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 1 | Página Road map through different laboratorial techniques    Fluorescence Spectroscopy Gonçalo Figueiró 1  1 Departamento Ciências da Vida, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra.  Resumo:  O estudo da biodisponibilidade de uma molécula (como por exemplo um fármaco) pode ser feito através da interação desta com proteínas e biomembranas. Esta parte do projeto tem como objetivo estudar a interação de uma amina gorda fluorescente, em que uma porção fluorescente de 7-nitrobenz-2-o xa-1,3-diazol-4- ilo (NBD) se encontrava ligada covalentemente a um grupo amina, a butilamina (NBD-C 4  ), com a proteína BSA usando a espectroscopia de fluorescência. Foi determinada a constante de ligação do NBD-C4 à BSA, K b , cujo  valor foi de 1,96x10 4  M -1 , na mesma ordem de grandeza de outros estudos, o que indica que esta molécula anfipática interage eficientemente com a BSA. Foi também analisado o processo de quenching de fluorescência da BSA o que permitiu calcular constante de Stern-Volmer e as constantes de ligação para diferentes percursos óticos (10 mm: K b =4,51x10 4  M -1 ; 5 mm: K b =0,0508x10 4 M -1 ; 3 mm: K b =0,0336 x10 4  M -1  ), que diferem do calculado pelo método anterior. Assim utilizando métodos diferentes podemo s chegar a conclusões diferentes, e por isso é necessário ter atenção a certos parâmetros. Palavras-chave:  Fluorescência, NDB-C4, BSA, Ligação BSA   NBD-C4, Efeito de Filtro Interno, Quenching. Introdução  A emissão de luz a partir de qualquer substância é designada de luminescência, e ocorre através da passagem de estados eletronicamente excitados para o estado fundamental. A luminescência é dividida em duas categorias, dependendo do estado natural do estado excitado: Fluorescência e Fosforescência. Num estado excitado singleto, o eletrão que se encontra na orbital excitada apresenta um spin oposto ao eletrão na orbital do estado fundamental. Consequentemente, o regresso do eletrão ao estado fundamental é permitido pelo spin e ocorre rapidamente pela emissão de um fotão. Através do diagrama de Jablonski (Figura 1) consegue-se ilustrar os processos que ocorrem entre absorção e emissão de luz. No diagrama aqui apresentado são excluídas as interações (como o quenching, a transferência de energia e as interações do solvente) que podem ocorrer em solução e influenciar o processo de fluorescência [2]. Figura 1    Diagrama Jablonski. Legenda: A    Absorção do fotão; F    Fluorescênc ia (emissão); P   Fosforescência; Sn    Estado singleto nível n; Tn    Estado tripleto nível n; IC    Conversão interna; ISC    Cruzamento inter-sistema.  Adaptado:[h ttp://sp3.fotolog.com/p hoto/35/46/88/pet y18rbf/12275 07197144_f.jpg] Pelo diagrama de Jablonski, para ocorrer fosforescência é necessário transições eletrónicas permitidas entre o estado fundamental singleto (S0) e o estado excitado singleto (Sn), aquando da excitação.  Após isto, verifica-se uma conversão interna (internal conversion    IC) entre os estados singletos de mais alta energia, que levam o eletrão a um estado menos energético. Posteriormente, ocorre um cruzamento intersistemas (intersystem crossing - ISC) deste último estado singleto para um estado tripleto de menor energia (T2). A partir deste estado vai ocorrer então uma IC para um estado tripleto de mais baixa energia (T1), e a partir daqui vai ser emitida a fosforescência.  A fluorescência é semelhante à fosforescência. No entanto em vez de se suceder um ISC para um estado tripleto, ocorre uma transição do estado singleto (S1) para o estado singleto fundamental (S0) levando à emissão de fluorescência. A luz produzida na fluorescência e fosforescência vai possuir um comprimento de onda maior (menos energética) do que a que foi absorvida. A esta diferença entre o comprimento de onda máximo a que o fluoróforo absorve e emite é designada de desvio de Stokes [2]. O quenching, isto é a diminuição da intensidade de fluorescência, pode ser causada por  vários fatores, como por exemplo pela interaç ão entre o composto fluorescente e outras substâncias presentes em solução, pela temperatura, pelo efeito de filtro interno, pela presença de oxigênio ou de impurezas na solução [2]. A medição do quenching da fluorescência intrínseca à proteína permite analisar a

