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EXEMPLAR CORTESIA ANO 1 | N O 04 | NOV • 2010 FINANCIAMENTO SEBRAE Mais de R$ 700 milhões para projetos de tecnologia e inovação GUILHERME ESTRELLA Diretor de Exploração e Produção da Petrobras fala sobre a capacidade de crescimento do País Os impactos sobre a indústria e a sociedade da Região do ABCD R$ 12,00 STEFERSON FARIA AGÊNCIA PETROBRAS

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Revista INOVABCD 04

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EXEMPLARCORTESIA

ANO 1 | NO 04 | NOV • 2010

Financiamento SebraeMais de R$ 700 milhões para projetos de tecnologia e inovação

GUiLHerme eStreLLa Diretor de Exploração e Produção da Petrobras fala sobre a capacidade de crescimento do País

Os impactos sobre a indústria e a sociedade da Região do ABCD

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em plena tempestade política de uma sucessão presidencial, esta quinta edição é o melhor ates-tado de vitalidade e do potencial de uma revista recém-nascida, como iNOVABCD. A vitória da can-didata petista Dilma Rousseff e a certeza de que o Brasil continua navegando em direção ao futuro representam, para uma publicação pautada pelo tema da inovação, a certeza de horizontes muito promissores.

O sentimento de decolagem de um projeto editorial pode ser encontrado tanto em relação à capa da edição número zero – A Caça ao Caça – que tratava da concorrência da força Aérea Brasileira (fAB) para o reabastecimento de sua frota de caças, quanto a esta edição, focada nos projetos nacionais e regio-nais de desenvolvimento econômico e social nasci-dos com a descoberta do pré-sal.

entre uma e outra, iNOVABCD trabalhou temas de igual relevância para o futuro da Região. A edição número um foi dedicada à UfABC (Universidade fe-deral do ABC), um navio ancorado às margens do tamanduateí, centro de Santo André, que precisava ser apresentada ao País e aos 2,5 milhões de ha-bitantes do ABCD. Outra edição, a de número dois, explorou o estágio de desenvolvimento tecnológico da robótica da indústria regional, que precisa inovar-se uma vez mais para poder continuar inserida na globalização.

A reportagem especial desta edição, sobre o pré-sal, repete a fórmula da edição número três, que discutiu as perspectivas abertas para a economia e a sociedade regionais a partir dos projetos e in-vestimentos federais destinados a renovar a indús-tria ferroviária nacional. No caso do pré-sal, como o leitor vai acompanhar nas páginas seguintes, as oportunidades de desenvolvimento da Região e do País são enormes. Mas, como alerta o presidente do Sindicato dos Químicos do ABC, Paulo Lage, elas dependem do esforço de organização regional por parte de lideranças políticas.

e esforços políticos sempre são necessários quan-do se fala em projetos de desenvolvimento econô-mico e social. As notícias desta edição sobre os desdobramentos das disputas de interesses entre suecos, franceses e americanos, protagonizados pelo prefeito Luiz Marinho (Pt), de São Bernardo, constituem um exemplo eloquente.

Qualquer que seja o vencedor da concorrência da fAB, a Região já começou a ser beneficiada por in-vestimentos em inovação. O Centro de Pesquisas que está sendo anunciado pela Saab, a concorrente sueca, tem potencial para contribuir com a inovação tecnológica da indústria regional e até mesmo para permitir o surgimento de um novo segmento econô-mico no ABCD, a indústria de defesa.

É com construções deste porte, semeadas a par-tir de discussões sobre a indústria do petróleo e gás, da ferroviária, da robótica, do conhecimento, que esta revista está comprometida. e, ao relatar desdobramentos de projetos como o da parceria de São Bernardo com a empresa sueca, iNOVABCD já pode até mesmo creditar-se por resultados concre-tos conquistados pela comunidade regional e pelo Brasil. São projetos que, como sustenta o secre-tário de Desenvolvimento econômico e turismo de São Bernardo, Jefferson Conceição, representam estratégias de desenvolvimento para a Região e para o Brasil.

CELSO HORTA

horizontes promissoreseditorial

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03 EditorialHORIZONTES PROMISSORES

06 Entrevista – Guilherme EstrellaDiretor de exploração e Produção da Petrobras aposta na construção de uma nova realidade de inovação e inteligência

10 Notas23 Tecnologias DigitaisTECNISA APOSTA NA WEBRomeo Busarello, diretor da construtora, revela a aposta de promover a inovação pela rede

24 EventoOPEN INNOVATION SEMINAR 2010inovação aberta, pesquisa e desenvolvimento serão debatidos em evento em São Paulo

25 SaúdeINSTITuTO JOHNSON&JOHNSONinstituição promove a capacitação de profissionais da saúde em toda a América Latina

26 NegóciosCORRIDA AEROESPACIALenquanto os suecos anunciam data de inauguração de Centro de P&D, em São Bernardo, franceses e americanos visitam o prefeito Luiz Marinho

27 InformaçãoOBSERVATóRIO DA INOVAçãOPalestras transmitidas pela web avaliam o cenário econômico para a inovação

28 EventoJOINT CONfERENCEestudantes, professores e especialistas em inteligência artificial e redes neurais apresentam seus projetos em evento na fei

30 Case de SucessoO MERCADO DA BELEZALipson se destaca no mercado de higiene e beleza com soluções de terceirização

31 P,D&IAPOSTA EM PESquISAOmnisys, de São Bernardo, se estrutura para atender demandas nacionais e internacionais

34 Ponto de VistafLáVIO AGuIARfim da era do automóvel?

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eXPeDiente: INOVABCD é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. INOVABCD não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Travessa Monteiro Lobato, 95 – Centro São Bernardo do Campo Fone (11) 4128-1430 eDitor: Celso Horta (MTb 140002/51/66 SP) reDação: Camila Galvez, Clébio Cavagnolle Cantares, Felipe Rodrigues, Joana Horta, Maurício Thuswohl, Niceia Climaco e Vinicius Morende. correSPonDente: Flávio Aguiar arte: Ligia Minami tratamento De imaGenS: Fabiano Ibidi DePartamento comerciaL: Fone (11) 4335-6017 PUbLiciDaDe: Jader Reinecke aSSinatUra: Jéssica D’Andréa imPreSSão: Leograf tiraGem: 40 mil exemplares

12 Um mergulho no pré-sal

17 Pronto para o embarque

19 Mobilização regional

21 exemplos e controvérsias

especial pré-sal

32SERVIçOedson fermann, gerente de acesso à inovação e tecnologia do Sebrae: instituição anuncia o aporte de R$ 787 milhões para projetos de inovação e tecnologia.

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12Trabalhadores na plataforma fixa de Garoupa, na Bacia de Campos.

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inoVABCD - Qual a estimativa atual da petrobras sobre o potencial do pré-sal? Guilherme Estrella – Logo que nós iniciamos a obtenção de dados sobre os primeiros po-ços do pré-sal, vimos que era um reservató-rio com grande potencial de produção e que tinha uma extensão muito grande em toda a costa Sul-Sudeste brasileira, desde o Espíri-to Santo até Santa Catarina. Então, aquilo surgiu como uma expectativa absolutamen-te extraordinária em termos de volume de petróleo no território brasileiro. Ao mesmo tempo, fizemos uma revisão nos poços que já haviam sido perfurados anteriormente e vimos que também havia petróleo na cama-da pré-sal. Isso nos demonstrou que o Índice de Sucesso seria muito grande, pois a quase totalidade dos poços até então perfurados tinha hidrocarboneto, tinha óleo. As primeiras descobertas aconteceram em 2006 e nós levamos quase um ano até levar-mos ao governo a estimativa que nós tínha-mos. Hoje, depois de perfurados diversos poços, não só pela Petrobras, mas também por outras empresas, a expectativa parece se confirmar. Eu não tenho condições de dizer hoje exatamente quanto isso representa em termos numéricos, mas com certeza signifi-

Os olhos de Guilherme Estrella brilham quando ele fala do Brasil, da capacidade de crescimento do País e de seu papel como protagonista no crescimento da Petrobras. Desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, ele comanda a Diretoria de Exploração e Produção (E&P) e, nesse período, foi a pessoa certa no lugar certo. Afinado com a vontade política do governo, é um dos principais incentivadores da perfuração da camada de sal.Responsável por quase dois terços do faturamento da Petrobras, o comandante da “diretoria que fura poço”, como ficou imortalizada nas palavras do então deputado Severino Cavalcanti, sempre foi contestado pelos setores conservadores. O militante histórico do PT e da CuT é identificado por dirigentes do PSDB como membro da “república de sindicalistas” que chegou à direção da Petrobras no governo Lula. No entanto, Estrella entrou para a estatal em 1965 e permaneceu na empresa até 1994, quando ocupava o cargo de superintendente-geral do Centro de Pesquisas (Cenpes) e decidiu se aposentar após divergências com o governo fHC. Em 2003, foi convidado pelo então presidente daPetrobras, José Eduardo Dutra, para voltar à empresa.Estrella não esconde sua alegria pela vitória de Dilma Rousseff, que para ele traz certezas como a adoção do regime de partilha para a exploração do pré-sal e acredita que o governo anterior “não volta mais” a conduzir o País. Na entrevista exclusiva à INOVABCD, ele fala também da necessidade de se desenvolver o parque industrial brasileiro e sobre o papel decisivo que o ABCD pode jogar “nessa nova fase de inovação e de desenvolvimento com inteligência brasileira.”

protagonista do desenvolvimento

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entrevista Guilherme estrella

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ca várias vezes as atuais reservas brasileiras de petróleo e gás natural. Então, é um cená-rio extremamente importante.Desde o início, o governo Lula atuou como um governo nacional no melhor sentido do termo, com uma sensibilidade estratégica absoluta-mente correta na aceitação de uma expectativa de tal forma importante para o Brasil. Um go-verno diferente poderia dizer à Petrobras para esperar alguns anos e deixar essa expectativa se confirmar para tomar algum tipo de providên-cia, dizer para deixar a legislação como está, etc. Mas, não. O presidente Luis Inácio Lula da Silva, e também a presidente eleita Dilma Rousseff, foram extremamente sensíveis em re-lação ao pré-sal e atuaram como verdadeiros estadistas. O governo tomou todas as provi-dências para que seja resguardada a produ-ção dessas reservas para o controle efetivo da União, seja nesse ou em outros governos.

inoVABCD - o senhor sempre foi um defensor da troca do regime de concessão pelo regime de partilha. A confirmação do potencial de Libra reforça sua convicção? A eleição de Dilma rousseff, também defensora do regime de partilha, interfere nos planos de e&p da petrobras?

Guilherme estrella, diretor de exploração e Produção da Petrobras, não esconde a alegria pela vitória de Dilma Rousseff e acredita que o Brasil mergulha em uma nova realidade de inovação e inteligência

por Maurício Thuswohl

Estrella – Ambas as coisas reforçam os pro-jetos de E&P da Petrobras. O Projeto de Lei que cria o regime de partilha tem um aspecto extremamente importante que é colocar a Pe-trobras como operadora única. As empresas petrolíferas se realizam na operação. Existem os interesses financeiros, é claro, mas não é muito interessante você participar de um consórcio como não-operador. O operador tem o direito de gerenciar o dado técnico. Ele é proprietário dos dados técnicos e os libera de acordo com sua conveniência. O opera-dor tem uma função primordial nas ativida-des de E&P. Então, considerar a Petrobras como operadora única dá a companhia não só a responsabilidade, mas também nos dá o benefício de continuar a crescer e a desenvol-ver tecnologia e novos conhecimentos.É importante dizer que esse petróleo do pré-sal se esconde em um reservatório ainda des-conhecido e, por isso, carrega a grande neces-sidade de desenvolver novos conhecimentos. Isso tem um valor importantíssimo, não só científico, mas também tecnológico que vai nos diferenciar ainda mais sob o ponto de vista da competência e da competitividade no setor de E&P. Ao mesmo tempo, é a Petro-bras como operadora que conduz a política

protagonista do desenvolvimentoindustrial que está no entorno dessa opera-ção. Somos nós que decidimos a contratação de navios, a fabricação no Brasil, o conteúdo nacional. A Petrobras como operadora vem sendo uma ferramenta para a realização da política industrial do governo. São imensos investimentos e, se nós não tivermos um cui-dado muito sensível e específico para desen-volver a indústria nacional, isso será perdido.

inoVABCD - Qual o impacto da exploração do pré-sal em termos de desenvolvimento da indústria nacional? Quais setores do processo de e&p demandam um maior esforço em termos de inovação tecnológica?Estrella – O presidente Lula convocou uma reunião porque a Secretaria de Assuntos Es-tratégicos (SAE), sob o comando do ministro Samuel Pinheiro Guimarães e por intermédio do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), começou a levantar um aspecto muito importante: é necessário que nós tenhamos empresas brasileiras e de capital brasileiro já iniciando a condução desse processo de conte-údo nacional. O século XXI está sendo consi-derado o século da economia do conhecimen-to. O conhecimento não está só no saber fabricar. Cada vez mais o saber projetar

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AÇÃO “Desde o início, o

governo Lula atuou como um governo nacional, com uma sensibilidade estratégica. Um governo diferente poderia dizer à Petrobras para esperar alguns anos e deixar a expectativa se confirmar.”

