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ISLA Multidisciplinary e-Journal, Volume 2, número 1 (2019) ISSN 2184-299X
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O PAPEL DA CONTABILIDADE DE GESTÃO NO SETOR VINÍCOLA
THE ROLE OF MANEGEMENT ACCOUNTING IN THE WINE SECTOR
Rui Centeno Martins
ISLA-Santarém [email protected]
Resumo
A literatura que investiga a Contabilidade de Gestão, apesar de recente já vai algo extensa e fragmentada, assumindo diferentes abordagens e contribuindo em diversas áreas do setor vinícola. Portanto, importa analisar, sintetizar e reportar os assuntos que têm sido investigados neste setor, com a finalidade de evidenciar de forma clara à comunidade científica o que já foi feito e o que falta fazer sobre o fenómeno destacado. O objetivo principal deste artigo consiste na revisão sistemática da investigação em contabilidade de gestão no setor vinícola e, com esse próposito, foi utilizada a base de dados Web of Science para a recolha de 54 artigos de periódicos relevantes, datados de 1997 a 2018, com a identificação de algumas questões importantes, pelo que foram utilizados dois clusters para circunscrever a pesquisa por diferentes áreas do setor vinicola. Esta análise foi estruturada de acordo com os tópicos estudados, contextos investigados, perspetivas teóricas, métodos de investigação, e principais técnicas de análise dos dados. Os resultados obtidos proporcionam uma visão geral sobre a estrutura e evolução da investigação em Contabilidade de Gestão e indicam possíveis desenvolvimentos futuros. Esta revisão serviu de base para compreender as lacunas existentes na literatura e sugere uma futura agenda de investigação. Palavras-chave: Contabilidade; Revisão Sistemática da Literatura; Vinho.
Abstract
The literature that investigates Management Accounting, although recent is already somewhat extensive and fragmented, assuming different approaches and contributing in several areas of the wine sector. Therefore, it is important to analyze, synthesize and report on the subjects that have been investigated in this sector, to clearly demonstrate to the scientific community what has already been done and what remains to be done about the highlighted phenomenon. The main objective of this article is the systematic review of management accounting research in the wine sector and, with this purpose, the Web of Science database was used to collect 54 relevant journal articles from 1997 to 2018, with the identification of some important issues, for which two clusters were used to circumscribe the research by different areas of the wine sector. This analysis was structured according to the topics studied, contexts investigated, theoretical perspectives, research methods, and main techniques of data analysis. The results obtained provide an overview of the structure and evolution of Management Accounting research and indicate possible future developments. This review served as a basis for understanding gaps in the literature and suggests a future research agenda. Keywords: Management Accounting; Systematic Review of Literature; Wine.
Longa vai a discussão dos efeitos e desafios que a contabilidade exerce no setor vitivinícola
e as decisões adotadas pela gestão das mesmas. O constante avanço das tecnologias, a
par das transformações que se têm vindo a verificar no mundo e que também tem sido
acompanhadas pelo nosso país ao nível da produção, dos comportamentos sociais, do
consumo do vinho, das políticas de apoio comunitário, do funcionamento dos mercados,
bem como as transformações, igualmente operadas, noutras áreas do globo, em matéria
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vitivinícola, colocam e oferecem grandes desafios aos produtores de vinho. Assim, a
competitividade no setor vinícola tende a ser cada vez mais forte, sendo que o seu sucesso
no mercado, o torna cada vez mais exigente. A concorrência num mercado cada vez mais
unificado e global, permite às empresas colocar o seu produto para lá das fronteiras do seu
país de origem, pelo que para algumas empresas deixa de fazer sentido falar-se de país de
origem tal é a sua expressão global (Felício, Meidutė & Kyvik, 2016b). Uma das implicações
imediatas dessa abertura ao comércio mundial, é a maior concorrência que as empresas
sofrem, sendo fundamental o estabelecimento de um modelo de negócio, que lhes permita
serem mais competitivas num panorama internacional (Child, Hsieh, Elbanna, Karmowska,
Marinova, Puthusserry, Tsai, Narooz, & Zhang, 2017).
O crescimento do comércio internacional de vinhos é um dos aspetos mais marcante nas
últimas décadas e que tem contribuído para a evolução do setor vitivinícola mundial
(Anderson & Nelgen, 2011a; Banks & Overton, 2010; Mariani Napoletano, Pomarici, 2011).
É necessário adotar métodos de produção sustentáveis e ambientalmente responsáveis no
setor vitivinícola, promover a melhoria no desempenho do negócio, dada a sua importância
para a economia nacional e para as exportações, de acordo com o Instituto da Vinha e do
Vinho. Portugal registou em 2017 um aumento de 13% na produção de vinho, face ao ano
de 2016, também na Europa se verificou esta tendência, registando-se um aumento de 3%
da produção em 2017.
Numa abordagem quanto à forma como as empresas do setor vitivinícola abordam o
mercado internacional, a exportação tem sido tradicionalmente considerada como um
primeiro passo para entrar nos mercados internacionais, servindo como uma plataforma
para futuras expansões internacionais (Lu & Beamish 2001). A competência comercial
internacional é um recurso das empresas que gera um desempenho superior. Os resultados
sugerem que a orientação internacional, as habilidades de marketing internacional, a
inovação internacional e a orientação do mercado internacional, são dimensões
significativas e fundamentais para o desempenho internacional das PME (Knight & Kim,
2009). A dependência das redes internacionais também facilita a internacionalização
precoce, sendo que a relação depende da ênfase que as empresas colocam na área da
inovação tecnológica e na hostilidade ambiental percebida (Musteen Datta & Francis, 2014).
A importância de estudar a internacionalização no setor vitivinícola é reforçada pelo peso
que estas empresas representam no panorama mundial. Várias empresas aceleraram o seu
compromisso internacional ao investir em países distantes, apesar do conhecimento limitado
do mercado, do uso de redes e da experiência internacional limitada dos empresários
(Kalinic & Forza, 2012). Existe uma literatura já diversificada no que se refere às diferentes
regiões vinícolas, como por exemplo a Califórnia (Porter, 2001), Austrália (McRae-Williams,
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2002), África do Sul (Williamson & Wood, 2003), Chile (Farinelli, 2003), Canadá. (Mytelka &
Goertzen, 2003), Itália (Zanni, 2004), França (Saulpic & Tanguy, 2002), Portugal (Inhan,
Ferreira, Marques & Rebelo, 2013) e Espanha (Larreina, Gómez-Bezares & Aguado, 2011),
com o denominador comum baseado no crescimento das exportações no setor vinícola, tais
como o aumento das vendas, o alargamento dos mercados (Vide, Bobek, Cancer, Perko, &
Hauptman, 2010), o aumento do lucro, a reduzida dimensão do mercado doméstico (Sass,
2012), o fortalecimento da competitividade (Haupman, Bobek, Cancer, Perko, & Vide, 2011)
e oportunidades no mercado de acolhimento (Svetličič, Jaklič, & Burger, 2007).
1. REVISÃO DA LITERATURA
1.1 A Importância da Contabilidade para o Setor Vinícola
A concorrência que se sente no meio empresarial aumenta com a inovação tecnológica,
com o alargamento do mercado e com a globalização. Esta situação é de tal forma evidente
no sector vinícola que se pode perder um negócio no mercado externo por uma questão de
cêntimos no preço de uma garrafa.
Os demais interessados numa organização, sejam os gestores, stakeholders, ou possíveis
investidores, necessitam de informações que os ajudem a tomar decisões eficazes (Drury,
2008).
A informação dada pela Contabilidade Financeira tem por principal objetivo controlar a
relação da empresa com terceiros, tais como, clientes, fornecedores, devedores, credores e
bancos (Caiado, 2008). Os custos são classificados por natureza e, geralmente, efetuados
com base nos princípios e normas contabilísticas e tem uma orientação para o passado
(Horngren, Sundem, Stratton, Burgstahler, & Schatzberg, 2008).
A Contabilidade de Gestão, que avalia a parte interna das organizações, por sua vez,
pretende produzir informação para os gestores dentro da organização. Contempla os
processos de identificar, medir, acumular, analisar, preparar, interpretar e disponibilizar
informação de suporte à concretização dos objetivos da organização, assegurando o uso
eficiente dos recursos (Horngren et al., 2008).
Os dados indispensáveis ao planeamento e ao controlo de gestão são trabalhados
preferencialmente na Contabilidade de Gestão. Segundo Martins (2003), ao permitir o
cálculo dos custos das atividades e dos produtos, a Contabilidade de Gestão pretende
analisar os trabalhos para a própria organização, determinar o valor dos inventários, o custo
de produção dos produtos vendidos, o preço de venda dos produtos e, ainda, determinar o
resultado e margem por produto, por segmento de negócio ou por cliente. A Contabilidade
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de Gestão tem um âmbito mais vasto do que a Contabilidade Financeira, e tendo uma
relativa liberdade de escolha, está direcionada para os aspetos futuros da organização, não
se rege pelas normas de contabilidade internacional e reporta os elementos quando
necessário (Caiado, 2008).
Apesar da importância que a Contabilidade de Gestão tem para as tomadas de decisão por
parte dos gestores, ao escolher-se o sistema de Contabilidade e Controlo de Gestão para
uma organização é necessário ter em conta dois fatores muito importantes: a relação
custo/benefício e as implicações da sua implementação no funcionamento da empresa em
questão.
A implementação de um sistema de Contabilidade de Gestão implica custos. A resposta de
qual o melhor sistema contabilístico a adotar depende da perceção que cada administração
tem nos benefícios esperados em relação aos seus custos, da dimensão de cada
organização e dos objetivos pretendidos. (Horngren et al., 2008).
Para além dos custos inerentes a esta escolha, é necessário ter em conta que irão ser
alterados certos comportamentos dentro da organização e que irão ser exigidos registos
que, provavelmente, antes não seriam efetuados. Caso estes registos tenham um custo
elevado, irá perder-se a confiança no sistema e não servirão para melhorar as decisões
(Horngren et al., 2008).
Em suma, a Contabilidade de Gestão tem dois objetivos principais: fornecer dados para o
planeamento e controlo de gestão, e valorizar os produtos fabricados e em vias de fabrico.
Neste sentido é um subsistema contabilístico indispensável à gestão de qualquer empresa,
como complemento à Contabilidade Financeira.
1.2 A Sustentabilidade das Empresas no Setor Vinícola
Devido aos elevados custos dos recursos e à competitividade global da indústria do vinho, é
importante que as empresas cooperem, pois é fundamental para a sustentabilidade e para o
crescimento de pequenas empresas vinícolas que competem com base na qualidade e na
reputação dos seus produtos (Ratten, 2017). Também, as questões ambientais e de
responsabilidade social das empresas tem de passar a assumir especial relevância a nível
local e mundial, uma vez que grande parte das empresas se encontra estabelecida em
zonas rurais, com impacto significativo ao nível das comunidades, nomeadamente tem de
passar a dar mais relevância a métodos de produção sustentáveis e, ambientalmente
responsáveis, pelo que é fundamental o desenvolvimento de uma ferramenta de negócios
adaptada às necessidades dos produtores vitivinícolas e baseada no modelo de
sustentabilidade Triple Bottom Line (TBL), que permite uma avaliação comparativa ao nível
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das três áreas do TBL – rendibilidade, planeta e pessoas, defendendo assim uma maior
inclusão e adaptação das ferramentas de medição e avaliação de negócio, alinhadas com
os princípios da sustentabilidade, bem como a promoção de organizações sustentáveis,
comprometidas não só com a obtenção de lucro, mas também com o planeta e com as
pessoas. O acesso à água e a sua gestão são questões críticas para as empresas vinícolas,
pois as mesmas exigem grandes quantidades de água fornecidas para as suas atividades
vitivinícolas, e a produção de vinho pelas empresas deste ramo, está associada a um
elevado número de problemas com a qualidade da água (Gabzdylova et al., 2009).
2. METODOLOGIA
A extensa temática torna pouco convencional utilizar uma revisão da literatura tradicional,
que se baseia essencialmente em revisões descritivas e narrativas. Portanto, este estudo
recorre a uma metodologia de RSL (Tranfield, Denyer, & Smart, 2003) que possibilita uma
revisão objetiva da literatura existente sobre uma temática. A utilização de uma abordagem
RSL permite criar um modelo para uma análise da literatura de forma mais profunda,
adotando um processo científico transparente que pode ser replicado por outros
investigadores (Tranfield et al., 2003). O benefício desta metodologia reside na possibilidade
de sintetizar a investigação enquanto se minimiza o enviesamento.
Tal como proposto por Denyer & Tranfield, (2009) na área da investigação, a RSL que vai
ser aplicada neste estudo, segue uma abordagem de 5 fases. Em que numa primeira fase a
RSL é guiada pela formulação de questões de investigação que acabam por orientar a
pesquisa e definir os estudos que poderão fazer parte da análise, numa segunda fase
procede-se à recolha dos estudos, na terceira fase procede-se à seleção e avaliação dos
artigos que vão fazer parte da base de dados final, numa fase posterior procede-se à análise
e síntese dos estudos de forma a categorizar tematicamente os seus resultados e
contribuições; por fim, os resultados serão reportados e discutidos com o intuito de
apresentar lacunas e uma agenda futura de investigação.
As questões de investigação definidas para o estudo, na seção introdutória, acabam por ser
o ponto de partida para a RSL, sendo elas que guiam todo o processo de recolha e análise
dos dados.
Relativamente à recolha dos trabalhos a incorporar na revisão sistemática (fase 2), recorreu-
se à base de dados bibliográfica Web of Science (WoS). A escolha da base de dados
justifica-se pelo predomínio de jornais peer-reviewed de elevada relevância para a temática
da contabilidade, assegurando o rigor e qualidade académica dos papers que vão fazer
parte da amostra (Jones, Coviello & Tang, 2011), o que permite ter confiança nos resultados
apresentados. Os dados foram obtidos durante o mês de junho de 2018 e a recolha dos
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mesmos foi feita numa ronda de pesquisa, onde foram utilizadas as palavras-chave “wine*”
e “accountin*”. Nessa ronda de pesquisa determinou-se que a palavra “wine” devia estar
contida no título do artigo dada a panóplia de informação sobre está temática. Quanto à
outra palavra, foi escolhida como sendo “tópico” dado os estudos nessa área ainda serem
diminutos, de forma a assegurar que o output proveniente da WoS eram maioritariamente
artigos com relevância para o estudo e que permitam responder às questões de
investigação. Nessa sequência de pesquisa, conseguimos reunir um total de 54 artigos, os
quais foram posteriormente analisados e recolhida a informação necessária para a RSL.
Pretendemos, pois, analisar o que foi feito sobre a temática da contabilidade de gestão no
setor vinícola e, considerando que a incidência dos estudos sobre esse tema ganhou maior
acutilância nesta década, colocámos como critério relacionado, o horizonte temporal dos
últimos 20 anos. Nesta RSL são excluídos livros, capítulos de livros, relatórios e artigos de
conferência da base de dados devido à variabilidade no seu processo de revisão. Com
efeito, apenas artigos peer-reviewed são considerados na revisão, o que funciona como
controlo de qualidade dos artigos que fazem parte do estudo. Devido a interesses de
pesquisa e a ligação da temática em estudo com o setor vinícola, foram consideradas todas
as investigações produzidas.
Os artigos foram recuperados e armazenados nos softwares de gestão de citações EndNote
e Mendeley. De seguida, passou-se à fase de leitura dos abstracts dos 54 artigos com o
intuito de assegurar que os mesmos são pertinentes para o estudo. Finalmente, procedeu-
se a uma análise mais cuidada dos artigos, onde não excluímos mais nenhum documento.
O número de artigos que compõem a amostra final é de 54. No que respeita aos artigos
empíricos (quantitativos e qualitativos) como aos artigos conceptuais ou teóricos são todos
elegíveis para a revisão. A tabela 1, sintetiza as palavras-chave utilizadas em cada ronda de
pesquisa, os outputs provenientes das mesmas, bem como os critérios utilizados para
inclusão ou exclusão dos artigos na revisão.
Após a fase de seleção, os artigos que fazem parte do estudo foram cuidadosamente
analisados e as informações mais relevantes sobre os mesmos foram armazenadas, de
forma a identificar os objetivos do estudo, a metodologia aplicada e as principais
descobertas e contribuições. Este processo permitiu realçar os aspetos chave de cada
artigo. O método utilizado possibilitou cruzar a informação obtida com os restantes artigos,
bem como sistematizar e categorizar tematicamente os artigos. A fase final da RSL (fase 5)
apresenta formalmente os resultados obtidos e as descobertas são discutidas dentro da
temática onde o estudo se inclui, identificando lacunas existentes e propondo uma agenda
futura de investigação.
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Tabela 1: Critérios de seleção e inclusão dos artigos para a revisão sistemática
Palavras Chave Pesquisadas
Filtro Data da Pesquisa Resultados
(wine)
Titulo 01-06-2018 24152
(wine) AND (accountin*)
Tópico 12-01-2018 54
3. RESULTADOS
Esta seção pretende apresentar a produção científica (evolução das publicações, revistas
onde se publica e principais autores) e apresentar as temáticas existentes na contabilidade
de Gestão no setor vinícola, segundo a base de dados constituída.
3.1. Caracterização da produção científica na área da contabilidade no setor vinícola
Olhando exclusivamente para os artigos que compõem a amostra, o primeiro trabalho a ser
publicado tem a data de 1997 e surgiu na revista “Journal of Agricultural Chemistry”, tendo
sido desenvolvido por Simonetti, P; Pietta, P; Testolin, G (1997). Trata-se de uma temática
recente, com pouco mais de 20 anos de investigação, que se insere na grande linha de
investigação da internacionalização. Uma breve apresentação sumária da produção
científica sobre a temática em estudo é apresentada na tabela 2.
Tabela 2: Resumo da produção científica sobre a temática da contabilidade de Gestão no setor
vinícola
Por se encontrar intimamente relacionada com a investigação geral sobre o vinho, a maioria
dos estudos recorre às teorias existentes nessa temática e procura aplicá-las no âmbito do
setor e daí resulta o claro predomínio de investigações de carácter empírico.
Embora os 54 artigos estejam compreendidos entre 1997 e 2018, a realidade é que só
recentemente a temática começou a ganhar notoriedade, registando-se uma clara tendência
de aumento das publicações a partir de 2008. Com efeito, apesar do período de análise ser
de 20 anos, a verdade é que a distribuição das publicações ao longo dos anos permite,
claramente, distinguir dois períodos distintos em termos de produção científica: i) o período
que vai desde 1997 até 2007, onde apenas 15 estudos foram publicados; e ii) o período que
se inicia em 2008 e vai até ao ano corrente, onde 39 artigos foram publicados. Esta
disparidade nos trabalhos publicados entre os dois períodos explica-se pela generalização
Informação Sumária Total
Número de artigos 51
Número de revistas 3
Número de citações 1238
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da ideia que este setor vinícola tem despertado cada vez maior interesse para os
investigadores. A tendência de aumento de publicações na temática do setor vinícola tem
sido sustentada ao longo dos anos mais recentes e o ano com mais publicações foi o de
2016, com 140 publicações. A figura 1 exibe a evolução temporal do número de
publicações.
Figura 1: Evolução das publicações ao longo dos anos
A proveniência dos artigos da WoS faz com que as 42 revistas onde os artigos, que fazem
parte da base de dados, foram publicados tenham um fator de indexação ISI. As revistas
onde as publicações são efetuadas são predominantemente da área de “Agricultural and
Food Chemistry”, “Enology and Viticulture”, “Food Chemistry” e “Cleaner Production”. A
revista com mais estudos publicados nesta área e que consta da nossa investigação é a
“Journal Agricultural and food Chemistry” com 11 publicações. Trata-se de uma revista de
quartil 1 da lista ABS e com um fator de impacto 3,154. A tabela 3 apresenta as 5 revistas
com maior número de publicações dos artigos que incorporam a base de dados do estudo.
Tabela 3: As 5 Revistas com mais publicações
Nome das Revistas
Número de
Artigos
Journal of Agricultural and Food Chemistry 11
American Journal of Enology and Viticulture 3
Food Chemistry 3
Journal of Cleaner Production 3
International Journal of Food Microbiology 2
O aumento de interesse pela investigação do setor vinícola e, consequentemente, um maior
número de estudos publicados na área, conduziu a um aumento do número de citações dos
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artigos que fazem parte da amostra. A figura 2 mostra a evolução temporal das citações dos
estudos analisados. A primeira citação de um artigo foi feita em 1999.
Figura 2: Evolução temporal das citações
Em complemento à figura 2, a tabela 4 mostra os 10 estudos mais citados (representados
pelos seus autores) assim como as revistas em que estes foram publicados. De acordo com
os dados recuperados da WoS, destaca-se o estudo de Simonetti, et al., (1997) publicado
na “Journal of Agricultural and Food Chemistry” com 173 citações.
Tabela 4: Estudos mais citados da amostra
3.2. Principais resultados
Após terminada a análise ao conteúdo dos artigos, os mesmos foram associados a duas
temáticas que foram criadas para categorizar os estudos e distinguir entre as diferentes
áreas de investigação existentes no campo do setor vinícola. Este exercício permitiu
observar diferentes dimensões e padrões de investigação entre os diversos estudos.
Especificamente, entre os temas de investigação, identificam-se dois clusters: i) Setor
Número Autores Citações Revista
1 Simonetti, P; Pietta, P; Testolin, G 173 Journal of Agric. and Food Chemistry
2 Martin, S; Andriambeloson, E; et al. 101 British Journal Of Pharmacology
3 Pereira, GE; Gaudillere, JP; et al. 100 British Journal Of Pharmacology
4 Gonzalez Alvarez, M.; et al. 63 Food Chemistry
5 Castillo-Munoz, Noelia; et al. 63 Journal of Agric. and Food Chemistry
6 Di Maro, Elena; Ercolini, Danilo; 60 Intern. Journal of Food Microbiology
7 Costanigro, Marco; McCluskey, Jill; 49 Journal Of Agricultural Economics
8 Douglas, D; Cliff, MA; Reynolds, AG 47 Food Research International
9 Cortes, MB; Zea, L; et al 41 Journal of Agric. and Food Chemistry
10 Cortes, MB; Zea, L; et al 39 Journal of Agric. and Food Chemistry
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Produtivo Vinícola; ii) Contabilidade. Os dois clusters acabam por estar ligados entre si, na
medida em que o processo de contabilidade e o setor produtivo estão interligados. De
seguida é apresentado o estado da arte inerente a cada um dos clusters obtidos.
3.2.1. Cluster 1 (n=40 artigos): Setor Produtivo Vinícola
O primeiro cluster engloba estudos que analisaram as decisões estratégicas do setor e os
fatores que influenciam essas decisões. A revisão sistemática efetuada aos artigos permitiu
identificar algumas temáticas interessantes. Este cluster que incide sobre a temática com
mais anos de estudo, tendo sido iniciado em 1997 com o trabalho de Simonetti, P et al.,
(1997).
O setor vitivinícola é extremamente vulnerável às modificações nos processos de produção
(Sacchelli et al.,2017) às alterações climáticas, principalmente o aumento das temperaturas,
a futura distribuição das regiões vitivinícolas e as restrições à qualidade do vinho. Por outro
lado, alguns especialistas em vinhos identificaram a revolução tecnológica da indústria do
vinho como o principal fator que explica a crescente qualidade do vinho (Almaraz, 2015), a
agricultura orgânica e os ajustes nas diretrizes de procedimentos foram recomendados
como estratégias-chave (Sacchelli et al.,2017) para o futuro deste setor.
Os produtores de vinho enfrentam muitos desafios no que diz respeito às mudanças
climáticas (Galbreath,2015), tais como as preocupações sobre o aquecimento global que
levaram ao cálculo da pegada de carbono (FC) deixada pelas atividades humanas. O setor
agrícola é sobretudo uma fonte significativa de gás de efeito estufa (GEE), embora os solos
cultivados também possam atuar como sumidouros, no entanto será desejável incluir o solo
na nova norma ISO 14067 – Carbono Pegada de Produtos, outro grande desafio é que a
agricultura é o maior consumidor de água doce, sendo retirada 70% de água em todo o
mundo para a realização das suas atividades, pelo que a pegada de água (WFs) estão
sendo cada vez mais usada para indicar os impactos do uso da água pelos sistemas de
produção. As WF do vinho foram desenvolvidas no âmbito do projeto Italiano (Valutazione
Impatto Viticoltura sull'Ambiente), em 2011 para melhorar a sustentabilidade do setor
vitivinícola, avaliando a contaminação da água pela aplicação de pesticidas.
3.2.2. Cluster 2 (n=14 artigos): Contabilidade
O segundo cluster é composto por artigos que investigaram o efeito da contabilidade e como
essas variáveis/fatores podem contribuir ou não para o sucesso no setor vinícola.
Os principais indicadores económicos e financeiros, são realçados a fim de diagnosticar a
saúde das empresas vinícolas, efetuando a análise de curto e longo prazo dos resultados
bem como uma análise das mudanças nos fluxos de capital e de caixa (Arimany-Serrat,
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2016). A quantidade de custos ambientais gerados pelas empresas vinícolas leva a
esconder boas oportunidades da economia de custos, através de uma boa gestão
ambiental, atualmente os sistemas contabilísticos existentes não geram ainda informações
suficientes sobre o custo ambiental.
As alterações introduzidas no regime jurídico do Código Cooperativo em 2015, não são
suficientes para eliminar a classificação contabilística do capital social das cooperativas e
decorre da sujeição imposta às cooperativas quanto às normas internacionais de
contabilidade, com especial referência à IAS 32, no entanto uma intervenção legislativa
pode permitir que as cooperativas sejam submetidas a um tratamento contabilístico
específico e diferenciado, respeitando assim a variabilidade do capital social (Martins ,
2003).
4. DISCUSSÃO E AGENDA FUTURA DE INVESTIGAÇÃO
A RSL desenvolvida permitiu identificar as áreas de maior interesse, bem como a existência
de gaps nas mesmas, as quais vamos discutir e sugerir possíveis investigações futuras.
Bonfiglio (2007) analisou as mudanças de eficiência e produtividade, Sena (2008a) estudou
os mecanismos pelos quais o aumento da concorrência no mercado pode ajudar as
cooperativas a melhorar a eficiência técnica para garantir lucros positivos, Liu (2010)
estudou a eficiência produtiva e os seus fatores de influência, Brandano et al., (2012)
investigaram a eficiência técnica comparativa das cooperativas de produtores versus
empresas convencionais, na ligação entre o setor vinícola e a contabilidade, os produtores
também mereceram atenção e foram estudados por Guzman (2004), que utilizou um teste
baseado na correlação e nos índices de eficiência técnica recorrendo a informações
contabilísticas. Foram encontradas aplicações onde a eficiência é analisada sob a
perspetiva da eficiência económica, Echeverria & Gopinath (2008) analisaram o
comportamento exportador das empresas vitivinícolas e a importância relativa das
características geográficas.
No campo da eficiência técnica e ambiental o estudo realizado por Arandia & Aldanondo
(2007) comparou os vinhos orgânicos versus vinhos convencionais. A gestão sustentável da
água na cadeia de abastecimento é fundamental para a viabilidade a longo prazo das
organizações produtoras de vinho. No entanto, apesar de sua importância potencial como
um elo para converter boas intenções dos gestores um uso sustentável da água torna-se
fundamental, até agora o conhecimento sobre como a contabilidade da gestão ambiental
pode ajudar é praticamente inexistente e ainda existe um longo caminho a ser percorrido.
