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Nº5 INVERNO 2003 JORNAL DO MUSEU DOS TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES Edgar Cardoso Mecanismos do Génio VOLVO | ACP | EXPOSIÇÕES | OFICINAS CRIATIVAS | NOTICIAS JMTC Decorreu nos dias 27, 28 e 29 de Outubro no espaço "É mesmo ciência?" da exposição "Comunicação do Conhecimento e da Imaginação" o workshop "Active teaching and learning in the biomolecular sciences". Dinamizado pelo Professor Manuel João Costa, docente da Universidade dos Açores, contou com a presença de Rebecca Brent & Richard Felder (North Carolina State University - USA) e Bayardo Torres (Universidade de S. Paulo - Brasil) e envolveu cerca de 40 participantes de várias instituições de ensino superior de todo o país. Durante os três dias de trabalho foram abordadas formas diferentes e inovadoras de ensinar a ciência na sala de aula. A envolvente inovadora e interactiva da exposição "Comunicação do Conhecimento e da Imaginação" apresentou-se como o ambiente ideal para a realização deste workshop e para a apresentação de novos métodos de ensinar e comunicar a ciência em Portugal. A 9 de Outubro, Dia Mundial dos Correios, decorreu a sessão de inauguração da exposição da Fundação Portuguesa das Comunicações "150 anos do primeiro selo português". Depois de uma itinerância por Lisboa, Viseu e Faro esta exposição esteve patente ao público no Auditório da AMTC até 31 de Dezembro. No acto inaugural, que contou com a presença de representantes da Fundação Portuguesa das Comunicações e CTT - Correios de Portugal, os convidados puderam assistir a um pequeno momento teatral alusivo à história dos Correios em Portugal. A Raínha D. Maria II e o 2º Director Geral dos Correios D. Guilhermino Augusto de Barros contaram ainda com a companhia do Carteiro "Emílio Valente" personagem criada pelo Serviço Educativo do MTC para animar as visitas de grupo à referida exposição. Circulou pelas ruas da Capital Nacional da Cultura um trolei- carro cedido pela STCP à empresa de transportes públicos de Coimbra (STUC) o qual funciona antes de mais como um veículo comunicante da cultura da cidade do Porto. O exterior do veículo foi “vestido” com imagens alusivas a três instituições culturais da cidade: Museu do Carro Eléctrico, Museu de Arte Contemporânea de Serralves e Museu dos Transportes e Comunicações. Uma forma diferente de comunicar cultura que já tem rodas para andar e que se revela bastante oportuna no ano em que Coimbra é palco de importantes eventos culturais. O Centro de Formação da AMTC desenvolveu no último trimestre de 2003 mais quatro acções que completam o Plano de Formação previsto para este ano. “A importância da voz na prática docente” (turma II), “O conhecimento de si e do outro. Expressão dramática” (turma II), “O ensino experimental das ciências na sala de aula” e “Museu, Escola e Comunidade – a outra face das visitas escolares”, foram as acções que envolveram cerca de sessenta educadores e professores dos ensinos básico e secundário. Ainda no âmbito da actividade do Centro de Formação foi realizada nos dias 27 e 28 de Outubro, em colaboração com o Museu Municipal de Vila Franca de Xira, a acção “A importância da voz nas práticas educativas”. Abordando questões da voz nas actividades de animação desenvolvidas nos museus contou com a participação de quinze técnicos de museus de Vila Franca de Xira e municípios próximos. O Museu dos Transportes e Comunicações foi convidado a estar presente em dois certames que se revelaram de extrema importância para a divulgação do seu programa de actividades. Entre 4 e 7 de Outubro integrou a mostra “AutoClássico” na Exponor deslocando para o efeito o automóvel “Marlei” e outros materiais de divulgação (folhetos, filmes, miniaturas) que cativaram a atenção de centenas de visitantes. Nos dias 16 e 17 do mesmo mês e a convite da Associação de Professores de História (APH), o Serviço Educativo e de Animação do MTC dinamizou um espaço de mostra e divulgação do Museu no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), local onde a APH realizou o seu congresso nacional, este ano subordinado ao tema Ciência e Tecnologia. Como já vem sendo hábito o MTC, através do Serviço Educativo e de Animação recebe e dinamiza estágios curriculares. No ano de 2003 a colaboração envolveu duas alunas do Curso de Educação Social da Escola Superior de Educação Paula Frassinetti e uma aluna de “Gestão do Património” da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto. Enquanto as primeiras construíram um projecto de proximidade com instituições de carácter social da comunidade envolvente (Miragaia e S. Nicolau), a segunda integra a equipa do MTC, colaborando no desenvolvimento de tarefas diárias e prevê a realização de um projecto complementar da programação de 2004 que envolverá grupos de surdos mudos na exposição “O Automóvel no Espaço e no Tempo”. Nos dias 18 e 19 de Dezembro o Museu foi o espaço para uma aventura ímpar no historial das oficinas do MTC. O convite foi bastante audacioso e contemplou dois dias e uma noite recheados de mistério e alegria. O Natal esteve perdido no Edifício da Alfândega e tornava-se urgente encontrá-lo para que se pudesse comemorá-lo como é a tradição com árvore de Natal, presentes, música e muitas goluseimas. A construção de um livro gigante ilustrou a aventura mas, o que se aguardou com mais expectativa foi mesmo passar a noite no edifício em busca do Natal. Destinada a crianças e jovens entre os 8 e os 14 anos, esta oficina foi coordenada pelo Serviço Educativo e de Animação em colaboração com os animadores da exposição “Comunicação do Conhecimento e da Imaginação”. Workshop "Active teaching and learning in the biomolecular sciences" Exposição "150 anos do primeiro selo português" Trolei-Carro em Coimbra Centro de Formação da AMTC Acções de divulgação do MTC Estágios Oficinas de Natal “Na Pista do Natal” Notícias do Museu © STUC HORÁRIO de Terça a Sexta 10h > 12h e 14h > 18h Sab. | Dom. | Feriados 15h > 19h R. Nova da Alfândega Edifício da Alfândega 4050-430 Porto Tel: 22.340 30 00 Fax: 22.340 30 98 www.amtc.pt [email protected] Auto-Sueco PATROCINIO ISSN 1645-6386

Jornal do Museu dos Transportes e Comunicações

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n.º 5 (Inverno 2003)

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Nº5INVERNO 2003

JORNAL DO MUSEUDOS TRANSPORTESE COMUNICAÇÕES’

Edgar CardosoMecanismosdo Génio

VOLVO | ACP | EXPOSIÇÕES | OFICINAS CRIATIVAS | NOTICIAS

’JMTC

Decorreu nos dias 27, 28 e 29 de Outubro no espaço "Émesmo ciência?" da exposição "Comunicação doConhecimento e da Imaginação" o workshop "Active teachingand learning in the biomolecular sciences".Dinamizado pelo Professor Manuel João Costa, docente daUniversidade dos Açores, contou com a presença de RebeccaBrent & Richard Felder (North Carolina State University -USA) e Bayardo Torres (Universidade de S. Paulo - Brasil) eenvolveu cerca de 40 participantes de várias instituições deensino superior de todo o país. Durante os três dias detrabalho foram abordadas formas diferentes e inovadoras deensinar a ciência na sala de aula.A envolvente inovadora e interactiva da exposição"Comunicação do Conhecimento e da Imaginação"apresentou-se como o ambiente ideal para a realização desteworkshop e para a apresentação de novos métodos de ensinare comunicar a ciência em Portugal.

