina (Mãe pequena), Toia Jarina (filha de santo) e Princesa Flora (M.E.).
Depois de baixados, as pessoas da assistência são trabalhadas. Depois, as entidades espirituais
sobem, e, por último, a Dona Mariana. O trabalho é finalizado com uma oração e com o hino
da Umbanda.
4.4 As crenças e as histórias relacionadas aos usos das ervas
Além dos benefícios medicinas das ervas para os seres humanos, há também os
benefícios espirituais, este último bem presente nas religiões de matriz africana, nas quais se
encontram um foco de fé em suas propriedades de cura e místicas. Na casa de Tupinambá, o
Zelador relatou que “As ervas têm vida e energia que podem ser repassada para a necessidade,
quando é feito um banho de limpeza, quando é feito um chá, cada erva tem sua função”12
.
Outra entrevistada afirmou que as ervas “têm suas propriedades e essências que vêm com a
magia e também espiritual, que vem dos guias, podendo atuar na cura dos necessitados”13
,
Constatou-se na casa de Tupinambá a crença de que as ervas podem curar doenças físicas e
espirituais.
12 Trecho da entrevista realizada com o Sr. L. R. no dia 12/07/2017 na Casa de Umbanda de
Tupinambá, Tracuateua-PA. 13 Trecho da entrevista realizada com a Sra. C. L. no dia 06/07/2017 na Casa de Umbanda de
Tupinambá, Tracuateua-PA.
76
Outro aspecto relevante são as histórias relacionadas aos usos das ervas obtidas
durante a participação nos rituais, conforme relatou um entrevistado:
Quando estava em meu trabalho, sofri um acidente, dai quebrei a minha
mão, nesse dia era dia de trabalho de cura, aí quando os Vovôs baixaram eu
pedi para ser consultado, eles passaram um remédio para mim que era uma
erva de garapé, eu não lembro o nome agora, mas realmente eu fui curado
com o remédio que ele passou para mim14
.
Outra interlocutora afirmou que:
Durante os trabalhos os Vovôs falaram que iria aparecer uma pessoa que
estaria atrás de uma erva, só que quando essa pessoa pegasse esta erva ela
iria secar e morrer, no outro dia bateu em minha casa uma mulher que falou
que estava doente e precisava fazer um remédio da pluma, aí eu dei para ela,
mas durante o dia, o restante que ficou em casa foi secando e morreu. Outra
história é da minha mãe, que sentia uma quentura na cabeça, e para melhorar
ela tinha que fazer um remédio do sumo da japana branca e com isso ela
melhorou da quentura na cabeça.15
Além dos relatos de remédios feitos das ervas também houve depoimentos sobre os
banhos preparados, como relata uma entrevistada: “O meu corpo parecia uma cebola podre,
tanto no cheiro quanto na consistência, daí passaram um banho de limpeza para mim e depois
que fiz não senti mais”16
.
4.5 Os significados de natureza na visão dos médiuns da Casa de Umbanda de
Tupinambá
Todos os entrevistados demostraram um grande respeito pela natureza, expressando
uma preocupação em tirar e recolocar aquilo que se retira da natureza e um cuidado para não
agredir o meio ambiente, em função do respeito aos espíritos que acreditam estarem presentes
nas matas, conforme relatou uma interlocutora: “É um ponto de força, no qual se encontra o
seio e o domínio de pai Oxóssi. É, portanto, um lugar de meditação e reflexão no qual se deve
muito respeito além de ajudar na conexão com o seu lado espiritual proporcionando a
evolução mediúnica”17
. Outra entrevistada afirmou que “A natureza tem que ser preservada,
cuidada para não haver desmatamento, toda a vida depende dela”. Ademais, a natureza, na
14 Trecho da entrevista realizada com o Sr. L. R. no dia 12/07/2017 na Casa de Umbanda de
Tupinambá, Tracuateua-PA. 15 Trecho da entrevista realizada com a Sra. C. L. no dia 06/07/2017 na Casa de Umbanda de
Tupinambá, Tracuateua-PA. 16 Trecho da entrevista realizada com a Sra. R. O. no dia 10/07/2017 na Casa de Umbanda de
Tupinambá, Tracuateua-PA. 17 Trecho da entrevista realizada com a Sra. M. L. no dia 05/07/2017 na Casa de Umbanda de
Tupinambá, Tracuateua-PA.
77
visão dos entrevistados, “É fonte de ar limpo, um lugar de conexão com os espíritos é vida”.
Para a Zeladora da Casa, a natureza é fonte de vida: “A natureza é a mãe das energias, nela
estão todos os elementos que precisamos para sobreviver”. A natureza é ainda: “A criação de
tudo, Deus em sua sublime evidência, é o equilíbrio de tudo, vida, alimento e energia”.
Dentro das crenças de Umbanda tem um ditado que expressa bem as respostas dos
entrevistados, que foi interpretada em uma canção de Maria Bethânia, que diz: “sem folha não
tem sonho, sem folha não tem festa, sem folha não tem vida, sem folha não tem nada”. Logo,
pode-se observar a intensa ligação entre religiosidade e meio ambiente no seio das
manifestações religiosas umbandistas na Casa de Tupinambá, Tracuateua-PA.
