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LUÍS GERALDESBLACK
SATURDAYPINTURA
LUÍS GERALDESBLACK
SATURDAY
FICHA TÉCNICA
LUÍS GERALDES | BLACK SATURDAY
COMISSÁRIOAntónio MeloMONTAGEM
Joaquim Fraklin | Marco SalamancaTEXTOS
Edgardo Xavier | Julie Adams | Cristina Azevedo TavaresBernardo Pinto de Almeida | Ashley Crawford
FOTOGRAFIAPhotography Studio & Research: José S. Julião e Masayuki Kondo
DESIGN/LAYOUTRicardo Romão
COORDENAÇÃO EDITORIALAntónio Melo
EDITORISPA - Instituto Universitário
IMPRESSÃOPAC - Artes Gráficas
ISBN: 978-989-8384-42-3DEPÓSITO LEGAL: 415444/16
EXPOSIÇÃO NA GALERIA MALANGATANAOUTUBRO/NOVEMBRO 2016
LUÍS GERALDESBLACK
SATURDAYPINTURA
Lisboa, 2016
LUÍS GERALDES
Luís Geraldes nasceu a 15/05/1957 em São Jorge da Beira, Portugal.
Um Beirão de Alma Judia/Lusitana que em 1961 vai viver para Angola e regressa a Portugal como refugiado da guerra civil em 1975.
Depois de se licenciar em Arte e Design na Creative University em Lisboa lecionou na escola técnica Campos de Melo na Covilhã e na Sebastião e Silva em Oeiras.
Em 1985 emigra para a Austrália e inicia as suas actividades profissionais no Western Institut em 1988 como professor de Arte. Em 1991 e durante 5 anos leciona no prestigiado instituto RMIT em Melbourne. Em 1995 vai viver para uma floresta a 150km da cidade de Melbourne entre o Morwell National Park e o Tara Bulga National Park, onde estabelece o seu estúdio artístico e leciona no Central Gippsland Institut em Morwell/Federation University até 2000. Lecionou Arte, Design e Tecnologias desde 2000 no Lavalla College até se reformar do ensino em 2012.
Luís Geraldes é detentor de uma Licenciatura, duas Pós-graduações, um Mestrado e um Doutoramento nas áreas de Belas Artes.
A sua vasta obra de Arte espalha-se por cinco continentes não descurando Portugal, onde a sua obra está representada em variadas coleções, entre outras, no Museu do Chiado, na Cultugest CGD, no Museu de Arte Moderna do Funchal, no Museu da Guarda, no Museu Francisco Tavares Proença Júnior em Castelo Branco, além de inúmeras coleções privadas e públicas.
Em Portugal, Luís Geraldes tem trabalhado com as prestigiadas Galerias de Arte São Francisco, São Mamede e ARQUE, em Lisboa, bem como a Miguel Bombarda, de Dário Ramos, no Porto.
A destacar a obra pública em vários países, nomeadamente em Portugal no Tribunal de Mondim de Basto (pintura mural com 24m2), no Campo de Golfe Vila Sol, Algarve (escultura com 4m de altura). Na Austrália destacam-se quatro murais de cerâmica em Sydney e Melbourne, num total de 150 m2.
Atualmente a obra de Luís Geraldes está a ser representada pela Galeria MIISO (Rua de São Bento 309, Lisboa). Está representado em Galerias de Nova Iorque (EUA), Madrid (Espanha), Londres (Inglaterra) e Melbourne (Austrália).
Luís [email protected]/geraldesart+351 914 543 842+61 411 401 738
SUBMERSOS NA PINTURA DE LUÍS GERALDESpor EDGARDO XAVIER
(AICA Portugal)
O todo é maior do que a soma das partesAristóteles
Pintura forte. Forte pelas pulsões, pelo cromatismo intenso, por remeter a uma ancestralidade rudimentar que vai de África ao infinito e que, não obstante a poética e a magia, a intensidade dramática e o apelo permanente à interiorização dos registos, não é antropocêntrica. Dir-se-ia que o homem é aqui chamado à partilha de universos e energias comuns, de vertentes que o ligam ao espaço, à tal quinta-essência, ao éter. Temos em nós todos os mundos?
