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http://dx.doi.or g/10.1590/1982– 370300215201 3       A     r      t       i     g     o 54 PSICOLOGIA:CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2015, 35(1),54-68 Mães que Perderam Filhos: uma Leitura Psicanalítica do Filme Rabbit Hole Mothers who Have Lost their Children: a Psychoanalytic Reading of the Film “Rabbit Hole” Madres que Perdieron Hijos: una Lectura Psicoanalítica de la Película “Rabbit Hole” Maria Virginia Filomena Cremasco, Dhyone Schinemann & Susana de Oliveira Pimenta Universidade Federal do Paraná

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PSICOLOGIA:CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2015, 35(1),54-68

Mães que Perderam Filhos:

uma Leitura Psicanalítica doFilme Rabbit HoleMothers who Have Lost their Children: a Psychoanalytic Reading of

the Film “Rabbit Hole”

Madres que Perdieron Hijos: una Lectura Psicoanalítica de laPelícula “Rabbit Hole”

Maria Virginia Filomena Cremasco,Dhyone Schinemann & Susana de

Oliveira Pimenta

Universidade Federal do Paraná

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Resumo:  Para compreender e tratar dos casos de mães que perdem filhos – consensuadaenquanto a dor sem nome, sem fim e sem tamanho –, emerge a necessidade de retomarconceitos fundamentais desde o princípio da obra freudiana. O objetivo do trabalho foi lançarluz aos conceitos de luto e melancolia para compreender o sofrimento da mãe diante da perda

do filho. O método utilizado foi a análise do filme Rabbit Hole, que retrata a história de um casalque perde um filho. Para enriquecer o trabalho, foram utilizadas vinhetas de entrevistas querealizamos com mães que perderam filhos. Os resultados revelaram o conceito de identificaçãonarcísica enquanto fundamental para compreender a questão posta. Existe a hipótese de queno filme a identificação tenha sido estabelecida com o agressor, o que impossibilita o trabalhode luto. Como conclusão, pontuamos que a perda do filho abre uma grande ferida narcísica queafunda as mães em estados melancólicos. A psicanálise pode conceder um lugar de sofrimentopara a mãe que perde o filho sem, contudo, deixar que ela recaia completamente no lugar devítima, visando que se faça um “giro” da morte em direção à vida.

Palavras-chave: Luto. Melancolia. Psicanálise. Identificação narcísica.

 Abstract: To understand and treat cases of mothers who lose their children - known as the

nameless, endless and immeasurable pain - emerges the need to return to Freudian fundamentalconcepts, from the beginning of his work. The objective of the present study was to shed light onthe concepts of mourning and melancholia to understand a mother’s suffering before the loss ofher child. The film “Rabbit Hole”, which tells the story of a couple who loses a child, was usedas a method of analysis. Also, vignettes from interviews made with mothers who have lost theirchildren were used in order to complement the article. The results revealed that the conceptof narcissistic identification is essential for the understanding of the question posed. In the film,there is the assumption that the mother establishes identification with the aggressor, which makesthe elaboration of mourning impossible. As a conclusion, it seems that the loss of a child opens amajor narcissistic wound that sinks mothers into severe melancholy. Psychoanalysis can providea place of suffering to mothers that have lost their children, but yet trying not to let them fallcompletely in the place of the victims, in order to “make a spin” from death towards life.

Keywords: Grief. Melancholy. Psychoanalysis. Narcissistic identification.

Resumen: Para conocer y tratar los casos de madres que han perdido a sus hijos - consensuadacomo el dolor sin nombre, sin fin y sin tamaño - surge la necesidad de retomar los conceptosfundamentales desde el inicio de la obra de Freud. El objetivo fue aclarar los conceptos de duelo ymelancolía para entender el sufrimiento de la madre por la pérdida de su hijo. El método utilizadofue el análisis de la película “Rabbit Hole”, que cuenta la historia de una pareja que pierde a unhijo. Para enriquecer el trabajo, se utilizaron viñetas de entrevistas que realizamos con madresque perdieron a sus hijos. Los resultados revelaron el concepto de identificación narcisista comocentral para la comprensión de la cuestión planteada. Existe la hipótesis de que en la películala identificación se haya establecido con el agresor, lo que hace imposible el trabajo de duelo.En conclusión, parece que la pérdida de un hijo abre una herida narcisista que conduce a las

madres en dirección a la melancólica severa. El psicoanálisis puede proporcionar un lugar desufrimiento para la madre que perdió a su hijo, pero impidiendo que asuma completamente ellugar de la víctima, con el fin de hacer un “giro” de la muerte hacia la vida.

Palabras-clave: Duelo. Melancolía. Psicoanálisis. Identificación narcisista.

Introdução

 A utilização de filmes em trabalhos científicosproporciona a ilustração de questões que secolocam na clínica psicanalítica, contribuindo parauma ampliação de debate que pode colaborar

com a compreensão e o compartilhamento doque se coloca como enigmático no trabalhodo psicanalista. Partindo disso, o presentetrabalho tem como objetivo realizar uma leiturapsicanalítica do filme intitulado Rabbit Hole (Estados Unidos, 2010), de John Cameron

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Desde 2010, uma das autorasdo trabalho participa de umgrupo de apoio a enlutados,

realizando e orientandopesquisas que adentramno campo das perdas e

suas reações, nos cursos degraduação e pós-graduação

do departamento ao qualpertence.

Termo contemporaneamenteautoinstituído por aqueles que

perderam entes queridos eque estão sofrendo a dor por

sua perda.

O presente artigo é resultadode um projeto de pesquisaaprovado pelo Comitê deÉtica em Pesquisa do Setorde Ciências da Saúde da

Universidade Federal doParaná (registro CEP/SD:

1297.222.11.12 de 24 defevereiro de 2012). O comitê

autorizou a utilização dedados empíricos, coletados

por intermédio de entrevistase atendimento de mães que

perderam filhos, uma vez quee sigam os termos acordados

e os preceitos éticosdevidamente estabelecidos.

Mitchell, dando enfoque na experiência damãe que perde um filho por óbito.

O artigo propõe a leitura de alguns aspectos

observados no filme que possibilitam um retornoa conceitos básicos da obra de Sigmund Freud,com o objetivo de lançar luz às questões doluto e da melancolia. Elegemos também umtexto da obra de Sándor Ferenczi, psicanalistacontemporâneo de Freud, que auxiliará noaprofundamento de um dos elementos presentesna trama: o trauma psíquico.