Os locais nos quais são depositadas as oferendas são a Casa, a mata e a praia. Todos os
entrevistados afirmaram que está ficando cada vez mais difícil encontrar lugares apropriados
para deixar as suas oferendas dos rituais religiosos.
4.6 A diversidade de ervas e os seus usos na Casa de Umbanda Tupinambá
O conhecimento acerca da dinâmica de uso das plantas medicinais e místicas dos
rituais nos trabalhos na Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá apresenta características de
diversas culturas, como as dos baianos, europeus, marinheiros, cariocas, dentre outras. Cada
uma dessas culturas trabalha com as ervas de uma maneira diferenciada, a depender do Orixá,
que tem a sua atuação representada em determinadas ervas, conforme exposto a seguir:
- Oxalá: maracujá, cidreira, Jasmim, louro, girassol, hortelã e arruda;
- Ogum: romã, tulipa, losna, macaé, jurubeba, samambaia e cinco folhas;
- Oxóssi: erva doce, malva cheirosa, malvarisco, erva da Jurema, parreira do mato, dracena e
sabugueiro;
- Xangô: limão, abacate, erva tostão, alecrim do mato, fedegoso, goiabeira;
- Ibeiji: amoreira, alfazema, groselheira, hortelã, rosa branca, alecrim, laranjeira, manjericão e
sálvia;
- Iemanjá: panaceia, pariparoba, quitoco, violeta, picão da mata, manacá e arruda fêmea;
- Oxum: alfavaca, arnica, calêndula, camomila, cidreira, ipê amarelo, gengibre, rosas brancas
e amarelas;
- Nanã: carobinha, capim santo, guiné, picão da praia, alecrim, manjericão, alfazema e rosa
branca;
- Iansã: angélica, cipó-cruz, carobinha, capim-limão, rubi, espinheira santa e cordão de frade;
- Obaloae: arruda, guiné, alecrim, boldo, caroba, capim-santo e milho.
78
As ervas podem ser utilizadas para a feitura de banhos para os filhos de santo. Dentro
da Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá, o conhecimento relacionado ao uso das ervas
pelos filhos da casa foram sendo adquiridos durante os trabalhos, como relata o médium de
incorporação: “Eu aprendi a usar as ervas dentro da casa, observando os pretos velhos
trabalharem, e fazendo banhos que eles passavam para a gente”18
. Há também os que
obtiveram os conhecimentos sobre o uso das ervas com os seus pais e avós, como é o caso da
médium de vidência: “Eu aprendi dentro do terreiro mesmo, e também com a minha vó, que
sempre usava as plantas para fazer banhos e remédios, aí vendo ela fazer, eu também fui
aprendendo”19
. Outra interlocutora relatou que aprendeu sobre o uso das ervas:
“Desde a infância através da mamãe, que me levava em benzedeiras, onde
elas me passavam banhos e chás com ervas, e da mamãe que sempre plantou
ervas medicinais, e justamente por conta disso, ela sempre foi muito
procurada quando alguém precisava de plantas para fazer chá ou banho ou
então remédios mesmo, as pessoas vinham logo na casa dela para ver se ela
tinha um pezinho da planta aí de tanto ver ela lidando com as plantas eu
também fui aprendendo”20
.
Das ervas que deixaram de ser utilizadas com o passar do tempo as mais citadas foram
a folha do vick (Mentha arvensis var. Piperacens Holmes), a folha do tabaco (Nicotiana
tabacum L.), a saboneteira (Sambucus nigra) e a arnica (Arnica montana L.). Todos os
entrevistados citaram essas ervas e alegaram não as utilizarem mais, pois não são mais
encontradas na região. O plantio dessas plantas não é feito pela dificuldade de cultivo relatada
pelos entrevistados, mas caso encontrem ou consigam plantar, elas podem voltar a serem
utilizadas.
Um total de 110 espécies vegetais é utilizado nos rituais religiosos na Tenda de
Umbanda Casa de Tupinambá. Destacam-se entre as mais citadas Ruta graveolens L.(Arruda),
Ocimum minimum L. (Manjericão) e Tanacetum vulgare L. (Catinga de Mulata) (Tabela 2).
18
Trecho da entrevista realizada com o Sr. R. N. no dia 07/07/2017 na Tenda de Umbanda Casa de
Tupinambá, Tracuateua-PA. 19
Trecho da entrevista realizada com a Sra. M. S. no dia 05/07/2017 na Tenda de Umbanda Casa de
Tupinambá, Tracuateua-PA. 20
Trecho da entrevista realizada com a Sra. C. O. no dia 06/07/2017 na Tenda de Umbanda Casa de
Tupinambá, Tracuateua-PA.
79
Tabela 2- Lista de espécies vegetais utilizadas na Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá,
Tracuateua-PA. Número de citação (NC).
NOME
POPULAR
NOME
CIENTÍFICO
FAMÍLIA PARTES
USADAS
TIPOS
DE USO
NC
Abacate Persea americana Lauraceae Fruto/Folha Oferenda/
Chá
1
Abacaxi Ananas comosus Bromeliaceae Fruto Oferenda 4
Abre caminho Lygodium volubile
Sw.
