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Introdução Aos Materiais Dentários

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Livro.

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INTRODUÇÃO AOS

MATERIAIS DENTÁRIOS

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TERCEIRA EDIÇÃO

RICHARD VAN NOORT BSc DPhil

Professor in Dental Materials Science, Department of Restorative Dentistry University of Sheffi eld, Sheffi eld, UK

INTRODUÇÃO AOS

MATERIAIS DENTÁRIOS

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Do original: Introduction to Dental Materials, 3rd Edition© 1994, Times Mirror International Publishers Limited. © 2002, Elsevier Science Limited. © 2007, Elsevier Limited. Tradução autorizada do idioma inglês da edição publicada por Mosby – um selo editorial Elsevier Inc.ISBN: 978-0-7234-3404-7

© 2010 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográfi cos, gravação ou quaisquer outros.ISBN: 978-85-352-3547-0

CapaFolio Design

Editoração EletrônicaRosane Guedes

Elsevier Editora Ltda.Conhecimento sem Fronteiras Rua Sete de Setembro, nº 111 – 16º andar20050-006 – Centro – Rio de Janeiro – RJ Rua Quintana, nº 753 – 8º andar04569-011 – Brooklin – São Paulo – SP Serviço de Atendimento ao Cliente0800 026 53 [email protected] Preencha a fi cha de cadastro no fi nal deste livro e receba gratuitamente informações sobre os lançamentos e promoções da Elsevier. Consulte também nosso catálogo completo, os últimos lançamentos e os serviços exclusivos no site www.elsevier.com.br.

NOTAO conhecimento médico está em permanente mudança. Os cuidados normais de segurança devem ser seguidos, mas, como as novas pesquisas e a experiência clínica ampliam nosso conhecimento, alterações no tratamento e terapia à base de fármacos podem ser necessárias ou apropriadas. Os leitores são aconselhados a checar informações mais atuais dos produtos, fornecidas pelos fabricantes de cada fármaco a ser administrado, para verifi car a dose recomendada, o método e a duração da administração e as contraindicações. É responsabilidade do médico, com base na experiência e contando com o conhecimento do paciente, determinar as dosagens e o melhor tratamento para cada um individualmente. Nem o editor nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventual dano ou perda a pessoas ou a propriedade originada por esta publicação.

O Editor

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

N741i Noort, Richard van Introdução aos materiais dentários / Richard van Noort ; [tradução Débora Rodrigues Fonseca... et al.]. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2010. il. Tradução de: Introduction to dental materials, 3rd ed Inclui bibliografi a ISBN 978-85-85-352-3547-0 1. Materiais dentários. I. Título.

09-5268. CDD: 617.695 CDU: 616.314-7

05.10.09 06.10.09 015532

Richard van Noort tem o direito de ser identifi cado como autor desta obra de acordo com o Copyright, Designs and Patents Act, 1988.

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REVISÃO CIENTÍFICA E TRADUÇÃO

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REVISÃO CIENTÍFICA

Alessandra ReisProfessora Adjunta do Departamento de Dentística da Universidade Estadual de Ponta Grossa, PRDoutora em Materiais Dentários pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP)

Alessandro Dourado LoguercioProfessor Adjunto do Departamento de Dentística da Universidade Estadual de Ponta Grossa, PRDoutor em Materiais Dentários pela Faculdade de Odontologia da USPMestre em Dentística pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas, RS

TRADUÇÃO

Adriana do Socorro Lima Figueiredo (Caps. 1.4, 3.2. 3.5)Especialista em Implantodontia pela Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo), SPCirurgiã-dentista pela Universidade Federal do Pará

Débora Rodrigues Fonseca (Caps. 2.1, 2.3 a 2.5 e 2.7)Mestre em Anatomia (Ciências Morfológicas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela UFRJCirurgiã Bucomaxilofacial do Hospital Geral do Andaraí, RJSubchefe do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital Estadual Getulio Vargas, RJ

Lorena Da Rós Gonçalves (Caps. 1.1 e 1.7 a 1.9)Professora do Instituto Orthodontic da Fatec, Niterói, RJMestre e Especialista em Periodontia pela UFRJEspecialista em Implantodontia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)Graduada em Odontologia pela UFES

Marco Antonio Gallito (Caps. 1.6 e 1.10)Professor Adjunto de Clínica Integrada da Universidade Federal Fluminense (UFF)Doutor Mestre e Especialista em Dentística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

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vi REVISÃO CIENTÍFICA E TRADUÇÃO

Mariana Alves de Sá Siqueira (Caps. 1.5, 2.2 e Índice)Doutoranda em Periodontia pela UERJMestre em Ciências (pós-graduação em Ciências Médicas) pela UERJEspecialista em Periodontia pela Universidade Veiga de Almeida (UVA), RJGraduada em Odontologia pela UERJ

Mariana Ribeiro de Moraes Rego (Caps. 3.6 a 3.8)Professora Assistente do Departamento de Prótese da UERJMestre em Reabilitação Oral pela Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP)

Mayra Cardoso (Cap. 3.4)Mestre em Prótese Dentária pela UERJEspecialista em Prótese Dentária pela Universidade do Grande Rio (Unigranrio), RJ

Rodrigo Melo do Nascimento (Cap. 3.9)Pós-graduado em Radiologia Oral (lato sensu) pela UFRJGraduado em Odontologia pela UFRJ

Sarah Aparecida Ferreira Antero (Caps. 1.2, 2.6 e 3.1)Ex-residente e Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais pela UERJEspecialista em Estomatologia pela UFRJIntegrante da equipe de CTBMF do Hospital Geral de Bonsucesso e do Hospital Estadual Getulio Vargas, RJ

Vinícius Farias Ferreira (Caps. 1.3 e 3.3)Mestre em Clínica Odontológica (Periodontia) pela UFFEspecialista em Prótese Dentária pela Puc-Rio

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PREFÁCIO

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É raro um procedimento dentário restaurador que não utilize um material dentário de um modo ou de outro. Atualmente, com o rápido desenvolvimento dos mate-riais dentários, a sobrevida típica dos materiais dentários, antes de sua modifi cação ou substituição, pode algumas vezes ser menor que 3 anos. Portanto, dentro de um período muito curto, muitos materiais atualmente em uso serão substituídos por novos. Temos presenciado a introdução de novos materiais restauradores, tais como cimentos de ionômero de vidro modifi cado por resina e compômeros, e o desenvolvimento de novos procedi-mentos para adesão em metais. A necessidade da terceira edição deste livro após apenas 6 anos de sua segunda edição é a prova de que mudanças rápidas estão ocor-rendo. Assim, muito do aprendizado sobre os materiais obtido por um estudante de graduação será alterado ou substituído quando ele se tornar um clínico. Para acom-panhar os rápidos avanços dos materiais dentários, o dentista precisa estar apto a avaliar o potencial desses materiais novos, o que requer mais que um conheci-mento superfi cial dos materiais usados. O profundo conhecimento e a análise da composição, da química e das propriedades dos materiais dentários fornecerão a base necessária para se alcançar isso. O dentista é o prin-cipal responsável sobre a origem dos produtos a serem utilizados no tratamento dentário do paciente, por con-seguinte, precisa ter um conhecimento sólido sobre os materiais utilizados.

Este livro é dividido em três seções, cada qual abor-dando um diferente aspecto da ciência dos materiais dentários.

SEÇÃO I: CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS

Com capítulos sobre ligações atômicas, metais, cerâ-micas e polímeros, essa seção descreve a estrutura dos materiais. Além disso, há outros capítulos que apre-sentam a terminologia usada na descrição do compor-

tamento físico, químico e mecânico dos materiais. E um capítulo em separado é dedicado aos princípios da adesão.

SEÇÃO II: MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO

Essa seção trata dos materiais comumente usados no atendimento odontológico, incluindo amálgama den-tário, resina composta e compômeros, cimentos de ionômero de vidro e cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina. São discutidas a composição, a química, as características de manipulação e as proprie-dades apropriadas para seu uso clínico. O capítulo sobre materiais intermediários aponta as questões relacionadas à proteção pulpar, o que também se faz presente no capítulo sobre materiais endodônticos – capítulo que foi ampliado para incluir informações sobre a ampla variedade de sistemas de pinos e núcleos. A adesão da resina ao esmalte e à dentina é abordada em um capítulo separado, refl etindo a alta importância desse assunto na prática clínica. Os materiais de moldagem também são discutidos nessa seção.

SEÇÃO III: MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS

Nessa seção, são apresentados ao estudante os mate-riais usados pelos técnicos dentários na construção de próteses fi xas e removíveis. O conhecimento sobre os materiais disponíveis e sua utilização auxiliará no desen-volvimento da compreensão sobre o trabalho do técnico e facilitará a comunicação com os técnicos protesistas. Também foi incluído nessa seção um capítulo sobre cimentação, descrevendo a ampla variedade de mate-riais e procedimentos usados na Odontologia quando são realizadas restaurações indiretas.

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viii PREFÁCIO

A fi losofi a das edições anteriores deste livro era tornar a ciência dos materiais dentários facilmente acessível para o estudante de Odontologia. Embora haja uma tendência de se usar a oportunidade de uma nova edição para se mudar tudo, resisti a isso o máximo possível. Optei por manter a simplicidade e clareza que sinto ter alcançado na primeira edição. Entretanto, os leitores familiarizados com as edições anteriores observarão que, no intuito de refl etir as mudanças nos materiais dentários de uso clínico, foram adicionadas muitas informações. Mantive os quadros de comentários ao longo do texto para enfa-tizar os pontos de importância clínica, os quais espero que o leitor continue achando útil.

Deve-se observar que este livro foi elaborado com base na necessidade de conhecimento e é apenas o primeiro passo em direção ao processo de leitura independente

e avaliação crítica dos materiais dentários. Conforme o título sugere, esta obra representa apenas uma introdu-ção aos materiais dentários e obviamente existe muito mais a ser aprendido. A lista de leitura complementar ao fi nal de cada capítulo foi atualizada novamente, e o leitor é instigado a aproveitar o conhecimento que pode ser adquirido ao se ampliar a leitura sobre um assunto.

O objetivo deste livro é guiar os leitores por uma longa estrada para que se tornem clínicos bem-informados, que não saibam apenas o que deve ser feito e como deve ser feito, mas também por que deve ser feito. Acredito que o estudante da ciência dos materiais dentários encontrará neste livro o primeiro passo rumo à direção certa.

R. van Noort2007

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SUMÁRIO

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Prefácio vii

SEÇÃO UM CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS 1

1.1 Biomateriais, biocompatibilidade e biomecânica 3

1.2 Uma perspectiva histórica 7

1.3 Estrutura atômica da matéria 13

1.4 Estrutura das cerâmicas 21

1.5 Estrutura dos metais e das ligas metálicas 27

1.6 Estrutura dos polímeros 33

1.7 Propriedades mecânicas 43

1.8 Propriedades físicas 51

1.9 Propriedades químicas 61

1.10 Princípios de adesão 67

SEÇÃO DOIS MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO 77

2.1 Amálgamas dentários 79

2.2 Resinas compostas e resinas compostas modifi cadas por poliácido 93

2.3 Cimentos de ionômero de vidro e cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina 119

2.4 Materiais restauradores intermediários 135

2.5 Adesão ao esmalte e à dentina 143

2.6 Materiais endodônticos 161

2.7 Materiais de moldagem 175

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x SUMÁRIO

SEÇÃO TRÊS MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS 197

3.1 Produtos à base de gesso 199

3.2 Resinas para base de prótese 205

3.3 Ligas fundidas para restaurações metálicas 215

3.4 Cerâmicas odontológicas 225

3.5 Restaurações cerâmicas aderidas ao metal 233

3.6 Restaurações de cerâmica pura: núcleo cerâmico de alta resistência 243

3.7 Restaurações de cerâmica pura: cerâmicas unidas com resina 249

3.8 Agentes de cimentação 257

3.9 Aço inoxidável 277

Índice 285

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS Esta seção trata da relação entre a microestrutura e as propriedades dos materiais.

Para entender por que diferentes materiais devem apresentar diversas propriedades e o que essas propriedades representam em relação ao seu uso, é necessário compreender algo sobre a ciência dos materiais.

Como este livro não procura torná-lo cientista em materiais, mas dentista com um bom conhecimento em materiais dentários, apenas os aspectos do comportamento dos materiais que são pertinentes às aplicações odontológicas serão considerados.

SEÇÃO UMAs questões a serem abordadas nesta seção são:

■ Quais são as características microestruturais dos materiais?

■ Como descrever as características comportamentais dos diferentes materiais?

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Capítulo 1.1

BIOMATERIAIS

Os materiais restauradores odontológicos descritos neste livro são um subgrupo especial que geralmente são des-critos como biomateriais. Quando um material é inserido sobre ou colocado em contato com o corpo humano, em geral é chamado de biomaterial. Um biomaterial pode ser defi nido como um material não vivo designado a interagir com sistemas biológicos.

As três principais áreas de emprego dos biomateriais são:

■ materiais dentários restauradores, por exemplo, mate-riais restauradores metálicos e resinosos, e ligas e cerâmi-cas fundidas para prótese fi xa e removível intraoral;

■ implantes estruturais, por exemplo, implantes oral e maxilofacial e próteses articulares;

■ implantes cardiovasculares, por exemplo, cateteres, prótese de válvulas cardíacas e vasos sanguíneos e membranas de diálise e oxigenador.

Neste livro iremos nos concentrar apenas nos mate-riais restauradores dentários. Um grande espaço é dire-cionado para dois aspectos importantes no seu uso: sua composição e suas propriedades características. Também há considerações sobre a biocompatibilidade e biomecâ-nica, que devem ser consideradas no uso clínico.

BIOCOMPATIBILIDADE

Quando um biomaterial é colocado em contato com os tecidos e fl uidos do corpo humano, invariavelmente existe alguma forma de interação entre o material e ambiente biológico. Essa interação é chamada biocompatibilidade.

Um material pode ser dito biocompatível quando tem a qualidade de não ser destrutivo no ambiente bioló-gico. É importante observar que essa interação ocorre de duas maneiras: o material pode ser afetado de algum modo pelo ambiente biológico, e, de modo equivalente,

o ambiente biológico pode ser afetado pelo material. Em ambas as vias, a interação deve ser benéfi ca ao paciente e, acima de tudo, deve ser segura para todos os pacientes contra qualquer reação colateral.

As reações biológicas podem ocorrer no local ou di s-tan te do sítio de contato (p. ex., sistemicamente). A última, é uma consideração muito importante porque nem sempre estará aparente que os sintomas clínicos tais como reações dermatológicas, reumáticas ou neurais, estejam associados ao biomaterial. Tanto o paciente como os profi ssionais da odontologia estão expostos a essas interações e potenciais riscos, com o paciente sendo receptor dos materiais restauradores e os profi ssionais da odontologia, manipuladores dos materiais diariamente.

As possíveis interações entre os materiais dentários restauradores e o ambiente biológico incluem:

■ sensibilidade pós-operatória;■ toxicidade;■ corrosão;■ hipersensibilidade/alergia.

A sensibilidade pós-operatória é a reação local ao pro-cedimento restaurador. Está frequentemente associada à inserção de materiais restauradores, onde existe uma reação pulpar adversa após o procedimento operatório. Embora antes se acreditasse que isso decorria da falta de biocompatibilidade do material restaurador em si, agora é bem aceito que um papel importante é desem-penhado pelo ingresso de bactérias nas fendas entre o material restaurador e os tecidos dentários. Se o material restaurador foi capaz de prover um selamento hermético, que poderia impedir a invasão bacteriana, a sensibili-dade pós-operatória desta fonte seria menos provável de estar presente. Uma reação pulpar pode ainda surgir se o material restaurador for tóxico à polpa. A prevenção de invasão bacteriana é uma consideração importante no desenvolvimento dos materiais restauradores adesivos.

Alguns materiais têm efeito positivo distinto na polpa: por exemplo, o hidróxido de cálcio induz a formação

BIOMATERIAIS, BIOCOMPATIBILIDADE E BIOMECÂNICA

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS4

de dentina secundária pela polpa. Isto enfatiza que o requisito para o material ser compatível não é o de estar inerte no ambiente biológico (p. ex., que não provoque nenhuma reação), mas que deve, idealmente, induzir uma resposta que seja apropriada para a situação e alta-mente benéfi ca.

A corrosão é uma interação indesejada entre o ambiente biológico e o biomaterial. Um dos exemplos odonto-lógicos mais conhecidos é a corrosão dos amálgamas dentários. Essa corrosão causa a alteração de cor dos tecidos dentários e também está associada a uma comum observação da quebra das margens das restaurações de amálgama. Os materiais restauradores à base de compó-sitos são conhecidos por sofrer alteração de cor na boca devido à ação corrosiva ao ambiente, e isso faz com que sejam substituídos quando a estética se torna inacei-tável. Os efeitos corrosivos ao ambiente biológico das ligas fundidas usadas na construção de próteses fi xas ou removíveis intraorais também são alvo de preocupação. Quando um material é suscetível à corrosão no ambiente oral, ele tende a liberar grandes quantidades de produtos de corrosão dentro dos tecidos biológicos orais; isso pode provocar efeitos colaterais local ou sistemicamente.

Alguns pacientes podem desenvolver reações alérgicas ou de hipersensibilidade a quantidades muito pequenas de metais, tais como: mercúrio, níquel e cobalto; que podem ser liberados devido ao processo corrosivo. Assim, é importante que os biomateriais sejam altamente resis-tentes à corrosão.

O mercúrio é conhecido por ser altamente tóxico quando presente em quantidades sufi cientes, isso recen-temente provocou incentivos para seu uso ser banido.

Com base no que foi descrito, deve estar claro que é muito importante que o dentista conheça a compo-sição e a química dos materiais a serem usados na cavi-dade oral e como esses materiais podem interagir com o ambiente biológico.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Os profi ssionais da odontologia são os principais responsáveis pelos materiais aos quais os pacientes serão expostos. Eles devem ter conhecimento e entendimento da composição dos materiais a serem usados e como podem afetar o paciente.

BIOMECÂNICA

Enquanto a biocompatibilidade está relacionada aos aspectos de segurança e com as interações biológicas e químicas entre o biomaterial e o ambiente biológico, existem outros pontos com enormes implicações para o desempenho dos materiais dentários restauradores.

Por exemplo, precisamos conhecer como os materiais usados são capazes de suportar as forças geradas tanto da mastigação como da oclusão, ou uma variedade de outras fontes, tais como a contração de polimerização ou ,contração e expansão térmica. O ambiente também pode infl uenciar o desempenho em longo prazo do mate-rial, se, por assim dizer, ele é suscetível à corrosão ou à absorção de fl uidos orais.

A função das estruturas dentais, tais como: restaura-ções, coroas e pontes depende; portanto, não apenas das propriedades dos materiais, como também da qualidade do desenho empregado.

O comportamento dos materiais em estruturas reais é conhecido como mecânica. Os engenheiros usam essa abordagem no desenho de edifícios, pontes, carros etc. Por exemplo, com o conhecimento das propriedades dos materiais e do desenho de uma viga de concreto, é possível calcular se o desenho desta viga suportará a carga da estrutura sobre ela. De modo similar, é possível desenhar pontes suspensas, que não desmoronam com o peso do tráfego.

Quando a mecânica é aplicada aos biomateriais, é chamada biomecânica; é a aplicação dos princípios da engenharia ao corpo humano.

Um exemplo restaurador odontológico em que as considerações da biomecânica são importantes é a fra -tura de uma restauração. Esse problema aparece com os amálgamas dentários em particular; cuidado com as limitações desse material restaurador e como essas afetam o desenho das cavidades pode evitar muitas falhas em potencial. A fratura de um segmento cerâ-mico de uma restauração metalocerâmica pode ocorrer devido a cargas excessivas de interferências oclusais; isso pode ser evitado por um desenho modifi cado.

De modo similar, a falha de uma ligação adesiva entre a restauração e o dente pode ocorrer devido a limitações das propriedades de um dado material em particular, tal como a contração por polimerização, gerando tensão na interface excessiva. A falha adesiva persistente de uma ponte cimentada com resina pode ocorrer devido a um desenho inadequado que é incapaz de resistir às cargas aplicadas. Tal problema não deve ser resolvido meramente pela nova cimenta-ção da ponte, e uma abordagem alternativa deve ser considerada.

Quando duas superfícies entram em contato, existe uma tendência para que uma das superfícies provoque remoção do material da outra superfície. Isso é o pro-cesso de desgaste, e continua a ser um problema nos materiais restauradores à base de compósitos. A principal contribuição para o processo de desgaste é a carga apli-cada. Também é importante conhecer como essa carga provoca dano ao material. As restaurações podem ser desenhadas para que minimizem esse problema, e não devem ser usadas em circunstâncias nas quais o material é inadequado.

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BIOMATERIAIS, BIOCOMPATIBILIDADE E BIOMECÂNICA 5

Esses tipos de interação entre as propriedades de um material, desenho estrutural e ambiente formam a base da biomecânica.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

É importante que o clínico seja capaz de distinguir entre as falhas do material e no desenho do preparo cavidade.

RESUMO

O principal objetivo de um bom desenho na odontologia restauradora é evitar o fracasso da restauração. Entre-tanto, deve-se observar que a falha pode se originar de várias maneiras. Algumas falhas podem ser devido à falta de estética. Um exemplo claro disso é a alteração de cor de materiais restauradores à base de compósitos, e isso

indica a falta de estabilidade química no ambiente bio-lógico. Um material pode precisar ser removido porque provoca uma reação alérgica ou corrói excessivamente. Esses são aspectos da biocompatibilidade do material.

Do mesmo modo, uma restauração pode fracassar mecanicamente porque fratura ou mostra um desgaste excessivo, possivelmente por causa do desenho ruim ou porque o material foi usado em circunstâncias inadequa-das para essas propriedades.

Então, o desempenho clínico das restaurações dentá-rias depende de:

■ seleção apropriada do material, com base no conheci-mento das suas propriedades;

■ ótimo desenho da restauração; e■ conhecimento de como o material interagirá com o

ambiente biológico.

Todos esses aspectos de biocompatibilidade e biome-cânica dos materiais dentários serão abordados de modo apropriado.

LEITURA COMPLEMENTARBrunski JB, Puleo DA, Nanci A (2000) Biomaterials and

biomechanics of oral and maxillo-facial implants: current status and future developments. Int J Oral Maxillofac Implants 15: 15

Eliades G, Eliades T, Brantley WA, Watts DC (2003) Dental materials in vivo: aging and related phenomena. Qintessence Publishing Co, Chicago, IL

Esquivel-Upshaw JF, Anusavice KJ (2000) Ceramic design concepts based on stress distribution analysis. Compend Contin Educ Dent 21: 649

Smith DC (1982) The biocompatibility of dental materials. In: Smith DC, Williams DF (eds) Biocompatibility of dental materials, vol 1, ch 1. CRC Press, Boca Raton, FL

Waters NE (1992) Dental biomechanics and the dental curriculum. J Dent 20: 195–198

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Capítulo 1.2

INTRODUÇÃO

Acredita-se que a dentição defi ciente é um problema dos tempos modernos, iniciado como uma consequência do excesso de tudo que “é ruim, mas é bom”! À primeira vista, a dieta de antigamente, que consistia em carne crua, peixe, pão de centeio e grãos, deveria ser conside-rada melhor para a dentição do que os alimentos cozidos e com altos teores de açúcares consumidos hoje. Entre-tanto, os alimentos não eram lavados com tanto cuidado quanto agora, o que signifi ca que continham grãos de areia, pedras e cascas, que tinham o efeito de desgasta as superfícies triturantes dos dentes. A camada protetora de esmalte é fi na e a dentina adjacente era desgastada rapidamente. Por fi m, a polpa era exposta e invadida por bactérias que, pouco depois, causavam a formação de um abscesso, não deixando outro recurso senão a exodontia do dente acometido. Os problemas decorrentes eram ter-ríveis e retornaremos a estas questões mais adiante.

Deste modo, a perda de dentes não é de forma alguma um problema recente e tem acompanhado a humani-dade ao longo do tempo.

ETRUSCOS (1000-600 A.C.)

Para verifi car os registros mais antigos sobre o tratamento da patogênese dentária, temos que recorrer a períodos bem anteriores à época de Cristo. Embora muito tenha se perdido com o passar do tempo, os etruscos realmente deixaram um legado odontológico de alta qualidade.

Os etruscos foram um povo vindo do Oriente “Próximo” e que se estabeleceram na península da Itália. Foram os antepassados dos romanos (sobre os quais tiveram grande infl uência) e prepararam as bases para a formação do Império Romano. A qualidade de seus trabalhos artesa-nais era excepcional. Suas habilidades eram empregadas para boas fi nalidades, uma vez que desgastavam dentes de cadáver modelando-os como os dentes artifi ciais e usavam

o ouro para adaptar o dente no lugar. O ouro possuía duas vantagens: ser esteticamente aceitável e ser um dos poucos metais disponíveis com a maleabilidade necessária para a produção de formas complexas.

Os romanos devem ter herdado, pelo menos, parte do interesse dos etruscos sobre dentes, como evidenciado em um dos artigos da lei das Doze Tábuas, que estabe-lecia que:

Causar a perda de um dente de um homem livre resul-tará em uma multa de 300 As.

Mais notável, talvez, seja o fato de que esta proteção também era oferecida aos escravos; entretanto, neste caso a multa era de apenas 100 As. Embora não tenham restado evidências físicas sobre o uso de próteses dentais, pode-se inferir que os mesmos tenham sido utilizados com base nos registros escritos. Horácio (65 a.C.) escre-veu sobre “bruxas sendo perseguidas e correndo tão rápido que uma delas perdeu seus dentes” e ainda, mais tarde, Martial (40-100 d.C.) fez referência a dentes de marfi m e madeira.

A IDADE DAS TREVAS

Pouco se sabe sobre o que aconteceu na Odontologia desde a época de Martial até o século XVI e este período deve ser considerado como a “Idade das Trevas da Odon-tologia”. Devemos esse período a nossa santa padroeira das doenças odontológicas, Santa Apolônia. Ela foi inci-tada a proferir blasfêmias, sob a ameaça de ter seus dentes extraídos ou ser queimada na fogueira. Ela escolheu ser queimada! Isto deixou a igreja realmente em um dilema, pois poderia ser interpretado como suicídio, que não era permitido. Neste caso o problema foi contornado ao considerarem a situação como vontade divina.

Há registros curiosos dispersos por todo este período, mostrando que a dor de dente era um problema per-sistente. Por exemplo, uma pessoa ilustre fi cou conhe-

UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS8

cida por cobrir seu rosto com um tecido a fi m de esconder a perda de dentes, sempre que havia uma importante função a ser executada. Esta era ninguém menos que a Rainha Elizabeth I. Havia também Luis XIV, o “Rei Sol”, que sofria muito com as dores de dente e teve que tomar muitas decisões importan-tíssimas, como a revogação do Edito de Nantes (em 1642), enquanto sofria com dores insuportáveis. Possi-velmente isto aturdiu seu julgamento.

AS PRIMEIRAS DENTADURAS (SÉCULO XVIII)

No século XVIII, tornou-se possível produzir modelos razoavelmente precisos da boca com o uso de cera. Estes modelos eram então usados como moldes sobre os quais dentaduras de marfi m eram esculpidas na forma neces-sária. Na fase fi nal do século XVIII, vários artesãos pro-duziam dentes de marfi m delicadamente esculpidos. Eles se fi xaram nos negócios exclusivamente para fornecer dentes falsos aos mais abonados. Claro que este tipo de Odontologia não estava disponível para a população em geral.

Dentaduras inferiores feitas de marfi m e dentes de cadáveres funcionavam razoavelmente bem e manti-nham sua posição sem muita difi culdade, especialmente se reforçadas por um pouco de chumbo. As difi culdades realmente existiram com as dentaduras superiores que não se mantinham no lugar devido ao peso e ao encaixe defi ciente. A fi m de superar este problema, a dentadura superior era encaixada sobre a inferior com o uso de molas ou dobradiças. Esta técnica garantia que a denta-dura superior seria sempre empurrada para cima contra o palato, porém, como se pode imaginar, eram próteses grandes, incômodas e muito pesadas.

Obviamente, o uso de dentes de cadáveres não era higiênico. Da mesma forma, o marfi m é levemente poroso e assim apresentava-se como um substrato ideal para o acúmulo de bactérias. De fato, George Washington embebia regularmente suas dentaduras em vinho do Porto, aparentemente para tolerar o gosto desagradável e disfarçar o odor.

Em 1728, Fauchard sugeriu que as dentaduras deve-riam ser confeccionadas com porcelana ao invés das inser-ções de marfi m com dentes de cadáveres, alegando que a porcelana seria mais atraente (já que poderia ser pigmen-tada se necessário) e consideravelmente mais higiênica. O que tornou esta sugestão possível foi a introdução na Europa do segredo da confecção da porcelana pelo padre d´Entrecolle, um jesuíta que havia passado muitos anos na China. Devido aos problemas da alta contração da porcelana durante a cocção, não surpreende que tivemos que esperar até 1744 pelo primeiro registro documentado de uma dentadura de porcelana, confeccionada por um homem chamado Duchateau.

A ERA VITORIANA

Os vitorianos desaprovavam o uso de dentaduras por se tratar de uma extrema vaidade, porém, mais ainda, devido ao fato de serem inúteis para a mastigação! Contudo, dentes falsos ainda eram usados em grande parte pelos ricos. Comenta-se que o fato de não serem funcionais, combinado com o recato vitoriano, está por trás do hábito que se desenvolveu durante aquela época de comer na cama logo antes do jantar. Um hábito que dava segurança contra qualquer possível desastre na mesa do jantar assim, como tornava possível as afetações românticas que as jovens damas mantinham no ar.

Várias descobertas importantes feitas durante o século XIX tiveram um profundo efeito no tratamento das doenças dentárias. A primeira delas foi feita por volta de 1800 por um “dentista” da Filadélfi a chamado James Gardette.

Ele havia esculpido um conjunto completo de denta-duras de marfi m e as entregou à paciente dizendo que não tinha tido tempo de encaixar as molas, mas que vol-taria para fazê-lo assim que pudesse. (Era costume naque-les dias que o dentista visitasse o paciente!) Resultou que quando Gardette retornou, ele se espantou ao pedir que a paciente fosse buscar as dentaduras e a paciente respondeu que ela as estava usando desde a entrega. Ela observou que as dentaduras estavam um pouco descon-fortáveis inicialmente, mas insistiu, e, logo após, notou que elas estavam bastante confortáveis e que as molas não eram necessárias.

Ao examinar as dentaduras, ele percebeu imediata-mente que a retenção das mesmas se dava por uma combinação de efeito de sucção, criado pela pressão dife-rencial da atmosfera e da película de fl uido, e dos efeitos da tensão de superfície do fl uido. Esta retenção foi conse-guida devido ao encaixe preciso da dentadura, tornando as molas desnecessárias, caso a dentadura pudesse ser feita de modo a encaixar-se o mais fi elmente possível aos contornos das estruturas bucais. Infelizmente, a pro-dução de dentaduras bem ajustadas ainda representa um sério problema, ao qual retornaremos adiante.

Nessa época, a extração de um dente comprometido representava um problema terrível porque não havia métodos indolores para realizar a exodontia. Esta situa-ção mudou radicalmente em 1844 devido à astúcia de um jovem dentista chamado Horace Wells que descobriu os efeitos anestésicos do óxido nitroso, mais conhecido como “gás hilariante”. Numa noite, ele estava presente em uma apresentação pública sobre os efeitos agradáveis do gás hilariante. Um amigo que tinha se submetido ao gás fi cou muito violento enquanto estava sob seu efeito e, em meio à confusão, ele tropeçou e feriu gravemente sua perna. Ele não percebeu o ferimento até que Wells apontou para a perna suja de sangue e ele respondeu não ter sentido nada. Wells percebeu imediatamente a

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UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA 9

importância da descoberta e no dia seguinte se submeteu à remoção de um de seus próprios dentes com a ajuda do gás. O procedimento acabou sendo altamente bem-sucedido e, pouco depois, muitas vítimas de odontalgias foram submetidas a exodontias indolores.

Infelizmente, Wells não viveu o sufi ciente para ver os benefícios de sua descoberta, já que cometeu suicídio três anos mais tarde após tornar-se viciado em clorofór-mio. Como consequência da descoberta de Wells, muitas pessoas tiveram seus dentes extraído sem dor.

Naquela época, poucos tinham condições de comprar uma dentadura esculpida em marfi m ou porcelana. Outras técnicas tinham sido desenvolvidas, pelas quais era possível obter impressões precisas das estruturas bucais e boa parte do marfi m era substituída por ouro coesivo, martelado até obter uma estrutura delgada sobre um modelo. A fi xação dos dentes artifi ciais ao ouro era um processo difícil e demorado e, como as dentaduras, era também caro.

Esta situação estava para mudar de maneira drástica com a invenção de Charles Goodyear (por volta de 1850) do processo de vulcanização. Neste processo, a borracha era endurecida na presença de enxofre para produzir um material chamado vulcanite. Este material não era apenas barato, mas também fácil de trabalhar; poderia ser modelado para fornecer um encaixe preciso ao modelo e, portanto, às estruturas bucais. Entretanto, a ideia não se propagou tão rapidamente como se esperaria porque a empresa Goodyear Rubber detinha todas as patentes do processo e cobrava dos dentistas até US$ 100 por ano para usá-lo, além de uma taxa de US$ 2 por dentadura. Esta situação mudou quando a patente expirou em 1881 e dentaduras baratas poderiam se tornar disponíveis para as pessoas necessitadas.

Atualmente, a vulcanite foi substituída pelas resinas acrílicas, que surgiram com a descoberta dos polímeros sintéticos, inicialmente confeccionados entre as duas Guerras Mundiais. A cera também foi substituída por uma ampla gama de materiais para moldagem bucal com qualidades muito superiores; o que possibilitou a cons-trução de próteses complexas e bem ajustadas.

CONSERVAÇÃO DENTÁRIA

Se o século XIX foi a época da substituição dentária, o século XX deve ser considerado a época da preservação dentária. Por exemplo, em 1938, 60% dos tratamentos odontológicos ainda envolviam o fornecimento de den-taduras, mas em 1976 este número caiu para 7%, com o restante consistindo essencialmente em procedimentos odontológicos conservadores.

É claro que a ideia de preservar um dente com lesão de cárie não era, de forma alguma, nova. Já no sécu lo XI, Rhazes sugeriu que cavidades dentárias poderiam ser pre-enchidas com uma mistura de alume, barro e mel. O óleo

de cravo foi lançado por Ambrose Pare (1562) para aliviar a dor de dente e Giovanni de Vigo (1460-1520) sugeriu o uso de folhas de ouro para preencher cavidades. Pierre Fauchard (1728), considerado por muitos o pai da Odon-tologia, discutiu muitos aspectos desta profi ssão, incluindo procedimentos operatórios e protéticos, mencionando o chumbo, o estanho e o ouro como possíveis materiais de preenchimento.

Entretanto, havia várias lacunas importantes sobre o conhecimento da dentição que impediam o desenvolvi-mento de técnicas odontológicas conservadoras.

Havia uma falta de compreensão sobre as razões que levaram a lesão de cárie dentária, a qual era original-mente atribuída a algum espírito maligno que invadia o dente. Alguns pensavam que a degradação ocorria por causa de vermes e estimulavam o uso de várias tinturas desagradáveis com o objetivo de matá-los.

Os primeiros procedimentos odontológicos conser-vadores sérios não foram colocados em prática até a segunda metade do século XIX. A partir de então foi possível trabalhar nos dentes dos pacientes sem causar desconforto e dor intensa, graças à descoberta dos anes-tésicos. Esta descoberta tornou possível o uso das brocas odontológicas.

A primeira broca somente tornou-se disponível por volta de 1870, o que é surpreendente, já que a perfuração de um dente sem anestesia seria impensável. Agora o preparo dos dentes poderia ser realizado, sendo possível executar procedimentos mais ousados do que meramente a extração em massa dos dentes com lesões de cárie.

COROAS E PONTES

Por volta da virada do século, alguns trabalhos odontoló-gicos altamente avançados foram executados de maneira que dentes gravemente destruídos podiam ser recons-truídos com coroas de porcelana. Este procedimento foi benefi ciado pela invenção de um cimento que endu-receria na boca (isto é, cimento de fosfato de zinco), o qual ainda é até hoje amplamente utilizado. As cartas de Roosevelt, presidente dos Estados Unidos da América, aos seus pais quando era jovem, ilustra a grande satisfa-ção proporcionada pela nova invenção:

Depois do almoço fui ao dentista e agora estou sem o meu dente da frente. O dentista o arrancou bem rápido e sem dor, fez moldagem da raiz e do espaço e está cozinhando a peça de porcelana. Espero colocá-la na próxima sexta-feira e, até lá, evitarei qualquer evento social, pois me sinto ridículo falando assobiando que nem uma chaleira e parecendo um banguela.

19 de maio de 1902.

Esta carta foi seguida por outra, uma semana mais tarde na qual ele escreve:

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS10

Meu dente já não é um sonho, é um fato consumado. Foi colocado na sexta-feira e é perfeito no formato, cor, brilho, textura etc. Sinto-me como uma nova pessoa e três garotas já me cortejaram.

Obviamente um cliente satisfeito!Como é frequentemente o caso das rápidas evolu-

ções, alguns problemas ocorreriam adiante. Um destes foi destacado por um médico inglês, William Hunter, que acusava o que foi então chamado de “Odonto-logia americana” de contribuir para a má saúde de muitos de seus pacientes. Ele tinha vários pacientes com enfermidades sem diagnóstico até que notou os trabalhos restauradores extensos em suas bocas. Estas pontes e coroas pareciam sujas e estavam circundadas por tecido de aspecto insalubre, já que a higiene bucal era quase inexistente. Naquela época não se executava tratamento endodôntico, então as raízes dos dentes tornavam-se infectadas rapidamente. Em muitas ocasi-ões, as coroas e pontes eram construídas sobre dentes muito comprometidos. Ele sugeria que estas coroas e pontes fossem removidas e os dentes extraídos o que levava os pacientes a reagir com consideráveis objeções devido ao custo do tratamento odontológico. Porém, dentre os que concordavam com a remoção das pontes, vários apresentavam melhora imediata na saúde. Isto levou Hunter a descrever a Odontologia americana como “mausoléus de ouro sobre uma massa séptica”. Consequentemente, os dentes eram consi-derados os culpados de todas as classes de doenças que não podiam ser prontamente diagnosticadas e isto fez com que muitos dentes perfeitamente saudáveis fossem extraídos sem necessidade.

Finalmente, a razão prevaleceu com a introdução, em 1913, do equipamento de raios X por C. Edmund Kells. Agora poderia ser demonstrado se um dente com raiz necrosada estava saudável ou não. Se estivesse saudável poderia ser mantido e apenas seria removido caso esti-vesse comprometido.

Atualmente consideramos o uso de coroas e pontes como algo certamente garantido. Novos desenvolvimen-tos ainda poderiam nos estimular, como a introdução das facetas cerâmicas nos anos 1980 e o rápido desenvolvi-mento da tecnologia CAD-CAM que abriu novas opor-tunidades com materiais novos como a alumina pura e o zircônio, os quais permitem a confecção de pontes de cerâmica pura.

MATERIAIS RESTAURADORES

A metade do século XIX presenciou a organização da Odontologia como uma profi ssão assim como o surgi-mento de muitas sociedades odontológicas, bem como de vários periódicos científi cos na área. Um dos primei-ros atos da Sociedade Americana de Cirurgiões Dentistas (American Society of Dental Surgeons) foi a proibição do uso do amálgama de prata por seus membros, resultando na “guerra do amálgama”.

O amálgama é uma mistura de prata, estanho e mercú-rio e foi um dos primeiros materiais restauradores usados em Odontologia. Entretanto, muitos problemas surgiram com o uso deste material devido à falta de compreensão sobre suas qualidades. Só depois do trabalho de G. V. Black que alguma ordem foi estabelecida contra o caos.

Ele publicou dois volumes sobre dentística operató-ria em 1895 os quais se tornaram a norma mundial para dentística restauradora. O amálgama não tinha uma reputação muito boa até Black ter estudado o compor-tamento do amálgama em detalhes e como usá-lo da melhor maneira. Entretanto, a partir de então até nossos dias, o amálgama tornou-se um dos mais importantes materiais restauradores usados em Odontologia.

Grande crédito deve ser dado a seu intelecto e habi-lidade já que apenas agora parte de sua fi losofi a está sendo desafi ada; especialmente à luz do conhecimento atual comparado ao que se sabia nos anos 1900. É uma lição que a Odontologia terá que aprender repetidas vezes à medida que novos materiais são introduzidos no mercado (Tabela 1.2.1).

RESUMO

Como se pode observar da discussão prévia, existem várias técnicas restauradoras que os cirurgiões-dentistas precisam conhecer. Além disso, os cirurgiões-dentistas usam uma ampla variedade de diferentes materiais, alguns duros e rígidos e outros macios e fl exíveis.

É importante que o cirurgião dentista avalie comple-tamente as várias características destes materiais e suas limitações tornando-os úteis nas aplicações odontoló-gicas. Somente assim o cirurgião-dentista estará apto a selecionar o material mais adequado para uma determi-nada aplicação.

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UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA 11

Greener EH (1979) Amalgam: yesterday, today and tomorrow. Oper Dent 4: 24

Hyson JM Jr (2003) History of the toothbrush. J Hist Dent 51: 73–80

Irish JDA (2004) 5,500 year old artifi cial human tooth from Egypt: a historical note. Int J Oral Maxillofac Implants 19: 645–647

Little DA (1982) The relevance of prosthodontics and the science of dental materials to the practice of dentistry. J Dent 10: 300–310

Phillips RW (1976) Future role of biomaterials in dentistry and dental education. J Dent Educ 40: 752–756

Tabela 1.2.1 Marcos históricos dos materiais dentários

600 a.C. Trabalhos de pontes em ouro dos etruscos

1480 d.C. Primeiro registro autêntico de obturações de ouro em dentes humanos por Johannes Arculanus, Universidade de Bolonha

Anos 1500 Dentaduras de marfi m começaram a ser esculpidas em modelos de cera

1728 Fauchard propôs o uso da porcelana

1744 Duchateau registra a produção da primeira dentadura de porcelana

1826 Taveau de Paris sugere o uso de prata e mercúrio para elaborar uma pasta para restauração dos dentes

1839 O primeiro periódico odontológico é publicado: American Journal of Dental Science

Anos 1840 “Guerra do amálgama” – o uso do amálgama de prata é proibido

1850 Charles Goodyear inventou a vulcanite – borracha endurecida com enxofre

1879 É introduzido o primeiro cimento com endurecimento na boca, o fosfato de zinco

Anos 1880 São desenvolvidos os cimentos de silicato

1895 G. V. Black publica o primeiro estudo detalhado sobre as propriedades do amálgama

1907 W. H. Taggart de Chicago inventou um método prático para fundir incrustações (restaurações inlays) de ouro

Anos 1950 Introdução da resina acrílica para restaurações e dentaduras

1955 Buonocore descobriu a técnica de condicionamento ácido para adesão ao esmalte

1970 Os compósitos começam a substituir os cimentos de silicato

1976 Os cimentos de ionômero de vidro são inventados por A. Wilson

1978 Os compósitos fotoativados aparecem no mercado

1983 Horn lança as facetas cerâmicas fi xadas por resina

1985 Desenvolvimento dos agentes de união dentinária

1988 Introdução dos cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina

1994 O primeiro compômero aparece no mercado

LEITURA COMPLEMENTAR

van Noort R (1985) In defence of dental materials. Brit Dent J 158: 358–360

Wildgoose DG, Johnson A, Winstanley RB (2004) Glass/ceramic/refractory techniques, their development and introduction into dentistry: a historical literature review. J Prosthet Dent 91: 136–143

Williams HA (1976) The challenge tomorrow in dental care delivery. J Dent Educ 40: 587

Woodforde J (1971) The strange story of false teeth. Universal-Tandom Publ. Co.,London

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13

Capítulo 1.3

ESTRUTURA ATÔMICA DA MATÉRIA

INTRODUÇÃO

Todos os materiais são construídos de átomos ou molé-culas, de maneira que não é surpreendente observar uma íntima relação entre a estrutura atômica dos materiais e suas propriedades. A natureza dos átomos e o modo em que se encontram arranjados são importantes neste con-texto. Os átomos se combinam para determinar a microes-trutura do sólido e, como consequência, estabelecem suas propriedades. Portanto, para se entender as propriedades dos materiais deve-se ter um entendimento da maneira como os átomos podem se combinar para formar sólidos.

UNIÃO DOS ÁTOMOS

Quando dois átomos encontram-se próximos podem se ligar e formar uma molécula. Qualquer ligação que se forma é chamada ligação primária. Entretanto, estes podem repelir-se e manter sua característica individual. Dependendo do grau de interação entre os átomos podem ser formados um dos três estados da matéria, sendo estes: gases, líquidos ou sólidos. Estes são considerados os três estados principais da matéria, em que o estado é defi -nido como: a parte estruturalmente homogênea de um sistema e; cada estado apresenta sua estrutura própria e propriedades associadas distintas. No estado gasoso há pouca ou nenhuma resistência relativa aos movimentos dos átomos e moléculas, enquanto no estado líquido a resistência a esses movimentos é consideravelmente maior. Entretanto, as moléculas ainda podem movimen-tar umas sobre as outras com grande facilidade. O movi-mento dos átomos e moléculas é restrito a uma vibração local nos sólidos, embora algum movimento em nível atômico seja possível por meio da difusão.

O fator que controla a formação da união é a energia e uma união apenas se formará se resultar na diminuição da energia total dos átomos que estão se ligando. Isto signifi ca que a energia total da molécula deve ser menor

que o somatório das energias dos átomos isolados, inde-pendentemente da ligação que estiver sendo formada. O diagrama de separação energética é uma maneira simples de visualização deste fenômeno. O diagrama considera o efeito da movimentação de dois átomos próximos em sua energia total. Uma curva típica de separação energé-tica é apresentada na Figura 1.3.1.

Quando dois átomos estão separados e distantes, a energia é 2Ea, e Ea é a energia total de um átomo. Con-forme os átomos se aproximam, a energia total começa a diminuir até atingir o mínimo Em, a uma distância a0. Posteriormente, com a maior aproximação dos átomos, a energia total aumenta devido à repulsão entre suas camadas de elétrons. Com a aproximação maior ainda, seus núcleos começam a repelirem-se, porém tal proxi-midade não é em geral encontrada em circunstâncias normais. Desta maneira, diz-se que os átomos tem atração em distâncias maiores e repulsão quando próximos.

As condições para que dois átomos se liguem depen-derão das confi gurações dos elétrons dos átomos, que são fatores determinantes da sua reatividade química. Quanto mais estável for a confi guração dos elétrons, menos reativo será o átomo, com o extremo da estabili-dade sendo os “gases inertes” tais como o argônio, hélio e neônio, que são praticamente não reativos. A quase não reatividade destes é causada pelo fato destes átomos terem sua camada mais externa completa, sem oportu-nidade para união com outros elétrons no átomo e sem elétrons “reserva” ou “soltos” para deixar o átomo.

Todos os átomos tentam encontrar seu estado de menor energia, e isso é o mesmo que terem a última camada de elétrons completa, assim como os gases inertes têm. Os átomos de alguns elementos possuem “lugares” para elétrons em sua última camada, enquanto átomos de outros elementos apresentam elétrons “disponíveis” em suas órbitas mais externas. Pela combinação de um com outro, estas duas diferenças podem tornar as órbitas externas completas. A formação das ligações, portanto, envolve apenas os elétrons de valência mais externos.

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS14

TIPOS DE LIGAÇÕES PRIMÁRIAS

Existem três tipos de ligações primarias: covalente, iônica e metálica.

Ligações Covalentes

A ligação covalente é a ligação mais simples e mais forte. Ela se dá quando os átomos compartilham seus elétrons de modo que cada camada de elétrons atinge uma estrutura semelhante a um gás inerte. A formação de tal ligação para dois átomos de hidrogênio é mostrada na Figura 1.3.2.

À medida em que dois átomos se aproximam e as ór bi-tas dos elétrons começam a se sobrepor, é formada a ór bita da molécula onde os dois elétrons são compartilhados pelos dois núcleos. Uma vez que os elétrons passarão a maior parte do tempo na região em que as órbitas se sobrepõem, a ligação é altamente direcional.

Ligações Iônicas

Um átomo, tal como o sódio, gostaria de perder o seu único elétron de valência, uma vez que isso o deixaria com a confi guração similar à do neônio. Naturalmente, isto não pode acontecer a menos que exista outro átomo próximo que aceite o elétron rapidamente.

Os elementos que podem adquirir uma estrutura semelhante a dos gases inertes pela aquisição de um elétron são o fl úor, cloro, bromo e iodo, conhecidos coletivamente por halogênios. Portanto, se um átomo de sódio e um de cloro puderem se interagir, ocorrerá uma transferência completa do átomo de valência do átomo de sódio para o de cloro. Ambos atingirão uma estrutura de gás inerte com o sódio apresentando carga positiva devido à perda de um elétron negativo e o cloro apresen-

tando carga negativa pela aquisição de um elétron extra. Esses dois íons serão atraídos um pelo outro devido às suas cagas elétricas opostas com consequente redução na energia total do par com a aproximação. Isso é mostrado no modelo da Figura 1.3.3; tais ligações são denomi-nadas iônicas.

Uma diferença importante entre as ligações covalente e iônica é que a última não é direcional. Isto porque a ligação iônica é resultante de campos eletrostáticos que envolvem íons e estes campos interagirão com quaisquer outros íons na proximidade.

Ligações Metálicas

A terceira ligação primária é a ligação metálica. Ela ocorre quando se tem um grande agregado de átomos, em geral em um sólido, que facilmente doam elétrons de sua última camada. Em tal situação, os elétrons podem se mover quase que livremente através do sólido, gastando seu tempo passando de um átomo para outro. As órbitas dos elétrons nas ligações metálicas possuem energia menor que as órbitas dos elétrons de um átomo indivi-dual. Isto se deve aos elétrons de valência estarem sempre mais próximos de um ou outro núcleo do que estariam em um átomo isolado. Uma nuvem de elétrons, como demonstrado na Figura 1.3.4, rodeia os átomos. Assim como a ligação iônica, esta ligação não é direcional.

Energias de Ligação

Uma característica importante de uma ligação é a energia de ligação. Esta é a quantidade de energia que precisa ser fornecida para separar os dois átomos e é igual a 2Ea – Em,

Ene

rgia

Distância interatômica

Figura 1.3.1 Curva de separação energética para dois átomos, cada um com energia Ea. Cátion Ânion

Figura 1.3.3 Formação de uma ligação iônica entre o sódio e o cloro.

Figura 1.3.2 Dois átomos de hidrogênio combinados por ligação covalente para formar o gás de hidrogênio.

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ESTRUTURA ATÔMICA DA MATÉRIA 15

como defi nido na Figura 1.3.1. A energia de ligação típica para cada um dos três tipos de ligação é apresen-tada na Tabela 1.3.1.

Uma característica geral que pode ser observada da energia de ligação é que a ligação covalente tende a ser a mais forte, seguida pela ligação iônica e então fi nalmente pela ligação metálica. Existe uma grande variedade de energia de ligação para as ligações metálicas, com algumas se aproximando das ligações iônicas e outras sendo muito baixas. O mercúrio possui uma energia de ligação muito baixa, formando uma ligação que não é forte o sufi ciente para sequer manter os átomos em posição na tempe-ratura ambiente, resultando na liquefação do mercúrio nesta temperatura.

A FORMAÇÃO DOS SÓLIDOS

Sólidos Iônicos

Os íons são cercados por campos eletrostáticos não dire-cionais e é possível que os íons carregados positiva e

negativamente encontrem um arranjo posicional que pode ser mutuamente benéfi co, com o objetivo de encontrar uma energia menor. Os íons podem formar uma rede tridimensional e regular com o exemplo do cloreto de sódio mostrado na Figura 1.3.5.

As substâncias iônicas, tais como: os cloretos, nitretos e óxidos de metais são os blocos estruturais básicos para a construção de um grupo de materiais conhecidos como cerâmicas, em que um grupo muito especial são os vidros (Cap. 1.4). Estes materiais são muito estáveis devido às suas altas forças de ligação.

Sólidos Metálicos

Um arranjo semelhante àquele dos sólidos iônicos é possível com ligações metálicas. Neste caso, não há uma atração eletrostática forte entre os átomos (como havia entre os íons nos sólidos iônicos), na medida em que se mantêm unidos pela nuvem de elétrons; esta nuvem forma a base dos metais que serão discutidos no Capí-tulo 1.5.

Sólidos Covalentes

Há apenas poucas situações em que os átomos do mesmo elemento se unem por ligações covalentes para formar um sólido; estes são o carbono, o silício e o germânio. É a direcionalidade da ligação covalente que a difere essen-cialmente das outras duas ligações primárias. A direcio-nalidade impõe sérias limitações nos possíveis arranjos dos átomos.

Um exemplo de sólido ligado covalentemente é o dia-mante, que é uma forma de carbono. O carbono possui um arranjo de elétrons em sua última camada de tal

Figura 1.3.4 Formação de uma ligação metálica, mostrando uma nuvem de elétrons ao redor do núcleo.

Tabela 1.3.1 Energias de ligação típicas para os três tipos de ligação

Átomos ligados Tipo de ligaçãoEnergia de ligação (eV)

C–C

C–F

H–H

H–O

C–Cl

Covalente

6,3

5,6

4,5

4,4

4,0

Na–Cl

K–Br

Na–I

Iônica

4,2

3,9

3,2

Au–Au

Cu–Cu

Ag–Ag

Pb–Pb

Hg–Hg

Metálica

2,3

2,0

1,8

0,8

0,2

Íon negativo Íon positivo

Figura 1.3.5 Formação de um sólido por ligação iônica dos íons sódio (�) e cloro ( ).

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS16

forma que necessita de outros quatro elétrons para obter uma confi guração semelhante ao neônio; que no caso do diamante é alcançado compartilhando-se elétrons com os átomos de carbono vizinhos. A direção dessas ligações é tal que são direcionadas para as quatro extremidades de um tetraedro com os núcleos dos átomos de carbono em seu centro. A estrutura tridimensional do diamante é construída como apresentado na Figura 1.3.6.

Os sólidos covalentes constituídos por um único ele-mento tendem a ser muito raros. As ligações covalentes são mais facilmente formadas entre elementos diferentes em que cada um adquire a confi guração de gás inerte. Uma vez que estes elementos tenham reagido para formar estas ligações, a molécula criada se torna altamente não reativa a moléculas do mesmo tipo, e não promove uma base para formação de uma rede tridimensional.

As órbitas eletrônicas se superpõem e os elétrons são compartilhados; resultando em uma órbita que é muito estável. Nesta confi guração, não há órbitas parcialmente preenchidas disponíveis para ligações adicionais pelos mecanismos de ligação primária. Deste modo, elementos ligados covalentemente resultam em moléculas estáveis e a maioria dos elementos, que se unem por ligações covalentes, tende a ser gases ou líquidos, p. ex., água, oxigênio e hidrogênio. Desses exemplos, a água se soli-difi ca a 0°C e, para isso ser possível, deve haver alguma atração adicional entre as moléculas de água; algo deve ser capaz de manter essas moléculas unidas, porém isto não se deve à ligação primária.

Ligações Secundárias

Uma consequência dos elétrons compartilhados por dois ou mais núcleos atômicos é que os elétrons gastarão um tempo desproporcionalmente mais longo em uma posição particular. O efeito disto é que uma extremidade da molécula pode adquirir uma carga levemente positiva enquanto outra pode se tornar levemente negativa, resul-tando em desequilíbrio elétrico conhecido como bipola-ridade elétrica. Estes bipolos permitem que as moléculas interajam umas com as outras e formem ligações fracas, chamadas ligações de van der Waal. Os três fatores princi-pais, que contribuem para estas interações relativamente fracas, são:

■ interações entre bipolos permanentes;■ interações entre bipolos induzidos; e■ interações entre bipolos instantâneos.

O último dos fatores, conhecido como Efeito de Dis-persão de Londres, é completamente genérico e acontece sempre que duas moléculas, íons ou átomos, estejam em contato íntimo. Este é o resultado da interação entre movimentos aleatórios dos elétrons de duas espécies.

Um caso especial de interação bipolo-bipolo é a ponte de hidrogênio. O átomo de hidrogênio pode ser imagi-nado como um próton na extremidade de uma ligação

covalente, porém, ao contrário dos outros átomos, a carga positiva do próton não é contraposta pelos elé-trons circundantes. Portanto, ele terá carga positiva e será atraído para os elétrons dos átomos em outras moléculas. Uma condição necessária para a formação de pontes de hidrogênio é que um átomo eletronegativo deve estar próximo do átomo de hidrogênio, que por sua vez se liga ao átomo ligado a um átomo eletronegativo. Um exemplo deste princípio é o gelo, em que há uma inte-ração entre o átomo de hidrogênio em uma molécula e o átomo de oxigênio de outra molécula, mostrado esquematicamente na Figura 1.3.7.

A força da ligação é de apenas 0,4 eV e é pronta-mente superada pelo aquecimento acima de 0°C. A ponte de hidrogênio é importante porque é responsável pela extensiva adsorção possível pelas moléculas orgânicas, incluindo proteínas e é, portanto, considerada essencial para os processos vitais. A ligação secundária forma a base da atração molecular em sólidos moleculares.

Figura 1.3.6 Estrutura do diamante, mostrando a rede tridimensional construída do arranjo tetraédrico das ligações entre átomos de carbono.

Figura 1.3.7 Formação de pontes de hidrogênio no gelo.

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ESTRUTURA ATÔMICA DA MATÉRIA 17

Sólidos Moleculares

É possível se criar uma grande variedade de molécu-las diferentes, algumas das quais podem ser sólidas em temperatura ambiente. Se as moléculas forem sufi ciente-mente grandes, elas podem ser ligadas entre si devido às inúmeras interações bipolares. A baixa força de ligação signifi ca que tais sólidos terão uma temperatura de fusão baixa e o limite máximo para os sólidos moleculares é de aproximadamente 100°C.

A melhor maneira de apreciar como estes sólidos são formados é por meio de um grupo de moléculas conhe-cidas como alcanos lineares. Estes têm como base uma cadeia linear de hidrocarbonetos, com fórmula geral de CnH2n+2, e n pode ser qualquer número inteiro positivo. O mais simples destes alcanos é o metano (CH4) que possui n=1. Se retiramos um átomo de hidrogênio de cada uma de duas moléculas de metano e unimos as moléculas por uma ligação de carbono-carbono, isto resultará na formação do etano. Podemos continuar a repetição deste processo e obter moléculas realmente grandes (Fig.1.3.8).

Na medida em que o número de grupos de –CH2– se tornar muito grande, haverá pouca diferença nas pro-priedades destes materiais, que são conhecidos coleti-vamente como polimetileno. Este nome é derivado da palavra poli que signifi ca muitos e da unidade estrutural básica de que é constituído, metileno. Um material com este tipo de estrutura é conhecido como polímero e con-siste em muitas unidades repetidas chamadas meros. A formação de uma variedade de estruturas sólidas por polímeros será discutida em detalhes no Capítulo 1.6.

O ARRANJO ESTRUTURAL DOS ÁTOMOS NOS SÓLIDOS

Considerando as forças de atração que mantêm os átomos intimamente ligados, a repulsão mútua dos núcleos sig-nifi ca que um equilíbrio espacial está atrelado a eles e que estas forças se equilibram. Este arranjo espacial interatô-mico está apresentado como a0 na Figura 1.3.1.

Uma força externa é necessária para mover os átomos aproximando-os ou afastando-os. Este arranjo espacial interatômico é a confi guração de menor energia e para alcançá-la há uma tendência dos átomos em adotar um arranjo compacto regular. Se considerarmos os átomos como esferas, é possível fazer uma analogia com esferas empacotadas em uma caixa. A forma mais densa de se empacotar essas esferas é obtida quando são arranja-das de maneira regular e simétrica como mostrado na Figura 1.3.9. Quando os átomos são organizados desta forma diz-se que se trata de um material cristalino.

A característica importante de uma estrutura crista-lina é que, partindo de qualquer átomo contido nela, o arranjo dos átomos adjacentes é idêntico. Sólidos iônicos e metálicos são normalmente cristalinos em temperatura ambiente. Qualquer sólido que não tenha simetria dos átomos é dito amorfo.

Estrutura Cristalina

Um dos arranjos atômicos mais elementares é o cubo sim ples, em que os átomos ocupam a posição dos oito vértices.

Butano (n=4)

Propano (n=3)

Etano (n=2)

Metano (n=1)

Figura 1.3.8 Os quatro primeiros membros da família dos alcanos, que são hidrocarbonetos de cadeia linear, seguindo a fórmula geral de CnH2n+2.

Organizado Desorganizado

Figura 1.3.9 Os arranjos organizado e desorganizado dos átomos.

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS18

Usando novamente o modelo das esferas para os átomos, este arranjo é apresentado na Figura 1.3.10a. Cada esfera toca a sua vizinha mais próxima, de modo que o comprimento do lado do cubo é igual ao diâmetro do átomo. Se considerarmos um cubo simples, contendo apenas uma porção dos átomos em seu interior como mostrado na Figura 1.3.10b, tem-se o que chamamos célula estrutural. Ao se empilhar essas células estrutu-rais umas sobre as outras, pode-se construir um sólido tridimensional.

Os átomos não ocupam todo o espaço da unidade estru-tural. A fração de espaço ocupado pelos átomos é deno-minada fator de compactação e é calculada facilmente.

Se supormos que cada lado do cubo mede 2a de com-primento, então o volume da célula estrutural é 8a3. De forma correspondente, o raio de cada esfera deve ser a, e seu volume será fornecido por 4/3πa3. Cada esfera con-tribui apenas com 1/8 de seu volume para a célula estru-tural, porém uma vez que haja oito segmentos, as esferas dentro do cubo ocupam um volume total de 4/3πa3. Deste modo, o fator de compactação de um cubo simples é dado por:

fator de compactação = volume de átomos dentro do cubo/volume do cubo = 4/3πa3/(2a)3

= π/6 = 0,54

Isto indica que aproximadamente 50% do espaço não está preenchido.

De fato é possível para outros átomos menores ocupar este espaço livre sem causar ruptura na estrutura cris-

talina; este assunto será abordado mais adiante ao se discutir as ligas. Devido à grande quantidade de espaço livre nesta estrutura simples, não é surpresa que haja outros arranjos atômicos que tenham um fator de com-pactação maior.

Dois desses arranjos que ocorrem comumente nos metais são as confi gurações cúbicas de corpo centrado (CCC) e as confi gurações cúbicas de face centrada (CFC), que são apresentadas na Figura 1.3.11. Os fatores de compactação são 0,68 e 0,74 para as estruturas CCC e CFC, respectivamente. Com estes fatores de compactação maiores é mais difícil para átomos menores ocupar os espaços livres sem afetar a estrutura.

RESUMO

De certo modo, não é surpresa que existam três grupos principais de sólidos baseados nos três tipos de ligações primárias, chamados:

■ cerâmicas – baseadas nas ligações iônicas, que podem existir na forma cristalina e amorfa, com a última sendo os vidros;

■ metais – baseados na ligação metálica;■ sólidos moleculares – baseados nas ligações covalentes

e ligações secundárias e incluindo um grupo impor-tante de materiais conhecido como polímeros.

Há um grupo importante de materiais que ainda não foi mencionado. Estes são os compósitos, que são baseados na combinação de dois ou mais dos sólidos mencionados.

(a) Cubo Simples (b) Célula Estrutural

Figura 1.3.10 A estrutura cúbica simples (a) e sua célula estrutural (b).

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ESTRUTURA ATÔMICA DA MATÉRIA 19

Existem vários exemplos de compósitos, tanto natu-rais como sintéticos. Osso e dentina são compósitos naturais, cujos principais constituintes são o colágeno (um polímero) e a apatita (uma cerâmica). Os compósitos sintéticos incluem os polímeros de fi bra de vidro refor-çada e polímeros com partículas cerâmicas. Um exemplo

Figura 1.3.11 Arranjos atômicos das confi gurações cúbica de corpo centrado (CCC) e cúbica de face centrada (CFC).

CCC (fator de compactação = 0,68) CFC (fator de compactação = 0,74)

odontológico do último são os materiais restauradores feito de compósitos discutidos no Capítulo 2.2. Outro exemplo odontológico de compósito é o cermet, que é a partícula de carga utilizada em alguns cimentos de ionômero de vidro (Cap. 2.3). O nome é derivado dos seus dois componentes; cer(âmica) e met(al).

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Capítulo 1.4

ESTRUTURA DAS CERÂMICAS

INTRODUÇÃO

As cerâmicas são composições de elementos metálicos e de substâncias não metálicas como óxidos, nitritos e silica-tos. Elas podem aparecer como sólidos cristalinos e como sólidos amorfos, este último grupo chamado de vidros.

Nas cerâmicas os íons carregados negativamente (ânions) em geral são signifi cativamente diferentes em tamanho dos íons carregados positivamente (cátions). Um exemplo já citado é o cloreto de sódio, que possui estrutura cúbica de face centrada.

Os íons de cloro tomam posição nos pontos de cru-zamento (ângulos) do arranjo CFC (cúbico de face cen-trada), com os íons de sódio permanecendo em posições entre os íons cloro, as quais são chamadas posições intersti-ciais. Os íons de sódio podem fazer isso porque são muito menor do que os íons de cloro e se encaixam nos espaços livres deixados entre eles. A exata estrutura cristalina é apresentada na Figura 1.4.1. Outro exemplo desse tipo de estrutura é o óxido de zinco, que é amplamente usado em odontologia. Existem muitas outras aplicações das cerâmicas na odontologia; elas são usadas como cargas nas resinas compostas, nos cimentos de ionômero de vidro e nos revestimentos e porcelanas.

MATERIAIS DE CERÂMICA

A sílica (SiO2) forma a base de muitos materiais cerâmi-cos. Embora tenha uma fórmula química simples, ela é um material versátil e pode existir em várias formas diferentes.

A sílica ocorre como um material cristalino na forma de quartzo, cristobalita e tridimita ou como um vidro, como a sílica fundida. Essa habilidade de um composto, tal como a da sílica, de existir em diferentes formas com características distintas é conhecida como polimorfi smo.

A sílica é usada como base de formação de muitas for-mulações cerâmicas complexas, em particular em com-

binação com óxido de alumínio, com o qual forma os vidros de alumino-silicato, como o usado nos cimentos de ionômero de vidro. Da mesma forma, os vidros de feldspato são usados em restaurações cerâmicas e são compostos contendo óxidos de alumínio e silício em combinação com o potássio, o sódio ou o cálcio (p. ex., NaAlSi3O8).

CERÂMICAS CRISTALINAS E AMORFAS

Transições Cristalinas

Quando um sólido é aquecido, ele pode sofrer uma série de transformações, a mais facilmente reconhecida é quando um sólido derrete. Essa mudança do cristal de sólido para líquido é conhecida como transição de fusão cristalina e é acompanhada por uma mudança no volume do material. Essa mudança de volume pode ser monito-rada para permitir a detecção das transformações.

Um meio simples de evidenciar essa mudança é repre-sentar grafi camente a variação do volume específi co do material (isto é, o volume de uma unidade de massa do material) em função da temperatura. Esse gráfi co resulta numa curva, como a mostrada na Figura 1.4.2, e, no ponto de fusão do cristal (isto é, a uma temperatura específi ca), há uma discreta descontinuidade no volume específi co.

O volume específi co é efetivamente o inverso da densidade. Essa curva específi ca do volume/temperatura mostra que um efeito da fusão do cristal é um aumento do volume. Não é surpreendente quando se pensa que essa transição é de uma estrutura cristalina organizada para um líquido desorganizado; a densidade de com-pactação dos átomos no líquido será consideravelmente menor que aquela do sólido cristalino.

A curva do volume específi co/temperatura para a sílica cristalina é mostrada na Figura 1.4.3. Nesse exemplo, existe uma série de transições sólido-sólido, assim como a transição normal, do sólido para o lí -

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS22

quido. A sílica está na forma de quartzo em temperatura ambiente, que se transforma em tridimita a 870°C. A transformação seguinte ocorre a 1.471°C, a tridimita se transforma em cristobalita e, fi nalmente, a cristoba-lita derrete a 1.713°C. Sendo assim, é possível detectar tanto a transição sólido/sólido, como a sólido/líquido na sílica cristalina.

Transições Vítreas

Quando um sólido amorfo como o vidro é aquecido não demonstra uma transição sólido/líquido evidente, já que o material não é cristalino. Em vez disso, o que acontece é que em algum ponto há um aumento na taxa de mudança do volume específi co, como mostra a Figu ra 1.4.4. A tem peratura na qual essa mudança de inclinação ocorre é conhecida como temperatura de transição vítrea, Tg. Em geral (mas nem sempre) este também é o caso dos sólidos moleculares.

A consequência disso é que não haverá nenhum aumento súbito no volume (daí o volume vazio). O que ocorre é um aumento gradual no volume, com a taxa de

aumento se tornando mais rápida acima da temperatura de transição vítrea.

O inverso disso é que um líquido que esfria sem formar uma estrutura cristalina conterá uma grande quantidade de volume vazio. Os sólidos que são formados pela passa-gem pela transição do vidro e não por uma transição de fusão cristalina serão amorfos e são chamados vidros. Os vidros são um grupo importante de materiais e merecem atenção especial.

A FORMAÇÃO DE UM VIDRO

Devido a suas formas regulares, os átomos tendem a formar estruturas organizadas. Moléculas pequenas, tais como o metano, são capazes de formar estruturas crista-linas facilmente, e até alguns alcanos lineares de cadeia longa podem formar estruturas cristalinas se a molé-cula for considerada como uma haste rígida. Entretanto, quando se tem moléculas maiores e mais complexas, os

Cl

Na

Sólido

Volu

me

espe

cífic

o

Líquido

Tm Temperatura

Volu

me

esp

ecífi

coLíquido

Tridimita

Quartzo Cristobalita

Temperatura (ºC)

. .

Volu

me

espe

cífic

o

Líquido

Sólido

Tg Temperatura

Figura 1.4.4 Variação do volume específi co de um sólido amorfo em função da temperatura.

Figura 1.4.1 Estrutura cúbica de face centrada do cloreto de sódio.

Figura 1.4.2 Transição de um sólido para líquido, em que Tm é a temperatura de fusão.

Figura 1.4.3 Transições sólido-sólido da sílica (SiO2).

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ESTRUTURA DAS CERÂMICAS 23

arranjos regulares se tornam mais difíceis de porém con-seguidos. Desta forma, moléculas grandes e irregulares possuem uma alta probabilidade de formar um vidro durante a solidifi cação.

Para que ocorra o crescimento do cristal é necessário que estejam presentes núcleos de cristalização. Geralmente eles existem na forma de impurezas, tal como partícu-las de poeiras, as quais são praticamente impossíveis de eliminar. Então, se há alguma chance de que o material possa formar um arranjo cristalino ordenado, ele o fará normalmente.

A sílica pode formar tanto o vidro como sólidos cris-talinos, e suas curvas específi cas de volume/temperatura estão apresentadas na Figura 1.4.5. Quando a cristali-zação ocorre no resfriamento (curva a), há uma redução nítida e discreta do volume específi co. Essa contração é devido à “contração de confi guração”, já que há um grande aumento na fração de compactação quando se modifi ca um líquido desordenado para um sólido cris-talino organizado. Uma vez que essa nítida contração esteja completa, o material continua a se contrair pela contração térmica normal.

Se a cristalização não ocorresse, o material seguiria a curva b e o líquido continuaria a se contrair, parcial-mente por contração térmica normal e parcialmente pela contração de confi guração. O líquido adquire uma estrutura menos frouxa, mas não há nenhum discreto salto no volume específi co. Abaixo da Tm, forma-se um líquido super-resfriado instável. Essa contração continua conforme a temperatura decresce até Tg, a temperatura de transição vítrea, ser alcançada, depois do que a taxa de contração diminui gradualmente. Nesse ponto, a contra-ção de confi guração paralisa e continua a ocorrer apenas a contração térmica.

O que ocorre na temperatura de transição do vidro é que o líquido super-resfriado torna-se tão viscoso que as mudanças da confi guração não podem mais ocorrer, e a

estrutura líquida torna-se congelada. A temperatura na qual isso ocorre não é um ponto nitidamente defi nido, mas uma faixa de temperatura em torno de 50°C, repre-sentada pelo dobramento da curva.

Uma vez que o líquido super-resfriado tenha resfriado abaixo da temperatura de transição vítrea, ele é descrito como vidro. É interessante observar que a viscosidade em que isso ocorre é aproximadamente a mesma para todos os vidros, em torno de 1012 Pa.s., embora a tem-peratura em que isso acontece pode variar de -89ºC para a glicerina até mais de 1.500°C para o vidro de sílica pura. A distinção entre um líquido super-resfriado e um vidro é que o último possui uma viscosidade maior que 1012 Pa.s.

O termo temperatura de transformação é de certa forma incorreta, uma vez que não há uma verdadeira transfor-mação a essa temperatura. As mudanças da confi gura-ção estão ainda ocorrendo em temperaturas abaixo da Tg, só que a taxa de mudança agora é tão pequena, por causa da alta viscosidade, que para todos os propósitos e intenções, ela está parada. A temperatura de transição vítrea, isto é, a temperatura na qual o vidro que está sendo resfriado cessa efetivamente para realizar alte-rações na confi guração, é algumas vezes denominada temperatura fi ctiva do vidro. Ela é a temperatura abaixo da qual não existe tendência espontânea do vidro de se tornar mais denso.

A questão é: “O que acontece à Tm que determina se a rota de formação do cristal ou vidro é seguida?”

Quando a sílica derrete, ela produz um líquido muito viscoso, que signifi ca que as moléculas podem apenas mover umas sobre as outras muito lentamente. Isso não é favorável à formação de um sólido cristalino, já que a cristalização requer um rearranjo rápido e substancial das moléculas. Qualquer núcleo cristalino presente tenderá, portanto, a crescer muito lentamente, em especial devido à estrutura complexa da sílica cristalina, que é similar à de um diamante. Então, se o líquido for resfriado com rapidez, o sólido formado provavelmente será um vidro. O processo de formação de um vidro chama-se vitrifi cação.

Formadores de Vidro

O componente essencial que permite a formação do vidro é a sílica, que pode por si só tornar-se tanto um vidro como um sólido cristalino pelo resfriamento. A cristoba-lita, uma das formas cristalinas da sílica, possui um tetra-edro como unidade básica, com um átomo de oxigênio em cada vértice e um átomo de silício no centro, como mostra a Figura 1.4.6.

Essa estrutura é um tanto complexa quando se pre-tende visualizar o desenvolvimento de um vidro, por isso o processo de formação pode ser compreendido de uma forma mais simples se considerar uma representação bidimensional na qual não aparece uma ligação de cada átomo de sílica (Fig. 1.4.7).

Líquido

Líquidosuper-resfriado

(a)(b)

Vidro

Sólidocristalino

Temperatura

Volu

me

espe

cífic

o

Tg Tm

Figura 1.4.5 Curvas de resfriamento de um material que pode formar um sólido cristalino (a) ou um vidro (b).

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS24

Quando a sílica derretida é resfriada rapidamente, a estrutura cristalina não tem tempo de se formar, de modo que a sílica solidifi ca como um vidro que é chamado quartzo fundido (Fig. 1.4.8). O alto ponto de fusão desse material, l.713ºC, torna-o muito caro para uso geral. Se forem misturados certos óxidos metálicos com a sílica a temperatura de fusão é drasticamente reduzida.

Como exemplo, uma composição de três quartos de sílica e um quarto de óxido de sódio fundirá somente a 1.339ºC. Tais vidros são chamados vidros de óxidos mis-turados, e sua estrutura é mostrada na Figura 1.4.9. Os átomos metálicos formam íons positivos que rompem o tetraedro de oxigênio, de forma que nem todos os átomos de oxigênio são compartilhados. A sílica faz a função de um formador de vidro, e o óxido metálico fun-ciona como um modifi cador de vidro.

Os óxidos de titânio, zinco, chumbo e alumínio podem tomar parte na formação de uma rede vítrea e produzir estruturas reticulares rígidas. A soda (Na2O) e a cal (CaO) reduzem consideravelmente a viscosidade, assim como a temperatura de transição vítrea, causando extensiva ruptura da rede. Isso facilita a produção do vidro. O óxido bórico (B2O3) também é capaz de atuar como um formador de vidro, produzindo vidros bóricos.

Embora seja possível obter vidros de misturas de sílica cristalina e óxidos metálicos, é uma experiência dispen-diosa. É muito mais barato usar os minerais encontrados na natureza com as estruturas vítreas necessárias, porque a natureza já realizou todo o processo de vitrifi cação.

Houve uma época em que apenas os feldspatos natu-ralmente encontrados na natureza eram usados pelos fabricantes, e foram modifi cados com outros óxidos metálicos para produzir cargas e porcelanas dentais com as propriedades necessárias. Hoje muitos vidros são sin-teticamente produzidos, e isto permite maior controle da composição e das propriedades.

DEVITRIFICAÇÃO

É possível que uma pequena quantidade de cristalização ocorra na produção de um vidro, embora a taxa de cres-cimento do cristal seja muito baixa.

Quando um vidro começa a cristalizar o processo é chamado devitrifi cação. Ele pode acontecer quando o vidro é mantido em uma temperatura elevada por um longo tempo, permitindo alguma reorganização mole-cular. O vidro tenderá a adquirir um aspecto translúcido devido à dispersão da luz nas superfícies dos pequenos

Oxigênio

Silício

Figura 1.4.6 Estrutura cristalina da cristobalita.

Figura 1.4.7 Representação bidimensional da sílica cristalina: (a) posição dos átomos, (b) triângulos de oxigênio.

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ESTRUTURA DAS CERÂMICAS 25

cristais. Essa é a base da formação dos vidros cerâmicos (Cap. 3.4).

O processo de aquecimento de um material para per-mitir um rearranjo molecular ou atômico é chamado têmpera e é importante em muitos tipos de materiais.

Figura 1.4.8 Representação bidimensional de um vidro de sílica pura: (a) posição dos átomos, (b) triângulos de oxigênio.

Figura 1.4.9 Representação bidimensional de um vidro de óxido misturado: (a) posição dos átomos, (b) triângulos de oxigênio.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

As cerâmicas tendem a ser muito estáveis no ambiente biológico e, portanto, são consideradas os materiais mais biocompatíveis.

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27

Capítulo 1.5

ESTRUTURA DOS METAIS E DAS LIGAS METÁLICAS

MICROESTRUTURA DOS METAIS

Os metais consistem em agregados de átomos regular-mente arranjados numa estrutura cristalina. A despeito de, até agora, considerarmos a formação de cristais simples, os metais geralmente não solidifi cam (daquilo que é conhecido como a fusão) como um cristal único, mas ao invés disso são formados de um grande número de cristais pequenos.

Isso ocorre porque em geral existem muitos núcleos de cristalização espalhados por todo o metal fundido. Tais núcleos podem se formar quando quatro átomos perdem sufi ciente energia térmica e se tornam capazes de constituir uma unidade celular. Essas unidades celulares crescerão conforme mais átomos metálicos alcançarem uma energia sufi cientemente baixa para se unir e assim ocorre a formação do cristal. Esse processo é conhecido como nucleação homogênea. Ela requer equipamentos altamente especializados para que ocorra o crescimento de um cristal único do metal completamente derretido.

Mais comumente, a solidifi cação é iniciada pela pre-sença de impurezas na fusão. Conforme a temperatura diminui abaixo do ponto de fusão, os átomos do metal se depositarão nessas impurezas e os cristais começarão a se formar. Esse processo é conhecido como nucleação heterogênea. Os cristais (ou grãos, como são chamados) continuarão a crescer até que todo o metal tenha se solidifi cado. Durante seu crescimento, eles começarão a interagir um com o outro, levando a ligações entre os cristais, onde os átomos estão irregularmente arranjados. Esse limite é chamado limite granular e é essencialmente um defeito na estrutura cristalina do metal.

O processo de solidifi cação de um metal é demons-trado esquematicamente na Figura 1.5.1. Um tamanho de granulação fi no é usualmente desejado num metal porque aumenta o limite de proporcionalidade, mas a razão para isso não será considerada agora. Uma maneira pela qual se promove um tamanho de granulação fi no é a rápida solidifi cação, como usado na fundição de ligas de

ouro de uso odontológico dentro de um molde de revesti-mento mantido a uma temperatura bem abaixo da tempe-ratura de fusão da liga. De maneira alternativa, a presença de muitos sítios de nucleação levará a um tamanho de granulação fi no. Esse método é também empregado em ligas de ouro de uso odontológico pela adição do irídio. O irídio proporciona muitos sítios de nucleação e age como um ingrediente refi nador de grão.

É muito útil ser capaz de estudar a estrutura deta-lhada dos metais, em termos de tamanho dos cristais, sua forma e sua composição, uma vez que essa informação pode acrescentar-nos muito sobre as propriedades do metal e como ele foi feito. Alguma ideia sobre a estrutura pode ser obtida pela avaliação da superfície do metal sob microscopia óptica por luz refl etida.

A luz é refl etida de uma superfície metálica polida, mas a fração de luz incidente que é refl etida de qualquer região dependerá das irregularidades da superfície, pois as irregularidades causarão o espalhamento da luz.

A ação de substâncias químicas numa superfície polida (conhecida como condicionamento) também pode reduzir a quantidade de luz refl etida. A escolha, ade-quada de um agente químico que condicione certas regiões da superfície do metal. Essas áreas tendem a ser submetidas a elevadas tensões, tais como nos limites do grão, onde existe uma organização imperfeita dos átomos. De fato, uma ranhura produzida espalhará a luz incidente e, portanto, aparecerá como uma linha escura.

Esse efeito é mostrado esquematicamente na Figu- ra 1.5.2 para um metal, que tem uma estrutura de gra-nulação muito uniforme. Todos os grânulos são quase do mesmo tamanho e forma; tal estrutura granular é descrita como equiaxial. Um exemplo de estrutura de granular para o aço inoxidável hipoeutectoide, revelada pelo condicionamento, está mostrado na Figura 1.5.3. Muitas outras formas e tamanhos de grânulos são pos-síveis, e essas propriedades com frequência dependem dos métodos empregados durante a solidifi cação. Por

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS28

exemplo, se o metal fundido é vertido dentro de um molde com uma secção transversal quadrada ou circu-lar e que é mantida a uma temperatura bem abaixo da temperatura de fusão do metal, os grânulos poderiam se assemelhar àqueles desenhados na Figura 1.5.4. O crescimento do cristal terá sido das paredes do molde em direção ao centro.

Muitos metais são prontamente deformados, em espe-cial na sua forma elementar (isto é, pura). Isso permite que eles sejam modelados por martelamento, rolamento, pressão ou cunhagem. Um grande modelo de fundição, conhecida como lingote, pode assim ser transformado em qualquer forma desejada, pode ser um aerofólio de carro, o casco de um barco ou um fi o.

Quando deformado dessa maneira, o metal é dito como sendo forjado. Se examinarmos a microestrutura de um fi o sob microscopia óptica, pode ser observada uma estrutura similar àquela mostrada na Figura 1.5.5. Os grânulos foram alongados na direção do desenho, e se apresentam numa estrutura laminar. Assim, da observa-ção da microestrutura do metal podem ser obtidas muitas informações.

LIGAS

Os metais elementares não são geralmente utilizados por causa de diversas limitações em suas propriedades. Muitos metais usados são uma mistura de dois ou mais metais elementares; algumas vezes elementos não metáli-cos são incluídos. Eles são em geral produzidos pela fusão dos elementos acima de suas temperaturas de fusão. A mistura de dois ou mais metais ou metaloides é denomi-nada liga. Dois elementos poderiam constituir uma liga binária e uma mistura de três é chamada liga ternária.

Uma liga frequentemente consistirá em um número de fases sólidas distintas, onde uma fase é defi nida como uma parte estruturalmente homogênea de um sistema que é separado de outras partes por um limite físico claro. Cada fase terá sua estrutura própria distinta e proprieda-des associadas.

As fases citadas comumente são as fases gasosa, líquida e sólida, uma vez que são muito diferentes umas das outras. Em uma substância pode exibir várias fases.

Núcleo decristalização

Líquido

Grânulo Limite do granular

SólidoCongelamento

Superfície polidae condicionada

Figura 1.5.3 Estrutura granular para o aço inoxidável hipoeutectoide.

Figura 1.5.1 Solidifi cação de um metal.

Figura 1.5.2 Refl exão da luz incidente da superfície do metal condicionado.

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ESTRUTURA DOS METAIS E DAS LIGAS METÁLICAS 29

Por exemplo, a água poderia ser considerada como uma estrutura de fase única, enquanto uma mistura de água e óleo poderia consistir em duas fases. A areia poderia ser considerada como um sistema de fase única, embora seja feita de muitas partículas individuais, uma vez que cada partícula de areia é idêntica.

Uma fase pode ter mais de um componente, como o soro fi siológico, por exemplo, que é uma solução aquosa de cloreto de sódio. Igualmente, as fases no metal podem consistir em uma mistura de metais. O cobre pode conter até 40% de zinco sem destruir sua estrutura CFC. Tal solução sólida, como é chamada, atenderá a algumas condições especiais (veja a seguir).

FASES SÓLIDAS

Quando dois elementos diferentes são misturados, o material resultante pode ser uma liga de fase única ou liga de fases múltiplas. Qual delas será formada depende da solubilidade de um elemento no outro, e isso é orien-tado pela natureza cristalina dos elementos e de seus tamanhos relativos.

Existem essencialmente três fases distintas, que podem formar ligas; estas são um metal puro, uma solução sólida e um composto intermetálico. Destas, a solução sólida e o composto intermetálico requerem maior descrição.

Soluções Sólidas

Uma solução sólida é uma mistura de elementos em nível atômico e é análoga a uma mistura de líquidos, que são solúveis um nos outros. Existem dois tipos de soluções sólidas: substitucional e intersticial.

Solução Sólida SubstitucionalSe um átomo soluto pode substituir diretamente um átomo solvente no mesmo local na rede cristalina, uma solução sólida substitucional de dois elementos será formada. Isso só será possível se:

■ os átomos possuírem uma valência similar;■ os átomos possuírem a mesma estrutura cristalina

(p. ex., CFC);■ os tamanhos atômicos variarem em até 15% um do

outro.

Um exemplo relevante de uso odontológico de tal sistema é uma mistura de ouro e cobre (Fig. 1.5.6).

Adicionando qualquer quantidade de cobre sempre formará uma solução sólida. Assim, uma solução sólida substitucional pode ser feita de uma faixa de 100% de ouro a 100% de cobre. Isso é porque esses dois metais (Tabela 1.5.1) preenchem as condições já men cionadas.

Outros metais, que prontamente formam soluções sólidas com o ouro, são a platina (2,775Å), o paládio (2,750Å) e a prata (2,888Å), pois todos possuem uma estrutura cristalina CFC.

Soluções Sólidas Intersticiais Como o nome já indica, uma solução sólida intersticial é obtida quando átomos solutos são capazes de ocupar o espaço entre os átomos solventes. Para isso ocorrer, o átomo soluto obviamente deve ser muito menor que o átomo solvente. Na prática, o diâmetro do átomo soluto deve ser

Radial Equiaxial

Direção do desenho

Figura 1.5.5 Grãos alongados do metal desenhado em forma de um fi o.

Figura 1.5.4 Estruturas granulares decorrentes de diferentes condições de solidifi cação.

Au Cu

Figura 1.5.6 Solução sólida substitucional.

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS30

menor que 60% do diâmetro do átomo solvente. Isso é ilustrado pelo exemplo de um tipo de aço que contém uma quantidade pequena de carbono no ferro (Fig. 1.5.7).

O espaço intersticial é em geral muito limitado e alguma distorção da rede cristalina ocorrerá para aco-modar os átomos extras. Outros elementos, que pron-tamente formam soluções sólidas intersticiais, são: o hidrogênio, o nitrogênio e o boro.

Componentes Intermetálicos

Um componente intermetálico é formado quando dois ou mais metais se combinam, formando uma composi-ção ou proporção estequiométrica específi ca. Exemplos de metais com composição estequiométrica específi ca são algumas das fases na liga metálica usada na produ-ção de um amálgama de uso odontológico; a liga pode conter regiões de uma fase Ag–Sn (Ag3Sn) e uma fase Cu–Sn (Cu6Sn5).

DIAGRAMAS DE FASES

As ligas podem consistir de uma ampla variedade de diferentes fases, dependendo da composição e da tempe-ratura e uma maneira de representar isso grafi camente foi desenvolvida, e é denominado diagrama de fases.

Tal diagrama indica as fases (incluindo a fase líquida) que estão presentes a uma dada temperatura, para uma determinada composição da liga.

Soluções Sólidas

O diagrama de fases mais simples para compreender são os diagramas de fase binária.

Um exemplo de diagrama de fases para um sistema simples é apresentado na Figura 1.5.8. Esse diagrama de fases é para o cobre e o níquel; o eixo vertical representa a temperatura e o eixo horizontal, a composição. O cobre e o níquel são tão próximos em termos de características que um substitui o outro na forma de rede cristalina e forma um exemplo de solução sólida substitucional. Desta forma, durante a variação de composição do cobre puro para níquel puro, ocorre apenas uma única fase.

Enquanto pode-se esperar que a temperatura de fusão dessa liga metálica decresça para algum valor entre o do cobre puro e do níquel puro, isto não é tão óbvio porque deve existir uma região na qual existe a mistura de líquido e sólido. A linha que defi ne a transição de um líquido puro para uma mistura de líquido ou sólido é chamada liquidus e a linha que separa uma mistura de sólido e líquido de um sólido é a solidus.

Quando um metal puro solidifi ca, a transformação de líquido para sólido ocorre numa temperatura bem-defi nida; essa é a temperatura característica de fusão do metal. Se uma curva tempo-temperatura foi construída para tal metal conforme ele se resfria, ela poderia se assemelhar à Figura 1.5.9.

O platô transpõe o período durante o qual o metal está solidifi cando, e o liquidus e o solidus estão efetivamente no mesmo ponto. O motivo para esse platô é a liberação de energia (na forma de calor) durante o processo de solidifi cação, que mantém o metal numa temperatura constante. Essa energia é chamada calor latente de fusão.

Quando dois metais são misturados para formar uma liga metálica, a curva de resfriamento parece um pouco diferente (Fig. 1.5.10), como a liga metálica se solidifi ca acima da faixa das temperaturas. O liquidus e o solidus são agora pontos distintos na curva de resfriamento.

Fe C

Figura 1.5.7 Solução sólida intersticial.

1.083oC

Tem

pera

tura

Líquido

Sólido+líquido

Sólido

Composiçãolíquida

1.455oC

100% Cu 100% NiComposição

Composiçãosólida

Figura 1.5.8 Diagrama de fases de equilíbrio para o sistema Cu–Ni, em que uma composição de 50Cu:50Ni a 1.300ºC produz uma mistura de um líquido rico em cobre e um sólido rico em níquel.

Tabela 1.5.1 Propriedades do ouro e do cobre

Elemento Diâmetro atômico (Å)

Estrutura cristalina

Valência

Au 2,882 CFC 1 ou 3

Cu 2,556 CFC 1 ou 2

Page 42: Introdução Aos Materiais Dentários

ESTRUTURA DOS METAIS E DAS LIGAS METÁLICAS 31

O motivo para esta grande variação de temperatura, incluindo a transição de líquido para sólido para uma liga metálica de cobre com níquel, é que os átomos de cobre e de níquel não são semelhantes. Como conse-quência, na região entre as temperaturas de fusão dos dois metais, um líquido rico em cobre e um sólido rico em níquel são os componentes mais estáveis.

Por exemplo, para uma composição de 50:50 a 1.300ºC, o níquel sólido pode não conter mais que 37% em peso de cobre. Qualquer átomo de cobre acima do nível 37% em peso, portanto, aparecerá na fase líquida, misturado com o níquel remanescente. Tal mistura de sólido e líquido proporciona uma energia livre menor que uma fase simples isoladamente.

De fato, o liquidus e o solidus representam os limites da solubilidade e é isso que forma a base do diagrama de fases. Se criarmos uma série de curvas de resfriamento como a mostrada na Figura 1.5.8 para uma variedade de composições, é possível construir o diagrama de fase como demonstrado esquematicamente na Figura 1.5.11.

Como a temperatura da composição 50:50 é reduzida, assim que a solubilidade do cobre em níquel aumenta,

até aproximadamente 1.220ºC, todo o cobre disponível pode ser dissolvido no níquel, e uma fase sólida única é a confi guração mais estável.

Solubilidade Sólida Parcial

Em geral, os componentes dos materiais não são sufi -cientemente solúveis para formar uma série completa de soluções sólidas. Exemplos disso são o cobre e a prata, que são sufi cientemente diferentes em tamanho atômico, já que seus átomos estão apenas parcialmente solúveis um no outro.

O diagrama de fases para esse sistema é evidenciado na Figura 1.5.12. Para uma ampla variedade de compo-sições, o material consistirá em duas fases sólidas, uma sendo rica em prata e a outra rica em cobre; por conven-ção, essas fases são denominadas fases α e β, respectiva-mente. A fase α consiste em prata predominantemente, com uma pequena quantidade de cobre dissolvido nela, enquanto a fase β consiste em cobre com uma pequena quantidade de prata dissolvida nele.

Em baixas concentrações de cobre em prata, todo o cobre é capaz de se dissolver na prata e existe apenas uma fase simples. A solubilidade máxima do cobre na prata é 8,8% em peso, e isso ocorre a uma temperatura de cerca de 780ºC.

Em baixas temperaturas, a solubilidade do cobre na prata diminui, e o excesso de cobre se separa da segunda, fase β.

Comportamento similar ocorre no extremo oposto da variação de composição onde a solubilidade limitada da prata no cobre também leva à formação de estrutura em duas fases.

Uma característica importante e interessante do dia-grama de fases do sistema Ag–Cu é a redução da tem-peratura do liquidus na composição de 72Ag:28Cu. Na temperatura de 780ºC, essa composição da liga metá-lica pode existir como três fases: α, β e líquida. Isso é

Líquido

Líquido + sólido

Sólido

Tempo

Tm

Tem

pera

tura

Líquido

Líquido + sólido

Sólido

Tempo

Tsolidus

Tliquidus

Tem

pera

tura

Figura 1.5.10 Curva de resfriamento para uma liga metálica.

Figura 1.5.9 Curva de resfriamento para um metal puro.

Tempo Composição

Tem

pera

tura

1 2 432143

Figura 1.5.11 Construção de um diagrama de fases.

Page 43: Introdução Aos Materiais Dentários

CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS32

chamado ponto eutético e a temperatura de interseção dessas três fases é a temperatura eutética. A composição é chamada composição eutética da liga metálica.

Se um líquido eutético é resfriado, ele muda direta-mente em duas fases sólidas, sem um estado de inter-posição como uma mistura de sólido-líquido, o que ocorre em todas outras composições. Essa característica de alguns sistemas de ligas metálicas pode ser utilizada para formar materiais de baixo ponto de fusão, como uma solda.

Da mesma forma que um eutético envolve a formação de duas fases sólidas de uma fase líquida única, tal trans-formação pode também ocorrer em sólidos.

O diagrama de fases do sistema Fe–C, mostrado par-cialmente na Figura 1.5.13, é um exemplo disso. Para uma composição de 0,8C:99,2Fe, a solução sólida, γ, transforma-se em uma solução sólida de carbono em ferro, α, e carboneto (Fe3C) a uma temperatura de 723ºC. Isso é chamado uma reação eutectoide, e difere apenas da eutética na qual todas as três fases são sólidas.

Tais transformações como descritas (e deveria ser notado que existem outras) são importantíssimas na determinação da microestrutura e, consequentemente, nas propriedades da liga metálica.

CONDIÇÕES DE NÃO EQUILÍBRIO

Deveria ser destacado que os diagramas de fases descritos são aqueles conhecidos como diagramas de fase em equi-líbrio. O material deveria ser mantido em temperatura preestabelecida por um considerável período de tempo para alcançar a estrutura da fase evidenciada em tais diagramas. Na prática, as taxas de solidifi cação e resfria-mento de ligas metálicas não permitem a formação de uma estrutura de fase de equilíbrio.

Anteriormente, foi notado que para uma composição de 50Cu:50Ni a 1.300ºC, uma fase líquida rica em cobre e uma fase sólida consistindo em 63Ni:37Cu coexistem. Sob rápido resfriamento, não é possível que um rea-juste de composição para essas fases líquida e sólida, e algum do sólido rico em níquel será retido. Conforme o material, continua a ser resfriado, uma composição mais rica em níquel solidifi cará, deixando o líquido remanes-cente e o sólido então formado mais ricos em cobre. O efeito geral disso é que o sólido consistirá em um grande número de cristais de uma ampla variedade de composi-ções, todos na mesma fase. Essa formação de um sólido com uma composição não uniforme é conhecida como segregação composicional.

Nos sistemas com fases múltiplas, a fase com maior temperatura de fusão será sempre a primeira a solidifi car, seguida pelas fases de menor temperatura de fusão. Con-forme a primeira fase solidifi ca, ela tende a formar uma estrutura de rede conhecida como dendritos.

A segregação composicional pode ser eliminada ou reduzida, pelo reaquecimento da liga metálica a uma temperatura adequada abaixo da solidus e a mantendo em tal temperatura por algum tempo. Isso permite que os átomos tenham tempo de se difundir pelo sistema e alcancem sua condição de equilíbrio.

O processo de tratamento de aquecimento de uma liga metálica é conhecido como têmpera e, se a intenção é atingir uma composição homogênea, é descrito como têmpera de homogeinização.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Com o objetivo de obter as melhores propriedades mecânicas, as ligas metálicas ao invés dos metais puros são usadas na odontologia.

Líquido

Tem

pera

tura

Líquido + α Líquido + β

Sólido + Sólido

β

α + β

100%Ag 100%CuComposição

α

Figura 1.5.12 Diagrama de fase de equilíbrio para o sistema Ag–Cu.

α + γ

Tem

pera

tura γ + carboneto

Aumento do conteúdo de carbono100% Fe

α + carboneto

γ

α

Figura 1.5.13 Diagrama de fase de equilíbrio para o sistema Fe–C.

Page 44: Introdução Aos Materiais Dentários

33

Capítulo 1.6

INTRODUÇÃO

Plásticos e borrachas, como são geralmente denominados no cotidiano, têm a propriedade comum de ser polímeros. Polímeros são moléculas de cadeias longas, consistindo em muitas unidades repetidas, conforme discutidos no Capítulo 1.3. Os polímeros não são uma invenção do século XX, são de fato mais antigos que a humanidade, e de uma forma ou de outra, são os constituintes básicos de todo tipo de matéria viva, seja planta ou animal.

Exemplos de polímeros que ocorrem naturalmente são o ágar, a celulose, o DNA, as proteínas, a borracha natural, o colágeno e a seda.

Só recentemente é que começamos a entender a estru-tura dos polímeros e aprendemos como processá-los. Alguns exemplos de polímeros sintéticos, que são hoje conhecidos no dia-a-dia são: o PVC (cloreto de polivinil), o polietileno, o náilon e o poliestireno.

Originalmente, os polímeros sintéticos tendiam a ser considerados como substitutos dos polímeros natu-rais existentes, tais como a borracha e a seda. Hoje, pode ser produzida uma variedade de polímeros tão grande que eles entraram na vida diária, satisfazendo necessidades que não existiam antes. Bons exemplos em aplicações médicas são as membranas de diálises e para oxigenação, e em aplicações dentárias, os materiais restauradores.

O material de partida para a produção de um polímero é o monômero. Em um material como o polietileno, a unidade de repetição é um grupamento CH2, com muitas dessas unidades reunidas para formarem uma cadeia longa (Fig. 1.6.1a). O monômero do qual esse polímero é derivado é o etileno (Fig. 1.6.1b).

Um polímero com uma estrutura similar ao polieti-leno é o prolipropileno. Ele é formado pela união de moléculas de propileno (Fig. 1.6.2a). O propileno difere do etileno por apresentar um grupamento metil (CH3) substituindo um dos átomos de hidrogênio, formando o polímero de polipropileno (Fig. 1.6.2b).

O polipropileno é ligeiramente mais complexo do que o polietileno de tal forma que, a disposição dos grupa-mentos metil pode variar de modo que sejam:

■ todos de um lado (isotáticos);■ alternados de um lado e de outro (sindiotáticos);■ mudando de um lado para o outro de maneira aleató-

ria (atáticos).

Exemplos de polímeros à base de monômeros viníli-cos são apresentados na Tabela 1.6.1.

Pode se notar que as vias químicas pelas quais esses diferentes polímeros são processados são bastante dife-rentes, e que não é uma simples questão de modifi ca-ção para formar um ou outro. Cada polímero tem sua própria unidade de repetição característica, ou “impres-são digital”, e essa unidade é a base para as propriedades amplamente diferenciadas dos polímeros.

Os polímeros mais comuns são aqueles feitos de com-postos orgânicos de carbono, mas os polímeros também podem ser feitos de compostos inorgânicos à base de sílica (SiO2).

O silício, sendo tetravalente como o carbono, fornece a oportunidade de formar um arcabouço para o polímero, junto com o oxigênio. Um exemplo de um polímero de silício é o polidimetilsiloxano (Fig. 1.6.3).

Quando um polímero é formado de um único tipo de monômero, ele é chamado homopolímero; quando espécies diferentes são incluídas, ele é chamado heteropolímero.

MECANISMOS DE POLIMERIZAÇÃO

Todos os monômeros mostrados na Tabela 1.6.1 apre-sentam uma ligação dupla em comum, que é aberta para possibilitar a ligação de um monômero ao monômero vizinho. Esse processo de formação de polímeros através de monômeros é denominado polimerização. Existem duas maneiras pelas quais isso pode ser obtido: por adição e condensação.

ESTRUTURA DOS POLÍMEROS

Page 45: Introdução Aos Materiais Dentários

CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS34

Figura 1.6.2 O propileno (a) polimeriza para originar o polipropileno (b).

Figura 1.6.1 O polietileno (a) é derivado do etileno (b).

Tabela 1.6.1 Alguns monômeros e seus polímeros

Nome Monômero Polímero

Cloreto de polivinil

H

C C

H

ClH

H

C C

H

ClH

C

H

H

C

H

Cl

C

H

H

C C

H

Cl

H

H

C

H

Cl

PTFE

F

C C

F

FF

F

C C

F

FF

C

F

F

C

F

F

C

F

F

C C

F

F

F

F

C

F

F

Polipropileno isotático

H

C C

H

CH3H

H

C C

H

CH 3H

C

H

H

C

H

CH 3

C

H

H

C C

H

CH 3

H

H

C

H

CH 3

Ácido poliacrílico

H

C C

H

CH O

OH

H

C C

H

C=OH

C

H

H

C

H

C=O

C

H

H

C C

H

C=O

H

H

C

H

C=O

OH OH OH OH

Polimetilmetacrilato

H

C C

CH 3

CH O

O

CH 3

H

C C

CH 3

C= OH

C

H

H

C

CH 3

C= O

C

H

H

C C

CH 3

C= O

H

H

C

CH 3

C= O

O O O O

CH 3 CH 3 CH 3 CH 3

Polimerização por Adição

A polimerização por adição é defi nida como a que ocorre quando uma reação entre duas moléculas (sejam as mesmas para formarem um homopolímero, ou distintas para forma-rem um heteropolímero) produz uma molécula maior sem a eliminação de uma molécula menor (como a água).

Esse tipo de reação se dá com compostos vinílicos, que são compostos inorgânicos reativos contendo ligações duplas de carbono-carbono (Tabela 1.6.1). O processo de polimerização por adição para produzir esses políme-ros envolve quatro estágios:

Page 46: Introdução Aos Materiais Dentários

ESTRUTURA DOS POLÍMEROS 35

■ ativação;■ iniciação;■ propagação; e■ terminação.

AtivaçãoA polimerização de um composto vinílico requer a pre-sença de radicais livres (•). Esses são espécies químicas muito reativas que possuem um elétron ímpar (sem par). O processo de produção de radicais livres é descrito como ativação. A ativação ocorre, por exemplo, quando há decomposição de um peróxido.

O peróxido comumente usado em materiais dentários é o peróxido de benzoíla. Em condições apropriadas, uma molécula de peróxido de benzoíla pode fornecer dois radicais livres:

C6H5COO – OOCH5C6 → 2(C6H5COO•)

Este por sua vez pode se decompor para formar outros radicais livres:

C6H5COO • → C6H5 • + CO2

Tais espécies químicas, conhecidas como iniciadores, são capazes de iniciar a polimerização de grupamentos

vinílicos, como descrito posteriormente, e são designa-das como R•.

Entretanto, antes de ocorrer a iniciação o peróxido de benzoíla precisa ser ativado. Essa ativação é obtida pela decomposição do peróxido, devido ao uso de um ativador, tal como:

■ Calor: Quando aquecido acima de 65°C, o peróxido de benzoíla se decompõe, conforme mostrado. Esse é o método usado para a produção de bases de dentadura de resina acrílica (Cap. 3.2).

■ Compostos químicos: O peróxido de benzoíla pode tam -bém ser ativado quando entra em contato com uma amina terciária, como a n,n-dimetil-p-toluidina (Fig. 1.6.4). Esse método é empregado em resinas acríli-cas de polimerização a frio, usadas, por exemplo, em reparos de próteses, restaurações temporárias, apare-lhos ortodônticos e moldeiras individuais (Cap. 3.2). O mesmo método é também usado em compósitos restauradores quimicamente ativados, que consistem em uma pasta-base contendo o ativador que conta, amina terciária, e uma pasta catalisadora contendo o iniciador neste caso, o peróxido de benzoíla (Cap. 2.2).

■ Luz: Ainda outro método para a criação de radicais livres é empregado pelos compósitos ativados por luz, que se baseiam em luz ultravioleta ou luz visível como o ativador da reação de polimerização. Nesses casos, outros iniciadores, ao invés do peróxido de benzoíla, são empregados.

Outras formas de produção de radicais livres incluem o uso de luz ultravioleta em conjunto com um éter de metilbenzoína e de luz visível com uma α-diquetona e uma amina (Cap. 2.2).

Figura 1.6.3 A estrutura do polidimetilsiloxano.

N

O

OOO

O

O

n,n -dimetil-p-toluidina

H C3

H C3

CH3

CH3

CH3

Radical benzoiloxi Íon benzoato

+

N•

O•

CH3

Figura 1.6.4 Peróxido de benzoíla ativado por uma amina terciária.

Page 47: Introdução Aos Materiais Dentários

CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS36

IniciaçãoOs radicais livres podem reagir com um monômero como o etileno e iniciar o processo de polimerização a seguir:

R• + C = C → R—C—C•

H

H H H H

H H H

PropagaçãoO radical livre é transferido para o monômero que, por sua vez, reage com outro monômero:

R—C—C• + C = C → R—C—C—C—C•

H H H H H H H H

H H H H H H H H

A repetição desse processo por muitas vezes gera uma cadeia de polímero até que as cadeias em crescimento colidam ou que todos os radicais livres tenham reagido.

TerminaçãoOs radicais livres podem reagir formando uma molécula estável:

[H] [H]

R—C—C• + R• → R—C—R

[H]n H n+1[H]

H

Já que o n variará de uma cadeia polimérica para outra, uma ampla variedade de moléculas longas é produzida. Na maioria das situações, haverá também algum monômero não reagido e alguns oligômeros, que consistem em apenas um pequeno número de unidades de repetição.

Polimerização por CondensaçãoA polimerização por condensação ocorre quando duas moléculas (em geral não as mesmas) reagem para formar uma molécula maior com a eliminação de uma menor (frequentemente, mas nem sempre, água).

Neste caso, as unidades monoméricas com ligações duplas de carbono-carbono não são necessárias, con-forme mostrado no exemplo a seguir de um silicone, que é um polímero inorgânico formado pela condensação de grupamentos silanóis:

R

R R

HO—Si—OH + HO—Si—OH→

R

HO—Si—O—Si—OH + H2O

R R

RR

Nesse caso, R é um grupamento orgânico, como um metil (CH3), e o subproduto é a água.

ESTRUTURAS POLIMÉRICAS

Peso Molecular

O peso molecular de um polímero é igual ao número de unidades de repetição (isto é, o grau de polimerização) multiplicado pelo peso molecular da unidade de repe-tição. Tanto na reação por adição como na reação por condensação, o comprimento da cadeia é determinado por eventos puramente aleatórios, nem todas as cadeias serão do mesmo comprimento e, em geral, muitos com-primentos de cadeias diferentes estarão presentes. Assim, o peso molecular pode apenas ser representado por um valor médio.

Existem algumas maneiras de determinar o peso mole-cular de um polímero. As duas principais são o número do peso molecular médio, Mn, e o peso molecular médio em peso, MW.

Número do Peso Molecular Médio (Mn)O Mn é obtido pela contagem do número de moléculas em determinado peso de amostra. A expressão geral seria dada por:

Mn = Σni Mi /Σni

Peso Molecular Médio em Peso (Mw)O Mw é obtido pela mensuração do peso das moléculas

no peso total da amostra, dada pela expressão geral:

Mw = Σwi Mi /Σwi

A diferença nas defi nições para uma distribuição de pesos moleculares em um polímero típico é mostrada na Figura 1.6.5. O Mw é especialmente sensível à presença de polímeros de alto peso molecular, enquanto que o Mn é sensível à presença de polímeros de baixo peso molecular. Por exemplo, se pesos iguais de dois polímeros de Ma = 10.000 e de Mb = 100.000 são misturados, Mw é dada por:

Mw = (wa × Ma + wb × Mb) / (wa + wb)

em que wa e wb são os pesos de Ma e Mb, respecti va-mente.

Nesse caso, wa e wb são iguais a 1/2W, pois Ma = 10.000 e Mb = 100.000; substituindo esses valores na expressão acima, temos:

Mw = 12

10.00012

100.000W W W× + ×( ) / = 55.000

Page 48: Introdução Aos Materiais Dentários

ESTRUTURA DOS POLÍMEROS 37

O número do peso molecular médio é dado por:

Mn = (na × Ma + mb × Mb) / (na + mb)

em que na e mb são o número de moléculas do peso molecular Ma e Mb, respectivamente. Nesse caso, na = 10 e mb = 1, desse modo:

Mn = (10 × 10.000 + 1 × 100.000) / 11 = 18.200

O peso molecular de um polímero é de grande valor para explicar as variações nas propriedades físicas de dife-rentes polímeros. Por exemplo, a resistência à tração e o alongamento necessário para romper o polímero aumen-tam drasticamente para alguns polímeros na faixa de peso molecular de 50.000 – 200.000.

Contudo, a melhoria das propriedades físicas pelo aumento do peso molecular é acompanhada por um rápido aumento na viscosidade do produto, e isto aumen- ta a temperatura de transição vítrea, tornando mais difícil do polímero ser processado.

Confi gurações de Cadeia

As cadeias poliméricas são mantidas unidas por meio de ligações secundárias fracas (ou forças de van der Waal) e pelo entrelaçamento das cadeias, se elas forem longas o sufi ciente. Quanto maior o peso molecular, maior o entrelaçamento formado, originando um polímero mais rígido e resistente.

Em um polímero como o polietileno, que tem uma confi guração de cadeia linear, as ligações fracas entre as cadeias podem ser facilmente quebradas pelo aumento da temperatura do polímero. Quando isso acontece, as cadeias podem deslizar umas nas outras de forma que o polímero amolece e se deforma facilmente.

No resfriamento, as ligações são restabelecidas, e o polímero se torna novamente duro e retém a forma que estava na temperatura mais alta.

A temperatura na qual um plástico amolece de modo que as moléculas possam começar a deslizar é defi nida

como sua temperatura de transição vítrea. Ela é similar àquela dos vidros, exceto que no caso dos plásticos as temperaturas envolvidas são muito baixas (Cap. 1.4).

Um polímero que pode ser amolecido e subsequen-temente modelado pelo aquecimento acima de sua temperatura de transição vítrea é conhecido como polí-mero termoplástico. Exemplos desses polímeros termo-plásticos são o poliestireno, o polimetil metacrilato e o polietileno.

Para muitos sistemas poliméricos, as cadeias não são lineares como no polietileno. De fato, o polietileno deveria ser idêntico ao polimetileno, mas isso não acon-tece porque as cadeias no polietileno são ramifi cadas, portanto, não lineares (Fig. 1.6.6). Tais ramifi cações dão ao polímero uma estrutura de rede tridimensional, o que impede as cadeias de deslizarem umas sobre as outras facilmente, mesmo quando aquecidos. Assim, o polí-mero reterá suas propriedades sob temperaturas razoa-velmente altas, até que ocorra degradação química da estrutura do polímero.

Os polímeros que se decompõem sob aquecimento sem mostrar uma transição vítrea são conhecidos como polímeros termoendurecidos.

Cristalinidade em Polímeros

Em um polímero as moléculas geralmente se contorcem e giram, se enrolam e se cruzam de maneira aleatória. Às vezes, entretanto, haverá zonas onde as moléculas são capazes de se dispor mais ou menos paralelas entre si, como mostrado na Figura 1.6.7. Quando isso acontece, o polímero exibe um grau de cristalinidade limitado.

As proporções relativas de regiões cristalinas e não cristalinas em um polímero dependerão da composição química, da confi guração molecular e do método de processamento. Esses polímeros não são sólidos comple-tamente cristalinos, mas são compostos de um grande número de pequenas regiões cristalinas em íntima apro-ximação entre si, em uma matriz amorfa.

Ramo dolado propil

Ramo do lado metil

Pes

o do

pol

ímer

o

Número do pesomolecular médio

Peso molecularmédio em peso

Comprimento das cadeias poliméricas

Figura 1.6.6 Polietileno ramifi cado.Figura 1.6.5 Distribuição de peso molecular de um polímero típico.

Page 49: Introdução Aos Materiais Dentários

CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS38

O polietileno é capaz de cristalizar por causa da regu-laridade e da simplicidade de sua cadeia polimérica. Na medida em que as moléculas do polímero se tornam mais complexas (devido à ramifi cação ou grupamentos laterais grandes que restringem a mobilidade da cadeia), é mais difícil para os polímeros apresentarem regiões cristalinas.

Ligação Cruzada

Quando cadeias poliméricas são unidas por ligações químicas, se diz que o polímero é de ligação cruzada. Como notado, a ligação cruzada apresenta um efeito profundo nas propriedades de um polímero; essa pode fazer a diferença entre um polímero termoplástico e um polímero termoendurecido. Mais importante, isso pode converter um polímero líquido em um polímero sólido, um processo usado na composição de muitos materiais de moldagem.

Os polímeros de silicone apresentam uma tempera-tura de transição vítrea abaixo da temperatura ambiente, portanto, são líquidos nessa temperatura e acima dela. Quando esses polímeros formam ligações cruzadas, as cadeias não são mais capazes de deslizar umas sobre as outras e um material sólido é obtido. A extensiva formação de ligações cruzadas em polímeros resulta em materiais duros e friáveis.

Se o polímero consiste particularmente em cadeias moleculares longas e fl exíveis, podem haver ligações cru-zadas em vários pontos ao longo de seu comprimento. As moléculas podem ter uma confi guração altamente enro-lada quando relaxadas e podem se esticar por grandes distâncias (pelo desenrolamento) quando uma carga é aplicada. Quando a carga é removida, as cadeias terão novamente uma confi guração enrolada, governada pelas ligações cruzadas. O grau de extensão e a tensão que pode ser gerada por um polímero dependem do com-primento das cadeias, do grau de formação de ligações cruzadas e da resistência das ligações.

Os materiais que mostram a habilidade de se estirar em alto grau até muitas vezes o seu comprimento origi-nal são conhecidos como elastômeros. As características de um elastômero são:

■ o material é mole e apresenta um baixo módulo de elasticidade;

■ deformações muito altas (> 100%) são possíveis;■ as deformações são reversíveis; e■ o material está acima de sua temperatura de transição

vítrea.

As diversas confi gurações de cadeias poliméricas para polímeros são mostradas na Figura 1.6.8.

COMPOSIÇÃO DE POLÍMEROS REAIS

Os polímeros são muito raramente usados em sua forma pura, pelas mesmas razões que os metais puros são rara-mente usados, em comparação com as ligas. Em vez disso, modifi cações são realizadas com o objetivo de melhorar as propriedades dos polímeros.

Uma dessas modifi cações que já foi considerada é pela formação de ligações cruzadas nas cadeias poliméricas, para transformar polímeros termoplásticos em polímeros termoendurecidos. Como os polímeros termoendureci-dos não podem ser amolecidos e remodelados, a forma do objeto tem que ser criada antes de induzir a formação de ligações cruzadas, e isso coloca sérias restrições aos meios de processamento. Contudo, várias outras opções de processamento estão disponíveis, tais como a mistura, e o uso de copolímeros e compósitos.

Mistura de Polímeros

A mistura de polímeros é um processo comumente usado no processamento de polímeros termoplásticos e envolve a mistura de dois ou mais polímeros antes da modela-gem. As propriedades do polímero misturado em geral fi cará em algum ponto entre as propriedades dos polí-meros constituintes.

Como os polímeros têm que ser miscíveis (isto é, misturados livremente um com o outro), eles tendem a ser de uma composição química similar. Isso impõe um limite nas alterações de propriedades que são possíveis pelo processo de mistura de polímeros.

Copolímeros

Uma alternativa para a mistura de polímeros é a mistura de dois sistemas produtores de polímeros durante o pro-cesso de polimerização, isso é a copolimerização.

Por exemplo, se um monômero A e um monômero B são misturados antes da polimerização, eles copoli-merizarão, para formar cadeias poliméricas constituídas tanto de unidades monoméricas A, quanto de unidades

Figura 1.6.7 Cristalinidade parcial em um polímero.

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ESTRUTURA DOS POLÍMEROS 39

monoméricas B. A sequência dos monômeros originais no polímero pode ser aleatória, produzindo um copolí-mero aleatório, dando a sequência tal como:

–A–A–A–A–B–B–A–B–A–B–B–B–A–A–B–B–A–B–

Se os monômeros autopolimerizam mais rapidamente do que se copolimerizam, o resultado será um copolímero em bloco, em que os segmentos de cada homopolímero estão ligados:

–A–A–A–B–B–B–B–A–A–A–B–B–B–

Tais sistemas podem produzir polímeros com proprie-dades que são bastante diferentes dos homopolímeros. Por exemplo, um polímero pode ser bastante rígido, enquanto outro é bastante fl exível. A produção de um bloco de copolímero permitiria controlar o grau de fl e-xibilidade do material fi nal pelo controle do compri-mento dos blocos e das quantidades relativas de cada polímero.

Um exemplo de copolímero em bloco é o ABS (acrilo-nitril-butadieno-estireno), que é formado pela mistura de três polímeros. O acrilonitril e o estireno copoli-merizam para formar um copolímero em bloco vítreo, enquanto que o butadieno forma regiões borrachoides esféricas ligadas à matriz de polímero rígido. Embora esse material apresente rigidez e resistência ao creep mais baixa do que o poliestireno, ele é muito mais tenaz a ponto de ser indicado para a fabricação de partes de carroceria de carros.

Plastifi cantes

Se uma substância de baixo peso molecular é adicionada ao polímero, ela tem o efeito de diminuir a tempera-tura de transição vítrea e o módulo de elasticidade do material. Esses plastifi cantes reduzem as forças de atração entre as cadeias poliméricas, de forma que as cadeias se tornam mais fl exíveis e começam a se deslizar uma sobre as outras, em uma temperatura baixa, o que é responsá-vel pela redução da Tg.

Se for adicionado plastifi cante sufi ciente, um polí-mero friável pode ser transformado em um polímero mole, fl exível e tenaz.

Os plastifi cantes são em geral adicionados aos polí-meros para melhorar seu escoamento (portanto, seu pro-cessamento) e para reduzir a fragilidade do produto. Um exemplo é o PVC, que é um polímero muito rígido na sua forma pura, mas pode ser transformado em um tubo fl exível após a adição de um plastifi cante.

A exigência básica a ser satisfeita por um plastifi cante é que este deve ser compatível com o polímero e apre-sentar um efeito permanente. Ser compatível signifi ca que o plastifi cante deve ser miscível no polímero, e isso implica a necessidade de semelhança nas forças molecu-lares ativas no polímero e no plastifi cante.

Para um plastifi cante ser permanente e não ser facil-mente lixiviado do material, ele deve ter uma pressão de vapor baixa e uma baixa taxa de difusão pelo polímero.

Um exemplo na Odontologia do uso de um plasti-fi cante é quando o dibutil-ftalato é misturado com o

Termoplástico Termoendurecido Termoendurecido

Ramificado Ligação cruzada

Parcialmente cristalino Polímero líquido Elastômero

Figura 1.6.8 Confi gurações da cadeia polimérica.

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS40

polimetil ou polietil metacrilato para a produção de embasadores macios para dentadura (Cap. 3.2)

Compósitos

Um compósito pode ser defi nido como a combinação de materiais na qual os componentes individuais retêm sua identidade física. Mais importante, um compósito é um material de multifases que exibe propriedades das fases constituintes, de modo a produzir um material com uma melhor combinação de propriedades do que poderia ser obtido por qualquer uma das fases constituintes.

Em compósitos de dois componentes, é comum referir à matriz e carga, de forma que o primeiro é o componente que une as cargas juntas. O esmalte e a dentina são exce-lentes exemplos de compósitos, sendo constituídas de uma matriz orgânica (colágeno, proteínas e água) e uma carga inorgânica (hidroxiapatita).

Uma grande variedade de estruturas compostas pode ser criada, como indicado no esquema de classifi cação mostrado na Figura 1.6.9. Em compósitos particulados, a matriz pode ser um polímero termoplástico ou termo-endurecido. As partículas de carga podem estar presentes simplesmente para reduzir os custos, ou para desempe-nhar um papel específi co, tal como conferir cor a um polí-mero incolor. Sua função mais crucial, contudo, é quando elas são usadas para melhorar as propriedades mecânicas dos polímeros. Por exemplo, a inclusão de vidro no polí-mero aumenta a rigidez e, algumas vezes, aumenta a resis-tência. As propriedades de escoamento dos materiais de moldagem elastoméricos são em grande parte controladas pela quantidade de carga que é incluída.

A forma e a distribuição da carga desempenham um papel importante no modo como as propriedades são modifi cadas. Além de cargas particuladas, é também pos-sível incorporar fi bras ou fi lamentos. A incorporação de fi bras na matriz polimérica pode ter um efeito profundo nas propriedades dos compósitos resultantes. Melhoras signifi cantes na resistência e na rigidez, mantendo um baixo peso, podem ser alcançadas com o uso prudente de reforço de fi bra. Filamentos são cristais muito fi nos que têm proporção do comprimento do diâmetro extre-

mamente grande, como é o caso do exemplo de uma estrutura de fl uorcanasita mostrada na Figura 1.6.10. Os valores para a resistência à tração típicos para fi la-mentos e fi bras são fornecidos na Tabela 1.6.2. As fi bras podem ser curtas ou longas e podem ser distribuídas em diferentes modos na matriz resinosa, dependendo dos tipos de propriedades desejadas (Fig. 1.6.11). Um exemplo de um compósito estrutural é um material com-posto de folhas de material empilhadas, onde cada folha apresenta fi bras alinhadas em certa direção. Isso pode produzir materiais que têm propriedades de alta resistên-cia em uma variedade de direções (Fig. 1.6.12).

Em Odontologia, as cargas particuladas são mais comuns, com duas de suas aplicações mais importantes nos materiais de moldagem e nos materiais restaurado-res à base de resina. Os mais recentes desenvolvimentos buscam explorar o uso de nanotecnologia (escala de um bilhão em um metro), onde são acrescentadas cargas de nanopartículas às resinas para melhorar as propriedades das mesmas. Existe um interesse crescente na aplicação odontológica de materiais compósitos, não somente para materiais restauradores (Cap. 2.2), mas também na con-fecção de próteses adesivas reforçadas com fi bras e de pinos endodônticos (Cap. 2.7).

Reforçado por fibra

COMPÓSITOS

Particulado Estrutural

Tabela 1.6.2 Resistência à tração de fi bras e fi lamentos

Material Tipo Resistência à tração (MPa)

Grafi te Filamento 20.000

Carboneto de silício Filamento 20.000

Óxido de alumínio Filamento 14.000 – 28.000

E-vidro Fibra 3.500

Carbono Fibra 1.500 – 5.500

Aramida (Kevlar 49) Fibra 3.500

Figura 1.6.9 Esquema de classifi cação para compósitos. (Adaptada de Callister WD, Materials Science and Engineering: An introduction. John Wiley & Sons Inc., New York, USA 1994.)

Figura 1.6.10 Cristais de fl uorcanasita com uma proporção de aspecto grande.

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ESTRUTURA DOS POLÍMEROS 41

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Polímeros são materiais altamente versáteis, pois podem ser sólidos ou líquidos, frágeis ou fl exíveis na temperatura do corpo, dependendo da sua composição e confi guração.

LEITURA COMPLEMENTAR

(a) (b) (c)

Figura 1.6.11 Representação esquemática de estruturas reforçadas por fi bras: (a) fi bras contínuas; (b) fi bras alinhadas curtas e (c) fi bras curtas distribuídas aleatoriamente.

Figura 1.6.12 Estrutura laminada com folhas de resina reforçada com fi bras colocadas umas sobre as outras em direções diferentes.

Suzuki S (2004) In vitro wear of nano-composite denture teeth. J Prosthodont 13: 238–243

Xu HH, Eichmiller FC, Smith DT, Schumacher GE, Giuseppetti AA, Antonucci JM (2002) Effect of

thermal cycling on whisker-reinforced dental resin composites. J Mater Sci Mater Med 13: 875–883

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43

Capítulo 1.7

PROPRIEDADES MECÂNICAS

INTRODUÇÃO

Quando algo distende um fi o de aço ou uma tira de bor-racha, as respostas desses materiais são completamente diferentes. O fi o de aço será difícil de sofrer alteração; embora se torne mais longo, essa mudança normalmente é tão pequena que é difícil de ser observada. Por sua vez, uma tira de borracha se distenderá de imediato e pode facilmente dobrar do seu comprimento. Materiais diversos respondem de modo completamente diferente à aplicação da carga.