Irmanados com seres híbridos que são parte integrante de um estado espiritual e estético que contempla a variação da vida nesta conceção holista de existência e posse, de partilha e integração, somos apenas a referência que nos coloca como agentes potenciais de diálogos intergalácticos extemporâneos ou todas as citações se usam para promover novos caminhos de gnose? O nosso planeta é uma Arca de Noé à deriva ou somos apenas mais uma de muitas vozes na solidão do universo?
Terra, Ar, Fogo, Água, Espírito. Bases do todo, porções da intimidade no caldear dos segredos ou também resposta às hesitações do entendimento?
A possibilidade estriba o tema privilegiado nesta série de pinturas de Luís Geraldes. Vista como um surrealismo expressionista a obra deste artista plástico força-nos, no entanto, a abordagens que faremos situar no domínio das hipóteses mais delirantes como se o real, pela dimensão e inacessibilidade, estivesse a salvo de definição cabal. Mas, dizemos nós, há também a crença, a especulação, o sentido mágico de fenómenos por explicar, o prazer de achar no longínquo o que se contesta no mundo tal como se nos apresenta, nu de teorias, hipóteses ou postulados.
Olho a pintura e regresso à África das lendas, raiz de mágoas e poesia, de humanos que vestem a pele dos animais para que os espíritos possam gerir mais e melhor, o que nunca tocarão com a força meramente física. Olho e volto a sentir que, sendo outro, me igualo pelo esforço, pela dor ou pela necessidade de ser e prevalecer a quem habita noutras dimensões do Espaço, noutros locais do absurdo ou do mistério.
Sintra, 13 de Junho de 2016
PILGRIMAGE TO AN UNKNOWN DESTINATIONby JULIE ADAMS
(Head of Faculty and Gallery Director, Gippsland Centre for Art and Design)
I am a traveller on a journey and I stand, in the middle of a vacant space looking upward into the sky of inky blackness pierced by stars. I stand on the edge of the cliff and am motionless as the thundering waves push to the shore and suck away again. I sit on the very top of the
mountain I have just climbed, and soak up the heat of the sun and feel the caress of a gentle breeze and I stand, staring out to the shimmering desert horizon, listening to the plaintive
cry of birds soaring in the thermals. Euphoria and melancholy wash over me for I am nothing and everything. I am the centre of the universe and I am a mere speck in time.
The traveller is speaking of universal experiences that trigger a consciousness of existence, a state of contemplation that gives us an awareness of life and death, of time and space. It brings us to the inexplicable, the invisible, the intangible, the magical, and the consequential desire to know and explain. Science, art and religious belief systems have always attempted to fulfil that desire, to search out meaning and explanation, to establish some sense of connection and equilibrium.
The work of Luis Geraldes is born out of the same desire. Geraldes is concerned with a search for the connectedness of things, the crossing of boundaries, the bringing together of mind, body and spirit. Through his interest in eastern and western belief systems, and the rituals and ceremonies of ancient cultures, he is investigating those things that are common to us all, the threads that bind the present with the past and the future. At the same time he is looking at how contemporary science is attempting to explain the make up of the world, the creation and survival of all things.
Luis Geraldes work’s in this exhibition bring together things felt and knowledge gained. The paint itself has a physical presence; attention is brought to the very materiality of these works, the stuff of matter. The implication of land, sea and sky come through the divisions in the composition of the images, and we sense a suggestion of the elemental forces of earth, wind, fire and water. The symbols are derived from abstract scientific diagrams concerning, atoms, neutrons, protons, but also ancient cultures referencing the circle of life and the egg of creation. The combined result is a certain vibration, an energy, a pulse within the work. There is a sense that within these images there is life and death, loss and hope, a continuum. They are the diary of a traveller.
Monash University, Melbourne, July 2000
Arquivo
Arquivo
UM MANTO UNIVERSALpor CRISTINA AZEVEDO TAVARES
(ESBAL, AICA Portugal)
Por circunstâncias várias e que agora não vêm ao caso, escrevi sobre a pintura de Luís Geraldes já há muito tempo em 1992, quando este mostrava as suas obras numa galeria do Chiado. Desconhecia por completo quem era, mas a sua obra de forte colorido e com alguma inclinação pela expressão primitiva - que entretanto pude identificar com alguma arte africana e aborígene, e reconfirmar pelas passagens do autor por Angola para onde foi viver com quatro anos e donde regressou a Portugal em 1975 e Austrália, país onde vive e trabalha desde 1985, chamou-me particularmente atenção.
