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Há quem lhe chame o diamante de Trás-os-Montes pelos muitos bicos e a aparência de jóia valiosa, mas a sua origem tem que ser procurada na rica tradição da doçaria conventual. Como todas as outras, as amêndoas cobertas de Moncorvo são essencialmente associadas aos rituais da Páscoa, mas neste concelho do Douro Superior eram também um costume ligado aos casamentos.
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A Páscoa que se come
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FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
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FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 3
Na ponta da línguaMiguel Esteves Cardoso
Este ano os
espargos apareceram cedo, logo
no primeiro dia da Primavera. A
época é tão curta que é quase um
ano inteiro de saudades. A época
é o tempo que leva, à justa, a
matar todas as que tínhamos.
Comemos os espargos numas
migas deliciosas e depois com
uns ovos mexidos. Outros
restaurantes há que só os servem
salteados.
Felizmente temos um agricultor
amigo que nos arranja espargos
perfeitos. A melhor maneira de
comê-los, apreciando as variações
de textura e de sabor, é cozidos
durante cinco minutos. São
muito bons sozinhos — sem azeite
ou manteiga. Nisso, são como
os grelos: experimente-os sem
azeite e vinagre e verá como são
sumarentos.
Se forem cozidos em água sem
sal, fi cam esplêndidos com umas
gotas de azeite e uns cristais de
fl or de sal. Também é bom fazer
uma pocinha de azeite e um
montinho de fl or de sal em locais
estratégicos do prato e depois
levar lá os troços de espargos
que quiser temperar. Assim pode
comer alguns só com sal e outros
com azeite também.
Ando um bocadinho zangado
com a mania portuguesa de
“saltear” tudo em azeite e alho:
porquê fritar e encharcar de alho
espinafres, grelos e espargos
cozidos que não precisam de mais
nada?
Ou será que só se salteiam as
hortaliças quando elas já foram
cozidas há algum tempo e a
urgência está mais em aproveitá-
los do que empertigá-los?
Muitas vezes as verduras
salteadas sabem a velho, alho
chinês e azeite que não é virgem.
O hábito de usar um azeite
inferior para cozinhar e outro
para servir à mesa está enraizado
mas dá péssimos resultados.
É por isso que, nos restaurantes,
se devem pedir as verduras
só cozidas. Se não estiverem
impecáveis, pode devolvê-las
à cozinha e pedir que sejam
salteadas com azeite de mesa e um
alho acabado de descascar e picar.
Quando vier o Verão acontecerá
o mesmo com as maçarocas de
milho. Acabadas de apanhar são
óptimas cozidas em água pouco
salgada e depois comidas à mão,
sem manteiga nem nada: basta
uma linha de sal no prato, no caso
de precisar.
Toda a vida temperei (com
azeite ou manteiga) grelos,
espargos e maçarocas. Foi só
no ano passado que descobri
que, quando são apetitosas, não
precisam de mais nada.
Ainda esta semana comi, pela
primeira vez na vida, polvo
cozido sem azeite. Foi a Maria
João que me convenceu, levando-
me a pensar no polvo como um
marisco. Soube-me muito bem. Só
a polvo. Não precisava de saber
também a azeite.
Acontece o mesmo com a
grande maioria dos peixes,
cozidos e grelhados: quando são
mesmo gordos e frescos, não
precisam de azeite ou manteiga.
Quem gosta de peixe não suporta
peixe grelhado com manteiga
mas há muitos peixes cozidos
(ou assados no sal) que se devem
provar antes de temperar. Ficará
espantado com o número de vezes
em que o peixe está melhor tal
como está.
Nós, os portugueses, puxamos,
por automatismo, do azeite e do
vinagre. Temperamos como quem
está a completar uma refeição de
peixe. Se gostamos do sabor do
azeite, porque não guardá-lo para
o bacalhau, o único que passa mal
sem ele?
A mania de pôr azeite nas
sardinhas nasce do facto de as
comermos cedo de mais (em
Junho e Julho) quando ainda não
têm gordura própria. Mas quando
elas se põem gordas, lá para
meados de Agosto, e “pingam
no pão”, é um crime misturar a
gordura delas com a gordura da
azeitona.
Acontece o mesmo com o
sashimi e o molho de soja, para
nem falar do wasabi: quando os
peixes são muito bons, frescos
e bem cortados, as fatias devem
comer-se sem soja.
Temos em Portugal tantos
bons azeites, de tantos estilos
Temos um agricultor amigo que nos arranja espargos perfeitos. A melhor maneira de comê-los, apreciando as variações de textura e de sabor, é cozidos durante cinco minutos. São muito bons sozinhos — sem azeite ou manteiga
FICHA TÉCNICA Di rec ção Bárbara Reis Edição Sandra Silva Costa e Luís J. Santos (Online) Edição fotográfica Miguel Madeira e Manuel Roberto (adjunto) Design Mark Porter, Simon Esterson Directora de Arte Sónia Matos Designers Daniela Graça, Joana Lima e José Soares Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, Joaquim Guerreiro e José Alves Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Praça Coronel Pacheco, 2, 4050-453 Porto. Tel.: 226151000. E-mail: fugas@pu bli co.pt . fugas.publico.pt Fugas n.º 671
Há coisas tão boas que já vêm temperadas pela natureza
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— não sendo os mais caros
necessariamente os melhores —
que são irresistíveis. Mas merecem
maior realce. Molhar o pãozinho
no azeite é enjoativo passada uma
vez ou duas.
Para fazer saltar bem as
qualidades de um azeite não há
nada como umas boas batatas
cozidas. Só para concentrar
a nossa atenção. Senão
continuaremos a misturar as
coisas todas: não só peixes bons
com maus azeites como, quase
tão desastrosamente, peixes bons
com azeites bons, quando uns e
outros mereciam ser apreciados
separadamente.
É assim que havemos de comer
os primeiros molhos de espargos
do ano: acompanhados apenas
por outros espargos. Os azeites
virão depois.
4 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
A Páscoa doce (ou talvez não) de Norte a Sul do paísHaverá certamente outros ícones, mas Páscoa que é Páscoa tem folar, pão-de-ló e amêndoas. Cada região do país preserva as suas tradições e certamente não faltará quem diga ao vizinho “o meu pão-de-ló é melhor que o teu”. Margaride ou Alfeizerão? Tire a prova dos nove numa mesa perto de si.
CapaGastronomia
Os folares
Valpaços: é alto e leva muitos ovosRima com festa e nobreza de cos-
tumes e em Valpaços foi até recen-
temente adoptado como símbolo
concelhio. O folar transmontano
é a iguaria por excelência do pe-
ríodo pascal, mas marca também
presença na generalidade das
festas do calendário religioso por
toda a região.
É na Páscoa, no entanto, que a
sua confecção e consumo se gene-
ralizam, remetendo ainda hoje para
épocas passadas em que a pobreza
era um denominador comum às
gentes da montanha. “O folar de
Páscoa assume profundo signifi -
cado simbólico nas comunidades
transmontanas, outrora as famí-
lias atacadas pela pobreza faziam
grandes esforços no sentido de o
apresentarem sobre a mesa quan-
do o pároco visitava as suas casas
para serem benzidas”, descreve Ar-
mando Fernandes no livro Comeres
Bragançanos e Transmontanos. “Os
folares podiam ser dominados pela
avareza no emprego de carnes e
ovos, no entanto, a tradição não era
transgredida”, assegura o autor.
É nesta vinculação a ocasiões de
cerimónia ou celebração que os au-
tores encontram a explicação para a
tradição de um bolo de trigo em ter-
ras dominadas pelo cultivo e uso do
centeio na confecção do pão. Além
de mais fi na, só as gentes de maiores
posses tinham acesso à farinha de
trigo, que usavam para momentos
ou celebrações de especial signifi -
cado. Era um luxo.
“A bola e ou o folar, como quise-
rem, acima do Marão festeja o santo
padroeiro de toda e qualquer aldeia,
mas é na Páscoa que atinge carácter
obrigatório em todo o território”,
diz Maria de Lourdes Modesto. Ao
contrário do que acontece no resto
do país, onde o folar é um bolo doce,
acima do Douro leva recheio de car-
nes, mas entre bola e folar nem sem-
pre a distinção é clara, dizendo-se
que se levar ovos até fi car amarelo,
então é porque é folar.
Presunto, linguiças e carne de
porco salgada não se dispensam,
mas podem ter também galinha,
coelho ou até pedacinhos de vitela,
dependendo dos costumes locais
que igualmente infl uenciam as for-
mas. Há-os redondos ou rectangu-
lares, uns mais altos outros baixos.
Modesto não tem dúvidas: “O meu
preferido é alto e leva muitos ovos,
é o folar de Valpaços.”
É feito em formas de barro, cada
um na sua, que lhe concentram a
untuosidade e conferem cheiro e
sabor muito específi cos. Leva oito
ovos por cada quilo de massa, que
passa por uma dupla levedação. A
primeira na masseira e uma segun-
da, já com as carnes, no tabuleiro
antes de ir ao forno. “Este é o folar
tradicional”, explica José Doutel
Coroado, responsável da autarquia
pela Feira do Folar que decorreu no
passado fi m-de-semana.
Produto artesanalNo concelho há cerca de duas deze-
nas de produtores artesanais, mas
o folar é ainda um ritual de cada
família, sendo rara a casa onde não
existe forno para o efeito. Foi com
o intuito de o divulgar que o técnico
da autarquia colocou no YouTube
Alexandra Prado Coelho e José Augusto Moreira
um vídeo (“Dona Josefa faz o folar”),
que gravou com a sua mãe e é um do-
cumento vivo sobre a tradição local.
A receita é comum, mas cada folar
é um só. Nenhum é igual ao outro,
dependendo do forno, das mãos que
compõem a massa ou das rezas para
cada um. Uma arte que passa de ge-
ração para geração, normalmente
entre mulheres.
Entre as novas artesãs, está Ce-
saltina Caseiro, uma jovem enfer-
meira a quem o fecho do hospital
local atirou para o desemprego e se
ocupa agora com a tradição do folar.
Na aldeia de Ervões há uma longa
herança de padeiros e Titina, assim
a tratam, não foge à regra, sendo
neta de padeira.
O forno está instalado nos fundos
da moradia de família, em aposen-
tos preparados para o efeito, com
lareira e mesa comprida, recriando
o ambiente de uma antiga cozinha
tradicional. Ao lado, numa saleta
dominada pela barriga do forno,
está a masseira onde foi preparada a
massa, que agora leveda à espera de
se lhe juntarem as carnes. Um traba-
lho em conjunto com a sogra Célia
e a tia-avó Estela, exemplifi cando a
passagem do saber de geração para
geração. O ambiente não está ainda
sufi cientemente aquecido e há que
esperar. “A massa é que manda”, diz
Célia, enquanto ajusta um cobertor
aquecido por cima da massa para
acelerar o trabalho das leveduras.
A preparação exige trabalho de
braços. À farinha, junta-se um pou-
co de fermento e sal e vai-se batendo
enquanto se junta água. Ganhando
consistência, cava-se um buraco a
meio onde são depositados os ovos
previamente batidos e envolve-se a
massa até fi car de novo consistente.
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O mesmo processo para se juntar o
azeite, manteiga e banha, aquecidos
e bem batidos mas sem deixar ferver.
Benzido e brunidoDepois de levedar parte-se a mas-
sa em pedaços, que vão preencher
cada um dos tabuleiros. A massa é
estendida e sobre ela distribuídas
as carnes (em pedacinhos) e depois
enrolada e colocada nas assadeiras
de barro rectangulares, onde volta
a fermentar.
É altura da benzedura e encomen-
dação: “São Vicente te acrescente/
São Mamede te levede/ São João te
faça pão/ Em louvor da virgem Maria/
Que Deus nos dê pão para cada dia.”
“Cada uns têm a sua, esta é a nossa”,
justifi ca Célia, explicando também
que “não se deve lavar as mãos logo
depois de amassar para não levar o
sabor com a água”. A nora apressa-se
a meter lenha para acelerar o aqueci-
mento do forno. “Tanto podem ser
sarmentos, como giesta ou urze. Nós
usamos sempre a giesta.”
A temperatura subiu, a massa
cresceu já para além das assadeiras
e está na altura de a levar ao forno.
Antes, porém, um último retoque de
embelezamento. Batem-se mais uns
ovos e os folares são “brunidos” à
mão com toda a delicadeza. Não era
melhor um pincel? “Tem que ser à
mão para que não fi quem marcas”,
riposta Estela.
As brasas são concentradas à porta
do forno, cujo interior é cuidadosa-
mente varrido com uma vassoura de
giestas. Uma a uma, as duas dezenas
de assadeiras são arrumadas no fun-
do do forno com a ajuda de uma pá
em ferro e longo cabo de madeira
habilmente manejada com um ritual
de gestos rápidos e seguros. A mes-
ma mestria na colocação das folhas
de papel que vão cobrir cada um
dos folares, que Titina diz ser “para
que não tostem demasiado e fi quem
bonitos”.
A cozedura dura cerca de uma
hora, de porta aberta para não atingir
temperaturas demasiado elevadas.
Só na parte fi nal é que é colocada a
porta no forno, com alguma brasa
dentro, para dar o tostado fi nal e já
sem a cobertura dos papéis.
Só quando é retirada a porta e
os folares luzem como barras de
ouro no fundo do forno é que Ti-
tina respira de alívio. O aspecto
é realmente arrebatador, mas os
aromas, quentes e doces, que se
desprendem à medida que são cui-
dadosamente retirados das assadei-
ras, parecem ainda mais cativantes.
Como por encanto, há fami-
liares que começam a chegar, o
patriarca abre uma garrafa de
champanhe que acabara de trazer
de França e percebe-se o ritual.
Além das cores e aromas, também
o sabor é único. São fofos, crocan-
tes e de paladar macio e aman-
teigado. José Augusto Moreira
Alentejo: com erva doce e canelaFaltam ainda algumas semanas
para a Páscoa mas na Herdade da
Malhadinha, no Alentejo, já Vitalina
Santos amassa os folares e coloca os
ovos cozidos para os levar a cozer no
forno de lenha. A massa é doce, com
o sabor muito característico a erva-
doce e canela. Vitalina separa-a em
bolas, que esborracha ligeiramente,
para colocar o ovo cozido que depois
cobre com tiras da mesma massa.
Esta é a receita de folar mais tra-
dicional no Sul do país. Enquanto o
Norte faz os folares salgados, com
carnes (também chamados bola),
no Sul encontra-se mais este bolo de
massa seca (farinha de trigo, ovos,
leite, azeite, banha ou pingue, açú-
car e fermento, canela e erva-doce),
com os ovos cozidos a espreitar en-
tre a massa.
“No Alentejo, particularmente
na zona fronteiriça de Elvas, os fo-
lares apresentam formas de animais
— borregos, lagartos, pintainhos,
pombos, ao sabor da criatividade
e jeito de quem os faz”, escrevem
Maria de Lourdes Modesto e Afonso
Praça em Festas e Comeres do Povo
Português. E referem os de Castelo
de Vide por causa do feito particu-
lar: um duplo coração e um lagarto
de coleira de seda encarnada. São
estes folares que os padrinhos e ma-
drinhas oferecem aos afi lhados no
domingo de Páscoa.
Na Pastelaria Alcôa, em Alcobaça,
mesmo em frente ao mosteiro, en-
contramos várias versões do folar
tradicional (aqui a massa leva tam-
bém fl or de anis) — há em forma de
coelho, de lagarto, há com ovos e
sem ovos. Paula Alves, a proprietá-
ria, diz que os clientes “estão a pedir
muito o folar sem ovos”. A explica-
ção é simples: muita gente não come
o ovo, acabando por o pôr de lado, e
considera isso um desperdício.
Por outro lado, a tradição pede
ovos, e por isso a Alcôa continua
também a fazer folares com um,
dois, três ovos, chegando, em bo-
los maiores, a pôr quatro ou cinco.
Entretanto, Paula foi introduzindo
algumas inovações. Usando sempre
a massa tradicional como base, hoje
vende folar com gila, com amêndoa
e ovos, outro com doce de ovos, e
até um com maçã e canela.
De onde vem a tradição é difícil di-
zer. Maria de Lourdes Modesto pro-
cura pistas na etimologia, mas não é
fácil — a palavra folar poderia vir “do
latim fl oralis, se calhar do germânico
fl ado (bolo de mel), eventualmente
do francês poularde”. A verdade é
que ninguém sabe exactamente.
O que não oferece dúvidas é que,
escrevem ainda Maria de Lourdes
Modesto e Afonso Praça, esta é uma
tradição “que assenta num ritual de
dádiva, solidariedade e convívio en-
raizado na sociedade portuguesa”.
Alexandra Prado Coelho
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Cesaltina Caseiro, enfermeira desempregada, é uma das jovens artesãs que, na aldeia de Ervões, dá continuidade à tradição do folar. Em baixo, o folar da pastelaria Alcôa, em Alcobaça
6 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
CapaGastronomia
As amêndoas
doa da região de ligação entre a Bei-
ra Alta e Trás-os-Montes foi sempre
apreciada e procurada para vários
fi ns. As referências conhecidas apon-
tam para uma tradição de as cobrir
com açúcar branco que remonta
há mais de dois séculos. Um uso de
praticamente todas as casas, que as
utilizavam para os actos mais solenes
e cerimoniosos.
Métodos que são agora seguidos
na Arte Sabor & Douro, que adquire
amêndoa junto dos produtores lo-
cais. Depois de “britada” (com maço
de ferro sobre paralelepípedo de gra-
nito) para extrair o miolo, a amêndoa
é escaldada para que lhe seja retirada
a pele. Uma vez pelada, tem que se-
car à sombra durante alguns dias, an-
tes de se separar a amêndoa partida,
que é aproveitada para a confecção
de maçapão e outra pastelaria. Vai
depois ao forno a torrar, ates de ser
entregue ao trabalho das cobrideiras,
as mulheres que paciente e delica-
A Alcôa, em Alcobaça, é das poucas pastelarias que ainda mantém fabrico próprio de amêndoas. Em baixo, as de Moncorvo, feitas na Arte Sabor & Douro
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Moncorvo: um diamante que se molda sozinho nas mãos das cobrideiras
Há quem lhe chame o diamante de
Trás-os-Montes pelos muitos bicos
e a aparência de jóia valiosa, mas a
sua origem tem que ser procurada na
rica tradição da doçaria conventual.
Como todas as outras, as amêndo-
as cobertas de Moncorvo são essen-
cialmente associadas aos rituais da
Páscoa, mas neste concelho do Dou-
ro Superior eram também um costu-
me ligado aos casamentos. Ditava a
praxe que se colocassem amêndoas
cobertas nas mesas dos convidados,
sendo igualmente oferecidas à noiva,
mas a tradição parece ter caído à me-
dida que começou também a escas-
sear a confecção tradicional que se
fazia em praticamente todas as casas
da região. O processo é moroso e cus-
toso, mas embora continue a haver
amêndoa em todas as propriedades
os tempos já não se compadecem
com os rituais da confecção.
