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10º Colóquio de Moda 7ª Edição Internacional 1º Congresso Brasileiro de Iniciação Científica em Design e Moda 2014 O GRITO DA JUVENTUDE: CONSUMO CONTEMPORÂNEO The cry of youth: Contemporary consumption Roberto, Cristina; Mestrando; EACH; [email protected] 1 RESUMO Esta pesquisa propõe uma reflexão sobre as convergências entre a moda, a música e o consumo, ressaltando a influência da “indústria cultural” na sociedade capitalista contemporânea. Faz-se um paralelo com o pop rock nacional, que nos dará suporte para discorrer sobre o consumo de moda e de outros produtos que servem como passaporte de inserção social do sujeito. Palavras-chave: Moda. Música. Consumo. Indústria Cultural. Abstract This research proposes a reflection on the convergence between fashion, music and consumption, emphasizing the influence of "cultural industry" in contemporary capitalist society. Makes a parallel with the national pop rock that will give us support to discuss the consumption of fashion and other products that serve as passport social inclusion of the subject. Keywords: Fashion. Music. Consumption. Cultural Industry. Introdução Levando em consideração a importância da difusão da moda e da música como manifestação cultural que influencia a formação identitária dos jovens, este estudo tem o interesse de verificar e explicitar essa relação, 1 Aluna especial do programa de mestrado Têxtil e Moda (EACH); especialista em comunicação e cultura de moda (Centro Universitário Belas Artes de São Paulo); graduada em Artes Plásticas (UBC), microempresária no ramo de confecção de produtos de moda, atua como designer de produto.

Grito Da Juventude Novo

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O GRITO DA JUVENTUDE:CONSUMO CONTEMPORÂNEO

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    1 Congresso Brasileiro de Iniciao Cientfica em Design e Moda

    2014

    O GRITO DA JUVENTUDE:

    CONSUMO CONTEMPORNEO

    The cry of youth:

    Contemporary consumption

    Roberto, Cristina; Mestrando; EACH; [email protected]

    RESUMO

    Esta pesquisa prope uma reflexo sobre as convergncias entre a moda, a msica e o consumo, ressaltando a influncia da indstria cultural na sociedade capitalista contempornea. Faz-se um paralelo com o pop rock nacional, que nos dar suporte para discorrer sobre o consumo de moda e de outros produtos que servem como passaporte de insero social do sujeito. Palavras-chave: Moda. Msica. Consumo. Indstria Cultural.

    Abstract This research proposes a reflection on the convergence between fashion, music and consumption, emphasizing the influence of "cultural industry" in contemporary capitalist society. Makes a parallel with the national pop rock that will give us support to discuss the consumption of fashion and other products that serve as passport social inclusion of the subject. Keywords: Fashion. Music. Consumption. Cultural Industry.

    Introduo

    Levando em considerao a importncia da difuso da moda e da

    msica como manifestao cultural que influencia a formao identitria dos

    jovens, este estudo tem o interesse de verificar e explicitar essa relao,

    1 Aluna especial do programa de mestrado Txtil e Moda (EACH); especialista em comunicao e cultura de moda (Centro Universitrio Belas Artes de So Paulo); graduada em Artes Plsticas (UBC), microempresria no ramo de confeco de produtos de moda, atua como designer de produto.

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    conduzindo a um dilogo que acreditamos ser pertinente para identificar as

    transformaes que ocorreram ao longo dos anos 1980 at os dias atuais.

    Aps duas dcadas da popularizao do rock no Brasil ainda podemos

    perceber sua forte influencia como identificador do comportamento da

    juventude, especificamente visto pela forma de vestir como marca ou como

    codificadora da manifestao jovem que estabelece relao com aspectos

    polticos, sociais, culturais e econmicos de cada poca.

    possvel notarmos a intensa valorizao do rock como produto de

    consumo ao analisarmos os programas da televiso brasileira, seja por meio de

    trilhas sonoras de novelas, ou pela presena de cantores remanescentes do

    movimento BRock2 em concursos musicais, ou ainda em seriados voltados ao

    publico jovem, podemos citar como exemplo a novela teen Malhao exibida

    na rede globo de televiso desde o ano de 1995, e que hoje est em sua

    vigsima primeira temporada, e em, seu dcimo segundo tema de abertura, no

    qual em onze deles foi utilizado o rock nacional, e ainda em cada temporada

    um ncleo de personagens especficos voltados ao pblico rocker.