A 9 de Outubro, Dia Mundial dos Correios, decorreu a sessãode inauguração da exposição da Fundação Portuguesa dasComunicações "150 anos do primeiro selo português". Depoisde uma itinerância por Lisboa, Viseu e Faro esta exposiçãoesteve patente ao público no Auditório da AMTC até 31 deDezembro. No acto inaugural, que contou com a presençade representantes da Fundação Portuguesa das Comunicaçõese CTT - Correios de Portugal, os convidados puderam assistira um pequeno momento teatral alusivo à história dos Correiosem Portugal. A Raínha D. Maria II e o 2º Director Geral dosCorreios D. Guilhermino Augusto de Barros contaram aindacom a companhia do Carteiro "Emílio Valente" personagemcriada pelo Serviço Educativo do MTC para animar as visitasde grupo à referida exposição.

Circulou pelas ruas da Capital Nacional da Cultura um trolei-carro cedido pela STCP à empresa de transportes públicosde Coimbra (STUC) o qual funciona antes de mais como umveículo comunicante da cultura da cidade do Porto. O exteriordo veículo foi “vestido” com imagens alusivas a três instituiçõesculturais da cidade: Museu do Carro Eléctrico, Museu de ArteContemporânea de Serralves e Museu dos Transportes eComunicações. Uma forma diferente de comunicar culturaque já tem rodas para andar e que se revela bastante oportunano ano em que Coimbra é palco de importantes eventosculturais.

O Centro de Formação da AMTC desenvolveu no últimotrimestre de 2003 mais quatro acções que completam oPlano de Formação previsto para este ano. “A importânciada voz na prática docente” (turma II), “O conhecimento desi e do outro. Expressão dramática” (turma II), “O ensinoexperimental das ciências na sala de aula” e “Museu, Escolae Comunidade – a outra face das visitas escolares”, foramas acções que envolveram cerca de sessenta educadores eprofessores dos ensinos básico e secundário.Ainda no âmbito da actividade do Centro de Formação foirealizada nos dias 27 e 28 de Outubro, em colaboraçãocom o Museu Municipal de Vila Franca de Xira, a acção “Aimportância da voz nas práticas educativas”. Abordandoquestões da voz nas actividades de animação desenvolvidasnos museus contou com a participação de quinze técnicosde museus de Vila Franca de Xira e municípios próximos.

O Museu dos Transportes e Comunicações foi convidado aestar presente em dois certames que se revelaram de extremaimportância para a divulgação do seu programa deactividades.Entre 4 e 7 de Outubro integrou a mostra “AutoClássico”na Exponor deslocando para o efeito o automóvel “Marlei”e outros materiais de divulgação (folhetos, filmes, miniaturas)que cativaram a atenção de centenas de visitantes.Nos dias 16 e 17 do mesmo mês e a convite da Associaçãode Professores de História (APH), o Serviço Educativo e deAnimação do MTC dinamizou um espaço de mostra edivulgação do Museu no Instituto Superior de Engenhariado Porto (ISEP), local onde a APH realizou o seu congressonacional, este ano subordinado ao tema Ciência e Tecnologia.

Como já vem sendo hábito o MTC, através do ServiçoEducativo e de Animação recebe e dinamiza estágioscurriculares. No ano de 2003 a colaboração envolveu duasalunas do Curso de Educação Social da Escola Superior deEducação Paula Frassinetti e uma aluna de “Gestão doPatrimónio” da Escola Superior de Educação do InstitutoPolitécnico do Porto. Enquanto as primeiras construíramum projecto de proximidade com instituições de caráctersocial da comunidade envolvente (Miragaia e S. Nicolau),a segunda integra a equipa do MTC, colaborando nodesenvolvimento de tarefas diárias e prevê a realização deum projecto complementar da programação de 2004 queenvolverá grupos de surdos mudos na exposição “OAutomóvel no Espaço e no Tempo”.

Nos dias 18 e 19 de Dezembro o Museu foi o espaço parauma aventura ímpar no historial das oficinas do MTC. Oconvite foi bastante audacioso e contemplou dois dias euma noite recheados de mistério e alegria. O Natal esteveperdido no Edifício da Alfândega e tornava-se urgenteencontrá-lo para que se pudesse comemorá-lo como é atradição com árvore de Natal, presentes, música e muitasgoluseimas. A construção de um livro gigante ilustrou aaventura mas, o que se aguardou com mais expectativa foimesmo passar a noite no edifício em busca do Natal.Destinada a crianças e jovens entre os 8 e os 14 anos, estaoficina foi coordenada pelo Serviço Educativo e de Animaçãoem colaboração com os animadores da exposição“Comunicação do Conhecimento e da Imaginação”.

Workshop"Active teachingand learning in thebiomolecularsciences"

Exposição "150anos do primeiroselo português"

Trolei-Carroem Coimbra

Centro deFormaçãoda AMTC

Acções dedivulgaçãodo MTC

Estágios

Oficinas de Natal“Na Pista do Natal”

Notíciasdo Museu

© STUC

HORÁRIOde Terça a Sexta10h > 12h e 14h > 18h

Sab. | Dom. | Feriados15h > 19h

R. Nova da AlfândegaEdifício da Alfândega4050-430 Porto

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PATROCINIO

ISSN 1645-6386

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Nota deabertura

’JMTCEDITORIAL

Uma associação vale pelos seus membros. A Associação para o Museu dosTransportes e Comunicações orgulha-se dos seus valorosos associados.

Neste número do Jornal salientamos um deles, o Automóvel Clube de Portugal,que está a comemorar o seu centenário.

É um grande clube, o de maior número de associados em Portugal, cujahistória, longa história, acompanhou todo o desenvolvimento da sua razãode ser: o automóvel. Desde a época de reduzida utilização, por escassaspessoas, até à verdadeira massificação dos nossos dias. Desde a época deum desporto automóvel de elites até à “Fórmula 1”. Um verdadeiro repositóriodo “mundo automóvel”, este clube. Mas, mais do que isso, um clube semprepreocupado com as implicações do automóvel na sua circunstância: amobilidade, a segurança, o ambiente.