Podemos produzir um componente e determinar sua resposta a uma carga externa. Entretanto, os dados cole-tados seriam aplicáveis apenas a esse componente, o que não permitiria predizer o comportamento de um com-ponente com formato diferente que foi feito do mesmo material.

Como comparamos o desempenho de material em diferentes aplicações? Precisamos de algum padrão obje-tivo de comparação que seja independente do tamanho e da forma do material. Uma vez estabelecido esse padrão, ele deve possibilitar a comparação das propriedades dos diferentes materiais e predizer o comportamento dos objetos feitos dele.

As bases para tal padrão objetivo são quantidades cha-madas tensão e deformação. A descrição das propriedades mecânicas dos materiais é baseada nelas, assim iremos considerá-las em detalhes.

TENSÃO E DEFORMAÇÃO

A abordagem mais simples para entender a tensão e deformação é considerar uma vara de um dado material que é mantido sob tensão, sendo sujeito a uma força de tração, ou carga. Como mostrado na Figura 1.7.1, a vara se estenderá.

Naturalmente, poderia se esperar que a vara quebrará (isto é, romperá ou se deformará irreversivelmente) sob

ação de uma carga bastante alta. A carga na qual ocorre a quebra é a medida da resistência da vara, mas é exclusiva para a vara com essas dimensões e material específi co. A carga que a vara deve suportar sem quebrar-se deve ser aumentada se o diâmetro da vara estiver aumentado e deve diminuir se o diâmetro for reduzido.

A quantidade de extensão da vara no momento da quebra depende do comprimento inicial da vara, de tal modo que quanto maior o comprimento inicial, maior a extensão. Então, a força e extensão não representam medidas ideais para defi nição das propriedades mecâni-cas de um material.

A maneira para superar a dependência das dimensões da vara é introduzir parâmetros de tensão, o, e deforma-ção e para o material em teste.

Esses parâmetros são defi nidos como:

■ Tensão. É a força por unidade de área de uma secção transversal que atua sobre o material.

■ Deformação. É a alteração fracionada das dimensões produzidas pela força.

Assim, se uma vara é sujeita a uma força de tração, F, ao longo de seu comprimento, a tensão (σ) é dada por:

σ = F/A

em que A é a área de secção transversal da vara. As uni-dades usadas para medir a tensão são Newtons por metro quadrado (N.m-2 = Pascal = Pa).

No mesmo momento em que a força é aplicada, o comprimento da vara altera do seu comprimento origi-nal L0, para o comprimento estendido L1. A deformação resultante (e) é dada por:

e = L1 – L0/ L0

Esse parâmetro é mensurável, pois envolve o cálculo do comprimento dividido pelo próprio comprimento.

Na prática, podemos medir a curva carga-extensão de um material e converter isso numa curva tensão-deformação. Tendo esta informação, é possível predizer

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS44

a curva carga-extensão para uma vara com qualquer área transversal e comprimento. Podemos também comparar a resposta de diferentes materiais a uma mesma força de tração.

A tensão e deformação não são propriedades por si só, mas permitem a defi nição de várias propriedades mecâ-nicas que não podem ser defi nidas de outra forma. No exemplo descrito, a tensão foi gerada por uma carga apli-cada na direção axial (isto é, ao longo da vara), mas, na prática, a carga pode ser aplicada em qualquer direção, e na maioria das situações mais de uma carga está envol-vida. Essas cargas originam padrões complexos de tensão na estrutura.

Os três tipos principais de tensão são a tensão por tração, tensão por compressão e tensão por cisalha-mento, e esses estão mostrados de modo esquemático na Figura 1.7.2.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Quando uma carga é aplicada no dente, essa carga é transmitida ao longo do material, gerando tensões e deformações. Se essas tensões e deformações excederem o valor máximo que o material pode suportar, é muito provável que ocorra a fratura.

Defi nições de Algumas Propriedades Mecânicas

Uma curva típica de tensão-deformação para um metal tal como uma liga de latão é mostrada na Figura 1.7.3. Ela pode ser usada para identifi car várias propriedades do material.

Limite de Elasticidade e Deformação Plástica Uma característica importante no comportamento mecâ-nico dos materiais é a relação entre a tensão e deforma-

ção. Como pode ser observado na Figura 1.7.3, a liga de latão não mostra uma relação linear entre a tensão e deformação ao longo do comprimento total da curva.

A região onde a curva tensão-deformação é linear é conhecida como região elástica linear, e representa a região onde ocorre a deformação elástica. Nessa região, a remoção da tensão sobre o material resulta no retorno do material à sua forma original.

Onde a curva inicia o desvio do seu trajeto linear, o material terá excedido o seu limite elástico e começará a deformar de modo permanente; a remoção da tensão sobre o material não resulta no retorno do material à sua forma original. Isso é conhecido como deformação plástica, e está representado pela região de deformação plástica no gráfi co.

Módulo de YoungQuando um material é tensionado, em geral a tensão ini-cialmente é proporcional à deformação, e assim sua razão é constante. Em outras palavras, o material deforma de modo linear e elástico. Isso pode ser representado pela expressão:

σ/e = E

Força (F)

Área (A) Tensão = F/A = σ

Deformação = (L1-L0)/L0 = e

L1L0

(b)

(a)

(c)

Figura 1.7.2 Três tipos principais de tensão: (a) tração; (b) compressão; (c) cisalhamento.

Figura 1.7.1 Vara de um material sendo puxada em direção uniaxial.

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PROPRIEDADES MECÂNICAS 45

que nos permite defi nir uma outra propriedade do mate-rial, chamada módulo de Young, defi nido como uma cons-tante que relaciona a tensão e a deformação na região elástica linear e é a medida de rigidez do material.

Observe que a rigidez da vara é dependente da sua forma e dimensão e do módulo de Young do qual o mate-rial foi construído. Uma vez que conhecemos o módulo de Young de um material, é possível determinar a rigidez de qualquer estrutura feita deste material.

Como o módulo de Young é obtido ao se dividir a tensão pela deformação, as unidades são as mesmas da tensão (N.m-2). O valor do módulo de Young com fre-quência é maior para os materiais reais. Para tornar os valores mais manejáveis, o valor do módulo de Young geralmente é expresso em GigaPascais (GPa), em que um Pascal é 1 N.m-2, e um GigaPascal é 109N.m-2.

O módulo de Young em geral é descrito apenas como módulo elástico ou módulo de elasticidade.

Resistência à FraturaAgora é possível defi nir a resistência à fratura do material, σf, uma vez que é simplesmente a tensão necessária para quebrá-lo.

Limite de Proporcionalidade e Limite Convencional de Escoamento*A tensão na qual a deformação plástica inicia é defi -nida como limite de proporcionalidade, σy. Na prática, esse ponto é difícil de ser detectado, pois existe uma transição gradual ao invés de uma rápida alteração no declive da curva tensão-deformação.

A quantidade conhecida como limite convencional de escoamento (σL) é usada como uma medida do início do escoamento do material e é defi nida como a tensão necessária para produzir certa quantidade de deformação plástica, geralmente 0,2%.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Se em qualquer ponto de uma restauração metálica, tal como uma ponte de três elementos, a tensão por tração excede o limite de proporcionalidade, a restauração se deformará de modo permanente.

Resistência Máxima à TraçãoEm uma resposta à tração que está detalhada na Figu- ra 1.7.3, existe uma tensão máxima que pode ser suportada pelo espécime. Essa tensão máxima é defi nida como a resistência máxima à tração do material, σRMT, e é frequentemente diferente da resistência à fratura que, conforme descrito acima, é a tensão no ponto de fratura.

DuctibilidadeA quantidade de deformação plástica produzida no espé-cime no momento da fratura é chamada de ductibilidade do material.

A ductibilidade é mensurada pelo desenho de uma linha que parte do ponto de fratura, que é paralelo à região elástica da curva tensão-deformação. Onde essa linha encontra o eixo da deformação é a medida da duc-tibilidade do material, e é com frequência apresentada em termos de porcentagem de alongamento.

Resiliência e TenacidadeQuando um fi o é curvado e depois liberado, ele volta para sua forma original desde que a tensão não exceda o limite elástico.

Isso ocorre por causa da energia estocada no fi o que é restabelecida quando a tensão é liberada. A quantidade de energia que pode ser absorvida e depois liberada é uma indicação do potencial de elasticidade do material.

A resiliência é a quantidade de energia que um mate-rial pode absorver sem sofrer qualquer deformação perma-nente. É mensurada na curva tensão-deformação como a área sob a porção linear elástica da curva, que é dada por:

RPE

= ×12

2

em que R é o módulo de resiliência, P é o limite de proporcionalidade e E é o módulo de elasticidade. As unidades são as de energia por unidade de volume, J.m-3 (1 Joule = 1N.m).

A quantidade total de energia que um material pode absorver antes dele se fraturar é a medida da tenacidade do material e é indicada pela área total sob a curva tensão-deformação. Também é expressa em termos de J.m-3.

σRMTσFσLσy

Tens

ão

Elástico linearDeformação

Ductibilidade

Região dedeformaçãoplástica

Figura 1.7.3 Curva de tensão-deformação para um material dúctil.

*Nota da Revisão Científi ca: A maioria dos livros recentes de Materiais Dentários na área odontológica disponíveis no Brasil considera os conceitos Yield stress e Proof stress como limite convencional de escoamento (LCE), diferentemente do presente livro, em que o autor prefere utilizar o primeiro conceito como limite de proporcionalidade e o segundo como LCE.

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS46

Tenacidade à FraturaExistem ocasiões em que os materiais fraturam rapida-mente e de modo inesperado. Isso frequentemente é resultado de uma fratura rápida e surge quando uma trinca no material se torna instável e cresce de modo muito rápido. Tais quebras causam queda de aviões, navios se partem na metade e pontes colapsam. Esse modo de falha em geral está associado a materiais que possuem características de comportamento friável, tais como vidros e cerâmicas, embora também possa acon-tecer com muitos metais que não são dúcteis, tais como o amálgama dentário, soldas e resinas duras e friáveis. A tenacidade à fratura de um material é a medida da capacidade desses materiais em resistir à propagação de uma trinca pré-existente. O método usado para medir a tenacidade à fratura de um material é introduzir uma trinca de tamanho e forma conhecidos, e assim medir a tensão necessária para que essa trinca cresça e por fi m calcular um parâmetro conhecido como K1C. Valores típicos de tenacidade à fratura de vários materiais estão apresentados na Tabela 1.7.1.

TESTES MECÂNICOS

Teste de Tração

O teste de tração é um teste relativamente simples para compreender, interpretar e possivelmente também é o mais usado. Nesse teste, uma amostra de um material é tensionada numa direção uniaxial, conforme demons-trado na Figura 1.7.4. O teste é realizado com uma taxa de deformação constante (isto é, taxa constante de extensão) e a carga é mensurada por uma célula de carga. O alongamento correspondente à carga aplicada é medido simultaneamente, e pode ser realizado de várias formas possivelmente envolvendo mensuração da separação das peças constituintes da garra acoplada à máquina de ensaios, ou pela fi xação de medidores de deformação para o material, caso a deformação seja muito baixa. A tensão e a deformação correspondente podem depois ser calculadas de acordo com as defi ni-ções já descritas.

Uma curva tensão-deformação pode ser construída, da qual inúmeras propriedades podem ser determinadas. Alguns exemplos típicos de curvas de tensão-deformação para vários materiais estão mostrados na Figura 1.7.5.

Um exemplo de um material dúctil é o aço leve, que mostra uma região de comportamento elástico linear, um ponto de escoamento bem-defi nido e um grau conside-rável de ductibilidade. Ao contrário, um sólido friável e duro, tal como o gesso de Paris, mostra apenas uma região elástica linear e depois fratura sem qualquer evi-dência de deformação plástica.

Célula de carga

Espécime

Parte da base em movimento

Base

Figura 1.7.4 Um modelo para mensuração da resistência à tração.

Tabela 1.7.1 Dados de tenacidade à fratura de uma variedade de materiais

Material K1c . (MPam1/2)

Metais dúcteis 100-350

Aço de alta resistência 50-154

Ligas de alumínio 23-45

Madeira 11-13

Náilon 3

Porcelana 1

Ten

são

Ten

são

Deformação Deformação

Deformação Deformação

Metal dúctil Sólido friável

Plástico friável Elastômero

Ten

são

Ten

são

Figura 1.7.5 Curvas de tensão-deformação de vários materiais. Observe que as escalas de tensão e deformação não podem ser comparadas.

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PROPRIEDADES MECÂNICAS 47

Muitos plásticos, tal como o polimetil metacrilato, também são friáveis, embora sejam menos rígidos do que o gesso de Paris. O elastômero, do qual os materiais de moldagem de silicone são exemplos, mostra um com-portamento muito diferente quando comparado a outros materiais. Primeiro, o elastômero parece não apresentar uma região elástica linear e a região elástica restabelecida é muito grande. A porcentagem de alongamento é muito maior do que a observada com aço ou gesso de Paris e de natureza elástica, uma vez que a borracha retornará as suas dimensões originais após a remoção da tensão. A borracha também possui uma resistência à tração signifi -cativamente menor.

ConstriçãoDurante a deformação elástica existe um leve aumento do volume de material porque os átomos que compõe o sólido são empurrados. Entretanto, não há tanta altera-ção em volume ocorrendo durante a deformação plástica. Durante tal deformação o aumento do comprimento do material deve resultar na redução da área transversal. Isso tende a ocorrer numa região localizada do material, como mostrado na Figura 1.7.6 e é conhecida como constrição. Esse fenômeno ocorre mais prontamente em materiais altamente dúcteis.

Os resultados dos testes de tensão podem ser muito úteis ao desenhar estruturas, porque o conhecimento das características da deformação elástica do material é necessário para predizer o comportamento da estrutura quando ela é colocada sob uma carga.

O limite de proporcionalidade determina a tensão máxima que o material pode suportar de modo seguro, portanto, a carga máxima que a estrutura pode suportar, embora seja prudente incluir algum fator de segurança. O módulo de elasticidade permitirá a determinação da rigidez da estrutura. Por exemplo, a combinação dessas propriedades permite que se determine a resiliência ou elasticidade de um fi o metálico.

Se técnicas de fabricação, tais como rolamento, mode-lagem ou prensagem de um fi o, estão envolvidas na fabricação de um produto, então é necessário conhecer quanto de deformação elástica o material pode suportar. Se o material mostra alta ductibilidade, então, ele pode ser modelado, mas se não é dúctil a modelagem pela aplicação de cargas não será possível.

Teste de Compressão

Para materiais friáveis em particular, o teste de tração é difícil de ser realizado e os resultados em geral mostram alto grau de dispersão. Uma alternativa é o teste de com-pressão, que é realizado de modo mais fácil nos materiais friáveis e apresentam resultados que mostram menor grau de dispersão. Outra razão pela qual esses testes são realizados nos materiais friáveis é que esses materiais são usados somente sob condições de carga de compressão.

A confi guração do teste de compressão é mostrada na Figura 1.7.7. Como a amostra é comprimida por fricção num ponto de contato com as bases de teste, existe um aumento da área transversal, assim o material adquire formato de barril. Esse efeito em “formato de barril” produz um padrão de tensão muito complexo no material (também mostrado na Figura 1.7.7) que não pode ser analisado facilmente. Isso torna a interpretação dos testes de compressão muito difícil.

Um teste mais adequado é o mensurado da resistência à tração diametral, na qual um disco do material é subme-tido a uma carga compressiva. A carga aplicada ao disco resulta em tensão por tração numa direção perpendicular à carga aplicada, como mostrada esquematicamente na Figura 1.7.8. A tensão por tração, σ, é calculada da seguinte forma:

σ = 2P/πDT

Antes Depois

Redução daárea de secçãotransversal

Figura 1.7.7 Um modelo para mensuração da resistência à compressão, mostrando onde a tensão de tração e cisalhamento é desenvolvida.Figura 1.7.6 Constrição, mostrada por um material dúctil.

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em que P é a carga, D é o diâmetro do disco e T é a espessura do disco. É um teste comumente usado para materiais dentários frágeis, porque é simples e fornece resultados mais reprodutíveis do que o teste de tração.

Teste de Dureza

O teste de dureza mede a resistência de um material a uma ferramenta de corte ou endentação. Ele fornece uma indicação da resistência do material à penetração ou abrasão. Também existe uma correlação moderada entre a dureza de um material e sua resistência máxima à tração.

O teste envolve o uso de um endentador, que pode ser na forma de uma bola (Brinell), pirâmide (Vickers ou Knoop) ou cone (Rockwell), que obviamente deve ser mais duro do que o material a ser testado. O endentador é empurrado para o interior da superfície do material por um dado período, deixando uma impressão do endenta-dor específi co (Fig. 1.7.9).

O tamanho dessa impressão dependerá da dureza do material. Os tamanhos podem ser mensurados e um número empírico da dureza pode ser calculado. A escolha do teste de dureza, em alguma extensão, depende da natureza do material a ser testado.

Teste de Impacto

O teste de impacto é designado para testar a resistência de um material a uma rápida aplicação da carga. Uma barra-padrão é sujeita a uma carga de impulso fornecida por um pêndulo pesado. O desenho desse teste é mos-trado na Figura 1.7.10.

O pêndulo é liberado com um peso conhecido e depois bate e quebra a amostra, que é colocada sobre um suporte paralelo. Alguma energia do pêndulo é usada para quebrar o espécime. Com o conhecimento da altura inicial e fi nal do pêndulo após ele ter fraturado o espé-cime, a diferença na energia pode ser calculada. Esta é a medida da quantidade de energia que é absorvida pelo espécime, provocando sua fratura. Embora o teste seja empírico, ele fornece um meio útil de comparação da resistência ao impacto de inúmeros materiais. A presença de um entalhe torna esse teste muito rigoroso e fornece uma indicação da sensibilidade do material ao entalha-mento na sua estrutura.

Teste de Fadiga

Em muitas situações práticas, os materiais são sujeitos a tensões fl utuantes ao invés de cargas estáticas que são consideradas anteriormente. O acúmulo gradual de pequenas quantidades de deformação plástica produzida por cada ciclo de uma tensão fl utuante é conhecido como fadiga e uma situação clínica, em que tais falhas podem ocorrer é com as limas de Ni-Ti usadas na endodontia.

Brinell Vickers Knoop

Figura 1.7.8 Um modelo para mensuração da resistência à tração diametral.

Figura 1.7.9 Superfície dos endentadores de diferentes testes de dureza.

Ângulo decolisão do pêndulo

Espécimeentalhado

Figura 1.7.10 Posição do espécime para um teste de impacto de Sharpy. O pêndulo tem uma cabeça de martelo, que é liberada de uma altura fi xa.

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PROPRIEDADES MECÂNICAS 49

A fadiga pode levar a tensões bem abaixo do limite de proporcionalidade do material. O teste de resistência à fadiga envolve submeter os espécimes do material a um carregamento cíclico com uma variedade de cargas. O número de ciclos necessários para provocar falha é contado em cada caso.

A tensão é marcada como uma função logarítmica do número correspondente de ciclos necessários para provocar a falha. Isso é dado por uma curva T-N, como mostrado na Figura 1.7.11.

Duas formas de comportamento podem ser observa-das. Para alguns materiais, assim que o número de ciclos de carga aumenta, a tensão permitida é reduzida. Em outros materiais, entretanto, existe o que é conhecido como limite de resistência, que corresponde ao nível de tensão abaixo do qual o material pode ser submetido a um número indefi nido de ciclos sem fraturar.

A resistência à fadiga é muito dependente das carac-terísticas de superfície do material. Melhoras no aca-bamento da superfície ou tensões de compressão na superfície que podem ser induzidas mecânica ou quimi-camente tendem a elevar o nível da curva T-N.

O ambiente de teste também apresenta um efeito pro-fundo na curva T-N em ambientes corrosivos, particular-mente, reduzindo a resistência à fadiga.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O fato de um material poder ser resistente a ponto de suportar as cargas aplicadas sobre ele, quando é colocado inicialmente em uso, não signifi ca que ele sempre será capaz de suportar essas cargas.

Teste de Creep

Sob a infl uência de uma tensão constante, os materiais podem deformar de modo permanente se a carga for apli-cada por um longo período, mesmo se a tensão sobre o material estiver bem abaixo do seu limite elástico. Essa deformação do material dependente do tempo é conhe-cida como creep, e por fi m provocará fratura do material.

Isso é particularmente importante quando um mate-rial é usado a uma temperatura acima da metade de sua temperatura de fusão ou ponto de amolecimento, por exemplo, algumas fases do amálgama e muitos plásticos. Em temperaturas 40%-50% menores do que o ponto absoluto de fusão, o creep é insignifi cante.

Uma curva típica de creep é mostrada na Figu- ra 1.7.12. Quatro estágios de alongamento podem ser defi nidos:

■ alongamento inicial devido à aplicação de carga;■ creep transitório ou primário, que tende a ser de grande

efeito;■ estado estável (secundário) de creep; e■ creep terciário.

Não consideraremos os mecanismos que originam o creep.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Uma ampla variedade das propriedades mecânicas dos materiais pode ser mensurada. Isso permite que comparações sejam realizadas entre os materiais dentários, embora seu signifi cado clínico possa ser tópico de considerável debate.

Aço

Alumínio

Limite de resistência

Número de ciclos

Tens

ão

Def

orm

ação

Tempo

32

1

4

Figura 1.7.11 Curvas T-N para aço e alumínio. Figura 1.7.12 Curva de creep, mostrando os quatros estágios de creep para condições de deformação de longa duração e de creep em alta temperatura.

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Capítulo 1.8

PROPRIEDADES FÍSICAS

INTRODUÇÃO

A forma na qual os materiais dentários são utilizados não condiz com a produção em massa, pois cada novo paciente é diferente do anterior, e o material tem que ser especialmente adaptado para cada caso. Portanto, a maior parte dos materiais usados pelo dentista e pelo técnico de laboratório precisa de alguma forma de pro-cessamento antes de seu endurecimento.

Esse processamento com frequência envolve uma mistura de materiais com outros para produzir uma pasta ou líquido que pode ser inserido e adaptado para se adequar às necessidades do paciente. O uso bem-suce-dido dos materiais dentários, portanto, precisa de algum entendimento do escoamento dos materiais quando são misturados, vazados ou moldados. O estudo do escoa-mento do material é conhecido como reologia.

Quando um paciente bebe uma xícara de chá ou toma um sorvete, as diferenças de temperatura dentro do dente podem ser muito pronunciadas. A polpa do dente reagi-ria severamente se não for protegida dessas temperaturas que diferem muito do normal ao redor de 37°C. Ao se colocar uma restauração, coroa, ponte ou prótese total, deve-se ter cuidado em proteger a polpa desses extremos de temperatura. Portanto, as propriedades térmicas dos materiais dentários precisam ser consideradas.

A restauração da dentição humana tem sido motivada mais e mais da parte puramente funcional para a esté-tica. A maioria dos pacientes quer uma restauração que seja impossível de detectar uma intervenção realizada por parte do dentista. Assim, as propriedades ópticas dos materiais selecionados e usados pelos dentistas têm se tornado muito importantes.

PROPRIEDADES REOLÓGICAS

A reologia é o estudo do escoamento dos materiais. Para líquidos, o escoamento é medido pela viscosidade e para

sólidos considera-se o creep e a viscoelasticidade. Creep já foi descrito no capítulo anterior e apenas a viscosidade e a viscoelasticidade serão consideradas aqui.

Viscosidade

Quando uma substância escoa sob infl uência de uma força externa (p. ex., gravidade), as moléculas ou átomos entram em contato com vizinhos diferentes. Então esta interação deve ser quebrada e restabelecida, e isso dá origem à resistência ao escoamento, conhecida como viscosidade.

Para um líquido como a água, as forças de ligação entre as moléculas unidas são muito fracas e facilmente superadas, e assim a água escoa mais facilmente e possui baixa viscosidade. Para alguns fl uidos, as atrações inter-moleculares são muito fortes. Isso em geral está associado a moléculas maiores, tal como o caso do melado. As moléculas podem ainda se entrelaçar uma na outra origi-nando viscosidades muito elevadas. Isso é o que acontece com polímeros de alto peso molecular.

Quando agitamos um líquido estamos efetivamente aplicando uma tensão de cisalhamento, e o grau de energia no qual misturamos pode ser quantifi cado pelo índice de cisalhamento. Tal situação é mostrada na Figura 1.8.1. A tensão de cisalhamento e a taxa de cisalhamento são defi nidas pelo:

Tensão de cisalhamento = ηs = F/ATaxa de cisalhamento = è = V/d

Vários métodos estão disponíveis para mensurar a tensão de cisalhamento sobre uma variedade de taxas de cisalhamento para um fl uido, e a informação cole-tada pode ser considerada como a curva da tensão de cisalhamento-taxa de cisalhamento. Essa relação é linear para muitos fl uidos e uma curva típica para esse fl uido é mostrada na Figura 1.8.2. O desvio da curva é igual à viscosidade e assim a defi nição científi ca exata da visco-sidade, η, é dada por:

η = tensão de cisalhamento/taxa de cisalhamento

Page 63: Introdução Aos Materiais Dentários

CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS52

As unidades de viscosidade são pascals segundos (Pa.s).

As propriedades de viscosidade das substâncias que possuem uma relação linear entre a tensão de cisalha-mento e a taxa de cisalhamento são dadas inteiramente por um simples valor de viscosidade, e são ditas como tendo um comportamento “newtoniano”. Entretanto, nem todos os materiais se comportam da mesma maneira, e algumas das diferentes formas de comportamento são mostradas da Figura 1.8.3.

Líquidos com comportamento plástico não escoarão até que uma tensão de cisalhamento inicial tenha sido alcançada. O fl uido escoará num modelo newtoniano.

Os líquidos dilatantes mostram um aumento da vis-cosidade à medida que a taxa de cisalhamento cresce. Isso signifi ca que quanto mais rápido se tenta misturar o fl uido, mais difícil torna-se a mistura do líquido. Não

é possível defi nir as características de escoamento desse líquido apenas pela viscosidade.

Para alguns líquidos, um aumento da taxa de cisa-lhamento não provoca o aumento correspondente da tensão de cisalhamento. Isso signifi ca que o líquido se torna mais fácil de ser misturado a altas taxas de cisa-lhamento do que quando comparado a um líquido dila-tante ou newtoniano. Esse comportamento é descrito como pseudoplástico e provoca a característica de alguns líquidos que é comumente conhecida como aumento do escoamento por cisalhamento. Um exemplo odontológico desse tipo de comportamento é a silicona utilizada como material de moldagem, onde o aumento do escoamento por cisalhamento torna o escoamento do fl uido por uma seringa muito mais fácil do que seria.

Tixotropia

Há muito tempo acredita-se que a viscosidade pode ser determinada do conhecimento da tensão de cisalha-mento e taxa de cisalhamento em qualquer momento. Para algumas substâncias, a viscosidade alterará a uma taxa de cisalhamento específi ca, e se traçarmos uma curva da tensão de cisalhamento versus a taxa de cisa-lhamento para um dado líquido, pode-se encontrar uma resposta tal qual a mostrada na Figura 1.8.4.

Nesse caso a viscosidade para uma taxa de cisalha-mento que está aumentando é diferente da viscosidade para uma taxa de cisalhamento em redução, que é um exemplo de histerese. Nesses casos, a viscosidade do fl uido é dependente de deformações anteriores as quais o fl uido foi submetido.

Esse tipo de comportamento ocorre quando existe algum rearranjo molecular causado pela mistura e falta de tempo para as moléculas retornarem para seu arranjo normal antes de serem misturadas novamente. O efeito

Placa de área A em movimento

Líquido

Fv

d

Placa estacionada

Taxa de cisalhamento

Tens

ão d

e ci

salh

amen

to

Figura 1.8.2 Tensão de cisalhamento versus força de cisalhamento para um líquido newtoniano.

Figura 1.8.1 Cisalhamento de um líquido entre duas placas rígidas que estão separadas por uma distância, d. A placa superior é movida a uma velocidade, v, em relação à placa estacionada e uma força, F, é necessária para sobrepor a resistência do líquido.

Dilatante

Tens

ão d

e ci

salh

amen

to

Pseudoplástico

NewtonianoPlástico

Taxa de cisalhamento

Figura 1.8.3 Comportamento reológico de diferentes líquidos.

Page 64: Introdução Aos Materiais Dentários

PROPRIEDADES FÍSICAS 53

disso é que quanto mais tempo o fl uido é misturado a uma dada taxa de cisalhamento, menor será a tensão de cisalhamento, bem como a viscosidade. Se o fl uido for deixado por tempo sufi ciente, ele se recuperará e todo o processo poderá ser repetido. Esse tipo de comporta-mento é defi nido como tixotrópico e um fl uido que exibe isso é uma tinta que não escorre.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

As propriedades reológicas de um material são importantes, pois têm infl uência principalmente nas características de manipulação do material.

Viscoelasticidade

Uma grande variedade de materiais mostra um com-portamento que é intermediário entre o de um líquido viscoso e de um sólido elástico. Para um sólido elás-tico, afi rma-se que a relação entre tensão e deformação é independente de quaisquer fatores dinâmicos tais, como: taxa de carregamento ou de deformação. Entretanto, se for dado um tempo sufi ciente para fazer isso, alguns sólidos mostram a capacidade de rearranjar suas molécu-las sob a infl uência de uma carga aplicada, e isso é refl e-tido em alguma deformação. Quando uma carga é depois liberada, o material não retorna imediatamente ao seu estado original. Isso signifi ca que o comportamento do material é dependente de tais fatores, como: a duração e quantidade de carga aplicada.

Um meio efetivo e simples de visualização desse pro-blema é pelo uso de modelos baseados em mola e amor-tecedor, que combinam para formar um sistema que se assemelha a um amortecedor de choque. A mola repre-senta o elemento elástico e o amortecedor representa

o elemento viscoso. A variação da deformação com o tempo para esses modelos está mostrada na Fi gu ra 1.8.5. Para a mola, a aplicação de carga resulta na deforma-ção imediata que é mantida ao longo do tempo que a carga é aplicada. Uma vez que a carga é removida, a mola retorna instantaneamente para seu estado original. Por sua vez, com a aplicação de carga, no amortecedor existe um aumento gradual da deformação que continua a aumentar durante o período de aplicação da carga. Com a remoção da carga, a deformação não é atenuada, e o amortecedor permanece na sua nova posição.

Quando esses dois elementos são colocados em para-lelo, cria-se um modelo viscoelástico simples. A resposta de deformação é mostrada na Figura 1.8.6. Nesse modelo, o amortecedor impede que a mola responda elasticamente. Neste momento, o amortecedor deixa gradualmente que a mola se aproxime do estado desejado de deformação. Com a remoção da carga, o amortecedor impede que a mola se contraia ao seu estado de não deformação, que pode agora ser alcançado apenas após algum tempo.

Um exemplo odontológico de um grupo de materiais que mostram comportamento viscoelástico são os mate-riais de moldagem elastoméricos. A curva deformação-tempo para esse material e o modelo correspondente dos elementos elásticos, viscosos e viscoelástico são mostra-dos na Figura 1.8.7.

Tens

ão d

e ci

salh

amen

to

Taxa de cisalhamento

Figura 1.8.4 Comportamento tixotrópico.

Mola

Def

orm

ação

Tempot0

Amortecedor

Def

orm

ação

Tempot0

t1

t1

Figura 1.8.5 Resposta elástica e viscosa para o modelo de mola e amortecedor.

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS54

Para evitar deformação permanente excessiva desses materiais, eles não devem ser carregados por mais tempo que o necessário; isso porque os materiais de moldagem elásticos devem ser removidos da boca com movimento de tração curto e rápido. Quanto mais rapidamente uma carga é aplicada e retirada de um material, maior será a sua resposta elástica.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Alguns materiais apresentam propriedades entre um sólido e um líquido, que os tornam suscetíveis à distorção.

PROPRIEDADES TÉRMICAS

O material pode ser quente ou frio ao toque. Essa res-posta do material a uma fonte de calor, nesse caso as

Def

orm

ação

Tempo

Elemento viscoelástico

t1t0

Carga

Def

orm

ação

Carga

Tempo

Carga

Figura 1.8.7 Modelo viscoelástico correspondendo ao comportamento reológico de um material de moldagem elastomérico completamente polimerizado. A carga é aplicada num dado tempo t0, e mola A estende-se instantaneamente, enquanto a mola D é impedida de realizar este movimento pelo amortecedor C. Com o tempo, os amortecedores C e B permitem o desenvolvimento da deformação adicional. No tempo t1, a carga é removida, e a mola A se contrai imediatamente. A mola D é impedida de realizar o movimento pelo amortecedor C. Finalmente, no tempo t2, a mola D retornou para seu comprimento original. Alguma deformação permanente se mantém, pois o amortecedor B não retornará ao seu estado original.

Figura 1.8.6 Comportamento viscoelástico de uma mola e amortecedor em paralelo.

Page 66: Introdução Aos Materiais Dentários

PROPRIEDADES FÍSICAS 55

pontas dos dedos, é dependente da facilidade com que esse calor é transferido através do material. Um material, que prontamente conduz calor, é um condutor térmico e um material que resiste à condução de calor é um isolante térmico.

Condutividade Térmica

Um fator que determina a facilidade com que o calor será transferido através do material é a condutividade térmica (K), que é defi nida como a taxa de fl uxo de calor por unidade de gradiente de temperatura; suas unidades são cal.cm-1.s-1.°C-1.

Calor Específi co

Para alguns materiais, a “sensação de resfriamento” inicial pode rapidamente desaparecer assim que o mate-rial se aquece devido à transferência de energia térmica da fonte de calor para o material. O modo pelo qual a temperatura rapidamente aumenta depende do calor específi co do material, que é defi nido como a energia de calor necessária para elevar a temperatura a uma unidade de volume por um grau centígrado. Então, suas unidades são cal.g-1.°C-1 e o símbolo usado é Cp.

Difusividade Térmica

A transferência de carga de uma fonte quente para uma fria é dependente tanto da condutividade térmica como do calor específi co, com o primeiro regulando a taxa pelo qual o calor penetra e passa através do material, e com o último determinando a taxa pela qual a temperatura aumentará assim que o calor penetrar no material. Isso é representado pela difusividade térmica, h, como:

h = K/Cpρ

em que ρ é a densidade do material. A difusividade térmica fornece uma indicação clara da taxa de elevação da tem-peratura a um determinado ponto devido à colocação de uma fonte de calor em um outro ponto, e pode ser consi-derada a mais importante nas aplicações odontológicas.

Alguns valores típicos das propriedades mencionadas para inúmeros materiais estão mostrados na Tabela 1.8.1. Uma característica importante é a baixa difusividade da

água, mostrando ser um excelente isolante térmico. Por esse motivo é que os esquimós podem se manter bem-aquecidos quando estão em seus iglus.

Expansão Térmica

Quando um material é aquecido, a energia extra absor-vida provoca a vibração de átomos e moléculas com aumento da amplitude. Como consequência o material se expande. O modo mais comum de mensurar essa expansão é avaliar o comprimento do material, aque-cendo-o a uma certa temperatura e depois mensurando a alteração resultante no comprimento. Essa alteração no comprimento, quando determinada por unidade de comprimento para 1°C de alteração na temperatura, é chamada de coefi ciente linear de expansão, α. Essa alte-ração é tão pequena que é mais comum ser expressa em termos de partes por milhão por grau centígrado (ppm/°C). Alguns valores típicos para α estão mostrados na Tabela 1.8.2.

Num material restaurador ideal, o coefi ciente de expan-são térmica deveria ser idêntico ao dos tecidos dentários. Se esse não for o caso, a troca térmica pode levar a forma-ção de uma fenda marginal e a quebra da união adesiva. Tais efeitos serão dependentes do coefi ciente de expan-são térmica e da difusividade térmica do material.

Alguns materiais, tal como a prata, precisam de apenas uma pequena quantidade de energia na forma de calor para elevar sua temperatura e expandir ou contrair rapi-damente. Por sua vez, os materiais restauradores como os compósitos apresentam baixa difusividade térmica. Isso fornece alguma proteção contra o estímulo térmico, pois mais energia na forma de calor é necessária para

Tabela 1.8.1 Propriedades físicas dos materiais dentários

r (g.cm-2) Cp (cal.g-1.oC-1) K (cal.cm-1. s-1.oC-1) H (cm-2.s1)

Esmalte 2,9 0,18 0,0022 0,0042

Dentina 2,1 0,28 0,0015 0,0026

Prata 10,5 0,056 0,98 1,67

Sílica 2,5 0,2 0,003 0,006

Água 1,0 1,00 0,0014 0,0014

Tabela 1.8.2 Coefi cientes de expansão térmica

a (ppm/oC)

Esmalte 12

Dentina 14

Resina composta 20-55

Selante de fi ssuras 80

Porcelana 12

Cimento de ionômero de vidro 8

Page 67: Introdução Aos Materiais Dentários

CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS56

elevar a temperatura e expansão correspondente. Entre-tanto, se um calor sufi ciente é fornecido, o material mostrará uma troca expansão/contração signifi cativa com os tecidos dentários.

Fraturas de peças fundidas podem ocorrer devido à diferença entre a temperatura da peça fundida e a tempe-ratura do resfriamento, quando existe uma grande troca entre o material refratário e a liga fundida. A correção das alterações dimensionais devido à contração de res-friamento das ligas é muito importante para a adaptação de coroas e pontes. De modo similar, a metalocerâmica depende de que o coefi ciente de expansão do metal e porcelana sejam muito próximo.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

As propriedades térmicas de um material dentário podem infl uenciar a sensação de alimento quente ou frio e podem provocar falhas mecânicas devido a diferenças entre a expansão e a contração.

PROPRIEDADES ÓPTICAS

No mundo real, todo objeto que vimos é resultado da refl exão da luz proveniente do próprio objeto que atinge um fotodectector muito sensível, com um determinado comprimento de onda, chamado de olho (Fig. 1.8.8). Possuímos um tripé composto por uma fonte de luz, o objeto e observador. Cada um destes infl uenciará o que vemos. Quando colocamos uma maçã na frente de três pessoas e perguntamos qual a cor da maçã, poderemos ter três respostas diferentes. Uma verá simplesmente como vermelho, outra como carmesim e ainda outra como ver-

melho brilhante. Isso ocorre porque a nossa sensibilidade à cor e experiências anteriores será diferente.

Existem três características de um objeto que contro-lam a natureza da luz refl etida, são elas:

■ Cor. A cor de um objeto que nossos olhos detectam será em função da fonte de luz fornecida pelo espectro de luz atingindo a superfície e como o objeto trans-forma esse espectro.

■ Translucidez. A quantidade de luz refl etida e o espec-tro de luz refl etida por um objeto e detectado pelo olho dependerá da capacidade da luz em atravessar o material, onde ela mudará devido às propriedades de absorção e dispersão do material e a estrutura de fundo contra o qual ele é mantido.

■ Textura de superfície. A luz pode ser refl etida por uma superfície, como um espelho ou dispersa em todas as direções. No primeiro caso a superfície é uma superfí-cie polida que apresenta uma refl exão ideal, ao passo que no segundo caso é uma superfície opaca que dis-persa a luz.

Cor

A percepção da cor é altamente subjetiva, pois é uma resposta fi siológica a um estímulo físico. Por exemplo, fazer a escolha de uma cor de um material restaurador para que ele apresente uma cor semelhante ao dente tende a variar levemente, de indivíduo para indiví-duo. Isso acontece porque o olho é um detector de luz, seguido da interpretação do cérebro que apresenta pouca defi nição da energia dispersa ou transmitida pelo material. Esse processo variará de pessoa para pessoa. Isso pode representar um problema real para aqueles que sofrem de daltonismo, o que signifi ca basicamente que os fotodectores são defeituosos. A percepção da cor, portanto, não leva a sua quantifi cação, mas não é o caso da luz em si.

A luz é uma radiação eletromagnética que pode ser detectada pelo olho humano. Newton (1666) foi capaz de produzir um espectro de luzes coloridas diferentes ao iluminar um prisma de vidro, que refl ete a luz numa banda multicolorida. Essa banda de luz foi idêntica às cores do arco-íris. Ele mostrou que a luz branca é na verdade o resultado de uma combinação de um amplo espectro de radiação colorida. O espectro da radiação eletromagnética do ultravioleta até o infravermelho é mostrado na Figura 1.8.9. Disso, pode-se observar que a radiação eletromagnética visível ocupa apenas uma pequena parte do espectro total e esta faixa está entre 380-780 nanômetros (1 nanômetro [nm] = 10-9m). Esse espectro vai do violeta (380-450nm), passa pelo azul (450-490nm), depois pelo verde (490-560nm), amarelo (560-590nm), laranja (590-630nm) e fi nalmente o ver-melho (630-780nm).

A luz é focalizada na retina e desencadeia os impul-sos nervosos que são transmitidos ao cérebro. Existem

Fundo

Olho

Fonte de luz

Objeto

Figura 1.8.8 A percepção de um objeto depende da fonte de luz, das propriedades óticas de um objeto e da capacidade do olho em discriminar o espectro de luz visível que atinge a retina.

Page 68: Introdução Aos Materiais Dentários

PROPRIEDADES FÍSICAS 57

células em forma de cone na retina que são responsáveis em fornecer a sensibilidade para diferenciar as cores da luz e células em bastonete que são sensíveis apenas ao brilho (isto é, quantidade de luz) que é focalizada na retina. A resposta da retina à luz é indicada na Figu ra 1.8.10. Ela mostra que o olho é mais sensível à luz na faixa do verde-amarelo e é menos sensível aos extremos do espec-tro visível, isto é, vermelhos e azuis.

As células em forma de cone apresentam um limiar de intensidade. A excessiva exposição à luz de um dado comprimento de onda pode provocar com que estas células não desempenhem corretamente a sua função, resultando em uma distorção ocular e percepção de cores muito diferente.

A luz real que vemos não é um único comprimento de onda, mas é composta de uma mistura de diferentes comprimentos de onda que se combina para produzir uma cor distinta. O comprimento de onda e intensidade do espectro da luz que vemos depende da fonte de luz. O espectro de luz para luz do dia e de uma lâmpada com fi lamento de tungstênio são muito diferentes, conforme mostrado na Figura 1.8.11. Isso signifi ca que a cor de um objeto poderá parecer diferente quando visto sob a luz proveniente de fontes diferentes.

A fi m de permitir que a informação sobre a cor possa ser transmitida, por exemplo, para que o laboratório consiga confeccionar uma coroa ou jaqueta, precisamos de algum mecanismo para descrever as características da cor dos dentes de um paciente que sejam similares às da restaura-ção. Várias pessoas tentaram desenvolver um método de quantifi cação da cor e expressá-lo numericamente com o objetivo de tornar a comunicação da cor fácil e precisa. Em 1905 o artista norte-americano A. H. Munsell desenvolveu um método para descrição das cores, que foram classifi ca-das de acordo com seu matiz, croma e valor:

■ Matiz. Ela representa a cor dominante (isto é, compri-mento de onda) do espectro de luz de uma fonte. As

possíveis cores são violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. As três cores principais, das quais todas as outras cores podem ser produzidas são o ver-melho, o verde e o azul. Esse fato é usado nos televiso-res para criar uma imagem totalmente colorida apenas de três cores distintas.

■ Croma. Ele é a força do matiz, em outras palavras, o quão é intensa a cor. Na televisão, ele pode ser repre-sentado pelo ajuste de cor.

■ Valor. Ele é o brilho ou o escurecimento de um objeto, e varia do preto ao branco para objetos que dispersam ou que refl etem, e do escuro ao claro para objetos translúcidos.

Ao passo que o matiz e o croma são propriedades de um objeto, o valor dependerá da incidência da luz, do polimento da superfície do objeto e do fundo, ou seja, se o material transmite luz. Por esta razão, é importante que a identifi cação da cor seja realizada sob diversas fontes de luz, com a luz do dia sendo a melhor opção. A base para o sistema Munsell é mostrada na Figura

Raio x Ultravioleta

Próximo

Distante

RFInfravermelhoVisível

Azul

LaranjaAnil

VermelhoVioleta Distante

Verde

Amarelo

Próximo

1.000.000700Comprimento de onda (nm) 40010

Figura 1.8.9 Espectro da radiação eletromagnética.

Res

post

a da

ret

ina

Comprimento de onda (nm) 700400

Figura 1.8.10 A resposta relativa da retina à radiação eletromagnética visível.

Page 69: Introdução Aos Materiais Dentários

CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS58

1.8.12. Essa representação tridimensional da cor não é exatamente prática e inicialmente esse método de des-crição da cor envolveu uma grande variedade de tiras de papéis coloridos, que mais tarde foi atualizado para um sistema numérico. Nesse sistema, qualquer cor é expressa como uma combinação letra/número e é visualmente avaliado no Atlas Colorido de Munsell. Entretanto, esse sistema possui suas limitações no que se refere à estabi-lidade da cor do Atlas e ele necessita ser substituído a cada cinco anos, além da necessidade de ser visto sob condições de luz padronizadas. Apesar disso, embora ele possa ser adequado para a combinação da cor de um pedaço de tecido ou de uma tinta, por meio da sua colo-cação próxima ao Atlas, este não é o mais conveniente método para avaliar a cor dos dentes de um paciente! Além disso, foi mostrado que a variação de cores dos dentes humanos corresponde a apenas 2% da guia de cores de Munsell. Assim, na Odontologia, um sistema mais simples baseado numa escala foi desenvolvido, no qual a escala VITA é uma das mais usadas (Fig. 1.8.13). A escala de cores da VITA é estruturada no princípio da

matiz, valor e croma. Existem quatro matizes básicos, representadas por A (avermelhado-marrom), B (averme-lhado-amarelo), C (cinza) e D (avermelhado-cinza). O valor é a escala de cinza e a escala de cores pode ser arrumada de acordo com o quão claro (branco) ou quão escuro (preto) é um dente. O terceiro elemento da escala de cores é o croma, que representa a intensidade da cor principal como é indicado pelo número associado à cor principal (matiz), que é A1-A4, B1-B4, C1-C4 e D1-D4. É importante que a escala selecionada corresponda ao material restaurador usado. O ideal é que a escala de cores fosse fabricada com o mesmo material usado para a confecção da restauração.

O fato de os objetos serem capazes de mudar a cor sob infl uência de diferentes fontes de luz é conhecido como metamerismo. O metamerismo ocorre quando dois objetos com propriedades de refl exão de luz diferentes (gráfi cos do espectro) apresentam uma aparência de cor idêntica em condições de iluminação e observação espe-cífi cas, e parecem diferentes quando as condições de iluminação ou observação são alteradas. A maior parte dos consumidores sabe que a tentativa de combinar cores de duas peças de roupa é mais bem sucedida se realizada sob luz do dia ao invés da luz fl uorescente da loja.

Outra característica importante da luz é que alguns objetos são capazes de absorver luz de um comprimento de onda próximo à faixa ultravioleta (300-400nm), e depois a liberam como uma luz de comprimento de onda maior (400-450 nm). Essa propriedade é a fl uorescência, e ocorre naturalmente no esmalte dentário. Esse é o motivo pelo qual os dentes aparentam tão brancos sob

Filamento de tungstênio100%

Comprimento de onda (nm)400

0%

Ene

rgia

rel

ativ

a

100%Média da luz natural

700

Comprimento de onda (nm)400

0%

700

Ene

rgia

rel

ativ

a

Croma

Matiz

Preto

Val

or

Branco

Figura 1.8.11 Espectro de luz para uma lâmpada de fi lamento de tungstênio e de luz natural.

Figura 1.8.12 Esquema de cor tridimensional de Munsell para matiz, croma e valor.

Page 70: Introdução Aos Materiais Dentários

PROPRIEDADES FÍSICAS 59

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A cor de um objeto é uma percepção humana, que se dá em função de um tripé, composto pela fonte de luz, objeto e observador.

Translucidez

Um material transparente, tal como o vidro da janela, permite a passagem de luz de tal modo que ocorre pouca distorção, signifi cando que um objeto pode ser visto completamente através dele. A absorção seletiva de certos comprimentos de onda pode acontecer e isso forma a base dos fi ltros óticos.

Um material translúcido permite que alguma luz passe por ele, e então ele absorve alguma coisa do remanes-cente, dispersa e refl ete o restante da sua superfície ou interface interna. Um objeto visualizado por esse mate-rial teria uma aparência distorcida.

Um material opaco é um dos que não transmitem luz, mas ao invés disso absorvem, refl etem ou dispersam a luz na superfície. A cor de um objeto dependerá de quais comprimentos de onda de luz são refl etidos e quais são absorvidos. Por exemplo, o vidro vermelho é vermelho porque ele permite que a luz com comprimento de onda de luz vermelha passe por ele e todos os outros compri-mentos de onda sejam absorvidos. Portanto, apareceria opaco se a fonte de luz não contivesse luz com com-primento de onda da luz vermelha, visto que todos os outros comprimentos de onda são absorvidos.

Uma escala simples para quantifi cação do grau de opacidade é mostrada na Figura 1.8.14. Nesse sistema, a opacidade é representada por uma razão entre o con-traste da refl exão da luz do dia de uma amostra de espessura padronizada (normalmente 1 mm) quando faz fundo com um padrão preto e a luz do dia aparece refl e-tida quando faz fundo em um padrão branco. O padrão branco apresenta uma refl exão de 70% em relação ao óxido de magnésio (C0,70). Os materiais restaurado-res podem ser comparados facilmente com esmalte e dentina nessa escala, para encontrar seus relativos graus de opacidade.

Textura de Superfície

Caso o material possua uma superfície opaca ou bri-lhante é em razão de quão lisa uma superfície possa ser. O esmalte tem uma superfície brilhante porque é muito liso e refl ete uma grande quantidade de luz que incide na superfície. A luz é dispersa, à medida que uma super-fície se torna rugosa e isto torna a aparência opaca. Isso é uma consideração importante em relação aos materiais restauradores, pois a aparência de um dente restaurado pode ser piorada se a restauração tiver uma superfície opaca, tornando-a diferente do resto do dente. O modo mais simples para avaliar isso é visualmente, mas isto

A

B

C

Figura 1.18.13 Escala de cores Vita mostrando os dentes da escala organizados de acordo com as (a) quatro matizes, (b) com a faixa de valores e (c) de croma para a escala A.

luz fl uorescente e porque algumas vezes coroas, pontes ou restaurações são mais perceptíveis sob uma luz fl uo-rescente ao invés da luz do dia. Se os materiais usados na confecção da restauração não possuem a propriedade de fl uorescência, a restauração aparecerá escura em relação à fl uorescência do dente natural.

Page 71: Introdução Aos Materiais Dentários

CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS60

também pode ser analisado numericamente usando um dispositivo conhecido como perfi lômetro. Esse disposi-tivo consiste essencialmente em uma agulha inserida num longo braço de alavanca que é traçado ao longo da superfície e registra o movimento para cima e para baixo da agulha. Um exemplo de um traçado que corre ao longo da superfície de uma resina composta é mostrado na Figura 1.8.15. Ele também permite a quantifi cação da rugosidade de superfície pelo cálculo de Ra, que é desvio médio aritmético do perfi l e quanto mais alto for esse valor, mais rugosa é a superfície.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A capacidade de polimento de um material restaurador é uma consideração importante para a sua seleção.

1,0

0,0 Transparente

0,35 Esmalte

Translúcido

0,70 Dentina

Opaco

μm10

μm10

Ra=0,24μm

Ra=0,25μm

Occlusin

Herculite XRV

A

B

Figura 1.8.14 Escala simples de opacidade.

Figura 1.8.15 Perfi s de superfície produzidos por um perfi lômetro sobreposto em uma imagem de microscópio eletrônico de varredura de uma resina composta híbrida (Occlusin, ICI) e resina composta de partícula pequena (Herculite XRV, Kerr UK Ltda).

Page 72: Introdução Aos Materiais Dentários

61

Capítulo 1.9

PROPRIEDADES QUÍMICAS

INTRODUÇÃO

O ambiente oral é um ambiente agressivo. Os materiais podem dissolver na água que está presente na saliva ou liberar componentes solúveis; podem erosionar devido à presença de ácidos; podem alterar sua cor ou se que-brarem devido à absorção de substâncias da saliva; ou podem perder o brilho e sofrer corrosão.

Todas essas possibilidades podem apresentar efeitos adversos na estabilidade química dos materiais e limitar sua durabilidade. Os produtos liberados podem apresen-tar efeitos adversos no ambiente oral, tanto local como sistemicamente.

As cerâmicas dentárias são formadas por compostos de oxigênio, como a sílica (SiO2) e alumina (Al2O3). Eles são quimicamente estáveis na maior parte das circunstâncias e imunes ao processo oxidativo associado à corrosão ele-troquímica (ou úmida). A degradação das cerâmicas em geral envolve um processo de dissolução química. Por sua vez, os metais não são imunes à corrosão úmida. Com a notável exceção para alguns metais nobres, como o ouro e a prata, os metais geralmente são encontrados na natureza na forma de compostos (sobretudo óxidos ou sulfi tos), dos quais o metal é extraído. A corrosão dos metais é, para todos os tipos de intenções e proposi-ções, a reversão das reações empregadas no processo de extração. O produto de corrosão de um metal é com fre-quência muito similar ao composto do qual o metal foi originalmente extraído. Por exemplo, o ferro é extraído do óxido de ferro que ocorre naturalmente e a ferrugem é apenas um óxido de ferro hidratado. Geralmente, os polímeros não são estáveis também, pois muitos podem queimar se forem infl amados, mostrando que o polí-mero oxida prontamente. Entretanto, a degradação do polímero em geral é de natureza fi sioquímica, tal como plastifi cação, dissolução ou ruptura de ligação covalente. A última pode ser causada pelo aquecimento ou radiação e invariavelmente resulta na redução das propriedades químicas como resistência e tenacidade.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Em geral, pode-se dizer que os polímeros tendem a sofrer absorção e perda de componentes solúveis, metais são mais propensos ao deslustre e a corrosão, e as cerâmicas podem estar sujeitas à dissolução química.

DEGRADAÇÃO DE POLÍMEROS

Sorção de Água e Fração Solúvel

Muitos polímeros usados na odontologia, como os usados nas resinas compostas, próteses totais e embasa-dores macios são suscetíveis à absorção de solventes, par-ticularmente a água e a perda de componentes solúveis. A molécula do solvente força a separação das cadeias de polímeros, provocando plastifi cação. Assim que a resistência da ligação diminui, o polímero se torna mais macio, a temperatura de transição do vidro é reduzida e a resistência pode ser diminuída. O nylon é particularmente suscetível à sorção de água e isso é um fator signifi cante para limitar a vida útil das escovas de dentes. No caso das resinas compostas, a sorção de água pode ser um fator contribuinte para a eventual descoloração das restaura-ções e degradação hidrolítica da interface resina-carga. Os embasadores macios para próteses totais perdem sua fl exibilidade devido à perda de plastifi cadores solúveis em água, apresentam maior propensão ao creep e podem fraturar sob pressão osmótica que podem se acumular. A sorção de água pode apresentar um efeito signifi cativo nas propriedades do cimento de ionômero de vidro, pois muito ou pouca água pode levar à perda de translucidez ou a fraturas da superfície, respectivamente.

Geralmente é desejável que tanto a sorção da água quanto a fração solúvel dos polímeros sejam a menor possível. Isso assegura que o polímero mantém suas pro-priedades características, e que nenhum componente

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS62

seja lixiviados para fora, o que pode infl uenciar negati-vamente a biocompatibilidade do material.

O método mais simples de avaliar a sorção de água e a fração solúvel de um polímero é monitorar a alteração de peso de uma amostra quando é imersa na água. A análise detalhada da quantidade de sorção de água por mate-riais poliméricos é complicada pela perda concorrente de componentes solúveis em água como monômeros resi-duais ou plastifi cadores, uma vez que esses dois proces-sos ocorrem simultaneamente, embora em velocidades diferentes. É importante na caracterização desses fatores que os dois processos sejam separados.

Ambos os processos são controlados pela taxa de difusão da água e dos componentes solúveis em água através do material, como quanto maior a taxa de difusão, mais rápido a água será absorvida e mais rápida a fração solúvel será perdida. É importante que qualquer água que a amostra absorveu da atmosfera seja removida antes da sua imersão na água. Até esse fi m, as amostras devem ser estocadas num dessecador até que seja obtido um peso constante.

A cinética do ciclo de sorção e perda de água está na Figura 1.9.1. O pico no peso da amostra no pri-meiro ciclo ocorre em consequência de diferentes taxas de difusão da água dentro da amostra e difusão da fração solúvel para fora da amostra. A água geralmente é absorvida de modo mais rápido do que a perda da fração solúvel do que a remoção dos componentes solúveis, tal como existe no rápido ganho de peso até que a amostra se aproxima da saturação. Nesse ponto, a perda de peso devido à fração solúvel começa a aparecer, pois sua libe-ração é subvencionada pela dissolução na água absor-vida. A quantidade de sorção de água e fração solúvel pode ser calculada da seguinte equação:

Sorção de água % em peso = (W1 - W2)/ W2 × 100

Fração solúvel % em peso = (W0 - W2)/ W2 × 100

Se o volume, V, é calculado no fi nal do ciclo de perda de água, e W2 for substituído por V, a sorção de água e fração solúvel pode ser expressa em termos de μg/mm3, conforme recomendado no padrão internacional (ISO/DIS 4049).

Para a maioria dos polímeros, a quantidade de sorção de água é aproximadamente 30-50 μg/mm3. Para resinas compostas, o valor deverá ser mais baixo, devido à pre-sença de partículas de vidro, mas se isso é levado em consideração, a quantidade de sorção de água dentro da resina deveria estar na faixa apresentada para os polí-meros. Os valores mais altos para sorção de água foram registrados para algumas resinas compostas, que podem estar associados à presença de porosidade, espaço livre formado devido à remoção da fração solúvel, quebra hidrolítica da interface resina-carga, ou dissolução da partícula de vidro.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A sorção de água excessiva pode levar à descoloração e à degradação dos materiais restauradores odontológicos.

Ruptura da Adesão

A degradação dos polímeros pela quebra de ligação cova-lente é conhecida como clivagem. Muitas propriedades do polímero dependem do peso molecular das cadeias de polímeros. Se as cadeias dos polímeros forem quebradas pela clivagem da cadeia, então ocorrerá a redução do peso molecular, e isso pode resultar numa perda signifi -cativa das propriedades mecânicas. A ruptura da adesão pode ser devido a radiação, calor ou ataque químico.

Algumas formas de radiação, tal como a luz ultra-violeta, podem penetrar no polímero e interagir com as ligações que mantêm os polímeros unidos. Uma possibi-lidade é a ionização, em que a radiação UV remove um elétron de um átomo específi co convertendo esse átomo num íon. O resultado é que a ligação com o átomo é quebrada e o comprimento da cadeia de polímero é redu-zido. Outro resultado possível é que a ligação cruzada pode ser formada e isso também pode ser utilizado como um efeito positivo, melhorando as propriedades mecâni-cas. Um exemplo disso é a radiação γ do polietileno para introduzir ligações cruzadas, que melhoram sua resistên-cia à maciez e escoamento em temperaturas elevadas.

Se um polímero está sujeito a temperaturas elevadas, isso pode resultar em clivagem da cadeia. Isso pode se originar simplesmente por causa do superaquecimento durante o polimento. A capacidade de um polímero em resistir altas temperaturas depende da energia de ligação entre as várias partes constituintes do polímero (veja o Capítulo 1.3 sobre energias de ligação).

Outro fator a ser considerado é o ataque químico de polímeros por solventes, como o álcool. A absorção de álcool provoca dissolução da matriz do polímero e enfra-quece as interações polares entre as cadeias de polímeros, que pode resultar num material mais macio que é mais suscetível ao desgaste. Entretanto, existem situações em

Sorção de água

W1

W2

W0

Fração solúvel

Figura 1.9.1 Uma representação esquemática da cinética de sorção de água e dissolução da fração solúvel.

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PROPRIEDADES QUÍMICAS 63

que a quebra do polímero pode trabalhar a nosso favor. Um exemplo disso são os polímeros biodegradáveis, tais como: os fi os de sutura solúveis; e implantes reabsorví-veis. Nesse caso, o processo de degradação converte o polímero em produtos menores (dióxido de carbono, água, sais etc.), que podem ser ingeridos pelas células e transportados para fora das regiões dos implantes.

DESLUSTRE E CORROSÃO DOS METAIS

O deslustre é descoloração da superfície devido à forma-ção de depósitos moles e duros, por exemplo, sulfetos e cloretos. O deslustre não provoca a deterioração do material em si, mas pode ser indesejável, e é facilmente removido da superfície pelo polimento do metal. Ao con-trário, a corrosão é uma reação química entre o material e seu ambiente e, portanto, é um problema potencial-mente muito mais sério.

O processo de corrosão para metais é coordenado pela redução na energia livre logo que o metal reage com um líquido ou gás. Para materiais metálicos, o processo de cor-rosão normalmente é eletroquímico, envolvendo a perda de elétrons (e–) no que é chamado reação oxidativa:

M → Mn+ + ne–

com o metal se tornando um íon positivamente car-regado. A região na qual a oxidação ocorre é chamada de anodo. Os elétrons transferirão ou se tornarão parte de outras espécies químicas na reação de redução. Por exemplo, numa solução ácida contendo oxigênio dissol-vido, a redução toma forma de:

O2 + 4H– + 4e– → 2H2O

O local da região de redução é conhecido como catodo. Todos os metais estão propensos ao ataque corrosivo quando o ambiente é muito agressivo. A corrosão é alta-mente indesejável, pois ela enfraquece o material e pode levar à fratura. Do mesmo modo, os produtos de corrosão podem reagir adversamente com o ambiente biológico. Esse último fator é o de principal preocupação no uso de metais na odontologia, tais como: amálgama, coroas e pontes, grampos para isolamento absoluto, braquetes ortodônticos e fi os de aço.

Corrosão Seca

Com exceção do ouro e poucos metais nobres, todos os metais formarão um revestimento de óxido na superfície quando a superfície entra em contato com o oxigênio do ar (Fig. 1.9.2). Algumas vezes esse fi lme fi no de óxido na superfície pode ser visto, como no caso do titânio quando produz interferência de cores que são usadas para dar melhor efeito na produção de joias.

Desde que a formação na superfície da camada de óxido envolve a adição de átomos de oxigênio na super-

fície, o material que oxida ganhará peso. Esse processo pode ser monitorado; os três resultados possíveis desses experimentos são mostrados na Figura 1.9.3. Quais destes verdadeiramente ocorrerão depende da estabili-dade do óxido formado.

Se o óxido é muito estável, então, o processo de corro-são é autolimitante e existe um ponto onde os íons metá-licos levam tanto tempo para se difundir na camada de óxido espessa (a despeito de que eles entram em contato com o oxigênio e reagem com ele), que a oxidação quase para. Nesse caso existe um ganho de peso inicial rápido que gradualmente começa a paralisar; isso torna a curva de ganho de peso uma parábola.

Alguns óxidos não são muito estáveis e, assim que se formam na superfície do metal, tendem a quebrar ou se separar parcialmente da superfície, expondo o metal sub-jacente e permitindo a formação de uma nova cobertura de óxido. Nesse caso existe uma formação gradual do óxido, provocando um ganho contínuo de peso.

Fe �Fe+2 + 2e–

Fe Fe ou Fe2O3

4e– + O2� 2O2–

Ganho parabólico(Fe, Ni, Cu, Al, Co)

Perda linear (W, Mo)

Ganho linear (Ta, Nb)

ΔM

Figura 1.9.3 Alteração de peso devido à oxidação da superfície.

Figura 1.9.2 Formação de óxido na superfície de um metal.

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS64

A terceira possibilidade, de perda de peso, é menos comum e ocorre apenas durante a oxidação de certos metais a altas temperaturas. Se a temperatura é muito alta, o óxido evapora tão logo é formado, não oferecendo barreira para posterior oxidação do metal. Consequente-mente, o peso é perdido assim que a camada de óxido evapora.

Essas formas de oxidação são descritas como corrosão seca. A maioria dos metais é estável sob tais processos devido à presença da primeira camada protetora de reves-timento de óxido em si. Por isto, aviões excedentes são estocados no deserto, onde é quente, mas mais impor-tante, é muito seco, e os carros são menos suscetíveis à ferrugem no clima quente e seco. Na presença de um ambiente aquoso, condições diferentes prevalecem e a resposta do material é muito alterada.

Corrosão Úmida

A corrosão úmida pode ocorrer em ambientes neutros, ácidos ou alcalinos. Quando um metal é colocado num ambiente aquoso, os íons metálicos e elétrons são libe-rados dentro da água (Fig. 1.9.4).

Um oxidante, geralmente oxigênio dissolvido na água, remove elétrons do metal, o que é conhecido como processo catódico. Essa extração de elétrons produz uma corrente chamada corrente catódica. Essa perda de elé-trons do metal torna-o positivamente carregado, e os íons positivos são liberados dentro da água, produzindo uma corrente anódica.

Os metais não oxidam com a mesma facilidade, sendo que a reatividade relativa dos metais está apresentada no que é conhecida como série galvânica. Isso está mostrado na Tabela 1.9.1 para a série de metais quando colocados em água do mar. As ligas próximas ao topo desse ranking são menos reativas.

Se os íons metálicos são removidos da superfície uni-formemente, o processo é chamado corrosão uniforme. Em condições adequadas, corrosão localizada pode se opor à corrosão uniforme e isso é muito perigoso. A cor-rosão galvânica e por fenda são exemplos dessas corrosões localizadas.

Corrosão GalvânicaA corrosão galvânica ocorre quando dois metais diferen-tes são combinados, resultando na corrosão signifi cativa-mente maior de um dos metais.

Um exemplo clássico disso é a corrosão do zinco no ácido. Quando o zinco está em contato com a platina, conforme mostrado na Figura 1.9.5, a platina reage muito rapidamente com os íons hidrogênio que são for necidos pelo ácido, e elétrons liberados, produzindo hidrogênio (que é um exemplo de um processo cató-

Metal Meio MeioMetal MeioMetal

e- +

M+

M+

M+ –ox

ox

oxe-

e- –

– +

+

(a) (c)(b)

Figura 1.9.4 Oxidação de um metal no ambiente aquoso. O oxidante retira elétrons do metal, o que é conhecido como um processo catódico (a). Isso torna o metal carregado positivamente e o meio carregado negativamente (b). Devido à carga positiva do metal, os íons metálicos são liberados o que é conhecido como um processo anódico (c).

Tabela 1.9.1 Série galvânica na água do mar

Platina

Ouro

Titânio

Prata

Inércia crescente Aço inoxidável

Cobre

Níquel

Atividade crescente Estanho

Chumbo

Ferro fundido

Alumínio

Zinco

Após ASM Metal Handbook, vol. 10, 8th. ed., 1975.

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PROPRIEDADES QUÍMICAS 65

dico). Isso gera um desequilíbrio elétrico entre o zinco e a platina, assim elétrons fl uem do zinco para a platina. Isso aumenta a liberação de íons metálicos do zinco (processo anódico), levando o zinco a corroer mais rapidamente quando estiver em contato com a platina.

O grau em que metais dissimilares serão suscetíveis a essa forma de corrosão depende principalmente de seus índices relativos de reação. A platina é um oxidante parti-cularmente efi caz. Outros metais nobres não apresentam o mesmo efeito, pois não são tão efetivos na oxidação.

A combinação de metais que se comportam desta forma é descrita como célula galvânica e pode ocorrer dentro das ligas devido à presença de diferentes fases com diversas taxas de oxidação. Um exemplo é a célula galvânica criada entre as fases γ1 e γ2 no amálgama odontológico, onde a fase γ2 corrói mais rapidamente do que a fase γ1.

Corrosão por FendaOnde existe uma fenda acentuada ou espaço preenchido por fl uido, conforme mostrado na Figura 1.9.6, esse espaço geralmente é exaurido de oxigênio. Os íons metá-licos ainda serão liberados dentro do espaço e formarão produtos de corrosão, ao passo que os elétrons são inca-pazes de reagir por causa da falta de oxigênio. Assim, a reação de oxidação deve ocorrer onde há oxigênio, que será na superfície principal, de tal forma que os elétrons terão que se deslocar através do metal, tornando a base da fenda anódica e a superfície catódica. Por isto, ocorre perda de material na base da fenda. Assim que os produ-tos de corrosão são formados, eles tendem a se acumular na fenda de modo que o suprimento de oxigênio fi ca cada vez mais restrito. Não existe nada que pare essa reação, o que torna esse tipo de corrosão altamente insi-dioso. O mesmo processo pode acontecer quando existe quebra do revestimento de óxido da superfície. O que é conhecido como corrosão por pitting.

O ataque concentrado numa área do metal é muito indesejável, pois provoca o enfraquecimento do metal devido à formação e ao crescimento de trincas. O dano ocorrido está totalmente fora da proporção da quan-tidade de material destruído pelo processo corrosivo. Assim, a corrosão localizada é muito mais perigosa do que a corrosão uniforme.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Se as condições estiverem corretas, a corrosão dos metais pode ser um processo rápido e altamente danoso.

DEGRADAÇÃO DAS CERÂMICAS

Ao contrário dos metais, as cerâmicas são, em geral, muito resistentes à corrosão eletroquímica, mas ainda são suscetíveis à corrosão química. Por exemplo, um vidro feito apenas de SiO2 e Na2O dissolverá rapidamente em água e o CaO é adicionado para reduzir sua sus-cetibilidade à dissolução. Por sua vez, a capacidade de dissolução de certos ácidos, tais como o HF, em geral é usada para aumentar a criação de superfícies rugosas microscopicamente e melhorar a adesão a resinas pela dissolução preferencial de certas fases na cerâmica.

A corrosão química também pode ter um profundo efeito na resistência das cerâmicas. A falha de cerâmi-cas geralmente está associada à trinca que se tornou tão grande que o componente não consegue suportar a tensão aplicada. Isso pode provocar uma rápida desin-tegração da cerâmica, tal como ocorre na quebra inex-

Platinae-

Zn2+

oxe-

ox

e-

Zn2+

Zinco

Solução aquosa

Processo anódicoe-

Processo catódicoe-

MetalFigura 1.9.5 Corrosão galvânica do zinco em contato com a platina. O metal nobre (platina) é oxidado mais facilmente do que um metal básico (zinco), pois o processo anódico ocorre na superfície do zinco e os íons zinco são liberados dentro do ambiente aquoso. Figura 1.9.6 Na corrosão por fenda, a oxidação ocorre na

superfície (processo catódico) e os íons metálicos são doados de dentro da fenda (processo anódico).

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS66

plicável de um copo ou vidro de um parabrisa de um carro. Essas falhas frequentemente são causadas pelo crescimento lento e indetectável de uma trinca até que a trinca adquire um tamanho crítico e progride esponta-neamente e de modo catastrófi co. A interação química entre a cerâmica e o ambiente da ponta da trinca tem um profundo efeito na velocidade do crescimento da trinca. A água ou vapor de água na ponta da trinca pode reagir com a ligação Si–O–Si na ponta da trinca com vidro à base de sílica, formando hidróxidos (Fig. 1.9.7). Esse processo é chamado fadiga estática. Quando as condições ambientais são combinadas com altos níveis de tensão na

cerâmica, tal como pela aplicação de uma carga externa ou tensões aprisionadas internamente, a velocidade de crescimento da trinca será acelerada. Em tais circunstân-cias, a falha pode ser descrita como resultado de uma trinca por corrosão sob tensão.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Todos os materiais são suscetíveis ao ambiente oral, tanto que geralmente todos os materiais serão degradados ao longo do tempo.

Si O Si SiSi

Si Si Si

OO

O

O OOH

O O O

Si Si SiO O

SiSiSiSi O O

O

O

H O2

OHOH OH

OH OH OHOH

OH

OH

Figura 1.9.7 Crescimento da fenda em uma cerâmica devido à hidratação local no topo da fenda.

Page 78: Introdução Aos Materiais Dentários

67

Capítulo 1.10

PRINCÍPIOS DE ADESÃO

INTRODUÇÃO

Desde que a técnica do condicionamento ácido para adesão ao esmalte foi introduzida na Odontologia, o uso de procedimentos adesivos foi desenvolvido a tal ponto que atualmente constitui a maior parte das disciplinas odontológicas. Muitos conceitos que foram utilizados pela profi ssão por muitas décadas para permitirem um bom tratamento odontológico tiveram que ser revisados à luz desses desenvolvimentos e muitas novas técnicas e materiais foram introduzidas.

Dois exemplos de novos procedimentos restauradores adesivos que imediatamente vem à mente são as próteses adesivas e as facetas de porcelana. Esses procedimentos se tornaram possíveis devido ao melhor conhecimento e entendimento das características da superfície do esmalte e da dentina e das condições necessárias para serem satis-feitas a fi m de obter uma boa adesão nestes substratos.

Esses avanços, por si só, não teriam sido sufi cientes, mas foram a base para o desenvolvimento de novos mate-riais e técnicas que são utilizadas na adesão ao esmalte e à dentina atualmente. Uma combinação de fatores permi-tiu ao dentista dispor de uma variedade de procedimentos para restaurar a dentição. Embora esses procedimentos tenham sido avaliados por um tempo relativamente curto, seu impacto já é bastante considerável.

Existem atualmente muitos materiais que se aderem ao esmalte e à dentina, e entre si. Consequentemente, inúmeros adesivos foram desenvolvidos a fi m de corres-ponder com a diversidade de aplicações; tais adesivos incluem as resinas compostas, os cimentos de ionômero de vidro e os sistemas adesivos dentinários.

Novos métodos de preparo de superfície, como o con-dicionamento e a aplicação de silanos, foram pesquisa-dos com a fi nalidade de descobrir meios de utilizá-los em conjunto com novos materiais, como com as novas cerâmicas vítreas e uma grande variedade de ligas.

É esta variedade de aplicações que tem contribuído para a crescente complexidade da odontologia restau-

radora adesiva. Contudo, para apreciar e entender com-pletamente a aplicação clínica das técnicas adesivas, é importante que o clínico tenha um profundo conheci-mento dos princípios de adesão, dos materiais empre-gados, dos sistemas adesivos dentais e de como são aplicados nas situações clínicas.

O QUE É ADESÃO?

A adesão pode ser defi nida como a força que une dois materiais distintos, quando são colocados em contato íntimo. Esta defi nição é distinta de coesão, que é a atração entre átomos ou moléculas similares dentro de uma substância.

Adesão entre Sólidos

Em um nível atômico, as superfícies são rugosas. Isso sig-nifi ca que quando são colocadas em contato, os únicos locais onde existe contato íntimo são nas pontas das áreas ásperas (Fig. 1.10.1). Pressões muito grandes podem ser geradas nesses pontos, de forma que, na ausência de con-taminação, pode ocorrer um efeito denominado adesão local ou soldagem fria. Se uma tentativa for feita para deslizar uma superfície sobre a outra, uma resistência conhecida como fricção é experimentada.

A fricção é causada pela tentativa de cisalhar ou romper o local de adesão. Geralmente adesão no local é tão forte que o processo de cisalhamento não acontece no local da interface, mas no interior dos próprios sólidos; isso explica o fenômeno comum do desgaste friccional.

Enquanto as forças friccionais, devido à adesão local, podem ser bastante altas, a adesão normal (isto é, perpen-dicular) à superfície geralmente é indetectável. Isso tem sido atribuído ao desenvolvimento de tensões elásticas na direção normal, que é liberado quando a carga sobre o material é removida.

Somente metais muito moles, como o ouro puro, po dem aliviar estas tensões elásticas por meio da defor-

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS68

mação e prevenir a ruptura da junção quando uma carga normal é aplicada. Um exemplo odontológico disso é o ouro coesivo.

Adesão entre um Sólido e um Líquido

É uma questão de observação comum perceber que uma gota d’água fi ca pendurada na base de uma lâmina de vidro. Esse efeito demonstra a aderência da água ao vidro que surge em virtude da atração molecular entre as duas substâncias. A atração acontece devido a ligações secun-dárias (forças de van der Waals). Mesmo uma sacudida forte na lâmina não removerá toda a água e, simples-mente secar o vidro com um tecido, ainda deixará uma fi na camada residual de água. A única forma de assegurar que toda a água foi removida é pelo aquecimento do vidro em um forno.

Isso ilustra a boa adesão que pode ser obtida entre um sólido e um líquido. Tal adesão acontece devido à habi-lidade do líquido de apresentar um íntimo contato com o sólido sobre uma grande área de superfície. É o oposto para uma adesão defi ciente (descrita anteriormente) que em geral ocorre entre dois sólidos, onde o contato acon-tece apenas em alguns pontos.

Assim, um dos requisitos fundamentais para a adesão é que as duas substâncias que serão unidas devem estar em íntimo contato uma com a outra. A importância desta afi rmação pode não ser bastante destacada, mas uma forte adesão somente pode ser criada no caso de íntimo contato molecular. Isso pode parecer um requisito simples, mas não é muito fácil de alcançar contato íntimo em nível microscópico, como descrito para os sólidos.

Dado que a distância para que haja interação das molé-culas deve ser menor do que 0,0007μm (micrometros; 1 mm = 1.000 μm) para que ocorra adesão, podemos per-ceber que a adesão é praticamente impossível para duas superfícies sólidas. Esse é um sério obstáculo quando existe a necessidade de adesão entre dois sólidos e, a fi m de superar isso, usamos uma terceira substância, normal-

mente em estado fl uido ou semifl uido, para agir como um intermediário.

A substância que une os dois materiais é defi nida como adesivo, e as superfícies dos materiais são aderentes ou subs-tratos. O ponto no qual o substrato entra em contato com o adesivo é descrito como interface (Fig. 1.10.2).

Naturalmente, o que acontece na interface é de funda-mental importância para o sucesso ou falha de uma união adesiva. Isso se aplica igualmente aos adesivos industriais e dentais, portanto é útil, em primeiro lugar, considerar os requisitos gerais de um adesivo e, então, examinar com maior atenção os mecanismos de adesão.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Antes de realizar uma adesão a uma superfície, deve-se ter certeza de que esta está de fato limpa, do contrário não acontecerá adesão.

CRITÉRIOS PARA A ADESÃO

Quando lemos a bula de instrução de qualquer adesivo, um dos primeiros requisitos invariavelmente é que as superfícies a serem aderidas estejam ambas limpas e secas. Isso é importante por várias razões. Uma superfície limpa e seca assegura que o adesivo tenha uma melhor chance de criar uma adesão apropriada com o material sólido. A presença na superfície de algo que possa ser considerado como um contaminante difi cultará a forma-ção de uma adesão forte, já que o contaminante, por si só, estará unido fracamente ao sólido e impedirá a adesão do adesivo ao substrato.

Interfaces

Aderente/substrato

Adesivo

Aderente/substrato

Figura 1.10.2 Terminologia para a descrição de uma junta adesiva.

Figura 1.10.1 Contato ponto a ponto de duas superfícies sólidas em um nível microscópico.

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PRINCÍPIOS DE ADESÃO 69

Os fatores que governam a capacidade de o adesivo estar em contato íntimo com o substrato são:

■ o molhamento do substrato pelo adesivo;■ a viscosidade do adesivo; e■ a morfologia ou rugosidade da superfície do substrato.

Molhamento

Para que o adesivo promova uma união entre dois mate-riais, ele precisa estar em contato íntimo com as super-fícies dos substratos, de forma que nenhuma bolha de ar (que enfraqueça a união) seja formada. A capacidade de um adesivo entrar em contato com um substrato depende do molhamento do adesivo sobre o substrato particular. Um bom molhamento é a capacidade de cobrir completamente o substrato, de forma que o benefício máximo seja obtido para qualquer que seja o mecanismo adesivo ativado.

A capacidade ou incapacidade dos fl uidos de molhar uma superfície é frequentemente encontrada na vida diária. Um exemplo de uma superfície que é muito difícil de ser molhada com água é o PTFE (politetrafl uoretileno), que é usado em panelas não aderentes. Quando a água é colocada na superfície do PTFE, formam-se glóbulos que não se espalharão como uma camada plana sobre a superfície. Esse é o exemplo de um molhamento defi -ciente. Esta e outras possíveis reações são descritas na Figura 1.10.3.

A interação entre o substrato e o adesivo é governada por uma força motriz que tende a espalhar o adesivo sobre o substrato, e pela resistência ao escoamento que depende da viscosidade do adesivo, das irregularidades da superfície e da presença de contaminantes. A força motriz é promovida pela energia de superfície do adesivo e do substrato (veja a seguir).

Energia de Superfície

Na estrutura de um sólido ou de um líquido, as moléculas estão sujeitas a forças de atração em todas as direções, de forma que a molécula está em equilíbrio dinâmico com as moléculas circundantes. Na superfície, contudo, esse delicado equilíbrio é destruído, resultando em uma rede de atração interna direcionada para um grande número de moléculas na massa do material. É essa força interna que gera a energia de superfície de um material. No líquido, a energia de superfície é conhecida como tensão superfi cial.

Um dos efeitos da tensão superfi cial é a tendência de o líquido adquirir uma forma esférica em relação a outra qualquer. Isso ocorre porque uma esfera tem uma área mínima de superfície (assim, uma energia de superfície mínima) para um dado volume de líquido, permitindo que a energia total armazenada no líquido seja mínima.

Considerando que a tensão superfi cial de um líquido é uma tensão de superfície real, no caso de um sólido, o

trabalho é realizado ao sofrer distensão e não na forma-ção da superfície. A mensuração da energia de superfície de um sólido não é alcançada tão facilmente como nos líquidos. Uma abordagem que tem recebido ampla acei-tação atualmente é a realizada por Zisman, que introdu-ziu o conceito de energia crítica de superfície.

Ângulo de Contato

Quando um sólido e um líquido entram em contato, o ângulo entre a superfície do líquido e a superfície do sólido é conhecido como ângulo de contato, e é depen-dente da tensão superfi cial do líquido e da energia super-fi cial do sólido (Fig. 1.10.4).

Por meio da mensuração do ângulo de contato entre o líquido e o sólido, obtém-se a medida do molhamento do líquido num determinado substrato. Para o perfeito molhamento, que é a situação ideal para ocorrer adesão, esse ângulo deve ser de zero grau. Neste caso, a superfí-cie é completamente coberta com o adesivo e uma força

Nenhummolhamento

Molhamentoparcial

Molhamentoperfeito

Sólido

Líquido

Figura 1.10.3 Possíveis características de molhamento para líquidos sobre uma superfície sólida.

γlv

Vapor

Líquido

Sólido

γsv γslθ

Figura 1.10.4 O ângulo de contato θ entre um líquido e um sólido, onde γsv é a tensão superfi cial entre o sólido e o vapor, γsl é a tensão superfi cial entre o sólido e o líquido e γlv entre o líquido e o vapor.

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS70

máxima de adesão pode ser conseguida. A força motriz que faz aumentar esta tendência de um fl uido escoar pela superfície do sólido depende da tensão superfi cial do líquido e da energia de superfície do sólido. No ponto onde a superfície do líquido entra em contato com a superfície do sólido, suas tensões superfi ciais devem fi car balanceadas, a fi m de que fi quem em equilíbrio:

γsv = γsl + γlv cos θ

Essa relação pode ser reformulada para se obter o ângulo de contato, θ, e essa fórmula é conhecida como equação de Young:

cos θ = (γsv – γsl) / γlv

em que γsl é a energia de superfície na interface sólido-líquido, γsv é a energia de superfície da interface sólido-vapor, e γlv é a energia de superfície na interface líquido-vapor.

Energia Crítica de Superfície

Se medirmos o ângulo de contato de um número de líquidos diferentes sobre o mesmo substrato e calcular-mos o cosseno do ângulo de contato em relação à tensão superfi cial conhecida dos líquidos, isto resultará em uma relação linear.

Esta relação é mostrada na Figura 1.10.5; ela mostra a curva linear sendo extrapolada até o ponto onde cruza a linha na qual o cosseno do ângulo de contato é igual a um. Essa é a situação na qual o ângulo de contato será de zero grau, representando a condição de molhamento perfeito.

O valor da tensão superfi cial na qual o cosseno do ângulo de contato é igual a um é defi nido como energia crítica de superfície do sólido. Esta energia crítica de super-fície é igual à tensão superfi cial do líquido que escoará na superfície do sólido; tal líquido pode ser real ou hipo-tético. Qualquer líquido que tenha a tensão superfi cial menor do que a energia crítica de superfície do sólido molhará tal superfície efetivamente.

Assim, um líquido com baixa energia de superfície facilmente escoará sobre um substrato com alta energia de superfície, porque a superfície do substrato é substi-tuída por uma superfície com uma energia de superfície mais baixa.

O PTFE tem uma energia de superfície baixa, tornando difícil encontrar líquidos com tensão superfi cial menor que possam molhá-lo com sucesso. Outro material com uma energia de superfície similar e baixa é a borracha de silicone. Novamente, é muito difícil aderir qualquer coisa a esse material.

Por sua vez, polímeros de silicone, na forma líquida, tendem a adaptar-se bem à maioria das superfícies devido a sua baixa energia de superfície. Esses polímeros são usados para aumentar a efi ciência dos materiais de moldagem.

Exemplos de energia de superfície de várias substân-cias, expressos na unidade de J.m–2 (N.m–1) por conveni-ência, são apresentados na Tabela 1.10.1. No caso do ácido perfl uoroláurico, somente gases inertes condensa-dos podem escoar sobre sua superfície.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Um adesivo deve ser compatível com a superfície a ser unida. Por exemplo, resinas hidrofóbicas não se aderem a superfícies hidrofílicas.

Viscosidade

Para um adesivo ser efetivo, ele não deve ter apenas a capacidade de entrar em íntimo contato com o substrato, mas também a capacidade de escoar sobre ele, porém não tão facilmente que seja impossível controlá-lo. A força

1,0

Energiacrítica desuperfície

Cos

θ

0 γc

Tensão superficial do líquido

Figura 1.10.5 Gráfi co de Zisman para a determinação da energia crítica de superfície, γc, de um sólido.

Tabela 1.10.1 Energias de superfícies típicas

Energia de superfície x 103j.m2

Ácido perfl uorláurico 6

Cloreto de metila 16

Politetrafl uoretileno (PTFE) 18

Politrifl uoretileno 22

Álcool etílico 24

Polivinil cloreto (PVC) 39

Água 73

Placa de vidro 20

Aço 230

Óxido de ferro 350

Alumina 560

Mercúrio 488

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PRINCÍPIOS DE ADESÃO 71

motriz para o escoamento do líquido é estabelecida pela sua capacidade de molhamento na superfície do sólido, e a resistência ao escoamento é dada pela viscosidade do líquido. Uma viscosidade muito alta é indesejável, já que impede o fl uido de escoar facilmente sobre a superfície do sólido e de penetrar nas estreitas fendas e rachaduras.

Em geral, os ângulos de contato são diretamente pro-porcionais à viscosidade do adesivo, mas isso pode ser uma afi rmação falsa se o adesivo é um solvente contendo aditivos.

O uso de solventes com baixa tensão superfi cial com solutos altamente viscosos proporcionará ângulos de contato incorretamente baixos. Embora um ângulo de contato baixo seja obtido, a resistência ao fl uxo oferecida pela alta viscosidade do soluto continuará a impedir o escoamento.

De maneira similar, um adesivo com alto conteúdo de carga, como uma resina composta, pode ter difi cul-dade de escoar, o que pode levar a pensarmos que ele apresenta alta tensão superfi cial e um molhamento defi -ciente. Contudo, o substrato somente apresenta contato com a resina de baixa viscosidade, que pode facilmente molhar a superfície caso ela possua uma adequada tensão superfi cial. A resistência ao escoamento da resina com-posta é meramente devido a sua própria rigidez e não por qualquer resistência por parte da resina em molhar a superfície subjacente.

A capacidade do líquido de preencher as trincas e fendas pode ser quantifi cada pelo que é descrito como coefi ciente de penetração (CP), que é uma função da tensão superfi cial (γ) do líquido e de sua viscosidade (η), de acordo com a equação:

CP = γCosθ/2η

O coefi ciente de penetração é uma medida da capa-cidade de um líquido penetrar em um espaço capilar, tal como em regiões interproximais, sulcos gengivais e poros. Um exemplo de coefi ciente de penetração de alguns colutórios orais é mostrado na Figura 1.10.6.

Rugosidade de Superfície

A mensuração dos ângulos de contato supõe que a super-fície do substrato é perfeitamente lisa. Na realidade, a superfície pode ser inteiramente rugosa em nível micros-cópico. Esta rugosidade apresenta a vantagem de aumen-tar a área potencial de adesão, mas pode também levar ao aprisionamento de ar. Tal aprisionamento de ar reduzirá de forma signifi cativa a área efetiva de adesão e resultará em uma fraca adesão. Trincas e fendas constituem irre-gularidades de superfície e o adesivo deve ser capaz de fl uir para dentro delas.

Adesivos com alta viscosidade são particularmente propensos a causar aprisionamento de ar, porque sua rigidez pode ser tal que podem formar pontes sobre pequenas fendas e rachaduras na superfície, ao invés de penetrar no seu interior.

Na ausência de ar, a ação capilar assegura que o adesivo penetre nas fendas e rachaduras. Para que esta penetração ocorra facilmente, uma alta tensão superfi cial do adesivo é desejável, isto signifi ca que a atração capilar também é alta. Esse efeito é demonstrado pelo fato de que quanto maior a tensão superfi cial de um líquido, maior a quantidade de líquido que subirá em um capilar colocado sobre ele.

A força motriz que causa uma ação capilar deve traba-lhar contra a pressão do ar que é aprisionado pelo adesivo e também superar as forças de resistência devido à visco-sidade. Contudo, a tensão superfi cial do líquido deve ser também sufi cientemente baixa para molhar perfeitamente o substrato. Sendo assim, o adesivo ideal apresentaria uma tensão superfi cial exatamente inferior à da energia de superfície do sólido. Se essa condição for satisfeita, então, as irregularidades de superfície podem ser vantajosas para melhorar a resistência de união do adesivo.

Uma superfície irregular apresenta uma área de super-fície maior que uma superfície lisa, desta forma mais uniões químicas podem ser criadas. Se as irregularidades são de uma morfologia particular, como reentrâncias pre-sentes em nível microscópico, a adesão pode ser aumen-tada pelo processo de microembricamento mecânico.

MECANISMOS DE ADESÃO

Em primeiro lugar, vamos supor que um dos requisitos ini-ciais para adesão seja satisfeito e que um contato íntimo em nível molecular entre o adesivo e o substrato seja alcançado. Vamos agora observar o que acontece quando os materiais estão em contato e ver como podem interagir. Uma união adesiva pode ser mecânica, física ou química, e mais comumente uma combinação de todas elas.

Adesão Mecânica

O método mais simples de adesão é pelo microembrica-mento mecânico dos componentes. Essa forma de adesão

Hibident

12

10

8

6

4

2

0Prodent Listerine Oraldene

CP

(10

m

s )

–2–1

Figura 1.10.6 Coefi ciente de penetração para colutórios bucais (adaptado de Perdok et al., J Dent 1990; 18: 147).

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CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS72

pode resultar da presença de irregularidades na superfí-cie, tais como fi ssuras e cicatrículas que aumentam as reentrâncias microscópicas.

Uma condição primária para essa forma de adesão é que o adesivo pode penetrar facilmente dentro das fi ssuras antes de tomar presa. Esta condição é determi-nada pelo molhamento do adesivo no substrato, que é governado pela energia de superfície relativa e pelo ângulo de contato resultante; a situação ideal é aquela em que há perfeito molhamento. Para aumentar o nível de contato, qualquer ar ou vapor nas fi ssuras deve ser capaz de escapar antes da penetração do líquido. Se o adesivo for capaz de penetrar nesses espaços e solidifi car-se, ele permanecerá preso no interior das reentrâncias (Fig. 1.10.7). O grau de penetração dependerá tanto da pressão utilizada na aplicação do adesivo como das propriedades do adesivo em si.

Caso o adesivo se desprenda do substrato, ele deverá fraturar no processo de ruptura e não pode ser retirado dessa reentrância. Isso não é diferente do conceito de retenção, utilizado na colocação de restaurações, exceto que ocorre em um nível microscópico. Entretanto, uma diferença importante é que um bom molhamento não é um pré-requisito para a macroretenção, enquanto isto é de fundamental importância no microembricamento mecânico.

A visão geral é que as reentrâncias com frequência proporcionam características mecânicas importantes, mas elas comumente não são sufi cientes para agir no mecanismo de adesão em si. Há vários mecanismos adi-cionais de adesão que é devido ao que pode ser descrito como causas físicas e químicas. O termo adesão verdadeira ou adesão específi ca é comumente usado para distinguir adesão física e química de adesão mecânica. Contudo, o uso destes termos deve ser desencorajado, pois eles são inadequados.

A adesão verdadeira supõe que existe também uma adesão falsa, mas um material é adesivo ou não. As adesões física e química são distintas da adesão mecâ-nica, pois elas envolvem uma atração molecular entre o adesivo e o substrato, ao passo que a adesão mecânica não necessita de tal interação na interface.

Adesão Física

Quando duas superfícies estão em íntimo contato, forças secundárias de atração surgem por meio de interações dipolo-dipolo entre moléculas polares (Cap. 1.3). As forças de atração que são geradas podem ser muito pequenas, mesmo que as moléculas apresentem um momento dipolo permanente ou tenham uma grande polaridade.

A magnitude da energia de interação depende do ali-nhamento relativo dos dipolos nas duas superfícies, mas é geralmente menor que 0.2eV. Isso é consideravelmente menor do que as ligações primárias, tal como ligações iônicas ou covalentes que são tipicamente de 2.0–6.0eV.

Este tipo de união é rápida (porque nenhuma energia de ativação é necessária) e reversível (porque as molécu-las permanecem quimicamente intactas sobre a superfí-cie). Essa fraca adsorção física é facilmente superada pela energia térmica, e não é adequada se uma união perma-nente é desejada. Mesmo assim, a formação de pontes de hidrogênio pode ser em particular um importante pre-cursor para a formação de uma ligação química forte.

O que ocorre é que os líquidos não polares não se ligarão a sólidos polares e vice-versa, pois não há intera-ção entre as duas substâncias em nível molecular, mesmo quando há uma boa adaptação. Os polímeros de silicone líquidos não polares exibem tal comportamento, e não se formam ligações com outros sólidos a não ser com eles mesmos; essa ligação é só possível porque a reação química para formação das ligações cruzadas possibilita locais para ligação entre o sólido e o líquido.

Adesão Química

Caso uma molécula se dissocie após a adsorção sobre a superfície e os componentes constituintes, unem-se entre si por forças iônicas ou covalentes, e uma união adesiva forte será formada. Essa forma de adesão é conhe-cida como quimiossorção e pode ser tanto covalente como iônica em sua natureza.

O compartilhamento de elétrons entre dois átomos na ligação química a distingue da interação física. Os adesi-vos devem ser resistentes e quimicamente atraídos pela superfície de aplicação, de modo que se formem uniões fortes, e isto requer a presença de grupos reativos em ambas as superfícies. Isto aplica-se em especial à formação de ligações covalentes, como as que ocorrem na ligação de isocianatos reativos com as superfícies poliméricas contendo grupamentos hidroxila e amina (Fig. 1.10.8).

Por sua vez, a ligação metálica é prontamente criada entre um metal sólido e um metal líquido, que forma a base para a soldagem. A ligação metálica é proporcio-nada pelos elétrons livres e é quimicamente inespecífi ca. Contudo, a ligação só será possível se as superfícies dos metais estiverem exageradamente limpas.

Na prática isso signifi ca que fundentes precisam ser usados para remover a película de óxidos que, de outra forma, impediriam o contato dos átomos metálicos.

Adesivo

Substrato

Figura 1.10.7 Microembricamento mecânico microscópico entre um adesivo e o substrato.

Page 84: Introdução Aos Materiais Dentários

PRINCÍPIOS DE ADESÃO 73

A quebra mecânica dessas ligações químicas torna-se o único meio de separar o adesivo e o substrato, e não há nenhuma razão para que estas ligações sejam quebradas no lugar de qualquer outra ligação de valência. Isso res-tringe a resistência que pode ser obtida. Se a resistência de união exceder a resistência à tração do adesivo ou do substrato, uma falha coesiva do adesivo ou do substrato ocorrerá, antes que a união falhe.

Adesão pelo Entrelaçamento Molecular

Até o momento, tem sido admitido que há uma interface distinta entre o adesivo e o substrato. Em essência, o adesivo é adsorvido sobre a superfície do substrato e pode ser considerado como superfície-ativo, concentrando-se sobre a superfície mas não se dissolvendo no meio sub-jacente. Em alguns casos, o adesivo ou o componente do adesivo é capaz de penetrar na superfície do substrato e absorver dentro dele e não sobre ele. Deve-se enfatizar que a absorção de moléculas é o resultado do bom molha-mento e não sua causa.

Caso o componente de absorção seja uma molécula de cadeia longa ou forme uma molécula de cadeia longa dentro da camada penetrada, o entrelaçamento resul-tante entre o adesivo e o substrato é capaz de produzir alta resistência de união (Fig. 1.10.9).

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

É importante sabermos o tipo de união que estamos tentando obter para que os passos de adesão sejam compreendidos. Dessa forma, há menos chance de haver erros.

Assim, os adesivos devem ser forte e quimicamente atraídos para as superfícies de aplicação a fi m de se criar uma forte união.

RESISTÊNCIA DA UNIÃO ADESIVA

Uma união razoavelmente forte resulta da ação cumula-tiva de um grande número de mecanismos de adesão que agem em conjunto, tal como uma maior área de íntimo contato, que proporciona vários locais para a criação de ligações secundárias fracas, e a presença de microrreen-trâncias superfi ciais em nível microscópico.

Resistência Teórica

É possível determinar de uma forma grosseira a resis-tência teórica de uma união adesiva entre um líquido e um sólido.

Se admitirmos uma área superfi cial unitária do sólido em contato com o líquido, a energia necessária para

Hidroxil Amino

C

O O

H

C O

C

N

C N

H N

C O

N

C

H N

C

O

H H N

O C

O

O

H

Figura 1.10.8 Formação de ligação covalente entre um isocianato e um grupamento hidroxil e um amino na superfície do substrato.

Camada de difusão

Substrato

Adesivo

Figura 1.10.9 Camada de difusão por interpenetração difusa originada do entrelaçamento molecular entre o adesivo e o substrato.

Page 85: Introdução Aos Materiais Dentários

CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS74

separar esses materiais será a diferença entre a energia das superfícies quando unidas e as energias das superfícies individuais quando separadas (Fig. 1.10.10).

Assim, o cálculo da adesão por unidade de área de superfície pode ser defi nido como:

Wa = γsv + γlv – γsl

Isso é conhecido como a equação de Dupré, que afi rma que o cálculo da adesão é a soma da energia livre de superfície do sólido e do líquido, menos a energia inter-facial entre o sólido e o líquido.

Da equação de Young:

γsv – γsl = γlv cosθ

Assim, o cálculo de adesão pode ser reescrito como:

Wa = γlv (1 + cosθ)

Essa adesão será máxima quando tivermos um molha-mento perfeito, neste caso cosθ = 1, de forma que:

Wa = 2 γlv

Para um hidrocarboneto líquido, a tensão superfi cial é aproximadamente de 30 mJ.m–2. Caso seja admitido que a força de atração caia para zero na distância de 3 × 10-10 metros, então, a força necessária para puxar o líquido da superfície sólida é dada pelo cálculo de adesão dividido pela distância, sendo cerca de 200MPa. Esse valor de fato excede qualquer valor encontrado na situação real. Por exemplo, duas lâminas mantidas unidas por um líquido interposto são difíceis de separar por tração, mas a sepa-ração é facilmente conseguida pelo cisalhamento das duas lâminas, pois o líquido não tem resistência à ação de cisalhamento, a não ser à sua viscosidade.

Assim, não é apenas necessário que o adesivo fl uido molhe a superfície do substrato e forneça uma ligação química. Ele deve também ser capaz de resistir às forças de tração e cisalhamento, que podem produzir falhas no adesivo. O aumento da viscosidade torna a ação de cisa-lhamento mais difícil e esse é o fundamento no qual os adesivos, como fi tas com superfície adesivas, funcionam.

Quando duas placas unidas por uma substância vis-cosa interposta são separadas (Fig. 1.10.11), a relação entre a força necessária para realizar essa ação e a visco-sidade do líquido é dada por:

F = 32

(πηR4/h3) (δh/δt)

em que η é a viscosidade, R é o raio das placas e h é a espessura do adesivo.

Não iremos nos preocupar com a origem dessa expres-são, mas ela é baseada na necessidade de penetração adicional do agente adesivo no espaço entre as duas placas quando elas são separadas. A expressão mostra que a força é dependente da viscosidade e da espes-sura da camada de adesivo. Quanto maior a viscosidade do adesivo e menor a espessura da camada de adesivo, maior será a força necessária para separar as duas placas. Essa expressão também mostrada que a força depende da velocidade de separação.

Altas velocidades de separação resistem mais for-temente do que baixas velocidades. A união adesiva não resiste a cargas baixas por longos períodos, pois assim ela fi nalmente falhará pelo escoamento viscoso. A melhor resistência ao cisalhamento seria, portanto, oferecida por um líquido que se transformasse em um sólido, pois isso aumentaria muito sua resistência ao cisalhamento.

Resistência de União Real

A resistência de união adesiva é pelo menos de uma ordem de magnitude menor do que aquela prevista pelos cálculos de resistência teórica. Outra observação comum é que a falha adesiva não ocorre frequentemente no local da interface entre o adesivo e o substrato, mas, na realidade, em algum lugar dentro do adesivo, que é essencialmente uma falha coesiva.

Figura 1.10.11 Duas placas mantidas unidas por um líquido viscoso.

Figura 1.10.10 Separação de um líquido de uma superfície sólida, resultando na criação de duas superfícies.

Page 86: Introdução Aos Materiais Dentários

PRINCÍPIOS DE ADESÃO 75

Quando a falha é adesiva em sua natureza, é mais provável que seja devido à incapacidade do adesivo de se adaptar ao substrato, visto que nenhuma interação em nível molecular é possível. Outra possibilidade é que a contaminação ou o aprisionamento de ar ou outros gases na interface possam impedir que um bom contato seja estabelecido. Neste caso, novamente a falha será na interface, ocorrendo devido à nucleação e ao cres-cimento de trincas em locais fracos ao longo da união. Isso elucida a importância da superfície livre de conta-minação para adesão.

Na prática, a resistência de união de muitos adesivos é governada pela presença de concentração de tensões no adesivo e não em função das forças locais de atração na interface. Isso é o caso, em especial, quando as estruturas unidas estão sujeitas ao ataque ambiental ou às condi-ções de aplicação de carga de alta magnitude. Em geral, os adesivos tendem a apresentar propriedades mecânicas piores (isto é, resistência à tração e ao cisalhamento) do que os substratos a serem unidos, tais defeitos inter-nos e de superfície podem desempenhar um papel mais importante na determinação da resistência de união da interface adesiva.

Por exemplo, se a superfície exposta do adesivo contém numerosos defeitos, a probabilidade de se achar um defeito de um tamanho crítico é maior quando a área de superfície exposta do adesivo é aumentada. Por essa razão, é importante que a espessura da camada de adesivo seja mantida em um mínimo. O adesivo pode ser capaz de ter uma espessura de película muito fi na, o que impõe limites na adição de cargas que possam ser incorporadas para melhorar a resistência.

Existe outra razão desejável para a utilização mínima dos adesivos, e isso é devido à contração associada ao pro-cesso de presa do adesivo. Quando um adesivo contrai durante a presa, a contração pode distanciá-lo da super-fície do substrato de forma que a ruptura do adesivo ocorre imediatamente após a sua colocação. Mesmo que a união seja mantida durante a contração inicial, as tensões geradas podem ser sufi cientes para fi nalmente causar a ruptura da adesão. Quanto mais fi na a camada de adesivo, menor será a contração. Isso é a razão pela qual é importante que restaurações indiretas, como facetas, coroas ou pontes, apresentem a melhor adapta-ção marginal, caso ela esteja aderida à estrutura dental. A contração de polimerização de materiais restauradores

à base de resina, como resinas compostas, que é uma consequência do processo de polimerização, pode gerar altas tensões localizadas na interface e contribuir para a falha da união.

PROMOTORES DE ADESÃO

Existem vários casos em que dois materiais precisam ser unidos entre si, mas isso não ocorre em circunstâncias normais porque não apresentam afi nidade particular entre si e, consequentemente, não molharão um ao outro.

Um exemplo odontológico disso seria o desejo de se obter uma forte e durável adesão entre as partículas de vidro usadas como carga na resina composta e a própria resina. Para permitir que esses dois materiais sejam unidos por outro meio diferente da adsorção física de um sobre o outro (o que seria inadequado), é necessário modifi car uma das duas superfícies para se obter a união. Às vezes, uma substância intermediária capaz de se unir a ambos os materiais em questão pode ser utilizada e tal material é conhecido como agente de ligação. Como alternativa, é possível modifi car as características da superfície de um ou de dois materiais a fi m que uma união possa ser criada. Esses materiais são conhecidos como primers.

Agentes de Ligação

A superfície do vidro, sendo iônica por natureza, absorve facilmente água, formando uma camada superfi cial bem-unida, que pode apresentar a espessura de muitas molé-culas. A formação dessa camada de água não pode ser evitada durante o processamento comercial do vidro.

Como consequência disso, quando o vidro é mistu-rado com a resina para produzir um compósito, seja, um compósito com fi bra ou um compósito particulado, a resina não molhará a superfície do vidro e os dois terão uma união defi ciente. Isso tem o efeito de produzir um compósito muito fraco, porque o vidro não é capaz de manter o papel de suporte de carga e atua simplesmente como uma partícula solta. Algum método necessita ser realizado para remover a água adsorvida. Uma aborda-gem é o uso de agentes de ligação. Um agente de ligação apropriado, aplicado ao vidro, deslocará a água da super-fície caso a adesão criada entre essa superfície e o vidro seja mais estável do que entre a água e o vidro.

A função do agente de ligação é deslocar a água adsor-vida promovendo uma forte ligação química entre os grupos de óxidos da superfície do vidro e as moléculas do polímero da resina. Agentes de ligação de silanos são largamente utilizados para esse objetivo e apresentam uma fórmula geral:

R – Si – X3

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Mais frequente do que parece ser, a razão de uma falha adesiva com um sistema adesivo compatível, tal como o esmalte condicionado com ácido e a resina, é geralmente devido ao fato de parte do procedimento não ter sido conduzido corretamente, pois, quando executado adequadamente, a adesão é fortíssima.

Page 87: Introdução Aos Materiais Dentários

CIÊNCIA BÁSICA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS76

em que R representa um grupo organo funcional e a unidade X são grupos hidrolisáveis ligados ao silano. Esse último está presente somente como um intermediário, pois eles são hidrolisados para formar o silanol, como se segue:

R–Si–X3 + 3H2O → R–Si (OH)3 + 3HX

Esses silanóis-tri-hidroxila são capazes de competir com a água na superfície do vidro pela formação de pontes de hidrogênio com os grupos hidroxila na super-fície do vidro.

Quando o vidro coberto com silano é seco, a água é removida e uma reação de condensação ocorre entre o silanol e a superfície. Os dois estágios envolvidos são mostrados na Figura 1.10.12. Uma vez formada essa união, ela não é mais suscetível à hidrólise.

Neste momento, quando a resina é colocada em contato com o vidro tratado com silano, o grupo organo funcional, R, reage com a resina e forma uma forte união com ela. Para esse processo ocorrer, é importante que o grupo organo funcional escolhido seja compatível com o sistema resinoso empregado.

Tal abordagem produz uma forte e resistente união com a água. Sem o agente de união, esta se deterioraria rapidamente, pois a água se difunde através da resina e se readsorve sobre a superfície do vidro, descolando a resina.

A união, como mostrada na Figura 1.10.12, será muito rígida, pois os grupos organo funcionais são muito curtos. As deformações geradas pela contração durante a presa, ou possivelmente pelas diferentes con-

trações térmicas, poderiam ser sufi cientes para causar a falha da união. Esse problema pode ser superado com a verifi cação de que os grupos organofuncionais con-sistem em moléculas razoavelmente longas, que pro-porcionam o grau necessário de fl exibilidade. Neste sentido, a interface criada pelo uso de agentes de ligação deve ser tratada como duas interfaces; a interface vidro-silanol e a interface do grupo organofun cional-resina. Dois agentes de ligação silanos comumente usados são o γ-metacriloxipropiltrietoxisilano e o γ-mercaptopropiltrimetoxisilano.

Primers

Os primers, como os agentes de ligação, são outro grupo de substâncias que procuram tornar a superfície do subs-trato mais adequada para aceitar a união. Os primers são em geral aplicados em conjunto com um adesivo.

Um exemplo típico de um primer é aquele usado para selar a superfície da madeira antes da aplicação de um adesivo. Se um primer não fosse aplicado, o adesivo se infi ltrariria na porosidade da madeira, de forma que nada permaneceria na interface.

Há muitos exemplos odontológicos de primers, como o ácido fosfórico, utilizado para preparar a superfície do esmalte, e uma grande variedade de condicionado-res de dentina, que são usados em conjunto com os sistemas adesivos dentinários. Infelizmente, na litera-tura odontológica, a distinção entre primers e agentes de ligação é inadequada, e os dois termos são utilizados reciprocamente.

RESUMO

A adesão não é um fenômeno simples, nem é compreen-sível com um único modelo. A formação de uma união adesiva depende de vários fatores e raramente envolve um único mecanismo de adesão.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A adesão se tornou uma das pedras fundamentais da Odontologia. Na Dentística, ela criou a possibilidade de produzir um selamento marginal ao redor das restaurações. Na Prótese, ela proporcionou a oportunidade de explorar novos materiais e técnicas. Não há nenhum aspecto na Odontologia que não tenha sido tocado, de alguma forma, pela melhor compreensão das interações moleculares entre os materiais em suas interfaces.

Sorção

(b)(a)

+H2O

Si

O

OHHO

HO Si OH

O

HH

O

Figura 1.10.12 Formação de pontes de hidrogênio entre um silano e um grupo hidroxila na superfície (a), que, após a secagem, forma uma ligação covalente com a liberação de água (b).

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SEÇÃO DOIS

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICOUma grande variedade de materiais é usada na Odontologia pelo dentista, pelo assistente do cirurgião-dentista e, mais recentemente, pelo técnico de higiene dental (THD). É importante que a forma de manipulação e as aplicações clínicas para os quaiseles são apropriados sejambem-compreendidas.

Fatores importantes que contribuem para as falhas das restaurações são o uso inapropriado e o abuso dos materiais dentários. Estes problemas podem ser minimizados com um completo conhecimento da composição e da química dos materiais dentários e um entendimento das suas propriedades físicas e mecânicas.

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Capítulo 2.1

AMÁLGAMAS DENTÁRIOS

INTRODUÇÃO

O uso do amálgama dentário como material restaurador teve um começo um tanto desfavorável, no início do século XIX, quando era feito de moedas de prata espanho-las ou mexicanas misturadas com mercúrio. Desde então, os amálgamas dentários têm tido uma longa jornada e ainda fazem parte da prática odontológica atual.

O desenvolvimento dos amálgamas dentários foi devido, em grande parte, a um dos dentistas mais famosos, G. V. Black, que reconheceu a necessidade de determinar as propriedades dos amálgamas dentários com certa pre-cisão, para que o seu desempenho fosse previsível. No início do século XX, graças a seu trabalho de pesquisa, os amálgamas puderam ser produzidos com características de manipulação razoavelmente previsíveis.

Com o passar dos anos, o nosso entendimento sobre esses materiais avançou consideravelmente, embora até o fi nal dos anos de 1960 houvesse poucas mudanças neste campo, e a composição fosse praticamente a mesma dos últimos 50 anos.

Durante os últimos 30 anos, parece que a evolução dos amálgamas dentários tentou recuperar essa estagna-ção, com novas formulações aparecendo em intervalos frequentes. Existe um confronto das aplicações tradi-cionais desse material com os novos materiais, como a resina composta e os cimentos de ionômero de vidro. Embora isso tenha levado a novas e excitantes descober-tas sobre o amálgama dentário, tem tornado o trabalho do dentista mais difícil, já que a seleção do melhor produto disponível a um custo melhor tornou-se mais complicada.

Nesta seção, será descrito o desenvolvimento dos amál -gamas a partir do fi nal da década de 1960 até o seu estado atual, destacando-se os mais importantes avanços realizados.

ESTRUTURA DOS AMÁLGAMAS DENTÁRIOS TRADICIONAIS

Composição

O amálgama é formado quando o mercúrio é misturado com um outro metal ou metais. O mercúrio é líquido na temperatura ambiente (solidifi cação a –39°C) e reage facilmente com metais como prata, estanho e cobre, pro-duzindo materiais sólidos. Quando o dentista seleciona um determinado amálgama dentário, ele é efetivamente a seleção de uma liga com a qual o mercúrio será mis-turado e reagirá.

Estritamente falando, o termo amálgama dentário não pode ser usado até se referir ao material produzido como consequência da reação entre o mercúrio e a liga. A liga pode variar tanto na composição como na forma, e os fabricantes de amálgama dentário utilizam-se destas variantes para produzir uma ampla gama de produtos.

A Liga

A liga usada nos amálgamas dentários tradicionais con-siste em uma mistura de prata, estanho, cobre, zinco e, às vezes, mercúrio. Uma composição típica é mostrada na Tabela 2.1.1.

A prata é o constituinte principal, presente em com-binação com o estanho na forma do composto inter-metálico Ag3Sn, conhecido como fase γ. O diagrama de fase para o sistema Ag–Sn é indicado na Figura 2.1.1 e mostra que a fase Ag3Sn é a terceira fase pura do sistema, daí a letra grega γ.

Essa fase γ reage rapidamente com o mercúrio para formar o amálgama dentário. O cobre está presente para aumentar a resistência e dureza do amálgama, e um efeito mais pronunciado é produzido quando o conteúdo de

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO80

cobre é aumentado além de 6%, mas isso será comentado depois. O zinco está presente como resultado da produ-ção inicial da liga e não exerce nenhum papel importante no processo de amalgamação. Às vezes, o mercúrio é adicionado para fornecer uma reação mais rápida, o que se chama de pré-amalgamação.

A liga é usada na forma de pó, e o tamanho e a forma das partículas são fundamentais na determinação das características de manipulação e nas propriedades fi nais da restauração. A liga pulverizada está disponível na forma de partículas tipo limalha ou esféricas, como mostra a Figura 2.1.2.

Partículas Tipo LimalhaAs partículas tipo limalha são produzidas pelo tornea-mento mecânico do lingote sólido da liga no esmeril. O farelo produzido é peneirado, e somente os grãos que possuem uma amplitude de tamanhos específi cos são usados no pó para ser amalgamado com o mercúrio.

A liga é apresentada na forma de pó de granulação grossa, média ou fi na, cada uma com manipulação ligeira-mente diferente. Os fragmentos individuais são altamente reativos com o mercúrio devido ao esmerilhamento. Em consequência, a reação de presa é muito rápida, a menos que um tratamento térmico (para aliviar as tensões inter-nas) seja realizado. O tratamento térmico é geralmente feito com a colocação do pó em água fervente.

Partículas EsféricasA produção de partículas esféricas é feita de uma forma diferente. Os vários ingredientes da liga são fundidos juntos e então vaporizados numa atmosfera inerte, onde as gotículas se solidifi cam na forma de pequenas esferas de tamanhos variados. Esse método de fabricação possui as vantagens de não necessitar de nenhum outro pro-cesso mecânico e de que a composição da liga pode ser facilmente modifi cada. O mais importante para o fabricante é a alta probabilidade de geração de partículas de tamanho correto, o que minimiza o custo da produ-ção. As partículas rejeitadas por serem muito grandes ou pequenas são simplesmente recicladas.

MercúrioO mercúrio usado no preparo do amálgama deve ser muito puro, caso contrário haverá formação de uma camada superfi cial de contaminantes que interfere na reação de presa. Por essa razão, o mercúrio é triplamente destilado. A pureza pode ser verifi cada facilmente pelo exame visual. Se uma superfície opaca for observada, ao contrário de uma superfície altamente refl exiva, o mer-cúrio está contaminado.

Reação de PresaA reação de presa entre a liga Ag–Sn e o mercúrio é ini-ciada pela mistura vigorosa dos dois ingredientes. Essa mistura provoca a dissolução da camada externa das partículas da liga no mercúrio, formando duas novas fases sólidas em temperatura ambiente. A reação é a seguinte:

Ag3Sn + Hg → Ag3Sn + Ag2Hg3 + Sn7Hgγ + mercúrio → γ + γ1 + γ2

pó líquido liga não reagida matriz de amálgama

{

Tabela 2.1.1 Constituintes de um amálgama dentário típico

Constituinte % do total

Ag 67-74

Sn 25-28

Cu 0-6

Zn 0-2

Hg 0-3

1.000

Líquido

α+β

α

α + líquido

Tem

pera

tura

(o C)

500β

β + líquido

β+γ γ

γ + líquido

γ + Sn

Ag100%

Composição Sn100%

Figura 2.1.1 Diagrama da fase para o sistema Ag–Sn.

Limalha Esférica

Figura 2.1.2 Representação esquemática das partículas de liga de formas de limalha e esféricas usadas nos amálgamas.

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AMÁLGAMAS DENTÁRIOS 81

Como se pode observar na reação, nem todas as par-tículas da liga se dissolvem no mercúrio. Pelo contrário, uma quantidade considerável permanece, de forma que a estrutura fi nal é composta por um núcleo de fase γ mantida unida por uma matriz com predominância de γ1, que é entremeada por γ2. A estrutura do material obtido é mostrada na Figura 2.1.3.

O cobre na liga de partículas tipo limalha está pre-sente na forma de áreas distintas de Cu3Sn e permanece principalmente dentro da liga original em sua forma não reagente.

No caso das partículas esféricas, o cobre é distribuído uniformemente, e a liga pode ser considerada mais pre-cisamente como uma liga ternária de prata, estanho e cobre. Portanto, na estrutura fi nal do amálgama de liga esférica, o cobre não está presente como uma fase dis-tinta, mas sim distribuído amplamente por todo o mate-rial. Embora seja inevitável a formação de poros, haverá pouca porosidade num amálgama bem-condensado.

PROPRIEDADES DOS AMÁLGAMAS TRADICIONAIS

Não é a intenção abordar aqui todos os aspectos das pro-priedades dos amálgamas dentários, e somente as pro-priedades de importância relevante para o uso clínico assim como a evolução das novas ligas.

Resistência

A resistência do amálgama é importantíssima, pois a res-tauração deve ser capaz de suportar cargas consideráveis geradas durante a mastigação; qualquer defi ciência na resistência pode levar ao valamento marginal da restau-ração ou até mesmo à fratura.

Embora se tenha dado muita atenção à resistência compressiva fi nal do material endurecido, talvez seja mais importante considerar a resistência à tração e a velocidade na qual a resistência fi nal é conseguida.

Como se pode imaginar, a resistência fi nal do amál-gama será proporcional às propriedades das fases indi-viduais. Não é simples determinar as propriedades das três fases principais do amálgama, mas as medições das microdurezas sugerem que a fase γ e a fase γ1 possuem durezas similares, enquanto que a fase γ2 é considera-velmente mais mole. A resistência à tração da fase γ2 também foi medida, sendo apenas uma fração da fase γ original, com a fase γ1, tendo uma resistência interme-diária (Tabela 2.1.2).

Isso signifi ca que o elo fraco no interior da estrutura do amálgama é devido à fase γ2, e se sua proporção na composição fi nal puder ser minimizada, um amál-gama mais resistente será obtido. A quantidade de γ1 e γ2 formada é altamente dependente da quantidade de mercúrio na composição fi nal. Quanto maior a quanti-

dade de mercúrio, mais fraco será o material porque serão produzidas maiores quantidades de fases mais fracas.

O conteúdo fi nal de mercúrio depende mais da qua-lidade da técnica de condensação do que de qualquer outra coisa, tendo o amálgama condensado adequada-mente um pouco menos que 50% de conteúdo de mer-cúrio. Além da técnica de condensação, o tamanho e a forma das partículas da liga também afetarão o conteúdo fi nal de mercúrio. A proporção inicial de liga:mercúrio é menor no amálgama feito com liga de partículas esféricas do que com ligas de partículas tipo limalha porque o material é condensado mais facilmente. Com as ligas de partículas esféricas, um conteúdo fi nal de mercúrio em torno de 45% é facilmente obtido.

O tamanho da partícula também é muito importante. Para uma determinada quantidade de liga a ser amalga-mada com mercúrio, a escolha por partículas menores resulta em mais superfície de liga exposta ao mercúrio. Isso signifi ca que mais liga será dissolvida no mercúrio, produzindo maior quantidade de fases contendo mercú-rio. Consequentemente, um tamanho de partícula muito pequeno é contraindicado.

Figura 2.1.3 Representação esquemática da microestrutura de um amálgama de liga de partículas tipo limalha.

Tabela 2.1.2 Resistência à tração das fases do amálgama

Fase Resistência à tração (MPa)

γ 170

γ1 30

γ2 20

Amálgama 60

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO82

Seja qual for a forma da liga usada, a remoção cons-ciente do excesso de mercúrio durante a colocação da restauração é de importância vital.

Escoamento e Creep (Fluência)

Tem sido postulado que o creep excessivo de um amál-gama, resultante da carga oclusal repetitiva, pode causar o achatamento dos pontos de contato, sobre extensão e protrusão das margens da restauração na superfície dentária. A última tem sido a principal causa da fratura marginal. Quando o escoamento dos amálgamas é men-surado, a medição é geralmente realizada por um curto período de tempo logo após a mistura.

A medição mais adequada é a do creep. O creep é o esco-amento ocasionado por cargas atuantes em longo prazo. É dependente tanto do limite convencional de escoa-mento como da temperatura do ambiente, e apenas se torna um sério problema quando a temperatura ambien-tal for maior que a metade da temperatura de fusão do material.

Uma vez que as fases do amálgama possuem tempe-raturas de fusão muito baixas (em torno de 80° C) e as restaurações estão sujeitas a cargas repetidas, existe a possibilidade de ocorrer creep. As fases mais propensas ao creep são as fases ricas em mercúrio, ou seja, γ1 e γ2. Consequentemente, quanto menor a proporção dessas fases (que pode ser obtida com a condensação adequada), menos o amálgama será suscetível ao creep.

Corrosão

É bem sabido que os amálgamas se corroem no ambiente oral. De fato, a corrosão é frequentemente citada como uma vantagem, cujos produtos auxiliam no bom sela-mento marginal. Todavia, a corrosão marginal causada pela formação de uma célula de oxidação na interface pode causar uma rápida deterioração nas propriedades do amálgama. O processo de corrosão é associado, prin-cipalmente, à fase γ2.

A fase γ2 é consideravelmente mais eletronegativa que as fases γ e γ1. Isso signifi ca que, na presença de uma solução eletrolítica, a fase γ2 atua como anodo da célula de oxidação e, de forma gradual, se dissolve. A reação é a seguinte:

Fase estanho- + fl uidos → sais + mercúriomercúrio orais estanhosos livreSn7Hg + oxigênio → óxidos & + Hg cloretos

Normalmente, a formação de óxidos ajudaria a retar-dar o processo de corrosão pela formação de uma camada superfi cial protetora. Contudo, na interface entre o amál-gama e os tecidos dentários não há formação de um óxido superfi cial, e os produtos da reação do processo de corrosão se precipitam. O processo também é muito

insidioso, uma vez que a produção de mercúrio livre permitirá reação posterior com a fase γ, formando mais γ1 e γ2. Esse processo enfraquece muito a estrutura do amálgama, e é com frequência citado como uma causa de fratura marginal.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Os amálgamas dentários tradicionais carecem de resistência e possuem creep e corrosão excessivos.

AMÁLGAMAS DENTÁRIOS COM ALTO TEOR DE COBRE

Da discussão anterior sobre as propriedades dos amál-gamas dentários tradicionais, pode-se deduzir que seria possível uma melhoria no seu desempenho se sua resis-tência pudesse ser aumentada. Esse reforço poderia ser obtido pela redução da quantidade de γ1 e γ2, ou, melhor ainda, se a fase γ2, fraca e suscetível à corrosão, pudesse ser eliminada totalmente da estrutura, com o benefício adicional da redução do creep.

Amálgamas com Fase Dispersa

No início da década de 1960, foram feitas tentativas para aumentar a resistência dos amálgamas dentários pelo aumento do teor de cobre na liga.

A ideia era de que o cobre agiria como um agente reforçador por dispersão. Uma liga esférica (basicamente prata e cobre) com alto teor de cobre foi adicionada à liga de partícula tipo limalha. A escolha pelas partícu-las esféricas foi feita essencialmente porque em bases experimentais era mais fácil alterar a composição das partículas esféricas que das partículas tipo limalha. As vantagens potenciais, como a condensação facilitada, foram também reconhecidas nesta época.

Como se esperava, o aumento do teor de cobre da liga resultou na modifi cação da reação de presa, que provou ser altamente benéfi ca.

A primeira reação é a mesma da ligas tradicionais, mas esta é seguida por uma segunda reação:

γ2 + Ag–Cu → Cu6Sn5 + γ1

Portanto, o amálgama fi nal continha pouca ou nenhuma fase γ2. A estrutura desse amálgama é mostrada na Figura 2.1.4.

Inicialmente, pensava-se que toda a fase γ2 era elimi-nada por essa reação, mas desde então foi reconhecido que alguma fase γ2 permanecia, embora numa quanti-dade pequena e de provável insignifi cância.

A modifi cação na reação de presa resultou numa série de mudanças importantes nas propriedades do amál-gama, dentre elas:

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AMÁLGAMAS DENTÁRIOS 83

■ alta resistência à compressão;■ presa mais rápida para alcançar sua resistência total;■ redução do creep; e■ suscetibilidade reduzida à corrosão.