    Assim esta pesquisa tem como principal intuito analisar parte da

    trajetria do rock nacional e suas manifestaes contrrias massificao

    cultural bem como ao consumismo e a influncia da mdia na formao dos

    sujeitos, que paradoxalmente, ao assumirem a ruptura com padres existentes

    torna-se um produto miditico pronto para assumir seu lugar no mercado.

    ... o rock um gnero musical que se desenvolve e se estabelece a partir da ruptura com os padres existentes, no s na msica, mas em todas as formas paralelas de expresso. Alm da msica, por exemplo, a principal delas a roupa. essa mesma roupa que codificada pela mdia, passa a ser difundida como um suporte necessrio da msica. Depois, decodificada pelos agentes do mercado cultural, passa a ser vista e entendida a partir do significado que lhe imputam. Nesse sentido, acaba transformada em modelo de consumo padronizado, necessariamente vinculada ao estilo que a determinou.(Tup Gomes Corra 1989, p.100).

    2 Sigla criada pelo jornalista Arthur Dapieve, para descrever o rock brasileiro da dcada de 1980.

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    A relevncia desta pesquisa se d justamente por meio desse

    contraditrio dilogo, no qual procuramos salientar a importncia da msica e

    da moda como expresso cultural, que com a influncia da mdia contribuiu

    para a determinao do comportamento jovem da atual sociedade

    consumidora. Ressaltamos que o consumo de moda e de bens culturais como

    a msica urbana contempornea, influencia a formao identitria dos

    indivduos que cantam, protestam, reclamam, porm, tambm vendem e

    compram determinados produtos, assumindo seu papel na sociedade

    capitalista.

    Com os ouvidos atentos ao rock nacional preciso ouvir muito mais que

    sons de guitarras, baterias e violes, neste caso ser preciso analisar o

    contedo das letras, alm de bibliografias e documentos, para que assim

    possamos explicitar de maneira descritiva parte dos acontecimentos histricos

    e culturais representados por meio de expresses jovem, como a msica e a

    moda.

    MODA E ROCK NACIONAL

    Em meio a uma mistura de cores ctricas, ombreiras, polainas, cabelos

    volumosos e calas de cintura alta, a cultura pop comeava a ganhar fora. A

    cantora Madona passa a ser um cone mundial demonstrando a relao entre a

    moda e a msica, porm os movimentos musicais opositores cultura pop

    tambm cresciam. O heavy metal, new wave e o punk rock eram os estilos

    musicais mais ouvidos no mundo, inclusive aqui no Brasil. Assim o rock

    nacional entrava em cena direcionando esse turbilho de acontecimentos a

    contestaes tanto sociais quanto polticas, exprimindo toda a sua sede por

    mudanas.

    Eu presto ateno no que eles dizem/Mas eles no dizem nada Fidel e Pinochet tiram sarro de voc que no faz nada/E eu comeo a achar normal que algum boal atire bombas na embaixada/Se tudo passa talvez voc passe por aqui/E me faa esquecer tudo que eu fiz/Toda forma de poder uma forma de morrer por nada/Toda forma de conduta se transforma numa luta armada/A histria se repete, mas

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    a fora deixa a histria mal-contada/Se tudo passa talvez voc passe por aqui/E me faa esquecer tudo que eu fiz/O fascismo fascinante, deixa a gente ignorante e fascinada/ to fcil ir adiante e esquecer que a coisa toda t errada/Eu presto ateno no que eles dizem, mas eles no dizem nada/Se tudo passa talvez voc passe por aqui E me faa esquecer tudo que eu fiz. (msica Toda Forma de Poder. Compositor: Gessinger. lbum Longe Demais das Capitais. Banda Engenheiros do Hawaii. 1986).

    Com o xodo rural intensificado nos anos de 1980, as periferias inflaram,

    e ali estava uma legio de jovens, sedentos por novidades que pudessem

    servir como referncia de identificao. Foi assim que o rock nacional parece

    ter se consagrado, pois, alm das letras dizerem o que eles possivelmente

    gostariam de dizer, a moda que caracterizava o estilo era acessvel, a camiseta

    branca, o jeans surrado, ao contrario da moda pop, como a jaqueta de couro

    vermelha do Michael Jackson, ou a saia de tule com a meia arrasto da

    cantora Madona. Contudo, o rock, caracteriza-se por ser um gnero de periferia

    e tem, sobretudo, nos movimentos sociais de protesto seu principal veculo de

    difuso. (...) Movimentos sociais de protesto so manifestaes ocorridas fora

    desse centro de criao e buscam como instrumento de ruptura dos padres

    convencionais, os gneros musicais de periferia. (CORRA, 1989, p. 39)

