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IP-HGIS – Um Sistema de Informação Geográfica aplicado à História da Península Ibérica1
Daniel Alves2 e Josep Puig3
1. Introdução
A ideia para esta comunicação nasceu de uma parceria entre o Instituto de História
Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e o Departamento de Sociologia e Geografia da
Universitat de Lleida, com o objectivo de propor um Historical Geographical Information System
(HGIS) da Península Ibérica e disponibilizar essa ferramenta e os seus resultados à comunidade de
investigadores e a um público mais alargado através de um WebGIS.
No seio do Instituto de História Contemporânea um grupo de investigadores liderado por Luís
Espinha da Silveira tem desenvolvido desde 1993 um sistema de informação geográfica aplicado à
História de Portugal (SIGMA), com a criação de várias bases de dados com a evolução
administrativa de Portugal continental e ilhas, a que se foi juntando informação sobre censos
populacionais portugueses (de 1801 até à actualidade), bem como outros dados e estatísticas
históricas. O SIGMA, podendo ser considerado como o primeiro HGIS para Portugal, evoluiu em
2001 passando a estar presente na Internet através do site Atlas, Cartografia Histórica
(www.fcsh.unl.pt/atlas)4.
1 Esta comunicação foi elaborada no âmbito do projecto de investigação “The Development of European Waterways, Road and Rail Infrastructures: A Geographical Information System for the History of European Integration (1825-2005)” (WRR), integrado no programa EUROCORES da European Science Foundation e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. 2 IHC, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 1069-061 Lisboa, Portugal. [email protected] 3 Departamento de Sociologia e Geografia da Universitat de Lleida. [email protected] 4 Os primeiros resultados deste projecto foram apresentados na Ninth International Conference of the Association for History and Computing, em 1994, dando origem a várias publicações. Entre elas, veja-se Luís Silveira, Margarida Lopes e Cristina Joanaz de Melo, “Mapping Portuguese Historical Boundaries with a GIS”, in Onno Boonstra, Geurt Collenteur and Bart van Elderen (eds.), Structures and Contingencies in Computerized Historical Research, Hilversum, 1995, 245-252; Luís Silveira, Território e Poder. Nas Origens do Estado Contemporâneo em Portugal, Cascais, 1997; Luís Silveira (ed.), Os Recenseamentos da População Portuguesa de 1801 e 1849, Edição Crítica, Lisboa, 2001. A mesma equipa, recentemente, iniciou o processo de actualização do site Atlas, convertendo-o para uma solução informática open source, estando já acessível uma primeira versão através do endereço seguinte (http://www.fcsh.unl.pt/memorias).
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A equipa catalã, coordenada por Jordi Marti-Henneberg, tem trabalhado os dados dos censos
de Espanha (de 1840 até a actualidade), com base na cartografia actual, tendo produzido também
cartografia histórica sobre a evolução de grandes áreas administrativas do conjunto da Europa, bem
como estudos sobre a acessibilidade aos caminhos-de-ferro e sobre outros meios de transporte.
Destes estudos resultou a elaboração de um Historical GIS of Europe (HGISE), projecto ainda em
desenvolvimento (http://www.europa.udl.cat/hgise)5.
As duas equipas juntaram-se pela primeira vez no referido projecto WRR onde, aproveitando
as metodologias e trabalhos anteriormente desenvolvidos e parte dos dados recolhidos, têm
elaborado análises sobre a evolução dos caminhos-de-ferro e a sua influência na distribuição
populacional, a nível nacional, regional e europeu, para os séculos XIX e XX6. A oportunidade de
realização conjunta de estudos transfronteiriços, que a temática dos transportes veio introduzir,
permitiu pensar numa perspectiva diferente de análise espacial de determinados fenómenos que
superasse as realidades meramente nacionais, incrementando a área geográfica em estudo para o
nível peninsular.
