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Indústria, território e políticas de desenvolvimento Prof. Renata Lèbre La Rovere Aula 1

Indústria, território e políticas de desenvolvimento · Vantagens da aglomeração para economias de escala 2. Economias de especialização e eficiência 3. Proximidade como pré-condição

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•Indústria, território e políticas

de desenvolvimento

•Prof. Renata Lèbre La Rovere

Aula 1

Bibliografia• AMIN, A. COHENDET, P. Geographies of knowledge formation in firms. Industry and

Innovation, vol. 12, n.4, 465-486, Dezembro 2005.• BATHELT, H; MALMBERG, A.;MASKELL, P. Clusters and knowledge: local buzz,

global pipelines and the process of knowledge creation. Progress in Human Geography 28,1, 2004, p.31-56

• COOKE, P.; DE LAURENTIS, C; TODTLING, F.; TRIPPL, M. Regional KnowledgeEconomies – Markets, Clusters and Innovation. Cheltenham, U.K: Edward Elgar, 2007.Cap.2

• ROCHA, H. Entrepreneurship and Development: The Role of Clusters. Small BusinessEconomics 23:363-400, 2004

• STORPER, M.; VENABLES, A.J Buzz:face-to-face contact and the urban economy.Journal of Economic Geography 4, 2004, p.351-370

Conhecimento e Território

Renata Lèbre La Rovere

Grupo Inovação – Instituto de Economia da UFRJ 4

Estrutura da Aula

O Papel dos Clusters (Rocha)

•Conceitos de Proximidade (Amin e Cohendet)

•Economia do conhecimento : conceitos e evidências (Cooke et

al.)

•Clusters e conhecimento (Bathelt et al.)

•Buzz na economia urbana (Storper e Venables)

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Rocha: Entrepreneurship and Development: the roleof clusters

• Questão: qual o papel que aglomerações de empresas

têm para o empreendedorismo e o desenvolvimento?

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Estudos sobre Clusters

Variedade de definições:

Aglomeração de empresas que produzem o mesmo produto

(Marshall, Arthur)

Grupo de indústrias interrelacionadas próximas

geográficamente (Porter)

Redes de pequenas empresas e instituições (Beccatini,

Saxenian)

Firmas que usam a mesma tecnologia (Wade)

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Estudos sobre Clusters - evolução

Final século XIX: estudos de Marshall apontam vantagens da

aglomeração e são ponto de partida para estudos sobre

clusters

5 traços principais:

1. Vantagens da aglomeração para economias de escala

2. Economias de especialização e eficiência

3. Proximidade como pré-condição para economias de

especialização

4. Spillovers, confiança e difusão de conhecimento

associados a aglomeração

5. Não explica por que aglomerações surgem

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Estudos sobre Clusters - evolução

Até 1970, prevalência grandes empresas reduziu interesse

em clusters

Exceções: Perroux (pólos de crescimento que valorizam

aspecto econômico clusters), Steiner (vantagens de cadeias

produtivas localizadas)

Anos 70/80 => emergência de:

a)estudos sobre distritos industriais italianos (Becattini,

Brusco, Garofoli) enfatizam duas dimensões:

•Sucesso de comunidades de empresas pequenas e ganhos

de eficiência associados a divisão tarefas

•Fatores históricos e socio-culturais

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Estudos sobre Clusters - evolução

b)Abordagem institucionalista dos clusters: ideia do New

Industrial Divide (Sabel e Piore)

Clusters apontados como uma nova forma organizacional,

que ocorre também em outras regiões – caso Alemanha

Mérito: apontar influência da localização no aprendizado

tecnológico (linha de pensamento que foi mais tarde

retomada por Ash Amin e outros)

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Estudos sobre Clusters - evolução

c) Escola Californiana de Geografia (Scott, Storper)

Apontam para vantagens dos clusters na redução de custos

de transação

Apontam para a existência de interdependências não

comercializáveis, tais como convenções, regras informais,

hábitos que coordenam os agentes econômicos

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Estudos sobre Clusters - evolução

A partir dos anos 90:globalização e inovação localizada

Literatura se divide em duas correntes principais:

1) Vantagens econômicas, seguindo a tradição de Marshall

(ex. Porter, Krugman)

2) Abordagem institucionalista, territorial, social e cultural

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Estudos sobre Clusters – vantagens econômicas

Porter define clusters a partir de vantagens econômicas mas

depois amplia abordagem para analisar aspectos geográficos

e setoriais

Krugman foca nos retornos crescentes de escala associados à

aglomeração (forças centrípetas) e propõe modelo de análise

de forças centrípetas e centrífugas (p.ex. preços terra,

fatores fixos de produção, deseconomias de escala)

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Estudos sobre Clusters – abordagem do territorio ede redes

Abordagem de redes: utiliza conceitos da sociologia tais como

enraizamento, redes sociais e interdependências não

comercializáveis

Correntes principais: spillovers de conhecimento (p.ex.

