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Publicação trimestral – Ano XXVIII – Nº 111-112 – Julho / Dezembro 2003 – Preço 2,25 Boletim de Pastoral Litúrgica ISSN 0873-3295 111 112

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BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICAPropriedade do Secretariado Nacional de Liturgia

Director: Pedro Lourenço FerreiraRedacção e Administração: Secretariado Nacional de LiturgiaSantuário de Fátima – Apartado 31 — 2496-908 FÁTIMATel. 249 533 327 – Fax 249 533 343 – E-mail: [email protected]

Publicação registada na SGMJ nº 118776ISSN 0873-3295

Assinatura anual: Portugal: 9 € (IVA incl.) — Outros países: 13 €

G.C. – GRÁFICA DE COIMBRA

Depósito Legal Nº. 88 990/95

O decoro na liturgia , Pedro Lourenço Ferreira .......................................................... 113Catequese sobre o Salmo 145, João Paulo II .............................................................. 115Catequese sobre o Salmo 142, João Paulo II .............................................................. 117Catequese sobre o Cântico de Isaías (66, 10-14), João Paulo II ................................. 119Catequese sobre o Salmo 146, João Paulo II .............................................................. 121Catequese sobre o Salmo 50, João Paulo II ................................................................ 123Catequese sobre o Cântico de Tobite (Tob 13, 10-15.17-19), João Paulo II ............... 125Catequese sobre o Salmo 147, João Paulo II .............................................................. 127Catequese sobre o Salmo 91, João Paulo II ................................................................ 129Catequese sobre o Cântico de Ezequiel, João Paulo II ............................................... 131Catequese sobre o Salmo 8, João Paulo II .................................................................. 133O decoro da celebração eucarística, João Paulo II ...................................................... 135A liturgia eucarística – Estrutura da Oração Eucarística II, José Ferreira ................. 13929º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica, Redacção ............................................. 143Curso de Música Litúrgica, A. Ferreira dos Santos ..................................................... 157Congresso «O Órgão e a Liturgia, hoje», A. Ferreira dos Santos ............................... 161Cânticos instrumentados para Banda e Coro, SNMS ................................................... 169Instituto Superior de Liturgia de Barcelona, Jaume González Padrós ......................... 171www.meloteca.com, António José Ferreira ................................................................ 174Livros litúrgicos oficiais – Situação em Janeiro de 2004, Redacção ........................... 176

JULHO – DEZEMBRO 2003

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O decoro na liturgia

EDITORIAL

Boas maneiras, urbanidade e decoro. Odicionário define o decoro com sendo

respeito de si mesmo e dos outros, decên-cia, compostura, dignidade, honestidade,vergonha, pundonor, nobreza. A Carta En-cíclica «A Igreja vive da Eucaristia» doPapa João Paulo II dedica o capítulo V a“o decoro da celebração eucarística”. Apalavra “decoro” tem um significado con-creto, preciso e exacto, mas poderíamosdizer a ideia do Papa com outras palavrasque traduzem o sentido deste “decoro”:– respeito de si mesmo e dos outros na ce-

lebração eucarística,– decência na celebração eucarística,– dignidade na celebração eucarística,– honestidade na celebração eucarística,– vergonha na celebração eucarística,– nobreza na celebração eucarística.

A Última Ceia e a unção de Betâniaforam as cenas escolhidas pelo Papapara introduzir a questão, que já na alturafoi polémica para os discípulos, particu-larmente Judas. O perfume precioso derra-mado sobre os pés de Jesus naquele lugare naquele momento foi considerado um«desperdício» e um atentado contra ospobres. Teria sentido no dia da coroaçãode Jesus como Rei de Israel e o próprioJudas tomaria a iniciativa de fazer umacolecta para dela tirar dividendos. Oevangelista João presenciou a cena e co-mentou que Judas «era ladrão» e não sepreocupava com os pobres (cf. Jo 12, 6).A cultura da luta contra a pobreza terá

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de partir do amor que produz riqueza e nãodo dinheiro que gera pobreza.

No seu ensino, Jesus revelou e ex-plicou os mistérios do Reino. O perfumeprecioso era desperdício para Judas,mas era a melhor parte e a expressão da féde Maria. Para Jesus aquilo era o bálsamoque recebia em vida, porque depois damorte só havia lugar para a ressurreição.As coisas do Reino não se regem peloscritérios humanos, mas pela sabedoriada Cruz. A Virgem Maria foi constituídacheia de graça para nela ser gerado e terdigna morada o Filho de Deus. Para ins-tituir a Eucaristia, o sacerdócio e o man-damento novo da caridade cristã, Jesusmandou discípulos adiante para fazemuma cuidadosa preparação da «grandesala» necessária para a páscoa com osseus. Os apóstolos aprenderam a lição quetransmitiram à Igreja. «Tal como a mulherda unção de Betânia, a Igreja não temeu«desperdiçar», investindo o melhor dosseus recursos para exprimir o seu enlevo eadoração diante do dom incomensurávelda Eucaristia. À semelhança dos primei-ros discípulos encarregados de preparar a«grande sala», ela sentiu-se impelida, aolongo dos séculos e no alternar-se dasculturas, a celebrar a Eucaristia numambiente digno de tão grande mistério.Foi sob o impulso das palavras e dosgestos de Jesus, desenvolvendo a herançaritual do judaísmo, que nasceu a liturgiacristã ... O Banquete eucarístico é verda-

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deiramente banquete «sagrado», onde, nasimplicidade dos sinais, se esconde o abis-mo da santidade de Deus: O Sacrumconvivium, in quo Christus sumitur! – «ÓSagrado Banquete, em que se recebe Cris-to!» » (A Igreja vive da Eucaristia, n. 48).

A humildade do centurião do Evange-lho é um ícone da sensibilidade da Igrejaque se confessa tão necessitada de Jesus,como indigna de O acolher na sua casa.Esta fé, tão grande como humilde e verda-deira, foi expressa ao longo dos séculospela liturgia da Igreja, que deu origem auma cultura, que agora é posta em causapelos próprios ministros do culto.

A Igreja precisa de arrumar a casa,preparar as coisas necessárias para aliturgia e só a partir da liturgia estará emcondições de evangelizar os homens queDeus quer salvar. «A liturgia é simultanea-mente a meta para a qual se encaminha aacção da Igreja e a fonte de onde promanatoda a sua força» (SC 10). A falta destacultura cristã está na origem da má educa-ção, falta de respeito e decência, não tantopara com Deus em Si – o Altíssimo da re-velação de Jesus – mas para com os ho-mens cuja humanidade Cristo encarnou.

O decoro litúrgico não é o teatroclerical que tantos leigos procuram imitar,mas a verdade do culto cristão, expressoem celebrações dignas do homem todoque Deus quer salvar. Este decoro é operfume precioso dos crentes que esco-lhem a melhor parte e acreditam que osbens deste mundo se destinam a quempertencem por doação divina. Os lugaresde culto são edificados para morada deDeus na terra e trono celeste. O recheiolitúrgico e os ritos sagrados proclamam aglória de Deus. Entretanto, hoje comosempre, surgem modas incompatíveis coma fé cristã e o decoro da sua liturgia.

A intervenção pontifícia descreve a si-tuação da liturgia e exorta à fé da Igreja:

«Compreende-se a grande responsa-bilidade que têm sobretudo os sacerdotesna celebração eucarística, à qual presi-dem in persona Christi. ... Temos a la-mentar, infelizmente, que sobretudo apartir dos anos da reforma litúrgicapós-conciliar, por um ambíguo sentidode criatividade e adaptação, não falta-ram abusos, que foram motivo de sofri-mento para muitos. Uma certa reacçãocontra o «formalismo» levou alguns,especialmente em determinadas regiões,a considerarem não obrigatórias as«formas» escolhidas pela grande tradiçãolitúrgica da Igreja e do seu magistério e aintroduzirem inovações não autorizadas emuitas vezes completamente impróprias.

Por isso, sinto o dever de fazer umveemente apelo para que as normaslitúrgicas sejam observadas, com grandefidelidade, na celebração eucarística.... A liturgia nunca é propriedade privadade alguém, nem do celebrante, nem dacomunidade onde são celebrados ossantos mistérios» (A Igreja vive da Eu-caristia, n. 52).

Este apelo do Santo Padre inspira-seno exemplo do apóstolo Paulo (cf. 1 Cor11, 17-34) que «teve de dirigir palavrasásperas à comunidade de Corinto pelasfalhas graves na sua celebração euca-rística, que tinham dado origem a divi-sões e à formação de facções» (A Igrejavive da Eucaristia, n. 52).

O Boletim de Pastoral Litúrgica vaidar o seu contributo com uma nova pro-gramação que ajude ao decoro daliturgia mediante a explicação do sentidoprofundo das normas litúrgicas por quese regem as celebrações dos mistériosda salvação dos homens.

PEDRO LOURENÇO FERREIRA

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1. O Salmo 145, que acabámos de escu-tar, é um “aleluia”, o primeiro dos cinco,que encerram toda a colecção do Saltério.Já a tradição hebraica utilizava este hinocomo cântico de louvor para a manhã: eletem o seu vértice na proclamação da sobe-rania de Deus sobre a história humana.Com efeito, no final do Salmo declara-se,“o Senhor reina eternamente” (v. 10).

Daqui segue uma verdade consola-dora: não estamos abandonados a nósmesmos, as vicissitudes dos nossos diasnão são dominadas pelo caos ou peloacaso, os acontecimentos não representamuma mera sucessão de actos desprovidosde qualquer sentido e meta. É a partirdesta convicção que se desenvolve umaverdadeira e própria profissão de fé emDeus, celebrado com uma espécie de la-dainha, em que se proclamam os atributosdo amor e da bondade que lhe são pró-prios (cf. vv. 6-9).

2. Deus é Criador do céu e da terra, éguarda fiel do pacto que o liga ao seupovo, é Aquele que age com justiça em re-lação aos oprimidos, dá o pão que sustémos famintos e liberta os prisioneiros. É Eleque abre os olhos aos cegos, ergue quemcaiu, ama os justos, protege o estrangeiroe ajuda o órfão e a viúva. É Ele que trans-forma o caminho dos ímpios e reina sobe-rano sobre todos os seres e em todas asépocas.

FELIZ AQUELEQUE ESPERA NO SENHOR

Catequese sobre o Salmo 145 (146)

A VOZ DO PAPA

JULHO – DEZEMBRO 2003 115

Trata-se de doze afirmações teológi-cas que, com o seu número perfeito, que-rem exprimir a plenitude e a perfeição daacção divina. O Senhor não é um soberanodistante das suas criaturas, mas faz parteda sua história, como Aquele que fomentaa justiça, pondo-se da parte dos últimos,das vítimas, dos oprimidos e dos infelizes.

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116 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

3. Então, o homem encontra-se diante deuma opção radical, entre duas possibilida-des opostas: por um lado, há a tentação de“confiar nos poderosos” (cf. v. 3), adop-tando os seus critérios inspirados no mal,no egoísmo e no orgulho. Na realidade,este é um caminho ameaçador e traiçoeiro,é “uma senda tortuosa e uma via oblíqua”(cf. Pr 2, 15), que tem como meta o deses-pero.

Com efeito, o Salmista recorda-nosque o homem é um ser frágil e mortal,como diz o próprio vocábulo ‘adam, que,em hebraico, remete para a terra, a matériae o pó. O homem – repete com frequênciaa Bíblia – é semelhante a um edifício quese desfaz (cf. Co 12, 1-7), a uma teia dearanha que o vento pode despedaçar (cf.Job 8, 14), a um fio de relva, verdejante naaurora e seco no crepúsculo (cf. Sl 89, 5-6;102, 15-16). Quando a morte se lhe apre-senta, todos os seus projectos se dissipame ele volta a ser pó: “Vai-se-lhe o espíritoe volta ao pó da terra, e assim ficam des-feitos os seus planos” (Sl 145, 4).

4. Porém, há também outra possibilidadediante do homem, exaltada pelo Salmistacom uma bem-aventurança: “Feliz o quetem por auxílio o Deus de Jacob, o quepõe sua confiança no Senhor, seu Deus”(v. 5). Este é o caminho da confiança noDeus eterno e fiel. O amen, que é a palavrahebraica da fé, significa precisamente umfundamentar-se na solidez inabalável doSenhor, na sua eternidade e no seu poderinfinito. Mas significa, sobretudo, com-partilhar as suas opções, realçadas pelaprofissão de fé e de louvor, como antesdescrevemos. É necessário viver na ade-são à vontade divina, oferecer o pão aosfamintos, visitar os prisioneiros, ajudar econfortar os doentes, defender e acolheros estrangeiros, dedicar-se aos pobres e

aos miseráveis. A nível concreto, é opróprio espírito das bem-aventuranças; éaderir à proposta de amor que nos salva jánesta vida e, além disso, será o objecto donosso exame no juízo final, que selará ahistória. Então, seremos julgados a partirda opção de servir Cristo no faminto, nosedento, no forasteiro, na pessoa nua, noenfermo e no prisioneiro. “Todas as vezesque fizestes isto a um dos mais pequeni-nos dos meus irmãos, foi a mim que o fi-zestes” (Mt 25, 40): então, é isto que oSenhor dirá.

5. Concluímos a nossa meditação doSalmo 145, com um ponto de reflexão,que nos é oferecido pela tradição cristã se-guinte.

Quando Orígenes, o grande escritor doséculo III, chegou ao versículo 7 desteSalmo, que diz: “O Senhor dá pão aos quetêm fome. O Senhor dá liberdade aoscativos”, viu nisto uma referência implí-cita à Eucaristia: “Temos fome de Cristo,e é Ele mesmo que nos dará o pão do céu: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”.Aqueles que falam assim, são os famintos;quem sente necessidade do pão, é o fa-minto”. E esta fome é plenamente saciadapelo Sacramento eucarístico, em que ohomem se nutre do Corpo e do Sangue deCristo (cf. Orígenes Jerónimo, 74 omeliesul libro dei Salmi, Milão 1993, pp. 526-527).

JOÃO PAULO II

2 de Julho de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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A ORAÇÃO NA TRIBULAÇÃOSalmo 142 (143)

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A VOZ DO PAPA

1. Acaba de ser proclamado o Salmo142, o último dos chamados “Salmos pe-nitenciais”, na série de sete súplicas distri-buídas no Saltério (cf. 6, 31, 37, 50, 101,129 e 142). A tradição cristã utilizou-ostodos para suplicar ao Senhor o perdãodos pecados. O texto que hoje queremosaprofundar era particularmente apreciadopor São Paulo, que nele reconheceu umapecaminosidade radical em cada criaturahumana: “Nenhum ser vivo é justo navossa presença (Senhor)” (v. 2). Esta fraseé vista pelo Apóstolo como a base do seuensinamento sobre o pecado e a graça (cf.Gl 2, 16; Rm 3, 20).

A Liturgia das Laudes propõe-nos estasúplica como um propósito de fidelidade epedido de socorro divino no despontar dodia. Com efeito, o Salmo faz-nos dizer aDeus: “Fazei-me sentir pela manhã a vos-sa bondade, porque em Vós confio” (v. 8).

2. O Salmo começa com uma intensa einsistente súplica dirigida a Deus, fiel àspromessas de salvação oferecidas ao povo(cf. v. 1). O orante reconhece que não temqualquer mérito para fazer valer e, portan-to, pede humildemente a Deus que não ojulgue (cf. v. 2).

Em seguida, ele fala sobre a situaçãodramática, semelhante a um pesadelo mor-tal, em que se está a debater: o inimigo,

que é a representação do mal da história edo mundo, levou-o até ao limiar da morte.Com efeito, eis que está prostrado no póda terra, que já é uma imagem do sepulcro;eis as trevas, que constituem uma negaçãoda luz, sinal divino de vida; eis, por fim,“os mortos de há muito tempo”, ou seja, osque já passaram (cf. v. 3), entre os quaisele parece ter sido relegado.

3. A própria existência do Salmista estáameaçada: já lhe falta a respiração e o seucoração parece um bloco de gelo, incapazde continuar a bater (cf. v. 4). O fiel, pros-trado por terra e espezinhado, só tem asmãos livres, que se elevam para o céu numgesto que é, ao mesmo tempo, de pedidode ajuda e de procura de socorro (cf. v. 6).Efectivamente, o seu pensamento corre aopassado, em que Deus realizou prodígios(cf. v. 5).

Esta centelha de esperança aquece ogelo do sofrimento e da provação, em queo orante se sente mergulhado, prestes adesfalecer (cf. v. 7). Em todo o caso, atensão é sempre forte; mas um raio de luzparece vislumbrar-se no horizonte. Assim,passamos à outra parte do Salmo (cf. vv.7-11).

4. Ela começa com uma nova e urgentesúplica. Sentindo que a vida quase lhe es-

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118 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

capa, o fiel lança o seu clamor a Deus: “Senhor, apressai-vos a responder-me,[porque] estou a ponto de desfalecer”(v. 7). Aliás, ele teme que Deus tenhaescondido o seu Rosto, afastando-se,abandonando-o e deixando sozinha asua criatura.

O desaparecimento do Rosto divinofaz com que o homem caia na desolação,aliás, na própria morte, porque o Senhor éa fonte da vida. É precisamente neste tipode fronteira extrema que floresce a con-fiança no Deus que não abandona. Oorante multiplica as suas invocações, sus-tentando-as com declarações de confiançano Senhor: “Porque em Vós confio...porque é para Vós que elevo a minhaalma... é em Vós que me refugio... porqueVós sois o meu Deus...”. Ele pede para sersalvo dos seus inimigos (cf. vv. 8-10) elibertado da angústia (cf. v. 11), mas fazcontinuamente um pedido, que manifestauma profunda aspiração espiritual: “Ensi-nai-me a cumprir a vossa vontade, porqueVós sois o meu Deus” (v. 10 a; cf. vv. 8 b e10 b). Temos o dever de fazer nosso estepedido admirável. Devemos compreenderque o nosso maior bem é a união da nossavontade à vontade do nosso Pai celestial,porque é somente assim que podemos re-ceber em nós todo o seu amor, que nos traza salvação e a plenitude da vida. Se não foracompanhada de um forte desejo de doci-lidade a Deus, a confiança nele não seráautêntica.

