17
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 2, n. 2, p. 91-107, mai-ago. 2007 91 Uma comparação gramatical, fonológica e lexical entre as famílias Guaikurú, Mataco e Bororo: um caso de difusão areal? 1 A grammatical, phonological and lexical comparison between the Waikurúan, Matacoan and Bororoan families: a case of areal diffusion? Rafael Nonato I Filomena Sandalo II Resumo: O objetivo desse artigo é fazer uma comparação entre as famílias lingüísticas Guaikurú, Bororo e Mataco com base em (i) uma comparação do morfema relacional em Guaikurú e Bororo; (ii) uma comparação do uso de mecanismos de ar glotal na implementação de plosivas desvozeadas em Kadiwéu (Guaikurú) e Bororo; (iii) a comparação de 350 itens entre Guaikurú e Mataco e 138 itens entre Guaikurú e Bororo. A evidência sugere que essas famílias estiveram em contato intenso, mas um relacionamento genético ainda parece incerto. Palavras-chave: Chaco. Morfema relacional. Lingüística areal. Lingüística areal. Abstract: This paper aims at a comparison of the Waikurúan, Bororoan and Matacoan language families on the basis of (i) the comparison of the relational morpheme in Waikurúan and Bororo; (ii) the comparison of the use of glottal air flow mechanisms when implementing voiceless plosives in Kadiwéu (Waikurúan) and Bororo (Bororoan); and (iii) the comparison of 350 items in Waikurúan and Matacoan and 138 items in Waikurúan and Bororoan. The evidence suggests that these families have been in intense contact, but a genetic relationship between them seems to be at least uncertain. Keywords: Chaco. Relational morpheme. Areal linguistics. 1 Os dados deste trabalho são provenientes de trabalho de campo: Bororo, Rafael Nonato; Kadiwéu, Filomena Sandalo; Umutina, Stella Telles e Jaqueline França; outras línguas Guaikurú e Mataco, Verónica Grondona e Lyle Campbell. Este trabalho está inserido no projeto Este trabalho está inserido no projeto SOAS MDP0048, Documentation of Chorote, Nivaclé and Kadiwéu: three of the least known and most endangered languages of the Chaco. I Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. Departamento de Lingüística. Campinas, São Paulo, Brasil ([email protected]). II Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. Departamento de Lingüística. Campinas, São Paulo, Brasil ([email protected]).

linguas bororo kadiweu

Embed Size (px)

DESCRIPTION

linguas bororo kadiweu

Citation preview

  • Bol. Mus. Para. Emlio Goeldi. Cincias Humanas, Belm, v. 2, n. 2, p. 91-107, mai-ago. 2007

    91

    Uma comparao gramatical, fonolgica e lexical entre as famlias Guaikur, Mataco e Bororo: um caso de difuso areal?1

    A grammatical, phonological and lexical comparison between the Waikuran, Matacoan and Bororoan families: a case of areal diffusion?

    Rafael NonatoI Filomena SandaloII

    Resumo: O objetivo desse artigo fazer uma comparao entre as famlias lingsticas Guaikur, Bororo e Mataco com base em (i) uma comparao do morfema relacional em Guaikur e Bororo; (ii) uma comparao do uso de mecanismos de ar glotal na implementao de plosivas desvozeadas em Kadiwu (Guaikur) e Bororo; (iii) a comparao de 350 itens entre Guaikur e Mataco e 138 itens entre Guaikur e Bororo. A evidncia sugere que essas famlias estiveram em contato intenso, mas um relacionamento gentico ainda parece incerto.

    Palavras-chave: Chaco. Morfema relacional. Lingstica areal.Lingstica areal.

    Abstract: This paper aims at a comparison of the Waikuran, Bororoan and Matacoan language families on the basis of (i) the comparison of the relational morpheme in Waikuran and Bororo; (ii) the comparison of the use of glottal air flow mechanisms when implementing voiceless plosives in Kadiwu (Waikuran) and Bororo (Bororoan); and (iii) the comparison of 350 items in Waikuran and Matacoan and 138 items in Waikuran and Bororoan. The evidence suggests that these families have been in intense contact, but a genetic relationship between them seems to be at least uncertain.

    Keywords: Chaco. Relational morpheme. Areal linguistics.

    1 Os dados deste trabalho so provenientes de trabalho de campo: Bororo, Rafael Nonato; Kadiwu, Filomena Sandalo; Umutina, Stella Telles e Jaqueline Frana; outras lnguas Guaikur e Mataco, Vernica Grondona e Lyle Campbell. Este trabalho est inserido no projetoEste trabalho est inserido no projeto SOAS MDP0048, Documentation of Chorote, Nivacl and Kadiwu: three of the least known and most endangered languages of the Chaco.

    I Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. Departamento de Lingstica. Campinas, So Paulo, Brasil ([email protected]).

    II Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. Departamento de Lingstica. Campinas, So Paulo, Brasil ([email protected]).

  • Uma comparao gramatical, fonolgica e lexical entre as famlias Guaikur, Mataco e Bororo: um caso de difuso areal?