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Reduzir a dependência da água e melhorar os resultados ambientais ao longo da cadeia de
fornecimento são elementos importantes para que a indústria de vinhos mundial atinja o
objetivo final de sustentabilidade a longo prazo, conforme identificado em várias iniciativas
estratégicas. A contabilidade de gestão ambiental é um elemento importante e crítico,
necessário para a gestão sustentável, onde a água é um elemento cada vez mais
importante para as empresas melhorarem o desempenho de sustentabilidade, enquanto as
ferramentas de contabilidade da água estão a aumentar apesar do pouco esforço que foi
dedicado à incorporação explícita de questões específicas da água.
A pegada de carbono também faz parte da pegada ecológica, é uma metodologia que
mensura a quantidade de terra necessária para sustentar o nosso estilo de vida. A pegada
de carbono faz parte da sustentabilidade, pois uma parte do dióxido de carbono é absorvida
pelos oceanos e florestas que são áreas bio produtivas, mas ainda não há conclusões claras
a respeito das trocas biogênicas de carbono relacionadas com o ciclo de vida dos produtos
vitivinícolas.
A contabilidade também desempenha um papel decisivo no setor vinícola pois permite
identificar a saúde econômica e financeira das empresas de vinho, avaliam as empresas
que desfrutam de um crescimento econômico equilibrado e sustentável e trabalham
arduamente para que as restantes empresas vitivinícolas, apresentem informações
económicas e financeiras relevantes sobre a saúde das empresas vitivinícolas, no entanto
ainda é necessário reforçar estas indicações e seguir para alcançar os desafios futuros com
sucesso.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este paper apresenta uma RSL sobre a temática do papel da contabilidade de gestão no
setor vinícola. Ao contrário da maioria das RSL que se desenvolveram nesta área de
investigação e que incidiram apenas sobre um nicho, dentro da grande temática do setor
vinícola, nós recolhemos artigos que permitem analisar o que tem sido investigado, as áreas
que têm gerado mais discussão e produção científica. O objetivo foi claro, analisar, sintetizar
e apresentar os estudos que de alguma forma contribuíram para a extensa e fragmentada
área de investigação que é o setor vinícola.
A RSL aplicada neste estudo permitiu obter um total de 54 artigos, compreendidos entre o
período temporal de 1997 a 2018. Embora se trate de uma literatura algo fragmentada, a
produção científica sobre a mesma tem vindo a aumentar, registando nos anos mais
recentes o número mais elevado de publicações. A análise e sistematização efetuada aos
artigos permitiu identificar 2 clusters ou linhas de investigação, que concentram os principais
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assuntos discutidos na temática da contabilidade no setor vinícola, entre os quais se verifica
uma clara interdependência dos assuntos.
Não obstante as contribuições identificadas, o estudo tem limitações, destacando-se a
utilização de apenas uma base de dados para recolha dos artigos que fizeram parte da RSL.
Embora a WoS se apresente como uma base de dados de referência que assegura a
qualidade dos papers aí publicados, a recolha de artigos em bases de dados como a
Scopus e a EBSCO poderia fornecer outros artigos de referência. Por último, as expressões
utilizadas na pesquisa e os critérios de exclusão/inclusão podem ter limitado os artigos que
constituem a revisão.
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PERFIL ACADÉMICO E PROFISSIONAL DO AUTOR Rui Centeno Martins é doutorando em Gestão na Universidade da Beira Interior, Portugal. Professor do ISLA-Santarém, na área da Gestão e colaborador na Unidade de Investigação e Desenvolvimento do ISLA Santarém. A sua investigação centra-se nas áreas de empreendedorismo, estratégias de Internacionalização das PME, orientação estratégica, redes empresariais e criação de empresas. ORCID ID: 0000-0001-5002-8907 Endereço Postal do autor ISLA Santarém Largo Cândido dos Reis 2000-241 Santarém – Portugal
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LIDERANÇA E SUCESSÃO EM CONTEXTO DE EMPRESAS FAMILIARES
LEADERSHIP AND SUCCESSION IN THE CONTEXT OF FAMILY BUSINESS
José Rodrigues
ISLA Santarém [email protected]
Resumo
As empresas familiares têm uma extrema importância na economia, e representam uma parte significativa do tecido empresarial. Todavia, estas empresas enfrentam vários desafios para sobreviver e crescer a longo prazo. O objetivo do presente artigo consiste em saber como as empresas familiares, exercem a sua liderança, e se no decorrer da sua existência, preparam ou não o processo de sucessão. Para a realização do presente artigo foram realizadas pesquisas na base de dados ISI Web of Science. Através da análise de conteúdo, identificaram-se os artigos com informação para a liderança e processo de sucessão, em empresas familiares, independentemente do género. A contribuição do presente estudo consiste em identificar a melhor forma das empresas familiares prepararem o seu processo de sucessão, não vendo o mesmo como um evento, mas sim, como um acontecimento natural, comum e frequente, em empresas do tipo familiar. Os resultados indicam existir, neste tipo de empresas, alguns constrangimentos, pois admitem que preparar a sucessão é, afastar do poder o seu fundador e não, preparar o futuro. Em conclusão, o estudo demonstra que a maioria das empresas, independentemente da sua dimensão ou idade, desconhece o que se denomina de processo de sucessão.
Palavras-chave: Empresas Familiares; Liderança; Processo de Sucessão.
Abstract
Family businesses are extremely important in the economy, and represent a significant part of the business fabric. However, these companies face several challenges in order to survive and grow in the long term. The purpose of this article is to know how family companies exercise their leadership and whether or not in the course of their existence prepare the succession process. For the accomplishment of the present article, the ISI Web of Science database was searched. Through the analysis of content, we identified the articles with information for leadership and succession process, in family companies, regardless of gender. The contribution of the present study is to identify the best way for family companies to prepare their succession process, not seeing it as an event, but rather as a common and frequent natural event in family-owned enterprises. The results indicate that there are some constraints in this type of business, since they admit that to prepare the succession is to take power away from its founder and not to prepare the future. In conclusion, the study shows that most companies, regardless of their size or age, are unaware of what is called a succession process. Keywords: Family Business; Leadership; Succession Process.
As empresas familiares têm uma extrema importância pois desempenham um papel
fundamental no crescimento económico das nações (Zahra et al., 2004), dominam a
economia global e são a “espinha dorsal” do desenvolvimento socioeconómico (Paul, et al.,
2017). Contribuem também, particularmente, em termos de força de trabalho e de
envolvimento social (Ramadani e Hoy, 2015).
No seu estudo, Gersick, K.; Davis, J.; Hampton, M. e Lansberg, I. (1997) indicam que entre
65% e 80% das empresas a nível mundial são familiares. Por seu turno, Bjuggren e Sund
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(2001) constataram que as empresas familiares, na sua maioria, são pequenas e médias
empresas. Dados mais recentes, indicam que entre os 17 milhões de empresas que existem
na Europa, 60% são empresas familiares e criam cerca de 80% de empregos no sector
privado (Comissão Europeia, 2015). Em Portugal, de acordo com estatísticas divulgadas
pela Associação Portuguesa das Empresas Familiares, “estima-se que 70% a 80% das
empresas são de natureza familiar, as quais contribuem para 50% do emprego e 60% do
Produto Interno Bruto (PIB)”.
Com a finalidade de verificar se existe na literatura estudos sobre esta temática, procedeu-
se à realização de pesquisas na base de dados ISI Web of Science com as seguintes
palavras-chave: " Family Business”, “Leadership”, " Succession Process”.
Dos artigos foram retiradas as informações para a construção deste artigo, sendo que, o
mesmo tem o seu foco na liderança e processo de sucessão das empresas familiares.
O objetivo do artigo consiste em saber como as empresas familiares desenvolvem o seu
processo de liderança, e se, atempadamente, preparam ou não a sucessão.
No presente estudo foi utilizado o método de pesquisa qualitativa que consistiu numa
análise de conteúdo.
A pesquisa de literatura sobre o tema, foi realizada na base de dados ISI Web of Science e
também através de fontes secundárias. De salientar que, da análise feita à literatura, foram
encontradas discrepâncias que se consubstanciam em algumas lacunas, entre a
comunidade científica. Alguns autores, têm diferentes opiniões acerca da definição de
empresa familiar, as quais se evidenciam a seguir:
i) Ramadani e Hoy (2015, pag. 333) “as empresas familiares são aquelas que são
controladas por membros da mesma família que geram um negócio”;
ii) Rock (1997) “empresa familiar é aquela em que uma família detém a maioria do capital
com direito a voto”;
iii) Ratten, V.; Ramadani, V.; Dana L. P.; Hoy, F. e Ferreira, J. (2017) “empresas
familiares podem ser de várias dimensões”;
iv) Anderson e Reeb (2003) “é empresa familiar quando uma família controla 20% da
empresa”;
v) Villalonga e Amit (2006) “é empresa familiar quando um ou mais membros são
diretores ou possuem 5% ou mais, do património da empresa”.
Também, a questão do género, está a limitar o processo de sucessão das empresas
familiares, porquanto existem poucos estudos referentes ao número de mulheres
sucessoras (Cruz Machado, Wetzel e Rodrigues 2008). A liderança feminina está ainda,
ISLA Multidisciplinary e-Journal, Volume 2, número 1 (2019) ISSN 2184-299X
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num nível muito baixo, em relação à inclusão no mercado de trabalho (Ahrens, Landmann e
Woywod 2015).
A estrutura do artigo é composta da seguinte forma: na secção 2 é apresentada a definição
de empresa familiar bem como a descrição das suas características, vantagens e desafios;
na secção 3; o processo de sucessão em empresas familiares e, na secção 4; são
apresentadas as conclusões, limitações e futuras linhas de investigação.
EMPRESA FAMILIAR
Definição
Uma primeira noção de empresa familiar, está vinculada à ideia e com enfoque voltado para
a vertente familiar. Grzybovski & Lima (2004) definem empresa familiar como aquela
organização dirigida e controlada por um grupo de pessoas, que se encontram ligadas a
partir de relações de parentesco. Sejam, elas estabelecidas por meio de laços genealógicos
e biológicos, como por meio de laços sociais. Davel & Colbari (2000) defendem essa noção
ampla de empresa familiar. Os autores afirmam que todos os tipos de organizações podem
ser consideradas como familiares, na medida em que a esfera do trabalho não pode ser
totalmente dissociada da influência da família.
A Associação Portuguesa das Empresas Familiares, define as empresas familiares como
“aquelas em que uma família detém o controlo, em termos de nomear a gestão e alguns dos
seus membros participam e trabalham na empresa". Similarmente, Ramadani e Hoy (2015)
afirmam que as empresas familiares são aquelas que são controladas por membros da
mesma família que gerem um negócio. Para Rock (1997) a empresa familiar é aquela em
que uma família detém a maioria do capital com direito a voto, onde exerce um controlo
efetivo sobre o seu destino. Autores mais recentes, Ratten et al. (2017) indicam que as
empresas familiares podem classificar-se em empresas micro, pequenas, médias e grandes
multinacionais.
No seu estudo, Chua, J.; Chrisman, J. e Sharma, P. (1999) reúnem uma lista de vinte e
uma definições referentes ao nível e tipo de envolvimento familiar na empresa e, como
conclusão, afirmam que as definições encontradas incluem três combinações possíveis em
relação à propriedade e à gestão da empresa familiar. As combinações referidas pelos
autores são as seguintes:
i) a família é proprietária da empresa e existe envolvimento familiar na gestão;
ii) a família é proprietária da empresa, mas não existe envolvimento familiar na gestão;
iii) existe envolvimento familiar na gestão, mas a família não é proprietária da empresa.
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Ainda, Chua et al. (1999) consideram que a primeira combinação (a família é proprietária da
empresa e existe envolvimento familiar na gestão) é determinante para a definição da
empresa familiar, enquanto que, na segunda e na terceira combinação, não se verifica
consenso sobre qual a predominância e o contributo que as mesmas assumem para
determinar o conceito da empresa familiar.
No estudo de Astrachan e Shanker (2003) são apresentadas três definições operacionais de
empresa familiar a partir de uma abordagem circular denominada por “circle of bull’s eye”.
Esta abordagem classifica as empresas familiares tendo em conta o grau de presença e de
envolvimento dos membros da família nas decisões da empresa. As definições operacionais
apresentadas pelos autores são as seguintes:
i) “Definição ampla” diz respeito às empresas cujas famílias detêm o controlo efetivo na
orientação estratégica e assumem de forma clara e objetiva a vontade de querer manter
a empresa na família. Neste conceito, também são consideradas as empresas em que
um membro da família não está diariamente presente na empresa, mas tem
participação na tomada de decisão, por pertencer ao conselho de administração ou por
deter uma parte significativa do capital da empresa;
ii) “Definição média” contempla a definição anteriormente explicada mas, considera a
presença regular e constante de um membro da família nas operações diárias da
empresa;
iii) “Definição restrita” diz respeito à empresa familiar na qual se verifica um envolvimento e
controlo por parte da família, com mais de um membro com responsabilidade
significativa, em questões de gerência, e na qual se verifica a existência de várias
gerações ativas na empresa.
Gersick et al. (1997) enfatizam que quanto mais vezes a empresa é transmitida de geração
em geração, maior é a influência da família na empresa, ou seja, a participação dos
membros da família na direção, na propriedade, ou até mesmo na participação pela via do
emprego, isto é, o número de familiares que trabalham na empresa.
De acordo com Brockhaus (2004), a maioria das definições das empresas familiares
concentra-se no controlo e posse por dois ou mais membros da família. Por seu turno,
Anderson e Reeb (2003) definem empresa familiar quando uma família controla 20% da
empresa, enquanto que Villalonga e Amit (2006) definem empresa familiar quando um ou
mais membros da família são diretores ou possuem 5% ou mais, do património da empresa.
Goetschin (1987) explora um modelo com dois círculos, no qual indica que a especificidade
da empresa familiar provém do facto de ocorrer uma combinação entre uma empresa e uma
família, tratando-se de dois universos em que cada um tem os seus próprios valores. O
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Família
Valores da empresa
Lucro Crescimento
Competitividade Mudança
Lado racional
Valores da Família
Afetividade Procriação Segurança Tradição
Lado Emocional
modelo apresentado pelo autor, também destaca o conflito de interesses existente entre o
círculo da família, onde prevalecem os afetos (que representa o lado emocional) e o círculo
da empresa, cujo principal objetivo indispensável à sua sobrevivência é o lucro (que
representa o lado racional). A figura 1 ilustra o modelo dos dois círculos, onde são
apresentados os valores da empresa e da família.
Empresa Familiar
Figura 1. Modelo dos dois círculos
Fonte: Adaptado de Goetschin (1987)
Ainda para Goetschin (1987), os conflitos de interesses têm origem na relação entre a
família e a empresa, sendo que as necessidades da família e da empresa incorporam,
simultaneamente, o processo de tomada de decisão da empresa familiar.
Assim, “a importância da família no desenvolvimento da empresa familiar implica que os
membros da família exercem uma influência substancial e, por conseguinte, as atitudes e os
valores tornam-se importantes na definição da empresa familiar” (Alves, 2015, p. 14).
No seu estudo, Tagiuri e Davis (1996) afirmam que a empresa familiar é como um sistema
onde três subsistemas (círculos) se relacionam e interagem entre si: a família, a propriedade
e a gestão da empresa; e acrescentam que estes círculos representam a especificidade da
empresa familiar. Na perspetiva dos autores, com a interseção dos três círculos (família,
propriedade e gestão da empresa) são obtidos novos grupos, assim, é possível observar
que a partir dos três círculos existentes inicialmente, sete grupos são apresentados, sendo
que o grupo 1 representa a família; o 2 representa a gestão da empresa; o 3 representa a
propriedade; o 4 representa a interseção entre o grupo 1 e o grupo 3; o 5 representa a
interseção do grupo 1 e do grupo 2; o 6 representa a interseção do grupo 2 e do grupo 3; e o
7 representa a interseção entre os grupos 1, 2 e 3 como ilustra a figura 2.
Empresa
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Grupo 3
(Propriedade)
Grupo 2
(Gestão)
Grupo 1
(Família)
Grupo 4 Grupo 6
Grupo 7
Grupo 5
Figura 2. Modelo dos três círculos
Fonte: – Adaptado de Tagiuri e Davis (1996)
De forma explicativa, o grupo 4 diz respeito ao membro da família proprietário que é
sócio/acionista mas não tem participação na gestão da empresa; o grupo 5 diz respeito ao
membro da família que é gestor mas não tem participação na propriedade da empresa; o
grupo 6 diz respeito ao gestor que não faz parte da família, ou seja, é um elemento externo
à família mas é sócio/acionista da empresa e o grupo 7 diz respeito ao indivíduo que é
membro da família, gestor e proprietário (Tagiuri e Davis, 1996).
É possível verificar que os modelos apresentados nas figuras 1 e 2, têm convergências, ou
seja, na figura 1 a empresa familiar está representada através da intersecção dos círculos
empresa e família enquanto na figura 2, o grupo 7 corresponde à empresa familiar através
da interseção dos círculos: família, gestão e propriedade de acordo com a perspetiva de
Ramadani e Hoy (2015).
CARACTERÍSTICAS, VANTAGENS E DESAFIOS DA EMPRESA FAMILIAR
De acordo com Alves (2015), as empresas familiares constituem a base predominante do
tecido empresarial e, na generalidade dos países ocidentais, é evidente que as empresas
familiares constituem uma realidade particular do tecido económico, embora o seu peso
varie de economia para economia. Contudo, estas empresas enfrentam vários desafios para
sobreviver e crescer a longo prazo (Salvato e Melin, 2008).
As empresas familiares têm características específicas em relação às empresas não
familiares, devido ao seu estilo de gestão Kraus, S.; Harms, R. e Fink, M. (2011). No
entanto, ao longo do tempo, observou-se que algumas empresas familiares tornaram-se
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conservadoras e não querem assumir riscos associados às atividades empresariais (Zahra,
2005).
Por sua vez, Ratten et al. (2017) indicam que as empresas familiares diferem das empresas
não familiares devido à comunicação e ligações pessoais que ajudam a construir um
negócio mais coeso e acrescentam que as empresas familiares têm uma vantagem sobre as
empresas não familiares, devido aos componentes não económicos dos seus negócios, tais
como obrigações sociais e de parentesco. Da mesma forma, Ramadani e Hoy (2015)
indicam que as empresas familiares têm uma vantagem única porque podem utilizar a
interação da família para objetivos de longo prazo. Para Habbershon e Williams (1999), o
envolvimento dos membros da família pode proporcionar a criação de uma vantagem
competitiva para a empresa familiar.
Coimbra (2008) afirma que a empresa familiar possuí determinadas características ao nível
do comportamento, tais como: tem foco em estratégias de longo prazo em vez de resultados
trimestrais ou anuais; tem mais aversão ao risco; tem mais propensão para reinvestir os
lucros; seleciona mecanismos para proteger os ativos familiares (exemplo: elabora acordos
para a resolução de conflitos familiares); faz o planeamento de ações para os períodos
críticos de transição dentro da empresa; através da contratação de membros da família,
delega o poder executivo da empresa para os membros da família continuarem com o
negócio da família. Eis, que se começa aqui a desenhar já, o processo de sucessão.
Por seu turno, Csákné (2012) afirma que as características da empresa familiar são: o
desejo de manter o negócio familiar, propriedade e gestão dentro da família; o compromisso;
a abordagem de longo prazo; garantir a independência financeira da família; importância de
preservar uma boa reputação; aversão ao risco; mistura de assuntos familiares e
comerciais; recusa de empregar gerentes não familiares e nepotismo.
O PROCESSO DE SUCESSÃO EM EMPRESAS FAMILIARES
Entre as empresas familiares podem identificar-se vários indicadores que irão dos mais
simples, como as organizações cujo controle societário está nas mãos de uma família, até a
indicadores mais complexos onde são incluídos alguns requisitos, entre eles, estar na
segunda geração, como também os familiares ocuparem cargos de direção ou outras
funções a nível estratégico (Oliveira & Silva, 2012). Assim a sucessão em empresas
familiares não é um evento raro, o que leva o processo de sucessão ocorrer em média a
cada 20 a 25 anos (Schlepphorst & Moog, 2014). Este tema continua, pois a ser um desafio,
e gera debates para a área organizacional (Blumentrittt, Mathews & Marchisio, 2013). Uma
pesquisa realizada por Bird, Welsch, Astrachan e Pistrui (2002), mostra que a temática
sucessão foi explicitada em 19% dos artigos mais citados no Journal FBR (Family Business
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Review). Outra pesquisa mais recente, realizada por Debicki, Matterne, Kellermanns e
Chrismann (2009) que analisou 291 artigos publicados entre os anos de 2001 e 2007, o
estudo demonstrou que o tema de sucessão foi objeto de apenas 15% dos trabalhos
publicados. Para Ricca Neto (1998, p. 9), as empresas familiares apresentam uma
característica básica que as distingue das outras organizações empresariais: são os seus
laços familiares que, em conjunto com outros elementos, determinam “[. ..] o direito de
sucessão nos cargos de direção.
Segundo Bornholdt (2005, p.20), essa questão é abordada como “laços familiares
empresariais” que [...] são construídos ao longo da história quando a empresa deixa de ser
“unipessoal” (um dono) e passa a ser de um grupo de irmãos, para depois passar a um
consórcio de primos, enfim, a uma sociedade de pessoas mais complexa. [. ..] além do
trabalho e da renda, o que une essas pessoas em torno de uma empresa, são os seus
vínculos familiares e societários. Os laços familiares estão aglutinados em torno de uma
espiritualidade de crenças e valor. São características que tendem a determinar modelos de
gestão específicos para esse tipo de organizações em relação ao que recomenda a
literatura especializada, devido ao facto de que, para além dos objetivos empresariais, as
necessidades familiares devem ser atendidas, sendo o processo de gestão uma
consequência disso.
A sucessão ser deve visualizada como um processo contínuo, construindo um fenómeno
que se abstrai de fases, e que começa muito cedo e nunca termina, e que deve considerar
os diferentes aspetos da empresa familiar e da família na empresa, tais como: os fatores de
gerência, familiares, culturais, sociais e estratégicos (Lambrecht, 2005).
É possível que o principal equívoco cometido pelas lideranças das empresas familiares,
segundo Dupas, G. (2003, p. 71-72), seja o de considerar a sucessão um evento, não um
processo. Como nem sempre aquele que detém a propriedade de uma empresa é quem
possui maior competência para geri-la. A sucessão deve ser feita por meio de um processo
“[. ..] formal e planeado de atividades ao longo do tempo, de modo a criar um conjunto de
talentos a partir do qual a decisão final de escolha do sucessor será feita, quando o
momento chegar”. Floriani e Rodrigues (2000, p. 307-308) comentam que o processo
sucessório das empresas familiares se constitui no que pode ser denominado de “ponto
crítico do seu bom desempenho e, principalmente, da sua perpetuação”, destacando: [...] a
solução do processo de sucessão passa, necessariamente, pela estruturação de um bom
plano de sucessão, que permita a continuidade dos negócios, com sucesso. Para se
alcançar tal objetivo, é necessário detetar quem está disposto a ser o sucessor, qual a sua
competência em gestão empresarial e até que ponto está preparado para assumir o
comando da empresa.
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Desta análise sairá, então, um plano de preparação do potencial sucessor. A sucessão,
realmente, não deve ser um acontecimento repentino mas sim, um evento previsto, pois
necessita do planeamento de vários fatores para que ocorra de maneira tranquila, o que
pode levar vários anos, e todo o processo anterior à sucessão pode ser um facilitador na
transferência do poder e na gestão de quem o assumir. Entre esses fatores, o modelo de
gestão utilizado. É por esse motivo que é importante verificar e estudar como as
organizações são geridas tendo em vista um pressuposto básico: a continuidade.
Para Lodi (1989), Bernhoeft (1991), Silveira e Bihel (2003), Dupas et al., (2003) e Bornhol-dt
(2005) apontam como as principais falhas encontradas no modelo de gestão das empresas
familiares, em relação ao seu processo de continuidade:
a) centralização de poder pelo fundador;
b) emprego e promoção indiscriminada de familiares por favorecimento, em detrimento
do conhecimento e da competência profissionais;
c) ausência de metas e objetivos claros;
d) resistência no estabelecimento de controles gerenciais formais;
e) sistemas de planeamento estratégico e operacional frágeis ou inexistentes;
f) inexistência ou fragilidade de sistemas contabilísticos e de análise de custos;
g) composição societária familiar quantitativa em crescimento exponencial
A sucessão não deve ser vista como um evento que ocorre resultante da morte súbita
Ibrahim, a. B., Soufani, K., and Lam, J. (2001) do fundador, mas sim o resultado de um
cuidadoso e planeado processo iniciado muito cedo, a fim de preparar o sucessor para
desempenhar um papel de liderança
Uma sucessão eficaz é um resultado de um processo cuidadosamente planeado que deve
ser iniciado com os filhos, ainda em idade precoce e antes de ingressarem nos negócios da
família, de modo a prepara-los para o papel de liderança e, mais tarde, integra-los nas
diversas funções do negocio (Stavrou, 1999; Poutziouris and Chittenden, 1996; Handler,
1989), (Cit in Ibrahim et al., 2001).
Uma das implicações para o planeamento da sucessão está precisamente em reconhecer
as perspetivas dos membros da família, da geração seguinte, os quais devem ser
ativamente envolvidos nos planos para o futuro, tendo em conta que a liderança da
organização, provavelmente dependerá deles (Handler, 1992).
No entanto, debatem-se sempre com a incerteza da manutenção da liderança da família,
entre gerações, já que o problema se tem revelado e gerado conflitos na sucessão, muito
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particularmente, quando se está em presença de uma sucessão da segunda para a terceira
geração (Chirico, 2007).
Handler (1994, p. 135) diz que Churchill and Hatten (1987) desenvolveram uma abordagem
de ciclo de vida para descrever o processo de sucessão entre pai e filho numa Empresa
Familiar, que dividem em quatro fases conforme se apresenta na figura 3.
Figura 3. Ciclo Vida da Empresa
Fonte: Elaboração Própria
(1) Uma fase de gestão proprietária, onde o proprietário é o único membro da família
diretamente envolvido no negócio;
(2) Uma fase de formação e de desenvolvimento, onde se aprende o negócio;
(3) Uma fase de parceria entre pai e filho;
(4) Por último, a fase de transferência de poder, em que as responsabilidades são
transferidas para o sucessor.
Também Chirico (2007, p. 65), referindo-se a esta abordagem de ciclo de vida de Churchill
and Hatten (1987), a descreve como “um modelo de quatro estágios de sucessão em
Empresas Familiares”, conforme ilustrado na figura 3.