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vai ter um valor agregado maior, mesmo re-conhecendo que o saber fabricar é importante para gerar empregos. Nesse aspecto, o presi-dente Lula mais uma vez demonstrou grande sensibilidade. Os oito anos de governo Lula serviram para gerar empregos e restaurar a dignidade do cidadão brasileiro. O presidente nos orientou a discutir esse assunto levan-tado pela SAE. Quer dizer, a Petrobras está construindo o Brasil e começando a ter a engenharia de projetos no País para trazer o conhecimento e desenvolver o conhecimento no Brasil. Saber projetar equipamentos e ser-viços é fundamental.

inoVABCD – Quais setores precisam se desenvolver em termos de inovação tecnológica para atender às demandas do processo de e&p do pré-sal?Estrella – O petróleo é um tema absoluta-mente crítico em termos de política glo-bal. Não se invadem países por causa, por exemplo, de laranjas, por mais importante que seja esse setor agrícola. O petróleo é poder econômico, e um país do tamanho do Brasil com poder econômico forte cer-tamente vai passar de coadjuvante a prota-gonista na cena política e econômica global. O governo Lula sempre teve essa intenção e prática de o Brasil interferir. O Brasil não é su-balterno, somos um grande país. Temos uma importância econômica grande e a energia é uma coisa importantíssima. O presidente Lula diz que o Brasil vai ser o país do século XXI e ele está certo. O petróleo completa esse cenário de importância do Brasil porque é energia e sua abrangência é absoluta na tecnologia, no conhecimento básico, na formação da enge-nharia nacional. Só quem aplica em ciência e tecnologia são os governos e as empresas. E, as empresas só aplicam em seus países de origem. É assim com as empresas instaladas no Brasil do setor automobilístico, do setor farmacêuti-co e de muitos outros. Acredito que é necessá-rio fazer com que as coisas aconteçam e sejam realizadas no Brasil. É preciso dar margem para que a inteligência brasileira se faça pre-sente nessa pujança econômica que o País está adquirindo.O pré-sal também é importante em termos de segurança nacional, até por sua localização a 300 km da costa. As Forças Armadas logo se interessaram e estão dando grande importân-cia à demarcação de nossos limites territoriais. E, não basta a demarcação. A 400 km ou 500 km da costa é preciso ter a presença do Estado

brasileiro, e esta é feita pelas Forças Armadas nas nossas fronteiras. O novo Plano de Defesa Nacional inclui a formação de um complexo industrial-militar. Não basta ter equipamentos de defesa, temos que ter uma indústria civil que fabrique também esses equipamentos. Esse é o grande plano de defesa que o presidente Lula montou e a Petrobras é muito importante nis-so, porque a gente utiliza helicópteros, navios, barcos de apoio. Isso certamente vai ser muito importante também para a Marinha e a Ae-ronáutica brasileiras, que poderão contar com instrumentos e equipamentos que lhes servirão também do ponto de vista da defesa.A importância não seria tanta em outro tipo de País. No Brasil, há uma conjugação mui-to virtuosa de elementos e fatores. Somos um grande País, com um mercado interno e uma capacidade de consumo gigantescos. A energia vem para construir a base dessa sociedade que se propõe ser evoluída em termos de consumo, educação e saúde. Essa conjugação virtuosa encontrou no governo uma disposição política de gerenciar isso a favor da nossa soberania, da nossa autonomia de decisão.

inoVABCD - Uma região com um parque industrial já instalado, como o ABCD, pode se adaptar para atender às novas demandas do pré-sal?Estrella – O ABCD é um pólo industrial im-portantíssimo. Para suportar toda aquela fase de industrialização brasileira que se concen-trou em São Paulo, o ABCD teve e tem um pa-pel fundamental. A Região tem competência e vai oferecer à nova etapa do desenvolvimento nacional essa capacidade. É uma tradição que o ABCD tem de fabricar as coisas. Isso não é fácil, a gente vê as dificuldades que enfrenta-mos com a falta de mão-de-obra especializada e o ABCD é uma região de concentração de mão-de-obra muito especializada. Na constru-ção dessa nova base industrial brasileira com inteligência nacional, o ABCD certamente terá uma contribuição enorme a dar ao País para que a gente estabilize nosso crescimento de for-ma duradoura e sustentável.Você precisa fabricar bem o que já está proje-tado e também o que está sendo projetado e vai entrar como coisa nova para ser fabrica-do. Por isso, a presença do ABCD será funda-mental para essa nova fase de inovação e de desenvolvimento com inteligência brasileira.

inoVABCD - De que forma o senhor acha que o Brasil pode avançar em termos de qualificação profissional para atender às demandas do setor de petróleo no país?Estrella – Na verdade, já está avançando. O presidente Lula fala com muito orgulho que em seu governo foram criadas duas ou três ve-zes mais escolas técnicas do que foram criadas do final do Império até o governo dele. Esse é um primeiro passo, espalhar escolas técnicas pelo Brasil inteiro. Outro passo importante é o programa que interiorizou a universidade brasileira. Você implanta a escola técnica e ao mesmo tempo dá ao aluno a oportunidade de, quando sair da escola técnica, fazer um curso superior e melhorar ainda mais sua qualifica-ção. Temos visitado estados onde os campus instalados no interior têm obtido resultados extraordinários na identificação de talentos. Certamente, muitos talentos já foram desper-diçados no Brasil porque moravam longe de uma escola técnica ou de uma universidade.O Brasil agora passa por um momento absolu-tamente rico. O atual projeto não vai ter volta, pois esse é um movimento que vai convencer a sociedade brasileira como um todo de que nós somos um grande país, sem desmerecer os ou-tros. A hegemonia que a gente quer não é uma hegemonia militar, uma hegemonia de poder. A nossa presença é uma presença pacificadora e solidária e o presidente Lula e a nossa presi-dente eleita Dilma sintetizam isso tudo.

inoVABCD - Um estudo encomendado pela organização nacional da indústria do petróleo (onip) afirma que as empresas estrangeiras devem ficar com 60% das encomendas do setor de petróleo nos próximos dez anos. Como garantir a participação da indústria nacional?Estrella – Quando esse governo assumiu, não havia nenhum compromisso ou sequer a dis-cussão de desenvolvimento nacional. O gover-no anterior renunciou à gestão do Estado bra-sileiro. Foi um ato de renúncia deliberado para colocar-nos na dependência de inteligências de fora. Isso foi um crime. Vivíamos o Estado Mínimo, que deixava o mercado resolver tudo e nós com 40 milhões de cidadãos brasileiros à margem da paz social. O atual governo co-meçou a discutir a participação da indústria nacional do zero. Com três meses de diretoria, fui visitar o Estaleiro Verolme, em Angra dos Reis (RJ) e aquilo era um matagal. Hoje temos lá cinco mil trabalhadores brasileiros.O processo de crescimento do conteúdo na-

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cional se iniciou em um modelo que diz que a gente precisa concentrar esforços naquilo que efetivamente a indústria nacional pode fabri-car. Começamos a perseguir o conteúdo nacio-nal de forma inteligente, organizada e racional. Essa foi uma orientação do presidente Lula e a gente vem aumentando a faixa de compo-nentes fabricados no Brasil. Essa é uma lição tirada do ABCD Paulista: na medida em que você se acostuma a fabricar, logo vislumbra que pode fabricar ainda mais.Hoje, temos mais de 70% de participação na-cional e buscamos avançar. Com o primeiro grupo de oito navios que serão construídos no Brasil para operar no pré-sal , estamos elevan-do o conteúdo nacional. Associamos a enge-nharia brasileira no processo, os estrangeiros são obrigados a fazer a engenharia de aplica-ção que vai dar competência e capacitação à engenharia nacional. O processo está muito bem conduzido. Agora, existem opiniões con-trárias e, por trás disso, interesses financeiros. Mas, a Petrobras vem cumprindo muito bem o objetivo de alargar a competência do par-que brasileiro fornecedor de bens e serviços para atingirmos patamares maiores de conte-údo nacional.inoVABCD - especula-se que a “guerra” pelos royalties do pré-sal se retome com força total. isso interfere nos planos de e&p da petrobras?

Estrella – De maneira nenhuma. A Petro-bras cumpre aquilo que a legislação manda. O Congresso, como representante do povo brasileiro, é que tem que decidir essa para-da. A Petrobras vai cumprir exatamente o que for determinado.

inoVABCD – existiria o pré-sal sem Lula e Dilma no comando do país?Estrella – Quando Lula assumiu, a partici-pação da Petrobras nas licitações da Agência Nacional de Petróleo (ANP) vinha caindo. Se nós não tivéssemos invertido a curva da par-ticipação na compra de novos blocos explo-ratórios, em 2008 já não teríamos mais onde empregar geólogos de ofício em áreas novas. Em 2003 invertemos a curva e começamos a adquirir blocos. A área de E&P é uma área ra-dical na indústria petrolífera. Se você restrin-ge a área de E&P, a médio e longo prazo você mata a companhia. Esse governo exigiu que a Petrobras recuperasse o comando e a lideran-ça do setor petrolífero brasileiro. Essa é uma visão política da maior importância pra nós. A Petrobras começou a voltar às licitações e desde 2003 somos os maiores compradores.Estávamos em queda livre na aquisição de novos blocos, e sempre associados a outras empresas. Em 2003, todas as companhias estrangeiras desistiram de virem como nos-sos parceiros. Houve uma demonstração de

apostar na falência e no insucesso do gover-no Lula. Foi uma decisão política das em-presas. A gente inverteu isso comprando os blocos, com participação de 100%.É inegável que a postura do governo e a deci-são política do governo de trazer a Petrobras novamente para ser a protagonista do setor petrolífero brasileiro foram decisivas para re-cuperássemos a agressividade exploratória. A Petrobras sempre foi uma empresa muito agressiva exploratoriamente. Logo, o pré-sal é decorrência disso.

inoVABCD - o senhor ocupa a maior das diretorias da petrobras desde o início do governo Lula. Qual o balanço do perídodo e da sua própria trajetória?Estrella – Eu tenho quarenta e tantos anos de companhia, então não posso ser diferen-te do que é a Petrobras. O que move a Petro-bras e traça sua trajetória no governo Lula é o compromisso com o Brasil. Pode parecer fora de moda, mas nos move o patriotis-mo, nos move o nacionalismo, nos move a bandeira verde-e-amarela, nos move nossa logomarca com as letras BR de Brasil, nos move a nossa indignação quando quiseram mudar nosso nome para Petrobrax. Nesses oito anos, não fizemos aqui na diretoria nada diferente de refletir na prática o que a Petrobras tem dentro de si.

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O pré-sal também é importante em termos de segurança nacional. As forças Armadas logo se interessaram e estão dando grande importância à demarcação de nossos limites territoriais.” GUiLheRMe eStReLLA, diretor de exploração e Produção da Petrobras

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telefônica anuncia centro de inovaçãoDe carona com a iniciativa da matriz de criar um centro corporativo voltado a pesquisa e desen-volvimento em Madrid (Espanha), a Telefônica Brasil anunciou a criação de uma subsidiária deste centro. Antonio Carlos Valente, presidente da operadora, apontou São Paulo como pos-sibilidade logística, uma vez que as sedes da Telefônica e da Vivo estão no Estado. No Brasil, o centro deverá atuar principalmente no desen-volvimento de soluções para a integração das operações móvel e fixa.

US$ 195 bilhões é meta brasileira de exportaçõesO Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) divulgou, no final de outubro, a nova meta para as exportações no ano de 2010, de US$ 195 bilhões. A meta anterior, anunciada em junho, era de US$ 180 bilhões e já era uma revisão do valor de US$ 168 bilhões, estipulado em novembro do ano passado. Com o novo resultado, a estimativa de crescimento das exportações brasileiras está acima do esperado para a recuperação das vendas mundiais em 2010, conforme previ-são de 19% do Fundo Monetário Internacional (FMI). O valor de US$ 195 bilhões está 27% acima das vendas brasileiras ao exterior em 2009 (US$ 152,995 bilhões).

SBC lança livro sobre inovação no municípioA Prefeitura de São Bernardo lança o livro “São Ber-nardo do Campo, Território de Inovação”. A publica-ção contém artigos de políticos, lideranças empre-sariais, sindicalistas, acadêmicos e de instituições regionais. A obra é bilingüe e foi patrocinada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Organizada pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo do município, foi editada pelo ABCD MAIOR. Junto com a publicação, a Prefeitura anuncia a intenção de promover o Prêmio Municipal de Inovação de São Bernardo, a partir de 2011.

notas

PROGRAMe-SeNOVEMBRO

30 de novembro a 1 de dezembro | conferência indústria do Plástico | Gestão de Suprimentos no Setor Pe-troquímico e Oportunidades para o Bioplástico no Brasil. LOCAL: Hotel Mercure Jardins | Alameda Itu, 1151 - São Paulo, SP. Mais informações: informagroup.com.br/plastico

30 de novembro a 3 de dezembro | eeF Latam 2010 | Fórum de Eficiência Energética da América Latina | Evento focado nos grandes consumidores comerciais e industriais de energia elétrica. A agenda traz informações sobre redução e racionalização do consumo energético. LOCAL: Hotel Blue Tree Towers, Rua Roque Petroni Júnior, 1000, São Paulo, SP. Mais informações: eeflatam.com.br

DEZEMBRO1, 2 e 3 de dezembro | open innovation Seminar 2010 | Painéis e cursos para que profissionais da inovação aprimorem seus conhecimentos sobre as melhores práticas e desafios da inovação aberta. LOCAL: Hyatt, Avenida das Nações Unidas, 13301, São Paulo, SP. Mais informações: openinnovationseminar.com.br

POLítiCA GOVeRNAMeNtAL teRá iNOVAÇÃO COMO eixOA Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) ganhou um novo aliado, com o lançamento do Núcleo de Apoio à Inovação na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Criada em 2008, a MEI tem como meta conscientizar 30 mil empresas sobre ações de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I) e conta com um convênio de capacitação técnica e financeira na ordem de R$ 48 milhões.

No lançamento, Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), afirmou que a mobilização proposta pelo núcleo é indispensável para o sistema industrial e citou a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), elaborada em 2008, por determinação do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Esse trabalho foi bem sucedido e consolidado em 2010 e agora estamos prontos e maduros para pensar em uma nova etapa do PDP. Para esta segunda etapa, existe um consenso para que a inovação seja o eixo principal.”