    92

    INTRODUOEste trabalho tem como objetivo fazer uma comparao lingstica inicial entre as famlias Guaikur, Bororo e Mataco. As lnguas da famlia Mataco e Guaikur so freqentemente apontadas como relacionadas (Kaufman, 1994; Viegas Barros, 1993), mas uma relao gentica nunca foi atestada. Alm disso, similaridades lingsticas e culturais existem entre as lnguas Guaikur (particularmente Kadiwu), Guat e Bororo, ambas classificadas como Macro-J (ver Levi-Strauss, 1955; Rodrigues, 1983; Steward, 1963; Sandalo, 2002), similaridades as quais podem ser devidas relao gentica ou difuso lingstica. Nenhuma destas hipteses pde ser verificada porque quase nenhum trabalho histrico foi realizado com as lnguas do Chaco. Os Mbays/Kadiwus foram cultural e politicamente dominantes na rea (cf. Mason, 1963), o que pode ter deixado um impacto lingstico nas outras lnguas da regio. Todas estas lnguas so faladas na regio dominada pelos Mbays, dos quais os Kadiwus descendem, ou nas proximidades desta regio, como pode ser verificado na delimitao da nao Mbay estabelecida por Snchez Labrador (1760, p. 7):

    La Nacion est muy estendida, y poblada de gente. Se h enseoreado de la tierra por centenares de leguas. Desde el Tropico de Capricornio, es decir, desde los 23 grados, y medio de latitud Austral, hasta los 19 grados de la misma hacia el Equador, llenan la tierra por la orilla oriental, y parte por la occidental del famoso rio Paraguay..

    A famlia Bororo conta com as seguintes lnguas: Bororo, Umutina e Otuk (Campbell, 1997). O Bororo a ltima lngua viva da famlia Bororo. Kadiwu a nica lngua sobrevivente do tronco Guaikur da famlia Guaikur (Ceria; Sandalo, 1995) e falada no Brasil; Mocov, Pilag, Toba faladas na Argentina e a lngua extinta Abipn constituem o tronco Sul da famlia Guaikur (Ceria; Sandalo, 1995). Chorote e Nivacl (Chulup ou Ashlushlay), juntamente com Mak e Wich, constituem a famlia Mataco (cf. Tovar, 1964).

    Comparamos, neste trabalho, 350 itens lexicais entre Mataco e Guaikur e 138 entre Guaikur e Bororo. Embora a comparao entre Mataco e Guaikur tenha levado em conta mais itens, em termos percentuais ela se mostrou menos expressiva que a comparao entre Guaikur e Bororo (4 contra 20%). Portanto, neste primeiro momento, procuramos estabelecer mais relaes entre traos dos sistemas gramatical e fonolgico das famlias Guaikur e Bororo.

    Na seo Similaridades gramaticais, comparamos o morfema relacional nas famlias Guaikur e Bororo, que apresentam similaridades reconstruveis a um mesmo sistema de maneira trivial. Em Comparao dos mecanismos de ar, analisamos o emprego de mecanismos de ar glotal na implementao das oclusivas surdas em Kadiwu e Bororo; essa caracterstica do sistema fontico destas lnguas notvel, dada a sua baixa ocorrncia nas lnguas da Amrica do Sul. Na seo Comparao lexical, comparamos itens lexicais. A seo Consideraes finais apresenta nossas consideraes a respeito da comparao realizada.

    SIMILARIDADES GRAMATICAISAs lnguas Guaikur apresentam morfemas de concordncia para sujeito e objeto. Apresentamos os fatos a partir da lngua Kadiwu. Kadiwu apresenta concordncia com o sujeito e com o objeto direto atravs de prefixos. Mas h apenas um lugar para a marca de concordncia e, assim, prefixos de sujeito e de objeto esto em distribuio complementar, como pode ser notado nos exemplos de (1) a (9). H uma hierarquia de pessoa, 2 > 1 > 3, que define qual argumento deve ser marcado morfologicamente. Assim, se o objeto for de terceira pessoa, o verbo concorda com o sujeito, exemplos de (1) a (4).

  • Bol. Mus. Para. Emlio Goeldi. Cincias Humanas, Belm, v. 2, n. 2, p. 91-107, mai-ago. 2007

    93

    (1) jema:

    j-ema:n

    1SUJ-amar/querer

    Eu o/a amo.

    (2) jema:naGa

    j-ema:n-Ga

    1SUJ-amar/querer-pl

    Ns o/a amamos.

    (3) ema:ni

    a-ema:n-i

    2SUJ-amar/querer-pl

    Vocs o/a amam.

    (4) yema:

    y-ema:n

    3SUJ-amar/querer

    Ele/ela o/a ama.

    Mas o verbo concorda com o objeto se o sujeito for de terceira pessoa e o objeto de segunda ou primeira pessoa, exemplos de (5) a (7):

    (5) id:ema:

    i-d:-ema:n

    1OBJ-relacional-amar/querer

    Ele/ela me ama.

    (6) God:ema:

    Go-d:-eman

    1plOBJ-relacional-amar/querer

    Ele/ela nos ama.

  • Uma comparao gramatical, fonolgica e lexical entre as famlias Guaikur, Mataco e Bororo: um caso de difuso areal?

    94

    (7) Gad:ema:ni

    Ga-d:-eman-i

    2OBJ-relacional-amar/querer-pl2

    Ele/ela ama voc.