O orante está consciente disto e, porconseguinte, exprime este desejo. Então, asua é uma verdadeira e própria confissãode confiança em Deus salvador, que tira daangústia e volta a dar o gosto da vida, emnome da sua “justiça”, ou seja, da sua fi-delidade amorosa e salvífica (cf. v. 11).Partindo de uma situação mais angustiantedo que nunca, a oração chegou à esperan-

ça, à alegria e à luz, graças a uma adesãosincera a Deus e à sua vontade, que é umavontade de amor. Este é o poder da oração,geradora de vida e de salvação.5. Fixando o olhar na luz matutina dabondade (cf. v. 8), no seu comentário aossete Salmos penitenciais, São GregórioMagno descreve desta maneira aquelealvorecer de esperança e de júbilo: “É odia iluminado por aquele sol verdadeiro,que não conhece ocaso, que as nuvens nãotornam tenebroso e que a neblina não obs-curece... Quando aparecer Cristo, nossavida, e começarmos a ver Deus aberta-mente, então desaparecerá todo o vestígiodas trevas, esvaecendo-se toda a nuvem daignorância, dissipando-se toda a névoa datentação... Esse será o dia luminoso e ma-ravilhoso, preparado para todos os eleitospor Aquele que nos tirou do poder dastrevas e nos transferiu para o reino do seuFilho predilecto”.

“A manhã desse dia é a ressurreiçãofutura... Naquela manhã resplandecerá afelicidade dos justos, aparecerá a glória,ver-se-á a alegria, quando Deus enxugartodas as lágrimas dos olhos dos santos,quando por fim for destruída a morte,quando os justos brilharem como o sol noreino do Pai”.

“Naquela manhã, o Senhor fará expe-rimentar a sua misericórdia... dizendo: “Vinde, benditos de meu Pai” (Mt 25, 34).Então, tornar-se-á manifesta a misericór-dia de Deus que, na vida presente, a mentehumana não consegue conceber. Comefeito, para aqueles que O amam, o Senhorpreparou aquilo que os olhos não viram,nem o ouvido ouviu, nem entrou no cora-ção do homem” (PL 79, coll. 649-650).

JOÃO PAULO II

9 de Julho de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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A VOZ DO PAPA

CONSOLAÇÃO E ALEGRIANA CIDADE DE DEUS

Catequese sobre o Cântico de Isaías (66, 10-14)

JULHO – DEZEMBRO 2003 119

1. Foi tirado da última página do Livrode Isaías o hino que acabámos de escutar,um cântico de alegria dominado pela figu-ra maternal de Jerusalém (cf. 66, 11) e,além disso, pela solicitude amorosa dopróprio Deus (cf. v. 13). Os estudiosos daBíblia consideram que esta secção final,aberta a um futuro esplêndido e festivo,seja o testemunho de uma voz posterior, ade um profeta que celebra o renascimentode Israel depois do intervalo obscuro doexílio na Babilónia. Estamos, pois, no sé-culo VI a.C., dois séculos após a missão deIsaías, o grande profeta sob cujo nome seencontra toda a obra inspirada.

Agora, nós seguiremos o fluir jubilosodeste breve cântico, que começa com trêsimperativos que são precisamente um con-vite à felicidade: “alegrai-vos”, “exultai”e “regozijai-vos” (cf. v. 10). Trata-se deum fio luminoso que percorre frequente-mente as últimas páginas do Livro deIsaías: os aflitos de Sião são confortados,coroados e cobertos com o “óleo da ale-gria” (61, 3); o próprio profeta “com gran-de alegria rejubila no Senhor, e o seu cora-ção exulta no seu Deus” (61, 10); “assimcomo a esposa faz a felicidade do seu ma-rido, assim Deus vai alegrar-se” pelo seupovo (cf. 62, 5). Na página precedente àque agora é objecto do nosso cântico e danossa oração, é o próprio Senhor que par-ticipa na felicidade de Israel, que estáprestes a nascer como nação: “Antes se

gozará em alegria e felicidade eternanaquelas coisas que vou criar. Olhai, voucriar uma Jerusalém destinada à alegria, eo seu povo ao júbilo. E Jerusalém será aminha alegria, e o meu povo o meu júbilo” (65, 18-19).2. A fonte e a razão desta alegria interiorestão na reencontrada vitalidade de Je-rusalém, renascida das cinzas da ruína,que se tinha abatido sobre ela quando oexército babilónico a demoliu. Com efeio,fala-se do seu “luto” (66, 10), já deixadopara trás.

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120 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

Como acontece com frequência emvárias culturas, a cidade é representadacom imagens femininas, aliás, maternais.Quando uma cidade está em paz, é seme-lhante a um seio protegido e seguro; aliás,é como uma mãe que amamenta os seusfilhos com abundância e ternura (cf. 66,11). Nesta perspectiva, a realidade que aBíblia chama, com uma expressão femi-nina, “a filha de Sião”, ou seja, Jerusalém,volta a ser uma cidade-mãe que acolhe,nutre e alegra os seus filhos, isto é, os seushabitantes. Em seguida, sobre este cenáriode vida e de ternura desce a palavra doSenhor, que tem a tonalidade de umabênção (cf. 66, 12-14).3. Deus recorre a outras imagens ligadasà fecundidade: com efeito, fala de rios ede córregos, ou seja, de águas que simbo-lizam a vida, da exuberância da vegetação,da prosperidade da terra e dos seus habi-tantes (cf. 66, 12). A prosperidade de Je-rusalém, a sua “paz” (shalom), dádivagenerosa de Deus, assegurará aos seus fi-lhos uma existência rodeada de ternuramaternal: “Os seus filhinhos serão le-vados ao colo e acariciados sobre o seuregaço” (ibid.) e esta ternura maternal seráa ternura do próprio Deus: “Como umamãe consola o seu filho, assim Eu vosconsolarei” (66, 13).

Assim, o Senhor recorre à metáforamaternal para descrever o seu amor pelassuas criaturas.

Também antes, no Livro de Isaías, selê um trecho que atribui a Deus um perfilmaternal: “Acaso pode uma mãe esque-cer-se do menino que amamenta, não tercarinho pelo fruto das suas entranhas?Ainda que ela se esquecesse dele, Eununca te esqueceria” (49, 15). No nossocântico, as palavras do Senhor, dirigidas aJerusalém, terminam por retomar o temada vitalidade interior, expresso com

outra imagem de fertilidade e de ener-gia: a da relva fresca, imagem aplicada aosossos, para indicar o vigor do corpo e daexistência (cf. 66, 14).4. Nesta altura, diante da cidade-mãe, éfácil alargar o nosso olhar a ponto de con-templar o perfil da Igreja, virgem e mãefecunda. Terminemos a nossa meditaçãosobre a Jerusalém renascida, com uma re-flexão de Santo Ambrósio, tirada da suaobra As virgens: “A Santa Igreja, é ima-culada na sua união marital: fecundapelos seus partos, é virgem pela sua cas-tidade, mas mãe pelos filhos que gera.Por conseguinte, nós nascemos de umavirgem, que concebeu não por obra do ho-mem, mas por obra do Espírito. Portanto,nascemos de uma virgem, não entre asdores físicas, mas no meio do júbilo dosanjos. Somos alimentados por uma vir-gem, não com o leite do corpo, mas com oleite de que fala o Apóstolo, quando diz teramamentado, na idade frágil, o adoles-cente povo de Deus”.

“Que mulher desposada tem mais fi-lhos do que a Santa Igreja? Ela é virgempela santidade que recebe nos sacramen-tos e é mãe dos povos. A sua fecundidade éconfirmada também pelas Escrituras, quedizem: “São mais numerosos os filhosda desamparada, do que os da mulhercasada” (Is 54, 1; Gl 4, 27); a nossa mãenão tem marido, mas um esposo, porquetanto a Igreja nos povos como a alma nosindivíduos imunes a qualquer infideli-dade, fecundas na vida do espírito semque faltem ao pudor, desposam o Verbo deDeus como um esposo eterno” (I, 31:SAEMO 14/1, pp. 132-133).

JOÃO PAULO II

16 de Julho de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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A VOZ DO PAPA

O PODER E A BONDADE DO SENHORCatequese sobre o Salmo 146 (147)

JULHO – DEZEMBRO 2003 121

1. O Salmo que acabámos de cantar é aprimeira parte de uma composição que in-clui também o Salmo seguinte, 146 (147),e que o original hebraico conservou na suaunidade. Foram as antigas versões grega elatina que dividiram o cântico em dois Sal-mos diferentes.

O Salmo começa com umconvite a louvar a Deus e de-pois enumera uma longa sériede motivos de louvor, todos ex-pressos no presente. Trata-sede actividades de Deus, consi-deradas características e sem-pre actuais; mas são de génerosmuito diferentes: algumas refe-rem-se às intervenções de Deusna existência humana (cf. Sl 146, 3.6.11) esobretudo em favor de Jerusalém e deIsrael (cf. v. 2); outras referem-se aouniverso criado (cf. v. 4) e mais especial-mente à terra com a sua vegetação e comos animais (cf. vv. 8-9).

Por fim, dizendo de quem o Senhor seapraz, o Salmo convida-nos a ter umadúplice atitude: de temor religioso e deconfiança (cf. v. 11). Nós não estamosabandonados a nós mesmos ou às energiascósmicas, mas estamos sempre nas mãosdo Senhor, devido ao seu projecto de sal-vação.2. Depois do convite festivo ao louvor(cf. v. 1), o Salmo desenvolve-se em doismovimentos poéticos e espirituais. No

primeiro (cf. vv. 2-6) introduz-se antes demais a acção histórica de Deus, sob a ima-gem de um construtor que está a edificarnovamente Jerusalém, que recuperou a vida depois do exílio na Babilónia (cf. v.2). Mas este grande artífice, que é o Se-nhor, revela-se também como um pai que

se inclina sobre as feridas inte-riores e físicas, presentes noseu povo humilhado e oprimi-do (cf. v. 3).

Demos espaço a SantoAgostinho que, na Exortaçãodo Salmo 146, feita em Carta-gena em 412, comentava do se-guinte modo a frase: “O Se-nhor cura todos os que têm o

coração atribulado”: “Quem não tem o co-ração atribulado não é curado... Quem sãoaqueles de coração atribulado? Os humil-des. E os que não atribulam o coração? Ossoberbos. Contudo, o coração atribulado écurado, o coração repleto de orgulho éderrubado. Aliás, provavelmente, se éderrubado é precisamente para que, de-pois da atribulação, possa ser restabeleci-do, curado... “Ele cura os que têm o cora-ção atribulado, e cura as suas rupturas”...Por outras palavras, cura os humildes decoração, os que se confessam, que sepunem, que julgam com severidade parapoder experimentar a sua misericórdia.Eis quem cura. Mas a saúde perfeita seráalcançada no fim do presente estado

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122 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

mortal, quando o nosso ser corruptível forrevestido de incorruptibilidade e o nossoser mortal estiver revestido de imortali-dade” (5-8: Exposições sobre os Salmos,IV, Roma 1977, pp. 772-779).

3. Mas a obra de Deus não se manifestaapenas através da cura dos sofrimentos doseu povo. Ele, que circunda os pobres deternura e cuidados, eleva-se como juiz se-vero em relação aos soberbos (cf. v. 6). OSenhor da história não permanece indife-rente perante a fúria dos prepotentes, quese julgam os únicos árbitros das vicissitu-des humanas: Deus reduz ao pó da terratodos aqueles que desafiam o céu com asua soberba (cf. 1 Sm 2, 7-8; Lc 1, 51-53).

Mas a acção de Deus não se esgota noseu senhorio sobre a história; ele é tam-bém o rei da criação, todo o universo res-ponde à sua chamada de Criador. Ele nãosó pode contar a grande quantidade dasestrelas, mas é capaz também de chamarcada uma pelo nome, definindo, por con-seguinte, a sua natureza e as suas caracte-rísticas (cf. Sl 146, 4).

Já o profeta Isaías cantava: “Levantaios olhos ao céu e olhai: quem criou todosestes astros? Aquele que os conta e os fazmarchar como um exército, e a todoschama pelos seus nomes” (40, 26). Porconseguinte, os “exércitos” do Senhor sãoas estrelas. O profeta Baruc continuavaassim: “As estrelas brilham nos seuspostos e alegram-se. Ele chama-as e elasrespondem: “Aqui estamos”. E, jubilosas,dão luz ao seu Senhor” (3, 34-35).

4. Depois de um novo convite jubilosoao louvor (cf. Sl 146, 7), eis que se abreo segundo movimento do Salmo 146 (cf.vv. 7-11). Continua em primeiro planoainda a acção criadora de Deus na criação.Numa paisagem muitas vezes árida, como

a oriental, o primeiro sinal do amor divinoé a chuva que fecunda a terra (cf. v. 8).Neste seguimento, o Criador prepara umamesa para os animais. Aliás, ele preocu-pa-se em dar alimento também aos seresvivos mais pequeninos, como os filhinhosdos corvos que bradam devido à fome(cf. v. 9). Jesus convida-nos a olhar “paraas aves do céu: não semeiam, nem ceifam,nem recolhem em celeiros; e o vosso Paiceleste alimenta-as” (Mt 6, 26; cf. tambémLc 12, 24 com a referência explícita aos“corvos”).

Mas, uma vez mais, a atenção vai dacriação para a existência humana. E assimo Salmo conclui-se mostrando o Senhorque se inclina sobre quem é justo e hu-milde (cf Sl 146, 10-11), como já se tinhadeclarado na primeira parte do hino (cf.v. 6). Através de dois símbolos de poder, ocavalo e as pernas do homem quandocorre, delineia-se a atitude divina que nãose deixa conquistar ou atemorizar pelaforça. Mais uma vez, a lógica do Senhorignora o orgulho e a arrogância do poder,mas defende quem é fiel e “espera na suagraça” (v. 11), ou seja, deixa-se orientarpor Deus no seu agir e no seu pensar, nosseus projectos e na própria vivênciaquotidiana.

É entre eles que se deve colocar tam-bém quem reza, baseando a sua esperançana graça do Senhor, com a certeza de serenvolvido pelo manto do amor divino: “OSenhor é quem vigia sobre os Seus fiéis,sobre aqueles que esperam na sua bon-dade, libertando-os da morte e fazendo-osviver no tempo da fome... n’Ele se alegra onosso coração e em Seu santo nome con-fiamos” (Sl 32, 18-19.21).

JOÃO PAULO II

23 de Julho de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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A VOZ DO PAPA

TENDE PIEDADE DE MIM, SENHORCatequese sobre o Salmo 50 (51)

JULHO – DEZEMBRO 2003 123

1. É a quarta vez que ouvimos, duranteestas nossas reflexões sobre a Liturgia dasLaudes, a proclamação do Salmo 50, o cé-lebre Miserere. De facto, ele é proposto denovo na sexta-feira de cada semana, paraque se torne um oásis de meditação, ondedescobrir o mal que se esconde na cons-ciência e invocar do Senhor a purificaçãoe o perdão. Com efeito, como confessa oSalmista noutra súplica, “nenhum servivo é justo na vossa presença”, Senhor(Sl 142, 2). No Livro de Joblê-se: “Como, pois, podejustificar-se o homem diantede Deus? Como será puro ohomem nascido da mulher?Até a própria luz não brilha eas estrelas não são puras aosSeus olhos! Quanto menos ohomem, simples verme, e ofilho do homem, mero verme-zinho!” (25, 4-6).

Estas são frases fortes e dramáticas,que querem mostrar em toda a seriedade egravidade o limite e a fragilidade da cria-tura humana, a sua capacidade perversa desemear o mal e a violência, a impureza e amentira. Contudo, a mensagem de espe-rança do Miserere, que o Saltério colocanos lábios de David, pecador convertido, éesta: Deus pode “apagar, lavar, purificar”a culpa confessada com o coração contrito(cf. Sl 50, 2-3). Diz o Senhor através davoz de Isaías: “Mesmo que os vossos

pecados fossem como escarlate, tornar--se-iam brancos como a neve” (1, 18).2. Deter-nos-emos desta vez brevementeno fim do Salmo 50, um fim cheio de espe-rança porque o orante é consciente de tersido perdoado por Deus (cf. vv. 17-21).Agora, os seus lábios preparam-se paraproclamar ao mundo o louvor ao Senhor,confirmando desta forma a alegria que ex-perimenta a alma purificada do mal e, porisso, libertada dos remorsos (cf. v. 17).

O orante testemunha demodo claro outra convicção,relacionando-se com o ensina-mento reiterado pelos profetas(cf. Is 1, 10-17; Am 5, 21-25; Os6, 6): o sacrifício mais agradávelque se eleva ao Senhor comoperfume e fragrância agradável(cf. Gn 8, 21) não é o holocaustode touros ou de cordeiros masantes, o “coração quebrantado e

humilhado” (Sl 50, 19).A Imitação de Cristo, texto tão que-

rido à tradição espiritual cristã, repete amesma admoestação do Salmista: “Ahumilde contrição dos pecados é um sa-crifício que te é agradável, um perfumemuito mais suave do que o fumo do in-censo... Ali purifica-se e lava-se qualqueriniquidade” (III, 52, 4).

3. O Salmo conclui-se de maneira ines-perada, com uma perspectiva completa-

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124 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

mente diferente, que até parece contradi-tória (cf. vv. 20-21). Da última súplica deum só pecador passa-se a uma oração pelareconstrução de toda a cidade de Jerusa-lém, o que nos leva da época de David à dadestruição da cidade, alguns séculos maistarde. Por outro lado, depois de ter ex-presso no versículo 18 a recusa divina dasimolações de animais, o Salmo anuncia nov. 21 que estas mesmas imolações serãoagradáveis a Deus.

É evidente que esta passagem final éum acréscimo posterior, feito no tempo doexílio, que quer, num certo sentido, cor-rigir ou pelo menos completar a pers-pectiva do Salmo de David. E isto, sobdois aspectos: por um lado, não se quisque todo o Salmo se limitasse a umaoração individual; era necessário pensartambém na situação piedosa de toda acidade. Por outro lado, quis-se reduzir arecusa divina dos sacrifícios rituais; estarecusa não podia ser completa nem defi-nitiva, porque se tratava de um culto pres-crito pelo próprio Deus na Tora. Quemcompletou o Salmo teve uma intuiçãoválida: compreendeu a necessidade emque se encontravam os pecadores, a neces-sidade de uma mediação sacrifical. Os pe-cadores não são capazes de se purificaremsozinhos; não bastam bons sentimentos. Épreciso uma mediação externa eficaz. ONovo Testamento revelará o sentido plenodesta intuição, mostrando que, com aoferta da sua vida, Cristo realizou umamediação sacrifical perfeita.