Esta comunicação pretende, assim, apresentar uma primeira aproximação à metodologia de
compatibilização de dados cartográficos e alfanuméricos dos dois países, procurando elaborar, por
um lado, uma base de dados cartográfica que permita relacionar dados históricos com a informação
espacial de ambos os lados da fronteira e, por outro, um website onde possam ser representados 5 Jordi Martí-Henneberg, “Un balance del tren de alta velocidad en Francia. Enseñanzas para el caso español”, Elia, vol. 52, 2000, pp. 131–143; Jordi Martí-Henneberg, “Empirical evidence of regional population concentration in Europe, 1870-2000”, Population, Space and Place, vol. 11, n. 4, 2005, pp. 269-281; Jordi Martí-Henneberg, “The map of Europe: continuity and change in administrative boundaries (1850–2000)”, Geopolitics, vol. 10, n. 4, 2005, pp. 791–815. 6 Ian N. Gregory, Jordi Martí-Henneberg, Francisco J. Tapiador, “Modelling long-term pan-European population change from 1870 to 2000 by using geographical information systems”, Journal of the Royal Statistical Society: Series A (Statistics in Society), vol. 173, n. 1, 2010, pp. 31-50; Francisco J. Tapiador, K. Burckhart, Jordi Martí-Henneberg, “Characterizing European high speed train stations using intermodal time and entropy metrics”, Transportation Research Part A, vol. 43, n. 2, 2009, pp. 197–208; Luís Espinha da Silveira, Daniel Alves, Nuno Miguel Lima, Ana Alcântara e Josep Puig, “Population and Railways in Portugal (1801-1930)” (no prelo); Ana Alcântara e Nuno Miguel Lima, “Regional patterns of attractiveness and accessibility to railways in Portugal (1890-1930)”, comunicação aceite na 8th European Social Science History Conference, Abril de 2010; Luís Silveira e Daniel Alves, “The Construction of the Modern Transport Network and Regional Population Distribution in Portugal (1801-1940)”, comunicação aceite na 8th European Social Science History Conference, Abril de 2010.
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todos os dados, a diferentes escalas geográficas e divisões administrativas. Ao mesmo tempo, o
esforço agora desenvolvido tem como objectivo testar a viabilidade da construção de um WebGIS
com informação histórica para o conjunto da Europa, juntando as experiências das duas equipas de
investigação e aproveitando a sinergia do trabalho colaborativo realizado no projecto WRR.
2. Significado e evolução recente dos Historical GIS
Tendo em conta a evolução e o potencial dos SIG, têm sido muitas as áreas de conhecimento
que têm procurado a sua utilização e a incorporação de novas variáveis e metodologias, no sentido
de aproveitar para os respectivos estudos todas as capacidades de análise destes sistemas7. No que
diz respeito à aplicação dos SIG à História, ou Historical GIS, na versão inglesa, mais usada, o
principal esforço metodológico tem passado pela introdução e experimentação de um novo atributo,
a juntar à localização, extensão e volume que já são trabalhados pelos SIG, ou seja, com o
tratamento de informação histórica e a análise da evolução de séries de dados georeferenciados, os
investigadores têm procurado consolidar a componente temporal nos SIG8. Esta área de
investigação tem sido das mais dinâmicas dos últimos anos, pois a sua aplicação possibilita trazer
para as Ciências Históricas um conjunto de novas e poderosas ferramentas de análise, estimulando o
aparecimento de novas metodologias e a tentativa de resolução de problemáticas cada vez mais
complexas, numa área de estudo onde o espaço e o tempo são variáveis complementares e
estruturantes para a produção de conhecimento9.
7 A área da Saúde é uma das que tem publicado estudos sobre o contributo que os SIG podem dar para o desenvolvimento de novas metodologias de análise. Veja-se, meramente a título de exemplo, Donald Patrick Albert, Wilbert M. Gesler e Barbara Levergood (eds.), Spatial analysis, GIS, and remote sensing applications in the health sciences, 2000; Dirk U. Pfeiffer, Mark Stevenson, Timothy P. Robinson, Kim B. Stevens e David J. Rogers (eds.), Spatial Analysis in Epidemiology, Oxford, 2008. 8 Sobre a inclusão da dimensão temporal nos SIG veja-se Gail Langran, Time in geographic information systems, 1992, pp. 1-9; May Yuan, “Temporal GIS and Applications”, em Xiong, Hui (ed.), Encyclopedia of GIS, 2008, pp. 1147-1150. 9 Michael F. Goodchild, “Combining Space and Time: New Potential for Temporal GIS”, em Anne Kelly Knowles (ed.), Past time, past place: GIS for history, 2002, pp. 179-197; Anne Kelly Knowles, “Emerging trends in historical GIS”, Historical Geography, vol. 33, 2005, pp. 7-13.