“Confeccionadas e vendidas du-
rante todo o ano, principalmente
na Páscoa, obedecem a um fabrico
artesanal e moroso”, explica Sole-
dad Martinho Costa no livro Festas e
Tradições Portuguesas, adiantando
que “hoje as confeiteiras ou cobri-
deiras raramente as fazem devido à
morosidade da sua elaboração: basta
dizer que cinco quilos de amêndoa
coberta representam um mês de tra-
balho com a duração de sete a oito
horas por dia”.
Depois de a tradição ter quase caí-
do em desuso, há agora uma casa co-
mercial que desde há uns anos se de-
dica à confecção do produto, sendo a
única licenciada para a produção de
amêndoa coberta de Moncorvo pelo
método artesanal. Chama-se Arte Sa-
bor & Douro (www.artesaboredouro.
com) e está instalada no centro da
cidade, mesmo ao lado da catedral.
Além da venda, é também possível
degustar e assistir à confecção.
Dos três tipos de amêndoa coberta
de Moncorvo, a mais famosa e apre-
ciada é a bicuda branca, que resulta
de um tão simples quanto moroso
processo de confecção.
De sabor e textura únicos, a amên-
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 7
damente se ocupam do trabalho de
cobertura com açúcar.
São elas que se debruçam sobre a
larga “bacia” de cobre com um metro
de diâmetro que é colocada sobre o
“caco”. Trata-se de um jarro de barro
com a mesma abertura que é coloca-
do de encontro ao ventre da cobri-
deira e onde tradicionalmente eram
colocadas as brasas para manter a
“bacia” permanentemente aquecida.
Hoje recorre-se a uma mais cómoda
e regulável resistência eléctrica.
Com uma calda de açúcar em pon-
to de fi o (será este o segredo da con-
fecção), as mulheres vão lentamente
cobrindo as amêndoas que mexem
em permanência com as mãos em
movimentos regulares e sincopados,
de sentido ora ascendente ora des-
cendente.
Movimentos que se repetem du-
rante oito horas ao dia e no mínimo
de uma semana até que o revestimen-
to de açúcar da amêndoa adquira a
forma de “carapinha branca”, os
tradicionais bicos que dão o nome
à amêndoa bicuda branca.
Para não se queimarem, as cobri-
deiras usam quatro dedais de costura
em cada mão (excepto os polegares),
sendo que há quem diga ser este o
segredo da formação dos bicos de
açúcar das amêndoas. “É o nosso
diamante. Molda-se sozinho nas
mãos das cobrideiras”, simplifi ca
Dina Morais
Para além das bicudas, há também
as de chocolate, que levam um co-
bertura fi nal com calda de chocolate.
De confecção mais simples e rápida,
há ainda as de canela, que mantêm a
pele e vão ao tacho com uma calda
de açúcar e canela. J.A.M.
Alcobaça: mergulho com açúcar numa panela de cobreNa cozinha da pastelaria Alcôa, em
Alcobaça, especializada sobretudo
em doçaria conventual, dois pas-
teleiros estão agarrados a grandes
panelas de cobre das quais sai um
calor intenso. A primeira tem só água
e açúcar, que é preciso ir mexendo
para atingir o ponto certo da calda
de açúcar. Na segunda já se vêem as
amêndoas mergulhadas no açúcar, e
também aqui é preciso uma atenção
constante, e ir mexendo sempre para
as envolver. Numa terceira panela o
processo já vai mais adiantado, e o
açúcar começou a formar cristais,
envolvendo as amêndoas.
Já não é muito fácil encontrar
amêndoas fabricadas artesanalmen-
te, como acontece aqui. Numa das
lojas mais conhecidas pela imensa
variedade de amêndoas que vende
pela Páscoa, a Manuel Tavares, na
Baixa lisboeta, a montra está cheia
de amêndoas de diferentes formas
e feitios, mas lá dentro as etiquetas
nos recipientes indicam que quase
todas são importadas.
Apesar de ser um processo muito
trabalhoso, na Alcôa a proprietária
Paula Alves não abdica de, na altura
da Páscoa, fazer as amêndoas pelo
método artesanal: à mão e em tachos
de cobre, com muita força de braços
e muito trabalho ao lume. Têm onze
variedades. A que mais se vende é
a torrada, que é também a menos
doce. “Só tem 10% de açúcar, e
não tem corantes”, sublinha Paula.
Vende-se também muito bem a ca-
ramelizada.
Mas, para além destas, estendem-se
em tabuleiros na cozinha amêndoas
de várias cores e sabores: café, fram-
boesa, canela, citrinos, baunilhada,
cacau, chocolate branco, chocolate
com coco, chocolate negro, licor de
ginja. Tudo feito apenas com amên-
doa nacional, garante a proprietária.
“A minha preferida é a de Foz Côa”,
confessa, “mas também utilizamos
a amêndoa do Algarve.” O Douro e
o Algarve são as principais regiões
produtoras, sendo que é de Trás-os-
Montes (Terra Quente e Alto Douro)
que vem 86% da produção, e foi a
amêndoa do Douro que conquistou
a Denominação de Origem Protegida.
Regressamos uma vez mais ao
livro de Maria de Lourdes Modes-
to e Afonso Praça sobre as Festas a
Comeres do Povo Português, onde se
explica como se fazem as chamadas
amêndoas de sobremesa, também
conhecidas como enxovalhadas:
“Num tacho, de preferência de co-
bre, deitam-se as amêndoas, o açú-
car e a água e deixa-se repousar uns
15 minutos para amolecer o açúcar.
Depois, leva-se o tacho a lume muito
forte para levantar fervura rapida-
mente. Reduz-se imediatamente o
calor para o mínimo, agitando o ta-
cho de vez em quando até o açúcar
fazer ponto de areia, isto é, até que
solidifi que e se agarre às amêndoas e
às paredes do tacho. Nessa altura vol-
ta a intensifi car-se o calor e, mexendo
vigorosamente com uma colher de
pau forte, separam-se as amêndoas
tanto quanto possível, deixando-as
caramelizar muito ligeiramente. De-
pois de frias, separam-se.”
Estas amêndoas artesanais têm
formas toscas, incertas, em que
cada uma é diferente da outra. Isso
distingue-as claramente da amêndoa
industrial, que é a que mais se en-
contra à venda. As mais comuns são
as revestidas de açúcar duro e com
cores, geralmente o azul ou o rosa —
essas são as chamadas “amêndoas
francesas”. Na Alcôa — que vende
também no El Corte Inglés, em Lis-
boa (e estreou-se nesta Páscoa num
El Corte Inglés em Madrid) — o quilo
de amêndoa artesanal custa 29 eu-
ros. A.P.C.
Dos três tipos de amêndoa coberta de Moncorvo, a mais famosa e apreciada é a bicuda branca
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19.º festival
5 a 7 abril
S. Gonçalo, Qta. do AnjoPALMELA
2013
8 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
CapaGastronomia
Pão-de-ló
doçaria portuguesa, escreve no seu
site que se trata possivelmente de
uma receita acidental do século
XIX: “Consta que por erros de co-
zedura uma freira terá antecipado
a saída do forno, e daí ter fi cado
cremoso, o que faz as delícias dos
seus apreciadores.” A freira seria
do Convento de Cós, próximo de
Alcobaça, e a atrapalhação, reza a
lenda (que tanto atribui o “erro” à
freira como a senhoras da terra, que
teriam aprendido a receita com as
freiras), teria sido provocada por
uma visita do rei D. Carlos — o ner-
voso fez com que o bolo saísse do
forno antes do tempo, e isso acabou
por o tornar único.
Agora, Sílvia vigia para que o
tempo de cozedura seja o sufi ciente
para provocar o mesmo efeito. Mas,
aconselha Helena, o melhor é sem-
pre comer o Pão-de-Ló de Alfeize-
rão no dia seguinte, e não acabado
de sair do forno. E, de facto, quando
vemos os bolos a serem desenfor-
mados — e o processo tem que ser
feito com rapidez e precisão — não
reconhecemos o típico pão-de-ló. O
que sai das formas de cobre é um
bolo alto e fofo, que só depois de
ser colocado nas caixas abate e, a
pouco e pouco, começa a largar o
interior cremoso.
A Casa do Pão-de-Ló (do outro
lado da estrada encontra-se o Café
Ferreira-Fábrica do Pão-de-Ló, o
outro fabricante do bolo de acor-
do com a receita tradicional) recebe
visitantes para provar o pão-de-ló
e conhecer o método de fabrico às
quartas-feiras de manhã. E, segundo
Helena, já têm recebido até grupos
de japoneses, que vêm conhecer o
bolo que os portugueses levaram
até ao Japão no século XVII e que lá
fi cou conhecido como Castella.
O Pão-de-Ló de Alfeizerão pode
ser comprado em três tamanhos:
o mais pequeno tem meio quilo e
custa 7 euros; o médio, com 750 gra-
mas, custa 11,50 euros; e o grande
tem cerca de um quilo e custa 14
euros. A.P.C.
Na cozinha, Sílvia, a pasteleira, acompanha com atenção as reviravoltas da massa para ver o momento em que deve adicionar farinha ao açúcar e aos ovos
Alfeizerão: o mais delicioso dos errosChegamos a Alfeizerão um pouco
depois das 10h. O Largo do Pão-
de-Ló está mergulhado na pacatez,
com a Casa do Pão-de-Ló no sítio
de sempre, ao lado da bomba de
gasolina, o mesmo ar de casinha
de brincar, os tijolos vermelhos,
as cortinas brancas nas janelas,
os dois bonecos pretos de ma-
deira a receberem-nos à porta.
Helena Monteiro de Castro e o
marido, Luís, são hoje os proprie-
tários desta casa fundada em 1925
pelo padre João Matos Vieira e a
irmã, Adília. E continuam a fazer,
de forma artesanal e tradicional,
aquele que é um dos pães-de-ló
mais emblemáticos do país.
Na cozinha, Sílvia, a pasteleira,
acompanha com atenção as revira-
voltas da massa na batedeira eléc-
trica (que vem dos anos 1940, altu-
ra em que foi construído o actual
edifício e se introduziram algumas
inovações, como os fornos eléctri-
cos) para ver o momento em que
deve adicionar farinha ao açúcar e
aos ovos. O processo é muito rápi-
do. Assim que a massa está pronta,
despeja-a em tigelas altas de cobre
que vão ao forno.
A cozedura é feita em altas tem-
peraturas e, em menos de nada,
enquanto Helena nos conta a his-
tória da casa, já Sílvia está a abrir as
portas dos fornos, a tirar as tigelas
e, com gestos rápidos, a tocar na
crosta do bolo para avaliar se neces-
sita ou não de mais alguns minutos
de forno.
“O padre João tinha vindo do
Alentejo”, explica Helena. “Duran-
te anos foram ele e as duas sobri-
nhas, Ema e Elisa, a imagem desta
casa.” Ligada à casa esteve sempre
também a bomba de gasolina, en-
tão da Sacor, que era um ponto de
paragem para quem ia de Lisboa
ao Porto. Numa das salas da Casa
do Pão-de-Ló há na parede foto-
grafi as antigas do tempo em que
Ema e Elisa presidiam ao fabrico
do pão-de-ló.
Diz-se que a receita deste pão-de-
ló húmido terá sido resultado de um
acaso. Virgílio Gomes, estudioso da
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 9
De Margaride ao bolinhol de VizelaHá muitos, mas o pão-de-ló de Mar-
garide é o que ganhou maior fama.
É assim chamado por ter sido nesta
freguesia de Felgueiras que Leonor
Rosa da Silva começou, no início do
século XVIII, a fabricar este bolo com
farinha, ovos, açúcar, cascas de limão
e sal. Foi tanta a fama e a procura
que, mais de um século depois, os
herdeiros veriam ser atribuída à casa
a distinção como Fornecedor da Casa
Real Portuguesa. A empresa continua
ainda hoje a fabricar pão-de-ló e as
instalações que mantém desde 1900
no centro da cidade são um autênti-
co museu vivo da pastelaria, mas a
receita difundiu-se por toda a região,
funcionando até como uma espécie
de emblema gastronómico no espaço
alargado do Entre-Douro-e-Minho.
Segundo a receita, o autêntico pão-
de-ló de Margaride tem que ser cozi-
do em forno de lenha e em formas de
barro não vidrado. Estas constam de
três tigelas, duas iguais e uma bastan-
te mais pequena, que é colocada in-
vertida no centro de uma das outras,
forrada com papel grosso em quadra-
dos sobrepostos. Nela se verte a mas-
sa, sendo as pontas do papel volta-
das para dentro, depois tapada com
a outra tigela de iguais dimensões.
Terá sido a partir da receita tradi-
cional que em Vizela, a escassa dis-
tância de Margaride, e pouco tempo
depois, uma outra mulher empre-
endedora concebeu uma espécie de
sucedâneo que se tornou igualmente
famoso e é hoje muito consumido
na Páscoa. Um pequeno bolo com
massa de pão-de-ló e coberto com
uma capa branca de açúcar que o
torna mais húmido e suculento, que
Joaquina Ferreira da Silva começou
a levar para feiras e mercados por
alturas de 1880 e rapidamente se tor-
nou famoso e procurado. Ia embru-
lhado em “linhol” (pano grosseiro
com fi os de linho) e daí a designação
de bolinhol por que é ainda hoje co-
nhecido, estando documentada a sua
participação na Exposição Industrial
do Concelho de Guimarães, que teve
lugar no ano de 1884.
O bolinhol de Vizela é produzido
actualmente em três pastelarias da
cidade, mas dá origem a uma curiosa
disputa pela originalidade da receita
protagonizada por bisnetas de Joaqui-
na Silva. No negócio, sucedeu-lhe a
fi lha Albina, que, em conjunto com o
marido, viria a fundar em 1921 a casa
Delícia. A marca Delícia Pão de Ló
Coberto de Vizela foi registada ainda
nesse ano, ao que se seguiu o registo
do formato rectangular do bolo, tal
como é actualmente fabricado.
A questão é que o negócio da fa-
mília não dava para toda a prole e
uma das fi lhas de Albina acabou por
emigrar para o Brasil, onde decidiu
aplicar a receita, ao que parece com
grande sucesso. Regressada a Vizela
nos anos 60 do século passado, abre
a casa Kibom, nome que homena-
geia os clientes brasileiros que sem-
pre exclamavam “qui bom!” sempre
que provavam o bolo. O negócio é
actualmente comandado por uma
das fi lhas (bisneta de Joaquina) que
reivindica para a mãe o respeito pela
originalidade da receita quando a le-
vou para o Brasil.
Da casa Delícia respondem serem
os detentores do registo da marca e
da forma rectangular do bolo, o que
obriga a que o produto da Kibom te-
nha os cantos arredondados. Estes
argumentam que as principais dife-
renças estão na textura da massa e
que é necessário recriar para melho-
rar o produto.
Para além da forma, quadrada ou
arredondada, dos cantos, a questão
parece dilui-se na mera semântica.
Ambos são bons e muitos procura-
dos, principalmente por estes dias
de celebração pascal. J.A.M.
Em Alfeizerão continua a fazer-se, de forma artesanal e tradicional, aquele que é um dos pães-de-ló mais emblemáticos do país; à direita, o pão-de-ló de Margaride, fabricado desde o século XVIII
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10 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
ViagemFinlândia
Paixão em Helsínquia — por Cristo, bruxinhas e trollsChegada a Semana Santa, Helsínquia divide-se entre comemorações luteranas e pagãs. Muitas das famílias que acompanham a reencenação erudita da Via Crucis pelas ruas da cidade também mascaram as suas crianças e levam-nas a admirar enormes fogueiras que os fi nlandeses acendem há séculos para afugentar os maus espíritos. Marco C. Pereira (texto) e Marco C. Pereira e Sara Wong ( fotos)
Contempla-
mos o casario semicolorido de Por-
voo a partir da margem oposta do rio
Porvoonjoki. Estamos em Março, faz
um frio de rachar e a neve que cai de
quando em quando retoca o cenário
coberto de branco. Num ou outro fo-
gacho inesperado, o sol espreita en-
vergonhado entre as nuvens velozes.
Aquece os tons da povoação ribei-
rinha mas mal nos massaja as faces
avermelhadas. Tuula Lukic não se
queixa, muito pelo contrário: “O rio
descongela a olhos vistos. Não tarda
temos aí a Primavera”, afi ança-nos.
Comentários deste tipo são fre-
quentes na Finlândia, às vezes de-
baixo de muitos graus negativos.
Esforçamo-nos por ter em conta a
latitude mas, ainda assim, retemos
algum espanto. Tuula percebe-o e ri-
se com cortesia. “Bom... tenho um
grupo à espera junto à catedral. Se
não se importam, vou subindo. Já
nos voltamos a encontrar.”
Ficamos entregues à paisagem e
ao vento frígido com que os corvos
se debatem para pousarem em se-
gurança sobre o telhado em A do
templo. Pouco depois, cruzamos a
ponte estreita, subimos várias ruelas
e calçadas escorregadias e voltamos
a dar com a guia, ocupada com ex-
plicações históricas sobre a vila que
os grasnares infernais das aves, logo
ali por acima, atrapalham. Tuula
gesticula que esperemos e prosse-
gue. Aproveitamos para contornar
o edifício e acabamos por descobrir
um ensaio teatral da crucifi cação de
Cristo. Actores que fazem de Messias
e de ladrões sobem a um palanque
com as cruzes ao ombro e posicio-
nam-nas, lado a lado, sobre o chão.
Então, os que desempenham pa-
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 11
As cenas da Paixão de Cristo são habituais em Helsínquia e percorrem vários locais da cidade
12 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
péis de soldados romanos simulam
que os pregam às cruzes e suscitam
esgares e gritos de dor que uma en-
cenadora que beberica um grande
copo de café ajuíza e corrige. Alguns
dos brados desiludem-na. Justificam
prolongadas intervenções e exem-
plificações enérgicas que o dialecto
finlandês contribui para dramatizar.
A nós, faz-nos confusão, acima de
tudo, ver as personagens nos seus
trajes invernais do dia-a-dia: gorros,
casacos, calças e botas de neve vo-
lumosos em vez da mera coroa de
espinhos e do pano dobrado em que
Jesus terá sido vitimado.
a ensaiar isto agora. A Semana San-
ta faz-nos sempre sofrer um pouco.
Eu até sou sueco mas este ano vou
participar aqui em Porvoo. Já fiz de
Cristo antes, no Inverno e em tronco
nu. Posso-vos dizer que foi um sofri-
mento atroz. Este ano, vamos estar
de túnica mas descalços. Mesmo
assim, acaba por ser bastante dolo-
roso. Se ainda estiverem por Porvoo
logo à noite, venham assistir!”
Entretanto Tuula volta a entrar
em cena. “Vejo que estiveram en-
tretidos.” Gabamos a beleza da cate-
dral luterana (a primeira da Finlân-
dia) e Tuula conta-nos que tinha sido
Não há, no entanto, volta a dar-
lhe. Estão -7º e a representação é
exaustiva e demorada. Martelada
atrás de martelada, grito atrás de gri-
to, passa-se meia hora. Quando nos
parece que o suplício está a chegar
ao fim, é a vez de a personagem de
Maria se estrear. Os seus prantos e
lamentos aos pés do redentor inspi-
ram novos reparos na directora.