    Quando no houver nenhuma terceira pessoa envolvida, isto , ambos os argumentos so primeira ou segunda pessoa, o argumento de segunda pessoa marcado (2 >1), exemplos (8) e (9).

    (8) Gad:ema:ni

    Ga-d:-eman-i

    2OBJ-relacional-amar/querer-pl

    Eu amo voc.

    (9) ad:ema:ni

    a-d:-eman-i

    2SUJ-relacional-amar/querer-pl

    Voc me ama.

    Verbos intransitivos (inacusativos, reflexivos, antipassivos e verbos que sofreram incorporao) so marcados por um conjunto diferente de marcadores de sujeito3, conforme exemplos de (10) a (12):

    (10) id:acotaGa

    i-d:-acodi-Ga

    1SUJ-relacional-descer-pl

    Ns descemos.

    2 A segunda pessoa sempre marcada com um circunfixo cuja parte final um i, que glossado como plural por ocupar a posio de outros pluralizadores no Kadiwu. Assim, trata-se de uma lngua com funcionamento similar ao do ingls em relao segunda pessoa, isto , no existe uma forma morfolgica de segunda pessoa singular.

    3 Verbos intransitivos inergativos so marcados como verbos transitivos. Este padro atestado tambm em lnguas como o Basco e o Georgiano. Note que os verbos inergativos so analisados como lexicalmente transitivos por Hale e Keyser (1993), o que pode explicar a existncia deste padro de marcao.

  • Bol. Mus. Para. Emlio Goeldi. Cincias Humanas, Belm, v. 2, n. 2, p. 91-107, mai-ago. 2007

    95

    (11) d:apiqo

    -d:-apiqo4

    3SUJ-relacional-esquentar

    Est quente.

    (12) inemata

    i-n-ema:n-t-e-wa

    1SUJ-antipassivo-amar/querer-EPN-3 dativo

    Eu o amo (antipassivo).

    Em suma, Kadiwu tem um padro tripartido de marcao de concordncia atravs de prefixos. A Tabela 1 apresenta os marcadores de sujeito e de objeto do Kadiwu.

    Tabela 1. Prefixos de concordncia do Kadiwu.

    SUJEITO(transitivo)

    SUJEITO(intransitivo) OBJETO

    1sg j- i- i-

    2sg a-...-i a-...-i Ga-

    3sg y- ~ w- - ---1pl j-...-Ga i-...-Ga Go-

    2pl a-...-i a-...-i Ga-...-i

    3pl y-...Ga o- ---

    crucial observar que quando o objeto de primeira ou segunda pessoa, alm de o verbo concordar com o objeto, este ocorre obrigatoriamente em posio pr-verbal e o verbo aparece obrigatoriamente marcado pelo morfema d:-, rotulado de relacional pela literatura indigenista brasileira. Compare os exemplos abaixo: em (13) o objeto precede o verbo e o relacional ocorre, e em (14), o objeto segue o verbo e o relacional no ocorre.

    (13) Goti aqa:m:i Gad:ema:ni

    Goti aqa:m-i Ga-d:-ema:n-i

    Goti 2PRONOME-pl 2OBJ-relacional-amar/querer-pl

    Goti ama voc.

    4 Um verbo intransitivo sempre concorda com o sujeito e, portanto, postulamos a existncia de um morfema para sujeito de terceira pessoa intransitiva.

  • Uma comparao gramatical, fonolgica e lexical entre as famlias Guaikur, Mataco e Bororo: um caso de difuso areal?

    96

    (14) Goti yema Ekode

    Goti y-ema:n Ekode

    Goti 1SUJ amar/querer Ekode

    Goti ama Ekode.

    Mencionamos anteriormente que o verbo sempre concorda com um argumento de segunda pessoa. Note que mesmo se o argumento em concordncia for sujeito, se houver um argumento interno de primeira ou segunda pessoa, o relacional obrigatrio e o objeto preposto, como exposto nos exemplos (15) e (16).

    (15) e: aqa:mi Gad:ema:ni

    e: aqa:mi Ga-d:-ema:n-i

    1PRONOME 2PRONOME 2OBJ-relacional-amar/querer-pl

    Eu amo voc.

    (16) aqa:mi e: ad:ema:ni

    aqa:mi e: a-d:-ema:n-i

    2PRONOME 1PRONOME 2SUJ-relacional-amar/querer-pl

    Voc me ama.

    O relacional ocorre tambm com verbos inacusativos ver exemplos (10) e (11) e, nestes casos, tambm o argumento paciente deve ocorrer em posio pr-verbal. Dado a ocorrncia de d:- com diferentes tipos de morfemas, postulamos que se trata realmente de um morfema independente no Kadiwu. Este morfema indica o deslocamento de um argumento paciente para uma posio esquerda do verbo.

    Evidncia adicional vem do fato de o relacional no ocorrer com verbos inergativos e antipassivizados, como mostram os exemplos (17) e (18):

    (17) e: jigaa

    e: j-i-ga:n

    1PRONOME 1SUJ-EPN-cantar

    Eu cantei.

    (18) e: inema:taGawa

    e: i-n-ema:n-t-aGa-wa

    1PRONOME 1SUJ-antipassiva-amar-EPN-2-dativo

    Eu amo voc (antipassivo).