Proposta da Avaliação Concetual da Empresa Familiar
Baseado na literatura e na Fig.3 que descreve o ciclo de vida, no processo normal de
sucessão, e nas análises realizadas, após termos identificado algumas lacunas, quanto à
definição de empresa familiar, entre a comunidade científica bem como, no processo de
sucessão que pode, eventualmente, acontecer com uma mudança de setor, no ciclo de vida
da empresa, propomos um modelo concetual que poderá ajudar a compreender melhor, a
evolução no processo de sucessão, conforme ilustra a Fig. 4, o qual se divide, igualmente,
em quatro fases, que passamos a explicar:
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Figura 4. Proposta de Modelo Concetual
Fonte: Elaboração Própria
1ª Fase – A empresa familiar nasce, em forma de start-up (E.F.S.), com o objetivo de
desenvolver o seu modelo de negócio;
2ª Fase – A fase do crescimento, em que a empresa familiar se torna gazela
(E.F.G.), aposta numa ascensão e desenvolvimento, com o negócio a crescer sob a
pressão e ameaça da concorrência;
3ª Fase – A fase da maturação (E.F.M.), onde a empresa familiar atingiu o auge e se
irá manter, começando a desenhar-se o processo de declínio. É, exatamente, neste
momento, e ao entrar na fase seguinte, que deve acontecer o processo de sucessão
que, atempadamente, já deve estar preparado para não ocorrer sob pressão e em
ambiente de tensão entre familiares. Neste preciso momento, o novo responsável
pelos destinos da empresa, se pretender dar seguimento ao negócio anterior,
conforme se assinala com a) terá um percurso semelhante ao anterior não sendo o
mais desejável.
Porém, o novo gerente da empresa familiar, nesta fase de mudança, pode apostar
noutro setor e dar início a um novo ciclo de vida da empresa, com todo um percurso
que se adivinha de novidade e perspetivas de melhoria de resultados.
4ª Fase - A fase de declino da empresa (E.F.D.), que decorre da tomada de decisão
anterior, ou seja, o atual responsável dá continuidade ao negócio do setor que
herdou ou, enveredou por um novo setor de atividade conforme se indica em b) e
aguarda o desenrolar de um processo normal natural de ciclo de vida da empresa de
que é agora líder e responsável.
a
)
b
)
)
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27
A Questão do Género na Sucessão Familiar
Cruz Machado, Wetzel e Rodrigues (2008) afirmam numa pesquisa efetuada, a existência
de poucos estudos referentes à sucessão familiar e realçam o aumento do número de
mulheres sucessoras, devido à crescente participação feminina em níveis de gerência no
mercado de trabalho. Apesar da participação das mulheres no mercado de trabalho ter
aumentado, nos últimos anos, ainda continua a ser menor, a ascensão a cargos de
sucessão, em relação à participação masculina. Acerca deste paradigma, Ahrens,
Landmann e Woywod (2015), por sua vez, mencionam que, no que se refere ao género, a
liderança feminina, ainda está num nível baixo em relação à inclusão no mercado de
trabalho. Na ótica de Salvato e Corbetta (2013), a sucessão é entendida como a
transferência da liderança, dos papéis e do poder do precursor para o seu sucessor.
Sucessão Familiar Conceitos e Características
A sucessão familiar é um processo contínuo de transferência multigeracional no qual se dá a
transferência dos valores e da cultura da organização (Lambrecht, 2005). O processo de
sucessão é, por vezes complexo e é um processo moroso, que envolve “ações, eventos e
desenvolvimentos, que afetam a transferência do controle de gestão” entre os membros da
família (Massis, Chua & Chrisman, 2008, p. 184).
Ferreira (2015) trata o processo sucessório como uma realidade do quotidiano
organizacional, reconhecido como um fator de representativa importância na estratégia,
devido à influência que exerce no modelo de gestão, nos indicadores financeiros e nas
relações sociopolíticas.
Das sugestões apresentadas pela literatura, para a realização do processo sucessório está,
em primeiro plano, e com cabal importância, a preparação da sucessão. Essa sugestão é
apontada como sendo a principal solução a ter em conta, a fim de evitar situações
conflituosas, impreparação e futuras negligências que venham a prejudicar os negócios da
família (Sharma, Chrisman, Pablo & Chua, 2001; Leone 2004; Grzybovski, Hoffmann & Muhl
2008; Borges; Lima & Carvalho, 2008).
CONCLUSÃO
Os bons desempenhos do passado não garantirão de igual modo, os desempenhos futuros
da empresa, principalmente no atual estádio de desenvolvimento do conhecimento
científico, bem como dos novos modelos de liderança, o que faz com que as empresas
procurem a constante atualização dos seus modelos de gestão. No entanto, isso não basta
para garantir a continuidade e o bom desempenho da atividade até então, é necessário,
pois, preparar a sucessão com vista ao futuro.
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O estudo demonstra que a maioria das empresas, independente da sua dimensão ou idade,
desconhece o que se denomina de processo de sucessão, na medida em que tanto o
sucessor, quanto o sucedido, devem ser preparados para o momento, o qual se reveste de
alguma complexidade, nalguns casos, e contemplados no planeamento estratégico da
organização.
O modelo de sucessão parece estar claramente orientado pelos critérios e pelas
caraterísticas desse paradigma, mas parece não existir ainda, no seio das empresas
familiares essa convicção, porquanto, ainda se verificam alguns constrangimentos neste tipo
de empresas, pois admitem que preparar a sucessão é, afastar do poder o seu fundador e
não, preparar o futuro da empresa, que todos ajudaram a criar e estão interessados em dar-
lhe continuidade.
Um equívoco que prolifera e ainda é cometido pelas lideranças das empresas familiares, é o
facto de considerarem a sucessão como um evento, e não um processo em si mesmo. A
sucessão não pode ser vista como resultante da morte súbita do fundador, mas sim o
resultado de um cuidadoso e planeado processo iniciado muito cedo.
A contribuição do estudo centra-se no facto de fornecer às empresas familiares, a forma e
principais modelos a utilizar, para cedo iniciarem o seu processo de sucessão, não deixando
de envolver os membros da família, com qualidades e capacidades, para levar por diante, a
liderança da empresa e proporcionar a criação de uma vantagem competitiva na própria
empresa, face aos concorrentes, que não souberam cuidar da sucessão da sua empresa.
Como limitação ao estudo e ao seu processo de continuidade, apontam-se como falhas, a
centralização do poder pelo fundador, ausência de metas e objetivos claros, e fragilidade de
sistemas contabilísticos e de análise de dados, entre outros. Também, e não menos
importante, o planeamento da sucessão está em reconhecer as perspetivas dos membros
da família, da geração seguinte, os quais devem ser ativamente envolvidos nos planos para
o futuro, tendo em conta que a liderança da organização, provavelmente, dependerá deles,
processo esse que assenta na incerteza da manutenção da liderança da família, entre
gerações, pois o problema que, por norma gera conflitos na sucessão, tem-se revelado
quando se está em presença de uma sucessão da segunda para a terceira geração.
Enquanto futuras linhas de investigação, sugerem-se estudos que aprofundem e contribuam
para uma clara definição do conceito de empresa familiar, clarificando as divergências ainda
existentes, na comunidade científica, de modo a trazer uma definição clara deste conceito,
para que seja utilizado em processos de investigação. Por outro lado, tornam-se
necessários estudos relevantes e consistentes, que habilitem o investigador, aquando da
feitura dos seus papers e teses, poder referir-se, à participação da mulher, e sua ascensão,
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a cargos de liderança, em processos de sucessão, com assento em bibliografia de autores
empenhados, em clarificar este paradigma, através das suas contribuições. Por último,
sugere-se a aplicação do modelo proposto da avaliação concetual da empresa familiar, o
qual poderá ter aplicação em estudos futuros e trazer novas formas de avaliar o processo de
sucessão em empresas familiares.
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PERFIL ACADÉMICO E PROFISSIONAL DO AUTOR José Carlos Ferrão Rodrigues Licenciado em Gestão de Empresas; Pós-Graduação em Gestão; Mestre em Gestão de Recursos Humanos; Doutorando em Gestão Universidade da Beira Interior, Docente na área de Contabilidade no Instituto Superior de Gestão e Administração de Santarém (ISLA). Investigador no Centro de Investigação Joaquim Veríssimo Serrão - Santarém. Endereço Postal do autor ISLA Santarém Largo Cândido dos Reis 2000-241 Santarém – Portugal
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EVACUAÇÃO DE MULTIDÕES EM SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA
CROWD EVACUATION SYSTEM IN EMERGENCY
Rui Veiga1, Cristina Cadete Pires2
1ISLA Santarém, CEPESE, Porto; 2ISLA Santarém [email protected]; [email protected]
Resumo
Existem vários tipos de eventos que podendo ser de caracter social, recreativo, desportivo, político ou religioso reúnem num determinado local um grande número de pessoas. O comportamento das pessoas nestes locais é consideravelmente diferente, em especial quando ocorre um incidente crítico. A evacuação de locais com uma grande concentração de público tem sido objeto de diversos estudos, procurando compreender a dinâmica das pessoas de forma a prever o seu comportamento em emergência, mais especificamente, no que diz respeito à análise do risco. Identificar os pontos críticos e onde podem ocorrer desastres é crucial na gestão de emergência, pelo que os modelos existentes têm possibilitado a compreensão de fenómenos associados à evacuação. Este artigo baseia-se numa revisão de literatura, pretendendo melhorar a compreensão dos fenómenos associados ao processo de evacuação em reuniões de massas, destacando algumas lacunas de pesquisa no contexto da segurança. Palavras chave: Evacuação; Emergência; Reuniões de massas; Multidões.
Abstract
There are several types of social, recreational, sport, political or religious related events, in which a large number of people is crowded together in a particular area/location. Human behavior is rather atypical in these circumstances, mainly when there is a crisis or emergency. The mass evacuation of an area has been the focus of many studies aimed at understanding the underlying dynamics, in order to predict human behavior in emergency situations, mostly, through a risk analysis. Existing models have shown that identifying the potential crises and sites is crucial from an emergency management point of view. This article is a literature review paper that intends to provide a better understanding of the mechanisms regarding the evacuation system whenever dealing with a mass. This article also points out some research gaps in the security context. Keywords: Evacuation; Emergency; Mass meetings; Crowds.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma reunião de massas, geralmente é
definida como mais do que um número específico de pessoas num local específico para um
propósito específico (uma função social, um grande evento público ou uma competição
desportiva) por um período concreto. Locais de reunião onde se encontre um número elevado
de pessoas, fazem parte do dia a dia e caso surja uma emergência podem constituir um perigo
para o seu bem-estar (Dong, Liu, Liu, Jiang, & Zhao, 2017; Gutierrez-Milla, Borges, Suppi, &
Luque, 2014; Hopkins & Reicher, 2016).
Uma emergência pode ser causada por fenómenos naturais, tecnológicos de origem humana,
como por exemplo o colapso de estruturas ou ainda atos antissociais, como terrorismo ou
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vandalismo. Muitas destas situações já ocorreram em lugares públicos lotados, onde
pereceram muitas pessoas. Familiares, amigos e muitas outras pessoas ficaram de luto em
todo o mundo (Li, Zhuang, & Shen, 2017). No entanto, devido à baixa perceção de risco as
pessoas tendem a subestimar a probabilidade de ocorrência de um desastre e as suas
consequências negativas (Martínez-Rojas, Ferreira, Carmen, Arquillos, & Carlos, 2018;
Shiwakoti, Tay, Stasinopoulos, & Woolley, 2016)
A história mundial demonstra que os tumultos em reuniões de massa ocorrem
frequentemente, destacando a importância de estudar o comportamento da multidão de
maneira mais científica. Estes estudos são necessários para apoiar os princípios apropriados
e oportunos na gestão de multidões, nomeadamente no planeamento de medidas de controle
e no fornecimento de sistemas de alerta antecipado em reuniões de massa (Gayathri, Aparna,
& Verma, 2017; Soomaroo & Murray, 2012; Zeitz, Tan, Grief, Couns, & Zeitz, 2009).
A concentração pelos mais diversos motivos de grupos grandes de pessoas remonta há
muitos séculos. A peregrinação cristã à Terra Santa foi registada desde o século IV, enquanto
o Hajj, a grande peregrinação do Islã, realizada à cidade de Meca pelos muçulmanos existe
há catorze séculos. O futebol é um desporto que existe em todo o mundo, mais de 4% da
população mundial joga futebol, incluindo 270 milhões de jogadores amadores (Ahmed &
Memish, 2018), um grande número de espetadores assiste diariamente a estes jogos.
Muitos foram os acontecimentos que ocorreram, envolvendo um grande grupo de pessoas.
Em 1971, no estádio de Glasgow Ibrox 66 pessoas foram esmagadas até morrer. A tragédia
levou o governo do Reino Unido a rever a segurança dos campos desportivos. Apesar de
diretrizes semelhantes para controle serem implementadas pelos governos de vários países,
muitos desastres causados pela saída de multidões ainda ocorrem. Em 2001 ocorreu o
desastre de Johannesberg em que 43 pessoas morreram no Estádio Ellis Park, e também no
Gana em que 126 pessoas morreram num jogo de futebol. Em 2003 numa discoteca de
Chicago, 21 pessoas foram esmagadas até à morte ao sair do clube.
Kumbh Mela (Festival do hinduísmo, que ocorre quatro vezes a cada doze anos na Índia), é
considerado o maior encontro religioso e envolve a peregrinação de cerca de 100 milhões de
hindus a um rio sagrado durante um período de um mês. Durante a procissão Xiita em 31 de
agosto de 2005 quase 1.000 pessoas morreram na ponte Al-Aaimmah, que cruza o rio Tigre,
na capital iraquiana de Bagdá. Este tumulto ocorreu devido a rumores de um ataque suicida
iminente que provocou o pânico em muitos peregrinos, o que os levou a se aglomerarem na
ponte fechada. A pressão da multidão fez com que as grades de ferro da ponte com 9 m de
altura cedessem, caindo centenas de pessoas ao rio Tigre (Gayathri et al., 2017). Em 2010
durante a Loveparade que decorria em Duisburg, ocorreram 21 mortos e 541 feridos, onde se
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demonstrou como é difícil controlar e prever a dinâmica de um grande número de pessoas,
especialmente se o pânico dominar as reações de uma multidão (Nitzsche, 2013). Esta
tragédia ocorreu em parte, devido à multidão ter apenas uma rota através de um túnel que
servia de entrada e saída (Sentinel blog, 2017). Também em 2010 durante o Festival da Água,
no Camboja, 347 pessoas morreram e 755 ficaram feridas (Wang, Lo, Wang, Sun, & Mu,
2013). Em 2015 mais de 2000 peregrinos morreram e 900 ficaram feridos durante uma
peregrinação em Mina (Meca, Arábia Saudita), o acidente ocorreu quando dois grandes
grupos de peregrinos colidiram num cruzamento (Severiukhina, Voloshin, Lees, & Karbovskii,
2017).
Estas concentrações humanas apresentam um conjunto de desafios sob a perspetiva da
segurança, sendo a densidade populacional um fator chave que influência as características
de movimento de um grupo grande de pessoas durante uma evacuação em larga escala.
Embora os comportamentos das pessoas possam diferir quando confrontadas com uma
situação real de emergência, as perceções obtidas nos diferentes estudos já realizados são
recursos valiosos para entender os prováveis comportamentos (Shiwakoti et al., 2016).
Pretende-se rever e analisar de forma abrangente os estudos existentes sobre a evacuação
de emergência, mais especificamente em grande escala. Foram objeto de pesquisa e reflexão
os seguintes aspetos: antecedentes de acidentes críticos, fatores de risco, comportamento e
tomada de decisão, teorias de evacuação e modelagem de evacuação.
METODOLOGIA
Atendendo que a seleção da metodologia deve ter em consideração a natureza do problema
a estudar, optou-se por metodologia qualitativa que visa compreender e interpretar o tema
abordado da evacuação de multidões em emergência por pesquisa bibliográfica a partir de
motor de busca Science Direct, de revistas científicas indexadas que abordassem o tópico,
fazendo uso dos descritores combinados: evacuação de multidões, dinâmica de multidão,
mecanismos de comportamento, modelos de evacuação, encontro religioso em massa, nos
idiomas inglês e português. Dos vários documentos reunidos, alguns continham links ou
referências a outros documentos, que foram então localizados. No final de um total de 98
foram selecionados 77 documentos de especial relevância. Esta abordagem permitiu
aprofundar o tema em análise a partir da recolha, análise, descrição e interpretação dos
pontos de vista dos diversos autores. Apesar de este tipo de investigação, poder refletir a
subjetividade inerente ao envolvimento e cunho pessoal da equipa investigadora, esta foi
mitigada pelo rigor e abrangência da recolha e análise.
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ESTADO DA ARTE
Nas reuniões de massas durante um processo de evacuação podem ser identificados fatores
de risco relacionados com as caraterísticas do ambiente físico (local, caminho a percorrer)
(Zhu & Shi, 2016), e com as características da multidão. Os riscos associados a um local e
caminho a percorrer são por exemplo o colapso das estruturas e a queda de cercas, barreiras
ou obstáculos que podem esmagar as pessoas. Estes obstáculos permanentes ou
temporários podem interferir no movimento durante a evacuação. As características da
multidão referem-se essencialmente a aspetos como idade, diversidade cultural, motivação,
velocidade de movimento e densidade.
A densidade da multidão é um fator chave que influência as características de movimento de
um grande grupo de pessoas durante uma evacuação em larga escala (Wang et al., 2013). O
número de indivíduos numa saída ou gargalo (saída que se encontra congestionada) é
conhecido por ser um dos principais aspetos que afetam o fluxo de pessoas (Bode, Holl,
Mehner, & Seyfried, 2015). A velocidade dos indivíduos é inversamente proporcional à
densidade, quando a densidade aumenta, a velocidade diminui (Padovani, Neto, & Massa
Cereda, 2018). Sabe-se que à medida que o ângulo de fusão aumenta, a velocidade média e
o fluxo médio nos corredores de saída diminuem, enquanto a densidade média aumenta (Shi
et al., 2016). As relações fundamentais de velocidade-fluxo-densidade e suas formas variam
em diferentes condições e contextos culturais (Gayathri et al., 2017).
Na maioria dos casos, a multidão movimenta-se em fluxos unidirecionais e multidirecionais,
já que o indivíduo numa multidão tem muito pouca capacidade de ir contra o fluxo (Feliciani &
Nishinari, 2018; Sentinel blog, 2017).
Os fluxos de alta densidade podem tornar-se "turbulentos" provocando a queda das pessoas
(Gayathri et al., 2017). Existem vários tipos possíveis de interação entre fluxos individuais:
movimento em direção, fusão, interseção (Severiukhina et al., 2017). Existe ainda uma
abordagem de fluxo poroso que divide toda a área de estudo em poros, e é assumido que os
indivíduos atravessam essa rede através de poros vazios interconectados (Karthika, Aparna,
& Verma, 2018). Outro fenómeno observado em multidões, são as oscilações do fluxo em
gargalos, por exemplo quando os indivíduos têm de passar por uma porta para sair de um
espaço fechado. Nesta situação, as pessoas mostram um aumento de impaciência e
começam a pressionar junto à saída (Mohd Ibrahim, Venkat, & Wilde, 2017; Padovani et al.,
2018). Todas as pessoas têm uma velocidade individual que é fortemente influenciada por
interações com os outros. Estas interações podem reduzir a velocidade ou até mesmo parar
completamente o movimento (Padovani et al., 2018).
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O processo de evacuação implica a tomada de decisão, uma das mais importantes é a rota
de fuga e a saída (Lovreglio, Fonzone, & dell’Olio, 2016). Para a decisão, as pessoas usam
informações dinâmicas, diferenças nos comprimentos das filas e velocidade das filas nas
saídas, reagindo assim a mudanças circunstanciais (Bode, Kemloh Wagoum, & Codling,
2015). A presença de fumo, a distância até à saída, o número de evacuados perto da saída
ou perto do tomador de decisão, mas movendo-se em direção à saída, têm uma influência
negativa na probabilidade de uma saída ser escolhida. Pelo contrário, a existência de
iluminação de emergência e o fluxo de evacuados através da saída têm uma influência
positiva (Lovreglio et al., 2016). A escolha de saída em resposta a uma emergência não é
assim apenas influenciada pela geometria do local (Augustijn-Beckers, Flacke, & Retsios,
2010), mas também pela familiaridade da saída e pela opção de saída tomada pelos vizinhos
(Kinateder, Comunale, & Warren, 2018). Alguns modelos de simulação assumem que os
ocupantes se movem sempre pelo caminho mais curto para a saída mais próxima (Kuligowski,
Peacock, & Hoskins, 2010; Ronchi & Kinsey, 2011), mas é improvável que essa suposição se
mantenha se a saída mais próxima não for familiar ou se os ocupantes vizinhos se moverem
em direção a uma saída diferente durante uma evacuação (Kinateder et al., 2018; Ma, Lee, &
Shi, 2017). O conflito humano é responsável pelo tempo total de evacuação, já que o conflito
entre o familiar e o desconhecido ocorre dentro da estrutura interior (Ahn, Kim, & Lee, 2016;
Haghani & Sarvi, 2017).
Quando os indivíduos se deslocam num caminho ou gargalo, tendem a disputar as poucas
saídas disponíveis (Alghazzawi, Tashakor, Borges, & Suppi, 2017). A pressão física que se
forma na dinâmica de massas devido ao obstáculo é uma das razões para os danos registados
(Nitzsche, 2013).
O movimento descoordenado da multidão nas reuniões de massa são um risco crítico (Dong
et al., 2017), pode levar a uma debandada, empurrando, esmagando e atropelando. Em tal
circunstância, o controle do indivíduo sobre o movimento torna-se impossível transformando-
se num obstáculo para os outros, quando no meio do tumulto perdem o equilíbrio e caem
(Severiukhina et al., 2017). Além disso, devemos considerar que entre a multidão também se
encontra um grande número de pessoas vulneráveis, como crianças, idosos e deficientes e
em caso de emergência a evacuação será mais difícil para este grupo (Kesler et al., 2017).
Além da falta de mobilidade, as pessoas com deficiência enfrentam vários problemas, como
dependência, sensação de privação e limitações diversas, em especial quando se deparam
com obstáculos (Pakjouei, Aryankhesal, Kamali, & Seyedin, 2018). A presença destes
indivíduos num grupo de evacuados desempenha um papel crucial na escolha da saída para
todos os que se encontram ao redor, existindo diferenças significativas entre indivíduos com
e sem deficiência (Gaire, Song, Christensen, Sharifi, & Chen, 2018).
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O estudo formal das multidões só se iniciou em meados do século XX (Ahmed & Memish,
2018), continuando a ser ainda hoje, uma das áreas mais importantes de pesquisa no campo
da evacuação, sendo para tal fundamental conhecer o comportamento humano em grupo
(Wang & Sun, 2014).
Segundo os sociólogos, o comportamento é a manifestação externa da psicologia interna, que
é afetado por muitos fatores (He, Yang, Chen, Gu, & Pan, 2013; Sieben, Schumann, &
Seyfried, 2017). Fatores humanos (por exemplo, relacionamentos, comportamentos de grupo)
e fatores ambientais (por exemplo, o layout estrutural, locais e zonas de segurança), estas
são duas das características principais estudadas na avaliação de risco para emergência.
Estas características, juntamente com as interações entre aqueles fatores, influenciam
diretamente as consequências de uma emergência (Li et al., 2017).
O comportamento coletivo das multidões humanas emerge das interações entre os locais e
os indivíduos (Cao, Song, & Lv, 2016). Para entender as multidões humanas, precisamos
identificar as regras de comportamento que os indivíduos seguem (Bode & Codling, 2013). O
comportamento humano ao tentar escapar de uma emergência através de uma saída é uma
questão importante na ciência social, na pesquisa de sistemas complexos e no planeamento
arquitetónico (Kurdi, Al-Megren, Althunyan, & Almulifi, 2018). Seis tipos de comportamento,
durante uma emergência, contribuem para uma compreensão mais eficaz e podem auxiliar
na tomada de decisões (He et al., 2013): Comportamento instantâneo - As pessoas tomam
decisões rapidamente, para alcançar as saídas usando a rota mais curta disponível e o mais
rápido possível; Comportamento de rebanho - O indivíduo tende a ser influenciado pela
multidão ao seu redor, particularmente sob certos incentivos. Assim, desiste do seu próprio
raciocínio para seguir as ações da maioria ao seu redor (Souza & Brombilla, 2014). Este tipo
de comportamento origina discrepâncias nas opiniões de diferentes autores, pois enquanto
uns (Wang et al., 2013) referem que este comportamento pode originar movimentos
descoordenados, como, empurrar, esmagar e atropelar, para outros (van der Wal, Formolo,
Robinson, Minkov, & Bosse, 2017) este tipo de evacuação é mais rápida pois estaremos
perante um contágio social (inteligência coletiva e comportamento de rebanho);
Comportamento de evitação de colisão - O indivíduo adota diferentes métodos, como esperar
ou andar, para evitar colidir com barreiras e outras pessoas; Comportamento autónomo – o
indivíduo segue a sua própria orientação, não seguindo os outros; Comportamento de retorno
- os evacuados tentam escapar para trás em relação à rota que estavam a seguir inicialmente
para ir buscar algo, por exemplo, podendo facilmente provocar congestionamento;
Comportamento de pequenos grupos - Um grupo pequeno com relações sociais próximas
prefere sair do mesmo espaço junto. Se um líder aparecer, pequenos grupos também se
formam mesmo sem relações sociais prévias.
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Estamos, pois, perante diferenças significativas no comportamento humano em comparação
com uma situação normal (Gayathri et al., 2017; He et al., 2013). Fuga, medo, gritos ou outras
respostas ao perigo percebido podem ser inteiramente razoáveis, dada a limitada informação
e opções disponíveis para as pessoas durante uma emergência. Numa situação da vida real,
muitos fatores podem ser tidos em consideração: emoção, stresse, deficiência física,
velocidade do vento, idade dos evacuados, género, etc., esses fatores podem influenciar as
decisões e ações das pessoas a serem evacuadas (Kasereka et al., 2018).
Empiricamente, as teorias de “pânico” sugerem a perda de controle comportamental, e daí o
egoísmo e a desordem, em emergência. No entanto, estudos de casos e revisões de
emergências, mostram que a cooperação é relativamente comum no comportamento de
multidões. Na verdade, as pessoas muitas vezes preferem ficar para trás com outros, em vez
de se afastar e fugir (Drury, Novelli, & Stott, 2013), assim como, normalmente adotam
comportamentos estruturados, organizados, úteis, cooperativos e coordenados (Cheng &
Zheng, 2018; Drury, Cocking, & Reicher, 2009; Sentinel blog, 2017; Shiwakoti, Tay,
Stasinopoulos, & Woolley, 2017). Desta forma, um dos maiores equívocos sobre as multidões
é que as pessoas entram em “pânico”, refere Simon Ancliffe, especialista em gestão de
multidões, fundador e presidente do Movement Strategies (Sentinel blog, 2017), sendo o
pânico, também, considerado um mito para Cocking, Drury, & Reicher, 2009; Keating, 1982;
Mawson, 2005; Quarantelli, 1954.
Poderemos aplicar o conceito de resiliência psicossocial, como uma forma de caracterizar
esta cooperação e coordenação numa emergência, não apenas entre familiares e conhecidos,
mas também entre estranhos, como relataram os sobreviventes do naufrágio do navio de
cruzeiro Júpiter em 1988, no desastre de Hillsborough em 1989, e mais recentemente dos
atentados de Londres em 2005.
Nestes eventos, verificou-se precisamente que as pessoas, embora fazendo parte de uma
multidão, se identificaram uns com os outros, coordenaram e cooperaram de uma forma que
lhes permitiu lidar emocional e praticamente com o perigo que enfrentavam (Drury et al.,
2013).