O actor de Jesus livra-se finalmen-
te da mãe a fingir e da tarefa. Curioso
face ao prolongado interesse destes
únicos espectadores, decide averi-
guar: “Vêm de Portugal? A sério?
Bom, não me importava de lá estar
recentemente recuperada da sua
própria tragédia humana. “Foi uma
desgraça! Em 2006, um jovem em-
briagado resolveu brincar com fogo
no interior, sem saber que estavam
a fazer reparações com alcatrão.
Causou um incêndio que destruiu
o telhado e não só. As autoridades
não estiveram para misericórdias.
Até lhe encurtaram a pena mas foi
condenado a pagar 4,3 milhões de
euros, coitado.”
Via Crucis erudita Deixamos Porvoo ainda a meio da
tarde, em direcção a Helsínquia.
No dia seguinte, a capital amanhe-
ce cinzenta e nevosa. Exploramo-la
horas a fio sob uma meteorologia
inclemente até que, mais próximo
do anoitecer, as nuvens debandam
e se instala uma bonança recompen-
sadora.
Instalamo-nos numa saliência
estrutural sobre o Mar Báltico, ao
lado da doca de ferries internacio-
nais. Dali, observamos o longo pôr
do sol boreal e a iluminação artificial
a destacar a catedral de Helsínquia
sobre o casario histórico submisso.
Assim que o céu enegrece, cami-
nhamos para o interior da cidade à
ViagemFinlândia
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 13
procura da estação inicial da sua 17.ª
representação da Via Crucis, prestes
a ser levada a cabo pela Congrega-
ção Catedral de Helsínquia e pela
Ristin Tien Tuki ry, uma associação
ecuménica encarregada de assegu-
rar o evento.
Encontramo-lo numa encosta
limítrofe do Parque Kaisaniemen
despida de folhagem, coberta de
uma boa altura de neve e invadi-
da por um público agasalhado e
entusiasta. A multidão disputa os
melhores lugares para acompanhar
as provações de Cristo entre um
extenso elenco de cidadãos de
Assistir ao pôr do sol boreal é um espectá-culo a não per-der. Fazêmo-lo antes de nos embrenhar-mos na cida-de, em busca das estações da Via Crucis
14 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
uma Jerusalém fi no-romana hostil
às suas crenças e pregações, e mais
frígida que nunca. Jesus é detido
por um pequeno esquadrão de
centuriões e conduzido à presença
de Pôncio Pilatos, seguido por um
cortejo de fi gurantes históricos que
avança pelas avenidas Unionkatu e
Yrjö-Koskisen katu à luz de velas.
A representação continua, elegan-
te e grandiosa, no cimo da escadaria
da Säätytalo (A Casa dos Estados),
adaptada a palácio do governador
romano, onde o povo judeu acaba
chos de cânticos líricos combinados
com violinos e outros instrumentos,
Cristo e os ladrões encontram o Cal-
vário em frente à fachada altiva do
templo. Após a morte, o Redentor
desce da cruz pelo seu próprio pé,
a escadaria entra na penumbra e é
subida por dezenas de actores e fi -
gurantes que seguram velas e tochas
num derradeiro momento multis-
sensorial de espectáculo religioso. O
público parece agradado mas, à boa
maneira fi nlandesa, não recompensa
os participantes e encenadores por
por optar pela libertação do prisio-
neiro insurgente Barrabás, conde-
nando, assim, Cristo à crucifi cação.
A procissão de actores, fi gurantes
e o público muda-se, então, para as
imediações da catedral, onde mui-
tos mais espectadores aguardam a
acção. Ali, Cristo vence uma nova es-
cadaria, desta vez com a sua pesada
cruz ao ombro, numa subida penosa
que um foco redondo acompanha e
evidencia.
Entre as falas e os gritos dramá-
ticos das personagens bíblicas, tre-
aí além. Retira-se para os seus domi-
cílios ou para os inúmeros refúgios
profanos e nocturnos de Helsínquia.
Em termos de calendário, entre-
tanto, a Semana Santa deu lugar à
Páscoa. Estava na hora de descobrir-
mos o lado pagão da época.
As fogueiras de SeurasaariNa Finlândia, a Sexta-Feira Santa
e a segunda a seguir à Páscoa até
são feriados públicos mas a última
é considerada uma festa secular. A
maior parte dos fi nlandeses cristãos
ViagemFinlândia
No dia seguinte é domingo. Algumas famílias fi nlandesas cristãs reúnem-se à mesa para um jantar de Páscoa
Tyra (em baixo) é uma das muitas crianças finlandesas que participam, na segunda-feira a seguir à Páscoa, nas actividades organizadas pela fundação Seurasaari
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 15
são membros da igreja luterana, a
igreja nacional. Só 1% se identifi ca
com a ortodoxa e, como em quase
todos os países europeus, os fi nlan-
deses preservam outras crenças e
costumes ancestrais.
Desde 1982 que a fundação Seura-
saari acende enormes fogueiras na
ilha homónima e convoca a popula-
ção de Helsínquia para a sua come-
moração vernacular. Metemo-nos no
autocarro 24, afastamo-nos do cen-
tro da cidade ao longo de um litoral
enregelado e marcamos presença.
adereço do seu disfarce e brincamos
com ela. Acabamos a falar com o avô
da criança: “Nós vimos cá todos os
anos. Ela adora estar com outros
miúdos mascarados e delira com
as fogueiras. A verdade é que todos
gostamos de nos aquecer ao pé de
um bom fogo e isso, aqui, tem ainda
mais signifi cado. Sabem que, antes,
as pessoas acreditavam nestas coi-
sas: que os maus espíritos, as bruxas
e os trullis voavam mesmo sobre as
quintas e os campos, agrediam o
gado e faziam com que as vacas e
as ovelhas deixassem de dar leite.”
A tarda avança, o frio aumenta de
hora para hora e azula a paisagem.
Forma-se uma fi la ordeira de clien-
tes em frente a um bar improvisado
numa cabana pitoresca e que ven-
de bolos, café, chá e outras bebidas
revigorantes. Logo ao lado, há um
posto de churrasco comunitário. Re-
únem-se, em redor, almas esfomea-
das munidas de salsichas que espe-
tam em galhos desfolhados e assam
com grande paciência e dedicação.
Enquanto isso, as fogueiras a sério
atingem o auge. Numa bancada por
trás, tem lugar um recital de poesia
e cantigas em que participam várias
crianças e também Marita Nordman,
uma anciã de 80 anos que veste
trajes típicos e carrega uma cesta
com tricotados, bordados e outros
adereços de uma época bem menos
tecnológica da Finlândia.
Findo o festival dos pequenos
cantores, os lumes imponentes co-
meçam a extinguir-se e o mesmo
acontece à visão do sol naquela co-
ordenada terrestre.
O céu acima de Seurasaari tinge-se
de rosa e laranja e indicia um ocaso
ainda mais garrido. Abandonamos a
clareira do evento e metemo-nos por
trilhos que esperamos nos levem à
orla da fl oresta, seguidos por grupos
de adolescentes fi nlandeses com o
mesmo plano. Contornamos as últi-
mas linhas de coníferas e a ausência
de vegetação desvenda a luz termi-
nal do grande astro a espraiar-se a
partir do outro lado de uma enseada
congelada do Mar Báltico.
No dia seguinte é domingo. Al-
gumas famílias fi nlandesas cristãs
reúnem-se à mesa para um jantar
de Páscoa. Em vez de salsichas, irão
partilhar cordeiro e, por infl uência
da tradição religiosa ortodoxa, vá-
rias outras especialidades gastronó-
micas do Leste.
Várias famílias percorrem o mes-
mo caminho sombrio que se interna
pela ilha. Tomam conta de crianças
endiabradas que vão mascaradas e
pintadas de pequenas bruxas ou
espíritos (trullis em fi nlandês) e se
reúnem entre as árvores, moinhos e
celeiros seculares e sobre um grande
monte de neve a ver o fogo reforçar-
se e aumentar, segundo a tradição
para os afastar.
Achamos piada à chaleira verme-
lha e ao raminho de galhos silvestres
que Tyra carrega com cuidado como
Guia prático
RÚSSIA
NORUEGA
SUÉCIA
FINLÂNDIA
PorvooHelsínquia
COMO IR
Mais viagens emfugas.publico.pt/
A TAP (flytap.com) é a única companhia aérea a voar directamente de Lisboa para Helsínquia. Tem cinco voos directos/semanais para a capital finlandesa, de 6 de Junho a Setembro. Mais informações ou reservas através do telefone 707 205 700.
QUANDO IR
No início da Semana Santa, se quiser acompanhar as comemorações luteranas e pagãs realizadas na capital finlandesa. A meteorologia ainda se mantém algo agreste para quem chega do Sul da Europa, com as temperaturas a rondar os 0 graus, queda de neve frequente e forte possibilidade de tempo nublado. Este tipo de clima contribui, no entanto, para reforçar o exotismo e o encanto nórdico de Helsínquia.
ONDE DORMIR
Palace HotelUm dos poucos hotéis mais requintados de Helsínquia que oferece vista marítima. Os quartos com vista para o Mar Báltico custam um pouco mais mas permitem-lhe acompanhar, em grande conforto, as manobras dos ferries de entrada e saída no porto. Quarto duplo a partir de 240€ por noite.www.palace.fi
ONDE COMER
Ravintola GeorgeRestaurante com uma estrela Michelin que serve um marisco fabuloso num local tranquilo de Helsínquia. Pratos entre os 27 e os 40 euros. Kalevankatu 17Tel.: 010-270 17 02
DINHEIRO E LOGÍSTICA
A Finlândia usa o euro. Existem inúmeras máquinas ATM em Helsínquia e Porvoo mas não em Seurasaari. Quase todos os estabelecimentos da capital finlandesa têm terminais para pagamentos com cartões. A Finlândia é um país relativamente dispendioso. Não tanto como as vizinhas Noruega e Suécia mas, ainda assim, caro.
16 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
Perfi l
Tem dez anos de carreira literária, muitos mais de palavras ditas, lidas, escritas. São a obsessão desta portuense que leva o Porto no que é, no que escreve. “O Porto será sempre a minha cidade, como o Douro será sempre o meu rio — conforta-me a proximidade da outra margem.” Périplo entre uma cidade líquida e uma cidade das palavras. Andreia Marques Pereira (texto) e Fernando Veludo/NFactos ( fotos)
Filipa Leal e o Porto
Se estamos diante
do Atlântico não é um acaso.
“Vir ao Porto é ver imediatamente
o mar.”
“O mar faz-me muita falta”, e não
é, sublinha Filipa Leal, uma “neces-
sidade poética”, antes a “necessida-
de física de quem nasce e vive junto
dele.” E ela nasceu, cresceu, viveu
no Porto — agora, gosta de imaginar
que está com um pé aqui e outro
em Lisboa. Em Londres, continua,
sentia muito a sua falta, em Lisboa,
nos primeiros tempos, quando vivia
e trabalhava na Baixa, ia ao Cais das
Colunas só para ver o rio — como se
fosse o mar. Assim, com o mar como
pano de fundo, Filipa Leal, jornalista
e poetisa a cumprir dez anos de car-
reira literária, desenha o seu “triân-
gulo amoroso” geográfi co, no qual o
Porto ocupa o epicentro em tor-
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 17
18 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
Perfi l
no do qual gravitam as duas capitais,
uma onde viveu, a inglesa, outra
onde vive, a portuguesa. Uma rela-
ção resolvida (e, isto, sim, é poesia):
“O Porto é o meu marido, Londres
a ex-mulher, Lisboa a amante.”
E se estamos na Praia dos Ingleses
também não é por acaso, já vimos.
Filipa gosta do simbolismo, como
se Londres, onde estudou jornalis-
mo, vivesse um pouco neste canto
da Foz portuense. Além do mais, é
presença regular neste pedaço “in-
glês”, sobretudo desde que o seu
outro triângulo, desta vez inteira-
mente portuense, se fechou quando
a família se mudou para esta zona
do Porto-a-ver-o-mar. Nesta tarde de
Inverno invulgarmente ensolarada,
as palavras de José Gomes Ferreira
que Filipa conjura parecem desa-
justadas: “Porto – cidade de luz de
granito”, mas o contexto é outro;
agora, o Porto manifesta-se solar
diante da vastidão do mar.
“Há dias em que me constrange
[o mar]. A vastidão também me per-
turba. Procuro e rejeito.”
Quando rejeita, há mais “cidade lí-
quida” (título de um dos seus livros)
como refúgio-alternativa de Filipa
Leal. Não passámos, fi sicamente,
pelo rio neste périplo pela cidade
— fi camo-nos mais pela geografi a das
palavras, o que não surpreende: “É
na linguagem que se instala a minha
geografi a e às vezes é muito cansa-
tivo” —, mas é este o outro rosto
líquido desta sua cidade. “O rio de
onde se pode ver a outra margem.”
Há um conforto inerente em poder
vê-la, confessa.
“O Douro, no Porto, tem tamanho
de rio. Estranhei o Tejo, tem tama-
nho de oceano.”
Nos “grandes passeios pelas margi-
nais” portuenses, Filipa está consigo.
A pessoa que é, que foi, quem sabe,
que será. O seu Porto sempre passou
por estas margens, desde o tempo
de juventude, quando se iniciou nas
saídas com amigos.
“A maior parte da adolescência
passei-a nestas praias, as minhas
primas viviam aqui.”
Não esquece os jantares na Praia
do Molhe (“está igual”), as primei-
ras sangrias e cervejas entre esta e a
Praia do Homem do Leme.
“Mais tarde, tive a fase da Ribeira,
todos iam para lá.” E “há imagens
que não passam”, como as tardes
entre fi nos e tremoços na “praça do
cubo”. Ou outras mais específi cas,
como a jukebox numa das esplanadas
defronte do rio naquele fi m de tarde
“extraordinário”, de “música inima-
ginável”; ou, mais recentemente, o
almoço dos 30 anos com a família,
seguido da surpresa das amigas que a
levaram, pela primeira vez, a passear
no Douro de barco rabelo.
Se a “cidade líquida” de Filipa
Leal se começou a revelar na adoles-
cência, a sua “cidade das palavras”
revelou-se um pouco mais tarde e,
desde então, passou a mover-se entre
ambas. As suas origens, porém, vêm
de trás, da sua infância, com a mãe
a recitar, a ela e aos irmãos, poesia,
“sonetos de Camões, Pessoa...”. “Foi
ela que criou o hábito de eu ouvir po-
esia, comecei a ouvir poesia antes de
a ler.” Se calhar nem a mãe esperava
o efeito que essas leituras tiveram:
aos 11 anos chegou a casa para anun-
ciar à mãe que queria ser escritora.
“A minha mãe, muito sabiamente,
disse que achava lindamente”, recor-
da, “mas que em Portugal era difícil
ser só escritora, tinha que ter outra
profi ssão.” “Há 23 anos, os poetas
já estavam em crise”, brinca. Pouco
depois tinha encontrado a “profi s-
são”.
“O jornalismo foi a escolha que fi z
como alternativa possível à literatu-
ra. Se não podia ser escritora, como
jornalista podia, pelo menos, escre-
ver todos os dias.” A poesia=escolha
intuitiva; o jornalismo=escolha ce-
rebral.
A “cidade das palavras” de Filipa
Leal começou a desenhar-se há mais
ou menos 15 anos entre o Pinguim e o
Púcaros, dois bares portuenses onde
a poesia corria solta e que se torna-
ram os seus “sagrados pontos de fuga
permanentes”. Às segundas-feiras
era na cave do Pinguim que saciava
a sua fome de palavras ditas (ainda
hoje se pode fazer); às quartas-feiras,
no Púcaros. Numa primeira fase, li-
mitava-se a ouvir; depois começou
a dizer.
“Durante muitos anos só dizia em
público poesia dos outros. Passava
parte da semana a escolher o que ia
dizer.”
Actores frustradosPassava também no café Luso,
“quando era sítio de beatas no
chão e muito sujo”: “um sítio es-
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 19
pecial” onde conheceu o poeta
Ulisses, que vendia poemas avul-
so. “Foi a primeira pessoa que vi
fazê-lo. Cheguei a comprar-lhe um
poema.” Nessa altura, considera,
o Porto tinha grande investimento
na poesia. E foi nessa altura que se
lhe abriram as portas das “Quintas
de Leitura” do Teatro Campo Ale-
gre, hoje uma instituição da cidade,
quando conheceu Pedro Lamares,
no Pinguim.
Foi para as “Quintas” e para a
Caixa Geral de Despojos, uma tru-
pe poética para a qual a palavra é
uma ponte para outras formas de
expressão artística. Inclusive para o
teatro, com o qual Filipa também se
envolveu: esteve um ano no centro
de formação do Balleteatro e, antes,
no liceu Garcia de Orta, o 12.º ano
fez-se com uma ofi cina de teatro
às sextas à tarde — já em Londres,
tentou o mesmo mas entendeu que
o seu inglês não estava à altura de
dizer Shakespeare. Foi uma “deci-
são tardia”, esta do teatro, mas o
fascínio sempre esteve lá.
“Acho que o escritor é um actor
frustrado. No fundo gostava de en-
trar em cena; no fundo é isso que
faz quando se senta a escrever.”
Ao mesmo tempo, da parte de
Filipa “havia uma vontade de ul-
trapassar limites” e ela achava que
“em palco a palavra se tornava em
algo mais palpável”. Nas “Quintas
de Leitura”, encontrou uma casa
feliz: “estar em palco a dizer poesia,
a unir os dois lados”.
“A palavra é a minha grande ob-
sessão: dita, lida, escrita.”
O Campo Alegre é, aliás, a zona
do Porto onde as suas raízes emo-
cionais chegam mais fundo: antes
de realizar o sonho nas “Quintas de
Leitura”, houve o Colégio de Nossa
Senhora de Lourdes, que havia sido
a casa dos seus bisavós. “Brinquei,
nos meus primeiros anos de escola,
no jardim onde o meu pai e os meus
tios o haviam feito.” E, coincidên-
cia, os avós maternos viviam nessa
rua, eram eles que a iam buscar.
Também viveu aqui e, mais tarde,
na Faculdade de Letras, fez o mes-
trado em Literatura Portuguesa e
Brasileira.
“Acho que é um Campo Alegre
mesmo.”
Porém, o seu Porto é novamen-
te um triângulo, que tem os ou-
tros vértices na Foz, já vimos, e
na Baixa, onde nasceu e viveu os
primeiros anos. E onde por estes
dias descobre uma nova geografi a
de “lazer”. Já era por aqui, contu-
do, que percorria alguns caminhos
das palavras, com paragens obri-
gatórias na Livraria Leitura, onde
encontrou mais o que procurava,
sobretudo quando “descobriu” a
literatura brasileira, e, mais tarde,
na Poetria, feita de teatro e poe-
sia. Agora tem um outro caminho
de palavras, desta vez suas, neste
Porto: a Casa do Conto inscreveu-
as no tecto de uma das suas suites,
que leva o seu nome. “Não era bem
voar/era pelo menos/poder fi car/
suspenso/num ponto alto.”