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  • 1 | P g i n a

    Road map through different laboratorial techniques Fluorescence

    Spectroscopy

    Gonalo Figueir1

    1Departamento Cincias da Vida, Faculdade de Cincias e Tecnologia, Universidade de Coimbra.

    Resumo: O estudo da biodisponibilidade de uma molcula (como por exemplo um frmaco) pode ser feito atravs da interao desta com protenas e biomembranas. Esta parte do projeto tem como objetivo estudar a

    interao de uma amina gorda fluorescente, em que uma poro fluorescente de 7-nitrobenz-2-oxa-1,3-diazol-4-

    ilo (NBD) se encontrava ligada covalentemente a um grupo amina, a butilamina (NBD-C4), com a protena BSA

    usando a espectroscopia de fluorescncia. Foi determinada a constante de ligao do NBD-C4 BSA, Kb, cujo

    valor foi de 1,96x104 M-1, na mesma ordem de grandeza de outros estudos, o que indica que esta molcula anfiptica interage eficientemente com a BSA. Foi tambm analisado o processo de quenching de fluorescncia

    da BSA o que permitiu calcular constante de Stern-Volmer e as constantes de ligao para diferentes percursos

    ticos (10 mm: Kb=4,51x104 M-1; 5 mm: Kb=0,0508x10

    4 M-1; 3 mm: Kb=0,0336 x104 M-1), que diferem do calculado

    pelo mtodo anterior. Assim utilizando mtodos diferentes podemos chegar a concluses diferentes, e por isso

    necessrio ter ateno a certos parmetros.

    Palavras-chave: Fluorescncia, NDB-C4, BSA, Ligao BSA NBD-C4, Efeito de Filtro Interno, Quenching.

    Introduo A emisso de luz a partir de qualquer

    substncia designada de luminescncia, e ocorre

    atravs da passagem de estados eletronicamente

    excitados para o estado fundamental. A luminescncia

    dividida em duas categorias, dependendo do estado

    natural do estado excitado: Fluorescncia e

    Fosforescncia. Num estado excitado singleto, o

    eletro que se encontra na orbital excitada apresenta

    um spin oposto ao eletro na orbital do estado

    fundamental. Consequentemente, o regresso do

    eletro ao estado fundamental permitido pelo spin e

    ocorre rapidamente pela emisso de um foto. Atravs

    do diagrama de Jablonski (Figura 1) consegue-se

    ilustrar os processos que ocorrem entre absoro e

    emisso de luz. No diagrama aqui apresentado so

    excludas as interaes (como o quenching, a

    transferncia de energia e as interaes do solvente)

    que podem ocorrer em soluo e influenciar o

    processo de fluorescncia [2].

    Figura 1 Diagrama Jablonski. Legenda: A Absoro do foto; F Fluorescncia (emisso); P Fosforescncia; Sn Estado singleto nvel n; Tn Estado tripleto nvel n; IC Converso interna; ISC Cruzamento inter-sistema.

    Adaptado:[http://sp3.fotolog.com/photo/35/46/88/pety18rbf/1227507197144_f.jpg]

    Pelo diagrama de Jablonski, para ocorrer

    fosforescncia necessrio transies eletrnicas

    permitidas entre o estado fundamental singleto (S0) e

    o estado excitado singleto (Sn), aquando da excitao.

    Aps isto, verifica-se uma converso interna (internal

    conversion IC) entre os estados singletos de mais alta

    energia, que levam o eletro a um estado menos

    energtico. Posteriormente, ocorre um cruzamento

    intersistemas (intersystem crossing - ISC) deste ltimo

    estado singleto para um estado tripleto de menor

    energia (T2). A partir deste estado vai ocorrer ento

    uma IC para um estado tripleto de mais baixa energia

    (T1), e a partir daqui vai ser emitida a fosforescncia.