Num museu de transportes, como o nosso, o automóvel tem uma posiçãoprivilegiada. Não podendo o Museu albergar outras “máquinas transportadoras”de maiores dimensões, nem podendo implantar infra-estruturas pesadas, aexposição permanente “O automóvel no espaço e no tempo” tem sidoverdadeiramente a única expressão material de “transportes” no Museu dosTransportes e Comunicações. Contribui o Automóvel Clube de Portugal paraesta exposição. Expressamos-lhe aqui o nosso sincero agradecimento.

Por tudo isto, permita-se que se consagre aqui e agora uma saudação muitoespecial ao centenário Automóvel Clube de Portugal, nosso associadoinstitucional.

VOLVO

Volvo e a SegurançaAutomóvel

Fundada em 1927, a Volvo, uma marca automóveleuropeia com grande impacto mundial, símbolode elegância e conforto, sempre fez questão decentrar a sua imagem na segurança dosautomóveis que desenvolve, assumindo-a comoum conceito global, um pilar a partir do qualtem lançado as suas linhas de desenvolvimento.Em matéria de segurança, os engenheiros suecosdebruçam-se em duas áreas: a Segurança activa,ou seja, as características e equipamentos quepossibilitam ao condutor evitar um acidente e aSegurança passiva que se reporta aos níveis deprotecção oferecidos aos ocupantes de umautomóvel que sofra um acidente. O desenho do

painel de instrumentos, o design dos bancos, oequipamento adequado ao transporte de crianças,os sistemas de travagem, as suspensões ou ossistemas de controlo de tracção são algunsexemplos dos equipamentos e sistemasdisponíveis nos automóveis do construtornórdico...Em mais de 75 anos de existência, e comautomóveis capazes de protegerem devidamenteos seus ocupantes, a Volvo tem investido edesenvolvido soluções com o objectivo dereduzirem as probabilidades de acidentes. Asegurança é, pois, parte integrante de todos osprojectos, marcando, de facto, a diferença.

ficha técnicaN.º5INVERNO 2003

periodicidadeSazonal.

Propriedade da Associação para oMuseu dos Transportes e Comunicações

coordenação editorialSuzana Faro

redacçãoPaula Moura, Adriana Almeida,Carla Coimbra, Lia Oliveira

tiragem1000 exemplares.

imagem da capaDNA Design sobre uma imagem doarquivo in “SOARES”, Luís Lousada

designDNA Design.

impressãoSersilito, Empresa Gráfica lda.

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JORNAL DO MUSEUDOS TRANSPORTESE COMUNICAÇÕES’

o presidente do conselho de administração

Eng.º Carlos de Brito

Gustaf Larson e Assar Gabrielson,fundadores da Volvo© Volvo / Auto Sueco

Linha de montagem, 1947© Volvo / Auto Sueco

EVITAR QUE “ ACONTEÇA”

’JMTC

AMTCASSOCIAÇÃOPARAOMUSEUDOSTRANSPORTESECOMUNICAÇÕES

ISSN 1645-6386

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ASSOCIADOS

Automóvel Clubde Portugal

O Automóvel Club de Portugal escolheu o Museudos Transportes e Comunicações do Porto paraa sessão de encerramento das comemorações doseu centenário. Para o maior clube português,esta foi uma forma de homenagear os seus muitosmilhares de associados do Norte do país, ondese encontra profundamente implantado. Mas, epara além disso, constituiu uma forma de maisuma vez evidenciar a sua descentralização.O primeiro passo nas comemorações doCentenário do ACP foi igualmente umademonstração da vontade do Club em estar juntodos seus associados, ao longo de todo o país.Com a centésima edição do Rali Figueira da Foz-Lisboa, em Outubro de 2002, tinha lugar aabertura das comemorações e com plena razão,já que foi aquela competição, disputada pelaprimeira vez em Outubro de 1902, quem estevena origem do nascimento, seis meses mais tarde,em Abril de 1903, do então designado RealAutomóvel Club de Portugal, atendendo ao apoioque SAR, El-Rei D. Carlos lhe prestou.O ano de 2003 começou, para o ACP, com uma

iniciativa ligada aos mais novos. A preocupaçãocom a segurança infantil, a bordo dos automóveis,levou o Club a promover, junto de algunsestabelecimentos de ensino, a divulgação de umconjunto de medidas que são determinantesnaquele particular, tais como a utilização desistemas próprios de retenção, as designadascadeirinhas, utilização de cinto de segurança ecuidados a ter nos veículos com airbags.Esta campanha teve a duração de todo o primeirosemestre escolar e recentemente foi apresentadaem Itália, por ocasião de uma iniciativa sobresegurança rodoviária, levada a efeito peloAutomóvel Club de Itália (ACI).Em 15 de Abril, na Sociedade de Geografia deLisboa teve lugar a sessão solene do Centenário,o momento mais alto das comemorações.Assinalaram-se 100 anos de vida que simbolizamtambém a história do automóvel em Portugal,como referiu Alberto Romano, Presidente daDirecção. 100 anos que não são um sinal deenvelhecimento (nem o seu rosto nem o seucoração tem rugas; é ver como o seu beloemblema brilha de tão luminoso) antesrejuvenesceu, facto excelentíssimo que se deveà prática do seu virtuosismo cívico, comoenalteceu na altura o Dr. Miguel Veiga, Presidenteda Assembleia Geral do ACP; 100 anos, ainda,que são um desafio, um repto para o futuro,lançado nas palavras do presidente da República,presente na sessão e que, a propósito dos gravesíndices de sinistralidade, apelou ao Club, nosentido de este, de forma mais visível, forte eprioritária encarar as questões de segurançarodoviária no seu programa de acção. Por tudoisso e por tudo quanto tem feito em prol doautomobilismo, o ACP foi, na altura, agraciadopelo Governo com o Colar de Honra ao MéritoDesportivo.

No âmbito destas preocupações que ao longo do século de existência estiveram e estão semprepresentes, o ACP organizou em Setembro, oSimpósio subordinado ao tema Mobilidade paraTodos, tendo contado com a preciosa colaboraçãoda FIA Foudation. Um evento que reuniu algunsdos principais conhecedores da questão daMobilidade e que abordou o tema em

perspectivas tais como segurança rodoviária,ambiente e fiscalidade, traçando algumas daslinhas gerais entendidas como prioritárias parao desenvolvimento daquele conceito.

Tendo contado com a presença do Governo,representado pelo Ministro da AdministraçãoInterna e Secretário de Estado do MAI na sessãode abertura, que dessa forma acentuaram aimportância da iniciativa, O Simpósio Mobilidadepara Todos entra para a história do Centenáriodo ACP como um dos momentos mais altos dasComemorações, na perspectiva de se estar peranteum direito que urge os automoblistas defenderem.Mas o ACP é igualmente um símbolo do desportoAutomóvel, já que foi com ele, como vimos, queesta prática tão querida dos portugueses, nasceue se fortificou. Por isso, a edição de 2003 doRallye de Portugal se afirmou como uma iniciativapara campeões, tendo sido um festival de velhasglórias do automobilismo, com a presença denomes conceituados do automobilismo queescreveram algumas das mais brilhantes páginasda competição em Portugal, onde se destacoua figura do finlandês Markku Alen.