  • Bol. Mus. Para. Emlio Goeldi. Cincias Humanas, Belm, v. 2, n. 2, p. 91-107, mai-ago. 2007

    97

    Mas ocorre com verbos reflexivos e mdios, que contam com um argumento paciente deslocado para a posio inicial, exemplos (19) e (20):

    (19) e: inidema:

    e: i-n-d:-ema:n

    1PRONOME 1SUJ-refl-relacional-amar

    Eu me amo.

    (20) waka dajigo

    waka -d-ajigovaca 3SUJ-relacional-dar

    A vaca foi doada.

    H vestgios da existncia do relacional em todas as lnguas da famlia Guaikur, como pode ser notado na Tabela 2, embora reinterpretados como parte do sistema de concordncia nas outras lnguas Guaikur. Note tambm que, nesta tabela, acrescentamos dados da lngua Bororo, uma vez que segue na prxima seo uma discusso sobre estes dados. Vamos argumentar que, tambm nesta lngua, um morfema relacional pode ser reconstrudo.

    Tabela 2. Prefixos de objeto das lnguas Guaikur e Bororo e morfema relacional.Tronco Guaikur Tronco Sul

    P-Gkr Kdw Mby Tb Mcv Bororo

    1sg *i-d:- i-d:- - (

  • Uma comparao gramatical, fonolgica e lexical entre as famlias Guaikur, Mataco e Bororo: um caso de difuso areal?

    98

    se deixam melhor apreender pela utilizao do conceito de rea lingstica (cf. Campbell, 1997). Entre os traos mais estudados nas lnguas brasileiras est o relacional. Como esse morfema se encontra em lnguas de diferentes famlias e troncos, constitui evidncia para a delimitao de uma rea lingstica.

    A seguir, propomos uma reconstruo interna para o morfema relacional da lngua Bororo (famlia Bororo, tronco Macro-J, cf. Rodrigues, 1986), em que reduzimos diacronicamente a variedade alomorfmica atual a um nico morfema, foneticamente caracterizvel como uma oclusiva dental surda, e lhe atribumos um funcionamento original similar ao do Kadiwu. Essa caracterizao, a par das evidncias histricas de contato (cf. Mtraux, 1945, 1963), permite supor que as lnguas de ambas famlias formaram uma rea lingstica com relao a esse trao.

    recOnstruO dO relaciOnal em bOrOrO

    Sistema sincrnicoA Tabela 3 compreende os prefixos de concordncia de pessoa e nmero em Bororo. Esse mesmo conjunto de prefixos usado na concordncia do verbo com o seu objeto, do nome com o seu possuidor e da posposio com o seu argumento. importante notar que, sincronicamente, Bororo, assim como as lnguas da famlia Guaikur com exceo de Kadiwu, no tem hierarquia de pessoa. O relacional em Bororo, se tomarmos o sistema do Kadiwu como o mais conservador, constitui-se em um resqucio de um sistema anterior.

    Tabela 3. Prefixos de concordncia do Bororo.

    1. srie 2. srie

    Singular1 [i] [it] [in] [ik]2 [a] [ak]3 , [u]

    Plural

    1 exclusivo [te] [ted] [ten] [teg]1 inclusivo [pa] [pag]2 [ta] [tag]3 [e] [et] [en] [ek]

    Com a exceo do prefixo de terceira pessoa singular, de que no trataremos neste trabalho, todos os outros apresentam duas sries de alomorfes. A primeira srie afixada a razes que comeam com consoante (i- mago); a segunda, a razes que comeam com vogal (it- aregodu). a consoante final dos morfemas dessa ltima srie que analisamos como o relacional.

    Os prefixos cujos ncleos fonticos so vogais posteriores (grupo A em itlico na Tabela 3) tm na segunda srie apenas um alomorfe. Os prefixos cujos ncleos fonticos so vogais anteriores (grupo B em negrito na Tabela 3) tm trs alomorfes na segunda srie.

    Os alomorfes da segunda srie dos prefixos do grupo B se distribuem da seguinte forma: os terminados em coronais precedem razes iniciadas com vogal no-alta (it- aregodu, in- o) e os terminados em velar so afixados a razes iniciadas com vogal alta (ik-ie). Note que a consoante relacional que precede razes comeadas com vogal no-alta pode ser uma coronal nasal (in-) ou uma coronal oral (it-). A escolha determinada lexicalmente (it- aregodu, in- o).

  • Bol. Mus. Para. Emlio Goeldi. Cincias Humanas, Belm, v. 2, n. 2, p. 91-107, mai-ago. 2007

    99

    Evoluo diacrnicaSe postulamos como origem comum dos alomorfes relacionais uma oclusiva coronal, podemos dar conta, atravs de regras naturais de mudana, da variedade alomorfmica atual da lngua. Mostremos, portanto, atravs de exemplos, como essas mudanas sucessivas moldaram o sistema de prefixos da lngua. As tabelas contm, na primeira linha, um morfema do grupo B; na segunda, um morfema do grupo A; e, na terceira, um outro morfema do grupo B, representante de um grupo de morfemas em que acontece uma variao entre [t] e [d].

    Postulamos a situao inicial descrita na Tabela 4, em que no haveria ainda qualquer alomorfia.