    A fluorescncia semelhante fosforescncia.

    No entanto em vez de se suceder um ISC para um

    estado tripleto, ocorre uma transio do estado

    singleto (S1) para o estado singleto fundamental (S0)

    levando emisso de fluorescncia. A luz produzida na

    fluorescncia e fosforescncia vai possuir um

    comprimento de onda maior (menos energtica) do

    que a que foi absorvida. A esta diferena entre o

    comprimento de onda mximo a que o fluorforo

    absorve e emite designada de desvio de Stokes [2].

    O quenching, isto a diminuio da

    intensidade de fluorescncia, pode ser causada por

    vrios fatores, como por exemplo pela interao entre

    o composto fluorescente e outras substncias

    presentes em soluo, pela temperatura, pelo efeito de

    filtro interno, pela presena de oxignio ou de

    impurezas na soluo [2]. A medio do quenching da

    fluorescncia intrnseca protena permite analisar a

  • Road map through different laboratorial techniques

    2 | P g i n a

    interao de frmacos com protenas, descobrir a

    acessibilidade dos quenchers aos grupos fluorforos da

    protena; e ajuda a perceber o mecanismo de ligao da

    protena a frmacos [4].

    A espectroscopia de fluorescncia apresenta

    inmeras aplicaes, sendo que pode ser usada, como

    por exemplo, na monitorizao da conformao de

    protenas (saber se uma determinada protena se

    encontra no estado nativo ou desnaturado), no estudo

    da interao de molculas com protenas e na

    microscopia de fluorescncia (em que a fluorescncia

    aplicada ao nvel microscpio permitindo o estudo de

    tecidos, clulas e estruturas intracelulares, sendo, por

    isso, de grande importncia).

    O NBD (7-nitrobenz-2-oxa-1,3-diazol-4-ilo)

    uma sonda fluorescente muito utilizada no estudo de

    propriedades das membranas e de protenas, j que a

    sua fluorescncia depende da polaridade do meio em

    que se encontra. Atravs de uma substituio

    nucleoflica (de um cloreto por um grupo amina ou

    tiol), esta sonda pode-se encontrar ligada a diversos

    compostos, como por exemplo colesterol e ceramida,

    tendo por isso vrias aplicaes. Estas aplicaes

    incluem o estudo do complexo de Golgi, da

    distribuio e organizao espacial de lpidos e

    protenas na membrana biolgica, de monocamadas

    lipdicas, e de muito mais [3]. Neste trabalho utilizou-

    se o NBD ligado a uma amina primria com uma

    cadeia hidrocarbonada com 4 carbonos (butilamina),

    designada por NBD-C4. Todavia poderia ter sido

    usado uma cadeia com mais ou menos carbonos

    (Figura 2), influenciando o carcter hidrofbico da

    molcula e da vrios parmetros que j foram

    estudados, como por exemplo o Kb e o H da ligao

    [1].

    Figura 2 - Estruturas qumicas da molcula de NBD-Cn (em que n varia de 4 a 16).Adaptado de [9]. A protena mais abundante no plasma a

    albumina do soro e produzida pelo fgado. Esta

    responsvel por inmeras funes, entre as quais

    transportar cidos gordos, ies, nutrientes, frmacos e

    eliminar radicais livres de oxignio. Assim, o estudo

    desta protena ao nvel da sua biodisponibilidade e da

    taxa a que chega a um local ativo de grande

    importncia. A albumina do soro humano (HSA)

    apresenta uma estrutura constituda por trs domnios

    homlogos (I, II e III) e tem a capacidade de se ligar a

    7 cidos-gordos (FAs), pelo que os locais de ligao

    so designados de FAn, onde n varia de 1 a 7. Estes

    locais no possuem apenas afinidade pelos cidos

    gordos, podendo tambm ligar-se a outra molculas

    como por exemplo a varfarina que actua como um

    anticoagulante e apresenta afinidade pelo local FA1

    [10]. Sendo a estrutura entre a albumina do soro

    bovino (BSA) e a HSA ser muito semelhante e o custo

    da BSA ser muito menor, utilizou-se,

    preferencialmente, a BSA como protena neste estudo

    [5].