4. Nas suas Homilias sobre Ezequiel,São Gregório Magno compreendeu bem adiferença de perspectiva que existe entreos versículos 19 e 21 do Miserere. Elepropõe uma interpretação da mesma, quepodemos acolher também, concluindo

assim a nossa reflexão. São Gregórioaplica o versículo 19, que fala de espíritocontrito, à existência terrena da Igreja e oversículo 21, que fala de holocausto, àIgreja no céu.

Eis as palavras daquele grandePontífice: ”A santa Igreja tem duas vidas:uma que conduz no tempo, outra que re-cebe eternamente; uma com a qual fadigana terra, outra que é recompensada no céu;uma com a qual reúne os méritos, outraque já goza dos méritos recolhidos. Etanto numa como noutra vida oferece osacrifício: aqui o sacrifício da contrição elá no céu o sacrifício do louvor. Está es-crito acerca do primeiro sacrifício: “Omeu sacrifício, Senhor, será o meu espíritocontrito” (Sl 50, 19); acerca do segundoestá escrito: “Então agradecereis asofertas puras, sacrifícios e holocaustos”(Sl 50, 21) ... Os dois oferecem a carne,porque aqui a oblação da carne é a mortifi-cação do corpo, no céu a oblação da carneé a glória da ressurreição no louvor aDeus.

No céu oferecer-se-á a carne como queem holocausto quando, transformada naincorruptibilidade eterna, não haverá maisconflito algum e nada será mortal, porqueperdurará totalmente acesa de amor porele, no louvor sem fim” (Homilias sobreEzequiel / 2, Roma 1993, pág. 271).

JOÃO PAULO II

30 de Julho de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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ACÇÃO DE GRAÇASPELA LIBERTAÇÃO DO POVO

Catequese sobre o Cântico de Tobite (Tob 13, 10-15.17-19)

A VOZ DO PAPA

JULHO – DEZEMBRO 2003 125

1. A Liturgia das Laudes inclui entre osseus Cânticos o fragmento de um hino,colocado como selo da história narradapelo Livro bíblico de Tobias: escutámo-lohá pouco. O hino, bastante amplo e solene,é uma expressão típica da oração e da es-piritualidade judaica, que se inspira nou-tros textos já presentes na Bíblia.

O Cântico desenvolve-se através deuma dupla invocação. Sobressai em pri-meiro lugar um convite reiterado a louvarDeus (cf. vv. 3.4.7) pela purificação queele está a realizar com o exílio. Os “filhosde Israel” são exortados a aceitar esta pu-rificação com uma conversão sincera (cf.vv. 6.8). Se a conversão florescer nos co-rações, o Senhor fará surgir no horizonte oalvorecer da libertação. É precisamenteneste clima espiritual que se situa o iníciodo Cântico que a Liturgia tirou do hinomais amplo do capítulo 13 de Tobias.

2. A segunda parte do texto, entoada peloidoso Tobite, protagonista de todo o Livrocom o filho Tobias, é uma verdadeira eprópria celebração de Sião. Ela reflecte anostalgia apaixonada e o amor ardente queo hebreu da Diáspora sente em relação àcidade santa (cf. vv. 9-18). Este aspectobrilha no âmbito do trecho que foi esco-lhido como oração matutina da Liturgiadas Laudes. Detenhamo-nos nestes temas,

ou seja, na purificação do pecado atravésda prova e da expectativa do encontro como Senhor, à luz de Sião e do seu templosanto.

3. Tobite dirige um apelo caloroso aospecadores para que se convertam e prati-quem a justiça: este é o caminho que sedeve empreender para reencontrar o amordivino que dá serenidade e esperança(cf. v. 8).

A própria história de Jerusalém é umaparábola que ensina a todos que opção fa-zer. Deus castigou a cidade porque nãopodia permanecer indiferente perante o

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126 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

mal perpetrado pelos seus filhos. Masagora, vendo que muitos se converteram ese transformaram em filhos justos e fiéis,ele manifestará de novo o seu amor mise-ricordioso (cf. v. 10).

Ao longo de todo o Cântico do capí-tulo 13 de Tobias repete-se com frequên-cia esta convicção: o Senhor “castiga ecompadece-Se... castiga por causa dasnossas iniquidades, mas, a seguir, compa-dece-Se de nós ... Ele castigou-te porcausa das tuas obras ... os filhos dos justosserão congregados e louvarão o Senhor”(vv. 2.5.11.15). Deus recorre ao castigo eoutras admoestações como meio paracongregar na recta via os pecadores sur-dos. A última palavra do Deus justo é,contudo, a do amor e do perdão; o seudesejo profundo é poder abraçar de novoos filhos rebeldes que voltam para Elecom o coração arrependido.

4. Em relação ao povo eleito, a miseri-córdia divina manifestar-se-á com a re-construção do Templo de Jerusalém, re-alizada pelo próprio Deus: “Porque o teutabernáculo será reconstruído com júbilo”(v. 11). Desta forma, começa o segundotema, o de Sião, como lugar espiritual parao qual deve convergir não só a volta doshebreus mas também a peregrinação dospovos que procuram Deus. Desta forma,abre-se um horizonte universalista: re-construído, o templo de Jerusalém, sinalda palavra e da presença divina, resplan-decerá com uma luz planetária que abriráas trevas, para que possam pôr-se a ca-minho “numerosos povos, até às extre-midades da terra” (cf. v. 13), trazendooferendas e cantando a sua alegria porparticipar na salvação que o Senhor con-cede a Israel.

Por conseguinte, os Israelitas e todosos povos estão a caminho juntos, rumo a

uma única meta de fé e de verdade. O can-tor deste hino faz descer sobre eles umabem-aventurança repetida, dizendo a Jeru-salém: “Ditosos aqueles que te amam, editosos os que se alegram pela tua prospe-ridade!” (v. 16). A felicidade é autênticaquando se encontra a luz que resplandeceno céu de todos os que procuram o Senhorcom o coração purificado e com o anseioda verdade.

5. É a esta Jerusalém, livre e gloriosa,sinal da Igreja na meta derradeira da suaesperança, prefigurada pela Páscoa deCristo, que Santo Agostinho se dirige comfervor no Livro das Confissões.

Referindo-se à oração que ele desejarealizar no seu “quarto secreto”, descre-ve-nos aquelas “canções de amor entre osgemidos, os inarráveis gemidos que du-rante a minha peregrinação suscita a re-cordação no coração orientado para o altoem direcção a ela, Jerusalém a minhapátria, Jerusalém a minha mãe, e para Ti, oseu soberano, o seu iluminador, o seu pai,tutor e esposo, as suas castas e grandesdelícias, a sua sólida alegria e todos osseus bens inefáveis”. E conclui com umapromessa: “Não me afastarei de ti, en-quanto na paz daquela mãe caríssima,onde se encontram as primícias do meuespírito, de onde me vêm estas certezas,Tu não tiveres reunido tudo o que eu sou apartir desta dispersão desvirtuada, parao conformar definitivamente na eterni-dade, ó meu Deus, minha misericórdia”(Confissões, 12, 16, 23, Roma 1965,págs. 424-425).

JOÃO PAULO II

13 de Agosto de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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A VOZ DO PAPA

A JERUSALÉM RECONSTRUÍDACatequese sobre o Salmo 147

JULHO – DEZEMBRO 2003 127

1. O Salmo que agora foi proposto ànossa meditação constitui a segunda partedo precedente Salmo 146. As antigas tra-duções grega e latina, seguidas pelaLiturgia, consideraram-no, ao contrário,como um cântico separado, porque o seucomeço se distingue totalmente da parteanterior. Este começo tornou-se célebretambém porque com frequência é usadona música latina: Lauda, Jerusalem, Do-minum. Estas palavras iniciais constitu-em o típico convite dos hinos sálmicos para celebrar e louvar o Senhor: agoraJerusalém, personificação do povo, é in-terpelada para que exalte eglorifique o seu Deus (cf. 147,12).

Imediatamente se mencionao motivo pelo qual a comuni-dade orante deve elevar ao Se-nhor o seu louvor. Este é deíndole histórica: foi Ele, o Li-bertador de Israel do exílio naBabilónia, que deu segurançaao seu povo, fortificando “osferrolhos das portas” da cidade (cf. v. 13).

Quando Jerusalém tinha sucumbiu aoassalto do exército do rei Nabucodonosor,em 586 a.C., o livro das Lamentaçõesapresentou o próprio Senhor como juiz dopecado de Israel, enquanto demolia “osmuros da filha de Sião... Jazem sob osescombros as suas portas; quebrou-as,partindo as trancas” (Lm 2, 8.9). Agora, ao

contrário, o Senhor volta a ser o construtorda cidade santa; no templo reconstruídoEle abençoa de novo os seus filhos. Destaforma, é mencionada a obra realizada porNeemias (cf. Ne 3, 1-38), que tinha resta-belecido os muros de Jerusalém, para quevoltasse a ser um oásis de serenidade e depaz.2. A paz, salum, de facto é imediata-mente evocada, também porque está con-tida de modo simbólico no próprio nomeJerusalém. Já o profeta Isaías prometia àcidade: “porei por teu governador a paz,por teu magistrado a justiça” (60, 17).

Mas, além de fazer recons-truir os muros da cidade, de aabençoar e de a pacificar nasegurança, Deus oferece a Is-rael outros dons fundamentais:é o que se descreve no fim doSalmo. De facto, ali sãorecordados os dons da Revela-ção, da Lei e das prescriçõesdivinas: “Ele revela os Seusplanos a Jacob, os Seus precei-

tos e leis a Israel” (Sl 147, 19).Celebra-se, assim, a eleição de Israel e

a sua missão única entre os povos: procla-mar ao mundo a Palavra de Deus. É umamissão profética e sacerdotal, porque“qual é o grande povo, que possui manda-mentos e preceitos tão justos como estaLei que hoje vos apresento?” (Dt 4, 8).Através de Israel e, por conseguinte,

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128 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

também através da comunidade cristã, ouseja, da Igreja, a Palavra de Deus pode res-soar no mundo e tornar-se norma e luz devida para todos os povos (cf. Sl 147, 20).

3. Até agora descrevemos a primeirarazão do louvor que devemos elevar aoSenhor: é uma motivação histórica, isto é,relacionada com a acção libertadora ereveladora a respeito do seu povo.

Mas existe outra fonte de exultação ede louvor: ela é de índole cósmica, ou seja,relacionada com a acção criadora de Deus.A Palavra divina irrompe para dar vida aoser. Semelhante a um mensageiro, ela cor-re pelos espaços imensos da terra(cf. Sl 147, 15). E imediatamente se dá umflorescimento de maravilhas.

Eis que chega o Inverno que é descritonos seus fenómenos atmosféricos comuma tonalidade poética: a neve é seme-lhante à lã devido ao seu candor, a geadacom os seus pingos subtis é como a poeirado deserto (cf. v. 16), o granizo asseme-lha-se às migalhas de pão que caem nochão, o gelo coalha a terra e impede a ve-getação (cf. v. 17). É um quadro invernalque convida a descobrir as maravilhas dacriação e que será retomado numa páginamuito pitoresca também por um livro bí-blico, o de Sirácide (cf. 43, 18-20).

4. Mas eis que, sempre pela acção daPalavra divina, volta a Primavera: o geloderrete-se, o vento quente sopra e faz fluira água (cf. Sl 147, 18), repetindo assim ociclo perene e, por conseguinte, a própriapossibilidade de vida para homens emulheres.

Naturalmente não faltaram leiturasmetafóricas destes dons divinos. O “grãode mostarda” fez pensar no grande dom dopão eucarístico. Aliás, o importante escri-tor cristão do terceiro século, Orígenes,

identificou aquela mostarda como o sinaldo próprio Cristo e, em particular, daSagrada Escritura.

Eis o seu comentário: “Nosso Senhoré o grão de mostarda que cai na terra, e quese multiplica para nós. Mas este grão demostarda é superlativamente abundante...A palavra de Deus é superlativamenteabundante, contém em si todas as delícias.Tudo o que desejas, provém da Palavra deDeus, da mesma forma que os Judeusnarram: quando comiam o maná, ele, nasua boca, adquiria o gosto daquilo quecada um desejava... Assim, também nacarne de Cristo, que é a palavra do ensina-mento, ou seja, a compreensão das Sagra-das Escrituras, quanto maior for o desejoque dela tivermos, tanto maior será o ali-mento que dela receberemos. Se és santo,encontras refrigério; se és pecador, en-contras o tormento” (Orígenes Jerónimo,74 homilias sobre o livro dos Salmos, Mi-lão 1993, págs. 543-544).

5. Por conseguinte, o Senhor age com asua Palavra não só na criação, mas tam-bém na história. Ele revela-se com umalinguagem muda (cf. Sl 18, 2-7), masexprime-se de modo explícito através daBíblia e da sua comunicação pessoal nosprofetas e em plenitude no Filho (cf. Hb 1,1-2). São dois dons diferentes, mas con-vergentes, do seu amor.

Por isso, o nosso louvor deve elevar-seao céu todos os dias. É a nossa acção degraças, que floresce no alvorecer na ora-ção das Laudes para bendizer o Senhor davida e da liberdade, da existência e da fé,da criação e da redenção.

JOÃO PAULO II

20 de Agosto de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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1. O cântico que acaba de nos ser pro-posto é o cântico de um homem fiel aDeus. Trata-se do Salmo 91 que, comosugere o título da composição, era usadopela tradição judaica “para o dia do sá-bado” (v. 1). O hino abre com um amploapelo a celebrar e a louvar o Senhor com ocanto e a música (cfr. vv. 2-4). É um movi-mento de oração que parece nunca ser in-terrompido, porque o amor divino deve serexaltado de manhã, quando se começa odia, mas deve ser também proclamadodurante o dia e no decurso das horasnocturnas (cfr. v. 3). Até a referência aosinstrumentos musicais, que o salmista fazno convite da introdução, levou SantoAgostinho a esta meditação no interior dasua Exposição sobre o Salmo 91: “Quesignifica, irmãos, aclamar com o salté-rio”? O saltério é um instrumento musicaldotado de cordas. O nosso saltério é onosso trabalho. Todo aquele que, com asmãos, realiza obras boas, aclama a Deuscom o saltério. Todo aquele que proclamaDeus com a boca, canta a Deus. Cantacom a boca! Salmodia com as obras!...Mas, então, quem são aqueles que can-tam? Aqueles que realizam o bem comalegria. O canto, de facto, é sinal de ale-gria. Que diz o Apóstolo? “Deus ama oque dá com alegria (2 Cor 9, 7). Qualquercoisa que tu faças, fá-la com alegria.Então, faz o bem e fá-lo bem. Se, ao con-trário, trabalhas com tristeza, mesmo quepor teu intermédio se faça o bem, não és tu

a fazê-lo: diriges o saltério, não cantas”.(Esposizioni sui Salmi, III, Roma,1976,pp. 192-195).2. Através das palavras de Santo Agosti-nho podemos entrar no coração da nossareflexão e enfrentar o tema fundamentaldo Salmo: o do bem e do mal. Um e outrosão avaliados por Deus justo e santo, “oeternamente excelso”(v.9), Aquele que éeterno e infinito, a que não foge nenhumadas acções do homem.

Confrontam-se, assim, de modo reno-vado, dois comportamentos opostos. Aconduta do fiel é dedicada a celebrar as

LOUVOR AO SENHOR CRIADORCatequese sobre o Salmo 91 (92)

JULHO – DEZEMBRO 2003 129

A VOZ DO PAPA

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obras divinas, a penetrar na profundidadedos pensamentos do Senhor e, por estecaminho, a sua vida irradia luz e alegria(cfr. vv. 5-6). Pelo contrário, o homem per-verso é descrito na sua insensatez, incapazcomo é de compreender o secreto sentidodas vicissitudes humanas. A sorte momen-tânea torna-o arrogante, mas na realidade,ele é intimamente frágil e está votado, de-pois de um sucesso efémero, à queda e àruína (cfr. vv. 7-8). O Salmista, seguindoum modelo interpretativo caro ao AntigoTestamento, o da retribuição, está conven-cido de que Deus recompensará os justosjá neste mundo, dando-lhes uma velhicefeliz (cfr. v. 15) e depressa castigará osmaus.

Na realidade, como afirmará Job e Je-sus ensinará, a história não é interpretáveltão linearmente. A visão do salmista tor-na-se, por isso, uma súplica ao Deus justoe “excelso” (cfr. v. 9), para que entre nasérie dos acontecimentos humanos para osjulgar, fazendo resplandecer o bem.3. O contraste entre o justo e o ímpio é,depois, retomado pelo orante. Por umlado, eis os “inimigos” do Senhor, os“malfeitores”, mais uma vez votados àdispersão e à derrota. (cfr. v. 10). Por ou-tro, os fiéis aparecem em todo o seu es-plendor, incarnados pelo Salmista que se descreve a si mesmo com imagens pi-torescas, extraídas da simbologia oriental.

O justo tem a força irresistível de umbúfalo e está pronto para desafiar qualqueradversidade; a sua fronte gloriosa estáconsagrada com o óleo da protecção di-vina, que se torna semelhante a um es-cudo, que defende o eleito tornando-oseguro (cfr. v. 11). Do alto do seu poder eda sua segurança, o orante vê os iníquos aprecipitarem-se no abismo da sua ruína(cfr. v. 12).

O Salmo 91 inspira, pois, felicidade,confiança e optimismo: dons que deve-

mos pedir a Deus também no nosso tempo,em que se insinua facilmente a tentação dadesconfiança e até do desespero.4. O nosso hino, na esteira da profundaserenidade que o invade, lança no finalum olhar sobre os dias da velhice dosjustos e prevê-os igualmente serenos.Mesmo quando estes dias chegarem, o es-pírito do orante estará ainda vivaz, alegree operoso (cfr. v. 15). Ele sente-se seme-lhante às palmeiras e aos cedros, que estãoplantados nos átrios do templo de Sião(cfr. vv. 13-14).