Modelos Nos últimos anos, um grande número de modelos de natureza multidisciplinar foi desenvolvido
para investigar a dinâmica das multidões, exigindo a integração de sistemas sociais, naturais
e de engenharia, para criar uma representação precisa da evacuação na prática (Cheng &
Zheng, 2019; Fachri & Juniastuti, 2017; Li et al., 2017; Lovreglio, Kuligowski, Gwynne,
Canada, & Boyce, 2019; Shi et al., 2016; Viswanathan, Lee, Lees, Cheong, & Sloot, 2014;
Wagner & Agrawal, 2014; P. Wang & Cao, 2019). Esses modelos fornecem informações úteis
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sobre movimentos e melhoram o conhecimento sobre as características das multidões
ajudando a prevenir situações críticas e a reproduzir o processo de evacuação (Liao, Zhang,
Zheng, & Zhao, 2017; Rahouti, Lovreglio, Jackson, & Datoussaid, 2018).
A simulação computacional veio possibilitar a reprodução aproximada de acidentes geradores
de uma emergência e testar hipóteses diferentes sem necessitar realizar experimentos com o
envolvimento de um grande número de pessoas (Padovani et al., 2018). Depois de décadas
de modelos teóricos e onde a evacuação se limitava à análise prévia da arquitetura do espaço
(Townsend, 2014) e ao número de sobreviventes (Kasereka et al., 2018) experiências que
usam virtualmente multidões a partir da análise de dados reais permitem decifrar alguns
comportamentos durante o processo de evacuação (Warren, 2018).
A investigação do comportamento das pessoas, é assim, um ponto de partida ideal para o
desenvolvimento de modelos comportamentais (Gayathri et al., 2017). Acredita-se que o
movimento de bandos, cardumes, ou multidões surja da interação entre os indivíduos e o local
num processo de auto-organização. A chave para explicar esse comportamento coletivo é,
portanto, a compreensão dessas interações (Shiwakoti, Sarvi, Rose, & Burd, 2011; Warren,
2018). Por outro lado, a análise do tempo de evacuação determinado por modelos de
evacuação, juntamente com uma análise visual dos cenários de evacuação simulados,
permite a identificação dos principais fatores que afetam o processo de evacuação (por
exemplo, atrasos, superlotação nas saídas em relação à largura das saída, etc.) o que pode
melhorar a implementação das medidas de segurança (E. Ronchi, Uriz, Criel, & Reilly, 2016).
As simulações de evacuação de multidões podem ser classificadas em modelos de partículas,
força social, dinâmica de fluidos, inteligentes e híbridos.
Partículas - cada indivíduo é visto como uma partícula dentro de um espaço N-dimensional
(He et al., 2013);
Força social - simula os movimentos microscópicos dos indivíduos. Os movimentos desses
indivíduos são descritos submetendo-os a "forças sociais". Essas forças são exercidas pelo
ambiente pessoal, assim como as interações com outros indivíduos nesse contexto. As
simulações mostraram que quanto maior o grau de pânico, mais rápido os indivíduos se
movem, mas em contrapartida, mais lentamente eles conseguem passar pela saída (He et al.,
2013). Neste modelo a dinâmica de cada individuo é determinada por três tipos de forças: que
direcionam o individuo para o seu destino; que evitam colisões entre dois pedestres através
de forças repulsivas; Forças granulares que entram em jogo quando dois indivíduos se tocam
e começam a empurrar numa situação de pânico (Shiwakoti, Sarvi, & Rose, 2008).
Dinâmica de fluídos - As multidões comportam-se de maneira semelhante a gases ou fluídos,
fazendo-se uma analogia entre o seu movimento e o do leito de um rio (Zheng, Zhong, & Liu,
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2009). Os modelos macroscópicos tratam o movimento de pedestres como um fluido contínuo
e focam-se na representação do movimento de pessoas numa multidão através de relações
de fluxo, densidade e velocidade (Gayathri et al., 2017). O comportamento macroscópico
revela que a velocidade média do pedestre é reduzida à medida que a densidade aumenta. A
hipótese do contínuo é declarada inválida para um fluxo de baixa densidade. A suposição de
uma relação linear entre espaço e fluxo no nível macroscópico tem sido questionada por vários
pesquisadores baseados em simulações microscópicas. Os modelos microscópicos tratam
cada pessoa numa multidão como um agente individual que ocupa um determinado espaço
num certo tempo. Estes modelos baseiam-se nos comportamentos, ações e decisões de cada
individuo, bem como interações com os outros (Padovani et al., 2018) e fornecem informações
valiosas sobre uma ampla gama de estados comportamentais. Os modelos microscópicos
lidam com os fatores que levam os indivíduos até ao destino considerando a interação com
os outros (Helbing, Buzna, Johansson, & Werner, 2005). Tais modelos apresentam uma
representação mais realista dos movimentos das pessoas e podem ser classificados em
quatro grupos: modelos baseados em física, celular, rede de filas e de múltiplos agentes. Os
modelos baseados em física reconhecem que a multidão é composta de indivíduos que
reagem a eventos ao seu redor. São exemplos, o Modelo de Força Magnética - representa o
movimento de cada individuo como se fosse um objeto magnetizado num campo magnético;
o NOMAD (Teoria do Comportamento Pedestre Normativo) – consiste num modelo de força
social.
Inteligentes e híbridos - Os comportamentos são definidos através de tipos padrão existentes
ou pela criação de novos. Permite que cada agente individual responda de maneira diferente
ao ambiente e tome decisões razoáveis, no entanto alguns tipos de comportamento poderão
ser perdidos. Os modelos híbridos são desenvolvidos de forma a explorar as vantagens dos
existentes. Foi explorada uma nova abordagem que identifica os estímulos visuais que os
humanos extraem do seu fluxo ótico para controlar a sua locomoção e evitar obstáculos,
permitindo a eficiência geral do tráfego dos indivíduos evitando situações de bloqueio
improváveis (He et al., 2013).
Cellular Automata (CA) - Células, são utilizados para representar áreas livres, obstáculos,
áreas ocupadas por indivíduos ou por um grupo de pessoas. As pessoas transitam de célula
para célula nas regras de ocupação definidas (Gayathri et al., 2017).
CDAS - Sistema de Prevenção de Desastres (Crowd Disaster Avoidance System) Concentra-
se na análise do comportamento de multidões, onde uma fuga desordenada pode ocorrer
devido ao comportamento anormal de indivíduos numa multidão. Este modelo trabalha com
dados de referência existentes, suas especificações e métricas de avaliação de desempenho,
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ajuda os pesquisadores a selecionar conjuntos de dados apropriados para avaliação
(Yogameena & Nagananthini, 2017).
GESTÃO DA EMERGÊNCIA
Embora ninguém possa prever a ocorrência de uma emergência, a preparação para a
possibilidade desse evento é necessária (Skryabina, Reedy, Amlôt, Jaye, & Riley, 2017;
Turoff, Hiltz, Bañuls, & Van Den Eede, 2013). O comportamento psicomotor dos indivíduos é
responsável e interfere em todo o processo (Zarboutis & Marmaras, 2005), em diversas
circunstâncias, o controle do indivíduo sobre o movimento torna-se impossível e ondas de
choque podem-se propagar através da multidão e causar problemas incontroláveis (Wang et
al., 2013), (Shiwakoti et al., 2014).
Identificar onde pode ocorrer um desastre pode ser crucial no planeamento (Gutierrez-Milla,
Borges, Suppi, & Luque, 2015), reconhecer as saídas problemáticas ou simplesmente analisar
como comunicar (Fujihara & Miwa, 2014) e evacuar uma grande multidão de maneira eficiente
é uma tarefa critica (H. Dong, Gao, Gao, Sun, & Wang, 2014; Khalid & Yusof, 2015) que requer
conhecimento da sociologia humana, (Nitzsche, 2013).
Além das medidas estruturais (por exemplo, o número de saídas) que preveem a eficiência
da evacuação, medidas organizacionais (por exemplo, planos de evacuação) e também as
medidas relacionadas com o próprio indivíduo são meios potencialmente eficazes para
aumentar essa eficiência (Ferscha & Zia, 2009). Se as barreiras são consideradas um
obstáculo durante o processo de evacuação, analisando de outra perspetiva, estas estruturas
temporárias, são uma das formas de controlar o comportamento das pessoas (separação de
grupos, marcação de limites, etc.). Se forem desenvolvidos projetos que possibilitem através
de soluções arquitetónicas a evacuação, existe a possibilidade de mudar o padrão de
movimento coletivo de uma forma que aumenta a segurança da multidão. Dessa forma,
estamos realmente criando as soluções de design que condicionam a própria multidão. Assim,
a solução para evitar desastres de multidões pode estar no meio da multidão (Shiwakoti et al.,
2014), sendo amplamente aceite que obstáculos conjugados com soluções permanentes ao
nível do projeto arquitetónico podem aumentar a segurança da multidão em eventos de
grande dimensão (Severiukhina et al., 2017).
Se o foco deste artigo se centra na evacuação de multidões em segurança, não podemos
deixar de apresentar resumidamente as medidas de gestão de emergência definidas pelos
diversos autores, pois a gestão de uma reunião de massas só pode ser bem-sucedida através
de um conjunto integrado de ações proativas, e não reativas:
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Os projetistas devem assumir que os ocupantes do local de reunião têm
comportamentos sistemáticos de saída que podem levar ao uso ineficaz de saídas de
emergência. Ao considerar a familiaridade com a saída e a influência social, os
projetistas podem desenvolver estratégias para facilitar a evacuação eficiente
(Kinateder et al., 2018);
Fornecer informações claras ao público de uma fonte confiável sobre uma ameaça,
longe de dificultar a evacuação eficiente, melhora os tempos de evacuação (Cocking
et al., 2009);
Durante a evacuação, não se deve ir contra o fluxo de pessoas. O individuo deverá
mover-se lateralmente ou diagonalmente em espaços abertos ao invés de empurrar
(Sentinel blog, 2017);
Para garantir uma resposta precoce a qualquer situação / problema de emergência ou
para prever uma situação / problema de emergência, é essencial um sistema de
monitorização contínuo e sofisticado como um sistema de alerta precoce (Gayathri et
al., 2017);
Exercícios de emergência estão entre as soluções mais eficazes na avaliação da
capacidade de resposta de evacuação (He et al., 2013; Ma et al., 2014).
CONCLUSÃO
A investigação do comportamento dos indivíduos em reuniões de massa foi o ponto de partida
da revisão de literatura, concluindo-se que é um aspeto importante no planeamento e gestão
do processo de evacuação. Resultados da observação e análise a emergências, mostram que
os evacuados podem ser cooperativos uns com os outros quando confrontados com uma
emergência, verificando-se que durante uma evacuação, níveis de desejo de fuga elevados,
promovem a cooperação, enquanto situações normais inibem esse tipo de comportamento.
As pessoas serão mais propensas a ajudar os outros do que a assumirem comportamentos
agressivos, como por exemplo empurrar os outros. Relatos de sobreviventes referem que o
perigo de morte compartilhado, os uniu a estranhos que se encontravam à sua volta. Um dos
dilemas para muitos autores e, ao mesmo tempo, mais desafiadores é o pânico, que é, para
muitos considerado uma preocupação séria e para outros completamente desmistificado,
quando referem que a cooperação e interajuda se sobrepõem ao pânico.
As condições do meio, nomeadamente o surgimento de obstáculos e estrangulamentos
(gargalos) mostraram que têm influência substancial na dinâmica da multidão e centenas de
vidas poderão ser perdidas em situações de emergência. A simulação computacional tem,
pois, um papel preponderante e está a tornar-se uma ferramenta padrão para planeamento e
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avaliação de sistemas evacuação. Pela análise dos diferentes modelos apresentados, na
literatura, verificamos que são estruturalmente diferentes, e poucos foram rigorosamente
testados com elementos reais, especialmente em emergência.
A grande vantagem dos modelos é a antevisão de diversos cenários, sem colocar em risco os
indivíduos, no entanto conforme referido reproduzir emoções, comportamentos experiências
e conhecimentos é muito difícil.
Ao longo da pesquisa, diversos autores apresentam casos de estudo baseados em reuniões
de caracter social, recreativo, desportivo e político, mas poucos estudam o processo de
evacuação de multidões em espaços religiosos, pelo que consideramos uma lacuna.
Pretendemos dar continuidade a esta investigação através de um estudo de caso referente a
um evento de caracter religioso ao ar livre, reconhecendo os fenómenos da evacuação, as
saídas problemáticas, gargalos e a importância da colocação de barreiras como forma de
diminuir a densidade da multidão para estes locais, melhorando o processo de evacuação.
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PERFIL ACADÉMICO E PROFISSIONAL DOS AUTORES
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Rui Veiga - Formação Académica em Segurança e Higiene do trabalho, Gestão de Recursos Humanos e Políticas Sociais, pela Universidade de Leon, ISLA e ISSS; professor especialista reconhecido pelos ISLA SANTARÉM e LEIRIA. Diretor Técnico da Merituscalabis, Lda., entidade prestadora de serviços externos de Segurança do Trabalho (ST), formador, consultor, autor, co-autor e coordenador de várias publicações e autor de múltiplos artigos científicos na área da segurança no trabalho. Cristina Cadete Pires - Formação Académica em Segurança e Saúde no trabalho, Qualidade e Ambiente pelo ISLA SANTARÉM. Consultor, formador e docente em Sistemas de Gestão de Qualidade, Ambiente e Segurança. Co-autor de diversos artigos científicos na área da segurança no trabalho. Endereço Postal dos autores ISLA Santarém Largo Cândido dos Reis 2000-241 Santarém (Portugal)
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ANÁLISE DE SENTIMENTO A COMPANHIAS AÉREAS NORTE AMERICANAS SENTIMENT ANALYSIS TO NORTH AMERICAN AIR COMPANIES
Marco Alexandre Tomás Tereso
ISLA de Santarém
Resumo A disseminação da internet e o crescimento exponencial da sua utilização, tem permitido ao longo dos últimos anos diminuir distâncias entre lugares, comunidades, instituições, organizações e pessoas. O uso recorrente da internet, permite através de diferentes conceitos, traçar o perfil de utilizadores, seus hábitos, gostos, os seus interesses; partilhar exposições de avaliações a determinados produtos e serviços; partilhar conhecimento e experiências na primeira pessoa. Este tipo de dados, quando processados permite obter informações diversas, que podem ser utilizadas para reflexões de análise de sentimentos. Tendo em conta que a utilização das redes sociais se tornou viral, e que muita é a partilha de informação, opiniões e demonstração de sentimentos por parte dos utilizadores, estas tornaram-se uma excelente fonte de dados para a aplicação de técnicas de Processamento de Linguagem Natural. Este estudo tem por base a aplicação de técnicas de análise de sentimento, e a consequente avaliação do serviço prestado por seis companhias Norte Americanas. Este estudo faz uma relação direta com um outro estudo que classifica as companhias através dos atrasos, impedimentos na hora do embarque, extravio de bagagem e reclamações de clientes. Aplicando técnicas de processamento de linguagem natural e análise de sentimento, percebemos que existe alguna relação entre os dados dos dois trabalhos de investigação.
. Palavras chave: Análise Sentimento; Opinion Mining; PLN; Text Mining.
Abstract The spread of the internet and the exponential growth of its use have allowed over the last years to reduce distances between places, communities, institutions, organizations and people. The recurring use of the Internet allows, through different concepts, to draw the profile of users, their habits, tastes, their interests; share exposure to certain products and services; share knowledge and experiences in the first person. This type of data, when processed allows to obtain diverse information, that can be used for reflection of feelings analysis. Taking into account that the use of social networks has become viral, and that much is the sharing of information, opinions and demonstration of feelings on the part of users, these have become an excellent source of data for the application of Natural Language Processing techniques. This study is based on an application of techniques of analysis of feelings, and is therefore an evaluation of the service provided by six North American companies. The study is part of a direct evaluation with the other study that classifies as its own words through delays, boarding impediments, lost luggage and customer complaints. Application of natural language processing techniques and meaning analysis, realize that there is a relationship between the data of the research work.
Keywords: Sentiment Analysis; Opinion Mining; PLN; Text Mining.
Em plena era digital, a utilização massiva das redes sociais, tem contribuído para o
desenvolvimento de metodologias de análise e interpretação de texto de forma automática. O
ramo da inteligência artificial contém algumas áreas que se dedicam esencialmente à
implementação de métodos avançados de processamento de texto e consequentemente
análise desses mesmos dados. São exemplo, as áreas de Data Mining (Witten, Frank, Hall e
Pal, 2016), Text Mining(Pletscher-Frankild, Pallejá, Tsafou, Binder e Jensen, 2015), Opinion
ISLA Multidisciplinary e-Journal, Volume 2, número 1 (2019) ISSN 2184-299X
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Mining (Balazs e Velásquez, 2016), Sentiment Analysis (Liu, 2010). Cada uma destas áreas
da ciência, processam dados textuais com objetivos distintos.
Com a globalização da internet e o consequente crescimento exponencial da sua utilização,
surgem novas necessidades e perspetivas de negócio. A divulgação de novos conceitos,
empresas, instituições entre outros, permite não só fazer a sua apresentação ao mundo mas
também criar opiniões, ideias e sentimentos entre os consumidores dessa informação. A
mineração de dados a partir de texto é uma área com bastante aplicabilidade. Este trabalho
pretende apresentar os processos para a recolha de dados, provenientes da análise a
comentários em serviços online, extraindo informação importante e classificando esse mesmo
serviço de forma automática, tendo em conta a natureza do comentário, ou seja, se é positivo,
negativo, ou neutro.
O foco deste trabalho é o conceito de Análise de Sentimento, que tem por base obter tweets
relacionados com um determinado contexto e extrair a natureza do sentimento, expresso
nessa mesma mensagem.
Neste caso em concreto será representado o conjunto de passos necessários para a
realização de uma análise deste tipo. Este trabalho de investigação tem como objetivo, avaliar
e classificar seis companhias aéreas Norte Americanas, face à percentagem de classificações
negativas e positivas por parte dos cibernautas que deixaram uma análise ao serviço prestado
pelas mesmas.
Este estudo tem por base um estudo realizado e publicado em 2014, escrito por Brent D.
Bowen, da Universidade de Aeronáutica Embry-Riddle, e por Dean E. Headly, da Univesidade
de Wichita (2014). O autor criou um ranking baseado em quatro categorias – atrasos,
impedimentos na hora do embarque, extravio de bagagem e reclamações de clientes – e foi
realizado com os dados das consideradas 15 melhores companhias aéreas norte-americanas.
Este estudo apresenta os melhores resultados e a variância de ranking das compañías ao
longo de 6 anos. Os dados recolhidos para análise remontan ao ano de 2013, desta forma
vamos tentar perceber se das companhias escolhidas existe alguna relação com os resultados
de análise de sentimento que vamos obter. Mediante este estudo, e com os dados
disponibilizados procura-se fazer uma ponte entre os dados descritos nesse estudo e os
resultados que vamos obter.
Este trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: a secção atual é a secção de
introdução ao estudo realizado; segue-se a secção de métodos de processamento de texto,
onde é feito o enquadramento sobre diferentes áreas de análise de dados textuais, com
referência a técnicas de Text Mining e diferentes métodos de processamento e limpeza de
dados; de seguida é abordado o conceito de Processamento de Linguagem Natural (PLN), e
ISLA Multidisciplinary e-Journal, Volume 2, número 1 (2019) ISSN 2184-299X
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referido as suas aplicações práticas; na secção seguinte é abordado o tema de análise de
sentimento, que é a base deste estudo; segue-se uma secção dedicada aos métodos de
implementação, onde é referido passo a passo o processo que foi implementado na prática
para a análise do dataset utilizado; por fim e não menos importante, é apresentada a análise
e discussão dos resultados obtidos.
MÉTODOS DE PROCESSAMENTO DE TEXTO
Atualmente existem um conjunto de áreas da ciência que têm como foco a extração de
informação a partir de dados textuais. Este tipo de áreas, correlacionam-se com a Inteligência
Artificial. De entre as mais conhecidas destacam-se o Text Mining, Data Mining, PLN e Opinion
Mining também conhecido por análise de sentimento. Text Mining é uma técnica da
Inteligência Artificial, que consiste na extração de informação a partir de texto. Basicamente,
a extração de texto consiste em transformar palavras ou frases não estruturadas numa forma
adequada para poder aplicar técnicas de Data Mining (Forte, 2015)
Text Mining, ou KDT (Knowledge Discovery from Text) pode ser definido como um processo
de conhecimento intensivo, em que um utilizador interage com uma coleção de documentos
ao longo do tempo, por meio de um conjunto de ferramentas de análise (Feldman e Sanger,
2007).
A mineração de dados, é o processo de extração ou mineração de conhecimento em grandes
quantidades de dados. Este processo resulta da aplicação de técnicas de Text Mining,
consiste no processamento dos dados em bruto, através de técnicas de processamento de
linguagem natural (PLN) e de métodos analíticos.
O Text Mining pode ser utilizado em áreas diversas e com aplicações diferenciadas. Segundo
(Paulraj, 2001), a mineração de dados permite:
• Melhorar a disposição dos produtos, nas prateleiras, mediante o estudo do consumidor
• O departamento de marketing de uma empresa, recorrer ao envio de mensagens
promocionais personalizadas, na expectativa de obter melhores retornos
• As empresas preverem a necessidade de reforço de stocks, ao perspetivar picos de
vendas
• As agências de viagem aumentar o seu volume de vendas, associando os seus pacotes
turísticos ao perfil dos seus clientes
Segundo Dörre, Gerstl e Seiffert (1999), existe ouro escondido nos dados de cada empresa –
a extração de conhecimento a partir de texto promete ajudar as organizações a encontrá-lo.
Vamos conhecer em maior detalhe a forma como este tipo de dados são processados.
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Processos de Text Mining
O processo de aquisição de informação proveniente de textos, segue um conjunto de
processos, de modo a que se torne mais fácil compilar e processar os dados. O processo da
extração de informação e apuramento de dados, segue três etapas:
Análise, procura e seleção de informação (Information Retrieval) - este processo é
extremamente importante no desenvolvimento dos restantes. É importante fazer uma boa
seleção das fontes de dados (textos, documentos, etc.), para facilitar o processo de recolha
de informação de forma automática e no menor período de tempo. Os documentos, dos
quais provém a informação, podem ser classificados de: estruturados (quando organizados
em tabelas e devidamente organizados); semi-estruturados (quando de certa forma a
informação surge classificada por tópicos, ainda que possa surgir desorganizada, como é
o exemplo de um jornal, conjunto de artigos e classificados separados na mesma página);
ou documentos não estruturados (documentos sem qualquer formatação ou estruturação,
como por exemplo um documento de texto corrido ou desorganizado).
Extração de Informação (Information Extraction) - nesta fase, o mais importante é fazer a
filtragem da informação realmente relevante. Mediante aquela que for a seleção que é
planeada, este processo tem a finalidade de obter a partir dos documentos, dados
específicos, entidades ou relacionamentos.
Processamento de linguagem Natural (Natural Language Processing, NLP) - por fim, mas
não menos importante, o processamento da informação. Nesta fase é importante agrupar
dados (provenientes de linguagem falada ou escrita) e classificá-los de uma forma que não
seja desconhecida para os programas que manipulam estes mesmos dados. Este processo
segue descrito em maior detalhe na secção de pré-processamento, presente neste
documento, onde será mais detalhado e exemplificado através de casos concretos.
Pré-processamento
O pré-processamento, consiste na preparação dos dados a serem processados (Silva, 2014).
É importante que os dados originais, independentemente da sua proveniência, sejam tratados
de forma a serem mais fácil de interpretar para o computador. Esta fase segue um conjunto
de etapas, desde o processo de simplificação dos dados recolhidos, limpeza e filtragem dos
dados a serem processados. Existem algumas técnicas distintas para realizar o passo a passo
deste processo, vamos conhecê-las mais em detalhe.
Separação/segmentação de texto (tokenização)
Os dados obtidos com recurso a técnicas de segmentação de texto, têm o nome de token. É
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considerado um token, qualquer palavra constituinte de um texto, ou a um conjunto de n
caracteres consecutivos, constituintes de uma palavra, em que n pode receber valores de
1..n, estes tokens têm o nome de n-gram.
O processo de segmentação de frases, obtendo a totalidade de cada palavra, é o mais
comum. Este processo consiste na separação de palavras, tendo como referência os espaços
entre elas ou os elementos de pontuação (ponto final, virgula, ponto de exclamação, ponto de
interrogação, entre outros). A tokenização deve ser ajustada à necessidade de cada
problema.
O objetivo deste processo é transformar frases num conjunto de tokens, de forma a poder
trabalhar os dados.
Limpeza dos dados
Após o processo de tokenização, existe um conjunto de passos que devem ser seguidos,
também eles, ajustados às reais necessidades de cada caso específico.
Na maioria dos casos, a existência de números nos documentos, não acrescentam
informação necessária, desta forma, deve-se proceder à remoção dos tokens que contenham
numeração.
No processo de limpeza de dados, deve-se proceder à conversão de todos os tokens, para
letras minúsculas, evitando assim que palavras iguais mas escritas de forma diferente sejam
consideradas diferentes (Ex: Text Mining, TEXT MINING e text mining).
Remoção de stopwords
As palavras identificadas por stopwords, são aquelas que são consideradas que não
acrescentam informação de valor. As stopwords mais frequentes são as preposições, artigos
e pronomes, como por exemplo "um", "uma", "o", "a", "e", que se tornam irrelevantes para o
contexto (Sedbrook e Lightfoot, 2010). Sendo palavras bastante comuns nas frases, e sem
que acrescentem valor, a sua eliminação representa um acréscimo na taxa de processamento
de dados.
Stemming
Um processo muito comum, é realizarmos uma pesquisa na web, recorrendo a um motor de
busca, colocando uma palavra sem nos preocuparmos com o tempo verbal, a pluralidade e
as "n" multiplicações que a palavra pode ter. De forma a que a pesquisa seja mais abrangente,
os mecanismos de pesquisa encontram o stem da palavra, ou seja, a palavra raiz.
O processo de stemming, permite obter a raiz morfológica de uma palavra, eliminando prefixos
e sufixos, para não sobrecarregar a informação gramatical ou lexical da palavra (Moral, de
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Antonio, Imbert e Ramirez, 2014). Este processo tem por base fazer uma representação da
palavra, excluindo géneros, excluindo termos verbais específicos, e diminutivos (p.ex.:
conquistando – conquista, trabalhadora – trabalhador, pequenino – pequeno, pequena, entre
outros). Desta forma podemos dizer que:
• Stemming - é a ação de reduzir uma palavra em stems
• Stem - é a parte de uma palavra
• Stemmer - é o artefacto (o programa que executa o processo)
A utilização de stemming por vezes origina erros de análise, esses erros são de dois tipos:
• over stemming - ocorre quando a cadeia de caracteres removida, não é um sufixo mas
parte de um stem (p.ex: a palavra "gramática" após processada por um stemmer, é
transformada no stem "grama", a sua forma normal seria "gramát")
• under stemming - ocorre quando um sufixo não é removido completamente (por exemplo:
a palavra "referência" é transformada no stem "referênc" ao invés de "refer")
Lemmatization
O processo de Lemmatization, consiste num processo capaz de moldar palavras de forma a
que, retire a conjugação verbal, caso se trate de um verbo, altere os substantivos e os
adjetivos para o singular masculino, colocando a palavra na sua forma de dicionário (por
exemplo: amigo – amigo, amiga, amigão; gato – gato, gata, gatos, gatas; ter – tinha, tenho,
tiver, tem). Do vocabulário em torno do conceito de Lemmatization temos que:
• Lemmatization - é a ação de reduzir uma palavra em Lemmas
• Lemma - forma básica de uma palavra
• Lemmatizer - é o artefacto (o programa que faz o processamento da ação)
PROCESSAMENTO DE LÍNGUA NATURAL (PLN)
O processamento de Linguagem Natural (PLN), é uma área da ciência que se relaciona com
a Inteligência Artificial (IA). O foco de PLN é estudar os problemas de compreensão
automática de linguagens naturais humanas. Um dos seus desafios é a compreensão da
língua humana e fazer com que computadores consigam interpretar essa mesma linguagem
desencadeando funções especificas através do reconhecimento da mesma.