Luciano Coutinho, presidente do BNDeS: existe um consenso para que a inovação seja o eixo principal da política de desenvolvimento produtivo

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A taxa de inovação da indústria, dos serviços selecionados (edição, telecomunicações e infor-mática) e do setor de pesquisa e desenvolvimento (P&D) cresceu de 34,4% no período 2003-2005 para 38,6% entre 2006 e 2008, segundo a Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC) 2008, realizada e desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Foram investigadas, ao todo, 106,8 mil empresas, das quais cerca de 41,3 mil implementa-ram produto e/ou processo novo entre 2006 e 2008. Isso significa que, das 100,5 mil empresas industriais, 38,1% foram inovadoras, percentual inferior ao observado no setor de P&D, cuja taxa de inovação foi de 97,5%, e nos serviços selecionados, 46,2%. Esta é a maior taxa de inovação do setor industrial desde que a pesquisa começou a ser realizada em 2000, quando o percen-tual foi de 31,5%, subindo para 33,3% em 2003 e 33,4% em 2005.

No entanto, o número de trabalhadores ocupados em atividades internas de pesquisa e desen-volvimento (P&D) nas empresas brasileiras caiu de 100,3 mil em 2005 para 73,3 mil em 2008. A gerente do estudo, Fernanda Vilhena, avaliou que a queda no total de recursos humanos envolvidos com inovação no período investigado pode refletir uma mudança no padrão das atividades. Ela observou um aumento na atividade contínua de P&D e um pequeno recuo na atividade ocasional. “Aquelas empresas que já faziam inovação e tinham uma equipe fixa, continuamente fazendo, se mantiveram. Já as equipes cujos integrantes se dedicavam eventualmente a um projeto determina-do, acabaram sendo alocadas em outras atividades no período investigado.”

Do total de pessoas ocupadas em inovação, de acordo com a Pintec 2008, 48,1 mil estavam nas empresas industriais, 18,2 mil nas empresas de P&D e 7 mil nas companhias de serviços relacionados, que englobam telecomunicações, informática e edição e gravação de música.

empresas brasileiras no exterior, de havana a xangai

Empresas brasileiras participaram da Feira Internacional de Havana, (FIHAV), onde estiveram presentes representantes de mais de 30 países. O evento movimen-ta anualmente cerca de US$ 500 milhões em negócios. A Agência Brasileira de Pro-moção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), que organiza a participação brasileira no evento, estima que as empre-sas brasileiras presentes neste ano fechem negócios na ordem de US$ 29 milhões ao longo dos próximos 12 meses.

Um estudo da Apex sobre oportunidades de mercado em Cuba indica possibilidades de negócios em diversos setores da econo-mia, como carne bovina e suína in natura; leite e derivados; preparações alimentícias; móveis; máquinas e aparelhos para uso agrícola; geradores e transformadores elé-tricos; calçados; produtos farmacêuticos e instrumentos de precisão. A Apex-Brasil mantém um Centro de Negócios (CN) em Havana, para atender ao exportador bra-sileiro. Até hoje, mais de 160 empresas brasileiras já utilizaram os serviços do CN de Cuba, que também atende os mercados caribenho e centro-americano.

Outra atuação importante do Brasil em eventos internacionais aconteceu na China. A Exposição Universal de Xangai 2010 en-cerrou no dia 31 de outubro. O evento foi o maior de toda a história das Expos, que teve início em Londres, em 1851, e que se repete a cada cinco anos. O Pavilhão do Brasil, coordenado pelo Ministério do De-senvolvimento, Indústria e Comércio Exte-rior e executado pela Apex, registrou 2,63 milhões de visitantes e configura-se como a maior participação já promovida pelo país num evento dessa magnitude. Na agenda de atividades brasileiras, apresentaram-se 17 Ministérios e órgãos públicos, 20 gover-nos estaduais e municipais, 10 entidades setoriais e cinco Federações de Indústria, além de empresas privadas.

PINTEC: O RAiO-x DA iNOVAÇÃO NO BRASiLPesquisa desenvolvida pelo iBGe, aponta crescimento no número de empresas inovadoras

fONte De iNOVAÇÃO – A Pintec confirma a existência de uma maior conscientização das empresas a respeito dos resultados positivos que podem ser gerados a partir da inovação. A internet liderou, com 68,8%, as fontes de informação para inovação entre as empresas brasileiras de 2006 a 2008. “Pela primeira vez, tanto as empresas industriais quanto as empresas de serviços marcaram que a internet foi a fonte mais utilizada para realizar inovação.” Segundo a pesquisadora, isso mostra a importância que as redes têm tido para dinamizar a economia.

PARtiCiPAÇÃO DO GOVeRNO – Houve aumento também na cooperação e no número de empresas que obtiveram algum tipo de apoio do governo, principalmente sob a forma de financiamento. A parcela das empresas inovadoras que utilizaram pelo menos um instrumento de apoio governamental para a realização da inovação aumentou de 18,8% no período 2003/2005 para 22,3% de 2006 a 2008. O financiamento para a compra de máquinas e equipamentos foi o principal instrumento utilizado pelas companhias industriais, somando 14,2%.

GAStOS – A parcela do faturamento das empresas gasto em atividades inovativas mostrou estabilidade em relação à pesquisa anterior, passando de 3,0% em 2005 para 2,9% em 2008. Na indústria, este percentual foi de 2,5%, abaixo dos serviços selecionados (4,2%) e de P&D (71,1%).

*Com informações da Agência Brasil

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As boas perspectivas e os altos investimentos fazem com que o setor petrolífero brasileiro se credencie como impulsionador da inovação tecnológica nos próximos anos

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Plataforma P-34, primeira plataforma a produzir petróleo na camada pré-sal, uma faixa que se estende do Espírito Santo à Santa Catarina

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té onde vai o poten-cial produtivo da ex-ploração de petróleo e gás na camada pré-sal das águas conti-nentais brasileiras? Como esse potencial

influenciará o fortalecimento do parque industrial e o desenvolvimento da inovação tecnológica no Brasil? Ainda não existem respostas concretas para essas perguntas, mas alguns fatos recentes já nos dão mos-tras de que o pré-sal pode guardar boas surpresas para o povo brasileiro. Surpresas surgidas a 300 quilômetros da costa e a sete mil metros da superfície do oceano.

No dia 29 de outubro, a Agência Na-cional de Petróleo (ANP) confirmou que a Petrobras havia encontrado petróleo na camada pré-sal do poço de Libra, com re-servas estimadas entre 3,7 e 15 bilhões de barris. Calculando pela média, o potencial de Libra já é suficiente para dobrar as re-servas confirmadas (em poços onde a sonda de perfuração já encontrou óleo) do pré-sal. Estas, segundo a ANP, já atingem até 10 bilhões de barris na soma das capacidades dos poços de Tupi, Iracema e Guará, todos

localizados nas bacias de Santos ou Cam-pos. A expectativa da Petrobras é de que também seja encontrado óleo em breve nos poços de Iara (reserva estimada entre 3 e 4 bilhões de barris), Parque das Baleias (1,5 a 2,5 bilhões) e Franco (4 a 5 bilhões).

Quatro dias após o anúncio da descoberta no poço de Libra, a empresa britânica BG divulgou uma revisão de suas estimativas sobre o potencial produtivo de Tupi, Iara e Guará, elevados em 34%. A estimativa da BG, que detém cerca de 25% do direito de exploração desses poços, aumenta em 2,5 bilhões de barris o potencial do pré-sal es-tipulado até o início de novembro. A Petro-bras não comenta oficialmente o anúncio feito pelos britânicos, mas o otimismo na empresa brasileira também é grande.

Dos US$ 174,4 bilhões que a Petrobras pretende investir até 2013, quase 60% (US$ 104,6 bilhões) serão destinados à área de Exploração e Produção (E&P) da empresa. O investimento no setor sempre foi alto, mas cresceu ainda mais após a descoberta do pré-sal. Até 2013, cerca de US$ 29 bilhões serão destinados exclusivamente a projetos relativos à exploração do pré-sal nas bacias de Santos e Campos. A expectativa da Pe-trobras é de que em 2020 a produção dessas

áreas alcance algo em torno de 1,8 milhão de barris por dia, que é o mesmo volume de produção diária registrado pela empre-sa ao fim de 2008. Até lá, os investimentos previstos somente para a Bacia de Campos atingem o patamar de US$ 100 bilhões.

As boas perspectivas trazidas pelo pré-sal e os altos investimentos em sua exploração e produção fazem com que o setor petrolífero brasileiro - e a Petrobras em particular - se credenciem como principais pólos impulsio-nadores da inovação tecnológica do país nos próximos anos.

Desafios e Inovações – Os de-safios trazidos pelo pré-sal à capacidade de inovação da indústria brasileira se darão em diversas frentes. Para começar, já estão sendo desenvolvidas novas soluções logísticas para que se possa explorar petróleo a uma distância tão grande da costa. Tudo é novidade para o setor petrolífero, desde o escoamento da pro-dução até o transporte de pessoas, máquinas e equipamentos. A exploração em águas ultra-profundas demandará também que sejam de-senvolvidos novas ferramentas e equipamentos capazes de operar em situações de alta pressão e com elevado poder de corrosão.

Para atender às demandas do pré-sal, a

Dos uS$ 174,4 bilhões que a Petrobras pretende investir até 2013, quase 60% (uS$ 104,6 bilhões) serão destinados à área de Exploração e Produção (E&P) da empresa.

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O ABCD é muito industrializado e está estrategicamente localizado. Certamente será um centro fornecedor para o pré-sal. A uniforja tem investido principalmente nos novos materiais, específicos e exigidos para a demanda desta fase nova de exploração.”JOÃO tROfiNO, presidente da Uniforja

Petrobras pretende estimular o surgimento de novas tecnologias, seja em âmbito inter-no ou através de parcerias com o mercado. Segundo a diretoria de E&P da empresa brasileira, as áreas que oferecem mais e maiores oportunidades de interação com o mercado são engenharia de poços, submari-na, aproveitamento de gás e desenvolvimen-to de unidades estacionárias de produção.

No que concerne à indústria de máquinas e equipamentos, que é muito forte na Região do ABCD, o principal desafio é desenvolver siste-mas de perfuração que possam furar a rocha duríssima sem perder estabilidade ou sucumbir à forte vibração: “Os equipamentos submarinos que conduzirão o óleo e o gás para as platafor-mas deverão estar dimensionados para suportar as elevadas pressões, fluidos agressivos e esfor-ços advindos de correntes marítimas e ondas, em especial no caso dos dutos verticais ligados às plataformas”, afirma a Petrobras.

Conteúdo Nacional – A necessidade de inovação industrial e tecnológica provocada pelo pré-sal traz embutida uma segunda neces-sidade, que é qualificar a mão-de-obra nacional de forma a permitir que o parque industrial bra-sileiro seja beneficiado pelos vultosos negócios que serão fechados para atender ao setor petro-

lífero. Um estudo divulgado pela Organização Na-cional da Indústria do Petróleo (Onip) afirma que as empresas estrangeiras devem ficar com cerca de 60% das encomendas de materiais e equipamentos previstas para o pré-sal nos próximos dez anos, num volume de negócios que deve chegar a US$ 240 bi-lhões.

Nem o governo federal nem a Petrobras co-mentaram o estudo feito pela Onip, mas dados da empresa apontam que a participação da in-dústria nacional em seus projetos de E&P foi de 61,4% no primeiro semestre de 2010. É reco-nhecido, no entanto, que para ser protagonista no atendimento às encomendas do pré-sal, o Brasil precisa se tornar mais competitivo na fa-bricação de itens como bombas, válvulas, cha-pas de aço, cadeiras navais, flanges e trocadores de calor, entre outros.

Segundo a Petrobras, a participação da indústria nacional no pré-sal deve ficar “em patamares mo-destos até a entrada em operação das 28 sondas que serão construídas no Brasil”. Com o objetivo de in-tensificar essa participação, um grupo de entidades representativas de empresários e trabalhadores liga-dos ao setor petrolífero divulgou na primeira sema-na de novembro o “Manifesto pela Valorização do Conteúdo Nacional”, encaminhado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também ao pre-sidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.

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Da concessão à partilha – Além do impacto direto que já está provocando em ter-mos de inovação tecnológica e industrial para toda a cadeia ligada ao setor de petróleo e gás, a exploração das imensas riquezas do pré-sal per-mite que o Brasil possa sonhar com um desen-volvimento do conhecimento que englobe todos os setores da sociedade e fortaleça a educação es-colar e a formação profissional desde a base. Por isso, o governo Lula - e também o futuro gover-no de Dilma Rousseff - entendem que a adoção do regime de partilha em lugar do atual regime de concessão é fundamental para assegurar que os recursos oriundos da exploração do petróleo possam ser utilizados em setores como educação e saúde, entre outros.

Criado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso logo após a quebra do monopólio estatal do petróleo e antes da descoberta do pré-sal, o re-gime de concessão estabelece que, após a licitação de uma área de exploração, qualquer empresa, in-clusive as estrangeiras, é dona de toda a riqueza extraída daquela área. Neste modelo, do qual a Pe-trobras participa em igualdade de condições com as concorrentes, ganha a licitação aquela empresa que oferecer ao governo o maior Bônus de Assina-tura, que é uma oferta estipulada em dinheiro para a exploração da área licitada, levando em conta os custos de exploração e os riscos econômicos, entre outros fatores. Sobre a produção da área ex-plorada, a empresa vencedora paga ainda 10% de royalties e uma taxa conhecida como Participação Especial (PE), que varia de zero a 40% e é distri-buída entre estados e municípios produtores em processo controlado pela ANP.