As raízes do justo fundamentam-se nopróprio Deus de quem recebe a linfa dagraça divina. A vida do Senhor alimenta-oe transforma-o, tornando-o florido e vi-çoso, isto é, em posição de dar aos outros ede testemunhar a própria fé. As últimaspalavras do Salmista, nesta descrição deuma existência justa e operosa e de umavelhice intensa e activa, estão, de facto,ligadas ao anúncio da perene fidelidade doSenhor (cfr. v. 16). Poderemos, por isso,concluir agora com a proclamação docanto que sobe ao Deus glorioso no últimoLivro da Bíblia, o Apocalipse: um livrode luta terrível entre o bem e o mal, mastambém de esperança na vitória final deCristo: “grandes e maravilhosas são asvossas obras, Senhor Deus, Todo-Pode-roso! Justos e verdadeiros são os vossoscaminhos, ó Rei das nações... Porque sóVós sois santo e todas as nações virãoprostrar-se diante de Vós, pois os vossosjuízos foram manifestados. Justo sois Vós,Senhor, que sois e que éreis, e sois Santo,por assim teres feito justiça. Sim, Senhor,Deus Todo-Poderoso, os vossos juízos sãoverdadeiros e justos” (15, 3-4; 16, 5. 7).

JOÃO PAULO II

3 de Setembro de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

130 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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1. O Cântico que agora ressoou aosnossos ouvidos, foi composto por um dosgrandes profetas de Israel. Trata-se deEzequiel, testemunha de uma das épocasmais trágicas que o povo hebraico viveu: aépoca da queda do reino de Judá e da suacapital, Jerusalém, a que se seguiu aamarga vicissitude do exílio na Babilónia(VI século a.C.). É tirado do capítulo 36de Ezequiel o trecho que passou a fazerparte da oração cristã das Laudes.

O contexto desta página,transformada pela liturgia emhino, quer captar o sentido pro-fundo da tragédia vivida pelopovo naqueles anos. O pecadode idolatria tinha contaminadoa terra dada em herança peloSenhor a Israel. Ele, mais doque outras causas, é responsá-vel definitivamente pela perdada pátria e da dispersão entreas nações. De facto, Deus não permaneceindiferente face ao bem e ao mal; ele entramisteriosamente em acção na história dahumanidade com o seu julgamento que,mais cedo ou mais tarde, há-de desmasca-rar o mal, defender as vítimas e indicar ocaminho da justiça.

2. Mas a meta da acção de Deus nunca éa ruína, a condenação pura e simples, aaniquilação do pecador. É o mesmo pro-

feta Ezequiel que refere estas palavras di-vinas: “Porventura comprazer-Me-ei coma morte do pecador... e não com o facto deele se converter e viver?... Pois Eu não Mecomprazo com a morte de quem quer queseja... Convertei-vos e vivei” (18, 23.32).Nesta perspectiva consegue-se compreen-der o significado do nosso Cântico, re-pleto de esperança e de salvação. Depoisda purificação mediante a prova e o sofri-mento, está prestes a surgir o alvorecer de

uma nova era, que já o profetaJeremias tinha anunciado quan-do falou de uma “nova aliança”entre o Senhor e Israel (cf. 31,31-34). O próprio Ezequiel, nocapítulo onze do seu livro profé-tico, tinha proclamado estaspalavras divinas: “Dar-lhes-eium coração novo e infundirei noseu íntimo um espírito novo.Arrancarei da sua carne o cora-

ção de pedra e dar-lhes-ei um coração decarne, para que caminhem segundo osmeus preceitos e observem as minhas leise as cumpram. Eles serão o meu povo e Euserei o seu Deus” (11, 19-20).

No nosso Cântico (cf. Ez 36, 24-28) oprofeta retoma este oráculo e completa-ocom um esclarecimento maravilhoso: o“espírito novo” dado por Deus aos filhosdo seu povo será o seu Espírito, o Espíritodo próprio Deus (cf. v. 27).

DEUS RENOVARÁ O SEU POVOCatequese sobre o Cântico de Ezequiel

JULHO – DEZEMBRO 2003 131

A VOZ DO PAPA

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3. Por conseguinte, é anunciada não sóuma purificação, expressa através do sinalda água que lava as impurezas da cons-ciência. Não se tem apenas o aspecto,mesmo se é necessário, da libertação domal e do pecado (cf. v. 25). A mensagemde Ezequiel realça sobretudo outro as-pecto muito mais surpreendente. De facto,a humanidade está destinada a nascer parauma nova existência. O primeiro símboloé o do “coração” que, na linguagem bí-blica remete para a interioridade, para aconsciência pessoal. Ao nosso peitoserá arrancado o “coração de pedra”,gelado e insensível, sinal da obstinaçãono mal. Nele Deus inserirá um “coraçãode carne”, ou seja, uma fonte de vida ede amor (cf. v. 26). O espírito vital, que nacriação nos tinha tornado criaturas vivas(cf. Gn 2, 7) será substituído pela novaeconomia de graça do Espírito Santo quenos ampara, nos move, nos guia para a luzda verdade e derrama “o amor de Deus nosnossos corações” (Rm 5, 5).

4. Assim, surgirá aquela “nova criação”que será descrita por São Paulo (cf. 2 Cor5, 17; Gl 6, 15), quando afirmará a morteem nós do “homem velho”, do “corpo dopecado”, porque “já não somos escravosdo pecado” mas criaturas novas, transfor-madas pelo Espírito de Cristo ressusci-tado: “Despistes-vos do homem velhocom as suas obras e revestistes-vos donovo, que não cessa de se renovar à ima-gem d’Aquele que o criou” (Col 3, 9-10;cf. Rm 6, 6). O profeta Ezequiel anunciaum novo povo, que o Novo Testamentoverá convocado pelo próprio Deus atravésda obra do seu Filho. Esta comunidadecom o “coração de carne” e com o “espí-rito” infundido conhecerá uma presençaviva e operante do próprio Deus, queanimará os crentes agindo neles com a sua

graça eficaz. “Aquele que observa osSeus mandamentos dirá São João perma-nece em Deus e Deus nele. E nisto conhe-cemos que Ele permanece em nós pelo Es-pírito que nos deu” (1 Jo 3, 24).

5. Concluímos a nossa meditação sobreo Cântico de Ezequiel ouvindo São Cirilode Jerusalém que, na sua Terceira cate-quese baptismal, entrevê na página profé-tica o povo do baptismo cristão.

Com o baptismo recorda são perdoa-dos todos os pecados, até as transgressõesmais graves. Por isso, o Bispo se dirigeaos seus ouvintes: “Tem confiança, Jeru-salém, o Senhor eliminará as tuas iniqui-dades” (cf. Sof 3, 14-15). O Senhor lavaráas vossas iniquidades...: “derramará so-bre vós água pura e sereis purificados detodas as manchas e pecados” (Ez 36, 25).Os anjos fazem-vos coroa, exultantes, edepressa cantarão: “Quem é esta, quesobe o deserto, apoiada no seu amado?”(Ct 8, 5). Ela, de facto, é a alma, outroraescrava e agora livre de chamar ao seuSenhor irmão adoptivo, que acolhendo oseu propósito sincero lhe diz: “Oh, comoés formosa, minha amada, como és for-mosa!” (Ct 4, 1)... Assim exclama elealudindo aos frutos de uma confissão feitacom uma consciência recta... Queira Deusque todos... mantenhais viva a recordaçãodestas palavras e delas tireis benefíciostranspondo-as em obras santas para vosapresentardes irrepreensíveis ao Esposomístico e para obterdes do Pai o perdãodos pecados” (n. 16: As catequeses, Roma1993, pág. 79-80).

JOÃO PAULO II

10 de Setembro de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

132 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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1. Meditando o Salmo 8, um admirávelhino de louvor, encaminhamo-nos para aconclusão do nosso longo itinerário noâmbito dos Salmos e dos Cânticos queconstituem a alma orante da Liturgia dasLaudes. Durante estas catequeses, a nossareflexão deteve-se sobre 84 orações bí-blicas, das quais procurámos realçar so-bretudo a intensidade espiritual, mesmosem descurar a beleza poética.

De facto, a Bíblia convida-nos a abriro caminho do nosso dia com um cânticoque não proclame apenas as maravilhasrealizadas por Deus e a nossa resposta defé, mas que também as celebre “com arte”(cf. Sl 46, 8), isto é, de maneira bonita, lu-minosa, suave e, ao mesmo tempo, forte.

Maravilhoso entre todos é o Salmo 8,no qual o homem, inserido num quadronocturno, quando na imensidão do céucomeçam a brilhar a lua e as estrelas (cf.v. 4), sente-se como um grão de areia noinfinito e no espaço ilimitado que estãoacima dele.

2. Com efeito, no centro do Salmo 8emerge uma dupla experiência. Por umlado, a pessoa humana sente-se quase es-magada pela grandeza da criação, “obrados dedos” divinos. Esta curiosa expres-são substitui a “obra das mãos” de Deus(cf. v. 7), quase para indicar que o Criadortraçou um desenho ou um bordado com os

astros maravilhosos, lançados na grandezado cosmos.

Mas por outro lado, Deus inclina-sesobre o homem e coroa-o como o seuvice-rei: “De glória e de honra o coro-astes” (v. 6). Melhor, a esta criatura tãofrágil confia todo o universo, para que oconheça e dele tire o sustento de vida(cf. vv. 7-9).

A GRANDEZA DO SENHEORE A DIGNIDADE DO HOMEM

Catequese sobre o Salmo 8

JULHO – DEZEMBRO 2003 133

A VOZ DO PAPA

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O horizonte da soberania do homemsobre as outras criaturas é especificadocomo que a recordar a página de aberturado Génesis: rebanhos, gado, animais docampo, aves do céu e peixes do mar sãoconfiados ao homem para que, impon-do-lhes um nome (cf. Gn 2, 19-20), descu-bra a sua profunda realidade, a respeite e atransforme com o trabalho e a destinepara fonte de beleza e de vida. O Salmotorna-nos conscientes da nossa grandeza,mas também da nossa responsabilidadeem relação à criação (cf. Sb 9, 3).

3. Lendo de novo o Salmo 8, o autor daCarta aos Hebreus descobriu nele umacompreensão mais profunda do desígniode Deus em relação ao homem. A vocaçãodo homem não pode ser limitada ao actualmundo terreno; se o Salmista afirma queDeus pôs tudo sob o domínio do homem,significa que deseja que ele submetatambém “o mundo futuro” (Hb 2, 5), “umreino inabalável” (12, 28). Numa palavra,a vocação do homem é uma “vocaçãoceleste” (3, 1). Deus quer “conduzir àglória” celeste “uma multidão de filhos”(2, 10). Para que este projecto divino serealizasse, era necessário que a vida fossetraçada por um “pioneiro” (cf. ibid.), noqual a vocação do homem encontrasse oseu primeiro cumprimento perfeito. Estepioneiro é Cristo.

O autor da Carta aos Hebreus obser-vou a respeito disto que as expressões doSalmo se aplicam a Cristo de maneira pri-vilegiada, ou seja, mais pormenorizada doque para os outros homens. De facto, oSalmista usa o verbo “inferiorizar”, di-zendo a Deus: “fizeste-o por um pouco detempo inferior aos anjos, coroaste-o deglória e de honra” (cf. Sl 8, 6; Hb 2, 6).Para os homens comuns, este verbo não éapropriado; não foram “inferiorizados”

em relação aos anjos, dado que nuncaforam superiores a eles. Mas para Cristo, overbo é exacto, porque, sendo Filho deDeus, ele era superior aos anjos e foi dimi-nuído quando se fez homem, sendo depoiscoroado de glória com a sua ressurreição.Assim Cristo cumpriu plenamente a voca-ção do homem e cumpriu-a, explica oautor, “em benefício de todos” (Hb 2, 9).

4. A esta luz, Santo Agostinho comenta oSalmo e aplica-o a nós. Ele parte da frasena qual se delineia a “coroação” dohomem: “De glória e de honra o coroas-tes” (v. 6). Contudo, naquela glória ele vêo prémio que o Senhor nos dá quandosuperarmos a prova da tentação.

Eis as palavras do grande Padre daIgreja na sua Exposição do Evangelhosegundo Lucas: “O Senhor coroou o seudilecto também de glória e de magnificên-cia. Aquele Deus que deseja distribuir ascoroas, procura as tentações: por isso,quando és tentado, sê consciente de quete é preparada a coroa. Se extingues oscombates dos mártires, extinguirás tam-bém as suas coroas; se extingues os seussuplícios, também extinguirás as suasbem-aventuranças” (IV, 41: SAEMO 12,págs. 330-333).

Deus prepara para nós aquela “coroade justiça” (2 Tm 4, 8) que recompensará anossa fidelidade para com Ele, mantidatambém no tempo da tempestade, queabala o nosso coração e a nossa mente.Mas ele está, em todos os tempos, atento àsua criatura predilecta e desejaria que nelabrilhasse sempre a “imagem” divina (cf.Gn 1, 26), para que saiba ser, no mundo,sinal de harmonia, de luz e de paz.

JOÃO PAULO II

24 de Setembro de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

134 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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A IGREJA VIVE DA EUCARISTIA

47. Quando alguém lê o relato da ins-tituição da Eucaristia nos EvangelhosSinópticos, fica admirado ao ver a simpli-cidade e simultaneamente a dignidadecom que Jesus, na noite da Última Ceia,institui este grande sacramento. Há umepisódio que, de certo modo, lhe serve deprelúdio: é a unção de Betânia. Umamulher, que João identifica como sendoMaria, irmã de Lázaro, derrama sobre acabeça de Jesus um vaso de perfume pre-cioso, suscitando nos discípulos – particu-larmente em Judas (Mt 26, 8; Mc 14, 4; Jo12, 4) – uma reacção de protesto contratal gesto que, em face das necessidadesdos pobres, constituía um «desperdício»intolerável. Mas Jesus faz uma avaliaçãomuito diferente: sem nada tirar ao deverda caridade para com os necessitados,aos quais sempre se hão-de dedicar osdiscípulos – «Pobres, sempre os tereisconvosco» (Jo 12, 8; cf. Mt 26, 11; Mc14, 7) –, Ele pensa no momento já pró-ximo da sua morte e sepultura, conside-rando a unção que Lhe foi feita comouma antecipação daquelas honras deque continuará a ser digno o seu corpomesmo depois da morte, porque indisso-luvelmente ligado ao mistério da suapessoa.

Nos Evangelhos Sinópticos, a narra-ção continua com o encargo dado porJesus aos discípulos para fazerem umacuidadosa preparação da «grandesala», necessária para comer a ceia pas-cal (cf. Mc 14, 15; Lc 22, 12), e com adescrição da instituição da Eucaristia.Deixando entrever, pelo menos em parte,o desenrolar dos ritos hebraicos da ceiapascal até ao canto do «Hallel» (cf. Mt26, 30; Mc 14, 26), o relato, de maneiratão concisa como solene, embora comvariantes nas diversas tradições, refereas palavras pronunciadas por Cristo so-bre o pão e sobre o vinho, assumidos porEle como expressões concretas do seucorpo entregue e do seu sangue derra-mado. Todos estes particulares são re-cordados pelos evangelistas à luz dumaprática, consolidada já na Igreja primitiva,da «fracção do pão». O certo é que, desdeo tempo histórico de Jesus, no aconteci-mento de Quinta-feira Santa são visíveisos traços duma «sensibilidade» litúrgica,modulada sobre a tradição do AntigoTestamento e pronta a remodular-se nacelebração cristã em sintonia com onovo conteúdo da Páscoa.

CARTA ENCÍCLICA DE JOÃO PAULO II

CAPÍTULO V

O DECORO DACELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

JULHO – DEZEMBRO 2003 135

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48. Tal como a mulher da unção deBetânia, a Igreja não temeu «desperdi-çar», investindo o melhor dos seus re-cursos para exprimir o seu enlevo e ado-ração diante do dom incomensurável daEucaristia. À semelhança dos primeirosdiscípulos encarregados de preparar a«grande sala», ela sentiu-se impelida,ao longo dos séculos e no alternar-sedas culturas, a celebrar a Eucaristia numambiente digno de tão grande mistério.Foi sob o impulso das palavras e gestosde Jesus, desenvolvendo a herança ritualdo judaísmo, que nasceu a liturgia cristã.Porventura haverá algo que seja capazde exprimir de forma devida o acolhi-mento do dom que o Esposo divino con-tinuamente faz de Si mesmo à Igreja--Esposa, colocando ao alcance das su-cessivas gerações de crentes o sacrifícioque ofereceu uma vez por todas na cruz etornando-Se alimento para todos os fiéis?Se a ideia do «banquete» inspira familia-ridade, a Igreja nunca cedeu à tentaçãode banalizar esta «intimidade» com oseu Esposo, recordando-se que Ele étambém o seu Senhor e que, embora«banquete», permanece sempre um ban-quete sacrificial, assinalado com o san-gue derramado no Gólgota. O Banqueteeucarístico é verdadeiramente banquete«sagrado», onde, na simplicidade dossinais, se esconde o abismo da santidadede Deus: O Sacrum convivium, in quoChristus sumitur! – «Ó Sagrado Ban-quete, em que se recebe Cristo!» O pãoque é repartido nos nossos altares, ofe-recido à nossa condição de viandantespelas estradas do mundo, é «panisangelorum», pão dos anjos, do qual só épossível abeirar-se com a humildade docenturião do Evangelho: «Senhor, eunão sou digno que entres debaixo domeu tecto» (Mt 8, 8; Lc 6, 6).

49. Movida por este elevado sentido domistério, compreende-se como a fé daIgreja no mistério eucarístico se tenhaexprimido ao longo da história não sóatravés da exigência duma atitude inte-rior de devoção, mas também medianteuma série de expressões exteriores, ten-dentes a evocar e sublinhar a grandezado acontecimento celebrado. Daqui nasceo percurso que levou progressivamentea delinear um estatuto especial de regu-lamentação da liturgia eucarística, norespeito pelas várias tradições eclesiaislegitimamente constituídas. Sobre amesma base, se desenvolveu um ricopatrimónio de arte. Deixando-se orientarpelo mistério cristão, a arquitectura, aescultura, a pintura, a música encontraramna Eucaristia, directa ou indirectamente,um motivo de grande inspiração.