Outras Formulações com Alto Teor de Cobre

Com esses tipos de melhorias, logo veio à tona a ideia dos amálgamas de partículas esféricas com alto teor de cobre. Eles combinam todas as vantagens da condensação mais fácil com aquelas já mencionadas, e uma variedade desses produtos está disponível atualmente.

O pó nesses casos é uma liga esférica ternária de prata, estanho e cobre e possui a seguinte reação de presa:

Ag–Sn–Cu + Hg → Ag–Sn–Cu + γ1 + Cu6Sn5

A relutância de muitos dentistas em utilizar ligas esfé-ricas ao invés das ligas com partículas tipo limalha levou à introdução de formulações de liga exclusiva de partículas tipo limalha com alto teor de cobre. A composição dessas ligas é essencialmente a mesma de todas as ligas de partí-culas esféricas, exceto a grande diferença no teor de cobre total, que pode variar de 12% a 30%. Ainda assim, não se sabe qual é a porcentagem ideal de cobre.

Para aqueles dentistas que preferem a liga com fase dispersa, existe agora uma grande quantidade de ligas disponíveis que possui uma mistura de partículas esfé-ricas e de tipo limalha, em que ambos os tipos de partí-culas possuem a mesma composição da liga ternária de Ag–Sn–Cu.

SELEÇÃO E USO DOS AMÁLGAMAS DENTÁRIOS

Na seleção do amálgama dentário apropriado, existem dois fatores importantes que precisam ser considerados:

■ variáveis controladas pelo fabricante; e■ variáveis controladas pelo profi ssional.

Cada uma delas terá um efeito profundo nas proprie-dades dos amálgamas dentários, tais como: característi-cas de manipulação e desempenho clínico.

O desempenho clínico de uma restauração de amál-gama depende tanto da escolha correta da liga como da execução de um bom procedimento operatório. A realização de um bom procedimento envolve todos os estágios da inserção do amálgama, da etapa da dosagem até o polimento fi nal.

Variáveis do Fabricante

As variáveis sob controle do fabricante são: a composi-ção; o tamanho; e o formato da partícula da liga.

ComposiçãoAs diferenças mais óbvias na composição são relativas ao teor de cobre da liga, e a primeira pergunta que deve ser respondida é: devo usar uma liga de amálgama tradicional ou enriquecida com cobre?

As evidências obtidas de estudos clínicos controlados indicam fortemente que o desempenho dos amálgamas com alto teor de cobre é superior ao dos amálgamas tra-dicionais. O índice de fratura marginal é certamente mais baixo nas ligas com alto teor de cobre em comparação com as ligas com baixo teor de cobre, embora isso por si só não signifi que necessariamente que a longevidade desses dois sistemas será muito diferente.

Deve-se lembrar que os amálgamas tradicionais pres-taram um excelente serviço por muitos anos e que um tempo de vida maior que 10 anos não é de forma alguma incomum para essas restaurações, mostrando o potencial desse amálgama. A falha prematura de uma restauração de amálgama está mais relacionada à técnica operatória inadequada. Todavia, nas mãos de dentistas experientes e sob condições altamente controladas, os amálgamas com alto teor de cobre demonstraram melhor desempenho.

O porquê de os amálgamas com alto teor de cobre apresentarem melhor desempenho clínico ainda não está claro. A resistência ao creep melhorou signifi cantemente, assim como a resistência à corrosão. Ambas têm sido con-sideradas as razões pelas quais houve redução da fratura marginal, mas não está claro se a reduzida corrosão ou o reduzido creep é responsável pela melhoria das proprieda-des. Talvez se possa ser pragmático e apenas aceitar que há uma melhoria no desempenho, independentemente da causa.

Figura 2.1.4 Representação esquemática da microestrutura de um amálgama de fase dispersa. O halo em volta das partículas esféricas é a fase Cu–Sn.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO84

Uma característica dos amálgamas de alto teor de cobre é a sua maior resistência à compressão quando compa-rada com os amálgamas tradicionais. Logo após uma hora da colocação, os amálgamas com alto teor de cobre podem ser duas vezes mais resistentes que os amálgamas tradicionais, e isso deve contribuir para a redução da incidência de fraturas do corpo da restauração. Deve-se notar, entretanto, que a resistência à compressão fi nal não é muito diferente (Tabela 2.1.3).

Outra característica dos amálgamas com alto teor de cobre é que eles não contêm nenhum zinco. Sabendo que o zinco é considerado a origem da expansão tardia quando o amálgama se contamina por saliva, isso é uma vantagem adicional.

Uma desvantagem que foi observada em alguns amál-gamas com alto teor de cobre é que as suas superfícies são mais suscetíveis ao deslustre.

Tamanho e Formato da PartículaO tamanho e o formato das partículas devem ser seria-mente considerados porque eles determinam não apenas as características de manipulação da liga, mas também afetam a composição fi nal.

Existe a tendência em se optar por ligas de partículas muito fi nas por serem de fácil escultura, promovendo um acabamento fi nal muito bom. No entanto, o pequeno tamanho de partícula do pó signifi ca que mais mercúrio reagirá com a liga, promovendo um conteúdo fi nal de mercúrio mais alto e, portanto, maiores proporções de γ1 e γ2. Além do mais, a resistência à compressão inicial desses amálgamas é muito mais baixa que aquela dos amálgamas feitos com partículas maiores.

Alguns estudos têm mostrado que o uso de uma liga com pó muito fi no aumenta a incidência de fraturas marginais e que o seu uso é contraindicado.

Em contrapartida, as ligas de granulação grossa são de difícil escultura porque as partículas são facilmente deslocadas da superfície durante a presa inicial. As par-tículas fi nas ou médias parecem ser a melhor alternativa neste quesito.

Quanto à forma da partícula, a escolha é entre a liga tipo limalha e esférica, ou talvez uma mistura das duas. Isso é muito mais uma questão de preferência pessoal, mas diz-se que os sistemas com liga esférica são con-densados mais facilmente que as composições com as ligas de partícula tipo limalha. No fi nal, isso é algo que

apenas o dentista pode decidir, após testar diferentes tipos de amálgama.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

As evidências clínicas atuais são sufi cientes para dizer que os amálgamas com alto teor de cobre são os amálgamas de escolha e certamente a balança inclinou-se mais favoravelmente para o lado destes.

Variáveis do Operador

As variáveis que estão sob controle do dentista e que podem afetar a qualidade fi nal da restauração são as seguintes:

■ proporcionamento da liga e mercúrio;■ trituração;■ condensação; e■ escultura e polimento.

ProporcionamentoO proporcionamento é mais comumente realizado usando-se dispensadores volumétricos ou cápsulas pré-dosadas. As vantagens dessas últimas são que o dentista não precisa se preocupar em obter a melhor proporção de liga e mercúrio (que é pré-fi xada pelo fabricante) e que existe risco menor de derramamento de mercúrio durante os estágios de manuseio da confecção do amálgama. Infe-lizmente, as cápsulas são mais caras que a aquisição do pó da liga em frasco.

Portanto, o dispensador volumétrico é uma propo-sição mais atrativa para alguns dentistas, mas limita a escolha da liga para aquelas de grãos fi nos, pois as ligas de granulação média e grossa tendem a produzir misturas errôneas. Por sua vez, o dispensador volumétrico permite mais liberdade na proporção liga:mercúrio, que é uma característica que atrai particularmente aqueles dentistas que gostam de iniciar com uma mistura bem molhada. Um alto conteúdo de mercúrio inicial não apresenta problemas desde que seja empregada uma boa técnica de condensação. É importante que seja obtida uma mistura sufi cientemente plástica para permitir uma amalgama-ção e uma manipulação adequadas; uma mistura seca

Tabela 2.1.3 Propriedades selecionadas de alguns amálgamas dentários

Material Fabricante Tipo % do teor de cobre

% Creep Resistência à compressão (MPa)

1 h 24 h

Amalcap-F Ivoclar Limalha 6 2,5 94 410

Dispersalloy J & J Misto 12 0,25 226 440

Sybralloy Kerr Esférica 30 0,05 315 500

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AMÁLGAMAS DENTÁRIOS 85

deve ser evitada de todas as formas. Em geral, uma pro-porção de 1:1 de liga:mercúrio basta para as ligas de partículas tipo limalha; mas para as ligas de partículas esféricas, uma maior proporção de liga:mercúrio é permi-tida devido à menor área de superfície total das partículas esféricas.

O baixo teor de mercúrio nesse caso não signifi ca que isto reduz a necessidade da remoção do excesso de mercúrio. É importante que o conteúdo fi nal de mercúrio seja o menor possível, não dispensando ainda uma boa técnica de condensação.

TrituraçãoA trituração é uma das variáveis mais importantes do operador. A trituração adequada é essencial para asse-gurar uma mistura plástica e uma completa amalgama-ção. O tempo de trituração necessário depende tanto do tipo de liga como do sistema de dispensamento de mistura.

As ligas esféricas tendem a se misturar mais rapida-mente e, em geral, requerem um tempo de trituração mais curto. Isso é porque as partículas são mais facil-mente umedecidas que as partículas tipo limalha.

O tempo exato de trituração depende do sistema da mistura. Para um sistema vibrando a velocidade de 4.000 rpm, num deslocamento de 50 mm, o tempo de amalgamação pode ser tão breve como cinco segundos. Para um sistema mais lento, com velocidade de 2.600 rpm, o tempo de trituração pode ser de 20 segundos ou mais.

A recomendação geral é que é melhor errar para o lado da supertrituração que para o lado da subtritura-ção. Se acharmos que o amálgama está tomando presa muito rapidamente, então, o tempo de trituração deve ser aumentado, e não diminuído como se poderia ima-ginar; a trituração extra promoverá uma mistura mais plástica e com maior tempo de trabalho.

O tempo de trituração também afeta as alterações dimensionais que ocorrem quando o amálgama toma presa. O ideal é que o material deve se expandir leve-mente durante a presa, o que ajuda na adaptação das margens e reduz o potencial de infi ltração marginal.

Antes da introdução das cápsulas e dos amalgamado-res, os amálgamas tradicionais continham grandes par-tículas de liga que eram trituradas manualmente; essas formulações mostravam uma leve expansão quando após a presa total. A alteração dimensional em função do tempo é apresentada na Figura 2.1.5.

Existe uma contração inicial à medida que o mercúrio se difunde pela liga. Isso é seguido por uma expansão assim que a fase γ1 se forma, devido ao impingimento dos cristais de γ1 um com os outros, produzindo uma pressão de direção externa que se opõe à contração. Isso ocorre somente se uma quantidade sufi ciente de mercúrio estiver presente para produzir uma mistura plástica.

A introdução dos amalgamadores mecânicos de alta velocidade, baixas proporções de mercúrio:liga, tamanho pequeno de partículas e altas pressões de condensação reduziram a quantidade de mercúrio na mistura, favore-cendo a contração do amálgama, de forma que os amál-gamas modernos apresentam uma contração controlada depois de tomado presa.

CondensaçãoAs exigências mais importantes da técnica de conden-sação são que o máximo de excesso de mercúrio seja removido, que a restauração fi nal não seja porosa e que se obtenha uma ótima adaptação marginal de forma a impedir a sensibilidade pós-operatória.

Para as ligas tipo limalha, pode ser obtido um con-teúdo fi nal de mercúrio de 45%. Embora as reduções abaixo de 50% possuam pouco efeito na resistência à compressão após 24 horas, uma resistência à compressão imediata bem maior pode ser obtida, e a suscetibilidade ao creep é bastante reduzida. A alta resistência imediata reduz a probabilidade de fraturas do corpo do amál-gama durante as primeiras horas após a colocação. Isso se aplica igualmente aos sistemas de ligas esféricas, exceto naqueles casos em que o conteúdo fi nal de mercúrio é de aproximadamente 40%.

Os componentes importantes da condensação são o uso da força máxima; o uso de condensadores de tamanho adequado em relação ao tamanho da cavidade; o uso de porta-amálgamas efi cientes e; a inserção de pequenos incrementos.

Embora, em geral sejam recomendadas pressões de condensação de 30-40 N, isso não signifi ca que pressões menores de condensação fornecerão um resultado mais defi ciente, uma vez que as baixas pressões de condensa-ção podem ser compensadas pela colocação de pequenos incrementos. A colocação de grandes incrementos não só

Expansão

Tempo

Figura 2.1.5 Alteração dimensional de um amálgama misturado tradicionalmente de forma manual (a) e um amálgama misturado mecanicamente (b).

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO86

levará à formação de grandes quantidades de γ1 e γ2, mas também produzirá alto nível de porosidade.

A condensação dos amálgamas de liga esférica requer uma abordagem diferente dos sistemas de partículas tipo limalha. Uma vez que a mistura escoa mais facilmente mesmo com pequena pressão, pequenas cargas necessi-tam ser aplicadas por condensadores maiores, se possível. No entanto, uma íntima adaptação marginal parece ser mais difícil com o amálgama de liga esférica devido ao maior tamanho dos grãos destas ligas.

Escultura e PolimentoA habilidade em esculpir um amálgama é proporcional ao tamanho e ao formato das partículas da liga. Geralmente, as ligas esféricas produzem um acabamento superfi cial inicial melhor que as ligas de partículas tipo limalha.

A necessidade de polimento do amálgama numa segunda consulta é um assunto em debate. Alguns argumentam que o polimento é necessário por nenhuma outra razão senão a melhoria da estética, enquanto que outros apontam para o alto conteúdo de mercúrio residual na camada superfi cial, e indicam que este deva ser removido.

Pode ser verdade que uma fi na camada superfi cial tenha preponderância das fases γ1 e γ2, mas essa camada é provavelmente tão fi na que seria rapidamente des-gastada. De maneira similar, existe controvérsia sobre a necessidade ou não da brunidura. Costumava-se dizer que a brunidura dos amálgamas originaria uma camada superfi cial rica em mercúrio, que aumentaria a possibi-lidade de corrosão ou fratura. Contudo, estudos mais recentes têm indicado que a brunidura proporciona o aumento da dureza superfi cial, a redução da porosidade e diminuição da corrosão, melhorando também a adap-tação marginal do amálgama.

A superfície esculpida do amálgama é certamente áspera, e por isso é necessária alguma forma de acaba-mento adicional. As opções são chamar o paciente nova-mente no dia seguinte para polir a restauração ou brunir a restauração no mesmo dia da colocação. A brunidura pode ser um substituto efi ciente do polimento conven-cional dos amálgamas de partícula tipo limalha e, pelo tempo que tem sido usada, associa-se a ela uma melhor integridade marginal.

LIMITAÇÕES DOS AMÁLGAMAS DENTÁRIOS

O uso dos amálgamas dentários tem sido tema de consi-deráveis discussões desde a introdução das novas resinas compostas e dos cimentos de ionômero de vidro. Alguns sugeriram que o uso dos amálgamas deveria ser suspenso. Dado que os amálgamas têm proporcionado um exce-lente serviço por mais de 100 anos, isso parece ser um ponto de vista um tanto extremo. Não obstante, os amál-gamas dentários possuem várias desvantagens.

Estética Defi ciente

Por serem restaurações metálicas, os amálgamas não são as opções visualmente mais atrativas, contudo, se forem polidas mais frequentemente que a prática atual, podem parecer mais apresentáveis.

O polimento fi nal é perdido com o tempo, devido ao deslustre. Embora haja uma demanda crescente dos pacientes por restaurações mais estéticas, no caso de dentes posteriores, o aspecto mais importante a ser con-siderado é a durabilidade.

Toxicidade do Mercúrio

Não se pode negar que o mercúrio é uma substância altamente tóxica e demanda o máximo de cuidado. As principais fontes de exposição ao mercúrio provêm de:

■ derramamento acidental;■ pouca higiene ao manipular o mercúrio;■ contato direto com o mercúrio;■ amalgamadores; e■ confecção de novas restaurações e remoção das an -

tigas.

O efeito nocivo potencial mais sério é do vapor de mercúrio, e a fonte mais signifi cante desse vapor é o der-ramamento do mercúrio durante o procedimento opera-tório. O uso de amálgama em cápsulas pode minimizar esse risco.

A equipe odontológica está sob maior risco de conta-minação por mercúrio, pois o material é manipulado dia-riamente. Quando acontece algum derramamento, o fato é de interesse de todos, principalmente da equipe odon-tológica, que manuseia direta e intensamente o material. Qualquer mercúrio dispersado vaporizará gradualmente, sendo então inalado. O limite de exposição nociva ao mercúrio no ar para a população geral é de 50 μg/m3 de ar. Sabe-se, da experiência com operários de fábricas que trabalham com mercúrio, por exemplo, fábricas de termômetro, que se esse limite for ultrapassado, sinais de envenenamento por mercúrio aparecerão. Esses sinais incluem tremor nas pernas, coceiras, erupções cutâneas, perspiração excessiva, taquicardia, febre de baixas tem-peraturas intermitentes, irritabilidade, alteração da per-sonalidade, insônia, cefaleia, hipertensão, fadiga crônica e disfunção neurológica.

Devem ser adotadas boas práticas de precaução com o mercúrio, e elas incluem:

■ uso de técnica sem contato manual;■ uso de amalgamadores mecânicos com boa vedação;■ armazenagem de mercúrio e amálgama antigo em

água num recipiente inquebrável, fechado hermetica-mente; e

■ limpeza imediata do mercúrio derramado.

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Percebe-se que os pacientes estão sob menor risco de inalação do mercúrio que a equipe odontológica. Certamente ocorre ingestão pela inalação do vapor de mercúrio durante a colocação de um amálgama, mas acredita-se que esteja bem abaixo do limite de 50 μg/m3. No entanto, existem alguns episódios em que os pacien-tes reagiram muito mal à presença do amálgama em suas bocas, devido a uma reação de hipersensibilidade tardia ao mercúrio. Embora essas reações alérgicas sejam bem raras, seus sintomas podem ser graves, e o dentista deve estar atento para tal possibilidade. Há também relatos de reações locais tipo liquenoide associadas à presença do amálgama e à remoção da restauração de amálgama é recomendada quando existir um contato evidente com a lesão.

Além da inalação do vapor de mercúrio, o desgaste e a corrosão contribuirão com a carga corpórea total de mer-cúrio. Em média, acredita-se que a ingestão do mercúrio pelo organismo de restaurações de amálgama esteja bem abaixo do limite de 30 μg/dia, recomendado pela Orga-nização Mundial da Saúde. Todavia, deve-se considerar que isso é apenas uma estimativa e é possível que alguns pacientes, possivelmente devido à mastigação excessiva ou ao bruxismo, possam possuir um nível de mercúrio em seu organismo acima da média. Também foi mos-trado in vitro que agentes clareadores à base de peróxido de carbamida podem aumentar a liberação de mercúrio das restaurações de amálgama. Portanto, os pacientes que se queixam dos sintomas de toxicidade por mercúrio devem ser tratados com cuidado e consideração.

A continuidade do uso dos amálgamas dentários se tornou um assunto controverso em vários países da Europa. Na dentição decídua, o uso dos amálgamas den-tários reduziu bastante com o advento dos compômeros e dos cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina, tanto que somente em poucos países o amálgama é o material de escolha. O mercúrio das restaurações contamina o ambiente e contribui com a carga total de mercúrio na comunidade. Em alguns países, onde existe controle cuidadoso do uso do mercúrio, isso signifi ca que o amálgama dentário pode ter uma contribuição relevante para a carga total de mercúrio. Em tais circuns-tâncias uma forte campanha pode ser necessária para desencorajar o uso dos amálgamas dentários, na condi-ção de que se esclareça sobre a elevação do custo do tra-tamento odontológico em consequência dessa decisão. Embora o uso do mercúrio na odontologia seja de apenas 3% da quantidade total usada mundialmente, todos os dentistas devem ser estimulados a adotar as boas práticas odontológicas de higiene do mercúrio e implementar os procedimentos de gerenciamento de resíduos para impedir a entrada do mercúrio no ambiente.

Não obstante, as preocupações com a biocompatibili-dade dos amálgamas de mercúrio são sufi cientes para se considerar seriamente o uso de ligas alternativas.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

É importante que seja enfatizada a manipulação segura do amálgama dentário, para toda a equipe odontológica em todos os momentos oportunos.

Uma tentativa é substituir o mercúrio por gálio, que possui a segunda temperatura de fusão mais baixa depois do mercúrio. Quando amalgamado com o estanho e o índio, é produzido um líquido em temperatura ambiente. Ligas pulverizadas de composição próxima com as ligas usadas nos amálgamas de mercúrio são misturadas com esse líquido, que produz uma mistura com caracterís-ticas de manipulação adequadas para ser condensada na cavidade. Embora a liga resultante tenha proprie-dades físicas e mecânicas similares às do amálgama de mercúrio, a excessiva expansão de presa e propriedades defi cientes de manipulação precisam ser superadas antes que esses materiais possam ser considerados um substi-tuto viável.

Em outra abordagem, o metal líquido é eliminado de vez com o uso de solda a frio de partículas pré-amal-gamadas cobertas por prata. A soldagem a frio ocorre onde existe contato prata com prata entre as partículas. Tal processo é promovido pela exposição das partícu-las a um ácido fraco para remover quaisquer contami-nantes da superfície, que podem interferir na solda a frio. Um problema com esse material é a alta pressão de compactação necessária para consolidar as partículas de prata. Embora seja um material promissor, ele ainda está em estágio de desenvolvimento e ainda não disponível comercialmente.

Alta Condutividade Térmica

Como se pode esperar de um material metálico, a condu-tividade térmica dos amálgamas dentários é muito alta. Os problemas decorrentes disso, tais como a sensibili-dade pulpar devido ao efeito hidrodinâmico do bombe-amento do fl uido através da fenda marginal para dentro e fora dos túbulos dentinários, são facilmente contorna-dos pelas técnicas adequadas de preparo cavitário envol-vendo o uso de vernizes ou forradores (Cap. 2.4)

Efeitos Galvânicos

Quando duas restaurações metálicas com metais de dife-rentes graus de eletronegatividade são colocadas próxi-mas uma da outra em um meio eletricamente condutor (nesse caso, o meio é a saliva), é possível que se estabeleça uma célula galvânica.

As correntes resultantes podem causar desconforto aos pacientes ou deixar um forte gosto metálico na boca, podendo acelerar a falha corrosiva no metal mais eletro-

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negativo. Assim, embora o problema raramente apareça, não é recomendado o uso de metais diferentes na boca.

Falta de Adesão

A necessidade do uso de desenhos cavitários retentivos com os amálgamas dentários impõe uma severa limi-tação. Frequentemente, uma grande quantidade de esmalte ou dentina perfeitamente hígidos é removida sob a bandeira da “extensão preventiva”. Esse princípio é questionável, já que o amálgama nunca poderá ser substituto dos tecidos dentários sadios. Novas ideias de preparo cavitário centradas na minimização da remoção de tecido dentário sadio foram desenvolvidas, mas nunca serão tão conservadoras como a abordagem para os mate-riais restauradores adesivos. Com o intuito de superar a desaprovação dos amálgamas dentários, foi sugerido que a adesão do amálgama aos dentes poderia ser feita, pois possuiria os benefícios de reforçar o dente, auxiliar na retenção e preservar a estrutura dental. De maneira geral, a adesão é obtida pela combinação de um sistema adesivo dentinário e cimento resinoso, que são coloca-das antes do amálgama dentário, embora outras opções, tais como as resinas autoadesivas, também tenham sido cogitadas. Os benefícios oriundos desta abordagem são discutíveis, exceto, talvez, em situações em que a reten-ção esteja seriamente comprometida.

Falta de Resistência e Tenacidade

Como observado, os amálgamas dentários são materiais restauradores muito frágeis, com baixa resistência à tração. A forma de lidar com isso é usar o material como um bloco, reduzindo o grau de fl exão da restauração, que reduzirá as tensões de tração. Tendo assim, os preparos cavitários devem ser desenhados de forma a se evitar que regiões muito delgadas de amálgama sejam formadas. Isso signifi ca que as caixas devem ser profundas e os ângulos marginais devem estar próximos dos 90°, sempre que possível. Uma consequência disto é que inerentemente o amálgama não conserva a estrutura dental. Portanto, em situações de pequenas lesões de cárie primária, o uso do amálgama dentário pode ser contraindicado por ser muito destrutivo ao tecido dentário, e neste caso é prefe-rível um material alternativo como a resina composta.

Tempo de Vida Reduzido das Restaurações de Amálgama

A cada ano, são realizadas centenas de milhares de res-taurações de amálgama e, em média, a metade delas é substituição de restaurações existentes. A longevidade das restaurações de amálgama tem sido assunto de vários estudos clínicos, alguns evidenciando que a metade destas restaurações necessitará de substituição dentro de quatro a cinco anos.

Em média, o tempo de sobrevivência das restaura-ções de amálgama é inversamente proporcional ao seu tamanho. Para complicar, o contorno cavitário é aumen-tado em pelo menos 0,5 mm a cada substituição da res-tauração de amálgama, criando uma restauração maior. Em geral, portanto, quanto menor a restauração, maior a sua sobrevivência.

De todas essas desvantagens mencionadas, a falta de longevidade e a natureza destrutiva do procedimento são os aspectos principais. As formas de fazer as restaurações durarem por mais tempo serão consideradas a seguir.

MELHORANDO A LONGEVIDADE DAS RESTAURAÇÕES DE AMÁLGAMA

Nas últimas três décadas, muitos pesquisadores têm observado as técnicas convencionais do amálgama com um olhar crítico. Os motivos que justifi cam a substitui-ção do amálgama estão usualmente associados a:

■ fratura dental;■ cárie recorrente;■ fratura do corpo do amálgama; e■ falha marginal.

A falha marginal pode surgir tanto pela fratura das margens do amálgama como das margens de esmalte. Dos fatores citados, a cárie recorrente é considerada a razão mais comum para a substituição da restauração de amálgama (correspondendo a 70% das substituições).

Alguns fracassos são inevitáveis e estão relacionados às propriedades adversas dos amálgamas, mas outros podem ser evitados, levando em consideração as limita-ções dos amálgamas, adotando as técnicas adequadas e evitando as falhas no desenho cavitário e técnica clínica defi ciente.

Fratura Dental

Estrutura Dental EnfraquecidaQuanto mais se remove tecido dentário, mais fraco se torna o dente. O amálgama dentário atua como um efetivo material de preenchimento, mas como não possui nenhuma qualidade adesiva, ele não auxilia no fortale-cimento da estrutura dental remanescente. Portanto, as técnicas envolvendo a mínima remoção do tecido den-tário devem ser sempre empregadas.

Cortando o esmalte paralelo ao longo eixo da direção dos prismas, é possível manter a forma de contorno a menor possível. Essa prática também assegura que os ângulos cavo-superfi ciais estejam próximos de 90°, o que é ótimo para o amálgama; já que os ângulos cavo-superfi ciais agudos favorecem a fratura marginal do amálgama.

Atualmente existe uma série de adesivos que permite a adesão do amálgama aos tecidos dentários. A adesão

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AMÁLGAMAS DENTÁRIOS 89

fornece suporte adicional tanto à restauração como a cúspide, ajudando a fortalecer a coroa dental restaurada. Como a durabilidade da adesão é ainda desconhecida, o desenho da cavidade ainda deve ser de forma a evitar regiões potenciais de fratura. Em caso de cúspides grave-mente enfraquecidas, devem ser consideradas técnicas alternativas, tais como onlay de ouro ou cerâmicas ade-ridas por resina.

Esmalte EnfraquecidoO princípio de planifi ciar paredes e soalhos numa cavi-dade pode causar o enfraquecimento do esmalte, como mostra a Figura 2.1.6 numa caixa proximal de uma restauração. O esmalte sem apoio se desprende deixando uma fenda, o que pode levar à recorrência da cárie.

Cárie ResidualÉ de importância fundamental a remoção de toda a cárie residual. Se não, a cárie se alastra e enfraquece a cúspide, podendo causar a sua fratura. A infi ltração de toxinas bacterianas também causa infl amação pulpar.

Recorrência da Lesão de Cárie

ContaminaçãoA contaminação da cavidade por sangue ou saliva resulta na adaptação defi ciente da restauração às margens cavitárias.

Técnicas Defi cientes de Colocação da MatrizUma fi ta de matriz adaptada inadequadamente pode ser causa de sobrecontorno marginal ou da falta de pontos

de contato com os dentes adjacentes. O sobrecontorno é particularmente propenso ao acúmulo de placa, podendo desencadear a recorrência de cárie. Se o sobrecontorno for subgengival, ele pode causar irritação dos tecidos moles e levar à formação de bolsa periodontal e perda óssea. Uma fi ta de matriz muito apertada pode causar a fratura das cúspides dentais que foram enfraquecidas pela remoção de grande quantidade de tecido dentário.

Condensação InsatisfatóriaComo já observado, a condensação insatisfatória resulta na porosidade do amálgama e na presença de excesso de mercúrio, ambas reduzindo a resistência do amálgama. A adaptação marginal também será insatisfatória, aumen-tando o potencial de infi ltração marginal, cárie recorrente e corrosão. Para uma boa condensação, é importante que o amálgama seja bem-misturado e que o tempo ade-quado de trituração seja executado. A subtrituração, em particular, deve ser evitada, pois resultará numa mistura seca que não permitirá condensação adequada

Fratura do Corpo do Amálgama

Preparos RasosOs amálgamas dentários possuem resistência à tração muito baixa. Quando colocados em seções fi nas, eles estão sujeitos a forças de fl exão e fraturam. Os preparos rasos só são aceitáveis em restaurações muito peque-nas, onde a área superfi cial é pequena em comparação à profundidade. Para restaurações MOD amplas, deve haver profundidade sufi ciente na cavidade no soalho oclusal para fornecer massa sufi ciente para resistir às

Amálgama Dentina Esmalte

Figura 2.1.6 Se o soalho gengival da caixa proximal não for terminado (a), então o esmalte sem suporte irá se fraturar (b) e levar à recorrência da cárie. O biselamento do esmalte (c) evita essa ocorrência, mas é necessário fazer uma canaleta no soalho gengival da dentina para resistir ao deslocamento proximal da restauração.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO90

forças de fl exão. Isso pode exigir a remoção de grande quantidade de tecido dentário sadio.

Caixas Proximais Não RetentivasUma falha observada frequentemente nas restaurações MO, DO ou MOD é a fratura das caixas proximais da seção oclusal do material restaurador. Isso se deve em algum grau à baixa resistência à tração da restauração de amálgama, já que uma carga oclusal pode forçar o amálgama a se deslocar para fora. Todavia, os ângulos lineares internos agudos agravam a situação, que no fi nal leva à fratura e perda da caixa. O risco dessa ocor-rência pode ser reduzido preparando-se canaletas de retenção nas paredes laterais e no soalho gengival das caixas. Essa técnica assegura que a caixa seja autorre-tentiva e se oponha à ação de deslocamento gerado por uma carga oclusal, resistindo ao deslocamento da restauração em direção proximal. Uma vantagem adi-cional é que não é necessária uma retenção oclusal para a retenção da restauração. Então, o preparo adicional das fi ssuras oclusais não é necessário quando uma lesão primária está confi nada somente à superfície proximal; esse tipo de preparo é em geral descrito como preparo em “cunha”.

Ângulos Internos VivosA presença de ângulos internos vivos permite a concen-tração de tensões locais, que aumenta o risco de fratura tanto dos dentes como da restauração, como mostra a Figura 2.1.7. Tais ângulos nítidos devem ser evitados, optando-se por superfícies internas arredondadas. Por

exemplo, as caixas proximais devem ser na forma de pêra, para se conformar à extensão da lesão subjacente, e não devem ser preparadas com ângulos vivos.

Falha Marginal

Ângulos Cavo-superfi ciais IncorretosA causa primária da falha marginal de um dente res-taurado é a presença de um ângulo cavo-superfi cial incorreto, levando à fratura marginal do esmalte ou do amálgama. A falha marginal do amálgama ocorre mais facilmente quando o amálgama possui um ângulo marginal agudo. O amálgama é muito frágil e possui uma resistência à tração muito baixa (60-70 MPa), então qualquer margem pontiaguda resultante irá fraturar facilmente conforme ela se fl exiona sob aplicação de uma carga externa. Isso contrasta com os inlays de liga de ouro, que não apresentam os sinais de falha marginal da liga porque esse material é tenaz e dúctil. Conse-quentemente, a falha é menos provável de ocorrer nos ângulos marginais maiores que 70°, já que isso evita as bordas estreitas de amálgama.

A prática de preparar as paredes cavitárias perpendi-cularmente no aspecto oclusal da cavidade favorece a produção de ângulos marginais agudos no amálgama (Fig. 2.1.8a). Não é possível alterar o ângulo de toda a parede cavitária porque o contorno cavitário se apro-ximaria muito ou poderia até perfurar o corno pulpar (Fig. 2.1.8b). Um método aceitável de superar esse pro-blema é confi nar a angulação aguda somente ao esmalte, como representado na Figura 2.1.8c.

Carga

Amálgama Dentina Esmalte

(c)(b)(a)

Concentraçãode tensões

Distribuição detensões mais

uniforme

CargaCarga

Figura 2.1.7 Ângulos lineares internos vivos (a) podem levar à fratura da cúspide (b) sob forte carga oclusal. As tensões de tração são concentradas no ângulo linear, porém isto pode ser consideravelmente reduzido, criando-se ângulos lineares arredondados (c).

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AMÁLGAMAS DENTÁRIOS 91

Em cavidades oclusais de largura muito reduzida, não é necessário preparar ângulos cavo-superfi ciais de 90° no esmalte porque o amálgama pode ser esculpido numa forma plana sem interferir com o dente antagonista. O ângulo marginal do amálgama será então obtuso, que dará à margem a resistência adicional devido ao apoio de todo o corpo do material restaurador.

Muito cuidado deve ser empregado no preparo das margens cavitárias, de forma a evitar esmalte sem suporte ou ângulos marginais agudos no amálgama.

Expansão TardiaNo caso de ligas contendo zinco, o confi namento de saliva no material durante a sua colocação pode resultar num fenômeno conhecido como expansão tardia. A água reage com o zinco conforme a seguinte reação:

H2O + Zn → ZnO + H2

Bolhas do gás hidrogênio são formadas dentro do amálgama. A pressão aumenta com o tempo, conforme mais e mais hidrogênio é produzido e armazenado em bolhas. Finalmente, a pressão pode ser tão grande que as bolhas se expandem, causando a expansão da restaura-ção. Essa expansão ocorre durante os estágios iniciais dos amálgamas de presa lenta, já que eles são incapazes de resistir à pressão até terem tomado presa por completo. A expansão pode causar uma pressão interna sobre a polpa ou causar a protrusão da restauração acima da superfície. A primeira causará dor pulpar e o último levará à falha marginal. Em dentes gravemente destruídos, a expansão pode causar também fratura da cúspide. Esse problema pode ser minimizado usando-se isolamento adequado e a seleção de um amálgama de presa rápida.

Sobrecontorno, Subcontorno e Escultura pronunciadaSe uma cavidade for superpreenchida e depois não escul-pida o sufi ciente para promover uma transição suave da superfície dental para a superfície da restauração, ocor-rerá a formação de um degrau. Esse degrau poderá, fi nal-mente, se fraturar, dando um aspecto de falha marginal à restauração. Isso pode encorajar o cirurgião-dentista a substituir a restauração, quando, talvez, fosse necessário apenas um novo polimento de forma que a restauração se nivelasse à superfície dental. Tal tratamento desneces-sário pode ser evitado ao se assegurar que a superfície seja esculpida de forma adequada pós-inserção da res-tauração. Da mesma forma, um subpreenchimento ou escultura pronunciada (profunda) pode resultar em uma restauração com ângulo agudo que dará origem à fratura marginal.

Creep e Corrosão do AmálgamaOs problemas associados ao amálgama como um mate-rial restaurador já foram abordados detalhadamente, tanto em termos das limitações impostas pelas suas pro-priedades físicas e mecânicas quanto pela sua manipu-lação. A maioria das falhas em curto prazo pode ser evitada se os fatores abordados forem considerados e se for prestada uma atenção cuidadosa ao detalhamento do preparo cavitário e manipulação do material. Em longo prazo, os amálgamas poderão falhar. Quando tais falhas são relativas especifi camente ao material, elas são em geral associadas ao creep ou à corrosão, que causam a fratura marginal.

(a) (b) (c)

Figura 2.1.8 Um ângulo cavo-superfi cial obtuso (a) produz um ângulo marginal agudo na restauração que levará à fratura marginal e deve ser corrigido. Em (b), o ângulo cavo-superfi cial é agora próximo ao ideal, mas pode dar origem a uma exposição pulpar. Um método aceitável é mostrado em (c), onde o ajustamento é confi nado ao esmalte, sem aumento da forma de contorno.

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IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O ideal é que a liga de amálgama de escolha deve apresentar nenhum ou pouco creep e deve possuir alta resistência à corrosão. Evidências clínicas e laboratoriais indicam que um amálgama com alto teor de cobre e contendo zinco é a escolha de preferência.

RESUMO

Os amálgamas dentários continuarão a ser o material restaurador de escolha em muitas situações clínicas. Dedicando cuidadosa atenção à seleção do material e à manipulação e considerando suas limitações, os amálga-

mas podem fornecer ao paciente o restabelecimento da função mastigatória por muitos anos.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Considerando que qualquer alternativa mais estética que o amálgama consome mais tempo para a execução e envolve procedimentos mais complexos, e que os amálgamas dentários possuem comprovação de seu bom desempenho clínico, esse material continua a ser o material restaurador mais conveniente para uso em dentes posteriores. Todavia, as exigências estéticas dos pacientes e o desejo do dentista em preservar a estrutura dental conduzirão ao desuso dos amálgamas dentários.

LEITURA COMPLEMENTAR

Brown D (1988) Dental amalgams. Brit Dent J 164: 253Buerkle V et al (2005) Restoration materials for primary

molars – results from a European survey. J Dent 33: 275Elderton RJ (1984) New approaches to cavity design. Brit Dent

J 157: 421Eley BM, Cox SW (1988) Mercury poisoning from dental

amalgam – an evaluation of the evidence. J Dent 16: 90Hamilton CJ et al (1983) Marginal fracture not a predictor of

longevity. J Prosthet Dent 50: 200Letz H, Vrijhoef MA (1984) Long-term infl uences on marginal

fracture of amalgam restorations. J Oral Rehab 11: 95Letzel H et al (1997) The infl uence of the amalgam alloy on

the survival of amalgam restorations: a secondary analysis of multiple controlled clinical trials. J Dent Res 76: 1787

Mahler DB (1997) The high-copper dental amalgam alloy. J Dent Res 76: 537

Mahler DB, Nelson LW (1994) Sensitivity answers sought in amalgam alloy microleakage study. J Amer Dent Assoc 125: 282

Mjor IA (1985) Frequency of secondary caries at various anatomical locations. Oper Dent 10: 88

Papadogiannis Y, Boyer DB, Lakes RS (1987) Creep of amalgam at low stresses. J Dent Res 66: 1569

Ritchie KA et al (2004) Mercury vapour levels in dental practices and body mercury levels of dentists and controls. Brit Dent J 197: 625

Roulet J-F (1997) Benefi ts and disadvantages of tooth-coloured alternatives to amalgam. J Dent 25: 459

Sarkar NK (1978) Creep, corrosion and marginal fracture of amalgam fi llings. J Oral Rehab 5: 413

Setcos JC, Staninec M, Wilson NH (2000) Bonding of amalgam restorations: existing knowledge and future prospects. Oper Dent 25: 121

Shaini FJ et al (2001) A comparison of the mechanical properties of a gallium-based alloy with a spherical high-copper amalgam. Dent Mater 17: 142

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Summitt JB et al (2004) Six-year clinical evaluation of bonded and pin-retained complex amalgam restorations. Oper Dent 29: 261

Xu HHK et al (1999) Three-body wear of a hand-consolidated alternative to amalgam. J Dent Res 78: 1560

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93

Capítulo 2.2

RESINAS COMPOSTAS E RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO

INTRODUÇÃO

Um compósito, como o nome indica, consiste em uma combinação de dois ou mais materiais. Cada um desses materiais contribui para as propriedades gerais do com-pósito, e está presente em sua forma separada (Cap. 1.6). Resinas compostas são possivelmente os materiais dis-poníveis mais disseminados na Odontologia, pois são usados numa grande variedade de aplicações clínicas, abrangendo materiais restauradores, agentes de cimenta-ção, restaurações indiretas e revestimento de metais para pinos endodônticos e núcleos.

Uma adição relativamente recente a esse já grande número de materiais odontológicos à base de resina é a resina composta modifi cada por poliácido, ou compôme-ros, na forma abreviada. Neste capítulo, consideraremos primeiro as resinas compostas e depois exploraremos como os compômeros diferem das resinas compostas.

COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA

Materiais restauradores baseados em resinas compostas (“compósitos” na forma resumida) que são usados na Odontologia possuem três componentes principais:

■ uma matriz resinosa orgânica;■ uma carga inorgânica;■ um agente de união.

A resina forma a matriz do material composto, unindo as partículas individuais de carga por meio do agente de união (Fig. 2.2.1).

Matriz Resinosa

A resina é o componente quimicamente ativo do com-pósito. Ela é inicialmente um monômero fl uido, mas é convertida em um polímero rígido por uma reação de adição por radicais. É essa habilidade de se converter de

uma massa plástica em um sólido rígido que permite o uso desse material para restauração de dentes.

O monômero mais usado tanto para resinas anteriores quanto para posteriores é o Bis-GMA, que é derivado da reação do bisfenol-A e do glicidil metacrilato. Essa resina é denominada resina de Bowen, devido ao seu inventor. Ela possui um peso molecular maior que o do metil meta-crilato, que ajuda a reduzir a contração de polimerização (Fig. 2.2.2). O valor de contração de polimerização para as resinas de metil metacrilato é 22% vol., enquanto para uma resina de Bis-GMA, ela é 7,5% vol. Existe também vários compósitos que usam resina de uretano dimeta-crilato (UDMA) ao invés do Bis-GMA.

Monômeros de Bis-GMA e uretano dimetacrilato são fl uidos altamente viscosos por causa de seus elevados pesos moleculares; a adição mesmo de uma pequena quantidade de carga poderia produzir um compósito com uma rigidez excessiva para uso clínico. Para superar esse problema, monômeros de baixa viscosidade conhecidos como con-troladores de viscosidade são adicionados, tais como metil metacrilato (MMA), etileno glicol dimetacrilato (EDMA) e trietileno glicol dimetacrilato (TEGDMA); este último é o mais usado. As estruturas químicas de alguns desses monômeros são apresentadas na Tabela 2.2.1.

Para assegurar prazo de validade adequadamente longo para o compósito, é essencial que a polimerização prematura seja prevenida. Para essa fi nalidade, um ini-bidor, como hidroquinona, é incluído, usualmente em quantidades de 0,1% ou menos.

A matriz resinosa também contém sistemas ativador/inibidor para atingir a polimerização. Esses componentes dependem do tipo de reação empregada, que pode ser polimerização química ou fotopolimerização.

Carga

Uma ampla variedade de cargas tem sido empregada nos compósitos para melhorar as propriedades. Essa prática se iniciou no fi nal dos anos 1950, quando cargas, como o quartzo, foram introduzidas nos materiais restauradores

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO94

à base de metil metacrilato. A inclusão das cargas propor-cionou cinco potenciais e principais benefícios:

1. A polimerização do monômero de metil metacrilato está sujeita a uma elevada contração de polimerização (21% vol.), mesmo quando usada com um sistema pó-líquido (7% vol.). Pela incorporação de grandes quantidades de partículas de vidro, a contração de polimerização é muito reduzida porque a quantidade de resina usada é diminuída e a carga não participa do processo de polimerização. Entretanto, a contração não é totalmente eliminada e dependerá do monô-mero usado e da quantidade de carga incorporada.

2. Monômeros de metacrilato têm um alto coefi ciente de expansão térmica (quase 80ppm/°C). Esse coefi -ciente é reduzido pela adição de partículas cerâmicas, que tem um coefi ciente de expansão térmica similar àquele dos tecidos dentários (8-10ppm/°C).

3. A carga pode melhorar as propriedades mecânicas tal como a dureza e a resistência à compressão.

4. O uso de metais pesados, tais como bário e estrôncio incorporado no vidro, proporciona radiopacidade.

5. As cargas proporcionaram o meio ideal para o controle de várias características estéticas, tais como: cor, trans-lucidez e fl uorescência.

O desenvolvimento da tecnologia de cargas estão na raiz de muitas das melhoras que levaram os compósitos ao que são utilizados hoje.

Agente de União

Para um compósito ter propriedades mecânicas acei-táveis, é da maior importância que a carga e a resina estejam fortemente unidas umas às outras. Se existir uma falha nessa interface, o estresse desenvolvido quando uma carga é aplicada não será distribuído efi cientemente por todo o material; a interface agirá como uma fonte primária de fratura, levando à subsequente desintegração do compósito.

A união é alcançada pelo uso de agentes de união que são incorporados na resina. Esses agentes de união são

os silanos e um dos mais usados em resinas compostas com carga de vidro é o γ-metacriloxipropiltrietoxisilano, ou γ-MPTS resumidamente, mostrado na Figura 2.2.3 (Cap. 1.10).

É muito importante que exista uma união forte e durável entre a resina e as partículas de carga. Primeiro, se não existe união, então a tensão transferida entre a resina e o vidro será feita de forma inefi ciente e, como consequência, a maior parte da tensão terá sido trans-mitida pela matriz resinosa. Isso resultará em excessivo creep e fi nalmente fratura ou desgaste da restauração. Segundo, a ausência de união entre a resina e as partí-culas de vidro criará sítios de iniciação de fendas. Uma vez que as resinas não possuem uma elevada resistência à propagação de fendas, isso torna o compósito suscetível à falha por fadiga (Fig. 2.2.4).

O problema fundamental é que as resinas são hidro-fóbicas, enquanto vidros à base de sílica são hidrofílicos, devido a uma camada de superfície de grupos hidroxil ligados à sílica. Assim, a resina não possui uma afi nidade natural para se unir à superfície do vidro (Fig. 2.2.5).

Agente deunião silano

Matriz resinosa

Carga de vidro

Metil metacrilato

Contração de polimerização

Contração de polimerização

Bis-GMA

Figura 2.2.2 Contração de polimerização de um sistema baseado em monômeros pequenos e grandes. Figura 2.2.1 Estrutura de um material restaurador em

compósito.

γ

CH3

OCH32CH CH CH2 2C C O Si

OCH3

OCH3

CH2

CH3

OH2CH CH CH2 2C C O Si

OH

OH

CH2

O

O

-metacriloxipropiltrimetoxisilano

Ativação ácida

Figura 2.2.3 Estrutura do agente de união silano antes e depois de ativação ácida.

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RESIN

AS C

OM

POSTA

S E RESIN

AS C

OM

POSTA

S MO

DIFIC

AD

AS PO

R PO

LIÁC

IDO

95

Tabela 2.2.1 Estrutura química de alguns monômeros

CH3

CH3

C

C O

O

CH2

Metil metacrilato

CH3

Síntese do Bis-GMA

OH

Bisfenol A

CH3

OH + 2C CH2 CH2 CH2

CH3

C CCH

O

O

O

Glicidil metacrilato

CH3

CH2 CH2 CH2 CH2CH

OH CH3

CH3

Bis-GMA

CH2 CH2

CH3

CH

OH

O O

O

C C CC O O

O

C

CH3 CH3

CH2CH2

(CH2)2 (CH2)2 (CH2)2

C

C

C

C

O O O

O

O

O

Trietileno Glicol Dimetacrilato

CH3

CH2

CH2 CH2 C C

C

CH

N

O O

OO

CH3 CH3

CH3

CH2

CH3

CH(CH2)2 (CH2)2 (CH2)2

C

C

CO

O

O

O H

N

Uretano dimetacrilato

OHHO

Hidroquinona

Page 107: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO96

A solução para o problema reside no uso de um agente de união adequado. O agente de união silano foi esco-lhido, pois possui grupos hidroxil em uma extremidade, que são atraídos pelos grupos hidroxil na superfície do vidro. A outra extremidade consiste em um grupo meta-crilato que é capaz de se ligar à resina por dupla ligação com o carbono (Fig. 2.2.6). Uma reação de condensação na interface entre o vidro e o agente de união silano assegura que o silano esteja covalentemente ligado à

superfície do vidro (Fig. 2.2.7). Melhoras na qualidade da ligação entre a resina e a carga de vidro têm con-tribuído signifi cativamente para o desenvolvimento de materiais restauradores, resinas compostas resistentes ao desgaste, que possam ser usados tanto em dentes ante-riores quanto anteriores.

DESENVOLVIMENTOS EM COMPÓSITOS

Uma visão das mudanças ao longo das últimas décadas imediatamente identifi ca duas importantes áreas de desenvolvimento:

■ Nova tecnologia em resinas.■ Nova tecnologia em cargas.

Tecnologia da Resina

Técnicas de PolimerizaçãoO processo pelo qual um compósito na forma de pasta se torna um material duro é a polimerização da matriz resinosa monomérica.

Com os compósitos iniciais, isso foi alcançado pelo fornecimento de duas pastas, uma mistura da qual poderia conter ingredientes necessários para polimerização. Poderia ser um ativador, tal como uma amina terciária, numa pasta, e um iniciador, usualmente peróxido de benzoíla, na outra (veja o Capítulo 1.6, para obter deta-lhes desse sistema de polimerização).

10μm

Vidro de sílica

OH

MA

Figura 2.2.4 Imagem de microscopia eletrônica de varredura da ausência de união entre a matriz resinosa e as cargas de vidro.

Figura 2.2.5 Esquema das moléculas de monômero resinoso sendo repelidas na superfície do vidro, devido à presença dos grupos hidroxil no vidro.

Page 108: Introdução Aos Materiais Dentários

RESINAS COMPOSTAS E RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO 97

No início dos anos 1970, compósitos ativados por luz ultravioleta (UV) tornaram-se disponíveis. Nesses mate-riais, a luz UV foi usada para criar radicais livres para iniciar o processo de polimerização. A energia da luz UV é sufi ciente para quebrar a ligação central do éter metil benzoíl a para criar dois radicais livres. Assim, apenas uma única pasta era necessária, que não endureceria até a exposição à luz UV. Entretanto, existiam algumas des-vantagens com o uso dos sistemas de polimerização à luz UV. A luz UV pode causar queimaduras nos tecidos moles e também pode causar dano aos olhos. Assim, era essencial o uso de proteção e, em geral, grande cuidado era necessário para se usar unidades de fotopolimerização.

A fonte de luz UV é uma lâmpada à base de mercúrio, que é cara, sofre do problema de gradual redução da intensidade de luz com o uso, conforme a lâmpada vai fi cando mais velha e, tem um limite de profundidade de polimerização devido ao elevado grau de absorção de luz que ocorre durante o seu trajeto pelo compósito.

Entretanto, a praticidade de se ter uma pasta única, que poderia ter uma grande demanda, foi prontamente adotada pelos profi ssionais de odontologia e abriu cami-nho para a introdução de compósitos ativados por luz visível (ALV). Compósitos ALV usam a canforoquinona como fonte de radicais livres. A energia para excitação é menor que aquela para o éter metil benzoíla, de modo que a luz com o comprimento de onda na faixa do azul (entre 460-480nm) é muito efi ciente. Isso tem a vanta-gem de poder usar uma lâmpada halógena de quartzo que é mais barata, potencialmente menos danosa e a luz é mais diretamente transmitida ao longo do compó-sito promovendo maior profundidade de polimerização. Filtros especiais são usados para remover luz UV e infra-vermelha que são acionadas durante o uso, assim evi-tando queimaduras de tecidos moles e qualquer aumento de temperatura, respectivamente.

Os métodos de polimerização estão resumidos na Tabela 2.2.2.

Segurança Interesse tem sido demonstrado nos aspec-tos de segurança quanto ao uso da luz ultravioleta de alta intensidade e prevenção desses problemas tem sido faci-litado pelos novos sistemas de ALV. O uso da expressão “luz visível” introduz um sentimento de segurança, uma vez que é algo ao qual estamos expostos a todo tempo. Todavia, é prudente não se expor desnecessariamente à luz das unidades de produção de luz visível, uma vez que

Vidro de sílica

OH

MA

Silano

Figura 2.2.6 Esquema do agente de união silano agindo como um elo entre a resina de metacrilato e a superfície de vidro hidroxilada.

Mecanismode união

OH

Si O Si O Si O Si

Aplicação do silano

Condensação

Si

R

– nH O2

OH OH OH

O

Si O Si O Si

O O

Si SiO O OO

R R

Si O Si O Si O Si

O O

H HH

O

H

O

Si SiHO OHO OH

HR R

Figura 2.2.7 Aplicação e condensação do silano sobre a superfície de vidro de sílica.

Page 109: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO98

a luz azul em alta intensidade pode causar dano ocular. O uso de luz de alta intensidade por si só pode causar danos na retina, e existe potencial também para dano à retina devido ao uso de “luz azul danosa”. Pouco se sabe sobre o perigo da luz azul e quão sério um problema destes pode ser. Esses potenciais problemas são prontamente resolvidos pelo uso de proteção ocular e é melhor errar para o lado da cautela nesse assunto.

Percepção da Cor Outra difi culdade que um bom dentista precisa estar atento é aquela causada pelo longo período de exposição à luz de alta intensidade. Tal expo-sição pode alterar a sua percepção de cor, o que signifi ca que a seleção da cor adequada dos compósitos se torna então um real problema, especialmente quando da rea-lização de múltiplas restaurações ou quando se aplicam compósitos para facetas.

Inibição do Oxigênio Onde existe uma interface do ar com a resina, a resina não será polimerizada e uma

superfície pegajosa será prontamente discernível. Isso é um benefício quando da realização de procedimento de colocação de incrementos, pois assegura que uma camada do compósito se unirá bem à outra. Entretanto, isso pode ser um problema quando o último incremento é colocado. Quando é possível, usar uma tira de matriz, isto é em geral sufi ciente para eliminar o oxigênio e a resina será totalmente polimerizada até a superfície. Para a maioria dos sistemas resinosos, essa camada superfi cial inibida pelo oxigênio não é superior a poucos microme-tros abaixo da superfície. Assim, ela é facilmente remo-vida com uma bolinha de algodão, por exemplo, quando uma fi ssura é selada. No entanto, existem alguns sistemas resinosos em que a inibição do oxigênio é considerável e é necessário usar um gel especial para evitar o contato com o oxigênio no ar.

Profundidade de Polimerização Limitada Outra razão pela qual os compósitos ALV substituíram os sis-

Tabela 2.2.2 Métodos de polimerização

Quimicamente ativado

+

Ativador

CH3

N

n,n-dihidroxil-p-toluidina peróxido de benzoíla

O

O

O

O

O2

O

Iniciador

radicais livres

HOH5C2 C2H5OH

Ativação por luz ultravioleta

AtivadorIniciador

éter metil benzoico radicais livres

CH3CH3

CH2CH2

OO hn

Ativação por luz visível

Ar2C ArCRCH2CH2NR’ RCH2CHNR’O + +OH

Ativador

aminaα-di quetona

Iniciador

radicais livres

hn

Page 110: Introdução Aos Materiais Dentários

RESINAS COMPOSTAS E RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO 99

temas UV é que a profundidade de cura que pode ser atingida com a luz UV é consideravelmente menor que aquela obtida com a luz visível.

Em particular, existe um risco de polimerização incom-pleta com os sistemas UV quando usados em restaurações profundas, que poderia ser uma séria desvantagem em aplicações posteriores. Para compósitos polimerizados por luz UV, a profundidade máxima de polimerização é um pouco maior que 2,0 mm, enquanto para compósitos ALV, uma profundidade de polimerização de 3-4 mm é possível com uma boa fonte de luz e boa técnica.

Entretanto, a profundidade de polimerização é limi-tada para ambos os sistemas, e existe com frequência o risco de que as partes mais profundas da restauração não sejam completamente polimerizadas. Isso é um problema especialmente com as cavidades proximais de compósitos em dentes posteriores (Fig. 2.2.8). Todas podem parecer perfeitamente satisfatórias na superfície, mas a base da cavidades do compósito pode não estar completamente polimerizada, particularmente quando bandas de matriz de metal estão sendo usadas. Um alto grau de conversão de ligações duplas C=C nas resinas são altamente dese-jáveis para se alcançar ótimas propriedades mecânicas e isso está relacionado ao tempo de polimerização e à potência da unidade de fotopolimerização.

Qualquer falha na polimerização proporciona uma estrutura fraca para a restauração e pode levar à fratura. Isso é devido à ausência de suporte nas margens cervicais, causadas por rachaduras no material restaurador não polimerizado e o desenvolvimento de lesões de cáries recorrentes.

Existem vários pontos que necessitam ser enfatizados. A fonte de luz usada com compósitos ALV é mais preci-samente descrita como luz azul ao invés de luz visível de intensidade extremamente elevada. Um típico aparelho de fonte de luz visível de boa qualidade poderia produzir um espectro como demonstrado na Figura 2.2.9. A

seletividade é necessária para assegurar ótimo grau de polimerização e ótima profundidade de polimerização.

Para todos os compósitos ativados por luz, a conversão de uma pasta para um material sólido depende da capa-cidade de a luz acessar e iniciar a polimerização em todas as partes da restauração. O grau que a luz pode penetrar o compósito é limitado, de modo que a profundidade que o material pode ser polimerizado pode ser limitada. Vários fatores afetam a profundidade de polimerização:

■ O tipo de compósito. Quando a luz atinge o compósito, ela é refl etida, dispersada e absorvida como mostrado na Figura 2.2.10, e isso limita a quantidade de penetra-ção que é alcançado. Essa é uma preocupação particular para os compósitos de matiz mais escuro, e especial cuidado deveria ser dado para polimerização em toda a profundidade da restauração, usando uma técnica de incrementos e longos períodos de exposição.

Fratura

Compósito nãopolimerizado

Cáriesecundária

400

Inte

nsid

ade

da lu

z

Comprimento de onda (nm)

600500

Absorçãoe dispersão

Reflexão

Reflexão do fundo

Figura 2.2.10 Refl exão, dispersão e absorção de luz durante a polimerização do compósito.

Figura 2.2.8 Falta de correta polimerização de um compósito ALV na base de uma caixa proximal.

Figura 2.2.9 Espectro de luz para um fotopolimerizador de luz visível.

Page 111: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO100

■ A qualidade da fonte de luz. A polimerização de resinas em compósitos ALV é mais efetiva se iniciada por uma luz numa faixa de comprimento de 450-500nm. A fonte de luz deveria ser projetada de modo que produzisse uma saída de luz máxima de 460-480nm, onde o máximo do coefi ciente de absorção da canforoquinona está locali-zado (Fig. 2.2.8). Assim, não é sufi ciente simplesmente ter uma saída de luz elevada, mas esta também deve estar dentro de um comprimento correto. Deterioração da fonte de luz também ocorre, e é importante que a qualidade da saída de luz seja avaliada em intervalos regulares. Uma variedade de medidores de luz baratos está atualmente disponível para esse propósito.

■ O método usado. A ponta do fotopolimerizador deveria ser colocada o mais próximo possível da superfície da restauração, pois a efi ciência de polimerização diminui muito quando a ponta é afastada da superfície. De fato, a intensidade da luz numa dada unidade de área da superfície diminui com o inverso do quadrado da distância entre a fonte de luz e a resina, como mos-trado na Figura 2.2.11. Todos os esforços deveriam ser feitos para assegurar que a ponta do fotopolime-rizador não seja contaminada pelo compósito, uma vez que isso poderia reduzir a efi ciência da polimeri-zação quando do uso posterior. O material deveria ser exposto à luz por um período que não seja inferior ao recomendado, de modo que não exista o risco de uma subpolimerização. Para restaurações grandes, a ponta do fotopolimerizador pode não ser grande o sufi ciente para cobrir completamente a restauração e pode existir uma tendência a movimentar o aparelho sobre a superfície. Isso não deveria ser feito, pois é impossível determinar quanto tempo alguma área da superfície foi exposta. Se esta movimentação for rea-lizada, deve ser seguido compolimerização adicional, um ponto de cada vez. Para superfícies grandes, deveria ser assegurada que os sítios sejam sobrepostos.

Existe uma tendência por parte de alguns fabrican-tes em recomendar tempos de polimerização tão curtos quanto 20 segundos, uma vez que isso obviamente reduz o tempo necessário para execução de um procedimento em particular. Isso pode ser sufi ciente para aplicações nas quais apenas uma camada muito fi na de compósito tenha sido aplicada, mas será insufi ciente quando adotado em restaurações grandes. O tempo de polimerização deveria ser de no mínimo 40-60 segundos.

Em situações nas quais o acesso à luz é um problema, tais como cavidades distais de restaurações MOD com compósitos em dentes posteriores, recursos para auxi-liar a polimerização, como cunhas condutoras de luz e matrizes transparentes, devem ser consideradas. Polime-rização por períodos de tempo excessivamente longos, entretanto, não signifi ca atingir maiores profundidades de polimerização. A profundidade de polimerização para um determinado compósito usado em conjunto com uma determinada fonte de luz atinge um limite, que não pode ser excedido (Fig. 2.2.12). Assim, períodos de polimerização superiores há 60 segundos tendem a ser inefi cientes.

A interpretação dos valores para profundidade de poli-merização que são mencionados na literatura é repleta de difi culdades. Até agora, não existe nenhuma defi ni-ção recomendada para profundidade de polimerização, e uma vez que é altamente dependente da técnica, com-parações de resultados de fontes diferentes são quase impossíveis. A regra geral que deveria ser seguida é que uma profundidade de polimerização superior a 2 mm deveria ser evitada, e a fotopolimerização deveria ser de no mínimo 40 segundos. Se a cavidade a ser preenchida é mais profunda que 2 mm, uma técnica de incrementos deveria ser empregada.

Unidades de Fotopolimerização Além da unidade de fotopolimerização de quartzo halógeno já descrita

I α 1/d2

Fontede luz 1mm 2mm 3mm

9A

4A

A

Pro

fund

idad

e de

polim

eriz

ação

(mm

)

Tempo de polimerização (s)

4

5

8070605040302000

1

2

3

90

Figura 2.2.11 Relação entre intensidade (I) da luz e a distância (d) entre a fonte de luz e a superfície.

Figura 2.2.12 Profundidade de polimerização em função do tempo de polimerização.

Page 112: Introdução Aos Materiais Dentários

RESINAS COMPOSTAS E RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO 101

existe um número de outras lâmpadas no mercado. Isso inclui lâmpadas de diiodo emissor de luz azul (LED-azul), laser de argônio e arco de plasma (xenônio).

O fotopolimerizador LED-azul tem a vantagem de emitir apenas luz dentro de uma faixa muito estreita de comprimento de onda em torno de 460–480nm. Ele é, portanto, muito efi ciente em termos de energia e pode ser operado com uma pequena bateria recarregável, tor-nando-o muito móvel. Entretanto, a largura da faixa de luz pode ser tão estreita que, para alguns compósitos que usam um método de polimerização com luz visível não incorporando canforoquinona, sua condição de ótima fotopolimerização esteja fora dessa faixa. Esse poderia ser então o caso do compósito não polimerizar, ou pior, será apenas parcialmente polimerizado, dando a impressão de que está polimerizado.

O laser de argônio tem a vantagem de proporcionar uma fonte de luz de intensidade muito elevada, que pode ser mais bem-explorada para o início da polimerização. O laser de argônio produz um maior grau e profundi-dade de polimerização num menor tempo comparado com os fotopolimerizadores com luz halógena. Isso pode ser muito atrativo num primeiro momento, uma vez que signifi ca redução do tempo de polimerização pela redução dos períodos de exposição e do número de porções usadas na restauração. Entretanto, a polimeriza-

ção rápida pode comprometer a integridade da interface resina-dente, pois não permite nenhum relaxamento de tensões durante o processo de polimerização. É possível que o uso do laser em pulsos ao invés de continua-mente possa reduzir esse problema. Uma desvantagem séria desse sistema de fotopolimerização é o custo, sendo em ordem de magnitude mais caro que os fotopolimeri-zadores de luz halógena e LED-azul.

As unidades de polimerização de arco de plasma podem proporcionar uma intensidade de luz muito próxima a obtida com o laser de argônio, mas tem um custo menor. Entretanto, assim como o laser de argônio, a conversão rápida da resina pode produzir elevada tensão de con-tração e a faixa de luz estreita pode signifi car que alguns compósitos não serão polimerizados.

Contração de PolimerizaçãoComo já notado, uma séria desvantagem dos compósitos conhecida há muito tempo é a contração de polimeri-zação. De certo modo, todo o campo da odontologia restauradora adesiva cresceu com essa limitação dos com-pósitos, pois invariavelmente poderia existir uma fenda marginal com a contração do compósito na cavidade (Fig. 2.2.13). Os compósitos não possuem nenhum mecanismo de defesa intrínseco contra o ataque cario-gênico, diferente dos cimentos de ionômero de vidro

Figura 2.2.13 Imagem de microscopia eletrônica de varredura de uma fenda marginal formada devido à contração de polimerização do compósito.

Page 113: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO102

(CIVs) e dos amálgamas. Dessa forma, quando uma fenda está formada, ocorrerá microinfi ltração, que pode rapida-mente levar à recorrência de cárie.

Deveria ser notado que enquanto o desenvolvi-mento das unidades de fotopolimerização tem focado na maximização do grau de conversão do monômero, isso também maximiza a quantidade de contração de polimerização.

A contração de polimerização do compósito é depen-dente do tipo de resina empregado e da quantidade de resina presente na sua forma não polimerizada. Muitos compósitos de uso odontológico utilizam resina com valores de contração de polimerização comparáveis. Em geral, uma maior proporção de carga de vidro resulta numa menor contração fi nal. Alguns compósitos com elevado teor de carga de vidro não terão necessariamente menores valores de contração que as resinas microparti-culadas, uma vez que as últimas usam partículas pré-poli-

merizadas as quais podem torná-las com uma quantidade fi nal de carga tão grande quanto o dos sistemas de par-tícula de vidro.

O ideal é que a contração de polimerização deveria ser tão menor quanto possível, uma vez que isso aumenta a adaptação marginal, reduz a possibilidade de rompi-mento da união aos tecidos dentários e inibe o desenvol-vimento de cáries recorrentes. Os amálgamas tradicionais minimizam esse problema porque mostram uma pequena expansão e, no devido curso, a fenda é preenchida com produtos da corrosão. Para os amálgamas com alto con-teúdo de cobre, a contração é na ordem de 0,1% vol. com-parado a 2%-3% vol. para um compósito. Típicos valores de contração de polimerização são mostrados na Figura 2.2.14. Entretanto, um pouco de cuidado é necessário quando da avaliação de tais dados, uma vez que é difícil encontrar um método confi ável de quantifi car a con-tração de polimerização e, como a Figura 2.2.15 mostra,

Admira

3,5

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0Surefil Tetric

CeramCharisma

FZ100 Solitaire

Vol

ume

(%)

3,5

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0Esthet X Surefil Tetric

CeramCharisma

FZ100 Solitaire

Vol

ume

(%)

Figura 2.2.15 Comparação da contração de polimerização volumétrica de várias marcas comerciais de compósitos. Os dados foram obtidos da literatura técnica fornecida pela Dentsply Detrey GmbH, Konstanz, Alemanha.

Figura 2.2.14 Comparação da contração de polimerização volumétrica de várias marcas comerciais de compósitos. Os dados foram obtidos da literatura técnica fornecida por Voco GmbH, Cuxhaven, Alemanha.

Page 114: Introdução Aos Materiais Dentários

RESINAS COMPOSTAS E RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO 103

um fabricante diferente tenderá a classifi car os compó-sitos de maneira diferente. Todavia, é nítido que com a tecnologia das resinas atuais, o menor limite de contração de polimerização está em torno de 2,0% vol.

Apesar das maiores vantagens dos materiais odonto-lógicos adesivos (Cap. 2.5), a contração de polimerização tem sido indicada como uma fonte primária de falha na interface de união, resultando em linhas brancas visíveis ou fendas invisíveis na margem entre esmalte e resina. Essas últimas são apenas visíveis clinicamente quando se usa transiluminação ou lentes de aumento. Durante o processo de polimerização, tensões de contração se desenvolvem porque o material está restrito pela adesão às paredes da cavidade. Essas tensões podem ser sufi -cientes para causar falha na interface de união, e desta maneira a vantagem do procedimento adesivo é perdida. Isso ocorre em especial na união à dentina, que é menos resistente do que aquela alcançada pelo esmalte subme-tido ao condicionamento ácido e, como consequência, a contração tende a ocorrer em direção à interface de união ao esmalte condicionado com ácido se a união à dentina for interrompida (Fig. 2.2.16). A fenda que se forma entre a restauração e a dentina provocará sensibili-dade pós-operatória, devido ao efeito hidrodinâmico. Se alguma das margens estiver em dentina, a falha de união ocasionará também infi ltração marginal. Isso é especial-mente um problema quando compósitos são colocados subgengivalmente em cavidades proximais.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A recomendação para o uso dos compósitos é que esses devem ser usados apenas quando todas as margens estão em esmalte.

Várias opções têm sido propostas para superar esses problemas, as quais incluem uso de compostos quimi-camente polimerizados na base das cavidades, pois se acredita que a contração tende a ocorrer em direção às paredes da cavidade. O uso da técnica de inserção em incrementos, combinada com polimerização através do dente, é outra estratégia que se acredita estimular a con-tração de polimerização em direção às paredes da cavi-dade ao invés de contra elas (Fig. 2.2.17).

Outro problema potencial é que a contração causará a aproximação das cúspides do dente para o centro, de modo que as tornam altamente tensionadas. Esse efeito tem sido sugerido como uma das razões para a sensibili-dade pulpar após a colocação de compósitos em dentes posteriores. Esse efeito pode ser exacerbado se for usada uma tira de matriz fi rme e rígida, durante a realização da restauração em resina em dente posterior.

É óbvio que a eliminação ou pelo menos uma redução signifi cante da contração de polimerização da matriz resinosa poderia representar um dos maiores avanços no futuro. As etapas para evitar ou minimizar as con-sequências da contração de polimerização são de longe os principais aspectos do consumo de tempo durante o procedimento para a realização de restaurações em compósito e realmente não resolve o problema de forma satisfatória. Possíveis formas de se melhorar a integridade marginal das restaurações em compósito incluem:

■ o desenvolvimento de melhores agentes de união à dentina e procedimentos de adesão para melhorar a resistência as tensões geradas pela contração de poli-merização;

■ o uso de um material de forramento de baixo módulo para agir absorvendo tensões; e

Esmalte

Dentina

Fontede luz

Adesão aoesmalte

condicionadopor ácido

Fenda devidoa contração depolimerização

Fotopolimerizaçãopor incrementos

Fotopolimerizaçãode toda a resinaem uma únicaporção

Autopolimerizado

Figura 2.2.17 Várias opções propostas para o preenchimento da caixa proximal e minimização dos efeitos da contração de polimerização. A direção da tensão de contração de polimerização é indicada pelas setas.

Figura 2.2.16 Formação de fenda como consequência da contração de polimerização.

Page 115: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO104

■ redução da velocidade de reação pelo uso das chama-das unidades de fotopolimerização ‘início lento’.

Desenvolvimento de agentes de união à dentina con-tinua, mas existe um limite em relação a quanto a resis-tência de união pode compensar as tensões geradas pela contração de polimerização e é possível que esse limite já tenha sido alcançado. A ideia de usar materiais de forra-mento de baixo módulo de elasticidade carrega com ela o problema de que as tensões geradas pelas cargas oclusais não podem ser facilmente transferidos pela interface entre dente e restauração, e podem causar elevadas tensões em qualquer parte da estrutura dental. A terceira estratégia está baseada na ideia de que a redução da velocidade de reação poderia permitir maior tempo para as tensões geradas pela contração de polimerização ser dissipadas por um processo de escoamento pela superfície livre e relaxamento de tensões. Isso tem levado à introdução de unidades de polimerização com luz azul de início lento, usando perfi s de fotopolimerização em rampa, em passos e oscilatório (Fig. 2.2.18). A efetividade clínica de todas essas estratégias é assunto de considerável discussão nas pesquisas da literatura odontológica.

Desde que a incorporação de carga de vidro como meio de redução da contração de polimerização prova-velmente tenha ido tão longe quanto se possa ir (ver a seguir), a solução será provavelmente encontrada no desenvolvimento de novas resinas, que mostrem pouca ou nenhuma contração de polimerização. Uma variedade de diferentes sistemas resinosos está sendo explorada atualmente, mas nenhum foi desenvolvido ainda como um produto comercial. Esses incluem monômeros do cristal líquido e resinas que abrem anéis, como: oxiranos, espiroorto-ésteres, espiroorto-carbonetos e siloranos, que estão além do escopo deste livro.

Nova Tecnologia de Carga

Crítica aos primeiros compósitos era que eles tinham uma superfície fi nal rugosa e uma resistência ao desgaste

insufi ciente. Ambas são diretamente afetadas pela escolha da carga usada no compósito. Os fatores de interesse na seleção da carga são:

■ composição; e■ tamanho da partícula.

ComposiçãoA carga mais usada até recentemente era o quartzo, mas hoje muitos dos compósitos empregam uma ou outra de uma variedade de cargas de vidro à base de sílica, incluindo a sílica coloidal, a sílica de vidro alumínio-lítio e vidros de sílica contendo bário ou estrôncio.

A formulação do vidro é fundamental porque ele tem um efeito deletério na coloração do compósito. Seu índice de refração deve ser muito próximo daquele da resina para evitar excessiva ocorrência de dispersão da luz inci-dente, que poderia resultar em pobre estética e baixa profundidade de polimerização.

A inclusão do bário e do estrôncio proporcionou versões radiopacas dos compósitos, e isso facilitou a identifi cação de lesões de cárie recorrentes. Quartzo é de longe o material de maior dureza usado como carga, mas compósitos formados dessa maneira não são radiopacos. Os vidros de sílica são consideravelmente os de menor dureza, que alguns argumentam melhorar o acabamento da superfície do compósito.

Tamanho Médio das Partículas e DistribuiçãoO tamanho médio da partícula e a distribuição do tamanho das partículas de uma carga são importantes, uma vez que determinam a quantidade de carga que pode ser adicionada à resina, sem as características de manipulação necessárias serem perdidas. O tamanho da partícula também tem um efeito acentuado no acaba-mento fi nal da superfície da restauração em compósito, de modo que quanto menor for o tamanho da partícula de carga, mais lisa será a superfície. (Deveria ser dito que a dureza da carga, em relação à matriz, é outro fator que deveria ser considerado quando da avaliação da quali-dade de acabamento.)

A carga primeiramente utilizada nos compósitos foi o quartzo, que tinha um tamanho médio de partícula de até 70 μm. Mudança para vidros mais macios permitiu uma redução no tamanho das partículas, e pela escolha de uma combinação adequada de tamanhos; tem sido possível aumentar consideravelmente o conteúdo de carga das resinas. Um conteúdo de carga tão elevado quanto 74% por volume tem sido exigido por alguns compósitos posteriores, que está bem acima do volume usual de 55%-60% de volume obtido para muitos com-pósitos anteriores. Obviamente, um elevado conteúdo de carga pode não ser desejável aos compósitos anteriores, já que a qualidade estética poderia ser comprometida; isto claramente não tem a mesma importância para os compósitos posteriores.

Tempo

Inte

nsid

ade

da lu

z

Instantânea

Em rampaOscilatório

Em passos

Figura 2.2.18 Padrões de intensidade da luz de unidades de fotopolimerização de início lento.

Page 116: Introdução Aos Materiais Dentários

RESINAS COMPOSTAS E RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO 105

CLASSIFICAÇÃO DOS COMPÓSITOS

É possível categorizar os compósitos de uso odontológico em cinco grupos principais de acordo com a natureza e o tamanho da partícula de carga.

Compósitos Tradicionais

Compósitos tradicionais contêm partículas de vidro com uma média de tamanho de partícula de 10-20 μm, e par-tículas de tamanho maior de 40 μm. Esses compósitos têm a desvantagem de ter uma superfície de acabamento muito ruim, com a superfície tendo uma aparência rugosa, devido às partículas de carga estarem proeminentes na superfície já que a resina foi preferencialmente removida ao redor das mesmas, como mostra a Figura 2.2.19.

Resinas Microparticuladas

As primeiras resinas microparticuladas foram introduzi-das no fi nal dos anos 1970, e contêm sílica coloidal com uma média de tamanho de partículas de 0,02 μm e uma variação de 0,01–0,05 μm. O pequeno tamanho médio das partículas de carga signifi ca que o compósito pode ser polido, obtendo uma superfície de acabamento muito lisa. O tamanho muito pequeno das partículas de carga indica que ela possui uma área de superfície de carga bastante grande em contato com a resina. Essa elevada área de superfície (comparada com as cargas usadas nos compósitos tradicionais) determina que é muito difícil obter um elevado conteúdo de carga, uma vez que uma grande quantidade de resina é necessária para umedecer as superfícies dessas partículas de carga. Se a carga é adi-cionada diretamente à resina e uma consistência razoa-velmente fl uida é mantida, então o conteúdo máximo de carga que pode ser atingido é apenas cerca de 20% vol. (Fig. 2.2.20).

Para assegurar um adequado conteúdo de carga, um procedimento de duas etapas para incorporação da carga tem sido desenvolvido. Um material com conteúdo de carga muito elevado é primeiro produzido por uma dentre várias técnicas. Esse material é então polimerizado e des-gastado em partículas de 10-40 μm em tamanho, que é depois usado como carga para mais resina. Assim, o que é fi nalmente obtido é um compósito contendo partículas de carga de compósito (Fig. 2.2.21). Embora o conteúdo de carga de partículas pré-polimerizadas possa ser tão alto quanto o dos compósitos de partículas grandes, o con-teúdo total de vidro é ainda consideravelmente menor (quase 50% vol.).

Compósitos Híbridos ou Mistos

Compósitos híbridos contêm partículas de carga grande de um tamanho médio de 15–20 μm. Além disso, também

Partículas de carga Matriz resinosa

Superfície

Matriz resinosaaltamente carregada

Matriz resinosalevemente carregada

Figura 2.2.21 Uma resina microparticulada homogênea, usando partículas pré-polimerizadas que foram adicionadas à resina contendo uma pequena quantidade de sílica coloidal.

Figura 2.2.19 Partículas de carga protuberantes na superfície devido à remoção preferencial da matriz resinosa.

Figura 2.2.20 Um compósito microparticulado homogêneo.

Page 117: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO106

possuem uma quantidade de sílica coloidal, que tem um tamanho de partícula de 0,01–0,05 μm (Fig. 2.2.22). Deve ser observado atualmente que todos os compósitos contêm pequenas quantidades de sílica coloidal, mas seu comportamento é muito determinado pelo tamanho das partículas de carga grande.

Compósitos Híbridos de Partículas Pequenas

Métodos melhorados têm permitido a trituração do vidro em partículas de tamanhos menores do que era previa-mente possível. Isso levou à introdução de compósitos com partículas de carga com um tamanho médio de partículas menor que 1 μm, e uma variação típica de tamanhos de partículas de 0,1–6,0 μm, em geral combi-nadas com sílica coloidal (Fig. 2.2.23). As partículas de carga de tamanhos menores permitem que esses com-pósitos sejam polidos até uma superfície de acabamento

mais lisa que aquela obtida com materiais de partículas maiores. Esses compósitos podem alcançar uma super-fície de acabamento altamente polida porque qualquer irregularidade aparente da superfície das partículas de carga deve ser muito menor que as partículas de carga e, portanto, estarão abaixo da resolução do comprimento de onda da luz (0,38–0,78 μm).

A classifi cação proposta está demonstrada esquemati-camente na Figura 2.2.24 em termos de distribuições do tamanho das partículas. Com o objetivo de aumen-tar o conteúdo de carga para o seu máximo, é possí-vel selecionar cargas com duas ou mais distribuições de tamanho de partículas complementares. A carga com tamanho de partícula menor se distribui nos espaços dei-xados pelas partículas de carga maiores (Fig. 2.2.25). Isso tem indicado que a densidade de organização dos mate-riais restauradores resinosos foi aumentada, enquanto o tamanho da carga foi reduzido.

Para assegurar que a estética não foi comprometida, compósitos podem ser usados tanto em dentes anteriores quanto posteriores.

Matriz resinosalevementecarregada

Partículas decarga de vidro

Matriz resinosalevementecarregada

Partículas decarga de vidro

Tradicional

Híbrido/Misto

Microparticulado

Partículas pequenas

Tamanho da partícula (μm)

Tamanho da partícula (μm)

Tamanho da partícula (μm)

Tamanho da partícula (μm)

0,01 0,1 1,0

0,10,01 1,0

0,01 0,1 1,0

0,01 0,1 1,0

10 100

10

10

100

100

10 100

Figura 2.2.23 Um compósito de partículas pequenas.

Figura 2.2.22 Estrutura de um compósito híbrido, contendo partículas grandes de carga numa matriz resinosa contendo sílica coloidal.

Figura 2.2.24 Classifi cação dos compósitos com base no tipo de carga, com o eixo horizontal numa escala logarítmica do tamanho das partículas.

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RESINAS COMPOSTAS E RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO 107

PROPRIEDADES

Características de Trabalho

Apesar da introdução da ALV, a realização de resinas compostas é exigente e sensível à técnica. Compósitos resinosos não tem intrinsecamente adesão ao esmalte e à dentina, portanto, o condicionamento ácido com ácido fosfórico e aplicação de um adesivo dentinário são necessários. Quando combinado com a necessidade de colocação de incrementos e atenção cuidadosa aos procedimentos de fotopolimerização, isso signifi ca que a realização de restaurações com resina composta pode demorar três vezes mais que a execução de uma restau-ração em amálgama de tamanho semelhante. A própria realização da restauração com compósito e os cuidados de manutenção de higiene oral pelo paciente tem em geral maior importância, porque lesões de cárie recor-rente podem ocorrer e seu progresso tende a ser mais rápido que com outros materiais restauradores.

Existem vários desenvolvimentos relativos à reologia das resinas compostas. O ideal é que a viscosidade de um compósito deveria ser tal que pudesse ser conden-sado dentro de cavidades grandes e ao mesmo tempo ser capaz de escoar em locais inacessíveis. O material não deveria escoar sob seu próprio peso de modo que pudesse ser esculpido, mas deveria escoar prontamente quando pressionado. Comparado aos amálgamas dentá-rios, os compósitos podem ter uma tendência a se aderir aos instrumentos e isso poderia criar problemas para se alcançar uma boa adaptação marginal. Numa tentativa de melhorar a adaptação marginal das restaurações com compósitos, os chamados compósitos “de baixa viscosi-dade” foram introduzidos no fi nal da década de 1990. Ao mesmo tempo, compósitos compactáveis apareceram no mercado, os quais buscavam ter características de trabalho similares às do amálgama por terem elevada viscosidade.

Com o objetivo de produzir os compósitos de baixa viscosidade, fabricantes reduziram o conteúdo de carga e, como se não tivesse reduzido o bastante, o tamanho das partículas de carga de vidro foi também aumentado. Compósitos de baixa viscosidade podem ser difíceis de ser controlados, devido à sua baixa viscosidade. Assim, esses materiais são usualmente adequados para preparos pequenos, tais como: os preparos feitos por abrasão a ar; reparos de margens e; restaurações preventivas com resina. Com o reduzido conteúdo de carga e partículas de tamanhos maiores, esses materiais não são recomen-dados para situações que envolvem elevados níveis de tensão ou desgaste.

A produção de compósitos compactáveis pode ser al cançada por um pequeno aumento do conteúdo de carga para 1–2% vol. e mudanças na reologia da matriz resinosa. Isso pode não ser tão fácil como parece, pois o conteúdo de carga da maioria dos compósitos já havia sido maximizada e simplesmente adicionar mais carga faria o compósito friável e causaria fraturas. A viscosidade aumentada pode ser executada de maneiras diferentes:

■ pelo aumento da variação do tamanho das partículas de carga, que melhora a densidade de compactação, tal como uma distribuição de partículas trimodais;

■ pela modifi cação da forma das partículas de carga de modo que elas tivessem a tendência de se unir, tornando mais difícil o escoamento umas sobre as outras;

■ pela modifi cação da matriz de resina de modo que fortes atrações intermoleculares sejam criadas (p. ex., substituição dos grupos hidroxil no Bis-GMA com hidrogênio para ligações de hidrogênio) e assim au -mentando a viscosidade;

■ pela adição de dispersantes (aditivo de controle reo-lógico), que diminui a viscosidade e permite um aumento no conteúdo de carga.

Há um preço a se pagar pelo aumento do conteúdo de carga. Esses materiais tendem a ser mais opacos e ter uma superfície de acabamento inferior e, apesar do aumento do conteúdo de carga, as propriedades mecâ-nicas não parecem ser diferentes daquelas dos compósi-tos universais, tais como as dos compósitos híbridos de partículas pequenas. Uma vez que a estética está com-prometida, os fabricantes fornecem apenas uma quan-tidade limitada de cores. Esses materiais têm, portanto, uma escala limitada de aplicações e são mais adequados para região posterior, tais como preparos classe II de tamanho pequeno a moderado. Devido à sua elevada viscosidade, a adaptação pode ser um problema e existe um potencial aumentado para incorporação de ar, resul-tando em vazios nas margens ou dentro da restauração. Por esta razão, foi sugerido primeiro colocar uma fi na camada de compósito de baixa viscosidade na base da caixa interproximal antes de o compósito compactável ser colocado.

Matriz resinosalevementecarregada

Partículas decarga de vidro

Figura 2.2.25 Distribuição do tamanho da partícula bimodal.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO108

Deveria ser observado que ambos os compósitos de baixa viscosidade e compactável foram desenvolvidos como uma resposta dos fabricantes às exigências feitas pelos dentistas para produzir compostos com proprieda-des de trabalho especiais. Dessa forma, esses compósitos não representam um grande avanço no contexto de suas propriedades físicas e mecânicas. De fato, os compósitos de baixa viscosidade têm propriedades mecânicas inferio-res e os compósitos compactáveis têm estética inferior, comparados a compósitos universais.

Biocompatibilidade

Compósitos resinosos são estruturas complexas e vários componentes e produtos de degradação são liberados desses materiais. Estes incluem resina não polimerizada, aditivos, tais como: estabilizadores de UV; plastifi cadores e; iniciadores. Perdas de peso de até 2% têm sido rela-tadas, embora isso seja altamente variável uma vez que depende muito do grau de polimerização que foi alcan-çado. Alguns dos materiais dissolvidos dos compósitos têm demonstrado ser citotóxico e hipersensibilidade tardia associada as resinas compostas pode ocorrer. Entre-tanto, isso não deveria ser interpretado como sendo uma indicação desses materiais apresentarem um risco inacei-tável à saúde do paciente, pois as quantidades liberadas são muito pequenas e as reações de hipersensibilidade associadas às resinas compostas são raras.

Alguma preocupação tem sido expressada quanto ao uso do bisfenol-A e monômeros baseados no bisfenol-A em materiais restauradores resinosos, pois esses materiais mostraram a capacidade de induzir mudanças em células e órgãos sensíveis ao estrogênio. Entretanto, estudos de liberação destes componentes tendem a mostrar que os monômeros de baixo peso molecular, como MMA e TEGDMA são os mais liberadores ao invés dos monôme-ros de elevado peso molecular, como Bis-GMA e UDMA. Assim, isso se torna um assunto semelhante ao associado aos amálgamas, ou seja, se baixas doses desses compo-nentes liberados com atividade estrogênica das resinas

compostas apresentam ou não um risco inaceitável ao paciente. Até o momento, acredita-se que a segurança das resinas compostas não deveria ser preocupação para o público geral.

Absorção de Água e Solubilidade

A absorção de água deveria ser baixa para os compósitos, uma vez que excessiva absorção de água tem um efeito prejudicial na estabilidade de cor e na resistência ao desgaste. Se o compósito pode absorver água, então ele também é capaz de absorver outros fl uidos da cavidade oral, que resulta na sua descoloração.

Absorção de água ocorre principalmente como uma absorção direta pela resina. A carga de vidro não absorve água no interior da massa do material, mas pode adsor-ver água sobre sua superfície. Assim, a quantidade de sorção de água é dependente do conteúdo de resina do compósito e da qualidade de união entre a resina e a carga. Desta forma, poderia fazer mais sentido relacionar o valor da absorção de água ao conteúdo de resina do compósito. Isso poderia mostrar ou não se a quantidade de água absorvida é aquela prevista para as características de absorção de água conhecidas da resina apenas ou se é muito elevada.

Dados apresentados na Tabela 2.2.3 indicam que quando o conteúdo de carga de um material restaura-dor é considerado, diferenças marcantes entre valores de absorção de água para uma variedade de compósitos se tornam aparentes.

A absorção de água intrínseca para a resina parece ser em torno de 40–45 μg.mm–3, mas para dois compósitos na tabela, a absorção de água é de duas a três vezes aquela esperada. A questão é ‘Para onde vai essa água extra?’.

Um valor de absorção de água elevado para um compósito (quando corrigida para quantidade de carga presente) pode indicar uma série de possibilidades. É possível que o material tenha uma fração solúvel elevada, que se dissolve e deixa espaço no qual a água pode fl uir (isso é possível devido à incompleta polimerização da

Tabela 2.2.3 Equilíbrio de transporte de água de vários compósitos, adaptado dos dados de Oysaed e Ruyter (1986)

Material (fabricante) No material (mg.mm–3) Na resina1 (mg.mm–3) Volume de resina (%)

Occlusin (ICI Dental) 12,9 41,6 31

P-10 (3M Dental) 16,0 44,4 36

Profi le (SS White) 16,3 37,0 44

Ful-Fil (LD Caulk) 20,3 63,4 32

Heliomolar (Vivadent) 20,6 43,6 47

Estilux (Kulzer) 23,1 82,4 28

P-30 (3M Dental) 36,9 119,0 311O transporte de água pela resina foi baseado assumindo-se que o vidro não absorve água e foi calculado usando o volume % de resina mostrado na última coluna.

Adaptado dos dados de Oysaed e Ruyter (1986).

Page 120: Introdução Aos Materiais Dentários

RESINAS COMPOSTAS E RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO 109

resina). Além disso, a resina pode conter bolhas de ar introduzidas durante a mistura ou inserção. Outra possi-bilidade é que a quebra hidrolítica da união entre a carga e a resina tenha ocorrido, permitindo adsorção sobre a superfície das partículas de carga. Isso tem duas conse-quências importantes. Primeiro, como a união entre as partículas de carga e a resina é perdida, a carga perderá sua efetividade como um agente de reforço, resultando numa rápida deterioração da restauração. Segundo, as partículas de carga perdem a sua coesão, resultando numa elevada taxa de desgaste. Assim, uma combina-ção preocupante de características para um compósito seria um elevado conteúdo de carga combinado com um elevado valor de absorção de água.

É frequentemente sugerido que a absorção de água pode ser, em alguma extensão, compensada pela contração de polimerização, mas a absorção de água é um processo gradual que leva muitos meses para ser completada. Isso pode prontamente ser evidenciado com o conhecimento do coefi ciente de difusão, D, para água num compósito, que é tipicamente na ordem de 1,25 × 10–9 cm2.s–1. Para uma amostra de 2 mm de espessura, o material poderia exigir 166 dias para alcançar o equilíbrio, e se a amostra possui 5 mm de espessura, o tempo para se atingir o equi-líbrio é de mais três anos. Então, a sorção de água não pode evitar a perda de união na interface, pois não pode agir contra a contração instantânea que ocorre durante a polimerização. No curso devido, um pequeno aumento de volume da restauração pode melhorar a adaptação mar-ginal da restauração, mas as chances são que até lá seja muito tarde.

É importante compreender que se as características de sorção de água serão avaliadas, é necessário que as amostras sejam muito fi nas para ter a capacidade de se atingir equilíbrio de sorção de água num período de tempo realístico. Para comparações dos dados de absor-ção de água, também deveria ser considerado o conteúdo de carga de vidro.

Coefi ciente de Expansão Térmica

Para minimizar a possibilidade de tensões desenvolvidas devido a diferenças de expansão e contração, o coefi -

ciente de expansão térmica de um compósito necessita ser o mais próximo possível daquele dos tecidos dentá-rios. As cargas de vidro têm baixo coefi ciente de expan-são térmica, enquanto a resina tem elevado coefi ciente de expansão, de modo que quanto maior o conteúdo de carga inorgânica, menor será o coefi ciente de expansão térmica. Uma vez que as resinas microparticuladas têm elevado conteúdo de resina, com resina presente tanto na matriz quanto nas partículas de carga pré-polimerizadas, elas tendem a ter um elevado coefi ciente de expansão, comparado ao dos compósitos com carga de vidro.

Exemplos de coefi cientes de expansão térmica de alguns compósitos disponíveis comercialmente são apre-sentados na Tabela 2.2.4, que também mostra os fatores de expansão diferencial quando comparados ao esmalte.

Radiopacidade

Quando os compósitos são utilizados como material res-taurador de dentes posteriores, sua radiopacidade é de extrema importância. A detecção de lesões de cárie sob um compósito não radiopaco é praticamente impossível, e permitiria a progressão do processo carioso por um longo período. Alguns compósitos têm uma radiopacidade menor que a da dentina, o que é inadequado porque o exame radiográfi co não revela a presença das lesões de cárie. Entretanto, não está claro qual é a radiopacidade ideal para um compósito, uma vez que radiopacidade excessiva pode potencialmente mascarar lesões de cárie que ocorrem atrás da restauração. No entanto, alguns compósitos deveriam ser, no mínimo, radiopaco como o esmalte. Alguns com-pósitos não possuem essa característica e não deveriam ser usados para restaurações de dentes posteriores.

Estabilidade de Cor

As qualidades estéticas dos compósitos são bem-conheci-das. Os primeiros compósitos sofriam da descoloração, que pode ser manifestada por si só em uma das três formas:

■ descoloração marginal;■ descoloração da superfície em geral;■ descoloração do corpo.

Tabela 2.2.4 O coefi ciente de expansão térmica (α) e o fator de expansão diferencial (D) para alguns compósitos comparados ao esmalte

Material (fabricante) Tipo a (ppm.°C–1) D

Esmalte 11,4 1,00

Z-100 (3M) Híbrido 22,5 1,97

Adaptic (J&J) Tradicional 25,7 2,25

Herculite (kerr) Híbrido com partículas pequenas 32,6 2,86

Silux Plus (3M) Microparticulado 41,6 3,65

Delton* (J&J) Sem carga 90,3 7,92

Dados de Versluis A et al. (1996) Dent Mater 12(5): 290-294 (exceto para Delton).

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO110

Descoloração marginal é usualmente provocada pela presença de uma fenda marginal entre a restau-ração e os tecidos dentários. Detritos penetram na fenda e levam à pigmentação marginal indesejável; a eliminação da fenda marginal deveria acabar comple-tamente com este tipo de pigmentação. Se a margem está em esmalte, é possível solucionar esse problema pelo emprego de condicionamento ácido e adesivo para esmalte. O adesivo entre o esmalte condicionado e o compósito é sufi cientemente forte e durável para se obter um bom selamento marginal, que evita a penetração de detritos. O uso de agente adesivo sem carga é em geral recomendado, uma vez que auxilia na adaptação marginal.

Descoloração da superfície em geral pode estar rela-cionada à rugosidade superfi cial do compósito e é mais provável de ocorrer com aquelas resinas compostas que empregam partículas de carga grandes. Detritos fi cam retidos nos espaços das partículas de carga protube-rantes e não são prontamente removidos pela escova-ção. Polimento com um abrasivo adequado tais como pastas de óxido de alumínio disponíveis comercial-mente devem remover essa pigmentação da superfície. É importante que um processo de polimento gradual seja efetuado, tal como instrumentos diamantados de 20 μm, seguidos por uma pasta de 7 μm e fi nalizando com uma pasta de 1 μm. Isso permitirá uma superfície fi nal lisa opticamente, sem nenhum orifício ou ranhura no caso dos compósitos microparticulados e compósitos híbridos de partículas pequenas. Algumas vezes orifícios escuros descoloridos podem ser observados, que são oriundos da exposição de bolhas de ar após o desgaste do compósito. Tal descoloração não pode ser facilmente removida e pode ser melhor substituir a restauração por um compósito fotopolimerizável, que praticamente não apresentará nenhuma bolha de ar, se executado com cuidado.

Descoloração de corpo, ou profunda, é um problema particular com compósitos polimerizados por amina em duas pastas. A cor da restauração muda lentamente por um longo período de tempo, dando uma aparência amarelada distinta à restauração. Esse tipo de descolo-ração aumenta, devido tanto ao colapso dos compo-nentes químicos dentro da matriz resinosa quanto à absorção de fl uidos do ambiente oral. Os compósitos fotopolimerizados parecem ter uma estabilidade de cor muito melhor.

Devido à mesma demanda para introdução dos com-pósitos compactáveis e de baixa viscosidade, os fabri-cantes introduziram uma variedade de compósitos altamente estéticos. Esses são compósitos com tamanho de partícula máximo não superior a 2 μm e uma média em torno de 0,6 μm, tornando-os altamente passíveis de polimento. A variedade de cores é ampliada e está dis-ponível, tais como de palheta de cores e translucidezes de um artista.

PROPRIEDADES QUÍMICAS

Resistência à Compressão

Se alguém comparar a resistência à compressão de vários compósitos e amálgamas com aquela do esmalte e da dentina, a indicação será que esses materiais são pouco adequados (Tabela 2.2.5).

É interessante notar que compósitos para dentes ante-riores podem ter uma resistência à compressão similar aos dos dentes posteriores, ainda que as recomendações para seu uso seja um pouco diferente. É importante conhecer a importância dessa avaliação.

Sendo relativamente fácil de mensurar, a resistência à compressão de um material é mencionada com frequên-cia. Infelizmente, é também uma propriedade difícil de ser interpretada, devido aos possíveis modos de falhas sob compressão:

■ materiais dúcteis podem se achatar diagonalmente, muito semelhantes a uma massa densa;

■ materiais friáveis, semelhantes ao vidro e pedra, po -dem fraturar em todas as direções;

■ amostras longas e fi nas podem entortar.

Como se pode imaginar, tensões altamente complexas são geradas nos espécimes quando a resistência à com-pressão é testada.

Se nos perguntarmos se restaurações falham em qual-quer das formas descritas, então a resposta é que isso parece ser improvável. É muito mais provável que as restaurações falhem sob tensão (devido à aplicação de forças laterais), uma vez que compósitos possuem muito baixa resistência à tração.

Assim, a resistência à compressão é mais um fraco indicador de resistência do material a falha, uma vez que não existe uma relação simples entre resistência à compressão e a tração.

Tabela 2.2.5 Dados de resistência à compressão de uma variedade de materiais

Material (fabricante) Resistência à compressão (MPa)

Molar esmalte 260

Molar dentina 305

Sybralloy (Kerr) 500

Dispersalloy (Johnson & Johnson) 440

Adaptic (Johnson & Johnson) 250

Silux (3M Dental Products) 286

Aurafi l (Johnson & Johnson) 345

Occlusin (ICI Dental Products) 310

P-30 (3M Dental Products) 393

Page 122: Introdução Aos Materiais Dentários

RESINAS COMPOSTAS E RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO 111

Resistência à Tração Diametral

Se os materiais restauradores são mais prováveis de falhar sob forças de tração, então faria mais sentido mensurar sua resistência à tração que à resistência à compressão. Infelizmente, a mensuração da resistência à tração de materiais friáveis é muito difícil, e provoca uma grande divergência dos resultados. A razão para isso é que tais materiais são altamente suscetíveis à presença de falhas internas ou pequenas fendas superfi ciais, que são impos-síveis de eliminar. Como uma consequência, a resistência à tração dos compósitos é dependente da qualidade da superfície fi nal.

O teste de tração diametral é um método alternativo para mensurar a resistência à tração de um material. Novamente, padrões complexos de tensões aumentam no material, mas os resultados são relativamente repro-dutíveis e é uma propriedade fácil de ser mensurada. Por essas razões, a resistência à tração diametral é com frequência especifi cada nos materiais odontológicos. É interessante notar que esse teste é frequentemente apli-cado em materiais friáveis. Desta forma, se a resistência à tração diametral é citada ao invés da resistência à tração convencional, isso indica que o material é friável e, por-tanto, sofre de ausência de tenacidade.

Valores característicos para resistência à tração dia-metral para vários compósitos são apresentados na Tabela 2.2.6. Desses resultados, pode-se observar que o compósito anterior tradicional tem uma resistência à tração diametral similar àquela dos compósitos para dentes posteriores atuais. Além disso, experiência clínica tem nos mostrado que os compósitos tradicionais não se comportam bem na região posterior. Assim, como para a resistência à compressão, a resistência à tração diametral isoladamente não nos dá uma indicação direta para o uso em particular de um compósito ou do seu potencial desempenho clínico.

Como os compósitos são cada vez mais usados em restaurações de dentes posteriores, a fratura das restau-rações provavelmente se tornará uma causa crescente de falhas; pode ser que as propriedades mencionadas pro-porcionarão um indicador útil de resistência relacionada a tais fraturas.

Dureza

A dureza superfi cial de um material odontológico pode ser mensurada prontamente por várias técnicas, resultando num valor de dureza que pode, então, ser usado para comparar compósitos diferentes. Em um dado momento, pensava-se que a dureza poderia proporcionar um bom indicador da resistência ao desgaste de um compósito e isso é verdadeiro até certo ponto.

As resinas acrílicas originais eram materiais muito macios, mas sua dureza e resistência ao desgaste foram bastante melhoradas pela adição das partículas de carga. A mensuração da dureza inicialmente deu-nos alguma

indicação da resistência ao desgaste, mas essa relação infelizmente é interrompida com o elevado conteúdo de carga dos compósitos da geração atual (ver a seguir).

Desgaste

O desgaste é um processo pelo qual os materiais são deslocados ou removidos pelas forças da interface que são geradas em duas superfícies que entram em atrito. Os tipos de desgaste que ocorre na cavidade oral são os seguintes:

Desgaste por AbrasãoQuando duas superfícies entram em atrito, o mais duro dos dois materiais pode perfurar, produzir buracos ou remover material da outra superfície. Esse desgaste por contato direto é conhecido como abrasão a dois corpos, e ocorre na boca em qualquer local onde ocorre contato dente com dente, chamado por muitos dentistas como atrição.

O desgaste por abrasão pode ocorrer quando existe um abrasivo interposto entre duas superfícies de modo que as superfícies sólidas não estão realmente em contato. Isso é chamado abrasão a três corpos e ocorre na cavidade oral durante a mastigação, com o alimento agindo como o agente abrasivo. (Dentifrício age como agente abrasivo entre a escova dental e os dentes.)

Desgaste por FadigaA repetida carga sobre os dentes produz tensões cícli-cas que pode, em determinado tempo, levar ao cresci-mento de falhas por fadiga. Essas falhas com frequência se formam abaixo da superfície, e no início se propagam paralelamente, desviando em direção à superfície ou se unindo a outras trincas.

Desgaste por Corrosão Ataque químico dos compósitos pode ocorrer por hidró-lise da resina, ou por quebra da interface carga-resina ou erosão da superfície devido ao ataque ácido.

É provável que todos os mecanismos mencionados estejam envolvidos no desgaste dos compósitos. Nas áreas de contato oclusal, os principais mecanismos de desgaste são abrasão a dois corpos e fadiga, enquanto abrasão a três corpos predomina nas áreas de ausência

Tabela 2.2.6 Resistência à tração diametral de algumas resinas compostas restauradora

Material (fabricante) Resistência à tração diametral (MPa)

Adaptic (Johnson & Johnson) 51

Aurafi l (Johnson & Johnson) 52

Occlusin (ICI Dental) 54

P-30 (3M Dental Products) 67

Page 123: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO112

de contato. Desgaste por corrosão pode ocorrer em uma ou outra situação e, quando em combinação com condi-ções de tensão, pode levar à fratura corrosiva por tensão. Esse processo envolve o crescimento lento da falha, que poderá, fi nalmente, tornar-se grande o bastante para causar fraturas catastrófi cas.

Uma vez que o desgaste é um processo multifacetado, não é possível mensurá-lo com apenas um parâmetro. A fraca correlação entre propriedades mecânicas e desgaste já foi observada e algumas das propriedades físicas por exemplo uma baixa sorção de água pode apenas pro-porcionar uma indicação do potencial de resistência ao desgaste, particularmente em relação ao desgaste por corrosão.

Em geral, um elevado conteúdo de carga, uma super-fície fi nal lisa, uma resina hidroliticamente estável e uma forte união entre carga e resina são características desejá-veis em compósitos para dentes posteriores. Entretanto, deveria se reconhecer quais desses por si só não garantem que um material será resistente ao desgaste.

Uma abordagem alternativa é simulação laborato-rial das condições clínicas. Infelizmente, é muito difícil simular todas as condições orais que contribuem para o processo de desgaste. Embora uma grande variedade de métodos in vitro para mensuração da taxa de desgaste tenha sido testada, nenhum conseguiu predizer com alguma medida de certeza a taxa in vivo de desgaste de compósitos posteriores.

Um obstáculo maior no desenvolvimento de um teste laboratorial de desgaste confi ável é que algum precisa ser capaz de correlacionar os resultados com os dados clínicos de desgaste, que, por si só, é muito difícil de ser obtido e interpretado. Das muitas variáveis que necessita ser considerada, a variação no desgaste de paciente para paciente é uma difi culdade a mais a ser compreendida.

Entretanto, tem sido mostrado que existem diferenças marcantes nas taxas de desgaste entre áreas de contato oclusal e áreas sem contato. Assim, qualquer valor defi -nido para uma taxa de desgaste é insignifi cante se não for suportado com informações sobre os métodos usados nesta determinação.

O tamanho da restauração também pode afetar a taxa de desgaste, talvez por haver uma maior probabilidade do contato direto do dente com a restauração quando se tem restaurações amplas. Também deve ser considerado que restaurações grandes tendem a ocorrer mais poste-riormente, onde a carga oclusal é maior.

Assim, mesmo dados in vivo sobre desgaste são apenas um guia para a capacidade dos compósitos para dentes posteriores para resistir ao desgaste. A situação é também complicada atualmente pela ausência de um método em geral aceito para mensuração do desgaste in vivo e os resul-tados precisam ser interpretados com bastante cautela.

A melhor mensuração da resistência ao desgaste de compósitos para dentes posteriores é seu desempenho clínico e, apesar das grandes melhoras ocorridas ao longo

dos anos, o uso desses compósitos em regiões onde so frerão contato direto e carga oclusal elevada deve ser evitado. Assim, a oclusão deveria ser checada no início do tratamento e contatos cêntricos e deslizantes evitados ou pelo menos minimizados o máximo possível.

COMPÓSITOS ODONTOLÓGICOS DE USO LABORATORIAL

Facetas, Inlays e Onlays de Compósitos

A realização clínica de múltiplas restaurações diretas em compósito possui vários problemas. Estes incluem o natural consumo de tempo para a própria realização, difi culdade de assegurar bom contato entre os dentes, os problemas de adaptação marginal causados pela contra-ção de polimerização e o risco de incompleta polimeri-zação da restauração, devido à limitada profundidade de polimerização. Uma forma de superar esses problemas é usar restaurações indiretas em compósito, tais como: inlays, onlays e facetas.

Os inlays de compósitos são elaborados no laboratório de prótese pelo protético, com base na moldagem feita pelo dentista. Inlays de compósitos são idealmente ade-quadas para aquelas situações onde existe a necessidade de se efetuar múltiplas restaurações em dentes posterio-res em um único quadrante ou a substituição de cúspides não funcionais. Em todos os demais aspectos as indica-ções dos inlays de compósitos são idênticos àqueles para restaurações diretas em compósito para dentes posterio-res. A vantagem desse tipo de restauração é que muito do trabalho para alcançar bom contorno anatômico e contatos entre os dentes é feito por um técnico no labo-ratório protético.

Outros benefícios são que a profundidade de polime-rização é assegurada, uma vez que o processo de po -li merização é realizado em laboratório e não in situ. Embora seja sugerido que os problemas associados à contração de polimerização estejam reduzidos, a expe-riência é outra. Mesmo uma fi na camada de cimento resinoso usada para unir a restauração ao tecido dentário pode causar tensões de contração elevada sufi ciente para causar falha da união adesiva, especialmente da união à dentina. Assim, problemas com a contração de polime-rização não são totalmente eliminados. Existe também alguma dúvida quanto à união entre o cimento resinoso e o próprio inlay. O processo laboratorial de polimeri-zação para um inlay de compósito é tão efetivo que há poucos grupos metacrilatos deixado na superfície para reagir com o cimento resinoso (Cap. 3.7).

Muitos compósitos resinosos de uso laboratorial usam essencialmente os mesmos componentes que são empre-gados nas restaurações diretas. Consequentemente, eles sofrem muitas das mesmas limitações dos compósitos diretos, que, portanto, limitam sua ampla utilização. Desta forma, restaurações realizadas em laboratório com

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RESINAS COMPOSTAS E RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO 113

compósito deveriam ser usadas apenas naquelas situa-ções onde um compósito direto possa também ser con-siderado aceitável.

Compósitos Reforçados por Fibras

Compósitos resinosos com carga particulada não apre-sentam resistência e tenacidade sufi ciente para serem utilizadas para construção de coroas e pontes. Compó-sito reforçados por fi bras (CRF) oferecem enorme poten-cial para produção de materiais de elevada resistência e rigidez, mas com peso muito pequeno. Durante os anos 1990, vários sistemas resinosos com fi bras de reforço tornaram-se disponíveis, tanto para uso em laboratório quanto para o dentista. Eles são disponíveis em diferentes formas, como mostra a Tabela 2.2.7. Fibras unidirecio-nais permitem a construção de longas pontes, enquanto os padrões em rede e trançados suportam tensões em diferentes direções simultaneamente. As CRFs possuem resistência à fl exão e ao impacto signifi cantemente maior, comparados com resinas com carga particulada, contanto que ocorra um bom molhamento da fi bra e união da resina e um elevado conteúdo de fi bra seja alcançado.

A gama de aplicações sugerida para esses materiais são ferulizações; pontes; coroas e; prótese removível. Entre-tanto, a experiência clínica com esses materiais é muito limitada.

CONSIDERAÇÕES CLÍNICAS PARA O USO DAS RESTAURAÇÕES COM COMPÓSITO

As indicações para o uso de restaurações em compósito estão principalmente associadas à sua capacidade de alcan-çar excelente resultado estético. Esses materiais são, por-tanto, idealmente adequados para aplicações em dentes

anteriores, tais como restaurações de lesões proximais, lesões de erosão, abrasão e fraturas de bordo incisal.

Para a região posterior, a aplicação dos compósitos tende a ser mais limitada devido a potenciais problemas como ausência de selamento marginal quando a margem não está em esmalte, situação comum em caixas proximais profun-das. Desgaste e fratura são também problemas quando as restaurações são grandes e são submetidas à elevada carga oclusal, devido ao contato direto com o dente antagonista. Materiais restauradores resinosos deveriam ser idealmente considerados como materiais restauradores primários para lesões de cárie pequenas e iniciais.

As restaurações em compósito deveriam em todos os momentos ser consideradas como uma restauração adesiva. As vantagens são diversas, mas, principalmente, a confi ança na adesão ao invés da retenção ajuda a con-servar a estrutura dental, aumenta a resistência da coroa dental e proporciona uma barreira à infi ltração marginal. Portanto, é importante que esses materiais sejam usados apenas em situações onde uma boa qualidade de união adesiva pode ser alcançada; as seguintes contraindicações são sugeridas.

Evitar Restaurações Grandes

Esse problema é mais provável de ocorrer quando do uso dos compósitos em dentes posteriores, onde esses mate-riais são frequentemente considerados como um subs-tituto de restaurações em amálgama defi cientes. Uma vez que essas cavidades são em geral muito maiores que aquelas lesões de cárie iniciais, essa condição não é ideal para o uso de compósitos. Para iniciar, o formato da cavidade foi amplamente determinado pelo amálgama para ser substituído e foi efetuado tendo a retenção em mente e não a adesão.

Quanto maior a restauração, maior é o problema da contração de polimerização e menor é a chance de se

Tabela 2.2.7 Produtos de compósitos reforçados por fi bra

Produto Fornecedor Tipo de fi bra Forma da fi bra

Produtos pré-impregnados

Fibre-Kor Jeneric/Pentron Vidro Unidirecional

Splint-It Jeneric/Pentron Vidro Unidirecional

Splint-It Jeneric/Pentron Vidro Trançada

Splint-It Jeneric/Pentron Polietileno Trançada

Stick Stick Tech Vidro Unidirecional

Stick-Net Stick Tech Vidro Rede

Vectris pontic Ivoclar Vidro Unidirecional

Vectris frame and single Ivoclar Vidro Rede

Produtos não-impregnados

Connect Kerr Polietileno Entrelaçado

Ribbond Ribbond Polietileno Trançado

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO114

alcançar um selamento marginal. A contração de poli-merização causa a desadaptação da restauração, embora a união ao esmalte submetido a condicionamento ácido seja sufi cientemente forte para resistir às tensões geradas pela contração, agentes de união à dentina podem não apresentar alta resistência de união sufi ciente para resis-tir. Isso pode aumentar a infi ltração marginal e a sen-sibilidade pós-operatória. Mesmo quando quase todas ou todas as margens estão em esmalte (onde um bom selamento e uma boa união são possíveis), insucesso de união à dentina resultará em infi ltração de fl uido na fenda sob a restauração. Isso pode também aumentar a sensibilidade pós-operatória, devido à movimentação de fl uido para dentro e para fora dos túbulos dentinários quando a restauração está sujeita à carga ou às mudanças de temperatura.

Outro fator que contribui para ausência de selamento marginal é a diferença do coefi ciente de expansão do material restaurador e os tecidos dentários. Esse é um problema de todos os compósitos e, embora seja minimi-zado pelo elevado conteúdo de carga de vidro de pequena expansão, isto ainda não foi resolvido.

Com restaurações maiores, é mais provável que exista contato oclusal entre a restauração e o dente antagonista. Como os compósitos sofrem com taxas de desgaste consi-deravelmente maiores em áreas de contato que em áreas livres de contato, contato oclusal combinado com ele-vadas cargas oclusais, como as experimentadas na região posterior, pode aumentar o desgaste para níveis indese-jáveis. Assim, apenas cúspides não funcionais deveriam estar envolvidas.

Os compósitos são materiais com baixa resistência e friáveis, e não possuem propriedades melhores que às do amálgama em relação a isso. A restauração produz resistência da sua capacidade de se aderir aos tecidos den-tários. Se essa união é rompida, o potencial para fratura é muito maior, ainda mais se submetida a forças oclusais elevadas. A segurança e a durabilidade da união adesiva são mais reduzidas se a restauração for aumentada.

Evitar Preparos Profundos Subgengivais

Restaurações proximais sejam anteriores ou posteriores podem se estender subgengivalmente de modo que a base das cavidades se estenda para a dentina radicular. Em tais situações, é muito difícil, se não impossível, assegurar a adaptação marginal e obter um perfeito selamento mar-ginal, mesmo com o uso de adesivos dentinários.

Microinfi ltração e problemas associados a pigmenta-ção, cáries e sensibilidade são, portanto, prováveis de ser um problema. Embora tenha sido sugerido que a base de tais cavidades possa ser primeiro preenchido com um cimento de ionômero de vidro, existe a possibilidade de o cimento se erosionar, deixando a crista marginal da restauração em compósito sem suporte e possivelmente causando fratura.

Ausência de Esmalte Periférico

O compósito resinoso unido ao esmalte condicionado por ácido é muito efetivo de modo que a falha de suas margens é improvável.

Quando um dente sofre uma fratura grave, existirá pouco esmalte remanescente para união e a restaura-ção precisa contar mais ainda com a união à dentina remanescente. Como essa união já não é muito con-fi ável, além disso aumenta a possibilidade de insucesso no selamento marginal quando submetida às tensões da contração de polimerização, às mudanças térmicas e à carga oclusal.

O ideal é que as resinas compostas fossem usadas apenas quando todas as margens estivessem em esmalte. A única exceção para isso seriam as restaurações de lesões por abrasão/erosão, que não tendem a ser submetidas a condições de altas tensões e têm provado efetividade clínica razoável, embora falhas adesivas ainda sejam um problema.

Substituição de Cúspides de Trabalho ou Onlays

Como observado, os compósitos sofrem taxas de des-gaste muito maiores quando são submetidos a contato oclusal com o dente antagonista. Nos dentes anteriores, isso não tem mostrado ser um grande problema, mas posteriormente, onde as cargas oclusais são em geral muito maiores, é mais provável ocorrer desgaste exces-sivo do compósito. Isto se torna mais um problema para a próxima restauração ser colocada. As cargas em excesso experimentadas pela restauração aumentarão a chance de fratura de cúspide especialmente se precedida pela falha da união adesiva.

Controle da Umidade Defi ciente

Uma vez que é impossível obter uma união adesiva entre os tecidos dentários e os compósitos quando as superfícies dentárias estão contaminadas por umidade, qualquer situação na qual o controle da umidade não é possível deveria ser evitada e uma estratégia alternativa deveria ser adotada.

Bruxismo/Mastigação Habitual

Ações de desgaste excessivo associadas ao bruxismo causarão desgaste muito rápido de qualquer restaura-ção que esteja em contato oclusal ou em contato com algo como um cachimbo. Assim, mesmo restaurações de bordo incisal, que não sofram elevadas taxas de desgaste normalmente, são contraindicadas a não ser que o hábito do paciente seja eliminado.

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RESINAS COMPOSTAS E RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO 115

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A introdução das resinas compostas como materiais restauradores teve um grande impacto na prática da dentística restauradora. Muitos dos avanços em novas técnicas são baseados nos materiais à base de compósitos. Suas aplicações clínicas são muitas e variadas e continuarão crescendo, conforme melhoras adicionais sejam alcançadas. Entretanto, existem certas limitações para o uso desse grupo de materiais e é importante que estas não sejam desrespeitadas.

RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO (COMPÔMEROS)

Uma das principais características dos cimentos de ionô-mero de vidro é a sua capacidade de proporcionar libera-ção prolongada de fl uoreto, que contribui para a proteção dos tecidos dentários adjacentes à restauração do ataque cariogênico. Materiais restauradores como as resinas com-postas não possuem essa capacidade de liberar fl úor por prolongado período de tempo. A adição de componentes que contenham fl úor (F), tais como o fl uoreto estanhoso, a resina composta proporcionará uma liberação inicial de fl úor ao longo de um período de algumas semanas, que então diminui rapidamente. Essa liberação inicial é elevada, devido à presença de um componente F sendo liberado da superfície da restauração ou de próximo desta. No entanto, muito rapidamente a camada superfi cial da restauração se esgota de componentes de F e a liberação quase para, uma vez que os componentes de F não podem se difundir através da matriz resinosa numa velocidade sufi ciente para manter níveis de liberação razoáveis.

Resinas compostas modifi cadas por poliácido, deno-minadas compômeros, são de fato resinas compostas, que foram modifi cados de modo a ser capazes de liberar signifi cantes quantidades de fl uoreto ao longo de um período longo. Para alcançar isso, parte da tecnologia dos cimentos de ionômero de vidro foi incorporada na resina composta.

Composição

A composição de um compômero típico é apresentada na Tabela 2.2.8. Avaliação da composição indica que o material é essencialmente um sistema baseado em resina, com um processo de polimerização por radicais sendo ativado por luz azul que age na canforoquinona. Entre-tanto, existem várias diferenças importantes ao serem comparadas com as resinas compostas.

Uma das diferenças é o vidro, que é similar à compo-sição de vidro contendo fl uoreto usado nos cimentos de ionômero de vidro. Esse vidro de fl úor-alumínio-silicato é então suscetível ao ataque ácido e proporciona a fonte de íons fl úor.

Todavia, isso não seria sufi ciente por si só, uma vez que são necessários meios para o fl uoreto ser liberado do vidro. Isso requer íons hidrogênio capazes de atacar e dissolver o vidro de modo similar ao processo que ocorre com os cimentos de ionômero de vidro. A fonte desses íons hidrogênio é promovida por um grupo carboxila especialmente formulado (–COOH), contendo monô-mero polimerizável, que copolimeriza com um monô-mero de dimetil metacrilato como o UDMA (Fig. 2.2.26). De maneira alternativa, o copolímero do ácido policarbo-xílico de metacrilato empregado em alguns CIVs modifi -cados por resinas pode ser usado (Cap. 2.3).

O ingrediente fi nal necessário para a liberação de fl uoreto é a água. Esta não está presente no material inicialmente, mas é absorvida por ele na cavidade oral. Essa sorção de água permite uma reação ácido-base entre o vidro e os grupos policarboxílicos da resina especial e proporciona o mecanismo para uma liberação lenta,

Tabela 2.2.8 Composição de resinas compostas modifi cada por poliácido

Componente Função

Vidro de fl úor-alumínio-silicato

Carga e fonte de fl uoreto

Monômero de dimetacrilato (p. ex., UDMA)

Forma a matriz resinosa

Resina especial Fornece grupos carboxílicos

Monômeros hidrofílicos Ajuda a transportar água e fl uoreto

Fotoativadores/iniciadores Permite a polimerização por radical

Polimerização

Monômeros de UDMA

Monômeros ácidos

Grupos carboxílicos

Figura 2.2.26 Copolimerização de um monômero ácido contendo grupos carboxil e monômero de UDMA num compômero.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO116

porém contínua de fl uoreto, que não era possível ante-riormente com as resinas compostas.

Para ajudar a difusão de água no material através da matriz, e simultaneamente ajudar a difusão dos íons fl úor da matriz, algumas matrizes resinosas utilizadas possuem mais características hidrofílicas que aquelas normalmente usadas em resinas compostas (p. ex., gli-cerol dimetacrilato).

Embora os compômeros tenham tanto reação via radical de polimerização e reação ácido-base, é a matriz que conduz o processo de polimerização desses materiais. A contribuição da reação ácido-base é proporcionar a liberação de íons fl uoreto por longos períodos.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Deveria se destacar que, embora o compômero possa ser considerado um híbrido pela combinação da resina composta com o cimento de ionômero de vidro, ele é diferente do cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina.

O material inicial para o compômero é uma resina composta, na qual é depois modifi cado, da mesma forma que para os CIV modifi cados por resina, o CIV é o mate-rial inicial. Sendo assim, temos um espectro de materiais entre os CIVs e as resinas compostas como indicado na Tabela 2.2.9.

Propriedades

Liberação de FluoretoOs compômeros têm mostrado ser capazes de liberar fl úor por longo período. Entretanto, os compômeros liberam menos fl uoreto que os cimentos de ionômero de vidro e os cimentos de ionômero de vidro modifi ca-

dos por resina. A liberação de fl úor é altamente variável de produto para produto e não se sabe ainda qual é a liberação ótima de fl úor necessária para induzir uma condição anticariogênica ao redor das margens da restau-ração. As condições locais também têm uma infl uência signifi cante na quantidade de fl úor liberada, uma vez que alguns materiais são mais suscetíveis à dissolução que outros num meio ácido.

Todos os materiais restauradores que liberam fl úor mostram uma quantidade razoavelmente elevada de libe-ração nas primeiras semanas, mas gradualmente diminui. Não se sabe se reduzidas quantidades de fl uoreto após anos de exposição ao meio oral serão adequadas para proporcionar proteção contra o ataque cariogênico. Tem sido mostrado que os cimentos de ionômero de vidro possuem a capacidade de absorver fl uoreto da cavidade bucal e liberá-lo posteriormente. Assim, a restauração pode agir como um reservatório de fl uoreto que regular-mente preenchido quando exposta ao fl uoreto tópico. Essa pode ser uma característica importante da capaci-dade anticariogênica do cimento de ionômero de vidro ao longo do tempo, que não tem sido mostrada ser pos-sível para os compômeros.

Características de TrabalhoO que torna um material com boas características de trabalho é uma questão complexa, uma vez que isso envolve inúmeras características, incluindo reologia (p. ex., fl uir e tendência ao escoamento), aderência e tempo de trabalho e de presa. No entanto, é de consenso geral entre os dentistas que os compômeros possuem boas características de trabalho e que são fáceis de adaptar às paredes da cavidade sem se aderir ao instrumental, são fáceis de esculpir e não escoar.

AdesãoDiferente dos CIVs e dos CIVMRs, os compômeros não possuem afi nidade natural pelo esmalte e pela dentina e precisam ser usados em conjunto com um adesivo

Tabela 2.2.9 Espectro de materiais restauradores dentários estéticos

Cimentos de ionômero de vidro

Cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina

Resinas compostas modifi cadas por poliácido

Resinas compostas

Chemfl ex1 Vitremer2 Dyract AP1 Surefi l1

Ketac-Molar2 Photac-Fil Quick2 F20002 Filtek P602

Ketac-Fil2 Fuji II LC Improved3 Compoglass F4 Tetric4

Fuji II3 Freedom6 Revolution5

Fujii X3 Luxat7 Glacier6

Vivaglass Fil4 Glasiosite8 Admira8

Ionofi l8

Opusfi l9

1 = Dentsply, 2 = 3M/Espe, 3 = GC, 4 = Ivoclar, 5 = Kerr, 6 = SDI, 7 = DMG, 8 = Voco, 9 = Schottlander.

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RESINAS COMPOSTAS E RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO 117

dentinário. Para simplifi car as características de mani-pulação quando usados com os adesivos dentinários normalmente usados com as resinas compostas, é reco-mendado que o condicionamento ácido do esmalte e da dentina seja suprimido do procedimento adesivo. Isso resultará numa menor resistência de união e deveria ser considerado apenas quando do uso dos compômeros em locais onde apenas baixas tensões mastigatórias forem aplicadas. No fi nal das contas, essa orientação é confusa para o dentista, pois não é fácil determinar o que consti-tui uma situação de baixas tensões mastigatórias. Alguns compômeros são providos de propriedades adesivas, que possuem características de primers autocondicionantes discutidos no Capítulo 2.5.