    A moda ter um papel fundamental na construo e expresso dessas

    novas identidades que surgiam na poca e tambm nas relaes de consumo,

    tornando-se um modelo de ideais que deixa de seguir os padres da criao

    dos atelis de alta costura franceses para inspirar-se, cada vez mais, na

    produo cultural urbana. O cinema, a msica, a televiso e a literatura

    passaram a ser fonte da criao de moda fazendo a difuso de novos estilos

    como os rockers, beatniks, hippies, skinheads, punks, gticos, funkeiros,

    rappers. Esses novos estilos possuem uma nova esttica, uma nova tica, uma

    concepo de mundo diferente e tambm, muitas vezes, uma proposta de

    transformao desse mundo.

    O vesturio deve ser observado quando inserido em um determinado meio social, no qual se manifesta como uma das mais espetaculares e significativas formas de expresso presentes no processo cultural, configurando-se plenamente como meio de manipulao, persuaso, sano, ao ou perfrmance e, por conseguinte, articulador de

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    diferentes tipos de discursos: polticos, potico, amoroso, agregador, hierrquico, etc. (Kathia Castilho, 2009, p. 90).

    O ROCK, A INDSTRIA CULTURAL E O CONSUMISMO:

    Segundo Lipovetsky (2009) o termo consumismo ir manifestar-se como

    um conjunto de regras para o entendimento de varias questes sobre o

    desenvolvimento da sociedade moderna, principalmente no contexto cultural e

    social contemporneo, bem como a interpretao dos indivduos sobre

    expectativas em relao ao futuro. A mudana nos padres de consumo

    geram, segundo o autor, problemas na sociedade, no s na economia ou

    ecologia, mas tambm uma crise na formao das identidades dos indivduos.

    O autor afirma ainda que a moda propulsora no desenvolvimento e

    crescimento do consumo, pois proporciona ao individuo uma identidade

    singular, a conscincia de ser um indivduo com destino particular, modificando

    as ideologias tradicionais, arremetendo ao entusiasmo de ser nico.

    Para o rock nacional a caracterstica de unicidade da sociedade

    consumidora era contraditria, pois s se consumia o que era divulgado e

    ofertado atravs dos meios de comunicao de massa. Na letra Gerao

    Coca-Cola, de Renato Russo evidencia-se uma critica aos meios de formao

    e informao influenciados pelo mercado americano, que emanavam uma

    cultura massiva que fazia parte do cenrio cultural e poltico da poca,

    demonstrando a passividade frente ao consumo de enlatados nome que aqui

    no Brasil se da tanto a comidas consideradas no saudveis quanto a seriados

    americanos para televiso.

    Quando nascemos fomos programados/A receber o que vocs nos empurraram/Com os enlatados dos USA, de 9 as 6./Desde pequenos ns comemos lixo/Comercial e industrial/Mas agora chegou nossa vez/Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocs / Somos os filhos da revoluo/Somos burgueses sem religio/Ns somos o futuro da nao/Gerao Coca-Cola. Depois de vinte anos na escola/No difcil aprender/Todas as manhas do jogo sujo/No assim que tem que ser?/Vamos fazer nosso dever de casa/E a ento, vocs vo ver/Suas crianas derrubando reis/Fazer comdia no cinema /com as suas leis./Somos os filhos da revoluo/Somos burgueses sem religio/Ns somos o futuro da nao/Gerao Coca-Cola. (Gerao

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    Coca-Cola letra de Renato Russo. 1978. lbum Legio Urbana, 1985).

    Na viso de Bauman (2008), antes, a sociedade de produtores investia

    em bens durveis como uma forma de preservar recursos para o futuro. A

    sociedade de consumidores passou a ser imediatista aonde as consequncias

    vo, desde o excesso e o desperdcio econmico, desvalorizao dos laos

    sociais e familiares. Laos estes que antes garantiam ao sujeito

    relacionamentos slidos; porm, com o crescimento do consumo os sujeitos

    tornaram-se hedonistas, transformando a si prprios em mercadoria, como

    aponta a msica da banda Plebe Rude.