    A albumina do soro emite fluorescncia

    quando excitada a 280 nm, que o comprimento de

    onda () a que se observa o mximo de absoro

    devido principalmente a resduos aromticos na sua

    estrutura. Essa fluorescncia apresenta um mximo na

    regio dos 350 nm, pelo que se encontra associada aos

    aminocidos triptofano, tirosina e fenilamina da sua

    estrutura. Dos trs aminocidos, a emisso por parte

    dos resduos de triptofano da BSA (o Trp-134, que se

    encontra superfcie, e o Trp-212, localizado dentro

    de uma bolsa hidrofbica) e da HSA (Trp-214) a mais

    significativa, devido natureza qumica do

    microambiente ao redor desses resduos (Figura 3) [4].

    O espectro de emisso destes aminocidos um

    indicador da conformao de uma protena j que

    altera com a polaridade do solvente utilizado, sendo

    que a emisso pode ser desviada para comprimentos

    de onda menores se encontrarem no interior de uma

    protena ou pode ser desviado para comprimentos de

    onda maiores se forem expostos ao solvente. Como a

    BSA possui um triptofano superfcie um desvio para

    comprimentos maiores no espectro de emisso poder

    ser devido a este aminocido e no a uma alterao

    conformacional, com o caso de uma desnaturao.

    Figura 3 Estrutura tridimensional da BSA e HSA e representao dos triptofanos responsveis pela fluorescncia. [http://openi.nlm.nih.gov/imgs/512/198/3344939/3344939_pone.0036723.g001.png]

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    3 | P g i n a

    Com isto tudo em mente e utilizando espectroscopia de fluorescncia fomos descrever

    cineticamente a interao do NDB-C4 com a BSA, pela

    fluorescncia do NBD-C4 e pelo do quenching da

    fluorescncia intrnseca BSA em diferentes percursos

    ticos.

    Materiais e Mtodos Reagentes. A albumina do soro de bovino (BSA) sem lpidos, HEPES, EDTA bem como NaCl, NaN3, HCl e NaOH foram obtidos da Sigma-Aldrich Qumica S.A. (Sintra, Portugal). O composto NBD-C4 foi sintetizado no grupo de Qumica Biologia do Centro de Qumica de Coimbra, de acordo com o protocolo estabelecido [1] e gentilmente cedido pela Dr Maria Joo Moreno. importante referir que a BSA no possua lpidos, de maneira a que NBD-C4 interagisse simplesmente com a BSA. Soluo tampo HEPES. Pesou-se 0.596 g

    de HEPES, 2.1915 g de NaCl, 73.1 mg de EDTA e 50

    mg de NaN3, com o objetivo de fazer uma soluo de

    HEPES 10mM com 0.15M de NaCl, 1mM EDTA e

    0.02% NaN3. Aps a dissoluo, procedeu-se ao acerto

    do pH a 7.4 com uma soluo de NaOH 2.5M.

    Soluo NBD-C4 em soluo tampo. O

    NDB-C4 fornecido encontrava-se em metanol, pelo

    que foi necessrio evaporar esse mesmo de forma a

    diluir o fluorforo em soluo tampo, obtendo uma

    concentrao inicial de 200 nM.

    Estudo da ligao de NBD-C4 Albumina

    do Soro Bovino. Com a finalidade de estudar a

    afinidade que o NBD-C4 tem pela BSA, variou-se a

    concentrao de BSA (de 0 a 150 M) e manteve-se a

    concentrao de NBD-C4 constante, no valor 100 nM.

    As amostras controlo no possuam NBD-C4 somente

    BSA. Antes de realizar a medio da fluorescncia das

    amostras, procedeu-se incubao das mesmas

    durante 1-2 horas a 25C. A quantidade de NBD-C4

    ligada albumina foi avaliada pelo aumento da sua

    fluorescncia aps a ligao.