Contração de PolimerizaçãoA contração de polimerização é similar àquelas das resinas compostas (ao redor 2%-2,5% vol.) e a sorção de água não é diferente daquela das resinas compos-tas, estando na ordem de 40 μg.mm–3. Os compômeros diferem das resinas compostas em suas taxas de trans-porte de água. Como observado neste capítulo, a difusão de água através das resinas compostas é muito lenta e ocorre por muitos anos até se atinja o equilíbrio do con-teúdo de água. Para os compômeros, a matriz resinosa hidrofílica proporciona uma via rápida para a sorção de água com equilíbrio de transporte de água possivelmente sendo alcançado em alguns dias, ao invés de semanas, meses ou mesmo anos.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A rápida sorção de água pelos compômeros proporciona compensação da contração de polimerização da matriz resinosa em uma questão de dias e ajuda a reduzir quaisquer fendas marginais que podem ter se formado durante a realização da restauração.

Propriedades Mecânicas

As propriedades mecânicas dos compômeros poderiam geralmente parecer um tanto inferior àquelas das resinas compostas, com reduzida resistência à compressão, à tração diametral e à fl exão. Isso impede o seu uso em situações de maior tensão mastigatória, como o reparo de bordo incisal fraturado. Sua resistência ao desgaste é melhor que aquela dos cimentos de ionômero de vidro e

cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina. Entretanto, comparados com as resinas compostas, a resistência ao desgaste é reduzida. É possível que isso se deva ao uso de partículas de carga um pouco maiores que as normalmente usadas nas resinas compostas, combi-nado com uma redução na integridade da interface entre as partículas de vidro e a resina, pela progressiva reação ácido-base nessa interface.

Aplicações

Para ter o benefício da liberação do fl uoreto pelo com-pômero; pode parecer que as propriedades mecânicas tiveram de ser comprometidas em algum grau, compa-radas às da resina composta. Portanto, os compôme-ros não possuem a mesma diversidade de aplicações da resina composta; de fato a variedade de aplicações é similar àquelas dos cimentos de ionômero de vidro e dos cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina. Uma vez que suas propriedades mecânicas e resistência ao desgaste tendem a ser inferiores àquelas das resinas compostas, mas melhores que aquelas dos cimentos de ionômero de vidro e dos cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina, seu uso está limitado a situações de baixa tensão mastigatória, tais como lesões proximais e por abrasão ou erosão, restaurações defi nitivas em dentes decíduos e restaurações temporárias de longa duração na dentição permanente. Uma vez que suas qualidades estéticas são comparáveis àquelas das resinas compostas, combinada com a liberação de fl uoreto e simplicidade dos procedimentos de união, os compômeros são uma alternativa popular aos cimentos de ionômero de vidro e aos cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina, mostrando excelentes resultados após 3-4 anos de uso clínico.

Como os CIV modifi cados por resina, existem relatos de expansão higroscópica excessiva associada aos com-pômeros, presumivelmente devido ao elevado conteúdo de resinas hidrofílicas. Enquanto tal comportamento pode ser benéfi co na redução das fendas marginais ao redor de uma restauração classe V, essa expansão pode também levar à fratura de coroas de cerâmica pura.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Versões fl uidas de um compômero não são recomendadas para restaurações de cerâmica pura.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO118

LEITURA COMPLEMENTAR

Braga RR, Ferracane JL (2004) Alternatives in polymerization contraction stress management. Crit Rev Oral Biol Med 15: 176

Clelland NL et al (2005) Relative wear of fl owable and highly fi lled composite. J Prosthet Dent 93: 153

Guggenberger R, Weinmann W (2000) Exploring beyond methacrylates. Am J Dent 13: 82D

Leinfelder KF (1995) Posterior composite resins. J Amer Dent Assoc 126: 663

Lutz F (1995) The postamalgam age. Oper Dent 20: 218Manhart J, Chen H, Hamm G, Hickel R (2004) Buonocore

Memorial Lecture. Review of the clinical survival of direct and indirect restorations in posterior teeth of the permanent dentition. Oper Dent 29: 481

Opdam NJ et al (2004) Five-year clinical performance of posterior resin composite restorations placed by dental students. J Dent 32: 379

Oysaed H, Ruyter IE (1986) Water sorption and fi ller characteristics of composites for use in posterior teeth. J Dent Res 65: 1315–1318

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Roeters J, Shortall AC, Opdam NJ (2005) Can a single composite resin serve all purposes? Br Dent J 199: 73

Rueggeberg F (2002) From vulcanite to vinyl, a history of resins in restorative dentistry. J Prosthet Dent 87: 364

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Vallitu PK (1998) The effect of glass fi bre reinforcement on the fracture resistance of a provisional fi xed partial denture. J Prosthet Dent 79: 125

Van Dijken JWV (1986) A clinical evaluation of anterior conventional, microfi ller and hybrid composite resin fi llings. Acta Odont Scand 44: 357–367

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119

Capítulo 2.3

CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO E CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADOS POR RESINA

INTRODUÇÃO

Os cimentos de ionômero de vidro (CIVs), também denominados cimentos de polialquenoato de vidro, são materiais restauradores que consistem em um pó e um líquido que, quando misturados, produzem uma massa plástica que subsequentemente toma presa, formando um sólido rígido.

Os cimentos de ionômero de vidro foram descritos inicialmente por Wilson e Kent, em 1971, naquela época representavam uma extensão natural dos cimentos de policarboxilato de zinco que estavam disponíveis no fi nal dos anos 1960. Os cimentos de policarboxilato de zinco se desenvolveram dos cimentos de fosfato de zinco, pela substituição engenhosa do ácido fosfórico pelo ácido poliacrílico (Cap. 2.8).

Os cimentos de ionômero de vidro foram imediata-mente vistos como um substituto potencial dos cimentos de silicato, em uso há mais de 80 anos e que gradualmente foram sendo destituídos pelas resinas compostas.

As duas principais características dos cimentos de ionômero de vidro que lhes permitiram tornar-se um dos mais aceitos materiais dentários são a sua capacidade de aderir ao esmalte e à dentina e a sua capacidade de liberar fl úor do componente de vidro no cimento. Portanto, os cimentos de ionômero de vidro combinam as qualidades adesivas dos cimentos de policarboxilato de zinco com a liberação de fl úor dos cimentos de silicato. A relação entre os diferentes materiais está mostrada na Figura 2.3.1.

Os cimentos de ionômero de vidro foram usados prin-cipalmente para restauração de lesões de abrasão/erosão e como agente cimentante de coroas e pontes protéticas. Atualmente sua aplicação clínica foi ampliada e inclui a restauração de lesões proximais, restaurações oclusais na dentição decídua, bases e forramentos cavitários e material para núcleo, pela introdução de uma variedade de novas formulações.

Uma recente inovação foi a modifi cação do cimento de ionômero de vidro pela incorporação de resina, que

permitiu ao material tomar presa através da ativação por luz. Esses novos materiais são, não surpreendente-mente, conhecidos como cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina (CIVMRs), embora algumas vezes sejam denominados híbridos de resina e ionômero de vidro. No entanto, a denominação preferida é CIVMRs.

Portanto, esse grupo de materiais merece atenção especial.

QUÍMICA DOS CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO

Composição

O que faz o cimento de ionômero de vidro um material tão interessante comparado com os cimentos de fosfato de zinco é a enorme variedade de composições que pode ser obtida. Os principais componentes de um CIV são o vidro, o poliácido, a água e o ácido tartárico.

A composição do vidro pode variar amplamente, dando muitas diferentes propriedades, além disso ainda existem numerosas combinações de poliácidos que são adequadas para a copolimerização. Em contrapartida, para os cimentos de fosfato de zinco, uma vez tendo a composição otimizada em termos da proporção pó:líquido e a concentração de ácido fosfórico, existirá um curto espectro para melhorias.

Obviamente, uma variedade tanto pode ser um obs-táculo como pode ajudar, e isto se refl etiu no desenvol-vimento do cimento de ionômero de vidro, que surgiu no início dos anos 1970.

Não se pode alegar que os cimentos de ionômero de vidro tiveram uma passagem tranquila desde a sua con-cepção. A prova desta afi rmação é baseada na observação de que os materiais comercializados na atualidade são bem diferentes daqueles disponíveis originalmente para o uso clínico. Os primeiros materiais consistiam em um pó de vidro ao qual era adicionada uma solução concen-trada de um ácido poliacrílico. O ASPA (Dentsply De Trey

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO120

Ltda, Weybridge, UK) foi o primeiro produto comercial, e foi lançado em 1976.

O VidroOs vidros para os cimentos de ionômero de vidro contêm três componentes principais: sílica (SiO2) e alumina (Al2O3) misturadas num fl uxo de fl uoreto de cálcio (CaF2), como mostrado na Figura 2.3.2. A composição do vidro está bem-restrita à região central do diagrama de fase para que se tenha um vidro translúcido.

A mistura (que também contém fl uoretos de sódio e alumínio e fosfatos de cálcio ou alumínio como fl uxos adicionais) é fundida em uma alta temperatura, e a massa derretida é então resfriada de maneira abrupta e fi na-mente triturada para formar um pó antes de ser usada.

O tamanho da partícula do pó depende da aplicação a que se destina. Para materiais restauradores o tamanho máximo da partícula é de 50 μm, enquanto que para materiais cimentantes e para forramento ele é reduzido para menos de 20 μm.

A taxa de liberação de íons do vidro (que é um fator importante na determinação das características de presa, solubilidade e liberação de fl úor) depende do tipo de vidro empregado (veja a seguir). O vidro também tem um papel importante na estética da restauração, pois ela depende tanto do índice de refração do vidro como da presença de pigmentos no seu interior.

PoliácidoExiste uma grande variedade de análogos do ácido polia-crílico, signifi cando que é possível uma ampla variedade de formulações, quando estes ácidos são combinados com variações do peso molecular e da confi guração. Os poliácidos mais usados nas formulações disponíveis são os copolímeros de ácido acrílico e itacônico ou ácido acrílico e maleico (Fig. 2.3.3).

Um produto relativamente novo é um CIV à base de um copolímero de ácido vinil fosfônico. Ele é um ácido muito mais forte que os outros usados nos cimentos

Cimentos depolicarboxilato

de zincoÓxidode zinco

Ácidofosfórico

Vidro dealumínio-silicato

Ácidopoliacrílico

Cimentosde fosfatode zinco

Cimentosde silicato

Cimentos deionômero de vidro

SiO2

Variação dacomposição do vidro

AI2O3 CaF2

H

C

COOH

COOH

C

COOH

OH OH

HC CH

COOH COOH

CH2 CH2

CH2

CH

HO P OH

O

CH2

Ácido acrílico Ácido itacônico

Ácido maleico Ácido tartárico

Ácido fosfórico

H

C

COOH

H

C

COOH

Figura 2.3.3 Componentes ácidos usados no cimento de ionômero de vidro.

Figura 2.3.1 Esquema dos vários cimentos odontológicos à base de pó de óxido de zinco e de vidro de alumínio-silicato e dos líquidos consistindo em ácido fosfórico e ácido poliacrílico.

Figura 2.3.2 Composição do vidro usado nos cimentos de ionômero de vidro.

Page 132: Introdução Aos Materiais Dentários

CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO E CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADOS POR RESINA 121

de ionômero de vidro, e a composição deve ser cuida-dosamente controlada para produzir um cimento com propriedades de manipulação adequadas. Contudo, acredita-se que ele promova uma maior resistência ao longo do tempo e uma melhoria na resistência à umidade.

Existe uma concentração ácida ótima no caso dos cimentos de silicato, mas os cimentos de ionômero de vidro não são tão dependentes desse fator. A força e a resistência ao ataque hídrico aumentam uniformemente com a concentração do poliácido, portanto o fator limi-tante é a consistência da pasta do cimento. A viscosidade do líquido depende tanto da concentração do poliácido como do peso molecular, que pode variar de 10.000 a 30.000, dependendo da formulação escolhida. O ácido tartárico é um importante componente do CIV, pois tem uma infl uência importante nos tempos de trabalho e de presa.

Apresentação

Pó-líquidoMuitos cimentos de ionômero de vidro consistem em um pó de vidro ao qual é adicionado um líquido apropriado. O pó é como o descrito, e o líquido é uma solução aquosa de ácido poliacrílico ou polimaleico e ácido tartárico. Uma série de defi ciências foi logo reconhecida com essa forma de apresentação, o que acarretou uma mudança da formulação.

Um dos problemas é a excessiva solubilidade do cimento na saliva combinada com a lenta reação de presa, e outro é relativo ao estabelecimento da correta proporção pó/líquido. Existe uma tendência de se reduzir o conteúdo de pó com o objetivo de se obter uma pasta macia e cremosa, mas isso resulta numa reação de presa mais lenta, em um cimento mais fraco que é mais susce-tível à dissolução (Fig. 2.3.4).

Cimentos AnidrosAtualmente, muitos cimentos de ionômero de vidro são do tipo endurecido por água, e o cimento é formado pela adição da correta quantidade de água destilada. O pó de vidro é misturado com poliácido liofi lizado e pó de ácido tartárico.

O primeiro produto que usou tal abordagem foi lançado comercialmente em 1981. As novas formula-ções, descritas como sistemas anidros, apresentavam-se como um pó e um líquido. O pó contém vidro de alu-mino-silicato, pó de poliácido e de ácido tartárico, e o líquido é apenas água destilada.

CápsulasÉ sabido que conseguir uma proporção pó/líquido correta ainda pode ser um problema, e é necessário um processo vigoroso de mistura para garantir que todo o pó seja incorporado no líquido. Uma forma de superar isso é o uso de cápsulas pré-dosadas.

O conteúdo das diferentes cápsulas não possui neces-sariamente os mesmos constituintes, por isso não é aconselhável misturá-los. Por exemplo, para assegurar a manipulação e as propriedades físicas mais adequadas, os materiais restauradores possuem partículas de vidro muito maiores que dos agentes cimentantes. Da mesma forma, os líquidos usados podem variar na composi-ção para se adequar a uma determinada formulação de vidro e para se obter os tempos de trabalho e de presa mais adequados. Isso será tratado com mais detalhes posteriormente, de acordo com a aplicação das diferentes formulações.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A difi culdade em dosar e misturar a quantidade correta de pó e líquido desses materiais signifi ca que as cápsulas pré-dosadas são preferíveis para se obter uma melhor consistência.

Reação de Presa

A reação de presa dos cimentos de ionômero de vidro é obtida por meio de uma reação ácido-base:

MO.SiO2 + H2A → MA + SiO2 + H2O

vidro ácido sal silica gel

O processo de presa do cimento de inômero de vidro envolve três etapas superpostas:

■ dissolução;■ geleifi cação; e■ endurecimento.

Isso acontece por causa das diferentes taxas nas quais os íons são liberados do vidro e da taxa na qual a matriz

Proporção pó-líquido crescente

Tempo de presa

Resistência à compressão

Figura 2.3.4 Os efeitos das alterações na proporção pó:líquido nas propriedades dos cimentos de ionômero de vidro.

Page 133: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO122

salina é formada (Fig. 2.3.5); como se pode ver dessa curva, os íons de cálcio são liberados mais rapidamente que os íons de alumínio. Isso ocorre porque os íons de cálcio apenas são ligados frouxamente na estrutura vítrea, enquanto que os íons de alumínio formam parte da trama de vidro, que é mais difícil de se romper. São os íons de cálcio e alumínio que podem formar afi nal a matriz salina. Os íons de sódio e fl úor não participam da reação de presa, mas se combinam para serem liberados como fl uoreto de sódio.

DissoluçãoQuando a solução comercial ou água é misturada com o pó, o ácido penetra na solução e reage com a camada mais externa do vidro. Essa camada perde os íons de alu-mínio, cálcio, sódio e fl úor, de forma que só permanece um gel de sílica (Fig. 2.3.6).

Os íons de hidrogênio que são liberados dos grupos carboxílicos da cadeia poliácida podem se difundir pelo vidro e promover a perda de mais íons de cálcio, alumí-

nio e fl úor. A reação de presa do cimento é um processo lento e leva um certo tempo para o material se estabilizar; a translucidez fi nal do material não é aparente antes de 24 horas após a colocação.

Embora o material pareça duro após o tempo de presa necessário (geralmente 3 a 6 minutos, dependendo se for um material restaurador ou agente cimentante), suas propriedades físicas e mecânicas fi nais não são alcança-das e a reação continua por até um mês.

Geleifi caçãoA presa inicial ocorre devido à ação rápida dos íons de cálcio que, sendo bivalentes e inicialmente mais abun-dantes, reagem mais rapidamente com os grupos car-boxílicos do ácido do que fazem os íons trivalentes de alumínio (Fig. 2.3.7). Isso é a fase de geleifi cação da reação de presa. A efi ciência dos íons de cálcio em fazer ligações cruzadas com as moléculas de poliácido não é tão boa como poderia ser, pois esses íons também são capazes de quelar os grupos carboxílicos da mesma molécula.

Várias coisas podem acontecer se a restauração não for protegida do ambiente externo durante essa fase crítica. Os íons de alumínio podem se difundir para fora do material e serem perdidos do cimento, fi cando assim incapazes de fazer ligações cruzadas com as cadeias de ácido poliacrílico. Se a água for perdida, a reação não poderá se completar. Em ambos os casos, o resultado será um material fraco. De maneira alternativa, pode ocorrer absorção de umidade adicional, que poderá estar conta-minada por sangue ou saliva, comprometendo a estética, com a restauração adquirindo, excepcionalmente, um aspecto esbranquiçado e opaco. A umidade contami-nante também enfraquece o material e pode até causar a sua fratura. Portanto, é essencial que a contaminação por umidade e a secagem da restauração sejam evitadas, pelo menos durante o período inicial da reação, quando o material está muito vulnerável.

EndurecimentoApós a fase de geleifi cação, existe uma fase de endure-cimento, que pode durar tanto quanto sete dias. São

Libe

raçã

o do

íons F

0 1.00010010

Ca

Al

Na

Tempo (min)

Poliácidolíquido

Polissaisde cálcio

e alumínio

Núcleodo

vidro

Íons de cálcio,alumínio e flúor

Íons dehidrogênio

Políons

Sílica gel

Figura 2.3.6 Os estágios iniciais da reação de presa num cimento de ionômero de vidro.

Figura 2.3.5 A variação das taxas de liberação de íons do vidro.

Figura 2.3.7 Fase de geleifi cação do processo de presa.

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CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO E CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADOS POR RESINA 123

necessários aproximadamente 30 minutos para que a quantidade de íons de alumínio se torne signifi cante, embora sejam os íons de alumínio que forneçam a resis-tência fi nal ao cimento, pois eles são responsáveis pela introdução das ligações cruzadas. Em contrapartida com os íons de cálcio, a natureza trivalente dos íons de alu-mínio garante a ocorrência em alto grau das ligações cruzadas das moléculas de polímero (Fig. 2.3.8).

Existe uma continuação da formação de pontes de sal de alumínio, e a água se torna ligada ao gel de sílica, que agora reveste o núcleo residual de cada partícula de vidro. Tendo o cimento totalmente reagido, a solu-bilidade é muito baixa. A estrutura fi nal é mostrada na Figura 2.3.9 e consiste em partículas de vidro, cada uma revestida por um gel de sílica numa matriz de ácido poliacrílico de ligações cruzadas.

Embora normalmente seja desejável para os vidros resistir à liberação de íons, no caso dos cimentos de ionômero de vidro é essencial uma liberação controlada dos íons de cálcio e alumínio. A experiência em escolher o vidro e a formulação correta é equilibrar os vários requisitos das boas características de manipulação, baixa solubilidade, liberação de fl úor adequada e estética.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Os CIVs possuem presa lenta e necessitam de proteção do meio bucal para minimizar a dissolução ou a contaminação.

PROPRIEDADES

Características de Manipulação

Os efeitos da composição do vidro no processo de reação são muito pronunciados e de importância considerável na determinação da aceitabilidade das características fi nais de manipulação do cimento. A proporção de Al:Si do vidro dos cimentos de ionômero de vidro é mais alta que a dos cimentos de silicato, porque o ácido poliacrí-lico e seus análogos são muito mais fracos que o ácido fosfórico. Um dos efeitos dessa proporção aumentada é a redução do tempo de trabalho.

Contudo, os cimentos de ionômero de vidro são pre-viamente inclinados a ter tempos de trabalho e de presa prolongados. Isso era certamente um problema sério com as formulações iniciais desse cimento até ser superado pela inclusão da concentração ótima de ácido tartárico. Acredita-se que o ácido tartárico possua duas funções. Primeiro, reage rapidamente com os íons de cálcio que são liberados do vidro, havendo a formação de tartarato de cálcio, que possui o efeito de prolongar o tempo de trabalho. Isso é seguido por uma melhoria na taxa de for-mação das ligações cruzadas de poliacrilato de alumínio, o que acelera a reação de presa (Fig. 2.3.10).

Pela manipulação da composição do vidro e do tamanho da partícula e pela incorporação do ácido tartá-rico, as características de manipulação foram muito aper-feiçoadas no decorrer dos anos e hoje são bem-superiores aos produtos disponíveis inicialmente. Essas melhorias são apresentadas na Tabela 2.3.1. Como consequência de tais mudanças, agora os cimentos de ionômero de vidro possuem uma presa bem mais defi nida.

Adesão

Um dos aspectos mais atrativos do cimento de ionô-mero de vidro é ser um material restaurador de inserção em uma única porção (não necessita de inserção incre-mental), que é capaz de aderir diretamente à dentina

Vidro de alumínio-silicato

Sílica gel

Poliácido de ligação cruzada

Figura 2.3.9 A estrutura de um cimento de ionômero de vidro.

Figura 2.3.8 Fase de endurecimento do processo de presa.

Page 135: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO124

e ao esmalte. Foi mostrado que os íons de poliacrilato tanto reagem com a estrutura de apatita (deslocando os íons de cálcio e fosfato e criando uma camada inter-mediária de íons de poliacrilato, fosfato e cálcio) como aderem diretamente ao cálcio na apatita, como mostra a Figura 2.3.11.

A adesão à dentina pode ser do tipo ponte de hidro-gênio ao colágeno combinada com uma ligação iônica à apatita na estrutura dentinária. A resistência de união, como medida nos testes de resistência de união por cisalhamento, sugeriria que não é particularmente forte (2-7MPa), mas a experiência clínica indicaria que é durável quando o material é usado para restauração de lesões de erosão. Sejam lá quais forem os detalhes do pro-cesso de adesão, a adesão criada é sufi cientemente forte, tal que quando um CIV se descola, a fratura em geral é no interior do cimento e não ao longo da interface. Por isso, a principal limitação da resistência de união do cimento de ionômero de vidro parece ser a sua baixa resistência à tração, que é apenas ao redor de 7 MPa e é devida à natureza friável destes materiais.

Para se obter uma boa adesão à dentina, a superfí-cie deve ser tratada primeiro com um condicionador. O melhor condicionador parece ser o ácido poliacrí-lico, embora o ácido tânico tenha se mostrado também efi caz. A típica resistência de união por tração que

foi medida quando unida à dentina está mostrada na Tabela 2.3.2.

O objetivo principal do tratamento da superfície é remover os resíduos e produzir uma superfície lisa e limpa. O ácido cítrico não deve ser usado porque abre os túbulos dentinários, aumentando a permeabilidade dentinária e o potencial de reação pulpar. Além disso, ele desmineraliza a dentina, o que pode comprometer a adesão ao componente apatita.

Estética

Um requisito importante para qualquer material restau-rador para uso em dentes anteriores é o seu mimetismo com os tecidos dentários adjacentes, de forma a se torna-rem indistinguíveis. Os fatores que governam são a cor e a translucidez do material restaurador.

Nos cimentos de ionômero de vidro a cor é produzida pelo vidro. Ela pode ser controlada pela adição de pig-mentos, tais como o óxido férrico ou o carbono preto.

Com ácidotartárico

Sem ácidotartárico

Vis

cosi

dade

Tempo

Figura 2.3.10 O efeito do ácido tartárico na curva de viscosidade em função do tempo de presa de um cimento de ionômero de vidro.

Tabela 2.3.1 Características de manipulação dos cimentos de ionômero de vidro (CIVs) antigos e novos

Material Mistura Trabalho Presa Acabamento

ASPA 60 s 90 s 6 min 24 h

CIV moderno

20 s 75 s 2 min 7 min

Ligaçãoiônica

Ca2+COO–COO–COO–

Poliácido

Ponte dehidrogênio

H

Esmalte

Figura 2.3.11 Mecanismos de adesão dos cimentos de ionômero de vidro.

Tabela 2.3.2 Efeitos dos tratamentos superfi ciais na resistência de união à tração dos cimentos de ionômero de vidro ao esmalte e à dentina

Tratamento superfi cial Resistência de união (MPa)

Esmalte

Nenhum 3,2

Ácido cítrico 5,6

Ácido poliacrílico 7,1

Dentina

Nenhum 3,1

Ácido cítrico 3,7

Ácido poliacrílico 6,8

Page 136: Introdução Aos Materiais Dentários

CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO E CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADOS POR RESINA 125

Enquanto a cor não representa um grande problema, a translucidez dos primeiros cimentos de ionômero de vidro era inadequada, sendo mais comparável com a da dentina do que com a do esmalte. Esta falta de translu-cidez signifi cou que a aparência estética dos cimentos de ionômero de vidro foi sempre considerada inferior à da resina composta. Os cimentos pareciam opacos e sem vida, o que limitava sua aplicação como material restaurador para tratamento de lesões de erosão e cavi-dades classe III não críticas. Existem essencialmente duas causas para a opacidade dos cimentos de ionômero de vidro:

1. Separação de fase do vidro. De alguma forma tal pro-blema pode ser superado pela redução do conteúdo de alumínio, cálcio e fl uoreto do vidro, mas isso reduz a resistência do material e prolonga os tempos de tra-balho e de presa.

2. Discrepância do índice de refração. Este problema pode ser minimizado pela redução do conteúdo de alumínio e aumento do conteúdo de fl úor; contudo, esse último conduz à separação de fase. Em geral, os cimentos de ionômero de vidro com boas propriedades ópticas tendem a possuir características defi cientes de presa.

A translucidez de um material restaurador pode ser descrita e medida considerando-se o seu inverso ⎯ opa-cidade. Opacidade é defi nida como sendo zero para um material transparente e 1,0 para um material branco opaco. A opacidade, ou relação de contraste, é defi nida como a proporção entre a intensidade da luz refl etida por um material quando colocado contra um fundo escuro e aquela obtida para um fundo branco de refl ectividade conhecida (70% no caso dos cimentos odontológicos).

Esta não é uma propriedade absoluta do material, pois depende da sua espessura e da distribuição do espectro da luz visível incidente. Tal propriedade, denominada C0,70 (Cap. 18), dá valores médios para o esmalte e a dentina de 0,39 e 0,70, respectivamente. As primeiras formulações dos cimentos de ionômero de vidro atingiam valores de C0,70 na faixa de 0,7 a 0,85. Elas foram melhoradas e agora estão se aproximando aos valores do esmalte, com valores de C0,70 de 0,4 para algumas formulações.

A opacidade é afetada pela absorção de água, que causa uma diminuição na opacidade. Portanto, clinica-mente, a restauração pode escurecer quando entra em contato com a saliva.

Selecionar a cor e a translucidez apropriadas é uma tarefa difícil, pois são afetadas pelas propriedades ópticas do material subjacente. Em algumas ocasiões, a transluci-dez tem que ser sacrifi cada lançando-se mão de um mate-rial relativamente opaco com o objetivo de mascarar uma subestrutura particularmente escura. Nesses casos, os cimentos de ionômero de vidro podem se mostrar particularmente benéfi cos.

Mesmo que a combinação inicial da cor e da translu-cidez entre o esmalte e o cimento de ionômero de vidro

seja importante, também é importante que essa boa com-binação seja mantida no ambiente severo que é a cavi-dade bucal. A perda da qualidade estética da restauração pode surgir pelo manchamento que, se for excessivo, poderá ser considerado como falha clínica e necessitar substituição.

Os cimentos de ionômero de vidro parecem ser menos suscetíveis ao manchamento que os cimentos de silicato, que os precederam. Isso foi atribuído à adesão superior entre a matriz e o vidro do cimento de ionômero de vidro, quando comparada à adesão entre a resina e a carga no compósito. Contudo, os compósitos melhoraram consi-deravelmente nos últimos anos e agora são menos sus-cetíveis ao manchamento superfi cial. O manchamento das margens em torno dos cimentos de ionômero de vidro também se mostrou bem menos pronunciado que das resinas compostas. Isso pode ser um refl exo da exce-lente adesão que pode ser obtida entre um cimento de ionômero de vidro e os tecidos dentários. Um outro fator contribuinte pode ser a contração de presa dos CIVs, que é consideravelmente menor que a das resinas. De fato, os cimentos de ionômero de vidro tomam presa por uma reação ácido-base mediada por ligações cruzadas das cadeias de poliácido, que inerentemente produz menos contração que a polimerização. Por isso, tensões interfa-ciais locais geradas serão menores, e a adesão possui uma melhor chance de sobrevivência.

Solubilidade

Devido à sua alta solubilidade, os silicatos odontológicos tinham a reputação de perda do material na boca. Em alguma extensão, isso pode ser atribuído ao preparo e à manipulação incorretos, mas é uma característica ine-rente de todos os cimentos odontológicos e, como tal, os cimentos de ionômero de vidro não são exceção.

Contudo, esse aspecto negativo do comportamento do material pode ser minimizado por uma apreciação dos mecanismos envolvidos e pela adoção de uma técnica clínica apropriada. Os processos que levam à perda de material são complexos, e existem muitas variáveis en -volvidas, tais como a composição do cimento, a técnica clínica usada e a natureza do ambiente. A perda de mate-rial de um cimento de ionômero de vidro pode ser clas-sifi cada em três categorias principais:

■ dissolução do cimento imaturo;■ erosão a longo prazo; e■ abrasão.

A dissolução do cimento imaturo ocorre antes do material ter tomado presa totalmente, o que pode levar até 24 horas. A proteção temporária por uma camada de nitrocelulose, metil metacrilato ou resina amida atuando como um verniz seria sufi ciente para minimizar tal efeito. Esta proteção deve sobreviver por pelo menos uma hora, pois leva muito tempo para o cimento de ionômero de

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO126

vidro obter as propriedades que são alcançadas quando está totalmente reagido. No momento, existe muita controvérsia sobre a qualidade e a duração da proteção oferecida pelos diferentes vernizes disponíveis, e alguns clínicos defendem o uso de uma resina ativada por luz sem carga, pois ela dará uma proteção mais prolongada. Uma alta proporção pó/líquido ajuda, porque acelera o processo de presa, enquanto que uma fi na mistura tem o efeito contrário e também afeta adversamente as pro-priedades mecânicas (Fig. 2.3.4).

Tendo o cimento tomado presa totalmente (em geral dentro de 2 a 3 dias; manifestado por uma queda brusca da quantidade de material desprendido na água), tal forma particular de perda de material cessará. Desse ponto em diante, a perda de material pode ser conside-rada a longo prazo, já que é em função das condições no meio bucal.

A perda do material a longo prazo pode surgir tanto do ataque ácido quanto da abrasão mecânica. Isso é muito surpreendente, uma vez que a principal aplicação dos cimentos de ionômero de vidro é a restauração de lesões surgidas por causa do efeito combinado do ácido e da abrasão. O potencial de ataque ácido tende a ser bastante marcado nas regiões de estagnação, tais como em torno da margem gengival. Aqui, a placa se acumula e um ambiente altamente ácido se desenvolve devido à formação de ácido lático. Os cimentos de ionômero de vidro são mais resistentes a tal forma de ataque que os cimentos de silicato, como indicado por uma redução na extensão das marcas superfi ciais.

Os cimentos de ionômero de vidro são usados exten-sivamente em aplicações, onde estarão sujeitos à abrasão mecânica, como a escovação. Sua resistência à abrasão é defi ciente, o que limita a sua aplicação a condições de baixa tensão e certamente impede o seu uso como mate-rial restaurador permanente para dentes posteriores.

Um teste in vitro, no qual amostras de cimentos foram inseridas em pequenos suportes e submetidas a um jato líquido consistindo em um ácido diluído, tentava verifi -car a perda de material por uma combinação de abrasão e ataque ácido. Usando esse método, as indicações são de que os cimentos à base de ácido poliacrílico são mais resistentes à abrasão/erosão que os cimentos à base de ácido maleico. No entanto, deve-se lembrar que essa observação é baseada num teste laboratorial e seria neces-sário ser confi rmado clinicamente antes que sua valida-ção possa ser estabelecida.

Liberação de Flúor

O fato de que os cimentos odontológicos se dissolvem no meio bucal é considerado um efeito adverso, pois leva à degradação do material. Contudo, o fl úor também é libe-rado, e acredita-se que isso aumenta signifi cativamente a resistência à formação de lesões de cárie do esmalte adjacente à restauração. Ainda é um assunto de debate se

a liberação de fl úor ou outros fatores (p. ex., a liberação de outros íons, as propriedades antibacterianas e a capa-cidade adesiva) exercem um papel importante nas carac-terísticas anticariogênicas dos cimentos de ionômero de vidro. Todavia, têm sido feitas tentativas para conferir tal propriedade aos amálgamas e compósitos, assim como também para os cimentos de ionômero de vidro.

É um dilema interessante para o dentista fazer a escolha entre um cimento de ionômero de vidro ou um compósito, com o primeiro sendo defi nitivamente mais fraco, mas promovendo alguma proteção dos tecidos cir-cundantes, e o último sendo mais estável e mais forte, mas não fornecendo tal proteção.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O cimento de ionômero de vidro é um material de inserção em uma única porção, que libera fl úor e que é intrinsecamente adesivo.

APLICAÇÕES CLÍNICAS

Deve ser apreciado, do exposto, que os cimentos de ionô-mero de vidro são designados para se adequarem a uma grande variedade de aplicações, com sua abrangência englobando materiais com propriedades amplamente diferentes.

Portanto, embora eles sejam baseados nos mesmos princípios destacados anteriormente, cada formula-ção possui características que a tornam mais adequada para uma aplicação particular, e é importante que não sejam confundidas. As várias aplicações estão listadas na Tabela 2.3.3, mas apenas os materiais restauradores estéticos serão considerados neste capítulo.

Materiais Restauradores da Cor do Dente

ApresentaçãoOs materiais estão disponíveis em três formulações:

■ os sistemas tradicionais pó-líquido com os poliácidos em uma solução aquosa;

■ os sistemas anidros com o ácido ressecado incorpo-rado no pó;

■ versões encapsuladas.

As últimas versões requerem ativação da cápsula e mistura num amalgamador, o que assegura uma propor-ção pó:líquido precisa, que não diferem das obtidas para as cápsulas de amálgama.

Algumas propriedades de alguns cimentos de ionô-mero de vidro de cor do dente são mostradas na Tabela 2.3.4. As diferenças não são realmente sufi cientes para sugerir que um material seja superior ao outro.

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CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO E CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADOS POR RESINA 127

A principal característica de todos esses materiais é a sua baixa resistência à tração diametral, que é uma indicação da sua baixa resistência à tração. Portanto, os cimentos de ionômero de vidro não devem ser usados em locais onde estarão sujeitos a altas cargas de tração, tais como restauração de bordo incisal, substituição de cúspide ou núcleos retidos a pino. Em situações que a restauração estiver totalmente apoiada ao redor por tecido dentário, o cimento de ionômero de vidro estará protegido (até um certo grau) das cargas de tração.

O tamanho das partículas do pó de vidro garante a obtenção de uma proporção pó:líquido muito alta e se refl ete na resistência à compressão e à tração diametral desses materiais. (Essas resistências são muito maiores que as dos agentes cimentantes e as dos cimentos forrado-res descritos posteriormente.) Isso também afeta a solubi-lidade, que é reduzida conforme a proporção pó:líquido é aumentada.

Existem diferenças nos tempos de trabalho e de presa dos diferentes cimentos: alguns possuem tempos de presa mais curtos que outros (o que é desejável na limitação da solubilidade precoce), mas o tempo de trabalho é também muito reduzido, o que pode representar um problema para alguns clínicos.

Seleção da CorA qualidade estética dos cimentos de ionômero de vidro da cor do dente já foi considerada uma desvantagem,

mas as mudanças recentes na formulação resultaram numa melhora acentuada.

A escolha da cor do material restaurador deve ser reali-zada antes do isolamento do dente ou de qualquer forma de preparo. A cor do lençol de borracha, quando usado, altera a cor do dente. Tal mudança na cor é aumentada ainda mais quando o esmalte é desidratado durante o isolamento.

Para a restauração de lesões que envolvem uma extensa quantidade da superfície vestibular, o uso dos cimentos de ionômero de vidro pode não fornecer um resultado esteticamente adequado, e o uso dos compósitos deve ser considerado. Contudo, para aqueles pacientes que são conhecidos por possuir um alto índice de cárie, pode ser melhor sacrifi car um pouco da qualidade estética dos compósitos em preferência à proteção do fl úor conferida pelos cimentos de ionômero de vidro.

Um outro aspecto da estética dos cimentos de ionô-mero de vidro é a observação de que existe uma altera-ção de cor durante o processo de presa. Geralmente, a cor se torna um pouco mais escura após o material ter tomado presa totalmente do que no momento da colo-cação. Acredita-se que tal escurecimento esteja associado ao aumento na translucidez durante a reação, que pode levar até 24 horas para se desenvolver.

Preparo CavitárioA qualidade adesiva dos cimentos de ionômero de vidro determina que uma abordagem ultraconservadora deve ser adotada. Isso signifi ca que é necessária uma remoção mínima de estrutura dental, enfatizando que não é necessária a remoção adicional dos tecidos dentários para a provisão de retenções adicionais ou cauda de andori-nha. Contudo, em situações que as restaurações podem estar sujeitas a alta tensão, alguma retenção pode ser vantajosa. No caso de substituição de restaurações, a res-tauração original deve ser removida cuidadosamente sem remover nenhum tecido dentário, a menos que esteja cariado. As margens cavo-superfi ciais devem terminar em 90° e não serem biseladas.

IsolamentoEmbora os cimentos de ionômero de vidro sejam mate-riais hidrofílicos, é recomendável que um cuidadoso iso-

Tabela 2.3.3 Aplicações clínicas dos cimentos de ionômero de vidro

Materiais restauradores da cor do dente

Lesões de abrasão e erosão

Lesões de classe III envolvendo a exposição de dentina radicular

Lesões oclusais na dentição decídua

Restaurações temporárias anteriores e posteriores

Reparo de margens coronárias

Bases e materiais para forramento cavitário

Cimento de base sob compósitos, amálgamas e cerâmicas

Regularização de retenções

Cimentação de coroas e pontes

Tabela 2.3.4 Resistência à compressão e a tração diametral de uma variedade de cimentos de ionômero de vidro para restauração disponíveis comercialmente

Material (fabricante) Resistência à compressão (MPa) Resistência à tração diametral (MPa)

Chemfi ll-II (De Trey) 230 19

Ketac-Fil (ESPE) 170 10

Legend (SS White) 220 16

Opus-Fil (DSD) 220 18

RGI (Rexodent) 220 16

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO128

lamento do campo operatório seja realizado. A presença de sangue ou saliva não só impedirá a formação de uma forte adesão, mas também levará à contaminação da restauração, reduzindo, portanto, a resistência de união e a estética. Um cimento de ionômero de vidro bem-colocado não deve falhar adesivamente, pois a adesão à dentina e ao esmalte é pelo menos tão forte quanto à resistência coesiva do cimento.

Preparo das Superfícies DentináriasA natureza da superfície dentinária varia de local para local, com a distinção principal sendo entre a dentina cortada após a remoção da cárie e a dentina esclerótica.

Lesões de Abrasão/Erosão As lesões na região cer-vical necessitam ser restauradas para fornecer proteção direta da polpa, impedir o desenvolvimento de sensibi-lidade pulpar e melhorar a aparência. Como os cimentos de ionômero de vidro são adesivos, não é necessário fazer nenhum preparo ou realizar retenções na dentina. O preparo antes da colocação do material deve envol-ver apenas a limpeza e o condicionamento da super-fície dentinária. O procedimento de limpeza deve ser realizado esfregando uma pasta de pedra-pomes e água por apenas alguns segundos com uma taça de borracha macia ou escova rotatória, com o objetivo de remover qualquer contaminante superfi cial, tais como placa ou película, que encubra a superfície dentinária. A superfí-cie deve ser lavada cuidadosamente para remover qual-quer resíduo. Um condicionador consistindo em uma solução aquosa de ácido poliacrílico pode ser aplicado à superfície por 30 segundos, esfregando levemente com uma bolinha de algodão. Este procedimento assegurará que a superfície seja limpa, mas também resultará em alguma abertura dos túbulos dentinários. Alguns podem argumentar que a exposição dos túbulos dentinários é contraindicada, pois ela aumenta a permeabilidade dentinária, aumentando então a probabilidade de uma reação pulpar. Provavelmente isso não é um problema no caso de pacientes que não possuem histórico de sensibilidade, pois os túbulos devem estar esclerosados, com deposição de dentina secundária. No entanto, para aqueles pacientes com sensibilidade, o tratamento ácido da superfície dentinária não deve ser executado. Existe ainda alguma controvérsia sobre a necessidade da aplica-ção prévia de ácido poliacrílico na superfície dentinária. Alguns estudos mostraram que isso melhora a resistência de união à dentina, enquanto que outros mostraram que não possui efeito algum.

Classe III, Classe V e Outras Lesões Cariosas Não é necessário limpar as cavidades com pedra-pomes e água no caso de lesões cariosas, pois as superfícies se compõem de dentina recentemente exposta. Contudo, existe ainda a lama dentinária a se considerar, que está presente em qualquer preparo cavitário. Como a lama dentinária está fortemente aderida à dentina subjacente, os resíduos

superfi ciais devem ser removidos, mas de forma a evitar a abertura dos túbulos dentinários. Novamente, o uso do ácido poliacrílico é recomendado. Uma variedade de outros condicionadores dentinários tem sido preconi-zada de tempos em tempos (p. ex., ácido cítrico, EDTA e cloreto férrico), mas eles não devem ser aplicados na dentina recém-cortada pelas mesmas razões já mencio-nadas. O condicionador dentinário mais simples e efi caz parece ser o ácido poliacrílico.

Proteção PulparA crescente aplicação dos cimentes de ionômero de vidro nos últimos anos levantou alguns problemas interessan-tes como a toxicidade pulpar associada a tais materiais e se um material de forramento deve ser usado ou não. Se o cimento estiver em contato direto com a polpa, isto resultará numa zona localizada de necrose pulpar, que inibe a reparação cálcica. Contudo, naqueles casos em que existe uma camada dentinária residual, ocorrerá a formação da ponte de dentina. Se a cavidade for muito profunda e houver a possibilidade de microexposição pulpar, então é recomendável a colocação do hidróxido de cálcio como forramento sobre os locais mais próximos da polpa das cavidades preparadas mecanicamente antes da inserção do cimento de ionômero de vidro.

Sugere-se que a potencial causa da sensibilidade pulpar quando são usados os cimentos de ionômero de vidro seja devida às diferenças nas técnicas de manipulação do cimento ou também a outros fatores desconhecidos relacionados ao paciente. Ainda assim, não está claro o que origina o pequeno número de casos de sensibilidade pulpar, nem está claro que papel a contaminação ou invasão bacteriana pode ter.

Baixos níveis de bactérias estão associados aos cimen-tos de ionômero de vidro mais do que aos cimentos de fosfato de zinco ou de policarboxilato de zinco. Isso pode ocorrer porque os cimentos de ionômero de vidro aplica-dos como materiais de forramento possuem um grande efeito antimicrobiano. Contudo, para todos os tipos de cimento de ionômero de vidro (incluindo os cermets de prata), é recomendável o forramento dentinário, espe-cialmente se o dente estiver sintomático ou se o preparo cavitário estiver particularmente profundo.

Existem situações em que uma pequena quantidade de cárie pode ser deixada nas partes mais profundas do preparo, quando houver o risco de microexposição pulpar se ela for removida. A habilidade do hidróxido de cálcio em ativar a formação de dentina secundária e sua alcalini-dade são de grande valor nessas circunstâncias. Contudo, tal material deve ser usado comedidamente para assegurar que a máxima quantidade de dentina permaneça exposta para adesão do cimento de ionômero de vidro.

Em geral, se houver alguma dúvida sobre a espes-sura de dentina remanescente, é aconselhável forrar a cavidade recém-preparada com hidróxido de cálcio. Para a dentina esclerótica, geralmente não é necessário usar

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CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO E CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADOS POR RESINA 129

uma base cavitária de hidróxido de cálcio, e o uso de ácido cítrico ou fosfórico deve ser evitado.

Dosagem, Manipulação e InserçãoPara os sistemas pó/líquido, deve-se tomar muito cuidado para garantir que a quantidade correta de pó seja mis-turada no líquido. É importante que as instruções do fabricante sejam seguidas cuidadosamente.

Leves batidas no frasco antes do uso garantirão que o pó não fi que compactado. O excesso de pó deve ser removido com uma espátula, e não contra a borda do frasco. O pó deve ser espatulado rapidamente no líquido em no máximo dois incrementos. O tempo máximo de mistura é 20 segundos. A incorporação inicial de uma grande quantidade de pó deve ser evitada, pois isso dará o aspecto de que a mistura está satisfatoriamente espessa embora a proporção pó:líquido esteja muito baixa.

No caso das cápsulas pré-dosadas, elas devem ser sacu-didas antes da ativação. A mistura deve ser realizada num amalgamador de alta velocidade, operando tipicamente em torno de 4.000 rpm, por um período de 10 segundos. Todo o processo de ativação, mistura e aplicação deve ser realizado sem qualquer demora.

A contaminação dos materiais restauradores com saliva deve ser evitada durante a inserção, presa e acabamento. A cavidade e a área circunjacente devem estar secas, embora a desidratação excessiva não deva ocorrer.

Acabamento e PolimentoApós a presa do material pelo tempo necessário, a matriz pode ser removida, e a restauração deve ser imediatamente protegida da contaminação ou desidratação, cobrindo-a com um verniz à prova d’água. O melhor acabamento superfi cial é obtido nesse estágio, e a remoção do excesso de material será prejudicial ao acabamento. No entanto, é praticamente impossível colocar um cimento de ionômero de vidro sem depois ter que realizar um desgaste e polimento.

O excesso grosseiro pode ser aparado com uma lâmina de bisturi. Como o material ainda está muito fraco e a adesão aos tecidos dentários é fraca, o processo de corte deve ser realizado da restauração em direção ao dente e não no sentido contrário. Foi demonstrado que o uso de instrumentos manuais para escultura pode danifi car a integridade marginal da restauração. De fato, um fabri-cante especifi camente recomenda que não sejam usados instrumentos manuais.

Foi sugerido que, após a presa inicial, o acabamento deve ser realizado com instrumentos rotatórios, tais como uma pedra branca, ou discos fl exíveis lubrifi cados com algum lubrifi cante, como a vaselina. O uso do spray de água nessa etapa não é recomendado, pois o material está ainda altamente solúvel. O acabamento fi nal não deve ser realizado, e é melhor deixar para a próxima visita do paciente, de preferência dentro de 24 horas.

Uma série de estudos demonstrou que se o acaba-mento for realizado logo após oito minutos, a superfície

resultante será muito defi ciente quando se usam discos abrasivos, rodas de borracha abrasiva, brocas de tungs-tênio/carbide ou pedras brancas, mesmo na presença da vaselina. Essa situação pode mudar com os mais recen-tes materiais de presa rápida, mas até então o acaba-mento imediato dos cimentos de ionômero de vidro é contraindicado.

Após 24 horas o material está sufi cientemente geleifi -cado para se realizar o acabamento fi nal usando-se tanto uma ponta diamantada de granulação fi na, como uma broca de tungstênio/carbide de 12 lâminas. Isso deve ser executado na presença de uma boa quantidade de água para evitar desidratação, que agora é possível, pois a sus-cetibilidade imediata de dissolução na água diminuiu. O polimento fi nal pode ser realizado com uma variedade de discos abrasivos, novamente na presença de água.

Seja qual for o método utilizado, não é possível se obter um acabamento superfi cial liso num cimento de ionô-mero de vidro. Isto ocorre devido ao tamanho grande da partícula de vidro usada na produção desses cimentos.

Proteção da SuperfícieO uso de um verniz é importantíssimo. Em geral são recomendadas soluções de resina natural (Copal) e sin-téticas (acetato de celulose) dissolvidas num solvente orgânico, como éter, acetona ou clorofórmio. Os vernizes de poliuretano, que se polimerizam em contato com a água e a nitrocelulose (esmalte de unha), são alternativas menos permeáveis e menos solúveis.

As resinas adesivas de esmalte ativadas por luz ou os adesivos dentinários que são fornecidos com os compósi-tos promovem um efeito selador particularmente efi ciente que dura o sufi ciente para oferecer a proteção necessária. A desvantagem do seu uso é que pode permanecer uma pequena saliência, especialmente na margem gengival, que deverá ser tratada num estágio posterior. Também, eles sofrem inibição pelo oxigênio, por isso a camada superfi cial permanece grudenta. Contudo, se for aplicada apenas uma fi na camada, ela será facilmente removida. O problema pode ser superado pelo uso de uma fi ta matriz, mas isto é muito trabalhoso de se usar. O polimento pos-terior deve ser realizado dentro de 24 horas.

O uso de lubrifi cantes ou géis como a vaselina oferece pouca proteção, pois são facilmente removidos pela ação dos lábios e da língua.

Ao se realizar outros procedimentos restauradores, as restaurações de ionômero de vidro colocadas há um certo tempo ainda necessitam ser protegidas da desidratação durante qualquer procedimento de isolamento prolon-gado do campo operatório. Esse é especialmente o caso quando se usa o lençol de borracha, pois a desidratação do cimento pode ser muito pronunciada e a contração resultante pode levar à fratura da restauração. Portanto, todas as restaurações de cimento de ionômero de vidro, coroas, margens de inlays e cermets devem ser protegidas com uma fi na camada de verniz.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO130

Desempenho ClínicoAs primeiras aplicações dos cimentos de ionômero de vidro sempre foram como material restaurador para o tratamento de lesões de abrasão e erosão e como agente cimentante de coroas, pontes e inlays. Com o advento de materiais mais novos e melhores, o seu uso está sendo estendido para incluir restaurações classe III, restaurações oclusais (principalmente em dentes decíduos), mate-rial para núcleo de preenchimento e cimento forrador adesivo sob restaurações com compósitos.

O grande interesse da avaliação clínica dos cimentos de ionômero de vidro foi centrado em torno do seu uso como material restaurador. A sua facilidade de colocação num só incremento, as suas qualidades adesivas e a sua proteção dada pelo fl úor são vistas como vantagens importantes sobre os compósitos esteticamente mais agradáveis.

Visto que há bem poucas publicações sobre o desem-penho clínico dos cimentos de ionômero de vidro em restaurações classe III e V, seria difícil, se não impossível, tirar muitas conclusões desses dados. Uma compilação dos resultados do desempenho de restaurações classe V é mostrada na Figura 2.3.12.

Em muitos dos estudos realizados, houve pouca pre-ocupação em relação à proporção pó:líquido exata para os primeiros materiais que surgiram, bem como a neces-sidade de proteção durante o longo período de presa. Portanto, os altos índices de insucesso relatados em tais estudos podem ser em consequência do uso de técni-cas impróprias ou inadequadas para esses materiais em particular.

Estudos mais recentes relataram uma taxa de reten-ção consistentemente mais alta para as restaurações de cimento de ionômero de vidro, em que existe principal-mente confi ança na sua adesão ao esmalte e dentina, confi rmando a união retentiva que é formada entre o cimento de ionômero de vidro e os tecidos dentários.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Em relação às taxas de retenção clínica das restaurações adesivas de classe V, os cimentos de ionômero de vidro mostraram uma união consistentemente durável aos tecidos dentários.

Embora não sejam recomendados para restaurações classe II em adultos, os cimentos de ionômero de vidro têm sido usados com algum sucesso em dentes decíduos posteriores. É necessário o mínimo preparo cavitário, e o selamento marginal e a liberação de fl úor compensam em certo grau a vida útil limitada de tais restaurações, que são aceitáveis quando usadas para suprir uma necessi-dade de curto prazo. Resultados muito promissores estão sendo obtidos na dentição decídua com os novos CIVs de alta viscosidade, algumas vezes referidos como CIVs condensáveis. A viscosidade maior foi atribuída à adição de ácido poliacrílico ao pó e a um tamanho de grão reduzido (aproximadamente 3 μm). Uma das principais atrações desses materiais é a característica de manipula-ção, parecida com o amálgama. Embora suas proprieda-des de resistência sejam pouco diferentes daquelas dos CIVs convencionais, a sua resistência à abrasão parece ser superior aos CIVs convencionais, o que foi atribuído ao tamanho de partícula reduzida do vidro. Os exemplos comerciais desses materiais incluem:

PRODUTO FABRICANTECHEMFLEX Dentsply, Weybridge, UKFuji IX GC UK, Ltd, Newport Pagnell, UKHI-FI Shofu, Tonbridge, UKKETAC-MOLAR ESPE UK Ltd, Knutsford, UK

CERMETS DE PRATA

Por sua natureza, o vidro é muito friável e tende a fratu-rar com relativa facilidade, quando comparado com os metais. A ideia é que a incorporação de prata no vidro aumente a tenacidade do material resultante por atuar como um absorvedor de tensões e melhorar as caracte-rísticas do desgaste. Isso é atribuído tanto ao aumento na tenacidade do material como ao coefi ciente de fricção muito baixo da superfície, com a prata conferindo um acabamento metálico polido.

Quanto às outras propriedades do material, tal como resistência à compressão, resistência à fl exão e solubili-dade, os cermets de prata não parecem melhores que os cimentos de ionômero de vidro.

Naturalmente, os cermets de prata possuem a capa-cidade de aderir ao esmalte e à dentina no mesmo grau que os cimentos de ionômero de vidro. Assim como com os cimentos de ionômero de vidro, é recomendado

Per

cent

ual d

e pe

rda

Anos

00

80

60

40

20

321

100

Figura 2.3.12 Compilação dos dados da sobrevida de restaurações classe V restauradas com o cimento ASPA, retirados de publicações durante o período de 1977-1983.

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CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO E CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADOS POR RESINA 131

que seja aplicado um condicionador de superfície tal como o ácido poliacrílico à dentina antes da colocação do cimento.

Composição e Apresentação

Os cermets de prata estão disponíveis tanto na compo-sição pó-líquido, apresentada em dois frascos separados que têm que ser misturados manualmente, como em cáp-sulas pré-dosadas que devem ser colocadas num amal-gamador de alta velocidade. Em algumas formulações, o pó é apresentado como uma mistura simples de vidro e prata, enquanto que em outras a prata é incorporada no pó de vidro.

O último é produzido de uma mistura de vidro e prata em volumes iguais (17,5/82,5% em peso). O tamanho da partícula de prata é de cerca de 3–4 μm. A mistura é formada em bolinhas e então sinterizadas a 800°C até o vidro e a prata se fundirem juntos e formarem uma mistura consolidada. A substância sólida sinterizada é então triturada para produzir o tamanho de partícula correto para a mistura e manipulação. As partículas são arredondadas pelo processo de trituração, o que ajuda na mistura com o poliácido.

Portanto, cada partícula consiste em uma mistura de partículas de vidro e de prata intimamente unidas uma à outra pelo processo de sintetização. Além do mais, é adicionado aproximadamente 5% de Ti2O, para melhorar a estética, pois atua como um agente branqueador. O líquido consiste em uma solução aquosa de um copolí-mero de ácido acrílico e/ou maleico (37%) e ácido tar-tárico (9%).

A resistência ao desgaste dos cermets de prata é ade-quada para cavidades classe I pequenas, e qualquer outra maior deve ser tratada com cuidado. Informações não publicadas sugerem que os cermets não suportam o des-gaste em restaurações amplas com múltiplas superfícies. Portanto, seu uso está muito limitado ao tratamento de lesões cariosas iniciais. Por causa da grande quanti-dade de prata nas partículas de pó, a restauração fi nal é sufi cientemente radiopaca para permitir facilmente a detecção de cárie recorrente.

Assim como com os cimentos de ionômero de vidro, a liberação de fl úor também ocorre com os cermets, o que fornece proteção ao esmalte adjacente à restauração. Contudo, existe evidência para sugerir que a liberação de fl úor dos cermets de prata não é tão alta quanto a dos CIVs e que esses materiais não fornecem o mesmo grau de proteção contra lesões de cárie como fazem os CIVs. Os cermets de prata não corresponderam à expectativa, especialmente em restaurações oclusais da dentição decídua. O seu desempenho foi tal que a continuação do seu uso é questionável, especialmente à luz das contínuas melhorias feitas nos CIVs convencionais e a introdução dos CIVs modifi cados por resina.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O desempenho clínico dos cermets de prata é tal que o seu uso continuado é contraindicado.

CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADOS POR RESINA

Algumas das principais desvantagens dos cimentos de ionômero de vidro são:

■ tempo de trabalho curto e tempo de presa longo;■ baixa resistência e baixa tenacidade;■ aparecimento de fendas devido a desidratação; e■ baixa resistência ao ataque ácido.

Com o advento das resinas compostas ativadas por luz, os dentistas começaram a se queixar de que as caracterís-ticas de manipulação dos CIVs estavam longe do ideal. Ainda assim, o material continuava a ser usado por causa da sua liberação de fl úor e das propriedades adesivas. Os fabricantes almejaram melhorar as propriedades de manuseio dos CIVs pela incorporação de uma resina que se polimerizaria sob a ação da unidade polimerizadora de luz azul. Esses são os materiais conhecidos como CIVs modifi cados por resina. Embora algumas vezes também sejam denominados CIVs híbridos ou ativados por luz, tais termos devem ser desencorajados porque não são sufi cientemente específi cos e podem ser confundidos com alguns materiais como os compômeros.

Composição

O material é apresentado como um sistema de pó-lí-quido, com o pó consistindo em um vidro radiopaco de fl úor-alumínio-silicato e um líquido ativado por luz mantido em um frasco escuro (para proteger da luz ambiente) ou na forma de cápsula. A composição do líquido varia de produto para produto, mas em geral é uma solução aquosa de monômeros hidrofílicos, por exemplo, hidroxietil metacrilato (HEMA), ácido poliacrí-lico ou um copolímero do ácido poliacrílico com alguns grupos metacriloxi pendentes, ácido tartárico e um ini-ciador ativado por luz. A escolha da resina é limitada pelo fato de que os CIVs são materiais à base de água e por isso a resina necessita ser solúvel em água. O HEMA é um monômero hidrofílico muito efetivo nesse aspecto e se dissolve prontamente na água.

Reação de Presa

A reação de presa ácido-base é essencialmente a mesma dos cimentos de ionômero de vidro e é iniciada quando o pó e o líquido são misturados. O material difere dos outros cimentos de ionômero de vidro no fato de que essa reação é muito mais lenta, promovendo um tempo de trabalho consideravelmente mais prolongado.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO132

A presa rápida é fornecida pelo mecanismo de ativa-ção por luz, causando a polimerização do HEMA, e, para os materiais contendo copolímero, promovendo ligações cruzadas adicionais por meio dos grupos metacrilato pendentes, como mostra a Figura 2.3.13. Uma vez mis-turado, o material polimerizará logo após 30 segundos de exposição à luz. Se não exposto à luz, o material poderá tomar presa em torno de 15 a 20 minutos. Deve-se obser-var que a reação de polimerização por luz precede a formação das pontes de sal de alumínio. Portanto, tais materiais continuarão a geleifi car via reação ácido-base por algum tempo após o processo de polimerização ter sido completado.

Alguns sistemas também são conhecidos por conter um processo de polimerização por reação de oxidação-re-dução, promovido por um ativador e um iniciador, nesse caso usando a tecnologia de microencapsulamento. Isso possui a vantagem de que se a luz da unidade polime-rizadora não for capaz de penetrar toda a profundidade da restauração, a reação de oxidação-redução assegurará a polimerização do componente resinoso em toda a sua profundidade. Isto signifi ca que não é necessária a inser-ção incremental dos CIVMRs para os sistemas contendo reação de oxidação-redução. Uma desvantagem com esse sistema é que ele não pode ser fornecido na forma encapsulada, pois as tensões de cisalhamento durante a mistura da cápsula, diferentemente da mistura manual, são insufi cientes para quebrar as microesferas de vidro.

Como uma nota de advertência, deve-se lembrar que podem ter alguns dos problemas inerentes associados aos compósitos ativados por luz, tais como a profun-didade limitada de polimerização, que requer inserção

incremental, e a contração de polimerização, que pode comprometer a adesão ao dente.

Propriedades

A adição da química resinosa aos CIVs melhorou de forma signifi cativa muitas das suas propriedades. Usando essa abordagem, as vantagens dos cimentos de ionômero de vidro, tais como a capacidade de aderir à dentina e ao esmalte e a liberação de fl úor, foram combinadas com o tempo prolongado de trabalho e uma presa rápida, após a irradiação com luz visível. A restauração pode também ser polida imediatamente.

Acredita-se que sua resistência intrínseca e superfi cial à dessecação e ao ataque ácido foi muito melhorada. A adesão ao esmalte e à dentina é boa, se não supe-rior àquela dos cimentos de ionômero de vidro, pois os componentes resinosos conferem adicional resistência à tração ao cimento depois de pronto. Um exemplo típico das diferenças das propriedades entre os CIV e CIVMR de um mesmo fabricante é mostrado na Tabela 2.3.5.

Uma desvantagem potencial com a incorporação do HEMA nesses sistemas é que relatou-se que o HEMA é citotóxico quando entra em contato com os tecidos da polpa dental e os osteoblastos. Portanto, é muito impor-tante seguir os procedimentos necessários que garantirão que todo o HEMA seja polimerizado.

Aplicações

Os cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina só foram introduzidos recentemente, e foram projetados especifi camente como materiais restauradores diretos ou como bases ou materiais de forramento para uso sob compósitos, amálgamas e restaurações cerâmi-cas. Quando usado em conjunção com os compósitos, é obtida uma forte adesão entre o material de forramento e o compósito e não existe necessidade de condicionar a superfície do cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina.

Luz

Figura 2.3.13 Combinação entre as ligações cruzadas ativadas por luz e endurecimento durante o processo de presa de um CIV modifi cado por resina.

Tabela 2.3.5 Propriedades relativas de um cimento de ionômero de vidro (CIV) e de um cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina (CIVMR)

Propriedade CIV CIVMR

Tempo de trabalho 2 min 3 min 45 s

Tempo de presa 4 min 20 s

Resistência à compressão 202 MPa 242 MPa

Resistência à tração diametral 16 MPa 37 MPa

Resistência de união por cisalhamento ao esmalte bovino

4,6 MPa 11,3 MPa

Resistência de união por cisalhamento à dentina bovina

4,3 MPa 8,2 MPa

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CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO E CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADOS POR RESINA 133

Tais materiais se tornaram muito populares e possuem o potencial de substituir os CIVs como materiais restau-radores e muitos tipos de bases e forradores cavitários. Se eles são superiores ou não e substituirão os CIVs, apenas o tempo dirá. Contudo, as indicações prévias mostram que esses materiais são mais populares que os CIVs para forramento. Os CIVMRs também têm melhor desem-penho que os CIVs tradicionais como materiais restau-radores para dentes posteriores na dentição decídua e são comparáveis aos novos CIVs condensáveis. Alguns dos materiais restauradores mais recentes estão listados a seguir.

PRODUTO FABRICANTEFUJI-II-LC Improved GC UK, Ltd, Newport Pagnell, UKVITREMER 3M/ESPE, Loughborough, UKPHOTAC-FIL QUICK 3M/ESPE, Loughborough, UKRESTORE-PF VLC First Scientifi c Ltd, Abertillery, UK

Existem diferenças signifi cativas na composição e nas propriedades desses materiais. Os CIV modifi cados por resina se comportam de modo muito diferente um do outro, dependendo da quantidade e do tipo de elemento resinoso incorporado e dos mecanismos de polimeriza-ção empregados. Portanto, cada produto possuirá pro-

priedades de manipulação que são mais adequadas em função apenas da seleção dos dentistas.

RESUMO

Os cimentos de ionômero de vidro tiveram um impacto muito importante na odontologia restauradora. Uma grande variedade de formulações está agora disponível, projetada para uma ampla faixa de aplicações. Os novos CIVMRs são materiais com propriedades superiores. Contudo, essas melhorias são ainda insufi cientes para competirem com as resinas compostas em situações de altas tensões mastigatórias, tais como restauração de bordo incisal e restaurações oclusais posteriores na den-tição permanente.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Os CIVs são imensamente melhores comparados com os cimentos originais tipo ASPA. Os cimentos de ionômero de vidro mostraram ser materiais dentários restauradores efi cazes e ainda são materiais dentários em evolução, como mostra a introdução recente dos CIVs compactáveis e dos CIVMRs, o que sugere que mais melhorias podem ser esperadas.

LEITURA COMPLEMENTAR

Billington RW, Williams JA, Pearson GJ (1990) Variation in powder/liquid ratio of a restorative glass–ionomer cement used in dental practice. Br Dent J 169: 164

Chen H et al (2003) Interaction of dendrimers (artifi cial proteins) with biological hydroxyapatite crystals. J Dent Res 82: 443

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Capítulo 2.4

MATERIAIS RESTAURADORES INTERMEDIÁRIOS

INTRODUÇÃO

Uma grande variedade de materiais restauradores diretos (p. ex., amálgamas, resinas compostas, cimentos de ionô-mero de vidro e cimentos de ionômero de vidro modifi -cados por resina) é colocada sobre a dentina, em íntima proximidade com a polpa.

Já que a presença de uma restauração pode ter um efeito adverso na polpa, uma variedade de materiais, denominados materiais restauradores intermediários (MRIs), foi desenvolvida para ser aplicada na dentina antes da colocação do material restaurador. Estes materiais incluem vernizes cavitários, bases e materiais de forra-mento, e como eles devem ser mantidos no local perma-nentemente, estes materiais não devem ser confundidos com os materiais restauradores temporários.

A distinção entre as bases e os forradores cavitários é que o primeiro consiste em uma mistura de material espessa que é colocada no corpo da cavidade, enquanto que o último é aplicado apenas como uma camada fi na sobre a dentina exposta. A defi nição de um forrador cavi-tário é um selante dentinário com espessura menor que 0,5 mm e é capaz de promover a saúde pulpar pela adesão à estrutura dental ou por ação antibacteriana. Em contrapartida, a base é um substituto dentinário usado para minimizar a massa da restauração ou eliminar as irregularidades cavitárias.

Seu papel pode ser protetor, paliativo ou terapêutico, quando aplicado sobre a dentina vital. A escolha por um verniz cavitário, base ou material de forramento requer a verifi cação da necessidade de proteção pulpar e de como o agente poderá interagir com o material restaurador escolhido para uma determinada situação clínica.

PROTEÇÃO PULPAR

Para fazer a escolha correta de qual material restaurador intermediário utilizaremos para um determinado proce-

dimento restaurador, é importante entender a natureza e os mecanismos pelos quais os fatores adversos afetam a polpa. Foram identifi cadas três possíveis fontes de irri-tação pulpar:

■ estímulo térmico;■ estímulo químico;■ bactérias e endotoxinas.

A importância dos dois primeiros fatores foi reco-nhecida há algum tempo, porém mais recentemente foi demonstrado que o terceiro fator é provavelmente o mais importante na produção da irritação pulpar.

Estímulo Térmico

No dente hígido, as mudanças de temperatura são con-duzidas através do esmalte e da dentina até a polpa. Em seguida, as fi bras nociceptivas aferentes podem ser termicamente estimuladas, desencadeando uma resposta dolorosa. Como um estímulo térmico direto da polpa é, contudo, improvável exceto quando se prepara uma cavi-dade ou quando ocorre geração direta de calor de uma reação exotérmica de um material restaurador quando este está muito próximo da polpa. Quando os túbulos dentinários são expostos, é possível que o fl uido se movi-mente para dentro e para fora dos túbulos, denominado efeito hidrodinâmico. Este é o processo responsável pela sensibilidade da exposição radicular e é prontamente resolvido com o selamento da superfície radicular. É quase certo que o efeito hidrodinâmico também seja responsável pela dor de curta latência produzida pelo estímulo térmico de algumas pequenas restaurações de amálgamas. Se os túbulos dentinários estiverem abertos e houver a formação de pequenas fendas sob a restauração de amálgama, possivelmente devido à adaptação inade-quada à parede cavitária, poderá ocorrer o movimento do fl uido através dos túbulos, por causa da ação de abertura e de fechamento dessa fenda. Isto pode ocorrer como consequência da expansão ou contração do amálgama quando exposto a temperaturas extremas ou a aplicação

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de cargas oclusais. Portanto, a colocação de um verniz ou de um fi no forramento na cavidade é feito com o objetivo de impedir o movimento do fl uido pela dentina, e não para atuar como um isolante térmico, como se pensava um tempo atrás.

Estímulo Químico

A maioria dos materiais dentários que entra em contato com a dentina pode liberar componentes, que são consi-derados tóxicos à polpa, tanto pela sua estrutura química quanto pelo seu pH.

As resinas acrílicas foram citadas como exemplos de materiais que causam reação pulpar quando coloca-das sem um forramento. Contudo, testes de toxicidade sugerem que estes materiais são bem-tolerados pelos tecidos moles. As resinas acrílicas são extensivamente usadas como cimentos ósseos em próteses de quadril sem nenhuma reação infl amatória adversa. Isto sugeriria que outros fatores seriam responsáveis pela reação pulpar associada a esses materiais.

Até recentemente, a maioria dos estudos da toxici-dade pulpar dos materiais restauradores não considerava a infl uência da contaminação bacteriana, que agora é considerada como tendo um importante papel na pro-dução da infl amação pulpar, como discutido a seguir. Isto não signifi ca que não precisamos nos preocupar com a toxicidade química, como o baixo pH de alguns materiais, como os cimentos de fosfato de zinco e os de policarboxilato de zinco, que podem apresentar efeitos na polpa.

Bactérias e Endotoxinas

Um assunto de considerável interesse e debate é o efeito da microinfi ltração. Este termo descreve vagamente a penetração de fl uidos orais e pequeno número de bacté-rias e seus subprodutos tóxicos entre o material restau-rador e as paredes cavitárias. Esta percolação tem sido considerada uma fonte potencial de irritação pulpar.

Em experimentos usando animais germ-free, foi de -monstrado que a resposta pulpar a alguns materiais é consideravelmente diferente do que aquela observada em animais com uma fl ora microbiana normal.

Por exemplo, os cimentos de fosfato de zinco não demonstram infl amação pulpar (e podem até apresentar alguma formação de ponte dentinária) quando colocados em polpas expostas na ausência de bactérias. Por sua vez, os animais do grupo controle mostraram infl amação pulpar grave e formação de abscesso. Outros materiais mostraram uma resposta infl amatória, mesmo nos animais germ-free, demonstrando que a toxicidade química ainda pode ser um fator importante em algumas circunstâncias.

O aumento do entendimento do mecanismo da toxi-cidade pulpar não muda o fato de que alguns materiais danifi cam a polpa se não forem separados da dentina

subjacente por um forramento adequado. No entanto, enquanto no passado pensava-se que o papel principal de um material restaurador intermediário fosse proteger a polpa da ação tóxica dos materiais restauradores, essa visão teve que ser modifi cada levando-se em considera-ção o papel das toxinas bacterianas. O uso dos materiais restauradores intermediários agora é proposto para:

■ eliminar o potencial da microinfi ltração bacteriana pelo uso de técnicas adesivas de forma que nenhuma fenda exista entre o material restaurador e o dente;

■ apresentar uma barreira antibacteriana para as bacté-rias que infi ltram de forma a proteger a polpa de suas toxinas.

A abordagem adesiva é agora tão importante que é tratada separadamente no Capítulo 2.5, de maneira que aqui consideraremos apenas os vernizes cavitários, as bases e os materiais para forramento. Primeiro, dis-cutiremos a química desses materiais e, então, conside-raremos qual poderá ser mais apropriado para as várias aplicações clínicas.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O papel principal de um material forrador é proteger a polpa, fornecendo uma barreira contra as bactérias e prevenindo o movimento do fl uido pelos túbulos dentinários.

VERNIZES CAVITÁRIOS, BASES E MATERIAIS PARA FORRAMENTO

Os principais grupos de materiais que se enquadram na categoria de bases e materiais de forramento são os seguintes:

■ vernizes;■ cimentos de hidróxido de cálcio;■ cimentos à base de óxido de zinco;■ cimentos de ionômero de vidro; ■ cimentos de ionômero de vidro modifi cado por re -

sina;■ resinas fotopolimerizadas.

Vernizes Cavitários

Apresentação e ComposiçãoOs vernizes cavitários consistem em um líquido límpido ou amarelado que contém resinas naturais, tais como copal, colofônia e sandáraca, ou resinas sintéticas san-darac, tal como o poliestireno. As resinas são dissolvidas em um solvente, como álcool, éter ou acetona, e são aplicadas no soalho cavitário com um pincel ou bolinha de algodão. O solvente é evaporado, deixando para trás

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uma fi na camada de resina. Este processo pode ter que ser repetido até três vezes para assegurar uma camada uniforme de resina.

AplicaçõesSeus principais usos são:

■ apresentar uma barreira à penetração de substâncias químicas;

■ agir como uma barreira temporária à perda dos com-ponentes da superfície do material restaurador.

Cimentos de Hidróxido de Cálcio

Apresentação e ComposiçãoEste material é fornecido em duas pastas, uma branca e outra amarelo-clara. Uma pasta consiste em uma mistura de hidróxido de cálcio (50%), óxido de zinco (10%) e sul-fonamida (40%). A outra pasta consiste em dissalicilato de butileno glicol (40%) com quantidades variadas de dióxido de titânio e sulfato de cálcio.

Reação de PresaVolumes iguais das duas pastas são misturados entre si por cerca de 30 segundos; o cimento toma presa em cerca de dois minutos. O processo de presa para estes materiais não foi completamente elucidado, mas se acredita que envolve uma reação de quelação entre o óxido de zinco e o dissalicilato de butileno glicol.

PropriedadesEsses materiais possuem uma baixa resistência à compres-são, tipicamente 20 MPa, mas é sufi ciente para suportar as pressões de condensação do amálgama dentário.

O cimento recém-misturado é altamente alcalino, com um pH de 11-12. Acredita-se que isso seja responsável por uma importante característica dos cimentos de hidróxido de cálcio: sua habilidade de estimular a formação de dentina secundária pela polpa dental. Quando a pasta é colocada em contato com a polpa, possivelmente na presença de uma microexposição, causará uma camada tripla de necrose em torno de 1,5 mm de espessura. Isto em geral dá origem a uma camada calcifi cada.

Quando a ponte adquire o aspecto parecido com a dentina e a polpa é isolada de qualquer irritação, a for-mação de tecido duro cessa.

Cimentos à Base de Óxido de Zinco

Os cimentos à base de óxido de zinco usados na odonto-logia são sistemas pó-líquido, com os pós sendo básicos, e os líquidos, ácidos. Quando são misturados, ocorre uma reação ácido-base com a fórmula geral:

MO + H2A → MA + H2O

base ácido sal água

Nesses cimentos odontológicos, existe um excesso de pó, de forma que o material fi nal consiste em partículas de pó não reagidas unidas por uma matriz salina.

Cimentos de Óxido de Zinco e EugenolDentro do grupo dos cimentos de óxido de zinco e eugenol, existe uma ampla variedade de formulações para diferentes aplicações.

Óxido de Zinco e Eugenol Não Modifi cado É apre-sentado como um pó branco composto basicamente de óxido de zinco, mas contém até 10% de óxido de magné-sio, que é misturado com um líquido límpido, composto de eugenol misturado com óleo de oliva ou com semente de algodão. Os óleos são adicionados para mascarar o gosto do eugenol e modifi car a viscosidade.

Processo de Presa O cimento é misturado adicionando o pó ao líquido em pequenos incrementos até se obter uma consistência espessa; isto leva cerca de um minuto, e a proporção de pó:líquido é cerca de 3:1.

O óxido de zinco, inicialmente, absorve algum eugenol, que fi ca confi nado na camada superfi cial das partículas do pó e reage para formar uma matriz de eugenolato de zinco amorfo, como mostrado na Figu- ra 2.4.1. Isso aglutina a porção não reagida do pó. Um traço de água é necessário para iniciar a reação de presa, mas, uma vez iniciada, ela é um subproduto da reação de presa. O material reagido contém também óxido de zinco e eugenol não reagidos.

O material está disponível nos cimentos de reação de presa lenta e rápida. O cimento de presa lenta leva em torno de 24 horas para endurecer, e o cimento de presa rápida leva cerca de cinco minutos, embora isto dependa da natureza do pó, do tamanho da partícula e da adição de aceleradores, tais como acetato de zinco ou ácido acético.

Propriedades O cimento reagido possui um pH de 6,6 a 8 e possui praticamente nenhum efeito sobre a polpa quando colocado em cavidades profundas. A presença de eugenol livre possui um efeito sedativo sobre a polpa, e reduz a dor que pode ser associada às propriedades anti-bacterianas do cimento. Contudo, seu uso não é reco-mendado quando existe suspeita de exposição pulpar, pois ele é levemente irritante à polpa quando entra em contato direto com ela.

Uma das principais desvantagens dos cimentos de óxido de zinco e eugenol é a sua alta solubilidade no ambiente da cavidade oral. O eugenol é constantemente liberado e, conforme vai se dissolvendo, o cimento gra-dualmente se desintegra. Os cimentos também possuem propriedades mecânicas baixas, com resistência compres-siva de apenas 15 MPa. Isto, combinado com a alta solu-bilidade, torna-o inadequado como base ou material de forramento. O eugenol também é conhecido por inibir a polimerização das resinas, por isso os cimentos contendo eugenol não podem ser usados em conjunto com mate-riais restauradores resinosos.

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Aplicações A versão de presa lenta é mais usada como material de selamento do canal radicular, com suas varia-das modifi cações sendo discutidas com mais detalhe no Capítulo 2.6. A versão de presa rápida é usada principal-mente nos curativos periodontais.

Óxido de Zinco e Eugenol Modifi cado Com o objetivo de superar algumas das limitações do cimento já descritas, as versões modifi cadas foram introduzidas. O objetivo era aumentar a resistência compressiva e reduzir a solubilidade. Essas modifi cações são apresentadas na forma de resinas adicionadas ao pó e/ou ao líquido, tais como:

■ rosina hidrogenada a 10%, que é adicionada ao pó;■ poliestireno ou metil metacrilato, que é dissolvido no

líquido.

Propriedades e Aplicações A resina adicionada aumenta a resistência compressiva para 40 MPa. Isso é sufi cien-temente grande para o material ser usado como base ou forramento cavitário. O material também pode ser utilizado como material restaurador temporário, já que é menos solúvel na cavidade oral que os cimentos não modifi cados.

Cimento EBA O cimento EBA é outro cimento de óxido de zinco e eugenol modifi cado, apresentado como um pó branco e um líquido de cor rosado. O pó consiste em óxido de zinco (60%-75%), quartzo fundido ou alumina (20%-35%) e rosina hidrogenada (6%). O líquido é 37% de eugenol e 63% de ácido etoxibenzoico (EBA). O EBA estimula a formação de uma estrutura cristalina, que confere uma maior resistência ao material após o fi nal da presa.

Propriedades e Aplicações Com as adições e modifi ca-ções já descritas, uma melhora considerável na resistên-cia compressiva (60 MPa) e na redução da solubilidade são obtidas. Isto torna os cimentos EBA adequados para o uso como material para forramento ou para restauração temporária.

Cimentos Forradores de Ionômero de Vidro e de Ionômero de Vidro Modifi cado por Resina

Recentemente, o conceito de se usar cimentos de ionô-mero de vidro como forramento sob os compósitos ganhou ampla aceitação. O forramento de ionômero de vidro é capaz de aderir à dentina, e o compósito pode ser aderido ao cimento de ionômero de vidro e ao esmalte condicionado. Acredita-se que a capacidade de liberar fl úor fornece proteção adicional ao esmalte e à dentina adjacente à restauração.

Uma ampla variedade de cimentos forradores de ionô-mero de vidro está atualmente disponível. Sua composi-ção química foi discutida com detalhes no Capítulo 2.3. Esses materiais são todos radiopacos, o que é especial-mente importante quando usados em regiões posteriores. Eles tendem a possuir tempo de trabalho e de presa mais curtos que as versões restauradoras, o que é adequado para a sua aplicação como material de forramento sob compósitos ou amálgamas, pois a presa rápida reduz o tempo de espera antes da colocação do material restau-rador. Uma presa lenta seria desvantajosa, especialmente no caso da técnica com o compósito, que já consome muito tempo.

É importante saber como a qualidade de adesão entre os cimentos de ionômero de vidro e os compósitos pode ser obtida. Para aqueles materiais de forramento que necessitam de condicionamento ácido da base de ionô-mero de vidro com ácido fosfórico para obter a adesão com a resina composta, o processo do condicionamento não deve levar mais de 20 segundos. O melhor método de condicionamento é usar um gel ácido viscoso em seringa. Ele pode ser cuidadosamente aplicado na superfície de esmalte por um período de 20 segundos; após, então, toda a superfície (incluindo o cimento de ionômero de vidro) é exposta ao condicionador por um tempo adicio-nal de 20 segundos. Uma exposição excessiva do cimento de ionômero de vidro ao condicionador provoca racha-duras na superfície e penetração do ácido que é impos-

Figura 2.4.1 Reação de quelação do óxido de zinco com eugenol para formar um eugenolato de zinco.

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sível de se remover com enxágue; isto pode desencadear dor pulpar ou sensibilidade. Isto também pode causar extensa fratura do material e é melhor ser evitado. É preferível usar uma resina de baixa viscosidade com o objetivo de se obter uma boa adesão entre o compósito e o cimento de ionômero de vidro.

Os problemas práticos gerados pela necessidade do condicionamento diferencial podem ser completamente evitados usando-se forradores de cimento de ionômero de vidro modifi cados por resina, que não necessitam de condicionamento para aderirem à resina composta. Os exemplos típicos desses cimentos disponíveis comercial-mente são apresentados a seguir.

PRODUTO FABRICANTEVITREBOND (3M/ESPE, Loughborough, UK)KETAS BOND (3M/ESPE, Loughborough, UK)VIRAGLASS LINER (RULAR VIVADENT, Schaan, Liechtenstein)FUJIBOND LC (GC UK Ltd, Newport Pagnell,UK)

Esses materiais de forramento possuem uma vanta-gem adicional de fornecer uma adesão mais forte entre o dente e a resina composta devido à sua maior resistência coesiva em relação aos forradores de cimento de ionô-mero de vidro. Os cimentos de ionômero de vidro modi-fi cados por resina estão se tornando populares, enquanto o uso dos cimentos de ionômero de vidro como forrado-res está em declínio.

Resinas Fotopolimerizadas

Uma variedade de materiais para forramento e bases cavitárias à base de resina apareceu no mercado, entre-tanto o seu papel é ainda obscuro. O objetivo com esses materiais parece ser combinar as vantagens da fotoati-vação com alguns dos efeitos terapêuticos da liberação de cálcio ou fl úor.

Os materiais incluídos nesse grupo são as resinas Bis-GMA contendo hidróxido de cálcio, as resinas fos-fonadas contendo vidros que liberam fl úor e as resinas Bis-GMA contendo hidróxido de cálcio e vidros que liberam fl úor. Como estes materiais diferem dos compó-sitos fotoativados (outras que não apenas a natureza da carga) não está claro.

Como as cargas estão envolvidas na resina, seus efeitos nos tecidos circunjacentes são discutíveis, embora as resinas possam ser sufi cientemente permeáveis para permitir a liberação de parte do hidróxido de cálcio e de fl úor. Ainda assim, esses materiais não mostraram nenhuma vantagem particular sobre as outras tantas bases e forradores disponíveis, e é improvável que os substituam, especialmente porque eles têm sido subs-tituídos pelos cimentos de ionômero de vidro modifi -cados por resina e pelos agentes adesivos dentinários mais atuais.

ESCOLHA DOS MATERIAIS RESTAURADORES INTERMEDIÁRIOS

Amálgamas

A escolha do material restaurador intermediário antes da colocação de uma restauração de amálgama depende se a profundidade da cavidade formada pela lesão de cárie é rasa, média ou profunda.

Cavidades de Profundidade RasaEm cáries de profundidade rasa, a cavidade deve ser pre-parada apenas na profundidade sufi ciente para fornecer um corpo de amálgama adequado. A dentina não deve ser removida desnecessariamente (para criar espaço para um material de forramento), pois existe dentina sufi -ciente para atuar como isolante térmico. O material de forramento também não deve ser colocado na cavidade em espessura tal que o amálgama fi que em espessuras muito fi nas, tornando-o propenso a fraturas de corpo.

Nessa situação, a polpa necessita de proteção apenas contra o movimento do fl uido no interior dos túbulos dentinários originado pela pressão oclusal, pela expan-são térmica do metal e pelo ingresso de bactérias pelos túbulos dentinários.

O método mais comum é aplicar uma fi na camada de verniz sobre toda a superfície dentinária. O verniz sela efetivamente os túbulos dentinários, prevenindo o movi-mento do fl uido e reduzindo o potencial de microin-fi ltração. Embora o verniz possa por fi m se dissolver (possuindo apenas poucos μm de espessura), a deposição gradual dos produtos de corrosão do amálgama ajuda a selar as margens e promover uma barreira antibacteriana. Todavia, a cinética deste processo nunca foi realmente confi rmada e os vernizes cavitários foram criticados for oferecer um isolamento defi ciente, não fornecendo nem mesmo um fi lme, falta de atividade biológica, adesão insufi ciente e tendo alta solubilidade. Para uma restaura-ção de amálgama bem adaptada com margens apertadas, foi sugerido que qualquer forma de base sob o amálgama é desnecessária.

Cárie Dentinária de Profundidade MédiaQuando a cárie se estende além do que pode ser con-siderada uma cavidade rasa, existe a possibilidade de estímulo térmico direto à polpa; isto é especialmente verdade, no caso de uma polpa infl amada quando os limiares de temperatura são reduzidos.

Não há necessidade de estimular o crescimento de dentina reparadora, pois isso já deve ter ocorrido em res-posta ao ataque carioso. Também, qualquer infl amação diminuirá, se os estímulos irritantes (isto é, bactérias e toxinas da cárie) forem removidos. Um cimento de óxido de zinco e eugenol modifi cado seria uma boa escolha em tais situações, pois o eugenol possui efeito sedativo sobre a polpa infl amada e elimina qualquer bactéria residual na

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cavidade. As propriedades térmicas isolantes destes mate-riais são mais que adequadas. Finalmente, um verniz cavitário é aplicado porque nem toda a dentina exposta será necessariamente coberta pelo material forrador.

Cárie ProfundaEm situações em que a exposição pulpar é eminente, geralmente se considerada desejável deixar algum tecido cariado cárie no soalho da cavidade em vez de arriscar uma exposição. No entanto, isto não é possível, se a lesão de cárie tiver progredido para o estágio onde não puder ser remineralizada. É possível distinguir entre a dentina cariosa que remineralizará e a dentina cariada irreversí-vel, porque a primeira é de remoção mais difícil com os instrumentos manuais ou pode ser visualizada usando uma solução evidenciadora de cárie. O cimento de hidró-xido de cálcio deve ser colocado primeiro nas partes mais profundas da cavidade. Isto encorajará a formação de dentina reparadora e ajudará a remineralizar a dentina cariosa. A base isolante térmica de óxido de zinco e eugenol pode, então, ser colocada por cima, seguida de um verniz cavitário. Contudo, um problema que existe é que, em dado momento, os fl uidos orais podem penetrar através da interface e iniciar a dissolução do cimento de hidróxido de cálcio. A fenda que se forma aumentará o risco de sensibilidade e infi ltração marginal.

Apesar de tudo que foi dito, o uso de forradores sob amálgama tornou-se um tópico de controvérsia consi-derável. Nos anos 1980, Osborne sugeriu que as bases e os materiais de forramento sob as restaurações de amálgama são desnecessários. Todavia, muitos estudos demonstraram que a cárie recorrente é um dos principais contribuintes da falha das restaurações de amálgama. É possível que a etiologia da cárie dentária recorrente asso-ciada às restaurações de amálgama tenha mudado com o passar do tempo. A ocorrência de qualquer mudança no padrão da cárie dentária seria racionalmente esperada, como resultado da melhor orientação na higiene oral, uso extensivo de fl úor tópico e acesso à água fl uore-tada de abastecimento nos últimos 20 anos. Também, foi relatado por Mahler e Marantz que quase nenhuma cárie recorrente foi observada em torno das restaurações de amálgama com alto teor de cobre. É possível que o padrão da cárie também tenha alterado por causa dos avanços dos amálgamas de alto teor de cobre compara-dos com os amálgamas tradicionais?

CompósitosUm compósito totalmente polimerizado possui pouca citotoxicidade, e a infl amação pulpar sob as restaurações destes materiais ocorre principalmente devido à infi ltra-ção de micro-organismos e endotoxinas. Para superar o problema da microinfi ltração, uma variedade de técnicas adesivas foi desenvolvida, três das quais são utilizadas atualmente:

■ condicionamento ácido do esmalte;

■ base adesiva de cimento de ionômero de vidro/cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina; e

■ agentes adesivos dentinários.

O condicionamento ácido do esmalte assegurará um bom selamento marginal e atualmente é uma rotina na colocação de material restaurador em resina composta. Com o intuito de evitar a sensibilidade pós-operatória, é importante obter não apenas o selamento marginal, mas também a adesão da restauração ao soalho e às paredes cavitárias, pois caso contrário poderá ocorrer à sensibilidade pós-operatória devido à presença da fenda que dará origem ao efeito hidrodinâmico. Isso pode ser superado com a adesão da resina composta à dentina, tanto pelo uso de um cimento de ionômero de vidro ou cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina na chamada técnica do sanduíche ou pelo emprego de um agente adesivo dentinário.

Restaurações do Bordo Incisal e Selantes de FissuraSe o procedimento restaurador envolve somente o es malte, assim como em pequenas restaurações de bordo incisal ou selantes de fi ssura, uma base cavitária ou material de forramento não é necessária. O preparo cavitário envolve apenas o uso da técnica do condicionamento ácido que quase elimina qualquer microinfi ltração e é descrita com mais detalhes no Capítulo 2.4.

Restauração Preventiva de ResinaÉ uma restauração mínima onde pode haver uma pequena quantidade de dentina exposta. Como as margens dessa restauração estão totalmente em esmalte, o uso da técnica do condicionamento ácido assegura um bom selamento marginal. Portanto, parece não haver necessidade de proteger a superfície dentinária dos efeitos da microin-fi ltração. Além disso, o compósito é um excelente iso-lante térmico, de forma que não há necessidade de se preocupar com o estímulo térmico da polpa. Contudo, o uso do condicionador de ácido fosfórico na dentina exposta não é recomendado, pois a camada protetora de lama dentinária que é formada na dentina cortada (bloqueando muitos dos túbulos dentinários) é removida pela solução ácida, reabrindo os túbulos. A consequência disso é um grande aumento da permeabilidade dentiná-ria. Portanto, é importante proteger a superfície denti-nária do ácido. Uma variedade de opções está disponível para essa fi nalidade.

Os vernizes de resina natural e os cimentos de óxido de zinco e eugenol não devem ser usados, pois interferem com a polimerização da resina composta. Em contrapartida, ver-nizes sintéticos (tais como o poliestireno) podem ser usados. Se uma cavidade condicionada e biselada é preparada, toda a cavidade e a superfície dentária devem ser cobertas por uma fi na camada de verniz. O bisel será, então, realizado deixando somente a superfície desgastada do esmalte para ser exposta ao ácido. Todavia, esse processo deixa uma boa

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MATERIAIS RESTAURADORES INTERMEDIÁRIOS 141

parte da restauração não unida. Como observado, outra opção é o uso de um forrador de cimento de ionômero de vidro ou de cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina, com o último em geral sendo a escolha mais popular por causa da sua presa controlada. Com os aperfeiçoamen-tos dos agentes adesivos dentinários, mais e mais dentistas empregam este procedimento como o método preferido. Isso atua de maneira similar aos vernizes (pois protege a dentina do ácido), mas a adesão à dentina também é obtida. A combinação da adesão ao esmalte pela técnica do condicionamento ácido e a adesão dentinária com um agente adesivo dentinário deve eliminar qualquer possibi-lidade de ocorrência de microinfi ltração nestas restaurações rasas. Os diferentes tipos de agentes adesivos dentinários e os seus mecanismos de ação são tratados com mais detalhe no próximo capítulo.

Lesões Cariosas Proximais e OclusaisDevido ao tamanho dessas restaurações e ao fato de que nem todas as margens podem estar confi nadas ao esmalte, existe uma probabilidade maior de microinfi ltra-ção levando a uma infl amação pulpar. A provisão de um selamento marginal se torna muito mais difícil quando a margem esta subgengival e envolve a dentina radicular.

Enquanto que a técnica do condicionamento ácido para a adesão em esmalte dos compósitos é muito efi caz, o mesmo não pode ser dito para os procedimentos adesivos dentinários. Portanto, não é indicado confi ar apenas na união dos agentes adesivos dentinários para fornecer um selamento hermético em torno de todas as margens da restauração. De fato, tem-se que assumir que a microinfi ltração ocorrerá e é inevitável. O hidróxido de cálcio é o melhor material de forramento para se usar em tais situações. No entanto, ele deve ser usado economicamente de forma que apenas uma pequena quantidade de dentina seja coberta, deixando a maior quantidade de dentina disponível para adesão. Os mate-riais de forramento de ionômero de vidro apresentam um problema, pois podem produzir uma leve infl ama-ção pulpar em cavidades recém-preparadas. Atualmente, uma opção mais popular tem sido o uso de um cimento forrador de ionômero de vidro modifi cado por resina.

Embora a união adesiva à dentina limite a microinfi l-tração, as bactérias foram encontradas em fendas sob o material. Essas bactérias não foram afetadas pelo material, já que ele possui pouca ou nenhuma ação antibacteriana. Portanto, é prudente proteger quaisquer áreas próximas da polpa com um cimento de hidróxido de cálcio antes da colocação do material de forramento de ionômero de vidro e a restauração de resina composta.

Lesões de Abrasão/ErosãoVisto que este tipo de lesão envolve uma grande exten-são da dentina, a resina composta necessita ser aderida à dentina via um agente adesivo dentinário ou um for-rador de cimento de ionômero de vidro. Quando um material de forramento de ionômero de vidro é aplicado à dentina que estava exposta há algum tempo (como nas lesões de abrasão), a dentina secundária que se deposita parece proteger a polpa. Nessa situação, o cimento de ionômero de vidro pode ser aplicado diretamente sobre a dentina e então coberto com resina composta pela técnica do sanduíche. Até recentemente, isso parecia ser o método mais efi caz para aderir a resina composta à dentina do que o uso de um agente adesivo dentinário. Contudo, deve ser observado que tem havido rápidas melhorias nos agentes adesivos dentinários e a qualidade da adesão como indicada pelas taxas de retenção dos agentes dentinários adesivos de 3 passos está começando a atingir aquelas dos cimentos de ionômero de vidro.

Cimentos de Ionômero de Vidro e Cimentos de Ionômero de Vidro Modifi cados por Resina

Os mesmos argumentos já destacados para os mate-riais forradores de cimento de ionômero de vidro e de ionômero de vidro modifi cado por resina aplicam-se aos materiais de restauração. Como o material de for-ramento geralmente não é indicado, exceto nos casos em que a cavidade é muito profunda e pode haver a possibilidade de microexposições da polpa, nesse caso um cimento de hidróxido de cálcio pode ser necessário (Cap. 2.6).

LEITURA COMPLEMENTAR

Baratieri LN et al (2002) Effect of pulp protection technique on the clinical performance of amalgam restorations: three-year results. Oper Dent 27: 319

Fisher FJ, McCabe JF (1978) Calcium hydroxide base materials: an investigation into the relationship between chemical structure and antibacterial properties. Brit Dent J 144: 341

Gordan VV, Mjor IA, Hucke RD, Smith GE (1999) Effect of different liner treatments on postoperative sensitivity of amalgam restorations. Quintessence Int 30: 55

Hilton TJ (1996) Cavity sealers, liners and bases: Current philosophies and indications for use. Oper Dent 21: 4

Mahler DB, Marantz RL (1980) Clinical assessments of dental amalgam restorations. Int Dent J 30: 327

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Osborne JW (1980) Dental amalgam: Clinical behaviour up to eight years. Oper Dent 5: 9

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Smith DC (1971) Dental cements. Dent Clin N Am 15: 3Wilson AD (1978) The chemistry of dental cements. Chem

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Capítulo 2.5

ADESÃO AO ESMALTE E À DENTINA

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da abordagem adesiva na odontolo-gia restauradora trouxe muitas vantagens, tais como:

■ melhoria da estética;■ conservação do tecido dentário;■ reforço da estrutura dental enfraquecida;■ redução da infi ltração marginal;■ redução do potencial para sensibilidade pulpar; e■ uma grande variedade de técnicas.

Uma grande variedade dos sistemas adesivos foi intro-duzida nos últimos anos, muitos dos quais não sobrevi-veram ao teste do tempo. Tais adesivos foram incapazes de satisfazer as exigências estritas que são necessárias para um adesivo dental.

O adesivo dental deve:

■ promover alta resistência de união com o esmalte e a dentina;

■ promover uma união imediata e durável;■ prevenir o ingresso de bactérias;■ ser de uso seguro; e■ ser simples de usar.

Os sistemas adesivos que sobreviveram ao teste do tempo incluem:

■ a técnica do condicionamento ácido para adesão das resinas ao esmalte que, agora é extensivamente usada na colocação de resinas compostas e compômeros em dentes anteriores e posteriores e compômeros, próte-ses adesivas, facetas e bráquetes ortodônticos;

■ os cimentos de ionômero de vidro e os cimentos de ionômero de vidro modifi cado por resina, com sua capacidade de aderir tanto ao esmalte quanto à dentina em restaurações adesivas diretas, atuando como bases adesivas sob compósitos restauradores e como agentes cimentantes de restaurações indiretas.

Por comparação, os agentes adesivos dentinários possuem uma história turbulenta. Muitos vieram e se

foram, mas em cada estágio do desenvolvimento houve melhoras signifi cativas. Provavelmente, alguns dos siste-mas adesivos dentinários hoje comercializados sobrevi-verão ao teste do tempo.

O porquê de alguns materiais e técnicas terem sobre-vivido e outros desaparecido é devido à necessidade de requisitos que o adesivo precisa ter para ser capaz de aderir a uma variedade de materiais (p. ex., compósitos, metais, cerâmicas) e a dois substratos muito diferentes, denominados esmalte e dentina.

Os princípios da adesão já foram discutidos no Capítulo 1.10 e os aspectos da adesão dos cimentos de ionômero de vidro já foram tratados no Capítulo 2.3. Portanto, neste capítulo, apenas serão considerados os métodos de aderir os compósitos e as resinas ao esmalte e à dentina com os sistemas adesivos dentinários.

ADESÃO AO ESMALTE

Estrutura do Esmalte

O esmalte é o tecido calcifi cado mais denso do corpo humano e é único, pois é formado extracelularmente.

É uma estrutura heterogênea, na qual o esmalte hu -mano maduro consiste de 96% de mineral, 1% de material orgânico e 3% de água por peso (Tabela 2.5.1). A fase mineral é constituída de milhões de pequenos cristais de hidroxiapatita, Ca10(PO4)6(OH)2, que estão intimamente compactados na forma de prismas, mantidos unidos por uma matriz orgânica. Devido à substituição iônica (p. ex., fl uoretos), a apatita do esmalte não possui a mesma por-centagem de cálcio: fl úor da hidroxiapatita teoricamente pura (1,6:1), sendo em geral na média de 2:1 por peso.

Os prismas possuem a forma de bastões alongados de aproximadamente 5 μm de diâmetro, possuindo uma seção transversal típica em forma de buraco de fecha-dura, com uma cabeça e cauda. Os prismas são alinhados perpendicularmente à superfície dentária, como mostra a Figura 2.5.1.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO144

Os cristais de hidroxiapatita são hexágonos achatados, como mostra a Figura 2.5.2, e, por causa da sua estru-tura, não é possível obter uma compactação perfeita. Os espaços deixados entre os cristais são ocupados por água e material orgânico. A maior parte da água está intimamente ligada à estrutura do esmalte e não é facil-mente removida com a secagem. A camada superfi cial do esmalte tende a possuir um conteúdo orgânico maior do que as camadas profundas, e é protegida por uma camada de película, que possui cerca de 1 μm de espessura.

Técnica do Condicionamento Ácido

Devido à sua estrutura complexa, a superfície do esmalte pode ser modifi cada pela aplicação de condicionadores ácidos. A importância e o aproveitamento potencial disto foram propostos primeiramente por Buonocore, em 1995, quando descobriu que poderia tornar a superfície do esmalte mais suscetível às técnicas adesivas modifi -cando-a com a aplicação de uma solução de ácido fos-fórico. A partir daí, a técnica do condicionamento ácido para adesão dos compósitos restauradores ao esmalte foi desenvolvida. Seu efeito principal é o aumento da rugo-sidade superfi cial do esmalte a nível microscópico (Fig. 2.5.3), aumentando a energia da superfície, que melhora o molhamento (veja a seguir).

Um grande defeito dos compósitos é que eles não possuem qualidades adesivas intrínsecas com os tecidos dentários, pois as resinas são essencialmente não polares.

A modifi cação da superfície do esmalte pelo condiciona-mento ácido permite a formação de uma íntima união micromecânica entre o esmalte e o componente resinoso do compósito, desde que haja uma próxima adaptação no nível molecular.

Essa descoberta permitiu a introdução de uma grande variedade de técnicas restauradoras que não eram pos-síveis anteriormente, tais como selamento de fi ssuras, adesão direta de bráquetes ortodônticos, próteses adesi-vas de resina e facetas laminadas. Muitos estudos contri-buíram para a compreensão da relação entre o esmalte condicionado e as resinas, de forma que atualmente a técnica do condicionamento ácido é parte integrante dos procedimentos restauradores com os compósitos.

Como mencionado, a aplicação de uma solução muito ácida (como o ácido fosfórico) ao esmalte possui o efeito de modifi car as características da superfície, por meio de duas formas importantes.

1. O processo do condicionamento aumenta a rugosi-dade da superfície do esmalte. Quando o ácido fosfó-rico é aplicado na superfície do esmalte, uma reação ácido-base é iniciada, que causa da dissolução da hidro -

Figura 2.5.2 Estrutura e compactação dos cristais de apatita do esmalte.

Figura 2.5.1 Estrutura prismática do esmalte.

Tabela 2.5.1 Composição típica do esmalte e da dentina

Esmalte Dentina

Peso % Vol. % Peso % Vol. %

Orgânico 1 2 2 30

Inorgânico 95 86 70 45

Água 4 12 10 25

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ADESÃO AO ESMALTE E À DENTINA 145

xiapatita e diferentes fenômenos tópicos podem surgir. Eles incluem a perda predominante da periferia dos prismas de esmalte, como mostra a Figura 2.5.3; a perda predominante do núcleo dos prismas; e um padrão no qual não existe evidência específi ca de estru-tura prismática. Estes padrões de condicionamento são mostrados esquematicamente na Figura 2.5.4. O efeito geral é o aumento da rugosidade superfi cial e, portanto, da área de união, tornando possível aderir a essa superfície por um processo de embricamento micromecânico. A rugosidade superfi cial aumentada oferece como vantagem adicional a melhoria da adesão por meios químicos por causa do aumento da área da superfície, embora sejam ligações secundárias.

2. O ácido possui o efeito de aumentar a energia da superfície do esmalte pela remoção dos contaminan-tes superfi ciais. Isso promove um melhor molhamento do adesivo na superfície do esmalte (Cap. 1.10). Tipi-camente, a tensão superfi cial de uma resina adesiva

é na faixa de 34-38 mJ.m–2. O esmalte não tratado possui energia de superfície menor que esse valor e, portanto, não possuindo as condições ideais para pro-mover um adequado molhamento. Normalmente, a superfície do esmalte é coberta por uma camada de película que possui uma energia de superfície muito baixa (28 mJ.m–2). Essa camada é removida pelo ácido e expõe a superfície subjacente do esmalte com sua alta energia de superfície e, portanto, alta reatividade (42 mJ.m–2). A resina se adaptará bem a essa superfície com alta energia superfi cial, desde que ela esteja com-pletamente seca. O embricamento micromecânico assegurará que a resina não se separará do esmalte. Desta forma, a adesão ao esmalte com a técnica do condicionamento ácido é de natureza essencialmente mecânica.

Procedimento Clínico

As características do aumento da rugosidade superfi cial e a aumentada molhabilidade da resina usando a técnica do condicionamento ácido do esmalte superfi cial com-binam a oportunidade de oferecer uma excelente união entre o compósito e o esmalte. Todavia, assim como em qualquer técnica aparentemente simples, enganos são facilmente cometidos, a menos que o operador siga estritamente as regras para se obter a adesão. As várias etapas da técnica do condicionamento ácido podem ser identifi cadas como as seguintes:

■ seleção do paciente;■ profi laxia do esmalte; e■ aplicação do condicionador.

Figura 2.5.3 Micrografi a eletrônica de varredura da superfície do esmalte após o condicionamento por 40 segundos com solução de ácido fosfórico a 35%.

Periferia condicionada Núcleo condicionado

Figura 2.5.4 O efeito do ácido fosfórico no esmalte na remoção da periferia ou núcleo dos prismas.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO146

Seleção do PacienteA primeira regra para se obter uma boa união é que as superfícies a ser aderidas devem estar livres de contami-nantes. Se a superfície estiver contaminada por água ou saliva, uma boa adesão entre o compósito e o esmalte não será obtida. A natureza altamente polar dos conta-minantes superfi ciais evitará que a resina não polar se adapte intimamente à superfície do esmalte.

A melhor abordagem para a prevenção da contamina-ção da superfície do esmalte é usar o isolamento abso-luto. Isto nem sempre será possível e, naqueles casos em que o isolamento absoluto não puder ser usado, não é aconselhável adotar uma abordagem adesiva.

A seleção adequada do paciente pode evitar esses problemas. Em particular, a técnica do condiciona-mento ácido do esmalte não deve ser usada em pa -cientes mentalmente defi cientes, crianças de difícil controle e pacientes muito idosos.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A técnica do condicionamento ácido não deve ser utilizada em pacientes que não suportam procedimentos muito demorados.

Profi laxia do EsmalteAssim como em qualquer junta adesiva, é importante que a superfície do substrato esteja completamente limpa. A superfície do esmalte é coberta com uma camada de película e, possivelmente, também por uma camada de placa. Tais camadas precisam ser removidas antes do processo do condicionamento.

Enquanto que a fi na camada de película pode ser removida pelo ácido, não é possível remover os depósitos espessos de placa dessa maneira. Se esta limpeza não for realizada, a resina aderirá efetivamente aos contaminan-tes superfi ciais e não ao esmalte. A limpeza do esmalte superfi cial é mais bem-realizada com uma pasta de pedra-pomes e água, aplicada com escova rotatória por uns 30 segundos. É bom evitar o uso de pastas profi láticas comerciais, pois elas podem conter alguns componentes, tais como óleos, que podem permanecer na superfície do esmalte. Isto reduzirá o molhamento da resina na superfície do esmalte.

Uma vez que a superfície esteja limpa, ela deve ser com-pletamente lavada e seca para remover todos os resíduos.

Aplicação do CondicionadorDiversas pesquisas foram realizadas para avaliar o melhor método de condicionar a superfície do esmalte.

Com o dente seco e apropriadamente isolado da saliva, a solução aquosa do condicionador de ácido fos-fórico pode ser aplicada no esmalte com uma bolinha de algodão. Uma observação interessante e importante é

que existe uma relação inversa entre a efi ciência do con-dicionamento e a concentração do ácido fosfórico. Altas concentrações de ácido fosfórico não são tão efetivas em produzir o padrão ideal de condicionamento como as baixas concentrações. A concentração ótima parece estar na faixa de 30%-50%. Concentrações excessivamente altas de ácido fosfórico tendem a apresentar uma mínima alteração na superfície do esmalte, possivelmente porque a baixa concentração de água causa a rápida saturação da solução pelos subprodutos da reação, diminuindo a taxa de dissolução. Logo, as soluções de ácido fosfórico fornecidas com os cimentos de fosfato de zinco não devem ser utilizadas, pois a concentração é muito alta (concentração aproximada do ácido é de 65%).

É importante que a superfície do esmalte não seja esfregada durante o processo do condicionamento, pois os prismas de esmalte que se apoiam na superfície são muito friáveis ou frágeis e se quebram sob a menor carga. A ação de esfregar leva a fratura de todos esses prismas, inviabilizando a formação dos sulcos e das fi ssuras para compor os prolongamentos de resina.

Também é importante que todo o ácido fosfórico e os subprodutos gerados da reação durante o processo do condicionamento sejam removidos. Frequentemente, isto é realizado de forma negligente ou apressada. O pro-cedimento a ser adotado é lavar a superfície do esmalte com quantidade abundante de água, seguida de spray de água-ar por pelo menos 20 segundos. Se forem usados roletes de algodão para isolar os dentes, estes deverão ser substituídos para assegurar um campo seco.

O processo de secagem é igualmente crítico, já que o objetivo é atingir uma superfície de esmalte perfeita-mente seca.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Como a água é altamente polar, a resina não polar não se adaptará a uma superfície de esmalte umedecida.

A remoção dos grupamentos de hidroxila da superfície no procedimento de secagem melhora o molhamento da resina no esmalte e permite que ela escoe facilmente pela superfície e por dentro de todas as fi ssuras e sulcos produ-zidas pelo processo do condicionamento. É importante assegurar-se de que a mangueira de ar que é usada para secagem esteja livre de qualquer contaminante como óleo e égua. O esmalte condicionado e seco deve ter uma aparência opaca, esbranquiçada e levemente áspera.

Aplicação de Resinas Sem Carga

Quando a resina é aplicada a uma superfície de esmalte seca e bem-condicionada, ela facilmente penetrará por

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ADESÃO AO ESMALTE E À DENTINA 147

todas as irregularidades superfi ciais e formar prolonga-mentos de resina que penetram o esmalte numa pro-fundidade de até 30 μm. Isto produz uma união muito efetiva, pelo mecanismo de embricamento micro-mecânico.

Embora as opiniões sejam divididas, é recomendável, no consenso, que seja aplicada uma resina de baixa vis-cosidade (isto é, uma resina Bis-GMA sem carga ou algum dos muitos sistemas adesivos dentinários disponíveis) à superfície do esmalte antes da colocação do compósito. A razão para o uso de tal resina adesiva intermediária é que a baixa viscosidade do agente adesivo facilita a melhor penetração nos espaços microscópicos do esmalte condi-cionado comparativamente à alcançada com a inserção direta do compósito.

A molhabilidade da resina composta é tão boa quanto a da resina de baixa viscosidade, porém a alta viscosi-dade do compósito impede o seu fácil espalhamento pela superfície do esmalte. Além disso, a viscosidade do com-pósito é sufi cientemente alta de modo que pode causar uma ponte entre os picos condicionados do esmalte, causando o enclausuramento de ar. Isso possui o duplo efeito de criar uma zona de inibição da polimerização da resina e um defeito interfacial, que pode ser uma subse-quente fonte de uma falha adesiva.

Resistência de União

Se o procedimento anterior for realizado com diligên-cia, uma adesão efi ciente entre o esmalte e o compósito será criada. Naquelas situações em que ocorre a falha da união, ela pode ser geralmente atribuída a uma técnica clínica defi ciente.

Clinicamente, a adesão ao esmalte não representa um problema. O íntimo embricamento micromecânico entre o esmalte condicionado e a resina é tal que se torna impossível separar a resina do esmalte sem causar fratura de um ou outro. Contudo, isso não signifi ca que o fracasso das restaurações aderidas em esmalte não ocorrerá, visto que a falha coesiva do adesivo ou da restauração pode ainda ocorrer. Igualmente, as restau-rações metálicas ou cerâmicas podem falhar na adesão devido à falta de união entre a resina e tais materiais res-tauradores. Quando ocorre uma falha adesiva, é muito importante estabelecer onde a fratura teve origem, já que isso indica qual componente foi o mais frágil neste sistema de união.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Se ocorrer uma falha de união na interface adesiva entre o esmalte e a resina, então, é mais que provável que tenha havido contaminação da superfície do esmalte antes da colocação da resina.

ADESÃO À DENTINA

Estrutura da Dentina

A dentina é composta de aproximadamente 70% de matéria inorgânica, 20% de material orgânico e 10% de água por peso (Tabela 2.5.1). O material inorgânico é principalmente a hidroxiapatita, e o material orgânico é predominantemente colágeno. Um aspecto característico da dentina é o arranjo dos túbulos dentinários que atra-vessam toda a espessura. A presença desses túbulos torna a dentina permeável às drogas, substâncias químicas e toxinas, que podem se difundir pela dentina e lesionar a polpa.

A composição heterogênea da dentina torna-a um subs-trato particularmente difícil para união com um adesivo. Um segundo problema é que a pressão diferencial entre a polpa e o soalho dentinário causa o bombeamento do fl uido para fora dos túbulos dentinários, de forma que não é possível criar uma superfície dentinária seca. A secagem vigorosa da dentina pode provavelmente resultar em dano irreversível da polpa vital e, portanto, não é uma opção.

No caso de uma lesão de abrasão/erosão, a superfí-cie dentinária em geral consiste em dentina esclerótica coberta por uma camada de película, placa e possivel-mente cálculo. É importante que esses contaminantes superfi ciais sejam removidos antes do procedimento adesivo. Tal remoção é facilmente conseguida com a aplicação de pedra-pomes e água. Verifi ca-se então se a superfície está livre de qualquer contaminante e pronta para o procedimento adesivo. No entanto, a superfí-cie dentinária ainda está coberta por uma camada de dentina desorganizada conhecida como camada de lama dentinária (Fig. 2.5.5).

A lama dentinária consiste essencialmente em uma camada gelatinosa superfi cial de proteína coagulada, de espessura em torno de 0,5 a 5 μm. Ela é, via de regra, altamente contaminada por bactérias do processo carioso e contém resíduos dos instrumentos cortantes. Portanto, os problemas com a adesão dentinária podem ser resu-midos da seguinte maneira:

■ a dentina é hidrofílica, enquanto que a maioria dos adesivos é hidrofóbica;

■ a dentina é um tecido vital;■ a dentina consiste tanto em material inorgânico como

em orgânico; e■ a dentina é coberta por uma camada de lama den-

tinária.

Componentes dos Sistemas Adesivos Dentinários

Com base nos conceitos dos primers e agentes de união, como discutido no Capítulo 1.10, pode-se considerar que os sistemas adesivos dentinários possuem três com-ponentes essenciais:

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO148

■ um primer;■ um agente de união;■ um selante.

Na literatura odontológica, os primers normalmente são chamados de condicionadores dentinários e consistem em uma variedade de ácidos que alteram a aparência superfi cial e as características da dentina. Os agentes de união são na realidade os componentes que reali-zam a união, mas são geralmente descritos na litera-tura odontológica e pelos fabricantes como primers. A função do selante é escoar pelos túbulos dentinários e selar a dentina por meio da produção de uma camada superfi cial rica em metacrilatos, que promoverá a união com a resina do compósito. Esse componente é muitas vezes denominado resina ou adesivo. Este último termo é especialmente confuso já que é o agente de união que promove a união. Essa mistura de terminologia dos vários componentes dos agentes adesivos dentinários contribui para a confusão geral em torno deles. Nas discussões seguintes sobre os sistemas adesivos dentinários, usare-mos a terminologia que é comumente usada na litera-tura odontológica, condicionadores dentinários, primers e selantes, com a intenção de não aumentar a confusão. Posteriormente, discutiremos como estes vários compo-nentes podem ser misturados com o objetivo de produzir formulações mais fáceis de usar.

Papel do Condicionador Dentinário, Primer e Selante

Condicionadores Dentinários O papel do condicio-nador dentinário é modifi car a camada de lama dentiná-

ria que é formada na dentina pela ação de corte da broca durante o preparo cavitário ou por exposição aos abrasi-vos, tais como creme dental, em lesão de cárie de super-fície lisa e lesões de abrasão/erosão. Uma das principais características diferenciais dos sistemas adesivos dentiná-rios é a variedade dos condicionadores dentinários que tem sido usada no decorrer do tempo. Nela estão incluí-dos o ácido maleico, EDTA, ácido oxálico, ácido fosfórico e ácido nítrico. O que eles têm em comum é que todos são ácidos e modifi cam a camada da lama dentinária em graus variados. A aplicação de um ácido na superfície dentinária produz uma reação ácido-base com a hidroxia-patita. Isto causa a dissolução da hidroxiapatita e resulta na abertura dos túbulos dentinários e na criação de uma camada superfi cial desmineralizada de dentina, em geral de até 4 μm de profundidade (Fig. 2.5.6). Quanto mais forte o ácido, mais pronunciados são estes efeitos. Desta forma, para o EDTA, que é um ácido leve, ocorre apenas uma abertura parcial dos túbulos (Fig. 2.5.7), enquanto que para o ácido nítrico, que é um ácido forte, ocorre uma extensiva abertura dos túbulos dentinários (Fig. 2.5.8). O efeito disto é mostrado esquematicamente numa vista transversal da dentina na Figura 2.5.9.

Alguns condicionadores dentinários podem conter glutaraldeído. A incorporação do glutaraldeído também é almejada para a modifi cação da dentina. O glutaraldeído é um conhecido agente de ligação cruzada do colágeno e é amplamente usado no curtimento de peles para produ-ção de couro. Ao processo de reação cruzada é atribuída à produção de um substrato dentinário mais forte pela melhoria da resistência e estabilidade da estrutura do colágeno. Uma ressalva sobre o uso do glutaraldeído é

Figura 2.5.5 Micrografi a eletrônica de varredura da camada de lama dentinária sobre a dentina.

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ADESÃO AO ESMALTE E À DENTINA 149

que tem sido observada a necrose tecidual em outras áreas onde ele foi utilizado.

Primers O papel do primer é atuar como adesivo nos sis-temas adesivos dentinários, já que ele promove um meio

de aderir os compósitos hidrofóbicos e os compômeros à dentina hidrofílica. Assim, os primers atuam como um agente intermediário e consistem em monômeros bifun-cionais dissolvidos num solvente adequado. O monô-mero bifuncional é de fato um agente de união que é

Dentina desmineralizada Dentina mineralizada

μm

Figura 2.5.7 Micrografi a eletrônica de varredura da superfície dentinária após aplicação do primer de EDTA.

Figura 2.5.6 Micrografi a eletrônica de transmissão da dentina após a aplicação de primer de ácido nítrico na superfície.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO150

capaz de se combinar com dois materiais distintamente diferentes. A situação é análoga àquela da união da resina ao vidro nos compósitos, onde é usado o agente de união silano (Cap. 1.10). A fórmula geral para o agente de união dos primers dentinários é a seguinte:

Grupo metacrilato – grupo espaçador – grupo reativo

M – S – R

O grupo metacrilato (M) possui a habilidade de se ligar à resina composta e fornecer uma forte ligação covalente. O grupo metacrilato deve ser capaz de promover um meio satisfatório para a polimerização com a resina do compósito.

O grupo espaçador (S) deve ser capaz de fornecer fl e-xibilidade necessária ao agente de união para melhorar o potencial de adesão dos grupos reativos. Se a molécula for excessivamente rígida (devido à hidrância estérea), a capacidade do grupo reativo em encontrar um arranjo conformacional satisfatório pode ser prejudicada, levan- do, na melhor das hipóteses, a um arranjo deformado da união e, na pior, à disponibilidade limitada de locais para união.

Os grupos reativos (R) são grupos polares penden-tes ou terminais. Uma variedade de grupos polares fun-cionais é mostrada na Tabela 2.5.2. A polaridade da união é uma consequência da distribuição eletrônica assimétrica na ligação. As reações polares ocorrem como resultado das forças atrativas entre as cargas positivas e negativas nas moléculas (Cap. 1.3). Portanto, os grupos polares pendentes e terminais do agente de união podem se combinar com as moléculas polares similares da dentina, tais como os grupamentos hidroxila na apatita e os grupamentos amino no colágeno. A atração pode ser puramente física, mas em alguns casos pode resultar na formação de uma ligação química. A natureza desse grupo reativo determinará se a adesão será na apatita da dentina ou no colágeno. Em alguns casos ambos podem ser envolvidos.

Embora todos os agentes de união usados nos primers dentinários possuam grupos polares reativos, eles va -riam de um sistema adesivo dentinário para outro. Todos possuem o objetivo de produzir uma forte união à dentina, mas os fabricantes e os pesquisadores não concordam em qual é o melhor agente de união. Uma

Dentina desmineralizada

Dentina não desmineralizada

Figura 2.5.9 Vista da seção transversal da dentina após a aplicação de um primer ácido.

Figura 2.5.8 Micrografi a eletrônica de varredura da superfície dentinária após aplicação do primer de ácido nítrico.

Page 162: Introdução Aos Materiais Dentários

ADESÃO AO ESMALTE E À DENTINA 151

pequena seleção desses agentes de união é mostrada na Tabela 2.5.3, com o hidroxietil metacrilato (HEMA), sendo particularmente uma escolha muito popular.

O HEMA é capaz de penetrar na dentina desminerali-zada e unir-se ao colágeno via hidroxila e grupos amino do colágeno. A ação do agente de união na solução do primer é, portanto, criar uma rede de entrelaçamento molecular de poli (HEMA) e colágeno (Fig. 2.5.10).

É muito importante que o primer seja capaz de pene-trar totalmente e saturar a camada de colágeno desmi-neralizado. Se isso não ocorrer, então uma fi na camada de colágeno permanecerá desmineralizada. Essa camada não será reforçada pela resina e formará uma região inter-

facial fraca. Com o objetivo de obter uma boa profun-didade de penetração, o agente de união é, portanto, dissolvido num solvente, como o etanol ou a acetona. Os solventes são muito efi cazes na busca por água e no seu deslocamento (“captura da água”), levando junto o agente de união conforme o solvente penetra na dentina desmineralizada. No entanto, é importante que a dentina não seja excessivamente desmineralizada, pois a profun-didade da desmineralização pode se tornar excessiva para que ocorra a completa penetração do primer.

Com o objetivo de saturar a dentina desmineralizada, é importante que seja aplicada quantidade sufi ciente de agente adesivo dentinário na superfície dentinária. Isso pode exigir a aplicação de algumas camadas, e também deve ser permitido que o material fi que por tempo sufi -ciente para o primer penetre e seja absorvido. A redução da espessura do adesivo com jato de ar excessivo também deve ser evitada, pois o que se quer é a evaporação suave do solvente.

Tabela 2.5.2 Padrões de polaridade de alguns grupos funcionais usuais

Tipo de componente Estrutura do grupo funcional

Álcool C O H δ –

δ+

Amina C N H 2 δ –

δ+

Ácido carboxílico Cδ+

Oδ–

OHδ–

Aldeído C δ+

Oδ–

H

Tabela 2.5.3 Agentes de união utilizados na adesão dentinária

Hidroxietil metacrilato (HEMA)

H

C C

CH3

H

C O

O

CH2 CH2 OH

Dimetacriloxietil fenol fosfato (MEP-P)

H

C C

CH3

H

C O

O

CH2 CH2 O P

O

OH

C

NPG-GMA H

C C

CH3

H

C O

O

CH2 CH

OH

CH2 N CH2 C OH

Dentina desmineralizada

Dentina não desmineralizada

Penetração do agente de união dentinário

Figura 2.5.10 A penetração do agente de união na dentina desmineralizada.

Page 163: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO152

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A técnica de aplicação do primer é determinante no desenvolvimento ou não da microinfi ltração.

Selante Os primeiros selantes dentinários eram simples-mente resinas Bis-GMA ou UDMA sem carga, ativadas por luz ou de dupla ativação. Embora a aplicação de uma resina sem carga, tal como a Bis-GMA, diretamente em uma superfície dentinária condicionada por ácido resulte na formação de prolongamentos de resina, foi mostrado que este procedimento não resultava numa união ade-quada entre a resina e a dentina. A diferença principal é que sem o uso do primer, a resina hidrofóbica se adapta fracamente à dentina hidrofóbica. Quando um primer é empregado, sua ação torna a superfície dentinária mais hidrofílica, impedindo então a resina de se retrair das paredes dos túbulos dentinários e assegurando a forma-ção de uma trama de prolongamentos resinosos alta-mente adaptados. Por exemplo, os terminais metacrilato do agente de união HEMA fi cam disponíveis para aderir ao selante quando esse for aplicado depois na superfície dentinária preparada.

A superfície dentinária é então intimamente selada com a resina, que é aderida à dentina à custa do agente de união contido no primer. Esse selante se unirá facil-mente à resina composta. A camada resultante da inter-penetração de dentina e resina é normalmente chamada de camada híbrida, como mostra esquematicamente a Figura 2.5.11.

A maioria dos selantes dentinários mais recentes é uma mistura de Bis-GMA e HEMA. Isto ajuda a melhorar a adaptação do selante à superfície dentinária.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Embora ocorra alguma penetração do selante para dentro dos túbulos dentinários, fornecendo adesão micromecânica adicional, é o primer que determina a qualidade da adesão fi nal.

Técnica de Adesão Úmida à Dentina

O agente de ligação dos agentes adesivos dentinários é transportado num solvente volátil, tal como o etanol ou a acetona. Tais solventes são muito efi cazes no des-locamento da água na dentina, e no processo levam com eles o adesivo para dentro da dentina. Portanto, não é necessário, e pode até ser prejudicial a desidra-tação excessiva da superfície dentinária. Se a dentina for excessivamente seca, a consequência disto é que a camada de colágeno desmineralizado colapsará na superfície de dentina mineralizada, produzindo uma estrutura densa e de difícil penetração pelo primer (Fig. 2.5.12). Se a dentina estiver excessivamente desidra-tada, o colágeno colapsado pode ser reidratado com água.