Tal é, por exemplo, o caso da arqui-tectura que viu a passagem, logo que ocontexto histórico o permitiu, da sedeinicial da Eucaristia colocada na «domus»das famílias cristãs às solenes basílicasdos primeiros séculos, às imponentescatedrais da Idade Média, até às igrejas,grandes ou pequenas, que pouco a poucoforam constelando as terras onde o cris-tianismo chegou. Também as formasdos altares e dos sacrários se foram de-senvolvendo no interior dos espaçoslitúrgicos, seguindo não só os motivosda imaginação criadora, mas também osditames duma compreensão específicado Mistério. O mesmo se pode dizer damúsica sacra; basta pensar às inspiradasmelodias gregorianas, aos numerosos e,frequentemente, grandes autores que seafirmaram com os textos litúrgicos daSanta Missa. E não sobressai porventurauma enorme quantidade de produçõesartísticas, desde realizações de um bomartesanato até verdadeiras obras de arte,

136 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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no âmbito dos objectos e dos paramen-tos utilizados na celebração eucarística?

Deste modo, pode-se afirmar que aEucaristia, ao mesmo tempo que plas-mou a Igreja e a espiritualidade, incidiuintensamente sobre a «cultura», especial-mente no sector estético.

50. Neste esforço de adoração domistério, visto na sua perspectiva rituale estética, empenharam-se, como se fosseuma «competição», os cristãos do Oci-dente e do Oriente. Como não dar graçasao Senhor especialmente pelo contributoprestado à arte cristã pelas grandesobras arquitectónicas e pictóricas datradição greco-bizantina e de toda a áreageográfica e cultural eslava? No Oriente,a arte sacra conservou um sentido sin-gularmente intenso do mistério, levandoos artistas a conceberem o seu empenhona produção do belo não apenas comoexpressão do seu génio, mas tambémcomo autêntico serviço à fé. Não se con-tentando apenas da sua perícia técnica,souberam abrir-se com docilidade aosopro do Espírito de Deus.

Os esplendores das arquitecturas edos mosaicos no Oriente e no Ocidentecristão são um património universal doscrentes, contendo em si mesmos umvoto e – diria – um penhor da desejadaplenitude de comunhão na fé e na cele-bração. Isto supõe e exige, como na fa-mosa pintura da Trindade de Rublëv,uma Igreja profundamente «eucarística»,na qual a partilha do mistério de Cristo nopão repartido esteja de certo modo imersana unidade inefável das três Pessoas di-vinas, fazendo da própria Igreja um«ícone» da Santíssima Trindade.

Nesta perspectiva duma arte que emtodos os seus elementos visa exprimir osentido da Eucaristia segundo a doutrinada Igreja, é preciso prestar toda a atençãoàs normas que regulamentam a constru-ção e o adorno dos edifícios sacros. AIgreja sempre deixou largo espaço cria-tivo aos artistas, como a história o de-monstra e como eu mesmo sublinhei naCarta aos Artistas;100 mas, a arte sacradeve caracterizar-se pela sua capacidadede exprimir adequadamente o mistériolido na plenitude de fé da Igreja e se-gundo as indicações pastorais oportuna-mente dadas pela competente autoridade.Isto vale tanto para as artes figurativascomo para a música sacra.

51. O que aconteceu em terras de antigacristianização no âmbito da arte sacra eda disciplina litúrgica, está a verificar-setambém nos continentes onde o cristia-nismo é mais jovem. Tal é a orientaçãoassumida pelo Concílio Vaticano II apropósito da exigência duma sã e neces-sária «inculturação». Nas minhas nume-rosas viagens pastorais, pude observarpor todo o lado a grande vitalidade deque é capaz a celebração eucarística emcontacto com as formas, os estilos e assensibilidades das diversas culturas.Adaptando-se a condições variáveis detempo e espaço, a Eucaristia oferece ali-mento não só aos indivíduos, mas aindaaos próprios povos, e plasma culturas deinspiração cristã.

Mas é necessário que tão importantetrabalho de adaptação seja realizado naconsciência constante deste mistérioinefável, com que cada geração é cha-mada a encontrar-se. O «tesouro» é de-

100 Cf. AAS 91 (1999), 1155-1172.

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masiado grande e precioso para se correro risco de o empobrecer ou prejudicarcom experimentações ou práticas intro-duzidas sem uma cuidadosa verificaçãopelas competentes autoridades eclesi-ásticas. Além disso, a centralidade domistério eucarístico requer que tal veri-ficação seja feita em estreita relaçãocom a Santa Sé. Como escrevia na exor-tação apostólica pós-sinodal Ecclesia inAsia, «tal colaboração é essencial porquea Liturgia Sagrada exprime e celebra aúnica fé professada por todos e, sendoherança de toda a Igreja, não pode serdeterminada pelas Igreja locais isolada-mente da Igreja universal».101

52. De quanto fica dito, compreende-sea grande responsabilidade que têm so-bretudo os sacerdotes na celebração eu-carística, à qual presidem in personaChristi, assegurando um testemunho eum serviço de comunhão não só à comu-nidade que participa directamente nacelebração, mas também à Igreja uni-versal, sempre mencionada na Eucaristia.Temos a lamentar, infelizmente, que so-bretudo a partir dos anos da reforma li-túrgica pós-conciliar, por um ambíguosentido de criatividade e adaptação, nãofaltaram abusos, que foram motivo desofrimento para muitos. Uma certa reac-ção contra o «formalismo» levou alguns,especialmente em determinadas regiões, aconsiderarem não obrigatórias as «for-mas» escolhidas pela grande tradição li-túrgica da Igreja e do seu magistério e aintroduzirem inovações não autorizadase muitas vezes completamente impró-prias.

Por isso, sinto o dever de fazer umveemente apelo para que as normaslitúrgicas sejam observadas, com grandefidelidade, na celebração eucarística.Constituem uma expressão concreta daautêntica eclesialidade da Eucaristia;tal é o seu sentido mais profundo. Aliturgia nunca é propriedade privada dealguém, nem do celebrante, nem da co-munidade onde são celebrados os santosmistérios. O apóstolo Paulo teve de dirigirpalavras àsperas à comunidade de Corintopelas falhas graves na sua celebraçãoeucarística, que tinham dado origem adivisões (skísmata) e à formação de fac-ções (‘airéseis) (cf. 1 Cor 11, 17-34).Actualmente também deveria ser redes-coberta e valorizada a obediência àsnormas litúrgicas como reflexo e teste-munho da Igreja, una e universal, que setorna presente em cada celebração daEucaristia. O sacerdote, que celebra fiel-mente a Missa segundo as normaslitúrgicas, e a comunidade, que às mesmasadere, demonstram de modo silenciosomas expressivo o seu amor à Igreja. Pre-cisamente para reforçar este sentidoprofundo das normas litúrgicas, pediaos dicastérios competentes da CúriaRomana que preparem, sobre este temade grande importância, um documentoespecífico, incluindo também referênciasde carácter jurídico. A ninguém é per-mitido aviltar este mistério que estáconfiado às nossas mãos: é demasiadogrande para que alguém possa permitir-sede tratá-lo a seu livre arbítrio, não res-peitando o seu carácter sagrado nem asua dimensão universal.

JOÃO PAULO II

101 N. 22: AAS 92 (2000), 485.

138 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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MISSA

A LITURGIA EUCARÍSTICAEstrutura da Oração Eucarística II

[IGMR 79 (55)]

JULHO – DEZEMBRO 2003 139

6 – EPICLESE DA COMUNHÃO

[IGMR 79 (55C)]

O sentido da palavra epiclese já ficouapresentado no nosso Boletim de PastoralLitúrgica (nº 109, pp.23-24). Aí se diziaque a epiclese é a invocação ao EspíritoSanto para que, pelo seu poder, se realizeo mistério que está a ser celebrado. Ésempre, de facto, o Espírito Santo que ac-tualiza a acção de Jesus Cristo nos Sacra-mentos. Na actual Oração Eucarística II, aepiclese vem dividida em duas partes:uma, antes da consagração a pedir precisa-mente a graça da consagração do pão e dovinho: Santificai estes dons, derramandosobre eles o Espírito Santo, de modo quese convertam para nós no Corpo e Sanguede Nosso Senhor Jesus Cristo; outra,depois da consagração a pedir que “ahóstia imaculada, que vai ser recebida nacomunhão, opere a salvação daqueles quedela vão participar” [IG 79 (55c)]; e otexto da oração concretiza este pedido nagraça da unidade: Humildemente Vos su-plicamos que, participando no Corpo eSangue de Cristo, sejamos reunidos, peloEspírito Santo, num só Corpo. (A OraçãoEucarística III dirá: Fazei que, alimentan-do-nos do Corpo e Sangue do vosso Filho,cheios do seu Espírito Santo, sejamos emCristo um só Corpo e um só espírito; e aOração IV: Concedei por vossa bondade,a quantos vamos participar do mesmo

pão e do mesmo cálice que, reunidos peloEspírito santo num só Corpo, sejamos emCristo uma oferenda viva para louvor davossa glória.)

A unidade da sua Igreja foi já o ob-jecto central da oração sacerdotal do Se-nhor na última Ceia: Pai santo, que elessejam todos um, como Tu, Pai, o és emMim e Eu em Ti, para que também elessejam um em Nós e o mundo acredite queTu Me enviaste; sejam um como Nós so-mos um: Eu neles e Tu em Mim, para quesejam perfeitos na unidade e o mundo

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140 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

reconheça que Tu Me enviaste e que osamaste como a Mim (Jo 17, 21-23).

Esta graça da unidade em Cristo, pelavirtude do Espírito Santo, é particular-mente significada pela participação nomesmo pão eucarístico, como algumasorações depois da comunhão o afirmam:Vivam unidos num só coração e numa sóalma aqueles que saciastes com o mesmopão do céu (Quinta-feira Santa e Domin-go II do Tempo Comum).

Embora o termo epiclese que, comovimos, signifique etimologicamente invo-cação, súplica, se diga particularmente dapassagem acima referida presente naOração Eucarística da Missa, há tambémepicleses dentro de outras orações, comopor exemplo, na bênção da água baptis-mal: Senhor, … receba esta água peloEspírito santo a graça de vosso Filhounigénito; ou na consagração do óleo doCrisma: Dignai-Vos santificar e abençoareste óleo e comunicar-lhe a virtude doEspírito Santo pelo poder do vosso Cristode cujo Nome santo recebeu o nome decrisma.

E, de maneira mais geral, são formasepicléticas a parte das orações em que, de-pois da evocação das maravilhas de Deus(anamnese), se passa à súplica (epiclese).É, aliás, assim a forma normal e perfeitade toda a oração cristã.

É precisamente a graça da unidadeque, no mais antigo documento litúrgicodepois da sagrada Escritura, a Igreja pedena sua oração: Como este pão estavadisperso pelos montes e reunido se fez umsó, assim se reúna a vossa Igreja dosconfins da terra no vosso reino. E ainda:Recordai-Vos, Senhor, da vossa Igrejapara a livrar de todo o mal e tornai-a per-feita no vosso amor e reuni-a dos quatroventos, santificada no vosso reino quepreparastes, porque vosso é o poder e aglória pelos séculos (Didakhê IX, 4-5).

Na solene oração dos fiéis de Sexta--Feira Santa, na primeira intenção, pelaIgreja, diz-se no invitatório: Oremos pelasanta Igreja de Deus, para que o Senhorlhe dê a paz, a confirme na unidade. Edepois, na quinta intenção, justamentepela unidade da Igreja, diz-se também noinvitatório: Oremos por todos os nossosirmãos que crêem em Cristo, para queDeus Nosso Senhor os reúna e guarde naunidade da sua Igreja. E logo na oração:Deus eterno e omnipotente, que reunis osvossos fiéis dispersos e os conservais naunidade, olhai para todo o povo de Cristo,para que vivam unidos pela integridadeda fé e pelo vínculo da caridade todosaqueles que foram consagrados pelomesmo baptismo.

O próprio gesto da fracção do pão,praticado por Cristo na Última ceia, serviupara designar, nos tempos apostólicos,toda a acção eucarística: dizia-se simples-mente a fracção do pão (fractio panis).Ainda hoje o Missal romano explica que afinalidade deste rito, a fracção, “não é me-ramente prática; ele significa que todosnós, apesar de muitos, nos tornamos, pelacomunhão do mesmo pão da vida, que éCristo, um só corpo” [IG 79 (56c)] (cf.1Cor 10,17).

É nesta mesma ordem de ideias que noOrdinário da Missa, dentro do ritos dacomunhão, continuamos a lembrar aspalavras do Senhor: Dou-vos a paz, dei-xo-vos a minha paz, para logo pedirmos aoPai que dê à sua Igreja a união e a paz. Eda palavra passamos ao gesto para signifi-carmos que o amor de Cristo nos uniu; eassim rogamos ao Pai que, participandono Corpo e Sangue de Cristo, sejamosunidos, pelo Espírito Santo, num só corpo.É para alcançarmos este dom que rezamosa epiclese antes da comunhão.

JOSÉ FERREIRA

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CURSO PARA ACÓLITOS

SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

O LIVRO DO

ACÓLITO

JOSÉ DE LEÃO CORDEIRO

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142 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

LITURGIADAS HORASEDIÇÃO PARA CANTO – II

Advento

Natal

Quaresma

Páscoa

As criançaslouvam o Senhor

Propostade músicas para

celebraçõescom crianças

Recolha doServiço Nacionalde Música Sacra

Liturgiadas Horas

Edição para canto – II

Os textosda Liturgia das Horas

dos tempos doAdvento – Natal

Quaresma – Páscoa

Recolha doServiço Nacionalde Música Sacra

EDIÇÕES DO SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

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JULHO – DEZEMBRO 2003 143

PASTORAL LITÚRGICA

Realizou-se nos dias 21 a 25 de Julhode 2003 o XXIX Encontro de Pastoral Li-túrgica. Os participantes, cerca de 1500pessoas e maioritariamente leigos, fize-ram deste acontecimento o maior eventode Pastoral Litúrgica de que temos conhe-cimento na Europa. O número de partici-pantes e a dinâmica do encontro que inte-gra celebrações, conferências e escola deministérios fazem deste Encontro umamarcha lenta na reforma litúrgica emPortugal. Estes vinte e nove encontros jáfizeram uma geração. É notório o inte-resse crescente por esta actividade, so-bretudo por parte dos jovens que exer-cem ministérios litúrgicos. A mudança ésentida pelos participantes como uma ne-cessidade pessoal e uma urgência pastoral.A organização tem procurado estar atentaa esta realidade e a mudança é notória.

ENCONTRO NACIONALDE PASTORAL LITÚRGICA

O DOMINGO E A SUA CELEBRAÇÃO

A escolha da temática – O DOMINGO E ASUA CELEBRAÇÃO – pretendeu aprofundar aprópria celebração do domingo, num re-torno à tradição mais antiga da Igreja. Defacto, «por tradição apostólica, que nasceudo próprio dia da Ressurreição de Cristo, aIgreja celebra o mistério pascal todos osoito dias, no dia que bem se denomina diado Senhor ou domingo» (SC, 106).

O interesse pelo assunto resulta dadesvirtuação crescente do dia do Senhorpor parte dos fiéis que não integram o do-mingo na sua prática cristã. Assiste-se auma intelectualização da fé e a um cristia-nismo virtual, que se afirma cristão nãopraticante. «O domingo é o dia por exce-lência da assembleia litúrgica, em que osfiéis se reúnem para participarem na Euca-ristia e ouvirem a Palavra de Deus» (CIC,1167). E sem isto os cristãos podem viver

A presidência do auditório do Centro Pastoral Paulo VI

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144 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

D. António Maria Bessa TaipaPresidente da Comissão Episcopal

de Liturgia de Portugal

D. Albino Mamede CletoBispo de Coimbra

D. António Vitalino DantasBispo de Beja

D. Manuel Franco Falcão,Bispo Emérito de Beja,

e P. Pedro Lourenço Ferreira,Director do SNL

Presenças orantes noEncontro Nacional de

Pastoral Litúrgica

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JULHO – DEZEMBRO 2003 145

como os pagãos, mas não podem vivercomo cristãos.

As actividades deste Encontro procu-raram aprofundar o mistério do domingopor meio de conferências e celebrações. OGuião das Celebrações é um precioso ins-trumento de trabalho: nele se encontramos textos e as músicas das celebraçõespara que a participação seja mais activa e,na medida do possível, sirva de referênciapara a pastoral litúrgica.

A abertura do encontro constou de ummomento orante, à maneira de uma oraçãoda tarde. Seguiu-se a conferência deabertura: «O DOMINGO E A EUCARISTIA. LI-ÇÕES DO PASSADO PARA O PRESENTE». O P. Dr.João da Silva Peixoto, da diocese doPorto, recordou a história e projectou luzpara o presente com as lições do passado.Alicerçou bem os trabalhos do Encontro.

No serão foram feitas as apresenta-ções e o ensaio para a oração do dia se-guinte. Mais adiante apresentamos aslistas dos participantes por localidades epor dioceses. Por elas se verifica a cober-tura nacional e a maior sensibilidade àpastoral litúrgica.

O dia 22, dedicado a Santa Maria Ma-dalena, começou com a oração de Laudesna Capelinha das Aparições.

Depois do ensaio para a Missa, o P.Dr. Luís Manuel Pereira da Silva, do pa-triarcado de Lisboa, abordou o tema «ACELEBRAÇÃO DA EUCARISTIA DOMINICAL».Constituiu um verdadeiro tratado da euca-ristia e da celebração que faz o domingo.

Ao meio dia teve lugar na Basílica asolene celebração da Eucaristia. Grandepontifical que contou com a presença de

P. Dr. João da Silva PeixotoVogal do SNL

P. Dr. Luís Manuel Pereira da SilvaVogal do SNL

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alguns bispos e a boa organização dosdiversos ministérios litúrgicos.

