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Sociologia do ambiente: uma disciplina entre duas abordagens
Abordagem construtivista
Os problemas ambientais no seu estado apenas físico, químico ou biológico não são tidos enquanto tal, e não têm qualquer eco social, enquanto não se produzir qualquer comunicação sobre isso.
� Atitudes e representações sobre a questão ambiental. Que fatores que interferem no grau de consciencialização social para os problemas ambientais?
� Movimentos ambientalistas. Que fatores impulsionam a sua emergência? Que estratégias utilizam para influenciar a política pública e que efeitos é que essas estratégias têm?
� Media e ciência. Que papel têm os media em gerar atenção societal para a questão ambiental? Que papel tem a ciência em gerar interesse societal para a questão ambiental?
Estudos sobre atitudes e representações sobre a questão ambiental
� Como é que o público perceciona os problemas ambientais ?
� Que fatores determinam a adoção de comportamentos pró-ambiente?
A natureza do objeto em relação ao qual se pretende captar atitudes
� Carácter difuso e invisível de muitos problemas ambientais; � Carácter difuso e invisível de muitos problemas ambientais;
� Carácter polissémico associado a “ambiente biofísico”, “natureza”;
� Causas, efeitos, soluções de muitos problemas ambientais socialmente
visualizados como tendo na sua base processos complexos.
Construção social dos problemas ambientais (Irwin, 2001)
� Validação científica;
� Atenção dos media;
� Dramatização do problema quer em termos simbólicos quer em termos visuais;
Construção social de determinado fenómeno enquanto problema ambiental requer:
� Mobilização de grupos sociais mais ou menos organizados;
� Criação de incentivos à adoção de comportamentos tidos como pró-ambientais;
� Institucionalização do problema, mais concretamente sob a forma de políticas e organizações a quem compete assegurar a implementação das medidas.
Representações sociais da natureza (Almeida, 2000)
Natureza 1 Natureza 2 Natureza 3
VegetaisCampo/organização/atividadesEspaços verdes artificiaisRelevo e paisagemElementos agregadosEspaços
Poluição/degradaçãoCidade e urbanismo
HomemValoresArquitetura e patrimónioNatureza: tudoAmbiente
EspaçosÁguaArSoloAnimais
Natureza e ambiente representam coisas diferentes para pessoas diferentes
Investigação sobre atitudes e representações sobre a questão ambiental
Abordagens de pendor sociológico
� Conceito de “preocupação ambiental”;
� Construção de uma escala de atitudes a partir do Novo Paradigma Ecológico
Abordagens da psicologia social
� Teoria das atitudes aplicada à análise das atitudes sociais em relação ao
ambiente;
� Atitudes são um factor preditor de comportamentos pró-ambiente?
1. Um conceito de “preocupação ambiental” (Dunlap et al., 2002)
Grau de consciencialização de um indivíduo ou grupo social para problemas
relacionados com o ambiente biofísico, associado ao grau de adesão para a
resolução dos mesmos e à pré-disposição para contribuir pessoalmente para a sua
solução.
Componente ambiental
� “objetos ambientais” em relação aos quais se pretende avaliar, ou medir, a preocupação ambiental” (ex. poluição localizada, desflorestação, perda de biodiversidade, alterações climáticas); climáticas);
Componente relacionada com a perceção social
� Seriosidade percebida dos problemas ambientais;
� Posicionamento em relação às principais causas destes mesmos problemas;
� Atribuição de responsabilidades na resolução dos problemas (indivíduo, indústrias, governos);
� Apoio individual à implementação de medidas de mitigação dos problemas (ex. aumento da regulamentação);
Dunlap identifica 300 estudos empíricos sobre “preocupação ambiental” realizados entre a década de 70 do século passado e o início deste século.
HEP – Paradigma da excecionalidade
humana
NEP – Novo Paradigma Ecológico
Os homens têm uma herança cultural acumulada à herança genética e são muito
diferentes das outras espécies animais.
Embora possuam características excecionais, os homens encontram-se no meio de muitas outras espécies do planeta, todas elas
envolvidas no ecossistema global.
Os fatores sociais (incluindo a tecnologia) são os grandes determinantes das ações
humanas.
As ações humanas são influenciadas pelos fatores sociais e também por intrincadas
relações de causa-efeito com a natureza.
Os ambientes sociais e culturais (incluindo a tecnologia) são os grandes determinantes
das ações humanas.
Os homens vivem e estão dependentes de
um ambiente biofísico limitado que provoca fortes constrangimentos às ações humanas.
A cultura é cumulativa e o progresso
tecnológico e social não tem limites, encontrando-se sempre uma solução para os problemas.
Apesar de aparentemente a criatividade
humana e as suas potencialidades superarem os limites da capacidade de carga do planeta, as leis ecológicas devem ser contempladas.