Audrestch), millieu inovador (p.ex. Camagni) e economia

do aprendizado (p.ex. Lundvall)

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Estudos sobre Clusters – abordagem institucional ecultural

Valoriza visão sistêmica (p.ex. DiMaggio e Powell, Saxenian)

Considera fatores institucionais, sociais e culturais mais

importantes que fatores econômicos

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Estudos sobre Clusters – Críticas

Estudos mostram que proximidade é importante apenas

quando arranjos institucionais e spillovers de

conhecimento são informais

Proximidade organizacional por vezes é mais importante que

proximidade geográfica

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Estudos sobre Clusters –Sintetizando

Diversidade de conceitos e pressupostos introduz “ruído” na

análise e impede que se possa afirmar que clusters

contribuem para o desenvolvimento

O que se pode dizer é que firmas em clusters têm melhor

desempenho

Se região só tem um ou dois clusters, lock-in pode ser

problema

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Estudos sobre Clusters –Sintetizando

Se cluster é só de uma indústria, também pode haver

problemas para o desenvolvimento industrial

Estudos mostram que high-tech clusters podem criar fortes

disparidades regionais

Políticas de apoio a clusters também pode intensificar

disparidades regionais

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Estudos sobre Clusters – Desafios

Diversas medidas de cluster

Impactos sobre empreendedorismo diferem de acordo com o

ciclo de vida das empresas e do cluster (clusters mais

maduros têm maior competição, o que desencoraja

criação de startups)

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Estudos sobre Clusters – Desafios

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Estudos sobre Clusters – Conclusões

Estudos sugerem associação positiva entre

empreendedorismo e crescimento econômico

Não é possível generalizar conclusões sobre impactos

positivos dos clusters sobre desenvolvimento e sobre

empreendedorismo

Ao nível da firma, clusters têm impacto positivo sobre

desempenho; ao nível regional, impactos podem ser

positivos ou negativos

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Amin e Cohendet: Geography of KnowledgeFormation in Firms

Espaço não é apenas territorial, como também organizacional

Anos 80 e 90:

• Foco nos sistemas nacionais de inovação e nos

elementos institucionais do território

• Estudos sobre clusters e vantagens das aglomerações

• Estudos sobre comunidades de prática

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Conceitos de Proximidade

• Estudos levam à noção de que território define

oportunidades dos empreendedores e capacidade de

inovação

• Mas não há nada que comprove a dualidade entre lugar

(aderente) e espaço (impessoal)

• O conceito de ba de Nonaka e Konno mostra que há

vários tipos de espaço de relacionamento

• Organizações modernas, ao reduzir distância cognitiva,

criam seus próprios espaços relacionais (ou

organizacionais)

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Conceitos de Proximidade

• O resultado é que a fronteira entre relações locais e

globais fica tênue

• Harris (1998) mostra papel organizações globais na

disseminação de valores comuns (exs. Companhia das

Indias, Companhia de Jesus durante as grandes

navegações)

• Como as organizações antigas, empresas modernas

globais funcionam em rede, têm mecanismos complexos

de governança

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Conceitos de Proximidade

• Organizações globais podem ficar aprisionadas em

trajetórias devido à acumulação de competências mas

também buscam inovar mobilizando e envolvendo suas

equipes

• Atributos de redes globais que levam à geração de

conhecimento apontados pela literatura sobre empresas

globais são os mesmos que são apontados na literatura

sobre clusters

• Portanto, é necessário levar em consideração os dois

tipos de proximidade: geográfica e relacional (ou

organizacional)

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Cooke et al.: The emergent knowledge economy

•Crescimento da literatura sobre economia do conhecimento

ou do aprendizado

•Debate suscitado por globalização e difusão das TICs

•Parte da literatura foca nos aspectos espaciais da economia

do conhecimento, em particular cluster high-tech, spillovers

locais e relações globais-locais

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Economia do Conhecimento

Diferentes formas de compreender economia do

conhecimento:

•Conhecimento como insumo

•Conhecimento como produto

•Conhecimento codificado

•Difusão do conhecimento via TICs

•Criação de conhecimento

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Economia do Conhecimento

•Economia do conhecimento não se refere apenas a setores

de base tecnológica

•Há limites à codificação e à difusão eletrônica do

conhecimento

•Distinção informação e conhecimento: informação se

constitui de conjuntos de dados passivos que são mobilizados

por conhecimento; conhecimento é capacidade cognitiva que

habilita seus possuidores para ação manual e intelectual

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Economia do Conhecimento

•Proximidade e geografia são importantes no processo de

inovação e de geração de conhecimento

•Várias abordagens sobre proximidade têm em comum a

constatação que economia do conhecimento tem distribuição

espacial desigual no espaço

•Duas visões de espaço: Marshall (externalidades positivas

de aglomerações especializadas) e Jacobs (externalidades

positivas de aglomerações diversificadas)