A aprendizagem automática, em todas as áreas, incide sobre a análise de exemplos típicos
do mundo real. No caso da PLN, esta mesma análise é feita sobre um corpus, que é um
conjunto de documentos ou frases individuais, que foram registados com os valores corretos
a serem aprendidos.
Existe um conjunto de algoritmos, de naturezas diversas, tais como, árvores de decisão e
modelos estatísticos. Os modelos estatísticos são, nos dias de hoje, mais utilizados, estes
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modelos têm a capacidade de tomar decisões flexíveis e probabilísticas, atribuindo um peso
a cada característica de entrada. Estes sistemas têm a vantagem de procurar as respostas
mais assertivas em cada caso específico.
Aplicações de PLN A área de PLN é bastante abrangente, e tem imensa aplicabilidade em áreas concretas.
Vejamos alguns exemplos da sua aplicabilidade.
• Sumarização Automática: ideal para fazer um resumo sobre notícias, ou conteúdo de uma
página
• Tradução de textos: a tradução de elementos entre línguas diferentes, é possível aplicando
algoritmos de PLN
• Reconhecimento Óptico de Caracteres (OCR): capaz de fazer um reconhecimento de
caracteres através de leitura óptica, e processar esses mesmos dados
• Respostas a Perguntas: um exemplo da sua utilização é quando fazemos uma pesquisa
num motor de busca, colocando uma questão (por exemplo: Em que cidade de realizou a
EXPO 98?) e obtemos a resposta
• Extração de Relacionamento: permite fazer associações através de critérios de pesquisa
em textos (por exemplo: Quem era a mulher de D. Afonso V?)
• Reconhecimento de voz: tem como finalidade fazer o reconhecimento da fala e fazer a sua
tradução para escrita.
• Análise de subjetividade (Opinion Mining ou Sentiment Analysis): utiliza a web de modo a
recolher informações sobre a opinião pública relativamente a um determinado tema. Este
conceito está relacionado com o foco deste trabalho.
Existem muitos outros que poderiam ser descritos e aprofundados. Mas os que aqui foram
enumerados, permitem ter uma perceção da sua importância e aplicabilidade.
CONCEITO DE OPINION MINING OU SENTIMENT ANALYSIS
A base deste trabalho é a requisição e análise de comentários a um determinado serviço,
relativamente aos sentimentos demonstrados pelo público, na divulgação da sua opinião em
relação aos mesmos.
Nas técnicas de PLN, existem subáreas para a análise deste mesmo tipo de comentários,
esses conceitos são o Opinion Mining ou Sentiment Analysis. O foco destes conceitos,
prende-se com a análise de sentimento e opinião, expressa pelo público, sobre um
determinado assunto, conceito ou serviço.
Uma tarefa básica neste conceito, é classificar um determinado texto, como sendo positivo,
negativo ou neutro. O conceito de Data Mining, também ele com muitos aspetos em comum,
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baseia-se muitas vezes no conceito de Opinion Mining, para poder fazer análises de
aproximação em áreas como a gestão e a área das ciências sociais. (Sneka e Vidhya, 2016).
A análise de sentimentos, é aplicada em todos os domínios empresariais, pois as opiniões
fazem parte da realidade humana e influenciam os nossos comportamentos (Liu, 2012). Se
pensarmos, sempre que temos uma dúvida ou um problema, procuramos muitas vezes a
opinião de outras pessoas, no intuito de tentar chegar a uma conclusão/solução o mais
assertiva possível. Esta é uma realidade bastante presente e que demonstra a importância da
análise de sentimentos.
MÉTODO DE IMPLEMENTAÇÃO
A análise de sentimento, é um processo que permite através da análise de texto perceber
opiniões positivas, negativas ou neutras. Até chegar aos resultados pretendidos, os textos em
análise passam por um conjunto de processos. É fundamental proceder a uma limpeza dos
dados, este processo consiste em remover do texto todas as palavras e caracteres que não
acrescentem qualquer informação relevante. Este processo trata essencialmente da remoção
de sinais de pontuação, caracteres soltos, algarismos, links de páginas web e remoção de
stopwords(palavras que não acrescentam qualquer valor e que são identificadas para cada
língua). Posteriormente é necessário fazer a comparação das palavras resultantes com a lista
de palavras positivas e negativas de cada língua. Este trabalho foi desenvolvido através da
criação de scripts em linguagem R. R, é uma linguagem capaz de manipular grandes
quantidades de dados, efetuar cálculos e fazer recriações gráficas por exemplo (Venables,
Smith e Team, 2018).
A metodologia de desenvolvimento contemplou um conjunto de etapas, desde a aquisição
dos dados; aplicação de processos de limpeza dos dados em análise; separação dos tokens
de cada comentario; avaliação dos comentarios, numa escala de positivo, negativo ou neutro,
comparando cada token com as listas de positivewords e negativewords; apresentação de
resultados. As próximas secções apresentam em detalhe a metodología aplicada nesta
investigação
Aquisição de dados Para a realização deste trabalho prático foi necessário recorrer à aquisição de dados. Apesar
de existirem alguns repositórios online que disponibilizam dados de datasets, a aquisição de
comentários torna-se por vezes um processo mais difícil, tendo em conta que nem todos os
datasets os disponibilizam. Para a realização deste trabalho utilizou-se um dataset disponível
em1. Após o download dos dados procedeu-se à separação do ficheiro .csv em diferentes
1 Disponível para download em: https://www.kaggle.com/crowdower/twitter-airline-sentiment
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ficheiros, organizados por companhias diferentes, para facilitar posteriormente a sua
utilização.
Limpeza de dados O processo de limpeza de dados é bastante importante, não só porque permite simplificar a
amostra de dados a processar, mas também porque permite apurar apenas o conteúdo
essencial. Para a realização deste processo desenvolveu-se um script em R, este processo
tem por base fazer a remoção de links, algarismos, sinais de pontuação, acentos, remoção
de espaços em branco, remoção de caracteres repetidos, conversão para caracteres
minúsculos e remoção de stopwords. O processo de remoção de stopwords deve se ter em
conta o idioma utilizado nos comentários, por vezes pode surgir a necessidade de fazer uma
limpeza de stopwords de outras línguas. Neste caso foram aplicados os processos de limpeza
de dados tendo em conta a língua inglesa, visto que os comentários analisados são em inglês.
Análise de sentimento Após a primeira fase, de limpeza dos dados, aplicando todos os processos anteriormente
referidos, os dados obtêm um estado aceitável para a aplicação de métodos de análise de
sentimento. Para obter informação precisa sobre a natureza dos comentarios, é necessário
proceder à análise de sentimento dos comentarios adquiridos. Neste contexto foi necessário
proceder à recolha de conjuntos de palavras positivas e negativas associadas ao idioma de
inglês, utilizado neste trabalho. Os documentos de palavras positivas e negativas da língua
inglesa, utilizados neste trabalho, resultam de um trabalho de investigação (Minqing e Liu,
2004). Convém referir que, para além das palavras identificadas nos ficheiros enumerados,
foram adicionadas as palavras ‘cancel’ e ‘cancelled’ ao ficheiro das palavras negativas, tendo
em conta que estas são duas palavras que não constavam na lista mas que são importantes
no caso em análise. Para esta análise desenvolveu-se um script em linguagem R, que devolve
o número de comentários positivos e o número de comentários negativos, fazendo a diferença
e apresentando os valores resultantes sobre o contexto geral.
A Figura1 ilustra o resultado apresentado pelo compilador da linguagem R, aplicando o
processo de deteção de palavras positivas no conjunto de comentários. Para uma melhor
percepção procedeu-se à identificação dos tokens positivos, assinalados a verde na Figura 1,
para uma melhor percepção. As representações numéricas identificam o número do token
pela orden do ficheiro criado, enquanto que a representação ‘NA’ representa tokens negativos
ou neutros. O mesmo proceso será repetido para encontrar os comentarios negativos,
permitindo assim fazer o ranking sobre o sentimento expresso pelos clientes de cada
companhia.
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Figura 1. Exemplo da identificação de comentários positivos à companhia aérea JetBlue
Ainda no mesmo script foi gerada uma nuvem de palavras, constituída pelas palavras que se
repetem mais vezes nos comentários sobre cada uma das companhias aéreas. A Figura 2
ilustra um dos exemplos representativos, tendo por base o ficheiro de dados da companhia
AmericanAir. Este tipo de representação é bastante interessante para analisar as palavras
que mais frequentemente são utilizadas para descrever o tópico em análise.
Figura 2. Nuvem de palavras da companhia AmericanAir
Posteriormente, procedeu-se à análise total do corpus de dados, e recriou-se uma nuvem de
palavras relativamente às 6 companhias aéreas. A Figura 3 ilustra a nuvem de palavras
relativamente às 6 companhias analisadas.
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Figura 3. Nuvem de palavras total do corpus em análise
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Tendo por base a atividade experimental desenvolvida, foram analisados os comentários a 6
companhias aéreas, num total de 14608 registos. Dividindo-se por 2755 para a companhia
American, 2219 para a companhia Jet Blue, 2415 da companhia Southwest Air, 3806 da
United, 2910 da US Airways e 503 da Virgin America. Para cada uma das companhias
procedeu-se a uma análise de dados independente e posteriormente uma reunião de dados
e comparação entre todas.
A Tabela 1 ilustra os resultados obtidos, sendo que das 6 companhias analisadas, 3 possuem
uma diferença positiva e outras 3 uma diferença negativa. Pode-se também analisar que os
valores negativos, das companhias American, United e US Airways têm valores bastante
negativos, posicionando-se com diferenças acima dos 500 comentários. Por sua vez as
companhias com avaliações positivas, não obtêm diferenças tão significativas, sendo a Jet
Blue a companhia a conseguir uma maior diferença, situando-se nos 180 comentários.
Tabela 1. Tabela comparativa de análise de sentimento das 6 companhias aéreas
Companhia Total Positivos Negativos Diferença
American 2755 932 1442 -510
JetBlue 2219 895 715 +180
Southwest Air 2415 979 875 +104
United 3806 1412 2069 -657
US Airways 2910 975 1667 -692
Virgin America 503 227 155 +72
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A Figura 4 apresenta os resultados apresentados no estudo de Bowen e Headley (2014), e
permite fazer algunas considerações tendo em conta os dados a que chegámos.
Figura 4. Ranking de classificação melhores compañías aéreas Norte Americanas 2014, Bowen e Headley (2014)
Com base no ranking apresentado na Figura 4, verificamos que as companhias aéreas com
análise positiva ocupan o primeiro, segundo e oitavo lugar do ranking; enquanto que as
companhias aéreas Norte Americanas com sentimento negativo ocupam as posições sete,
nove e doze. Curiosamente apenas existe uma contrariedade entre os resultados, mas que
fácilmente pode ser explicada, tendo em conta que ao longo dos tempos a companhia
Southwest esteve sempre melhor cotada do que a US Airways, apenas no ano de 2013 houve
troca de posições entre ambas. O facto mais curioso é a companhia Virgin America ser cotada
como a melhor companhia entre os clientes, e ter menor número de comentarios nas redes
sociais. Este facto contribui também para que a sua diferença entre comentários positivos e
negativos não possa ser maior.
Este trabalho teve como finalidade aplicar as técnicas de análise de sentimento na prática e
fazer uma demonstração dos dados obtidos.
Este é um método que pode ser implementado para fins distintos, com o objetivo de obter
uma avaliação pública sobre a classificação de pessoas, serviços ou produtos.
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PERFIL ACADÉMICO E PROFISSIONAL DO AUTOR Marco Tereso - Docente no ISLA Santarém desde 2017. Licenciado em Engenharia Informática – Tecnologias da Informação e Multimédia pela Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Oliveira do Hospital; MestrE em Informática e Sistemas – Desenvolvimento de Software pelo Instituto Superior de
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Engenharia de Coimbra; Doutorando em Informática na Universidade de Évora. As suas principais áreas de investigação são: Business Intelligence; IoT; Visão Computacional; Machine Learning. Endereço postal ISLA Santarém Largo Cândido dos Reis 2000-241 Santarém Portugal
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GEOMARKETING: REVISÃO DE CONCEITO E APLICAÇÕES
GEOMARKETING: CONCEPT AND APPLICATIONS REVIEW
Rui Oliveira1; Ana Estima1; Jacinto Estima2
1ISCA – Universidade de Aveiro; 2 Universidade Europeia; 2INESC-ID
[email protected]; [email protected]; [email protected]
Resumo
O presente artigo visa rever o conceito de Geomarketing e relacioná-lo no contexto empresarial e na sua aplicação prática. O Geomarketing reflete-se num conjunto de técnicas e ferramentas que permitem analisar geograficamente a realidade socioeconómica de uma organização. Estas técnicas e ferramentas estão disponíveis através de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) que permitem realizar análises envolvendo informação com caráter geográfico, juntamente com outro tipo de informação relacionada com as organizações envolvidas. Exemplos de aplicação como o posicionamento em relação à concorrência, otimização de rotas, distribuição de serviços e o conhecimento dos hábitos do consumidor, são fatores padrão no funcionamento aplicável deste conceito. Tornando-se vital conhecer a aplicabilidade e reconhecer os benefícios do geomarketing, pode contribuir de forma significativa para o sucesso das organizações. Devido à escassez de literatura disponível, continua a ser pertinente o desenvolvimento de estudos compreensivos da aplicação dos SIG nesta área. O objetivo deste artigo, que se baseou numa metodologia de revisão de literatura sobre o tema é, essencialmente, o de clarificar o conceito e conhecer de forma mais profunda as suas aplicações.
Palavras-chave: geomarketing, localização, SIG, marketing.
Abstract
This article aims to review the concept of Geomarketing and relate it in the business context and its practical application. Geomarketing is reflected in a set of techniques and tools that allow the geographic analysis of the socioeconomic reality of an organization. Such techniques and tools are available through Geographic Information Systems (GIS) which allow the analysis of geographic information along with other information related to the involved organizations. For instance, the positioning in relation to the competition, route optimization, service distribution and to know consumer habits, are standard factors in the applicable operation of this concept. It becomes vital to know the applicability and recognize its benefits so the organization could be successful. Due to the scarcity of available literature, the development of comprehensive studies of the application of GIS in this area remains relevant. The goal of this article, which was based on a literature review methodology about the topic, is to clarify the concept and provide a deep understanding of some possible applications. Keywords: geomarketing, location, GIS, marketing.
Não existe uma definição clara sobre o conceito de geomarketing, sendo que o conhecimento
da área está dividido por diversas áreas e vários autores (e.g. Kaar & Stary, 2018) oferecem
a sua visão sobre o tema. No entanto, podemos caraterizar o termo “geomarketing” como o
uso de computacionais da área dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), para analisar
dados com características geográficas, de forma a suportar uma tomada de decisão mais
informada por parte de uma organização, com o objetivo de atender às necessidades do
consumidor e obter lucro (Baviera-Puig, Buitrago-Vera & Escriba-Perez, 2016).
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Este artigo pretende rever o conceito e as aplicações do geomarketing nas organizações, com
vista a melhorar a sua compreensão no panorama do marketing.
REVISÃO DE LITERATURA
O sucesso da aplicação das ferramentas de SIG às áreas da gestão depende de dois fatores
essenciais: (i) da complexidade do problema em causa, e (ii) da disponibilidade de dados para
realizar as análises necessárias à sua resolução. Estas análises passam por explorar
correlações espaciais existentes tendo em conta diferentes variáveis, pelo que a existência
de dados que representem essas variáveis é um fator essencial (Ramadani, Zendeli, Gerguri-
Rashiti & Dana, 2018).
Os SIG permitem não só a sobreposição de diferentes variáveis em camadas, resultando em
mapas que possibilitam a simples observação visual, mas também a realização de operações
de análise espacial com vantagens na identificação de correlações espaciais. Nos dias de
hoje e a partir desse conceito, podemos resumir os seus objetivos de marketing em diferentes
aspetos fundamentais para as empresas, desde a gestão de diversa informação relativa aos
clientes e ao consumo, através do reforço da liderança nos territórios em que a organização
se encontra presente, à adaptação do consumidor ao produto ou serviço e à previsão das
evoluções do mercado em que a mesma se encontra presente (Douard, 2013).
O geomarketing caracteriza-se assim pela inclusão da inteligência geográfica e pela análise
geográfica de diferentes variáveis tendo em conta as lógicas e estratégias de marketing.
Assim, traduz-se pelo resultado das análises geográficas efetuadas sobre o uso de dados que
suportam as várias tomadas de decisão relativas ao marketing. Implica também a observação
atenta do campo em estudo e a análise de tendências ou outras propriedades concretas, para
que se torne possível incluir conclusões à preparação e concretização de atividades ou
campanhas de marketing (Ramadani et al., 2018).
Existem inúmeras vantagens na aplicação do geomarketing que podem ser genéricas ou
ligadas a uma disciplina em concreto. Segundo Lichtner (2015) estas vantagens são
essencialmente as seguintes:
Velocidade e transparência;
Controlo eficaz;
Novas potencialidades de localização;
Relação de eficácia e redução de custos em relação a outros métodos;
Visão geral sobre o mercado atual;
Inúmeras aplicações de estratégia.
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O geomarketing pode ser aplicado em áreas muito distintas, tais como o marketing territorial,
a pesquisa de mercado, o canal de distribuição, o comportamento do consumidor e até mesmo
a atratividade das cidades. Perante todo este compêndio de áreas de estudo, também existem
aplicações mais frequentes e indicadas para cada disciplina. Sendo que as mais frequentes,
no geomarketing, como refere Douard (2013), vão desde a adaptação e otimização da cadeia
de abastecimento, funcionamento em micromercados, reestruturação da rede, determinação
de uma nova localização, decisão sobre a alocação de recursos para atingir os objetivos de
marketing previamente definidos, alcance dos consumidores desejados, otimização de
investimentos, manutenção das vendas e análise da concorrência.
As ligações a diversas áreas e disciplinas permitem estabelecer diversos objetivos,
adequados aos interesses de cada organização. Com isto, o geomarketing permite
ajustamentos que vão ao encontro das necessidades de cada um, com determinantes
multidisciplinares que se se intersectam entre si, tais como a localização, que em muitos
casos, pode ser tão importante quanto o volume das vendas da organização (Ramadani et
al., 2018).
A informação geográfica pode ser manipulada de diversas maneiras e implementada para fins
específicos. Nomeadamente, através da Web, a tecnologia já existente permite disponibilizar
informação geográfica sobre determinada especificidade através de servidores de mapas e
aplicações específicas (e.g. mapidea, focusbc, mapify), onde o profissional de geomarketing
poderá aceder, analisar e visualizar dados com total transparência de conteúdo. Uma das
grandes vantagens destas tecnologias está relacionada com o facto de permitirem a
realização de um conjunto de análises sem a necessidade de recolha de dados ou
implementação, tornando assim possível o seu uso conveniente por parte de utilizadores não-
especializados (Baños, Wandosell & Parra, 2016).
Esta diversificação tecnológica e conhecimento em expansão permitem alargar toda uma
possibilidade de possíveis aplicações futuras, concentrando-se em mercados já existentes
(Kaar & Stary, 2018)
Aplicações de geomarketing
O geomarketing é extremamente importante, quer nos mercados existentes, quer nos
emergentes, pois permite identificar oportunidades, neutralizar défices e atingir nichos de
mercado, permitindo assim às organizações estar um passo à frente da concorrência
(Ramadani et al., 2018).
Tendo em conta os requisitos necessários para desenvolver um plano de caráter geográfico
no marketing da empresa, é evidente que neste sentido a localização determina um papel
deveras importante na capacidade de inovar, não só na habilidade predominante, mas na sua
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manutenção. Com isto, verifica-se naturalmente um acréscimo positivo na sua influência na
concretização dos objetivos de marketing (Ferreira, Fernandes & Raposo, 2017).
É aqui que a empresa ou organização necessita adquirir toda a informação necessária para
a implementação de ferramentas adequadas ao seu desenvolvimento, permitindo uma análise
baseada na combinação dos dados geográficos com os dados internos e externos fornecidos
pela empresa, quer sejam eles informações sobre o consumidor e seus hábitos de consumo
até à forma como fazem negócio, ou mesmo informação geográfica sobre a concorrência.
Estes fatores ampliam e fortalecem as atividades de marketing já existentes e permitem dar
suporte à administração interna (Marc, 2006).
A proposta de geomarketing, no caso da localização de recursos ou “goods”, quer sejam
produtos, serviços, clientes ou até mesmo espaços físicos, leva ao encontro de decisões de
localização mais inteligentes durante as fases de expansão, otimização e consolidação de um
plano. Esta, através da visão de Lichtner (2015) pode ser enumerada por três importantes
passos:
Passo 1: Identificar os fatores de sucesso
O sucesso futuro depende de saber quais os fatores que contribuem para o sucesso
atual de uma empresa. As análises de geomarketing revelam todos os fatores internos
e externos que influenciam positivamente o retorno dos locais atuais. Essas análises
poderão dar indicações do que poderá estar a contribuir para que certos locais tenham
melhor desempenho que outros.
Passo 2: Encontrar regiões de expansão com base nos fatores de sucesso identificados
O potencial de crescimento e de retorno financeiro de um novo local pode ser
determinado para cada região sob análise. Isso possibilita pré-selecionar uma lista de
locais viáveis. Outras possibilidades para esta etapa incluem uma consideração do
impacto de concorrentes e parceiros de acoplamento na área de captação e volume de
negócios.
Passo 3: Avaliar a localização
Especialistas de localização geográfica avaliam o melhor espaço perante a localização
proposta. Uma avaliação abrangente de todos os fatores no local é necessária para
decidir a favor ou contra um determinado local.
Tal como evidenciado, a localização de um novo espaço é pertinente que seja ligada aos SIG.
A localização geográfica, com aplicação no geomarketing e no marketing territorial, pretende-
se que não se apresente somente como uma localização física no território mas também algo
que apresente uma visão geral da empresa, os seus valores, missão, que seja adaptável às
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necessidades locais e ao comportamento e demografia do consumidor alvo da região (Sakr &
Dallabrida, 2017).
Além das determinantes a ter em conta que foram já enumeradas, aquando da implementação
do novo espaço, a organização ou empresa em questão, também deverá ter em conta a
maximização da fatia de mercado que já lhe pertence e a minimização de perdas da mesma
em relação ao(s) espaço(s) físico(s) já existentes e que possam ser capturados pelo novo
local (Suárez-Vega, Santos-Peñate & Dorta-González, 2012).
Ainda na localização geográfica em marketing, aquando da desejada expansão, os possíveis
novos locais para um estabelecimento podem ser escolhidos através da análise e
identificação da concorrência que representa unicamente o seu espaço de mercado e da
procura por parte do possível consumidor na zona (Roig-Tierno, Baviera-Puig, Buitrago-Vera
& Mas-Verdu, 2013).
A integração dos SIG num processo hierárquico de tomada de decisão por parte da empresa,
permite obter uma maior eficácia na escolha do espaço, influencia a tomada de decisão final
no negócio e diminui consideravelmente o risco de uma má exploração na abordagem da
escolha do espaço, através de um sistema de critérios, obtidos na análise dos dados, ou até
mesmo cores que permitem relacionar e comparar os possíveis candidatos de localização
(Chacón-García, 2017).
Destes fatores que contribuem para a prospeção de possíveis localizações geográficas de
novo espaço, segundo Roig-Tierno et al. (2013), podemos conjugar os mesmos por várias
variáveis.
Relativamente à concorrência, a distância à mesma, o reconhecimento da marca, o tamanho
físico do espaço e o tipo de concorrente, são os influenciadores mais comuns. Já do lado do
consumidor temos a acessibilidade ao espaço, a visibilidade do mesmo por parte do possível
cliente ou habitante da região, caraterísticas de demografia social e outros elementos
relacionados ao espaço físico como a área total e o espaço para estacionamento.
É da responsabilidade das organizações determinar os fatores a ter em consideração e a sua
respetiva análise, para então aplicar as normas necessárias à resolução do seu problema.
Qualquer empresa, seja ela business-to-business ou business-to-consumer pode obter
benefícios económicos através da aplicação de técnicas de geomarketing, seja nas vendas,
na tomada de decisões, no plano de marketing e de comunicação, no desenvolvimento do
mercado e na internacionalização (Ramadani et al., 2018).
Veremos em seguida, um exemplo de uma aplicação de geomarketing, segundo Zaim,
Benomar & Bellafkih (2019):
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1. Transmissor de localização geográfica:
Estes transmissores (ou beacons) são de baixo custo e são capazes de transmitir pequenas
quantidades de informação em intervalos regulares via Bluetooth até 50 metros. Os beacons
são muito pequenos e podem ser facilmente anexados às paredes da loja e podem transmitir
a sua própria identificação única para os dispositivos ao seu redor, como smartphones. Os
dispositivos podem então recolher esses dados, mas devem instalar uma aplicação específica
para este tipo de transmissores. O número e a localização dos mesmos são definidos para
cobrir toda a loja.
2. Aplicação para smartphone:
A aplicação do smartphone é o elemento de ligação ao sistema implementado. Esse recebe
os sinais do transmissor de forma contínua para recolher e detetar a localização do cliente.
Depois de detetar os sinais bluetooth, esses dados são enviados para um servidor que
armazena informações como o ID do transmissor, RSSI e o horário. O servidor processa esses
dados e gera mensagens de marketing personalizadas com base nas preferências do cliente
e no local atual.
3. Aplicação no lado do servidor:
A aplicação do lado do servidor funciona como o gestor de toda a operação do sistema. A sua
tarefa é receber, armazenar e analisar os dados dos clientes (i.e. o histórico de compras, as
preferências, os movimentos do cliente, etc.), que são recolhidos através do identificador
próprio do beacon, do identificador pessoal de cada cliente, do indicador de intensidade do
sinal e do indicador de tempo. Estas determinantes permitem então detetar a localização do
cliente e recolher as estatísticas necessárias das trajetórias dos mesmos dentro da loja, áreas
mais visitadas e o tempo médio da visita. Sempre que a aplicação no dispositivo móvel notifica
o servidor que um cliente entrou na loja, este entra na base de dados para analisar os dados
do cliente em causa e gerar as ofertas adequadas.
De uma perspetiva de geomarketing, aquando da implementação e posterior aplicação de um
modelo, conseguimos identificar que não só as caraterísticas sociodemográficas do
consumidor e a localização física da loja afetam a estratégia de geomarketing, mas também
a intenção de compra e retenção do consumidor (Baviera-Puig et al., 2016).
Analisar a interação humana do consumidor com o ambiente de loja permite então obter os
dados que visam perceber as motivações do cliente. Assim, é possível aos marketeers
analisar os processos de criação da melhor interação possível entre o consumidor e a
empresa, potencializando assim o retorno financeiro, a intenção de compra futura e a relação
mútua (Zaim, Benomar & Bellafkih, 2019).