4
Contudo, pode afirmar-se que a sua utilização não está ainda suficientemente disseminada, as
suas potencialidades não são ainda totalmente reconhecidas pela comunidade académica, em parte,
pelas dificuldades na planificação, criação e gestão de um projecto SIG e, em especial, na aplicação
desta ferramenta informática à informação histórica, por esta, muitas vezes, ser de complexa
utilização devido à ambiguidade intrínseca de alguns dos dados e ao facto de muitas das fontes
serem inconstantes e incompletas.
Fig. 1 – Exemplos de National Historical GIS
Apesar da sua relativa novidade e de alguns problemas com a qualidade e quantidade de dados
disponíveis, nos últimos anos, têm surgido vários projectos que procuraram retirar benefícios da
utilização dos SIG para a interpretação histórica, alguns com relativo sucesso. Em termos
geográficos os Estados Unidos e a Grã-Bretanha têm liderado este processo de elaboração de HGIS,
com um conjunto significativo de projectos, alguma bibliografia especializada e vários encontros
5
científicos e workshops sobre a temática, que têm possibilitado alguns avanços metodológicos
importantes10.
Por um lado, uma parte destes projectos assumiram-se numa vertente nacional, procurando
cobrir todo o território dos respectivos países em que se inseriam, através da elaboração de
cartografia de base, normalmente, com a caracterização e análise das fronteiras ou limites
administrativos e a sua evolução ao longo do tempo. Estão neste caso os projectos The Great
Britain Historical GIS, The US National Historical GIS ou The China Historical GIS (fig. 1)11.
Fig. 2 – Exemplos de Historical WebGIS
Por outro lado, têm proliferado cada vez mais projectos de investigação histórica ou
arqueológica que usam os SIG para o estudo das vertentes espaciais e temporais de determinados
acontecimentos ou conjunturas históricas, bem como para a análise estatística de algumas séries de
10 A título de exemplo, veja-se Anne Kelly Knowles, Past time, past place: GIS for history, 2002; Ian N. Gregory, A Place in History: A Guide to Using GIS in Historical Research, 2003; Ian N. Gregory e Paul Ell, Historical GIS technologies, methodologies, and scholarship, Cambridge, 2007; Anne Kelly Knowles e Amy Hillier, Placing history: how maps, spatial data, and GIS are changing historical scholarship, 2008. 11 Sobre esta temática veja-se Ian N. Gregory e Paul Ell, Historical GIS, pp. 186-189.
6
dados. Neste caso, as escalas e o âmbito dos projectos são muito variáveis no que diz respeito às
temáticas, espaços e cronologias abordadas. Podem resultar, por exemplo, num estudo sobre
acidentes hidrológicos históricos na região de Umbria, na Itália, com dados que cobrem o período
entre os séculos IX e XX (http://eventistoriciumbria.irpi.cnr.it/); podem procurar estudar em
pormenor a evolução de determinado fenómeno social, como é o caso dos tribunais de bruxaria da
cidade de Salem, nos Estados Unidos, levados a cabo nos finais do século XVII
(http://etext.virginia.edu/salem/witchcraft); podem ainda empreender estudos de longas séries de
dados, como é o caso de um projecto sobre a evolução da população urbana, a nível mundial, entre
1800 e a actualidade (http://www.e-geopolis.eu) (fig. 2).
Como é óbvio, os exemplos seleccionados são meramente indicativos, muitos outros poderiam
ser referidos, não esgotando, quer nas temáticas, quer no âmbito geográfico ou cronológico, as
potencialidades de utilização dos HGIS.
Fig. 3 – Historical GIS em funcionamento na Península Ibérica
7
A nível da Península Ibérica os projectos de aplicação dos SIG à História resumem-se, pelo
que foi possível apurar, aos já referidos SIGMA da equipa portuguesa, ao HGISE, desenvolvido
pela equipa espanhola e a um terceiro, o Atlas Histórico Digital do Alentejo, elaborado por uma
equipa multidisciplinar da Universidade de Évora com dados históricos regionais sobre o Alentejo,
entre o século XV e XX (http://www.cidehus.xdi.uevora.pt/index/). Contudo, se no caso dos dois
projectos portugueses é possível encontrar uma evolução no sentido da disponibilização via Web,
através de ferramentas que procuram colocar á disposição dos utilizadores um conjunto, mais ou
menos amplo, de funcionalidades de um SIG, no caso espanhol isso ainda não foi possível elaborar
e, até ao momento, não existe a nível público nenhum WebGIS que disponibilize dados anteriores a
1971, ano a partir do qual se podem encontrar os primeiros censos digitalizados (fig. 3).