Por sua vez, se a camada de colágeno desmineralizado for mantida úmida, a estrutura porosa será mantida, e o primer poderá infi ltrar essa camada facilmente, for-mando uma união de entrelaçamento molecular (Fig. 2.5.13). Por isso, é necessário remover apenas a umidade superfi cial excessiva. Todavia, as instruções do fabricante variam dependendo da composição do primer. Alguns primers contêm água como veículo e, para eles, é possível que o colágeno desmineralizado se reidrate sufi ciente-mente após secagem, permitindo a penetração do primer pela estrutura colágena.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A efi cácia do primer dos sistemas adesivos dentinários em produzir uma camada híbrida depende não apenas dos monômeros bifuncionais usados e dos solventes incorporados, mas também do conteúdo de água na dentina.

Técnica do Condicionamento Ácido Total

Quando os sistemas adesivos dentinários foram inicial-mente introduzidos houve uma preocupação sobre o condicionamento da superfície dentinária. Antes do advento dos sistemas adesivos dentinários, a experiên-cia clínica mostrava que quando o ácido fosfórico usado no processo de condicionamento do esmalte escorria para a dentina, os pacientes voltavam queixando-se de

Dentina desmineralizada

Dentina não desmineralizada

Penetração do agente de união dentinário

Selante/adesivo

Zonahíbrida

Figura 2.5.11 A camada híbrida criada pelo sistema adesivo dentinário.

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ADESÃO AO ESMALTE E À DENTINA 153

sensibilidade pós-operatória. Acreditava-se que isso era devido à permeabilidade aumentada da dentina após o condicionamento, resultando no efeito hidrodinâmico e possível penetração do ácido na polpa. Então havia relutância em se condicionar a dentina.

O desenvolvimento dos sistemas adesivos dentinários signifi cou que a superfície dentinária podia ser selada, e a sensibilidade pós-operatória devido ao efeito hidrodi-nâmico poderia ser evitada, desde que fosse alcançada uma união entre a dentina e a restauração. Gradual-mente, também se observou que o uso de uma solução de ácido fosfórico a 35% resultava numa mínima pene-tração dentinária (4 a 5 μm) e era improvável que o ácido entrasse em contato com a polpa. Foi introduzida uma técnica diferenciada de condicionamento que envolvia o condicionamento dentinário em separado com uma concentração menor de ácido fosfórico ou o uso de um ácido leve como o EDTA. Contudo, o processo era muito complicado e demorado. Finalmente, surgiu o conceito da técnica do condicionamento ácido total, que consiste no condicionamento ácido simultâneo do esmalte e da dentina, por 20 segundos, com uma solução de ácido fosfórico a 35%. Esse procedimento é aplicável apenas em esmalte recém-cortado e o esmalte intacto necessita ser condicionado de forma convencional.

APRESENTAÇÃO DOS SISTEMAS ADESIVOS DENTINÁRIOS

Três Passos

Os adesivos dentinários antigos tentaram aderir direta-mente à camada de lama dentinária. Contudo, a lama dentinária é uma camada rompida de dentina, que não é um substrato ideal para a adesão direta do adesivo. Os pri-meiros sistemas adesivos dentinários que mostraram efeti-vidade razoável foram aqueles que formaram uma camada híbrida na adesão e foram criados na metade da década de 1980. Eles foram apresentados como sistemas de três passos, compostos de um condicionador dentinário, um primer e um selante dentinário, e funcionava como descrito. Alguns exemplos dos sistemas disponíveis comercialmente estão apresentados na Tabela 2.5.4. O condicionador dentiná-rio é geralmente uma solução de ácido fosfórico a 35%; o primer pode ter de ser composto de um monômero único, bifuncional fotoativado em um solvente ou pode exigir a mistura de dois componentes para a ativação química. O selante dentinário pode ter também um componente, composto por uma resina com ativação química ou por luz, geralmente de dupla polimerização. Portanto, o nú -mero de seringas/frascos pode chegar a cinco.

1 μm

Figura 2.5.12 Superfície desmineralizada da dentina após secagem com ar.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO154

1 μm

Figura 2.5.13 Superfície desmineralizada da dentina que foi mantida úmida para impedir o colapso da estrutura colágena.

Tabela 2.5.4 Componentes de alguns sistemas adesivos dentinários de três passos disponíveis comercialmente

Produto Fase 1 Condicionador dentinário

Fase 2 Primer

Fase 3 Selante

No de etapas

Scotchbond multipurpose (3M/ESPE)

35% H3PO4 PCA Copolímero Bis-GMA 7

HEMA HEMA

Água

Optibond FL (Kerr Corp)

35% H3PO4 GPDM Bis-GMA 8

HEMA HEMA

Etanol

All-Bond 2 (Bisco) 32% H3PO4 Frasco 1: NTG-GMA Bis-GMA 12

Acetona, etanol, água UDMA

Frasco 2: BPDM HEMA

CQ, acetona

PCA, ácido policarboxílico; HEMA, hidroxietilmetacrilato; GPDM, ácido glicerofosfórico dimetacrilato; NTG-GMA, n-toliglicina-glicidil metacrilato; CQ, canforquinona; BPDM, bifenil dimetacrilato.

O problema com tais sistemas adesivos de três passos é que além de envolver um grande número de frascos, que pode gerar confusão, também requer muitas etapas para o procedimento adesivo, tipicamente de 8 a 10. Tanto os clínicos como os fabricantes almejavam a redução do número de etapas envolvidas no procedimento adesivo.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

É uma premissa razoável esperar que a simplifi cação do processo adesivo produzirá resultados mais consistentes e, portanto, mais confi áveis.

Page 166: Introdução Aos Materiais Dentários

ADESÃO AO ESMALTE E À DENTINA 155

O desenvolvimento dos novos sistemas adesivos den-tinários produziu uma ampla variedade de sistemas que visava simplifi car o procedimento enquanto mantinha uma boa adesão entre a dentina e os materiais restau-radores. Isto resultou na profusão de sistemas adesivos dentinários de dois passos.

Dois Passos

Já que os sistemas adesivos de três passos consistiam em um condicionador dentinário, um primer e um selante, um meio de reduzir o número de componentes e possivel-

mente o número de etapas era combinar a ação de alguns desses componentes. Com o objetivo de simplifi car a apresentação e o uso dos sistemas adesivos dentinários, essencialmente duas abordagens diferentes foram adota-das. Novos sistemas adesivos dentinários de dois passos foram desenvolvidos; em alguns casos combinando o primer e o selante (Tabela 2.5.5), e em outros combi-nando o condicionador dentinário e o primer (Tabela 2.5.6). O primeiro caso é normalmente chamado de sistemas adesivos de frasco único, enquanto que o último é denominado primer autocondicionante.

Tabela 2.5.5 Componentes de alguns sistemas adesivos dentinários de dois passos disponíveis comercialmente, da variedade de frasco único

Produto Fase 1 Condicionador dentinário

Fase 2 Primer/selante

No de etapas

Scotchbond One (3M/ESPE)

35% H3PO4 PCA copolímero 7

HEMA

Bis-GMA

Etanol & Água

Optibond Solo Plus (Kerr Corp)

35% H3PO4 GPDM 5

HEMA

Bis-GMA

Etanol

One-Step (Bisco) 32% H3PO4 BPDM 8

HEMA

Bis-GMA

Acetona

Abreviações: consulte Tabela 2.5.4.

Tabela 2.5.6 Componentes de dois sistemas adesivos dentinários de dois passos disponíveis comercialmente, contendo primer autocondicionante

Produto Fase 1 Condicionador dentinário/primer dentinário

Fase 2 primer/selante

No de etapas

Clearfi l Liner Bond II (Kuraray Dental)

LB-Primer A: Fenil-P 5-NMSA CQ

LB-Bond: MDP HEMA Bis-GMA

7

LB-Primer B: HEMA água

Sílica coloidal silanizada Fotoiniciadores

Clearfi l SE Bond (Kuraray Dental)

SE-Primer: MDP HEMA Dimetacrilato hidrofílico CQ N,N-dietanol p-toluidina Água

SE-Bond: MDP Bis-GMA HEMA Dimetacrilato hidrofílico CQ N,N-dietanol p-toluidina Sílica coloidal silanizada Fotoiniciadores

6

Fenil-P, 2-metacriloxietil-fenil hidrogênio fosfato; MDP, 10-metacriloxil metacrilato; 5-NMSA, ácido N-metacriloxil 5-aminosalicílico (consulte também a Tabela 2.5.4).

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO156

Os sistemas adesivos de frasco único continuam a usar separadamente a etapa do condicionamento ácido antes da infi ltração com primer/adesivo. Neste caso, o objetivo é que o processo da hibridização da dentina desminera-lizada e o selamento dos túbulos dentinários ocorram simultaneamente. Para essa fi nalidade, muitos sistemas adesivos de frasco único requerem múltiplas aplicações do primer/adesivo. Isto assegurará a completa saturação da dentina desmineralizada com a mistura de resinas fornecidas no primer/adesivo.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A redução no número de etapas dos sistemas adesivos de dois passos, comparando com os sistemas adesivos dentinários de três passos, pode não ter sido tão drástica como se esperava.

Os benefícios dos sistemas de frasco único são:■ o clínico apenas precisa considerar um componente,

comparado com a miríade de frascos geralmente asso-ciada aos sistemas adesivos de três passos;

■ não existe confusão na ordem de aplicação dos componentes;

■ o controle do estoque é feito de forma simples.Uma limitação dos sistemas adesivos de frasco único

é que eles não podem ser usados em situações onde o acesso da luz do fotopolimerizador seja comprometido, tais como no caso dos pinos cimentados por resina ou dos amálgamas adesivos.

Alguns fabricantes propuseram que estes materiais fossem empregados sem a etapa de condicionamento ácido quando usado em conjunto com os compômeros em áreas de baixas tensões, usando então o sistema de frasco único diretamente no esmalte e na dentina. Embora tal abordagem possa não ser prejudicial para a adesão à dentina, ela comprometerá a adesão ao esmalte.

Pelo menos um fabricante (Dentsply) produziu um condicionador dentinário para ser usado com os compô-meros. O condicionador consiste em uma solução aquosa de ácido itacônico e maleico e não precisa ser lavada. Esse sistema de dois passos possui a vantagem de reduzir as etapas envolvidas, mas tem a desvantagem de ainda ter que competir com outros adesivos dentinários de fase

única usados com os compômeros (veja a seguir). Além disso, não está claro quando o adesivo pode ser usado sozinho, quando poderá ser usado com um condiciona-dor sem enxágue e quando o condicionador ácido deve ser usado.

Os primers autocondicionantes trabalham sob a pre-missa de promover o processo da desmineralização e o da infi ltração simultaneamente, formando então a camada híbrida. Isso possui a vantagem de se evitar a etapa ambígua da secagem da dentina. A segunda etapa, aplicação da(s) resina(s) sem carga, assegurará que os túbulos dentinários sejam selados e uma camada super-fi cial rica em metacrilato seja formada.

Etapa ÚnicaO adesivo mais simples seria aquele aplicado num pro-cedimento de etapa única. Os fabricantes ainda não che-garam a esse ponto de simplifi cação de colocar todos os componentes num frasco único. Embora isso possa parecer o próximo passo lógico, a falta de compatibi-lidade entre os componentes não o permite. O mais próximo que eles conseguiram no desenvolvimento de um sistema adesivo dentinário de um passo foi apresen-tar o adesivo em dois componentes que precisam ser misturados antes da aplicação na superfície do esmalte e da dentina sem a necessidade de nenhum tratamento prévio do esmalte ou da dentina (Tabela 2.5.7). O pro-cedimento adesivo envolve quatro passos, consistindo em (1) dispensa e/ou mistura dos dois componentes, (2) aplicação na superfície do esmalte e da dentina, (3) secagem e (4) fotopolimerização. A vantagem dessa abor-dagem não é apenas a sua simplicidade, mas também evita a etapa ambígua da secagem da dentina.

Os agentes adesivos dentinários de um passo geral-mente são indicados para uso apenas com compômeros e em áreas de baixas tensões, porque a resistência de união ao esmalte, em particular, e em menor grau à dentina, provavelmente não é tão boa quanto a obtida com os sistemas adesivos dentinários de dois ou três passos.

Os sistemas adesivos dentinários de um passo também podem ser usados para superar a sensibilidade simples-mente com a sua aplicação na superfície afetada.

Leia as Instruções do FabricanteUma classifi cação completa dos agentes adesivos denti-nários é fornecida na Tabela 2.5.8. Deve ser enfatizado

Tabela 2.5.7 Componentes dos sistemas adesivos dentinários de um passo disponíveis comercialmente

Produto Fase 1 Condicionador dentinário, primer e selante

No de etapas

Prompt-L-Pop (3M/ESPE) Parte um: fosfatos metacrilados, fotoiniciadores e estabilizadores 4

Parte dois: complexo de fl uoretos, água e estabilizadores

i-Bond (Heraeus Kulzer) UDMA, 4-META, glutaraldeído, acetona, água, fotoiniciadores, estabilizadores 3

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ADESÃO AO ESMALTE E À DENTINA 157

que os diferentes agentes possuem diferentes instruções detalhadas de uso para se obter o melhor resultado. Não é possível contemplar cada uma das sutilezas e todas as nuances do procedimento de aplicação de cada um deles. Não obstante, deve fi car claro, pela descrição anterior dos agentes adesivos dentinários, que não existe uma técnica universal para a produção da adesão dentinária e que cada sistema possui seu próprio procedimento.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

É de extrema importância que as instruções de uso dos agentes adesivos dentinários sejam observadas cuidadosamente, já que elas diferem muito, dependendo dos componentes usados e das apresentações disponíveis para o consumidor.

Seleção de um Agente Adesivo Dentinário

BiocompatibilidadeUma consideração importante é como a polpa poderá reagir ao procedimento adotado (particularmente à apli-cação de ácido na dentina). É evidente a confi ança que os adesivos dentinários depositam nos vários graus de formação dos prolongamentos de resina como forma de garantir a adesão dentinária. Um problema potencial é que a abertura dos túbulos dentinários pode causar extra-

vasamento dos fl uidos para a superfície, devido à pressão pulpar. Isto impedirá uma boa adesão, já que previne que o adesivo penetre nos túbulos dentinários e se adapte à superfície dentinária. Embora isso possa ser superado por uma vigorosa secagem da superfície dentinária, o resse-camento excessivo da dentina provavelmente resultará em sensibilidade pulpar pós-operatória e em uma adesão defi ciente.

Ressalvas consideráveis entre os dentistas sobre o uso dos sistemas adesivos têm sido feitas, já que a abertura dos túbulos dentinários e o consequente aumento da permeabilidade dentinária podem representar um pro-blema, como observado. Preocupações têm sido expres-sas sobre a possível resposta pulpar à aplicação dos ácidos na superfície dentinária. Algumas considerações a esse respeito são feitas no Capítulo 2.6 sobre o capeamento pulpar direto.

No caso da dentina esclerótica, como a encontrada em lesões cervicais de abrasão em pacientes idosos, a aplicação de ácidos na dentina parece ser aceitável, já que a dentina é altamente mineralizada e não é criado um trajeto aberto até a polpa. Isto não ocorre no caso da dentina cariada, embora vários estudos tenham indicado que os sistemas adesivos dentinários e seus ácidos condicionadores asso-ciados não possuem efeito adverso na polpa.

Portanto, a infl amação pulpar apenas ocorrerá se houver uma falha adesiva, resultando em infi ltração bacteriana. Se isso pode acontecer ou não, depende da resistência e durabilidade da união à dentina, da facili-

Tabela 2.5.8 Classifi cação dos sistemas adesivos dentinários

Passos/tipo Descrição Marca

Três passos Tipo 1 1. Aplicação do ácido e lavagem para criar uma camada de dentina desmineralizada

All-Bond 2 (Bisco)

2. Aplicação do primer Optibond FL (Kerr)

3. Aplicação do selante Scotchbond Multipurpose (3M/ESPE)

Dois passos Tipo 2 1. Aplicação do ácido e lavagem para criar uma camada de dentina desmineralizada

Excite (Ivoclar/Vivadent)

2. Aplicação do primer e selante numa única solução

Gluma Comfort Bond (Heraeus Kulzer)

One-Step (Bisco)

Optibond Solo Plus (Kerr)

Prime & Bond NT (Dentsply)

Scotchbond One (3M/ESPE)

Tipo 3 1. Aplicação do primer autocondicionante Clearfi l Liner Bond 2V (Kuraray Dental)

2. Selante aplicado separadamente Clearfi l SE Bond (Kuraray Dental)

AdheSe (Ivoclar-Vivadent)

Etapa única Tipo 4 1. Primer autocondicionante e selante aplicados em uma única solução

One-Bond F (J.Morita)

Prompt-L-Pop (3M/ESPE)

G-Bond (GC)

Xeno III (Dentsply)

I-Bond (Heraeus Kulzer)

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO158

dade em se obter essa adesão clinicamente e do material restaurador usado. Os sistemas adesivos dentinários não possuem nenhuma atividade antibacteriana intrínseca para conter a invasão bacteriana, embora algumas ten-tativas tenham sido feitas para incorporar agentes anti-bacterianos nestes materiais.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Um ponto muito importante a apreciar é que, se a união adesiva falhar, haverá um acesso fácil para a invasão bacteriana através da dentina permeável.

Para todos os sistemas adesivos dentinários é impor-tante evitar o contato direto da pele com os líquidos do primer/adesivo, já que o contato regular pode resultar numa sensibilização do tipo IV (reação alérgica tardia) ou dermatite de contato.

Resistência e DurabilidadeA fratura da junta adesiva pode ter sérias consequências já que ela permite a nova introdução de bactérias e resíduos nas margens cavitárias. Isto causará a descoloração margi-nal e pode resultar no desenvolvimento de sensibilidade pulpar. De maneira alternativa, a restauração pode sim-plesmente ser perdida devido à falta de adesão, a menos que tenha sido utilizada alguma forma de retenção.

Existe um grande número de causas potenciais res-ponsáveis pela falha da união entre a restauração e a dentina:

■ contração de polimerização;■ expansão e contração térmica diferencial;■ tensões internas pela carga oclusal;■ ataque químico, tal como a hidrólise.

As possíveis consequências da contração de polime-rização dos compósitos já foram discutidas (Cap. 2.2). Como pode levar até 24 horas para se obter a resistên-cia de união total dos sistemas adesivos dentinários, a contração de polimerização pode causar a ruptura antes mesmo de a adesão ter tido chance de se estabelecer.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

É prudente recomendar aos pacientes que tentem colocar o mínimo de tensões sobre as restaurações adesivas recentemente confeccionadas pelo menos nas primeiras 24 horas.

A falha da união à dentina devido à contração de poli merização é também dependente do preparo cavi-

tário. Isso é defi nido pelo tão chamado fator-C, que é a proporção da área de superfície aderida em relação à área de superfície livre. Se a superfície livre para contração for muito pequena quando comparada com a área da interface entre o dente e a restauração, então a falha da união compósito/dentina tende a ocorrer por causa da contração em direção à superfície. Isso signifi ca que uma adesão somente poderá ser obtida numa superfície plana ou em cavidades muito rasas, a menos que a adesão seja sufi cientemente forte para resistir as tensões geradas pela contração de polimerização da resina. Se esse for o caso, então as cúspides do dente deverão se deformar para compensar o efeito da contração.

Em situações de cúspides seriamente comprometidas, como pode ser o caso de cavidades MODs amplas, isso pode resultar na fratura na base da cúspide. Mesmo que não ocorra, a tensão gerada na coroa dental pode dar origem à sensibilidade pulpar.

Em situações de lesões induzidas por tensões, como lesões de abfração cervical, a aplicação de forças excên-tricas ou forças oclusas em excesso pode causar a ruptura da adesão da restauração e fi nalmente ocasionar o seu deslocamento. Foi sugerido que esse problema pode ser superado em algum grau pelo emprego de um material restaurador com um baixo módulo de elasticidade (p. ex., resinas com micropartículas), pois isso impede a transfe-rência de tensões para a interface dente-restauração. Esse conceito é essencialmente a mesma ideia de aplicar uma camada espessa de uma resina com módulo de elastici-dade relativamente baixo (tal com um selante dentinário) na superfície dentinária antes da aplicação da resina com-posta. Se essa camada tiver espessura sufi ciente, então ela atuará como um “coxim elástico”, absorvendo a tensão de contração de polimerização com a deformação elástica por alongamento. Todavia, isso signifi ca que as tensões deverão ser suportadas em outro lugar da estrutura dental e isto pode não ser a situação mais benéfi ca.

Número de Etapas AdesivasSe a escolha do sistema adesivo dentinário for baseada simplesmente na complexidade da sua aplicação, então os sistemas de um passo são a opção preferida. No entanto, menos etapas não signifi cam necessariamente um melhor desempenho.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A efi cácia clínica dos sistemas adesivos dentinários com um número reduzido de etapas ainda necessita ser estabelecida.

Existem também situações em que alguns agentes adesivos dentinários seriam inapropriados. Por exemplo, quando forem usados em conjunto com uma restauração

Page 170: Introdução Aos Materiais Dentários

ADESÃO AO ESMALTE E À DENTINA 159

indireta, aqueles que precisam ser fotoativados imediata-mente podem dar origem a problemas no assentamento da restauração, já que existe uma tendência da resina em se concentrar nos ângulos internos. Nessas situações um sistema adesivo de dois componentes com primer de ativação química seria indicado. Como mencionado, em situações em que o acesso da luz é problemático, como nos pinos metálicos cimentados com resina e nos amál-gamas adesivos, um primer de ativação química também é indicado.

Desempenho ClínicoPara restaurações pequenas com margens totalmente em esmalte, os compósitos diretos com sistemas adesivos dentinários são aceitáveis, desde que sejam adotadas téc-nicas adequadas para minimizar os efeitos da contração de polimerização. Para restaurações maiores envolvendo áreas extensivas de dentina exposta, e especialmente onde a cavidade se estende subgengivalmente, o uso de compósitos diretos em conjunto com os sistemas adesivos dentinários é contraindicado. O problema da contração de polimerização pode ser contornado, de alguma forma, pelo uso de inlays de compósito. No entanto, a diver-gência do coefi ciente de expansão ainda representa um problema, e as restaurações cerâmicas unidas com resina podem ser as preferidas, pois elas concentram menos tensões na adesão realizada na região de dentina.

É na durabilidade a longo prazo da adesão, em parti-cular, que os novos sistemas adesivos dentinários de dois e um passo ainda precisam provar a sua efi cácia clínica. Infelizmente, a mensuração da resistência à tração ou ao cisalhamento em testes in vitro mostrou ser um fraco indi-cador do desempenho clínico. Apenas poucos adesivos dentinários anunciados foram adequadamente avaliados clinicamente e nem todos os sistemas adesivos dentiná-rios podem ser recomendados para uso clínico geral. Uma

ampla revisão do desempenho dos sistemas adesivos den-tinários em relação a suas taxas de retenção foi realizada por Peumans e colaboradores (2005), que mostraram que os sistemas adesivos dentinários de três passos possuem uma taxa média de falha de 4,8 ± 4,2%, quando com-parados com os sistemas de dois passos (6,2 ± 5,5%), os sistemas autocondicionantes de dois passos (4,7 ± 5,0%) e os agentes adesivos dentinários um passo (8,1 ± 11,3%). Ainda, o resultado mais notável foi aquele dos cimentos de ionômero de vidro e dos cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina com taxas de 1,9 ± 1,8%. Portanto, o uso dos cimentos de ionômero de vidro e os cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina como base (aderida à dentina) sob os compósitos parece ainda ser uma abordagem alternativa altamente aceitável ao uso dos sistemas adesivos dentinários.

CONCLUSÕES

Existem vários adesivos dentinários diferentes e cada um exibe características peculiares em relação a suas proprie-dades. A última geração de sistemas adesivos dentinários é muito promissora, de tal forma que a falta de retenção não é mais um fator importante no insucesso do mate-rial. No entanto, ainda não é possível garantir um sela-mento marginal com os sistemas adesivos dentinários em todas as situações clínicas.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O desempenho clínico dos sistemas adesivos dentinários melhorou signifi cativamente, de forma que o sucesso clínico com restaurações adesivas tem se tornado muito mais previsível.

LEITURA COMPLEMENTAR

Armstrong SR, Keller JC, Boyer DB (2001) The infl uence of water storage and C-factor on the dentine-resin composite microtensile bond strength and debond pathway utilizing a fi lled and unfi lled adhesive resin. Dent Mater 17: 268–276

Bouillaguet S et al (2001) Bond strength of composite to dentine using conventional, one-step, and self-etching adhesive systems. J Dent 29: 55–61

Choi KK, Condon JR, Ferracane JL (2000) The effect of adhesive thickness on polymerization contraction stress of composite. J Dent Res 79: 812–817

Davidson CL et al (1984) The competition between the composite-dentine bond strength and the polymerisation contraction stress. J Dent Res 63: 1396–1399

Erickson RL (1992) Surface interactions of dentine adhesive materials. Oper Dent 5: 81–94

Finger WJ, Balkenhol M (1999) Rewetting strategies for bonding to dry dentine with an acetone-based adhesive. J Adhes Dent 2: 51

McLean JW (1996) Dentinal bonding agents versus glass–ionomer cements. Quintessence Int 27: 659

Moll K, Haller B (2000) Effect of intrinsic and extrinsic moisture on bond strength to dentine. J Oral Rehabil 27: 150–165

Nakabayashi N, Kojima K, Masuhara E (1982) The promotion of adhesion by the infi ltration of monomers into tooth substrates. J Biomed Mater Res 16: 265–273

Nakabayashi N, Watanabe A, Arao T (1998) A tensile test to facilitate identifi cation of defects in dentine bonded specimens. J Dent 26: 379–385

Pashley DH, Carvalho RM (1997) Dentine permeability and dentine adhesion. J Dent 25: 355–372

Page 171: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO160

Perdigão J et al (2000) New trends in dentine/enamel adhesion. Am J Dent 13: 25D–30D (special issue)

Peumans M et al (2005) Clinical effectiveness of contempory adhesives: A systematic review of current clinical trials. Dent Mater 21: 864

Tay FR et al (2000) An ultrastructural study of the infl uence of acidity of self-etching primers and smear layer

thickness on bonding to intact dentine. J Adhesive Dent 2: 83–98

Van Meerbeek B et al (1998) The clinical performance of adhesives. J Dent 26: 1–20

van Noort R et al (1989) A critique of bond strength measurements. J Dent 17: 61–67

Page 172: Introdução Aos Materiais Dentários

161

Capítulo 2.6

MATERIAIS ENDODÔNTICOS

INTRODUÇÃO

A Endodontia ocupa-se da morfologia, fi siologia e pato-gênese dos tecidos pulpares e perirradiculares dos dentes humanos. O tratamento endodôntico objetiva salvar o dente quando ocorreu dano na polpa e nos tecidos perir-radiculares associados. Os tratamentos envolvendo o uso de materiais dentários incluem o capeamento de uma polpa vital exposta, o selamento do espaço do canal radi-cular quando a polpa teve que ser removida e, no caso de dentes muito deteriorados, a reconstrução com sistemas de pinos e núcleos endodônticos (Fig. 2.6.1).

CAPEAMENTO PULPAR VITAL

As duas principais causas de exposição pulpar são:

■ lesões de cáries e desgaste dentário; ■ exposição acidental durante procedimentos operató-

rios ou devido a traumatismo.

Em cada um dos casos mencionados, o tratamento restaurador é necessário para salvar o dente. A natu-reza deste tratamento depende da causa da lesão pulpar mencionada.

Capeamento Pulpar Indireto

Sir John Tomes estabeleceu em 1859 que “é melhor per-mitir que uma camada de dentina pigmentada permaneça para a proteção da polpa do que correr o risco de sacrifi car o dente”. Ele observou que a dentina pigmentada e des-mineralizada poderia ser deixada nas cavidades profundas do dente antes da restauração, sempre com resultados altamente satisfatórios. Isto se aplica especialmente se há suspeita da existência de microexposições da polpa. A remoção desta dentina pode levar à exposição da polpa, prejudicando assim seu prognóstico. Já foi demonstrado que a dentina desmineralizada, se estiver livre de bactérias,

se remineralizará uma vez que a fonte de infecção tiver sido eliminada. O diagnóstico da presença de dentina desmineralizada livre de cárie pode ser auxiliado pelo uso de uma solução evidenciadora de cárie. A colocação de um material adequado diretamente sobre a dentina desmineralizada é chamada de capeamento pulpar indireto (CPI) e deve-se comentar que não há até o momento nenhum claro consenso para a aceitação deste procedi-mento clínico. O CPI foi defi nido como as etapas reali-zadas para proteger um dente vital no qual a remoção de todos os tecidos afetados resultaria em exposição pulpar. Neste contexto uma polpa não exposta é aquela que não exibe nenhum sinal de hemorragia na câmara pulpar ou próxima dela. Quando se realiza tal procedimento é muito importante que a infecção seja removida e que não encontre condições para recomeçar. Isto pode ser obtido com a colocação de um material de forramento com propriedades antibacterianas como o hidróxido de cálcio ou o cimento de óxido de zinco eugenol, os quais têm por objetivo estimular a formação de dentina secun-dária. Obviamente, as resinas compostas não devem ser colocadas diretamente sobre os forradores que contêm eugenol já que interferem na polimerização da resina.

Com o surgimento de materiais dentários adesivos, ou tra possível opção restauradora foi a colocação de ci men to de hidróxido de cálcio e depois a aplicação de um material de forramento adesivo, como o cimento de ionômero de vidro ou um cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina. Ainda, outra opção é o uso das resinas compos-tas em associação de um adesivo dentinário. O objetivo é fornecer uma combinação de uma barreira antibacte-riana e um selamento adesivo contra a entrada adicional de bactérias, removendo assim os adversários da polpa e permitindo que ela alcance a cura. Quando o hidróxido de cálcio é usado desta maneira, deve ser aplicado com moderação a fi m de garantir a maior quantidade possível de dentina para a futura adesão com o cimento de ionô-mero de vidro/cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina ou resina composta unida à dentina.

Page 173: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO162

Mais recentemente foi proposta uma abordagem adesiva envolvendo a aplicação direta de um adesivo dentinário. O objetivo é selar a dentina remanescente pela criação da zona híbrida, evitando a sensibilidade pós-operatória imediata e protegendo o dente da entrada de bactérias. Há profi ssionais com sérias considerações no que diz res-peito ao condicionamento ácido dentinário tão próximo à polpa, mas como a Figura 2.6.2 mostra, a desminera-lização da dentina pela penetração do ácido é de apenas poucos micrometros. Existem evidências adicionais que dão suporte à posição de que o condicionamento ácido da dentina não matará a polpa adjacente. Com relação à estimulação de dentina secundária, mais evidências foram observadas e sugerem que isto não é uma característica especial do cimento de hidróxido de cálcio.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Pontos importantes a serem observados com relação a muitos materiais dentários:■ são biologicamente compatíveis com a polpa

para capeamento pulpar indireto desde que não estejam presentes bactérias e que a microinfi ltração coronária seja impedida; e

■ estimularão a formação de dentina reparadora.

Capeamento Pulpar Direto

O capeamento pulpar direto pode ser descrito como o curativo de uma polpa exposta com o objetivo de manter a vitalidade pulpar. Caso ocorra uma exposição pulpar como consequência do preparo do dente ou de trauma-tismo, é importante que sejam realizadas etapas para evitar a contaminação bacteriana. Se o profi ssional pode ter certeza de que isto está ocorrendo, então o procedi-mento de capeamento pulpar direto apresenta um bom prognóstico para que a polpa seja salva; embora as visões

variem, o consenso geral é de que o cimento de hidró-xido de cálcio é o material de escolha para capeamento pulpar em tais situações.

Porém, muitos clínicos acreditam que a taxa de sucesso em longo prazo com o tratamento endodôntico não justifi ca o tratamento das exposições pulpares traumáti-cas com procedimentos de capeamento pulpar que são mais imprevisíveis, especialmente porque o capeamento pulpar malsucedido pode levar à reabsorção, calcifi ca-ção, pulpite, necrose pulpar ou envolvimento periapi-cal. Entretanto, as vantagens de um procedimento de capeamento pulpar bem-sucedido são que dentes jovens vitais podem ter uma oportunidade de continuar a se desenvolver e que os efeitos de enfraquecimento dentá-rio causados pelo tratamento endodôntico são evitados.

Se o capeamento pulpar direto como procedimento clínico é controverso, da mesma maneira é controversa a escolha de materiais para o capeamento pulpar. Um material para capeamento pulpar pode ser considerado como um curativo de uma ferida da polpa exposta. Tal material tanto pode isolar passivamente a polpa do ambiente externo de maneira a impedir a invasão bacte-riana e/ou pode induzir alguma mudança na polpa.

Há evidências que sugerem que a polpa possui a capa-cidade de se autoisolar pela formação de uma barreira de tecido conectivo que por fi m se transforma em tecido duro. A indução da formação de tecido duro precisa ser precedida por uma irritação de baixo grau que resulta em necrose por coagulação superfi cial. Com base nisso, um material para capeamento pulpar deve:

■ ter um efeito superfi cial sobre o tecido pulpar, indu-zindo, portanto, um processo de encapsulamento bio-lógico que resulta na formação de tecido duro;

■ não causar efeitos adversos, sistêmica ou localmente, de maneira que a polpa seja mantida viva;

■ proteger a polpa da entrada de bactérias pela coroa.

μm

Figura 2.6.2 MET mostrando a extensão da penetração do ácido dentro da dentina.

Figura 2.6.1 Esquema de dente cuja raiz foi preenchida.

Page 174: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS ENDODÔNTICOS 163

Em outras palavras, um material para capeamento pulpar precisa ser capaz de interagir com a polpa para iniciar a for-mação de tecido duro e, uma vez que este processo tenha sido desencadeado, deve adotar um papel passivo.

Se a polpa for exposta devido à presença de lesões de cáries, o procedimento para capeamento pulpar é con-traindicado; a infi ltração de bactérias que terá ocorrido para dentro da polpa não pode ser revertida e a única solução é uma pulpectomia total.

Materiais para Capeamento Pulpar

Até recentemente, o único material que parecia satisfazer aos requisitos para o capeamento pulpar era o cimento de hidróxido de cálcio que foi usado pela primeira vez com esta fi nalidade nos anos 1930. Entretanto, sua posição de domínio como material para capeamento pulpar preferido está agora sendo desafi ada pelos adesi-vos dentinários.

Cimentos de Hidróxido de CálcioA primeira aplicação do Ca(OH)2 foi sob a forma de uma pasta semilíquida, consistindo em nada mais que uma mistura de hidróxido de cálcio em água. Esta foi modi-fi cada para uma pasta com metilcelulose, tornando-se mais fácil para manipular. Nos primórdios dos anos 1960, foram introduzidos os cimentos de hidróxido de cálcio que tomam presa nos quais o hidróxido de cálcio reage com um agente quelante éster salicilato na presença de um plastifi cante tolueno sulfonamida (Cap. 2.4). Os ci -mentos que tomam presa apresentam-se tanto como sistemas de duas pastas quanto como de uma pasta, con-sistindo em dimetacrilatos preenchidos por hidróxido de cálcio, polimerizados por luz.

O problema com as versões que não tomam presa é que se dissolverão gradualmente e desaparecerão sob a restauração, o que pode diminuir as funções restaurado-ras. As versões que tomam presa são, portanto, em geral preferidas já que são menos solúveis. A difi culdade para o fabricante é obter um equilíbrio entre um material que seja sufi cientemente solúvel para ser terapêutico e não tão solúvel que se dissolva continuamente, embora seja discutível se o material para capeamento pulpar precise liberar algo para estimular a formação da ponte de dentina.

Quando a pasta é colocada em contato com a polpa, causa a formação de uma camada de tecido necrótico de cerca de 1,0-1,5 mm de espessura que por fi m desenvolve uma camada calcifi cada. Experimentos usando cálcio radioativo na pasta demonstraram que os sais de cálcio necessários para a mineralização da ponte não são deriva-dos do cimento, mas fornecidos pelos fl uidos teciduais da polpa. Uma vez que a ponte tenha obtido uma aparência semelhante à da dentina e que a polpa tenha se isolado da fonte de irritação, a formação de tecido duro cessa. Acredita-se que o alto pH do cimento de hidróxido de

cálcio é responsável por este tipo de resposta pulpar e que isto também está fortemente associado a suas pro-priedades antibacterianas.

Adesivos DentináriosO uso de adesivos dentinários é ainda mais controverso que o uso de hidróxido de cálcio como agente de cape-amento pulpar direto, mas esta é uma área que vem sendo extensamente pesquisada. Como determinado por Stanley (1998), os dados de pesquisas sobre capeamento pulpar são, às vezes, inadequados, confusos, enganosos ou mesmo incorretos e diminuem a confi ança dos clí-nicos na realização do capeamento pulpar. Na melhor das hipóteses, a situação é confusa e mais pesquisas são necessárias para estabelecer qualquer declaração defi ni-tiva. A hemostasia parece ser essencial e, para isso, foi recomendada a limpeza com uma solução diluída de hipoclorito de sódio (1,0% ou menos). Se o sangramento não pode ser controlado dentro de um minuto, indica-se o tratamento endodôntico.

O que permanece controverso é a prática do condi-cionamento ácido total direto com adesivos dentiná-rios e mais pesquisas precisam ser direcionadas para esta área. Alguns casos de sucesso com capeamento pulpar direto usando adesivos dentinários foram demonstrados, quando a etapa do condicionamento ácido é omitida ou então com o uso de sistemas adesivos que não reque-rem uma etapa separada do passo de condicionamento ácido, como os primers autocondicionantes, apesar da observação que o ácido fosfórico pode atuar como um agente hemostático efi caz. Desta maneira, os resultados obtidos com um adesivo dentinário podem ser diferentes daqueles obtidos com outro adesivo dentinário de forma que a experiência clínica não pode ser extrapolada de um para outro. Por isso, não surpreende que a maioria dos cirurgiões-dentistas continue a usar uma quantidade mínima de hidróxido de cálcio antes da colocação de um adesivo dentinário.

Fracassos após o Capeamento Pulpar Direto

Os fracassos após capeamento pulpar direto podem ocorrer devido a três razões:

1. Polpa cronicamente infl amada. Não ocorre nenhum efeito cicatrizante sobre a polpa infl amada e, em tais situações, indica-se uma pulpectomia total.

2. Coágulo extrapulpar. Tal coágulo impede o contato entre o tecido pulpar saudável e o cimento e interfere com o processo de cicatrização da ferida.

3. Falha na restauração. Se a restauração não consegue proporcionar selamento bacteriano, então, a entrada de bactérias pela coroa pode ocasionar o fracasso.

É importante distinguir esta última falha das demais, pois ela não está relacionada estritamente a uma falha do capeamento pulpar.

Page 175: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO164

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O sucesso em longo prazo do capeamento pulpar direto não depende apenas das reações induzidas localmente na polpa pelo material de capeamento pulpar, mas é também crucial a dependência da habilidade do clínico em ter certeza de que uma microinfi ltração não ocorrerá e que o selamento das margens está mantido.

MATERIAIS PARA OBTURAÇÃO DO CANAL RADICULAR

Os objetivos do tratamento endodôntico não cirúr-gico moderno são:

■ Proporcionar limpeza do canal. O objetivo é produzir uma redução das bactérias até um nível não patogênico.

■ Proporcionar “selamento apical”. Isto impede a entrada de fl uidos que fornecerão nutrientes para bactérias no canal e também impede que agentes irritantes saiam do canal e entrem nos tecidos periapicais.

■ Proporcionar “selamento coronário”. Isto impede recon-taminação pela entrada de micro-organismos bucais.

Uma ampla variedade de materiais tem sido usada na tentativa de produzir um selamento impermeável do ápice dentário radicular. Os materiais de selamento do canal radicular mais amplamente usados são uma combinação de cones obturadores e cimentos seladores do canal.

Cones Obturadores

Guta PerchaA guta percha é uma borracha retirada da árvore taban. Foi introduzida no Reino Unido em 1843 e tem sido usada em Endodontia por mais de 100 anos. As borrachas são polímeros de isopreno (2-metil-1,3-butadieno) que é um isômero geométrico; isto signifi ca que ele pode ter diferentes arranjos estruturais embora tenha a mesma composição, como retratado na Figura 2.6.3. Quando o grupo CH3 e o átomo H estão posicionados do mesmo lado do isômero isopreno, a estrutura é chamada de cis e o polímero resultante, cis-isopreno, é conhecido como borracha natural. Quando o grupo CH3 e o átomo H situam-se no lado oposto do isômero do isopreno, esta estrutura é chamada de trans e o polímero trans-isopreno é comumente chamado de guta percha (Fig. 2.6.4). Os efeitos das propriedades destas diferentes confi gurações do polímero são bastante profundos. Na forma cis, o átomo de hidrogênio e o grupo metil impedem o encaixe preciso de maneira que a borracha natural é amorfa e, portanto, macia e altamente fl exível, enquanto a guta percha se cristaliza, em geral cerca de 60% cristalina, formando um polímero duro e rígido.

As borrachas naturais são macias e pegajosas a não ser que seja endurecida por vulcanização, um processo descoberto por Charles Goodyear em 1839 (Cap. 1.1). A vulcanização envolve o aquecimento do polímero com uma pequena porcentagem por peso de enxofre. O endu-recimento ocorre devido à formação de pontes de enxofre ou formação de ligações cruzadas entre as cadeias de polí-meros, impedindo que as moléculas do polímero passem umas sobre as outras. Esta borracha com ligações cruza-das é usada para produzir lençóis e luvas de borracha.

A guta percha é um material termoplástico que amolece a 60-65°C e derrete ao redor de 100°C de maneira que não pode ser esterilizada com calor. Se necessário, a desinfecção pode ser realizada com uma solução de hipo-clorito de sódio (5%). O uso de solventes como a acetona ou o álcool deve ser evitado, já que estes são absorvidos pela guta percha, causando sua dilatação. Por fi m, a guta percha retornará a seu estado não dilatado, comprome-tendo assim o selamento apical. Quando exposta à luz, a guta percha oxida e torna-se friável. Portanto, é impor-tante verifi car que os cones mantêm sua fl exibilidade antes de usá-los.

A guta percha pode assumir duas conformações dife-rentes. Em altas temperaturas, as cadeias de guta percha assumem uma forma estendida que pode ser preservada se resfriada rapidamente de maneira a formar a fase β cristalina, enquanto sob resfriamento mais lento, uma fase α mais densa é formada (Fig. 2.6.4). A guta percha em fase α apresenta melhores características termoplás-ticas e é, portanto, preferida para uso em sistemas de

CH2

CH3

CH

Isopreno

Isopreno cis-isômero

Isopreno trans-isômero

H

CH2

CH3

C C

CH2

CH2

CH3

C C

CH2

H

C CH2

Figura 2.6.3 A estrutura do isopreno e o isopreno cis-isômero e trans-isômero nos quais estão baseadas a borracha natural e a guta percha.

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MATERIAIS ENDODÔNTICOS 165

aplicação de guta percha quente nos quais a guta percha amolecida pelo calor é injetada dentro do canal radicular. Esta técnica foi inicialmente desenvolvida por Johnson em 1978 e progressos adicionais da técnica original incluem o uso de carregadores plásticos (Thermofi l) e pis-tolas injetoras (Obtura) para a colocação da guta percha amolecida. Entretanto, na presença de um forame apical aberto, pode haver uma predisposição para extrusão do material de obturação através do ápice.

Uma abordagem alternativa é dissolver a guta percha em um solvente químico como o clorofórmio ou xileno. Isto amolece a guta percha e permite que ela seja adap-tada intimamente à parede do canal e copie a intricada morfologia do canal. Entretanto, à medida que o solvente é liberado, a estabilidade dimensional pode fi car compro-metida e já foram relatadas preocupações com relação aos possíveis efeitos citotóxicos do uso destes solventes.

Um dos principais usos é através dos cones de guta percha que são amolecidos e compactados pela conden-sação vertical e lateral a quente. A composição dos cones obturadores de guta percha comercialmente disponíveis variará de produto para produto, mas os valores comuns são mostrados na Tabela 2.6.1. Os ingredientes adicio-

nais são acrescidos para superar a característica friável inerente à borracha e para torná-la radiopaca.

Cones Metálicos Os metais, incluindo o ouro, o estanho, o chumbo, o amálgama de cobre e a prata, têm sido usados por muito tempo como materiais para obturação dos canais radi-culares. Os cones de prata foram durante certo tempo extensivamente usado devido ao seu efeito bactericida. A prata é um material mais rígido e infl exível que a guta percha e era usada quando o acesso e instrumentação eram difíceis devido a uma pequena secção transversa ou

cis-isopreno

trans-isopreno

fase α

fase β

CH2 CH2

CH3 H

C C

CH2

n

CH2

CH3 H

C C

CH2

CH3 H

C C

CH2 CH2

CH3

C

CH2

CH3

C C

n

CH2

H

C C

CH3

C C

CH2H

CH2 CH2

CH3 H

CH2

C

CH2

CH3

C

H

CH2

CH2

C

CH3

C

H

CH2

CH2

C

CH3

C

H

n

Figura 2.6.4 A estrutura do cis-isopreno (borracha natural) e a fase α e fase β do trans-isopreno da guta percha.

Tabela 2.6.1 Composição dos cones de guta percha

Componente Quantidade (%) Função

Guta percha 19-22 Borracha

Óxido de zinco 59-75 Partículas de carga

Sais metálicos pesados

1-17 Radiopacifi cador

Cera ou resina 1-4 Plastifi cante

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO166

à anatomia difícil. Infelizmente, a rigidez da prata tornou impossível sua adaptação com exatidão às paredes do canal e criava-se maior dependência dos cimentos usados para fornecer o selamento. Outras desvantagens dos cones de prata eram que apresentavam tendência à cor-rosão, fato que poderia dar lugar à descoloração apical dos tecidos moles, e que eles são difíceis de remover. A corrosão pode ser limitada pelo selamento completo do cone dentro do canal radicular, de forma que ele esteja completamente circundado pelo cimento selador. Entretanto, agora estão disponíveis os cones de acrílico e titânio, como alternativa aos cones de prata, a fi m de evitar os problemas de corrosão e talvez agora exista apenas um interesse histórico pelos cones de prata.

CIMENTOS SELADORES DO CANAL RADICULAR

As propriedades ideais de um selador de canal radicular são que ele deve:

■ ser fácil de usar;■ fi car livre de bolhas de ar e homogêneo quando

misturado;■ escoar para formar uma película de espessura fi na;■ ser insolúvel;■ se adaptar bem à parede do canal e ao cone obtu-

rador;■ ser radiopaco;■ ser biocompatível;■ ser bactericida ou, pelo menos, bacteriostático; e ■ ser fácil de remover em caso de fracasso.

É bem-aceito que as propriedades de selamento de uma guta percha aplicada convencionalmente ou condensada lateralmente são tais que se torna essencial que ela seja usada em associação de um cimento selador do canal radicular. A função do cimento é preencher os espaços entre o cone obturador e a parede do canal radicular, produzindo um selamento antibacteriano. Ele também lubrifi ca os cones de guta percha durante a compactação e preencherá irregularidades do canal principal lateral.

Ao contrário, o uso de cimentos para canais radicu-lares sem cones obturadores também é contraindicado. Quando usado em uma única porção, os cimentos são muito solúveis ou contraem excessivamente durante a presa. Além disso, é difícil mensurar quando, ou se, o canal está adequadamente preenchido e há risco de que o cimento possa extravasar para além do ápice radicular, para dentro dos tecidos circundantes.

É interessante observar que um enfoque similar com os seladores de canais radiculares foi adotado tal como com os forradores cavitários. Agora se aceita que o cimento selador do canal radicular não pode propor-cionar um selamento impermeável e a maior parte da atenção foi direcionada à incorporação de propriedades

antibacterianas, com ênfase na obtenção de um sela-mento antibacteriano.

Uma ampla variedade de materiais é usada como sela-dores dos canais radiculares e estes incluem:

■ cimentos de óxido de zinco eugenol (p. ex., Tubliseal, Kerr);

■ resinas (p. ex., AH Plus, Dentsply; Diaket, 3M/ESPE); ■ cimentos contendo hidróxido de cálcio (p. ex., Apexit,

Ivoclar; Sealapex, Kerr);■ cimentos de ionômero de vidro (p. ex., Ketac Endo,

3M/ESPE; Endion, Voco);■ polidimetil siloxanos (p. ex., RSA RoekoSeal, Roeko); e■ agregado trióxido mineral (p. ex., Pro-Root MTA,

Dentsply).

Em primeiro lugar, será descrita a composição do selador mais usado, os cimentos de óxido de zinco e eugenol. Depois, as características que os tornam ade-quados como seladores serão discutidas e, fi nalmente, os dados clínicos sobre seu desempenho serão avaliados.

Cimentos de Óxido de Zinco Eugenol

Há muitos cimentos contendo óxido de zinco, usados com eugenol, aos quais é adicionada uma variedade de outras substâncias para modifi car estes cimentos para uso como seladores de canais radiculares (Cap. 2.4). Há três razões principais para o uso de aditivos nos seladores de canais radiculares:

■ fornecer propriedades bactericidas;■ aumentar sua radiopacidade; e■ melhorar a adesão à parede do canal radicular.

À semelhança dos cimentos de óxido de zinco eugenol usados para forramento de cavidades e restaurações tem-porárias, alguns dos seladores consistem em um pó que é misturado com um líquido. A lista completa de ingre-dientes de um material amplamente usado (baseado em uma formulação originalmente proposta por Rickert em 1931) é apresentada na Tabela 2.6.2. O pó é predomi-nantemente óxido de zinco ao qual é adicionada prata a fi m de aumentar a radiopacidade. A resina atua como um plastifi cante e o iodeto como um agente antisséptico.

O problema com esta formulação é que a prata tende a causar descoloração da dentina. Isto é particularmente problemático no acesso cavitário da coroa e afeta a apa-rência do dente. Formulações como o cimento de Gross-man (Tabela 2.6.3) substituíram a prata por compostos de bário ou bismuto.

O tamanho das partículas das preparações já men-cionadas é bem-maior e tende a produzir uma textura arenosa à mistura resultante a não ser que seja completa-mente espatulada. Para superar isto, sistemas pasta-pasta foram desenvolvidos e se tornaram muito populares. Os constituintes típicos de tal selador de canais radiculares são apresentados na Tabela 2.6.4.

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MATERIAIS ENDODÔNTICOS 167

Resinas

A atração dos sistemas de resinas é que estes materiais podem ser facilmente formulados de tal forma que tenham tempo de presa rápido e ainda mantenham um tempo de trabalho sufi cientemente longo. Também, estes produtos não contêm nenhum pó espesso de maneira que apresentam textura muito lisa.

Há dois sistemas de resina que estão no mercado por um tempo sufi ciente longo para que alguns dados clí-nicos tenham sido coletados sobre eles. Estes são uma resina epóxica de amina (AH Plus, De Trey, Alemanha) e uma resina de polivinil (DIAKET, 3M/ESPE, Seefeld, Ale-manha). Ambas possuem formulações muito complexas e a composição do AH Plus é mostrada na Tabela 2.6.5. A resina toma presa por uma reação de polimerização por adição após a mistura de duas pastas. O diepóxido, um éter diglicidil de bisfenol A, e uma amina, ou o 1-amino adamantano ou a N,N-5-dibenzil-oxanonandia-mina-1,9, reagem para formar oligômeros com grupos fi nais epóxica e amina, que podem reagir com outros monômeros ou oligômeros, como demonstrado de forma simplifi cada na Figura 2.6.5. Isto produz um polímero

termoplástico altamente fl exível e de alta estabilidade dimensional embora ainda esteja sujeito à contração de polimerização. A reação de polimerização por adição leva várias horas, proporcionando assim um tempo de traba-lho longo. As cargas radiopacas asseguram que o material tenha alta radiopacidade, mesmo quando aplicado em fi nas camadas. A viscosidade é controlada pela quanti-dade (>76% por peso) e tipo de carga. O tamanho das partículas de carga alcança, em média, menos que 10 μm para garantir uma película de espessura fi na e fornecer uma consistência lisa. O problema principal com estas resinas é a quantidade de contração que ocorre durante a presa a qual pode comprometer o selamento apical.

Cimentos Contendo Hidróxido de Cálcio

Os cimentos contendo hidróxido de cálcio apresentam-se sob a forma de uma pasta base e uma pasta catalisadora as quais são misturadas em porções iguais. Eles contêm uma resina semelhante a que é usada nas resinas com-postas de duas pastas às quais é adicionado hidróxido de cálcio como carga em substituição ao vidro, carga mais utilizada. A composição de um destes materiais é apresentada na Tabela 2.6.6. Até o momento, pouco se sabe sobre o desempenho clínico destes materiais. Estes materiais apresentam tempos de trabalho longos e pH alto, o que cria um ambiente altamente alcalino no qual a maioria das bactérias morrerá. A biocompatibilidade é excelente com a formação de cemento sobre o forame apical. Um inconveniente é sua alta solubilidade o que gerou preocupações sobre possíveis microinfi ltrações coronárias ou apicais após algum tempo.

Cimentos de Ionômero de Vidro

Os cimentos de ionômero de vidro consistem em um vi dro de fl úor-alumínio-silicato, o qual reage com um ácido policarboxílico. Uma vez que os cimentos de ionô-mero de vidro apresentam baixa contração durante a presa e possuem a capacidade praticamente única para aderir diretamente à dentina e ao esmalte, estes materiais

Tabela 2.6.2 Composição de um cimento de óxido de zinco e eugenol baseado na formulação de Rickert

Pó % Líquido %

Óxido de Zinco 34-41 Óleo de cravos 78-80

Prata 25-30 Bálsamo do Canadá 20-22

Oleoresina 16-30

Iodeto de ditimol 11-13

Tabela 2.6.3 Composição de um Cimento de Grossman (Grossman)

Pó % Líquido %

Óxido de Zinco 42 Eugenol 100

Resina hidrogenada 27

Subcarbonato de bismuto 15

Sulfato de bário 15

Borato de sódio 1

Tabela 2.6.4 Composição do Tubliseal (Kerr Mf. Co., EUA)

Base % Catalisador

Óxido de zinco 57-59 Eugenol

Oleoresina 18-21 Resina polimerizada

Trióxido de bismuto 7,5 Anidalina

Iodeto de timol 3-5

Óleos e ceras 10

Tabela 2.6.5 Composição do AH Plus (Dentsply De Trey GmbH, Alemanha)

Pasta A Pasta B

Resina epóxica 1-amino adamantano

Tungstato de cálcioÓxido de zircônio

N,N - dibenzil-5-oxanonandiamina-1,9

Aerosil TCD-Diamina

Óxido de ferro Tungstato de cálcio

Óxido de zircônio

Aerosil

Óleo de silicone

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO168

devem gerar bons seladores de canais radiculares. O sur-preendente é que apenas nos anos 1990 os cimentos de ionômero de vidro foram desenvolvidos especifi camente como seladores de canais radiculares. Os cimentos de ionômero de vidro usados para fi nalidades restauradoras e como materiais de forramento precisaram ser modifi ca-dos para enfrentar uma série de problemas. Estes inclu-íam: tempo de trabalho muito curto, difi culdades para transportar o material para o canal radicular, adaptação às paredes do canal radicular, ausência de uma película de fi na espessura, falta de radiopacidade e questões rela-cionadas à biocompatibilidade quando em contato com os tecidos apicais. Estes problemas já foram agora supe-rados pela incorporação de um agente que contrasta com os raios X e pela redução do tamanho das partículas de vidro para menos de 25 μm. Alguns resultados pro-missores foram obtidos com os cimentos seladores de ionômero de vidro, embora os tempos de trabalho ainda tendam a ser curtos e o retratamento seja um problema já que o material após endurecer é muito duro quando comparado a outros seladores de canal radicular.

Polidimetil Siloxanos

Este selador de canais radiculares é na essência uma variante dos materiais para impressão de polivinilsiloxano com polimerização por adição, consistindo em polidime-tilsiloxano, óleo de silicone, óleo a base de parafi na, Pt como catalisador e dióxido de zircônio (veja Capítulo 2.7 para detalhes da química de presa). O sistema de inserção garante uma mistura homogênea, livre de bolhas de ar e

a reologia pode ser cuidadosamente calculada pela adição da quantidade adequada de carga. O tamanho pequeno das partículas de carga garante que este material tenha excelentes propriedades de escoamento e possa alcançar uma espessura de película de 5 μm, o que permite ao selador escoar para dentro de pequenas fendas e túbulos. Assim como os materiais de moldagem, o selador de canais radiculares é insolúvel, estável dimensionalmente e tem excelente biocompatibilidade. Uma preocupação é que este selador de canais radiculares não possui nem a capacidade de aderir à dentina nem qualquer propriedade antibacteriana. Seu selamento é relacionado a sua capaci-dade de adaptação à parede do canal radicular e, de acordo com o fabricante, à discreta expansão que sofre (0,2%) durante a presa. Estudos adicionais, especialmente dados clínicos, são necessários para confi rmar que este produto seja adequado como selador de canais radicular.

Agregado Trióxido Mineral

O agregado trióxido mineral é um cimento composto de silicato tricálcico, silicato dicálcico, aluminato tricálcico, alumínioférrico tetracálcico, sulfato de cálcio e óxido de bismuto. Sua composição não é diferente da composição do cimento de Portland exceto pela adição de óxido de bismuto. Este último é adicionado a fi m de aumentar a radiopacidade.

O agregado trióxido mineral possui pH muito alcalino (ao redor de 12,5) e propriedades biológicas e histológi-cas parecidas com as do cimento de hidróxido de cálcio. Demonstrou-se que o agregado trióxido mineral pode induzir a deposição óssea com mínima resposta infl ama-tória já que é menos citotóxico que os cimentos de óxido de zinco e eugenol reforçados.

O material é misturado com água estéril para obter uma mistura arenosa, granulada que possa então ser cuidadosamente colocada na área desejada. O material é difícil de manipular e a relação pó:líquido (3:1) é fun-damental para obter hidratação adequada do pó. O agre-gado trióxido mineral requer umidade para tomar presa de maneira que o ressecamento absoluto não é apenas desnecessário como contraindicado. Ocasionalmente, pode ser necessário colocar uma bolinha de algodão

Tabela 2.6.6 Composição do Sealapex (Kerr Mf.Co., EUA)

Pasta base % Pasta catalisadora %

Hidróxido de cálcio 46 Sulfato de bário 39

Sulfonamida 38 Resina 33

Óxido de zinco 12 Salicilato de isobutil 17

Estearato de zinco 2 Sílica coloidal 6

Sílica coloidal 2 Dióxido de titânio 4

Óxido de ferro <1

nO

RO

+ n R' NH2

OH

R

OH R'

N

A reação de presa do AH Plusé baseada em uma reação de

adição térmica da epóxica-amina

n

Figura 2.6.5 A reação de presa do AH Plus, que é baseada em uma reação de adição epóxica-amina.

Page 180: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS ENDODÔNTICOS 169

úmida diretamente em contato com o material a fi m de permitir presa adequada; entretanto, o excesso de umidade amolece o material. Leva cerca de 4 horas para que o material se solidifi que completamente e, uma vez que o cimento tenha tomado presa, ele apresenta resis-tência à compressão comparável a do cimento de óxido de zinco eugenol reforçado. Deve-se observar que um ambiente com pH baixo pode impedir que o material tome presa.

O agregado trióxido mineral foi recomendado como material de obturação apical, e como material para obtu-ração retrógrada, para vedar perfurações ou ápices abertos e para capeamento de polpas com vitalidade.

ASPECTOS CLÍNICOS DOS MATERIAIS PARA CANAIS RADICULARES

Os materiais endodônticos estão em contato com tecidos biológicos vivos que não estão protegidos por nenhuma camada epitelial; portanto, a biocompatibilidade deles é de considerável importância. Suas propriedades físicas, relevantes para a produção de selamento apical, também são assuntos importantes.

Biocompatibilidade

Em geral, acredita-se que para que o material seja biolo-gicamente aceitável, ele deve ser o mais inerte possível. Entretanto, isto não ocorre sempre. O que realmente se deseja é uma interação entre o material e o ambiente biológico que seja benéfi co a este ambiente e que não tenha efeito adverso sobre o material. Isto é muito dife-rente da completa ausência de interação, como é o caso de um material inerte. A preocupação está relacionada à maneira como a interação ocorre.

Quando um selador é colocado no ápice do canal radi-cular, ele estará em contato com tecido vital. É impor-tante que o material não provoque resposta infl amatória nos tecidos, uma vez que isto pode induzir irritação, dor e necrose tecidual. Todas estas respostas podem levar à perda do dente o que é exatamente o resultado oposto ao que se intenciona. Uma possível resposta benéfi ca seria a formação de uma camada intermediária de tecido duro que não apenas isole o corpo estranho do tecido vital, mas que também ajude a melhorar a qualidade do selamento apical.

Um eterno problema no tratamento endodôntico é a probabilidade de infecções recorrentes devido à presença de bactérias no ápice do dente. Assim, outra característica buscada em um selador de canais radiculares é a capaci-dade para destruir bactérias.

Como se pode imaginar é difícil conciliar estes dois requisitos já que eles exigiriam um alto nível de sele-tividade na resposta biológica. Em geral, os materiais que apresentam propriedades antibacterianas também

induzem alguma resposta infl amatória nos tecidos locais, embora aqueles que não provocam resposta infl amatória são, na melhor das hipóteses, bacteriostáticos.

Caso se aceite que um selamento perfeito não pode ser alcançado, os materiais usados devem possuir ativi-dade antibacteriana sufi ciente para evitar que bactérias infi ltrem no espaço do canal e proliferem. Entretanto, a propriedade antibacteriana do material não deve ser alcançada à custa da biocompatibilidade.

A guta percha é um material altamente biocompati-vel, com uma citotoxicidade tão baixa que os cimentos usados com ela é que determinarão a resposta tecidual.

Todos os cimentos com óxido de zinco eugenol tendem a induzir alguma reação infl amatória nos tecidos, prova-velmente devido à presença de eugenol livre. Portanto, é importante que medidas sejam tomadas para garantir que o cimento não extravase através do ápice e para dentro dos tecidos vitais. Algumas formulações devem ser evita-das porque contêm paraformaldeído o qual pode causar grave resposta infl amatória, levando à necrose tecidual e reabsorção óssea. Alguns cimentos possuem um esteroide incorporado e, mais uma vez, seu uso é contraindicado.

Comparativamente, os sistemas resinosos devem pos-suir excelente biocompatibilidade, já que nenhum deles contém o eugenol que contribui para a defi ciente biocom-patibilidade dos cimentos de óxido de zinco. Sabe-se que as resinas são levemente tóxicas durante o período de presa, mas uma vez que tenha polimerizado completamente, qualquer infl amação diminui rapidamente. A moderada resposta citotóxica do AH26 recentemente manipulado pode estar associada à liberação de formaldeído que é produzido como subproduto do processo de presa. Uma vez que o AH26 leva algum tempo para tomar presa, certo grau de sensibilidade pode estar associado ao uso deste selador. Foi demonstrado que o AH Plus libera apenas uma pequena quantidade de formaldeído (3,9 ppm) em com-paração ao AH26 (1.347 ppm). Contudo, foi demonstrado que o AH26 é citotóxico, embora isto diminua muito após a presa do material. Em comparação, o Diaket mantém um nível de citotoxicidade mesmo após a presa.

Afi rma-se que as resinas contendo hidróxido de cálcio, além da excelente biocompatibilidade, promovem a for-mação de cemento semelhante ao que se observa nos agentes para capeamento pulpar à base de hidróxido de cálcio.

Propriedades de Selamento

Uma das difi culdades na interpretação da informação dis-ponível sobre as propriedades de selamento é a ausência de uma abordagem padronizada aos métodos de men-suração adotados, limitando o valor dos dados disponí-veis. Isto é particularmente verdade para os estudos sobre propriedades de selamento, in vivo ou in vitro, nos quais tantos métodos já foram usados que a comparação direta não é confi ável e apenas uma avaliação geral é possível.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO170

Primeiro, é perceptível que não há nenhuma dife-rença direta entre os cimentos de óxido de zinco eugenol e os materiais à base de resina. Pode parecer que alguns cimentos de óxido de zinco eugenol são melhores que um ou outro sistema de resina e que outros são piores.

Entretanto, deve-se observar que isto depende tanto da técnica adotada que um resultado aceitável provavel-mente pode ser obtido com qualquer um deles. Como já notado, provavelmente é mais importante que seja obtido selamento antibacteriano que selamento físico embora ambos fossem desejados. Um selamento físico por si só pode não ser bom o sufi ciente se o selador não proporcionar uma barreira antibacteriana.

Propriedades Físicas

Uma vez que os resultados do tratamento endodôntico dependem tanto do operador, é importante escolher um material que possua as características de manipulação que mais se adaptam ao indivíduo em particular. Os tempos de trabalho e de presa e o escoamento dos cimentos determinam suas características de manipulação, embora a espessura da película, a solubilidade e a estabilidade dimensional sejam fatores importantes na determinação de sua capacidade de selamento.

O cimento de Rickert possui tempo de trabalho de até 15 minutos; ele escoa facilmente, mas tende a formar uma película espessa devido à natureza arenosa do pó. O cimento de Grossman apresenta tempo de trabalho de uma hora e também mostra bom escoamento; sua solubilidade é mais baixa que a do cimento de Rickert. O Tubli-seal é um cimento de duas pastas; ele tem tempo de trabalho curto (20 minutos), combinado a um bom escoamento e uma fi na espessura de película.

O selador resinoso Diaket tem presa muito rápida, é grudento, viscoso e difícil de manipular. Em comparação, o AH Plus possui tempo de trabalho muito mais longo, melhor escoamento e menor espessura de película. Uma vez que tenha tomado presa, ambos os materiais são praticamente insolúveis.

As resinas à base de hidróxido de cálcio apresentam boas características de manipulação, mas ainda requerem alguma avaliação clínica antes que possam ser recomen-dadas para uso geral. O mesmo se aplica ao selador de canais radiculares à base de ionômero de vidro e de polivinil siloxano.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Apesar da introdução de uma ampla variedade de seladores de canais radiculares, o material preferido entre os endodontistas continua sendo o cimento selador de óxido de zinco e eugenol.

RESUMO

Para a maioria dos seladores de canais radiculares, aban-donou-se o ideal de um selamento hermético do ápice radicular em favor de um selamento antibacteriano. Talvez apenas o cimento de ionômero de vidro, com sua capacidade intrínseca de união à dentina, possa possivel-mente alcançar um selamento hermético. Atualmente, a visão é que um selamento antibacteriano pode ser alcan-çado apenas pelo uso combinado de cones obturadores de guta percha e cimentos seladores de canais radicu-lares. Há muitos cimentos para escolher e os sistemas pasta-pasta são os mais populares.

Fracassos podem ocorrer devido à presença de bacté-rias residuais resultantes de debridamento químico-me-cânico inadequado, especialmente em canais inacessíveis de dentes multirradiculares e em canais laterais não selados ou devido à entrada de bactéria pela coroa. Com os materiais disponíveis hoje, deve ser possível obter um selamento antibacteriano adequado.

SISTEMAS DE PINOS E NÚCLEOS

A perda considerável de estrutura dental frequentemen- te requer tratamento endodôntico e, como consequên-cia, sobra pouca estrutura dental na região da coroa. Em geral, acredita-se que para reconstruir um dente assim seja necessário algum tipo de reforço para o núcleo. Os métodos mais usados para reforçar dentes gravemente destruídos e tratados endodonticamente são os núcleos retidos por pinos ou os sistemas de pinos e coroas (Fig. 2.6.6). Entretanto, no que diz respeito aos sistemas de pinos e coroas tem ocorrido uma aceitação passiva de con-ceitos tradicionais que, surpreendentemente, possuem pouco respaldo e, cada vez mais, o status quo está sendo desafi ado e alguns cirurgiões-dentistas estão agora se per-guntando se um pino é realmente necessário. O fator que enfraquece o dente é simplesmente a extensa remoção de tecido dentário. Não é uma consequência da fragilização

Núcleo depreenchimento

Pino metálicopré-fabricado

Figura 2.6.6 Um dente restaurado com pino e núcleo.

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MATERIAIS ENDODÔNTICOS 171

da dentina como já se pensou, uma vez que a dentina radicular não muda signifi cativamente no que tange as suas propriedades. As fraturas com frequência associadas aos dentes tratados endodonticamente são apenas uma consequência da remoção de tecido dentário, enfraque-cendo a estrutura dental de maneira que ela já não pode resistir às forças aplicadas sobre ela. Embora se encon-trem referências aos sistemas de pino e núcleo como métodos para fortalecer o dente, isto provavelmente só ocorre quando eles estão efetivamente unidos aos tecidos dentários de maneira que a integridade da estrutura do dente seja melhorada. Agora são discutíveis quantos, se é que algum, dos sistemas atuais podem afi rmar que proporcionam este benefício. Portanto, a função de um sistema de pino e núcleo não é fundamentalmente for-talecer o dente, mas fornecer suporte para a retenção da coroa ou de outra estrutura apoiada na coroa, quando uma quantidade signifi cativa de estrutura dental coro-nária foi perdida. Se restar estrutura dental coronária sufi ciente, então realmente não há necessidade para um pino e um núcleo de preenchimento. Entretanto, se a maior parte da estrutura dental acima da gengival estiver ausente, então um pino e um núcleo tornam-se pré-requisitos essenciais para o preparo coronário de dentes anteriores, embora nos posteriores ainda se possa usar um núcleo retido por pino.

As características desejadas em um sistema de pino e núcleo são que:

■ o sistema proporcione máxima retenção com mínima remoção de tecido dentário;

■ o núcleo forneça recursos para transferir as tensões da restauração para o pino e para o dente;

■ o pino seja capaz de transferir as tensões para a estru-tura dental remanescente sem criar tensões elevadas que possam causar fraturas dentárias;

■ o pino seja recuperável em caso de fracasso; e■ o sistema de pino e núcleo seja esteticamente compa-

tível com a restauração.

Tipos de Sistemas de Pinos

Os pinos tanto podem ser pré-fabricados como fundi-dos. No caso do pino pré-fabricado, o núcleo pode ser construído com um dentre vários materiais para núcleos (amálgama, compósito, cimento de ionômero de vidro ou cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina). Para o pino fundido, é comum usar um pino de plástico branco pré-fabricado e o núcleo pode ser incorporado ao pino plástico de maneira que o pino e o núcleo sejam fundidos como uma peça única. Embora em certa época um pino e núcleo fundidos tenham sido os sistemas de escolha, atualmente muitos cirurgiões-dentistas prefe-rem algum tipo de pino pré-fabricado. A vantagem é que o procedimento é muito mais rápido, simples e barato que o fornecido por um sistema fundido. Este último leva duas consultas para ser concluído e também requer

a produção de restaurações provisórias. Entretanto, os sistemas de pino e núcleo fundidos atuam como uma peça única e podem ser fundidos a um arco de metal (Fig. 2.6.7), que suporta o dente contra forças de cunha e ajuda a evitar fraturas dentárias.

Os tipos de pinos pré-fabricados disponíveis são:

■ pinos metálicos;■ pinos de resina reforçados por fi bra;■ pinos cerâmicos.

Pinos Pré-fabricados

Pinos MetálicosOs pinos metálicos pré-fabricados são feitos com aço inoxidável, níquel-cromo ou titânio. A escolha destes metais refl ete o desejo de usar metais que possuem boa resistência à corrosão e alto limite de proporcionalidade. Os pinos apresentam-se sob uma ampla variedade de desenhos, que incluem:

■ pinos com paredes paralelas não rosqueáveis (p. ex., Para-Post, Whaledent);

■ pinos cônicos não rosqueáveis (p. ex., Endo-Post, Kerr);

■ pinos com paredes paralelas rosqueáveis (p. ex., Kurer Anchor System, Teledyne); e

■ pinos cônicos rosqueáveis (p. ex., Dentatus Screw Post, Dentatus).

É impossível abranger com detalhes todos os modelos diferentes de sistemas de pinos que estão disponíveis em um livro texto como este. Brevemente, o pino deve ser tão longo quanto seja possível sem violar os últimos 4-5 mm apicais do selador do canal radicular. O diâmetro do pino deve ser tão fi no quanto possível para minimizar a remoção de tecido dentário, mas também sufi ciente-

Figura 2.6.7 Um pino e núcleo fundidos com férula, que é uma borda de metal estendida sobre o preparo.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO172

mente forte para não fraturar. Ao mesmo tempo, o pino deve ser fi rme o bastante para não se fl exionar já que isto comprometerá o selamento marginal. O aumento da espessura do pino enfraquecerá o dente e o tornará mais propenso a fraturas. Características retentivas como roscas ou superfície rugosa podem ajudar, mas deve-se notar que as roscas podem dar lugar a concentrações de tensões localizadas, as quais podem contribuir para fratu-ras dentárias. Neste contexto, os pinos autorrosqueá veis possuem excelente retenção, mas também estão asso-ciados à alta incidência de fratura dentária. Os pinos cônicos são os menos retentivos e quanto mais fi nos forem, maior a possibilidade de fratura dentária devido ao efeito de cunha.

Pinos de Resina Reforçados com Fibra Cada vez mais, os materiais compósitos de resina epóxica reforçada por fi bra estão encontrando um lugar cada vez maior na Dentística Restauradora e a Endodontia não foge a esta regra. As fi bras são alinhadas no longo eixo do pino, proporcionando resistência e não comprome-tendo a fl exibilidade do pino. Atualmente, há dois tipos de sistemas de pinos de resina reforçados por fi bra:

■ pinos reforçados por fi bra de carbono (p. ex., Compo-sipost e Aestheti Post da RTD, Meylon, França; Carbo-nite da Harald Nordon sa, Montreux, Suíça);

■ pinos reforçados por fi bra de vidro (p. ex., Snowpost da Carbotech, Ganges, França; Parapost Fiber White da Coltene/Whaledent, Nova Jérsei, EUA; Aestheti Plus Post da RTD, Meylon, França; Glassix da Harald Nordon sa, Montreux, Suíça).

O uso de uma matriz de resina signifi ca que o pino possui o potencial de ser unido à estrutura dental rema-nescente e o núcleo pode, por sua vez, ser unido ao pino. Alega-se que isto melhorará a integridade estrutural da raiz dentária e, assim, diferente dos pinos metáli-cos, proporcionará uma estrutura de suporte mais forte para a coroa com menos chance de fraturas radiculares. Isto altera os requisitos dos pinos comparados aos pinos metálicos, já que o sistema atua como uma peça única para suportar a coroa. Enquanto no caso dos pinos metá-licos é importante que haja alta rigidez a fi m de preve-nir curvaturas, como observado, no caso dos pinos de resina composta reforçados por fi bra, o objetivo é produ-zir uma restauração que, estando unida, atua como uma unidade homogênea. A maneira de obter isto é usando um material com módulo de elasticidade semelhante ao da dentina. Isto permitiria uma distribuição de tensões mais uniforme e deveria reduzir a incidência de fraturas dentárias.

Os pinos reforçados com fi bra de carbono são negros, a não ser que especifi camente revestidos para encobrir esta coloração, como no caso do Aestheti Post (RTD, Meylon, França). Os pinos reforçados com fi bra de vidro possuem a vantagem de, sendo geralmente branco ou

branco/translúcido, poderem produzir resultados estéti-cos superiores quando usados em associação a restaura-ções de cerâmica pura.

Pinos Cerâmicos Do ponto de vista estético, os pinos cerâmicos seriam uma promessa considerável. Daí, os fabricantes começa-ram recentemente a produzir pinos cerâmicos como uma alternativa aos pinos brancos reforçados por fi bra. Um dos materiais que se tornou popular para tais pinos é a zircô-nia devido a sua presumida alta resistência e tenacidade e aparência branca. Os sistemas atuais incluem o Cosmo-post (Ivoclar-Vivadent, Liechtenstein), o Biopost (Incer-med, Lausanne, Suíça) e o Cerapost (Brassler, Lemgo, Alemanha). Entretanto, a inércia química da zircônia é um problema potencial no que diz respeito à retenção e estes sistemas devem contar com métodos mecânicos de retenção. O deslocamento dos pinos pode ocorrer devido à rotação da coroa, resultando em tensões de torção. Os pinos de zircônia sofrem com a falta de resis-tência à torção devido à falta de adesividade, enquanto a ausência de resistência à torção de um pino reforçado por fi bra tem origem na ausência de rigidez do pino. Até o momento, as informações sobre estes sistemas de pinos ainda são muito escassas.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Com o aumento do uso das restaurações de cerâmica pura, é provável que a demanda por sistemas de pinos e núcleos estéticos aumente signifi cativamente.

RESUMO

Com relação aos pinos metálicos, tanto os pinos refor-çados por fi bra como os cerâmicos são aquisições relati-vamente novas para o tratamento de dentes gravemente destruídos. É necessário consideravelmente mais conhe-cimento e experiência, tanto in vitro como in vivo, com o uso destes materiais antes que possam ser aceitos tão facilmente como os sistemas de pinos metálicos.

LEITURA COMPLEMENTAR

Anon (2000) New developments in fi ber post systems. Am J Dent 13: special issue p1B–24B

Asmussen E, Peutzfeldt A, Heitmann T (1999) Stiffness, elastic limit, and strength of newer types of endodontic posts. J Dent 27: 275–278

Browne RM (1988) The in vitro assessment of the cytotoxicity of dental materials – does it have a role? Int Endod J 21: 50–58

Camillera J et al (2005) The constitution of mineral trioxide aggregate. Dent Mater 21: 297

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Cox CF, Hafez AA (2001) Biocomposition and reaction of pulp tissues to restorative treatments. Dent Clin N Amer 45: 31–48

Dammaschke T et al (2005) Chemical and physical surface and bulk material characterization of white ProRoot MTA and two Portland cements. Dent Mater 21: 731

Foreman PC, Barnes IE (1990) A review of calcium hydroxide. Int Endod J 23: 283–297

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Pitt-Ford TR, Rowe AHR (1989) A new root canal sealer based on calcium hydroxide. J Endod 15: 286–289

Stanley HR (1998) Criteria for standardizing and increasing credibility of direct pulp capping studies. Am J Dent 11: Spec No: S17–34

Tobias RS (1988) Antibacterial properties of dental restorative materials – a review. Int Endod J 21: 155–160

Watts A et al (1994) Pulp response to a novel adhesive calcium hydroxide based cement. Eur J Prosthodont Rest Dent 3: 27–32

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175

Capítulo 2.7

MATERIAIS DE MOLDAGEM

INTRODUÇÃO

Os materiais de moldagem são usados para produzir uma réplica detalhada dos dentes e dos tecidos da cavi-dade oral. Desta réplica, ou moldagem, pode ser feito um modelo que será utilizado na confecção de próteses totais, próteses parciais, coroas, pontes e inlays.

Ao longo dos anos, uma grande variedade de mate-riais de moldagem e técnicas associadas foi desenvolvida, todas almejando obter a otimização das características desejáveis. Os materiais de moldagem podem ser classifi -cados em materiais rígidos e elásticos (Tabela 2.7.1).

Os materiais de moldagem rígidos não podem envol-ver retenções que podem estar presentes nos dentes ou no osso. Portanto, seu uso está restrito a pacientes edên-tulos sem áreas de rebordo retentivas.

Os materiais de moldagem elásticos são subdivididos em materiais de moldagem hidrocoloides e elastômeros. Ambos são capazes de moldar áreas retentivas e podem ser usados em pacientes edêntulos, parcialmente eden-tados e totalmente dentados. A escolha dependerá das exigências particulares de cada caso.

A escolha do material de moldagem também pode ser afetada pela técnica a ser adotada, sendo a seleção de uma moldeira de estoque ou moldeira especial aspec-tos importantes. Estas moldeiras são necessárias para apoiar o material de moldagem (especialmente quando ele ainda está fl uido), de forma que ele possa ser levado ao paciente, inserido na boca e removido depois de ter reagido. As moldeiras também fornecem suporte quando o modelo é vazado da moldagem.

A variedade de aplicações e técnicas usadas com os materiais de moldagem é apresentada na Tabela 2.7.2. A escolha do tipo de moldeira é determinada de certa forma pela viscosidade do material de moldagem.

Um material de moldagem que está muito fl uido quando é inicialmente misturado não pode ser usado com uma moldeira de estoque, e uma moldeira indi-vidual bem-ajustada necessita ser produzida. Isso pode

ser feito pela construção de uma moldeira individual de acrílico de um modelo preliminar, ou pelo uso de um material de alta viscosidade, que é colocado numa moldeira de estoque e, uma vez tomado presa, uma mol-deira individual é produzida. Alguns materiais de molda-gem não estão disponíveis numa versão com viscosidade sufi cientemente alta para uso em moldeira de estoque, e estes incluem a pasta zinco-enólica, o poliéter e os elastômeros de polissulfetos. Outros, como a godiva, o gesso Paris, o alginato e as siliconas, estão disponíveis em formulações que podem ser usadas com uma moldeira de estoque. Embora a godiva possa ser usada em uma moldeira de estoque, a moldagem obtida não reproduz os detalhes da superfície adequadamente, a menos que seja utilizada uma camada fl uida da pasta zinco-enólica. De maneira similar, os alginatos, quando usados numa moldeira de estoque, nem sempre fornecem o grau neces-sário de precisão, sendo então mais bem utilizados em moldeiras especiais.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A escolha do material de moldagem e do tipo de moldeira a ser usado dependerá da fi delidade e da reprodução de detalhes superfi ciais que se deseja.

REQUISITOS DE UM MATERIAL DE MOLDAGEMAlguns dos requisitos de um material de moldagem já foram citados na discussão anterior e agora devem ser defi nidos mais explicitamente. As características impor-tantes dos materiais de moldagem podem ser identi-fi cadas do ponto de vista do paciente ou do dentista (Tabela 2.7.3).

Reprodução Fiel dos Detalhes Superfi ciais

A precisão da reprodução dos detalhes superfi ciais de -pende da viscosidade da mistura e da habilidade do

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO176

material de moldagem em se adaptar intimamente aos tecidos moles e duros. Portanto, um material com baixa viscosidade é desejável, mas ela não deve ser tão baixa que o material não possa ser contido na moldeira de moldagem.

Alguns materiais são hidrofóbicos (repelente de água) e serão repelidos pela umidade da superfície. Se isso acon-tecer numa área crítica, então, um detalhe superfi cial importante pode ser perdido pela formação de bolhas na superfície de moldagem devido ao aprisionamento de ar. Um campo seco é essencial para esses materiais. Se isso não for possível, um material alternativo, que seja com-patível com umidade e saliva, deve ser empregado.

Existem ocasiões em que o paciente terá tecidos moles e móveis. Isto ocorre particularmente com os pacientes edêntulos, que podem apresentar um rebordo frouxo.

Se o material de moldagem for muito rígido, ele pode deslocar tais tecidos e produzir uma moldagem distor-cida. Quando isto é reproduzido na prótese, os tecidos moles necessitarão se adaptar à prótese, e não o con-trário, senão o paciente pode sentir desconforto. Tais materiais de moldagem são classifi cados como sendo mucocompressivos.

O ideal é que o material de moldagem a ser empre-gado deve ser sufi cientemente fl uido durante sua inser-ção para prevenir o deslocamento dos tecidos moles; tais materiais são considerados mucostáticos.

Fidelidade Dimensional e Estabilidade

Elas são dependentes dos fatores descritos a seguir.

Tipo de MoldeiraSe a moldeira for propensa à distorção, então, o modelo vazado desta moldeira também será distorcido. Logo, moldeiras altamente fl exíveis devem ser evitadas. Uma boa adesão entre a moldeira e o material de moldagem é muito importante. Se o material de moldagem extravasar da moldeira, isto distorcerá novamente a moldagem. Os fabricantes dos materiais de moldagem fornecerão um adesivo adequado para o seu material para assegurar uma boa adesão com a moldeira. É importante que as instru-ções dos fabricantes sejam seguidas rigorosamente, pois caso contrário poderá resultar em falha da união adesiva. Retenções adicionais podem ser obtidas com o uso de moldeiras perfuradas.

Contração do Material de MoldagemQuando o material de moldagem toma presa por meio de uma reação química ou por alguma mudança no estado

Tabela 2.7.1 Classifi cação dos materiais de moldagem

Rígido

Gesso

Godiva/pasta zinco-enólica

Elástico

Hidrocoloide

Ágar (reversível)

Alginato (irreversível)

Elastômero

Polissulfeto

Poliéter

Silicona (de condensação)

Silicona (de adição)

Tabela 2.7.2 Técnicas de moldagem indiretas

Aplicação Material de escolha Técnica de moldagem Viscosidade de escolha Tipo de moldeira

Próteses totais Gesso Paris Etapa única ⎯ Estoque/individual

Pasta zinco-enólica Etapa única ⎯ Individual

Godiva/pasta zinco-enólica

Duas etapas ⎯ Estoque

Alginato Etapa única ⎯ Estoque/individual

Próteses parciais Alginato Etapa única ⎯ Estoque/individual

Elastômeros Etapa única Média Individual

Coroas, pontes e inlays Godiva Anel de cobre ⎯ ⎯

Elastômero Etapa única Média Individual

Mistura simultânea Pesada/leve Individual

Massa densa/massa fl uida (leve)

Estoque

Duas etapas Pesada/leve Individual

Massa densa/massa fl uida (leve)

Estoque

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MATERIAIS DE MOLDAGEM 177

físico, ambas geralmente resultam em alguma contra-ção do material de moldagem. Uma vez que o mate-rial está fi rmemente aderido à moldeira, esta contração aumenta o espaço previamente ocupado pelos tecidos duros e moles. No caso de um preparo de coroa unitária, o resultado é um molde que é levemente maior que o preparo do dente original (Fig. 2.7.1). Se a contração do material de moldagem for excessiva, isto resultará numa coroa frouxamente adaptada. Se o material de moldagem expandir com a presa, ocorrerá então o problema inverso, com uma coroa muito apertada, com pouco espaço para o cimento que é necessário para fi xar a peça no lugar.

Além das alterações nas dimensões durante a presa, existe também uma leve contração térmica do material de moldagem na medida em que ele resfria da tempe-ratura da boca para a temperatura ambiente. Os coefi -cientes de expansão térmica tanto da moldeira quanto do material de moldagem devem ser pequenos. O ideal é que um material de moldagem deve apresentar uma contração muito pequena (<0,5%), pois isto resultará na produção de uma coroa que é levemente maior que o preparo confeccionado ⎯ isto fornecerá o espaço neces-sário para o cimento a ser usado.

Deformação PermanenteQuando é feita a moldagem de um paciente dentado, haverá retenções devido às formas bolhosas das coroas den-tárias. Nesse caso, o material de moldagem deve ser sufi -cientemente fl exível para permitir a remoção das regiões retentivas sem causar distorção; desta forma os materiais de moldagem rígidos não são adequados para esta fi na-lidade. Devem ser empregados nestes casos os materiais de moldagem elásticos, mas como a grande maioria é, na verdade, viscoelástico (Cap. 1.7), existe a possibilidade de ocorrer algum grau de deformação permanente.

Estabilidade de ArmazenagemGeralmente, existe uma demora signifi cante entre a rea-lização da moldagem e a sua chegada ao laboratório de prótese onde o modelo será vazado. É importante que o material de moldagem não contraia, não expanda e nem distorça durante este período de tempo.

Técnica de MoldagemNo caso dos materiais de moldagem de silicona, em parti-cular, existe uma variedade de técnicas de moldagem que pode ser empregada. É importante que a técnica apro-priada seja usada para cada material. Isso será tratado posteriormente, na discussão sobre os materiais de mol-dagem de silicona.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Os materiais de moldagem devem atender a uma grande variedade de requisitos, não surpreendendo que existam tantos no mercado.

MATERIAIS DE MOLDAGEM RÍGIDOS

Godiva para Moldagem

A godiva de moldagem é um material termoplástico com uma temperatura de transição vítrea em torno de 55-60° C. Acima da temperatura de transição vítrea, ela se torna macia e toma uma nova forma. Com o resfriamento da tempera-tura na boca, ela endurece e pode ser removida, retendo a forma (moldagem) da cavidade oral. Portanto, não existe reação química envolvida no uso deste material.

ComposiçãoA composição das godivas para moldagem tende a variar de produto para produto e é em geral um segredo de mercado. Elas consistem em uma combinação de resinas e ceras, plastifi cadores e cargas, cada um possuindo uma função específi ca:

■ Resinas e ceras. As resinas são substâncias orgânicas amorfas que são insolúveis em água. As resinas típicas

Tabela 2.7.3 Requisitos de um material de moldagem

Do paciente Do dentista

Gosto e odor neutros Fácil mistura

Tempo de presa curto Tempo de trabalho curto

Moldeira pequena Fácil remoção

Fácil remoção Boa qualidade de moldagem

Não tóxico Baixo custo

Fácil desinfecção

Espaço dodenteMoldeira

Materialde moldagem

Figura 2.7.1 Contração do material de moldagem em direção à moldeira, resultando na produção de um modelo que é levemente maior que o preparo original.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO178

de ocorrência natural usadas na godiva de moldagem são goma-laca, dammar, breu ou sandáraca. Alguns produtos recentes usam resinas sintéticas (p. ex., cumerineindeno) para promover maior controle e consistência da composição. As ceras são hidrocarbo-netos de cadeia linear de fórmula geral CH3(CH2)n CH3, e o n está entre 15 e 42. Elas são caracteristicamente sem sabor, inodoras, sem cor e grudentas ao toque. As ceras usadas nas godivas para moldagem incluem a cera de abelha e a colofônia.

■ Plastifi cadores. As ceras e as resinas, se usadas isolada-mente, tendem a produzir um material frágil com ten-dência à pegajosidade. A fragilidade é superada pela adição de plastifi cadores, tais como a guta percha e agora é mais comum o uso do ácido esteárico.

■ Cargas. Para superar a pegajosidade, controlar a fl uidez e minimizar a contração devido à contração térmica, adiciona-se carga ao material. As cargas mais utiliza-das são o carbonato de cálcio e a pedra-pomes. As cargas também melhoram a rigidez deste material de moldagem.

PropriedadesA godiva para moldagem é mucocompressiva, já que é o material de moldagem utilizado mais viscoso empre-gado. Isso pode representar problemas, especialmente, naqueles pacientes que possuem rebordo mandibular frouxo.

A godiva se torna rígida quando resfriada e, portanto, não pode ser usada para moldar áreas retentivas. Ela possui uma alta viscosidade, de forma que a reprodução dos detalhes superfi ciais não é muito boa. No entanto, a reprodução pode ser melhorada pelo reaquecimento da superfície do material de moldagem após a primeira mol-dagem, reposicionando-o na boca do paciente. Mesmo assim, a qualidade de cópia dos detalhes superfi ciais não é tão bom quanto o que é conseguido com todos os outros materiais de moldagem. Portanto, é melhor usar a godiva como uma maneira simples e rápida de se produ-zir uma moldeira individual e, então, usar uma camada fl uida de pasta zinco-enólica para fornecer os detalhes das superfícies.

Os coefi cientes de expansão térmica das resinas e ceras são muito altos, como indicado na Tabela 2.7.4, e são altamente não lineares na faixa de temperatura de inte-resse odontológico (Fig. 2.7.2). A contração é na ordem de 1,5%, e é devido à contração térmica da temperatura da boca para a do ambiente.

O material possui pouca estabilidade dimensional e o modelo deve ser vazado o mais rápido possível, tão logo a moldagem seja realizada; isto deve ocorrer dentro de uma hora.

A condutividade térmica da godiva de moldagem é muito baixa, signifi cando que durante o amolecimento o lado externo sempre amolecerá primeiro. Isto pode dar a impressão de que o material está pronto para uso, quando

a parte interna ainda pode estar rígida. O diferencial de expansão causa o surgimento de pressões internas, que se aliviam no curso devido à distorção da moldagem. Portanto, o material deve ser colocado em banho-maria para permitir um tempo necessário para se alcançar uma temperatura uniforme. Mesmo assim, as pressões inter-nas inevitavelmente se formarão durante o resfriamento, e fi nalmente originar distorções, motivo pelo qual o modelo deve ser vazado o mais cedo possível.

AplicaçãoSua principal aplicação é para o registro de moldagens pre-liminares de arcadas edentadas. Isto fornece um modelo no qual uma moldeira individual pode ser construída, e que depois será usada com um material de moldagem de baixa viscosidade (tal como a pasta zinco-enólica) para registro do fi no detalhamento superfi cial (veja a seguir). O material é relativamente pouco usado nos dias de hoje, pois outros materiais são preferidos.

Pasta Zinco-Enólica

Enquanto muitos produtos de óxido de zinco e eugenol são apresentados em sistemas de pó-líquido, o material

Tabela 2.7.4 Coefi ciente de expansão das ceras

Origem Nome Variação de temperatura (°C)

Coefi ciente de expansão (ppm/°C)

Mineral Parafi na 20-28 307

28-34 1.631

Planta Carnaúba 22-52 156

Inseto Cera de abelha 22-41 344

41-50 1.048

Exp

ansã

o

Temperatura

Carnaúba

Cerapara

escultura

Cera de abelhaParafina

Figura 2.7.2 Expansão térmica das ceras.

Page 190: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DE MOLDAGEM 179

de moldagem é na forma de duas pastas. Existe tipica-mente uma pasta base, consistindo em óxido de zinco, óleo de oliva, óleo de linhaça, acetato de zinco e um traço de água, e uma pasta catalisadora, consistindo em eugenol e cargas, como caulim e talco.

O óxido de zinco e eugenol são os componentes reati-vos que participam da reação de presa (Cap. 2.4). A água inicia a reação de presa, e o acetato de zinco está presente para acelerar o processo de presa. Os óleos e as cargas são substâncias inertes, que permitem que o material seja usado numa formulação pasta-pasta e auxilia à alcançar características de manipulação adequadas.

PropriedadesO líquido é muito fl uido, isto é, mucostático, e, sendo um sistema à base de água, rapidamente se adapta aos tecidos moles. Portanto, ele fornece uma reprodução detalhada dos tecidos moles sem causar o seu desloca-mento. No entanto este material é rígido após reação de presa e, desta forma, é inadequado para registrar áreas retentivas. Isso limita sua aplicação às bocas edentadas, onde é usado com uma moldeira individual.

Ele possui a vantagem de ser dimensionalmente estável e apresenta pouca contração de presa. Contudo, como o material é usado com uma moldeira individual, ela pode impor limitações na estabilidade dimensional de toda a moldagem.

Embora o material seja atóxico, o eugenol pode causar uma sensação de queimação na boca e deixar um gosto persistente que pode ser desagradável ao paciente. A pasta tende a aderir à pele, por isso, a pele em torno dos lábios deve ser protegida com vaselina.

Gesso para Moldagem

Apresentação e ComposiçãoO gesso para moldagem consiste em um pó ao qual é adi-cionada água para produzir uma pasta macia. A composi-ção do pó e reação de presa é similar àquela dos materiais de modelo, discutidos com mais detalhes no Capítu lo 3.1. O material de moldagem consiste tipicamente em sulfato de cálcio β-hemi-hidratado (CaSo4)2·H2O, sulfato de potás-sio para reduzir a expansão, bórax para reduzir a velocidade da reação de presa, e amido para auxiliar na desintegração da moldagem na separação do gesso para moldagem do gesso-pedra para modelo.

PropriedadesO gesso para moldagem é de fácil mistura, mas deve-se tomar muito cuidado para evitar o aprisionamento de bolhas de ar, pois elas dão origem a defeitos superfi ciais. O material possui características de trabalho e de presa bem-controladas, que são governadas pelas quantidades relativas de bórax e sulfato de potássio.

A quantidade de sulfato de potássio é em geral maior que a encontrada num gesso para modelo, uma vez que,

para as moldagens, a expansão deve ser mantida em um mínimo. Como o sulfato de potássio também age como um acelerador da presa, o bórax é necessário para com-pensar esta aceleração. O tempo de trabalho é na ordem de 2 a 3 minutos, assim como o tempo de presa.

O material misturado possui viscosidade muito baixa e, por isso, é mucostático. Ele é hidrofílico e, portanto, adapta-se facilmente aos tecidos moles, registrando seu detalhamento superfi cial com precisão. O material é mais bem-usado numa moldeira individual, feita de acrílico ou placa-base, numa espessura de 1,0-1,5 mm. De maneira alternativa, ele pode ser usado como uma camada fl uida em uma moldeira individual de godiva.

A estabilidade dimensional do gesso de moldagem é muito boa, de modo que a demora no vazamento do modelo não traz consequência, embora extremos de tem-peratura devam ser evitados. Um meio isolante (usual-mente uma solução de alginato de sódio) deve ser usado entre o gesso de modelo e o gesso de moldagem.

O material é rígido após a presa e, portanto, incapaz de registrar áreas retentivas, o que limita a sua aplicação aos pacientes edêntulos.

Do ponto de vista do paciente, não é um material desagradável, embora exista a tendência de ele deixar uma sensação de secura na boca por algum tempo após a realização da moldagem.

MATERIAIS DE MOLDAGEM ELÁSTICOS

O primeiro material de moldagem elástico foi o hidro-coloide, que foi introduzido na odontologia em 1925. Desde então, muitos outros materiais de moldagem elas-toméricos se tornaram disponíveis, como indicado na linha de tempo a seguir:

Hidrocoloide Polisulfeto Poliéter Silicona de Adição Hidrofílica

| | | ||1920 |1930 |1940 |1950 |1960 |1970 |1980 |1990 |2000

| |

Silicona de condensação Silicona de

adição

Coloides

A palavra coloide é derivada da palavra kola, que signi-fi ca cola, e oide, que signifi ca como. Portanto, o coloide possui a característica física parecida com uma cola.

O estado coloidal representa uma fase de partículas fi nas altamente dispersas dentro de uma outra fase, algo entre uma solução e uma suspensão:

■ Uma solução é uma mistura homogênea composta de apenas uma fase.

■ Uma suspensão é uma mistura de duas fases distintas.■ Um coloide é uma mistura heterogênea de duas fases, em

que as duas fases não são facilmente diferenciadas.

Page 191: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO180

A diferença entre um coloide e uma suspensão é que num coloide a fase dispersa não é prontamente detec-tável microscopicamente. Exemplos de coloide de uso odontológico são:

■ sílica coloidal na resina;■ gotículas de óleo no sistema de água das turbinas;■ cargas nos materiais de moldagem.

O tamanho da fase fi namente dispersa não pode ser defi nida precisamente, mas é levemente maior que o tamanho molecular simples, em geral na faixa de 1 a 500 nm.

O coloide pode existir na forma de um líquido viscoso, conhecido como sol, ou um sólido, descrito como um gel. Se as partículas estão suspensas em água, então, a sus-pensão é chamada de hidrocoloide, com o líquido sendo um hidrosol, e o sólido, um hidrogel. No caso do hidrogel, existe uma trama entrelaçada das partículas sólidas com o líquido aprisionado nos interstícios. As partículas sólidas estão na forma de fi brilas ou cadeias de moléculas.

Os materiais hidrocoloides para moldagem se apresen-tam de duas formas:

■ reversível, por exemplo, ágar;■ irreversível, por exemplo, alginato.

Ágar

O ágar é um sulfato galactose, que forma um coloide com a água. Ele se liquefaz entre 71°C e 100°C e se torna gel novamente entre 30°C e 50°C. Ele é uma molécula de cadeia longa, com peso molecular de aproximadamente 150.000. A estrutura desse polissacarídeo é demonstrada na Figura 2.7.3. Os grupamentos hidroxilas (OH) for -mam pontes de hidrogênio, levando à formação de uma estrutura helicoidal.

Quando aquecido, essas pontes de hidrogênio são quebradas, a hélice é desenroscada e o gel é transformado num fl uido viscoso. Esse processo é, portanto, reversível na maneira mostrada a seguir:

gel sol gel aquecimento resfriamento

Esses materiais são análogos aos termoplásticos e possuem a vantagem de poder ser utilizados repetida-mente.

O ágar é aquecido em banho-maria até se tornar um fl uido. Ele é colocado numa moldeira metálica especial pela qual a água circula quando a moldeira é levada à boca do paciente. A água resfria o ágar, que então se solidifi ca novamente como um gel, adquirindo a forma dos tecidos orais.

ComposiçãoA composição e a indicação dos vários ingredientes de um ágar de moldagem típico são mostradas na Tabela 2.7.5. Como pode ser observado pela sua composição, somente uma pequena quantidade de ágar é necessária para formar um gel.

Apresentação e AplicaçãoO material é fornecido em sachets na forma de tubo para carregar a moldeira ou em seringa para fácil adaptação aos dentes. O conteúdo de ágar no material fornecido

OH

C O

H

H

C

OH

C

H CH SO H2 4

C C

O C

OH

OH

OH H

C

H

OH

H

C

OH

C O

H

HC

H

O C

H

C

H

OH

OHC

HC

H

OH

C

H

H

C O

Figura 2.7.3 Estrutura de um polissacarídeo.

Tabela 2.7.5 Composição de um material de moldagem à base de ágar

Componente Quantidade (%) Propósito

Ágar 12,5 Fase dispersa

Bórax 0,2 Gel reforçador

Sulfato de potássio

1,7 Acelerador do modelo

Alquil benzoato 0,1 Preserva a forma

Corantes e aromatizantes

Traço Aparência e gosto

Água 85,5 Fase contínua

Page 192: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DE MOLDAGEM 181

em seringas é menor que aquele do material empregado para carregar a moldeira, de forma a se tornar mais fl uido e mais fácil de ejetar da seringa para aplicar em volta do dente.

Quando imergidos em banho-maria com temperatura controlada, ambos os materiais tornam-se líquidos visco-sos depois de aproximadamente 8 a 12 minutos e pode permanecer assim por várias horas. É importante que o material não seja superaquecido, pois isso causará a ruptura do polímero.

O banho-maria usualmente consiste em três compar-timentos, cada um com uma temperatura diferente. Um compartimento contém água próxima ao seu ponto de ebulição e é usado para a liquefação do ágar. Um se gundo compartimento é mantido a 63°C-66°C para armazena-gem do ágar. O terceiro compartimento é mantido a 46°C e é usado para o temperamento do ágar, depois que ele é colocado na moldeira especial com refrigeração à água. Esse compartimento é necessário para assegurar que o ágar seja resfriado a uma temperatura aceitável ao paciente e que não queime os tecidos. Devido à quanti-dade relativamente pequena do material de seringa a ser utilizada, este não necessita ser temperado e pode ser mantido no compartimento de armazenagem.

Os conteúdos do tubo são espremidos dentro da mol-deira de moldagem e colocado no banho-maria. Uma vez que o ágar é sufi cientemente resfriado, o que leva cerca de dois minutos, a moldeira é colocada na boca do paciente. O suprimento de água é conectado na moldeira apenas nessa etapa.

A temperatura da água para o resfriamento da mol-deira deve ser em torno de 13°C, de forma a ser confor-tável ao paciente; se estiver muito fria, o choque térmico resultante pode causar dor considerável e desconforto. É feita a circulação da água pela moldeira e, após cinco minutos, o ágar terá solidifi cado. A moldeira pode ser então retirada da boca do paciente, obtendo-se uma reprodução fi el dos tecidos.

Se por qualquer motivo, o material não for usado, ele poderá ser utilizado novamente numa data posterior. O tempo necessário para a nova liquefação do material pode ser maior, de modo que o processo pode demorar em até quatro minutos a mais. Cada vez que o material é aque-cido, ele sofre alguma ruptura da estrutura polimérica, o que torna o ágar consideravelmente mais rígido. Portanto, ele não deve ser reaquecido mais que quatro vezes.

PropriedadesComo ele é um líquido altamente fl uido quando colo-cado na boca ele adapta-se rapidamente aos contornos dos tecidos duros e moles por causa da sua natureza hidrofílica; assim esse material fornece uma reprodução muito precisa do detalhamento superfi cial. Além disso, o material mais próximo da moldeira resfriada se geleifi ca primeiro, enquanto que o material em contato com os tecidos permanece líquido por mais tempo e pode com-

pensar quaisquer imperfeições devido à contração ou ao movimento sem intenção da moldeira.

O modelo deve ser vazado na moldagem imediata-mente, e se isso não for possível, o material de molda-gem deve ser mantido em umidade relativa de 100% envolvido em uma toalha molhada. Em qualquer caso, o modelo precisa ser vazado dentro de uma hora, pois o material sofre de dois problemas potenciais:

1. Sinérese. Este é um processo pelo qual a água é forçada para fora da superfície da moldagem na medida em que as moléculas do gel se aproximam umas das outras, com o objetivo principal de aliviar as tensões internas. A água evapora da superfície causando a contração do material de moldagem.

2. Embebição. Refere-se à absorção de água que ocorre se o material se torna seco, possivelmente devido à técnica inadequada de armazenamento. Se isso ocorrer, haverá a distorção da moldagem, por causa do alívio das tensões internas que estão sempre presentes durante o processo.

O material pode ser facilmente removido das reten-ções, mas muito cuidado deve ser tomado já que ele se rasga muito facilmente e não adere à moldeira de estoque. Apesar de a moldeira ser perfurada, existe sempre a pos-sibilidade de que alguma separação ocorra quando se trabalha com uma anatomia oral com grandes áreas retentivas.

O material é altamente viscoelástico, por isso é impor-tante que a moldeira seja removida em movimento rápido e instantâneo, de forma que ocorra uma resposta quase elástica. Isso se aplica igualmente a muitos outros materiais de moldagem à base de polímeros. É necessá-rio que o material de moldagem possua uma espessura razoável para limitar a extensão da deformação que surge durante a remoção de áreas retentivas.

O bórax no material, que está presente para controlar o pH, possui o efeito adverso de reagir com o mate-rial do modelo retardando a sua reação de presa; isto pode resultar numa superfície amolecida do modelo. O sulfato de potássio é adicionado no intuito de evitar esta ocorrência.

O material é atóxico e não irritante aos pacientes desde que o procedimento recomendado seja cuidadosa-mente seguido. Ele é relativamente barato, e é utilizado em alguns laboratórios para duplicar modelos, já que pode ser reciclado por até quatro vezes.

Os materiais de ágar para moldagem possuem algumas desvantagens, pois há necessidade de equipamento especial, tais como as moldeiras refrigeradas à água e o banho-maria de temperatura controlada, e existe um custo inicial para obter este equipamento. Além disto, a moldeira refrigerada à água é muito pesada, o que pode causar algum desconforto ao paciente. Apesar de o mate-rial poder, em princípio, ser reciclado, a preocupação decorrente da infecção cruzada inviabiliza este procedi-

Page 193: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO182

mento nos dias atuais. Também se deve tomar cuidado para assegurar que os banhos-maria não se contaminem. Por esses motivos, este material de moldagem é relativa-mente pouco usado hoje em dia.

Alginatos

Os alginatos são baseados no ácido algínico, que é deri-vado de uma alga marinha. A estrutura do ácido algínico é um tanto complexa e é mostrada na Figura 2.7.4. Algumas das moléculas de hidrogênio dos grupos carbo-xílicos são substituídas pelo sódio, formando então um sal solúvel, com peso molecular de 20.000 a 200.000. A reação de presa desse material ocorre pela criação de liga-ções cruzadas entre as cadeias poliméricas do alginato de sódio. A composição de um alginato típico é apresentada na Tabela 2.7.6.

Reação de PresaQuando misturada com a água, ocorre uma reação química que leva à formação de ligações cruzadas entre as cadeias poliméricas, formando uma estrutura reticu-lada tridimensional. Como essas reações cruzadas não podem ser quebradas uma vez formadas, isto é um pro-cesso irreversível, de modo que o material só pode ser usado uma vez:

sol gel reação química

Reação de PresaO sulfato de cálcio di-hidratado fornece os íons de cálcio para a formação de ligações cruzadas que convertem o sol

em um gel. Os íons de cálcio são liberados do sulfato de cálcio di-hidratado, que é parcialmente solúvel em água:

(CaSO4)·2H2O → 2Ca2+ + 2SO4

2– + H2O

O mecanismo de formação das ligações cruzadas é mostrado na Figura 2.7.5 e pode ser descrito pela seguinte reação geral:

Nan Alg + n/2 CaSO4 → n/2 Na2SO4 + Can/2 Algalginato + sulfato → sulfato + gel de de de de alginatosódio cálcio sódio de cálcio di-hidratado

Os tempos de trabalho e de presa são determinados pela velocidade de liberação dos íons de cálcio e pela sua disponibilidade para a formação das ligações cruzadas.

Ácido algínico

Alginato de sódio

Figura 2.7.4 Estrutura do alginato de sódio com os íons de hidrogênio do ácido algínico sendo substituído pelos íons sódio.

Tabela 2.7.6 Composição de um alginato para moldagem

Componente Quantidade (%) Propósito

Alginato de sódio 18 Formador de hidrogel

Sulfato de cálcio di-hidratado

14 Fornece íons de cálcio

Fosfato de sódio 2 Controla o tempo de trabalho

Sulfato de potássio

10 Presa do modelo

Cargas (terra diatomácea)

56 Controla a consistência

Silicofl uoreto de sódio

4 Controla o pH

Page 194: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DE MOLDAGEM 183

A dissolução rápida do sulfato de cálcio daria ao mate-rial um tempo de trabalho inadequado, portanto, para superar isto, o fosfato de sódio é adicionado para regular a rápida liberação inicial de íons de cálcio. O fosfato de sódio age como um retardador, e a quantidade incluída pode ser variada para produzir versões de presa regular e rápida desse material de moldagem. Os íons de sódio são produzidos pela seguinte reação:

Na3PO4 → 3Na+ + PO43–

Os íons de cálcio reagem preferencialmente com os íons fosfato para formar um fosfato de cálcio insolúvel:

3Ca2+ + 2PO43– → Ca3(PO4)2

Portanto, os íons de cálcio que são liberados inicial-mente do sulfato de cálcio di-hidratado não estão dis-poníveis para formação de ligações cruzadas, pois eles reagem com os íons de fosfato. Só quando íons de cálcio sufi cientes tiverem sido liberados para reagir com todo o fosfato de sódio que foi adicionado é que haverá íons de cálcio livres e disponíveis para formação das ligações cruzadas.

Durante a reação de presa ocorre uma alteração con-siderável do pH que passa de 11 para aproximadamente 7. Esta alteração no pH é utilizada por alguns fabricantes em algumas formulações para permitir uma percepção visual do tempo de trabalho e da reação de presa, pela incorporação de indicadores de pH.

PropriedadesEsses materiais são fornecidos na forma de pó livres de poeira para superar qualquer irritação potencial devido às pequenas partículas de poeira que entram na atmos-fera e são inaladas. O pó deve ser misturado comple-tamente antes do uso, para eliminar a segregação dos componentes que pode ocorrer durante a armazenagem e para incorporar a camada superfi cial, que em geral é contaminada com umidade da atmosfera. A embalagem deve ser fechada logo após a remoção da quantidade desejada. A proporção correta de pó e água é impor-tante, e os fabricantes fornecem uma colher-medida adequada. A mistura é feita mais facilmente numa cuba de borracha com uma espátula semelhante à usada para misturar gesso-pedra.

Esse material possui um tempo de trabalho contro-lado, mas ele varia de um produto para outro. Podem ser alterados os tempos de trabalho e de presa com o uso de água morna, mas é preferível optar por um produto com tempo de trabalho e de presa adequado para as neces-sidades individuais e usar água em temperatura entre 18°C e 24°C. Os valores típicos para os alginatos de presa regular e rápida estão mostrados na Tabela 2.7.7. O tempo de presa clínico pode ser detectado pela perda da pegajosidade da superfície. A moldagem deve perma-necer no lugar por dois a três minutos depois da perda da pegajosidade superfi cial.

A reprodução de detalhes da superfície obtida com estes materiais não é tão boa como aquela alcançada com ágar ou com elastômeros, portanto, eles não são recomendados para trabalhos de coroas e pontes. No entanto, estes materiais são muito populares para traba-lhos de próteses totais e parciais.

Os alginatos sofrem dos mesmos problemas do ágar, pois são suscetíveis a sinérese e embebição, resultado em baixa estabilidade dimensional. Assim como com o ágar, o modelo deve ser vazado dentro de uma hora e mantido úmido durante tal período, enrolando uma toalha molhada no modelo.

Como o ágar, o alginato é altamente viscoelástico, e é necessário o emprego de uma técnica de remoção rápida e instantânea com o objetivo de obter uma resposta elástica. A quantidade de deformação compressiva que o material pode experimentar durante sua remoção das áreas retentivas pode ser tão alta quanto 10%. A defor-mação permanente em tais circunstâncias pode ser na ordem de 1,5%, que é aceitável para o tipo de aplicações no qual esses materiais são usados. A deformação perma-

Figura 2.7.5 Formação de ligações cruzadas no alginato de sódio na presença de íons cálcio.

Tabela 2.7.7 Comparação dos alginatos de presa regular e rápida

Presa regular Presa rápida

Tempo de mistura (minutos) 1 0,75

Tempo de trabalho (minutos)

3–4,5 1,25–2

Tempo de presa (minutos) 1–4,5 1–2

Page 195: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO184

nente é um tanto maior que a do ágar de moldagem, que, nas mesmas condições, seria na ordem de 1%.

A deformação permanente pode ser minimizada, asse-gurando-se que não exista nenhuma área retentiva pro-funda, já que quanto mais profunda a retenção, maior a quantidade de deformação compressiva. Utilizar uma técnica de remoção instantânea assegurará que o mate-rial será mantido por compressão pelo menor tempo possível, o que é uma vantagem porque quanto mais tempo o material for mantido sob compressão, maior a quantidade de deformação permanente devido à natu-reza viscoelástica dos alginatos. Parte da deformação será recuperada assim que a moldagem é retirada e a carga compressiva removida. Contudo, embora tempos de recuperação maiores resultem em menor deformação permanente, essa vantagem não deve ser utilizada em função da instabilidade dimensional do material.

Os alginatos possuem uma resistência ao rasgamento menor que o ágar.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Embora o emprego de uma maior velocidade de remoção conseguida com o uso de uma técnica de remoção instantânea aumente levemente a resistência ao rasgamento, os alginatos não podem ser usados para a moldagem de coroas e pontes, pois ocorrerá ruptura excessiva durante a remoção.

A moldagem deve ser lavada após a remoção da boca do paciente para remover qualquer resíduo de saliva, pois ela interferirá com a reação de presa do modelo de gesso. Qualquer água na superfície deve ser removida antes do vazamento do modelo, pois a água residual diluirá o material do modelo, resultando numa superfície amolecida, que é facilmente danifi cada.

O alginato não deve permanecer no modelo por muito tempo, pois a separação se torna difícil se o molde de alginato estiver ressecado. Isso resultaria num modelo com superfície defi ciente, pois remanescentes de alginato são deixados na superfície do modelo.

A aceitabilidade do paciente não é problema com esse material de moldagem. O material é barato, mas possui tempo de validade curto, provavelmente relacionado à contaminação com água.

MATERIAIS DE MOLDAGEM ELASTOMÉRICOS

Os materiais de moldagem discutidos até aqui não são bons o sufi ciente para a realização de moldagens pre-cisas de pacientes dentados. Os alginatos são materiais inerentemente fracos e fornecem reprodução defi ciente

dos detalhes de superfície; o ágar é dimensionalmente instável e adequado somente se os recursos laboratoriais estiverem próximos; e os materiais rígidos de moldagem não podem ser removidos de áreas retentivas mais pro-fundas. Portanto, ainda existe a necessidade de um mate-rial de moldagem que seja preciso, que apresente uma recuperação de deformação ampla e que possua uma longa estabilidade dimensional. Estes requisitos podem ser todos alcançados com os materiais elastoméricos.

Os materiais de moldagem elastoméricos são carac-terizados como polímeros que são usados numa tem-peratura acima da sua temperatura de transição vítrea, Tg. Tais materiais tornam-se mais e mais fl uidos, con-forme sua temperatura aumenta acima da temperatura de transição vítrea.

A viscosidade dos polímeros, que são usados nos materiais de moldagem, são governadas principalmente pelo peso molecular do polímero (isto é, o comprimento da cadeia polimérica) e pela presença de aditivos, como as cargas.

Portanto, podemos ter um material que é fl uido à temperatura ambiente, mas que pode se tornar sólido à medida que as longas cadeias poliméricas se unam. Este processo de união das cadeias para formar uma cadeia tridimensional é conhecido como formação de ligações cruzadas (Cap. 1.6) e forma a base da transi-ção líquido-sólido de todos os materiais de moldagem elastoméricos.

Existem, essencialmente, três grupos principais de materiais de moldagem elastoméricos:

■ polissulfetos;■ poliéteres;■ siliconas.

Em primeiro lugar, será descrito a química desses materiais de moldagem elastoméricos e, então, serão considerados os seus méritos relativos.

Polissulfetos

O polímero de polissulfeto, mostrado a seguir, possui um peso molecular de 2.000 a 4.000, com grupamen-tos terminais e pendentes de mercaptana (–SH) (Fig. 2.7.6). Os subscritos x e y na Figura 2.7.6 denotam os números das unidades repetidas. Estes materiais também são conhecidos como borrachas tiocol, pois elas são derivadas dos tióis, que são análogos sulfúricos de álcoois (p. ex., etanotiol, CH3CH2SH, em vez de etanol, CH3CH2OH).

Os grupamentos de mercaptanas são oxidados por um acelerador para permitir tanto o alongamento da cadeia como a formação de ligações cruzadas, como mostra a Figura 2.7.7. Esta reação causa um rápido aumento do peso molecular do polímero, que faz com que a pasta seja convertida em borracha. A água é um subproduto da reação.

Page 196: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DE MOLDAGEM 185

A reação de polimerização é exotérmica, e o aumento de temperatura típico é de 3°C-4°C, embora isto dependa da quantidade de polissulfeto usada.

ApresentaçãoOs polissulfetos são apresentados como uma pasta base (contendo polissulfeto e uma carga inerte, como o dióxido de titânio TiO2 em partículas de 0,3 μm) e uma pasta ativadora (contendo dióxido de chumbo, que dá uma coloração marrom característica, enxofre e dibutil ou dioctil ftalato).

Poliéteres

Uma característica interessante dos materiais de mol-dagem à base de poliéter é que eles são desenvolvidos especifi camente para a profi ssão odontológica. Eles foram introduzidos no fi nal da década de 1960. Uma versão simplifi cada da estrutura polimérica é mostrada na Figura 2.7.8.

O polímero toma presa pela reação com os grupa-mentos terminais imina. A reação de presa é mostrada na Figura 2.7.9. Não existe nenhum subproduto asso-

ciado a esta reação, que é uma razão pela qual o material possui boa estabilidade dimensional. Contudo, ele tende a absorver água durante a armazenagem e, portanto, deve ser mantido em ambiente seco; certamente, não se deve nunca colocar o polímero num mesmo pacote com uma moldagem em alginato.

ApresentaçãoOs poliéteres são comercializados num sistema de duas pastas: uma pasta base (consistindo em poliéter, um plas-tifi cador como o glicoéter ou ftalato, e sílica coloidal como carga inerte), e uma pasta ativadora (consistindo em um éster sulfonato aromático, um plastifi cador e uma carga inerte).

Siliconas

Existem dois grupos importantes de siliconas para molda-gem. Um grupo é conhecido como silicona com reação de presa por condensação e o outro como silicona com reação de presa por adição. Ambos são baseados no polímero de polidimetil siloxano, mas possuem grupamentos termi-nais diferentes, dando origem a diferentes mecanismos de reação.

Siliconas de CondensaçãoEsses materiais são baseados em um polímero de polidi-metil siloxano com grupamentos terminais de hidroxila, como mostrado na Figura 2.7.10. A formação de liga-ções cruzadas é obtida pelo uso de um tetraetil silicato (TES), de forma que três cadeias poliméricas podem ser unidas, como mostrado na Figura 2.7.11. Três gru-pamentos funcionais são necessários para formar uma cadeia de reações cruzadas, já que a funcionalidade de

Alongamento da cadeia

Ligação cruzada

Figura 2.7.7 Formação de ligações cruzadas e alongamento da cadeia de um polissulfeto para moldagem.

Figura 2.7.6 Um polissulfeto típico.

Figura 2.7.8 Estrutura de um poliéter.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO186

dois apenas dá origem ao alongamento da cadeia. O subproduto desta reação é um álcool (R-OH).

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A liberação de um álcool compromete a estabilidade de armazenamento.

Apresentação O material vem na forma de uma pasta base contendo silicona fl uido e uma carga, e uma pasta ativadora de tetraetil silicato (agente de ligação cruzada). É importante que a quantidade de pasta ativadora usada seja cuidadosamente controlada. Quantidade insufi ciente

de TES promove uma reação de presa incompleta, dei-xando o material com propriedades mecânicas reduzidas, tais como alta deformação permanente. Ao contrário, o excesso de TES também promove reação de presa incom-pleta, deixando muitos grupamentos terminais etil não reagidos.

Siliconas de AdiçãoEsses materiais são similares às siliconas de condensação, pois também são baseados em um polímero de polidi-metil siloxano. No entanto, neste caso, os grupamentos terminais são vinis, como mostrados na Figura 2.7.12. A reação de presa ocorre por meio de um catalisador de platina e um silanol, como representados na Figura 2.7.13. Uma característica importante desta reação de presa é que não existe subproduto.

Apresentação As siliconas de adição apresentam-se como uma pasta base (de polivinil siloxano, silanol e uma carga) e uma pasta catalisadora (de polivinil silo-xano, catalisador de platina e uma carga).

MÉRITOS RELATIVOS AOS MATERIAIS DE MOLDAGEM ELASTOMÉRICOS

Características de Manipulação

A reação de presa dos polissulfetos é altamente suscetí-vel às alterações das condições do ambiente, tais como: temperatura e variação da umidade; e a menos que essas

Figura 2.7.11 Formação de ligações cruzadas em uma silicona de condensação para moldagem.

Figura 2.7.9 Formação de ligação cruzada por meio dos grupamentos pendentes imina de um poliéter.

Figura 2.7.10 Polidimetil siloxano com terminação hidroxila. Figura 2.7.12 Polidimetil siloxano com grupamentos terminais vinilícos.

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MATERIAIS DE MOLDAGEM 187

condições sejam cuidadosamente controladas, os tem -pos de trabalho e de presa podem ser muito irregulares. Tipicamente, os tempos de trabalho e de presa são 6 e 13 minutos, respectivamente, e são bastante longos comparados com os outros materiais de moldagem, que possuem tempos de presa entre 4-5 minutos. Uma tem-peratura ambiente alta combinada com alta umidade pode reduzir os tempos de trabalho e de presa, sendo o contrário também verdadeiro.

A reação de presa das siliconas de condensação também pode apresentar um comportamento irregular, não apenas em função de uma mistura não uniforme, mas também porque o TES é suscetível à hidrólise. Se o TES se contaminar com a umidade, ele pode se tornar inativo, o que resultaria em momentos embaraçosos.

O comportamento de presa do poliéter e das siliconas de adição é mais regular. Contudo, foi observado que a reação de presa da massa densa das siliconas de adição pode ser inibida caso o operador utilize luvas de látex.

A mistura das siliconas de adição de baixa viscosidade foi consideravelmente facilitada com a introdução do sistema de pistolas de dispensamento. Elas evitam tanto a mistura incompleta como a introdução de bolhas de ar.

Os materiais de moldagem elastoméricos estão dis-poníveis numa variedade de viscosidades, dependendo da quantidade de carga que é incorporada, e inclui uma pasta-base de baixa viscosidade (fl uida), média, pesada e uma massa densa.

Os materiais de baixa viscosidade (leve) são usados na técnica de moldagem de dupla mistura (etapa única, duas fases) em combinação com um material de alta viscosi-dade e alta quantidade de carga (massa pesada) em uma moldeira individual. O outro uso é na técnica de molda-gem com a massa densa/massa de baixa viscosidade (leve e uma ou duas etapas, duas fases), em combinação com uma massa densa com alta quantidade de carga numa moldeira de estoque.

O material de média viscosidade pode ser usado como um material único, na técnica de moldagem de etapa única, usando uma moldeira individual ou em combi-nação com um material de baixa viscosidade (leve) na técnica de uma etapa e duas fases, novamente empre-gando uma moldeira individual.

PolissulfetosA viscosidade da pasta base depende da quantidade de carga presente, estando as pastas disponíveis na forma pesada, média e leve. Observe que não existe a versão massa densa desse material de moldagem, portanto ele deve ser usado com uma moldeira individual, usando tanto a base média isoladamente ou combinando as pastas pesada e leve.

PoliéteresEsses materiais estão disponíveis apenas em uma única viscosidade e podem ser usados numa moldeira especial usando uma mistura de viscosidade única. Contudo, um fl uidifi cante está disponível para produzir uma pasta de baixa viscosidade.

Siliconas de CondensaçãoUma ampla variedade de viscosidades está disponível, variando de uma massa densa a materiais pesados, de média e baixa viscosidade (leve). Existem também dis-poníveis alguns materiais com uma viscosidade muito baixa. Portanto, estes materiais podem ser usados com uma grande variedade de técnicas de moldagem. A dife-rença de viscosidade entre o ativador e a pasta base difi culta a obtenção de uma mistura uniforme, a menos que seja empregada uma boa técnica.

Siliconas de AdiçãoAssim como nas siliconas de condensação, o material está disponível numa ampla variedade de viscosidades, variando de massa densa a consistências pesada, média e leve. Portanto, esses materiais também podem ser usados com uma ampla variedade de técnicas de moldagem. Eles possuem uma vantagem sobre as siliconas de condensa-ção, porque a pasta-base e a pasta catalisadora de cada versão do material possuem as mesmas consistências, o que os torna relativamente fáceis de manipular.

Se uma moldeira de estoque for usada para a técnica de moldagem de etapa única, então, existem algumas siliconas de adição que não possuem a tendência de escoar quando em repouso (isto é, quando carregado na moldeira), mas escoarão facilmente sob pressão. Estes são os materiais de moldagem monofásicos.