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Esta tomada de decisão, tem como suporte a identificação dos pontos-chave das
determinantes desejadas, sendo que alguns já foram identificados no presente artigo, onde
lhe permitam ter o maior benefício. Com isto, torna-se imprescindível às empresas adotarem
as novas tecnologias em junção com os SIG, de forma a obterem os melhores resultados a
longo prazo, maximizando o custo-benefício (Baños et al., 2016).
CONCLUSÕES
Na globalização em que vivemos e em mercados com ciclos de vida cada vez mais curtos, o
uso de técnicas e soluções de geomarketing torna-se extremamente relevante e decisivo. Não
apenas para identificar oportunidades e estar um passo à frente da concorrência, mas também
para manter a inovação das organizações.
Tal como evidenciado anteriormente, existem inúmeros usos para os SIG, sendo que estes
oferecem uma plataforma poderosa que acaba por encontrar o seu espaço em praticamente
qualquer disciplina e área de estudo existentes. Atualmente, milhares de decisões,
relacionadas ou não com a gestão do marketing, são monitorizadas pelo uso de ferramentas
de informação geográfica.
Parece claro, a partir desta revisão de literatura, que a as aplicações de geomarketing
continuarão a ter repercussões positivas no modo de pensar e de agir das empresas. Além
disso, não só os meios irão melhorar, bem como as tecnologias associadas aos SIG, as ideias
e a ligação com as disciplinas do marketing, desde o marketing relacional, retenção de cliente,
marketing territorial e até ao branding.
O geomarketing, com as devidas aplicações, tem potencial para determinar o sucesso de uma
organização e melhorar a satisfação do cliente e a tomada de decisão quer da empresa ou do
consumidor.
No entanto, a parca presença do geomarketing, nomeadamente em publicações de caráter
científico, pode contribuir para um atraso da sua aplicação e implementação no uso comum
das organizações. A falta de competências na área, pelos empresários, poderá também
prejudicar a sua implementação. Ainda assim e, atendendo a que o geomarketing e a maioria
das disciplinas que podem implementar o seu uso serem relacionadas com tecnologia e
inovação, surgirão certamente técnicas melhoradas e uma formação mais aprimorada e
direcionada ao marketing.
Muitos estudos até agora desenvolvidos, nesta área, estão ligados às áreas do retalho, da
logística e dos transportes. Fica assim evidente que a aplicação de SIG no marketing pode
abranger diversas áreas, mas também que o potencial destas aplicações é muito interessante
e pode contribuir para a alteração dos processos de decisão nas organizações.
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A essência do marketing, neste caso com a aplicação da geografia no seu panorama e
possíveis aplicações, formando assim o geomarketing, centra-se essencialmente no desejo
de fornecer uma proposta de valor mútua ao mesmo tempo que se maximiza o lucro. Com
isto o geomarketing irá continuar a ter o seu papel determinante para a prossecução de
qualquer objetivo que uma organização possa ter para a consequente retenção de clientes.
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Computer Science, 148, 353–360. https://doi.org/10.1016/j.procs.2019.01.043
PERFIL ACADÉMICO E PROFISSIONAL DOS AUTORES
Rui Oliveira
Mestrando em Marketing pelo Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de
Aveiro e licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade de Aveiro. Os seus
interesses de investigação centram-se no geomarketing, comportamento do consumidor e na relação
da tecnologia com a comunicação.
Endereço postal Universidade de Aveiro Instituto Superior de Contabilidade e Administração R. Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Aveiro 3810-500 Aveiro PORTUGAL
Ana Estima
Doutorada em Marketing e Estratégia pelo consórcio das Universidades de Aveiro, Minho e Beira
Interior. Professora Adjunta no Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de
Aveiro. Atualmente é diretora da Licenciatura em Marketing e leciona as disciplinas de Fundamentos
de Marketing, Princípios de Marketing e Comunicação Integrada de Marketing em diferentes níveis de
ensino. Os seus interesses de investigação centram-se essencialmente nas matérias de
comportamento do consumidor, marketing education e marketing pratice.
Endereço postal Universidade de Aveiro Instituto Superior de Contabilidade e Administração R. Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Aveiro 3810-500 Aveiro PORTUGAL
Jacinto Estima
Doutorado em Gestão de Informação na especialidade de Sistemas de Informação Geográfica pela Universidade Nova de Lisboa. É atualmente Investigador Associado do INESC-ID. Professor Auxiliar da Universidade Europeia e Professor Adjunto Convidado do Instituto Politécnico de Setúbal. É também consultor da agência internacional IRENA sediada em Abu Dhabi, EAU. Principais linhas de investigação: Geographic Information Science, Crowdsourced Geographic Information, Social Multimedia Analysis, Spatial Data Analysis, Information and Decision Support Systems, Geographic Artificial Intelligence. Endereço postal INESC-ID Rua Alves Redol, 9 1000-029 Lisboa
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ALGORITMOS PARA OTIMIZAÇÃO DE ROTAS DE DISTRIBUIÇÃO
ALGORITHMS TO OPTIMIZING DISTRIBUTION ROUTES
Tiago Duarte1; Daniel Carvalho1; Domingos Martinho1,2
1ISLA Santarém; 2CEPESE, Porto [email protected]; [email protected]; [email protected]
Resumo
Atualmente vem-se assistindo a um aumento dos serviços de entregas de mercadorias a clientes que são oferecidos pelas organizações de diversos setores de modo a aumentar a oferta dos seus produtos e serviços e a combater a concorrência no mercado. O consumo de tempo, atrasos devido a trânsito e outras circunstâncias fazem também com que este tipo de serviços aumente os seus custos de forma muito significativa. Surge assim a oportunidade para o desenvolvimento de soluções que permitam a otimização das rotas de modo a minimizar os custos inerentes ao processo o que tem levado muitos investigadores a estudarem o problema e ao surgimento no mercado de diversas aplicações que pretendem ajudar as empresas nesse tipo de serviços, fazendo uso de algoritmos desenvolvidos para a otimização de rotas. Neste contexto este trabalho tem como objetivo a criação de uma plataforma que permita a inserção de encomendas de clientes e posteriormente otimizar as rotas para as entregas associadas a cada veiculo. Esta plataforma vai permitir ainda que os vendedores possam efetuar as encomendas dos clientes em qualquer lugar, bastando para isso ter acesso à internet. Após as encomendas estarem inseridas, serão agrupadas por data e distribuídas pelas viaturas que as irão entregar aos clientes de áreas próximas. Através das moradas dos clientes o sistema irá calcular a melhor rota que a logística da empresa poderá utilizar, tendo em conta fatores como portagens e caminho mais rápido. Espera-se assim implementar uma solução que possa ter uma utilização universal sem os constrangimentos das soluções proprietárias e as limitações das soluções open source.
Palavras chave: Algoritmos; Clientes; Encomendas; Otimização de rotas.
Abstract
Nowadays, there is an increase in the services of deliveries of goods to customers that are offered by organizations from various sectors in order to increase the supply of their products and services and to combat competition in the market. The consumption of time, delays due to traffic and other circumstances also make this type of services increase their costs very significantly. This gives rise to the opportunity for the development of solutions that allow the optimization of routes in order to minimize the costs inherent to the process, which has led many researchers to study the problem and the emergence in the market of several applications that intend to help companies in this type of using algorithms developed for the optimization of routes. In this context, this project aims to create a platform that allows the insertion of customer orders and subsequently optimize the routes for the deliveries associated with each vehicle. This platform will also allow salespeople to place customer orders anywhere, simply by having access to the internet. After the orders are inserted, they will be grouped by date and distributed by the vehicles that will deliver them to customers from nearby areas. Through customer addresses, the system will calculate the best route that the company's logistics can use, taking into account factors such as tolls and the fastest route. It is hoped to implement a solution that can be universally used without the constraints of proprietary solutions and the limitations of open source solutions. Keywords: Algorithms; Customers; Orders; Optimization of routes.
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A sustentabilidade económica e financeira de uma organização é essencial para a sua
sobrevivência e evolução, de forma a não permitir quebras que levem ao seu encerramento.
A avaliação dos gastos em termos de entregas de mercadorias a clientes constitui uma peça
fundamental nas tomadas de decisão sobre o preço dos transportes e das mercadorias
vendidas. As empresas que necessitam de entregar os seus produtos ou as que prestam
este tipo de serviços têm apresentado uma melhoria sustentada na otimização dos recursos,
conseguindo melhorar e desenvolver métodos que minimizem alguns dos fatores adversos
provenientes do tráfego rodoviário (Kawamura, 2006). Neste contexto a capacidade de
planeamento das rotas a efetuar constitui um aspeto crítico uma vez que possibilita à
organização efetuar as suas tarefas de forma eficaz e eficiente e desse modo obter os
melhores resultados (Kawamura, 2006).
O objetivo que se pretende atingir com este trabalho, que se encontra em curso, consiste
em planear as rotas para a frota de veículos, sem violação das restrições de tempo e
capacidade, minimizando custos. Os custos normalmente estão relacionados com a
distância percorrida, o número de veículos necessário para efetuar as entregas, o tempo
total de espera dos veículos nos consumidores ou à combinação destes.
1. O ESTADO DA ARTE
1.1 A Solução do Problema
Para solucionar o problema da otimização de rotas é comum recorrer-se á teoria do
Problema do Caixeiro Viajante e do Sistema de Formigas para elaborar os algoritmos.
O Problema do Caixeiro Viajante pode ser resumido com a seguinte pergunta: dado um
número N de cidades que devem ser visitadas por um caixeiro, qual a sequência de cidades
que torna o comprimento do percurso o menor possível, considerando o início e o término
na mesma cidade? Sendo que, todas as cidades são interligadas umas as outras e que
cada cidade deve ser visitada uma única vez (Pinheiro, Jale, & de Sousa, 2010). O
Problema do Caixeiro Viajante considera-se um grafo em que os vértices representam as
cidades e as arestas representam as estradas de uma dada região (a cada aresta está
associada a distância entre cidades). Sob a ótica de otimização, os problemas de
roteirização de veículos, incluindo o caso particular do caixeiro viajante, pertencem à
categoria conhecida como NP-difícil (do inglês “NP-hard”), o que significa que possuem
ordem de complexidade exponencial. Por outras palavras, o esforço computacional para a
sua resolução cresce exponencialmente com o tamanho do problema (dado pelo número de
pontos a serem atendidos) (Cunha, 2000).
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O Sistema de Formigas como o nome indica é inspirado no método utilizador por insetos
que segundo Bonabeau e Meyer (2001) assenta em três características:
Flexibilidade. A colonia adapta-se a um ambiente em mudança.
Robustez. Mesmo quando um ou mais indivíduos falham, o grupo ainda pode executar
suas tarefas.
Auto-organização. As atividades não são controladas centralmente nem
supervisionadas localmente.
Através da auto-organização, o comportamento do grupo emerge das interações coletivas
de todos os indivíduos. De fato, um dos principais temas recorrentes na inteligência de
enxames (e na complexidade da ciência em geral) é que, mesmo que os indivíduos sigam
regras simples, o comportamento do grupo resultante pode ser surpreendentemente
complexo - e notavelmente efetivo. E, em grande medida, flexibilidade e robustez resultam
da auto-organização (Bonabeau & Meyer, 2001).
Para aumentar a eficácia vários autores têm vindo a defender uma abordagem para a
resolução do problema através da conjugação dos dois sistemas (Carvalho, 2007; Barbosa,
Jr., & Kashiwabara, 2015).
1.2 Algoritmos
A resolução do problema da otimização de rotas sendo de elevada complexidade recorre a
modelação matemática e uso tecnológico de modo a simplificar o problema através da teoria
de grafos produzindo algoritmos cada vês mais eficazes (Cunha, 2000).
De forma genérica para solucionar o problema têm sido apresentados diversos algoritmos
que, tendo em conta a abordagem utilizada, podem ser classificados do seguinte modo:
Algoritmos de métodos exatos
Algoritmos heurísticos
Algoritmos meta-heurísticos
Algoritmos genéticos
1.2.1 Algoritmos de métodos exatos
Os métodos exatos são algoritmos de pesquisa exaustiva que verificam todo o conjunto de
soluções de determinado problema até encontrar a solução ótima. Sendo esta a sua
principal vantagem, ou seja, garantem a solução ótima. No entanto, a sua modelação torna-
se mais complexa e a sua aplicação a problemas mais complexos ou de grandeza maior faz
com que tenha grandes dificuldades a encontrar a solução ótima num intervalo de tempo
adequado. Assim sendo o esforço computacional para a sua resolução cresce
exponencialmente (Júnior & Cechin, 2006).
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Algoritmo Branch and Bound
Branch and Bound baseia-se em três partes distintas. Como refere Guerreiro (2009) inicia-
se com a construção de árvores de nós onde divide o problema em conjuntos menores ou
subproblemas menores. De seguida cria-se a estratégias a desenvolver o próximo
subproblema e consequentemente realiza comparações com o seu limite superior e inferior
(parâmetros a estabelecer), em que a solução tem que corresponder para que seja
considerada viável. A segunda parte Branching dividir o problema principal em
subproblemas menores de modo a facilitar a análise, eliminando soluções inviáveis, sem
comprometer a integridade do campo de soluções. A terceira Bounding eliminar soluções de
baixa qualidade através de comparações com limitantes (Guerreiro, et al., 2009).
São comumente utilizados dois tipos de limitantes: superior e inferior. Num problema de
minimização, o limitante superior é um valor conhecido e viável da função objetivo, não
necessariamente o valor ótimo, que tem o papel de servir como parâmetro para avaliar
soluções obtidas, ou seja, soluções com valores superiores ao limitante superior são
descartadas por se tratarem de soluções piores do que a atualmente conhecida (Kawamura,
2006). Por sua vez, o limitante inferior, em um problema de minimização, é uma estimativa
da função objetivo tendo-se como base a solução parcial até então obtida. Note-se que o
limitante inferior é sempre menor ou igual do que o valor da função objetivo, já que seu
cálculo é baseado em um subconjunto da solução enquanto que a função objetivo é
calculada considerando-se a solução completa. Assim sendo, é possível eliminar soluções
que tenham limitantes inferiores piores do que os atuais limitantes superiores conhecidos
(Kawamura, 2006).
Algoritmo de Dijkstra
O algoritmo de Dijkstra, cujo esquema é apresentado na figura 1, funciona de forma
diferente dos algoritmos descritos anteriormente, a sua função é procurar o caminho mais
curto entre duas arestas do mesmo grafo, assim calcula o custo mínimo de um vértice para
todos os outros vértices dentro do mesmo grafo (Misa, 2010).
Segundo Chao (2010) o algoritmo parte de uma estimativa inicial para o custo mínimo e vai
ajustando sucessivamente essa estimativa. Enquanto vai percorrendo o grafo, o algoritmo
vai considerar fechar o vértice assim que obtiver o custo mínimo do vértice do caminho
principal, caso não represente o custo mínimo vai permanecer em aberto. A referida análise
é executada a partir dos valores entre cada vértice, e neste caso é considerado as
distâncias. Quando forem executados todos os vértices, será apresentada a solução que
terá o menor custo. Este algoritmo é simples e rápido embora não garanta os melhores
resultados sempre que existam arcos com valores negativos, a velocidade de execução
pode diminuir muito nas situações mais complexas e mais amplas.
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Figura 1. Algoritmo de Dijkstra (Jasika, et al., 2012)
1.2.2 Algoritmos heurísticos
Os algoritmos heurísticos foram produzidos com o objetivo de serem de fácil execução e
implementação e que produzissem resultados de boa qualidade (Bonabeau & Meyer, 2001).
Num determinado problema o ideal seria analisar todas as soluções possíveis para chegar à
melhor. No entanto, as heurísticas têm a desvantagem de explorar parcialmente a totalidade
das soluções possíveis, ou seja, adotam uma estratégia que se apoiam numa abordagem
intuitiva (Malaquias, 2006).
As heurísticas não garantem se uma solução é ótima ou o quão próximo está da solução
ótima, mas encontram soluções boas num tempo razoável (Silva, 2013).
Algoritmo Savings
O algoritmo de Savings, representado na figura 2, tenta encontrar o menor custo com a
combinação de duas rotas em apenas uma (Galvão, 2017).
Este algoritmo tem duas visões de abordar o problema, uma delas é visitar os clientes i e j
em rotas separadas (2.4a). Em alternativa é fazê-lo na mesma rota, ou seja, visitar os
clientes sequencialmente (2.4b). Visto que os custos das rotas são dados, o resultado pode
ser calculado para saber qual a melhor rota. Ainda é possível dividir o algoritmo em duas
versões, sequencial e paralela. Na versão sequencial apenas é formada uma rota de cada
vez, enquanto na versão paralela é criada mais que uma rota de cada vez (Lysgaard, 1997).
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Figura 2. Algoritmo de Savings (Lysgaard, 1997)
Algoritmo de Nearest Neighbor
O principal objetivo deste algoritmo é procurar o cliente mais próximo a visitar com a
finalidade de gerar poupanças de rotas, como não prevê os passos seguintes pode gerar
problemas de eficácia (Galvão, 2017).
Este algoritmo baseia-se numa metodologia que segundo Silva (2003) constrói uma solução
passo a passo seguindo um conjunto de requisitos pré-estabelecidos. Este processo
iterativo repete-se até que não exista mais nenhum cliente a ser visitado, ou seja, todos os
elementos sejam percorridos e a rota seja concluída.
No exemplo da figura 3 os círculos representam os vértices do grafo e a numeração fora dos
círculos o tamanho das arestas, ou seja, a distância entre cada vértice.
Figura 3. Nearest Neighbor adaptado (Walker, 2015)
1.2.3 Algoritmos de meta-heurística
Os algoritmos de Meta-heurísticas são algoritmos que obtém boas soluções e por vezes a
melhor possível. Começam por depender da aplicação de heurística subordinada que é
modificada para cada problema específico. As suas principais características são evitar as
desvantagens dos métodos anteriores, ou seja, ter a capacidade de explorar um leque de
soluções onde evita os locais ótimos e encontra soluções num tempo razoável (Silva, 2013).
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Os procedimentos criados a partir dos métodos meta-heurísticos como se têm tornado muito
eficientes são muito utilizados para este tipo de estudo.
Algoritmo Simulated Annealing
O algoritmo Simulated Annealing é utilizado para solucionar problemas de otimização
discreta, com menor abrangência, e alguns problemas de natureza contínua. Exemplifica
uma analogia com o comportamento termodinâmico, mais concretamente no processo de
arrefecimento de sólidos (Oliveira, Vasconcelos, & Alvarenga, 2006).
Segundo Gheisari, Haghighat e Saadat (2008), o algoritmo em cada iteração compara a
solução obtida com a solução existente para determinar qual a melhor. São aceites a
soluções com melhor qualidade, enquanto soluções de menor qualidade são aceites como
uma probabilidade que baixa com a temperatura.
Na figura 4 apresenta-se um esquema do algoritmo Simulated Annealing de Monte Carlo,
que se baseia em grandes amostragens aleatórias para obter resultados, repetindo
sucessivamente um elevado número de vezes a simulação para calcular probabilidades
como se registassem os resultados reais em jogos de casino (Hastings, 1970).
Figura 4. Algoritmo Simulated Annealing (Soligno, 2017)
Algoritmo de Tabu Shearch
O algoritmo de Tabu Shearch foi criado por Fed W. Glover em 1986 e é um método de
busca local utilizado para otimizações. É uma adaptação do procedimento com a
capacidade de fazer uso de muitos outros métodos, como algoritmos de programação linear
e heurística especializada, que direciona para superar as limitações da otimização local
(Glover, 1989).
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Segundo Charbonneau e Vokkarane (2010), de início deve-se gerar uma solução aleatória
ou com origem noutro algoritmo. Partindo da solução inicial serão produzidas novas
soluções sendo a melhor será selecionada como solução atual. Os algoritmos por vezes
bloqueiam em ótimos locais, para solucionar o problema este algoritmo cria uma lista tabu.
Guan, Cao e Shi (2010) referem que a lista tabu regista movimentos produzidos para formar
as soluções selecionadas que não geram repetições enquanto estiverem na lista. A lista
tabu é um fator essencial e determinante na qualidade do algoritmo Tabu Search (figura 5).
Figura 5. Tabu Search (Paradiseo, s.d.)
Algoritmo Greedy Randomized Adaptive Search Procedure (GRASP)
O Algoritmo Greedy Randomized Adaptive Search Procedure (GRASP), introduzido por Feo
e Resende (1995), é um algoritmo meta-heurístico de processos iterativos que gera
normalmente soluções perto do ótimo. A principal característica do algoritmo, apresentado
na figura 6, é criar soluções novas independentes das anteriores. Na sua versão básica
divide-se em duas fases em cada iteração, a fase de construção e a fase de procura local.
Na fase de construção é pretendido encontrar uma solução para o problema e na fase de
procura local melhorar a solução encontrada.
Em cada passo do algoritmo é escolhida a melhor componente, identificado por um
indicador de sensibilidade, que utiliza uma componente que tem características aleatória e
adaptativa, controlado pelo parâmetro α para indicar as componentes de melhor qualidade
para fazerem parte da solução do problema (Resende & FEO, 1989). Na fase de melhoria
local é utilizado um algoritmo de busca local com o objetivo de procurar na vizinhança da
solução fornecida pela fase construtiva, uma melhor solução para o problema. O GRASP
pode contar ainda com uma fase de pré-processamento na qual, as informações sobre o
problema são pré-processadas e avaliadas com o objetivo de diminuir o espaço de busca do
problema caso seja possível (Souza S. S., 2013).
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Figura 1. Algoritmo GASP (Souza, 2014)
1.2.4 Algoritmos genéticos
Algoritmos Genéticos (AG) são algoritmos robustos, usados nos mais variados problemas
de diferentes domínios. São baseados em procedimentos de seleção natural e de genética
(Botassoli, Furtado, & Alberti, 2015).
Os AG constituem uma técnica de busca e otimização inspirada no princípio Darwiniano de
seleção natural e reprodução genética. Os princípios da natureza nos quais os AG se
inspiram são simples. De acordo com a teoria de C. Darwin, o princípio de seleção privilegia
os indivíduos mais aptos com maior longevidade e, portanto, com maior probabilidade de
reprodução. Indivíduos com mais descendentes têm mais chance de perpetuarem seus
códigos genéticos nas próximas gerações. Tais códigos genéticos constituem a identidade
de cada indivíduo e estão representados nos cromossomas. Estes princípios são imitados
na construção de algoritmos computacionais que buscam uma melhor solução para um
determinado problema, através da evolução de populações de soluções codificadas através
de cromossomas artificiais (Pacheco, 1999).
Os AG utilizam uma analogia direta deste fenômeno de evolução na natureza (figura 7),
onde cada indivíduo representa uma possível solução para um problema dado. A cada
indivíduo se atribui uma pontuação de adaptação, dependendo da resposta dada ao
problema por este indivíduo. Aos mais adaptados é dada uma maior oportunidade de se
reproduzirem mediante cruzamentos com outros indivíduos da população, produzindo
descendentes com características de ambas as partes (Palma-Chilla, Lazzarus, & Ponce,
2011).
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Figura 2. Algoritmos Genéricos (Botassoli, Furtado, & Alberti, 2015)
1.3 As soluções tecnológicas
Sendo a otimização de rotas um problema de elevada complexidade que corresponde a
uma parte substancial dos custos de muitas empresas, fez com que surgissem no mercado
inúmeras soluções tecnológicas para tentar simplificar/resolver o problema.
Os principais desenvolvedores de aplicações direcionados para as organizações
empresariais como os ERP´s com módulos vocacionados para a área de logística incluem
na sua oferta sistemas integrados para gestão de encomendas e logística com otimização
de rotas que são utilizados principalmente pelas grandes empresas de distribuição e
logística. São disso exemplo os softwares Primavera Gestão de Armazéns Eye Peak e o
SAP Transportation Manager (Gomes, 2015). Estão disponíveis também soluções gratuitas
para otimização de rotas não integradas no software empresarial, mais simples e com
menos opções, não permitem por exemplo gerir rotas de vários veículos em simultâneo e a
introdução dos pontos de entrega é manual duplicando assim esse trabalho. Alguns dos
softwares gratuitos mais conhecidos são o Google Maps, Open Source Routing Machine ou
Open Street Map (Huber & Rust, 2016).
O Primavera Gestão de Armazéns Eye Peak é um software especifico para gestão de
armazéns e distribuição com possibilidade de integração com o ERP Primavera, a solução
divide-se em duas áreas de atuação, sendo WMS Gestão Avançada de Armazéns a parte
de front-end relacionado com todo o processo administrativo da gestão de armazéns e modo
wifi que permite fazer processos no armazém, o DMS Gestão de Serviços Distribuição e
Entrega que contem uma parte de backoffice que permite a configuração e parametrização
dos serviços e o Terminal GSM para utilização no exterior das instalações. As principais
características são a criação de serviços que permitem a tipificação de clientes, o
planeamento de rotas e entregas, confirmação de recolhas e entregas, gestão de carga da
viatura, classificação das causas das não entregas e devoluções, registo eletrónico de
entregas para maior controlo de qualidade, reportes construção de relatórios de informação
e exploração do negócio (Primavera BSS, s.d.).
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O SAP Transportation Manager (STM) é um software construído como um add-on do SAP
ERP e outros softwares de gestão da SAP que necessitem da sua integração, estando
construído para lidar com leque muito abrangente de fatores que podem influenciar os
custos e prazos de entrega de mercadorias tendo em conta todos os fenómenos
influenciados pela globalização havendo unidades de software específicos para área de
atuação de cada empresa. O STM permite: determine o plano de transporte mais eficiente,
enquanto cumpre as restrições fornecidas (como acordos de nível de serviço, custos e
disponibilidade de recursos), identificar oportunidades de redução de custos (como
possibilidades de consolidação e a escolha do melhor meio de transporte), maximizar o uso
de recursos existentes (como usar sua própria frota), reagir a eventos de execução e
resolver possíveis conflitos com o plano inicial (SAP, 2017).
O Google Maps é um serviço de mapas online desenvolvido pela Google com aplicações
para sistemas operativos IOS e Android, dispõem de diversas funcionalidades (GoogleMaps,
s.d.):
Monitorizar as informações de transito em tempo real e encontrar o melhor trajeto para
o destino, navegação curva a curva e a orientação da faixa de rodagem ao longo de
todo o trajeto.
Indicar dinamicamente um novo trajeto com base no padrão de transito atual de modo
a evitar engarrafamentos de trânsito.
Permite comentários e fotos de habitantes para tomar uma decisão mais informada de
locais a visitar, analise do destino antes de lá chegar com o Street View e os mapas
interiores, imagens de satélite.
Art Project para percorrer os melhores locais do mundo, partilha de conhecimentos
locais, guardar endereços de casa e trabalho para uma pesquisa mais rápida,
comentários e críticas de locais.
O Open Source Routing Machine também conhecido por OSRM é um comando que calcula
a distância e o tempo de viagem entre dois pontos usando informações de latitude e
longitude, é usado o OSRM em conjunto com o OpenStreetMap (OSM) para encontrar a rota
ideal, o procedimento é especialmente construído para grandes conjuntos de dados
georreferenciados (Huber & Rust, 2016). Porque é rápido, o comando usa toda a
capacidade computacional de um PC, permite ao utilizador fazer pedidos ilimitados, e é
independente da Internet e fornecedores comerciais on-line. Portanto, não há risco de o
comando se tornar obsoleto. Além disso, os resultados podem ser replicados a qualquer
momento (Huber & Rust, 2016).