Limites
ecossistemas
Equilíbrio
natureza
Estamos a aproximarmo-nos do limite do volume de população que a terra pode suportar
A natureza é como uma nave espacial com espaço e recursos limitados
Quando os seres humanos intervêm sobre a natureza, tem com frequência efeitos desastrosos
O equilíbrio da natureza é usualmente muito delicado e facilmente afetado
Humanos têm o direito de modificar o ambiente natural para atendes às suas
Novo Paradigma
ecológico
Dominação
humana
Catástrofe
ecológica
para atendes às suas necessidades
Humanos estão a abusar do ambiente natural
A denominada “crise ecológica” tem sido fortemente exagerada
Se as coisas continuarem a ter a trajetória presente, nós viveremos uma crise ecológica
ecocentrismo
NEP 1976 1990 Mudança
Limites ecossistemas
Estamos a aproximarmo-nos do limite do volume de população que a terra pode suportar
73% 67% -6%
A natureza é como uma nave espacial com espaço e recursos limitados
83% 80% -3%
Equilíbrio natureza
Quando os seres humanos intervêm sobre a natureza, tem com frequência efeitos desastrosos
76% 86% +10%
O equilíbrio da natureza é usualmente muito delicado e facilmente afetado
80% 84% +4%facilmente afetado
Dominação humana
Humanos têm o direito de modificar o ambiente natural para atendes às suas necessidades
Catástrofe ecológica
62% 64% +2%
Humanos estão a abusar do ambiente natural 79% 89% +10%
A denominada “crise ecológica” tem sido fortemente exagerada
57% 75% +18%
Se as coisas continuarem a ter a trajetória presente, nós viveremos uma crise ecológica
60% 78% +18%
Dunlap R.E, Van Liere K.D., Mertig A.G., Jones R.E. (2000) “Measuring endorsement of the New Ecological Paradigm: a Revised NEP scale”, Journal of Social Issues, vol.56,
3, 425-442.
1.Escala de atitudes face ao ambiente (Soczka, 1983)
Grande parte do que se diz acerca da crise ecológica que o mundo atravessa é exagerado
Os males provocados pela construção de uma central nuclear no nosso país não compensam os eventuais benefícios
A comida que se consome nos países industrializados já não oferece segurança para a saúde por estar contaminada por pesticidas e doenças
O mundo acabará num prazo de algumas décadas se não se travar
Discordo totalmente discordoNem concordo, nem discordo
concordoConcordo
totalmente
1 2 3 4 5
O mundo acabará num prazo de algumas décadas se não se travar imediatamente o crescimento industrial e tecnológico dos países industrializados
As pessoas que protestam contra o crescimento económico são idealistas que não sabem o que dizem e não têm o sentido das realidades
20
25
30
35
40
45
50
Ecocentrismo (Almeida, 2000)
0
5
10
15
20
Não ecocêntricos Não definidos Ecocêntricos
Que fatores determinam a adoção de comportamentos pró-ecológicos por parte dos
indivíduos?
ATITUDES COMPORTAMENTOS
Kaiser et al. (1998, 1999)
� Relação entre atitudes e comportamentos face ao ambiente muito explorada, mas inconclusiva quanto à real correlação entre uma e outra componente.
� Indivíduos com posicionamento face ao ambiente próximo do “ecocentrismo” expressam comportamentos inconsistentes.
Razões (Kaiser et al., in ibid)
� Conceptual: diferentes formas de conceptualizar “atitude” e “atitude ambiental”;
� Metodológica: falta de consideração das “influências situacionais” (constrangimentos e oportunidades associadas aos contextos e que interferem nos comportamentos dos indivíduos);
Cognitiva
Ideias, crenças e opiniões em relação a um
determinado objeto ou fenómeno e que se exprimem de forma avaliativa (posição favorável/desfavorável;
concordância/discordância);
O CONCEITO DE
Atitude é o que faz a ponte entre disposições individuais e disposições
sociais, entre pensamento e ação.
Emoções e sentimentos provocados pelo objeto de atitude (susto, medo, alegria, etc);
Intencional
Intenções comportamentais em que as atitudes se manifestam.
Comportamento pró-ambiental
O CONCEITO DE
ATITUDE
Teoria da ação refletida e teoria da ação planeada (Azjen, 1987)
Conhecimento factual
Atitude face ao comportamento
IntençãoComporta
-mento
Controlo Valores morais
Controlo comportamental
percebido
Influências situacionais/contextuais além do controlo dos indivíduos
Constrangimentos socioculturais determinam, até certo ponto, que comportamentos pró-
ambiental são possíveis implementar
Escala “General Ecological Behaviour”
Conhecimento : Eu concordo que… [10 items]
…Recursos fósseis (ex. petróleo) produzem elevadas quantidades de CO2 na atmosfera
…Uma mudança no clima causada por níveis crescentes de CO2 é designada de “efeito estufa”
Valores: Eu concordo que…[7 items]
…Todas as coisas, sejam os seres humanos, os animais ou as pedras, têm o direito de existir.