Na altura surgiu-me como uma obra diferente do que se praticava na Europa, e especificamente entre nós, portugueses, onde a discussão em torno do pós-moder-nismo, as propostas minimalistas e as neo-conceptuais eram as mais pertinentes. A organização das composições plásticas, o sentido feérico da cor, a utilização de elementos simbólicos de inspiração ancestral de diversa proveniência salientavam uma dominante expressiva que tanto se podia radicar nas correntes da arte bruta e nos informalismos mais variados. Ao mesmo tempo percebia-se a necessidade do pintor em desenvolver uma mediação equilibrada entre a construção das pinturas e os desígnios de uma liberdade formal e cromática plenamente conseguida, que ainda se encontrava numa fase de maturação.
Posteriormente Geraldes apresentou-se várias vezes em Portugal em espaços diferentes e mais recentemente realizou uma grande escultura em ferro: metade pássaro e a outra metade figura humana, com uma meia lua em cima da cabeça, intitulada “Gaivota”, símbolo da região algarvia e que se encontra integrada no Museu de Escultura ao Ar Livre, e exposta no Campo de Golfe de Vila Sol.
Se a escultura em termos de representação da figuração se identifica claramente com a pintura, como aliás podemos constatar na presente mostra, sugerindo-nos protagonistas construídos em madeira e pintados que ganham vida, saem dos quadros e corporizam volume, é ainda de salientar também uma outra obra realizada em cerâmica que foi levantada em 2003 na Austrália, e cuja linguagem se desenvolve em plena articulação com a restante.
Trata-se de um grande mural com cerca de 30 metros de comprimento e três metros de altura, colocado em Sydney numa rua do bairro português de Petersham. Este mural cerâmico constituído por cerca de oito mil azulejos levou um ano de trabalho a ser concretizado, e sinteticamente podemos dizer que evoca a história do universo desde o big bang e a aventura da humanidade através da história até aos dias de hoje.
É um pouco dessa memória trabalhada, que Geraldes tem apresentado fragmentariamente nas suas exposições. Fragmentária porque por vezes encarna ciclos, séries, ou desejos de uma representação do espaço, do tempo e da história do universo e da humanidade cruzada pelos diferentes modos de fazer.
Particularmente nesta exposição na Arqué essa articulação até mesmo com o mural de Sydney pode ser explorada nas telas de maiores dimensões intituladas “Transient images, fragility of the divine”, “Bristling energy” e “Man is contained in the universe and the universe is contained in man”.
Os nomes reenviam-nos para os temas que Geraldes tem trabalhado e investigado desde sempre como a relação entre o mundo material e o mundo espiritual, entre a ciência e a arte, entre o microcosmos e o macrocosmos, a identificação dos cinco elementos, a divisão da tela em cinco partes, a passagem da energia e o binómio espaço e tempo. Independentemente da identificação de alguns símbolos como o ovo cósmico, a mandala, o D.N.A., o átomo ou a divisão celular, estas obras laboram um imaginário latente, uma espécie de magma que representa o “inconsciente colectivo” que Jung referiu nos seus textos.
Nesses quadros grandes assim como noutros, o pintor acede a mecanismos de produção semi-automática, onde o controle da lógica do quotidiano é enfraquecido, para dar lugar a uma expressão, mais livre e próxima das forças vitais que habitam em nós, e que estranhamente ou não, nos ligam ao restante universo simultaneamente energia e matéria. Colocando as telas sobre a terra e atirando tinta sobre o suporte, um pouco à maneira do processo de dripping utilizado por Pollock, Geraldes imprime ritmo e decifra formas. Será o mero acaso responsável pelo resultado, que já na renascença fazia cuidar Leonardo Da Vinci?
Na realidade é também o fazer do pintor, o trazer à tona aquilo que estava soterrado. Assim as pinturas podem associar águas e montanhas aos nus femininos, ou a animais imaginários, podem restabelecer a respiração entre a terra e o céu e fecundar o ovo cósmico mais uma vez reabilitando uma visão espiritualista e não somente esotérica, como se tem dito acerca da obra de Luís Geraldes.