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O OSM é um mapa digital gerido pela Fundação OpenStreetMap e desenvolvido por uma
comunidade voluntária de mapeadores que contribuem e mantêm atualizados os dados
sobre estradas, trilhos, cafés, estações ferroviárias e muito mais por todo o mundo. Os
colaboradores utilizam fotografias aéreas, dispositivos GPS, e mapas do terreno para
verificar que a informação no OSM é rigorosa e atualizada (OpenStreetMap, s.d.). O OSM é
constituído por dados abertos por isso qualquer pessoa tem a liberdade de usar os dados
para qualquer fim desde credite a autoria do OSM e os seus colaboradores.
2. METODOLOGIA
Neste trabalho adotou-se uma metodologia ágil - o scrum – que podendo ser utilizada para
qualquer tipo de projeto complexo (Greem, 2016), tem sido utilizada em todo o mundo,
desde o FBI, agências de Marketing e construtores. Para qualquer tipo de produto que
esteja a ser desenvolvido o scrum pode ser aplicado de forma a ajudar no planeamento e
desenvolvimento do produto em questão.
O Scrum é descrito como uma metodologia ágil para a gestão e planeamento de projetos de
software (Scrum, 2018). Nesta metodologia os projetos são divididos em ciclos, por norma
com a duração máxima de um mês, que são denominados de sprints. O sprint representa
um espaço temporal dentro do qual uma atividade ou conjunto de atividades será
executado.
O Scrum tem designado um Product Owner (dono do produto) que representa quem está a
criar o projeto e tem autoridade para dizer o que vai ou não fazer o produto final. É
encarregado de elaborar uma lista de tarefas, necessidades e exigências do produto final.
Neste projeto o Product Owner é a equipa de desenvolvimento do projeto. Terá também de
ser definido um Scrum Master que irá ajudar a equipa a agir com base no planeamento do
desenvolvimento do projeto.
Seguidamente vêm os sprints, que são o período de tempo determinado que a equipa de
desenvolvimento do projeto terá para efetuar as tarefas programadas. O período de tempo
para a realização destas tarefas depende das necessidades que terão para o seu
desenvolvimento. A equipa de desenvolvimento do projeto tem necessidade de reunir pelo
menos uma vez por semana com o nosso Scrum Master de forma a reportar o estado de
desenvolvimento do projeto. Cada sprint termina com a conclusão da tarefa e com uma
revisão ou retrospetiva onde será analisado o trabalho efetuado e onde serão discutidas
melhorias a efetuar no próximo sprint (figura 8).
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Figura 8. Fluxo do Scrum (SCRUMstudy, 2016)
3. O MODELO DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO
3.1 Modelo de Negócio
A organização será constituída por uma unidade central (Sistema de Gestão de
Encomendas) que fará a gestão de duas unidades organizativas: Unidade de Internet para
Vendedores, Central de Gestão de Encomendas (figura 9).
3.1.1 Unidade de Internet para Vendedores
Nesta unidade os Vendedores registados e com devida permissão pode realizar as
encomendas de produtos dos seus clientes e adicionar novos clientes, consultar produtos,
alterar editar e anular encomendas. Os produtos disponíveis poderão ser consultados e
inseridos na encomenda. Cada produto terá um código ID Produto, nome, designação,
preço com e sem iva e a respetiva quantidade disponível em stock.
3.1.2 Central de Gestão de Encomendas (CGE)
Na Central de Gestão de Encomendas o Responsável de Logística registado e com
permissão pode agrupar encomendas efetuadas pelos Vendedores para distribuição assim
como consultar as rotas e proceder aos registos das viaturas.
A CGE recebe as encomendas dos Vendedores no seu terminal que é adicionado á
lista de encomendas a satisfazer.
O Responsável de Logística vai agrupando as encomendas por área geográfica para
cada viatura.
Os funcionários de armazém recolhem as quantidades necessárias dos produtos para
satisfazer as encomendas.
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É gerada uma rota por cada viatura.
As encomendas são entregues na morada indicada pelo cliente.
Figura 9. Estrutura Organizativa
3.2 Modelo de Domínio
No seguimento do Modelo de Negócio o sistema de informação foi organizado em 2
subsistemas: Subsistema de Internet e Subsistema central. Pretende-se que esta arquitetura
tenha tenho uma elevada autonomia e que mesmo que uma falhe a outra continuara a
funcionar mesmo sem comunicação entre subsistemas.
Os subsistemas terão uma base de dados comum onde poderão ter acesso aos dados
necessários para realizar as diferentes tarefas. Esta arquitetura obriga a comunicação
através de transações em XML para fazer a interligação entre diferentes subsistemas.
3.2.1 Subsistema Internet
É o sistema responsável pela realização das encomendas junto dos clientes através da sua
identificação e morada de entrega, identificação dos produtos e respetivas quantidades.
3.2.2 Subsistema Central
A função deste sistema é gerir toda a informação gerada no processo de encomenda e
respetiva distribuição, gerar as rotas para a distribuição e gerir a manutenção dos veículos.
Por consequência deve de manter toda a informação atualizada referente a produtos,
stocks, preços, encomendas, clientes, viaturas, manutenção de viaturas e respetiva
quilometragem, pagamentos das encomendas.
3.3 Modelo Casos de Uso
Os use cases, ou traduzindo à letra “casos de utilização” ou “casos de uso”, constituem a
técnica em UML para representar o levantamento de requisitos de um sistema. (Silva &
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Videira, 2001). Na figura 10 apresentamos o modelo de casos de uso do sistema a
implementar.
Figura 3. Modelo Casos de Uso
3.4 Diagrama de Classes
Segundo Nunes & O´Neill (2011) o digrama de classes é uma descrição formal da estrutura
de objetos num determinado sistema. Para cada objeto é descrito a sua identidade e os
seus relacionamentos com outros objetos, são descritos os seus atributos e as suas
operações. Na figura 11 apresenta-se o diagrama de classes considerado adequado à
resolução do problema.
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Figura 11. Diagrama de Classes
3.5 Diagrama de Atividades
O diagrama de atividades constitui um elemento de modelação simples, mas eficaz, para
descrever fluxos de trabalho numa organização ou para detalhar operações de uma classe,
incluindo comportamentos que possuam processamento paralelo (Nunes & O´Neill, 2011).
O exemplo, apresentado na figura 12, representa o processo de criação de uma encomenda
com todas as opções disponíveis incluindo a possibilidade de cancelamento durante várias
fazes do processo.
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Figura 4. Diagrama de Atividade Encomenda
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3.6 Diagramas de Sequência
Um diagrama de sequência apresenta as interações entre objetos a partir do encadeamento
temporal das mensagens (Nunes & O´Neill, 2011). As mensagens trocadas entre objetos
representam a invocação de um serviço (operação) disponibilizado por um objeto, com o
objetivo de despoletar uma ação ou atividade. Uma definição mais formal descreve uma
mensagem como a especificação da comunicação entre objetos (Nunes & O´Neill, 2011).
Ilustrando o referido anteriormente, na figura 13 apresenta-se o processo de criação de
encomenda.
Figura 13. Diagramas de sequência Criar Encomenda
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3.7 Modelo de Implementação
Segundo Nunes & O´Neill (2011) o diagrama de instalação pretende descrever a arquitetura
de hardware do sistema e as suas e a relação com os diferentes componentes (software).
Na figura 14 apresenta-se o diagrama de instalação.
Figura 14. Diagrama de Componentes
3.8 Modelo de Instalação
Este diagrama ilustra a arquitetura do sistema em termos de nós (nodes) que efetuam o
processamento de componentes. Na prática, permite demostrar como o hardware estará
organizado e como os componentes (software) estarão distribuídos, estabelecendo assim a
sua relação física (Nunes & O´Neill, 2011). Na figura 15 apresenta-se o diagrama geral de
instalação.
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Figura 15. Diagrama geral da Instalação
3.9 Modelo de Dados
Na figura 16 apresenta-se o modelo de dados para dar resposta às necessidades
identificadas para a resolução do problema.
Figura 16. Modelo de Dados (Entidade – Relação)
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4. INFRAESTRUTURA DE DESENVOLVIMENTO
Serão utilizadas diversas tecnologias de modo a suportar o processo de criação e
desenvolvimento da plataforma que se pretende implementar
O modelo de dados foi desenhado com recurso ao software SQL Power Architect que
consiste numa ferramenta que permite desenhar o modelo de base de dados de modo a
facilitar a sua criação, pois permite trabalhar em ambiente gráfico de uma forma simples. É
um software com versão de utilização gratuita que está disponível para qualquer utilizador
(SQLPower Architect, 2019).
A implementação do modelo de dados será concretizada através do sistema de bases de
dados relacional Microsoft SQL Server 2014 Standard que incorpora a linguagem Structured
Query Language (SQL) (Microsoft, 2014).
Para a criação da plataforma, que ficará online, será utilizada a linguagem de programação
HTML que consiste numa linguagem de programação utilizada para a criação de páginas
web que permite a criação de documentos que podem ser lidos em praticamente qualquer
dispositivo com ligação à internet. Para a criação de documentos em HTML basta um editor
de texto e conhecimentos do código que compõe a linguagem de programação HTML.
Atualmente o HTML vai na versão HTML5. Funciona de forma simples, sendo que os
browsers identificam as tags e apresentam as páginas conforme estas estão especificadas
(Sorgetz & Pretto, 2010).
Para a personalização do HTM será utilizado o Cascading Style Sheets (CSS) que é um
mecanismo simples para adicionar estilos e personalização a documentos Web, como por
exemplo, fontes, cores e espaçamento (W3C, 1994).
Para a ligação à base de dados iremos utilizar a linguagem Hypertext Preprocessor (PHP).
O PHP é uma linguagem de script, open source, gratuita, muito utilizada no desenvolvimento
de plataformas web, especialmente do lado do servidor e que pode ser incorporada dentro
do HTML (PHP, 2001). Irá permitir fazer a ligação entre a plataforma web e a base de
dados, onde irão ser geridas as encomendas e as rotas e os dados. O que distingue o PHP
de algo como o JavaScript no lado do cliente é que o código é executado no servidor,
gerando o HTML que é então enviado para o navegador. O navegador recebe os resultados
da execução desse script, mas não sabe qual era o código fonte. Pode-se inclusive
configurar o servidor web para processar todos os arquivos HTML com o PHP (PHP, 2001).
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5. CONCLUSÕES
A pesquisa efetuada permitiu-nos concluir que existem diversas ferramentas e algoritmos
associados à resolução dos problemas da definição de rotas.
Concluímos ainda que devido à complexidade e dificuldade associadas à definição de rotas
otimizadas de forma eficiente e eficaz, existe uma grande variedade de algoritmos
disponíveis de forma a tentar ajudar a resolução deste problema e que estão divididos por
quatro grupos grandes grupos:
Métodos exatos, onde de forma geral encontram uma solução tida como ideal, mas
que demoram demasiado tempo na realização desta operação.
Heurísticas, que consistem em algoritmos que tendem em encontrar uma solução ideal
ou muito perto dela e que elaboram a rota ideal ou a sua procura um pouco pela
intuição.
Meta-heurísticas que tentam evitar os erros descritos nos dois grupos anteriores e
procuram encontrar uma solução num tempo razoável.
Genéticos baseados em procedimentos de seleção natural e de genética.
Do mesmo modo existem diversas tecnologias, proprietárias e open source, que pretendem
resolver este tipo de problemas. Contudo os serviços disponíveis para além de terem muitas
restrições associadas, também não partilham muita informação sobre as funções que
disponibilizam nem como a recolha de dados que efetuam.
Apesar de existirem muitas aproximações à solução do problema a solução que se pretende
implementar com este trabalho terá em conta que a forma de facilitar a determinação de
uma rota ideal é a prévia identificação das zonas onde as organizações têm clientes com
encomendas para entregar, e agrupar esses mesmos clientes num determinado veiculo.
Este processo permitirá que esse veiculo possa efetuar as entregas todas a clientes da
mesma zona, evitando assim efetuar rotas por zonas muito dispersas e por onde poderá
passar outro veiculo no mesmo dia ou num dia muito próximo, permitindo assim efetuar uma
rota mais curta, mas também ela eficaz. A implementação desta solução permitirá
acrescentar valor às soluções já existentes e constituirá um contributo para a melhoria da
gestão dos processos associados.
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PERFIL ACADÉMICO E PROFISSIONAL DOS AUTORES
Tiago Duarte é estudante finalista do curso de licenciatura em Informática de Gestão do ISLA Santarém.
ISLA Multidisciplinary e-Journal, Volume 2, número 1 (2019) ISSN 2184-299X
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Daniel Carvalho é estudante finalista do curso de licenciatura em Informática de Gestão do ISLA Santarém. Domingos Martinho é Professor Coordenador e Diretor do ISLA Santarém. Licenciado em Informática de Gestão, Mestre em informática, doutorado com especialização em tecnologias da informação e comunicação na educação pela Universidade de Lisboa. Professor Especialista em Ciências Informáticas. Desenvolve investigação nas áreas da aplicação das metodologias e tecnologias de e-learning, aprendizagem baseada em computador e aplicação de business intelligence. Membro do CEPESE e da UI&D do ISLA Santarém onde coordena o núcleo de Informação e Tecnologia.
Endereço postal: ISLA Santarém Largo Cândido dos Reis, 2000-241 Santarém Portugal
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ANÁLISE DA BALANÇA COMERCIAL ENTRE PORTUGAL E REINO UNIDO NO ÂMBITO DO BREXIT
ANALYSIS OF THE TRADE BALANCE BETWEEN PORTUGAL AND THE UNITED KINGDOM UNDER THE BREXIT
Inês Catarina da Silva Prates; Jorge Miguel Oliveira da Silva; Nuno Miguel Tomé
Bento; Rui Frade
ISLA Santarém
[email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]
Resumo
Num referendo realizado no dia 23 de junho de 2016, os cidadãos do Reino Unido decidiram sair de forma voluntária e unilateral da União Europeia, num processo que foi apelidado de Brexit. O período transitório de dois anos até à efetivação da saída de Membro de pleno direito, terminou no dia 29 de março de 2019, sem que tivesse sido alcançado qualquer acordo, que regulasse a futura relação entre o Reino Unido e a União Europeia, no que diz respeito à livre circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais. A não obtenção de um acordo, principalmente na área comercial, poderá ter um impacto muito significativo nas economias dos países envolvidos. Desta forma, no âmbito do nosso trabalho, definimos como objetivo principal, a criação de uma base de conhecimento constituída pelos principais indicadores comerciais entre Portugal e o Reino Unido, que permita o desenvolvimento de analises futuras mais aprofundadas, com base na solução que vier a ser encontrada para o Brexit. Para este efeito, procedemos à compilação dos principais indicadores das balanças comerciais dos dois países, no que diz respeito às relações comerciais bilaterais, tendo verificado que estes são muito favoráveis a Portugal, com o Reino Unido a revelar-se como um dos nossos principais clientes, nomeadamente nas áreas de serviços relacionadas com as viagens e o turismo. Podemos então concluir, que o Brexit assume uma importância enorme no caso português, atendendo ao extremamente relevante papel de parceiro económico e comercial que o Reino Unido desempenha na nossa economia, através da balança comercial. Palavras-chave: Balança Comercial, Portugal, Reino Unido, Brexit.
Abstract
In a referendum held on June 23, 2016, citizens of the United Kingdom decided to leave voluntarily and unilaterally of the European Union in a process that was dubbed Brexit. The transitional period of two years until the expiration of a full Member, expired on 29 March 2019, without any agreement being reached between the parties, regulating the future relationship between the United Kingdom and the European Union, as regards the free movement of persons, goods, services and capital. Failure to reach an agreement, especially in the commercial area, might have a very significant impact on the economies of the countries involved. In this way, in the scope of our work, we defined as main objective, the creation of a knowledge base constituted by the main commercial indicators between Portugal and the United Kingdom, that allows the development of further future analyzes, based on the solution that might be found for Brexit. To this end, we have compiled the main trade balance indicators of the two countries, with regard to bilateral trade relations, and found that they are very favorable to Portugal, with the United Kingdom proving to be one of our main customers, in particular in the areas of services related to travel and tourism. We can therefore conclude that Brexit is of enormous importance in the Portuguese case, given the extremely important role of economic and commercial partner that the United Kingdom plays in our economy, through the trade balance.
Keywords: Trade Balance, Portugal, United Kingdom, Brexit.
Os cidadãos do Reino Unido (RU) votaram favoravelmente a favor da saída da União
Europeia (UE), num referendo realizado no dia 23 de junho de 2016, conforme podemos
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verificar no portal da União Europeia (2019). A formalização da intenção de saída da UE,
passou pela ativação do artigo 50º do Tratado de Lisboa, através de comunicação efetuada
à UE no dia 29 de março de 2017. Este mesmo Tratado de Lisboa, no seu artigo 50º, prevê
a possibilidade de qualquer Estado Membro poder sair de forma voluntária e unilateral da
UE (Assembleia da República, 2008). Desta forma, o RU passou a dispor de um período
transitório de 2 anos até à efetivação da saída de Membro de pleno direito, prazo esse que
terminou no dia 29 de março de 2019. Terminado este prazo, sem que tivesse sido
aprovado no Parlamento Inglês o acordo de saída estabelecido entre o Governo Inglês e a
UE, passou a existir uma profunda indefinição sobre qual irá ser no futuro a relação entre o
RU e a UE. No âmbito do nosso trabalho, mais do que avaliar prazos e procedimentos
políticos, interessa-nos criar uma base de conhecimento constituída pelos principais
indicadores comerciais entre Portugal e o RU, seguindo para este efeito, uma linha
metodológica que passou pela análise desta informação estatística nos principais portais de
referência, avaliando, recolhendo e compilando os dados disponíveis, efetuando desta forma
um extenso tratamento da informação, tendo sempre como objetivo, o desenvolvimento de
analises mais pormenorizadas no contexto comercial. Este método permitiu reunir os
diversos indicadores da balança comercial entre Portugal e o RU, de forma a que com base
na solução que vier a ser encontrada para o Brexit, seja possível retirar conclusões sobre o
impacto do Brexit entre os dois países em questão.
COMÉRCIO INTERNACIONAL
A regulação do comércio internacional é efetuada através da implementação de regras e
normas, resultantes de acordos estabelecidos em órgãos internacionais, como a OMC
(Organização Mundial do Comércio), a OMA (Organização Mundial das Alfandegas) e a CCI
(Câmara de Comércio Internacional). Foi no início da década de 40, especificamente em
1944, que se deram os primeiros passos a nível mundial para a criação de um mercado
aberto, através da Conferência de Bretton Woods, onde foi implementada uma nova ordem
monetária internacional entre estados independentes. Quatro anos mais tarde, em 1948, é
estabelecida a plataforma GATT (General Agreement on Tariffs and Trade), ou seja, o
Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, que evoluiu, entretanto, para a atual OMC, com o
objetivo principal de reduzir barreiras a livre circulação de bens e serviços e, com isso,
beneficiar as transações comerciais entre países (Botelho, 2015). O mesmo autor refere
ainda que a eliminação das barreiras comerciais e o rápido desenvolvimento da tecnológica,
ao facilitar o progresso das comunicações e dos meios de transporte, tornou a globalização
dos mercados uma realidade incontornável.
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Com base nesta evolução e já na atualidade, o AICEP Portugal Global (2019), caracteriza o
comércio internacional de uma forma geral, como o conjunto das entradas e/ou saídas de
mercadorias. Outros autores, nomeadamente Lopez (2010), definem comércio internacional
como um conjunto de operações realizadas entre países onde existe uma troca de bens e
serviços ou movimento de capitais.
As estratégias de internacionalização das empresas passaram assim a ganhar uma
importância acrescida e a ser tema de diversos estudos, normalmente com foco em duas
grandes vertentes, a económica e a comportamental.
Teorias do comércio internacional
É importante referir, que a internacionalização das empresas, no ponto de vista económico,
tem as suas raízes nas datas de 1776 e 1817, com Adam Smith e David Ricardo,
respetivamente, a efetuarem trabalhos muito relevantes e com impacto ainda nos nossos
dias, sobre o comércio internacional e sobre os principais fatores de vantagem competitiva
dos países no comércio internacional (Botelho, 2015).
Adam Smith em 1776, criou a teoria das vantagens absolutas, demostrando que as trocas
comerciais entre países podem ser benéficas para ambos, devendo cada país especializar-
se somente nas exportações dos bens em que a sua produção detivesse uma vantagem
absoluta e importando os bens em que o outro país detivesse uma maior vantagem
absoluta. Desta forma, um país e capaz de produzir um bem com menos recursos do que
outro país, concentrando-se desta forma nessa produção, podendo desta forma importar
outro bem que um outro pais, possa produzir com menos recursos, que seriam necessários
na sua produção interna. Já em 1817, David Ricardo, introduziu alterações importantes a
estes conceitos, através da teoria das vantagens comparativas, abordando os custos das
trocas de mercadorias entre países, referindo que um país poderá não exportar sempre
todos os bens em que tem vantagens absolutas, atendendo aos custos de oportunidade, e à
consequente especialização da produção no bem em que tem maiores vantagens, obtendo
desta forma benefícios, já que os ganhos com o comercio lhe permitem importar os produtos
de que necessita e cuja produção interna não será satisfatória (Cassano, 2002).
Características do comércio internacional
A economia e o comércio mundial estão dependentes dos diferentes ciclos políticos, em que
a existência de governos com menor tendência de integração económica, pode levar à
desagregação de acordos económicos e/ou comerciais. Nesse sentido, Vicentini (2013)
refere a importância de estudar e enquadrar as diferentes modalidades de integração
económica, enquanto processo que consiste na eliminação de barreiras entre países com o
objetivo de obter um maior espaço económico com regras comuns e onde os compromissos
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estabelecidos podem assumir diferentes níveis. No âmbito destes processos de integração,
Pires (1998) carateriza as Áreas de comércio livre como zonas onde existe eliminação de
barreiras internas e restrições quantitativas ao comercio de bens e serviços entre os
membros dessa comunidade económica. Já a União aduaneira é descrita pela European
Commission (2019), como dois ou mais estados que formam um único território onde não
são aplicados direitos aduaneiros às mercadorias que circulam entre os estados, onde todos
os países aplicam uma pauta aduaneira comum aos produtos importados de países
terceiros e finalmente, onde os bens podem circular livremente entre os estados membros.
Já o Acordo de Taxas Preferenciais, segundo Basso (1998), consiste na eliminação de
todas as taxas entre países membros e a adoção de uma única tarifa externa para os países
não membros. Mercado Comum, conforme o portal da União Europeia (2019), consiste na
livre circulação de bens, serviços, capitais e pessoas num único mercado. Já a União
Monetária é descrita como um processo de harmonização das políticas económicas e
monetárias dos respetivos estados membros (Eurocid, 2012).
A UNIÃO EUROPEIA E O COMÉRCIO
Segundo o portal da União Europeia (2019), a UE é um grupo de 28 países da Europa, que
se juntaram para melhorar, facilitar e tornar mais segura a vida de todos os cidadãos que
habitam neste espaço comum. Tem como objetivos principais, reforçar a coesão económica,
social e territorial e a solidariedade entre os países da UE, a criação de uma moeda única
(euro) e um mercado livre sem fronteiras, onde estão apenas incluídos os países membros e
onde as pessoas, as mercadorias, os serviços e os capitais circulam livremente (Comissão
Europeia, 2007).
Características do comércio entre a UE e países terceiros
Conforme referimos no ponto anterior, o comércio entre os países, pode ser efetuado no
âmbito de acordos bilaterais, ou no âmbito de acordos efetuados entre espaços
económicos/políticos. Conforme o Parlamento Europeu (2019), a UE tem uma política
comercial comum perante países terceiros, isto é, países que não estão integrados no
espaço europeu.
Por sua vez, o comercio intraeuropeu, segundo o portal da União Europeia (2019), está
abrangido pelo princípio da livre circulação de bens, mercadorias e serviços, pelo que não
existem procedimentos alfandegários, imposição de taxas aduaneiras e/ou impostos de
importação/exportação entre os países membros.
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PRINCIPAIS INDICADORES DA BALANÇA COMERCIAL ENTRE PORTUGAL E O
REINO UNIDO
Breve enquadramento do conceito de balança comercial
Segundo a PORDATA (2019), a Balança Comercial é uma das componentes da Balança de
Pagamentos, sendo que esta se carateriza por contabilizar os valores referentes ao
comércio, investimento e às transferências, efetuadas entre um país e o resto do mundo.
Por sua vez, balança comercial é o termo económico que representa a diferença entre as
importações e as exportações, registando o valor dos bens e dos serviços que o país vende
e compra. Quando o país exporta mais do que importa, diz-se que apresenta saldo positivo
ou excedente comercial e quando importa mais do que exporta, diz-se que apresenta saldo
negativo ou défice comercial. As importações de bens e serviços consistem em compras,
ofertas, trocas diretas ou doações de não residentes para residentes e as exportações
consistem em vendas, trocas diretas, ofertas ou doações de residentes para não residentes.
A balança comercial entre Portugal e o RU
Analisando dados referentes a 2017, podemos referir que nesse mesmo ano, a balança
comercial entre Portugal e o RU foi positiva para Portugal, isto é, exportamos mais do que
importamos, conforme os dados fornecidos pelo INE (2018). Relativamente a 2016 e com
dados mais consolidados, conforme tabela 1 obtida em Aicep Portugal Global (2017),
podemos ter a perceção da importância do RU na balança comercial de Portugal, ocupando
o 4º lugar enquanto cliente e o 6º lugar enquanto fornecedor.
Tabela 1. Principais clientes e fornecedores de Portugal
Mercado
Clientes Fornecedores
2016
Posição Posição
Espanha 1º 1º
França 2º 3º
Alemanha 3º 2º
Reino Unido 4º 6º
Já em relação ao RU e ao ano de 2016, em termos comparativos, Portugal ocupava nesse
ano o 31º lugar na lista de países que mais importavam produtos e serviços do RU (0,5%),
situando-se no 30º lugar na lista de países que mais exportavam produtos e serviços para o
RU (0,6%), conforme tabela 2, dados da Aicep Portugal Global (2017).
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Tabela 2. Principais clientes e fornecedores do RU
Mercado
Clientes Fornecedores
2016
Posição Posição
EUA 1º 3º
Alemanha 2º 1º
França 3º 5º
Países Baixos 4º 4º
Portugal 31º 30º
Aicep Portugal Global (2017)
Em termos absolutos, e em relação ao RU e ao ano de 2016, Portugal importou 3,3 mil
milhões (+ 4,7% face ao ano anterior) de euros, exportou 7,5 mil milhões de euros (- 3,4 face
a 2015) e apresentou um saldo da balança comercial positivo de aproximadamente de 4,2
mil milhões de euros.
Sendo a balança comercial composta pela balança de serviços e balança de bens,
passamos a efetuar a análise aos principais indicadores das mesmas, relativamente a
Portugal.
Balança de Serviços de Portugal com o RU
Em termos de exportação de serviços, o RU foi classificado como o principal cliente de
Portugal em 2016, com uma quota de 15%, seguido da França, Espanha e Alemanha,
conforme se pode verificar pelos dados obtidos em Aicep Portugal (2016) e apresentados no
gráfico 1.
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Reino Unido
França
Espanha
Alemanha
Angola
EUA
Gráfico 1. Exportações de serviços de Portugal - Clientes. (%)
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Ainda segundo o Aicep Portugal Global (2017), os principais serviços exportados em 2016
por Portugal com destino ao RU, conforme tabela 3, foram as viagens e turismo (57,3%), os
transportes (22,4%), os serviços fornecidos por empresas (9,2%) e os serviços de
telecomunicações, informática e informação (5,5%).