Acanthaceae Folha Banho 1
Açaí Euterpe oleracea Arecaceae Semente Corrente 4
Acerola Malpighia
emarginata
Malpighiaceae Fruto Oferenda 1
Açoita cavalo Luehea divaricata
(Tiliaceae)
Malvaceae Casca Chá 2
Aipo Apium graveolens Apiaceae Folha Remédio 1
Alecrim Rosmarinus
officinalis L.
Labiatae Folha Banho/Be
nzedura
3
Alface Lactuca sativa Asteraceae Folha Oferenda 2
Alfazema Lavandula
officinalis Chaix &
Kitt.
Lamiaceae. Folha Banho/Be
nzedura
4
Algodão Gossypium
hirsutum L.
Malvaceae Folha/Fruto Remédio 2
Alho Allium sativum Liliaceae Dente Remédio/
Oferenda
4
Ameixa Prunus domestica Olacaceae Fruto Oferenda 1
Amor crescido Portulaca pilosa L. Portulacaceae Folha Remédio 2
Angélica Angelica
archangelica L.
Apiaceae Flor Banho 1
Anis estrelado Illicium verum Hook.
f.
Magnoliaceae Semente Chá/Banh
o
1
Arnica Arnica montana L. Asteraceae Folha Remédio 1
Arroz Oryza sativa Gramíneas Semente Oferenda 2
Arruda Ruta graveolens L. Rutaceae Folha Banho 8
Alfavaquinha Ocimum basilicum L. Lamiaceae Folha Banho 1
Babosa Aloe vera L. Asphodelaceae Folha Remédio 6
Banana Musa paradisíaca Musáceas Fruto Oferenda 5
Batata doce Ipomoea batatas L. Convolvulaceae Raiz Oferenda 2
Benjoim Styrax benzoin Styracaceae Folha/Flor Banho/De
fumação
1
Bem vem cá Folha Banho 3
Beterraba Beta vulgaris
esculenta
Quenopodiáceas Raiz Oferenda 2
Boldo Peumus boldus Lamiaceae Folha Banho 1
Buriti Mauritia flexuosa Arecaceae Folha Corrente 1
Caju Anacardium
occidentale
Anacardiaceae Fruto Oferenda 1
Camomila Matricaria
chamomilla
Asteraceae Flor Chá 1
80
Canela Cinnamomum
zeylanicum Brein
Lauráceas Folha Chá 2
Capim Limão Cymbopogon citratus Poaceae Folha Chá 1
Capim Santo Cymbopogon citratus
(DS)
Poaceae Folha Chá 2
Caruru Amaranthus viridis Amaranthaceae Folha Banho 1
Catinga de
mulata
Tanacetum vulgare
L.
Asteraceae Folha Banho 6
Cavalinha Equisetum hyemale
L.
Equisetaceae Folha Chá 1
Cebola Allium cepa Amaryllidaceae Caule Oferenda 2
Cereja Prunus serrulata Rosaceae Fruto Oferenda 3
Cheiro verde Petroselinum
crispum
Apiaceae Folha Oferenda 2
Chia Salvia hispânica L. Lamiaceae Semente Remédio
Cidreira Melissa officinalis L. Lamiaceae Folha Chá 1
Cipó-alho Mansoa alliacea Bignoniaceae Folha Chá 5
Comigo
Ninguém pode
Dieffenbachia
amoena
Araceae Folha Banho 3
Coqueiro Cocus nucifera L. Arecaceae Fruto Oferenda 3
Couve Brassica oleracea L. Brassicaceae Folha Oferenda 4
Cravo de
defunto
Tagetes erecta L Asteraceae Folha/Flor Banho 1
Eucalipto Eucalyptos globulus
Labill.
Myrtaceae 1
Ervão Folha/Caule Banho 3
Espada de santa
Barbara
Sansevieria
cylindrica
Asparagaceae Folha Banho 1
Espada de São
Jorge
Sanseviera zeylanica Asparagaceae Folha Banho 2
Alfavação Ocimum gratissimum Lamiaceae Folha Banho 3
Feijão Cajanus cajan L. Fabaceae Semente Oferenda 1
Gengibre Zingiber officinale Zingiberaceae Raiz Remédio 1
Gergelim Sesamum indicum Pedaliaceae Semente Remédio 1
Girassol Helianthus annuus Asteraceae Semente/Flor Remédio 1
Goiabeira Psidium guajava L. Myrtaceae Fruto Oferenda 3
Guiné Petiveria tetranda Phytolacaceae Folha Banho 3
Hortelã pimenta Mentha piperita L. Lamiaceae Folha Banho 1
Hortelã Mentha piperita L. Lamiaceae Folha Banho 2
Hortelã panela Mentha piperita L. Lamiaceae Folha Banho 1
Hortelãzinho Mentha piperita L. Lamiaceae Folha Chá 1
Jacamim Branco Rinorea flavences Violaceae Folha Chá 1
Japana Eupatorium
triplinerve Vahl
Asteraceae Folha Banho 7
Jasmim de Anjo Jasminum nitidum Oleaceae Folha Banho 1
Jiboinha Epipremnum
pinnatum
Araceae Folha Banho 1
Juca Caesalpinia ferrea Leguminosae Fruto Chá 1
Lagrimas de Coix lacryma-job Poaceae Semente Corrente 1
81
nossa senhora
Laranja Citrus aurantium L. Rutaceae Fruto Oferenda 3
Limão Citrus limonum Rutaceae Fruto Oferenda 5
Maça Malus domestica
Borkh
Rosaceae Fruto Oferenda 4
Macaxeira Manihot esculenta
Crantz
Euphorbiaceae Raiz Oferenda 4
Malva rosa Alcea rosea Malvaceae Folha Banho 1
Mamão Carica papaya L. Caricaceae Fruto Oferenda 2
Mandioca Manioht esculenta Euphorbiaceae Raiz Oferenda 1
Manga Mangifera indica L. Anacardiaceae Fruto Oferenda 2
Manjericão Ocimum minimum L. Lamiaceae Folha Banho 7
Maracujá Passiflora alata
Curtis
Passifloraceae Fruto Oferenda 4
Mastruz Chenopodium
ambrosioides
Amaranthaceae Folha Remédio 3
Melancia Citrullus lanatus Cucurbitaceae Fruto Oferenda 1
Melão Momordica
charantia L.