Muitas das obras que apresentam figuras deslocam-se no sentido da representação da máscara como em “At the edge” ou “Floating existence” num magma de azuis e verdes”, ou inspiram leituras mais complexas em “Fragments of life”, ou “Fragments of a dream” onde o pássaro surge, identificado noutras telas como o pássaro do paraíso. A alquimia está igualmente presente “Show me the way”, “In search of a lost legacy”, mas as figuras recortadas com cabeça de pássaro e corpo multicolor como em “Called to prayer” indicam um registo ancestral que passa pelos rituais mágicos, pelas máscaras utilizadas pelos xamanes e que recortam essa memórias dos tempos de Angola agora cruzada nas vivências mais recentes do continente australiano.
Assim Geraldes pôde elaborar uma linguagem modelada no neo-expressionismo articulando o poder sintético e simbólico da representação nas culturas ancestrais, com a economia da B.D. e o poder comunicativo dos grafitos, além de estar próximo de outros artistas actuais, inclusive australianos. Ao longo do tempo houve sempre artistas plásticos que exploraram as vias especulativas da teosofia à escatologia. E de facto existe uma história para ser recordada desde a antiquíssima procura do rectângulo de ouro nas geometrias sagradas, até à representação da perfeição, que o painel “Começar” de Almada Negreiros nos dá também conta.
Do caos à ordem, do inferno aos céus, ou o inverso, a descida abissal e a vertigem do oculto, tudo isto pode ser percebido na pintura de Luís Geraldes, mas esta permanecerá como um manto de magma donde tudo provém e onde tudo retorna, dos laranjas e vermelhos tórridos que não se apagam jamais, e que vibram com os verdes das águas e o azul.
Maio 2005
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A ARTE MÁGICA DE LUÍS GERALDESpor BERNARDO PINTO DE ALMEIDA
(Professor Catedrático na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, AICA Portugal)
Foi André Breton quem, já na última parte da sua aventurosa vida, depois de ter inventado e animado os dois fôlegos sucessivos do Surrealismo - o histórico e o outro, o traumático, pela margem do qual chegariam à cena artística nomes tão inesperados como os de Frida Khalo ou de Wilfredo Lam – e depois também de, com Jean Dubuffet, ter lançado a provocação do Art Brut, pela qual chegaram a vias de facto indistinções cada vez maiores entre arte e não-arte, e se privilegiou uma vez mais a expressão sobre a forma, viria a defender o que, na senda do seu amigo Pierre Mabille, chamou a arte mágica.
Em que consistia a arte mágica? Na afirmação de uma potência expressiva que voltava a juntar, a religare, a coisa da arte à intensidade de efeito e de presença que a reintegrava no plano do simbólico. As viagens de Breton, sobretudo pelo México, onde antes Artaud já procurara as ligações subtis entre o ritual e a produção criadora, haviam-no levado à compreensão mais profunda dessa intuição, já presente no Surrealismo histórico através do seu character esotérico, de uma relação essencial entre expressão, presença e acção do objecto artístico como potenciador de energias escondidas ou não manifestas no plano da realidade do espectador.
Para André Breton, poeta e criador desse movimento maior do século XX, e decerto uma das suas mais influentes personalidades, a arte não podia, nunca pôde, confinar-se às relações estreitas com a forma e com os seus avatares.
Aquilo de que a arte deveria ser portadora, ou para nada serviria, era dos instrumentos dessa descoberta do mítico homem total (e totalizado em si mesmo) de que falava já o Primeiro Manifesto do Surrealismo, em que deixaria de haver oposição entre o que a racionalidade ocidental, dialética, estipulara como contrários, fossem estes os dias e as noites, o cimo e o baixo, o sonho e a realidade, etc. Para Breton, como para o sábio Heraclito e para o mais remoto pensamento oriental, a noção de oposição negava uma função essencial do pensamento profundo.