Num tempo de comemorações, destaque aindapara organização do 18º Concurso Europeu deEducação Rodoviária, uma iniciativa que reuniu,em Lisboa, no Pavilhão das Descobertas osrepresentantes mais jovens de 23 clubes filiadosna AIT e que mostraram os seus conhecimentosteóricos e práticos sobre segurança rodoviária,com o triunfo da Macedónia, à frente da Hungriae Eslováquia.

Ainda de assinalar neste tempo de aniversárioo Estoril Historic Festival, uma iniciativa da editoraTalento a que o ACP deu a sua colaboração eque reuniu no Autódromo do Estoril alguns dosmais significativos símbolos do automobilismode competição.

Ainda para a memória deste Centenário ficaa edição do livro ACP, Cem anos de História quenos faz viver em paralelo com a vida de umainstituição ímpar a história do automóvel nonosso país ao longo do século XX.

Carlos MorgadoACP

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EXISTE UM POUCO DE VOLVO EMTODOS OS AUTOMÓVEIS

A invenção do cinto de segurança de três pontosde fixação, em 1959, é inquestionavelmente oelemento de segurança que mais vidas salva emcaso de acidente. Assim, é com muito orgulho ecom toda a legitimidade que esta marca afirmaque existe um pouco de Volvo em todos osautomóveis produzidos pelo Mundo inteiro.Para além desta invenção, no que respeita aprotecção, há que assinalar também oaparecimento da coluna de direcção deformávelem 1973, ou o sistema de protecção contraimpactos laterais SIPS, em 1994, com airbagslaterais e cortina insuflável, já em 1998.Testemunho desta inequívoca preocupação coma segurança automóvel, e fruto de uminvestimento elevadíssimo de perto de 75 milhõesde euros, a 29 de Março de 2000, emGotemburgo, na Suécia, a Volvo inaugura aquiloa que muitos apelidam de “templo” deinvestigação automóvel, o mais avançado centrode investigação de segurança do Mundo!Socorrendo-se das mais avançadas técnicas einvestigações tecnológicas, em matéria desegurança, neste edifício inteligente há umobjectivo primordial: salvar vidas humanas.Para que tal objectivo se concretize, neste novoCentro de Segurança Volvo (SGV) recria-se todoo tipo de acidentes possíveis através de simulaçõesem computador, testes de componentes,simulações de embates e testes à escala real...tudo apoiado pela mais alta tecnologia, factoque permite partir para os crash-tests já com umgrau de certezas considerável.Munido de um dos poucos super-computadoresdo Mundo, o NEC SX-4, o Centro de Segurançada Volvo está apto a realizar testes de colisãovirtuais, testes estes que precedem a construçãode protótipos dos modelos a desenvolver por estamarca automóvel, o que possibilita que ascarcateristícas de segurança de determinadomodelo sejam alvo de alteração ou correcçãodesde a fase inicial do seu desenvolvimento.O trenó de simulação de embates será outratecnologia a assinalar. Acelerando a velocidadedas carroçarias ou dos seus componentes,

Cinto de segurança detrês pontos de fixação,1959© Volvo / Auto Sueco

Laboratório de embates,Centro de Segurança da Volvo,Gotemburgo, Suécia© Volvo / Auto Sueco

simulam-se embates permitindo testar o queacontece em situações reais. Analisa-se aopormenor todos os detalhes do embate, tudosem que um automóvel seja destruído.Porém, neste Centro de Segurança, o edifícioque mais se destaca é, sem dúvida, o laboratóriode embates, onde se simula a colisão de doisautomóveis, camiões ou autocarros em diferentesângulos e velocidades, contabilizando-se,anualmente, mais de 400 testes de colisão.Para tal, fundamental é a combinação de duaspistas de embate: uma fixa e outra ajustável quetem capacidade de rodar até 90º. Desta forma,os técnicos podem escolher exactamente qual oângulo a que querem que se dê o embate. Nolocal onde se verifica o choque são disparados26 mil Watt de luz para as muitas câmaras

fotográficas colocadas em sítios estratégicos –em cima e em baixo de uma superfície vidradaque serve de palco ao “confronto” – e queregistam todos os detalhes.Assim, acidentes que ocorrem nas nossas estradaspodem ser testados em laboratório, possibilitandouma melhor reflexão sobre o trabalho adesenvolver. Os resultados desta investigaçãosão minuciosamente estudados pelas diferentesequipas responsáveis pelo “nascimento” de novosmodelos a serem lançados no mercado.Um outro dado importantíssimo que contribuipara o sucesso da segurança automóvel, e quenão poderíamos deixar de assinalar, foi aconstituição de uma equipa de investigação deacidentes. Sempre que ocorre um acidente comum automóvel Volvo na zona da sede da marca,essa equipa desloca-se ao local recolhendo dadose apreciações que, posteriormente, transmite àsequipas que se dedicam ao desenvolvimento dosprodutos.São estes alguns dos exemplos que nos permitemafirmar que a segurança é desde o primeiromomento assumida como uma prioridade nafilosofia da marca... De facto, evitar que“aconteça”, é já um grande objectivo!

Teste de embates© Volvo / Auto Sueco

Publicidade preventiva© ACP

Capa de publicação© ACP

’JMTC

Page 4: Jornal do Museu dos Transportes e Comunicações

O facto de ser autor celebrado de obras-primascomo as pontes da Arrábida e de S. João sobre orio Douro, rapidamente transformadas, depois dasua construção, em verdadeiros ícones da cidadee do país, e a relativa projecção nos media de quegozou em vida, nem por isso tornam Edgar Cardosoe a sua obra bem conhecidos do Público.

Daí o interesse da presente exposição, EdgarCardoso, Mecanismos do Génio, resultado deprotocolo envolvendo o Museu dos Transportese Comunicações, a Faculdade de Engenharia eo Gabinete Professor Edgar Cardoso Engenharia.A Exposição ensaia uma abordagem da sua fortee fascinante personalidade e da sua notável obra,resultado de uma actividade profissional dequase seis décadas, intensamente vivida.A Personalidade e a Obra de Edgar Cardosoapresentam-se-nos de facto – na Vida e naExposição – de distintas formas.Antes de mais a de Engenheiro: é que tendo

sido uma das figuras cimeiras da nossaEngenharia, foi seguramente aquela em que aatitude e a prática melhor traduzem o sentidoetimológico da palavra que designa a profissãoque abraçou: “Engenheiro é aquele que temengenho”, dizia o próprio muitas vezes.Em seguida, a de Professor: é que não tendosido um académico clássico, Edgar Cardoso “fezEscola”: a internacionalmente reconhecidaexcelência da nossa (actual) engenharia nodomínio das pontes a ele em boa parte édevedora, quer através do trabalho concreto deseus antigos alunos e colaboradores, quer porqueas obras que nos deixou constituem permanentemotivo de inspiração e desafio.Finalmente, a de Inventor: é que o seu génioproduziu inovações – de que é paradigma a suaoriginal máquina fotográfica, que aliás inspirouo título e o cartaz da Exposição - muito paraalém do domínio da Engenharia Civil.