A poesia de Filipa Leal inscrita
no Porto que ela sente como po-
esia, “no sentido da síntese, da
contenção, da refl exão”. A com-
paração com Lisboa, onde vive há
quatro anos, é inevitável: “Lisboa
é prosa, é torrencial, é uma cida-
de de parágrafos mais longos.” O
Porto permite-lhe, dá-lhe solidão;
é introspectivo, de maior silêncio.
Filipa tem uma relação de grande
proximidade com ele e, por isso,
também se sente mais perto de si,
mesmo que para tal tenha de atra-
vessar “a zona de nevoeiro” que
a cidade pode parecer ter até se
conseguir iluminar e ao que aqui
está.
“Dá mais espaço ao confronto.”
“Porque não tenho o trabalho de
o descobrir posso descobrir-me.”
Na sua obra (seis livros, cinco de
poesia) não há muitas referências
directas ao Porto. Uma das raras
excepções está n’ O Problema de Ser
Norte. Uma página, um verso: “Por-
to. 20h. Ninguém canta.” Mas como
Filipa Leal não se importava de ter
sido detective, vai deixando pistas,
nem sempre geográfi cas, nos seus
livros. “Muitas vezes são recados
a mim mesma.” No mesmo livro,
por exemplo, fala de um café que
Al Berto chegou a frequentar, na
Batalha — não por acaso, o poema
chama-se O Medo; não por acaso,
termina com a palavra granito.
“Como o Porto, também eu te-
nho um lado enevoado, silencioso,
contido, franco. Tenho muita difi -
culdade em disfarçar o que sinto.
Tenho o coração à mostra. É quase
tudo verdade.”
Ao desvendar o Porto, a cidade
incitou-a a procurar os seus poetas,
os que aqui nasceram, os que aqui
escolheram viver.
“Sophia, Eugénio de Andrade,
Jorge de Sousa Braga, Ana Luísa
Amaral, Manuel António Pina, Da-
niel Maia-Pinto Rodrigues, Rosa
Alice Branco, José Miguel Silva, e
tantos outros...”
“O Porto é uma cidade muito
bem frequentada.” (risos)
Ainda que trate mal quem a quer
bem. Filipa Leal viu-se obrigada a ir
para Lisboa quando o jornal onde
trabalhava despediu a redacção e
nenhuma outra porta se abriu no
Porto. Diz que a grande tragédia do
Porto é essa mesma, não dar traba-
lho; se não, podia ser uma cidade
quase perfeita.
“Tem mar, tem rio.”
Voltamos ao estado líquido. Nos
próximos dias, Filipa Leal estará ro-
deada de água por todos os lados
— vai passar pelo Funchal, como
convidada do Festival Literário da
Madeira (de 1 a 6 de Abril). Se a vas-
tidão do mar a constranger, sabe
que tem um lugar-refúgio.
“A cidade onde nasci e vivi a
maior parte destes 34 anos está
sempre em mim — no que sou, no
que escrevo. O Porto será sempre a
minha cidade, como o Douro será
sempre o meu rio — conforta-me
a proximidade da outra margem.”
Se a “cidade líquida” de Filipa Leal se começou a revelar na adolescência, a sua “cidade das palavras” revelou-se um pouco mais tarde e, desde então, passou a mover-se entre ambas
20 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
DormirDuecitânia Design Hotel
Estes romanos não estão nada loucos
É um hotel temático que nasceu nas margens do rio Dueça, em Penela, para homenagear a antiguidade clássica. Foi o sonho de uma família que quer agora atrair outras famílias e levá-las a saber mais sobre a infl uência da civilização romana na região. Veni, vidi, vivi. Sandra Silva Costa (texto) e Nelson Garrido (textos)
Ninguém diria ao
que vamos. Chegamos debaixo de
chuva forte e de um céu de chumbo
que pinta um quadro austero. O rio
Dueça, aqui mesmo em frente, corre
cheio e barrento, e meia dúzia de
cabras empoleiram-se na encosta
do outro lado da rua, indiferentes
à quase intempérie.
Corremos sobre o deck de madei-
ra sem prestar a atenção devida ao
enquadramento e, agora sim, perce-
bemos ao que viemos. Empurramos
uma porta de vidro e damos de caras
com isto: “Veni, vidi, vivi.” Estamos
conversados: viemos para ver e vi-
ver. Tens a certeza que os romanos
estavam loucos, Astérix?
Acabámos de entrar no mundo
encantado do Duecitânia Design Ho-
tel, um quatro estrelas inaugurado
em Dezembro de 2012 em Penela,
mas não é de banda desenhada que
vamos falar. Tudo neste hotel fami-
liar (em duplo sentido: foi o sonho
de uma família e pisca claramente
o olho às famílias) foi pensado ao
pormenor para homenagear a civi-
lização romana.
Patrícia Maduro, a fi lha dos pro-
prietários, recebe-nos com um sor-
riso no lobby, onde temos já uma
amostra do que há-de vir. Num
grande painel em tons de dourado,
a contrastar com o preto de algu-
mas paredes, o nome e o logótipo
remetem-nos logo para o conceito de
hotel temático que a família Maduro
aqui procurou recriar. “Duecitânia
seria como os romanos chamariam
às terras do rio Dueça. Para símbolo
do nosso hotel, escolhemos Pégaso,
o cavalo alado, exemplo da imagina-
ção criadora”, sintetiza Patrícia.
É ela quem, durante uma visita
guiada pelos quatro pisos do hotel,
nos explica os contornos da sua his-
tória. O edifício onde estamos foi
uma antiga fábrica de papel, que a
família comprou em hasta pública
à Câmara Municipal de Penela. O
projecto de reconversão em unidade
hoteleira durou três anos, durante os
quais os Maduro foram aprumando
o objectivo de nela homenagearem
a antiguidade clássica. “Sendo esta
uma zona de forte presença dos
romanos, e sendo o meu pai um
apaixonado pela cultura clássica,
achámos que fazia todo o sentido”,
recorda Patrícia, sublinhando que
a família não queria fazer apenas
“mais um hotel”.
Encontrado o conceito, houve que
materializá-lo. Nos três pisos supe-
riores (no rés-do-chão encontra-se
o restaurante Gustatio, a piscina
interior aquecida e as salas do spa)
instalam-se quartos de três tipolo-
gias (duplos superior, duplos deluxe
e suites deluxe) e em cada andar é
abordado um período específi co do
Império Romano: a fundação, a con-
solidação e o declínio. Voz a Patrícia
Maduro: “Estes períodos do império
refl ectem-se também no jogo de co-
res que escolhemos para cada um
dos andares.” Assim, se no primeiro
piso a decoração é em tons de borde-
aux, passa a cinzento no segundo e
torna-se verde no terceiro. Denomi-
nador comum a todos os andares é
a linguagem fi gurativa do chão e das
paredes, com representações histó-
ricas e mitológicas correspondentes
a cada um dos períodos do império.
Detalhe importante: o número de
cada um dos XLII quartos está es-
crito em numeração romana, claro
(embora também haja a “tradução”
para o sistema decimal).
Calhou-nos em sorte o quarto CC-
CIII. Abrimos a porta e estamos, de
facto, em território verde. É ele que
impera na parede que temos à nos-
sa esquerda (e onde encontramos a
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 21
frase “Cito Maturum, cito petridum”,
que é como quem diz, “O que cedo
amadurece, cedo apodrece”; Patrícia
já nos explicou que em cada quarto
há um “provérbio romano”), na al-
catifa, nas mantas e almofadas que
jazem nas camas, no painel da gene-
rosa casa de banho — de onde se tem,
aliás, uma óptima vista. (Nesta mes-
ma casa de banho, saúda-se o seca-
dor de cabelo “a sério” e a qualidade
dos atoalhados, mas lamenta-se que
os produtos de higiene sejam reduzi-
dos a um mínimo demasiado básico.)
De volta ao quarto, o que domina
são mesmo as janelas, duas, que se
levantam quase até ao tecto — e, es-
tando nós no último andar do hotel,
o pé direito é bem pronunciado. O
resultado é o que se sabe: muita luz
natural, que se agradece, ainda mais
num dia como este. Corremos os es-
tores e o que vemos lá fora é gratifi -
cante: um ambiente bucólico, fruto
da chuva, sim, e do rio que corre tur-
vo, mas também das oliveiras que se
espalham pelos 13 hectares da quinta
onde está instalado o Duecitânia. É
fácil imaginarmo-nos aqui num dia
de Primavera, com céu azul, água
límpida e pastos verdes em redor.
Não é o que temos agora, por isso
voltamo-nos para dentro e concluí-
mos a inspecção ao quarto. Duas ca-
mas, área de trabalho junto a uma
das janelas, TV de ecrã plano, um
cadeirão de acrílico — uma decora-
ção “leve e contemporânea”, como
já tínhamos lido no site do hotel. O
roupeiro é aberto, o que signifi ca que
se trata apenas de um varão na pare-
de, e preferíamos que não estivesse
localizado imediatamente por cima
do minibar, mas, no nosso caso, o
contratempo não é de monta.
Antes que anoiteça, ainda para-
mos no bar, o Tabernae. Apesar
do mau tempo, há um casal que
aproveita uma trégua e se aventura
na esplanada com vista para o jar-
dim que, apostamos, será uma das
grandes mais-valias em dias de calor.
Não hão-de fi car muito tempo, que
a chuva voltará a fazer das suas em
breve.
Lá fora já é o dilúvio. Estamos ago-
ra no restaurante, com vinho tinto
no copo e, para inícios de conversa,
um crepe de cogumelos e farinheira
no prato. Defi nitivamente, estes ro-
manos estão tudo menos loucos.
A Fugas esteve alojada a convite do
Duecitânia Design Hotel
Guia prático
COMO IR
Do Porto e de Lisboa, seguir pela A1 e sair em direcção a Condeixa. Tomar depois a A13 e sair em direcção a Penela. O hotel, e as indicações para ele, aparecem logo a seguir.
ONDE COMER
O restaurante do Duecitânia, o Gustatio, será sempre uma opção, até porque, para hotel, tem preços simpáticos. Quem quiser pode inclusive experimentar o menu romano preparado pelo chef Helder Caetano. Em Penela, costumam aconselhar o D. Sesnando, mas esse a Fugas não testou. Experimentou, sim, o Varanda do Casal, na aldeia de xisto de Casal de São Simão, a uns 20 minutos de Penela, e recomenda.
O QUE FAZER
Em Penela, obrigatória a visita ao castelo, declarado monumento nacional já em 1910 e de onde se tem uma vista privilegiadíssima sobre as serranias da zona. De resto, os vestígios romanos no concelho são uma das mais-valias de Penela e é proibido abandonar a região sem uma visita ao Rabaçal. Primeiro ao museu, na freguesia homónima, onde se tem uma visão geral da implantação e legado dos romanos, através da exposição Villa Romana do Rabaçal: era uma vez… Feitas as apresentações no espaço museológico, parte-se para a estação arqueológica (a Villa Romana propriamente dita, datada do século IV d.C.), que inclui a residência senhorial, o balneário, a área rústica e os sistemas elevatórios de
água. O circuito completa-se com a subida à Chanca, com belveder sobre o povoamento e a paisagem. Ainda no capítulo romanos, diga-se que o Rabaçal fica a 12 quilómetros de Conímbriga.
Visitar as aldeias do xisto é também um programa mais do que recomendável. No concelho de Penela há uma, Ferraria de São João, mas, sinceridade acima de tudo, Casal de São Simão, no município de Figueiró dos Vinhos, tem outro encanto.
O QUE COMPRAR
Haverá certamente outras coisas, mas não pode sair de Penela sem levar na bagagem pelo menos um queijo Rabaçal. Vendem-se em vários locais da freguesia.
INFORMAÇÕES
Duecitânia Design HotelPonte do Espinhal3230-292 PenelaTel.: 239 700 740; 939 499 559. Fax: 239 700 741Email: [email protected]ços: Diferem consoante o alojamento seja de domingo a quinta-feira ou nas noites de sexta e sábado. Assim, em jeito de promoção de abertura, os quartos duplos superior custam ou 68 ou 88€; os duplos deluxe 88 ou 108€; e as suites deluxe 148 ou 165€.
Ao lado, o bar Tabernae, cuja esplanada se arrisca a ser um sucesso em dias de sol; em baixo, à esquerda, o edifício principal do hotel, onde já funcionou uma fábrica de papel, e, à direita, uma das suites do Duecitânia
22 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
GastronomiaReceitas
MERENGUE COM MORANGOS
Ingredientes5 claras (200 g de claras)200g de açúcarSumo de 1/2 limão200g de açúcar em pó4 dl de natas500 g de morangosAçúcar em pó q.b.
Ingredientes5 claras (200 g de claras)200 g de açúcar150 g de açúcar em pó50 g de amêndoa em póAmêndoa laminada q.b.Caramelo q.b.
a Deite o preparado num saco
pasteleiro com um bico canelado
e num tabuleiro de forno
forrado com papel vegetal forme
suspiros. Polvilhe com a amêndoa
laminada.
a Leve ao forno pré aquecido
a 110ºC durante cerca de 1h30.
Retire e deixe arrefecer. Regue
com um fi o de caramelo fraco
e sirva.
MERENGUE DE AMÊNDOA
A Páscoa combina bem com merengues
Preparaçãoa Bata as claras em castelo com
as 200 g de açúcar. Quando
estiverem formadas adicione,
envolvendo cuidadosamente, a
amêndoa misturada com o açúcar
em pó.
Preparaçãoa Bata as claras em castelo
com os 200g de açúcar. Quando
estiverem formadas adicione
o sumo de limão e de seguida
peneire o açúcar em pó e
envolva-o cuidadosamente.
a Deite o preparado num saco
pasteleiro com um bico canelado
e num tabuleiro de forno forrado
com papel vegetal forme cestos
redondos afastados entre si.
a Leve ao forno pré-aquecido
a 110ºC durante cerca de 1h30.
Retire e deixe arrefecer.
a Bata as natas e recheie os
cestos. Disponha morangos
por cima, cortados ou inteiros,
dependendo do seu tamanho e
polvilhe com açúcar em pó.
Nota: Como a receita base do
merengue já tem bastante açúcar,
recomendamos bater as natas sem
açúcar.
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 23
MERENGUE COM MIRTILHOS
Ingredientes5 claras (200 g de claras)200g de açúcar200g de açúcar em pó500g de mirtilhos1 vagem de baunilha25g de açúcar1 1/2 dl de água
Hugo [email protected]ção e fotografi a:
Preparaçãoa Bata as claras em castelo
com os 200g de açúcar. Quando
estiverem formadas peneire
o açúcar em pó e envolva-o
cuidadosamente.
a Deite o preparado num saco
pasteleiro com um bico canelado
e num tabuleiro de forno forrado
com papel vegetal forme línguas.
a Leve ao forno pré-aquecido
a 110ºC durante cerca de 1h30.
Retire e deixe arrefecer.
a Ferva a água com o açúcar e a
vagem de baunilha previamente
aberta no seu comprimento
durante cerca de oito minutos.
Junte os mirtilhos, ferva por mais
três minutos, escorra e reduza a
calda um pouco mais.
a Sirva os merengues juntamente
com os mirtilhos e a calda.
24 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
RestauranteTaberna 1300
Uma taberna que arrisca e onde bem se petiscaA febre de chamar “taberna”, “tasca” ou “tasquinha” a restaurantes com pretensões ou apenas pretensiosos parece ter pegado de estaca. Na Taberna 1300 o nome é curto para um local onde se cozinha a sério. Fortunato da Câmara (texto) e Rui Gaudêncio ( fotos)
Depois do surto
“gourmet” ter surgido em cada es-
quina, instalou-se a onda do suposto
castiço e informal, mas onde o preço
é quem mais ordena e por isso, no
fi m de contas, o nome é só retórica.
O importante é saber-se ao que se
vai, pois neste jogo de designações
também há exemplos em que o no-
me não faz a devida justiça ao que
por lá se encontra.
É o caso desta Taberna 1300. A
mesma equipa já tinha aberto em
2007, em Oeiras, sob a égide do có-
digo postal local a sua primeira “ta-
berna”. Desde o início que o nome foi
assumido como uma ironia comple-
mentar ao humorístico menu de de-
gustação, criado à medida do espaço
diminuto, mas com o desejo sério de
mostrar horizontes alargados. Foi o
que veio a acontecer em 2011, quan-
do surgiu uma nova “taberna” com
o código alcantarense 1300, onde se
situa a LX Factory.
Esta antiga zona industrial de Lis-
boa foi salva da sina da decadência
para se transformar num espaço
irreverente e multicultural. É caso
para dizer que estava escrito nas nu-
vens que só podia ser aqui a morada
de um projecto como o do Taberna
1300. Um armazém amplo decorado
com exuberância e detalhes irónicos
à mistura, como seria de esperar, on-
de caberia meia dúzia de “taberni-
nhas” 2780. Relógios gigantes a ilus-
trarem o fundo da sala, lustres em
cascata sobre as mesas e uma boa
iluminação natural são destaques
da sala — diria antes salão, para ser
mais realista.
Num almoço surgiu o “caldo ver-
de taberneiro” (3,50 euros), em que
a batata vinha num caldo cremoso,
encimado por fi os de couve frita,
espuma de batata e uns pozinhos
de chouriço. Um conjunto agradá-
vel, que podia estar mais quente,
e que fazia uma leitura diferente
deste clássico tradicional, sem lhe
desvirtuar em demasia o fácies e o
sabor. Copiosa de elementos era a
“tábua mista de enchidos e queijos
de origem portuguesa” (12 euros). À
parte um deslocado salame italia-
no, lá vinham algumas rodelas de
painho e chouriço de carne e uns
troços grelhados de boa morcela e
de uma farinheira banal. Do outro
lado da barricada bons queijos, um
da Quinta do Anjo (a lembrar o de
Azeitão), um de ovelha oriundo do
Douro (sem mais especifi cações) e
uns cubinhos de queijo ilha de pouca
cura. A guarnecer a generosa tábua
vinham alguns bagos de uva, um be-
líssimo doce de abóbora e outro de
pêra avinhado, uns equilibrados e in-
comuns pastéis de massa tenra com
alheira e ainda frutos secos tostados,
a saber: amendoins, pistáchios ver-
des e amêndoas.
Das opções do dia provou-se o “ca-
chaço de vitela mirandesa, puré de
aipo, raiz de salsa e cogumelos” (18
euros). O corte naturalmente fi broso
do cachaço vinha a fi letar de tenro,
regado por um molho de carne. O
jugoso naco vinha sobre um delica-
do puré de aipo e na companhia de
tomates cereja e cogumelos nameko
salteados. O “peixe mais fresco do
dia com arroz de sapateira” (12 euros)
era uma opulenta tranche de garou-
pa a lascar, guarnecida com um bem
engendrado arrozinho cremoso, on-
de um toque de tomate lhe acentuou
os aromas gulosos graças à junção do
interior da sapateira.