…Em geral, manter os animais presos/enjaulados deveria ser proibido.
Intenção [11 items]
…Eu apoio o aumento das taxas de estacionamento nas cidades. …Eu apoio o aumento das taxas de estacionamento nas cidades.
…Estou disposto a pagar taxas ambientais.
…Eu apoio esforços para condicionar o trânsito automóvel nos centros das cidades.
…Eu preferia conduzir apenas em caso de absoluta necessidade.
…Eu preferiria ir às compras sem o meu automóvel.
…Eu ainda precisarei do meu automóvel no futuro.
…O próximo automóvel que comprar será o mais ecológico possível.
Discordo totalmente discordoNem concordo, nem discordo
concordo Concordo totalmente
Escala “General Ecological Behaviour”
Comportamentos pró-ambiente [38 items]
…Eu coloco pilhas gastas no lixo comum.
…Eu levo medicamentos fora de prazo para a farmácia.
...Eu recolho e reciclo papel usado.
…Eu levo garrafas vazias para o vidrão.
…No Inverno, eu mantenho o aquecimento no máximo de modo a não ter que usar uma camisola.
…Nas compras, eu prefiro sacos de papel a sacos de plástico.
…Eu, por vezes, contribuo financeiramente para organizações ambientalistas.…Eu, por vezes, contribuo financeiramente para organizações ambientalistas.
…Eu sou membro de uma organização ambientalista.
…Eu evito levar o meu carro todos os dias para a cidade.
…Eu usualmente compro leite em embalagens recicláveis.
…Eu já chamei a atenção de pessoas pelo seu comportamento não ecológico.
(…)
General Ecological Behaviour (GEB) (kaiser et al., 1999)
Objetivos
Compreensão da relação entre atitudes face ao ambiente e comportamento;
Construção de um instrumento apto à medida.
Procedimento
Aplicação da teoria das atitudes da ação planeada de Azjen (1987) ao estudo dos
comportamentos face ao ambiente.
Caso prático
População-alvo
3000 sujeitos membros de duas grandes associações suíças:
� Defesa da redução dos impactes no ambiente provocados pela dependência em
relação ao automóvel;
� Defesa dos interesses dos automobilistas
comportamentos face ao ambiente.
32%
51%
17%
Orientação ambiental dos portugueses
51%
Orientação ambiental baixa Orientação ambiental média
Orientação ambiental alta
Orientação ambiental alta
� Elevado conhecimento dos conceitos/problemáticas ambientais;
� Pré-disposição para aumentar o esforço financeiro em prol do ambiente;
� Práticas pró-ambientais (ex. economizar energia em casa, separação de lixo, poupança de água).
Quem são os sujeitos com orientação ambiental alta?
� Orientação ambiental alta é caracteristicamente urbana;
� Aumenta na razão direta da escolaridade;
� Não se distingue no género (masculino/feminino);
� Não é pessimista quanto ao à evolução futura do ambiente em Portugal;
� É otimista quanto ao contributo que o progresso científico e tecnológico pode dar na � É otimista quanto ao contributo que o progresso científico e tecnológico pode dar na resolução dos problemas ambientais;
� São mais desconfiados em relação aos orgãos políticos, ao governo e às empresas enquanto fontes de informação fidedigna;
� Atribuem elevada fatia de confiança à televisão, às assciações ambientalistas e aos cientistas.
Qual a participação e activismo ambientalista dos portugueses?
5%
9%
58%
27%
1%
Activistas Participantes não-activos
Simpatizantes Não ambientalistas
Outros
� Activistas: ser sócio de uma associação ambientalista, participar em manifestações, reuniões, sessões públicas, ter denunciado uma situação;
� Participantes não-activos: ter dado dinheiro ou ter subscrito um abaixo-assinado
� Simpatizantes: manifestam ter simpatia;
� Não ambientalistas: não apoiam nenhum movimento ambientalista
Quem são os activistas?
� São maioritariamente jovens;
� São sobretudo estudantes ou profissionais;
� Fundamentalmente pequena burguesia técnica e de execução;
� Concentram-se no ensino superior e no ensino secundário;
� Auferem de rendimentos do trabalho ou estão a cargo da família;� Auferem de rendimentos do trabalho ou estão a cargo da família;
� Constituem a maioria clara dos quadros superiores e profissões técnicas.
Quais as ações que os portugueses consideram prioritárias para a intervenção do governo?
� Apoiar a educação ambiental;
� Fazer leis de proteção ambiental mais rígidas para o comércio, indústria e agricultura;
� Fiscalizar seriamente o cumprimento da legislação ambiental;
� Concentram-se no ensino superior e no ensino secundário;
� Auferem de rendimentos do trabalho ou estão a cargo da família;
� Constituem a maioria clara dos quadros superiores e profissões técnicas.