Edgar Cardoso,Mecanismos do Génio

’JMTCDESTAQUE

A obra do Professor Edgar Cardoso foi o pontode partida para definir as ideias que presidiramà concepção do guião da exposição “EdgarCardoso, Mecanismos do Génio”. Inovador,experimentalista, incansável na procura dasolução ideal, Edgar Cardoso notabilizou-se pelaconcepção e construção de estruturas,principalmente de pontes, que o tornaram numdos engenheiros mais importantes do País e comobra reconhecida além fronteiras. Comoprojectista e consultor foi autor de cerca de 500estudos e projectos de estruturas não só emPortugal mas também em Angola, Antiga ÍndiaPortuguesa, Brasil, China, Costa Rica, Guiné,Macau, Moçambique, Nigéria, Timor e Venezuela.Concebeu e acompanhou projectos de novaspontes mas também projectos de recuperação ebeneficiação de pontes já existentes.Sendo a cidade do Porto o local onde seencontram implantadas duas das suas maisrelevantes obras – a Ponte da Arrábida e a de S.João - o Museu dos Transportes e Comunicaçõesconsiderou ser da maior pertinência e relevânciadedicar uma exposição ao trabalho do EngenheiroEdgar Cardoso aliando-se à Faculdade deEngenharia da Universidade do Porto e aoGabinete Edgar Cardoso, instituiçõesfundamentais na organização do evento.Assim sendo, o guião da exposição teve comoobjectivo divulgar o seu trabalho e a importânciado seu legado, destacando determinadascaracterísticas da sua personalidade e talento.Com uma personalidade polémica e carácterforte, defendia de forma intransigente, o queacreditava transformando cada questão numcombate. Era frontal, provocador e por vezesagressivo nas palavras. Carismático e mediático,acreditava veementemente no seu trabalho e no

seu conhecimento técnico, não se inibindo de odemonstrar frente às câmaras de televisão.Tendo como base uma perspectiva geral do seupercurso enquanto profissional, tentámoscompreender as características que tornaram oseu trabalho emblemático e particularmenteadmirado, como por exemplo, as inovaçõestécnicas e formais das suas obras, a complexidadedo seu processo inventivo, o carácter experimentale intuitivo do seu trabalho e a excepcionalqualidade estética das suas pontes.O discurso museológico divide-se em duas fasesdistintas: na primeira pretende-se efectuar umaabordagem didáctica e contextualizante – ondese tenta compreender os aspectos essenciais daobra de Edgar Cardoso; na segunda parte daexposição pretende-se abordar a questão dacriatividade, da concepção e concretização deprojectos através de uma abordagem sensorial,recriando-se o gabinete onde trabalhava a equipado Professor.Este evento pretende confirmar a genialidade deEdgar Cardoso, deixando pistas sobre o seu processocriativo e metodologia de trabalho, tentandocompreender como a partir de uma ideia se chegaao projecto e deste se evolui até à obra final. Conformeas palavras do próprio Professor: “A forma final das minhas obras leva anosa conceber e outros tantos a executar.Quando eu tenho que projectar uma ponte,já conheço o que os outros fizeram e o queeu fiz anteriormente. Procuro fazer melhor.Actualizar e adoptar uma solução que euacho mais avançada”

Raquel Romero MagalhãesCONCEPÇÃO DO PROJECTO MUSEOLÓGICO

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Quando uma formaestrutural está correctaé plástica

A recriação (parcial) do Gabinete do Professor(era assim que Edgar Cardoso era tratado) nocentro do espaço expositivo, idealizado peloArquitecto Eduardo Souto Moura, com a suamágica “varanda” repleta de modelos, permitiráao visitante (pres)sentir o ambiente de criaçãoonde o Génio concebia e projectava as suasarrojadas pontes e outras estruturas.Como não podia deixar de ser, estas são tambémobjecto de tratamento detalhado na Exposição.Foram para o efeito seleccionadas cerca de 15obras, que são apresentadas com ênfase quernos aspectos inovadores das respectivas soluções,quer na sua plástica e integração na paisagem.Obras que fazem parte do imaginário quotidianode muitos de nós (Arrábida, S. João), mas tambémoutras menos conhecidas, quer porque situadasnoutros continentes (Tete, Macau), quer porque,embora estando localizadas bem perto,dificilmente são visíveis nos nossos percursoshabituais (como essa jóia escondida que é aponte da foz do rio Sousa). Esta mostra seleccionada inclui em muitos casosos próprios modelos usados no trabalho deprojecto, bem como desenhos originais de grandebeleza. A propósito de algumas das obrasexpostas, são incluídas pequenas “estórias” queajudam a conhecer a face humana do Projectista.Edgar Cardoso, Mecanismos do Génio, aberta aopúblico durante seis meses (28 de Fevereiro a31 de Agosto de 2004), no cenário magníficoque é a Alfândega, com essa obra maior que éa ponte da Arrábida a recortar a vista do Poente,será seguramente um bom motivo para quereganhemos alguma confiança na nossacapacidade realizadora e para que nosreconciliemos com a beleza das obras deEngenharia.

Professor Manuel de Matos FernandesCOMISSÁRIO DA EXPOSIÇÃO

Engº Edgar Cardoso- in “SOARES”, Luís Lousada-Edgar Cardoso engenheirocivil. Porto: Faculdade deEngenharia da Universidadedo Porto, 2003.

A ponte da Arrábida©Instituto de Estradasde Portugal

Ponte Macau-Taipa© Fundação de Macau

Pormenores daArquitectura da ExposiçãoFotografia de António Chaves© AMTC

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Ao longo da segunda metade do século XX, emcada país à medida que foi aumentando o seunível de vida, a presença do automóvel foi-seexpandindo nas sociedades mais ricas edesenvolvidas, sendo hoje muitos os países emque o número de automóveis é bem mais demetade do número de pessoas com idade paraos conduzir, e havendo algumas regiões em quehá mesmo mais automóveis que pessoas para osconduzir. O mesmo tipo de processo de subidagradual continua a decorrer em quase todos ospaíses em desenvolvimento, no essencialreproduzindo as trajectórias antes observadasnos mais ricos.