De tarde deu-se início à «ESCOLA DE

MINISTÉRIOS» com um painel de apresen-tação geral. O P. Dr. Luís Ribeiro deOliveira, da diocese de Coimbra, apresen-

tou «O MINISTÉRIO DA PRESIDÊNCIA NA EUCA-RISTIA DOMINICAL». O P. Dr. José de LeãoCordeiro, da arquidiocese de Évora, in-troduziu o trabalho que iria realizar comos «DIÁCONOS, LEITORES E MINISTROS DA

PALAVRA NA ASSEMBLEIA DO DOMINGO». OP. Dr. Manuel José Dias Amorim, da dio-cese do Porto, resumiu para a assembleia oministério de «OS ACÓLITOS NA ASSEMBLEIA

DOMINICAL». O Cón. Dr. João da SilvaPeixoto, da diocese do Porto, apresentoualgumas questões pastorais a propósitode «OS MINISTROS EXTRAORDINÁRIOS DA

COMUNHÃO NA EUCARISTIA DOMINICAL E NO

SERVIÇO AOS DOENTES». O Cón. Dr. Antó-nio Ferreira dos Santos, da diocese doPorto, fez uma síntese das suas convicçõespessoais sobre o que deve ser «O MINISTÉ-RIO DO CANTO NA MISSA, NA LITURGIA DAS

HORAS E NAS OUTRAS CELEBRAÇÕES».A oração de Vésperas encerrou as

actividades deste dia. Os participantesforam convidados a participar na oração

P. Dr. Luís Ribeiro de OliveiraVogal do SNL

P. Dr. José de Leão CordeiroVogal do SNL

P. Dr. Manuel José Dias AmorimMestre da Escola dos Acólitos

146 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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do Terço e na Procissão de Velas na Cape-linha das Aparições.

O dia 23 foi de festa em honra deSanta Brígida, co-padroeira da Europa.Os compositores apresentaram músicaspróprias para a Missa e o Ofício Divino.

As Laudes foram celebradas na Ca-pelinha das Aparições. A conferência damanhã foi proferida pelo P. Dr. ManuelJoaquim F. da Costa, da arquidiocese deBraga, que apresentou «A CELEBRAÇÃO

DOMINICAL DA LITURGIA DAS HORAS». Re-cordou a doutrina e a tradição da Igreja eapelou a uma maior utilização desta ora-ção para a celebração do domingo, não sócomo alternativa à falta de Missa, mas so-bretudo como complemento que “alargaaos diferentes momentos do dia o louvor ea acção de graças, a memória dos misté-rios da salvação, as súplicas, o antegozoda glória celeste, contidos no mistérioeucarístico, centro e vértice de toda a vidada comunidade cristã” (IGLH 12).

Durante a tarde teve lugar a ESCOLA DE

MINISTÉRIOS em encontros por sectores.À noite foi proposta uma Celebração

Penitencial no Centro Pastoral Paulo VI,com possibilidade de confissão e absol-vição individual. A adesão dos fiéis leigosfoi proporcionalmente maior do que a dospresbíteros, o que pode constituir indícioda situação actual da pastoral de recon-ciliação.

No dia 24 de Julho, quinta-feira, asLaudes foram celebradas excepcional-mente no Centro Pastoral Paulo VI.

A conferência do dia foi proferidapelo P. Dr. Carlos Manuel Patrício deAquino, da diocese do Algarve, queabordou as «OUTRAS FORMAS DE SANTIFI-CAÇÃO DO DOMINGO». A Missa não esgota aactividade litúrgica, como a liturgia nãoesgota a actividade da Igreja. Há muitasformas de santificar o domingo.

P. Dr. Manuel Joaquim da Costa,Arquidiocese de Braga

P. Dr. Carlos Manuel P. de Aquino,Diocese do Algarve

JULHO – DEZEMBRO 2003 147

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P. Dr. António Azevedo Oliveira,Compositor e Director de Coro

P. Dr. António Cartageno,Compositor e Director de Coro

Ao órgão – rei dos instrumentos –vão-se associando outros instrumentosque dão nova voz ao canto da Igreja

Cón. Dr. António Ferreira dos Santos,Director do Serviço Nacional

de Música Sacra e Vogal do SNL

O coro é um ministério de harmoniae serviço à grande assembleia

A músicaé a menina dos olhosda pastoral litúrgica

148 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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A tarde foi ocupada com um painelfinal e animado diálogo com a assembleiasobre os trabalhos da ESCOLA DE MINISTÉ-RIOS e outra questões litúrgicas.

O serão desta noite teve uma vertentecultural com a presença do Coro GaudiaVitae de Mira de Aire, que executou umprograma de música variada, sob a di-recção do Maestro Jaime Bento.

O último dia foi de encerramento dasactividades. As Laudes foram celebradasna Capelinha e em honra de São Tiago,

O grande auditório do Centro Pastoral Paulo VI

apóstolo. Na sessão de Encerramento usa-ram da palavra o director do SecretariadoNacional, P. Pedro Lourenço Ferreira, e opresidente da Comissão Episcopal deLiturgia, D. António Maria Bessa Taipa.

A Missa de encerramento é o mo-mento alta desta actividade e vale por siprópria, resumindo e explicitando como«a liturgia é simultaneamente a meta paraa qual se encaminha a acção da Igreja e afonte de onde promana toda a sua força»(SC 10).

O Coro Gaudia Vitae de Mira de Aire

JULHO – DEZEMBRO 2003 149

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A longa procissão finalimagem da Igreja peregrina

eco da eterna saudadeherança para a eternidade

Participantespor dioceses

ALGARVE .................................. 20ANGRA ...................................... 37AVEIRO...................................... 76BEJA .......................................... 23BRAGA ...................................... 82BRAGANÇA – MIRANDA.......... 21COIMBRA .................................. 83ÉVORA ...................................... 42FUNCHAL .................................. 13GUARDA ................................... 122LAMEGO ................................... 14LEIRIA – FÁTIMA ...................... 85LISBOA ...................................... 264PORTALEGRE e

CASTELO BRANCO ........... 46PORTO ...................................... 324SANTARÉM ............................... 32SETÚBAL .................................. 30VIANA DO CASTELO ............... 51VILA REAL ................................. 118VISEU ........................................ 52

CABO VERDE ........................... 4GUINÉ........................................ 1

Total .......................................... 1540

XXX ENCONTRO NACIONAL DE PASTORAL LITÚRGICA

Fátima, 26 - 30 de Julho de 2004

LITURGIA PARA O TERCEIRO MILÉNIO– a 40 anos do II Concílio do Vaticano –

150 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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Participantes por localidades

Com 10 participantesCARREGAL DO SALENTRONCAMENTOGUARDA

Com 11 participantesSÃO MAMEDE INFESTA

Com 12 participantesESTARREJA

Com 13 participantesCABAÇOSCARLÃOGUIMARÃES

Com 14 participantesA-DOS-CUNHADOSAVEIROMADALENA VNGVISEU

Com 15 participantesAÇORESAMADORA

Com 16 participantesOEIRASPENAFIELCASTELO BRANCO

Com 19 participantesMURÇAVAGOSVILA REAL– Sé de Vila Real (15)

Com 26 participantesSANFINS DO DOURO

Com 29 participantesBRAGA– Seminário Conciliar de Braga (12)

Com 31 participantesSANTO TIRSO– Paróquia de Burgães (21)

Com 5 participantesABRANTESARRIFANA VFRCAMARATECOVILHÃELVASGONDOMARIRIVO PNFLOURINHÃMACEIRA DA LIXAMIRANDA DO CORVONOGUEIRA DE REGEDOURAOLIVEIRA DO HOSPITALRIO DE MOURORIO TINTOSETÚBALTROFA STS

Com 6 participantesBRAGANÇAGOUVEIAPAÇO DE ARCOSPÓVOA DE VARZIMROMARIZSÃO ROMÃO SEIVALPAÇOSVIANA DO CASTELOVILARANDELO

Com 7 participantesALIJÓALMACEDAARCOS DE VALDEVEZASSENTIZ TNVATOUGUIA DA BALEIAFELGUEIRASLOUSADAMacedo de CavaleirosMURTOSAPORTIMÃO

Com 8 participantesALVERCA DO RIBATEJOBEJAMOITANELASVILA NOVA DE GAIA

Com 9 participantesLEIRIAPAÇO DE SOUSAPORTALEGRE

JULHO – DEZEMBRO 2003 151

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Com 35 participantesCOIMBRA

Com 37 participantesREBORDOSA

Com 45 participantesFÁTIMA

Com 58 participantesPORTO (grande)– Paróquia Senhora da Conceição (9)

Com 93 participantesLISBOA (grande)– Igreja S. Domingos de Benfica (14)

QUIRÓGRAFO

DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO IINO CENTENÁRIO DO MOTU PROPRIO

«TRA LE SOLLECITUDINI»SOBRE A MÚSICA SACRA

SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

CARTA APOSTÓLICA

DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO IINO XL ANIVERSÁRIO DA CONSTITUIÇÃO

«SACROSANCTUM CONCILIUM»SOBRE A SAGRADA LITURGIA

SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

EDIÇÕES DO SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

Para comemorar os40 anos

da Constituição Litúrgicado II Concílio do Vaticano

«Sacrosanctum Concilium»

Para comemorar os100 anos

do Motu Proprio«Tra le sollecitudini»sobre a Música sacra

152 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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1. Pastoral dos Penitentes e dosDoentes à Luz dos Novos Rituais.Data: 22-25 Setembro 1975Participantes: 87 (Padres: 53; Religio-sos: 18; Leigos: 16)

2. A Celebração Litúrgica.Data: 20-24 Setembro 1976Participantes: 316

3. A Celebração da Eucaristiana Comunidade Cristã.Data: 19-21 Setembro 1977Participantes: 317

4. Os Ministériona Celebração Litúrgica.Data: 18-22 Setembro 1978Participantes: 323

5. À Descobertada Oração Eucarística.Data: 17-21 Setembro 1979Participantes: 354.

6. A Iniciação Cristã dos Adultos.Data: 15-19 Setembro 1980Participantes: 352

7. A Liturgia das Horas.Data: 14-18 Setembro 1981Participantes: 713

8. O Mistério Pascale a sua Celebração.I - O Tríduo Pascal.Data: 14-18 Setembro 1982Participantes: 1015

Lista dos Encontros Nacionaisde Pastoral Litúrgica

9. O Mistério Pascale a sua Celebração.II - O Tempo Pascal.Data: 19-23 Setembro 1983Participantes: 1080(Padres: 130; Religiosos/as: 470;Leigos: 480)

10. O Mistério Pascale a sua Celebração.III - A Quaresma.Data: 17-21 Setembro 1984Participantes: 1136

11. Liturgia e Pastoral da Fé.Data: 16-20 Setembro 1985Participantes: 1204

12. Os Leigos na Liturgia.Data: 15-19 Setembro 1986Participantes: 1372

13. A Religiosidade Populare a Celebração da Fé.Data: 14-18 Setembro 1987Participantes: 1480

14. A Reforma Litúrgica:25 Anos depois da Constituiçãosobre a Liturgia.Data: 25-29 Julho 1988Participantes: 1320

15. Celebração e Espaço Litúrgico.Data: 24-28 Julho 1989Participantes: 1350

JULHO – DEZEMBRO 2003 153

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154 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

16. O Mistério do Natal.Data: 23-27 Julho 1990Participantes: 1300

17. O MissalData: 22-26 Julho 1991Participantes: 1250

18. O ministérioe os ministérios na Igreja.Data: 27-31 Julho 1992Participantes: 1250

19. Como Celebrar hoje?Data: 26-30 Julho 1993Participantes: 1200

20. A Liturgia:da Constituição Conciliarao Catecismo da Igreja Católica.Data: 25-29 Julho 1994Participantes: 1130

21. As Bênçãosna Liturgia da Igreja.Data: 24-28 Julho 1995Participantes: 1070(Bispos: 3; Padres: 146; Diáconos:9; Religiosas: 185; Leigos: 665)

22. O Matrimónioe a sua celebração.Data: 22-26 Julho 1996Participantes: 980(Bispos: 3; Padres: 108; Religio-sas: 60; Leigos: 809; Casais: 43)

23. Jesus Cristo na Liturgia.Data: 28 Julho-1 Agosto 1997Participantes: 1134(Bispos: 3; Padres: 107; Diáconos:2; Religiosas: 170; Leigos: 852;Casais: 38)

24. O Espírito Santo na Liturgia.Data: 27-31 Julho 1998Participantes: 1054(Bispos: 2; Padres: 105; Religio-sas: 143; Leigos: 804; Casais: 36)

25. Deus Pai na Liturgia.Data: 26-30 Julho 1999Participantes: 1250(Bispos: 3; Padres: 100; Consagra-dos/as: 196; Leigos: 951; Casais:43)

26. O Jubileu da Encarnaçãona Liturgia da IgrejaData: 24-28 Julho 2000Participantes: 1155(Bispos: 3; Padres: 95; Consagra-dos/as: 180; Leigos: 877; Casais:47)

27. A Celebraçãoda Liturgia da PalavraData: 23-27 Julho 2001Participantes: 1298(Bispos: 3; Padres: 107; Consagra-dos/as: 207; Leigos: 981; Casais:56)

28. A Liturgia EucarísticaData: 22-26 Julho 2002Participantes: 1480(Bispos: 3; Padres: 138; Consagra-dos/as: 220; Leigos: 1119; Casais:57)

29. O domingo e a sua celebraçãoData: 21-25 Julho 2003Participantes: 1540(Bispos: 5; Padres: 120;Consagrados/as: 213; Leigos:1202; Casais: 71)

30. Liturgia para o terceiro milénioData: 26-30 Julho 2004

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JULHO – DEZEMBRO 2003 155

A N T O LO G I AL I T Ú R G I C A

TEXTOS LITÚRGICOS,PATRÍSTICOS E CANÓNICOS

DO PRIMEIRO MILÉNIO

EDIÇÃO DO SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

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156 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

LOUVOR E GRATIDÃO

O Secretariado Nacional de Liturgialouva e agradece os bons serviçosprestados pela firma Serafim da

Silva Jerónimo & Filhos, Lda. que temdisponibilizado um grande número de órgãospara uso dos alunos do Curso de MúsicaLitúrgica para Organistas e Directoresde Coros, durante nove anos. Este contributotem sido importante para a logística daquelaactividade de formação musical.

INFORMAÇÕESR. Andrade Corvo, 72-78

4704-522 Bragatel. 253 619 023

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MÚSICA SACRA

JULHO – DEZEMBRO 2003 157

CURSO DE MÚSICA LITÚRGICA

Organistas e Directores de Coros

Depois de uma interrupção de algunsanos, o Secretariado Nacional deLiturgia, através do Serviço Nacional deMúsica Sacra, relançou o terceiro CursoNacional de Directores de Coros eOrganistas para a Liturgia. O Santuáriode Fátima, mais uma vez, não sódisponibilizou as suas instalações parao efeito, mas também, se dispôs acontinuar a patrocinar esse belo projectopara a Igreja em Portugal.

Estes cursos nacionais, que sedestinam à preparação dos agentes damúsica li túrgica nas paróquias ecomunidades, têm uma filosofia muitoprópria. Assentam sobre um esquemaespecial, durante três anos consecutivos,organizado, do seguinte modo:

– um tempo intensivo de estudo(durante 10 a13 dias, em finais deAgosto, os alunos têm aulas e estudopessoal distribuídas em 11 horasdiárias);

– um dia de revisão, nas férias do Natale dois dias de avaliação, nas férias daPáscoa, já que os alunos levam paracasa programas muito concretos eprecisos de estudo pessoal, nas váriascadeiras;

– nos tempos intensivos de estudo sãointegradas diferentes Celebrações daEucaristia e das Horas: são os alunosque se responsabilizam pela dimensãolitúrgico-musical dessas celebrações:direcção, acompanhamento ao órgão,canto do Salmo Responsorial, etc;

– durante o tempo de estudo intensivo,há um ou mais concertos públicos nosquais os alunos dirigem o coro ouexecutam obras de órgão;

– a disciplina do Curso é, indiscutivel-mente, exigente: os alunos não podemfaltar às aulas (a justificação não estáprevista), são avaliados, diariamente,a pontualidade às aulas e aos actoscomunitários é ponto de honra.Aula de Órgão

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As cadeiras que integram estes Cursossão: Liturgia, Harmonia, História daMúsica Sacra e Coro (comuns a todos osalunos), Direcção de coros, comformação vocal e Órgão, comimprovisação litúrgica, (específicas,conforme as áreas escolhidas).

Estes cursos, nos segundos e nosterceiro anos, são antecedidos por Cursosespeciais sob a responsabilidade demestres altamente qualificados, nas

respectivas matérias: Canto Gregoriano,no segundo ano, e Direcção de Coros eÓrgão, no terceiro ano.

No final do Curso, após umaavaliação global, cada aluno recebe umDiploma.

Depois da devida publicidadeorganizada pelo Serviço Nacional deMúsica Sacra, em todas as Diocesesportuguesas, da qual fazia parte umregulamento muito preciso quanto às

Aula de Direcção Coral

Aula de Liturgia

158 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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condições das candidaturas ao Curso(uma prova de amadurecidos conheci-mentos musicais, o compromisso daparóquia ou comunidade, através dolegítimo responsável, com os candidatosperante a direcção dos Cursos), arrancouo terceiro Curso Nacional de Directoresde Coros e Organistas para a Liturgia quedecorreu entre 22 e 31 de Agosto de2003.

Nos Cursos anteriores entendemosque seria importante integrar doisqualificados professores alemães, nasáreas da direcção coral, do órgão e daharmonia. Desta vez, optámos porprofessores portugueses, com uma sólidaformação musical e uma estruturadaexperiência, no terreno exigente daMúsica Sacra. Pudemos fazer umaescolha, com a maior naturalidade. Comefeito os professores António MárioCosta, P. António Cartageno, P. Azevedode Oliveira e P. Ferreira dos Santos játinham sido professores dos cursosanteriores. Três dos novos professores,

António Esteireiro, Emanuel Pacheco eFilipe Veríssimo tinham sido alunosbrilhantes dos cursos anteriores, depoisdos quais fizeram estudos universitários.A todos estes juntaram-se o liturgista,P. João Peixoto que veio substituir oCónego José Ferreira (a quem estesCursos de Fátima muito ficaram a dever)e o professor Fernando Valente,conhecido compositor de música sacra.Temos, assim, professores vindos deAveiro, Beja, Braga, Lisboa e Porto.Pluralidade e unidade. Estes professoresconstituem uma equipa de trabalhoextremamente interessante e essaqualidade passa, claramente, para osalunos.