O presente artigo é fruto de uma trajetóriade estudos1 que trata da questão da perda. Aperda de entes queridos, especialmente dospais que perdem seus filhos, torna evidente

a vulnerabilidade do ser humano frente aodesaparecimento dos objetos de amor, nos quaissão investidos os mais intensos sentimentos.Dados de nossa experiência clínica compacientes enlutados2 mostram que a perdade um ente querido pode ser devastadora,sobretudo para a mãe que perde um filho,como retrata o filme Rabbit Hole.

O filme conta a história de um casal que perdeuum filho de quatro anos há aproximadamenteoito meses. Diante de um sofrimento intensode perda, que faz despertar diversas questõesem cada personagem do filme, foi possível fazerum recorte de algumas questões essenciaisda experiência de um enlutado com baseem nosso trabalho anterior com a clínica. Apartir da análise do filme chegamos a unidadesconceituais que consideramos fundamentaisno manejo com aqueles que padecem desofrimento intenso devido à perda. Optamospor apresentá-las aqui divididas em tópicos,que serão desenvolvidos ao longo do trabalho.São eles:

a) A dor da mãe ao deparar-se com aslembranças do filho;

b) A dificuldade de relacionamento do casalque perdeu o filho;

c) Sentimento de culpa pela morte do filho;

d) Mudança na atribuição de sentido às coisasda vida após a experiência da perda;

e) Intolerância à “felicidade” alheia e buscapor isolamento;

f) Identificação da mãe com o agressor.

O referencial teórico psicanalítico dará subsídiospara uma interpretação do filme em torno dospontos acima citados.

Essas unidades retiradas do filme serãoanalisadas e interpretadas por intermédiodas obras de Freud e de Férenczi, reavivadasem prol de contribuir para a compreensãoclínica da experiência do sujeito que perdeo ente amado. O trabalho possibilitará queas cenas que retratam a vida após a perda deum filho para a morte possam ser percebidassob um ângulo mais aprofundado, que auxilieo constante processo de construção da clínicapsicanalítica. Para discutir a questão referenteà identificação com o agressor (tópico f),recorreremos à Férenczi (1966).

Em alguns momentos do trabalho faremos usode vinhetas discursivas3, ilustrações de falasprovenientes de nossa experiência clínica,com o intuito de enriquecer a discussão dospontos apresentados.

 Análise do filme

Rabbit Hole (2010) conta a história do casalBecca e Howie Corbett a partir do momento emque perdem seu filho de quatro anos, Danny.

O filme retrata a mesma história da premiadapeça, de mesmo nome, criada pelo autoramericano David Lindsay-Abaire, encenadapela primeira vez em 2005. O filme mostra osdesdobramentos decorrentes de uma perdatão significativa na vida dos pais, quando nãotêm mais a presença de seu filho. O filho éatropelado por um adolescente (Jason), quedirigia em velocidade um pouco acima dopermitido na rua onde Becca, Howie e Dannymoravam; e atropelou a criança no momentoem que ela corria pela rua atrás do cachorro(Taz). Passados oito meses do falecimento dofilho, Becca parece não mais suportar ficaro dia todo em casa, em contato com todasas lembranças do filho, pois não trabalha enão tem prazer em estar com outras pessoas.

No filme são retratados dois eventos da vidade Becca que podem ser considerados fatorescomplicadores. O primeiro deles refere-se aofato de que a irmã solteira engravida no períodoem que a personagem ainda experimenta ador por sua perda de modo bastante intenso.Esse acontecimento parece ter uma grande

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4 De acordo com o professormestre Renato Las Casas

UFMG, 2013), do Observatório Astronômico Frei Rosário,da Universidade Federal

de Minas Gerais, buracosde minhoca são “tubosde espaço-tempo” que

interligam diferentes regiõesdo espaço e do tempo.

Esses tubos proporcionariam viagens no espaço-tempo

or intermédio da entrada poruma de suas extremidades eda saída imediata pela outra

extremidade em local e/outempo diferentes.

Todos os nomes utilizados sãofictícios com o objetivo de

proteger a identidade dasentrevistadas.

influência na personagem. O segundo fatorrefere-se à mãe de Becca que, como tambémperdeu um filho há 11 anos (irmão de Becca),acaba por ser invasiva ao compartilhar e

comparar sua experiência com a da filha. Ascomparações parecem ser agressivas paraBecca por representarem uma minimizaçãoda legitimidade de sua dor.

Becca e Howie frequentam um grupo de apoioa enlutados. Contudo, Becca não se identificacom os demais integrantes. Incomoda-secom o fato de serem adeptos de religiões ede estarem no grupo há muito tempo, o queparece gerar na personagem uma sensação deimpossibilidade de superação do sofrimento.Então, acaba por se afastar definitivamente dogrupo. Em dado momento, reencontra Jason,o jovem que atropelou seu filho, e tem umsúbito impulso de ir atrás dele. Timidamente,encontra-se com ele para conversar e elesfalam sobre o acontecido. Depois disso,combinam de se ver por diversas vezes. Aolongo dos encontros, Becca parece começara dar maior importância ao rapaz, parecendodesenvolver por ele um sentimento terno,fazendo questão de agradá-lo, bem como deestar presente em sua vida. Becca parece ternecessidade de estar colada ao agressor de

seu filho, visto que é o que restou do eventotraumático da perda.

Enquanto Becca reage à perda com essanecessidade de aproximação de Jason, seumarido, de quem se distancia drasticamente,continua a frequentar o grupo de apoio aenlutados. Na ausência da esposa, Howiecomeça a se encontrar com uma das mãesque frequenta o grupo há mais tempo e quefora recentemente abandonada pelo marido. Além disso, em suas horas vagas, Howie gostade assistir aos vídeos do filho Danny. O fatode Howie buscar reavivar as lembranças dofilho quando está em casa é intolerável paraBecca, o que ocasiona brigas entre o casal.

No início do filme, vemos que Becca deixa ocachorro Taz na casa de sua mãe, doa a maiorparte das coisas do filho e quer vender a casaonde moram, pois sente a presença do filhoem todo o lugar. Em contrapartida, Howienão quer se desprender de nada, inclusivepermanece andando com a cadeirinha dofilho no carro e busca Taz na casa da sogra,

trazendo-o de volta para casa após discutircom Becca. Essa discussão é “divisora de águas”e coloca o espectador do filme em dúvida arespeito da possibilidade de o casal se manter

unido. Ao final do filme, somos surpreendidoscom o fato de que eles se mantêm casados,apesar de todas as diferenças de reação àperda, conseguindo encontrar uma forma desobreviver ao evento, porém sem reencontrara felicidade.