    Tabela 4. Estado 1.5

    it-aregodu *it-ie *it- *it-mago

    *at-aregodu *at-ie *at- *at-mago

    *cet-aregodu *cet-ie *cet- *cet-mago

    Uma primeira mudana seria a simplificao dos clusters consonantais, o que teria acontecido em um momento em que a lngua definia as suas atuais restries silbicas, de tipo silbico (Tabela 5).

    Tabela 5. Estado 2.it-aregodu *it-ie *it- i-mago

    *at-aregodu *at-ie *at- a-mago

    *cet-aregodu *cet-ie *cet- ce-mago

    Em seguida, o relacional assimila a posterioridade dos prefixos cujo ncleo uma vogal posterior (Tabela 6).

    Tabela 6. Estado 3. it-aregodu *it-ie *it- i-mago

    ak-aregodu ak-ie *ak-ak- a-mago

    *cet-aregodu *cet-ie *cet- ce-mago

    Alm desse, ocorre outro processo de assimilao, da nasalidade da vogal inicial das razes (Tabela 7). As oclusivas posteriores no participam desse processo devido a no existir uma nasal velar na lngua.

    Tabela 7. Estado 4.it-aregodu *it-ie *in- i-mago

    ak-aregodu ak-ie *ak- a-mago

    *cet-aregodu *cet-ie *cen-cen- ce-mago

    5 As palavras em estgios anteriores da lngua Bororo que, entretanto, correspondem sem mudanas a palavras do estgio atual no esto marcadas com um *. Apenas as palavras que sofreram mudanas que esto marcadas com *.

  • Uma comparao gramatical, fonolgica e lexical entre as famlias Guaikur, Mataco e Bororo: um caso de difuso areal?

    100

    Em um momento seguinte, desaparecem as vogais nasais da lngua (Tabela 8), mas permanece o relacional nasal, que reanalisado como uma variao lexicalmente determinada.

    Tabela 8. Estado 5.it-aregodu *it-ie in-o i-mago

    ak-aregodu ak-ie ak-o a-mago

    *cet-aregodu *cet-ie cen-o ce-mago

    Agora, inicia-se na lngua uma tendncia no mais assimilao, mas dissimilao. Diante de vogais anteriores, o relacional torna-se posterior (Tabela 9).

    Tabela 9. Estado 6.it-aregodu ik-ie in-o i-mago

    ak-aregodu ak-ie ak-o a-mago

    *cet-aregodu *cek-ie cen-o ce-mago

    O ltimo fenmeno, esse ainda produtivo na lngua, a dissimilao de surdez em seqncias de obstruintes. A segunda obstruinte surda se vozeia (Tabela 10).

    Tabela 10. Estado atual.it-aregodu ik-ie in-o i-mago

    ak-aregodu ak-ie ak-o a-mago

    ced-aregodu ceg-ie cen-o ce-mago

    Claro esteja que essa sucesso de regras representa estados sucessivos da lngua, no um ordenamento de regras sincronicamente ativo. Embora possamos supor um certo espelhamento entre as regras diacrnicas e as sincrnicas, o desaparecimento de certos traos superficiais (como a nasalidades nas vogais) fora uma reinterpretao no momento da aquisio das regras fonolgicas.

    A idia da assimilao pelo relacional da nasalidade de uma vogal que mais tarde perderia esse trao de Rodrigues (1993).

    Em suma, postulamos uma reconstruo do morfema relacional para o proto-Guaikur, que seria de uma oclusiva coronal sonora longa (*d:-). Alm disso, hipotetizamos o funcionamento de marcador de deslocamento do objeto para uma posio pr-verbal, ainda ativo em Kadiwu (cf. Sandalo, 2004), uma lngua da famlia Guaikur, para o proto-Guaikur. Hipotetizamos, ainda, que este morfema pode ser reconstrudo tambm para o Bororo com um funcionamento original similar ao Kadiwu. Neste sentido, acreditamos que, em algum momento, a posio do argumento deve ter se fixado esquerda no Bororo e o relacional reinterpretado como parte do morfema de pessoa.

  • Bol. Mus. Para. Emlio Goeldi. Cincias Humanas, Belm, v. 2, n. 2, p. 91-107, mai-ago. 2007

    101

    COMPARAO DOS MECANISMOS DE ARGonzlez (2003), em um levantamento com 139 lnguas da Amrica do Sul, detectou que apenas 12% incluem ejetivas no seu inventrio fonolgico, sendo que trs so lnguas Mataco, que contrastam fonologicamente oclusivas surdas e ejetivas. Embora no haja contraste fonolgico entre ejetivas e oclusivas surdas em Guaikur e Bororo, nestas lnguas todas as oclusivas surdas so implementadas como ejetivas. A presena de ejetivas um trao raro na Amrica do Sul; , entretanto, um trao comum s lnguas que estamos estudando.

    As plosivas ejetivas se caracterizam como classe de sons pela estratgia articulatria empregada na construo de presso dentro da cavidade bucal: paralelamente obstruo oral, ocorre o fechamento da glote; aps isso, a laringe elevada, diminuindo o volume da cavidade oral e, conseqentemente, aumentando a presso interna. Finalmente, a obstruo oral liberada e, em seguida, a ocluso glotal. Um exemplo de plosiva implementada com essa estratgia no Kadiwu o segmento [q] da palavra digiqa pedir (Figura 1).