Platina

catalisador

Figura 2.7.13 Formação de ligações cruzadas em uma silicona de adição para moldagem.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO188

Propriedades Mecânicas

RigidezA rigidez do material de moldagem após a reação de presa pode ser uma consideração importante no que tange à facilidade de remoção de áreas retentivas. Os polissulfetos são os mais fl exíveis e a rigidez relativa dos materiais após a presa pode ser classifi cada da seguinte forma quando se comparam materiais de viscosidade similares:

PS < SC < SA < PE

No entanto, no caso das siliconas de adição, existem problemas com as massas muito densas, nas quais a remoção pode ser muito difícil caso se permita que esta penetre em amplos espaços interdentais. Novas versões de massa densa com menor rigidez após a presa foram introduzidas e são chamadas de massas densas macias.

Deformação PermanenteO ideal é que, quando a moldagem é removida de áreas retentivas, a deformação resultante deve ser totalmente e imediatamente recuperada. Todos os materiais de mol-dagem elastoméricos possuem comportamento viscoe-lástico, portanto, é importante que sejam removidos da boca por um rápido movimento. Isso assegurará que o material de moldagem seja deformado apenas por um curto período e que uma resposta praticamente elástica seja obtida. Se a moldagem é removida lentamente, o material terá a oportunidade de escoar e nem toda a deformação induzida será liberada.

As siliconas são particularmente bons materiais por não apresentar quase nenhuma deformação permanente, enquanto que os polissulfetos possuem um grau relati-vamente alto de escoamento viscoso. Os materiais de moldagem podem ser ordenados da seguinte forma:

PS > PE > SC > SA

sendo os polissulfetos mais propensos à deformação per-manente, e as siliconas de adição, os menos propensos.

Resistência ao RasgamentoA resistência ao rasgamento do material de moldagem é também uma propriedade importante, quando uma mol-dagem de um paciente dentado é realizada. Os polissulfe-tos possuem a maior resistência ao rasgamento, seguidos de longe pelos poliéteres e fi nalmente pelas siliconas.

No entanto, uma alta resistência ao rasgamento não é necessariamente uma boa propriedade, já que uma altíssima resistência ao rasgamento pode difi cultar na remoção da moldagem da boca, quando o material de moldagem escoa nos espaços interdentais. Além disso, uma quantidade considerável de deformação pode ocorrer nos materiais com uma alta resistência ao ras-gamento antes do material sofrer o rasgamento, e esta deformação pode não ser totalmente recuperada.

Dessa forma a resistência ao rasgamento deve ser sufi -ciente para prevenir falhas catastrófi cas, mas não tão alta para resultar em deformação excessiva ou difi cultar a remoção da moldagem.

Reprodução dos Detalhes Superfi ciais

Todos os materiais de moldagem elastoméricos, quando empregados em baixa viscosidade, são capazes de repro-duzir os detalhes da superfície de maneira muito precisa. A habilidade de reproduzir o detalhamento superfi cial está diretamente relacionada com a viscosidade do mate-rial de moldagem: quanto menor a viscosidade, melhor a reprodução. Na verdade, a reprodução de detalhes é em geral tão boa que os modelos de gesso são incapazes de reproduzi-la.

Os fatores que causam imperfeições na reprodução dos detalhes superfi ciais são geralmente relacionados à técnica defi ciente. Por exemplo, deve-se tomar muito cuidado durante a mistura das duas pastas para minimi-zar a presença de bolhas de ar. As bolhas de ar não são problema quando estão presentes no interior do corpo do material, mas podem ser um problema quando se localizam na superfície ou próximo dela, pois o detalhe será perdido. Outro problema que pode se manifestar é a ocorrência de áreas onde o material de moldagem não reagiu adequadamente, mantendo um aspecto pegajoso. Isso é geralmente devido à manipulação inadequada, resultando numa mistura não homogênea.

Todos os materiais de moldagem elastoméricos são hidrofóbicos, e se a superfície dentária se contaminar com saliva, o material de moldagem é incapaz de cobri-la adequadamente ⎯ isso pode causar perda de cópia dos detalhes superfi ciais. A capacidade de um material de moldagem de escoar sobre uma superfície pode ser deter-minada pelas medições do ângulo de contato. Os ângulos de contato da água com os materiais de moldagem foram medidos, e os valores são 49,3o, 82,1o e 98,2o para o poli-éter, polissulfeto e silicona de adição, respectivamente. Isto demonstra que as siliconas são particularmente pro-blemáticas, e os poliéteres são os mais fáceis de se traba-lhar sob esse ponto de vista.

Uma variedade de siliconas de adição, chamados hidrofílicas, está disponível no mercado. Adicionou-se nestes materiais um surfactante para alterar a hidrofobi-cidade da superfície, reduzindo o ângulo de contato para valores próximos daquele dos poliéteres.

Estabilidade Dimensional e Fidelidade

É importante que o modelo da cavidade oral seja uma réplica tridimensional precisa, pois todo o trabalho labo-ratorial será baseado nesse modelo. Além do problema da distorção, existe também o perigo da expansão e da contração da moldagem.

Com o advento das siliconas de adição e dos poliéte-res, os materiais de moldagem estão provavelmente tão

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MATERIAIS DE MOLDAGEM 189

precisos quanto necessitam ser. Recentemente, tem-se dado atenção à melhoria das suas características de manipulação; a estabilidade dimensional das siliconas de adição pode algumas vezes se tornar um problema, como discutido a seguir.

Outros Fatores

Os fatores que contribuem para a produção de um modelo impreciso já foram discutidos, mas alguns fatores merecem mais comentários específi cos em relação aos materiais de moldagem.

Contração de Presa e Contração TérmicaEm geral, a contração de presa dos materiais de molda-gem elastoméricos é muito baixa. A formação de liga-ções cruzadas resulta numa contração consideravelmente menor em geral que a associada à polimerização, já que envolve apenas um processo de ligação das cadeias poli-méricas preexistentes umas às outras. O poliéter e as siliconas de adição possuem a menor contração de presa, seguidos dos polissulfetos. As siliconas de condensação possuem o maior grau de contração devido à contração de presa. Portanto, os materiais de moldagem podem ser ordenados da seguinte forma, em relação à contração de presa:

PE = SA < PS < SC

A contração térmica é importante já que a molda-gem se resfria da temperatura da boca para a tempera-tura ambiente. Os poliéteres possuem a maior contração térmica (320 ppm/°C), seguidos pelos polissulfetos (270 ppm/°C) e depois pelas siliconas (200 ppm/°C). Eles podem ser ordenados da seguinte forma:

SC = SA < PS < PE

É claro que tanto a contração de presa como a con-tração térmica são afetadas pela quantidade de carga presente de forma que quanto maior a quantidade de carga, menor a contração.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A quantidade de pasta-base leve utilizada deve ser sempre a menor possível.

Estabilidade DimensionalOs polissulfetos tendem a se contrair na armazenagem, especialmente se forem mantidos em ambiente com baixa umidade, já que o subproduto da reação de presa é a água. Assim o modelo será sempre levemente maior que o dente, deixando espaço adequado para o agente cimentante. Os modelos devem ser vazados logo após a realização da moldagem.

Os poliéteres são muito estáveis na armazenagem, a menos que sejam colocados em ambiente altamente úmido, onde absorverão água e sofrerão expansão. Se isso ocorrer, o modelo resultante será menor que o dente ori-ginal, e a coroa produzida sobre tal modelo não se adap-tará sob nenhuma circunstância. Como esse material de moldagem absorve prontamente água dos alginatos, os dois nunca devem ser colocados em contato direto.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

As siliconas de condensação apresentam uma contração considerável com o passar do tempo. Isso é atribuído à perda do subproduto álcool. Portanto, assim como os polissulfetos, os modelos devem ser preparados o mais breve possível, após se permitir a recuperação elástica, isto é, entre 30 minutos e uma hora após a realização da moldagem.

As siliconas de adição são muito estáveis após a presa e mostram quase nenhuma alteração dimensional na armazenagem. Portanto, estes materiais são particular-mente úteis em situações em que é necessária a duplica-ção de troquéis de gesso.

Técnica de Moldagem

O polissulfeto e as siliconas de condensação apresentam uma pequena contração, de modo que o modelo vazado da moldagem é invariavelmente um pouco maior que o dente.

Portanto, a quantidade de espaço criada para o agente cimentante dependerá do tempo que transcorreu entre a tomada da moldagem e a confecção do modelo. Para o poliéter e as siliconas de adição, a contração é tão pequena que existe pouco espaço para o agente cimen-tante. A alta estabilidade dimensional das siliconas de adição pode causar problemas se for utilizada a técnica de moldagem errada.

A grande variedade de apresentações das siliconas para moldagem fornece a oportunidade de se utilizar várias técnicas de moldagem. A mais popular é a que emprega massa densa/massa de baixa viscosidade (pasta leve), que permitem o uso de uma moldeira de estoque.

As consequências no tamanho dos modelos produzi-dos das três técnicas de moldagem são mostradas grafi -camente na Figura 2.7.14.

Técnica da Moldagem SimultâneaNessa técnica, a camada do material de baixa viscosidade é misturada e colocada numa seringa e, enquanto o mate-rial de moldagem é colocado em torno dos dentes que necessitam de uma moldagem precisa, a massa densa é misturada e colocada na moldeira de estoque. A moldeira

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO190

carregada é, então, inserida, na boca do paciente, e os dois materiais de moldagem tomam presa simultanea-mente. Haverá alguma deformação do material de mol-dagem com a remoção, maior parte da qual é recuperada imediatamente pelo efeito de mola.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A deformação permanente é a medida da capacidade de recuperação elástica, e, quanto maior a deformação permanente, maior é o potencial de distorção pela remoção da moldagem da boca.

Se o modelo for vazado quase de imediato, pouca ou nenhuma contração (devido ao resfriamento e à contra-

ção de armazenagem) ocorrerá, e o modelo resultante apenas será levemente maior que o dente. Devido à con-tração de armazenagem (no caso da silicona de conden-sação), quanto maior a demora em vazar o gesso, maior será o modelo. Como as siliconas de adição são muito estáveis na armazenagem, o modelo será do mesmo tamanho, não importando quando for vazado.

Os problemas potenciais com esta técnica estão relacionados com a remoção das siliconas de adição. Embora existam atualmente massas densas mais macias, a remoção pode ser difícil se a massa escoar para dentro dos espaços interdentais; quanto maior forem, mais difícil será de remover a moldagem. Outro problema que pode surgir é que a massa densa pode deslocar a camada fl uida de onde se deseja maior precisão de detalhes da superfície.

Polimerização por condensação Polimerização por adição

Misturasimultânea

Modelo menor

Modelo maior

Modelo maior

Duasetapas comespaçador

Duasetapas semespaçador

Modelovazado imediatamente

Modelovazado após 24 horas

Modelovazado após uma semana

Modelo menor

Modelo maior

Modelo menor

Figura 2.7.14 Alterações dimensionais das siliconas de adição e de condensação, de acordo com diferentes técnicas de moldagem.

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MATERIAIS DE MOLDAGEM 191

Técnica de Moldagem de Duas Etapas com EspaçadorEsta técnica efetivamente envolve a produção de uma moldeira especial usando primeiro a massa densa. Uma moldagem inicial é realizada diretamente nas superfí-cies bucais ou, algumas vezes, após a colocação de uma folha fi na de celofane sobre a massa densa. Na primeira situação, a moldagem de baixa qualidade dos dentes é, então, cortada, criando um canal para a camada fl uida. Após isto, uma segunda moldagem é produzida usando uma massa de baixa viscosidade, que fornecerá o deta-lhamento superfi cial necessário.

Geralmente, é necessária uma quantidade maior de camada fl uida nessa técnica que na técnica de moldagem simultânea, e isto signifi ca que existe maior contração de presa, pois a massa fl uida possui um conteúdo de carga muito menor. Isso é especialmente importante no caso das siliconas de condensação, que também mostram maior contração durante a armazenagem.

As siliconas de adição não são em geral afetadas por tais problemas. A contração de presa é compensada em certo grau, pois a massa densa já terá tomado presa. Quando esse método é usado com as siliconas de adição, elimina-se a necessidade de remover o material rígido das áreas retentivas.

Técnica de Moldagem de Duas Etapas sem EspaçamentoNesta técnica, a primeira moldagem é realizada com a massa densa. Depois, a camada fl uida é colocada em volta dos dentes e na moldeira sobre a massa densa e, então, recolocada na boca. O processo de reposicionamento pode ser um tanto problemático. Como é necessária certa quantidade de espaço para a camada fl uida, haverá alguma compressão da massa densa para acomodá-la.

A excelente recuperação das siliconas de moldagem signifi ca que, imediatamente após o material ter tomado presa e ser removido da boca, haverá um efeito de mola tão logo a pressão sobre a massa densa seja aliviada. Se o modelo for vazado quase que de imediato, é prová-vel que para ambos os tipos de materiais de moldagem, o modelo seja levemente menor que o dente. Para as siliconas de condensação, a contração na armazenagem assegurará que, após uma demora de 24 horas, essa situ-ação será revertida. No entanto, as siliconas de adição são tão estáveis dimensionalmente que o modelo será sempre menor.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A técnica de moldagem de duas etapas sem espaçamento é inapropriada para as siliconas de adição, pois a moldagem inicial é de difícil remoção das áreas retentivas após a presa devido à alta rigidez da massa densa.

Compatibilidade com os Materiais do Modelo

A compatibilidade com os materiais do modelo não representa um problema para nenhum dos elastômeros. Contudo, para as siliconas de moldagem, a hidrofobici-dade pode torná-los suscetíveis à reduzida molhabilidade da pasta aquosa dos produtos à base de gesso usados para vazar os modelos ou troquéis, que consequentemente pode levar ao aprisionamento de bolhas de ar e espaços vazios. Apesar de este problema ter sido abordado de certa forma pela inclusão de surfactantes nos materiais de moldagem, este problema não desapareceu comple-tamente. Uma maneira de minimizar a ocorrência de bolhas de ar e os espaços vazios pode ser pela aplicação de surfactante na superfície da moldagem após desinfec-ção e antes de vazar o modelo.

Uma limitação do polissulfeto é que ele não pode ser metalizado com cobre para produzir troquéis reforçados, pois o polissulfeto reage com o eletrólito. O processo alternativo de metalização com prata não está facilmente disponível devido aos perigos associados ao cianeto de prata usado no processo de metalização. A suscetibili-dade dos poliéteres em absorver água pode ocasionar alguma distorção durante o processo de metalização.

As siliconas de condensação e de adição podem ser metalizadas tanto com cobre como com prata. O único problema aqui é que a superfície deve se tornar condu-tiva, e é difícil aplicar uma camada de grafi te devido à baixa tensão superfi cial das siliconas.

Aceitabilidade

Os polissulfetos possuem odor desagradável devido aos grupamentos de mercaptana. (Pequenas quantidades de tiol são adicionadas ao gás natural para torná-lo facil-mente detectável, e os tióis são excretados pelos gambás para se proteger dos predadores.) Os polissulfetos também são difíceis de ser removidos dos tecidos, se derramados. Os poliéteres e as siliconas são materiais altamente acei-táveis e ocasionam menos sujeira durante manipulação.

Custo

Os elastômeros são consideravelmente mais caros que os hidrocoloides e os materiais rígidos de moldagem, sendo as siliconas de adição ainda mais caros.

Os méritos relativos dos materiais de moldagem elas-toméricos são resumidos na Tabela 2.7.8.

DESINFECÇÃO DOS MATERIAIS DE MOLDAGEM

A equipe odontológica está constantemente exposta aos micro-organismos, que podem causar infecções, tais como: resfriado comum; pneumonia; tuberculose; herpes

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO192

e; hepatite. Particularmente, desde o advento da AIDS, tem havido um crescente alerta dos potenciais da infec-ção cruzada no manuseio dos materiais de moldagem. A infecção cruzada pode ocorrer do paciente para o den-tista, e auxiliar de consultório dentário e fi nalmente para o técnico de laboratório. Portanto, toda a equipe odon-tológica está em risco.

A maioria dos laboratórios dentários não aceita mol-dagens, a menos que haja uma garantia do profi ssional de que elas foram desinfetadas. Isso representa um sério problema para o dentista, pois a realização de moldagens precisas é um procedimento difícil na melhor das hipó-teses. Toda atenção e cuidados prestados ao se realizar uma moldagem de boa qualidade podem ser totalmente

destruídos, se a moldagem distorcer durante o procedi-mento de desinfecção.

Cabe ao dentista escolher o material de moldagem mais apropriado e o procedimento de desinfecção associado.

Desinfetantes

Já que a esterilização das moldagens não é possível, por causa da alta temperatura e do tempo necessário, a desin-fecção é o método de escolha. O meio mais efetivo na desinfecção das moldagens é imergi-las numa solução desinfetante por até 30 minutos. Quando a desinfecção das moldagens não puder ser realizada pela imersão em um meio desinfetante, um spray desinfetante pode ser

Tabela 2.7.8 Vantagens e desvantagens dos materiais de moldagem elastoméricos

POLISSULFETOS

Vantagens Desvantagens

Boa molhabilidade Alta deformação permanente

Boa cópia dos detalhes de superfície Gosto e sabor desagradável

Fácil remoção Deve ser vazado dentro de uma hora

Alta resistência ao rasgamento Tempo de presa longo

Tomar cuidado na desinfecção

SILICONAS DE CONDENSAÇÃO

Vantagens Desvantagens

Boa cópia dos detalhes de superfície (superfícies secas) Hidrofóbico

Boa fi delidade dimensional Contração na armazenagem

Baixa deformação permanente Deve ser vazado dentro de uma hora

Grande variedade de viscosidades Baixa resistência ao rasgamento

Fácil desinfecção

Ótima aceitação pelo paciente

POLIÉTERES

Vantagens Desvantagens

Hidrofílico Alta deformação permanente

Boa cópia dos detalhes de superfície Expande quando em contato com os desinfetantes ou em ambientes úmidos

Boa fi delidade dimensional Remoção difícil

Boa resistência à deformação Baixa resistência ao rasgamento

Ótima aceitação pelo paciente Tomar cuidado na desinfecção

SILICONAS DE ADIÇÃO

Vantagens Desvantagens

Boa cópia dos detalhes de superfície (superfícies secas) Hidrofóbico (a menos que seja adicionado um surfactante)

Boa fi delidade dimensional Baixa resistência ao rasgamento

Boa estabilidade de armazenamento

Baixa deformação permanente

Grande variedade de viscosidades

Fácil desinfecção

Ótima aceitação pelo paciente

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MATERIAIS DE MOLDAGEM 193

usado. Existe uma variedade de soluções, que podem ser usadas como desinfetantes em sprays ou para imersão dos materiais de moldagem. Elas se dividem nos seguintes grupos principais:

■ Soluções cloradas. Elas tendem a ser prejudiciais para pele, olhos etc., mancham os tecidos, possuem odor desagradável e são altamente corrosivas aos metais.

■ Soluções de aldeídos. Elas liberam um odor sufocante e são irritantes à pele e aos olhos. Os produtos comerciais tendem a empregar soluções à base de glutaraldeído, em vez de formaldeído. As soluções de glutaraldeído a 2% são os desinfetantes preferidos.

■ Soluções de iodo (Iodóforos a 1%).■ Fenóis.

Efeitos dos Desinfetantes na Fidelidade dos Materiais de Moldagem

Os efeitos dos desinfetantes na precisão e na estabilidade dimensional dos materiais de moldagem têm sido exaus-tivamente estudados e um resumo sobre o conhecimento atual em relação às várias classes de materiais de molda-gem é fornecido a seguir.

Hidrocoloides ReversíveisOs materiais de moldagem à base de ágar podem ser imersos em soluções de hipoclorito de sódio, iodófo-ros ou glutaraldeído com tampão fenólico. É importante que as instruções do fabricante sejam cuidadosamente seguidas em relação à diluição e o tempo de imersão. O tempo de imersão não deve de forma alguma exceder 30 minutos. Outro perigo potencial com o ágar está asso-ciado à contaminação cruzada pelo banho-maria.

Hidrocoloides IrreversíveisUma alteração dimensional altamente signifi cante ocorre nos alginatos para moldagem, quando imersos por mais de 15 minutos no glutaraldeído, formaldeído ou solução de hipoclorito de sódio, embora quando borrifados e deixados em contato com derivados fenólicos por 30 minutos também resultem em modelos com alterações dimensionais clinicamente signifi cativas. O hipoclorito de sódio também causa dissolução parcial dos alginatos. A imersão por até 15 minutos no glutaraldeído neutro ou no iodóforo parece resultar em alterações dimen-sionais aceitáveis. Contudo, as moldagens de alginato embebidas em agentes aldeídos por tempos inferiores a dois minutos produziram modelos de qualidade super-fi cial inferior.

Portanto, as moldagens de hidrocoloide irreversível (alginato) distorcem quando imersas e devem ser desinfe-tadas por borrifamento e seladas num saco plástico pelo tempo recomendado pelo fabricante.

A desinfecção interna (substituindo a água por um desinfetante antes da tomada da moldagem) é outra

possibilidade para os alginatos, pois ela permite o vaza-mento imediato da moldagem logo após a retirada da cavidade oral. Embora pareça altamente efi caz, ela ainda não supera o problema de como desinfetar a moldeira de moldagem.

PolissulfetosEstudos usando uma ampla variedade de desinfetantes e períodos de imersão variando de 10 a 30 minutos indicam que nenhum efeito adverso foi observado com os polissulfetos e que os sprays desinfetantes também são aceitáveis.

PoliéteresOs poliéteres são conhecidos por expandir quando expostos à umidade. Então, não é de surpreender que a imersão numa variedade de desinfetantes cause expansão excessiva após 10 minutos. As alterações dimensionais tornam-se altamente signifi cativas após quatro horas de imersão em aldeído succínico aquoso a 10%, mas são aceitáveis após 10 minutos de imersão. Os sprays desin-fetantes também são aceitáveis. Logo, a recomendação para os poliéteres é utilizar um spray desinfetante ou imersão em produtos com curto tempo de ação (< 10 minutos), como os compostos clorados.

Siliconas de CondensaçãoEmbora as siliconas de condensação não sejam qui-micamente afetadas pela imersão prolongada em uma grande variedade de desinfetantes, o fator limitante com esse material de moldagem é sua inerente instabilidade dimensional.

Siliconas de AdiçãoMuitos estudos têm pesquisado os efeitos dos desinfetan-tes na estabilidade dimensional das siliconas de adição. Eles concluem que nenhum efeito adverso resulta mesmo após uma exposição prolongada (até 18 horas) das silico-nas de adição a todas as variedades de desinfetantes. A única desvantagem parece ser a reduzida molhabilidade do material do modelo nas moldagem realizada pelas siliconas hidrofílicas.

Procedimento de Desinfecção

As impressões devem ser lavadas em água imediatamente após a remoção da boca do paciente, para retirar quais-quer sinais óbvios de saliva, sangue e resíduos. A desinfec-ção da moldagem deve ser realizada antes da confecção do modelo, ou antes de ser enviada ao laboratório. É de responsabilidade do dentista certifi car que as moldagens foram recebidas pelo laboratório dentário sem conta-minantes. Como pode ser visto pelo que foi descrito, o procedimento de desinfecção a ser adotado depende do tipo de material de moldagem e do desinfetante usado. Deve-se considerar que o objetivo do procedimento é

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO194

desinfetar e não esterilizar, este último exigindo imersão prolongada por períodos inaceitáveis e, em nenhum caso, isso é permitido.

O Serviço de Aconselhamento da Associação Dentária Britânica (British Dental Association Advisory Service) (Advice Sheet A12) comenta que certos tipos de materiais de moldagem podem ser desinfetados com glutaraldeído, mas também observam que ainda não existe nenhum método universalmente aplicável para a desinfecção de todos os tipos de materiais de moldagem. Eles seguem recomendando que moldeiras descartáveis devem ser uti-lizadas e que os protéticos devem usar luvas ao manusear os materiais de moldagem e ao vazar os modelos.

A Associação Dentária Americana (American Dental Association) sugere a imersão por 30 minutos num desin-fetante à base de glutaraldeído para os polissulfetos e siliconas de condensação e de adição e o uso de um spray desinfetante de compostos clorados para os hidrocoloides irreversíveis e poliéter. No entanto, é importante que em cada caso as recomendações do fabricante sejam seguidas e que os procedimentos de desinfecção apropriados sejam usados para cada tipo de material de moldagem.

Das informações disponíveis até o momento, os únicos materiais de moldagem que podem ser desinfe-tados sem nenhum efeito quase adverso são as siliconas de adição.

PROCEDIMENTOS DE DESINFECÇÃOAlginato Borrife com desinfetante e coloque num plástico selado pelo tempo recomendado pelo fabricante.Polissulfetos Use imersão em um desinfetantee siliconas pelo tempo recomendado pelo fabricante (preferivelmente < 30 minutos).Poliéteres Use um spray desinfetante ou imersão em produtos com um tempo de desinfecção curto (< 10 minutos).

FRACASSOS NA REALIZAÇÃO DA MOLDAGEM

Como a qualidade da prótese é diretamente dependente da qualidade da moldagem, é importante que uma mol-dagem de qualidade ruim seja rapidamente identifi cada e não seja encaminhada ao laboratório dentário.

Em muitos casos, a necessidade de repetições pode ser evitada estando-se atento para os tipos de problemas que podem surgir e como podem ser evitados. Os princi-

pais insucessos estão associados à reprodução defi ciente dos detalhes de superfície e a adaptação defi ciente da prótese.

Reprodução Defi ciente dos Detalhes de Superfície

Os fatores que podem causar a reprodução defi ciente dos detalhes superfi ciais são:

■ Aspereza ou rugosidade na superfície da moldagem. Isso pode ser devido à presa incompleta (usualmente associada à remoção prematura), manipulação ina-dequada ou presença de contaminantes superfi -ciais. Uma reação muito rápida de presa também causará uma reprodução superfi cial defi ciente e pode ser devido à temperatura, umidade ou mistura errônea.

■ Bolhas. Elas usualmente surgem se o material toma presa muito rápido ou se as bolhas forem introduzidas durante o processo de manipulação.

■ Lacunas irregulares. Elas aparecerão devido à umidade ou aos resíduos na superfície.

Adaptação Defi ciente da Prótese

Os fatores que originam uma adaptação defi ciente são:

■ Distorção. O uso de moldeiras excessivamente fl exí-veis resultará na distorção da moldagem na medida em que a moldeira é distorcida durante o posicio-namento. Se o tempo de trabalho do material de moldagem for excedido, o material não escoará ade-quadamente, existindo a tentação de utilizar maior pressão durante a realização da moldagem, causando distorção da moldeira e deformação permanente do material de moldagem. O movimento da moldeira enquanto o material está tomando presa também causará distorção. A falha de adesão entre a moldeira e o material de moldagem pode ocorrer, se houver adesivo insufi ciente, se for usado adesivo errado ou se não houver tempo sufi ciente para o adesivo tornar-se efetivo. Um procedimento de desinfecção inadequado também originará distorção.

■ Modelos muito grandes ou muito pequenos. Embora seja difícil distinguir entre próteses mal adaptadas devido ao tamanho inadequado ou à distorção, as causas mais comuns de modelos com tamanho errado são: o uso inapropriado das técnicas de moldagem, o vazamento do modelo no tempo incorreto, ou a armazenagem da moldagem em condições inadequadas de temperatura e umidade.

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MATERIAIS DE MOLDAGEM 195

LEITURA COMPLEMENTAR

CDMIE (1996) Infection control recommendations for the dental offi ce and the dental laboratory. ADA Council on Scientifi c Affairs and ADA Council on Dental Practice. J Am Dent Assoc 127: 672–680

Jagger DC et al (2004) The effect of a range of disinfectants on the dimensional accuracy of some impression materials. Eur J Prosthodont Rest Dent 12: 154

Jamani KD, Harrington E, Wilson HJ (1989) Rigidity of impression materials. J Oral Rehab 16: 241–248

Johnson GH et al (1998) Dimensional stability and detail reproduction of irreversible hydrocolloid and elastomeric impressions disinfected by immersion. J Prosthet Dent 79: 446–453

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Millstein P, Maya A, Segura C (1998) Determining the accuracy of stock and custom tray impression/casts. J Oral Rehab 25: 645–648

Pamenius M, Ohlsen NG (1987) The clinical relevance of mechanical properties of elastomers. Dent Mater 3: 270

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Watkinson AC (1988) Disinfection of impressions in UK dental schools. Brit Dent J 164: 22

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SEÇÃO TRÊSMATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOSOs materiais descritos nesta seção são usados principalmente pelo protético na elaboração de próteses, embora haja considerável sobreposição, como no capítulo de cimentação. Informações detalhadas sobre a construção de próteses foram evitadas, já que esta é uma prerrogativa do protético. Entretanto, a responsabilidade pela escolha de materiais a serem colocados

na boca do paciente permanece sendo do cirurgião-dentista, o que requer um conhecimento do que está disponível. Embora o clínico não esteja envolvido nos vários estágios de confecção de uma prótese, o conhecimento profundo das características dos materiais utilizados e a compreensão dos processos envolvidos são de suma importância para fazer a escolha correta dos materiais para cada situação clínica. Além disso, o clínico notará que os conhecimentos sobre vários materiais e procedimentos envolvidos na construção de uma prótese contribuem bastante para a comunicação com o protético e evita possíveis equívocos.

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199

Capítulo 3.1

PRODUTOS À BASE DE GESSO

INTRODUÇÃO

Os materiais derivados do gesso possuem várias aplica-ções odontológicas que incluem:

■ modelos e troquéis;■ materiais de moldagem;■ moldes;■ revestimentos refratários.

Um modelo é uma réplica das superfícies de interesse da cavidade bucal; é vazado de uma impressão da ana-tomia bucal e é então usado para confeccionar um apa-relho, como uma prótese parcial ou total. Um molde é usado para a confecção de uma dentadura. Troquéis são réplicas de dentes individuais e são geralmente usados na construção de coroas e pontes. Um revestimento refratário é um material resistente a altas temperaturas que usa o gesso como material ligante e é usado como material de moldagem para algumas ligas de ouro para fundição.

Neste capítulo destacaremos a química e as proprie-dades destes materiais.

QUÍMICA DO GESSO

Composição

O gesso (gipsita) é o sulfato de cálcio di-hidratado, CaSO4.2H2O. Quando esta substância é calcinada, isto é, aquecida até uma temperatura sufi cientemente alta para liberar parte da água, converte-se em sulfato de cálcio hemi-hidratado, (CaSO4)2

•H2O e, sob temperaturas mais altas, forma-se a anidrita, como mostrado abaixo:

Gesso (gipsita) CaSO4•2H2O

↓ Até 130°C

Hemi-hidrato (CaSO4)2•H2O

↓ Até 200°CAnidrita CaSO4

A produção de sulfato de cálcio hemi-hidratado pode ser realizada de três maneiras, produzindo versões de gesso com diferentes propriedades e, portanto, com diver-sas aplicações. Estas versões são o gesso comum Paris, o gesso-pedra odontológico e o gesso-pedra melhorado (densite). Deve-se observar que as três versões são qui-micamente idênticas, distinguindo-se apenas na forma e nos detalhes estruturais.

Gesso Comum Paris O sulfato de cálcio di-hidratado é aquecido em um reci-piente aberto. A água é liberada e o di-hidrato é conver-tido em hemi-hidrato, conhecido como sulfato de cálcio calcinado ou β-hemi-hidrato. O material resultante con-siste em partículas grandes, porosas e irregulares que não se compactam muito bem. O pó precisa ser mistu-rado com uma grande quantidade de água para obter uma mistura satisfatória para uso odontológico, já que grande parte desta água é absorvida pelos poros entre as partículas. A mistura usual é de 50 ml de água para 100 mg de pó.

Gesso-Pedra Se o di-hidrato for aquecido em uma autoclave, o hemi-hidrato que é produzido consiste em partículas peque-nas, regulares e relativamente não porosas. Este sulfato de cálcio autoclavado é conhecido como α-hemi-hidrato. Devido à estrutura não porosa e regular das partículas, elas podem ser compactadas mais intimamente usando menos água. A mistura é de 20 ml de água para 100 g de pó.

Gesso-pedra Melhorado (Densite)Na produção desta forma de sulfato de cálcio hemi-hidra-tado, o di-hidrato é fervido na presença de cloreto de cálcio e cloreto de magnésio. Estes dois cloretos atuam como desaglutinantes, ajudando a separar as partículas individuais que, de outra forma, tendem a se aglomerar. As partículas de hemi-hidrato que são produzidas são

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS200

ainda mais compactas e regulares que as do gesso-pedra. O densite é misturado na proporção de 100 g de pó para 20 ml de água.

Aplicações

O gesso comum é um material de uso geral, principal-mente para bases e modelos, já que é barato, fácil de usar e modelar. A expansão de presa (veja a seguir) não é de grande importância para estas aplicações. Uma compo-sição similar é usada para materiais de moldagem à base de gesso (Cap. 2.7) e para revestimentos refratários à base de gesso, embora para estas aplicações os tempos de trabalho, de presa e a expansão de presa sejam cui-dadosamente controlados pela incorporação de vários aditivos (ver a seguir).

O gesso-pedra é usado para modelos da boca, enquanto o gesso-pedra melhorado mais denso é usado para modelos dentários individuais, chamados de troquéis. Estes últimos são usados para confecção dos padrões de cera dos quais são produzidas peças de fundição.

Processo de Presa

O aquecimento do hidrato para retirar parte da água produz uma substância que está efetivamente desidra-tada. Como consequência disto, o hemi-hidrato é capaz de se reagir com água e retornar ao sulfato de cálcio di-hidratado, como se segue:

(CaSO4)2•H2O + 3 H2O → 2CaSO4

•2H2O

Acredita-se que o processo de presa dos produtos à base de gesso ocorra na seguinte sequência:

1. Parte do sulfato de cálcio hemi-hidratado dissolve-se na água.

2. O sulfato de cálcio hemi-hidratado dissolvido reage com a água e forma sulfato de cálcio di-hidratado.

3. A solubilidade do sulfato de cálcio di-hidratado é muito baixa e uma solução supersaturada é formada.

4. Esta solução supersaturada é instável e o sulfato de cálcio di-hidratado se precipita na forma de cristais estáveis.

5. Como os cristais estáveis de sulfato de cálcio di-hidra-tado se precipitam na solução, mais sulfato de cálcio hemi-hidratado é dissolvido e isto continua até todo o hemi-hidrato ter dissolvido.

Tempos de Trabalho e de Presa

O material deve ser misturado e vazado antes de alcan-çar o fi m do tempo de trabalho. Os tempos de trabalho variam de produto para produto e devem ser escolhidos de acordo com a aplicação em particular.

No gesso para moldagem, o tempo de trabalho é de apenas 2-3 minutos, enquanto para um revestimento refratário à base de gesso, o tempo se aproxima de 8

minutos. Tempos de trabalho curtos dão origem a tempos de presa curtos, já que ambos são controlados pela veloci-dade da reação. Portanto, para um gesso de moldagem, o tempo de presa é tipicamente de 2-3 minutos, enquanto o tempo de presa pode variar entre 20-45 minutos nos revestimentos refratários à base de gesso.

Os materiais para modelos apresentam tempos de tra-balho parecidos aos do gesso de moldagem, mas seus tempos de presa são um pouco mais longos. Para o gesso comum, o tempo de presa é de 5-10 minutos, enquanto para o gesso-pedra pode ser de até 20 minutos.

As características de manipulação são controladas pela inclusão de vários aditivos. Aditivos que aceleram o processo de presa são a gipsita (<20%), o sulfato de potássio e o cloreto de sódio (<20%). Eles agem como núcleos de cristalização para o crescimento de cristais de di-hidrato. Os aditivos que retardam a velocidade de presa são o cloreto de sódio (>20%), o citrato de potássio e o bórax pela interferência com a formação de cristais de di-hidrato. Estes aditivos também afetam a alteração dimensional de presa, como discutido adiante.

A manipulação do sistema pó-líquido também afeta as características da presa. O operador pode mudar a pro-porção pó:líquido e, adicionando mais água, o tempo de presa é estendido porque leva mais tempo para a solução se tornar saturada e assim para que os cristais de di-hidrato começarem a se precipitar. O aumento do tempo de espa-tulação resulta na redução do tempo de presa, já que isto tem o efeito de romper os cristais à medida que se formam, aumentando o número de núcleos de cristalização.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O aumento do tempo de espatulação tende a reduzir o tempo de presa e a aumentar a expansão de presa.

O aumento na temperatura apresenta apenas um efeito mínimo, já que o aumento da velocidade de dissolução do hemi-hidrato é compensado pela maior solubilidade do sulfato de cálcio di-hidratado na água.

Alterações Dimensionais na Presa

Durante a presa, os cristais que são formados são esfe-rulíticos em sua aparência (Fig. 3.1.1), como fl ocos de neve. Estes cristais colidem uns sobre os outros à medida que crescem e tentam se empurrar. O resultado desta ação é que há uma expansão dimensional na presa. De fato, o material contrai no sentido em seu volume molar que é menor que 7,1% vol., como mos-trado na Tabela 3.1.1. Entretanto, formam-se grandes espaços vazios entre os cristais, levando a uma alta porosidade. É isto que causa a expansão dimensional observada de 0,6% vol.

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PRODUTOS À BASE DE GESSO 201

Essa capacidade de expandir na presa é uma caracte-rística muito importante deste material e este é o fator que o torna tão útil em um grande número de aplica-ções odontológicas. Em particular, modelos e troquéis devem ser levemente maiores que a anatomia bucal. Isto assegura que as coroas, pontes e dentaduras não fi quem muito apertadas quando colocadas na boca. A expan-são também é utilizada no caso dos revestimentos, já que ajuda a compensar a contração de resfriamento das peças metálicas fundidas da temperatura de fusão.

Embora seja em geral desejável que os modelos pro-duzidos com gesso comum ou pedra sejam levemente maiores, a expansão não controlada deste material é um inconveniente.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Existem vários aditivos nos produtos de gesso que são utilizados para controlar o nível de expansão, que no caso do gesso comum é 0,2-0,3% vol. e para os gesso-pedra e gesso-pedra melhorado para troquéis está na faixa de 0,05-0,10% vol.

Cloreto de SódioO cloreto de sódio atua como núcleos de cristalização adicionais para a formação de cristais. A densidade mais

alta dos cristais limita seu crescimento e, portanto, reduz sua capacidade de colisão uns aos outros. Isto resulta em uma redução da expansão observada. O aumento do número de núcleos de cristalização de cristais di-hidrato possui o efeito de aumentar a velocidade de presa do material. O hemi-hidrato também se dissolve mais rapidamente, mais uma vez aumentando a veloci-dade de reação.

Se estiver presente em altas concentrações (>20%), o cloreto de sódio se depositará na superfície do cristal impe-dindo um crescimento adicional. Isto provoca redução da velocidade de reação, ao invés de aumentá-la.

Sulfato de PotássioO sulfato de potássio (K2SO4) reage com a água e o hemi-hidrato e produz a “singenita” [K2(CaSO4)2

•H2O]. Este composto cristaliza-se muito rapidamente e estimula o crescimento de mais cristais. Isto apresenta o efeito de reduzir a expansão e acelerar a reação de presa. Quando presente em solução aquosa a 2% reduz o tempo de presa de aproximadamente 10 minutos para 4 minutos.

Sulfato de Cálcio Di-hidratadoA adição de uma pequena quantidade de sulfato de cálcio di-hidratado fornecerá núcleos de cristalização adicionais e atuará como um acelerador; reduzindo tanto o tempo de trabalho como o de presa.

BóraxA adição de bórax (Na2B4O7

•10H2O) é importante porque ele se contrapõe ao aumento da velocidade de presa devido à inclusão dos aditivos mencionados. Ele é um retardador da reação de presa. A adição de bórax leva à formação de tetraborato de cálcio, que se deposita nos cristais de di-hidrato e impede um crescimento adicional.

Citrato de PotássioO citrato de potássio atua como um retardador e, às vezes, é adicionado em conjunto ao bórax.

Desse modo, a regulação cuidadosa da quantidade dos aditivos mencionados permite que diferentes pro-dutos de gesso possam ser produzidos com um correto grau de expansão e com os tempos de trabalho e de presa adequados para várias aplicações. As expansões de presa típicas para os produtos de gesso são mostrados na Tabela 3.1.2.

Figura 3.1.1 Estrutura esferulítica do sulfato de cálcio di-hidratado.

Tabela 3.1.1 Alteração do volume molar que ocorre em função da rehidratação do sulfato de cálcio hemi-hidratado

(CaSO4)2•H2O + 3H2O → 2CaSO4•2H2O

Peso molecular 290 54 344

Densidade 2,75 1,0 2,32

Volume molar 105 54 148

Alteração no volume = (148–159) / 159 = –7,1%

Tabela 3.1.2 Expansões de presa de alguns produtos de gesso

Comum 0,20-0,30%

Pedra 0,08-0,10%

Pedra melhorado 0,05-0,07%

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS202

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A baixa expansão de presa do gesso-pedra e do gesso-pedra melhorado (densite) torna estes materiais ideais para a produção de troquéis e modelos tanto para trabalhos metálicos como cerâmicos.

Expansão Higroscópica

A expansão de presa pode ser aumentada substancial-mente pela imersão do material em água enquanto ele estiver tomando presa. Quando toma presa em contato com o ar ambiente, a tensão superfi cial da água livre tende a manter os cristais unidos e isto limita a capaci-dade dos cristais de crescerem.

Entretanto, quando os cristais são imersos em água, eles podem crescer mais livremente, resultando em um maior nível de expansão. Este processo é chamado expan-são higroscópica e, às vezes, é utilizado em revestimentos refratários de gesso para a fundição de ligas que apresen-tam alto coefi ciente de expansão térmica ou alta contra-ção durante a solidifi cação.

PROPRIEDADES

Estabilidade Dimensional

Uma vez que o material tenha tomado presa, ocorre pouca ou nenhuma alteração dimensional. A estabilidade durante armazenamento é excelente embora o material seja levemente solúvel em água. Por esta razão, deve-se evitar a lavagem com água quente.

Resistência à Compressão

A resistência à compressão é a propriedade mecânica mais usada para calcular a resistência dos produtos à base de gesso. Os valores típicos estão mostrados na Tabela 3.1.3.

A resistência à compressão é consideravelmente afetada pela relação pó:líquido usada. Está claro dos dados men-cionados que a redução na quantidade de água reque-rida para produzir uma mistura aceitável fornece uma melhora signifi cativa na resistência à compressão. Assim, a resistência à compressão do produto fi nal é afetada pela alteração da proporção pó:líquido recomendada. O uso de uma quantidade excedente de água apresenta a

vantagem de produzir uma mistura fl uida que pode ser facilmente vazada. O ar que é incorporado durante o processo de mistura pode ser removido facilmente de tal mistura de gesso-pedra ou gesso-pedra melhorado, usando vibração; entretanto, a resistência à compressão após a presa será inferior. Por sua vez, usar menos água que o recomendado resulta em uma mistura espessa que é mais difícil de remover o ar, levando a maior porosi-dade e a uma resistência signifi cativamente menor. Há também o risco de que haja pouca água para que a reação ocorra em sua totalidade.

Assim, o uso de menos água tem o potencial para aumentar a resistência à compressão, mas propriedades inferiores são obtidas se muito pouca água for usada.

Há uma notável diferença entre a resistência úmida e seca dos produtos à base de gesso comum. Em geral, a resistência seca é cerca de duas vezes maior que a resis-tência úmida.

Resistência à Tração

A resistência à tração úmida do gesso comum é muito baixa (quase 2 MPa). Isto se deve à porosidade e à natu-reza frágil, trazendo como desvantagem a fácil ocorrência de possíveis danos aos dentes e margens do modelo, se manuseado descuidadamente. O gesso-pedra apresenta uma resistência à tração cerca de duas vezes maior que a do gesso comum e é, portanto, preferido para a produção de modelos para coroas, pontes e troquéis.

Dureza e Resistência à Abrasão

A dureza superfi cial dos produtos à base de gesso é muito baixa, então o material é altamente suscetível a riscos e desgaste por abrasão. As resinas epóxicas são exploradas como materiais alternativos para troquéis já que exibem uma melhor reprodução de detalhes, maior resistência à abrasão e maior resistência transversal do que os mate-riais à base de gesso, mas estão sujeitas à contração de polimerização.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A contração das resinas epóxicas durante a presa pode comprometer o encaixe das peças fundidas a não ser que isto seja levado em consideração durante o processamento.

Reprodução de Detalhes da Superfície

Na especifi cação no 19 do American National Standards Institute/American Dental Association, a compatibilidade dos materiais de moldagem com os gessos-pedra é verifi -cada pela reprodução de uma linha de 20 μm de largura em um molde de sulfato de cálcio di-hidratado não modi-

Tabela 3.1.3 Resistência à compressão de alguns produtos de gesso

Comum 12 MPa

Pedra 30 MPa

Pedra melhorado 38 MPa

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PRODUTOS À BASE DE GESSO 203

fi cado. Como as superfícies dos produtos de gesso são ligeiramente porosas, detalhes diminutos da superfície, menores que 20 μm, não são produzidos de maneira efi caz. Entretanto, detalhes macroscópicos da superfí-cie são reproduzidos de maneira muito precisa, embora bolhas de ar (enclausuradas entre o gesso comum e o material de moldagem, por exemplo) podem contribuir para a perda da reprodução dos detalhes da superfície.

Durante o enceramento de um modelo para fundição, o troquel deve ser mantido úmido. Uma vez que o gesso apresenta certo nível de solubilidade em água, ocorrerá alguma perda de material da superfície e, portanto, a secagem e molhamento repetitivos devem ser evitados.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Caso um troquel precise ser umedecido mais uma vez, isto deve ser feito com uma solução aquosa saturada de di-hidrato.

Tabela 3.1.4 Vantagens e desvantagens do gesso comum na confecção de modelos

Vantagens Desvantagens

Dimensionalmente estável e fi el

Baixa resistência à tração, frágil

Resistência à abrasão defi ciente

Barato Detalhamento de superfície defi ciente

Bom contraste de cor Fraco molhamento da superfície de materiais de moldagem borrachoides

RESUMO

As vantagens e desvantagens do uso do gesso comum na confecção de modelos podem ser resumidas como demonstrado na Tabela 3.1.4.

LEITURA COMPLEMENTAR

Chan TK, Darvell BW (2001) Effect of storage conditions on calcium sulphate hemihydrate-containing products. Dent Mater 17: 134

Combe EC, Smith DC (1964) Some properties of gypsum plasters. Brit Dent J 117: 237

Derrien G, Le Menn G (1995) Evaluation of detail reproduction for three die materials by using scanning electron microscopy and two-dimensional profi lometry. J Prosthet Dent 74: 1

Duke P et al (2000) Study of the physical properties of type IV gypsum, resin-containing, and epoxy die materials. J Prosthet Dent 83: 466

Eames WB, Edwares CR, Buck WH (1978) Scraping resistance of dental die materials: a comparison of brands. Oper Dent 3: 66

Fan PL, Powers JM, Reid BC (1981) Surface mechanical properties of stone, resin and metal dies. J Am Dent Assoc 103: 408

Paquette JM, Taniguchi T, White SN (2000) Dimensional accuracy of an epoxy resin die material using two setting methods. J Prosthet Dent 83: 301

Whyte MP, Brockhurst PJ (1996) The effect of steam sterilization on the properties of set dental gypsum models. Aust Dent J 41: 128

Page 215: Introdução Aos Materiais Dentários

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205

Capítulo 3.2

RESINAS PARA BASE DE PRÓTESE

INTRODUÇÃO

Existe um envelhecimento populacional no mundo oci-dental e a projeção é que até 2025, mais de 50% da popu-lação terá mais de 50 anos. Apesar do desenvolvimento da higiene oral, é provável que muitas dessas pessoas necessitem de próteses totais ou parciais para substituir os dentes perdidos. No momento 32 milhões de norte-americanos usam próteses totais ou parciais, e o número de próteses prescritas anualmente fi ca em torno de 9 milhões de próteses totais e 4,5 milhões de parciais. Para esses pacientes é importante que a prótese seja estetica-mente atraente e altamente funcional, pois ela terá uma infl uência muito positiva na sua qualidade de vida.

A confecção de uma prótese envolve muitas etapas. A primeira etapa é a moldagem, que é seguida por várias etapas laboratoriais. Essas incluem a confecção do modelo, a montagem dos dentes, o enceramento, a inserção na mufl a e o derretimento da cera, deixando espaço para ser preenchido pelo material para a base da prótese.

Muitos materiais têm sido utilizados para confeccio-nar próteses, incluindo produtos de celulose, fenol for-maldeído, resinas vinílicas e vulcanite. Entretanto, eles apresentaram uma série de problemas:

■ os produtos de celulose sofriam distorções na boca e possuíam um gosto de cânfora, usada como plastifi -cador. A cânfora desprendia-se da prótese causando bolhas, pigmentação e perda de cor em poucos meses;

■ o fenol formaldeído (baquelite) era muito difícil de processar e também perdia a sua cor na boca;

■ as resinas vinílicas possuíam baixa resistência à fratura, e as falhas eram comuns, possivelmente devido à fadiga;

■ o vulcanite foi o primeiro material a ser usado na produção em massa de próteses, mas as suas qualida-des estéticas não eram muito boas e atualmente foi substituído pelas resinas acrílicas.

A resina acrílica (polimetil metacrilato) é atualmente o material de escolha: esse material possui a qualidade estética necessária, é de baixo custo e de fácil processa-mento. Mesmo assim, não é ideal em todos os aspectos. Os requisitos ideais de um material para base de prótese são mostrados na Tabela 3.2.1.

As resinas acrílicas são populares porque atendem muitos dos requisitos apontados na Tabela 3.2.1. Em particular, as próteses feitas de resina acrílica são de fácil processamento, utilizam técnicas de baixo custo e são esteticamente agradáveis. Além do seu uso na confecção de próteses totais, o material também é usado em uma grande variedade de aplicações, tais como: a confecção de moldeiras personalizadas; confecção de gengiva arti-fi cial em armações metálicas; reparo em próteses; reem-basamento e; dentes artifi ciais.

COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA DA RESINA ACRÍLICA

A resina acrílica para prótese é obtida pelo processo de polimerização por adição de radicais livres para formar o polimetil metacrilato (PMMA). O monômero é o metil metacrilato (MMA):

H

C

H

C

Me

C

O

Me

O

em que o Me substitui o CH3. A conversão do monômero em um polímero envolve a sequência normal de ativa-ção, iniciação, propagação e terminação, como descrito no Capítulo 1.6. As resinas estão disponíveis na forma química ou termicamente ativadas.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS206

Resinas Termicamente Ativadas

Esses materiais consistem em um pó e um líquido, que, depois de misturados e aquecidos, formam um sólido rígido. Os componentes do pó e do líquido estão mos-trados na Tabela 3.2.2.

Os motivos para a formulação de um sistema de pó/líquido em particular são três:

■ é possível o processamento pela técnica de compres-são da massa plástica;

■ a contração de polimerização é minimizada; ■ o calor da reação é reduzido.

A técnica da compressão da massa plástica de resina torna a confecção das próteses um processo relativamente direto. Uma mufl a contendo os dentes num molde de gesso é preenchida com a massa de resina em fase plás-tica e então fechada sob pressão, de forma que o excesso de resina seja espremido para fora. Da mesma forma, pode-se produzir uma moldeira individual adaptando diferentes variedades de resina acrílica quimicamente ativada sobre um modelo e removendo os excessos. Os grânulos se dissolvem mais facilmente no monômero do que as pérolas, reduzindo então o tempo que leva para alcançar o estágio de massa plástica.

A contração de polimerização é menor quando com-parada com aquela que usa um monômero, porque a maior parte do material que está sendo usado (isto é, as pérolas ou grânulos) já está polimerizada.

A reação de polimerização é altamente exotérmica, já que uma quantidade considerável de calor (80 kJ/μol) é liberada na redução das ligações de C = C para –C–C–. Como uma grande proporção da mistura já está na forma de um polímero, o potencial para superaquecimento é reduzido. Uma vez que a temperatura máxima alcançada será menor, então a quantidade de contração térmica também será reduzida.

O monômero é muito volátil e altamente infl amável; desta forma, o recipiente deve ser muito bem-vedado o

tempo todo e mantido longe de chamas. O recipiente é um frasco de vidro escuro para aumentar o prazo de validade do monômero, evitando a polimerização espon-tânea pela ação da luz.

A hidroquimona também prolonga o tempo de vali-dade do monômero por meio da rápida reação com qual-quer radical livre que possa se formar espontaneamente dentro do líquido, produzindo assim formas estabiliza-das de radicais livres que não serão capazes de iniciar o processo de polimerização.

Deve-se evitar a contaminação com os grânulos ou pérolas de polímero, pois eles carregam o peróxido de benzoíla em sua superfície, e apenas uma pequena quan-tidade de polímero é sufi ciente para iniciar a reação de polimerização.

O pó do polímero é muito estável e tem um prazo de validade quase indeterminado.

Um agente de ligação cruzada, tal como o dietileno glicol dimetacrilato, é adicionado com o objetivo de melhorar as propriedades mecânicas (Fig. 3.2.1a). Ele é incorporado em vários pontos ao longo da cadeia do polímero de metil metacrilato, formando ligações cruza-das com as cadeias adjacentes graças aos seus dois sítios de duplas ligações (Fig. 3.2.1b).

Portanto, embora o polimetil metacrilato (PMMA) seja uma resina termoplástica, a inclusão de um agente de ligação cruzada impede a reação precipitada.

Resinas Quimicamente Ativadas

A química dessas resinas é idêntica à das resinas ativadas termicamente, exceto que a polimerização é iniciada por uma amina terciária (p. ex., dimetil p-toluidina ou ácido sulfínico), em vez de calor.

Esse método de polimerização não é tão efi ciente como o processo de polimerização por calor e tende a produzir um material com menor peso molecular. Isso provoca um efeito adverso nas propriedades de resis-

Tabela 3.2.1 Requisitos ideais de um material para base de prótese

Aspecto natural Fácil manipulação

Alta resistência, rigidez, dureza e tenacidade

Baixa densidade

Estabilidade dimensional Reprodução exata dos detalhes superfi ciais

Ausência de odor, gosto ou produtos tóxicos

Resistência ao crescimento bacteriano

Resistente à absorção de fl uidos orais

Boa condutividade térmica

Boa retenção com polímeros, porcelana e metais

Radiopaco

Reparo fácil Limpeza fácil

Boa vida útil Preço acessível

Tabela 3.2.2 Componentes de uma resina ativada termicamente

Pérolas ou grânulos de polimetil metacrilato

Iniciador – peróxido de benzoíla

Pigmentos/corantes

Opacifi cadores – titânio/óxidos de zinco

Plastifi cador – dibutil ftalato

Fibras sintéticas – nylon/acrílico

Líquido

Monômero de metil metacrilato

Inibidor – hidroquinona

Agente de ligação cruzada – etileno glicol dimetacrilato

Page 218: Introdução Aos Materiais Dentários

RESINAS PARA BASE DE PRÓTESE 207

tência do material e também aumenta a quantidade de monômero residual não polimerizado na resina. A esta-bilidade de cor não é tão boa como a da resina ativada termicamente, sendo as resinas quimicamente ativadas mais propensas ao amarelamento.

O tamanho das pérolas do polímero é um pouco menor que das resinas ativadas quimicamente (que possuem pérolas de 150 μm) para facilitar a dissolução no monômero e produzir uma massa plástica. O estágio de massa plástica deve ser alcançado antes que a reação de polimerização por adição comece a afetar a viscosi-dade da mistura, impedindo a adaptação da mistura nas paredes do molde.

O menor peso molecular também resulta na diminui-ção da temperatura de transição vítrea, sendo a Tg tipi-camente de 75ºC a 80ºC. Embora possa parecer que isso torna o material mais propenso ao empenamento, este não é o caso. Como nenhuma fonte externa de calor é usada para polimerizar a resina, existe menos geração de tensões internas. Contudo, o material é altamente suscetível ao escoamento, e isso pode contribuir signifi cativamente para uma eventual distorção da prótese quando em uso.

Resinas Fluidas Quimicamente Ativadas

São resinas quimicamente ativadas que são bastante líqui-das após a mistura, a ponto de poderem ser vertidas num molde feito de hidrocoloide. Elas proporcionam exce-lente reprodução dos detalhes superfi ciais, mas são tão inferiores às resinas química e termicamente ativadas em muitos outros aspectos, que não são muito utilizadas.

Resinas Ativadas por Luz Visível

Uma versão ativada por luz visível também foi lançada, mas a química desses materiais tem maior relação com um compósito restaurador do que com as resinas para base de próteses já discutidas (Cap. 2.2). O material é composto por uma matriz de uretano dimetacrilato que contém uma pequena quantidade de sílica coloidal para controlar a reologia. A carga consiste em pérolas acrílicas que se tornam parte da estrutura entrelaçada do polímero após a ativação. É amplamente usada como material de reembasamento de prótese, na confecção de moldeiras individuais e no reparo de próteses fraturadas.

ASPECTOS DA MANIPULAÇÃO

Proporção Pó-Líquido

É importante usar a correta proporção pó-líquido (2,0/1,0 % em peso; 1,6/1,0% em volume). Muito pó pode levar a um preenchimento inadequado, pelo monômero, dos espaços livres entre as partículas de pó, resultando em um material fraco com consequente porosidades no produto fi nal. O uso de monômero em excesso produzirá exces-siva contração de polimerização e perda da qualidade da adaptação da superfície interna da prótese.

Os aditivos tendem a se precipitar no fundo do reci-piente, e é importante que o frasco seja agitado antes do uso para assegurar uma distribuição homogênea de seus ingredientes.

Controle da Cor

O pigmento de cor em geral é incorporado ao pó do polí-mero, mas em alguns casos pode estar simplesmente na superfície das pérolas do polímero e pode se desprender rapidamente, apenas pelo contato com o monômero. Nesse caso o polímero deve ser adicionado ao monômero lenta-mente. Pouco pó produz uma nuance de cor mais clara.

Isolamento do Molde

Existe o perigo de a resina penetrar na superfície relati-vamente áspera do molde de gesso e se aderir. Para pre-venir isso, um meio isolante deve ser utilizado. Hoje em dia, o meio isolante geralmente utilizado é uma solução de alginato de sódio, embora alguns profi ssionais ainda recomendem o uso de uma folha de estanho.

Processamento

Existem dois problemas em particular a serem observa-dos no processamento dos acrílicos para prótese: um é a sua porosidade, e o segundo é a presença de tensões do processamento.

Porosidade

O problema que mais afeta as resinas acrílicas para pró-teses é a ocorrência de porosidade durante a etapa de

ou

.

Figura 3.2.1 (a) Dietileno glicol dimetacrilato e (b) a sua formação de ligações cruzadas.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS208

processamento. Existem dois tipos principais de porosi-dade: porosidade por contração associada à contração de polimerização, e a porosidade causada pela volatilização do monômero, sendo denominada porosidade gasosa.

Porosidade de ContraçãoA porosidade de contração ocorre porque o monômero se contrai em torno de 20% em volume durante o pro-cessamento. Usando o sistema pó/líquido essa con-tração é minimizada permanecendo na faixa de 5% a 8%. Entretanto, isso não se traduz em uma alta contra-ção linear, que, baseada nessa contração volumétrica, corresponderia a uma contração linear em torno de 1,5% a 2%, mas de fato ocorre algo na faixa de 0,2% a 0,5%. Acredita-se que isso acontece porque a contra-ção observada é, em grande parte, devido à contração térmica resultante da mudança da temperatura do pro-cessamento para a temperatura ambiente, ao invés da contração de polimerização. Com o objetivo de ativar o processo de polimerização, a temperatura na mufl a deve ser elevada acima de >60°C, para que o peróxido de benzoíla se rompa, e forme radicais livres (Cap.1.6). Uma vez iniciada a reação, ela continua a gerar calor por conta própria, como resultado da reação exotérmica. Isso pode elevar a temperatura do acrílico para bem acima de 100°C.

Na temperatura do processamento, a resina é capaz de escoar para dentro dos espaços criados pela contração de polimerização. A força direcional desse escoamento é promovida pela pressão exercida durante o processa-mento; comprimir 1 ligeiro excesso de material para base de prótese dentro do molde garante que o material estará sob pressão quando o molde for fechado. Tal pressão é mantida por todo o ciclo de processamento.

A resina só se torna rígida quando fi ca abaixo da sua temperatura de transição vítrea, momento em que toda a contração de polimerização terá se completado. A partir desse ponto é a contração térmica que contribui para as alterações observadas nas dimensões da base da prótese. As resinas quimicamente polimerizadas ou de cura fria proporcionariam uma melhor adaptação da prótese, já que a temperatura do processamento é consideravel-mente menor (em tomo de 60ºC, comparada com a de 100°C para a resina ativada termicamente). Entretanto, a adaptação é normalmente comprometida devido à maior probabilidade de fl uência (creep) na Tg menor.

Portanto, é importante que uma quantidade sufi -ciente de resina na fase plástica seja colocada no molde para garantir que o material esteja constantemente sob pressão, durante o processamento. Isso causará o rompi-mento de qualquer bolha presente na mistura, devendo também ajudar a compensar a contração de polimeri-zação. Por isso, a compressão do molde deve ser reali-zada apenas quando a massa de resina tiver alcançado o estágio plástico, pois antes dessa etapa a alta fl uidez causa uma rápida perda da pressão.

Se houver evidência de porosidade localizada, pode ser devido à mistura defi ciente dos componentes ou à compressão do molde antes de ter alcançado o estágio plástico. O diferencial de contração pode levar à distor-ção da prótese.

Porosidade GasosaComo observado, durante a polimerização ocorre uma reação exotérmica. Isso pode causar a elevação da tem-peratura da resina acima de 100°C, temperatura esta que é ligeiramente superior à temperatura de ebulição. Se essa temperatura for excedida antes do processo de poli-merização ter sido completado, monômero gasoso será formado – o que constitui a causa da porosidade gasosa. A quantidade de calor gerado depende do volume de resina presente, da proporção de monômero e da rapidez com a qual o calor externo alcança a resina. A ocorrência de porosidade gasosa pode ser evitada aumentando a temperatura de forma lenta e controlada.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A polimerização deve ser realizada lentamente (para impedir a porosidade gasosa) e sob pressão (para evitar a porosidade de contração), de forma que a temperatura do acrílico para prótese nunca exceda 100°C.

Tensões de Processamento A restrição imposta sobre a alteração dimensional da resina inevitavelmente gera tensões internas. Se fosse permitido o relaxamento de tais tensões, o resultado seria o empenamento, apare-cimento de fi ssuras ou a distorção da base da prótese. Embora muitas das tensões geradas durante a contração de polimerização possam ser atenuadas pelo escoamento que ocorre acima da temperatura de transição vítrea, alguma tensão devido à contração térmica permanecerá. O nível de tensões internas pode ser minimizado pelo uso de dentes de acrílico, em vez de dentes de porcelana (de forma que não haja nenhum diferencial de contração no resfriamento), e pelo resfriamento lento da mufl a.

O alívio das tensões internas pode produzir peque-nos defeitos superfi ciais na resina. Esses são conhecidos como fi ssuras e podem ser identifi cados pelo aspecto turvo ou enevoado da superfície da base da prótese. Uma fi ssura é uma região localizada de alta deforma-ção plástica do polímero, que pode conter pequenos espaços. Nesse estágio não é ainda uma trinca, uma vez que, diferente de uma trinca, a região fi ssurada pode ainda suportar cargas. Entretanto, a fi ssura pode levar à fratura do tipo frágil do polímero. Na medida em que os microespaços da região fi ssurada aumentam, eles fi cam separados por apenas pequenas fi brilas de polímero até que fi nalmente possam se romper e formar uma fenda

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RESINAS PARA BASE DE PRÓTESE 209

(Fig. 3.2.2). Essa fenda crescerá sob aplicação de carga externa, até alcançar um tamanho no qual continuará a crescer espontaneamente e causar a fratura da prótese.

As fi ssuras podem ser formadas em resposta ao calor (devido ao polimento, por exemplo), ao diferencial de contração em torno de dentes de porcelana ou ao ataque por solventes, tais como o álcool.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Tem sido demonstrado que a indução de formação de ligações cruzadas nas cadeias polímeros pela adição de dietil glicol dimetacrilato reduz o potencial de formação de fi ssuras.

PROPRIEDADES

Estabilidade Dimensional e Fidelidade

Visto que a prótese é colocada num leito adaptável de tecidos moles, pode-se imaginar por que é tão importante que a prótese não altere sua forma. De fato, isso é de grande importância para a retenção da prótese, que pode ser defi nida como a resistência às forças que tendem a deslocar a prótese em uma direção oclusal. Isso é dife-rente de estabilidade, que é a resistência ao movimento numa direção horizontal.

Os fatores que determinam a retenção das próteses na boca são essencialmente de natureza física. Os fatores anatômicos, como áreas retentivas, são considerados mais um transtorno do que uma vantagem, pois a prótese é rígida e não pode englobá-las. Em alguns casos, pode ser necessária a cirurgia pré-protética para remover estas áreas retentivas.

A explicação mais adequada dos fatores que regem a retenção de uma prótese é o módulo de escoamento viscoso (como discutido no Capítulo 1.10), baseado na relação

F = 3πηR4/2h3 δh/δt

para um disco com raio R e uma espessura de saliva h.

A adesão da prótese à mucosa é promovida pela saliva e, quanto maior a área da superfície, melhor a união adesiva (isto é, o R deve ser o maior possível). Ao mesmo tempo, é importante que a coesão da película de saliva não seja destruída; ela se preserva melhor mantendo uma película de saliva o mais delgada possível entre a mucosa e a prótese (isto é, o h deve ser pequeno), assim a prótese terá uma adaptação bem mais precisa.

O estabelecimento de um selamento periférico em torno da borda da prótese é muito importante para a retenção. Quanto mais justo o selamento, mais difícil se torna a penetração de saliva adicional no espaço entre a prótese e a mucosa, o que signifi ca que é necessária aplicação de uma força maior para separar a prótese da mucosa. Qualquer evento que perturbe o selamento periférico, tal como sobre-extensão, interferências (p. ex., alívio de um freio) e desequilíbrio oclusal, prejudicará a retenção da prótese.

Conforme o paciente envelhece, a taxa de produ-ção e a consistência da saliva podem mudar. A saliva se torna menos aderente à prótese devido ao molhamento defi ciente da superfície pelo suprimento inadequado de saliva; ela também se torna menos viscosa. A retenção da prótese pode então se tornar um problema particular, necessitando eventualmente o uso de fi xadores.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Para uma prótese possuir uma ótima retenção, ela deve (1) cobrir a área máxima de mucosa compatível com a atividade muscular funcional e (2) possuir uma íntima adaptação, de forma a minimizar a espessura da película de saliva e manter um bom selamento periférico.

Propriedades Mecânicas

A resistência à tração típica das resinas acrílicas não é superior a 50 MPa. O módulo de elasticidade é baixo e o módulo à fl exão está na faixa de 2.200 a 2.500 MPa. Não é surpresa que isto, combinado com falta de tenacidade a fratura, explica a propensão das próteses à fratura. Cerca de 30% dos reparos em próteses realizados pelos laboratórios envolvem a fratura de linha média, que é a fratura mais prevalente nas próteses superiores.

A maioria das fraturas está associada a algum inci-dente traumático, embora ele pode não ser facilmente reconhecido. Uma prótese, ao cair no chão, pode não apresentar necessariamente uma fratura instantânea, mas as chances de que uma fenda tenha se formado e que continuará a crescer imperceptivelmente até a prótese se quebrar de repente e desastrosamente é bem-provável. Portanto, algumas falhas da prótese podem ocorrer devido à fadiga à fl exão.

Regiãofibrilar Fenda

Microespaços

Figura 3.2.2 Formação de uma fenda resultante de uma fi ssura.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS210

Algumas fraturas podem estar associadas à qualidade defi ciente do processamento. A falta de adesão entre a resina e os dentes de acrílico é uma possibilidade que produz uma interface fraca da qual uma fratura pode se iniciar. A formação de fi ssuras devido às falhas do processa-mento ou à exposição a solventes é outra possibilidade.

Para aqueles pacientes que fraturam suas próteses regu-larmente, é viável se considerar o uso de uma resina para base de prótese resistente a alto impacto. Essas resinas são formuladas com um agente à base de borracha tenacifi -cante, tal como uma fi na dispersão de estireno de buta-dieno. A inclusão da borracha paralisa o crescimento das fendas, aumentando a resistência à fratura. Entretanto, isso também causa uma diminuição do módulo à fl exão e a longo prazo aumenta as chances de falha ao longo tempo por fadiga devido à fl exão excessiva.

Uma alternativa para o fortalecimento das próteses acrílicas é a incorporação de fi bras para produzir um compósito reforçado por fi bra. Elas incluem:

■ Fibras carbono, que não se tornaram populares devido à difi culdade de manipulação e à estética defi ciente.

■ Fibras aramídeas (poliparafenileno tereftalamida), que não provaram ser efetivas devido à falta de adesão entre as fi bras e a matriz resinosa.

■ Fibras UHMPE (ultra-high molecular weight polyethylene, polietileno de peso molecular ultra-alto), que são de cor neutra, possuem baixa densidade e conhecida biocompatibilidade e cuja superfície pode ser tratada para melhorar a adesão com a resina. No entanto, sua fabricação é muito demorada.

■ Fibras de vidro, que se mostraram as mais promissoras e podem ainda ser incorporadas na resina como fi bras curtas, frouxas ou entrelaçadas.

Nenhum desses materiais se mostrou ainda como substituto efi ciente das resinas acrílicas sem carga, por causa das características de processamento inaceitáveis; assim as resinas reforçadas com borracha são preferidas, pois possuem propriedades de manuseio similares às das resinas de PMMA convencionais. Pesquisas para desen-volver um método bem-sucedido de produzir uma base para prótese reforçada com fi bra estão em andamento.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A falta de resistência e tenacidade das próteses de resina acrílica é um problema sério e pode resultar em fraturas de até 10% das próteses dentro de três anos de uso.

A fl uência ou creep é um problema com as resinas acrí-licas (particularmente as resinas quimicamente ativadas), pois elas são materiais viscoelásticos. A adição de um agente de ligação cruzada reduz a quantidade de fl uência ou creep, mas não consegue eliminá-la totalmente.

Propriedades Físicas

Condutividade TérmicaA condutividade térmica do PMMA é de aproximada-mente 6 × 10–4 cal.g–1.cm–2. Isso é muito baixo, e pode ocasionar problemas durante o processamento da prótese, pois o calor produzido pode fi car retido e não escapar, provocando um aumento da temperatura.

Do ponto de vista do paciente, o problema com o baixo coefi ciente de condutividade térmica é que a prótese isola os tecidos moles orais de qualquer sensação de temperatura, podendo levar o paciente a consumir uma bebida muito quente sem perceber, o que pode queimar a garganta e possivelmente até o esôfago.

Coefi ciente de Expansão TérmicaO coefi ciente de expansão térmica é de aproximada-mente 80 ppm/ºC. Um valor alto, como se pode esperar de uma resina. Em geral, isso não representa um pro-blema, exceto quando se usa de dentes de porcelana na base da prótese. Estes dentes podem se soltar gradativa-mente e ser perdidos, devido ao diferencial de expansão e de contração.

Sorção de Água e SolubilidadeDevido à natureza polar das moléculas de resina, o PMMA absorve água. Tal absorção é tipicamente na ordem de 1,0% a 2,0% por peso.

Na prática, isso ajuda a compensar um pouco a con-tração de processamento. Entretanto, considerando a baixa taxa de difusão da água na resina, algumas semanas de imersão contínua em água seriam necessárias para a prótese alcançar um peso estável.

Embora o PMMA seja solúvel na maioria dos solventes (p. ex., clorofórmio), por causa das suas tênues ligações cruzadas, ele é praticamente insolúvel na maioria dos fl uidos que podem entrar em contato com a boca. Entre-tanto, alguma perda de peso ocorrerá devido à liberação em particular de monômero e possivelmente de alguns pigmentos e corantes.

Biocompatibilidade

Em geral, o PMMA é altamente compatível, e os pacientes manifestam poucos problemas. Contudo, alguns pacien-tes poderão apresentar reação alérgica. Isso é associado mais provavelmente a alguns componentes na prótese, como monômero residual ou ácido benzoico.

A reação alérgica tende a ser praticamente imediata e ocorre mais provavelmente com as próteses de resina quimicamente ativadas por causa do conteúdo maior de monômero residual. Algumas vezes pode-se superar esse problema submetendo a prótese a um ciclo de polime-rização adicional, mas existe o risco deste procedimento causar distorção da prótese na medida que as tensões internas do processamento são liberadas.

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RESINAS PARA BASE DE PRÓTESE 211

Quando um paciente apresenta uma reação de hiper-sensibilidade tardia a próteses à base de metacrilato, deve-se considerar o uso de materiais alternativos para base de prótese, como o policarbonato ou o nylon. As próteses confeccionadas com esses materiais devem ser produzidas por meio do processo de injeção do mate-rial no molde e embora a precisão seja alta, seu custo também é comparativamente a uma prótese confeccio-nada com PMMA.

O nylon, que é o nome genérico de um polímero termoplástico, pertence à classe dos poliamidos e foi o primeiro material utilizado para confeccionar próteses nos anos 1950. A deterioração da cor, excessiva absorção de água e a alta fl exibilidade associada ao baixo módulo de elasticidade são alguns dos problemas que ocorreram com esse material. Contudo, durante os anos 1970, dife-rentes polímeros de base poliamida foram desenvolvi-dos com o intuito de resolver alguns desses problemas, embora existam poucas publicações sobre seu desempe-nho. Aparentemente, muito menos se sabe sobre o uso do policarbonato como material para base de prótese, embora seja um material amplamente utilizado na fabri-cação de capacetes de segurança, devido à sua excelente resistência a impactos.

RESUMO

As vantagens do uso do polimetil metacrilato (PMMA) são:

■ possui estética excelente;■ é de fácil processamento e de baixo custo;■ possui baixa densidade.

As desvantagens são que esse material:■ possui características de resistência muito pouco

adequadas;■ é suscetível à distorção; ■ possui baixa condutividade térmica; e■ é radiolúcido.

MATERIAIS EMBASADORES DE PRÓTESE

Os materiais embasadores de prótese pertencem essen-cialmente a um dos três grupos:

■ reembasadores permanentes rígidos;■ embasadores macios semipermanentes, e■ embasadores macios temporários/condicionadores te -

ciduais.

Reembasadores Rígidos

Embora o tempo de vida médio esperado de uma prótese total seja de quatro a cinco anos, a vida útil real depende da velocidade da reabsorção do osso alveolar. Se a super-

fície interna de uma prótese precisar de substituição para melhorar a adaptação, pode-se usar um material rígido de reembasamento. O reembasamento de uma prótese total pode ser necessário por causa das alterações nos tecidos moles causadas pela reabsorção óssea, o que tende a ser mais problemático nas próteses inferiores do que nas superiores. Os critérios para o reembasamento são:

■ retenção ou estabilidade defi ciente;■ colapso da dimensão vertical da oclusão;■ degradação da base da prótese;■ falta de extensão da prótese para dentro das áreas de

pregas mucobucais; e■ para pacientes muito idosos, nos quais a adaptação a

uma nova prótese seria difícil, quando não impossível.

O reembasamento pode ser feito tanto com uma resina acrílica quimicamente ativada no próprio con-sultório, como enviando a prótese para o laboratório de prótese para reembasamento com um acrílico ativado termicamente.

Os acrílicos ativados termicamente usados pelos labo-ratórios são idênticos àqueles usados na confecção das próteses.

Existem dois tipos de resinas quimicamente ativadas, cujos componentes estão listados na Tabela 3.2.3. A razão para o segundo tipo de material de reembasamento é que o metil metacrilato (MMA) pode ser muito irritante aos tecidos moles e pode também causar sensibilidade no paciente. O polietil metacrilato (PEMA) e o butil meta-crilato são menos irritantes ao paciente, mas possuem a desvantagem de redução da Tg, o que aumenta a possi-bilidade de instabilidade dimensional.

Uma das maiores desvantagens do reembasamento no consultório é o controle impreciso da quantidade de material removido da prótese e a espessura do material de reembasamento, que será utilizado. Outros problemas são as reações altamente exotérmicas, o gosto inaceitável e a pouca estabilidade de cor com o tempo.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

No melhor das hipóteses o reembasamento deve ser considerado apenas um tratamento temporário de longo prazo, sendo preferível o reembasamento laboratorial.

Embasadores Macios Semipermanentes

Ocasionalmente, um paciente se queixará de dor persis-tente e desconforto com o uso de uma prótese, mesmo quando ela parecer totalmente satisfatória em todos os outros aspectos. Tal problema é mais observado na man-díbula, onde existe uma área menor para distribuir a carga e onde os pacientes podem possuir um rebordo alveolar pontudo, fi no ou muito reabsorvido. Em tais

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS212

casos, o paciente tem difi culdade em tolerar uma prótese rígida. Se a dor persistir quando todas as medidas pos-síveis foram tomadas para minimizar a carga oclusal e redistribuir a carga pela maior área possível, a prótese pode se tornar mais confortável com o uso de uma base macia. Isso promove um meio de absorver uma parte da energia envolvida na mastigação pela interposição de um material altamente resiliente entre a dentadura e a mucosa.

Os polímeros com temperatura de transição vítrea logo acima da temperatura na boca possuem um com-portamento borrachoide e são altamente resilientes.

Alguns polímeros possuem uma temperatura de tran-sição vítrea naturalmente baixa (p. ex., polímeros de silicone), e outros (p. ex., polimetil metacrilato) podem ser modifi cados pela inclusão de plastifi cadores para diminuir a sua temperatura de transição vítrea (Tabela 3.2.4). O plastifi cador atua como um lubrifi cante das cadeias poliméricas, facilitando o deslizamento de umas pelas outras, permitindo que material se deforme mais facilmente e reduzindo o módulo de elasticidade. De fato, o embasamento geralmente é confeccionado com um desses dois materiais macios.

Borracha de SiliconeA borracha de silicone consiste em um polímero de poli-dimetil siloxano, ao qual é adicionada uma carga para dar a consistência correta. O material se solidifi ca por um processo de ligação cruzada em vez de um processo de polimerização, pois o material já é um polímero. Essa ligação cruzada pode ser obtida tanto pelo calor, usando o peróxido de benzoíla, ou em temperatura ambiente, usando o tetraetilsilicato (Cap. 2.7).

A borracha de silicone não adere facilmente à resina acrílica da prótese, por isso deve ser empregado um adesivo. Tal adesão pode ser obtida usando um polímero de silicone dissolvido num solvente ou um agente de união alquil-silano. Em ambos os casos a adesão é muito fraca e geralmente fracassa dentro de um tempo relati-vamente curto. Outra limitação é que o material tende a favorecer o crescimento de Candida albicans, podendo causar a estomatite protética.

Embasadores Macios de AcrílicoEsses embasadores macios possuem a vantagem de aderir bem à prótese de PMMA. Eles podem ser subdivididos naqueles que contêm plastifi cadores lixiviáveis e nos que contêm plastifi cadores polimerizáveis.

Sistemas com Plastifi cadores LixiviáveisO polietilmetacrilato (PEMA) possui uma temperatura de transição vítrea de apenas 66ºC comparada com a de 100ºC, do PMMA. Uma combinação desses dois polímeros, com uma pequena quantidade de plastifi -cador (tal como o dibutilftalato) é altamente resiliente. Portanto, o pó é uma mistura de PEMA e PMMA, e o líquido é o MMA, contendo de 25% a 50% de plas ti-ticador.

Infelizmente, o plastifi cador se desprende gradual-mente, e o embasamento se toma rígido conforme perde a sua resiliência. A velocidade dessa transição depende, de certo modo, do procedimento de limpeza da prótese pelo paciente. Em geral, altas temperaturas e agentes alvejantes fortes devem ser evitados.

Sistemas Plastifi cadores PolimerizáveisForam desenvolvidos novos plastifi cadores polimerizá-veis, que resistem à dissolução, mas mantêm o seu efeito lubrifi cante.

As formulações exatas desse novo material não são conhecidas, mas alguns usam o alquil maleato ou alquil itaconato; sabe-se que a composição do líquido de um sistema experimental é uma mistura de tridecil metacri-lato, 2-dietilexil maleato e etileno glicol dimetacrilato. O líquido é misturado tanto como PEMA como com os co-polímeros de n-butil e etil metacrilato.

O material é bastante duro em temperatura ambiente, o que torna fácil o acabamento, e amacia quando levado à temperatura da boca.

Vantagens Relativas dos Embasadores MaciosAs vantagens relativas dos embasadores macios de sili-cone e de acrílico estão destacadas na Tabela 3.2.5. Embora os embasadores macios sejam considerados uma solução de longo prazo para a distribuição defi -ciente da carga, a sua vida clínica geralmente não é maior que seis meses por causa dos problemas descri-tos. Por isso, eles são denominados embasadores macios semipermanentes.

Tabela 3.2.3 Os dois tipos de resina autopolimerizável

Tipo I Tipo II

Pó Polimetil metacrilato Polietil metacrilato

Peróxido de benzoíla Peróxido de benzoíla

Pigmentos Pigmentos

Líquido Metil metacrilato Butil metacrilato

Di-n-butilftalato Amina

Amina

Tabela 3.2.4 Temperatura de transição vítrea dos ésteres de polimetacrilato

Grupo Temperatura de transição (ºC)

Metil 125

Etil 65

Propil 38

Butil 33

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RESINAS PARA BASE DE PRÓTESE 213

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Os embasadores macios são contraindicados para pacientes com fl uxo salivar defi ciente, pois a fricção subsequente entre o mucoperiósteo e o embasamento macio pode causar fricção dolorosa.

Condicionadores Teciduais/Embasadores Macios Temporários

Em algumas circunstâncias, a prótese pode causar infl a-mação ou ulceração dos tecidos moles suportantes das cargas. Uma simples solução é suspender o uso da prótese até que a infl amação tenha diminuído. Normalmente, isso não é aceitável para o paciente, e um condicionador tecidual pode ser empregado para superar o problema.

Um condicionador tecidual é um material macio que é aplicado temporariamente na superfície interna da prótese com o objetivo de possibilitar uma distribuição melhor das cargas. Isso permite que a mucosa retome à sua forma normal e resolva qualquer infl amação dos tecidos suportantes da prótese. Uma vez que a infl ama-ção tenha regredido e o tecido se recuperado, uma nova moldagem pode ser realizada para confecção de uma nova prótese.

Tal material deve ser excepcionalmente macio, mas não tão macio a ponto de ser expulso para fora da pró-tese. Esses materiais consistem de um pó de PEMA que,

quando misturado com um solvente como o álcool etílico e um éster aromático como um plastifi cador (p. ex., butilftalil butilglicolato), produz uma substância com consistência de gel. Sua consistência dependerá da proporção inicial de pó/líquido e da quantidade relativa de ambos os componentes. Quando o pó e o líquido são misturados, o solvente rapidamente penetra nas par-tículas do polímero e isso promove a plasticidade tão rapidamente como cria a estrutura do gel.

O álcool e o plastifi cador desprenderão rapidamente e, portanto, o condicionador tecidual necessita ser substi-tuído dentro de poucos dias para que o tecido traumatizado reverta para um estado saudável o mais rápido possível. Para alguns pacientes, o condicionador tecidual pode ser mantido por até três semanas; por isso, o uso frequente do termo embasador macio temporário.

Uma sugestão para melhorar o curto tempo de vali-dade dos condicionadores teciduais é cobri-los com uma fi na camada superfi cial de resina metil metacrilato (MMA) semipolimerizada para reduzir a taxa de liberação do solvente e do plastifi cador.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Os condicionadores teciduais/embasadores macios temporários não devem ser usados sem agendar o paciente para uma nova consulta.

Os condicionadores teciduais são suscetíveis à colo-nização de micro-organismos. A menos que o condicio-nador tecidual seja substituído regularmente, ele atuará como um reservatório de micro-organismos, podendo causar sérias complicações, tais como infecções respi-ratórias, especialmente em pacientes idosos. Embora a limpeza mecânica e química possa manter os micro-or-ganismos sob controle, os métodos de limpeza podem causar danos consideráveis ao condicionador tecidual. Uma abordagem que está sendo explorada é a incorpo-ração de agentes antimicrobianos, como zeolita de prata ou itraconazol, que parecem ser efi cazes.

Os condicionadores teciduais são sensíveis aos lim-padores de prótese e devem ser higienizados com sabão neutro e água.

Tabela 3.2.5 Vantagens relativas dos embasadores macios

Borracha de silicone Acrílico

Altamente resiliente Menos resiliente

Mantém a maciez Enrijece com o tempo

Necessita de um agente adesivo

Autoadesivo

Suscetível ao crescimento de Candida albicans

Mais resistente às bactérias

Adesão fraca Adesão permanente

Fraca resistência ao rasgamento

Resistência ao rasgamento aceitável

Sem deformação permanente Suscetibilidade a creep

LEITURA COMPLEMENTAR

Braden M, Wright PS, Parker S (1995) Soft lining materials – a review. Eur J Prosthodont Rest Dent 3: 163

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Garcia LT, Jones JD (2004) Soft liners. Dent Clin N Amer 48: 709

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215

Capítulo 3.3

LIGAS FUNDIDAS PARA RESTAURAÇÕES METÁLICAS

INTRODUÇÃO

A produção de restaurações metálicas, como coroas, pontes, inlays, núcleos e pinos e núcleos metálicos fun-didos e próteses parciais removíveis nos laboratórios de prótese dentária, é conduzida pela técnica da cera perdida. Este método de fundição já está disponível há um tempo considerável sendo bastante utilizado por artesãos para fabricar joias e ornamentos delicados. A sua história pode ser traçada desde antes de 3000 a.C., porém não foi utilizada na Odontologia antes dos anos 1890.

Os princípios básicos são simples. Um modelo de cera com a forma desejada é produzido, sendo revestido por um material resistente às altas temperaturas. A cera é então removida pelo derretimento ou queima, deixando uma cavidade com a forma desejada. Esta pode ser agora preenchida com metal em fusão, de modo que o metal assuma a forma da escultura de cera original. Os estágios na produção de uma restauração dentária fundida são, portanto, os seguintes:

■ preparo do dente;■ moldagem;■ vazamento do modelo; ■ enceramento da forma desejada;■ inclusão do padrão de cera no revestimento;■ queima e derretimento;■ derretimento e fusão da liga;■ acabamento e polimento; e■ tratamentos térmicos.

Desse modo, pode-se observar que muitos materiais diferentes são envolvidos na produção de uma fundição metálica. Estes incluem materiais de moldagem, ceras, revestimentos e ligas para fundição. Alguns destes mate-riais já foram discutidos em seções anteriores.

Não será fornecida neste capítulo uma descrição deta-lhada dos vários estágios práticos envolvidos na produ-ção de uma restauração metálica fundida uma vez que este processo é prerrogativa do técnico de laboratório.

Em vez disso, a atenção será focada nas ligas que são utilizadas e nos seus requisitos para as aplicações na Odontologia Restauradora.

Quando a técnica da cera perdida foi desenvolvida por Taggart no começo dos anos 1900, as ligas de escolha eram as áuricas. Para a construção de próteses parciais removíveis as ligas de ouro foram gradativa-mente substituídas por ligas de cobalto-cromo (Co-Cr) durante os anos 1950 e em menor número por ligas de Co-Cr-Ni. No fi nal do século XX o titânio apareceu como liga para fundição de próteses parciais fi xas e removíveis.

É de responsabilidade do cirurgião-dentista selecio-nar a liga mais indicada para cada aplicação particular quando se instrui o laboratório na produção de uma prótese. Esta escolha não deve ser delegada ao técnico de laboratório. Afi nal, é o cirurgião-dentista que cimentará estes materiais na boca do paciente.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

É responsabilidade do cirurgião-dentista saber quais metais estão fornecendo a seus pacientes. Isto requer o conhecimento dos tipos de ligas disponíveis, sua composição e propriedades.

PROPRIEDADES DESEJADAS

A escolha da liga é regida por vários fatores. O custo é um fator importante a se considerar devido ao alto preço do ouro nos dias atuais. Outras considerações são a biocompatibilidade da liga e sua resistência à cor-rosão e ao deslustre. São estes fatores que praticamente limitam a variedade de ligas disponíveis para aplicações odontológicas.

A indicação para uma aplicação específi ca, seja ela uma inlay em que há menor concentração de tensão ou

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS216

uma prótese parcial fi xa posterior, é determinada prima-riamente pelas propriedades mecânicas da liga, tais como: sua rigidez; resistência; ductibilidade e dureza. A rigidez é consequência tanto do desenho como do módulo de elasticidade da liga. Quanto maior o módulo de elastici-dade, mais rígida será a estrutura para uma mesma forma. Esta é uma consideração importante, especialmente para próteses parciais fi xas longas, núcleos fundidos, próteses parciais removíveis e seus grampos. Estas restaurações são também propensas a ser submetidas a cargas bastante elevadas e, portanto, precisam ser resistentes à deforma-ção permanente. Isto requer que a liga tenha um alto limite de proporcionalidade e limite convencional de escoamento.

Entretanto, para estruturas tais como os grampos, a alta resistência deve ser equilibrada com a ductibi-lidade, uma vez que é importante que a liga não seja tão frágil que frature quando pequenos ajustes forem feitos.

No caso das inlays, em que a adaptação marginal é sempre melhorada pela brunidura, a ductibilidade é ainda mais importante. As ligas para estas aplicações precisam ser muito dúcteis e macias para não sofrerem fratura durante este procedimento.

A facilidade de fundição de uma liga é uma conside-ração importante para o técnico de laboratório den-tário. O técnico necessitará saber qual é o intervalo de derretimento e a temperatura de fusão para a liga, pois, em geral, quanto maior elas forem, maior serão os problemas apresentados no seu manuseio. Outra consideração importante neste contexto é a qualidade da adaptação da restauração, que é dependente da con-tração de fundição e de resfriamento da liga. Estas características têm que ser levadas em consideradas para que a peça fundida não venha a ter um tamanho muito pequeno. Quanto maior a contração, mais isto se torna um problema.

A densidade da liga também é importante. A maioria das fundições é executada em uma máquina de fundição com força centrífuga e quanto maior a densidade da liga, mais fácil se torna a expulsão do ar do espaço molde e o preenchimento completo com a liga.

Deste modo, as ligas com uma grande variedade de propriedades são necessárias para satisfazer estes diversos requisitos. As principais ligas empregadas em Odontolo-gia são as ligas nobres, de metais preciosos e várias ligas básicas como a liga de Co–Cr e o titânio.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

É importante para o cirurgião-dentista ter uma relação profi ssional próxima do protético e levar em consideração seus pontos de vista quando estiver selecionando uma liga.

LIGAS NOBRES E DE METAIS PRECIOSOS

Os metais nobres e preciosos consistem em oito ele-mentos que têm várias características em comum. Eles são muito resistentes à corrosão (nobres) e caros (pre-ciosos). Consideram-se metais nobres aqueles feitos de ouro, platina, ródio, rutênio, irídio e ósmio, enquanto a prata e o paládio geralmente são referidos como metais preciosos.

Ligas com Alto Teor de Ouro

Este é um grupo de ligas que esteve presente na Odonto-logia por um tempo considerável e que pode ser distin-guido de outras ligas utilizadas pelo seu alto conteúdo de metais preciosos, que não pode ser inferior a 75% sendo o teor de ouro maior que 60%. Os metais preciosos cons-tituintes são frequentemente o ouro, a prata, a platina e o paládio. Estas ligas podem ser classifi cadas em quatro grupos distintos como indicado na Tabela 3.3.1.

A quantidade de ouro em uma liga é defi nida por uma das duas maneiras seguintes:

■ Quilate. O ouro puro possui um quilate de 24 e o quilate de uma liga é expresso pelo número de partes em 24 avos de ouro que a compõe. Então, uma liga com 50% de ouro seria designada como liga de 12 quilates de ouro. Muitas joias são de ouro 9 quilates (37,5%) ou ouro 18 quilates (75%).

■ Pureza. O ouro puro tem uma classifi cação de pureza de 1.000, de maneira que o ouro 18 quilates tem pureza 750 e o ouro 9 quilates é 375 puro.

Desse modo, as ligas odontológicas de ouro na Tabela 3.3.1 variam de 21,6 a 14,4 quilates ou pureza de 900 a 600.

Elementos Constituintes das Ligas Odontológicas de Ouro A maior fração dessas ligas certamente é de ouro, com quantidades menores de prata e cobre. Algumas formu-lações também se apresentam com pequenos conteúdos de platina, paládio e zinco. A prata possui o efeito de reforçar levemente a liga e se contrapõe ao pigmento avermelhado do cobre. O cobre é um componente muito importante, uma vez que aumenta a resistência, parti-cularmente para as ligas de ouro tipo III e IV e reduz a temperatura da zona de fusão. O limite para a quantidade de cobre que pode ser adicionada à liga é de 16%, o aumento desta quantidade tende a manchar a liga.

A platina e o paládio aumentam tanto a resistência quanto a temperatura de fusão.

O zinco atua como um purifi cador durante a fundição, evitando a oxidação e melhorando as características de fundição (fundibilidade).

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LIGAS FUNDIDAS PARA RESTAURAÇÕES METÁLICAS 217

Uma variedade de outros elementos, como o irídio, rutênio e rênio (<0,5%) pode estar presente. Estes metais possuem temperatura de fusão muito alta e atuam como pontos de nucleação durante a solidifi cação, ajudando deste modo a produzir tamanhos de grãos pequenos.

Mecanismo de ReforçoEmbora todos os elementos de uma liga originem algum aumento no limite de proporcionalidade da liga de ouro pela formação de uma solução sólida, o mecanismo de reforço mais efi ciente é pela adição de cobre que é conhe-cida como endurecimento por ordenação.

Este tratamento térmico endurecedor é realizado após o recozimento homogeneizador em aproximadamente 700°C, que é executado para garantir a uniformidade da composição durante toda a fundição. O tratamento envolve o reaquecimento da liga a 400°C e a manutenção desta temperatura por cerca de 30 minutos. Ao invés de estar distribuídos aleatoriamente, os átomos de cobre se arranjam em pequenos grupos ordenados.

Esta estrutura ordenada impede o deslizamento das camadas atômicas, que possuem o efeito de aumentar o limite de proporcionalidade e a dureza da liga. Deve haver pelo menos 11% de cobre na liga de ouro para que ocorra o endurecimento por ordenação, portanto, isto não ocorre com as ligas de ouro Tipo I e II. As ligas de ouro Tipo III possuem apenas o sufi ciente de cobre, e por isso uma pequena melhoria na resistência é observada. Para as ligas de ouro Tipo IV, a melhoria na resistência é bastante signifi cativa.

O efeito deste processo endurecedor é mostrado na Tabela 3.3.2. A adição de cobre combinada com o tra -ta mento térmico endurecedor pode resultar em um aumento de dez vezes no limite convencional de escoa-

mento. A importância do tratamento térmico endurece-dor para as ligas de ouro Tipo III e IV é também indicada. Entretanto, há um preço a se pagar uma vez que há redução na ductibilidade da liga, como mostrado pelo menor percentual de alongamento antes de ocorrer a fratura. Assim sendo, a fl exão excessiva pode resultar em fratura frágil, um problema que pode surgir quando se produz grampos para próteses parciais removíveis com ligas de ouro Tipo IV.

Para algumas ligas, o tratamento endurecedor con-siste em permitir o resfriamento lento da liga em uma bancada em vez de resfriá-la bruscamente após fundi-ção. Esta técnica é conhecida como autoendurecimento. A desvantagem desta abordagem é que ela não é tão bem controlada como quando a liga recebe o primeiro recozimento homogeneizador e um tratamento térmico endurecedor subsequente. É importante que o cirurgião-dentista exija do técnico de laboratório que o tratamento térmico endurecedor seja efetuado se a liga selecionada for do Tipo III ou IV. Se uma liga autoendurecedora for selecionada, então deve-se permitir que a mesma resfrie lentamente em uma bancada e não seja resfriada bruscamente.

Outras CaracterísticasAssim como os elementos para ligas formam facilmente uma solução sólida com o ouro, a diferença entre o liquidus e o solidus é pequena. Isto faz com que as ligas sejam relativamente fáceis de serem fundidas e produ-zam um resultado razoavelmente homogêneo. A adição de platina e paládio aumenta a distância entre o liquidus e o solidus. Quanto maior esta distância, mais segre-gação composicional ocorrerá durante a solidifi cação, tornando o tratamento homogeneizador mais desejável

Tabela 3.3.1 Composição das ligas de alto teor de ouro

Tipo Descrição Au% Ag% Cu% Pt% Pd% Zn%

I Macia 80-90 3-12 2-5 – – –

II Média 75-78 12-15 7-10 0-1 1-4 0-1

III Dura 62-78 8-26 8-11 0-3 2-4 0-1

IV Extradura 60-70 4-20 11-16 0-4 0-5 1-2

Tabela 3.3.2 Variação das propriedades mecânicas das ligas com alto teor de ouro

Tipo Condição sy (MPa) RMT (MPa) Alongamento (%) Dureza Vickers

I Após fundição 60-140 200-310 20-35 40-70

II Após fundição 140-250 310-380 20-35 70-100

III Após fundição 180-260 330-390 20-25 90-130

Endurecida 280-350 410-560 6-20 115-170

IV Após fundição 300-390 410-520 4-25 130-160

Endurecida 550-680 690-830 1-6 200-240

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS218

para as ligas de ouro do Tipo III e IV. Devido às suas baixas temperaturas de fusão, a contração de fundição (quase 1,4%) é facilmente compensada pela utilização de revestimento à base de gesso. Os baixos valores de dureza Vickers (VDV) tornam estas ligas fáceis de ser polidas em uma superfície lisa, embora no caso das ligas a serem submetidas ao tratamento térmico este proce-dimento é mais bem executado na peça fundida antes deste tratamento. Em geral, pode ser dito que o uso destas ligas não apresenta maiores problemas ao técnico de laboratório e peças fundidas de boa qualidade e bem adaptadas podem ser fabricadas. A resistência à corrosão e ao deslustre destas ligas é excelente, assim como sua biocompatibilidade.

AplicaçõesDadas as diferenças nas propriedades mecânicas, as apli-cações recomendadas para o uso destas ligas são as seguintes.

Ligas Tipo I Estas ligas são mais indicadas para inlays de uma única superfície para áreas de baixo esforço. Como são relativamente macias e sofrem fácil deformação, elas precisam de muito suporte para prevenir esta deformação sobre cargas oclusais. O baixo limite de proporcionali-dade dessas ligas permite que as margens sejam brunidas facilmente. Devido à alta ductibilidade, esta liga não é propensa à fratura.

Ligas Tipo II Estas ligas podem ser utilizadas para a maioria das inlays. Entretanto, peças com seções trans-versais fi nas devem ser evitadas, uma vez que a deforma-ção ainda é uma possibilidade.

Ligas Tipo III Estas ligas podem ser utilizadas para todas as inlays, onlays, coroas totais e próteses parciais fi xas com espaço protético pequeno, pinos e núcleos metáli-

cos fundidos devido à sua maior resistência quando com-paradas com as ligas do Tipo I e II. Entretanto, elas serão mais difíceis de ser brunidas e terão maior potencial para fratura localizada se forem brunidas excessivamente.

Ligas Tipo IV Estas ligas são utilizadas para pinos e núcleos metálicos fundidos, próteses fi xas com espaços protéticos longos e na construção de próteses parciais removíveis, particularmente nos braços dos grampos. Os braços dos grampos podem ser ajustados antes de a liga ser submetida ao tratamento térmico endurecedor. Obvia-mente, isto não é possível quando se utiliza uma liga autoendurecedora. O baixo módulo de elasticidade e o alto limite de proporcionalidade da liga de ouro promo-vem um alto grau de fl exibilidade ao braço do grampo, o que permite que eles sejam removidos até mesmo de retenções acentuadas sem o perigo de deformação perma-nente. Estas ligas não podem ser brunidas no seu estado reforçado e são, portanto, inadequadas para inlays.

Ligas de Médio e Baixo Teor de Ouro

O aumento rápido dos preços dos metais nobres nos anos 1970 estimulou os fabricantes a produzirem muitas ligas novas com conteúdo reduzido de ouro. As composições de alguns exemplos comerciais de ligas representativas estão apresentadas na Tabela 3.3.3.

Alguns desses materiais podem ser classifi cados como ligas com médio teor de ouro, com o conteúdo de ouro variando entre 40% e 60%. Estas ligas com médio teor de ouro foram introduzidas no início dos anos 1970 e se tor-naram muito populares. O conteúdo de prata e paládio foi aumentado para compensar o conteúdo reduzido de ouro, enquanto o conteúdo de cobre está na faixa de 10%-15%. O paládio é adicionado para se contrapor à tendência de deslustre da prata.

Tabela 3.3.3 Composição de ligas de médio e baixo teor de ouro

Liga Tipo Cor Au (%) Pd (%) Ag (%) Cu (%) In (%)

Solaro 3 (Metalor) Médio teor de ouro Amarela 56 5 25 11,8 –

Stabilor G (Degussa) Médio teor de ouro Amarela 58 5,5 23,3 12,0 –

Mattident E (Johnson Matthey)

Médio teor de ouro Amarela 55 8,0 24,0 11,5 –

Palaginor 2 (Metalor) Baixo teor de ouro Branca 12,5 18,9 53,7 14,2 –

Palliag MJ (Degussa) Baixo teor de ouro Branca 12,5 20,9 55,0 8,5 –

Mattident B (Johnson Matthey)

Baixo teor de ouro Branca 11,0 20,0 54,5 12,5 –

Realor (Degussa) Baixo teor de ouro sem cobre

Amarela 20,0 20,0 39,0 – 16,0

Selector 3 (metalor) Baixo teor de ouro sem cobre

Amarela 20,0 21,0 38,7 – 16,5

Matteieco J (Johnson Matthey)

Baixo teor de ouro sem cobre

Amarela 20,0 20,0 40,1 – 17,8

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LIGAS FUNDIDAS PARA RESTAURAÇÕES METÁLICAS 219

O paládio, a prata e o cobre formam facilmente solu-ções sólidas substitutivas, com o ouro produzindo uma estrutura de fase única por toda a extensão da composição. A presença de cobre permite o endurecimento por ordena-ção, assim como nas ligas de ouro do Tipo III e IV.

Há também várias ligas de baixo teor de ouro que possuem o conteúdo de ouro na ordem de 10%-20%. Os outros elementos são a prata (40%-60%) e o paládio (mais de 40%); portanto estas ligas poderiam ser descri-tas como ligas Ag-Pd, porém esta descrição será deixada para aquelas ligas contendo quantidades menores ainda (<2%) ou sem nenhum conteúdo de ouro.

Devido ao conteúdo reduzido de ouro, estas ligas têm aspecto esbranquiçado; sendo menos atraentes aos pacientes que preferem a aparência amarelada das ligas de ouro. Com o objetivo de superar esta desvantagem, há também várias ligas com baixo teor de ouro, sem cobre que contêm altos níveis de índio. Estas ligas têm uma estrutura bifásica que consiste em uma matriz CFC com ilhas de fase CCC devido ao alto conteúdo de índio. A fase da matriz é essencialmente uma solução sólida de Ag-Au com adições menores de paládio, índio e zinco. A fase CCC consiste em Pd-In com quantidades substan-ciais de ouro, prata e zinco dando à liga sua cor amare-lada. Portanto, a cor parece estar mais relacionada com a presença de índio do que com a ausência de cobre.

Propriedades e AplicaçõesAlgumas das propriedades dessas ligas estão comparadas na Tabela 3.3.4. As ligas de médio teor de ouro são recomendadas para as mesmas aplicações que as ligas de ouro do Tipo III e IV. Sua ductibilidade tem a tendência

de ser menor que as ductibilidades das ligas de ouro tipo IV e seus altos limites de proporcionalidade as tornam de difícil brunimento. Existe ainda o perigo de fratura durante a brunidura devido ao trabalho localizado de endurecimento que ocorre e da redução de sua ductibili-dade. Entretanto, elas são muito adequadas para próteses parciais fi xas longas e podem ser utilizadas em próteses suportadas por implantes e pinos e núcleos. As ligas de baixo teor de ouro têm a tendência de possuir menores propriedades mecânicas que as ligas de médio teor de ouro e são recomendadas como alternativa para as ligas de ouro Tipo III. Entretanto, sua cor branca as faz menos populares do que poderiam de outra forma ser. Essas ligas são utilizadas extensivamente para pinos e núcleos metá-licos fundidos onde a cor branca não se apresenta como um problema, pois a fundição será coberta com outro material. A remoção do cobre e a adição de índio nova-mente produzem ligas com propriedades similares àquelas das ligas de ouro Tipo III, porém com a vantagem da cor amarela. Todavia, a distância entre o liquidus e o solidus é maior, o que pode resultar em uma estrutura menos homogênea e a sua temperatura de fusão é consideravel-mente maior, o que torna o processo de fundição mais difícil. Enquanto de forma geral, as ligas de médio teor de ouro são adequadas para substituir as ligas de ouro Tipo IV e as ligas de baixo teor de ouro adequadas para substituir as ligas Tipo III, uma desvantagem dessas ligas é que suas propriedades variam mais de liga para liga que cada uma das quatro ligas de alto teor de ouro (Tabela 3.3.4).

A biocompatibilidade dessas ligas parece ser excelente e a corrosão não parece ser um problema, mesmo com as ligas bifásicas de baixo teor de ouro e sem cobre.

Tabela 3.3.4 Comparação de algumas propriedades das ligas para fundição de médio e baixo teor de ouro comparadas com as ligas de ouro do Tipo IV

Liga Tipo Dureza Vickers

Módulo de elasticidade (GPa)

Limite convencional de escoamento a 0,2% (MPa)

Alonga-mento (%)

Temperatura solidus-liquidus (°C)

Temperatura de fundição (°C)

Aurofl uid 3 Tipo IV 255 80 480 10 885-920 1.070

Solaro 3 Médio teor de ouro 285 90,5 600 10 870-920 1.070

Stabilor G Médio teor de ouro 275 – 830 6 – 1.000-1.100

Mattident E Médio teor de ouro 269 – 685 7 885-945 1.045-1.145

Palaginor 2 Baixo teor de ouro 170 82 340 12 875-970 1.200

Palliag MJ Baixo teor de ouro 265 – 630 4 940-1.010 1.100-1.200

Mattident B Baixo teor de ouro 256 – 645 3,5 945-1.000 1.100-1.200

Realor Baixo teor de ouro sem cobre

185 – 405 6 860-1.035 1.200

Selector 3 Baixo teor de ouro sem cobre

180 75 370 8 875-1.035 1.200

Mattieco J Baixo teor de ouro sem cobre

200 – 740 5 870-940 1.080-1.150

* Dados extraídos das bulas dos fabricantes.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS220

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O cirurgião-dentista deve examinar cuidadosamente as propriedades de cada liga e, se necessário, procurar por aconselhamento do fabricante ou do laboratório com o objetivo de determinar a indicação adequada de uma liga para uma situação clínica particular.

Ligas de Prata-Paládio

Como o próprio nome indica, as ligas de Ag-Pd contêm predominantemente prata com quantidades signifi cati-vas de paládio. O paládio melhora a resistência à cor-rosão e ajuda a prevenir o deslustre, que é associado frequentemente à prata. Estas ligas foram introduzidas nos anos 1960 como alternativa para as ligas com alto teor de ouro e são chamadas de “ouro branco”. A compo-sição e as propriedades de algumas ligas representativas após tratamento térmico endurecedor são apresentadas na Tabela 3.3.5. Enquanto há algum autoendureci-mento nestas ligas quando deixadas sobre uma bancada durante o resfriamento, as propriedades são geralmente inferiores àquelas obtidas quando um tratamento endu-recedor controlado é realizado.

Existem duas características notáveis nos dados apre-sentados na Tabela 3.3.5. A primeira é que há uma grande variação das propriedades nas diferentes ligas, o que novamente destaca a necessidade de seleção cui-dadosa da liga para uma aplicação individual. A baixa resistência, a baixa dureza e a alta ductibilidade de uma das ligas apresentada (Palliag W) sugerem que esta liga é indicada apenas para inlays submetidas às baixas tensões. A outra liga com composição semelhante (Mattieco 25) possui propriedades mecânicas superiores, sendo mais comparável com a liga de ouro Tipo III, e podendo ser

utilizada para coroas totais, próteses parciais fi xas peque-nas e pinos e núcleos metálicos fundidos.

Entretanto, as ligas com conteúdo reduzido de prata e conteúdo aumentado de paládio possuem proprieda-des similares àquelas das ligas de ouro Tipo IV. Apesar disto, sua utilização em próteses parciais fi xas longas é em geral contraindicada. Isto pode estar associado às altas temperaturas de fundição destas ligas, que consiste na segunda característica mais notável destes materiais. Essas altas temperaturas para fundição requerem o uso de revestimentos fosfatados e técnicas de fundição para altas temperaturas. A fundição precisa em altas tempera-turas é reconhecidamente um problema para o técnico de laboratório. As ligas têm a tendência de endurecer por trabalho mecânico rapidamente, o que contraindica ajuste e brunidura excessivos. Apesar de estas ligas serem altamente biocompatíveis, há ocorrência de deslustre. Tais desvantagens fi zeram com que este grupo de ligas fosse consideravelmente menos popular que as ligas de médio e baixo teor de ouro.

LIGAS DE METAIS BÁSICOS

Ligas de Cobalto-Cromo

As ligas de Co–Cr foram introduzidas em primeiro lugar para a Odontologia nos anos 1930 e, desde então, têm substituído efetivamente as ligas de ouro do Tipo IV na construção de próteses parciais removíveis, sobretudo devido ao seu custo relativamente baixo, que é um fator signifi cante nestas grandes fundições.

ComposiçãoA liga consiste em cobalto (55%-65%) com até 30% de cromo. Outros elementos principais são o molibdê-nio (4%-5%) e pelo menos em um caso o titânio (5%) (Tabela 3.3.6).

Tabela 3.3.5 Composição e propriedades das ligas de prata/paládio

Liga Ag (%)

Pd (%)

Cu (%)

Zn (%)

Dureza Vickers

LimIte convencional de escoamento a 0,2% (MPa)

Alongamento(%)

Temperatura solidus-liquidus (°C)

Temperatura de fundição (°C)

Palliag W (Degussa)

70,0 27,5 – – 55 80 33 1.080-1.180 –

Mattico 25 (Johnson Matthey)

68,5 25,0 – 3,0 199 500 31 1.050-1.110 1.210-1.290

Palliag M (Degussa)

58,5 27,4 10,5 – 310 940 3 950-1.040 1.100-1.200

Palliag NF IV (Degussa)

52,0 39,9 – 4,0 270 595 6 1.070-1.145 1.200-1.250

Mattident P (Johnson Matthey)

46,6 33,4 19,0 – 290 780 3 1.005-1.040 1.140-1.240

* Dados extraídos das bulas dos fabricantes.

Page 232: Introdução Aos Materiais Dentários

LIGAS FUNDIDAS PARA RESTAURAÇÕES METÁLICAS 221

O cobalto e o cromo formam uma solução sólida quando há até 30% de cromo, que é o limite de solubi-lidade do cromo no cobalto. O cromo adicional poderia produzir uma segunda fase muito frágil.

Em geral, quanto maior o conteúdo de cromo, maior a resistência à corrosão da liga. Por este motivo, os fabrican-tes tentam maximizar a quantidade de cromo sem intro-duzir a segunda fase. O molibdênio está presente com o objetivo de refi nar o tamanho do grão pelo fornecimento de mais sítios para a nucleação cristalina durante o pro-cesso de solidifi cação. Isto apresenta o benefício adicional de produzir um efeito endurecedor importante para a solução sólida, um efeito compartilhado pela adição de ferro. Ainda assim, os grãos são muito grandes, embora seus limites granulares sejam difíceis de identifi car por causa da estrutura dendrítica grosseira da liga.

O carbono, que está presente em apenas pequenas quantidades, é, entretanto, um componente de extrema importância para a liga. Pequenas alterações no seu con-teúdo podem alterar signifi cativamente a resistência, a dureza e a ductibilidade da liga. O carbono pode se combinar com qualquer um dos outros componentes da liga para formar carbonetos (carbides). A precipitação dos carbonetos pode aumentar drasticamente a resistência e a dureza da liga. No entanto, muito carbono resultará numa fragilidade excessiva, representando um problema para o técnico de laboratório, que precisa garantir que nenhum excesso de carbono será absorvido pela liga durante a queima e fundição.

A distribuição dos carbonetos também depende da temperatura de fundição e da taxa de resfriamento, sendo preferível a formação descontínua de carbonetos na peri-feria dos limites granulares à formação contínua.

PropriedadesPara os técnicos de laboratório, estas ligas são considera-velmente mais difíceis de se trabalhar que as ligas de ouro, porque elas têm que ser aquecidas em altas temperaturas antes que possam ser fundidas. As temperaturas de fun-dição estão na casa de 1.300°C a 1.400°C e a contração de fundição associada é de quase 2%. Este problema tem sido amplamente superado com a introdução dos equipamentos de fundição por indução e revestimentos refratários fosfatados resistentes a altas temperaturas. A

precisão é comprometida nestas temperaturas altas, o que efetivamente limita a utilização destas ligas às pró-teses parciais removíveis.

A alta dureza destas ligas as torna difíceis de serem polidas mecanicamente. O polimento eletrolítico é utili-zado nas superfícies de adaptação, para não comprometer a qualidade da adaptação, entretanto, as partes que não se adaptam diretamente no paciente ainda são polidas mecanicamente. O benefício disto é que uma superfície altamente polida é retida por um período muito longo, o que é uma vantagem signifi cativa das próteses parciais removíveis.

A falta de ductibilidade tão facilmente exacerbada pela contaminação com carbono apresenta de fato problemas, especialmente porque estas ligas são também propensas às porosidades na fundição. Estas limitações combinadas dão origem a um problema comum com as próteses parciais removíveis, que é a fratura dos grampos. Este problema se torna mais pronunciado quando se tenta ajustar o braço do grampo, e um ajuste excessivo ou frequente levará invariavelmente à fratura do braço do grampo.

Entretanto, existem alguns aspectos destas ligas que as torna idealmente adequadas para a construção das estruturas das próteses parciais removíveis. O módulo de elasticidade de uma liga de Co-Cr é em geral 250 GPa, enquanto que para as ligas previamente discutidas este módulo está entre 70 e 100 GPa. Este alto módulo de elasticidade possui a vantagem de que a prótese parcial removível, particularmente os braços dos grampos, pode ser feita mais fi na em um corte transversal, com a manu-tenção da rigidez adequada. Quando isso é combinado com uma densidade em torno da metade das ligas de ouro, signifi ca que as peças fundidas são consideravel-mente mais leves, sendo um grande benefício para o conforto do paciente.

A adição de cromo torna essa liga altamente resistente à corrosão, ressaltando o fato de que estas ligas também formam a base de muitas próteses implantadas cirurgica-mente, tais como as articulações do quadril e dos joelhos. Pode-se dizer, portanto, que estas ligas têm uma história excelente de biocompatibilidade.

Algumas das ligas comercialmente disponíveis também possuem níquel, que foi adicionado pelo fabricante com o objetivo de aumentar a ductibilidade e reduzir a dureza.

Tabela 3.3.6 Propriedades de algumas ligas de Co-Cr

Liga Co (%)

Cr (%)

Mo (%)

Dureza Vickers

Limite convencional de escoamento a 0,2% (MPa)

Alongamento (%)

Temperatura solidus-liquidus (°C)

Temperatura de fundição (°C)

Biosil H (Degussa)

65,7 28,5 4,5 360 600 8 1.320-1.380 1.500

Vitalium (Nobelparma)

60,6 31,5 6,0 428 616 3 1.300-1.370 1.550

Wisil (Krupp) 65 28 5,0 390 580 7 1.355-1.375 1.535

* Dados extraídos das bulas dos fabricantes.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS222

Entretanto, o níquel é um alergênico bem conhecido e sua utilização na boca pode induzir uma reação alérgica. Portanto, para pacientes que sabidamente apresentam propensão para reações alérgicas, é oportuno usar ligas de Co–Cr sem níquel.

Ligas de Titânio

O interesse nas fundições à base de titânio para as próte-ses fi xas removíveis surgiu aproximadamente ao mesmo tempo que se desenvolviam os implantes osseointegrados. O titânio possui várias características atraentes, tais como: alta resistência; baixa densidade; e excelente biocompati-bilidade. Além disso, existem preocupações de que se um metal diferente do titânio, usado nos implantes osseoin-tegráveis, for empregado para produzir coroas e próteses fi xas, isto pode levar a efeitos de eletrogalvanismo.

A descoberta do elemento titânio foi atribuída ao reve-rendo William Gregor em 1790, porém a sua primeira forma pura não foi produzida até 1910. Mesmo nos dias atuais, o titânio permanece caro quando comparado, por exemplo, com o aço inoxidável. O titânio puro é produzido pelo processo de Kroll, que envolve o aqueci-mento do minério de titânio (p. ex., rutilo) na presença de carbono e cloro. O material resultante TiCl4 é reduzido com sódio fundido para produzir uma esponja de titânio, que é depois fundida a vácuo em atmosfera de argônio para produzir um lingote metálico.

Composição Duas formas de titânio têm recebido mais interesse clínico. Uma é a forma comercialmente pura de titânio (Ticp) e a outra é a liga de titânio 6% alumínio–4% vanádio.

Titânio Comercialmente Puro O titânio é alotrópico, com uma estrutura (α) hexagonal compactada (EHC) em baixas temperaturas e uma estrutura (β) cúbica de corpo centrado (CCC) acima de 882°C. O titânio comercialmente puro (Ticp) é de fato uma liga de titânio com até 0,5% de oxigênio. O oxigênio está em uma solução de maneira que o metal se apresenta em fase única. Elementos como o oxigênio, nitrogênio e carbono possuem uma solubilidade maior na estrutura EHC da fase α que na forma cúbica da fase β. Estes elementos formam uma solução sólida intersticial com o titânio e ajudam a estabilizar a fase α. Os elementos de transição, tais como: molibdênio; nióbio; e vanádio, atuam como estabilizadores β.

Titânio-6% Alumínio-4% Vanádio Quando o alu-mínio e o vanádio são adicionados ao titânio apenas em pequenas quantidades, a resistência da liga é bas-tante aumentada em comparação com a Ticp. O alumí-nio é considerado como estabilizador da fase α com o vanádio atuando como estabilizador da fase β. Quando estes são adicionados ao titânio, a temperatura em que a transição α-β ocorre é tão diminuída que tanto a fase α como a β podem existir em temperatura ambiente.

Portanto, o Ti-6% Al-4%Va possui uma estrutura bifá-sica com grãos α e β.

PropriedadesO titânio puro é um metal branco e lustroso, que possui a vantagem da baixa densidade, boa resistência e exce-lente resistência à corrosão. Ele é dúctil e constitui um importante elemento de liga com muitos outros metais. As ligas de titânio são amplamente utilizadas na indús-tria da aviação e aplicações militares devido à sua baixa densidade, alta resistência à tração (quase 500 MPa) e habilidade de resistir às altas temperaturas. O módulo de elasticidade do Ticp é de 110 GPa, o que é metade do aço inoxidável ou das ligas de Co–Cr.

As propriedades de tração do Ticp dependem signifi ca-tivamente do conteúdo de oxigênio e apesar de a resistên-cia máxima à tração, limite convencional de escoamento e de dureza aumentarem com a crescente concentração de oxigênio, isto se dá à custa da ductibilidade.

Ao formar uma liga com o titânio, alumínio e o vanádio uma grande variedade de propriedades mecâni-cas superiores ao Ticp é alcançada. Tais ligas de titânio são uma mistura das fases α e β, onde a fase α é relati-vamente macia e dúctil enquanto a fase β é mais dura e mais resistente, porém menos dúctil. Desta forma, pela alteração das proporções relativas de α e β, uma ampla variedade de propriedades mecânicas pode ser obtida.

É possível obter uma maior resistência à tração com as Ti-6% Al-4% Va, (quase 1030 MPa) do que para o titânio puro, o que a torna atrativa para utilização em situações de altas tensões como no caso de, próteses parciais removíveis.

Uma característica importante destes materiais é a resistência à fadiga das ligas de titânio. Tanto o Ticp como o Ti-6% Al-4% Va possuem um limite de fadiga bem defi nido com a curva S-N nivelando-se após 107-108 ciclos de tensão reversa com a resistência à tração redu-zida a 45%-50%. Portanto, o Ticp não deve ser utilizado em situações onde as tensões podem exceder 175 MPa. Em contrapartida, para a liga Ti-6% Al-4% Va, o limite de fadiga é aproximadamente 450 MPa.

A corrosão pode ser um problema tanto em termos da degradação da prótese como pela liberação de compo-nentes potencialmente tóxicos ou alergênicos. O titânio se tornou popular porque é o metal mais resistente à corrosão conhecido, e isso também se aplica às ligas. Embora seja um metal altamente reativo, isso é uma de suas vantagens porque o óxido formado na sua superfície (TiO2) é muito estável e promove um efeito passivante no metal. O potencial de corrosão do titânio no ambiente biológico foi estudado e confi rmou-se sua excelente resis-tência à corrosão.

A capacidade de fundição (fundibilidade) realmente representa um problema sério dessas ligas. O titânio possui um alto ponto de fusão (quase 1.670°C), o que cria pro-blemas referentes à compensação da contração de resfria-

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LIGAS FUNDIDAS PARA RESTAURAÇÕES METÁLICAS 223

mento. Como o metal é muito reativo, todas as fundições precisam ser realizadas a vácuo ou em uma atmosfera inerte, o que requer um equipamento de fundição especial. Por-tanto, apenas poucos laboratórios estão aptos a fundir as ligas de titânio. Outro problema é que a liga derretida tem a propensão a reagir com o molde de revestimento refra-tário, deixando uma crosta superfi cial que pode compro-meter a qualidade da adaptação da restauração. Quando se constroem estruturas implanto-suportadas, limites muito rígidos são necessários para se obter uma adaptação passiva sobre os implantes. Se este não for o caso, a osseointe-gração pode ser comprometida. A porosidade interna é também muito observada nas fundições com titânio. Desta forma outras alternativas de processamento do titânio para prótese dentária são utilizadas, como o desenho e proces-samento computadorizado CAD/CAM combinado com a fresagem e a erosão por fagulhas.

Algumas das propriedades das ligas metálicas básicas discutidas estão apresentadas na Tabela 3.3.7 para com-paração.

RESUMO

Uma crescente variedade de ligas para fundição é utili-zada na Odontologia. Com o objetivo de se fazer uma

escolha racional dentro do atual espectro das ligas de alto teor de ouro e suas alternativas, o cirurgião-dentista deve aprofundar-se ainda mais em seus aspectos e suas propriedades físicas e mecânicas.

Enquanto o custo das ligas constitui uma conside-ração importante, em geral, a economia nas próteses é menor do que se espera, pois o menor custo da liga é compensado pelo maior custo de produção. Além disso considera-se de maneira geral que quanto maior o teor de ouro, melhor a qualidade da adaptação da restauração.

Quando o cirurgião-dentista optar por utilizar ligas alternativas em vez de ligas de metais preciosos, é impor-tante que ele mantenha contato direto com o laborató-rio de prótese e descubra quais as ligas que são usadas regularmente por eles e quais são as suas recomendações, devido à ampla variedade de propriedades que podem ser obtidas.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A responsabilidade fi nal pelos materiais utilizados na cavidade bucal do paciente é de responsabilidade do cirurgião-centista e não do técnico de laboratório.

Tabela 3.3.7 Comparação de algumas propriedades de ligas de metais básicos para fundição

Propriedade Liga de Co-Cr Titânio Ti-6% Al-4% Va

Densidade (g/cm3) 8,9 4,5 4,5

Temperatura de fundição (°C) ~1.500 ~1.700 ~1.700

Contração de fundição (%) 2,3 3,5 3,5

Resistência à tração (MPa) 850 520 1.000

Limite de proporcionalidade (MPa) 550-650 350 920

Módulo de elasticidade (GPa) 190-230 110 85-115

Dureza (Vickers) 360-430 200 –

Ductibilidade (%) 2-8 20 14

LEITURA COMPLEMENTAR

Asgar K (1988) Casting metals in dentistry: Past – Present – Future. Adv Dent Res 2: 33

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS224

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Page 236: Introdução Aos Materiais Dentários

225

Capítulo 3.4

CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS

INTRODUÇÃO

Pode-se dizer que o material cerâmico conhecido como porcelana ocupa um lugar especial na Odontologia porque, apesar dos muitos avanços feitos nos com-pósitos e ionômeros de vidro, ainda é considerado o material que produz os resultados estéticos mais agradá-veis. Sua cor, translucidez e vitalidade ainda não foram igualadas por nenhum material, com exceção de outras cerâmicas.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Restaurações cerâmicas são indicadas onde a estética é necessária e quando o tamanho do preparo excede o limite para o uso de resinas compostas diretas.

Tradicionalmente, as restaurações cerâmicas são usadas na confecção de dentes artifi ciais para dentaduras, coroas e pontes. A partir de 1980, o uso das cerâmicas se estendeu e incluiu facetas, inlays/onlays, coroas ante-riores e pequenas pontes anteriores. A confecção destas restaurações geralmente se dá em laboratórios de prótese, por técnicos habilitados na arte de fundir cerâmicas. Recentemente, o advento do CAD/CAM na Odontologia criou oportunidades para o uso de novos materiais e o potencial de se expandir o uso das cerâmicas para coroas e pontes posteriores.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A demanda por coroas cerâmicas vem crescendo a uma taxa de 50% a cada quatro anos. Assim, as cerâmicas continuarão sendo importantes materiais restauradores por muitos anos.

Como as pessoas mantêm seus dentes por muito mais tempo do que no passado, a necessidade de restaura-ções esteticamente aceitáveis continua crescendo. Isto se refl ete no crescente uso pelos dentistas de procedimentos restauradores utilizando cerâmicas.