O termo rabbit hole (cuja tradução literal seria“toca do coelho”) escolhido para intitular ofilme faz menção à ideia de wormhole4 (buracoda minhoca) da física e à obra  Alice no Paísdas Maravilhas, de Charles Lutwidge Dodgson(1865). Na fábula de Alice, a toca do coelhopor intermédio da qual ela entra em contatocom outra realidade faz crer na possibilidadeda existência de realidades paralelas a essana qual vivemos.

Durante o filme do qual estamos tratando,percebemos menção a essa possibilidadenas conversas entre Becca e Jason, bemcomo em uma revista em quadrinhos que eledesenvolve. Uma interpretação possível darelação entre a história e o título diz respeitoa uma necessidade de Becca e de Jason de

acreditar que Danny está vivo e bem em outrarealidade. Também podemos observar nasvinhetas a seguir algo semelhante:

Heloísa5: “[...] hoje ela é um anjo intercessor,digamos assim, né?, e graças a Deus elaestá bem, né?, a gente tem certeza disso”.

 Janaína: “Eu não sei de onde que eu conseguitanta força. Eu não chorei, eu não fiz nada.Entendeu? [...] Com a fé que eu tinha, eupensei: ‘Isso aqui é só o corpo da minhafilha, ela já está, né?, com Deus”.

Como podemos perceber, a busca por umapossibilidade paralela de continuidade deexistência para o objeto perdido é comumenteobservada na relação dos enlutados com aespiritualidade e com as religiões. A fim dedar continuidade à discussão de questõesrelevantes para a compreensão da perdana clínica psicanalítica, passemos à análisedos tópicos retirados da análise do filme emencionados na introdução do trabalho.

a) A dor da mãe ao deparar-se com aslembranças do filho

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Em seu texto Análise terminável e interminável,Freud (1996a) nos alerta que:

Em estados de crise aguda, a análise é, para

todos os fins e intuitos, inutilizável. Todo ointeresse do ego é tomado pela realidadepenosa, e ele se retrai da análise que estátentando ir além da superfície e revelaras influências do passado. Assim, criarum novo conflito só tornaria o trabalhode análise mais prolongado e mais difícil(Freud, 1996a, p. 248).

Essas considerações acerca da dificuldade de sepensar um tipo de trabalho com as pessoas emestado de crise, tal como as que sofrem a dor daperda de um ente querido, coloca-nos diantedo compromisso de pensar a questão do lutoenquanto uma situação dessa natureza e nosimputa a reflexão na busca pela compreensãoacerca desse fenômeno que, cedo ou tarde,acomete a todos os seres humanos.

 Após a perda do objeto, o trabalho de lutotem início e concentra boa parte da libidoem seu investimento, o que faz com que apessoa enlutada se afaste de todas as atitudesconsideradas normais da vida. Freud (1996e)ressalta que o afastamento do que antes faziaparte da vida do enlutado deve-se ao período

de enlutamento, em que a libido está sendoretirada de suas ligações com o objeto perdido,uma a uma, e que o trabalho acaba quandoo investimento libidinal puder ser destinado aum novo objeto. Assim sendo, Freud (1996e)assevera que o trabalho de luto não deve serconsiderado como uma condição patológica, julgando “inútil ou mesmo prejudicial qualquerinterferência a ele” (Freud, 1996e, p. 249).

 Ao assistir o filme, questionamo-nos o queprovoca tamanha dor na mãe que perde seufilho (no caso desse filme, na personagem

Becca). As considerações trazidas da leiturada obra freudiana apontam que a dor nãoadvém somente da rememoração de fatosenvolvendo o filho, mas da impossibilidadede reviver os momentos com o filho que sefoi, que é constatada no confronto com asinúmeras lembranças. Podemos inferir, portanto,que o enlutado pode preferir não ter contatocom lembranças do ente que se foi comouma forma de recusa a se confrontar com arealidade e de desinvestir do objeto perdido.Na cena em que Howie quase bate o carro e

Becca fica preocupada com o bolo que está nobanco traseiro, podemos perceber que a mãeencontra-se ainda muito ligada à ideia do filhovivo, uma vez que fica evidente a preocupação

da personagem com o filho, projetado no bolo, já que ele costumava ocupar o lugar no bancotraseiro. A necessidade da presença do filhofica evidenciada ao percebermos que Howiecontinua trafegando com a cadeirinha do filhoacoplada no banco de trás.

Mais adiante, Becca resolve desfazer-se dascoisas do filho. As lembranças do filho quepartiu geralmente são suscitadas por cenários,objetos, situações ou pessoas que servemde referência para o fato insuportável dessaperda que não cessa de fazer-se lembrada.O desfazer-se desses objetos que evocam asmemórias do dia a dia com o filho tambémpode ser entendido como uma tentativadesesperada de desligamento do objetoperdido que seja rápida e eficaz, haja vistaa perspectiva de que esse desligamento nãoocorrerá sem um longo período de muita dore sofrimento.

 Ao mesmo tempo em que a realidade revelaque o objeto amado não existe mais, elaprovoca uma grande oposição no enlutado,

tendo em vista que, conforme já afirmamos,ninguém abandona de bom grado uma posiçãolibidinal. Para Freud (1996e) é possível que aoposição à realidade da morte seja tão intensaque origine um desvio da realidade, a pontode a pessoa permanecer apegada ao objetoamado por meio de uma psicose alucinatória(princípio do prazer). Observa que em algunscasos as ordens da realidade vão, aos poucos,podendo ser obedecidas com grande gastode tempo e de energia catexial sendo que,nesse meio tempo, o objeto perdido continuaa existir. Uma a uma, as ligações libidinaiscom o objeto perdido vão sendo desfeitas, emum processo penoso e de extremo desprazer.Concluído esse processo, o ego encontrar-se-ánovamente livre e desinibido.

 A história contada pelo filme mostra que,para a mãe que perde o filho, o processo dedesligamento do objeto é bastante complexo e,segundo nossa experiência clínica, geralmenteimpossível. Para Freud (1996b) o filho estádiretamente envolvido nas feridas narcísicasda mulher. Ele nasce para satisfazer um desejo

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fálico e legitimar a feminilidade, como ilustraa seguinte vinheta:

 Anabela: “Filho é filho, não adianta, pra

uma mãe é um... é uma coisa, assim,extraordinária, não tem. É uma coisavisceral... Isso! É de vísceras. É de... é meioque... é a mesma pessoa! Eu sinto comose eu tivesse perdido... não vou dizer ametade de mim porque eu tenho outrofilho, mas... mas grande parte de mim...grande, quase tudo”.