No regime de partilha, o governo passará a ter controle total sobre as reservas localizadas no pré-sal e o direito de escolher a Petrobras para a exploração dos poços sem necessidade de lici-tação. Para as áreas nas quais julgar conveniente a realização de processos de licitação, o gover-no, por intermédio da ANP, realizaria leilões nos moldes atuais e determinaria como vencedora a empresa que oferecer à União o maior percen-tual de produção. Além disso, o pagamento das empresas à União deverá ser feito em petróleo e não em dinheiro.

Mesmo nas áreas já licitadas, segundo as no-vas regras sugeridas pelo governo Lula, a Petro-bras terá uma participação mínima de 30%, que poderá aumentar se decidir participar dos leilões. Além disso, o governo quer garantir que a Pe-trobras seja a operadora e principal responsável por todas as etapas da exploração (prospecção, perfuração e extração do óleo e do gás) do pré-sal. (Maurício Thuswohl)

Na Cooperativa Central de Produção Industrial de Trabalhadores em Metalurgia, uniforja, a produção estará a todo vapor para acompanhar a demanda do Pré-Sal.

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pronto para embarcarCom o parque industrial mais desenvolvido do País, o Capital e o trabalho da Região do ABCD estão prontos para embarcar no projeto da Petrobras e mergulhar nas camadas do pré-sal.

Clébio Cavagnolle Cantares [email protected]

Nas indústrias do ABCD, o ritmo é de pre-paro e expansão para atender às demandas da exploração do pré-sal. Apesar da expec-tativa de crescimento e de movimentação da economia, a homologação junto a Petrobras ainda não está como os empresários gosta-riam. Para se credenciar como fornecedor direto da estatal, as empresas precisam de um certificado de conformidade, que ateste, entre muitas coisas, a padronização e a quali-dade dos serviços e produtos da companhia. Para isso, a indústria passa pelo crivo de ins-petores homologados pela Petrobras, mas esse trajeto, na visão dos empresários e exe-cutivos da região, precisa ganhar agilidade.

Para compor esta cadeia produtiva em formação, a empresa interessada precisa fazer parte da base de dados de uso corpo-rativo com registro de empresas habilitadas e interessadas na realização de obras, servi-ços ou fornecimentos à Petrobras. O cadas-tro corporativo é disponibilizado a todos os órgãos e unidades da estatal. O fornece-dor que tem seu cadastro aprovado recebe o Certificado de Registro de Classificação Cadastral (CRCC), com validade de até um ano. Os detalhes constam no endereço ele-trônico da estatal na internet.

A homologação da prestadora depende de critérios avaliados pela Petrobras, como o téc-nico, que avalia a capacidade da empresa para a produção de bens e/ou prestação de serviços e os recursos necessários para o bom desem-penho dos bens a serem fornecidos e/ou dos serviços a serem executados. Também passa pelo crivo da empresa pública o critério eco-nômico, por meio de evidências da solidez do fornecedor; o critério legal, para conhecimen-to da regularidade do interessado no cumpri-mento de suas obrigações junto ao mercado, aos órgãos de governo e à sociedade.

Outro critério avaliado refere-se a saúde, meio ambiente e segurança, de modo a ava-liar a postura sobre o grau de implementa-ção de questões que envolvam esses temas, além de valorizar e estimular as certificações segundo as normas ISO 14001 e OHSAS 18001. Por fim, o critério gerencial atesta a postura de gerenciamento e de respon-sabilidade social das empresas, inclusive, o compromisso com a qualidade e melhoria contínua, além de valorizar e estimular a certificação segundo a norma ISO 9001.

Na visão de João Trofino, presidente da Uniforja (Cooperativa Central de Produção Industrial de Trabalhadores em Metalurgia), a exploração do pré-sal trará desenvolvimen-to a todo o Brasil, em especial ao ABCD. “Nossa região é muito industrializada e está estrategicamente localizada. Certamente será um centro fornecedor para o pré-sal.”

SegundoTrofino, a empresa tem investido principalmente em novos materiais, especí-ficos e exigidos para a demanda desta fase nova de exploração. “Todas as empresas para serem fornecedoras da Petrobras têm de preencher os requisitos para a certifica-ção. Já estamos preparados para esta de-manda, porém, com um pouco de receio da concorrência internacional, que será bem forte”, destaca o executivo.

Ricardo Santos, diretor da JMB Zeppelin, multinacional de origem alemã com instala-ções em São Bernardo, afirma que apesar de ter tomado as providências para agilizar o processo, ainda é fornecedora indireta da Petrobras. “Estamos investindo para ga-nhar rapidez. Já temos cinco inspetores que passaram pelos cursos e preparos na estatal e estão homologados para garantir a qua-lidade de nossa produção. Contamos com ISO 9.001 e 14.000. Enquanto aguardamos o processo, estamos fornecendo para em-presas já homologadas, que atendem direta-mente à Petrobras. Isso é possível, ou seja, a terceirização pode ocorrer desde que a pres-tadora de serviço direta se responsabilize pela qualidade”, explica Santos.

A Zeppelin, que atua com solda e alumí-nio para produção de equipamentos que suportem a acidez da água salgada, o que no processo de exploração do pré-sal trata-se de materiais direcionados a entrada de ar e descarga de gases de turbinas, já contra-tou cinco profissionais com especialização e carreira na área de aplicação de óleo. Com quadro de 98 funcionários, o

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Li executivo acredita já estar em condições de atender à demanda do pré-sal. “São profis-sionais de alto gabarito técnico, com larga experiência. Estamos no caminho certo, acreditando que em breve poderemos fazer parte dessa cadeia diretamente e com a cer-teza de que haverá crescimento para toda a região”, enfatiza Santos.

Com experiência em corte laser e usina-gem, a metalúrgica Taurus, instalada em Diadema, também está em fase de creden-ciamento. “O modelo de homologação da Petrobras não é muito simples, existem mui-tos procedimentos, grandes exigências téc-nicas, e por conta disso, também somos for-necedores indiretos. Estamos em busca de uma visão mais transparente desse proces-so, até porque é tudo muito novo”, afirma o diretor da companhia, Paulo Braga. Se-gundo o executivo, embora a mão de obra para a área petrolífera seja escassa, os 150 profissionais de sua empresa são especiali-zados e, portanto, em condições de garantir o atendimento dentro da cadeia produtiva do pré-sal. “O ABCD precisa se preparar para essa demanda. Temos condições de atender e de participar de um grande cres-cimento”, finaliza.

Para o coordenador nacional da Federa-ção Única dos Petroleiros, João Antônio de Moraes, a Baixada Santista já tem vivido um crescimento forte como reflexo do pré-sal, e agora, chegará a vez do ABCD. “A região está bem localizada e terá participa-ção importante nessa cadeia produtiva, em especial pela área metalúrgica, que poderá fornecer matéria-prima para plataformas e estaleiros. A área de tubulações terá for-te demanda, já que o ambiente marítimo é insalubre e existe a necessidade de troca constante de material. Veremos a expansão da área naval também, o que trará demanda para a região”, avalia. Moraes afirma ainda que para garantir esse crescimento, o gover-no precisa priorizar o conteúdo nacional. “Não pode depender de decisão política, de quem estiver no poder. Isso tem de ser uma questão legal, obrigatória e demandada pelo governo federal”, diz.

Outro petroleiro que comunga desta opi-nião é Carlos Alberto dos Santos, diretor do Sindicato dos Petroleiros de Mauá. Para ele a Petrobras conta com canteiros de obras que trarão mais empregos para a região. “A me-lhoria dos processos naturalmente demanda em mais postos, não apenas para produção, mas para manutenção”, prevê o sindicalista.

A expectativa de incremento da econo-mia regional é de tal ordem que há inclusive quem tema pela falta de mão de obra na Re-gião. Para Paulo Lage, presidente do Sindi-cato dos Químicos do ABC, a Região pode ter grandes benefícios com o pré-sal, desde que se prepare para o impacto produtivo que afetará todo o País. Segundo ele, a falta de articulação entre os governos municipais do ABCD, as empresas e as universidades, poderá fazer com que a Região “importe” trabalhadores e desperdice as oportunida-des representadas pelo pré-sal.

“Nós temos uma oportunidade de ouro e temos urgência de aproveitá-la. É preciso de-senvolver um pólo tecnológico com os seto-res metal mecânico, químico, plástico entre outros para agregar o movimento sindical, o poder público, empresas e universidades. As oportunidades estão pingando, mas é preci-so que as prefeituras parem de pensar isola-damente e busquem a integração para que a Região cresça”, adverte o sindicalista.

Para João Moraes, coordenador nacional da federação Unica dos dos Petroleiros, o ABCD poderá ser um grande fornecedor de matéria-prima para plataforma

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mobilização regionalCidades do ABCD prevêem desenvolver ações para integrar e impulsionar as empresas da cadeia metalmecânica no fornecimento das encomendas da Petrobras

Nicéia [email protected]

Uma política multipartite pode ser de-lineada pelas administrações municipais para transformar em oportunidades reais as demandas da Petrobras, em função dos in-vestimentos canalizados para a exploração do pré-sal. Com envolvimento do poder pú-blico, sindicatos e entidades representativas, o objetivo é integrar as empresas da Região ao setor de petróleo e gás.

Entre os principais motivos para as em-presas pegarem carona no impulso previsto pelo segmento é a capacidade instalada e a tradição da cadeia metalmecânica das cida-des do ABCD, que historicamente é forne-cedora do setor automotivo.

Além disso, a Região representa um impor-tante fator logístico por estar próximo da Capi-tal, o principal centro consumidor do País, e do Porto de Santos, com facilidade de escoamento da produção. Todos esses fatores juntos dão à

Região condições de disputar os investimentos e fazer parte das encomendas da Petrobras, so-bretudo, de componentes e insumos.

As perspectivas são as de que a explora-ção e a produção de petróleo e gás natural nas proximidades do litoral paulista, nas próximas décadas, alterem o arranjo econô-mico e social de diversas regiões, no qual o ABCD pode estar incluído. O setor petrolí-fero é um dos mais dinâmicos da atividade econômica, com alta inovação tecnológica e efeito multiplicador de renda.

Para o secretário de Desenvolvimento Econômico Trabalho e Turismo de São Ber-nardo, Jefferson José da Conceição, seria importante articular com os municípios da Região planos e ações com as principais es-tratégias como diretrizes para envolver o seg-mento empresarial na área de petróleo e gás.

Em São Bernardo, o secretário planeja criar uma Câmara Setorial, formada por represen-tantes da cadeia produtiva, da Petrobras e sindicatos para formar uma política de âmbi-to regional para o setor de petróleo e gás. A primeira medida prática para a concretização da iniciativa será promover uma reunião, em dezembro, onde serão discutidas as necessida-des das empresas. “Vamos ouvir os represen-tantes de todos os setores para formular uma política para inserir a cadeia produtiva do se-tor metalmecânico da Região no segmento de petróleo e gás”, comenta Conceição.

De acordo com o secretário, o modelo do plano terá como base a proposta da Câmara Setorial para o setor automotivo formulada

em 1992. “Temos que verificar o que já te-mos aqui e o que podemos aperfeiçoar para aproveitar os recursos que serão investidos pela Petrobras nesse setor”, afirma.

Para o secretário, a política formulada para a cadeia da Região deverá incluir também a qualificação dos trabalhadores para o setor de petróleo e gás. Além da formação profissional pelas universidades e escolas técnicas serão necessários treinamento e capacitação da mão de obra. A abrangência da cadeia de petróleo e gás natural faz com que o setor apresente necessidades diversificadas de trabalhadores. Em função da natureza do setor, as empresas sofrem com a escassez em áreas de alta especia-lização, como engenharia e geofísica. A UFA-BC (Universidade Federal do ABC) conta com cursos em áreas para o setor de petróleo, como engenharia, geologia e física.

E, além disso, Conceição adianta que há necessidade de envolver as universidades não somente com cursos específicos, mas para que possam atender à demanda de pesquisas.

Outro passo da Secretaria de São Bernar-do será promover uma feira do petróleo e gás na cidade no ano que vem.

Gestão de fornecedores – Em Diadema, o Secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Luis Paulo Bresciani, promove um diálogo com três instituições, a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimen-to Industrial), Petrobras e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-mico e Social). Segundo ele, existe um

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Cenpes, Centro de Pesquisas & Desenvolvimento, que

atende às demandas tecnológicas que impulsionam a Petrobras. Com quase dois mil empregados, conta com

30 unidades-piloto e 137 laboratórios que atendem aos

órgãos da Companhia.

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programa na esfera federal sobre melhoria na gestão de fornecedores de petróleo e gás no Brasil. O conteúdo da proposta ainda está em discussão, mas o secretário acredita ser possível inserir as empresas de Diadema.

Da cadeia do setor metalmecânico ins-talada na cidade, 137 já fazem parte do programa de cadastro da Petrobras, o que significa que têm condições de serem forne-cedoras. Bresciani acredita que esse núme-ro é baixo frente o potencial das empresas instaladas em Diadema e na Região, que conta com três mil empresas dessa área. “O programa do governo visa à capacitação de fornecedores, de preparação de empresas de pequeno e médio porte, e podemos ser in-cluídos”, afirma.

A cidade foi das primeiras a se antecipar às oportunidades de negócios em função do

pré-sal. Em março deste ano, a Secretaria de Desenvolvimento de Diadema realizou um seminário com a participação de outras entidades com a finalidade de difundir a necessidade da Petrobras à capacidade das empresas da Região.

Recentemente, Bresciani participou do II Colóquio-Desenvolvimento Local e Regio-nal em Contexto de Grandes Investimentos, no Rio de Janeiro, realizado pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social em parceria com a Petrobras com o objetivo de dar continuidade ao seminário realizado em março no município para fortalecer a inserção de indústrias da cidade às novas demandas das operações de exploração e produção da Petrobras.