Cozinha a sérioA ementa de almoços é francamente
diferente da dos jantares, havendo
no entanto uma ou outra sugestão
em comum cujo preço desce da noite
para o dia, literalmente. Daí que por
vezes exista alguma discrepância de
preços entre o que está anunciado
na carta e o que vem na conta, com
a diferença de valores a pecar tanto
por excesso como por defeito. Nada
como verifi car antes do pagamento.
Um elemento transversal é o “cesto
de pão da casa” (3,50 euros) que tra-
zia um portentoso pão “breu” (com
melaço e cerveja preta Guinness) que
se bastava a si mesmo, um de azeite
que ligava bem com a manteiga de
ervas e um outro de tomate que pe-
dia a personalidade forte do “azeite
do mercado”, feito em exclusivo pa-
ra a casa. Ainda assim, sentiu-se em
cada visita a falta de um pão neutro
de trigo ou mistura que funcionasse
como uma “tela em branco” para
a manteiga de enchidos de um dos
de fritura leve e sem mácula, a fazer
lembrar uma tempura, repousava
sobre um “ninho” formado por al-
gas e legumes cortados numa juliana
fi níssima. Foi fi nalizado ao momen-
to com o molho do crustáceo a ser
derramado em redor dos restantes
elementos e a revelar-se aveludado,
intenso e sublime.
De entre os pratos principais, dois
deles tinham direito a página própria.
A emblemática “perdiz à Convento
de Alcântara” (20 euros) era sugerida
com a ajuda de um texto explicativo
acerca do prato, pena que a versão
apresentada fosse algo pífi a. Um pei-
dias, onde sobressaíam os sabores a
chouriço e farinheira.
As propostas nocturnas são, po-
rém, mais ambiciosas e ao mesmo
tempo arriscadas. De entrada, a “rou-
pa velha” (9 euros), tal como já havia
acontecido com o caldo verde, surgiu
sob o signo da desconstrução. Uma
“telha” (crocante) de alheira, uma
panqueca de enchidos, um ovo a bai-
xa temperatura e grelos salteados.
Tudo agregado, mas não misturado,
a compor com razoável equilíbrio
uma orquestração dispersa mas sa-
borosa. O “caranguejo de casca mole,
algas e caldo de lavagante” (9 euros)
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 25
Apesar de asso-
ciarmos a região alentejana à pla-
nura sem fi m, há vários Alentejos,
não apenas o interior e o costeiro.
Nos azeites, por exemplo, há três
denominações de origem protegi-
da: Moura, Alentejo Interior e Norte
Alentejo. Atribuirmos uma marca
comum ao azeite alentejano é, por
isso, redutor. Mesmo no interior de
cada denominação os azeites po-
dem ser bastante diferentes.
O que determina a tipicidade de
um azeite é, sobretudo, a varieda-
de de azeitona utilizada, o clima
e o solo. No caso do Alentejo, as
águas do Guadiana estabelecem
uma diferenciação assinalável. Na
margem esquerda, a região de Mou-
ra, onde predominam as cultivares
Cordovil de Serpa, Galega Vulgar
e Verdeal Alentejana, produz um
azeite mais fi no mas também mais
frutado, amargo e picante. Na mar-
gem direita do rio, na DOP Alente-
jo Interior, o olival desenvolve-se
melhor, é mais produtivo e o azeite
resulta mais suave e doce. No Norte
Alentejo, onde coabitam a Galega
Vulgar, a Carrasquenha e a Redon-
dil, os azeites são um pouco mais
espessos e frescos de aroma.
O azeite desta semana, o Conde
da Vidigueira Virgem Extra, vem do
Alentejo Interior. É uma marca que
a Cooperativa Agrícola da Vidiguei-
ra comercializa em exclusivo para
o Clube de Produtores a Sonae (o
grupo proprietário do PÚBLICO).
Esta garrafa de 0,75 cl foi compra-
da num hipermercado Continen-
te e custou 3,99 euros. O que nos
despertou a atenção e motivou a
compra foi precisamente o preço.
Num ano em que os preços do azei-
te a granel estão em alta, devido
à acentuada quebra da produção
AzeiteProva
Do Alentejo Interior vem um azeite com um leve toque picante indicado para iniciados. Pedro Garcias
Bom e barato (de mais)
registada na última colheita, em
particular em Espanha, o princi-
pal produtor mundial, é quase um
mistério haver azeites virgem ex-
tra tão baratos. Os consumidores
agradecem, mas devia haver limi-
tes para o esmagamento dos preços
na grande distribuição. A granel, o
quilo de azeite anda por volta dos
três euros. Se uma garrafa de 0,75
cl custa 3,99, dá para perceber que,
somando os custos com a garrafa,
o rótulo, a cápsula, a caixa e o en-
garrafamento e embalamento, a
margem de lucro da Cooperativa
Agrícola da Vidigueira deve ser
mínima. E estamos a falar de um
azeite virgem extra (o melhor) com
selo DOP (Denomi-
nação de Origem
Protegida).
Nem vale a pena,
pois, questionar se o
azeite vale o preço.
Vale e muito, ape-
sar de não es-
tarmos peran-
te um virgem
extra de cortar
a respiração.
É um azeite
bastante doce,
com um leve
toque picante,
e aromatica-
mente singelo.
Cumpre bem
vários papéis
na cozinha e é
indicado para
iniciados, que
costumam fa-
zer cara feia a
azeites mais in-
tensos, amargos
e picantes.
a Mau mmmmm Razoável
mmmmm Bom mmmmm Bom Mais
mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente
CONDE DA VIDIGUEIRA VIRGEM EXTRA
mmmmm
Produtor: Cooperativa Agrícola da VidigueiraVariedades: Galega, Cobrançosa
e outras
Região: Alentejo InteriorPreço: 3,99€
tinho da ave recheado com cogume-
los e trufa, de sabor discreto, à parte
um escalope de foie gras salteado de
qualidade regular e uma espécie de
bolinha feita com perdiz desfi ada,
que passou sobre frutos secos antes
de ir a fritar. A guarnição era mas-
sa fresca (spätzle) salteada com co-
gumelos shimeji, que ao destilarem
água durante a confecção deixaram o
conjunto como se fosse uma espécie
de sopa asiática de massa grossa, o
que não valorizou o prato.
O outro prato principal foi pedido
com o coração, pois ao ler “bacalhau
à Conde da Guarda em homenagem
ao chefe João Ribeiro” (18 euros) não
hesitei um segundo, passando-me ao
lado a descrição do prato que estava
enunciada na ementa. Quando che-
gou à mesa tive a mesma sensação
de alguém que assina um contrato
sem ler as letras pequeninas. Louva-
se desde já a lembrança do grande
mestre da cozinha em Portugal que
foi João Ribeiro. O busílis é evocar
a sua receita mais famosa em jeito
de homenagem e depois servir dois
cubos de bacalhau de meia cura con-
fi tados, um tubo feito com rodelas de
batata, recheado com uma mistura
de puré com bacalhau, e ao lado um
crocante de queijo parmesão tipo bo-
lacha. Enfi m, uma composição tra-
balhosa, mas que nem por sombras
remete para a receita original. A mis-
tura de puré de batata com bacalhau
e alhos pisados no almofariz, uma
dose generosa de natas a envolver e
queijo ralado no topo para gratinar
está nos antípodas desta versão fan-
tasiosa, onde até cabia um piso de
azeitonas, ovas de bacalhau passadas
num coador e tingidas com uma pas-
ta vermelha (lembrou-me harissa) a
mimetizar a aparência de caviar, e
microbolinhos de bacalhau. O sim-
ples facto de uma “francesinha” e
uma “grelhada mista” terem vários
ingredientes em comum não quer di-
zer que sejam a mesma coisa. Quem
não souber como é um bBacalhau à
Conde de Guarda”, com esta versão
nunca vai saber. O que é pena, pois
o arriscado exercício de “descons-
truir” receitas tradicionais até tinha
resultado antes.
Boa carta de vinhos, gizada com a
consultadoria do sommelier Rodolfo
Tristão, variada de escolhas e preços,
com propostas menos óbvias e orga-
nizada pelo perfi l de cada néctar. Es-
tá, no entanto, assegurada de forma
abrangente a representatividade das
principais regiões e alguns rótulos
internacionais. Outra aposta sólida
é a do vinho a copo, com um bom
leque de sugestões. Outro ponto po-
sitivo é o set de cinco referências para
acompanhar o menu de degustação
ser proposto a 16,50 euros, um preço
competitivo em relação ao que é ha-
bitual e que já inclui um vinho de so-
bremesa. Nada a apontar em relação
às temperaturas e aos copos — não
pode passar é o facto de uma garrafa
de tinto ter chegado à mesa já aberta,
falha de correcção elementar.
Nas sobremesas, o “toucinho-do-
céu, sorbet de Porto com amoras e gel
de erva-príncipe” (6,50 euros) cum-
priu, com destaque para o agradável
gelado de vinho do Porto. O “folhado
quente de pêra rocha do Oeste” (4,50
euros) era uma trouxa de massa fi lo
a fazer de embrulho aos cubos estu-
fados do fruto, sem grande história
que o fi zesse sobressair. Muito bom
estava o “crème brûllée com gelado”
(4,50 euros), com o preparado à base
de natas e gemas a ser aromatizado
de forma equilibrada com vagem de
baunilha, acompanhado por uma
bola de gelado de chocolate feito na
casa.
Embora o ambiente seja descon-
traído e o espaço seja daqueles que
está habitualmente na berra, nes-
ta “taberna” cozinha-se a sério. As
apostas do chef Nuno Barros são de
enaltecer, pois só erra quem arris-
ca. Excluindo os fl ops que foram a
perdiz e o bacalhau, tudo o resto se
petisca.
TABERNA 1300 – LX FACTORY
O restaurante funciona num amplo armazém decorado com exuberância e detalhes irónicos à mistura
Rua Rodrigues Faria, 1031300-501 LisboaTel.: 213 649 170www.1300taberna.comDe terça a sábado, das 12h30 às 15h e das 20h à 1hEncerra domingos e segundasPreço médio: 25€ (almoço) 40€ (jantar)Cartões de débito e créditoNão fumadorEstacionamento fácilPouco prático para crianças
26 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
Vinhos que contam históriasRui Falcão
Os tempos que
vivemos são pouco propensos
para gastos supérfl uos, para
aventuras fi nanceiras, para
devaneios e impulsos. A crise que
nos assola, esta crise fi nanceira
que já se tornou endémica e
que nos persegue sem piedade,
aconselha à prudência e a
gastos comedidos, à modéstia e
à parcimónia. Se num passado
ainda recente muitos de nós
nos julgávamos ricos e com
capacidade para fi nanciar alguns
caprichos, acordámos agora para
a dura realidade das provações e
do cuidado nas despesas.
O vinho, longe de poder ser
considerado um bem essencial à
vida, sofre com o intensifi car desta
nova realidade económica que
nos atropela com rendimentos
cada vez menores e menos certos.
Talvez por isso o consumo de
vinho tenha diminuído de forma
tão signifi cativa em Portugal e
na Europa, sobretudo quando
tomado fora de casa. E talvez por
isso tantos se tenham habituado a
procurar por vinhos mais baratos,
mais comedidos na ambição e
no preço, usufruindo amiúde
de propostas comerciais que
prometem uma quantidade maior
pelo mesmo preço de poucas
unidades, o famoso ditame do
“leve seis pelo preço de cinco” ou
outra forma qualquer de resgatar
a tesouraria, promovendo em
simultâneo o escoamento dos
muitos stocks acumulados.
Quem compra seis garrafas
ou uma dúzia de garrafas de
uma só vez cria, no entanto, um
problema potencial, o seguimento
e inventariação do que guardou
em casa. A menos que tenha
sido bafejado com uma memória
prodigiosa e privilegiada, a melhor
forma de manter actualizado o
registo dos seus vinhos é recorrer
a um livro de adega. Poderá
até parecer um absurdo para a
maioria ou, quem sabe, talvez
mesmo um pretensiosismo, mas
rapidamente se aperceberá da
utilidade de um apontamento das
suas existências.
Claro que se a sua garrafeira
particular se resume no total a
uma ou duas dezenas de garrafas
então talvez este seja um tema
dispensável. Porém, para quem
se dá ao trabalho de guardar mais
de duas dezenas de garrafas,
o livro de adega será uma
ferramenta barata e de extrema
utilidade. Quem armazenar mais
de cinquenta garrafas em casa
precisa quase impreterivelmente
de anotar as existências num livro
de adega que poderá ser mantido
de forma simples.
Os enófi los são frequentemente
proclamados como coleccionistas,
demonstrando uma tendência
natural para acumular garrafas
para além do razoável, uma
propensão coleccionista que em
alguns casos chega a ser levada
a extremos. Comprar colheitas
antigas ou modernas dos vinhos
pessoalmente mais valorizados
é uma tentação a que poucos
enófi los parecem conseguir
resistir. Encontrar aquele vinho
tão procurado, desbravar novas
regiões, novas castas, novos
países, faz parte da condição
natural do enófi lo. E no mundo
do vinho há sempre tanto para
descobrir! Acumular garrafas
poderá ser simultaneamente o
maior triunfo e o maior pesadelo
de cada enófi lo.
O livro de adega é, pois,
uma ferramenta essencial para
organizar a sua garrafeira, para
manter a ordem e disciplina na
sua adega pessoal. Só mesmo o
livro de adega permite manter
registos das existências em
garrafeira, anotadas de forma
clara e legível que permitam uma
identifi cação e inventariação
do stock. Que dados devem ser
contemplados? Defi nitivamente o
nome do vinho, a data de colheita,
o nome do produtor, o tipo de
vinho, a região, o número de
garrafas, bem como o número
de garrafas remanescentes,
actualizadas à medida que forem
consumidas.
Poderão ainda constar
informações complementares de
maior ou menor utilidade, como
o lugar de aquisição, a data de
aquisição, o preço de compra,
datas de consumo, localização
e um espaço para os seus
comentários. Bem entendido, o
livro de adega só fará sentido se
a sua actualização for regular e
metódica. Um livro desactualizado
terá muito pouco utilidade.
Existem livros no mercado
com estas características,
normalmente de edições
estrangeiras, com encadernações
pesadas, aspecto pomposo e
cerimonial, apropriados para
encenações teatrais. É uma
opção válida para quem prezar
o estilo, embora a maioria seja
pouco prática e algo presunçosa.
Qualquer livro ou caderno em
branco pode ser adaptado à
função. A imaginação é o limite,
como em tantos outros aspectos
da vida.
Não pense, no entanto, que o
livro de adega tem de ter uma
realidade física. A informática
pode transformar-se num aliado
generoso do enófi lo, permitindo-
lhe guardar informação relevante
sobre as suas preciosas garrafas.
Existem diversos programas
no mercado que cumprem
estas funcionalidades de forma
efi caz e por vezes educativa.
Inevitavelmente, a maioria está
disponível apenas em inglês,
mas existem igualmente algumas
versões portuguesas. Como de
costume, o Google é o melhor
amigo do homem…
Existem versões gratuitas,
versões shareware onde é
solicitada uma pequena
“gratifi cação” ao autor da
aplicação, bem como versões
pagas e em muitos casos editadas
por publicações ligadas ao vinho.
Algumas aplicações dispõem de
extras, como mapas das principais
regiões, notas de prova para um
número considerável de vinhos,
dados pré-formatados sobre
as principais regiões e castas
do mundo. Bem entendido, a
realidade portuguesa, as nossas
regiões e castas, costumam
estar apartadas deste tipo de
publicação. A geração de gráfi cos
é outra vantagem, onde poderá
descobrir, de forma lúdica, as
suas preferências por região, país,
casta, ano de colheita, etc. Enfi m,
nada que não possa realizar com
uma simples folha de uma folha
de cálculo, que é outra das formas
expeditas de resolver a equação.
Claro que se a sua garrafeira particular se resume no total a uma ou duas dezenas de garrafas então talvez este seja um tema dispensável. Porém, para quem se dá ao trabalho de guardar mais de duas dezenas de garrafas, o livro de adega será uma ferramenta barata e de extrema utilidade
Livro de adega
ENRI
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BIO
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 27
Vinhos
A moda das edições especiais
Está a virar moda:
nos últimos anos têm chegado ao
mercado inúmeras edições espe-
ciais de vinhos, umas para celebrar
efemérides relacionadas com a pró-
pria marca ou o produtor, outras,
mais ou menos esotéricas, para re-
forçar a notoriedade de uma marca
ou simplesmente para gerar algu-
mas receitas adicionais. Em tempos
de crise, quando o vinho, sobretu-
do o da gama média/alta, é um dos
primeiros bens não essenciais a ser
afectado, o marketing pode ser pro-
videncial.
O fenómeno é mais visível nos
vinhos do Porto velhos. Algumas
casas históricas deitaram mãos
a relíquias guardadas na região
e, depois de as embrulharem em
embalagens de luxo e narrativas
emocionantes, colocaram o vinho
a preços nunca vistos. O primeiro
a entrar neste negócio foi a casa
Andressen, que, em 2010, lançou
um extraordinário Porto Colheita
de 1910 ao preço de dois mil euros
a garrafa de 75 cl, para celebrar o
centenário da República. Seguiram-
se a Taylor’s, com o Scion (2500
euros a garrafa), um vinho com
155 anos que David Guimaraens, o
enólogo da empresa, descobriu em
2008 na aldeia de Presegueda (Ré-
gua); a Agri-Roncão, com o Roncão
“Vinho do Porto Muito Velho” (1250
euros), comprado a um produtor da
aldeia de Covelinhas (concelho da
Régua) a 100 euros o litro; e, mais
recentemente, a Quinta do Valla-
do, que lançou o Adelaide Tributa
Old Porto (2950 euros), a partir do
mesmo vinho que a Agri-Roncão
adquiriu em Covelinhas.
Se houver compradores para es-
tes vinhos raros — e parece que há
—, estamos perante negócios que
geram receitas milionárias para os
vendedores e que, ao mesmo tem-
po, contribuem para a promoção
do vinho do Porto.
Nos vinhos tranquilos, uma das
edições especiais mais curiosas dos
últimos tempos foi protagonizada
pela Adega Mayor, da família Nabei-
ro, que em 2010 iniciou uma trilo-
gia de vinhos inspirada em motivos
distintos. O primeiro, denominado
7, inspirou-se nas 7 maravilhas do
mundo, o segundo, o 8, pretendeu
evocar o espírito olímpico da cria-
ção, e o último, o 9, lançado no fi nal
de 2012, é uma homenagem ao nú-
mero do céu e da humanidade (ver
nota de prova na página seguinte).
O vinho vem acompanhado de um
mapa astronómico e de um globo
(totalmente feito à mão) que bri-
lham no
escuro e
custa 69
euros.
As Caves
São João, na
Bairrada, foram
ainda mais longe.
A empresa celebra o
seu centenário em 2020,
mas já começou a comemorar em
2010, com o lançamento do primei-
ro de 11
vinhos
que vai
p r o d u -
zir até lá. Ca-
da um dos vinhos é
alusivo a uma das 10 dé-
cadas que medeiam a funda-
ção da empresa e o seu centenário.