    Estudo do quenching da protena. Neste

    estudo, alterou-se a concentrao de NBD-C4, variar

    de 1 a 68.2 M, e usou-se uma concentrao constante

    de BSA, 5 M. As amostras de controlo no

    continham BSA mas apenas as diferentes

    concentraes de NBD-C4. Quando da obteno dos

    espectros de fluorescncia, fez-se variar o percurso

    tico (10 mm, 5 mm, 3 mm) influenciando a obteno

    dos vrios parmetros e permitindo uma anlise do

    quenching pela relao de Stern-Volmer. Tal como na

    experincia anterior, antes das medies de

    fluorescncia incubou-se as solues a 25C e durante

    1-2 horas.

    Espectroscopia de Fluorescncia. Os

    espectros de fluorescncia foram obtidos num

    espetrofotmetro de fluorescncia Cary Eclipse

    equipado com um suporte de mltiplas clulas,

    controlo de temperatura e um polarizador automtico.

    Os espectros foram adquiridos entre 475 nm e 650 nm

    utilizando um exc de 460 nm para NBD-C4 ( a que

    esta molcula absorve mais), e, tambm, entre 285 e

    500 usando um exc de 280 nm para BSA, usando

    cuvettes de quartzo de percurso ptico 10 mm, 5 mm

    e 3 mm. Os espetros de absoro foram obtidos num

    espectrofotmetro Uv-Vis Unicam UV500 entre 200 e

    800 nm.

    Resultados e Discusso Estudo ligao da NBD-C4 Albumina do Soro Bovino.

    Antes da realizao dos seguintes estudos

    obtiveram-se espectros de absoro do NBD-C4 e da

    BSA, em que se observou que o mximo de absoro

    ocorria para um de 460 nm e 280 nm, respetivamente

    (Figura 4).

    A biodisponibilidade de uma molcula

    determinada atravs da sua ligao a protenas

    presentes nos fludos biolgicos. A albumina a

    protena mais no soro pelo que muitas vezes utilizado

    A)=)

    B)=)

    Figura 4- Espectro de absoro para a BSA (A) e para o NBD-C4 (B).

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    4 | P g i n a

    como protena modelo para estudos relacionados com

    a biodisponibilidade. Neste trabalho medida que a

    concentrao de BSA na amostra foi aumentando, a

    fluorescncia do NBD-C4, quando excitada a 460 nm,

    tambm foi aumentando, demonstrando que ocorria

    ligao do NBD-C4 BSA, como podemos ver pela

    Figura 5.

    A ligao entre o NBD-C4 e a BSA, a pH 7.4 e

    a 25C, pode ser observada na Figura 6. Atravs do

    melhor ajuste das equaes (1) e (2) [1], conseguiu-se

    calcular a constante de ligao, Kb, entre a BSA e o

    NBD-C4. Este valor foi de 1,96x104 M-1, que apesar de ser ligeiramente superior ao calculado em [1], est

    na mesma ordem de grandeza.

    A albumina apresenta um papel muito importante na homeostasia dos cidos gordos,

    transportando-os do tecido adiposo para rgos que os

    utilizam para obteno de energia [7]. Para tal a

    albumina necessita de ligar com grande afinidade s

    cadeias hidrocarbonadas dos cidos gordos e como

    podemos constatar pelo Kb obtido e pelos valores

    conseguidos no trabalho da professora Maria Joo

    Moreno [1], isso acontece, sendo que para uma cadeia

    hidrocarbonada maior a constante de ligao ,

    tambm, maior e que na presena de um cido gordo

    (FA-Cn) a constante de ligao para o NBD-Cn

    maior do que se esperava, o que mostra a existncia de

    alosterismo [1].