Conforme o secretário, todos os debates representam avanços e ações relacionadas

ao pré-sal e a participação de Diadema é uma forma de intensificar as oportunida-des de negócios para as empresas do muni-cípio e Região.

Grupo de trabalho – Mauá é ou-tra cidade que pretende articular uma política para as empresas locais. Conforme o Secretá-rio de Desenvolvimento Econômico Trabalho e Renda, Edilson de Paula, foi constituído na cidade um grupo de trabalho para discutir os impactos e benefícios do pré-sal. Definido a partir de um seminário realizado no primeiro semestre, a equipe é formada por representan-tes do poder público, sociedade e sindicato.

Paula antecipa que já foram realizadas três reuniões e que o próximo passo será de-senvolver um levantamento sobre potenciais fornecedores e prestadores de serviços. “Há

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exemplos e controvérsiasfundo de reserva norueguês é o exemplo que vem sendo utilizado para o fundo nacional a ser constituído com o dinheiro do Pré-Sal.

Na verdade, ele se chama hoje O Fundo Governamental de Pensão – Global, mas continua a ser mundialmente referido pelo seu nome original, da época de sua criação, em 1990. Ele é um fundo de reserva do governo norueguês, financiado pelo lucro excedente da produção petrolífera do país. A Noruega explora há muito tempo suas reservas de petróleo no Mar do Norte. País pequeno, com menos de 5 milhões de habitantes, o governo decidiu criar este fundo como uma reserva de “transferência entre gerações”, garantindo possibilidade de investimento no futuro.

Desde que começou a extração de petróleo no mar, há 30 anos, a Noruega usou 29% de suas reservas, dispondo ainda de 71%. Tornou-se um dos grandes exportadores de petróleo e gás do mundo. Algumas fontes dizem que ela é a sétima exportadora em escala mundial, outras a quinta, quanto a petróleo, e a segunda em matéria de gás. A maior fatia dessa exploração pertence a Statoil, empresa de que o Estado possui 80% das ações, mas há também empresas privadas que atuam no setor e contribuem para o fundo.

O fundo é reconhecidamente o maior do mundo no setor. Em 2010 seu capital chegou a 512 bilhões de dólares, superando a meta fixada, que era de 453 bi. Seus diretores esperam que em 2014 o fundo chegue a 765 bilhões.

O fundo é administrado pelo Banco Norueguês de Administração de Investimentos, que é uma seção do Banco Central do País. Há todo um complexo de procedimentos administrativos, em supervisões e auditorias, que têm a intenção de garantir transparência na sua gestão. Além disso, há regras éticas severas na aplicação dos recursos, que são feitas exclusivamente no estrangeiro (para investimentos na Noruega existe o Fundo Governamental de Pensão – Noruega, bem menor): 50% na Europa, 35% na África e nas Américas e 15% na Ásia. As regras seguem princípios fixados pela ONU e pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). São proibidos investimentos em ações de companhias que:

1) fabriquem armamentos;2) façam danos ao meio ambiente;3) violem direitos humanos;4) se envolvam de alguma forma em casos de corrupção;5) estejam envolvidas no cultivo e na fabricação de tabaco.

O fundo mantém um sistema de controle sobre as empresas em que investe. Dezenas delas, de vários países (Estados Unidos, Reino Unido, Holanda, Itália, entre outros), foram excluídas das aplicações do fundo por violarem alguma das regras acima. Entre elas havia algumas companhias israelenses, excluídas por estarem envolvidas na construção dos assentamentos no que é considerado pela ONU território palestino ocupado (na chamada “Margem Ocidental do Rio Jordão”).

Entretanto nem tudo são facilidades para o fundo e sua administração. Em 1998 o fundo obteve licença para aplicar 40 % de seu portfólio no mercado financeiro; a partir de 2007 esse percentual subiu para 60%. Por isso ele sofreu com a crise financeira a partir de 2008 (ele detinha, por exemplo, ações da Lehman Brothers, empresa norte-americana cuja quebra foi uma das causas da crise), registrando algumas perdas, embora tenha se recuperado depois. Agora, a partir de 2010, o fundo vai passar a investir 5% de seu capital em imóveis e propriedades fundiárias. Também há controvérsia sobre se parte do fundo não deveria ser usada imediatamente no orçamento do Estados, ao invés de ser uma poupança para o futuro.

FLávio aGUiar, correspondente em Berlim

um grupo fazendo esse diagnóstico com a Petrobras”, adiantou.

No âmbito estadual, o governo desenvolveu um estudo com propostas de medidas sobre os benefícios econômicos e sociais, o risco de impactos ambientais, por meio do lançamento da publicação Petróleo e Gás: panoramas, de-safios e políticas públicas. Com 152 páginas, o estudo traz levantamento, análises e recomen-dações realizadas por nove grupos de trabalho da Cespeg (Comissão Especial de Petróleo e Gás Natural do Estado de São Paulo). O con-teúdo traça as principais estratégias que servi-rão como diretrizes do Programa Paulista de Petróleo e Gás Natural para o desenvolvimen-to sustentável do setor petrolífero no Estado, os impactos ambientais e sociais, além de in-centivar pesquisas e projetar São Paulo como referência internacional do setor.

Da cadeia do setor metalmecânico instalada em Diadema, 137 empresas fazem parte do programa de cadastro da Petrobras, o que significa que têm condições de serem fornecedoras

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tecnologias digitais tecnisa

Repetir é preciso, inovar não é preciso”. Esse é o lema de Romeo Busarello, diretor de Ambientes Digitais, Inova-ções e Relacionamento com

Clientes da construtora Tecnisa, uma das maiores, atualmente, no mercado brasileiro. O trocadilho do executivo assusta logo de cara, mas já demonstra a visão de quem colocou a empresa no topo do reconhecimento entre as mais inovadoras na área digital. Trocadilho, aliás, que o diretor faz questão de explicar. “Quanto você repete uma prática, ela se torna precisa, eficaz, sem risco. Quando ousa ino-var, experimentar novidades, não há precisão, pode dar certo ou não. É um risco”, exempli-fica. Seja como for, na construtora vem dando certo, tanto que a Tecnisa foi a primeira a ven-der imóveis pelo iPhone, pelo twitter e a reali-zar negócios, inclusive, pelo Second Life. Tanta inovação vem resultando em consolidação da marca, e claro, no que mais interessa no setor imobiliário, uma bela carteira de clientes.

Busarello enfatiza que a inovação já é fator tradicional da construtora. “Começamos em 2001, quando havia quatro milhões de usuários na internet. Hoje, são 70 milhões e somos refe-rências em uso de redes sociais, como Orkut e Facebook. Aliás, estamos entre as poucas em-presas que utilizam blog corporativo”, destaca. Outra façanha da Tecnisa foi contemplar com atenção especial segmentos do mercado com grande potencial, porém, pouco explorados, como o público homossexual. “Fomos a pri-meira empresa a incluir políticas gay friends, o que exigiu coragem, mas gerou ótimos resul-tados. É um publico com poder de compra”, observa o executivo, referindo-se às propagan-das dirigidas para que casais do mesmo sexo adquiram o sonhado imóvel próprio.

A construtora se orgulha de suas práticas de relacionamento com o cliente. Busarello

construtora aposta em tecnologias digitaisRomeo Busarello, diretor da tecnisa, revela a aposta da construtora em inovação através de tecnologias digitais

destaca que entre a compra e a entrega das chaves, ocorrem 42 pontos de contato entre a empresa e o consumidor. “As companhias er-ram ao cuidar do comprador só antes da assi-natura do contrato. Depois, acabam deixando de lado. Cuidamos dele ao longo do processo. Logo de cara, enviamos uma caixa com cham-panhe e trufas, e no decorrer da construção do empreendimento, ele é convidado a visitar, recebe brindes comemorativos, e-mail marke-ting personalizado com voz, pode visitar as obras, recebe até foto aérea do futuro lar. Isso tudo gera uma fidelidade e uma ótima propa-ganda boca a boca, que hoje se espalha muito rápido pela internet”, enfatiza o executivo.

A última da Tecnisa é testar o uso de iPads para catálogos de corretores. “É uma propos-ta excelente, pelo ganho de tecnologia e de sustentabilidade, já que você elimina o papel. Estamos no piloto com alguns corretores e vai muito bem”, diz o diretor. Além disso, a empresa criou o tecnisaideias.com.br, um por-tal de open innovation para absorver projetos inovadores, de forma pioneira no mercado. “Apenas uma montadora e a Tecnisa atuam com esse tipo de projeto no Brasil. Já escolhe-mos três idéias desde que o site está no ar, há pouco mais de um mês”, destaca.

Tanta inovação, para Busarello, resulta em lucros e consolidação da marca. “Inovação é fruto de muita teimosia, dizia Santos Dumont. Tem um custo. Quem trabalha com isso, preci-sa ir muito além do combinado, pesquisar, ler, se conectar. Além disso, implica em investimen-tos. O gasto é certo, a receita é uma esperan-ça. Quando desenvolvemos o aplicativo para iPhone, não tínhamos garantia nenhuma de que daria certo. Arriscamos e foi um sucesso. Conheço mais empresas que quebraram por falta de inovação do que por produzir novida-des. Tudo isso gera uma marca forte, atrativa e um ambiente motivador para os funcionários.

Mas, para resistir a inovações, a empresa preci-sa de alguns requisitos: cultura, estrutura, pro-cesso, pessoas recursos e estratégia. Do contrá-rio, não dá”, avalia o executivo.

O processo de inovação na Tecnisa não está restrito ao modelo de negócio e à tecnologia. Avança também para o produto. Exemplos podem ser encontrados em alguns dos em-preendimentos que contam com Clube de Experiência e Pet Care. No primeiro caso, ins-pirado em uma tendência européia, os mora-dores do prédio contam com local para trocas de experiências e bate papos. Na avaliação de Busarello, como se fosse uma “casa do saber”. No segundo caso, o morador dispõe de am-biente decorado e com a infra-estrutura ne-cessária para cuidar e passar mais tempo com seus animais de estimação, inclusive, para atendimento de veterinários ou pet shops. São inovações que contribuem decisivamente para conquistar um público cada vez mais exigente. (CC)

“Repetir é preciso, inovar não é preciso”, lema de Romeo Busarello, diretor de Ambientes Digitais, Inovações e Relacionamento com Clientes da construtora tecnisa

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evento open innovation seminar 2010

henry Chesbrough: Processos de inovação aberta ganham espaço quando o mercado passa a sentir alterações culturais na disseminação do conhecimento e, portanto, na divisão do trabalho para a inovação.

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SeRViÇO: O Open Innovation Seminar 2010 acontece no dia 1º de dezembro, no Grand Hyatt Hotel, em São Paulo. O curso promovido por Chesbrough acontece nos dias 2 e 3 de dezembro, na Câmara Americana de Comércio de São Paulo (Amcham). Para conferir a programação completa do evento acesse openinnovationseminar.com.br

compartilhando capacidadesinovação aberta e capacidade de Pesquisa & Desenvolvimento serão debatidas no Open Innovation Seminar 2010, em São Paulo

Ao analisar o comportamento histórico das grandes empresas americanas, ao longo do séc. XX, o estudioso Henry Chesbrough cons-tatou que a gestão dessas corporações prezava por individualizar as ideias inovadoras e sua aplicação no mercado. O modelo de desen-volvimento inovativo fechado era sustentado por duas premissas: “nós detemos os melhores talentos” e “somos os inventores, portanto os mais aptos para comercializar.”

Mas tais parâmetros começam a perder sen-tido. O mercado passou a sentir alterações cul-turais no que tange à disseminação do conheci-mento e, portanto, na divisão do trabalho para a inovação. Entre esse fatores, Chesbrough des-taca a crescente mobilidade de mão-de-obra, o surgimento de centros de formação de excelên-cia e a perda de hegemonia dos Estados Unidos, Europa e Japão para regiões emergentes.

A nova realidade levou o estudioso e hoje diretor executivo do Centro de Inovação Aber-ta da Universidade de Berkeley a promover o termo Open Innovation, ou em português Ino-vação Aberta, como alternativa para os mode-los de gestão da inovação.

No Brasil, a comunidade acadêmica vem desenvolvendo pesquisas que suportam a teo-ria do estudioso americano, enquanto empresas passam a apoiar cada vez mais iniciativas em inovação aberta. É o novo cenário de gestão da inovação, se estabelecendo no mundo e no Brasil. “A Embraer é um exemplo de empresa que busca a inovação aberta. Para fabricar uma família de aviões, no passado, não tinha parcei-ros, apenas fornecedores. Depois, em uma se-gunda etapa, contou com quatro parceiros. Na mais nova família já são 16”, exemplifica Edu-ardo Vasconcelos, professor da pós-graduação da Fundação Instituto de Administração (FIA).

No início de dezembro, o Open Innovation Center Brazil realizará a terceira edição do Open Innovation Seminar. O evento terá a pre-sença do próprio Henry Chesbrough, paineis e sessões técnicas. Além da programação do se-minário, acontecerá um curso intensivo desen-volvido para o cenário brasileiro.

Vasconcelos será um dos palestrantes do Open Innovation Seminar 2010 e, em sua opi-nião, o meio acadêmico também tem percebi-do que a inovação, gradualmente, tende para processos mais abertos. “Isso significa que cada vez mais componentes da inovação são

trazidos de fora da empresa, ou seja, de uni-versidades e institutos de pesquisas, além de fornecedores e clientes.”

A palestra de Vasconcelos abrange as me-todologias necessárias para identificar quando vale a pena trazer de fora, com quem colabo-rar e como contratar. “A inovação aberta é um movimento que tende a uma abertura maior da inovação buscando recursos externos. A razão principal de todos estarem de olho nesse movimento é que se você faz bem a inovação aberta, ela tende a ser melhor, mais barata, mas rápida e, portanto, mais competitiva.”