Cucurbitaceae Fruto Oferenda 3
Milho Zea mays Poaceae Semente Oferenda 4
Morango Fragaria vesca Rosaceae Fruto Oferenda 2
Mucura caá Petiveria alliacea L. Phytolaccaceae Folha Banho 2
Mururé pajé Moraceae Brosimum
acutifolium
Folha Banho 1
Noni Morinda citrifolia L. Rubiaceae Fruto Remédio 1
Oriza Pogostemon
heyneanus Benth.
Labiatae Folha Banho 2
Pau d’Angola Vitex agnus-castus L. Lamiaceae Folha Banho 1
Paregórico Piper callosum Piperaceae Folha Chá 1
Pêra Pyrus spp Rosaceae Fruto Oferenda 2
Pião roxo Jatropha curcas L. Euphorbiaceae Folha Banho 6
Pimenta Capsicum annuum Solanaceae Fruto Oferenda 4
Pitomba Talisia esculenta Sapindaceae Fruto Oferenda 2
Quebra pedra Phyllanthus niruri L. Euphorbiaceae Folha Oferenda 2
Quiabo Hibiscus esculentos Malvaceae Fruto Oferenda 2
L.
Repolho Brassica oleracea
var. Capitata L
Brassicaceae Folha Oferenda 1
Rosas Rosa alba L. Rosaceae Flor Oferenda/
Banho
4
Sabugueiro Sambucus nigra Caprifoliáceae Folha Chá 1
Sàlvia Salvia officinalis L. Lamiaceae Folha Defumaç
ão
3
Samambaia Pterídium aquilínum Davalliaceae Folha Oferenda 1
Sicuriju Mikania amara Asteraceae Folha Chá 2
Tabaco Nicotiana
tabacum L.
Solanaceae Folha Defumaç
ão
1
Urubucaá Aristolochia ligulata Aristoloquiaceae Folha Banho 1
Urucum Bixa orellana L. Boraginaceae Folha/Fruto Remédio 1
82
Uva Vitis sp Vitaceae Fruto Oferenda 4
Vassourinha Spermacoce
verticillata L.
Rubiaceae Folha Banho 7
Vergamota Sp1 Familia 1 Folha Banho 1
Vick Mentha arvensis Lamiaceae Folha Remédio 4
Violeta Viola odorata L. Violaceae Flor Oferenda/
Banho
1
Do total das ervas citadas pelos entrevistados, 34% é utilizada para banhos e 31% para
oferendas. As formas de uso menos citadas foram emplaste, maceração e fumo (Figura 56).
Gráfico 56- Tipos de usos das ervas na Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá, Tracuateua-PA.
Fonte: Dados de campo (2017).
Sobre os locais de coleta das ervas, 49% são cultivadas pelos próprios entrevistados.
36% são compradas em feiras., as porcentagens mais baixas de coletas são na roça, rua e
campo com apenas 1%, a porcentagem de coleta na mata é de2%, a quantidade de ervas
coletadas na tenda tem uma porcentagem de 8% (Figura 57).
34%
1%
4%
16%
31%
5% 1%
0%
8%
Banho
Maceração
Benzedura
Remedio
Oferenda
Defumação
Fumo
Emplaste
Chá
83
Figura 57- Locais de coleta das ervas usadas nos trabalhos.
Fonte: Dados de campo (2017).
O desmatamento é tido como o principal responsável pelo fato de não se encontrar
mais determinadas plantas na mata para os rituais religiosos: “Não se encontram mais ervas
nas matas como a maravuvuia”21
; “Faltam ervas para as oferendas e fica cada vez mais difícil
encontrar ervas medicinas também”22
. Cerca de 90% dos entrevistados afirmaram que o
desmatamento no município tem aumentado de forma significativa nos últimos anos (Figura
58) e 50% consideram que o desmatamento tem dificultado o acesso a determinadas ervas
para uso nos rituais religiosos da Casa (Figura 59).
21
Trecho da entrevista realizada com a Sra. L. S. no dia 05/07/2017 na Tenda de Umbanda Casa de
Tupinambá, Tracuateua-PA. 22
Trecho da entrevista realizada com a Sra. M. L. no dia 05/07/2017 na Tenda de Umbanda Casa de
Tupinambá, Tracuateua-PA.