Tendo em conta o que já foi apresentado sobre as tendências recentes relativas aos HGIS e aos
WebGIS que deles resultaram, poder-se-á colocar a questão de que um novo projecto nesta área
talvez possa não trazer nada de novo ao panorama existente. No entanto, é preciso esclarecer que
dos projectos actualmente existentes nenhum abarca mais do que um país, nenhum pode ser
verdadeiramente considerado supranacional, ou, quando o sejam, como acontece com o e-Geopolis
ou mesmo com o HGISE espanhol, a escala de análise e representação usada é maior e o nível de
detalhe cartográfico necessariamente mais reduzido. Neste último, por exemplo, as cartas com a
evolução das fronteiras regionais dos diferentes países europeus entre 1870 e 2000 nunca vão
abaixo do nível dos distritos, no caso de Portugal, ou das províncias para a Espanha. O mesmo
acontece quando se analisam os WebGIS, sendo que no caso da Península Ibérica, o único
efectivamente funcional e publicamente disponível é o Atlas, Cartografia Histórica.
Para além disso, aquela que julgamos ser a principal motivação e justificação para um novo
projecto de HGIS e WebGIS passa, sem dúvida, pela capacidade de análise que é potenciada pelo
facto de, em alguns casos, se poderem ignorar as fronteiras políticas entre os países e se levarem em
8
conta, na observação de fenómenos históricos e geográficos, outras lógicas, por vezes só
perceptíveis ou melhor entendidas a um nível regional. É preciso ainda pensar na soma de
capacidade analítica e na economia de escala na difusão de resultados gerada pela colaboração das
duas equipas, possibilitando igualmente a elaboração de novas e mais sofisticadas hipóteses de
estudo, antes difíceis de comprovar ou que não faziam muito sentido ser analisadas de forma
isolada. O primeiro exemplo de resultados que se podem obter com um estudo de âmbito ibérico,
apresentado mais à frente, julgamos dar plena razão a estes argumentos.
3. Metodologia de compatibilização e integração de dados
O nosso projecto pretendia, assim, unir a cartografia e respectivos dados georeferenciados de
Portugal e Espanha, no sentido de realizar estudos em conjunto ao nível da Península Ibérica. Para
realizar este intento foi preciso levar em conta diferentes aspectos e problemas decorrentes, em
grande medida, da não adopção de standards cartográficos ou de um sistema de metadados
compatível. O tratamento destas questões resulta, no fundo, na elaboração de uma metodologia de
compatibilização e partilha de dados que se pode dividir em três vertentes principais: a metodologia
cartográfica para a obtenção de mapas de base únicos para a Península Ibérica, mas mantendo todo
o detalhe e informação de cada um dos países; a construção de uma base de dados que permita a
recolha e análise da informação trabalhada por ambas as equipas e a sua ligação aos mapas
incluídos no HGIS; por fim, a elaboração de uma estrutura WebGIS que permita uma integração
simplificada e segura dos dados das duas equipas, através da qual seja possível disponibilizar as
informações estatísticas e cartográficas, servindo como um protótipo para um futuro
desenvolvimento a nível europeu.
9
3.1. Cartografia
Criar um mapa único da Península Ibérica representa um conjunto de dificuldades que, à
priori, não são evidentes pela mera visualização do mapa final. A união de dados espaciais com
grande detalhe, mas com diferentes níveis de generalização, construídos em momentos e por
organismos diferentes fazem, por exemplo, com que as zonas fronteiriças apresentem erros,
normalmente conhecidos como sobreposições e vazios. Erros que tornam complexa e difícil a tarefa
de harmonização de dados cartográficos12.
Os shapefiles com as divisões administrativas de Portugal que constam do SIGMA foram
elaborados usando a Base Geográfica de Referenciação de Informação de Portugal de 1991 (BGRI
1991), adquirida ao Instituto Nacional de Estatística (INE). Os ficheiros vectoriais com as divisões
espanholas foram obtidos através do portal Infraestructuras de Datos Espaciales Españoles (IDEE),
a partir da Base de Datos Líneas Límites (BDLL25) de 2001.