O primeiro, designado 90 Anos de
História, foi um tinto alusivo ao pri-
meiro fi lme sonoro, The Jazz Singer
(1928); o segundo, 91 Anos de Histó-
ria, foi um espumante e versou so-
bre a emissão radiofónica de Orson
Welles sobre uma fi ctícia invasão
marciana (1938). No ano passado, as
Caves São João lançaram o 92 Anos
de História, um tinto que pretende
evocar as décadas de 40-50 através
da Carta das Nações Unidas (1945).
O preço de cada garrafa é comedido
(25 euros) e o vinho é mesmo bom.
Pedro Garcias
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28 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
É uma variedade nova que pode
originar um vinho branco muito
interessante, distinto e inimitável.
Na colheita de 2012, o produtor Fer-
nando Faria, de Sonim, fez uma pri-
meira experiência que promete (o
vinho está um pouco graduado de
mais, mas a expressão aromática e
a frescura são belíssimas). Fernan-
do já plantou uma parcela nova de
Bastardo Russo, juntamente com
Daniel Pérez, irmão do mais pre-
miado enólogo de Espanha, Raúl
Pérez. Empresário agrícola, Daniel
apaixonou-se por Valpaços e, com
o apoio do irmão (interessado no
Bastardo local), tem vindo a fazer
alguns vinhos com Fernando Faria.
Um deles foi um branco (da colhei-
ta de 2009 de vinhas velhas) que
fermentou e passou três anos em
barrica sobre as borras. Vai ser co-
locado agora à venda (a 15 euros) e
é um vinho magnífi co, gordo, com-
plexo e muito fresco. Os vinhos de
Fernando Faria refl ectem bem o
grande potencial da região de Val-
paços. Os Bastardo e Tinta Amarela
que tem em cuba são muito bons,
mas o mais impressionante é o tinto
Casal Faria Reserva Superior 2010,
feito só com Touriga Nacional. Um
vinho estupendo, muito estrutura-
do, intenso e cheio de garra.
Foi o vinho que mais sobressaiu
numa prova de tintos realizada no
passado fi m-de-semana e que jun-
tou outros produtores do concelho.
Terras do Salvante, Quinta das Cor-
riças (bastante interessante o tinto
2009), Encostas do Rabaçal, Per-
sistente (muito Douro e moderno),
Encostas de Sonim (excelente rela-
ção qualidade/preço o tinto Cansa-
lobos), Quinta de Sobreiró de Cima,
Edyma (um bom Roriz), Encostas
de Vassal, Fonte do Sapo (um
tinto sem madeira muito perfu-
mado e fresco) e Terra Quente
(muito bem feito e saboroso o
2011) foram algumas das marcas
testadas. Todas elas merecem
ser seguidas com atenção. Nu-
ma ou noutra, é notório ainda
algum excesso de álcool, mas a
maioria distingue-se pelo equi-
líbrio e frescura e, sobretudo,
pela aposta em castas com tra-
dição local e provenientes de
vinhas antigas — o elemento
verdadeiramente diferenciador
de Valpaços e de toda a região
transmontana.
a inclusão de Valpaços na região
do Douro. A ideia não vingou e a
vizinhança da região duriense, com
o seu peso e prestígio, foi passan-
do factura aos vinhos produzidos
nas encostas do rio Rabaçal. Actu-
almente, a situação é mais favorá-
vel. A padronização crescente do
vinho abriu novas oportunidades
a regiões menos conhecidas
e originais e as alterações
climáticas estão a elevar
a cultura da vinha para
cotas mais altas e frescas.
Castas como a Tinta Roriz,
que no Douro produz fra-
cos resultados nos vinhos
tranquilos, podem origi-
nar vinhos magnífi cos
em Trás-os-Montes, ti-
rando partido da maior
altitude.
No caso de Valpaços,
além da Roriz, as cas-
tas com mais tradição
são o Bastardo, a Tinta
amarela (nos tintos), o
Gouveio, a Códega do
Larinho e a Malvasia
Fina (nos brancos). Nas
vinhas novas, começa a
ganhar relevo a Touriga
Nacional (com grandes
resultados) e a Touriga
Franca (a par de uma
Vinhos
A nova vida dos vinhos de Valpaços
Inúmeras vinhas velhas que pareciam condenadas ao abandono estão hoje na base do renascimento dos vinhos de Valpaços, famosos desde o tempo do império romano. Naquele concelho, como em toda a região transmontana, o arcaísmo vitícola transformou-se no seu principal trunfo. Pedro Garcias
Quando se chega
à aldeia de Pussacos, no concelho
de Valpaços, é impossível não repa-
rar na traça belíssima de algumas
casas antigas e na “cortinha do Ben-
tinho Samuel”, com as suas videi-
ras que mais parecem árvores de
vinho, grossas e retorcidas, como
se fossem esculturas vivas de um
museu vitícola. Os habitantes mais
antigos da povoação dizem que as
videiras já eram centenárias quan-
do eles ainda eram crianças.
A imagem daquela cortinha cau-
sa assombro, mas não é a única. A
caminho das aldeias de Santa Valha
e Sonim vão desfi lando inúmeras vi-
nhas velhas, umas atrás das outras,
algumas quase contemporâneas da
de Pussacos, que provocam o mes-
mo deslumbramento. É um cenário
rústico e fascinante, revelador de
um arcaísmo vitícola que é hoje
um dos grandes trunfos daquele
concelho.
Os vinhos de Valpaços, na região
de Trás-os-Montes, andam há muito
tempo arredados do panorama me-
diático (na década de 1980, o vinho
Terra Quente, da cooperativa local,
chegou a ser uma referência, mas
foi perdendo fulgor). Seguiram o
mesmo declínio do interior do pa-
ís, fossilizando-se pouco a pouco.
Nunca deixaram de ser produzidos,
mas a base de consumo foi-se es-
treitando e confi nando-se pratica-
mente ao mercado local e regional;
e, no entanto, estamos a falar de
vinhos com mais de dois mil anos
de história, muito apreciados no
tempo do império romano, exis-
tindo até a tese de que o nome de
Valpaços estará relacionado com o
vinho “passum”, o vinho doce pelo
qual os romanos nutriam especial
predilecção. Desse tempo, ainda
subsistem no concelho alguns la-
gares esculpidos na rocha, naquela
que é uma das maiores colecções
de lagares romanos do mundo.
Hoje já ninguém faz vinho na
pedra. Nos últimos anos, num mo-
vimento extensivo a outras zonas
de Trás-os-Montes, vários produto-
res passaram a olhar mais longe e
a produzir vinho de forma moder-
na. Recuperaram lagares antigos,
construíram um ou outro de raiz e
passaram a engarrafar o vinho com
marca própria. Ainda são pouco co-
nhecidos, mas alguns deles vão dar
que falar, se conseguirem ser per-
severantes e não desperdiçarem o
melhor que têm: vinhas centená-
rias, castas bem adaptadas ao lugar,
solos ideais para a cultura da vinha
e cotas que garantem vinhos madu-
ros mas ao mesmo tempo frescos.
As condições naturais do con-
celho são tão boas que no fi nal da
monarquia ainda foi equacionada
A “cortinha do Bentinho Samuel” é uma das que mais impressiona pela antiguidade das suas vinhas
ou outra casta estrangeira, como a
Syrah). Na zona de Sonim, existem
também algumas videiras de Bas-
tardo Russo, uma uva rosada que
nasceu certamente de uma muta-
ção genética do Bastardo.
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 29
VinhosProvas
PATO D’OIRO 2010
Luís Pato e José Bento dos SantosCastas: Baga, Tinta Roriz e SyrahGraduação: 14% volPreço: 30€ (na loja virtual www.luispato.com)
mmmmm
A Baga de visita a Lisboa
Quando se prova
um vinho com a assinatura de José
Bento dos Santos e de Luís Pato, sur-
gem logo como padrão de compara-
ção os magnífi cos vinhos que cada
um criou. Os tintos bairradinos de
Luís Pato, que combinam as caracte-
rísticas da casta Baga com uma inter-
pretação moderna e muito própria
do autor, são uma referência nacio-
nal; os Syrah de Bento dos Santos
estão entre as melhores abordagens
que se fazem em Portugal à natureza
desta casta — sem esquecer outras
aventuras deste produtor da região
de Lisboa, entre as quais vale a pena
destacar o Têmpera.
Luís Pato e Bento dos Santos foram
colegas no Instituto Superior Técni-
co. Ambos se revelariam mais tarde
não pelos dotes de engenharia mas
pelos seus projectos no vinho e, no
caso de Bento dos Santos, no culto
pela alta gastronomia. Juntaram-se
agora para produzir um vinho que
agrupasse o que de melhor há na
Baga que Pato colheu na sua Vinha
Barrossa e na Tinta Roriz e Syrah da
Quinta do Monte D’Oiro. O lote é do-
minado pela Baga e pela Roriz (45%)
cada, fi cando reservado um papel
de refi namento à elegância da Syrah.
Um vinho com este desvelo e com
esta história afectiva difi cilmente po-
deria ser um vinho desalmado.
Desenganem-se os que procuram
comparações com os melhores vi-
nhos destes autores. O Pato D’Oiro é
um vinho distinto, com carácter pró-
prio. Corpo médio, aromas de amo-
ra, sugestões de fumo da barrica, des-
taca-se por um conjunto equilibrado
e elegante. Na boca afi rma-se pelos
seus taninos macios, que têm nervo
para contrastar com a qualidade da
fruta, como se a Baga servisse de pa-
no de fundo sobre a qual a profundi-
dade da Roriz e a subtileza da Syrah
se expandem até um fi nal de boca
muito interessante. Vocacionado pa-
ra a mesa, falta-lhe no entanto algu-
ma complexidade e profundidade.
Prove-se e espere-se por outras edi-
ções, que a estreia valeu a pena. M.C.
Proposta da semana
a Mau mmmmm Razoável
mmmmm Bom mmmmm Bom Mais
mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente
QUINTA DOS CASTELARES 2011
mmmmm
MJC Agricultura e Turismo, Freixo de Espada à CintaCastas: Códega do Larinho, Rabigato, VerdelhoGraduação: 13,5% volRegião: DouroPreço: 5€
ALENTO RESERVA 2010
mmmmm
Monte Branco, EstremozCastas: Aragonez, Alicante Bouschet (80%), Touriga Nacional e SyrahGraduação: 14,5% volRegião: AlentejoPreço: 11€
TELHAS 2010
mmmmm
Terras de Alter, FronteiraCastas: ViognierGraduação: 14% volRegião: AlentejoPreço: 22€
ADEGA MAYOR 9 TINTO 2008
mmmmm
Campo MaiorCastas: Alicante Bouschet, Trincadeira e AragonezGraduação: 14,5% volRegião: AlentejoPreço: 69€
Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que chegaram recentemente ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo com os seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada: Fugas - Vinhos em Prova, Praça Coronel Pacheco, n.º 2, 3.º 4050-453 Porto
Um branco de frescura atlântica produzido na região semiárida do Douro Superior. Aromas contidos de fruta de polpa branca, bom volume de boca, intensidade e, principalmente, uma boa acidez, surpreendente para um branco desta geografia. Proveniente de vinhas a 600 metros de altitude, é um vinho bem proporcionado, um branco que reclama o calor do Verão, ideal para acompanhar bem mariscos e peixes grelhados. Criado por Rui Madeira, consegue o mais difícil (uma frescura vigorosa). Resta-lhe lutar por um pouco mais de complexidade para se tornar num caso sério. M.C.
Impenetrável no aspecto visual, aromas quentes de fruta madura bem envolvidos em notas doces de madeira, num estilo sofisticado e atraente. Na boca impõe-se pela firmeza de taninos, que lhe dão garra e carácter. É um tinto alentejano que, no primeiro impacto, prima pela sobriedade (rudeza, dirão alguns), até que depois se afirma num belo final marcado pela fruta e notas balsâmicas. Um bom vinho, para agora ou para aguardar mais um par de anos. M.C.
Bela cor com tonalidades douradas, este branco revela-se na primeira impressão olfactiva pela presença de carvalho onde fermentou e iniciou a sua fase de crescimento nos primeiros onze meses de vida. Na boca começa por apresentar uma secura muito interessante, quase extrema, logo balanceada com sugestões de fruta (pêssego muito maduro) e notas apimentadas às quais sucede, no final de boca, uma doçura resinosa, contida e distinta que lhe determina a sua natureza. É um branco que procura assumidamente emular um certo perfil de Côtes du Rhone. Embora seja enganoso estabelecer diferenças ou similitudes, a verdade é que este branco de Peter Bright é um vinho muito interessante que vai ganhar com mais um par de anos na garrafa. M.C.
“Às 09:09 da manhã do dia 09/09/09, 9 pessoas enchiam 2009 garrafas baptizadas com o número universal.” É assim que começa a narrativa criada em torno do vinho 9, uma edição especial lançada pela Adega Mayor no Ano Internacional da Astronomia. A embalagem, bonita e poética, coloca-nos perante um objecto que é muito mais do que um vinho. Mas o vinho está à altura da embalagem. É um tinto de grande porte, maduro, concentrado e suculento. Ressuma a fruta preta, chocolate e a outras notas quentes incorporadas pela madeira. Com o corpo que tem, um pouco mais de frescura não lhe fazia mal, apesar de a acidez ser boa. Mas os taninos são tão vigorosos que o vinho mostra grande vivacidade na boca, tornando a degustação muito atractiva. É pena ser tão caro. P.G.
30 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
Bar abertoBar Tolo Meu
Tolo, mas só de nome
Há uma mesa
posta cá fora, dois pratos, copos, ta-
lheres, um livro de banda desenhada
e duas cadeiras onde não se sentará
ninguém. Pelo menos por enquanto;
enquanto não houver licença aprova-
da. Por estes dias é apenas um cha-
mariz, um convite à entrada na casa
da esquina onde a Rua da Senhora da
Luz e a Rua de São Bartolomeu se en-
contram. A fachada azul-céu, cortada
nesse gaveto, com uma porta branca
envidraçada de entrada que se duplica
no andar superior mas afagada por
uma varanda de ferro forjado, ostenta
a placa: Bar Tolo Meu.
Não era para ser provisória, mas as
circunstâncias (no caso, um nome se-
melhante e com precedência tempo-
ral) assim a obrigam: depois de quatro
meses de funcionamento, o Bar Tolo
Meu (desconstrução óbvia do nome
da rua que é também do santo que a
24 de Agosto leva a gente a banhos na
Foz como cura e prevenção dos males)
prepara-se para deixar cair o “meu”
e ganhar independência. Ou seja, vai
passar a ser de quem o quiser, tal co-
mo é, um Bar Tolo.
Tão “tolo”, brinca Miguel Plácido,
um dos sócios (com Carlos Leitão),
que abriu num contexto de crise e
longe do centro da cidade. A verda-
de é que, pelo menos neste caso, a
ousadia tem sido recompensada. Por
um lado, o Bar Tolo Meu tem estado
“constantemente cheio”, por outro,
tem revitalizado a zona. “Estamos a
funcionar como âncora”, nota, enu-
merando uma série de novos negócios
que foram abrindo portas nos últimos
meses na zona que Miguel, tal como o
sócio nascido e criado na Foz, consi-
dera “a [rua] Santa Catarina da Foz”.
Nesta zona, os “turistas dão de fren-
te” com o Bar Tolo Meu e caem em
tentação — “temos tido gente de to-
do o lado”. Temos essa experiência,
quando entramos e somos envolvidos
por uma cacofonia em inglês, vinda
de uma mesa feminina. Na verdade,
até estão em minoria, neste rés-do-
chão pequeno e acolhedor que no
projecto inicial seria o bar. Voltemos
a esse início: “O nosso sonho era ter
um restaurante, petisqueira, wine
bar… Algo muito nacional.” Dito por
outras palavras, o desejo era ter um
bar que não fosse só bar, petisqueira
que não fosse apenas isso, restaurante
que tão-pouco se reduzisse a tal e emi-
nentemente português nos produtos.
Neste edifício que tem acompanha-
do a vida da Foz há muitas décadas
(já foi a Leitaria Suil, uma funerária,
uma loja de brinquedos) encontraram
dois pisos para concretizar essa ideia:
o rés-do-chão far-se-ia informal — bar-
petisqueira; o primeiro piso, sala de
refeições (mais) formal — e no topo ins-
talar-se-ia uma esplanada em terraço.
Aqui está a esplanada, ventosa hoje,
a pairar entre os telhados da Foz Velha
e a espreitar o mar e o rio — mobili-
ário de madeira, vintage misturado
com moderno, um visual que é o ar
de família do Bar Tolo Meu. Porém, no
interior, a ordem desordenou-se, as
fronteiras que se pensaram estanques
diluíram-se. “[As pessoas] Chegavam
e almoçavam lá em baixo, vinham a
qualquer hora.” Foram os clientes que
transformaram o Bar Tolo Meu no que
é: em “algo sem conceito”. Pode ser
“restaurante, café, bar, pub, salão de
chá”, “adapta-se muito bem” ao que
cada um deseja. Pode ser “um gin ao
fi m da tarde ou um 5 o’clock tea, uma
sobremesa a seguir ao jantar ou petis-
cos até à meia-noite”.
É muito maleável este Bar Tolo Meu
que, também já vimos, de tolo tem
pouco. É, também, bastante acolhe-
dor, ou como Miguel Plácido prefere
dizer, “cosy”. A decoração é um misto
onde o ferro e a madeira reclamam o
palco principal, já que foram a base
da recuperação do edifício. Entre eles,
desenvolvem-se então os dois ambien-
tes principais, com uma atmosfera cla-
ramente vintage, onde muito é impro-
visado, confessa Miguel. Outras são
uma fi losofi a, como a sharing table,
alta como todo o mobiliário do rés-
do-chão, que ocupa um dos lados e Andreia Marques Pereira
Mais bares emfugas.publico.pt
BAR TOLO MEU
promove o convívio entre desconhe-
cidos — o espaço que é tutelado pelo
pequeno balcão onde cadeiras altas
proporcionam conforto até para refei-
ções tem ainda lugar para duas mesas
e louceiros onde se avistam objectos
retro como uma máquina Singer. No
primeiro andar, as mesas de tampos
de madeira e pé de ferro são ladeadas
de cadeiras estofadas com sacos de ca-
fé — os mesmos que forram os cande-
eiros. Nas paredes, quadros coloridos,
badalos em caixas de vidro e letras e
números de madeira de cores varia-
das fazem o contraste devido com o
branco “sujo” das paredes.
Se se deparar com livros do Astérix
ou do Gaston, não estranhe. É uma
manifestação do improviso do Bar
Tolo Meu. “Mandámos fazer invólu-
cros para as ementas e atrasaram-se”,
conta Miguel Plácido, “então o meu
sócio chegou com um livro do Astérix.
Todos adoraram e nós mantivemos”:
Astérix para a comida — “o Obélix é
um comilão”; Gaston para os vinhos
(“é mais bebedolas”). Para todos,
música ambiente que vai mudando
com o ambiente — o mesmo que di-
zer que acompanha as horas do dia.