    As ejetivas que encontramos em palavras do Bororo so atpicas por no apresentarem nem uma soltura to ruidosa, nem um voice onset time (VOT) to longo quanto as ejetivas prototpicas das lnguas andinas. No entanto, os indcios de fechamento e abertura glotal nas extremidades de tais segmentos probem adotar a hiptese de que se tenha a um mecanismo de ar pulmonar. Ora, mais plausvel imaginar que nesses casos tenhamos encontrado ejetivas fracas, que se caracterizem por uma menor elevao larngea e por uma coordenao temporal especfica entre os movimentos de soltura das duas ocluses.

    Na palavra eritudo ir em ajuda de algum, encontramos um desses segmentos, [t]. Vemos, antes de [t], uma forma de onda irregular e aperidica que pode ser atribuda ao gesto de ocluso glotal (Figura 2). possvel perceber que a vogal seguinte ao segmento comea laringalizada (Figura 3), o que se atribui ao gesto adiantado de abertura glotal. Vemos nessa palavra um bom exemplo da classe de som atpico em que estamos interessados.

    Figura 1. Ejetiva do Kadiwu.

  • Uma comparao gramatical, fonolgica e lexical entre as famlias Guaikur, Mataco e Bororo: um caso de difuso areal?

    102

    Figura 2. Fronteira entre vogal e ejetiva fraca.

    Figura 3. Fronteira entre ejetiva fraca e vogal.

    Nos outros pontos de articulao que no o uvular, as oclusivas surdas do Kadiwu so igualmente implementadas como uma ejetiva fraca.

  • Bol. Mus. Para. Emlio Goeldi. Cincias Humanas, Belm, v. 2, n. 2, p. 91-107, mai-ago. 2007

    103

    Em termos articulatrios, a produo de uma oclusiva surda com um mecanismo de ar pulmonar exige menos esforo que a produo de uma oclusiva ejetiva. Isso d conta do fato de que esses so segmentos raros e torna improvvel o desenvolvimento de ejetivas a partir de segmentos pulmonares simples, de forma que plausvel o fenmeno, tanto em Kadiwu quanto em Bororo, ter a origem num sistema diacronicamente reconstruvel que contrastava oclusivas surdas com ejetivas, como nas lnguas da famlia Mataco. Dado que em Bororo e Kadiwu esse contraste no existe, pode-se hipotetizar que sua perda implicou o enfraquecimento das ejetivas, que, no entanto, subsistiria como vestgios do antigo sistema nas duas lnguas.

    COMPARAO LExICALComparamos 350 itens lexicais entre Mataco e Guaikur e 138 entre Guaikur e Bororo (Tabelas 11 e 12) e discutiremos algumas das correspondncias encontradas. importante notar que, embora seja bastante comum apontar uma possvel relao gentica entre Mataco e Guaikur (Kaufman, 1994), encontramos um percentual maior de cognatos entre Bororo e Guaikur (20 contra 4%). De qualquer forma, vale observar que o nmero de cognatos encontrados bastante pequeno para ambos os pares e estatisticamente irrelevante para o par Mataco-Guaikur. Guaikur se refere a uma reconstruo feita em Ceria e Sandalo (1995).

    Os possveis cognatos so os seguintes. Note que aqueles marcados com negrito so os que apresentam correspondncias menos atribuveis a fatores aleatrios. A tabela de possveis cognatos (Tabela 11) seguida por uma tabela de correspondncias com as respectivas ocorrncias (Tabela 12). Como os dados so poucos, h poucas ocorrncias para cada correspondncia. A correspondncia w:k:k foi a que mais se repetiu, embora tenha ocorrido apenas trs vezes. Note, tambm, que os cognatos so bastante prximos e, assim, a comparao lexical feita neste trabalho sugere contato, ao contrrio de uma relao gentica distante. Isso verdadeiro para todas as famlias comparadas. Finalmente, observe que, ainda corroborando com a hiptese de contato, alguns dos possveis cognatos so palavras facilmente emprestveis, relacionadas ao comrcio, como exemplo, as palavras caminho/caminha, estrada, canoa.

  • Uma comparao gramatical, fonolgica e lexical entre as famlias Guaikur, Mataco e Bororo: um caso de difuso areal?

    104

    Tabe

    la 1

    1. P

    ossv

    eis

    cogn

    atos

    .G

    losa

    Kadi

    wu

    Um

    utin

    aBo

    roro

    Toba

    Moc

    ov

    Prot

    o-G

    uaik

    ur

    Wic

    hiC

    horo

    teN

    ivac

    lM

    aka

    mor

    der

    -ow

    agok

    wa

    (boc

    a)na

    kew

    ag*

    hg

    yokw

    ahpo

    eira

    amm

    oGo

    amoG

    oyaG

    aam

    oGoy

    aGa

    *am

    muG

    Gu

    lam

    oklh

    amak

    lham

    k

    lha

    eqhi

    p

    olho

    gekk

    o:G

    ejik

    ishi

    joku

    ayl

    koo

    we

    (g

    lobo

    ocu

    lar)