Como podemos perceber por meio dodiscurso de Anabela, no trabalho com a clínicapsicanalítica do luto e da melancolia é comumno discurso das mães que perdem o filho poróbito a descrição da sensação de sentirem-se sem uma parte delas próprias, como se ofilho fosse para a mãe uma extensão do seucorpo. É sabido que os pais projetam seusideais sobre seus filhos, bem como os filhosconstroem um ideal para o seu ego com basenas concepções e desejos de seus pais. Por essemotivo, essa ligação é repleta de expectativas,pois os pais projetam muito de si mesmos nosfilhos e os filhos respondem a isso de algumaforma. No momento em que ocorre a perdade um filho por óbito, ou seja, quando há orompimento definitivo dessa relação, podemos

compreender por que as mães argumentamque uma parte delas próprias foi perdida.

O lugar que o filho ocupa na vida da mãe vaideterminar a reação à sua morte. A experiênciaclínica mostra que algumas vezes essas mãesestabelecem uma “identificação narcísica”com o filho, processo sobre o qual Freud(1996c) discorre em uma de suas conferênciasintrodutórias. Na medida em que o sujeitoretira sua libido do objeto perdido, sofre umprocesso chamado “identificação narcísica”,que faz com que o objeto se estabeleça noego, projetando-se sobre o ego.

Nesse processo, a mãe projeta o objeto perdidosobre si para não ter de se afastar dele. Trata-se de um dos mecanismos encontrados naclínica, que não podemos afirmar ser o caso deBecca, por falta de dados e pelo fato de o filmeretratar sua perda como ainda relativamenterecente. Contudo, percebemos em Becca ouso de um mecanismo aproximado dessepara lidar com sua perda, que se refere a umaidentificação com Jason, ponto sobre o qual

discorreremos mais adiante por intermédiode Férenczi.

Ligada à questão da dor da mãe que perde

o filho e tem dificuldades de lidar com oque esse deixa para trás, está a fragilizaçãodos vínculos dessa mãe com familiares eamigos. É bastante comum observarmos adesestruturação das famílias diante da perdade um filho, essencialmente da relação maridoe mulher. Trataremos dessa questão a seguir.

b) A dificuldade de relacionamento do casalque perdeu o filho

São evidentes as dificuldades de Becca eHowie em seu relacionamento amoroso após

a morte do filho. As reclamações do maridoem relação à falta de atividade sexual sãopersistentes. Com o passar do tempo, sem ocontato físico e com constantes divergênciasem relação à reação de cada um à perda, vaise tornando óbvia a fragilidade do vínculoentre o casal. Essa fragilidade é deflagradaquando Howie passa a buscar respostas aosseus anseios junto à outra pessoa, uma mulherdo grupo de apoio a enlutados que sofreusua perda há oito anos e que acaba de serabandonada pelo marido.

Imersa em seu sofrimento, Becca parece nemperceber o envolvimento do marido com outramulher. Com a ausência dele, de forma sigilosa,ela começa a se aproximar do adolescenteque atropelou o filho. Gradativamente,percebemos que o casal se afasta das relaçõesfamiliares e de amizade que mantinha antespara estabelecer novas relações com pessoasdiretamente ligadas à sua perda. Nas vinhetasque apresentamos a seguir poderemos ter umamaior compreensão de como isso ocorre navida dos enlutados:

Olga: “Porque a gente fica... difícil delidar. Assim, tenho muita dificuldade emsocializar com as pessoas, assim. Tenho muitadificuldade. Até mesmo com meu marido”.Betânia: “Eu me distanciei de todas asoutras pessoas. Eu tava ali quase 30 anosna empresa, aquele mundo de lá eu nãoquero... as pessoas de lá, canso de ver narua, atravesso, me escondo. Em mercados,passo do outro lado pra não ver, porqueeu me agrupei, me uni com as pessoas quesão iguais a mim” [referindo-se a outraspessoas que perderam um filho].

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Observamos, portanto, que a perda se tornao tema principal e direciona os movimentosda vida. Ainda que tenham se passado muitosmeses desde o evento da perda (como no

caso de Becca), o registro desse tempo édiferente no inconsciente. Freud (1996h) nosensina que a temporalidade do inconscientese diferencia da versão cronológica porquenão a reconhece.

Desde que a distância não tem importânciapara o pensamento – desde que o que ficamais afastado tanto no tempo quanto noespaço pode sem dificuldade ser abrangidonum único ato de consciência – assimtambém o mundo da magia tem um desprezotelepático pela distância espacial e trata as

situações passadas como se fossem atuais(Freud, 1996h, p. 96).

O inconsciente não reconhece a cronologiado tempo porque nele não há o registro dafinitude. É devido à ausência do registro dafinitude que nos lançamos à vida de projetose fazemos planos de longa data, visto que seconsiderássemos o tempo todo que o fimpode se dar a qualquer momento não haveriamaneira de planejar, construir e organizar avida como fazemos: como se fôssemos eternos.Entretanto, a morte de um ente querido nosimpõe um confronto – que é adiável, masinevitável – com a finitude (Freud, 1996g). Aconcretização da finitude é um dos fatoresque contribui para que o casal, ainda muitoinvadido pelo evento da perda e pela dor queisso provoca, não possa estabelecer as relaçõesda mesma maneira que antes. A experiênciade perder um objeto de amor pode levar a umreceio de amar de novo. Renunciar ao amorque se tem por um objeto é como livrar-seda possibilidade de sofrer com a morte dele.

Outra questão que contribui para a dificuldadede relacionar-se refere-se à diferença nasformas de Becca e Howie vivenciarem aperda. Os desencontros do casal vão setornando evidentes na medida em que passama procurar respostas para o mal-estar vividoem casa fora dela.

Diante de tantos desencontros atuais nasrelações após o evento da perda do filho e doconfronto com a finitude dos objetos, qual apossibilidade de reinaugurar os laços de amor?