Por todas estas razões o Surrealismo foi muito mais influente ao longo do século XX do que hoje está na moda reconhecer. Ele haveria de influenciar, como de resto já foi comprovado por estudos brilhantes, a emergência do Expressionismo Abstracto e, mais em geral, da chamada Escola de Nova Iorque, que trouxeram à arte americana o seu foral de independência e de afirmação, como de outro modo ele passou ainda nas poéticas brutalistas do Grupo Cobra ou dos Internacional Letristas e depois Situacionistas[1], como se fez sentir ainda o efeito do seu abalo mais tarde no movimento Fluxus e nomeadamente em Joseph Beuys, como, mais tarde ainda, na emergência dos neo-expressionismos selvagens de carácter brutalista que chegaram à cena artística nos meados da década de setenta do século XX. Em todo o caso e para o que aqui nos interessa, o facto é que a arte mágica de Breton procurava reencontrar os fios subtis que ligavam a criação artística com a sua mais profunda raiz antropológica e mesmo com a sua dimensão não manifesta mas activa no plano simbólico.
Vem isto a chamar a atenção sobre o trabalho artístico de Luís Geraldes, em que o regresso sobre a fonte primitiva, sobretudo aborígene australiana, País-continente onde se radicou há mais de duas décadas, actualiza a vertente expressionista com uma vontade expressiva que deixa a forma num lugar secundário para evidenciar antes o primado do simbólico e, confessadamente, do esotérico.
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Como muito bem disse dele e da sua arte Cristina Azevedo Tavares, o artista “pôde elaborar uma linguagem modelada no neo-expressionismo articulando o poder sintético e simbólico da representação nas culturas ancestrais com a economia da BD e o poder comunicativo dos grafitos, alem de estar próximo de outros artistas actuais, inclusive australianos.” E com efeito esta procura tangível e livre de preconceitos de elementos colhidos entre as artes maiores e as populares para comunicar algo que está para alem de ambas, parece servir ao artista para manifestar, como presenças activas, certas dimensões mágicas ou esotéricas da arte.
Iniciado, ele procura em simbologias que interessaram antes a pensadores do oculto e da mente como Carl Gustav Jung, o arquetípico, que se manifesta numa simbologia que nos transporta a certos aspectos da sabedoria templária, tanto como a cifras do pensamento mágico centradas em símbolos poderosos como o Ovo Cósmico, ou em referencias a elementos das culturas hinduístas, agregadas depois numa procura da harmonia que metaforiza, no plano da pintura, a harmonia entre o céu e a terra, típica de toda a procura esotérica.
Como nas palavras misteriosas de William Blake, o grande poeta e pintor místico do Romantismo inglês, poderia sintetizar-se esta busca de Geraldes na afirmação violenta, e no entanto poderosa, de que “all religions are one”, como se de facto, e a um certo nível, já nada pudesse e muito menos devesse separar, na sua integridade, o que é do humano do que é do divino na compreensão mágica e subtil de uma realidade mais profunda que a ambos integra.
Por isso a esta arte se pode com pertinência aplicar a designação de Breton de arte mágica. Com efeito o seu propósito não tem uma finalidade decorativa. Tão pouco se prende com tentativas de operar ao nível histórico da identificação com correntes mais ou menos contemporâneas e nelas se inserir de um modo transformador de léxicos estritos da conversa artística.
Ao contrario, a arte de Luís Geraldes procura-se no próprio do que seria uma acção para agir poderosamente sobre o seu espectador e mesmo sobre o mundo, religando-o à fonte de um saber que lhe era antes desconhecido e através do qual ele se liga ao mundo. Essa vontade de mundo, ao contrario do que se poderia pensar, não consiste numa fuga ao real. Muito ao contrario, ela sinaliza antes uma ligação profundíssima ao mais fundo coração que pulsa no interior do real.
Aquele a que toda a arte, mágica ou não, ambiciona tocar.
Agosto 2008
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THE LAST SHAMANby ASHLEY CRAWFORD
(AICA Australia)
It is late March, 2009, and Luis Geraldes gazes from the verandah of his rural property in Australia over the impenetrable line of eucalypts in the gully below. The foliage presents a dense wall of that dark green of the gum tree, but through the tall trunks one can see a clear incarnation of death; the ugly scar of the bushfires that ravaged this mountain country in the recent summer apocalypse.