    H uma espada sobre a minha cabea/ uma presso social que no quer que eu me esquea/Que eu tenho que trabalhar que tenho que estudar/que tenho que ser algum/que eu no posso ser ningum/H uma espada sobre a minha cabea uma presso social/que no quer que eu me esquea Que a minha vitria a derrota de algum/e o meu lucro a perda de algum (Presso Social (mais Raiva do Que Medo) Plebe Rude, Letra: Andr X lbum Nunca Fomos To Brasileiros, 1986).

    Conduzindo esta linha de raciocnio para a realidade cultural brasileira,

    especificamente para os anos 1980, expandia-se em nosso pas, a esta poca,

    a vendagem de discos. Por mais que no desenvolvimento deste trabalho sejam

    citados trechos de letras de msica, em que se abordam temas polticos e

    sociais, o msico do mundo capitalista no ficar para trs quando o objetivo

    a necessidade do lucro. O cantor Renato Russo, por exemplo, em um show

    acstico para o canal MTV, ao divulgar algumas msicas do ltimo lbum,

    intitulado V no caso, o quinto lbum da banda Legio Urbana, provoca os

    fs na plateia que pedem os sucessos dos primeiros discos, dizendo: Quem

    que j comprou o disco (o disco novo)? P, a crise t maus [sic] hein...

    gente, compra o disco, ajuda! N? assim, enquanto o disco no chegar a

    250, 300 (mil cpias vendidas), a gente no vai fazer show. (O pblico reclama

    em tom de brincadeira). Ah, verdade, porque se no vai ficar um bando de

    gente l Toca ainda cedo (antigo sucesso do grupo). No, a gente quer

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    tocar as msicas novas. A se j for platina duplo, e a ningum gostar do disco,

    a tudo bem. Apesar do tom de brincadeira, a bem da verdade, um grupo

    musical de sucesso, que queira se manter nas paradas das rdios, tal como

    uma empresa, que se no vender, vai falncia ou volta a ensaiar na

    garagem para tocar em pequenas festas de amigos. Por trs do grupo musical

    est a indstria fonogrfica, esta sim uma empresa que depende do lucro

    para no falir. Mais do que isso, depende do lucro para alcanar mais lucro.

    Curioso notar que um simples nome de uma banda de rock Capital

    Inicial no deixa de fazer uma associao entre o que necessrio para se

    formar um grupo musical e abrir uma empresa. A origem do nome do grupo foi

    por faltar dinheiro aos componentes para deixarem de tocar apenas em festas

    e baladas, e poderem de fato se profissionalizar. Apesar do motivo do nome ter

    surgido de uma simples brincadeira, ironizando a si prprios, pode-se afirmar

    que a indstria fonogrfica, tal como se desenvolveu no Brasil e no mundo

    sobre tudo nos Estados Unidos faz necessariamente com que o dinheiro, e

    no apenas o talento, seja o fator principal a impulsionar uma carreira de

    sucesso. O que no significa que o Capital Inicial, antes de entrar no mercado

    da msica, no estivesse se manifestando culturalmente. Ocorre que a

    indstria fonogrfica, intermediou e ampliou a relao entre banda e ouvintes,

    ou ainda, entre banda e consumidores, visando o lucro a ser gerado.

    A respeito dos monoplios culturais, Adorno (1985) diz que estes, por

    sua vez, atendem obrigatoriamente a outras hierarquias que lhe so superiores

    dentro do universo capitalista. Na viso de Adorno, existe uma submisso da

    indstria cultural a outros setores mais poderosos do capitalismo, que ditam o

    que deve ou o que no deve ser lanado ou publicado, sob o risco de perder a

    influncia do poderio que o financia.

    Num jogo aparentemente contraditrio, esta mesma indstria

    fonogrfica, submetida a outros setores estratgicos como o da energia, por

    exemplo, lanam o terceiro lbum do grupo Legio Urbana, Que Pas Este

    (1987), cuja faixa Angra dos Reis, num significativo jogo de palavras, faz

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    irnica crtica construo de usinas no Rio de Janeiro: Vamos brincar perto

    da usina/ Deixa pra l/ a Angra dos Reis/ Por que se explicar/ Se no existe

    perigo.... Neste trecho, o compositor sugere que os Reis so os que por

    interesses econmicos, em detrimento dos riscos para a natureza e para as

    pessoas, entendem como vivel a conservao de usinas radioativas. Nesta

    poca a censura no Brasil j havia cado junto com a ditadura militar, e

    considerando que uma nova juventude tinha por esprito prtico a contestao

    de toda forma de imposio por parte dos que detm o poder, eis que ao invs

    de reprimir tal postura, o sistema capitalista acolhe-o. Por mais que as letras

    venham a criticar o capitalismo, nem por isso deixar de gerar lucro para os

    capitalistas.