No final do filme desponta uma possibilidadepara essa reinauguração. Assistimos uma cenabastante interessante que demonstra a formacomo o casal procura ver o futuro. Becca

questiona o marido sobre o que farão no diaseguinte e ele reponde que poderiam fazerum churrasco em família. Angustiada, elapergunta: “E depois?” Então, ele respondecom outro possível plano. A cena seguecom Becca perguntando sobre o depois ecom Howie respondendo por várias vezes,com outros planos. Em dado momento daconversa, podemos ver o início de umamudança. Parece que o tempo já é outro eque já há uma mobilidade, ainda que forçosa.Por fim, Becca questiona Howie: “E então oquê?”; ao que o marido responde: “Eu nãosei, alguma coisa surgirá”.

 A dificuldade de relacionamento do casalperpassa por uma sensação de que a vidanunca mais poderá ter o colorido que tinhaantes. Diante da morte de um filho, impõe-se uma barreira a toda e qualquer sensaçãode prazer. Nossa experiência mostra quepara a mãe que perde o filho, renunciar aosofrimento eterno por sua perda gera culpa,pois há um entendimento de que a mãeque realmente ama o filho nunca mais será

feliz sem ele. Essa falta de permissão para serfeliz e o sentimento de culpa são pontos quediscutiremos a seguir.

c) Sentimento de culpa pela morte do filho

Em determinado momento do filme, Howiepercebe que o vídeo de Danny brincandoque estava armazenado em seu celular foideletado. Instantaneamente, acusa Becca detê-lo apagado em sua ânsia por dar fim emtodas as coisas que lembram o filho. Dianteda acusação, Becca se defende, alegando quetalvez tenha apagado o arquivo acidentalmente.Esse fato leva o casal a reviver novamente oacidente que culminou na morte do filho eambos passam a culpar um ao outro e a simesmos pelo que aconteceu. Becca deixaclaro nessa cena que já haviam passado poroutras discussões parecidas, nas quais foramfeitas tentativas, sem sucesso, de eleger ogrande culpado pelo que aconteceu.

Para Freud (1996i), o sentimento de culpa pelamorte de um ente querido deriva do caráter

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ambivalente do sentimento que mantemospor quem amamos. Isso significa que aomesmo tempo em que amamos, odiamos amesma pessoa. Esse sentimento de ódio fica

relegado ao inconsciente. Essa face negativado sentimento que, por vezes, conduz a umdesejo de morte, também não expresso demaneira consciente, acaba por manifestar-senos sonhos. Eis uma explicação possível doporquê de sonharmos com a morte de entesqueridos.

Vale esclarecer que a expressão de um desejopela morte de um ente querido nem sempreé atual, pode estar deslocada, remeter aconflitos edípicos antigos da vida do sonhador,tal como o ódio pelos pais. Esse sentimento,a título de exemplo, vem representado nossonhos em que os pais morrem. O problemaé que quando o ente querido morre, a facenegativa do sentimento que está no inconscienteacaba satisfeita e isso pode gerar um enormee ininteligível sentimento de culpa naqueleque mais amava o morto.

Como a libido que a mãe investe numfilho algumas vezes é de teor narcísico, odesinvestimento objetal diante da morte dofilho pode abrir portas para um movimento de

identificação narcísica (conforme explanadono item a).

[...] a identificação é uma etapa preliminarda escolha objetal, que é a primeiraforma – e uma forma expressa de maneiraambivalente – pela qual o ego escolhe umobjeto. O ego deseja incorporar a si esseobjeto, e, em conformidade com a faseoral ou canibalista do desenvolvimentolibidinal em que se acha, deseja fazer issodevorando-o (Freud, 1996f, p. 255).

O ego faz a identificação com o objeto e o ama

com tal intensidade que deseja devorá-lo. Sãocomuns brincadeiras em que os pais se referema seus bebês como “coisas gostosas que dãovontade de morder”. Diante da perda do bebê,a ambivalência empresta ao luto um conteúdopatológico que força à autorrecriminação, “nosentido de que a própria pessoa é culpadapela perda do objeto amado” (Freud, 1996f,p. 283) em função de desejos primitivos emrelação ao objeto. Esse tipo de autotorturatem algo de agradável ao sujeito e significauma forma de presentificar o objeto perdido.

Muitas mães demonstraram sentir culpa emrelação à morte de seu filho como podemosobservar nas vinhetas apresentadas a seguir:

Betânia: “Tenho o sentimento de culpa eme pergunto sempre: será que se eu nãotivesse ido pra outro hospital, se não tivessetalvez outros médicos, quem sabe se eutivesse levado pra outro não tinha sidodiferente (...) Sempre a gente se culpa. Porque eu não vi isso? Por que não vi aquilo?” Janaína: “E... tinha ‘um porém’: que eutambém achava minha culpa. Eu, além deperder, ainda achava que era minha culpa.(...) Mas só que eu punha em mim a culpa:‘Ai, meu Deus, por que que eu fui deixar elair trabalhar, ai, meu Deus, por que que...’,sabe? Então, aquela culpa me machucava

muito! E daí eu falava muito no grupo [deapoio a enlutados] sobre a culpa”.

Parece, portanto, ser bastante comum queaqueles que perderam pessoas amadas falemsobre uma culpa aparentemente inexplicávelpela morte do objeto amado.

Quando uma esposa perde um maridoou uma filha, a mãe, não é raro acontecerque a sobrevivente fique atormentada pordúvidas atrozes (às quais damos o nome de“autocensuras obsessivas”) quanto a se ela

própria não poderia ter sido a responsávelpela morte desse ente querido através dealgum ato de descuido ou negligência.Nenhuma quantidade de lembranças docuidado que prodigalizou ao sofredore nenhuma quantidade de reputaçõesobjetivas a acusação servem para dar fimao tormento (Freud, 1996h, p. 73).

Como não podemos expressar o ódio quesentimos pelos entes queridos, os mecanismosde defesa atuam e realizam a projeção dossentimentos hostis para lugares e objetos emque esses sentimentos podem ser descontados,como no trânsito, nos estrangeiros, naquelesque nos prestam serviços etc. Contudo, aindaque essa dinâmica de deixar a hostilidadede fora seja bem-sucedida, o sobreviventeapresenta características de castigo e remorso.Imerso em uma civilização repleta de culpa ede temores, o sujeito se submete a renúnciase restrições em função de sua culpa.

Para Freud (1996c), quando perdemos alguémque amamos é provável que a parte ambivalenteque desejava essa morte nos torne culpados e

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merecedores de punição. Diante da perda, ossentimentos hostis que conservávamos por essapessoa estão agora sanados. Toda raiva, medoou ódio que tínhamos está derrotado. Somos,

portanto, vencedores. Todavia, passamos aconviver com uma grande culpa que retornapara nosso eu, tornando-nos fadados à ruínapor esse êxito.