Ao longo desse processo de penetração socialdo automóvel, ele vai sucessivamente sendo oobjecto mais desejado de múltiplas camadas dapopulação, depois, uma vez adquirido, símbolodo status conquistado, em seguida elementocentral das opções de lazer, e finalmente presençatrivial no modo de vida quotidiano. Nas famíliasem que os mais jovens crescem já na presençade múltipla motorização, o acesso e direito deutilização regular do automóvel são, na maioriados casos, uma expectativa elementar. Por outrolado, são muito poucos os que, tendo ascapacidades para o usufruto de um automóvel,dele abdicam sistemática e voluntariamente.

Se assim é, apesar dos custos significativos quea sua posse e uso regular acarretam, há quereconhecer que o automóvel deverá proporcionargrandes vantagens aos que nele apoiam a suamobilidade. Essas vantagens estão muitoassociadas ao aumento dos graus de liberdadenas nossas actividades, com o alargamento doespaço geográfico e do tempo em que nelaspodemos participar. As principais alternativas

são a mobilidade a pé (ou em bicicleta), que temum alcance geográfico reduzido, e o transportecolectivo, que só existe ao longo de vectores comalguma concentração de procura, e implica fortesagravamentos de tempo sempre que não há umaligação directa, para além de ter sempre algumaslimitações dos horários disponíveis. Daí que,mesmo quando esperamos um dia simples deida e regresso entre a casa e o emprego, muitosde nós optamos por levar o carro, porque podesurgir um imprevisto que imponha ir a algumlado, e assim estaremos prevenidos…

O automóvel é por isso, antes de tudo o mais,considerado um elemento de expansão do espaçovital (geográfico) dos seus utilizadores, pelamobilidade que proporciona. Mas além disso, asua configuração fechada e a sua posse duradourapor cada proprietário proporcionam a este umnovo espaço vital privativo, ao mesmo temposímbolo de poder territorial perante os outros eespaço de abrigo e retempero do próprio, quasecomo se fosse uma fortaleza portátil. Ou seja, àdimensão utilitária acresce uma outra simbólica,de não menos importância.

Só um objecto de tão grande e profundosignificado para as pessoas poderia manter asua popularidade tão elevada, e a sua influênciapolítica tão forte no plano das decisões deinvestimento público, apesar dos elevadíssimoscustos sociais que provoca, quer em mortos eferidos associados aos acidentes de tráfego, quernas várias frentes de custos que provoca aos nãoviajantes, de que os mais directamente sensíveissão a poluição atmosférica e o ruído. É bemverdade que a indústria automóvel e a doscombustíveis têm tido a capacidade de irreduzindo de forma significativa a intensidade

destes impactes por unidade de movimento, maso aumento constante da motorização e damobilidade levam a que o ritmo de redução dosimpactes globais seja bastante moderado.

Mas hoje, o que mais incomoda qualquerautomobilista é o facto de haver tantos outrosautomobilistas que com ele competem pelaocupação dos mesmos espaços às mesmas horas,seja para circular, seja para estacionar o carro.

A resolução destes problemas começou por sertentada com soluções de alargamento das vias,mas rapidamente se percebeu que isso seriainsuficiente, e acabou por suceder que fomossucessivamente adaptando o espaço – nas suasvárias naturezas e escalas – por forma a melhoracomodar o automóvel. No domínio privado, ascasas passaram a ter mais um “quarto”,correspondente ao estacionamento do automóvel;na cidade compacta clássica passa a haveredifícios de recolha (estacionamento) outratamento (oficinas e estações de serviço) deautomóveis a par com edifícios de habitação,emprego ou prestação de serviços às pessoas,por forma a libertar uma maior parte do espaçopúblico para a circulação. Visto a uma escala umpouco mais distante, é interessante notar aprogressiva mudança de configuração das redesviárias, seguindo as passadas dos edifícios nosentido das soluções em vários níveis, e a própriamudança do desenho das cidades, que passama ter expressões muito mais espalhadas, porforma a facilitar a mobilidade em automóvel.Como é reconhecido, algumas destas soluçõestêm acabado por inviabilizar a vida urbana a pé– pela concentração geográfica e deslocalizaçãopara fora dos bairros de alguns equipamentoscolectivos - e dificultado muito (ainda mais) a

O Automóvel,elemento vital da nossa sociedade?

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eficiência da mobilidade em transporte colectivo,face à dispersão das residências e consequenteaumento radical das distâncias a percorrer a péaté às paragens do transporte colectivo.

Mas não só no espaço nos temos vindo a adaptarao automóvel, também na organização do tempo:os horários de trabalho e de atendimento emmuitos serviços – e portanto de funcionamentoda sociedade - têm vindo a ser espraiados porforma a permitir distribuir no tempo o númerode automóveis que já não cabia nos espaçosdisponíveis e nos tempos tradicionais.

Ou seja, enquanto de início o automóvel foi uminstrumento que facilitou a exploração e ousufruto do território, hoje são os objectos desseterritório que se vêm adaptando às exigênciasdo automóvel, ou melhor, do exército deautomóveis que os invade e envolve.

Assim, o automóvel foi-se tornando um elementovital, não só à escala das pessoas mas dasociedade e do próprio território, na medida emque muito da nossa organização social e daocupação do território não pode ser entendidoa não ser em função do automóvel. A força doautomóvel é tal que, não só as pessoas e asociedade se servem dele, mas também e emsentido contrário, ele “impõe” modificações aohospedeiro por forma a melhor exercer a suafunção, no que acaba por constituir uma situaçãosemelhante à que ocorre na natureza com asligações de simbiose entre seres vivos.

Essa é já hoje uma situação de facto, e muitasdas tensões urbanísticas que existem têm a versobretudo com a resistência dos tecidos urbanosclássicos a esta pressão de reformatação nosentido do melhor acolhimento do automóvel

em toda a parte.As autoridades vão fazendo esforçosintermitentes no sentido de reduzir as vantagenscompetitivas do automóvel sobre os outrosmodos de transportes, seja pela melhoria daqualidade e conforto destes, seja (maisraramente) pelo aumento dos custos associadosàquele. Nestas frentes os sucessos têm sidobastante limitados, podendo talvez ser maiscorrecto classificar os resultados como deabrandamento da velocidade da invasão do quede contenção dos avanços ou mesmo deimposição de um retrocesso.

Por força da situação económica, estamos emPortugal num momento em que as vendas deautomóveis novos têm vindo a descer face aosmáximos de 1998 e 1999, mas em que o parqueem circulação continua a aumentar por causado muito reduzido volume de abates à circulaçãoque se vai fazendo. A pressão sobre os meiosurbanos continua por isso a aumentar, havendono entanto sinais de que começa a despontara coragem de alguns políticos para a adopçãode medidas de contenção da apropriação doespaço urbano pelo automóvel.