As atividades do evento abordarão temáticas como conhecimento sobre gestão da inovação, ações governamentais de apoio à inovação no País e tendências.

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Johnson & Johnson Me-dical Innovation Institute, inaugurado no início de 2010, deverá formar cerca de quatro mil profissionais até dezembro deste ano.

No instituto, profissionais de saúde de vá-rios países da América Latina estão sendo capacitados nas áreas de equipamentos mé-dicos e procedimentos diagnósticos, com objetivo de melhorar a qualidade dos ser-viços no segmento. Entre os treinamentos, acontecem até simulações virtuais de cirur-gias. É a inovação a serviço da medicina.

O centro funciona dentro das instalações que abrigam a matriz da empresa, em São Paulo, em uma área de 4,5 mil metros qua-drados. Equipado com uma sala de cirurgia integrada com alta tecnologia e espaços adi-cionais com equipamentos de laparoscopia de alta definição, equipamentos de simula-ções virtuais e sistemas de videoconferência, o espaço é um sonho de consumo para qual-quer profissional da saúde que conta com os avanços tecnológicos para melhor atender.

Além de maquinário, treinamentos minis-trados por especialistas cobrem boa parte dos

procedimentos que envolvem os produtos da empresa, uma das maiores no segmento de medicamentos no Brasil. Entre os procedi-mentos abordados pelo centro de inovações da Johnson & Johnson estão cirurgias gás-tricas, ginecológicas, cardíacas, neurológicas, ortopédicas, plásticas e de diagnóstico, além de procedimentos minimamente invasivos.

Com foco em capacitação de enfermeiros, técnicos, administradores hospitalares e de planos de saúde, o centro posiciona a empre-sa na vanguarda do treinamento em equipa-mentos médicos e diagnósticos na América Latina, segundo Regina Navarro, Diretora-Presidente da Johnson & Johnson Medical Brasil. “O Brasil possui grande número de profissionais na área, que podem ser benefi-ciados pelos treinamentos. O instituto está localizado em São Paulo, mas é destinado a profissionais de saúde de todo do País e da América Latina”, explica a executiva. “Além disso, o Brasil sedia algumas das mais impor-tantes conferências médicas e os profissionais de saúde dos outros países frequentemente viajam para cá no intuito de participar desses eventos, de treinamentos médicos e progra-mas de desenvolvimento”, enfatiza Regina.

O Johnson & Johnson Medical Innova-tion Institute já é responsável por atualizar profissionais de saúde sobre os mais moder-nos avanços técnicos, aprimorar habilida-des, além de facilitar o compartilhamento de conhecimento em novas tecnologias na área. É o único com essas características para as companhias Johnson & Johnson Medical na América Latina, e foi baseado na experiência de institutos similares da empresa localizados em todo o mundo. São 20 institutos de educação profissional em todo o mundo, projetados para melhorar o treinamento médico em países emergen-tes e desenvolvidos como Estados Unidos, Alemanha, França, Índia, China e Japão. Os treinamentos oferecidos são projetados para atender às necessidades médicas espe-cíficas de cada país ou região.

“Acreditamos que somos responsáveis não apenas por entregar produtos e serviços de alta-qualidade, mas também por auxiliar os profissionais de saúde a fazerem o melhor uso deles. O instituto elevará o nível de nossas ini-ciativas de treinamento, aumentando muito nossa capacidade de contribuição com a qua-lidade da saúde”, conclui Regina. (C.C)

instituto da Johnson & Johnson no Brasil promove a capacitação de profissionais da saúde em toda a América Latina

saúde instituto Johnson & Johnson

SAúDe eM DESENVOLVIMENTO

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Centro de formação: inaugurado no início de 2010, deverá formar cerca de quatro mil profissionais até dezembro

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negócios atração de investimentos

Celso Horta

Abertas as urnas que deram a presidên-cia da República à Dilma Rousseff, o Brasil retomou a caminhada, em algumas rotas, em ritmo supersônico. Nas duas primeiras semanas de novembro, o paço municipal de São Bernardo do Campo foi transformado em pouso obrigatório para três das oito em-presas internacionais fabricantes de caças: a Boeing, americana, a Dassault, francesa e a Saab, sueca. As três foram qualificadas na concorrência da Força Aérea Brasileira (FAB) para o fornecimento de 36 caças que vão reequipar a esquadrilha nacional.

No 18º andar do edifício que sedia o es-paçoso gabinete do prefeito Luiz Marinho, do PT, têm-se uma visão panorâmica da cidade. Literalmente, não há mais espaços físicos para novos investimentos, a não ser que se revolucione o padrão de empreendi-mentos industriais que transformou a cidade em carro-chefe da indústria nos anos 1950. Experimentado sindicalista, ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Marinho sabe que a retomada do desenvol-vimento econômico e social de sua cidade e da Região só tem uma possibilidade: investi-mentos em inovação, ciência e tecnologia.

Nada mais apropriado, portanto, que atrair para São Bernardo a indústria de de-fesa, em especial a aeroespacial, tradicional laboratório das mais importantes inova-

ções da história da indústria. Companheiro metalúrgico e amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, audacioso estra-tegista, o prefeito petista não vacilou em posicionar-se no meio da bilionária concor-rência do FX 2 a favor do Gripen NG sue-co. A decisão é responsabilidade constitu-cional do presidente da República, ouvido o Conselho de Segurança Nacional.

No início do ano, apesar do posiciona-mento público de Lula a favor do caça Ra-fale, Marinho desembarcou em Limkopen, cidade que sedia a fábrica do Gripen NG na Suécia. De volta ao Brasil, assumiu publi-camente a defesa da proposta da Saab com quem construiu um plano de parceria em torno da construção na cidade e no ABCD de um novo segmento industrial, o aeroes-pacial. O calendário eleitoral não impediu que as negociações prosseguissem.

Enquanto a Dassault sustentava sua po-sição em torno do ministro da Defesa, Nel-son Jobim, e do mito em torno das relações de Lula com Nicolas Sarkozy, presidente da França, a Saab continuou alimentando a simpatia dos militares da aeronáutica e atendendo interesses identificados com o Brasil e com a Região que foi o berço políti-co do presidente Lula.

Em 24 de setembro, o novo presidente mundial da Saab, Hakan Buskhe, visitou o prefeito de São Bernardo para anunciar a criação de um centro de pesquisa aero-

espacial no município. Independentemen-te do resultado da concorrência, Buskhe afirmou que serão investidos no projeto, aproximadamente, US$ 50 milhões nos pró-ximos cinco anos. Para a empresa, o centro de pesquisa está vinculado à oportunidade de exportar tecnologia da Região para o mundo. O Centro, que estará funcionando ainda este ano, desenvolverá tecnologia ae-roespacial e de defesas avançadas. Entre as áreas de estudo estarão a nanotecnologia e suas aplicações aeronáuticas, eletrônica de rádio-freqüência, controle autônomo de vôo, engenharia mecânica avançada e pro-cessamento de imagens para aplicações mi-litares e na segurança pública. O objetivo da Saab é desenvolver e produzir a maior parte da fuselagem do caça no Brasil e exportar a tecnologia para o exterior.

No final de outubro, em São José dos Campos, a Saab deu novo passo na amar-ração de seu loby pró Gripen NG. A Akaer, empresa nacional de tecnologia aeronáu-tica, entregou à Saab um pacote técnico produzido no Brasil com o modelo 3D e os desenhos de produção da primeira peça da nova geração do caça supersônico Gripen. Ao todo, a empresa de São José poderá pro-jetar 2,4 mil partes da aeronave.

Na primeira semana de novembro, a Saab voltou a apresentar-se em São Bernardo, para anunciar, em entrevista coletiva à impren-sa, novos passos na instalação de seu centro

CORRiDA AEROESPACIAL enquanto os suecos anunciam data de inauguração de Centro de P&D, em São Bernardo, franceses e americanos visitam o prefeito Luiz Marinho

26 INOVABCD | NOVEMBRO DE 2010

Da esquerda para a direita: Jefferson Conceição, Jairo Cândido, Bengt Janêr (com réplica do caça sueco), edson Azarias, Dan Jangblad e o prefeito Luiz Marinho

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CORRiDA AEROESPACIAL enquanto os suecos anunciam data de inauguração de Centro de P&D, em São Bernardo, franceses e americanos visitam o prefeito Luiz Marinho

de pesquisas na cidade. Desta vez quem marcou presença no Paço Municipal para apontar a localização do centro de pesquisas na cidade foi Dan Jangblad, vi-ce-presidente da Saab, ao lado do diretor geral da empresa no Brasil, Bengt Janêr.

Por pouco os diretores da Saab não acabaram se encontrando nos corredo-res do Paço Municipal de São Bernardo com diretores da Boeing e da Dassault, que também visitaram o prefeito Luiz Marinho. Mas, o nervosismo das últi-mas semanas, tem uma explicação. Com o resultado das urnas, ficou patente que a decisão sobre a concorrência bilionária da FAB, uma operação orçada entre US$ 4 e 8 bilhões, será adotada em breve.

Quem tomou a iniciativa de colocar a discussão em pauta foi o ministro da De-fesa, Nelson Jobim, um notório defensor do Rafale, o avião francês. Se a nova cor-rida resultou em um assédio ao gabinete do prefeito Marinho, de pouco serviram para mudar a posição do petista. Recebi-dos em sua mesa de trabalho, adornada por uma miniatura do Gripen NG, os diretores da Dassault assinaram um vago compromisso de investimentos na cidade e ganharam uma vaga promessa do pre-feito de visitar em breve a fábrica do Ra-fale na França. Estiveram com o prefeito o executivo da multinacional, Eric Trap-pier, e o diretor Jean-Marc Merial

NOVEMBRO DE 2010 | INOVABCD 27

encontro virtualPalestra transmitida ao vivo, pela web, avalia o cenário da indústria de defesa brasileira

Às segundas-feiras, o Observatório da Ino-vação e Competitividade recebe especialistas dos mais diversos setores da economia, em palestras transmitidas ao vivo pela internet. Durante o mês outubro, quem acompanhou a programação assistiu a apresentação de Peterson Ferreira da Silva, com foco na In-dústria de Defesa brasileira.

A palestra, intitulada “Base Industrial de Defesa e Cooperação Regional”, baseou-se em uma pesquisa sobre o desenvolvimento da indústria de defesa brasileira e suas relações com o sistema de Ciência, Tecnologia e Inova-ção (C&T&I). Entre as avaliações apresenta-das, o pesquisador enfatizou um novo cenário no que diz respeito à compra de tecnologias no Brasil e no mundo.

“As negociações passam necessariamente pelo aprendizado tecnológico, pela busca por produção em escala e por um lobby coletivo para exportação. Parcerias nessa área são ferramen-tas de política externa.”, enfatizou o palestrante. “Não se deve pensar apenas em base industrial e sim em base industrial tecnológica de defesa”.

A experiência européia foi colocada como expressão da necessidade do fortalecimento de uma indústria de defesa nacional, a partir do compartilhamento de conhecimento tec-nológico. Silva citou a criação do programa cooperativo europeu como oportunidade de aumento da base de defesa regional e alter-nativa à dependência com relação à capaci-

dade tecnológica dos Estados Unidos. “Dos 26 membros da União Européia, dez países utilizam os programas cooperativos, estabele-cendo uma parceria internacional de conteúdo tecnológico e político.”

No Brasil, a Estratégia Nacional de Defesa, elaborada pelo Ministério da Defesa do Go-verno Federal em 2008, foi o único mecanis-mo governamental de incentivo à indústria de defesa brasileira das últimas décadas. Apon-tada por Silva como avanço para a cadeia, a estratégia está estruturada em três eixos e co-loca como segundo pilar a reorganização da indústria nacional, para assegurar que o aten-dimento das necessidades das Forças Armadas brasileiras apoie-se em tecnologias sob domí-nio nacional.

Nesse sentido, Silva aponta a maior valo-rização por contratos que prezem pela trans-ferência de tecnologia. “Existe todo um cená-rio que se desenvolve a partir dessa diretriz. O caso da atração de um Centro de Pesquisa & Desenvolvimento da Sueca SAAB para o Brasil é exemplo do que vem na cauda de uma política de desenvolvimento tecnológico.”

Peterson Ferreira da Silva é mestrando em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas (Unicamp, UNESP e PUC-SP) e bolsista FAPESP. Fez seu bacharelado no Instituto de Relações Internacionais da Uni-versidade de São Paulo e é um colaborador do Observatório da Inovação. (JH)

informação observatório da inovação

SeRViÇO: O Observatório da Inovação e Competitividade é parte do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP). Para acompanhar a programação de palestras promovidas pela entidade acesse o link: www.iea.usp.br/iea/aovivo, às segundas-feiras, às 11h.

Peterson Silva, pesquisador da USP, aponta avanços na

política industrial de defesa

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Camila Galvez

28 INOVABCD | NOVEMBRO DE 2010

a invasão dos robôsogar futebol, dançar, simular um resgate ou consertar um duto de óleo com vazamento são ativida-des para seres humanos, certo? Errado. A Joint Conference, re-alizada pelo Centro Universitá-rio da FEI, em São Bernardo, entre os dias 23 e 28 de outubro, veio exatamente para provar o contrário. A conferência reuniu

especialistas das áreas de robótica, inteli-gência artificial e redes neurais e registrou recorde de público, de acordo com a profes-sora de Engenharia Elétrica da instituição e coordenadora do Larc (Latin American Robotics Competition, ou Competição Latino-Americana de Robótica), Esther Colombini. “A expectativa era receber 600 pessoas, mas registramos cerca de 800, divi-didas em 150 equipes que participaram da Jornada de Robótica Inteligente e de outras atividades da conferência”, comemora.