Dessa forma, o enlutado pode se manterinsatisfeito e infeliz, passando a contar coma possibilidade de punição como forma deredimir a culpa, como podem, por exemplo,ser encarados o adoecimento ou a depressão.

 A dor sentida pela mãe que perde o filhoparece produzir modificações em sua visãoe no sentido que atribui às coisas. No filme,há uma cena em que Becca vai ao grupo deapoio a enlutados e escuta um casal dizer queDeus levou seu filho porque estava precisandode anjos no céu. Becca fica furiosa com o queescuta e questiona por que Deus haveria delevar o filho deles, ao invés de tão somenteassoprar e criar um novo anjo, tendo em vistaque é onipotente. Parece que para Beccanão há possibilidade de uso de qualquermecanismo para fantasiar a realidade do queaconteceu. Muitas mães relatam sentimentos

de revolta com seu deus e/ou com a natureza. Além disso, relatam a insatisfação por algotão penoso, como a morte de um filho, teracometido justamente a sua vida e não a vidade outra pessoa.

Sara: “Você perde a sua... em primeiro lugar,a sua fé em Deus. Em segundo lugar, vocêperde o chão, você perde parte da sua vida”.Betânia: “E todos os dias... as pessoas vãoembora... muitas, muitas e muitas, masapesar disso a gente não entende, sabe?,não consegue entender por que o meu?

Por que o meu? Por que o meu? Pode sercom o vizinho, mas não pode ser o meu,mas o vizinho vai passar pela mesma dorque eu. Então é assim”.

Essas falas nos mostram como a morte deum filho parece inserir na vida dessas mãesuma revisão de valores. As mães fazem partede um grupo de apoio a enlutados (AmigosSolidários na Dor do Luto, do qual tambémparticipamos, observando) e, nesse contexto,é comum ouvirmos as mães que perderamfilhos dizerem que não veem mais sentido em

assistir televisão, comprar roupas novas, passearno shopping ou conversar sobre a vida alheia.Elas relatam que gostam muito de conversarsobre o filho falecido, mas ninguém quer

ouvir disso. Observamos que o que mais asinteressa em termos de programa de televisãosão os noticiários que trazem notícias diáriassobre as tragédias ocorridas. Vamos abordarmais detalhadamente, no próximo tópico, aquestão da revisão de valores.

d) Mudança na atribuição de sentido às coisasda vida após a experiência da perda

Em diversas cenas do filme, a personagemBecca aparece com um posicionamento diantedas coisas que advêm de sua experiência deperda. Na cena em que ela aparece na reuniãodo grupo de apoio a enlutados fica evidente adiscordância que ela apresenta em relação àforma como a morte é significada pelos demaisintegrantes do grupo. Ali, ela mostra que não háo que possa explicar ou justificar o que ocorreucom seu filho e passa a não mais poder toleraras explicações, a “verdade” das outras pessoas.Nas cenas em que a mãe dela tenta compartilharsua experiência de perda com a filha, visandoreconfortá-la, Becca rechaça o discurso damãe como se essa não pudesse compreender

sua dor, por se tratar, em sua percepção, dealgo diferente do que a mãe passou, tendoem vista que Danny era pequeno e inocente,enquanto seu falecido irmão era adulto esempre tinha atitudes inconsequentes.

Freud (1996e) nos ensina que uma característicaimportante do melancólico é o fato de ele julgar possuir uma visão mais próxima daverdade do que as pessoas que não sãomelancólicas. O melancólico é capaz dereconhecer seu egoísmo, desonestidade,carência de independência, enfim, suasfraquezas. Isso ocorre porque ele perde apossibilidade de continuar vivendo sob umaégide de ilusões. Freud (1996e) questiona:“por que um homem precisa adoecer parater acesso a uma verdade dessa espécie”?(Freud, 1996e, p. 252).

Por intermédio dessa compreensão, podemosentender por que Becca não aceita que aspessoas atribuam sentidos sobrenaturaispara a morte de seu filho. Se ela aceitasse asexplicações acolhedoras que lhe são ofertadas

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isso poderia retirá-la de sua verdade cruae dolorosa da vida, como descrita no itemanterior. Parece-nos que o traço melancólicodetentor de uma verdade própria e desmentida

da vida se impõe a Becca.

É diante dessa compreensão que a vida perdeseu colorido e tudo parece ficar mais “cru”.Quem perdeu alguém e recaiu na melancolianão tem mais o álibi das ilusões e pode chegara sentir imenso desprazer em festividadese datas comemorativas, bem como nãoreconhecer possibilidade de satisfação ematividades que envolvam compras, eventosque são socialmente instituídos como fontesde prazer. A culpa já explorada anteriormentetambém se associa a essa desvalorização doprazer. As falas de mães parecem retratar essepanorama, de modo que podemos perceberque o luto pode representar uma ruptura comalgumas ideias e concepções ou até mesmoatividades que antes da morte de um filhopareciam fazer bastante sentido.

Olga: “Meu mundo caiu, foi horrível.Me senti muito, assim, não dá nem pradescrever. (...) Tudo vem à tona. Tudo vai,assim, teus sonhos, as coisas que vocêimaginava passar com a tua filha, tudo issovai pro ralo, né?, de uma hora pra outra”.

Eliza: “O desespero era tão grande, a dorera tão grande que eu não via mais o mundolá fora. Eu não sentia mais que tinha umavida. (...) Por mais que eu tenha mais doisfilhos era como se eu não tivesse maisninguém, era como se eu estivesse perdidano universo. (...) E eu não me importo maiscom nada, assim, de vaidade, de ter coisas. A gente pensava em ter uma casa na praia;hoje a gente já não quer mais. A gente nãoquer ter além daquilo que a gente tem,o básico, porque nada mais nos alegra”.

Podemos, a partir desses trechos, observar quealgo que costuma ocorrer nesse processo dizrespeito a uma intolerância com quase todasas pessoas que, segundo a visão melancólica,insistem em fechar os olhos para o adventoda morte e continuam sorrindo, comprandoe dando festas sem perceber que a qualquermomento isso pode as acometer.