Sendo claro que muitas pessoas se habituaramjá à flexibilidade e comodidade proporcionadaspelo automóvel, essas medidas não deixarão deser entendidas como um ataque a direitosadquiridos, situação em que nos mostramossempre muito aguerridos.

Por isso, e recordando que a esse papel utilitáriose junta o papel simbólico do automóvel paracada um dos seus utilizadores, entendo que ocaminho para o redimensionamento da utilizaçãodo automóvel na mobilidade urbana passa porsoluções que estimulem a sua utilização

alternada com a de outros modos de transporte,evitando o paradigma comportamental hojedominante que é o da repartição da sociedadeem dois grupos cativos de soluções de mobilidadediferentes, um do transporte individual e outrodo transporte colectivo.

Tal como devemos saber alternar a nossa dietaentre carne e peixe, sempre com muitos vegetaise fibra, também deveremos aprender a alternaras nossas soluções de mobilidade entre oautomóvel e o transporte colectivo, semprecomplementados com boas doses de marcha apé. Para isso, há também um esforço significativoa fazer do lado do transporte colectivo,nomeadamente no plano tarifário – por exemplotítulos válidos para vários dias não consecutivos,e não apenas para um mês inteiro – e no planoda informação, com a capacidade de produçãosimples e expedita de itinerários e horários “àmedida” e não apenas a distribuição de plantasda rede e horários de produção.

Há portanto que reconhecer que o automóvelsoube tornar-se um elemento vital na nossasociedade, mas também que saber gerir a suaparticipação nos processos vitais próprios desteorganismo tão complexo, para que ele não setransforme num vírus que acaba pordescaracterizar o corpo em que se instala e osuga até à inanição, indo depois instalar-se numpróximo hospedeiro. Ainda vamos a tempo, masdevemos reconhecer o risco e tomar as medidasnecessárias para o conter.

José Manuel ViegasCESUR - Instituto Superior Técnico; e TIS.pt,Consultores em Transportes, Inovação e Sistemas, S.A.

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Na exposição "Comunicação do Conhecimentoe da Imaginação" mora o núcleo "ImaginaçãoCorporal“. "Mas o que será que se pode fazeraqui?” perguntam muitos visitantes olhando emvolta para verificar alguma pista, encontrar osinstrumentos ou meios de comunicaçãodisponíveis ali. A pergunta é então lançada noar: “Com que meio de comunicação trabalhamosneste espaço?” Perante o olhar questionadorsão lançadas algumas pistas: música, palavra,voz, imagens, texto, dança, teatro…são algunsdos instrumentos de trabalho a colocar em acção.Um conjunto de vozes discordantes invade oespaço vazio, onde tudo terá lugar dentro demomentos.O que quase nunca respondem de imediato éque o nosso corpo é o objecto daquela actividade,o meio de comunicação com que trabalhamosnaqueles sessenta e tais minutos deconhecimento. Será possível mudar a atitude deum indíviduo numa ou duas horas de exercitaçãodo corpo? Se pensarmos que algumas daquelaspessoas que agora ali estão nunca antes pensaramser o corpo um meio de comunicação, a dúvidainstala-se e o desafio é ainda maior. Talvez sejaaquele espaço uma porta para a aventura dodesconhecido.Quantas vezes deixamos de projectar as nossasemoções, porque somos obrigados desde cedo adizer não quando queremos dizer sim, a adequara postura diante de desconhecidos ou quandotemos que enfrentar situações mais formais, asquais não dominamos? Ou ainda quando somosobrigados a engolir o choro, as palavras que nosvêm à boca, os soluços, os espirros, tudo paranão incomodar o vizinho, o outro que nos espreita,o nosso superego? E assim, a emoção fica presa,encerrada no fundo de cada ser humano. Quandocrescemos, apresentamos uma aparência quenão é nada líquida, pelo contrário, enrijecemoso olhar, os lábios, o sobrolho, os braços, as pernas,todo o corpo e acabamos por exprimir as emoçõesde forma convencional: dizer sim e não comacenos de cabeça, desviar o olhar e morder oslábios em sinal de timidez, cruzar os braçosquando estamos menos receptivos ou abri-los

para demonstrar o oposto. São gestos. Gestosinfinitamente reproduzidos quase sem darmosconta da sua rigidez e indiferença. São sinais.Sinais que semeiam dúvidas quanto aos seussignificados: timidez? Medo do ridículo?Insegurança face ao desconhecido? Receio dearriscar e dar liberdade à imaginação?O que talvez seja necessário é uma aberturaespiritual para criar novos signos e novossignificados. Pensar o corpo de uma maneiramais introspectiva, mais pessoal e menos colectiva.Olhar para nós mesmos como indivíduos e, diantedo espelho da nossa consciência, reflectir comas mãos, com os pés, com a cabeça e as demaispartes do corpo, que não pensam, sem dúvida,mas podem agir, mover-se e dominar-nos quandoestimulados, sem que com isso percamos ossentidos. A autonomia dos gestos confirma queestamos vivos e temos um corpo que fala.E fala muito o nosso corpo. Fala das nossasexperiências, dos nossos conflitos, das nossasvergonhas, dos medos, dos bloqueios, da alegriade viver, das pessoas que amamos, do outro queconnosco partilha os bons e maus momentos danossa vida.Romper com os gestos quotidianos e trazer àtona outras emoções através do nosso corpo équase um desafio intransponível. Porque é preciso"desnudarmos" diante do outro, perder avergonha, driblar a timidez, descobrir-se edescobrir o outro num mundo cheio de novas ediferentes sensações.É desta forma que no período de tempo em quedecorrem as actividades no espaço da ImaginaçãoCorporal descobrimos o nosso corpo. Será quetodos os participantes têm disso consciência?Talvez sim ou talvez não. Mas temos a certezaque saem mais felizes, mais leves, com um“bichinho” lá dentro, que uma ou outra vez, sevai mexer e fazer relembrar alguma emoçãoíntima que nem sabemos ao certo de onde vem.E assim, depois de nos descobrirmos comoindivíduos, certamente agiremos melhor comopartes de uma colectividade, para podermosmostrar os nossos sentimentos de uma formamais humana e menos comprometida com as