Tabela 3. Exportação de Serviços de Portugal para o RU
Exportações de Serviços
Serviços %
Viagens e turismo 57,3
Transportes 22,4
Outros serviços empresariais 9,2
Telecomunicações, informática e informação 5,5
Aicep Portugal Global (2017)
Por outro lado, em termos de importação de serviços, RU está classificado como o 2º país
fornecedor de serviços a Portugal, correspondendo a 10,8% no total em 2016, dados obtidos
em Aicep Portugal Global (2016). Os valores apresentados no gráfico 2 são retirados do
portal PORDATA (2019).
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Espanha
Reino Unido
França
USA
Alemanha
Gráfico 2. Importação de serviços para Portugal - Fornecedores. (Milhões)
Segundo dados obtidos pela Aicep Portugal Global (2017), a nível das importações de
serviços para Portugal vindas do RU, em 2016, as viagens e turismo representavam
(28,8%), os serviços fornecidos por empresas (20,1%), transportes (14,9%), e os serviços
de telecomunicações, informática e informação cerca de (11,7%).
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Tabela 4. Importações de Serviços para Portugal vindas do RU
Importações de Serviços
Serviços %
Viagens e turismo 28,8
Outros serviços empresariais 20,1
Transportes 14,9
Telecomunicações, informática e informação 11,7
Aicep Portugal Global (2017)
Esta análise à balança comercial de serviços com o RU, demonstra a importância do
turismo, representando mais de metade da receita da balança comercial de serviços
(57,3%).
Numa breve análise aos dados de 2017, de forma a podermos ter algum nível de análise da
informação em termos de evolução, os dados referentes á exportação de serviços para o
RU apontavam para um crescimento de 13,3% face ao ano anterior e as importações um
ligeiro decréscimo de 6%, resultando num saldo positivo da balança comercial de serviços,
superior ao verificado em 2016 que foi de 1.909,2 Milhões€, para cerca de 2.241,9 milhões €
em 2017.
Balança de Bens de Portugal com o RU
Em termos de exportação de bens e como podemos observar no gráfico 3, o RU está
posicionado em 4º lugar como cliente de Portugal nas exportações de bens, com uma quota
de 7%, só sendo suplantado pela Alemanha, França e Espanha, conforme dados obtidos em
Aicep Portugal Global (2016) e apresentados no gráfico 3.
0 5 10 15 20 25 30
Espanha
França
Alemanha
Reino Unido
EUA
Angola
Gráfico 3. Exportações de bens de Portugal - Clientes. (%)
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No âmbito das exportações portuguesas para o RU, as que mais se destacaram e deram o
seu contributo para o crescimento da balança de bens no ano de 2016, foram as máquinas e
tecnologia (22,50%), seguidas os veículos (16,7%), dos metais (8,1%) e do vestuário (7,8%),
conforme tabela 5, obtida em Aicep Portugal Global (2017).
Tabela 5. Exportação de Bens de Portugal para o RU.
Exportações de Bens
Produtos %
Máquinas e tecnologia 22,5
Veículos 16,7
Metais comuns 8,1
Metais comuns 7,8
Produtos químicos 5,9
Plásticos 5,9
Alimentares 5,8
Matérias têxteis 3,8
Calçado 3,4
Minerais e minérios 3,2
Aicep Portugal Global (2017)
Em termos de importação de bens, o RU foi classificado como o 6º fornecedor de Portugal
em 2016, com uma quota de 3,2%, seguido dos Países Baixos, Itália, França, Alemanha e
Espanha que ocupa o 1º lugar, conforme se pode verificar pelos dados obtidos em Aicep
Portugal (2016) e apresentados no gráfico 4.
Gráfico 4. Importações de bens para Portugal - Fornecedores. (%)
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Segundo dados obtidos em Aicep Portugal Global (2017), a nível das importações de bens
para Portugal vindas do RU, em 2016 e conforme tabela 6, destacam-se os veículos
(20,8%), produtos químicos (19,5%), máquinas e tecnologia (18,5%) e metais (8,9%).
Tabela 6. Importações de Bens para Portugal provenientes do RU.
Importações de Bens
Produtos %
Veículos 20,8
Produtos químicos 19,5
Máquinas e tecnologia 18,5
Metais comuns 8,9
Agrícolas 7,7
Alimentares 4,6
Plásticos 3,4
Matérias têxteis 3,2
Combustíveis minerais 2,7
Instrumentos de ótica 2,6
Numa breve análise aos dados de 2017, de forma a podermos ter algum nível de análise da
informação em termos de evolução, os dados referentes á exportação de bens para o RU
apontavam para um crescimento de 3,9% face ao ano anterior e as importações um ligeiro
decréscimo de 0,5%, resultando num saldo positivo da balança comercial de bens, superior
ao verificado em 2016 (+103 Milhões€) em cerca de 8,9%.
CONCLUSÕES
O impacto do Brexit está dependente de múltiplos fatores, muitos deles ainda
desconhecidos, sendo que o tipo de enquadramento do acordo a celebrar entre as partes,
poderá ter um papel muito importante nas futuras relações comerciais dos ainda estados-
membros. O acordo de saída a adotar, conforme já referimos no âmbito deste estudo,
poderá ser no âmbito de uma Área de comércio livre, uma União aduaneira, um Acordo de
Taxas Preferenciais ou uma estrutura mista negociada especialmente para este caso. De
qualquer forma, só o atual Mercado Comum, onde o RU e Portugal estão integrados, define
a livre circulação de bens, serviços, capitais e pessoas. Com o Brexit, poderão existir
impactos, oportunidades ou custos para as empresas dos diferentes países integrantes da
UE, dependendo sempre da importância comercial que o RU tenha atualmente, visto que
estas relações comerciais poderão vir a ser exercidas no futuro, enquanto países terceiros,
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com diversos custos alfandegários muito elevados. Neste sentido, Portugal está numa
posição particularmente delicada, visto que o seu comércio externo depende muito mais do
RU do que o RU de Portugal. Efetivamente, em termos globais o RU é o nosso 4º cliente e o
nosso 6º fornecedor. Já Portugal e também em termos globais, é o 31º cliente do RU e o 30º
fornecedor. Na área especifica dos serviços, o RU é o principal cliente de Portugal, com
cerca de 57% desses serviços a serem de viagens e turismo. O RU também se destaca na
área dos serviços enquanto nosso fornecedor, visto que tem a 2ª posição. Já na balança de
bens, o RU é o 4º cliente e o 6º fornecedor de Portugal. Com base nesta análise sucinta dos
principais indicadores da balança comercial entre Portugal e o RU, podemos afirmar que as
negociações que estão a decorrer para o Brexit, assumem uma importância enorme no caso
português, atendendo ao extremamente relevante papel de parceiro económico e comercial
que o RU desempenha na nossa economia, via balança comercial.
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PERFIL ACADÉMICO E PROFISSIONAL DOS AUTORES
Inês Prates é estudante da licenciatura em Gestão Comercial do ISLA Santarém. Jorge Silva é estudante da licenciatura em Gestão Comercial do ISLA Santarém. Nuno Bento é estudante da licenciatura em Gestão Comercial do ISLA Santarém. Rui Frade é Professor Coordenador do ISLA Santarém. Investigação em Marketing e Gestão.
ISLA Multidisciplinary e-Journal, Volume 2, número 1 (2019) ISSN 2184-299X
113
Endereço postal: ISLA Santarém Largo Cândido dos Reis, 2000-241 Santarém Portugal
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ADOÇÃO DE UM MODELO DE PLANO DE MARKETING INTERNACIONAL PARA
AS PME PORTUGUESAS
ADOPTION OF AN INTERNATIONAL MARKETING MODEL PLAN FOR
PORTUGUESE SME
Hugo Bastos; Carlos Silva; Juliana Carmo; Rui Frade
ISLA Santarém
[email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]
Resumo
Os mercados empresariais deixaram de ser locais, regionais ou nacionais, para passarem a ser internacionais. A globalização passou a ser um fator critico de sucesso, com as empresas, especialmente as Pequenas e Médias Empresas, a terem que adequar a sua estrutura empresarial de forma a poderem responder às diferentes necessidades dos seus clientes nacionais e internacionais e à crescente agressividade e competitividade empresarial. A adoção de um plano de marketing internacional, surge então como uma ferramenta fundamental para apoiar as empresas no processo de internacionalização. Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo principal a escolha de um modelo de plano de marketing internacional para as Pequenas e Médias Empresas portuguesas. Para esse efeito, procedemos a uma extensa revisão bibliográfica de trabalhos que abordavam o tema, tendo escolhido três estudos que nos pareciam mais adequados e procedido à sua análise detalhada. No final escolhemos um plano de marketing internacional, adequado às especificidades das Pequenas e Médias Empresas portuguesas, que apresentava caraterísticas de simplicidade de compreensão e implementação, diversidade e complementaridade dos temas abordados e dava especial relevância ao fator de implementação e controlo. Palavras-chave: Marketing, Plano marketing internacional, PME.
Abstract
Business markets have ceased to be local, regional or national, to become international. Globalization has become a critical success factor, with companies, especially small and medium-sized companies, having to adapt their business structure in order to respond to the different needs of their domestic and international clients and to the growing aggressiveness and competitiveness business. The adoption of an international marketing plan then emerges as a fundamental tool to support companies in the internationalization process. In this sense, the main objective of this study is to choose a model of an international marketing plan for Portuguese Small and Medium Enterprises. To this end, we have carried out an extensive bibliographical review of papers that approached the theme, choosing three studies that seemed to us to be the most appropriate and proceeded to its detailed analysis. In the end, we chose an international marketing plan, adapted to the specific characteristics of the Portuguese Small and Medium Enterprises, which presented characteristics of simplicity of understanding and implementation, diversity and complementarity of the themes addressed and gave special importance to the implementation and control factor. Keywords: Marketing, International marketing plan, SME.
Segundo Kotler e Keller (2012), a globalização passou a ser um fator critico de sucesso,
fazendo com que seja fundamental a aposta no marketing e nas respetivas ferramentas de
comunicação, de forma a que as empresas consigam ter uma presença significativa nos
seus mercados de atuação. Neste contexto, é necessário adaptar e repensar a forma como
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uma empresa encara a procura e o que faz para satisfazer as necessidades e vontades dos
consumidores globais. Ainda segundo estes autores, as empresas têm de perceber a
nova realidade do mercado e as suas necessidades especificas, de forma a
desenvolverem estratégias de marketing que lhes permitam obter vantagens
competitivas, evitando também as ameaças dos novos tempos. Esta globalização
crescente do séc. XXI tem relançado a importância das trocas comerciais Internacionais,
criando a necessidade de as empresas efetuarem um planeamento estratégico, com
uma abordagem clara aos fatores críticos de sucesso dos mercados externos. Para este
efeito, as organizações devem desenvolver uma estratégia de marketing internacional,
suportada no estudo pormenorizado dos mercados-alvo, com a criação de ferramentas
de marketing que enquadrem o ambiente macro e micro do mercado de destino (Doole
& Lowe, 2008), permitindo através da criação do plano de marketing internacional, a
estruturação e organização do conhecimento referente aos diferentes elementos que
constituem os mercado alvo, compreendendo desta forma, as forças, fraquezas,
oportunidades e ameaças com que a empresa se ira debater no desenvolvimento da
sua área de negócio (Tedim, 2015).
Segundo o INE (2019), o tecido empresarial português é constituído em 99,9% por
pequenas e médias empresas (PME) e em 0,1% por grandes empresas. As grandes
empresas são muitas vezes parte de organizações multinacionais, tendo estruturas
próprias de apoio à gestão e à decisão. Por sua vez, as PME são estruturas
empresariais intermédias, em que 6,2% já efetua trocas comerciais com o exterior,
apresentando, no entanto, dificuldades estruturais na sistematização e organização de
estratégias de internacionalização, que lhes permitam uma melhoria da sua performance
empresarial.
Segundo Brouthers et al. (2009), a internacionalização assume-se desta forma como um
processo exigente e complexo, tornando-se assim fundamental investigar métodos de
internacionalização das PME, compreendendo as variáveis intrínsecas ao seu melhor
desempenho. Com o desenvolvimento do presente estudo, pretende-se ainda escolher um
plano de marketing internacional, que defina a seleção e método de entrada das PME
portuguesas nos mercados internacionais, atendendo à importância que estes fatores terão
no sucesso destas empresas (Oviatt & McDougall, 2005; Tedim, 2015).
ENQUADRAMENTO TEORICO
Para a elaboração deste artigo, foi efetuada uma revisão bibliográfica, seguindo
procedimentos e metodologia científica utilizada e recomendada nas revisões de literatura.
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Desta forma, esta revisão iniciou-se por uma pesquisa em bases de dados científicas, tendo
por referência os trabalhos publicados sobre marketing, marketing internacional e planos de
marketing internacionais. Dos resultados das pesquisas efetuadas, selecionaram-se para
análise os artigos que obedeciam a alguns critérios, nomeadamente, serem mais recentes,
terem como assunto central algum dos temas abordados neste trabalho e terem conclusões
importantes devidamente validadas. Dos artigos selecionados, escolhemos para inclusão no
presente trabalho, aqueles que permitiam a ligação direta com o tema das PME
Portuguesas. De seguida, passámos a uma recolha de informação mais de carater
estatístico sobre as PME portuguesas, seguida de uma revisão bibliográfica sobre este
mesmo assunto, estabelecendo por fim, uma ligação final entre todos os temas em estudo.
Conseguimos desta forma, retirar conclusões, que nos permitiram a escolha de um plano de
marketing internacional, adaptado às PME portuguesas.
As PME Portuguesas
O processo de internacionalização exige bastantes esforços organizacionais e o
envolvimento de todas as áreas de uma empresa, para que seja bem-sucedido. As PME
necessitam de um esforço suplementar para atingir este objetivo, sendo, no entanto, um
passo que na maioria das vezes permite a alavancagem ao seu desenvolvimento e
crescimento, que no mercado interno não iriam conseguir obter (Ilhéu, 2009). Por outro lado,
a internacionalização aumenta o risco para as PME, atendendo à falta de recursos,
experiência e conhecimento, bem como ao seu orçamento limitado para fazer face à
necessidade de contratar profissionais para esta área de conhecimento especifica (Musteen,
Francis, & Datta, 2010; Tang, 2011). A deterioração do mercado interno, ou a necessidade
simples de expansão e crescimento, enquadrada na facilidade das comunicações globais,
dos transportes e da evolução tecnológica, faz que cada vez mais as pequenas medias
empresas sejam obrigadas a direcionar as suas estratégias para a internacionalização
(Brouthers et al., 2009).
É por isso importante conhecer os dados estatísticos do setor. Segundo o INE (2019), a
categoria das PME é definida como empresas que têm na sua estrutura menos de 250
pessoas, um volume de negócios anual inferior aos 50 milhões de euros e o balanço total
anual a não ultrapassar os 43 milhões de euros. Já segundo a Pordata (2019) e com dados
referentes a 2017, existiam em Portugal 1.259.234 PME, sendo 1.212.059 microempresas,
40.547 pequenas empresas e 6.628 médias empresas. Desta forma, as PME Portuguesas
representavam um universo de 99,9% do total de empresas em Portugal e 60,2% do volume
total de negócios das empresas em Portugal.
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Marketing Internacional
Antes de podermos entrar no estudo mais detalhado do marketing internacional, é
importante fazer uma pequena revisão do marketing enquanto conceito mais abrangente.
Segundo Kotler e Keller (2013), a extrema competitividade empresarial internacional,
acompanhada de um processo intenso de globalização, em que as fronteiras dos mercados
tendem a estar cada vez mais abertas, provocou várias mudanças nas estratégias das
empresas. A primeira década do século XXI, criou desafios de enorme complexidade às
corporações empresariais, com o marketing a desempenhar um papel de extrema
importância, pois as operações, a contabilidade, as finanças e outras funções das
organizações, não faziam sentido se não houvesse procura pelos produtos da empresa, e
consequentemente, lucro. Estes mesmos autores, ainda sobre a importância do marketing
nas organizações e numa tentativa de conceptualização do conceito, definem o marketing
como um processo que envolve a identificação e a satisfação das necessidades humanas e
sociais, podendo aplicar-se a bens, serviços, eventos, experiências, pessoas, lugares,
propriedades, organizações, informações e ideias.
Segundo Douglas e Craig (1989), com a globalização crescente, passamos a ter um forte
impulso nas trocas comerciais a nível internacional, surgindo a necessidade de acompanhar
esta internacionalização com estudos estratégicos detalhados sobre os mercados de
destino, nomeadamente ao nível das oportunidades e ameaças que poderão ser
encontradas nesses mesmos mercados. Estes estudos podem ser assim definidos como
marketing internacional, enquanto método que estuda o processo de expansão e entrada
num mercado internacional.
Segundo Ilhéu (2009), marketing internacional pode ser definido como (1) desenvolvimento
multinacional que consiste no planeamento, execução, criação, construção de ideias, de
preços, bens e serviços, criando uma relação de troca de forma a corresponder a objetivos
individuais e organizacionais, (2) elaboração de planos de negócio destinadas ao
consumidor, promovendo e dirigindo fluxos de bens e serviços, de forma à obtenção de
lucro da empresa e (3) enquanto conjunto de atividades dentro do meio envolvente, de
forma a encontrar e satisfazer as necessidades e desejos manifestados pelos clientes
globais, melhor que a concorrência, quer local, quer internacional.
O mercado global torna-se complexo, sendo por isso difícil de controlar os elementos do
ambiente organizacional, levando a que os gestores utilizem novos instrumentos e métodos
(Doole & Lowe, 2008). Ainda segundo estes autores a empresa pode optar por dois
programas de internacionalização, a estandardização ou a adaptação, em que o primeiro
programa está relacionado com o método adotado pela empresa para se introduzir num
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novo mercado, enquanto que o segundo está relacionado com a estratégia de marketing e o
marketing mix, e a forma como estes vão ser adaptados ao ambiente de um novo mercado
internacional.
Planos de marketing internacional
Segundo Kotler e Keller (2012), a criação de um plano de marketing é fundamental para as
empresas que querem ser bem-sucedidas, obterem resultados positivos e crescerem todos
os anos de forma sustentada. É com a utilização de sucesso do marketing e dos seus
diferentes elementos que é possível criar procura pelos bens e serviços das empresas.
Segundo um estudo feito por Camponês (2018), as PME consideram que a implementação
de um plano de marketing internacional é algo complexo para a sua dimensão, referindo que
não se sentem capazes de o executarem sozinhas e sem apoio.
Tedim (2015), refere que na construção de um plano de marketing internacional, é
necessário conhecer os diversos elementos que integram o micro e macro ambiente do
mercado alvo e reconhecer e estudar as forças, fraquezas, ameaças e oportunidades com
que a empresa vai se deparar no seu desenvolvimento e na sua atividade de negócio.
Numa abordagem simplista, que, no entanto, acaba por influenciar e ser adaptada a
diferentes contextos por outros autores, Kotler e Armstrong (1999) definem um plano de
marketing com 8 etapas, definindo as mesmas da seguinte forma:
1. Análise Diagnóstico;
2. Análise SWOT;
3. Definição dos Objetivos de Marketing;
4. Definição da Estratégia de Marketing;
5. Formulação do Marketing-Mix;
6. Plano de Ação;
7. Controlo;
8. Atualização.
Por sua vez, Mcdonald (2008), para alem de estabelecer a sua fundamentação teórica
completa e essencial sobre o plano de marketing, ainda recria e disponibiliza exemplos e
métodos de aplicação à realidade, num plano de marketing de caráter prático, dividido em 4
etapas, conforme podemos verificar pela análise à figura 1.
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Figura 1. Metodologia plano de Marketing – Modelo de McDonald (2008)
Fonte: adaptado (McDonald, 2008)
Numa abordagem bastante semelhante, Westwood (2013) afirma que o plano de marketing
é usado essencialmente para definir a forma e o método de usar os recursos necessários,
de forma a atingir os objetivos de marketing planeados pela empresa. O mesmo autor afirma
ainda que os planos permitem obter uma segmentação dos mercados alvo, conhecer o
posicionamento no mercado e a sua dimensão, e por fim, organizar a quota de mercado
viável dentro de cada segmento de mercado, contribuindo de forma fundamental para que a
gestão possa atingir os objetivos globais de marketing da empresa. Este autor, conforme
podemos verificar pela figura 2, define 11 momentos mais relevantes no plano de marketing.
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Figura 2. Processo Planeamento de Marketing - Modelo de Westwood (2013)
Fonte: Adaptado de (Westwood, 2013)
Numa outra abordagem, já diretamente aplicada à vertente internacional, McDonald e
Wilson (2011), explicam que o plano de marketing internacional deve estar segmentado em
4 etapas, subdivididas em 10 pontos chave, cuja implementação leva a maiores níveis de
sucesso da execução de um planeamento de marketing internacional. O plano deve
começar pela definição da missão e objetivos de marketing na empresa, permitindo o
alinhamento destes com a missão e visão geral da organização em si. Segue-se uma
auditoria de marketing e analise SWOT, que deve ser desenvolvida a fim de criar
conclusões acerca das suas forças e fraquezas, no contexto macro das possíveis ameaças
e oportunidades que a empresa possa ter que enfrentar. As seguintes fases passam pelo
desenvolvimento de pontos chave, permitindo retirar conclusões sobre as ameaças e
oportunidades do mercado alvo, pela definição dos objetivos e estratégias de marketing isto
através da estandardização ou adaptação do marketing mix e por a previsão dos resultados
esperados, com o conhecimento de um plano alternativo. Nas últimas duas fases, os
autores identificam a definição do orçamento e por último o controlo da implementação do
programa ao detalhe referente ao primeiro ano de ação, conforme se pode verificar pela
figura 3.
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Figura 3. As 10 Etapas do Planeamento de Marketing - Modelo de McDonald e Wilson (2011)
Fonte: Adaptado McDonald e Wilson (2011)
Por sua vez, Doole e Lowe (2012) começam primeiro por delinear três questões
fundamentais que o plano de marketing internacional deve conseguir responder:
Como está a empresa no presente (missão)?
Como quer estar (visão)?
Como vai chegar ao objetivo (estratégia)?
Estes mesmos autores, conforme se pode verificar pela figura 4, consideram assim que as
respostas a estas questões prendem-se em cinco elementos essenciais ao processo de
construção de um plano de Marketing Internacional, começando por (1) analise internacional
do ambiente micro e macro do país escolhido para a internacionalização; (2) avaliação do
sistema organizacional interno e externo (análise SWOT); (3) definição da missão e
objetivos da estratégia de marketing internacional; (4) delineação do plano operacional; (5)
construção de um plano de contingência e controlo, caso algo corra mal.
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Figura 4. Os 5 elementos do Plano de Marketing Internacional - Modelo de Doole e Lowe (2012)
Elaboração própria com base em Doole e Lowe (2012)
Numa outra abordagem, Cateora, Gilly e Graham (2013) estruturam o plano de marketing
internacional dividindo-o em quatro etapas fundamentais. Uma primeira etapa que passa
pela elaboração de uma análise preliminar do país para onde a empresa se pretende
internacionalizar, com uma análise das capacidades internas da empresa e escolha dos
critérios que vão permitir à empresa a escolha do país de destino. Segundo estes autores, é
fundamental fazer a ligação das forças, fraquezas, filosofias, produtos, operações e
objetivos da empresa ao potencial de mercado do país alvo, gerando informação para que
possa ser possível avaliar as suas potencialidades, identificar possíveis barreiras de acesso
ao mercado e por fim, definir qual a estratégia de marketing mix a utilizar. Numa segunda
etapa da construção do plano de marketing internacional, Cateora, Gilly e Graham (2013)
sugerem a delineação dos segmentos de mercado a atingir, posicionamento, targeting e
segmentação, e a definição da estratégia de uniformização dos quatro pilares do marketing
mix, isto é, produto, preço, promoção e distribuição. Esta segunda etapa terá por objetivo a
tomada de decisão sobre as necessidades de ajustamento de componentes do marketing ao
ambiente envolvente do mercado de destino. A terceira etapa assenta na construção do
plano de marketing em si, ou seja, na delineação dos objetivos e metas da estratégia, na
definição do orçamento e escala de atividades. No fim desta etapa, deve estar definido o
que deve ser feito, por quem, como e quando, visto que é nesta etapa que fica estabelecido
o plano de ação. Como última etapa na estrutura do plano de marketing internacional, estes
autores defendem a implementação e o controlo do plano de ação, da estratégia elaborada
pela empresa. É nesta fase que as empresas tendem a estar menos atentas e a investir
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menos recursos, se bem que o controlo e avaliação permanente da performance e dos
resultados previstos no plano, podem proporcionar o aumento da probabilidade de a
estratégia ser bem-sucedida. Na figura 5 podemos ver de forma resumida, o modelo
proposto pelos autores.
Figura 5. Planeamento de marketing internacional - Modelo de Cateora et al. (2013)
Fonte: Adaptado de Cateora, Gilly e Graham (2013)
Por fim, podemos referir ainda Macedo (2014), quando este defende que o ponto chave de
um plano de marketing internacional é a identificação e criação de vantagens competitivas
para as organizações, devido à constante incerteza do ambiente, atuando como um fio
condutor do futuro da empresa, caraterizando os objetivos e os caminhos para os atingir,
antecipando desta forma os obstáculos passíveis de serem encontrados.
CONCLUSÕES
Podemos constatar que existe um amplo consenso sobre a importância que as PME
assumem na economia portuguesa, não só em termos da sua atuação no mercado nacional,
mas também em termos de internacionalização, num mercado que deixou de ser local ou
regional, para ser global e mundial.
Mcdonald (2008) entre outros autores, refere que a utilização de modelos de marketing e a
sua adaptação à realidade internacional, através do plano de marketing internacional,
permite que as empresas possam melhorar a sua organização, de forma a enfrentarem o
ambiente complexo de negócios onde se inserem, obtendo desta forma maiores resultados
e benefícios económicos.
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Neste sentido, analisámos vários trabalhos que abordavam de forma concreta modelos de
planos de marketing internacional, tendo escolhido para analise concreta no âmbito deste
estudo, os trabalhos de McDonald e Wilson (2011), Doole e Lowe (2012) e Cateora, Gilly e
Graham (2013).
Pudemos verificar que de uma forma geral, todos obedecem a princípios gerais
estabelecidos na literatura sobre o plano de marketing e consequentes adaptações ao
conceito de internacionalização. No entanto, atendendo à necessidade de escolher um
plano que melhor se ajuste às capacidades e recursos disponíveis nas PME, entendemos
que o plano de Cateora, Gilly e Graham (2013) é no nosso entender o plano conceptual
mais adequado.
Como justificação para esta escolha, apontamos três ordens de grandeza:
1. É um modelo com uma componente prática e de implementação mais simples e intuitiva,
o que vai ao encontro de uma presumível maior dificuldade apresentada pelas PME, ao
nível do conhecimento em áreas mais técnicas da gestão;
2. Aborda de forma consistente e transversal, todas as componentes de marketing mais
referenciadas pela bibliografia, como sendo mais relevantes ao nível de uma PME;
3. Dá uma especial enfase à componente de implementação e controlo, algo que é muito
referenciado em termos de bibliografia como uma das falhas das PME ao nível da execução
de planos de marketing.
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