A diferença de anos nos mapas de base é explicada pelo facto do projecto português ter sido
iniciado em meados da década de 1990 e, desde então, já ter sido produzida cartografia histórica
com os limites administrativos, dos últimos 250 anos, usando o mapa à época disponível que era o
de 1991. No entanto, no decorrer do projecto será feita a migração da cartografia e dos dados para a
CAOP2001, mais detalhada, processo já iniciado com os exemplos adiante apresentados, de forma a
poder compatibilizá-lo com a cartografia espanhola e com os últimos dados dos censos
populacionais disponíveis.
Depois de uma verificação dos mapas e da topologia dos dois países em separado, foram os
mesmos reunidos realçando-se logo a necessidade de transformar as diferentes coordenadas
geográficas usadas, uma vez que as de Portugal tinham o Datum_Lisboa_Hayford e as de Espanha o
D_European_1950. Para a compatibilização das duas bases cartográficas foi usado um sistema de
12 Ian N. Gregory e Paul Ell, Historical GIS…, pp. 82-87. Sobre a dificuldade de harmonização de dados geográficos a nível europeu veja-se ainda o que é referido no site do projecto GIS4EU (http://www.gis4eu.eu/).
10
referência de coordenadas comum ao espaço europeu, a European Terrestrial Reference System
1989 (ETRS89), norma que está a ser adoptada por diferentes países membros da União Europeia.
A sua origem remonta a uma resolução tomada em 1990 pela EUREF, a subcomissão da
Associação Internacional de Geodesia, tendo sido adoptada pela Comissão Europeia em 199913.
Depois de convertidos os mapas para o mesmo sistema de referências geográficas, procedeu-
se a uma operação de overlay, de modo a criar um mapa geral para a Península Ibérica, verificando-
se a existência de slivers, áreas sobrepostas nas fronteiras entre os dois países, e também de gaps,
áreas vazias entre as duas fronteiras (fig. 4). Como o nível de detalhe dos mapas portugueses era
superior, estando os seus limites menos generalizados, e como a equipa portuguesa havia
previamente construído toda a sua cartografia histórica com base no mesmo mapa, foi decidido
“alterar” a fronteira espanhola de modo a que se pudesse adaptar à do shapefile de Portugal.
Fig. 4 – Erros no overlay dos shapefiles de Portugal e Espanha (pormenor)
Contudo, é necessário destacar que o erro introduzido por esta operação é diminuto,
praticamente negligenciável, pois as fronteiras encaixavam relativamente bem, nunca ultrapassando
as diferenças entre ambas uma distância superior a 100 metros lineares. Os cálculos efectuados
13 European Terrestrial Reference System 89, 2008, http://www.euref.eu/, consultado em Dezembro de 2009; “Real Decreto 1071/2007 de 27 de Júlio”, in Boletin Oficial del Estado, n.º 207, 2007; Mapping Reference, 1996, Map Projections for Europe, http://www.mapref.org/Annonietal.2003-MapProjectionsforEurope.html, consultado em Dezembro 2009.
sliver
gap
11
permitiram verificar que o total da área abrangida pelos slivers, que corresponde à área do território
espanhol que se “perde” com a operação de correcção do overlay, era de 20,86 km2 e que a área que
Espanha teoricamente “ganha”, a área dos gaps, é de 24,03 km2. Sendo certo que o processo e as
áreas calculadas se distribuem pela totalidade da fronteira, no cômputo final, a área total de Espanha
é acrescida em uns meros 3,17 km2 que representam menos de 0,0007% da sua área total14.
O resultado desta operação é um mapa da Península Ibérica ao nível das freguesias, no caso
português, e dos municípios, no caso espanhol. Foi decidido realizar o overlay e respectiva
correcção com estas divisões administrativas por serem as mais pequenas para os dois países,
possibilitando depois a reconstituição das restantes já com um mapa único e corrigido. Contudo,
também neste caso podem ser levantadas questões de comparabilidade de dados, pois os níveis
administrativos de Portugal e Espanha não são, histórica e actualmente, directamente comparáveis
em termos das suas áreas médias. Da maior para a menor extensão e do nível político-
administrativo superior para o inferior, existem em Portugal Distritos, Concelhos e Freguesias e
para Espanha Comunidades Autónomas, Províncias e Municípios.