regras, os tabus e as convenções sociais.Vista a actividade nesta perspectiva, poderáparecer uma grande pretensão querer mudar aatitude de um indivíduo num espaço de tempotão curto. Mas, na verdade, essa mudança éconstante, ocorre aos poucos e diariamente, bastaque para isso uma pessoa entre em "contactoconsigo mesma". E lá, no espaço da ImaginaçãoCorporal, isto acontece. Sem dor e sem conflito,da forma mais lúdica e mais "prazeirosa" possível.Para proporcionar este "contacto", usamos amúsica, a palavra, a voz, os gestos, a dança, oteatro, enfim, todos os meios de expressão queestão ao dispor do nosso corpo para moldarmoso nosso espírito e comunicarmos com o mundosem complexos, resistências ou medo dedemonstrar as nossas emoções.Depois de mais de um ano de actividade podemosconstatar que esta experiência produz modos deestar que variam de pessoa para pessoa: ascrianças estão sempre mais disponíveis, osadolescentes desconfiados e misteriosos e osadultos, na maioria das vezes, revelam-se de duasmaneiras: ora verdadeiras crianças cheias deexpectativas e motivações pessoais, ora bastantereticentes e com medo de arriscar uma experiênciamenos racional e mais emocional. Podemosassegurar que a maior satisfação que o trabalhonos tem permitido é constatar em cada momentouma atitude de encantamento, que é bastantereveladora da importância daqueles brevesinstantes de desvendamento para atransformação no íntimo de cada pessoa.Certo dia, uma frase dita por um menino de maisou menos onze anos, tomou-nos inteiramentede surpresa e espanto. As suas palavras tornaram-se inesquecíveis e mostraram, com ingenuidade,todo o brilho da descoberta e da satisfaçãopessoal e fizeram-nos mesmo resgatar algo danossa memória mais remota e íntima. Disse ele,em tom de lamento, no final da sessão: “Ah!Porque é que o dia não nasce outra vez?!”

Lia Oliveira é licenciada em Comunicação Social e dedica-se aoteatro há onze anos. Anima o Espaço da Imaginação Corporaldesde Maio de 2003.

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Para o dia nascermais feliz outra vez

Nas últimas décadas os museus fizeram um enormeesforço no sentido de acompanharem de perto astransformações que a um ritmo, quase alucinante, têmmodificado as sociedades contemporâneas. Para oefeito modernizaram-se aos mais diversos níveis deforma a corresponderem às crescentes exigências enecessidades dos diferentes públicos. A arquitectura,a organização e gestão, as formas de comunicaçãoadaptaram-se e possibilitam agora maior confortopara os visitantes (espaços de recepção e acolhimentomais humanizados, lojas, cafetarias e restaurantes,bibliotecas, centros interpretativos com recursos váriose de livre acesso) e novas formas de relacionamentocom o público que se procuram inovadoras, interactivase muito mais afectivas. Podemos mesmo dizer quedeixamos de contar o público porque agora ele conta,ou seja, privilegia-se uma relação de qualidade muitomais do que uma grande quantidade de público.É neste contexto que o Museu dos Transportes eComunicações, através do seu Serviço Educativo e deAnimação, tem promovido um conjunto de iniciativasdiversas para conquistar e fidelizar públicos diferentesdaqueles que mais visitam o museu e que são osgrupos escolares do ensino básico e secundário. Paraalém das exposições permanentes e temporárias,apresentam-se ao longo do ano outras formas decomunicação que contribuem para o cumprimento deuma das funções primordiais do museu - a formaçãode "velhos" e novos públicos. Oficinas de Verão eNatal, teatro, performances, concertos, actividadespara famílias, acções de formação para professores etécnicos culturais, estágios curriculares, parcerias cominstituições educativas e culturais da cidade e daregião são disso exemplo.

Durante o ano de 2003 partimos para a aventura deorganizar e realizar um programa de oficinas criativaspara crianças, jovens e adultos com carácter decontinuidade que procuram não só oferecer propostasculturais diversificadas e enquadradas nas temáticasdo museu, mas também criar relações de convivênciacom outros públicos possibilitando-lhes desta formaoutras experiências criativas.A exposição "Comunicação do Conhecimento e daImaginação" revelou-se o espaço ideal para alojaresta iniciativa visto as suas oficinas reunirem todas ascondições para aí se desenvolverem actividades maisamplas e diversificadas do que as que são desenvolvidascom as visitas em grupo.Para os mais novos (7-14 anos), as propostas passampelas oficinas de Cinema "Atelier do Imaginário"(orientação de João Rodrigo Matos) que desafia osmais novos para a descoberta da linguagem audiovisualatravés de sessões práticas com uma forte componentelúdica e a Oficina de Ciência "A ciência na palma damão" (orientação de Luísa Ayres). Aqui, um conjuntode experiências simples e divertidas conduzem osparticipantes pelos misteriosos mundos doconhecimento científico. É possível furar um balãosem que ele rebente? O que são as células? O ADNpoderá ser visto a "olho nú"? São algumas dasquestões que procurarão respostas nesta oficina quedecorrerrá no espaço "É mesmo ciência?".A partir dos 16/18 anos as propostas multiplicam-see encontramos as oficinas de DJ's, Teatro, Cinema,Tango e Yoga com orientação dos Djs Pedro Mesquitae Dj Dinis, Adelina Carvalho, João Rodrigo Matos,Maria Solero e Joana Pereira respectivamente."Os DJ's - história, estilos e técnicas" procura conhecera história da música da dança e as técnicas utilizadaspelos DJ's. "Teatremos" é uma viagem ao tempo emque "brincar ao faz de conta" fazia parte dasbrincadeiras de todos nós e pretende recuperar oprazer que é contar uma estória de forma rica edinâmica. A oficina "Introdução à linguagemaudiovisual" faz uma introdução à linguagemaudiovisual como forma de expressão e às novastecnologias digitais. A produção de uma curta-metragem em vídeo fará as delícias dos mais fiéisapreciadores da sétima arte.Quanto ao "Tango - uma descoberta apaixonante"será uma autêntica viagem de descoberta em torno

de uma herança cultural com mais de um século deexistência. Um "diálogo" entre homem e mulherconstruído a partir da música é a forma como seapresenta este ritmo com profundas raízes nesselongínquo e contrastante país que é a Argentina.Após uma insistente campanha de divulgação, quedespertou o interesse de vários orgãos de comunicaçãosocial (Jornal de Notícias, NTV, Público), as inscriçõesmultiplicaram-se estando já a decorrer a bom ritmo,desde Outubro, a oficina de cinema "Introdução àlinguagem audiovisual" com a participação de 25elementos. Durante o mês de Janeiro de 2004 deu-seinício às restantes oficinas.As Oficinas Criativas constituem, deste modo, umamaneira diferente e alternativa de conhecer o museue de com ele estabelecer relações mais próximas eprolongadas no tempo.Com estas propostas o Museu dos Transportes eComunicações assume-se, cada vez mais, como umcorpo vivo e aberto à participação de todos, um espaçode fruição, criativo e interveniente ao nível da formaçãode (novos) públicos.Tal como o jornalista José Reis escreveu no seu artigo"Vida no Museu dos Transportes cruza todos os tempose idades" (JN 19-11-2003) "...este é um museu àprocura de si nas pessoas, naquilo que as pessoasterão para lhe dar e para receber."

Adriana Almeida – Responsável pelo Serviço Educativoe de Animação do MTC.

Oficinas Criativasconquistam novospúblicos’

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