Geraldes was one of the lucky ones. He was evacuated twice as the fire sped towards his property before miraculously veering onto another course. From his verandah one can feel the byzantine and capricious shifts of the wind, the force of nature that suddenly chose not to destroy the years of work stored in Geraldes studio.It is an apt environment to pause and consider the work of Luis Geraldes. The birds are returning to the fire stricken region and the magpies hover, attracted to the smell of a sumptuous feast on the verandah. There is excellent wine. It is an afternoon that suggests that life itself can be a celebration. Yet all around are the memories of death and loss. In many ways this contrast is the stuff of Geraldes work; life and loss, light and dark, the delicate, trembling line between this mortal coil and the next.
For much of the last three decades there has been a distinctly anti-romantic trend in the visual arts. The academics took over the asylum and terms such as ‘postmodern’, ‘appropriation’ and ‘second degree’ have dominated both the verbal and visual language of art. The French theorists, a la Deleuze and Baudrillard, were the ones to cite. Anything that even hinted at mystery or the sublime was dismissed as, at best, retrograde, at worst, that most ridiculed of terms, romantic.
This has been the period of cool, but it has been so cool as to see visual art coated in a cold veneer of permafrost.
But in Luis Geraldes’ work we see the beginning of the thaw, the start of a new spring. Indeed, even in the burnt out blacks and grays of the forests near his home, hints of bright green new growth break through the blackened charcoal.
Despite the best efforts of academe, Geraldes oeuvre is, in fact, a part of a far larger picture that refutes the cold posturing of postmodernism. Three major exhibitions put lie to the chilly mythos of contemporary art making even while the postmodern was attempting dominance over discourse.
In 1987 Maurice Tuchman organized the massive The Spiritual In Art – Abstract Painting 1890-1985 at the Los Angeles County Museum of Art. In 1989, curator Jean-Hubert Martin presented the spellbinding Magiciens de la Terre at the Centre Georges Pompidou. And in 2000 the Art Gallery of New South Wales presented the breath-taking Papunya Tula: Genesis & Genius. Clearly, despite the post-Warhol pop-aesthetic, another tradition was living on, even quietly thriving, one full of belief, magic, spirituality and the potential mysticism of science. This is the tradition that the work of Luis Geraldes clearly lives within.
By demonstrating the huge impact of mysticism and the occult on 20th-century artists from Gauguin to Pollack, Mondrian to O’Keefe, The Spiritual In Art effectively refuted the fallacy that modernism is concerned solely with line, form, and color. Topics as diverse as synesthesia, theosophy, alchemy,
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hermeticism, the Cabala, and Zen were re-examined and re-introduced into global discourse. This was a world that Geraldes had already embraced.
Indeed, in 2003, in keeping with this trend, Geraldes completed his Master of Visual Art thesis, Importancia da Energia Na Arte (Visions of the Esoteric Power). His investigation of the spiritual through painting remains a clear articulation of his desires.
And desire is what Geraldes’ work is essentially about. The paintings in this exhibition contain the stuff of the erotic, of the sublime, of birth, death and re-birth. These are restless paintings; there is the horizon, hints of distances to travel, both physically and spiritually. There are waves of energy crisscrossing the skies; lines that have the feel of the array of emotions known to human kind – love, anger, melancholy. There are constellations that guide us on our way. There are embryonic eggs hinting at the birth of higher powers; homunculi of unknown gods; rainbows emerging from bowls of secret fluids.
At times it is not difficult to read Gearldes’ work in an almost literal sense. There is the interminable desert. In the sky are ancient symbols – the pyramid – and more recent symbols – the wonderfully abstract motif of nuclear power. But these are ghosts. What lives most powerfully here is the rainbow; strangely inverted as though ready to consume the world, a gaping vortex of colour.
And it is colour that is of greatest import here. Geraldes’ palette ranges from the brazen and primary essentials – bold reds and yellows – through to misty and romantic pinks and blues. He is unafraid to juxtapose these extremes and in so doing creates a palimpsest of emotional states.
Indeed, this is an artist who has created his own world. Here ectoplasm hovers in the sky as the multi-hued sun emerges from the sea. Geraldes’ is a story that is as ancient as man; a creation story, the beginning of life, a throbbing, erotic, pagan story about the birth of both colour and spirit.