Para Freud (1996d) a fixação afetiva em algoque é passado que acontece no luto, envolvea mais completa alienação do presente edo futuro. Permanecendo completamente

absorvida psiquicamente no passado, a pessoaem luto patológico pode se isolar dos planose projetos que podem tirá-la desta fixação.Essa questão nos conduz ao tópico que segue.

e) Intolerância à “felicidade” alheia e buscapor isolamento

 As principais cenas que demonstram umaintolerância por parte de Becca à felicidadealheia se referem à repentina gravidez de suairmã solteira. Há uma cena em que Becca, queaparentemente sempre cuidou de sua irmãcomo uma filha, vai à delegacia retirar a irmãda prisão e em seguida a acolhe, alimenta epassa um sermão dizendo a ela que deixe deser criança. Posteriormente, quando Beccadescobre que a irmã está grávida, faz umasérie de atos que demostram seu incômodocom o fato. Parece que, devido à perda dofilho, Becca não pode entrar em contatocom a satisfação da irmã em ser mãe. Emoutra cena, a protagonista também se mostraincomodada quando na biblioteca vê a cenade uma mãe lendo descontraidamente paraa filha pequena.

 Analisando essa situação pela óptica dacondição melancólica, Freud (1996e) compara

a melancolia a uma ferida aberta que atrai parasi todas as energias catexiais. Essa ferida esvaziao ego até que fique totalmente empobrecido,daí a intolerância a qualquer imagem do outrosatisfeito. Freud (1996f) explica que ao nosdepararmos com a morte do ente queridosofremos de uma paralisia pelo pensamentode quem poderá substituir o objeto perdido.

Os pensamentos giram em torno do mortoe do tema da morte o tempo todo. Então,como Becca poderia lidar com as pessoasque continuam a viver sua vida e a dar festas,conseguindo manter distância do contato coma finitude? Uma possibilidade é a busca peloisolamento. Manter-se afastada do convíviocom as pessoas e com a “felicidade” alheia éresposta à dificuldade de lidar com essa alegriaque passa a pertencer somente ao outro, nãomais à mãe que perde o filho.

 A questão do isolamento aparece na relaçãode Becca com a família, com quem se mostrasempre refratária e também, como vimos, como marido. Além disso, ela rejeita de todo a

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ideia de se reunir com os vizinhos para jantare não tolera os integrantes do grupo de apoioa enlutados.

Parece que Becca não consegue mais amarninguém após a perda do filho. Tudo o quenão diz respeito a ele é vivido com insegurançae incômodo. Isso pode ser explicado, comovimos, pelo próprio processo de luto, conformedescrito por Freud (1996e). Porém, caso setrate de uma melancolia, essa resolução parecenunca ocorrer. Vemos nas falas das mães umagrande preocupação com o isolamento, tantono que diz respeito a elas mesmas isolando-sedo convívio social ou familiar, quanto no fatode as pessoas afastarem-se delas.

Ivana: “E que tinha outras pessoas, que eunão tava nesse mundo sofrendo sozinha,porque eu me sentia assim, porqueamigos se distanciaram. Ou eu fui medistanciando e distanciando eles, né? Eutinha dias que não atendia nem o telefone.Então, é lógico que quem não é vistonão é nem lembrado, né? E eu nem mepreocupava em procurar alguém, nada”.Eliza: “E os amigos antigos, esses ficarampra trás. No início, eu achava que erameles que tinham me abandonado. E hojeeu acho que fui eu que abandonei eles”.

 A tendência ao isolamento é grande, emgeral parecendo ao enlutado que são osoutros que o estão ignorando porque nãopodem lidar com a sua dor. O afastamentoda família e dos amigos costuma ocorrer jáque, aparentemente, a convivência com elesexacerba a dor por rememorar a época emque o filho estava vivo.

Contudo, chamamos a atenção do leitor paraalgo que contradiz tudo o que foi dito até omomento e que aparece no filme. Trata-se

do fato surpreendente de Becca desejaraproximar-se daquele que está mais próximodo evento da perda e que causou a mortede seu filho. Como, a partir da Psicanálise,poderíamos compreender essa atitude deBecca? Férenczi dispõe de uma teoria queversa sobre a possibilidade de uma identificaçãocom o agressor, a qual apresentaremos a seguir,com o intuito de lançar luz a essa questão deteor tão enigmático ao espectador do filme.

f) Identificação da mãe com o agressor

Becca passa a desejar e a insistir em estar napresença do adolescente evitando ser vista e,quando toma coragem, convida-o a encontrar-se com ela para conversarem. Depois desse

primeiro encontro em que conversam sobreo evento da morte de Danny eles passam ase ver com frequência. Ao que parece, Beccadesenvolve um afeto maternal por Jason e tentaagradá-lo e participar cada vez mais de suavida. Todo o desenrolar das cenas de Beccacom Jason indica que ela fez uma identificaçãocom aquele que matou seu filho.

 A partir da teoria de Ferenczi a respeito dotrauma desestruturante, que ocorre em doistempos, e admitindo que o evento da perdado filho tenha sido algo traumático para Becca,podemos entender o processo de identificaçãoque ela faz com o assassino do filho. Férenczi(1966) explica que, em um segundo tempo dotrauma – nesse caso, o tempo em que Beccareencontra Jason, após o primeiro tempoem que ele atropela seu filho –, a realidadeinsiste em mostrar para a vítima que o dadotrágico é incontestável. O reencontro com Jason reafirma definitivamente a ausência e amorte de seu filho. O trauma que se instauranesse reencontro é tão desestruturante quepara Becca não resta mais nada a não ser

identificar-se com o “agressor”. Férenczi (1966)afirma que o segundo tempo do trauma fazcom que a vítima se cale e com que atinjao máximo grau de ansiedade, de forma quepassa a esquecer-se de si mesma e fantasiaser o desejo do agressor, identificando-se comele (Férenczi, 1966).

Diante da identificação com o agressor, essedeixa de fazer parte da realidade externa e passaa fazer parte da realidade interna da vítima. Essemovimento em que o agressor passa existir paraa vítima intrapsiquicamente é denominado de“introjeção”. Por se configurar uma realidadeintrapsíquica, a vítima consegue remodelaros acontecimentos violentos, quaisquer quesejam, de maneira alucinatória, positiva ounegativamente, pois não se trata mais de algoextrapsíquico e solidificado. Dessa forma, nocurso do transe traumático, torna-se possívelpara a vítima desenvolver certa ternura peloagressor (Férenczi, 1966).

 A ternura que Becca desenvolve por Jason acoloca em “maus lençóis” com Howie quando

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6 Podemos observar esseacontecimento em diversas

situações de violência, comona Síndrome de Estocolmo,

na qual a vítima simpatiza e

se identifica com o agressor,chegando a defendê-lo de

acusações publicamente.

ele descobre que ela se encontrava com ogaroto para conversar. A reação de Howie éde extrema agressividade contra Jason, vistoque não faz a mesma identificação com ele.