    Nas dcadas de 1950 e 1960, Theodor Adorno (1985), atualizando a

    crtica que j fazia ento ao cinema e ao rdio, estende-a para a televiso, cuja

    linguagem, ao privilegiar a imagem em detrimento do texto, dispensa o

    espectador do trabalho de exercer o ato consciente de pensar. Nesse contexto

    muitas canes entoavam o sentimento de liberdade frente alienao

    promovida pelos meios de comunicao de massa, principalmente televiso,

    que foi o maior veiculo miditico desde 1970. Dando continuidade proposta

    de traar uma ligao entre o pensamento intelectual acadmico e a cultura

    musical do rock brasileiro, tal crtica televiso se mostra cida a este veculo,

    numa viso tambm irnica da banda Tits, por se valer do uso da primeira

    pessoa:

    A televiso me deixou burro, muito burro demais / Agora todas coisas que eu penso me parecem iguais. (Televiso, letra: Marcelo Fromer / Tony Bellotto / Arnaldo Antunes. lbum Televiso, Tits 1985.).

    O que interessa sobre tudo no trecho desta msica de que maneira a

    letra vai ao encontro da crtica incisiva que Adorno faz as mdias em geral,

    enquanto veculos da indstria cultural, j que a cultura contempornea a tudo

    confere um ar de semelhana. Assim sendo, ao eu lrico, na letra da msica,

    tudo em que pensa lhe parece igual. Chamamos ateno para um detalhe na

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    letra da msica, que no trecho Agora todas coisas..., intencionalmente escrito

    errado em relao norma formal, representa o quanto a televiso deixou-o

    burro demais, de maneira tambm a no saber se expressar com domnio

    correto da linguagem escrita.

    Partindo desse pressuposto podemos identificar a critica sobre a

    influncia da TV, que cria normas e padres de comportamento. A tamanha

    importncia alcanada por ela vem gerando diversos estudos em torno de sua

    influncia na cultura contempornea. Segundo Fischer (2001, p. 15), a

    televiso participa constantemente da formao dos sujeitos:

    Defendo a tese de que a TV, na condio de meio de comunicao social, ou de uma linguagem audiovisual especfica ou ainda na condio de simples eletrodomstico que manuseamos e cujas imagens cotidianamente consumimos, tem uma participao decisiva na formao das pessoas mais enfaticamente, na prpria constituio do sujeito contemporneo. Pode-se dizer que a TV, ou seja, todo esse complexo aparato cultural e econmico de produo, veiculao e consumo de imagens e sons, informao, publicidade e divertimento, com uma linguagem prpria parte integrante e fundamental de processos de produo e circulao de significados e sentidos, os quais, por sua vez, esto relacionados a modos de ser, a modos de pensar, a modos de conhecer o mundo, de se relacionar com a vida.

    Com base em uma temtica critica a inmeros fatores como: meios de

    comunicao em massa, poltica, violncia, economia, entre outros, foram

    escritos os grandes clssicos do rock nacional, porm, os valores das bandas

    do BRock, colidentes com os da cultura pop, fizeram com que algumas delas,

    alcanassem, surpreendentemente, altssima popularidade criando um

    paradoxo: a banda contesta e o pop simultaneamente.

    CONSIDERAES FINAIS

    No presente artigo procuramos evidenciar a relao da moda com a

    msica bem como a influencia de ambas na formao identitria dos jovens,

    articulando uma relao com o tempo e as pessoas, projetando o uso de

    roupas e expresses do cotidiano num contexto amplo, poltico, social,

    sociolgico, cultural e hierrquico.

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    Por este estudo fazer parte de uma dissertao de mestrado em

    desenvolvimento, os resultados ainda sero aprofundados, pois, pretendemos

    continuar e ampliar este estudo a fim de compreender como o rock nacional se

    tornou popular manifestando-se contra a cultura pop e qual a participao do

    consumo miditico na formao dessa subjetividade, queremos tambm

    ampliar as referncias musicais desta pesquisa analisando composies do

    rock nacional das dcadas de 1990 e 2000 a fim de garantir um olhar analtico

    mais amplo que nos permita reconhecer os processos de construes e

    imbricamentos de valores advindos da moda e da msica para a edificao do

    comportamento jovem.

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