The surreal landscape of the Antipodes has clearly impacted strongly on Geraldes’ recent work; the infinite horizon line, the strange rock formations and termite mounds that jut abruptly from the red soil. He was born in Portugal but spent his formative years in Africa, a country steeped in ancient superstitions and a place where the kimbanda, or sorcerer, maintains a core position in village life. Today Geraldes lives on the traditional lands of the Kurnai, the local aboriginal people. The land around Geraldes’ property is crisscrossed with Dreaming Tracks, a land that remains under the sway of the deities Punjil and Pallian.
Geraldes seems attracted to the ‘spiritual’ in the same way a moth is attracted to flame. His first-hand experiences have been supplemented by rigourous research into everything from the teachings of the Knights Templar to the esoteric mysteries of the Cabala. But, as we can see with this body of work, Geraldes was not content to linger in the world of the arcane. Throughout these paintings we see hints of other languages; those of astronomy and DNA, mathematics and alchemical equations seem to squirm on the canvases. Hints of biological beginnings blend the creation egg with the alchemists forge and the scientific petri dish. While Geraldes may remain, at heart, a romantic, he is a romantic with a scientific eye and a linguists’ love of communication.
We see this when we seize, at random, a series of Geraldes’ titles for his works. The result is remarkably coherent, an accidental piece of poetry:
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All Things Embracing the eternal sacrifice
The Force of Life, Holding TogetherShadows Through the Eternity
in Reverence
The themes are clearly transparent, but that is not to say that they are simple. Attempting to articulate such themes on canvas is akin to juggling mercury; they are slippery creatures. In our cynical age, trying to capture notions of the eternal, of love, of belief are akin to heresy. The postmodernists have no truck with such concepts. The fire that we once sat around, telling stories of creation, passing down myths and lore, has been extinguished.
But Geraldes does not accept that fact. He will not go quietly into the night. He knows that, for all the cool logic of mathematical and scientific knowledge, strange mysteries remain behind the calculus. He has stated that his work exists to assist “the mind to contemplate the invisible.” He is the necromancer who can rally the lost language of the other side. He is the Shaman who talks with the invisible forces of the spirits, channelling them for our erudition.
Indeed, he may well be The Last Shaman.
2009, Melbourne, Australia
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OBRAS EXPOSTAS
1Artemis
2Compassion
3Tears for Fears
4Resignation
5Fragility of Self
6Myriads of Love
7Hearth Broken
8The Mother
9Wiping Out
10Holocaust
11Healing Spell
12Everchanging Emotions
13Primordial Soup
14Magma of Life
15Palestine
1Artemis
2009Óleo s/ tela | Oil on canvas
152 x 122 cm
2Compassion
2009Óleo s/ tela | Oil on canvas
152 x 122 cm
3Tears for Fears
2010Óleo s/ tela | Oil on canvas
152 x 122 cm
4Resignation
2010Óleo s/ tela | Oil on canvas
152 x 122 cm
5Fragility of Self
2016Óleo s/ tela | Oil on canvas
150 x 120 cm
6Myriads of Love
2013Óleo s/ tela | Oil on canvas
150 x 120 cm
7Heart Broken
2008Óleo s/ tela | Oil on canvas
152 x 122 cm
8The Mother
2009Óleo s/ tela | Oil on canvas
152 x 122 cm
9Wiping Out
2009Óleo s/ tela | Oil on canvas
152 x 122 cm
10Holocaust
2009Óleo s/ tela | Oil on canvas
150 x 120 cm
11Healing spell
2011Óleo s/ tela | Oil on canvas
152 x 122 cm
12Everchanging Emotions
2014Óleo s/ tela | Oil on canvas
150 x 120 cm
13Primordial Soup
2011Óleo s/ tela | Oil on canvas
152 x 122 cm
14Magma of Life
2009Óleo s/ tela | Oil on canvas
152 x 122 cm
15Palestine
2008/2009Óleo s/ tela | Oil on canvas
152 x 122 cm
Publicado por ocasião da exposição LUÍS GERALDES - BLACK SATURDAYno ISPA - Instituto Universitário, Outubro-Novembro 2016
ISPA - INSTITUTO UNIVERSITÁRIO | RUA JARDIM DO TABACO, 34 | 1149-041 LISBOA | TEL.: 218 811 700 | ISPA.PT