49%
8%
2%
36%
1% 2% 1% 1%
Quintal
Tenda
Mata
Feira
Campo
Rio
roça
Rua
84
Figura 58- Opinião dos entrevistados sobre o aumento do desmatamento região município de Tracuateua-PA
nos últimos anos.
Fonte: Dados de campo (2017).
Figura 59- Percepção dos entrevistados sobre os efeitos do desmatamento nos rituais religiosos.
Fonte: Dados de campo (2017).
Indagou-se ainda sobre os locais de realização das oferendas. São eles: o interior da
própria Tenda (Figura 60), a mata (Figura 61) e a praia (Figura 62).
10%
90%
Não
Sim
50% 50%
Não
Sim
85
Figura 60- Oferenda realizada dentro da Casa para entidade Cabocla Mariana.
Fonte: Acervo do autor (2015).
Figura 61- Oferenda realizada na mata para Orixá Oxóssi.
Fonte: Acervo do autor (2015).
86
Figura 62- Oferendas realizadas na praia para os orixás femininos.
Fonte: Acervo do autor (2015).
As principais dificuldades de manejo das ervas utilizadas nos rituais estão relacionadas
às formas de plantio e identificação de novos locais de coleta. Isso porque, segundo os
entrevistados, muitas ervas são sensíveis, quando plantadas, não pegam ou quando pegam
logo morrem. Segundo os entrevistados as que possuem mais dificuldades de manejo são:
ervão, pau d’angola, alecrim, vick, malva rosa, vegamorta ou chama, arruda e bem-vem-cá.
Também há dificuldade de se encontrar algumas ervas, como jasmim do campo e lágrimas de
nossa senhora. Outra dificuldade está relacionada ao tempo de plantio, como é o caso da
pitomba, do tabaco e do algodão.
As entidades que mais solicitam o uso das ervas são os Pretos Velhos (42%), os
Caboclos (32%), os Exus (10%), os Orixás (7%), as Pomba Giras (7%) das citações e os
Baianos (2%) (Figura 63).
87
Figura 63- Porcentagem das entidades que solicitam o uso das ervas.
Fonte: Dados de campo (2017).
Dentre as partes das plantas mais usadas estão às folhas (54%) e o fruto (25%). As
partes menos utilizadas são as sementes (5%), as ramas (5%), a flor (5%), a raiz (3%) e o
caule (3%) (Figura 64).
Figura 64- Partes das plantas mais utilizadas para as práticas religiosas.
Fonte: Dados de campo (2017).
4.7 Indicações de remédios, banhos e defumações relacionadas com as ervas destinadas
aos consulentes
As ervas mais citadas pelos consulentes foram mucuracaá (Petiveria alliacea L.),
manjericão (Ocimum minimum L.) e catinga de mulata (Tanacetum vulgare L.). Os usos das
ervas incluem banhos, defumações, oferendas e remédios (Tabela 3).
42%
32%
7% 10%
7%
2%
Preto Velho
Caboclo
Orixá
Exú
Pomoba gira
Baianos
54%
25%
3% 3%
5% 5% 5% Folha
Fruto
Caule
Raiz
Rama
Semente
Flor
88
Tabela 3. Ervas citada pelos consulentes da Tenda de Umbanda Casa de Tupinambá. Número de citações (NC).
Nome
popular
Nome científico Família Partes usadas Tipo de uso CN
Abacate Persea americana Lauraceae Fruto/Folha Oferenda/Chá 1
Abacaxi Ananas comosus Bromeliaceae Fruto Oferenda 1
Abre
caminho
Lygodium volubile
Sw.
Acanthaceae Folha Banho 1
Açaí Euterpe oleracea Arecaceae Semente Corrente 1
Acerola Malpighia
emarginata
Malpighiaceae Fruto Oferenda 2
Amor
crescido
Portulaca pilosa L. Portulacaceae Folha Remédio 3
Angélica Angelica
archangelica L.
Apiaceae Flor Banho 1
Anis
estrelado
Illicium
verum Hook. f.
Magnoliaceae Semente Chá/Banho 1
Babosa Aloe vera L. Asphodelaceae Folha Remédio 1
Benjoim Styrax benzoin Styracaceae Folha/Flor Banho/Defumação 3
Camomila Matricaria
chamomilla
Asteraceae Flor Chá 3
Canela Cinnamomum
zeylanicum Brein
Lauráceas Folha Chá 5
Capim
Limão
Cymbopogon
citratus
Poaceae Folha Chá 4
Capim
Santo
Cymbopogon
citratus (DS)
Poaceae Folha Chá 4
Caruru Amaranthus viridis Amaranthaceae Folha Banho 3
Catinga de
mulata
Tanacetum vulgare
L.
Asteraceae Folha Banho 9
Cavalinha Equisetum hyemale
L.
Equisetaceae Folha Chá 1
Eucalipto Eucalyptos
globulus Labill.