Se optássemos pela designação oficial, talvez fizesse sentido comparar concelhos portugueses
(também conhecidos por municípios) com os municípios espanhóis. Porém, sendo o objectivo
estudar a distribuição espacial e histórica de várias séries de dados, como os censos populacionais,
por exemplo, era aconselhável adoptar escalas político-administrativas diferentes, mas com escalas
geográficas mais aproximadas. A verificação visual e por áreas médias dos vários mapas e níveis
administrativos permitiu chegar à conclusão que, para estudos estatísticos comparativos, só parecia
metodologicamente aceitável a utilização de dois níveis: a combinação dos distritos com as
províncias e das freguesias com os municípios (fig. 5 e tabela 1).
14 Aqui calculada sem as Canárias, mas com todas as ilhas mediterrânicas e possessões em África = 497964,84 km2.
12
Fosse qual fosse a comparação entre as áreas médias, a diferença entre os dois países era
sempre assinalável, pelo que foram escolhidas aquelas duas combinações, não só, por serem as que
apresentavam uma relação de proporcionalidade mais elevada (sendo 1 = a áreas médias
exactamente iguais), mas também porque a verificação visual dos dois mapas permitiu inferir da
relativa adequação espacial das opções tomadas.
Fig. 5 – Comparação visual das divisões administrativas (Distritos portugueses / Províncias espanholas; Freguesias portuguesas / Municípios espanhóis)
Tabela 1 – Comparação das áreas médias das divisões administrativas (Km2)
Portugal Espanha Distritos 4946,88 CCAA 31119,74 Concelhos 323,80 Províncias 10168,57 Freguesias 22,19 Municípios 48,68
Comparação Distritos/CCAA 0,2 Distritos/Províncias 0,5 Municípios/Concelhos 0,2 Freguesias/Municípios 0,5
3.2. Base de dados
Os SIG são sem dúvida ferramentas poderosas de análise de informação, com potencialidades
conhecidas e variadíssimas aplicações, no que diz respeito à análise de informação geográfica.
Contudo, são sistemas ainda com algumas limitações em relação ao tratamento de dados que exijam
uma abordagem relacional mais complexa. Quando a estas duas dimensões, informacional e
13
geográfica, se junta uma terceira, que é o tempo (variável central na análise histórica), tudo se
complica, multiplicando-se as relações, gerando conjuntos de dados onde são mais as excepções
que as regras, as arbitrariedades do que os padrões. Para ultrapassar estes problemas têm sido
propostos vários modelos para dotar os SIG de capacidade de análise espácio-temporal15.
Podemos apontar três dificuldades principais em criar um sistema que permita o registo e
análise de informação histórica: por um lado, o facto dos dados associados a uma localização
geográfica variarem ao longo do tempo; por outro lado, a própria evolução das localizações ou
representações geográficas pois, também elas podem sofrer alterações; por fim, a forma de
tratamento de dados não georeferenciados ou de difusa localização, algo bastante comum à medida
que se recua no tempo e se lida com informação parcelar ou incompleta, problema quase quotidiano
no ofício de historiador16. Para além disso, é conveniente prever um sistema suficientemente
maleável que permita a introdução de novas variáveis, de novas localizações geográficas ou novas
tipologias de dados, acomodando as subtilezas geradas pelas mudanças de objecto de estudo que
podem resultar da realização de um novo projecto de investigação histórica ou da inclusão de
projectos e dados de outras equipas de investigação.
A solução que adoptámos para ultrapassar estas dificuldades passou por centrar todo o sistema
num modelo de base de dados construído de raiz, suficientemente flexível para que permitisse a
integração de novos dados sem a necessidade de estar constantemente a fazer alterações
significativas na estrutura ou arquitectura do sistema. Além disso, o sistema foi pensado para uma
fácil integração online, com a possibilidade de uma actualização em tempo real e de forma
suficientemente simplificada de modo a poderem ser executadas por qualquer investigador ligado 15 Uma boa introdução aos vários modelos pode ser encontrada em May Yuan, “Temporal GIS and spatio-temporal modeling”, em Proceedings of the 3rd International Conference on Integrating GIS and Environmental Modeling, Sante Fe, New Mexico, USA, 1996, pp. 21-26. 16 Para uma discussão sobre estes aspectos veja-se, entre outros, Suzana Dragicevic, Danielle J. Marceau, Claude Marois, “Space, time, and dynamics modeling in historical GIS databases: a fuzzy logic approach”, Environment and Planning B: Planning and Design, vol. 28, n. 4, 2001, pp. 545-562; Ian N. Gregory, “The accuracy of areal interpolation techniques: standardising 19th and 20th century census data to allow long-term comparisons”, Computers, environment and urban systems, vol. 26, n. 4, 2002, pp. 293-314.