    *gay

    lkko

    :Ge

    eue:

    mm

    i:mi

    yim

    *yem

    mes

    trada

    ,cam

    inho

    nayy

    igi

    ayje

    na

    jik*n

    ayyi

    gna

    yih

    naiy

    in

    (y)ic

    hikh

    eyix

    irm

    niw

    allo

    ipar

    e (m

    ulhe

    r do

    che

    fe)

    owal

    ya (c

    unha

    da)

    *w

    allo

    ala

    :wo

    bast

    oiw

    oGo

    ipo

    waG

    a*i

    woG

    Go

    borb

    olet

    ady

    okol

    oGol

    oGo

    kuru

    gut:u

    guan

    dar

    -aw

    ali-

    abal

    aaw

    ara

    cano

    a-iw

    a:-

    eyki

    ika

    cont

    ar-a

    tem

    atremag

    an

    oni

    k:aG

    ap:i

    nekc

    ha,

    nek

    cham

    nahk

    apin

    kp

    inin

    qap

    espi

    oew

    alal

    :ite

    siwan

    -lhu-

    kwet

    h

    siwa:

    lak

    siwak

    lak

    siwal

    axr

    vore

    ny:a

    l:ehal

    aa

    la

    yikl

    na

    xkak

    on

    age

    ddyo

    goay

    koad

    ugo

    kiyo

    k*g

    eddy

    ugo

    fogo

    olle

    dzo

    :ro

    joru

    odek

    orek

    *ulle

    kfa

    ceaj

    jike

    zeje

    ashi

    kas

    hik

    *add

    yike

    frio

    wet

    tam

    mak

    yeto

    akud

    uat

    om*w

    aeto

    mm

    cego

    Gol

    laG

    aqa

    ela

    q*G

    o(e)

    llaG

    ata

    lok

    takl

    uk

    sang

    ue-a

    wod

    iko

    kwa

    kuew

    ot*

    wud

    iw

    oyis

    woy

    isw

    ooy

    crian

    a-ig

    ga:

    nege

    dog

    ot-le

    k*

    ggat

    go

    rdo

    (n)

    -ajji-

    dich

    i-ta

    *ady

    ial

    haal

    ha

    atxe

    xe

    flor

    -aw

    oGo

    okur

    e bo

    eaw

    oGo

    *aw

    uGG

    ulh

    awo

    lhaw

    olh

    w

    lho

    pom

    fruta

    aella

    tdI

    ala

    la*

    llalh

    alh

    alh

    aylh

    eca

    and

    o-a

    wi:

    awa:

    -tak

    *aw

    w

    uke

    sa [w

    o]m

    arid

    o-o

    ddaw

    ano

    w

    wa

    *wa

    cheh

    wa

    cilh

    acha

    kfa

    ewhe

    ye

    pern

    a-t

    i (sh

    inbo

    ne)

    chi

    ichi

    *tti

    eche

    kyo

    na

    oyc

    hka

    naxa

    kfa

    lar

    (vi)

    -ota

    Gam

    mat

    ara

    bata

    rta

    qet

    aq*

    ttaG

    amux

    e

    vesp

    aw

    itelo

    waG

    ala

    woy

    k*l

    owoy

    G

    naki]

    wo

    (y)to

    kw

    oyti

    lho

    pom

    voc

    aqa:

    mm

    iak

    i qa

    mi

    qam

    i*a

    qqa(

    :)mm

    im

    eem

    :im

    uga

    fora

    owe

    (ver

    b)ba

    awad

    u (d

    u=N

    om)

    gua

    iy:o

    Go

    ana

    t ~

    inya

    tin

    t

    arny

    oqod

    ina

    ki]w

    ow

    oyti

    ante

    sjo

    t:igi

    dejao

  • Bol. Mus. Para. Emlio Goeldi. Cincias Humanas, Belm, v. 2, n. 2, p. 91-107, mai-ago. 2007

    105

    Tabela 12. Correspondncias.Glosa Kadiwu Umutina Bororo Toba Mocov Waikuran Wichi Chorote Nivacl Maka

    w kw w kw

    -owag okwa (boca) nak ewag *hg yokwah

    w k k

    canoa -iwa:- eyki ika

    frio wettamm akyeto akudu atom *waetomm

    sangue -awodi kokwa ku ewot *wudi woyis woyis wooy

    kk k k k

    olho gekko:Ge jikishi jokuaylkoowe

    (glbulo ocular)*gaylkko:Ge

    w p w

    irm niwalloipare

    (esposa do chefe)

    owalya

    (cunhada)*wallo ala:wo

    basto iwoGo ipo waGa *iwoGGo

    w b w

    andar -awali- abala awara

    g k g k

    ona geddyogo ayko adugo kiyok *geddyugo

    ll r r d r ll

    fogo olled zo:ro joru odek orek *ullek

    jj z j sh sh ddy

    face ajjike ze je ashik ashik *addyike

    CONSIDERAES FINAIS interessante notar que a comparao lexical entre Bororo e Kadiwu resulta que as lnguas no so relacionadas geneticamente. As palavras semelhantes levam-nos a crer sobretudo na difuso por emprstimo. No entanto, a comparao do morfema relacional tem sido usada, entre outras evidncias mais fortes, para estabelecer relaes genticas entre famlias sul-americanas (Rodrigues, 1985). A presena do relacional na famlia Guaikur, em conjuno com as evidncias que viemos apresentar, de que o relacional em Bororo e nas lnguas da famlia Guaikur pode ter uma origem comum, aponta a necessidade de mais estudos areais e histrico-comparativos na regio do Chaco.