    Sendo a concentrao fisiolgica de cidos

    gordos na gama dos 5 - 10 nM e a concentrao de

    albumina no sangue cerca de 640 M (superior que

    estamos a utilizar) [6, 7], surge uma questo de como

    que tecidos, como o corao e o msculo, conseguem

    obter, com alta eficincia, os cidos gordos do plasma.

    Ao entender melhor este processo torna-se mais fcil a

    concepo de um frmaco que utiliza a albumina do

    soro como meio de transporte para atingir o seu alvo

    de ao.

    Quenching da protena.

    A intensidade de fluorescncia proporcional

    concentrao do fluorforo em solues muito

    diludas (absorvncia muito baixa). Para absorvncia

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    5 | P g i n a

    Figura 5 Variao da intensidade de fluorescncia da BSA com a absorvncia a 280 nm (proporcional [BSA]) - Efeito de filtro interno.

    Para interpretar os dados de estudo da extino de fluorescncia (quenching), importante

    compreender que tipo de interao ocorre entre o

    fluorforo e o quencher. Existem duas formas de

    quenching, de acordo com a natureza do fluorforo e

    o quencher: esttico e dinmico. O quenching esttico

    resulta da formao de um complexo no fluorescente

    no estado fundamental entre o fluorforo e o

    quencher. Enquanto o quenching dinmico o

    resultado de encontros colisionais entre fluorforo e

    quencher [9]. Em ambos os casos, necessrio

    contacto molecular entre o fluorforo e o quencher

    para ocorrer quenching da fluorescncia. A anlise dos

    resultados de quenching normalmente realizada

    atravs das relaes de Stern-Volmer para o quenching

    dinmico (equao 3) e esttico (equao 4), onde F0 e

    F representam a intensidade da protena na ausncia e

    presena de quencher, respetivamente, [Q] a

    concentrao de quencher, KSV/S a constante de Stern-

    Volmer para o quenching dinmico e esttico, 0 e o

    tempo de vida do estado excitado na ausncia e

    presena de quencher, respetivamente.

    Podemos constatar pela Figura 8 que medida

    que a concentrao de NBD-C4 (quencher) foi

    aumentando, a fluorescncia intrnseca BSA foi

    diminuindo, ocorrendo, por isso, quenching. Isto

    acontece porque a molcula de NBD-C4, para alm de

    absorver a 460 nm, vai tambm absorver a

    comprimentos de onda semelhantes emisso da BSA,

    isto , cerca de 350 nm (Figura 9). Assim, a ligao da

    NBD-C4 BSA poder promover a uma proximidade

    a resduos de triptofano da BSA, que permitir a uma

    absoro da luz emitida por estes aminocidos. de

    notar que a diminuio da intensidade de fluorescncia

    com a diminuio do percurso tico deve-se,

    simplesmente, ao facto de existir menos BSA na

    cuvette (Figura 8).

    285 335 385 435 485

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

    450

    nm

    If

    285 335 385 435

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    nm

    If

    0 M 1 M 3 M5 M 10 M 15 M20 M 30 M 40 M50 M 68,2 M

    Figura 8 - Espectros de fluorescncia da BSA (exc=280nm e

    em=350nm) com a concentrao de NBD-C4, numa cuvette de A) 10, B) 5 e C) 3 mm de percurso de ptico.

    285 335 385 435 485

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    900

    1000

    nm

    If

    A)

    C)

    B)

    0,218; 54,839

    0 1 2 3 4

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    160

    Abs 280 nm

    If

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    6 | P g i n a

    Figura 9 Espectro de Absoro da NDB-C4 a laranja e do Espectro

    de Fluorescncia da BSA a azul.