Myrtaceae 1
Ervão Sp2 Familia 2 Folha/Caule Banho 1
Espada de
santa
Barbara
Sansevieria
cylindrica
Asparagaceae Folha Banho 2
Gergelim Sesamum indicum Pedaliaceae Semente Remédio 2
Girassol Helianthus annuus Asteraceae Semente/Flor Remédio 1
Goiabeira Psidium guajava L. Myrtaceae Fruto Oferenda 1
Hortelã Mentha piperita L. Lamiaceae Folha Banho 2
Japana Eupatorium
triplinerve Vahl
Asteraceae Folha Banho 1
Jasmim de
Anjo
Jasminum nitidum Oleaceae Folha Banho 2
Malva rosa Waltheria indica L. Malvaceae
Folha Banho 1
Mamão Carica papaya L. Caricaceae Fruto Oferenda 1
Mandioca Manioht esculenta, Euphorbiaceae
Raiz Oferenda 1
89
Manga Mangifera indica
L.
Anacardiaceae
Fruto Oferenda 1
Manjericão Ocimum minimum
L.
Lamiaceae
Folha Banho 9
Maracujá Passiflora alata
Curtis
Passifloraceae
Fruto Oferenda 3
Mastruz Dysphania
ambrosioides
Amaranthaceae
Folha Remédio 5
Mucura caá Petiveria alliacea
L.
Phytolaccaceae Folha Banho 9
Pião roxo Jatropha curcas L. Euphorbiaceae
Folha Banho 6
Pimenta Capsicum annuum Solanaceae
Fruto Oferenda 4
Rosas Rosa alba L. Rosaceae
Flor Oferenda/Banho 3
Sabugueiro Sambucus nigra Caprifoliáceae
Folha Chá 1
Vick Mentha arvenis Lamiaceae
Folha Remédio 1
Violeta Viola odorata L. Violaceae Flor Oferenda/Banho 1
Fonte: Dados de campo (2017).
As preparações são realizadas de diversas formas, conforme relatou uma consulente:
Os meus banhos sempre foram pedidos para coletar as plantas com respeito e depois
lavar. A água tem que estar bem limpinha, para poder macerar as folhas do banho na
água. Depois de macerada, tinha que deixar um tempo, para poder tomar o banho, e
ele tinha que ser tomado sempre depois do meio dia e antes das seis horas da tarde23
Já outro consulente relata o preparo do banho de uma forma diferente: “Os meus
banhos eu tinha que coletar as ervas que eram pedidas, tinha que lavar com cachaça e colocar
elas para ferver. Depois de fervida, eu tinha que esperar esfriar, para poder tomar meu
banho”24
. Os remédios são preparados pelas entidades e geralmente são feitos pelos Pretos
Velhos. Para as defumações, as ervas indicadas geralmente devem estar secas para serem
queimadas, conforme descreve uma entrevistada:
Quando foi pedido para eu fazer uma defumação, foi para fazer na minha casa. Eu
tinha que fazer com alecrim, e alfazema, primeiro eu tinha que limpar a minha casa,
23. Trecho da entrevista realizada com a Sra. A. R. no dia 10/07/2017 na Casa de Umbanda de
Tupinambá, Tracuateua-PA.
.24 Trecho da entrevista realizada com a Sra. R. L. no dia 10/07/2017 na Casa de Umbanda de
Tupinambá, Tracuateua-PA.
90
varrer normalmente, para depois defumar, como era uma defumação cheirosa tinha
que ser feita da frente para traz, sempre cruzando os cômodos25
.
Todos entrevistados relataram que nunca tiveram reação contrária aos remédios,
banhos ou defumações. Cerca de 46% das ervas são encontradas nas feiras, 33% nos quintas e
21% na Tenda (Figura 65).
Figura 65. Porcentagem dos locais de coleta das ervas.
Fonte: Dados de campo (2017).
25
. Trecho da entrevista realizada com a Sra. T. A. no dia 10/07/2017 na Casa de Umbanda de
Tupinambá, Tracuateua-PA.
33%
46%
21%
Quintal
Feira
Tenda
91
5. CONCLUSÃO
Constatou-se que a relação com o meio etnobotânico é bastante presente na cultura
religiosa umbandista. As formas de manejo e de produção das ervas utilizadas nos rituais
incluem plantações em quintais e compra nas feiras. O desmatamento é uma prática que tem
afetado as práticas religiosas umbandistas, em função da restrição de locais para a realização
das oferendas e da dificuldade para se encontrar determinadas ervas nas áreas de mata, cada
vez mais escassas.
Observou-se que as ervas mais utilizadas são: manjericão (Ocimum minimum L.) e a
catinga de mulata (Tanacetum vulgare L.), citadas tanto pelos trabalhadores da casa quanto
pelos consulentes.
Verificou-se que as principais dificuldades encontradas estão relacionadas às formas
de plantio e de colheita e à escassez de ervas nas áreas de mata.
Destaca-se a necessidade de se manter uma cultura que é repassada de geração em
geração, por meio da oralidade, de forma que as diversas práticas realizadas na Tenda, bem
como os conhecimentos atrelados aos diversos usos das ervas não se percam com o passar do
tempo. Comparando-se as práticas umbandistas relacionadas aos usos das ervas no passado e
no presente, face à escassez de determinadas plantas, constatou-se a introdução de novas
espécies nos rituais religiosos, muito embora tal substituição não pareça interferir nos ritos e
nas crenças, pois as plantas que não são mais encontrados no presente são substituídas por
outras plantas, permanecendo crenças e ritos relacionados ao uso de ervas.