•Economia do conhecimento tem vários indicadores possíveis

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Bathelt et. al:Clusters and Knowledge

•Vários autores apontam para o conhecimento tácito como

sendo local e o conhecimento como sendo global

•Esta visão não explica por que interações e transações dentro

de um cluster podem ser limitadas

•Dicotomia tácito=local versus codificado=global deve ser

substituída por análise das relações de troca de conhecimento

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Clusters e conhecimento

Criação de conhecimento nas firmas se desenvolve de

diversas formas, dentro dos limites das competências

À medida que firma cresce estoque de conhecimento também

cresce e se torna menos coerente

Custos de coordenação e de mudança fazem com que firma

acabe se concentrando num leque de competências específico

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Clusters e conhecimento

Firmas multidivisionais, ao mesmo tempo que apresentam

tensões no desenvolvimento de inovações, podem ter

vantagens na combinação de ideias de vários campos

Mas à medida que inovações se esgotam devido ao foco das

competências da firma, firmas buscam cooperação com outras

firmas para desenvolver inovações

Esta cooperação tem limites dados pelo aumento da distância

cognitiva resultante da cooperação

Clusters podem ser modo de equilibrar criação de

conhecimento dentro e fora da firma

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Clusters e conhecimentoEstudos sobre clusters mostram que relações input-output

internas ao cluster são raramente expressivas

Quadro institucional, comunicação interfirmas e

desenvolvimento de competências localizadas nos clusters são

elementos decisivos para inovação e crescimento

Qualidade exclusiva do cluster: burburinho (“Buzz”)

Buzz consiste de informação específica, atualização de

informações, aprendizado não intencional em encontros

organizados e acidentais, aplicação de interpretações comuns a

respeito de tecnologias, compartilhamento de hábitos e

tradições dentro de determinado campo tecnológico que

contribuem para o estabelecimento de convenções e outros

arranjos institucionais

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Clusters e conhecimento

Buzz contribui para o estabelecimento de laços de confiança

Clusters podem se tornar catalisadores para o

estabelecimento de comunidades de prática

Porém, não há evidência empírica de que redes locais

prevalecem sobre redes globais

Redes externas ao território são importantes para transmitir

conhecimento

“Pipelines”: termo usado para designar canais de

conhecimento externo

Tanto buzz como pipelines são fundamentais na construção de

conhecimento do cluster

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Clusters e conhecimento

Firmas tendem a formar pipelines para complementar suas

competências específicas

Conhecimento que chega via pipelines será assimilado de

acordo com a capacidade de absorção da firma

Quanto mais desenvolvidas as pipelines, maior será a

qualidade do buzz

Há limites no número de pipelines que cada firma é capaz de

administrar

Implicações de política: estabelecimento de redes externas

deve ser encorajado para garantir sobrevivência do cluster no

longo prazo

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Buzz e economia urbana (Storper e Venables)

•3 forças por detrás da urbanização:

Ligações para frente e para trás entre empresas

Aglomeração da força de trabalho

Interações que promovem inovação tecnológica

•Nestas três forças, o contato cara a cara é importante

•Jacobs: cidades são ambiente variado

•Marshall: aglomerações permitem troca de conhecimento

•Questão: como esta troca se realiza no contato cara a

cara?

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Buzz e economia urbana

•3 forças por detrás da urbanização:

Ligações para frente e para trás entre empresas

Aglomeração da força de trabalho

Interações que promovem inovação tecnológica

•Nestas três forças, o contato cara a cara é importante

•Jacobs: cidades são ambiente variado

•Marshall: aglomerações permitem troca de conhecimento

•Questão: como esta troca se realiza no contato cara a

cara?

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Buzz e economia urbana

•Motivação para o contato cara a cara

Incentivos em projetos cooperativos

Formação de grupos

•Indivíduos num ambiente com buzz interagem e cooperam

com outros indivíduos de alta capacidade, estão aptos a

comunicar ideias complexas e são altamente motivados. Colher

estes benefícios requer co-localização em vez de interlúdios

ocasionais do contato cara a cara

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Buzz e economia urbana

Exemplos: projetos de C&T, interação universidade-empresa,

•Cidades apresentam fertilização cruzada entre redes de

empresas

•Cidades com buzz derivam sua força aglomeradora de

externalidades de aglomeração e desenvolvem atividades

intensivas em informação como: funções criativas e culturais;

serviços financeiros; pesquisa, ciência e tecnologia; atividades

de poder e influência ligadas ao setor público

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Buzz e economia urbana

•Conclusões:

•Duas forças contraditórias:

•Codificação conhecimento reduz necessidade do contato cara a

cara e permite localização de atividades industriais em regiões

remotas

•Surtos de inovação envolvem processos complexos e esforço

de coordenação