PERSPECTIVA HISTÓRICA

Os Utensílios Cerâmicos na Europa até 1700 d.C.

A conquista da confecção de utensílios cerâmicos foi um grande feito, e envolveu muitos testes e adversidades para os primeiros oleiros. O material bruto usado em olaria é a argila, e isto causava ao oleiro dois grandes problemas.

O primeiro problema que os oleiros primitivos encon-traram era como fazer a argila atingir a melhor consistên-cia para a manipulação e a queima. A argila é em geral muito viscosa ao manuseio quando simplesmente mistu-rada à água, e este problema foi contornado pela adição de areia e conchas moídas. Além disso, a argila sofre con-tração quando seca e endurece. Se esta contração não é uniforme, tanto em porcentagem quanto em quantidade total, os vasos cerâmicos podem rachar antes mesmo de ser queimados. Mais uma vez, a adição de grãos grossos como preenchimento contribuiu de alguma forma para solucionar este problema.

Foi durante a queima dos vasos que os problemas realmente começaram a fi car sérios. Gases presentes na mistura, caso bolhas de ar ou gases fossem formados durante o aquecimento (tais como vapor de água e CO2), criam lacunas dentro da argila e podiam fazer até mesmo com que ela se fraturasse durante a queima. Os pri-meiros oleiros solucionaram este problema sovando a argila antes da modelagem para eliminar o ar. (Amassar é o termo geralmente utilizado pelos artesãos para des-crever o processo.) Outra evolução foi a técnica de se elevar a temperatura gradualmente durante o processo de queima, fazendo com que o vapor e os gases possam

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS226

se difundir para fora da argila lentamente, em vez de estourar e causar a quebra do vaso cerâmico.

O obstáculo mais sério durante esta fase de evolução da tecnologia cerâmica foi a temperatura na qual ela deveria ser queimada. A conversão da argila de uma massa de partículas individuais fracamente unidas pela água em um sólido coeso baseia-se em um processo conhecido como sinterização. Neste processo, as áreas de contato entre cada uma das partículas se fundem a uma temperatura sufi cientemente alta (Fig. 3.4.1).

O processo se baseia na difusão, que é muito ace-lerada por temperaturas elevadas. A exigência de uma temperatura alta e uniforme não podia ser atingida pelas fogueiras tradicionais, o que levou à invenção de um forno específi co. O primeiro deles foi o forno de corrente de ar ascendente, no qual se obtinha temperaturas mais altas e mais uniformes por meio da propulsão de ar pelo fogo e da colocação dos vasos cerâmicos acima dos gases quentes.

Os primeiros fornos eram capazes de atingir tempe-raturas de até 900°C, e as peças cerâmicas queimadas a esta temperatura eram chamadas de terracota. A cerâmica resultante é porosa, já que o processo de sinterização consegue apenas fundir as áreas das partículas de argila que estavam em contato. Estes vasos serviam para arma-zenar comidas sólidas, mas não para armazenar líquidos. Este problema foi fi nalmente contornado fundindo-se uma fi na camada de um material vítreo, ou seja, um glaze, sobre a superfície do vaso. Esta tecnologia foi utilizada desde 5500 a.C. em vários lugares, incluindo a Turquia.

O progresso gradual se deu em direção aos fornos de temperaturas mais elevadas, que permitem que muito mais argila possa ser parcialmente fundida. A fase líquida invariavelmente se solidifi ca como um vidro, resultando em uma cerâmica impenetrável usualmente conhecida como grês. Ela apareceu na Europa nos séculos XV e XVI d.C.

Porcelana Chinesa

Em contrapartida com o que estava acontecendo na Europa, o grês era produzida na China desde o ano 100

a.C., e no século X d.C. a tecnologia cerâmica na China havia avançado a um estágio tal que eles eram capazes de produzir:

Uma cerâmica tão branca que era comparável apenas à neve, tão forte que os vasos precisavam de paredes de apenas 2-3 mm de espessura e consequentemente a luz poderia brilhar através dela. A estrutura interna era tão contínua que um prato, se recebesse uma leve batida, tocaria como um sino.

Isto é porcelana!

Como o comércio com o Extremo Oriente cresceu, este material infi nitamente superior chegou à Europa vinda da China durante o século XVII. Até então, havia uma nítida falta de interesse em louças. A maioria da população comia em pratos de madeira, e a nobreza estava satisfeita por comer em pratos de metal. Em oca-siões especiais, usavam-se pratos de ouro e de prata.

Tudo isso mudou com a introdução da porcelana chinesa, que estimulou a procura por louças cerâmicas de alta qualidade. Não era possível ao comércio com o Extremo Oriente satisfazer esta demanda, um árduo esforço foi feito pela indústria oleira europeia para imitar a porcelana chinesa.

Admitiam-se imitações feitas com óxido de estanho como glaze (o que produzia a aparência branca da por-celana), mas foi impossível reproduzir a translucidez da porcelana chinesa. Por exemplo, Meissen, na Alemanha, em 1708 conseguiu produzir o que chamaram “porcelana branca”, mas seu produto mais se assemelhava ao grês da China Setentrional. Muitos outros produtores, agora nomes bem estabelecidos, foram incapazes de produzir a porcelana genuína, mas ainda assim fi zeram seus nomes com um grês de alta qualidade, como Majolica da Itália, Wedgwood da Inglaterra e Delft’s Blue da Holanda.

No forno de corrente de ar ascendente eles obtiveram a tecnologia para produzir altas temperaturas, embora o forno de corrente de ar descendente chinês fosse, de certa forma, superior no controle de temperatura. O problema de se reproduzir a porcelana chinesa era essencialmente o de selecionar o material e o método de processamento. Muitos como John Dwight de Fulham, que foi agraciado com uma patente de Carlos II em 1671, alegou ter des-coberto o segredo da porcelana chinesa, mas na verdade só conseguiu fazer um grês branco.

Para se produzir a porcelana, o material deve perma-necer ou se tornar branco após a queima, e deve ser tão resistente que se possam produzir vasos com paredes de menos de 3 mm de espessura. Se o produto precisa ser feito com paredes mais espessas do que 3 mm, mesmo a porcelana terá aparência opaca. Assim, as maiores dife-renças entre o grês e a porcelana consistem em que a porcelana é branca e pode ser feita em seções tão fi nas para parecer translúcida. O grês poderia ser feito branco, mas teria que ser utilizado uma espessura tal que seria invariavelmente opaco.

Sinterização

Figura 3.4.1 Sinterização das partículas de cerâmica.

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CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS 227

Esta situação prevaleceu por algum tempo, até que, em 1717, o segredo vazou da China por um jesuíta mis-sionário, Padre d’Entercolles. Ele desenvolvia seu traba-lho missionário em um lugar chamado King-te-Tching, que, naquele tempo, era o centro da porcelana na China. Estando entre as pessoas nos seus locais de trabalho, ele conseguiu coletar amostras dos materiais utilizados. Ele enviou as amostras a um amigo francês, juntamente com uma descrição detalhada de como a porcelana era produzida. As amostras e a descrição foram passadas a M. de Reamur, um cientista, que conseguiu identifi car os componentes usados pelos chineses, como o caulim, a sílica e o feldspato.

O caulim, conhecido como argila chinesa, é um alu-mínio-silicato hidratado. A sílica se apresenta na forma de quartzo, e permanece como uma dispersão fi na após a queima, e o feldspato é uma mistura de silicatos de sódio e potássio-alumínio. Eles eram misturados em pro-porções de 25%-30% de feldspato, 20%-25% de quartzo e 50% de caulim. Deve-se dizer que, no início dos anos 1700, a fábrica Meissen em Dresden já produzia uma porcelana muito aceitável baseada em caulim, sílica e alabastro.

De certa forma, é um tanto quanto surpreendente que se tenha levado tanto tempo para que a composição da porcelana chinesa fosse descoberta. A arte de se fazer porcelana não envolve nenhuma química complexa, já que o processo consiste em pegar três minerais bastante comuns (caulim, feldspato e quartzo), e queimá-los em alta temperatura. Uma vez que o mistério havia sido des-vendado, no entanto, não levou muito tempo para que novas porcelanas fossem desenvolvidas na Europa. Logo foi possível produzi-las em várias cores ou tonalidades, e sua translucidez conferia uma profundidade de cor tão grande que não demorou muito para que o potencial odontológico deste material fosse reconhecido.

A aplicação da porcelana na Odontologia data de 1774, quando um farmacêutico francês chamado Alexis Duchateau considerou a possibilidade de substituir sua dentadura de marfi m por porcelana. O marfi m, por ser poroso, absorve os fl uidos orais e se torna manchado, além de ser altamente anti-higiênico. Duchateau, com a assistência dos produtores de cerâmica da fábrica Guerhard em Saint Germain-en Laye, fez para si próprio a primeira dentadura em porcelana. Este era um grande feito, já que a porcelana contrai consideravelmente na queima. Esta contração tinha que ser considerada, pois a dentadura deveria se adaptar corretamente na boca. Desde então, outros materiais como o vulcanite e mais recentemente o polimetil metacrilato substituíram a por-celana em dentaduras.

Dentes de porcelana, em conjunto com uma base acrí-lica para dentadura ainda são extensivamente utilizados. Entretanto, a aplicação mais importante das porcelanas odontológicas é a construção de facetas, inlays, coroas e pontes, onde a qualidade estética da porcelana ainda é

superior àquela de qualquer outro material substituto do esmalte e da dentina.

As porcelanas foram os primeiros materiais usados na construção das coroas de porcelana. Muitos materiais novos que surgiram no mercado nos últimos anos e são descritos como porcelanas, mas na verdade são formas bem diferentes de cerâmicas quando comparados com as porcelanas originais.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Atualmente é mais apropriado usar o termo mais genérico de cerâmicas odontológicas, dentro das quais as porcelanas odontológicas são apenas um grupo de materiais.

COMPOSIÇÃO DAS PORCELANAS ODONTOLÓGICAS

As primeiras porcelanas odontológicas eram misturas de caulim, feldspato e quartzo, e eram bem diferentes da terracota, do grês e da porcelana caseira, como mos-trado na Figura 3.4.2. Foi a partir de 1838 que Elias Wildman produziu uma porcelana odontológica com a translucidez e cores que razoavelmente correspondiam às do dente natural. A composição da porcelana caseira e odontológica é mostrada na Tabela 3.4.1.

O caulim é um silicato-alumínio hidratado (Al2O•2SiO2

•2H2O) e age como um aglutinante, facili-

Grês

Quartzo

Terracota

Porcelanacaseira

Porcelanaodontológica

Caulim

Feldspato

Figura 3.4.2 Composição relativa dos produtos cerâmicos baseada em feldspato, caulim e quartzo.

Tabela 3.4.1 Composição das porcelanas caseira e odontológica

Porcelana % Caulim % Quartzo % Feldspato

Caseira 50 20-25 25-30

Odontológica 0 25 65

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS228

tando a modelagem da porcelana crua. Ele, porém, é opaco, e quando presente, mesmo em pequenas quanti-dades, fazia com que as primeiras porcelanas odontoló-gicas tivessem falta de adequada translucidez. Então, o caulim foi omitido nas porcelanas odontológicas e elas podem assim ser consideradas como um vidro de felds-pato com inclusões cristalinas de sílica.

O quartzo permanece inalterado durante o processo de queima e atua como um agente de reforço. Ele está presente como uma dispersão cristalina fi na pela fase vítrea que é produzida pelo derretimento do feldspato. O feldspato se funde quando derrete, formando uma matriz vítrea.

Os feldspatos são misturas de silicato-alumínio de potássio (K2O•Al2O3

•6SiO2) e silicato-alumínio de sódio, também conhecido como albita (Na2O•Al2O3

•6SiO2). Os feldspatos são substâncias naturalmente encontradas, assim a proporção entre o óxido de potássio (K2O) e a soda (Na2O) pode variar. Isto afeta as propriedades do feldspato, já que a soda tende a diminuir a temperatura de fusão e o óxido de potássio aumenta a viscosidade do vidro derretido.

Durante a queima da porcelana há sempre o perigo de um escoamento piroplástico excessivo, que pode resul-tar em arredondamento das bordas e perda da forma do dente. É importante que haja a quantidade correta de óxido de potássio para prevenir esta ocorrência. Estes álcalis podem estar presentes como parte dos feldspa-tos ou podem ser adicionados como carbonatos para garantir a proporção correta. A composição típica de óxidos de uma porcelana odontológica é apresentada na Tabela 3.4.2.

O pó de porcelana usado pelos protéticos não é uma simples mistura dos ingredientes da Tabela 3.4.2. Estes pós já sofreram uma queima. O fabricante mistura os com-ponentes, adiciona óxidos metálicos, os funde e depois esfria a massa derretida na água. O produto resultante é chamado mistura fundida, e o processo é conhecido como fritagem. Uma consequência do resfriamento rápido é que uma grande tensão interna se forma no corpo do vidro, resultando em extensa rachadura. Este material pode ser moído com muita facilidade, resultando em um pó fi no para ser usado pelo protético.

Durante a queima de uma coroa de porcelana, por exemplo, não ocorre nenhuma reação química; o vidro é simplesmente derretido acima de sua temperatura de tran-sição, quando as partículas se fundem pela sinterização em uma fase líquida e se resfriam novamente. Assim, tudo o que acontece é que as partículas individuais se fundem pela sinterização para produzir um sólido coeso.

A distribuição do tamanho das partículas é funda-mental em assegurar que as partículas estejam unidas da forma mais condensada possível, para que a contração de queima seja minimizada. O tamanho médio de uma partícula é geralmente em torno de 25 μm, com uma grande variedade de tamanhos entre as partículas, de forma que as partículas menores preencham os espaços entre as partículas maiores. Alguns pós de porcelana têm uma distribuição multimodal dos tamanhos das partícu-las para aumentar a densidade de compactação.

Outros ingredientes estão presentes nos pós das por-celanas odontológicas. Estes incluem os óxidos metá-licos, que promovem a grande variedade de cores das porcelanas. Por exemplo, óxidos de ferro atuam como pigmento marrom, de cobre, como pigmento verde, de titânio, como pigmento marrom-amarelado, e de cobalto conferem a cor azul. Um aglutinante, que consiste em goma e açúcar, também pode estar presente para auxiliar a manipulação do pó.

PROCESSAMENTO

A produção de uma coroa de porcelana envolve três estágios técnicos:

■ compactação;■ queima; e■ glazeamento.

Compactação

Na construção de uma coroa de porcelana, o pó de por-celana é misturado à água para formar uma pasta. Esta pasta é aplicada ao troquel, que foi previamente coberto com uma lâmina fi níssima de platina, para possibilitar que a coroa de porcelana seja separada do troquel e seja transportada até o forno.

Uma coroa de porcelana é feita com um número variado de pós de porcelana, pois é impossível reproduzir todas as características estéticas de um dente com o uso de uma única porcelana. Convencionalmente, três tipos básicos de pós de porcelana são utilizados. Existem tons opacos, para mascarar a cor da estrutura subjacente, que pode ser um amálgama, ou um núcleo de preenchimento ou pino metálico. Depois é aplicado uma cor de dentina, e por fi m, uma cor de esmalte. A cor exata de esmalte é selecionada com uma escala usada para comparar com o tom do dente natural. A construção fi nal é mostrada na Figura 3.4.3.

Tabela 3.4.2 Composição típica de óxidos de uma porcelana odontológica

Material Percentual do peso

Sílica 63

Alumina 17

Óxido bórico 7

Óxido de potássio (K2O) 7

Soda (Na2O) 4

Outros óxidos 2

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CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS 229

O pó é misturado com a água e a um aglutinante para formar uma pasta que pode ser aplicada ao troquel de várias maneiras: por espatulação; aplicação com pincel; movimentos bruscos ou vibração; todas elas com o intuito de compactar o pó. O objetivo destas técnicas de con-densação é remover, tanto quanto possível, o máximo de água, resultando em um arranjo mais compacto, com uma maior densidade de partículas, que minimize a con-tração de queima. O tamanho e a forma das partículas são extremamente importantes, já que afetam o manu-seio do pó e têm efeito na quantidade de contração de queima. O aglutinante ajuda a manter as partículas unidas já que o material é muito friável no chamado estado verde.

Queima

Inicialmente, a coroa é aquecida lentamente na abertura do forno. Isto é feito para expelir o excesso de água antes da possibilidade de se formarem vapores. Se a água da mistura se transformar em vapor, isto poderia causar uma rachadura no pó compactado quando o vapor se dissipar até a superfície. Uma vez que o pó compactado foi seco, ele é colocado no forno e o aglutinante é queimado. Ocorre alguma contração durante este estágio.

Quando a porcelana começa a fundir, atinge-se a continuidade somente nos pontos de contato entre as partículas de pó. O material ainda está poroso e é deno-minado estágio de biscoito. À medida que a exposição à temperatura elevada continua há mais fusões, enquanto o vidro derretido fl ui entre as partículas, atraindo-as e pre-enchendo os espaços vazios. Ocorre uma grande contra-ção durante esta fase (quase 20%), e o material resultante não tem praticamente nenhuma porosidade. A causa da

grande contração de queima da porcelana é devido à fusão das partículas durante a sinterização, já que as partículas de pó são colocadas em íntimo contato.

A queima da porcelana deve ser feita exatamente de acordo com as instruções do fabricante. Caso a coroa per-manecer no forno por um tempo excessivo, ela perderá sua forma devido ao escoamento piroplástico (escoamento do vidro derretido) e fi cará altamente glazeada.

Um grau de resfriamento muito lento é essencial para evitar a possibilidade de trincas ou rachaduras. Geral-mente, os fornos disponíveis oferecem um grau conside-rável de automação, e podem ser usado para queimas a vácuo ou com ar. A queima a vácuo produz uma porce-lana mais densa que a queima a ar, já que o ar é remo-vido durante o processo de queima. Formam-se poucos espaços vazios, resultando em uma coroa mais resistente com uma cor mais previsível. Áreas de porosidade de porcelanas queimadas com ar alteram a translucidez da coroa, pois provocam a dispersão da luz. Outro problema é que bolhas de ar podem ser expostas se for necessário um desgaste da camada superfi cial, ocasionando uma má aparência e um acabamento superfi cial irregular.

Glazeamento

Sempre haverá alguma porosidade na porcelana, com pequenas bolhas de ar sendo expostas à superfície. Isto permitirá a penetração de bactérias, fl uidos orais e a for-mação de sítios potenciais para a formação de biofi lme. Para evitar que isto ocorra, a superfície é glazeada para que se forme uma camada externa lisa, brilhante e imper-meável. Existem duas maneiras de se conseguir isso:

1. Aplicam-se vidros com baixa temperatura de fusão à coroa após sua construção, e um curto período a uma temperatura relativamente baixa é sufi ciente para fundir o glaze; e

2. Uma queima fi nal da coroa em condições cuidadosa-mente controladas funde a camada superfi cial em uma superfície glazeada impermeável.

PROPRIEDADES DAS PORCELANAS ODONTOLÓGICAS

A porcelana odontológica é muito estável quimica -mente, e oferece uma excelente estética que não se deteriora com o tempo. A condutividade térmica e o coefi ciente de expansão térmica são similares aos encon-trados no esmalte e na dentina; logo, se houver um bom selamento marginal, a percolação marginal não chega a ser um problema.

Embora a resistência à compressão das porcelanas odontológicas seja alta (350-550 MPa), sua resistência à tração é muito baixa (20-60 MPa), o que é típico de um sólido friável. O material, sendo sobretudo um vidro, carece de qualquer tenacidade a fratura. A tensão

Cor opaca

Cor de dentina

Cor de esmalte

Figura 3.4.3 Confi guração da porcelana para uma coroa total.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS230

máxima que um vidro pode suportar é menos de 0,1%. Os vidros são muito sensíveis à presença de microrra-chaduras superfi ciais, e isto representa uma das maiores desvantagens no uso das porcelanas odontológicas. No resfriamento da temperatura do forno, a superfície externa da porcelana se resfria mais rapidamente do que o seu interior, especialmente porque a porcelana tem baixa condutividade térmica. Inicialmente, a superfície externa contrai mais do que o interior, resultando em uma força compressiva na superfície e uma tensão resi-dual de tração no interior, já que o interior é impedido de se contrair pela camada externa.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Se a diferença de alteração dimensional entre as duas camadas for sufi cientemente alta, a camada superfi cial interna que está sob tensão se romperá para aliviar as tensões. Isto resultará em uma acomodação da superfície da coroa com a formação de uma grande quantidade de microfraturas, e isto poderá fi nalmente causar a fratura catastrófi ca da coroa (Fig. 3.4.4).

A aplicação de um glaze com um coefi ciente de expansão levemente mais baixo poderia preencher de forma efi caz as fraturas e ainda colocar a superfície sob compressão. Infelizmente, não é possível fazer isto na superfície de adaptação da coroa, pois pode resultar em um assentamento inadequado. As porcelanas não são sufi cientemente resistentes para ser usadas na construção

de próteses múltiplas, e os problemas surgem mesmo com coroas totais anteriores, especialmente quando são usadas em situações de grande exigência oclusal. As pequenas rachaduras no interior da coroa atuam como sítios iniciadores de falhas catastrófi cas. A baixa resistên-cia à tração inerente à porcelana feldspática (<60 MPa) restringe seu uso a áreas anteriores submetidas a tensões muito baixas. A solução é prover um suporte altamente resistente para a porcelana, e atualmente diferentes sis-temas estão disponíveis.

CLASSIFICAÇÃO DAS CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS ATUAIS

Uma das mais sérias desvantagens das primeiras porcela-nas odontológicas descritas era sua falta de resistência e tenacidade, o que seriamente limitava seu uso. Em 1903, Land descreveu em um número do Dental Cosmos como confeccionar coroas de porcelana, mas se deparou com o fato de elas quebrarem muito facilmente. De forma seme-lhante, Pincus descreveu o conceito das facetas cerâmicas em um artigo no jornal da Californian Dental Associa-tion de 1938, mas também estava frustrado com a falta de resistência das cerâmicas disponíveis na época. Nessa ocasião, por questões estéticas, a porcelana utilizada con-tinha pouco ou nenhum caulim.

Para superar o problema da falta de resistência e tena-cidade das porcelanas odontológicas, existem duas solu-ções possíveis para o problema. Uma delas é prover um suporte para a porcelana odontológica por meio de uma subestrutura resistente. Outra opção é produzir cerâmicas que sejam mais tenazes e resistentes. Neste contexto, é possível considerar as cerâmicas odontológicas como pertencentes a três categorias baseadas na natureza da estrutura de suporte:

■ metalocerâmicas;■ sistemas com estrutura de cerâmica reforçada; ■ cerâmicas unidas por resina.

Em cada caso a fi losofi a é prover uma estrutura de suporte altamente resistente para a cerâmica, e esta prover o acabamento estético. Obviamente, a cerâmica ideal deveria ter tanto resistência quanto estética para desempenhar as duas funções.

No caso das restaurações metalocerâmicas, a cerâmica estética é suportada por um metal tenaz e resistente. Este sistema é considerado em detalhes no Capítulo 3.5.

No caso dos sistemas com estrutura de cerâmica refor-çada, o suporte para a cerâmica estética é dado por outro material cerâmico, que possui alta resistência e tenaci-dade, mas não possui uma estética aceitável. As várias opções que utilizam esta abordagem são exploradas no Capítulo 3.6.

Em contrapartida, no caso das cerâmicas unidas com resina, o suporte da cerâmica é dado pela própria estru-

Fratura

Rachadurasna superfície

interna

Figura 3.4.4 Fratura palatina de uma coroa total de porcelana por falha da superfície interna.

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CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS 231

tura dentária pela união da cerâmica estética diretamente ao esmalte e à dentina. Neste caso a cerâmica promove a estética necessária e a resistência é dada pela habilidade de união aos tecidos dentários.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Para as restaurações cerâmicas unidas por resina, o sucesso depende da qualidade da união, já que a falha adesiva leva à perda do suporte da restauração cerâmica e por fi m resulta em fratura da restauração cerâmica.

Esta abordagem só se tornou possível com o advento dos procedimentos adesivos de esmalte e dentina dis-cutidos no Capítulo 2.5 e pelos agentes de cimentação resinosas discutidos no Capítulo 3.8. Uma combinação de estética e alta resistência seria o ideal, já que assim não seria necessário confi ar apenas na adesão e haveria a oportunidade de se desenvolver pontes cerâmicas unidas por resina.

Um relato detalhado dos procedimentos e materiais para a cimentação das restaurações cerâmicas e metalo-cerâmicas pode ser encontrado no Capítulo 3.8.

LEITURA COMPLEMENTAR

Brodsky LJ (1933) The Dental Cosmos 95: 1024Calamia JR (1983) Etched porcelain facial veneers: a new

treatment modality based on scientifi c and clinical evidence. NY J Dent 53: 255–259

Land CH (1889) Porcelain restorations. Dental Cosmos 31: 191

McLean JW, Hughes HT (1965) The reinforcement of dental porcelain with ceramic oxides. Brit Dental J 119: 251

Pincus CR (1938) Building mouth personality. J Calif Dent Assoc 14: 125–129

Weinstein, Katz, Weinstein (1962) Fused porcelain-to-metal teeth. US Patent 3,052,982. 11 Sept

Wildgoose DG et al (2004) Glass/ceramic/refractory techniques, their development and introduction into dentistry: A historical literature review. J Prosthet Dent 91: 136

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233

Capítulo 3.5

RESTAURAÇÕES CERÂMICAS ADERIDAS AO METAL

INTRODUÇÃO

Uma grande limitação que existe em relação às cerâmicas estéticas é a falta de resistência, por exemplo, dos vidros de feldspato, utilizado nelas. Para as restaurações de cerâ-mica, a presença de microrrachaduras na superfície de contato é uma grande fonte de fraqueza, e sua remoção pode melhorar signifi cativamente a resistência da coroa. O glazeamento da superfície interna de contato é uma possibilidade, mas é impraticável. Outra possibilidade é aderir a cerâmica a um substrato de metal, de forma que as trincas microscópicas sejam efetivamente eliminadas e, consequentemente, a estrutura se torne muito mais forte. Essa é a premissa básica por trás do sistema de união ao metal (Fig. 3.5.1). O avanço signifi cativo veio com a publicação de uma patente por Weinstein, Katz e Weinstein em 1962, quando eles explicaram como era possível unir um vidro de feldspato a uma superfície de liga metálica, pela inclusão de cristais de leucita. Esses últimos foram adicionados para garantir que o coefi -ciente de expansão térmica da cerâmica chegasse o mais próximo possível ao do metal, como será explicado com mais detalhes posteriormente.

A coroa consiste em um coping de metal fundido sobre a qual é aplicada uma faceta de cerâmica. Se for criada uma união adequada, as trincas internas serão elimina-das, pois o metal representa uma barreira à propagação das trincas em virtude da sua alta tenacidade à fratura. Um dos modos possíveis de falha desses sistemas é a separação da cerâmica do metal devido à fratura inter-facial da união metal/cerâmica. O sucesso do sistema depende da qualidade dessa união.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Da perspectiva do material, a causa mais provável de falha de uma restauração metalocerâmica é a ruptura da união metal/cerâmica.

Um importante fator que contribui com a capacidade de unir a cerâmica ao metal é o grau de discrepância entre os coefi cientes de expansão térmica da cerâmica e do metal. Se esta diferença for muito grande, haverá geração de tensões durante o processo de resfriamento após a queima. Estas tensões podem ser sufi cientes para resultar em fi ssuras ou trincas da cerâmica. Os aspectos da união e dos coefi cientes de expansão térmica reque-rem considerações cuidadosas.

A UNIÃO

A natureza da união entre o coping metálico e a cerâmica foi estudada extensivamente e, em geral, concorda-se com a existência de três mecanismos envolvidos:

■ retenção mecânica;■ adaptação por compressão;■ união química.

A retenção mecânica ocorre quando a cerâmica escoa para dentro dos espaços microscópicos na superfície do metal. A rugosidade da superfície geralmente é melhorada pela aplicação de um jato de ar abrasivo com alumina ou por desgaste, de forma a aumentar a quantidade de embricamento (Fig. 3.5.2). Isso tem o benefício adicio-nal de produzir uma superfície muito limpa que ajuda o molhamento do metal pela cerâmica.

A boa união conta com o íntimo contato entre a cerâmica e o coping metálico, e qualquer contaminante prejudicará a qualidade da união. Antes da cerâmica ser aplicada na superfície do coping metálico, essa é subme-tida a um ciclo degazeifi cante no forno, que incinera qualquer impureza remanescente e reduz a formação de bolhas pelos gases aprisionados na interface. Os vários estágios na preparação da superfície do coping metálico serão descritos com mais detalhes depois.

A maioria das cerâmicas possui um coefi ciente de expansão térmica consideravelmente menor que o dos metais (Tabela 3.5.1). No resfriamento, o metal tentará

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS234

contrair mais que a cerâmica, devido ao seu coefi ciente de expansão maior. Isso deixa a cerâmica num estado de compressão. Em potencial, isso é altamente benéfi co para esse material friável, mas é importante que essa discre-pância de coefi ciente de expansão térmica seja pequena. Se a discrepância for muito grande, as tensões internas criadas durante o resfriamento poderão causar a fratura da cerâmica, sendo o local mais provável de falha a inter-face entre o metal e a cerâmica.

Cor de esmalte

Corpo da dentina

Copingmetálico

Opaco

Corgengival

10 μm

Figura 3.5.2 Superfície desgastada de uma liga de ouro.

Figura 3.5.1 Confecção de uma coroa metalocerâmica.

Atualmente há uma considerável evidência que uma forte união química é criada entre a cerâmica e a cober-tura de óxido do metal. Durante a queima, a cerâmica é levada acima da sua temperatura de transição vítrea, de forma que ela possa escoar e se fundir com os óxidos na superfície metálica pela migração dos óxidos metálicos para a cerâmica. No caso dos copings de ligas de ouro, pequenas quantidades de elementos formadores de óxido são adicionadas à liga porque o ouro naturalmente não forma óxido. Como consequência, a resistência de união entre o metal e a cerâmica é aumentada várias vezes, mostrando a importância da presença de óxidos superfi ciais.

Tabela 3.5.1 Valores típicos do coefi ciente de expansão térmica (α) dos metais e cerâmicas

Metal a (ppm/ºC)

Alumínio 23,6

Ouro 13,8

Níquel 13,3

Prata 19,0

Cerâmicas

Alumina 8,8

Spinel (MgAl2O4) 7,6

Sílica fundida (SiO2) 0,5

Vidro de soda cáustica 9,0

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RESTAURAÇÕES CERÂMICAS ADERIDAS AO METAL 235

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A qualidade da união metal/cerâmica é governada pela quantidade de união micromecânica, pela compatibilidade do coefi ciente térmico e pela interação química entre os óxidos metálicos e a cerâmica.

PREPARO DA SUPERFÍCIE METÁLICA

Com o objetivo de se obter uma boa união entre o coping metálico e a cobertura de cerâmica é importante que a superfície do metal seja preparada cuidadosamente. Isso envolve uma série de etapas técnicas que requerem um exame minucioso. Os principais motivos para o preparo da superfície metálica são assegurar a remoção de qual-quer contaminante e produzir uma camada superfi cial de óxido de composição e características corretas para a cerâmica se fundir. As várias etapas podem ser identifi -cadas como:

■ desgaste da superfície;■ aquecimento sob vácuo parcial;■ decapagem ácida; e■ aquecimento ao ar.

Desgaste da Superfície

Quando a peça metálica fundida é removida do reves-timento, sempre fi ca algum resíduo do revestimento aderido à superfície do metal. A superfície também é contaminada por óxidos indesejáveis, pequenas porosi-dades e fi nas projeções, especialmente se o revestimento for suscetível à fratura da camada superfi cial.

O processo de desgaste é realizado para remover todas essas imperfeições, e acredita-se que a rugosidade super-fi cial aumentada ajude na retenção da cerâmica pelo embricamento micromecânico.

Entretanto, o processo de desgaste pode por si só causar problemas com resíduos, tais como: óleos; ceras; partículas de pele ou gases que podem fi car aprisionados nas retenções. Mesmo que a cerâmica seja muito efetiva no molhamento da superfície metálica, nem sempre ela pode penetrar as fi ssuras profundas.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A presença de ar aprisionado e de contaminantes que podem se decompor com a queima resulta em bolhas de gás na interface entre o metal e a cerâmica, causando uma marcante degradação na resistência de união e na estética da prótese.

Em geral, são preferíveis os métodos de jateamento que não resultam na formação de fi ssuras profundas, porosidades ou retenções e, para essa fi nalidade, o uso de brocas de fi ssuras ou carbide parece ser o procedimento recomendado.

A limpeza do metal fundido com um solvente orgâ-nico (p. ex., tetracloreto de carbono) num banho de ultrassom removerá a contaminação superfi cial origi-nada pelo manuseio da peça metálica fundida.

Aquecimento sob Vácuo Parcial

Na condição de peça fundida, o metal não possuirá a camada ideal de óxido em sua superfície. As ligas de ouro praticamente não possuem a camada de óxido, dado à natureza nobre desse metal. Uma película de óxido pode ser formada pelo aquecimento do metal fundido a uma temperatura próxima da temperatura de queima da cerâmica. Isso tem o efeito de permitir que os elementos metálicos que são incorporados na liga (p. ex., estanho, índio, zinco ou gálio) migrem para a superfície e formem uma camada superfi cial de óxido.

Muito cuidado deve ser tomado para assegurar que seja usado o ciclo correto de aquecimento. Um trata-mento térmico muito breve pode resultar na formação de uma camada de óxido parcial ou muito fi na, forne-cendo um fraco substrato para a cerâmica se fundir. Um ciclo térmico excessivamente prolongado pode resultar na depleção dos elementos oxidantes da camada super-fi cial da liga de ouro.

Nenhuma união será formada se todo o óxido formado for removido durante o processo de decapagem ácida sub-sequente, e nenhum dos elementos oxidantes é deixado sufi cientemente próximo da superfície para permitir a formação de óxidos adicionais.

Realizar o tratamento térmico sob pressão reduzida auxilia a remoção dos gases que foram absorvidos pelo metal em grandes quantidades durante o processamento da fundição. A remoção desses gases ajuda a prevenir a for-mação de bolhas interfaciais. Por esse motivo, o tra tamento térmico da liga antes do ciclo da queima da cerâmica é geralmente denominado tratamento degaseifi cante.

No caso das ligas de metais básicos, em que o níquel e o cromo são comumente usados, os metais oxidam muito rapidamente, e o problema em geral é o oposto daqueles das ligas de ouro, que é a formação de muito óxido.

Embora os óxidos se formem naturalmente durante a queima da cerâmica, foi descoberto que é melhor formar previamente uma camada de óxido, pois isso melhora o molhamento da cerâmica pela superfície metálica.

Decapagem Ácida

O tratamento térmico das ligas de ouro produzirá não apenas óxido estanhoso, mas também vários outros óxidos na superfície.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS236

O procedimento da decapagem ácida procura remover os óxidos indesejáveis, preferencialmente o óxido esta-nhoso. Existe uma vantagem adicional de que a superfí-cie escura da liga é clareada do cinza ao branco devido à concentração aumentada de óxido estanhoso na super-fície da liga. Os ácidos em geral usados são ácido hidro-fl uorídrico a 50% ou ácido hidroclorídrico a 30%, sendo o último preferido por causa dos danos associados ao uso do ácido hidrofl uorídrico. Em geral, nem esse nem o procedimento seguinte são necessários para as ligas de metais básicos.

Aquecimento ao Ar

Um tratamento térmico fi nal ao ar é frequentemente rea-lizado com o objetivo de formar uma camada de óxido de espessura e qualidade corretas.

Uma ótima película de óxido sobre as ligas de metais preciosos deve ter uma aparência fosca, cinza esbranqui-çada, sendo composta principalmente de óxidos de metais básicos. Se a superfície tiver um aspecto brilhoso, isto indica a falta da película de óxido e é geralmente a conse-quência de muitos tratamentos superfi ciais repetidos.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A falta de uma película de óxido resultará numa fraca união entre a cerâmica e o metal.

IMPORTÂNCIA DA EXPANSÃO TÉRMICA

A composição da cerâmica para restaurações metalocerâ-micas necessita ser diferente da composição das cerâmi-cas usadas para as restaurações de cerâmica pura.

O coefi ciente de expansão térmica (α) dos vidros de feldspato usados na construção de coroas de jaqueta em porcelana é 7 a 8 ppm/ºC. Isso é muito baixo para ser compatível com as ligas, cujos valores estão tipicamente ao redor de 14 a 16 ppm/ºC. Tal diferença pode dar origem a sérios problemas devido à contração no resfria-mento ser excessivamente diferente. Dependendo da sua composição, os coefi cientes de expansão térmica das ligas e o das cerâmicas podem divergir consideravelmente.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

É importantíssimo que seja usada a combinação correta de metal e cerâmica.

Tensões Induzidas Termicamente

As cerâmicas usadas na confecção de restaurações meta-locerâmicas perdem a sua fl uidez termoplástica uma vez

resfriadas abaixo da temperatura de transição vítrea, tipi-camente na faixa de 600ºC a 700ºC. Desse ponto em diante, qualquer diferença no coefi ciente de expansão entre o metal e a cerâmica produzirá tensões na cerâmica, porque ela tende a contrair mais ou menos que a subes-trutura metálica, dependendo do tipo de discrepância. Existem três cenários possíveis que devem ser conside-rados, chamados:

αp > αm

αp = αm

αp < αm

em que p é a porcelana, e m é o metal. As tensões que resultam de cada uma das condições acima estão mos-tradas na Figura 3.5.3.

Quando αp > αm, a cerâmica tenderá a contrair mais que o metal (Fig. 3.5.3a). Como o metal impede que isso aconteça, a cerâmica estará sob tração até ser res-friada à temperatura ambiente, com o metal estando num estado de compressão. As tensões de tração superfi -ciais causam a formação de trincas superfi ciais e de uma superfície fi ssurada.

Resfriamento

Tensão

(b)

(a)

αp = αm

αp > αm

Resfriamento

Tensão

Compressão

αp < αm

Metal Cerâmica

Compressão

(c)

Figura 3.5.3 Efeito da discrepância térmica nas tensões residuais no metal e na cerâmica.

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RESTAURAÇÕES CERÂMICAS ADERIDAS AO METAL 237

Quando αp = αm, os dois materiais se contraem na mesma taxa e nenhuma tensão diferencial é gerada (Fig. 3.5.3b).

Quando αp < αm, o metal tenderá a se contrair mais que a cerâmica, o que a coloca em um estado de compressão (Fig. 3.5.3c). Isto reduz substancialmente a formação de trincas da cerâmica, pois as tensões compressivas serão superadas antes de ela ser colocada sob tensão. O metal estará sob tensão, mas, como a resistência à tração das ligas usadas é bastante alta (500 a 1.000 MPa), não existe o perigo de falha do metal. Por isso, parece que a melhor situação é aquela na qual o coefi ciente de expansão do metal é maior que o da cerâmica.

Sobre a discussão realizada, poderia se pensar que quanto maior a discrepância, melhor (já que a cerâ-mica estaria sob uma tensão compressiva maior), mas, de fato, isso não é o caso. A discrepância não deve ser muito grande, pois as tensões geradas no sistema podem causar fi ssuras ou fratura da cerâmica, ou descolamento da superfície metálica.

A razão para isto é mais bem explicada considerando-se uma cerâmica que é fundida a uma estrutura metálica circular, especialmente porque isso é mais parecido com a situação real, que é mostrada na Figura 3.5.4. Quando o metal tenta se contrair mais que a cerâmica, surgem tensões de tração radiais e tensões de compressão circun-ferências. Este último é vantajoso, mas o primeiro pode ser sufi ciente para causar o descolamento entre a cerâmica e o metal. Se a discrepância for muito grande, tensões de tração radiais podem causar a fratura da própria cerâ-mica, com a fratura aparecendo circunferencialmente.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A melhor combinação de metal e cerâmica é aquela em que o coefi ciente de expansão da cerâmica é apenas levemente menor que o do metal.

Efeito da Composição da Cerâmica

A diferença no coefi ciente de expansão entre as cerâmi-cas feldspáticas usadas na confecção de coroas de jaqueta de porcelana e os metais disponíveis para união à cerâ-mica normalmente é muito grande. Para superar esse problema, o conteúdo de álcalis das cerâmicas é aumen-tado, como indicado na Tabela 3.5.2. Tanto a soda (Na2O) como o óxido de potássio (K2O) são adiciona-dos para elevar o coefi ciente de expansão para níveis de 14-16 ppm/ºC.

Muito mais importante é o fato de que a adição desses óxidos resulta na formação de uma fase cristalina na matriz vítrea. A fase cristalina é conhecida como leucita tetragonal, que possui um alto coefi ciente de expansão térmica de 22 a 24 ppm/ºC. A quantidade de leucita pre cipitada pode ser cuidadosamente controlada para fornecer uma cerâmica com o coefi ciente de expansão correto para o uso com uma determinada liga em parti-cular e pode ser de 30% a 40% do volume do material (Figura 3.5.5). A diminuição da temperatura de queima possui o benefício de redução do potencial de distorção pelo creep da liga.

Após a fritagem da cerâmica feita na fabricação, ela é mantida numa temperatura elevada por um deter-minado tempo para permitir a formação de cristais de leucita. Portanto é um processo idêntico à ceramização das cerâmicas vítreas descritas no Capítulo 3.8. Por isso, talvez a melhor denominação das cerâmicas usadas nas restaurações metalocerâmicas seja cerâmicas vítreas con-tendo leucita. Todavia, essas cerâmicas vítreas são dife-rentes daquelas cerâmicas vítreas reforçadas com leucita descritas no Capítulo 3.8 e, nesse caso, a preocupação principal é combinar o coefi ciente de expansão térmica com o do metal e não obter a maior resistência possível. De fato, a resistência à fl exão das cerâmicas usadas nas restaurações metalocerâmicas é apenas na ordem de 30 a 50 MPa. Portanto, a construção da cerâmica sobre a estrutura metálica não deve ser muito espessa, pois isso pode conduzir a uma fratura da cerâmica quando colo-cada na boca.

Tensões detração radiais

Porcelanatrincada

Tensões de compressãocircunferências

Figura 3.5.4 Trincamento da cerâmica unida ao metal devido às tensões de tração radiais quando αp << αm.

Tabela 3.5.2 Composição típica de duas cerâmicas para união a metais comparada com uma porcelana para coroa de jaqueta (PCJ)

Porcelana PCJ

Cerâmicas para união a metais

(a) (b)

SiO2 (%) 66,5 66,4 59,2

Al2O3 (%) 13,5 14,5 18,5

Na2O (%) 4,2 6,2 4,8

K2O (%) 7,1 10,2 11,8

Temp. queima (ºC) 960 940 900

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS238

μm

Porosidade

Aglomeraçãode leucita

(a)

Aglomeração decristais de leucita

μm

Fenda

Matriz vítrea

Poro

(b)

Figura 3.5.5 (a) Estrutura de uma cerâmica contendo leucita usada na confecção de restaurações metalocerâmicas. Observe a presença de porosidade residual. (b) Uma aproximação mostrando o detalhe de um agrupamento de cristais leucitas e uma trinca associada, geralmente observada nessas cerâmicas devido à grande discrepância entre o coefi ciente de expansão da leucita e o da matriz vítrea.

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RESTAURAÇÕES CERÂMICAS ADERIDAS AO METAL 239

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A recomendação geral é que a espessura da cerâmica não deve exceder a 1 mm.

Um aumento no número e no tamanho dos cristais de leucita pode ocorrer quando se queima a cerâmica sobre o metal. No caso de múltiplas queimas, isso aumentará o coefi ciente de expansão da cerâmica. Tal aumento pode comprometer a compatibilidade entre o metal e a cerâ-mica. Por isso, múltiplas queimas excessivas do sistema metal/cerâmica são contraindicadas. O resfriamento lento também pode ter o mesmo efeito das queimas repe-tidas, assim como a pós-soldagem, e a temperatura deve ser aumentada e diminuida tão rapidamente quanto pos-sível, sem dar origem aos efeitos do choque térmico.

A cor opaca da cerâmica que é colocada primeiro sobre o coping metálico tende a conter maiores quantidades de óxidos metálicos, o que ajuda a mascarar a cor do metal.

Muito cuidado deve ser tomado durante o processo de queima, pois a cerâmica possui uma tendência de se devitrifi car pelo processo de recristalização. Isto resulta no fosqueamento da cerâmica por causa dos pequenos cristais que são formados, atuando como pontos de dis-persão da luz.

ESCOLHA DAS LIGAS METALOCERÂMICAS

Os requisitos das ligas usadas no sistema de restauração metalocerâmica são de certa forma diferentes daque-les das ligas de metal puro usadas para construções de próteses (Tabela 3.5.3). Como é necessário queimar a cerâmica sobre a superfície metálica, sua temperatura de fusão deve ser maior que a temperatura de sinterização da cerâmica. Se a temperatura de fusão do metal for muito próxima à temperatura de queima da cerâmica pode ocorrer o derretimento parcial das porções mais del-gadas do coping metálica, ou o coping pode se deformar.

Especialmente na construção de pontes extensas, em particular, o metal deve possuir um alto módulo de elas-ticidade e um alto limite de proporcionalidade. A alta

rigidez resultante da ponte metálica impedirá a ocorrên-cia de deformações excessivamente altas (que a cerâmica pode não suportar) decorrentes da carga oclusal. Além do mais, uma baixa rigidez da armação metálica pode resul-tar em distorção devido à tensão de contração diferencial gerada no resfriamento após a queima da porcelana.

Durante um determinado período, apenas as ligas com alto teor de ouro estavam disponíveis, mas com o crescente custo do ouro, uma variedade de ligas alter-nativas foi desenvolvida, que podem ser classifi cadas: em ligas de alto teor de ouro; ouro-paládio; alto teor de paládio; prata-paládio; níquel-cromo ou titânio comer-cialmente puro. A composição de algumas ligas é mos-trada na Tabela 3.5.4.

Ligas de Alto Teor de Ouro

Para as ligas de alto teor de ouro, a temperatura de fusão é aumentada pela adição de platina e paládio, ambos possuindo alta temperatura de fusão.

Uma diferença imediatamente óbvia entre a liga co mum de ouro e uma liga de ouro para cerâmica é a supressão do cobre nessa última. Isso é feito porque o cobre reduz a temperatura de fusão e também possui a tendência de reagir com a cerâmica, produzindo uma coloração verde. Essa é outra característica das ligas: elas não devem reagir com a cerâmica de forma a compro-meter a estética da restauração.

Tabela 3.5.3 Requisitos de uma liga para metalocerâmica

Biocompatibilidade

Resistência à corrosão

Fácil fundição

Adaptação precisa

Alta resistência de união à cerâmica

Não reagir adversamente com a cerâmica

Temperatura de fusão > temperatura de queima da cerâmica

Alto módulo de elasticidade

Baixo creep

Baixo custo

Tabela 3.5.4 Composição típica das ligas para metalocerâmica

Tipo Au (%) Ag (%) Pd (%) Pt (%) Ni (%) Cr (%) Mo (%) In, Cu, Zn, Ga (%)

Alto teor de ouro 88 1 6 4 – – – Equilibrado

Au-Pd 50 10 38 – – – – Equilibrado

Alto teor de paládio – – 80 – – – – Equilibrado

Pd-Ag – 30 60 – – – – Equilibrado

Ni-Cr – – – – 70 20 10 –

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS240

As ligas de alto teor de ouro possuem a vantagem de estar no mercado há um tempo considerável, e a expe-riência clínica tem mostrado que elas são muito efi cazes. Particularmente, a união entre a cerâmica e o metal é muito forte e confi ável.

A principal desvantagem das ligas de alto teor de ouro é a sua temperatura de fusão relativamente baixa, sua suscetibilidade ao creep em altas temperaturas e seu baixo módulo de elasticidade. É necessária uma espessura mínima do coping metálico de 0,5 mm.

Em situações de espessura biológica limitada, isso pode causar problemas estéticos e geralmente resulta no sobre-contorno para mascarar a cor do metal. Nesse caso, as ligas de Pd-Ag e de metais básicos são mais atraentes.

Ligas de Ouro-Paládio

Um motivo para a introdução das ligas Au-Pd no início dos anos 1970 foi o aumento rápido do custo do ouro. O preço dos metais preciosos se mostrou muito instável nos últimos 10 anos, e o custo pode variar muito de um ano para outro. Talvez seja bom lembrar que o custo do material representa apenas uma pequena parte do custo do tratamento odontológico.

O desempenho das ligas Au-Pd é comparável ao das ligas de alto teor de ouro em termos de capacidade de fundição, precisão da adaptação e resistência à corrosão. Entretanto, existem algumas combinações de cerâmica/liga que devem ser evitadas devido à discrepância das características da expansão térmica.

Ligas de Alto Teor de Paládio

Essas ligas são compostas basicamente por paládio, com pequenas adições de outros elementos, tais como: cobre; gálio; e; estanho; e se tomaram muito populares nos últimos 10 anos.

O cobre, que pode estar presente em quantidades de até 15%, pode ter um acréscimo surpreendente, pois se pensava que ele causava descoloração da porcelana. Entre-tanto, diferentemente das ligas de ouro, a inclusão do cobre nas ligas de paládio não parece possuir tal efeito.

A resistência ao creep sobre altas temperaturas dessas ligas poderá ser defi ciente se houver escoamento exces-sivo durante a queima da cerâmica.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Essas ligas são contraindicadas para pontes extensas, pois podem apresentar um problema específi co.

Ligas de Prata-Paládio

As ligas de Ag-Pd possuem o módulo de elasticidade mais favorável de todas as ligas de metais preciosos, pro-

duzindo peças fundidas com baixa fl exibilidade e uma tendência reduzida ao creep sobre altas temperaturas durante a queima da porcelana. As ligas são menos exi-gentes em termos de fundição e adaptação, mas desde que sejam adotados os procedimentos adequados, os resultados poderão ser tão bons como os das ligas de ouro.

Devido à presença de grandes quantidades de prata, existe a preocupação de que pode ocorrer a descoloração da porcelana. Tal problema parece ser mais grave com certas combinações de liga/porcelana mais que outras e pode ser minimizado pela seleção cuidadosa da combi-nação metal/porcelana.

As múltiplas queimas devem ser mantidas a um mínimo, e o superaquecimento deve ser evitado.

Ligas de Níquel-Cromo-Molibdênio

As ligas de Ni-Cr-Mo possuem uma composição que é tipicamente 77% de Ni, 12% de Cr e 3,5% de Mo, embora o conteúdo de Mo e o de Cr possa atingir 9% e 22% res-pectivamente, à custa do níquel. As ligas de Ni-Cr-Mo são muito rígidas, pois o módulo de elasticidade pode ser em torno de duas vezes e meia maior que o das ligas de alto teor de ouro. Isso possui a vantagem de que a espessura do coping metálico pode ser reduzida de 0,5 mm para 0,3 mm, o que diminui o problema de sobrecontorno. Isto também signifi ca que elas são a melhor escolha para a construção de pontes unidas por resina, especialmente aquelas que possuem um desenho tipo cantilever, onde é necessário um alto módulo de elasticidade para reduzir as tensões na camada adesiva.

Elas também são as mais indicadas na confecção de pontes extensas, pois proporcionam uma rigidez maior e, devido à alta temperatura de fusão, existe menos potencial de creep sobre altas temperaturas durante a queima.

As desvantagens com essas ligas é que a fundição é mais difícil, e a alta contração de fundição pode causar problemas de má adaptação. Também, a experiência clínica pode indicar que a união da cerâmica ao metal não é tão confi ável como para outras ligas. Entretanto, conforme se ganha mais experiência com essas ligas, seu desempenho pode melhorar. O baixo custo da liga é certamente muito atraente.

A biocompatibilidade das ligas de Ni-Cr tem sido motivo de preocupação. O níquel é um alérgeno conhe-cido, embora relatos de alergia ao níquel causada por aparelhos intraorais sejam raros. O berílio (<0,9%) é adi-cionado a algumas ligas de Ni-Cr para melhorar a fundi-ção e a união à porcelana. Entretanto, o berílio (Be) pode ser um problema potencial para o protético. O desgaste mecânico e o processo do polimento causam a liberação de berílio, que é um carcinogênico conhecido. Também, a liberação do Be é algo em torno de cinco a seis vezes a sua quantidade na composição do corpo.

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RESTAURAÇÕES CERÂMICAS ADERIDAS AO METAL 241

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

As ligas contendo níquel são contraindicadas em pacientes com histórico de alergia ao níquel.

Titânio Comercialmente Puro (Ticp)

O uso odontológico do Ticp é tratado no Capítulo 3.3 sobre fundição das ligas. Ele também se tornou popular para restaurações metalocerâmicas por causa da sua boa resistência à corrosão, excelente biocompatibilidade, baixo peso e custo relativamente baixo comparado com as ligas de metais preciosos. Entretanto, existem algumas questões adicionais relativas ao uso das cerâmicas que são apropriadas abordar aqui.

Quando o titânio é fundido, uma camada reacional com uma espessura de 50 a 100 μm se forma na superfície da peça fundida devido a uma interação entre o titânio e o revestimento refratário. Essa camada reacional pode se tornar até mais pronunciada durante o ciclo de queima da cerâmica subsequente. Tal camada, se não removida, interferirá na união da cerâmica ao titânio. Várias suges-tões foram feitas para resolver esse problema e incluem o jateamento de areia, a cobertura com nitrito de silício e a dissolução por imersão.

Os problemas da fundição podem ser evitados com a produção de restaurações usando uma técnica alterna-tiva, consistindo em erosão por fagulha e fresagem do coping metálico. Entretanto, o titânio possui uma alta reatividade química e, se levado além de 800º C, formar-se-á uma espessa camada de óxido e, consequentemente, uma união fraca à cerâmica.

De modo diferente das ligas já descritas, o titânio possui um coefi ciente de expansão de 9,6 ppm/ºC. Por-tanto, as cerâmicas contendo leucita desenvolvidas para as ligas metalocerâmicas são inapropriadas e é impor-tante que sejam usadas as cerâmicas especialmente pro-jetadas para uso com o Ticp.

A união da cerâmica ao Ticp é problemática, e a resis-tência de união não é tão boa como aquelas obtidas com as ligas.

RESUMO

As restaurações metalocerâmicas podem produzir um bom resultado estético. A presença de uma estrutura de metal encoberta pela cerâmica representa uma limitação desse sistema, mas se tiver espaço sufi ciente para traba-lhar, o técnico de laboratório dentário pode produzir um resultado muito bom. Contudo, isso não signifi ca que essas restaurações signifi quem a destruição inerente da estrutura dental.

A principal vantagem das restaurações metalocerâ-micas sobre as restaurações de cerâmica pura é a sua resistência à fratura. Até muito recente, apenas as pontes pequenas podiam ser feitas com cerâmicas, e as metalo-cerâmicas eram a única opção disponível para confecção de pontes com mais de três elementos. Essa situação está mudando rapidamente e novos sistemas de núcleos de cerâmica altamente resistente estão se desenvolvendo pelo uso de novos materiais. Isto está mudando uma situação clínica que pelos últimos 40 anos foi dominada pelo uso de restaurações metalocerâmicas.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A introdução das restaurações de cerâmica com núcleos altamente resistentes, pontes e restaurações de cerâmica aderida à resina, está mudando muitas situações em que as tradicionais coroas metalocerâmicas seriam usadas. Contudo, as coroas metalocerâmicas têm proporcionado um serviço único por muitos anos, enquanto que as restaurações de cerâmica pura ainda são relativamente novas.

Independentemente das vantagens e desvantagens dos diferentes sistemas, as seguintes recomendações devem ser observadas:

■ a responsabilidade da escolha da liga permanece com o dentista e não deve ser delegada ao técnico do labo-ratório de prótese;

■ certifi que-se de que a combinação correta do metal/cerâmica seja usada pelo laboratório de prótese.

LEITURA COMPLEMENTAR

Anusavice KJ (1985) Noble metal alloys for metal–ceramic restorations. Dent Clin N Am 29: 789

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Page 253: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS242

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Page 254: Introdução Aos Materiais Dentários

243

Capítulo 3.6

RESTAURAÇÕES DE CERÂMICA PURA: NÚCLEO CERÂMICO DE ALTA RESISTÊNCIA

INTRODUÇÃO

O trabalho de Land no início do século XX e outros que vieram depois mostraram que um dos problemas com as coroas anteriores de cerâmica pura era que a porcelana sofreria fratura, desprendendo-se da superfície de adaptação. Alguns aprimoramentos na resistência da cerâmica foram alcançados pela introdução dos fornos de queima a vácuo, o que ajuda a minimizar as porosidades e aumentou a resistência a fl exão da porcelana de 20-30 MPa para aproximadamente 50-60 MPa. Entretanto, isso não se mostrou sufi ciente para produzir restaurações cerâmicas confi áveis e, assim, a pesquisa se direcionou para um material para núcleo que pudesse fornecer a resistência e a tenacidade necessária para prevenir fra-turas oriundas da propagação de trincas da superfície de adaptação da coroa.

Uma vez que as cerâmicas tendem a falhar em uma deformação crítica de quase 0,1%; um meio de atingir um aumento na resistência a fratura é aumentar o módulo de elasticidade do material. Se, ao mesmo tempo, a pro-pagação das trincas se torna mais difícil a ponto de uma maior deformação poder ser suportada, uma cerâmica mais resistente será obtida (Fig. 3.6.1). A resistência a fl exão de algumas cerâmicas está demonstrada na Tabela 3.6.1. Uma vez que a resistência à tração é uma proprie-dade difícil de ser mensurada (levando a um extenso grau de dispersão dos dados), é uma prática comum determi-nar a resistência à fl exão. Embora os nitritos e carbonetos de sílica sejam atraentes do ponto de vista da resistência, eles não são adequados devido às difi culdades associadas

à confecção de coroas individuais: as diferenças de cor e a diferença no coefi ciente de expansão térmica.

Na metade dos anos 1960, McLean e Hughes desen-volveram um material de núcleo baseado no reforço de um vidro de feldspato com alumina, citado como coroa de jaqueta de porcelana reforçada por alumina. Desde então, outros sistemas têm sido desenvolvidos. Nos anos 1980, as estruturas de cerâmica infi ltradas por vidro altamente resistentes para núcleo foram desen-volvidas (In-Ceram, Vita) e nos anos 1990 os núcleos de alumina pura fi zeram sua primeira aparição (Techce-ram, Techceram Ltd; Procera AllCeram, Nobel Biocare). Estudos recentes têm mostrado a introdução da zircônia estabilizada por ítria para a fabricação de núcleos para infraestruturas de coroas e pontes.

COROA DE JAQUETA DE PORCELANA REFORÇADA POR ALUMINA (CJP)

Os núcleos de feldspato reforçados por alumina foram introduzidos no início dos anos 1960 por Hughes e McLean. O material consistia em um vidro de feldspato contendo 40%-50% de alumina (Fig. 3.6.2). As partí-culas de alumina são mais resistentes que o vidro, e são mais efetivas na prevenção da propagação de trincas do que o quartzo e atuam como bloqueadoras de trincas (Fig. 3.6.3). Enquanto a resistência a fl exão da porce-lana feldspática é, no máximo, de 60 MPa, esta é aumen-tada para 120-150MPa para porcelana aluminizada para núcleos.

Na confecção de uma coroa, a cor opaca mostrada na Figura 3.4.3 é feita com uma porcelana aluminizada para núcleo. É ainda necessário utilizar cores de dentina mais fracas e de esmalte da porcelana feldspática, uma vez que não é possível produzir porcelanas aluminizadas com a translucidez necessária; a alumina faz com que a porcelana pareça escura e opaca.

A principal aplicação da CJP reforçada por alumina é na restauração de dentes anteriores. Embora o aumento

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Alumina e zircônia são brancas e resistentes, portanto essas cerâmicas são agora utilizadas em vários sistemas de cerâmicas odontológicas.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS244

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Materiais para núcleos mais resistentes eram necessários se o uso das cerâmicas fosse estendido aos dentes posteriores.

SISTEMAS PARA NÚCLEOS CERÂMICOS ALTAMENTE RESISTENTES INFILTRADOS POR VIDRO

A adição de alumina ao vidro de feldspato durante o processo de pré-fritagem limita a quantidade de alumina que pode ser incorporada a cerca de 40%-50% vol. Uma abordagem alternativa tem sido adotada em um novo sistema chamado In-Ceram (Vita Zahnfabrik, Bad Säckin-gen, Alemanha). Este material para núcleo tem um con-teúdo de alumina de quase 85%.

Um núcleo cerâmico é formado sobre um troquel refratário de uma fi na camada de pó de alumina por um processo chamado de slip-casting. Após a secagem do troquel, este é sinterizado por 10 horas a 1.120oC. A temperatura de fusão da alumina é muito alta para produzir um pó completamente denso pela sinteri-zação de fase líquida e apenas a sinterização da fase sólida ocorre. Consequentemente, o coping assim criado é mantido unido apenas pelos pontos de contato entre

Deformação

b

a

Ten

são

de tr

ação

μm

Partículas de alumina

100

Figura 3.6.2 Microscopia eletrônica de varredura de um núcleo reforçado por alumina mostrando as partículas de alumina embebidas em uma matriz vítrea composta de feldspato.

Figura 3.6.1 Melhorias na resistência das cerâmicas por (a) aumento do módulo de elasticidade e (b) aumento na resistência à propagação de trincas.

na resistência seja considerável, ainda é insufi ciente para permitir seu uso na região posterior e a confecção de uma ponte mesmo que de três elementos está fora de questão.

Page 256: Introdução Aos Materiais Dentários

RESTAURAÇÕES DE CERÂMICA PURA: NÚCLEO CERÂMICO DE ALTA RESISTÊNCIA 245

as partículas de alumina e o resultado é uma estrutura porosa. A resistência desse núcleo poroso é de apenas 6-10 MPa. A estrutura porosa é então infi ltrada por vidro de lantânio, que apresenta baixa viscosidade quando queimado a 1.100oC por 4 a 6 horas. O vidro fundido é capaz de penetrar nos poros, produzindo uma cerâmica densa. A forma estética e funcional é então alcançada pela aplicação de uma cerâmica odontológica feldspática convencional sobre o núcleo.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Valores muito altos de resistência à fl exão (400-500 MPa) têm sido reivindicados para essa cerâmica para núcleo, o que torna esse sistema adequado para coroas anteriores e posteriores, com resultados excelentes.

Várias tentativas foram feitas em produzir cantilevers anteriores e pontes posteriores de três elementos, o que é uma grande ambição de uso das cerâmicas, mas mos-tra-se como uma promessa considerável.

Uma abordagem similar tem sido adotada com spinel (MgAl2O4) ou zircônia substituindo a alumina.

O InCeram-Spinel oferece uma estética superior sobre o InCeram-Alumina com uma resistência à fl exão leve-mente reduzida (ao redor de 350 MPa) e é recomendado para inlays e coroas anteriores. O InCeram-Zirconia é baseado no InCeram-Alumina, mas com a adição de 33% em peso de zircônia e produz um núcleo cerâmico com uma resistência de aproximadamente 700 MPa. A desvantagem é que a combinação de um vidro, alumina e zircônia faz com que esse material para núcleo seja muito opaco.

Uma abordagem alternativa ao slip-casting previa-mente descrito está agora disponível para a produção do CAD-CAM (Computer Aided Design – Computer Aided Manufacture) usando tanto o sistema CEREC da Siemens como o sistema Celay da Vident. O processo CAD-CAM envolve três passos principais:

1. A aquisição de dados em um formato digital.2. Desenhando uma restauração adequada no compu-

tador.3. Fresagem da restauração de um bloco pré-fabricado do

material.

Entretanto, existem diversas variações sobre este tema, que não é possível de ser discutido aqui. Os blocos de InCeram-Spinel/Alumina/Zircônia dos quais as restaura-ções são fresadas são produzidos por uma prensagem seca do pó de forma que a estrutura porosa é mais densa e mais homogênea, levando a uma resistência à fl exão maior ainda após a infi ltração por vidro.

Núcleos de Alumina Pura

Esta pareceria uma extensão natural dos sistemas de núcleos reforçados por alumina descritos para considerar a possibilidade de um núcleo de alumina pura. Existem pelo menos dois sistemas no mercado que oferecem núcleos de alumina pura, o Procera AllCeram (Nobel Biocare AB, Gotemburgo, Suécia) e o sistema Techce-ram (Techceram Ltd, Shipley, Reino Unido). As vanta-gens potenciais são resistência aumentada e translucidez superior quando comparadas aos materiais para núcleos infi ltrados por vidro.

A produção do núcleo de Procera AllCeram envolve a confecção de um troquel de uma moldagem, a digi-talização da geometria do coping desejado utilizando um software de computador especialmente desenhado e transferindo essa informação via modem para um laboratório em Estocolmo. Tudo isto é feito por um laboratório dentário designado que é membro da Rede Procera. O coping é produzido por um processo espe-cial que envolve a sinterização da alumina 99,5% pura a 1.600oC-1.700oC, de forma que se torna completa-mente denso. O coping então é reenviado ao laboratório de prótese para a confecção da parte estética da coroa usando vidros de feldspato compatível. O tempo neces-sário é de aproximadamente 24 horas. A resistência à

Trinca

Figura 3.6.3 Partículas de alumina agindo como bloqueadoras de trincas.

Tabela 3.6.1 Valores típicos de resistência para cerâmicas altamente reforçadas

Tipo de cerâmica Resistência a fl exão (MPa)

Nitrito de sílica prensado por calor 800-900

Carboneto de sílica prensado por calor 400-750

Zircônia parcialmente estabilizada 640

Alumina 98% pura 420-520

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS246

fl exão do núcleos de Al2O3 gira em torno de 700 MPa, similar àquela alcançada pelo InCeram-Zirconia.

O sistema Techceram utiliza uma abordagem dife-rente. Neste sistema a moldagem pode ser enviada à Techceram Ltd, que produzirá um troquel especial sobre o qual o núcleo de alumina é depositado utilizando uma técnica de pistola de spray térmica. Este processo produz um núcleo de alumina com uma densidade de 80% a 90%, que é subsequentemente sinterizado a 1.170o C para alcançar uma ótima resistência e translucidez. O coping de alumina é então reenviado ao laboratório de prótese, onde o ceramista desenvolverá o contorno fi nal e a esté-tica utilizando vidro de feldspato convencional.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Um dos benefícios potenciais da produção de núcleo de alumina pura é que a translucidez é considerada melhor do que aquela das estruturas compostas de vidro infi ltradas por alumina.

Sistemas de Zircônia para Núcleo

A introdução da tecnologia CAD-CAM para os laborató-rios de prótese para confecção de próteses parciais fi xas tem tido uma profunda infl uência na escolha dos mate-riais disponíveis. Era inconcebível considerar até mesmo o CAD-CAM o uso da zircônia (ZrO2) como material para a construção de coroas e pontes, basicamente porque um pó de zircônia não se tornaria denso até que atin-gisse uma temperatura superior a 1.600oC, tornando-a impraticável como material para laboratório de prótese. Tudo isso agora mudou e com o auxílio da tecnologia CAD-CAM é possível confeccionar copings de coroas e infraestruturas de pontes.

A razão pela qual as infraestruturas de pontes são agora consideradas é a alta resistência deste material, que é superior a 1.000 MPa. O material utilizado atual-mente é a zircônia estabilizada por ítria, e a ítria possui uma importante função, embora esteja presente em pequena quantidade (quase 3,0 mol %). Em circunstân-cias normais, a zircônia forma uma estrutura de cristal estável monoclínica em temperatura ambiente, mas a adição de uma pequena quantidade de ítria resulta na formação de uma estrutura cristalina tetragonal meta-estável na mesma temperatura. Quando um pequeno defeito como uma trinca está presente, ela progride através do material devido a tensões localizadas na ponta da trinca, sendo reduzido pelo seu crescimento. Como mencionado, o caminho para o aprimoramento das cerâmicas é prevenir o crescimento das trincas e no caso da zircônia estabilizada por ítria, quando a tensão na ponta da trinca atinge certo nível, a estrutura cris-talina tetragonal metaestável da zircônia transforma-se

em uma forma monoclínica mais estável. Esta alteração estrutural induzida pela tensão é acompanhada pela expansão do material, o que causa um fechamento da ponta da trinca e assim previne sua progressão. Por-tanto, é muito difícil a progressão de uma trinca através de uma cerâmica de zircônia estabilizada por ítria. Na verdade, o material não é apenas muito resistente, mas também muito tenaz em comparação com as outras cerâmicas. É essa característica particular da zircônia que torna possível a utilização desse material não apenas como núcleos para coroas, mas também para infraestru-turas de pontes fi xas.

Ainda existe o problema da confecção de núcleos e infraestruturas de pontes fi xas neste material e é neste ponto que a tecnologia CAD-CAM faz toda a diferença. Existem vários sistemas comerciais CAD-CAM disponí-veis em laboratórios de prótese selecionados. O processo seguido geralmente é aquele de obter uma moldagem, confeccionar um modelo, digitalizar esse modelo, dese-nhar a restauração no computador e então fresar essa restauração. Devido ao fato de a zircônia ser tão resis-tente e tenaz, a abordagem mais comum para lidar com isso é uma técnica comumente chamada de fresagem “macia”. Neste método, a restauração é fresada de um bloco poroso, que é mais facilmente fresado, e uma vez que a forma desejada é alcançada, a peça é queimada em um forno para tornar o material mais denso. A contração que ocorre, normalmente em torno de 20% em volume, é controlada durante o processo de desenho no com-putador. O resultado é um núcleo ou infraestrutura de pontes fi xas com adaptação bem ajustada e de coloração semitranslúcida a branca.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O advento da tecnologia CAD-CAM abriu novas oportunidades para a utilização de materiais que previamente não eram considerados opções viáveis, assim, criou novas abordagens para a confecção de coroas e pontes em cerâmica pura. Entretanto, a experiência clínica ainda é muito limitada neste momento.

RESUMO

Uma desvantagem de todos os sistemas de núcleo alta-mente resistentes descritos é que nenhuma delas é sensível ao condicionamento ácido para produzir uma superfície micromecanicamente retentiva, embora alguma união com o agente cimentante seja alcançada devido à rugo-sidade de superfície obtida pelo processamento. Uma vez que a superfície de adaptação é em geral feita de alumina e/ou zircônia, ao invés de sílica, não existe agente de

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RESTAURAÇÕES DE CERÂMICA PURA: NÚCLEO CERÂMICO DE ALTA RESISTÊNCIA 247

união disponível que possa efetivamente unir os núcleos às resinas. Sem um agente de união efetivo ou uma super-fície micromecanicamente retentiva ideal, esses sistemas não podem ser cimentados com cimentos resinosos aos tecidos dentários e não obterão os benefícios associados às restaurações cerâmicas cimentadas por resina.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A restauração de cerâmica para núcleo reforçada deve depender sobretudo da resistência e tenacidade do material e de um desenho adequado para resistir às forças da oclusão.

LEITURA COMPLEMENTAR

Andersson M et al (1998) PROCERA: A new way to achieve an all-ceramic crown. Quintessence Int 29: 285

Banks RG (1990) Conservative posterior ceramic restorations: a review of the literature. J Prosthet Dent 63: 619

Duret F, Blouin J-L, Duret B (1988) CAD–CAM in dentistry. J Am Dent Assoc 117: 715

Luthy H et al (2005) Strength and reliability of four-unit all-ceramic posterior bridges. Dent Mater 21: 930

May KB et al (1998) Precision of fi t: The Procera Allceram crown. J Prosthet Dent 80: 394

Mörmann WH, Bindl A (1997) The new creativity in ceramic restorations: dental CAD–CAM. Quintessence Int 27: 821

Odén A et al (1998) Five-year clinical evaluation of Procera AllCeram crowns. J Prosthet Dent 80: 450

Piconi C, Maccauro G (1999) Review of zirconia as a ceramic biomaterial. Biomaterials 20: 1

Pröbster L, Diehl J (1992) Slip-casting alumina ceramics for crown and bridge restorations. Quintessence Int 23: 25

Ritter A, Baratieri LN (1999) Ceramic restorations for posterior teeth: Guidelines for the clinician. J Esthet Dent 11: 72

Rizkalla AS, Jones DW (2004) Mechanical properties of commercial high strength ceramic core materials. Dent Mater 20: 207

Suttor D (2004) LAVA zirconia crowns and bridges. Int J Computerized Dent 7: 67

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Qualtrough AJE, Piddock V (1999) Recent advances in ceramic materials and systems for dental restorations. Dental Update 26: 65

Page 259: Introdução Aos Materiais Dentários

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249

Capítulo 3.7

RESTAURAÇÕES DE CERÂMICA PURA: CERÂMICAS UNIDAS COM RESINA

INTRODUÇÃO

Com o desenvolvimento de novas técnicas adesivas, a abordagem tradicional das restaurações cimentadas foi modifi cada. Isso estendeu o uso das cerâmicas a áreas previamente consideradas impossíveis. O con-ceito da restauração cerâmica unida com resina não pôde tornar-se realidade até que técnicas de união da cerâmica ao esmalte e à dentina fossem descobertas. A ideia de unir a cerâmica ao esmalte dentário, usando uma combinação da técnica de condicionamento ácido e resinas, começou a ser desenvolvida durante os anos 1970, o que levou nos anos 1980 às facetas de cerâmica. Em seguida, ainda nos anos 1980, maiores progressos foram alcançados no desenvolvimento de agentes de união à dentina, o que abriu a possibilidade de coroas unidas com resina. A combinação da adesão ao esmalte, dentina e cerâmica, e características de resis-tência melhoradas das cerâmicas produziu restaurações com excelente integridade mecânica. De fato, a união adesiva tem o efeito de eliminar as falhas de superfícies internas e, assim, reduzir o potencial de fraturas. Isso levou a um crescimento no uso das cerâmicas unidas por resina para coroas, facetas e inlays.

FACETAS DE CERÂMICA

O conceito de uso das cerâmicas como facetas não é novo, e pode ser remetido ao Dr. Charles Pincus de Bever-ley Hills, que confeccionou facetas de porcelana nos anos 1930 para atores de Hollywood, incluindo Shirley Temple. As facetas de porcelana eram queimadas sobre uma lâmina de platina e retidas sobre o dente com pó para dentadura. Entretanto, as facetas quebravam-se com frequência, pois a fi na porcelana era muito friável e eram frequentemente removidas dos dentes. Quando a resina acrílica foi introduzida em 1937, ele passou a utilizar esse material para a confecção de facetas para atores. Isso por

fi m desenvolveu-se em facetas de compósitos e as cerâmi-cas deixaram de ser usadas por um longo período.

O advento de procedimentos de união das resinas ao esmalte dentário usando condicionamento com ácido fosfórico permitiu o desenvolvimento das facetas de cerâmica unidas com resina como uma opção de trata-mento viável. Esta técnica permitiu a união de resinas ao esmalte dentário. Nesta situação, o fato do fi no material cerâmico ser unido à estrutura dental subjacente de uma resina signifi ca que o próprio dente fornece o suporte para o fraco material das facetas. Uma primeira referência ao suporte de uma restauração cerâmica por uma união resinosa ao esmalte foi publicada por Rochette em 1975. Esta ideia foi então estendida por Horn em 1983, que propôs o uso do ácido hidrofl uorídrico como um condi-cionador de vidro para as facetas confeccionadas de um feldspato contendo leucita, melhorando então, a união entre a cerâmica e a resina. Assim, utilizando a técnica do condicionamento com ácido fosfórico no esmalte ele pôde unir as facetas de cerâmica permanentemente aos dentes com uma resina composta. A união à cerâmica tem sido então aprimorada pelo uso adicional do agente de união silano (Cap. 3.8).

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Antes do advento das facetas cerâmicas unidas com resina as únicas opções disponíveis eram as facetas de compósito, as coroas de jaqueta de porcelana e as coroas metalocerâmicas.

As facetas de cerâmica são consideradas superiores aos compósitos devido a sua estética superior, estabilidade de cor, acabamento de superfície, resistência à abrasão e compatibilidade com os tecidos. Elas também são muito estáveis quimicamente e têm um coefi ciente de expansão semelhante ao do esmalte. O acabamento das facetas de

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS250

porcelana é mais difícil do que o dos compósitos devido a sua grande dureza. As fi nas margens são mais facil-mente danifi cadas do que as margens das coroas, tanto no laboratório quanto na clínica. As facetas de cerâmica apresentam a vantagem clara sobre as coroas de alcançar uma melhor estética com uma mínima redução dentá-ria, e a região palatina do dente permanece inalterada, mantendo a guia incisal. O material utilizado para a con-fecção das facetas pode ser tanto um vidro de feldspato simples quanto um vidro de feldspato contendo leucita (Caps. 3.4 e 3.5). Esses são os materiais de escolha para a confecção de facetas devido a sua excelente estética, especialmente do ponto de vista da cor e translucidez, o que é difícil de ser alcançado com qualquer outra cerâmica.

Embora no tempo de Land e Pincus as facetas eram confeccionadas sobre uma lâmina de platina, hoje em dia uma variedade de métodos está disponível, que inclui:

■ sinterização sobre um troquel refratário;■ prensada sob calor; e ■ fresagem CAD-CAM de um bloco.

Processo de Sinterização

No processo de sinterização, uma pasta fl uida do pó de cerâmica é aplicada a um troquel refratário (em oposição ao troquel coberto por lâmina de platina no caso da coroa de jaqueta de porcelana – CJP), secado e depois queimado em um forno de cerâmica. Múltiplas camadas podem ser aplicadas para desenvolver a caracterização. Uma grande habilidade é requerida pelo técnico de prótese para obter a melhor estética e contorno adequado. Exemplos de cerâmicas comerciais reforçadas por leucita utilizando o processo de sinterização são: Fortress (Mirage Dental Systems, Cidade de Kansas, EUA) e Optec-HSP (Jeneric/Pentron Inc, Wallingford, EUA).

Prensada sob Calor

Com o objetivo de superar os problemas das impreci-sões inerentes a adaptação das cerâmicas sinterizadas devido à alta contração de queima, maior atenção tem sido dada à possibilidade de uso dos vidros cerâmicos, que empregam um processo de fundição para a confec-ção de coroas, facetas e inlays. A prensagem sob calor é uma destas abordagens e é uma técnica que envolve o aquecimento de um lingote da cerâmica. O lingote é um bloco sólido do material que é feito de um feldspato reforçado por leucita como é o caso do Empress I (Ivoclar Vivadent, Schaan, Liechtenstein). Esse método utiliza partes da técnica de fundição pela cera perdida. Assim como na fundição pela cera perdida, um padrão de cera é produzido, que depois é incluído em um material de troquel refratário. A cera é derretida para criar o espaço a ser preenchido pela cerâmica reforçada por leucita. Um forno de pressão especialmente desenhado é então

utilizado para preencher o espaço do molde de uma pelota de cerâmica de vidro utilizando um processo de escoamento viscoso a uma temperatura de 1.180o C (Fig. 3.7.1). Quando o lingote é aquecido a uma temperatura sufi cientemente alta, ele se torna uma massa amolecida que sob pressão fl ui para o interior do molde refratário. Esse processo é frequentemente descrito como molda-gem de transferência e é também descrito como molde de transferência. O processo é claramente diferente do processo de sinterização uma vez que não depende da fusão de partículas de pó.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O benefício potencial da técnica de prensagem por calor é que um maior grau de adaptação marginal pode ser alcançado quando comparado ao processo de sinterização.

A coloração fi nal pode ser feita pela aplicação de pig-mentos de superfície. Para restaurações anteriores, a face estética é cortada e a cerâmica reforçada por leucita em forma de pó é adicionada utilizando a técnica conven-cional de sinterização.

CAD-CAM

Uma vez que os vidros de feldspatos e os vidros de fel-dspatos contendo leucita podem ser pré-fabricados em blocos, as facetas também podem ser confeccionadas utilizando a tecnologia CAD-CAM. Isso pode ser feito em consultório com o sistema CEREC da Sirona utili-

Forno (1.100°C)

Modelo refratário

Êmbolo pneumático

Haste (1,6 MPa)

Botão(ões) de cerâmica

Forma(s) da coroa

Êmbolo de Al2O3

Figura 3.7.1 Esquema da rotina de prensagem por calor para a produção de uma restauração de cerâmica vítrea reforçada por leucita.

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RESTAURAÇÕES DE CERÂMICA PURA: CERÂMICAS UNIDAS COM RESINA 251

zando Vitablocks (Vita Zahnfabrik, Alemanha) ou Procad (Ivoclar-Vivadent, Liechtenstein). O laboratório dentário também possui tecnologia CAD-CAM para a confecção de facetas, inlays e coroas.

PROPRIEDADES

Os resultados estéticos com os vidros de feldspato e com os vidros de feldspato contendo leucitas são excelentes devido a sua alta translucidez, fl uorescência e opales-cência. Quando usados em combinação com resinas que se unem ao esmalte e à dentina, esses materiais são muito bons para facetas e inlays e são também uti-lizados para coroas anteriores. Entretanto, a resistência mecânica desta classe de cerâmica é insufi ciente para ser utilizada na confecção de coroas posteriores e pontes de cerâmica pura.

Devido a essas limitações e ao desejo de produzir cerâ-micas adequadas para uso na região posterior da boca, associada à vontade de estender seu uso à confecção de pontes pequenas de três elementos, houve um maior impulso para o desenvolvimento de novas cerâmicas adequadas para o uso em restaurações de cerâmica pura unidas com resina. O foco deste desenvolvimento tem sido uma classe de materiais conhecida como cerâ-micas vítreas.

CERÂMICAS VÍTREAS

A maioria dos materiais disponíveis para restaurações cerâmicas unidas com resina são, em essência, variações de um grupo especial de cerâmicas conhecido como cerâ-micas vítreas. As várias cerâmicas vítreas dentárias desen-volvidas para restaurações cerâmicas unidas com resina serão descritas juntamente com algumas das novas técni-cas de processamento que evoluíram ao mesmo tempo.

As cerâmicas vítreas foram inicialmente desenvolvi-das por Corning Glass Works no fi nal dos anos 1950. Em princípio um artigo é formado enquanto líquido, e um vidro metaestável aparece com o resfriamento. Durante um tratamento de aquecimento subsequente, uma cristalização controlada ocorre, com a nucleação e crescimento de cristais internos. Esse processo de conver-são de um vidro para um vidro parcialmente cristalino é chamado ceramização. Assim, uma cerâmica vítrea é um sólido multifásico contendo uma fase residual de vidro com uma fase cristalina dispersa. A cristalização controlada do vidro resulta na formação de pequenos cristais que são uniformemente distribuídos pelo vidro. O número de cristais, sua taxa de crescimento e assim seu tamanho são regulados pelo tempo e temperatura do tratamento térmico de ceramização.

Existem dois aspectos importantes na formação da fase cristalina: nucleação e crescimento dos cristais. O

esquema na Figura 3.7.2 mostra que o índice da nuclea-ção do cristal e o índice de crescimento do cristal atingem o máximo em diferentes temperaturas. O processo de ceramização consequentemente envolve um tratamento térmico de dois passos. O primeiro tratamento térmico ocorre na temperatura para nucleação máxima dos cris-tais, de forma a maximizar o número de cristais formados. A temperatura do material é então aumentada, após um período adequado de tempo, para a temperatura mais alta para permitir o crescimento dos cristais. Esta temperatura mais alta é mantida até que um tamanho ótimo de cristal seja formado.

Para garantir uma alta resistência para a cerâmica vítrea é importante que os cristais sejam numerosos e uniformemente distribuídos pela fase vítrea. A fase cris-talina crescerá durante a ceramização, e pode fi nalmente ocupar de 50% a quase 100% do material.

Propriedades Mecânicas das Cerâmicas Vítreas

As propriedades mecânicas parecem ser grandemente infl uenciadas por:

■ tamanho das partículas da fase cristalina;■ fração de volume da fase cristalina;■ resistência de união entre as fases;■ diferenças no módulo de elasticidade; e■ diferenças na expansão térmica.

Fraturas em sólidos friáveis são quase sempre iniciadas em um pequeno defeito interno ou defeito de superfície, como uma microtrinca, que atua como um magnifi cador de tensões. Se a fase cristalina é relativamente resistente, então as trincas se formarão na fase vítrea. A dimensão dessas microtrincas pode assim limitar a distância entre as partículas cristalinas. Portanto, o parâmetro funda-mental é a trajetória livre média, na fase vítrea, Ls, que é dada por:

T2

Tem

pera

tura

Índice de nucleação/crescimento

T1

Figura 3.7.2 Índice de nucleação (T1) e crescimento (T2) dos cristais em uma cerâmica vítrea.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS252

Ls = d(1 – Vf)/Vf

onde d é o diâmetro do cristal e Vf é a fração de volume da fase cristalina.

Assim, quanto menores os cristais e maior a fração de volume dos cristais, menor será a trajetória livre média, e consequentemente, maior a resistência do material.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Uma característica das cerâmicas vítreas é que o tamanho e a quantidade da fase cristalina podem ser cuidadosamente controlados durante o processo de ceramização.

A maioria das cerâmicas de vidro é opaca ou turva não sendo adequada ao uso odontológico. A primeira cerâmica vítrea utilizada na odontologia foi introduzida por MacCulloch em 1968 para a confecção de dentes para próteses totais e era baseada no sistema Li2O.ZnO.SiO2. Naquele momento, o uso de dentes artifi ciais de resina acrílica estava tornando-se popular, e a ideia das cerâmicas vítreas não foi mais explorada. Agora, temos uma grande variedade de cerâmicas vítreas e técnicas de processamento para a confecção de restaurações de cerâmica unidas com resina.

Cerâmicas de Vidro de Feldspato Reforçadas por LeucitaA cerâmica utilizada nos experimentos originais de Horn era um vidro de feldspato contendo leucita (KAlSi2O6), que ele usou na confecção de restaurações metalocerâ-micas (Cap. 3.5). Esta cerâmica foi melhorada em relação à capacidade de união à superfície metálica. As cerâmi-cas agora utilizadas para restaurações unidas com resina são uma versão modifi cada da cerâmica utilizada por Horn. Elas diferem das cerâmicas utilizadas nas restaura-ções metalocerâmicas primariamente devido ao fato de a composição e microestrutura terem sido alteradas com o objetivo de produzir a melhor distribuição da fase cris-talina de leucita do ponto de vista da resistência, desde que a compatibilidade com uma infraestrutura metálica deixou de ser a consideração mais importante.

Enquanto a cerâmica contendo leucita usada nas res-taurações metalocerâmicas apresenta uma resistência fl exural na ordem de 30-40 MPa, as cerâmicas vítreas reforçadas por leucita apresentam resistências à fl exão maiores que 120 MPa. Um exemplo típico da estrutura da cerâmica reforçada por leucita é mostrado na Figura 3.7.3. O que é particularmente evidente é a distribui-ção uniforme dos cristais de leucita e a falta de trincas internas que é tão evidente no exemplo dos feldspatos contendo leucita utilizados para fazer a cobertura estética das infraestruturas metálicas (Fig. 3.5.5).

μm

Cristais de leucita

Figura 3.7.3 Microscopia eletrônica de varredura da estrutura da cerâmica reforçada por leucita.

Page 264: Introdução Aos Materiais Dentários

RESTAURAÇÕES DE CERÂMICA PURA: CERÂMICAS UNIDAS COM RESINA 253

A confecção das restaurações cerâmicas utilizando feldspatos reforçados por leucita pode ser feita tanto pela sinterização utilizando uma versão modifi cada do processo de sinterização descrito para a confecção da coroa de jaqueta de porcelana ou pela prensagem por calor.

As propriedades mecânicas das cerâmicas vítreas de feldspato com leucita são consideradas sufi cientes para este material para serem utilizadas como facetas, coroas anteriores e inlays posteriores. Até agora o uso deste material para coroas posteriores ou para qualquer forma de ponte é contraindicado uma vez que as proprieda-des mecânicas são muito baixas para suportar as cargas envolvidas.

Cerâmicas Vítreas de FluormicaCom o objetivo de estender o possível uso das restau-rações cerâmicas unidas com resina para confecção de coroas posteriores, onlays e pontes, uma cerâmica vítrea foi desenvolvida baseada na composição SiO2.K2O.MgO.Al2O3.ZrO2. A adição de alguns fl uoretos confere fl uores-cência nas próteses de forma similar àquela encontrada na dentição natural. Essas cerâmicas de vidro são conhe-cidas como fl uoromicas. Para esta composição, o processo de ceramização resulta na nucleação e no crescimento de cristais de tetrasilicato de mica dentro do vidro. Os cristais têm forma de agulha e detêm a propagação de trincas através deste material. Medidas de propriedades mecânicas sugerem uma resistência fl exural na ordem de 120-150 MPa, que, quando combinado com a adesão aos tecidos dentários, pode ser adequado às coroas pos-teriores mas provavelmente é ainda insufi ciente para a construção de pontes de cerâmica pura.

A passagem de luz através do material é afetada pelo tamanho do cristal e a diferença nos índices de refra-ção da fase vítrea e da fase cristalina. Se os cristais são menores que o comprimento de onda da luz visível (0,4-0,7 μm), o vidro parecerá transparente, de forma que a tendência da luz se dispersar é menor do que nas porcelanas de alumina.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O índice de refração dos pequenos cristais de mica é muito semelhante aquele da fase vítrea circundante, o que produz uma translucidez próxima àquela do esmalte.

O processamento dessa cerâmica vítrea envolve os mesmos princípios do processo de fundição pela cera perdida das restaurações metálicas. A restauração é ence-rada sobre um troquel, utilizando materiais convencio-nais. O padrão é removido do troquel e é incluído em um revestimento especial fosfatado. Então, um lingote

do material de cerâmica para fundição é posicionado em um cadinho especial e é centrifugamente fundido a uma temperatura de 1.380o C. Após a fundição requer um tratamento térmico adicional para a criação da fase cristalina e desenvolver a resistência. A coloração dese-jada é alcançada pela queima de pigmentos de porcela-nas de autopolimento sobre a superfície. O conceito de produzir restaurações cerâmicas utilizando uma técnica de fundição não é novo e a primeira tentativa foi feita nos anos 1920. Mas apenas com a recente introdução das cerâmicas vítreas para fundição que isto se tornou possível.

Recentemente, a rotina de fundição (p. ex., Dicor) tem perdido sua popularidade nos laboratórios e agora a principal aplicação das cerâmicas vítreas de fl uor-mica é na produção CAD-CAM de restaurações (p. ex., Macor).

Cerâmicas Vítreas de Dissilicato de Lítio e de ApatitaAlgumas versões das cerâmicas vítreas têm a resistência e a tenacidade consideradas adequadas para a produção de coroas posteriores e possivelmente até para pontes pequenas. Entretanto, esses materiais não apresentam a estética necessária para permitir a produção de restaura-ções unitárias. A opção então é a produção de um mate-rial para núcleo de alta resistência que será coberto com uma cerâmica estética. A diferença em relação aos siste-mas de cerâmica para núcleo de alta resistência discutida no capítulo anterior é que esses materiais para núcleo são ainda baseados no vidro de sílica e, portanto, podem ser colados à estrutura dental utilizando uma combina-ção de silano e resinas. Um desses sistemas é uma cerâ-mica vítrea baseada no SiO2-Li2O, que foi desenvolvida recentemente (Empress II, Ivoclar-Vivadent, Schaan, Liechtenstein).

A fase cristalina que se forma é um dissilicato de lítio (Li2Si2O5) e compõe 70% do volume da cerâmica vítrea. O dissilicato de lítio tem uma microestrutura incomum que consiste em muitos cristais pequenos e entremeados, de forma laminada que são orientados aleatoriamente (Fig. 3.7.4). Isto é o ideal do ponto de vista da resis-tência, pois os cristais em forma de agulha fazem com que as trincas sejam defl etidas, desviadas ou embotadas. Assim, a propagação das trincas através desse material é contida pelos cristais de dissilicato de lítio, fornecendo um aumento substancial na resistência fl exural.

Uma segunda fase cristalina, que consiste em um orto-fosfato de lítio (Li3PO4), também está presente em um volume muito menor.

As propriedades mecânicas dessa cerâmica vítrea são ainda superiores àquelas das cerâmicas vítreas de felds-pato com leucita, com uma resistência fl exural na ordem de 350-450 MPa e uma tenacidade à fratura aproximada-mente três vezes maior do que aquela da cerâmica vítrea de feldspato com leucita.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS254

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A alta resistência da cerâmica vítrea de dissilicato de lítio cria possibilidades de produção não apenas de coroas posteriores, mas também de pontes de cerâmica pura.

Espera-se que a cerâmica vítrea seja altamente trans-lúcida devido à compatibilidade óptica entre a matriz de vidro e a fase cristalina, o que minimiza a dispersão interna da luz à medida que esta passa através do mate-rial. A rotina de processamento é a mesma da prensagem por calor descrita, exceto pela temperatura de processa-mento, de 920o C, que é menor do que aquela da cerâ-mica vítrea com leucita.

Para os sistemas de núcleo com base em alumina descritos é possível usar vidros de feldspato para prover uma camada superfi cial estética, uma vez que seus coe-fi cientes de expansão térmica são muito semelhantes a quase 7-8 ppm/oC. Para as cerâmicas vítreas de leucita a cerâmica de cobertura é idêntica à cerâmica do núcleo, e então, uma diferença no coefi ciente de expansão não ocorrerá. Entretanto, para a cerâmica vítrea de dissili-cato de lítio, o coefi ciente de expansão é maior que 10 ppm/oC e, consequentemente, uma nova cerâmica de cobertura compatível teve que ser desenvolvida. Essa nova cerâmica é uma cerâmica vítrea de apatita. A fase cristalina formada na ceramização é a hidroxiapatita [Ca10(PO4)6.2OH], que é o mesmo componente básico

do qual o esmalte é feito. Assim, representa um material que, pelo menos em relação a sua composição, é o mais próximo ao esmalte, que foi alcançado até hoje.

CLASSIFICAÇÃO DAS CERÂMICAS UNIDAS COM RESINA

■ Vidros de feldspato� Sinterizados: p. ex., Vitadur� CAD-CAM: p. ex., Vita Blocks

■ Cerâmicas vítreas reforçadas por leucita� Sinterizadas: p. ex., Mirage, Fortress, Optec-HP� Prensadas por calor: p. ex., Empress I� CAD-CAM: p. ex., Procad

■ Cerâmicas vítreas de fl uormica� Fundidas: p. ex., Dicor� CAD-CAM: p. ex., Macor

■ Cerâmicas vítreas de dissilicato de lítio� Prensadas por calor: p. ex., Empress II� CAD-CAM: p. ex., IPS Emax CAD.

RESUMO

Tem havido uma revolução no fornecimento de cerâ-micas para restaurações odontológicas nos últimos 15 anos, de forma que agora, restaurações puras de cerâmica podem ser utilizadas tanto nas regiões anteriores e pos-teriores. Novos materiais têm surgido que permitiram a

X 5000#8

5μm2 ln90t

20kvIVOCLAR

15mmEmp

Figura 3.7.4 Microscopia eletrônica de varredura da microestrutura da cerâmica vítrea de dissilicato de lítio, mostrando os cristais entremeados em forma de agulha (cortesia da Ivoclar-Vivadent Reino Unido Ltda, Leicester, Reino Unido).

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RESTAURAÇÕES DE CERÂMICA PURA: CERÂMICAS UNIDAS COM RESINA 255

extensão do uso das restaurações cerâmicas unidas com resina de facetas a coroas anteriores e posteriores e inlays. É até possível considerar o uso limitado de pontes fi xas de cerâmica pura. Não há dúvida de que novos materiais e rotinas de processamento continuarão a ser desenvolvi-dos e que as cerâmicas terão um papel cada vez maior no fornecimento de restaurações estéticas. Decidir entre os diferentes sistemas cerâmicos será uma difícil questão e os méritos relacionados que deverão ser considerados no processo de seleção estão resumidos na Tabela 3.7.1.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Haverá necessidade cada vez maior de que o cirurgião dentista esteja atento às rápidas mudanças no campo das cerâmicas odontológicas de forma a garantir que a escolha correta seja feita para cada paciente.

Tabela 3.7.1 Os méritos relativos de alguns sistemas cerâmicos para coroas

Sistema Estética Custo relativo Popularidade Resistência

Alta Média Baixa Alta Média Baixa Alta Média Baixa Alta Média Baixa

Núcleos cerâmicos de alta resistência

Núcleo reforçado por alumina

√ √ √ √

Núcleo de alumina reforçada por vidro

√ √ √ √

Núcleo de alumina pura √ √ √ √

Cerâmicas unidas com resina

Troquel refratário √ √ √ √

Sistema de fundição √ √ √ √

Leucita reforçada para prensagem por calor

√ √ √ √

Dissilicato de lítio para prensagem por calor

√ √ √ √

LEITURA COMPLEMENTAR

Banks RG (1990) Conservative posterior ceramic restorations: a review of the literature. J Prosthet Dent 63: 619

Brodsky LJ (1933) The Dental Cosmos 95: 1024Calamia JR (1983) Etched porcelain facial veneers: a new

treatment modality based on scientifi c and clinical evidence. NY J Dent 53: 255–259

Cattell MJ et al (2001) Flexural strength optimisation of a leucite reinforced glass ceramic. Dent Mater 17: 21

Chadwick B (2004) Good short-term survival of IPS-Empress crowns. Evid Based Dent 5: 73

Christensen G (1985) Veneering of teeth. Dent Clin N Am 29: 373

Clyde G (1988) Porcelain veneers: a preliminary review. Brit Dent J 164: 9

Duret F, Blouin J-L, Duret B (1988) CAD–CAM in dentistry. J Am Dent Assoc 117: 715

Grossman DG (1985) Cast glass ceramics. Dent Clin N Am 29: 725

Horn H (1983) Porcelain laminate veneers bonded to etched enamel. Dent Clin N Am 27: 671

MacCulloch (1968) Advances in dental ceramics. Brit Dent J 142: 361

Mörmann WH, Bindl A (1997) The new creativity in ceramic restorations: dental CAD–CAM. Quintessence Int 27: 821

Peumans M et al (2000) Porcelain veneers: a review of the literature. J Dent 28: 163

Pincus CR (1938) Building mouth personality. J Calif Dent Assoc 14: 125–129

Ritter A, Baratieri LN (1999) Ceramic restorations for posterior teeth: Guidelines for the clinician. J Esthet Dent 11: 72

Rochette AL (1975) A ceramic restoration bonded by etched enamel and resin to fractured incisors. J Prosthet Dent 33: 287

Toh CG, Setcos JC, Weinstein AR (1987) Indirect laminate veneers: an overview. J Dent 15: 117

Qualtrough AJE, Piddock V (1999) Recent advances in ceramic materials and systems for dental restorations. Dental Update 26: 65

Page 267: Introdução Aos Materiais Dentários

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Page 268: Introdução Aos Materiais Dentários

257

Capítulo 3.8

AGENTES DE CIMENTAÇÃO

INTRODUÇÃO

Na maior parte do século XX os únicos materiais dis-poníveis para retenção e selamento marginal de próte-ses fi xas, como facetas, inlays, coroas e pontes, eram o cimento de óxido de zinco e eugenol e o cimento de fosfato de zinco. Portanto, o termo cimentação represen-tava uma descrição apropriada do processo de fi xar uma restauração metálica ou cerâmica ao dente. Entretanto, no último quarto do século XX ocorreram mudanças com a introdução de muitos materiais e procedimentos mais adesivos. Uma grande variedade de novos cimentos tornou-se disponível como o cimento de policarboxilato de zinco, cimentos de ionômero de vidro e cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina. Existe também agora um marketing crescente para as tecnolo-gias adesivas resinosas.

Neste contexto, o termo cimentação difi cilmente faz justiça à variedade de materiais que estão atualmente em uso. Outro termo para o processo de cimentação de uma restauração é fi xação. A palavra fi xação signifi ca que um cimento ou outro material é usado como cobertura protetora ou selamento hermético. Uma vez que este termo não é específi co para um cimento, o termo agente de fi xação talvez forneça uma descrição mais apropriada para alguns dos materiais que são usados hoje em dia, como as resinas.

Qualquer que seja o mérito relativo da terminologia utilizada, este capítulo está voltado para os materiais utilizados para a retenção permanente de pinos e restau-rações indiretas como descrito na Tabela 3.8.1.

REQUISITOS GERAIS PARA OS AGENTES DE CIMENTAÇÃO

Biocompatibilidade

Quando os agentes cimentantes são utilizados em situ-ações como coroas e inlays, o material estará inevitavel-

mente em contato com uma área relativamente ampla de dentina. Portanto, sua suscetibilidade de produzir uma sensibilidade pós-operatória ou uma infl amação pulpar é uma consideração muito importante. Os agentes cimen-tantes funcionarão também como a principal barreira contra ao ingresso de bactérias, de forma que juntamente com um bom selamento marginal, possíveis proprieda-des antibacterianas podem ser altamente benéfi cas.

Retenção

O papel primário do agente de cimentação é fornecer retenção para a restauração. Com os cimentos à base de água como o cimento de fosfato de zinco, a retenção é determinada pela geometria do preparo dentário, o controle do eixo de inserção e a habilidade de fornecer embricamento mecânico nas irregularidades de super-fície. Isto nem sempre é ideal e a falta de retenção é a maior causa de falhas em próteses fi xas. Se, além disso, uma união adesiva puder ser criada, a retenção será melhorada signifi cativamente e as tecnologias adesivas resinosas tornaram isso possível.

Propriedades Mecânicas

É importante que a fi na camada do agente de cimentação criada entre o dente e a restauração seja capaz de suportar as grandes forças que são potencialmente transmitidas por meio dela. Com o objetivo de resistir à fratura, uma alta resistência à tração, à fratura e à fadiga são benéfi -cas. A situação pode ser melhorada signifi cativamente se a restauração possuir uma boa adaptação marginal, de forma que uma quantidade mínima de cimento seja necessária.

Embora apenas uma pequena quantidade de agente de cimentação seja exposta na superfície, é importante que o material seja resistente ao desgaste. Desgastes excessi-vos podem levar a submarginação, que signifi ca que um pequeno sulco é formado. Esse sulco pode tornar-se um sítio para descoloração marginal e acúmulo de placa.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS258

Selamento Marginal

O agente de cimentação também deve fornecer um bom selamento marginal com o objetivo de prevenir cáries recorrentes. Um agente de cimentação ideal não deve ser suscetível à solubilização no meio oral de forma a manter o selamento marginal. Uma baixa solubilidade em meio neutro e ácido é, portanto, importante. Se o agente de cimentação for capaz de fornecer uma união adesiva aos tecidos dentários e à restauração, isso também auxiliará na manutenção da integridade do selamento marginal. Desenvolvimentos recentes em cimentação têm procu-rado alcançar exatamente isso, mas com a grande varie-dade de materiais a ser cimentada (esmalte, dentina, metal, cerâmica) uma variedade igualmente grande de promotores de união também se tornaram disponíveis.

Pequena Espessura de Película

A espessura de película é importante porque um agente de cimentação deve ser sufi cientemente fi no tanto para pre-encher o espaço entre a coroa ou a ponte e o dente como para garantir um selamento adequado da restauração. Uma película espessa pode ser inaceitável, uma vez que a restauração pode fi car mais alta do que deveria, gerando problemas oclusais e a necessidade de ajuste. Além disso, uma adaptação marginal precária pode resultar em uma

maior quantidade de cimento exposto na superfície do que o necessário. Uma vez que alguns agentes de cimen-tação são solúveis no meio oral e propensos à erosão, isso causará perda de material na margem, o que pode levar ao acúmulo de placa, descoloração e cáries recorrentes.

Facilidade de Uso

Muitos dos agentes de cimentação são apresentados no sistema pó-líquido e desde que atenção cuidadosa seja tomada para garantir a correta proporção na mistura, isto não chega a representar um problema. Entretanto, existe uma tendência em se produzir uma mistura leve-mente mais fl uida para alcançar propriedades reológicas que permitam ao agente de cimentação um escoamento mais fácil no espaço entre o dente e a restauração, pro-duzindo uma adaptação mais precisa. Para alguns mate-riais, a alteração na proporção pó-líquido pode produzir efeitos marcantes em suas propriedades, especialmente nos tempos de trabalho e de presa, não sendo, portanto, recomendada.

Os tempos de trabalho e de presa devem ser sufi cientes para permitir o posicionamento da restauração e não deve ser muito longo depois que a restauração é posicionada. A melhor forma de garantir a correta proporção pó-líquido é seguir cuidadosamente as recomendações do fabricante ou evitar tudo isso utilizando materiais encapsulados.

Tabela 3.8.1 Variedade de produtos e agentes de cimentação fornecidos para a cimentação de restaurações indiretas

Tipo de restauração Procedimento Agente de cimentação

Coroas metálicas, pontes, onlays e inlays Cimentação convencional Cimento de fosfato de zinco

Cimento de policarboxilato de zinco

Coroas e pontes metalocerâmicas Cimento de ionômero de vidro

Cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina

Pinos endodônticos metálicos e cerâmicos Compômeros

Restaurações de ligas metálicas básicas Condicionamento

Jateamento

Cimentos resinosos com polimerização no escuro

Resinas adesivas

Coroas e pontes de ligas de metais preciosos

Galvanização por estanho

Cobertura de sílica

Primers para metal

Cimentos resinosos com polimerização no escuro

Resinas adesivas

Coroa de jaqueta de porcelana e outros sistemas de cerâmica pura reforçada para núcleo

Cimentação convencional Cimento de fosfato de zinco

Cimento de policarboxilato de zinco

Cimento de ionômero de vidro

Facetas, inlays e coroas de cerâmica cimentadas com resina

Condicionamento com ácido hidrofl uorídrico + agente de ligação de silano

Cimentos resinosos estéticos de dupla ativação

Inlays de compósito União resina-resina Cimentos resinosos estéticos de dupla ativação

Próteses resinosas reforçadas por fi bra

Pinos endodônticos de resina reforçada por fi bra

Cimentos resinosos com polimerização no escuro

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AGENTES DE CIMENTAÇÃO 259

Radiopacidade

É importante que o clínico seja capaz de fazer distinção entre um agente de cimentação e uma cárie recorrente sob uma prótese fi xa. Com o objetivo de evitar qual-quer interpretação errônea é interessante que o agente de cimentação seja mais radiopaco que a dentina. Isto torna mais fácil a detecção de possíveis excessos de agente de cimentação ou qualquer sobrecontorno marginal, espe-cialmente nas áreas proximais, de difícil visualização.

Estética

Embora não seja uma consideração importante em restau-rações metálicas ou metalocerâmicas, a estética torna-se muito importante quando restaurações de cerâmica pura são confeccionadas. Para algumas das cerâmicas reforça-das para núcleo, um agente de cimentação que apresente uma aparência branca/opaca é aceitável, mas à medida que a restauração cerâmica se torna mais translúcida, as propriedades ópticas tornam-se mais importantes. Isto signifi ca que para as cerâmicas altamente translúcidas cimentadas com resina, como as utilizadas na confec-ção de facetas anteriores, novos agentes de cimentação com cores adequadas, estabilidade de cor, translucidez e textura de superfície tiveram que ser desenvolvidos.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Nenhum material é capaz de alcançar todos os rigorosos requisitos para os agentes de cimentação, razão que justifi ca a existência de uma grande variedade de opções.

ESCOLHA DOS AGENTES DE CIMENTAÇÃO

O agente de cimentação mais antigo listado na Tabela 3.8.1 é o cimento de fosfato de zinco, que representa nada mais que um preenchedor de espaço, sendo às vezes referido como uma argamassa entre a restauração e o dente. A retenção depende sobretudo da cuidadosa geometria do preparo dentário e da qualidade da adapta-ção da restauração uma vez que o cimento não apresenta afi nidade adesiva aos tecidos dentários, ao metal ou à cerâmica. Os mais novos cimentos à base de ácido polia-crílico como o cimento de policarboxilato de zinco e os cimentos de ionômero de vidro estão um estágio à frente na capacidade de união ao esmalte e à dentina e possuem alguma afi nidade com as superfícies metálicas e cerâ-micas. A variedade desses cimentos aderentes às estru-turas dentais foi estendida para incluir os cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina. Embora esses cimentos à base de água apresentem alguma capacidade

de união aos metais, pode-se dizer que esses materiais não fornecem adesão adequada às restaurações metálicas ou cerâmicas para a maioria das situações corriqueiras. Portanto, novos adesivos para metais e cerâmicas pre-cisariam ser desenvolvidos para ter o mesmo impacto na prótese dentária que os novos procedimentos adesi-vos e materiais mudaram a Odontologia Restauradora. O advento da tecnologia de união adesiva foi a que provavelmente teve maior impacto nos procedimentos utilizados para a retenção de restaurações indiretas.

Com o objetivo de administrar esta grande diversi-dade de agentes de cimentação resinosos e à base de água e os procedimentos clínicos associados, de forma simpli-fi cadas os agentes de cimentação serão considerados em quatro categorias, a saber:

■ à base de água;■ de adesão resina-cerâmica;■ de adesão resina-metal;■ de adesão resina-resina.

AGENTES DE CIMENTAÇÃO À BASE DE ÁGUA

Os cimentos à base de água incluem o cimento de fosfa- to de zinco, o cimento de policarboxilato de zinco, o cimento de ionômero de vidro e o cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina.

Cimento de Fosfato de Zinco

O cimento de fosfato de zinco é um dos cimentos mais antigos ainda disponível e continua a ser popular devido a sua longa história de sucesso clínico e suas proprieda-des favoráveis de manuseio. Esse cimento se apresenta como um pó branco que é misturado a um líquido trans-parente. O pó consiste basicamente em óxido de zinco, com inclusão de até 10% de óxido de magnésio, e o líquido é uma solução aquosa de ácido fosfórico numa concentração de 45%-64%.

Apresentação

Pó O pó é queimado a uma temperatura acima de 1.000oC por várias horas para reduzir sua reatividade e fornecer tempos de trabalho e presa adequados para os cimentos; o material tomaria presa muito rapidamente sem este processo de queima.

O óxido de magnésio é adicionado de forma a manter a cor branca do cimento. Ele apresenta vantagens adicionais como tornar fácil o processo de pulverização do óxido de zinco, além de aumentar a resistência à compressão do cimento. Outros óxidos (como sílica e alumina) têm sido adicionados em pequenas quantidades de até 5% para melhorar as propriedades mecânicas do material endure-cido e para prover uma maior variedade de cores.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS260

Algumas formulações incluem fl uoretos (usualmente na forma de uma pequena porcentagem de fl uoreto esta-nhoso) e são em geral recomendadas para situações onde a liberação de fl uoreto será potencialmente benéfi ca, como na cimentação de bandas ortodônticas.

Líquido O líquido é tamponado com uma combinação de óxidos que estão presentes no pó e com o hidróxido de alumínio, que atua formando fosfatos no líquido. O alumínio é essencial para a reação de formação do cimento, produzindo um fosfato de zinco amorfo, enquanto o zinco ajuda a moderar a reação, garantindo que o cimento tenha um tempo de trabalho adequado. Este controle sobre o tempo de trabalho também ajuda a garantir que uma quantidade adequada do pó seja incorporada no líquido.

Reação de PresaQuando o óxido de zinco é misturado com uma solução aquosa de ácido fosfórico, a camada superfi cial do óxido de zinco é dissolvida pelo ácido. No caso do óxido de zinco puro misturado com o ácido fosfórico, a reação ácido-base envolve primeiramente a formação de um fosfato de zinco ácido:

ZnO + 2H3PO4 → Zn(H2PO4)2 + H2O

Esta é seguida por uma nova reação, em que, nesta segunda fase do processo, um fosfato de zinco hidratado é produzido:

ZnO + Zn(H2PO4)2 + 2H2O → Zn3(PO4)2.4H2O (hopeíta)

Esta substância é quase insolúvel e cristaliza-se para formar uma matriz de fosfato, que se liga às partes que não reagiram das partículas do óxido de zinco. A reação é levemente exotérmica e alguma contração do cimento ocorre.

Pensa-se que nos materiais comerciais a presença do alumínio previne o processo de cristalização, produ-zindo assim uma matriz vítrea na forma de um gel de alumino-fosfato. Esta falta de cristalização é exacerbada pela presença de magnésio que atrasa o desenvolvimento de qualquer cristalinidade. Algum grau de cristalização, resultando na formação de hopeíta, pode ocorrer com o tempo.

A água livre forma glóbulos dentro do material e torna o cimento altamente permeável, resultando em uma estru-tura porosa quando o material está seco. A estrutura fi nal consiste em partículas de óxido de zinco não reagidas em uma matriz de fosfatos de zinco, magnésio e alumínio.

PropriedadesComo observação geral, vale notar que o cimento de

fosfato de zinco está disponível por um período grande e tem exercido um excelente papel em uso clínico. Isto deve estar relacionado à facilidade com que o material

pode ser utilizado, assim como a grande variedade de aplicações disponível. Este cimento apresenta um tempo de trabalho bem-defi nido e um rápido tempo de presa.

Tempos de Trabalho e de Presa O tempo de tra-balho para a maioria das marcas de cimento de fosfato de zinco, quando utilizado com a consistência de um agente de cimentação, está usualmente dentro da faixa de 3-6 minutos. O tempo de presa correspondente pode variar de 5 a 14 minutos. Ambos os tempos dependem do procedimento de mistura adotado.

Dependendo da aplicação, o material é misturado para uma consistência mais espessa para bases de cavidades, ou para uma consistência mais fi na quando utilizado como agente de cimentação. O procedimento de mistura é realizado pela incorporação lenta do pó ao líquido. O procedimento recomendado é que inicialmente apenas pequenos incrementos sejam adicionados ao líquido, seguidos por alguns incrementos maiores. Finalmente, incrementos menores são novamente adicionados, de forma a garantir que a consistência desejada não seja excedida.

Tempos maiores de trabalho e presa prolongados podem ser alcançados misturando o pó no líquido em incrementos sobre uma área grande na placa de vidro. Isto ajuda a dissipar o calor da reação que de outra forma, aceleraria o processo de presa. De modo inverso, a mistura rápida do pó no líquido reduzirá tanto o tempo de traba-lho quanto o de presa. Isso resultará numa mistura mais espessa, com uma baixa proporção pó-líquido, devido à rápida iniciação do processo de presa. O menor conteú do de pó signifi cará que um material com propriedades infe-riores será obtido.

Utilizando uma placa de vidro resfriada para o pro-cedimento de mistura é possível estender o tempo de trabalho sem aumentar simultaneamente o tempo de presa. Isso também tem a vantagem de permitir que mais pó seja adicionado ao líquido, aumentando assim a resistência e reduzindo a solubilidade. Entretanto, muito cuidado deve ser tomado na utilização desta técnica, uma vez que existe um perigo de contaminação pela água, devido à secagem inadequada da placa ou ainda em função da condensação de água. Em ambos os casos o efeito será a redução do tempo de trabalho. A combi-nação da placa resfriada e do processo de mistura incre-mental garante que um tempo de trabalho adequado seja mantido. O procedimento de mistura deve ser fi nalizado dentro de aproximadamente 60-90 segundos.

O tempo de presa pode ser estendido por um pro-cesso conhecido como suavização do líquido no qual uma pequena quantidade do pó é adicionada ao líquido em torno de um minuto antes de o procedimento de mistura principal ser iniciado.

A consistência da pasta depende da proporção pó-líquido, e é importante que a correta proporção seja utilizada para cada situação específi ca.

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AGENTES DE CIMENTAÇÃO 261

Por exemplo, uma proporção pó-líquido muito baixa produziria um material fraco e altamente solúvel com um pH inaceitavelmente baixo. Embora o fabricante sugira proporções pó-líquido adequadas para seus pro-dutos, essas são difíceis de ser aplicadas na prática uma vez que o sistema de dosagem não é muito preciso. Con-sequentemente, a maioria dos dentistas prefere misturar uma quantidade sufi ciente de pó no líquido, até que seja obtida uma consistência adequada para uma aplicação particular. Isso torna ainda mais importante que um pro-cedimento consistente e reproduzível seja adotado.

O líquido deve ser mantido em um frasco tampado. Se o frasco for mantido aberto, a perda de água pela evaporação reduzirá o pH do líquido à medida que este se torna mais concentrado; isto reduzirá a reação de presa. Se uma quantidade grande de água é perdida, o ácido fosfórico começará a se separar e o líquido terá uma aparência turva. Caso isto ocorrer, o líquido deve ser descartado.

Quando o cimento é utilizado como um agente de cimentação, é importante que o pó e o líquido não sejam dispensados até o momento da manipulação, uma vez que a evaporação da água pode ocorrer, o que retardará o tempo de presa, tampouco o material deve ser deixado de lado por algum intervalo de tempo depois de misturado, uma vez que a reação de presa começa, praticamente de imediato com a mistura. Se a pasta for deixada de lado por muito tempo, a viscosidade aumentará de tal modo que o material não apresentará características de escoa-mento adequadas.

Biocompatibilidade Um cimento de fosfato de zinco recém-manipulado apresenta um pH na faixa de 1,3 a 3,6. Esse valor baixo tende a persistir por um período con-siderável, e pode levar até 24 horas para que o cimento adquira um pH próximo do neutro.

Quando aplicado a um dente extensamente prepa-rado, o pH inicial é sufi cientemente baixo para induzir uma resposta infl amatória na polpa. Isso pode ocorrer especialmente se houver suspeita de uma microexposi-ção pulpar. Deve-se lembrar que, quanto mais espessa a mistura, menor será o pH, e mais tempo o cimento levará para retornar ao pH neutro.

O cimento de fosfato de zinco não apresenta proprie-dades antimicrobianas e isso, associado à leve contração de presa, signifi ca que o cimento não fornece uma bar-reira adequada ao ingresso de bactérias. Assim, a sensibi-lidade pulpar associada ao material pode ser ocasionada pela combinação da contração, de uma falta de proprie-dades antibacterianas e da alta acidez quando recém-manipulado, ao invés de apenas a alta acidez como em geral se pensava.

O paciente pode experimentar alguma dor durante o procedimento de cimentação. Isto pode surgir como um resultado do baixo pH do cimento, bem como da pressão osmótica desenvolvida pelo movimento de fl uidos no

interior dos túbulos dentinários. Tal sensação é geral-mente transitória e deve cessar dentro de poucas horas. Se houver uma irritação pulpar persistente, esta pode ter sido causada por ter utilizado uma mistura muito fl uida do cimento.

O processo de endurecimento do cimento de fosfato de zinco leva um tempo considerável, e durante as pri-meiras 24 horas existe uma liberação signifi cativa de magnésio e quantidades mais baixas de zinco. Os efeitos biológicos que a presença desses vários íons pode gerar nos tecidos circundantes são desconhecidos.

Propriedades Mecânicas Como todas as outras pro-priedades, as propriedades mecânicas são muito dependen-tes da proporção pó-líquido do cimento fi nal. A resistência à compressão pode variar de um valor baixo como 40 MPa até 140 MPa. A relação entre a proporção pó-líquido e a resistência à compressão é pratica men te linear.

O cimento mostra um aumento inicialmente rápido de resistência, alcançando 50% de sua resistência fi nal dentro dos primeiros 10 minutos. Depois disso, a resis-tência aumenta mais lentamente, alcançando sua resis-tência fi nal após cerca de 24 horas. O cimento é muito frágil, e isso é refl etido por sua baixa resistência à tração, que é da ordem de 5-7 MPa. O módulo de elasticidade é de perto de 12 GPa, similar ao da dentina.

Consistência e Espessura de Película Para garantir um assentamento adequado da restauração quando o cimento de fosfato de zinco é utilizado como agente de cimentação, é importante que o cimento seja capaz de formar uma espessura de película muito fi na.

Durante a mistura, o pó é parcialmente dissolvido no ácido, de forma que o tamanho fi nal das partículas de pó remanescente na estrutura depois da presa varia de 2 a 8 μm. À medida que a mistura escoa rapidamente, uma espessura de película menor que 25 μm pode ser alcançada. Isto é adequado para a fi nalidade de cimen-tação, mas a espessura da camada é muito dependente do procedimento adotado.

A viscosidade da mistura aumenta muito rapidamente com o tempo. Dentro de poucos minutos a viscosidade pode ser muito alta, embora o material propriamente dito esteja ainda numa consistência manipulável. Contudo, é recomendado que a cimentação da restauração não seja atrasada, uma vez que a viscosidade reduzida pode resultar em uma espessura de película signifi cativamente maior para o cimento, e assim, em uma restauração ina-dequadamente assentada.

Solubilidade A solubilidade de um cimento é uma consideração importante, particularmente quando está sendo utilizado como um agente de cimentação. A dis-solução contribui para a infi ltração marginal em torno da restauração e resulta em penetração bacteriana. Isto pode causar tanto a perda da restauração ou, o que é mais provável, a indução de cáries recorrentes, que pode comprometer toda a estrutura dental.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS262

O cimento é altamente solúvel em água nas primeiras 24 horas após a presa, e a perda de material pode variar de 0,04% a 3,3%; o limite máximo aceitável é de 0,2%. Após esse período a solubilidade é muito reduzida. A solubilidade é altamente dependente da proporção pó-líquido do cimento, sendo desejada uma alta proporção. Uma vez que o material tem sua presa completa, ele per-manece apenas levemente solúvel em água (com alguma liberação de zinco e fosfatos), mas é ainda suscetível ao ataque ácido na presença do ácido lático. Uma vez que a presa fi nal leva algum tempo para ser alcançada, é impor-tante que o cimento não seja indevidamente exposto aos fl uidos orais.

Os cimentos que contêm fl uoretos apresentam uma liberação contínua de fl uoreto por um longo período. O fl uoreto capturado pelo esmalte dentário circundante deveria reduzir a probabilidade de descalcifi cação, espe-cialmente quando utilizado para a cimentação de bandas ortodônticas.

Aplicações A aplicação mais comum para o cimento de fosfato de zinco é como agente de cimentação para coroas, pontes metálicas e metalocerâmicas, embora seja também utilizado para outras aplicações como cimentação de bandas ortodônticas e como restauração temporária.

Esses cimentos apresentam várias vantagens, uma vez que:

■ são de fácil manipulação;■ possuem um tempo de presa bem-defi nido, exato;■ possuem uma resistência à compressão sufi ciente-

mente alta para resistir às forças de condensação do amálgama; e

■ são de custo baixo.

As características de fácil manipulação associada a suas propriedades retentivas adequadas tornaram os cimentos de fosfato de zinco muito popular entre os dentistas por mais de um século.

Entretanto, as desvantagens são que estes cimentos:

■ possuem um potencial para irritação pulpar devido ao seu baixo pH;

■ não têm ação antibacteriana;■ são frágeis;■ não possuem qualidades adesivas; e■ são relativamente solúveis no meio bucal.

Esses fatores contribuem para a incidência de cáries recorrentes associada a restaurações fundidas.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O cimento de fosfato de zinco está presente por mais de 100 anos e, apesar de suas limitações, continuará ainda a ser utilizado por muitos anos para a cimentação de restaurações metálicas e metalocerâmicas.

Cimentos de Policarboxilato de Zinco

Os cimentos de policarboxilato de zinco foram intro-duzidos na odontologia em 1968 quando um dentista de Manchester teve a brilhante ideia de substituir o ácido fosfórico por um dos novos ácidos poliméricos, chamado de ácido poliacrílico. Esses materiais torna-ram-se populares rapidamente entre os dentistas uma vez que forneciam o primeiro cimento capaz de se unir ao esmalte e à dentina. Seu mecanismo de união é o mesmo descrito para os cimentos de ionômero de vidro (Cap. 2.5).

ApresentaçãoEsses cimentos vêm como um pó branco e um líquido transparente e viscoso. Os constituintes do pó são o óxido de zinco e o óxido de magnésio, e o líquido é uma solução aquosa de ácido poliacrílico a 30%-40%.

Pó O pó é baseado na mesma formulação usada para os cimentos de fosfato de zinco, contendo óxido de zinco com aproximadamente 10% de óxido de magnésio, ou, às vezes, óxido de estanho. Também podem haver outros aditivos como a sílica, alumina ou sais de bismuto. O pó é queimado a altas temperaturas para controlar a velocidade de reação e é então triturado para obtenção do tamanho de partícula adequado. Algumas marcas também contêm fl uoreto estanhoso para conferir os benefícios da liberação de fl uoreto. Pigmentos podem estar presentes para fornecer uma variedade de cores.

Líquido O líquido é normalmente um copolímero de ácido poliacrílico com outros ácidos carboxílicos insatu-rados como os ácidos itacônico e maleico. (As estruturas dos ácidos poliacrílico e itacônico estão apresentadas no Capítulo 2.3.) O peso molecular do copolímero varia entre 30.000-50.000.

Nas formulações mais recentes, o ácido é liofi lizado e então adicionado ao pó, sendo o componente líquido nesse caso, a água destilada. Este método foi desenvol-vido com o objetivo de simplifi car a proporção correta entre os componentes, que antes era difícil devido à alta viscosidade do líquido. O pH é ajustado pela adição do hidróxido de sódio, e o ácido tartárico é adicionado para controlar a reação de presa.

Reação de PresaA reação básica de presa desses cimentos envolve a

reação entre o óxido de zinco e o copolímero ionizado do ácido acrílico e do ácido itacônico.

Quando o pó e o líquido são misturados, o ácido ataca o pó causando a liberação de íons de zinco. Isso é seguido pela formação de reações cruzadas (em forma de pontes de sal), da mesma forma que ocorre com o cimento de ionômero de vidro, exceto que, nesse caso, o zinco é que é responsável pela ligação cruzada em vez do cálcio e do alumínio, como mostrado na Figura 3.8.1.

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AGENTES DE CIMENTAÇÃO 263

O resultado da reação é uma estrutura nucleada na qual as partículas de pó não reagidas são confi nadas por uma matriz de poliacrilato de zinco.

PropriedadesTempos de Trabalho e de Presa Quando comparado ao cimento de fosfato de zinco, a reação de presa ocorre rapidamente; a manipulação deve ser completada dentro de 30-40 segundos para garantir um tempo de trabalho adequado.