Como possibilidades de análises futuras, sugere-se ampliar as abordagens
etnobotânicas acerca dos conhecimentos relacionados aos usos das ervas por meio de
levantamentos etnobotânicos nos diversos terreiros de Umbanda da região do Nordeste
Paraense. Outra possibilidade de estudos futuros são análises laboratoriais dos remédios
preparados pelas entidades Pretos velhos. Isso porque as ervas têm um potencial de uso bem
mais antigo do que se pode imaginar, estando elas ligadas aos meio religiosos ou não. A
interação das ervas com a sociedade humana, com o passar do tempo, vem se perdendo, daí a
importância de novos trabalhos de pesquisa que tragam a tona essa interação sistêmica, com
foco no estudo da sustentabilidade das relações entre comunidades tradicionais, práticas
culturais, e valores e crenças locais na Amazônia. Estudos que aprofundem o estudo das
relações entre religiosidade afrodescendente e meio ambiente podem contribuir ainda para o
rompimento de visões negativas desta crença, tão disseminadas no seio da nossa sociedade.
92
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jan-abr 2017.
VIERA, C. F. Umbanda: estrutura e rituais, 2016. p. 15. Artigo apresentado ao bacharelado
interdisciplinar em Ciências Humanas, Universidade Federal de Juiz de Fora, 2016.
96
APÊNDICES
97
Apêndice A- Questionário aplicado com os trabalhadores da corrente mediúnica.
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
CURSO DE BACHARELADO EM BIOLOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Nome do entrevistado:________________________________________ Apelido:_______________ Idade:____
Data: ___/___/2017
QUESTIONÁRIO PARA OS TRABALHADORES DA CORRENTE
1. Há quanto tempo o(a) senhor(a) trabalha na casa? ________________. Nasceu em Tracuateua? [ ] Sim [ ]
Não // Se não, veio de onde?____________ Quando veio? __________________ // Por que veio?____________
Já era adepto da Umbanda antes? _______
2. Nível de escolaridade:______________
3. Estado civil:________________ // Na sua casa quantas pessoas moram com o(a) senhor(a)?
[ ] Menores (até 15 anos) [ ] Adolescentes (16-21 anos) [ ] Adultos (maior de 21 anos)
4. Filhos que vivem com o(a) senhor(a): Menores (até 15 anos): ___ Adolescentes (16-21 anos): ___ Adultos
(maior de 21 anos): ___
4.1 Sexo dos filhos: [ ] Masculino [ ] Feminino
4.2 Os seus filhos frequentam a casa com o(a) senhor(a)? [ ] Sim [ ] Não //
Detalhar:______________________________________
5. Qual a composição da renda familiar?
[ ] Lavoura [ ] Pecuária [ ] Assalariado [ ] Aposentadoria [ ] Comércio [ ] Pesca [ ] Bolsas [ ]
Outros: _______________
6. Quais os Orixás regentes do seu Ori?__________________________
7. Qual a origem do conhecimento sobre esses usos?_______________________________________________
8. Que ervas deixaram de ser utilizadas com o passar do tempo? Por que? _______________________________
9. O desmatamento aumentou nos últimos anos na região? [ ] Sim [ ] Não // Se sim, esse desmatamento afetou
o uso de ervas nos rituais? [ ] Sim [ ] Não // Se sim, como?_________________________________________
10. Quais as principais áreas de oferenda da casa?_________________________________________________
11. Como são realizados os trabalhos?____________________________________________________________
12. Onde são depositadas as oferendas?___________________________________________________________
13. Quais crenças são depositadas nas ervas?______________________________________________________
14. Quais as histórias relacionadas com as ervas?__________________________________________________
15. O que significa a natureza para o(a) senhor(a)?_______________________________________
16. Diversidade das ervas utilizadas:
Ervas Tipos de uso
Onde são
coletadas
Principais
formas e
dificuldades de
manejo
Entidades que
solicitam o seu
uso
Partes da planta
utilizadas para
as práticas
98
Apêndice B- Questionário aplicado com os consulentes.
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
CURSO DE BACHARELADO EM BIOLOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Nome do entrevistado:________________________________________ Apelido:_______________ Idade:____ Data:
___/___/2017
QUESTIONÁRIO PARA OS CONSULENTES
1. Há quanto tempo o(a) senhor(a) participa dos trabalhos na casa? ________________. Nasceu em Tracuateua?
[ ] Sim [ ] Não // Se não, veio de onde?_____________ Quando veio? __________ // Por que
veio?_________________________________________
Já era adepto da Umbanda antes?