Parece que Becca consegue dissolver essarelação com Jason quando vê que ele está seformando e que em breve estará deixando acidade; deixando-a como Danny a deixou. Nomomento em que Becca parece dar-se contadisso, ela começa a chorar desesperadamente,sentindo mais uma vez a dor da perda. Contudo,é essa fragilidade em que ela adentra quepermite um “reencontro” com o marido e abusca por uma possibilidade compartilhadade sobrevivência à perda do filho.

 A questão enigmática retratada nesse tópicodá abertura a outras interrogações que clamampor mais escuta e pesquisa: por que Becca nãosente raiva de Jason? Por que ela desenvolveuma maternagem com ele? O que isso tem aver com o sentimento ambivalente de Becca depassar a “amar” aquele que matou seu filho?

Uma possibilidade para pensar essas questõesé pela via da própria identificação. Na medidaem que abrimos hipótese de uma identificaçãoter sido feita com Jason, estamos lidando

com uma ferida de ordem narcísica que está“tapada” por esse mecanismo6. No momentoem que Jason termina o colegial e que ficaclaro que ele também deixará de fazer parteda vida de Becca, ela finalmente entra emcontato com a devastadora dor da perda,mostrando-se frágil. É nesse momento queela adentra num processo juntamente com omarido, que parece dizer de um luto.

Contudo, como de costume, um trabalhopsicanalítico que tem início com uma oualgumas questões centrais termina com mais

questões em aberto do que com respostas. As perguntas que acabamos de expor e quedeixamos em aberto a outras interpretaçõesestão aí para indicar a complexidade do temaretratado e a possibilidade de continuidadee aprofundamento do trabalho.

Considerações finais

 A realização da proposta do presente trabalhodeixa clara a importância de tentar compreenderdo que se tratam as reações à perda de um

ente querido quando o investimento libidinalrealizado é intenso, como o dos pais para osfilhos. Diversas reações e atos diante da perdafazem pontos de interrogações à Psicologia,

que deve se ocupar dessas questões visandodesenvolver uma postura, bem como intervençõesmais voltadas ao sofrimento relativo à perdados objetos amados.

 As falas das mães que perderam filhos apresentadasneste artigo carregam consigo o peso de umaperda devastadora. O trabalho clínico comessas mães remete a uma especificidade,principalmente quando se constata que ovínculo estabelecido entre mãe e filho é deordem narcísica. A magnitude do sofrimento

é soberana, pois é como se a mãe perdesseliteralmente um pedaço de si.

O trabalho com essas mães mostra que nãohá tempo que baste para a elaboração daperda. A dor é infindável. Parece não haverelaboração possível, tendo em vista que umfilho não é objeto substituível. Percebe-se,inclusive, uma acentuada dificuldade de asmães aceitarem que seus filhos morreram.Diante dessa situação, acabam por desenvolvermecanismos de defesa como, por exemplo,

recorrer ao pensamento de que o filho estáapenas viajando e incomunicável no localonde está hospedado.

 A perda do filho abre um buraco, uma grandeferida narcísica que afunda as mães em severosquadros melancólicos. Nos primeiros tempos,elas não querem sair da cama nem mesmopara comer ou tomar banho.

O papel da Psicanálise trata de conceder umlugar de sofrimento para a mãe que perde

o filho sem, contudo, deixar que ela recaiacompletamente no lugar de vítima, para quepossa fazer um “giro” da morte em direçãoà vida.

Para isso, parece ser necessário um manejode muita paciência, mas também de cortes,pois a tendência das pacientes costuma serenvolver o analista em sua trama melancólicae convencê-lo de que nada pode ser feito.Trata-se de um trabalho difícil, de longoprazo e que envolve a difícil escuta de falas

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constantes acerca da morte, da decomposição,da violência etc.

Sabemos que o culto ao morto vem perdendo

espaço na sociedade. Os velórios estão maiscurtos, o tempo de enlutamento diminuiu e aspessoas não aguentam ouvir as histórias sobreo morto. Na contramão dessa tendência, épossível afirmar que este trabalho possibilitou-nos

pensar a questão do luto e da perda apartir de mais um subsídio – o filme –, quealém de ser bastante fiel ao que se observaclinicamente na realidade, é um material

acessível à comunidade, o que é interessanteno sentido de permitir que as pessoas entremem contato com esse tema que é de todosmas que é cotidiana e convenientementeapagado de nossas vidas.

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Maria Virginia Filomena CremascoPsicóloga. Psicanalista. Doutora em Saúde Mental (Unicamp, 2002) e pós-doutoradoem Psicopatologia e Psicanálise (Université Paris VII, 2010). Diretora do Laboratório dePsicopatologia Fundamental da UFPR (CNPq). Organizadora, dentre outros, dos livrosTrauma, Traços e Memória pela Editora CRV, 2013 e Solidarity,Memory and Identity pelaCambridge Editors, 2015. Professora Associada do Departamento e do Mestrado emPsicologia da Universidade Federal do Paraná, Curitiba - PR. Brasil.E-mail: [email protected]

Dhyone Schinemann*

Psicólogo formado pela Universidade Estadual do Centro Oeste (2009). Trabalha com aclínica psicanalítica em consultório particular. Mestre em Psicologia Clínica no Programade Mestrado em Psicologia da Universidade Federal do Paraná (2014), Curitiba - PR. Brasil.

*Bolsista da CAPES - Brasil. E-mail: [email protected] de Oliveira Pimenta*

Psicóloga formada pela Universidade Federal do Paraná (2011). Trabalha com a clínicapsicanalítica em consultório particular. Mestre em Psicologia Clínica no Programa deMestrado em Psicologia da Universidade Federal do Paraná (2014), Curitiba - PR. Brasil.*Bolsista da CAPES - Brasil. E-mail: [email protected]

Endereço para envio de correspondência:Universidade Federal do Paraná, Praça Santos Andrade, 50, sala 211. Centro.CEP 80060-240 - Curitiba - PR. Brasil.

Recebido 13/11/2013, Aprovado 27/11/2014.

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Mã P d Filh L it P i líti d Fil R bbit H l

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Observatório Astronômico Frei Rosário. Viagensno tempo, túneis no espaço e suas implicaçõesna história da humanindade. Belo Horizonte.Recuperado em 7 de julho de 2013, de http:// www.observatorio.ufmg.br/pas68.htm