    ABREVIATURASAs seguintes abreviaes foram usadas para os exemplos de Kadiwu:1 1a pessoa SUJ sujeito2 2a pessoa OBJ objeto3 3a pessoa OBL argumento oblquoCOMP complementizador pl pluralNEG negativo sg singular.

  • Uma comparao gramatical, fonolgica e lexical entre as famlias Guaikur, Mataco e Bororo: um caso de difuso areal?

    106

    Note que Kadiwu no admite hiato; esta lngua conta com a epntese de [t] para evitar a ocorrncia de hiato. Um [t] epenttico glossado de EPN. Os dados esto transcritos fonologicamente de acordo com o alfabeto IPA, exceto para os seguintes smbolos: j corresponde a uma africada vozeada e c a uma africada surda.

    REFERNCIASCAMPBELL, Lyle. American Indian languages: the historical linguistics of Native America. New York: Oxford University Press, 1997.

    CERIA, Vernica G.; SANDALO, Filomena. A Preliminary reconstruction of Proto-Waikuruan with special reference to pronominals and demonstratives. Anthropological Linguistics, Indiana, v. 37, n. 2, p. 169-192, 1995.

    GONZLEZ, Hebe. A typology of stops in South American Indian Languages. In: CONFERENCE ON INDIGENOUS LANGUAGES OF LATIN AMERICA, 1. University of Texas at Austin, 2003. Proceedings Texas, 2003.

    HALE, Ken; KEYSER, Samuel Jay. On argument structure and the lexical expression of syntactic relations. In: HALE, Ken; KEYSER, Samuel Jay (Eds.). The view from Building 20: essays in linguistics in honor of Sylvain Bromberger. Cambridge, MA.: MIT Press, 1993.

    KAUFMAN, Terrence. The Native languages of South America. In: ATLAS of the Worlds Languages. Routledge: [s.n.], 1994.

    LEVI-STRAUSS, Claude. Tristes tropiques. Paris: Plon, 1955.

    MASON, J. Alden. The Languages of South American Indians. In: STEWARD, Julian H. (Ed.). Handbook of South American Indians. New York: Cooper Square Publishers, 1963. v. 6, p. 157-317.

    MTRAUX, Alfred. Ethnography of the Chaco. In: STEWARD, Julian H. (Ed.). Handbook of South American Indians. Washington: Government Printing Office, 1945. v. 1, p. 197-310. (Bulletin, 143. Bureau of American Ethnology, Smithsonian Institution).

    RODRIGUES, Aryon D. Uma hiptese sobre a flexo de pessoa em Bororo. In: REUNIO ANUAL DA SBPC, 45, 1993, Recife. Anais... Recife: [s.n.], 1993. p. 50.

    RODRIGUES, Aryon D. Lnguas Brasileiras, para o conhecimento das lnguas indgenas. So Paulo: Loyola, 1986.

    RODRIGUES, Aryon D. Evidence for Tupi-Cariban relationships. In: KLEIN, H. E. M.; STARK, L. R. (Eds.). South American Indian languages: retrospect and prospect. Austin: Texas University Press, 1985. p. 371-404.

    RODRIGUES, Aryon D. Typological Parallelism due to Social Contact: Guat and Kadiwu. In: ANNUAL MEETING OF THE BERKELEY LINGUISTICS SOCIETY, 9. Berkeley, 1983. Proceedings Berkeley, 1983. p. 218-222.

    SNCHEZ LABRADOR, Jos. Gramtica Eyiguayegi-Mbay. Segn el manuscrito del siglo XVIII. 1760. In: SUSNIK, Brasnilava J. Familia Guaycuru. 1-166. Asuncin: Museo Etnogrfico Andrs Barbero, 1971. (Lenguas Chaqueas 1.).

    SANDALO, Filomena. Syntactic ergativity and argument hierarchy in Kadiwu. Revista da ABRALIN, v. 3, p. 177-194, 2004.

    SANDALO, Filomena. Paralelismo Fonolgico entre as lnguas Guaykur e Bororo. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DO GRUPO DE TRABALHO EM LNGUAS INDGENAS DA ASSOCIAO NACIONAL DE PS-GRADUAO EM LETRAS E LINGSTICA, 1, 2002, Belm. Atas... Belm, 2002.

    STEWARD, Julian H. (Ed.). Handbook of South American Indians. New York: Cooper Square Publishers, 1963. v. 6.

    TOVAR, Antonio. El grupo mataco y su relacin con otras lenguas de Amrica del Sur. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE AMERICANISTAS, 35, 1964, v. 2, p. 439-52.

  • Bol. Mus. Para. Emlio Goeldi. Cincias Humanas, Belm, v. 2, n. 2, p. 91-107, mai-ago. 2007

    107

    VIEGAS BARROS, Pedro. Existe una relacin gentica entre las lenguas mataguayas y guaycures? In: Hacia una nueva carta tnica del Gran Chaco. [S.l.: s.n.], 1993. V. Informe de Avance 1989/90. Centro del Hombre Antiguo Chaqueo (CHACO). Las Lomitas. p. 193-213.

    Recebido: 04/07/2006 Aprovado: 29/06/2007