    Ao analisarmos o quenching da protena pela

    relao de Stern-Volmer (Figura 10), apercebemo-nos

    de uma relao linear at aos 20 M de NBD-C4 e de

    um desvio na linearidade que se move para cima para

    alm desta concentrao. Ao realizar a regresso linear

    dos dados de quenching da protena (Figura 9),

    conseguiu-se calcular a constante de quenching de

    Stern-Volmer (Ksv) para os diferentes percursos ticos

    pelo declive da reta. Assim, verificou-se que esta

    constante varia com o percurso tico: 3 mm:

    Ksv=0,0148 M-1; 5 mm: Ksv=0.0195 M

    -1; 10 mm: Ksv=

    0.0263 M-1. No entanto como o erro das regresses

    lineares, nomeadamente para cuvette de 3 mm e 5 mm

    foi elevado, ter-se-ia de realizar mais experincias de

    forma a confirmar se varia ou se mantm constante, j

    que se encontram na mesmo ordem de grandeza.

    importante referir que os valores de menor

    concentrao de NBD-C4 foram repetidos por estarem

    fora da linearidade, assim escolheu-se os melhores

    pontos que definiam uma reta para estudar o

    quenching da protena.

    Podemos observar, ainda, na Figura 10, que

    para todas as cuvettes, a curva de Stern-Volmer

    apresenta uma curvatura para cima, cncava na direo

    do eixo dos ys para concentraes superiores a 20 M

    de NBD-C4. Isto ocorre porque o quenching do BSA

    est a ocorrer quer por coliso quer pela formao de

    um complexo fluorforo-quencher, mas tambm

    porque est acontecer efeito de filtro interno

    secundrio.

    Figura 10 Curvas de Stern-Volmer que descrevem o quenching da BSA causado pelo NBD-C4 e a regresso linear para concentraes de NBD-

    C4 baixas. 10 mm: y = 0,0263x - 0,0136, R2= 0,9772; 5 mm: y =

    0,0195x + 0,0375, R = 0,8258; 3 mm: y = 0,0148x + 0,0202, R = 0,7511.

    Como o quenching da fluorescncia intrnseca do triptofano da BSA por NBD-C4 segue o tipo de interao esttica possvel calcular a constante de ligao (Kb) pelo seguinte mtodo. O equilbrio entre o NBD-C4 e a BSA pode ser

    representado esquematicamente pelo equilbrio (5),

    onde Q o NBD-C4, M o BSA, n representa o

    nmero de locais de ligao na protena e M.Qn o

    complexo entre o fluorforo e o quencher:

    Assim, a constante de ligao (Kb) pode ser

    calculada pela equao (6):

    Sendo a concentrao de protena total (ligada

    e no ligada) igual [M]0 e sabendo que

    [M]/[M]0=F/F0, conseguimos calcular K pela equao

    (7):

    Na Figura 11 encontra-se a representao

    grfica de aos resultados obtidos na gama de

    concentraes baixas de NBD-C4, obtendo a constante

    de ligao para cada percurso tico.

    Pelas equaes adquiridas na Figura 10, conseguimos retirar a constante de ligao e o nmero de locais de ligao da interao entre o NBD-C4 e a BSA. Estes valores encontram-se organizados na Tabela 1 para cada percurso ptico. Tabela 1 Valores de constante de ligao (Kb) e locais de ligao (n) na interao da NBD-C4 com a BSA, para diferentes percursos ticos e obtidos pela Figura 10.

    Pode-se constatar que os valores da constante

    de ligao obtidos para os diferentes percursos so

    muito diferentes entre si, sendo que para um percurso

    tico maior, maior ser a constante de ligao.

    Podemos, ainda, reparar que os resultados para o

    nmero de locais de ligao no variam tanto. Em

    teoria estes valores deveriam manter-se pois as

    amostras em estudo so a mesma (s o nmero de

    locais de ligao que se manteve constante). A

    explicao deste acontecimento a existncia de um

    -0,5

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    0 20 40 60 80

    (F0/

    F)

    -1

    [NBD-C4] (M)

    Percursos ticos Kb (x104 M-1) n

    3 mm 0,0336 0,662

    5 mm 0,0508 0,666

    10 mm 4,51 1,054

    300 350 400 450 500 550

    Ab

    sorv

    ncia (U

    .A)

    nm

    Flu

    ore

    scn

    cia

    (U.A

    )

  • Road map through different laboratorial techniques

    7 | P g i n a

    efeito de filtro interno secundrio, isto o NBD-C4

    que no se encontra ligado BSA absorve o que esta

    emite fazendo com que parea que haja mais NBD-C4

    ligado. Ento o quenching da protena vai ocorrer por

    dois efeitos: o efeito de filtro interno secundrio e

    transferncia de energia por ressonncia devida

    ligao do NBD-C4 BSA.