Apareceram 56 alunos, vindos de 18Dioceses portuguesas. Estes alunosdemonstraram, na sua quase totalidade,uma boa formação musical (em algunscasos, muito boa). As aulas, o estudopessoal, as celebrações, uma pequenaaudição (órgão), o clima das relações dosalunos, entre si e com os professores, e

Celebração litúrgica

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dos professores, entre si, atingiram umnível excelente.

Oxalá estes alunos tenham o melhoracolhimento nas suas paróquias ecomunidades, com os seus responsáveis,para que se motivem, ainda mais, e nãopercam a esperança de poderemcontribuir para que as celebrações sejam,cada vez, mais vivas, mais participadase mais sinal de cultura. É que elesmanifestam um notável empenho e umaexemplar generosidade que não podemdeixar indiferentes os responsáveis dascomunidades: párocos, reitores, superioresou superioras das Ordens e CongregaçõesReligiosas e Institutos.

A garantia da qualidade da músicalitúrgica que se pratica nas Celebraçõespassa por uma cuidada preparaçãomusical e litúrgica dos directores doscoros litúrgicos, dos organistas, dossalmistas, dos condutores da Assembleiae dos responsáveis pela escolha doscânticos para a Liturgia

Celebração final

A Liturgia é a grande escola da fécristã. Uma boa música litúrgica, noscapítulos da sua relação com os ritos, doreportório e da execução, é uma dastraves mestras da Liturgia.

O segundo ano do terceiro CursoNacional de Directores de Coros eOrganistas para a Liturgia ocorrerá entre20 de Agosto de 2004, com inicio ás 9,30horas, e 31 de Agosto, com encerramentoàs 18 horas.

Os dias 20, 21 e 22 de Agosto serãopreenchidos com um Curso especial:INTRODUÇÂO AO CANTO GREGORIANO.Este Curso será orientado por um dosmaiores especialistas de CantoGregoriano da actualidade: ProfessorJohannes GOESCHL (Escola Superior deMunique).

A. FERREIRA DOS SANTOS

160 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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JULHO – DEZEMBRO 2003 161

ÓRGÃO DE TUBOS

CONGRESSO«O ÓRGÃO E A LITURGIA, HOJE»

Fátima, 20-22 de Novembro de 2003

O Reitor do Santuário de Fátima,Mons. Luciano Guerra, ao reflectir nasquestões e problemas decorrentes doavanço para a construção da programadaigreja dedicada à Santíssima Trindade,entendeu que seria conveniente organizarum debate no qual fossem confrontadasopiniões e sensibilidades de especialistassobre o que poderia vir a ser um órgãode tubos para essa nova igreja. Colocouo assunto nas mãos do Secretariado Na-cional de Liturgia. O Vogal desse Secre-tariado para a música sacra e Presidentedo Serviço Nacional de Música Sacra(SNMS) ficou encarregado de tratar detudo o que se viesse a relacionar com osonhado debate.

Das conversas havidas entre o Rei-tor do Santuário de Fátima e o Presiden-te do SNMS nasceu a ideia da organiza-ção de um Congresso sobre o Órgão deTubos e a Liturgia. Parecia oportuno; taliniciativa não tinha acontecido, ainda,em Portugal. Foi designada, então, umaComissão Científica que viria a ser inte-grada pelos seguintes elementos: PadresJoão Peixoto e Luís Manuel Silva, Pro-fessores da Universidade Católica Por-tuguesa e Vogais do Secretariado Nacio-nal de Liturgia, Professor José Uriol,Director do Conservatório Superior deMúsica de Saragoça, Professor Ruy Vi-eira Nery, da Universidade de Évora eDirector do Serviço de Música da Fun-dação Calouste Gulbenkian e Cón. An-

tónio Ferreira dos Santos, Presidentedo SNMS que presidiria à ComissãoCientífica. Esta, em reunião com o Rei-tor do Santuário de Fátima, colocou so-bre a mesa de trabalho um vasto lequede questões, a saber: a conveniência de

Sessão de abertura:D. Giuseppe Pittau, (Secretário da Congre-gação para a Educação Católica). D. Joséda Cruz Policarpo (Cardeal Patriarca deLisboa), Mons. Luciano Guerra (Reitor doSantuário de Fátima).

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162 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

assinalar o centenário da publicação do“Motu Proprio” Tra le Sollecitudini dePio X (22 de Novembro de 1903) e osquarenta anos da Constituição sobre aSagrada Liturgia “Sacrosanctum Conci-lium”( 4 de Dezembro de 1963) – ambosos documentos defendem que o Órgãode Tubos é o instrumento musicalpróprio da Liturgia romana –, o grandemovimento de Órgãos de Tubos (órgãosnovos e restauro de órgãos históricos)registado em Portugal nos últimos vintee cinco anos, a formação de novos orga-nistas em Escolas portuguesas e estran-geiras, a criação de Oficinas deOrganaria, o interesse do Estado e demuitas Comunidades cristãs na músicade órgão, etc. Emerge, assim, o propósitode se organizar um Congresso Internacio-nal subordinado ao tema: “O Órgão deTubos e a Liturgia, Hoje”

Definido o conceito do Congresso,nas suas linhas gerais, a Comissão Cien-tífica optou por uma estratégia que pu-desse provocar uma grande partilha decontributos vindos de especialistas por-tugueses e estrangeiros, uma definiçãodo organista para a Liturgia e do órgãopara a Liturgia, um interesse mais cons-

ciente pela composição de música paraórgão, um desafio para a busca e a práticade uma música litúrgica de qualidadeestética, uma orientação mais precisapara a escolha de um órgão novo na fu-tura igreja da Santíssima Trindade, umaatenção maior por parte da Igreja e doEstado para o património organístico,etc.

Nessa lógica, a Comissão Científicado Congresso convidou para conferen-cistas ou palestrantes reconhecidos es-pecialistas portugueses e estrangeiros(europeus e americanos): liturgistas,musicólogos, organistas, organeiros, di-rectores de música litúrgica (da liturgiacatólica e dos serviços religiosos pro-testantes), directores de revistas da es-pecialidade e críticos musicais.

Foram convidados de honra S. Ex.Rev.ma. o Senhor Secretário da Congre-gação para a Educação Católica, Arce-bispo D. Giuseppe Pittau, o Presidenteda Conferência Europeia da Música Sa-cra Católica, Prof. Walter Singschmid,os Reitores das duas Escolas Superioresde Música Sacra da Europa: Prof. Va-lentino Miserachs, Reitor do InstitutoPontifício de Música Sacra de Roma e oProf. Franz Stoiber, Reitor da EscolaSuperior de Regensburgo (a mais antiga

Con. Dr. Ferreira dos Santos,Presidente da Comissão Científica do

Congresso Internacional.

D. Giuseppe Pittau, (Secretário da Con-gregação para a Educação Católica).

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Escola de Música Sacra do mundo), osPresidentes das Comissões de MúsicaSacra dos países europeus, os mais re-putados organeiros europeus, o Directore os Vogais do Secretariado Nacional deLiturgia, os membros do Serviço Nacio-nal de Música Sacra, a Direcção da Es-cola das Artes da Universidade Católicae os mais destacados organistas,organeiros, compositores e críticos mu-sicais de Portugal.

Receberam convites especiais, tam-bém, Sua Eminência o Senhor CardealPatriarca de Lisboa e Presidente daConferência Episcopal Portuguesa, D.José da Cruz Policarpo, que se dignoupresidir e encerrar a sessão de Aberturado Congresso, Sua Ex. Rev.ma. o Se-nhor Presidente da Comissão Episcopalde Liturgia, D. António Maria BessaTaipa que presidiu e encerrou a sessãoda manhã do segundo dia e Sua Ex.Rev.ma, o Senhor Bispo de Leiria e Fá-tima, D. Serafim Ferreira e Silva quepresidiu à celebração evocativa de San-ta Cecília (22 de Novembro) e presidiue encerrou a sessão de conclusão doCongresso.

Participaram no Congresso 156 pes-soas. Do estrangeiro vieram cerca de 42participantes (da Alemanha, Áustria,

Espanha, Irlanda, França, Itália, Poló-nia, Suiça, República Checa, EstadosUnidos da América, Brasil).

Durante o Congresso, houve concer-tos e actuações corais, com música por-tuguesa, pelo Coro da Sé Catedral doPorto, sob a direcção do maestro Eugé-nio Amorim, pelo Coro Gulbenkian, soba direcção do maestro Fernando Eldoroe do agrupamento Ançanble, sob a di-recção do maestro Pedro Miranda, as-sim como uma visita de estudo (21 deNovembro, de tarde), aos órgãos da Ba-sílica de Mafra (caso único no mundo: 6órgãos num espaço), onde houve umconcerto, a dois órgãos, pelos organistasJoão Vaz e Rui Paiva, e à Sé Patriarcalde Lisboa na qual houve uma Celebra-ção Eucarística, com a participação doCoro Gregoriano de Lisboa, sob a direc-ção da maestrina Helena de Matos e doCoro de Santa Maria de Belém, sob a

Prof. Franz Stoiber, Reitor da Escola Superior de Regensburgo

Prof. Ruy Vieira Nery, Universidade deÉvora e Fundação Calouste Gulbenkian

JULHO – DEZEMBRO 2003 163

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direcção do maestro Fernando Pinto.Esta visita de estudo terminou no Caste-lo de S. Jorge, com um jantar oferecidopela Ex. Câmara de Lisboa.

O Secretariado do Congresso foiconstituído por: P. Dr. Artur Oliveira(Director), António Valinho, Isabel Oli-veira e Rui Mendes.

Durante os três dias do Congressoque, do ponto de vista científico, come-çaram por uma lição de fundo à qual seseguiam variadíssimas comunicaçõesmonográficas, com debate, foram re-flectidos todos os aspectos sob os quaiso Órgão e a Liturgia podem ser focados.

A polifonia histórica, portuguesa ebrasileira, e os órgãos históricos portu-gueses foram referidos, com rigor e pre-cisão. Com efeito, o órgão de tubos estápara a música instrumental, na Liturgia,como a polifonia sagrada está para amúsica coral litúrgica. Os princípios pe-renes da música litúrgica do Vaticano IIforam esmiuçados, exaustivamente, apartir do “Motu Proprio” Tra leSollecitudini dePio X, à luz dos docu-mentos conciliares.

Neste enquadramento, o Órgão deTubos foi considerado, analisado e estu-dado, em todos os aspectos e vertentes:o órgão como instrumento cósmico, a li-teratura organística na liturgia de hoje,o órgão como o mais verdadeiro dos ins-trumentos musicais (porque concebidoà imagem e semelhança do homem), oórgão como o melhor intérprete instru-mental dos substratos antropológicosdos ritos das celebrações e da especifi-cidade dos tempos do Ano Litúrgico, oórgão e as linguagens musicais contem-porâneas, o órgão (enquanto móvel) e aarquitectura de uma igreja, o órgão nascelebrações litúrgicas dos Estados Uni-dos da América do Norte, do Brasil, daAlemanha, da França e da RepúblicaCheca, o órgão histórico na liturgia con-ciliar, o futuro do órgão na Liturgia, o

Prof. Mons. Valentino Miserachs,Presidente do Instituto Pontifício

de Música Sacra – Roma

164 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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uso litúrgico do órgão electrónico (umasituação de compromisso).

Todos os temas, magistralmenteapresentados por eminentes mestres,demonstraram que o Órgão de Tubos é,não só, o rei dos instrumentos, em geral,mas também o instrumento musicalmais adequado à Liturgia católica,como o afirmam os mais recentes docu-mentos da Igreja.

O Congresso Internacional “ O Ór-gão de Tubos e a Liturgia, Hoje”, nasActas que, em breve, serão publicadas,constituirá, no futuro, um contributoimprescindível para musicólogos,organólogos, organeiros, organistas, litur-gistas e directores de Música litúrgica,no nosso tempo.

Conclusões do Congresso

1No encerramento deste Congresso

Internacional «O Órgão e a Liturgia,Hoje», no 1º centenário do “Motu Pro-prio” Tra le sollecitudini» e na iminên-cia do 40.º aniversário da promulgaçãoda Constituição Conciliar sobre a Sa-grada Liturgia, congratulando-se com:

– o Santuário de Nossa Senhora doRosário de Fátima, na pessoa do seuReitor, pela feliz iniciativa;

– a adesão nacional e internacional departicipantes tão qualificados e repre-sentativos: liturgistas, organeiros,organólogos, organistas, composito-res, musicólogos, directores de Mú-sica na liturgia, arquitectos, agentesvários da pastoral da Igreja e da mú-sica na liturgia, em especial;

– o facto de este Congresso ter pro-porcionado um amplo debate em queforam contempladas todas as vertentesrelacionadas com o órgão de tubosna Igreja e na sua Liturgia em confe-rências, comunicações, debates,concertos e celebrações de elevadaqualidade, a ponto de se desejar queno futuro haja iniciativas similares;

Prof. José Uriol, Director do Conserva-tório Superior de Música de Saragoça.

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– a afirmação crescente de um movi-mento nacional em favor do órgãode tubos (recuperação, aquisição,utilização e conservação);

2.e constatando que:

– a Música é parte integrante daLiturgia de sempre e que a reformalitúrgica, longe de diminuir a impor-tância do órgão, lhe abriu novos ho-rizontes;

– que o Órgão de Tubos, desde sempree também hoje nos provoca para oencontro, a harmonia e o diálogo en-tre o divino e o humano, o transcen-dente e o imanente, a fé e a cultura, aIgreja e o Estado, contribuindo paraa aproximação dos homens indepen-dentemente de todas as diferenças;

3.A Comissão Científica formula os

seguintes votos:

1. Que a Igreja em Portugal assumacomo incumbência própria a criaçãode condições para que o Órgão deTubos e os organistas possam efecti-vamente cumprir a sua missão;

2. Seja criada a figura do «Músico deIgreja», com estatuto reconhecido;

3. Seja particularmente cuidada a qua-lidade musical da Liturgia nas cate-drais;

4. Se aposte na formação do organistapara a Liturgia a todos os níveis (di-ocesano, nacional) e graus e em to-das as vertentes (litúrgica, técnica epastoral);

5. Seja constituída uma comissãoparitária entre a Igreja e o Estadopara equacionar as responsabilida-des respectivas em relação a toda aproblemática do Órgão de Tubos;

6. Sejam reconhecidos pelo Estado ostítulos académicos de Música Sacracom todos os efeitos profissionais;

7. Que na aquisição de novos instru-mentos e na recuperação dos exis-tentes se privilegiem critérios decomprovada qualidade;

8. Que se incentive a composição denovos repertórios musicais para oÓrgão de Tubos.

Soli Deo Gloria.

Fátima,Festa de Santa Cecília de 2003.

Prof. Nicolas Roger,Organista do Santuário de Fátima

166 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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JULHO – DEZEMBRO 2003 167

COMISSÃO CIENTÍFICADO CONGRESSO

Cón. Dr. António Ferreira dos Santos(Presidente do Serviço Nacional deMúsica Sacra e Presidente da Comis-são Científica).

Prof. Dr. João da Silva Peixoto(UCP – Porto).

Prof. José Uriol (Director do Conserva-tório Superior de Música de Saragoça).

Prof. Dr. Luís Manuel Pereira da Sil-va (UCP – Lisboa).

Professor Doutor Ruy Vieira Nery(Universidade de Évora / FundaçãoCalouste Gulbenkian).

LISTA DAS CONFERÊNCIAS

1. MÚSICA E LITURGIA:– D. Giuseppe Pittau, Secretário da

Congregação para a Educação Cató-lica.

– Os princípios eternos da MúsicaSacra, Prof. Mons. ValentinoMiserachs, (Presidente do InstitutoPontifício de Música Sacra - Roma).

– Apresentação do Motu Proprio Trale Sollecitudini.

– Influência do Motu Proprio naMúsica Litúrgica do séc. XXProf. Felice Rainoldi, (Universidadede Roma e Como).

2. MÚSICA SACRA HISTÓRICA:

– A Polifonia Sacra Portuguesa dossécs. XVI, XVII e XVIII,Prof. José Maria Pedrosa(Univerdade de Coimbra).

– O repertório musical sacro luso-brasileiro do séc. XVIII,Prof. Sérgio Dias (Musicólogo, Bra-sil).

3. MÚSICA DE ÓRGÃO E MÚSICAVOCAL, SOB A PERSPECTIVAMUSICOLÓGICO-ECLESIAL,Prof. Ruy Vieira Nery (Universida-de de Évora / Fundação CalousteGulbenkian).

4. FUNÇÃO DA MÚSICA DE ÓRGÃO EDA MÚSICA VOCAL NA IGREJAEVANGÉLICA, Prof. Martin Lutz (Universidade deMainz / Frankfurt e).

5. ÓRGÃO DE TUBOS: RELAÇÃO COM OCOSMOS, HISTÓRIA E SIMBÓLICA,Prof. Franz Stoiber, (Reitor da Esco-la Superior de Música Sacra deRegensburgo – Alemanha).

6. LINGUAGENS MUSICAIS CONTEMPO-RÂNEAS E COMPOSIÇÃO PARA ALITURGIA,Prof. Johann Trummer (Graz – Áus-tria).

7. O ÓRGÃO HISTÓRICO E A LITURGIA,HOJE,Professor José Uriol (Director doConservatório Superior de Músicade Saragoça).

8. A MÚSICA LITÚRGICA PARA ÓRGÃONO SEC. XX:

– A Música Litúrgica para Órgão,em França, no séc. XX,Prof. Frédéric Blanc (Presidente daFundação Duruflé, Paris).

– Friedrich Ladegast - Um proemi-nente organeiro do Séc. XIX naAlemanha,Christoph Linde (Organólogo,Dresden - Alemanha).

– A Música Litúrgica para Órgão, naAlemanha, no séc. XX,Prof. Klemens Schnorr (Friburgo –Alemanha.

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– O organista litúrgico, hoje,Prof. Klemens Schnorr (Friburgo –Alemanha).

9. O ÓRGÃO E A LITURGIA NO NOVOMUNDO:

– O Órgão Litúrgico nos EstadosUnidos,Prof. Marie Rubis Bauer (Laurence– Kansas – USA).