E, fi nalmente, Miguel Plácido defi ne
o Bar Tolo Meu — em breve Bar Tolo:
“Uma tasca moderna, com laivos de
vintage.”
HORAS FELIZES
Rua da Senhora da Luz, 185 PortoTel.: 224 938 987http://bar-tolo-meu.comHorário: Aberto todos os dias. De domingo a quarta das 12h30 às 24h; de quinta a sábado das 12h30 às 2h.Preços: fino a 1,25€; cerveja de garrafa a 1,50€; vinho a copo desde 2€ (garrafa desde 8€); sangria a copo a 3€ (caneca de tinto a 12€; de espumante a 16€), vinho do Porto desde 2,50 (copo); licores entre 2,5€ e 4€; bebidas brancas desde 4€; caipirinhas e mojitos a 5€; cidra a 2€; água a 1€; sumo de laranja natural a 2,20€; café a 0,90€; chás e tisanas a 1,90€.
DE PETISCOS E OUTRAS REFEIÇÕESDe petiscos se faz a maior porção da ementa. Dos prosaicos moletes com presunto (3,50€) ou minifrancesinhas (4,50€), aos carpaccios (de vitela, 6€, ou língua, 5,50€), ao escabeche de perdiz (10€) — e aos “favoritos” dos clientes: os ovos rotos com espargos, setas e trufas (5,50€), os folhados de alheira (5€), as açordas (de bacalhau, 6€, e camarão, 7€). Nos pratos principais, o destaque vai para o naco barrosão DOP (14€) e o arroz de lavagante (17€) e nas sobremesas para as canilhas. Os pratos do dia são sempre dois e custam 10€, com sopa, bebida e café.
De segunda a sexta-feira, entre as 17h e as 19h30, há happy hour no Bar Tolo Meu. Os petiscos, sempre diferentes e ausentes da carta (coisas como pica-pau, salada de queijo de cabra com nozes, calamares…), custam 3€; as bebidas sofrem uma redução — finos a 1€, sangria a 2€, copo de vinho a 1,50€…
É muito maleável este Bar Tolo Meu que, também já vimos, de tolo tem pouco. É, também, bastante acolhedor, ou como Miguel Plácido prefere dizer, cosy
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Sobre Paolo Sorrentino muito se tem dito. Por exemplo: que, a haver um filho dilecto de Stanley Kubrick,
Martin Scorsese e Federico Fellini, seria ele. Sorrentino combina com aparente facilidade o estilo exuberante
e a estética apurada com profundidades psicológicas pouco usuais na sua geração. Com “As Consequências
do Amor” Sorrentino integrou a Selecção Oficial do Festival de Cannes, em 2004.
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.Um filme sobrea mudança, capaz de
mudar pelo menosuma coisa: o cinema.
Sexta, 5 de Abril, 5.º DVD,“As Consequências do Amor”, de Paolo Sorrentino
32 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
Zoom
Lisboa é o segundo melhor destino da Europa, Istambul, o primeiro
A capital portu-
guesa arrecadou o segundo lugar
na competição Melhores Destinos
Europeus 2013 promovida pela Eu-
ropean Consumers Choice. A pri-
meira posição foi para Istambul,
com 12,4% dos votos.
Lisboa, que conquistou o pódio
em 2010, seguiu logo atrás, com
12,2% das escolhas dos partici-
pantes nesta eleição promovida
pela European Consumers Choice
(ECC), uma “organização sem fi ns
lucrativos de consumidores e espe-
cialistas” com sede em Bruxelas e
que se dedica a “avaliar produtos
e serviços”. As razões prendem-se
com “o bom tempo e os dias lon-
gos que constituem um convite
irresistível a descobrir e a viver a
cidade”. Pontos a não perder: “os
miradouros da Graça, Senhora do
Monte, Santa Luzia, do Castelo de
São Jorge ou de São Pedro de Al-
cântara”.
No top 10, votado online de 1 a 22
de Março e para o qual competiam
20 cidades pré-seleccionados por
um júri de entre “as mais visitadas
do continente”, seguem-se Viena
(Áustria), Barcelona (Espanha),
Amesterdão (Holanda), Madrid
(Espanha), Valeta (Malta), Nice
(França), Milão (Itália) e Estocol-
mo (Suécia).
A competição anual foi lançada
em 2010 e, logo à primeira, Lisboa
foi a vencedora. Em 2011, foi eleita
a cidade de Copenhaga e, no ano
passado, Portugal voltou a vencer,
graças à eleição do Porto (que este
ano fi cou de fora dos dez destinos
mais votados). Este ano, entre mais
224 mil votos recebidos, a votação
foi renhida entre os primeiros clas-
sifi cados. Istambul recebeu exac-
tamente 27.794 votos e Lisboa
27.345 (o 3.º posto de Viena já foi
conseguido com maior diferença: a
capital austríaca conquistou 21.293
votos, o que representa 9,5%).
A competição voltará a ser lan-
çada em Janeiro de 2014, informa
a organização, adiantando que irão
ser também avançadas em breve
outras votações online — casos do
melhor evento cultural, melhor
destino gastronómico ou das me-
lhores praias europeias. C.B.R.www.europeanconsumerschoice.org
Norwegian prepara Breakaway para Maio
Hop! descola amanhã com trajectos desde 55€
Nova Zelândia com cinco novas reservas marinhas
Peixe em Lisboa 2013 com Sangue na Guelra
Esta semana na Fugas online
Viver Nova Iorque em mar alto. Será essa a proposta do novel Breakaway, da Norwegian, que sai dos estaleiros alemães de Meyer Werft a 25 de Abril. O navio, de 146 mil toneladas, apresenta-se com 18 decks e capacidade para 4000 passageiros. Entre as atracções, um passeio ao ar livre, de 400m, com lojas, bares e restaurantes; um bar a -8,5°C; e um espectáculo com o selo Broadway. O Breakaway faz a travessia transatlântica em Maio, passando a ter como portos de abrigo Nova Iorque, Bermudas e Bahamas. Para aproveitar enquanto está na Europa, há escapada de uma noite, a 28 de Abril, de Roterdão a Southampton (desde 115€).www.breakaway.ncl.com
Os primeiros voos da linha aérea regional de baixo-custo do grupo Air-France-KLM descolam amanhã, com tarifas desde 55€ (nível Basic; há ainda Basic Plus ou Maxi Flex), embora se consiga encontrar viagens mais baratas (caso de uma ida de Bordéus para Lyon a 45,90€). A Hop! passa a assegurar 530 voos diários entre 136 destinos — Portugal fica de fora, assim como Espanha, excepção feita a Barcelona —, sendo que as reservas online para os destinos italianos só abrem após 15 de Abril. No mapa de rotas europeias, Budapeste (Hungria), Gotemburgo (Suécia), Praga (República Checa) ou Viena (Áustria).www.hop.fr
Cinco novas reservas marinhas, que se estendem por 17.500 hectares (mais de metade da região do Alentejo), foram aprovadas no início de Março pelo ministro neozelandês da Conservação, Nick Smith. As futuras zonas protegidas situam-se na costa Oeste da ilha Sul, em Kahurangi, Punakaiki, Okarito, Tauparikaka e Hautai. “Somos uma nação com uma das mais espectaculares e únicas costas [marítimas] do mundo e precisamos de reconhecer a importância e valor não só dos locais em terra mas também dos nossos habitats marinhos”, explicou o governante citado em comunicado divulgado em Breaking Travel News.www.newzealand.com
O Peixe em Lisboa volta a instalar-se no Pátio da Galé, em Lisboa, para, entre 4 e 14 de Abril, apresentar um programa com Sangue na Guelra, ao longo do qual não faltam chefs nacionais (Alexandre Silva, Bertílio Gomes, Fausto Airoldi, José Avillez, Leonel Pereira, Marlene Vieira, Miguel Castro Silva, Nuno Diniz, Nuno Barros, Tomoaki Kanazawa e Vítor Sobral) nem internacionais (Adrien Trouilloud, Bella Masano, Mauro Uliassi e Virgílio Martinez). Além da presença dos chefs, estarão em destaque os subchefs. Diariamente das 12h às 24h (excepto no dia de abertura, inicia às 18h, e de encerramento, fecha às 16h). Entrada a 15€, com degustação e bebida.www.peixemlisboa.com
Vídeo: o mundo a óleoRita e Leandro vão viajar pela sustentabilidade: serão uns 50 países, com tempo para voluntariado em quintas orgânicas. O detalhe: a viagem é numa carrinha movida a óleo alimentar usado. Conheça a história e veja o vídeo.
Fotogaleria: na MicronésiaPasseio por Guam, a maior ilha da Micronésia, dito reino de algumas das melhores praias do mundo, onde o Verão parece eterno. Fotogaleria de Nuno Lobito.
Entre os pontos a não perder em Lisboa, os vários miradouros
CA
RLA
RO
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FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 33
mais, muito mais!
As Cataratas de Iguazú têm o
seu ponto alto (haverá pontos
baixos?!) na “Garganta del
Diablo”. Quando o azul do céu
e o verde do arvoredo quase
deixam de se ver, devido a
uma queda de água que liberta
gente que passa. Também aqui se
sentaram Lord Byron, Stendhal e
Goethe. Veriam a mesma gente a
As fugas dos leitores
Os textos, acompanhados preferencialmente por uma foto, devem ser enviados para [email protected]. Os relatos devem ter cerca de 2500 caracteres e as dicas de viagem cerca de 1000. A Fugas reserva-se o direito de seleccionar e eventualmente reduzir os textos, bem como adaptá-los às suas regras estilísticas. Os melhores textos, publicados nesta página, são premiados. Esta semana com um exemplar da colecção Cadernos do Vinho, editada pela Fugas. Mais informações em fugas.publico.pt
Cataratas de Iguazú, que diabo!
Roma, uma viagem no tempo
Se escrever é um prazer, então
escrever sobre viagens é um
prazer redobrado!
Cataratas de Iguazú, Dezembro
de 2009, fronteira Brasil/
Argentina/Paraguai. Tendo
começado por uma caminhada
de mais de 1200m no Parque
Brasileiro, atravessa-se, de carro,
a fronteira para a Argentina.
Na parte brasileira caminha-se
em redor das cataratas, em solo
argentino direi que se entra pelas
cataratas dentro.
Num Parque Nacional rico
em fauna e fl ora, observa-se
uma criança de seis, sete anos,
sentada, a brincar com dezenas
e dezenas (sem exagero) de
borboletas que a rodeiam! Mas há
Todos os caminhos vão dar a
Roma e ela viaja desde o coração
da história. Atravessar a cidade
é perder-me por entre ruelas e
ruínas, fontes e jardins, igrejas
e palácios. Deambular por ruas
feitas de casas cor-de-laranja,
praças, becos, obeliscos, colunas.
A cada esquina, a cada passo, há
sempre uma história para contar.
Pedras empilhadas sobre
pedras, sedimentações de épocas
gravadas na memória das coisas
por vir. O grande enigma da
passagem do tempo. Desde os
etruscos aos romanos, da capela
Sistina até ao Maxxi, também
a arte desfi la. Que caminho irá
seguir?
Sento-me no café Greco a ler
os Contos romanos do Alberto
Morávia, olho pela janela a ver a
um vapor impressionante!
Senti-me num ambiente incrível,
maravilhosamente incrível, mas
acho que não fui só eu!… Recordo
as muitas pessoas de mãos na
cabeça (literalmente) com o
espectáculo natural a que estavam
a assistir, parecendo não acreditar
no que viam!
Desde 1984 consideradas
Património Mundial da
Humanidade pela UNESCO,
as Cataratas de Iguazú foram
eleitas, a 11 de Novembro de 2011,
uma das 7 Novas Maravilhas da
Natureza, pela New7Wonders
Foundation.
Quem viajar pela América do
Sul, não deixe de as visitar!
João Pontífi ce Gaspar
passar? O que é o tempo e o que
somos nós nessa viagem?
A Piazza Navona fervilha
de gente. Provo um tartufo e
sinto La Dolce Vita correr mas
quando ouço um Fiat buzinar
e os sinos a tocar apresso-me a
subir à Basílica para avistar, do
alto, a cidade inteira. Já foi aqui a
Cabeça do Mundo,2700 anos de
história, a perder de vista. Sinto
o perfume do amoR no ar e desço
à ponte para ver o entardecer
alongar as sombras sobre o Tibre
e ao entrar no Panteão... magia, a
cidade enche-se de luz!
Margarida Ramos
Mais viagens emfugas.publico.pt
As 5 coisas
Nova Iorque
1
Emília Estrela, gestora de seguros, vive há 40 anos em Nova Iorque.
de que eu mais gosto...
...em
GA
RY H
ERSH
ORN
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TERS
Comida para cada diaNova Iorque tem um restaurante de praticamente cada país do mundo. Bairros como Little Italy, Chinatown e Lower East Side para restaurantes mais em conta e com um ambiente mais jovem, e da parte alta da cidade para coisas mais formais. Eu gosto particularmente de descobrir novos restaurantes com chefs portugueses. E de partilhar a minha herança portuguesa com os amigos. A minha mais recente descoberta foi o Robert Restaurant, em Columbus Circle, 2: Luísa Fernandes não uma excelente chef, já premiada pela Food Network. Para brunch com amigos, normalmente ao domingo, sugiro o Bubby’s, em Tribeca, e o Bagatelle, no Meatpacking District.
2Rooftop barsÉ um óptimo programa de fim de tarde de Verão: amigos, um aperitivo e boa música. Alguns dos meus favoritos: The Press Lounge, no topo do Ink48 Hotel; Salon de Ling, no Penninsula, em Midtown; The Haven, no Standard Hotel. O Conrad Hotel Downtown é o meu mais recente favorito.
3Compras Time Warner Mall, em Columbus Circle; a Quinta Avenida e Madison Avenue para quem procure alta-costura; Soho e Chelsea para lojas trendy e retro-chic.
4Diversidade culturalA diversidade da cidade é fabulosa. Adoro andar pelas ruas e ouvir línguas diferentes. Há tantos brasileiros que posso secretamente ouvir as conversas e soltar uns sorrisos. Às vezes até surpreendo alguns com um “olá, tudo bom?).
5Os parquesSão um oásis em Manhattan: para relaxar, sentir o cheiro das flores e desfrutar do cenário. Madison Park para comer um hambúrguer, Bryant Park para fazer uma pausa e ler um livro, Central Park para desporto, patinar no gelo no Inverno ou assistir a um concerto.
34 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
Motores
Estilizado, refi nado e atrevido. O novo Fiesta promete não desapontar o sucesso de vendas dos seus predecessores e surge com um refrescado fôlego garantido pelos motores Ecoboost de três cilindros, no caso ensaiado, de 100 cv. Carla B. Ribeiro (texto) e Rui Gaudêncio ( fotos)
Primeiríssima impressão:
é nervoso e sensível, respondendo
a qualquer pé ligeiramente mais pe-
sado de uma forma que surpreen-
de. E mais silencioso do que seria
de esperar. São três cilindros, num
motor de 999cc, com uma potência
de 100cv que, nos primeiros me-
tros, se mostram cheios de vontade
de cavalgar — até porque o biná-
rio, de 170 Nm, é disponibilizado a
partir das 1400 rotações e o torque
pode ser aproveitado até às 4000.
Mas, calma. Não sairá a galopar
sem controlo e, ao fi m de apenas
umas voltas, domina-se bem as
sensibilidades tanto do acelera-
dor como do travão. Se primeiro
(quase) assustam, depois as suas
respostas assertivas tornam-se re-
confortantes, sobretudo para fugir
a algum obstáculo ou para estancar
o carro num qualquer caótico pára-
arranca urbano. Cuidado, porém,
com as ultrapassagens: bem vistas
as coisas, não é assim tão célere,
acelera dos 0 aos 100 km/h em mais
de 11s.
Em auto-estrada, com uma velo-
cidade máxima, dizem os números
ofi ciais, de 180 km/h, não desapon-
ta, mas parece “bailar” demasiado.
Já em estrada, enfrentando curva e
contracurva, transmite segurança
e aponta o focinho de forma pre-
cisa.
Pondo os elementos na balança, é
provável que os traços apresentados
garantam que o Fiesta continue a
atrair o seu público-alvo preferido,
constituído sobretudo por jovens.
E, sabendo a marca que atrás de
um cliente Fiesta há, muitas vezes,
a carteira de um progenitor, a Ford
lança a funcionalidade MyKey que
restringe velocidade ou controla o
volume áudio.
O tricilíndrico chega ainda com
ambições ecológicas — com um re-
gisto apreciável de 99 g/km de CO2
— e económicas, avançando com
um consumo médio de 4,3 l/100
km. E é aqui que resvala e defrauda
todas as expectativas. Circulámos
cem quilómetros certinhos antes
de voltar a atestar — cerca de 50%
em cidade, 30% em auto-estrada,
20% em estrada. Total consumido:
8,7 litros, o que dá uma média pou-
co simpática de cerca de 15€ por
100 km.
Simpatias à parte, o Fiesta, neste
upgrade da sexta geração, tornou-
se um carro bonito de se exibir.
Foi alongado, enaltecendo um
sentimento dinâmico graças tam-
bém à linha que se desenha desde
o guarda-lamas dianteiro até ao
farolim traseiro; conquistou uma
grelha cromada de cinco fi leiras
que compõem uma “boca” agres-
siva q.b.; e incorporou faróis mais
magros e delineados a LED, o que
lhe permite parecer maior e mais
largo do que é na realidade (mede
172,2cm de largura e 149,5cm de
altura), ilusão à qual também não
são indiferentes as linhas que pa-
O atrevimento pouco económico dos três cilindros
passar uma sensação de conforto
em alguns detalhes (como o volan-
te em pele), assim como abraçar
uma vertente tecnológica (inclui
Rádio CD MP3 com sistema Blue-
tooth, Voice to Control e entradas
Ford Fiesta 1.0 Ecoboost First Edition
recem trepar pelo capot acima.
No interior, a ergonomia foi me-
lhorada, com alguns reposiciona-
mentos (casos dos comandos dos
vidros eléctricos ou dos puxado-
res), e nota-se algum esforço para
USB e AUX). O esforço sai recom-
pensado em vários detalhes, como
na brilhante moldura superior do
painel que percorre o tablier, e cujo
material também se encontra nos
painéis das portas. Mas persiste em
ser prejudicado pela presença de
vários materiais duros e de baixo
custo.
Para o condutor a posição que
lhe está reservada é confortável,
tendo sido conquistado um apoio
para o braço. Ainda assim, a visi-
bilidade traseira não é a melhor:
especialmente quando o banco de
trás exibe o 3.º encosto de cabeça
(um opcional que custa 40€).
É, aliás, dos dois bancos diantei-
ros para trás que o Fiesta marca me-
nos pontos: os ocupantes traseiros
têm de encaixar joelhos mediante a
altura de quem segue à frente. Por
isso, caso seja necessário esgotar a
lotação, é bom que os passageiros
se preparem para apertos.