Os competidores vieram de diversos Es-tados do Brasil e também de outros países, tais como Chile, Venezuela, Colômbia, Mé-xico, Costa Rica e Uruguai. De acordo com Esther, a competição do ano passado reu-niu apenas 30 equipes.

A tecnologia é destaque da edição de 2010. A coordenadora explica que os times se desenvolveram bastante ao longo do ano. “A FEI, por exemplo, investiu no robô para a categoria IEEE Small Size (F180) e fez com que outras universidades concorrentes também mudassem suas máquinas. Uma in-centiva a outra”, garante.

O RoboFEI Team confirmou o favoritis-mo e venceu a categoria. Os cinco novos robôs que participaram da competição passaram com louvor pelo primeiro teste. Cada um deles custou cerca de R$ 10 mil. Além de ganhar mais peso para enfrentar os constantes “encontrões” durante os jo-gos, os robôs têm um sistema de dribles

diferente, tiveram o chute aprimorado e agora podem até dar o famoso “chapéu” no adversário. Eles também conseguem chutar por cobertura, o que fez a torcida vibrar muitas vezes durante a competição nacional. Cada robô funciona com quatro baterias (de 7,4 volts cada) e cinco moto-res, que neste ano tiveram a potência ele-vada de 15 para 50 watts.

O próximo objetivo do time da FEI é aprimorar os cinco robôs para participar em 2011 da RoboCup, competição interna-cional que será realizada em Istambul, na Turquia. Vencer em casa foi como um trei-no para o mundial, de acordo com o aluno de Ciências da Computação Daniel Tavares Malheiro. O estudante acredita que o time está afiado para a competição internacio-nal. “Esperamos ficar entre os quatro me-lhores do mundo”, prevê.

Cerca de vinte equipes de vários países participam da etapa internacional, e o Ro-boFEI Team se orgulha de estar entre elas. “Fazemos parte das universidades de todo o mundo que tem tradição em construir bons robôs”, comemora Malheiro.

Outro integrante da equipe, o aluno de Engenharia Elétrica Eduardo Garcia, ex-plica que o comitê da RoboCup é bastan-te criterioso no momento de selecionar os competidores. Os alunos precisam submeter um vídeo e um documento que evidencie a qualidade dos equipamentos e como foram desenvolvidos. “Se o robô não funciona du-rante a competição, a equipe é punida e não pode participar no próximo ano”, afirma.

ROBôS x hUMANOSOutra novidade das competições da Joint

Conference foi a estreia da categoria Robo-Cup Humanoid, na qual robôs com carac-terísticas humanas se enfrentam em uma partida de futebol. O mexicano Alberto Ro-may, aluno de mestrado da Universidad La

evento joint conference

Joint Conference bate recorde de público: 800 estudantes, professores e especialistas das áreas de robótica, inteligência artificial e redes neurais passaram pela fei nos seis dias do evento

O Robofei team confirmou o favoritismo e venceu a categoria. Os cinco novos robôs que participaram da competição passaram com louvor pelo primeiro teste. Cada um deles custou cerca de R$ 10 mil

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a invasão dos robôsSalle, foi o grande vencedor. O robô Benito fez o único gol da partida contra a equipe do Instituto Mauá de Tecnologia.

De acordo com Alberto, seu robô é pe-queno em comparação com os outros, mas conseguiu cumprir bem seu papel. “Essa é a primeira versão do robô, que começamos a construir dois meses antes da competição. Ele tem 35 cm e, para a próxima, trarei um maior”, garante.

Os estudantes da Mauá, Rafael de Melo e Ricardo Luigi, tiveram pouco tempo para adaptar o robô da universidade para o jogo de futebol. Em pouco mais de um mês e meio, passaram por muitos percalços até fa-zer o equipamento funcionar. “Há três dias da competição, tivemos de substituir uma placa que queimou. Foi difícil, mas parti-cipar é importante porque podemos trocar experiências”, comenta.

Ao todo, quatro equipes se inscreveram para a categoria, mas uma delas, do Irã, não compareceu para a competição. O ou-tro time participante foi a Unip Brasília, que não conseguiu fazer o robô funcionar a tempo do jogo.

No futuro, robôs com características e tamanho de pessoas disputarão uma par-tida de futebol contra jogadores humanos e serão capazes de vencer. A previsão para que essa proeza ocorra é o ano de 2050, de acordo com os organizadores da RoboCup.

Para o estudante de Mecatrônica da Unip Brasília Júlio Alberto Leiva, esse tempo será ainda menor. “Em dez anos alcançaremos os competidores humanos, pois eles se cansam de correr atrás da bola”, constata.

Brincadeira ou coisa séria, os robôs pro-metem se desenvolver ainda mais com o passar do tempo e até mesmo substituir o homem em atividades tipicamente humanas. Resta saber se os humanos do futuro estarão preparados para essa invasão robótica.

Joint Conference bate recorde de público: 800 estudantes, professores e especialistas das áreas de robótica, inteligência artificial e redes neurais passaram pela fei nos seis dias do evento

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De acordo com os organizadores da RoboCup, em 2050, robôs com características e tamanho de pessoas disputarão uma partida de futebol contra jogadores humanos e serãocapazes de vencer.

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Joana Horta

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articulação case de sucesso

o mercado da belezaO DeSAfiO

Suprir a necessidade de desenvolvimento de produtos de higiene e beleza para o mercado nacional

QUeM ReSOLVe

Lipson Cosméticos, indústria de Diadema

A SAíDA

terceirização de produção e desenvolvimento, com otimização das linhas de produção e investimento em pesquisa

Nas prateleiras, aos olhos dos consumidores e, principalmente, das consumidoras brasileiras, gran-des marcas de cosméticos exibem novidades a toda hora. São xampus para diferentes tipos de cabelo, hidratantes para peles específicas, perfumes para todos os gostos. Os constantes lançamentos fazem parte da estratégia de manutenção de um mercado consumidor gigante. Em 2009, o Brasil movimentou mais de US$ 28 bilhões, ficando atrás apenas de Estados Unidos e Japão, com a comercialização de produtos de higiene e beleza.

Haja investimento em pesquisa, desenvolvimento e tecnologia para sustentar essa indústria. Para atender a alta demanda de inovações em produtos, grandes empresas como Johnson & Johnson, Natura e Avon, terceirizam parte de sua produção. A Lipson Comésti-cos é um exemplo desse processo e fornecedora das principais marcas de higiene e cosméticos do País.

Atuante no desenvolvimento, fabricação e en-vase e produzindo uma média de 10 milhões de

unidades de produto por mês, a Lipson já registrou mais de sete mil fórmulas na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nenhuma para ser comercializada com a sua marca. “Somos os vice-campeões brasileiros em número de registros de patentes na Anvisa, mas nosso foco é a produção exclusiva para terceiros”, explica Tatiana Fernan-dez, responsável pela área de Novos Negócios.

De acordo com Tatiana, a terceirização de produ-tos de higiene e cosmética não é restrita ao mercado brasileiro. A procura por plantas para a terceirização no Brasil, por investidores estrangeiros, é latente. “Recebemos muitas empresas procurando expandir seus negócios e entrar no mercado brasileiro. Por meio da terceirização das atividades de fabricação, as empresas tem procurado reduzir os custos e elevar sua flexibilidade produtiva, aumentando assim a sua competitividade”, revela.

Desde sua criação, em 1989, a empresa produz projetos independentes e variados, o que signi-fica que sua estrutura está pronta a se adaptar às diferentes demandas externas. “Há cerca de cinco anos, a empresa passou por um processo de reengenharia e automação de suas linhas de produção. Tivemos que inovar em processo para continuar a atender com a qualidade e a rapidez que o mercado pede”, explica Jenifer Tenheri, Ge-rente de Controle de Qualidade. A Lipson possui uma área de metalurgia própria, para atender a demanda de novos processos, comuns ao lança-mento de novos produtos.

Fundada em São Paulo, há quinze anos a em-

presa mudou de endereço, elegendo o Pólo Quí-mico de Diadema como nova sede. A estratégia de logística, prevendo redução de custos e pro-ximidade com fornecedores, funcionou. A Lipson acabou de construir e adaptar uma nova planta fabril, dedicada exclusivamente à produção de maquilagem, também em Diadema.

Investimento em tecnologia é outro aspecto que não falta no negócio. A empresa adquire e desenvol-ve tecnologias para poder trabalhar com diferentes tipos de formulações, desde as econômicas até as altamente sofisticadas. Trabalhando no Centro de Pesquisa & Desenvolvimento, quinze químicos e farmacêuticos focam em criação e controle de qua-lidade. “Quando a demanda vem de uma grande empresa, geralmente a fórmula vem pronta. Mas nós também atendemos pequenas e médias e nesses casos o desenvolvimento e a inovação em produto são muito solicitados”, explica. De acordo com Je-nifer, a indústria de cosméticos não apenas precisa estar atenta aos processos de inovação para sobre-viver, como o próprio mercado cobra novas soluções. “Quem encomenda quer estar alinhado com as des-cobertas globais e agregar valor apresentando ativos recém-descobertos e com maior eficácia.”

De acordo com a Associação Brasileira da In-dústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmé-ticos (ABIHPEC), a indústria brasileira apresentou um crescimento médio de 0,5% nos últimos 14 anos, tendo passado de um faturamento líquido de R$ 4,9 bilhões em 1996 para R$ 24,9 bilhões em 2009.

tatiana fernandez e Jenifer tenheri, da Lipson: terceirização de produção e desenvolvimento, para o mercado brasileiro de higiêne e

cosméticos, é o nixo explorado pela empresa de Diadema.

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P,D&I ominisys

felipe Rodrigues

É apostando em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I) para os segmentos aero-náutico, espacial e de defesa, que a Omnisys Engenharia espera faturar cerca de R$ 55 mi-lhões em 2010. Sediada em São Bernardo, a empresa conta com um centro de P,D&I, de-dicado a desenvolver soluções com alta tecno-logia, em plena expansão.

De acordo com o presidente da empre-sa, Luiz Henriques, o principal objetivo da Omnisys é criar e desenvolver novas tecno-logias no País. “Estamos trabalhando para obter soluções inéditas e para isso conta-mos com uma equipe de engenharia que nos próximos anos poderá ser triplicada”, disse. Hoje, a Omnisys tem 67 de seus 251 funcio-nários trabalhando para a área de P,D&I.

A empresa atua na modernização e tam-bém na fabricação de radares de controle de tráfego aéreo, desenvolvimento, fabricação e qualificação de equipamentos e subsiste-mas embarcados para satélites, instalação de equipamentos de guerra eletrônica e sis-temas de rastreio ótico.

Fundada no ABCD , a Omnisys hoje atua como braço de P&D do grupo francês Tha-les, que comprou 51% das ações da empresa brasileira e que também tem como atribuição atuar como exportadora dos produtos fabri-cados no Brasil. Os principais países compra-dores são França, China, Singapura, Grécia, Suiça, México e toda América Latina.

Henriques destaca que hoje, após o aporte da Thales, a empresa consegue competir glo-

balmente. Nos últimos anos, a Omnisys con-seguiu vencer licitações na Europa e passou fornecer tecnologia de ponta para a França. “Apostamos em formação. Estamos sempre buscando aprimorar os nossos conhecimen-tos e para isso realizamos treinamentos com os nossos engenheiros todos os meses. Contar com uma equipe altamente qualificada e foca-da na criação de novas tecnologias é um dos segredos do sucesso dessa empresa”, pontuou.

De acordo com o gerente da divisão de P,D&I, Bruno Rondani, a parceria com o grupo francês não interferiu na contratação de mão de obra local. “No nosso time te-mos engenheiros formados do ABCD e do interior paulista. Mas ainda contamos com colaborações francesas. Essa diversidade ajuda na troca de experiências e possibilita uma integração ainda maior”, ponderou.

O foco principal da empresa é atuar no segmento de controle de tráfego aéreo produ-zindo a modernização e também a evolução técnica dos radares de rota e de área terminal do sistema de controle do espaço aéreo bra-sileiro. O principal concorrente da empresa no País, no setor espacial, é a Mectron En-genharia, de São José dos Campos. Na área aeronáutica, a disputa é com a Aeroeletro-nica, que possui sede em Porto Alegre.

A expectativa de faturamento da Omnisys para o próximo ano é de R$ 60 milhões. O produto que atualmente é um dos carros chefes é o radar de controle de trafego aéreo de rota – banda aérea, vendido recentemen-te para a FAB (Força Aérea Brasileira). Os radares custam em torno de U$S 3 milhões.

Tirando todos os impostos embutidos, a empresa fica com cerca de U$S 500 mil.

Além de atuar no desenvolvimento tec-nológico dos radares dos centros de lança-mento de foguetes de Alcântara e Natal, a Omnisys desenvolve a modernização dos radares de rastreio do Ministério de Defesa da França e dos radares de rastreio do cen-tro de lançamento de foguetes de Kourou na França.

O grupo francês Dassault, que concorre à lici-tação FX-2, pela qual o governo federal brasilei-ro pretende comprar 36 caças supersônicos para a renovação da frota da FAB (Força Aérea Bra-sileira), adquiriu participação na Thales. Assim, caso os franceses ganhem a disputa, a unidade de São Bernardo poderá contribuir na fabrica-ção de radares para os aviões franceses.

P&D tiPO EXPORTAçãOOmnisys: pesquisa, desenvolvimento e inovação para negócios no Brasil e no exterior

empresa de São Bernardo atua como

braço de P&D do grupo francês thales

e hoje fornece tecnologia de ponta

para a frança.