– O Órgão Litúrgico no BrasilProf. Marco Aurélio Lischt (Rio deJaneiro)

10. DIÁLOGO ENTRE O ORGANISTA DALITURGIA E O CONSTRUTOR DE ÓR-GÃOS PARA A LITURGIA:

– O organista litúrgico e o organeiro,Prof. Nicolas Roger (Organista, San-tuário de Fátima).

– O organeiro e a Música Litúrgicapara Órgão, Gerhard Grenzing(Organeiro, Barcelona).

11. COMPOSIÇÃO PARA ÓRGÃOLITÚRGICO, HOJE:

– As obras para Órgão Litúrgico dePeter Eben,Prof. David Eben (Universidade dePraga).

12. O ÓRGÃO DE TUBOS NA IGREJA,HOJE:Cónego Dr. Ferreira dos Santos (Por-to), Presidente do Serviço Nacionalde Música Sacra.

13. A FORMAÇÃO DO ORGANISTALITÚRGICO, HOJE:Prof. Andrzej Chorosinski (Univer-sidade de Varsóvia – Polónia).

14. O USO DO ÓRGÃO ELECTRÓNICO NALITURGIA, HOJE:Prof. António Cartageno (Beja).

15. A IMPLANTAÇÃO DO ÓRGÃO NO ES-PAÇO LITÚRGICO DE UMA IGREJA:Prof. José Ribeiro Gomes (Universi-dade Católica- Porto).

Coro da Sé Catedral do Porto

168 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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MÚSICA PARA BANDAS

JULHO – DEZEMBRO 2003 169

CÂNTICOS INSTRUMENTADOSPARA BANDA E CORO

Informação complementar

No último número deste Boletim, o P. Dr. Jorge Alves Barbosa apresentoudetalhadamente uma colectânea de cânticos por si instrumentados para Banda, com otítulo genérico “In sono tubae”. É uma obra de grande fôlego – ao todo 114 cânticos deautores vários, do “Próprio” e do “Ordinário da Missa” e outros – que o P.e Barbosapreparou com dedicação e competência para uso conjunto das Bandas de Música e Coros/ Assembleias. Em espírito de serviço eclesial, ele pôs este vasto material à disposiçãodo SNMS, em Fátima. Trata-se de um exemplar único, precisando de ser fotocopiadosempre que alguém solicite algum cântico.

Como complemento ao citado artigo do P.e Barbosa informamos que o ServiçoNacional de Música Sacra, já em 1999, pretendendo responder de uma forma funcional anecessidades imediatas, seleccionou alguns cânticos do I Vol. de “In sono tubae”, instru-mentados pelo P.e Barbosa, acrescentando outros instrumentados pelo P.e Cartageno(estes com uma formação instrumental mais reduzida) e ainda outros instrumentadospelo P.e Joaquim dos Santos. Surgiu assim o livro “Cânticos Instrumentados para Banda”que inclui 38 cânticos para a Missa, num total de 283 páginas, do qual se imprimiramalgumas centenas de exemplares. [Eis o índice desta obra:]

Cântico Autor Instrumentador Pág.

Aclamai Jesus Cristo Fernandes da Silva Jorge Barbosa 22Aleluia I – Pascal Gregoriano Jorge Barbosa 39Aleluia II Az. Oliveira Jorge Barbosa 44Aleluia III M. Faria Jorge Barbosa 51Aleluia IV M. Simões Jorge Barbosa 55Aleluia V Fernandes da Silva Jorge Barbosa 61Aleluia VI Miguel Carneiro A. Cartageno 66Cantai ao Senhor, cantai M. Simões A. Cartageno 30Cantai comigo Henrique Faria Jorge Barbosa 179Canticorum Jubilo G. F. Händel Jorge Barbosa 199Coral “Grande Deus” J. S. Bach Jorge Barbosa 71Cordeiro de Deus J. Santos J. Santos 280Desde toda a eternidade P. Decha/M. Carneiro Jorge Barbosa 220É Cristo quem nos convida Carlos Silva Jorge Barbosa 142

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170 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

Eu sou o Pão da Vida Borges de Sousa Jorge Barbosa 150Eu sou o Pão vivo Carlos Silva Jorge Barbosa 124Formamos um só corpo Carlos Silva Jorge Barbosa 164Glória a Deus nas alturas J. Santos J. Santos 256Na hóstia sobre a patena Benjamim Salgado Jorge Barbosa 83Nós Te cantamos, Maria M. F. Borda Jorge Barbosa 213Nossos cânticos se elevem M. Simões Jorge Barbosa 238O Corpo de Jesus é alimento A. Cartageno Jorge Barbosa 128Povo de Reis L. Deiss Jorge Barbosa 17Povo teu somos Coral séc. XVI Jorge Barbosa 191Santa Maria, Mãe de Deus M. Simões Jorge Barbosa 225Santo I M. Luís Jorge Barbosa 101Santo II A. Cartageno A. Cartageno 109Santo (Missa Simples) J. Santos J. Santos 275Se vos amardes Fernandes da Silva Jorge Barbosa 116Senhor, misericórdia A. Cartageno A. Cartageno 34Senhor, tende piedade de nós J. Santos J. Santos 250Senhor, Tu é a luz Az. Oliveira Jorge Barbosa 172Senhora, um dia descestes Carlos Silva A. Cartageno 231Somos a Igreja de Cristo M. Silva / M. Faria Jorge Barbosa 9Somos todos convidados Fernandes da Silva Jorge Barbosa 156Tomai, Senhor, e recebei J. Santos Jorge Barbosa 89Vamos comungar J. Santos J. Santos 185Vós sereis meus amigos M. Luís Jorge Barbosa 136

Muitas Bandas / Filarmónicas adquiriram já este livro, especialmente por altura da“Peregrinação Nacional de Bandas e Coros Litúrgicos” a Fátima, no Jubileu dos Músi-cos, em Outubro de 2000. No Secretariado Nacional de Liturgia ainda há algumas deze-nas de exemplares em depósito.

SNMS

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JULHO – DEZEMBRO 2003 171

INSTITUTO SUPERIOR DE LITURGIADE BARCELONA

FILOSOFIA E LITURGIA

No contexto do seu décimo quintoaniversário, o Instituto Superior deLiturgia de Barcelona organizou, com aFaculdade de Filosofia da Catalunha,uma sessão de estudo sobre Filosofia eLiturgia, realizada no passado 4 de Ju-nho na sede das referidas instituiçõesacadémicas, no Seminário Conciliar deBarcelona.

O tema foi tratado a partir do livro deSamuel Rouvillois, Corps et Sagesse.Philosophie de la liturgie.

Abriu e concluiu o acto o director doInstituto Litúrgico, Mons. Pere Tena,Bispo Auxiliar de Barcelona, o qualdestacou a importância de uma reflexãoao redor destas duas disciplinas, fazendoreferências concretas ao que a renovaçãolitúrgica do Vaticano II tinha pretendido,em continuidade com o movimento

O nosso com-patriota, ÂngeloCardita, professorconvidado do Insti-tuto Superior deLiturgia de Barce-lona, proferiu umaconferência nocontexto do 15ºaniversário daquelaInstituição de for-mação litúrgica.

litúrgico europeu dos princípios do séculoXX.

O Dr. Jaume Aymar, director da Facul-dade de Filosofia, fez a apresentação doDr. Carles Llinás, professor e vice-di-rector da mesma Faculdade, o qual teveuma sugestiva intervenção intitulada«Litúrgia, ángels, política».

Em seguida, o Dr. Jaume GonzálezPadrós, coordenador de estudos do Ins-tituto Superior de Liturgia de Barcelona,apresentou o segundo conferencista, oMestre Ângelo Cardita, professor convi-dado do Instituto litúrgico, e que actual-mente prepara a tese de doutoramento naFaculdade de Teologia do PontifícioAteneu de Santo Anselmo de Roma. Oprofessor Ângelo Cardita, activo promo-tor desta sessão de estudo, intitulou a suaconferência: «Una Liturgia “atravesada”

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172 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

por la Adoración». As suas palavras foramde uma grande qualidade expositiva e comum conteúdo muito rico, mostrando atodos o seu amplo conhecimento do textode Rouvillois, indicando as suas riquezase limites, sugerindo, ao mesmo tempo,linhas de reflexão no sentido das tesesconciliares sobre a Liturgia.

Esta sessão académica foi um esplên-dido exemplo da bondade da interdiscipli-naridade no estudo da Liturgia em diálogo

EDIÇÃO DO

SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

com outros ramos do saber, neste casocom a Filosofia, a partir de uma propostaconcreta, como é o livro Corps et Sagesse.O Instituto Superior de Liturgia de Barce-lona felicita-se disso, e augura que possamrepetir-se experiências como esta no fu-turo imediato.

JAUME GONZÁLEZ PADRÓS

Instituto Superior de Liturgia deBarcelona

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JULHO – DEZEMBRO 2003 173

NOVIDADE

EDIÇÃO DO

SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

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174 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

Conscientes da história e das grandestradições musicais, os músicos abrem-se,cada vez mais, à sociedade da informação.Dedicado à música na Igreja em Portugal,surgiu em Setembro passado o sítiowww.meloteca.com.

“Meloteca” é uma palavra nova, sim-bólica de um novo espaço na Internet.Mais musical do que a palavra“musicoteca”, o nome tem a riqueza de“melos” (melodia, canto acompanhado deinstrumentos) e o sentido de preservaçãodo património próprio de “tékê”. É lemadas Edições Meloteca recolher, conservar,investigar, divulgar.

www.meloteca.com abarcará pro-gressivamente uma pluralidade de músi-cas e de músicos, de disciplinas musicais esaberes, de instrumentos e vozes. Apostano intercâmbio e divulgação de composi-tores e musicólogos, de coros e regentes,de organistas e instrumentistas em geral,de órgãos e organeiros, de escolas e ins-tituições, de livros e publicações. Na con-fluência dos fenómenos musicais e da

Igreja, este sítio das artes oferece umaagenda musical, notícias, elementos his-tóricos e fotográficos, apontadores úteis,obras que pode adquirir, sugestões de can-to litúrgico para os domingos e solenida-des, pensamentos e estórias de música,músicas em midi ou mp3, novidades edi-toriais, e pequenos artigos.

www.meloteca.com vai estar em ac-tualização permanente no desenho e nosconteúdos, procurando reger-se por pa-drões de qualidade cada vez mais eleva-dos. As opiniões, sugestões, correcçõesdos visitantes são, por isso mesmo, tidasem conta. Quem dirige um coro ou fazparte de um agrupamento musical, quemtem uma profissão ligada à música ou,simplesmente, gosta de arte, incluindo ados sons, vai encontrar um novo espaço departilha musical: o nosso lucro é o benefí-cio que possam ter a música e os músicosno âmbito da Igreja em Portugal.

ANTÓNIO JOSÉ FERREIRA

www.meloteca.comO SÍTIO DA MÚSICA E DAS ARTES

www.liturgia.pt

O SÍTIO DO SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

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JULHO – DEZEMBRO 2003 175

Assinantes doBoletim de Pastoral Litúrgica

O Secretariado Nacional de Liturgiapede desculpa aos assinantes doBoletim de Pastoral Litúrgica pela

demora na publicação, bem como pelosnúmeros duplos de 2003 e 2004 até entrarna regularidade, o que esperamos e deseja-mos que aconteça a partir de Outubro de2004. Este atraso deve-se ao excesso detrabalho dos últimos meses com carácter deurgência e sem capacidade de resposta.Prometemos recompensar os assinantescom números maiores e sem aumento depreço no próximo ano de 2005.

A DIRECÇÃO

NOVIDADES EDITORIAIS

O LIVRO DO ACÓLITO. Curso para acólitos, preparado pelo PadreJosé de Leão Cordeiro. Manual a cores e com fotografias queilustram as lições.

CANTO PERENE II – Ofício dominical do Tempo Comum. Faz partedum projecto de 3 volumes com músicas para a Liturgia dasHoras [I - Ofício dominical do Advento, Natal, Quaresma ePáscoa; III - Ofício das Solenidades]. O Autor – A. Ferreira dosSantos – propõe-se compor os principais textos da Liturgia dasHoras, a começar pelo Tríduo Pascal [já em distribuição]. Já seencontra disponível o Canto Perene II, a que se seguirá o I e oIII.

AGENDA – DIRECTÓRIO LITÚRGICO 2005. Encontram-se dispo-níveis a Agenda 2005 e o Directório 2005.

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INFORMAÇÃO

LIVROS LITÚRGICOS OFICIAIS

Situação em Janeiro de 2004

Missal– Formato maior – (1ª ed.) ................................................................................... Disponível– Formato menor – (1ª ed.) .................................................................................. Esgotado– (A 2ª ed. aguarda a publicação da edição típica latina)

Leccionário:– I. Ano A (2ª ed.) – Edição revista ................................................................ Disponível– II. Ano B (2ª ed.) – Edição revista ................................................................ Disponível– III. Ano C (2ª ed.) – Edição revista ................................................................ Disponível– IV. Ferial I: Advento, Natal, Quaresma, Páscoa ............................................. Disponível– V. Ano II: Anos ímpares ................................................................................ Disponível– VI. Ano III: Anos pares .................................................................................. Disponível– VII. Santoral e Comuns .................................................................................... Disponível– VIII.Missas Rituais, Diversas e Votivas ........................................................... Disponível

Evangeliário ............................................................................................................... DisponívelOração dos Fiéis (2ª ed. revista e com formulários para o santoral) ......................... DisponívelLiturgia das Horas [revista e actualizada]

– Vol I. Advento e Natal (4ª ed.) ...................................................................... Disponível– Vol II. Quaresma e Páscoa (4ª ed.) ................................................................. Disponível– Vol III. Tempo Comum (4ª ed.) ....................................................................... Disponível– Vol IV. Tempo Comum (4ª ed.) ....................................................................... Disponível– Abrev. Edição abreviada [Laudes-H. Int.-Vésp. e Completas] (3ª ed.) .......... Disponível– Abrev. Laudes e Vésperas [Laudes-Vésp. e Completas] (1ª ed.) ................... Disponível

Celebração do Baptismo ............................................................................................ DisponívelIniciação Cristã dos Adultos ...................................................................................... DisponívelCelebração da Confirmação (2ª ed.) .......................................................................... DisponívelSagrada Comunhão e Culto do Mistério Eucarístico Fora da Missa ......................... DisponívelRitual do Ministro Extraordinário da Comunhão (4ª ed.) .......................................... DisponívelCelebração da Penitência (2ª ed.) .............................................................................. DisponívelUnção e Pastoral dos Doentes ................................................................................... DisponívelCelebração das Exéquias ........................................................................................... EsgotadoOrdenação do Bispo, dos Presbíteros e Diáconos (2ª ed.) ........................................ DisponívelCelebração do Matrimónio (nova edição) ................................................................. DisponívelDedicação da Igreja e do Altar .................................................................................. DisponívelBênção de um Abade e de uma Abadessa ................................................................. DisponívelRitual da Profissão Religiosa ..................................................................................... DisponívelRitual dos Exorcismos ............................................................................................... DisponívelConsagração das Virgens ........................................................................................... DisponívelCelebração das Bênçãos ............................................................................................ DisponívelInstituição dos Leitores e dos Acólitos ...................................................................... DisponívelBênção dos Óleos dos Catecúmenos

e dos Enfermos e Consagração do Crisma (2ª ed.) .............................................. Disponível

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PUBLICAÇÕES DO SNL

A celebração do Tempo do Natal (2ª ed.) ........................................................ € 3,50 A Religiosidade Popular e a Celebração da Fé ............................................... € 2,00Adaptação das Igrejas segundo a Reforma Litúrgica..................................... € 3,50Akathistos ....................................................................................................... € 2,00Antologia Litúrgica. Textos litúrgicos, patrísticos e canónicos do primeiro milénio ............ € 40,00As bênçãos ...................................................................................................... € 3,50As crianças louvam o Senhor .......................................................................... € 5,00Bênçãos da Família ......................................................................................... € 3,50Cânticos de Entrada e de Comunhão I (Advento, Natal, Quaresma e Páscoa) .................................................. € 6,00Cânticos de Entrada e de Comunhão II (Tempo Comum) .............................. € 6,00Cânticos instrumentados para Banda .............................................................. € 10,00Directório para as celebrações dominicais na ausência do presbítero ............ € 0,50Directório Litúrgico 2005 ............................................................................... € 5,00Agenda – Directório Litúrgico 2005 ............................................................... € 7,50Enquirídio dos Documentos da Reforma Litúrgica ........................................ € 25,00Guião do XXIX Encontro Nacional Pastoral Litúrgica .................................. € 5,00Guião do XXX Encontro Nacional Pastoral Litúrgica.................................... € 5,00Introduções aos Salmos e Cânticos de Laudes e Vésperas ............................. € 4,00Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas (2ª ed.) ....................................... € 2,00Liturgia das Horas – Edição para canto (Tempo Comum) .............................. € 10,00Liturgia das Horas – Ed. para canto II (Advento, Natal, Quar. e Páscoa) ...... € 12,00O Ministério do Leitor – EsgotadoO Tríduo Pascal – Liturgia das Horas – F. Santos .......................................... € 2,50O Tempo Pascal (2ª ed.) .................................................................................. € 3,50Orar cantando – Carlos da Silva ..................................................................... € 12,50Ordenamento das Leituras da Missa ............................................................... € 2,50Ritual do Ministro Extraordinário da Comunhão (4ª ed.) ............................... € 4,00Salmos Responsoriais – Organista – (2ª ed.) – P. Manuel Luís ...................... € 17,50Salmos Responsoriais – Salmista – (2ª ed.) – P. Manuel Luís ........................ € 14,00

Em prEparação:

Canto Perene II – Cânticos Evangélicos dos Domingos do Tempo Comum F. SantosO Livro do Acólito – José de Leão Cordeiro

Secretariado Nacional de LiturgiaSantuário de Fátima – Apartado 31 — 2496-908 FÁTIMATel. 249 533 327 Fax 249 533 343E-mail: [email protected]ítio: www.liturgia.pt

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Secretariado NacioNal de liturgia

A Liturgia é simultaneamentea meta

para a qual se encaminha a acção da Igrejae a fonte

de onde promana toda a sua força.(SC 10)