________________________________________________________________________________
2. Nível de
escolaridade:________________________________________________________________________________
_______
3. Estado civil:________________ // Na sua casa quantas pessoas moram com o(a) senhor(a)?
[ ] Menores (até 15 anos) [ ] Adolescentes (16-21 anos) [ ] Adultos (maior de 21 anos)
4. Filhos que vivem com o(a) senhor(a): Menores (até 15 anos): ___ Adolescentes (16-21 anos): ___ Adultos
(maior de 21 anos): ___
4.1 Sexo dos filhos: [ ] Masculino [ ] Feminino
4.2 Os seus filhos frequentam a casa com o(a) senhor(a)? [ ] Sim [ ] Não //
Detalhar:______________________________________
5. Qual a composição da renda familiar?
[ ] Lavoura [ ] Pecuária [ ] Assalariado [ ] Aposentadoria [ ] Comércio [ ] Pesca [ ] Bolsas [ ]
Outros: _____________
6. Quais foram as indicações de remédios, banhos e defumações relacionadas às ervas que já foram feitas ao
senhor(a)?__________________________________________________________________________________
_________________
7. Como foi feito o preparo?___________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________
8. Já houve alguma reação contrária da desejada com o uso das ervas? [ ] Sim [ ]Não // Se sim, detalhar:____
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________
9. Onde são encontradas as ervas que são recomendadas para os seus trabalhos?__________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
99
ANEXOS
100
Anexo A- Oração de Omolu.
Encontrei pedra lascada do tempo de avô,
Toda ela abexigada, era de Omolu, sim, senhor.
No caminho tinha velame, senza e palha, tinha epó...
Cruzei com almas santas, me benzi- Salva atotô!
Senti frio e senti fome, dormência me abraçou,
Mil anos correram breves, minutos que não passou.
A morte virou vida e a vida se renovou.
Cajado batia terra, era de Omolu, sim, senhor.
Salve, Lázaro! Salve, Roque! Salve quem muito viveu.
Xaxará abriu caminho, o sol até se escondeu.
A peste que era praga agonizava e gemia,
Na multidão que sofria aos pés daquele senhor.
Omolu, venho cansado das dores do mundo cruel,
Enlaça a vida na morte e a morte é ponte pro céu.
Na lavoura da aprovação, quem semeia semente pura,
Do velho recebe a cura e se purifica na dor.
Que assim seja!
101
Anexo B- Orixá Oxalá.
Onisaurê, aul axé
Onisaurê, oberioman
Onisaurê, aul axé, babá
Onisaurê, oberioman
Onisaurê
Babá saurê, aul axé
Babá saurê, oberioman
Babá saurê, aul axé, babá
Babá saurê, oberioman
Babá saurê
Orixá Obaluaê
Laguidibã, laguidibã, laguidibã
De chifre
É xaxará, é xaxará, é xaxará de palha...
É xaxará!
Atoto, atoto meu rei, traz pipoca que a
flor mariô
Faz silencia, faz segredo, cobre o medo
que o meu pai chego
Ele vem longe da omé, me ensinado a
oração é a fé,
E o caurica que adivinha é da força é da
sina ele é rei ele é meu senhor
Atoto, atoto, atoto Obaluaê
Atoto, atoto Omolu
Atoto Obaluaê
Orixá Ogum
Eu tenho Sete Espadas pra me defender
Eu tenho Ogum na minha companhia
(bis)
Seu Ogum é meu Pai
Seu Ogum é meu guia
Seu Ogum é meu Pai
Vivo com Deus e a Virgem Maria
Orixá Oxóssi
Eu vi chover, eu vi relampear
Mas mesmo assim o céu estava azul
Já floresceu as flores de Jurema Oxóssi
reina de norte a sul
Orixá Oxum
Eu vi mamãe Oxum da Cachoeira
Sentada na beira do rio
Colhendo lírios lírio ê
Colhendo lírios lírio á
Colhendo lírios
102
Para enfeitar nosso congá
Pai Tupinambá
Lá na casa de seu pai, quando ele sai,
ele deixa um vigia (2x)
Ele é caboclo, ele é caboclo ele é
flecheiro, ele é José Tupinambá (2x)
103
Anexo C- Cabocla Ita.
Naquela aldeia mora uma cabocla
Dizem que é homem, mas ela é mulher
(2x)
É a cabocla Ita da pena cinzenta
Mora na aldeia de Tapinaré (2x)
104
Anexo D- Exu Apavanã.
Exu Apavanã (4x)
Em minha aldeia ainda é Exu Apavanã
(2x)
É uma casa de combo, é de congo gira
(2x)
Auê, auê, auê, Auá (2x)
Ganhei uma barraca velha, foi a cigana
que me deu (2x)
O que é meu é da cigana, o que é dela
não é meu (2x)
Ciganinha, puerê, puerê, puerá (2x)
Oi, Zé, quando vier lá da lagoa
Toma cuidado com o balanço da canoa
(2x)
Oi, Zé, faça tudo que quiser, ô, Zé
Só não maltrate o coração dessa mulher
(2x)
Lá na porteira eu deixei minha sentinela
(2x)
Eu deixei Seu Meia-Noite tomando
conta da Cancela (2x)
105
Anexo E- Hino da Umbanda.
HINO DA UMBANDA
Refletiu a luz divina
Com todo seu esplendor
Vem do reino de Oxalá
Onde há paz e amor
Luz que refletiu na Terra
Luz que refletiu no mar
Luz que veio de Aruanda
Para tudo iluminar
Umbanda é paz e amor
Um mundo cheio de luz
É força que nos dá vida
E a grandeza nos conduz
Avante filhos de fé
Com a nossa lei não há
Levando ao mundo inteiro
A bandeira de Oxalá