14
ao projecto, sem o recurso a um técnico especializado na manutenção de sistemas de informação
complexos17.
A base de dados foi criada em PostgreSQL e pensada para responder a três objectivos centrais.
Primeiro, como é óbvio, tinha que ser suficientemente potente para conseguir armazenar uma
variedade e quantidade de informações que, à partida, era muito difícil de prever a exacta extensão.
Depois teria de permitir registar e identificar as relações hierárquicas que se estabelecem entre os
vários elementos espaciais (ex: a que concelho ou concelhos pertencem certo número de freguesias;
ou quais são os vários troços constituintes de uma determinada linha de caminho-de-ferro). Por fim,
teria de possibilitar uma visão diacrónica das informações e da geografia, registando as alterações
ocorridas nos elementos espaciais e nos dados a eles associados entre dois ou mais momentos
específicos (fig. 6).
Fig. 6 – Esquema da base de dados
17 A arquitectura do sistema foi planeada e construída em colaboração com o Eng.º José Santos que, em 2009, em representação da equipa de investigação portuguesa, apresentou um poster na primeira Open Source GIS UK Conference, com o título “Historical Atlas: Extensible and adaptable WebGIS to disseminate historical data”. No entanto, a perspectiva de interoperabilidade de dados tem sido uma das apostas de desenvolvimento do projecto SIGMA. Cf. Rui Lopes, “Historical geographic data dissemination through the web: the site Atlas and future developments towards its interoperability”, em Humanities, Computers and Cultural Heritage. Proceedings of the XVIth international conference of the Association for History and Computing, Amsterdam, 2005, pp. 190-193.
15
3.3. WebGIS
A integração dos dados com a cartografia produzida pelo SIG e guardada em formato
shapefile, possibilitando a sua disponibilização através da Web, foi feita recorrendo a um conjunto
de open source software instalado num servidor a correr o sistema operativo Linux e configurado
com tecnologia Apache HTTP Server. Tal como a base de dados, todos os shapefiles produzidos no
âmbito do projecto são colocados no servidor. Cada ponto, linha ou polígono é ligado à base de
dados através de um ID único. O próprio shapefile é registado e identificado na base de dados,
possibilitando assim uma relação unívoca entre a cartografia e a informação alfanumérica
associada.
Para a gestão da visualização dos mapas e dados foi usado o CartoWeb como aplicação de
geração da interface WebSIG. Sendo um software que recorre ao UMN MapServer para a
conversão de mapas vectoriais (shapefiles) em mapas bitmap (gif, png), tem a vantagem de permitir
trabalhar directamente com os ficheiros shapefile originais, evitando a necessidade de recorrer a
generalizações, normalmente adoptadas nesta passagem para a Web, sem perdas significativas de
eficácia em termos de processamento e disponibilização da informação aos utilizadores finais (fig.
7).
Fig. 7 – Arquitectura do WebGIS
16
Ao sistema podem ainda ser associados vários ficheiros multimédia, como imagens, PDFs,
documentos, vídeos, ou outros, igualmente guardados no servidor Web e ligados aos mapas, à
correspondente referência espacial, através de urls inseridos na base de dados.
A configuração das ligações entre a base de dados, os shapefiles e a aplicação WebSIG é feita
através de um conjunto de ficheiros editáveis com recurso a um qualquer processador de texto,
tornando a tarefa de actualização de toda a aplicação relativamente simples. O mesmo acontece com
os shapefiles que podem ser criados e corrigidos numa aplicação SIG genérica, open source ou
proprietária, e depois colocados no servidor através de uma ligação FTP encriptada, procedendo
desta forma à sua actualização/integração no sistema. Do mesmo modo, a inserção e actualização de
informação na base de dados pode ser realizada através de uma aplicação informática mais
vulgarizada, como o Access da Microsoft, por exemplo, usando uma ligação ODBC encriptada,
tornando a manutenção do PostgreSQL acessível a um utilizador sem grande experiência na gestão
de sistemas de base de dados (fig. 7).