    O efeito de filtro interno secundrio tanto

    maior quanto maior for a cuvette, porque existe mais

    NBD-C4 no ligado em soluo que pode absorver o

    que BSA est a emitir. Assim era de esperar obter um

    valor de Kb mais correto na cuvette de 3 mm, mas

    como R2 foi baixo ter-se-ia de realizar mais

    experincias de forma a conseguir uma melhor

    regresso linear.

    Figura 11 Representao grfica de log([Q]) vs log(F0-F/F), para valores baixos de concentrao de NBD-C4 ([Q]= 4; 8; 9; 12; 16 M) e que permite determinar Kb e n. A) utilizao de uma cuvette de 10 mm, B) utilizao de uma cuvette de 5 mm e C) utilizao de uma cuvette de 3 mm.

    Concluso 2 Nesta parte do projeto foi analisado a interao

    da BSA e NBD-C4 foi analisado pelo aumento da

    fluorescncia do NBD-C4 na presena de concentrao

    crescente de BSA e por quenching da fluorescncia

    intrnseco do triptofano da BSA em diferentes

    percursos pticos pela adio de concentrao

    crescente de NBD-C4.

    Atravs dos resultados obtidos conseguiu-se perceber que o 1 mtodo (ligao albumina do soro bovino) era mais exato na obteno da constante de ligao (Kb) que o 2 mtodo (quenching da protena), uma vez que neste h a influncia do percurso tico a utilizar e da gama de concentraes de quencher (NBD-C4) que se usa. Assim necessrio ter em ateno estes dois parmetros, para que as medies no levem a artefactos. Apesar do mtodo de quenching no ser to exato na obteno de Kb, permite fazer outros estudos interessantes como a difuso de oxignio em membranas, localizar resduos de triptofano ligados a membranas e estudar o efeito das mudanas conformacionais na acessibilidade ao triptofano.

    Referncias [1] Moreno, M.J.: Chain Length Effect on the Binding of Amphiphiles to Serum Albumin and to POPC Bilayers. J. Phys. Chem. B. 2010, 114, 1633716346; [2] Lakowic, Joseph R.: Principles of Fluorescence Spectroscopy. New York. Springer US. 2006, 3 edio; [3] Chattopadhyay, A.: Chemistry and biology of N-(7-nitrobenz-2-oxa-l,3-diazol-4-yl)-labeled lipids" fluorescent probes of biological and model membranes. Chemistry and Physics of Lipids. 1990, 53, 1-15; [4] Papadopoulou, A.; Green, R. J.; Frazier, R. A.

    Interaction of flavonoids with bovine serum albumin:

    a fluorescence quenching study. J. Agric. Food Chem.

    2005, 53, 158-163.

    [5] Peters T.: All About Albumin: Biochemistry,

    Genetics, and Medical Applications. San Diego, CA:

    Academic. 1996, 1 edio;

    [6] Weisiger, R., Gollan, J. and Ockner, R.: Receptor for albumin on the liver cell surface may mediate uptake of fatty acids and other albumin-bound substances. Science. 1981, 211, 10481051; [7] Curry, S.: Plasma albumin as a fatty acid carrier. Adv. Mol. Cell Biol. 2004, 33, 2946; [8] Valeur, B.: Molecular Fluorescence: Principles and Applications. Wiley-VCH. 2001, 161-165; [9] Palmeira, T.: Interao de uma srie homloga de anfiflas fluorescentes com bicamadas lipdicas na fase lquido ordenado. Universidade de Coimbra. 2012; [10] Fasano M., Curry S., Terreno E., et al: The Extraordinary Ligand Binding Properties of Human Serum Albumin. IUBMB Life. 2005, 57, 773-831;

    A)=)

    B)

    C)