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 35
s Agilidade, precisão da direcção, função MyKey,
respostas rápidas
t Consumos médios apurados, persistência
de alguns plásticos duros, visibilidade traseira
BARÓMETRO
Não é fácil. Primeiro, porque o vidro traseiro é estreito e pequeno. Depois, porque os encostos de cabeça do banco de trás tapam os cantos do mesmo. Fazer manobras para trás torna-se assim uma dor de cabeça e convém redobrar cuidados. Ou então considerar a inclusão de câmara de visão traseira (200€) ou os sensores de estacionamento à frente e atrás, incluídos nos Pack Easy Driver 2 e 3 (350 e 400€, respectivamente).
CILINDRADA VS POTÊNCIA
FICHA TÉCNICA
EQUIPAMENTO
O PODER DOS PAIS
É cada vez maior a tendência para diminuir o tamanho dos motores e o número de cilindros, o que na teoria permite conseguir menores marcas na emissão de poluentes e também mais baixos consumos. Porém, ninguém parece disposto a perder performance para poupar o ambiente. E então enfiam-se cavalos que permitam imprimir genica, no caso, a um bloco de 999cc e três cilindros. O resultado revela um consumo bem acima do anunciado, com os cavalos a exigirem alimento correspondente às capacidades de que dispõem.
Um mimo para progenitores que queiram presentear o jovem filho com um carro. A tecnologia MyKey da Ford permite colocar uma série de restrições de segurança: definir um limite de velocidade máxima e volume máximo de sistema de áudio (pode até desactivá-lo por completo) ou impedir que o condutor desactive as tecnologias de segurança, tais como Controlo Electrónico de Estabilidade e a Travagem Activa em Cidade. Mas não é só aos pais que a Ford pisca o olho: aos gestores de frotas sublinham o facto de a limitação de velocidade poder trazer consumos mais reduzidos.
FRENTE MODO MONDEO
Este facelift do Ford Fiesta adopta o estilo da frente do futuro Modeo, marcada por uma grelha trapezoidal (com cinco lâminas cromadas) e enquadrada com faróis com luzes de circulação diurna que utilizam a tecnologia LED. Face ao design anterior, estas novas linhas ganham em agressividade, sobretudo quando em rolamento. Mas não se pode dizer que seja um ás da estética automóvel e estacionado passa praticamente despercebido.
MARCHA-ATRÁS EM CUIDADOS
SegurançaABS: Sim (com distribuição electrónica da força de travagem)Controlo electrónico de estabilidade: SimAirbags dianteiros: Sim (com desactivação do airbag do passageiro)Airbags laterais: SimAirbags de cortina: SimAirbag de joelhos para o condutor: SimSistema de fixação Isofix: SimAviso de colocação do cinto de segurança: SimVida a bordoVidros eléctricos: Sim (à frente; atrás como opção de 150€)Fecho central: SimComando à distância: SimAuxílio ao arranque em subida: SimEspelhos retrovisores com regulação eléctrica e aquecidos: SimVolante regulável: SimVolante multifunções: SimVolante em pele: SimComandos de rádio e telefone no volante: SimAr condicionado: Sim (Automático)Porta-luvas iluminado: SimPorta-luvas refrigerado: NãoBancos dianteiros ajustáveis em altura: SimBancos traseiros rebatíveis: SimCruise control: Opção (180€)Função Start/Stop: SimComputador de bordo: SimBluetooth: SimConexões AUX-IN e USB: SimFaróis de Nevoeiro: SimJantes em liga leve: Sim (15”)Alarme: Não (Opção, 250€)
MecânicaCilindrada: 999ccPotência: 100cv às 6000 rpmBinário: 170 Nm entre as 1400 e 4000 rpmCilindros: 3Válvulas: 12Alimentação: Gasolina de injecção directa com turboTracção: DianteiraCaixa: Manual, 5 velocidadesPneus: 195/55 R15Suspensão: Dianteira, independente, do tipo McPherson, com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora; traseira, semi-independente por
eixo de torção, molas helicoidais e amortecedores hidráulicosDirecção: Pinhão e cremalheira, com assistência eléctricaTravões: Discos, à frente; tambor atrásDimensõesComprimento: 396,9cmLargura: 172,2cmAltura: 149,5cmPeso: 1122 kgCapac. mala: 290 litrosCapac. Depósito: 42 litrosPrestações*Velocidade máxima: 180 km/hAceleração 0-100 km/h: 11,2sConsumo misto: 4,3 l/100 kmEmissões CO2: 99 g/kmPreço15.510€ * Dados do construtor
36 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
MotoresNovidades
O “carocha” volta a ser descapotávelUm dos carros que marcou a história da indústria automóvel foi o Volkswagen Beetle original, tanto na versão fechada como na descapotável. Na linha dessa tradição, surge agora uma variante Cabrio do moderno “carocha”. João Palma
A 3.ª geração do
Volkswagen Beetle tem a partir de
agora uma versão descapotável. O
novo Beetle Cabrio está disponível
em dois níveis de equipamento, De-
sign e Sport, com três motores a ga-
solina (105cv, 140cv e 200cv) e dois
a gasóleo (105cv e 140cv). Os preços
iniciam-se nos 26.935€ do Beetle
Cabrio 1.2 TSI de 105cv a gasoli-
na. Em homenagem ao “carocha”
original, por mais 2575€, há uma
edição especial em três variantes:
50’s, 60’s e 70’s Edition.
O Beetle, mais conhecido em Por-
tugal como “carocha”, confunde-
se com a história da Volkswagen.
Mantendo as linhas originais, com
várias evoluções durante a sua vida,
resistiu de 1938 a 2003. Ao longo da
sua longa história, teve duas ver-
sões descapotáveis: a primeira en-
tre 1949 e 1952 e a segunda de 1972 a
1980. O novo Beetle nasceu em 1998
e durante cinco anos foi fabricado
em simultâneo com o “carocha”
original em Puebla (México). Essa
2.ª geração do Beetle, que não ob-
teve o sucesso de outras modernas
versões de clássicos, como o Mini
ou o Fiat 500, teve uma variante
descapotável a partir de 2003.
O Beetle III, também produzido
no México, procurou recuperar
parte do ADN do primeiro “caro-
cha”. O descapotável segue-lhe as
pisadas, juntando-lhe o condimen-
to de um visual desportivo, graças
ao spoiler, às ópticas traseiras e
à sua silhueta: é mais comprido
(4278mm), mais largo (1808mm) e
mais baixo que o Beetle Cabrio de
2003. A capota têxtil, em preto ou
bege, é composta por três camadas
de tecido impermeável, sendo a in-
termédia acusticamente isolante.
Tem accionamento eléctrico, abrin-
do ou fechando em 9,5 segundos
e sete relações (1.2 TSI, 1.4 TSI e 1.6
TDI) ou de seis relações (2.0 TSI e
2.0 TDI). As prestações proporcio-
nadas pela caixa DSG são muito
similares (nuns casos superiores,
noutros inferiores) às da caixa ma-
nual.
Este descapotável de três portas
e quatro lugares tem dois níveis de
equipamento: o Design inclui air-
bags frontais e de cortina à frente,
apoios de cabeça, sistema activo de
protecção a capotamento, fi xações
Isofi x, controlo de estabilidade com
sistema de diferencial electrónico e
de antipatinagem, ar condicionado,
ajuda ao arranque em subida, cruise
control, sensores de chuva e de es-
tacionamento dianteiro e traseiro,
faróis de nevoeiro com iluminação
em curva, indicador da pressão dos
pneus, jantes de liga leve de 16’’,
rádio/CD MP3 com entrada Aux-In
e comandos no volante. O Sport
acrescenta jantes de 17’’, climati-
zador, bloqueio electrónico do dife-
rencial, três manómetros adicionais
(temperatura do óleo, cronómetro
e pressão do turbo), ponteiras de
escape e bancos desportivos, pe-
dais em metal.
Sendo o Beetle Cabrio um mo-
delo que apela à emoção e a um
espírito revivalista enquadrado
num design actual, a Volkswagen
criou uma edição especial em três
variantes: a estilista 50’ Edition, de
linhas clássicas, em preto com ca-
pota e jantes de 17’’ da mesma cor
e inserções cromadas e prateadas; a
cool 60’ Edition, em azul brilhante
ou branco, bancos de pele em dois
tons, logótipos e instrumentação
tipo anos 1960, jantes de 18’’ e
capota preta; e a elegante 70’ Edi-
tion, em castanho toff ee com capota
bege, bancos desportivos em pele
bege e jantes de 18’’.
FICHA TÉCNICA
Motorizações Veloc. Máx. Consumo Médio Emissões CO2 Preço Gasolina1.2 TSI (105cv) 178 km/h 6,1/5,9 l/100km 142/139 g/km 26.935€/28.027€*1.4 TSI (160cv) 206/205 km/h 6,8/6,4 l/100km 158/148 g/km 30.926€/31.628€*2.0 TSI (200cv) 223/221 km/h 7,5/7,8 l/100km 174/180 g/km 39.475€/41.407€**Gasóleo1.6 TDI (105cv) 178/176 km/h 4,7/4,9 l/100km 124/128 g/km 32.187€/34.121€*2.0 TDI (140cv) 196/193 km/h 5,1/5,6 l/100km 134/145 g/km 37.442€/40.356€*
* Valores para nível de equipamento Design com caixa manual/caixa automática DSG. ** Valores para nível de equipamento Sport com caixa manual/caixa automática DSG
Este Beetle tem dois níveis de equipamento: o Design e o Sport
mesmo em movimento até 50 km/h
e recolhe-se num compartimento
especial, pelo que a capacidade da
mala, 225 litros, não se altera.
O novo Beetle Cabrio pode ter
três motores a gasolina (1.2 TSI, 1.4
TSI e 2.0 TSI) e dois a gasóleo (1.6
TDI e 2.0 TDI), acoplados a uma
caixa manual de seis ou de cinco
velocidades (esta última no caso do
1.6 TDI). Em alternativa pode trazer
a caixa DSG de dupla embraiagem
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 37
A democratização dos coupés da Mercedes
As expectativas
eram muitas, alimentadas pela re-
cente aparição no Salão de Genebra,
mas o Mercedes-Benz CLA, uma ber-
lina de quatro portas e cinco lugares
em formato de coupé, nas primeiras
impressões, colhidas na apresenta-
ção dinâmica, não as defraudou. O
CLA é ainda mais bonito ao vivo do
que nas fotos e preenche um espa-
ço novo na gama da Mercedes. Pelas
suas linhas, é basicamente um CLS
em formato reduzido, mas que custa
metade do preço: estará à venda em
Abril desde 36.550€ (CLA 200 1.6 a
gasolina com 156cv).
De momento, esta é a versão mais
acessível, mas em Junho/Julho serão
lançadas duas variantes do bloco 1.6
a gasolina com 122cv, que, previsivel-
mente terão um preço inferior: 180
e 180 BlueEFFICIENCY Edition. Esta
última terá médias de 5,0 l/100km de
consumos e 118 g/km de emissões de
CO2, para o que contribui o seu co-
efi ciente aerodinâmico muito baixo
— Cd 0,22. Mas mesmo as outras ver-
sões do CLA, com um Cd de 0,23, dão
cartas em termos de aerodinâmica.
No lançamento, além do CLA 200,
estarão disponíveis o 250 com mo-
tor a gasolina de 1595cc e 156cv e o
220 CDI com propulsor a gasóleo de
2143cc e 170cv. Mas será apenas em
Setembro que vai ser lançada a ver-
são que irá constituir o grosso das
vendas do CLA em Portugal, dadas
as especifi cidades do mercado: o
CLA 200 CDI, com motor a gasóleo
de 1796cc e 136cv, que se estima que
venha a custar cerca de 38.000€.
Para a mesma data, está previsto o
CLA mais potente: o 45 AMG, uma
criação do departamento desportivo
da Mercedes dotado de motor a gaso-
lina turbo de dois litros, com 360cv
e 450 Nm, acelerando dos 0 aos 100
km/h em 4,6s e com uma velocidade
máxima limitada a 250 km/h.
O CLA tem de série efi cientes e
bem escalonadas caixa manual de
seis velocidades ou automática de
sete relações (no 250 e no 220 CDI)
e é o primeiro modelo de quatro
portas da Mercedes com tracção
dianteira (pode ser integral 4Matic
no CLA 250). Todas as versões vêm
dotadas com sistema Start & Stop,
de paragem e arranque automáticos
do motor, e, na caixa manual, indi-
cador de mudança de velocidade. A
suspensão pode ser a conforto de sé-
rie ou, em opção, a desportiva, com
rebaixamento da carroçaria 15mm à
frente e 10mm atrás.
Com 463cm de comprimento,
177,7cm de largura e 143,2cm de altu-
ra, o CLA, por fora, é uma réplica em
menores dimensões (e, para alguns,
melhorada) e mais acessível do CLS.
As suas linhas conjugam um estilo
elegante e desportivo com efi ciência
aerodinâmica. Derivado do classe A,
tem uma mala de 470 litros e trans-
porta com conforto quatro pessoas
— o lugar do quinto ocupante, ao
meio e atrás, é mais estreito e o tú-
nel central da transmissão difi culta
a colocação dos pés. O formato mer-
gulhante do tejadilho faz com que
quem tenha mais de 1,80m de altura
e se sente nos bancos traseiros roce
com a cabeça no tecto. Já à frente
o espaço é amplo e o condutor, in-
dependentemente do seu tamanho,
encontra facilmente uma posição
confortável com boa visibilidade. Os
materiais e os acabamentos honram
os pergaminhos da marca alemã. A
instrumentação é completa e de lei-
tura fácil e enquadra-se no tablier de
linhas elegantes, a condizer com a
sensação de qualidade do habitáculo.
No que se refere à segurança, o
Mercedes-Benz CLA ainda não foi
submetido aos testes do Euro NCAP.
No entanto, está bem equipado, ten-
do de série airbags frontais, laterais e
de cortina à frente, além de joelhos
para o condutor. No pacote chegam
ainda sistemas de alerta de colisão
e de fadiga do condutor, programa
electrónico de estabilidade com con-
trolo de tracção e auxílio à travagem
de emergência, travões de disco às
quatro rodas, travão de estaciona-
mento eléctrico, monitorização da
pressão dos pneus, fi xações Isofi x e
capot de motor activo para protecção
de peões.
Em termos de conforto e vida a
bordo, o CLA cumpre com o exigido
Em termos de conforto e vida a bordo, o CLA cumpre com o exigido para um veículo da sua categoria
para um veículo da sua categoria, mas
é susceptível de personalização por
meio de duas linhas de design, Urban
e AMG Sport, e de uma extensa lista
de itens e pacotes de equipamento
opcionais. No lançamento, e por um
período de 12 meses, é proposta por
6150€ (6650€ no caso do CLA 200)
uma série especial Edition 1, que
inclui jantes especiais AMG de 18’’,
aventais traseiro e dianteiro e saias
laterais AMG, suspensão rebaixada
e discos de travão dianteiros perfu-
rados, grelha frontal com visual dia-
mante, faróis bixénon, escape duplo
com ponteiras em inox, bancos em
pele, pedais em aço inoxidável, etc.
O novo coupé de quatro portas da Mercedes pareceu confi rmar as expectativas num primeiro contacto. A versão em ponto pequeno do CLS oferece qualidade e design a metade do preço do irmão maior – uma aposta para conquistar novos clientes. João Palma
FICHA TÉCNICA
Motorizações Veloc. Máx. Consumo Médio Emissões CO2 PreçoGasolina180 1.6 (122cv) 210 km/h 5,4 l/100km 126 g/km a definir*180 BlueEff . 1.6 (122cv) 190 km/h 5,0 l/100km 118 g/km a definir*200 1.6 (156cv) 230 km/h 5,5 l/100km 127 g/km 36.550€250 2.0 (211cv) 240 km/h 6,1 l/100km 142 g/km 47.900€Gasóleo200 CDI 1.8 (136cv) 220 km/h n. d. n. d. 38.000€**220 CDI 2.2 (170cv) 230 km/h 4,2 l/100km 109 g/km 44.750€*Disponível em Julho. ** Disponível em Setembro; preço estimado
38 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
Plano de viagem
À descoberta da Inglaterra da primeira metade do século XX, percorrendo os lugares mais representativos da obra da escritora Virginia Woolf. Preço: desde 2500€/pessoa em quarto duplo. Voo, taxas, seis noites, pensão completa, entradas em monumentos e museus, visitas com conferencista especializada e guia a Londres, Brigthon e Cornualha. De 7 a 13 Maio. Touch Travel Viajar com arte. Tel.: 217817590; Centro Nacional de Cultura.www.cnc.pt
Ar livre
Cá dentro
Lá fora
Pastores na serra da Estrela
Passeio de bicicleta em Estarreja
Marrocos
Preço: desde 235€/ pessoa em quarto duplo. Conheça as tradições dos pastores da Serra da Estrela, percorra alguns dos seus trilhos e saboreie as iguarias das Beiras, nesta escapada de dois dias. Inclui estadia de uma noite em regime de pensão completa, transporte à partida de Lisboa em autocarro de turismo e guia. De 8 a 9 de Junho.www.cistertour.pt
Palheiros do Castelo
Preços/casa/noite: 50€, 75€, 80€ e 85€ (capacidade para quatro pessoas). Estadia nos Palheiros do Castelo, quatro casas de campo situadas dentro das muralhas do Castelo do Sabugal, que convidam ao descanso e ao lazer.www.mundo-rural.pt
Estarreja comemora o Dia Nacional dos Moinhos, que se assinala no dia 7 de Abril, com um passeio de bicicleta pelos moinhos de Avanca, que envolve o moinho de Meias, Zangarinheira e Arcã. Inscrição 5€ e 10€ com almoço. Das 9h30 às 16h. Telefone: 917642697; [email protected]. Durante este fim-de-semana, um pouco por todo o país, estarão a funcionar e abertos ao público, para visitas gratuitas, várias dezenas de moinhos de todos os tipos.
Caminhada na serra de Grândola
No dia 6 de Abril parta à descoberta da serra de Grândola, percorra olivais seculares e montes cobertos de belos montados de sobro e observe variadíssimas espécies de flora e fauna local. O local de encontro está marcado para as 10h, junto ao coreto, perto da Câmara Municipal de Grândola. Gratuito.www.clubenatura.net
Cruzeiro
Preço: desde 2170€ por pessoa em quarto duplo. Com a duração de 11 dias, o programa “Marrocos Português” mostra-nos a influência e os testemunhos da cultura portuguesa neste país. Passagem aérea, taxas, alojamento em hotéis e uma noite em auberge ou acampamento, pensão completa e visitas com guia a Casablanca, Azamour, Jadida, Safi, Essaouira (na foto), Marraquexe, Ouarzazate, Tinghir, Erfoud, Merzouga, Fez, Meknès e Rabat.www.arvorecoop.pt
Preço: desde 569€/pessoa em camarote duplo. Doze dias a bordo de cruzeiro em regime de pensão completa, com partida no dia 6 de Abril de Civitavecchia (Itália) e portos de escala em Alanya (Turquia), Limassol (Chipre), Haifa e Ashdood (Israel), Port Said e Alexandria (Egipto, na foto em cima). Não inclui o voo.www.abreu.pt
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