A viscosidade desses cimentos não aumenta rapida-mente como a do cimento de fosfato de zinco. O efeito disso é que, após alguns minutos, a viscosidade do cimento de policarboxilato de zinco é menor do que aquela do cimento de fosfato de zinco, apesar de a vis-cosidade do cimento de policarboxilato de zinco ser inicialmente mais alta. Além disso, o cimento de policar-boxilato de zinco recém-manipulado tem a propriedade de ser pseudoplástico, e tem seu escoamento aumen-tado pela indução de forças de cisalhamento durante a mistura. Isto signifi ca que, embora o material possa parecer muito espesso para escoar adequadamente durante inserção, a pressão exercida faz com que o mate-rial escoe de maneira satisfatória.

Essa propriedade não é sempre apreciada pelo den-tista, que estará inclinado a produzir uma mistura mais fi na, pela redução da proporção pó-líquido acreditando erroneamente que isto fará com que o cimento escoe mais facilmente. Entretanto, fazendo isso, as proprieda-des do cimento são consideravelmente prejudicadas.

Em geral, quanto maior a proporção pó-líquido, ou quanto maior o peso molecular do copolímero, menor será o tempo de trabalho. A proporção recomendada para cimentação é de 1,5:1 em peso, o que dará um tempo de trabalho em temperatura ambiente de 2,5-3,5 minutos, e um tempo de presa de 6-9 minutos a 37oC.

Assim como com os cimentos de fosfato de zinco, o tempo de trabalho pode ser estendido pela utilização de uma placa de vidro resfriada ou pelo resfriamento do pó. Não é recomendado refrigerar os líquidos que ainda

contêm o ácido poliacrílico, uma vez que isso leva à geleifi cação do polímero devido à formação de pontes de hidrogênio.

A habilidade de estender o tempo de trabalho é particu-larmente útil para as misturas que apresentam uma maior proporção pó-líquido, como as que são utilizadas para bases de cavidades. Contudo, o pequeno tempo de tra-balho dos cimentos de policarboxilato de zinco tem sido citado como um problema potencial destes materiais.

Isso tem sido contornado com as formulações mais recentes pelo aumento da quantidade de ácido tartárico no material. O ácido tartárico tem a propriedade benéfi ca de estender o tempo de trabalho sem afetar signifi cativa-mente o tempo de presa.

Biocompatibilidade A presença do policarboxilato de zinco em contato com os tecidos duros e moles resulta apenas em uma resposta muito suave. Embora inicialmente apresente um pH baixo (numa variação de 3,0-4,0), isto não parece gerar o mesmo efeito adverso que os cimentos de fosfato de zinco. Sugere-se que isto seja devido ao rápido aumento do pH culminando na sua neutralização durante a presa e a uma capacidade limitada do poliácido de penetrar na dentina.

Os cimentos de policarboxilato de zinco apresentam algumas propriedades antimicrobianas, o que signi-fi ca formação de uma barreira mais efi ciente contra a entrada de bactérias comparativamente aos cimentos de fosfato de zinco; esta resistência ao ingresso de bactérias é aumentada pela qualidade adesiva do material.

Tais fatores são provavelmente responsáveis pela ausência de resposta pulpar, em vez do pH mais alto e do peso molecular elevado do ácido, em comparação com os cimentos de fosfato de zinco, apesar de que esses últimos fatores também contribuem para a suavidade do material.

O fl uoreto estanhoso é frequentemente incorporado aos cimentos, e isto não parece afetar a resposta bioló-gica. A liberação de fl uoretos parece ser sufi ciente para produzir um efeito genuinamente benéfi co no esmalte e na dentina adjacentes.

Propriedades Mecânicas Quando o cimento é prepa-rado em uma consistência adequada para o procedimento de cimentação, a resistência à compressão do cimento após a presa completa é de 55-85 MPa. Esta resistência depende da proporção pó-líquido utilizada e é um pouco menor que a dos cimentos de fosfato de zinco.

Entretanto, a resistência à tração é maior, estando na faixa de 8-12 MPa. O módulo de elasticidade está em torno de 4-6 GPa, o que corresponde aproximadamente à metade daquele do cimento de fosfato de zinco.

Como já mencionado, os cimentos de policarboxilato de zinco tomam presa rapidamente, e isto é refl etido no tempo que este material leva para alcançar sua resistência completa; o cimento alcançará 80% da sua resistência fi nal dentro de uma hora. A armazenagem em longo

Figura 3.8.1 Íons de zinco promovendo ligações cruzadas entre os grupos carboxílicos nas cadeias poliméricas do ácido poliacrílico.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS264

prazo em água não parece produzir efeitos adversos nas propriedades mecânicas.

Solubilidade A solubilidade em água tem sido medida em 0,1% a 0,6% em peso, com valores mais altos de solubilidade ocorrendo para os cimentos que contêm fl uoreto estanhoso.

Assim como nos cimentos de fosfato de zinco, esses cimentos são suscetíveis ao condicionamento ácido, mas até agora isso não parece ser sufi cientemente sério para ter qualquer importância clínica, como mostrado pelos bons resultados clínicos obtidos com a utilização deste cimento. Quando ocorre falha esta é geralmente devido a uma manipulação inadequada do material, estando em geral relacionada ao uso de uma proporção pó-líquido muito baixa, possivelmente com o objetivo de estender o tempo de trabalho.

Adesão Uma característica do cimento de policarboxi-lato de zinco que o separa dos cimentos de fosfato de zinco e óxido de zinco e eugenol é sua capacidade de adesão ao esmalte e à dentina.

O mecanismo de união é o mesmo daquele dos cimen-tos de ionômero de vidro, e já foi discutido no Capítulo 2.3. A qualidade da união é tal que é mantida in vivo e pode ser sufi cientemente boa para exceder a resistência coesiva do cimento. Sendo este o caso, a resistência de união está de fato limitada pela baixa resistência à tração do cimento, e desta forma não excede 7-8 MPa.

A união a algumas superfícies metálicas é possível com os cimentos policarboxilato de zinco, e isto pode ser muito benéfi co quando utilizado como agente de cimen-tação de restaurações fundidas. Isto envolve novamente íons específi cos se unindo à superfície metálica.

A união às ligas de ouro não é boa, resultando em geral em uma falha de união na interface devido à natu-reza altamente inerte da superfície das ligas de ouro. Isto pode ser melhorado pelo jateamento ou abrasão da superfície, fornecendo assim alguma união mecânica, entretanto o benefício é mínimo.

Valores de resistência de união maiores são obtidos com as ligas metálicas básicas (originando o surgimento de mais falhas coesivas que adesivas em testes de resis-tência de união), e estão provavelmente relacionadas à presença de uma camada de óxidos que fornece os íons metálicos necessários. A resistência de união não é especialmente alta devido à baixa resistência coesiva dos cimentos de policarboxilato de zinco.

AplicaçõesOs cimentos de policarboxilato de zinco podem ser uti-lizados para a cimentação de coroas metalocerâmicas, de cerâmicas reforçadas para núcleo etc., e também têm sido utilizados para a cimentação de bandas ortodônticas.

Apresentam as seguintes vantagens:

1. Apresentam união ao esmalte e à dentina, assim como a algumas das restaurações metálicas.

2. Geram baixa irritação pulpar.3. Sua resistência, solubilidade e espessura de película

são comparáveis às do cimento de fosfato de zinco.4. Apresentam ação antibacteriana.

As desvantagens são:

1. Suas propriedades são altamente dependentes dos pro-cedimentos de manipulação.

2. Apresentam tempo de trabalho curto e tempo de presa longo.

3. Uma técnica minuciosa é requerida para garantir a união.

4. A limpeza é difícil e o controle do tempo é crítico.

Se a remoção do excesso de material for realizada precocemente e o material ainda estiver em sua fase borrachoide, o selamento marginal poderá ser compro-metido. De forma oposta, se a remoção do excesso for retardada, esta será difi cultada devido a sua excelente união ao dente.

Embora a vantagem potencial da liberação de fl uoreto tenha trazido alguma popularidade a esse cimento, o uso corriqueiro dos cimentos de policarboxilato de zinco parece ser muito limitado e muitos dentistas preferem utilizar o cimento de fosfato de zinco ou o cimento de ionômero de vidro. A percepção entre os clínicos é que existe muito pouca diferença entre escolher o cimento de policarboxilato de zinco e o de ionômero de vidro e isso é suportado pelos dados laboratoriais sobre esses produtos. Os cimentos de ionômero de vidro descritos a seguir são considerados um pouco mais fáceis de ser utilizados.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Os cimentos de policarboxilato de zinco são uma alternativa viável aos cimentos de fosfato de zinco, com o benefício adicional da adesão ao esmalte e à dentina. Entretanto, esses cimentos não parecem ser tão populares quanto os outros cimentos à base de água.

Cimentos de Ionômero de Vidro e Cimentos de Ionômero de Vidro Modifi cados por Resina para Cimentação

Embora muitas das propriedades dos cimentos de ionô-mero de vidro, como liberação de fl uoretos e adesão ao esmalte e à dentina, são as mesmas do material restaura-dor descrito em detalhes no Capítulo 2.3, alguns requisi-tos são diferentes. Por exemplo, visto que o espaço entre a restauração e os tecidos dentários é apenas da ordem de 20-50 μm, é importante que o agente de cimentação apresente uma espessura de película muito fi na. Por esta razão o pó de vidro deve apresentar um tamanho de

Page 276: Introdução Aos Materiais Dentários

AGENTES DE CIMENTAÇÃO 265

partícula menor do que aquele dos materiais de para restauração. Uma vez que a alteração no tamanho de par-tícula do pó de vidro altera as características de trabalho e presa, composições diferentes de vidro e de poliácido devem ser utilizadas em relação às utilizadas para os materiais restauradores de forma a manter propriedades ideais. Isto também signifi ca que não é aceitável utilizar a versão restauradora de um cimento de ionômero de vidro e modifi car sua reologia da redução da proporção pó-líquido.

O tempo de trabalho pode afetar a espessura de pelí-cula de forma que tempos de trabalho mais longos per-mitirão maior escoamento e auxiliarão no assentamento da restauração. Quando o material começa a tomar presa, a viscosidade aumenta rapidamente e o escoamento tor-na-se impossível. Assim, é muito importante que a mani-pulação e inserção do cimento sejam concluídas dentro de 2-2,5 minutos, visto que, após esse tempo, o material se torna rígido, resultando em uma película espessa. É uma questão de preferência e familiarização decidir se um tempo de trabalho mais curto ou levemente mais longo é desejado.

Foi sugerido que algumas das formulações mais recen-tes dos cimentos de ionômero de vidro para cimentação não necessitam da proteção de uma cobertura de superfí-cie porque apresentam uma presa mais rápida. A solubili-dade, medida pelo componente perdido em água em sete minutos, foi reduzida de quase 2% para 1% na transição de um cimento convencional para um cimento endure-cido por água. Esta solubilidade parece ser ainda menor para os cimentos à base de ácido maleico. Contudo, é ainda apropriado continuar realizando algum tipo de proteção inicial, uma vez que a dissolução devido à erosão ácida continuará a ser um problema. De qualquer forma, ainda leva algum tempo para que esses materiais atinjam sua presa fi nal.

É melhor utilizar um cimento específi co para cimenta-ção do que alterar a proporção pó-líquido de um cimento de ionômero de vidro restaurador com o objetivo de modifi car os tempos de trabalho e presa ou a espessura de película. A modifi cação da proporção pó-líquido do

material restaurador resultará apenas em um material com propriedades inferiores.

Não são apenas as propriedades de manipulação dos diferentes agentes de cimentação que variam, mas também os requisitos físicos e mecânicos. Uma compa-ração de algumas propriedades de dois cimentos disponí-veis comercialmente está presente na Tabela 3.8.2.

Com relação às propriedades mecânicas, os resultados indicariam que o Aqua-Cem (Dentsply Ltd, Weybridge, Reino Unido) apresenta uma menor rigidez (o que poderia ser responsável pela maior resistência à fl exão e à tração diametral), mas isto é à custa da resistência à compressão e a resistência ao creep. O Ketac-Cem (3M/ESPE, Seefeld, Alemanha) é levemente mais frágil que o Aqua-Cem. Em ambos os casos, os materiais apresentam baixa resistência à fratura e precisam ser bem-suportados pelas estruturas circundantes. Clinicamente, observa-se que é mais fácil remover o Ketac-Cem dos tecidos moles que o Aqua-Cem. Isto provavelmente se deve ao fato do primeiro ser mais frágil imediatamente após a colocação.

Recentemente, a variedade de materiais foi ampliada para incluir os agentes de cimentação de ionômero de vidro modifi cados por resina. Estes apresentam todas as vantagens potenciais já discutidas com relação aos cimentos forradores e restauradores. Em particular, a baixa solubilidade e a boa adesão ao esmalte e à dentina auxiliam a produzir um selamento marginal duradouro e auxiliam também na retenção. A principal diferença entre esses cimentos e os cimentos restauradores e de for-ramento é que eles necessitam de uma ativação química (ativação no escuro) uma vez que nem sempre é a fonte de luz consegue alcançar o material. Exemplos de mate-riais disponíveis comercialmente são:

PRODUTOS FABRICANTE

PROTEC-CEM Ivoclar-Vivadent, Schaan, LiechtensteinRely-X 3M/ESPE, St Paul, EUA FUJI PLUS GC International Corp, Tóquio, Japão

Tabela 3.8.2 Propriedades físicas e mecânicas de dois cimentos de ionômero de vidro

Aqua-Cem (De Trey) Ketac-Cem (3M/ESPE)

Radiopacidade Não Não

Solubilidade em água

7 minutos 0,90% 1,00%

1 hora 0,46% 0,40%

Solubilidade em solução de ácido lático – 0,57%

Resistência à compressão em 24 horas 82 MPa 105 MPa

Resistência à tração diametral em 24 horas 7,6 MPa 5,3 MPa

Resistência à fl exão em 24 horas 15,2 MPa 4,1 MPa

Creep em 24 horas 1,37% 0,63%

Page 277: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS266

Esses cimentos têm sido recomendados para o uso com coroas, pontes e inlays metálicas, coroas e pontes metalocerâmicas e cerâmicas reforçadas para núcleo.

Quando agentes de cimentação de ionômero de vidro foram utilizados pela primeira vez, existiram alguns relatos de que o uso desse material resultava em uma incidência mais alta de sensibilidade pós-operatória. En -tretanto, o consenso atual é que não existe uma dife-rença signifi cativa na sensibilidade pós-operatória entre os cimentos de ionômero de vidro e de fosfato de zinco. Em todos os outros aspectos, também parece não haver diferença no desempenho destes cimentos quando utili-zados para a cimentação de coroas e pontes.

Dados clínicos no uso de cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina para cimentação são escas-sos. A literatura registra a ocorrência de expansão higros-cópica associada a esses materiais e, ao mesmo tempo que este comportamento pode ser benéfi co reduzindo uma fenda marginal em torno de uma restauração Classe V, essa expansão pode também ser responsável pela fratura de coroas de cerâmica pura. O problema se torna ainda mais sério se o cimento de ionômero de vidro modifi -cado por resina for também utilizado como material de núcleo. Pinos metálicos com retenção mecânica compro-metida podem se benefi ciar da utilização de um cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina. Entretanto, os clínicos devem estar atentos ao fato de que se o pino precisar ser removido algum tempo depois, a remoção de pinos cimentados com um ionômero de vidro modi-fi cado por resina pode ser muito difícil.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Os cimentos de ionômero de vidro tornaram-se uma alternativa popular ao cimento de fosfato de zinco especialmente para restaurações de cerâmica pura reforçada para núcleo. O uso dos cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina para a cimentação de restaurações de cerâmica pura parece ser contraindicado até que mais evidências clínicas estejam disponíveis.

UNIÃO RESINA-CERÂMICA

Até bem pouco tempo atrás, todas as restaurações puras de cerâmica eram cimentadas apenas com cimentos con-vencionais como os cimentos de fosfato de zinco, poli-carboxilato de zinco e ionômero de vidro, contando, portanto, com a resistência da cerâmica pura reforçada para núcleo para resistir às forças oclusais normais. Isso mudou com a introdução das cerâmicas cimentadas com cimentos resinosos. Assim como no caso do esmalte, os cimentos resinosos não têm uma afi nidade natural para se unir às superfícies cerâmicas. Apenas com o advento

o condicionamento com ácido fl uorídrico das cerâmicas dentárias introduzido por Horn em 1983 para a confec-ção de facetas laminadas, é que a união direta ao esmalte usando cimento resinoso tornou-se possível. A combina-ção da adesão fornecida pela adesão da resina ao esmalte condicionado pelo ácido fosfórico, de sistemas adesivos dentinários capazes de se unirem à dentina, união da resina à cerâmica condicionada por ácido hidrofl uorí-drico (HF) e por silano (Fig. 3.8.2) e as melhorias das características de resistência e tenacidade das cerâmicas dentárias produziu restaurações com excelente integri-dade mecânica tanto para uso anterior quanto poste-rior. A união adesiva tem o efeito de eliminar defeitos de superfície preenchendo a superfície com uma inter-face, reduzindo assim o potencial de fratura. Entretanto, o desempenho da cerâmica depende crucialmente da obtenção e manutenção de uma forte união à estrutura dental, o que requer uma apreciação completa de todos os aspectos dos princípios de adesão. Um agente de união é utilizado para garantir uma união química forte entre cimento resinoso e a cerâmica. Deste modo, a união do cimento resinoso à cerâmica é baseada em um condi-cionador ácido que cria uma superfície micromecanica-mente retentiva e em um agente de união que estabelece a união química com a cerâmica.

Condicionamento pelo Ácido Hidrofl uorídrico

A superfície de adaptação de uma cerâmica, quando con-feccionada sobre um troquel refratário, é inerentemente rugosa devido ao jateamento utilizado para a remoção do refratário. A aplicação de ácido hidrofl uorídrico à superfície de adaptação de uma cerâmica, como uma feldspática reforçada por leucita, aumenta ainda mais a rugosidade de superfície, devido à remoção preferen-cial da fase cristalina de leucita ou da fase vítrea. Um exemplo disso é mostrado na Figura 3.8.3, em que uma imagem em microscópio eletrônico de varredura no

Condicionamento por ácido fosfórico+ sistema adesivo dentinário

Dentina

Esmalte

Resina Cerâmica

Condicionamento ácido por HF + silano

Figura 3.8.2 Esquema das interfaces de união durante a cimentação de inlay cerâmica.

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AGENTES DE CIMENTAÇÃO 267

modo de elétrons retroespalhados revela uma composi-ção heterogênea de uma cerâmica reforçada por leucita. Esta heterogeneidade pode ser realizada por condicio-nar preferencialmente por um dos componentes com o ácido hidrofl uorídrico. O efeito deste condicionamento

é mostrado na Figura 3.8.4, que revela uma superfí-cie altamente retentiva, do ponto de vista micromecâ-nico, devido à remoção preferencial da fase de leucita. O cimento resinoso é capaz de penetrar nesses espaços microscópicos e produzir uma união muito forte.

Figura 3.8.4 A superfície de uma cerâmica reforçada por leucita vista sob microscopia eletrônica de varredura depois de ter sido condicionada com ácido hidrofl uorídrico. As reentrâncias superfi ciais são resultantes de uma dissolução mais rápida da leucita no ácido hidrofl uorídrico e não da matriz vítrea.

Figura 3.8.3 Imagem de microscopia eletrônica de varredura no modo de elétrons retroespalhados da superfície de uma cerâmica de leucita. As regiões cinzas são os vidros de feldspato, enquanto que as regiões mais claras são os cristais de leucita.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS268

No caso da fratura intraoral da cerâmica, a superfí-cie da cerâmica deve primeiramente ser condicionada in situ com uma solução de ácido hidrofl uorídrico para criar uma superfície micromecanicamente retentiva. Uma estrutura fraturada, mesmo que asperizada com uma ponta diamantada, não fornecerá uma superfície micromecânica retentiva como a obtida com o condi-cionamento da superfície. O uso do ácido hidrofl uorí-drico na boca deve ser realizado com grande cuidado, uma vez que este material é altamente tóxico. Géis de fl úor fosfatado acidulado também podem ser utilizados, mas o longo tempo de condicionamento é proibitivo. O ácido fosfórico é inefi ciente como condicionador porque a cerâmica é totalmente resistente ao condicionamento com este ácido, embora algumas vezes possa ser usado com um agente de limpeza para superfícies.

Existem alguns problemas gerais com o condiciona-mento pelo ácido hidrofl uorídrico que o dentista precisa estar ciente:■ O ácido hidrofl uorídrico é uma substância altamente

tóxica e deve ser manipulada com cuidado.■ Se o ácido hidrofl uorídrico não for completamente

neutralizado, ele pode ser lixiviado e causar danos teciduais algum tempo depois.

■ O gel de ácido hidrofl uorídrico tende a escoar, de forma que as bordas laterais de algumas facetas podem não ser completamente condicionadas. Isto pode gerar infi ltração marginal e lascamento da cerâmica.

■ Danos à margem gengival vestibular da faceta ou do inlay pelo condicionador podem levar à retenção de placa, resposta infl amatória gengival e lesões de cárie secundária.

Silano

Quando dois materiais são incompatíveis, é normalmente possível proporcionar essa compatibilidade com o uso de um terceiro material que apresente propriedades inter-mediárias entre os outros dois. Resinas não apresentam a capacidade de união química a uma superfície cerâmica e, além disso, a interface entre o cimento resinoso e a cerâmica tem de ser capaz de resistir às tensões geradas pelas cargas aplicadas à estrutura e também às tensões de contração de polimerização. Assim, um agente de união pode ser utilizado para contornar este problema (Cap. 1.10).

O agente de união mais comumente utilizado em con-junto com as restaurações cerâmicas é o silano, γ-metacri-loxipropiltrimetoxisilano (γ-MPTS). Um relato detalhado de como este silano em particular atua é fornecido no Capítulo 2.2.

No caso das restaurações de cerâmica cimentadas com cimento resinoso, o dentista terá que silanizar a superfí-cie cerâmica. Desta forma, um fator que merece ser consi-derado é o método de aplicação de um silano à superfície cerâmica. Em condições ideais, uma camada única de silano é o sufi ciente para converter a superfície cerâmica com grupamentos Si-OH em um metacrilato, na verdade mais do que uma única camada é aplicada. De fato, o que é formado é uma interfase, que consiste em uma camada múltipla de silano contendo muitos oligômeros que não são especialmente bem-unidos à superfície cerâ-mica ou à resina (Fig. 3.8.5); isto pode comprometer a estabilidade hidrolítica da união cerâmica-cimento resi-noso. O simples procedimento de lavar a superfície da

Interface quimicamenteunida

Interfasedifusa

Corpo domineral

M O Si

M O Si

M O Si

M O Si

M O Si

M O Si

M O Si

Polímero

Figura 3.8.5 A camada interfásica entre o vidro e a resina criada pela aplicação de um silano [adaptado de Chiang e Koeing (1982) J Polym Sci: Polym Phys Ed).

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AGENTES DE CIMENTAÇÃO 269

cerâmica após o tratamento com silano, com o objetivo de remover os oligômeros fracamente unidos, ajuda a reduzir o problema. Isto gera uma união que é muito mais estável hidroliticamente do que se o silano fosse apenas aplicado e deixado secar.

Muitos dos kits de resinas para cimentação fornecem agora um agente de união à base de silano que pode ser aplicado diretamente às superfícies de adaptação (limpas) de facetas ou de inlays assim que são recebidas do laboratório de prótese, ou que pode ser utilizado para o reparo de restaurações cerâmicas fraturadas.

A limpeza minuciosa das superfícies cerâmicas com álcool isopropílico, acetona ou ácido fosfórico é neces-sária depois de averiguar a adaptação da faceta ou inlay e antes da aplicação do silano. Isso é necessário com o objetivo de remover qualquer tipo de contaminante de superfície, como gordura ou saliva, o que poderia inter-ferir com a aplicação do silano.

Para alguns produtos, é recomendado que uma solução de ácido fosfórico seja adicionada ao agente de união para hidrolisá-lo antes da aplicação na superfície da cerâ-mica (Fig. 3.8.6). Outros são feitos com uma solução diluída de silano ativado em álcool etílico. Neste caso, a adição da solução de ácido fosfórico não é necessária porque o silano já está hidrolisado, embora isso reduza a vida útil do silano.

Cimentos Resinosos

Os cimentos resinosos ou resinas para cimentação for-necem um importante meio para fechar o espaço entre a cerâmica tratada com silano e a estrutura do dente preparado. Pela demanda estética das facetas de cerâmica pura, uma resina composta para cimentação é preferí-vel, devido a sua superior estética e resistência quando comparada com os cimentos à base de água e à união

superior obtida com as superfícies cerâmicas condicio-nadas e silanizadas. Os cimentos resinosos são, de fato, compósitos com pouca carga, com partículas de carga de pequeno menor, para garantir uma espessura de película fi na. Estes cimentos resinosos estão disponíveis em uma grande variedade de cores e níveis de translucidez, o que fornece uma estética marginal excelente.

Os primeiros cimentos resinosos eram ativados pela luz visível; atualmente a tendência é em direção ao uso de cimentos resinosos fotoativados com a opção de dupla ativação. Isso torna os cimentos adequados tanto para as facetas quanto para as inlays. A questão é que os cimentos resinosos ativados pela luz visível podem não se polimerizar adequadamente quando utilizadas para a união de inlays espessas, uma vez que a luz pode não ser capaz de penetrar por toda a espessura da inlay. De forma semelhante, a tendência para cimentação de coroas de cerâmica puras requer o uso de um cimento de dupla ativação para garantir a completa polimerização do cimento. Exemplos típicos são:

PRODUTO FABRICANTECalibra Dentsply, Konstanz, AlemanhaRelux ARC 3M/ESPE, Seefeld, AlemanhaNexus Keer Corp, Orange, CA, Estados UnidosVariolink Ivoclar-Vivadent, Schaan, Liechtenstein

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A capacidade de unir às cerâmicas condicionadas pelo ácido hidrofl uorídrico e tratada com silano com os cimentos resinosos transformou o uso das cerâmicas dentro da Odontologia Restauradora.

UNIÃO RESINA-METAL

A capacidade de unir cimentos resinosos aos metais é de interesse crescente, uma vez que a variedade de aplica-ções continua a aumentar. Essas incluem:

■ A utilização de resinas ao invés de cerâmicas como facetas das infraestruturas metálicas especialmente para próteses retidas por implantes.

■ Cimentação de próteses adesivas com preparos conservadores.

■ Cimentação resinosa de coroas e pontes convencio-nais em que a retenção está comprometida.

■ Reparos intraorais de fraturas de cerâmicas em restau-rações metalocerâmicas.

Os três primeiros itens requerem a adesão de uma resina a uma liga bem-defi nida, ao passo que no último caso a liga pode não ser conhecida. Todos representam

γ-metacriloxipropiltrimetoxisilano

CH3

OCH32CH CH CH2 2C C O Si

OCH3

OCH3

CH2

O

Ativado pelo ácido

CH3

OH2CH CH CH2 2C C O Si

OH

OH

CH2

O

Figura 3.8.6 Ativação ácida de um silano.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS270

um desafi o e muitos novos tratamentos de superfície e adesivos resinosos tornaram-se disponíveis.

Com o objetivo de melhorar a união entre o metal e a resina, algumas abordagens diferentes foram exploradas. Inicialmente, isso envolveu o uso de características reten-tivas macroscópicas, mas aos poucos procedimentos ade-sivos envolvendo uma união micromecânica e/ou química foram desenvolvidos. O último pode ser realizado com um adesivo resinoso com grupamentos funcionais que se unem diretamente aos metais. Outra abordagem é o uso de promotores de união, como o recobrimento por sílica, galvanização com estanho, coberturas triboquími-cas e primers para metal que têm sido desenvolvidos de forma a melhorar a união entre o metal e as resinas mais convencionais à base de Bis-GMA ou UDMA. Existe uma complicação adicional, pois a efi ciência de muitos destes produtos depende se o objetivo é realizar a união a uma liga áurea ou a uma liga básica.

União Macromecânica

Desde a década de 1940, os laboratórios dentários uti-lizavam resina para o facetamento de próteses parciais de cromo-cobalto. Naquele tempo, a resina era polimetil metacrilato, que era unida à estrutura metálica por reten-ção mecânica. Alguns problemas surgiram em função da resina não se adaptar bem ao metal devido à grande contração de polimerização do metilmetacrilato, resul-tando na formação de microfendas, descoloração, perda e fratura. Com a chegada das restaurações metalocerâmicas nos anos 1960, muitos desses problemas foram contorna-dos. A partir dos anos 1980 houve um ressurgimento do interesse no uso de resinas para facetamento de infraes-truturas metálicas, o que correspondeu à disponibilidade das resinas compostas melhoradas a partir dessa época. Naquele tempo, a união ainda era feita por retenção mecânica. Para esta retenção mecânica eram necessárias pérolas, telas ou alças no desenho do metal. Um problema era que a infraestrutura necessitava ser mais espessa para acomodar as macrorretenções, por isso métodos aprimora-dos para a união da resina ao metal eram necessários.

Na clínica odontológica a situação não foi diferente. Em 1973, Rochette registrou o uso de estruturas metáli-cas que eram unidas por resina ao esmalte condicionado. Ele utilizou fundições metálicas fi nas perfuradas, unidas com resina acrílica quimicamente ativada, para esplintar incisivos inferiores com mobilidade que estavam afeta-dos por perdas ósseas avançadas. Após o êxito desses aparelhos, ele teve que extrair um dos incisivos, e então a ideia de adicionar um pôntico à esplintagem foi con-cebida pela primeira vez. Isto forneceu um meio de subs-tituir um elemento dentário, que envolvia um mínimo preparo dentário. À medida que a tecnologia das resinas melhorou, o conceito foi explorado em mais detalhes por outros pesquisadores. Uma defi ciência do desenho da prótese de Rochette era a utilização de pequenas per-

furações para a retenção. Isto expunha a resina ao des-gaste e signifi cava que a fi xação era restrita apenas a uma pequena área do retentor metálico. Outros artifícios de macrorrentenções, como as utilizadas em estruturas metálicas produzidas em laboratórios dentários, não re -solveram o problema.

União Micromecânica

O problema de ter que confi ar nas macrorretenções foi contornado até certo ponto no início dos anos 1980, quando uma forma de tratamento das ligas de Ni-Cr foi desenvolvida. Com este método, toda a superfície de adaptação do retentor recebia retenções micromecânicas pelo condicionamento eletrolítico ou por gel ácido. Essa técnica é somente aplicada às ligas de Ni-Cr ou Co-Cr, que apresentam uma microestrutura eutética como mos-trado na Figura 3.8.7. A principal liga utilizada para restaurações metalocerâmicas é a liga de Ni-Cr, devido à maior difi culdade de união da cerâmica à liga de Co-Cr. O processo de condicionamento remove preferencial-mente uma das fases, o que resulta em uma superfície de aparência com sulcos e depressões como mostrado na Figura 3.8.8. Esta técnica fornece uma superfície altamente retentiva, que adere fortemente aos cimentos resinosos devido ao alto grau de embricamento micro-mecânico formado. Ela une toda a área do retentor ao esmalte condicionado e protege a resina subjacente. Os retentores podem ser confeccionados com uma espessura mínima de 0,3 mm, e podem ser encerados diretamente sobre os modelos refratários, resultando em uma adap-tação precisa. As pontes confeccionadas pelo método de eletrocondicionamento foram chamadas pontes de Maryland, pois foi lá que esta técnica foi desenvolvida.

Figura 3.8.7 Microestrutura eutética de uma liga de Ni-Cr vista em microscopia eletrônica de varredura no modo de elétrons retroespalhados.

Page 282: Introdução Aos Materiais Dentários

AGENTES DE CIMENTAÇÃO 271

Entretanto, com o advento de outros métodos de obten-ção de uma união resina-metal, outros termos como próteses adesiva ou próteses de preparo conservador são comumente utilizados.

Uma vez que o condicionamento elétrico requer um alto grau de habilidade e equipamento específi co, o pro-cesso do condicionamento por gel ácido se tornou o mais popular dos dois. O gel é uma solução de ácido hidrofl uorídrico em alta concentração, que é altamente tóxica e precisa ser manipulada com cuidado.

As principais vantagens das próteses adesivas são:

■ requer preparo mínimo do esmalte sem a necessidade de anestesia local;

■ os procedimentos deixam o dente praticamente intacto, de forma que opções de tratamento conven-cionais possam ainda ser utilizadas no futuro;

■ a possível irritação pulpar é prevenida uma vez que normalmente não há exposição da dentina.

As desvantagens incluem:

■ alta taxa de descolamento para os retentores;■ alterações de cor nos dentes pilares anteriores devido

à transparência do retentor metálico; e■ aplicável apenas às ligas de Ni-Cr.

O problema estético pode ser contornado de alguma forma pela utilização de cimentos resinosos opacos. A alta taxa de descolamento é mais difícil de resolver e pode requerer uma reconsideração cuidadosa do desenho dos retentores e das propriedades dos cimentos resinosos disponíveis.

Uma vez que a prótese depende do esmalte para sua união, uma quantidade sufi ciente de esmalte é

necessária para unir os retentores. Coroas curtas, res-taurações extensas, defeitos congênitos e perda da superfície dentária podem impedir o uso dessas res-taurações fundidas adesivas. Além disso, para dentes pilares muito destruídos, as pontes convencionais são mais indicadas.

Os cimentos resinosos são essencialmente muito simi-lares aos materiais restauradores de resina composta, consistindo em uma resina de Bis-GMA ou UDMA e partículas de carga de vidro. O ponto em que os cimentos resinosos diferem dos compósitos restauradores é que são invariavelmente sistemas de duas pastas com ativação química ou de dupla ativação, uma vez que o acesso a luz é restrito pelos retentores metálicos. A partícula de carga é menor que 20 μm e a quantidade de carga tende a ser levemente menor com o objetivo de garantir uma fi na espessura de película. Um opacifi cador óptico como o óxido de titânio pode ser adicionado para prevenir a transparência do metal pela estrutura dental.

Uma das desvantagens desta técnica restauradora é a relutância por parte de alguns clínicos em utilizar ligas de Ni-Cr, uma vez que o níquel é um alérgeno conhe-cido. Algumas dessas ligas também contêm berílio, que é altamente tóxico em seu estado livre. O berílio (Be) está geralmente presente com o objetivo de melhorar a fundibilidade da liga de Ni-Cr e de fornecer uma micro-estrutura eutética superior para um condicionamento efetivo. Entretanto, o berílio pode ser liberado durante o desgaste e polimento das fundições, e, portanto, téc-nicos dentários estão provavelmente sob maior risco do que o dentista e o paciente. Por isso, a preferência dos laboratórios é por ligas sem berílio, que, infelizmente, não são tão bem condicionadas.

Figura 3.8.8 Vista de uma microscopia eletrônica de varredura da superfície de uma liga de Ni-Cr após ter sido condicionada com gel condicionador.

Page 283: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS272

Outra restrição desta abordagem é que não é possí-vel condicionar ligas nobres uma vez que apresentam uma microestrutura relativamente homogênea. Por isso, não é possível utilizar a técnica de condicionamento para união de cimentos resinosos com ligas de metais preciosos.

Cimentos Resinosos Quimicamente Ativados

Com o objetivo de evitar a rejeição dos laboratórios den-tários de utilizar as ligas de Ni-Cr que contêm berílio, e com o desejo de evitar o processo de condiciona-mento, alguns outros meios de união às ligas tiveram que ser encontrados. A difi culdade aqui é que as resinas de Bis-GMA e UDMA não aderem bem às superfícies metálicas não tratadas, contando apenas com a adesão micromecânica e física. A última tende a ser rapidamente superada pelo ataque hidrolítico uma vez que a água é absorvida na interface, deslocando a resina. O jatea-mento de ligas e metais básicos com jato de alumina de 50 μm produz alguma rugosidade de superfície para uma adesão micromecânica, como mostrado na Figura 3.8.9. Entretanto, a superfície não apresenta reentrâncias associadas ao condicionamento de superfície sendo con-siderada inadequada. Por esta razão, os cimentos resino-sos à base de Bis-GMA e UDMA não podem ser utilizados diretamente sobre uma superfície metálica jateada, uma vez que a união às superfícies metálicas jateadas não é sufi cientemente forte com estes cimentos resinosos.

Com o objetivo de melhorar a união adesiva das resinas às superfícies metálicas, uma variedade de cimen-tos resinosos de dupla ativação foi desenvolvida, na qual o componente resinoso foi modifi cado para possuir a capacidade de se unir quimicamente à superfície metálica

adequadamente preparada. Essas resinas para cimentação são em geral citadas como cimentos resinosos quimica-mente ativados para diferenciá-los das resinas simples de Bis-GMA. Em um sistema, o componente ativo é o monômero carboxílico 4-META (4-metacriloxietil trime-litato anidro), e está comercialmente disponível como C&B Superbond (Sun Medical Co., Shiga, Japão). Outra abordagem é incorporar um monômero metacrilato fos-fatado como o MDP (metacriloxietil-fenil fosfato). Um exemplo deste cimento resinoso é o Panavia 21 (Kuraray Co, Osaka, Japão). A união pela resina é facilitada pela alta afi nidade das resinas que contêm derivados do ácido carboxílico ou de ácido fosfórico com os óxidos metá-licos das ligas básicas (Fig. 3.8.10). Existe ainda outro cimento resinoso quimicamente ativado, que consiste em um monômero que tem dois grupamentos de ácido fosfórico e duas duplas ligações de C=C, tornando o cimento altamente reativo (Rely-X Unicem, 3M/ESPE, Ann Arbor, Estados Unidos). Pela incorporação de uma partícula de carga levemente solúvel em meio ácido que é capaz de reagir com um monômero acídico, o pH aumenta rapidamente para um nível neutro, com o benefício adicional da liberação de íons de fl uoreto.

Uma vez que esses cimentos podem oferecer uma união duradoura à superfície metálica jateada de uma liga de Ni-Cr, não há necessidade de condicionamento, assim, não há necessidade de equipamento laboratorial especializado ou do uso de reagentes químicos perigo-sos. Com o advento desses cimentos, é possível formar uma união adesiva quimicamente forte entre uma liga metálica básica jateada e o esmalte condicionado. Apesar desses cimentos quimicamente ativados serem excelen-tes para a cimentação de ligas básicas, eles apresentam afi nidade relativamente baixa com as ligas nobres, como

Figura 3.8.9 Microscopia eletrônica de varredura da superfície de uma liga de Ni-Cr após jateamento com alumina.

Page 284: Introdução Aos Materiais Dentários

AGENTES DE CIMENTAÇÃO 273

as ligas de ouro e paládio devido à ausência de uma camada de óxidos na superfície.

Modifi cação Química da Superfície da Liga

A qualidade de união ruim entre os metais preciosos e os cimentos quimicamente ativados é devido à baixa reatividade da superfície das ligas nobres quando compa-rada com àquela dos metais básicos. Este problema pode ser contornado pela modifi cação da superfície do metal nobre de forma a torná-lo mais suscetível à formação de uma união com o cimento resinoso. Três opções popu-lares estão disponíveis, a saber:

■ aplicar uma camada à superfície que criará uma união mi -cromecânica, por exemplo, galvanização com estanho;

■ alterar a química da superfície por meio da cobertura com sílica ou cobertura triboquímica; e

■ aplicar primers para metal especialmente formulados.

Galvanização com EstanhoA galvanização com estanho é baseada em uma invenção que oferece um meio de união da resina às ligas nobres e preciosas no consultório dentário. O procedimento deposita uma fi na camada de estanho na superfície da liga, que pode ser percebido pelo aparecimento de uma coloração cinza. A camada de superfície produzida é irre-gular em sua forma e fornece retenção micromecânica à resina, enquanto é também atraída quimicamente para o óxido de estanho na superfície da liga (Fig. 3.8.11). Este sistema para consultório é indicado sobretudo para reparos intraorais de fraturas de restaurações metalocerâ-micas, onde o metal está exposto e será reparado in situ com uma resina composta.

Embora os dados laboratoriais sugiram que existe uma melhora na resistência de união da resina às ligas

de metais preciosos galvanizadas pelo estanho, alguns resultados sugerem que esta melhora é apenas marginal e melhores métodos de união para as ligas nobres são necessários. Além disso, tem sido sugerido que a deposi-ção de uma camada excessivamente espessa pode resultar em uma baixa resistência de união devido à camada de óxido ser muito espessa. Assim, a aplicação de uma camada de estanho é fundamental e passível de erros. Além disso, podem haver situações clínicas, como o caso dos reparos intraorais, em que a liga é desconhecida. Se o material exposto é uma liga de Ni-Cr, então a galva-nização pelo estanho não fornece qualquer benefício e pode ainda ser prejudicial na obtenção de uma forte união com a resina.

Cobertura com SílicaO uso de agentes de união como o silano para melhorar a adesão das cerâmicas dentárias com a estrutura dental por meio da resina composta é bem estabelecido (veja texto). A possibilidade de silanização de metais fundidos é limitada devido à falta de sítios de ligação apropriados na superfície da liga. Em contrapartida, estes sítios são abundantes em uma superfície cerâmica à base de sílica, como os silanóis, isto é, Si-OH. Atualmente é possível produzir uma cobertura de sílica nas superfícies metálicas tornando-as suscetíveis à união com o silano e a uma união à resina bem-sucedida. Duas técnicas estão dis-poníveis, uma envolvendo uma camada especial e uma técnica de tratamento térmico da liga e outra envolvendo uma abordagem triboquímica.

Silicoater (Kulzer Co GmbH, Friedrichsdorf, Ale-manha) O sistema Silicoater requer que a superfície do metal passe através de uma chama de ar propano, na qual o tetrametoxisilano é decomposto. Como resultado, uma camada intermediária de SiOx é formada – fornecendo grupos Si-OH para a união com o silano (Fig. 3.8.12). Um agente de ligação de silano é então aplicado a essa superfície recoberta com sílica que, então, é então capaz de se unir com a resina.

Cobertura TriboquímicaNesta técnica, a superfície da liga é jateada a uma alta pressão com um pó especial que contém partículas fi nas de alumina fi na e sílica coloidal. Este sistema está dispo-nível como um sistema para laboratório e para consultó-rio sendo chamados de Rocatec e Cojet, respectivamente, (3M/ESPE, Seefeld, Alemanha).

O objetivo é a formação de uma fi na camada de sílica (SiOx-C) que contém grupamentos hidroxilas livre (-OH) sufi cientes para permitir a união com a resina via silano (Fig. 3.8.13). Essa técnica é conhecida como cobertura de sílica triboquímica, uma vez que se sabe que as par-tículas de sílica coloidal de alta energia colidindo com a superfície da liga causam uma fusão da camada de sílica ao metal, que parece ser estável. Esta superfície pré-

4-META

MDP

CH2

CH3

C

C

C

O

CO

OH

OH

COOCH CH OOC2 2

COO(CH ) OP2 10

O

O

CH3

CH2

Figura 3.8.10 Estrutura do 4-META e do MDP.

Page 285: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS274

tratada é então tratada com o silano e está pronta para a união com a resina.

O sistema de cobertura de consultório (Cojet, 3M/ESPE, Seefeld, Alemanha) é utilizado para os reparos in situ de unidades metalocerâmicas fraturadas com super-fícies metálicas expostas, para melhorar a adesão à resina composta. Além disso, o sistema também alega ser efetivo como tratamento de superfície para o reparo de restaura-ções de resina composta fraturadas.

Uma desvantagem dessas técnicas é a necessidade de adquirir o equipamento laboratorial ou de consultó-rio. Além disso, o grande número de passos envolvidos aumenta potencialmente a probabilidade de erros.

Primers para Metal

O que muitos dentistas desejam é um simples líquido adesivo que possa ser aplicado diretamente à superfície

Figura 3.8.11 Microscopia eletrônica de varredura da superfície de um metal precioso após galvanização com estanho.

Resina composta

Resina sem carga

Metal

Agente de uniãode silano

Coberturade sílica

Superfície metálica

Partículaem movimento

Pontode impacto

Superfíciemetálica

silicatizada

Figura 3.8.13 Cobertura triboquímica da superfície metálica. Figura 3.8.12 Superfície metálica com cobertura de sílica.

Page 286: Introdução Aos Materiais Dentários

AGENTES DE CIMENTAÇÃO 275

metálica, e que necessite de nada além de um pincel (Fig. 3.8.14). O uso de técnicas de pré-tratamento químico simples de metais é, portanto, um campo para pesquisa crescente. Em particular, o uso de agentes de união base-ados em monômeros bifuncionais desperta interesse porque têm mostrado ser efetivos e ao mesmo tempo é uma alternativa simples para a maioria das técnicas de modifi cação de superfície já descritas. São geralmente fornecidos como primers de frasco único compostos de um monômero polimerizável em um sol vente adequado. (Os produtos são invariavelmente chamados de primers apesar de serem, de fato, agentes de união.) O monômero tem uma estrutura bifuncional com uma extremidade contendo um grupo funcional metacril ou um grupa-mento funcional similar para a união com resina e a outra extremidade contendo grupamentos mercaptano ou tiol (–SH) para a união com a liga metálica. Quando o primer para metal é aplicado à superfície de uma liga jateada, ela é capaz de uma adesão melhorada ao cimento resinoso devido à capacidade do enxofre de reagir com as ligas de metais nobres. Assim, a presença dos grupamen-tos mercaptanos permite a adesão química às superfícies das ligas de metal nobre. Algumas marcas comerciais, baseado nesses primers bifuncionais, estão atualmente disponíveis e incluem:

PRODUTO PRIMER FABRICANTEV-Primer VBATDT em Sun Medical Co., acetona 95% Kyoto, JapãoAlloy Primer VBADT/MDP Kurary Co., Osaka, JapãoMetal MEPS em GC Corp., Tóquio, Primer II MMA JapãoMetaltite Tiouracil em Tokuyama Inc., etanol 96% San Mateo, Estados UnidosVBATDT, 6-(4-vinilbenzil-n-propil) amino-1,3, 5-triazido-2,4-ditiolMDP, metacriloxietil-fenil fosfato MEPS, derivados de metacriloiloxialquil tiofosfatoMMA, metilmetacrilato

A estrutura química dos primers é mostrada na Figura 3.8.15, na qual pode-se perceber que esses primers para metal são de fato agentes de união. O primer que contém VBATDT funciona bem com os cimentos resinosos à base de 4-META, mas não funciona tão bem com as resinas

Resina

Dentinahibridizada

Esmaltecondicionado

por ácido

Liga metálicapreciosa

Agente de união(primer para metal) Liga jateada

Figura 3.8.14 Esquema da união metal-resina.

CHCH2 NCH2

HN

N

NH

S

SCH2CH2CH3

CHCH2 NCH2

N

N

N

SH

SHCH2CH2CH3

(a)

CO

CH2

O

S

CH3

C

O

2(CH )m

n

P A3–n

(b)

CHCH2

CH3

CO R O NH

SNHO

OO

CHCH2

CH3

CO R O NH

SHNO

R:

(c)

(CH )2 3

OO

Figura 3.8.15 Estrutura química de três primers para metal utilizados em produtos comerciais. (a) VBADT, 6-(4-vinilbenzil-n-propil) amino-1,3,5-triazido-2,4,ditiol; (b) MEPS, derivados de metacriloiloxialquil tiofosfato; (c) primer metaltite baseado em um derivado de tiouracil.

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS276

convencionais de metacrilato possivelmente devido ao fato de o VBATDT interferir na reação de polimerização das resinas de metacrilato. A combinação de MEPS com as resinas contendo 4-META é também considerada ina-ceitável. Portanto, ainda existem questões de compatibili-dade entre a resina e primer que precisam ser avaliadas.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A união da resina ao metal continuará a ser uma área de desenvolvimento e a adesão continuará a melhorar, trazendo com isso um melhor desempenho clínico.

UNIÃO RESINA-RESINA

Existe um número crescente de próteses pré-fabricadas de resina, como inlays de compósito e coroas reforçadas por fi bra, pontes e pinos endodônticos. Pode-se imaginar que a união resina-resina ocorra sem problemas, mas este não é de fato o caso. Em particular, há problemas de descola-mento entre o cimento resinoso e inlays de compósito.

Durante a confecção incremental de restaurações de resina composta, a união de um incremento ao outro é auxiliado pelo fato de que após a fotopolimerização ainda existe uma camada resinosa muito fi na de 10-50 μm de espessura que não polimeriza devido à inibição pelo oxigênio. Quando se lida com componentes de resina pré-fabricados como inlays e pontes, esta super-fície não polimerizada não existe. Consequentemente a resina para cimentação tem que se unir às resinas com-pletamente polimerizadas. Esta situação é de fato similar àquela encontrada quando se considera a opção de subs-tituir o segmento perdido de uma restauração de resina composta fraturada com uma resina composta nova. Parece que as resinas não apresentam qualquer vantagem

particular na união com outras resinas, exceto que uma melhor adaptação pode ser facilmente obtida.

Várias abordagens para melhorar a união resina-resina têm sido propostas, incluindo o jateamento com alumina ou o desgaste da superfície com um instrumento áspero para aumentar a rugosidade de superfície e criar, assim, uma união micromecânica. Embora isso ajude, nenhuma abordagem é particularmente efetiva uma vez que as características retentivas criadas pelo jateamento não são ideais, como na situação encontrada quando se une resinas a superfícies metálicas jateadas. No caso de compósitos com partículas de cargas de vidro, é possível remover as partículas de vidro próximas à superfície pelo condicionamento com ácido hidrofl uorídrico e produzir características retentivas em uma escala micrométrica. Entretanto, a experiência com reparos de compósitos com partículas de carga de vidro é que a melhor qua-lidade de união que pode ser alcançada é de apenas 50%-75% da resistência coesiva das resinas compostas.

A união química por meio de um silano também tem sido sugerida baseada no fato de que após jateamento ou desgaste de compósitos com partículas de carga de vidro haverá uma grande quantidade de vidro exposto na superfície em silanização. Entretanto, o problema é que o silano também cobrirá a parte de resina da super-fície e pode prejudicar a união resina-resina, enquanto aumenta a união resina-cerâmica. Outra sugestão é utili-zar a técnica triboquímica descrita, que incrustaria uma camada de sílica na superfície da resina e então um agente de união de silano é utilizado para fazer a união com o cimento resinoso.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O problema de unir resinas a resinas ainda não foi solucionado de forma satisfatória e assim permanece uma área de interesse em pesquisa.

LEITURA COMPLEMENTAR

Blum IR et al (2003) The repair of direct composite restorations: an international survey of the teaching of operative techniques and materials. Eur J Dent Educ 7: 41

Jockstad A, Mjor IA (1996) Ten years’ clinical evaluation of three luting cements. J Dent 24: 309

Kiatsirirote K, Northeast SE, van Noort R (1999) Bonding procedures for intraoral repair of exposed metal with resin composite. J Adhes Dent 1: 315

Knibbs PJ, Plant CG, Shovelton DS (1986) The performance of zinc polycarboxylate and glass-ionomer luting cements in general dental practice. Brit Dent J 160: 13–15

McLean JW, Wilson AD, Prosser HJ (1984) Development and use of water-hardening glass-ionomer luting cements. J Prosthet Dent 52: 175–181

Mitchell CA (2000) Selection of materials for post cementation. Dent Update 27: 350

Phillips RW, Lund MS (1987) In vivo disintegration of luting cements. J Am Dent Assoc 114: 489

Rosenthiel SF, Land MF, Crispin BJ (1998) Dental luting agents: A review of the current literature. J Prosthet Dent 80: 280

Sindel J, Frankenberger R, Kramer N, Petschelt A (1999) Crack formation of all-ceramic crowns dependent on different core build-up and luting materials. J Dent 27: 175

Teixeira EC et al (2005) Shear bond strength of self-etching bonding systems in combination with various composites used for repairing aged composites. J Adhes Dent 7: 159

Yoshida K et al (2001) Effect of three adhesive primers on the bond strengths of four light-activated opaque resins to noble alloy. J Oral Rehab 28: 168

Page 288: Introdução Aos Materiais Dentários

277

Capítulo 3.9

AÇO INOXIDÁVEL

INTRODUÇÃO

Quase todos estão familiarizados com o aço inoxidá-vel como produto de qualidade amplamente utilizado tanto em instrumentos domésticos quanto industriais. Todavia, ele é também extensivamente usado em dispo-sitivos médicos e odontológicos, como na fabricação de instrumentos odontológicos, por exemplo, lâminas de bisturi e fórceps, fi os ortodônticos, grampos de próteses totais e parciais, pinos endodônticos e em coroas de aço inoxidável para o tratamento de molares decíduos gran-demente cariados. O material é em geral exaustivamente trabalhado para alcançar a forma desejada, sendo assim defi nido como uma liga forjada.

Uma liga forjada distingue-se das outras ligas fundidas usadas na confecção de coroas e pontes em que uma liga fundida é formada por processamento mecânico, tal como laminação, extrusão ou alongamento para conferir-lhe uma nova forma desejada. Quando isto é feito à baixa tempe-ratura, o processamento mecânico é conhecido como trabalho a frio, por meio do qual o metal é simultane-amente deformado e endurecimento (Fig. 3.9.1). Se o processo for executado a elevadas temperaturas, este é denominado trabalho a quente e em geral envolve só a modelagem sem o endurecimento. Nenhum endureci-mento ocorre porque o metal recristaliza-se continua-mente e a quantidade de deformação que se pode realizar é quase ilimitada.

Muitas ligas, além do aço inoxidável, estão disponíveis na forma forjada, tais como: as ligas de ouro para pinos e grampos de próteses; as ligas de Ni–Ti para fi os orto-dônticos e limas endodônticas; e as ligas de Co–Cr–Ni para grampos de próteses e fi os ortodônticos. Todavia, apenas o aço inoxidável será considerado em detalhes neste capítulo.

Os aços estão disponíveis em uma ampla variedade de composições, com cada uma possuindo proprieda-des muito específi cas que são criteriosamente adaptadas para se ajustar a sua particular aplicação. Um aspecto dos

aços que os torna materiais tão populares é a enorme gama de propriedades mecânicas que podem ser obtidas com apenas pequenas alterações na composição. Uma comparação do aço com outros produtos é mostrada na Tabela 3.9.1. Os fi os de aço apresentam uma ampla variação de resistências que os outros materiais não con-seguem alcançar.

Antes da introdução dos aços inoxidáveis na odonto-logia (em geral no início dos anos 1930), o único metal que possuía resistência à corrosão sufi cientemente boa para permitir sua utilização na boca era o ouro. O aço inoxidável possui uma elevada resistência à tração e é usado para a confecção de molas em aparelhos ortodôn-ticos removíveis. Também é usado em aparelhos fi xos para a elaboração de bandas, braquetes e fi os para arco. De fato, praticamente todos os componentes para apa-relhos fi xos usados na ortodontia podem ser fabricados do aço inoxidável.

O fi o ortodôntico é fabricado do que é conhecido como aço inoxidável austenítico. Este é uma forma de aço que pode ser facilmente conformado em um fi o por trefi lamento e subsequente extrusão por meio de moldes. Isto alonga os grãos em extensas estruturas fi bro-sas longas que se alinham na direção do fi o.

Mais especifi camente, o material usado para fi os orto-dônticos é conhecido como um aço inoxidável austenítico estabilizado. A melhor forma de descrever este material é tomar o material bruto, o ferro, e desenvolvê-lo, passo a passo, até o produto fi nal. Ao longo do processo, os dife-rentes tipos de aço serão investigados e suas aplicações particulares serão consideradas.

FERRO

O ferro é um material alotrópico, isto é, ele passa por duas mudanças de fase no estado sólido com a tempera-tura. Em temperatura ambiente, o ferro puro possui uma estrutura cúbica de corpo centrado (CCC), conhecida como a fase α. Esta estrutura é estável até a temperatura

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MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS278

de 912ºC, na qual ele se transforma em uma estrutura cúbica de face centrada (CFC), a fase γ.

A 1.390ºC, o ferro CFC retrocede a CCC e mantém esta estrutura até se fundir a 1.538ºC. Estas mudanças são acompanhadas por alterações no volume do ferro (Fig. 3.9.2).

AÇO

O aço é uma liga de ferro e carbono, em que o teor de carbono não deve exceder a 2%. O ferro com um teor de carbono maior que 2% é classifi cado como um ferro fundido e não será aqui considerado.

Aços Carbonos

O aço carbono é uma liga somente de ferro e carbono. Em sua forma CCC, quando pequenas quantidades de carbono estão dissolvidas no ferro, o material é conhe-cido como ferro α ou ferrita.

A solubilidade do carbono nesta estrutura CCC é muito baixa comparada àquela da estrutura CFC, sendo de no máximo 0,02% em peso a 723ºC e de apenas 0,005% em peso à temperatura ambiente. Isto ocorre apesar do maior

volume não ocupado na CCC (fator de empacotamento de 68%) comparado à CFC (74%).

A forma CFC do material possui uma solubilidade con-sideravelmente mais elevada de carbono, de até 2,11%. A razão para isto é que os espaços intersticiais maiores no ferro CCC (diâmetro de 0,072 nm) são menores que aqueles no ferro CFC (diâmetro de 0,104 nm). Esta forma CFC do aço é conhecida como austenita.

Ambas as formas do aço são relativamente macias e maleáveis e, em particular, a austenita é facilmente modelada a temperaturas elevadas por processos de for-jamento à quente e de laminação.

Quando o limite de solubilidade para o carbono é excedido para quaisquer destas formas de aço, o carbono em excesso precipita-se como Fe3C, que é uma fase dura e friável, denominada cementita. As várias fases no sistema ferro-cementita são apresentadas no diagrama de equilí-brio de fases parcial da Figura 3.9.3.

Aços Hipereutetoides e HipoeutetoidesA uma concentração de carbono de 0,8%, a liga apre-

senta uma transformação a 723ºC da austenita de fase única para uma estrutura de duas fases que consiste em ferrita e cementita:

γ → α + Fe3C

austenita → ferrita + cementita

Essa transformação sólida é defi nida como eutetoide, porquanto distinta da eutética, que é uma transforma-ção de uma fase líquida única em duas fases sólidas (Cap. 1.5).

Os aços com um teor de carbono exatamente da composição eutetoide são denominados aços eutetoides. Aqueles com um teor de carbono maior que 0,8% são os aços hipereutetoides e são usados na fabricação de brocas e instrumentos cortantes, enquanto aqueles com um teor

σ yσy

σ y

Alte

raçã

o de

vol

ume

CCC

CFC

CCC

1.390923Temperatura (ºC)

Figura 3.9.2 A alteração de volume do ferro puro com a temperatura.

Figura 3.9.1 O efeito do trabalho a frio nas propriedades mecânicas de um metal. Observe a redução na ductibilidade (↔) à medida que a tensão aplicada (σy) é aumentada.

Tabela 3.9.1 Uma comparação da resistência à fratura, ou limite de proporcionalidade, dos aços com outros materiais

Resistência a fratura ou limite de proporcionalidade (MPa)

Fio de aço 300–2.800

Aço bruto 300–800

Ferro 150–200

Latão 200–400

Ligas de alumínio 200–600

Ligas de cobre 300–600

Ligas de titânio 600–1.100

Vidro 50–150

Fibra de carbono 2.200–2.800

Page 290: Introdução Aos Materiais Dentários

AÇO INOXIDÁVEL 279

de carbono menor que 0,8% são os aços hipoeutetoides e são usados na fabricação de instrumentos odontológicos, como fórceps.

A transformação eutetoide é muito importante na produção dos aços, pois diversos fatos interessantes podem ocorrer quando um aço carbono é esfriado de sua condição de alta temperatura austenítica para uma temperatura ambiente.

Resfriamento LentoNo resfriamento lento, as alterações na estrutura para um aço carbono de 0,8% ocorrem conforme previsto no dia-grama de fase de equilíbrio. A austenita é transformada em uma mistura de ferrita e cementita, que é descrita como perlita (Fig. 3.9.4). Entretanto, o resfriamento não é usualmente executado de forma lenta, mas envolve um resfriamento rápido pela imersão do objeto em água gelada em um processo conhecido como têmpera.

Resfriamento RápidoQuando a austenita é temperada em água, a ferrita e a cementita não podem se formar porque não há tempo sufi ciente para a difusão e o rearranjo dos átomos. Em vez disso, ocorre uma transformação muito rápida em uma estrutura tetragonal de corpo centrado, que é mais propriamente uma CCC distorcida. Esta forma de aço é descrita como martensita, e é muito dura e friável. (De fato, é dura e friável demais para quaisquer fi ns práticos.) Não obstante, esta transformação pode ser bem usada, pois por meio do reaquecimento a uma temperatura na faixa de 200ºC a 450ºC e então pelo rápido resfriamento, é possível transformar a martensita em perlita (ferrita + cementita). O grau de conversão pode ser criteriosa-mente controlado pela temperatura e duração do trata-mento com calor, um processo conhecido como têmpera (Fig. 3.9.5).

Para instrumentos cortantes, um aço hipereutetoi de (teor de carbono >0,8%) é geralmente usado, pois com-

bina a martensita dura com uma grande quantidade da cementita dura, de tal forma que uma borda cortante possa ser produzida, que não perde o fi o facilmente. Para instrumentos como fórceps, a natureza friável do aço hipereutetoide seria inaceitável e um menor conteúdo de carbono está presente como nos aços hipoeutetoides (teor de carbono <0,8%). Isto permite predominante-mente a formação de ferrita mais maleável, enquanto a dureza é controlada pela presença de martensita e de quantidades muito menores de cementita.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O aquecimento excessivo de instrumentos cortantes (p. ex., lâminas cortantes em um bico de Bunsen) resultará em uma perda de dureza devido a alterações microestruturais.

AÇO INOXIDÁVEL

Embora muitos outros elementos possam ser adicionados aos aços carbonos básicos para melhorar as propriedades (p. ex., molibdênio, silício, cobalto, manganês), os dois

AustenitaCFC912

723

Tem

pera

tura

(º C

)

FerritaCCC

0,02% 0,8%

2,11%

Austenita +Cementita

Ferrita + Cementita (Fe3C)

% Carbono

Figura 3.9.3 O sistema Fe-Fe3C.

Austenita

TêmperaPerlita Martensita

Resfriamentorápido

Resfriamentolento

Figura 3.9.5 O tratamento térmico, conhecido como têmpera dos aços martensíticos para controlar as propriedades mecânicas.

Figura 3.9.4 A estrutura da perlita, que é uma mistura laminar de ferrita e cementita.

Page 291: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS280

de maior importância para a odontologia são o cromo e o níquel para a produção do aço inoxidável.

O aço inoxidável é uma liga de ferro que é resis-tente à corrosão. Ele foi descoberto acidentalmente no Reino Unido durante a parte inicial da Primeira Guerra Mundial. Na ocasião, um metalúrgico de Sheffi eld chamado Brearley estava trabalhando com aços para a fabricação de armamentos. Um pedaço descartado de liga de aço foi deixado no pátio da fábrica por alguns meses e ele observou que o pedaço não se oxidou exposto ao tempo úmido. Foi demonstrado que isto ocorreu devido a seu elevado teor de cromo.

As possibilidades apresentadas pela liga foram reco-nhecidas e ela foi patenteada em 1917. A adição de cromo ao aço-carbono melhorou a resistência à corro-são do metal por meio da formação de uma camada superfi cial protetora de óxido de cromo. Para que isto seja totalmente efi ciente, o teor de cromo da liga tem de exceder 11%.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

O teor de cromo de um aço deve exceder 11% para que seja considerado como um aço inoxidável.

Aço Inoxidável Austenítico

A adição de 8% de níquel evita a transformação da aus-tenita em martensita no resfriamento, de tal forma que a austenita se torna estável à temperatura ambiente quando resfriada rapidamente. O resfriamento lento permitiria novamente a formação de ferrita e cementita, mas, já que este é um processo controlado por difusão, o resfriamento rápido por têmpera evita que estas fases se formem.

Existem basicamente três formas de aço inoxidá-vel empregadas para aplicações odontológicas (Tabela 3.9.2).

Os aços ferríticos são usados principalmente para a fabricação de instrumentos, enquanto os aços inoxidá-veis austeníticos possuem uma aplicação muito ampla e são usados em fi os ortodônticos, autoclaves, tampos de mesas e armários. Os aços martensíticos são usados sobretudo para instrumentos cortantes.

O atrativo do aço inoxidável austenítico está em que ele é altamente maleável e, portanto, pode ser facilmente modelado para uma ampla gama de fi nalidades. A liga

não pode ser tratada com calor para alterar as proprie-dades da maneira como os aços martensíticos e ferríticos podem, mas ela pode ser trabalhada a frio para melho-rar o limite de proporcionalidade (embora isto ocorra à custa da maleabilidade). Não obstante, é esta capaci-dade do aço inoxidável austenítico de ser produzido com uma ampla gama de propriedades mecânicas enquanto mantém sua resistência à corrosão na boca que torna os aços inoxidáveis um material tão atraente para aplicações ortodônticas.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Para aplicações intraorais, a atenção é quase que exclusivamente para a variedade austenítica do aço, e a liga mais usada é o aço inoxidável 18/8, que é composto por 18% de cromo, 8% de níquel e 0,2% de carbono.

Aço Inoxidável Austenítico Estabilizado

Embora seja uma prática comum para a maior parte das ligas forjadas receber um recozimento para alívio de tensões, isto não é possível com os aços inoxidáveis austeníticos devido às alterações microestruturais que ocorrem na temperatura de recozimento.

Formação dos Carbonetos de CromoEm temperaturas acima de 500ºC, o cromo e o carbono reagem para formar carbonetos de cromo, que se pre-cipitam na periferia dos grãos, promovendo um com-portamento friável. Além disso, a resistência à corrosão é diminuída devido à depleção das regiões centrais dos cristais de cromo, que migraram para a periferia para formar os carbonetos (Fig. 3.9.6).

Este processo é conhecido como enfraquecimento da solda, já que foi primeiro observado quando se solda-ram lâminas de aço. O problema pode ser superado pela adição de titânio à liga, porque o carbono reage preferencialmente com o titânio disperso de tal forma que o cromo permanece como está em seu estado mais

Antes Depois

Figura 3.9.6 Enfraquecimento da solda devido ao superaquecimento da liga.

Tabela 3.9.2 As três formas de aço inoxidável que são usadas em aplicações odontológicas

Cr (%) Ni (%) C (%)

Ferrítico 11,5–27 0 0,2 (máx.)

Austenítico 16–22 7–22 0,25

Martensítico 11,5–17 0–2,5 0,15–0,25

Page 292: Introdução Aos Materiais Dentários

AÇO INOXIDÁVEL 281

efetivo. Isto produz o que se conhece por aço inoxidável austenítico estabilizado.

Transformação da Ferrita em CementitaA austenita é formada pelo rápido resfriamento em ele-vadas temperaturas, de tal forma a evitar a formação de cementita e ferrita. O aumento de temperatura permite a difusão dos átomos, de tal forma que estas outras fases podem se formar.

Esta formação de outras fases é um processo irreversí-vel a menos que a temperatura do material seja aumen-tada acima da eutetoide e então temperada à temperatura ambiente para formar novamente o aço austenítico.

Entretanto, o processo de recozimento permite a recristalização e a formação de carbonetos de cromo, o que prejudica a resistência à corrosão.

RecristalizaçãoSe a temperatura for aumentada acima da temperatura eutetoide, ocorre a recristalização do metal, e os grãos longos e fi brosos que são produzidos pela laminação e trefi lação durante a fabricação do fi o se transformam em grãos amplos e equiaxiais.

Se isto ocorrer, o material se torna macio e as proprie-dades elásticas do fi o terão sido perdidas e não poderão ser restauradas. A taxa à qual isto ocorre é controlada pelo tempo e pela temperatura.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Os produtos odontológicos fabricados do aço inoxidável não devem ser aquecidos acima de 723ºC.

Propriedades

Os aços inoxidávels austeníticos são os preferidos em aplicações ortodônticas devido a sua excelente resistên-cia à corrosão no ambiente biológico, à ampla gama de propriedades mecânicas disponíveis e à facilidade com a qual eles podem ser unidos por soldas ou pela soldagem por resistência elétrica.

Propriedades MecânicasDependendo do grau de trabalho a frio executado pelo fabricante na produção do fi o ortodôntico, uma variedade

de propriedades mecânicas é fornecida (Tabela 3.9.3). É importante selecionar o tipo apropriado para a aplicação que se tem em mente.

Se for necessária uma modelagem pequena, isto é, um trabalho a frio por fl exão, um fi o de aço inoxidável duro ou extraduro pode ser selecionado. Se, por sua vez, uma modelagem muito grande é requerida, então é necessário começar com uma liga macia, já que ela sofrerá endure-cimento na fl exão.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Se for selecionado um fi o muito duro para começar, há o perigo de que o fi o se frature a fl exão devido à perda de ductibilidade.

Soldas e SoldagemUma vez que a fabricação de dispositivos frequentemente requer a união de componentes separados por soldas ou soldagem, o calor produzido pode ter um efeito muito prejudicial sobre as propriedades do aço inoxidável. Por-tanto, técnicas devem ser projetadas para evitar a exposi-ção prolongada dos componentes a altas temperaturas.

Solda Dura Os componentes de aço inoxidável são em geral unidos por “solda dura”, porquanto distinta da “solda mole”, pois esta envolve o uso de ligas de baixo ponto de fusão, tais como as ligas de Sn-Pb. A solda dura pode ser realizada com ligas de ouro ou de prata, que são sufi cien-temente resistentes à corrosão. Já que as soldas de ligas de ouro devem conter pelo menos 45% de ouro para assegurar uma temperatura de fusão sufi cientemente baixa, por ques-tões de custo as soldas de prata são preferidas. A composi-ção das soldas de prata usadas em ortodontia é de cerca de 50% de prata, 16% de cada um dos seguintes componentes: cobre; cádmio e; zinco; e 3% de níquel.

Há dois métodos básicos para se produzir o calor necessário para fundir a solda: o maçarico de mão a gás e a soldagem por resistência elétrica. A soldagem com gás possui a vantagem de requerer apenas equipamento de baixo custo. O aparelho para a soldagem por resistência elétrica é consideravelmente mais caro e requer grande habilidade em seu uso, mas possui a vantagem de o calor ser bem mais localizado.

Tabela 3.9.3 Propriedades mecânicas de uma gama de aços inoxidáveis usados em aplicações ortodônticas

0,2% do limite convencional de escoamento (MPa)

Módulo de Young (GPa)

Alongamento (%) Dureza (BHN)

Macio 280 200 50 170

Duro 1.050 200 6 250

Extraduro 1.450 230 1 350

Page 293: Introdução Aos Materiais Dentários

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO LABORATORIAL E MATERIAIS CORRELACIONADOS282

É importante perceber que a interface entre uma solda de prata e o aço inoxidável é mais mecânica que por união metálica. Uma quantidade adequada de solda deve, portanto, ser usada, e acabamento e polimento excessivos devem ser evitados, pois isto enfraquecerá a soldadura.

Soldagem a Ponto Quando uma corrente elétrica é passada através de um metal, isso faz com que o metal se aqueça. A soldagem a ponto envolve a aplicação loca-lizada de calor ao componente a ser unido por meio do uso de uma corrente alta em baixa voltagem. Se, ao mesmo tempo, uma pressão for aplicada ao ponto no qual as duas partes serão unidas, ocorre uma recristaliza-ção na junção e as duas partes são fusionadas juntas.

Observe que o metal não se derrete. De fato, se o metal for excessivamente aquecido e ocorrer o derretimento, a junção é consideravelmente enfraquecida. Para que se evite este problema, bem como aquele do enfraque-cimento da solda, o tempo da soldagem é mantido em 1/50 de um segundo.

Basicamente, um soldador é um conjunto de eletrodos que são associados sob pressão e que são diretamente conectados à bobina secundária de um transformador de pulso. Um temporizador é usado para limitar a duração do ciclo de soldagem.

A maior parte dos diferentes componentes do dispositivo fi xo é unida por soldagem a ponto, embora esta necessi-dade tenha se reduzido nos últimos anos com a introdução de componentes pré-fabricados complexos. Todavia, tanto a soldagem a ponto quanto as soldas são ain da utilizadas para o reparo e a confecção de dispositivos.

OUTRAS LIGAS

Outras ligas que podem ser usadas em aplicações orto-dônticas incluem ligas de ouro, ligas de Co-Cr, ligas de Ni-Ti e ligas de β-Ti. Os valores relativos destes tipos de fi os de liga forjada usados em ortodontia são apresenta-dos na Tabela 3.9.4.

A rigidez é uma função tanto do diâmetro do fi o quanto do módulo de elasticidade do material e deter-mina a quantidade de força aplicada ao dente. Para materiais com um elevado módulo de elasticidade, podem ser usados fi os mais fi nos que para materiais com um baixo módulo de elasticidade. Todavia, quanto mais fi no o fi o, mais provável é que ele sofra uma defor-mação permanente e uma perda da força aplicada ao dente. Uma rigidez elevada é desejável quando forças rápidas e de alta magnitude precisam ser aplicadas para fazer com que um dente se movimente, enquanto fi os fl exíveis aplicando uma força de baixa magnitude preci-sam ser usados quanto se deseja a movimentação lenta de um dente.

A resiliência do fi o é uma medida de sua capacidade de se submeter a grandes defl exões sem causar deformação permanente. É dada pela razão entre o limite de propor-cionalidade e o módulo de elasticidade, de tal forma que uma combinação de um baixo módulo com um elevado limite de elasticidade seria o ideal.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A seleção do fi o ortodôntico com a rigidez apropriada é muito importante.

RESUMO

O aço inoxidável é amplamente usado em dispositivos intraorais, particularmente em ortodontia. As vantagens dos aços inoxidáveis são a elevada resistência à tração e a boa resistência à corrosão, juntamente com a capaci-dade de ser facilmente modelado em formas complexas. O material possui algumas limitações em que rapida-mente sofrem encruamento, além de alterações danosas poderem ocorrer se temperaturas excessivamente eleva-das forem aplicadas.

Tabela 3.9.4 Valores relativos de ligas para aplicações ortodônticas

Material Rigidez Resiliência Ductibilidade Facilidade para soldas ou soldagem

Aço inoxidável Elevada Boa Adequada Razoável

Liga de ouro Média Adequada Adequada Fácil

Liga de Co-Cr Elevada Boa Baixa Difícil

Liga de Ni-Ti Baixa Muito elevada Insatisfatória Difícil

Liga de β-Ti Média Elevada Adequada Difícil

Page 294: Introdução Aos Materiais Dentários

AÇO INOXIDÁVEL 283

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LEITURA COMPLEMENTAR

Page 295: Introdução Aos Materiais Dentários

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Page 296: Introdução Aos Materiais Dentários

ÍNDICE

285

Abrasãoa dois corpos, 111a três corpos, 111cimentos de ionômero de vidro, 125-126lesões, 128, 141

ABS (acrilonitrilo butadieno estireno), 39Ação capilar, 71Acetona, 151, 152Ácido acrílico, 120, 121, 262Ácido algínico, 182, 183Ácido cítrico, 124Ácido dimetacrilato glicerofosfórico (GPDM),

154, 155Ácido fosfônico, 120, 121Ácido fosfórico

adesão à dentina, 144, 145, 148agentes de união silano, 268cimento de fosfato de zinco, 259cimentos de policarboxilato de zinco, 119condicionamento ácido do esmalte, 249hemostasia, 163sensibilidade pós-operatória, 152

Ácido hidrofl uorídrico (HF), 65condicionamento, 249, 266-268, 276

Ácido itacônico, 120, 121cimentos de policarboxilato de zinco, 262

Ácido lático, 126Ácido maleico, 120, 148Ácido nítrico, 148Ácido oxálico, 148Ácido perfl uorláurico, 70Ácido poliacrílico, 34, 119, 128

análogos, 120cimentos de policarboxilato de zinco, 262

Ácido policarboxílico (APC), 154, 155Ácido tânico, 124Ácido tartárico, 120, 124

cimentos de policarboxilato de zinco, 263Aço, 277, 279

carbono, 277-279resfriamento lento, 279resfriamento rápido, 279

elevada resistência, 46energia de superfície, 70eutectoide, 278hipereutectoide, 278hipoeutectoide, 278inoxidável, 277-282

austenítico estabilizado, 277, 280austenítico, 277, 280ferritico, 280hipoeutectoide, 27-28martensítico, 280propriedades, 281-282recristalização, 281

leve, 46Acrilonitrilo butadieno estireno (ABS), 39Adaptação marginal, 107, 109Aderentes, 68

Adesão, 67-76amálgamas não apresentam, 88cimentos de ionômero de vidro (CIVs),

123-124compômeros, 117compósitos, 67critérios para, 68-71entre sólidos, 67entre um sólido e um líquido, 68falha da, 4física, 72mecânica, 71-72pelo entrelaçamento molecular, 73promotores, 75-76química, 72resistência de união, 73-75

reais, 74teóricas, 73-74

ver também Dentina, adesão; Esmalte, adesão

Adesivosdefi nição de, 68, 148falha dos, 75propriedades dos, 147viscosidade dos, 69, 71, 74ver também Agentes de união; Agentes de

adesão à dentinaAdsorção, 17, 72Ágar, 33, 176

apresentação e aplicação, 180-181composição, 180desinfecção, 191propriedades, 181

Agentes de adesão à dentinaapresentação dos, 153-159capeamento pulpar indireto, 162capeamento pulpar, 163cimentos de ionômero de vidro, 129classifi cação dos, 157componentes dos, 147-148compósitos, 140desempenho clínico, 159desenvolvimento dos, 103dois passos, 155-156, 157-158etapa única, 157história dos, 143lesões de abrasão/erosão, 141lesões de cárie proximal e oclusal, 141número de passos de adesão, 158resistência e durabilidade, 158seleção dos, 157-159três passos, 153-155, 157

Agentes de cimentação, 189, 257-276à base de água, 259-266aplicações, 258biocompatibilidade, 257escolha dos, 259estética, 259exigências gerais para, 257-259

facilidade de uso, 258pequena espessura do fi lme, 258propriedades mecânicas, 257radiopacidade, 259retenção, 257selamento marginal, 258união cerâmica-resina, 265-269união resina-metal, 269-276união resina-resina, 276

Agentes de ligação, 75adesivos dentinários, 147-148compósitos, 94-96primers de dentina, 150, 151silano ver Agentes de união silanos

Água captura da, 151difusibilidade, 55energia de superfície, 70propriedades físicas da, 55sorção, 61-62, 108-109

AH plus, 166, 167, 169, 170AH26, 169AIDS, 191Alcanos lineares, 17Álcool, 62Álcool etílico, 71Alginatos, 175, 176

composição dos, 182desinfecção, 193, 194presa rápida, 183processo de presa, 182propriedades, 183-184reação de presa, 182-184regular, 183

Alumina (Al2O3), 10coefi ciente de expansão térmica, 235coroas de jaqueta em porcelana reforçada,

243-244energia de superfície, 70-71estabilidade química, 61fi lamentos, 40sistemas de núcleo em cerâmica infi ltrados

por vidro de elevada resistência, 245Alumínio

coefi ciente de expansão térmica, 235em ligas de titânio, 222óxidos de, 24

Amálgamas, 79-92adesão, ausência, 88aspectos históricos dos, 10composição, 79, 83condensação, 85corrosão dos, 4, 82creep, 82, 91efeitos galvânicos dos, 87elevada condutividade térmica, 87elevado conteúdo de cobre, 82, 83escoamento, 82escultura e polimento, 86

Page 297: Introdução Aos Materiais Dentários

ÍNDICE286

estética, 86estrutura dos, 79-81falha marginal, 90-91fraturas grosseiras, 89-90ligas, 79-81limitações dos, 86-88longevidade dos, melhorias, 88-92materiais forradores sob, 140materiais restauradores intermediários

(MRIs), 139-141proporção, 84propriedades dos tradicionais, 81-82resistência dos, 81, 88seleção e uso dos, 84-86tamanho e forma das partículas, 84tempo de vida, 88tenacidade dos, 88toxicidade do mercúrio, 86-87trituração, 85variáveis do fabricante, 82-83variáveis do operador, 84-86

Amassar, 225Amorfos, defi nição de, 17Ângulo cavo-superfi cial, 90Ângulo de contato, 69Ânions, 21Anodo, 63Apatita, 19

cerâmicas infi ltradas com vidro, 253-254esmalte, 144

Apolônia, Santa, 7Aqua-Cem, 265Argila, 225-226Associação Dentária Americana (American

Dental Association), 193Ataque eletrolítico, 270Atático, 33 Ativação, polimerização, 35Atividade estrogênica, 108Atlas Colorido de Munsell, 58Átomos

arranjo estrutural de, em sólidos, 17-18ligados ionicamente, 13-14ligações, 13-14

covalente, 14energia de, 14-15iônica, 14metálica, 14secundária, 16

Austenita, 278, 279, 280Autoendurecimento, 217

Bactéria, 4materiais restauradores intermediários, 136tratamento do canal radicular, 169união à dentina, 157-158

Baquelite, 205Bário, 94, 104Bases da cavidade, 136-139

defi nição de, 135Bases ver Bases cavitáriasBerílio, 240, 271Biocompatibilidade, 3-4Biomateriais, defi nição de, 3Bioquímica, 4-5Bisfenol-A, 93, 95, 108Bis-GMA, 93, 108

adesão, 271materiais de forramento, 138-139síntese de, 95união à dentina, 152

Black, G. V., 10, 79Bolhas, 194

ar, 188, 191gás hidrogênio, 91

Bórax, 179, 181, 200em produtos de gesso, 202

Boro, soluções sólidas intersticiais, 29-30Borracha, 33, 163-166

dique, 127, 146, 164natural, 164tiocol, 184

Brocas, primeiro, 9

Bromo, 14Bruxismo, 114Butadieno estireno, 210Butil metacrilato, 211Butileno glicol dissalicilato, 137

Caixas proximais, 97, 99-100não retentivas, 90

Cal (CaO), 24Cálculo, 147Calor

ativação, 35específi co, 55ver também Propriedades térmicas

Calor latente de fusão, 30Camada interfacial, 268, 269Candida albicans, 212Cânfora, 205Capeamento pulpar direto, 162Capeamento pulpar indireto (CPI), 161-162Carboneto, 16Carboneto de cromo, 281Carbono, 16

carboneto de cromo, 281em ligas de cromo-cobalto, 220

Carga, 4, 43Cáries

cimentos de ionômero de vidro (CIVs), 128-131

detecção de, 109profundas, 140profundidade rasa, 139profundidade média, 139recorrente, 89residual, 89resinas compostas, 107solução de evidenciação, 161

Cátions, 21Catodo, 63Caulim, 227Célula estrutural, 17-18Célula galvânica, 65Celulose, 33, 205Cementite, 278-281Cera

Materiais para moldagem, 177-178técnica de fundição da cera perdida, 215,

250, 253Cerâmicas, 15, 16, 225-230

amorfas, 22cerâmicas de vidro ver Núcleos de elevada

resistência infi ltrados por vidros cerâmicos, 245-247

classifi cação das, 230coefi ciente de expansão térmica, 235composição das, 227-229coroas ver Coroas, cerâmicas ver também

Vidro(s); Porcelanacristalinas, 21-22degradação das, 65-66estrutura das, 21-25história, 225-227materiais puros, 21núcleos de elevada resistência, 243-246propriedades das, 229-230resistência à fl exão, 243, 244união cerâmica-resina, 266-269união por resina, 230-232, 249-255

cerâmicas vítreas, 251-254classifi cação das, 254qualidades das, 254

Cerâmicas de núcleo de elevada resistência, 243-247

Cerâmicas reforçadas por vidro, 251-257apatita, 253-255dissilicato de lítio, 253-254feldspato reforçado por leucita, 252fl uoromica, 253propriedades mecânicas das, 252-255

Cerâmicas unidas com resina, 230, 249-255

cerâmicas vítreas, 251-255classifi cação das, 254

qualidades das, 254união resina-cerâmica, 266-269

Cerâmicas vítreas de dissilicato de lítio, 253-255

Cerâmicas vítreas de fl uoromica, 253, 254Cerâmicas vítreas feldspáticas reforçadas com

leucita, 252, 254Ceramização, 251Cermet, 19Cermets de prata, 130-131Chumbo, 9

óxidos de, 24Cimento ASPA, 119-120, 123, 130Cimento de ácido etoxibenzoico (EBA),

138Cimento de Grossman, 166, 170Cimento de policarboxilato de zinco, 119,

259, 262-264adesão, 263-264aplicações, 264apresentação, 262biocompatibilidade, 263propriedades mecânicas, 263propriedades, 263reação de presa, 262solubilidade, 263

Cimento de Rickert, 166, 170Cimento EBA (ácido etoxibenzoico), 138Cimento Portland, 168Cimentos ver Agentes de cimentação;

cimentos específi cosCimentos à base de óxido de zinco, 137Cimentos anidros, 121Cimentos de fosfato de zinco, 259, 260-262

aplicações, 262apresentação, 259-260bactérias e endotoxinas, 136biocompatibilidade, 261consistência e espessura do fi lme, 261propriedades mecânicas, 261propriedades, 260retenção, 257solubilidade, 261

Cimentos de hidróxido de cálcio, 137, 141biocompatibilidade, 169capeamento pulpar indireto, 161, 162capeamento pulpar, 163características de manipulação, 170cáries profundas, 140lesões de cárie proximal e oclusal, 141selamento do canal radicular, 167

Cimentos de ionômero de vidro (CIVs), 67, 116, 119-131, 259

adesão, 123-124aplicações clínicas, 126-130apresentação, 121capeamento pulpar indireto, 161características de manipulação, 123, 170características dos, 115como agentes de cimentação, 264-266composição, 119-121estética, 124-125expansão térmica, 55-56lesões de abrasão/erosão, 128lesões de cárie, 128-130liberação de fl uoreto, 116, 119, 126materiais de forramento, 138, 141obturadores do canal radicular, 167-168propriedades, 123-126, 132química do, 119-123reação de presa, 121-123solubilidade, 125-126sorção de água, 62

Cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina (CIVMRs), 116, 117, 119, 131-133, 259

aplicação, 132capeamento pulpar indireto, 161como agentes para cimentação, 264-266composição, 131materiais de forramento, 138, 140, 141propriedades, 132reação de presa, 131-132

Page 298: Introdução Aos Materiais Dentários

ÍNDICE 287

Cimentos de óxido de zinco-eugenoladesão, 264biocompatibilidade, 169capeamento pulpar indireto, 161modifi cados, 138, 139não modifi cados, 137-138seladores de canal radicular, 166

Cisalhamentotaxa, 51-2tensão de, 44, 51-2

Citrato de potássio, 200, 201Cloreto de metila, 71Cloreto de polivinil (PVC), 34, 39, 70Cloreto de sódio, 21, 201

em produtos de gesso, 201estrutura cúbica de face centrada de, 22formação do, 15

Cloro, 14Clorofórmio, 165Coágulo extrapulpar, 163Cobalto, 4Cobertura triboquímica das ligas, 273Cobre (Cu)

diagrama de fase, 30em amálgamas, 79, 80, 82em ligas de ouro, 29, 217em ligas de ouro-cerâmica, 239em ligas de paládio, 240propriedades do, 30solubilidade sólida parcial, 31

Coefi ciente de expansão térmica (α), 55Coefi ciente de penetração, 71Coesão, 67Colágeno, 19, 33, 147, 148-151Coloides, 179-180Compo ver Materiais de moldagemCompômeros (resinas compostas modifi cadas

por poliácidos), 93adesão, 116-117aplicações, 117características de trabalho, 116composição, 115-116contração de polimerização, 117liberação de fl uoreto, 115, 116propriedades mecânicas, 117propriedades, 116sistema adesivo de frasco único, 156

Componentes intermetálicos, 30Composição eutética, 32Compósitos (resinas compostas), 93-115

adesão, 67biocompatibilidade, 108capeamento pulpar indireto, 161características de trabalho, 107-108classifi cação dos, 105-106coefi ciente de expansão térmica, 109composição e estrutura, 93-96contração de polimerização, 101-104

restaurações grandes, 113sorção de água, 109

coroas indiretas, 112desenvolvimentos em, 96-104desgaste, 111-112dureza, 111escolha de cor, 109-110estrutura das, 18-19, 40expansão térmica, 55híbrida, 105-106híbridas de partícula pequena, 106inibição do oxigênio, 97inlays, 112laboratório de prótese, 112-113materiais restauradores intermediários,

140molhamento, 146nova tecnologia de carga, 104onlays, 112percepção de cor, 98profundidade de polimerização, 98-100propriedades mecânicas, 111-112propriedades, 107-109radiopacidade, 109reforçadas por fi bras (FRC), 113

resinas microparticuladas, 105resistência à compressão, 110resistência à tração diametral, 111restaurações, considerações clínicas para,

113-115segurança, 97solubilidade, 108-109sorção de água, 61, 108-109tecnologia da resina, 96-97tradicionais, 105unidades de polimerização por luz, 101-104viscosidade, 70-71, 107

Compósitos compactáveis, 107-108Compósitos de uso laboratorial, 112Compósitos híbridos de partículas pequenas,

106Compósitos híbridos, 105-106Compósitos mistos, 105-106Compósitos reforçados por fi bras (FRC), 113Compósitos tradicionais, 105Compostos químicos, ativação dos, 35Condensação, 85, 89Condicionamento, 27, 67

cimentos de ionômero de vidro (CIVs), 139

cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina (CIVMRs), 139

técnica de condicionamento total, 152-153, 163

ver também Técnica de condicionamento ácido

Condicionamento com ácido em gel, 270, 271Condicionamento com gel, 270, 271Condições de não equilíbrio, 32Condutividade térmica (K), 55Confi gurações das cadeias, polímeros, 37, 38Constricção, 47Contaminação, 89Contração, 23Controle da umidade, 114Copolímero do ácido policarboxílico

metacrilatado, 115Copolímeros, 39, 115Cor, 56-59

cegueira, 56cimentos de ionômero de vidro (CIVs), 124,

127combinação, 110compômeros, 116compósitos, 97, 110

Coroasagentes de cimentação para, 258aspectos históricos, 9-10cerâmicas, 249-250

CAD-CAM, 250-251introdução das, 9-10prensada sob calor, 250processo de sinterização, 250propriedades, 251

cimento de fosfato de zinco, 261-262cimentos de ionômero de vidro para

cimentação, 265cimentos de policarboxilato de zinco, 215compósitos indiretos, 112contração do material de moldagem, 177facetas, 144-145jaqueta em porcelana ver Coroas em jaqueta

de porcelanametalocerâmica, 234porcelana, 67, 230qualidades de diversos sistemas, 255resinas para cimentação, 269

Coroas de jaqueta em porcelana (CJP), 227agentes de cimentação para, 258fratura, 229-230glazeamento, 229processamento

compactação, 228-229queima, 229

qualidades das, 255reforçadas por alumina, 243-245

Corrente anódica, 64Corrente catódica, 64

Corrosão, 4, 61amálgamas, 81, 91metal, 63-65

Corrosão galvânica, 64Corrosão localizada, 64Corrosão por fenda, 64-65, 82Corrosão por pitting, 65Corrosão seca, 63Corrosão úmida, 64-65Corrosão uniforme, 64Creep

amálgamas, 82resinas acrílicas, 210teste, 49

Cristais de tetrassilicato de mica, 253Cristal

crescimento, 251estruturas, 17-18nucleação, 251transições, 21-22

Cristalina, defi nição de, 17Cristalinidade em polímeros, 37Cristalização, 23

produção de vidro, 24-5Cristobalita, 22, 23Croma, 57, 58Cromo (Cr), 280Cubo simples, 17Curva da tensão de cisalhamento-taxa de

cisalhamento, 52Curva temperatura-volume, 21Curvas de resfriamento, 31Curvas tensão-deformação, 44, 45, 46, 47Cúspides

de trabalho, 114gravemente comprometidas, 158

Cúspides de trabalho, 114

D’Entercolles, Padre, 227Decapagem ácida, 235-236Deformação, 43-4, 45Dendritos, 32Densidade, 200

expansão de presa, 202resistência à compressão, 202

Dentadura(s)cerâmica vítrea, 251-252embasadores macios para, 39

sorção de água, 61-62estabilidade, 209fraturas, 209-210história, 8materiais de forramento, 211-213parcial, 175-176retenção, 209total, 175-176

Dentaduras de marfi m, 8Dentes,

conservação dos, 9descoloração, 4estrutura enfraquecida, 88-89fraturas, 88-89

Dentina, 18-19, 40adesão do cimentos de ionômero de vidro

(CIVs) à, 123adesão, 143, 146-153

agentes ver Agentes de adesão à dentina úmida, 152

condicionadores, 128, 148-150desmineralizada, 161estrutura da, 147expansão térmica, 55-56preparo da superfície, 128propriedades físicas da, 55-56

Descoloração, dentária, 4Desenho da prótese de Rochette, 270Desgaste

abrasivo, 111biomecânico, 4-5compósitos, 111-112fadiga, 111

Desidratação, cimentos de ionômero de vidro, 130

Page 299: Introdução Aos Materiais Dentários

ÍNDICE288

Desinfecçãomateriais de moldagem, 191-194procedimento, 193-194

Desinfetantes, 193Deslustre, metal, 63-65Devitrifi cação, 24-5Diagrama de energia de separação, 13, 14Diagramas de fase de equilíbrio ver Diagramas

de fasesDiagramas de fases, 30-32

construção dos, 31solubilidade sólida parcial, 31soluções sólidas, 30

Diaket, 169, 170Diamante, 16Dibutil-ftalato, 39Dietileno glicol dimetacrilato, 206Difusividade térmica, 55Dimetacriloxietil fenol fosfato (MEF-P), 151Dióxido de titânio, 137Dipolo elétrico, 16Dispensores volumétricos, 84Dissolução

cimento de fosfato de zinco, 261cimentos de ionômero de vidro, 121-122,

125-126DNA, 33Duchateau, Alexis, 227Ductilidade, 45Dwight, John, 226

EDTA, 148Efeito de Dispersão de Londres, 16Efeito em “formato de barril” 47Efeito hidrodinâmico, 135, 140, 152-153Efeitos galvânicos do amálgama, 87-88Elastômeros, 38, 47Elétron de valência, 14Elétrons, 13, 14Elizabeth I, Rainha, 8Embebição, 181Endotoxinas, 136Endurecimento por ordenação, 217Energia, 13Energia de superfície crítica, 70Enfraquecimento da solda, 281Entrelaçamento molecular, adesão pela, 73Enxaguatórios bucais, coefi cientes de

penetração para, 70, 71Equação de Dupré, 74Equação de Young, 70, 74Equipamento de raio X, 10Escala de cores VITA, 58Escoamento

amálgamas, 82compósitos, 107-108dos materiais, 51-54

Escoamento piroplástico, 229Escoamento plástico, 44Esmalte, 39

adesão, 143-144 ver também Técnica de condicionamento ácido

aplicação da resina sem carga, 146-147aplicação do condicionador, 146procedimento clínico, 145-146profi laxia do esmalte, 146resistência de união, 147seleção do paciente, 146

ausência da periferia de, 114cimentos de ionômero de vidro (CIVs),

124estrutura do, 143-144expansão térmica, 56profi laxia, 146propriedades físicas do, 55sem suporte, 89textura de superfície, 59

Espectro de radiação eletromagnética, 56Espiroortocarbonatos, 104Espiroortoésteres, 104Estanho (Sn), 9

amálgamas, 79, 80galvanização com estanho, 273

Estéticosamálgamas, 86cimentos de ionômero de vidro (CIVs), 124partículas de carga, 94pinos, 172resinas compostas, 110

Estrôncio, 94, 104Estrutura equiaxial, 27Estruturas cúbicas de corpo centrado (CCC),

18Estruturas cúbicas de face centrada (CFC), 18Etano, 17Etanol, 152Etileno, 33, 34Etileno glicol dimetacrilato (EDMA), 93Etruscos (1.000-600 a.C.), 7Eugenol, 137-138, 140, 166Expansão higroscópica, 202Expansão tardia, 91Expansão térmica, 55

ver também Coefi ciente de Expansão Térmica (a)

Fadiga estática, 66Falhas de moldagem, 194Fase α, 31, 165Fase β, 31, 165Fases γ, 65, 79-80, 81-82Fases da matéria, 13, 29Fator C, 158Fator de empacotamento, 18Fauchard, Pierre, 9Feldspato, 24, 227, 228Fenil-P (2-metacriloiloxietil-fenil), 156Fenóis, 193Fenol-formaldeído (baquelite), 205Ferrita, 277-281Ferro, 61, 277, 278Ferro-α, 277, 278Ferulização, 171Fibras, 40Fibras de aramida, 40, 210Fibras de carbono, 40, 210Fibras de E-vidro, 40Filamentos de carboneto de silício, 40Filamentos de grafi te, 40Filamentos, 40Flúor, 14Fluorcanasita, 40Fluorescência, 59Fluoreto estanhoso, 262, 263Folha de ouro, 9Força de tração ver CargaFormaldeído, 169, 193Forno, 226Fornos de queima a vácuo, 243Forradores de cavidade, 136-139

cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina (CIVMRs), 132

defi nição de, 135sob amálgamas, 139

Forradores ver Materiais de forramento cavitário

Fosfato de sódio, 182Fração solúvel, 61-62Fratura

dentadura, 209-210resistência à, 45tenacidade à, 45

Fricção, 67-68Fundição das ligas, 215-223

metais básicos, 220-222propriedades desejáveis, 215-216

Gálio, 87Gardette, James, 8Gás hilariante, 8Gases inertes, 13, 14Gases, 13Geleifi cação, cimentos de ionômero de vidro

(CIVs), 122Gelo, 16Germânio, 15

Gesso,46, 176, 199aplicações, 200expansão de presa, 202moldagem, 176, 179resistência à compressão, 202tempos de presa e de trabalho, 200vantagens e desvantagens dos, 202

Gesso Pedra, 199aplicações, 200expansão de presa, 202melhorada, 200resistência à compressão, 202tempos de trabalho e de presa, 200

Glaze, 229Glicerina, 23Glicidilmetacrilato, 93, 95Glutaraldeído, 148-150, 193Goodyear, Charles, 9Gráfi co de Zisman, 69Grampos, 216Gregor, Reverendo William, 222Grupos amino, 72Guta percha, 164-165, 169Halogênios, 14α-hemi-hidrato, 200β-hemi-hidrato, 199Hemostasia, 163Heteropolímeros, 33Hidrocoloides, 175, 176, 180

irreversível, 193reversível, 193

Hidrogênioligação, 16soluções sólidas intersticiais, 29-30

Hidroquinona, 94, 95Hidroxiapatita, 143-144, 145, 147, 148Hidróxido de alumínio, 260Hidróxido de cálcio

efeito na dentina, 128, 129efeito na polpa, 4

Hidroxietil metacrilato (HEMA), 131, 132, 151

Hipersensibilidade ver Reações alérgicasHisterese, 52Homopolímeros, 33Hunter, William, 10

Idade das trevas, na odontologia, 7-8Idade Victoriana, odontologia em, 8-9In-Ceram, 244Incisão, 62Indentação Brinell, 48Indentação de Knoop, 48Indentação Rockwell, 48Indentações, 48Indentador Vickers, 48Índio, 219Inibidores, 94Iniciação, polimerização, 35Inlays, 176

agentes para cimentação, 258cimentos de ionômero de vidro para

cimentação, 265compósito, 112, 159escolha da liga, 216resinas para cimentação, 269

Interface, 68Interligação micromecânica, 71-72Iodo, 14Iodóforos, 193Ionização, 63Íons cálcio, 182-183Íons de alumínio, 123Íons hidrogênio, 115, 122Irídio, 27, 216

em ligas de ouro, 216-217Isocianatos, 72, 73Isolamento térmico, 55Isopreno, 164Isotático, 33Ítria, 246

Jateamento, 272, 276

Page 300: Introdução Aos Materiais Dentários

ÍNDICE 289

Kells, C. Edmund, 10Ketac-Cem, 265

Lâmpada a base de mercúrio, 97Lâmpada de fi lamento de tungstênio, 57Laser de argônio, 100Lesões de erosão, 128, 141Leucita, 237

cristais, 233, 237Leucita tetragonal, 237Liberação de fl uoreto

cermets de prata, 130-131cimento de fosfato de zinco, 259, 261cimento de policarboxilato de zinco,

262-264cimentos de ionômero de vidro (CIVs), 116,

119compômeros, 115, 116

Liga binária, 28Liga de latão, 44Liga ternária, 28Ligação cruzada, 38, 148, 184, 185, 186Ligações covalentes, 14, 15

quebra de, 62Ligações de Van der Waal, 16, 68Ligações iônicas, 14, 15Ligações metálicas, 14Ligações primárias, 13

tipos de, 14Ligações secundárias, 16Ligas, 28

de amálgamas, 79-81fundição ver Ligas fundidasfundidas, 277modifi cação química das superfícies das,

273qualidades para aplicações ortodônticas, 282revestimento de estanho, 273revestimento triboquímico, 273revestimentos de sílica, 273Silicoater, 273

Ligas de alumínio, 46Ligas de cromo-cobalto (Co-Cr), 220-221

comparação com outras ligas, 223composição, 220-221propriedades, 221próteses, parciais removíveis, 215qualidades para aplicações ortodônticas, 282união micromecânica, 270

Ligas de metais nobres, 216-220 ver também Ligas metálicas específi cas

Ligas de metais preciosos, 216-220Ligas de níquel-cromo (Ni-Cr), 270, 271Ligas de níquel-cromo-molibdênio, 240Ligas de níquel-titânio, 282Ligas de ouro, 215, 216-219

baixo teor de, 218-219cerâmicas unidas ao metal, 239cimentos de policarboxilato de zinco, 264cobre na, 29, 217composição das, 216, 219elevado teor de, 216-217médio teor de, 218-219microestrutura das, 27propriedades das, 219qualidades para aplicações ortodônticas,

282soldagem, 282soluções sólidas substitucionais, 29tipo I, 216, 217tipo II, 216, 217tipo III, 216, 217tipo IV, 216, 217união, 235

Ligas de prata-paládio (Ag-Pd), 220Ligas forjadas, 277Ligas metálicas ouro-paládio, 240Ligas prata-paládio, 240Limite convencional de escoamento, 45Limite de proporcionalidade, 45, 47Limite de resistência, 48Limite do grão, 27Limite elástico, 44

Líquido(s), 13adesão a um sólido, 68aumento do escoamento por cizalhamento,

52dilatantes, 52hidrocarboneto, 74newtoniano, 52plástico, 52pseudoplástico, 52transições, 22viscosidade, 51-2viscoso, 53-4

Liquidus, 30Luis XIV, Rei, 8Luz

adesivos resinosos de esmalte ativados por, 129

ativação, 35azul, 99, 101luz do dia, 57ultravioleta ver Luz ultravioleta visível ver

Compósitos ativados por luz visível (ALV)

unidades de polimerização, 101-104Luz azul danosa, 97Luz do dia, 57Luz ultravioleta, 62

compósitos ativados por, 96-97, 99segurança, 97

Luz visívelcompósitos ativados por (ALV), 99, 139resinas acrílicas polimerizadas por, 206-207

Macrorretenção, 72Marcos, história dos materiais dentários, 9-10Martensita, 279Matéria, fases da, 13, 29Materiais de moldagem, 175-194

aplicação, 178categorização dos, 176composição, 177-178contração dos, 176-177desinfecção, 192-194elásticos, 175, 176elastoméricos ver Materiais de moldagem

elastoméricosexigências dos, 175-177hidrocoloides, 175, 176, 179-180propriedades, 178rígidos, 175, 176, 177-179silicona ver Materiais de moldagem de

siliconaMateriais de moldagem de óxido de zinco-

eugenol, 175, 176Materiais de moldagem de poliéter, 175, 176,

185características de trabalho, 187comportamento de presa, 187contração de presa, 189desinfecção, 193, 194vantagens e desvantagens, 192-193

Materiais de moldagem de polissulfeto, 176, 185

características de trabalho, 187contração de presa, 189desinfecção, 193, 194vantagens e desvantagens dos, 192-193

Materiais de moldagem de silicona, 185-186aumento do escoamento por cisalhamento,

52características de trabalho, 187classifi cações dos, 176desinfecção, 194polimerização por adição ver Siliconas

polimerizados por adiçãopolimerizados por condensação ver

Siliconas polimerizados por condensação

técnicas de moldagem, 177Materiais de moldagem elastoméricos, 175,

176, 184-191aceitabilidade, 191características de trabalho, 187

compatibilidade com materiais do modelo, 191

comportamento visco-elástico, 54, 55contração de presa, 189contração térmica, 189custo, 191estabilidade dimensional e fi delidade, 188-189propriedades mecânicas, 188reprodução de detalhes da superfície, 189técnica de moldagem, 189-191vantagens e desvantagens dos, 192

Materiais endodônticos, 161-172Materiais para obturação de canal radicular,

164-170biocompatibilidade, 169cimentos seladores, 166-169pontas obturadoras, 164-166propriedades de selamento, 169-170propriedades físicas, 170

Materiais restauradoresaspectos históricos dos, 10com cor semelhante aos dos dentes,

126-128ver também Material específi co

Materiais restauradores intermediários (MRIs), 135-141

cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina, 141

cimentos de ionômero de vidro, 141escolha dos, 139-141proteção pulpar, 135-136restaurações em amálgama, 139-141

Matrizcompósito, 40resina, 93-94técnicas defi cientes da, 89

MDP (metacriloxietil-fenil), 272γ-mercaptopropiltrimetoxisilano, 76Mercúrio (Hg), 4, 79

amálgamas, 79, 80, 81condensação, 85energia de superfície, 70energia de união, 15toxicidade, 86-87

Meros, 164-META (4-metacriloxietil trimelitato anidro),

272, 276Metacrilato de metila (MMA)

cimentos de ionômero de vidro, 125estrutura química do, 95materiais restauradores intermediários, 138polimerização, 94resinas compostas, 93, 108resinas para base de dentaduras, 205, 211,

212união metal-resina, 269

Metacriloxietil-fenil (MDP), 2722-metacriloiloxietil-fenil (Fenil-P), 155γ-metacriloxipropiltrimetoxisilano (γ-MPTS),

76, 94, 268Metal(ais), 15, 18

agregado de trióxido, 168corrosão e deslustre do, 63-65dúctil, 46, 47fundido, 28microestrutura dos, 27-28nobre, 61, 216-220pontos, 166preparo da superfície, 235

aquecimento na presença de ar, 236aquecimento sob vácuo parcial, 235decapagem ácida, 235-236polimento da superfície, 235

primers, 274-275tenacidade à fratura, 45união à resina ver União metal-resinaver também Ligas, metal específi co

Metalocerâmicas, 230, 233-241cimento de fosfato de zinco, 261-262escolha da liga, 239-240expansão térmica, 236-238

composição da cerâmica e, 237tensões induzidas termicamente, 236

Page 301: Introdução Aos Materiais Dentários

ÍNDICE290

fraturadas, 5preparo da superfície do metal, 235união, 233-235

Metaltite, 275Metamerismo, 58Metano, 16Metil benzoína, 97-99Microinfi ltração, 114, 136, 140Micro-organimos nos condicionadores de

tecido, 213Mistura fundida, 228Mistura, polímero, 38Modelos, 199, 208Módulo de Young, 44-45Moldagem de transferência, 250Moldeiras, 175

de estoque, 175resfriada por água, 181tipos de, 176-177

Moldeiras, moldagem ver Moldeiras para moldagem

Molhamento, 69, 144-145Molibdênio, 220Monômero, 33

cristal líquido, 104estrutura química dos, 95polimerização, 34-35

Munsell, A. H., 57

n,n-Di-hidroxil-p-toluidina, 98n,n-Dimetil-p-toluidina, 35, 36Níquel (Ni), 4, 240

aço inoxidável, 279-280 diagrama de fase, 30em ligas de cromo-cobalto, 221reações alérgicas ao, 221, 240, 271

Nitrocelulose, 125, 129Nitrogênio, 305-NMSA, 155NPG-GMA, 151Nucleação heterogênea, 27Nucleação homogênea, 27Núcleo de cristalização, 27Número médio de peso molecular (Mn), 36Nylon, 211

sorção de água, 61tenacidade à fratura, 45-46

Oclusão, habitual, 114Odontologia do século XVIII, 8Óleo de cravos da índia, 8Oligômeros, 36Onlays

agentes de cimentação para, 258compósito, 112cúspides de trabalho, 114

Opacidade, 59, 123-124Ortodônticos

bandas, 264bráquetes, colagem direta, 144

Ósmio, 216Osso, 18-19Ouro

coefi ciente de expansão térmica, 234coesivo, 68história da conservação dos dentes, 9propriedades do, 30, 61pureza, 216quilate, 216vantagens do, 7

Ouro branco, 220Óxido bórico (B2O3), 24Óxido de alumínio ver Alumina (Al2O3)Óxido de bismuto, 168Óxido de cromo, 280Óxido de ferro, energia de superfície, 70Óxido de magnésio

cimento de fosfato de zinco, 260cimentos de policarboxilato de zinco, 262

Óxido de potássio, 237Óxido de sódio, 24Óxido de zinco, 21, 24, 137Óxido nitroso, descoberta do, 9

Oxigênioem ligas de titânio, 222inibição, 98-99

Oxiranos, 104

Paládio, 216, 220em ligas de ouro, 29, 216, 218, 239ligas, 240

Paraformaldeído, 169-170Pare, Ambrose, 9Partículas cortadas em torno mecânico, 80Partículas de carga

compósitos, 40, 93-94nova tecnologia, 104

materiais de moldagem, 177-178Partículas esféricas, 80Pasta de óxido de zinco-eugenol, 178-179Perlita, 279Pele, 33Película, 145, 147PEMA (Polietil metacrilato), 211, 212Perfi lômetro, 60Peróxido de benzoíla, 35, 99, 212Peróxidos, 35Perspectivas históricas, 7-10Peso molecular dos polímeros, 36Peso molecular média (Mw), 36Pincus, Dr. Charles, 249Pinos, endodônticos

cerâmicos, 172cimentos de ionômero de vidro modifi cados

por resina para cimentação, 266fundidos, 171metálico, 171-172pré-fabricados, 171-172resina reforçada por fi bra, 172tipos de, 171

Pinos estéticos, 172Placa, 147Plástico(s) ver PolímerosPlastifi cadores, 39

embasadores macios para dentaduras, 212materiais de moldagem, 177-178

Platina, 61, 217corrosão galvânica, 65em ligas de ouro, 29, 217, 239

Poliácido, 120-121Polidimetil siloxanos, 33, 35

com terminação hidroxil, 186obturadores de canal radicular, 168

Poliestireno, 138Polietil metacrilato (PEMA), 211, 212Polietileno, 33, 34, 37

radiação-g, 63Polimento, 110Polimerização

adição, 35-6compômeros, 116condensação, 36contração, 5, 101-104, 158

inlays de compósitos, 159compômeros, 117compósitos ver Compósitos (resinas

compostas), contração de polimerização

restaurações grandes, 113sorção de água, 109

mecanismos de, 34-36métodos, 98resinas acrílicas, 208técnicas, 96-97

Polímeros, 17confi gurações das cadeias, 37, 38cristalinidade em, 37degradação dos, 61-63estabilidade dos, 61estrutura dos, 33-41ligação cruzada, 38peso molecular dos, 36real composição, 38-41

compósitos, 40copolímeros, 38mistura, 38

plastifi cadores, 39ver também Polímeros específi cos

Polímeros de silicona, 38, 70líquido não polar, 72

Polímeros endurecidos, 37Polímeros termoplásticos, 37Polimetil metacrilato (PMMA), 34, 40, 212,

270biocompatibilidade, 210condutividade térmica, 210sorção de água e solubilidade, 210vantagens e desvantagens do, 210ver também Resinas acrílicas

Polimetileno, 17Polimorfi smo, 21Polipropileno, 33, 34

isotático, 34Politetrafl uoretileno (PTFE), 34, 69, 70Politrifl uoretileno, 70Polivinil siloxano, 170Polpa

capeamentodireto, 162-163fracasso, 163-164indireto, 161-162

infl amação da, 163-164materiais, 163proteção

bactérias e endotoxinas, 136cimentos de ionômero de vidro (CIVs),

128-129estímulo químico, 136estímulo térmico, 135-136materiais restauradores intermediários,

135-136reações, 3-4sensibilidade, 261

Pontes, 176agentes de cimentação para, 257-258aspectos históricos, 9-10cimento de fosfato de zinco, 261cimentos de ionômero de vidro para

cimentação, 265desenho de Rochette, 270Maryland, 270unidas por resinas, 67, 144

Ponto de soldagem, 282Ponto eutético, 31Porcelana, 225

chinesa, 226-227composição da, 227-228composição do óxido, 228coroas, 67, 230-231dentaduras, 8expansão térmica, 55processamento, 228-229propriedades da, 229-230resistência da, 243tenacidade à fratura, 45-46unida ao metal, 55

Porosidade de contração, 208Porosidade gasosa, 208Posições intersticiais, 21Prata (Ag), 216

amálgamas, 79-80coefi ciente de expansão térmica, 235em ligas de ouro, 29, 216material de obturação de canal radicular,

166metalização com, 191propriedades físicas da, 55-56solda de ligas, 282soldagem a frio, 87solubilidade sólida parcial, 31

Pré-amalgamação, 80Prensada sob calor, coroas cerâmicas, 250Preparo da cavidade, 127Primers, 75, 76

autocondicionantes, 155, 156dentina, 147-148metal, 274-276papel dos, 150-151

Procera AllCeram, 246

Page 302: Introdução Aos Materiais Dentários

ÍNDICE 291

Processamento dos materiais, 51Processo catódico, 63Processo de Kroll, 221Processos de polimerização por reações redox,

131-132Produtos de gesso, 199-203

aplicações, 200dureza e resistência à abrasão, 202estabilidade dimensional, 202expansão higroscópica, 202mudanças dimensionais durante a presa,

201processo de presa, 200propriedades, 202química dos, 199-202reprodução dos detalhes da superfície,

202-203resistência à compressão, 202resistência à tração, 202tempos de trabalho e de presa, 200

Profi laxia, esmalte, 146Propagação, polimerização, 36Propileno, 33, 34Propriedades físicas, 51-60

propriedades ópticas, 56-58propriedades reológicas, 51-54propriedades térmicas, 54-56

Propriedades mecânicas, 43-50Propriedades químicas, 61-66Proteínas, 33Próteses intraorais, 4Próteses, maladaptadas, 194 ver também

Pontes; Coroas; Dentadura(s)PTFE (politetrafl uoretileno), 34, 69, 70Pureza, ouro, 216PVC (cloreto de polivinil), 34, 40, 70

Quartzo, 22, 94, 95fundido, 24porcelana, 228

Queima, cerâmica, 225-226Quilate, ouro, 216

Rachaduras, 208Radiação eletromagnética, espectro da, 56Radiação, degradação do polímero, 62-63Radicais livres, 35-6, 98Radiopacidade, 109Reação de oxidação, 63-65 ver também

CorrosãoReação de presa, 80

alginatos, 182-183cimentos de ionômero de vidro (CIVs),

122-123cimentos de ionômero de vidro modifi cados

por resina (CIVMRs), 141Reação eutectoide, 32Reações alérgicas, 3-4

resinas compostas, 108níquel, 221, 240, 272polimetilmetacrilado (PMMA), 210mercúrio, 86-87

Reações polares, 150Reações, biológicas, 3Real resistência de união, 74-75Recristalização, aço inoxidável, 281Região elástica linear, 44Rênio, 217Resfriamento, 23Resiliência, 45Resina amida, 125Resina de Bowen ver Bis-GMAResina de uretano dimetacrilato (UDMA), 93,

95, 108, 152adesão, 271

Resina epóxi-amina, 167Resinas

abertura do anel, 104acrílicas ver Resinas acrílicasamido, 125base de dentaduras, 205-213cimentação ver Resinas para cimentaçãomateriais de moldagem, 177-178

obturadores de canal radicular, 167ver também Compósitos (resinas

compostas)Resinas acrílicas, 136

aspectos de manipulação, 207-209composição e estrutura das,205-207controle de cor, 207estabilidade estrutural e precisão, 209isolamento do molde, 207polimerização a frio, 207, 211polimerização a quente, 206, 211polimerização por luz visível, 207porosidade, 207-208processamento, 207propriedades físicas, 210propriedades mecânicas, 209-210propriedades, 209-210quimicamente ativada, 207relação pó-líquido, 207tensões do processamento, 208

Resinas acrílicas polimerizadas a frio, 206-207, 211

Resinas acrílicas quimicamente ativadas, 206-207

Resinas acrílicas termopolimerizáveis, 206, 211Resinas compostas modifi cadas poliácidos ver

CompômerosResinas de polivinil, 167Resinas de vinil, 205Resinas microparticuladas, 105Resinas para base de dentadura, 205-213

aspectos de manipulação, 207-209composição e estrutura das, 205-207critério ideal para, 206propriedades, 209-210

Resinas para cimentaçãounião cerâmica-resina, 269união micromecânica resina-metal, 270-271,

272unidas quimicamente, 272

Resistência à fl exão, cerâmicas, 243Resistência à tração

amálgamas, 81cimentos de ionômero de vidro (CIVs), 127compósitos, 111diametral, 47máxima, 45

Resistência máxima à tração, 45Resistência teórica de uma união adesiva,

73-74Restaurações

bordo incisal, 141classe I, 131classe III, 128-131classe V, 117, 128-130compósitos, considerações clínicas para,

113-115fraturadas, 4grandes, 113-114, 159fracassos das, 163-164metálicas, 215-223pequenas, 159resinas preventivas, 140ver também Cárie

Restaurações de bordo incisal, 140Retenção, dentaduras, 209Retina, 56-57Riscos, biocompatibilidade, 3Ródio, 216Roosevelt, Presidente, 9Rosina, hidrogenada, 138Rugosidades, 67Rutênio, 216

Saliências, 89Segregação composicional, 32Segurança, 97-98Seladores

canal radicular, 165-168dentina, 147-148, 152

Selantes de fi ssura, 140, 145expansão térmica, 55-56

Sem estética, descoberta da, 9

Sensibilidadeagentes de cimentação à base de água, 261pós-operatória, 3-4, 152preparo dentário e, 128térmica, 135

Séries galvânicas, 64Serviço de Aconselhamento da Associação

Dentária Britânica (British Dental Association Advisory Service), 194

Silanóis, 76Sílica (SiO2), 20, 21, 22, 227

cobertura das ligas, 273coefi ciente de expansão térmica, 235coloidal, 104degradação da, 65estabilidade química, 61formação do vidro, 23derretida, 24propriedades físicas da, 55-56

Silício, 33Silicoater, 273Silicona, 16, 175Silicona polimerizada por adição, 186

características de manipulação, 186-187comportamento de presa, 187contração de presa , 189desinfecção, 193hidrofílico, 188vantagens e desvantagens da, 193

Siliconas polimerizadas por condensação, 187características de trabalho, 186-187comportamento de presa, 187contração de presa, 189desinfecção, 193

Siloranos, 104Sindiotático, 33Sinérese, 181, 183Singenito, 201Sinterização, 226

coroas cerâmicas, 250Sistema de Munsell, 57-58Sistema ferro-carbono (Fe-C), 32Sistema prata-estanho (Ag-Sn), 80Sistemas adesivos de frasco único, 155-156Sistemas de núcleos cerâmicos de elevada

resistência infi ltrada por vidro, 245-247

Sistemas de núcleos cerâmicos, reforçados, 230 ver também Núcleos cerâmicos de elevada resistência; cerâmicas unidas por resina

Sistemas de pino e núcleo, 170-172agentes de cimentação para, 258

Slip-casting, 245Soda (Na2O), 24, 237Sódio, 14Sol, 180Solda dura, 281Soldagem, 72, 281

a frio, 67, 87em ponto, 282

Solidifi cação, 27, 30Sólidos, 13

adesão a um líquido, 68adesão entre, 67-68arranjo estrutural dos átomos nos, 17-18covalentes, 15-16elásticos, 53friável, 46-7iônicos, 14-15metálicos, 15molecular, 16transições, 21-22

Solidus, 30Solubilidade

cimentos de ionômero de vidro (CIVs), 125-126

resinas compostas, 108-109Solubilidade sólida parcial, 31Soluções de aldeído, 193Soluções de cloro, 193Soluções de hipoclorito de sódio, 193Soluções de iodo, 193

Page 303: Introdução Aos Materiais Dentários

ÍNDICE292

Soluções sólidasdiagramas de fases, 30intersticiais, 29substitucional, 29

Solventes, 61, 152Sorção química, 72Spinel

coefi ciente de expansão térmica, 235sistemas de núcleos cerâmicos de elevada

resistência infi ltrados por vidro, 245Suavização do líquido, 260Substratos, 68Sulfato de cálcio, 137Sulfato de cálcio di-hidratado, 181, 199, 201Sulfato de cálcio hemi-hidratado, 199Sulfato de potássio, 179, 181, 200

em produtos de gipsita, 201Sulfonamida, 137Superbond C&B, 272Superfície

energia, 69indentações, 47preparo, 67rugosidade, 69, 71tensão, 69, 144-145textura, 56, 59-60

Tartarato de cálcio, 123Techceram, 245Técnica da compressão da massa plástica, 206Técnica de condicionamento ácido total,

152-153, 163Técnica de condicionamento ácido, 144-146

aplicação de resinas sem carga, 146-147capeamento pulpar indireto, 162coroas cerâmicas, 249procedimento clínico, 145-146resinas compostas, 110, 114, 140resistência de união, 147

Técnica de fundição por cera perdida, 215, 250, 253

Técnica de moldagem de dupla mistura, 187Técnica de moldagem massa pesada/ massa

leve, 187Técnica de remoção em movimento único e

rápido, 183Técnica do sanduíche, 141Técnicas de moldagem, 175, 176, 189-190

dupla mistura, 187massa densa/massa leve, 187técnica da moldagem simultânea, 189-190técnica de duas etapas com espaçador, 190técnica de duas etapas sem espaçador, 190

Tecnologia CAD-CAM, 10, 245coroas cerâmicas, 251

TEGDMA (trietileno glicol dimetacrilato), 93, 108

Têmpera, 25, 32, 279Têmpera de homogeinização, 32Temperatura

cadeias dos polímeros, 37degradação do polímero, 62-63dente, 51fusão das ligas, 30propriedades térmicas, 54-6transformação, 23transição vítrea (Tg), 22, 23, 37

Temperatura de fusão, 21-22Temperatura eutética, 32Temperatura fi ctícia ver Vidro(s), temperaturas

de transição (Tg)Tempo de espatulação, 200Tenacidade, 45Tensão, 43-4

por compressão, 44limite convencional de escoamento, 45limite de proporcionalidade, 45, 47por cisalhamento, 44por tração, 44

Terminação, polimerização, 36Terracota, 226Teste de compressão, 47Teste de dureza, 48Teste de fadiga, 48-49Teste de impacto, 48Teste de impacto de Sharpy, 48Teste de tração, 46

diametral, 111Testes mecânicos, 46-49Tetraetileno silicato (TES), 185, 187, 212Tetrametoxissilano, 273Titânio, 63, 215

carboneto de cromo, 280comercialmente puros (Ticp), 222, 241-242em ligas de cobalto-cromo, 220ligas, 222, 223obturadores de canal radicular, 166óxidos de, 24

Titânio-6%Alumínio-4%Vanádio, 222, 223Tixotrópico, 52-53Tomes, Sir John, 161Trabalhado a frio, metal, 277, 278Trabalho a quente, metal, 277Transformação eutectoide, 278Transformação eutética, 278Translucidez, 56, 59Transparência, 59Tratamento endodôntico, 162Tridimita, 22Trietileno glicol dimetacrilato (TEGDMA), 93,

95, 108Tri-hidróxi-silanóis, 76Trinca por corrosão sob tensão, 66Trituração, 85Troquéis, 200Tubliseal, 166, 170Túbulos dentinários, 135, 147, 156-157

cimentos de ionômero de vidro (CIVs), 128

UHMPE (polietileno de peso molecular ultra alto), 210

Um sólido, formação de, 15-16União do silano, 67, 93-94

agentes, 75-76, 268-269União resina-metal, 269-276

modifi cação química da superfície das ligas metálicas, 273

primers para metal, 274-275resinas de cimentação unidas

quimicamente, 272Silicoater, 273união macromecânica, 270união micromecânica, 270-272

Unidade de fotopolimerização LED-azul, 101

Unidade polimerizadora por luz de halogênio de quartzo, 101

Unidades de polimerização por luz de início suave, 103, 104

Unidades polimerizadoras por luz de arco de Xenon (plasma), 101

Unidades polimerizadores por luz de arco de plasma, 101

Usinagem leve, 246Utensílios cerâmicos, 225-226

Valor de dureza Vickers (VDN), 218Valor, 57, 58Vanádio, 222Vaselina, 129VBATDT, 275Verniz de poliuretana, 129Vernizes

cavidade ver Vernizes cavitárioscimentos de ionômero de vidro (CIVs),

129Vernizes cavitários, 135, 136-139

aplicações, 137apresentação e componentes, 137cáries de profundidade rasa, 139

Vidro(s)energia de superfície do placa, 70=71feldspático, 21fi bras, 209-210fl úor alumínio-silicato, 115formação dos, 22-24formadores, 23-24inclusão de um polímero, 40óxido misto, 24sílica, 104temperatura de transição (Tg), 22, 37transições, 22viscosidade do, 23

Vidros de feldspato, 21, 233, 254coroas cerâmicas, 250estéticos, 251reforçadas por leucita, 252

Vidros de óxidos mistos, 24Vidros de silicato-lítio-alumínio, 104Vidros de soda cáustica, 234Vigo, Giovanni de, 9Viscoelasticidade, 53, 54Viscosidade, 51-52

adesivos, 68, 70, 74controladores, 93do vidro, 22

Vitrifi cação, 23Volume, 21, 22Vulcanite, 9, 205Vulcanização, 9, 164

Wells, Horace, 9Wildman, Elias, 227

Xileno, 165

Zinco (Zn)amálgamas, 79, 80corrosão galvânica, 64em ligas de ouro, 216

Zircônia, 10, 172, 243, 245, 246Zona híbrida, 152, 153