Luiz henriques: o principal objetivo da Omnisys é criar e desenvolver novas tecnologias no País

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fOMeNtO, fiNANCiAMeNtO e SUPORte à iNOVAÇÃO

SeBRAe PROGRAMA SeBRAeteCO empreendedor que procura apoio para investir em projetos de inova-

ção deve estar atento aos editais que serão lançados a partir de janeiro de 2011, pelo Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae). Os editais fazem parte do Programa Sebraetec, cuja nova for-matação foi lançada em 18 de outubro. A instituição anunciou o aporte de R$ 787 milhões para projetos de inovação e tecnologia. Do total, R$ 409 milhões serão disponibilizados pelo Sebrae nacional e o restante pelos escritórios e parceiros estaduais.

Os editais estarão disponíveis para acesso durante todo o primeiro semestre do próximo ano e contemplarão novas modalidades de investi-mento, específicas para processos inovativos. “Não haverá um período para apresentação e julgamento de propostas, como é comum em editais. Isso porque entendemos que a necessidade de inovação e investimento em tecnologia não tem prazo para acontecer”, justifica Edson Fermann, gerente da unidade de acesso à inovação e tecnologia do Sebrae nacional.

Para participar dos editais, o empresário deve fazer uma proposta de projeto, podendo ter o apoio técnico de um provedor de solução de ino-vação e tecnologia - como universidades, institutos de pesquisa e institui-ções de inovação e tecnologia - que poderá desenvolver o projeto para a empresa. “Estamos estudando a proposta de elaborar um canal de aten-dimento para sanar dúvidas com relação à elaboração de propostas”, afirma Fermann. “Entendemos que além das dificuldades em lidar com burocracias de processos de licitação, as empresas enfrentam um desafio na busca por foco, por exprimir no papel o que querem.”

Os recursos obtidos através do Sebraetec poderão ser destinados direta-mente ao provedor, por meio de convênio, ou à micro e pequena empresa be-neficiada por intermédio de um contrato tripartite (Sebrae, empresa proponente e instituição provedora de solução). Em ambos os casos, a pequena empresa escolhe quem será a entidade que vai desenvolver seu projeto.

Com relação à modalidade Indicação Geográfica, uma associação de produtores deve apresentar um projeto de indicação geográfica e o re-curso referente ao projeto será destinado diretamente a essa associação

para a contratação de uma empresa de consultoria que conste no cadastro do Sebraetec de consultorias para avaliação do

produto para o qual se quer obter o selo. Os recursos provenientes do Sebrae destinados aos

projetos do novo Programa Sebraetec não são reem-bolsáveis.

Confira os quadros ao lado e entenda as novas linhas do Sebraetec:

Sebraetec inovaçãoDestinada à inovação incremental, é focada principalmente em eco-ino-vação, prototipagem de produtos (criação de protótipos para medições e testes antes da fabricação final de um determinado produto) e inovação em encadeamento empresarial. Essa última modalidade refere-se, por exemplo, aos pequenos fornecedores de uma grande empresa, que precisam de in-vestimento em inovações demandadas pelo cliente

PRAzO DE IMPLANTAçãO: Até 12 meses

CUSTO POR PROJETO: Até R$ 90 mil. Neste caso, o Sebrae vai subsidiar até R$ 45 mil (limitado a, no máximo, 50%). O Sebrae no estado e os parceiros, se houver, entram com até 40% do valor pretendido e a pequena empresa com, no mínimo, 10%

NúMERO DE PROJETOS ATENDIDOS: Ao todo, serão atendidos 243 projetos, sendo 81 atendimentos por ano. Haverá desembolso de R$ 1,8 milhão no primeiro ano e nos dois anos seguintes o valor será de R$ 3,6 milhões, cada, perfazendo um valor total de R$ 9,1 milhões

Sebraetec inovaPara os casos de inovação de ruptura, também é focada em eco-inovação e encadeamento empresarial

PRAzO DE IMPLANTAçãO: Até 24 meses

CUSTO POR PROJETO: Até R$ 600 mil, sendo que o Sebrae vai subsidiar até R$ 300 mil (limitado a, no máximo, 50%). O restante deverá ser garantido pela empresa, por parceiros ou ainda pelo Sebrae no estado

NúMERO DE PROJETOS: Para esta modalidade o valor para o período de 2011 a 2013 é de R$ 113,4 milhões, com desembolso gradativo ao longo dos anos. Serão atendidas 189 pequenas empresas por ano até 2013, perfazendo um total de 567 projetos

Sebraetec inDicação GeoGráFica (2012)Destinada a projetos de Indicação Geográfica, focados em ações coletivas com grupos de produtores ou de empresários. É necessário que os projetos estejam enquadrados nos conceitos de indicação geográfica destinados à denominação de origem ou indicação de procedência

PRAzO DE IMPLANTAçãO: Até 24 meses

CUSTO POR PROJETO: O apoio poderá chegar a R$ 200 mil (equivalente ao máximo de 70%). O Sebrae no estado, as micro e pequenas empresas e os parceiros entram com 30% do valor total

NúMERO DE PROJETOS: Esta linha, ao contrário das demais, só começa em 2012 e termina no ano seguinte, para atender um total de 14 projetos com inves-timento de R$ 2,1 milhões

maiS inFormaçõeS: 0800 570 0800

edson fermann, gerente da unidade de acesso à inovação e tecnologia do Sebrae

nacional: entendemos que além das dificuldades em lidar com burocracias

de processos de licitação, as empresas enfrentam um desafio na busca por foco,

por exprimir no papel o que querem.

serviços

Sebraetec disponibilizará R$ 787 milhões para projetos de tecnologia e inovação de micro e pequenas empresa. Finame Modermaq viabiliza compra de máquinas e equipamentos de até R$ 10 milhões.

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fOMeNtO, fiNANCiAMeNtO e SUPORte à iNOVAÇÃO

Alternativa para financiamento de maquinário do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Programa Finame de Modernização da Indústria Nacional e dos Serviços de Saúde (Finame Modermaq) possibilita a aquisição de máquinas e equipamentos novos, de fabricação nacional, credenciados no BNDES, com vistas à dinamiza-ção do setor de bens de capital e à modernização geral da indústria e do setor de saúde.

Entre os itens financiáveis estão máquinas e equipamentos novos pro-duzidos no Brasil, credenciados no BNDES, no valor de até R$ 10 milhões. Podem acessar os recursos, empresas com sede e administração no País, enquadradas na Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE como indústria extrativa, indústria de transformação, construção pesada ou atividades de atenção à saúde humana, exceto atividades de apoio à gestão de saúde.

Para empresas dos setores de agroindústria e de fabricação de pro-dutos cerâmicos, são passíveis de financiamento as máquinas e equipa-mentos destinados à modernização do parque industrial.

As operações do programa são realizadas por meio das seguintes ins-tituições financeiras credenciadas:

• ABC-Brasil, AF-TO, AFEAM, AFESP, AFParana, Alfa BI, Alfa CFI Badesc, Banco do Brasil, Banco do Brasil Leasing, Bancoob, Bandes, Banese, Banestes, Banrisul BM, Bansicredi, Basa, BDMG, BES BI, Bicbanco, BNB, Bradesco BM, Bradesco Leasing, Brascan BM, BRB BM, BRDE, BRP BM, BTG Pactual• Caixa RS, Caterpillar FI, CEF, Citibank BM, CNH BM, Cresol Baser, Cresol SC-RS• Daycoval BM, Desenbahia, Deutsche BK, Dibens Leasing, Direção CFI, DLL BM • Fibra BM, Fidis BM, FINEP • Goiasfomento, Guanabara BM• HSBC BM• Industrial BM, Indusval BM, Investe-Rio, Itaú BBA, Itaú BM, Itaú Leasing • John Deere BM• Mercedes BM, Mercedes Leasing, Moneo BM• Pine BM, Porto Real• Rabobank, Randon BM, Rendimento BM, Rodobens BM• Safra BM, Safra Leasing, Santander BM, Scania BM, Sofisa BM, Standard BI • Tribanco BM• Unibanco BM• Volkswagen BM, Volvo BM, Votorantim BM

Fonte: AC/DERIF - 20/10/2010

mais informações: www.bndes.gov.br

BNDeS PROGRAMA fiNAMe MODeRMAQ

Sebraetec disponibilizará R$ 787 milhões para projetos de tecnologia e inovação de micro e pequenas empresa. Finame Modermaq viabiliza compra de máquinas e equipamentos de até R$ 10 milhões.

bnDeS Finame moDermaqTAXA DE JUROS

Operações com taxa de juros fixa: até 10% a.a., incluída a remuneração da instituição financeira credenciada, de até 3% a.a.

Operações com taxa de juros variável: Custo Financeiro (TJLP) + Remunera-ção Básica do BNDES (de 1% a.a.) + Remuneração da Instituição Financei-ra Credenciada (de até 3% a.a.)

PARTICIPAçãO MÁXIMA DO BNDES

Até 90%.

PRAzO TOTAL

Até 120 meses, para beneficiários que exerçam atividades econômicas classificadas como indústrias de transformação e até 60 meses, nos de-mais casos.

PRAzO DE CARêNCIA

O prazo de carência deverá ser, necessariamente, múltiplo de 3, não po-dendo ultrapassar 24 meses, para máquinas e equipamentos, e 12 meses para aquisição de bens de informática e afins. O período de carência tem início no dia 15 subsequente à data da contratação da operação. A primeira amortização ocorrerá no dia 15 subsequente ao término da carência

GARANTIAS

Negociadas entre a instituição financeira credenciada e o cliente

VIGêNCIA

Até 31/12/2010, respeitados os limites orçamentários

ENCAMINHAMENTO

Dirija-se à instituição financeira credenciada, com a especificação técnica (orçamento ou proposta técnico-comercial) do bem a ser financiado. A instituição informará qual a documentação necessária, analisará a possibilidade de concessão do crédito e negociará as garantias. Após aprovação pela instituição,a operação será encaminhada para homologação e posterior liberação dos recursos pelo BNDES

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arros são seres complexos, difíceis e temperamentais. Um carro comporta-se como um cachorro, isto é, vira membro da família e uma extensão da per-

sonalidade do seu dono. Com uma grande vantagem: as pessoas podem se sentir feli-zes, confortadas, acompanhadas, com um cachorro dentro de casa. Mas o carro, mes-mo ficando fora de casa ou na garagem, tem algo mais. Ninguém se sente uma pessoa de sucesso tendo um cachorro. Mas tendo um carro sim.

Uma professora norte-americana, Cathe-rine Lutz, da Brown University, diz que sua posse e, mais do que seu uso como meio de transporte, a convivência com ele, faz parte do “american dream”, e torna-se chave para o reconhecimento do sucesso, da identidade e da individualidade do possuidor.

Na Alemanha então, o caldo é ainda de mais sustança. Em 1901 a Alemanha já produzia 900 carros por ano. A indústria passou por crises no período entre-guerras, mas teve um salto significativo quando os nazistas chegaram ao poder. Hitler instituiu uma política de “motoriesirung” da nação, e nesse período também se concebeu um modelo que fosse simples, robusto e barato, que veio dar no nosso amável Fusca.

Agora, depois da crise financeira eclodida a partir de 2008, a indústria automotiva é o carro-chefe (o termo vem bem) da tentativa de recuperar a economia abalada, inclusive através da exportação para outros países, seja de unidades produzidas, seja de auto-peças e acessórios.

Quer dizer, se nos Estados Unidos o carro é um dos pilares do individualismo, na Ale-manha ele é uma das pedras fundamentais da identidade coletiva. Por isso mexer nisto, como querem todos, é muito difícil. Para começo de conversa, só na Europa a indús-tria automotiva representa dois milhões de postos diretos de trabalho, mais dez milhões

de indiretos. Nos Estados Unidos e Canadá o quadro é parecido da mesma forma que em países cujos mercados consumidores es-tão se ampliando e diversificando, como é o caso do Brasil, da Índia e da China.

Isso traz o tema do futuro da indústria automotiva para duas outras questões igualmente complexas, a da possibilidade de se alterarem a estrutura dos modelos automotivos, de um lado, e a questão das relações de trabalho, do outro.

Muito se fala, por exemplo, na produção de modelos movidos a eletricidade. Isso im-plica mudar a estrutura do chamado “trem de força” dos modelos: motor, transmissão e eixos. Numa economia cada vez interna-cionalizada, isso afetaria a cadeia produti-va de todos os países. Ainda assim, não se muda, necessariamente, a estrutura e o pa-drão do consumo. Uma mudança dessa na-tureza, sem uma redefinição do alcance do transporte coletivo pode diminuir a emissão de gases para a atmosfera, mas não vai di-minuir a intensidade de outros problemas, que vão desde os engarrafamentos com as horas/homem perdidas nisso, até problemas cada vez mais coletivos, como o estresse que tudo isso provoca.Mas estamos longe de visualizar um concre-to fim da “era do automóvel”, como querem alguns dos participantes da Conferência Internacional sobre a Crise do Automóvel (Auto Móbil Krise, em alemão), realizada no final de outubro em Stuttgart, a capital do estado de Baden Württenberg, no su-doeste da Alemanha. Como disse o repre-sentante chinês, Au Loong, “nos Estados Unidos há 80 carros por cem habitantes. Na China, há 2. E o governo não está conten-te com isso, e vai aumentar a produção e o consumo de carros”. Como se falar em fim da era do automóvel?

Flávio Aguiar é professor de literatura brasileira e corres-pondente internacional em Berlim

ponto de vista

fiM DA eRA DO AuTOMóVEL?

“Muito se fala, por exemplo, na produção de modelos movidos a eletricidade. Isso implica mudar a estrutura do chamado “trem de força” dos modelos: motor, transmissão e eixos. Numa economia cada vez internacionalizada, isso afetaria a cadeia produtiva de todos os países. Ainda assim, não se muda, necessariamente, a estrutura e o padrão do consumo.”

flávio Aguiar

DiV

ULG

AÇÃO

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