Uma versão funcional deste sistema está disponível no site Memórias Paroquiais de 1758,
onde se pode visualizar a reconstituição das divisões administrativa e religiosa portuguesas para
meados do século XVIII e através da qual é disponibilizada informação alfanumérica e imagens
digitalizadas daquela documentação depositada no Arquivo Nacional (Torre do Tombo).
4. Conclusão
A fase de implementação do projecto está já suficientemente avançada para que seja possível
apresentar um primeiro exemplo da sua aplicação. Nesse sentido, procurou-se comprovar uma
hipótese lançada num trabalho anterior relativamente ao padrão de distribuição da população em
17
Portugal, testando-a agora com dados dos censos de 1910/191118 e 2001 ao nível da Península. Para
tal foram utilizados os limites administrativos ao nível da freguesia/município, com dados sobre a
população residente, em cada país, para cada uma das datas. Foi depois calculada a densidade
populacional, variável representada nos mapas da figura 8.
Fig. 8 – Densidade populacional na Península Ibérica por freguesias (Pt) e municípios (Es)19
18 Para Portugal, os dados correspondem a censo de 1911. Para Espanha, os dados disponíveis dizem respeito a 1910. Cf. Joaquín Azagra Ros, La localización de la población española sobre el território. Un siglo de câmbios. Un estudio basado en series homogéneas (1900-2001), Bilbao, Fundación BBVA, 2006. 19 Fontes: Joaquín Azagra Ros, La localización de la población española sobre el território; Luís Espinha da Silveira et al., “Population and Railways in Portugal (1801-1930)”.
18
A hipótese lançada inicialmente assentava na observação de que a litoralização da população
portuguesa era, não só, um fenómeno com raízes que recuavam, pelo menos, ao início do século
XIX, como também, era algo que provavelmente só seria convenientemente compreendido quando
se analisasse a Península Ibérica como um todo. A tendência de reforço da população nas regiões
costeiras em detrimento do interior seria assim comum aos dois países, algo que já tinha sido
testado com êxito para a Espanha, para todo o século XX, e para Portugal, para o período
compreendido entre 1801 e 1930. A vantagem introduzida pelo nosso projecto é que agora é
possível juntar as duas séries de dados e mostrar, de forma realmente comparável, os resultados a
nível peninsular20.
Deste modo, observando a figura 8 é possível afirmar que os dois países, no último século
estavam a sofrer uma litoralização da população, sendo Madrid a grande excepção a este panorama,
derivado daquilo que se convencionou chamar de “gran imán capitalino”21. No fundo, também em
Portugal estava a ocorrer fenómeno semelhante, com a diferença de que a capital lusa também está
no litoral. Esta concentração da população é praticamente comum a todo o litoral da Península
Ibérica, com a costa alentejana a ser a única região a fugir à tendência geral. Embora não de modo
tão pronunciado, nota-se ainda uma concentração da população nos vales do Ebro, do Guadalquivir
e ao longo do Tejo.
Com a aplicação da tecnologia SIG, combinando os saberes das ciências histórica e
geográfica, esperamos contribuir para a disponibilização de uma ferramenta de análise que sirva
como mecanismo de produção de novas hipóteses de trabalho e investigação que antes não estavam
20 Juan Pons Izquierdo, Dolores López, Carolina Montoro Gurich, “Del interior a la costa: dinámica espacial de la población española a lo largo del siglo XX”, in VII Congresso de la Asociación de Demografía Histórica, Granada, 2004, p. 8; Luís Espinha da Silveira et al., “Population and Railways in Portugal (1801-1930)”. Aliás, uma tendência semelhante é possível observar-se para a França. Cf. Jordi Martí-Henneberg, “Empirical evidence of regional population concentration in Europe, 1870-2000”, pp. 272-273. 21 Joaquín Azagra Ros, La localización de la población española sobre el território, pp. 18 e 109.
19
contempladas a nível peninsular, podendo funcionar como um protótipo para um futuro
desenvolvimento de um modelo semelhante a aplicar ao conjunto da Europa.
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